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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO

Os Crime Contra Patrimonio

Manuelinho De Sousa Laquimane

Quelimane, Setembro de 2022


Indice

1. Introdução ........................................................................................................................ 3
1.1. Objectivos .................................................................................................................... 4
1.1.1. Objectivo Geral ........................................................................................................ 4
1.1.2. Objectivos Específicos ............................................................................................. 4
1.2. Metodologia ................................................................................................................. 4
2. REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 5
2.1. Os crimes contra o patrimônio ..................................................................................... 5
2.1.1. Definição de crime ................................................................................................... 5
2.2. Patrimônio .................................................................................................................... 6
2.2.1. Os crimes contra o patrimônio ................................................................................. 6
2.3. Tipos de Crimes Contra o Patrimônio ......................................................................... 8
2.3.1. Furto ......................................................................................................................... 8
2.3.2. Subtracção, destruição ou descaminho de coisa própria depositada ........................ 9
2.3.3. Apropriação ilegítima em caso de acessão ou de coisa achada................................ 9
2.3.4. Agravação................................................................................................................. 9
2.4. Furto, destruição ou descaminho de processos, livros de registo, documentos ou
objectos depositados) ............................................................................................................ 10
2.4.1. Furto de uso de veículo .......................................................................................... 10
2.4.2. Furto de Fluidos ..................................................................................................... 11
2.4.3. Legitimidade para a Acção Penal ........................................................................... 11
2.4.4. Não punição do Crime de Furto ............................................................................. 11
2.5. Roubo ......................................................................................................................... 12
2.6. Extorsão ..................................................................................................................... 13
2.7. Apropriação Indébita ................................................................................................. 13
2.8. Usurpação de Coisa Imóvel ....................................................................................... 14
2.9. Arrancamento de Marcos ........................................................................................... 14
2.10. Factores que Influenciam os Crimes Contra o Património .................................... 14
3. Conclusão ...................................................................................................................... 16
4. Bibliografia .................................................................................................................... 17

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1. Introdução

O presente trabalho do campo com o tema os crimes contra patrimônio da cadeira de Direito
Penal Especial, do curso do Licenciatura de Direito, ministrado no terceiro trimestre do 3 ano,
visa doctar no estudante de direito conhecimentos sobre os crimes contra o patrimônio seja de
pessoa ou de instituição.
Antes de se avançar para o interior primeiro foi conceituado os termos de crime, como sendo
ação humana real ou possível: ação real lesiva de bem jurídico ou omissão possível protetiva
de bem jurídico em perigo; o conteúdo da vontade determina a modalidade dolosa e forma
descuidada de realização da vontade caracteriza a modalidade culposa da ação realizada ou
omitida. (...) O ordenamento jurídico é constituído de proibições e de permissões de ação: as
proibições são as ações típicas e as permissões são as justificações das ações típicas. Assim, as
ações típicas são confrontadas com o elenco das causas de justificação, hipóteses de permissão
cuja presença afasta a proibição: toda ação típica é antijurídica, exceto as ações típicas
justificativas.” (Santos, 1993, p. 15)
Segundo Becker (1968), a teoria econômica do crime tem como eixo central o processo de
escolha racional, onde os indivíduos alocam seu tempo em atividades ilegais. De igual modo
como forma de criar a melhor compreensão, também foi definido o patrimônio, como conjunto
de bens direitos e obrigações pertencentes a uma pessoa ou indivíduo.
Ao longo do trabalho também foi definido o crime contra a patrimônio, como sendo os crimes
que atentam contra o patrimônio moveis e imóveis de uma pessoa ou organização
Este crime é qualificado em todo ordenamento jurídico de cada país e que visam desencorajar
a pratica recorrente deste mal. Para o nosso país o crime contra o patrimônio encontra-se
tipificado na II parte do Código Penal Moçambicano, classificando como crimes contra o
patrimônio em três grandes sessões a saber: furto, o roubo e a usurpação da coisa móvel e
arrancamento de marcos.
O presente trabalho do campo possui um índice, para facilitar a localização páginal dos
conteúdos, uma introdução de contextualização, o desenvolvimento, onde foram abordados e
desenvolvidas a várias matérias e demonstrativo dos respectivos autores, a conclusão e a
referência bibliográfica.
Todavia vários autores ou obras forma afloradas neste trabalho como demonstrativo da
autenticidade cientifica da informação.

