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AULA DE PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLÓGICA

PALAZZO, L.O. A evolução dos Direitos Humanos e suas novas dimensões. In: Psicologia,
Ética e Direitos Humanos. Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal
de Psicologia. Brasília: CFP, 1998.

A evolução dos Direitos Humanos através da história


O conceito inicial de Direitos Humanos deve ser compreendido sob dois
prismas: valorativo e jusnaturalista. Estes dois conceitos, que serio definidos
agora, foram formados com o desenrolar de fatos históricos da humanidade.
A luta histórica dos mais variados grupos sociais nas democracias
desenvolvidas constitui um conjunto de valores que conceituam os Direitos
Humanos, no plano ideal, como produto assimilado na consciência coletiva, Se
guindo esse conceito valorativo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
de 1948 propõe que sejam os Direitos Humanos um ideal comum da
humanidade para a formação de uma “consciência moral universal”.
Na concepção jusnaturalista, são direitos inerentes, inatos, naturais da pessoa
humana. Por consequência, são anteriores e se sobrepõem ao direito positivo.
Com efeito, segundo o jusnaturalismo, os Direitos Humanos devem orientar a
ordem jurídica, questionar a ordem existente ou, mais, propor uma utopia.
Em verdade, a evolução dos Direitos Humanos depende do crescimento da
consciência coletiva através do tempo.
Não obstante, a influência direta na proteção e promoção dos Direitos
Humanos no decorrer da história está consubstanciada na definição do papel
do governante, nos limites de seu poder, e principalmente, na preocupação em
estabelecer o ide al de dignidade do homem. Por isso, sua história não é linear,
mas contém grandes avanços e dramáticos retrocessos.
Marshall divide os Direitos Humanos, a partir de uma livragem histórica, em: 1)
Direitos de Primeira Geração: liberdades civis e direitos políticos; 2) Direitos de
Segunda Geração: direitos econômicos, sociais e culturais; 3) Direitos de
Terceira Geração, que são os direitos dos povos: desenvolvimento,
solidariedade e outros.
Atualmente, esta divisão é meramente didática e merece ser superada pelos
princípios fundamentais dos Direitos Hu manos: indivisibilidade,
interdependência e universalidade. Isto quer dizer que: “Todos os direitos
devem ser desenvolvidos e protegidos.
Não deve existir uma hierarquia entre os Direitos Humanos. Não existe um
direito mais importante que outro, e nem aquele que deve ser garantido
primeiro.
Na antiguidade, os gregos foram os que primeiro desenvolveram o conceito de
liberdade como expressão máxima da dignidade do homem, baseada na ideia
de igualdade. O cristianismo trouxe a ideia de absoluta identidade entre os
homens, a partir da ideia de que fomos criados “à imagem e semelhança de
Deus”. Assim, a igualdade não se limita ao uso individual de direitos.
A Europa dos séculos XII e XIII sofreu grandes mudanças históricas, gerando
um processo prolongado de tomada de consciência, à medida que a rígida
sociedade estamental cedia espaço a uma classe social incipiente, a
(burguesia). O conceito atual de Estado de Direito sustenta-se nos princípios e
garantias que emergiram dos processos revolucionários norte-americano e
francês. Os Iluministas explicitaram o conceito de Direitos Humanos, colocando
a ideia de dignidade humana de uma eclosão de ideias impulsionadas pela
razão.
Um século depois da Habeas Corpus. Act, de 1679, e da Declaração de
Direitos, de 1689, resultado da Revolução Gloriosa, da Inglaterra, as grandes
declarações de Virginia (1776) e a Francesa (1789) se convertem para a
grande arrancada, para uma nova etapa da evolução histórica dos Direitos
Humanos. Os direitos civis e políticos são incorporados à ordem jurídica.
lei e os direitos naturais e imprescritíveis dos homens são proclamados: a
liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. São
garantidas, também, a liberdade de pensamento e opinião.
As condições históricas para uma nova etapa no estado de consciência sobre
as necessidades básicas do homem foram dadas pela Revolução Industrial. As
transformações sociais e econômicas tiveram seu efeito mais dramático na
conformação de uma classe social de operários assalariados, submetida a
desumanas condições de exploração.
Karl Marx denuncia a concepção liberal dos Direitos Humanos, negando sua
universalidade e identificando-a com os interesses da classe social dominante.
As primeiras incorporações dos direitos econômicos e sociais à ordem jurídica
de um Estado ocorreram no século XX: são incluídos na Constituição Mexicana
de 1917, na da Rússia, de 1918, e na da República de Weimar, de 1919. No
Uruguai, a inclusão deu-se em 1934.
A diferença entre os direitos civis e políticos e os direitos económicos e sociais
não reside exclusivamente no conteúdo dos direitos. Os direitos civis c políticos
são garantias do indivíduo frente ao Estado, que assume o papel de protetor e
