Você está na página 1de 9
GREGORIO DE MATOS Poemas escolhidos ‘Sees, prefiio enonas José Miguel Wisnik ics ToMPANHIA Das CeTRAS Copyright © 2010 y Jose Miguel Wisk rafeotalizada segundo Acordo Onoda de Ling Portsguesa 4 1890, que enrou em vigor no Bras en 2002 capa Jeff Fisher Preparago Marcia Copola Revs (Carmen S. da Costa Marise Leal {sci Baral Dados interac de Calan Pubs (ee) Mazon Gri de, 161965 ‘oemat eof Gigi de Maas ot esis eat Mignd Wan Se Pao: Cnpusa 1. oes aici, Wie ot Mig Ine para calogo tiem: (0.9) “Toss os dros desta edigio eservades 3 Rus Bandera Pauli 702.32 04532.002— Sio Paulo— “el. c1) 37073500 Fax (it) 37073501 wow companhiadaetrat.com be Juizo anatémico dos achaques que padecia 0 corpo da Republica, em todos os membros, e inteira definicdo do que em todos os tempos é a Bahia EPILOGOS 1 (Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se Ihe ponha? = . Vergonha. (O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, ‘Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha 2 Quem a pds neste S0ctSCO nn “ sosuns Negi. Quem causa tal perdicio? Ambiczo. E.0 maior desta lowcura? se : . soe Usttra Notivel desaventura De um povo néscio, ¢ sandew, Que nio sabe que o perdeu Negécio, ambicio, usura. 1. soercio: Afranio Peixoto grafaroréio. Num dos apograos ver socio. Na primeira hipbtese, rocrécio @, ist &, retroceso; na segunda hipstese, socrcio,criado por necessidade de eco com regio, de socrester ), farts rapinar (a nota & de Antonio Soares Amora) PoRMas ESCOLMIDOS 41 3 Quais sd0 0s seus doces objeto. .- Pretos. “Tem outros bens mais macicos? . Mesticos. Quais destes Ihe sio mais gratos.. Mulatos. Dou ao demo os insensatos, Dou 20 demo a gente asnal, (Que estima por cabedal Pretos, mestigos, mulatos. 4 ‘Quem faz os citios mesquinhos? Meirinhos. (Quem faz as farinhas tardas?... . Guardas, Quem as tem nos aposentos?.. Sargentos. Os cirios lé vém aos centos, Ea terra fica esfaimando, Porque os vio atravessando Meirinhos, guardas, sargentos. 5 E que justica a resguanda? nnn sone Bastard, B gritis distribuida? Vendida Que tem, que a todos assusta? ... Injusta. Valha-nos Deus, o que custa (O gue El-Rei nos dé de graca, (Que anda a justiga na praca Bastarda, vendida, injusta, 6 Que vai pela clerezi Simona, E pelos membros da Igreja? “ smn EVES Curidei que mais se lhe punha? : Unha? 2-wna: gut, com o senso de roubalheira, 42 axeconio oe mares Sazonada caramunha? Enfim, que ma Santa Sé ‘© que mais se pratica & ‘Simona, inveja, unha. a E nos Frades hé manqueiras?* Em que ocupam os serdes? Nao se ocupam em disparas? Com palavras dissolutas Me concluis, na verdade, Que as lidas todas de um Frade Sdo freiras, sermées, ¢ putas. 8 © acéicar jé se acabou? Eo dinheiro se extinguin? Logo jf convalesceu? A Bahia aconteceu © que aum doente acontece, Caina cama, 0 mal Ihe cresce, Baixou, subiu, e morreu. ° ‘A Camara niio acode? Pois no tem todo o poder? i que o governo a convence? Quem havera que tal pense, Que uma Cimara tio nobre, Por verse misera e pobre, Nao pode, nao quer, nao vence. 5. sazonada caramunie:experimentada lamentagio (Amora) 4 mangueins:claudicagZo; no texto, deslize moral Freiras, Sermées, Putas, Baixou. Subiu. Morren. Nio pode. Nio quer. Nao vence. POEMAS ESCOLMIDOS 43 A cidade da Bahia SONETO ‘Triste Bahia! 6 quio dessemelhante stds e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo atti, tua mi empenhado, Rica te vi eu ja, tua mi abundance, Atti trocou-te a méquina mercante,! Que em tua larga barra tem entrado, Amim foi-me trocando, e tem trocado, ‘Tanto negécio e tanto negociante. Deste em dar tanto agiicar excelente elas drogas imieis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote.* ‘Oh se quisera Deus, que de repente ‘Um dia amanheceras tio sisuda Que fora de algodio 0 teu capote! 1. trcow-te a maquina merconte — tracowte: com duplo sentido, de comerciar © modifica; magne mercante: as naus que aportam para comercae, 2 Brchote: designaso pejorativa do extrangeizo 44 aneaonto oe waros A fome que houve na Bahia no ano de 1691 pécmas Toda a cidade derrota esta fome universal, tuns dio a culpa total A camara, outros a frota: a frota tudo abarrota dentro dos escotilhdes, a carne, o peixe, os feiides; sea cimara olha e i, porque anda farta até aqui, € coisa que me nao toca: Ponto em boca, Se dizem que o marinheiro* nos precede a toda ale, porque é servico d’EI-Rei, concedo que esta primeiro: ‘mas tenho por mais inteiro ‘oconselho que reparte, com igual mao e igual arte, 2. Ta a cidade derota! esta fome univenal: entenda se, na ondem iret: “este fome universal der rota toda a cidade” 2. marinkete:com 0 sensido de comercante 62 carconra nn waros or todos, jantar ¢ ceia; mas frota com tripa cheia, € povo com panga oca, Ponto em boca. A fome me tem ji mudo, que é muda a boca esfaimada, mas se a frota no traz nada, por que razao leva tudo? que 0 povo por ser sisudo largue o ouro ¢ langue a prata a uma frota patarata, que entrando co’a vela cheia, olastro que traz de areia, por lastro de acticar troca: Ponto em boca. Se quando vem para ca, nenhum frete vem ganhar, quando para ld tornar ‘o mesmo nao ganar quem o agticar Ihe da perde a caixa e paga o frete, porque 0 ano nao promete mais negécio que perder: o frete, por se dever, a caixa, porque se choca Ponto em boca. Ele tanto em seu abrigo, € 0 povo todo faminto, ele chora, e eu nao minto, rormat excoumna 68 se chorando vo-lo digo: tem-me cortado o embigo este nosso General, por isso de tanto mal Ihe nao pono alguma culpa; ‘mas se merece desculpa ‘0 respeito, a que provoca, Ponto em boca. Com justica pois me torno & Camara noss'Senhora, que pois me trespassa agora, agora leve o retorno: praza a Deus, que 0 caldo morno, que a mim me fazem cear da mé vaca do jantar, por falta de hom peseado, Thes seja em cristéislancado;* ‘mas se a satide Ihes toca: Ponto em boca. 2. eats — crite forma popular de cst: “ines de gua simples ou de algum medicamento Aiguido no ret 64 carconin ne Maras

Você também pode gostar