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1.1.Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral

 Analisar os crimes contra o patrimonio

1.1.2. Objectivos Específicos


 Identificar os principais crimes contra o património;
 Demostrar as causas que permite o crime contra património; e
 Mencionar os crimes patrimoniais.

1.2.Metodologia

Tendo em conta o objectivo da pesquisa a abordagem é qualitativa, tem como objecto de estudo
“as intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir significados nas
acções individuais e nas interacções sociais a partir da perspectiva dos atores intervenientes no
processo”. (Coutinho 2018, p.28).

No que diz respeito aos objectivos a pesquisa é descritiva uma vez que busca descrever um
fenómeno ou situação em detalhe, especialmente o que está ocorrendo, permitindo abranger,
com exactidão, as características de um indivíduo, uma situação, ou um grupo, bem como
desvendar a relação entre os eventos (Severino, 2016).

Quanto aos procedimentos técnicos é um estudo de caso como defende Coutinho (2018, p.335)
que neste tipo de estudo, aborda-se de forma exaustiva factos objectos de investigação, envolve
o estudo intensivo e detalhado de uma entidade bem definida: indivíduos, atributos dos
indivíduos; acções e interacções; actos de comportamentos; ambientes, acidentes, incidentes e
acontecimentos; e ainda colectividades.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1.Os crimes contra o patrimônio

2.1.1. Definição de crime

Os crimes são uma realidade jurídica, cuidadosamente definidos pela lei, mas são, também,
uma realidade socialmente definida e construída. Essa construção social do que é o “crime”
pode não coincidir com o que é descrito pela legislação. O crime constitui um fenómeno que
afeta todas as sociedades humanas, no entanto, a sua concretização pressupõe a existência
simultânea do criminoso e do alvo, elementos que subsistem “numa envolvente de espaço,
tempo e oportunidade” (João, 2009, p. 1).
Sociologicamente pode, ainda, conceber-se a criminalidade como a consequência de uma falha
da organização social, dissipação da força coerciva das normas sociais ou da indisponibilidade
de meios, para realizar os fins propostos pela sociedade (Durkheim, 1963).
Considera - se que o crime é a expressão do caráter limitado da autoridade da consciência
coletiva: “nada é bom indefinidamente e sem limite”, ou seja, o crime tem uma utilidade
indireta, quer isto dizer, que o crime pode ser visto como um fator importante de mudança
moral: “quantas vezes, com efeito, não é ele uma simples antecipação da moral futura, um
encaminhamento para o porvir?” (Durkheim, 1980).
Inerente à mutação da própria sociedade, o crime tem vindo a modificar-se e, simultaneamente
a intensificar-se, traduzindo-se num fenómeno social que além dos crimes contra o património,
nomeadamente os crimes de furto e roubo, entendidos como criminalidade “aquisitiva” e
“predatória” expressam a falência dos sistemas tradicionais de controlo social (Mendonça,
2012).

Se propõe a uma definição proletária de crime, com base na violação de Direitos Humanos.
Em ensaio monográfico, mais de cunho didático do que acadêmico, ele tenta extrapolar a
moldura analítica afirmando que:

“Crime é ação humana real ou possível: ação real lesiva de bem jurídico ou omissão
possível protetiva de bem jurídico em perigo; o conteúdo da vontade determina a
modalidade dolosa e forma descuidada de realização da vontade caracteriza a
modalidade culposa da ação realizada ou omitida. (...) O ordenamento jurídico é
constituído de proibições e de permissões de ação: as proibições são as ações típicas e
as permissões são as justificações das ações típicas. Assim, as ações típicas são
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confrontadas com o elenco das causas de justificação, hipóteses de permissão cuja
presença afasta a proibição: toda ação típica é antijurídica, exceto as ações típicas
justificativas.” (Santos, 1993, p. 15)

2.2.Patrimônio
Antes de entrar nos crimes contra o patrimônio, é imprescindível conceituar o patrimônio, como
sendo conjunto de bens direitos deveres e obrigações pertencentes a uma pessoa ou indivíduo.
Sendo bens peculiares que tenham valor jurídico, e porque a construção frásica não e unamine,
a seguir são apresentadas as concepções de vários autores sobre o conceito de patrimônio.
Numa sociedade capitalista, a propriedade privada é a fonte principal e a forma mais comum
de uma universalidade patrimonial.

