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TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES CRIADOS

nas suas Primitivas Propriedades, Virtudes e Poderes Espirituais e Divinos

de Martinez de Pasquallys

ESTUDO SIMPLIFICADO

Introdução

Uma das mais belas pesquisas e estudo que o homem pode empreender é o do
conhecimento de suas origens, existência e destino (principio, meio e fim). O interesse e a
procura na direção correta, pode proporcionar significativas e determinantes descobertas,
que por si só o colocará no Caminho, na Verdade e na Vida. Esta procura e compreensão de
quem somos, de onde viemos e para onde vamos, motiva e impulsiona o estudante
Martinista a considerar, discernir e compreender a Criação, a Queda e a Reintegração.
Uma descoberta que poderá maravilhar o buscador e contribuir na procura é o Tratado da
Reintegração dos Seres Criados, de Martinez de Pasquallys, que deve ser leitura e estudo
obrigatório de todo Martinista e de todo Buscador sincero, e que assumimos a tarefa de
procurar torná-lo acessível aqui da forma mais objetiva e prática possível.
Como era de se esperar o Tratado apresenta vários níveis de leitura, assim nivelamos e
pautamos a didática da apresentação na simplificação do conteúdo deste livro, dentro das
nossas possibilidades atuais de percepção, discernimento e compreensão.
Os mais exigentes observarão alguns trechos não serem abordados, por entendermos não
serem imprescindíveis ao contexto desta tarefa ou não contribuírem para a compreensão
simples do todo, que é o que interessa aqui. E que também procurou-se seguir uma ordem,
não necessariamente a do autor, que propiciasse um sentido inteligível contínuo e lógico
aos eventos, o que o autor não faz tornando-o uma leitura complexa para poucos. A estes
sugerimos a leitura do texto original.
Como o autor dispõe o conteúdo sem partes ou capítulos, e por ser extenso, o dividimos em
partes, arbitrárias, com o objetivo de facilitar a apresentação.
Que o despertar do interesse, estudo e visão da plenitude e complexidade de suas origens e
existência seja, elucidando a outros, a maior recompensa que o buscador possa conceder a
si mesmo, pois quanto mais alto ascender em percepção, discernimento e compreensão,
mais próximo estará da Verdade que aspira e persegue.
São nossos os votos e objeto deste estudo, como também o desejo que o Mestre nos assista
a todos.

Silvio Tesla

* * *
TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES CRIADOS
nas suas Primitivas Propriedades, Virtudes e Poderes Espirituais e Divinos

de Martinez de Pasqually

ESTUDO SIMPLIFICADO
Por Silvio Tesla

PARTE I

Criação, Emancipação e Queda dos Primeiros Espíritos.

No princípio, antes do tempo, Deus concebeu e emanou de si mesmo a Criação com os


primeiros seres espirituais, para sua própria glória em sua imensidão divina. Eles eram
livres e distintos do Criador, que lhes concedeu o livre arbítrio para atuarem dentro dos
limites que lhes foi imposto em seus domínios, através de preceitos e mandamentos. Após
sua emanação, esses primeiros seres espirituais eram distintos também entre si pelas suas
virtudes, seus poderes e seus nomes, e ocupavam a imensa circunferência divina
denominada Dominação, representado pelo numero denário (10), simbolizado pela figura
, onde os espíritos criados, em quatro classes (superior, maior, inferior e menor), deviam
agir e atuar. Os nomes destas quatro classes de seres espirituais eram maiores que os dados
aos Querubins, Serafins, Arcanjos e Anjos, ainda não emancipados, e eles conheciam tudo
o que podia existir, ou conter, nos seres espirituais ainda não emanados pelo Criador,
porque podiam ler o que se passava e continha no pensamento de Deus. Estes primeiros
espíritos tinham um conhecimento perfeito de toda a ação divina, pois haviam sido criados
para testemunhar as operações de criação divina e manifestações de sua glória.
Mas estes primeiros espíritos cometeram o erro, por orgulhosa ambição, de
desejarem ir contra as leis, preceitos e mandamentos do Criador. Ora,
pretendendo ser semelhantes ao Criador, eles desejaram criar criaturas espirituais
que dependeriam diretamente deles, o que não lhes foi permitido pela Divindade,
que lendo o pensamento deles os apartou de si. Como os decretos do Criador são
imutáveis, foi permitido a eles que conservassem seu primeiro estado de virtude e
poder, pois se Deus os tivesse retirado todos, não mais teria havido ação de vida
boa ou má, nem mais alguma manifestação de glória, de justiça e de poder divino
neles, uma vez que tinham sido emanados para agirem de livre vontade, como
causa secundaria nos planos do Criador. Eles não deviam de modo algum exercer
seus poderes sobre as causas primarias ou sobre a ação da Divindade. Deviam
zelar apenas pelo seu próprio poder, virtudes e atuações secundarias na Criação,
e nunca procurar antecipar-se ao pensamento do Criador em suas operações de
criação passadas, presentes ou futuras.
O crime desses primeiros espíritos, que caracterizou a "Queda" de sua condição divina, foi:
Primeiro: Terem desejado condenar a eternidade divina nas suas operações de criação,
Segundo: Terem desejado confinar a Suma-potência Divina nessas criações,
Terceiro: Terem pretendido serem criadores das causas terceiras e quartas, que sabiam
serem inatas na Suma-potência do Criador, sem o consentimento dEle.
Eis aquilo a que chamamos de principio do bem e do mal, pois toda má vontade
concedida pelo espírito é sempre criminosa perante o Criador, mesmo quando não
se realiza.
Deus não interferiu nesses acontecimentos, primeiro por causa do livre arbítrio com que
estes primeiros seres foram dotados, e segundo porque Deus não interferia nas causas
secundarias, ou seja a conseqüência de seus atos, de onde pode-se deduzir que o mal não
veio diretamente de Deus, mas sim do mau pensamento dos primeiros seres emanados e
depois do homem como veremos mais adiante. Assim, o Criador puniu o pensamento
criminoso desses espíritos perversos, através da força de lei de sua imutabilidade,
precipitando-os neste universo físico, criado para ser o lugar onde eles deveriam agir e
exercer em privação toda sua malicia, e para ser o asilo e reduto das suas más obras, onde
eles nunca poderão prevalecer sobre as leis de ordem que o Criador conferiu à sua criação
material.
Mas não se deve compreender nesta criação material o homem que se encontra hoje na
superfície terrestre, porque não deveria usar nenhuma forma aparente de corpo físico, pois
ele foi emanado e emancipado pelo Criador para dominar sobre todos os seres criados antes
dele. O homem, criado depois que o universo foi formado, possuía as mesmas virtudes e
poderes que tinham os primeiros espíritos, sendo-lhes superior e primogênito pelo estado de
glória que possuía e por força do mandamento do Criador.

O Homem: sua missão divina.

O Homem, Adão, conhecia perfeitamente a necessidade da criação universal, e conhecia


também a utilidade e a santidade de sua própria criação, assim como a forma gloriosa de
que estava revestido para agir sob toda a criação geral e particular.
Aqui é distinguido o universo em 3 partes:
1 - o universo: como uma circunferência que contém o geral e o particular,
2 - a terra: parte geral da qual emanam os alimentos necessários ao particular,
3 - o particular: composto de todos os habitantes dos corpos celestes e terrestres.

Adão, sendo um espírito puro em seu estado de glória, lia diretamente os pensamentos e as
operações de criação divinas. E o Criador fazendo-o conceber os 3 princípios que constituía
o universo, disse-lhe:
"Impõe-te a todos os animais ativos e passivos, e eles obedecerão". Adão obedeceu e viu
quão grande era seu poder sobre o particular, desde a superfície até terrestre, e o seu centro,
até ao centro celeste (chamado céu de Saturno).
Depois lhe disse o Criador: "Impõe-te ao geral ou a terra; ela te obedecerá". E Adão viu
como era grande seu poder sobre o geral.
Após, disse ainda o Criador à sua criatura: "Impõe-te a todo o universo criado, e todos os
seus habitantes te obedecerão". E Adão aprendeu a conhecer a criação universal.
Deve-se notar que no primeiro Adão recebe a lei, na segunda o preceito e na terceira o
mandamento.

Tendo assim agido e manifestado sua vontade conforme a do Criador, recebeu dele o nome
augusto de Homem-Deus da terra universal, pois devia produzir de si mesmo uma
posteridade de Deus, e não uma posteridade carnal.
O Criador dotando o homem com a virtude, força e poder inatos nele, deixou-o ao seu livre
arbítrio, na condição de conformar sua vontade à do Criador.
Adão, então, refletiu sobre seu grande poder manifestado nos três princípios que constituía
o universo e considerou o seu trabalho tão grande como o do Criador, sem, no entanto,
conseguir aprofundar perfeitamente, por si próprio, nessas três primeiras ações, nem nas do
Criador. Mas suas reflexões sobre o sumo poder divino, no qual não podia ler sem o
consentimento de Deus, começaram a perturbá-lo. Essas reflexões, assim como o querer ler
no pensamento divino, não tardaram a chegar ao conhecimento dos espíritos perversos, ou
maus demônios, tão logo o teve. E imediatamente surgiu diante dele um dos principais
espíritos decaídos sob a forma aparente de corpo glorioso para o influenciar.

PARTE II

A Tentação. O bom e o mau intelecto. A origem do mal e o erro do homem.

Como vimos na Parte I, Adão refletindo sobre seu poder e estado glorioso começou a se
perturbar por não conseguir ler no pensamento Divino sem permissão.Tão logo surgiu tal
pensamento em Adão apresentou-se a ele um dos principais espíritos perversos, em sua
forma aparente gloriosa, que lhe disse:

“Que mais deseja desejas tu conhecer do todo-poderoso Criador? Não fez Ele de ti o seu
igual, com a virtude e sumo poder que te infundiu ? Age segundo a vontade que te é inata,
e opera na qualidade de ser livre, seja sobre a Divindade ou sobre toda a criação universal
submetida ao teu governo. Compreenderás desde logo que o teu sumo poder em nada
difere do Criador. Saberás que não só és criador de poder particular, mas ainda criador
de poder universal tal como te foi dito que devia nascer de ti uma posteridade de Deus. É
pelo Criador que sei de todas essas coisas e é por ele e em seu nome que te falo”.

Com estas palavras, proferidas pelo espírito decaído, Adão ficou como que sem ação, e
uma emoção intensa o mergulhou em êxtase. E foi neste estado de êxtase de Adão que o
espírito conseguiu influenciá-lo e induzi-lo a desobedecer aos decretos divinos. Mesmo não
tendo uma impressão boa do espírito decaído que lhe falava, Adão concordou em aceitar e
aplicar a ciência do espírito decaído em lugar da ciência divina que o Criador lhe concedeu
para comandar todos os seres inferiores a si (entre os quais estavam incluído os próprios
primeiros seres espirituais decaídos que lhe influenciaram). Dessa forma Adão rejeitou
inteiramente seu próprio pensamento divino, para usar a sugestão do espírito maligno.
Adão, como eles, não devia aspirar a ambição da criação de seres espirituais a partir de si
próprio, conforme a sugestão do espírito decaído.
Aqui pode ser observado o início, o primeiro passo, da “Queda” do Homem: a ambição.

