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Copyright ©2022 Jéssica Macedo

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reprodução de qualquer parte desta obra - física ou eletrônica -, sem
autorização prévia do autor. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Projeto Gráfico de Capa e Miolo


Jéssica Macedo
Copydesk
Patty Trigo
Revisão
Sônia Carvalho

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos, e locais


que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum período da
história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer semelhança com a
realidade terá sido mera coincidência.
Sumário
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Capítulo quarenta e quatro
Capítulo quarenta e cinco
Capítulo quarenta e seis
Capítulo quarenta e sete
Capítulo quarenta e oito
Capítulo quarenta e nove
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Sinopse

Ettore Bellucci é a mente mais brilhante por trás da temida máfia


italiana. Ele nasceu na família que lidera a organização e desde novo
aprendeu a cuidar dos negócios, tornando-os o seu principal foco, pelo qual
estava disposto a matar e morrer.

Nedja Al-Kudsi era uma jovem ingênua que viu seu mundo ruir quando
o pai foi assassinado. Tudo que amava e a pouca liberdade que tinha foram
arrancados dela de forma cruel e por pouco ela não perdeu a própria vida,
entretanto, continuar escapando dos monstros que queriam matá-la seria um
desafio que não poderia cumprir sozinha.

Ettore tinha um objetivo: comprar tecnologia no Oriente Médio e


retornar para casa. Era evidente que ele não deveria ser notado, tampouco se
envolver em qualquer conflito local, mas quando a moça foi atacada diante
dele o seu instinto foi protegê-la. Era um homem esperto, sabia que tinha de
se livrar daquela confusão o quanto antes, mas Nedja precisava dele e o único
jeito de tirá-la daquele local em segurança era casando-se com ela.

O matrimônio falso seria apenas o início de uma missão muito mais


desafiadora.
ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de
dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada
de personagens.

A opinião política e religiosa da autora não se expressa nesse livro.

A autora não apoia nem concorda com o comportamento duvidoso dos


personagens.

Essa é uma obra de ficção e não retrata a realidade da máfia italiana.

Apesar de ter a máfia como plano de fundo, esse não é um romance


dark, se você espera cenas de abuso sexual, esse livro não corresponderá às
suas expectativas.
Para a minha querida leitora Nedja
e para a minha querida Rosimeire, mãezinha do coração e mãe dos meus
mafiosos.
São casais diferentes, mas recomendo que leia antes

A virgem que desejo (Herdeiros da máfia Livro 1)

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Sinopse:

Ao se tornar o chefe da máfia russa, Mikhail Orlov aprendeu que para ter o
que queria era necessário sujar as suas mãos de sangue. Como rei, quer ter
tudo o que almeja, inclusive uma mulher proibida, que viu em uma missão há
quatro anos, e não a tira de seus pensamentos.

Pietra é filha de Marco Bellucci, e a princesa dos italianos. Ela cresceu em


uma redoma para ser protegida dos inimigos do pai e aprendeu que não havia
nada mais importante do que a família. Porém, uma visão do passado está
prestes a retornar e colocá-la numa linha tênue entre o desejo e a razão.
Ela conhece as regras. Seu pai é quem escolherá o seu marido e precisa se
manter casta, mas o coração nos faz cometer loucuras. Russos e italianos são
inimigos. Esse romance está fadado à tragédia. Mikhail não se importa com
mais ninguém e passará por cima de qualquer um para ter o que deseja.
A virgem sentenciada a mim (Herdeiros da máfia Livro 2)

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Sinopse:

Steven Lansky é o capo de Nova York, chefe da máfia italiana nos Estados
Unidos. Ele assumiu o legado do pai e descobriu que para ser fiel à máfia
precisa de sacrifícios maiores do que matar ou morrer. Ele concordou com
uma união de conveniência com a princesa dos italianos, um casamento que
fortaleceria à sua família. Porém, a noiva escolheu outro, que feriu o seu ego
e o deixou irritado com os Bellucci.

Manuela é filha de Theo Bellucci, o consigliere da máfia italiana. Ela


chegou a acreditar que não seria arrastada para algum casamento arranjado,
mas quando a sua prima se casou com o chefe da máfia russa, restou-lhe a
tarefa de manter a aliança com os americanos.
Steven e Manuela não queriam esse casamento, mas foram obrigados a se
unirem em prol das duas famílias. Um casal cão e gato que se odeia. Na vida
conjugal se mostraram inimigos declarados, mas estão sentenciados a
descobrirem uma forma de se amarem ou acabarão destruindo um ao outro.
A virgem que me pertence (Herdeiros da máfia Livro 3)

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Sinopse:

Luca Mancini é o capo de Palermo, chefe da Sicília, o berço da máfia


italiana. Quando ainda era um menino, a sua vida foi marcada pelo
assassinato do seu pai e ele aprendeu muito rápido que a máfia exige
sacrifícios. Para se manter no poder e controlar uma rixa com Roma,
concordou com um casamento arranjado que selaria o acordo e traria paz.
Perla é filha de Marco Bellucci, o chefe da máfia italiana, e sempre soube
que em algum momento o pai escolheria um marido para ela. Só não previa
que o desafio pudesse ser ainda maior do que imaginava. Cresceu entre
monstros, mas não estava pronta para um ainda mais assustador.
Muito sangue foi derramado entre sicilianos e romanos na disputa pelo
poder da Itália e a união do casal não foi bem-vista por todos. Luca precisava
estar pronto para assumir a aliança e proteger Perla a qualquer custo,
principalmente quando um bebê está a caminho.
Leiloada para o mafioso (Herdeiros da máfia Livro 4)

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Sinopse:

Thiago Bellucci é herdeiro da família mais poderosa da Itália e desde


garoto aprendeu a derramar sangue.Ele se tornou assassino da máfia, cruel,
impiedoso e temido pelos inimigos. Não havia motivos para que um homem
como ele se envolvesse com mulher alguma. Sem a obrigação de ter
herdeiros, todas eram apenas passatempos.

Juliana Kouris era uma garota simples, que nasceu em uma ilha de
pescadores. Com uma vida pacata, nunca imaginou que seus caminhos se
cruzariam com o de um mafioso. Ela não conhecia esse mundo perigoso, mas
uma decisão errada do seu pai culminou no seu sequestro e fez com que
descobrisse o lado mais cruel dos seres humanos.
Thiago tinha uma missão: entrar, matar aqueles que haviam desafiado a
sua família e sair sem ser notado, mas ele se viu num antro de pecado onde
mulheres eram vendidas para quem pudesse pagar mais. Ele não é uma alma
boa e não estava ali para fazer qualquer ato de caridade. Quando o seu
caminho se cruzou com o da jovem inocente, ela era só uma ferramenta para
os seus planos, mas seria o início do seu caos pessoal.
Prólogo

Dias antes...

Perder a minha mãe havia sido muito difícil para mim, ela era como
um raio de sol em nossas vidas, uma musa para mim e um alento para o meu
pai. Entretanto, mesmo depois que ela se foi, tínhamos um ao outro. Meu pai
era o líder de Mamlaka e o meu maior exemplo. Indo na contramão daqueles
que vieram antes dele, sempre permitiu que eu vivesse em um mundo melhor.

Ele me inspirava e, mesmo eu tendo nascido mulher, me permitiu


acesso à informação, a todo ensino disponível e principalmente às minhas
próprias escolhas.

Não havia nada no mundo que eu amasse mais do que o meu querido
pai, tornando aquele dia o mais difícil da minha vida em diversos aspectos.

Naquela tarde, eu e a minha prima Regina, estávamos em uma sala do


palácio. Como de costume, eu lhe transmitia parte do que eu havia aprendido
com as minhas aulas e experiências fora daquele palácio, uma vez que o pai
dela não permitia que saísse como eu. Ao contrário do irmão, meu tio
Youssef era um homem retrógrado que acreditava que as mulheres não
tinham outra serventia que não fosse cuidar do marido e dos filhos.

— Muito bem! Já consegue estabelecer uma conversa em inglês. Isso é


muito bom, Regina — parabenizei a minha prima, que abriu um sorriso sem
jeito. — O que foi?
— Como se eu fosse conversar com alguém em inglês algum dia.

— Você vai. — Mudei de idioma fazendo com que ela risse. —


Comigo. Além disso, pode ser que não fique presa aqui para sempre.

— Considerando como o meu pai é, acho um pouco difícil.

Inclinei-me na direção dela e sussurrei:

— Seu pai é um grande pé no saco, mas um dia pode se livrar dele.

Ela me deu um sorriso, mas não estendeu o assunto. Para a Regina era
diferente e complicado, enquanto o meu pai havia prometido que eu me
casaria com o homem que desejasse, o meu tio não agiria da mesma forma
com ela. Só que enquanto estivéssemos ali, eu poderia ajudá-la da forma que
conseguia.

Ao menos com a Regina, já que as outras irmãs dela eram mulheres


que agiam diferentes e até pensavam como o pai. O que para mim era um
grande absurdo, mas o meu vivia me ensinando o quanto era importante
respeitar as pessoas e a maneira que elas escolhiam viver, ainda que isso não
me agradasse.

— Aquele livro — Regina estendeu a mão, apontando para um que


estava na pilha da mesa. — Posso ficar com ele para ler?

— Sim, mas é claro.

— Obrigada.

Quando peguei o exemplar para entregar à minha prima, nós ouvimos


um estrondo que pareceu ecoar por todas as paredes do palácio. Nada tremeu
de fato, mas pressenti como se o meu mundo houvesse sido abalado, mas só
levou alguns segundos para que eu percebesse que de fato isso havia
acontecido.

— O que foi isso? — Regina mexeu a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não sei. — Empurrei a cadeira, levantando-me. — Vamos ver.

Saí do cômodo e a minha prima veio atrás de mim.

Eu não poderia prever o que havia acontecido até chegar aos pés da
escada e ver o meu pai caído.

— Baba!

Corri o mais rápido que minhas pernas suportaram e ajoelhei-me ao


lado dele. Imaginei que o meu pai pudesse ter apenas caído. Ele era tudo para
mim, a pessoa que eu mais amava no mundo e a possibilidade de perdê-lo era
tão terrível que eu nem conseguia cogitar. Já não tinha a minha mãe, não
poderia ficar sem ele também.

— Baba, responde! — Segurei-o pelos ombros e o puxei, fazendo-o se


virar para mim e foi no momento em que vi o sangue que escorria da sua
têmpora.

Ele havia batido com a cabeça, estava desacordado, mas eu ainda não
pensava no pior, seu corpo quente me fazia pensar que ele estava apenas
desacordado e iria abrir os olhos em breve.

— Socorro! — gritei com toda a força dos meus pulmões. — Preciso


de ajuda aqui.
Um médico precisava ver o meu pai o mais rápido possível.

Regina estava observando de longe, com os olhos cheios de lágrimas e


de repente outros homens e empregados do palácio apareceram. Até que por
fim eu vi o meu tio no alto da escada.

— Que tragédia. — Seu tom estava tão frio que nem parecia que estava
se referindo ao irmão mais velho.

— Meu pai precisa de um médico.

— Você não vê? — Desceu lentamente os degraus enquanto indicava o


ferimento que parecia não parar de jorrar sangue. — Ele já está morto.

— Não! — Abracei o meu pai com mais força na esperança de que as


minhas lágrimas e o meu calor fizessem com que ele voltasse para mim.

— Levem o meu irmão para ser preparado — ordenou o meu tio e os


homens tentaram tirá-lo de mim.

— Parem!

— Solte-o, Nedja!

Levantei a cabeça e voltei a fitar o meu tio quando o meu pai foi
arrancado dos meus braços, minha dor era tão profunda que levou um tempo
para que eu conseguisse raciocinar normalmente.

— Foi você! — Corri na direção do meu tio, mas antes que eu o


atingisse, meus primos me seguraram. — Você matou o meu pai.

— Essa é uma acusação muito grave, Nedja.


— Você o empurrou da escada.

Observei melhor o local e a forma como o meu pai havia caído. Ele era
um homem forte e estava em plenas faculdades mentais e saúde, não havia
como ter caído daquele jeito de uma escada que subia e descia todos os dias.

— Me soltem! — Esperneei, sacudindo braços e pernas. — Seu


assassino!

— Cala a boca! — Meu tio acertou o meu rosto com um tapa tão forte
que me deixou tonta. — Não sabe do que está falando.

— Você nunca concordou com a forma como o meu pai governava e


com a morte dele herda tudo porque meu pai não teve filhos homens.

— Seu pai era um fraco.

— Você é um fraco!

— Ele sempre te deu liberdades demais e deixou que você fosse muito
rebelde para uma mulher, mas agora que está sob a minha responsabilidade
tudo será diferente.

— Isso não vai ficar assim! — rosnei me sacudindo.

— É melhor ser mais obediente, Nedja.

— Nunca vou obedecer a você, assassino.

Meu tio bufou, demonstrando o quanto estava irritado com os meus


gritos para que todos pudessem ouvir e fez um gesto para os filhos que me
seguravam.
— Prendam-na nas celas para que possa pensar um pouco sobre toda
essa rebeldia.

— Você não pode fazer isso comigo!

— Sim, eu posso.

— Baba! — gritei para o meu pai inutilmente enquanto me debatia ao


ser arrastada.

O suor escorria do meu rosto e eu me sentia cada vez mais fraca


naquela luta inútil para me libertar dos meus primos mais fortes do que eu.

Eu sempre soube que o meu tio era um monstro, mas nunca pensei que
ele fosse capaz de matar o próprio irmão.

A vida que o meu pai havia me dado de liberdade e escolhas estava


prestes a acabar com a morte dele e eu descobriria o quanto o mundo poderia
ser cruel com as mulheres.
Capítulo um

Eu sabia que o meu tio iria me matar. Era só uma questão de tempo
para que ele tomasse aquela decisão e me enviasse para junto do meu pai.
Para ele eu era só uma mulher, que não tinha voz e deveria ser submetida aos
desejos do homem que tinha direito por mim, mas eu não iria aceitar que ele
agisse dessa forma.

O que o Yussef via como rebeldia poderia acabar sendo a minha


sentença, mas há dias presa naquela cela imunda, com poeiras e ratos, estava
começando a acolher o meu destino. Eu não aceitaria que ele me subjugasse e
daria um jeito de buscar vingança pela morte do meu pai. Meu tio sabia disso.
Se havia matado o próprio irmão, o que seria de uma sobrinha enxerida.

Esfreguei os meus lábios um no outro. Eles estavam tão secos e ásperos


que chegavam a machucar.

Era como se eu houvesse sido abandonada ali e não se preocupavam


em me dar água ou comida, de certa forma era um bom jeito de me matar aos
poucos, de uma forma dolorosa. Ainda que eu estivesse em uma espécie de
porão, o calor daquela cova ia me cozinhando aos poucos.

Já havia perdido completamente a noção do tempo, só sentia que ele


estava passando à medida que a minha sede aumentava.

Esporadicamente alguém aparecia, me dava uma porção dura de pães e


uma água de aparência estranha, como se estivesse cheia de areia. Imaginei
que tudo pudesse estar envenenado, mas depois pensei que o Youssef
escolheria uma morte menos limpa. Talvez ele quisesse me usar de exemplo
para que as próprias filhas não se rebelassem.

— Regina... — sussurrei pensando na minha prima que era mais


próxima a mim.

Escorei-me na grade, refletindo sobre o que poderia ter acontecido com


ela depois que eu fora posta naquele local.

Minha prima era uma mulher que merecia mais do que aquele pai
terrível, mas ao contrário de mim, ela teve uma criação mais restritiva, sabia
ser obediente e com sorte escaparia de qualquer punição. Eu temia por ela,
mas no momento certamente era a minha vida que mais corria riscos.

Ouvi um barulho, alguém se aproximando a passos lentos e me remexi,


recuando com medo de que algo acontecesse comigo. Por mais furiosa e triste
que eu estivesse com a morte do meu pai, havia um instinto de sobrevivência
básico que não queria que eu me juntasse a ele assim tão rápido.

— Nedja...

Surpreendi-me quando ouvi a voz da minha prima, era quase como se


fosse uma miragem.

— Regina, é você? — Minha voz estava fraca e escapou pelos meus


lábios em um sussurro.

— Sim. — Ela correu na minha direção e se chocou com grades


espessas que nos separavam.

Movi a minha mão e ela estendeu a sua, permitindo que os nossos


dedos se tocassem. Ao mesmo tempo em que eu estava preocupada por ela
estar ali, foi reconfortante ver a minha prima após dias.

—Nedja... — Sussurrou o meu nome novamente, como o ambiente


estava escuro, era a melhor forma de nos comunicarmos.

— Estou tão exausta — confessei, sentindo o meu corpo esmorecer.

— Já está há dias aqui.

— Onde está o seu pai? — questionei pensando no que poderia


acontecer se a encontrassem ali conversando comigo.

— Eu não sei.

— Ele... Ele...

— Sinto muito pelo que aconteceu. — Ela tentou apertar os meus


dedos, demonstrando que de certa forma estava ao meu lado.

— Não sei por que ele ainda não me matou também.

— Meu pai não vai fazer isso.

Ela não poderia fazer tal afirmação e eu acreditava que, por mais que
estivesse se referindo ao pai dela, no fundo a minha prima sabia.

— É só uma questão de tempo, Regina.

— Ele não pode fazer isso com você.

— Olhe só o que já fez... — Evidenciei a situação e a minha prima não


conseguiu falar nada. Nem poderia exigir isso dela, por pior que fosse a
minha situação, não era sua culpa. Sem dúvidas ela era apenas mais uma
vítima em tudo aquilo.

O silêncio se estabeleceu por longos minutos. Conseguia sentir a


respiração difícil dela e a minha também estava assim, talvez fosse toda a
areia e poeira do ambiente, ou só o nosso sofrimento.

— Eu preciso sair daqui. — Dei fim a pausa pensando que o único jeito
de sobreviver e talvez vingar o que fora feito ao meu pai era escapando.

— Como?

— Deixam a chave em um prego perto da porta, pode pegá-la e


entregar para mim?

A minha prima voltou a ficar em silêncio, ponderando um pouco. Eu


estava pedindo que se arriscasse por mim e não tinha certeza se deveria fazer
aquilo, mas era a única solução que passava pela minha cabeça.

— Eu posso, mas... — Ela deu outra pausa. Estava com medo e eu


também, mas tentei não demonstrar, porque a situação só ficaria ainda pior.
— Nedja, tem soldados em todo lugar o que acha que o meu pai irá fazer
quando descobrir que você saiu da cela?

Olhei de um lado para o outro e vi que a luz do sol que entrava pela
janela havia desaparecido. Ele se havia posto e logo o clima se tornaria mais
ameno, transformando-se na minha única chance.

— Vou aproveitar que está à noite, tentar passar por eles e seguir para
o deserto.

— Mas você pode morrer lá. — Ela ficou em choque.


O deserto era traiçoeiro e perigoso, poderia me perder e morrer por
desidratação assim que o novo dia se iniciasse, entretanto, era a única
alternativa que eu conseguia enxergar.

— Eu prefiro tentar a passar o restante dos meus dias presa aqui. Se é


que o seu pai não vai se livrar de mim antes.

Ela ponderou novamente, ficou em silêncio por outro longo momento.


Das pessoas que ainda restavam vivas naquele palácio, talvez ela fosse a
única que de fato se importava comigo.

— O sheik Hassan Khan Al-Abadi de Sahra era um amigo do meu pai.


— Pensei em um argumento que poderia ajudar a convencê-la e dar a mim
mesma mais esperança. — Se eu chegar até o Emirado dele posso conseguir
asilo até pensar no que devo fazer.

— Mas você sabe como chegar lá?

— Eu preciso tentar.

— Nedja.

— Não quero morrer nessa cela, Regina. Por favor, me ajude.

Sabia que estava pedindo para ela algo difícil. Se o seu pai descobrisse
que a minha prima tinha me auxiliado na fuga, provavelmente a puniria, mas
eu esperava que como pai ele não fosse matá-la, mas quanto a mim...

— Vou pegar a chave. — Ela acabou se decidindo.

— Muito obrigada. — Foi um alívio e também uma pressão maior no


meu peito.
Estava colocando-a em risco também, então não poderia falhar,
precisava fugir daquele lugar antes que o Youssef ou qualquer outra pessoa
notasse aquele meu plano.

— Eu também trouxe pão e água. — Passou pela grade e entregou-o


para mim. — Não deve ajudar por muito tempo, mas espero que sirva de
alguma coisa.

— Não tenho como agradecer. — Meus olhos ficaram marejados com


a emoção e a fome sendo descarregadas em mim tudo de uma única vez.

Tomei um pouco da água e comi um pedaço do pão. Realmente era


pouco, então eu precisava economizar para que fosse o suficiente para a
minha travessia pelo deserto.

Dubai ficava no meio do caminho entre Mamlaka e Sahra, se eu


conseguisse chegar lá antes do sol nascer havia chances de que eu realmente
conseguisse asilo.

O sheik Hassan era um homem como o meu pai, apesar de fiel às


tradições e aos mandamentos, via um mundo onde homens e mulheres tinham
os mesmos direitos perante Allah e onde o respeito deveria prevalecer acima
de tudo. Bem diferente de como o meu tio Youssef pensava.

O Emir de Sahra com certeza me protegeria quando soubesse o que


havia acontecido com o meu pai, mas para isso eu precisava chegar até ele, o
que não seria nada fácil.

— Só quero que você sobreviva. — A voz da Regina fez com que eu


voltasse a olhar para ela.
Ela se levantou e eu ouvi o barulho das chaves, e logo as trouxe para
mim. Se não fosse pela minha prima eu certamente não sobreviveria.

— Muito obrigada, Regina.

— Queria poder fazer mais.

— Está fazendo o que pode. — mais do que deveria, completei em


pensamentos suplicando em uma oração silenciosa para que nada acontecesse
com ela por estar me ajudando daquela forma. — Agora vá embora.

— Mas...

— Quando eu sair é melhor que você não esteja aqui.

— E se você encontrar algum soldado?

— Ele só não pode pensar que você está me ajudando a fugir.

— Nedja... — choramingou, receosa.

— Vai ficar tudo bem — eu prometi, numa tentativa desesperada de


acreditar em palavras vazias e sem fundamento.

Tentei empurrá-la para longe da grade, era melhor que Regina fosse
logo, quanto mais tempo passasse ali, maiores eram as chances de que
alguém a visse.

Fiquei quieta por um tempo, dando o período que julguei necessário


para que ela voltasse ao seu quarto. Enquanto isso, segurava a sacola com os
pães em uma mão e a garrafa com água em outra.

Esperei...
Prestei atenção em todos os sons...

Então eu me levantei e abri a cela quando julguei que fosse seguro


porque não estava escutando nenhum barulho. Felizmente o meu tio me
julgava tão inofensiva que não se deu ao trabalho de colocar um ou mais
homens me vigiando.

Ele achava que todas as mulheres eram fracas e eu só queria poder


provar para ele o quanto estava errado, entretanto, para isso eu precisava
conseguir escapar do palácio e sobreviver ao deserto.

Abri a grade com todo cuidado, torcendo ao máximo para que ela não
rangesse, mas o metal me traiu, fazendo barulho a ponto de ecoar. Era
possível que não houvesse soado tão alto quanto pareceu, mas eu estava tão
alerta que pareceu um grande aviso de que estava tentando escapar.

Esperei com o coração acelerado e a mão no metal frio. Aguardei por


outro barulho, principalmente sinais de passos vindo em minha direção para
checar como eu estava. Contei até cem e não ouvi nada.

— Ótimo! — Tentei me motivar ao soltar o ar com força nos meus


pulmões.

Estava exausta, mas a adrenalina para fugir estava me mantendo de pé


e me dando a anergia que parecia necessária para escapar daquele local.

Subi a escada rapidamente e me escondi atrás de uma coluna, em meio


às sombras da noite quando alguns homens passaram pelo pátio. Eles não me
notaram e seguiram seus caminhos. Dei um suspiro de alívio, mas logo a
tensão voltou com tudo para dentro de mim quando me lembrei de que teria
que passar por uma das saídas que estavam sempre sendo vigiadas.

Caminhei pelas sombras, tentando ficar em locais que acreditava serem


os pontos cegos das câmeras de segurança. Meu pai a havia instalado para a
nossa proteção, mas o Youssef fora contra, provavelmente ele logo iria
descobrir os benefícios de tal modernidade.

Aproximei-me do portão, ficando atrás de uma das colunas e observei a


entrada. Havia dois homens de prontidão, eles estavam dispersos, jogando
cartas e não imaginavam que alguém fosse entrar e muito menos tentar sair.
Eu não poderia ir caminhando acenar para eles e buscar passagem. Jogariam-
me na cela novamente sem pensar duas vezes.

Eu precisava de um plano melhor.

Estava escuro, mas havia algumas luzes próximas ao portão onde os


homens estavam que me ajudavam a enxergar um pouco à minha volta.
Fiquei alguns momentos movendo os olhos de um lado para o outro,
pensando... Até que eu vi uma pedra. Não era o melhor plano do mundo, mas
foi o único que consegui pensar em tão pouco tempo.

