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Lasqueira de Maria Preá!


Chico Nascimento

Personagens

Nomes Características Idade


Maria Preá Senhora comerciante de feira livre, fala alto e tudo 47 anos
pra ela é uma lasqueira.
Zé fubuia Homem falastrão que adora tomar pinga 33 anos
Zelinda Estudante filha de Maria Lasqueira 19 anos
Bal Puxador de grupo de Côco tirado a locutor 30 anos
Cremecracker Jogador de futebol apaixonado por Zelinda 22 anos
Daisy Carmem Uma mulher que sabe de tudo na cidade 32 anos
Seu Furico Um velho que adora dar conselhos 59 anos
Lara Uma mulher falsa até a alma 30 anos
Berna Evangélica que não pode ouvir um sonzinho 35 anos
Alex Um gay que escracha todo mundo 28 anos
Povo da feira Uma espécie de coro variadas

Cenário – Espaço aberto de uma feira livre.

Sinopse

Lasqueira de Maria Preá é um texto divertido que conta a história de uma feirante
numa cidade do interior alagoano, as cenas giram em torno do cotidiano da feira,
seus segredos, suas fofocas e o mistério em torno do nome de uma das personagens,
que não é revelado, mas deixa pistas para a plateia se divertir e interagir em
deduções.

CENA I – XAXADO

O grupo entra em cena com a coreografia Xaxado, música de Amazan – Xaxado.


Assim que a música termina as personagens vão saindo, fica apenas dona Maria
Preá, armando um tabuleiro e colocando hortaliças e Zé fubuia tá deitado no chão,
enrolado em uma manta.

Povo - Maria Preá mulher decidida


Vendedora da nossa feira
Produtora de hortaliças
A qualidade é de primeira
Solteirona bem resolvida
Seu grito maior é lasqueira!

CENA II – Maria Preá, mulher decidida.

Maria – (Falando alto, bem-disposta) Eu sou a primeira a armar barraca na feira,


faça chuva ou faça sol, sempre chego primeiro, depois os homens vem pra cá com a
história de que mulher não trabalha. Não trabalha uma ova, mulher bate ponto é
bem cedinho... ainda mais eu, Maria Preá! O que foi? Achou meu nome engraçado,
é? Esse sobrenome eu ganhei porque quando era criança, papai caçava muita preá
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e dava pros filhos comer, eu sou a mais velha dos cinco que ele teve, quer dizer,
com minha mãe, porque o veio Pedro era safado demais, tinha mulher em todo que
é cidade. Ele era vendedor de feira livre, igualzinho a “eu”...

Zé – Eita mulher que fala alto! Quando ela chega na feira, ninguém mais dorme
sossegado, arre égua!

Maria – Égua é a sua progenitora, viu seu Zé Fubuia!

Zé – E eu chamei a senhora de égua?

Maria – Eu ouvi muito bem o senhor dizendo: arre égua! Olhei pro lado de lá,
nada, olhei pro lado de cá, nada! Então onde está a égua? Eh lasqueira!

Zé – Que égua dona Maria Preá, que égua?

Maria – A égua da PTP!

Zé – Já vi que hoje a senhora amanheceu invocada. Eu tava aqui na minha


cobertura tirando um soninho, pronto, a senhora chegou e já tirou o meu sossego...

Maria – Que cobertura, seu Zé Fubuia? Aqui é algum apartamento de luxo?

Zé – Pra mim, a feira é um palácio e eu sou o rei daqui!

Maria – Só se for o rei da sujeira, um bêbado que só falta comer cachaça com
farinha...

Zé – Com farinha não, viu dona Maria! Eu sou um bom vivam, só gasto dinheiro
com coisas úteis, por exemplo, (segura uma garrafa de cachaça) esse whisky que eu
bebi na madrugada é uma fabricação importada do...

Maria – Do raio que o parta, seu Zé! Tá pensando que sou besta, é? Sai de perto de
mim, com esse fedor de Ypióca, a letra Y transformou cachaça em whisky
importado, foi!

Zé – Oh meu deus, perdoa essa tralha que não sabe reconhecer um homem de fino
trato.

Maria – Eu sei o fino trato. O senhor tá magro assim de tanto tomar cachaça sem
se alimentar direito...

Zé – Êpa, eu me alimento de coisas finas...

Maria – Eu sei, vagem e resto de comida da feira que o senhor fica juntando.

