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Métodos de Custeio e Critérios

de Avaliação dos Estoques


Desenvolvimento do material
Dayse de Lima Passos

1ª Edição
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Sumário
Métodos de Custeio e Critérios de Avaliação dos Estoques
Para início de conversa… ................................................................... 4
Objetivo ............................................................................................ 5
1. Painel Básico da Contabilidade de Custos ................................. 6
1.1 Métodos de Valoração de Estoques ......................................... 7
2. Métodos de Custeamento ...................................................... 13
2.1 Formas de Custeio ................................................................ 32
Referências ........................................................................................ 34
Para início de conversa…
A contabilidade de custos tem muitas especificidades peculiares deste
ramo da contabilidade que variam desde os métodos de controle de estoques,
até aos sistemas de custeamento, as formas de controles gerenciais etc.

Nesta unidade de aprendizagem, veremos os métodos de valoração


de estoque: custo específico, Primeiro que Entra, Primeiro que Sai (PEPS),
Último que Entra, Primeiro que Sai (UEPS) e custo médio. Assim, veremos os
métodos que são aceitos no Brasil e os que não são e como eles se comportam.

Na sequência, estudaremos os sistemas de custeamento: custeio


variável, custeio por absorção, custeio ABC e custeio RKW. Igualmente você
compreenderá quais são aceitos em nosso país e quais não são aceitos, mas
que são grandes ferramentas gerenciais e, por consequência, importantes para
os gestores nas tomadas de decisões.

Por fim, você terá uma breve introdução sobre o custo padrão, também
conhecido como custo orçado, e o custo real, também conhecido como custo
histórico.

4 Custos Empresariais
Objetivo
Compreender os métodos de custeio e critérios de avaliação de
estoques.

Custos Empresariais 5
1. Painel Básico da Contabilidade de Custos
A fabricação dos produtos é um processo de transformação da
matéria-prima e outros materiais em produtos finais ou acabados, assim
sendo, temos a matéria-prima no início desse processo. A contabilidade
irá registrar a compra da matéria-prima que permanecerá no estoque até o
início da fabricação propriamente dita, quando esta será transferida para o
estoque de matéria-prima em elaboração. Após a finalização da produção,
este produto se tornará estoque de produtos acabados, estando pronto para a
etapa de vendas, como pode ser visto na Figura 1. Após a venda, o estoque
de produtos acabados se torna Custo dos Produtos Vendidos (CPV), sendo
evidenciado na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

FÁBRICA PRODUTOS
ALMOXARIFADOS
PRODUÇÃO EM ACABADOS
Envia materiais para fábrica ELABORAÇÃO Expede os produtos
acabados (vendas)
(Em processo)
Incorpora aos materiais;
Mão de obra, gastos e
depreciação

Requisição Produção Custo dos Produtos


de materiais acabada Vendidos

Estoca materiais não Estoca produção inacabada Estoca produtos acabados


requisitados não vendidos

Figura 1: Fluxo de estoques industriais. Fonte: Adaptado de Padoveze (2010).

Nesse processo, também temos a utilização de mão de obra, de gastos


gerais de fabricação etc.

6 Custos Empresariais
As empresas possuem vários formulários/procedimentos específicos
para o controle de materiais, desde sua compra até o final do processo. Para
a compra de materiais, temos o pedido de compras, depois as cotações feitas
junto aos fornecedores, a autorização de compra pela cotação mais vantajosa
para a empresa, a nota fiscal eletrônica de venda dos materiais pelo fornecedor, a
verificação dos itens pelo setor de almoxarifado, o registro efetivo dos materiais
no estoque de matéria-prima da empresa por meio da ficha de controle de
estoques, a requisição de materiais pelo setor de fabricação (Figura 1), o
envio e registro do estoque de produtos acabados (há, também, o formulário
de conformidade do produto de acordo com o setor de qualidade) e, por fim,
a baixa do estoque de produtos acabados, mediante a emissão de nota fiscal
eletrônica de venda e o reconhecimento do Custo do Produto Vendido (CPV).

1.1 Métodos de Valoração de Estoques


Quando a empresa recebe os materiais, estes devem ser registrados em
fichas de controle de estoque que podem ser movimentadas pelos seguintes
métodos:

▪ Custo Específico.
▪ Primeiro que Entra, Primeiro que Sai (PEPS) ou também
conhecido como First In, First Out (FIFO).
▪ Último que Entra, Primeiro que Sai (UEPS), conhecido como
Last in, First Out (LIFO).
▪ Custo médio ou média ponderada.

Os métodos de avaliação de estoques objetivam exclusivamente


separar o custo dos produtos entre o que foi vendido e o que
permaneceu em estoque. Representa uma parcela extremamente
importante no processo de controle de custos. Por fim, o que se
denomina método de avaliação de estoque engloba, exclusivamente,
procedimentos necessários ao registro da movimentação dos
estoques. (CREPALDI; CREPALDI, 2018, p.54)

Custos Empresariais 7
O custo ou preço específico é utilizado quando o valor unitário real de
aquisição pode ser especificado e dado baixa no correto momento. Exemplo:
Quando uma concessionária de veículos compra vários veículos da montadora
ela registra cada veículo adquirido pelo custo específico, pois um pode possuir
características básicas, outro pode ter acessórios diversos. Quando um dado
veículo entra na concessionária ele é registrado na ficha de estoque pelo
seu custo específico e quando ele é vendido, este item é baixado e podemos
evidenciar o Custo do Produto Vendido pelo seu próprio custo específico.

Em se tratando de matéria-prima, este procedimento exige mais


controle, geralmente é utilizado quando a empresa trabalha com projetos
personalizados (um para cada cliente de acordo com suas especificidades).

Este tipo de método de avaliação de estoque é utilizado quando é


possível fazer a determinação do preço específico de cada unidade do
estoque e pode-se dar baixa, em cada venda, por esse valor. Dessa
forma, no estoque final, seu valor será a soma de todos os custos
específicos de cada unidade existente. Geralmente, esse método é
usado em empresas que fabricam veículos, tratores, máquinas de
grande porte etc. (CREPALDI; CREPALDI, 2018, p.54)

Esse método pelo excesso de controle deve ser utilizado em empresas


que movimentam materiais com aplicações específicas e de grande valor, de
preferência que movimentam pequenas quantidades em estoque, geralmente
por encomenda. A indústria naval, por exemplo, utiliza esse método para
controlar seus materiais. Esse método é altamente recomendável pelos
princípios contábeis e aceito pela legislação fiscal brasileira.

