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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Marcelo Cavalheiro Pereira


Tainara Alves Barreto Peruna

AS RELAÇÕES ENTRE DIETAS RESTRITIVAS


E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

Porto Alegre - RS
2022
Marcelo Cavalheiro Pereira
Tainara Alves Barreto Peruna

AS RELAÇÕES ENTRE DIETAS RESTRITIVAS


E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

Trabalho de conclusão de curso


apresentado a Universidade Estácio,
como parte das exigências para obtenção
do título de Bacharel em Nutrição.

Porto Alegre, 26 de setembro de 2022.

Prof. Orientador: Marcelo Pierry Jr.


Agradecimentos

Às pessoas que pude contar com o apoio para realização deste estudo e as

quais me deram forças para vencer todos os obstáculos, expresso minha gratidão e

espero que jamais esqueçam que eu levarei um pedaço do seu ser dentro do meu

próprio ser... Com dedicação:

- Julia Matusiak Pereira pelo carinho, compreensão e por me dar estímulos

para que eu atingisse meu objetivo.

- Dina Cardoso Cavalheiro que derramou lágrimas para que eu fosse feliz e

acreditou em mim, apesar de meus erros, me dando ferramentas para que eu

oportunizasse este sonho.

- Paulo Roberto Todi Pereira pelas noites de sono que perdeu para que eu

sonhasse com este momento.

- A Universidade Estácio de Sá, Faculdade de Nutrição, que me possibilitou a

conclusão do curso e realização dessa pesquisa.


Sumário

1 Introdução.....................................................................................6

1.1 – Justificativa.....................................................................7

2 Objetivos........................................................................................9

2.1 Objetivo geral......................................................................9

2.2 Objetivo específico..............................................................9

2.3 Hipóteses.............................................................................9

3 Metodologia...................................................................................10

4 Referencial Teórico........................................................................11

4.1 Histórias sobre alimentos...................................................11

4.2 A cultura da dieta................................................................12

4.3 Transtorno Alimentar...........................................................15

4.4 Associações que trabalham com transtornos alimentares..17

4.5 Estratégias usadas pelo nutricionista..................................18

5 Resultados e discussões.................................................................29

6 Conclusão.........................................................................................35

7 Referências.......................................................................................36
Resumo
As dietas restritivas levam o sujeito a não ingerirem alguns nutrientes,
Vitaminas e minerais essenciais para o funcionamento do corpo. Quando o corpo
não é respeitado, vários problemas surgem e o que será retratado no presente
trabalho é sobre transtornos alimentares e como a nutrição auxilia esse sujeito nisso.
Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar as estratégias que serão
utilizadas pelo nutricionista e a relação com as dietas restritivas perante uma equipe
multidisciplinar.
Através da análise dos artigos foi possível verificar melhor conhecimento em
nutrição, métodos pouco divulgados como o comer intuitivo, a terapia cognitiva
comportamental, o mindfulness e como auxilia em pacientes com transtornos
alimentares, a nutrição vai além do emagrecimento, ser nutricionista não é só passar
dietas e sim ajudar o indivíduo a se relacionar com seu corpo e como a mente é
importante nesse processo.

Abstract
Restrictive diets lead the subject to not ingest some nutrients, vitamins and
minerals essential for the functioning of the body. When the body is not respected,
several problems arise and what will be portrayed in this article is about eating
disorders and how nutrition helps this subject in this. Thus, the present study aimed
to identify the strategies that will be used by the nutritionist and the relationship with
restrictive diets before a multidisciplinary team.
Through the analysis of the articles, it was possible to verify better
knowledge in nutrition, little-known methods such as intuitive eating, cognitive
behavioral therapy, mindfulness and how it helps patients with eating disorders,
nutrition goes beyond weight loss, being a nutritionist is not just about spending diets
but to help the individual to relate to his body and how the mind is important in this
process.
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1 INTRODUÇÃO
As dietas restritivas vêm crescendo muito nos últimos tempos, principalmente
depois das redes sociais, pois influencers digitais acabam compartilhando foto dos
seus corpos visto como perfeito incentivando outros indivíduos a não se alimentarem
em busca do mesmo objetivo, porém cada sujeito tem o seu biotipo, tem a sua
genética e quando usam o mesmo produto indicado por outrem não consegue o
mesmo resultado gerando algum transtorno, principalmente o alimentar. O
transtorno alimentar segundo o DSM-4 é:
Caracterizado por uma perturbação persistente na alimentação ou
no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou
na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a
saúde física ou o funcionamento psicossocial.

As pessoas acabam não sabendo mais o que é sentir fome de tanta


restrição que é feita, logo o que será abordada na pesquisa é qual a solução diante
de um cenário de dietas da moda e que pode sim emagrecer comendo de forma
equilibrada, o que não deve ser feito é restringir alimentos gerando transtornos
alimentares. O panorama da sociedade do ocidente é aquele que valoriza o corpo
magro existindo uma pressão para que o emagrecimento ocorra a qualquer custo,
sem pensar no cunho social representado pelo mesmo, a partir disso vem as “dietas
da moda”, as dietas restritivas- encaixando todos os corpos no mesmo padrão, isso
ocorre principalmente com as mulheres, enfatizando o culto ao corpo. Diversas
propagandas de TV, produtos relacionados ao emagrecimento e até mesmo
profissionais de saúde com promessas em redes sociais de emagrecimento em 30
dias. O erro não está em querer emagrecer e sim como esse processo acontece,
será que em 30 dias uma pessoa consegue emagrecer de forma saudável? Existem
formas de emagrecimento sem punir a si mesmo e sem destruir o seu corpo, quando
proíbe um alimento, quando o mesmo é dividido em bom ou ruim, é a partir daí que
entra a restrição, o indivíduo não senti mais prazer ao comer e sim contando
calorias, passa a determinar o que pode ou não comer. A sociedade impõe um
padrão de beleza que é incorporado de forma inconsciente e na busca por um corpo
perfeito surge dietas restritivas, exercícios físicos intensos, cirurgias plásticas,
procedimentos estéticos invasivos e jejuns feitos de forma equivocada. As dietas
7

incluem Propagandas de TV, redes sociais, revistas influenciando indivíduos a fazer


