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28/09/2016

Temática da aula

Parte I

Introdução à Psicologia Institucional

PSICOLOGIA  A psicologia institucional na perspectiva de José Bleger: Psico-Higiene

 A psicologia institucional na perspectiva de Georges Lapassade


INSTITUCIONAL
 A psicologia institucional na perspectiva Guilhon de Albuquerque: instituições
concretas
Psicologia Institucional: origens,
caminhos e métodos
Docente responsável: Dr. Douglas Nunes Abreu
Mestranda: Nathálya Soares Ribeiro

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz


de Fora (UFJF) - Estágio em docência

Relembrando...

A Psicologia Institucional na perspectiva de José Bleger:


Psico-higiene

Bleger Político x Bleger Cientista


A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE
O conceito de Psico-higiene
GEORGES LAPASSADE
Saída dos consultórios

O papel da Psicanálise

O papel de Psicologia Institucional

Ego sincrético x Ego organizado

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Análise institucional nome dado por Lapassade a essa nova  A análise institucional foi proposta como um método para decifrar as
forma de compreender e intervir em grupos e organizações. relações que indivíduos e grupos estabelecem com as instituições,
tendo suas raízes teóricas na intersecção de diferentes disciplinas:
 Proposta diferente do modelo de Bleger: abordagem Psicologia Social,Sociologia, Pedagogia, além de se articular com o
predominantemente sociológica e política, embora tenha se originado marxismo e a psicanálise.
da psicossociologia/psicologia dos grupos.
 Foco da análise institucional CRÍTICA ÀS INSTITUIÇÕES
Aspectos históricos...

Considerado um movimento – Movimento de Análise Institucional – RUPTURA DA LEALDADE


originado na França, na década de 60, com o Lapassade e Lourau. INSTITUCIONAL
Passa a ser mais conhecido no Brasil na década de 70.

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A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Os três níveis da realidade social:  INSTITUÍDO significa o que está estabelecido; é o caráter de
fixidez e cristalização das formas de relação;
Primeiro nível: o grupo  INSTITUINTE movimento de criação: é a capacidade de inventar
Seu objetivo é manter a ordem, organizar o aprendizado e a produção
novas formas de relação.
 A instituição não é um nível ou uma manifestação da formação
Segundo nível: a organização
Onde se situa as normas jurídicas fazendo a ligação entre a sociedade social, mas a maneira mesma como a realidade social se organiza,
civil e o Estado – BUROCRACIA. sobredeterminada como está pela mediação do Estado.
 Quando se admitem os movimentos do instituído e do instituinte, o
Terceiro nível: o Estado
conceito de instituição de transforma e passa a ser um importante
A instituição propriamente dita. Perpassa a organização e o grupo. instrumento de análise das contradições sociais.

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

Outros conceitos...
 Estado: a instituição primeira, aquela que legitima toda e qualquer
outra instituição.
 Estado como mecanismo coletivo de repressão:
INSTITUIÇÃO ORGANIZAÇÃO
“A prática repetitiva e referida a uma determinada lei, a um conjunto de
regramentos, é uma prática que se aliena e aliena os sujeitos nela envolvidos.
O impedimento exterior passa a ser interior, esmiuçando como se encontra
em infinitas normas que permeiam o indivíduo. “
(Guirado, 1987, p. 32)
“Instituição á algo como ‘o inconsciente de Freud (...) não localizável e (...)
imediatamente problemático’. Ou seja, está presente nas ações aparentemente
menos significativas e isso não nos é dado à consciência.”  A ideologia é decorrente desse mecanismo de repressão,
(Guirado, 1987, p. 29) determinante do desconhecimento social.

