Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Obesidade e Dislipidemia - PAT I 2122
Obesidade e Dislipidemia - PAT I 2122
Obesidade e dislipidemia
2º Ano - 1º Semestre
Discentes: Docente:
Alba Sciacca nº 2020683 Prof. José Silva Nunes
Diana Veríssimo nº 2020242
Filipa Bernardo nº2020250
Inês Carretas nº 20202244
Mafalda Proença nº2019406
Mariana Caldinhas nº2020256
Sara Alves nº2020273
Tânia Arraiolos nº2020105
dezembro de 2021
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................ 1
6. Vitamina D na dislipidemia............................................................................................... 11
8. Epidemiologia/estatísticas ................................................................................................ 15
ii
1. Introdução
No âmbito da unidade curricular de Patologia aplicada à dietética I, foi-nos proposta a
realização de um trabalho cujo tema é a relação entre a obesidade e a dislipidemia.
Ao longo deste trabalho serão abordados diversos fatores que relacionam a
fisiopatologia da obesidade com a dislipidemia, será primeiramente apresentado um breve
resumo acerca desta relação. De seguida, serão esclarecidos os conceitos de
hipertrigliceridemia e de hipercolesterolemia na dislipidemia, será também explicado o efeito
da insulina na produção de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) no fígado,
explorando o mecanismo de produção hepática de VLDL e o papel da insulina na produção de
VLDL.
De seguida, será abordado o tema da hipolipidemia que leva à diminuição do colesterol
de lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), esta relação surgirá mais detalhada ao longo do
trabalho.
Um fator de realce que contribui para a dislipidemia é o tamanho dos adipócitos, por
isso, será abordado o papel das adipocinas produzidas pelo tecido adiposo e a sua influência na
dislipidemia. Também a Vitamina D está relacionada com a dislipidemia, razão pela qual está
mencionada no trabalho.
No paciente obeso com dislipidemia são aplicados vários tipos de tratamentos e são
utilizados diversos fármacos, estes serão também abordados ao longo do trabalho, assim como
as várias opções na fase de tratamento.
Por fim, serão apresentados dados epidemiológicos e os resultados de alguns estudos
que estabelecem uma relação entre a obesidade e a dislipidemia.
1
2. Obesidade e dislipidemia
A obesidade é o distúrbio nutricional mais comum em todo o mundo e é um dos
principais fatores de risco para a doença cardiovascular aterosclerótica (1). Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), esta patologia é considerada o quinto fator de morte
em todo o mundo, uma vez que é um fator de risco para o desenvolvimento de várias doenças
crónicas (2). Em todos os países do mundo, a incidência da obesidade está a aumentar
continuamente e, portanto, espera-se que a morbidade, mortalidade, custos médicos e
económicos também aumentem (3). A maioria dessas complicações está relacionada a
condições comórbidas que incluem a doença arterial coronária, hipertensão, diabetes mellitus
tipo 2, distúrbios respiratórios e dislipidemia (3). A obesidade é considerada uma patologia
relacionada à etiologia da dislipidemia uma vez que ambas partem da mesma fonte de fatores
de risco, maioritariamente originados por uma dieta pobre em nutrientes e rica em gorduras e
açúcares (2).
A dislipidemia pode ser definida como um quadro clínico assinalado por concentrações
anormais de lípidos ou lipoproteínas no sangue, determinadas por fatores genéticos e/ou
ambientais (2). Como tal, esta patologia pode ser classificada como dislipidemia primária ou
secundária. A dislipidemia primária é de origem genética e hereditária (poligénica ou
oligogénica) à qual se podem associar fatores ambientais e comportamentais. Já a dislipidemia
secundária é a consequência da coexistência de outras doenças como a diabetes mellitus,
obesidade, hipotiroidismo entre outras patologias e ainda a estilos de vida desequilibrados (4).
Dessa forma, analisando a definição de dislipidemia, é possível afirmar que a obesidade é um
fator de risco para o desenvolvimento da mesma, pois promove o aumento do colesterol,
triglicéridos e redução de HDL-c (2).