Quando se trata de PEPS os estoques têm sua movimentação registrada


de acordo com o registro de entrada dos materiais, que serão os primeiros a
saírem para o devido processo seguinte.

O critério PEPS pressupõe que os itens de estoque que foram


comprados ou produzidos primeiro sejam vendidos em primeiro
lugar e, consequentemente, os itens que permanecerem em estoque
no fim do período sejam os comprados ou produzidos mais
recentemente, conforme o CPC 16 – Estoques. (CREPALDI;
CREPALDI, 2018, p.52)

8 Custos Empresariais
Assim, podemos ver na Tabela 1 como se comporta as compras e
vendas de materiais controlados pelo método PEPS.

COMPRA VENDA SALDO


DATA
CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO
QTDE. QTDE. QTDE. CUSTO TOTAL
UNIT. TOTAL UNIT. TOTAL UNIT.

03/06/2019 100 25,00 2.500,00 100 25,00 2.500,00

03/06/2019 50 25,10 1.255,00 50 25,10 1.255,00

04/06/2019 30 25,00 750,00 70 25,00 1.750,00

50 25,10 1.255,00

05/06/2019 50 25,00 1.250,00 20 25,00 500,00

50 25,10 1.255,00

Tabela 1: Compras e vendas de materiais controlados pelo método PEPS. Fonte: Elaborado pela autora.

Na Tabela 1, verificamos que a primeira mercadoria comprada e


registrada na ficha de estoque é a que está sendo dada baixa pelas devidas
vendas. O método PEPS é admitido pela legislação fiscal segundo o Parecer
Normativo CST nº 6, de 26 de janeiro de 1979.

Já no UEPS o último material comprado é o primeiro material vendido


ou a ir para a produção/transformação.

[...] o custo do estoque é determinado como se as unidades mais


recentes adicionadas ao estoque (últimas a entrar) fossem as
primeiras a sair. Supõe-se, portanto, que o estoque final consiste nas
unidades mais antigas e é avaliado ao custo dessas unidades. Segue-
se que, de acordo com o método, o custo dos itens vendidos/saídos
tende a refletir o custo dos itens mais recentemente comprados
(ou produzidos) e, assim, os preços mais recentes. (CREPALDI;
CREPALDI, 2018, p.57)

Na Tabela 2, podemos verificar o mesmo exemplo da Tabela 1, mas


com o controle pelo método UEPS.

Custos Empresariais 9
COMPRA VENDA SALDO
DATA CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO
QTDE. QTDE. QTDE. CUSTO TOTAL
UNIT. TOTAL UNIT. TOTAL UNIT.

03/06/2019 100 25,00 2.500,00 100 25,00 2.500,00

03/06/2019 50 25,10 1.255,00 50 25,10 1.255,00

04/06/2019 30 25,10 753,00 100 25,00 2.500,00

20 25,10 502,00

05/06/2019 20 25,10 502,00

30 25,00 750,00 50 25,00 1.750,00

Tabela 2: Exemplo de método de valoração pelo UEPS. Fonte: Elaborado pela autora.

O método UEPS não é aceito pelo Fisco, visto que, ao optar


por esse método, a empresa pagaria menos imposto em relação
a outros métodos que poderia adotar. Portanto, o método não é
admissível nem pela ótica fiscal nem pelas normas de contabilidade.
(CREPALDI; CREPALDI, 2018, p.58)

Isso pode ser visto em comparação com as duas tabelas (1 e 2) quando


observamos que na primeira tabela, o custo do material vendido foi de R$
750,00 e, na segunda, foi de R$ 753,00 relativos à primeira venda realizada pela
empresa. Dessa forma, o lucro da empresa irá diminuir e, consequentemente,
a base de cálculo dos tributos também (em se tratando do regime tributário
Lucro Real, cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL), recolhendo menos para
o Fisco.

O custo médio indica que o material será valorado por um valor


médio do saldo existente em estoque.

É o método mais usado no Brasil e consiste em avaliar o estoque


pelo custo médio de aquisição apurado em cada entrada de material,
ponderado pelas quantidades adicionadas e pelas anteriormente
existentes.

10 Custos Empresariais
Segundo a Resolução CFC no 1.170, pelo critério do custo médio
ponderado, o custo de cada item é determinado a partir da média
ponderada do custo de itens semelhantes no começo de um período
e do custo dos mesmos itens comprados ou produzidos durante o
período. (CREPALDI; CREPALDI, 2018, p.59)

O valor do material segundo o custo médio ou custo médio ponderado


é determinado pela divisão do valor do saldo pela quantidade após cada entrada
de material, como pode ser visto na Tabela 3.

COMPRA VENDA SALDO


DATA CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO
QTDE. QTDE. QTDE. CUSTO TOTAL
UNIT. TOTAL UNIT. TOTAL UNIT.

03/06/2019 100 25,00 2.500,00 100 25,00 2.500,00

03/06/2019 50 25,10 1.255,00 150 25,03 3.755,00

04/06/2019 30 25,03 750,90 120 25,03 3.004,10

05/06/2019 20 25,03 1.251,50 70 25,04 1.752,60

Tabela 3: Exemplo de método de valoração pelo Custo Médio. Fonte: Elaborado pela autora.

Na tabela acima, podemos verificar o custo do material vendido na


primeira venda, que, agora, ficou em R$ 750,90, valor este que ficou entre o
resultado do PEPS (R$ 750,00) e do UEPS (R$ 753,00).

No Brasil, o custo médio ponderado é muito utilizado pelas empresas.


Lembrando que os critérios aceitos pela legislação brasileira (Fisco) são o
custo específico, PEPS e custo médio. Vale ressaltar também o impacto dos
tributos na valoração dos estoques.