Zé – Fique a senhora sabendo que hoje Alex vem aqui e ele disse que vai me levar
pra comer em um restaurante...

Maria – Quem, Alex? Eh lasqueira!


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(Alex vai entrando todo fechativo)

Alex – Qual é o babado com o meu nome? Não quero o meu rico nome na boca de
maricas, nem de Marias...

Zé – Ainda bem que você chegou, Lequinho!

Maria – É verdade que o senhor vai levar esse traste para comer?

Alex – Seu traste da língua grande! Eu te falei que era segredo...

Zé – Mas dona Maria Preá é uma pessoa de confiança...

Maria – Não me meta no segredo de vocês. Se ele vai te levar pra comer o
problema é seu... eh lasqueira!

Zé – Diga a ela o nome do restaurante grã-fino que vai me levar, fala seu Alex!

Alex – Acho que desisti. Eu te falei que primeiro ia te levar para tomar um banho,
vestir uma roupinha decente...

Maria – Hum, tou entendendo, comer é depois, né seu Zé Fubuia?

Zé – Ela não sabe de nada, né Lequinho?

Alex – Abafa o caso seu Zé Burro!

Zé – Não é burro, é fubuia! Todo mundo me conhece assim...

Alex – Vou ali, depois eu apareço!

Maria – Não vai querer umas hortaliças, seu Alex?

Alex – Agora não! Vou ver outra pessoa... (Sai)

Zé – Alex, Alex e eu?

Maria – Pelo jeito não é hoje que ele vai comer... eh lasqueira!

CENA III – Conselhos de seu Furico.

Zé – Eu vou ficar com fome?

Maria – O senhor sabe do que estou falando, viu seu Zé!

Zé – Seu Furico!
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Maria – Me respeite, viu seu Zé Fubuia!

Zé – Tou falando que seu Furico tá chegando, ele vem direto pra sua banca...

Maria – Ah, que susto! Pensei que o senhor tinha visto outra coisa...

Furico – Bom dia dona Maria Preá! Bom dia seu Zé Fubuia!

Zé – Bom dia seu Furico! Eu adoro falar isso!

Furico – (Cara amarrada) Qual é a graça?

Maria – Eh lasqueira!

Zé – Já pensou seu Furico cantando?

Furico – Vou dar um conselho pro senhor ficar de bico calado, viu seu Zé?

Zé – Mas eu não falei nada demais...

Maria – Eh lasqueira, falou sim!

Zé – Eu falei o quê?

Maria – Que queria ver seu Furico cantando! Eh lasqueira! Ia ser uma música
fedorenta! Eh lasqueira!

Furico – Vou dar um conselho pra senhora, viu dona Maria Preá! É melhor a
senhora gritar as suas mercadorias, senão vai ficar com tudo encalhado.

Maria – Fique o senhor sabendo que eu não sou uma mulher encalhada...

Furico – Eu estou falando das hortaliças!

Zé – Seu Furico, hoje eu ia comer com Alex, aí...

Furico – Não vejo problema nenhum o senhor ir com seu Alex...

Zé – Não é nada disso que o senhor está pensando!

Maria – Deixa de bobagem seu Zé, até seu Furico já deu...

Furico – (Exaltado) Eu não dei nada, dona Maria Preá!

Maria – Eu ia falar que o senhora já deu conselhos pro Alex ser feliz! Eh lasqueira,
a gente não pode falar nada nessa feira que o povo leva tudo pro buraco...

Furico – Dona Maria, dona Maria veja lá o que a senhora fala!

Zé – O senhor acha que seu Alex ia querer...


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Alex – (Chega de surpresa) Qual é o problema de vocês que só vivem com o meu
nome na boca? Até o senhor seu Furico? Um homem dessa idade?

Furico – Eu não falei nada...

Maria – Calam seu Alex! Furico ia dar...

Furico – Eu não ia dar nada, dona Maria, por favor, a senhora está me colocando
em uma situação muito difícil...

Alex – Quer dizer que seu Zé, ia...

Zé – Eu falei alguma coisa?


Maria – Falou, sim. Que seu Alex ia te levar pra comer, eh lasqueira, já não tou
entendendo mais nada...

Furico – Por que vocês dois não saem e deixam eu e dona Maria cuidar dos nossos
assuntos?

Alex – Vamos Zezinho?

Zé – Zezinho? O meu nome é Zé Fubuia!