Peguei a pedra e arremessei, jogando-a longe no sentido oposto de


onde eu estava. O barulho chamou a atenção dos homens que estavam de
guarda e fez com que eles se levantassem.

— O que foi isso? — Um perguntou ao outro.

— Eu não sei.

— Vamos checar.
Eles assentiram e foram até o local onde a pedra havia quicado. Não
encontraram nada, mas me deram poucos segundos para sair.

Estava aliviada quando os meus pés afundaram na areia. Havia uma


estrada que levava até Dubai e eu poderia seguir por ela, entretanto, o meu
momento de alívio não durou muito tempo, porque logo eu ouvi um grito.

— Ela está escapando!

— Onde?

— Saiu pelo portão.

Não fiquei para tentar ouvir mais. Corri com toda a minha força,
escorregando e cambaleando pela areia. Ela pesava nos meus sapatos e
tornava ainda mais difícil me locomover com rapidez. Decidi tirá-los e
continuar descalça. Segurei-os com uma das mãos e a sacola com a comida
com a outra, para a minha sorte, o sol já havia se posto há tempo o suficiente
para que a areia houvesse esfriado.

Eu poderia sentir a brisa mais fresca impulsionando-me para a frente,


levando-me mais e mais para o deserto, ao passo que ouvia ser seguida, mas
não me arrisquei a olhar para trás. O medo poderia me paralisar e naquele
momento tudo o que eu precisava era continuar correndo.

Escorreguei do alto de uma duna e desci rolando, meu corpo girava


mais rápido do que eu andava e apesar de estar me ralando, pareceu ser uma
forma mais eficaz de me afastar. Ou não...

— Ela foi por ali!


Pressenti que eles estavam se aproximando e rolei um pouco mais. Não
havia como enfrentá-los e o deserto sempre fora um local difícil de se
esconder.

Até que eu caí em uma vala, foi quase como uma espécie de miragem,
ou um local para que eu fosse enterrada. Meu corpo afundou rapidamente na
areia e eu prendi a respiração. Não conseguiria ficar ali por muito tempo.
Estava quase tentando me levantar quando senti passos na superfície.

Enterrada na areia, eles passaram por mim sem que me vissem. Segurei
a respiração pelo máximo de tempo que consegui e já estava quase perdendo
os sentidos quando impulsionei o meu corpo para cima. Saí só com a cabeça,
sugando o ar com toda força possível para os meus pulmões.

Vi os homens pelas costas, eles continuaram avançando, procurando


por mim e esperei que desaparecessem antes de me desenterrar
completamente e ir em outra direção. Havia uma chance de que eu me
perdesse, mas não poderia deixar que me vissem.

Tomei um gole da água e comi um pedaço de pão. Minha boca estava


cheia de areia e acabei engolindo junto. Aquela estranha mistura tinha que me
dar forças para sobreviver.
Capítulo dois

Quando deixei Abu Dhabi pela manhã o sol mal havia nascido. Estava
tratando de assuntos nos Emirados e esperava retornar para a Itália o mais
breve quanto possível. Havia acompanhado algumas exposições e
conferências em busca de mentes e principalmente trabalhos que pudessem
agregar ao que eu fazia.

A maioria das pessoas na máfia, principalmente os mais velhos, com a


exceção do meu pai, ainda menosprezavam a importância da tecnologia, mas
havia cada vez menos dúvida do quanto ela era primordial para a manutenção
dos nossos negócios. Duvidava que o Thiago iria sobreviver a todas as suas
investidas se não fosse pelo meu cérebro.

Por falar nele...

Acionei um botão no volante do carro, atendendo a sua chamada


quando ela piscou no painel do veículo esportivo que eu estava dirigindo
rumo a Dubai.

— Considerando o fuso horário, acho que parece cedo para que você
esteja acordado, a não ser que o seu filho não o tenha deixado dormir.

— Estava lidando com o lixo. Acabei de chegar em casa, meu filho


está dormindo.

— Aposto que você tem saudades dessa época.

— Nem tanto. Além disso, alguém certamente precisa lidar com o


trabalho duro enquanto outros estão passeando por aí.

— Admite que prefere quando eu limpo a sua barra.

— Preciso menos de você do que imagina, Ettore.

— Ah, com toda certeza — debochei.

— Agora me diga quando vai voltar.

— Olhe só, não consegue segurar a saudade de mim.

— Ah, seu puto, só volta logo para casa. Aposto que nem há mulheres
interessantes por aí.

— Você está casado, Thiago. Amarrado para o resto da vida, nem tem
direito de falar de outras mulheres.

— Não para mim, mas...

Parei de ouvi-lo quando percebi que alguém estava atravessando a


pista. Eu estava em alta velocidade e precisei enfiar o pé com toda a força
para fazer o veículo parar. Ainda assim ele ficou a poucos milímetros da
mulher que se debruçou sobre o meu capô.

— O que foi isso? — Thiago perguntou preocupado pelo som dos


pneus cantando.

— Espera, nos falamos depois.

— Ettore!

Desliguei sem me dar ao trabalho de explicar ao meu primo, pois nem


eu havia entendido o que acabara de acontecer. Sabia que a cultura daquele
local era diferente da nossa, mas não pensava que fosse encontrar uma
mulher suicida atirando-se na frente do meu carro.

— O que foi isso? — Saí do veículo, com o tom alterado e o coração


descompassado por quase ter atropelado uma jovem e bela mulher.

Quando me aproximei dela vi o quanto seus olhos estavam fundos e os


lábios ressecados.

— O que aconteceu com você?

— Socorro. — Sua súplica foi quase inaudível no momento em que ela


tombou para o lado, perdendo completamente os sentidos.

Puxei-a para os meus braços, pegando-a no colo e percebi que estava


com a roupa coberta de areia e os pés descalços naquele asfalto tão quente,
ainda que o sol mal houvesse acabado de nascer.

Queria saber o que poderia ter acontecido com ela, mas precisaria
esperar que acordasse para fazer tal pergunta.

Com certeza eu não estava ali para me meter na vida de ninguém.


Estando em outros países tentávamos ser discretos e passar despercebidos.
Todos nós precisávamos ter o cuidado para não arrastar uma guerra até a
Itália, entretanto, independente da confusão que aquela mulher poderia estar
envolvida, eu não poderia abandoná-la ali na beirada da estrada. Do jeito que
ela estava, era bem provável que morresse de desidratação assim que o sol
ficasse mais intenso.

Eu abri a porta do carro e acomodei-a no banco de trás, pouco antes de


ouvir outros veículos vindos do deserto. Eram dois carros enormes com
tração nas quatro rodas e uma dezena de homens saiu deles, vindo na minha
direção. Eu não precisava ser o gênio que era para deduzir que estavam atrás
da garota.

Falaram comigo e eu balancei a cabeça. Entendia meia dúzia de


palavras em árabe, mas não o suficiente para estabelecer uma comunicação.

— Nos entregue a garota. — Um deles deu um passo à frente e falou


em inglês.

— O que querem com ela?

— Não deveria se preocupar com isso.

— A minha nona ficaria muito decepcionada comigo se eu encontrasse


uma mulher nesse estado e não oferecesse a minha ajuda. Ela disse que
devemos ser cavalheiros, imagino que também ensinem isso por aqui, não é?

— Saía do caminho, forasteiro. — Ele veio para cima de mim e tentou


puxar o meu ombro para me jogar para o lado, mas fui mais rápido,
esquivando-me e acertando-o com um soco na boca do estômago que fez com
que ele cambaleasse para trás.

— Você pode acabar sendo preso por isso — rosnou ao tentar se


recompor, ficando de pé novamente.

Comecei a rir, fazendo-o arregalar os olhos.

— Você não faz ideia das coisas que eu faço que podem acabar me
levando preso, certamente resgatar uma garota de alguns sujeitos mal-
encarados não é a pior delas.

— Só vá embora e nos entregue-a.

— Vamos fazer o seguinte. Vou esperar que ela acorde, se ela quiser eu
a trarei para vocês. O que acham?

Ele bufou, vindo para mim novamente e me obrigou a esquivar. Fechei


a porta do carro, fazendo com que ele acertasse o vidro, que estremeceu com
o golpe.

— É, parece que você não é um cavalheiro.

Ele falou alguma coisa com os outros homens e por mais que eu não
compreendesse exatamente o significado das palavras, pude entender pelas
expressões que era uma ordem para que me atacassem.

— Dez contra um. Claro que eu adoro uma boa desvantagem. —


Esquivei-me de outro soco, acionando o controle do carro no meu pulso para
que ele ficasse travado, protegendo a mulher desmaiada lá dentro.

Acertei um soco em um e um chute em outro, afastando-os de mim


para que outros se aproximassem. Meu pai tinha me dito para ficar longe de
confusão, mas teria história para contar ao Thiago quando voltasse para casa.
Geralmente era o meu primo que tinha que dar conta de tantos homens
sozinho, o que não significava que eu não poderia também.

Inclinei meu corpo para trás, escapando de um soco que veio


diretamente para o meu rosto. Os treinamentos com o Thiago certamente
surtiram algum efeito. Passei o braço ao redor do pescoço de um e o puxei
para a minha frente, usando-o como escudo para os socos que vieram em
seguida. Apertei-o com tanta força até que ele perdesse os sentidos e o deixei
cair no chão.

Seria mais fácil se eu matasse todos eles, mas largar uma pilha de
corpos na estrada não seria uma boa estratégia.

Enquanto me esquivava de socos e chutes mexi no meu celular e tirei


uma cápsula. Joguei-a no chão e ela explodiu, subindo uma fumaça que os
deixou desorientados.

Empurrei-os do caminho, agarrando o colarinho de um e jogando sobre


os outros enquanto dava volta no carro e destravava apenas a porta do
motorista. Um tentou me agarrar, puxando a minha manga, mas eu bati com a
porta na mão dele, fazendo com que urrasse. Acertei-o com um chute e o
mandei para longe.

Voltei a trancar o carro e pisei fundo no acelerador, saindo dali o mais


rápido que consegui.

Olhei pelo retrovisor central, enquanto saía da fumaça e vi a mulher


deitada no meu banco de trás, ela deveria ter algo entre dezoito e vinte e
poucos anos. Parecia debilitada e certamente precisaria de água e comida,
mas se eu não quisesse me envolver em uma confusão ainda maior do que
bater em dez caras, teria que me livrar logo dela.

— Droga! — resmunguei ao perceber os carros saindo da fumaça e


vindo até mim.

Seja lá quem fossem esses homens com quem essa mulher havia se
envolvido, eles sabiam ser bem insistentes.

Olhei para o painel do carro e apertei um dos botões, vendo pela


câmera traseira a corrente de espinhos que atravessou a estrada. Eles não
tiveram tempo de parar antes que os pneus passassem por elas e estourassem.
Perderam a direção e os carros começaram a rodar, quase batendo de frente
com outro que vinha no sentido oposto.

Eu ouvi as buzinas e só acelerei para que sumisse de vista o mais


rápido possível. Pretendia deixar a cidade logo e torcia para que não voltasse
a ver aqueles homens.
Capítulo três

Eu estava exausta, sentia como se todo o meu corpo houvesse sido


destroçado e meus olhos pesavam tanto que eu não tinha forças para abri-los.

Apertei as minhas mãos para baixo e percebi que estava sobre uma
superfície muito macia, aquilo não era areia, mas será que eu havia morrido e
encontraria o céu?

— Baba? — murmurei com a garganta tão seca que até falar me


provocava dor.

Depois daquele momento de sofrimento vê-lo seria um alento para o


meu coração. Talvez a minha mãe estivesse junto e voltaríamos a ser a
família que éramos antes.

— Finalmente você está acordando. — Ouvi uma voz masculina que


eu desconhecia, mas me impulsionou a abrir os olhos com ainda mais força.

Deparei-me com um teto branco e paredes do mesmo tom. Percebi que


estava em uma cama e num quarto de hotel.

Vi um vulto e precisei piscar os olhos algumas vezes até que eles


ganhassem foco e me mostrassem um homem que eu nunca havia visto.

Ele deveria ter algo entre vinte e cinco e trinta anos, cabelos e olhos
castanhos. Era alto, tinha ombros largos e estava usando uma camisa branca.
Será que ele estava ao lado do meu tio e fora contratado para desaparecer
comigo?
Se fosse isso, por que eu ainda estava viva?

Juntei o restante de força que havia dentro de mim e levantei-me em


um rompante, recuando contra o encosto.

— Parece que você estava envolvida com caras perigosos. Como eu


salvei você deles, acho que o mínimo que pode me fazer é dizer quem eram e
porque estavam seguindo-a?

Continuei calada, encarando-o e tentando analisar o motivo de estar


com aquele homem. Ele estava falando inglês, não árabe e tinha um sotaque
que me dava quase certeza de que não era dali. O que me deixava ainda mais
confusa em relação a tudo.

— Ah, ótimo! — Bufou. — Você não está me entendendo. Vamos


torcer para que o tradutor para árabe seja minimamente decente. — Ele
caminhou pelo quarto e o percebi pegar uma garrafa d'agua.

— Me dá, por favor... — Minha boca salivou e era quase um milagre


eu conseguir dizer algo estando tão desidratada. Felizmente maior parte da
minha caminhada no deserto havia sido durante à noite.

— Parece que consegue me entender.

Só balancei a cabeça fazendo que sim e estendi a mão. Estava tão


trêmula que não consegui sustentá-la naquela posição por muito tempo.

Ele finalmente chegou mais perto e me entregou a garrafa. Tomei


desesperada, engolindo tudo ao ponto de começar a tossir quando me
engasguei.
— Vai com calma. — Ele estendeu a mão. — Tenho mais de onde essa
veio, não precisa tomar como se fosse a última garrafa de água do mundo.

— Estou com muita sede. — Tomei as últimas gotas.

— Dá para perceber.

— Pode me dar outra? — Estendi a garrafa vazia para ele.

— Sim. — Ele foi até a geladeira e pegou outra. Veio para perto de
mim, parando na minha frente, mas não me entregou de imediato. — Precisa
me dizer com quem está metida e quem eram aqueles homens atrás de você.

— Homens... — Pisquei os olhos, ainda estava delirando.

— Aqueles que a seguiram do deserto.

— Trabalham para o meu tio. Aposto que você também. Só não sei o
porquê não me matou ainda.

Ele me entregou a garrafa d'agua e eu abri, tomando em outras goladas


desesperadas.

— Eu não trabalho para o seu tio. Nem sei quem ele é.

— Então o que eu estou fazendo aqui? — Não acreditava naquele


homem e nem sabia se deveria, entretanto, a forma como ele estava agindo
comigo fez com que eu o questionasse.

— Se jogou na frente do meu carro, não lembra?

Pisquei os olhos, ainda estava confusa, era difícil me recordar de tudo


antes que eu havia desmaiado, minha mente ainda piscava em flashes.
Fechei os olhos, forçando-me a recordar e ouvi o som de pneus
cantando e o cheiro de borracha queimada. O asfalto estava quente e fritava a
sola dos meus pés descalços. Durante a fuga havia perdido os meus sapatos e
imaginava que os meus pés ficariam com queimaduras profundas.

Movimentei os pés, vi que eles estavam queimados e havia uma


ardência. Não eram apenas delírios da minha mente confusa e do meu corpo
faminto e desidratado. Meu pai realmente estava morto e eu tentava fugir do
meu tio para que não tivesse o mesmo destino.

— Quem é você? — questionei o homem ao terminar mais uma garrafa


de água.

Ainda que o meu pai houvesse me proporcionado uma criação mais


liberal, continuava a ser indevido estar sozinha com um homem desconhecido
num quarto de hotel.

— Eu já fui muito gentil. — Entregou-me mais uma garrafa de água.


— Agora está na hora de você começar a responder as minhas perguntas.
Quem eram os homens que estavam perseguindo você?

— São homens que trabalham para o meu tio.

— Por que eles estavam atrás de você pelo deserto?

— Porque eu escapei.

— De quem?

— Dele.

Estremeci e os meus olhos pesaram com as lágrimas ao me lembrar de


tudo o que havia acontecido. Recordar -me da morte do meu pai era triste
demais e deixava o meu coração sangrando.

O sujeito pegou alguns lenços no móvel de cabeceira e os entregou


para mim.

— Obrigada.

— Por que os homens do seu tio querem machucar você? — insistiu


com as perguntas depois que limpei as lágrimas que haviam escorrido pela
lateral do meu rosto.

— Ele matou o meu pai e quer fazer o mesmo comigo.

— Por quê?

— É um homem cruel e retrógrado. Ele não concordava com a forma


como o meu pai governava, mas nunca achei que fosse capaz de fazer algo
assim... — Meu pranto se tornou ainda mais intenso e eu fui colocando para
fora toda a água que havia consumido, molhando completamente o lenço.

O homem diante de mim recuou, interrompendo as perguntas por


alguns instantes, mas seu olhar ainda me analisava.

Eu estava com medo de estar diante de um homem que não conhecia,


mas ao mesmo tempo estar ali com ele parecia uma chance de escapar dos
homens do meu tio e do próprio Yussef.

— Descanse. Vou pedir algo para você comer e continuamos essa


conversa depois.

— Obrigada...
Ele se afastou de mim e foi pegar um telefone que estava do outro lado
do cômodo. Alternamos os olhares por alguns momentos e eu senti o meu
coração acelerar. Havia algo estranho vindo dele, mas se ele havia me trazido
até ali, existia uma chance de que eu escapasse do meu tio.

Queria perguntar onde estávamos, o que ele havia feito ali e tentar
entendê-lo melhor aquele homem, entretanto, estava cansada demais. Meus
olhos pesaram e logo peguei no sono novamente. Se aquele homem tivesse
intenções torpes contra mim eu nem teria forças para resistir.
Capítulo quatro

Eu sabia muito bem da confusão que acontecera quando o Thiago se


arriscou a pegar uma mulher e levá-la para nossa casa. Ele fora estúpido o
suficiente para quase colocar uma bala na cabeça de um Lansky e começar
uma guerra contra a família da sua irmã. Era justamente por isso que eu
precisava me livrar daquela o mais rápido possível.

Meu primo se arriscava, mas eu costumava ser o mais centrado,


inteligente, eu pensava primeiro e agia com prudência. Sabia que trazer uma
mulher de fora da máfia para próximo dos nossos negócios era sempre uma
escolha ruim.

Tinha ido aos Emirados para comprar tecnologia, levá-la para a máfia e
aprimorar alguns dos equipamentos com os quais trabalhávamos, isso não iria
mudar.

Aquela moça deitada na cama teria que ir embora. Eu a tinha tirado do


deserto, feito com que sobrevivesse e era o melhor da minha caridade que
poderiam esperar de mim.

Estava tão exausta que ainda dormia um sono profundo na cama. Se eu


fosse um bárbaro, estaria completamente desprotegida, mas esse era o tipo de
crime que não apenas eu, mas todos da minha família abominávamos.

Cheguei perto da cama e reparei melhor nela. Era alta, tinha cabelos
longos e traços bem árabes.
Tirei o meu celular do bolso e fotografando o seu rosto, fui até o meu
notebook, na bolsa que estava sobre a mesa de centro. Abri um dos meus
muitos programas e usei uma busca facial para tentar identificá-la. Se o seu
rosto houvesse sido registrado em algum local da internet eu iria saber.

Levou apenas alguns instantes para que a busca retornasse


informações, foi muito mais simples do que eu imaginava. Havia fotos dela
em sites abertos da internet e rapidamente encontrei informações relevantes
sobre a moça.

Nedja Al-Kudsi era a única filha do sheik Mohammed Al-Kudsi, o


Emir de Mamlaka, uma das subdivisões do país onde eu estava. Ela era uma
espécie de princesa, mas estava tão debilitada que eu sequer poderia cogitar
isso antes.

Uma mulher como aquela deveria ter segurança e proteção, não ficar
vagando sozinha pelo deserto, quase morrendo com a temperatura e a falta de
água. Continuei a minha busca, procurando por informações que pudessem
ser cruzadas com as que ela havia me dito. Segundo a Nedja, o tio havia
matado o pai, entretanto, a única informação que encontrei foi que o
Mohammed Al-Kudsi havia falecido após uma terrível queda da escada.

Ri com amargor, se fosse verdade, era certo que o tio dela não foi
muito criativo para esconder aquela morte. Independente da minha opinião,
ele havia conseguido o seu objetivo. Todos pareciam ter comprado a história
do acidente e Youssef já havia sido nomeado o novo Emir de Mamlaka.

Abaixei a tela do notebook e olhei para a moça deitada sobre a cama.


Se ela estava falando a verdade era motivo mais do que suficiente para que
aqueles homens a perseguissem e a quisessem morta. Não era a primeira e
nem seria a última vez que alguém era assassinado por poder.

Isso não é problema seu, Ettore...

Podia ouvir o meu pai sussurrando na minha mente. A minha família já


tinha inimigos suficientes para que eu me envolvesse em um conflito no
Oriente Médio.

Excedera a minha cota de cavalheirismo tendo-a trazido para o quarto e


protegido dos homens que a perseguiam. Tinha que me livrar da moça e
finalizar a negociação que eu fora fazer ali para retornar para casa onde
estavam todos esperando por mim.

Meu celular começou a vibrar e eu bufei, não era o Thiago, mas eu


preferia que fosse, principalmente naquele momento em que eu parecia sem
querer ter me colocado no meio de um conflito de disputa pelo controle de
um Emirado.

Tirei um fone do bolso e apertei o botão lateral, atendendo a chamada.

— Oi, mãe.

— Como você está?

— Bem.

— Tentei uma chamada de vídeo. Por que não atendeu?

— Não é um bom momento para uma chamada de vídeo.


— Aposto que não — resmungou ciumenta e eu conseguia pensar o
que ela estava imaginando.

— Não é nada disso.

— Então por que não posso ver o meu filho?

— Só não é um bom momento, mas em breve eu voltarei para casa e


poderá me ver pessoalmente.

— Dizem que o lugar onde você está é lindo, com muito ouro.

A criação cigana da minha mãe certamente a deixaria deslumbrada com


a arquitetura, as vestimentas, todas as cores e joias, seria um bom local para
que o meu pai a levasse para um passeio em algum dia, mas eu tinha um
problema mais urgente nas mãos e precisava solucioná-lo, então não me
delonguei.

— Tem seus pontos positivos, outros nem tanto.

— Como todo lugar.

— Certamente. Levarei um presente, mãe.

— Tenho certeza de que irei adorar.

— Preciso desligar agora.

— Fique bem, volte logo para casa, meu menino.

Eu já era um adulto, lidava com os meus próprios problemas e morava


sozinho, mas para ela algumas coisas nunca mudavam. Minha mãe havia
crescido em uma casa enorme com todos morando juntos, ainda maior do que
era a casa da minha avó, mas o meu pai já não gostava tanto.

Desliguei a chamada e guardei o fone de ouvido.

Pedi comida pelo serviço de quarto, pizza, e logo que o garçom veio
me entregar o prato, retornei para o interior do quarto e vi a moça se
remexendo, sentando-se novamente na cama. Dessa vez a sua aparência
estava um pouco melhor, os litros de água que havia tomado realmente
ajudaram-na.

— Pedi comida.

— Obrigada. — Ela se levantou esfomeada e veio até a bandeja,


atacando-a antes que eu a colocasse sobre a mesa de centro.

Para alguém que costumava ser uma princesa, ela estava mais para uma
sem-teto. As roupas sujas, o cabelo completamente desgrenhado. Ela
precisava de um bom banho e de peças novas. Entretanto, não falei nada
enquanto a mulher puxava um pedaço de pizza e colocava na boca quase que
inteiro, mastigando de uma vez.

— Cuidado para não engasgar — alertei.

— Desculpa. — Ficou sem jeito. — Estou com muita fome.

— Dá para perceber.

— Obrigada — sussurrou depois de ter engolido o que estava na boca e


se inclinar para pegar outra fatia.

— Imagino que o seu tamanho seja médio. Tem uma loja de


departamentos na esquina, nada luxuoso para a princesa de Mamlaka, mas é
bem melhor do que o que está usando agora.

Ela parou de comer na hora e deixou a fatia de pizza cair no chão,


paralisando-se em choque quando ouviu a minha frase.

— Como sabe quem eu sou?

— Sei de muitas coisas.

— Você trabalha para o meu tio. — Ela estendeu as mãos, tentando se


proteger, mas se eu realmente quisesse fazer algum mal para ela seria
completamente inútil. A pobre mulher indefesa não fazia ideia da minha força
tampouco de todo o treinamento pelo qual eu já havia passado.

— Seu eu trabalhasse não acha que eu já a teria devolvido para ele?

— Ele pode ter outros planos para mim.

— É possível, mas não estou envolvido. — Mantive a postura relaxada,


esperando que ela abaixasse as mãos quando essas começassem a doer.

— Então como sabe quem sou? — Deu mais um passo para trás,
evidenciando o quanto estava desconfiada.

— Eu sei de tudo.

— Não está ajudando. — Moveu a cabeça de um lado para o outro até


que encontrou uma pequena escultura de vidro sobre o móvel da televisão e a
levantou, pronta para usar como arma caso fosse necessário.