Em se tratando de ICMS sabemos que este imposto é “não cumulativo”,


havendo crédito de imposto na entrada de materiais (materiais diretos de
fabricação e mercadorias para revenda) e haverá débito do imposto na saída
(venda) das mercadorias ou produtos industrializados. No momento do devido
recolhimento, há o encontro de contas e o ICMS creditado na entrada deverá
ser abatido do ICMS debitado na saída, sendo recolhido para o Fisco somente
a diferença.

Custos Empresariais 11
Importante
Atenção! Quando a empresa é enquadrada como Microempresa (ME) não haverá o crédito
de ICMS na entrada das mercadorias. Outra informação importante: não haverá igualmente
crédito de ICMS nas entradas, se na saída a venda não for tributada.
Exemplo: Venda de produtos ou mercadorias para a Zona Franca de Manaus, onde as vendas
possuem isenção de impostos, na entrada (compra) desses materiais não haverá o crédito de
ICMS.
Uma exceção de venda não tributada é a venda para fins de exportação. A venda para fora
do país não é tributada, mas, mesmo assim, na entrada dos materiais adquiridos, haverá o
crédito de ICMS, mesmo ocorrendo de a venda não ser tributada.

Essa informação deve ser considerada para haver o correto controle de


estoques dos materiais, pois o valor a ser considerado no estoque será menor,
abatendo o ICMS que será recuperado.

Podemos compreender melhor com o seguinte exemplo: uma indústria


adquire 500 quilos de matéria-prima por R$ 1.000,00, com incidência de
ICMS de 7% (Sabendo que a venda do produto que será industrializado e
vendido pela indústria terá incidência de ICMS na venda (saída)). Quando a
empresa compra a matéria-prima por R$ 1.000,00, o valor do ICMS já está
embutido no preço e já foi recolhido para o Fisco pela empresa fornecedora
da matéria-prima. Com isso, a indústria poderá se creditar do ICMS, fazendo
a seguinte contabilização:

D - Estoque de matéria-prima R$ 930,00


D - ICMS a recuperar R$ 70,00
C - Fornecedores R$ 1.000,00

12 Custos Empresariais
COMPRA VENDA SALDO
DATA CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO CUSTO
QTDE. QTDE. QTDE. CUSTO TOTAL
UNIT. TOTAL UNIT. TOTAL UNIT.

xx/xx/xxx 500 1,860 930,00 500 1,86 930,00

Tabela 4: Exemplo de valoração do estoque de matéria-prima com o crédito de ICMS. Fonte: Elaborada pela autora.

Assim, podemos observar, conforme Tabela 4, que o valor que será


evidenciado no estoque de matéria-prima será de R$ 930,00 e não de R$
1.000,00.
O crédito pode ocorrer também em se tratando de Programa de
Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (COFINS) no regime não cumulativo, havendo a influência desses
tributos na valoração dos estoques. A indústria/empresa deve estar sempre
atualizada com as regras fiscais específicas para o setor em que ela se encontra
e os produtos/mercadorias que ela fabrica/comercializa, pois existem isenções
de tributos de acordo com o tipo de material que está sendo industrializado
ou comercializado.

2. Métodos de Custeamento
Em se tratando de custos empresariais, existem métodos específicos
para custeamento dos produtos. Quando falamos em custeamento estamos
querendo revelar quanto foi utilizado para determinar os custos de
transformação de um determinado produto, qual foi o acúmulo de valores
envolvidos no processo de produção.

Método de custeio é o método usado para a apropriação de custos.


Existem dois métodos de custeio básicos: custeio por absorção e
custeio variável ou direto, que podem ser usados com qualquer

Custos Empresariais 13
sistema de acumulação de custos. A diferença básica entre os dois
métodos está no tratamento dos custos fixos. (grifo dos autores).
(CREPALDI; CREPALDI, 2018, p.151)

O Custeio Variável, também conhecido como Custeio Direto,


considera como Custo de Fabricação somente os Custos e Despesas Diretas
ou Variáveis. Os Custos Indiretos ou Fixos são considerados juntamente
com as despesas “operacionais” normais da indústria, como pode ser visto na
Figura 2.

Custos e despesas
Produtos
variáveis

Despesas do
Custos Fixos
período

Figura 2: Esquematização do Custeio Direto. Fonte: Souza e Clemente (2011).

O método de custeio variável, também conhecido como custeio


direto, é um tipo de custeamento que considera como custo de
produção de um período apenas os custos variáveis incorridos,
desprezando os custos fixos, os quais são tratados como despesas do
período. Entenda que o termo custos engloba também as despesas
variáveis. Nesse método, o custo unitário de produção do período
será o total de custo variável dividido pela quantidade produzida, e
o custo fixo será apropriado direto ao resultado do exercício, não
passando pelo estoque. Fundamenta-se na separação dos gastos
em gastos variáveis e gastos fixos, isto é, em gastos que oscilam
proporcionalmente ao volume da produção/venda e gastos que se
mantêm estáveis perante volumes de produção/venda oscilantes

14 Custos Empresariais
dentro de certos limites. No critério de custeio variável só são
apropriados aos produtos os custos variáveis, ficando os custos fixos
separados e considerados como despesas do período. (CREPALDI;
CREPALDI, 2018, p.158)

O Custeio Direto classifica primeiramente os custos como fixos


ou variáveis. São considerados custos fixos todos os custos que acontecem
periodicamente e não são afetados (ou são pouco afetados) pela quantidade
produzida. Já os custos variáveis são considerados todos os que variam
proporcionalmente ao volume produzido. “Os custos diretos ou variáveis são
gastos que não ocorrerão se não houver produção; os custos indiretos (fixos)
são gastos que incorrerão ainda que a empresa industrial não fabrique sequer
uma unidade no período”. (RIBEIRO, 2015, p.461)

Historicamente, o material direto e a mão de obra direta têm sido


considerados como custos variáveis, mesmo que em alguns momentos
os Recursos Humanos (RH) das empresas considerem a mão de obra dos
colaboradores como custo fixo. Nesse método de custeamento, os custos
fixos que estão diretamente relacionados à estrutura da indústria não são
considerados no custo do produto, sendo evidenciados separadamente na
DRE. Dessa forma, não há necessidade de utilizar o rateio para alocar os
custos fixos aos produtos.

