O texto resume um ensaio de Hugo Achugar que debate metáforas relacionadas à literatura mundial. Achugar discute:
1) O primeiro uso do termo "Weltliteratur" por Goethe para se referir a uma literatura universal, não nacional;
2) Como Marx e Engels também usaram o termo no contexto de um mercado literário globalizado;
3) Como autores latino-americanos contemporâneos, citando Volpi, debatem a tensão entre o local e o global na literatura.
Descrição original:
Título original
RESENHA CRÍTICA_ Weltliteratur ou cosmopolitismo, globalização, “literatura mundial” e outras metáforas problemáticas
O texto resume um ensaio de Hugo Achugar que debate metáforas relacionadas à literatura mundial. Achugar discute:
1) O primeiro uso do termo "Weltliteratur" por Goethe para se referir a uma literatura universal, não nacional;
2) Como Marx e Engels também usaram o termo no contexto de um mercado literário globalizado;
3) Como autores latino-americanos contemporâneos, citando Volpi, debatem a tensão entre o local e o global na literatura.
O texto resume um ensaio de Hugo Achugar que debate metáforas relacionadas à literatura mundial. Achugar discute:
1) O primeiro uso do termo "Weltliteratur" por Goethe para se referir a uma literatura universal, não nacional;
2) Como Marx e Engels também usaram o termo no contexto de um mercado literário globalizado;
3) Como autores latino-americanos contemporâneos, citando Volpi, debatem a tensão entre o local e o global na literatura.
ACHUGAR, Hugo. Weltliteratur ou cosmopolitismo, globalização, “literatura mundial” e
outras metáforas problemáticas. Trad. de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, pp. 65-80. Bianca Tereza da Silva Alves
Hugo Achugar (nasceu em 1944, de Montevidéu) é um poeta, ensaísta e pesquisador
uruguaio, lecionou no ensino secundário, até que, demitido pela ditadura, viajou para a Venezuela e trabalhou como um pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos Rómulo Gallegos em Caracas. Ele tem sido um professor universitário na Venezuela, Estados Unidos e Uruguai. Ensinou na Universidade de Miami. Desde 2008 atua como Diretor Nacional da Cultura no Ministério da Educação e Cultura do Uruguai. O texto é um ensaio ou work in progress na tentativa de debater algumas metáforas usadas mundialmente, ou ate mesmo tanto na academia do primeiro mundo como na latino- americana. O tema esta relacionado com a cultura e a literatura latino-americanas, mais precisamente com a narrativa contemporânea. O texto tem uma organização pouco convencional e está dividido em quatro cenas. A encenação consiste em adaptar a escritura dramática do texto para uma escritura cênica, ou seja, a consolidação do texto por meio do ator e do espaço cênico, numa duração vivenciada pelos espectadores. O espaço é projetado em palavras e o texto é inscrito no espaço gestual do ator. No texto de Achugar, as cenas foram raciocinadas como unidades básicas que focam e desenvolvem certo ponto ou argumento. Elas possuem, nesse sentido, certa autonomia. Contudo, ligam-se entre si formando uma rede que cobre um determinado espaço, delimitando-o. A Primeira Cena, “Almoçando na casa de Goethe”, consiste em trechos de um diálogo entre Goethe e o seu secretário Eckerman, no ano de 1827. Achugar avalia como a cena primordial da história da literatura contemporânea um diálogo do dia 31 de janeiro, em que Goethe faz um comentário sobre um livro de romance chinês que esta lendo, diz que os homens do livro são iguais aos do ocidente, onde “tudo é razoavelmente burguês”, nele se encontram alguns elementos como “localismo versus universalismo e estranheza e familiaridade”, ou seja, uma aversão entre o cosmopolitismo e o exótico. No mesmo diálogo Goethe formula pela primeira vez a noção de Weltliteratur (literatura mundial) em oposição a Nationalliteratur (literatura nacional), onde fala “hoje, a literatura nacional não significa grande coisa; chegou o momento da