— Eu não faria isso se fosse você.

— Sei me defender.
— Não de mim.

— Quem é você?

— Por enquanto sou um aliado.

— Ainda nem sei seu nome e você parece saber mais do que deveria de
mim.

— Ettore — pronunciei calmamente. — Sou Ettore Bellucci.

— O que veio fazer aqui?

— O mesmo que outros milionários do mundo fazem, gastar o meu


dinheiro. Acredite, não esperava que fosse encontrá-la no meu caminho e
pretendo voltar para a minha casa amanhã.

Ela recuou, ainda parecia desconfiada, mas as minhas palavras foram o


suficiente para que Nedja ponderasse. Devolveu o enfeite para o seu local e
pegou a pizza que havia deixado cair.

— Desculpa por isso.

Eu apenas assenti e peguei um pedaço para mim. Não falei nada, mas
no lugar dela eu também não confiaria, principalmente depois da morte do
seu pai, mas para a sua sorte, eu não tinha qualquer intensão de feri-la, apenas
ir embora e continuar o meu caminho. Seus problemas não eram meus.

Ela se aproximou de um espelho e pareceu se assustar com o que viu.

— Eu aceito a roupa, seria muito gentil da sua parte.

— Certo. Fique aqui.


Peguei mais um pedaço de pizza e saí do quarto. Iria comprar algo
simples para que vestisse e quem sabe pagar a sua estadia em outro hotel,
mas precisava me livrar dela o quanto antes se realmente mantivesse a minha
intenção de voltar para a Itália no dia seguinte.
Capítulo cinco

Quando ele bateu a porta, deixei que o meu corpo caísse em uma das
cadeiras. Era verdade que eu estava assustada com o que poderia acontecer
comigo e a possibilidade de que o meu tio me encontrasse, entretanto, aquele
homem à minha frente parecia falar a verdade sobre não ser um aliado do
sheik Youssef.

Duvidava que o meu tio pudesse agir com bondade daquela forma
comigo, ainda que fosse para que eu caísse em alguma espécie de armadilha.
Além do fato de eu estar sozinha com um homem que não era da minha
família. Isso só era permitido após um casamento.

Ficava me perguntando como ele havia conseguido entrar comigo


desacordada no quarto sem que ninguém houvesse feito perguntas. Senti um
calafrio me varrer quando pensei que o homem que poderia estar me
ajudando não era um aliado do meu tio, mas poderia ser tão perigoso quanto.

Tinha que tomar cuidado e escapar dele assim que conseguisse, mas
primeiro precisava descobrir onde estava.

Corri para a janela e puxei a cortina. Ainda era dia e o sol vibrava forte
do lado de fora. Olhei de um lado para o outro, analisando o horizonte e
tentei identificar para onde havia sido levada. Felizmente foi fácil distinguir a
silhueta do Burj Khalifa se destacando entre todos os demais arranha-céus da
cidade. De uma forma ou de outra, eu estava em Dubai e havia conseguido
percorrer metade do caminho, agora faltava chegar a Sahra ou descobrir onde
o sheik Hassan estava para pedir refúgio. O que eu não tinha tanta certeza era
de que poderia confiar no tal Ettore a ponto de falar com ele. Chegar lá era a
minha única chance, não havia um plano B para sobreviver.

Peguei mais pizza. Estava muito deliciosa, ou eu não me alimentava há


tanto tempo que qualquer coisa se tornava a melhor do mundo diante de um
estômago dolorido e muito necessitado.

Encontrei mais água sobre o frigobar e peguei outra garrafinha sem


hesitar. O tempo no deserto, mesmo tendo passado a maior parte à noite, fora
o suficiente para sugar todo o líquido do meu corpo.

Youssef vivia dizendo que Allah teria virado as costas para o meu pai
por causa dos comportamentos dele. Alguns que o meu tio julgava
inaceitáveis, incluindo provavelmente a liberdade que dava para mim e para
as outras mulheres. Entretanto, isso era mentira, pois apenas com ajuda
divina eu tinha conseguido atravessar o deserto e chegar à rodovia. Havia
milhares de chances de que eu simplesmente me perdesse em meio às dunas e
nunca encontrasse caminho para cidade alguma, morrendo de desidratação
muito rápido, a ponto de que o meu corpo seria enterrado pela areia e
completamente esquecido.

Se eu não houvesse conseguido fugir um destino ainda muito pior


poderia estar me esperando. Se não fosse pela Regina...

Meu coração ficou muito apertado ao pensar na minha prima e no que


o pai poderia ter feito com ela depois de descobrir que havia me libertado.
Ela se colocara em risco demais para me dar a chance de sobreviver e eu lhe
seria eternamente grata.

— Ah, Regina... — senti um gosto amargo na boca.

Apesar de o meu tio tê-la criado com todas as restrições e limitações,


sempre fomos muito próximas e às vezes eu sentia como se fôssemos irmãs,
já que eu não tive nenhuma, nem um irmão. Eu me confidenciava com ela,
ensinava o que sabia da melhor forma para que ela compreendesse e
estávamos juntas sempre que possível. Contudo, meu peito ficava apertado,
pensando que esse momento nunca voltaria a acontecer.

O pai dela me queria morta, eu não poderia voltar ao palácio e a minha


melhor amiga tinha uma vida cheia de regras, trancada naquele lugar como se
fosse uma terrível prisioneira. Independente de eu não gostar, era como se ela
já houvesse se acostumado e parecia se adaptar muito bem.

Era melhor assim, se o pai não a machucasse, faria com que eu me


sentisse melhor.

Se o Youssef fora capaz de matar o próprio irmão, não conseguiria


prever o que ele faria com a filha ou outros que ficassem em seu caminho. Eu
queria ajudar a Regina, tirá-la das garras do pai, mas seria impossível se não
conseguisse cuidar de mim primeiro.
Capítulo seis

Consegui um vestido longo que eu imaginei que serviria nela e um par


de sapatos combinando. Eu não tinha o gosto mais apurado para moda,
principalmente do Oriente Médio, mas iria ter que servir até que ela
conseguisse outras.

Minha irmã vivia dizendo que eu só tinha olhos para computadores e


mais nada, o que de fato se aplicava a todos nós. Eu não tinha qualquer
preocupação com o que vestir e muito menos agradar mulheres. Trepava com
algumas funcionárias da empresa que mantínhamos com meu pai e
prostitutas, mas nada duradouro.

Admito que era bem mais fácil quando o meu primo Thiago estava
comigo, nos divertíamos sem nos preocuparmos, mas com a esposa e o filho,
essa parte da vida dele havia mudado. Mesmo que continuasse o assassino
cruel e impiedoso de sempre, ele voltava para casa todas as noites, ficava sem
dormir por causa de crises de cólica e às vezes se aventurava a trocar fraldas.
O que para mim era muito divertido.

Passei pela recepção do hotel e fui cumprimentado pelo homem que


carregava as malas.

— Como está a sua esposa?

— Sentindo-se melhor. — Abri um sorriso amarelo.

Tinha contado uma pequena mentira, porque ali não seria tão simples
subir com uma mulher jovem desacordada para o meu quarto. Achava um
pouco ridículo, mas homens e mulheres que não fossem casados não
poderiam ficar sozinhos.

Sexo antes do casamento era proibido. Considerando a religião católica


romana em que eu fora criado, isso também era pregado, mas para os homens
esse mandamento costumava ser bem mais flexível.

Disse que ela era a minha esposa e falei que havia desmaiado com o sol
forte enquanto fazíamos uma caminhada pelo deserto. Isso justificava a sua
roupa suja de areia, por mais que ainda parecesse uma desculpa esfarrapada.
Felizmente não insistiram.

Passei por ele e segui para o elevador. No momento em que entrei, vi


pelo espelho dois dos homens com os quais eu havia lutado na estrada. Eles
estavam entrando na recepção e pareciam fazer perguntas que eu não
consegui compreender, mas os meus instintos me indicavam que estavam
atrás dela.

— Droga! — chiei baixinho.

Apertei o botão para o andar, torcendo para que a porta se fechasse o


mais rápido possível antes que eu fosse visto. Só que um acabou apontando
na minha direção. Eles correram, mas antes que me alcançassem, as portas de
metal finalmente fecharam e eu comecei a subir.

Apertei as alças da sacola com mais força e com a outra mão tirei o
cartão magnético do bolso, correndo assim que o elevador se abriu no quarto
onde eu estava. Não parei, quase tropeçando em uma das camareiras.
Abri a porta num rompante, pegando-a de surpresa e fazendo com que
desse um pulo de susto.

— Eles estão aqui.

— Eles? — Arregalou os olhos castanhos.

— Os homens do seu tio.

— Como? — Vi que suas mãos começaram a tremer, realmente tinha


medo deles.

— Imagino que tenham nos procurado pela cidade.

Eu deveria ter previsto isso. Foram até lentos, considerando todas as


horas que ela já estava ali. Se fosse eu conseguira tê-la rastreado em questão
de minutos, mas felizmente nem todos eram tão inteligentes e habilidosos
com tecnologia, nem tinham o treinamento que o meu pai nos deu.

— E conseguiram nos encontrar aqui?

— Era só uma questão de tempo.

— O que vamos fazer?

— Vá se trocar. — Joguei as sacolas para ela. — Se tranque no


banheiro e não saia de lá até que eu diga que é seguro.

— E você?

— Vou me divertir um pouco. — Estalei os dedos e o pescoço.

Depois o Thiago dizia que a minha parte do trabalho era sem graça.
Também poderia haver momentos de ação, mesmo eu não buscando por eles.
Ouvi um barulho na porta e alguém tentando forçar a maçaneta para
conseguir passagem.

— Vai!

— Mas...

— Agora!

No momento em que eu gritei para ela. Nedja correu para dentro do


banheiro, trancando a porta quando a da frente foi arrombada. Atiraram na
fechadura e alguém chutou, sendo o primeiro a entrar no quarto.

Durante os poucos segundos em que a poeira do disparo se dissipava,


pressionei um botão no meu cinto e senti uma camada elétrica envolver o
meu corpo. Os ternos à prova de balas desenvolvidos pelo meu pai foram
aprimorados com o passar do tempo, entretanto, não estávamos com um
daqueles o tempo todo, o que tornavam os escudos portáteis muito úteis. A
minha tecnologia de bolso, como o Thiago costumava comentar já havia
salvado a vida dele e de tantos outros, dezenas de vezes.

Parei de pensar quando um tiro atingiu em cheio o meu peito. A bala


ricocheteou no escudo, fazendo-o brilhar e rolou para o chão.

O homem que atirou em mim arregalou os olhos, completamente


chocado quando a bala não atravessou o meu peito.

— Surpresa!

Fui para cima dele e o atingi com um soco na boca do estômago,


fazendo com que cambaleasse tonto.
Estava evitando criar uma pilha de corpos, mas parecia cada vez mais
difícil enfrentar aqueles homens sem me livrar deles. Se não morressem iriam
continuar vindo atrás de mim, ou pior, da garota dentro do banheiro que não
conseguiria se defender tão bem.

Esquivei-me de outro soco e acionei um botão lateral do meu relógio,


disparando um dos dardos. Assim que ele atingiu um daqueles homens, esse
caiu, em uma morte rápida e mais indolor do que talvez ele merecesse.

Algum deles agarrou a pulseira, tentando tirá-la de mim, mas eu girei,


acertando-o no rosto com um soco forte que fez com que ele cambaleasse até
cair sobre um aparador que havia naquele pequeno corredor logo após a porta
onde estávamos lutando.

— Ninguém mexe no relógio que eu ganhei do meu pai. — Cerrei os


dentes, puxando a arma que estava presa nas minhas costas, escondida entre a
calça e a camisa.

— Entregue-a para nós!

— Se a moça não quer ir é melhor que a deixem em paz.

— Não faz ideia de com quem está se metendo, forasteiro.

— Eu acho que são vocês que não sabem.

Sim, o mais cauteloso era que eu ficasse longe de confusão, mas teria
que me livrar daqueles homens porque já tinha me envolvido demais e não
importava se eu estivesse ou não disposto a entregar a Nedja para eles, iriam
tentar me matar.
Atirei na cabeça de um fazendo com que uma mancha grande de
sangue marcasse a parede por onde o corpo escorregou até cair sentado no
chão.

Dois tentaram me atacar ao mesmo tempo, mas eles eram grandes e


nem tão bem treinados quanto deveriam. Atingi um no peito , fazendo-o cair
de joelhos e o outro no estômago.

Havia mais três e eles me encararam.

Eu bufei, fazendo com que uma mecha do meu cabelo que havia caído
sobre o olho voasse. Eles não eram tão ruins assim, afinal tinham feito com
que eu derramasse algumas gotas de suor. Porém já estava de saco cheio e
queria acabar logo com aquilo.

— Quem vai ser o próximo? — Apontei a arma na direção deles, mas


se entreolharam e ao invés de vir para cima de mim, saíram correndo.

Medrosos.

Minha arma não estava com silenciador e seria só uma questão de


tempo para que viessem verificar o barulho e vissem aquela confusão que eu
deixara ali. Para quem queria só comprar tecnologia, corpos não estavam nos
meus planos. Fora do meu país seria bem mais difícil acobertar.

— Está pronta? — Bati na porta do banheiro onde a Nedja estava.

— O que aconteceu aí fora?

— Se eu fosse você não me preocuparia com isso.

— Já posso sair?
— Espere um pouco.

Fui até a cama e peguei as minhas coisas, jogando-as na mala e puxei a


bolsa com o meu notebook. Depois de muitas missões que eu havia passado a
serviço da máfia, tinha aprendido que precisava estar sempre pronto para sair
o mais rápido possível, por isso evitava deixar as minhas coisas espalhadas.

— Pode sair — avisei para ela —, mas acho melhor vir de olhos
fechados.
Capítulo sete

Olhos fechados?

Não consegui entender exatamente ao que ele estava se referindo, mas


eu fechei os meus olhos, saindo lentamente do banheiro. Senti uma corrente
elétrica que me desconcertou completamente quando uma mão firme e grande
envolveu a minha cintura, guiando-me pelo caminho.

Pisei em algo no chão, uma elevação que eu duvidava que fosse um


simples travesseiro e recuei, assustando-me.

— O que é isso?!

— Vá por mim, é melhor você não saber.

Meu estômago se embrulhou com uma sensação desagradável quando


meu olfato se encheu com o cheiro férrico de sangue. Meus olhos quiseram
se abrir com a curiosidade para ver o que tinha acontecido, mas eu consegui
me manter firme e seguir o conselho. Ouvira os disparos e presumi alguns
acontecimentos.

— Você está machucado?

— Eu? — Ele pareceu surpreso. — Não.

Fiquei aliviada, mas eu deveria estar pensando melhor sobre o homem


que me conduzia pelo corredor.

— Pode abrir os olhos.


Quando ele falou comigo, eu abri imediatamente, piscando um pouco
até me acostumar com a luminosidade.

— Vamos sair daqui.

Entramos no elevador e seguimos para outro andar. Eu estava


completamente confusa com aquilo, mas uma parte de mim, aquela regida
apenas pelos instintos de sobrevivência, dizia que eu precisava escapar.

Saímos em uma garagem, com vários carros e Ettore me guiou até o


dele, que eu reconheci como um esportivo cinza, mas que mudou de cor bem
diante dos meus olhos.

— O que você fez?

— Não tenho tempo para explicar. — Ele abriu a porta do carona para
mim enquanto dava a volta e colocava os seus pertences dentro do porta-
malas. — Realmente estão dispostos a matar você. Aposto que de onde
vieram aqueles haverá mais.

Estremeci, escolhendo-me no banco. Não queria morrer daquela forma,


nem me juntar ao meu pai tão cedo. Tinha tantos planos e ainda muito para
aprender antes de ter a minha vida ceifada por um homem ganancioso.

Ettore se inclinou na minha direção, ofegante e abriu o porta-luvas,


pegando um pequeno dispositivo eletrônico nele. A proximidade me
desconcertou novamente, mas as gotas de sangue que vi na sua camisa
levaram embora qualquer situação embaraçosa e me deixaram com medo.

Quem era aquele homem a quem eu estava confiando a minha vida?


Ele ficou concentrado, mexendo no que me pareceu um pequeno
computador. Era uma tela preta, com muitas linhas de código que eu não
sabia o significado. Enquanto estudava relações internacionais na faculdade,
havia esbarrado com alguns alunos dos cursos de computação, mas nunca me
aproximei deles o bastante para aprender algo.

Antes que eu perguntasse o que ele estava fazendo e o motivo de


estarmos parados dentro do carro, em silêncio, Ettore fechou o aparelho e o
colocou de volta no lugar.

— Pronto!

— Por que estava mexendo nisso?

— Apagando os registros no hotel e das câmeras, qualquer coisa que


possa nos ligar ao que aconteceu. Quando a polícia chegar quero que não
encontrem nada.

— Polícia?

Ele ligou o carro e saiu acelerando, sem me responder e eu tive ainda


mais certeza de que havia corpos no quarto acabamos de sair. Engoli em
seco. Aquele sujeito poderia não trabalhar para o meu tio, mas certamente era
tão perigoso quanto.

Estranhamente eu estava me sentindo segura ao lado dele, mas isso não


era bem verdade e aquela ilusão poderia acabar logo. Era fato que depois da
morte do meu pai a minha vida nunca mais voltaria a ser a mesma.
Capítulo oito

Deixar uma pilha de corpos no hall de entrada de um quarto em um


hotel de luxo de Dubai não era um dos meus objetivos com aquela visita.

Já deveria ter aprendido com o Thiago, quanto mais mulheres de fora


da máfia passavam um tempo em nossas vidas, mas complicado tudo se
tornava. Esse era um sinal ainda mais evidente para acabar logo com aquele
envolvimento.

Já estava escurecendo quando dirigi o mais rápido possível para fora da


cidade e saí às margens da rodovia, parando com vista para o deserto.
Geralmente eu tinha pensamento rápido e processamento de uma máquina,
não me lembrava da última vez em que precisei parar e colocar a minha
cabeça em ordem, se é que foi necessário em algum outro momento fora
aquele.

Abri a porta do carro, saí dele e respirei fundo, vislumbrando todo o


deserto em sua dimensão.

Levou um tempo, mas ela também saiu do veículo e ficou olhando para
mim. O vestido fora escolhido às pressas, mas tinha caído muito bem, por
mais que fosse longo e com mangas compridas, cheio do pudor das mulheres
daquele local, marcava bem a sua cintura e combinava com o tom da sua
pele.

O cabelo dela estava solto e parecia menos embaraçado, sendo


movimentado pelo vento quase como um véu, o que me fez lembrar de uma
coisa que poderia ter esquecido.

— Hijab, deveria ter comprado um para você também. Acabei me


esquecendo.

— Eu não uso. — Ela me deu um sorriso gentil. — Deveria ser uma


questão de escolha para todas as mulheres, as que querem usar e as que não.

— Isso é verdade.

Permaneci encarando-a, por mais que tivesse um olhar determinado,


era só uma mulher indefesa, sozinha que tinha perdido o pai e o tio estava
tentando matá-la. Eu não deveria me apiedar dela, tinha visto muitas
situações difíceis ao longo da vida, mas...

— Você não pode continuar comigo. Tenho que voltar para o meu país.
Meu objetivo era vir de forma discreta e passar apenas alguns dias aqui.

— Eu compreendo. — Ela baixou o olhar numa expressão que me


causou um desconforto no peito bem maior do que eu gostaria. — Vai me
deixar aqui?

— No meio do deserto? — Fiquei surpreso.

Não era porque eu não iria mais cuidar dela que a abandonaria para
morrer a tantos quilômetros do deserto.

— É...

— Não, vamos voltar para Dubai. Seu pai era um rei, um homem
influente. Imagino que tenha alguém, até mesmo a polícia que possa oferecer
uma proteção para você. Aposto que conhece um lugar onde fique segura.
— Na verdade, eu estava tentando chegar a Sahra.

— É outro Emirado?

— Sim. O Emir de lá era um amigo do meu pai, um homem


progressista com ideias mais nobres que jamais concordaria com as
atrocidades que o meu tio cometeu. Eu acredito que chegando até lá possa
encontrar refúgio.

— Certo — concordei voltando para o carro. — Vamos até lá.

— Você vai me levar? — Ela ficou boquiaberta.

— Sim. — Chequei as horas. — Espero conseguir voltar logo.

— Obrigada! — Ela entrou no carro e prendeu o cinto.

Procurei pelo Emirado no GPS, dirigindo para lá. Esperava que assim
que deixasse Nedja naquele local me livraria daquela responsabilidade que
não deveria ter tomado para mim desde o início.
Capítulo nove

A viagem para Sahra foi silenciosa. Ettore não falou nada e eu também
não me atrevi a perguntar. Sentia no ar que poderia haver segredos sobre ele
que era melhor que eu não soubesse. Se o homem de fato me levaria para a
proteção do amigo do meu pai, isso era tudo com o que eu precisava me
preocupar no momento.

Aquele caminho não era estranho para mim, já o tinha feito algumas
vezes na companhia do meu pai, o que me deixava mais aliviada.

Foquei no fato de que logo chegaria a um local seguro e estaria


protegida, o risco que a Regina havia corrido ao me ajudar a escapar não teria
sido em vão. Naquele momento eu quis muito poder abraçar a minha prima e
contar para ela como eu estava, que havia encontrado refúgio e sobrevivido
aos desafios do deserto.

Só torcia do fundo do meu coração para que o pai dela não a houvesse
machucado depois de ter descoberto sobre a minha fuga. A nossa amizade
sempre fora muito benéfica para as duas e eu queria que continuasse assim.

— Está com fome? — Depois de muito tempo ele ousou quebrar o


silêncio.

Eu o vi tirar de algum compartimento do carro uma barra de cereal e


entregá-la para mim.

— Muito obrigada.
— Por nada.

Seus olhos estavam fixos na estrada e a direção completamente


compenetrada. Eu tinha a sensação de que talvez ele não precisasse se
concentrar tanto, mas engoli qualquer comentário. Só queria chegar e vibrava
a cada minuto que me aproximava.

O sol já havia se posto completamente e a noite pairava absoluta no céu


quando ao longe eu avistei as luzes do palácio. Ele pareceu se aproximar
lentamente enquanto o carro se movia rápido.

Mal esperei que Ettore estacionasse na entrada antes de abrir a porta e


sair um tanto cambaleante. A emoção diante de um local seguro se tornou tão
intensa que chegou a escorrer pelos meus olhos, ou talvez tudo o que eu havia
passado até chegar ali não me permitisse um único momento de paz para
chorar pela morte do meu pai.

Os guardas se aproximaram do carro desconhecido, mas se tornaram


um pouco mais receptivos quando me viram.

— Informem por favor ao sheik que eu quero me encontrar com ele —


falei em árabe para os homens, tentando manter a postura enquanto o meu
âmago queria desabar.

— Sim, senhora. — Um deles se afastou, entrando para o palácio.

— Agora que você chegou aonde queria eu vou embora — disse o


Ettore e sua fala fez com que eu me virasse em sua direção. — Foi um prazer
conhecê-la, princesa.
— Espera!

— O que foi? — Ele bufou, parecendo um tanto descontente com a


minha atitude.

— Você não pode ir assim.

— Já a trouxe onde desejava.

— E vai voltar agora?

— Exatamente. — Deu de ombros.

— Por que não descansa um pouco? Aposto que deve estar com fome e
cansado.

Era provável que o melhor fosse deixar que aquele homem fosse
embora. Meus instintos me indicavam o quanto ele era perigoso, mas ao
mesmo tempo me diziam que era a pessoa que havia me mantido segura dos
homens do meu tio e eu queria que ele continuasse por perto, me protegendo.

Eu tinha perdido o meu pai, a pessoa mais importante do mundo para


mim, os homens do meu tio queriam me matar e talvez o fato de estar sozinha
e assustada estivesse afetando mais o meu juízo do que deveria.

Levou um tempo para que o soldado retornasse e falasse comigo.

— O sheik vai recebê-la.

— Obrigada.

Virei-me para trás e encarei o Ettore com uma expressão de súplica, os


olhos apertados e um ar choroso. Continuei assim até que ele acabou
assentindo.

— Não vou ficar por muito tempo.

— Tudo bem.

O soldado fez um gesto para que fosse seguido e eu o acompanhei,


com o Ettore vindo atrás de mim em completo silêncio.

Eu estava confiando demais nele e poderia estar cometendo um enorme


erro, mas só queria me agarrar ao que me transmitia segurança no momento.

Entramos em uma das antessalas do palácio e meu coração vibrou com


uma chama de esperança quando eu escutei o meu nome.

— Nedja!

Levantei a cabeça e vi a esposa do Sheik vindo em minha direção. Ela


estava com os cabelos soltos, ondulados e brilhantes e tinha um ar muito
carismático. Era simpática e muito gentil bem como eu me recordava dela
desde que o Hassan tinha se casado. A mulher não era do nosso país, e não
tinha nossos costumes. A escolha por amor do sheik gerou estranhamento
para muitos, mas para mim era inspiradora e uma pequena amostra de
liberdade.