Segundo Diz Fragoso (1981):

“Sob o prisma jurídico, entende-se por patrimônio o complexo das relações


jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro ou tendo valor econômico.
Considerase em geral o patrimônio como universalidade de direitos (universitas
juris), ou seja, como unidade abstrata, distinta dos elementos que a compõem.
Além desse conceito jurídico, próprio do direito privado, há uma noção
econômica de patrimônio, segundo a qual ele consiste num complexo de bem,
através dos quais o homem satisfaz suas necessidades. Em qualquer desses
aspectos, o sentido fundamental do patrimônio consiste no conteúdo econômico
das coisas ou relações que o integram, as quais devem ser apreciáveis em
dinheiro.” (p. 263)

Na visão de sintética de Paulo Sandroni, ao conceituar patrimônio no sentido econômico, que


este é o “conjunto de bens de uma pessoa ou empresa sujeitos a uma administração com a
finalidade de auferir ou criar renda.” (1996, p. 314)

2.2.1. Os crimes contra o patrimônio


Os crimes contra patrimônio são aqueles que atentam contra o patrimônio moveis e imóveis
de uma pessoa ou organização. Desde a antiguidade é de conhecimento os crimes contra o
patrimônio.

Os crimes contra o patrimônio são, em boa parte, crimes de muito antigo aparecimento
na História do Direito Penal. Muitos desses crimes são coetâneos com o aparecimento
da propriedade privada, como é o caso do furto, que aparece previsto e incriminado nos
textos antiqüíssimos do Direito Romano. Outros são crimes de mais recente
aparecimento, como é o caso do estelionato, que surgiu em Roma na época dos crimes
extraordinários, no século II de nossa Era, que foi o período de maior florescimento da
ciência jurídica em Roma. Pode-se dizer, a época clássica do Direito Romano. (Fragoso,
1987, p.1)
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Os crimes contra o patrimônio são crimes contra o patrimônio, ou seja, a ideia de patrimônio
para os efeitos do direito penal tem recebido uma visão distinta da que prevalece no campo do
direito privado. Em geral, os autores entendem que não há um conceito jurídico-penal de
patrimônio, que aqui o direito penal é inteiramente coercitivo, funcionando com critérios
sancionatórios de disposições que pertencem ao direito privado.
O patrimônio é um complexo de ações jurídicas apreciáveis em dinheiro, ou que tenham valor
econômico, concebido como uma universalidade de direitos, ou seja, como uma unidade
abstrata distinta dos elementos que a compõem, conceito que é próprio do direito privado.

Verifica-se uma relação ao patrimônio, claro, uma concepção econômica, segundo a qual o
patrimônio é um complexo de bens que serve para satisfazer necessidades, porque tudo indica
na idéia de patrimônio um conteúdo econômico.

Afirmam que do ponto de vista do direito penal não são só os bens apreciáveis em dinheiro,
seja como valor econômico, são suscetíveis de apropriação patrimonial. De tal sorte que seria
possível, segundo estes autores, também crimes contra o patrimônio em relação a certos bens
que não apresentam um valor patrimonial, como por exemplo uma carta de amor, um cacho de
cabelos que o namorado guarda de sua amada. Isto pode ser objeto de furto, entendem esses
autores, que são coisas que não têm nenhum valor patrimonial e são coisas que não são
apreciáveis em dinheiro.
Sub ponto de vista de direito creio que realmente os crimes patrimoniais não podem se
configurar se o objeto da ação ou o prejuízo causado não é avaliado em dinheiro ou
simplesmente não tenha valor patrimonial.
Não há crime patrimonial sem lesão de interesse economicamente apreciável. Claro que há
possibilidade de furto, de apropriação indébita e de roubo em relação a certos papéis que
representam valores, como, ações ou letras de câmbio.
Outros papéis que não têm valor patrimonial algum podem, eventualmente, ser objeto de um
outro crime contra a fé pública ou crime de supressão de documentos, mas não podem ser objeto
de crimes patrimoniais.
Objeto principal de um crime patrimonial tem que ser alguma coisa com valor patrimonial,
onde de outra sorte não teríamos, em realidade, algo que se integre no patrimônio. Esses crimes
contra o patrimônio atingem direitos patrimoniais.
Nesse mesmo sentido Antolisei (1954) afirma que “o patrimônio não compreende apenas as
relações jurídicas economicamente apreciáveis – isto é, os direitos que são avaliáveis em

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dinheiro – senão também os que versem sobre coisas que têm valor de afeição (recordações de
família, objetos que nos são caros por motivos especiais, etc)"( Bitencourt, 2007, p.79).