literatura mundial, e todos devemos contribuir para apressar o advento dessa época”, ou seja, as pessoas devem se informar do que esta sendo publicado em outras nações, mas não devem ter um ou outro como modelo, pois assim não irão absorver o que esta sendo dito, devem ter uma mente aberta para o novo. A tradução de Weltliteratur coloca uma questão importante para a literatura comparada, em que o termo poderia ser literatura cosmopolita ou universal ou mundial, vemos que a tradução pode ir para todas elas, pois ela esta atrelada a um contexto histórico da época, onde surgia uma “nova ordem mundial”, com os processos de independência dos países americanos no século XVIII (primeiro momento pós-colonial da modernidade) e com a Consolidação da Santa Aliança, que para Goethe foi um tanto benéfico para humanidade, pois era uma tentativa de homogeneização mundial e a determinação de uma concepção da humanidade a nível mundial, além de representar um dos processos de globalização na história. A homogeneização de mundo de Goethe se realiza nas decorrências ideológicas da noção de Weltliteratur que compreende uma espécie de imperativo ético e estético e na concepção de universalidade presente no pensamento do século XX. Achugar faz uma contraposição entre a interpretação do termo Weltliteratur de Goethe com a de Edward Said no texto “Wordly Humanism versus the Empire-Builders”, em que Said aborda que o termo esta atrelado a filologia e ao “humanismo mundial”, que pode ser percebida como uma generosidade e hospitalidade para com o outro que em questão seria as obras de autores estrangeiros. Nesta primeira parte o autor mostra como os diálogos de Goethe sobre outro tipo de literatura vêm a fazer uma iniciação para a primeira aparição do termo Weltliteratur e como pode ser relacionado com a literatura mundial, universal ou cosmopolita. Para as suas teorias ele lança mão de uma boa contextualização histórica sobre a época, trazendo o Congresso de Viena e a Consolidação de Santa Aliança. Achugar escolhe o texto de Edward Said para fazer uma diferenciação de interpretação sobre Weltliteratur, essa diferenciação é muito breve e pouco explorada. Consideramos que esta primeira parte faltou alguns elementos conceituais e que pode ser de fácil entendimento para os leitores, que já possuam um conhecimento prévio sobre o assunto. A Segunda Cena, “Também na Europa, porém alguns anos mais tarde”, Goethe já havia falecido e é ambientada em Paris de 1848, quando se instaurou a República Francesa, mas houve outro acontecimento importante neste mesmo ano, que foi a publicação do Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, em que eles afirmam que “a produção intelectual de uma nação converte-se em patrimônio comum a todas”, onde uma literatura nacional forma-se uma literatura universal, aqui vemos o termo Weltliteratur ser usado novamente, mesmo que não possua uma identificação que Marx e Engels fizeram referência de Goethe. Neste novo cenário o contexto do termo aparece no âmbito do novo mercado mundial no qual a burguesia, para Marx e Engels “deu um novo caráter cosmopolita” à produção e ao consumo de todos os países, levando em conta o momento teórico e literário. O autor propõe discutir nesta cena dois pontos importantes: que de acordo com Wallerstein “temos usado a linguagem da globalização cultural há várias centenas de anos” e o “campo semântico” (que neste sentido não é universal) onde coexistem o Weltliteratur, a literatura mundial, universal e o caráter cosmopolita. O autor aborda que a noção de Weltliteratur esta “indissoluvelmente ligada ao estabelecimento de uma nova ordem mundial como ao desenvolvimento de um mercado mundial”, ou seja, os produtos fabricados em um país acabam sendo consumidos em vários outros. Nessa segunda parte o autor mostra como a literatura nacional se transforma em literatura mundial, inserida novo mercado mundial, trazendo autores de grande prestígio com