mantenedor da vigência desses direitos. Por outro lado, os direitos
econômicos, sociais e culturais exigem do Estado uma intervenção e uma
política concreta para dispor de meios que tomem efetivos esses direitos.
Os direitos dos povos surgem no contexto da Segunda Guerra Mundial,
quando, em 1945, 51 países assinam a carta fundadora das Nações Unidas e
proclamam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, O Brasil encontrava
se entre os 48 países que subscreveram a Declaração.
Viu-se que as declarações de Direitos Humanos perdem sentido quando as
nações carecem dos meios para satisfazer as necessidades mínimas de seu
povo.
Na bipolaridade da guerra fria, os dois grandes blocos políticas utilizavam
enfoques distintos no tratamento dos Direitos Humanos De um lado, o bloco
formado pelos países capitalistas ocidentais e desenvolvidos apega vá-se a
aspectos mais formais dos direitos da pessoa humana, os chamados Direitos
de Primeira Geração.
ex-bloco socialista, junto com os países do Terceiro Mundo, articulados no
movimento dos não-alinhados, dava pouca importância aos direitos individuais,
conferindo maior ênfase aos direitos sociais e coletivos e ao direito dos povos.
O auge da guerra fria, em 1968, realiza-se, em Teerã, já começam a se dar os
primeiros passos para romper a dicotomia entre os direitos civis e políticos e os
direitos econômicos, sociais e culturais, proclamando a indivisibilidade e a
interdependência entre todos eles. ‘
Essas conquistas da indivisibilidade e da interdependência dos Direitos
Humanos no plano global tiveram efeito também em nível regional.
Os povos privados das condições básicas para alcançar o seu
desenvolvimento econômico não podem atender devidamente ás necessidades
essenciais de sua população.
Deve ser destacado que esta última etapa de evolução dos Direitos Humanos.
tem produzido o aperfeiçoamento de direitos como o direito a ser informado,
frente à tradicional liberdade de informação, e o direito à intimidade e à
proteção da honra e da reputação, que é importante diante dos avanços da
informática e da ciência da informação.
Em 1986, as Nações Unidas adotam uma declaração sobre o direito ao
desenvolvimento, em que se coloca a pessoa como sujeito central desse
processo de desenvolvimento. Em que, então, a própria ideia de
desenvolvimento não se reduz ao crescimento econômico, mas também a
fatores coadjuvantes, como a erradicação da pobreza e a satisfação das
necessidades básicas do cidadão, e como a saúde, a educação, a nutrição, a
moradia, E, mais recente mente, esta ideia está vinculada também ao
desenvolvimento sustentável.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento tem elaborado
índices de desenvolvimento dos países utilizando não somente variáveis
econômicas, mas também índices de desenvolvimento humano que envolvem
variáveis como a expectativa de vida, o conhecimento derivado da educação, o
nível de vida, a liberdade política, a proteção ambiental e outras.
Resta para as próximas gerações construir um modelo de desenvolvi- mento
que obrigue os Estados a proporcionar condições para um desenvolvi- mento
humano integrado aos seus cidadãos, através da garantia dos Direitos
Humanos.
A evolução dos mecanismos de Proteção Internacional dos Direitos
Humanos:
O surgimento de um novo Direito Humano passa, necessariamente, pelo
reconhecimento formal do Estado como sendo inerente à pessoa humana. A
partir daí é irrevogavelmente integrado a esta categoria, e sua inviolabilidade
deve ser respeitada e garantida.
Os instrumentos de proteção internacional de Direitos Humanos são os
tratados, convenções, cartas e declarações de Direitos Humanos regionais ou
universais.
Os horrores do nazismo e do fascismo permitiram incorporar a ideia de
desenvolvimento que existem Direitos Humanos universais que devem ser
protegidos, não somente pelas nações, mas por um ordenamento jurídico
universal.
Dessa forma, atualmente, a proteção internacional dos Direitos Hu manos
consiste num conjunto de regras internacionais, procedimentos e instituições
elaboradas para implementar a ideia de que toda nação tem a obrigação de
respeitar os direitos de seus cidadãos e, ainda, as outras comunidades
internacionais têm o dever e o direito de vigiar o cumprimento destas
obrigações. Estão incluídas nesta proteção três vertentes: o Direito
Internacional Humanitário, o Direito dos Refugiados e os Direitos Humanos.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos traz duas inovações importantes
ao direito internacional público: a declinação do princípio de soberania dos
Estados; a incorporação do indivíduo como sujeito de direito, podendo ele
recorrer às instâncias.
As comissões têm as seguintes funções: promover os Direitos Humanos dentro
dos Estados; fazer recomendações aos mesmos; preparar informes para
apresentar às cortes ou às Nações Unidas e comitês correspondentes; receber
encaminhar denúncias para que seja feita a averiguação dos casos, em que
são utilizados procedimentos internos como visitas, relatórios e outros.
