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Deflexão em Vigas de

Concreto Armado
PROF. PABLO RODRIGO SKOWRONSKI LAZARINI
Esforços
A deflexão de peças sujeitas á flexão pode ser obtida, entre outras formas, através da equação da elástica

𝑑4𝑦 𝑄
=
𝑑𝑥 4 𝐸. 𝐼 Rigidez à flexão

Onde:
y – Deflexão no ponto
x – Posição da deflexão
Q – Carregamento
E – Módulo de Elasticidade do Material
I –Momento de Inércia da seção
𝑄 . 𝑥4 𝑄 . 𝐿2 . 𝑥² 𝑄 . 𝐿 . 𝑥³
𝑦 𝑥 = + −
24 . 𝐸. 𝐼 4 . 𝐸. 𝐼 6 . 𝐸. 𝐼

𝑄. 𝑥
𝑦 𝑥 = 𝐿3 − 2. 𝐿. 𝑥 2 + 𝑥 3
24 . 𝐸. 𝐼
Como o concreto tem baixa resistência à tração, a fissuração da peça implica em perda de
momento de inércia e consequentemente rigidez à flexão
Métodos de cálculo
Modelagem e simulação através de Elementos Finitos
Vantagens Desvantagens
Leva em conta a fissuração da viga Difícil Modelagem por conta da
na simulação fissuração

Repostas mais próximas da Analisa elementos individuais


realidade

Análise não-linear não é permitida


Possibilidade de avaliar deflexões para fins de dimensionamento por
em regime não-linear norma
Modelo de Branson – método
simplificado
Utiliza a equação da elástica para estimar a deflexão dos elementos
Modelo linear
Corrige a ridigez à flexão levando em conta o elemento fissurado e não fissurado
3 3
𝑀𝑟 𝑀𝑟
(𝐸𝐼)𝑒𝑞,𝑡0 = 𝐸𝑐𝑠 . 𝐼𝑐 + 1 − 𝐼𝐼𝐼 ≤ 𝐸𝑐𝑠 . 𝐼𝑐
𝑀𝑎 𝑀𝑎

Onde:
(𝐸𝐼)𝑒𝑞,𝑡0 - Rigidez equivalente da seção transversal considerada
𝐸𝑐𝑠 - Módulo de Elasticidade Secante do concreto
𝑀𝑟 - Momento de fissuração do elemento estrutural
𝑀𝑎 - Momento fletor na seção crítica do vão considerado (momento máximo na combinação ELS-def)
𝐼𝑐 - Momento de Inércia da seção bruta
𝐼𝐼𝐼 - Momento de Inércia da seção fissurada (concreto estádio II)
Quando não forem realizados ensaios, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade inicial do
concreto utilizando as expressões:

𝐸𝑐𝑖 = 𝛼𝐸 . 5600 . 𝑓𝑐𝑘 para fck de 20 MPa a 50 MPa;


1
𝑓𝑐𝑘
𝐸𝑐𝑖 = 21,5 . 103 . 𝛼𝐸 .( + 1,25)
3 para fck de 55 MPa a 90 MPa.
10

αE = 1,2 para agregado graúdo de origem basalto e diabásio


αE = 1,0 para agregado graúdo de origem granito e gnaisse
αE = 0,9 para agregado graúdo de origem calcário
αE = 0,7 para agregado graúdo de origem arenito

Eci e fck são dados em megapascal (MPa).


O módulo de elasticidade secante do concreto é obtido por

𝐸𝑐𝑠 = ∝𝑖 . 𝐸𝑐𝑖

Sendo

𝑓𝑐𝑘
∝𝑖 = 0,8 + 0,2. ≤ 1,0
80

Expressão válida tanto para concretos comuns quanto concretos de alto desempenho
Momento de Fissuração (Mr)
Nos estados limites de serviço as estruturas trabalham parcialmente no estádio I e parcialmente
no estádio II. A separação entre essas duas partes é definida pelo momento de fissuração.
Pela mecânica dos materiais, tem-se que a tensão de tração ou compressão (σNd) em peças
sujeitas à flexão simples é dada por:

𝑀𝑑 . 𝑦
𝜎𝑁𝑑 =
𝐼
Onde:
Md – Momento fletor solicitante
y – posição da linha neutra (se o material homogêneo e isotrópico y é metade da altura da seção
transversal)
I – momento de inércia da seção
Admitindo que a tensão devido à flexão em peças de concreto armado seja restrita à resistência do
concreto, isolando o momento fletor na expressão anterior, tem-se:

𝑓𝑐𝑡 . 𝐼
𝑀𝑑 =
𝑦

Com:

3
𝑓𝑐𝑡𝑘,𝑖𝑛𝑓 0,7 . 𝑓𝑐𝑡,𝑚 0,7 . 0,3 . 𝑓𝑐𝑘 ²
𝑓𝑐𝑡 = = =
𝛾𝑐 𝛾𝑐 𝛾𝑐

Como o comportamento de peças sujeitas à flexão não é exatamente o mesmo em peças sujeitas à
tensão axial, pode-se corrigir a resistência à tração do concreto pelo fator α da seguinte forma:

1,2 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 𝑇 𝑜𝑢 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑜 𝑇


∝= ቊ
1,5 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑡𝑎𝑛𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠
Desta forma, a expressão do momento onde o concreto começa a fissurar é dada por:

∝ . 𝑓𝑐𝑡 . 𝐼𝑐
𝑀𝑟 =
𝑦𝑡

O momento fletor obtido nessa expressão deve ser o utilizado para o cálculo da armadura mínima de
uma viga em concreto armado, pois a resistência do concreto à fissuração é obtida de maneira
aproximada, e uma viga sem armadura que atinja essa condição, pode estar sujeita à ruína se não houver
armadura para equilibrar o momento caso o concreto falhe.

Esta verificação deve ser feita para identificar qual é o Estádio em que a viga está atuando em serviço.
Caso o momento fletor solicitante seja superior ao momento de formação de fissuras, a viga está sujeita
ao Estádio II e deve-se verificar qual são as dimensões aproximadas das fissuras.
Caso o momento fletor solicitante seja inferior ao momento de formação de fissuras, a viga está no
Estádio I e não é necessário verificar as dimensões das fissuras.
Md,freq. – momento fletor solicitante na combinação de estado limite de serviço com combinação frequente
d – altura útil da seção
x2 – posição da linha neutra da seção no estádio II

A determinação da linha neutra no estádio II é feita através do Momento estático da seção

𝑥2
𝑏𝑤 . 𝑥2 . − ∝𝑒 . 𝐴𝑠 . 𝑑 − 𝑥2 = 0
2
I2 – momento de inércia da viga no estádio II

Desprezando-se todo o concreto abaixo da linha neutra (fissurado), tem-se

𝑏𝑤 . 𝑥2 ³
𝐼2 = + ∝𝑒 . 𝐴𝑠 . (𝑑 − 𝑥2 )²
3

Com:
As – Área de aço da viga
bw – base da seção transversal
Deformações excessivas
O estado limite que utiliza-se para a solicitação de momento fletor que corresponde à fissuração
da viga é o Estado Limite de Serviço relativo à combinação quase permanente de serviço, dado
por:

𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 = Ʃ𝐹𝑔𝑖,𝑘 + ƩΨ2𝑗 𝐹𝑞𝑗,𝑘


Onde:
Fd,ser – valor de cálculo das ações para combinações de serviço
Fgi,k – valor das cargas permanentes características
Fqj,k – valor das cargas variáveis características
Ψ2 – fator de redução de combinação frequente para ELS
A deflexão adicional diferida, decorrente das cargas de longa duração em função da fluência, pode ser
calculada de maneira aproximada pela multiplicação da flecha imediata pelo fator αf dado pela expressão:

∆𝜉
𝛼𝑓 =
1 + 50 𝜌′

𝐴𝑠 ′
𝜌′ =
𝑏. 𝑑

∆𝜉 = 𝜉 𝑡 − 𝜉(𝑡0 )
Onde:
As’ – Armadura na região comprimida do elemento estrutural
b – largura da seção transversal do elemento estrutural
d – altura útil da seção transversal do elemento estrutural
Para períodos inferiores a 70 meses o coeficiente ξ (coeficiente função de tempo) pode ser obtido através da
expressão

𝜉 𝑡 = 0,68 0,996𝑡 𝑡 0,32

Para períodos superiores a 70 meses

𝜉 𝑡 =2
Deformações excessivas
Logo, a deflexão do elemento, levando em conta a inicial (retirada do escoramento) e a em
função da fluência pode ser estimada através da expressão

𝑦𝑡 = 𝑦0 ( 1 + 𝛼𝑓 )

Onde:
𝑦𝑡 - flecha diferida

𝑦0 - flecha imediata
O limite de deflexão em elementos sujeitos à flexão pode ser obtido na tabela abaixo e depende do uso da
edificação
Tipo de efeito Razão da limitação Exemplo Deslocamento a considerar Deslocamento-limite

