Temática da aula
Parte I
Relembrando...
O papel da Psicanálise
Análise institucional nome dado por Lapassade a essa nova A análise institucional foi proposta como um método para decifrar as
forma de compreender e intervir em grupos e organizações. relações que indivíduos e grupos estabelecem com as instituições,
tendo suas raízes teóricas na intersecção de diferentes disciplinas:
Proposta diferente do modelo de Bleger: abordagem Psicologia Social,Sociologia, Pedagogia, além de se articular com o
predominantemente sociológica e política, embora tenha se originado marxismo e a psicanálise.
da psicossociologia/psicologia dos grupos.
Foco da análise institucional CRÍTICA ÀS INSTITUIÇÕES
Aspectos históricos...
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Os três níveis da realidade social: INSTITUÍDO significa o que está estabelecido; é o caráter de
fixidez e cristalização das formas de relação;
Primeiro nível: o grupo INSTITUINTE movimento de criação: é a capacidade de inventar
Seu objetivo é manter a ordem, organizar o aprendizado e a produção
novas formas de relação.
A instituição não é um nível ou uma manifestação da formação
Segundo nível: a organização
Onde se situa as normas jurídicas fazendo a ligação entre a sociedade social, mas a maneira mesma como a realidade social se organiza,
civil e o Estado – BUROCRACIA. sobredeterminada como está pela mediação do Estado.
Quando se admitem os movimentos do instituído e do instituinte, o
Terceiro nível: o Estado
conceito de instituição de transforma e passa a ser um importante
A instituição propriamente dita. Perpassa a organização e o grupo. instrumento de análise das contradições sociais.
Outros conceitos...
Estado: a instituição primeira, aquela que legitima toda e qualquer
outra instituição.
Estado como mecanismo coletivo de repressão:
INSTITUIÇÃO ORGANIZAÇÃO
“A prática repetitiva e referida a uma determinada lei, a um conjunto de
regramentos, é uma prática que se aliena e aliena os sujeitos nela envolvidos.
O impedimento exterior passa a ser interior, esmiuçando como se encontra
em infinitas normas que permeiam o indivíduo. “
(Guirado, 1987, p. 32)
“Instituição á algo como ‘o inconsciente de Freud (...) não localizável e (...)
imediatamente problemático’. Ou seja, está presente nas ações aparentemente
menos significativas e isso não nos é dado à consciência.” A ideologia é decorrente desse mecanismo de repressão,
(Guirado, 1987, p. 29) determinante do desconhecimento social.
REPRESSÃO DA REVOLUÇÃO
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Burocracia como uma questão política. Ex.: excursões programadas Características fundamentais da burocracia tradicional:
nas agências de viagens, trabalhos acadêmicos, partidos políticos,
relações de trabalho e educação. 1. A burocracia é uma forma determinada de estruturação das relações
de poder;
2. A burocratização implica uma alienação das pessoas nos papeis e
A burocracia seria uma forma de organização do poder, em que há dos papeis no aparelho;
uma alienação da condição de decisão sobre o fazer cotidiano, em
favor de grupos (ou dirigentes) que, embora em relação, não alinham 3. As decisões são sempre tomadas por instâncias anônimas;
seus interesses aos dos grupos ou indivíduos executores.
4. As comunicações dão-se, via de regra, de cima para baixo;
5. A estrutura de poder em dois andares alimenta-se na ideologia do
saber e apoia-se numa pedagogia diretiva: na cúpula estão os que
Ciclo: desigualdade/ poder/ decisão/ alienação sabem e na base os que ignoram.
1973: escritos trazem Lapassade fazendo intervenções sócio- Chaves da Psicologia (1971): análise institucional definida como um
analíticas novamente. O autor quase não usa o termo análise método de análise da realidade social, bem como um método de
institucional, a não ser como análise institucional em situação e intervenção.
modifica a técnica. Permanece o lugar do analista.
Enquanto método de análise: redefine o conceito de instituição,
Observa-se, além disso, uma mudança no referencial teórico após permitindo compreender o que se passa nos grupos e nas
1968: a análise sociológica e política do papel do analista passa a ser o organizações como sobredeterminado pelas instituições de uma
ponto de partida das críticas de Lapassade. Tempos depois, resgata a sociedade;
compreensão psicanalítica das relações instituídas e do possível lugar
do analista. Posteriormente, a redimensiona com base na teoria das Enquanto intervenção: propõe-se a ser a condição concreta para que
técnicas da psicologia existencial-humanista e da bioenergética. se revele a determinação institucional, oculta pela repressão do sentido
e pelo encobrimento ideológico.
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A análise institucional é o método que objetiva revelar nos grupos o As vias de análise...
nível oculto de sua vida e funcionamento chegar ao Estado
(Estado de Classes/relações sociais de classe). Até 1971, a intervenção dos analistas nos grupos apresentava-se com
base na palavra, visando a libertação da palavra social.