2
Os pacientes obesos apresentam alterações lipídicas classificadas como “dislipidemias
aterogénicas”(6). Esta patologia possui um espetro de anomalias lipídicas qualitativas, que
refletem perturbações na estrutura, metabolismo e atividade biológica das lipoproteínas, que
são ocasionadas pela resistência à ação da insulina(6). Esta doença é caracterizada por um
número elevado de partículas provenientes do colesterol de lipoproteínas de baixa densidade
(LDL-c), níveis baixos de colesterol HDL e um número elevado de triglicéridos (6).
3
2. Hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia na dislipidemia
A obesidade central é a principal causa de resistência à insulina e hiperinsulinemia
compensatória, que por sua vez são responsáveis por quase todos os distúrbios associados a
lipoproteínas, podendo resultar na ocorrência da dislipidemia secundária à obesidade. Existem
três componentes principais da dislipidemia que ocorre na obesidade: aumento das
lipoproteínas ricas em triglicéridos (TG), diminuição do colesterol HDL e aumento de
partículas pequenas e densas de LDL.(7)
Devido à alteração do adipócito, este vai gerar uma proteína que atrai monócitos e
macrófagos (MCP -1), uma vez que está a ocorrer uma alteração de uma célula. Estes
4
macrófagos libertam citocinas pró-inflamatórias, nomeadamente interleucinas (IL-6), fator de
necrose tumoral alfa (α-TNF) entre outras. É por isto que os doentes obesos se encontram num
estado de inflamação crónica. (10)
O aumento do fator de necrose tumoral alfa (α-TNF) provoca uma resistência à insulina
e consequentemente comorbilidades associadas, tais como dislipidemia e DM2. (10)
5
transferência de ésteres de colesterol (CETP). Esta troca produz partículas LDL ricas em
triglicéridos as quais são hidrolisadas rapidamente pela lipase hepática (LH), ficando assim
partículas LDL mais densas e pequenas, ricas em colesterol. O aumento destas partículas no
sangue favorece o depósito de placas de ateroma no interior de artérias e explica grande parte
do risco cardiovascular (CV) (7)
6
3. Efeito da insulina na produção de VLDL no fígado
A diminuição dos níveis de lípidos hepáticos leva à degradação,no interior das células,
da maioria da apoB sintetizada. Por sua vez, o aumento dos TG hepáticos conduz à diminuição
da degregadação da apoB e a produção de VLDL é facilitada.
Uma das etapas limitantes na produção hepática de VLDL passa pela transferência de
lípidos neutros para a apoB, realizada pela proteína de transferência de triglicérido microssoma
(MTP). A expressão da MTP é regulada negativamente pela insulina, ou seja, a resistência à
insulina estimula a atividade da MTP e, assim, aumenta a síntese do VLDL.
7
4. Diminuição do colesterol HDL
As HDL têm a função de transportar o LDL-c, das artérias e corrente sanguínea até ao
fígado, para posterior deposição/metabolização, sendo conhecidas como o “bom” colesterol.
Esta redução ocorre uma vez que a obesidade influencia todo o metabolismo dos
esfingolipídios. Os investigadores descobriram um aumento na quantidade de esfingolipídios
múltiplos, incluindo S1P em adipócitos de indivíduos obesos. Além disso, os níveis
plasmáticos de S1P em humanos obesos, foram relatados como elevados.
S1P é uma molécula bioativa que pertence à família dos esfingolípidos produzidos no
corpo, com uma ampla gama de funções fisiológicas, no qual se forma a partir de eritrócitos,
plaquetas e células endoteliais na circulação. A maior parte da S1P no plasma está ligada às
partículas de HDL e a restante à albumina e outras lipoproteínas plasmáticas. Portanto, a
interação de S1P com lípidos séricos está predominantemente relacionada com a estrutura e
função de HDL. (TECO) O transporte da S1P dentro de partículas de HDL ocorre devido à
apolipoproteína M (apoM), sendo que esta transporta o excesso do colesterol das células
periféricas de volta para o fígado num processo referido como transporte reverso do colesterol.
(12) Essa apolipoproteína contribui para os efeitos ateroprotetores das HDL, aumentando o
fluxo do colesterol e as propriedades antioxidantes das HDL, mas também serve como parceiro
da S1P. A evidência científica defende que as ações ateroprotetoras das HDL dependem
fortemente da presença de S1P, bem como que os efeitos de S1P são mediados por associações
com as partículas das HDL.
