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A Revolução de 1820 e as dificuldades

de implantação da ordem liberal


(1820-1834)
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

1820: A REBELIÃO EM MARCHA

Considerando a conjuntura que Portugal viveu entre 1807 e 1820, e apesar da ação
repressiva exercida por Beresford, a agitação revolucionária cresceu entre a burguesia.

Foi precisamente a burguesia do Porto, muito prejudicada pelo declínio do comércio


(doc. 7B, C e D), que começou a preparar e pôs em marcha a revolução liberal:
- em 1817, o burguês portuense Manuel Fernandes Tomás tinha fundado a associação
secreta do Sinédrio (uma loja maçónica) para debater a situação do reino e estudar as
possibilidades de intervenção para a mudar.

- em janeiro de 1820, uma revolução liberal na vizinha Espanha pôs fim ao absolutismo
e facilitou a entrada em Portugal de muita propaganda liberal (panfletos, jornais…);

- em março de 1820, Beresford embarcou para o Brasil, para solicitar a D. João VI


dinheiro e mais poderes para reprimir a crescente agitação, favorecendo a ação do
Sinédrio em aliciar militares portugueses capazes de por em prática a tão desejada
revolução liberal, como aconteceu em 24 de agosto de 1820.
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

1820: A REBELIÃO EM MARCHA

24 DE AGOSTO Pronunciamento militar do Porto, com participação civil


DE 1820 da burguesia da cidade – doc. 8 A e 8B

Na madrugada de 24 de agosto, alguns


regimentos militares do Porto
concentraram-se no Campo de Santo
Ovídio [atualmente Praça da
República], onde formaram parada e
ouviram missa.
Uma salva de artilharia anunciou a
revolução e os coronéis Sepúlveda e
Cabreira leram proclamações aos
soldados.
Às 8 horas da manhã, revoltosos civis e
militares, reunidos no edifício da
Câmara, formaram uma Junta
Provisional do Supremo Governo do
Reino (um governo provisório).
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1820: A REBELIÃO EM MARCHA

24 DE AGOSTO Pronunciamento militar do Porto, com participação civil


DE 1820 da burguesia da cidade – doc. 8 A e 8B

A revolução de 1820 O “Manifesto aos Portugueses”, redigido por Manuel


manifestou o desejo Fernandes Tomás, deu a conhecer aos portugueses os
de respeitar as objetivos da revolução - doc. 8C:
instituições da • POR FIM À ADMINISTRAÇÃO INGLESA
monarquia e do
catolicismo, mas • CONVOCAR AS CORTES CONSTITUINTES
também o propósito • ELABORAR UMA CONSTITUIÇÃO
de elaborar uma • RESPEITAR A MONARQUIA E O CATOLICISMO
Constituição que
asseguraria os direitos
dos portugueses e uma Em 15 de setembro, um segundo pronunciamento
governação mais justa militar em Lisboa, apoiado por burgueses e populares,
e eficaz, assente na expulsou os regentes nomeados pelo rei e formou um
soberania popular governo provisório.
(uma monarquia Por todo o país a revolução vintista triunfou sem
constitucional). derramamento de sangue nem desordem – doc. 9B
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)

• Os motivos da Revolução de 1820


– A ruína da agricultura, devida à concorrência do cereal estrangeiro (Doc. 7A);
– A ruína do comércio, pela perda do exclusivo colonial com o Brasil OU por causa
da abertura dos portos do Brasil ao comércio estrangeiro (Docs. 7A e C);
– A ruína das finanças públicas OU o crescente défice financeiro em consequência
da diminuição das receitas e do aumento das despesas públicas (Doc. 7A);
– O descontentamento com a permanência do rei no Brasil (Docs. 7A e 8C);
– A má administração exercida pela Regência que substituía o soberano, com
destaque para a violação dos direitos e liberdades dos portugueses (Doc. 8C);
– A humilhação a que o exército português estava sujeito, com a “consideração
perdida” e a “mendigar uma esmola” (Doc. 7B).

