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Personagens
Sinopse
Lasqueira de Maria Preá é um texto divertido que conta a história de uma feirante
numa cidade do interior alagoano, as cenas giram em torno do cotidiano da feira,
seus segredos, suas fofocas e o mistério em torno do nome de uma das personagens,
que não é revelado, mas deixa pistas para a plateia se divertir e interagir em
deduções.
CENA I – XAXADO
e dava pros filhos comer, eu sou a mais velha dos cinco que ele teve, quer dizer,
com minha mãe, porque o veio Pedro era safado demais, tinha mulher em todo que
é cidade. Ele era vendedor de feira livre, igualzinho a “eu”...
Zé – Eita mulher que fala alto! Quando ela chega na feira, ninguém mais dorme
sossegado, arre égua!
Maria – Eu ouvi muito bem o senhor dizendo: arre égua! Olhei pro lado de lá,
nada, olhei pro lado de cá, nada! Então onde está a égua? Eh lasqueira!
Maria – Só se for o rei da sujeira, um bêbado que só falta comer cachaça com
farinha...
Zé – Com farinha não, viu dona Maria! Eu sou um bom vivam, só gasto dinheiro
com coisas úteis, por exemplo, (segura uma garrafa de cachaça) esse whisky que eu
bebi na madrugada é uma fabricação importada do...
Maria – Do raio que o parta, seu Zé! Tá pensando que sou besta, é? Sai de perto de
mim, com esse fedor de Ypióca, a letra Y transformou cachaça em whisky
importado, foi!
Zé – Oh meu deus, perdoa essa tralha que não sabe reconhecer um homem de fino
trato.
Maria – Eu sei o fino trato. O senhor tá magro assim de tanto tomar cachaça sem
se alimentar direito...
Maria – Eu sei, vagem e resto de comida da feira que o senhor fica juntando.
Zé – Fique a senhora sabendo que hoje Alex vem aqui e ele disse que vai me levar
pra comer em um restaurante...
Alex – Qual é o babado com o meu nome? Não quero o meu rico nome na boca de
maricas, nem de Marias...
Maria – É verdade que o senhor vai levar esse traste para comer?
Maria – Não me meta no segredo de vocês. Se ele vai te levar pra comer o
problema é seu... eh lasqueira!
Zé – Diga a ela o nome do restaurante grã-fino que vai me levar, fala seu Alex!
Alex – Acho que desisti. Eu te falei que primeiro ia te levar para tomar um banho,
vestir uma roupinha decente...
Maria – Pelo jeito não é hoje que ele vai comer... eh lasqueira!
Zé – Seu Furico!
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Zé – Tou falando que seu Furico tá chegando, ele vem direto pra sua banca...
Maria – Ah, que susto! Pensei que o senhor tinha visto outra coisa...
Furico – Bom dia dona Maria Preá! Bom dia seu Zé Fubuia!
Maria – Eh lasqueira!
Furico – Vou dar um conselho pro senhor ficar de bico calado, viu seu Zé?
Zé – Eu falei o quê?
Maria – Que queria ver seu Furico cantando! Eh lasqueira! Ia ser uma música
fedorenta! Eh lasqueira!
Furico – Vou dar um conselho pra senhora, viu dona Maria Preá! É melhor a
senhora gritar as suas mercadorias, senão vai ficar com tudo encalhado.
Maria – Fique o senhor sabendo que eu não sou uma mulher encalhada...
Maria – Eu ia falar que o senhora já deu conselhos pro Alex ser feliz! Eh lasqueira,
a gente não pode falar nada nessa feira que o povo leva tudo pro buraco...
Alex – (Chega de surpresa) Qual é o problema de vocês que só vivem com o meu
nome na boca? Até o senhor seu Furico? Um homem dessa idade?
Furico – Eu não ia dar nada, dona Maria, por favor, a senhora está me colocando
em uma situação muito difícil...
Furico – Por que vocês dois não saem e deixam eu e dona Maria cuidar dos nossos
assuntos?
Maria – Eh lasqueira!
Daisy – (Se mete na conversa) Ouvi dizer que é um rapaz direito, que tá jogando
um bolão e em breve vai para o exterior...
Daisy – Eu sei de tudo, inclusive que na próxima semana ele vai renovar o contrato
com o CRB até o final do ano, depois...
