Livro de Casos Práticos DIP Resolvidos - Elsa Dias Oliveira

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CASOS PRATICOS Direito Internacional Privado CASOS PRATICOS RESOLVIDOS . Elsa Dias Olivei ALMEDINA. CASOS PRATICOS DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO CASOS PRATICOS RESOLVIDOS: Elsa Dias Oliveira BDIGOES ALMEDINA, S.A, Rua Fernandes Toms, ns 76, 78,80 3000-167 Colmes Tel: 299851904 Fax: 289851901 swwwvalmedina nt edtora@almedina.aet Fea, G.C. = GRAFICA DB COIMBRA, LDA. Pale Assure, 3001-858 Coimbra poicaodperaicadecoimbra pe DPS - DIGITAL PRINTING SERVICES, LDA. Oucubro, 2012 3880/12 Apesar do cuidado igor colocadus na labora da presente obra, ever ‘8 diplomas legs dls constanes ser sempre abjecto de confirmagio com aspublieabes otis. ‘Toda aegalagacenida ns presemteckva encontra-seactualzada de acordo ‘om os diplomas puhiados em Diario de Republics, independentemente ererem je incado asa vginei ou nto, Inds» reprodusdo desta obra, por fotocépis ox outro qualquer process, sem penn sr do Er, én panel de potato Jusicl comes oinfsceon, WA | GRUPOALAMEDINA ALMEDING UliLiovsca WaCiONAL DR POLTUGAL~ GaTALOGAGRO Wa PURLTCNERO OLIVEIRA, Eles Dias ° Disc ineenaiol privado caso prétcos resovides. (Casas pisos) ISEN79 972-40-4794.2 cpu ast NOTA PREVIA ‘Sao compilados nesta publicag4o casos praticos que foram resolvidos nas aulas, integraram testes de avaliagao continua ¢ exames finais de Direito Internacional Privado, durante o perfodo em que @ autora colaborou na lecionagio daquele disciplina na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, soba regéncia e coordenacao do Professor Doutor Dario Moura Vicente. Foram ainda incluidos outros casos, especificamente redigidos para ‘esta publicacdo, sem que, todavia, fiquem abrangidas todas as matérias lecionadas. Nao se pretende, nesta coletinea, apresentar resolugdes exaustivas dos casos priticos, mas apenas indicar os tépicos de corregéo que permitam guiar os alunos nas solugoes a dar a cada caso. E devido um especial agradecimento ao Professor Doutor Dario Moura icente, pelas apreciagées criticas sobre as hipoteses ora apresentadas as suas resolugbes, bem como pelas sugestdes quanto sua organizagto. Lisboa, margo de 2012 Capitulo! Qualificagao CASO I - ESTATUTO SUCESSORIO/ESTATUTO REAL André, francés, com domicilio em Lisboa, morreu, sem testamento ¢ sem familia, deixando um andar em Paris. Bento, portugués, com domicilio em Lisboa, amigo de André, assu- miu todas as despesas do funeral. Bento pretende agora saber quem fica com os bens de André, uma vez que, alega, a heranga deve respon- der pelas despesas do funeral. 0 Estado francés reivindica a propriedade do andar, por André ser francés e, néo tendo deixado parentes sucessiveis, caber a este Estado a propriedade das coisas que nao tém dono, mas que se encontram em tertit6rio francés, Ja o Estado portugués considera que é herdeiro de André ~ invocando para o efeito o art. 2133°, n° 1, al. e), CC - e, como tal, afirma ser o proprietirio do imével Admitindo que: a) Ostribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) O Direito Internacional Privado francés regula a sucessio imo- bilidria pela lei do lugar da situagio do imével; ¢) 0 Dircito Internacional Privado francés considera que o regime da posse, propricdade e demais direitos reais é regulado pela lei do Estado em cujo territ6rio as coisas se encontram; d) De acordo com o Direito material francés, os herdeiros sio ape- nas 0s familiares do decujus, nao se incluindo entre este elenco 0 Estado (arts. 731 ss. do Cédigo Civil francés, No caso de o de ‘cujus néo ter parentes sucessiveis, o Estado pode ficar com o bem que nao herdado (se a commune do territério onde o bem se encontra situado renunciar ao seu direito de ficar com a coisa), sendo esta uma forma de aquisigéo da propriedade (art. 713 do Cédigo Civil francés); aprecic os argumentos ¢ as pretensdes dos Estados portuguése francés € diga a quem deve ser reconhecida a propriedade do imével. RESOLUGAO RESPOSTA ~ Pretende-se saber, na sequéncia da morte de André, quem 6 atualmente o proprietario do imével sito em Paris; ~ o art. 62% CC tem como conceito-quadro “sucesso por morte”; interpretago do conceito-quadro; oart,62°CC. rete paraa lei pessoal do autor da sucesso que, nos termos do art, 31%, n® 1, CC, & lei da nacionalidade; uma vez que André tem nacionalidade francesa, as normas de conflitos portuguesas remetem para a lei francesa; as normas de conflitos francesas regulam a sucessio imobiliria pela lei do ugar da situagao do imével; situando-se o imével em Paris, a lei francesa considera-se competente; alei portuguesa aplica a lei material francesa (art. 16° CC); de acordo com 0 disposto na lei material francesa, o Estado nao & herdeiro; interpretagao e caracterizagao desta norma ma- terials a norma material francesa que determina quem sio os herdeiros legitimos & subsumivel no conceito-quadro do art, 62° CC, uma vez que estabelece quais as pessoas que ficam com os bens que exam do de cujus, aplicagao do art. 15® CC; da aplicagio desta norma material francesa ao caso resulta que nfo hé herdeiros de André; de acordo com o art. 713 do Cédigo Civil francés, os bens que ndo tém dono pertencem commune em cujo tertitorio estejam situa- dose se a commune renunciar aeste direito, a propriedade é trans ferida para o Estado; interpretagio e caracterizagio desta dis- posicao; ¢sta é uma forma de aquisigio de propriedade, tem natur. €, por isso, esta disposigd0 ndo é subsumivel no conceito-quadro do art. 62° CC; 6 feita uma segunda tentativa, recorrendo, desta feita, ao art. 46, n° 1, CC, que tem como conceito-quadro “posse, propriedade e demais direitos reais”; interpretagao do conceito-quadro; esta norma de conflitos determina a aplicacao da lei do lugar onde as coisas se encontram situadas, remete, por isso, no caso em aprego, para a lei francesa; a norma de conflitos francesa que regula a matéria de direitos reais também determina a aplicagio da lei do lugar da situagao da coisa, logo, a lei francesa considera-se competente; alei portuguesa aplica a lei material francesa (art. 16° CC); zareal, ~ jéacima foi feita a interpretagio e caracterizacao da norma mate- rial francesa que determina que a propriedade da coisa cabe a0 Estado francés (art. 713 do Cédigo Civil francés); ~ esta norma material francesa que regula a questio (art. 713 do ‘Cédigo Civil francés) é subsumivel no conceito-quadro do art. 46° CC; aplicagio do art. 15° CC. Quanta CASO 2- PRESCRICAO Andrew, cidadao britinico, com residéncia habitual em Inglaterra, pede a condenagio de Bruno, portugués, com residéncia habitual em Portugal, no pagamento de uma indemnizagio pelos danos morais por si sofridos, causados pelo facto de Bruno o ter difamado verbalmente em Londres. ‘A agio judicial ¢ intentada em tribunais portugueses, em janeiro de 2012, um ano e meio apés a difamacio. ‘Segundo o Limitation Act 1980 inglés, em caso de defamation, a agio judicial apenas pode ser intentada em tribunal dentro do prazo de 1 ano apés a verificagio do facto que dé origem ao pedido. ‘Os tribunais ingleses consideram que, neste caso, a lei competente €a do lugar da atuacio. ‘No Direito inglés, as regras relativas a limitation of actions tém natu- reza processual, Segundo o art. 498%, n® 1, CC, o direito de indemniza- io prescreve no prazo de 3 anos. Jé prescreveu o direito de indemnizagao? RESOLUGAO RESPOSTA Pretende-se saber qual a lei que regula a prescricgo de um direito de indemnizagao decorrente de responsabilidade extracon- tratual; © Regulamento (CE) n* 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho de 1 de julho de 2007 retativo a lei aplicavel as obri- gages extracontratuais (Roma II) nio ¢ aplicavel ao caso em taro dos critérios que delimitam 0 seu ambito de aplicagao material; seferéncia ao art. 1°, n? 2, al. 2); © art. 45% CC tem como conceito-quadro a “tesponsabilidade extracontratual”; interpretacao do conceito-quadro; ‘nos termos do art. 45%, n® 1, CC, determina-se que a responsabi- idade extracontratual ¢ regulada pela lei do Estado onde decor- reu a principal atividade causadora do prejuizo; no caso, foi em Inglaterra; referéncia ao facto de 0 Reino Unido ser um orde- namento juridico plurilegislativo; os tribunais ingleses aplicam, nestes casos, a sua prépria lei; ¢ aplicavel a lei inglesa; ha, entdo, que interpretar ¢ caracterizar as normas materiais do ordenamento juridico inglés que regulam esta questio; no Direito inglés, as regras relativas a limitation of actions térm natureza processual; © tribunal do foro aplica as suas proprias regras de natureza pro- cessual; as normas processuais do foro (Portugal) nao regulam qualquer questio relativa & prescriglo; as regras que regulam a prescrigio, no Direito portugues, tém natureza substantiva; todavia, atendendo ao contetido e & fungao das regras do Direito inglés relativas a limitation of actions, verifica-se que estas regras visam estabelecer um limite temporal ao exercicio de um direito, assim se assegurando a previsibilidade e a seguranga juridica; = estas regras p, _istas no Direito inglés tém, pois, uma fungio semelhante i desenvolvida pelas regras que regulam a prescrigao que esto provistas no Direito material portugués; ~ as regras do Direito inglés que determinam 0 limite temporal dentro do qual a agio pode scr intentada sio, por isso, subsumi- veis no conceito-quadro do art. 45# CC “responsabilidade extra- contratual”, que abrange também as questées que se prendem com a prescricéo do dircito de pedir indernnizagio por danos; aplicagio do art. 15* CC. CASO 3 ~ REGIME DE BENS/RELAGOES ENTRE OS CONJUGES Antoine, francés, de 65 anos, casou em Lisboa, em janeiro 2008, sem. convengio antenupcial, com Béatrice, também francesa, que conhe- cera em Lisboa e ficaram a residir em Paris apés 0 casamento. Em abril de 2008, Antoine adquiriu um andar em Lisboa e diz agora 2 Béatrice que o vai vender e nao necesita do consentimento desta para o fazer porque, afirma, esto casados no regime de separagio de bens ~ invoca o art. 17202, n* 1, al. b), do Cédigo Civil portugués, que considera aplicavel. Béatrice contesta que ¢ necessériaa sua autorizagio, pois, de acordo com o regime de bens vigente, todos os bens adquiridos apés 0 casa- mento sio de ambos, Zangado com a reagio de Béatrice, Antoine toma providéncias no sentido de vender todos os bens que tinha antes do casamento, para doar as receitas a associages de beneficéncia. Béatrice, receando que ela ¢ Antoine fiquem sem sustento, intenta ago em tribunal, invocando o art, 220-1 do Cédigo Civil francés, que determina que, independentemente do regime de bens, se um dos cdn- juges faltar aos seus deveres ¢ colocar em perigo os interesses da fami- lia, 0 juiz pode determinar medidas urgentes que tutelem estes inte- rresses, que podem incluir a interdigao de este conjuge dispor dos seus Préprios bens. Determine, apreciando os argumentos invocados, se Antoine podia vender 0 imével adquirido apés o casamento, sem o consentimento de Béatrice, ¢ se o tribunal podia aplicar o art. 220-1 do Cédigo Civil francés, impedindo que Antoine vendesse os seus bens préprios, admitindo que: a) Os tribunais portugueses sio internacionalmente competentes; 'b) Os tribunais franceses submetem o regime de bens a lei do pri- meiro domicilio conjugal; ©) Os tribunais franceses consideram aplicavel as relagbes pessoais centre os conjuges a lei da nacionalidade comum; 4) OCC francés determina que o regime de bens supletivo ¢ 0 da comunhio de adquiridos, sem colocar quaisquer excegdes. | {QuaLieicayaus RESOLUGAD RESPOSTA = Suscitam-se, neste caso, duas questées: uma que se prende com a determinagéo do regime de bens sob 0 qual o casamento foi celebrado; uma outra, que se prende com a lei aplicivel as rela- Ses entre 0s cénjuges, independentemente do regime de bens; — o art. $3? CC tem como conecito-quadro “substancia e efeitos das convengSes antenupciais e do regime de bens, legal ou con- vencional”’ interpretacdo do conceito-quadro; — anorma de conflitos portuguesa remete para a lei da nacionali- dade comum dos conjuges, que no caso era a francesa; lei ftan- cesa considera-se competente; — interpretagio ¢ caracterizagio da norma material francesa que determina que o regime de bens supletivo é 0 da comunhao de adquiridos, sem colocar quaisquer exceges; esta norma regula o regime de bens do casamento e é subsumivel no conceito- -quadro do art. §3° CG; aplicagio do art. 15* CC; © regime de bens sob o qual o casamento _ncontrava cele brado era o da comunhio de adquiridos; quanto & propositura da ago que visa impedir a disposigdo dos bens por Antoine, esti em causa uma questo que se prende com asrelagées entre os conjuges, independentemente do regime de bens em vigor; art. 52*CC tem como conceito-quadro “relagbes entre os con- juges”; interpretagao do conceito-quadro; o art. $2 CC determina qual a lei aplicavel para regular as rela- ges entre os cénjuges independentemente do regime de bens gue vigore no casamento; a norma de conflitos portuguesa remete para a lei da nacionali- dade comum dos cénjuges, que no caso ¢ a lei francesa; a lei fran- cesa considera-se competente; interpretagéo e caracterizagao da lei material francesa que regula