• O facto de a Revolução ter partido do Porto


A burguesia da cidade estava prejudicada com o declínio do comércio, nomeadamente com a queda nas exportações
de vinho do Porto (Doc. 7D).
• O carácter militar e a participação civil
– A revolução foi um pronunciamento militar, dirigido, entre outros oficiais, pelos coronéis Sepúlveda e Cabreira, com
leitura de uma proclamação aos soldados (Doc.8A, B).
– Na preparação do pronunciamento militar, participaram negociantes, magistrados e proprietários, isto é, a burguesia
da cidade, alguns com ligação a uma associação secreta, o Sinédrio, como foi o caso de M. Fernandes Tomás (Doc. 8D).
• O carácter ordeiro da Revolução
Os dirigentes da Revolução respeitavam as instituições e os costumes, como a monarquia, a religião católica e a
propriedade privada, desejando regenerar a Pátria num clima de paz e colaboração (Doc. 8 C).
• A forma de governo que os revoltosos se propunham implantar
– Um governo liberal, em tudo contrário ao absolutismo, pois preconizava-se a elaboração de uma Constituição feita
pelos representantes da Nação, reunidos em Cortes (Docs. 8A e C). Essa Constituição seria a lei suprema do reino,
defendendo os direitos da monarquia e os dos portugueses.
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O TRIUNFO DA REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1820 «[…] No curto espaço de 37 dias


[mudou-se] a face de uma Nação
(revolução vintista ou vintismo) inteira, e de uma Nação que se
preza de religiosa, e leal, sem
derramar uma só gota de sangue;
sem dar lugar a um só insulto
contra a autoridade, a um só
ataque contra a propriedade
pública ou individual; sem ocasionar
a mais ligeira desgraça, ou
desordem […].»
Manifesto da Junta Provisional do Governo
Supremo do Reino, 15 de Dezembro de 1820

Em setembro os governos revolucionários do Porto e


Lisboa juntam-se e formam uma nova Junta Provisional do
Supremo Governo do Reino (um novo governo provisório).
Em dezembro realizam-se as eleições para as Cortes
Constituintes.
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AS CORTES CONSTITUINTES em funções entre Janeiro de 1821 e Novembro de 1822


UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A CONSTITUIÇÃO DE 1822

AS CORTES CONSTITUINTES em funções entre Janeiro de 1821 e Novembro de 1822

A burguesia letrada (cerca de 60% dos deputados tinham formação universitária)

• Direitos concedidos aos Portugueses:


– Liberdade, segurança e propriedade de bens (Arto. 1.o e 6.o);
– Liberdade de expressão (Arto. 7.o);
– Igualdade perante a lei (Arto. 9.o);
– Igualdade de oportunidades no acesso aos cargos públicos (Arto. 12.o).

• Artigos que põem em causa a sociedade de Antigo Regime:


– Os Arto. 9.o e 12.o, porque contrariam a sociedade de ordens, baseada nos
privilégios. De futuro, acabavam os privilégios de justiça e de ausência de
pagamentos de impostos, de que beneficiavam os nobres e os clérigos; também,
apenas o mérito (“talentos” e “virtudes”) importava no acesso a cargos públicos.
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A CONSTITUIÇÃO DE 1822

• Artigos em que se põe termo ao absolutismo régio:


– O Arto. 26.o, que proclama a soberania nacional OU que
coloca a soberania na vontade da Nação, exercida pelos
deputados eleitos. No absolutismo, a soberania estava no rei,
que a recebia de Deus e só a Ele prestava contas;
– O Arto. 29.o, que estabelece a Monarquia constitucional
como forma de governo da Nação;
– O Arto. 30.o, que declara a divisão e independência dos
poderes políticos. No Absolutismo, os poderes legislativo,
executivo e judicial concentravam-se no rei;
– O Arto. 105.o, que entrega a elaboração e a aprovação das
leis aos representantes eleitos da Nação, reunidos em Cortes.
No Absolutismo, a iniciativa e a aprovação das leis pertenciam
apenas ao rei, enquanto as Cortes, cujos membros não eram
eleitos, limitavam-se a funções consultivas;
– O Arto. 110.o, que mostra claramente que o rei perdeu o
poder legislativo, devendo apenas sancionar as leis. No
absolutismo, o rei possuía o poder de legislar;
– O Arto. 121.o, que confirma a soberania da Nação como
fonte da autoridade régia, negando, assim, a origem divina do
poder real;
– O Arto. 176.o, que confirma a independência do poder
judicial, pois os juízes deliberavam sem a interferência das
Cortes e do rei. No absolutismo o rei exercia a justiça suprema.
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O RADICALISMO DO VINTISMO
A ação política das Cortes Constitucionais (do vintismo) foi a mais radical do
liberalismo português, demasiado progressista para o seu tempo

