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1. Estudo dirigido atualmente por Robert Waldinger, intitulado Harvard Study of Adult Development
na Harvard Medical School. Durante 75 anos, os pesquisadores acompanham as vidas de 724
homens. Fonte: https://goo.gl/dO0bbL Endereço do vídeo do TED: https://goo.gl/glPTXL
Capítulo 1
O que é e de onde vem a inteligência?
Você já parou para pensar na quantidade de informações que recebe
todos os dias?
Como será que a nossa mente processa essas informações para que não
aconteça um congestionamento de pensamentos, mensagens, ideias e
imagens?
O cérebro precisa de muito vigor para registrar com o mesmo
entusiasmo tanta informação. Mas temos a nosso favor a memória, e, para
nos ajudar ainda mais, ela é seletiva e auxilia a nossa mente a ltrar o que
mais nos interessa. O restante das informações a gente não descarta, mas
joga em alguma “pasta” que ca guardada no fundo da nossa cabeça.
A memória seletiva protege a nossa mente contra esse turbilhão de
informações vindo da internet, do smartphone, da televisão, do rádio, do
que lemos: seja em cartazes, livros, outdoors, além das informações que
captamos com as pessoas com quem conversamos todos os dias e que nos
ensinam muito.
Na introdução deste livro você deve ter lido como as conversas que tive
com as pessoas foram enriquecedoras para que essa obra existisse. Apesar
do conhecimento, das pesquisas que realizei, dos livros que li e da base
conceitual que construí no decorrer desses anos, os relacionamentos diários
com as pessoas foram de uma contribuição inigualável. Aliás, gostar de
conversar é uma característica comum nas pessoas relacionais e que gostam
de estar entre outras. Inclusive atribuo a essa habilidade de fazer e manter
relacionamentos, extraindo o melhor das pessoas, uma das principais ações
para que eu pudesse escrever este livro.
As nossas habilidades e inteligências são construídas de várias maneiras.
São milhares de correlações e in uências, que veremos adiante, mas antes
de entendermos mais sobre Inteligência Relacional, precisamos entender o
que é Inteligência e como fazemos para processar de forma adequada as
informações que recebemos no nosso dia a dia.
Durante quase 250 mil anos na Terra, o ser humano foi dominado pelo
pensamento mitológico e suas lendas. Há 2.500 anos surgiram a Filoso a e
a razão, que conduzem à indução ou dedução de algo e que tentam buscar
essa resposta, abrindo caminho para algo além dos mitos e crenças.
Há muitos anos – e por que não dizer séculos – diferentes autores e
lósofos tentaram de nir e conceituar Inteligência. Os primeiros lósofos
da Grécia antiga procuraram respostas sobre questões como consciência,
mente, corpo e como estruturar a sociedade, a política, as regras e o “viver
bem”. De lá para cá, tivemos muitos avanços e vale entender um pouco
dessa evolução.
Vamos começar por Sócrates, conceituado lósofo. Ele acreditava que a
inteligência estava ligada puramente ao raciocínio abstrato – linguagem e
matemática. Considerava que as inteligências eram diferentes e inerentes a
cada pessoa, que cada um nasce com habilidades inatas, ou seja, com uma
predisposição para determinado aprendizado.
Platão e Aristóteles entenderam a inteligência como uma habilidade
voltada para a lógica, para a geometria e a argumentação. Os lósofos
buscaram pessoas sábias e testaram seus conhecimentos com o objetivo de
identi car a inteligência nestas pessoas, como se as outras não a tivessem.
Descartes, em torno do ano de 1600 d.C., em suas re exões, propôs a
separação entre o corpo e a mente, dizendo que o corpo, sendo material,
poderia ser estudado, enquanto a mente, por ter origem divina, somente
poderia ser conhecida e tratada a partir do processo introspectivo2.
Locke argumentou que não nascemos com conhecimentos, mas que os
adquirimos por meio de nossas experiências com o mundo e por meio de
nossa capacidade de re etir sobre o que nos acontece e sobre o que
vivenciamos. Como materialista, ele a rmava que a mente poderia ser
estudada também, mas, naquela época, por falta de recursos, não sabiam
exatamente como fazê-lo. Lembre-se de que naquele período não havia
exames capazes de “ler” o cérebro como: ultrassonogra a, ressonância
magnética, entre outros.
Donders, Helmholtz e Broca foram grandes estudiosos da siologia
cerebral, que descobrindo e aprimorando o estudo da transmissão
neuronal, conexão entre os neurônios (lembrando que neurônios são as
células do nosso cérebro). Estudaram a velocidade do impulso nervoso e
algumas interessantes interligações dentro de suas capacidades de
observação. Durante os tempos de guerra, estudaram as pessoas com graves
sequelas e acidentes cerebrais e zeram, a partir daí, belíssimas descobertas.
Paul Broca, médico francês, revolucionou a ciência com a descoberta da
localização do centro da fala no cérebro, intitulada e conhecida como área
de Broca. No próximo capítulo, você verá ilustrações de onde ca essa área
no cérebro humano.
Renomados autores, lósofos, médicos, siologistas e neurologistas
exploraram a natureza material do corpo e descobriram que havia relações
entre os sentidos humanos e o sistema nervoso, ou seja, correlação entre o
cérebro e as habilidades humanas. Vamos falar um pouco sobre essas
descobertas.
Em 1859, o cientista Charles Darwin causou um poderoso impacto
sobre o estudo da inteligência com a sua Teoria da Evolução. Essa teoria fez
surgir a estimulante possibilidade de a mente humana ter evoluído a partir
de mentes mais primitivas. Darwin apresentou semelhanças no
funcionamento mental dos homens e dos animais e fez cair por terra a
separação entre animais e homens proposta dois séculos antes por
Descartes.
Com Darwin, o estudo do comportamento animal passou a ser
considerado vital para a compreensão do comportamento humano. A teoria
evolutiva provocou também uma mudança no objeto de estudo e no
objetivo da psicologia. A obra de Darwin inspirou o debate que perdura até
hoje: até que ponto a inteligência é advinda de herança genética ou poderia
ser modi cada pelas circunstâncias?
A partir desses questionamentos temos a defesa e a discordância de
lósofos, psicólogos, médicos, cientistas e estudiosos.
Antes de debatermos de onde advém a inteligência, a pergunta é ainda
mais básica: de onde viemos?
Desde os tempos mais remotos indagamos sobre a origem dos seres
vivos, incluindo a nós mesmos, e durante todo esse tempo sempre tivemos
“respostas” na forma de fantasias, estórias fantásticas, mitológicas e
recheadas de alegorias que foram transmitidas de geração em geração.
Com o surgimento da loso a e da razão tentou-se buscar respostas,
mas essa “era de lucidez” racional foi por anos obscurecida pelas sombras da
Idade Média e seus dogmas de fé baseados na antiga mitologia judaico-
cristã.
No Oriente Médio, boa parte dessa cultura racional sobreviveu
disputando lugar com a crença na mitologia islâmica, e no Extremo
Oriente, desde vinte e cinco séculos atrás, outro tipo de loso a, mais
mística, se espalhava, baseada no Hinduísmo, Taoísmo e Budismo.
Só há pouco mais de duzentos e cinquenta anos outra área do potencial
humano amadureceu e se consolidou: a ciência.
A ciência nada mais é que a fusão da razão com a experimentação.
Pensar, experimentar e alcançar o conhecimento prático de processos. É tão
e ciente que seus resultados e materiais em menos de meio século foram
muito mais marcantes do que as dezenas de milhares de anos de misticismo
e magia.
A ciência pode não ter algumas respostas para nossas indagações
interiores, e com certeza não tem a chave da felicidade, mas ninguém pode
negar que ela é muito e caz em entender, explicar e controlar a natureza.
A ciência também nos deu sua resposta para a grande pergunta sobre a
origem da vida: a Teoria da Evolução.
Não é de se admirar que essa explicação só tenha surgido há tão pouco
tempo. Primeiro, porque não se mudam rapidamente centenas de milhares
de anos de pensamento mitológico e, depois, porque essa questão
realmente não é fácil de ser respondida, tanto por ter acontecido há muitos
anos e por ninguém a ter presenciado.
As primeiras descobertas trouxeram um forte quadro de resistência. O
processo de elaboração de pensamento foi tomando corpo aos poucos, já
que o evolucionismo apresenta uma resposta diferente daquela referência
que dominou toda a Idade Média, a Bíblia. A Ciência teve di culdades
para se estabelecer, enfrentando toda estrutura de repressão religiosa que
até hoje não foi totalmente vencida.
A nal, como enfrentar o Mito da Criação? Algo do qual depende boa
parte de toda a teologia cristã e suas diretrizes de comportamento. Até hoje
é questionável, compreensível e complicado.
Continua o trabalho árduo de vários pesquisadores, cientistas e
lósofos, e encontramos respostas e evoluções na forma de se “pensar”,
embora a teoria da evolução pareça ser a mais precisa explicação para a
origem da vida.
En m, o que são a Teoria da Evolução e o Evolucionismo3?
O Evolucionismo não é produto de uma só pessoa, é o resultado
inevitável de um processo de evolução cientí ca. A Ciência lida com fatos
explicáveis e controláveis, previsíveis e reproduzíveis. Só pode aceitar
explicações que se baseiem em fenômenos comprovados e observáveis na
natureza.
Ninguém jamais viu algo surgir do nada, ou uma transformação tão
radical quanto um organismo complexo como o humano surgir do barro.
Isso não existe na natureza. Portanto, a explicação religiosa criacionista é
inaceitável, no pensamento cientí co, mas completamente aceitável na
crença e no coração dos éis e devotos a Cristo, o que precisa ser respeitado.
A natureza e os seres humanos, lenta e progressivamente, nascem,
crescem, e se desenvolvem até atingir a maturidade, e morrerem. Uma
pequena semente se torna uma imensa árvore enquanto um aglomerado de
células menores que a cabeça de um al nete pode se tornar um grande
animal.
Sendo assim, a evolução está em tudo o que existe. É antes de tudo uma
transformação, uma mudança lenta e gradual, desde o mundo físico até os
processos sociais.
Nada acontece sem ser resultado de estágios progressivos de evolução e
é justamente aí que a Teoria da Evolução se torna base da Inteligência
Relacional, já que o ser humano só se desenvolve através do contato com os
outros. Isso veremos com mais detalhe nos próximos capítulos.
Continuando no caminho da evolução, Darwin abriu campo para
Galton, seu primo.
Francis Galton, matemático, estatístico e antropólogo, defendia a
herança da inteligência e seus aspectos eugênicos4. Galton acreditava que a
raça humana poderia ser melhorada caso fossem evitados “cruzamentos
indesejáveis”. O objetivo de Galton era incentivar o nascimento de
indivíduos mais notáveis ou mais aptos para a sociedade e desencorajava o
nascimento dos inaptos. Propôs o desenvolvimento de testes de inteligência
para selecionar homens e mulheres brilhantes, destinados à reprodução
seletiva.
Os estudos e conclusões de Galton in uenciaram fortemente a criação
de métodos estatísticos. Foi ele quem deu origem ao conceito de testes de
inteligência, elaborando a aplicação de testes em relação às habilidades
motoras e à capacidade sensorial dos indivíduos. Estudou a diversidade e o
tempo necessário para a produção de associações de ideias,
complementações riquíssimas para a psicologia e para o processo de estudo
das habilidades cognitivas (conhecimento).
Dando continuidade a esse estudo, entre os séculos XIX e XX, um
renomado estudioso francês teve grande impacto no desenvolvimento e
avaliação das Inteligências: Jean Piaget (1896-1980). Sua abordagem é
construtivista, uma corrente teórica que procura explicar como a
inteligência humana se desenvolve. Parte do pressuposto de que a
inteligência é determinada pela ação mútua entre o indivíduo e o meio, ou
seja, defende que o homem não nasce inteligente, mas também não ca
passivo sob a in uência do meio. Ele interage com o meio e por isso
aprende e responde aos estímulos do meio ambiente e do meio social.
Assim, constrói e organiza o seu próprio conhecimento através do contato
com as pessoas com quem interage. Para isso, utiliza-se de um mecanismo
autorregulatório que tem como base suas condições biológicas (inatas)
ativadas pela interação do organismo com o meio ambiente.
O estudo de Piaget foi o verdadeiro motor do desenvolvimento e do
progresso intelectual humano.
A partir dessa evolução histórica, acreditou-se durante boa parte do
século XIX e XX que a Inteligência podia ser mensurada e comparada por
meio de testes que estabeleciam numericamente o QI – Quociente de
Inteligência. Isto é, media-se o grau de inteligência de uma pessoa a partir
das suas competências numéricas, lógicas e racionais.
Assim, deve-se destacar a imensa contribuição do psicólogo francês
Alfred Binet e seus sucessores, que observaram e estudaram a inteligência
com o objetivo de medi-la por meio de testes. Pouco depois, o alemão
Wilhem Stern criou um sistema de pontuação padrão para medir o teste e
lhe deu o nome de Intelligenz-Quotient, conhecidos como Avaliação do QI5.
O fascínio de Binet pelo estudo da inteligência humana foi despertado
com o desenvolvimento de suas lhas. Percebeu que a facilidade com que
elas aprendiam e absorviam as informações variava de acordo com a
quantidade de atenção que depositavam no assunto, o que reforça a
seletividade da memória e como registramos as informações conforme o
nosso nível de interesse em cada processo.
Binet descobriu o teste de Francis Galton e resolveu realizar uma
profunda pesquisa para avaliar as diferenças das habilidades em
pro ssionais como matemáticos, escritores e artistas. Na sequência, aplicou
testes e validou seus experimentos com mais de 50 crianças e tornou-se um
pesquisador educacional. Passou a fazer parte da sociedade para o estudo
da Psicologia Infantil e publicou vários artigos na época que ajudaram
professores e pro ssionais de educação. Também contou com a colaboração
de eodore Simon e juntos criaram o que foi denominado Escala Binet-
Simon. Essas escalas foram divididas por grau de di culdade, o que
facilitava a descoberta da “idade mental” da criança.
De qualquer forma, a conclusão de Binet foi fantástica. Deixou claro
que a inteligência atua num mundo de constante transformação e que
cresce conforme a criança ou o ser humano se desenvolve, por isso não
pode ser medida como comprimento ou volume, mas se pudesse ser
acompanhada poderíamos ter uma noção mais completa da aptidão
intelectual. Colaborou muito com a classi cação das aptidões e permitiu,
com a criação do teste de QI, alargar o conhecimento sobre a inteligência
humana.
Com o tempo, o teste de QI foi caindo em descrédito, pois de maneira
notória, as pessoas mais inteligentes matematicamente, ou no
estabelecimento de conexões numéricas e lógicas, nem sempre eram as mais
bem-sucedidas ou as que alcançavam os melhores resultados no
desempenho de seu trabalho ou na sua vida pessoal. A partir disso novas
descobertas foram feitas.
Lembre-se dos melhores alunos da sua sala de aula quando você era
criança ou mesmo no ensino médio ou faculdade. Será que os mais
estudiosos são hoje os mais bem-sucedidos, ou existem outras
características que determinam o sucesso e os resultados?
As pessoas que estudam bastante, ou que têm resultado alto em testes
de QI, podem obter sucesso em várias áreas, principalmente as que exigem
raciocínio lógico e estratégico, mas podem apresentar pouco conhecimento
em áreas que exigem desembaraço, exibilidade, facilidade de contato ou
persuasão. Isso não é uma regra, há pessoas com alto QI que também são
inteligentes emocionais e relacionais, mas o que vamos mostrar aqui é que
as pessoas podem apresentar tendências, facilidades e di culdades em áreas
distintas.
Da mesma forma que algumas pessoas com alta Inteligência Emocional
(IE) ou alta Inteligência Relacional (IR) podem apresentar baixo potencial
nas escalas de QI (quociente de inteligência).
Di cilmente apresentamos potencial alto em todas as áreas ou
competências. Além do mais, a tendência é que o ser humano desenvolva
mais as inteligências e habilidades que são exigidas no seu dia a dia, no
trabalho ou mesmo as que estão atreladas aos seus talentos naturais.
É muito comum também desenvolverem as que gostam mais, como ler,
escrever, fazer música, por exemplo, ou que utilizam com mais frequência.
O que quero ressaltar aqui é que cada um tem suas próprias habilidades e
di culdades, e o desempenho delas vai favorecer ou di cultar os resultados
em sua atuação pro ssional e na sua vida pessoal.
Sabe-se que para ter sucesso em uma organização, por exemplo, ou para
ser um alto potencial (high potencial), o pro ssional precisa ter um
desempenho acima da média. Desempenhar signi ca fazer, mostrar, colocar
em prática aquilo que a pessoa diz saber ou conhecer. Um pro ssional
considerado um “alto potencial” faz algo de forma surpreendente, mais
rápido ou superior às pessoas que parecem ter o mesmo conhecimento, mas
não se destacam tão bem no mesmo cenário ou circunstância. O conceito
de competências, que citamos acima, foi nomeado pelos RHs (áreas de
recursos humanos) com uso do acróstico: CHA – que nada mais é do que a
soma de:
Conhecimento – o que aprendemos/informações,
Habilidades – o que as pessoas mostram facilidade para fazer/talento.
Atitudes – o que é colocado em prática/ação.
Esses três pilares de nem o conceito de competência e juntos mostram
o desempenho de um pro ssional. De nada adianta termos habilidade e
conhecimento se não temos atitude para colocar em prática e também de
nada vale termos atitude sem conhecimento e habilidade.
Vale lembrar que atitude sem conhecimento é risco e
irresponsabilidade. As pessoas com muita atitude e pouco conhecimento
tendem a sair por aí fazendo absurdos e agindo de forma inconsequente.
Atitude é fundamental, mas deve sempre vir temperada com conhecimento
e habilidade.
Em função desses princípios, o conceito de sucesso vem mudando nos
últimos anos. Psicólogos, estudiosos e pesquisadores perceberam que
algumas pessoas podem obter resultados baixos nos testes de QI ou de
raciocínio lógico, mas podem ter sucesso na conexão pessoal, emocional e
relacional. Essas habilidades favorecem o desempenho e a forma como
alcançam objetivos e resultados em suas vidas.
Da mesma maneira, pessoas muito inteligentes, como doutores,
pesquisadores, cientistas e professores universitários, nem sempre obtêm
sucesso pro ssional ou pessoal, apesar de seu vasto conhecimento teórico
sobre determinado tema ou assunto. Muitas vezes são reconhecidos no
mundo acadêmico ou na região onde vivem, mas nem sempre conseguem
se destacar ou ganhar dinheiro com seu conhecimento ou suas criações.
Então, lanço algumas perguntas desa adoras que me proponho a
responder no decorrer deste livro: que características determinam o
sucesso? Como podemos usar as nossas inteligências e habilidades para
chegar aonde pretendemos? Como podemos nos tornar mais inteligentes
nos nossos relacionamentos e com isso ter uma vida melhor e mais feliz?
Venho estudando e descobrindo respostas para essas questões há mais
de vinte anos. Avaliei mais de quatro mil per s pro ssionais com a
utilização de um dos mais renomados per s de avaliação do mundo, o
Per l Caliper – instrumento de assessment (avaliação), que avalia a
capacidade de raciocínio abstrato (conhecimento lógico-matemático),
habilidades, atitudes e comportamentos voltados para o mundo do
trabalho. Descobri, com isso, uma correlação entre traços de personalidade
que podem favorecer ou comprometer a procura por sucesso e por
resultados nos diversos âmbitos da vida pessoal e pro ssional.
Além das habilidades pessoais, precisamos entender o que é
considerado sucesso. Existem diferentes signi cados para a palavra sucesso,
dependendo muito dos níveis de cobrança, exigência e desejos de cada um.
O que é ser bem-sucedido para uma pessoa pode não ser para outra. Não
devemos nos limitar às conquistas pro ssionais.
A descoberta das nossas inteligências e habilidades traz muito sucesso
na vida pessoal. É possível obter ganhos em muitas áreas, e veremos que
esses ganhos podem ser aprimorados, favorecidos e desenvolvidos também
através do contato com as pessoas com quem convivemos e nos
relacionamos.
A nal, por que algumas pessoas que obtêm sucesso na vida e se
mostram determinadas, disciplinadas ou incrivelmente persistentes foram
consideradas pessoas “limitadas” pelos testes de QI?
Compor uma sinfonia, recitar um poema, ministrar uma palestra
encantadora, convencer uma plateia exigente ou ganhar uma partida de
tênis utilizam o mesmo tipo de inteligência?
Como e por que essas pessoas conseguem obter tanto sucesso em
diferentes áreas? Que habilidades e inteligências são importantes, por
exemplo, para mantermos bons relacionamentos interpessoais?
A resposta começa a ser delineada quando estudamos os vários tipos de
inteligência.
Quando o ser humano vivencia experiências relacionadas a sua mais
alta inteligência (inteligência pura ou talento), ele geralmente sofre uma
forte reação emocional, capaz de transformar sua vida e levá-la ao alto
desempenho. Você já deve ter visto crianças que, por exemplo, ao ouvir um
violino ou uma orquestra sinfônica se emocionam. Ou que, de repente, mal
aprendem a ler e entonam um texto com tal expressividade que surpreende
a todos.
Estamos falando de Inteligências naturais?
2. Introspecção - ato pelo qual o sujeito observa os conteúdos de seus estados mentais com
consciência deles. Dentre eles destacam-se crenças, imagens mentais, memórias (visuais, auditivas,
olfativas, sonoras, táteis), as intenções, as emoções e o conteúdo do pensamento em geral (conceitos,
raciocínios, associações de ideias). https://goo.gl/yyU6dq
3. Teoria da evolução: https://goo.gl/z8sdY3
4. Eugenia - termo criado em 1883 por Francis Galton, signi cando “bem nascido”. Galton de niu
eugenia como “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as
qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. O tema é bastante controverso,
particularmente após o surgimento da eugenia nazista, que veio a ser parte fundamental da ideologia
de “pureza racial”, a qual culminou no Holocausto. Fonte: https://goo.gl/yGRGgf
5. QI – Quociente de inteligência: medida padronizada obtida por meio de testes desenvolvidos para
avaliar as capacidades cognitivas, a inteligência de um sujeito. Expressão do nível de habilidade de
um indivíduo num determinado momento em relação ao padrão (ou normas) comum à sua faixa
etária.
Capítulo 2
Quais as inteligências mais
conhecidas e como podemos
desenvolvê-las
Certo dia, fui visitar uma amiga que tinha ganhado bebê. A criança era
linda, mas o que me chamou mesmo a atenção foi seu lho de três anos
que, enquanto conversávamos, imitava ser um maestro ao ouvir a música
clássica que envolvia o ambiente. Ele interpretava aquela música com tanta
emoção que seu corpo inteiro parecia utuar, completamente envolto em
uma atmosfera diferente daquela em que estávamos. Ele não estava ali. Sua
mente parecia estar distante e sua expressão facial era suave, encantadora.
Já havia estudado as diferentes inteligências nesta época e pela
observação dessas situações, tive certeza de que nascemos mesmo com
algumas predisposições para determinadas inteligências e que certamente
não existe um único tipo ou forma de inteligência.
No início da década de 1980, estudiosos da Universidade de Harvard,
liderados pelo psicólogo Howard Gardner, apresentaram uma
revolucionária pesquisa, denominada inteligências múltiplas. Esse estudo
identi ca e descreve didaticamente sete tipos de inteligências possíveis de
serem encontradas nos seres humanos. Essa forma de demonstrar as
inteligências revolucionou e obteve um eco gigantesco no campo da
educação.