Ainda não existe um tribunal internacional para julgar os casos de vi Estado de
Direito, tornando-se, então, imprescindível a prolações de Direitos Humanos.
Esta foi mais uma proposta importante da II cidadania para que se pudesse
evoluir para o conceito de Estado de Conferência Internacional de Viena,
embora não aprovada.
A evolução dos Mecanismos de Proteção dos Direitos Humanos no
Brasil:
A Constituição Brasileira de 1934 já contemplava novos direitos num capítulo
sobre a ordem econômica e social, que prevaleceu estagnada nas próximas
constituições de 1946, 1967 e 1969.
O processo de redemocratização permitiu uma maior participação da
sociedade civil na vida política do País e garantiu a implementação dos direi da
Câmara dos Deputados, que vem sendo civis e políticos, constitucionalmente.
Além disso, os cidadãos brasileiros e debates sobre questões de Direita
também viram ser contemplados como direitos e garantias fundamentais
Parlamento; no Executivo, foi criada a S a saúde, a educação, o trabalho e
outros.
No entanto, a ideologia política do mercado liberal, que prega a desempana.
galação das relações econômicas por parte do Estado, gerou um processo,
ainda em curso, de desregulamentação …
Atualmente, os Direitos Humanos, mais que uma bandeira de luta, fazem parte
da agenda política do País.
Gabriela Aguiar Almeida: Hoje, existem órgãos de suma importância na
proteção dos Direitos Humanos, nos três poderes federais: no Judiciário, o
Ministério Público, a Procuradoria dos Direitos do Cidadão, a Comissão de
Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação dos
Juízes para Democracia;
Em 13 de maio de 1996, o Presidente Fernando Henrique Cardoso lançou o
Programa Nacional de Direitos Humanos, que contém as diretrizes básicas
para a promoção dos Direitos Humanos no Brasil, e propostas de
implementação desses direitos, que visam a sua garantia e proteção.
O conteúdo do programa se concentra basicamente nos direitos civis, embora
contenha algumas medidas que se efetivadas, podem como para a promoção
de direitos sociais.
O atual Governo tem como proposta para garantir esses direitos um plano de
estabilização da moeda. Por certas estas medidas fazem parte da lógica
excludente do nosso modelo de desenvolvimento, que prioriza uma política
económica neoliberal. em detrimento das políticas sociais.
É necessário dar um tratamento integrado dos Direitos Humanos para
democratizar o Estado e a sociedade.
Em relação aos compromissos internacionais, o País foi o terceiro a cumprir
formalmente as recomendações de Viena em institucionalizar a proteção
nacional dos Direitos Humanos, através da elaboração de um programa
Nacional.
Algumas reflexões sobre a temática global dos Direitos Humanos:
Boaventura propõe uma reflexão entre cidadania e subjetividade, enfatizando
que a subjetividade envolve as ideias de auto reflexividade e de
autorresponsabilidade e, dessa forma, a cidadania, ao consistir em direitos com
os deveres, enriquece a subjetividade e abre-lhes horizonte de autorrealização.
Por outro lado, coloca que a igualdade da cidadania colide com a diferença da
subjetividade, marca da regulação liberal onde essa igualdade é profunda
mente seletiva.
Foucault, não há tensão entre cidadania e subjetividade porque a cidadania, à
medida que consistiu na institucionalização das disciplinas, criou a
subjetividade à sua imagem e semelhança. Boaventura responde a esse
argumento afirmando que os processos históricos da cidadania e da
subjetividade são autônomos, ainda que intimamente relacionados.
Hannah Arendt, filósofa alemã, define a cidadania como o direito de ter direitos.
O direito a ter direito é conquistado quando o indivíduo tem pleno acesso à
ordem jurídica. E apenas a cidadania oferece essa condição.
Com esta análise, é questionada a tese clássica de que só o Estado viola os
Direitos Humanos. Justifica que, se está delegado ao Estado o mono pólio da
violência, só ele pode ser o responsável pelas violações, e que o argumento de
multiplicação dos agentes violadores é, muitas vezes, utilizado pelos Estados
para aparecerem mais como vítimas do que como agentes de violação.
Como afirma Cançado Trindade, as próprias fontes de violações dos Direitos
Humanos tem se diversificado.
A convergência da jurisprudência dos órgãos de supervisão internacionais de
Direitos Humanos, ao enfatizar que o direito humano à vida, como “direito
supremo do ser humano”, não pode ser entendido de modo indevidamente
restritivo, e que a proteção de todos os direitos humanos requer medidas
positivas.
James W. Nickel discute se, nestas medidas positivas, as áreas de liberdade e
igualdade são aceitáveis e oportunas nesse momento, da forma como estão
propostas nos documentos internacionais. Para isso, o autor utiliza três níveis
de análise: a ameaça, a importância e a viabilidade desses conceitos.
O conceito atual de Estado de Direito sustenta-se nos princípios e garantias
que emergiram dos processos revolucionários norte-americano e francês.