Enquanto o meu pai estava vivo eu imaginava que o meu casamento


fosse assim, não com alguém que ele escolhera para mim, mas um homem
por quem eu me apaixonasse e quisesse viver o restante da minha vida, por
mais que pudesse ser curta como a da minha mãe.

Só que o meu pai não estava mais ali, o meu tio havia roubado o seu
reino, a minha liberdade e estava me perseguindo. No momento a minha
preocupação tinha que ser sobreviver e não encontrar um amor.

Os braços gentis me envolveram com carinho e eu me senti acolhida


desde que tudo de mais terrível havia acontecido na minha vida.

— Eu sinto muito, querida. — Ela me apertou com mais força.

— Vocês já sabem?

— O acidente foi noticiado.

— Acidente?! — Esquivei-me diante dela, incrédula com a coragem


que poderiam ter ao usar aquela palavra.

— Sim. — Levantou as sobrancelhas, confusa.

— Não teve nada de acidente! — Cerrei os dentes e os punhos com


uma fúria muito intensa me consumindo. — Meu pai foi assassinado.

— É uma acusação muito grave.

Movimentei a cabeça e vi o sheik se aproximando. Ele estava usando


um terno bem-cortado. Era bonito e bem mais jovem do que o meu pai, por
mais que eles fossem amigos, pelas minhas contas Hassan não deveria ter
chegado aos quarenta ainda.

— É a verdade!

— Como pode ter certeza? — A mulher ponderou.

— Meu pai jamais cairia da escada daquela forma, foi empurrado!


Além disso, meu tio nem me permitiu assistir ao enterro. Fui trancada em
uma cela, mas consegui fugir e agora ele mandou homens para me matarem.

— Ah, meu Deus! — ela exclamou.

— Eu sinto muito — disse o sheik com um sincero pesar, mas


mantendo a postura analítica enquanto me observava.

— Sei que era um bom amigo do meu pai. Não estaria pedindo se
tivesse uma alternativa, mas eu não tenho mais para onde ir e se ficar aos
cuidados do meu tio ele vai acabar me matando. — Eu comecei a chorar tão
intensamente que à medida que as lágrimas derramavam o meu peito ia
sofrendo ainda mais com a angústia.

— Ei... — Fui acolhida pela mulher que me aninhou ainda mais. —


Vamos cuidar de você. Não vamos, Hassan?

O sheik ficou em silêncio, respondendo apenas alguns momentos


depois.

— É claro!

— Você deve estar com fome. Parece tão abatida. Vou pedir que
preparem algo para você comer e separar um quarto para que possa tomar um
bom banho. Não quero nem pensar em tudo o que você possa ter passado.
Capítulo dez

Enquanto a Nedja era acolhida pela mulher que me pareceu afetuosa


até demais, fui tomado por uma sensação de dever cumprido. Aquela missão
intensa de um dia havia chegado ao fim e eu poderia retornar para Dubai,
finalizar meus negócios e entrar em um avião de volta para casa. Não havia
nada que eu objetivava mais no momento do que isso.

— Rosimeire...

Rosimeire? Arregalei os olhos quando reconheci o nome da minha avó.


Não acreditava que ele pudesse ser comum naquela região e foi uma
tremenda coincidência. Sem dúvidas uma pessoa tão acolhedora teria algo
relacionado à minha nona.

O sheik se virou para mim e falou alguma coisa, mas como eu não
compreendia nada em árabe a frase se perdeu no vento até que ele mudou
para o inglês.

— E você quem é?

— Alguém que já está indo embora.

— Ettore. — Nedja me chamou, fazendo com que eu olhasse para ela,


mas depois se virou para o sheik e deu-lhe uma resposta melhor do que a
minha. — Ele me protegeu dos homens do meu tio e me trouxe até aqui.

— Por quê? — O sheik questionou a mim.

— Estou me fazendo a mesma pergunta.


— Não é um sujeito de muita conversa.

— Acredite, na minha família eu sou um dos mais simpáticos. — Dei


uma risadinha.

— Ettore, certo? — A mulher com o mesmo nome da minha avó se


virou para mim. Ela era muito mais jovem do que a minha nona, cuja beleza
certamente fora consumida pelo tempo, mas algo nela me fez comparar a
essência da minha avó. Foi tão estranho que eu nem conseguia explicar.

— Sim.

— Você vai ficar para jantar conosco.

— Tenho um compromisso.

— Faço questão.

Olhei para a Nedja e puxei o ar com força, mas acabei assentindo.

Mais algumas horas ali e conseguiria escapar daquela confusão em que


me havia metido, ao menos foi o que me prometi.

Só que quando se caía em um poço de areia movediça, quanto mais se


debatia, mais fundo você se enterrava. Gostasse ou não, estava prestes a
descobrir todos os efeitos disso.
Capítulo onze

— Nem consigo imaginar o quanto deve estar sendo horrível para


você. — Rosimeire colocou a mão ao redor do meu ombro enquanto me
guiava pelo corredor do palácio até me indicar um quarto onde eu pudesse me
acomodar.

— Eu o vi assim que o derrubaram. O Youssef ainda estava na escada e


como consegue dizer que foi um acidente. As pessoas estão mesmo
concordando com isso? — Apertei os dentes com uma força ainda maior me
consumindo.

— Infelizmente sim. — Lamentou com um olhar triste.

— Isso é um absurdo.

— Sinto muito de verdade.

Entramos no quarto e nos acomodamos antes que ela voltasse a fazer


perguntas.

— Realmente prenderam você?

Fiz que sim.

— Que absurdo!

— Teriam feito muito mais do que só me prender se a Regina não


tivesse me ajudado a fugir. Ainda estão atrás de mim e sei que o meu tio quer
me matar também.
— Felizmente aquele bom rapaz apareceu para ajudá-la.

— Sim... — Pensar no Ettore me despertou um alívio.

— Já o conhecia antes?

— Não.

— Então como ele veio parar aqui?

— Eu estava fraca e não me recordo direito. Os homens do meu tio me


perseguiam quando eu saí do deserto para a estrada que leva a Dubai. Ele
estava dirigindo e eu atravessei na frente do carro.

— Céus! Você poderia ter sido atropelada.

— Felizmente não fui.

— Foram dias muito difíceis. — Ela respirou fundo. — Tome um


banho e descanse um pouco. Você merece isso. Continuaremos conversando
depois.

— Muito obrigada, Rosimeire.

— Por nada, querida.

Ela me deu um beijo carinhoso na bochecha e saiu do cômodo,


deixando-me sozinha.

Eu respirei fundo e caminhei até a cama, jogando-me nela e me


permitindo ser envolvida pela sensação de segurança por um momento.

Havia levado uma vida livre, feliz e muito amada ao lado do meu pai,
mas a morte dele significava a perda de tudo isso. Por mais que houvesse
uma parte de mim que queria entregar os pontos e me juntar a ele, o restante
sabia que o meu pai iria querer que eu lutasse, quem sabe até tirar o Youssef
do poder que ele havia usurpado e fazer com que ele pagasse por toda aquela
dor e sofrimento que causara.

Depois de alguns minutos só olhando para o teto, eu me levantei


novamente, tirei a roupa e fui até o banheiro. A água quente escorreu pelo
meu corpo e fios de cabelo, levando a areia que ainda estava impregnada em
mim pelas tantas vezes que eu rolara pelo deserto enquanto tentava correr.

Senti a dor nas minhas pernas. Relaxar fez com que eu percebesse o
quanto havia exigido dos meus membros.

O importante era que eu havia sobrevivido e precisava continuar


sobrevivendo, não poderia dar ao Youssef o gosto de acabar com toda a
minha família.

Depois do banho, quando saí no quarto vi que a Rosimeire havia


separado roupas limpas para que eu pudesse me trocar. Todos os meus
pertences haviam ficado no palácio em Mamlaka. Eu não tinha nada, nem
mesmo dinheiro, mas a proteção do sheik Hassan poderia ser o suficiente
para que eu pensasse em como reaver o que era meu.

Saí do aposento e segui para a sala de jantar onde todos estavam


reunidos, inclusive o Ettore. Quando nossos olhares se cruzaram eu senti um
calafrio. Ele tinha um olhar tão firme e uma presença imponente que me
desestabilizava ao mesmo tempo em que gerava uma espécie estranha de
alento. Era incomum a forma como ele me impactava considerando que
havíamos nos conhecido naquele mesmo dia.

Entretanto, apesar da liberdade que o meu pai havia me dado,


possibilitando que eu estudasse e conhecesse melhor o mundo, eu nunca tinha
ficado tão próxima a um homem quanto dele. Mesmo nas escolas em que eu
frequentei as turmas eram separadas e não tínhamos contato com o sexo
oposto.

— Ettore estava me contando que ele é da Itália — comentou o sheik


comigo quando me aproximei da mesa e puxei uma cadeira para me sentar.

— Sinto saudades de visitar a Europa. — Suspirei com saudosismo


quando lembranças invadiram a minha mente. — O meu pai costumava me
levar até lá durante os verões.

— Existem locais muito bonitos — comentou o Ettore sem se


delongar.

— Coma. — Rosimeire indicou a mesa me incentivando. — Você


precisa recuperar as suas forças.

— Obrigada.

Peguei uma kafta e depois um pouco de creme azedo em um pedaço de


pão sírio. A comida tradicional e bem temperada assentou bem no meu
estômago enquanto eu mastigava no automático, sabendo que precisava.

Depois de tomar alguns goles de suco, voltei a pensar na minha prima.


Torcia para que a Regina estivesse bem e não fosse punida pelo pai, além
disso, queria contar para ela que estava segura e o seu esforço para me ajudar
não fora em vão.

— Eu precisava avisar a Regina.

— Regina? — Todos se viraram para mim.

— A minha prima. Foi quem me ajudou a escapar e eu só queria que


ela soubesse que estou viva.

— Isso pode ser arriscado — ponderou Hassan.

— Eu sei. — Abaixei a cabeça, compreendendo a situação.

— Me dê um endereço — falou Ettore em um tom firme. — Darei um


jeito de informá-la com discrição.

— Obrigada. — Abri um largo sorriso.

— Você parece ter muitos recursos. — Ponderou Hassan ao analisá-lo.

— Não é apenas no Oriente Médio que existem famílias poderosas. —


Inclinou-se para pegar um pão e não estendeu o assunto.

— Com certeza não.

Sabia que o Hassan o analisava e no lugar do sheik eu deveria estar


fazendo o mesmo. Um homem com recursos não era novidade em Dubai, um
local que geralmente reunia milionários do mundo inteiro, mas as habilidades
de luta que me mantiveram viva até aquele momento pareciam incomuns,
ainda que alguns quisessem aprender a se proteger.

De toda forma, eu precisava ser muito grata àquele homem por tudo o
que ele havia feito por mim.
Ele tirou um aparelho celular do bolso e o entregou para mim. Senti
saudades do meu, mas temia que nunca iria conseguir recuperá-lo.

— Digite o endereço e seria bom se tivesse informações mais precisas


sobre como encontrá-la. Como o quarto da residência.

— Vou tentar descrever.

— Ótimo.

Concentrei-me no aparelho, digitando em um bloco de notas o maior


número de informações que me recordava e depois entreguei-as para ele.
Uma chance de dizer a Regina que eu estava bem e o quanto eu lhe era grata
era tudo o que queria.

— Aqui. — Devolvi o aparelho.

— Obrigado.

— Sou eu que tenho que agradecer. — Meu coração trepidou e minha


boca ficou seca enquanto nossos olhares ficaram fixos um no outro.

Ambos segurávamos o aparelho e nossos dedos estavam a milímetros


de se tocarem, mas eu o acabei soltando, deixando que guardasse o celular.

Eu fiquei desconcertada e movi a cabeça de um lado para o outro,


acomodando-me novamente na minha cadeira. Peguei o copo com suco de
laranja e dei algumas goladas, me recompondo. Torci para que ninguém
houvesse notado o meu embaraço.

— Com o que trabalha, Ettore? — Rosimeire puxou assunto quando


percebi que o clima havia ficado estranho.
— Tecnologia.

— Interessante.

—Vim aos Emirados atrás de alguns desenvolvedores que tinham


programas importantes que eu poderia associar aos meus.

— Conseguiu o que queria?

— Tive um pequeno contratempo. — Ele olhou para mim e eu fiquei


sem jeito.

— Eles acontecem.

— Sim.

A conversa se delongou durante o jantar, um tanto esquiva, Ettore não


parecia querer falar muito sobre ele, mas eu precisava me lembrar de que mal
nos conhecíamos. Só o fato de ele ter me trazido em segurança para aquele
palácio já era o bastante para que eu tivesse uma dívida eterna com aquele
homem.

— Acho melhor eu ir agora. — Ettore ficou de pé.

— São algumas horas de estrada até Dubai. — Ponderou Rosimeire.

— Não me importo de dirigir durante à noite.

— É bem-vindo para ficar aqui e ir amanhã. Pode descansar e seguir


viagem logo cedo.

Ele olhou para mim e ficamos nos encarando por alguns instantes até
que acabou assentindo.
— Obrigado pela hospitalidade.

— Por nada. Vou pedir para prepararem um quarto para você.

Ettore assentiu e sentou-se novamente.

Eu não falei nada, mas algo dentro de mim queria que ele ficasse por
perto.
Capítulo doze

O quarto era confortável, espaçoso e muito bem decorado com


tapeçarias e quadros, além da própria arquitetura que era como uma obra de
arte. Um ambiente bem digno de um palácio. Pensei na minha mãe e no
quanto ela amaria tudo aquilo, tapetes e cores a deixavam encantada,
enquanto eu e meu pai preferíamos tons de cinza e pastéis. Cores mais
sóbrias que se refletiam no prédio da empresa.

Tirei roupas limpas da mala e tomei um banho relaxante antes de


retornar para a cama e me jogar nela. Imaginava que o meu tempo ali fosse
tranquilo, mas eu estava exausto devido à aparição repentina da Nedja.
Aquele envolvimento já tinha ido longe demais e poderia me colocar em
problemas que eu não queria.

Peguei o meu notebook e abri um bolso lateral na pasta dele, tirando


um pequeno drone. Ele tinha a autonomia de doze horas de voo e eu esperava
que fosse o bastante para levar o recado à prima da Nedja avisando que ela
estava bem. Configurei o trajeto e as coordenadas, para que parasse próximo
ao palácio, permitindo que eu fizesse controle manual. Certamente havia
segurança no local que poderiam identificar o meu drone e abatê-lo. Ou pior,
conseguir informações que eu não queria.

Por mais que eu me achasse mais inteligente do que a maioria das


pessoas, meu pai havia me ensinado que era prudente não menosprezar os
outros, porque o ego baixaria a minha guarda e me deixaria suscetível a um
ataque. Estando na posição em que estávamos, ficar alerta sempre nos
mantinha vivos.

Meu celular começou a vibrar e eu me surpreendi com uma mensagem


do Thiago.

Thiago:

Aposto que está entretido com um videogame.

Ettore:

Eu tenho certeza de que é bem melhor do que trocar fraldas.

Thiago:

Você não faz ideia do quanto é gratificante ter um filho.

Ettore:

Ishi! Ficou babão.

Assim os nossos inimigos vão pensar que o nosso executor está


fraco.

Thiago:

Eles dificilmente têm tempo para pensar algo.

Ettore:

Convencido.

Thiago:
A minha lista de mortes fala por mim.

Ettore:

É assim que vai contar para o seu filho quando ele começar a
entender o mundo?

Thiago:

Nascemos na máfia, conhecemos como o nosso mundo funciona


desde antes de compreendê-lo. Sei que não vai ser diferente para os
nossos filhos.

Pietro terá o amor da mãe e aprenderá a se defender comigo.

Ettore:

Com certeza.

Thiago:

Talvez seja o momento de você se tornar pai também.

Ettore:

O quê?

Aposto que a Juliana bateu com a sua cabeça e fundiu os seus


miolos. Se nem a minha irmã meu pai forçou a se casar, acha que eu
vou cair nessa?

Thiago:

Chega um momento que é mais forte do que nós.


Ettore:

Com certeza ela fodeu com os seus miolos. Onde está o meu
melhor amigo e o que você fez com ele?

Thiago:

Engraçadinho.

Ettore:

Lembro-me bem das regras, ou uma amante ou uma esposa.


Nunca mais de uma. Prefiro não me envolver com nenhuma e
experimentar a que eu estiver disposto.

Thiago:

Aposto que está se divertindo bastante aí.

Ettore:

Não tanto quanto eu gostaria.

Thiago:

Ah, claro! As mulheres andam todas de burca.

Ettore:

Não é bem assim. Apesar de eu ter visto algumas, não é uma


regra. Estou em um local mais flexível e muitas mulheres nem usam.
Além das turistas.

Thiago:
Entendi.

Só volta logo. Não faria isso hoje?

Ettore:

Amanhã.

Thiago:

Certo. Deixe logo esses brinquedos e venha para a ação de


verdade.

Ri ao ler a mensagem do meu primo. Se ele soubesse dos homens que


eu havia matado naquele mesmo dia não estaria debochando daquela forma,
mas achei melhor não contar. Por mais que ele fosse a pessoa com quem eu
mais compartilhava informações sobre mim, era melhor que ninguém
soubesse daquele envolvimento com a Nedja para que esse não se
transformasse em uma confusão.

Ettore:

Meus brinquedos já salvaram essa sua bunda muitas vezes.

Thiago:

Nunca disse que não.

Ettore:

Sei que está morrendo de saudades de mim, mas eu estarei de


volta logo. Enquanto isso se contente com a sua esposa.

Thiago:

Rsrs.

Só você mesmo, amigo.

Nos vemos em breve.

Ettore:

Até mais.

Parei de trocar mensagens com o meu primo quando o meu drone


chegou ao local indicado. Ele se movimentava bem rápido e sem obstáculos
para desviar no deserto, tornava o trajeto em linha reta possível.

Eu o operei, entrando no palácio e esquivando de alguns guardas, as


câmeras me possibilitavam ver onde eu estava até chegar ao quarto indicado
pela Nedja nas instruções. Abaixei o drone até que ele pudesse colocar o
bilhete por debaixo da porta e depois fiz com que ele saísse por uma janela
aberta no corredor, retomando o caminho de volta.

Programei um retorno em piloto automático e me joguei na cama.

— Missão cumprida — murmurei para mim mesmo ao tombar para


trás e me afundar na cama confortável.

Fechei os olhos, mas antes que eu conseguisse pegar no sono, ouvi uma
batida na porta.
— Ettore! — era a mulher com o nome da minha vó e o seu tom
parecia tenso.

— O que foi?

— Abra a porta.

Resmungando, fiquei de pé e fui até ela. Felizmente eu estava vestido.

Achava que aquela confusão em que eu havia me envolvido tinha


acabado, mas pelo tom da Rosimeire ainda haveria mais.

Puxei a maçaneta e a encarei. Sua expressão parecia tensa e seus olhos


estavam arregalados. Havia uma criança presa à sua perna que estremecia.
Imaginei que pudesse ser uma filha, mas não houve margem para qualquer
pergunta relacionada a isso.

— O que está acontecendo?

— Você precisa tirar a Nedja daqui.

— Como assim?! — Arregalei os olhos e foi a minha vez de ficar em


choque. — Acabei de trazê-la, era para ela estar segura aqui.

— Eu não sei como, mas o Youssef já sabe que Nedja está aqui e veio
atrás dela. Está exigindo que seja entregue para ele.

Descobriu? Cheguei a pensar na prima dela que eu havia acabado de


notificar, entretanto, não haveria tempo hábil para que o pai dela chegasse ali
se nem o meu drone que se movimentava bem mais rápido do que um carro
havia retornado. O homem certamente descobriu por outra forma. Conhecia
as pessoas o suficiente para saber o quanto elas falavam com o estímulo
certo.

— É só vocês não entregarem. Ela é adulta.

— A situação para as mulheres é bem mais complexa desse lado do


hemisfério.

— E o que querem que eu faça?

— Essa é a chave de uma casa que eu possuo próxima a Dubai. Vocês


podem ir para lá e aguardarem nosso contato, mas tomem cuidado para não
serem vistos. — Entregou para mim um chaveiro e um papel contendo um
endereço.

— Por que ela simplesmente não pode ficar aqui?

— O tio dela está se mostrando um homem impaciente enquanto o


Hassan tenta distrai-lo. Meu marido não possui direitos sobre a Nedja e não
pode ficar com ela, mas o Youssef é o parente mais próximo. Eu odeio isso,
acredite e queria poder fazer mais, porém aqui ela não está tão segura quanto
gostaríamos.

— Não... — recuei. — Já me envolvi demais.

— Por favor. Você é um estrangeiro, há flexibilidades quanto às leis


desse local e é o único que pode cuidar dela.

Merda! Gritei para mim em pensamentos.

Deveria ter ido embora bem antes e não ficar ali para que eu precisasse
cuidar da Nedja de novo. Repeti milhares de vezes que ela não era um
problema meu, mas as circunstâncias pareciam discordar.
Poderia muito bem virar as costas, demonstrar que não me importava e
seguir a minha vida sem preocupações, mas a Rosimeire mais jovem na
minha frente me lembrava da minha avó o bastante para que eu não
conseguisse simplesmente fugir. Maldita coincidência!

— Certo! — Puxei a chave da mão dela e guardei no meu bolso no


momento em que o meu drone retornou para o quarto a tempo de que eu
pudesse guardá-lo juntamente com o restante dos meus pertences. — Onde
ela está?

— Escondida.

— Diga a ela para vir até aqui. Vamos embora!

Rosimeire assentiu e saiu puxando a criança com ela enquanto eu


guardava as minhas coisas.

A sensação de que eu não iria simplesmente conseguir me livrar da


Nedja se tornou ainda mais intensa. Talvez eu não fosse assim tão mais
esperto quanto pensava. Estava cometendo o mesmo erro do Thiago de trazer
uma mulher para perto demais, mas diferente dele, eu não tinha qualquer
intenção de torná-la minha amante por mais que fosse uma mulher muito
bonita.
Capítulo treze

Mal tive tempo de deitar sobre o travesseiro e respirar em segurança


por alguns segundos antes que o meu tio voltasse a me assombrar. Ele
descobriu meu paradeiro bem mais rápido do que eu imaginava e já estava
em Sahra para me buscar.

O sheik me havia oferecido refúgio e proteção, mas não poderia me


esconder daquele que era teoricamente o responsável por mim após a morte
do meu pai.

Tomei um susto quando ouvi uma batida na porta da dispensa onde a


Rosimeire me havia escondido quando o meu tio chegara acompanhado dos
seus homens.

— Sou eu. — Ouvi o som da voz dela do outro lado.

Saí de trás e permiti que abrisse.

— Ele já foi embora? — Perguntei com esperança.

Rosimeire balançou a cabeça fazendo que não.

Bufei cerrando os dentes.

— Hassan disse para ele que eu estou aqui?

— Não! Está mentindo para o seu tio, mas não pode sustentar isso por
muito tempo. Você compreende que uma guerra entre Mamlaka e Sahra não é
viável. Além disso...
— Eu sei. — Abaixei a cabeça, sabia muito bem o quanto tudo aquilo
era horrível e não poderia pedir para que enfrentassem o exército do meu tio
por mim.

Youssef era um homem sanguinário e impiedoso. Hassan e Rosimeire


tinham os próprios filhos para protegerem e eu também não queria que
ninguém se machucasse por minha causa.

— O que vai acontecer comigo?

Por mais que o Hassan estivesse tentando enganar o meu tio, eu iria
compreender se quisessem me entregar. Qualquer outro homem criado de
acordo com os nossos costumes não pensaria duas vezes. Gostasse ou não,
meu tio era o responsável por mim e acreditariam que eu precisava obedecê-
lo, ao menos enquanto ainda não tivesse um marido.

— Ettore vai tirá-la daqui.

— Ele vai? — Meu coração se encheu de esperanças.

Rosimeire fez que sim.

— Ele a está esperando.

Por um momento eu me senti um pouco mais tranquila sabendo que ele


conseguiria me manter em segurança e diferente do Hassan não era um
homem dos Emirados nem precisava manter qualquer aliança política.

— Vamos. — Ela me guiou e eu vi que havia uma criança assustada


presa à perna dela.

— Ei, pequena!
— Ela acordou e não quer ficar no quarto — comentou Rosimeire ao
afagar o cabelo da filha.

— Obrigada pelo que estão fazendo por mim.

— Gostaria de poder fazer mais.

— Entendo o quanto a situação é delicada.

— Não podemos perder tempo. O quarto dele é por ali. — Ela indicou
um corredor e me instruiu a correr.

— Obrigada.

Não olhei para trás, usei todo o fôlego que havia em meus pulmões e só
parei ao me deparar com uma porta aberta.

Ettore estava de pé e quando eu o encarei, deixei escapar um longo e


profundo suspiro de alívio.

— Obrigada.

— Só vamos embora daqui. — Passou por mim e seguiu pelo corredor.


— Tem uma saída nos fundos.

— Como você sabe?

— Ficaria surpresa com tudo que eu consigo descobrir em alguns


cliques, mas não temos tempo para isso.

— O carro não está estacionado na frente do palácio?