8
5. Papel das adipocinas produzidas pelo tecido adiposo na
dislipidemia
Um fator importante para determinar o grau em que o tecido adiposo contribui para a
dislipidemia é o tamanho dos adipócitos. Existe uma relação de proporcionalidade direta entre
a lipólise, os adipócitos e os níveis de ácidos gordos livres, tal como já referido quando um
destes de encontra aumentado, o mesmo acontece com os outros fatores.
9
em indivíduos obesos do que em indivíduos em eutrofia, estes níveis podem ser reduzidos
através da restrição calórica.
10
6. Vitamina D na dislipidemia
A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel necessária para manter a homeostase do
cálcio e do fósforo no organismo e desempenha também um papel importante em vários
processos fisiológicos sendo capaz de exercer uma ação endócrina, parácrina e autócrina. A
maior parte desta vitamina pode ser obtida por via endógena por ação da radiação ultravioleta
da luz solar na pele ou uma pequena parte por via exógena através da alimentação.
11
Mas o que se torna comum em todas as hipóteses é que a deficiência de vitamina D é
mais o efeito da obesidade do que propriamente a sua causa.
Existem muitas evidências que demonstram que a vitamina D tem ações de apoptose
nos adipócitos. E mais recentemente descobriu-se uma ativação autónoma desta vitamina nos
adipócitos, demonstrada pelo aumento de vitamina D no tecido adiposo que poderá ter efeitos
protetores na prevenção da hiperplasia dos adipócitos.
Até aos dias de hoje vários estudos têm sido feitos para tentar perceber a interação entre
a deficiência de vitamina D e a dislipidemia bem como as suas complicações. Porém, estes
estudos não conseguem chegar a uma conclusão a respeito da relação dos metabólitos de
vitamina D com os lípidos séricos (13).
A maioria dos estudos feitos não conseguem estabelecer uma dose adequada de
vitamina D e o próprio conhecimento da relação entre a hipovitaminose D e o risco de
desenvolver a síndrome metabólica é importante para estabelecer se a suplementação da
vitamina poderá ser usada para prevenção de todas estas patologias.
12
7. Tratamentos e fármacos para dislipidemia no paciente obeso
7.1. Tratamento
No fígado dos pacientes com resistência à insulina, o fluxo de FFA é elevado, a síntese
e armazenamento de TG está aumentada, sendo o excesso de TG secretado como VLDL . Este
aumento das VLDL caracteriza a dislipidemia aterogénica e está associado ao stress oxidativo
e disfunção endotelial, contribuindo para as vias de natureza pró-inflamatória da doença
aterosclerótica.(6)
7.2. Fármacos
Para pacientes cuja meta de colesterol LDL não tenha sido alcançada com doses
adequadas de estatinas ou se as estatinas não puderem ser prescritas, a associação com
ezetimiba pode ajudar na redução do colesterol LDL. A ezetimiba é um fármaco inibidor da
absorção do colesterol e a sua adição à terapêutica com estatinas não parece aumentar a
13
incidência de níveis elevados de creatina cinase para além do que é observado na terapêutica
isolada com estatinas.(6) (17)
Para pacientes com níveis elevados de TG e colesterol HDL baixo, o ácido nicotínico,
se tolerado pelo paciente, pode ser considerado para terapia. (6)
Para pacientes de alto risco com níveis de TG frequentemente elevados, o uso de ácido
gordo ómega-3 eicosapentaenóico (EPA) altamente purificado e em dose elevada, demonstrou
reduzir o risco cardiovascular.(6)
14
8. Epidemiologia/estatísticas
Segundo o estudo (18) que caracteriza o perfil lipídico da população portuguesa em
2015, de entre os fatores de risco conhecidos para doenças cardiovasculares, destaca-se a
dislipidemia.