Direitos Humanos e Psicologia

CANINO, L. Direitos Humanos e Psicologia. In: Psicologia, Ética e Direitos Humanos. Comissão
Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 1998.

A Comissão dos Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia foi


criada com dois objetivos fundamentais: participar ativamente das lutas pelo
respeito e promoção dos Direitos Humanos e suscitar, entre profissionais e
estudantes de Psicologia, a necessidade de um debate sobre o papel que a
Psicologia desempenha no desenvolvimento dos Direitos Humanos. No que
concerne ao segundo objetivo, existia, entre todos os membros da Co missão,
por ocasião de sua instalação, a convicção de que, tanto na prática profissional
como na pesquisa, os psicólogos enfrentam no seu quotidiano a problemática
dos Direitos Humanos.
A noção de Direitos Humanos
Existem, basicamente, duas concepções sobre a natureza dos direitos: a
naturalista (direito natural) e culturalista (direito positivo). Na concepção
naturalista, os direitos seriam inerentes à natureza humana, portanto seriam
características inatas, essenciais desta. Os direitos existiriam por si mesmos e
seriam independentes das experiencias individuais e culturais. Diversas visões
filosóficas explicitam as formas transcendentais em que os direitos se
sustentam para Platão, eles se sustentariam nas ideias; para Kant, no Sujeito
Transcendental: para a fenomenologia, nas Essências.
Na concepção do direito positivo ou teoria culturalista, os Direitos Humanos
seriam produtos assimilados pela consciência coletiva através da história.
O que traz de novo à tona as declarações modernas dos Direitos Humanos' é a
universalidade das expectativas, é o fato de que todas as pessoas
independentemente da posição social que ocupam, possuem os mesmos
direitos e, portanto, podem esperar receber o mesmo tratamento.
Num certo sentido, pode-se pensar a universalidade dos direitos como a
grande crença utópica do período moderno, marcado pelas revoluções política
e industrial (Hobsbawn, 1982). Esta crença estaria sustentada na descoberta
da centralidade do indivíduo e não mais da comunidade religiosa.
Já o conjunto específico dos diversos Direitos Humanos não seria outra coisa
que não a definição do que seja essa natureza do home definição que se
estabelece nos conflitos sociais próprios do dinamismo história. Os direitos
expressam uma compreensão particular do que seja natureza humana,
definindo o que é bom e justo para o homem, mas não trata 30 de una
concepção possível da natureza humana
A vigência dos Direitos Humanos numa sociedade (seja qual for a sus
natureza, natural ou cultural), estará determinada tanto pela força da
consciência coletiva que se tem deles conto pela capacidade ou poder político
de inscrevê-las na ordem jurídica. A consciência coletiva e o poder de inseri-los
na ordem jurídica tem evoluído no transcurso da história.
A que se deve esta evolução Por um lado, temos visto que a consciência deles,
numa falta de consciência, está relacionada ao contexto social específico e a
posição social que a pessoa ocupa nesse contexto.
Direitos Humanos apresentam-se como universais, isto é, os direitos devem ser
entendidos a todos os membros de uma sociedade. A evolução dos direitos
tem implicado uma integração crescente dos indivíduos, apesar de suas
diferenças, Mas esta integração não e automática, não segue nenhuma lei de
aperfeiçoamento cultural.
São as diversas minorias sociais que vão entrando na arena pública para fazer
reconhecer seus direitos, direitos que estavam sendo negados pelos setores
dominantes, Pode-se, portanto, afirmar que a evolução dos Direitos Humanos e