o mesmo que determinada artista como se todos os corpos fossem iguais, como se
todos tivessem o mesmo biotipo. O comportamento alimentar é um fenômeno
complexo, que vai além do ato de comer. (Castillo et al), também relacionam a
ingestão de alimentos a estímulos internos e externos, considerando fatores
orgânicos, psicológicos e sociais. Desse modo, o ato de comer transcende o valor
nutritivo e as características sensoriais do alimento, possuindo motivações ocultas
relacionadas às carências psicológicas e às vivências emotivas e conflituosas que
independem da fome. Associada ao padrão do corpo magro, são veiculadas as
mensagens de sucesso, controle, aceitação, conquistas de amor e estabilidade
psicológica. Assim, as pessoas acreditam que, com a magreza, alcançará todas
essas qualidades vistas como positivas, sendo a prática de dietas vendida como
solução para todas as dificuldades. E, na ocorrência de insucesso na redução de
peso, o indivíduo é visto como incapaz e sem autocontrole. Entretanto, o padrão
imposto como ideal não respeita os diferentes corpos induzindo assim as pessoas a
se sentirem fora do padrão e para isso, iniciam dietas e aderem a práticas
inadequadas de controle de peso, tais como: fumo, vômitos autoinduzidos, laxativos
e remédios para emagrecer. Diante desse cenário, quais são as estratégias
utilizadas com os indivíduos que apresentam transtornos alimentares? Várias
abordagens estão sendo utilizadas, principalmente o comer intuitivo aonde o
indivíduo foca a sua atenção no alimento, respeitando o seu corpo e a sua relação
com a alimentação. Serão abordadas as premissas básicas do comer intuitivo que
são: Rejeitar a mentalidade da dieta, respeitar a fome, fazer as pazes com a comida,
desafiar o policial alimentar, descobrir o fator satisfação, sentir a sua saciedade, lidar
com as suas emoções com gentileza, respeitar o seu corpo, movimentar-se sentindo
a diferença e honrar a sua saúde com uma nutrição gentil. O Nutricionista irá auxiliar
o sujeito no tratamento do transtorno alimentar a partir dessas premissas
estabelecendo uma relação de segurança e confiança com o indivíduo.
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1.1 justificativa
O presente artigo visa mostrar para a sociedade sobre o quão prejudicial
são as dietas restritivas tanto para o corpo quanto para a mente. Provocam
desequilíbrios hormonais, desordens no corpo, ansiedade, sentimento de culpa e
obsessão pela comida. A pratica de restrição alimentar acarreta efeitos nocivos
prejudicando a nutrição do organismo. A mídia idealiza um corpo perfeito gerando
uma pressão social para que o indivíduo se encaixe em um padrão, aderindo às
dietas da moda para alcançar uma redução de peso em curto prazo. Pessoas que
vivem fazendo dietas tendem a ser mais propícios a obsessões alimentares,
episódios de compulsão alimentar e transtornos relacionados à alimentação,
desenvolvendo hábitos como a preocupação excessiva com as calorias consumidas,
além disso, muitas vezes sofrem as consequências de uma dieta com baixo aporte
nutricional como maior irritabilidade, dificuldade de concentração, fadiga, intolerância
ao frio, nervosismo, euforia, cefaleia, queda de cabelo, unhas fracas, colesterol
elevado. As dietas da moda geram um grande impacto no perfil comportamental de
indivíduos que fazem adesão a elas, acreditando no seu “potencial milagroso” de
redução drástica e veloz de peso. Cada vez mais pessoas adotam dietas da moda
devido à influência das mídias, principalmente das redes sociais, que atualmente
dão muito poder de persuasão para influenciadores que muitas vezes não têm
nenhum conhecimento técnico, o que em uma área da saúde como a Nutrição é
completamente negativo para a sociedade. “A alternância constante entre dietas
restritivas e sem base científica, como são as dietas da moda, é um fator precursor
para o desenvolvimento de hábitos característicos de transtornos alimentares” (Lima
et al., 2015). Acreditava-se que os transtornos alimentares ocorriam apenas em
adolescentes, atualmente através de estudos percebe-se uma incidência maior entre
homens e mulheres com mais idade, pessoas engajadas em dietas da moda,
fazendo jejum apoiadas até mesmo por profissionais de saúde, tomando remédios e
usando produtos prometendo o emagrecimento em 30 dias. Diante desses cenários
o estudo tem como objetivo analisar a relação das dietas radicais com os transtornos
alimentares e como isso afeta a saúde tanto de homens quanto de mulheres que
querem emagrecer de forma que venha a agredir o seu próprio corpo.
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2 OBJETIVOS
Diante do cenário de dietas restritivas, o objetivo principal do artigo é
perceber a relação do homem com o corpo e como isso tem impactado na sua forma
de se alimentar, qual a relação do comer transtornado e o transtorno alimentar.

2.1 Objetivo Geral


Identificar as estratégias que serão utilizadas pelo nutricionista, perante uma
equipe multidisciplinar para lidar com o indivíduo que esteja enfrentando um
transtorno alimentar causado por dietas restritivas.

2.2 Objetivo Específico


 Analisar a relação entre dietas restritivas e transtornos alimentares.
 Investigar o que levou os indivíduos a não se alimentarem.
 Identificar os principais elementos motivadores diante das dietas restritivas.
 Identificar quais estratégias usadas quando o transtorno alimentar já foi
estabelecido

2.3 Hipótese
As dietas impactaram de forma drástica os indivíduos levando os mesmos a
adquirirem transtornos alimentares que vão desde o não comer até o comer de
forma compulsiva.
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3 METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido por meio de referencial teórico, a partir de
materiais disponíveis na internet em sites confiáveis, como: google acadêmico,
scielo e BDTD (Biblioteca digital de teses e dissertações), foram coletados dados
com base em artigos científicos por meio de uma revisão bibliográfica. O artigo
começou a ser desenvolvido no semestre passado com a disciplina de projeto de
TCC e dado continuidade a partir do semestre vigente.
Conforme Gil (2002), “o levantamento bibliográfico é constituído de livros e
artigos científicos com materiais já elaborados, tendo como vantagem principal uma
cobertura mais ampla”. “A pesquisa bibliográfica é um procedimento metodológico
que se oferece ao pesquisador como uma possibilidade na busca de soluções para
seu problema de pesquisa “(LIMA; MIOTO, 2007). O trabalho científico teve como
objetivo reunir e analisar os dados pelos quais já tinham sido publicados, textos
disponíveis para dá um respaldo para a pesquisa executada.
A pesquisa científica engloba diversos aspectos para obter um resultado, a
pesquisa realizada foi a básica, foi realizada um aprofundamento de um
conhecimento científico já existente. Utilizamos a pesquisa básica estratégica, aonde
recomendamos a construção de futuros estudos que possam resolver as causas dos
transtornos alimentares.
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4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 História sobre o alimento
A culinária diz muito sobre a sociedade, um modo de se reunir em torno da
mesa, um modo de dividir a comida, as memórias que determinada comida traz e
assim por diante. O ato de comer vai além de apenas nutrir o corpo.
O alimentar-se vai além de uma questão fisiológica de necessidade de
nutrientes e constrói costumes selando relações entre indivíduo e a sociedade.
Segundo Gallian, “não é mera coincidência que alguns os acontecimentos e ideias
mais importantes e marcantes da história da civilização ocidental estão inseridos em
contextos de refeições ou banquetes”. Esse autor cita a última ceia de Jesus Cristo,
que representa um marco histórico na espiritualidade e que é rememorada em
cerimônia até hoje como um momento sagrado. Cita também o banquete de Platão,
que representa um marco histórico no pensamento como um debate fisiológico
sobre o amor. Bakhtin reflete sob o espírito renascentista, no banquete de Rabelais,
através do personagem Gordo-Guilherme, um espirito que revela verdade na
imanência do mundo: o encontro do homem com o mundo que se opera na grande
boca (...) é um os assuntos mais antigos e marcantes do pensamento humano. Para
Gallian, “ O banquete é sempre uma escola dos sentidos”.

A alimentação vai além do nutriente em si, do quanto de calorias a pessoa


gasta ao se alimentar, existe um aspecto social muito forte que deve ser levado em
consideração. Existem questões do ato de comer que estão relacionadas a vivências
psicológicas que são colocadas na comida independente se o indivíduo está ou não
sentindo fome levando assim a compulsão ou restrição alimentar que se dá na
maioria das vezes pela “cultura do corpo” e a pressão pela magreza levando a
comportamentos disfuncionais. Field et al. 33 realizaram um estudo de coorte
prospectivo, com 6982 mulheres com idade entre 9 e 14 anos, durante um ano
(1996 e 1997). Os autores demonstraram que a mídia popular é parcialmente
responsável por criar objetivos de peso e corpo irreais para mulheres jovens e
adolescentes. O ideal de peso é severamente baixo, na visão da comunidade
médica. Atrizes e modelos apresentam magreza extrema, de aspecto impactante, o
que pode contribuir para aumentar o risco de desenvolvimento de comportamentos
bulímicos, como a prática de vômitos ou o consumo de laxantes para o controle do
peso. As pessoas gordas são vistas muitas vezes como aquela que não controla o
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apetite entendida, portanto, como a incapacidade de controlar a si mesmo, já o


corpo magro é aquele visto como saudável e belo. Assim uma auto-estigmatização é
gerada, uma exclusão de si mesmo, e uma intensa culpa social. Logo o obeso se
encontra na obrigação de emagrecer.
Fischler (2001) destaca que o que caracteriza os contemporâneos é o desejo
do corpo absolutamente livre de todo traço de adiposidade, seja a que compõe os
tecidos, seja a que circula como o colesterol. Só o músculo é nobre. A gordura não
aparece mais como “uma reserva de segurança, signo de uma gestão econômica e
racionalizada, e sim uma invasão parasitária, uma acumulação anormal e
aproveitadora, uma retenção nefasta” (Fischler, 2001, p. 317). O gordo sente
vergonha de si mesmo, carrega não só um peso no corpo mais também na alma, o
corpo gordo é um corpo recusado. Logo as dietas vêm para “consertar” essas
pessoas que são vistas como desleixadas com a promessa de vida saudável. Será
que só os magros são saudáveis? Segundo Sophie Deram: “Alimentos são
informações, não apenas calorias”. O nutricionista tem o papel de informar ao seu
paciente ou cliente sobre isso, tranquilizando a não focar apenas na caloria que esse
alimento tem, pois vai além disso evitando assim uma visão reducionista do mesmo.
Separar os alimentos em bons ou ruins, saudáveis ou não atrapalha a relação do
indivíduo com a comida causando da maior parte do tempo o medo de comer.
Cada alimento tem seu momento, as pessoas só devem fazer restrição
alimentar caso exista algum problema de saúde como: doença celíaca, alergias,
intolerância e não definir isso para todos como muitos profissionais tem feito,
atribuindo carga moral a determinados alimentos. Percebe-se isso com o
nutricionismo, alguns alimentos são demonizados e outros exaltados. Esquecendo
muitas vezes que ao comer não ingerimos apenas nutrientes e sim receitas,
memórias, lembranças carregadas de emoções.