Mas antes de tratarmos da “Queda” vamos considerar como o Criador conhece o


pensamento e a vontade de sua criatura, pois são lidos diretamente por Ele, seja
esse pensamento ou vontade boa ou má. Podemos entender que é errado dizer
que o mal provém do Criador, sob a alegação de tudo ser emanado por Ele.
Mas, pergunta-se então, de onde vem o mal ?
O mal não é criado, mas sim engendrado pelo espírito, seja o pensamento bom ou mau, pois
a criação pertence ao Criador e não à criatura. Cabe ao homem aceitar o bom ou o mau
pensamento, segundo seu livre arbítrio.
O engendramento do mal é ocasionado pela vontade má do espírito, ou seja, o mau
pensamento, que espiritualmente se chama mau intelecto, bem como o engendramento do
bom pensamento é chamado de bom intelecto. Assim intelecto é como chamamos a essa
boa ou má influência, e que o homem poderá aceitar ou rejeitar conforme sua vontade,
usando unicamente de seu livre arbítrio. Podemos verificar também que os espíritos
perversos (superiores pela primeira emanação, ou criação) estão sujeitos ao homem (menor
pela posterior emanação, ou criação), decaídos de seus poderes superiores pelo crime que
cometeram ao desejarem submeter o Criador a eles, como também os espíritos bons, em
conformidade com o poder que Deus conferiu a Adão. Observamos assim que, dessa forma,
não há distinção no domínio de Adão sobre o bom e o mau espírito, uma vez que o poder a
ele conferido é enunciado nestas palavras do Criador: “Criei tudo para ti; ordena e serás
atendido”. Para se ter uma idéia mais precisa, Adão foi a ultima de todas as criaturas
emanadas pelo criador, sendo ele colocado no centro da criação universal, geral e
particular, já como colocamos na Parte I, e revestia-se de um poder superior a de todos os
seres emanados, e para o uso que Deus lhe havia destinado: os próprios anjos estavam sob
seus poderes e grande virtude.

Se o homem não tivesse cometido o erro de aceitar a sugestão do tentador, ele permaneceria
no seu estado glorioso e mantido todos os poderes que Deus lhe conferiu para exercer seu
arbítrio no domínio sobre os espíritos perversos, e confiná-los ainda mais em sua privação
se fosse necessário para conter o mal. Para ficar claro isso é figurado pelos cinco dedos da
mão, vejamos:
- o médio figura a alma,
- o polegar o espírito bom,
- o indicador o intelecto bom (influências dos bons espíritos),
- os outros dois (anular e mínimo) figuram o espírito e intelecto mau.
Na figuração acima vê-se claramente que o poder do homem era muito superior ao dos
primeiros espíritos decaídos, pois como os dois lados estavam submetidos a ele (dedo
médio, a alma) era só unir-se ao espírito bom (polegar) e ao intelecto bom (indicador), que
o mal (anular + mínimo) ficaria enfraquecido e seria destruído. Deduzimos então que o mal
resultou do mau pensamento e má vontade das criaturas, ou seja, a alma se juntou do lado
do mal. Com esse erro a “Queda” foi inevitável para o homem.

NOTA 1: O leitor atento e observador encontrará aqui uma chave primeira de como o erro inicial
de Adão se repete da mesma forma nos pensamentos, palavras e ações ao longo da linha do
tempo da saga no homem na matéria, mesmo ainda hoje. A questão não é insolúvel por ser uma
questão da vontade e do livre arbítrio que ainda não sabemos usar, como veremos a seguir.

A “Queda” de Adão: seu erro, a perda da sua forma gloriosa e sua sujeição à matéria.

Como vimos no contexto anterior, Adão cometeu o erro de se aliar aos


prevaricadores, e com isso provocou o que chamamos de “Queda”, ou seja, de
mudança de status divino para condição inferior na matéria que devia, podemos
dizer, “administrar” para o Criador até a erradicação completa do mal provocado
pelos espíritos decaídos. E para sabermos como foi isso vamos continuar a ver
como Martinez de Pasqually o registra no seu Tratado:
Adão concebeu e agiu com sua má vontade dentro no centro de seu leito glorioso,
vulgarmente chamado de paraíso terrestre, e misteriosamente chamada de: terra
acima de todos os sentidos. Este leito glorioso, figurado pelo número 6 em uma
circunferência de seis círculos concêntricos, onde Deus colocou o homem,
representava Ele, em Adão, seus seis pensamentos divinos que deram origem à
Criação. Um sétimo círculo, junto com os outros seis, anunciava ao homem a
união que ele fazia com o espírito do Criador para ser sua força e sustento (do
homem).
Mas o Criador, apesar dos cuidados e precauções para proteger o homem dos
seus inimigos, o deixou ao livre arbítrio e este acabou agindo por sua própria
vontade concebendo uma criação contrária às leis divinas. Adão tinha em si uma
condição de criação de uma posteridade de forma espiritual gloriosa semelhante a
ele: forma impassível e de natureza superior a todas as formas elementares. Adão
teria tido a glória destas criações se sua vontade fosse a do Criador, se tivesse ele
criado dentro e com a Divindade, o Criador teria preenchido sua criação com um
ser tão perfeito como ele; Adão. Deus e Adão teriam feito uma mesma criação, por
ter sido uma única vontade em ação: a de Deus. E assim Adão teria produzido
uma geração de si mesmo com a Divindade, ou seja, teria sido o Criador de uma
posteridade de Deus, de uma geração Divina de Homens-Deus em pureza e
perfeição.

NOTA 2: Temos no texto o autor indicando uma chave para uso do estudante aplicado. Oras,
como seria nossa vontade se ela fosse una na vontade de Deus ? Como é a Vontade dos Seres
Santos e Angélicos ?

Mas, longe de cumprir sua missão conforme os planos do Criador, o primeiro


homem se deixou seduzir pelas influências dos seus inimigos e pelo falso plano de
criação aparentemente divina apresentado por eles. Estes primeiros espíritos lhes
disseram:

“Adão, tens inato em ti o verbo de


criação em todos os gêneros; tu é que
possuis todos os valores, pesos,
números e medidas. Porque tu não usas
o poder de criação divina inata em ti ?
Nós não ignoramos que todo ser criado
te seja submisso: crie pois criaturas se
és criador. Crie perante aqueles que te
são exteriores: todos eles farão justiça à
glória que te é devida”.
Adão se inflamou de orgulho, e realizou uma quarta criação usando as palavras de poder
que o Criador havia lhe conferido, agindo em conformidade aos espíritos perversos e sua
própria vontade, atacando assim a imutabilidade da Divindade, e repetindo o erro dos
primeiros espíritos perversos, que não tiveram tempo de fazer o ato de criação pois antes
disso o Criador suspendeu a ação de seus pensamentos e vontades más. Ora, se assim foi
com os primeiros espíritos decaídos, porque então Deus não fez o mesmo com Adão
suspendendo a ação ? Mas primeiro vamos verificar o ato de criação de Adão conduzido
pelas influências dos espíritos perversos, e mais adiante trataremos do porque Deus não
suspendeu sua ação.
Adão traçou então seis circunferências semelhantes as do Criador, isto é, colocou
em ação os seis atos de pensamentos espirituais que tinha em seu poder para
cooperar na vontade da criação. Executou fisicamente e na presença do espírito
tentador a sua criminosa criação. Adão esperava ter o mesmo sucesso que o
Criador eterno, mas para sua surpresa e do espírito decaído, ao completar o seu
ato surgiu uma forma tenebrosa e totalmente oposta à sua, uma forma de matéria
somente, em vez de criar uma forma pura e gloriosa tal como estava no seu
poder. Adão refletiu sobre o fruto iníquo de seu ato, e viu que fizera a criação de
sua própria prisão, que confinava a ele e sua posteridade nas margens das trevas
e na privação espiritual de estar junto a Deus até o fim dos tempos. Esta privação
era a mudança de sua forma gloriosa em forma material e passiva.
A forma criada por Adão não era realmente a sua, mas uma semelhante que iria
usar após seu ato contra as leis divinas, e em nada difere desta que temos hoje
em dia. O que diferencia estas formas, a gloriosa da material, é que a primeira era
pura e inalterável, enquanto a que estamos usando é passível e sujeita à
corrupção. Assim vemos que Adão degradou sua própria forma impassiva, da qual
devia criar formas gloriosas como a sua, para servir de morada aos espíritos
menores (homens) que o Criador teria aí colocado, surgindo então a posteridade
de Deus. Mas logo após a criação feita por Adão o Criador transmutou sua forma
gloriosa numa forma de matéria passiva semelhante àquela proveniente da sua
ação criminosa, e o precipitou nos abismo da terra de onde havia tirado o fruto de
seu erro, pois a ira do Criador contra o homem foi ele ter se manchado com uma
criação tão impura e contrária às suas leis e planos para ele. O que resultou disso
então ? Resultou numa geração posterior de Adão em função de seu erro, de sua
criação material. Temos então aqui o que chamamos de: O erro e a “Queda” de
Adão.

PARTE III

Porque o Criador permitiu o erro de Adão.

Cometido o erro, como vimos na Parte II anterior, e conseqüente Queda de sua forma
gloriosa ao ser submetido na forma passiva de matéria semelhante à sua própria criação,
Adão viu que criara sua própria prisão com seu ato de desobediência, confinando-se mais
estreitamente nas margens das trevas e na privação espiritual divina. Mas porque o Criador
permitiu o erro de Adão e não destruiu o fruto de sua criação ? Vejamos:
O homem, sendo colocado pelo Criador para conduzir a bom termo a punição dos primeiros
espíritos perversos, recebeu leis de ordem para tal. Essas leis dadas ao homem, e aquelas
que eram inatas ao espírito mau, era para que ambos pudessem atuar conforme seu
pensamento e vontade particular. Sendo o Criador um ser imutável nos seus decretos e dons
espirituais, não podia suprimir a força e a ação das leis de ordem dadas aos dois seres: os
primeiros espíritos e o homem. Assim o Criador os deixou agir livremente, pois como Ser
necessário e de poder divino absoluto não interferiu nas decisões e ações de ordem
temporal, ou sequer impediu as ações, provocadas por ambos, face sua imutabilidade, pois
assim o Ele estaria contrariando suas próprias Leis e Decretos Divinos Imutáveis. Se o
Criador participasse das concepções e ações (secundárias) oriundas dos dois seres
emanados, Ele próprio teria que transmitir seu pensamento e vontade, boa ou má, à sua
criatura. Se Deus agisse assim, seria possível dizer que o bem e o mal vêm dEle, e não
seríamos livres e nem teríamos nossa própria vontade, pois não existindo vontade própria
no homem este não teria cometido o erro e também não existiria as conseqüências da
“Queda”. Ora, vemos então, novamente, que o mal nunca vem de Deus, mas sim da
vontade da criatura. Para ilustrar bem esse ponto Pasqually mostra em um exemplo onde se
é enviado um representante para combater os inimigos, mas o enviado acaba se aliando a
eles (aos inimigos) e se voltando contra quem o enviou. O representante enviado seria então
um traidor se estivesse de posse dos recursos, força e poder suficientes para enfrentar e
vencer, merecendo, portanto, uma punição dura e exemplar. E foi assim que Adão se
comportou para com o Criador. Pasqually também coloca que é por isso que o Anjo do
Senhor diz nas Escrituras: “Expulsemos daqui o homem que teve conhecimento do bem e
do mal, que ele poderia alterar-nos nas nossas funções espirituais, e evitemos que ele
toque na árvore da vida, e que por esse meio viva para todo o sempre”. Ou seja: que viva
como os primeiros espíritos decaídos numa virtude e poder condenados.
Podemos aqui reconhecer sensivelmente, como nos mostra Pasqually, o que chamamos
espiritualmente de decreto pronunciado pelo Eterno contra a posteridade de Adão até o fim
dos séculos, ou o vulgarmente chamado pecado original.