Furico – Dona Daisy como é que a senhora sabe dessas coisas, hein?
Maria – Quer dizer que o tal jogador de futebol quer vim aqui pedir pra namorar
você, é isso Zelinda?
Zelinda – Pelo que eu entendi, hoje ele vai ter uma folga e vem aqui...
Furico – Não pensei, nem quero pensar, sou um homem aposentado e faço muito
gosto pra ser o seu par na feira e na vida!
Maria - Não estava sabendo de nada, pra mim tudo é uma surpresa...
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Daisy - Eu já sabia a muito tempo que seu Furico era muito decente...
Maria - O quê?
Zelinda - O quê?
Daisy – (Toda sensível e escandalosa) Ah, isso eu não vou perder nunca, é a
primeira vez que vejo uma bolacha apaixonada... ele tá todo crocante!
Cremecracker – Bom dia, Dona Maria Preá! Bom dia, pessoal!
Alex – Ah meu querido, eu sou como seu Furico, apareço em todo lugar...
Maria – Não se meta, viu dona Daisy! Parece que temos dois pedidos ao mesmo
tempo...
Zelinda – Eu aceito, mas como você sabe, sou estudante, entrei na faculdade
recentemente...
Daisy – Ele deve ter ficado muito emocionado, Alex e Cremecracker são amigos
íntimos...
Maria – O que posso dizer, filha? Se é para o bem de todos e felicidade geral da
nação, diga ao povo que aceito!
Daisy – Só falta dona Maria responder a seu Furico se aceita ou não... caso ela não
aceite, deixo bem claro que mesmo não tendo interesse no Furico de ninguém,
estou solteira!
Furico – Obrigado dona Maria, eu serei um homem realizado, mas por falar em
realizado, cadê seu Zé Fubuia?
Berna – Pois ouve o que não deve, onde já se viu, se meter assim na vida dos
outros...
Daisy – Desesperou, foi? Soltou todo o seu veneno, Dona Berna? Está mais aliviada
agora? Fique sabendo que eu não sou uma mulher virgem desesperada, saiba que
eu sou desejada por muitos homens, mas não sou de dar ousadia, não fico com as
cadeiras tremendo ao ouvir o batuque do coco...
Bal – (Voz impostada) E como eu tinha anunciado, vai começar, é agora meu povo,
esse é o Coco da Lasqueira...
Berna – Oh senhor, como ele é lindo, uma voz maravilhosa, um doce de coco, um
locutor de FM, ai, ai, ai, dá até uma tremedeira no corpo (Fica tremendo e olhando
fixamente para Bal)
Daisy – Ah, então é esse o assanhamento da mulher pudica? Quer dizer que o
corpo tava tremendo, mas não era pela música, era por causa de seu Bal...
Bal – (Sempre como se estivesse com um microfone na mão) Oi, quem foi que me
chamou?
Daisy – Ninguém te chamou, seu Bal...
Berna – Fui eu, seu Bal (Desesperada) não posso ouvir a sua voz que me dá um ui,
ui, ui, uma coisa sem explicação, o senhor tem a voz mais linda do mundo!
Bal – Feia? Que nada, ela é linda, muito linda por sinal, qual a sua graça?
Berna – Eu tenho essa aqui, oh... (Fica imitando diferentes jeitos de ri)
Daisy – (Rindo) Que mulher burra, meu Deus! Ele está perguntando o seu nome,
não a sua risada...
Daisy – (Se mete entre os dois) Obrigado seu Bal! O senhor é muito gentil!
Berna – Princesa? Oh, oh, chegue pra cá, acho que vou desmaiar... (Se joga nos
braços de Bal)
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Bal – Jamais! Venha para o ensaio do Coco. (Fazem uma cena de dança e saem)
CENA VI – Virada
Daisy – (Conversando sozinha) Será que aos trinta e dois anos eu já estou velha?
Agora estou me sentindo arrasada, acabada, rejeitada, uma mulher sem chances
de ser feliz ao lado de uma pessoa que me reconheça como linda (Vai delirando),
uma gostosa, uma gata maravilhosa... sou eu, a loba feroz que pode fazer qualquer
homem feliz!
Lara – É isso aí amiga! Levanta esse astral! Se joga na pista! Você é linda!
