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V SEMINÁRIO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
Campus Universitário da UFAM, Manaus, 14 a 17 de Agosto de 2018

PERCEPÇÃO DE RISCO E A RELAÇÃO COM AS TERRAS CAÍDAS NA


AMAZÔNIA
FERREIRA, Fernanda Sousa1; GUIMARÃES, David Franklin da Silva2; ALEGRIA, Johnny
Manrique³

RESUMO
Compreender os eventos extremos que ocorrem na região amazônica como desastres ambientais é
um passo significativo para o reconhecimento da complexidade do contexto, considerando a
responsabilização do poder público e a percepção de risco da população que vive nos beiradões. O
presente artigo teve como objetivo compreender a aproximação da Psicologia com os desastres de
terras caídas na Amazônia, levando em consideração elementos como a memória ligada ao seu local
de origem e afetos. Para alcançar esse objetivo buscou-se descrever o fenômeno de terras caídas e as
abordagens de estudos sobre desastres, posteriormente foi apresentada a forte relação das
comunidades ribeirinhas com as áreas alagáveis na região, e finalmente a descrição da categoria
percepção de risco e sua importância para entender os aspectos sociais na ocorrência de desastres,
identificando os processos de desertificação da memória ocorridos na presença das terras caídas.
Foram utilizados conceitos vindos de áreas diversas dentro da Psicologia como a Psicologia dos
Desastres e Emergências e a Psicologia Ambiental, e também fora dela como a Geografia, História,
Antropologia e as Ciências do Ambiente, o que demonstra a transdisciplinaridade necessária para a
compreensão do fenômeno. Foi possível concluir que o fenômeno das terras caídas não é uma
novidade para as populações na região amazônica, assim como seus impactos, no entanto no campo
dos estudos sobre a Psicologia ainda há necessidade desse reconhecimento, reconhecer que as terras
caídas se caracterizam como um desastre que carece de estudos e intervenções. Garantir essa
transdisciplinaridade é primordial para o entendimento da realidade da população e para contribuir
com a gestão dos riscos de desastres.
Palavras Chave: Psicologia, Desastres, Comunidades Ribeirinhas.

1
Graduanda em Psicologia, UNINORTE, E-mail: ferrsousa1992@gmail.com.
2
Doutorando em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, UFAM, E-mail:
davidguimaraes2009@hotmail.com.
³ Mestrando em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, UFAM, E-mail: jmanriquealegria@gmail.com.
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Anais do Seminário Internacional em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, v. 5. Manaus: EDUA. 2018. ISSN 2178-3500
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SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
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PERCEPTION OF RISK AND THE RELATIONSHIP WITH THE FADED


LANDS IN THE AMAZON

ABSTRACT
Understanding the extreme events that occur in the Amazon region as environmental disasters is a
significant step towards recognizing the complexity of the context, considering the accountability of
public power and the risk perception of the riverside populations. The present article is aimed to
understand the approach of psychology to the disasters of eroded riverbank lands in the Amazon
considering elements such as memory linked to its birthplace and affections. In order to reach this
objective, the eroded riverbank lands phenomenon was described and also the approaches of studies
on disasters, afterwards it was presented the strong relation of the riverside communities with the
floodable areas in the region and finally, the description of risk perception category and its
importance for understanding the social aspects in the occurrence of disasters, identifying the
processes of memory desertification occurred in the eroded riverbank lands. Concepts from different
areas within Psychology such as Disaster and Emergency Psychology, Environmental Psychology;
and other áreas as Geography, History, Anthropology and Environmental Sciences were used, this
fact demonstrates the transdisciplinarity necessary to understand the phenomenon. It was possible to
conclude that the phenomenon of eroded riverbank lands isn’t a novelty for the populations in the
Amazon region, as well as its impacts, nevertheless in the field of the Psychology studies this
recognition it´s still needed even to characterize the eroded riverbank lands as a disaster which needs
studies and interventions. Ensuring this transdisciplinarity is essential to understand the reality of the
population as contribute to disaster risks management.
Keywords: Psicology, Disasters, Riverside communities.

