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JUNG, Carl Gustav [et al]. O homem e seus símbolos. Tradução Maria Lúcia Pinho.

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ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

O homem e seus símbolos

Introdução: John Freeman


◙ Na introdução Freeman narra como aconteceu a ideia do livro e como ocorreu para
que Jung fosse persuadido a tomar parte nesse projeto, uma vez que ele é dedicado
inteiramente ao leitor comum, para tratar de questões relacionadas ao método
psicológico do psicanalista, entre eles, os arquétipos, o inconsciente, e a noção de que ‘”
a linguagem e as ‘pessoas’ do inconsciente são os símbolos, e os meios de comunicação
com este mundo são os sonhos” (p. 9)
◙ Freeman destaca dois aspectos que podem auxiliar o leitor comum a interpretar os
conceitos da obra. Um deles, diz respeito ao sonho, que na psicologia jungiana “o sonho
não é uma espécie de criptograma padronizado que pode ser decifrado através de um
glossário para a tradução dos símbolos. É, na verdade, uma expressão integral,
importante e pessoal do inconsciente individual de cada um e tão ‘real’ quanto qualquer
outro fenômeno vinculado ao indivíduo” (p. 10)

1 – Chegando ao inconsciente: (Carl Gustav Jung)

A importância dos sonhos


◙ Jung começa estabelecendo a distinção entre sinais (ONU) e símbolos, onde estes
possuem “conotações especiais além do seu significado evidente e convencional.
Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós” (p. 18)
◙ Diz Jung sobre a experiência simbólica: “assim, uma palavra ou uma imagem é
simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto imediato” (p.
19)
◙ O emprego da experiência simbólica, diz Jung, se dá por força de existirem diversas
coisas fora do alcance da compreensão humana, e daí “utilizamos termos simbólicos
como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender
integralmente” (p. 19)
◙ Jung traz a noção de sonho, um espaço “privilegiado”, em que os símbolos podem ser
enredados e descortinados: “o aspecto inconsciente de um acontecimento nos é revelado
por meio de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como
uma imagem simbólica” (p. 22)
◙ O aspecto de duas personalidades dentro de um mesmo sujeito, diz Jung que não
implica algum tipo de patologia, que é inerente tanto ao homem moderno como também
era comum nas outras sociedades: “esta situação é um sintoma da inconsciência geral
que é, inegavelmente, herança comum de toda humanidade” (p. 22)
◙ Jung trata brevemente da noção dos complexos, aquelas áreas incomodas sepultadas
na memória que desejara esquecer conscientemente. Sobre os complexos, diz que são
“temas emocionais reprimidos capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes
ou mesmo, em alguns casos, sintomas de neurose” (p. 28)
◙ Ocorreu a Jung, através de certo momento de suas investigações, a consciência de que
“os sonhos têm uma função própria, mais especial e significativa. Muitas vezes têm uma
estrutura bem definida, com um sentido evidente indicando alguma ideia ou intenção
subjacente – apesar de estas últimas não serem imediatamente inteligíveis” (p. 28)
◙ Outro conceito que Jung apresenta é o de anima, provindo da Idade Média, donde um
provérbio que dizia que “todo homem traz dentro de si uma mulher”, “esse aspecto
feminino é, essencialmente, uma maneira secundária que o homem tem de se relacionar
com o seu ambiente e sobretudo com as mulheres, e que ele esconde tanto das outras
pessoas quanto de si mesmo” (p. 31)

O passado e o futuro no inconsciente


◙ Jung procura sistematizar o espaço do inconsciente e o seu funcionamento na
organização psicológica, discernindo o inconsciente como aquela zona em que as coisas
estão lá, mesmo quando aparentemente não estão lá: “parte do inconsciente consiste,
portanto, de uma profusão de pensamentos, imagens e impressões provisoriamente
ocultos e que, apesar de terem sido perdidos, continuam a influenciar nossas mentes
conscientes” (p. 35)

A função dos sonhos


◙ Jung procura explorar a função dos sonhos e sua relação com os ritos, mitos das
sociedades prístinas. Aborda a expressão “resíduos arcaicos” advinda de Freud, em que
“a expressão sugere que tais ‘resíduos’ são elementos psíquicos que sobrevivem na
mente humana desde tempos imemoriais” (p. 51)
◙ Jung coloca nesses termos a função dos sonhos: “a função geral dos sonhos é tentar
restabelecer a nossa balança psicológica, produzindo um material onírico que
reconstitui, de maneira sutil, o equilíbrio psíquico total” (p. 56)

A análise dos sonhos


◙ Jung retoma a diferenciação entre sinal e símbolo para dinamizar que este último não
pode ser inventado, ele parte de uma condição natural não determinada: “nos sonhos os
símbolos surgem espontaneamente, pois sonhos acontecem, não são inventados; eles
constituem, assim, a fonte principal de todo o nosso conhecimento a respeito do
simbolismo” (p. 64)
◙ Jung aufere que existem muitos símbolos cuja constituição de sua consumação não é
de natureza individual e sim coletiva. (p. 65). Diz ele que:
“são, efetivamente, ‘representações coletivas’ – que procedem de sonhos
primitivos e de fecundas fantasias” (p. 65)

