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DO MUNDO
JUQUERY,
A HISTÓRIA DE UM ASILO
o espelho do mundo
juquery, a história de um asilo
IFCH/UNICAMP - CECULT/PUBLICAÇÕES
3ª EDIÇÃO / CAMPINAS - 2022
Universidade Estadual de Campinas
Reitor: Antonio José de Almeida Meirelles
Comissão de Publicações
Coordenação Geral: Michel Nicolau Netto
Introdução.............................................................................................. 19
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CONCLUSÕES:
H
respectivos prontuários clínicos.
Essas imagens foram reproduzi-
das e compõem o Fundo “História
do Juqueri”, no Arquivo Edgard abitação do diabo, casa infernal, desterro. Lugar
Leuenroth.
de prisão, bastilha, lugar de malucos. Estabeleci-
Fonte: Foto de identificação de
mento de vingança, espelho do mundo. 2 Entre as
prontuário clínico, c. 1910. Ar-
quivo Edgard Leuenroth, Fundo muitas expressões criadas por internos do Hos-
“História do Juqueri”.
pício do Juquery para designar seu local de internamento,
2. Expressões retiradas de textos
dos pacientes do Juquery, anexa-
esta última chama particularmente a atenção – porque su-
dos aos seus registros clínicos; a
referência mais antiga é de 1901
gere um olhar sobre a instituição que ultrapassa a intenção
e a mais recente, entre as citadas,
da denúncia das condições subumanas a que ela reduz seus
de 1926. A expressão “espelho do
mundo”, da qual me vali na for- habitantes. Se esta continua sendo importante – sobretudo
mulação do título deste trabalho,
foi cunhada pela interna Francis- para os milhares de “loucos” que as enfrentam cotidiana-
ca Ivahy, que fez parte do primei-
ro grupo feminino do hospício. mente, a síntese contida naquela expressão contempla ou-
tras dimensões essenciais do hospício que constitui o tema
central deste trabalho.
“Era briluz
as lesmolisas touvas
roldavam e relviam
nos gramilvos.”
sumário
“A loucura, objeto dos meus estudos, era até
agora uma ilha perdida no oceano da razão;
* Comentário de Simão Bacamar- começo a suspeitar que é um continente.” *
E
te, personagem de “O Alienista”,
de Machado de Assis, 1882.
Imagem 5.
Grevistas na porta da fábrica. São Paulo, 1917.
Imagens 6 e 7.
As fotos datam de c. 1875 e 1910, sugerindo que pouca coisa mudou na vida
dessas mulheres com a Abolição.
Imagem 8.
Imigrante vendedor de vassouras. São Paulo, c. 1910.
Imagem 10.
Crianças brancas e mulheres negras. São Paulo, c. 1910.
Imagem 12.
Crianças pobres, brancas e negras brincando na rua. São Paulo, c. 1910.
Imagem 13.
Idoso descansa no centro da cidade. São Paulo, c. 1910.
Imagem 15.
Cortiço em São Paulo, no início do século XX.
27. Cf. Emerson Elias Mehry. Ca- detalhado Código Sanitário, e nos primeiros anos do sécu-
pitalismo e a saúde pública. A emer-
gência das práticas sanitárias no
lo XX estarão instalados o Instituto Butantã (1901) e o Ins-
Estado de São Paulo. Campinas:
tituto Pasteur (1903), para mencionar apenas as principais
Papirus, 1985, cap. II.
instituições.27
Fontes: Instituto Butantã, São
Paulo, s.d. Acervo O Estado de São Imagens 17 e 18.
Paulo. Disponível em: https://acer- Fachada e laboratório do Instituto Butantã, em São Paulo, no início do
vo.estadao.com.br/noticias/luga- século XX.
res,butantan,7436,0.htm. Acesso
em: 26/09/2021; e Laboratório do
Instituto Butantã, c. 1915. Arquivo
Histórico Instituto Butantã. Dispo-
nível em: https://www1.folha.uol.
com.br/equilibrioesaude/2021/03/
testes-de-vacina-100-nacional
-podem-comecar-em-abril-se-an-
visa-aprovar-diz-butantan.shtml.
Acesso em: 26/09/2021.
Imagem 20.
Instituto Pasteur. São Paulo, 1904.
Imagens 22 e 23.
O contraste entre os ingressantes maltrapilhos e os internos uniformizados
evidencia o projeto disciplinar da Escola Correcional XV de Novembro.
Fontes: Grupo de menores ao che-
garem à escola a fim de serem
matriculados, 1913; e Alunos con-
tramestres das oficinas, 1913. In:
Franco Vaz. Escola Premunitoria
Quinze de Novembro. Rio de Ja-
neiro,1914, pp. 72 e 83. Disponí-
veis em: https://www.scielo.br/j/
rbedu/a/KgDg9SHLsWSXxpgs-
3BLmmXb/?lang=pt. Acesso em:
26/09/2021.
Imagens 24 e 25.
Instituto Disciplinar do Tatuapé. São Paulo, c. 1905.
Imagem 28.
Fachada do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro.
sumário
* Grafitti pintado por militantes *
do Partido os Trabalhadores de
P
Franco da Rocha nas paredes da
avenida que dá acesso ao hospí-
cio, em 1982.
roduto das concepções organicistas do século XIX
e da teoria da degeneração que presidem seu nas-
cimento, a psiquiatria brasileira desenvolve-se
dentro de um marco institucional ainda pré-tera-
pêutico. Preocupada sobretudo com os demi-fous, voltada
para a questão da degeneração em sua dimensão social, esta
psiquiatria precisava, no entanto, enfrentar simultaneamen-
te uma questão anterior: a da exclusão. Em outras palavras,
dar conta das funções originárias que conduziram histori-
camente à gênese do saber psiquiátrico: com a “razão” com-
bater o desatino, com a ordem científica a desordem social,
criando o lugar da loucura e separando-a da esfera dos fenô-
menos comuns da vida cotidiana.