Karl Marx e Friedrich Engels. A questão sobre o “campo semântico” poderia ter sido mais discutida, pois parece que não foi bem explicada. Ponderamos que esta segunda parte poderia ter sido mais bem escrita, mas é de fácil entendimento para os leitores, desde que possuam um conhecimento prévio sobre o assunto. A Terceira Cena, “Cento e cinquenta anos mais tarde e em língua espanhola”, o autor antes de iniciar a discussão sobre os universais e sobre a distância entre a construção do universal em Goethe e a de alguns teóricos contemporâneos, como exemplo o autor cita Franco Moretti e Judith Butler, ele expõe alguns problemas que surgem na literatura latino- americana contemporânea. A partir disso o autor cita alguns textos: Prólogo de Álvaro Fuguet e Sergio Gómez à antologia de Mc Ondo (1999), “Questiones previas” a Líneas aéreas (1999), do espanhol Eduardo Becerra, Manifiesto del Crack, dos mexicanos Volpi, Urroz, Padilha, Chávez e Palou, e “Narrativa hispano-americana, Inc.” (2002) de Jorge Volpi, e ressalta que apesar da diversidade desses textos eles apresentam diversos temas como: a relação entre mercado e literatura, o desejo de romper com os estereótipos gerados pelo triunfo e a hegemonia do “realismo mágico”, a necessidade de questionar o “selo” ou a “marca” narrativa hispano-americana; e que todos esses textos estão vinculados com o atual processo de globalização ou de mundialização da cultura. O autor então escolhe o texto do Volpi (2002), por achar este texto mais relevante para sua argumentação, ressalta que qualquer um dos outros textos citados é igualmente pertinente e destaca que o texto de Becerra foi escrito a partir de uma perspectiva europeia e exige uma análise diferente ou especifica. Logo a seguir o autor destaca partes do texto de Volpi que servirão para exemplificar reforçar suas ideias mais a diante. No antepenúltimo parágrafo ele utiliza a citação para confirmar as suas considerações em relação a pertinência de tensões de dilemas: nacional versus universal/mundial, globalização e mercado diante de resistências locais; que também estão presentes em Goethe e em Marx. O autor diz que essa citação lhe permite reunir diferentes matizes que o tema adquire nos escritores hispanos ou latino-americanos que se auto erigem como os representantes da nova ordem ou da nova escrita. No penúltimo parágrafo o autor faz um breve resumo das ideias presentes no texto de Volpi em três tópicos. E por fim conclui, relacionando as ideias de Volpi em Manifiesto del Crack e da antologia de Mc Ondo a argumentações próximas às de Goethe, que atendia à nova ordem mundial estabelecida pelas potências hegemônicas europeias do momento. Logo depois diz que o que se conhece como a justificativa intelectual de uma nova escrita ou nova ficção, é, no melhor dos casos, o nouveau frisson, segundo Victor Hugo, o que aparece ainda hoje como “última cena” de uma antiga história. Nessa terceira parte o autor antes de entrar de fato em outro assunto que virá na quarta parte desse texto, ele deseja realizar um adendo. Aqui ele utiliza de autores e seus textos para fundamentar suas ideias, ele consegue nos passar um bom número de autores que fortificam suas teorias. Quando ele escolhe o texto de Volpi porque o considera mais relevante para a sua argumentação, ele consegue raciocinar e convencer bem relacionando e mostrando que com base no que Volpi diz, as suas ideias estão corretas. Ele nos traz o que ele mesmo chama de “enorme citação” que são partes retiradas do texto de Volpi, que são favoráveis para ele reforçar as suas ideias e que mais adiante servirão para ele criar o breve resumo no penúltimo parágrafo; o que o ajuda a explicar os seus leitores sobre o assunto que ele relata. O autor ainda relaciona Volpi com Goethe e Marx, e no fim cita Victor Hugo utilizando um dizer do mesmo, o que traz ainda mais força para cumprir o seu propósito inicial de expor certos problemas que surgem na