O problema dos tipos


◙ Jung já começa problematizando a diferença entre as ciências duras exatas, e uma
ciência como a psicanálises, em que o fator objetivo não existe isolado, e se dá com a
intermediação junto ao fator subjetivo, visto que entre duas pessoas a subjetividade é
inerente. Ele destaca esse aspecto na própria sociedade: “uma sociedade saudável e
normal é aquela em que as pessoas habitualmente entram em divergência, já que um
acordo geral é coisa rara de existir fora da esfera das qualidades humanas instintivas”
(p. 70)
◙ Assim, Jung trabalha a natureza tipológica da personalidade humana, de acordo com o
enquadramento que ele elaborou, na classificação: introvertido ou extrovertido. (p. 72)
◙ Mas, as coisas não são tão evidentes assim, divididas em dois polos de oposição. Jung
apresenta uma organização dividida em quatro polos que se convergem e se divergem
ao mesmo tempo: pensamento/sentimento; sensação/intuição. (p. 73-74). Conforme ele
estabelece essas quatro partições, que orienta a consciência em relação à experiência:
“a sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o
pensamento mostra-nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou
não; e a intuição nos dirá de onde vem e para onde vai” (p. 74)
O arquétipo no simbolismo do sonho
◙ Jung, retomando as análises de Freud sobre os sonhos, se refere mais uma vez aos
“resíduos arcaicos” que são “formas mentais cuja presença não encontra explicação
alguma na vida do indivíduo e que parecem, antes, formas primitivas e inatas,
representando uma herança do espírito humano” (p. 82)
◙ Nesse sentido, Jung se refere a uma base antiga muito próxima a psique do homem
pré-histórico, em que “essa psique, infinitamente antiga, é a base de nossa mente, assim
como a estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatômico dos mamíferos em
geral” (p. 82)
◙ Jung, nessa constante, chama esses “resíduos arcaicos” de “arquétipos” ou “imagens
primordiais”, que “nada mais são que representações conscientes” (p. 83), em que, nessa
plataforma, “o arquétipo é uma tendência a formar essas mesmas representações de um
motivo – representações que podem ter inúmeras variações de detalhes – sem perder a
sua configuração original” (p. 83)
◙ Jung cita que, nessa moldura “existem, por exemplo, muitas representações do motivo
irmãos inimigos, mas o motivo em si conserva-se o mesmo” (JUNG, 2008, p. 83)
◙ Ele compreende o arquétipo como uma tendência instintiva que não tem nada haver
com alguma predisposição hereditária, entendendo o instinto como “os impulsos
fisiológicos percebidos pelos sentidos” (p. 83)
◙ Jung destaca em relação aos arquétipos que “a sua origem não é conhecida; eles se
repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo – mesmo onde não é
possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por ‘fecundações
cruzadas’ resultantes da migração” (p. 83)
◙ Jung cita como exemplo o caso do mito do herói: “a figura do herói é um arquétipo,
que existe desde tempos imemoriais” (p. 90)
◙ Para potencializar sua hipótese de que nos tempos imemoriais existia uma plataforma
arquetípica em relação a determinados temas que se repetiam entre os povos, diz Jung o
seguinte: “inclino-me a pensar que, geralmente, as coisas eram feitas em primeiro lugar,
e só depois de muito tempo é que alguém indagava o por quê” (p. 93)
◙ Das experiências que estudou e analisou, diz ele que elas “parecem revelar que as
estruturas arquetípicas não são apenas formas estáticas, mas fatores dinâmicos que se
manifestam por meio de impulsos, tão espontâneos quanto os instintos” (p. 96)
◙ Sobre o mito do herói diz o psicanalista que:
“o mito universal do herói, por exemplo, refere-se sempre a um homem ou
homem-deus poderoso que vence o mal, apresentado na forma de dragões, monstros,
demônios etc. e que sempre livra seu povo da destruição e da morte” (p. 98)

A alma do homem
◙ Aqui, Jung trata da psicologia do homem, principalmente do ocidental, cuja alma está
impregnada por um mal, provindo de uma dimensão arquetípica que, na versão
comunista, converge em busca de um El dourado que falha na sua própria conjuminação
quando o ego “maligno” do homem é a peça que rege as relações.

A função dos símbolos


◙ Jung acomete uma diferenciação entre o que denomina de símbolos naturais e
símbolos culturais.