a situagio; 0 art. 220-1 do Cédigo Civil francés visa proteger os interesses da vida familiar, independentemente do regime de bens do casamento; © art. 220-1 do Cédigo Civil francés é subsumivel no conceito- -quadro do art. 52° CC; aplicagao do art. 15° CC; tribunal portugués deveria aplicar a lei francesa e, em conse- quéncia, verificados os pressupostos de aplicagio do art. 220-1 do Cédigo Civil francés, Antoine poderia ser impedido de dispor de alguns bens. CASO 4~ TALAQ Abdul e Bahirah, egipcios, casados um com 0 outro, residem habitual- mente em Lisboa ha 10 anos. Na sequéncia de uma zanga do casal, em outubro de 2011, Abdul repudiou Bahirah segundo os costumes islimicos: proferiu trés vezes a palavra “talaq” e seguiu as formalidades exigidas pela lei vigente no Egito. Abdul diz que o casamento entre ele ¢ Bahirah terminou ¢, afirma, pretende voltar ao Cairo jé sem qualquer vinculo a Bahirah. Para tal, intenta em tribunal, em fevereiro de 2012, uma ago em que pede seja declarado que o vinculo conjugal com Bahirah ests dissolvido por efeito do “tala”. Bahirah vem agora dizer que 0 casamento com Abdul subsiste porque em Portugal nao existe o “talaq”. Considera ainda que esta é uma pritica discriminatéria, pois apenas os homens podem repudiar as mulheres, enquanto estas, querendo separar-se dos maridos, tém de recorter a outros mecanismos juridicos previstos na lei egipcia que, comparativamente como “talaq”, so mais desfavoriveis para as mulhe- res. Acrescenta ainda que no “talaq” a mulher no ¢ ouvida no que res- peita a decisio de se separarem. Admitindo que: a) Ostribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) A norma de conflitos egipcia prevé que 0 reptidio ¢ regulado pela lei nacional do marido, mas sera sempre aplicével a lei egip- cia se um dos cénjuges for egipcio & data do casamento; deveria um tribunal portugués decidir que o casamento estava dis- solvido? RESOLUGAD RESPOSTA Esti em causa a regulagio de uma situagio que se prende coma dissolugdo de um vineulo conjugal; o art, 55° CC tem como conceito-quadro “separacao judicial de pessoas ¢ bens divércio”; interpretagao do conceito-quadro; art, SS°, n?1, remete para o disposto no art. 52° CG; nos termos do art. 528, n® 1, CC, remete-se para lei nacional comum dos cén- juges, que no caso é a egipcia; as normas de conflitos egipcias determinam a aplicagao da sua propria lei; nos termos do art, 16% CC, a lei portuguesa aplica a lei material egipcia; interpretagio caracterizagio das normas materiais egipcias que regulam o talag; © talag tem como efeito a dissolugio do casamento; as regras materiais egipcias que regulam o talag sio subsumiveis no conceito-quadro do art. 55° CC; aplicagéo do art. 15° CC; a aplicagio das normas materiais egipcias que regulam o talay a0 caso em apreco ofende os principios fandamentais da ordem piblica internacional do Estado portugués: é contrariado o prin- cipio da dignidade da pessoa humana; ¢ contrariado o principio da igualdade entre os cénjuges, bem como o préprio principio gunna da igualdade entre pessoas de sexos diferentes; ha uma ligagio significativa entre a situagio sub iudice e a ordem juridica por- tuguesa; 6 afastada a aplicagio das normas materiais egipcias que regulam o talag (art. 222, n° 1, CC); © caso é regulado pelas normas materiais egipcias que sejam apropriadas para resolver a questo; existindo normas no Dircito material egipcio que regulam o divércio judicial, com respeito pela igualdade entre os conjuges, sero essas as normas materiais, aplicaveis (art. 22°, n® 2, primeira parte, CC). » Capitulo I Ordenamentos juridicos plurilegislativos CASO 5 - ESTATUTO PESSCAL Albert, cidadao britanico, nascido em Londres, onde residiu até 203 70 anos, veio residir para Portugal, onde faleceu passados 5 anos. Albert tinha feito testamento, em Londres, deixando todos os seus bens iméveis — que se encontravam em Londres e constituiam 95% do seu patriménio ~ a uma instituigdo de caridade inglesa, O filho de Albert, Bruce, também briténico, habitualmente resi- Gente em Londres, vem agora dizer que ¢ aplicvel a lei portuguesa & sucessiio por morte do pai e, por isso, considera-se herdeiro. ‘Admitindo que: a) Os tribunais portugueses so internacionalmente competentes; b) A lei inglesa regula a sucessio imobiliéria pela lex ref situs, ©) O Reino Unido é um ordenamento juridico onde vigoram dife- rentes sistemas juridicos vélidos para as varias parcelas do terri- trio; 4) Nao existe, no Reino Unido, Direito interlocal nem regras de Direito Internacional Privado unificadas, €) De acordo com a lei material inglesa existe liberdade de testar; herdaria Bruce alguns bens do pai? RESOLUCAG RESPOSTA 8 =. Pretende-se saber quem fica com os bens de Albert depois da sua morte; = oart. 628 CC tem como conceito-quadro “sucesso por morte”; interpretagio do conceito-quadro; = oart. 62 CC remete para a lei pessoal do de cujus; nos termos do art. 318, n® I, CG,a lei pessoal ¢ lei da nacionalidade do individuo; Albert era cidadao briténico; = Reino Unido um ordenamento juridico onde vigoram dife- rentes sistemas juridicos vélidos para as varias parcelas do ter- ritério; a previsto do art, 20%, n? 1, CC, esta preenchida, pois, em razio da nacionalidade de Albert, é designada a lei do Reino Unido, onde coexistem diferentes sistemas legislativos locais; Pree renee sense rEmeero ener eres mre no existe, no Direito do Reino Unido, normas de Direito inter- local, nem regras de Direito Internacional Privado unificado (art. 208, n? 2, CC); nos termos do art. 208, n? 2, CC, nestes casos, considera-se como lei pessoal do interessado a lei da sua residéncia habitual; a interpretagio do art. 20%, n® 2, segunda parte, CC, tem susci- tado divergéncias doutrinarias; de acordo com uma orientago doutriniria, seria aplicada a lei portuguesa, por ser a lei do Estado da residéncia habitual de Albert; de acordo com outra orientagio doutrindria, entende-se que sé se deve aplicar a lei da residéncia habitual quando esta se situar dentro do Estado plurilegislativo; esta posiggo conduziria & apli- cacio da lei inglesa, por, no Reino Unido, ser com Inglaterra que a situaco apresenta a ligacao mais estreita; assim se evita tratar Albert como se fosse um apétrida; a lei inglesa considerava-se competente para regular esta si- tuacgio; interpretagdo e caracterizagio das normas materiais inglesas que regulam esta questio; estas regras materiais do Direito inglés sio subsumiveis no con ceito-quadro do art. 62° CC; aplicagio do art. 15* CC; no existe um verdadeiro problema de reserva de ordem publica internacional, desde logo porque a situagdo nao apresenta uma ligagio suficientemente estreita com 0 ordenamento juridico portugués. 2 CASO 6 - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL Catherine, cidada britanica, habitualmente residente em Nova lorque, ¢ Dora, italiana, habitualmente residente em Boston, ambas de visita a Lisboa no ambito de um programa de intercimbio de estudantes, vangaram-se uma com a outa, Na sequéncia de uma discussiio, Catherine, perante cerca de 20 colegas de ambas, divulgou factos da vida privada de Dora que sabia que esta pretendia manter secretos, Sentindo a sua vida privada devassada, Dora intentou contra Catherine uma ago judicial em tribunal situado em Lisboa, pedindo acondenagao desta no pagamento de uma indemnizagéo por danos patrimoniais e nao patrimoniais, Catherine contesta, afirmando que agiu no ambito da sua liberdade de expressio, a que a jurisprudéncia dos tribunais norte-americanos relativa a First Amendment tem confe- lo presungio de prioridade. Admitindo que: 2) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) Nos Estados Unidos da América vigoram diferentes sistemas juridicos vilidos para as varias parcelas do territério; ©) Nio existe, nos Estados Unidos da América, Dircito interlocal nem regras de Direito Internacional Privado unificados; diga, apreciando os argumentos invocados, se a pretensio de Catherine deve ser julgada procedente pelo tribunal portugues. AESOLUGAD u RESPOSTA ~ Esti em causa uma situagio de responsabilidade civil extracon- tratual; ~ oRegulamento (CE) n* 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho de II de julho de 2007 relativo a lei aplicivel as obri- _gagdes extracontratuais (Roma II) nao é aplicavel ao caso em razio dos critérios que delimitam 0 seu ambito de aplicagio material; referéncia ao art. 1°, n®2, alg); = oart. 45° CC tem como conceito-quadro a “responsabilidade extracontratual”; interpretagio do conceito-quadro; — nos termos do art. 45%, n® 1, CC, determina-se que a responsa- bilidade extracontratual é regulada pela lei do Estado onde decorreu a principal atividade causadora do prejuizo; no caso, foi em Portugal; ~ nostermos do art. 45°, n® 3, CC, se 0 agente eo lesado tiverema mesma residéncia habitual e se encontrarem ocasionalmente em pais estrangeiro, seré aplicada a lei da residéncia comum; = nocaso em aprego, Catherine ¢ Dora tinham residéncia habitual comum nos Estados Unidos da América; ~ sendo a matéria a regular relativa a responsabilidade extracon- tratual e no a estatuto pessoal, apesar de, nos termos do art. 45°, n® 3, CC, se remeter para um ordenamento juridico plurilegis- lativo, nao esta preenchida a previsio do art. 20° CC; discussio doutrinaria acerca da aplicacao analégica do art. 20° CC aos casos em que o elemento de conexio da norma de conflitos que remete para o ordenamento plurilegislativo nao ¢ a naciona- lidade; ~ tendo ambas as amigas residéncia habitual no mesmo Estado soberano, mas em Estados federados distintos, ja se néo justfica a aplicagao do art. 45°, n° 3, CC, na medida em que a finalidade visada a aplicagao de uma lei que é comum 4s partes ~ no se verifica; = regressa-se & regra prevista non® I do art. 45° CC ea lei aplicavel para resolver a questo que se prende com a responsabilidade civil extracontratual serd a portuguesa. Fs Capitulo Ill Reenvio CASO 7-TRANSMISSAO DE COMPETENCIA ‘Alexander, suigo, contraiu matriménio, em Berna, com Bridget, tam- bém suiga, no regime de separagio de bens. ‘Apés 0 casamento, 0 casal ficou a residir habitualmente em Veneza, onde jé antes ambos viviam, uma ver. que Bridget ai tinha um palacete que herdara, por morte de seu tio Cassiano, portugués, anos antes do casamento com Alexander. Passados que so cinco anos, ¢ atentas as elevadas despesas de manutengio do palacete, Bridget ~ que se encontra em Lisboa, a tra- balhar por um periodo de 6 meses ~ decide vendé-lo e adquirir uma casa mais modesta, No entanto, Alexander opde-se a esta resolugio da mulher e afirma que, apesar de o bem ser de Bridget, uma vez que se trata da casa de morada de familia do casal, sempre seria necessario 0 seu consentimento para vendé-lo. Admitindo que: a) Os tribunais portugueses sio internacionalmente competentes; b) 0 Direito Internacional Privado suigo regula as relagdes entre 198 conjuges ¢ o regime de bens do casal pela lei do domicilio comum do casal; ¢) ODireito Internacional Privado italiano regulaas relagdes entre ‘0s cOnjuges e o regime de bens do casal pela lei da nacionalidade ‘comum do casal; ” d) Todas as ordens juridicas em presenga cc ideram Alexander ¢ Bridget domiciliados em Italia; €) O Direito Internacional Privado suigo aceita o retorno para a sua prépria lei; também o Direito Internacional Privado ita- liano aceita o retorno para a sua prépria lei; £) De acordo com o art, 169 do Cédigo Civil suigo, independente- mente do regime de bens vigente, um dos cénjuges nao pode alienar a casa de morada de familia sem o consentimento do outro cénjuge. O Direito material italiano no prevé qualquer regra semelhante a esta; diga, fundamentando devidamente a sua resposta, se Bridget necessita do consentimento de Alexander para vender o palacete sito em Italia. RESOLUGAO RESPOSTA ~ Esti em causa uma situagio que se prende com as relagoes entre os cOnjuges, independentemente do regime de bens; im- porta saber se, independentemente do regime de bens do casal, E necessdrio 0 consentimento de ambos para vender a casa de morada de familia, que é propriedade de apenas um dos cénjuges; ~ oart, 52° CC tem como conceito-quadro “relagdes entre os cén- juges”; interpretagio do conceito-quadro; = ort. 528 CC determina qual a lei aplicivel para regular as rela gGes entre os conjuges independentemente do regime de bens que vigore no casamento; — anorma de conflitos portuguesa remete para a lei da nacional dade comum dos cdnjuges, no caso, a lei suiga; a norma de con- flitos suiga remete para a lei do domicitio comum do casal, no caso, ale italiana; a norma de conflitos italiana remete para a lei da nacionalidade comum dos conjuges, alei suica; esquematica- mente: Ll (art. 528, n? 1) > L2 (lei suiga) > L8 (lei italiana) > L2 (lei suiga); = quer a lei suica, quer a Jei italiana aceitam 0 retorno para a sua prdpria lei, logo, a lei suiga aplica a sua lei material ¢ a lei italiana também aplica a sua lei material; = estando perante uma situagdo de reenvio para uma terceira lei, importa verificar se esto preenchidos os pressupostos de apli- cagao do art. 178, n? 1, CC; = 0 pressupostos de aplicagao do art. 17%, n* 1, do CC, nao estio preenchidos pois, apesar de a lei portuguesa remeter para uma lei estrangeira (a lei suiga), de a lei suiga remeter para uma terceira lei (a lei italiana), ¢ de esta se considerar a si propria competente, a lei suiga nio aplica a lei italiana; ou seja, no caso, L2aplica L2.e L3 aplica L3; — nao estando preenchidos os pressupostos de aplicagao do art 17%, n° 1, CC, é de aplicar o art. 16%, que consagra a referéncia material, € 0s tribunais portugueses vio eplicar a lei sufga; = interpretagio e caracterizagao do art. 169 do CC Suigo que regula a situagio; = o disposto no art. 169 do CC Suigo é subsumivel no conceito- -quadro do art. 52? CG; esté em causa a regulagao da relagao entre os cénjuges, independentemente do regime de bens a que © casamento est submetido; aplicagio do art. 15° CC. 0 CASO 8 - TRANSMISSAO DE COMPETENCIA Alim, de 20 anos, cidadio egipcio, que sempre residiu no Cairo, ena~ morou-se de Bianca, de 16 anos, estudante, de nacionalidade brasileira evenezuelana, com residéncia habitual no Cairo. Bianca, antes de viver no Egito, sempre vivera no Rio de Janeiro. Alim ¢ Bianca, de férias em Lisboa, pretendem casar-se e ficam surpreendidos quando 0 Conservador do Registo Civil os informa de que sé celebra 0 casamento se os pais de Bianca a autorizarem acasar. Admitindo que: a) As normas de conflitos do Direito Internacional Privado brasi- Ieiro e do venezuelano preveem que a capacidade da pessoa para contrair casamento é regulada pela lei do seu domicilio;, b) A norma de conflitos egipcia prevé que a capacidade da pessoa para contrair casamento é regulada pela lei da sua nacionalidade; ) O sistema de Direito Internacional Privado brasileiro e 0 egipcio consagram a referéncia material; 4) O sistema de Dircito Internacional Privado venezuelano prevé ‘que, no caso de o Direito estrangeiro declarar aplicavel o Direito venezuelano, este deve aplicar-se; no caso de 0 Direito estran- geiro declarar aplicavel o Direito de um Estado terceiro que, por sua vez, também se declare competente, deveri aplicar-se 0 Direito interno deste Estado; ¢) Todasas ordens juridicas em presenga consideram Beatriz domi- ciliada no Egito; f) De acordo com o Direito brasileiro e venezuelano a maioridade atinge-se aos 18 anos, mas os menores de 18 anos ¢ maiores de 16 anos podem casar com autorizagio dos pais; jf de acordo com 0 Direito egipcio, as mulheres tém capacidade para casara partir dos 16 anos e os homens a partir dos 18 anos; diga se Bianca tinha necessitava da autorizagao dos seus pais para casar. RESOLUCAO RESPOSTA Bsté em causa a capacidade de Bianca para contrair casamento com Abdul; art. 49° CC tem como conceito-quadro a “capacidade para con- trair casamento ou celebrar a convengio antenupcial”; interpre- tagio do conceito-quadro; © art. 49% CC determina a aplicagao da lei pessoal de cada nubente; nos termos do art. 31°, n® 1, CC, a lei pessoal é a lei da nacionalidade; de acordo com o art, 28° da Lei da Nacionalidade, caso o pluri- nacional nao tenha residéncia habitual num dos Estados da sua nacionalidade, releva a nacionalidade do Estado com o qual o sujeito mantenha uma vinculagio mais estreita; anacionalidade relevante seria a brasileira, pois era com o Brasil que Bianca apresentava a ligacio mais estreita; anorma dei flitos portuguesa remete para a Ici brasileira; a norma de conflitos brasileira remete para a lei do domicilio. da nubente, no caso, a lei egipcia; a norma de conilitos egipeia remete para a lei da nacionalidade do nubente, a lei brasileira; esquematicamente: Ll (art. 49°) > L2 (lei brasileira) > 13 (lei egipcia) > L2 (lei brasileira); quer a lei brasileira, quer a lei egipcia, ao praticar a referencia material, aplicam a lei designada pela sua norma de conffitos; logo, a lei brasileira aplica a lei material egipcia ¢ a lei egipcia aplica a lei material brasileira; estando perante uma situacéo de reenvio para uma terceira lei, deve verificar-sc se estio preenchidos os pressupostos de apli- cago do art, 178, n? 1, CC; os pressupostos de aplicagio do art. 17%, n¥ 1, do CC, nao estao preenchidos pois, apesar de a lei portuguesa remeter para uma Jei estrangeira (a lei brasileira) ¢ de a lei brasileira aplicar uma terceira lei (2 lei egipcia), esta nao se considera competente para regulara situagao, pois a lei egipcia aplica a lei brasileira; ou seja, no caso, L2 aplica L3 e L3 aplica L2; no estando preenchidos os pressupostos de aplicagao do art. 17%, n°1, CC, rege o art. 16%, que consagra a referéncia material, os tribunais portugueses vao aplicar a lei brasileira; de acordo com a lei material brasileira os menores de 18 anos apenas podem casar com autorizagio dos pais; interpretagio e caracterizagio desta norma material brasileira; esta norma material brasileira é subsumivel no coneeito-quadro do art. 49* CG; aplicagdo do art. 15? Ci Bianca teria de pedir a autorizagao aos pais para casar, CASO 9 - TRANSMISSAO DE COMPETENCIA ‘Ana e Bernardo, ambos com nacionalidade argentina, tinham domicitio em Itélia, onde casaram um com 0 outro, em 2007, e af continuaram a residir. Todavia, na sequéncia de uma zanga do casal, vivem em casas separadas desde outubro de 2010. Nesta data, Ana veio viver para Lis- boa, onde passou a residir habitualmente, enquanto Bernardo perma- neceu em Italia. Em Lisboa, Ana conheceu César, portugués, com quem pretende casar e continuar a viver em Portugal. Como Bernardo nao pretende divorciar-se de Ana, esta intentou uma agio de divércio em tribunal portugués, em margo de 2012, alegando que ja est separada de facto de Bernardo ha mais de | ano, facto que, considera, é fundamento para divércio, nos termos do art. 1781*, ala), CC portugués. Bernardo argu- menta que a lei aplicével ao caso é a argentina, que exige a separacao de facto ha pelo menos 2 anos e, por isso, a acdo deve ser julgada impro- cedente. ‘Admitindo que, 4) Os tribunais portugueses sio internacionalmente competentes; b) O Direito Internacional Privado argentino regula o divércio pela lei do ultimo domicilio dos cénjuges; ©) 0 Direito Internacional Privado italiano regula o divorcio pela lei da nacionalidade dos cénjuges, 4) O Direito Internacional Privado italiano aceita 0 retorno paraa sua prépria lei; c) Os tribunais argentinos praticam a referéncia material; f) De acordo com o Direito material argentino é fundamento de divércio a separagio de facto ha mais de dois anos conse- cutivos; g) O Direito italiano nao prevé qualquer periodo minimo de sepa- ragio de facto que fundamente o divércio, apenas se exigindo que seja intolerével a continuagao da vida do casal;, diga, fundamentando devidamente a resposta e apreciando os argu- mentos invocados: 1) Seo divércio deve ser decretado. 2) A resposta seria a mesma se a agio fosse intentada depois de 21 de junho de 20128 RESOLUGAO RESPOSTA 1) ~ Pretende-se saber se existe fundamento juridico para que 0 divércio possa ser decretado; — nio tendo a ago sido intentada depois de 21 de junho de 2012, o Regulamento (UE) n° 1259/2010, do Conselho de 20 de dezem- bro de 2010 que cria uma cooperagio reforgada no dominio da ei aplicével em matéria de divércio e separagio judicial, nao é aplicavel ao caso em razio dos critérios que delimitam 0 seu Ambito de aplicacao temporal; referéncia aos arts. 18° € 21%; = o art, 55® CC tem como conceito-quadro “separacio judicial de pessoas ¢ bens e divércio”; interpretagio do conceito-quadro; s ~ seguindo-se essa orienta ~ vari. 558, n* 1, remete para o disposto no art. CC; nos termos do art. 52%, n® 1, CC remete-se para lei nacional comum dos con- juges, que no caso é a argentina; a norma de conflitos argentina remete para a lei do tiktimo domicilio dos conjuges, no caso, a lei italiana; a norma de conflitos italiana remete para a lei da nacio- nalidade dos cnjuges, a lei argentina; esquematicamente: LI (art. 55%, n® Le §2°, n® 1 CC) > L2 (lei argentina) > L3 (lei ita- liana) > L2 (lei argentina); ~ ostribunais argentinos, ao praticarem a referencia material, apli- cam alei designada pela sua norma de conflitos; logo, a lei argen- tina aplica a lei material italiana; ~ 0Diteito Internacional Privado italiano, 20 aceitar 0 retorno para 2 sua propria lei, considera competente a lei material italiana; ~ estando perante uma situagio de reenvio para uma terceira lei, importa verificar se estao preenchidos os pressupostos de apli- agio do art. 17%, n* 1, CC; ~ os pressupostos de aplicagao do art. 172, n? 1, do CC, estao preen- chidos, pois a lei portuguesa remete para uma lei estrangeira (a lei argentina), a lei argentina aplica uma terceira lei (a lei ita- liana) ¢ esta considera-se competente para regular a situagdo; ou seja, no caso, L2 aplica L3 e L3 aplica 13; ~ averificagio dos pressupostos de aplicagéo do art. 17°, n® 2, CC, suscita, neste caso, dificuldades, pois, apesar de a lei argentina sera lei pessoal dos cénjuges, apenas a Ana tem residéncia habi- tual em territdrio portugués; ja Bernardo tem residéncia habitual em Itélia, cujas normas de conflitos nao consideram competentes © Direito interno argentino; ~ sese seguir a orientagio que sustenta que, neste caso, para esta- tem preenchidos os pressupostos de aplicacao do art. 17°, n* 2, CC, ambos os eénjuges tinham de residir habitualmente em Por- tugal, concluiu-se pela miu aplicacao desta disposigio; io, 0s tribunais portugueses aplicam a lef italiana para regular 0 divércio entre os cénjuges, ~ interpretagao e caracterizagao da norma material italiana que regula a questao; 2 asnormasmate s italianas que regulam o divércio so subsum veis no conceito-quadro do art. 55? CC; aplicagéo do art. 1S® CC; 0s pressupostos de aplicagao do art. 19% CC nao estao preenchi- dos; fundamentagio; 0 divércio poderé ser decretado se, conforme previsto na lei ita- Jiana, a continuagao da vida do casal for intoleravel. Se a agio fosse intentada depois de 21 de junho de 2012, haveria que determinar se era aplicavel o Regulamento (UE) n° 1259/ /2010 do Conselho de 20 de dezembro de 2010, que cria uma cooperagio reforcada no dominio da lei aplicével em matéria de divércio e separacao judicial; estao preenchidos os pressupostos de aplicacio do citado Regu- lamento; fundamentagio; interpretagio dos conceitos de “divén cial’, interpretagio autéaoma; as partes podiam acordar na designagao de uma das leis indicadas no art. 5%, n I, als. b), c) ou d) do Regulamento; no caso, podiam designar a lei italiana, a lei argentina ou a lei portuguesa; nio escolhendo as partes a Ici aplicivel, a situagio seria regida, nos termos do art. 8, al. c), do Regulamento, pela lei argentina; este Regulamento, nos termos do art. 1°, exclui o reenvio. ” e de “separagdo judi- CASO 10 -TRANSMISSAO DE COMPETENCIA Alain, francés, de 65 anos, casou em janeiro 2007, sem convengio ante- nupcial, com Blanche, também francesa, que conhecera em Lisboa, ‘embora ambos residissem habitualmente em Itélia, Apés 0 casamento, celebrado em Lisboa, Alain e Blanche continuaram a residir em Roma, onde trabalhavam. Em abril de 2007, Alain adquiriu um andar em Lisboa e diz agora a Blanche que o vai vender e nao necesita do consentimento desta para © fazer porque, afirma, estdo casados no regime de separacdo de bens = invoca o art. 17202, n°, al. b), do Cédigo Civil portugues, que consi- dera aplicavel. Blanche contesta que é necesséria a sua autorizacao, pois, de acordo com o regime de bens vigente, todos os bens adquiridos apés 0 casa~ mento s4o de ambos. Determine, apreciando os argumentos invocados, se Alain podia vender 0 imével adquirido apés 0 casamento, sem 0 consentimento de Blanche, admitindo que: ) Os tribunais portugueses so internacionalmente compe- tentes; b) Os tribunais franceses submetem o regime de bens & lei do pri- meiro domicilio conjugal; ©) Anorma de conflitos italiana que regula o regime de bens prevé, na falta de convengio das partes, a aplicagio da lei da nacionali- dade comum dos cénjuges; 4d) O Cédigo Civil francés, tal como o italiano, determina que 0 regime de bens supletivo é 0 da comunhdo de adquiridos, sem colocar quaisquer excegdes; e) Os tribunais franceses, em matéria de efeitos pessoais e patri- moniais do casamento, praticam 0 sistema de referéncia mate- rial; £) 0 Direito Internacional Privado italiano aceita 0 retorno para a sua propria lei, RESPOSTA ~ Pretende-se saber qual o regime de bens sob 0 qual 0 casamento se considera celebrado; = ort. 53° CC tem como conceito-quadro “substancia e efeitos das convengées antenupciais e do regime de bens, legal ou conven- ional” interpretagio do conceito-quadro; = ort. 53%, n? | CC remete para a lei nacional dos nubentes 20 tempo da celebragio do casamento; Alain ¢ Blanche eram fran- ceses; — a norma de conflitos portuguesa remete para a lei francesa; a norma de conflitos francesa remete para a lei do primeiro domi- cflio conjugal, no caso, a lei italiana; a norma de conflitos italiana determina a aplicagio da lei da nacionalidade comum dos conju- ‘ges, no caso, a lei francesa; esquematicamente: L1 (art. 53°, n* 1) ~ L2 (lei francesa) > L3 (lei italiana) > L2 (lei francesa); 6s tribunais franceses, 20 remeterem para ai italiana, fazendo referéncia material, aplicam a lei material italiana; a lei italiana, 20 aceitar 0 retorno para a sua lei, aplica-se a si propria; ocorrendo um reenvio para uma lei estrangeira, ha que verificar se se aplica o art, 