4.2 A cultura da Dieta


Dietas restritivas são aquelas que levam o sujeito a deixar de ingerir
nutrientes essenciais ao seu corpo como proteínas, gorduras boas e carboidratos.
Existem várias dietas assim como: Dietas low carb, dietas da sopa, dietas paleo,
dieta da lua, dieta dos pontos, enfim, são diversas e a cada ano vai surgindo mais e
sem nenhum embasamento científico. Dentre as consequências das dietas
restritivas estão a queda de cabelo, unhas fracas, aumento do colesterol,
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nervosismo, fadiga, pele seca e muitas outras, essas dietas levam a carências
nutricionais fazendo com que indivíduos desenvolva doenças tanto de cunho físico
como emocionais como é o caso dos transtornos alimentares. A escritora feminista
Naomi Wolf defende que a cultura focada na magreza feminina não revela uma
obsessão com a beleza feminina, mas com a obediência feminina. Ainda afirma que
“fazer dietas é o sedativo político mais potente na história das mulheres, uma
população passivamente insana pode ser controlada”. A mesma retrata como a
cultura da dieta oprime as pessoas e as mulheres é o principal alvo.
A dieta impacta tanto na saúde física quanto mental gerando um comer
transtornado, ansiedade e depressão. Muitas vezes a perda de peso é necessária,
mas não é dessa forma que é realizada, é um processo que deve ser feito com
atenção e cuidado, respeitando o corpo de cada indivíduo. Quando o corpo do
indivíduo não é respeitado dietas da moda levam os mesmo a desenvolverem vários
problemas, dentre eles o transtorno alimentar que são doenças que afetam tanto
adolescentes quanto adultos principalmente do sexo feminino levando a prejuízos
psíquicos e sociais aumentando a sensação de fracasso, aumentando a
preocupação com a comida, aumentando a sensação de privação e diminuindo a
força de vontade. A indústria da dieta e os padrões estéticos fazem com que a
maioria das pessoas deixem de se preocupar com a quantidade da alimentação e
passem a beber e comer com base no que engorda e emagrece.
Conhecer a composição dos alimentos é importante, assim como a educação
nutricional também, esse artigo não visa fazer apologia a obesidade e sim mostrar
que alimentos fazem parte de determinado contexto e viver contando calorias pode é
na maioria das vezes exaustivo causando ansiedade, levando o indivíduo ao
adoecimento o que é totalmente contrário ao juramento feito por nutricionista
instituído pelo art. 1º da resolução CFN nº 382, de 27 de abril de 2006 que diz:
Prometo que, ao exercer a profissão de nutricionista, o farei com
dignidade e eficiência, valendo-se da ciência da nutrição, em benefício da
saúde da pessoa, sem discriminação de qualquer natureza. Prometo, ainda,
que serei fiel aos princípios da moral e da ética. Ao cumprir este juramento
com dedicação, desejo ser merecedor dos louros que a profissão
proporciona.

Logo o nutricionista deve promover a saúde do indivíduo e não apenas


emagrecimento, o mesmo é um processo e muitas vezes lento, em nenhuma
hipótese deve discriminar alguém por ser gordo, por não se encaixar em
determinado padrão de beleza instituído por uma cultura onde o lucro vem em
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primeiro lugar, aonde a venda de suplementos é mais importante do que o alimento


in natura. Assim existindo uma contrariedade com o juramento do nutricionista.
Geralmente uma pessoa quando quer emagrecer diz fazer isso em busca de
saúde, mas ao fazer isso com restrições alimentares ela traz consigo problemas
maiores que comendo sem regras rígidas através de uma nutrição gentil ela não
teria. Quando mais uma pessoa se esforça em seguir uma dieta, mas ela fracassa
sabe por que isso acontece? O cérebro não entende que você quer passar por isso,
ele entende que você está passando fome e não libera substâncias que estimulam
você a procurar grandes quantidades de comida para sobreviver e para a maioria a
pressão é tanta que leva ao descontrole. Comer é uma necessidade de
sobrevivência, é um fator fisiológico, se você o coloca em privação o seu
metabolismo diminui deixando-o estressado, desanimado, havendo um ganho de
peso. Então olha só que contradição: você faz dietas restritivas para emagrecer e o
que acontece é que você engorda por que o indivíduo não tem o poder sobre
funções fisiológicas., não tem como entrar em guerra com seu próprio corpo.
Estudos mostram que mais de 95% de pessoas que fazem dietas restritivas voltam a
engordar que é o efeito sanfona: a oscilação na balança.
Bacon e amphamor,2011 diz:
O efeito Sanfona em si é um fator independente para doenças
cardiovasculares, inflamações, pressão arterial alta e resistência a insulina,
mas ele raramente é controlado em estudos abrangentes que associam
peso a questões de saúde.

Logo, através de estudos foi revelado que o efeito sanfona é responsável por
mortalidade atribuída ao tamanho do corpo. Ao invés de entrar em guerra com seu
corpo, respeite-o. Cuidar da saúde não tem nada a ver com uma nutrição pautada
na restrição e na privação e sim numa mudança de atitude, a mudança de hábitos
vem aos poucos, é reeducando um paladar que era muito doce, é comprando mais
frutas, é comendo um chocolate ao invés de dois é cozinhando mais e comprando
menos em restaurantes. Aos poucos você vai adquirindo qualidade de vida sem
maltratar a si mesmo. Não estabelecer metais é o ponto chave, já pensou se você
estabelece determinada data e não consegue cumprir? Logo virá a sensação de
fracasso e então a perda de peso fica mais difícil de ser alcançado.
As pessoas só adquirem o peso que tanto almejam quando entende os sinais
de fome e saciedade, e quando entende que liberdade incondicional para comer não
é comer de forma aleatória e nem comer compulsivamente e sim você escolher o
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alimento de acordo com o contexto e ter uma alimentação variada e sem restrições
para não cair na armadilha do comer transtornado e do transtorno alimentar.

4.3 Transtorno Alimentar


O transtorno alimentar é uma doença mental complexa e não é coisa de
adolescente como muitas pessoas acham, crianças estão enfrentando anorexia, é
um assunto sério e que deve ser falado. Apesar do índice ser maior em mulheres, os
transtornos podem acometer ambos os gêneros, variados pesos e diferentes classes
sociais, o tornando um grande problema de saúde pública, sendo o nutricionista um
grande aliado para resolução dessa doença, irá avaliar o estado nutricional e, a
partir do diagnóstico nutricional e juntamente com uma equipe multidisciplinar irá
desenvolver um planejamento alimentar e promover a recuperação desses
indivíduos.
Os principais transtornos alimentares são: Anorexia, bulimia, compulsão
alimentar, ortorexia, dentre outros. Na anorexia existe uma perda de peso intensa, o
indivíduo deixa de se alimentar, existe também uma distorção de imagem onde o
mesmo estando magra (a) a pessoa se percebe gorda (o). Segundo o sistema
classificatório da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders (DSMIV2), existem dois tipos de apresentação clínica da doença: no
primeiro, as pacientes apenas empregam comportamentos restritivos associados à
dieta (“tipo restritivo”); no outro grupo (“tipo purgativo”) ocorrem episódios de
compulsão alimentar ou comportamentos mais perigosos, como os vômitos
autoinduzidos, o abuso de laxativos e de diuréticos. A classificação dos transtornos
mentais e do comportamento da Classificação Internacional de Doenças – 10ª
Edição (CID-103) já não distingue tipos de anorexia e, portanto, pacientes anoréticas
que apresentam episódios bulímicos podem receber os dois diagnósticos: anorexia e
bulimia. Já na bulimia o indivíduo se alimenta muitas vezes de forma compulsiva e
depois induz o vômito ou então utiliza remédios que levam ao emagrecimento por
conta própria sem consultar médicos nutrólogos. Na compulsão alimentar existe um
distúrbio, sendo caracterizado pela ingestão excessiva de alimentos, a pessoa perde
a noção da quantidade que está ingerindo pois ela não come por que está com fome
e sim por que existe uma ansiedade por trás do alimento. A ortorexia muitas vezes
passa despercebida por que o indivíduo tem fixação pela saúde. O problema é que
16

essa fixação leva a restrição, pois o mesmo se alimenta de alimentos segundo eles
“puros”. Segundo donini et al,
A ortorexia nervosa se aproxima de um distúrbio de personalidade
ou de comportamento podendo ter 10 relações com as crenças ou as
atitudes ligadas a costumes religiosos ou filosóficos, já que muitas religiões
valorizam práticas alimentares ascéticas.