Na legislação Moçambicana o crime contra o patrimônio está tipificado no título II, do código
penal, aprovado pela Lei 24/2019, de 24 de Dezembro. Esta lei classifica o crimes contra o
patrimônio em três grandes sessões a saber: furto, o roubo e a usurpação da coisa móvel e
arrancamento de marcos.

2.3.Tipos de Crimes Contra o Patrimônio

2.3.1. Furto
Segundo (Gonçalves, 2004, p. 670), o crime de furto é instantâneo, sendo, portanto, indiferente
à sua perfeição o lapso de tempo em que a coisa alheia subtraída esteve na posse do infrator.
Este tipo de crime consiste na conduta de “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”,
com pena de reclusão, de um a dose anos, e multa que vai até 1 ano caso o valor exceda a 500
salários mínimos, artigo 270 do Código Penal Moçambicano.

Ele consuma-se quando o agente tira ou subtrai a coisa da posse do respetivo dono ou detentor,
contra a vontade deste e a coloca na sua própria posse, substituindo-se ao poder de facto sob o
qual se encontrava. Logo que a coisa subtraída passa do poder do seu detentor para a esfera do
poder do agente do crime, tem-se por consumado, nesse momento, se verificado o evento
jurídico ou lesão do interesse tutelado.

Segundo Santos (2008, p. 247), neste tipo de crime importa diferenciar Furtum usus (furto de
uso), de Furtum rei (furto da coisa). No Furtum usus existe apropriação da coisa com posterior
restituição para aproveitamento do seu uso durante certo espaço de tempo (apropriação
temporária - crime de furto de uso de veículo), enquanto que no Furtum rei existe subtração da
coisa com a intenção da apropriação (crime de furto). No Furtum usus, por norma, os agentes
da prática do crime furtam o veículo por um período temporal reduzido e voltam a colocar os
veículos no local do furto ou abandonam o veículo em local visível ou perto do local do furto
e, por norma, também não danificam o veículo. Em veículos só existe Furtum rei, quando o
agente passa a usar o veículo como se fosse o seu dono, ou seja, não o abandona e existe um
grande espaço de tempo entre o furto e a utilização.
O furto é um crime comum e genérico podendo ser praticado por qualquer pessoa. Nada impede
que, em determinadas circunstâncias, a subtração de coisa móvel alheia configure outro crime,
como ocorre, por exemplo, quando um funcionário público, tirando proveito das facilidades do
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cargo, subtrai bem da administração pública, hipótese na qual teremos um peculato-furto. O
cadáver pode ser objeto do furto, desde que pertença a alguém (ex.: Cadáver pertencente a uma
faculdade de medicina).
O elemento subjetivo é o dolo, não havendo forma culposa. O agente deverá possuir o ânimo,
a intenção de se apoderar da coisa furtada. Caso a intenção seja somente a de usar a coisa e logo
após devolvê-la, teremos o que se chama de furto de uso, que não é crime.

Para a jurisprudência, o crime se consuma quando o agente passa a ter a posse sobre a coisa,
ainda que por um curto espaço de tempo, ainda que não tenha tido a posse mansa e pacífica
sobre a coisa furtada (teoria da amotio).
Segundo o Código Penal Moçambicano, considera-se como um só furto o total das diversas
parcelas subtraídas pelo mesmo agente à mesma pessoa, embora em épocas distintas.

2.3.2. Subtracção, destruição ou descaminho de coisa própria depositada

As penas de furto são impostas a quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para
outrem, subtrair uma coisa que lhe pertença, estando ela em penhor ou depósito em poder de
alguém, ou a destruir ou desencaminhar, estando penhorada ou depositada em seu poder por
mandado de justiça.