Alex – Eu não quero seu Furico, quero levar você...

Maria – Eh lasqueira!

Furico – É bom que o senhor saiba que eu não estou disponível!

Zé – Posso levar o meu whisky?

Alex – Whisky, é? Vamos! (Saem)

CENA IV – A voz do povo é a voz de deus.

Povo - A feira dessa cidade


Tem coisa de duvidar
Tem muita diversidade
Tem gente a esperar
Um amor de tabuleiro
Um amor pra encarar

Não importa a idade


Todos querem se apaixonar
Zelinda menina jovem
Já não sabe o que falar
Cremecracker o jogador
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Zelinda - Então, o que é que eu faço mainha?

Maria - Como é o comportamento desse tal Cremecracker?

Daisy – (Se mete na conversa) Ouvi dizer que é um rapaz direito, que tá jogando
um bolão e em breve vai para o exterior...

Maria – Eh lasqueira, vai querer levar você embora daqui, é?

Zelinda – Isso eu não tou sabendo...

Daisy – Eu sei de tudo, inclusive que na próxima semana ele vai renovar o contrato
com o CRB até o final do ano, depois...

Furico – Dona Daisy como é que a senhora sabe dessas coisas, hein?

Daisy – Ah seu Furico, eu sou uma mulher bem informada.

Maria – Quer dizer que o tal jogador de futebol quer vim aqui pedir pra namorar
você, é isso Zelinda?

Zelinda – Pelo que eu entendi, hoje ele vai ter uma folga e vem aqui...

Furico – É melhor ficar com a pulga atrás da orelha!

Daisy – Seu Furico não tem folga?

Furico – Eu sou aposentado! Nunca tive folga!

Maria – Eh lasqueira! Já pensou seu Furico com folga?

Furico – Não pensei, nem quero pensar, sou um homem aposentado e faço muito
gosto pra ser o seu par na feira e na vida!

Daisy – Vixe, Maria, seu Furico está apaixonado!

Maria – Jamais! Eh lasqueira! Já pensou? Eu acho que Furico não se apaixona...

Furico – Apaixonado eu estou


Por essa bela Maria
Não importa ser Preá
Sei que vai me dar alegria
Seu Furico é abençoado
E presente todo dia

Zelinda - Aí mainha, tem pretendente e não me disse nada!

Maria - Não estava sabendo de nada, pra mim tudo é uma surpresa...
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Daisy - Eu já sabia a muito tempo que seu Furico era muito decente...

Maria - O quê?

Zelinda - O quê?

Daisy - O quê, o que?

Furico - Eu sempre fui um homem decente e muito trabalhador...

Zelinda - Mainha, Cremecracker tá chegando...

Daisy – (Toda sensível e escandalosa) Ah, isso eu não vou perder nunca, é a
primeira vez que vejo uma bolacha apaixonada... ele tá todo crocante!
Cremecracker – Bom dia, Dona Maria Preá! Bom dia, pessoal!

Todos – Bom dia!

Zelinda – Mainha, esse é Cremecracker!

Maria – Eh lasqueira, o senhor é jogador de futebol?

Cremecracker – Sim, dona Maria, eu jogo bola...

Alex – (Aparece de surpresa) E joga um bolão!

Cremecracker – Alex, você por aqui?

Alex – Ah meu querido, eu sou como seu Furico, apareço em todo lugar...

Cremecracker – Que história é essa, Alex?

Alex – Seu Furico é esse senhor, seu futuro sogro...

Maria – Até o senhor já sabe?

Daisy – A cidade toda sabe dessa paixão de seu Furico...

Alex – (Rindo) Aí gente, não é lindo, um Furico apaixonado?

Maria – (Repreendendo) Seu Alex...

Cremecracker – Eu queria aproveitar o assunto e dizer a senhora que sou


apaixonado pela sua filha, será que podemos namorar?

Alex – (Cantando) “Dona Maria, deixa eu namorar a sua filha, vá me desculpando


a ousadia...”

Daisy – Para Alex, seu palhaço! Dona Maria aceita...


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Maria – Não se meta, viu dona Daisy! Parece que temos dois pedidos ao mesmo
tempo...

Zelinda – Eu aceito, mas como você sabe, sou estudante, entrei na faculdade
recentemente...

Cremecracker – Eu esperarei você se formar pra gente se casar...

Alex – (Desmaia) Casar?