Se o homem não tivesse sido punido também não haveria penitência pelo seu erro, não teria
motivo para reconciliação, não teria tido sua posteridade como é hoje, e teria permanecido
como o menor dos menores seres decaídos. Mas, como vimos, ele foi punido vindo a
habitar na Terra, e aqui teve sua posteridade segundo seu erro.
Assim podemos verificar que o Criador permitiu que a obra do erro de Adão subsistisse e
ficasse conhecida para que sua posteridade, de geração em geração, não viesse a alegar
ignorância de seu erro, e que assim soubesse que a causa de seus males e misérias que sofre
e sofrerá até o fim dos tempos, não vem dEle mas de Adão, nosso primeiro pai criador de
matéria impura e passiva (impura por ter sido criada contra a vontade do Criador).

NOTA 3: Martinez de Pasquallys está nos fazendo ver que Adão foi o nosso criador, que nós
somos sua posteridade.

A coroação da obra de Adão, tornando-o de pensante a pensativo.

Como não podia deixar de punir o erro e, no entanto, tendo o Eterno dito que agiria em
todas as criações que Adão fizesse no seu nome, não pôde Ele deixar de cumprir a
promessa imutável que fizera de secunda-lo em todas as circunstâncias necessárias. Foi
com base nesta promessa que Adão manifestou todo o poder que lhe era inato em relação a
todo ser espiritual, fazendo com que o Criador viesse a coroar a sua obra, cumprindo assim
sua promessa em favor de sua criação material. Assim Deus, por força de sua promessa e
imutabilidade divina, agiu conforme o desejo de Adão aceitando coroar a obra do erro.
Colocou Deus, então, na forma de matéria criada por Adão um ser como ele, sujeitando-o a
uma prisão de trevas.
Dessa forma Adão tornou-se susceptível de ser pensativo e pensante, ao ser precipitado em
uma privação eterna ou limitada na matéria. A palavra pensativo vem da junção intelectual
má que o homem fez com os espíritos decaídos, uma vez que ele anteriormente, pela
natureza de ser espiritual divino, havia sido emanando como ser pensante. Podemos ver
que, com a “Queda”, Adão deixou de ser pensante na Divindade para ser pensativo no
estado da matéria em foi sujeitado. Portanto temos: pensativo quando aceitamos as
sugestões dos espíritos maus, e pensantes quando aceitamos as sugestões dos espíritos
bons. Assim podemos claramente observar que ora nossos pensamentos e concepções
tendem a ser espirituais e ora tendem a ser materialistas. Este fato, por si só, demonstra
visivelmente os diferentes modos da humanidade pensar e de agir acionando a vontade.
Também observamos as pessoas não darem a devida atenção a isso (e que seria sua
libertação do mal), seja por ignorância ou não.

NOTA 4: Outra vez a indicação preciosa da chave, no cuidado de como devemos pensar para
conceber e agir.

O arrependimento, o pedido de perdão e a reconciliação com o Criador.

Como nos ensina M.Pasqually, foi depois de ter completado esse ato de desobediência, e
sua conseqüente punição, que Adão reconheceu e se arrependeu amargamente pelo
tamanho do seu erro. Assim, ao se tornar pensativo e pensante, Adão sentiu uma grande dor
ao perceber que iria dar origem à primeira das épocas árduas que iriam ocorrer à sua
posteridade. E foi aí que Adão concebeu mais fortemente a grande conseqüência de seu
erro, ou seja, pelo tumulto, a agitação e as diversas contendas que se passavam dentro dele
ao ser encerrado em um corpo físico. Neste estado, queixou-se ao Criador; reclamou a
clemência do Cristo e do Deus vivificante. Foi-lhe apresentado então o resultado de seu
erro, que aumentou ainda mais seu sofrimento e remorso, que acabou fazendo-o confessar
com a máxima sinceridade a obra de seu maldito pensamento e a ação de sua vontade que o
acorrentou ao fruto de seu trabalho por tempo imemorial. Confirmou a confissão dando ao
fruto de seu erro, sua criação abominável, o nome de Huva ou Homessa, que significa:
carne de minha carne, ossos de meus ossos, e obra exercida por minhas mãos
conspurcadas.

NOTA 5: Está claramente indicado aqui que a criação de Adão, coroada por Deus, foi o
nascimento de Eva.

Adão pôs-se imediatamente a lamentar e sofrer a angustia pela falta cometida, e pediu
perdão ao Criador pela sua ofensa. Confinou-se em seu exílio, e aí, entre lágrimas e
gemidos, invocou o Criador divino:

“Pai de caridade, de misericórdia; Pai vivificante e de vida eterna; Pai Deus dos Deuses,
dos céus e da terra; Deus forte e muito forte; Deus de justiça, de castigo e de recompensa;
Eterno Todo-Poderoso; Deus vingador e remunerador; Deus de paz e de clemência, de
compaixão caridosa; Deus dos bons e dos maus espíritos; Deus forte no sabbat; Deus de
reconciliação de todos os seres criados; Deus eterno e todo poderoso, das regiões celestes
e terrestres; Deus invencível existindo necessariamente sem princípio nem fim; Deus de
paz e satisfação; Deus de toda dominação e potência, de todos os seres criados; Deus que
castiga e recompensa a seu gosto; Deus quadruplamente forte das revoluções e dos
exércitos celestes e terrestres deste universo; Deus magnífico de toda a contemplação; dos
seres criados e das recompensas inalteráveis; Deus pai de misericórdia sem limites pela
sua fraca criatura, ergue aquele que geme perante ti pela abominação do seu crime. Ele é
só a causa segunda da sua prevaricação. Reconcilia o teu homem em ti e submete-o para
todo o sempre. Abençoa também a obra feita pela mão de teu primeiro homem, a fim de
nem ele nem eu sucumbirmos às solicitações daqueles que são a causa da minha justa
punição e da punição da obra da minha própria vontade. Amen!”

Com esta invocação Adão foi o primeiro a dar um conhecimento exato à sua posteridade
das diferentes virtudes, poderes e propriedades que estavam inatas no Criador, para que
aprendesse como fora criada para combater pela maior glória do Criador. Obtendo Adão
sua reconciliação espiritual com o Criador, foi agraciado com mesmas virtudes e poderes
que possuía anteriormente, para usá-los com sabedoria e moderação, e não mais usar de sua
vontade em favor dos espíritos perversos, e também para não se tornar para sempre a
árvore do bem e do mal.

E porque Adão obteve o perdão divino ? Porque ele se arrependeu profundamente de seu
ato, o que não aconteceu com o primeiros espíritos perversos que continuam fazendo
oposição ao Criador.
Antes de prosseguirmos com nosso estudo, vamos considerar um breve resumo do que
apresentamos até aqui.

Resumo - Partes I a III

Chaves primeiras do Tratado: pensamento, concepção, desejo e vontade.

Até aqui, onde que nos encontramos neste estudo simplificado do Tratado da
Reintegração, podemos observar (e em outros pontos adiante) uma forte
insistência de Martinez de Pasquallys em fazer constar informações repetitivas, e
de formas diferentes, e que chamamos à atenção do leitor por as consideramos
“chaves” para a compreensão interior em nossa busca da Reconciliação e
Reintegração com o Criador. Vejamos essas “chaves” (na verdade uma única) em
sete pontos diferentes a seguir:

1 - Os primeiros espíritos emanados pelo Criador caíram por um desejo de


vontade própria.

2 - Adão cometeu seu erro, provocando também sua “Queda”, por um ato de sua
vontade própria.

3 - Que a influência que Adão sofreu dos espíritos decaídos é a mesma que
sofremos ainda hoje, cabendo ao homem aceita-las e usa-las por sua exclusiva
vontade, sendo pensativo por
receber e considerar influências, e pensante ao decidir e colocar em ação sua
concepção.
Então temos que:
- Se a influência é boa, vem de um intelecto (espírito) bom, será positiva e
divina.
- Se a influência é má, vem de um intelecto (espírito) mau, será negativa e
maléfica.

4 - Que o mal não tem origem e não vem de Deus, mas da vontade má da
criatura colocada
em ação.

5 - Que toda ação boa ou má é resultado de um pensamento concebido e


manifestado por um
ato da vontade da criatura.

6 – Que o pensamento é o desejo que aciona e impulsiona a vontade, criadora


por sua natureza
divina.
7 – Que a Reconciliação e a Reintegração só ocorrerá por desejo e ato da
VONTADE da criatura (todas), colocada em ação com e na Vontade Divina.

NOTA 6: Possa estar assim claramente identificado, no resumo acima, a mensagem principal do
Tratado até aqui. Veremos se repetir também à frente.
PARTE IV

A arvore do bem e do mal. O Cristo reconciliador do homem.

Até a Parte III vimos como o mal se originou a partir da vontade da criatura, que desde
Adão o homem continua cometendo o mesmo erro ao conceber e usar sua vontade má,
como o bom e o mau intelecto sugere o pensamento, ativa a concepção e desperta o desejo
que aciona e impulsiona a vontade do homem, e entender que o homem pode se regenerar
e reconciliar através do arrependimento e pela ação desta mesma vontade.
Prosseguindo com o texto do Tratado de Reintegração, Martinez de Pasquallys abre
considerações na continuidade para inserir, entre outras:
- a ação contínua dos primeiros espíritos decaídos, gozando todos de inteira liberdade e
agindo segundo
sua vontade pensante, mas que não recebem o perdão divino por não se arrependerem. O
principal
perverso deles é o que podemos chamar de a árvore do bem e do mal por toda a
eternidade. A tarefa
deste chefe dos primeiros espíritos decaídos consiste inteiramente em procurar tornar o
homem
submisso às suas leis obscuras, fazendo com que elas lhe pareçam tão precisas e claras
como as que o
Criador legou à sua criatura,
- os primeiros tempos da posteridade de Adão, até Noé.
- o trabalho do Cristo, que atuou de forma tríplice a favor do homem: primeiro descendo
aos lugares de
maior privação divina, segundo a favor dos justos e terceiro com alusão ao ultimo dia de
sua morte,
- as três substâncias da terceira atuação do Cristo para a regeneração reconciliação do
homem para com
o Criador, os três principais círculos interligados (o sensível, o visual e o racional),
- entre outros, que abordaremos dentro da continuidade seqüencial deste trabalho.