Você vai conhecer quais são essas inteligências e vai poder identi car
pessoas e personalidades conhecidas que possuem esses tipos de
inteligência.
Segundo Gardner, a inteligência “pura” aparece no primeiro ano de
vida, mas nem sempre é fácil de ser percebida. Embora as crianças mostrem
qual é a sua área de interesse desde pequenas, os prodígios e o
aparecimento precoce das inteligências não são comuns. Podemos observar
quando algumas crianças desde cedo gostam de música ou escrevem e
desenham antes ou melhor que outras. Algumas mostram uma capacidade
espacial acima da média, montando blocos lógicos com facilidade, mas o
desempenho maduro, geralmente, vem com o tempo.
Apesar de as pessoas apresentarem mais facilidade para desempenhar
algumas tarefas do que outras, a excelência vem com o treino e o
desenvolvimento da habilidade que possuem de forma inata, ou seja,
mesmo que alguém nasça com uma inteligência natural (voltada para a
música, como exempli quei), se não desenvolver ou treinar, pode ser que
nunca se torne um expert ou um excelente músico.
Por isso a atenção às habilidades dos nossos lhos e das pessoas com
quem convivemos, e a estimulação destas, são fundamentais. Nesse
momento se inicia a nossa responsabilidade como pais, educadores, líderes
ou facilitadores de um brilhante processo de aprendizado e
desenvolvimento.
É importante lembrar que o bom desempenho em uma área não implica
da realização talentosa em outra, mas é bem comum apresentarmos e
desenvolvermos mais de uma inteligência, no decorrer da vida, sendo elas
complementares ou não.
De forma interessante, vamos ver cada uma dessas inteligências
estudadas pela equipe de Gardner e como podemos identi cá-las e
desenvolvê-las em nós mesmos, em nossos lhos e na nossa equipe de
trabalho.
1. Inteligência Lógico-matemática – pessoas com esse per l de
inteligência geralmente apresentam uma alta capacidade estratégica,
raciocínio abstrato, fácil memorização e um grande talento para lidar com
cálculos numéricos, matemáticos e com a lógica de modo geral. Elas têm
facilidade para encontrar solução para problemas complexos e capacidade
para dividi-los em “subproblemas” a m de resolvê-los até chegar à resposta
nal. Sentem-se motivadas pelo desa o de investigar soluções complexas e
podem desenvolver fórmulas matemáticas ou resoluções diferentes para um
problema. Essas pessoas geralmente organizam suas coisas por tamanho,
cores ou procuram por alguma forma de classi cação. Tendem também a
manter a atenção e a disciplina em atividades que exigem concentração a
detalhes. Essa inteligência é muitas vezes encontrada em engenheiros,
líderes estratégicos, nancistas, contadores, matemáticos, desenvolvedores
de jogos e sistemas e outros pro ssionais que gostam desse tipo de desa o
intelectual.
Na década de 1980, acreditava-se que a inteligência lógico-matemática
estava fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro e que existia
uma dominância cerebral para as inteligências. No entanto, as novas
descobertas neuro siológicas, ainda em franca evolução, estão trazendo
inovações. Alguns autores já defendem que a atividade dos neurônios
(nome que se dá à célula do sistema nervoso responsável pela transmissão
de sinais químicos e elétricos no cérebro) é sempre probabilística, ou seja,
pode mudar. Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro da Universidade
Duke (EUA), defende que nem sempre os mesmos neurônios produzem a
mesma ação. Sendo assim, a atividade cerebral utua. Se essa observação se
con rmar em outros estudos, o neurocientista diz que será preciso derrubar
de vez a ideia de hemisférios especializados em determinada área, porque
eles podem mudar ou refazer seus caminhos6.
Cientistas da Universidade de Utah (EUA) estão desacreditando a
teoria de que há diferenças entre as pessoas de acordo com o
desenvolvimento dos lados do cérebro. Até há pouco tempo, acreditava-se
que as pessoas lógicas, metodológicas e analíticas possuíam o lado esquerdo
do cérebro dominante, enquanto os criativos e artísticos têm o lado direito
mais desenvolvido. O problema é que a ciência nunca conseguiu comprovar
essa noção. Esses novos cientistas estão desmisti cando de vez essa ideia
com uma análise de mais de 1.000 cérebros. Eles não encontraram
nenhuma evidência de que as pessoas preferencialmente utilizam a parte
esquerda ou direita do cérebro. Todos os participantes do estudo – e, sem
dúvida, os cientistas – estavam usando todo o seu cérebro da mesma forma,
durante todo o curso do experimento7.
Alguns exemplos de pessoas famosas com essa habilidade foram: Albert
Einstein, Pitágoras, Platão, Tales de Mileto, entre outros. No Brasil,
destacamos Benjamin Constant, engenheiro militar e doutor em
Matemática que construiu pontes, trincheiras e desenhou mapas que
contribuíram para planejar estrategicamente ações militares. Também o
matemático Oswald de Souza, que se tornou conhecido a partir da década
de 70 quando calculava a probabilidade de acertos na loteria esportiva no
programa Fantástico da Rede Globo.
Existem pro ssionais magní cos nesta área, inclusive os que
desenvolvem sistemas e aplicativos para smartphones e computadores. São
exemplos de pessoas que apresentam rapidez de raciocínio na forma como
perseguem a solução para seus problemas e lidam com muitas variáveis
numéricas e lógicas ao mesmo tempo. Esses indivíduos parecem capazes de
criar numerosas hipóteses que podem ser avaliadas e depois aceitas ou
rejeitadas, mas fazem tentativas incríveis.
Você já obteve resultados favoráveis usando esse tipo de inteligência ou
conhece pessoas que são capazes de correlacionar e fazer diferentes e
surpreendentes análises? Existem pessoas com essa habilidade próximas a
você ou na sua equipe de trabalho? Fique atento, uma série de benefícios e
resultados pode surgir no desenvolvimento de planos e soluções estratégicas
e inovadoras, se você souber captar e fazer um bom uso dessa habilidade.
Eis algumas formas lúdicas de desenvolver essa inteligência: jogos com
graus de di culdade variados, como xadrez, sudoku, jogos de computador
ou videogames, em que você é desa ado a pensar e conquistar novas fases;
materiais manipulativos (quebra-cabeças e brinquedos de montar),
categorização de fatos e de informação, muito comuns em brinquedos com
letras e números, associação de fatos e guras, analogias, experiências
laboratoriais, jogos de memória e o desdobramento de mapas.
2. Inteligência Linguística – caracteriza-se pelo domínio e gosto
especial pelas palavras, sentenças, frases e pelo desejo de explorá-las. As
pessoas que possuem este tipo de inteligência geralmente apresentam
facilidade para se expressar e se comunicar, tanto verbalmente quanto na
forma escrita. Muitas vezes apreciam aprender idiomas ou linguagens com
símbolos. Mostram grande expressividade no momento de se comunicar e
podem usar a linguagem para convencer, persuadir, agradar, estimular ou
transmitir ideias de forma clara. Podem apresentar um alto grau de atenção
e sensibilidade para entender pontos de vista alheios, o que demonstra
empatia. É predominante em poetas, escritores, linguistas, jornalistas,
professores e consultores. Gardner destaca também que a inteligência
linguística é uma das inteligências mais comuns, porque usamos a escrita e
a leitura com certa frequência, somos comunicadores e estimulamos essa
área diariamente.
No capítulo 1 falamos sobre Paul Broca, que descobriu onde ca
localizado o centro da fala, por isso essa região foi batizada com seu nome,
“centro de broca”, área do cérebro responsável pela produção de sentenças
gramaticais, região especial no córtex pré-frontal que contém um circuito
necessário para a formação da palavra. Esta área está localizada
parcialmente no córtex pré-frontal postero-lateralmente e parcialmente na
área pré-motora, mais predominante no lado direito do cérebro. É onde
ocorre o planejamento dos padrões motores para a expressão de palavras
individuais. Uma pessoa com lesão nesta área pode ser capaz de
compreender palavras e frases simples, mas tem di culdade de juntá-las e
conectá-las, di cultando a formação de frases e de ideias mais complexas.
O estudo dos prejuízos adquiridos da linguagem, as afasias, passou a se
relacionar com a investigação do comportamento neuro siológico natural
da linguagem, por técnicas de imagem e do aprimoramento no estudo dos
potenciais bioelétricos do tecido cerebral.
Os estudos iniciais das afasias revelaram que os danos em duas áreas
corticais estavam associados a prejuízos importantes e nitidamente distintos
da linguagem, nas áreas descobertas por Broca e Wernicke.
A área de Wernicke é uma região do cérebro humano responsável pelo
conhecimento, interpretação e associação das informações, mais
especi camente a compreensão da linguagem. Graves danos na área de
Wernicke podem fazer com que uma pessoa que escuta perfeitamente e
reconhece bem as palavras seja incapaz de agrupar estas palavras para
formar um pensamento coerente, caracterizando doença conhecida como
afasia de Wernicke. A descoberta dessas áreas trouxe ganhos riquíssimos
para o estudo das habilidades e das inteligências8.
Enquanto a motricidade (ação da comunicação) acontece na área de
Broca, na área de Wernicke acontece a compreensão do que os outros
dizem e que dá ao indivíduo a possibilidade de organizar as palavras de
forma sintaticamente correta, um papel muito importante na produção de
discurso. Essa zona é onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal
(são as três áreas do cérebro, que se localizam na parte posterior, na lateral
ou na parte superior do cérebro), chamada de Fascículo Arqueado ou
Arcuato.
Inteligência Interpessoal +
Inteligência Intrapessoal
É bom lembrar que a Inteligência Interpessoal é a capacidade de
compreender as pessoas e de interagir bem com elas, o que signi ca ter
sensibilidade para captar o sentido de expressões faciais, voz, gestos e
posturas das pessoas que interagem conosco. É se ater à forma e à essência
do que está sendo comunicado, é prestar a atenção e mostrar capacidade
para “ler” as emoções dos outros, característica fundamental na liderança e
em todas as áreas que exigem contato com pessoas.
A Inteligência Intrapessoal denota a capacidade de conhecer e de estar
bem consigo mesmo, de administrar os próprios sentimentos e direcioná-los
para que o auxiliem a atingir suas metas e objetivos, sejam eles pessoais ou
pro ssionais. Pode parecer fácil, mas essa capacidade inclui disciplina,
autoestima, autoaceitação e muita percepção e conhecimento de si próprio.
O desenvolvimento dessa característica é importante para o desempenho
das nossas funções fundamentais, como lhos, pais, educadores e
pro ssionais.
Daniel Goleman mapeou a Inteligência Emocional em cinco áreas de
habilidades:
1. Autoconhecimento Emocional – reconhecer um sentimento
enquanto ele ocorre.
2. Controle Emocional – habilidade de lidar com os próprios
sentimentos, adequando-os para a situação.
3. Automotivação – dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial
para manter-se caminhando sempre na descoberta dos resultados
importantes para a vida pessoal e pro ssional.
4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas.
5. Habilidade em relacionamentos interpessoais.
As três primeiras se referem à Inteligência Intrapessoal, e as duas
últimas à Inteligência Interpessoal.
No mundo corporativo e do trabalho, sabemos a importância de
entender as necessidades das pessoas. Na descoberta de Goleman, é
surpreendente a forma como ele apresenta e defende a raiz da empatia, que
é a capacidade de nos colocarmos no lugar das pessoas e entendermos
como pensam e agem.
Você já recebeu uma avaliação de potencial ou de desempenho de seu
líder do RH ou de algum consultor e coach experiente e cou surpreso
como a pessoa foi capaz de desvendá-lo e perceber o seu estilo e seu
funcionamento? Como foi difícil ouvir coisas que não queria aceitar. Ou
pior ainda, será que essa pessoa estava preparada para lhe dar um feedback
de tamanha importância?
Muitas pessoas vivem experiências como essas, e é sensacional quando
isso acontece de forma positiva. Práticas como essas causam mudanças
signi cativas no desenvolvimento pessoal e pro ssional, por mais difíceis
que sejam. Também é encantador quando as pessoas têm a capacidade de
fazer uma “leitura” adequada do que somos e de como nos comportamos.
Você se acha capaz de entender as pessoas dessa forma? Já
experimentou dar feedback para alguém? Entenda que feedback não é
conselho, é uma técnica na qual devemos apresentar os pontos fortes das
pessoas e destacar o que pode ser aprimorado, sem fazer julgamento.
Apenas procure entender quem está diante de você e como essa pessoa
pode se desenvolver.
Essa prática permite não apenas a ampliação da nossa capacidade de
entender as pessoas, mas principalmente de sermos generosos, altruístas e
acima de tudo mais humanos. Como já falamos, quanto mais
individualistas e instintivos, mais próximos estamos da natureza animal. Ao
nos aproximarmos de forma genuína das pessoas, tentando entendê-las de
forma verdadeira, nos distanciamos da agressividade instintiva e desumana
que nos aproxima mais dos selvagens do que dos homens de paz.
O maior desa o, entretanto, está em conseguirmos entender o outro
sem precisar nos “misturarmos” com seus problemas e desa os. Só assim
podemos fazer algo por eles, sem que as emoções se contaminem a ponto
de não conseguirmos ajudar.
Infelizmente essas “misturas” acontecem muito com pais e lhos,
marido e mulher, líder e subordinado. E, quando acontece, ca cada vez
mais difícil entender o que é de cada um e o que cada pessoa precisa
aprender ou desenvolver. Goleman defende que podemos ler a emoção das
pessoas, sem nenhum senso de necessidade ou desespero do outro.
Segundo ele, não precisa haver envolvimento, mas, sim, compreensão.
Pode parecer óbvio, mas agir assim é difícil para a nossa sociedade
católica-cristã, que moldou a educação brasileira. O brasileiro sempre tem a
impressão de que, se não estiver sofrendo junto, não está sendo humano,
não está sendo amigo de verdade. Infelizmente, esse comportamento
“misturado” só atrapalha e confunde as pessoas. Quando passamos a sofrer
junto, não conseguimos entender, compreender e realmente apoiar.
Entramos em um misto confuso de dor e pena, que não nos leva a lugar
nenhum.
A boa notícia é que comportamentos podem ser mudados e aprendidos,
e você saberá em breve como modi car isso. Nós precisamos mudar nossos
modelos mentais enraizados, ou seja, a forma repetida como fazemos as
coisas. Acredite, isso é possível!
Somos capazes de treinar nosso cérebro emocional a manter
autocontrole, e para tanto é preciso exercitar, como qualquer coisa que
queremos melhorar. É possível fazer um “bloqueio positivo”, sem excesso de
pena ou “síndrome de coitadismo”, para que possamos realmente ajudar as
pessoas, sem que seja preciso abrir mão da nossa própria estrutura, do
nosso equilíbrio e da nossa base de personalidade para nos relacionarmos
ou ajudarmos alguém.
É necessário que haja uma troca equilibrada. Em muitos
relacionamentos, um dá muito mais do que o outro e não há dúvida de que
mais cedo ou mais tarde a relação vai se quebrar. O desequilíbrio leva ao
rompimento.
Já entendemos um pouco de como somos por dentro e de que o cérebro
tem uma in uência gigantesca nas nossas ações e no nosso comportamento,
no entanto, o cérebro humano não está formado no nascimento, continua
se moldando durante toda a vida (GOLEMAN, 1995, p. 239). Essa
capacidade auxilia o constante crescimento, aprendizado e desenvolvimento
de cada um de nós.
Veja com mais detalhes onde estão localizadas algumas áreas que
de nem as nossas inteligências e onde cam armazenados nossos
aprendizados.
Fonte: www.smartkids.com.br
As crianças nascem com mais neurônios11 do que vão precisar na sua
idade adulta, mas, num processo conhecido como “poda”, o cérebro vai
perdendo as ligações neuronais (ligação entre os neurônios) menos usadas,
e forma outras, ainda mais fortes nos circuitos sinápticos12 mais utilizados.
Entenda por sinapse a região localizada entre neurônios onde agem os
neurotransmissores (mediadores químicos), transmitindo o impulso
nervoso de um neurônio a outro, ou de um neurônio para uma célula
muscular ou glandular.
O cérebro reforça os caminhos que mais utilizamos e enfraquece
aqueles que pouco exercitamos. Existe uma capacidade no nosso cérebro
chamada de neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade
neural, que se refere à capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar-se
e moldar-se estruturalmente ao longo do desenvolvimento neuronal,
quando “sofremos” novas experiências. Por isso devemos manter o cérebro
ativo para evitar que ele perca a capacidade de raciocínio, memória e
percepção. (https://pt.wikipedia.org/wiki/neuroplasticidade).
Vamos aprimorando ações e habilidades e conforme exercitamos nos
tornamos excelentes naquilo que fazemos, principalmente o que repetimos
demasiadamente.
Então, se você quer aprender comportamentos que não pratica ou
mesmo uma outra língua, seu cérebro precisa se reorganizar e criar
alternativas diferentes, já que com o tempo ele vai perdendo a plasticidade
para algumas atividades. Você tem que praticar e ativar os músculos
cerebrais que estão se tornando preguiçosos, da mesma forma que faz
quando inicia exercícios físicos em uma academia. Por outro lado, nosso
cérebro, quando pouco utilizado ou com o avançar da idade, vai
“atro ando”, o que torna cada vez mais difícil aprender coisas novas ou
nunca experimentadas, mas não devemos parar, existem várias formas de
estimulá-lo. Se quiser saber mais procure informações sobre exercícios
cerebrais, encontrará opções para várias idades e situações. Existem
empresas e institutos responsáveis por esse tipo de estimulação.
Da mesma forma que aprendemos conceitos e conteúdos, também
aprendemos com as nossas vivências emocionais. Os valores que
absorvemos na convivência em família, na escola e com as pessoas nos
tornam mais aptos ou inaptos a desenvolver a Inteligência Emocional e,
futuramente, a Inteligência Relacional (IR), que nos conecta de forma
genuína às pessoas.
A neurociência e a neuropsicologia têm feito brilhantes descobertas e
defendem que o cérebro é sociável, ou seja, o ser humano de forma geral
foi programado para se conectar. Somos inexoravelmente atraídos para uma
íntima ligação cérebro/cérebro sempre que nos entrosamos com outra
pessoa. Podemos avaliar um relacionamento em termos do impacto de uma
pessoa sobre nós e do nosso impacto sobre ela. Por isso, com o avanço da
ciência, da tecnologia, da medicina e dos exames de ressonância,
ultrassonogra a, eletroencefalograma e outros surpreendentes aparelhos
que devem surgir no decorrer dos anos, já é possível avaliar como
poderemos tornar nossos relacionamentos mais inteligentes. Nossas
relações e nosso crescimento pessoal só têm a ganhar na medida em que
nos tornarmos inteligentes relacionais.
Este livro abordará, nos próximos capítulos, como podemos viver de
forma mais harmônica em sociedade, aprendendo com o melhor das
pessoas. A maturidade relacional navega na tranquilidade em aceitar as
diferenças, entendendo o quanto elas nos são complementares.
Goleman, ao escrever sobre Inteligência Social, a chama também de
sensibilidade social. Ele aborda que “o cérebro social é a soma dos
mecanismos neurais que orquestram nossas interações, bem como nossos
sentimentos e pensamentos a respeito das pessoas e dos relacionamentos
que temos com elas.” (GOLEMAN, Inteligência Social, p. 5- 13). Ele explica
que as interações sociais são tão fortes que chegam a moldar o cérebro por
meio da neuroplasticidade por experiências que se repetem e passam a
esculpir os neurônios.
Estudos novos e surpreendentes quebram paradigmas até hoje
desconhecidos. O estudo, não apenas do cérebro, mas da genética, nos
permite compreender a essência do nosso comportamento enquanto ser
biológico.
Anteriormente, acreditava-se que não seria possível modi car os genes
(a parte funcional do DNA) ou os genomas ( toda a informação hereditária
– que passa para seus descendentes - de um organismo que está codi cada
em seu DNA). Com as novas descobertas da ciência, principalmente pela
pesquisa incessante para a cura do câncer e outras doenças, já sabemos que
algumas modi cações podem acontecer e são passadas de geração a
geração. Isso se chama epigenética.
A epigenética, ou a nova genética, desponta como uma fronteira a ser
alcançada e transposta no cenário médico-cientí co. A compreensão dos
mecanismos envolvidos, no silenciamento e ativação de genes, permite a
criação de modelos para tratamento de doenças como o câncer. Um dos
pioneiros no estudo da epigenética, Feinberg, doutor em medicina e
oncologia, diretor do Centro de Epigenética, na Johns Hopkins University
School of Medicine in Baltimore, USA, de ne epigenética como
modi cações do genoma, mas que não envolve uma mudança na sequência
do DNA (ou ácido desoxirribonucleico, um composto orgânico cujas
moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o
desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos), mas que são
herdáveis pela mitose (divisão celular) ao longo das gerações.
Por que eu trouxe este tema para um livro que trata de
relacionamentos?
Porque se o organismo pode sofrer mutações nos genomas, imagine o
comportamento ou a personalidade? Além disso, conhecer a nossa essência
e o que pode a partir de agora ser modi cado é algo extraordinário. Corre-
se o risco de entrarmos em uma nova era, onde tudo pode ser de alguma
forma modi cado ou adaptado. Tenho observado a in uência de pessoas-
chave na nossa história e percebi que podem mudar completamente o rumo
da nossa vida e carreira. Resolvi estudar este tema na minha tese de
mestrado e assim que tiver mais dados vou apresentá-los a vocês. A nal,
até que ponto copiamos o comportamento dos nossos pais por imitação ou
por in uência genética? Será que nossos genomas carregam também
aspectos herdados da personalidade? Será que poderemos fazer mutações
para que as doenças não se repitam em uma família que transmite alto grau
de hereditariedade? Será que se desenvolvermos a inteligência relacional
agora, podemos passar isso para os nossos lhos e netos? Isso é
absolutamente fascinante.
Escutamos os pais dizerem: “esse é bravo, puxou a personalidade do
pai”. Dizemos isso em tom de brincadeira, mas até que ponto isso não pode
ser cienti camente comprovado?
Mesmo que a ciência consiga provar que determinadas características
são herdadas, ainda assim conseguiremos mudar o nosso comportamento
se quisermos? Fica ai uma boa tese ou tema para o próximo livro.
Enquanto a ciência evolui, vamos entender um pouco mais o que nós já
podemos controlar: as emoções.
A sensibilidade social é o condutor de sucesso da Inteligência
Relacional.
O conceito de Inteligência Emocional de Goleman revolucionou de tal
forma, a ponto de nos instigar a entender como podemos transportar
inteligência à emoção, ou seja, cognição ao campo do sentimento. Assim,
nos tornamos mais capazes de resolver problemas de foma adequada,
pensando melhor nas nossas ações, mesmo que exista uma forte dose de
emoção envolvida na decisão.
Emoção e razão são as funções mais complexas que o cérebro é capaz de
executar. No nosso dia a dia, essas duas operações mentais estão sempre
engrenadas.
Se você precisa se preparar para uma apresentação muito importante,
por exemplo, você compra livros sobre o tema, lê, escreve, estuda, organiza
as informações, desmarca compromissos, memoriza, raciocina, ensaia. Essa
é a parte racional operando. Até aqui você fez pleno uso da razão, mas na
véspera da apresentação você pode car nervoso, perder o sono, ter dor de
barriga, o coração dispara, a boca ca seca, ou seja, seu corpo sofre fortes
ações emocionais. Em alguns momentos, predomina a razão e em outros a
emoção. Pode ser que você consiga controlar essas variáveis e tudo dará
certo, mas nem sempre a história tem nal feliz.