Existem muitos fatores que influenciam no desenvolvimento de transtorno


alimentar, como familiares comentando sobre o corpo do indivíduo, a sua forma de
se alimentar, as pressões exercidas na escola, para se encaixar num padrão, as
transições para novas fases da vida, gerando um impacto na vida do sujeito que
acaba colocando toda a ansiedade na forma de se alimentar ou na ausência dela.
A nutrição como ciência está sempre evoluindo sendo um erro pensar que
exista um conjunto de alimentos que só faça o bem para saúde, sendo considerado
perfeito, um bom exemplo é o ovo que já foi visto muitas vezes como vilão e hoje é
muito indicado por profissionais de saúde, a informação muda o tempo inteiro, logo
será que existe uma forma perfeita de comer?
Começa na maioria das vezes de forma inocente, com um cuidado ao corpo
partindo para o autocontrole, na busca pela pureza dos alimentos pessoas com esse
transtorno perdem amigos e se afastam da família por acharem que todos devem
viver como eles, livre de corantes, alimentos industrializados fazendo com que o
isolamento social aconteça.
Em todos os transtornos alimentares podem existir a cura, para isso o sujeito
deve procurar a avaliação de um especialista no assunto como o nutricionista que
tem um papel importante como profissional capaz de fazer um tratamento à base da
reeducação alimentar, indo aos poucos retomando o processo de alimentação
adequada pois o tratamento dessas doenças é baseado em devolver a pessoa
qualidade de vida. A terapia nutricional é o processo que envolve o monitoramento
do estado nutricional do paciente e o tratamento em si, no qual o nutricionista e a
equipe trabalham juntos para modificar os comportamentos relacionados à
alimentação e ao peso do paciente (ALVARENGA; PHILIPPI, 2004; VALE; ELIAS,
2011).
O nutricionista não pode ter um olhar julgador e deve entender o
comportamento alimentar que o paciente se encontra. Na anamnese buscar as
maiores informações possíveis para que o diagnóstico aconteça. O profissional deve
orientar o cliente, sobre a importância da nutrição e as consequências tanto física
17

quanto mentais que esse transtorno pode causar. O paciente precisa sentir
confiança com o nutricionista para que o vínculo seja estabelecido assim o mesmo
irá permitir intervenções e alterações na relação paciente/alimento, para que esse
indivíduo alcance a autonomia de forma consciente e saudável, conquistando os
benefícios que os alimentos produzem em seu organismo (GALISA et al., 2014).

4.4 Associações que trabalham com Transtorno Alimentar

Existem algumas associações e organizações que vale a pena ser explorada


e citada nesse artigo, pois o transtorno alimentar é uma doença comprometedora e
que merece uma e deve ser estudada, logo essas associações prestam serviço a
sociedade, algumas por meio do atendimento e outras através de estudos e
pesquisas. São elas:

 SOBRATA: Sociedade Brasileira de transtornos alimentares, Tem como


finalidade unir especialista para desenvolver estudos online e periódicos
sobre o tema, mas não faz atendimento ao público.
 AMBULIM: É um programa de tratamento de transtornos alimentares
realizado pelo SUS, os ambulatórios estão estruturados em unidades
especializadas de atendimento a crianças, adolescentes, homens e
mulheres além de oferecer informações e apoio aos familiares.
 CASA VIVA: Grupo formado por médicos, nutricionistas, psicólogas e
psicanalistas com experiência em transtorno alimentar visando o
atendimento das pessoas que sofrem com esse transtorno.
 GENTA: Grupo de nutricionista e educadora física que visa estudos
acerca do tema e a prevenção do mesmo.

 PROATA: Núcleo de atendimento aos transtornos alimentares, formado


por uma equipe multidisciplinar.
 CEPSIC: Centro de estudo de Psicologia da saúde.
 ASTRALBR: Tem como função informar, orientar e divulgar referências e
conhecimentos sobre transtorno alimentar.
18

4.5 Estratégias Usadas pelo nutricionista

Os modos de subjetivação da sociedade atual permitem com que a sociedade


manipule e exerça o controle sobre o corpo do outro das mais variadas formas,
fazendo com que se torne objeto de consumo. E qual deve ser a melhor estratégia
utilizada pelo profissional nutricionista para lidar com pacientes que querem
emagrecer de forma saudável sem utilizar de dietas restritivas? Tem como
emagrecer sem aderir a dietas da moda? Pode emagrecer comendo tudo?

Diante desses cenários, onde o alimento é visto muitas vezes como escape
para questões de natureza psicológica, novas abordagens foram surgindo e dentre
elas se destacam o mindfulness, mindful eating, e o comer intuitivo. São estratégias
utilizadas para tratar de comportamentos alimentares disfuncionais. O mindfulness
também é chamado de atenção plena, Segundo Baer (2003, p. 125) “o mindfulness
remete para a observação não julgadora da contínua corrente de estímulos internos
e externos à medida que eles surgem”. Alimentar-se de forma consciente é entrar
em contato com seu corpo e usar todos os sentidos na hora de comer. Ser
consciente é prestar atenção no presente, sem julgamento, comer quando tem fome
e parar quando tiver satisfeito. O mindfulness tem sido descrito na literatura como
detendo qualidades de traços, enquanto uma capacidade inerente e natural do
organismo humano (Brown & Ryan, 2004, p.246), onde se mantém o foco de
atenção, abertura e aceitação, “na vida diária” (Baer, Smith, Hopkins, Krietemeyer, &
Toney, 2006). Reconhece-se, não obstante, que esta qualidade pode ser promovida
através de práticas meditativas e o seu treino tem sido incluído em intervenções com
resultados positivos (Baer, 2003) em termos psicológicos e físicos (Kabat-Zinn,
1990; Shapiro, Schwartz, & Bonner, 1998), predizendo maior autorregularão, bem-
estar e menor perturbação cognitiva e emocional (Brown & Ryan, 2003). A
abordagem do mindfulness faz com que o sujeito entre em contato consigo e
estabeleça uma relação com a comida através de uma atenção plena e do seu
autoconhecimento. Diante de algum pensamento distorcido por meio da quebra de
regras alimentares, o mindfulness trata desse sujeito sem nenhum juízo de valor
facilitando o processo com a alimentação. Num artigo de 2003, Brown e Ryan
trabalharam uma definição de mindfulness a partir dos conceitos de consciência,
explicando que a percepção e atenção fazem parte desse constructo. A percepção
19

trabalhando como fundo, seria o radar da consciência e a atenção seria o processo


de focar a percepção consciente em determinada experiência.
O que acontece é que a maioria das pessoas perderam a habilidade de ter
atenção na hora da alimentação, comem na frente da TV e quando se dão conta o
prato já está vazio ou então comem com o celular na mão e isso faz com que a
atenção seja dispersa trazendo prejuízos na hora da alimentação. A prática do
mindful eating ajuda a reconectar o corpo com a mente, é preciso retomar a
consciência em relação a comida para ajudar a nutrir tanto a saúde física quanto
mental, é preciso saber distinguir entre a fome física e a fome emocional. Pesquisas
sugerem que ter consciência ao comer auxilia na perda de peso e nas escolhas
saudáveis. É bom para o sujeito, para a sua saúde não fazer restrições ao comer,
assim aceitando seu próprio corpo ele passa a não focar apenas na perda e peso e
percebe que o emagrecimento é um processo. O comer consciente ajuda a reduzir
compulsões alimentares, controla estados emocionais, facilita escolhas alimentares
conscientes, cultiva a auto aceitação e desenvolve a percepção de fome e
saciedade. O indivíduo passa a entender o seu corpo.
O nutricionista vai ajudar o sujeito a entender que é um processo lento, mas é
a longo prazo, sendo que a maioria das dietas restritivas é de forma rápida mais a
curto prazo e ainda com prejuízos à saúde. É auxiliar o sujeito em escolhas
alimentares saudáveis, praticando atividades físicas que dê prazer e sem culpa, sem
frustações e com qualidade.

