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STRECK, Lênio.

A modernidade tardia no Brasil: o papel do Direito e as promessas da


modernidade – da necessidade de uma crítica da razão cínica no Brasil e o binômino
“estamentos-patrimonialismo”. In: Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: uma
exploração hermenêutica da construção do Direito. 11ª ed. Porto Alegre: Revista do
Advogado, 2014, p. 23-42.

1º Capítulo: A modernidade tardia no Brasil: o papel do Direito e as promessas da


modernidade – da necessidade de uma crítica da razão cínica no Brasil e o binômio
“estamentos-patrimonialismo”.

O livro apresenta um rompimento de paradigmas, buscando o conhecimento do que está


oculto no âmago da imaginação dos juristas e um afrontamento a esta realidade, com
acertadas soluções conforme a conveniência do cenário que se apresenta.

Neste primeiro capítulo, o autor traz a realidade do Brasil, onde afirma ter ocorrido a
chegada da modernidade tardia. O autor trata da evolução do estado medieval para o
moderno, citando e criticando o atual anseio por redução da máquina pública e da
inferência do estado na sociedade. Destaca em tom de defesa um retorno ao
keynesianismo como forma de proteção da sociedade, avançando cronologicamente até
os dias atuais, com a globalização.

Adiante afirma que no Brasil e estado social implantado beneficiou as classes média e
alta, e não a classe baixa referindo haver dois tipos de cidadãos no Brasil: o
sobrecidadão (aquele que dispões do sistema, mas a ele nao se subordina) e o
subcidadão (aquele que depende do sistema, mas dentro dele não se insere).

E tentando explicar esse cenário brasileiro, o autor utiliza-se de Raymundo Faoro, o


qual defende que o problema referido reside no binômio patrimonialismo-estamento do
estado brasileiro.

Dispõe ainda que existe um interesse, até mesmo do Estado, em manter a desigualdades
entre os cidadãos, por meio de situações anormais verificadas na política do país, com o
fim de tentar sustentar o estamento que representa o patrimonialismo estatal, da mesma
forma que existe, por parte da mídia, a dedicação de tentar amenizar a ideia de
normalidade e a aceitação decorrente da exclusão social.

A tese de Faoro vai no sentido de que o poder político no Brasil se articula, devido a
uma herança lusitana, a partir de um estado que é patrimonialista em seu conteúdo e
estamental na forma.

Patrimonialista porque os titulares do poder se apoderam do aparelhamento estatal de tal


forma que acaba por gerar uma quase indistinção entre o que é bem público do estado e
o que é bem privado, ou seja, trata-se da utilização dos espaços estatais para a realizaçao
e administração de interesses de origem privada. Isso tem consequencias sérias. O
estamento, por outro lado, é o que dá forma a esse exercício patrimonialista do poder.

Trata-se de uma verdadeira casta que assume o controle do estado, governando-o de


acordo com os seus interesses. Portanto, os estamentos mostra que, em determinadas
circunstancias, o Brasil é ainda pré-moderno. Tem-se uma sociedade de estamentos, que
fica de fora da classificaçao tradicional de classes sociais. Ou seja, parece haver dois
mundo separados, o mundo dos estamentos que funciona paralelamente ao mundo de
baixo, que depende de políticas governamentais como o bolsa-família.
Prosseguindo, o autor afirma que no Brasil as classes médias e alta ainda não
renunciaram ao seu direito sobre as pessoas mais pobres, em virtude de uma herança
cultural direta da escravatura, razão pela qual metade da população nao foi introduzida
ao sistema.

E em tom de crítica encerra dizendo que nossas classes dirigentes e o establishment


jurídico sabem o que está ocorrendo, mas continuam a fazer as mesmas coisas que
historicamente vem fazendo.

O autor também expõe a finalidade de institucionalização do crime de colarinho branco.


No Brasil, o termo constitui a ação delituosa executada por alguém de elevada
respeitabilidade e posição socioeconômicas, representando um abuso de confiança de
Estado. E afirma que a institucionalização deste delito representa claramente a ideia de
que no nosso país o crime compensa.

Conclui este capítulo fazendo a paráfrase de Jurandir Freire Costa (1996): “hoje
aposentamos os Rousseau. Em vez de utopias, (existem os) manuais de autoajuda,
psicofármacos, cocaína e terapêuticas diversas para os que têm dinheiro; banditismo,
vagabundagem, mendicância ou religiosismo fanático para os que apenas sobrevivem”.

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