Na realidade, razão e emoção são aspectos de um mesmo e ininterrupto
processo, expressam as mais so sticadas propriedades do cérebro humano.
Por isso mesmo, difíceis de serem de nidas.
Mesmo para os neurocientistas, é difícil conceituá-las, porque são
operações mentais acompanhadas de experiência interior, e essa tal
“experiência interior” é diferente para cada um de nós. Logo, muito difícil
de ser medida, e nem sempre apresenta repercussões orgânicas observáveis.
Por exemplo, como podemos medir a quantidade de medo ou de
ansiedade que cada um sofre em determinada situação? Sabemos que não é
igual para todo mundo, mas como podemos quanti cá-las? A razão
também tem operações mentais difíceis de de nir e classi car. Como
podemos avaliar o raciocínio, a forma de resolver problemas ou de fazer
cálculos em cada cérebro humano? A nal, pensamos de forma igual ou
diferente, neurologicamente falando?
O que sabemos é que tanto a emoção quanto a razão usam fortemente
o sistema nervoso central, ou seja, nosso cérebro trabalha o tempo todo
para tentar equilibrar nossas ações e reações, sejam racionais ou
emocionais.
Destacamos pelo menos cinco utilidades fundamentais para as emoções:
A sobrevivência da espécie: nossas emoções foram desenvolvidas
naturalmente em milhões de anos de evolução. Como resultado, nossas
emoções possuem o potencial de nos servir como um so sticado e delicado
sistema interno de orientação. Elas nos alertam quando as necessidades
humanas naturais não são encontradas. Por exemplo, quando nos sentimos
sós, nossa necessidade é encontrar outras pessoas. Quando nos sentimos
receosos, nossa necessidade é buscar por segurança. Quando nos sentimos
rejeitados, nossa necessidade é encontrar aceitação. Movimentos básicos
para a sobrevivência emocional humana.
Tomadas de decisão: nossas emoções são uma fonte valiosa de
informação e nos ajudam a tomar decisões. Estudos mostram que quando
as conexões emocionais de uma pessoa estão dani cadas, no cérebro, ela
pode ter di culdade de tomar decisões simples. Basicamente porque não
sentirá nada sobre suas escolhas. As decisões estão sempre atreladas ao
comportamento. No dia a dia, avaliamos as informações comparando-as
com os arquivos que estão na nossa memória, ponderados de acordo com o
signi cado emocional. E assim tomamos as decisões, avaliamos o
custo/benefício fazendo uma previsão dos prováveis resultados das nossas
ações e nalmente tomamos a decisão que orienta o nosso comportamento.
Isso acontece muitas vezes por dia, em milésimos de segundo, desde a
escolha do que vestir, até o lado da rua pelo qual se vai andar, ou mesmo
decisões mais importantes e complexas.
Os estudos de neuromarketing estão nos ajudando a entender como
fazemos a escolha de um produto em detrimento de outro, por exemplo. Já
existem equipamentos de última geração, como o eye tracking, óculos
capazes de monitorar o movimento ocular e mapear para onde nossos olhos
se xam ao visualizarmos um produto, um cartaz de propaganda, um site,
etc. Assim podemos descobrir o que chamou mais a atenção e o que nos faz
comprar, ou seja, entender como nossas decisões funcionam dentro do
nosso cérebro. Se olhamos para o desconto, para as características técnicas
ou para a descrição da qualidade do produto. Isso é fascinante, não acham?
Outras ferramentas complementam estudos como esses, como a
ressonância magnética funcional, o eletroencefalograma, as respostas
galvânicas da pele, o face reading e estudo das expressões facial e da
sionomia. Psicólogos, estudiosos e cientistas procuram entender as
diferentes particularidades faciais e, em seguida, relacioná-las aos traços de
personalidade correspondente, o que tem ajudado a desvendar crimes,
entender se as pessoas estão ou não mentindo, se gostam ou não de
alguém, o que pode evoluir para soluções de problemas nos
relacionamentos interpessoais.
Ajuste de limites: quando nos sentimos incomodados com o
comportamento de uma pessoa, nossas emoções nos alertam. Se nós
aprendermos a con ar em nossas emoções, sensações e na nossa intuição,
isto nos ajudará a ajustar nossos limites, que são necessários para proteger
nossa saúde física e mental. Esse é um aspecto que precisamos respeitar e
um dos princípios que mais ajudam a nos tornarmos inteligentes
relacionais.
Você já se “pegou” tomando uma decisão rápida sem saber exatamente
o porquê? Às vezes uma ótima ideia ou solução surge aparentemente do
nada.
Essa intrigante capacidade de acessar a resposta correta rapidamente e
sem esforço é o que chamamos de intuição. A palavra intuitione, de origem
latina, é formada pela junção de in– dentro e tuere – olhar para. Seria a
capacidade de voltar-se para si mesmo e ouvir-se. Por isso é tão importante
percebermos o que acontece conosco e com o nosso organismo quando
conhecemos alguém. Se a sua intuição não for positiva, redobre seus
cuidados, até porque a intuição é difícil de ser explicada, mas o fato de não
sermos capazes de compreender algo tão claramente não signi ca que não
possamos recorrer à poderosa força de armazenamento da memória. Não é
possível sermos intuitivos em áreas pelas quais temos pouco ou nenhum
conhecimento prático. Sendo assim, até os mais vagos palpites são baseados
em algo tangível e só não conseguimos muitas vezes explicar exatamente de
onde eles vêm, nem qual foi o registro que nos imprimiu essa informação.
É importante chamar a atenção para o fato de que não existe intuição
sem conteúdo e informação. Precisamos acessá-la de algum lugar do nosso
cérebro.
Existem estudos surpreendentes a respeito do impacto da intuição nas
nossas decisões e realmente parece haver uma sabedoria biológica por trás
desses sentimentos instantâneos.
O que precisamos lembrar é que a história de vida de cada um de nós
contém uma enorme reserva de experiências que modulam nosso
comportamento. Dessa forma, se um estranho se parece com alguém que
nos ameaçou ou machucou, no passado, é muito provável que tenhamos
uma reação cautelosa ou antipatizemos com a pessoa, mesmo sem nos
lembrarmos da experiência anterior.
Isso justi ca por que muitas vezes não simpatizamos de cara com
alguém, mas precisamos cuidar com essas reações e ir um pouco mais a
fundo, para diferenciarmos se é uma intuição, um “aviso” de que essa
pessoa realmente não é bacana o su ciente para a termos por perto, ou se
por “azar” ela só se parece com alguém que está no nosso registro, mas que
pode ser uma excelente pessoa.
Comunicação: as emoções também comunicam. Nossas expressões
faciais, por exemplo, podem demonstrar uma grande quantidade de
emoções. Com o olhar, podemos sinalizar quando precisamos de ajuda. A
habilidade verbal, juntamente com nossas expressões, nos dá uma
possibilidade in nita de expressar nossas emoções. Atermo-nos à expressão
das pessoas também nos torna mais hábeis para entendermos os problemas
dos outros. Já dizia Pierre Weil, em O corpo fala. Se você ainda não leu esse
livro é uma excelente indicação de leitura.
União: nossas emoções são, talvez, a maior fonte potencial capaz de unir
todos os membros da espécie humana. Claramente, as diferenças religiosas,
culturais e políticas não permitem isso, apesar das emoções serem
“universais”.
Como apresentamos no início deste livro, muitos estudiosos têm
contribuído com informações riquíssimas a respeito do desenvolvimento
dos seres humanos e a forma como agimos e pensamos. Charles Darwin
(1809-1882) observou semelhanças entre os animais e os indivíduos, na
expressão corporal, facial e de comportamentos como raiva, medo, fuga.
Acredita-se que a expressão das emoções é inata e não há dúvida de que
garante a sobrevivência da espécie. Como acontece com os animais,
também acontece conosco.
De forma instintiva, um animal predador só sobrevive quando consegue
dominar ou matar a presa. Isso explica por que alguns indivíduos se
comportam até hoje de forma tão primária e instintiva, muitas vezes
exagerada e descompassada, para tentar “controlar sua presa”. No entanto,
vale lembrar que a presa no mundo animal geralmente é outro animal, e no
mundo das pessoas, é outra pessoa.
Por vezes, algumas pessoas, quando estão em desequilíbrio consigo
próprias ou com o ambiente, agem de forma instintiva, predadora e pouco
inteligente. Bater, espancar, exercer força física ou psíquica sobre os outros,
ou, ainda pior, matar e dominar outras pessoas, é um comportamento
esperado dos animais que agem por instinto, não de seres humanos. Por
falta de controle das nossas emoções e de baixa inteligência emocional e
relacional, infelizmente, esse comportamento acaba por existir em maior ou
menor grau também nas pessoas.
Não há dúvida de que agimos em prol das nossas necessidades e em
defesa do que consideramos importante, mas precisamos temperar as
nossas ações com cautela, nos diferenciando dos animais irracionais.
Por isso, é possível dizer que não é exatamente ou só a inteligência e o
aprendizado que nos diferenciam dos animais, até porque através de
experiências já sabemos que animais também aprendem. O que de fato nos
diferencia é a nossa capacidade de controlar, respeitar e amar. A capacidade
de sabermos agir de modo ponderado, nos ajustando a diferentes situações
e ocasiões, independente de estarmos utilizando a intuição (cérebro
reptiliano), a emoção (cérebro límbico) ou a razão (cérebro racional ou
neocórtex).
A birra, a teimosia ou a necessidade de suprir imediatamente os desejos
de fome, sede ou qualquer necessidade básica são facilmente veri cadas
nos bebês. Eles choram e se mostram impacientes quando sentem qualquer
desconforto, no entanto, quanto mais amadurecemos, mais devemos ser
capazes de controlar nossos instintos de suprimento imediato, ou seja,
deixamos de agir apenas embasados no cérebro instintivo e começamos a
amadurecer e a usar as áreas mais elaboradas para um processo decisório,
como o neocórtex.
O amadurecimento deve nos levar a controlar o instinto básico e a
procurar, através de atitudes conscientes e consistentes, nosso sustento e o
suprimento das nossas necessidades básicas de sobrevivência e de
segurança.
Enquanto o ser humano se mostra dependente de alguém, nanceira
ou emocionalmente, ainda não é maduro o su ciente para se “bancar”
sozinho, seja ele criança, adolescente ou adulto.
De fato, quanto mais conseguimos enfrentar os problemas da vida, mais
maduros nos tornamos. O contrário disso retrata um imenso analfabetismo
emocional. De acordo com Goleman, esse conceito descreve a falta de
controle sobre nossas emoções (falta de controle do sistema límbico e
cérebro instintivo). Sendo assim, se não pensarmos racionalmente antes de
agirmos, acabamos tomando decisões de forma excepcionalmente instintiva
e nos tornamos analfabetos emocionais, nos comportando como animais
irracionais.
Então, de fato, o que nos diferencia enormemente dos animais é o
equilíbrio entre a emoção, a razão e a capacidade de nos ajustarmos a
diferentes situações.
O fato de nos livrarmos do analfabetismo emocional e relacional é o
que pode unir os membros da espécie humana visando mais equilíbrio,
amor e paz no mundo.
Vamos falar um pouco sobre maturidade emocional. Você sabe o que
signi ca e o impacto disso para a nossa vida?
Como já vimos, fomos programados para nos conectar. As constantes
descobertas sobre a arquitetura emocional do cérebro retratam, nos exames
de última geração, momentos de excepcional excitação cerebral quando
estamos repletos de felicidade ou de tristeza, o que comprova existir
constatação cientí ca de que sofremos o impacto dos relacionamentos no
nosso cérebro, em consequência, em todo o funcionamento do organismo.
A neurociência e a neuropsicologia têm trazido descobertas brilhantes
nessa área. Tudo indica que existe uma dinâmica neural dos
relacionamentos humanos.
Uma das primeiras teorias para explicar emoções data do século XIX,
trazida pelo psicólogo americano William James (1842-1910) e por Carl
Lange (1834-1910). Ambos defendiam que não existe emoção sem que
haja uma manifestação siológica, ou seja, tudo o que sentimos causa
impacto no organismo.
James e Lange defendiam que estímulos produzem mudanças corporais
que, por sua vez, geram emoções. Essa teoria sugere que os estímulos estão
primeiramente vinculados a respostas físicas, que somente depois serão
interpretadas como emoção, ou seja, acreditava que primeiro chorávamos e
depois cávamos tristes. Um pouco controverso.
Uma segunda teoria faz crítica a James e Lange, defendendo que as
mesmas manifestações siológicas podiam estar presentes em emoções
diferentes. Por exemplo, o choro ou aquela sensação chamada de “aperto
no peito” podem ser sentidas independentemente de estarmos muito
alegres ou muito tristes. Defende então que o sistema nervoso central pode
ser o causador tanto de reações emocionais, como siológicas e
comportamentais, dando a entender que essas reações acontecem
praticamente ao mesmo tempo.
Em 1920, foram realizadas transecções do sistema nervoso central com
o siologista Walter Cannon (1871-1945), e essas experiências levaram a
surpreendentes descobertas. Primeiro, foram feitas em animais e só mais
tarde em humanos, em que foi possível perceber que quando os cérebros
sofrem lesões, geram mudanças de comportamento e causam reações
diferentes das habituais, ou seja, pessoas dóceis e tranquilas, que se
relacionavam de forma amistosa, quando lesionadas em determinadas áreas
do cérebro, mudavam radicalmente seu comportamento para mais
agressivas e arredias.
Essa mudança comportamental pode acontecer também pelo uso de
medicamentos fortes, drogas psicotrópicas e psicoativas e excesso de bebida.
Todas as substâncias que estimulam excessivamente o córtex e o sistema
nervoso central levam a mudanças bruscas de comportamento. Por isso as
pessoas agem de forma diferente quando estão “embriagadas” com essas
substâncias.
A teoria de Cannon-Bard foi a primeira tentativa concreta de elucidar
as bases neurais das emoções.
Bard explica que, quando um estímulo é recebido pelo córtex13, é
reconhecido como produtor de emoção e enviado para ativar os centros
encefálicos no hipotálamo14 e do sistema límbico15. Desta parte do encéfalo
os sinais são, então, enviados simultaneamente aos músculos externos e
órgãos internos e de volta ao neocórtex. Os músculos e órgãos reagem e
produzem reações siológicas para a emoção, como taquicardia, por
exemplo, enquanto o córtex percebe o sinal como emoção. Assim, a teoria
propõe que as reações siológicas e psicológicas ocorrem simultaneamente.
Não podemos deixar de destacar a importância da amígdala, uma das
partes que compõem o sistema límbico. Revelou-se uma estrutura de
enorme relevância na descoberta das emoções.
Chama-se amígdala cerebelosa, ou simplesmente amígdala, e funciona
como uma espécie de “botão de disparo” e modulador de toda a
experiência emocional. Ela leva esse nome por ser parecida com uma
“amêndoa”, que em grego chama-se amígdala. Ela compõe um conjunto de
neurônios que formam uma massa esfenoide de substância cinzenta.
Esta região do cérebro, que faz parte do sistema límbico, é um
importante centro regulador do comportamento agressivo, sexual e de
respostas emocionais a estímulos biologicamente relevantes.
Você deve estar se perguntando, mas o que isso tudo tem a ver com
relacionamentos?
Logo você entenderá como podemos, através dessas informações,
regular as nossas atitudes com relação aos outros.
Por ora, o que precisamos saber é que estas descobertas esclarecedoras
também nos ajudam a entender a dinâmica neural dos relacionamentos
humanos.
Desde a época de Freud, os psicoterapeutas observam que o corpo
espelha as emoções que o paciente está sentindo. Quando um paciente
começa a narrar uma lembrança dolorosa, o terapeuta percebe que os olhos
se enchem de lágrimas e a sensação parece tomar conta de seu organismo,
na junção mente e corpo.
Muitos terapeutas também parecem sentir a emoção e seu estômago
parece se contorcer diante de alguns relatos, além de uma situação que
chamamos de rapport, conceito que vem da psicologia e compreende uma
técnica usada para criar uma ligação de sintonia e empatia com outra
pessoa. Pode também ser usado nos relacionamentos pessoais ou
pro ssionais, porque cria laços de compreensão entre dois ou mais
indivíduos. Não signi ca aceitar todas as opiniões da outra pessoa, nem se
misturar com ela. Lembrem-se de que só conseguimos verdadeiramente
ajudar se nos diferenciarmos, mas devemos ouvi-la e fazer com que ela veja
que o seu ponto de vista ou seus valores são compreendidos e respeitados.
Além disso, também existe o conceito de neurônio-espelho, que vamos
ver a seguir.
Existem estudos inovadores e valiosos sobre o funcionamento da nossa
mente e o impacto disso nas nossas relações:
1. Um neurônio recém-descoberto, chamado célula fusiforme, atua
no cérebro com extrema velocidade, permitindo que o ser humano tome
decisões em milésimos de segundos. Essas células existem em maior
quantidade no cérebro humano do que em qualquer outra espécie.
Como as células fusiformes estão envolvidas em rápidas decisões,
acredita-se que também ajudam no momento de fazer julgamentos
imediatos e intuitivos a respeito de alguém que acabamos de conhecer.
Embora os estudos ainda sejam inconclusivos, Daniel Goleman destaca em
seu livro que essas células são parte do sistema cerebral que gera o amor, ou
pelo menos, o desejo sexual ou “amor à primeira vista”.
2. Pesquisas recentes mostram a importância do neurônio-espelho.
Essas células foram descobertas por acaso em 1994, na Universidade de
Parma, na Itália, pelos neurocientistas Giacomo Rizzolatti, Leonardo
Fogassi e Vittorio Gallese. Eles constataram que a simples observação de
ações alheias ativava as mesmas regiões do cérebro dos observadores. Ao
que tudo indica, nossa percepção visual inicia uma espécie de simulação ou
duplicação interna dos atos de outros.
Em 2001, um grupo coordenado por Giovanni Buccino, também de
Parma, resolveu estudar esses neurônios mais a fundo. Usando ressonância
magnética funcional (fMRI), os pesquisadores mediram a atividade cerebral
de voluntários enquanto eles assistiam a um vídeo que mostrava sequências
de movimentos de boca, mãos e pés. Dependendo da parte do corpo que
aparecia na tela, o córtex motor dos observadores se ativava com maior
intensidade na região que correspondia à parte do corpo em questão, ainda
que eles se mantivessem absolutamente imóveis.
O mais impressionante é que essa descoberta tem levado médicos e
sioterapeutas a lidar melhor com pacientes com sequelas motoras
decorrentes de acidente vascular cerebral – AVC. Estudos feitos no Hospital
Universitário de Schleswig-Holstein, em Lübeck, na Alemanha, foram
capazes de acelerar a reabilitação de pacientes cujas regiões corticais
motoras haviam sido lesionadas por AVC.
Os pacientes assistiam a vídeos e tentavam imitar o que acabavam de
ver, a m de consolidar a representação da sequência no cérebro. Depois de
40 dias de treinamento, a habilidade motora dos participantes melhorou
muito mais rápido do que a dos indivíduos do grupo de controle, que não
assistiram a nenhum vídeo.
O neurônio-espelho ativa um ato recíproco de imitação entre dois ou
mais animais. Nos humanos pode ser observado no córtex pré-motor e no
lobo parietal inferior. Dizem que o neurônio espelho é o gatilho do meme16
(que nada tem a ver com os memes do Facebook ou redes sociais; o meme
é na realidade uma unidade da cultura, que pode ser um comportamento,
uma música, uma ideia, um aprendizado, que pode ser passado de geração
a geração pela imitação. Arrisco-me a dizer que mais ou menos um
“inconsciente coletivo” moderno).
3. Quando as pessoas se olham e sentem-se atraídas umas pelas
outras, o cérebro imediatamente libera dopamina, substância química
indutora do prazer.
Aliás, aqui não podemos deixar de falar sobre a importância e o impacto
dos neurotransmissores no nosso comportamento e nas nossas relações.
Neurotransmissor é uma substância química (neuroquímica) produzida
em uma célula do cérebro, o neurônio. Ele é capaz de conduzir e transmitir
uma informação de um neurônio a outro, ou seja, a sinapse. Já falamos um
pouco sobre isso nos primeiros capítulos.
Os neurotransmissores são como combustíveis para o cérebro realizar
determinadas funções, e os clássicos são: a acetilcolina, as catecolaminas
(dopamina, adrenalina e noradrenalina) e a artista principal, a serotonina.
A serotonina vem sendo utilizada no senso comum como a substância
sinônimo de felicidade. De fato, ela é responsável por manter em equilíbrio
diversas ações comportamentais.
É uma substância que em maior ou menor quantidade pode causar
depressão, ansiedade, agressividade, raiva, irritabilidade ou trazer mais
felicidade e tranquilidade. Participa também de outras funções importantes
no organismo, como apetite, controle de temperatura, sono, náuseas e
vômitos, sexualidade e, é claro, tem um impacto avassalador no sistema de
dor.
A carência ou desequilíbrio dessa substância leva a transtornos do
humor e ansiedade. A de ciência na sua transmissão através das fendas
sinápticas dos neurônios pode levar à depressão. Dessa forma, a ação da
maioria dos antidepressivos é retardar a metabolização da serotonina
fazendo com que ela que por mais tempo atuando nos espaços entre os
neurônios.
O que queremos ressaltar com essas informações é que o nosso
organismo precisa estar em equilíbrio para conseguirmos nos relacionar
bem. Se estiver em estado depressivo, você não vai ter vontade de sair de
casa, de conhecer pessoas e de se relacionar de forma efetiva e positiva.
Se os neurotransmissores atuam diretamente no nosso cérebro e no
nosso humor, precisamos mantê-los em equilíbrio para que a nossa
motivação e a maneira como nos comportamos não altere o nosso vínculo
com as pessoas que convivem conosco.
A nal, ninguém gosta de conviver com pessoas carrancudas, mal-
humoradas ou pessimistas.
Se você identi ca esses sintomas em si mesmo ou em pessoas próximas,
procure ajuda. O uso de medicamentos não é a única nem a melhor
alternativa. Existem várias possibilidades ainda mais saudáveis para
equilibrar o impacto dessas substâncias, como exercício físico, ioga,
relaxamento, meditação, reiki, homeopatia, psicoterapia, terapias holísticas
e alternativas, entre outros. Procure o método que melhor lhe convém.
Se você quiser saber mais pesquise sobre hormônios e
neurotransmissores e entenda o enorme impacto que eles causam na nossa
vida e nas nossas relações pessoais e pro ssionais.
11. Neurônio – célula do sistema nervoso responsável pela condução do impulso nervoso –
localizado no cérebro. Pode ser considerado a unidade básica da estrutura do cérebro e do sistema
nervoso.
12. Circuito sináptico neuronal – ligações entre os neurônios. A sinapse é o chip do sistema nervoso e
é capaz de transmitir mensagens entre duas células, bloqueá-las ou ainda modi cá-las inteiramente.
(Cem milhões de neurônios – Robert Lent – 2 ed.).
