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VI SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PRÁTICAS EDUCATIVAS

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, ETNIAS E ECONOMIA


SOLIDÁRIA.

CURRÍCULO, DIVERSIDADE E COTIDIANO ESCOLAR: REFLEXÕES


NECESSÁRIAS

LIMA, Jaynne Costa de


Email: jaynnelima@gmail.com
Graduanda do curso de Pedagogia
Universidade Federal da Paraíba-UFPB/CCAE
SILVA, Alzenir Souza da
Email: alzennir.s@gmail.com
Graduanda do curso de Pedagogia
Universidade Federal da Paraíba-UFPB/CCAE
RODRIGUES, Analice Alves
Email: analicealvesrodrigues@hotmail.com
Graduanda do curso de Pedagogia
Universidade Federal da Paraíba-UFPB/CCAE
BATISTA, Aline Cleide
Email: alinecleide@yahoo.com.br
Prof. Dr. Universidade Federal da Paraíba-UFPB/CCAE

RESUMO
Este estudo analisa o currículo e as práticas exercidas por professores de duas escolas distintas
do Vale do Mamanguape, uma da rede pública de ensino e outra da rede privada, referente à temática
diversidade no cotidiano escolar. Tem como objetivo relacionar essas práticas com os referenciais
teóricos estudados na disciplina Currículo e Trabalho Pedagógico. Os dados foram coletados através
de questionários, observação e registros de observações. A partir disso, pudemos conhecer e refletir
acerca do cotidiano e escolar, observando como a diversidade está contida no currículo, como ela é
abordada/discutida pelos docentes em sala de aula, e quais são as propostas que permitem trabalhar
com as diferenças nas redes de ensino. A pesquisa contribuiu para adquirirmos experiências no
ambiente escolar e fazermos uma reflexão acerca do processo de ensino aprendizagem,
compreendendo a diversidade existente no ambiente educacional.

Palavras-chave: Diversidade; currículo; cotidiano escolar;

INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Currículo e Trabalho Pedagógico,


baseado nos estudos que versam sobre currículo, diversidade e cotidiano escolar. Para embasar nossa
reflexão, além das abordagens teóricas, tomamos elementos empírico as falas de professores da rede
pública e privada do Vale do Mamanguape – PB, que foram coletadas através de um questionário.
Assim, abordaremos sobre o currículo e a prática exercida por professores no que tange a diversidade
no cotidiano escolar.
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O foco é tentar entender como a diversidade é tratada por docentes, e quais são as propostas
que permitem trabalhar com as diferenças nas redes de ensino. Para isso, realizamos estudos sobre as
questões analisadas e que serviram de aporte para um pequeno questionamento com cada um dos
professores. Nossas perguntas foram baseadas nos estudos realizados sobre a diversidade no cotidiano
escolar, assuntos esses devidamente aplicados na Universidade Federal da Paraíba no curso de
Pedagogia - CCAE, no componente curricular Currículo e trabalho pedagógico, nos dando respaldo
para discutir um assunto tão atual e debatido na sociedade.
A aplicação do questionário ocorreu de maneira gradativamente, pois por ser um assunto ainda
polêmico e pouco questionado, os professores e gestores paravam para refletir e analisar as situações
vivenciadas no ambiente escolar. As perguntas foram elaboradas de maneira clara e objetiva para
coletarmos dados para realização desta pesquisa.
Portanto, o objetivo deste trabalho é apresentar nossas contribuições no que diz respeito a
diversidade. Acreditamos que favorecerá a formação de pedagogos, por ser um assunto atual e
importante, e que nos faz refletir sobre as dificuldades encontradas na prática docente frente as
diferenças observadas no cotidiano escolar.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho se enquadra dentro de uma abordagem qualitativa com
cunho prático e teórico, a qual consiste em nos preparar para a atuação no ambiente educativo no que
diz respeito ao currículo escolar ao lidar com a diversidade. Para elaboração deste trabalho realizamos
o estudo a partir da aplicação de questionários com professores e gestores da rede pública e privada
do Vale do Mamanguape-PB, totalizando 4 professores e 2 gestores.
A pesquisa é de grande importância para nossa formação enquanto graduandas do curso de
Licenciatura em Pedagogia (UFPB/CAMPUS IV) e para fundamentá-la teoricamente usaremos
autores norteadores como Freire (1997); Candau e Moreira (2003); Libâneo (2003); Gomes (2007).
Para nossa pesquisa, optamos por escolher duas escolas de redes de ensino distintas, uma da
rede privada, localizada na cidade de Mamanguape – PB e outra da rede pública na cidade de
Mataraca-PB, plicamos dois questionários, sendo um para os professores e outro para os gestores,
porém os dos gestores eram diferentes ao dos professores. Os questionários eram compostos por 5
questões fechadas e 3 questões abertas, no qual buscamos compreender como a diversidade é
trabalhada no currículo e na sala de aula, que serão discutidas ao longo deste trabalho.
O nosso interesse é sistematizar os questionários com um olhar crítico frente a essas questões
da diversidade no cotidiano escolar, atrelando as nossas reflexões das análises com os autores