17° CC; os pressupostos de aplicagio do art, 17%, n° 1, do CC, estio preen- chidos, pots a lei portuguesa remete para uma lei estrangeira (a lei francesa), a lei francesa aplica uma terceira lei (a lei italiana) cesta considera-se competente para regular a situago; ou seja, 1no caso, L2 aplica 1.3 e L3 aplica L3; os pressupostos de aplicagio do art, 17%, n® 2, CC, nao esto preenchidos, pois, apesar de a lei francesa ser a lei pessoal, os interessados (Alain e Blanche) nao residem habitualmente em Portugal, nem a lei do Estado da residéncia habitual (lei italiana) considera competente a lei do Estado da nacionalidade dos cén- juges (lei francesa); nio estando preenchidos os pressupostos de aplicagio do art. 178, n® 2, CC, no cessa 0 reenvio; logo, a lei portuguesa aplica a lei italiana; interpretacao e caracteriza¢do das normas materiais italianas que regulam o regime de bens sob 0 qual o casamento foi celebrado; estas normas s0 subsumiveis no conceito-quadro do art, 62° CC; aplicagio do art. 15° CC. CASO II-TRANSMI, \0DE COMPETENCIA Adrien, cidadao francés, habitualmente residente em Portugal, faleceu em Lisboa, deixando bens iméveis no Pangmd. Adrien era solteiro, nao tinha filhos e nio fez. testamento. A Adrien sobreviveram os seus pais, Barbara, francesa, ¢ Carlos, panamiano. Na sequéncia da morte do filho, Carlos, que apenas tinha visto ‘Adrien quando este acabara de nascer, vem habilitar-se como herdeiro, pretendendo ficar com os iméveis que se encontram no Panamé. Bar- bara contesta esta pretensto de Carlos, invocando a lei panamiana, nos termos da qual os progenitores que abandonem os filhos sio incapazes de suceder por indignidade. Barbara recorda Carlos que este abando- nou Adrien no dia em que o filho nasceu. Admitindo que: a) Os tribunais portugueses sio internacionalmente competentes; b) 0 Direito Internacional Privado francés regula a sucessio imo- biliaria pela lex reisitae, ©) Anorma de conflitos do Panama que regula a sucessio por morte determina a aplicagdo da lei material panamiana nos casos em que os bens a herdar se encontrem no Panam; d) Os arts. 726 e 727 do Cédigo Civil francés nio preveem como causa de indignidade o abandono dos filhos pelos progenitores; diga, fundamentando devidamente a resposta ¢ apreciando os argu- mentos invocados, se Carlos devia ser habilitado herdeiro de Adrien. RESOLUGAD RESPOSTA pretende-se saber quem fica com os bens de Adrien depois da sua morte; oat. 628 CC tem como conceito-quadro “sucesso por morte”; interpretagio do conceito-quadro; art. 62° CC remete para a lei pessoal do de cyjus; nos termos do art. 31*,n°I, CC, alei pessoal é lei da nacionalidade do individuo; Adrien era francés; a norma de conflitos portuguesa remete para a lei francesa; a norma de conflitos francesa remete para a lei do lugar onde se situam os iméveis, no caso, a lei panamiana; a norma de conflitos panamiana determina a aplicagao da lei material panamiana quando os iméveis se encontram no Panam; esquematicamente: LI (art, 628) > L2 (lei francesa) > L3 (lei panamiana) > L3 (let panamiana); os tribunais franceses, ao remeterem para a lei panamiana, que se considera competente, aplicam a lei material panamiang; a lei panamiana aplica a sua prépria lei material; 0s pressupostos de aplicacao do art. 172, n® 1, do CC, esto preen- chidos, pois a lei portuguesa remete para uma lei estrangeira (alei francesa), a lei francesa aplica uma terceira lei (a lei pana- miana) e esta considera-se competente para regular a situacio; ou seja, no caso, L2 aplica L3 e L3 aplica L3; os pressupostos de aplicagéo do art. 172, n® 2, CC, estao preen- chidos, pois a lei argentina é a lei pessoal eo interessado (Adrien) residia habitualmente em Portugal; esto ainda preenchidos os pressupostos de aplicagao do art. 17°, n? 3, CC, pois trata-se de um caso de sucesso por morte, a lei nacional ~ que no caso é a lei francesa ~ aplica a lei da situagio dos iméveis - que é a lei panamiana ~ ¢ esta considera-se com- petente; interpretagio e caracterizagio das normas materiais panamianas que regulam a capacidade para suceder; estas normas panamianas so subsumiveis no conceito-quadro do art. 62° CC; aplicagiodo art. 15° CC; oreenvio 6, todavia, paralisado por forga do art. 192, n° 1, CC, pois 08 seus pressupostos de aplicagdo esto preenchidos: da aplica~ ao do art. 177 CC - e consequente regulacao desta situacio pela lei material panamiana ~ resultavaa incapacidade de Carlos para suceder; se se aplicasse 0 art. 16° CC e, consequentemente, alei francesa, Carlos seria capaz para suceder; logo, da aplicagio da lei panamiana resulta a ilegitimidade de um estado que nio ocorreria se a Ici aplicada fosse a francesa; cossa 0 reenvio e a situagio ¢ regulada pela lei francesa, por aplicagio do art. 16 CC; interpretagio ¢ caracterizagao da lei material francesa que regula a capacidade sucessoria; esta lei é subsumivel no conceito-quadro doart. 62° CC; aplicagao do art. 158 CC. 2 CASO 12 RETORNO Alphonse, francés, de 65 anos, casou, em janeiro 2005, sem convengéo antenupcial, com Bettina, também francesa, que conhecera em Lisboa, onde ambos residiam. O casal, apés o casamento, continuou a residir habitualmente nesta cidade, Em abril de 2007, Alphonse adquiriu um andar em Lisboa e informa agora Bettina que 0 vendeu em outubro de 2011 sem ser necessirio o consentimento desta para o fazer porque, afirma, estio casados no regime de separagdo de bens ~invoca o art. 17202, n? I, al. b), do Codigo Civil portugués, que considera aplicavel, acordo com o regime de ber Bettina contesta que era necessiria a sua autorizagao, pois, de vigente, todos os bens adquiridos apés co casamento sio de ambos. Determine, apreciando os argumentos invocados, se Alphonse podia vender o imével adquirido apés o casamento, sem o consenti- mento de Bettina, admitindo que: a) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competente: b) Os tribunais franceses submetem o regime de bens lei do pi meito domicilio conjugal; ©) O Cédigo Civil francés determina que o regime de bens suple- tivo € 0 da comunhio de adquiridos, sem colocar quaisquer ¢x- ceocées; d) Os tribunais franceses, em matéria de efeitos pessoais e pa- trimoniais do casamento, praticam o sistema de referéncie material. RESOLUGAG RESPOSTA Esta em causa a determinagao do regime de bens sob o quel 0 casamento foi celebrado; o art. $3? CC tem como conceito-quadro a “substincia ¢ efeitos das convengdes antenupciais e do regime de bens, legal ou con- vencional”; interpretagio do conceito-quadro; © art. 53*, n? 1 CC determina a aplicagio da lei nacional dos nubentes ao tempo do casamento; a norma de conflitos portuguesa remete para a lei francesa; a norma de confltes francesa remete para a lei do primeiro domi- cilio conjugal, no caso, a lei portuguesa; esquematicamente: LL (art. 532, n® 1) > 12 (lei francesa) > LI (lei portuguesa); os tribunais franceses, ao praticarem o sistema de referéncia material, aplicam a lei para a qual a sua norma de conflitos remete; logo, a lei francesa aplica a lei material portuguesa; estando perante uma situacio de reenvio para a lei portuguesa, importa verificar se estio preenchidos os pressupostos de aplicagao do art. 18°, n° 1, CC; 0s pressupostos de aplicagao do art. 18%, n° 1, do CC, esto preen- chidos, pois os tribunais franceses aplicam a lei material portu- guesa; 0s pressupostos de aplicagao do art. 18%,n®2, CC, estéo preenchi- dos, pois trata-se de matéria compreendida no estatuto pessoal € 05 cénjuges tinham residéncia habitual em Portugal; “s — interpretagio e caracterizacao da norma material portuguesa que regula a situagio; esta norma ¢ subsumivel no conceito-quadro do art. §3° CC; aplicagao do art. 15° CC; — nio esto preenchidos os pressupostos de aplicagio do art. 19°, n°, CC; fundamentagio; ~ seria aplicada a lei material portuguesa, CASO 13 - RETORNO Alec, de nacionalidade francesa, residiu em Paris até aos 50 anos, altura em que casou com Bernadette e com cla foi viver para o Rio de Janeiro, onde veio a falecer 10 anos depois, em dezembro de 2011. Bernadette vem agora intentar uma aco judicial em tribunal por- tugués em que pede que seja declarado que Claudia - filha de Alec, que reside habitualmente em Lisboa - seja declarada indigna e, em consequéncia, Ihe devolva os quadros que recebeu por morte do pai, uma vez que fez desaparecer o testamento que Alec havia feito, Nesse testamento Alec deixava os bens que integravam a sua quota disponivel a Bernadette. Claudia alega que, sendo ela ¢ o pai franceses, deve ser aplicada a lei francesa para regular a situagio. Bernadette discorda e entende que deve ser aplicada a lei portu- ‘guesa, arts. 20348, al. d), 2036% e 2037? do CC. Diga, discutindo os argumentos invocados pelas partes, se as pre~ tenses de Bernardette devem ser julgadas procedentes pelo tribunal portugues, admitindo que: a) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) O Direito Internacional Privado francés regula a sucesso mobi- ligria pela lei do tltimo domicilio do de cujus, ©) Anorma de conflitos brasileira regula a capacidade para suceder pela lei do domicilio do herdeiro;, 4) O ordenamento juridico portugues considera Claudia domici- liada em Portugal e 0 ordenamento juridico brasileiro conside- tava Alec domiciliado no Brasil; ) Os tribunais franceses praticam devolucao simples ¢ os tribunais, brasileiros a referéncia material; f) Os arts. 726 e 727 do Cédigo Civil francés, tal como os arts. 1814 ss. do Cédigo Civil brasileiro, nio preveem como causa de indignidade a subtragio nem a supressao do testamento do de cujus. RESOLUGAD RESPOSTA = a norma de confli ~ Pretende-se saber quem fica com os bens de Alec depois da sua morte; ~ o art. 62% CC tem como conceito-quadro “sucessao por morte”; interpretag2o do conceito-quadro; ~ oart. 62° CC remete para a lei pessoal do de cujus; nos termos do art. 314, n® 1, CC, a lei pessoal é a lei da nacionalidade do indivi- duo; Alec era francés; s portuguesa remete para a lei francesa; a norma de conflitos francesa remete para a lei do ultimo domi- cilio do de cujus, no caso, a lei brasileira; a norma de conflitos bra- sileira remete para a lei do domicilio do herdeiro, no caso, a lei portuguesa; esquematicamente: Li (art. 62%) > L2 (lei francesa) 13 (lei brasileira) > Li (lei portuguesa); os tribunai, -anceses, ao praticarem o sistema de devolugio simples, considera que a devolugio que a lei designada pela sua norma de conflitos faz é uma referéncia material; logo, a lei francesa aplica a lei material portugudsa, pois considera que a devolugao feita pela lei brasileira para a portuguesa é uma referéncia material; os tribunais brasileiros, ao praticarem referéncia material, apli- cam a lei material portuguesa; estando perante uma situagio de reenvio para a lei portuguesa, importa verificar se esto preenchidos os pressupostos de apli- cagio do art. 18°, n? 1, CC; os pressupostos de aplicacio do art, 18%, n° 1, do CC, esto preen- chidos, pois os tribunais franceses aplicam a lei material por- tuguesa; os pressupostos de aplicagio do art. 18°, n° 2, CG, estio preen- chidos, pois trata-se de matéria compreendida no estatuto pes- soal ca lei da residéncia de Alec (lei brasileira) considera com- petente o Direito interno portugués; interpretagio e caracterizagdo das normas materiais portuguesas que regulam 2 situagdo; subsungao destas normas no conceito- -quadro do art. 62° CG; aplicacio do art. 15° CC; todavia, os pressupostos de aplicagio do art. 19°, n° 1, CG, estao preenchidos; da aplicagio do art. 18° CC ~ e consequente apli- cago da lei material portuguesa ~ resultava a incapacidade de Claudia para suceder; se se aplicasse o art. 16% CC e, consequen- temente, a lei francesa, Claudia seria capaz para suceder, logo, da aplicagio da lei portuguesa resulta a ilegitimidade de um estado que nao resultaria se a lei aplicada fosse a francesa; cessa o reenvio ¢ a situagio é regulada pela lei francesa, por aplica do art, 16° CC; interpretagao e caracterizacao da lei material francesa que regula a capacidade sucess6ria; esta lei é subsumivel no conceito-quadro do art. 62% CC; aplicagio do art. 15® CC. * CASO 14 - RETORNO Adamo, solteiro, com 60 anos, € cidadio francés e tem dois filhos, Ben e Carla, também franceses. Toda a familia reside habitualmente em Lisboa desde hi cerca de 30 anos, tendo os fillos ja nascido em Portugal. Em 2010, Carla dirigiu-se a uma esquadra da policia ¢ disse a um agente que o seu irmao, Ben, tinha assassinado a sua vizinha, Daniela. Carla bem sabia que Daniela apenas estava a passar férias na Australia, mas pretendia que contra o seu irmao fosse instaurado um procedi- mento judicial. Com efeito, Ben era um politico conhecido ¢ Carla pre- tendia que a honra do irmao ficasse manchada. Uma vez reposta a verdade, Ben, indignado, depois de um ripido processo judicial, obtém uma sentenga em que Carla é condenada por denuncia caluniosa. Em 2011, Adamo morre e Ben, tendo intentado uma acio judicial em tribunais portugueses em que pede que a irma seja declarada indigna, atento 0 disposto no art. 2034°, al. b), do CC portugués, afirma ‘que Carla nada receberd da heranga deixada pelo pai, composta por bens méveis situados em Portugal. Admitindo que: 4) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) As