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Ideologia: “A revolução supõe, portanto, não apenas a destruição do que existe,


mas o esforço instituinte de novas pautas para o exercício social;
Desconhecimento, por parte dos membros da sociedade, do sentido pautas estas que não se transformarão em instituições acabadas. A
estrutural dos seus atos, do que determina suas opções, suas regra que se exige cumprir parece ser, inclusive, a de impedir o
preferências, rejeições, opiniões e aspirações, pela ação do Estado, enrijecimento de formas instituídas. Trata-se de uma revolução
através das mediações institucionais que penetram em toda a permanente, gerando instâncias que se articulem de tal forma que ‘a
sociedade. soberania coletiva não se aliene em instituições que novamente se
tornem autônomas”.
(Guirado, 1987, p. 33)

REPRESSÃO DA REVOLUÇÃO

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A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Burocracia como uma questão política. Ex.: excursões programadas  Características fundamentais da burocracia tradicional:
nas agências de viagens, trabalhos acadêmicos, partidos políticos,
relações de trabalho e educação. 1. A burocracia é uma forma determinada de estruturação das relações
de poder;
2. A burocratização implica uma alienação das pessoas nos papeis e
A burocracia seria uma forma de organização do poder, em que há dos papeis no aparelho;
uma alienação da condição de decisão sobre o fazer cotidiano, em
favor de grupos (ou dirigentes) que, embora em relação, não alinham 3. As decisões são sempre tomadas por instâncias anônimas;
seus interesses aos dos grupos ou indivíduos executores.
4. As comunicações dão-se, via de regra, de cima para baixo;
5. A estrutura de poder em dois andares alimenta-se na ideologia do
saber e apoia-se numa pedagogia diretiva: na cúpula estão os que
Ciclo: desigualdade/ poder/ decisão/ alienação sabem e na base os que ignoram.

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Características fundamentais da burocracia tradicional: A Análise Institucional:


6. Com isso, desenvolve-se o conformismo, preserva-se a falta de  Se define com vistas ao rompimento do ciclo burocrático.
iniciativa e ratifica-se a separação nos dois níveis da organização
burocrática;  Alterações no pensamento de Lapassade quanto à análise
7. Os indivíduos e os grupos heterônomos, voltados para o cumprimento institucional, decorrentes de sua prática e do momento histórico.
de normas estabelecidas de fora, a pedagogia da heteronomia, bem  Década de 60: Lapassade anuncia a importância de tal tipo de
como as características até agora apresentadas, contribuem para que trabalho para que se transforme a natureza mesma das instituições
a autonomia seja, na verdade, a da própria organização;
sociais.
8. A burocracia supõe, continuamente, a resistência à mudança;
 Rebelião de 1968 na França: faz Lapassade rever o método da
9. A burocracia é a fonte do comportamento desviante e dos grupos Análise Institucional.
fragmentários ou informais;
No entanto, permanecem os três níveis de realidade social, o conceito de
10. Destaca-se o movimento dos que se servem da organização para instituição de Estado e de Ideologia.
configurar uma “carreira”.

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 1973: escritos trazem Lapassade fazendo intervenções sócio-  Chaves da Psicologia (1971): análise institucional definida como um
analíticas novamente. O autor quase não usa o termo análise método de análise da realidade social, bem como um método de
institucional, a não ser como análise institucional em situação e intervenção.
modifica a técnica. Permanece o lugar do analista.
 Enquanto método de análise: redefine o conceito de instituição,
 Observa-se, além disso, uma mudança no referencial teórico após permitindo compreender o que se passa nos grupos e nas
1968: a análise sociológica e política do papel do analista passa a ser o organizações como sobredeterminado pelas instituições de uma
ponto de partida das críticas de Lapassade. Tempos depois, resgata a sociedade;
compreensão psicanalítica das relações instituídas e do possível lugar
do analista. Posteriormente, a redimensiona com base na teoria das  Enquanto intervenção: propõe-se a ser a condição concreta para que
técnicas da psicologia existencial-humanista e da bioenergética. se revele a determinação institucional, oculta pela repressão do sentido
e pelo encobrimento ideológico.