Daisy – Ele deve ter ficado muito emocionado, Alex e Cremecracker são amigos
íntimos...

Furico – (Atento) Ele também joga futebol?


Alex – (Desperta) Já jogamos juntos há muito tempo, hoje Lequinho é
profissional...

Maria – Eh lasqueira! Jogaram juntos, né?

Zelinda – Então mainha, o que a senhora diz?

Maria – O que posso dizer, filha? Se é para o bem de todos e felicidade geral da
nação, diga ao povo que aceito!

Cremecracker – Já pensou amor, eu você sua mãe e seu Furico no exterior?

Furico – Eu tenho medo de avião!

Alex – Eu posso viajar no lugar de seu Furico!

Furico – O medo já passou!

Daisy – Só falta dona Maria responder a seu Furico se aceita ou não... caso ela não
aceite, deixo bem claro que mesmo não tendo interesse no Furico de ninguém,
estou solteira!

Maria – Eh lasqueira, já tem gente querendo entrar na minha semana...

Alex – Na semana, não! No seu... (Cremecracker tapa a boca de Alex)

Furico – Obrigado dona Maria, eu serei um homem realizado, mas por falar em
realizado, cadê seu Zé Fubuia?

Alex – (Sai correndo) Ele já comeu e depois viajou!

CENA V – Ensaio do coco e outras histórias.

Povo - É na vida cotidiana


Que a gente passa bem
Tem uns que rem tudo
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Outros que nada tem


Tem gente que parte
Outros que ainda vem

Mas no ensaio do Coco


A música é que dá o tom
A dança remexe o corpo
E tudo, tudo fica bom
É colorido na saia
Na camisa cor de batom!

Bal - (Como se fosse locutor) Minhas amigas e meus amigos


Eu sou Bal o grande puxador
Esse é o ensaio do Coco
Onde também sou locutor
A poeira vai subir do chão
Do corpo vai sair calor

Povo - A festança que vai começar


Vai balançar a praça
Mulheres bem maquiadas
O povo se enche de graça
Até gente que não dança
Pode fazer pirraça

Daisy – Dona Berna, tou vendo a senhora se sacodindo...

Berna – Qual é o problema dona Daisy? Jesus te ama!

Daisy – Pelo que eu sei, a senhora é crente e não pode dançar...

Berna – Quem foi que disse isso a senhora?

Daisy – É o que ouço falar por aí...

Berna – Pois ouve o que não deve, onde já se viu, se meter assim na vida dos
outros...

Daisy -Vixe, se zangou, foi? Pois não devia!

Berna – Quem não devia era a senhora!

Daisy – Não devia o quê?

Berna - Se meter na vida dos outros, a senhora é a mulher mais fofoqueira da


nossa cidade, uma virgem desesperada, uma cobra que veste saia, uma víbora
perigosa e sabe mais o quê? Não se meta em minha vida porque eu não lhe devo
satisfação, se eu danço ou não danço é problema meu!
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Daisy – Desesperou, foi? Soltou todo o seu veneno, Dona Berna? Está mais aliviada
agora? Fique sabendo que eu não sou uma mulher virgem desesperada, saiba que
eu sou desejada por muitos homens, mas não sou de dar ousadia, não fico com as
cadeiras tremendo ao ouvir o batuque do coco...

Bal – (Voz impostada) E como eu tinha anunciado, vai começar, é agora meu povo,
esse é o Coco da Lasqueira...

Berna – Oh senhor, como ele é lindo, uma voz maravilhosa, um doce de coco, um
locutor de FM, ai, ai, ai, dá até uma tremedeira no corpo (Fica tremendo e olhando
fixamente para Bal)

Daisy – Ah, então é esse o assanhamento da mulher pudica? Quer dizer que o
corpo tava tremendo, mas não era pela música, era por causa de seu Bal...

Bal – (Sempre como se estivesse com um microfone na mão) Oi, quem foi que me
chamou?
Daisy – Ninguém te chamou, seu Bal...

Bal – Oh, queira me desculpar senhora...

Daisy – (Toda dengosa) Daisy Carmem, ao seu dispor!

Bal – Eu pensei ter ouvido o meu nome!

Berna – Fui eu, seu Bal (Desesperada) não posso ouvir a sua voz que me dá um ui,
ui, ui, uma coisa sem explicação, o senhor tem a voz mais linda do mundo!

