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Relato de Experiéncia DAR A VOLTA A “VOLTA” Ana Botas. Enfermeira / Centro Hospitalar de Settibal, EPE - Hospital de Sao Bernardo ~ Servico de Pediatria Fernanda Loureiro. Enfermeira / Centro Hospitalar de Settibal, EPE ~ Hospital de Sao Bernardo Unidade de Urgéncia Pedistrica. RESUMO. ttigo de reflexdo acerca da “volta” como A crtarapea en corions Parte-se de uma perspectiva biomédica e através de discussio e reflexio pratica de de pediatria, encontram-se diferentes perspectivas tedricas que fundamentam esta pratica. Palavras-chave - Volta, enfermagem. Cuid'arte - Revista de Enfermagem ABSTRACT feflexive article about the “round” as a biomedical perspective and through discussion and reflection different theoretical perspectives that underlie this practice where found. Key words - Round, nursing Novembro 201041 INTRODUGAO. jerante a complexidade de situacSes com as quais P* enfermeiros se deparam na sua pratica de cui- dados, emerge a necessidade constante de reflectir, pensar e (re)pensar a Enfermagem. De acordo com MITCHELL (2002: 209) “all disciplines have theories that guide their members in practice and research activities‘ Desta forma, quando se aborda a reflexao € 0 pen sar em Enfermagem, decorre instantaneamente o corpo cientifico, pilar desta disciplina. No entanto, e ainda que perante um conhecimento proprio, SILVA (2007:14) refere que existe “..uma percepcao generali- zada de que o paradigma biomédico (...) €dominantee de que hd dificuldgdes de varia ordem (... em introduzir aspectos caracteristicos dos modelos expostos, nos mo- delos em uso: Decorrente do supracitado e, num contexto acadé- mico de especializaco em enfermagem na area de satide infantil e pediatria, elaborou-se um trabalho acerca de uma pratica tao antiga como a propria en- fermagem:a“volta’. Perante esta tematica definiram-se os seguintes ob- jectivos: identificar as origens da “volta nos cuidados de enfermagem, reflectir acerca do seu significado nos cuidados de enfermagem pedistricos e compre- ender de que forma a “volta® pode ser potenciadora do desenvolvimento profissional e dos cuidados de satide. No ponto de partida para este trabalho, foram muitas as ideias para a sua elaboracdo. Deliberadas entre 0s dois elementos, no trajecto casa / escola, rapidamente se percebeu que o verdadeiro trabalho se construiu na partilha e discussdo de pensamentos, diividas e ideias no espaco fisico de um automével. Assim, e porque 0 espirito criativo é uma ferramen- ta basica do trabalho das enfermeiras em pediatria, estrutura-se 0 trabalho em tom de ‘conversa’. Trata- se de um registo que espelha a reflexao e discussao conjunta e também a pesquisa bibliografica realizada sobre o tema e as teorias de enfermagem. Parte-se da prética para a teoria, reflectindo sobre os cuidados & luz das teorias mas, também no sentido inverso. Isto €, @ partir da teoria (re)pensar a pratica 42 Cuid'arte - Revista de Enfermagem DESENVOLVIMENTO AVolta eas suas origen: Volta? orque acontece a Ana (A) ~ Pensando um pouco sobre as questoes que as diferentes escolas do pensamento em Enfer: magem colocaram ao longo dos tempos, afinal o que € que os enfermeiros fazem, como o fazem, porque 0 fazem e para quem fazem? “A praxis de enfermagem é tao vasta e nem sempre re- flectimos o suficiente acerca dela(, cas de enfermagem que de- .) Algumas das prati- sempenhamos carecem des- se mesmo questionamento: © qué, como, porqué e para quem?” Fernanda (F) -Também fiquei de certa forma “inco- modada’, no bom sentido ¢ claro, com estas questées. Appraxis de enfermagem é tao vasta e nem sempre re- Algumas das pré- ticas de enfermagem que desempenhamos carecem desse mesmo questionamento: 0 qué, como, porqué e para quem? flectimos o suficiente acerca dela ‘A ~ No meu servico, outro dia alguém disse: ‘mos fazer a “volta’..." Para