13. O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro dos vertebrados, sendo rico em
neurônios e o local do processamento neural mais so sticado e distinto. Desempenha papel central
em funções complexas do cérebro como na memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e
pensamento. https://goo.gl/eJDB4n
14. Hipotálamo, região do encéfalo dos mamíferos (tamanho aproximado ao de uma amêndoa)
localizada sob o tálamo. Liga o sistema nervoso ao endócrino, sintetizando a secreção de neuro-
hormônios, por isso é também chamado de “liberador de hormônios”, sendo necessário no controle
da secreção de hormônios da glândula pituitária, entre eles na liberação da gonadotro na.
https://goo.gl/GPBnRz
15. Sistema límbico, localizado na superfície medial do cérebro dos mamíferos. É a resposta cerebral
para atividades e comportamentos sociais. Sua função é integrar informações sensitivo-sensoriais
com o estado psíquico interno, onde se atribui um conteúdo afetivo a esses estímulos, a informação é
registrada e relacionada com as memórias pré-existentes, o que leva à produção de uma resposta
emocional adequada, consciente e/ou vegetativa. https://goo.gl/54ZDQ3
16. Meme: Richard Dawkins, em seu livro O gene egoísta, de 1976, apresenta uma perspectiva genética
da evolução e introduz o termo meme para designar unidades de informação autorreplicáveis que, a
partir de alguma mutação aleatória, se reproduzem em nossos genes pela seleção natural genética. A
ideia coloca toda a cultura humana como fruto de informação copiada, modi cada e selecionada.
Assim como nossas características físicas e biológicas, nossas ideias e nossa própria cultura também
teriam passado pelo crivo da seleção natural. Os memes são padrões cognitivos que atravessam
gerações e moldam a percepção da realidade.
Capítulo 4
O que é inteligência relacional e qual
a sua importância para o sucesso e a
felicidade?
Dalai Lama disse certa uma vez: “Quando aprendemos a usar a
inteligência e a bondade ou afeto em conjunto, os atos humanos passam a
ser construtivos. Amor e compaixão são necessidades, não luxos. Sem eles,
a humanidade não pode sobreviver.”
Parece simples, mas se olharmos com cuidado e profundidade para essa
frase, podemos entender melhor a base da Inteligência Relacional.
Você já pensou nestas questões?
1. Sobrevivemos sem os outros?
2. Como eram as pessoas que mais in uenciaram a sua infância e
consequentemente seus valores?
3. Quem ajudou a moldar suas emoções?
4. Você gosta da forma como age com as pessoas?
5. Se tivesse que mudar algo no seu comportamento e na forma como
trata as pessoas, o que você mudaria?
Se eu lhe der a garantia de que pode modi car isso em você, tenho
certeza de que vai caminhar comigo até o nal deste livro, porque será uma
pessoa bem mais interessante e mais bem-sucedida em várias áreas da sua
vida, quando for capaz de desenvolver sua inteligência relacional e
controlar algumas reações quase instintivas que gerenciam o seu
comportamento.
Minha proposta é que você trabalhe seus relacionamentos de forma que
consiga sentir prazer em estar com as pessoas e que saiba escolher aquelas
que podem despertar o que há de melhor em si e que você seja capaz de
estimular o que há de melhor nos outros. Chega de apostar em
relacionamentos tóxicos ou em pessoas que pouco acrescentam ou que te
ferem.
Como já falamos, Goleman trouxe o conceito da inteligência emocional
como maior responsável pelo sucesso ou insucesso das pessoas.
Praticamente todas as situações da nossa vida e do nosso trabalho são
envolvidas por relacionamentos entre as pessoas. Ele defende que pessoas
com qualidades de relacionamento humano, como afabilidade,
compreensão e gentileza, têm mais chances de obter o sucesso.
Como o ser humano é por natureza um ser relacional e precisamos
dessa troca e desse convívio para a nossa sobrevivência, desenvolvi o
conceito de IR – INTELIGÊNCIA RELACIONAL e algumas técnicas para
otimizá-la, já que nossas relações precisam de uma con guração saudável e
de constante aprendizado.
Inteligência Relacional é a inteligência que nos conecta ao mundo pelas
pessoas. É a habilidade de nos relacionarmos de forma positiva com os
outros, entendendo suas necessidades e estabelecendo uma conexão que
traga cooperação, ganhos e boas energias para as partes.
Contam-se em milhares os anos de prática que trazemos na arte dos
relacionamentos, porque o ser humano é relacional desde sempre. No
instante em que nascemos, con amos nossa vida à outra pessoa, e essa é a
chance que temos para sobreviver. Lembre-se de que enquanto bebês,
somos completamente dependentes de alguém que supra as nossas
necessidades básicas de alimento, higiene, segurança e proteção.
Desde o nascimento aprendemos também a imitar os que nos cercam
em todas as tarefas do cotidiano, desde a forma de comer, os hábitos de
escovar os dentes, de tomar banho e, assim, até as estratégias que mantêm a
nossa sobrevivência, como estudo, aprendizado, desenvolvimento pessoal e
trabalho.
É mais confortável para o ser humano agir sustentado no que é familiar
e conhecido. Por isso tantos lhos imitam a pro ssão dos pais e seus
comportamentos. Passamos boa parte da nossa vida imitando
comportamentos e aprimorando o que achamos ou não correto nas pessoas.
É claro que a convivência também estimula algumas habilidades, como, por
exemplo, famílias de músicos ou artistas, em que todos acabam aprendendo
desde cedo a cantar ou a tocar instrumentos. Famílias com vários médicos,
advogados, marceneiros, caminhoneiros, etc. Assim pode acontecer com
várias pro ssões.
O que vem em mente quando você pensa em relacionamento? Os
relacionamentos existentes em sua vida acrescentam ou subtraem? Sabemos
que eles podem ser deliciosos, ofensivos, agradáveis, enganosos, sinceros,
doentios, afáveis ou preconceituosos.
Certamente você já sentiu essas emoções no convívio com outras
pessoas ou nas relações que teve no decorrer da sua vida.
Como devemos agir, então?
Sempre que as pessoas se juntam em pares ou grupos, existe algum tipo
de reação. Como já dissemos, cada pessoa tem um estilo, uma
personalidade, um per l, absorveu a sua cultura, suas vivências e valores
próprios e por isso mesmo é tão difícil conviver.
Cada um traz para suas relações a sua bagagem anterior e reage a uma
situação de acordo com as suas vivências e com os princípios e valores que
absorve no decorrer de sua vida.
Por isso precisamos entender como podemos tirar proveito das nossas
relações, nos afastarmos de relacionamentos que nos fazem mal, que
confundimos com amor, mas que são pura dependência afetiva e
psicológica.
Partindo do princípio de que as relações humanas são vitais para a
nossa sobrevivência e para o nosso bem-estar, precisamos trazer alegria e
suavidade aos nossos relacionamentos. Quem não tem alguém próximo
com di culdade para se relacionar? Seja um lho, chefe, alguém da equipe,
vizinho, amigo, ou mesmo um irmão?
Por que isso acontece? Por que nos frustramos com as pessoas?
Simplesmente porque nós existimos em relação “ao outro”. Como vimos,
desde que nascemos, crescemos respaldados no que aprendemos com as
pessoas que cuidam de nós, e, por isso, acabamos depositando expectativas
nos outros e desejamos que correspondam com o que esperamos deles.
Esquecemos as diferenças e esperamos que as pessoas reajam às
situações como nós reagiríamos. Acreditamos que devem fazer as coisas
como nós faríamos, mas não é assim que acontece, e, desculpe frustrá-lo,
isso não vai acontecer exatamente como você quer que aconteça. As pessoas
são diferentes de você e aí é que está a grande frustração dos
relacionamentos e ao mesmo tempo o grande brilhantismo das relações. É
exatamente aqui que surgem os maiores con itos relacionais.
Expectativas são reais ou fantasias?
A vida é repleta de aprendizados e desa os. Não há dúvida de que
trabalhar ou conviver com pessoas com quem não temos um forte vínculo
afetivo ou que não têm uma in uência signi cativa sobre nós é mais
simples. O problema está nas convivências afetivas, das quais nos enchemos
de expectativa.
Sempre colocamos muitas expectativas na relação com o outro, e
quando elas não se realizam nos sentimos frustrados. O mais interessante é
que criamos a nossa própria fantasia de como queríamos que a pessoa fosse
e achamos que ela tem que corresponder com o que imaginamos e criamos
a respeito dela. Na maioria das vezes, elas não sabem sequer o que
queremos, não dizemos isso a elas, mas esperamos que se comportem como
gostaríamos.
Isso não é fantasioso? Como podemos esperar algo de alguém que
não sabe o que nós esperamos dela?
Certa vez, atendi uma mulher no consultório que já tinha mais ou
menos uns cinquenta anos de idade e quase trinta anos de casada. Ela
chorou em uma sessão me contando que nestes anos todos nunca ganhou
um relógio do marido e que esse era seu maior sonho. Ele deu muitas
outras coisas a ela, mas nunca lhe dera o relógio que tanto esperava.
Perguntei quantas vezes ela pediu o relógio e, para a minha surpresa, ela
respondeu: nenhuma!
Quem a nal agiu errado? Ele, que nunca soube que ela queria um
relógio e por isso nunca o deu, ou ela, que nunca teve a objetividade de,
em trinta anos de casada, dizer a ele que queria um relógio?
Depositar de forma cega e exacerbada nossas expectativas nas pessoas,
esperando que elas sejam o que nós gostaríamos que elas fossem, é sinal de
baixa inteligência relacional.
O que seria um alto índice de Inteligência Relacional é simplesmente
aceitar as pessoas como elas são, respeitando o modo e o jeito de ser de
cada um.
Além da aceitação, devemos falar de forma mais clara o que esperamos
delas e que expectativa colocamos nessa relação. Essa comunicação
transparente e clara é importante desde o começo do relacionamento.
O mesmo acontece com as situações que vivemos no nosso dia a dia.
Elas também são recheadas de expectativa. Uma outra cliente estava me
contando sobre a decepção que teve no seu aniversário de casamento.
Ela imaginou que o marido deveria acordá-la com ores e/ou um café
da manhã na cama. Que, no almoço, mesmo que rápido, eles fariam um
brinde para comemorar, e que à noite sairiam para jantar. Contou detalhes
de como ela achava que ele deveria se comportar, como ele deveria ser
gentil e abrir a porta do carro, puxar a cadeira do restaurante, dizer que a
amava e que ela era a mulher da vida dele. Ao contrário de tudo isso, ele
não se lembrou do aniversário de casamento nem pela manhã, nem na
hora do almoço. No meio da tarde, ela mandou uma mensagem (já meio
irritada, mas, segundo ela, se esforçou para ser carinhosa), lembrando-o da
data para ver se ele a convidava, en m, para jantar e comemorar. Isso
aconteceu. Ele acabou se desculpando e saíram para jantar, embora não
tenha puxado a cadeira do restaurante e nem aberto a porta do carro. O
fato é que, depois de tanta imaginação e expectativa, nada, a partir daquele
momento, foi muito legal.
A questão é: se ela não tivesse colocado tanta expectativa, não tivesse
imaginado tantos detalhes e tivesse lembrado seu marido uns dias antes,
poderia ter sido tudo diferente, não poderia?
Entendo que esquecer datas importantes não é bacana, mas algumas
pessoas são mais distraídas e talvez não valha a pena fazermos disso um
caminhão de batalhas. O que será que essas pessoas têm de bom? Por que
você escolheu essa pessoa? Será que existem outras características ou
aptidões que eles apresentam que compensam essas falhas e que também
sejam importantes para o casamento?
Criar expectativa não é errado, mas esperar que as pessoas ajam da
maneira que nós agiríamos ou como nós gostaríamos que elas agissem é,
sim, bastante fantasioso e utópico.
Por isso constatamos que a expectativa é uma projeção do nosso
inconsciente e que di cilmente será correspondida. Como o outro não é
você, as decepções certamente vão acontecer e consequentemente os
con itos.
Então é isso! A expectativa é uma imaginação que, na maioria das vezes,
é frustrada porque nunca vai corresponder exatamente ao que pensamos ou
queremos.
Por conta disso, uma grande batalha se inicia e essa falta de ajuste dos
desejos e expectativas de cada um é sem dúvida um dos maiores causadores
do fracasso e dos con itos de uma relação.
Como você pode fazer para manter relacionamentos saudáveis?
Esta é a pergunta que sempre recebo. Vale pensar que estas coisas
acontecem por algumas razões:
1. Esperamos que as pessoas ajam como nós gostaríamos, mas
esquecemos de falar a elas o que pensamos, queremos e imaginamos. Devo
lembrar que ninguém nasce com uma bola de cristal acoplada ao corpo.
Mesmo as pessoas que te conhecem profundamente não vão conseguir
corresponder com tudo o que você pensa ou imagina a respeito delas.
Sendo assim, imagine menos e se comunique mais e melhor.
2. A segunda é que não podemos controlar o comportamento dos
outros. Mesmo que esse outro seja nosso lho ou outra a quem amamos,
cada um de nós tem sua própria personalidade. Se não tiverem, algo está
errado. Cada um precisa tornar-se um ser único e individual, pois esta é a
base da sobrevivência humana. Para sobreviver precisamos estruturar nossa
personalidade. Somos seres singulares, únicos e donos das nossas próprias
emoções e reações.
3. A terceira razão é que precisamos nos enxergar e enxergar o nosso
papel na relação com os outros, antes de sairmos por aí sempre culpando o
outro e achando que tudo o que ele faz está errado. Pense um pouco nas
características e nas habilidades de cada um. Assim, respeitando os “estilos”,
cada um pode colaborar da sua maneira.
Se você é mais detalhista, por exemplo, faça coisas que podem ajudar
nesse sentido, e se o outro é mais aventureiro, deixe que ele ouse e quebre a
rotina da relação. Aproveitem as diferenças e usem-nas a favor da relação e
não contra.
Enquanto continuarmos sempre colocando a culpa “no outro”,
esperando que as pessoas ajam como agiríamos, encontraremos di culdade
para resolver as situações com as quais nos deparamos todos os dias, seja
com as pessoas do nosso convívio pessoal ou pro ssional.
Quando os relacionamentos nos causam angústia, precisamos recuar
um pouco para enxergar nosso papel na relação.
Claro que existem pessoas complicadas, que trazem problemas, e das
quais devemos mesmo nos afastar ou no mínimo evitar o envolvimento.
Para isso podemos usar uma série de mecanismos, como a intuição, como já
falamos no capítulo anterior.
Precisamos antes entender nossa dor e nossos medos. Entender nosso
mecanismo e nossas carências é o primeiro passo para enfraquecer o poder
que esses sentimentos ruins exercem sobre nós.
Quando conhecemos a nós mesmos ca bem mais fácil entrar em um
relacionamento e fazê-lo funcionar plenamente.
O que precisamos ter claro é que a mudança tem de partir de nós.
Perdemos muito tempo culpando as pessoas e deixamos de ser humanos,
de ter compaixão, generosidade, paciência e sensibilidade. Estamos sempre
reativos e prontos a atacar, o que acaba gerando ainda mais revolta e
con ito.
É preciso nos darmos conta de que o melhor caminho é a
autoconsciência e o autoconhecimento. Explorar melhor e entender a
fundo nossa dor, nossas di culdades e nossos medos é a única forma de
fortalecer imensamente as nossas relações. A psicologia explica claramente
que temos a tendência a culpar as pessoas por nossos fracassos, por simples
falta de segurança em olharmos para nós mesmos e corrigirmos nossos
próprios erros.
É importante que possamos nos dar conta de que sabotamos nossos
relacionamentos involuntariamente, em função dos nossos próprios receios
e “fantasmas”.
Na maioria das vezes, basta uma mudança de atitude diante de uma
relação para que toda a dinâmica do relacionamento se refaça, ou seja, as
pessoas que agiam de determinada forma conosco acabam tendo que se
readaptar e modi car o seu jeito também.
Se as pessoas fazem conosco o que nós permitimos, quando não
permitimos elas param de fazer. Se não param é a hora de cairmos fora
dessa relação. Aí, sim, são relações tóxicas que não merecem a nossa
consideração.
Relacionamentos funcionam como um sistema. Por isso, costumo
comparar um relacionamento com uma teia de aranha. Quando puxamos
um o, ela toda se refaz. Muitas vezes basta uma única pessoa mover-se em
prol de uma ação positiva como terapia, coach ou algum trabalho de
autoconhecimento, que a dinâmica de todo o sistema se modi ca, seja na
família, na empresa ou qualquer outra instituição social.
Tenho escutado muitas estórias assim, nas quais a mudança de atitude
de uma única pessoa modi ca a dinâmica do relacionamento como um
todo.
Certa vez, passei por uma situação con ituosa e desgastante com duas
amigas de que gostava muito. Em determinado momento da vida
apresentei uma à outra, ambas eram minhas amigas da época da
adolescência. Imaginei que poderiam ter coisas em comum, já que os lhos
tinham idades próximas, os maridos trabalhavam com atividades
semelhantes, tinham a mesma crença religiosa, en m, acreditei que seria
uma relação boa para todos.
O relacionamento delas, talvez por essas a nidades, deu tão certo que,
em pouco tempo, caram superamigas. Passaram a viajar juntas, a sair
juntas e não me convidavam ou avisavam em cima da hora, de forma que
eu não teria tempo de me organizar e estar presente. Também comecei a
notar que, quando saíamos todas juntas elas conversavam entre elas, até
porque estavam se encontrando mais, tinham mais histórias em comum e
eu cava meio como uma “carta fora do baralho”. Percebi que começaram a
me tratar de um jeito diferente, me contavam pouco de si próprias,
tornaram-se mais arredias, mas eu não tinha a menor ideia do por que isso
acontecia.
Já aconteceu algo semelhante com você?
Cada vez que saíamos juntas eu voltava com uma sensação estranha,
como se estivesse com vinte quilos a mais, com um mal-estar gigantesco,
dor de cabeça ou nas costas e não conseguia entender direito o que estava
acontecendo. Como psicóloga e estudiosa dos relacionamentos humanos,
comecei a dar um pouco mais de importância às minhas sensações,
intuições e emoções e percebi que a coisa mais saudável a ser feita naquele
momento seria me afastar.
Dias depois, por acaso, li em um caderno velho da faculdade a frase de
Timothy Leary, que dizia assim: “Ligue-se, sintonize-se e caia fora.”
Naquele momento, essa frase fez um imenso sentido para mim.
Passei algum tempo tentando entender esse fato. Embora já tivesse
escrevendo este livro, essa situação me ajudou a reconhecer como
realmente os relacionamentos são importantes para nós e como uma
situação como essa traz desconforto e certo mal-estar difícil de explicar.
Fato! Quando temos di culdades com os nossos relacionamentos
camos desconcertados e tristes.
Eu percebi que era hora de usar a minha inteligência relacional para
entender como me deixei envolver naquela situação, o que eu deixei de
enxergar, de aprender e, principalmente, o que eu precisava mudar.
Tenho claro que as coisas não acontecem conosco por acaso e talvez eu
também tivesse que rever minhas atitudes, meus conceitos, minhas
escolhas, minha maneira de agir, pensar ou falar. Não há dúvida de que
essa situação me trouxe um belíssimo aprendizado.
Nessa mesma época, estava em uma fase de constante questionamento
com várias áreas da minha vida e sabia que era hora de mudar.
Andava desanimada até com a minha vida pro ssional, e isso parecia
muito estranho, já que sempre amei meu trabalho. Percebia que ele estava
repetitivo e pouco desa ador. Meu marido andava reclamando que precisa
oxigenar e fazer algo diferente também e nosso relacionamento estava
entrando em um comodismo perigoso. Também estava com uma lha no
auge da adolescência, que começou a apresentar di culdades na escola e
conviver com amigos que não pareciam muito legais. Ela queria passar mais
tempo na rua do que em casa. A única coisa que parecia bem era a nossa
lha mais velha, que estava na faculdade, trabalhava o dia inteiro, corria
muito, e parecia estar feliz, mas tinha muito pouco tempo para nós.
Alerta vermelho! Era hora de mudar!
Por coincidência (embora eu não acredite muito em coincidências, acho
que as coisas conspiram a favor quando realmente desejamos), eu tinha um
projeto para passar um tempo fora do país, já que precisava reforçar o inglês
e sempre quis morar fora. Naquele momento tive a certeza de que chegara
a hora.
Eu, meu marido e minha lha mais nova camos quase dois anos fora
do Brasil, em uma imersão de experiências novas e muito conhecimento.
Foi um aprendizado cultural, linguístico, dos costumes e da rica observação
do comportamento e de outras formas de se relacionar, que era a minha
grande necessidade e fome de conhecimento.
Estávamos sedentos por estudar e observar os costumes americanos,
como compram e vendem, como consomem, como negociam, como
interagem e como convivem.
Parece ter nascido com eles a forma de manter respeito e educação em
determinadas situações, como no trânsito ou em lugares públicos. Analisei
a rica diferença na formação e na educação dos alunos, por acompanhar
minha lha no ensino médio/high school. En m, aprendemos como os
americanos vivem.
Resolvi também experimentar uma nova religião e na igreja que
frequentei conheci pessoas maravilhosas, que se tornaram referência de
bondade para mim. Tivemos ainda a sorte de conviver e contar com o apoio
incondicional de amigos brasileiros que moravam lá e que foram
excepcionais conosco em todo o período da nossa estada, da chegada à
partida. Vivemos a experiência do compartilhamento e da solidariedade. A
experiência de viver e morar em outra sociedade é um crescimento pessoal
inigualável.
Tive a chance de falar com pessoas que nunca tinha visto e
provavelmente nunca mais verei. Também tive a oportunidade de me
manter em contato estreito com a minha solidão. Como meu marido
viajava muito para o Brasil (por causa do trabalho) e minha lha tinha
várias atividades durante o dia, eu passava horas sozinha, pensando,
estudando e escrevendo, sem falar com absolutamente ninguém.
Às vezes, falava por mensagem com algumas pessoas e me tornei mais
interativa nas redes sociais, mas naquele momento vivi a mais rica
experiência que alguém poderia ter. Constatei que a troca, a amizade, a
saudade, a família e a importância das pessoas na nossa vida são de fato o
que nos mantém vivos.
Essa experiência, somando a tudo o que vivi na infância e as mudanças
que tive no decorrer da minha vida, e contei para vocês na introdução deste
livro, me proporcionaram ainda maior consciência e autoconhecimento a
respeito das relações. Tenho clareza de que a nossa felicidade e realização
só dependem de nós. É através da convivência e da troca com outras
pessoas que alcançamos aprendizado, equilíbrio e harmonia para a nossa
vida.
Durante esse tempo passei por experiências riquíssimas e algumas muito
dolorosas. Tive a plena convicção de que as pessoas que amamos e que nos
amam também nos machucam, e que nós também muitas vezes as
magoamos, mas que, apesar de tudo, o sofrimento e a solidão nos tornam
ainda mais humanos.
En m, depois de quase vinte meses de imersão entendi que podemos
escolher um caminho de mais profundidade e relevância e que as pequenas
coisas pouco importam. As marcas, as grifes, as futilidades são
completamente descartáveis quando entendemos que sem as pessoas não
somos nada, não somos ninguém. Quando entendemos de forma
verdadeira que o ser importa muito mais que o ter, e que os verdadeiros
relacionamentos nos enobrecem, todo o resto perde força, ca pequeno,
desnecessário. Os pequenos con itos também perdem a força e o espaço em
nosso coração.
Depois de todo esse aprendizado, concluí que z a coisa certa e que,
naquela situação, tinha mesmo que me afastar do Brasil e das atividades
repetitivas e pouco desa adoras que estava vivendo. Precisava de um
momento de introspecção e aprendizado, então foi o momento ideal para
uma imersão completa e profunda.
Passei a ter mais clareza do que me fazia falta e do que poderia ser
descartado sem absolutamente nenhum problema. Para ser honesta,
descartei coisas e me afastei de pessoas com um pouco de dor, mas com a
certeza de que relacionamentos tóxicos são desnecessários e precisam ser
afastados.
