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 PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL  DA 3ª REGIÃO
 
PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5036974-69.2022.4.03.6301 / 12ª Vara Gabinete JEF
de São Paulo
AUTOR: DAIANE MENDES SANTANA
REU: UNIÃO FEDERAL
 
 
 

SENTENÇA
 
 
Vistos em sentença.

Trata-se de ação proposta por DAIANE MENDES SANTANA (parte sem advogado) em face da
UNIÃO FEDERAL, objetivando o recebimento do valor de abono salarial previsto no artigo 9º da
Lei nº 7.998/90 referente ao ano-base de 2021.

Citada, a União arguiu preliminares e manifestou-se em termos absolutamente genérico e que


nada dizem quanto ao pedido inicial (ID 262417823).

Vieram-me os autos conclusos para sentença.

É o breve relatório. Passo a decidir.

Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva da União. Embora seja pago aos titulares de contas
no PIS-PASEP, o abono salarial é custeado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador, vinculado ao
Ministério do Trabalho e Emprego, nos termos do artigo 10 da Lei nº 7.998/90, sendo a Caixa
Econômica Federal mero agente pagador e, portanto, parte ilegítima na presente ação.

Sem outras preliminares, passo a analisar o mérito.

O artigo 239, §3º, da Constituição Federal tratou do abono salarial, nos seguintes termos:

“A d ã d t d t ib i õ P d I t ã
“A arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração
Social, criado pela Lei Complementar n. 7 de 7 de setembro de 1970 e para o
Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, criado pela Lei
Complementar n. 8 de 3 de dezembro de 1970, passa a partir da promulgação
desta Constituição, a financiar, nos termos que a lei dispuser, o programa do
seguro-desemprego e o abono de que trata o ª 3º deste artigo.

(...)

§ 3º Aos empregados que percebam de empregadores que contribuem para o


Programa de Integração Social e do Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público, até dois salários mínimos de remuneração mensal, é
assegurado o pagamento de um salário mínimo anual, computado neste valor o
rendimento das contas individuais, no caso daqueles que já participavam dos
referidos programas, até a data da promulgação desta Constituição.

O abono salarial foi disciplinado pela Lei nº 7.859/1989, que estabeleceu os seguintes requisitos
para o benefício em seu artigo 9º:

“Art. 9º É assegurado o recebimento de abono salarial no valor de um salário


mínimo vigente na data do respectivo pagamento, aos empregados que:

I - tenham percebido, de empregadores que contribuem para o Programa de


Integração Social (PIS) ou para o Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (Pasep), até 2 (dois) salários mínimos médios de remuneração
mensal no período trabalhado e que tenham exercido atividade remunerada
pelo menos durante 30 (trinta) dias no ano-base;

II - estejam cadastrados há pelo menos 5 (cinco) anos no Fundo de Participação


PIS-Pasep ou no Cadastro Nacional do Trabalhador.

Parágrafo único. No caso de beneficiários integrantes do Fundo de Participação


PIS-Pasep, serão computados no valor do abono salarial os rendimentos
proporcionados pelas respectivas contas individuais.”

No caso dos autos, a partir da carteira de trabalho juntada aos autos (ID 258755918), verifico que
a parte autora exerceu atividade remunerada por pelo menos 30 dias no ano-base de 2021, pois
manteve vínculo empregatício com a empresa “CABOBLO DISTRIUBIDOR LTDA” desde 20/08/2021
até ao menos 06/2022.

Observo também que a remuneração mensal paga pela empresa mencionada foi de até 02
salários mínimos, considerando o salário contratual de R$1.504,16 e as alterações salariais ao
longo de 2021 que alcançaram R$1.654,58 em 03/10/2021 (vide CTPS digital – ID 258755918, fl.
01).

Sem prejuízo, as informações acima são corroboradas pelo CNIS anexo a esta sentença, cabendo
destacar que a União nada esclareceu quanto ao caso concreto.

P fi b ã i t i f õ b RAIS d b d 2021 t t é
Por fim, embora não existam informações sobre a RAIS do ano-base de 2021 nestes autos, é
importante destacar que cabe ao empregador fornecer as informações necessárias para a
atualização dos dados do empregado e, à União Federal o dever de fiscalizar. Sendo assim, não
pode o empregado ser responsabilizado e prejudicado pela desídia do seu empregador e pela
falta de fiscalização da União.

Dessa forma, atendidos os requisitos necessários para a concessão do abono salarial, é de rigor a
procedência da presente ação.

Diante do exposto, julgo PROCEDENTE o pedido, com fundamento no artigo 487, inciso I, do
Código de Processo Civil, para condenar a União Federal a pagar o abono salarial, referente ao
ano-base de 2021, à parte autora, descontando-se eventuais parcelas já pagas na via
administrativa, desde que devidamente comprovado nos autos.

Entendo que a presente condenação consubstancia uma obrigação de fazer em face da União, de
modo que reputo adequado o pagamento do abono salarial na seara administrativa (com os
índices de correção aplicados administrativamente) e não mediante requisição judicial.

A correção monetária e os juros de mora incidirão nos termos do Manual de Orientação de


Procedimentos para os cálculos da Justiça Federal, aprovado pelo Conselho da Justiça Federal.

Sem condenação em custas, tampouco em honorários advocatícios.

Concedo os benefícios da justiça gratuita.

Fica ciente a parte autora de que seu prazo para recorrer desta sentença é de 10 (dez) dias e de
que, na hipótese de desejar fazê-lo e não ter contratado advogado ou não ter condições
econômicas de arcar com os custos deste processo, poderá encaminhar-se com urgência à
Defensoria Pública da União, situada à Rua Teixeira da Silva, 217 – Paraíso, São Paulo/SP.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

 
 
São Paulo, na data da assinatura digital.
 
 
ANA CLARA DE PAULA OLIVEIRA PASSOS
Juíza Federal
 

A i d l t i t ANA CLARA DE PAULA OLIVEIRA PASSOS


Assinado eletronicamente por: ANA CLARA DE PAULA OLIVEIRA PASSOS
13/09/2022 20:09:16
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento:

22091320091598600000254384915
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