Curando a dissociação

II – Os mitos antigos e o homem moderno (Joseph L. Henderson)

Os símbolos eternos
◙ Henderson começa avaliando uma redescoberta dos mitos antigos por parte das
ciências e da imaginação simbólica. Afirma que foi a partir da escola de Jung que tal
guinada se coloca nas investigações atuais. (p. 137)
◙ Henderson consubstancia o conceito de inconsciente coletivo advindo da
compreensão de Jung, “isto é, a parte da psique que retém e transmite a herança
psicológica comum da humanidade” (p. 138)
◙ Henderson diz que vai analisar alguns dos mitos que vigem no inconsciente
permanente da humanidade. (p. 141)

Heróis e fabricantes de heróis


◙ Mais comum e mais conhecido em todo o mundo é o mito do herói. Diz ele que, ainda
que tome as mais diversas formas nas mais diversas sociedades, em seu construto se
assemelham estruturalmente: “isso quer dizer que guardam uma forma universal mesmo
quando desenvolvidos por grupos ou indivíduos sem qualquer contato cultural entre si”
(p. 142)

O arquétipo de iniciação
◙ Em sua constituição primeira, Jung acredita que o indivíduo possui a inteireza de seu
self, de sua individualidade: “e é do self (o si mesmo) – a totalidade da psique – que
emerge a consciência do ego à medida que o indivíduo cresce” (p. 167)

Orfeu e o Filho do Homem

Símbolos de transcendência
◙ Os símbolos de transcendência dizem respeito a passagem a um estágio mais elevado
no curso da vida. (p. 195)
◙ Tal acontecimento é deflagrado pela união do consciente com o inconsciente: “pela
qual o homem pode alcançar sua finalidade mais elevada: a plena realização das
potencialidade s do seu self (ou ser)” (p. 197)

III – O processo de individuação (M.-L. von Franz)

A configuração do crescimento psíquico


◙ A autora, a partir das noções de inconsciente coletivo advindas e de Jung e de sua
análise sobre os sonhos, trabalha o processo de individuação “um processo lento e
imperceptível de crescimento da psique” (p. 211)
◙ Esse processo é estruturado a partir de um elemento organizador, o self ou totalidade
absoluta da psique, diferente do ego que é uma parte pequena dela. (p. 212)
◙ “O self pode ser definido como um fator de orientação íntima, diferente da
personalidade consciente, e que só pode ser apreendido por meio da investigação dos
sonhos de cada um” (p. 213)

O primeiro acesso ao inconsciente


◙ Franz diz que o primeiro acesso ao inconsciente é, geralmente, doloroso, pois o
encontro do ego com o seu centro (o self) é um acontecimento penoso para o indivíduo.
(p. 218-219)
A realização da sombra
◙ Ao tratar da questão da sombra, diz o psicólogo que ela aparece nos sonhos como
uma forma personificada e que ela, “não é o todo da personalidade do inconsciente:
representa qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego – aspectos
que pertencem sobretudo à esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes” (p.
222)
◙ Em relação à função da sombra, diz-nos que “portanto, seja qual for a forma que
tome, a função da sombra é representar o lado contrário do ego e encarnar,
precisamente, os traços de caráter que mais detestamos nos outros” (p. 229)

Anima: o elemento feminino


◙ “Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do
home – os humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao
racional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas não menos
importante, o relacionamento com o inconsciente” (p. 234)

Animus: o elemento masculino interior


◙ A personificação masculina na mulher é denominada animus, e tem a ver, geralmente,
com uma convicção secreta ‘sagrada’ (p. 255)

O self: símbolo da totalidade


◙ sintetiza o núcleo central das relações da psique.

IV – O simbolismo nas artes plásticas (Aniea Jaffé)

Símbolos sagrados: a pedra e o animal

◙ Para Jaffé “de fato, todo o cosmos é um símbolo em potencial” (p. 312), ou seja,
qualquer coisa é suscetível de receber a marcação simbólica.
◙ A autora pretende tratar nesse capítulo a respeito da imaginação simbólica que
circunda as artes plásticas “não sob o ângulo de sua utilização como símbolo, mas em
termos da sua significação como o próprio símbolo – isto é, como uma expressão
simbólica das condições psicológicas do mundo moderno” (p. 312)
V – Símbolos em uma análise individual (Jolande Jacobi)

O começo da análise
◙ O autor começa auferindo que a função poderosa dos simbolismos dos sonhos diz
respeito, na análise, a condição de possibilidade de trazer o paciente, principalmente o
introvertido, daquela zona de inércia em que se deparou a não deixar que os processos
de individuação do seu inconsciente atravessem as etapas psicológicas que a experiência
da vida concerne. (p. 372)

Conclusão (M. – L. von Franz)

A ciência e o inconsciente
◙ Na conclusão, Franz toca na questão de que no estado atual a ciência sobre a
decifração dos símbolos ainda está em pleno desenvolvimento. Sobre os arquétipos e
suas figurações, cindido entre o bem e o mal, diz que “podemos verificar ainda que os
arquétipos são capazes de agir em nossa mente como forças criadoras ou destruidoras;
criadoras quando inspiram ideias novas, destruidoras quando estas mesmas ideias
consolidam em preconceitos conscientes que impossibilitarão futuras descobertas” (p.
419)

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