MEDIDAS SOCIOECONÓMICAS VINTISTAS


CONSTITUIÇÃO DE 1822 (legislação vintista aprovada pelas Cortes)

Na sua elaboração, a vontade dos Objetivo: eliminar as estruturas de Antigo Regime


deputados mais radicais impôs-se à
dos deputados mais conservadores:
• Extinção da Inquisição e da censura religiosa – doc. 13A
● na questão do veto: numa segunda • Instituição da liberdade de imprensa e ensino
votação o rei era obrigado a • Fundação do primeiro banco português – doc. 13B
sancionar a lei – a soberania residia • Nacionalização dos bens da Coroa
nas Cortes, representativas da Nação, • Extinção dos privilégios das ordens religiosas
submetendo-lhes o poder do rei;
• Abolição da dízima à Igreja
● na opção por uma Câmara única • Eliminação das justiças ou foros privados
em vez do sistema inglês bicameral – • Reforma dos forais – abolição dos direitos senhoriais
não reconhecimento de prerrogativas considerados a principal causa do atraso da agricultura
políticas à nobreza e ao clero;
nacional - doc. 14; mas, as rendas a pagar em dinheiro
● na questão religiosa: o catolicismo subiram e, nas terras sem foral, as obrigações dos
era a religião oficial dos Portugueses camponeses mantiveram-se, criando descontentamento,
mas não a única permitida, não
desigualdades e agitação social entre o campesinato.
sendo autorizada a censura religiosa.
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)

O RADICALISMO DO VINTISMO

Questão 3
– Humilhação imposta ao rei D. João VI, quando chegou a Lisboa e foi impedido de
receber honras e cumprimentos, nomeadamente por parte do Corpo Diplomático;
– Falta de transparência das Cortes, reunidas em “sessão secreta”;

Questão 4
O Arto. 1.o, que pretende “manter a liberdade, segurança” de todos os Portugueses;
O Arto. 7.o, que defende a liberdade de pensamento e sua comunicação como “um
dos mais preciosos direitos do Homem”.

Questão 5
– Acabar com a prática da usura (empréstimos particulares com juros arbitrários);
– Facilitar as transações entre particulares (pagamentos, por exemplo);

Questão 6
Escolher dois:
– Os forais e os privilégios deles decorrentes, nas terras da Coroa, do clero e dos grandes proprietários;
– Os tributos que recaíam sobre as terras e os camponeses,
– Os serviços pessoais exigidos aos camponeses (as jeiras);
– Os roubos praticados sobre os camponeses, por exemplo pelos bandos de malfeitores.

Questão 7
Com a reforma dos forais, que libertou os camponeses das obrigações senhoriais a que estavam sujeitos, como as
jeiras ou o relego.
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A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ATLÂNTICO: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822)

Fatores que favoreceram o A política antibrasileira das Cortes


desejo de independência do Brasil Constituintes (do governo vintista)

• Entre 1808 e 1821, D. João VI residiu no Brasil, ● exigem o regresso de D. João VI a Portugal,
transformando a colónia brasileira em sede da ficando o seu filho mais velho, príncipe D.
monarquia portuguesa – doc. 15B Pedro, como regente do Brasil – doc. 18 A e B
• Em 1815, o Brasil é elevado ao estatuto de ● decretam o regresso do Brasil ao estatuto
Reino – doc. 15A de colónia (reposição do exclusivo colonial) e
o regresso do príncipe D. Pedro – doc. 18C
• Grande desenvolvimento económico e
cultural (abertura dos portos ao comércio
estrangeiro, instalação de indústrias e diversas Resultado da política antibrasileira vintista:
instituições de ensino e culturais, crescimento
demográfico… ) – doc. 15C ● D. Pedro manifesta o seu apoio aos desejos
autonomistas brasileiros – doc. 19A
• Primeiras rebeliões nacionalistas brasileiras –
a revolta da Inconfidência Mineira do ● D. Pedro declara a independência do Brasil,
Tiradentes (1789) e a revolução Republicana a 7 de setembro de 1822 (só reconhecida por
de Pernambuco (1817) – doc. 16 Portugal em 1825), tornando-se o primeiro
imperador do Brasil – doc. 19B
• Crescimento dos anseios autonomistas da
burguesia colonial brasileira, influenciada ● Perdida a mais rica colónia portuguesa, o
pelos movimentos de independência das governo vintista enfrenta o descontentamento
colónias espanholas na América – doc. 17 da burguesia comercial portuguesa.
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ATLÂNTICO: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822)


Questão 1
– Fazer prosperar os Estados que
governa;
– Vastidão, riqueza e localização do
Brasil-afastado da Europa, logo
merecendo uma maior autonomia;
– Reforçar a união entre os reinos de
Portugal e dos Algarves e o Brasil.