— Sim, mas imagino que não queria dar um oi para o seu tio. Então
vamos nos encontrar com ele em outra saída.
Encontrar com ele?

Aquele questionamento ecoou pela minha cabeça enquanto seguíamos


pelo corredor. Só que eu já tinha feito perguntas demais para o Ettore e
precisava conseguir sair dali sem ser vista pelo meu tio e confiava nas
habilidades do estrangeiro.

Assim que pisamos no portão dos fundos, onde havia alguns guardas
do Hassan, eu ouvi o som de pneus cantando e reparei no carro se
aproximando no horizonte, mas ele não estava sozinho, um dos veículos com
homens do meu tio o estava seguindo.

— Droga! — Ettore balbuciou. — Vamos ter que entrar rápido.

Assim que o veículo parou, abriu a porta sozinho e Ettore jogou as


malas sobre o banco de trás, empurrou-me para entrar. Assim que eu caí
sobre o estofado, passando pelo câmbio um tiro acertou a porta deixando-me
assustada.

Ettore a fechou e assumiu o volante.

— O carro veio para cá sozinho?

A minha pergunta se perdeu no vento quando outro disparo acertou o


vidro traseiro.

— Acho melhor você se segurar. — Ele puxou o cinto e eu fiz o


mesmo.

— Attenzione! — Uma luz vermelha começou a piscar no painel e


presumi que fosse uma espécie de alerta, mas o que falou em seguida estava
em um idioma que eu não compreendia.

Ettore respondeu na mesma língua e por mais que eu me esforçasse,


não entendi nada, mas presumi que fosse italiano.

Ao invés de avançar para o deserto que rodeava o palácio, como eu


esperava, Ettore deu a volta e passou pela frente do palácio, chamando mais
atenção para nós do que eu gostaria.

— Achei que a intenção fosse não sermos vistos.

— Meu carro não tem tração para o deserto. Se queremos uma chance
de conseguir escapar é melhor seguirmos pelo asfalto.

Só balancei a cabeça.

Eu tinha aprendido a dirigir, mas não foi uma habilidade que eu pude
aprimorar, além disso, havia um preconceito enorme com mulheres dirigindo.

Mais outros dois carros vieram atrás de nós e Ettore acelerou com mais
força, fazendo com que o ponteiro do velocímetro girasse rápido, atingindo
uma velocidade que eu não sabia se era recomendada.

Movi o meu corpo para trás, tentando avistar aqueles que nos
perseguiam e eles estavam bem mais próximos do que eu gostaria. Eram sem
dúvidas mais lentos do que o carro do Ettore, mas pareciam determinados a
nos pegar.

Outro disparo acertou a lateral do carro e eu saltei, depois me encolhi.


Tinha muito medo de que um daqueles tiros acabasse nos atingindo e a forma
como eu estava sendo perseguida deixava bem claro que o meu tio tinha dado
ordens para que me matassem.

Youssef não era tão burro quanto eu gostaria e tinha ciência de que, por
mais que eu fosse mulher, minha vida poderia ser uma ameaça ao seu
governo. Ele até poderia acreditar que não havia punição pelo que tinha feito
com o meu pai, mas eu iria me esforçar para conseguir encontrar uma.

— Acalme-se. — Ettore se virou brevemente para mim. — O carro é


blindado.

A sua fala não foi o suficiente, pois a cada tiro que eu ouvia, mais
acelerado o meu coração parecia ficar. Quem era aquele homem e o que o
fazia ficar tão calmo diante de uma situação tão desesperadora como aquela?

— Se segura.

— Por quê?

Ele não me respondeu, mas pisou no freio, fazendo com que o carro
parasse de uma vez quase no mesmo instante. A inércia jogou o meu corpo
para a frente, e fez com que o cinto machucasse o pescoço. Entretanto o que
mais me assustou foi o carro que bateu na traseira, nos jogando um pouco
adiante.

Nosso veículo era bem menor, mas o impacto no outro pareceu ser
proporcional. Ettore mexeu no volante, apertando alguns botões e depois
pisou no acelerador novamente, levando o carro a ganhar velocidade outra
vez.

Olhei para trás e vi o veículo que havia batido em nós explodir,


subindo com uma fumaça preta para o ar, mas o que havia com ele não
desistiu de nos perseguir.

— Isso foi legal! — Ele pareceu empolgado.

— Você é doido?

— Não. — Riu.

— Eles ainda estão atrás de nós. — Indiquei o outro carro.

— Já vou dar um jeito neles. — Ele acionou outras funcionalidades no


volante e eu vi algumas bolas pretas caírem e grudarem no chão.

Quando o outro veículo tentou passar por elas, explodiram como se


fossem minas. Até que o automóvel foi pelos ares assim como o primeiro.

— Você poderia ter feito isso antes? — perguntei depois de afastar a


mão do peito que estava apertado por causa do susto.

— Sim.

— Então por que deixou que batessem em nós?

— Só queria testar a resistência do carro.

Neguei com a cabeça e ele reduziu um pouco a velocidade ao notar que


não havia mais ninguém nos seguindo. Eu imaginava que estivesse salva ao
menos por enquanto.
Capítulo quatorze

O Thiago achava que eu estava sempre longe da ação de verdade, mas


ele iria ficar surpreso com tudo o que eu já havia passado desde o momento
em que a Nedja tinha cruzado o meu caminho.

Eu não queria me envolver, mas já estava atolado naquela situação até


o pescoço. Se a mulher no meu carro não iria ficar sob a proteção do amigo
do pai, eu já estava sem opções sobre o que fazer com ela.

— Para onde vamos? — Ela olhou para trás e conferiu mais uma vez se
estávamos ou não sendo seguidos pelos homens do tio.

— A mulher do sheik me deu um endereço e a chave de uma casa. Vou


levar você para lá.

— Não acha que o meu tio possa tentar nos encontrar?

— Por enquanto é o caminho que temos.

Ela assentiu e eu configurei o endereço no GPS para que pudesse


chegar ao local indicado.

Por mais que boa parte de mim acreditasse que eu finalmente estava
indo para um local onde a Nedja pudesse ser deixada em segurança para que
eu finalmente voltasse a tratar dos meus negócios, parecia cada vez mais
evidente que aqueles homens iriam continuar perseguindo-a.

— Obrigada — quebrou o silêncio.


— Por quê? — Continuei com as mãos no volante e não virei a cabeça
na direção dela.

— Ter me salvado mais uma vez.

— Parece que você não consegue ficar longe de confusão.

— Bem que eu queria.

— Talvez precise tentar um pouco mais.

Ela não falou nada, só soltou o ar com força dos pulmões.


Considerando tudo o que havia passado estava até bem estável. Outras
mulheres estariam em completo pânico, mas talvez fosse a vontade de
sobreviver que a mantivesse firme.

Chequei o endereço quando chegamos diante de uma bela mansão. Ela


era sofisticada e tinha um ar luxuoso, mas muito menor do que o palácio de
onde havíamos acabado de sair. Certamente não tinha a mesma infinidade de
quartos.

Encontrei um controle na chave que a mulher me havia dado e


entramos pelo portão, mas dessa vez, deixei o carro escondido atrás, o
máximo que consegui antes de avançar pela praia particular. Se
precisássemos fugir novamente era melhor que encontrássemos uma rota
mais adequada.

Eu saí e ela passou pela outra porta.

Considerando todas as vezes em que precisei me mover rápido por


causa dela, nem tirei os meus pertences que estavam dentro do veículo.
Fomos para a porta de entrada e antes que eu colocasse a chave no
encaixe, alguém abriu a maçaneta. Era um homem de meia idade que estava
usando um pijama de roupas longas e nos dirigiu um sorriso largo.

— Sejam bem-vindos!

— Sabe quem somos? — perguntei desconfiado.

— Fui avisado que viriam. Por favor, entrem. — Ele deu um passo
para o lado e abriu melhor a porta para que tivéssemos acesso ao hall.

A casa tinha uma arquitetura bem mais moderna do que a do palácio,


mas o lustre de cristal na entrada indicava que o requinte também estaria
presente ali. Eu estava acostumado com o luxo desde bem novo e não era
qualquer surpresa para mim, minha mãe amava ouro, brilho e cores, por mais
que algumas vezes meu pai dissesse que ela exagerava.

— Obrigada. — Nedja retribuiu a gentileza do homem.

— Por nada. Meu nome é Khalifa, sou o mordomo dessa casa e poderei
providenciar tudo o que necessitarem.

— É muita gentileza da sua parte.

— A minha senhora disse que precisariam de abrigo.

— Sim. — Nedja voltou a suspirar.

Por enquanto eu estava lidando com toda aquela situação sozinho, não
queria envolver a minha família, nem deixar que eles soubessem das
aventuras em que eu me metera por causa de uma mulher indefesa que
carecia de proteção. Entretanto, se não conseguisse sair dali logo, precisaria
contar o que estava acontecendo.

Eu não tinha que ter me responsabilizado por ela. Estava brigando


comigo mesmo em pensamentos, sabia dos riscos desde o início, mas a
situação estava se transformando em uma bola de neve e ficando sem
controle rápido demais.

— Aceitam um pouco de água?

— Sim, por favor — respondeu Nedja e eu permaneci calado.

O mordomo se afastou, deixando-nos sozinhos na sala, nos


entreolhando até que ela se arriscou a falar algo.

— Eu sinto muito.

— Pelo quê? — Coloquei as mãos nos bolsos e continuei com uma


postura mais rígida.

— Arrastá-lo para tudo isso.

— Não é culpa sua.

De fato, não era. Ela poderia ter se jogado na frente de qualquer carro
ou de nenhum. A possibilidade que nos conhecêssemos naquele momento era
ínfima, mas ainda assim acabou acontecendo. Eu tinha que escapar, livrar-me
daquela situação, mas o dever estranho de proteger aquela desconhecida me
impedia de virar as costas.

Meu tempo nos Emirados como eu havia planejado já estava acabando,


entretanto ela ainda não estava em segurança como deveria.
— Se não pode ficar em Sahra para onde vai?

— Eu... — Ela pareceu prender a respiração e abraçou-se como se eu


tivesse falado algo que a deixasse com medo, mas na verdade, tudo o que eu
queria era logo um jeito de escapar daquele dever antes que tudo piorasse
ainda mais. — Eu não sei... — Acabou confessando o que eu não queria
escutar.

— Será que não pode ficar por aqui? — Movi a cabeça, olhando de um
lado para o outro. — É uma bela casa.

— Sim, é muito bonita. — Deu um sorriso rápido que logo se apagou.


— Só não sei se o meu tio vai acabar me encontrando aqui também.

— Eu espero que não.

— É...

Antes que fizesse qualquer outra pergunta, o mordomo voltou com uma
bandeja segurando uma jarra de água gelada e dois copos. Colocou-a sobre
um dos móveis e serviu a nós dois.

Nedja tomou com calma e deixei que respirasse por aquele momento,
pois eu não sabia quando ela teria que voltar a correr.

Depois que nos servimos o mordomo se afastou, dizendo que iria


providenciar quartos para que pudéssemos descansar pela noite. Entretanto eu
ouvi o som de um telefone tocar e não demorou muito para que ele voltasse
segurando um aparelho .

— É a minha senhora.
— Rosimeire! — Nedja pegou o objeto às pressas.

— Vocês chegaram bem? — por mais que a ligação não estivesse no


viva-voz, o som da chamada estava alto o bastante para que eu conseguisse
escutar mesmo não estando com ele na orelha.

— Estamos bem.

— Ah, que boa notícia!

— Meu tio ainda está aí?

— Não. Foi embora, enfurecido com o Hassan, mas agora tem certeza
de que você não está mais aqui.

— Acha que ele sabe para onde viemos?

— Acredito que não, mas é só uma questão de tempo.

— Nedja. — Ouvi a voz masculina do outro lado da linha. Estava um


pouco mais baixa do que a da mulher e eu precisei chegar mais perto para
escutar melhor.

— Sim, sheik.

— Em honra à amizade que eu tinha com o seu pai e a respeito dos


meus próprios princípios farei o que puder para ajudá-la, mas preciso alertá-
la. Os Emirados não são local seguro para você. Seu tio se tornando Emir
ganhou ainda mais poder e influência do que já possuía e há muitos que o
apoiarão em relação às vontades de uma mulher. Há quem pense diferente,
mas a grande maioria irá concordar com ele, por isso tem que sair daqui. É a
única forma que eu vejo de estar mesmo segura.
— Sair... — Nedja estremeceu.

— Sim.

— Mas eu não tenho os meus documentos.

— Os documentos eu posso providenciar, mas a autorização para você


sair...

— Teria que ser dada pelo homem responsável por mim. — Ela bufou,
revirando os olhos. — O que nos leva de volta ao meu tio.

— Não necessariamente.

— Sobre o que está falando, sheik?

— Podemos mudar isso e mantê-la segura se você se casar. Um marido


pode tirá-la do país e da influência do seu tio.

— Casamento... — Ela balbuciou pensativa.

Quando seus olhos se viraram na minha direção eu dei um passo para


trás, recuando como se houvesse tomado um coice bem no meio do peito que
me deixou completamente sem fôlego.

Não! gritei comigo mesmo em pensamentos por mais que não


houvessem se referido a mim. Nem fodendo...

Queria ficar livre daquela mulher e me casar com ela definitivamente


não era uma alternativa.

— Posso ajudar com o casamento e fazer com que ele seja legal.
Providenciaremos novos documentos e você deixa o país.
— Não é permitido para uma mulher casar com homens não islâmicos.

— Dubai passou a aceitar casamentos civis.

— Sei que parece loucura. — A voz mudou para a mulher novamente


—, mas fora do país seu tio não teria as mesmas influências, principalmente
se você fosse para a Europa em que extremistas são malvistos.

— Longe daqui você estará segura, Nedja — reforçou o sheik.

— Mas casada — ela repetiu, absorvendo a informação. — Com


quem? — Logo depois de dizer essa frase ela se virou na minha direção.

Recuei ainda mais.

— Eu preciso desligar. — Ela entregou o telefone de volta para o


mordomo.

— Estarei na cozinha se precisarem de mim. — O homem deu um jeito


de se afastar rapidamente nos deixando sozinhos.

— Olha, Nedja. — Levantei as mãos em sinal de pare para que ela não
se aproximasse de mim. — Eu não posso me casar com você.

— Então você escutou?

Só movi a cabeça fazendo que sim.

— Já é casado?

— Não, mas você nem me conhece...

Ela ponderou por alguns instantes, mas a minha resposta não pareceu
ser o suficiente para fazer com que desistisse daquela ideia estapafúrdia.
Eu era cria da máfia italiana, tinha uma ficha de crimes suficientes para
passar três vidas em uma prisão. Não era uma informação que deveria revelar
para ela, mas me tornava completamente desqualificado para aquele plano.

— Você me protegeu deles.

— Por puro acaso.

— Ainda está aqui... — Cruzou os braços na frente do corpo e me


lançou uma expressão de súplica.

Nedja tinha um rosto lindo e era uma mulher atraente, mas precisaria
de mais do que isso para me convencer a me casar com ela. A população
daquele lugar não era a única arraigada a velhos conceitos religiosos. Para a
minha família o matrimônio era sagrado, uma união para o restante da vida.
Divórcios não eram aceitos e eu não poderia cometer o equívoco de me casar
com a pessoa errada e me prender a ela para sempre.

— Sei que eu não posso pedir isso a você — retomou a fala quando
percebeu que eu não iria dizer mais nada.

— Ainda bem que sabe.

— Mas se eu ficar aqui o meu tio vai me matar.

Minha vontade era dizer que ela estava sendo dramática demais,
entretanto era um fato. Em menos de um dia eu já havia salvado a vida dela
três vezes e era bem provável que morresse assim que eu a abandonasse.

— Você não é problema meu — soltei em um tom mais ríspido que fez
com que ela arregalasse os olhos e engolisse em seco.
— Sei que não... — Ela fez força, apertando os olhos, mas não
conseguiu conter as lágrimas.

Vê-la aos prantos tornou a minha decisão ainda mais difícil.

Eu não tinha vindo a Dubai para fazer caridade, meu histórico me dizia
que eu não era um homem bom. Ainda sentia que precisava me livrar dela,
mas já parecia atolado até o pescoço naquela areia movediça.

Enfiei a mão no bolso e tirei um lenço, entregando-o a ela.

— Não chore.

— Como não quer que eu chore? — Ela começou a soluçar e cerrou os


dentes, ficando irritada comigo. — Meu pai foi morto pelo próprio irmão que
quer me matar também. Nem consegui acompanhar o enterro dele e o único
local onde eu imaginei que pudesse ser um refúgio para mim também não é
suficiente para me manter segura. Estou viva agora, mas quem me garante
que o meu tio não vai aparecer em alguns minutos?

Eu bufei, no fundo não a queria morta, mas fiquei calado até que a sua
frase seguinte me testou além do limite.

— Talvez seja melhor que ele me capture logo e acabe com a minha
vida.

— Pare de falar besteira! — rosnei para ela.

Ela se encolheu, olhando para a minha expressão furiosa quando eu


cerrei os punhos.

Nedja engoliu em seco e continuou quieta.


Ela era inocente demais, porque se fosse um pouco mais esperta já teria
percebido que eu poderia ser um homem muito mais perigoso do que o tio
dela.

— Você não estará segura comigo.

— Só preciso conseguir sair do país. Ir para bem longe onde o meu tio
não possa ter tanta influência. Não precisamos permanecer casados, você me
ajuda a sair e eu serei eternamente grata. Em um lugar onde eu responderei
pelas minhas próprias vontades poderemos nos divorciar. Talvez eu vá para
os Estados Unidos e fique por lá.

Quantas pessoas eu já havia matado, por que simplesmente não a


deixava para morrer também?

Deveria ser mais fácil virar as costas para aquela confusão iminente e
escapar de um problema que poderia se tornar ainda maior no futuro. Por
mais emocionante que todas aquelas lutas, fugas e perseguições fossem para
mim, eu tinha algo muito maior do que meu ego para resguardar.

A minha família precisava ser protegida a qualquer custo, muito mais


do que uma mulher que eu conhecia há um dia.

— Ettore... — Ela deu um passo na minha direção e eu balancei a


cabeça, negando e tirei o braço do seu caminho antes que me tocasse.

Envolver-me com ela a ponto de nos casarmos poderia abrir


precedentes que eu nem queria imaginar e todos os meus instintos de alerta
gritavam tentando me fazer entender os riscos disso.
— Se você não me ajudar... — Ela continuou insistindo.

— Eu não sou um bom candidato para isso. Encontre outra pessoa. —


Meu tom se tornou ainda mais ríspido.

— Quem? — Ela moveu as mãos de um lado para o outro. — Olhe em


volta, estamos sozinhos.

— Na verdade, tem o mordomo.

— Acha que ele enfrentaria os homens do meu tio como você fez?

Engoli em seco e fui obrigado a ficar calado. Não poderia ser tão idiota
a ponto de dizer que sim, porque era evidente que aquele sujeito
engomadinho acostumado a carregar bandejas não aguentaria um único soco.
Nedja continuava na minha frente, como uma expressão chorosa e de
profunda súplica. Por mais que eu não quisesse isso ainda parecia a sua única
alternativa.

Se eu me casasse com ela...

Ettore, no que está pensando!, briguei comigo mesmo antes que fosse
longe demais.

— Eu não sou a salvação de ninguém, Nedja.

— Por mais que não admita você já me salvou várias vezes. Se não
fosse por você, Ettore, eu já teria morrido naquela estrada onde você quase
me atropelou.

— Foi só uma coincidência...


— É só por causa de uma coincidência que você ainda está aqui?

— Já deveria ter ido embora há muito tempo. — Permaneci arredio,


com esperanças de que ela desistisse logo daquela ideia insana.

— Mas não foi.

— Erro meu.

— Sorte a minha. — Ela forçou um sorriso. — Eu preciso de você.

— Seria bem melhor se precisasse de qualquer outra pessoa, confie em


mim, eu não sou um bom candidato para marido.

— Eu não estou pedindo que case comigo, bom... Não como marido e
mulher de verdade. Só estou suplicando que me proteja mais uma vez.
Vamos nos casar e fingir que estamos juntos, só até que consiga sair do país e
estar segura, depois disso nos divorciamos e você estará livre de mim.

— Achei que estaria livre de você quando a deixasse em Sahra.

— Vai ser diferente dessa vez.

— Não pode me prometer isso.

Ela cerrou os lábios e voltou a engolir em seco.

— Você tem razão, eu não posso, mas é a única esperança que eu


consigo ter.

— Não posso fazer isso, Nedja. — Afastei-me um pouco mais e


caminhei até a janela, olhando para a bela vista da praia e a lua cheia tocando
o mar em uma espetacular paisagem noturna. Aquela mansão era maravilhosa
e não parecia ser um grande sacrifício morar ali.

— Ettore... — Ela se aproximou de mim com o mesmo tom de súplica.

Se aquela menina soubesse o assassino que eu era não estaria me


implorando para protegê-la daquela forma.

Não era adequado que eu saísse por aí gritando para o mundo que era
um mafioso. Essa informação poderia colocar em risco a minha segurança,
não iria contar para a Nedja, mas meus demais alertas deveriam ter sido o
bastante para que nos afastássemos.

Senti os seus dedos delicados subirem pelo meu ombro enquanto ela se
arriscava a me tocar. Estava tão desesperada que não conseguia parar de
insistir naquela loucura por mais que os meus sinais fossem bem enfáticos.

— A minha família é católica. — Virei-me para ela. — Não sei se já


ouviu, mas depois que um padre termina um casamento, ele sempre diz: Até
que a morte os separe.

— Eu entendo... — Ela recuou, esfregando os braços como se houvesse


começado a sentir frio.

— Ótimo!

— Mas não vamos nos casar sob nenhuma religião. Nem islã, nem
católica. O Hassan disse que é possível uma cerimônia civil. Depois nos
divorciamos...

Deixei que o silêncio tomasse conta do ambiente enquanto ainda


processava a insistência dela e aquela proposta estapafúrdia. Eu vim ao
Oriente Médio com o objetivo de comprar tecnologia e não retornar para casa
com uma esposa.

Conhecia a minha família o bastante para saber que não tolerariam um


casamento falso. Seria difícil de explicar e duvidava que algum deles fosse
entender o quão estúpido eu fora ao ponto de me envolver naquilo.

— Por favor... — Ela voltou a choramingar novamente. Imaginava que


não fizesse real ideia do quanto aquelas lágrimas me impactavam ou as
derramaria mais.

Que merda!

— Eu jamais tocarei você. Esse não será um casamento de verdade.

Ela arregalou os olhos quando voltei a encará-la.

— Não é para ser de verdade — murmurou muitos instantes depois.

— Muito bem.

— Eu tenho assuntos que são confidenciais. É melhor que não me


pergunte sobre os meus negócios nem o que eu faço.

Ela balançou a cabeça.

Bufei ao pensar novamente nos riscos de concordar com aquela ideia


infundada e maluca.

— Depois que estiver alocada na Europa providenciaremos os papéis


do divórcio. Seguirá a sua vida e eu não serei responsável por você.

— É tudo o que eu peço.


— Então diga ao sheik para providenciar o casamento.

— Obrigada! — Ela abriu um largo sorriso e eu fiquei ainda mais


tenso.

A minha família não poderia nem sonhar com aquele casamento.

Bem no fundo ainda sentia que a salvação dela poderia ser a minha
ruína.
Capítulo quinze

— Vou providenciar um juiz de paz e a documentação para o


casamento. — Avisou o sheik Hassan do outro lado da linha e apesar de não
poder ficar com eles, ainda estava imensamente grata por toda a ajuda
oferecida.

— Irei aguardar.

— Tomem cuidado — alertou em um tom mais firme. — Imagino que


seu tio não saiba que estão aí, mas vamos torcer para que ele não apareça.
Ainda pode levar alguns dias para que toda a documentação que você
necessita para deixar o país seja providenciada. Até lá vai continuar em risco.

— Eu sei.

— Ligo quando tiver notícias.

— Muito obrigada, sheik Hassan.

— Por nada, Nedja.

Ele desligou a chamada e eu fiquei olhando para o telefone fixo por


alguns minutos.

Respirei fundo e coloquei a mão livre sobre o peito apertado ao fechar


os olhos. Recordei-me de como era a minha vida em Mamlaka, de todo o
carinho do meu pai e a convivência harmoniosa com a minha prima Regina.
Ela não era uma irmã, mas durante todo esse tempo que crescemos juntas,
acreditava que era o que nós duas sentíamos em relação uma à outra. Nós nos
apoiávamos e compartilhávamos segredos.

Eu sentia saudades dos abraços dela e dos momentos em que ficávamos


acordadas até tarde apenas conversando uma com a outra. Seria difícil viver
sem isso. Por mais que durante muitos momentos eu estivesse em Dubai
estudando, ainda conversávamos por telefone.

Embora a minha vida enquanto o meu pai estava vivo fosse muito boa,
ainda que com o peito apertado, precisava admitir que nunca voltaria a ser
como antes. A morte dele tinha levado uma parte importante da minha
existência, meus sonhos e planos e naquele momento tudo o que eu tinha
comigo era a necessidade de sobreviver.

