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A Pratica Psicanalitica
A Pratica Psicanalitica
psicanalítica
numa teoria da clínica da autenticidade
v
vi
Conteúdo
2 As direções do tratamento 3
2.1 O espaço analítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Analisar: um trabalho de transformação a dois . . . . . . . . . . 3
2.3 A neurose de transferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.4 As resistências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.5 A contratransferência no centro do trabalho do analista . . . . . 3
2.6 O trabalho interpretativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.7 As mudanças ligadas ao trabalho analítico . . . . . . . . . . . . . 3
5 Matemas 11
5.1 R. S. I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5.2 Os Quatro Discursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5.3 O Grafo do Desejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5.4 Esquema R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
5.5 Esquema I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
5.6 Esquema L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
5.7 Fórmulas da Sexuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
vii
viii CONTEÚDO
Capítulo 1
Transferência: de motor da
análise à resistência
1
2CAPÍTULO 1. TRANSFERÊNCIA: DE MOTOR DA ANÁLISE À RESISTÊNCIA
Capítulo 2
As direções do tratamento
3
4 CAPÍTULO 2. AS DIREÇÕES DO TRATAMENTO
Capítulo 3
5
6CAPÍTULO 3. OS QUATRO TEMPOS DE UMA CURA PSICANALÍTICA
Capítulo 4
A análise é terminável ou
interminável?
Freud deixa bem evidente que não são os fatores terapêuticos que
definem um final de análise, pois isso recai em uma normatização. Ainda
que Freud não tenha se detido na formalização das vicissitudes da transferência
ao longo do processo de análise tal qual Lacan, uma leitura atenta do meu texto
freudiano favorito, “Análise terminável e interminável” (FREUD, 2018[1937]),
deixa claro que discutir os critérios terapêuticos de cura naquela época (1937)
era perda de tempo, pois já se sabia há muito tempo que a cura psicanalítica se
dava por meio do amor transferencial, ou seja, o processo transferencial já tinha
sido “desvendado” e não era a questão de como a psicanálise cura que precisava
ser discutido, mas sim mapear quais são as questões que impedem a cura psica-
nalítica, por meio deste processo transferencial. Neste texto, particularmente,
Freud destaca o trabalho silencioso da pulsão de morte, mas o importante aqui
agora é ver que a análise levará a impasses que serão enfrentados pelo sujeito,
e que talvez não seriam enfrentados sem a neurose de transferência criada na
análise. A análise fraturou as identificações que o sujeito por meio de parado-
xos, que colocam à luz do dia o engano criado pelo sujeito para, supostamente,
“garantir” sua sobrevivência. Este sujeito não está dado antes de uma análise.
O analisante chega na entrevista preliminar com um “eu” que mais parece uma
concha do que um corpo de carne. Deste “eu” que chega em análise pode emer-
gir um sujeito. Na análise de um sujeito, a neurose com que ele chega será
substituída por uma neurose artificial, a neurose de transferência.
A estruturação do sujeito (barrado pela castração na neurose, ou não, na
psicose) é a obtenção de algum estatuto simbólico, alguma significação,
para que o sujeito seja algo distinto do Real do gozo. É uma defesa contra ser
objeto de uma demanda imaginária do Outro, contra se perder como objeto do
gozo do Outro. Quando a significação prevalece sobre a demanda imaginária,
há sujeito. O interesse do conceito lacaniano do Outro é chamar a atenção sobre
o fato de que a determinação de um sujeito se decide no campo da linguagem e
7
8 CAPÍTULO 4. A ANÁLISE É TERMINÁVEL OU INTERMINÁVEL?
segundo cálculos que não coincidem com laços intersubjetivos. É por isso que a
psicanálise não permite uma prevenção. Por patógenas que nos apareçam algu-
mas situações familiares, não é possível deduzir, destas situações, coisa alguma
sobre o destino do sujeito. O Outro é o lugar de todos os significantes menos
um, o significante que falta é aquele que significaria a si mesmo, significaria este
Outro. Por isso dizemos que não há Outro do Outro.
A aposta neurotica é que haja “ao menos um” que saiba lidar com a
Demanda do Outro. Então, o saber vai ter um sujeito suposto, e a problemática
de defesa vai se jogar na relação de dívida deste sujeito com o “ao menos um”
que sabe. Já o psicótico não tem esta barreira, e se enreda no círculo infernal da
Demanda do Outro. É uma errância. Não há sujeito suposto saber no psicótico.