Questão 2
Condições económicas:
– Abertura dos portos do Brasil ao comércio estrangeiro OU fim do exclusivo
colonial, em 1808 (Doc. 5A);
– Autorização para o estabelecimento de manufaturas no Brasil, também em
1808 (Doc. 5A);
Condições políticas:
– Elevação do Brasil a Reino, em 1815 (Doc. 15A);
– Instalação da corte no Rio de Janeiro, que passou a ser a capital do Reino
Unido de Portugal e Brasil (Doc. 15B);
– Ambiente separatista da América espanhola (Doc. 15C).
Condições sociais:
– Forte conjunto populacional OU demografia em crescimento (Doc. 15C);
– Forte colónia branca, com padrões de vida elevados e que aspirava a um
protagonismo crescente, em virtude de no Brasil estar instalada a sede do
Reino (Docs. 15C e 17).
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ATLÂNTICO: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822)

Questão 3
A revolução liberal de 1820 e as exigências dos Portugueses,
descontentes com a ausência do monarca no Brasil.

Questão 4
Decreto de 29 de setembro de 1821 (Doc. 18C) – retirava do
Brasil um possível dirigente da autonomia local, o príncipe D.
Pedro, que, criado no Brasil, mostrava simpatia pela causa
brasileira, e era especialmente querido pela população local.
Decreto de 29 de dezembro de 1821 (Doc. 18C) – retirava a
autonomia judicial ao Brasil, submetendo-o aos tribunais de
Portugal.
Decreto de 9 de abril de 1822 (Doc. 18C) – fazia o Brasil
regressar ao exclusivo comercial com a metrópole, retirando-
lhe a liberdade de comércio dada em 1808.
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ATLÂNTICO: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1822)

Questão 5
• Expectativas no príncipe regente D. Pedro – os brasileiros não
queriam que o príncipe saísse do Brasil, pois viam-no como um
dos seus, um patriota que os defendia da prepotência das Cortes
(“Soberano Congresso”) de Lisboa.
• Situação delicada em que o príncipe se encontrava – perante
os brasileiros, o príncipe devia ficar no Brasil e defender os seus
direitos e liberdades; já, perante seu pai, o rei D. João VI, teria de
se comportar como filho obediente e súbdito fiel, e acatar as
ordens do Soberano Congresso (das Cortes) de Lisboa.
• Desfecho da questão brasileira – o príncipe D. Pedro colocou-
se do lado dos interesses brasileiros, não acatando as ordens das
Cortes de Lisboa e proclamando a independência do Brasil, em 7
de setembro de 1822.
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A RESISTÊNCIA AO LIBERALISMO: A CONTRARREVOLUÇÃO ABSOLUTISTA

O liberalismo vintista encontrou crescente


resistência à sua política demasiado
progressista para a sua época

▪ O radicalismo da Constituição de 1822 e a abolição


dos direitos senhoriais naturalmente suscitaram os
ódios dos “grandes” da Nação (nobreza e clero),
levando-os a encetar a contrarrevolução absolutista,
apoiada pela rainha Carlota Joaquina e pelo seu filho
mais novo, o infante D. Miguel;
▪ a conjuntura internacional desfavorável - a nova
ordem internacional estabelecida no Congresso de D. Miguel liderou dois golpes absolutistas:
Viena (1815) pelas potências da Quádrupla Aliança, a Vila-Francada, em 1823 (doc. 21A) e a
favorecia a repressão do liberalismo e fornecia apoio Abrilada, em 1824 (doc. 21B), acabando
aos opositores absolutistas por toda a Europa; exilado pelo próprio pai em Viena (Áustria).
▪ a independência do Brasil dificultou a recuperação Embora falhados, os golpes revelaram a
da economia e desagradou à burguesia comercial crescente oposição ao liberalismo vintista.
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A RESISTÊNCIA AO LIBERALISMO: A CONTRARREVOLUÇÃO ABSOLUTISTA