ordens juridicas referidas no caso consideram que todos membros da familia tém domicilio em Portugal; ©) ODireito de Conflitos francés regula a sucesso mobilidria pela lei do tltimo domicilio do de cujus, 4) Os tribunais franceses, em questdes sucess6rias, praticam devo- lugio simples; ©) Nos arts. 726 e 727 do Cédigo Civil francés nio se prevé como causa de indignidade a condenagao por denuncia caluniosa ou falso testemunho contra os descendentes do autor da sucessio; diga, fundamentando a resposta, se a pretensiio de Ben deve ser julgada procedente pelo tribunal. RESPOSTA — Pretende-se saber quem fica com os bens de Adamo depois da sua morte; = o art. 62 CC tem como conceito-quadro “sucesséo por morte”; interpretagao do conceito-quadro; — oart. 62° CC remete para a lei pessoal do de cujus; nos termos do art. 31°, n°1, CC,a lei pessoal ¢ lei da nacionalidade do individuo; Adamo era francés; - a norma de conflitos portuguesa remete para a lei francesa; a norma de conflitos francesa remete para a lei do tltimo domi- cilio do de cujus, no caso, a lei portuguesa; esquematicamente: LI (art. 62°) > 12 (lei francesa) > LI (lei portuguesa); = ostribunais franceses, a0 praticarem 0 sistema de devolugio sim- ples, consideram que a devolugio que a lei designada pela sua ‘norma de conflitos faz ¢ uma referéncia material; logo, a lei fran- 8 2 cesa aplica a sua prépria lei material, pois _nsidera que a devo- lugao feita pela lei portuguesa para a francesa é uma referéncia material; estando perante uma situacao de reenvio para a lei portuguesa, importa verificar se estao precnchidos’os pressupostos de apli- cagio do art. 18°, n? 1, CC; 08 pressupostos de aplicagio do art. 188, n® 1, do CC, nao estio preenchidos, pois os tribunais franceses no aplicam a lei material portuguesa, mas sim a sua propria lei material; nao estando preenchida a previsao do art. 18°, n° 1, CC, aplica-se a regra geral, consagrada no art. 16# CC, de onde resulta que a lei portuguesa aplica a lei francesa; interpretagio e caracterizagao da lei material francesa que regula a capacidade sucesséria; esta lei material é subsumivel no con- ceito-quadro do art. 62° CC; aplicagao do art. 158 CC. CASO 15 ~ RETORN Alfred, cidadao britanico, vivo, residente em Londres, faleceu em 2011, sobrevivendo-Ihe dois filhos, também britinicos ¢ residentes em Londres. Alfred fizera testamento, em Londres, deixando todos os seus bens iméveis, que se situavam em Portugal, a um dos filhos, Bobby. A Charles, o outro filho, Alfred deixou apenas uma pequena quantia em dinheito, Charles vem agora dizer que é aplicavel a lei portuguesa & sucessio por morte do pai e, por isso, considera-se herdeiro de uma parcela superior iquela que foi fixada no testamento. Admitindo que: 8) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) A lei inglesa regula a sucessio imobiliria pela lex ret situs ©) O Reino Unido é um ordenamento juridico onde vigoram dife- entes sistemas juridicos validos para as varias parcelas do terri- t6rio; 4) Nao existe, no Reino Unido, Direito interlocal nem regras de Dircito Internacional Privado unificadas; €) De acordo com a lei material inglesa existe liberdade de testar: diga, apreciando os argumentos invocados, se a pretensio de Charles deve ser julgada procedente pelo tribunal portugues. RESOLUGAO RESPOSTA Pretende-se saber quem fica com os bens de Alfred depois da sua morte; © art. 62° CC tem como conceito-quadro “sucesso por morte”; interpretagio do conceito-quadro; oart. 62° CC remete para a lei pessoal do de cujus; nos termos do art. 318, n® L, CC, a lei pessoal ¢ a lei da nacionalidade do indivi- duo; Alfred era cidadao britanico; © Reino Unido é um ordenamento juridico onde vigoram dife- rentes sistemas jurfdicos validos para as diferentes parcelas do territério; a previsio do art. 20°, n° 1, CC, est preenchida, pois, em razio da nacionalidade de Albert, é designada a lei do Reino Unido, ‘onde coexistem diferentes sistemas legislativos locais; nio existe, no Direito do Reino Unido, normas de Direito inter- local, nem regras de Direito Internacional Privado unificado (art 208, n® 2, CC); nos termos do art. 20°, n® 2, CC, nestes casos, considera-se como lei pessoal do interessado a lei da sua residéncia habitual; Alfred tinha residéncia habitual em Inglaterra, logo, aplica-se a lei inglesa; 0s tribunais ingleses remetem para a lei do lugar da situagao dos iméveis, no caso, a lei portuguesa; esquematicamente: LI (lei por- tuguesa) > L2 (lei inglesa) > LI (lei portuguesa); ~ ostribunais ingleses, ao praticarem o sistema de devolugio dupla, aplicario a mesma lei que os tribunais do Estado para cuja lei remetem aplicarem, ou seja, aplicarao a lei que os tribunais por- tugueses aplicarem; = havendo retorno para o Direito portugués, ha que verificar se esto preenchidos os pressupostos de aplicacio do art. 18°, n° 1, CC; discussio na doutrina acerca desta questao; segundo uma orientagio doutrinéria, ¢ de aceitar 0 retorno para a lei portu- guesa; a doutrina maioritéria entende que no estao preenchidos (5 pressupostos de aplicagao do art. 18°, n° 1, CC, poisos tribunais ingleses ao remeterem para o Direito portugués atendem as suas normas de conflitos e ao seu sistema de devolugio, nao determi nando diretamente a aplicacao do Direito material portugués; ~ nao estando preenchida a previsio do art. 18°, n° 1, CC, aplica-se oart. 16% CC e, em consequéncia, a lei inglesa ¢ a designada para regular esta situagio; ~ interpretagio e caracterizagio das normas materiais inglesas que regulam esta situacdo; estas normas inglesas so subsumiveis no conceito-quadro do art. 62° CC; aplicagio do art. 15° CC; ~ verificar se estao preenchidos os pressupostos de aplicagio do art. 22° CC; fundamentacao, Capitulo IV Normas de aplicacao imediata CASO 16 ~ NORMAS DE APLICACAG IMEDIATA/FORMA DO TESTAMENTO Carl, de nacionalidade francesa, tendo vivido até aos 50 anos em Paris, decidiu nessa altura, em 2005, mudar a sua residéncia habitual para Lisboa onde viveu até falecer, Em 2011 Carl morreu sem deixar parentes sucessiveis. Diana, portuguesa, amiga de Carl, vem dizer que este, em 2009, fez testamento holdgrafo, em Lisboa, deixando-Ihe o seu apartamento sito em Paris e intenta, em tribunais portugueses, ago para se habilitar como herdeira do de cujus, (0 Estado francés vem reclamar, nessa ago, 0 imével sito em Paris, Alega que o testamento holdgrafo nio tem qualquer validade, atento 0 disposto no art. 2223" CC portugués, que considera aplicavel ao caso. Admitindo que: a) Os tribunais portugueses eram internacionalmente compe- tentes; b) © Direito Internacional Privado francés regula a sucesso imo- biliaria pela lex re sitac; ¢) Os tribunais franceses praticam devolugio simples; 4) Carl tinha domicilio em Portugal & data do seu falecimento, segundo todas as ordens juridicas em presenga; €) Oart. 969 do Cédigo Civil francés admite os testamentos holé- grafos; responds, fundamentadamente, se a pretensio de Diana deve ser jul- gada procedente pelo tribunal portugué RI ESOLUCAD R ESPOSTA ~ Pretende-se saber se o testamento era formalmente vilido; = oart. 65%,n® 1, CC, tem como conceito-quadro a validade formal das disposigdes por morte, bem como a sua revogacio ou modi- ficagio; interpretagao do conceito-quadro; = neste caso, nos termos do art. 65%, n® 1, CC, prevé-se a aplicagao alternativa da lei portuguesa (por ser a lei do lugar da celebragio do testamento) ou a lei francesa (por ser a lei da nacionalidade do de cujus), consoante a que favorega a validade formal do testa- mento; ~ alei portuguesa, nos termos dos arts. 2204? ss. do CC, prevé que as formas comuns do testamento sfo o testamento piiblico e 0 testamento cerrado; 0 art, 969% do Cédigo Civil francés admite 08 testamentos holdgrafos; interpretagdo e caracterizacao destas normas materiais; qualquer destas normas materiais regula a forma que devem res- peitar os testamentos e, por isso, si0 subsumiveis no conceito- -quadro do art. 65%, n°1, CC; aplicagio do art. 15° CC; a aplicacao da lei portuguesa ao caso tem como consequéncia a invalidade formal do testamento; todavia, sendo aplicada a lei francesa, o testamento é formalmente vilido; logo, aplica-se a lei francesa; no art. 65%, n? 2, CC, esta prevista uma regra de reconhecimento de normas de aplicagio imediata; admite-se, nos termos do art. 65°, n® 2, CC, a aplicago de norma de aplicagéo imediata da lei pessoal do autor da heranga no momento da declaracéo que exija, sob pena de nulidade ou ine- ficdcia do ato, a observancia de uma determinada forma; art. 2223° CC no tem aplicagio neste caso, jé que Antoine nao era portugués; 6 aplicada a lei francesa para regular a validade formal do testa- ‘mento; o testamento de Carl é formalmente vilido. 8 CASO 17-NORMAS DE APLICAGAG IMEDIATA/FORM. 0 TESTAMENTO Eduardo, de nacionalidade portuguesa, tendo vivido até aos 50 anos em Lisboa, decidiu nessa altura, em 2005, mudar a sua residéncia habi- tual para Paris onde viveu até falecer. Em 2011 Eduardo morreu sem deixar parentes sucessiveis, Filipa, portuguesa, amiga de Eduardo, vem dizer que este, em 2009, fez testamento holdgrafo, em Paris, deixando-lhe o seu apartamento | sito em Lisboa e intenta, em tribunais portugueses, ago para se habi- litar como herdeira do de cujus. O Estado portugués vem reclamar, nessa ago, 0 imével sito em Lisboa. Alega que o testamento holdgrafo nao tem qualquer validade, atento 0 art. 2223° CC portugués, que considera aplicavel a0 caso. Admitindo que: a) Os tribunais portugueses cram internacionalmente compe- tentes; b) 0 Direito Internacional Privado francés regula a sucesso imo- bilidtia pela lex rei sitae; ©) Os tribunais franceses praticam devolugio simples; d) Eduardo tinha domicilio em Franga a data do seu falecimento, segundo todas as ordens juridicas em presenga; ©) Oart, 969* do Cédigo Civil francés admite os testamentos holé- grafos, responda, fundamentadamente, se a pretensao de Filipa deve ser jul- gada procedente pelo tribunal portugues. RESOLUGAD RESPOSTA ~ Pretende-se saber se o testamento era formalmente vilido; ~ oart. 65%, n* ], CC, tem como conecito-quadro a validade formal das disposigées por morte, bem como a sua revogagao ou modi- ficagdo; interpretagao do conccito-quadro; = neste caso, nos termos do art. 65°, n® 1, CC, prevé-se a aplicagio alternativa da lei francesa (por sera lei do lugar da celebragio do testamento) ou da lei portuguese (por ser a lei da nacionalidade do de cujus), consoante a que favorega a validade formal do testa- mento; ~ alei portuguesa, nos termos dos arts. 2204" ss. da CC, prevé que as formas comuns do testamento so 0 testamento puiblico e 0 testamento cerrado; 0 art. 969° do Cédigo Civil francés admite 0s testamentos holdgrafos; interpretacao e caracterizagio destas normas materiais; ~ qualquer destas normas materiais regula a forma que devem res- peitar os testamentos e, por isso, so subsumiveis no canceito- ~quadro do art. 658, n® 1, CC; aplicagao do art, 18% CC; ~ a aplicacdo da lei portuguesa ao caso tem como consequéncia a invalidade formal do testamento; todavia, sendo aplicada a lei francesa, o testamento é formalmente vilido; logo, aplicar-se-ia alei francesa; ~ todavia, no art, 65%, n® 2, CG, esta prevista uma regra de reconhe- cimento de normas de aplicagao imediata; admite-se, nos termos do art. 658, n* 2, CC, a aplicacéo de norma de aplicagao imediata da lei pessoal do autor da heranga no momento da declaracéo que exija, sob pena de nulidade ou ine- ficécia do ato, a observancia de uma determinada forma; art. 2223* CC & uma norma de aplicagao imediata, que regula a validade formal do testamento e delimita 0 seu Ambito de apli- cagio no espago; 0s pressupostos de aplicacao do art. 2223° CC esto preenchidos, pois o testamento ¢ feito por cidadio portugues, em pais estran- geiro, com observancia da lei francesa, que é competente para regular a situaco; o testamento s6 produziria efeitos na ordem juridica portuguesa se tivesse sido observada uma forma solene na sua feitura ou aprovagio; discussio na doutrina portuguesa quanto 4 concretizagio do con- ceito de “forma solene”; orientagéo seguida por uma fragao doutrinaria, nos termos da qual, o testamento holégrafo nao reveste a forma solene; orientagio seguida por outros autores, que defendem ser suficiente a forma escrita; de acordo com a primeira orientacao o testamento seria formalmente invalido € de acordo com a segunda seria formalmente vilido; ainda que seja seguida a doutrina que considera que o testamento holdgrafo nao reveste a forma solene, este testamento pode- ria ser reconhecido em Portugal, atento o disposto no art. 312, n?2,CC. CASO 18 - NORMAS DE APLICAGAO IMEDIATA/OBRIGACOES CONTRATUAIS Em 15 de junho de 2011, Agnes, habitualmente residente em Franga, celebrou um contrato com Berta, com residéncia habitual em Portugal, nos termos do qual esta faria um espetaculo de pirotecnia nos jardins da casa daquela, em Sevilha, por ocasido do seu aniversirio, em 15 agosto de 2011. Agnes e Berta acordaram que este contrato seria regido pela lei portuguesa. Devido aos incéndios que se verificaram em Espanha no inicio de julho, foram proibidas, no territério espanhol, todas as atividades de pirotecnia no periodo