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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional
Coordenação de Curso de Serviço Social
Departamento de Serviço Social de Campos

Disciplina: Ética profissional e Serviço Social – SSC 00216


Docente: Isabel Cristina Chaves Lopes
Período: 5º
Horário: Sextas-feiras 18h - 22h
Carga horária: 60 horas

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

ÉTICA: “A ética se coloca como uma práxis supondo, portanto, uma prática concreta e
uma reflexão ética crítica.” (Barroco, 2001, p.65)

“A ética se põe como uma ação prática dotada de uma moralidade que extrapola o dever
ser, instituindo-se no espaço do vir a ser, isto é na teleologia inscrita nas decisões que
objetivam ações práticas voltadas à superação dos entraves à liberdade, à criação de
necessidades livres.” (Barroco, 2001, p.65)

“Como mediação entre a singularidade e a genericidade, entre valores universais e sua


objetivação, a ética perpassa por todas as esferas da totalidade social. Por isso, não se
objetiva apenas na moral; pode se realizar através da práxis política, por exemplo. Suas
categorias específicas são aquelas que implicam a sociabilidade orientada por um projeto
coletivo, voltado à liberdade e universalização dos valores éticos essenciais [...]:
responsabilidade, compromisso, alteridade, reciprocidade, equidade. [...] Seu fundamento é
a liberdade, entendida como capacidade humana e valor.” (Barroco, 2001, p.65)

Ética como ação prática: “A ética, entendida como uma ação prática consciente, que
deriva de uma escolha racional entre alternativas e orienta-se por valores que buscam
objetivar algo que se considera „valoroso, „bom, „justo, contêm algumas mediações
essenciais: a razão, as alternativas, a consciência, o projeto que queremos realizar, os
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valores éticos, a responsabilidade em face de implicações objetivas da ação para os outros


homens, para a sociedade. A questão da responsabilidade é, pois, central na ação da ética,
uma vez que ela dá sentido à sociabilidade e à liberdade inerentes às escolhas.”

Ética a partir da ontologia: “Ontologicamente considerada, a ética é também uma


atividade que permite ao indivíduo sair de sua singularidade para estabelecer uma conexão
consciente com o humano genérico; logo, é uma atividade universalizante, mesmo sendo
realizada por um indivíduo particular. Neste sentido, a ética se põe como mediação entre
todas as esferas sociais, inclusive da esfera moral, campo institucionalizado de normas e
deveres orientadores do comportamento dos indivíduos sociais e campo propício à
reprodução de valores e deveres assimilados espontaneamente pela tradição, pela repetição,
pelo hábito, ou seja, de forma acrítica, levando à reprodução da alienação no campo do
comportamento ético-moral”

“Para que a ética se realize como saber ontológico é preciso que ela conserve sua
perspectiva totalizante e crítica, capaz de desmistificar as formas reificadas de ser e pensar.
Assim, ela é, também, um instrumento crítico de outros saberes, de elaborações éticas que
possam estar contribuindo para o ocultamento das mediações existentes entre a
singularidade inerente a cotidianidade e o gênero humano, reproduzindo com isto a
alienação. [...] Quando a ética não exerce essa função crítica pode contribuir, de modo
peculiar, para a reprodução de componentes alienantes.” (Barroco, 2001, p.56)

Valores: “A (re)produção da vida social coloca necessidades de interação entre os homens,


modos de ser constitutivos da cultura, produtos do trabalho, tais como a linguagem, os
costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, religiosas, artísticas e políticas. Ao mesmo
tempo, pela capacidade de criar valor, os homens qualificam positiva ou negativamente
suas relações, de acordo com o conjunto de necessidades e possibilidades históricas”
(Barroco, 2000, p.25)

“Ao objetivar-se como um ser de escolhas, de liberdade, o homem projeta sua criação,
criando e recriando valores. O valor é, então, considerado uma categoria ontológica social,
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expressão de relações sociais historicamente determinadas e, portanto, algo objetivo”


(Paiva, 1996, p.168)