O que aprendi com a distância e com meus novos amigos na América
do Norte?
1. A ser mais inteligente na forma de me relacionar,
2. A fazer melhores escolhas respeitando a intuição e os sinais que as
pessoas nos dão,
3. Relacionamentos são desa os que só errando nos levam a acertar,
4. A me blindar de pessoas tóxicas, entendendo que algumas pessoas
não têm maturidade para se relacionar de forma inteligente,
5. A perdoar a atitude daqueles que ainda não têm inteligência
relacional e emocional para lidar com situações incomuns ou que requerem
mais percepção e cuidado com o outro,
6. Que a distância é positiva em várias situações e que dedicar tempo
para estar só é um dos processos de análise mais profundos que o ser
humano pode experimentar,
7. Que muitas vezes as pessoas tomam decisões por imaturidade,
insegurança, medo ou pela incapacidade e desconhecimento emocional de
como fazer escolhas melhores,
8. A desvendar as pessoas mais próximas e a respeitar as diferenças.
Entendi acima de tudo que só conhecemos verdadeiramente as pessoas
com quem convivemos quando nos afastamos do dia a dia e do convívio
social com outros, dedicando tempo para as nossas relações,
9. Conheci a melhor forma de “ler” as pessoas e entender melhor o que
era realmente importante para elas.
Neste turbilhão de aprendizado, hoje sei que sou capaz de lidar de
forma mais inteligente com as pessoas. Enriqueci o que estudava sobre
inteligência nos relacionamentos, e com minha própria experiência
enriqueci os conceitos deste livro.
Lembram-se da estória das minhas amigas? Pois é, o mais estranho, para
minha surpresa, é que poucos meses depois que fui embora a relação delas
esfriou, elas se distanciaram. Até hoje eu não sei direito o porquê.
Acredito que houve várias razões, que a mim, não cabe julgar. Vamos
nos limitar a entender que para termos uma relação mais saudável com as
pessoas precisamos:
1. conhecer melhor a nós mesmos e ter clareza da importância de cada
relacionamento na nossa vida,
2. perdoar as pessoas e tentar relevar seus medos, inseguranças e
fraquezas,
3. observar melhor e tentar conhecer com mais profundidade as pessoas
antes de assumirmos um relacionamento mais próximo ou íntimo com elas,
4. evitar muita proximidade com pessoas que podem nos parecer mais
“tóxicas” para que os relacionamentos não inter ram negativamente no dia
a dia ou nas decisões e escolhas mais relevantes,
5. entender que existem várias formas de amar e que, para muitos, a
competição e a disputa também mantêm uma relação, e quando o “objeto”
de disputa desaparece a relação pode simplesmente deixar de existir,
6. aprender com os erros que cometemos nos nossos relacionamentos e
evitar repeti-los em outras situações.
O que vale é que devemos aprender por que os relacionamentos e as
pessoas são tão importantes para nós e como tirar proveito de cada
experiência, de cada relacionamento. Elas devem servir de apoio para que
escolhas melhores sejam feitas e para que a gente não repita o mesmo erro
em outras relações. O aprendizado que levamos de cada vivência, por mais
doloroso ou tóxico que pareça, sempre nos ensina.
BAIXA ALTA
INTELIGÊNCIA INTELIGÊNCIA
RELACIONAL RELACIONAL
1. Descon ança em 1. Nascemos
excesso não leva a relacionais e
lugar nenhum. precisamos do outro
para sobreviver,
então, com cuidado
atribua importância,
acredite e con e nas
pessoas.
17. O livro da Psicologia, Globo Livros, p. 104, e Teorias da Personalidade. 2ª edição, 2003. Título
original: eories of personality.
18. Mecanismos de defesa - ações psicológicas com a nalidade de reduzir qualquer manifestação que
coloque em perigo a integridade do ego, em que o indivíduo não consiga lidar com situações que por
algum motivo considere ameaçadoras. São processos subconscientes ou inconscientes que permitem
à mente encontrar uma solução para con itos não resolvidos no nível da consciência. As bases dos
mecanismos de defesa são as angústias. Quanto mais angustiados estivermos, mais fortes os
mecanismos de defesa carão ativados.
19. Complexo de Édipo – o termo criado por Freud, inspirado na tragédia grega Édipo Rei
(personagem da Mitologia Grega famoso por matar o pai e casar-se com a própria mãe). Designa o
conjunto de desejos amorosos e hostis que o menino enquanto ainda criança experimenta com
relação à própria mãe.
20. Introjeção – mecanismo de defesa que consiste na adoção de regras e comportamentos que podem
nos livrar de uma situação ameaçadora ou perigosa. Inicia-se na infância, quando começamos a
aceitar como nossas as regras e valores impostos pela família ou sociedade.
21. Artigo da Harvard Business School: e neurochemistry of positive conversation, Judith and
Richard Glaser. https://goo.gl/sNHqAx
Capítulo 6
Classe - Seis passos para nos
tornarmos mais inteligentes e o “C”
de CLASSE: Consciência
“Não é a aparência, é a essência.
Não é o dinheiro, é a educação.
Não é a roupa, é a classe.”
Coco Chanel
Para explicar melhor como nos tornarmos mais inteligentes na forma
como nos relacionamos, desenvolvi seis estágios fáceis de entender e que
podem nos ajudar a fazer ajustes no nosso comportamento em diversas
situações.
Para sermos inteligentes nas relações, a CLASSE é fundamental. Ter
classe não signi ca ser chique na arte do vestir, como a maioria das pessoas
pensa, mas ser elegante na maneira como nos comportamos todos os dias,
em qualquer ambiente.
Classe é ser elegante, ter graça nas maneiras: de vestir, de comer, de se
comunicar e principalmente de se comportar. É ser harmonioso, coerente,
estar em ‘acordo’ com o todo, com as pessoas e com o ambiente.
Esses passos são importantes porque sabemos que os relacionamentos
são confusos e complicados. Temos que fazer um trabalho duro para
conseguirmos “zelar” por nossas relações, seja com a família, amigos,
vizinhos, parceiros de trabalho e todos os contatos relacionais e sociais que
fazemos. Nunca para; conversamos com pessoas em média setenta por
cento (70%) do nosso tempo diário. Além disso, não é necessariamente um
investimento glamouroso, pelo contrário, é incessante e muitas vezes
cansativo.
Não temos mais nenhuma dúvida de que as pessoas que se dão melhor
na vida são as mais bem relacionadas. Escolher perder menos tempo com a
TV e investir mais tempo convivendo, fazendo algo novo juntos, é sem
dúvida uma ótima opção, principalmente quando se escolhe dividir tempo
com pessoas inteligentes, educadas, sensatas e que se preocupam conosco,
em nos ajudar, e não em nos atrapalhar ou machucar.
É sensacional quando você escolhe amigos dos quais se orgulha e sabe
que se orgulham de você também. Essas pessoas certamente o respeitam, o
admiram e podem fazer o seu dia mais brilhante simplesmente por estarem
nele. Essas pessoas têm CLASSE.
Por outro lado, você já deve ter sentido o peso de pessoas que só sabem
reclamar ou se colocam sempre na condição de vítimas do destino. Basta
você perguntar como a pessoa está e ela vem logo discorrendo sobre uma
série de dramas e tragédias que rondam a sua vida. Muitas vezes você não
tem nem muito tempo ou disposição para ouvir aquele monte de lamúria. E
a sequência é sempre a soma de lamentações, dores, tragédias e desgraças.
O mais incrível é que essas pessoas não conseguem entender por que
ninguém quer estar perto delas. Em geral, a solidão as assombra,
justamente porque têm o costume de criticar em excesso, acham que
ninguém as entende ou que ninguém as escuta.
Todo mundo tem seus problemas e entendo que falar alivia. Freud já
dizia que a cura vem pela fala. As pessoas gostam e precisam contar suas
histórias para se sentirem melhores ou mais aliviadas, mas isso tem hora e
lugar.
Existem pro ssionais que são preparados para ajudar. Alguns cobram e
outros trabalham de forma voluntária e são orientados para dar a melhor
orientação. São terapeutas, coaches, educadores, pastores, padres ou pessoas
que têm como dom ou pro ssão dar suporte aos outros. Existem programas
evangélicos que ajudam e dão apoio 24 horas às pessoas que estão em uma
situação de tristeza profunda ou desespero. Conheço alguns amigos que
trabalham nessas rádios, nos Estados Unidos. São pro ssionais preparados
para atender o telefone em todas as línguas e ajudam pessoas que estão
desesperadas, desacreditadas, tristes ou que apresentam algum risco de
suicídio.
Se você realmente precisa desabafar é compreensivo, todo mundo
precisa e também pode conversar com um amigo ou alguém em quem
con e e que esteja “disponível” para escutar. Sempre existe um caminho e
uma solução, por isso é importante pedir ajuda.
Existe uma necessidade natural que todos nós temos de desabafar em
momentos de crise ou real tristeza, mas algumas pessoas parecem criar
problema, e de forma repetitiva e desgastante estão sempre “para baixo”,
reclamando e atravessando a vida de forma pessimista. Falam demais sobre
si ou sobre outras pessoas em momentos inconvenientes e sempre acham
que todos têm todo o tempo e disponibilidade do mundo para escutá-las.
Procure se blindar dessas pessoas, pois elas certamente não têm CLASSE,
mas você deve ter, não seja deselegante, sugira com cuidado que essa
pessoa busque por suporte e uma ajuda pro ssional mais efetiva. Não tenha
receio de colocar limites, dizendo a ela que infelizmente você não pode
falar naquele instante, mas que torce para que tudo que bem.
Infelizmente essas pessoas são, além de deselegantes, vampiros
emocionais, e precisamos ajudar a “estancar” sua maldade e controlar sua
“baba sangrenta”, porque do contrário nós também caremos mal e assim
entraremos em uma espiral pesada e negativa, que pode bloquear nossa
felicidade, sucesso e crescimento pessoal.
Para que você se torne mais inteligente relacionalmente é fundamental
que preste atenção em como tem se posicionado. Muitas vezes percebemos
esse comportamento nos outros, mas esquecemos de olhar para nós
mesmos.
Se tiver a tendência a falar demais sobre seus problemas observe isso
melhor e passe a tomar mais cuidado. Analise cada situação, valorize o
tempo das pessoas e procure perceber se elas podem conversar naquele
momento. Evite falar em excesso. Seja um bom ouvinte e estimule as
pessoas a falarem sobre elas. Todo mundo gosta e precisa de atenção. Exija
menos e dê um pouco do seu tempo para os outros também.
Mais adiante falaremos um pouco mais sobre os vampiros emocionais
dos quais realmente precisamos car distantes, porque a vida é muito curta
para perdermos tempo com quem suga a nossa energia e tem tão pouco a
nos oferecer.
A criação dos seis passos a que me re ro vão tornar você um inteligente
relacional e pode ajudar as pessoas a se tornarem também:
1. C ONSCIÊNCIA
2. L IBERDADE
3. A TRAÇÃO
4. S EGURANÇA
5. S ABEDORIA
6. E MPATIA
Vamos ao primeiro, nosso C de Consciência.
1. Consciência: está relacionada tanto à “leitura” que fazemos de nós
mesmos – a autoconsciência – como também à consciência do ambiente e
das pessoas que estão à nossa volta. É a habilidade de perceber, de ter
clareza das nossas ações e intenções e da forma como nós agimos e
interagimos com o meio.
Por exemplo, muitas vezes as pessoas não percebem que estão falando
muito alto em ambientes que exigem mais cuidado e silêncio, como
velórios, igrejas, livrarias, bibliotecas, elevadores, teatros, etc. Falta
consciência do comportamento exercido; as pessoas esquecem que devem
manter mais respeito com quem está dividindo o mesmo espaço.
Para que possamos perceber melhor como nos comportamos e manter
controle sobre essas atitudes, precisamos nos conhecer mais a fundo. É
fundamental que possamos aprender melhores práticas de como devemos
nos comportar em diferentes situações. O primeiro passo é observar e
perceber a nossa forma de agir e se ela está adequada a cada situação. Isso
pode ser feito pela observação de como nos comportamos e de como as
pessoas reagem em cada situação. Assim podemos mudar e ajustar a nossa
atitude, para nos tornarmos mais inteligentes na arte de nos relacionarmos.
A medida que nos tornarmos mais alertas ao nosso comportamento,
podemos nos tornar pessoas melhores, mais humanas e mais agradáveis,
principalmente quando estamos em contato com outros.
Como devemos agir?
Essa resposta não é muito simples, porque é baseada no bom senso.
Bom senso, em uma de suas melhores descrições “é um conceito
estritamente ligado às noções de ponderação e de razoabilidade, que de ne
a capacidade média que uma pessoa possui, ou deveria possuir, de adequar
regras e costumes a determinadas realidades, considerando as
consequências e assim fazendo bons julgamentos e escolhas”22.
Supõe certa capacidade de autocontrole e independência de quem
analisa a experiência de vida cotidiana, ou seja, é muito particular e está
relacionada a nossa percepção e observação do ambiente. É a análise do
que funciona, e do que não funciona quando estamos interagindo com
pessoas.
De forma geral, gostamos de observar o comportamento dos outros, e a
maneira discreta e equilibrada como algumas pessoas se colocam soa
interessante. É agradável observar um jeito “elegante” e sutil de se
comportar.
Observar, aprender e repetir essas atitudes pode nos ensinar a controlar
nosso próprio comportamento e nos levará a agir de forma mais adequada
em situações que sugerem certa postura ou discrição. Esse aprendizado nos
torna mais inteligentes relacionalmente.
Comportarmo-nos de forma inteligente com as pessoas vai muito além
da capacidade de discernir o certo do errado. Está relacionado ao bom
senso, à capacidade intuitiva do ser humano de fazer a coisa certa, e é
elementar que esteja ligado à moral.
Por essa razão e por sofrermos in uência da sociedade em que vivemos,
precisamos observar e respeitar as diferenças culturais, morais e religiosas.
Por exemplo, o bom senso praticado por um cristão poderá ser interpretado
de forma diferente por um islã ou judeu.
Os muçulmanos fazem sua oração ajoelhados e virados à direção de
Meca. Meca é a cidade natal do profeta Maomé. Para todos os muçulmanos
do mundo, ela é a cidade mais sagrada do planeta. Segundo o Alcorão,
escritura do Islamismo, o devoto deve cumprir os cinco pilares: o
testemunho da fé; orar cinco vezes ao dia em direção à Meca; jejuar no
ramadã (um mês por ano); praticar a caridade; e peregrinar até Meca,
mesmo que através de procuração escrita, caso não tenha recursos. Eles
seguem essa doutrina à risca.
Quando morava nos Estados Unidos, parei meu carro no
estacionamento em frente a um supermercado. Ao meu lado estava
estacionado um furgão branco. Observei que o senhor ao lado abria o
porta-malas de seu furgão. Tirou um tapetinho, estendeu-o no chão,
ajoelhou-se e começou a rezar, certamente em direção à Meca. Não me
pergunte como ele sabia qual era a direção. Dizem que os muçulmanos
nascem com um “GPS religioso”. Brincadeiras à parte, descobri que ca a
leste, mesmo lado do nascer do sol, o que certamente facilita bastante no
momento de acertar a direção.
Vale lembrar que para sermos inteligentes relacionais precisamos
respeitar outras culturas, religiões e civilizações. Pode parecer “maluquice”
um homem ajoelhar-se no chão em um estacionamento de supermercado,
mas para ele essa é a sua verdade, a sua paz, o seu conforto.
O bom senso não envolve uma re exão aprofundada sobre
determinado tema ou situação, mas sim a capacidade de agir e interagir,
obedecendo a certos parâmetros da normalidade, face a uma situação
qualquer, guiando-se por bom senso e senso comum, quase que de forma
completamente intuitiva.
Já que falamos de bom senso, o que seria o senso comum? “Senso
comum resulta das experiências realizadas por um determinado grupo, a
compreensão do mundo advinda da herança de um grupo social. O senso
comum descreve as crenças e suposições que surgem como ‘normais’, sem
depender de uma investigação detalhada para alcançarem verdades mais
profundas ou cientí cas”.
A busca do bom senso, então, mais uma vez está relacionada à
consciência individual e do ambiente, à autopercepção e à autoanálise.
Desde a Grécia Antiga, Sócrates (470-399 a.C.) acreditava que a
autoanálise tornaria o indivíduo mais feliz. Para ele, essa era a função
principal da Filoso a. Ficou famoso com a frase: “uma vida irre etida não
vale a pena ser vivida”, ou seja, se passarmos pela vida de forma automática,
super cial, sem trazermos para o consciente nossas razões inconscientes,
viveremos sem nenhuma noção ou percepção clara de quem nós somos.
O ser humano reluta e enfrenta uma série de resistências. Às vezes nega
seu verdadeiro “eu”, não quer enxergar as di culdades e seus lapsos de
comportamento. A maioria das pessoas diz que terapia é coisa para louco.
De certa forma concordo, pois tem que ser muito forte, meio “louco”, e
muito “macho”, para peitar um processo terapêutico ou de
autoconhecimento. Poucos têm coragem de aprofundar seu “eu” verdadeiro
e descobrir a fundo o seu potencial. É coisa para louco mesmo. Para louco
muito corajoso.
A principal questão é que, quando entendemos a nós mesmos,
conseguimos nos diferenciar e entender melhor o que é “meu” e o que é de
outra pessoa, ou de outra cultura ou civilização. Aprendemos a
verdadeiramente respeitar o jeito de ser de cada um. Essa percepção pode
diminuir consideravelmente as brigas, as desavenças, os con itos e
atentados no mundo todo.
Para ampliar a nossa consciência devemos observar a nós mesmos, as
pessoas ao nosso redor e absorver práticas de comportamento em público,
para nos relacionarmos de forma mais harmônica e digna com os outros.
Quando estamos em público vale tomar alguns cuidados com a forma
como nos comportamos:
1. evite falar alto e dar gargalhadas em locais que exigem silêncio;
2. evite o uso do celular em lugares que atrapalham outras pessoas,
como teatro, cinema, igrejas, museus, reuniões etc.
3. não se prenda no celular ou escreva mensagens enquanto conversa
com as pessoas;
4. evite esbarrar nas pessoas ou empurrá-las dentro de mercados,
farmácias, ônibus, trens, metrôs e outros lugares públicos;
5. não deixe sacolas, malas ou carrinhos de compras “jogados” em
corredores de mercado ou lugares onde outras pessoas precisam passar;
6. não pare em locais que interrompem o uxo de pessoas, como saída
de cinemas, teatros, convenções etc. Afaste-se o máximo que puder da
porta da saída (principalmente se estiver conversando com um grupo de
pessoas), assim quem ainda precisa sair pode ter melhor acesso e espaço de
circulação;
7. espere as pessoas saírem do elevador antes de entrar, pois evita o
embate corporal e você facilitará o uxo de entrada e saída;
8. evite encostar no painel do elevador; as pessoas que entram precisam
digitar o seu andar;
9. respeite las, pois não foram feitas para serem furadas, mas para
serem respeitadas;
10. quando estiver em espaços pequenos, evite encostar na pessoa da
frente ou bater com sacolas e mochilas nos outros. Deixe um espaço de pelo
menos um braço entre uma pessoa e outra;
11. se não tiver intimidade, evite car encostando ou pegando nas
pessoas enquanto conversa com elas. Algumas pessoas acham natural,
outras se sentem incomodadas;
12. respeite as escadas rolantes. Nos países desenvolvidos, é “educado”
que você se mantenha sempre do lado direito da escada rolante ou das
esteiras de passagem, nos aeroportos, metrôs ou shoppings, assim quem está
com pressa pode continuar andando com mais rapidez pelo lado esquerdo;
13. evite buzinar sem necessidade, fechar a frente de outros carros, car
acelerando enquanto o carro está parado, xingar no trânsito, dirigir em alta
velocidade na cidade e usar o carro como um brinquedo de competição,
pois são atitudes pouco inteligentes e que só contribuem para causar
acidente e morte;
14. procure dar bom dia, boa tarde, sorria, procure ser cordial com as
pessoas. Não custa nada e você pode contribuir para melhorar o dia das
pessoas e tornar nosso mundo um pouco mais humano e feliz.
Existem outras dicas úteis de que ainda vamos falar no decorrer deste
livro, mas esta já é uma excelente amostra que destaca nosso
comportamento social e sugere respeito à individualidade e às pessoas. São
ações importantes e simples, que podemos assimilar com tranquilidade, sem
grande esforço, e que nos ajudam a contribuir para relações mais positivas
com a sociedade e com as pessoas, mesmo com aquelas que temos menos
intimidade ou um contato mais super cial.
Para concluir, desenvolver o C de CLASSE ajuda a trabalhar a nossa
musculatura relacional e a consciência do nosso comportamento, ajudando
a sociedade. Não custa sermos agradáveis com os outros; é uma pequena
parcela de contribuição que podemos dar para um mundo melhor.
22. https://goo.gl/UKMp5d
Capítulo 7
A letra “L” de CLASSE: Liberdade
“A melhor liberdade é quando você se livra do que te faz mal.”
2. Liberdade: nós temos liberdade de expressão, de pensamento e de
posicionamento frente às situações. Liberdade essa conquistada
principalmente após o regime militar que durou 21 anos no Brasil.
Naquela época, o regime censurava os meios de comunicação, nas quais
as notícias eram ltradas ou proibidas. Criticar a política, o regime militar,
expor pontos de vista diferentes, contestar ou protestar levava o indivíduo
ao cárcere privado, tortura, extradição ou até a morte.
Muitas histórias daquela época foram abafadas e até hoje pouco se pode
provar, o real e a especulação se misturam com o intuito de “proteger”
culpados in uentes. Conseguimos grandes conquistas pós-censura, mas
nosso país também perdeu uma boa parcela de limite e de pudor.
Passamos de uma polaridade para a outra. Embora absurdos tenham
acontecido no governo militar, a liberação total da expressividade também
levou a exageros que confundem e estimulam crianças, adolescentes e
adultos. O estímulo à sexualidade e à sensualidade exageradas acabam por
banalizar o sexo com cenas que, quando não são bem compreendidas,
estimulam a prostituição infantil, a gravidez precoce e elevam o número de
estupros. O excesso de imagens com danças e roupas sensuais, infelizmente,
levam cabeças “fracas” a pensar o pior ou a agir de forma agressiva com as
pessoas, sejam mulheres, homens, homoafetivos ou crianças.
Podemos e devemos nos expressar, temos liberdade para isso, além de
pensarmos o que quisermos, mas devemos sempre respeitar alguns limites e
manter mais atenção ao “como” as pessoas sentem ou sofrem as ações da
mídia, dos meios de comunicação e de comportamentos excessivos, que
podem estimular pessoas com instintos a orados e pouca polidez.
Infelizmente a frase “em cada cabeça, uma sentença” é verdadeira e
homens que têm por histórico, por exemplo, desvalorizar mulheres ou ser
agressivos com elas, acabam por se sentirem estimulados com essa
exposição. É alarmante o número de mulheres que sofrem violências morais
e físicas, que são violentadas por homens do seu convívio social, como tios,
padrastos, primos, vizinhos, amigos etc. Quem tiver interesse pode
pesquisar melhor esses índices nas delegacias da mulher, no IBGE (Instituto
Brasileiro de Geogra a e Estatística) ou em estudos recentes que abordam
esses temas. Claro que nada justi ca esse comportamento, e a exposição na
mídia está longe de ser a única causa. Também não temos nenhum estudo
ou previsão de que diminuir o estímulo diminuiria a violência sexual, mas
se acompanharmos a mídia em outros países, como nos Estados Unidos e
em países europeus, podemos observar que canais com conteúdos eróticos
ou de violência são mais selecionados, nos quais é preciso pagar para ter
acesso. O que pode di cultar o estímulo, principalmente às crianças,
adolescentes e pessoas muito in uenciáveis, que ainda não têm uma
personalidade fortemente formada e nem uma ideia muito clara de suas
escolhas ou do seu comportamento sexual.