2.3.3. Apropriação ilegítima em caso de acessão ou de coisa achada

O artigo 272 do Código Penal Moçambicano institui que quem, ilegitimamente, se apropriar de
coisa alheia que tenha entrado na sua posse ou detenção por efeito de força natural, erro, caso
fortuito ou por qualquer maneira independente da sua vontade, é punido com as penas de furto,
mas atenuadas nos termos gerais.
Nas mesmas penas incorre quem se apropriar ilegitimamente de coisa alheia que haja
encontrado.

2.3.4. Agravação
O Código Penal Moçambicano, no seu artigo 273, institui que o furto é punido com as penas
imediatamente superiores às do artigo 270, segundo o valor, quando se verifique o concurso de
alguma ou algumas das circunstâncias seguintes:
a. Trazendo o criminoso ou algum dos criminosos, no momento do crime, armas aparentes
ou ocultas;
b. Em casa habitada ou destinada a habitação, em edifício público ou destinado ao culto
religioso, em acto religioso ou em cemitério;

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c. Sendo o objecto subtraído por natureza altamente perigoso, ou de elevado valor cultural
ou religioso ou de importante valor científico, artístico, ou histórico e se encontre em
colecção ou exposição públicas ou acessíveis ao público;
d. Na estrada ou caminho público, sendo de objectos que por ele forem transportados;
e. Com arrombamento, escalamento ou chaves falsas, em casa não habitada nem destinada
a habitação;
f. Explorando o agente a situação de especial debilidade da vítima, de desastre, de acidente
ou calamidade pública;
g. Qualquer servidor assalariado ou qualquer indivíduo, trabalhando habitualmente na
habitação, oficina, estabelecimento, escritório, instituição ou serviço em que cometer o
furto;
h. Os estalajadeiros ou quaisquer pessoas, que recolhem e agasalham outros por dinheiro
ou seus propostos, os barqueiros, os transportadores, ou quaisquer condutores ou seus
propostos, que furtarem todo ou parte do que por este título lhes era confiado;
i. Tratando-se de veículos, peças ou acessórios a eles pertencentes ou de objectos ou
valores neles deixados

2.4.Furto, destruição ou descaminho de processos, livros de registo, documentos ou


objectos depositados)
1. Quem subtrair algum processo ou parte dele, livro de registo ou parte dele, ou qualquer
documento, é punido com pena de prisão até 2 anos.
2. A mesma disposição aplica-se a quem subtrair um título, documento ou peça de
processo, que tiver sido produzido ou entregue em juízo.
3. Se o processo for criminal e nele se tratar de crime a que a lei imponha alguma das penas
de prisão superior a 2 anos, é punido o furto com pena de 2 a 8 anos de prisão e, se a
pena for inferior a 2 anos de prisão, é punido o furto com pena de prisão de 1 a 2 anos.
4. Se o furto de papéis ou quaisquer objectos depositados em depósito público ou
estabelecimentos encarregados pela lei de guardar estes objectos, é agravada a pena
segundo as regras gerais.
5. As disposições do presente artigo são aplicadas ao que desencaminhar ou destruir os
referidos papéis ou objectos.

2.4.1. Furto de uso de veículo

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Este crime encontra-se tipificado no código Penal Moçambicano, no seu artigo 275 e consiste
na:
1. A utilização, sem autorização de quem de direito, de automóvel ou outro veículo
motorizado, aeronave, ferroviário, barco, bicicleta ou de tração animal, é punida com
pena de prisão de 1 mês a 1 ano e multa correspondente.
2. A pena será agravada de metade no seu limite máximo, se com o uso do veículo forem
nele causados danos.
3. de igual modo é punível aquele que praticar a tentativa.

2.4.2. Furto de Fluidos


Este crime encontra-se no artigo 276 do Código Penal Moçambicano pune a pessoa que por
qualquer meio, subtrair, para consumo pessoal ou de terceiros, sinal de telefone, rádio,
televisão, internet, dados de voz, imagem, vídeo ou outros bens imateriais com valor
económico, é punido com pena de prisão até 1 ano, se pena mais grave não couber.
De igual modo é punido por tentativa desta pratica.