O custeio direto é baseado na margem de contribuição dos produtos


para suportar o ônus dos custos fixos.

A margem de contribuição mostra como cada um desses produtos


contribui, para, primeiramente, amortizar os custos e despesas fixos
e, depois, formar propriamente o lucro. O conceito de margem de
contribuição é associado à identificação do custo imediatamente
“emergente” quando se inicia à atividade de venda. É, pois, o custo
que varia de acordo com o volume vendido, ou seja, o que surge
em função da ocorrência da atividade e que se chama “variável”,
possibilitando o cálculo da margem. (DUTRA, 2010, p.244-245)

Esse método de custeamento tem cunho gerencial, permitindo a


apuração da lucratividade real de cada produto. Mantendo o custo fixo
separado, é possível ter maior controle desse tipo de custo.

Custos Empresariais 15
Do ponto de vista decisorial, o Custeio Variável tem condições de
propiciar muito mais rapidamente informações importantíssimas à empresa,
mas os Princípios Contábeis vigentes atualmente não aceitam a elaboração de
Demonstrações de Resultado e de Balanços elaborados com base no Custeio
Variável. Essa não aceitação do Custeio Variável não impede que a empresa o
utilize para controle interno (gerencial).

Importante
Este método não é permitido pela legislação fiscal.

Vamos ver um exemplo? Considere uma empresa que trabalha


produzindo um único produto e, no último período, produziu 10.000 unidades
com os seguintes custos e despesas, conforme a Tabela 5:

CUSTOS/DESPESAS VALOR (R$)


Matéria-prima consumida no período (variável) 20.000,00

Mão de obra direta variável 10.000,00


Custos indiretos de fabricação variáveis 6.000,00
Despesas de vendas variáveis 8.000,00
Despesas de vendas fixas 5.000,00
Despesas administrativas fixas 19.000,00

Tabela 5: Custos e Despesas: Exemplo de custeio direto. Fonte: Elaborado pela autora.

Utilizando os dados do quadro obteremos um gasto variável total


(custos e despesas variáveis) de R$ 44.000,00. Com isso, temos um gasto
variável por unidade produzida de R$ 4,40 (R$ 44.000,00 / 10.000 unidades).
Podemos, assim, montar a DRE conforme você pode verificar abaixo,
considerando que este produto esteja sendo vendido por R$ 7,00 e que toda a
produção foi efetivamente vendida, não possuindo nenhum estoque anterior
desse produto:

16 Custos Empresariais
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pelo Custeio Variável
(+) Receita de Vendas 70.000,00 (10.000 x R$ 7,00)
(-) Gastos variáveis 44.000,00 (10.000 x R$ 4,40)
(=) Margem de contribuição 26.000,00
(-) Despesas fixas 24.000,00
(=) Lucro líquido 2.000,00

A principal finalidade do custeio variável é a determinação da


contribuição marginal total ou unitária de cada objeto de custeio.

Importante
No custeio variável, a diferença entre o valor de vendas líquidas e a soma do custo
dos produtos vendidos (que só contém Custos Variáveis) com as despesas variáveis
(administrativas e de vendas) é denominada de margem de contribuição. Deduzindo-se
desta, os custos fixos e as despesas fixas, obtém-se o lucro líquido.

O custeio representa um elemento essencial das atividades de


contabilidade gerencial de uma empresa. O custo trata de estabelecer as
despesas usadas por um produto, um grupo de produtos, uma atividade
específica ou um conjunto de atividades das empresas.

O custeio por absorção ou custeio pleno consiste na apropriação


de todos os custos (sejam eles fixos ou variáveis) à produção do
período. Os gastos não fabris (despesas) são excluídos. O próprio
nome do critério é revelador dessa particularidade, ou seja, o
procedimento é fazer com que cada produto ou produção (ou
serviço) absorva parcela dos custos diretos e indiretos relacionados
à fabricação. É o método derivado da aplicação dos princípios de
contabilidade e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e
pela legislação fiscal. Não é um princípio contábil em si, mas
uma metodologia decorrente da aplicação desses princípios. Dessa
forma, o método é válido para a apresentação de demonstrações
financeiras e para o pagamento do Imposto de Renda. grifo nosso
(CREPALDI; CREPALDI, 2019, p.107)

Custos Empresariais 17
Importante
O método de Custeio por Absorção, do ponto de vista técnico-contábil, é o mais utilizado
por seguir os princípios contábeis brasileiros e atender à legislação fiscal em vigor no país
(DUTRA, 2010).

A peculiaridade principal no custeio por absorção é segregar os custos


das despesas. A separação é essencial porque as despesas são reconhecidas
imediatamente contra o resultado do período na DRE, por outro lado,
somente os custos relacionados aos produtos vendidos serão evidenciados
na DRE.

No Custeio por Absorção, todos os custos são apropriados aos produtos


fabricados (elaborados). Dessa forma, serão utilizados tanto os custos diretos
como os custos indiretos para compor o custo final do produto, conforme
pode ser visto na Figura 3.

Variáveis
- matéria-prima Produção em Estoque da produção
- mão de obra direta elaboração acabada
- energia elétrica (força)
- combustíveis das máquinas
Custos de Resultado das vendas
produção Fixos
- mão de obra indireta
- depreciação ( - ) CPV
-energia elétrica (iluminação
da fábrica)
- supervisão ( = ) Resultado bruto

Variáveis ( - ) Despesas de
- de vendas vendas
Despesas
Fixas ( - ) Despesas
- administrativas administrativas e de
- de vendas vendas

Estoque da produção
Lucro acabada
( = ) Resultado líquido

Figura 3: Quadro esquemático do custeio por absorção. Fonte: Adaptado de Dutra (2017).

18 Custos Empresariais
A finalidade desse método é ter o custo total (direto e indireto) de
cada objeto de custeio como forma de determinar a rentabilidade de cada
atividade, avaliar os elementos que compõem o patrimônio e a compor uma
informação significativa no auxílio à decisão de estabelecer os preços de
vendas dos produtos e serviços.

Para isso, precisamos seguir o passo a passo abaixo:

I. Separar custos e despesas.


II. Alocar (apropriar) os custos diretos e indiretos aos produtos.
III. Levantar o custo dos produtos acabados.
IV. Levantar o custo dos produtos vendidos.
V. Levantar o resultado do período.