Portanto vamos tratar agora da primeira posteridade de Adão.

A primeira posteridade de Adão: os 4 primeiros filhos.

Como vimos anteriormente, Adão reclamou a clemência do Cristo e do Deus vivificante.


Confirmou a confissão de seu ato obtendo a reconciliação, e deu à sua criação o nome de
Huva ou Homessa.
Quando o Criador abençoou Adão e sua obra impura, disse-lhe: “Adão, ilustra atua obra,
para que de vós resulte uma posteridade de forma particular na qual estará contida a
figura universal geral em figura certa e indubitável, tal como se contém na forma que
diriges pelo tempo que prescrevo”.

NOTA 7: Aparentemente o Criador disse a Adão o tempo prescrito para cumprimento de sua
punição.

Palavras estas, acima, que as Escrituras registram como: Crescei e multiplicai-vos.


Assim, ordenado a Adão e a Eva que reproduzissem formas semelhantes às suas, eles a
cumpriram com tal paixão furiosa dos sentidos da matéria, que acabaram por
comprometer a completa reconciliação de Adão. Engendraram, no entanto, a forma
corporal do primeiro filho ao qual puseram o nome de Caim, que quer dizer filho de minha
dor. O nome fora dado por Adão porque percebera que havia gerado um filho por meio de
uma paixão desordenada e contrária à moderação de devia usar, pois foi por esta obra que
sua reconciliação foi suspensa. Compreendeu também que seria grande a dor que causou à
sua posteridade com mais este erro; que seu primogênito desrespeitaria as leis, preceitos e
mandamentos divinos. Entretanto este primeiro filho deveria contribuir para a
reconciliação do primeiro pai, pelas dores vivas que Adão iria sentir ao ver repetido seu
primeiro erro ante o Criador, pois Caim cometeu seu crime em sua presença como
veremos adiante.
Dura e cruel foi foram a dor e humilhação de Adão ao ver seu primeiro filho nas garras
dos espíritos perversos, pois não havia muito que ele, Adão, fora retirado dessas
influências por pura misericórdia do Criador, e que acabou precipitando seu primogênito
por uma eterna privação divina.
Com esta dupla pena, Adão se fortaleceu nas leis divinas e na confiança no Criador.
Queixou como nunca por ter gerado este filho nas condições em que o fez. Mas desta vez
foi apenas aparente sua contrição, e concebeu novamente com sua companheira a uma
filha, a quem deram o nome de Cainã, que quer dizer filha da confusão. Na sua cegueira
concebeu mais uma filha que se chamou Aba 1, que quer dizer filha da matéria ou da
privação divina. Após isto Adão caiu em grande desgosto que o levou a conhecer todos
seus crimes contra o Criador, e que seria o veneno da discórdia para toda sua geração.
Ao ser expulso do paraíso, disse-lhe o Criador, como consta nas Escrituras: “Vai cultivar
a terra; ela só te dará espinhos”. Que espinho e dor maior teria um pai de uma
posteridade criminosa ?

NOTA 8: Não vemos esta mesma situação e condição se repetir diariamente na vida da humanidade ? .
Também vale registrar aqui que este parece ser o último contato direto entre Deus e o homem. Depois só
através de enviados.

Mas concebendo um filho em conformidade com os decretos divinos, de forma pura e


simples e sem os excessos dos sentidos materiais, Adão acabou sendo agradável a Deus.
Eva teve um cuidado particular com esse filho, pois sentia que dele nasceria uma raiz de
salvação. Deram a este filho o nome de Aba 4, que quer dizer filho da paz, ou Abel 10, que
quer dizer um ser elevado acima de todo o sentido espiritual.

Caim e Abel.
Adão e Eva cuidaram especialmente de Abel, que foi crescendo em bondade e sabedoria,
em virtude e bom exemplo. Como que uma manifestação da glória divina, Abel prestava
culto ao Criador como deveria ter sido feito por Adão, e que acabaria um dia efetuando a
perfeita reconciliação da posteridade passada, presente e futura do homem. Os outros três
filhos, Caim e suas irmãs, tiveram uma conduta completamente oposta a Abel.
Adão e Eva sentiam-se agora em paz.
Em certo dia, durante um culto, Abel, depois de cumprir suas funções espirituais conforme
lhe fora ordenado, foi prestar contas a seu pai sobre as coisas que aprendera do Criador.
Adão colocou então Abel em seu próprio lugar e prosternou-se tremendo tal como Abel o
fez. Tendo terminado, Adão chamou seus dois filhos, Abel à direita e Caim à esquerda, e
transmitiu-lhes o que aprendera do Criador, dizendo a seguir: “ Previno-vos pelo Eterno
Criador, que dele obtive a graça: a sua justiça cessou de ser reversível sobre mim pela
intromissão e o intermédio do meu filho Abel, do qual o Criador fez recair a santidade
sobre mim. Vinde, meus dois filhos, que eu partilhe convosco a minha alegria,
participando-vos as duas sensações que acabo de experimentar, a do mal, e a do bem que
faz minha reconciliação perfeita com o Criador”.
Depois, dirigindo-se a Caim, disse-lhe: “ Meu filho primogênito, que as tuas obras de
futuro sejam as do teu irmão mais novo. Aprende de mim que o Criador entrega sua
confiança sem nenhuma distinção de origem temporal e espiritual, e que Ele confere toda a
potência superior àquele ou aquela que saiba merece-la, e a quem ela seja devida. Que a
tua vontade, Caim, seja de futuro a do teu irmão Abel, assim como a minha será de futuro
inviolavelmente a do Criador”.
O cerimonial começou ao meio-dia e não durou mais que uma hora.
Quanto mais Abel apresentava sinais de sua graça, mais seu irmão e irmãs se tornavam
seus inimigos, chegando eles a fazerem cultos contrários aos seus e mesmo tramar sua
morte, como veremos na próxima Parte V.
Adão propôs-se certo dia a prestar o culto de uma ação espiritual divina, sem a presença
feminina.
Tudo pronto, Adão ordenou e consagrou o seu filho Abel para ser o primeiro a exercer o
culto que se propunha a fazer. Entendendo que devia logo executá-lo, Abel ofereceu os
primeiros perfumes no centro dos círculos do altar, que eram sua própria forma corporal
oferecida em sacrifício ao Criador.

NOTA 8: Vemos aqui a firme e decidida confiança depositada por Adão em Abel, com relação a
reconciliação com o Criador, e uma possível fonte de especulação do uso do ritual teúrgico por M.
Pasquallys.

Terminado o culto, Adão e os filhos se retiraram cada um para seu canto:


- Caim para junto das irmãs (formando um grupo de 3),
- Abel para junto de seu pai e sua mãe (formando outro grupo de 3).

Esta divisão de três pessoas de um lado e três do outro é a figura que demonstra o tipo da
separação do bem e do mal. Representa ainda as três essências espirituais que compõe as
diversas formas corporais de matéria aparente. Com estes dois ternários juntos teremos o
número da criação divina, ou os seis pensamentos do Criador para a criação universal. As
Escrituras ensinam que três estão encima e outros três estão embaixo. Enfim, devemos
refletir qual número ternário é o que figura o mal.
PARTE V

O crime de Caim.

Como vimos anteriormente, Caim se retirou, após o ritual de Adão, para junto de suas
irmãs.
Chegando disse a elas ter sido ultrajado pelo pai, que lhe retirou a progenitura
transferindo-a a Abel, subordinando-o às ordens e vontade do irmão mais novo. Assim,
convencidas pelas palavras de Caim, de que Adão e Abel ultrajaram o irmão, elas se
comprometeram a usar todo seu poder e força contra eles, e mesmo contra o Criador que
permitira tal delito. Com isto, Caim concebeu realizar um culto copiado do de Adão,
portanto falso, ao príncipe dos espíritos decaídos, para que estes lhe dessem um poder
superior ao que o Criador havia dado a Abel, e assim se vingar do suposto dano que Adão
lhe havia imposto através do irmão. Caim preparou e realizou então o ritual seguindo
fielmente todo o cerimonial realizado por Adão, auxiliado por suas duas irmãs tal como ele
e Abel o fizeram no ritual do pai. Consagrou sua irmã mais nova nas funções idênticas às
que foram exercidas por Abel no ritual anterior, e quando foi sua vez que prosternar-se
cedeu à irmã mais velha o lugar que ocupava no altar ou nos círculos e, tendo-se
prosternado, ofereceu como sacrifício a forma(o corpo) e a vida (a alma) de Abel ao
príncipe dos espíritos perversos.

NOTA 9: Com tudo isso, podemos considerar o nascimento da ira no desejo e na vontade do
homem.

Realizado o ritual, Abel se apresentou a Caim que o repreendeu. Mas Abel com pena e
humildade, disse-lhes: “Não é a mim nem ao nosso pai temporal que deves querer mal, é a
ti mesmo e ao que te governa neste momento que deves combater; porque eu te digo que
acabas de realizar um culto falso e ímpio diante do Eterno. A força de teu crime ultrapassa
a do crime de Adão: ofereceste ao teu deus das trevas um holocausto que não está à
disposição nem tua nem dele; procuraste erradamente derramar o sangue do justo para
justificação dos culpados”.
Em seguida Abel voltou para junto de Adão e informou sobre tudo o que havia ocorrido, que afligiu e mergulhou o pai na
maior consternação. Abel tentou consola-lo e não conseguiu, pois o pai previa o que iria acontecer com o filho e não
queria lhe dizer. Mas Abel o tranqüilizou dizendo-lhe com voz firme: “Meu pai, o que está nos desígnios do Criador em seu
favor e da sua posteridade deverá ser sua ação, seja em bem, seja em mal; que a criação geral que vedes não é senão um
vínculo que o Eterno reservou para fazer operar a manifestação de sua imensa potência, para sua maior glória. É pois, meu
pai, na vossa posteridade corporal que o Criador incluirá os indivíduos adequados, para serem os verdadeiros
instrumentos de que se servirá para triunfo da sua justiça, vantagem dos bons e vergonha dos maus. É inútil para o
homem ir contra o que está deliberado pelo Criador a favor ou contra sua criatura espiritual”.

NOTA 10: Vemos aqui Abel comunicando a Adão os desígnios futuros do Criador.

Imperturbável, Adão dirigi-se ao Criador dizendo: “Ó tu Eterno! Que o que é concebido pelo teu pensamento e pela tua
vontade seja cumprido pelo teu fiel servidor, pai da multidão das nações que habitarão e operarão no teu círculo universal:
Amén!”.