Daisy – Lara? Só você amiga, pra levantar o meu astral, eu tava tão deprê...
Lara – Joga essa depressão no lixo, amiga, você é encantadora, o homem que não
te enxerga só pode ser burro...
Daisy – Oh Lara, você é tão especial, tem o poder de me jogar pra cima, um
momentinho, vou ao banheiro, já imagino esse banheiro da feira... (Sai)
Lara – Um tribufu dessa, ainda quer arranjar namorado? Se pelo menos ela fosse
linda como eu, tivesse esse meu porte, mas não, Daisy tá acabadinha, né? Diz que
só tem trinta e dois anos, mas parece que já passou dos cinquenta a muito tempo...
Alex – Tava destilando algum veneno? Cuidado amiga, uma hora dessa você se
morde e adeus, venenosa como é...
Lara – É despeito, querido? As vezes eu penso que você tem inveja de mim, desse
meu corpitcho...
Alex – Abafa o caso, rapariga venenosa! Tou apertada, vou ao banheiro... (Sai
correndo, passa por Daisy)
Lara – Alex? Não vai mudar nunca, vive se agarrando com gatos e cachorros, não
se dá o valor, é uma bicha desclassificada, feia toda, mas se sente a Penélope do
pedaço...
Lara – Amiga? Alex não tem amigos, minha querida Daisy, ele é falso até a alma.
Tá pensando que as pessoas são boas, lidas como você? É nada!
Lara – Amigos? Alex não é amigo de ninguém, falou horrores de você... mas deixa
quieto, ele tá voltando...
Alex – Desculpa Daisinha, não pude falar direito com você, o xixi apertou...
Daisy – Daisinha, né Alex? Na minha ausência eu sou víbora, né?
Alex – Que história é essa, Daisy? Já sei, é você, não é Lara? Por que você nunca
está satisfeita com nada? Sempre tem que botar gosto ruim na amizade dos
outros...
Daisy – Prefiro sair daqui vocês devem ter muito para conversar... (Sai)
Alex – Viu, sua falsa? Agora Daisy vai pensar o quê de mim?
Lara – Deixa-a ir embora, seu bobo, a Daisinha que você pensa ser sua amiga,
falou horrores de você, mas por falar nisso, ela tá acabadinha, não é?
Alex – Não sei, não quero saber, não me interessa a vida dos outros, tá? Chupe um
picolé, querida, talvez isso esfrie a sua mente! (Sai)
Lara – Grosso! Alex se sente a pessoa mais importante do mundo, mas não vale
nada, já basta o rolo com seu Fubuia. Ainda bem que eu sou uma mulher recatada,
não me meto em rolos e não falo da vida de ninguém!
Maria – (Gritando) Furico, meu nego, pega um pouco de água pra molhar as
folhas...
Furico – É pra gora minha Maria, vou depositar na sua conta o meu dinheiro da
aposentadoria, você é o amor da minha vida e só me dá alegria!
Maria – Meu nego tá até poeta, fazendo de improviso a rima, quem sempre ficou
por baixo, agora só fica por cima, me agradou em tudo e a minha filha Zelinda!
Zé - A senhora depois de velha ficou foi muito assanhada!
Maria – Não se meta em minha vida, viu seu Zé Fubuia, é melhor cuidar da sua
vida e da vida de seu Alex, já que é ele quem cuida do senhor...
Alex – Não precisa agradecer não, seu Zé! Eu tenho bom coração!
Zé – Eu gostei muito, quando é que vai me levar de novo naquele... (Alex tapa a
boca de Zé)
Alex – Se o senhor ficar falando demais, eu não levo nunca mais, só não posso
negar que foi bom!
Maria – Eh, lasqueira! Deve ter sido bom mesmo, pela cara de Alex...
Alex – Seu Zé! Porque não cala essa boca! Pronto, vai acabar o sossego da gente...
Alex – Não, dona Lara, aliás, eu não falo com mulheres falsas!
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Lara – Falsa? Eu? Mas seu Alex, eu que guardei o segredo de ter visto seu Zé
entrando naquele... (Alex tapa a boca de Lara)
Alex – E nem vai perguntar, né dona Maria? Isso é segredo da vida dele...
Maria – O que é que tem a sua passagem por aqui, com o nome de Furico?