Podemos observar o seguinte exemplo a seguir: uma empresa industrial


produz um único produto em determinado período de acordo com os dados
de produção e venda, de acordo com o Tabela 6.

Despesas de vendas variáveis


Matéria-prima direta R$ 130,00 p/unid. R$ 250.000,00
no período
Mão de obra direta R$ 100,00 p/unid. Despesas de vendas fixas R$ 200.000,00
Custos indiretos variáveis R$ 45,00 p/unid. Despesas administrativas fixas R$ 340.000,00
Custos fixos R$ 950.000,00
Quantidade produzida 20.000 unidades

Quantidade vendida 15.000 unidades Preço de Venda R$ 600,00 p/unid.

Tabela 6: Dados para o exemplo de custeio de absorção. Fonte: Elaborado pela autora.

Utilizando os dados, verificamos que o custo unitário do produto soma


R$ 322,50 [130,00 + 100,00 + 45,00 + (950.000 / 20.000)], pois consideramos
todos os custos variáveis e fixos. Assim, conseguimos determinar o Custo

Custos Empresariais 19
Total da Produção Acabada (CTPA), que é de R$ 6.450.000,00 (R$ 322,50
x 20.000 unidades).
Montando a DRE desse período, temos a seguinte estrutura:

Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pelo Custeio por Absorção


(+) Receita de Vendas R$ 9.000.000,00 (15.000 unid. x R$ 600,00)
(-) Custo dos Produtos Vendidos (CPV) R$ 4.837.500,00 (15.000 unid. x R$ 322,50)
(=) Resultado Bruto ou Lucro Bruto R$ 4.162.500,00
(-) Despesas Comerciais R$ 450.000,00 (R$ 250.000 + R$ 200.000,00)
(-) Despesas Administrativas R$ 340.000,00
(=) Resultado Líquido ou Lucro Líquido R$ 3.372.500,00

Dessa forma, ainda obtemos o estoque final dos produtos acabados do


período no valor de R$ 1.612.500,00 (5.000 unid. x R$ 322,50) ou por meio
da fórmula a seguir:

EF = EI + CTPA - CPV

Assim sendo:

EF = 0 + 6.450.000 - 4.837.500
EF = 1.612.500

Agora, veremos o Custeio por Atividade - ABC ou Custeio baseado


em Atividades ou, ainda, Custeio ABC (Activity Based Costing), que
administra os custos indiretos de fabricação em um primeiro momento. É
uma forma mais sofisticada de apropriar os custos indiretos. Sua metodologia
é muito semelhante ao critério RKW, de estilo alemão, e ao método de seções
homogêneas, de estilo francês.

Glossário
RKW (Rationalisierungskuratorium der Deutschen Wirtschaft): trata-se de um método alemão
de apropriação de despesas, através de Mapa de Distribuição ordenada entre departamentos,
tendo como resultado os custos finais de cada setor de transformação e montagem, após a
absorção dos valores das demais seções indiretas da produção.

20 Custos Empresariais
Há algum tempo, os profissionais de custos estavam à procura de um
sistema que lhes permitisse, entre outras coisas, um melhor acompanhamento
dos gastos empresariais, bem como a superação de distorções oriundas dos
métodos tradicionais de custeio.

Alcançando progressiva aceitação entre as empresas que já se


conscientizaram da necessidade de imediata resposta aos novos desafios da
chamada “competição global”, o sistema de custeio baseado em atividades
tem se caracterizado – à medida que cresce a sua aplicação – como um
procedimento administrativo de inestimável valia.

Atendendo a essas exigências da administração moderna, o sistema


de custeio ABC já desacreditou, ao que tudo indica, o título de “modismo”
com que o círculo mais conservador costuma acolher, inicialmente, todas
as novidades e agora se impõe como técnica indispensável a empresas que
produzem uma variedade significativa de bens e/ou serviços, destinados a
uma clientela igualmente diversificada.

Este método ABC surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1980. Foi
desenvolvido pela Universidade de Harvard por necessidade das Empresas
que não conseguiam avaliar corretamente o impacto de seus custos fixos, com
a finalidade de desenvolver um método que permitisse avaliar a agregação
de valor das diferentes atividades que consomem, desproporcionalmente,
recursos ao longo do processo e do mix de produtos/serviços. Foi criada
basicamente pelos Profs. Cooper e Kaplan, portanto ABC é a sigla para o
termo em inglês Activity Based Costing ou Custeio Baseado em Atividades.

Nesse método, ABC as atividades são o foco do processo de custeio.


Os custos são investigados, relacionando as atividades aos produtos, com base
na demanda por tais atividades pelo produto durante o processo de produção
ou o serviço em questão. Portanto, as bases de alocação usadas no custeio
baseado na atividade são medições das atividades executadas, que podem
incluir horas do tempo de ajuste de máquina ou número de vezes em que isso
foi feito, ou demais maneiras de distribuição em função da atividade que está
sendo analisada, seja industrial, serviço ou overhead (custos indiretos).

Custos Empresariais 21
Uma das importantes razões da crescente utilização e necessidade de
uso desta tecnologia é o aumento dos gastos de overhead das empresas que,
nos últimos anos, tem se tornado muito significativo.

O ABC tem por objetivo fundamental revisar o método e a


filosofia de se apropriarem dos custos indiretos, buscando, através
dos conceitos de rastreamento das atividades aos produtos, uma
forma mais justa e objetiva de determinar os custos dos produtos
e serviços.

Um dos destaques do ABC é o fato de incorporar avaliações


e gastos que ultrapassam a área de produção. Nesse sentido, os
gestores perceberam que atividades não produtivas necessitam de
acompanhamento e avaliação tanto quanto aquelas efetivamente
produtivas. (SILVA; LINS, 2017, p.65)

O método ABC demonstra a relação entre recursos consumidos (o


que foi gasto: água, luz, salários, etc.), atividades executadas (onde foi gasto:
produção, informática, vendas, etc.) e objetos de custo (para que foi gasto:
produto A, Produto B, Atividade X etc.).