INTRODUÇÃO
As populações amazônicas sempre tiveram um forte vínculo com os ambientes aquáticos. Os
primeiros estabelecimentos humanos na Amazônia foram constituídos em áreas inundáveis para
facilitar o deslocamento, acesso de água para o consumo e pela proximidade com o território de
pesca. Por isso, a água possui uma centralidade na vida da população desta região, principalmente
pela sazonalidade de seus rios (STERNBERG, 1998, p. 15).
Os eventos extremos sempre marcaram a história da humanidade, através de episódios
críticos de inundações, secas, deslizamentos, atividade vulcânica e acidentes meteorológicos. A
interação de eventos extremos com os grupos sociais em áreas específicas gera prejuízos às
atividades econômicas, ambientais e sociais, caracterizando a ocorrência destes eventos como
desastres naturais (SAITO et al., 2015). Os desastres naturais também são resultados da utilização de
modelos de desenvolvimento insustentáveis que contribuem para o aumento da vulnerabilidade
socioambiental das populações expostas a este risco.
A comunidade acadêmica tem se esforçado para realizar a transição na abordagem dos
estudos sobre desastres naturais da teoria de hazards para a teoria dos desastres. Mesmo assim, a

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temática dos desastres ainda é pautada na hiper valorização da teoria de hazards e pelo tecnicismo,
marcada pelas ciências duras e pela visão militar (VALÊNCIO, 2014).
Na perspectiva da sociologia de desastres (VALENCIO et al. 2009), os estudos sobre
desastres naturais devem primar pela abordagem da teoria de desastres, priorizando os aspectos
sociais como pré-condição para a ocorrência de desastres. No Brasil, a conduta adotada pela defesa
civil inviabiliza a responsabilidade do poder público pela ocorrência dos desastres naturais e confere
a culpa aos próprios afetados (VALÊNCIO, 2010). Neste sentido, o conhecimento sobre as
percepções de risco surge como importante aspecto a ser considerado, pois tal conhecimento busca
estabelecer uma compreensão acercado processo do desastre a partir das pessoas propensas a esse
risco.
Diante desse contexto, o presente artigo teve como objetivo compreender a aproximação da
psicologia com os desastres de terras caídas na Amazônia. Este estudo foi realizado a partir de uma
abordagem qualitativa, através de revisão bibliográfica sobre o assunto tratado. No primeiro capítulo
buscou-se descrever o fenômeno de terras caídas e as abordagens de estudos sobre desastres. Em
seguida foi apresentada a forte relação das comunidades ribeirinhas com as áreas alagáveis na região.
Por fim, foi definida a categoria percepção de risco e sua importância para entender os aspectos
sociais na ocorrência de desastres, identificando os processos de desertificação da memória ocorridos
na presença terras caídas.

AS TERRAS CAÍDAS COMO DESASTRES AMBIENTAIS NA AMAZÔNIA

São conhecidos popularmente na Amazônia como terras caídas os desbarrancamentos


ocorridos nas margens do rio Amazonas e em seus afluentes de águas brancas (LIMA DE
CARVALHO e CUNHA, 2011). São os principais agentes transformadores das margens dos rios do
Amazonas levando os sedimentos para outros locais (STERNBERG, 1998).
As terras caídas são reconhecidas pela Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)
como erosões das margens fluviais e pertencentes ao grupo de desastre natural. No Amazonas no
período de 2005 a 2017 foram decretadas a ocorrência de 32 erosões fluviais (Figura 1). Entretanto,
esse número reflete apenas os desastres que foram decretados pelo executivo municipal e
reconhecidos pelo governo federal, pois pela falta de informação e capacitação técnica muitos
municípios não decretam a ocorrência desse tipo de desastres, invisibilizando as populações que
sofrem frequentemente com esse fenômeno.