“A orientação de valor é inerente às atividades humanas. [...] O valor não é uma


decorrência apenas da subjetividade humana; ele é produto da práxis. [...] A dinâmica
complexa das mediações sociais faz com que os valores se desdobrem em múltiplos
significados. [...] Assim se coloca o caráter objetivo dos valores; eles sempre correspondem
a necessidades e possibilidades sociohistórica dos homens, em sua práxis.” (Barroco, 2001,
p.29)

Ética e liberdade: “Para Marx, a liberdade consiste na participação dos indivíduos sociais
na riqueza humano-genérica construída historicamente: „a humanidade será livre quando
todo homem particular possa participar conscientemente na realização da essência do
gênero humano e realizar valores genéricos em sua própria vida, em todos os seus aspectos‟
(Marx, apud Barroco, 2001, p. 65).

A ética é uma capacidade humana fundada na liberdade de escolha, mas a autonomia


implica na racionalidade crítica capaz de ultrapassar o nível do que é repetido
espontaneamente para recriar a vida em patamares cada vez mais criativos e livres. A ética
tem um caráter universalizante porque sua razão de ser é exatamente a de estabelecer a
conexão entre singularidade e a genericidade do homem.”

Moral: “A moral apresenta-se como uma das formas de explicitação dos atributos do
homem genérico, uma das formas do indivíduo particular relacionar-se com a sua
genericidade. Funcionando como uma das mediações entre particularidade e a
universalidade humana, a moral permite ao homem objetivar-se no mundo como um ser
capaz de formular escolhas, logo, potencialmente livre e criativo” (Paiva, 1996, p. 168)

“[...] é uma forma, historicamente construída de objetivação da capacidade ética do ser


humano-genérico, mas nela não esgota suas potencialidades.” (Barroco, 2001, p.64)

“A moral implica na valorização de ações e comportamento que se transformam em


deveres e acabam sendo incorporados ao modo de ser dos indivíduos, gerando sentimentos,
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escolhas, desejos, atitudes, posicionamentos diante da realidade, juízos de valor, senso


moral e uma consciência moral, ou seja, responsabilidade diante dos outros e de si mesmo.
Assim, a moral e os valores são sempre sociais e históricos; são construções culturais
objetivas inscritas nas relações sociais inerentes à (re)produção da vida social. Os costumes
que formam o tecido social são considerados deveres , porque receberam, num dado
momento, uma legitimação fruto de um consenso social acerca do que é bom para a
coletividade. A partir de tal consenso cria-se uma expectativa de que os indivíduos
respeitem tal deveres. Mas, para isso, é preciso que eles os aceitem conscientemente como
legítimos, donde a vinculação entre o dever e a consciência moral, entre caráter social da
mora e sua aceitação.
A moral sempre comporta transgressões e negociações que só podem ocorrer diante da
possibilidade de escolha instituída através da consciência crítica e da criação de códigos
morais alternativos
Sua reprodução se efetiva no aprendizado mais básico do homem, introduzido pela família,
pela escola, pelos meios de comunicação, pelos grupos sociais, pelas religiões , num
processo de socialização incessante , no qual se aprende o que é bom e mau, correto ou
incorreto em termos de valores e comportamentos. Par que um indivíduo se torne adulto, é
preciso que ele tenha desenvolvido um senso moral que lhe permita escolher e direcionar
sua vida em termos morais.
(...) todos os indivíduos têm um senso moral adquirido e reproduzido socialmente, Mas isso
não significa que todos tenham uma consciência crítica acerca do papel social da moral, dos
significados e das determinações inscritos nas normas e nos deveres, com seus princípios e
valores. Isso vale especialmente para o âmbito da vida cotidiana, espaço de ações
pragmáticas, acríticas, fundadas na repetição e no senso comum”. (Barroco, 2000, p. 26-
28)

Necessidade social da moral: “é fruto do processo de desenvolvimento da sociabilidade,


seu espaço é o da cultura.” (Barroco, 2000, p. 25)

Caráter histórico e social da ética e da moral: “O caráter histórico da ética e da moral


possibilita entende-las como algo mutável e com determinações postas por antagonismos e
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interesses de classes, expressos em relações de poder crescentemente complexas (incluindo


conflitos relativos às relações de etnia e gênero). Afirma-se, com isso, a coexistência de
diversos valores ético-morais em confronto, bem como a relação existente entre a ética e a
política.” (Paiva, 1996, p.168).