Em seguida Adão e Abel foram visitar Caim, que se aproximou com suas duas
irmãs. As filhas beijaram o pai, mas Abel, ao ser abraçado por Caim, foi ferido
mortalmente três vezes por um instrumento de madeira em forma de punhal: na
garganta, no coração e nas entranhas. Tudo na presença de Adão, sem que este
percebesse. Mas, mal o crime fora cometido, Adão e as filhas sentiram uma
comoção terrível caindo por terra exclamando: “O nosso conciliador, Senhor, é-
nos arrebatado pela mão do ímpio! Reclamamos justiça e confiamos-te a nossa
vingança”.
Adão foi o primeiro a levantar e foi à procura de Eva, informando-a que tudo o que
o Criador exigira dele, para sua inteira reconciliação, e que seus crimes foram
expiados pela vitima Abel, seu filho, e que assim tudo estava consumado.

NOTA 11: No trecho acima pode-se entender que Adão se redimiu perante ao Criador com o
sacrifício de Abel, ou seja, com o derramamento de sangue de um justo como o fora Jesus, o
Cristo, em relação à humanidade.

Não são estes os famosos espinhos que rasgaram o coração de Adão, nascidos e
criados na terra pelo erro cometido por ele contra o Criador ? Pois foi concebido
junto com Eva o filho Caim que provocou este flagelo no coração do infeliz Adão,
em uma concepção de confusão, por uma paixão desordenada que suspendeu
sua reconciliação, e que é representado pelo número dois como veremos a seguir.

O número da confusão, o dois. O ternário e a quádrupla essência.


O número da confusão é o que dirige o que chamamos de realização simples e particular, que se faz da pura vontade do
homem com o maior espírito demoníaco, tornando-se ambos uno pela união íntima do pensamento, intenção e ação. No
entanto são distintos do outro, e suscetíveis de desunião quando surge um intermediário que realiza entre eles uma reação
oposta à efetuada, contendo-se assim a ação do espírito demoníaco e favorecendo consideravelmente o homem. Esta
união com o espírito demoníaco é que chamamos de número da confusão, e que distinguimos pelo número dois.

Quando temos o homem unindo-se ao espírito bom, ele não está fazendo o número dois da confusão, mas sim um número
ternário representado pela união:
- alma, com seu poder espiritual inato, 1
- intelecto do espírito bom, 2
- poder direto do espírito bom, 3
Assim temos a alma fazendo uma união ternária com o espírito bom, conservando e
fortalecendo seu poder espiritual divino, o que não ocorre ao unir-se ao espírito
demoníaco.

NOTA 12: Martinez de Pasquallys está sendo, mais uma vez, muito claro com relação a como o
homem concebe e age.

Dessa forma a alma encontra-se em correspondência regular com os quatro poderes


divinos, que denominamos de quádrupla essência, a saber: a alma do homem (1) em
correspondência espiritual com o intelecto (2), o intelecto com o espírito (3) e o espírito
com a Divindade (4), o que demonstra a correspondência de todo o ser espiritual com o
Criador eterno. Estes são os números de que se serviu o Eterno para realizar a criação
universal, geral e particular.
Foi com base nas virtudes dos números, que os sábios de todos os tempos foram levados a
dizer que nenhum homem pode ser conhecedor, tanto do espiritual divino, como no celeste,
terrestre e particular, sem o conhecimento dos números. Uma coisa é o conhecimento das
leis da natureza espiritual, outra o conhecimento das leis de ordem e convenção dos
homens materiais.

Mas continuemos com a seqüência do ato criminoso de Caim, explicado pelo enviado de
Deus.

O interprete enviado por Deus

Adão e Eva tendo sofrido a dor cruel a que nos referimos um pouco mais atrás,
prostraram-se no maior sofrimento e depositaram toda a fé no Senhor, pedindo-lhe perdão
e misericórdia pelo crime de Caim.
O Eterno escutou os rogos e os lamentos de Adão e Eva pela morte de Abel e enviou um
intérprete espiritual, que lhes explicou o crime de Caim: “Tendes razão em considerar o
assassinato de Abel como uma perda considerável e como uma marca da cólera de Deus
que abrangerá os vossos descendentes até o fim do séculos. Deveis ainda considera-las
como um resto do flagelo da justiça divina para a inteira remissão do vosso primeiro
crime, e para a vossa perfeita reconciliação; mas o Criador, sabedor da vossa total
retração e resignação, envia-me junto de vós para acalmar-vos as penas e estancar-vos as
lágrimas pelo triste acontecimento que julgais irreparável. O Criador diz-vos, pela minha
palavra, que se um e outro produzistes essa posteridade de Abel foi para ser o verdadeiro
tipo e único reconciliador de toda a vossa posteridade. Ficai ainda sabendo um e outro
que Caim, que considerais com razão como um criminoso, não o é tanto quanto o foi Adão
para o Criador. Caim atingiu apenas a matéria, mas Adão tomou o trono de Deus pela
força: vede qual de vós é mais criminoso. O vosso filho Caim é ainda um tipo de
prevaricação dos primeiros espíritos que seduziram Adão e que lhe deram realmente a
morte espiritual, precipitando o homem numa forma de matéria passiva, o que o tornou
suscetível de privação divina, e mudar a sua forma gloriosa numa forma material sujeita a
ser aniquilada, não podendo ser restaurada na sua primeira natureza de forma aparente,
após a sua reintegração no primeiro princípio das formas aparentes, que o eixo central
dissipara tão prontamente quanto formou. Sede firmes e perseverantes na vossa confiança
no Eterno; o termo de vossa reconciliação está cumprido”.
Adão respondeu: “Que a vontade do Criador seja a minha”.

NOTA 13: Com o envio daquele que podemos de chamar de Anjo, Deus fez ver ao homem o
quanto ele se distanciara de seu Criador, com sua “Queda” da condição divina, ao unir-se ao
espírito decaído, e o que ele legou à sua posteridade com isso. Está explicito na resposta de Adão
de como deve ser a vontade do homem para se reintegrar. Mais explicito impossível.
Jesus, o Cristo, também nos mostra na oração que nos deixou.

Mas Adão ainda concebeu uma terceira geração, onde surgiu aquele que viria a dar
continuidade aos dons de Abel para reconciliar toda sua posteridade, mas primeiramente
iremos verificar os tipos e a posteridade de Caim, a seguir.

PARTE VI

Os diferentes tipos de seres emanados na figura de Caim.


Continuando com nosso estudo, e antes de continuarmos com o curso dos acontecimentos,
vamos verificar agora as considerações feitas por M.Pasquallys quanto aos tipos
verdadeiros, importante neste ponto para maior compreensão, relativo ao histórico já
registrado: Adão, pela sua posteridade temporal, figura o Criador , e a posteridade de
Adão figura os espíritos emanados do Criador para sua maior glória e lhe prestar um culto
espiritual.
Vamos então observar um primeiro tipo onde:
- Caim, primogênito de Adão, representa o tipo dos primeiros espíritos emanados pelo
Criador, e
que seu crime é o tipo daquele crime cometido pelos primeiro espíritos contra o
Eterno.
- Abel, em sua inocência e santidade, representa o tipo do primeiro homem, Adão
(emanado após
os primeiros espíritos decaídos), no seu primitivo estado de justiça e glória divinas.
- A destruição do corpo de Abel é do tipo de ação que os primeiros espíritos decaídos
fizeram
para destruir a forma gloriosa que possuía Adão, e coloca-lo junto a eles em privação
divina.
Eis a explicação do primeiro tipo formado por Adão, Caim e Abel.

Observando o segundo tipo formado por eles, temos em Adão, pelos três princípios
espirituosos que compõe o seu corpo material e pelas proporções que nele reinam, a exata
figura do templo terrestre, que sabemos ser um triângulo eqüilátero, como nos diz
Pasquallys no resumo a seguir.
Adão tinha em seu poder uma reprodução corporal, de acordo com a natureza da terra, de
duas espécies: a masculina e a feminina. Mas, dentro deste corpo existem também formas
animais passivas em estado vegetativo. Sucintamente: quando a alma abandona seu corpo,
este entra em decomposição, e assim os animais passivos, que chamaremos vermes, saem
de estado de vegetativo e subsistem até que os três princípios espirituosos, que cooperaram
na forma corporal, e que chamamos de Enxofre, Sal e Mercúrio, sejam reintegrados. Esses
três princípios atuando pela sua reintegração, entrechocam, pela sua reação, com todas as
formas animais em estado vegetativo espalhados por todo o corpo, liberando-se que (o
verme) de seu invólucro, por um novo calor elementar. Este invólucro dissolvido liga-se
com a parte grosseira do corpo em decomposição, processando e dando fim a sua forma de
corpo físico. Podemos ver que é por ação destes princípios que o corpo sofre todo o
processo acima ao morrer.
Continuando, temos Caim representando ainda o tipo da sedução ímpia e funesta que os
maus espíritos usaram contra a posteridade de Adão, também a mesma coisa no crime
cometido contra Abel e na sedução das irmãs para cooperarem. Caim e suas duas irmãs,
pelo número ternário que representam, demonstram a forma terrestre da corrupção do
homem, que o intelecto demoníaco seduz pela união que faz com os três princípios
espirituosos que compõe todas as formas corporais. Destes três é que é extraído o número
novenário das matérias adulterantes, quer dos demônios, quer do homem.

O número nove e os três princípios de Caim


O número ternário é dado à terra, ou à sua forma geral, e também às formas corporais de
seus habitantes, assim como também às formas de seus habitantes celestes. Este número
ternário provém das três substâncias que compõem quaisquer das formas que designamos
princípios espirituosos: Enxofre, Sal e Mercúrio, emanados da imaginação e da intenção
do Criador.

NOTA 14: Estes são os três elementos utilizados pelos Alquimistas, e que compõe todos os
corpos como veremos.

Tendo sido produzidos em estado de indiferença, estes três princípios foram dispostos para
serem adotados em todas a formas corporais com uma consistência mais consolidada,
assim como também as formas de que devem revestir-se os espíritos perversos para sua
maior influência. Por conseguinte, os corpos de Caim e os de suas irmãs eram compostos
das mesmas substâncias.
Assim fica compreensível o fato de os espíritos perversos, e seus agentes, preferirem a
forma humana a qualquer outra; é que esta forma humana havia sido inicialmente
destinada para eles.

NOTA 15: Eis aqui uma informação chocante: o que não era para o homem, acabou sendo dele.
Mesclou-se com o mal.