compreendido entre 15 julho e 30 de setembro de 2011, Por esta razio, assim que teve conhecimento desta proibicto, Berta transmitiu a Agnes que nao poderia fazer o espetaculo acordado. Agnes, que estava muito empenhada na realizagao do espeticulo, intentou uma agao contra Berta, em tribunais portugueses, em que pede uma indemnizagio pelos danos decorrentes do incumprimento. Quid iuris? RESOLUGAO RESPOSTA ~ Esta em causa uma situagio relativa a obrigagdes contratuais; ~ esto preenchidos os pressupostos de aplicagio do Regulamento Roma |; fundamentacio; ~ interpretagio do conceito-quadro “obrigagdes contratuais em matéria civil e comercial”; ~ aescolha de lei portuguesa pelas partes é admissivel, nos termos do art. 3° do Regulamento Roma I; ~ 2 norma vigente no ordenamento juridico espanhol que proibe as atividades de pirotecnia em Espanhaé uma norma de aplicagio imediata; ~ definigao de “normas de aplicagio imediata” prevista no art, 9°, n® 1, do Regulamento Roma I; ~ trata-se, no caso, de uma disposigio cujo respeito, em territério espanhol, é considerado fundamental por Espanha, para a salva~ guarda de um interesse publico, ainda que a lei que regula o con- trato no seja a espanhola; — nos termos do art. 98, n® 3, do Regulamento Roma I, pode ser dada prevaléncia a esta norma espanhola, pois é em Espanha que as obrigagoes decorrentes do contrato devem ser executadas & essa execugio scria ilegal, atenta a proibigéo determinada pelo ordenamento juridico espanhol; ~ sendo aplicavel a lei portuguesa a0 contrato, seria, contudo, dada prevaléneia & norma de aplicagao imediata espanhola, dai resul- tando, por impossibilidade do cumprimento, a extingio da obri- gagdo a cumprir por Berta. Capitulo V Casos gerais CASO 19 - LIBERDADES EUROPEIAS/NACIONALIDADE Fernando, cidadao holandés, italiano ¢ peruano, de 18 anos, sempre viveu em Lima, embora as suas férias escolares, ja desde crianca, fassem passadas em Roma, na casa de sua av6, Fernando nunca tinha estado na Holanda. Na sequéncia de uma viagem de turismo que fez.a Portugal, Fer- nando encanta-se com Lisboa e decide, na viagem de regresso ao Peru, estabclecer-se naquela cidade portuguesa como alfaiate. Guilherme, seu companheiro de Ihe que ele deve pedir as autoridades portuguesas autorizacio para residir em Portugal, mas Fernando afirma que, sendo também cidadao europeu, pode estabe- lecer-se livremente em Portugal. Quid iuris? RESOLUGAO RESPOSTA ~ Estd em causa a liberdade de estabelecimento num Estado-Mem- bro da Unido Europeia, importando, por isso, saber se a naciona- lidade relevante é de um Estado-Membro da Unio Europeia; ~ de acordo com o art. 28* da Lei da Nacionalidade, em principio, relevaria a nacionalidade do Estado em cujo territério o plurinacio- nal tem a sua residéncia habitual, no caso, anacionalidade peruang; ~ todavia, as disposigdes de Direito Europeu que regulam a liber- dade de estabelecimento obstam a que um Estado-Membro da 10 Europeia recuse a um nacional de outro Estado-Membro obeneficio da liberdade de estabelecimento pelo facto de o inte- ressado possuir simultaneamente a nacionalidade de um Estado terceiro eo Estado de acolhimento o considerar nacional deste terceiro Estado; (vide, vg., acérdao do Tribunal de Justiga das Comunidades Europeias, de 7 de julho de 1992, Mario Vicente Micheletti e outros contra Delegacién del Gobierno en Cantabria, proc. €-369/90); ~ assim, para efeitos de liberdade de estabelecimento, a nacionali- dade relevante seria a italiana ou a holandesa; aplicagao do art. 28° da Lei da Nacionalidade; entre estas duas nacionalidades, Fer- nando apresentava uma ligago mais estreita com do Estado ita- liano; ~ anacionalidade relevante seria a italiana. © ‘CASO 20 - CAPACIDADE JURIDICA DAS PESSOAS SINGULARES Oscar, mogambicano, de 19 anos, habitualmente residente em Lisboa, viajou até Madrid, Nessa cidade adquiriu, em janeiro de 2012, a Pablo, ‘um quadro de um pintor famoso pelo valor de 200.000 €. Oscar pagou de imediato a Pablo a quantia de 50.000 € e combinou com este que ‘0s restantes 150.000 € seriam entregues na semana seguinte. De regresso a Lisboa, Oscar arrependeu-se da compra ¢ pretende agora invalidé-la. Pede, por isso, a Pablo que Ihe devolva os 50.000 € que ja entregou. Oscar invoca que o contrato ¢ anulivel, pois, de acordo coma lei material mogambicana, ele é menor e, por isso, nio tem capa- cidade juridica para celebrar este negécio. Pablo afirma que no sabia que a maioridade, 4 luz da lei mogambi- cana, era atingida apenas aos 21 anos e que apenas celebrou o contrato com Oscar porque estava convicto de que este tinha capacidade para fazé-lo. ‘Como Oscar se recusa a pagar a Pablo o valor em divida, este intenta uma ago judicial em que pede que aquele seja condenado a entregar- -lhe os 150.000 € em falta. Admitindo os elementos dados no texto e ainda que, a) Os tribunais portugueses sto internacionalmente competentes; b) Nos termos da lei mogambicana, a maioridade atinge-se aos 21 anos; de acordo com a lei espanhola, a maioridade atinge-se aos 18 anos; c) A semelhanga do disposto no art. 125° CC portugués, também segundo a lei mogambicana os negécios juridicos praticados por menores podem ser anulados; 4) Anorma de conflitos mogambicana, tal como a espanhola, deter- mina que a capacidade das pessoas ¢ regulada pela lei pessoal do to; a lei da nacionalidade do sujeito é a sua lei pessoal; e) O sistema devolugao de Direito Internacional Privado mogam- bicano é,em matéria de capacidade para celebrar negécios juri- dicos, igual ao portugués; £) Em sede de devolugio, o Direito Internacional Privado espanhol pratica referéncia material; todavia, aceita o retorno para a sua propria lei; responda, fundamentadamente e apreciando os ar, _nentos invocados pelas partes, se 0 juiz devia julgar a ago intentada por Pablo proce- dente, RESOLUGAO RESPOSTA ~ Esté em causa a capacidade para a celebragio do contrato de ‘compra e venda; ~ ort, 25" CC tem como um dos conceitos-quadro “a capacidade das pessoas”; interpretagdo do conceito-quadro; ~ oart. 25° determina a aplicagao da lei pessoal do sujeito; nos ter- mos do art. 31", n° 1, CC, a lei pessoal é a lei da nacionalidade; ~ uma vez,que Oscar tem nacionalidade mogambicana, a norma de conflitos portuguesa remete paraa lei mogambicana; a norma de conflitos mo. abicana regula a capacidade juridica pela lei da nacionalidade; a lei mogambicana considera-se competente; alei portuguesa aplica a lei material mogambicana (art. 16° CC); as normas materiais mogambicanas que regulam a capacidade juridica aplicaveis ao caso s4o subsumiveis no conceito-quadso do art. 25 CC; fundamentacio; Oscar era menor; a lei aplicavel & relagio contratual em aprego seria determinada nos termos do Regulamento Roma I, por estarem preenchidos 0s respetivos pressupostos de aplicagao; fndamentagio; referén- cia ao art. 1, n® 2, al, a), do Regulamento; 0s pressupostos de aplicagio do art. 13° do Regulamento Roma I estavam preenchidos: Oscar e Pablo encontravam-se em Espanha aquando da celebragdo do negécio; Oscar era considerado capaz segundo a lei espanhola, pois esta prevé que a maioridade ¢ atin- gida aos 18 anos de idade e Oscar tinha jé 19 anos; a incapacidade de Oscar resultava de lei estrangcira, da lei mogambicana; ¢, no momento da celebragio do contrato, Pablo nao tinha conhec’ mento dessa incapacidade nem a desconhecia por negligéncia (fundamentagio); atento o disposto no art. 13° do Regulamento Roma I, Oscar nao podia invocar a sua incapacidade e, em consequéncia, o negécio no devia ser invalidado, CASO 21-CAPACIDADE JURIDICA DAS PESSOAS SINGULARES/OBRIGACOES CONTRATUAIS Caetano, mogambicano e portugués, com 18 anos, habitualmente resi- dente no Brasil, passava férias em Portugal quando foi contactado tele- fonicamente pela sociedade comercial Livros & Letras, Lda., que tem sede e desenvolve a sua atividade em Portugal. Esta sociedade, que se dedica & venda de livros, tendo tomado conhecimento de que Carlos era apreciador das obras de Ega de Queiroz, e que se encontrava em Portugal, propds-lhe a venda de uma colegio de primeiras edigoes dos livros daquele autor. Caetano, também telefonicamente, aceitou. Quando recebeu os livros em casa, ja no Brasil, Caetano ficou desi- ludido e, 10 dias depois, enviou uma carta registada & sociedade Livros & Letras, Lda., resolvendo o contrato e, consequentemente, pedindo o reembolso da quantia paga. Invocou, para tal, 0 art. 6% do Decreto-Lei n® 143/2001, de 26 de abril, que regula a matéria res- peitante protecio dos consumidores nos contratos celebrados 4 distancia, Afirmou ainda que, em todo o caso, o negécio seria anu- livel pois, de acordo com a lei mogambicana, cle cra ainda menor e, por isso, nao tinha capacidade de exercicio para celebrar o ne- gécio. A Sociedade Livros & Letras, Lda. afirma que, para regular as ques- tes que se prendem com este contrato é aplicavel a lei brasileira, nos termos da qual o consumidor tem apenas o prazo de 7 dias (art. 49 do Cédigo de protegio e defesa do consumidor), a contar da data do rece- bimento da encomenda, para “desistir” do contrato. Admitindo os elementos dados no texto e ainda que, a) Ostribunais portugueses so internacionalmente competentes; b) Nos termos da lei mogambicana, a maioridade atinge-se aos 21 anos; ©) Anorma de conflitos mocambicana determina que a capacidade das pessoas é regulada pela lei pessoal do sujeito; a lei da nacio- nalidade do sujeito é a sua lei pessoal; 4) O sistema devolugao de Direito Internacional Privado mogam- bicano é, em matéria de capacidade para celebrar negécios juri- dicos, igual 20 portugués; €) Nos termos do art. 6%, n® 1, do Decreto-Lei n* 143/201, de 26 de abril, “[nJos contratos a distancia o consumidor dispoe de um prazo minimo de 14 dias para resolver o contrato sem pagamento de indemnizagio e sem necessidade de indicar o motivo”, £) Anorma de conflitos brasileira que regula as obrigagdes contra tuais determina a aplicacao da lei da residéncia do proponente; responda, fundamentadamente e apreciando os argumentos invocados pelas partes, as seguintes questées: 1) Tinha Caetano capacidade juridica para celebrar 0 contrato de compra e venda dos livros? 2) Assumindo que Caetano tinha capacidade juridica para celebrar onegécio, devia o contrato de compra e venda dos livros ser con- siderado resolvido e, consequentemente, a sociedade Livros & Letras, Lda. reembolsar Caetano do valor pago? RESOLUGAO RESPOSTA 1) 2) Esti em causa a capacidade para a celebragéo do contrato de compra e venda; art. 25° CC tem como um dos conceitos-quadro “a capacidade das pessoas”; interpretagio do conceito-quadro; © art, 25¢ determina a aplicagio da lei pessoal do sujeito; os termos do art. 31°, n® 1, CC, a lei pessoal é a lei da naciona- lidade; tendo Caetano dupla nacionalidade — portuguesa e mogambicana ~€sendo uma delas a portuguesa, rege o art. 27° da Lei da Nacio- nalidade e, consequentemente, a nacionalidade que releva é a portuguesa; a lei material aplicével para regular a capacidade juridica de Cae~ tano cra a portuguesa e, por isso, conclui-se que ele tinha capa- cidade para celebrar 0 contrato, Bstd cm causa uma situagao relativa a obrigagdes contratuais; estio preenchidos os pressupostos de aplicagio do Regulamento Roma J; fundamentagao; interpretagio do conceito-quadro “obrigagbes contratuais em matéria civil e comercial”; 4s partes ndo escolheram a lei aplicdvel para regular o contrato (are. 3¢ do Regulamento Roma 1); deve verificar-se se estio preenchidos os pressupostos de aplica- $0 do art. 6% do Regulamento Roma I: 0 contrato foi celebrado por Caetano — para uma finalidade que é estranha 4 sua atividade Profissional - com a sociedade Livros & Letras, Lda. ~ que agia ‘no quadro das suas atividades comerciais; todavia, a situagio em apreco ndo cumpre os requisitos estabelecidos nas als. a) nem b) do art. 6, n° 1; a lei aplivavel deve ser designada nos termos do art. 42, conforme prevé o art. 62, n® 3; estando perante um contrato de compra e venda, rege o art. 42, ni 1, al. a), do Regulamento Roma I, que determina a aplicagao da lei do pais onde 0 vendedor (a sociedade Livros & Letras, Lda.) tem resi cia habitual; a residéncia habitual de uma socie- dade localiza-se no pais onde se situa a sua administracio central (art. 19%, n? I, do Regulamento Roma I); ~ excluido o reenvio (art. 20? do Regulamento Roma 1); ~ alei que regulava o contrato era a portuguesa; 0 contrato devia ser considerado resolvido ¢ Caetano devia ser rcembolsado do valor pago. n CASO 22 OBRIGACGES CONTRATUAIS Elena é cidada argentina, reside habitualmente em Italia, mas deslo- cou-se a Lisboa, por motivos laborais e por um perfodo de 6 meses, onde chegou hd 2 meses. Elena conheceu, em Lisboa, Francisco, portugués, com quem se pretende casar e depois, com ele, regressar altalia, Em janeiro de 2012, ja planeando o casamento com Francisco ¢ antevendo despesas, Elena contacta David, espanhol, que reside habitualmente em Madrid, com quem celebra um contrato de mituo, Nos termos desse contrato, a taxa de juros a pagar por Elena sera a correspondente aos juros legais, acrescidos de 7%. Descontente com 0 valor dos juros que esté a pagar, por os considerar usurdrios, Elena intenta agora uma agao em tribunal em