O que faz o saber inconsciente de um sujeito não pode ser calculado a partir da
singularidade dos membros da sua família. É algo que só pode ser calculado no
discurso. A presença efetiva dos membros da família geralmente produz como
efeito um aumento das resistências do analista, porque ele vai acreditar num
cálculo possível do saber inconsciente do sujeito a partir da singularidade dos
desejos inconscientes dos membros da família.
O que é decisivo para o sujeito não são as relações intersubjetivas,
mas sim os cálculos discursivos nos quais significantes se organizam sem respei-
tar o jogo das intenções ou mesmo dos desejos singulares dos falantes. É muito
impactante ler tão explicitamente como a abordagem lacaniana não trata do
romance familiar, mas sim da constituição do sujeito estruturalmente. A fora-
clusão do significante Nome-do-Pai é uma questão preliminar a todo tratamento
da psicose pois na neurose há o recalque do significante Nome-do-Pai através
da castração, enquanto na psicose isso não acontece, se joga fora (foraclui) este
significante. É uma categoria negativa à neurose, o que de maneira alguma fala
que a psicose é o negativo da neurose, pois não há castração aqui, como na
neurose, mas sim uma categoria negativa: a primeira forma de compreender a
psicose seria diferenciá-la da neurose e da perversão pela não-castração. No seu
esforço de virar a face à castração, o neurotico dá respostas significantes, pois
sua constituição subjetiva é em relação à significação fálica. Se fizer uma re-
troação imaginária sobre o complexo de Édipo teremos que na mãe (dentro das
vicissitudes do seu Édipo) operou um pai, como metáfora paterna, produzindo
nela uma falta e, assim, um desejo. Falta produzido em relação (e na relação)
com sua mãe e apoiada na sua privação em relação à premissa fálica.
O Nome do Pai será qualquer significante que indique a castração
do Outro. O Nome do Pai, apoiando-se no desejo materno, produzirá, como
castração simbólica, a separação da criança e o efeito de um sujeito sexuado e
desejante. Esta separação tira o valor fálico do corpo da criança. Da mesma
maneira que algo da mãe está perdido, algo da criança também está. Este é
o ponto de interseção de duas carências. A castração produz a perda de um
objeto, o objeto causa do desejo, por meio de uma operação necessária que é a
lei contra o incesto (inconsciente). Se o sujeito não é o que pensava ser, essa
operação o deixa com as perguntas: quem sou?, o que é que desejo?, o que é que
o Outro deseja de mim? O sintoma responde a isso com o que tem de sofrimento
9
e de prazer. O sujeito faz do seu sintoma e suas produções uma suposta posição
subjetiva. O sujeito não é o sintoma, mas ali está articulado. Sua neurose será
a defesa que utilizará frente à angústia que lhe provoca a castração do Outro
e uma maneira particular de apelar ao Nome do Pai para que o defenda da
suposta demanda do Outro.
Fraturar a identificação do sujeito á suposta significação do desejo
do Outro abre a dimensão da castração do Outro e questiona o objeto
a. O fim da análise possibilitará o reencontro com a condição desejante que,
além das imaginarizações do objeto, tocará na experiência do seu fantasma
fundamental, esse objeto que no Real, para o desejo do Outro, é nada, para o
seu desejo é carência constitutiva e na definição do seu ser não é mais do que
resto, o objeto perdido.
Qual seria a conclusão da cura? Talvez a cura se conclua somente
quando o sujeito sai da demanda e não espera mais nada da análise, quando
o sujeito não pede mais nada ao analista. Mas essa definição não é suficiente.
Pode-se sair da análise por cansaço ou por decepção. E pode ser que o sujeito
que não espera mais nada da análise se desloque - desloca a sua demanda para
a psicologia, para a psiquiatria - não pede mais à análise, mas... vai pedir
medicamentos, drogas. Vai deslocar a sua demanda para as seitas, para a
biologia molecular, para a Gestalt, para o esoterismo, etc. Pode ser, ainda,
que o sujeito que não pede mais nada a seu analista desloque sua demanda a
outro analista e assim. entra em reanálise. Desse modo, não é suficiente dizer
que se conclui a cura quando o sujeito não pede mais.
Conclusão da cura não é um deslocamento da demanda para ou-
tros lugares e outras pessoas. É algo muito misterioso, que está mais para
a desaparição profunda, radical, autêntica, da demanda. Desaparição incons-
ciente da demanda, da própria desaparição do lugar da demanda, da própria
possibilidade de esperar algo da demanda feita a um Outro.
