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15/09/2018 ConJur - Perda do Direito de propriedade ao imóvel que servia como residência familiar

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ARTIGO NOVO

Perda do Direito de propriedade ao imóvel


familiar
12 de julho de 2011, 8h49 Imprimir Enviar 34 0 0

Por Eleonora Mattos e Silvia Felipe Marzagão

No dia a dia dos advogados especialistas em direito de família, é possível


perceber a noção disseminada entre muitos clientes no sentido de que a
parte – homem ou mulher - que abandonar a residencia conjugal por
ocasião do final de seu casamento ou de sua união estável será prejudicada
em eventual processo judicial futuro, especialmente em caso de litígio.

Até recentemente, cabia aos profissionais esclarecer que não havia


nenhuma penalidade patrimonial específica para quem praticasse o
chamado “abandono de lar”, sendo o fato evidência, apenas, de que o
relacionamento havia chegado ao fim. A circunstância era importante, LEIA TAMBÉM
assim, sobretudo para o início da contagem do prazo até recentemente USUCAPIÃO URBANO
exigido para a decretação da separação e do divórcio das partes, bem como Quem abandonar o lar corre o risco
para delimitar o momento a partir do qual os bens deixavam de se de perdê-lo para sempre
comunicar e que os deveres conjugais ou decorrentes da união estável
MODELO CAPITALISTA
deixavam de ser exigidos.
Direito Econômico nos EUA dita as
Essa realidade, todavia, mudou completamente a partir da publicação da regras do direito de propriedade
Medida Provisória 514 de 01/12/2010, convertida na Lei 12.424 em 16/06/11.
POST MORTEM
É que por meio da inclusão do artigo 1.240-A no Código Civil instituiu-se em Estado não perde com cessão de
nosso ordenamento nova modalidade de usucapião, segundo a qual “Aquele herança, que é economia para cedente
que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse
direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
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cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou
ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de
sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja Linkedin RSS Feed
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.”.

Em outras palavras, prevê a nova disposição do Código Civil que aquele que
deixar o imóvel que servia de residência à família após dois anos perderá o
direito de propriedade sobre o bem em favor do outro que permaneceu no
imóvel, desde que não tenha contra a circunstância se insurgido e que o bem
seja urbano, tenha menos de 250m2 e seja o único da parte que nele
continuou a residir com exclusividade.

https://www.conjur.com.br/2011-jul-12/perda-direito-propriedade-imovel-servia-residencia-familiar 1/4
15/09/2018 ConJur - Perda do Direito de propriedade ao imóvel que servia como residência familiar

Essa inovação legal certamente será bastante polêmica, pois, até a


promulgação da norma em questão, os motivos ou o modo como a entidade
familiar chegou ao fim (infidelidade, agressão física ou moral, abandono
etc.) não exerciam qualquer influência sobre à partilha dos bens comuns, a
qual era realizada segundo as regras do regime de bens eleito pelo casal
(assim era que, mesmo a parte considerada culpada pela falência do
relacionamento fazia jus a meação, caso unida em regime da comunhão
parcial ou universal de bens). Agora, todavia, não é mais dessa maneira, pois
a forma como se deu o rompimento fático do casal – mais especificamente
com ou sem abandono do lar – definitivamente poderá produzir efeitos
patrimoniais entre as partes.

Nesse aspecto, da simples leitura do dispositivo é possível verificar que o


legislador elegeu critérios objetivos para a extinção do direito à
propriedade, dando margem à situações que poderão não ser as mais
acertadas.

Dá-se como exemplo a hipótese em que a esposa/companheira, ao


abandonar o lar por não mais suportar o tratamento agressivo do
marido/companheiro a si e aos filhos, estar sujeita ao risco de perder o seu
direito de propriedade sobre o bem caso não consiga comprovar que sua
saída do imóvel foi legítima (não é difícil perceber, assim, que muitos
preferirão continuar a viver as agruras da convivência sob o mesmo teto a
assumir a chance de perderem patrimônio). Ou, ainda, uma vez que a regra
se limita a prever como um dos pressuposto de sua aplicação apenas que as
partes dividam a propriedade do bem - sem, contudo, prever claramente a
porcentagem de cada qual -, a parte que deixou o lar poderá perder a
propriedade do imóvel ainda que detenha muito mais do que 50% dele e, o
que também é preocupante, este seja seu único imóvel.