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norteadores. Optamos por não caracterizar/denominar as respectivas escolas e nomes das pessoas as
quais fizeram parte do grupo que trabalhamos, o intuito é garantir a privacidade dos mesmos, desta
forma, denominamos as duas Escolas de A e B.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este trabalho será em torno da discussão entre duas escolas de caracterizações e realidades
diferentes, sendo uma pública (Escola A) localizada em Mataraca- PB e uma privada (Escola B) da
cidade de Mamanguape-PB, trazendo dados adquiridos por meio de observações e questionários
aplicados com os professores do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, e gestores das respectivas
escolas. Buscando refletir sobre questões relacionadas ao currículo escolar, cotidiano escolar e
diversidade. Dessa forma, para melhor compreensão do tema é necessário compreender conceitos
sobre diversidade, e como esta temática está relacionada ao currículo e ao cotidiano escolar.
Segundo GOMES (2007) a diversidade está sempre presente em nosso meio social, e se
apresenta de forma diversificada com distinção de raça, cultura, crença, classes sociais e etc.
Os diferentes contextos históricos, sociais e culturais, permeados por
relações de poder e dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e,
por vezes, ambígua de lidar com o diverso. Nessa tenção, a diversidade pode
ser tratada de maneira desigual e naturalizada. (GOMES, 2007, p.19).

Contudo, a educação é um direito de todos e deve ser desenvolvida considerando a


diversidade como um dos fatores sociais, culturais e econômicos. Conforme a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (2012):
II - a formação dos profissionais do magistério como compromisso
com um projeto social, político e ético que contribua para a consolidação de
uma nação soberana, democrática, justa, inclusiva e que promova a
emancipação dos indivíduos e grupos sociais (BRASIL, 2012).

Tendo consciência da importância da reflexão ao trabalhar a diversidade no ambiente


educativo, é necessário indagar sobre a formação profissional do educador. Tanto na escola A quanto
na escola B, constitui-se de professores que examinaram o tema durante a graduação e consideram
um assunto fundamental em sala de aula. Nesse sentido a professora destaca que, assim as crianças
se desenvolverão como indivíduos tolerantes respeitosos e politicamente corretos. (Relato de uma
professora, Escola B).
Consideramos que uma das grandes ferramentas do papel pedagógico do educador é
possibilitar a visibilidade de todos, nesse sentido “construir praticas pedagógicas que realmente

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expressem a riqueza das identidades e da diversidade cultural presente na escola e na sociedade”


(GOMES, 2002, p.25). Dessa maneira, é possível uma reconfiguração das concepções sobre a
diversidade, formulando as práticas pedagógicas e o currículo escolar.

Gráfico 1: No currículo escolar são apresentadas propostas que permitem trabalhar


diversidade?
ESCOLA A ESCOLA B
Sim, pois devemos enquanto instituição Sim, pois devemos enquanto instituição
formadora de cidadãos, mostrar que se formadora de cidadãos, mostrar que se
deve respeitar as diferenças do outro. deve respeitar as diferenças do outro.
Sim, mas o tempo é curto e não dou Sim, mas o tempo é curto e não dou
muita relevância ao assunto, pois muita relevância ao assunto, pois
atrapalha os conteúdos.
0% atrapalha os conteúdos.
0%

100% 100%

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.


Percebemos na análise das respostas dos professores, que a diversidade está presente no
currículo da Escola A, mas justificaram que por ter um calendário curto a ser cumprindo a sala de
aula, por isso, não tem como dá relevância e prioridade para tratar a temática diversidade no cotidiano
com os seus alunos, enquanto que a Escola B fala que este assunto é abordado no currículo e que deve
ser tratado para que forme alunos conscientes da existência das diferenças, e que devem ser
respeitadas. Entretanto, a escola tem o dever e a necessidade de discutir sobre a diversidade em todos
os setores da escola, inclusive no currículo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação aponta no art.
13:
§ 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currículos (...),
direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de
faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação especial e
direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas
socioeducativas.

Dessa forma, dar-se-á importância da reflexão e de como a educação se posiciona frente a


essas questões. Nas nossas indagações sobre currículo e diversidade, perguntamos aos professores
das duas escolas, como a diversidade está sendo trabalhada nos currículos, todos respondem que o
tema está presente e que é exercido, em sua maioria, de forma heterogênea, levando em consideração
as particularidades de cada aluno.
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Quando perguntamos sobre a importância do trabalho com esse tema e sobre como ele é
inserido no cotidiano escolar a professora diz:
Com base curricular da nossa escola, devemos ensinar a importância do
respeito para com os colegas, independente de cor, raça ou religião. O ideal
é que todo educador tenha em mente a importância de mostrar a seu aluno
uma forma que venha estimular o respeito à diversidade ajudando a formar
cidadãos educados e respeitosos. (Relato de uma professora, Escola B).