Reflexão ética - “Análise teórica dos fundamentos da moral, de suas categorias (valor,
dever) e de seu objeto privilegiado (bem)” e implica procedimentos crítico-históricos, pois
a moral é histórica e socialmente determinada.

“A reflexão ética supõe a suspensão da cotidianidade; não tem por objetivo responder às
suas necessidades imediatas, mas sistematizar a crítica da vida cotidiana, pressuposto para
uma organização da mesma para além das necessidades voltadas exclusivamente ao „eu‟,
ampliando as possibilidades de os indivíduos se realizarem como individualidades livres e
conscientes.” (Barroco, 2001,p.55)

“Uma reflexão ética sobre a profissão demanda uma análise de seu significado na divisão
social do trabalho e no processo de reprodução das relações sociais na sociedade
capitalista” (Paiva, 1996, p.168)

“A reflexão ética pode, então, ser encarada como uma das mediações entre o saber teórico-
metodológico e os limites e possibilidades da prática profissional.” (Paiva, 1996, p.172)

Ética Profissional - “Diz respeito à moralidade profissional: conjunto de normas e


princípios que expressam escolhas axiológicas e funcionam como parâmetros orientadores
das relações entre profissão e sociedade”.

“Podemos falar de ética profissional em duas dimensões: como espaço de reflexão teórica
sobre os fundamentos da moralidade e como resposta consciente de uma categoria
profissional às implicações ético políticas de sua intervenção, indicando um dever ser no
âmbito de determinada projeção social.” (Paiva, 1996, p.167)

“A ética profissional é um modo particular de objetivação da vida ética. Suas


particularidades se inscrevem na relação entre o conjunto complexo de necessidades que
legitimam a profissão na divisão sociotécnica do trabalho, conferindo-lhes determinadas
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demandas, e suas respostas específicas, entendidas em sua dimensão teleológica e em face


de implicações ético-políticas do produto concreto de sua ação.” (Barroco, 2001, p.67)

“A falta de debate filosófico sobre a dimensão moral da profissão acarreta o entendimento


de que estes três espaços diferenciados – da ética, da dimensão moral da profissão e do
código – sejam identificados como uma mesma coisa e, o pior, partindo do mais restrito,
que é o código”. (Barroco, 1996, p.81)

Elementos básicos constitutivos:

-Uma base filosófica (ontologia do ser);

-Princípios e valores ético-políticos subjacentes a


um projeto profissional definido historicamente.

Projeto Político Profissional: “Como o „bem‟ e o „dever ser‟ adquirem significados


diversos na sociedade é preciso que a reflexão ética apreenda essa significação,
relacionando-a a um projeto profissional inserido numa projeção social mais ampla.”

O campo de atuação quanto às atividades em si ou a metodologia de trabalho não são


elementos suficientes para definir a singularidade do exercício do Serviço Social. Essa
definição implica, o desvendamento do papel do Serviço Social na divisão social do
trabalho e no processo de reprodução das relações sociais na sociedade capitalista. “Daí o
caráter eminentemente ético-político da sua prática.”

Código de Ética Profissional – Dimensão da ética profissional que remete para o


caráter normativo e jurídico que regulamenta a profissão no que concerne às implicações
éticas de sua ação.

Indica o dever ser profissional, através de normas, deveres, direitos e proibições,


representando para a sociedade, de um lado, um mecanismo de defesa da qualidade dos
serviços prestados à população, de outro, uma forma de legitimação social da categoria
profissional.
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Representa para a categoria um instrumento que determina parâmetros para o exercício


profissional, por meio de sanções e normas, consubstanciando a identidade profissional
frente à sociedade.

Primeiros Códigos de Ética do Serviço Social:

1947- Primeira formulação ética do Serviço Social Brasileiro.

1965- Primeiro Código de ética aprovado e sancionado.