Questão 1
• Argumento usado pela rainha para não jurar a Constituição de 1822 – tinha
declarado, em tempos, “nunca jurar na sua vida”.
• Sanções de que foi alvo – perda de todos os direitos “inerentes à qualidade
de cidadã e à dignidade de rainha”; exílio num país estrangeiro.
• Expediente usado para não cumprir uma das sanções – a “unânime
declaração de dez médicos” de que a viagem para um país estrangeiro faria a
rainha correr perigo de vida.

Questão 2
Escolher quatro:
– Destruição dos direitos nacionais;
– Redução de poderes do rei;
– Ultrajes à magistratura;
– Desprestígio da nobreza;
– Ultrajes à religião e ao clero.
Questão 3
Quando proclama que a obra do golpe de abril de 1824 (a Abrilada) se faria sentir “esmagando… a pestilenta cáfila
de pedreiros livres” (Doc. 21B), o infante D. Miguel contrariava OU negava as intenções, proferidas na Vila-Francada,
de não querer “tomar vinganças”, pretendendo “a união de todos os portugueses e um total esquecimento das
opiniões passadas.” (Doc. 21A).
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D. João VI morre e coloca-se o delicado problema da sucessão: D. Pedro é imperador


1826 do Brasil e D. Miguel é adepto do absolutismo e está exilado;
A Carta D. Pedro, considera-se o legítimo herdeiro da Coroa portuguesa, assume o título de
Constitucional rei de Portugal e toma um conjunto de medidas conciliatórias:
e a tentativa de • outorga a Carta Constitucional de 1826, mais moderada do que a Constituição de
apaziguamento 1822, pondo fim ao radicalismo vintista – doc. 23A
político-social
• abdica da coroa a favor da filha, D. Maria da Glória, de 7 anos de idade – doc. 22
• nomeia D. Miguel para a Regência do reino até à maioridade da rainha, com a
condição de D. Miguel jurar cumprir a Carta Constitucional.

1828 D. Miguel regressa a Portugal e jura fidelidade à Carta Constitucional e à rainha (doc.
D. Miguel 24A), mas uns meses depois convoca as Cortes à maneira antiga (por ordens), e
restaura o proclama-se rei absoluto (doc. 24B). Segue-se uma perseguição implacável aos
absolutismo simpatizantes do Liberalismo – doc. 24D

D. Pedro abdica do trono brasileiro e vai para a ilha Terceira (Açores) onde organiza a
resistência liberal e assume a regência do reino em nome da filha – doc. 25A e B
1832-1834 O exército liberal desembarca no Mindelo e ocupa a cidade do Porto, seguindo-se a
Guerra civil guerra civil entre liberais e absolutistas (ou miguelistas) – dossiê, p. 96
Vitória dos liberais: D. Miguel assina a Convenção de Évora Monte, partindo de novo
para o exílio, e a Monarquia Constitucional é reposta com D. Maria II
UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

GUERRA CIVIL
1832-1834

LIBERAIS ABSOLUTISTAS

D. PEDRO D. MIGUEL

Regressa do Brasil Revoga a Carta Constitucional


Organiza o movimento de Proclama-se rei absoluto
resistência liberal Persegue os liberais

Desfecho da guerra: liberais saem vencedores

Assinatura da Convenção de Évora Monte - 1834

Implantação definitiva da Monarquia Constitucional com D. Maria II


UNIDADE 4. A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826 E A TENTATIVA DE APAZIGUAMENTO POLÍTICO-SOCIAL

Questão 4
Motivo da abdicação – o facto de já ser imperador do Brasil e não dever
acumular esse cargo com o de rei de Portugal.
Condições em que abdicou – morte de D. João VI e problema delicado da
sucessão, dado que o filho mais velho (D. Pedro) era imperador do Brasil, e o
outro filho (D. Miguel) era adepto do absolutismo e estava exilado.