Não há dúvida de que com isso existem comportamentos maldosos e
personalidades perversas e cruéis, mas teríamos que abrir um capítulo novo
só para falar sobre psicose e perversão.
Vamos resumir explicando por que essas pessoas são perigosas. Um
sujeito que sofre de psicose acredita que suas próprias representações
fantasiosas são reais. O psicótico não consegue ver o absurdo, por exemplo,
da a rmação de ser um super-herói ou Jesus Cristo. O psicótico ca alheio
à realidade, isto é, torna-se um alienado e perde totalmente a noção do que
suas ações causam nas pessoas a sua volta. Quanto aos pervertidos, esses
são tão ligados aos seus objetos de prazer (que pode ser uma criança, um
adolescente, etc.), que se tornam impedidos de enxergar seu mau
comportamento diante de crianças, por exemplo, ou quando percebem, não
conseguem frear. Essas pessoas precisam ser tratadas de forma mais incisiva;
não é apenas a consciência e a compreensão da Inteligência Relacional que
vão ajudá-los. Nestes casos, precisam buscar na psicologia e na psiquiatria o
controle de suas patologias.
O que vale destacar é que em muitos países, principalmente naqueles
que brigam por diferenças religiosas e culturais, os con itos e guerras são
fruto da incompreensão das diferenças. A intolerância com as diferenças
culturais e religiosas torna o relacionamento entre as culturas tenso, cheio
de ruídos e disputas, o que acaba por gerar “pré” conceitos, resistências
entre estados, países, pessoas, religiões, classes e raças, e o pior, atentados
violentos que vêm aumentando e chocando o mundo a cada ano.
Lamentavelmente, radicais extremistas não mudarão seu
comportamento simplesmente por entenderem que não é adequado ou
honroso agir assim, como nós, seres humanos mais sensatos, inteligentes
emocionais e menos radicais.
Essa parcela doente e fanática que vem aumentando consideravelmente
nos últimos anos precisa também de um tipo de intervenção mais rme,
uma contenção, já que o seu comportamento ultrapassa o que julgamos ser
sadio para o bem comum e a convivência social. Muitos cresceram e foram
educados acreditando que morrer e matar são atitudes heroicas ou
corriqueiras e infelizmente pouco podemos fazer por eles, a não ser nos
protegermos e rezarmos para que passem a ver o mundo de uma forma
mais humana e menos cruel.
Enquanto não podemos ajudar diretamente o mundo todo,
principalmente os povos em guerras religiosas ou envolvidos em embates
violentos, que já estão cegos por suas crenças, vamos entender o que
podemos ajustar dentro da nossa cultura, do que é possível fazer próximo
da nossa realidade.
Não precisamos ir muito longe. Os questionamentos podem ser
observados no comportamento das pessoas que vivem em diferentes
estados brasileiros. Algumas atitudes que são consideradas naturais em
alguns estados são pouco usuais em outros.
Por exemplo, a décima dica da letra C (capítulo anterior) fala sobre uma
tendência muito forte em alguns estados brasileiros de encostar ou pegar
nas pessoas enquanto está interagindo com elas. Nos estados do Norte e
Nordeste, esse comportamento é muito natural e corriqueiro, já no Sul e
Sudeste, é menos comum. Não há nada de errado nisso, são apenas
diferenças culturais que intervêm no comportamento das pessoas, mas que
em alguns momentos podem causar embaraço. Algumas pessoas podem se
sentir incomodadas com o toque, enquanto outras não entendem por quê,
já que o gesto tem o intuito de ser natural e carinhoso. De nada adianta
dizer:
– Nossa, essas pessoas são estranhas, elas são distantes e esquisitas, a
gente pega nelas e parece que olham para a gente com cara de espanto.
Ou:
– Nossa, que gente estranha, eles cam pegando e cutucando a gente
enquanto conversam conosco.
É interessante observar essas diferenças culturais. Pessoas que viajam
bastante já devem ter ouvido essas duas frases em diferentes estados
brasileiros, mas será que essas diferenças precisam ser encaradas como
possibilidade de con ito relacional?
Presenciamos essas e tantas outras diferenças comportamentais também
no sotaque, nas roupas, na bebida, na comida. Aliás, a nossa diversidade
culinária é sensacional. Acho que em nenhum lugar do mundo se come tão
bem como no Brasil.
O que importa é que, ao mesmo tempo em que temos liberdade de agir
como aprendemos e como estamos acostumados, também devemos
controlar os nossos impulsos e nos tornarmos mais adequados e adaptáveis,
respeitando as diferenças e fazendo delas uma imensa oportunidade de
aprendizado e crescimento.
Ambientes diferentes que permitem essa troca divertida estimulam
nossos sentidos, nosso raciocínio, nosso aprendizado e com certeza ajudam
a polir e educar nosso comportamento. Ajudam-nos a fazer ajustes e a ter
mais respeito pelas pessoas quando estamos diante do “diferente”, seja no
mesmo estado, no mesmo país ou em qualquer outro lugar.
A di culdade de controlar o excesso de liberdade é uma das razões
pelas quais temos tantas guerras e discórdias no mundo, porque as pessoas
não conseguem aceitar as diferenças. Estão sempre tentando impor seus
conceitos, suas próprias regras, seus limites, sua religião e sua conduta,
como se todos devessem jogar sempre o mesmo jogo.
Para termos relacionamentos mais justos e verdadeiros com as pessoas
precisamos manter a cabeça mais aberta e menos preconceituosa, evitando
manter um comportamento engessado e intolerante, o que causa discórdia
e revolta.
É por essas razões que ainda vemos pessoas agredindo homoafetivos,
negros, de cientes mentais, prostitutas, etc. Isso se chama di culdade de
aceitar e lidar com as diferenças.
Respeitar a liberdade de cada um e nos trabalharmos para mudar o
conceito de que essas pessoas devem ser vistas como inaptas, incapazes ou
desiguais é fundamental para nos tornarmos mais inteligentes na forma
como nos relacionamos.
A alta inteligência relacional prevê um mundo mais humano, com mais
respeito às diferenças e aos valores. Um mundo com mais dignidade.
Faltam discussões com esse tema, nas escolas, nas universidades, nas
igrejas, nas empresas ou instituições que têm o claro objetivo de educar e
otimizar o potencial das pessoas.
É necessário desenvolver a sensibilidade de como devemos viver em
sociedade, já que comprovadamente sabemos que somos seres sociais.
Enquanto nada for feito, continuaremos abusando da nossa liberdade
como uma imensa cegueira social, o que sem dúvida gera egoísmo,
individualismo e falta de percepção do que devemos fazer para
genuinamente trazer bem-estar e melhorar a qualidade de vida e de
interação com os outros.
O respeito a essa liberdade de opinião é parte integrante da CLASSE e
precisamos desenvolver a nossa inteligência para podermos nos relacionar
melhor, deixando de lado esse disparate como se só pudesse existir um
único modelo cultural, religioso ou social, como se houvesse uma única
forma certa ou correta de fazermos as coisas.
Será que conseguiremos sacri car nossa liberdade pessoal pelo bem
comum? Será que conseguiremos respeitar mais quem está a nossa volta e
nos livrarmos do preconceito, permitindo que o outro seja o que ele quer
ser? Será que conseguiremos respeitar a opinião dos outros? Deixemos aqui
esta excelente re exão.
Capítulo 8
A letra “A” de CLASSE - Atração
“Uma vez que você acreditar que é emocionalmente forte, você inconscientemente atuará de
maneira mais rme e assertiva e começará a assumir o controle sobre seus caprichos emocionais”.
Senora Roy
3. Atração: está relacionada à forma como atraímos a atenção das
pessoas e como elas captam as nossas ações, reações e sinais. Dependendo
da forma como chamamos a atenção, seremos vistos como pessoas
con áveis, simpáticas, chatas, inteligentes, interessantes, bem ou mal-
intencionadas, etc. Esse é um dos principais princípios da Inteligência
Relacional: como queremos ser vistos e notados pelas pessoas; que
impressão queremos passar e, também, como captamos a forma de ser das
pessoas. Esse indicador nos leva a perceber como e por que escolhemos
algumas pessoas para fazer parte da nossa vida e deixamos outras de lado, e
também como e por que as pessoas nos “escolhem” para fazer parte da vida
delas.
A nal, o que nos parece atraente, interessante ou desinteressante
quando conversamos pela primeira vez com alguém?
Imagine que você está em um aniversário e por acaso senta-se para
conversar com uma pessoa que ainda não conhecia. Várias coisas vão passar
em pouco tempo pela sua cabeça, como, por exemplo: “Eu seria capaz de
car horas conversando com essa pessoa”, ou “eu preciso arranjar uma
desculpa para sair daqui o mais rápido possível”. Certamente isso acontece
ou porque você se identi cou ou porque alguma coisa te incomodou.
Por que isso acontece?
Algumas pessoas parecem naturalmente mais atraentes para nós do que
outras, por diversas razões:
1. por lembrarem pessoas das quais gostamos, tom da voz, cheiro, estilo,
cabelo, maneira de se vestir ou de falar;
2. por nos identi carmos com suas histórias, valores ou por falarem
alguma coisa com a qual nos identi camos;
3. por estarem em uma mesma situação de vida, lhos na mesma idade,
mesma pro ssão ou passando por di culdades/satisfações parecidas;
4. por se mostrarem atraentes ou admiráveis pela forma como se
comportam, se vestem ou se comunicam;
5. por terem a mesma educação, valores ou serem da mesma cultura
que você (isso acontece muito quando estamos em regiões distantes de casa
e encontramos pessoas do mesmo país ou área geográ ca);
6. por curiosidade, por serem famosos ou terem uma pro ssão de
destaque, como atores, cantores, artistas;
7. por parecerem cativantes, interessantes ou bonitas;
8. por serem engraçadas e divertidas;
9. por contarem estórias curiosas sobre lugares, pessoas ou assuntos que
nos interessam;
10. por terem o mesmo gosto musical, esporte, hobby, ou outras
a nidades conosco;
11. por uma necessidade de nos sentirmos aceitos ou respeitados
naquele lugar ou ocasião;
12. porque podemos ter visto na pessoa a possibilidade de ser um
grande amigo ou até o homem ou a mulher de nossos sonhos, uma “paixão
à primeira vista”.
Existem diversas formas de nos aproximarmos e de estabelecermos bons
vínculos com as pessoas e aprendermos muito com elas. Podemos sem
dúvida nenhuma tirar um bom proveito das nossas relações.
Quando não nos identi camos com nenhuma dessas coisas, as pessoas
nos parecem desinteressantes e, consciente ou inconscientemente, nos
afastamos delas. Nosso cérebro nos envia um sinal de que aquela pessoa é
pouco atrativa para dedicarmos tempo a ela.
Como já vimos anteriormente, a nossa conexão com as pessoas começa
desde a nossa formação embrionária, pelo vínculo materno, e continua
durante a infância e no decorrer de toda a vida. Precisamos de cuidados
básicos enquanto bebês e acabamos por traçar paralelos fascinantes entre a
maneira como formamos nossos apegos e nossa conexão com as pessoas,
principalmente com aquelas por quem nos apaixonamos.
Quando percebemos que os relacionamentos (amorosos ou não) nos
oferecem aconchego e uma base segura, parece que nos acalmamos e
reforçamos nossa energia para enfrentarmos os desa os. Por isso escolhas
corretas e o cuidado com a atração, quando nos relacionamos, são
fundamentais.
Nosso corpo passa a agir de forma positiva, nos tornamos mais amáveis,
mais compreensivos, como realmente camos quando estamos
apaixonados. Podemos nos apaixonar por diferentes pessoas. Não precisa
ser uma paixão amorosa ou sexual. Pode ser uma paixão pelo lado
intelectual, pela forma carinhosa de ser da pessoa, pela paz que ela
transmite, pelo afeto que tem pelos lhos, pais, irmãos, amigos e pessoas
que são queridas para nós.
Como e por que devemos nos mostrar encantadores para as pessoas?
Porque vivemos em sociedade. Logo, a convivência amigável e os
relacionamentos são fundamentais para a nossa vida pessoal e pro ssional.
Quanto mais agradáveis, estimados e amados nos tornamos, mais retorno
teremos em troca. As relações precisam ser uma troca positiva, mesmo que
não sejam constantes. Não importa a frequência, mas a qualidade. É
importante que o contato seja agradável.
Precisamos desenvolver a capacidade de encantar, envolver,
surpreender e admirar os outros e a nós mesmos, e, isso não deve ser feito
de forma super cial ou mecânica, tem que ser natural e genuína. É por isso
que precisamos começar a expandir a nossa CLASSE pela letra C,
conhecendo a nós mesmos para entendermos como somos, como nos
comportamos, observando, assim, quais atitudes podemos desenvolver de
forma mais confortável e segura para nós. Só depois disso é que estaremos
preparados para perceber a intenção das outras pessoas e passarmos a fazer
escolhas melhores e que nos tragam menos problemas e mais felicidade.
Precisamos pensar qual comportamento é confortante para nós, o que
de positivo queremos absorver e como escolhemos encarar a vida. Apesar
dos problemas que enfrentamos, podemos pesquisar mecanismos saudáveis
para deixar a vida mais suave e singela, vivendo melhor, amando mais,
curtindo cada momento. Nada melhor do que um sorriso para quebrar o
gelo e iniciar qualquer conversa. Não custa nada e é uma linguagem
absolutamente universal. Esse é um dos únicos gestos que em qualquer
lugar do mundo quer dizer a mesma coisa. Um sorriso é sempre um sorriso.
O importante é que seja verdadeiro.
Não quer dizer que tenhamos de sair por aí abraçando as pessoas que
nem conhecemos, ou distribuindo sorrisos e beijos na pani cadora. Não é
esse o intuito, mas devemos demonstrar mais carisma e altruísmo, para que
possamos inspirar e in uenciar as pessoas ao nosso redor.
É muito frustrante quando entramos em um estabelecimento comercial
e somos recebidos com mau humor ou de forma rude. O ambiente parece
tenso, pesado e perdemos imediatamente a vontade de estar ali. Nada é
mais constrangedor e nos oferece tamanha vontade de “sumir” do que
ambientes que deixam claro que as pessoas estão ali sem nenhuma vontade
ou por pura obrigação.
É incrível como as pessoas que trabalham em lugares assim estão
sempre carrancudas e frustradas e se acostumam com o clima pesado,
competitivo, a ponto de nem conseguirem perceber, e menos ainda mudar.
Normalmente esses estabelecimentos, quando privados, vão à falência,
e quando se trata de órgãos públicos, logo são batizados de lugares
inconvenientes, onde ninguém quer estar e que afastam as pessoas. Lá só
vamos em caso de extrema necessidade.
Tenho acompanhado empresas e pontos de vendas que estavam indo à
falência, mas, muitas vezes, só o fato de mudar a forma de atender seus
clientes, sorrir, ser educado, dar bom dia ou boa tarde, chamar as pessoas
pelo nome, in uencia o sucesso e a prosperidade do negócio. Atrair
positivamente as pessoas pode mudar tudo, pois elas passam a sentir prazer
de entrar e comprar ali.
A atração não está só relacionada a contatos pessoais, mas a ambientes e
empresas também. No nal de tudo, o cliente dá valor à experiência gerada
pelo relacionamento.
É na forma de se relacionar com o mundo que as empresas se destacam.
Elas devem ser atraentes para seus clientes, para seus colaboradores e
fornecedores. Essa é a razão pela qual algumas empresas estão sempre entre
as melhores: porque se preocupam em manter um bom relacionamento e
cam atentas ao que proporcionam aos outros. Querem ser vistos e
lembrados de forma positiva por seus clientes e pelo mercado. Não
podemos esquecer que os relacionamentos na percepção de valor do
cliente, são muitas vezes mais importantes do que o próprio produto, até
porque muitos são commodities (produtos padronizados, cujo preço não é
de nido pelo produtor, mas pelo mercado, como farinha, grãos, açúcar,
metais e outros).
Precisamos nos preocupar com a forma como atraímos as pessoas e
como podemos nos mostrar atraentes para as empresas também. A isso se
atribuiu o nome de Marketing Pessoal, que é a arte de vender a si próprio. É
claro que o nosso conteúdo e a nossa forma de ser sempre serão
importantes, mas precisamos dar ao conteúdo uma “embalagem”
convidativa. Quem conhece um pouco de vendas e marketing sabe o
quanto as embalagens ajudam a vender o produto.
Quantas vezes você já comprou um produto porque a embalagem lhe
chamou a atenção por ser bonita ou parecer con ável?
Se entrássemos em marketing e merchandising, teríamos muita coisa
para falar, mas esse não é o propósito deste livro, então, vamos nos
concentrar no que devemos fazer para nos mantermos atraentes e assim
alcançarmos nossos objetivos pessoais e pro ssionais.
Perguntas interessantes:
1. o que é atraente no comportamento de algumas pessoas e que você
poderia trazer para o seu modo de ser e modi car algo legal em si mesmo?
2. o que você faz para chamar a atenção das pessoas de forma positiva?
3. como quer ser visto e que impressão quer passar aos outros?
4. como quer que os seus clientes e as empresas com quem se relaciona
vejam você? Que tipo de pro ssional você é?
5. o seu comportamento pessoal transmite pro ssionalismo?
6. que imagem você quer deixar como legado? Se morresse amanhã,
como gostaria de ser lembrado?
Algumas pessoas acham que o comportamento pessoal não impacta no
pro ssional. Será? Trabalhei anos com desenvolvimento de carreira e ouvi
pessoas falarem: “Não importa para a empresa ou para os meus clientes o
que eu faço na minha vida pessoal”. Questionável, não?
A forma como nos comportamos interfere diretamente na nossa
imagem e como queremos ser vistos e lembrados pelas pessoas. Pense neste
exemplo: imagine se você fosse fazer uma cirurgia delicada e visse na noite
anterior o seu cirurgião saindo completamente alcoolizado de um
restaurante. O que você pensaria? Você não mudaria em nada a sua
percepção sobre ele? Você estaria absolutamente tranquilo para fazer a
cirurgia no dia seguinte?
Um outro caso: um líder que você admira, que mostra um forte
domínio sobre o time e um excelente conhecimento sobre a sua área de
atuação, mas por acaso é visto por você batendo na namorada no
estacionamento de um supermercado. O que você pensaria? No mínimo
iria car um tanto decepcionado, não é? O seu conceito sobre ele não
mudaria? A admiração ainda seria a mesma?
Claro que todos temos defeitos, cometemos erros e não podemos sair
por aí fazendo julgamentos precipitados sobre as pessoas, mas não há
dúvida de que a forma como nos comportamos in uencia diretamente a
percepção que as pessoas têm sobre nós. Isso é fato.
Hoje, com a vida exposta nas mídias sociais, acabamos tendo mais
acesso ao que acontece com cada um. Não estou dizendo que você não
possa se divertir, sair, ter vida social, amigos, etc. Todo mundo deve ter seus
momentos de prazer e lazer, mas precisamos cuidar da nossa imagem e de
como queremos ser vistos pelas pessoas, principalmente o zelo à imagem
pro ssional.
Sabemos que as empresas e os RHs vasculham as mídias sociais antes de
contratar pro ssionais e, dependendo do que descobrem, desistem da
contratação. Essa atitude se tornou uma prática, assim como a investigação
de ações contra outras empresas ou comprometimento jurídico e inquéritos
policiais. Provavelmente, neste momento, várias coisas estejam passando
por sua cabeça e de nada adianta entrarmos em uma discussão polêmica se
isso é certo ou errado. A questão é que faltam argumentos diante dos fatos.
As atitudes e comportamentos falam mais alto do que qualquer palavra.
Assim é desde o tempo dos nossos avós e continuará sendo por muitos e
muitos anos, independentemente de concordarmos ou não.
O que nos favorece é que o comportamento é uma escolha. Lembre-se
de que já falamos sobre isso anteriormente e não estamos presos a ele. O
comportamento pode e deve ser modi cado, e aprimorá-lo é um forte
indício de inteligência relacional e maturidade pessoal. O A de CLASSE nos
leva a pensar:
Como você quer atrair as pessoas e ser visto por elas?
Qual é a imagem e o legado que você deseja deixar aos outros?
As respostas a essas questões podem proporcionar a você um caminho
brilhante rumo à vitória e ao sucesso. No mínimo, você de nirá qual a
imagem que quer passar e de que forma quer ser visto e lembrado pelas
pessoas.
O que quer deixar escrito na sua lápide?
Aqui jaz......... que ...... porque ............ .
Na minha eu quero:
“Aqui jaz uma mulher que deixou o seu legado e fez as pessoas
acreditarem que podem se tornar seres humanos melhores, mais
inteligentes e mais felizes na forma como se relacionam, escolhendo melhor
com quem dividir a sua existência.”
Capítulo 9
A primeira letra “S” de CLASSE -
Segurança
4. Segurança: está relacionada à forma rme como defendemos nossas
ideias, princípios e valores, o que realmente acreditamos. Se soubermos
defender nossos pontos de vista de maneira segura, sem uso da imposição
ou agressão, facilmente conquistaremos a cooperação das pessoas. Não
precisamos necessariamente concordar ou assimilar os valores de outras
pessoas, nem elas os nossos, mas devemos respeitá-los para sermos
respeitados. Se agirmos dessa forma, seremos certamente mais inteligentes
relacionalmente.
Além disso, só conseguiremos trazer as pessoas a pensar como nós se
soubermos usar a persuasão de forma positiva, sensata e segura.
Já temos a compreensão de que na vida e no mundo corporativo manter
bons relacionamentos é fundamental, e para isso precisamos ter clareza de
quais são as nossas crenças e a partir disso descobrir a melhor forma de
defendê-las. Só assim seremos respeitados e poderemos respeitar
sentimentos e pensamentos diferentes dos nossos.
Há alguns anos li um livro sobre educação infantil que ressaltava a
importância de preparar nossos lhos para serem atores sociais e não
espectadores passivos. Essa questão me fez re etir profundamente sobre a
importância que temos como pais, educadores e líderes em colaborar com a
possibilidade de reforçar e estabelecer a segurança e a autoestima das
pessoas. A in uência que temos sobre elas, os valores que passamos e a
forma como as educamos pode levá-las a ter uma boa autoestima e a
respeitar ou não a opinião e as considerações dos outros. Alguns pais,
líderes e educadores acreditam que as pessoas não devem questionar suas
ordens. Não permitem que debatam seus pontos de vista e seus princípios,
o que acaba por criar seres humanos dependentes, inseguros e sem opinião.
Debater e questionar são formas primorosas de estimular o raciocínio, a
astúcia, o poder de argumentação, o humanismo e a segurança dos nossos
lhos e das pessoas com quem convivemos.