dizer a verdade nunca tinha va- ovembro 2010 pensado muito sobre este assunto - a “volta” - mas naquele dia fiquei intrigada...Suponho que o faze- mos para conhecer melhor as criangas e ter uma no- 0 geral de todo o servico. Sera? F —Sim, mas também podiamos olhar paraa lista de criangas que habitualmente est num quadro na sala de enfermagem e ficévamos com uma ideia. Porque & que no inicio do turno e no final se faz a"volta"? ‘A-Para haver termo de comparacao do inicio para © fim do turno. Percebe-se entdo, se houve alguma evolucdo da sua situagao clinica, percebe-se se as nossas intervencdes foram eficazes ou ainda, se existe algum problema ou necessidade da familia que ainda do foi diagnosticado. F-Também podemos pensar numa perspectiva his- t6rica. Sabemos que a histéria de enfermagem esté intimamente ligada a historia da medicina. Habitual- mente, os médicos fazem a ronda ou volta” a todos 05 doentes da enfermaria, em equipa. Aliés, ainda hoje essa é uma pratica comum. ‘A — MARTINS [et. al] (2003:70), referem-se a visita médica no contexto hospitalar, como sendo uma pré- tica em que “..sdo apresentados casos e discutidas as condutas médicas, os exames, as cirurgias e os medica- ‘mentos". Entao, podemos inferir que a “volta” poderd ter origem no modelo biomédico, ainda que o“olhar” seja bem distinto entre enfermeiro e médico. F ~ Bem, temos de pensar que quando na referida “volta’, observamos uma crianca e familia, apercebe- mo-nos de muitas realidades. Por vezes, existe um problema sobre 0 qual podemos intervir e que nao esta directamente relacionado com 0 motivo pelo qual a crianca/familia se dirigiu 8 urgéncia. ‘Tomamos como exemplo a crianca que recorreu 3 urgéncia porque apresentava lesdes na face, edurante "volta diagnosticou-se um défice de conhecimentos face a técnica de amamentagao. Neste caso olhamos a crianga / familia como um todo e nao apenas para © diagnéstico médico. QUEIROS (2000) refere que na enfermagem, ao contrario do que ocorre na medicina, Cuid‘arte - Revista de Enfermagem © diagnéstico incide na pessoa como um todo @ na forma como responde a problemas de satide / doenca em vez de se centrar num érgao / sistema especifico. “Neste caso olhamos a crianca/ familia como um todo e nao apenas para o diagnéstico médico.” A - SILVA [et. al] (2007), referem que Florence Ni- ghtingale evidenciava a necessidade de colheita de dados e observagao sistematica, pelo que, a imple- mentacao de intervencdes sistematicas, distintas de rotinas, como € 0 caso da ‘volta’, operacionaliza esta ideia. Aliés, o nomedama da lampada’ advém da“vol- ta’ que efectuava aos seus doentes durante a noite. Hoje em dia, esta pratica nao esta assim tao ultrapas- sada quanto isso, mas como 0s tempos s3o mais”mo: demos” uso uma lanterna para observar as criancas sem interferir com 0 repouso / sono destas. F- Na urgéncia, na falta de lanterna as vezes utili- zamos 0 otoscépio! O instrumento é diferente mas a ideia persiste. A pratica da volta: como se realiza? F - Bem no meu servico a “volta” é efectuada no inicio e no final de cada turno. € claro que, dado que éum servico de urgéncia vai depender das situacdes lit factores. Sempre que uma crianca fica numa maca, por exemplo, a efectuar arrefecimento para descida térmica ou a realizar hidratacao endovenosa, habitu- almente, logo que ocorre a passagem de turno uma enfermeira vai observar a crianga. Efectua a primei ra avaliacao ainda que alguém do turno anterior li tenha ido instantes antes, chamamos a isto a “volta” Est instituido como rotina. Segundo PEARSON e VAUGHAN (1992) a rotina de cuidados é uma prati- 2 tipica do modelo biomédico. Mas nao a entendo assim, muito mais do que verificar 0 soro ou avaliar a temperatura, esta pritica tem por objectivo fazer 0 primeiro contacto com a crianca / familia e perceber quais as suas necessidades icas, do movimento e de uma