2.4.3. Legitimidade para a Acção Penal


Em todos casos declarados na presente secção, se o furto não exceder a quantia de vinte salários
mínimos, e não sendo habitual, só tem lugar o procedimento criminal queixando-se o ofendido.
A acção criminal não tem lugar sem queixa do ofendido, sendo o furto praticado pelo agente
contra os seus irmãos, cunhados, sogros ou genros, padrastos, madrastas ou enteados, tutores
ou mestres e cessa o procedimento logo que os prejudicados o requeiram. (artigo 277 do CPM).
2.4.4. Não punição do Crime de Furto
Segundo o artigo 278 do com, não há acção criminal nos furtos cometidos por:
a) Pelo cônjuge ou pessoa com quem viva como tal, salvo havendo separação judicial de
pessoas e bens;
b) Pelo ascendente contra o descendente e vice-versa; e
c) Pelo adoptante contra o adoptado e vice-versa.

Na aplicação da pena sobre os crimes de furto, encontra-se a majorante no caso de o crime ser
praticado durante o repouso noturno (aumenta-se de 1/3), e aplica ainda que se trate de
residência desabitada ou estabelecimento comercial.
Ainda neste tipo de crime está previsto o chamado privilégio, que ocorre quando o réu é
primário e a coisa é de pequeno valor (aquela que não ultrapassa um salário mínimo vigente à
época do fato), hipótese na qual o Juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
diminuí-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa.
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É possível, ainda, a aplicação do privilégio ao furto qualificado, desde que estejam presentes os
requisitos que autorizam o reconhecimento do privilégio e que a qualificadora seja de ordem
objetiva

2.5.Roubo

O crime de roubo, previsto no Art. 279.º, do CP, moçambicano, constitui também um crime sui
generis e não, como muitas vezes se diz, um furto especial. O crime de roubo é um crime
público e é punido com pena de prisão de 3 a 15 anos ou se do facto resultar morte de outra
pessoa, de 8 a 16 anos. O roubo, nada mais é do que um furto praticado com violência, em que
existe uma ilegítima intenção de apropriação de coisa móvel alheia, por subtração ou
constrangimento, através da violência ou ameaça com um perigo eminente contra a vida ou
integridade física ou pondo a vítima na impossibilidade de resistir (Santos, 2008, p. 247).
Para Gonçalves (2004, p. 704) a violência, no crime de roubo, pode ser física ou moral (está
para criar no espírito da vítima um fundado receio de grave e iminente mal suscetível de
paralisar a sua reação) e quer se trate de violência física ou moral, não se exige que tenha certa
intensidade, bastando que seja suficiente para que o agente se apodere do bem, mesmo que a
vítima não esgote a sua capacidade de resistência, ficando no entanto excluídas situações que
só levemente perturbem a liberdade de agir, sem normal capacidade para vencer essa
resistência.
De acordo com o artigo 279 do C.P, moçambicano, quem com ilegítima intenção de apropriação
para si ou para outra pessoa, subtrair, ou constranger a que lhe seja entregue, coisa móvel alheia,
por meio de violência contra uma pessoa, de ameaça com perigo iminente para a vida ou para
a integridade física, é punido com a pena imediatamente superior a correspondente ao crime de
furto. A entrada em casa habitada com arrombamento, escalamento ou chaves falsas é
considerada como violência contra as pessoas, se elas efectivamente estavam dentro nessa
ocasião.
A moldura penal no crime de roubo depende mais das circunstâncias em que este pode ocorrer
e dele pode resultar em penas que varia de 1 a 24 anos de prisão e multa correspondente.
Quando este ocorra de noite ou em ligar isolado, se for cometido com armas, for cometido com
duas ou mais pessoas, concorrer para o crime de sequestro ou se o agente produzir o perigo de
vida para a vítima, ofensa a integridade física, usurpação de título ou insígnia de algum sector
público, civil ou militar ou alegação de ordens falsas de qualquer autoridade pública, a pena

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varia de 12 a 16 anos de prisão e multa correspondente.se esta for a acontecer concorrendo para
o crime de violação, a pena varia de 16 a 20 anos de prisão.