Freud leva a análise até o rochedo da castração para os meninos e
a inveja do pênis para as meninas. Lacan propõe que no fim de uma
análise o analisando atravesse a falta fálica em direção à causa de
desejo, propondo que a posição do feminino em final de análise está
além do rochedo da castração.
Haverão diversas variantes do sofrimento psíquico ao longo de uma vida, e
sua imprevisibilidade é um fato a ser considerado e assimilado no final de uma
análise. Talvez essa tenha sido a queixa que o levou a se tornar analisando, e
agora sua aceitação é o passaporte de saída da análise.
(FREUD, 2014[1891])
(AMIGO, 2008)
(BALINT, 1952)
(BALINT, 1950)
(LECLAIRE, 1977)
(LACAN, 1998[1966])
(POMMIER, 1990)
(LACAN, 1995[1956-7])
10 CAPÍTULO 4. A ANÁLISE É TERMINÁVEL OU INTERMINÁVEL?
Matemas
5.1 R. S. I.
Para Lacan, nunca é Um, mas sempre são no mínimo Três. Explico: não se
sabe o que está na origem do problema de cada um, mas nunca será uma coisa
só, será no mínimo três. Um: uma coisa causou todo o resto; qualquer coisa
que se coloque no lugar deste Um, será Deus. Haveria a opção de encontrar o
Dois invés do Um, que é o que parece ser dito por Freud quando ele apresenta
um conflito originário em lugar de um causador essencial. Mesmo no dualismo,
acaba caindo-se no monismo pois se pergunta qual dos dois veio primeiro.
Lacan adverte o analista a não conduzir a análise buscando uma unidade
final nem uma unidade inicial, mas sempre trabalhar contando três. Não é um
sentido, no fundo, a ser encontrado, essa aposta tende a infinitizar a experiência
analítica.
O que faz sentido: Imaginário
O que faz corpo: Imaginário
O que for nítido: Imaginário
Imaginário
Corpo
Sentido
JA
a
JΦ
Real Simbólico
11
12 CAPÍTULO 5. MATEMAS
Nesse seminário, Lacan irá fazer os registros R.S.l. trabalharem em sua pro-
priedade borromeana para destacar três regiões de interseção correspondentes
a três formas de gozo em sua relação com o objeto a: entre o real e o simbólico,
Lacan nomeia o gozo fálico; entre o imaginário e o real, o gozo do Outro; e
entre o simbólico e o imaginário situa o gozo (jouissance) do sentido - jouisens,
termo que em francês abarca ainda pela homofonia a dimensão da escuta “j’oui”
(“eu ouço”). Além disso, Lacan concebe três diferentes invasões de um registro
sobre outro para indicar nelas a clássica trilogia clínica freudiana: a invasão
do simbólico no real corresponde ao sintoma; a invasão do imaginário no sim-
bólico corresponde à inibição; e a invasão do real no imaginário corresponde à
angústia.
Imaginário
(consistência)
nt
cie
Corpo co
ns falso
In furo
ão
Sentido
biç
Angústia
Ini
Re
pre
se
Mort Simbólico
Ciência
nt
da vida
aç
JA a
ão
(furo)
Préc
real onsc
ient
furo
JΦ
Vida Sin
to
ma
Φ
Real
(ek-sistence)
Real: não-sentido
Simbólico: duplo sentido
Imaginário: sentido
Inibição: I → S
Sintoma: S → R
Angústia: R → I
inicial no terceiro dia. Tratados simbólicos entre as nações podem ser refeitos
em momentos diferentes. Tais características de reversibilidade do simbólico e
irreversibilidade do real parecem se produzir em torno das diferentes “versões”
imaginárias. Assim, quando se afirma que o imaginário é da ordem do sentido,
é preciso entender que, quando o sentido se produz, ele se coagula imagina-
riamente e tende por isso a se cristalizar. Seu grande inimigo é o real, que,
ao se apresentar, barra suas pretensões totalitárias. A chance de o imaginá-
rio ser salvo do real avassalador é o simbólico, que lhe empresta plasticidade e
possibilidade de se reorganizar em novas versões.