Daisy – Deixe de ser oferecida, dona Berna! Que coisa feia...

Bal – Feia? Que nada, ela é linda, muito linda por sinal, qual a sua graça?

Berna – Eu tenho essa aqui, oh... (Fica imitando diferentes jeitos de ri)

Daisy – (Rindo) Que mulher burra, meu Deus! Ele está perguntando o seu nome,
não a sua risada...

Berna – Ah, é isso? Desculpe-me seu Bal!

Bal – A senhora é uma mulher distinta, um amor a primeira vista...

Daisy – (Se mete entre os dois) Obrigado seu Bal! O senhor é muito gentil!

Berna – (Empurra Daisy) O senhor falou para ela ou para mim?

Bal – Eu falei para você, minha princesa do Coco...

Berna – Princesa? Oh, oh, chegue pra cá, acho que vou desmaiar... (Se joga nos
braços de Bal)
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Daisy – Fingida! Sua aproveitadora de homens desamparados, ninguém merece


uma broaca dessa! Deita ela no chão, vamos sair daqui?

Berna – (Desperta rapidamente) O senhor faria isso comigo, seu Balzinho?

Bal – Jamais! Venha para o ensaio do Coco. (Fazem uma cena de dança e saem)

CENA VI – Virada

Daisy – (Conversando sozinha) Será que aos trinta e dois anos eu já estou velha?
Agora estou me sentindo arrasada, acabada, rejeitada, uma mulher sem chances
de ser feliz ao lado de uma pessoa que me reconheça como linda (Vai delirando),
uma gostosa, uma gata maravilhosa... sou eu, a loba feroz que pode fazer qualquer
homem feliz!

Lara – É isso aí amiga! Levanta esse astral! Se joga na pista! Você é linda!

Daisy – Lara? Só você amiga, pra levantar o meu astral, eu tava tão deprê...

Lara – Joga essa depressão no lixo, amiga, você é encantadora, o homem que não
te enxerga só pode ser burro...

Daisy – Oh Lara, você é tão especial, tem o poder de me jogar pra cima, um
momentinho, vou ao banheiro, já imagino esse banheiro da feira... (Sai)

Lara – Um tribufu dessa, ainda quer arranjar namorado? Se pelo menos ela fosse
linda como eu, tivesse esse meu porte, mas não, Daisy tá acabadinha, né? Diz que
só tem trinta e dois anos, mas parece que já passou dos cinquenta a muito tempo...

Alex – (Sempre chega de surpresa) Amiga! Conversando sozinha?

Lara – Que susto, viado! Quer me matar?

Alex – Tava destilando algum veneno? Cuidado amiga, uma hora dessa você se
morde e adeus, venenosa como é...

Lara – É despeito, querido? As vezes eu penso que você tem inveja de mim, desse
meu corpitcho...

Alex – Se saia racha! A de cá é sempre procurada pelos gatos mais lindos da


cidade...

Lara – Tou sabendo! Os gatos embriagados, né? Como seu Zé Fubuia...

Alex – Abafa o caso, rapariga venenosa! Tou apertada, vou ao banheiro... (Sai
correndo, passa por Daisy)

Daisy – O que foi Alex? Tá correndo de quê?

Alex – O demônio veste saia, peraí que já volto, tou apertada...


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Daisy – Esse Alex não muda, né Lara?

Lara – Alex? Não vai mudar nunca, vive se agarrando com gatos e cachorros, não
se dá o valor, é uma bicha desclassificada, feia toda, mas se sente a Penélope do
pedaço...

Daisy – Vocês não são amigas?

Lara – Amiga? Alex não tem amigos, minha querida Daisy, ele é falso até a alma.
Tá pensando que as pessoas são boas, lidas como você? É nada!

Daisy – Eu gosto dele, nós dois somos muito amigos!

Lara – Amigos? Alex não é amigo de ninguém, falou horrores de você... mas deixa
quieto, ele tá voltando...

Alex – Desculpa Daisinha, não pude falar direito com você, o xixi apertou...
Daisy – Daisinha, né Alex? Na minha ausência eu sou víbora, né?

Alex – Que história é essa, Daisy? Já sei, é você, não é Lara? Por que você nunca
está satisfeita com nada? Sempre tem que botar gosto ruim na amizade dos
outros...

Lara – Eu? Não acredite nisso Daisy, Alex é falso!