As atividades executadas são definidas como um conjunto de tarefas


coordenadas e necessárias para a execução de um processo, consumindo
recursos da empresa conforme podemos ver na Figura 4.

Recursos Objetos de custo

As diversas atividades consomem recursos e os


produtos, por sua vez, consomem atividades

Atividades

Indutores de custo

Figura 4: As premissas do sistema de custeio ABC. Fonte: Adaptado de Ferreira (2007).

22 Custos Empresariais
O processo é definido como um grupo de atividades que se relacionam
e que são necessárias para gerar um produto ou serviço. São exemplos: processo
de compras, processo de cobrança, processo de administração de recursos
humanos, processo de administração da fábrica, processo de preparação de
máquinas (setup) etc.

Nesse sentido, são exemplos de atividades:

▪ movimentar materiais e produtos;


▪ comprar matéria-prima;
▪ faturar clientes;
▪ projetar produtos;
▪ inspecionar produtos etc.

Enquanto no método tradicional a alocação é feita por meio de


critérios de rateios limitados (geralmente, quantidade produzida/vendida); no
ABC, há uma multiplicidade de critérios (denominados de geradores de custo
ou cost drivers) cada qual específico à atividade (custo) a que se relaciona
(por exemplo: número de notas fiscais emitidas, número de requisições de
compras etc.).

Portanto, Cost Driver é o fator que causa mudança no


desenvolvimento de uma atividade, mensurando os respectivos recursos
exigidos por essa atividade.

O objetivo principal de um sistema de gestão de custos baseado


em atividade é melhorar a qualidade, a precisão e, por conseguinte,
a relevância das informações de custos utilizadas no processo de
tomada de decisão.

O custeio ABC parte da premissa de que os produtos consomem


atividades e estas, por sua vez, é que são consumidoras de custos.
Assim, são custeadas primeiramente as atividades para depois
verificar-se qual produto ou linha de produção consumiu mais essas
atividades, utilizando-se dos direcionadores de custos. (SILVA;
LINS, 2017, p.69)

Custos Empresariais 23
Assim sendo, o direcionador de custos é o instrumento pelo qual se
determina o consumo de recursos pelas atividades, bem como pelos produtos
ou serviços. São exemplos de direcionadores de custos:

▪ Quantidade de requisições de materiais para a atividade “movimentar


estoques”.
▪ Quantidade de lançamentos contábeis para a atividade “contabilizar
registros”.
▪ Quantidade de pedidos de compras no caso de a atividade “comprar”.
▪ Quantidade de inspeções efetuadas para a atividade “inspecionar
produtos” etc.

Exemplo:
Determinada indústria possui os seguintes custos para a produção de
três produtos conforme as Tabelas 7 e 8.

Descrição A B C

Total dos custos diretos R$ 70.000,00 R$ 90.000,00 R$ 40.000,00

Quantidade produzida 400 600 200

Tabela 7: Produtos produzidos (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora.

Custos indiretos R$
Mão de obra indireta 80.000
Depreciação 250.000
Manutenção 200.000
Outros (aluguel, energia, telefone) 70.000
Total dos custos indiretos 600.000

Tabela 8: Custos indiretos (exemplo). Fonte: Elaborada pela autora.

24 Custos Empresariais
A empresa contratou recentemente um gestor e, após estudar o
processo produtivo, ele sugeriu que a organização adotasse o sistema de
custeio por atividades para os custos indiretos. Por meio das etapas descritas
anteriormente, chegou-se aos seguintes números, de acordo com a Tabela 9,
conforme as atividades.

Atividades relevantes e seus respectivos custos R$

Desenvolvimento de lista de materiais 60.000


Montagem de lista de materiais 240.000

Atendimento de pedidos especiais de clientes 60.000

Melhoria de processos 48.000


Projeto e desenho ferramental 72.000
Controle da produção 120.000
Total dos custos indiretos 600.000

Tabela 9: Atividades relevantes (exemplo). Fonte: Elaborada pela autora.

Foram identificados os seguintes direcionadores de atividades para


cada atividade relevante, de acordo com a Tabela 10.

Atividades relevantes Direcionadores de atividades


Desenvolvimento de lista de materiais Número de listas desenvolvidas
Montagem de lista de materiais Número de listas montadas

Atendimento de pedidos especiais clientes Número de pedidos especiais atendidos

Melhoria de processos Horas de engenheiros


Projeto e desenho de ferramentas Número de projetos desenvolvidos
Controlar a produção Horas do gerente e supervisores

Tabela 10: Atividades relevantes versus Direcionadores de atividades (exemplo). Fonte: Elaborada pela autora.

Custos Empresariais 25
Foram apuradas as seguintes quantidades de direcionadores durante o
período, segundo a Tabela 11:

Quantidade de direcionadores de custos por produto


Direcionadores de atividades
A B C Total

Número de listas desenvolvidas 5 20 10 35

Número de listas montadas 10 30 10 50

Número de pedidos especiais 12 3 27 42

Horas de engenheiros 900 200 400 1500

Número de projetos desenvolvidos 25 35 20 80

Horas do gerente e supervisores 400 100 300 800

Tabela 11: Quantidade de direcionadores de atividades por produto (exemplo). Fonte: Elaborada pela autora.

Conforme pode ser visto na Tabela 12, o produto “A” em relação


ao direcionador “número de listas desenvolvidas” foi apropriado para este
produto 5/35 avos do custo referente à atividade de “Desenvolvimento de lista
de materiais”, que tinha um custo total de R$ 60.000,00 (60.000 dividido por
35, multiplicado por 5, arredondando, encontramos o valor de R$ 8.571,00).
No total, foram desenvolvidas 35 listas, mas o produto “A” consumiu somente
5 listas.

Quantidade de direcionadores de custos por produto em valor


Direcionadores de atividades
A B C Total

Número de listas desenvolvidas 8571 34.286 17.143 60.000

Número de listas montadas 48.000 144.000 48.000 240.000

Número de pedidos especiais 17.143 4.286 38.571 60.000

26 Custos Empresariais
Horas de engenheiros 28.800 6.400 12.800 48.000

Número de projetos desenvolvidos 22.500 31.500 18.000 72.000

Horas do gerente e supervisores 60.000 15.000 45.000 120.000

Total dos custos indiretos 185.014 235.472 179.514 600.000

Total dos custos diretos 70.000 90.000 40.000 200.000

Custos totais 255.014 325.472 219.514 800.000

Quantidade produzida 400 600 200 1.200

Custo unitário 638 542 1098

Tabela 12: Quantidade de direcionadores de atividades por produto em valor (exemplo). Fonte: Elaborado pela autora.