Deslocamentos visíveis em elementos


Visual Total l/250
Aceitabilidade sensorial estruturais

Outro Vibrações sentidas no piso Devido a cargas acidentais l/350

Superfícies que devem drenar água Coberturas e varandas Total l/250 a

Pavimentos que devem permanecer planos Ginásios e pistas de boliche Total l/350 + contraflecha b
Efeitos estruturais em serviço
Elementos que suportam equipamentos
Laboratórios Ocorrido após a construção do piso l/600
sensíveis

l/500 c e 10 mm e
Alvenaria, caixilhos e revestimentos Após a construção da parede
θ = 0,0017 rad d

Divisórias leves e caixilhos telescópicos Ocorridos após a instalação da divisória l/250 c


Paredes Provocado pela ação do vento para combinação
Movimento lateral de edifícios frequente H/ 1.700 e Hi/850 e entre pavimentos f
(Ψ1 = 0,30)

Efeitos em elementos não estruturais Movimentos térmicos verticais Provocados por diferença de temperatura l/400 g e 15 mm

Movimentos térmicos horizontais Provocados por diferença de temperatura Hi/500

Forros Revestimentos colados Ocorridos após a construção do forro l/350

Deslocamento ocorrido após a construção do


Revestimentos pendurados ou com juntas l/175
forro

Deslocamento provocado pelas ações


Pontes rolantes Desalinhamento de trilhos H/400
decorrentes da frenação
Afastamento em relação às hipóteses de cálculo Se os deslocamentos forem relevantes para o elemento considerado, seus efeitos sobre as tensões ou sobre a estabilidade da estrutura devem ser
Efeitos em elementos estruturais
adotadas considerados, incorporando-os ao modelo estrutural adotado.
a
As superfícies devem ser suficientemente inclinadas ou o deslocamento previsto compensado por contraflechas, de mono a não se ter acúmulo de água.
b
Os deslocamentos podem ser parcialmente compensados pela especificação de contraflechas. Entretanto, a atuação isolada da contraflecha não pode ocasionar um desvio no plano maior que l/350.
c
O vão l deve ser tomado na direção na qual a parede ou a divisória se desenvolve.
d
Rotação nos elementos que suportam paredes.
e
H é a altura total do edifício e Hi o desnível entre dois pavimentos vizinhos.
f
Esse limite aplica-se ao deslocamento lateral entre dois pavimentos consecutivos, devido à atuação de ações horizontais. Não podem ser incluídos os deslocamentos devidos a deformações axiais nos pilares. O limite também se aplica ao deslocamento
vertical relativo das extremidades de lintéis conectados a duas paredes de contraventamento, quando Hi representa o comprimento do lintel.
EXEMPLO 1
Verificar a deflexão máxima diferida (tempo maior que 70 meses) da viga biapoiada indicada na figura
abaixo. Dados: seção 22 x 40cm, l = 5,00m, concreto C25, aço CA-50, armadura longitudinal 4Ø20mm,
d = 36cm, e carregamento (ELS-def) de 15,7 kN/m

Resolução:
Módulo de Elasticidade Inicial Módulo de Elasticidade Secante

𝐸𝑐𝑠 = ∝𝑖 . 𝐸𝑐𝑖
𝐸𝑐𝑖 = 𝛼𝐸 . 5600 . 𝑓𝑐𝑘

𝑓𝑐𝑘
𝐸𝑐𝑖 = 1,0 . 5600 . 25 = 28000 𝑀𝑃𝑎 ∝𝑖 = 0,8 + 0,2. ≤ 1,0
80
25
∝𝑖 = 0,8 + 0,2. ≤ 1,0
80

∝𝑖 = 0,8625

𝐸𝑐𝑠 = 0,8625. 28000

𝐸𝑐𝑠 = 24150 𝑀𝑃𝑎

𝐸𝑠 = 210000 𝑀𝑃𝑎 𝑀ó𝑑𝑢𝑙𝑜 𝐸𝑙𝑎𝑠𝑡𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐴ç𝑜 𝐶𝐴 − 50

𝐸𝑠
∝𝐸 =
𝐸𝑐𝑠

210000
∝𝐸 = = 8,69
24150
Esforço Solicitante, Área de Aço e Momento de Inércia da seção bruta