a resultante da correlação de forças entre os processos de exclusão e os
processos de inclusão que se desenvolvem no interior das sociedades.
Existe uma relação profunda entre a Psicologia e os Direitos humanos.
11- O que é a Psicologia?
"A Psicologia é o que os psicólogos fazem" Alias, desde seu início, encontra se
n Psicologia uma grande diversidade de abordagens e práticas Por um lado
enquanto objeto de estudo, fica suas raízes tanto no desenvolvimento da
filosofia moderna (particularmente Descantes, o empirismo inglés, Kant
Husserl) como nas pesquisas psicofisiológicas sobre o sistema nervoso e a
sensações, realizadas na Alemanha (Mulier, Fechner Von Helinholtz),
Por outro lado, a utilização de noções da vida mental na compreensão e na
cura de problemas do comportamento, que caracteriza fundamentalmente a
prática da psicologia,
a Psicologia tanto permanece aberta à influência de outras ciências, como
sociologia, linguística, a cibernética etc. como adota no seu interior numerosas
perspectivas que paradigmas Kuim 19621 designa, com o termo Paradigma, o
quadro teórico geral dominante numa comunidade cientifica, num momento
determinado e num ponto específico do desenvolvimento histórico dessa
ciência.
Na origem da Ciência, principalmente no período positivista, colocava-se como
fundamental para ser objetivo, o Princípio da Neutralidade. O princípio da
neutralidade pressupõe que, de certa maneira, o pesquisador deva se colocar
numa situação distante e asséptica em relação ao objeto de estudo. O
positivismo ao confundir neutralidade com objetividade, negava tanto a
subjetividade do pesquisador como a realidade social da relação entre ele e a
"objeto de pesquisa, que não é outra coisa senão uma outra subjetividade
Popper (1973), pressupõe paixão do pesquisador e, portanto, é descabido
pensar-se em um cientista neutro.
O mesmo autor afirma que "a objetividade da Ciência não é uma matéria dos
cientistas individuais, mas o resultado social de suas críticas reciprocas"
(Popper, op cit. p.23). Neste sentido, a objetividade da ciência depende de
circunstâncias sociais e política que tornam possível a intersubjetividade crítica.
avanço da Psicologia caracteriza-se dignos pela acúmulo de dados e pela
reformulação das concepções sobre o homem e a sociedade, subjacente
cultural em que se situa o pesquisador aos diversos projetos científicos Pode-
se concluir, afirmando que a Cien e um empreendimento humano e, conto tal.
É evidente que as diversas teorias e práticas psicológicas cooperam
diferentemente construção da realidade social e, portanto, produzem
consequências difere ciadas na construção da cidadania e no destino da
humanidade. Mas, o outro lado, acreditamos que não exista nenhum Deus
encarnado em teor método ou prática psicológica que possa garantir a priori a
veracidade ou supremacia de una teoria ou de uma prática.
Estas diversas perspectivas na Psicologia têm consequências sociais
importantes e está intimamente ligado ao desenvolvimento dos Direitos
Humanos. Por sua natureza, todo o conjunto de conhecimentos e práticas da
Psicologia refere-se, de alguma maneira, à concepção do que é o Indivíduo e a
Sociedade (Camino, 1996 b) e, portanto, relacionam-se também com o
processo de construção da consciência coletiva dos direitos da humanidade.
III- Psicologia e Direitos Humanos
Vamos apresentando dois níveis de análises possíveis: o nível individual, o dos
psicólogos-cidadãos, submetidos à sua consciência moral, e o nível
institucional, o da Psicologia enquanto instituição submetida ao julgamento da
história.
a. Psicólogos, Direitos Humanas e Responsabilidade Moral