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10

0
2009 2010 2012 2016 2017
EROSÃO FLUVIAL

Figura 1: Ocorrência de erosões fluviais (terras caídas) no Amazonas (2005-2017)


Fonte: Autores a partir de dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

No momento atual o fenômeno das terras-caídas ainda é considerado apenas como um


desastre natural, fato que finda minimizando suas consequências, reduzindo das Políticas Públicas a
ações emergenciais e assistencialistas. Isso ocorre por ainda termos a compreensão tanto no campo
das Políticas Públicas, como da População em geral de que trata-se somente de questões inevitáveis
que teriam como causa principal um fenômeno da natureza que nesse caso seria o movimento do rio
de cheia e vazante.
A ocorrência dos desastres ambientais não está apenas ligada aos perigos naturais oriundos de
furacões, terremotos, erupções vulcânicas, inundações e vazantes, mas tem uma intrínseca relação
com a vulnerabilidade das populações atingidas. A vulnerabilidade, no caso das mudanças
climáticas, é a incapacidade de populações em enfrentar os impactos causados pelos eventos
extremos, tanto por conta da sua situação social como da sua condição ambiental (ROSA e MALUF,
2010).
Na sociologia dos desastres, os componentes humanos são cruciais para o entendimento da
complexidade de fatores relacionados aos desastres. Um importante aspecto a ser considerado nos
estudos sobre desastres é a percepção de risco dos moradores. A percepção de risco está relacionada
aos desastres e é influenciada por um grupo dos fatores inter-relacionados que incluem experiências
passadas, atitudes atuais em relação ao evento, personalidade e valores, juntos com as expectativas
futuras (COELHO, 2007).
É de suma importância esse reconhecimento considerando essa complexidade para que assim
haja uma maior atenção com as comunidades que vivem nessas regiões, como construído a cima, os
ribeirinhos e ribeirinhas precisam ser considerados como não só autores de modificação das terras as
margens dos rios, mas também como protetores desses lugares, como memória, afeto e vinculo que
também deixam pedaços seus serem levados pelo movimento das águas.

COMUNIDADES RIBEIRINHAS E A RELAÇÃO COM A TERRA

São conhecimentos, sentimentos e ideais diferentes das vivencias da população que mora em
grandes cidades, exemplo disso é a percepção de tempo. Essas circunstâncias Santos (2007)
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denomina de ecologia das temporalidades, para o referido autor o conceito seria que para além do
tempo linear há outros tempos ou outras formas de experimentá-lo, pode ser citado como exemplo o
conhecimento que ribeirinhos que usam do movimento do rio para saber o período certo de plantar e
colher. Segundo Calegare (2010) para tal jornada como o estudo dos mitos, da compreensão da
fertilidade da terra e outras coisas em que a população ribeirinha cria formas singulares de
compreender, não necessita ser colocado como inverdade diante do saber científico, se faz necessário
pensar que há outras formas de conhecimento que não necessariamente estão relacionados ao método
experimental.
Nesse mesmo sentido, precisamos compreender outros elementos psicossociais como o uso
da terra e a valorização que os povos as margens do rio conferem para o lugar onde residem.
Diferente da definição de localidade que segundo o IBGE (ano) trata-se de um aglomerado de
permanente de habitantes, as comunidades têm como característica e distância entre residências e a
proximidade afetiva de ajuda mútua.
As comunidades ribeirinhas da Amazônia têm também como característica morar as margens
dos rios da Amazônia, segundo Calegare (2010) são comunidades que tem em comum mais do que o
lugar onde vivem, costuma partilhar responsabilidades e em muitos casos tratam-se de famílias que
residem a gerações no mesmo local, em que a natureza a interação com ela são recorrentes chegando
até a ser elemento de organização do dia-a-dia:

Esse aspecto reciproco entre sazonalidade e vida social é à base da objetificação do campo
simbólico dos habitantes da várzea. O conhecimento dos ciclos da natureza, especialmente
aquele das águas faz parte do seu modo de reprodução social e simbólica (idem, pg. 228).