Uma prova da íntima ligação dos espíritos malignos com o homem está registrado nas
palavras de Cristo aos seus apóstolos, quando terminou suas orações no Jardim das
Oliveiras e os encontrou dormindo: “Não durmais, que a carne é fraca e o espírito está
pronto”.
É nessa facilidade, de se unir e corromper os princípios espirituosos inatos no homem, que
o intelecto demoníaco insinuou-se e uniu-se inteiramente a Caim e suas duas irmãs, vindo
a seduzir o agente espiritual (a alma) que neles estava encerrado agir conforme ao
Criador. Essa insinuação produziu tal condição, que Caim e suas duas irmãs não tiveram
mais poder para se livrar da íntima correspondência que reinava entre eles. Para eles era
tudo um só pensamento, uma só intenção e uma só ação.
É destes três, sob controle do príncipe dos espíritos perversos, que surge o número
novenário de matéria, ou seja: adicionando os três princípios espirituosos e essências
primeiras, as suas três virtudes e os seus três poderes, temos:
1º - Três princípios de Caim, três da irmã mais velha e três da irmã mais nova = 9
2º - Três virtudes de Caim, três da irmã mais velha e três da irmã mais nova = 9
3º - Três poderes de Caim, três da irmã mais velha e três da irmã mais nova = 9
Adicionando-se o produto de todos estes números temos 9+9+9=27, onde somando 2 e 7 =
9
Multiplicando 27 por 9 teremos 243, onde 2+7+3 = 9. E assim sucessivamente.

Retomemos agora o curso dos acontecimentos após o crime de Caim.

Caim e sua reação ao espírito divino após seu crime

Após o ato criminoso contra seu irmão Abel, Caim se retirou para sua morada, onde,
refletindo sobre seu crime, lhe surgiu uma voz espiritual divina que lhe perguntou o que
fizera a seu irmão. Caim então respondeu com brusquidão: “Porquê, entregaste-o à minha
guarda ? Diante desta resposta o espírito o fez cair por terra; e Caim nesta situação
implorou ao Criador: “ Senhor! Os que me encontrarem me matarão”. Perante isto, o
Eterno, por sua misericórdia divina e evitando a Caim a humilhação e vingança que sua
posteridade exerceria sobre ele, fez com que fosse marcado pelo espírito com um selo, que
disse: “Pelo Eterno, aquele que ferir Caim de morte será punido de morte sete vezes”.
Caim retirou-se em seguida com suas irmãs para o lugar que lhe fora relegado pelo
Eterno.
Neste lugar Caim teve sua posteridade, como veremos a seguir.

PARTE VII

A posteridade de Caim.

Sendo relegado ao lugar onde o Criador o destinou, Caim teve ali sua posteridade de 10
homens e onze mulheres. Construiu também uma cidade, lembrando-se de cavar nas
entranhas da terra para retirar as matérias que iria utilizar para fins convenientes. O
segredo, tanto para fundição de metais, como para a descoberta das minas, ficou com seu
filho Tubalcaim.
Caim que era um grande caçador, educou também seus filhos para a caça, sobretudo ao
décimo, no qual pusera toda sua dedicação, e ao qual deu somente o talento da caça. Este
filho se chamava Booz, que quer dizer filho de ocasião.
Os outros filhos de Caim eram dedicados aos trabalhos de imaginação e às obras manuais.

A morte de Caim pelo seu filho Booz

Certo dia, Caim tendo resolvido ir à caça de animais ferozes, acompanhado de dois netos
seus, para dali a dois dias, não avisou seu filho Booz de sua decisão. Este por sua vez
também planejou sua caçada para o mesmo dia que o do seu pai, na companhia de dois
sobrinhos, filhos de Tubalcaim, e que também não avisou ao pai. No dia planejado
partiram para a caça; mas Booz, sem saber, tomou o mesmo caminho que o pai. Ora,
encontrando-se então os dois grupos na mesma mata, e tendo Booz notado na mata,
chamada Onam, que quer dizer dor, a sombra de uma figura, que acreditando ser uma
fera, lançou uma flecha que acabou por transpassar o coração de seu pai Caim. Não é
difícil avaliar a surpresa, agitação e dor de Booz ao ver seu pai morto por suas próprias
mãos, ao se enganar atirando a flecha. A dor de Booz foi ainda maior por estar consciente
da punição e da ameaça do Criador havia lançado contra aquele que tocasse Caim de
morte. Sabia que quem cometesse tal transgressão seria punido sete vezes sete punido de
morte por isso.
Booz chamou então os dois sobrinhos que o acompanhavam e colocou-os diante do pai
morto, contando-lhes o que ocorrera: “Meus amigos, vós sois testemunhas do meu crime;
embora voluntariamente, transgredi as ordens e a proibição do Criador, sou culpado
perante o Eterno e perante os homens. Sou o mais jovem dos filhos de Caim; o último de
sua posteridade, o mais culpado e o mais criminoso. Vingai, na pessoa deste último
nascido, a morte do seu pai, e o escândalo que acaba de vos dar”. O intelecto demoníaco,
que sabe da fraqueza humana, suscitou logo uma paixão exaltada de vingança nos dois
sobrinhos pelo crime cometido. Mas, quando prontos para disparar suas flechas, uma voz
se fez ouvir: “O que ferir de morte aquele que matou Caim, será punido setenta e sete
vezes de morte”. Diante desta terrível ameaça espiritual divina, entregaram suas armas a
Booz, dizendo: “O Criador perdoou-te, Booz, pela morte que deste ao teu pai Caim. Nós
somos agora os mais culpados perante o Eterno, pois concebemos voluntariamente
executar sobre ti o nosso pensamento vingativo”. Booz respondeu então a eles: “Que seja
feita a vontade do Criador”.

NOTA 16: Novamente a questão do erro (ação), da vingança (reação), da conseqüência (carma),
do arrependimento, e de se fazer a vontade de Deus ... Quem tem olhos para ver e ouvidos para
ouvir ...

Após essa ocorrência infeliz, retornam todos para a cidade. A tristeza e o abatimento que
apresentavam colocaram a posteridade Caim na maior consternação, ainda mais por ter
sido pelo último dos filhos. Vendo-se frente à hostilidade geral da posteridade primeira de
Caim, e forçado a abandonar essa horda possessa pelas forças do intelecto demoníaco,
retirou-se para o deserto de Jereniaz, que quer dizer escutai o Criador. Foi ali que Booz
terminou seus dias em contrição e penitência.

O tipo de Booz

Paquallys nos oferece a descrição do tipo de homem que Booz representa com sua retirada
para o deserto. Vejamos: sendo Booz o último dos filhos de Caim, e completando o número
denário (10) dos filhos homens, é provável que tenha tido alguns dons espirituais divinos,
para ser o exemplo real da grande misericórdia que o Criador concede em quaisquer
circunstâncias, para vantagem do homem e também do maior dos perversos, se solicitarem
sinceramente.

NOTA 17: Eis aqui outra chave: a misericórdia divina está sempre disponível mediante o
arrependimento sincero.

Entraremos agora na explicação de Martinez de Pasquallys do tipo de Booz, assim como a


entendemos no momento atual. É nossa primeira incursão direta na interpretação de um
trecho. Vamos a ela.

O tipo de Booz é aquela figura que representa o homem que pertence a um grupo ou
comunidade condicionado aos valores distorcidos pelo erro de um ou alguns poucos, que
participa e perpetua regras, cultos e rituais impróprios ao Criador e à reconciliação com
Ele, bem como os receios pelas proibições impostas e suas punições ao transgredi-las, mas
que permanece neste contexto por razões familiares, étnicas e de afinidade, na maioria das
vezes com consciência disso (menor ou maior, segundo seu entendimento e sua
conveniência), e se tiver alguma tendência espiritual sintonizada com o Bem, acaba sendo
retirado do convívio de seus pares quando uma emoção muito forte, uma comoção,
provoca uma tomada de consciência mais direta e espiritual com a Divindade.
Eventualmente este processo já estaria em andamento, faltando apenas o “toque” do
despertar, determinante e muitas vezes doloroso e contrito. A comunidade normalmente se
torna hostil para com ele e o repele, porque se tornou “diferente”, e em raras exceções
alguns se juntam a ele e o seguem solidários. Podemos considerar que isso é provocado
pela Justiça e Misericórdia Divina.
Foi o que aconteceu com Booz, e em todos os tempos com o homem, segundo nosso
entendimento.

Com o exemplo de Booz, vemos como o Criador, em um alento ao arrependimento e às


solicitações do homem sincero, o atende em sua infinita justiça e misericórdia, em
detrimento dos espíritos perversos.
Ora, está claro também que está no poder do homem separar-se, quando entender que
deve por um ato de vontade própria, das influências e correspondências contraídas com o
príncipe dos perversos através do intelecto. É só querer, e querer é poder (o trocadilho é
para lembrar o dito popular – verdade espiritual).

NOTA 18: Impressiona a beleza e a clareza em como se apresenta a chave mestra. Quem tem
olhos para ver ...

Também devemos compreender que com a proibição de se matar Caim, o Criador fazia
uma advertência aos espíritos perversos de que estava ciente da conduta de todos eles, e
prevenia aos homens as abominações que estes espíritos maus poderiam fazer contra eles.
Como os espíritos perversos preferem o homem à besta (animais irracionais), porque o
homem é a imagem e o ensaio geral da grande obra do Criador, e ele, o homem, traz na
sua forma a figura real que surgiu na imaginação do Criador, e dentro dela (o corpo
fisico) um ser espiritual mais potente do que eles, não é difícil de concluir o porque o
príncipe dos espíritos decaídos ataca com seus espíritos intelectos maus a forma corporal
do homem. Ora, se o animal irracional não apresenta figura nenhuma de grande obra do
Criador, e nele não contém nenhum ser espiritual divino que esses espíritos possam
corromper, então se concentram no homem.

A terceira posteridade de Adão

Vimos como Adão foi reconciliado perfeitamente com o Criador por meio de Abel.
É necessário compreender que, sem esta reconciliação, a natureza universal, geral e
particular não existiria da forma que conhecemos hoje, considerando que o tempo em que
tudo o que aconteceu até agora tivesse sido o mesmo. Mas conferindo o conteúdo do
Tratado, vemos que isso foi necessário porque o Criador havia posto em Abel todos os
dons e poderes para agir, em toda sua extensão, para a manifestação da glória divina para
vantagem da criatura e vergonha dos espíritos perversos, e, com sua morte, era preciso
que todos esses dons se revertessem sobre um outro escolhido entre os homens.
Como os decretos do Criador são de uma imutabilidade irretocável, Adão concebeu então
uma terceira posteridade (a primeira foi Caim, a segunda Abel) em conformidade com a
vontade Divina, e que se chamou Seth, que quer dizer admitido à posteridade de Deus. Foi
este homem que herdou todos os dons e poderes que Abel havia possuído, acrescentado o
da estabilidade das leis da natureza, do curso de suas diferentes revoluções e dos sucessos
temporais que ocorrerão nela enquanto permanecer na imaginação divina.