o nível das responsabilidades individuais a resposta à pergunta central seria


que o respeito pelos Direitos Humanos, a luta pela expansão desses direitos,
refere-se a um problema da consciência individual de cada psicólogo. Sem
dúvida, cada um de nós, enquanto cidadão, responsável pelo conjunto de lutas
definidas anteriormente. É evidente que enquanto cidadãos-psicólogos, sumos
responsáveis pelo respeito ao Direitos Humanos no nosso próprio campo de
atuação Esta responsabilidade moral e coloca-se, portanto, ao nível do
indivíduo, embora tenha uma relação, estreita com a ética, que, por sua vez,
situa-se no nível do social.
Ética, Moral e Lei. A Ética como substantivo refere-se à ciência que pretende
estabelecer as regras concretas conduta humana, mas como adjetivo é uma
qualidade que tem relação com moral, esta última entendida como
determinação do ideal da conduta humana. O problema do que fazer em cada
situação concreta é um problema pratico-moral e não teórico-ético.
cabe à sociedade criar um c junto de normas ou leis que regulamentem a
relação entre direitos individuais, como o direito à vida, à saúde, e direitos
sociais, como os da propriedade privada, do livre comercio etc.
Nesse sentido, Lei e Moral não se confundem.
A possível existência de uma situação legal não impediria a atribuição de
responsabilidade moral um profissional da saúde que tivesse colaborado num
processo de tortura, por exemplo.
Assim, decidir e agir numa situação concreta é um problema prático-moral, mas
decidir o modo pelo qual a responsabilidade e a liberdade do indivíduo se
relacionam com o determinismo ao qual os atos humanos estão sujeitos, e com
a liberdade e os direitos dos outros, e realmente um problema da competência
da Ética e do Direito (Vásquez, 1987). Entretanto, não se deve pensar a Ética
como algo constituído para sempre. A ética, segundo Vásquez (Op.ci),
desenvolve-se a partir da existência de morais concretas, históricas. Isto e,
toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo e nas diversas
culturas.
não se pretende propor nenhum relativismo cultural. Os julgamentos morais
dos indivíduos não seriam de modo alguns relativos.
Temo-nos referido à ética como o conjunto de regras que organizariam a
conduta humana,
Código de ética dos Psicólogos refere-se à responsabilidade destes no que
concerne aos direitos dos outros, particularmente de seus clientes.
b- Psicologia, Direitos Humanos e Responsabilidade Social
o nível da Psicologia como instituição. refere-se, em última análise, aos
interesses grupais. As pessoas vivem essencialmente em interação umas com
as outras e nessas interações, estabelecem-se relações de identidade e de
cooperação ou diferenciação entre os diversos grupos (Camino, 1996).
neste segundo nível de análise é que nossa profissão se exerce
fundamentalmente num mundo de interesses grupais.
o jogo das identidades sociais faz com que grupos de psicólogos identificados
com determinados setores sociais, desenvolvam concepções práticas que
colaboram no desenvolvimento dos direitos desses grupos
Sampson (1993. p. 1219) afirma que os desafios à análise psicológica da
natureza humana surgem igualmente de fatos externos à Psicologia (como
descobertas tecnológicas, mudanças socioeconômicas ameaças à corporação
etc., e de fatos da dinâmica interna, constituído pelos conflitos próprios a
diversidade de identidades sociais existentes na instituição.
tanto fontes externas à psicologia como fontes internas determinam a dinâmica
do desenvolvimento da Psicologia e, portanto, influenciam sua participação na
construção dos Direitos Humanos. Assim, a primeira hipótese coloca em
debate o quadro cultural e político, em que se originou a Psicologia As
hipóteses restantes referem-se aos fatores internos que determinam
parcialmente a participação da Psicologia do processo de construção dos
Direitos Humanos.
Hipótese N°1
afirma-se concretamente que a Psicologia se original tanto da crença na razão