Nessa fala é perceptível a preocupação da professora em formar um sujeito crítico- reflexivo


frente à diversidade existente na sociedade, capaz de perceber a importância de aceitar a diferença do
outro, assim integrando todos no meio social com igualdade e respeito.
GOMES (2007.p.39) afirma que “a escola deve ser um espaço sociocultural, em que participa
dos processos de socialização e possibilita a construção de redes de sociabilidade a partir da inter-
relação entre as experiências escolares”.
É através da escola que há esse primeiro contato com o novo, as diferenças entre o eu e o
outro, porém como nos afirma CANDAU; MOREIRA (2003):

A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a


diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável
com a homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços para a
diversidade, a diferença e para o cruzamento de culturas constitui o grande
desafio que está chamada a enfrentar. (CANDAU; MOREIRA, 2003, p. 161)

O meio educacional está em constante relação com a diversidade, entretanto ainda encontram-
se tensões no posicionamento do educador. Durante a realização dos nossos questionários, a escola
B se posiciona de forma avaliativa sobre suas práticas, refletindo sobre valores e conceitos sobre as
diversidades encontradas em sala de aula. O gestor da escola A afirmou que procura incorporar o
assunto nas discussões de reuniões pedagógicas, grupos de estudos e momentos de formação.
Segundo FREIRE (1997), o professor não é o único detentor do conhecimento, sendo assim
deve propiciar relações educativas de reconhecimento entre os sujeitos na sala de aula.

Assumir-se como um ser social e histórico como ser pensante (...) A


assunção de nos mesmos não significa a exclusão dos outros. É a ‘outredade”
do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu.
(FREIRE, 2007, p.41).
No entanto, o professor deve assumir o papel de mediador, formando sujeitos críticos e
conscientizados da liberdade, lutando a favor da compreensão da diversidade, por meio de diálogos
em sala. Com base nos questionários aplicados com os gestores e professores verificamos maior

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incidência de gênero, cultura, religião na escola B, já na escola A, diversidade cultural e necessidades


especiais. Veja o gráfico abaixo:

90 Gênero
80
70 Cultura
60
50
Religião
40
30
20 Diversidade
Cultural
10
0 Necessidades
Escola A Escola B especiais

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2017.

GOMES (2007) aponta que:


Conviver com a diferença (e com os diferentes) é construir relações
que se pautam no respeito, na igualdade social, na igualdade de oportunidades
e no exercício de uma prática e postura democráticas. (GOMES, 2007.p.30).
Então é necessário que todos os educadores promovam uma educação heterogênea, levando
em consideração as singularidades dos seus educandos, pois o desenvolvimento em sala de aula
ocorre de maneira diversificada, e cada um vive em um contexto social diferente. Segundo LIBÂNEO
(2003)
Não é possível atuar com todos os alunos da mesma maneira. Trata-se
de reconhecer que os resultados escolares dos alunos dependem da origem
social, da situação pessoal e familiar, relação com os professores, tanto ou
mais ainda do que inteligência. (LIBÂNEO, 2003.p.42).

Contudo, os educadores e a escola devem reconhecer que cada educando tem experiências e
conhecimentos prévios e trazem consigo para a escola uma bagagem de informações e
discriminações, entretanto, o currículo escolar deve pensar a diversidade como um direito de cada um
a ser refletido por todos da comunidade escolar.

CONCLUSÃO

O trabalho ao ser construído nos proporcionou refletirmos criticamente sobre como a


diversidade é trabalhada no cotidiano escolar, e por meio dele, percebemos o quão é importante saber
lidar com as diferenças.

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Diante dos questionários aplicados notamos algumas diferenças entre as duas escolas.
Observamos que a escola B é mais tradicional que a escola A, e demanda maior cuidado ao tratar de
certos assuntos com seus alunos por causa dos seus familiares, muitas vezes conservadores. Enquanto
que na escola A, percebemos que não há receio ao tratar a diversidade em sala, no entanto, notamos
que os professores não dominam o assunto, e a maioria se recusou a colaborar com essa pesquisa.
Diante desses fatores, concluímos que o assunto sobre a diversidade no cotidiano e no
currículo está sim presente em ambas as escolas, no entanto são tratados de maneira superficial.
Acreditamos que isso se dá, por se tratar de assuntos polêmicos e que demandam maior cuidado por
parte dos docentes e gestores, que se recusam ou evitam certos assuntos, como questões de gênero e
religião.
Cabe ressaltar que as questões expostas são reflexões vivenciadas na prática, na condição de
estudantes e pesquisadoras do curso de Licenciatura em Pedagogia (UFPB/Campus IV), nos
proporcionou uma visão mais ampliada sobre como a questão da diversidade é tratada na realidade
dos ambientes escolares, engrandecendo nossa formação acadêmica.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Acesso em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. 21.ed.


São Paulo: Paz e Terra, 1997.

CANDAU, Vera Maria; MOREIRA, Antônio Flávio. Educação escolar e cultura(s):


construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 156-168, maio/ago. 2003.

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências


educacionais e profissão docente. 17. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo. Brasília


Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, 2007.

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