O comer intuitivo é uma abordagem baseada em evidências criada por volta


dos anos 90 com o objetivo de ensinar o cliente ou paciente a se reconectar com os
sinais do corpo, O que o seu corpo está pedindo? Sem restrições e sem regras
impostas por blogueiros. O comer intuitivo não é comer o que quiser e na hora que
quiser, ou se alimentar de qualquer coisa. Não é isso e sim restabelece a relação de
paz com a alimentação e com o corpo, diante disso foi desenvolvido então dez
princípios básicos do Comer intuitivo, rejeitar a mentalidade da dieta, honrar a fome,
fazer as pazes com a comida, desafiar o policial alimentar, sentir saciedade,
descobrir o fator de satisfação, lidar com as emoções sem usar a comida, respeitar
seu corpo, exercitar-se sentindo a diferença e honrar a saúde. Muitos indivíduos não
aderem a essa abordagem pois a cultura da dieta já está engessada, cabe ao
nutricionista compreender esse processo e entender que cada um tem seu tempo, e
20

que essa é uma jornada com altos e baixos levando em consideração que o comer
intuitivo não faz apologia à obesidade, e sim ajuda o sujeito a fazer as pazes com o
corpo e com a comida, confiando nesse processo levando a escolhas saudáveis a
longo prazo. Em 2006, Tracy Tylka, da universidade Estadual de Ohio, publicou um
estudo referência com quase 1300 universitárias que validou os três pilares do
comer intuitivo:
1. Permissão incondicional para comer o alimento desejado quando estiver
com fome.
2. Comer por razões físicas, não emocionais.
3. Confiar nos sinais internos de fome e saciedade para determinar quando
e quanto comer.
Essa pesquisa foi importante para validar as premissas do comer intuitivo,
tornando-o essa teoria científica. O pilar central do comer intuitivo é a consciência
interoceptiva que é a capacidade de perceber as sensações que acontecem no
corpo do indivíduo, como a pessoa se reconecta com o corpo. O grande desafio que
a cultura da dieta coloca é justamente não confiar nos sinais de fome e saciedade
que o corpo apresenta, as pessoas comem de acordo com o que os desafios
milagrosos acreditam e por meio das regras que norteiam a sociedade. Segundo
Ricciardelli,2016, o comer intuitivo foi associado a alguns benefícios como:
1. Maior satisfação e apreciação do corpo
2. Funcionamento emocional positivo
3. Maior satisfação com a vida
4. Autoestima e otimismo incondicionais
5. Resistência psicológica
6. Maior motivação para atividades físicas, com foco no prazer e não na
culpa ou aparência.

O Comer intuitivo é pautado no bem-estar do indivíduo lidando com seus


processos internos com gentileza e rejeitando a mentalidade de dieta. Um estudo de
2019 realizado por uma equipe de pesquisadores Europeus analisou 86 pessoas -
44 com anorexia nervosa e um grupo de controle de 42 pessoas saudáveis - para
avaliar as relações entre o comer intuitivo, a recuperação do transtorno alimentar e a
sensibilidade interoceptiva. Esse estudo chegou a uma série de descobertas
fundamentais. As pessoas do grupo de controle com a pontuação mais alta em
21

comer intuitivo também tinham a sensibilidade interoceptiva mais alta, depois que as
pessoas com anorexia apresentaram boa recuperação e ganharam até peso. O
estudo foi promissor para demonstrar que o comer intuitivo funciona na recuperação
do transtorno alimentar. Além da recuperação o comer intuitivo trabalha na
prevenção dos transtornos alimentares pois fortalece a autonomia do sujeito, a
alegria ao comer, tornando o comer uma pratica prazerosa, superando
preocupações com o corpo.

Sob o olhar de Alvarenga M. (2016), a nutrição comportamental não é de fato


uma especialidade, ela se justifica como uma abordagem inovadora, que inclui
aspectos sociológicos, sociais, culturais e emocionais da alimentação, abrindo
espaço para a atuação do nutricionista, que viu a necessidade de um algo a mais
para tratar pacientes que apresentavam transtornos alimentares e dificuldades em
seguir dietas padrão ou orientações nutricionais tradicionais. Nessa visão, o principal
papel da nutrição comportamental é a comunicação responsável e científica, que
transmita mensagens consistentes, considerando que esses transtornos têm
diversas causas como, por exemplo, psicológicas, biológicas e socioculturais, e
devem ser tratados respeitando as crenças e valores do paciente (ALVARENGA M.,
2016).

Uma prática que pode auxiliar o indivíduo a entrar em contato com a suas
questões e evitando que seja descontado no ato de comer é a meditação. As
práticas meditativas visam atingir um estado de calma, generosidade, compaixão,
concentração, ética e autorregulação da atenção à consciência das experiências
imediatas (VISCARDI et al., 2019). Segundo Souza et al. (2020), a meditação
também favorece o desenvolvimento de habilidades e regulação das emoções,
como o cultivo do bem-estar e o equilíbrio emocional.
A palavra mindfulness para os budistas remete a atividade da mente, a
constante de manter a consciência. Neste contexto, dimensões afetivas, éticas e o
ato da vigilância (lembrar de manter a consciência) se integram em mindfulness
como uma prática, um processo dinâmico que pode estar inserido na vida como um
todo (GROSSMAN; DAM, 2011). É voltar a sua atenção para o ato de comer, é
manter a mente ativa e ter uma consciência voltada para aquele ato. Atenção plena
não é apenas comer devagar, prestando atenção ao que se está comendo, é
22

também perceber o sabor da comida, a consciência dos sinais de fome e saciedade,


além das emoções despertadas por meio da alimentação (DUNN et al., 2018).
O mindfulness visa o acolhimento de forma gentil as emoções negativas para
que elas não somatizem e se transformem em um transtorno alimentar. Considerada
uma das técnicas da Nutrição Comportamental a “atenção plena ao comer”, se
tornou prática entre os nutricionistas, como um recurso inovador para lidar com a
ansiedade no contexto da epidemia global de obesidade (ALVARENGA et al., 2019),
Nessa técnica, o indivíduo deve ser direcionado pela experiência interna, que é
única e estar totalmente atento às características sensoriais dos alimentos, e assim,
saber reconhecer seu corpo sem utilizar a fome emocional (FRANZONI; MARTINS,
2017; CATÃO; TAVARES, 2017).O Impacto que a preocupação ao comer tem sobre
o corpo do indivíduo é gigante, já que o estresse leva a ataques químicos biológicos
ao corpo sendo prejudicial à saúde.
Um exemplo de sociedade que utiliza de alguns princípios do comer intuitivo
são os Franceses que prestam atenção nos cinco sentidos e aposta numa refeição
demorada, assim sentindo prazer no ato da alimentação. Desde cedo os Franceses
incentivam esse hábito nas creches, as mesmas, servem três refeições para as
crianças e no cardápio já é inserido verduras e legumes desde cedo, assim se torna
comum para a criança esse tipo de alimento. No Brasil por exemplo, os cuidadores
não têm esse Hábito de incentivo a alimentação saudável e ao crescerem se tornam
muitas vezes restritivos com a alimentação. Em estudos realizados, mostram a
diferença do atendimento médico nos Estados Unidos e na França, os médicos
Americanos prescrevem mais medicamentos, os médicos Franceses tendem a
sugerir descanso, dias no Spa e férias.
Ao falar em Nutrição o que deve ser considerado é o sabor, a qualidade e a
quantidade da comida, comida saudável não é comida ruim, o que acontece é que
não somos acostumados a desde cedo, como fazem os Franceses a ofertar uma
alimentação de qualidade as crianças, as verduras são vistas como ruins, as frutas
como remédio, como ameaça, “você só vai ganhar chocolate se comer verduras”,
quantas vezes você não já ouviu essa frase? Isso quer dizer que a verdura é muito
ruim e que depois você vai ganhar uma boa recompensa que nesse caso seria o
chocolate. É preciso estimular desde cedo, já na introdução alimentar a comer frutas
e verduras, sendo uma forma de preocupação com seu bem-estar, sendo comum
este tipo de alimentação.
23