humana, típica do Iluminismo, como na crença individualismo, aspecto central
do pensamento liberal.
porque quem efetua um ato consciência "sabe" que é sujeito desse ato. A
descoberta da força fundar do cogito e, como consequência, a superioridade
atribuída à consciência individual sobre as opiniões do mundo externo, pode
ser considerada como semente da Psicologia.
várias características do pensamento liberal influenciaram também o
desenvolvimento da Psicologia. A partir das ideias fundamentais de Locke
(1632-1704), o Liberalismo tomou várias formas,
liberalismo se apresenta inicialmente, como uma filosofia do progresso em
todos os níveis: político, técnico, intelectual, moral etc. progresso que
concerniria ao "bem-estar" global dos indivíduos
Finalmente, o Liberalismo e uma corrente de pensamento que coloca como
valor supremo a "Liberdade ou as "Liberdades",
Pode-se afirmar que a Psicologia nasce e se desenvolve impregnada do
pensamento liberal, com os diversos matizes que esse pensamento possui
Hipótese N° 2
desenvolvem-se diversas concepções de homem e de mulher e diversas
práticas destinadas a melhorar suas condições de vida psíquica, concepções e
práticas que fazem parte essencial do processo histórica de construção da
consciência coletiva sobre os direitos da humanidade.
a Psicologia por sua própria natureza, tem desempenhado e continua a
desempenhar um papel importante na construção histórica dos Direitos
Humanos. Para Gergen (1992) p. 10), os psicólogos deveriam estar
profundamente sensibilizados pelas implicações de suas formulações teóricas
e práticas na vida da sociedade, pois definir a natureza do funcionamento do
indivíduo, no quadro de nossa profissão significa informar ao público o que e
bom para o indivíduo e quais estratégias devem ser empregadas para evitar o
mau funcionamento dos indivíduos.
Testar esta hipótese pressuporia analisar a maneira pela qual a Psicologia vem
desempenhando seu papel na definição da natureza do homem. base da
construção de seus direitos.
apresentar as diversas perspectivas e compará-las rapidamente, sem analisar
o contexto em que essas teorias nascem o papel que elas desempenham na
sociedade.
Camino (1989) analisa o processo pelo qual os movimentos sociais foram se
constituindo objeto de estudo Psicologia.
Portanto, para entender uma ação coletiva e a teoria que se elabora sobre ela,
deve-se conhecer os eventos socioeconômicos e culturais que antecederam a
ação d letiva em estudo.
Hipótese N° 3
Dada a diversidade de concepções e práticas no interior do campo da
Psicologia, o papel desempenhado por esta na construção dos Direitos
Humanos e, em certo sentido, ambíguo contraditório.
influência que a Psicologia exerce no desenvolvimento de nossas concepções
sobre o homem. A hipótese implicitamente pergunta se o papel histórico da
Psicologia na evolução dos Direitos Humanos tem sido benéfico ou negativo
para a sociedade.
Em cada uma das formulações psicológicas sobre o homem influências, tanto
positivas como negativas, no processo social de construção do Direitos
Humanos. Mas como avaliar o tipo de influência? O problema fundamental está
no fato de que a avaliação do caráter positivo ou negativo dessas influências
dependerá da perspectiva do próprio avaliador. Existirá sempre uma certa
ambiguidade na avaliação que se faça do papel da Psicologia na construção
dos Direitos Humanos.
Hipótese N4
A ambiguidade desta relação e de sua possível avaliação decorre i fato de que
a Psicologia, enquanto instituição faz parte da arena onde desenvolvem as
lutas sociais.
considera a Psicologia como um campo de lutas onde se processam tanto
avanços como recuos, no que concerne à construção dos Direitos Humanos.
No Brasil, o crescimento desse posicionamento crítico levou a um forte
desenvolvimento da Psicologia Comunitária e a proposta de uma Psicologia
Social voltada para os interesses das classes mais desfavorecidas (Lane,
1981; Lane & Codo, 1983).