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A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 A análise institucional é o método que objetiva revelar nos grupos o As vias de análise...
nível oculto de sua vida e funcionamento chegar ao Estado
(Estado de Classes/relações sociais de classe).  Até 1971, a intervenção dos analistas nos grupos apresentava-se com
base na palavra, visando a libertação da palavra social.
Análise institucional x Análise organizacional
 1973: permanece como norte na revelação do oculto, porém
O lugar da intervenção deve, no trabalho com o grupo, colocar em Lapassade integra as técnicas originadas da Bioenergética e da
questão sua dimensão institucional, e não buscar a reorganização ou a Psicologia do Potencial Humano, em oposição à Socioanálise.
recuperação da burocracia.
 O sentido das organizações e dos grupos é sempre externo a eles.

AUTOGESTÃO EM ATO

A análise institucional de Georges Lapassade A análise institucional de Georges Lapassade

 Mudanças nos termos: Análise Institucional > Sócio-análise (análise A crítica ao movimento e ao conceito de Análise Institucional
institucional em situação/encontro institucional).
 Em 1970, Lapassade, ao mesmo tempo em que define a Análise
 Mudanças técnicas decorrentes de mudanças históricas. Institucional, ele a critica. Ele irá retomá-la em 1973.
 Analista como um provocador de um processo que seja tomado nas
mãos dos atores institucionais. Por que a crítica?

A crítica se dá, pois ocorre uma incongruência no exercício da Análise


Institucional. Mais especificamente, o modelo criticado é replicado, uma
vez que os analistas se colocam como preceptores de mudança,
reproduzindo as relações de poder. Assim, as decisões acabam ficando a
cargo dos analistas.

A análise das instituições concretas de Guilhon de


Albuquerque

 Década de 70: tomava forças no Brasil a crítica às instituições,


especialmente as instituições psiquiátricas.

A ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES - Metáforas da desordem:


 Instituição: conjunto de práticas sociais, configuradas na apropriação
CONCRETAS DE GUILHON DE de um determinado objeto, um determinado tipo de relação social sobre
ALBUQUERQUE o qual reivindica o monopólio, no limite com outras práticas.
 A partir do mapeamento das relações institucionais, propõe-se
compreender as instituições concretas, através da observação de seus
rituais, de seu fazer cotidiano e por meio da análise do discurso doa
atores.

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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

- Instituições e Poder:
 O plano da análise não se confunde com o da essência das
Análise institucional Análise das
instituições; instituições concretas
 Enquanto análise, é impossível tomar como objeto essa totalidade
concreta;
 Propõe que o objeto se coloque em planos ou níveis de análise;
 Propõe que, a nível de análise, possa afirmar-se a compreensão de
uma prática institucional concreta enquanto prática política, ideológica
ou econômica.

A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
 Encarar o impacto das instituições médicas sobre as relações sociais  Elementos que estruturam a prática institucional:
é ir além de uma análise restrita às variações produzidas por fatores
individuais, que incidem sobre a formação de atitudes e,
1º. Objeto institucional:
consequentemente sobre a ação individual dos médicos no terreno da O objeto de uma organização é um determinado tipo de recurso de que a organização –
reprodução humana. como sistema de meios – apropria-se, transformando-o.
O objeto de uma instituição é aquilo sobre cuja propriedade a instituição reivindica o
monopólio da legitimidade. Ex.: definição de saúde da OMS.
A prática dos atores concretos não é resultado, mas componente estrutural da
ação das instituições; e a prática institucional não existe senão encarnada na
prática dos atores concretos que a constituem.

A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
 Elementos que estruturam a prática institucional:  Elementos que estruturam a prática institucional:

2º. Âmbito institucional: 3º. Atores institucionais:


O âmbito de uma instituição deve ser definido a partir das relações sociais que inclui, e não Na análise das instituições os atores institucionais são o elemento estruturador por
em função de suas fronteiras materiais. Ex.: hospital. excelência. São eles que exercem as práticas institucionalizadas.