1975- Mantém a base conservadora.

Características dos Códigos de Ética Profissional do Serviço Social brasileiro:

“Desde a primeira formulação do nosso Código de Ética Profissional, em 1947, até a


reelaboração de 1975, permaneceram vigentes as mesmas concepções filosóficas assentadas
no neotomismo, a partir das quais consagrávamos valores abstratos e metafísicos como
„bem comum‟ e „pessoa humana‟” (PAIVA, 1996, p. 156)

1947- Conforma um amálgama de humanismo cristão abstrato e incipiente


positivismo, condensado por uma lógica formal e profundamente conservadora.
(Barroco, 2001, p. 27). São traços característicos de seus princípios e diretrizes:
“ respeito à lei de Deus”, “bem comum”, “dignidade humana”, “caridade
cristã”. Os usuários do Serviço Social são considerados “pessoas humanas
desajustadas”, e no que diz respeito às relações profissionais, entre outros,
propõe que se evite “fazer quaisquer alusões ou comentários desairosos
sobre a conduta de colega”

1965- Postulado da dignidade humana. Visão aristotélico-tomista em


consonância com o projeto reformista conservador (noções e valores
tradicionais de cunho conservador e cristão são mantidos com o projeto
modernizador do Estado). O que caracteriza segundo Iamamoto apud Barroco
2000, características valorativas e práticas como: ênfase na família; defesa da
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liberdade abstrata (subjetivada do indivíduo); preconização dos princípios da


ordem, hierarquia e disciplina; falta de predisposição para teorizar; defesa da
tradição social; posicionamento contra a decadência da cultura como signo da
sua difusão entre massas, dentre outros.

1975-Mantém os pressupostos filosóficos neotomistas. Postulado da dignidade


humana, e da perfectibilidade humana (a-histórico e transcendental), a partir de
uma dimensão personalista. Valor central que serve de fundamento ao Serviço
Social é a pessoa humana (centro, objeto e fim da vida social).

“A possibilidade de utilização do personalismo por tendências ideologicamente


opostas é dada, entre outros aspectos, por seu ecletismo teórico, que busca
integrar perspectivas diferenciadas, em muitos aspectos excludentes” (Barroco,
2001, p.131)

“Tal abordagem permite que as sequelas da „questão social‟ sejam


desvinculadas dos processos sociais e tratadas como problemas individuais
enfrentados psicologicamente” (Barroco, 2001, p.139)

“Exigências do bem comum legitimam a ação disciplinadora do Estado,


conferindo-lhe o direito de dispor sobre as atividades profissionais”

Vazio “social e histórico entre a defesa da pessoa humana e a do bem comum,


redundando num fatalismo naturalista – confiança cega na regulação social
autocorretiva e harmônica das injustiças sociais, com base nos princípios da
obediência à autoridade e da hierarquia, o que pressupõe a fé em Deus e o não
questionamento do que se designa vontade divina.”

Antes de nos dirigirmos ao Código de 1986, destacamos que

o debate em torno da ética profissional não é possível encarando-o


isoladamente em si mesmo, desvinculando-o dos avanços obtidos pela
categoria nos últimos anos, e independente da centralidade que vem
adquirindo a relação entre ética e política na cena nacional.
(Iamamoto,1996:95)

O Movimento de Reconceituação recoloca as questões tratadas pelos outros Códigos em


outros moldes, representando a aproximação do Serviço Social à tradição marxista. Esta
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aproximação realizada, no entanto, através de uma leitura determinista e mecânica,


(desconsiderando a história somado a um esvaziamento da riqueza analítica do
pensamento marxista, travestido por uma lógica positivista) leva o Mov. de
Reconceituação latino-americano a uma autocrítica não incorporada pelo Código de
Ética Profissional de 1986.

Código de 1986- Marco ídeo-político

Expressão tardia no Brasil do debate da Reconceituação.

Representa importante ruptura política com o tradicionalismo profissional, propugnando


eticamente o compromisso com a classe trabalhadora e, neste sentido, rompendo com o
mito da neutralidade profissional.