que pede que o negécio seja anulado. Admitindo que: a) Os tribunais portugueses sio internacionalmente compe- tentes; b) Elena tem domicilio em Italia, segundo todas as ordens juridicas em presenga; c) Nos termos do art. 1146%, n® 1, CC portugués, “E havido como usurdrio 0 contrato de miituo em que sejam estipulados juros anuais que excedam os juros legais, acrescidos de 3% ou §%, con- forme exista ou nio garantia real”; 4) No Direito material espanhol nao esta prevista uma taxa de juros que determine automaticamente a existéncia de usura, cabendo ao tribunal formar livremente a sua conviegio; diga, fundamentando devidamente a sua resposta e apreciando 0s argumentos invocados, se o tribunal portugués deve julgar proce- dente a pretensio de Elena. RESOLUGAD RESPOSTA = Esté em causa uma situagio relativa a obrigagées contratuais; = esto preenchidos os pressupostos de aplicagao do Regulamento Roma J; fundamentagio; — interpretagio do conceito-quadro “obrigagées contratuais em materia civil ¢ comercial”; — as partes nao escolheram a lei aplicivel para regular o contrato (art. 3° do Regulamento Roma I); ~ o art, 6° do Regulamento Roma I nao é aplicavel a0 caso pois, desde logo, nio resulta do enunciado que David atuasse no qua- dro da sua atividade comercial ou profissional; ~ na determinacio da lei aplicével para regular o contrato, rege 0 art. 4°, n® 2, do Regulamento Roma I, pois 0 contrato de muituo no esté abrangido por nenhuma das alineas do art. 4%, n° 1, do Regulamento Roma I, © contraente que deve efetuar a presta: teristica é David; fundamentagio; tendo David residéncia habitual em Espanha, é lei espanhola a aplicavel ao caso © contrato nao apresenta uma conexio manifestamente mais estreita com a lei de outro pais que nao a espanhola; nio esta veri- ficada a clausula de excegao prevista no art. 48, n® 3, do Regula- mento Roma I; €excluido o reenvio (art. 20° do Regulamento Roma 1); © contrato é regulado pela lei espanhola, cabendo ao tribunal decidir, atenta a sua convicgao, se existe usura. CASO 23-OBRIGA, °S EXTRACONTRATUAIS Akim e Bella, ambos suigos, contrafram matriménio em Berna ¢ fiea- ram aresidir habitualmente em Veneza. Nas férias, 0 casal contratou com a agéncia de viagens Cesare, com sede efetiva em Italia, uma viagem e alojamento em Lisboa. No decurso dessa viagem, jé na chegada a Lisboa, o autacarro em que seguiam, eve um acidente que se deveu ao excesso de peso da bagagem que era transportada. Nesse acidente, Bella partiu uma perna e teve de ser hos- pitalizada, - Em convalescenga em Lisboa, Bella intenta uma ago contra @ agéncia de viagens, em que pede que esta seja condenada no paga- mento de indemnizacio relativa aos danos por si sofridos. Bella invoca que, nos termos da lei portuguesa, o autocarro transportava excesso de peso. A agéncia de viagens Cesare alega que nada deve pagar pois, de acordo com a lei italiana, o volume de bagagem transportada estava dentro dos limites legais. ‘Admitindo que os tribunais portugueses sio internacionalmente competentes, diga, fundamentando devidamente a sua resposta, se a agéncia de viagens Cesare & responsivel pelo pagamento de indemni- zagio relativa aos danos softidos por Bella, RESOLUGAO RESPOSTA Esta em causa uma situagdo de responsabilidade civil extra~ contratual; estio preenchidos os pressupostos de aplicagao do Regulamento Roma II; fundamentagio; interpretagdo do conceito-quadro “obrigacées extracontratuais em matéria civil e comercial”; no que respeita aos critérios que delimitam 0 seu ambito de aplicagio material, deve ser feita uma referéncia & interpretacao doart. 1°, n® 2, al. g), do Regulamento Roma Il; nio tendo havido escolha de lei pelas partes (prevista no art. 14* do Regulamento Roma II), rege o art. 4° do Regulamento Roma ll; tendo a lesada e a pessoa cuja responsabilidade é invocada resi- déncia habitual em Itélia, rege o art. 4°, n® 2, do Regulamento Roma II, e seria aplicada a lei italiana; cumpre verificar se, no caso, esto preenchidos os pressupostos de aplicacao do art. 4°, n® 3, do Regulamento Roma Il; na situagdo em aprego, existia jé uma relagio entre as partes, uma relagio contratual (art. 42, n® 3, segundo periodo, do Regula- mento Roma II); lei reguladora desta relagio contratual era determinada nos ter- mos do Regulamento Roma I, por estarem preenchidos os pres- supostos de aplicagio deste diploma; io tendo as partes escolhido a lei reguladora do contrato, apli- cavam-se as regras gerais; atuando Akim e Bella como consumi- dores ea agéncia Cesare no quadro das suas atividades come nos termos do art. 6° do Regulamento Roma I, era esta a disposi- ‘gio aplicivel; ‘© contrato em causa nao estava previsto nas alineas do art. 6%, xn? 4, do Regulamento Roma I; estavam preenchidos os pressupostos de aplicagio do art. 6%, n? 1, do Regulamento Roma I, logo, o contrato seria regido pela lei da residéncia habitual dos consumidores, no caso, a lei ita- liana; quer aplicando o art. 4°, n® 2, quer o art. 4°, n® 3, ambos do Regulamento Roma Il, chegava-se a aplicagio da mesma lei: alei italiana; conclui-se que nao existia uma conexdo mais estreita do que a prevista no art. 48, n® 2, do Regulamento Roma II e esta era a disposicio aplicavel; o argumento alegado pela agéncia Cesare, relativo a0 volume de bagagens transportada, nao colhe, na medida em que se trata de uma regra de seguranca, cuja aplicagio é regulada nos termos do art. 17° do Regulamento Roma IT; 6 por isso, no que respeita as regras de seguranga e de conduta — logo, também no que respeita aos limites de volume de baga- gem transportada -, tida em conta a lei do lugar onde ocorre 0 facto que dé origem a responsabilidade: a lei portuguesa. CASO 24 -BIGAMIA Artur, de 50 anos, brasileiro, é casado com Bahiti, egipcia, com quem reside no Cairo hé 30 anos. Entretanto, Artur enamora-se de Camila, egipcia, e pretende casar-se com ela, durante as férias a pas- sar em Portugal, regressando depois a0 Cairo, onde ficarao a residir os trés. O Conservador do Registo Civil portugués informa Artur que nao pode celebrar 0 casamento, uma vez que a lei portuguesa, nos termos do art, 16014, alc), CC, no permite que pessoas casadas possam con- trair novo matrimonio sem que o anterior esteja dissolvido, Inconformado, e pretendendo obrigar o Conservador portugues a aplicar ao caso a lei egipcia, Artur adquire a nacionalidade egipcia € renova o seu pedido junto do Conservador do Registo Civil de Lisboa, que responde da mesma forma, invocando a aplicacao da lei portuguesa, Aprecie a pretensio ¢ os argumentos de Artur, nos dois momentos, bem como as respostas do Conservador do Registo Civil, admitindo que: a) Os tribunais portugueses so internacionalmente competen- tes; b) A norma de conflitos egipcia determina que as questdes mate~ tiais respeitantes a validade do casamento sao reguladas pela lei da nacionalidade de cada um dos nubentes; ©) Anorma de conflitos brasileira regula todas as questées relativas ‘a capacidade e aos direitos de familia pela lei do pais do domicilio da pessoa; 4) Os tribunais brasileiros e os tribunais egipeios praticam a refe~ réncia material; ¢) A ordem juridica egipeia considera Artur, Bahiti e Camila domi- ciliados no Egito; £) © Direito material egipcio permite que um homem possa ter até quatro mulheres; g) O Diteito material bra no podem casar. iro determina que as pessoas casadas AESOLUGAO RESPOSTA — Esta em causa a capacidade de Artur para contrair casamento com Camila; — oart 498 CC tem como conceito-quadro a “capacidade para con- trai casamento ou celebrar a convengao antenupcial”; interpre- tagio do conceito-quadro “capacidade para contrair casamento”; ~ 0 art, 49 CC determina a aplicacdo da lei pessoal de cada nubente; nos termos do art. 312, n® 1, CC, a lei pessoal é a lei da nacionalidade; = a norma de conflitos portuguesa remete para a lei da nacionali dade do nubente, no caso, no primeiro momento, a lei brasileira; a norma de conflitos brasileira remete para a lei do domicilio do nubente, a lei egipcia; a norma de conflitos egipcia remete paraa lei da nacionalidade do nubente, a lei brasileira; esquema- ticamente: LI (art. 49°) > L2 (lei brasileira) > L3 (lei egipcia) > L2 (lei brasileira); a a = quer a lei brasileira, quer a lei egipcia, ao praticar a referéncia ‘material, aplicam a lei designada pela sua norma de conflitos; logo, a lei brasileira aplica a lei material egipcia ¢ a lei egipcia aplica lei material brasileira; ~ estando perante uma situagio de reenvio para uma terceira lei, importa verificar se est4o preenchidos os pressupostos de apli- cagao do art, 17%, n° 1, CC; ~ 05 pressupostos de aplicagdo do art. 17°, n® 1, do CC, nao estio preenchidos, pois, apesar de a lei portuguesa remeter para uma lei estrangeira (a lei brasileira) e de a lei brasileira aplicar uma terceira lei (a lei egipcia), esta nao se considera competente para regular a situagdo, pois lei egipcia aplica a lei brasileira; ou seja, no caso, L2 aplica L3 e L3 aplica L2; = nao estando preenchidos os pressupostos de aplicagio do art. 178, n® 1, CC, é de aplicar o art. 16% CC, que consagra a referéncia material, ¢ a situagdo é regulada pela lei brasileira; ~ interpretagdo e caracterizagao da lei material brasileira que esta- belece que as pessoas casadas ndo podem casar novamente sem dissolver o anterior casamento; esta lei material é subsumivel no conceito-quadro do art. 49° CC; aplicagio do art. 15* CC; ~ Artur nio podia casar com Camila em Portugal - Entretanto, Artur adquire a nacionalidade egipeia e nao renuncia brasileira; = como Artur tem residéncia habitual num dos Estados da sua nacionalidade — no Egito -, de acordo com o art. 28° da Lei da Nacionalidade, releva a nacionalidade egipcia; ~ a norma de conflitos egipcia considera competente 0 Direito material egipcio; a lei portuguesa determinaria a aplicagao do Direito material egipcio (art. 16° CC); ~ anorma material egipcia nos termos da qual se permite que um homem casado com uma mulher possa contrair casamento com outra é subsumivel no conceito-quadro do art. 49% CC; aplicagio do art. 15% CG; ~ todavia, a aplicagao desta norma material egipcia ao caso teria como consequéncia que Artur poderia casar com Camila, apesar de ja ser casado com Bahiti, o que contraria a reserva de ordem publica internacional do Estado portugués (art. 22 CC) ~ a biga- mia, em Portugal, é crime e 0 facto de o casamento ser celebrado em Portugal traduz uma ligacio suficientemente estreita com 0 ordenamento juridico portugués; consequentemente, a aplicagio desta regra material egipcia sera afastada e Arvur, sendo casado com Bahiti, no poderd casar com Camila; de acordo com a doutrina maioritéria, nao est4 em causa uma ver- dadeira situagio de fraude & lei (art. 21° CC), pois Arcur reside, de facto, no Egito, ai est integrado c fez um uso legitimo da sua faculdade de adquirir a nacionalidade egipcia. e CASD 25 PARTENARIAT ENREGISTRE Edgar, francés e brasileiro, nasceu e viveu em Paris até aos 40 anos, altura em que passou a residir habitualmente na Suiga, onde veio a fale- cer, 208 75 anos, sem testamento e sem familiares vivos, deixando um andar em Berna, Edgar vivia com Frederico em Berna e, em maio de 2005, tinham registado esta sua unio no ambito do partenariat enregistré previsto no Direito suigo. Frederico, agora a residir habitualmente em Lisboa, vem, invocando 4 sua qualidade de herdeiro de Edgar, pedir que seja transferida para seu nome a propriedade do imével. 