Quando se pensa na retirada de famílias desse lugar de origem é necessário levar em


consideração esses elementos simbólicos presentes na subjetividade de cada um e cada uma. Souza
(2005) afirma que quando as comunidades passam por um processo de retirada do seu local de
origem as mudanças que ocorrem não se referem apenas ao espaço físico, mas também nesse espaço
simbólico, a representação que aquele lugar tem nas memórias e nos afetos, o principal sentimento
que fica registrado é o de perda.

PERCEPÇÃO DE RISCO AOS DESASTRES

Quando se pensa em desastres é comum a ideia de que possui uma causa única, muitas vezes
ligada a intervenção humana na natureza e que suas consequências sociais estejam por sua vez
ligadas apenas a implicações físicas, no entanto, para além dessas, estão especialmente as
psicológicas e elas estão diretamente ligadas aos indivíduos e as comunidades.
Os desastres são o fenômeno em si, que surge do contínuo processo de ajustamento entre o
sistema humano e eventos naturais (FAVERO e DIESEL, 2008). Seu desdobramento acarreta
consequências tanto para o local onde aconteceu o desastre como para as pessoas que foram afetadas
por ele. É comum relacionar os desastres a grandes eventos que ocorrem em escalas locais, de
período curto e único com consequências grandes para a população que residia no local.
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O risco pode possuir causas diversas, Favero e Diesel (2008) exemplificam que os riscos
podem ser oriundos de fatores naturais como inundações ou por resultados da ação humana como por
exemplo os conflitos. Ambos podem afetar direta ou indiretamente a comunidade ou o indivíduo em
várias escalas. Podendo ainda ser conceituada como uma situação futura que ainda não se
concretizou, mas que oferece perigo e incertezas.
Segundo Kunen (2009) a percepção de risco é uma construção social e que por isso tem
concepção multidimensional e subjetiva, “se mantêm imbricado a ela atitudes, valores, crenças,
sentimentos e normas das pessoas, influenciando na forma de entender o risco ou a fonte de risco
provável” (idem, 47). Por essa razão quando se pensa em risco ou em condições de risco é necessário
levar em conta não apenas os fatores geográficos e sociais como também os emocionais, simbólicos,
as memorias, as representações individuais sobre o espaço e a construção coletiva dos sentidos.
Reconhecer o fenômeno das terras caídas como uma forma de desastre ambiental tem valor
não apenas para ampliar a construção de medidas de prevenção destes como também para melhor
compreender a percepção de risco das comunidades que vivem as margens dos rios têm. No entanto,
a interpretação dessa percepção de risco precisa levar em conta as especificidades dessas
comunidades.
Segundo Miranda (2013) os estudos sobre comportamento social dos seres humanos
relacionados ao seu lugar datam do período da antiguidade, ocorrendo nos cinco continentes do
mundo, cada um com suas especificidades. No entanto, foi apenas a partir do século XVII que
mudanças na forma de elaborar a construção do conhecimento trouxeram de fato contribuições para a
compreensão a respeito dos comportamentos do homem no meio em que vive.
Em um período mais recente o surgimento do termo topofilia trouxe uma nova compreensão
sobre o tema. A Topofilia concentra seu estudo sobre essa relação afetiva ligada ao ambiente
encontrado nele e a resistência necessária para a superação das adversidades. Segundo Tuan (2012)
essa relação de “amor ao lugar” é o que ajuda a contribuir a identidade tanto do sujeito como do
espaço a que ele se refere. Desta forma, quando pensamos nas comunidades ribeirinhas e nas suas
experiências nas margens dos rios, os dois elementos se relacionam de forma singular, o seu povo e
seu espaço. Essa compreensão não está necessariamente ligada a ideia de desastres ou a percepção de
risco, mas ajuda a identificar que nessa construção relacional que se faz como o lugar em que se vive
está ligada a conceitos psicológicos de bem-estar, afetividade, memória e de vinculo como já citados
nos tópicos anteriores.
Os relatos orais trazidos pelos ribeirinhos trazem da memória de muitas histórias vividas no
seu lugar de origem, seu modo de vida é organizado em torno do rio. Miranda (2013) afirma que as
atividades econômicas, de lazer e sociais tem ligação direta com a água, elemento pressente
principalmente em comunidades que são banhadas por água doce, por isso o campo simbólico dessas
comunidades é envolto pelo sentimento de perda quando trazem lembranças desse lugar de origem.
O não reconhecimento individual ou coletivo do lugar onde se vive seja ele por razões de
mudanças físicas desse lugar pela ação direta das “terras-caídas” ou pela retirada das comunidades
dos seus lugares de origem, desencadeiam um processo de adoecimento que poucas vezes é
relacionamento diretamente com esses fatores.