Por fim, mostra-se importante registrar que, sob o prisma das correntes
mais atuais do direito de família, igualmente a norma não é bem-vinda.

Afinal, a regra encontra-se na contramão da tendência que defende que ao


Estado não cumpre identificar ou punir qualquer das partes pelo fim das
relações afetivas – se é que é possível encontrar culpados quando
relacionamentos amorosos chegam ao fim -, atribuindo ao Judiciário o ônus
de analisar as circunstâncias afetas ao rompimento daquela entidade
familiar (judicialização do conflito de ordem amorosa).

Verifica-se, portanto, que atualmente há efetivamente uma penalidade


patrimonial para aquele que abandona o lar, sendo impreterível que, para
fugir dos nefastos efeitos da nova regra, sua saída seja juridicamente
regulamentada quer por instrumento particular (em caso de comum
acordo), quer por medida judicial (em caso de impossibilidade de consenso)
que resguardem que, independentemente da ocupação exercida por quem
no imóvel continuar residindo, tal fato não será suficiente para extinguir o
direito à propriedade de quem o deixou.

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Eleonora Mattos advogada da área de família.

Silvia Felipe Marzagão advogada da área de família.

Revista Consultor Jurídico, 12 de julho de 2011, 8h49

https://www.conjur.com.br/2011-jul-12/perda-direito-propriedade-imovel-servia-residencia-familiar 2/4
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COMENTÁRIOS DE LEITORES
4 comentários

O DIREITO NÃO PROTEGE QUEM DORME


marcoslawyer (Advogado Sócio de Escritório - Consumidor)
13 de julho de 2011, 9h29

Quem realmente tiver interesse no imóvel comum não poderá mais deixar para tomar
providências quando bem entender. Creio, também, que com o a criação desta nova
modalidade de usucapião as pendências ao fim do casamento terão dia certo para acabar,
ou seja, dois anos. Ao fim de algum tempo da disseminação deste direito, com certeza,
será aumentada a sensação de segurança jurídica. O legislador foi sensível ao atacar uma
eterna fonte de conflito.

CONSPIRAÇÃO CONTRA O CASAMENTO


www.eyelegal.tk (Outros)
12 de julho de 2011, 22h50

Essa lei combinada com a Lei Maria da Penha vai dar origem a uma indústria de pedidos
de medidas protetivas para que a mulher fique com a residência do casal.
.
É o estímulo oficial para a cada vez maior formação de famílias chefiadas apenas por
mulheres, uma vez que a "casa", assim entendida como espaço de convivência da família,
fica sujeita a ser uma forma de recompensa por colocar o marido para fora do lar e
afastá-lo dos filhos.
.
Cresce cada vez mais o número de acusações falsas de agressão, ameaça ou violência
doméstica como atalho para obter a separação de corpos nos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar, como forma de manter a mulher na posse dos bens, da residência
do casal e com a guarda dos filhos.
.
É um conjunto normativo de desestruturação familiar no atacado que não tem outra
lógica senão de facilitar e promover a desagregação das famílias.
.
Essa medida não tem uma repercussão meramente na esfera patrimonial, mas
principalmente psicológica, pois se em dois anos não houver oposição do marido ou
companheiro, ou até mesmo havendo, este poderá perder a propriedade do imóvel.
.
A questão patrimonial é um ponto muito importante sempre considerado pela mulher
que deseja se separar.
.
Quando o relacionamento está desgastado e ela pensa que não tem o que perder, não há
mais nenhuma razão para manter a união. Imagine se ela sai ganhando nessa história,
pois não precisa mais do sujeito para ter uma casa para morar.
.
Não vemos o Estado promovendo o casamento estável e a reconciliação das famílias,
vemos o Estado promovendo a destruição das famílias.
.
Além, é claro, das novas configurações exóticas de pseudo famílias.

USUCAPIÃO FAMILIAR AINDA TRARÁ MUITOS DEBATES


Mônica Castro (Advogado Sócio de Escritório - Civil)
12 de julho de 2011, 15h11

É realmente preocupante como a propriedade foi tratada pelo legislador, nesse caso. Já
não discutíamos a culpa, culpa esta que não impede nem mesmo o culpado de receber
alimentos em caso de necessidade, caso não tenha parentes em condição de alimentá-lo,
nem aptidão para o trabalho (art. 1.704, p. único do CCB), como poderia então perder a
propriedade?
Acho que temos muito a discutir.
Mônica Castro

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