Imagem 32.
Internos trabalhadores, c. 1920.
do “História do Juqueri”.
Imagem 36.
Visão panorâmica do Juquery na década de 1920. Ao fundo, o edifício da
administração.
Imagem 38.
Produtos da laborterapia feminina.
Imagem 39.
Interna em pátio de pavilhão feminino, c. 1915.
Imagem 41.
Nudez no pátio masculino do Hospício Central.
Imagem 44.
Banda marcial de internos, c. 1925.
“Exame psíquico:
Evolução:
sumário
De que iracundo deus cumprindo o aresto venho?!
Nada, apenas a dor; que deseja o demente?
que quer na vida, mais que o pesado lenho
que há de arrastar, gemendo e só, eternamente?
P
Nacional de Alienados, publicado
sob o título “Fragmentos poéticos
de um degenerado epiléptico”. Ar-
chivos Brasileiros de Psychiatria,
ara os psiquiatras, certamente, é reconfortante po-
Neurologia e Sciencias Affins, I, n.
der constatar que sempre houve “alucinações sob
2, jul. 1905.
***
5. Marilena Chauí. “O discurso A psiquiatria, como, de resto, todo saber erigido em ciên-
competente”. Cultura e democra-
cia. O discurso competente e outras cia, constitui seu objeto. Vale dizer, “cria” a loucura, tece ao
falas. São Paulo: Moderna, 1981,
pp. 3 e ss. seu redor a teia do discurso competente,5 estabelece sutis
Imagem 49.
Enfermeiro e paciente no hospício, c. 1925.
O pai de Aracy L.
6. Carta anexada ao prontuário de Francisco A. L.” 6
Aracy L., 16 anos, branca, proce-
dente da capital, internada em 16
de junho de 1915. Escrita “a rogo”,
Se a equiparação da loucura às doenças comuns podia
por seu pai ser analfabeto.
Imagens 52 e 53.
Idosos diagnosticados com demência, pensionista e indigente.
Imagem 55.
Paciente negra, na escala inferior da degeneração, c. 1910.
Imagem 57.
Internos “idiotas”, no pátio do Hospício Central.
29. Prontuário. Giuseppe A. Z., Giuseppe, velho imigrante italiano, é um caso exemplar. 29
italiano, operário, 63 anos, pro-
cedente da capital, internado em De extração rural em seu país de origem – condição da maio-
27 de fevereiro de 1908.
ria dos imigrantes italianos em São Paulo – com passagem
pela agricultura cafeeira ao chegar ao Brasil, como sucedia
com quase todos, acaba se fixando na capital onde, depois
de diversas experiências de trabalho urbano, torna-se final-
mente, durante anos a fio, operário em fábrica têxtil. É nesta
condição, trabalhando ao pé dos teares, que Giuseppe come-
ça a manifestar os primeiros sinais da loucura que lhe deu
por morada o Juquery. Internado em 1908 com um claro de-
lírio persecutório, observa o alienista um ano depois que o
paciente é homem “de instinto perverso”: é sempre encon-
trado portando pedaços de pau afiados que consegue obter
Imagem 65.
Mulher casada, de 28 anos, cujo principal sintoma era a “anesthesia
sexual”, 1910.
46. Prontuário. Archângelo L., 17 da verdade em relação a sua vida pregressa, mas
anos, branco, sapateiro, proceden-
é facilmente traído por perguntas feitas com cer-
te da capital, internado em 30 de
março de 1908. to disfarce e habilidade.” 46
sumário
“Ministremo-lhes vermífugos intestinais
* Renato Kehl, médico, no livro e vermífugos espirituais.” *
D
Eugenia e Medicina Social, 1920.
Imagem 66.
O “triunfo eugênico”: Portland, Estados Unidos, 1913.
Imagem 71.
Diploma de filiação à Liga Brasileira de Higiene Mental, ainda ativa no
final dos anos 1930.
Imagem 74.
Plenário da Assembleia Constituinte de 1934.
Imagem 79.
Outro flagrante da greve geral de 1917, com seus meetings e passeatas.
Imagem 80.
Cartazes de propaganda eugênica nazista: o ariano sustenta o peso dos
indivíduos “degenerados” ou dos doentes, c. 1935.
Imagem 81.
Gente de cores, origens e classes diversas em torno do realejo na Praça da
República. São Paulo, c. 1920.
Imagem 82.
Lima Barreto no Hospital de Alienados, internado por alcoolismo, em 1914.
Imagem 83.
Espaços de diversão abertos à noite, como cassinos, bares e cabarés. São
Paulo, década de 1910.
Fontes manuscritas
Fontes iconográficas
Fontes impressas
Relatórios administrativos
Leis e decretos
Jornais
Livros e artigos
Conselhos aos pais das crianças nervosas. Opúsculo publicado pela Liga
Paulista de Higiene Mental com introdução de Pacheco e Silva. Adaptação
de publicação do American Comittee of Mental Hygiene, São Paulo, 1935.
ARTAUD, Antonin. Cartas aos poderes. Trad. Porto Alegre: Villa Martha, 1979.
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SONTAG, Susan. A doença como metáfora. Trad. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
Autora
Maria Clementina Pereira Cunha
Coordenação Editorial
Silvia Hunold Lara
Revisão
Flávia Renata Peral e Luis Dolhnikoff
Editoração Eletrônica
Igor Santiago Raimundo
Formato
1668 x 2224 px
Tipologia
fonte: Fjord
corpo: 36/66 pt
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https://www.ifch.unicamp.br/publicacoes/
Fone: 19 3521-1603
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