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Na revisão de literatura elaborada por Alves et al. (2012) sobre a Psicologia dos Desastres
demonstrou que as populações que passam por desastres, principalmente na escala dos desastres
naturais, possuem uma grande ocorrência de quadros de sofrimento emocional, com incidência de
estresse pós-traumático, ansiedade, depressão que podem se manifestar logo após o ocorrido ou
dentro de um período posterior que, em alguns casos, não é considerado como causa principal do
desastre. Esse fato demonstra que a correlação entre os desastres naturais e a incidência de
transtornos psicológicos ou quadros posteriores necessitam de maior atenção e cuidados. As autoras
colocam também que mesmo com essa necessidade, a resiliência emocional dos indivíduos deve ser
levando em consideração nesses casos, assim como o suporte social e assim construir ações
preventivas conciliando conhecimentos das diversas áreas como a Geografia, Antropologia, Ciências
Ambientais e a Psicologia.
Desse modo, é importante salientar que no contexto amazônico as políticas públicas de
prevenção e ação pós-desastres ambientais causados pelas “terras caídas” se apresentam também
como silenciamento e negligência para/com as comunidades ribeirinhas. A naturalização do
fenômeno por parte da população e dos governos é um dos elementos que podem ser apresentados
nesse contexto. Calegare (2010) em seu trabalho entrevistando moradores de uma comunidade de
Tauaru a beira do Paraná da Saudade, Alto Solimões demonstrou que as modificações físicas no
local foram tantas que a comunidade já se reestruturou diversas vezes desde a sua fundação que para
os moradores já faz parte desse ciclo natural. Nessa comunidade, mesmo tendo grandes perdas como
a de locais férteis para plantar, moradias, o distanciamento que agora existe entre as casas dos
moradores, dificuldades na comunicação entre os moradores e entre famílias que moram em margens
diferentes do rio.
No campo das Políticas Públicas há uma aparente normatização sobre essas consequências, os
principais programas que contribuem para a assistência de famílias quando perdem suas casas são
apenas assistenciais e pontuais, não há programas de prevenção, muito menos de assistência efetiva
para os comunitários.

CONCLUSÕES

O fenômeno de terras caídas não é uma novidade para as populações na região amazônica,
entretanto a sua maior frequência e seus impactos têm trazido preocupação social e a necessidade de
estudos científicos sobre os danos humanos subjetivos que esses desastres geram nas populações
afetadas.
Além das medidas estruturais que devem ser tomadas para a redução da vulnerabilidade das
populações que residem nas margens dos rios, como construções de orlas, mudança da localização
das residências e relocação de comunidades, outras medidas devem ser tomadas junto às populações
devido os possíveis prejuízos psicológicos dessas transformações em suas comunidades e o próprio
deslocamento de suas moradias provocados pelos desastres de erosão fluvial.
Dessa forma, a psicologia dos desastres surge como um importante campo do conhecimento
que necessita de mais estudos, principalmente empíricos, para sua construção. Na Amazônia, onde
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há uma forte relação cultural de comunidades com a água que intensifica a vulnerabilidade ambiental
das populações, esses estudos devem ocorrer de forma transdisciplinar para o entendimento da
realidade da população e para contribuir com a gestão dos riscos de desastres.

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