Questão 5
• Reforço dos poderes do rei:
– O rei é considerado representante da Nação (Art.o 12.o);
– O rei nomeia os membros da Câmara dos Pares (Art.o 39.o);
– O rei pode sancionar, ou não, os decretos OU as leis (Art.o 59.o);
– Além do poder executivo, o rei detém um novo poder, o poder moderador,
“a chave de toda a organização política” (Art.o 71.o).
• Proteção dos estratos privilegiados:
– Os Pares são nomeados pelo rei, a título vitalício e hereditário, para a
Câmara dos Pares, uma Câmara Alta que faz parte das Cortes (Art.o 39.o);
– São garantidas as regalias da nobreza hereditária (Art.o 145.o, §31.o).
• Introdução do sufrágio censitário:
– Só podiam votar os cidadãos com um rendimento anual a partir de cem mil
réis.
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)

CONSTITUIÇÃO DE 1822 CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826


VINTISMO (liberalismo progressista/radical) CARTISMO (liberalismo moderado/conservador)
LEGITIMIDADE Aprovada pelos representantes da Nação Outorgada pelo rei (D. Pedro IV)
Bicameralismo – Câmara de Deputados eleitos e
COMPOSIÇÃO DAS
Câmara única de deputados eleitos Câmara de Pares (deputados nomeados pelo rei
CORTES
a título vitalício e hereditário)
SUFRÁGIO Direto e universal (com restrições) Indireto e censitário
▪ supremacia das Cortes, representativas ▪ supremacia do rei, considerando que o poder
SUPREMACIA da Nação que as elegem; moderador lhe permite: vetar as leis a título
POLÍTICA definitivo, nomear os Pares, dissolver a Câmara
▪ poder do rei submete-se às Cortes (o veto
real é temporário); dos Deputados, nomear e demitir o Governo,
suspender os magistrados, conceder amnistias e
▪ poder judicial pertence exclusivamente perdões… Ou seja, o poder régio sobrepõe-se e
aos juízes, nem o rei nem as Cortes o limita os poderes legislativo e judicial
podem limitar.
DIREITOS DOS Liberdade, segurança, propriedade e São remetidos para o final do diploma; são
CIDADÃOS igualdade jurídica garantidas as regalias da nobreza hereditária.
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)

Questão 6
• [legitimidade de D. Pedro IV e sua descendência] enquanto no Doc. 24A D.
Miguel reconhece D. Pedro IV e sua filha D. Maria II como legítimos reis de
Portugal e lhes jura fidelidade, no Doc. 24B D. Miguel diz que “leis claríssimas e
terminantes” excluem D. Pedro e os seus descendentes do trono de Portugal,
desde a morte de seu pai, D. João VI;
• [Carta Constitucional de 1826] enquanto no Doc. 24A D. Miguel jura cumprir e
fazer cumprir a Carta Constitucional de 1826, no Doc. 24B D. Miguel declara a
Carta Constitucional como nula, pois foi outorgada por D. Pedro que não reunia
condições legais para ser rei; e no Doc. 24C apresenta-se como rei absoluto, o que
significa que não respeita a lei constitucional;
• [atitude para com D. Maria II] enquanto no Doc. 24A D. Miguel reconhece D.
Maria II como legítima rainha de Portugal, na qualidade de filha e herdeira do
legítimo rei D. Pedro IV, jura-lhe fidelidade e a entrega do trono logo que ela
atinja a maioridade, no Doc. 24B declara que a descendência de D. Pedro está
excluída do trono; daí que D. Miguel usurpe a coroa a D. Maria II, assumindo-se
como o legítimo rei no Doc. 24C.

Questão 7 D. Pedro considera que o governo e o reinado de seu irmão D. Miguel representam uma usurpação, em
virtude de este ter desrespeitado o juramento de fidelidade que fez à rainha legítima, D. Maria II, e à Carta
Constitucional, de a ter destronado e de reinar como um tirano, ao restabelecer o absolutismo e desrespeitar os
direitos dos portugueses. Daí o corte de relações da Europa com Portugal.

Questão 8 – Para repor a legitimidade da sua filha como rainha de Portugal, D. Pedro:
– abdicou do trono brasileiro para vir à Europa defender a causa de D. Maria II;
– criou um governo de Regência nos Açores, em nome da filha, para governar Portugal e organizar a resistência;
– desembarcou, com um exército, no continente (no Mindelo), para libertar o reino do domínio absolutista.
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)
UNIDADE 4. A IMPLANTAÇÃO DO LIBERALISMO EM PORTUGAL. ANTECEDENTES E CONJUNTURA (1807-1820)

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