Recentemente, conversando com minha lha (que trabalhou em uma
das empresas de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico da América do
Sul e um dos donos do Burger King, Heinz, Kero, Budweiser e outras
marcas presentes na sua mesa todos os dias), sobre como o bilionário
brasileiro deixa claro que prefere pessoas que criem algum problema por
quererem andar sozinhas, em vez daquelas que esperam por ordens. “Não
gostamos de soldados disciplinados que só vão seguir ordens”, diz. Sendo
assim, entendemos que pessoas que sabem o que querem, têm brilho nos
olhos e energia para realizar são realmente essenciais.
Pessoas e pro ssionais que querem se destacar precisam aprimorar sua
comunicação e a forma de argumentar e defender ideias. Muitas pessoas
apresentam baixa resiliência (capacidade de se recuperar de uma crítica ou
objeção), ou baixa capacidade para persuadir, não só porque se mostram
mais inseguras, mas também porque não foram ensinadas a defender seus
pontos de vista com rmeza e convicção. Não lhes deram o “espaço”
necessário para questionar, pontuar ou defender o que acreditam.
Muitas vezes vemos pessoas se comportando de forma agressiva ou
rígida, porque não aprenderam a negociar, apenas a impor suas ideias ou
seus desejos, sem entrar em um acordo que possa ser favorável aos dois
lados. Algumas pessoas não conseguem se defender de forma assertiva e
segura ou não conseguem se colocar no lugar dos outros para poder
entendê-los e consolidar soluções aceitáveis para os dois lados, logo
falaremos sobre a importância da empatia na vida pessoal e pro ssional.
A baixa autoestima e a baixa segurança são características que
normalmente se formam na infância. Infelizmente não existe manual que
ensine aos pais a como preparar emocionalmente as crianças, aliás, na
maioria das vezes, acabam por repetir o que aprenderam com seus pais, mas
existem algumas atitudes que, quando tomadas, ajudam as crianças a se
preparar melhor para os desa os que a vida impõe.
Por exemplo, frases como: “engula esse choro”, “cale a boca”, ou ainda,
“você não serve para nada” são colocações pejorativas que só levam a
experiências de incompreensão e frustração. A criança vai deixando de se
expressar e passa a acreditar que manifestar sentimento é inadequado ou
errado.
Existem vários estudos e livros com dicas muito legais sobre como
encorajar nossos lhos a ser uma pessoa mais sensata e segura, mas são
poucas a se preocupar verdadeiramente com isso, o que é uma pena para a
sociedade e para o crescimento do nosso país.
Reforçar a autoestima e a segurança dos nossos lhos pode ajudá-los a
empreender mais, acreditar em suas habilidades e a ousar em proveito de
soluções e desa os nunca tentados, o que, de fato, muda o mundo.
As crianças que são amadas, queridas e sentem menos medo e sensação
de abandono tornam-se mais seguras em seus relacionamentos, não se
retraindo nem se apegando demais. No entanto, as pessoas cujos pais
negligenciam seus sentimentos e que se sentem ignoradas tendem a adotar
um estilo evitativo, como se estivessem desistindo da esperança de
encontrar um amor sincero, e as crianças cujos pais são ambivalentes,
oscilando entre raiva e ternura de uma hora para a outra, tornam-se
ansiosas e inseguras.
Claro que as crianças também precisam de limite, pois muitas vezes
realmente “passam do ponto”, e nada funciona melhor do que limites bem
de nidos para moldar uma personalidade saudável. Criatividade, rmeza e
amor são fundamentais. É necessário permitir a expressividade, dar espaço
para que a criança experimente suas emoções e sentimentos, mas também é
preciso que exista direção e limite. Os excessos precisam ser evitados de
forma justa e rme, correspondente com a faixa etária de cada criança.
Nada de punições severas ou qualquer tipo de violência no trato aos
pequenos. Alguns educadores defendem que o castigo deve ter o tempo
proporcional à idade da criança. Por exemplo, se ela tem três anos, são três
minutos de castigo sem sair daquele lugar ou falar com ninguém da casa.
Veja abaixo algumas outras dicas e se quiser saber mais, procure artigos e
livros sobre esse tema, você vai encontrar informações interessantíssimas.
Sabemos, claro, que o equilíbrio entre essas duas vertentes é difícil de
encontrar. Alguns pais são permissivos demais, outros exigentes demais. A
fronteira entre essas duas questões é difícil, mas pode ser encontrada.
No livro Inteligência emocional – A arte de educar nossos lhos, de John
Gottman e Joan Declaire (p. 79), os autores destacam alguns passos que,
quando seguidos, ajudam a preparar emocionalmente as crianças e que
podemos estender para as pessoas de modo geral. Eu li, resumi e
exempli quei:
1. ajude-os a perceber e a entender o que estão sentindo;
2. reconheça a emoção como uma oportunidade de intimidade e
transmissão de experiências. Conte à criança que você também sente ou já
sentiu aquilo, como medo de barulhos estranhos na casa, por exemplo, ou
emoções como tristeza e raiva;
3. escute com empatia para legitimar e respeitar os sentimentos;
4. ajude a nomear e verbalizar as emoções;
5. determine limites e, ao mesmo tempo, ajude a resolver seus
problemas.
Essas são algumas formas que nós, pais, educadores, terapeutas, coaches
e líderes deveríamos trabalhar para preparar emocionalmente nossos lhos,
clientes ou colaboradores.
Depois que alguns sentimentos já estão cristalizados é mais difícil de
serem modi cados, mas enquanto a personalidade está sendo formada, é
fundamental que a criança perceba que pode, de forma segura, sem birra,
expor suas emoções e sentimentos.
Nossa infância nem sempre deixa marcas saudáveis, mas sem dúvida
imprime sentimentos fortes no nosso “sistema de apego”, e que vem à tona
cada vez que nos relacionamos, principalmente nas relações afetivas e nas
ligações românticas, e essas impressões têm consequências marcantes na
forma como agimos com nossos parceiros.
Um psicólogo da Califórnia, Philip Shaver, liderou uma pesquisa sobre
“apego e relacionamentos” e classi cou os grupos estudados em adultos
seguros, ansiosos ou evitativos. Ele descobriu que as pessoas seguras iniciam
um relacionamento esperando que seus parceiros sejam disponíveis e
sintonizados, que estejam ao seu lado nos momentos difíceis, e tendem a
agir assim em relação ao outro. Geralmente veem os relacionamentos como
con áveis e acreditam nas intenções do parceiro.
Por outro lado, os adultos mais ansiosos e inseguros em seus
relacionamentos são mais propensos a achar que seus parceiros não os
amam o su ciente ou não querem car ao lado deles. Tendem a gerar uma
dependência tão apreensiva e uma necessidade tão intensa de rea rmação
que, sem querer, acabam afastando o parceiro. É bastante contraditório e
sofrido para eles, porque, ao mesmo tempo que se sentem indignos de
amor, também tendem a idealizar seus parceiros românticos. As pessoas
mais inseguras tendem a ser mais carentes e sentem receio do abandono,
apresentando sinais de “dependência amorosa e emocional”. Tornam-se
hipervigilantes, mais controladoras, mostram ciúmes excessivos e podem
criar casos imaginários, achando que o parceiro as está traindo. Muitas
vezes transferem essa mesma preocupação para as relações futuras.
Os adultos do tipo evitativo são aqueles que procuram fugir das
relações. Eles não se sentem à vontade em situações que levem à
proximidade emocional. Mostram di culdade de con ar no parceiro e
compartilhar emoções e cam nervosos quando o parceiro deseja maior
intimidade emocional. Evitam o envolvimento, suprem e sufocam o próprio
sentimento por medo de sofrer. Acham que o parceiro não é digno de
con ança e têm di culdade em manter relacionamentos.
O tipo ansioso e o evitativo têm um ponto em comum: a rigidez. A
sugestão é que busquem ajuda ou uma psicoterapia para lidar melhor com
isso e quebrar esse padrão de funcionamento, porque, quando um dos
parceiros é seguro, ainda é possível que o relacionamento se mantenha com
poucos con itos e crises, mas quando os tipos evitativos ou ansiosos se
juntam, tendem a car mais propensos a brigas e separações e vão precisar
de mais manutenção e cuidado nesses relacionamentos. A nal, apreensão,
ressentimento, angústia e mágoa são contagiosos.
De fato, certo grau de ansiedade é o que pagamos pela verdadeira
intimidade emocional. Isso é comum nos relacionamentos para qualquer
pessoa, pois nos apegamos, amamos, logo, sofremos quando nos
desentendemos.
Vale lembrar que os estilos são moldados em grande parte na infância,
mas se forem aprendidos podem ser modi cados, principalmente se
tiverem uma experiência positiva e um relacionamento reparador.
Fortalecer e reforçar a segurança e a autoestima da criança fará com que
mais tarde seja capaz de defender com mais rmeza e convicção o que
acredita, tornando-se uma pessoa e uma pro ssional mais madura e focada
em suas crenças. Defendo que muitos dos “bons líderes ou vendedores” já
vêm pré-formados de casa. Entre as fortes capacidades que de nem
personalidades determinadas e seguras está a assertividade, para defender
pontos de vista, a segurança e autoestima, para lidar com objeções, e a
empatia, para entender necessidades individuais. Essas características são
formadas na infância.
Ser emocionalmente maduro signi ca ter capacidade para reconhecer e
identi car as próprias emoções e as do outro. Essa experiência só acontece à
medida que permitimos que os sentimentos se manifestem desde a
infância.
O problema é que muitas vezes os pais ou líderes não sabem lidar com
as próprias emoções e, por medo de se descontrolarem, acabam por inibir
qualquer possibilidade de expressão de emoção ou sentimento aos outros.
Ignorar sentimentos como raiva, medo, ciúmes, escondendo o que se
sente ou o que se deseja, acaba por limitar a oportunidade de lidar de
forma positiva com as emoções negativas ou as frustrações. Negar e ngir
que não existem só di culta a experimentação das emoções que são
naturais e aparecerão repetidas vezes na nossa vida.
Para ilustrar essa questão, vou contar sobre uma paciente que atendi há
alguns anos no consultório. Ela tinha uma imensa di culdade de expressar
suas emoções. Quando começava a se emocionar ao relatar um fato, logo
parava, respirava fundo e segurava o choro. Tentei encorajá-la algumas
vezes a colocar para fora, mas ela sempre dizia: “Minha mãe me treinou a
engolir o choro e é isso que faço até hoje”. Quando seus lhos começaram a
ter problemas comportamentais, na escola, como brigar com amigos, chutar
e mostrar atitudes emocionalmente descontroladas, ela percebeu que eles
estavam buscando alguma forma de externar o que sentiam, porque ela
nunca permitiu que demonstrassem nenhum tipo de emoção em casa, nem
mesmo ciúmes, ira ou raiva. Procurou a psicóloga escolar, que atendeu as
crianças, e esta encaminhou a mãe para o meu consultório. Durante o
processo, ela foi descobrindo que as emoções precisam ser experimentadas,
sem dose exagerada, mas não podem ser reprimidas ou ignoradas.
Certa vez ela me disse que leu isso em um livro e que caiu como uma
luva: “Me sinto como se tivesse em um avião com meus lhos sentados ao
lado. Sei que em caso de turbulência preciso primeiro colocar a máscara em
mim, e depois nas crianças”.
Sábia constatação. Ela entendeu que precisava aprender a exibir suas
emoções de forma saudável e equilibrada, para então poder ensinar e
permitir que suas crianças zessem o mesmo.
É natural que os pais cometam erros, é um “ensaio e erro” para tentar
acertar, contudo, alguns cuidados são fundamentais para que possamos
estruturar a nossa vida e para criarmos lhos com segurança e autoestima
mais fortes. Fique atento a essas situações:
1. os sentimentos fortes podem e devem ser expressados e
administrados. Permita que seus lhos demonstrem raiva, medo ou outros
sentimentos negativos, mas sem extrapolar. Esses sentimentos existem e
devem ser sentidos, mas precisam ser controlados. Não pode deixar seus
lhos quebrarem a casa, mas pode permitir que expressem suas emoções e
falem sobre o assunto. Deixe que chorem um pouco e contem como a
situação lhes fez mal ou os incomodou.
2. evite sarcasmo, desprezo e comentários que desmereçam ou
intimidem a criança. Chamar a atenção e diminuí-las na frente dos outros
só vai jogar sua autoestima para baixo e criar problemas maiores, como
rebeldia, raiva e afastamento.
3. seja especí co com a criança e deixe claro que não aprova tais
comportamentos caso ela tenha “passado dos limites”. Ela precisa entender
que isso afeta os pais, as pessoas e o ambiente como um todo e que pode se
expressar, mas de forma controlada.
4. entenda como “passar dos limites” a criança que desrespeita e
responde aos pais, bate, se joga no chão, grita, se recusa a comer, joga coisas
nos outros, xinga etc. Esses comportamentos não devem ser reforçados.
Pelo contrário, olhe rme para a criança, sem gritar, com um tom de voz
claro e seguro, e explique que esse comportamento não é adequado, que
não vemos as pessoas se jogando no chão nem batendo nos outros nas ruas
ou nos ambientes que frequentamos, como restaurantes, supermercados,
igrejas, e que isso não é um comportamento aceitável e não deve mais se
repetir.
5. que atento a sua raiva e à forma como você se expressa quando for
brigar com a criança. Se sentir que pode agredi-la física ou verbalmente
espere um momento melhor. Procure se acalmar, e, no momento em que
puder ter uma conversa mais tranquila, que leve a um nível de
compreensão e retidão, então prossiga. Escute o que a criança tem a dizer e
só depois continue falando, mas não deixe de ter esta conversa; se deixar a
situação “esfriar” você estará sendo conivente com o erro e perderá o
momento certo de fazer a correção;
6. castigos exagerados, palmadas que machucam, comentários
pejorativos e ameaças sempre devem ser evitados. Se quiser dar-lhe um
castigo realista ou agir de forma corretiva, faça algo coerente com a idade
da criança, como:
Nunca esqueça que para você se defender terá de usar os seus escudos
emocionais, sendo fundamental que aprenda e pratique todos os passos da
base da Inteligência Relacional: a CLASSE, identi cando as características e
os sinais que as pessoas mostram, a m de saber bloquear as más vibrações.
Além do mais, quando alguém descarrega em cima de você, procure
manter-se em equilíbrio e não assuma automaticamente uma postura
defensiva. É bem possível que o problema esteja no outro e não em você.
Trazer para o pessoal ou devolver o lixo tóxico só vai piorar a situação. O
melhor a fazer é manter o controle e a calma, porque quem os mantém,
obtém poder na interação. Quando a pessoa se irrita sozinha sempre é
perdedora. Esse é mais um escudo que pode usar a seu favor. A raiva vai
bater no seu escudo e voltar para a pessoa. A medida que você reage,
absorve e acaba assimilando a raiva do outro, o que será muito mais
prejudicial para si.
Não deixe de considerar que, infelizmente, em algumas situações você
vai precisar romper um relacionamento que se tenha tornado
sufocantemente tóxico, mas só faça isso se já tiver tentado fazer todos os
ajustes possíveis, como entender, escutar, perguntar, avaliar a questão e,
acima de tudo, perdoar, principalmente se isso não acontece a todo o
momento. Às vezes, é apenas uma descarga por algo ruim que aconteceu, e
a pessoa ainda não sabe como lidar com a situação por medo ou desespero,
e descarrega em você.
Lembre-se de não ter medo de ter dúvidas com relação aos desa os de
um relacionamento! Viva as experiências que você deseja viver, aprenda
com os erros e não tenha receio de tentar novamente após um fracasso. É
vivendo e experimentando que aprendemos, mas de fato aprenda com os
erros, use a sua sabedoria a seu favor e evite repetir os mesmos erros a cada
nova relação. A sabedoria é construída a cada dia.
A seguir, vamos falar da empatia, e você terá mais algumas dicas de
como lidar de forma positiva com as situações con itantes.
25. Oxytocin is an age-speci c circulating hormone that is necessary for muscle maintenance and
regeneration Christian Elabd, Wendy Cousin, Pavan Upadhyayula, Robert Y. Chen, Marc S. Chooljian,
Ju Li, Sunny Kung, Kevin P. Jiang & Irina M. Conboy Are Plasma Oxytocin and Vasopressin Levels
Re ective of Amygdala Activation during the Processing of Negative Emotions? A Preliminary Study.
https://goo.gl/kQQ4Ir
Capítulo 12
Amor & Sexo
“Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor.”
Madre Tereza de Calcutá
Amor e sexo, um assunto polêmico que gera uma série de comentários,
discordâncias, consentimentos e con itos. Cada um tem sua maneira de
pensar e praticar amor e sexo. Para alguns, é impossível separar as duas
coisas; para outros, é difícil uni-los, e há aqueles que acham possível viver
as duas coisas; às vezes amor, às vezes sexo, vai depender da relação que se
estabelece.
Religião, futebol, política, amor e sexo estão entre os temas que mais
causam discussão e contrariedade nas relações pessoais. Já dizia Ferreira
Gullar: “Não quero ter razão, eu quero é ser feliz.” Mas as pessoas
geralmente perdem um tempo enorme discutindo assuntos polêmicos, em
que a opinião será divergente e discutir sobre eles só vai gerar briga e
desentendimento.
O que a maioria de fato acredita é que o amor é a realização mais
completa e sublime das possibilidades humanas. Nele se busca a plenitude
do ser, a única coisa que pode absorvê-lo inteiramente. E aí podemos
considerar os vários tipos de amor, entre pais e lhos, irmãos, casais, família
e amigos.
Já a paixão pode ou não se transformar em amor, mas a princípio é puro
prazer. Às vezes é tão intensa que retira o “ser” de si mesmo. Muitos se
entregam a tal ponto que passam a viver quase inteiramente para o outro (o
que pode ser perigoso, é preciso ter cuidado para não se despedaçar para
manter o outro inteiro) ou para o objeto de desejo. A paixão é considerada
um dos maiores prazeres que os seres humanos têm em sua vida. É puro
êxtase e vontade de realizar. Usamos o termo paixão também quando
amamos o trabalho que realizamos ou um projeto, ou uma nova descoberta,
porque a paixão e o prazer motivam e impulsionam para a realização.
O sexo está diretamente relacionado ao prazer, à relação corpo a corpo,
e é talvez o mais intenso dos prazeres corporais. É visto como a energia que
direciona os instintos vitais, ou seja, a libido26, que envolve encantamento,
relaxamento e gozo.
A satisfação sexual é apenas uma parte da alegria da entrega e, quando
vem de alma e corpo, temperada com amor, ca sem dúvida ainda melhor.
Quando se prima pela busca do simples prazer físico, esse prazer tende a
converter-se em algo momentâneo, que pode funcionar como uma ótima
descarga física e sexual, mas que também pode deixar um rastro de vazio e
insatisfação.
Quando os envolvidos sabem o que esperar da relação e quando está
claro que o envolvimento é puramente sexual, pode ser bom e divertido
para ambos. O problema é quando o relacionamento se reduz à simples
fome de prazer, e um dos lados apenas “usa” a outra pessoa. Isso não é bom
para nenhum dos dois. Quando se “usa” a outra pessoa, sem seu
consentimento ou sem que ela tenha clareza de que é apenas prazer sexual,
deixa de ser respeitoso, e o prazer pode ser imediato, mas vai sempre deixar
um gosto amargo. Claro que os psicopatas ou pervertidos sexuais veem isso
de uma outra forma, mas eles precisam de uma atenção particular.
A questão é que o terreno sexual oferece ocasiões para se servir das
pessoas como se fossem um objeto, ainda que seja inconscientemente. A
dimensão sexual do amor faz com que o ser humano se incline para a busca
do prazer em si mesmo, ou seja, uma necessidade de sentir prazer, sem
necessariamente dar prazer. Esse tipo de relacionamento leva o outro a
sentir-se rebaixado, pois afeta a sua mais profunda intimidade e relação de
amor próprio. Então ca complicado, porque a pessoa tende a sentir-se
usada, exposta e oprimida e começa a surgir uma série de problemas que
vai afetar a vida pessoal e a autoestima e, com certeza, a relação torna-se
pesada e corrosiva.
Se encararmos o sexo como expressão da nossa capacidade de amar, de
forma leve e íntima, envolvemo-nos até a mais pura totalidade. Aí o ato
sexual pode ser muito bom e desencadear um valor positivo e digno de ser
curtido. Quando o prazer e o amor se unem em entrega mútua,
acreditamos que é possível alcançar um alto grau de felicidade, prazer,
relaxamento e gozo.
Se classi carmos amor, paixão e sexo como tipos ou diferentes formas
de se relacionar, também percebemos que eles estão correlacionados, mas
despertam substâncias bioquímicas diferentes no nível bioquímico. Os
hormônios do sexo – androgênio e estrogênio – estimulam o desejo. A
atração ou paixão parece ser impulsionada por uma mistura de altos níveis
de dopamina e noropinefrina (que aumentam o prazer e o relaxamento) e
baixos níveis de serotonina. Sendo assim, segundo o livro Why we love, da
Helen Fisher, a química gerada nas formas de se relacionar é diferente, e o
que faz os relacionamentos durarem é a variação dos níveis de oxitocina e
vasopressina, transformando-se em amor.
Vale considerar que esses três sistemas podem se conectar em um
equilíbrio elegante, e que quando tudo sai bem, incrementa o plano da
natureza de perpetuar a espécie, principalmente nas relações heterossexuais
(veja a descrição abaixo). De qualquer forma, para todos os estilos de
orientação sexual, quando os três caminham juntos, alimentam o romance,
geram uma relação relaxada, sensual, afetuosa e de cuidado um com o
outro, na qual a conexão tende a orescer. E quando um dos três está
ausente, o amor romântico tropeça e pode ser preciso reavaliá-lo.
Fiz uma pesquisa para entender os tipos de orientação sexual. São
tantas variáveis que poderíamos rechear algumas páginas para descrevê-los,
mas vamos destacar os mais comentados.
Heterossexualidade
É a orientação sexual caracterizada pela atração sexual e emocional
entre pessoas de sexos opostos.
Homoafetividade ou homossexualidade
É a orientação sexual caracterizada pela atração sexual e afetiva entre
indivíduos do mesmo sexo.
Bissexualidade
É a orientação sexual caracterizada pela atração sexual e sentimental
entre pessoas tanto do mesmo sexo como do sexo oposto. A diferença entre
a bissexualidade e a homossexualidade é que também pode haver hipótese
de atração entre pessoas do sexo oposto.
Transsexualidade
Um transsexual é uma pessoa que não se sente identi cada com o seu
corpo, e o seu gênero psicológico não corresponde ao físico, ou seja, homens
que se sentem como mulheres ou mulheres que se sentem como homens. A
transsexualidade não está de todo relacionada com a homossexualidade.
Um homem homossexual não se sente mulher, sente-se homem, mas gosta
de pessoas do mesmo sexo. No caso de sentir-se como uma mulher,
considera-se transsexual. Atualmente, é possível fazer uma operação de
mudança de sexo para que o homem se converta em mulher e vice-versa.
Panssexualidade
A panssexualidade, também denominada omnissexualidade,
polissexualidade ou trissexualidade, é caracterizada pela atração sexual ou
romântica por pessoas independentemente do sexo ou gênero destas.
Podem sentir-se atraídas por homens, mulheres ou também por pessoas
que não se sentem identi cadas com o seu gênero, incluindo interssexuais,
transsexuais e intergêneros.
Assexualidade
É a falta de orientação e desejo sexual. As pessoas assexuais não sentem
atração física ou sexual por nenhuma pessoa e não sentem desejo pelo
prazer sexual, pois não se identi cam com nenhuma orientação sexual
de nida. Não é habitual que se apaixonem ou tenham um namorado/a.
Tendem a criar um laço afetivo com alguém ainda que não implique terem
uma relação sexual.