A prevalência nas mulheres foi de 50% e nos homens de 54%, tendo como valor de
referência CT≥190mg/dl.(18)
De acordo com o 1º Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF 2015),
quando se consideraram também os indivíduos que reportaram tomar medicamentos para
reduzir os níveis de colesterol, este valor aumentou para 63,3%, e não variou substancialmente
de acordo com o sexo (62,8% no sexo feminino e 63,8% no sexo masculino). (19)
Ainda assim, a dislipidemia é um fator de risco que pode ser modificável, podendo ser
evitado ou controlado quando diagnosticado. Nomeadamente as mudanças no estilo de vida e
alimentação. (19)
15
A nível Europeu as taxas de colesterol sanguíneo total médio padronizadas por idade
diminuíram nos últimos 30 anos em quase todos os países. Os níveis de obesidade são elevados
em toda a Europa, tanto em adultos como em crianças, embora as taxas variem
substancialmente entre países. (20)
Globalmente, pouca ou nenhuma mudança foi observada entre 1980 e 2018 nos níveis
de colesterol total plasmático e colesterol não HDL, mas várias regiões sofreram mudanças
significativas em alguns parâmetros lipídicos: países economicamente mais desenvolvidos, que
tinham os níveis mais altos de colesterol plasmático em 1980, sofreram uma redução
substancial nos níveis de colesterol plasmático, enquanto os países menos favorecidos sofreram
um grande aumento nos níveis de colesterol plasmático e triglicerídeos. Estes resultados podem
ser explicados pelo um aumento no uso de medicamentos hipolipemiantes e melhorias no estilo
de vida.(21)
No caso particular das crianças, a obesidade infantil tem vindo a aumentar no mundo
inteiro, em crianças e adolescentes estando associada às dislipidemias, entre outros fatores.
As estatinas são o fármaco de primeira linha de entre todos os fármacos para reduzir o
colesterol LDL. Há ainda alguma falta de estudos para o uso de estatinas no tratamento de
crianças e adolescentes com dislipidemia secundária à obesidade, e que provem a sua eficácia,
face aos tratamentos utilizados na fase adulta, que já estão bem estruturados e aceites. E será
ainda necessário conhecer melhor o comportamento dos parâmetros bioquímicos em crianças
e adolescentes. (22)
16
9. Referências Bibliográficas
17
reduce cardiovascular risk. Vol. 41, European Heart Journal. Oxford University Press;
2020. p. 111–88.
13. Vekic J, Zeljkovic A, Stefanovic A, Jelic-Ivanovic Z, Spasojevic-Kalimanovska V.
Obesity and dyslipidemia. Vol. 92, Metabolism: Clinical and Experimental. W.B.
Saunders; 2019. p. 71–81.
14. Jung UJ, Choi MS. Obesity and its metabolic complications: The role of adipokines and
the relationship between obesity, inflammation, insulin resistance, dyslipidemia and
nonalcoholic fatty liver disease. Vol. 15, International Journal of Molecular Sciences.
MDPI AG; 2014. p. 6184–223.
15. Jorge AJL, Cordeiro JR, Rosas MLG, Bianchi DBC. Deficiência da Vitamina D e
doenças cardiovasculares. Int j cardiovasc sci (Impr). 2018;31(4):422–32.
16. Tendera M, Aboyans V. Recomendações de Bolso de 2018 da ESC - Comissão para as
Recomendações Práticas. European Society of Cardiology. 2020;75.
17. A Síndrome metabólica | Portal da Diabetes https://apdp.pt/noticias/a-sindrome-
metabolica/ Accessed: 2021-12-15
18. Barreto M, Gaio V, Kislaya I, Antunes L, Rodrigues AP, Silva AC, et al. National Health
Examination Survey (2015): Health Status. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo
Jorge. 2016.
19. Cibelle Mariano, Marília Antunes, Quitéria Rato MB. _e_LIPID: caracterização do
perfil lipidico da população portuguesa. Instituto Nacional de Saúde - Boletim
Epidemiológico. 2015;14(2):7–10.
20. Wilkins E, Wilson L, Wickramasinghe K, Bhatnagar P. European Cardiovascular
Disease Statistics 2017. European Heart Network [Internet]. 2017;94–100. Available
from: www.ehnheart.org
21. Angela Pirillo 1,2, Manuela Casula, Elena Olmastroni 3, Giuseppe D. Norata1,4 e
Alberico L. Catapano: Epidemiologia global das dislipidemias . Nature Reviews
Cardiology
22. Tanaka, Ana Cristina Sayuri: Secondary dyslipidemia in obese children – Is there
evidence for pharmacological treatment?. Unidade de Cardiologia Pediátrica e
Cardiopatias Congênitas no Adulto, São Paulo, SP – Brazil
18