0 Estado francés diz herdar o andar, por Edgar ser francés e, nao reconhecendo Frederico como sucessor, afirma que a aplicagao da lei suiga ao caso contraria a reserva de ordem publica internacional portuguesa ¢ francesa, pois os sistemas juridicos francés e portugués nGo preveem o partenariat enregistré. O Estado francés afirma, por isso, que a lei aplicivel ao caso deve ser a portuguesa, Aprecie 0s argumentos invocados pelas partes ¢ diga se a pretenséo de Frederico deve ser julgada procedente pelo tribunal portugués, admitindo que: a) Os tribunais portugueses sto internacionalmente competentes; b) Nos termos do art. 2* da lei suiga sobre o partenariat enregistré, duas pessoas do mesmo sexo podem registar oficialmente a sua Jo, obrigando-se a seguir uma vida de casal e assumindo os direitos e as obrigagbes dai decorrentes; ¢) O Direito Internacional Privado francés regula a sucessio imo- bilidtia pela lei do lugar da situagao do imével; ) A norma de conflitos suiga, tal como a brasileira, regula a suces- sio pela lei do domicilio do de cujus, ¢) Os tribunais franceses praticam devolugio simples ¢ 0s tribunais suigos, assim como os brasileiros, a referéncia material; £) A ordem juridica suiga considerava Edgar domiciliado na Sufga; 8) De acordo com o Direito material francés, os herdeiros sao ape- nas os familiares do de cujus, nfo se incluindo entre este elenco 0 partenaire enregistré nem 0 Estado; & h) De acordo mo Direito material brasileiro, os herdeiros sto 0 familiares do de cujus ~ nao se incluindo entre este elenco 0 ‘partenaire enregistré— ¢, na falta de familiares, o Estado brasileiro € herdeiro quando os bens se encontrem no Brasil; d i) De acordo com o art. 462° do CC sutgo, 0 partenaire enregistré éherdeiro. RESOLUGAO RESPOSTA ~ Pretende-se saber, na sequéncia da morte de Edgar, quem é atualmente o proprietirio do imével sito em Paris; — oart. 62% CC tem como conceito-quadro “sucesso por morte”; interpretagio do conceito-quadro; ~ oart, 62? CC remete para a lei pessoal do autor da sucesso que, nos termos do art. 31°, n® 1, CC, € lei da nacionalidade do indi- viduo; 6 ~ de acordo com o art. 28° da Lei da Nacionalidade, caso o pluri- nacional nao tenha residéncia habitual num dos Estados da sua nacionalidade, releva a nacionalidade do Estado com o qual 0 sujeito mantenha uma vinculagio mais estreita; a nacionalidade relevante seria a francesa; ~ anorma de conflitos francesa remete para a lei do lugar da situa- gio do imével, a lei suica; a lei suiga considera-se competente por o de cujus ter tido o ultimo domicilio na Suiga; esquema- ticamente: LI (art, 62°) > L2 (lei francesa) > 13 (lei suiga) > 13 (lei suiga); havendo reenvio para uma terceira lei, ha que verificar se os pres- supostos de aplicagio do art. 172, n® 1, CC, esto preenchidos, € conclui-se que esto: a lei portuguesa remete para uma lei estrangeia (lei francesa) ¢ esta aplica uma outra lei (lei suiga), que se considera competente para regular a situagio; = 05 pressupostos de aplicagio do art. 17%, n® 2, CC, no esto preenchidos pois, apesar de a lei francesa ser a lei pessoal, Edgar nio residia habitualmente em territério portugues e a lei do pais onde residia, Suiga, considerava-se a si prépria competente para regular a situagio; ~ estando verificada a previsio do art. 17°, n® 1, e no a do art. 17%, n® 2, CC, conclui-se que a lei portuguesa aplicava a lei suica; ~ interpretagao e caracterizago da norma material suica que prevé que o partenaire enregistré & herdeiro; esta norma material suiga € subsumivel no conceito-quadro do art. 62° CG; aplicagio do art, 15°CC; ~ oreenvio nao é parali mentagio; = anorma material suiga aplicada ao caso em aprego nio ofende os principios da reserva de ordem piiblica internacional do Estado portugués; fundamentagio; ~ asimagod regulada pela lei suiga, logo, Frederico é herdeiro de Edgar. ido pela aplicagao do art. 19 CC; funda- CASO 26 - PARTEWARIAT ENREGISTRE/OBRIGACOES EXTRACONTRATUAIS Alberto e Boris, brasileiros, viviam juntos em Genebra e, em junho de 2007, registaram esta sua unio de facto no Ambito do partenariat enre- gistré previsto no Dircito suigo. Boris, em fevereiro de 2011, viajou até Lisboa para ci trabalhar por ‘um periodo de um ano, findo o qual regressaré a Suiga. Em abril de 2011, Alberto, influenciado por uma nova orientagao filosdfica em voga na Suiga, que tem como guru Carol, desempregou- -see decidiu comegar a doar parte significativa dos seus bens. Entre os bens que ele pretendia doar a Carol, no futuro, encontravam-se rel6~ gios valiosos que Béris havia trazido para Lisboa. Béris ficou preocupado com esta decisao de Alberto, que poderia colocar em causa o cumprimento de obrigagdes pecuniarias do casal, e pede ao tribunal que, com fundamento no art. 22 da lei suiga sobre © partenariat enregistré, impeca, pelo menos, a doagio dos referidos relégios. Entretanto, em maio de 2011, Béris recebe, em Lisboa, a visita de Dalila, sua amiga de longa data, também brasileira, que reside habi- tualmente na Alemanha com o seu marido, Eurico, Na sequéncia de ‘uma brincadeira, Boris, calculando mal a sua forga, empurra Dalila, que cai da varanda e parte uma perna, Dalila e Eurico intentam uma agio judicial contra Boris, pedindo a condenagio deste no pagamento de ‘uma indemnizagio por danos patrimoniais € nao patrimoniais sofridos por Dalila e ainda no pagamento de uma indemnizagao a Eurico pelos danos morais sofridos por este, resultantes da afligao de saber a sua esposa doente. Boris contesta o pedido de pagamento da indemnizagio a Eurico, afirmando que é aplicavel ao caso a lei alema — pois era na Alemanha que Eurico se encontrava quando soube do acidente de Dalila -, nos termos da qual néo ¢ admitida a indemnizagio de danos morais indi- .o afirmam ser aplicavel ao caso a retos ou por ricochete. Dalila e Eu Iei portuguesa, que admite a atribuigio de indemnizagio por danos indiretos. ‘Admitindo os elementos dados no texto e ainda que: a) Os tribunais portugueses sao internacionalmente competentes; b) Todas as ordens juridicas em presenga consi -am Alberto ¢ Boris domiciliados na Suiga; ©) Nos termos do art. 2 da lei suiga sobre o partenariat enregitré, duas pessoas do mesmo sexo podem registar oficialmente a sua uniéo, obrigando-se a seguir uma vida de casal e assumindo os dircitos cas obrigagbes dai decorrentes. Designadamente, as partes tm o dever de assisténcia e de respeito pelo outro, o dever de con- tribuir paraa vida em comum, Aquele que estiver vinculado por ‘um partenariat enregistré nao pode celebrar um outro partenariat enregistré nem contrair casamento ¢ fica com o estado civil de “tigado por partenariat enregistre", 4) Nos termos do art, 22 da lei suiga sobre o partenariat enregistré, uma das partes pode requerer ao tribunal que ~ independente- mente de conveneSes que tenham sido celebradas quanto aos bens do casal ~ a disposigio de certos bens fique dependente do consentimento das duas partes, ou outras medidas que considere adequadas, com vista a assegurar as condig6es materiais do par- tenariat enregistré ow a execucao das suas obrigagées pecuniirias © Direito brasileiro nao tem uma regra especifica com teor seme- Ihante ao do art. 22 da lei sufga; ©) Anorma de conflitos suiga regula os efeitos do partenariat enre- gistré pela lei do domicilio comum das partes; £) Anorma de conflitos brasileira regula todos os efeitos do casa- ‘mento pela lei do domictlio comum dos cénjuges; 2) Quer os tribunats suicos, quer os brasileiros praticam referéncia material; responda, fundamentadamente e apreciando os argumentos invocados plas partes, is seguintes questdes: 1) Devia o tribunal impedir a doagio dos relégios por Alberto? 2) Devia o tribunal condenar Boris no pagamento de uma indem- niizagdo por danos morais indiretos a Burico? RESOLUGAO RESPOSTA, 1) ~ o partenariat enregistréé uma realidade juridica que traduz um vin- culo oficial ¢ publicamente assumido entre duas pessoas do ‘mesmo sexo que pretendem partilhar a vida familiar; = nao sendo um casamento, trata-se de um vinculo familiar entre duas pessoas, que tem semelhangas significativas com 0 casa mento entre pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo nos paises onde a legislacao o prevé: para além dos direitos ¢ deveres que decorrem do partenariat enregistré, acresce que quem estiver vinculado por um partenariat enregistré nao pode contrair um outro nem casar ¢ adquire um estado civil especifico; ~ opartenariat enregistré é uma realidade que se aproxima, pelo con- tetido e fungio que desempenha no Diteito suigo, do casamento, € as partes vinculadas assumem uma condi¢ao semelhante a de cOnjuges; interpretagao lex causae das regras que regulam o parte- nariat enregistré, 2)- 0 art. 52° CC tem como conceito-quadro “relagbes entre os c6n- juges”; iterpretacdo do conceito-quadro; o conceito de “relagdes entre os cénjuges” é suficientemente amplo para incluir as rela- Oes entre partenaires enregistrés, o art. §2° CC determina qual a lei aplicavel para regular as rela- gBes entre os cdnjuges independentemente do regime de bens que vigore no casamento; nos termos do art. §2°, n° 1, CC, a lei portuguesa remete para a lei da nacionalidade comum dos cénjuges, no caso, a lei brasileira; a lei brasileira remete para a lei do domicilio dos cOnjuges, a lei suica; a lei suiga considera-se competente; esquematicamente: Ll (art. 52%,n* LCC) > L2 (lei brasileira) > L3 (lei suiga) > L3 (lei suiga); esto preenchidos os pressupostos de aplicagao do art. 178, n° 1, CC: a lei portuguesa remete para uma lei estrangeira; esta lei estrangeira (2) aplica uma outra lei (L3) e esta outra lei (13) considera-se competente para regular a situacio; oart. 17%, n® 2, CC, nao esta preenchido, pois, apesar de a lei refe- rida pela norma de conflitos portuguesa ser a lei pessoal, Alberto ¢ Boris residem na Suiga, que se considera competente para regu- lar a situacao; interpretacio e caracterizagio do art. 22 da lei suiga sobre o par- tenariat enregistré, que regula a situagio; esta disposigao é subsu- mivel no conceito-quadro do art, 52%, n? 1, CC; aplicagio do art. 15° CC; discussio doutrinaria a propésito da interpretagio do art. 19° CC; segundo uma orientagao doutrinéria, neste caso, art. 198, n® I, CC, nao faria cessar a devolugao, pois, embora da aplicagio da lei suiga resulte a impossibilidade de celebrar um negécio que seria possivel celebrar de acordo com a lei brasileira, este negécio ainda nao tinha sido celebrado; segundo outra orientacao doutrindria, nao hi que limitar a aplicagio do art. 199, n° 1, CC, as situagies j4 constituidas, e, no caso em apreco, conduziria & paralisagio do reenvio, aplicando-se a lei brasileira. Est em causa uma situacio de responsabilidade civil extracon- tratual; esto preenchidos os pressupostos de aplicagio do Regulamento Roma II; interpretagao do conceito-quadro “obrigacées extracontratuais em matéria civil e comercial”; no que respeita aos critérios que delimitam o seu ambito de apli- cacao material, deve ser feita uma referéncia a interpretagio do art. 18, n®2, al. g), do Regulamento Roma II; nao tendo havido escolha de lei pelas partes (art. 14* do Regula- mento Roma ll), rege o art, 4% do Regulamento Roma Il; no tendo as partes residéncia habitual comum (art. 4°, n? 2, do Regulamento Roma Il), rege o art. 4%, n° l, do Regulamento Roma II, e seré aplicada a lei do lugar do dano direto, no caso, Portugal; é excluido o reenvio (art. 24% do Regulamento Roma I); apli- ‘cam-se as normas materiais portuguesas que regulam a atribui- go, ou nao, de danos indiretos; apretensio de Béris nao tem, neste caso, cabimento, uma vez. que alei aplicdvel é a do pais onde ocorre o dano, “(...) independen- temente do pais ou paises onde ocorram as consequéncias indi- rectas desse facto; logo, a lei alema nao ¢ aplicavel a0 caso. CASO 27 ~ VENDA DE PAIS A FILHOS Adriano e Belén, com 60 anos, sio cidadios mogambicanos e uru- guaios, casados um com 0 outro e tém dois filhos, Carlota e Danilo, também mogambicanos e uruguaios e jé maiores, Toda a familia sem- pre viveu no Uruguai até hé 20 anos, altura em que se mudaram para Florenca, onde, desde entio, trabalham, Adriano e Belén eram proprietarios de um terreno no Porto e ven- leram-no a Danilo, mediante o pagamento do prego de 300.000 €, que foi entregue. Carlota, descontente com esta venda, para a qual nao deu o seu con- sentimento, vem dizer que 0 negécio é invalido, por entender que & aplicivel 20 caso o art. 877° do Cédigo Civil portugués, ¢ intenta em tri- unal portugués uma agio judicial em que pede a anulagao do contrato. Admitindo que: 4) Os tribunais portugueses sio interna tentes; b) Os Estados referidos no caso consideram que todos os membros da familia se encontram domiciliados em Itilia; ©) O art. 877 do Cédigo Civil mogambicano em vigor, inserido no capitulo dedicado a compra e venda, estabelece o seguinte: nalmente compe- “L Os pais avés nao podem vender a filhos ou netos, se os outros filhos ou netos nao consentirem na venda;o consentimento dos des- cendentes, quando ndo possa ser prestado ou seja recusado, é sus- ceptivel de suprimento judicial. 2. A venda feita com quebra do que preccitua o nimero anterior éanulivel; a anulagio pode ser pedida pelos filhos ou netos que nio deram o seu consentimento, dentro do prazo de um ano a contar do conhecimento da celebragio do contrato, ou do termo da incapaci- dade, se forem incapazes”; 4) © Direito italiano, tal como o Dircito uruguaio, nao prevé qual- quer disposigio semelhante 4 do art, 877° do Cédigo Civi mogambicano nem do art. 8778 do Cédigo Civil portugues; ¢) O Direito de Conflitos uruguaio prevé que as relagoes entre pais ¢ filhos so reguladas pela lei do domicilio dos pais; £) ODircito ¢ Yonflitos italiano prevé que as relagées entre pais e filhos s4o reguladas pela lei da nacionalidade dos filhos, 8) ODireito de Conflitos mogambicano prevé que as relagSes entre pais e filhos sio reguladas pela lei da nacionalidade comum dos pais, h) O Direito de Contflitos italiano, tal como omogambicano, deter- mina que As sucess6es por morte, é aplicavel a lei da naciona- lidade do de cujus a0 tempo da sua morte; 0 Direito de Conflitos uruguaio determina que as sucessdes por morte, é aplicével a lei do lugar da situagao dos bens do de cxjus, i) De acordo como Direito de Conflitos mogambicano, os contra- tose as obrigagbes dai decorrentes siio regidas pela lei escolhida pelas partes ¢, nao tendo havido escolha, pela lei da residéncia habitual comum das partes; de acordo com 0 Direito de Conflitos uruguaio, os contratos e as obrigagdes dai decorrentes sio regi das pela lei do lugar do seu cumprimento; ji) Bm sede de devolugio, o Direito Internacional Privado italiano faz referéncia material, mas aceita 0 retorno para a sua propria lei; 0 Direito Internacional Privado brasileiro, tal como o uru- guaio, praticam referéncia material; diga, fundamentando devidamente a sua resposta, se a pretensio de Carlota deve ser julgada procedente. RESOLUGAO

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