Devolvi o telefone fixo ao mordomo, que ainda estava acordado,


esperando algum comando nosso enquanto a madrugada avançava. Voltei
para a sala, onde o Ettore ainda estava distraído observando a visão do mar
que tinha através de uma das paredes de vidro do cômodo.

Aquele homem havia entrado na minha vida no momento em que eu


mais precisava dele, sem dúvidas ainda era a razão para que eu continuasse
viva e seria para que eu permanecesse dessa forma. Nós nos conhecíamos há
menos de um dia e depois do meu pai, ele já se havia tornado o homem que
mais me defendera e cuidara de mim, por mais que se esforçasse para deixar
evidente que não gostava disso.

A verdade era que eu precisava dele, não poderia deixar que fosse
embora sem me levar. Se aquele meu protetor me abandonasse, seria apenas
uma questão de tempo para que o meu tio me matasse. Tinha muita ciência de
que fora bem insistente em relação ao casamento falso, entretanto, eu não
tinha uma alternativa.

Se Ettore me tirasse dali eu poderia ser livre em um local onde os


direitos das mulheres eram respeitados. Já era adulta, assim o meu tio não
poderia me arrastar de volta para uma cela em Mamlaka e acabar com a
minha vida.

— Preciso agradecê-lo mais uma vez. — Aproximei-me chamando a


sua atenção.

— Faça isso quando estiver em segurança. — Virou-se para mim ainda


com um ar arredio que me deixou sem jeito.

— Acha que ele nos atacaria aqui?

— Eles não tentaram fazer isso no palácio?

— Tem razão. — Movimentei a cabeça assentindo.

—Vamos para a Europa em alguns dias.

— Dias? — Ele arregalou os olhos.

— É o tempo que o Hassan vai precisar para providenciar tudo.

— Eu pretendia retornar para casa hoje mesmo. — Movimentou a


cabeça e reparou no sol que estava nascendo no horizonte.

— Eu sinto muito.

— Com certeza sente — resmungou e eu percebi que havia apenas


evidenciado o seu lado mais irritadiço. O casamento era algo que Ettore havia
deixado bem claro que não queria.

Pensei que ele fosse apenas mais um daqueles playboys ocidentais que
tinham muitos envolvimentos, mas não criavam laços com ninguém. Cheguei
a me questionar com quantas mulheres ele havia se deitado, mas isso não era
da minha conta.

O nosso casamento seria falso.

Casamentos com noivos que mal se conheciam eram comuns ali. Com
as uniões arranjadas pelos pais, o casal se via poucas vezes antes que fossem
condenados a uma vida conjugal. Só que na Europa já não era mais assim há
muito tempo.

Eles namoravam, passavam um bom tempo juntos antes de realmente


decidirem se era essa pessoa com quem desejavam passar o restante de suas
vidas. Quem sabe depois do divórcio eu poderia experimentar algum
relacionamento assim.

Naquele momento, mais do que por amor, precisava daquele homem


para me salvar.

Um calafrio varreu a minha espinha e fez com que eu me retorcesse.

Você não me conhece...

Seus alertas ecoavam na minha mente como se houvesse algo com que
eu devesse me preocupar, mas eu não conseguia enxergar nada.

Sem o meu pai ali, Ettore era o homem com quem eu conseguia
encontrar refúgio.
— Separei os quartos para que possam descansar um pouco. — O
mordomo se aproximou de nós atraindo nossa atenção.

— Obrigada. — Sorri para ele.

— Podem me acompanhar, por favor.

Eu assenti e o Ettore não emitiu nem um único som, indo por último
pela escada até o longo corredor de quartos.

— Aqui, senhorita. — Ele indicou para mim e eu fui a primeira a


entrar, fechando a porta e voltando a ficar sozinha.

Aquelas últimas vinte e quatro horas haviam sido tão agitadas que o
meu corpo estava exausto. Era como se um ano inteiro houvesse acontecido
em poucos instantes.

Caí na cama e peguei no sono em poucos minutos. O cansaço me


consumiu tão rápido que nem me preocupei com os perigos de cair em um
sono profundo. Quem sabe ao menos em meus sonhos eu conseguisse ficar
livre de toda aquela confusão.
Capítulo dezesseis

Por mais que eu estivesse cansado, a irritação impediu que eu caísse no


sono de imediato. Joguei-me na cama e fitei o teto.

Deveria estar em um quarto confortável de hotel e não envolvido ali,


mas já chegava de lamentar isso, pois por mais que fosse a minha vontade,
não consegui evitar.

Casar com a Nedja a salvaria dos homens do tio, a tiraria daquele lugar
e após o divórcio eu finalmente me livraria daquilo.

Talvez, apenas por um momento, percebi o quanto o Thiago havia se


complicado tão rápido. Salvar uma garota de alguns bandidos nunca era tão
simples quanto parecia. Elas eram como chicletes, grudavam em nós e nem
conseguíamos nos desgarrar.

Se não quisesse correr o risco de que um casamento falso se


transformasse em uma obrigação para o restante da minha vida eu não
poderia deixar que a minha família tomasse conhecimento disso.

Ninguém, nem os meus irmãos ou o meu melhor amigo poderiam saber


da Nedja. Assim que chegássemos à Itália eu teria que mantê-la escondida,
em total segredo. Já até conseguia prever como os meus pais reagiriam se
soubessem da nora.

Eu ainda era um cara jovem, estava longe dos trinta e tinha muito para
aprender e explorar, não tinha que me amarrar a uma desconhecida só porque
ela precisava de cuidado.

Aquele casamento não aconteceria em uma igreja, com uma grande


festa como era a tradição da minha família e jamais seria consumado, o que
por si só já o invalidava.

Por fim, a ideia de seguir para os Estados Unidos que Nedja tivera não
era das piores. Poderia mandá-la para Nova York e pedir que os Lansky
ficassem de olho nela por mim. Pensaria em alguma explicação plausível para
isso, mas poderia funcionar.

Puxei o meu celular e percebi que já era de manhã e eu ainda não havia
dormido. Precisaria descansar se quisesse lutar com outros dez homens
novamente, só que parecia difícil com a mente ainda processando a mil por
hora.

Mandei uma mensagem para o homem com quem eu teria que me


encontrar, e que eu pretendia comprar tecnologia.

Ettore:

Está tudo confirmado para o nosso almoço hoje?

Mohammed:

Sim. Os arquivos já foram transferidos para um HD externo e


prontos para entregar ao senhor se estiver com o dinheiro.

Ettore:
Cinquenta mil dólares americanos. A quantia estará em mãos.

Mohamed:

Perfeito.

Ettore:

Faremos um bom negócio.

Mohammed:

Com toda certeza. Nos vemos no almoço.

Ettore:

Até lá.

Estava ansioso pela aquisição daquela tecnologia e acreditava que os


meus irmãos também iriam desfrutar bastante dela. Um programa de
camuflagem e crepitação de dados tornaria as nossas transações mais seguras
e negócios menos rastreáveis, não apenas pelos nossos inimigos, mas também
pela polícia. Aqueles que se negavam a entrar na nossa folha de pagamento
em um momento ou em outro acabavam causando problemas.

Por mais que o Thiago se exibisse do número de mortes e aqueles que


silenciava, eram as nossas operações que levavam o dinheiro e escondiam os
rastros. Por mais que uma parte ou outra se achasse mais importante, todas
eram necessárias para manter o negócio de séculos funcionando e quanto
mais nos atualizássemos, melhor.
Coloquei o celular de lado e me acomodei na cama. Fechei os olhos
por alguns momentos e busquei relaxar. Dormir era necessário e eu tentei
me concentrar nisso pelas próximas horas até que finalmente apaguei.
Acordando apenas com o despertador que havia configurado para que eu
pudesse sair no horário do almoço.

Levantei, peguei as minhas coisas no carro, fui ao banheiro ainda


bocejando e troquei de roupa, colocando um terno bem alinhado. Dentro da
minha mala, no fundo, em uma maleta pequena, estava o dinheiro empilhado
em notas de cem. Tirado das ruas e convertido em algo melhor.

Peguei-a e pensei em guardar tudo e levar para dentro do carro junto


comigo, assim seria a melhor forma de fugir daquilo. Entretanto, aquela não
era uma característica minha nem de nenhum dos outros Bellucci,
honrávamos a nossa palavra. Éramos criminosos sim, mas a nossa estrutura
se fundamentava pela confiança. Se alguém quebrava isso, tudo ruía.

Nedja poderia não ser da máfia, nem ter qualquer noção sobre isso,
mas eu havia feito uma promessa a ela e tinha que cumprir.

Saí do quarto e bati na porta do cômodo onde ela estava dormindo.


Levou um tempo para que ela abrisse e olhasse para mim. Estava um pouco
sonolenta e esfregava os olhos com as costas das mãos.

Não detive a minha curiosidade que a vasculhou brevemente. Usava


um vestido longo, e sem sutiã, pois os mamilos marcaram o tecido fino.
Minha boca salivou e eu umedeci os lábios. Quando ela percebeu que eu
reparava nela, rapidamente cruzou os braços ao redor do corpo, tentando se
esconder com pudor.

Eu jamais vou tocar em você...

Lembrei-me do que eu mesmo havia falado para recuar diante daquele


momento de total desconcerto. Ela era só uma mulher bonita e havia milhares
de outras pelo mundo. Tinha que cumprir aquele plano maluco e me livrar
dela. Se eu chegasse perto demais e nos envolvêssemos a ponto de fazer sexo,
aí sim eu estaria selando a minha sentença.

Quanto mais rápido me livrasse daquela situação, melhor.

— Preciso de roupas novas. — Continuou encurvada enquanto tentava


proteger os seios do alcance dos meus olhos.

— Providenciarei isso para você.

— Por que está vestido assim? — Ela levantou a cabeça e foi a sua vez
de me vasculhar.

— Tenho que tratar de negócios.

— Mas...

— Vim para cá com objetivos e ainda preciso lidar com eles.

— Você não pode me deixar sozinha. — Seus olhos voltaram a ficar


marejados e vi o medo apoderando-se dela mais uma vez. — E-e s-se eles
apare-apere-ce-cerem... — Sua respiração ficou ainda mais urgente e ela
começou a gaguejar.

— Você corre, se esconde e me espera chegar...


— Ettore...

— Vou voltar logo.

— Me leva com você. — Ela abaixou o braço e segurou o meu pulso


num movimento rápido a ponto de que eu não conseguisse me esquivar dessa
vez.

— Não.

— Mas...

— O que eu falei sobre os meus negócios?

— Para não fazer perguntas.

— Pois é! Além disso, você ainda não é a minha esposa e vou tratar
com um homem daqui. Ele pode estranhar e também há o risco de reconhecê-
la, princesa... — a última palavra saiu com ênfase para lembrá-la da sua
posição. Por mais que o seu pai estivesse morto e ela não tivesse bem algum
consigo, ainda era uma princesa de Mamlaka e se eu havia encontrando tantas
matérias com o seu rosto disponíveis na internet, era bem provável que a sua
imagem fosse vista o bastante para que ser reconhecida se tornasse possível.

Ela soltou o meu braço e deu um passo para trás, percebi que a sua mão
estava tremendo, mas não disse nada ou emitiu qualquer som. No fundo
conseguiu compreender que eu estava certo e expô-la assim era um risco.

Dei as costas e segui pelo corredor, mas antes que eu desaparecesse de


vista, ela voltou a me chamar:

— Ettore!
Girei nos calcanhares e a encarei.

— Por favor, não me abandona aqui.

— Eu não vou. — Dizendo aquilo, eu fui embora, saí da casa e


procurei pelo meu carro.

Estava apenas segurando a maleta com o dinheiro e meu notebook.


Esperava retornar o quanto antes.

Entrei no veículo, acionando o painel para trocar a cor do veículo


novamente e dirigi para Dubai. Levou poucos minutos para que eu chegasse
ao endereço indicado pelo meu fornecedor. Era um restaurante de comida
local que ficava em uma rua paralela e parecia não ter tanto fluxo de turistas
quanto os mais movimentados.

Estacionei o carro em uma vaga no quarteirão de cima e chequei as


horas no meu relógio, estava no tempo combinado e eu já poderia entrar para
me encontrar com o sujeito.

Esperava que a negociação fosse rápida e logo eu pudesse voltar para


Nedja, livrando-a daquela expressão de desespero que havia dominado o seu
rosto no momento em que eu disse que iria sair.

Aproximei-me do restaurante e notei alguns indianos na entrada.


Cumprimentei-os com um movimento de cabeça e assentiram, permitindo
que eu passasse. Encontrei uma mesa no canto e me acomodei no banco
estofado. Podia sentir a arma na parte de trás da minha calça e esperava não
precisar usá-la.
— Ettore! — Ouvi o meu nome fazendo com que eu levantasse a
cabeça e vi um sujeito se aproximar. Ele não estava tão bem-vestido quanto
eu esperava, mas boa parte dos bons programadores não passava o tempo de
terno e gravata. — Ettore Bellucci.

— Sou eu. — Estufei o peito.

— Seu sobrenome o precede.

— Nem todos sabem do que se trata.

— Acha que eu não pesquisei o histórico da sua família quando me


ofereceu o negócio?

— Então sabe que é bom não me desapontar se quiser continuar vivo.


— A ameaça saiu em um tom sereno, mas foi o suficiente para que ele
diminuísse o sorriso.

— Se tiver o meu dinheiro ambos sairemos satisfeitos.

— É o que eu espero.

Ele fez um gesto com a cabeça para outro homem indiano que estava
perto da porta e esse trancou a fechadura e mudou a placa de aberto para
fechado. Eu mantive a minha postura séria e me preparei caso precisasse agir.

Outro se aproximou com um HD externo e entregou-o para o que


estava sentado diante de mim.

— Aqui.

— Me deixa conferir. — Estendi a mão, mas antes que eu tocasse o


objeto o homem o puxou de volta.

— Primeiro o dinheiro.

— Está aqui. — Levantei a pasta e deixei que ele visse as notas. — Só


que antes de entregar para você, quero checar o código e ver se é exatamente
o que me foi prometido.

— Como quiser. — Ele finalmente me entregou o objeto.

Abri o computador sobre a mesa e executei alguns comandos,


conferindo tudo, passando por outros softwares de identificação que eu
mesmo havia desenvolvido antes de me dar por satisfeito e ter certeza de que
era o que eu tinha vindo buscar.

— Parece que é isso. — Fechei o meu notebook, guardando tudo na


bolsa e entregando a maleta com o dinheiro para ele.

— Não se importa se eu conferir?

— Claro que não.

Esperei que o homem pegasse um contador de notas e levou quase


vinte minutos para que checasse tudo antes de concordar.

— Foi um prazer fazer negócios com o senhor Bellucci.

— O prazer foi meu.

Saí do restaurante e fui para o carro, mas acabei parando para pegar um
lanche num fast food americano que havia na esquina. Mohamed nem havia
me oferecido um bom almoço, mas diante do que o programa dele faria para
a máfia, era melhor que eu não reclamasse.

Depois de comer, voltei para o carro, guardei a bolsa do meu notebook


em um compartimento protegido e segui para uma loja de roupas femininas,
precisaria de mais peças para a Nedja, não que vê-la sem sutiã fosse tão
ruim...

Ettore!

Balancei a cabeça, precisava manter a minha mente focada e não deixar


que a parte debaixo do meu corpo me fizesse cometer loucuras por causa de
uma mulher bonita.

Parei diante no estacionamento de um shopping menor que havia no


caminho de volta e entrei em busca de lojas femininas. Eram mais globais,
sem peças da cultura local, mas se ela queria viver na Europa era melhor que
fosse se acostumando. Encontrei saias longas, calças mais folgadas e roupas
menos decotadas. Por mais que eu gostasse de ver um pouco de pele, estava
acostumada com a minha mãe e a sua cultura que também reservava um
pouco mais as mulheres.

Também comprei roupas íntimas, ao menos alguns conjuntos em cores


neutras que pudessem servir para que ela usasse por alguns dias até sair e
escolher por conta própria. Eu não conhecia bem os seus gostos, mas no
momento qualquer peça poderia servir.

Pensei nisso, no quanto sabia pouco sobre ela, mas logo me toquei que
casamentos arranjados não eram apenas da sua cultura e não haviam
acontecido tão longe assim. Meus tios e meus primos passaram por isso.
A irmã do Thiago, Manuela, fora mandada para os Estados Unidos,
casada com o chefe da família Lansky depois que a Pietra, a filha do meu tio
Marco, havia escapado do casamento arranjado para se unir ao chefe da máfia
russa.

Minha mãe também estava prometida, mas meu pai a tinha roubado no
altar. Uma confusão, certamente, considerando que ela já estava grávida de
mim.

Ficar pensando em todos aqueles casamentos me fez considerar


momentaneamente, mas não deixou que eu perdesse o foco e só evidenciou
ainda mais a necessidade de seguir o plano. Esconder o casamento falso com
Nedja até me divorciar dela.

Minha família nunca a conheceria e ela não seria uma Bellucci.

Saí carregando várias sacolas e fui para a garagem, abrindo o porta-


malas do meu carro para guardá-las nele. Tudo estava correndo bem demais,
até que através dos retrovisores laterais, vi cerca de seis homens se
aproximarem de mim. Poderia não significar nada, mas a forma como
estavam se movimentando indicava muito.

Fechei a tampa do porta-malas, mas antes que eu conseguisse dar a


volta e assumir o volante, uma mão pesada agarrou o meu ombro e fez com
que eu me virasse. Antes que eu reagisse, ele me acertou com um soco no
estômago e me deixou momentaneamente tonto.

— Onde ela está? — rosnou cerrando os dentes ao falar um inglês tão


embolado que foi difícil de compreender.
— Ela? — Fiz-me de desentendido.

— Você sabe de quem estamos falando.

— Sei? Acho que podem estar me confundindo.

Naquele momento percebi que foi bom não ter trazido a Nedja comigo,
porque era óbvio que estavam tentando nos rastrear. Sem ela por perto eu
tinha menos com o que me preocupar ou defender.

Tentaram me socar de novo, mas dessa vez eu antecipei o golpe com a


mão, fazendo-o espalmar. Puxei o braço do sujeito, fazendo-o tombar para a
frente e acertando-o com o joelho no rosto com tamanha força que fez com
que ele perdesse os sentidos. Pelo som provocado imaginei que houvesse
quebrado o seu nariz.

— Seu forasteiro desgraçado. — Um deles urrou.

— Já deveriam ter aprendido a não se meterem comigo. — Abri um


sorriso maldoso. — Vamos lá! Quais de vocês querem morrer hoje?

— Vamos levá-lo para o sheik — comentou um deles para o restante.

— Todos? — Fiz um gesto com a mão e eles se aproximaram. —


Ótimo, eu estava mesmo a fim de me divertir.

Esquivei-me de um soco e esse acertou o vidro de trás do carro.

Eu estava encurralado, então dei um jeito de me esgueirar entre eles,


ficando nas suas costas para que se virassem para mim. O fato de ter me
afastado do carro fez com que os cinco que ainda estavam conscientes me
rodeassem.
Eles poderiam até ser bons, mas eu duvidava que fossem melhores do
que eu.

Mexi no meu relógio enquanto me esquivava de mais um soco e uma


cápsula caiu no chão, fazendo com que uma fumaça preta subisse e nos
envolvesse. Já havia treinado com o meu pai e os meus irmãos lutas naquelas
condições e o fato de diminuir a visibilidade deles poderia me ajudar a
equilibrar um pouco a desvantagem.

Vi um se movimentando na névoa, tentando me pegar. Era como se


todos houvéssemos sido transformados em meros borrões. Eu me movi,
orientando-me mais pelo som do que pelas imagens e dei um chute, acertando
um em cheio no abdômen e fazendo com que voasse para cima de um dos
carros estacionados, acionando o alarme.

Os outros ainda tentaram me pegar, mas não conseguiam acertar


exatamente onde eu estava. Mexi no relógio outra vez e a luz refletiu na
névoa, funcionando como um farol para que pudessem me encontrar. Só que
assim que uma das mãos veio para agarrar o meu braço, eu finquei um dardo.

Esse caiu... Ainda me restavam três.

Movi o corpo para trás para esquivar de um golpe e revidei.

Consegui me reposicionar, saí da névoa e parei atrás de um deles.


Agarrei o seu pescoço em um mata-leão e na tentativa de me acertarem, os
outros dois atingiram o comparsa, fazendo-o perder os sentidos. Joguei-o em
cima dos demais, que cambalearam caindo no chão com o peso inesperado.

Vi ao longe que a segurança do shopping estava se aproximando e corri


para o meu carro, entrando nele e saindo acelerado antes que chegassem até
mim. Teria mais imagens de câmeras de segurança e rastros para apagar do
que eu gostaria, mas não tinha qualquer intenção de que um vídeo meu
lutando em um estacionamento viralizasse.

A minha família não poderia saber o que estava acontecendo ali, pois
conhecendo-os bem, iriam acabar se envolvendo e de um problema
passageiro, Nedja se tornaria definitivo.

Eu não queria isso.

Passei pela catraca e alcancei a rodovia o mais rápido que consegui. Só


que eu não fui de imediato para a casa onde a Nedja estava. Sabia que se
havia sido encontrado, certamente estavam atrás de mim. Dei voltas e fiz o
possível para esconder o meu paradeiro.

Estacionei debaixo de um viaduto, escondido nas sombras e troquei a


placa do carro, também usei um programa para modificar a sua cor e
aproveitei o momento para acessar o sistema de segurança do shopping e
apagar as imagens da luta, bem como todos os backups. Se viessem atrás de
mim era melhor que não tivessem o que procurar.

Já estava escurecendo quando finalmente retornei para o local onde a


Nedja estava. Entrei na sala e ela se levantou do sofá no exato momento em
que me viu.

— Ettore!

Eu ainda estava ofegante e suado, mas fora isso não havia sinais
evidentes de que eu tinha enfrentado alguns homens.
Ela parou bem na minha frente e me inventariou rapidamente.

— Você está bem?

— Estou.

— Conseguiu tratar dos negócios como queria?

— Sim, também comprei roupas para você.

— Obrigada. — Deu um sorriso mais largo.

— É melhor que o amigo do seu pai dê logo um jeito de agilizar esse


casamento.

Ela abriu a boca e os olhos quando mudei rapidamente de assunto.

— Precisamos sair logo daqui.

— Você encontrou com homens do meu tio? — Foi esperta o bastante


para presumir.

Eu apenas assenti. Eles queriam capturá-la e era inegável que enquanto


continuasse ali, Nedja estaria em risco.

— Vou falar com o Hassan.

Ela recuou e eu fiquei calado. Quanto mais rápido resolvesse tudo


aquilo e deixasse de lidar com inimigos que não eram meus, melhor.
Capítulo dezessete

Uma semana depois...

Mesmo para um casamento civil havia protocolos e processos que


precisavam ser cumpridos. O sheik Hassan fez o seu melhor para
providenciar tudo o mais rápido que pôde sem que o assunto chegasse ao
conhecimento do meu tio.

A cerimônia foi realizada em um dos prédios da empresa do sheik,


chegamos escondidos, em um carro diferente e eu só os vi quando entramos
em uma sala onde estava o homem que eu imaginava ser o responsável pela
união.

Ettore estava particularmente silencioso naquele dia, ele não fez um


único comentário, muito menos brincadeira. Eu poderia presumir o quanto
aquele casamento estava sendo difícil para ele. Tinha implorado demais para
que ele concordasse, teria agido diferente se houvesse alternativas, mas não
tinha.

Ettore era o único que poderia me tirar dos Emirados e da influência do


meu tio, quando finalmente eu estivesse na Europa, ficaria segura.

— Seu passaporte com o nome novo já foi providenciado. — O sheik


disse para mim quando me aproximei dele e da esposa.

— Nome novo? — fiquei surpresa com aquela informação.

— O de casada.
— Ah! — Fiquei um pouco desconcertada, por mais que fosse algo
quase óbvio, levou um tempo para que eu processasse. Mudar o meu nome
me ajudaria ainda mais a ficar longe do meu tio.

— Podemos começar? — Perguntou um homem que estava diante de


uma mesa alta com alguns papéis.

Virei o meu rosto, procurando pelo do Ettore. Ele era mais do que um
homem jovem e bonito, mas a minha salvação depois que a minha vida havia
caído em seu momento mais sombrio.

O estrangeiro não disse nada, apenas colocou as mãos dentro dos


bolsos do terno e assentiu com um movimento de cabeça. Eu não poderia
esperar que ele ficasse empolgado com aquele casamento imposto às pressas,
só teria que ser eternamente grata pelo que ele estava fazendo por mim.

— Pela lei que eu represento, vim até aqui hoje para a celebração de
uma união civil entre Ettore Bellucci e Nedja Al-Kudsi.

Prendi a respiração e o meu peito ficou mais apertado enquanto eu


observava o homem falar. Eu estava usando um vestido branco, longo e
simples que a Rosimeire havia me dado, mas ele era bonito e no fundo eu
estava feliz. Aquele momento significava uma nova etapa na minha vida e eu
teria que cuidar de mim mesma. Talvez fosse ingênua demais para isso,
porém, teria que aprender rápido.