𝑞 . 𝑙2
𝑀𝑑 =
8

15,7 . 52
𝑀𝑑 = = 49,06 𝑘𝑁. 𝑚
8

π . 𝑑2
𝐴𝑠 = 4 .
4

π . 22
𝐴𝑠 = 4 . = 12,56 𝑐𝑚²
4

𝑏 . ℎ3
𝐼𝑐 =
12

0,22.0,40³
𝐼𝑐 = = 1,173 . 10−3 𝑚4
12
Momento de Fissuração

∝ . 𝑓𝑐𝑡 . 𝐼𝑐
𝑀𝑟 =
𝑦𝑡

3
0,7 . 0,3 . 𝑓𝑐𝑘 ²
𝑓𝑐𝑡 =
𝛾𝑐

3
0,7 . 0,3 . 25²
𝑓𝑐𝑡 = = 1,795 𝑀𝑃𝑎
1,4

1,2 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 𝑇 𝑜𝑢 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑜 𝑇


∝= ቊ
1,5 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠𝑒çõ𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑡𝑎𝑛𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟𝑒𝑠

0,40
𝑦𝑡 = = 0,20𝑚
2
∝ . 𝑓𝑐𝑡 . 𝐼𝑐
𝑀𝑟 =
𝑦𝑡

1,5 . 1795 . 1,173.10−3


𝑀𝑟 = = 15,8 𝑘𝑁. 𝑚
0,20

Posição da linha neutra no Estádio II

𝑥2
𝑏𝑤 . 𝑥2 . − ∝𝑒 . 𝐴𝑠 . 𝑑 − 𝑥2 = 0
2

𝑥2
0,22 . 𝑥2 . − 8,69 . 1,256.10−3 . 0,36 − 𝑥2 = 0
2

0,11 . 𝑥22 + 0,0109. 𝑥2 − 0,0039 = 0

0,1458𝑚
𝑥2 = ቊ
−0,2449𝑚
Descarta-se a raiz negativa
Momento de inércia no estádio II

𝑏𝑤 . 𝑥2 ³
𝐼2 = + ∝𝑒 . 𝐴𝑠 . (𝑑 − 𝑥2 )²
3

0,22 . 0,1458³
𝐼2 = + 8,69 . 1,256.10−3 . 0, 36 − 0,1458 2
3

𝐼2 = 7,28 . 10−4 𝑚4
Rigidez equivalente (Branson)

3 3
𝑀𝑟 𝑀𝑟
(𝐸𝐼)𝑒𝑞,𝑡0 = 𝐸𝑐𝑠 . 𝐼𝑐 + 1 − 𝐼𝐼𝐼 ≤ 𝐸𝑐𝑠 . 𝐼𝑐
𝑀𝑎 𝑀𝑎

3 3
15,8 −3
15,8
(𝐸𝐼)𝑒𝑞,𝑡0 = 24150 . 1,173 . 10 + 1 − 7,28 . 10−4 ≤ 24150.1,173 . 10−3
49,06 49,06

(𝐸𝐼)𝑒𝑞,𝑡0 = 17,94 𝑀𝑁. 𝑚2 ≤ 28,32𝑀𝑁. 𝑚²


Deflexão imediata da viga (retirada do escoramento)

𝑄. 𝑥
𝑦 𝑥 = 𝐿3 − 2. 𝐿. 𝑥 2 + 𝑥 3
24 . 𝐸. 𝐼

15,7.2,5
𝑦 2.5 = 53 − 2.5. 2,52 + 2,53
24 . 17,94.10³

𝑦 2.5 = 0,00712𝑚 = 0,712𝑐𝑚


Deflexão diferida (t=70)

∆𝜉 = 𝜉 𝑡 − 𝜉 𝑡0

∆𝜉 = 2 − 0,712 = 1,288

𝐴𝑠 ′
𝜌′ =
𝑏. 𝑑


0
𝜌 = =0
22.40

∆𝜉
𝛼𝑓 =
1 + 50 𝜌′

1,288
𝛼𝑓 = = 1,288
1 + 50.0
Deflexão diferida (t=70)

𝑦𝑡 = 𝑦0 ( 1 + 𝛼𝑓 )

𝑦𝑡 = 0,712 1 + 1,288

𝑦𝑡 = 1,63 𝑐𝑚

Aceitabilidade
𝑙
𝑦𝑙𝑖𝑚 =
250

5
𝑦𝑙𝑖𝑚 = = 0,02𝑚 = 2𝑐𝑚
250

1,63𝑐𝑚 < 2𝑐𝑚 − 𝑂𝐾


EXERCÍCIOS
Dimensionar as armaduras para a viga abaixo (longitudinal e transversal) e verificar se a mesma
atende ao ELS-def. Dados: Q1 e Q2 são cargas variáveis e a viga tem seção transversal de 12 x 40cm
em concreto armado.

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