literatura latino-americana contemporânea. Consideramos que esta terceira parte foi muito bem escrita e de fácil entendimento para os leitores, claro que já possuam um conhecimento prévio sobre o assunto tratado. A Quarta Cena, “Em várias línguas e lugares ao mesmo tempo: projetando, novamente, a cena”, o autor começa nos mostrando uma afirmação de Franco Moretti “Penso que é tempo de que voltemos à antiga ambição da Weltliteratur: afinal, a literatura ao nosso redor é agora, sem dúvida, um sistema planetário. A questão não é realmente o que devemos fazer, a questão é como fazê-lo”. Depois (em tradução de nosso próprio autor) ele analisa e nos expõe as ideias de Moretti acerca da literatura mundial, quando Moretti considera que a “literatura mundial” não é um “objeto”, mas um “problema” e quando Moretti diz que a hipótese necessária para lidar com esse problema se encontra na ideia do “sistema mundo” de Wallerstein (e via Wallerstein em Braudel) um sistema que é simuladamente uno y desigual. Logo a seguir o autor discute as ideias de Moretti, retorna a trazer partes do que Moretti diz acerca dessa discussão, e cita Goethe quando diz que Moretti introduz metáforas que tentam resolver a oposição proposta por ele (literatura nacional versus literatura mundial). Continuando, nosso autor volta a raciocinar nas ideias de Moretti citando outros autores que ele se aproxima ou se opõe, como: Saskia Sassen e Volpi, respectivamente. Como penúltimo assunto o autor traz uma afirmação de Emily Apter (2003) a respeito de Moretti e não somente a ele, mas a respeito de outros paradigmas também como: “Literatura global”, Cosmopolitismo, Literatura mundial, Transnacionalismo literário, Estudos pós-coloniais e estudos diaspóricos; e discute sobre esses assuntos relacionando-os com a Weltliteratur e outros aspectos. Por fim nesse penúltimo assunto ele chega a uma conclusão em questão do que fazer com a narrativa contemporânea na América Latina, relacionando ideias de Moretti, Volpi e outros. E o último assunto dessa quarta e última parte o autor discute sobre o tema dos universais (implícito desde o início na noção formulada por Goethe de Weltliteratur), questionando se é isto, o que queremos dizer quando dizemos que algo é universal? Ou o que tem valor ou significado universal? E nos mostra em sua própria tradução, afirmações de Butler, Laclau e Zizek. A partir disso o nosso autor raciocina com as ideias de Blutler e trás vários outros autores e pensadores para reforçar e chegar em alguma conclusão a cerca desse assunto. Nessa quarta parte vemos que o autor de fato realizou um ótimo trabalho, nos trouxe muita informação para se basear, fundamentar e exemplificar suas ideias e discussões. A quantidade de autores citados é excelente por que realmente faz com que seu leitor seja convencido pelos nomes fortes de grandes autores. Os trechos trazidos dos textos dos autores que ele explicita nessa obra são bem discutidos, destrinchados e relacionados de maneira muito inteligente ao fortificar e concluir suas ideias. Esta quarta parte requer mais atenção dos leitores ao lê-la, porque possui uma grande quantidade de informações e raciocínios, e obviamente requer um alto conhecimento prévio do assunto aqui tratado. Este ensaio tem bons argumentos para mostrar como uma literatura nacional se torna uma literatura universal, trazendo também um escopo histórico para fundamentar a argumentação. Podemos ver que o Weltliteratur é uma comunicação intercultural, onde se aparece o que há de comum entre as diferentes culturas, sem que se extinga a personalidade que se baseia em diferenças nacionais, ou seja, o texto não fundamenta em ideias de homogeneização cultural, onde uma cultura é superior a outras. Mesmo sendo um bom ensaio, ele não é uma leitura para leigos, pois é necessário ter um conhecimento do assunto para que possa entendê-lo em sua totalidade, principalmente na quarta cena que é mais complexa.