série de outros Novembro 2010 | 43 “(...)mais do que verificar 0 soro ou avaliar a tempe- ratura esta pratica tem por objectivo fazer o primei- ro contacto com a crianga / familia e perceber quais as necessidades da mesma.” ‘A Numa Optica de cuidados individualizados, parece-me um pouco desajustado efectuar a “volta” No servico de pediatria no inicio do turno a equil de enfermagem desloca-se a todos os quartos para “avaliar”as criancas. Por vezes, avaliam-se apenas pa- ramettos vitals € questiona-se 0s pi tos especificos: alimentacao, eliminagao etc. Mas jé constatei que outras colegas aproveitam esse mo- mento para outras intervengdes. Nomeadamente, avaliar sinais de dificuldade respiratoria, evolucao sobre assun- de lesdes, interagir com a crianga / familia utilizan- do como instrumento de intervengao o brincar, etc. Contudo, se trabalhamos numa metodologia de tra- balho individual parece-me ser uma pratica pouco congruente. F — Na urgéncia é semelhante, mas é efectuado, ha- bitualmente, apenas por um elemento. Ateoria da volta: que teoria? [A -Sa0 formas de“dar a volta" diferentes mas, o que é que esta subjacente a esta pratica? F -Ou seja, como é que esta pratica a operaciona- lizagdo de um modelo ou de uma teoria de enferma- gem? Pensando nos modelos que conheso nao cons go enquadré-la em nenhum em particular. A ~ Nao é bem assim. Ja percebemos que, histo- ricamente se enquadra no modelo biomédico. E, re- flectindo um pouco, ainda persiste esta concepsao. Alguns autores ainda referem 0 modelo biomédico como 0 modelo dominante (PEARSON e VAUGHAN, 1992 e SILVA, 2007). 44 Cuid'arte - Revista de Enfermagem F- Mas pensando na filosofia de Florence Nightin- gale, a fundadora da Enfermagem Moderna, o olhar de enfermeiro para a “volta” sai necessariamente do Ambito do modelo biomédico. Para além da observa- a0 dos doentes, esta teérica colocava énfase no am- biente e na forma como a intervencao sobre o mesmo pode ser potenciadora de bons cuidados. Quando a volta’ é realizada com o intuito de avaliar, meramen- te, parametros vitais ¢ de facto modelo biomédico. Se a ctianga tem como patologia pneumonia, avalia-se a saturacdo de oxigénio, se tem febre, avalia-se a tem- peratura...s0 patologias/parametros e nao criancas/ familias. ‘A- Quando realizamos a ‘volta’ e, para além de ava- liarmos esses parametros, questionamos a crianca/ familia, por exemplo, sobre a alimentacao, eliminacao, higiene...€ facil reportar esta realidade para a Escola das Necessidades. F- Virginia Henderson refere que a fungao da enfer- meira é assistir 0 individuo no desempenho das suas actividades, Esta autora especificou 14 necessidades basicas do doente, e as relagdes enfermeiro / doente tém por base a procura de independéncia nas mes- mas, desempenhando o papel de substituta, auxiliar ou parceira (TOMEY e ALLIGOOD, 2004). Ou seja, a0 realizarmos a “volta’, atendendo a esta perspectiva, procuramos a satisfacao das necessidades da crianca / familia. Também Roper, Logan e Tierney apresentam um modelo de cuidados de enfermagem centrado ‘em satisfazer necessidades, neste caso actividades de vida, mas atendendo ao ciclo vital num continuo de- pendéncia / independéncia (IBIDEM). ‘A - Neste sentido, a “volta” insere-se como uma pratica fundamentada teoricamente pela Escola da Necessidades. Segundo os modelos que fazem parte desta escola, 0 cuidado é centrado na independéncia da pessoa, na satisfagao das suas necessidades funda- mentais e na sua capacidade de realizar 0 seu autocul- dado (KEROUAC [et all, 1994). F—Mas por outro lado, hé pouco falamos em “volta” numa éptica de perceber seas intervencdes foram efi- cazes ou no, ou Seja, se obtivemos resultados. Novembro 2010 A-Mas essa ja & outra perspectiva. Pensamos agora na éptica da Escola dos Resultados. Callista Roy é um, exemplo deste tipo de perspectiva. Esta tedrica refere que a enfermeira