Intergênero
A diferença entre intergênero e transsexual é que os intergêneros não se
identi cam nem como homens nem como mulheres. Podem se ver como
homens ou mulheres. Algumas pessoas têm características do sexo oposto
em junção com características do mesmo sexo. Alguns veem a sua
identidade como uma junção entre o masculino e o feminino. Intergênero
não designa uma orientação sexual, mas um conceito relacionado com a
identidade de gênero27.
As diferentes opções mostram que a sexualidade é mesmo de cada um e
as escolhas são pessoais. São diferentes formas de se relacionar. Imagino
que pode estar passando dois pensamentos diferentes na sua cabeça neste
momento. Se você é uma pessoa mais tradicional ou religiosa e tem apenas
relacionamentos com pessoas do sexo oposto ao seu, ou seja, é um
heterossexual, talvez questione as outras escolhas, mas se você é mais
aberto e encara uma variação ou novidade, creio que vai lidar de forma
mais natural com as outras possibilidades.
Não vem ao caso aqui julgarmos o que está certo ou errado quando
falamos de opções sexuais. No contexto religioso, algumas escolhas podem
ser vistas como pecado e as pessoas como pecadoras. Na psicologia, as
escolhas são compreensíveis, aceitáveis e devem ser isentas de julgamento, e
na vida temos que exibilizar nossa forma de pensar e ter em mente que,
embora talvez você nunca pudesse fazer escolhas que considere estranhas
ou diferentes da sua, você pode e deve respeitar quem as faz. Esse é o
mínimo do que podemos esperar quando falamos de inteligência relacional
e respeito ao próximo. Mantenha a sua escolha se assim lhe convém e
“permita” que cada um faça a sua. Não está em seu poder escolher pelo
outro, mesmo que ele seja seu lho, sobrinho ou amigo próximo. Entendo
que você pode questionar e até discordar, mas infelizmente é o máximo que
você pode fazer.
Querer mudar a opinião do outro ou obrigá-lo a pensar diferente será
desgastante para todos e possivelmente não levará a lugar nenhum. É
possível que as pessoas “ njam” que aceitam a sua opinião para evitar
con ito, mas continuem fazendo as suas escolhas entre quatro paredes.
Tudo o que as pessoas de fato querem é ter direito de amar e a opção
sexual faz parte desse processo. Onde se desenvolve a trama mais instigante
da sua história está, inquestionavelmente, a sexualidade.
Se você tem algum problema nessa área, di culdade de aceitar seu
corpo, insegurança com relação a sua escolha sexual, dúvida com relação a
dar ou receber prazer ou qualquer outra questão relacionada a esse campo,
procure ajuda. Um bom terapeuta ou orientador certamente o ajudará a
minimizar a angústia e o sofrimento causado pela di culdade em fazer
escolhas e a cuidar melhor de você e da instabilidade emocional que afeta
esta e outras esferas da vida humana.
Não sei se vocês já ouviram isso, mas cienti camente existe uma
explicação para a frase: “quando o pênis endurece, o cérebro amolece.” De
fato, isso acontece, porque o circuito neural para o sexo inibe as regiões
subcorticais das vias secundárias, localizadas além do cérebro pensante
(ego/consciente ou neocórtex). O cérebro social, aprende a ser empático e
pode amar (superego/pré-consciente ou sistema límbico) e se importar com
o outro, mas o desejo e a luxúria trafegam pelos ramos mais inferiores das
vias secundárias e se tornam irracionais (id/inconsciente ou cérebro
reptiliano).
Sendo assim, embora a via secundária (são ligações rápidas dos
neurônios-espelho, que atuam como uma espécie de sexto sentido,
instigando-nos a sentir algo por outra pessoa, mesmo que seja de forma
vaga) nos proporcione a nidade emocional instantânea, a via primária
(parte mais pensante e racional do cérebro localizada no córtex pré-frontal
ou neocórtex) gera um sentido social mais so sticado, capaz de orientar
uma resposta mais apropriada.
Desta forma, é possível que o cérebro dispare inicialmente um interesse
imediato, pelas vias secundárias, que detona um senso de atração quase
irracional não só nos homens, mas também nas mulheres. Com o tempo, a
via principal vai dando sentido ao interesse inicial. Sendo assim, é real
quando dizemos que a paixão cega. Porque, de fato, quando estamos
inebriados de paixão, as vias secundárias e os neurotransmissores do prazer
estão em ação e não a via principal, que tem por princípio avaliar e nos
proteger. Quanto mais ativa estiver a área pré-frontal/neocórtex (vias
primárias), mais equilibradas serão as nossas decisões.
Quando pensamos de forma mais ponderada sobre as situações (usando
nosso cérebro mais racional/neocórtex), deixamos de “entrar em roubada”.
Por isso, mesmo que esteja inebriado de paixão, procure avaliar as situações
com um pouco mais de critério, colocando seu cérebro para funcionar, o
que de fato vai protegê-lo e evitará que entre em ciladas difíceis de
consertar ou resolver depois.
Uma boa dica aqui é escutar as pessoas próximas. Se todos que gostam
de você dizem que a pessoa com quem está se relacionando é oportunista,
ou já se aproveitou de outras pessoas ou situações para se dar bem, é
egoísta ou mal-intencionada, pesquise mais, pense melhor, fale com os ex
ou investigue de alguma outra forma seus relacionamentos anteriores, antes
de car bravo com os amigos. Pode ser que a história que a pessoa lhe
contou seja completamente diferente dos fatos reais. A única forma de
descobrir é pensando, ponderando e investigando. Controle seu ímpeto e a
sua paixão desenfreada e coloque seu cérebro para funcionar.
Além disso, quero ressaltar alguns estudos que venho fazendo nos
últimos dez anos. Ainda são empíricos e pouco comprovados, mas assim
que conseguir me aprofundar nas pesquisas e comprovar algumas hipóteses,
vou lançar as informações para vocês. Pode ser que muitos discordem do
que vou colocar agora, talvez a maioria, mas, embora a história que
carregamos, no decorrer dos anos, na qual alguns estudiosos e pesquisas
apontem para uma imensa diferença entre o que as mulheres e homens
pensam e sentem, eu particularmente acho que está na hora de rever essa
questão.
Por que não podemos pensar e sentir de forma igualitária, se por dentro
somos quase idênticos? O que diferencia homens e mulheres são os órgãos
sexuais, certo? Mas será que isso de ne os sentimentos, pensamentos,
comportamentos e desejos de cada um? Nosso cérebro e coração são muito
parecidos, não são? Já sabemos pela evolução da neurociência e dos estudos
bioquímicos que os neurotransmissores e os hormônios têm uma in uência
relevante. Entendo que eles são diferentes em homens e mulheres e que
não podemos deixar de considerar a in uência deles, da maternidade, da
procriação e da amamentação, isso é fato, mas vamos pensar que existem
outros milhões de possíveis variáveis que de nem um comportamento
como: a personalidade, fatores biológicos, hereditários, a segurança, a
autoestima, o nível de dependência e a forma como fomos criados, e não
apenas gênero. Independe se somos homens ou mulheres, mas depende,
sim, de todos os fatores acima citados.
O que quero dizer é que muitos pesquisadores (a grande maioria é
homem) defendem que homens e mulheres têm tendências diferentes nas
moléculas do amor e do desejo, que os homens têm níveis mais altos de
testosterona (o que de fato é verdade) e de outras substâncias que
estimulam o desejo e níveis baixos das substâncias que estimulam o apego
ou o amor romântico, ao contrário das mulheres.
A minha pergunta é: será que isso é verdadeiro ou é conveniente que
seja assim? Se voltarmos um pouco no tempo e lembrarmos que o mundo
era completamente dominado pelos homens, podemos entender que é
muito conveniente pensar que os homens precisam mais de sexo, que
encaram de forma diferente amor e sexo, que podem ter uma relação e não
se apegar, até porque é puro sexo, e que a atração visual é su ciente para
desencadear paixão ou tesão, etc. Por que nas mulheres é diferente?
Ouvimos sempre que as mulheres são mais maternais, estão sempre
pensando no amor, na família, nos lhos, que elas não sentem prazer pelo
prazer, só sentem prazer para procriar.
Será que realmente é assim? Aprende-se na igreja, na escola, na família,
na vida. Mulheres só sentem prazer para procriar? Não são visualmente
estimuladas? Não sentem calor, tesão e não têm energia sexual?
Tenho conversado com mulheres de diferentes idades, níveis sociais e
hierárquicos, dependentes e independentes emocional e nanceiramente
de seus parceiros, solteiras, casadas, mães, e também z uma pesquisa com
várias empresas e lojas que trabalham com artigos sexuais, produtos eróticos
ou treinamentos nessa área. Sabe o que descobri? Que muitas mulheres se
sentem estimuladas em ver homens sem roupa ou vídeos eróticos, que
muitas sentem prazer em comprar ou usar “brinquedos” eróticos, que as
mulheres sabem exatamente o que querem, do que gostam e o que lhes dá
ou não prazer.
Então pergunto... Será que é assim mesmo, ou será que agora que a
censura é menor, e as mulheres estão mais independentes e donas do seu
destino. Podem en m mostrar que também sentem tesão e não precisam se
apaixonar para ter atração, desejo ou sexo? Que podem ter uma relação
passageira tanto quanto os homens? Que podem escolher se querem ou não
casar? Que podem escolher se querem ou precisam de um parceiro, ou se
querem ou não ter lhos?
En m, não tenho a pretensão de causar polêmica e nem de criar
con itos, aliás, sou a primeira a fugir deles, mas só aproveito para lançar
aqui uma nova forma de pensar, uma nova forma de se relacionar de modo
melhor e mais inteligente. Sem tanta censura, sem tanto tabu, sem tanto
julgamento ou crítica pelo que devemos ou não fazer, ou pelo que devemos
ou não sentir. A escolha precisa ser de cada um, independentemente de
sermos homens, mulheres, bi, tri ou heterossexuais.
Escrevendo este capítulo me lembrei de um livro muito bacana que li
logo que saí da faculdade: Meninas Boazinhas Vão para o Céu, as Más Vão
à Luta, da psicóloga Ute Ehrhardt. É um livro interessante que fala do
poder feminino e de como a mulher pode enfrentar seus medos,
principalmente quando resolve “não ir para o céu”. A nal, por que a mulher
se obriga a pensar sempre nos outros e nunca nela própria? Por que teme
tanto as críticas? Por que se preocupa tanto com o que os outros vão
pensar? En m, ca aqui uma boa indicação, já que o livro revela um retrato
multifacetado da mulher moderna.
O importante é que os desejos sexuais sejam supridos com respeito e
tolerância a nós mesmos e aos outros. A escolha precisa ser de cada um,
independentemente de sermos homens, mulheres, bi, tri ou heterossexuais,
e precisa, dentro do possível, vir recheada de amor pleno, porque não há
dúvida de que o amor verdadeiro é o tesouro mais preciso que possuímos.
26. Libido - Substantivo feminino usado para descrever o desejo ou impulso sexual de um homem ou
mulher. No âmbito da psicologia, é fundamental para entender o comportamento humano, porque o
condiciona e é vista como a energia que direciona os instintos vitais.
27. https://goo.gl/3zJQ6D
Conclusões
Deixei para apresentar no nal o resultado de um dos grandes
motivadores dessa obra, aquela encantadora pesquisa baseada em histórias
reais que falei na introdução deste livro e que acompanho há muitos anos.
Trata-se da pesquisa mais longa já feita sobre a vida adulta28. Imagine
que mais de 200 pessoas foram assistidas desde sua adolescência até a
velhice para sabermos realmente o que as mantêm felizes e saudáveis
enquanto desfrutam a vida.
E, a nal, o que aprendemos? Quais são as lições extraídas das dezenas
de milhares de páginas de informação geradas sobre essas vidas?
As lições não falam sobre riqueza, fama, glamour ou sobre trabalho em
excesso. A mensagem mais clara que tiramos desse estudo de 75 anos é
esta:
Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis.
Aprendemos três grandes lições sobre relacionamentos neste estudo.
A primeira é que conexões sociais são muito boas para nós, e que a
solidão mata. As pessoas que estão mais conectadas socialmente com a
família, amigos e comunidade, são mais felizes, sicamente mais saudáveis
e vivem mais do que as pessoas que têm poucas conexões. A experiência de
solidão é tóxica.
Pessoas que são mais isoladas socialmente e desprovidas de
relacionamento são mais infelizes, sua saúde decai precocemente na meia-
idade, seus cérebros se deterioram mais cedo e vivem vidas mais curtas do
que aquelas que não são solitárias, e o fato mais triste é que mais de um em
cada cinco norte-americanos relata que está solitário. A solidão não é não
ter ninguém por perto. Nós sabemos que podemos nos sentir sós numa
multidão e também podemos nos sentir solitários num casamento, então a
nossa segunda grande lição é que não é apenas o número de amigos que
você tem, e não é se você está ou não em um relacionamento sério, mas sim
a qualidade dos seus relacionamentos mais próximos que importa. Como
dissemos no decorrer deste livro, viver no meio de con itos é ruim para
nossa saúde. Relacionamentos tóxicos são fator de risco para doença e
morte, tão elevado quanto a hipertensão arterial, o colesterol, o tabagismo,
etc. Uma pessoa tóxica é alguém que desperta o que há de pior em nós ou
que nos exaure mental e sicamente.
Casamentos muito con ituosos e sem afeto podem ser piores do que o
divórcio. Viver em meio a relações boas e reconfortantes nos protege, já que
o apoio emocional baixa o estresse biológico e mantém o organismo em
equilíbrio. Acompanhando os homens do estudo da meia-idade, para
descobrir quais se tornariam octogenários felizes e saudáveis e quais não se
tornariam, comprovaram que não eram os níveis de colesterol que os
mataria, mas a qualidade de seus relacionamentos.
As pessoas que estavam mais satisfeitas em seus relacionamentos aos
cinquenta anos eram mais saudáveis aos oitenta. Relacionamentos bons e
íntimos parecem proteger as pessoas de algumas circunstâncias adversas
inerentes ao envelhecer. Os homens e mulheres mais felizes em uma
relação relataram, aos oitenta anos, que nos dias que tinham mais dor
física, seu humor e a convivência os mantinham mais animados. Já as
pessoas que estavam em relacionamentos infelizes, nos dias que tinham dor
física, sentiam que elas eram intensi cadas pela dor emocional. A terceira
grande lição que aprendemos sobre relacionamentos e nossa saúde é que as
relações saudáveis protegem não apenas os nossos corpos, mas também o
nosso cérebro. Comprovou-se que estar em um relacionamento íntimo e
estável com outra pessoa aos oitenta anos é algo protetor. Quando as
pessoas podem contar umas com as outras, em caso de necessidade, têm
suas saúdes e suas memórias preservadas por mais tempo, e as pessoas em
relacionamentos que não podem contar umas com as outras acabam
infelizes, esquecem mais as coisas e têm um declínio de memória mais cedo.
Sabemos que mesmo os relacionamentos bons não são tranquilos o tempo
todo. Alguns dos casais octogenários estudados discutem um com o outro,
mas sentem que podem contar com o parceiro quando as coisas cam
difíceis.
Se comprovadamente já sabemos que as relações saudáveis são boas
para a saúde e bem-estar, por que continuamos ignorando a importância
das nossas relações?
Ok, somos humanos e relacionamentos são confusos e complicados. Dá
trabalho zelar pela família, pelos amigos e é um trabalho para a vida inteira,
nunca cessa, mas podemos nos tornar mais inteligentes relacionalmente e
melhorar nossa vida, nossa saúde e nossos estados de ânimo.
Podemos fazer isso em pequenas ações:
1. substitua colegas de trabalho por companheiros;
2. mantenha bons relacionamentos com a família, amigos e com a
comunidade;
3. pense no que você tem a oferecer aos seus relacionamentos, porque
as possibilidades são in nitas;
4. troque o tempo na TV ou no telefone pelo contato com pessoas;
5. reviva uma relação antiga fazendo algo novo juntos;
6. faça caminhadas com quem ama;
7. encontre amigos para bater papo;
8. contate aquela pessoa da família com quem você não fala há anos,
porque brigas de família deixam marcas terríveis nas pessoas que
guardam rancor, então perdoe;
9. dedique dois minutos do seu dia para ligar ou mandar mensagem
para alguém de que gosta muito e fale o quanto essa pessoa é
importante para você;
10. o tempo é curto, não o desperdice. Dedique-o para amar e não para
manter rancor e raiva.
En m, uma vida boa se constrói com boas relações. 29
Como falei, no início, este livro tem a humilde intenção de apresentar o
conceito de Inteligência Relacional, para que as pessoas possam se sentir
melhor em relação a si próprias e nas suas relações com os outros. A partir
das Inteligências desenvolvidas de forma brilhante, por Gardner, Goleman
e outros autores e pesquisadores que demonstram preocupação genuína
com o desenvolvimento das inteligências e das pessoas, entendo que você
poderá se tornar mais inteligente e comprometido para lutar por seus
objetivos, compreendendo seu papel no mundo e respeitando as escolhas
que faz em seus relacionamentos e o jeito de ser de cada um.
Em termos metafóricos, podemos pensar nos extremos da Inteligência
Relacional (IR), muito baixa (BIR) ou muito alta (AIR). Se nossas atitudes
podem ser “tóxicas” ou “saudáveis”, a nal, o que queremos para nós?
Nossas amizades nos inspiram ou nos desestimulam?
Os “vampiros emocionais” fazem os outros se sentirem desvalorizados e
incapazes. Já as pessoas saudáveis, que chamaremos de “anjos”, fazem com
que as pessoas se sintam valorizadas e respeitadas. Pessoas com baixa IR são
tóxicas para os demais e as pessoas com alta IR fazem com que os outros se
sintam bem em sua presença. Sabemos que todas as pessoas merecem e
precisam de respeito e admiração. Desta forma, desenvolver a Inteligência
Relacional pode reduzir con itos, melhorar a saúde, gerar colaboração,
ampliar resultados, trazer paz e tranquilidade para os relacionamentos,
melhorar a performance, a memória, a saúde e, em equipe, mobilizar todos
rumo a metas comuns.
Ainda estamos engatinhando nesta área e precisamos ser menos
analfabetos na arte de nos relacionarmos com os outros. Somos capazes de
aprender e de aprimorar a forma como absorvemos o impacto das pessoas
sobre nós, através de pequenas técnicas. Quando conhecemos alguém,
podemos ltrar esse impacto decidindo se queremos ou não nos relacionar
com essas pessoas e, também, melhorar a nossa forma de agir em relação
aos outros. Muitas vezes tentamos mudar as pessoas, mas o que precisamos
é mudar as nossas atitudes e sentimentos em relação aos outros, assim eles
mudam também. Já sabemos por estudos do funcionamento cerebral e da
neurociência, que podemos aprender a dominar nossas reações e controlar
melhor nossos impulsos. Assim podemos moldar adequadamente nossos
hábitos emocionais e ensinar nossos lhos, nossa equipe de trabalho e
pessoas próximas a controlá-los, tornando o futuro da humanidade mais
maduro para enfrentar situações desa adoras, obtendo ganhos com nossas
relações sociais.
Valorizar a nós mesmos, reforçar a nossa energia emocional para
lidarmos melhor com crises e decepções e buscar pessoas com quem
possamos desenvolver uma amizade recíproca e recompensadora é a chave
para a satisfação nos relacionamentos.
As empresas e escolas têm feito um esforço louvável para elevar o nível
de conhecimento das pessoas, mas ainda não evoluíram tanto a ponto de se
preocupar se as pessoas sabem como agir nas situações imprevisíveis
causadas pelas relações corriqueiras do dia a dia, como bullying,
humilhações e agressões verbais, mas sabemos que sair do analfabetismo
relacional fará muito bem ao futuro da humanidade.
Algumas escolas já estão adaptando suas disciplinas escolares para
abordar esses temas, ensinado as crianças como podemos nos tornar mais
empáticos, como ter mais autoconsciência e controle emocional, além de
ensinar como escutar com mais atenção os outros e suas necessidades.
Existem extraordinários projetos educacionais para preparar melhor para a
vida, e a nossa consultoria está trabalhando fortemente em um grande
projeto que ajudará pais, educadores, crianças e adolescentes a somar
mente e coração nas suas ações e decisões para sermos capazes de viver
melhor em sociedade.
Quero destacar que estamos trabalhando fortemente para que esse
trabalho seja implementado nas escolas, tanto públicas como particulares e
nosso objetivo é diminuir a evasão escolar, a redução da violência, a
melhoria nos índices de aprendizagem, o controle do uso e abuso de
drogas, melhores escolhas para o futuro com orientação de carreira, além
de uma vida digna, feliz e sustentável. Esses projetos são inovadores,
revolucionários e certamente farão mudanças avassaladoras na educação e
consequentemente na cultura do país. Quanto mais educarmos nossas
crianças neste sentido, menos precisaremos de presídios e hospitais.
A nal, como podemos melhorar nossos relacionamentos?
Lembre-se do CLASSE e de mais algumas dicas abaixo:
Consciência – procure saber o que o faz feliz, conheça a si mesmo antes
de julgar o próximo e faça contratos de con ança. Converse e seja claro no
que gosta, e no que não gosta conforme os relacionamentos vão se
estreitando.
Liberdade – respeite as pessoas e sua cultura, mas cuidado com as
pessoas que logo no primeiro contato contam a vida toda delas. Em algum
momento, elas vão querer saber tudo sobre a sua vida. Cuidado também
com “favores excessivos” ou “pedidos de ajuda”. Analise o quanto isso é
sadio para você, não passe do ponto só para agradar os outros.
Atração – fale, se exponha, acredite, con e; a comunicação é a base de
todo relacionamento.
Segurança – tudo o que ca guardado vira mágoa, ressentimento e,
consequentemente doenças como câncer, úlcera, doenças cardíacas, etc.
Preste a atenção aos sinais que as pessoas dão a você: postura corporal mais
agressiva, rigidez corporal, agitação motora ou procrastinação, corpo
excessivamente arqueado ou excesso de tristeza ou depressão. Fique atento.
As pessoas muitas vezes precisam de ajuda e tudo bem se você quiser optar
por se aproximar delas para ajudá-las, mas o importante é que faça isso de
forma consciente. Tem que ser uma “escolha”, e não uma “roubada”.
Sabedoria – preste atenção no olhar. Pessoas que têm o que esconder
quase nunca olham você nos olhos, a não ser que sejam muito tímidas ou
tenham baixa autoestima. Mostre interesse e dignidade pelas pessoas, faça
contato com os olhos, interaja, mas não invada e não se deixe invadir. As
pessoas precisam e merecem manter o seu “espaço seguro” e desrespeitá-lo
não é sinal de afeto, muitas vezes é pura invasão ou desrespeito. Cada um
tem um jeito e ele tem que ser respeitado.
Empatia – desenvolva a “escuta” e aprimore a empatia. Perceba nuances
nas conversas, “leia” nas entrelinhas o que está sendo falado. Procure
sintonizar-se com as pessoas sem necessariamente absorver a energia delas,
pois empatia é entender e respeitar a necessidade das pessoas, não
transformar a necessidade delas na sua própria.
Principalmente: nunca faça aos outros o que não gostaria que zessem
para você.
28. Ibidem, p. 17
29. Ibidem, p. 17
30. https://goo.gl/3dMBhT
31. https://goo.gl/EtFl6A - Publicado 30th July 2009 por J Francisco Saraiva de Sousa.
32. https://goo.gl/7N9eio - artigo também publicado na revista Science.