Resultado da revisão do Código de ética de 1975, que ocorre“ na esteira da luta pela
redemocratização no país, da organização política da categoria, que inaugura uma prática
sindical em sintonia com a luta mais geral dos trabalhadores e do debate da formação
profissional.” Ou seja, de um conjunto de transformações sociais que a partir da década
de 60, demandaram um movimento de renovação profissional.

Não se coloca como corporativo somente, mas busca assegurar vínculos com as prioridades
da sociedade.

Há três dimensões de mudanças colocadas em seu interior:

-Negação da neutralidade, negação aos pressupostos metafísicos e idealistas e ao


papel profissional tradicional.

Tal processo “residiu na ultrapassagem dos valores da pessoa humana e do bem


comum , enquanto categorias do pensamento conservador e de uma ética universal,
cuja lógica e conteúdos são descontextualizados, absolutos e imutáveis.”

Inaugura uma nova concepção de homem, enquanto ser histórico, social, prático e
criador e não enquanto ser determinado pela vontade divina. Indica a urgência de
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objetivar sujeitos históricos para apreender suas necessidades concretas (Paiva,1996,


p.159)

-Contrapõe o princípio de contradição ao de harmonia/estabilidade, a noção de


compromisso a de neutralidade profissional.

Tal compromisso se concretiza por meio de deveres como: democratizar as


informações aos usuários; criar espaços para sua participação nos programas e
decisões institucionais; denunciar falhas das instituições e contribuir na alteração
das correlações de forças, visando viabilizar demandas de interesses dos usuários.

-Novo perfil profissional - O Assistente Social competente deve estar atento para a
conotação política da profissão e para os conseqüentes desafios de uma ação
comprometida. Qualificação adequada à pesquisa, à formulação e gestão de políticas
sociais (Paiva, 1996, p.160), quer dizer à capacitação técnica, teórico-ética e política
desencadeada no processo de renovação pós reconceituação. (Barroco, 1996, p.119)

-Denúncia “responsável” (Diferente de denuncismo). Um elemento fundamental


de inovação empreendida refere-se à denúncia (denunciar as falhas da instituição e
as falhas éticas de outros profissionais). (Paiva, 1996, p.175)

Críticas

Mostrou-se frágil em sua capacidade de embasar a operacionalização jurídica e


política dos pressupostos valorativos ali contidos. Era preciso eficácia e legalidade
para respaldar a conduta profissional por ele suscitada. (Paiva, 1996, p.49)

-Limites políticos, teóricos e filosóficos: Relações sociais tomadas como dualidade


e não como contradição, e compromisso político com a classe trabalhadora como a
única alternativa para uma categoria profissional heterogênea, social e
politicamente. Mantém o problema dos outros códigos no que se refere a um corte
entre conhecimento e valores: uma ética de esquerda e uma epistemologia de
direita. Ou seja, apresenta resquícios de uma visão estática e unilateral, ao
explicitar uma vinculação profissional a determinada classe social, pressupondo
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que seja “boa em si”, eliminando a historicidade das escolhas morais, que nem
sempre correspondem a necessidades de uma classe. (Barroco, 1996, p.120)

-Legalidade: Ele se propunha muito mais a dar conta do aspecto político e


educativo, do que o propriamente normativo, ou seja, havia um privilégio das
instruções teórico-metodológicas de como conduzir a prática. (Paiva, 1996, p.176)

Enquanto instrumento de fiscalização é considerado por muitos dirigentes de


conselhos e agentes de fiscalização como “uma carta de intenções”, com algumas
expressões nos seus artigos vagas, ambíguas e sem significado mais objetivo.
(Silva,1996, p.144)

CÓDIGO DE 1993

Mantém os princípios e valores do Código anterior, que permitem conectar organicamente


a profissão com os setores mais progressistas da sociedade e à construção de um projeto
profissional afinado com as demandas inerentes a essa direção social, mas busca romper
com as dicotomias mencionadas, buscando integrar os fundamentos teóricos
metodológicos e éticos, além de um novo entendimento desse instrumento como
mecanismo de defesa da qualidade dos serviços prestados à população e como forma de
legitimação social da categoria profissional.