Assim, a inibição é o efeito da invasão do simbólico pelo imaginário (I →
S), isto é, ela representa a redução máxima do duplo sentido ao sentido uní-
voco; o sintoma, sendo a invasão do real pelo simbólico (S → R), tem como
paradigma excelente o sintoma histérico, que subverte a anatomia e expressa
simbolicamente os dois lados (duplo sentido) do conflito neurótico: a verdade
de seu desejo inconsciente e a resistência a ele; a angústia representa a invasão
do imaginário pelo real (R → I), isto é, do sentido pelo não-sentido; o trauma
implica essa mesma forma de invasão, isto é, a irrupção do não senso radical
do real no seio da homeostase de sentido imaginário. Mas, nesse caso, trata-se
de um choque extremo, cuja força pode ser devastadora e levar a capacidade de
simbolização do sujeito a se deparar com seus limites.
S1 S2 S2 a
S a S1 S
S S1 a S
a S2 S2 S1
Discurso do Capitalista
S S2
a S1
5.2. OS QUATRO DISCURSOS 15
S a S1 impotência S
| é iluminada pela regressão do: | é iluminada pela regressão do:
a impotência S2 S2 S1
Os lugares são:
o agente o outro
a verdade a produção
Os termos são:
S1 : o significante-mestre
S2 : o saber
S: o sujeito
a: o mais-gozar
Discurso do Mestre
impossibilidade
S1 S2
S a
S1 impotência S a impotência S2
Discurso do Analista
impossibilidade
a S
S2 S1
16 CAPÍTULO 5. MATEMAS
S S′
S ∆
s(A) s(A)
A
Significante Voz
eu/moi i(a)
I(A) S
Chè vuoi?
d
(S♢a)
s(A) s(A)
A
m i(a)
I(A) S
(S♢D)
S(A) (S♢D)
Gozo Castração
(S♢a) d
s(A) s(A)
A
Significante Voz
m i(a)
I(A) S
O Outro não entra na pura pulsão, mas sim no enodamento da pulsão com
o desejo e o amor.
A cada vez que uma certa satisfação pulsional seja proibido ao sujeito S
pelo Outro (A), será inevitável que a proibição se localize no sujeito como gozo.
Não há sujeito sem Outro. Não há Outro do Outro, mas sim o Outro
do sujeito. A identidade A = A é interditada no simbólico. O complexo de
castração é a marca da interdição sobre o gozo infinito. Sempre que o gozo
se articula ao desejo, o falo lhe dará corpo mediante a parte "sacrificada"na
castração, se o gozo não se articula ao desejo, o que lhe dará corpo será a zona
erógena.
5.4. ESQUEMA R 21
5.4 Esquema R
φ i M
S a
I
R
m
a′ A
I P
5.5 Esquema I
M
r
eu
at
re
a
C
(s’adresse à nous)
le
i jouissance transsexualiste
ar
p
de
er
la
b
im creatu
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S
e
sé
is
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la
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I R P0
creatur le
l a pa
re
u
ro
t
s
éa
de
cr
la
I
e
où se maintient le créé
d
a′
r
tu
(aime sa femme)
fu
5.6 Esquema L
O esquema L, introduzido por Lacan na última parte do seminário sobre “O eu
na teoria e na técnica da psicanálise”, visa distinguir o imaginário do simbólico
e indicar que a presença de um terceiro (eixo simbólico) - o Outro - se situa para
além da relação entre eu e o outro (eixo imaginário), e aponta para a dimensão
do sujeito do inconsciente. Nesse esquema, depreendemos alguns pontos teóricos
essenciais: a direção da seta que vem do Outro na direção do sujeito mostra
que este é produzido pelo discurso do Outro, o que inclui seu desejo, amor e
gozo; o eu (a), imagem corporal constituída originalmente a partir do estádio
do espelho, se constitui a partir da imagem do semelhante (a′ ), mas sempre
pela intervenção do simbólico (A) - a criança só manifesta a reação de júbilo
22 CAPÍTULO 5. MATEMAS
a
ri
á
in
ag
im
ão
in
ç
la
c on
re
sc
ie
nt
e
(eu) a A Outro
Este esquema é retomado no início do Seminário seguinte, “As Psicoses”,
na medida em que uma de suas primeiras aplicações foi de fato compreender
a função do imaginário na estabilização das psicoses. Nele se veem dois eixos
distintos: o eixo do imaginário, eixo da comunicação e do sentido, que liga o
eu ao outro; e o eixo do simbólico, que une o sujeito ao grande Outro, eixo da
mensagem subjetiva singular e da evocação do inconsciente.
∃x Φx ∃x Φx
∀x Φx ∀x Φx
S S(A)
a La
Φ
Capítulo 6
23
24 CAPÍTULO 6. MOMENTO DE NÃO CONCLUIR
Referências
25
26 REFERÊNCIAS