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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
 Dentre os atores institucionais, cabe distinguir os agentes  O mandante: ator individual ou coletivo diante do qual a instituição
institucionais, o mandante, a clientela e o público. responde ou em nome de quem ela age. Em geral, se trata de outra
instituição e, mais comumente, do Estado. Sãos descritas as seguintes
 Os agentes institucionais podem ser: relações de mandato:
- Agentes privilegiados; - Relação de propriedade;
- Agentes subordinados; - Relação de subordinação funcional;
- O pessoal institucional. - Relação de mandato institucional.
 Clientela: relação que se estabelece entre a instituição e os atores
concretos (coletivos ou individuais) visados em sua ação, desde que se
delimite e se reproduza um conjunto de indivíduos dado.

A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
 Público: participa esporadicamente ou apenas pode participar
potencialmente. Seria o conjunto dos atores coletivos e individuais para
4º. Práticas institucionais:
quem a ação institucional é visível, podendo eventualmente integrar a É o resultado de relações sociais entre agentes e mandantes ou agentes e clientes, e
clientela. assim por diante. Ou seja, trata-se da resultante das práticas conflitantes dos diversos
atores.

Para a compreensão da prática institucional é importante IDENTIFICAR


AS PRÁTICAS PREDOMINANTES EM UMA INSTITUIÇÃO
CONCRETA.

A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque

Elementos para uma análise da prática institucional Elementos para uma análise da prática institucional
 Relações de serviço pessoal: relações em que um ator-cliente  Limites organizacionais:
entrega um objeto-sistema a um ator-perito para que este reponha o
objeto-sistema em estado de uso. Essas relações se apresentam da - A relação de propriedade entre cliente e objeto se mantém, mas é
seguinte maneira: ameaçada;

- Cliente/objeto; - Racionalidade dos custos.

- Perito/objeto;  Limites institucionais:

- Perito/cliente. - Alterações das relações de propriedades e de uso entre o cliente e o


objeto e cliente-perito pela instituição.

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A análise das instituições concretas de Guilhon de A análise das instituições concretas de Guilhon de
Albuquerque Albuquerque
 Limites internos da atenção médica:
Concluindo...
- Apesar da objetivação e da localização da doença, o cliente continua
identificando a saúde e a doença com seu próprio corpo e, mais do que
isso, com sua própria pessoa. Consequências:
“Assim, se por um lado o cliente já não é proprietário nem juiz último de - O cliente relutará mais em confiar no saber profissional sobre o seu
uso de seu objeto (a saúde, por exemplo), o perito também não é dono próprio corpo e sua pessoa, resultando na suposta onipotência e
de sua própria perícia: o que define o médico não é o saber sobre a onisciência do médico, atribuída pelo paciente e reivindicada pelo
doença e a cura, é aquele saber reconhecido pela instituição e o que o profissional;
autoriza a praticar não é a sua pericia em si, mas o registro legal a que
se submete, e que pode ser-lhe retirado”.
- Sentimento de despossessão do corpo e da personalidade do cliente
(Albuquerque, 1987, p.63) que pode “contaminar” outras propriedades do sujeito: seus direitos e
papeis, por exemplo;
- Sacralização do saber médico como meio de defesa contra as
incertezas;
- Fazer do paciente um cliente condenado a serviços forçados.

Referências Obrigada!
 Guirado, M. (1987). A análise institucional de Georges Lapassade. In: ___. Psicologia
institucional (2ª ed.). São Paulo: EPU, 1987, p. 25-47.

 Guirado, M. (1987). A análise das instituições concretas de Guilhon de Albuquerque.


In: ___. Psicologia institucional (2ª ed.). São Paulo: EPU, 1987, p. 49-63.

nathalyasoaresribeiro@hotmail.com

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