NOTA 19: Pasquallys faz aqui uma menção direta de que a Criação é uma imagem no
pensamento de Deus, que
quando Ele deixar de pensar ela desaparecerá e com ela a criação como a conhecemos até aqui.
O Criador, então, instruiu ele mesmo a Seth, o bem aventurado, por meio de seu enviado
espiritual Heli, a respeito dos secretos recursos espirituais divinos que continham toda
natureza, tanto espiritual quanto espiritual. Seth recebeu do Eterno todo o conhecimento
das leis imutáveis, e soube então que toda a lei de criação temporal e toda a ação divina se
assentava em diferentes números.
Foi ensinado que todo número é co-eterno com o Criador, e que era por esse meio que Ele
formava todas as imagens, todas suas convenções de criação, e todas suas convenções com
a criatura.
Todos devem saber que os sábios do passado e do presente sempre tiveram o número
denário em alta conta sob todos os aspectos. Ora, se eles tiveram e têm tanto respeito por
este número é porque aprenderam a conhecer-lhe a força e poder nas suas ações divinas,
por meio das quais obtiveram os mesmos dons concedidos a Seth. Estes sábios não
obtiveram estes dons para sua posteridade carnal, que a maior parte não chegou a ter, mas
só para educar e instruir os filhos espirituais que o Criador lhes dispunha, para os
tornarem instrumentos da manifestação da glória divina.

NOTA 20: Temos aqui uma indicação de Pasqually em relação aos mestres e seus discípulos.
Este trecho também
permite especular se ele obteve os dons divinos, e se os transmitiu a seus Ellus Cohen
(Sacerdotes Eleitos).

Nas palavras de Pasqually, foi entre esta posteridade espiritual que se perpetuou o
conhecimento deste notável número denário, no qual se continha toda espécie de número
de criação, e de onde se tirou todos os números terrestres, menores, maiores e superiores
que nele estava inatos, como foi ensinado ao bem aventurado homem Seth, e que a ele,
Pasqually, foi dito para ensinar ao homem de desejo.

Continuando nosso estudo veremos a seguir os aspectos e poderes divinos dos números, em
conformidade com os ensinamentos de Martinez de Pasqually.

PARTE VIII

Os números e os poderes divinos com a terceira posteridade de Adão

Registramos na Parte VII anterior que foi dado ao bem aventurado Seth todos os poderes
inerentes à criação, e a importância, qualidades e poderes do número denário, e que foi
dito a Martinez de Pasquallys ensina-lo ao homem de desejo. Vamos conferir este assunto
imprescindível ao Buscador.
Continuando, Martinez nos diz no Tratado que o número denário completa os quatro
números do poder divino, e dispõe este número denário em quatro algarismos a saber: 1,
2, 3 e 4.
Somando-se simplesmente estes quatro algarismos, 1+2+3+4, temos o total 10 ou número
denário, que é o grande e primeiro poder divino, no qual estão contidos as seguintes
somas:
3+4 = 7, que faz o segundo poder do Criador;
1+2 = 3, e 3+3 = 6 e temos o terceiro poder do Criador;
1+3 = 4, número quartenário que encerra os quatro poderes divinos do Criador contidos
no seu número co-eterno denário.
A seguir veremos como estes quatro números são aplicados na criação universal, geral e
particular.
O número denário é um número indivisível, ou que não pode sofrer nenhuma divisão. É ele
que completa, divide e sub-divide todo a criatura de número inato no templo universal,
geral e particular, corporal, animal, espiritual, divino. Eis porque este número foi sempre
tido pelos sábios como número único, o que representa a quádrupla essência divina, e se
refere a todos os seres espirituais provenientes deste mesmo número que só pode ser usado
pelo Criador. Portanto nenhum sábio faz uso dele.

NOTA 21: Pitágoras, em sua Tetraktys e Década, está diretamente inserido no contexto acima,
bem como muitos outros.

Foi pelo número denário, 10 ou , que a imaginação pensante divina concebeu a criação
espiritual divina, temporal.

Passemos ao número setenário. Este número, segundo poder da Divindade, extraído do


número absoluto denário, é o número mais que perfeito, empregado pelo Criador na
emancipação de todos os espíritos no seio de sua imensidão divina. A classe dos espíritos
setenários devia servir de primeiro agente e causa certa, para agir em toda espécie de
movimento nas formas criadas. Que observamos nessas formas ? Som, movimento, ação e
reação. Todas elas não seriam sensíveis para nós se não contivessem um ser inato a que
chamamos partícula do fogo incriado excentral, ou fogo incriado que está separado do
fogo divino central, e que as torna suscetíveis de todas as ações observadas nelas. Mas as
ações e movimentos não é resultante apenas deste princípio, inato na partícula, que não
produz coisa alguma nas formas corporais se não estiver sendo acionado por uma causa
principal superior: os agentes setenários divinos, que presidem todas as ações e
movimentos de todos os corpos, aos quais fazem manifestar os pensamentos e a vontade
que tenham concebido.

NOTA 22: Convém rever cuidadosamente este parágrafo, meditando sobre ele.

O senário, terceiro poder divino, é igualmente emanado do notável número denário, mas
não é tão perfeito e nem de poder e virtude espiritual quanto o número setenário porque
pode dividir-se em duas partes iguais, ou duas vezes três, o que não pode ser feito com o
setenário sem o destruir ou desnaturar.
O senário é o número pelo qual o Criador fez sair de seu pensamento todas as espécies de
imagens de formas corporais aparentes que subsistem na criação universal. Por este
mesmo número, o Criador faz
sentir à sua criatura, tanto espiritual como temporal, a duração do tempo que deve ter a
criação universal. Foi assim que sábios tiveram o conhecimento do princípio das formas e
dos limites impostos pelo Criador à duração de sua existência. Também para sabermos
que todo ser corporal se reintegrará no seu primeiro princípio pelo mesmo número que o
produziu.
E chegamos ao número quaternário, o quarto poder do Criador.
É o que completa a quádrupla essência divina, e é infinitamente mais perfeito que o
número senário, porque é o que contribui para a perfeição das formas extraídas da
matéria indiferente, porque dá o movimento e a ação à forma corporal, e porque preside
todo ser criado como sendo o principal número de onde tudo surgiu. Assim é chamado de
numero tornado potente do Criador, contendo em si toda espécie de número de criação
divina, espiritual e terrestre, como foi demonstrado mais atrás pelas diferentes adições dos
quatro algarismos que o compõe e cuja soma resulta no denário.

Eis porque o homem deve aprender todos os números de poder espiritual neles inatos,
pois teve a infelicidade de ser privado desses conhecimentos.

O número quaternário, enfim, é aquele de que se serviu o Criador para a emanação e


emancipação do homem; o que faz com que a alma seja chamada de vida eterna ou
impassiva

Antes de retornar nossa atenção à seqüência dos eventos cronológicos com Seth, vamos
considerar o quanto é considerada importante a figura do triangulo entre os sábios de
diferentes nações.
Adão, Enoch, Noé, Moisés, Salomão, Cristo, fizeram grande uso da figura do triangulo nos
seus trabalhos. E ainda hoje o vemos sendo utilizado e aplicado pelos construtores e
sábios.
Resumindo, esta figura do triangulo representa, pois, somente as três essências
espirituosas que cooperam na forma geral terrestre, onde temos:

Ora, foi só a junção do princípio espiritual ou do número quaternário, a estas três


essências que lhes deu uma união íntima, fomando uma só imagem e uma só forma, que
representa verdadeiramente o corpo geral terrestre dividido em três partes: Oeste, Norte e
Sul.

NOTA 23: Indo um pouco mais longe, podemos considera-los os meios para se atingir os fins, ou
o Leste.

Retornando à seqüência dos eventos da saga do homem, temos que Seth recebeu do
Criador todo o poder e toda a ciência completa, e vemos que isso ocorreu por meio da
Divindade, e não por meio de seu pai Adão, que lhe transmitiu somente o custoso
cerimonial que aprendera a conhecer por um longo trabalho de corpo, alma e espírito, e
nunca dos resultados espirituais de suas práticas espirituais temporais. Assim, convém
advertir o homem de desejo dos perigos de se usar estes três poderes ternários, seja em que
realização for, sem ter previamente recebido do Criador o poder quartenário, que nos foi
retirado com a “Queda” de Adão. É a falta deste poder quaternário que nos faz sentir
estarmos verdadeiramente na privação espiritual divina. É verdade que o homem pode sair
desta privação durante sua vida, mas nunca é por muito tempo, pois o Criador disse ao seu
homem reconciliado que nenhum conhecimento das leis divinas lhe seria concedido se não
o ganhar através dos trabalhos que lhe foram prescritos pela segunda vez. É desde essa
época que o homem é ignorante e limitado.

NOTA 24: Advertência muito séria feita acima por Martinez de Pasqually. Também no parágrafo abaixo, ref.
uso e abuso.

Seth, encarregado então de instruir os seus descendentes a respeito do culto, transmitiu ao


filho Enos, que quer dizer fraco mortal, toda a cerimônia e ação divina, espiritual e
terrestre, celeste, aquática e fogosa, recomendando-lhe, sob as penas mais terríveis, que
não devia nunca abusar dos ensinamentos confiados pelo Eterno, assim como os resultados
provenientes dos seus trabalhos espirituais; proibiu-lhe de fazer ligação com os profanos e
com os filhas da posteridade de Caim, para que a posteridade de Deus a partir dele, Seth,
nunca se unisse com a posteridade de Caim.

Mas também veremos que esta posteridade de Seth e seu filho Enos não tardou a se
corromper através das alianças feitas com a posteridade de Caim, perdendo assim todos os
conhecimentos espirituais divinos que Seth lhe transmitira.

Esta posteridade de Enos subsistiu assim até a sétima geração, quando surgiu o patriarca
Enoch.

Antes de continuarmos com Enoch: a sétima geração em Seth, cujo legado espiritual à
humanidade perdura, em fragmentos, nas Escolas legítimas da Tradição Espiritual,
consideraremos a seguir um breve um resumo das Partes IV a VIII.

Resumo - Partes IV a VIII

A posteridade de Adão e conseqüências.

Ao iniciarmos a Parte IV, registramos ali o que o estudo do Tratado nos mostra em
toda sua extensão, como uma advertência, o porque devemos fazer da nossa
vontade a vontade de Deus:
- os primeiros espíritos decaídos gozam de inteira liberdade, e agem segundo sua
vontade pensante atuando continuamente contra a criação, e que não receberão o
perdão divino enquanto não se arrependerem.
- o objetivo do principal perverso deles consiste em procurar tornar o homem
submisso às suas leis obscuras, fazendo-as parecer tão precisas e claras como as
que o Criador legou à sua criatura.