modifica os seus cuidados para que a pessoa apresente respostas eficazes de adaptacdo (TOMEY e ALLIGOOD, 2004) F ~ Sim, neste sentido faz-me pensar nas reaccbes das criangas quando recorrem a urgéncia. Numa primeira abordagem, reagem com choro, distancia mento e apés uma pungao venosa a reaccao é ainda, mais exacerbada. Ao longo do turno, vou observar a crianga varias vezes, fazer a “volta” e utilizo interven- Ges de progressiva aproximacao. Verifico que com esta pratica obtenho bons resultados. As criancas tem atitudes favordveis e de colaboracao com os profissio- nals. Penso que atribuem um significado diferente a0 hospital. Neste caso a “volta' visa nao sé observar mas também capacitar a crianga / familia de mecanismos de adaptacao a situacao de hospitalizacao (TOMEY e ALLIGOOD, 2004; KEROUAC [et all, 1994). “Ao longo do turno vou ob- servar a crianga varias ve- zes, fazer a “volta” e utilizo intervengées de progressi- va aproximacao. Verifico que com esta pratica ob- tenho bons resultados. As criangas tém atitudes favo- raveis e de colaboragao com os profissionais. Penso que atribuem um significado diferente ao hospital.” Contributos: que potencial? F — A “volta” mais do que uma pratica de rotina, € falamos de rotina como algo que é efectuado de for- ma repetida independentemente das circunstancias, & uma pratica que potencia a relagao enfermeiro / doen- te. No meu dia-a-dia, apesar do facto de ser efectuada a tal"volta’ esta nao é sempre igual, como se partisse do Cuid'arte - Revista de Enfermagem pressuposto que todos os enfermeiros as 16h30 vao ve~ rificar todas as criancas que se encontram na urgéncia. Ha varios factores que sdo tomados em consideracao e através dos quais vamos estabelecer prioridades:a situ- ‘aco clinica das criancas, o contexto familia, a informa- (20 transmitida oralmente na passagem de tumo, etc. ‘A—Naurgéncia, ocontexto é um pouco diferente por- que nao existe um niimero fixo de doentes, mas antes um fluxo variavel. J4 na enfermaria, existe uma certa r0- tinizago. Como referem PEARSON e VAUGHAN (1992), hha rotinas que tém grande valor, como é 0 caso das ro- tinas de seguranca. Nesta éptica, podemos considerar a “volta’ também como uma rotina de seguranca. Permite entdo, a0 enfermeiro que inicia 0 seu tumo, observar as ccriangas que estdo soba sua responsabilidade, estabele- cer 0 primeiro contacto com crianca / familia, perceber ‘quais as necessidades afectadas e dar continuidade ao processo de enfermagem, complementando-o. F — Parece-me que nao podemos olhar para a inter- vengao simples, mas para o que a motivou. Esta “rotina® pode constituir um momento de exceléncia na apren- dizagem das enfermeiras, atendendo @ filosofia do cuidar de Patricia Benner. Por exemplo, utilizando a guagem desta mesma teérica, a observagao da crianca familia por uma enfermeia iniciada e uma enfermeira competente ou mesmo proficiente é distinta. BARTO- LO (2008-11), refere que “as potencialidades formativas do contexto e da situacao de trabalho sao condicionadas pelo tipo de contexto, pelas relacdes existentes, pelas de- cises tomadas, mas fortemente marcadas pela comur cago que se estabelece”. Logo, para os cuidados de satide quer para a propria apren- dizagem das enfermeiras em exist a “volta’, por pro- porcionar uma partilha refiexiva com distintas "lentes" “(...) as criancas e familias beneficiam porque recebem melhores cuidados e, 0 pro- fissional também, porque pela adopcao de um compor- tamento sistematico (...) ga- nha experiéncia e desenvol- ve-se profissionalmente (...)” stem beneficios quer Novembro 2010 | 45 A ~ De facto, BENNER (2001) refere que a experi éncia profissional é primordial e determinante no conhecimento pratico, sendo que este € adquirido com 0 tempo e situacées reais. Também PEPALU (cit. por ALMEIDA [et all, 2005), refere que nos cuidados de enfermagem ha beneficios para