— É de livre e espontânea vontade que vocês querem se casar? — O


homem perguntou para nós dois enquanto nos encarava.

— Sim — disse o Ettore em um tom firme e sem se delongar.


— Sim. — Dei um sorriso curto.

— Assinem aqui, por favor. — Ele nos mostrou um contrato e o meu


mais novo marido assinou, depois a mim e por fim o sheik e sua esposa
foram nossas testemunhas.

Eu tinha feito várias imagens mentais de como seria o meu casamento,


mas em todas, meu pai estaria junto e a minha prima Regina também. Seria
um momento de festa e todos estariam muito felizes, mas infelizmente as
circunstâncias haviam mudado tudo.
Capítulo dezoito

Não ficamos para uma festa nem para qualquer comemoração. Assim
que a documentação estava pronta e Nedja se tornou oficialmente minha
esposa, deixamos aquele local para voltar para a minha casa.

Estava com saudade da minha família, da minha rotina e até mesmo do


idiota do Thiago enchendo a minha paciência e se gabando pela vida dupla
como pai e assassino.

Como estava sozinho, vim em um voo comercial, mas retornamos no


avião particular do sheik Hassan. Até o momento da decolagem eu estava
tenso, olhando em todas as direções e esperando que o maldito tio da Nedja
aparecesse para nos impedir. Contudo, demos o mínimo de sorte para evitar
que isso acontecesse.

Depois de mais de uma hora de voo, com uma tripulação que o Hassan
julgava confiável, finalmente eu consegui relaxar um pouco.

Nedja estava em silêncio, ainda usando o mesmo vestido branco do


casamento e olhando para a janela. Observando as nuvens.

— Em poucas horas estaremos na Itália. — Cheguei perto dela e me


sentei ao seu lado.

— Sim... — Soltou um suspiro profundo e nem se virou para mim.

— O que foi?

— Ainda não acredito que estou deixando tudo para trás.


— Vai sobreviver, não é isso que queria?

— Sim, era o que eu queria.

— Contente-se com isso por enquanto.

— Você tem razão. — Ela maneou a cabeça e se virou para mim,


forçando um sorriso que mais ficou parecendo uma carranca. — Obrigada
pelo que fez por mim .

Fiquei calado, aquela situação ainda era complicada para mim . Nem
me imaginava casado, muito menos em uma união de mentira para proteger
uma mulher que não deveria ser responsabilidade minha.

— Assim que chegarmos você vai para o meu apartamento. Moro


sozinho e o lugar é fortificado, com todo tipo de proteção anti-invasão que
você pode imaginar. Estará segura lá.

— Por que você mora em um local assim?

— Não é a única que tem inimigos.

Seus olhos se movimentaram e ela abriu a boca, mas acabou desistindo


de fazer perguntas. Era melhor, porque eu não pretendia entrar em detalhes.
Imaginava que algumas teorias pudessem estar se formando em sua mente.
Ninguém dirigia como eu ou lutava daquela forma se não precisasse colocar
em prática em algum momento.

Nedja poderia acreditar que eu a estava salvando, mas nunca fui um


homem bom.

Eu era perigoso, ardiloso e tinha motivos para matar assim como os


sujeitos que estavam perseguindo-a a mando do seu tio.

Um comissário de bordo nos serviu uma refeição e continuamos sem


falar muito até que o piloto disse que estávamos iniciando o processo de
pouso. Iríamos descer no hangar particular da minha família. Conhecia aquele
lugar como a palma da minha mão e havia ajudado o meu pai na manutenção
do sistema que o gerenciava.

Um dos meus homens de confiança estaria me esperando com um


carro, já que o que eu havia usado em Dubai retornaria em um avião de carga.
Assim iríamos de imediato para o meu apartamento, sem risco para que a
Nedja fosse vista.

O casamento, a presença dela na minha vida e tudo que havia


acontecido durante a minha visita aos Emirados Árabes, seria um segredo que
nós dois manteríamos.

Assim que o avião pousou, a porta foi aberta e eu saí primeiro.


Esperava ver apenas um homem, mas a visão que eu tive na pista me pegou
completamente desprevenido e contrariou as minhas estatísticas.

Pensei em virar para trás, mandar que a Nedja ficasse no avião até que
fosse seguro sair, mas ela já estava a dois degraus acima de mim na escada e
certamente fora vista.

— Filho! — A voz da minha mãe nunca me causou tamanho reboliço


no estômago.

Ela, meu pai e meu irmão Giovane estavam esperando ao lado da pista
de pouso na companhia de alguns homens.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Meu tom foi ríspido. Eu não
estava esperando toda aquela comitiva.

— Ah, querido! — minha mãe pareceu desapontada com a minha


reação. — Estava com saudades de você. Disse que voltaria logo, mas passou
tanto tempo longe. Quando o seu pai me disse que estava chegando imaginei
que pudesse ser uma boa ideia virmos recepcioná-lo aqui.

— Eu tive alguns contratempos, mas já estou de volta.

— Quem é ela? — Giovane foi o primeiro a notar Nedja, por mais que
eu estivesse torcendo para que a mulher atrás de mim passasse despercebida.

Engoli em seco e não consegui evitar encará-la. Nedja abriu um sorriso


para mim e eu continuei com a postura séria.

— O que foi? — questionou-me sem entender a minha reação.

Como eu estava conversando com a minha família em italiano,


provavelmente ela não havia compreendido nada.

O meu plano de que a minha família não a visse tinha acabado de


evaporar bem diante dos meus olhos com a necessidade da minha mãe de me
ver.

— Ettore, quem é ela? — meu pai insistiu exigindo uma resposta


minha.

Pensei por um momento, como se estivesse sendo difícil processar


todos os dados que corriam rapidamente pela minha cabeça. Meu pai era o
homem mais astuto que eu conhecia e não adiantava achar que uma resposta
qualquer o convenceria. Só o fato de eu estar demorando a responder já me
entregava que havia algo de errado.

— Alianças? — Meu irmão caçula pareceu notar.

Cala a boca, Giovane!, recriminei-o com pensamentos e com o olhar,


mas no fundo eu era o culpado por ter me esquecido de tirar durante o voo o
par de alianças que o sheik providenciou.

A joia que me havia incomodado tanto no momento em que eu a


coloquei, deveria ter sido removida na primeira oportunidade que tive, mas
também não estava esperando que a minha família fosse me receber no
aeroporto.

— Ettore! — Minha mãe apertou os olhos me exigindo uma resposta.

Eu costumava ser tão sagaz e esperto, mas naquele momento travei


completamente. Foi uma tela azul e precisei reiniciar, porque eu vi meu
plano, as estratégias que havia criado, irem por água abaixo. Eu precisava
contar para os meus pais quem era a mulher comigo, ao mesmo tempo que
não deveria falar sobre o casamento. Eles não aceitariam um matrimônio
falso, por piores que fossem as consequências que haviam acontecido.

Tínhamos segredos demais e muito que proteger para deixar que uma
estranha se aproximasse dos nossos negócios e conhecesse nosso estilo de
vida. Esse era o principal motivo para que eu não me envolvesse.

— O que está acontecendo? — Nedja não entendia italiano, mas ela


não precisava compreender a nossa língua para ver pelos olhares que havia
algo de errado.
— São os meus pais — respondi em inglês.

— Ah! — Ela sorriu, ficando bem mais empolgada do que deveria. Ela
passou por mim e se aproximou deles. Tentei impedi-la, mas se eu a forçasse
segurando-a, acabaria tornando a situação ainda pior. — É um prazer
conhecê-los. — Curvou-se com o ar gracioso da princesa que era.

— O prazer é meu. — Meu pai lhe respondeu no idioma comum a eles


e virou a cabeça na minha direção. Seu olhar ainda exigia de mim uma
resposta para aquela situação constrangedora e quanto mais tempo eu passava
sem uma, pior se tornava para mim.

— Você é tão linda. — Minha mãe se aproximou dela, afetuosa. — Por


que está aqui com o meu filho?

— Ah, nos casamos.

— Quê?! — Meu pai exclamou.

— Agora as alianças fazem sentido – comentou o Giovane.

— Casaram... — Minha mãe colocou a mão na testa, ficando ainda


mais branca do que já era e tombou para trás.

Meu pai a segurou antes que ela caísse, desacordada. Eu imaginava que
a notícia pudesse causar diversas reações na minha família, porém, não
esperava pelo desmaio dela.

— Essa é alguma piada? — Enquanto tentava fazer com que a minha


mãe recobrasse os sentidos, meu pai se virou para mim e disse em italiano.

— Não — respondi firme. Eu já estava atolado demais e não vi uma


alternativa a não ser contar a verdade para eles, ao menos parte dela.

Nedja e eu estávamos casados.

— Ele foi buscar tecnologia e voltou com uma mulher. — Giovane deu
uma risadinha e eu rosnei para o meu irmão caçula.

— Luize, meu amor... — Meu pai acariciou o rosto dela e ficou


velando=a por alguns minutos até que a minha mãe recobrasse a consciência.

Ela abriu os olhos bem devagar, piscando-os em movimentos lentos até


encarar o marido.

— Eu tive algum sonho maluco ou o meu primogênito disse que está


casado?

— Ainda vamos averiguar melhor essa história.

— Ettore! — Ela ajeitou o corpo e estufou o peito, fuzilando-me com o


olhar assim como fazia quando eu era um menino e aprontava algo. — Como
assim você se casa e não nos informa nada?

— Foi uma decisão rápida.

— Mas e a cerimônia? A festa? — Meu pai pareceu desapontado com


o fato de não ter me casado assim como era a tradição da família. — Poderia
ter comido o bolo antes e se casado aqui.

— Mateo! — Minha mãe bateu na barriga dele, recriminando.

— O que foi? — Ele deu de ombros. — O Ettore já estava a caminho


quando nos casamos.
— Mas não precisava ser assim. — Ela cerrou ainda mais os dentes. —
Nem a conheço, como vou saber se é boa para o meu filho?

— Ela é uma princesa, mamãe, assim como a senhora — informou o


Giovane mexendo no celular e usando as suas habilidades para procurar pelo
rosto da minha esposa na internet.

— Princesa? — Minha mãe arregalou os olhos.

— De um Emirado Árabe — respondi.

— Hum... — resmungou engolindo em seco. — Isso não justifica o


casamento às pressas desse jeito.

— Era a única maneira de trazê-la comigo. — Essa parte era verdade.


— As mulheres de lá não podem viajar, principalmente sozinhas com um
homem que não for seu marido.

— Poderíamos ter ido até lá para o casamento. — Ela continuou com


os lábios torcidos e a cara amarrada. — Ou a família dela vinha... Não vai me
dizer que você se converteu para o islã? — Ela encarou o meu pai
novamente. — Eu disse para você que não era para deixá-lo ir até lá sozinho.

— Ele sabe se defender e não imaginei que fosse voltar casado.

— Eles parecem irritados — Nedja sussurrou, escondendo-se atrás de


mim.

— Estão.

— Não deveria ter falado.


— Não, mas não tínhamos outro plano.

— Você já contou para a sua avó? — questionou o meu pai.

— Não.

— Como achou que todos iriam lidar com isso?

— Quando o Thiago trouxe uma mulher para a mansão no ano passado


a mãe dele não desmaiou, nem a vovó.

— Mas o casamento só aconteceu depois.

— As circunstâncias foram diferentes. — Tentei fazer com que


ponderassem.

— Ela é bonita — comentou Giovane amenizando a discussão.

— Obrigado, irmãozinho.

— Imagino que estejam cansados da viagem. — Minha mãe recuou


percebendo que não havia mais o que ser discutido, o casamento era real, por
mais que esse fato me deixasse ainda mais incomodado.

No momento era melhor que lidassem com isso do que saber que era
uma mentira. O que não tornava a situação mais fácil.

— Para onde vão agora? — Meu pai quis saber.

— Para o meu apartamento.

— Mas e o restante da família? Não vai apresentá-la? Eles precisam


saber do casamento, que há uma nova Bellucci.

— Mais tarde.
— Okay. — Ele acabou assentindo. — Um jantar na sua avó.

— Um almoço amanhã — corrigiu a minha mãe rapidamente. —


Preciso acertar detalhes, preparar algo...

— Tudo bem, Luize. — Ele bufou.

— Nos vemos amanhã. — Avisei para eles antes de fazer um


movimento com a cabeça para que a Nedja me seguisse.

Por que quanto mais tempo eu passava com aquela mulher, pior a
situação se transformava?
Capítulo dezenove

Nós nos acomodamos no banco de trás de um utilitário espaçoso e


Ettore deu instruções ao homem que estava ao volante. Por mais que eu
estivesse me sentindo completamente desconfortável depois do encontro
inesperado com a família dele. O fato de não ter mais a ameaça do meu tio
pairando sobre mim era reconfortante.

— O que acontece agora? — arrisquei-me a perguntar ainda que o


Ettore estivesse completamente disperso olhando pela janela.

— Você é a minha esposa. Não era isso que queria? — O tom ríspido
fez com que eu me afastasse dele o mais rápido que consegui.

— Sim, mas não de verdade...

— Ouça — Sua expressão ficou cada vez mais séria. — Se eles


souberem que esse casamento é uma mentira a situação vai se complicar
ainda mais para mim. Então, ao menos por enquanto, vamos deixar que eles
pensem que eu agi por impulso por causa do amor. Não vai ser a primeira vez
que isso acontece.

Amor...

Aquela palavra ressoou na minha mente e me deixou completamente


desestabilizada. Eu tinha recebido amor do meu pai e da minha mãe durante o
pouco tempo em que ela esteve viva, mas não imaginava como seria ter o
amor de um homem como ele. Não que fosse verdade, mas a possibilidade
me deixou desestabilizada e pensativa.

Permaneci em silêncio por alguns minutos até que ele voltou a quebrá-
lo, junto com isso, algumas sensações e sentimentos que estavam começando
a ser nutridos dentro de mim, ainda que eu não previsse.

— O restante continua. Essa união é falsa, não vamos viver como


marido e mulher, se é que me entende.

Fiz que sim.

— Mas aos olhos da minha família e do restante do mundo, você é a


minha esposa. Vai receber toda a proteção e status de uma Bellucci, mas em
troca disso, tudo o que vir, ouvir ou ficar sabendo precisa ser ignorado e
esquecido.

— Como o quê?

— Assuntos confidenciais. — Ele foi esquivo e me deixou


desconfiada, mas eram informações demais para um único dia e achei melhor
não insistir, com a inevitável convivência iria acabar descobrindo.

— E o divórcio? — Por mais que fosse o que havíamos combinado, a


palavra me abalou.

— Ainda irá acontecer — foi enfático. — Eu só preciso de um pouco


mais de tempo e de um plano para convencer a minha família de que ele foi
necessário. Como não fomos casados com as bênçãos da igreja, pode ser que
seja mais fácil de convencê-los. Inventarei uma história.

Assenti com um movimento de cabeça.


— Obrigada, Ettore. Serei eternamente grata por tudo o que está
fazendo por mim. — Apesar dos contratempos que estavam acontecendo, se
aquele homem não houvesse aparecido na minha vida, certamente eu não a
teria mais.

— Por nada. — Ele suavizou um pouco a postura firme. — Por


enquanto se prepare para conhecer a minha família amanhã e comece a
aprender italiano. Vai precisar, nem todos falam inglês e se vai viver na Itália
por um tempo é melhor que domine o nosso idioma.

— Sim, vou me esforçar para aprender o mais rápido possível.

— Ótimo!

A conversa esfriou novamente e voltamos a ser envolvidos por um


silêncio constrangedor.

Nunca poderia prever na minha vida antes da morte do meu pai que
estaria casada com um homem naquelas circunstâncias, porque eu precisava
dele para sobrevier. Percebi da pior forma a efemeridade de tudo e o modo
como o mundo poderia virar de ponta cabeça sem que estivéssemos
esperando.

Recostei-me no vidro enquanto observava a capital italiana se mostrar


diante dos meus olhos. Os prédios eram antigos, mas uma arquitetura
completamente distinta da árabe com a qual eu estava habituada. Pensei em
como queria contar aquela nova experiência para a minha prima Regina, o
quanto os prédios eram bonitos e pareciam estar me transportando para um
filme. Também havia construções modernas que harmonizavam muito bem,
quase formando uma simbiose perfeita.

Senti que poderia me habituar bem àquele local e construir uma nova
vida ali.

— Ettore... — chamei por ele, ousando interromper seu momento de


devaneio.

— O que foi?

— Você parece ser bom em descobrir as coisas.

— Eu sou. — Deu uma resposta curta.

— Se conseguiu entregar aquele bilhete para a minha prima você acha


que pode descobrir como ela está? — Senti um aperto no peito ao pensar nas
punições que a Regina poderia ter sofrido pelo que fez por mim.

— Por que quer saber dela?

— Ela me ajudou a escapar e agiu contra o pai. Só queria muito saber


se ela está bem.

— Verei o que posso fazer.

— Muito obrigada.

Ettore deu de ombros e voltou a ficar em silêncio.

Continuei olhando pela janela até que entramos em um


estacionamento. Assim que o carro parou, ele girou o corpo na minha
direção.

— Chegamos na minha casa.


— Está bem.

O homem que dirigia o carro abriu a porta e deixou que o Ettore saísse
primeiro e depois, meu marido estendeu a mão para mim. Provavelmente
num movimento involuntário, homens e mulheres se tocavam daquela forma
no Ocidente o tempo inteiro.

Para não deixá-lo esperando, pousei a minha mão sobre a sua, sendo
envolvida de imediato por um calafrio que me deixou abalada, porque ele não
era esperado. Fez com que eu levantasse a minha cabeça e encontrasse os
olhos do Ettore.

Tão bonito...

Era difícil não ficar desconcertada diante de um homem como aquele.


Em outras circunstâncias eu certamente desfrutaria da sua companhia. Com
aqueles olhos castanhos penetrantes e o cabelo que parecia mais claro com a
incidência da luz.

Foi inevitável deixar que um sentimento de que aquele casamento fosse


real tomasse conta de mim. Imaginar que o divórcio poderia ser inviabilizado
agora que a família dele sabia do casamento nem me parecia uma ideia tão
terrível quanto deveria ser, porque eu sentia que poderia confiar a minha vida
e o meu coração àquele homem pelo restante dos meus dias.

Você não me conhece...

Lembrei-me do seu tom de alerta quando ele me disse aquelas palavras


e puxei a minha mão discretamente de volta ao endireitar a minha postura
sem parecer que estava fugindo dele. O que poderia haver de tão errado com
um homem como aquele ao ponto de ele sentir necessidade de me dar esse
tipo de aviso?

Talvez tivesse um histórico com várias outras mulheres, parecia a


alternativa mais lógica e provável, por mais que isso me ocasionasse um
incomum desconforto, era de se prever que um homem ocidental, bonito e
rico tivesse muitas conquistas. Só que meu interior torceu para que nenhuma
delas cruzasse o meu caminho.

— Vamos por ali. — Ele colocou a mão aberta na parte de trás das
minhas costas, só para me direcionar o caminho e meu coração saltou dentro
do peito.

Ettore poderia não imaginar, mas o seu contato me desconcertava


demais.

Entramos em um elevador e subimos até o último andar. O corredor era


longo, mas havia apenas uma porta. Assim que chegamos nela, Ettore se
aproximou colocando os olhos na altura que um scanner conseguiu identificá-
lo. Sua retina foi lida e depois ele colocou a mão em um painel.

Quando ele disse que morava em um lugar fortificado, não imaginei


que a segurança fosse tão grande.

Levou um tempo para que a porta que parecia muito pesada destravasse
e abrisse passagem para que entrássemos no prédio.

— Aqui também vai ser a sua casa por enquanto — anunciou quando
pisamos na sala e fez um gesto para que o motorista atrás de nós deixasse as
malas em um canto e fosse embora.
— Muito obrigada. — Olhei em volta, curiosa.

Era lindo, discreto, sóbrio, mas sofisticado.

— Talvez falte um pouco de cor.

Ele começou a rir do meu comentário a ponto de gargalhar.

— O que foi? — Encolhi-me sem graça.

— É a mesma coisa que a minha mãe fala todas as vezes que vem até
aqui.

— Sua mãe é uma mulher muito bonita.

— Sim, ela é. Talvez vocês se deem bem.

— Depois do desmaio eu não sei.

— Ela não gosta de ser pega de surpresa.

— Acho que nenhum de nós gosta.

— Tem razão. Vem — Ele fez um gesto para que fosse seguido. —
Tem outros quartos, você não vai dormir na minha cama, mas para que a
minha família não faça perguntas, é melhor que os seus pertences fiquem
aqui.

Ele abriu a porta e eu vi um ambiente grande, espaçoso, mas tão sóbrio


quanto a sala. Não havia bagunça, ou roupas espalhadas. Ettore parecia ser
um homem organizado e até metódico, mas devido a falta de cores vibrantes,
presumi que a sua mãe não frequentasse muito o local.

— Aqui é o closet. — Abriu uma porta lateral para outro cômodo


grande. — Vou organizar as minhas coisas para abrir espaço para você.

— Não tenho muito o que guardar.

— Mas terá com o tempo.

— Você já gastou muito comigo para um casamento falso. O sheik


Hassan me deu uma boa quantidade de dinheiro e eu também posso conseguir
um emprego. Sou formada em relações internacionais. Devo conseguir uma
vaga em alguma empresa.

— Dinheiro não é um problema, Nedja. Eu tenho muito. — Pareceu


não se importar em enfatizar aquilo. — Mas é livre para trabalhar onde
quiser, veremos isso com calma. Primeiro é melhor que se adapte e
coloquemos em prática um novo plano para o divórcio. Se pretende mesmo
se mudar para os Estados Unidos posso conversar com os meus contatos por
lá e ver se consigo uma vaga para você.

— Seria incrível.

— Com um pouco de paciência podemos colocar tudo em ordem.

— Tenho certeza. — Abri um largo sorriso.

Aquele local e tudo o que ele estava fazendo por mim era muito mais
do que eu poderia imaginar ou pedir. Por mais que Mamlaka estivesse
ficando para trás, juntamente com tudo que o meu pai havia feito e
acreditado, eu tinha a perspectiva de um futuro melhor e um vislumbre de
uma vida livre.

Deixei de lado qualquer pudor que a minha cultura havia me imposto e


fui na direção do Ettore, colocando a cabeça em seu peito. Meus braços se
cruzaram nas suas costas e eu o puxei para mim com toda a força que eu
tinha.

— Obrigada! — Tombei a cabeça no seu peito, ouvindo o seu coração


bater e percebi que ele acelerou, provavelmente pela surpresa com a minha
reação. — Nem em mil vidas eu conseguirei retribuir tudo o que está fazendo
por mim.

Ettore ficou com os braços estendidos por um momento, sem reação


processando a forma como eu o havia pegado desprevenido, porém um tempo
depois, ele levantou uma das mãos e tocou o meu cabelo, escorregando os
dedos pelos fios e desceu até as minhas costas. O carinho delicado fez com
que eu me esfregasse ainda mais nele e involuntariamente ronronasse como
se fosse um felino.

Não ouvi uma única palavra sair dos seus lábios, mas o Ettore retribuiu
o meu abraço e tombou a cabeça para baixo. Senti o seu nariz fungar no meu
cabelo e ficamos assim por vários minutos até que eu atrevi a levantar a
cabeça. Meus olhos encontraram os dele e meu corpo tremeu. Eram tão
intensos e profundos que eu afundava nele como se fossem feitos de areia
movediça, imensos como as dunas do deserto.

Minha boca foi ficando seca como se eu estivesse no deserto. Senti


vontade de umedecer os lábios, mas fiquei paralisada. Era como se algo
precisasse acontecer, mas eu não tinha coragem de acabar com aquela
pequena distância.
Prendi a respiração e a ânsia dentro do meu peito foi se tornando cada
vez maior, então ele se mexeu e eu esperei por algo que não aconteceu. Ettore
deixou que as suas mãos caíssem e recuou alguns passos para trás, acabando
completamente com o nosso contato que certamente desconcertou a nós dois.

Ele abriu a boca e esperei que pudesse me dizer qualquer coisa que
justificasse aquela necessidade imensa que eu senti por um toque mais
aprofundado seu, mas o que veio em seguida foi como um golpe que me
deixou sem graça.

— Vou pedir algo para comermos. Imagino que esteja com fome.

— Sim, eu estou. — Movimentei a boca, engolindo a saliva e lidando


com a secura.

O desconforto no meu peito foi grande e estranho. A expectativa por


algo que não aconteceu me deixou incomodada, porém, não havia
absolutamente nada que eu pudesse dizer naquele momento.

O nosso casamento era falso. Ettore me havia oferecido proteção e eu


já tinha pedido demais. Não poderia esperar que os toques fossem além
daquilo, porque ele já tinha me dito que não iriam.

Algum tempo juntos até que o divórcio acontecesse e cada um de nós


poderia seguir o seu caminho.
Capítulo vinte

Que porra foi essa!