Vimos a seguir, Adão reclamando o perdão de Deus ao confessar seu ato,


obtendo a reconciliação, e dando o nome de Eva à sua criação. O Criador
abençoou a obra de Adão dizendo-lhe para prover com ela uma posteridade
segundo sua Vontade Divina. Mas, com paixão desenfreada, Adão gerou com Eva
Caim e duas filhas sem as bênçãos do Criador, comprometendo assim sua
posteridade. Com o nascimento de Abel, concebido com a benção divina, Adão se
reconciliou com Deus através a morte deste por Caim, que se uniu ao espíritos
perversos em seu pensamento e vontade. Adão recebe a explicação da morte de
Abel por um Anjo, selando sua reconciliação com o Criador.
Caim por sua vez, foi relegado pelo Criador a um lugar onde teve sua posteridade,
com seu filho Booz sendo o décimo e ultimo de sua linhagem masculina direta.
Com Booz vemos o Criador atendendo às solicitações do homem que se
arrepende de seus erros, e que no ato de vontade própria está o poder de se
separar das influências, armadilhas e ligações com o príncipe dos espíritos
perversos.
Vimos também a terceira posteridade de Adão, seu filho Seth, e como ele foi
dotado pelo Criador nas ciências divinas. Mas Enos, filho de Set, apesar das
orientações e proibições do pai, se corrompeu através de alianças com a
posteridade de Caim, comprometendo de novo a posteridade de Deus que surgiria
a partir dele, e perdendo toda a ciência espiritual que seu pai lhe transmitira.

Se, até o ponto acima estivermos vendo claramente,

- o homem recebendo a benção e poder divino, mas indo contra os desígnios do


Criador por influência dos espíritos decaídos perversos por sua própria vontade
(livre-arbítrio),
- o homem se arrependendo e sendo perdoado por Deus, em sua infinita justiça e
misericórdia,
- depois de contrito e perdoado, volta a ser influenciado sucumbindo de novo aos
espíritos maus,
- novamente se arrepende e é perdoado com nova oportunidade de se reconciliar,
mas que volta a cometer erros que o afastam ainda mais do Criador, que
permanece, embora cada vez mais distante, pronto a perdoar e reconciliar os que
purificam o coração pelo verdadeiro arrependimento,
- que a geração seguinte fica cada vez mais distante do Criador pelos erros da
geração anterior por influência dos espíritos decaídos, mas que ainda assim Deus
continua próximo do homem através de seus agentes espirituais divinos,
encarnados ou não, evitando assim queda maior,
então podemos resumir as Partes IV à VIII, quanto às “chaves” oferecidas por
Pasquallys, assim:

- A vontade que não conter a presença de Deus leva ao erro, por permitir a
influência má.
- Que o verdadeiro arrependimento leva ao perdão e reconciliação.
- Que a humanidade se afastou cada vez mais de Deus, continua cometendo os
erros do passado por sua própria vontade, e está a cargo de todos a reconciliação
do homem para com Ele.
PARTE IX

Enoch: a sétima geração de Adão em Seth.

Depois de conferirmos como Enos, filho de Seth, desperdiçou a oportunidade de gerar a


posteridade de Deus ao se corromper fazendo alianças com a posteridade de Caim,
contrariando a vontade Divina, vamos prosseguir com Enoch, sétima geração do homem
Adão em Seth.

O pai de Enoch, Jared ou Ared que quer dizer homem iluminado, justo aos olhos do
Criador, com mais poder na virtude divina que os outros patriarcas, pela força do culto
divino que exercia para expiação dos erros da posteridade de Enos, foi preparado a cada
dia pelo espírito divino para ser o precursor de um ser justo destinado à condução e defesa
do homem contra as perseguições e ataques dos espíritos decaídos perversos. Ao nascer o
filho esperado, o pai colocou-lhe o nome de Deliacim, que significa: ressurreição do
Senhor na posteridade de Seth, e dando-lhe o apelido de Enoch que significa consagração.
O nascimento de Enoch causou uma grande satisfação entre a posteridade de Seth. Ele
apresentava o caráter do era e da sua missão, e sua passagem no mundo foi marcada por
um sinal dos céus: um sinal planetário, a que chamaram Lathan, que significa sinal de
confusão e dor terrestre. Este sinal, a passagem de um cometa retratado pela figura abaixo
que, constando no Tratado, deixou mais alarmada a posteridade de Caim, ao Sul, que a de
Seth.

Ora, sabedores do distanciamento que tinham do Criador, entenderam que seria o


prognóstico do flagelo que Deus iria lançar sobre eles. Mas esse sinal se tratava apenas de
um a estrela extraviada de seu círculo planetário, se aproximando mais perto da terra que
o habitual, como escreve M.Pasqually.

Continuando com Enoch, verificamos que ele seria aquele que proveria a reconciliação
das posteridades anteriores, através da prescrição da conduta que deveriam seguir para se
preservarem dos ataques dos seus naturais, temporais e espirituais, servindo de base
fundamental para perpetuar o culto de correspondência divina, ou seja, com ligação
divina. Vejamos então qual o culto que Enoch professou entre os descendentes de Seth.
Ele foi o primeiro a erguer entre eles um altar, e era no centro deste altar que Enoch
recebia as dádivas de seu culto, e onde se oferecia a si próprio em sacrifício. Ensinou a
elevar edifícios divinos sobre o altar; profetizou a justiça do Criador sobre toda a terra em
punição aos crimes da posteridade de Caim e do restante da de Seth que se juntara a
Caim; firmou as alianças da posteridade de Seth, defendendo que os filhos do Criador
divino se unissem com os filhos dos homens.

Obs. de Pasquallys: Não é difícil entender quem são os filhos dos homens se considerarmos, por
tudo o que vimos em sua “Queda”, o resultado da criação de Adão.

Enoch também profetizou os verdadeiros eleitos que deveriam nascer do Eterno, fazendo
ele mesmo a eleição de dez indivíduos para realizar o culto divino junto da posteridade de
Seth.
Assim vemos Enoch representar o grande tipo de homem do cerimonial e do culto divino
entre os homens do passado, e os de hoje, como devemos entender examinando seu culto
nas explicações de Pasquallys a seguir.

O culto de Enoch

Enoch, que é afinal um espírito divino sob a forma corporal do homem, reuniu uma
assembléia espiritual divina, em virtude do grande desejo e boa vontade dos discípulos que
escolhera entre a posteridade de Seth e de Enos, dando-lhes o nome de “filhos do
Criador”. Estes discípulos foram levados a se entregar inteiramente à condução e
disciplina do santo homem Enoch , que instruiu, confortou e fortaleceu-os na fé e na
prática dos santos rituais, que só eles conheciam desde a primeira vez que lhes foi
mostrado. Entre eles foram escolhidos dez discípulos, aos quais declarou a vontade do
Criador e lhes prescreveu uma cerimônia e uma regra de vida para invocar o Eterno em
santidade. Fez esses 10 eleitos elevarem uma construção que tinha uma só divisão ou
muralha, para assisti-lo nos santos rituais. Deu a cada um deles uma letra inicial dos
santos nomes de Deus; que formavam ao todo
dez letras, a fim e que seguissem com regularidade e precisão todos os rituais agradáveis
ao Criador e vantajosas para os homens reconciliados. Após o primeiro ritual enviou cada
um para sua tenda ou residência que ele próprio lhes fixara, e que Moisés reproduziu
depois no acampamento do Levitas (sacerdotes) em torno da Arca.
Enoch reuniu os discípulos dos rituais divinos com seus dez eleitos de dez em dez semanas,
e a cada reunião lhes transmitia uma nova letra inicial do santo nome de Deus, de forma
que em sete reuniões cada um recebeu duas palavras poderosas com as quais comandava
todas as coisas criadas desde a superfície da terra até a superfície celeste. As duas
palavras consistiam de sete letras, das quais quatro formavam o nome temível, potente e
invisível do Eterno.

NOTA 25: Podemos especular aqui o porque Pasqually denominou seus discípulos de Ellus
Cohen (Sacerdotes Eleitos).
Esses dez chefes, reconduzidos que foram por Enoch nas suas primeiras virtudes e poderes
espirituais divinos, fizeram, por suas vontades santas, tão grandes prodígios que atraíram
vários membros de suas famílias, instruindo os homens tocados pelo espírito santo nas
ciências que possuíam pelo poder e instrução de Enoch.
O números de discípulos tornou-se considerável em pouco tempo, mas não se mantiveram
todos na mesma virtude e poder. O que perverteu vários deles foi a conduta atroz de um
dos chefes admitidos por Enoch à reconciliação divina, que provocou o desentendimento e
espalhou um tom de desprezo sobre as instruções que tinham recebido de Enoch.

NOTA 26: Novamente o homem caindo no erro por influência dos espíritos perversos.

Este espírito de revolta tornou-se tão forte entre os novos que estes abandonaram
inteiramente o Criador, ficando nos prazeres da matéria sob a condução do chefe
pervertido.
Assim os eleitos ficaram em número de nove sobre a terra. Pois bem, esses nove justos
encheram-se das forças e dos conhecimentos de Enoch, pedindo-lhe que se unisse de novo
a eles e substituísse aquele irmão que o espírito perverso lhes roubara.
Enoch acedeu ao pedido deles, e os reuniu comunicando-lhes inteiramente seu segredo.
Foi aí que elegeu o substituto daquele que se perverteu; mas acrescentou que o escolhido
só entraria na virtude e poder divino quando eles tivessem feito a expiação dos seus
pecados durante sua vida temporal, e quando a justiça divina tivesse punido os
pervertidos.
O coração daqueles nove justos foi tão abalado que ficaram em uma espécie de torpor
durante cerca de uma hora. Durante esse tempo, Enoch invocou ao Criador em favor
destes nove discípulos, que viram então todos os flagelos com os quais o Criador haveria
de castigar a Terra e o resto de seus habitantes.
Ao retornarem à consciência, soltaram um imenso grito ao ver Enoch, e disseram-lhe:
“Como é possível, mestre, que tudo o que acabáramos de ver possa suceder nesta terra ?
Não poderíeis aplacar com as vossas orações a fúria daquele que vos enviou entre nós, e
retirar os flagelos que Ele se propõe lançar sobre a Terra e sobre todos seus habitantes? A
visão que tivermos não é falsa: o Criador é justo, e vós sois santo, forte e invencível”.
Enoch respondeu-lhes: “Quem vos instruiu então acerca de mim? Sede todos como um só
homem, sereis igualmente santos. Sede todos uma mesma lei, sereis todos fortes. Sede
submissos à mesma regra de vida, que vos prescrevi, e sereis eternamente homens
espirituais invencíveis. Tal é a vontade do Pai e do seu Espírito Santo sobre seu filho. Sede
Todos filhos do Todo-poderoso cá embaixo, e sabereis que aquele a quem chamastes
Enoch é o Espírito do Pai que está no alto”.

NOTA 27: Também Jesus usou dessas palavras. Assim, parece estar indicado aqui quem era
Enoch: o Cristo.

Mal Enoch acabara de falar e abençoara os nove discípulos, e uma nuvem de chamas
desceu do céu e arrebatou esse espírito santo para conduzi-lo ao seu destino.
Os seus discípulos ao perde-lo de vista lamentaram-se e disseram: “Que será de nós, ó
Eterno, sem a assistência do nosso mestre Enoch! Porque o arrebatais do seio dos seus
irmãos e discípulos? Se a Terra é culpada, de que é que nós, homens corporais, devemos
ser responsáveis, senão do sangue material que dela recebemos, e que abandonamos à tua
justiça? Escuta, Senhor, as nossas súplicas, e tem piedade dos teus filhos e dos teus
servidores”.

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