Hipótese N° 5
Na psicologia suas práticas cientificas e profissionais, como em poucas outras
ciências, relacionam-se com os diversos movimentos intelectuais, sociais e
políticos da sociedade.
Pareceria que na hipótese anterior estivéssemos afirmando que todos os
psicólogos são militantes engajados e trabalham suas teorias na perspectiva de
posições políticas explicitas. Nada estaria mais longe da realidade que tal
afirmação. O que estamos querendo afirmar é que se pode entender tanto o
pensamento humano como o pensamento científico (que é uma parte
constitutiva daquele) em termos de grandes debates vinculados aos debates
ideológicas (Billig, 1991).
A Psicologia que trata de alguma maneira da definição do que é o ser humano,
sua evolução caracteriza-se menos pelo acúmulo de dados a partir de um
paradigma e mais pelo confronto de formulação das concepções sobre o
homem e sobre a sociedade subjacentes aos diversos projetos científicos
(Billig, 1982)
A relação mais estreita entre Psicologia e Direitos Humanos dá-se no campo
dos estudos das identidades dos diversos grupos sociais. Pode-se afirmar que
a Psicologia participa claramente nos processos de exclusão/inclusão que se
desenvolvem no interior das sociedades, a partir da maneira de definir as
diferenças sociais e culturais: diferenças como as de gênero, raça, normalidade
etc.
Observações desse tipo mostram a dificuldade que a humanidade tem como
elaborar concepções de todos os setores sociais, que garantam realmente a
igualdade e a universalidade dos Direitos Humanos.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

OLIVEIRA, F. O. de; WERBA, G.C. Representação Social. In: Psicologia Social


Contemporânea. Marlene Neves Strey (org.). 10ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

20 Bimestre

OS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI – COMO ANDA A


EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO
MUNICÍPIO CASTELO-ES?
ESQUEMA SUAS

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