Os principais objetivos da implantação de um sistema de


gerenciamento de custos com base nas atividades (ABC) estão relacionados
com a facilidade e precisão que a administração terá para realizar as
seguintes tarefas:

▪ Apurar e controlar seus custos reais de produção e, principalmente,


os custos indiretos de fabricação (overhead).
▪ Identificar e mensurar os custos da não qualidade (falhas internas e
externas, prevenção, avaliação etc.).
▪ Levantar informações sobre as oportunidades para eliminar
desperdícios e aperfeiçoar atividades.
▪ Eliminar/reduzir atividades que não agregam ao produto um valor
percebido pelo cliente.
▪ Identificar os produtos e clientes mais lucrativos.
▪ Subsidiar o redimensionamento da plataforma de vendas
(distribuidores e revendedores).

Custos Empresariais 27
▪ Melhorar substancialmente sua base de informações para tomada
de decisões.
▪ Estabelecer um conjunto de indicadores de desempenho capaz de
medir a eficiência e a eficácia empresarial sob aspectos produtivo,
comercial, financeiro e societário.
Hoje em dia, pela alta concorrência das empresas, elas necessitam
se adaptar constantemente, adaptando, por exemplo, os seus sistemas de
informação para um maior controle dos custos e outras operacionalidades,
como por exemplo atendimentos mais rápidos (Just in time), flexibilizações das
mais diversas, otimização do ciclo de industrialização, melhoria na logística e
canais de distribuição e, primordialmente, na qualidade dos produtos.

Glossário
Just in time (tempo imediato): trata-se de um método de produção criado à intenção de
se eliminar desperdícios, obtendo-se custos mais reduzidos, aliados à maior eficiência na
rotatividade dos estoques e no atendimento aos clientes.

Os sistemas antigos (tradicionais) perderam suas funcionalidades, pois


foram criados para uma realidade que não condiz com a atual, que necessita,
hoje, de rapidez no processamento de uma complexidade enorme de dados,
dessa forma conseguindo informações compreensíveis, relevantes e oportunas,
de modo a aumentar a qualidade nas decisões dos gestores.

Um dos aspectos mais importantes da gestão estratégica da empresa


está em centrar os esforços em torno da variável “Custo”. Os novos
administradores necessitam conhecer e analisar os custos para tomarem
decisões corretas relativas aos produtos que fabricam e mercados que atuam
ou pretendem explorar.

A maioria das empresas, atualmente, ainda utilizam sistemas de


informação que não estão adaptados a nossa realidade, havendo uma tendência
em apurar custos distorcidos, haja vista que se apoiam em critérios baseados,
quase na sua totalidade, no volume de produção.

28 Custos Empresariais
Em virtude dessas deficiências, foi preciso desenvolver novas
abordagens que apoiassem mais efetivamente a gestão estratégica dos custos.
O Custeio Baseado em Atividades (ABC) surgiu então como uma ferramenta
de grande utilidade, na medida em que permite analisar as verdadeiras origens
dos custos, fornecendo importantes indicações para o combate do desperdício
de recursos.

Seja qual for a vantagem competitiva que a empresa pretenda criar e


sustentar, a gestão da cadeia de valor é fundamental, uma vez que permite
identificar as atividades estrategicamente relevantes. Usando a cadeia de valor,
não só se torna visível o peso dos custos de produção da empresa no valor final
dos custos para o comprador, como se reconhece que as diversas atividades
não são independentes, mas interdependentes.

Ora, é precisamente neste sentido que os sistemas de informações


de contabilidade convencionais se mostram limitados e o ABC demonstra
as suas virtudes ao imputar custos e proveitos a cada atividade, integrando
informações externas às empresas, como por exemplo as relações com
fornecedores e clientes.

Por outro lado, o conhecimento dos direcionadores de custos tem


levado as empresas a iniciar uma reengenharia dos seus processos, com vista
à eliminação das diversas fontes de desperdícios, identificando atividades
ou operações. Um processo se define como um conjunto de atividades que
operam em conjunto para atingir um determinado fim.

O redesenho dos processos requer uma análise do fluxograma das


atividades que neles têm lugar, com o objetivo de diminuir os custos,
melhorar a qualidade e aumentar a flexibilidade. A gestão dos custos dos
processos apoia-se essencialmente na avaliação prevista do impacto dos
indutores de custos na cadeia de valor e na análise dos recursos organizacionais
necessários. Neste sentido, o ABC fornece um melhor conhecimento da
relação causal que, em longo prazo, existe entre as unidades de atividade
e o consumo dos recursos. Assim, esta é a perspectiva mais adequada para
estudar as variações no consumo dos fatores derivadas de alterações nos
produtos ou nos processos.

Custos Empresariais 29
Como foi discutido, o ABC difere dos sistemas convencionais de
custeio fundamentalmente quanto ao modo como trata os gastos indiretos
não correlacionados com o volume de produção. Apesar do peso destes ter
vindo a crescer constantemente ao longo das últimas décadas, a Contabilidade
de Gestão tardou, entretanto, a responder às alterações na estrutura de
custos, pelo que lhe podem ser imputadas algumas responsabilidades
pelas consequências nefastas da existência de custos distorcidos, afetando,
principalmente, as decisões estratégicas.

Muitas empresas apontam os elevados custos de instalação de um


sistema ABC como o principal motivo de resistência à sua implementação.
No entanto, a concepção do sistema deve ser encarada como um investimento,
capaz de ser compensado pelos fortes benefícios futuros.