As pessoas que comem mais frutas, verduras e legumes têm menos risco de
desenvolverem doenças, até mesmo o câncer, pois são ricos em fibras e
antioxidantes e ainda fito químicos, que são aqueles que reduzem a pressão arterial,
modulam os hormônios, alteram o metabolismo do colesterol, fazem atividade
antibacteriana e antiviral. O que acontece com pesquisas realizadas é que as
pessoas preferem fazer restrição alimentar por que não gostam desses alimentos,
por que são oferecidos de forma sem graça, sem tempero, sem molho. Uma forma
de auxiliar o sujeito a comer de forma saudável e prazerosa é mostrando que pode
acrescentar verduras no molho, fazer lasanha de berinjela, arroz com brócolis,
pimentão e batatas recheadas, macarrão com legumes, vitaminas de frutas,
panqueca de couve, couve-flor gratinado. São infinitas possibilidades de comer de
forma prazerosa e saudável, não precisa retirar todos os alimentos, muito pelo
contrário, deve incluir alimentos para que assim garantir uma boa saúde não só
física como mental.
Utilizar chás é excelente, mas a maioria das pessoas estão o substituindo
pela água, que é uma bebida essencial e que ajuda na retenção de líquido assim
como diversos chá. A água além de transportar minerais, nutrientes e vitaminas para
as células ela também atua na produção de energia, ajuda a desintoxicar o corpo
eliminando-o na urina toda toxina, regula a temperatura do corpo, regula o intestino
dentre diversos benefícios. As pessoas ficam horas sem beber água e não se dão
conta de como uma riqueza dessa é tão essencial e que não deve ser substituída
por nenhuma bebida, ela deve ser incluída. Ao praticar o comer intuitivo você deve
pensar na qualidade nutricional dos alimentos. Evelyn Tribole e Elyse Resch cita em
seu livro os segredos para saber se você está pronto para seguir o comer intuitivo e
são eles:
 Pensar em nutrientes provoca uma sensação de
neutralidade ou reacende velhos pensamentos de dieta?
 Você é capaz de escolher sem culpa um alimento que pode
não ter alto valor nutritivo, mas é muito prazeroso?
 Ao fazer uma escolha alimentar, você pensa nas
características sensoriais dos alimentos, ao mesmo tempo
que respeita como a maneira como se sente fisicamente ao
comer?
24

 Você tem alguma doença que será beneficiada se prestar


mais atenção nos nutrientes?

Tomar decisões baseadas na saúde e em comer os nutrientes devem ser


utilizados e não afeta a capacidade do indivíduo de virar um adepto ao comer
intuitivo. Comer um chocolate não desequilibra uma pessoa, é normal sentir vontade
de comer alimentos pobres em nutrientes e tudo bem por isso, a pessoa não pode é
sentir culpa ao comer um doce, ou carboidrato só por que ele não é classificado
como alimento nutritivo, comer uma vez ou outra não quer dizer que você se
alimente mal. O importante é manter o equilíbrio. O comer intuitivo não está baseado
em alimentos bons ou ruins e sim no equilíbrio alimentar, é você comer fibras,
verduras, doces, legumes, é você olhar o alimento de formal gentil, é ouvir o corpo,
não é transformar a ideia de alimentação saudável em comer mais ou menos
baseada na ótica da privação, pois a mesma não funciona a longo prazo. As
pessoas que se privam de comer um doce, tende a ter compulsão gerando um
excesso de peso que pode causar até mesmo riscos a sua saúde ou então
desenvolver doenças gástricas por ficar horas em jejum.
Para manter o prazer em comer é importante conhecer o estatuto do comer
intuitivo:
 Você tem o direito de saborear sua refeição sem adulação ou
crítica e sem conversas sobre a quantidade de calorias
ingeridas ou de exercícios físicos necessários para queimá-
las.
 Você tem o direito de repetir sem se desculpar.
 Você tem o direito de respeitar sua saciedade, mesmo que
para isso precise recusar sem justificativas, sobremesas ou
um segundo prato.
 Você tem direito de manter sua recusa original, mesmo
diante de muita insistência. Basta repetir com calma e
educação: ” Não, obrigada/obrigado, eu realmente não
quero”.
25

 Não é seu dever comer em excesso só para agradar alguém,


mesmo que a pessoa tenha levado horas preparando algo
especial.
 Você tem o direito de comer pizza no café da manhã ou
jantar pipoca sem se importar com possíveis críticas ou
olhares recriminadores.
Para você conhecer seu corpo precisa estar em sintonia com ele e o estatuto
do comer intuitivo vem para mostrar que só você pode fazer as pazes com o
alimento e que só você tem o direito sobre si.
Quando o transtorno alimentar já está instalado o ideal é fazer com que o
paciente que tenha uma anorexia por exemplo volte a se alimentar de forma gradual,
para assim não se sentir mal e sobrecarregado, ele precisa vim a se alimentar às
poucos e pequenas porções. Primeiro é feita uma educação nutricional para que o
paciente entenda pelo que está passando, seus processos internos e os perigos na
desnutrição, promovendo assim a recuperação da saúde. Numa consulta com o
terapeuta nutricional, os medos dos pacientes em relação a seu corpo podem ser
revelados e devem para ter sucesso no tratamento, logo eles são incentivados a
falarem como se veem ao se olharem no espelho. Ao longo do processo
aconselhamento é oferecido sem julgamento e fazendo com que o cliente seja o
protagonista assim o motivando nas escolhas alimentares. A mente também precisa
de cura, então o ideal é procurar a ajuda de um psicólogo fazendo assim um
trabalho multiprofissional. Para ajudar a colocar os clientes a comer de forma
intuitiva existem pilares que são:
1 – Escala de fome e saciedade:

Pode ajudar o paciente a identificar como se sente em relação à sua fome e


saciedade, avaliando-as de 0 a 10.

2 – Histórico de dietas

Consiste em montar, com o paciente, um quadro das dietas realizadas, idade,


qual a dieta, peso perdido, reganho de peso, motivos para fazer a dieta, e tudo o
mais que se mostrar pertinente. Essa atividade pode contribuir para que o paciente
tenha mais consciência das dietas que já fez e de suas consequências.
26

3 – Habituação sistemática

Pode ser uma ferramenta importante para auxiliar a pessoa a fazer as pazes
com a comida. Para isso, o paciente deve escolher um alimento que sinta dificuldade
de comer sem sentir culpa ou sem realizar julgamentos. Ele deverá planejar um
momento para consumi-lo, anotando como se sentiu antes da experiência e após a
experiência. A partir dessa reflexão é possível melhorar a permissão incondicional
para comer.

Compreendendo os pilares do comer intuitivo facilita o tratamento dos


transtornos já existentes. É fundamental que o nutricionista estabeleça com seu
cliente uma relação de segurança e confiança, mostrando ao mesmo que pode
contar com seu auxílio, é preciso aprender novas formas de pensar a alimentação.
Oferecer um ambiente seguro é fundamental.

O que seria o respeito ao corpo? É aceitar a sua genética! Ter uma visão real
do tamanho do seu corpo e pensar que precisa amá-lo por meio de uma nutrição
gentil. A tendência é culpar o corpo pela maldade das pessoas, pelos julgamentos
alheios, o que a maioria das pessoas querem é atender a expectativa do outro. Se
movimentar, praticar atividades físicas tem diversos benefícios para a saúde, mas
deve ser escolhida essa pratica de acordo com as aptidões do sujeito, qual exercício
lhe traz mais prazer? Não é o modismo que precisa determinar que tipo de exercício
você deve fazer, o corpo é seu. O modismo molda o indivíduo através de uma
aparência ideal e não real tornando a gordura como vilã e estabelecendo uma
guerra com a comida.