E se o roubo for cometido ou tentado, concorrendo o crime de homicídio, é punido com a pena
de 20 a 24 anos de prisão.
Em casos em que o roubo ocorre de noite ou em lugar isolado e for cometido por duas ou mais
pessoas e não houver uso de armas e for de pouca gravidade a violência ou ameaça e ainda o
valor da coisa subtraída não exceder a dez salários mínimos, a lei prevê a possibilidade de se
aplicar a pena de prisão mínima que varia de 1 a 3 anos e multa até 1 ano.
O código Penal Moçambicano, no seu artigo 283, tipifica o arrombamento, escalamento e
chaves faltas como crime contra o patrimônio que pode ser punido conforme a lei.

2.6.Extorsão
O crime de extorsão, consiste em “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e
com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar fazer alguma coisa”.
O constrangimento é mero “meio” para a obtenção da vantagem indevida. O verbo é
“constranger”, que é sinônimo de forçar, obrigar alguém a fazer o que não deseja. Não se
confunde com o delito de roubo, pois naquele o agente se vale da violência ou grave ameaça
para subtrair o bem da vítima. Neste o agente se vale destes meios para fazer com que a vítima
lhe entregue a coisa ou seja, deve haver a colaboração da vítima. Friso: no roubo a colaboração
da vítima é dispensável, pois o agente pode obtê-las mesmo sem a colaboração; na extorsão a
colaboração da vítima é indispensável.
A pena é mais elevada (seis a doze anos). O crime também será considerado qualificado (com
penas mais severas) no caso de ocorrência de lesões graves ou morte.

2.7.Apropriação Indébita
Os crimes de apropriação indébita diferem dos crimes de furto e roubo, pois aqui o agente
possui a posse legítima sobre o bem, mas se recusa a devolvê-lo ou repassá-lo a quem de direito.
Ou seja, aqui o crime se dá pela inversão dos ânimos do agente, que antes estava de boa-fé, e
passa a estar de má-fé. A conduta aqui tipificada é a de “apropriar-se de coisa alheia móvel, de
que tem a posse ou a detenção”.
A posse que o infrator tem sobre a coisa deve ser “desvigiada”, ou seja, sem vigilância,
decorrendo de confiança entre o dono da coisa e o infrator. Caso haja mero contato físico com
a coisa, mas sem relação de confiança entre dono e infrator, estaremos diante do crime de furto.

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Para além da apropriação indébita, também encontramos a apropriação indébita previdenciária
consiste em “deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional”.
Neste tipo de apropriação, o sujeito ativo é o responsável tributário, aquele que por lei está
obrigado a reter na fonte a contribuição previdenciária ao INSS e repassá-la, mas não o faz. O
sujeito passivo é a UNIÃO.
A conduta é apenas uma: “deixar de repassar”, ou seja, reter, mas não repassar ao órgão
responsável, os valores referentes às contribuições previdenciárias.
O elemento subjetivo exigido é o dolo, não se punindo a conduta culposa, daquele que apenas
se esqueceu de repassar as contribuições recolhidas. Não se exige o dolo específico.

2.8.Usurpação de Coisa Imóvel


Segundo o artigo 284 do C.P, Moçambicano, a usurpação de coisa imóvel e um crime que
consiste por meio de violência ou ameaça para com as pessoas, invadir ou ocupar coisa imóvel,
arrogando-se o domínio ou posse, ou o uso dela, sem que lhe pertença, é punido com pena de
prisão até 2 anos e multa correspondente.
A pena prevista no número anterior é aplicável a quem, pelos meios indicados no número
anterior, desviar ou represar águas, sem que a isso tenha direito, com intenção de alcançar, para
si ou para outra pessoa, benefício ilegítimo.

2.9.Arrancamento de Marcos
O Código Penal Moçambicano, no seu artigo 285, estipula que qualquer pessoa que, sem
autoridade da entidade competente, ou sem consentimento das partes, a que pertencer o
direito de uso e aproveitamento da terra, arrancar marco posto em alguma demarcação, ou de
qualquer modo o suprimir ou alterar, é punido com pena de prisão de 1 mês. Consideram-se
marcos quaisquer construções, balizas ou sinais destinados a estabelecer os limites entre
diferentes parcelas, bem assim as árvores plantadas para o mesmo fim ou como tais
reconhecidas.