Análise institucional x Análise organizacional
1973: permanece como norte na revelação do oculto, porém
O lugar da intervenção deve, no trabalho com o grupo, colocar em Lapassade integra as técnicas originadas da Bioenergética e da
questão sua dimensão institucional, e não buscar a reorganização ou a Psicologia do Potencial Humano, em oposição à Socioanálise.
recuperação da burocracia.
O sentido das organizações e dos grupos é sempre externo a eles.
AUTOGESTÃO EM ATO
Mudanças nos termos: Análise Institucional > Sócio-análise (análise A crítica ao movimento e ao conceito de Análise Institucional
institucional em situação/encontro institucional).
Em 1970, Lapassade, ao mesmo tempo em que define a Análise
Mudanças técnicas decorrentes de mudanças históricas. Institucional, ele a critica. Ele irá retomá-la em 1973.
Analista como um provocador de um processo que seja tomado nas
mãos dos atores institucionais. Por que a crítica?
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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
- Instituições e Poder:
O plano da análise não se confunde com o da essência das
Análise institucional Análise das
instituições; instituições concretas
Enquanto análise, é impossível tomar como objeto essa totalidade
concreta;
Propõe que o objeto se coloque em planos ou níveis de análise;
Propõe que, a nível de análise, possa afirmar-se a compreensão de
uma prática institucional concreta enquanto prática política, ideológica
ou econômica.
A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
Encarar o impacto das instituições médicas sobre as relações sociais Elementos que estruturam a prática institucional:
é ir além de uma análise restrita às variações produzidas por fatores
individuais, que incidem sobre a formação de atitudes e,
1º. Objeto institucional:
consequentemente sobre a ação individual dos médicos no terreno da O objeto de uma organização é um determinado tipo de recurso de que a organização –
reprodução humana. como sistema de meios – apropria-se, transformando-o.
O objeto de uma instituição é aquilo sobre cuja propriedade a instituição reivindica o
monopólio da legitimidade. Ex.: definição de saúde da OMS.
A prática dos atores concretos não é resultado, mas componente estrutural da
ação das instituições; e a prática institucional não existe senão encarnada na
prática dos atores concretos que a constituem.
A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
Elementos que estruturam a prática institucional: Elementos que estruturam a prática institucional:
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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
Dentre os atores institucionais, cabe distinguir os agentes O mandante: ator individual ou coletivo diante do qual a instituição
institucionais, o mandante, a clientela e o público. responde ou em nome de quem ela age. Em geral, se trata de outra
instituição e, mais comumente, do Estado. Sãos descritas as seguintes
Os agentes institucionais podem ser: relações de mandato:
- Agentes privilegiados; - Relação de propriedade;
- Agentes subordinados; - Relação de subordinação funcional;
- O pessoal institucional. - Relação de mandato institucional.
Clientela: relação que se estabelece entre a instituição e os atores
concretos (coletivos ou individuais) visados em sua ação, desde que se
delimite e se reproduza um conjunto de indivíduos dado.
A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
Público: participa esporadicamente ou apenas pode participar
potencialmente. Seria o conjunto dos atores coletivos e individuais para
4º. Práticas institucionais:
quem a ação institucional é visível, podendo eventualmente integrar a É o resultado de relações sociais entre agentes e mandantes ou agentes e clientes, e
clientela. assim por diante. Ou seja, trata-se da resultante das práticas conflitantes dos diversos
atores.
A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
Relações de serviço pessoal: relações em que um ator-cliente Limites organizacionais:
entrega um objeto-sistema a um ator-perito para que este reponha o
objeto-sistema em estado de uso. Essas relações se apresentam da - A relação de propriedade entre cliente e objeto se mantém, mas é
seguinte maneira: ameaçada;
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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
Limites internos da atenção médica:
Concluindo...
- Apesar da objetivação e da localização da doença, o cliente continua
identificando a saúde e a doença com seu próprio corpo e, mais do que
isso, com sua própria pessoa. Consequências:
“Assim, se por um lado o cliente já não é proprietário nem juiz último de - O cliente relutará mais em confiar no saber profissional sobre o seu
uso de seu objeto (a saúde, por exemplo), o perito também não é dono próprio corpo e sua pessoa, resultando na suposta onipotência e
de sua própria perícia: o que define o médico não é o saber sobre a onisciência do médico, atribuída pelo paciente e reivindicada pelo
doença e a cura, é aquele saber reconhecido pela instituição e o que o profissional;
autoriza a praticar não é a sua pericia em si, mas o registro legal a que
se submete, e que pode ser-lhe retirado”.
- Sentimento de despossessão do corpo e da personalidade do cliente
(Albuquerque, 1987, p.63) que pode “contaminar” outras propriedades do sujeito: seus direitos e
papeis, por exemplo;
- Sacralização do saber médico como meio de defesa contra as
incertezas;
- Fazer do paciente um cliente condenado a serviços forçados.
Referências Obrigada!
Guirado, M. (1987). A análise institucional de Georges Lapassade. In: ___. Psicologia
institucional (2ª ed.). São Paulo: EPU, 1987, p. 25-47.
nathalyasoaresribeiro@hotmail.com