Evelyn Tribole e Elyse Resh cita uma frase faz todo sentido sobre o assunto:
“Tirar a perda de peso da equação abre a porta para liberdade que o respeito ao
corpo proporciona”. Não é você deixar o autocuidado, muito pelo contrário é
valorizar o que tem, assim fazendo uma reconciliação com a sua autoestima. No
livro comer intuitivo as autoras citam premissas básicas para o respeito ao corpo.

 Meu corpo merece ser alimentado.


 Meu corpo deve ser tratado com dignidade.
27

 Meu corpo merece ser vestido de forma confortável e num


estilo que eu aprecio.
 Meu corpo merece ser tocado com carinho, com meu
consentimento e respeito.
 Meu corpo merece se movimentar confortavelmente, na
medida do possível.

O movimento ao corpo não deve ser estabelecido por um artista, não é por
que ele faz aquela atividade física que você deve fazer. Evitar se comparar é
essencial no comer intuitivo. A comparação leva muitas vezes a uma alimentação
disfuncional e decisões alimentares que não condiz com o que você gosta. A
competição faz com que uma pessoa se sinta inferior em relação ao corpo da outra
e isso é adoecedor. Faça parte do time de pessoas que aceitam a diversidade dos
corpos, assim irá contribuir para uma mudança de mentalidade onde o magro é o
saudável e bonito. Se os estigmas são estimulados ficará difícil uma mudança na
sociedade, as regras sociais precisam ser transformadas em aceitação corporal. Os
donos da Beauty Redefined, uma ONG fundada por Lexie Kite e Lindsay tem um
mantra que diz: “Veja seu corpo como um instrumento, não como um enfeite”. Tudo
bem focar na aparência, mas quando você foca apenas nisso, gera uma ansiedade
ultrapassando limites da saúde tanto física quanto mental. A dieta vem além de
suprir as necessidades do corpo, ela é mais psicológica do que as pessoas sabem,
preenche o tempo até as pessoas acharem que está no controle, sendo uma forma
de lidar com a vida.

A maioria dos indivíduos começam uma dieta numa fase de transição, sempre
tem um acontecimento dito por ele como importante e que faz o mesmo fazer isso.
Rejeitar a mentalidade da dieta é um dos passos do comer intuitivo, estudos
mostram que a dieta é um gatilho para o comer excessivo. Dietas restritivas não
funcionam a longo prazo.
Evelyn Tribole e Elyse Resch cita em seu livro o comer intuitivo exemplos de
comportamentos típicos da pseudodieta como um que é bem comum e que a
maioria das pessoas devem conhecer alguém que é a contagem de calorias e de
nutrientes, quem faz dietas loucas fica contando os carboidratos de cada alimento
28

para não ultrapassar o recomendado. Agora vocês acham que uma pessoa que faz
isso está com a sua saúde mental preservada?
Outro comportamento típico é comer apenas alimentos in natura, nenhum
ultra processado é ingerido. Comer apenas em um único horário é outra mentalidade
da dieta, mesmo que o sujeito esteja com fome ele não come, pois já estabeleceu
que só pode comer naquele horário. Algumas pessoas retiram a janta, alegando
melhor digestão.
E quando não consegue resistir a um bolinho de aniversário? Eles pagam
penitência, isso mesmo, pulam refeições no dia seguinte, faz atividade física de
forma excessiva. Os indivíduos costumam tomar café para acalmar o estômago
vazio, agora vale uma reflexão: o café sendo ácido num estômago vazio, que mal
pode causar? Gastrite até mesmo câncer. E o pior! Existem profissionais de saúde
que estão ditando regras nas redes sociais sobre perda de peso de forma rápida e
fazendo sugestões como essa.
Tem pessoas que fingem fazer dieta para atender as expectativas alheias,
simulando uma imagem que não é a dela. Olha como restringir alimentos é
prejudicial.
Qualquer forma de fazer dieta leva o indivíduo ao fracasso. O psicólogo John
P. Forety e G. Ken Goodrick criou um modelo de dieta que diz: “O dilema é acionado
pelo desejo de reduzir medidas do corpo disseminado pela cultura da dieta, que leva
a restrição alimentar”. O que as dietas fazem? Aumenta o desejo de comer. A
pessoa acaba comendo de forma excessiva e não só recupera o tempo perdido
como ultrapassa o peso original. Então a pessoa volta a fazer dietas e entra num
novo ciclo.
Para rejeitar a mentalidade da dieta precisa haver uma mudança de
paradigma, ou seja, de um padrão estabelecido pela sociedade que tenta encaixar o
sujeito num modelo. É preciso romper com esse padrão cultural de que o corpo
magro é o corpo bonito e que o sujeito precisa estar magro para estar bem. Lembre-
se: Não é uma medida que determina quem você é. Balança são apenas números,
seres humanos é maior do que isso.
29

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DE DADOS

Diante do cenário em que a nutrição se encontra em que pressões são


colocadas nos indivíduos para que o corpo seja alcançado a qualquer custo
colocando a sua saúde mental em risco, foi nesse caminho de preocupação com o
sujeito que a pesquisa bibliográfica foi realizada, levantando questionamentos de
determinados autores e reconhecendo como a nutrição é complexa e que vai além
de cálculos dietéticos.

O debate proposto articula elementos teóricos vindos de artigos científicos e


livros a fim de ampliar o conhecimento acerca do assunto. No campo da saúde, onde
a Alimentação e a Nutrição estão inseridas cabe ao nutricionista sendo ele o
profissional que prescreve uma alimentação adequada e saudável olhar o indivíduo
na sua integralidade e ver o alimento além de nutrientes. Diversos autores entendem
a importância da emoção no processo de emagrecimento, até mesmo o papel do
cortisol que é considerado o hormônio do estresse nisso e mesmo assim insistem
numa dieta restritiva e num plano alimentar que muitos não continuam. O
nutricionista intuitivo não é contra o processo de emagrecimento, ele é contra como
isso é feito, não respeitando a relação com a comida e não privilegiando os
alimentos e nem o indivíduo. Uma alimentação saudável é de suma importância,
mas como isso é feito? Estudos mostram que dieta e restrição alimentar para fins de
perda de peso leva a mais ganho de peso, o que corrobora com o autor acima
citado. Alvarenga et. al., (2019) relata que o comer intuitivo é uma abordagem
baseada em evidências, a qual ajudam pessoas a seguir seus sinais internos de
fome e comer o que escolhe, sem sentir culpa, sem julgamentos e sem viver um
problema ético e é composta por dez princípios. O foco é na “não dieta” e deve ser
visto como um programa no qual a ordem em que são trabalhados os dez princípios
não é fixa, devendo ser adaptada para cada indivíduo.

Sob o olhar de Alvarenga M. (2016), a nutrição comportamental não é de fato


uma especialidade, ela se justifica como uma abordagem inovadora, que inclui
aspectos sociológicos, sociais, culturais e emocionais da alimentação, abrindo
espaço para a atuação do nutricionista, que viu a necessidade de um algo a mais
para tratar pacientes que apresentavam transtornos alimentares e dificuldades em
seguir dietas padrão ou orientações nutricionais tradicionais. Sendo assim, espera-
30

se que, a mudança de comportamento ocorra de fato e esses pacientes se sintam


incentivados a dar continuidade ao tratamento e assim alcançar seus objetivos.
Como nutricionista, a autora ressalta: “Estudamos sobre o alimento, nutrientes e
corpo humano, mas estudamos pouco sobre o SER humano [...]”.

Kamil (2013) relatou que, de acordo com Schomer e Kachani (2010), “o


comportamento alimentar vai além do ato de comer”. Com esta afirmação, nota-se
que o comportamento alimentar envolve muitos outros fatores, como por exemplo,
fatores emocionais e culturais, independente de apenas saciar a fome. As
sensações que sentimos no ato de comer, o local onde são realizadas as refeições,
as circunstâncias externas, o porquê comemos, e até mesmo o pensamento no
momento em que estamos comendo, influencia nesse comportamento. Segundo
Silva (2008) “[...] sem aceitar os sentimentos e os fatos é impossível planejar e
executar mudanças”. O mesmo autor ainda relata que para que a mudança ocorra é
necessário a realização de exercícios (técnicas), sendo sua eficácia sempre
avaliada, para que haja interrupções e mudanças, caso precise.