doentes e enfer- meiros, Esta autora considera a enfermagem como um proceso interpessoal ¢ terapéutico, através do qual enfermeiro e utente podem obter crescimento & desenvolvimento pessoal. Nesta perspectiva, as crian- ¢a5 e familias beneficiam, porque recebem melhores cuidados e 0 profissional também, porque pela adop- ao de um comportamento sistematico, neste caso a “volta, ganha experiéncia e desenvolve-se profissio- nalmente, F — Sim, mas nao me parece que apenas a adop- ‘go do comportamento seja 0 motor do desenvolvi- mento. € necessario existir reflexdo e evidéncia que dé suporte a esse desenvolvimento. A confirmacao da enfermagem como profissso é um proceso em construcao, sendo que o seu desenvolvimento deve- ré fundamentar-se na reflexao e na investigagao para gerar novos conhecimentos com pertinéncia histéri- co-social (OCHOA, 2005). A~ Mas serd que a “volta” é uma necessidade dos enfermeiros ou das criancas? F - Eu diria que é de ambos. A- Sim, para o profissional é claramente vantajoso e para a crianca também. Parece-me que hé o perigo de “derrapar” para o modelo biomédico, se falarmos em volta’ porque assim esté instituido, sem perceber- mos muito bem o porqué da pratica. Mas se formos capazes de ser flexiveis e adapté-la as circunstancias, entao estamos perante uma rotina saudavel e poten ciadora de bons cuidados, na éptica da crianca /fami- lia e do profissional CONCLUSAO Ex trabalho resultou de uma reflexao, ainda que .com caracteristicas especiais, sobre a volta’. Foi-nos possivel encontrar sentido numa pratica que nos pare- 46 Cuid'arte- Revis fa de Enfermagem eu, & primeira vista, pouco actual ou alicercada. Pela discussdo conjunta e pesquisa bibliogréfica, fundamen- tamos a origem da “voltaa par e passo com a evolugao historica da enfermagem. Do ponto de vista teérico a “volta’ encontra-se, na nossa éptica, enraizada na filoso- fia de Florence Nightingale, escola das necessidades ‘escola dos resultados como mais evidentes. Reconhece- ‘mos no entanto, que outros contributes se poderiam ter encontrado numa discusséo mais aprofundada. “A “volta” como modelo bio- médico puro deixou de fazer parte das nossas concepcdes individuais porque através desta reflexio compreende- mos que muitas vezes 0 esseri- cial é invisivel aos olhios (SAINT EXUPERY, 1987:74)” A “volta” como modelo biomédico puro, deixou de fazer parte das nossas concep¢ées individuais porque através desta reflexdo compreendemos que muitas vezes 0 “essencial é invisivel aos olhos" (SAINT EXUPERY, 1987:74), Encontramos assim, muito da ciéncia de en- fermagem, reconhecemnos que a “volta” pode ter como mais-valias: a relagao enfermeiro/doente (Escola da Interaccao), pratica de seguranca, veiculo de aprendi- zagem entre profissionais (Benner), desenvolvimento miituo (Peplau) e potencial de reflexao. No entanto, também concordamos com Couceiro citado por BAR- TOLO (2008:12), que refere que“a autoformacdoassenta Novembro 2010 Nees ee eee = = PMR | TH RTE | ‘muitas vezes na dimensdo reflexiva que determinado ac- tor imprime d sua pratica, no sentido em que permite mo- bilizar uma disponibilidade de tempo e de energias, que ‘ndo emergem habitualmente na actividade quotidiana’. Encontramo-nos, assim, num circulo de pensamen toque se iniciou nas nossas vivéncias, levou a reflexao € certamente ira alterar as nossas praticas, mas ape- nas para que possamos novamente reflectir e perpe- tuar este ciclo. “Se podes olhar, vé! Se podes ver, reparal * José Saramago REFERENCIA BIBLIOGRAFICAS - ALMEIDA, Vitéria; LOPES, Marcos; DAMASCENO, Marta ~ Teoria das relacdes interpessoais de Pepalu: anélise fundamentada em Barnaum. Revista Escola de Enfermagem USP. 39:2 (2005) p. 202-210. ~ BARTOLO, Emilia - Unidade de Cuidados Intensi- vos Pediatricos: um lugar onde os profissionais de satide aprendem. 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