A perspectiva é, então, buscar fortalecer uma clara identidade profissional articulada com
um projeto de sociedade mais justa e democrática. Busca constituir-se um mecanismo
eficaz de defesa do nosso exercício profissional, por meio da garantia da legalidade de seus
preceitos, fornecendo respaldo jurídico à profissão.

Assim duas das preocupações que norteiam sua análise e produção são:

-Transformá-lo num mecanismo concreto de defesa da qualidade dos


serviços profissionais; defesa do exercício profissional.
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Realiza um esforço com vistas à tradução e materialização de diversas situações inerentes


ao processo de trabalho do assistente social, voltado para melhor definir e precisar a
objetivação dos valores e princípios éticos universais no seio do cotidiano da profissão.

O compromisso com as classes trabalhadoras é mantido, com pode ser observado no


terceiro princípio do Código: “Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa
primordial de toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis e políticos das
classes trabalhadoras. Definindo o posicionamento político da profissão frente à
sociedade (Barroco,1996, p.121)

No entanto, como um compromisso num Código de Ética , deve ser com os valores e não
com as classes, grupos ou indivíduos, não cabe a um Código de Ética prescrever quem são
os sujeitos portadores desses valores (Barroco,1996, p.121).

Assim o Código se posiciona ética e politicamente, elegendo os valores que estão presentes
nos movimentos progressistas da sociedade: liberdade,democracia, igualdade, justiça,
solidariedade, cidadania. (Barroco,1996, p.121)

Sua visão de homem é histórico-ontológica, confirmando o homem como ser prático-social,


dotado de liberdade, que tem no trabalho sua atividade fundante. (Iamamoto,1996, p.102)

Quanto à questão da pluralidade considera-se que a categoria profissional é uma


unidade não-identitária, uma unidade de elementos diversos e, portanto ela é um espaço
plural do qual podem surgir projetos diferentes [...]. Por isto mesmo, a elaboração e
afirmação de um projeto profissional deve dar-se com a nítida consciência de que
pluralismo é um elemento factual da vida social e da profissão mesma, cabendo o máximo
respeito a ele, respeito aliás, que é um princípio democrático. Mas não pode ser
confundido com ecletismo[..]. Ao contrário, um verdadeiro confronto de idéias só pode ter
como terreno adequado o pluralismo que, por seu turno, supõe também o respeito às
hegemonias legitimamente conquistadas” (Netto,1996, p.96)

No Código de 1993 diferente do de 1986, os princípios são apresentados a partir do recurso


à ontologia social marxista mais especificamente nas contribuições de Luckács. (Barroco,
2001)
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Este Código foi instituído pela resolução CFAS nº 273/93 de março de 1993, e apresenta
onze princípios fundamentais que balizam o projeto e os compromissos ético-profissionais.
Sua estrutura é composta de quatro títulos, seis capítulos e uma série de artigos,
organizados a partir da tríade: direitos deveres e proibições (é vedado aquilo que contraria o
substrato dos direitos e deveres, enquanto formalizações de imperativos éticos).
(Paiva,1996, p.181)

Nele a liberdade é reconhecida como valor ético central, junto às demandas políticas a ela
inerentes: autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais.

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO: Nossa profissão será regulamentada pela


primeira vez em 1957, através da lei 3.852/57, somente será substituída 36 anos depois
pela lei nº 8.662/93.

BIBLIOGRAFIA

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Paulo: Cortez, 2001.

_______. Ética e sociedade. In: CFESS. Curso de capacitação Ética para Agentes
Multiplicadores. CFESS, Comissão de Ética e Direitos Humanos, Brasília, 2000.

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GONELLI, Valéria M.M. (orgs). Serviço Social e Ética: convite a uma nova práxis.
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NETTO, J. P. Transformações societárias e Serviço Social. Notas para uma análise


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1996. n. 50.

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Dilséa Adeodata, SILVA, Marlise Vinagre, SALES, Mione Apolinário, GONELLI,
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Marlise Vinagre, SALES, Mione Apolinário. Reformulação do Código de Ética
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