Todos os autores conversam entre si, eles não divergem a respeito da


nutrição, muito pelo contrário, eles encontram novas formas e um novo olhar sobre o
ato de comer. Comer Intuitivo Sob o olhar de Almeida e Furtado (2017), o Comer
Intuitivo (CI), ou Intuitive Eathing é uma abordagem que se baseia em evidências
ensinando as pessoas a terem uma boa relação com a comida, conhecendo seu
próprio corpo. Tem como objetivo, fazer com que o indivíduo possua uma verdadeira
sintonia com a comida, mente e corpo. A mesma autora relata que são três os
pilares dessa abordagem: permissão incondicional para comer; comer para entender
as necessidades fisiológicas e não emocionais e apoiar-se nos sinais internos de
fome e saciedade para determinar o que, quanto e quando comer.

Através dos artigos lidos, os resultados trazidos são sobre a importância da


atenção plena quando o transtorno alimentar já está apresentado, as práticas de
mindfulness são importantes para melhorar o comportamento alimentar, trazendo
benefícios como: Ajuda a perceber os sinais de fome e saciedade, a sentir mais
sabor dos alimentos, potencializa melhores escolhas alimentares, ajuda a identificar
e diminuir o hábito de comer por motivos emocionais. Em estudo publicado por
Rozin et al. (1999), a atitude em relação à comida, em contraponto ao estresse e
31

preocupação, principalmente em relação ao prazer, interfere diretamente na saúde.


Nesse trabalho, os autores examinaram as atitudes alimentares e o papel da comida
em quatro países. Os norte-americanos foram os que mais associaram os alimentos
com saúde e menos com prazer, mas na classificação da alimentação como
saudável, eles ficaram em último lugar, isso mostra a existência com a preocupação.
Eles acham que se algo é nocivo ao organismo em doses altas, também é em doses
baixas, incluindo nutrientes essenciais como gordura por exemplo. Os autores
concluíram que, quando um dos principais aspectos da vida como o ato de comer
torna-se fator de angústia e estresse, isso pode gerar consequências negativas no
sistema imune. Uma técnica utilizada para tratar do transtorno alimentar é O TCC
(TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL).

Na TCC algumas estratégias são empregadas para tratar os diferentes tipos


de transtornos alimentares. Duchesne e Almeida (2002) relatam essas estratégias
empregadas na Anorexia nervosa, Bulimia e TCAP. São elas:

Estratégias para tratamento da Anorexia Nervosa (AN):

• Diminuição da restrição alimentar: Essa estratégia tem foco na normalização da


alimentação.

• Diminuição de frequência de atividade física: Incentiva o paciente a suspender


gradativamente a rotina de exercícios extenuantes, incentivando a prática saudável
da atividade física e de preferência, que permita relações interpessoais.

• Abordagem do distúrbio da imagem corporal: Nessa abordagem, é trabalhada a


imagem corporal, onde o paciente é levado a fazer uma percepção do seu corpo,
como ele se vê e como realmente é.

• Modificação do sistema de crenças: Pacientes que sofrem com transtornos


alimentares apresentam crenças distorcidas principalmente em relação ao peso e
imagem corporal, associando diretamente na autoestima.

Para modificar esse sistema, o paciente precisa identificar os pensamentos que


sofram distorção. Estratégias como desenhar sua imagem corporal ou expor
32

gradativamente seu corpo, pode ajudar esses pacientes a modificarem suas


crenças.

• Abordagem da autoestima; nessa estratégia, trabalha-se a redução da expectativa


do desempenho em pacientes com Anorexia nervosa. O terapeuta auxilia o indivíduo
a se apoiar em outro tipo de atributos além da aparência e a melhorar em seus
relacionamentos interpessoais, favorecendo a modificação do comportamento.

• Avaliação da eficácia; A eficácia do tratamento em pacientes com Anorexia


nervosa se dá através da manutenção da mudança, com isso devem ser utilizadas
técnicas para o controle de recaídas, planejando estratégias para o futuro
aparecimento de dificuldades, e saber lidar com elas.

• Estratégias para tratamento da Bulimia: Controle dos episódios de compulsão


alimentar (ECA) e da indução de vômito.

Segundo as autoras, nesse tipo de distúrbio, devem-se analisar todos os


aspectos, em especial os métodos compensatórios e a ocorrência dos episódios.
Nesses casos, o terapeuta ensina técnicas de autocontrole, como se expor
gradualmente a condições que favoreçam o aparecimento dos episódios, com o
intuito de reduzir os facilitadores (ansiedade, tristeza, etc.) de ECA e indução de
vômito.

• Eliminação do uso de laxantes e diuréticos: A partir do momento que a alimentação


de paciente com Bulimia vai se tornando mais regular, o uso de laxantes e diuréticos
vão sendo diminuídos gradativamente.

Os transtornos alimentares ainda fazem parte de uma realidade crescente


principalmente na faixa etária de jovens e adultos. Um estudo realizado por Bosi e
colaboradores (2014) reportou uma elevada prevalência de comportamentos de
risco para transtornos alimentares e de insatisfação com a imagem corporal em
estudantes de Medicina de uma universidade do Rio de Janeiro, embora a grande
maioria delas apresentasse IMC dentro dos padrões de eutrofia.

No livro comer intuitivo de Evelyn Tribole e Elyse Resch ela define o comer
intuitivo sobre perspectivas científicas e aborda temas importantes de ser estudado
33

como: consciência interoceptiva, sensibilidade interoceptiva, responsabilidade


introspetiva, e como o comer intuitivo auxilia o paciente nesse processo trazendo
uma tabela que deixa claro a melhora com pacientes que apresentam transtorno
alimentar.

Melhora consciência interoceptiva Removem obstáculos à consciência


interoceptiva
Respeitar a fome. Rejeitar a mentalidade da dieta

Sentir a saciedade Fazer as pazes com a comida

Descobrir o fator satisfação Desafiar o policial alimentar

Movimentar-se sentindo a diferença. Lidar com as suas emoções com


gentileza

Respeitar seu corpo

Honrar a saúde com nutrição gentil.

Alguns críticos se preocupam com uma premissa do comer intuitivo que é a


permissão incondicional para comer. Afirmam que se as pessoas tivessem
permissão iriam comer de tudo de forma descontrolada. Então foi feito um estudo
organizado por Smith e Hawks (2006) de 350 universitários tanto homens quanto
mulheres e avaliaram como as escolhas alimentares daqueles que comiam de
maneira intuitiva impactavam a saúde. Ao contrário do que esperavam os críticos, os
estudantes com pontuação alta na escala de Hawks para o comer intuitivo (2004 a)
tinham uma alimentação mais variada e um índice de massa corporal mais baixo.
Além disso não havia ligação entre o comer intuitivo e a quantidade de junk food
consumida. Ou seja, participantes intuitivos não tinham uma alimentação
desbalanceada. Além disso, eles relataram sentir mais prazer em comer. Outro dado
34

que chamou atenção é que mais homens do que mulheres foram classificados como
comedores intuitivos. Uma revisão acadêmica ainda avaliou a relação entre comer
intuitivo e indicadores de saúde e descobriu que o comer intuitivo estava associado
a melhoria na pressão sanguínea, colesterol e quantidade de comida ingerida. (Van
Dyke e Drinkwater,2014).
35

6 CONCLUSÃO

O presente estudo procurou fazer uma análise por meio de artigos científicos
sobre como o nutricionista pode interceder nos indivíduos com transtorno alimentar,
apresentando para os leitores a cerca de uma abordagem comportamental pouco
difundida, que é o comer intuitivo.
Essa pesquisa sugere o comer intuitivo como proposta no tratamento de
transtornos alimentares, uma abordagem científica e inovadora, bem avaliada
perante a literatura, com resultados positivos no controle do IMC e da saúde
psicológica. Essa abordagem visa estudar o sujeito como um todo, na sua
integralidade, trata-se de prestar atenção nas mensagens do corpo através uma
tomada de consciência. Foram apresentadas técnicas utilizadas quando o transtorno
já está instalado como: TCC e Mindfulness.
Em pesquisas futuras novas propostas serão apresentadas no intuito de
auxiliar os jovens na prevenção de transtornos alimentares. É importante ressaltar
que ainda são inúmeros os caminhos que devem ser trilhados em relação a nutrição
e o comer intuitivo, porém com estudo e divulgação sobre o tema um bom resultado
será alcançado.
36

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