Daisy – Prefiro sair daqui vocês devem ter muito para conversar... (Sai)

Alex – Viu, sua falsa? Agora Daisy vai pensar o quê de mim?

Lara – Deixa-a ir embora, seu bobo, a Daisinha que você pensa ser sua amiga,
falou horrores de você, mas por falar nisso, ela tá acabadinha, não é?

Alex – Não sei, não quero saber, não me interessa a vida dos outros, tá? Chupe um
picolé, querida, talvez isso esfrie a sua mente! (Sai)

Lara – Grosso! Alex se sente a pessoa mais importante do mundo, mas não vale
nada, já basta o rolo com seu Fubuia. Ainda bem que eu sou uma mulher recatada,
não me meto em rolos e não falo da vida de ninguém!

Povo - De falácia em falácia


O povo faz a cidade
Uns se estressam rápido
Outros cantam felicidade
Mas o sonho verdadeiro
É a busca por liberdade

Faça chuva ou faça sol


Dona Maria está na feira
Ouve histórias diárias
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E passa a vida inteira


Pensando no seu amor
Que não sai da sua beira

CENA VII – Lasqueira total!

Maria – (Gritando) Furico, meu nego, pega um pouco de água pra molhar as
folhas...

Furico – É pra gora minha Maria, vou depositar na sua conta o meu dinheiro da
aposentadoria, você é o amor da minha vida e só me dá alegria!

Maria – Meu nego tá até poeta, fazendo de improviso a rima, quem sempre ficou
por baixo, agora só fica por cima, me agradou em tudo e a minha filha Zelinda!
Zé - A senhora depois de velha ficou foi muito assanhada!

Maria – Não se meta em minha vida, viu seu Zé Fubuia, é melhor cuidar da sua
vida e da vida de seu Alex, já que é ele quem cuida do senhor...

Alex – Ouvir falar o meu nome?

Zé – Óia quem chegou? Eu tava até querendo falar com você...

Alex – O que é que o senhor quer comigo, seu Zé?

Zé – Eu quero agradecer porque o senhor me levou lá naquele... (Alex tapa a boca


de Zé)

Alex – Não precisa agradecer não, seu Zé! Eu tenho bom coração!

Zé – Eu gostei muito, quando é que vai me levar de novo naquele... (Alex tapa a
boca de Zé)

Alex – Se o senhor ficar falando demais, eu não levo nunca mais, só não posso
negar que foi bom!

Maria – Eh, lasqueira! Deve ter sido bom mesmo, pela cara de Alex...

Furico – Tá aqui minha nega!

Maria – Oh Furico, você é tão prestativo!

Zé – Muito prestativo mesmo, né Alex?

Alex – Seu Zé! Porque não cala essa boca! Pronto, vai acabar o sossego da gente...

Lara – Oi, falou comigo, Alex?

Alex – Não, dona Lara, aliás, eu não falo com mulheres falsas!
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Lara – Falsa? Eu? Mas seu Alex, eu que guardei o segredo de ter visto seu Zé
entrando naquele... (Alex tapa a boca de Lara)

Maria – Eh, lasqueira, esses dois só andam trocando farpas!

Lara – Dona Maria Preá, me desculpe a intromissão, mas a senhora já perguntou a


seu Furico porque que ele tem esse nome?

Maria – Eh, lasqueira taí uma coisa que nunca perguntei...

Alex – E nem vai perguntar, né dona Maria? Isso é segredo da vida dele...

Furico – Você quer saber a origem desse nome, Maria?

Maria – Se você quiser falar...

Daisy – Ninguém me chamou na conversa, mas eu ia passando por aqui e, sem


querer, ouvir a conversa de vocês...

Maria – O que é que tem a sua passagem por aqui, com o nome de Furico?

Daisy – Posso falar, seu Furico?

Alex – (Alex tapa a boca de Daisy)

Todos - Histórias que não se contam


Jamais serão conhecidas
O nome de todas as pessoas
Tem origem em suas vidas
Quando não são tão iguais
Se tornam histórias perdidas

Não importa o nome da pessoa


Se ela tem bom coração
Se a vida é uma lasqueira
Pra quê dar tanta opinião
Mas vale um amigo na feira
Que viver sem emoção

Assim é a vida no teatro


Uma comédia normal
Chega de tanta tragédia
O importante é ser plural
A gente agradece a presença
Esse é o nosso ato final

(Coreografia de forró e congelam)

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