2.10. Factores que Influenciam os Crimes Contra o Património


Segundo Hirschi (1969), os seres humanos são naturalmente inclinados a enveredar pelo delito
para satisfazerem os seus desejos, a menos que sejam impedidos pela pressão social que se faz
sentir, quando um indivíduo está vinculado ao seu grupo social. Assim, a criminalidade pode
ser explicada pelo enfraquecimento do laço que, em princípio, deveria unir o indivíduo à
sociedade.

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Segundo Mendonça (2009), outro dos fatores que influencia este tipo de crimes é a quebra de
laços familiares e escolares que obrigam estes indivíduos a enveredar pelo mundo da
delinquência, uma vez que o controlo social informal não pode exercer-se num vazio relacional.

Outro dos fatores que influencia este tipo de criminalidade, independentemente da idade, é o
facto destes indivíduos possuírem uma escolaridade bastante reduzida e um percurso académico
atribulado, pois o desinteresse, as dificuldades de aprendizagem e a incapacidade de estudar
andam a par (Mendonça, 2009)

As situações de desemprego ou de trabalho precário, também são determinantes para a entrada


no mundo do crime, havendo uma relação de crescimento proporcional entre desemprego e
criminalidade contra o património (Mendonça, 2012).

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3. Conclusão

Com este trabalho do campo conclui-se que os crimes contra o patrimônio são, em boa parte,
crimes de muito antigo aparecimento na História do Direito Penal. Muitos desses crimes são
coetâneos com o aparecimento da propriedade privada, como é o caso do furto, que aparece
previsto e incriminado nos textos antiquíssimos do Direito Romano. Outros são crimes de mais
recente aparecimento, como é o caso do estelionato, que surgiu em Roma na época dos crimes
extraordinários, no século II de nossa Era, que foi o período de maior florescimento da ciência
jurídica em Roma. Pode-se dizer, a época clássica do Direito Romano. (Fragoso, 1987, p.1)

Durante o trabalho foi definido o patrimônio como sendo um complexo de ações jurídicas
apreciáveis em dinheiro, ou que tenham valor econômico, concebido como uma universalidade
de direitos, ou seja, como uma unidade abstrata distinta dos elementos que a compõem, conceito
que é próprio do direito privado. Este conceito não é consensual para o Antolisei (1954) que
afirma “o patrimônio não compreende apenas as relações jurídicas economicamente apreciáveis
– isto é, os direitos que são avaliáveis em dinheiro – senão também os que versem sobre coisas
que têm valor de afeição (recordações de família, objetos que nos são caros por motivos
especiais, etc)"(Antolisei, 1954 apud. Bitencourt, 2007, p.79).
Todavia é notória às variáveis relacionadas escolaridade, condição na atividade econômica,
percentagem de jovens na população e segurança pública neste trabalho composta por
habitantes por Policial Civil, existência de delegacia de Polícia Civil ou esquadras com um rácio
muito maior entre polícia e população, habitantes por Policial Civil ou Militar são os fatores
mais importantes para diagnosticar o efeito dos crimes patrimoniais.
O Código penal vigente em Moçambique, aprovado pela Lei 24/2019, de 24 de Dezembro, os
crimes de furto, roubo, arrancamento de marcos, usurpação da coisa imóvel, apropriação
indébita e extorsão, como crimes contra o patrimônio, com penas que varia de 1 a 24 anos de
prisão e multas correspondentes

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4. Bibliografia

Almeida, J. F. (s.d). A Bíblia Sagrada - Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: Sociedade
Bíblica do Brasil.
Becker, Gary S. (1968). Crime and punishment: An economic approach. In: The economic
dimensions of crime.London: Palgrave Macmillan
Bitencourt, C.R. (2003). Tratado de Direito Penal. (3ª Ed.) São Paulo: Saraiva.
Durkheim, É. (1999). Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes.
Fragoso, C. H. (1986). Lições de Direito Penal - A Nova Parte Geral. (10ª ed). Rio de Janeiro:
forense.
Gonçalves, C. R. (2005). Direito civil brasileiro. parte geral. (2ª.ed.). São Paulo: Saraiva.
Lei 24/2019, de 24 de Dezembro, (Código Penal Moçambicano),
Santos, J. C. dos. (1993). Teoria do Crime. São Paulo: Acadêmica.

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