Ao mesmo tempo, os custos podem ser substancialmente reduzidos


caso a gestão comece por definir claramente o detalhe com que necessita da
informação, selecionando um número razoável de atividades. De fato, existem
várias vantagens ao evitar um sistema complexo, mais lento e mais caro.
Assim, ficará ultrapassada a crítica, tantas vezes mencionada, que decorre
da ideia que o ABC necessita recolher um grande volume de informação,
com a identificação de diversas atividades e vetores de custo. Com efeito, o
segredo do ABC está, em larga medida, na capacidade de escolher atividades
que respeitem as características diferenciadas dos produtos e capturem a sua
diversidade.

Em suma, e apesar de ser apenas mais uma ferramenta, o ABC está


de acordo com o contexto empresarial atual e é capaz de melhorar a qualidade
e a credibilidade da Contabilidade de Gestão, contribuindo para que esta
se coloque no centro daquilo que de mais sublime ocorre numa empresa: a
formulação e a análise estratégica.

No Brasil, a empresa que usa o sistema ABC tem seu estoque


classificado em três grupos: A, B e C. O grupo A inclui aqueles itens que
requerem maior investimento. Numa distribuição típica, esse grupo consiste
de 20% dos itens totais e representa 80% do valor do investimento total em

30 Custos Empresariais
estoques. O grupo B consiste de itens que representam o maior investimento
depois do A. O grupo C consiste, em geral, de um grande número de itens
cujo investimento é relativamente pequeno. A divisão dos estoques em itens
A, B e C tem por finalidade permitir que a empresa determine o nível e os
tipos de procedimentos necessários ao controle de estoque.

No sistema ABC, as informações gerenciais podem ser consideradas


mais fidedignas ao reduzir o número de rateios arbitrários. A sua implantação
induz à permanente revisão dos controles internos, identificando quais são as
atividades mais caras ou que exigem mais esforços.

Como foi mencionado anteriormente, também existe o Custeio


RKW. Esse sistema consiste na apropriação de todos os custos e despesas
de uma entidade aos produtos e/ou serviços. RKW (Reichskuratoriun
fur Wirtschaftlichtkeit) é um sistema de custeamento alemão. Também é
conhecido por suas peculiaridades, como o custeio por absorção total ou
custeio integral. É pouco utilizado e muito questionado pelos autores por não
fornecer adequadas informações gerenciais.

Por meio dessa técnica, alavancam-se aos produtos e serviços todos


os custos e despesas, inclusive as financeiras, fornecendo, dessa maneira, o
montante total dos gastos dessa empresa no esforço completo de obtenção de
receita. Diferente do custeio por absorção, que separa os custos das despesas,
rateando os custos indiretos aos produtos e reconhecendo as despesas
separadamente na DRE.

Alguns autores dizem que a principal vantagem no método de custeio


pleno está no fato de serem levados em conta todos os gastos incorridos em
uma organização, sem exceções, tendo, portanto, uma informação de custos
completa e conservadora. Já outros autores dizem que a principal desvantagem
no método de custeio pleno está na arbitrariedade dos critérios de rateio dos
gastos fixos.

Custos Empresariais 31
2.1 Formas de Custeio

Vimos que existem vários sistemas de custeio, uns mais gerenciais


e outros menos. Assim sendo, uma forma de custeio bem gerencial, de
planejamento, é o Custo Padrão. Este é um custo estimado, isto é, calculado
antes mesmo de iniciado o processo de fabricação, fundamentado sempre em
custos de produções anteriormente realizadas. O custo padrão, importante
instrumento de controle, tem várias finalidades, motivo pelo qual poderá,
também, receber denominações diversas.

Na sequência, temos o Custo Real ou custo histórico, que é aquele


apurado após concluído o processo de fabricação, fundamentado sempre nos
custos que efetivamente ocorreram na fabricação dos produtos.

Dentre as muitas vantagens de se conhecer antecipadamente o custo


de fabricação, duas merecem destaque, são elas:

▪ A possibilidade da fixação do preço de venda.


▪ A otimização do processo produtivo visando utilizar ao máximo os
recursos humanos, físicos e financeiros disponíveis.

Quando utilizado com a finalidade de fixação de preço de venda


para compor os çamentos, visando o fechamento de contratos nos
casos de fabricação sob encomenda, o custo de fabricação pode ser
denominado custo padrão corrente. Nesse caso, o padrão é fixado
com base em produções anteriores, tendo a empresa como meta
atingi-lo no curto ou no médio prazo, ou seja, somente visando a
produção daquele lote que irá fabricar conforme acordado com seu
cliente. (RIBEIRO, 2018, p.400)

As empresas precisam conhecer bem as formas de valoração dos


estoques para que a forma escolhida reflita a melhor estratégia a elas, pois
essa movimentação irá impactar nos custos das mercadorias vendidas ou no

32 Custos Empresariais
custo dos produtos vendidos, reconhecidos na Demonstração do Resultado
do Exercício (DRE). No Brasil, o UEPS não é aceito pelo Fisco e não é bem
visto pelas normas contábeis brasileiras.

As organizações devem igualmente conhecer bem os sistemas de


custeamento existentes e o que irá adotar em seus controles, pois existem
diversos sistemas, cada um com as suas formas específicas de acumular
valor aos custos dos produtos industrializados. No Brasil, são aceitos o
Custeio por Absorção e o Custeio ABC, mas nada impede as empresas
utilizarem em conjunto outros métodos de custeio que são mais gerenciais,
como o Custeio Variável, que traz com ele uma importante análise que é
a margem de contribuição dos produtos e também o Custeio RKW, que
é um método alemão.

Custos Empresariais 33
Referências
CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S.. Contabilidade de custos. 6 ed. São
Paulo: Atlas, 2018.

DUTRA, R. G. Custos: uma abordagem prática. 7 ed. São Paulo: Atlas,


2010.

FERREIRA, J. A. S. Contabilidade de custos. São Paulo: Pearson Prentice


Hall, 2007.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de


informação contábil. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos. 4 ed. São Paulo: Saraiva: 2015.

__________. Contabilidade de custos. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

SILVA, R. N. S.; LINS, L. S. Gestão de custos: contabilidade, controle e


análise. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

SOUZA, A.; CLEMENTE, A. Gestão de custos: aplicações operacionais e


estratégicas: exercícios resolvidos e propostos com utilização do Excel. 2 ed.
São Paulo: Atlas, 2011.

34 Custos Empresariais

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