Virei-me de costas e puxei o meu celular do bolso, abrindo um


aplicativo de comida para fazer um pedido enquanto respirava fundo, na
esperança de que a traição entre as minhas calças desaparecesse. Imaginei
que a Nedja não havia notado o volume que se formou e lutei para que ele
desaparecesse o mais rápido possível. Eu não deveria estar sentindo tanto
desejo nem olhando para ela com tamanha cobiça.

Por pouco não a tinha beijado.

Ainda que ela fosse linda e muito atraente eu não poderia fazer isso.
Um beijo não seria o suficiente para lidar com os meus desejos por ela e se
terminássemos na cama, acabar com aquele casamento se tornaria uma tarefa
impossível.

Não tinha planos de passar o restante da minha vida com ela. Dante e
Lorenzo precisariam de esposas, eles eram o futuro da máfia, carregariam
todo o nosso legado, mas eu tinha irmãos, primos e não precisava de
herdeiros.

A minha família já era muito grande, tinha pessoas demais, eu não


precisava aumentá-la ainda mais e trazer mais indivíduos para aquele mundo
sombrio que estava à nossa volta.

Além disso, o pior de tudo, Nedja não sabia nada sobre a máfia. A
mulher que estava casada comigo, pensando que eu era um bondoso salvador,
não fazia ideia dos crimes que cometi nem dos homens que eu já havia
matado.

A máfia era um mundo ainda mais cruel para mulheres que não haviam
nascido nele.

Nedja achava que o seu tio era um monstro, mas ela não conhecia a
minha pior face ou não estaria tão segura diante da minha presença.

Percebi que aquele divórcio se tornava ainda mais necessário.


Certamente não me olharia com aquele ar de desejo se soubesse o sangue que
eu carregava nas mãos. As mortes diretas e indiretas pelas quais eu era
responsável, a lavagem de dinheiro e todos os negócios ilegais que eu e a
tecnologia que usava camuflavam.

Homem ou mulher, não havia um Bellucci que não estivesse


corrompido e eu não queria que isso acontecesse com ela.

— Ettore? — chamou com uma voz baixa e insegura.

Respirei fundo, enquanto ainda mexia no celular. A tensão no meu


peito se tornou ainda mais intensa quando a fitei outra vez.

— Pedi macarrão. — Forcei um sorriso.

— Parece ótimo! — Ela relaxou um pouco.

— Adoro a comida desse lugar, espero que você goste também.

— Tenho certeza.
— Vou tomar um banho. Deve ser o tempo suficiente para que o
entregador chegue. Não abra a porta, espere que eu venha receber.

— Está bem.

— O quarto à direita do meu também é suíte. Se você quiser tomar um


banho também pode ficar à vontade.

— Acho que farei isso.

— Está bem. — Fui para o meu quarto sem falar mais nada e fechei a
porta. Bufando ao escorar-me na madeira.

Era só uma mulher, não haveria motivos para que causasse tamanho
tumulto na minha vida.

Tirei a minha roupa, colocando as peças do terno sobre o colchão e


entrei no meu banheiro. Depois de um tempo além do imaginado fora, estava
com saudades da minha casa. O meu espaço costumava ser solitário,
reservado apenas para mim, mas por enquanto nem isso seria mais assim.
Havia uma mulher ali, uma jovem e bonita que para todos seria vista como
minha esposa.

No momento não havia outra forma de lidar com a situação a não ser
prosseguir com aquela farsa, mas por quanto tempo eu iria suportar?

Meu corpo tinha necessidades que iam bem além das racionais e se
manifestavam por mais que toda a minha lógica berrasse pelo contrário. Eu
tinha distrações, mas elas não seriam toleradas enquanto todos pensavam que
eu estava casado.
Traição de uma esposa era um crime terrível para a estrutura da máfia
que tínhamos. Enquanto a Nedja estivesse sobre o mesmo teto que eu, não
poderia pegar qualquer mulher e trepar com ela como tinha o hábito de fazer.
Aquela castidade não programada parecia me deixar ainda mais inquieto.

Estava há quase um mês sem fazer sexo e sentia que precisava disso.

Entrei no chuveiro e sentir a água quente escorrendo pelo meu corpo


fez com que eu relaxasse os meus músculos um pouco. Aquela tensão toda
precisava sair de mim de alguma forma ou me deixaria louco.

Olhei para baixo e percebi que o meu pau estava duro novamente.

— Porra, Nedja! — resmunguei como se a culpa fosse dela e não


minha por ter salvado uma mulher que não deveria.

Inclinei o meu corpo para a frente e apoiei as duas mãos na parede. A


água escorria pelo meu rosto, fios de cabelo e formava filetes até o chão, mas
não era o suficiente para aplacar aquela necessidade.

Ao menos se ela fosse a minha esposa de verdade eu poderia abrir


aquela porta, ir pelado e molhado até ela, deitá-la na cama ou prensá-la na
parede e unir o meu corpo ao seu até que nós dois encontrássemos o caminho
para o êxtase na sua forma mais deliciosa.

Será que ela era virgem? Aquela interrogação ecoou na minha mente.
Eu seria o primeiro a tocá-la?

— Porra! — Soquei a parede.

Quanto mais eu tentava não pensar naquilo, mais intenso esses


pensamentos se tornavam.

Meu pau estava mais rígido, pulsando com a necessidade por aquele
canal apertado ao ponto de me fazer ofegar.

Não consegui resistir à vontade de colocar a mão nele. Movimentar os


dedos em seu comprimento foi a forma que encontrei para me aliviar. Não era
a primeira vez que eu batia uma punheta na vida, principalmente quando eu
era mais jovem e estava aprendendo mais sobre o meu próprio corpo, elas
eram comuns. Entretanto, adulto eu tinha tantas bocetas disponíveis a ponto
de não ter mais necessidade de usar a minha mão para saciar à vontade.

Aumentei a velocidade, inclinando-me ainda mais para a frente,


mirando no ralo enquanto cerrava os lábios para evitar que gemidos mais
altos ecoassem e denunciassem o meu crime.

Quando o impulso de ir até Nedja e fazer sexo de verdade se tornou


ainda mais forte e a minha mente se encheu com imagens fantasiosas do seu
corpo nu, o som dos seus gemidos e o calor da sua pele, suando ao se aquecer
com o contato da minha.

Urrei quando a minha porra escorreu pelo ralo. Continuei os


movimentos até que eu eliminasse a última gota.

Tombei na parede, sentindo-me exausto. A temperatura baixa do


azulejo ajudou a colocar os meus pensamentos um pouco em ordem.

Por quanto tempo mais eu teria que ser consumido por aquela situação
constrangedora e que desviava a minha mente para longe do racional e
controlável?
Capítulo vinte e um

Quando ele entrou para tomar banho decidi fazer o mesmo. Estava
exausta e foi como se ao conseguir relaxar por estar em um lugar seguro, todo
o peso dos momentos em que vivi houvesse caído sobre as minhas costas de
uma vez.

Não seria nada mal passar o dia inteiro na cama, dormindo até que
aquele cansaço fosse levado com horas relaxantes de sono.

Mas a minha barriga começou a roncar. Estava com fome e lembrei


que o Ettore havia pedido comida.

Saí do banheiro, troquei de roupa por uma das peças que ele havia
comprado para mim enquanto ainda estávamos em Dubai e segui um som de
interfone que tocou logo depois.

Apareci na sala e o vi recebendo um entregador. Ettore se despediu


dele e se virou na minha direção. Percebi que os seus olhos congelaram, mas
rapidamente ele disfarçou o desconcerto.

— Fome? — Abriu um sorriso amarelo.

— Bastante.

— Vou pegar talheres. — Ele colocou a embalagem sobre a mesa e foi


até a cozinha, voltando instantes depois com dois copos e os utensílios.

Ele se acomodou em uma das cadeiras e eu fiz o mesmo.


— Pensei em pegar um bom vinho da minha adega, mas presumi que
você não beba.

— Nunca experimentei álcool.

A não ingestão de substâncias que pudessem alterar a mente humana


estava em nossos dogmas, e foi um que eu nunca tive interesse em quebrar.

— Comprei suco de uva. — Ele tirou uma garrafa da sacola.

— Ah! — Sorri enquanto ele me servia uma dose.

Abri a embalagem com o macarrão e o cheiro maravilhoso do molho


subiu tomando conta do ambiente e do meu olfato, evidenciando ainda mais a
minha fome. Eu não esperei que o Ettore começasse a comer para dar a
primeira garfada. A comida se acomodou deliciosamente no meu estômago
antes que eu continuasse.

— Gostou? — Ele ficou olhando para mim enquanto eu comia.

— É bom.

— Fico feliz que tenha apreciado.

— Não é à toa que a culinária italiana é difundida pelo mundo inteiro.

— A árabe também.

— Será que eu encontrarei algum restaurante por aqui?

— É claro! Roma é uma cidade global, poderá encontrar tudo o que


quiser, principalmente se tiver os contatos certos.

— Eu imagino que você tenha.


— É, eu tenho. — Abriu um ar um pouco convencido.

Em outras partes do mundo os sheiks poderiam receber outros nomes,


mas continuavam sendo homens com muita influência.

Concentrei-me um pouco mais no meu prato, dando algumas goladas


no suco que estava muito saboroso. A comida como um todo derretia na
minha boca, num tempero único e muito apurado.

Depois que terminou de comer, o Ettore se levantou e jogou os


descartáveis no lixo, colocando os talheres em uma lavadora.

— Vou deixá-la sozinha aqui por um tempo.

— Sozinha... — Estremeci.

— Ninguém entra nessa casa que não seja eu. Não precisa se
preocupar. Estará em segurança, mas eu passei muito tempo fora e tenho
assuntos pendentes que precisam ser solucionados o quanto antes.

— Compreendo. — Fui obrigada a recuar por mais que quisesse


permanecer perto dele o máximo de tempo possível. — E quanto à sua
família.

— Só os veremos amanhã. Até lá teremos tempo de preparar uma


história.

Movimentei a cabeça, assentindo.

— Volto mais tarde.

Ele foi embora e me deixou sozinha.


Naquela altura, depois da nossa convivência e as sensações que ele
provocava em mim, já queria mais do Ettore do que apenas a sua proteção,
por mais que soubesse que não deveria ambicionar isso.
Capítulo vinte e dois

Entrei em um dos meus carros parados na garagem do prédio e afundei


no banco de couro bufando. Retornar para casa deveria ser bem mais fácil do
que estava se mostrando. Entretanto, conhecendo a minha mãe, ela não iria
deixar que o casamento surpresa ficasse por isso mesmo.

Tive certeza disso quando o meu celular começou a tocar e eu puxei


um fone de ouvido que estava num compartimento do carro e o acomodei na
minha orelha.

— Thiago?

— Finalmente você está de volta.

— Se eu soubesse que iria sofrer tanto com a minha falta eu teria


passado mais tempo longe. Gosto de deixar seu coração apertado.

— Pelo que eu soube o seu é que foi fisgado.

— Do que está falando?

— Que você se casou.

Por que as notícias corriam tão rápido?

— Como soube?

— Fui deixar a Juliana e o meu filho com a nossa avó e vi a sua mãe.
Ela estava em um desespero que chegou a ser engraçado, mas admito que
estou desapontado. Imaginei que fosse o primeiro a saber quando pararia de
me zoar e se juntaria ao mesmo time que eu. Ela está grávida?

— Não, ela não está gravida.

— Então por que se casaram tão rápido?

— De onde ela vem eu não poderia simplesmente colocá-la em um


avião e trazê-la para cá. As mulheres têm uma vida mais regrada.

— Deve estar muito apaixonado para ter tomado essa decisão.

— É muito mais complicado do que parece — desabafei. Estava


guardando toda aquela loucura para mim. Thiago e eu sempre tivemos uma
relação que eu achava que pudéssemos compartilhar aquele momento.

— Como assim? — Ele mudou o tom.

— Ela não está gravida porque eu nunca toquei nela.

— Está esperando o quê? — Thiago voltou a rir. — Uma bula papal?


Já se casou mesmo, curte a melhor parte, porque, meu caro, agora só vai ter
ela.

— Por isso que eu disse que é complicado.

— Seja mais direto comigo, Ettore. Sabe que eu não sou bom com
enigmas.

— Nosso casamento é só um acordo, ele não é de verdade. Ela está


aqui porque precisava fugir do seu país e a única forma de fazer isso era que
outro homem se tornasse responsável por ela, um marido.

— Mas o quê? — A reação de incredulidade do Thiago do outro lado


da linha foi semelhante à do meu pai quando descobriu que eu estava casado.

— É isso.

— Por que fez uma loucura dessas?

Resumi a história, contando os fatos de forma breve do momento em


que ela se jogou na frente do meu carro até nos encontrarmos com minha
família.

Esperava inúmeras reações do meu primo, mas a gargalhada não era


improvável.

— Se fodeu.

— É...

— Achei que quando coloquei a Juliana na minha vida também iria


conseguir me livrar dela com o passar do tempo.

— É diferente.

— Será mesmo? — Seu tom me provocou, deixando-me ainda mais


irritadiço.

— Você comprou uma virgem e estava fodendo com ela debaixo do


nariz de todo mundo. Ela ficou grávida e a família exigiu que tomasse
providências. Você brincou com as circunstâncias, Thiago e achou que não
teria consequências.

— Você pegou uma mulher, apresentou como esposa para família.


Estão preparando um almoço para vocês. Foder com ela vai ser só uma
questão de tempo. Acha que não vai ter consequências? Depois eu que sou o
menos esperto.

— Eu não vou transar com ela.

— Por acaso ela é feia?

— Não.

— Então...

— Vou me divorciar dela.

— É melhor já começar a tentar porque não acho que essa será uma
tarefa fácil. Até que a morte nos separe, Ettore. A não ser que esteja
planejando matá-la.

— Claro que não!

— Parece simples que você também é um homem casado agora.

— O casamento não foi consumado e não nos casamos sob as leis da


igreja católica. É diferente.

— Veremos daqui a alguns meses.

— Sim, veremos...

— Se eu estiver certo você me dá aquela sua Ferrari equipada. Tem


umas funcionalidades muito legais que não vem nos carros tradicionais.

— Não!

— Você não está tão convicto que vai conseguir? Só estou fazendo
uma aposta.
— Eu vou conseguir. — Cerrei os dentes e apertei o volante.

— Ótimo! Você tem três meses para conseguir ou me dá o carro.

— Você não vai ficar com a minha Ferrari.

— Veremos.

— Preciso ir para a empresa agora, continuamos nos falando depois.

— Fugindo do assunto. Já consigo sentir o peso da chave na minha


mão.

— Vai se foder, Thiago! — rosnei apertando ainda mais o maxilar


aponto de senti-lo doer.

— Não sou eu que estou precisando foder, Ettore.

— Até mais. — Desliguei a chamada e golpeei o volante do carro,


ouvindo a buzina ecoar pelo estacionamento.

Tive certeza de que perder um dos meus carros favoritos não seria a
única consequência se a Nedja continuasse na minha vida. Precisava colocar
a cabeça em ordem e ter um plano o quanto antes.

Dirigi para a empresa onde eu e meus irmãos trabalhávamos com o


meu pai. Por trás de um enorme prédio de tecnologia escondíamos muitas
facetas da máfia. Esperava que ali, de volta ao meu lugar natural, conseguiria
fazer com que outras coisas também voltassem ao ponto que era necessário.

Passei pelo portão quando o sistema de segurança reconheceu o meu


carro e subi até uma das vagas da garagem. Peguei uma mochila que havia
jogado no banco de trás e fui até o elevador, acionando o andar.

Assim que saí nele, as pessoas que estavam trabalhando se viraram


para mim, mas a única que ousou se aproximar foi a minha irmã. Nina abriu
um sorriso e os braços assim que me envolveu.

— Senti a sua falta.

— Eu também! — Retribuí o carinho dela.

— É verdade? — Ela se afastou um passo para me analisar melhor e eu


bufei.

— Como soube?

— Giovane me contou.

— Fofoqueiro... — movimentei os lábios resmungando.

— Quando pretendia me contar que eu tenho uma cunhada?

— Era um assunto para outro momento.

— A mamãe está infartando.

— Ela entra em pânico muito facilmente.

— Será? — Nina cruzou os braços. — Não era uma notícia que


nenhum de nós esperava receber dessa forma.

— Não se preocupe com isso, irmã. — Afaguei o ombro dela. — Deixe


para outro momento. Como você mesma disse, passei tempo demais longe e
está na hora de voltar para os assuntos que precisam da minha atenção aqui.
Onde está o Nicolae?
— No mesmo lugar de sempre.

— Vou até ele. — Inclinei-me para dar um beijo na bochecha dela e


passei pela minha irmã indo até o elevador.

Fui para o andar secreto onde as principais transações da máfia


aconteciam e assim que abri a porta o meu irmão se virou para mim.

— Parabéns pelo casamento.

— Até você?

— Isso justifica o seu sumiço.

— Andei ocupado. — Tirei a mochila e a coloquei sobre uma mesa no


canto.

— Eu imagino. Só espero que tenha passado tanto tempo lá e não tenha


voltado só com uma esposa, porque o plano era que você trouxesse a
tecnologia...

— Está aqui. — Tirei o HD e entreguei-o para ele.

— Estava ansioso por isso. — Meu irmão deu um sorriso sutil. —


Vamos testar.

— Se fizer o que realmente esperamos será uma grande proteção para


os nossos negócios.

— Tem que valer o que pagamos por ele. — Nicolae se acomodou na


frente de um dos computadores.

Cruzei os braços e fiquei quieto enquanto ele analisava o código.


Parecia compenetrado, lendo as linhas com calma e vendo os comentários
deixados pelo desenvolvedor ao longo do arquivo.

— Vai precisar de alguns ajustes, fechar umas portas do fundo para que
realmente seja seguro, mas vai servir.

— Ótimo!

Meu irmão se virou para mim e ficou me encarando, imaginei que


fosse fazer qualquer outro comentário, mas deu de ombros e acabou não
dizendo nada. Provavelmente deveria estar se perguntando sobre o meu
casamento surpresa, o que fora uma bomba para todos. Entretanto, uma das
características que eu mais apreciava no Nicolae era o fato de que ele era
concentrado no trabalho e não se deixava distrair facilmente.

Puxei uma das cadeiras e me deixei entreter com o trabalho por um


tempo. Isso fez com que eu parasse de pensar na Nedja e em como seria o
encontro com ela e a minha família.
Capítulo vinte e três

Naquele dia Ettore demorou para retornar para casa e não falou muito
comigo quando apareceu. Era como se de alguma forma estivesse tentando
me evitar. A situação era estranha, mas eu não podia esperar por algo
diferente.

O casamento que tínhamos não era real e estávamos enfrentando uma


situação maluca.

Talvez fosse comum, mas eu não convivia tanto com outros homens
para compreender exatamente o que ele estava provocando em mim. Poderia
ser apenas a necessidade imensa de ser protegida, mas quando estávamos
próximos o que eu sentia ia muito além disso e ao mesmo tempo em que
parecia haver uma necessidade de fugir, eu queria experimentar.

Não deveríamos nos envolver, esse era o acordo, Ettore parecia


determinado a se livrar de mim assim que possível e depois de tudo o que ele
já fizera, eu não poderia exigir um grão de areia a mais.

Ele havia se arriscado muito para me proteger e só precisava ser grata


por isso, mas naquela noite eu não consegui dormir. Fiquei olhando para o
teto, com o coração batendo apertado enquanto me movimentava de um lado
para o outro.

Sabia que ele estava em outra porta, mas não me atrevi a ir até lá,
porque só tornaria a situação entre nós ainda mais estranha.
Respirei fundo e puxei o travesseiro para cima do rosto, pensando no
quanto queria que a Regina estivesse ali. Sempre compartilhava os meus
sentimentos e tormentos com a minha prima. Por mais que ela
compreendesse ainda menos do que eu sobre o mundo, era sempre uma boa
ouvinte e às vezes fazia comentários relevantes que me colocavam para
pensar.

O que será que ela diria se me visse naquela situação?

Você só está tentando sobreviver.

Sim, eu estava... Soltei o ar com força dos meus pulmões e girei na


cama, deitando-me de lado.

Depois da morte do meu pai eu não tinha mais ninguém que pudesse
cuidar de mim a não ser eu mesma. Precisava lembrar-me disso e me manter
focada.

Não sei em que momento, mas acabei pegando no sono. Dormi até que
os raios do sol começassem a invadir o cômodo e notei que havia deixado as
cortinas abertas.

Pensei que o Ettore ainda pudesse estar dormindo, mas ouvi um


barulho que me deixou em alerta e fez com que eu me levantasse. Saí do
quarto e segui o cheiro de café que havia tomado o ambiente, encontrando-o
na cozinha, mexendo com uma máquina de cápsulas.

— Bom dia! — Dei um meio sorriso.

— Poderia ter ficado mais tempo na cama.


— Acho que já dormi o suficiente.

— Está com fome?

Apenas balancei a cabeça fazendo que sim e o vi sair de trás da


bancada. Foi impossível não reparar nele usando apenas uma bermuda
branca. O peito era largo, assim como os ombros e os músculos bem
definidos. Fiquei acompanhando os movimentos deles enquanto o Ettore
ficava de costas e abria a geladeira, tirando de dentro dela frutas, leite e
iogurte.

Ele colocou sobre a bancada de pedra antes de movimentar a cabeça


para me encarar.

— Fiquei muito tempo fora, preciso fazer compras.

— Parece mais do que o suficiente para mim. — Cruzei os braços ao


redor do corpo, como se estivesse sentindo frio, mas o dia estava
aconchegante.

Talvez eu só estivesse me sentindo pequena e oprimida diante daquele


homem tão imponente. Ao mesmo tempo que algo dentro de mim me gritava
para tomar cuidado, todos os meus demais sentidos me diziam que aninhada
nos braços dele era o local onde eu mais estaria em segurança.

— Vai ter muito o que comer na casa da minha família hoje.

— Ah, sim, sua família. — Engoli em seco ao me recordar que a mãe


dele praticamente nos havia intimado para um almoço.

Ettore bebericou um gole do seu café antes de me encarar com tamanha


seriedade que fez com que eu desse um passo para trás.

— Preciso que tome muito cuidado com o que vai fazer ou dizer.

Balancei a cabeça concordando.

— Temos que combinar uma história.

— Sim, nós temos — concordou ainda sério. — Nos conhecemos em


um passeio em Dubai. Meu interesse em você foi tão grande que quis trazê-la
para cá, mas só era possível com o casamento.

— Só isso?

— É o que eles precisam saber.

— Meu tio...

— Não vamos falar nada sobre ele. — Foi rápido em me interromper.


— Nem sobre a morte do seu pai e muito menos que esse casamento era só
para tirar você em segurança dos Emirados.

— E quanto ao divórcio?

— Vou dizer que estou arrependido e que agi por impulso. Terei que
lidar com as consequências. — Bebeu mais um pouco do café e percebi o seu
olhar se afastando, como se ele estivesse refletindo sobre o que havíamos
acabado de falar.

— Parece que não vai ser assim tão simples — arrisquei-me a cometar.

— Não há um jeito fácil de fazer isso agora que a minha família sabe.
O casamento é sagrado para eles em diversas esferas.
— Mas...

— Eu vou resolver. — Ele terminou com o café e colocou a xícara na


pia, quase a quebrando com o impacto. O ato foi o suficiente para que eu
compreendesse que aquele assunto estava encerrado. — Vá se trocar para
irmos.

— Está bem. — Peguei algumas uvas e as joguei na boca, mastigando


devagar enquanto o observava seguir pelo corredor e desaparecer no seu
quarto.

Não há um jeito fácil de fazer isso...

Provavelmente no auge do meu medo eu não havia compreendido o


quanto um casamento falso seria complexo para nós dois. Entretanto, naquele
momento tudo o que me restava era confiar no Ettore e acreditar que ele
conseguiria nos tirar daquela situação como já havia feito.
Capítulo vinte e quatro

Já era tarde demais para dizer que eu não deveria ter concordado com
aquilo. Por mais que já houvesse repetido para mim mesmo diversas vezes,
Nedja se havia tornado minha responsabilidade no momento em que eu a
havia colocado dentro do meu carro da primeira vez e só conseguiria ficar
livre quando finalmente cortasse todos os laços.

Saí do quarto, pronto para ir com ela enfrentar a minha família no


mesmo momento em que Nedja também pisou no corredor.

Ela estava usando um dos vestidos longos que eu havia comprado para
ela, com mangas até os cotovelos. Ele era casto demais, sem decote ou
ombros à mostra, mas ela ainda assim era bonita a ponto de capturar o meu
olhar e me deixar encarando-a por mais tempo do que deveria.

Talvez fosse mais fácil se a jovem sob os meus cuidados não fosse
assim tão bonita. Quase ri com amargor ao me recordar do Thiago me
dizendo para simplesmente aproveitar. Ela era minha, ainda que de uma
forma distorcida e inesperada.

Era justamente por isso mais do que nunca que eu precisava me


recordar que tínhamos um plano, pois no momento em que eu colocasse as
mãos nela e fosse além do racional, estaria perdido para sempre.

Estava protegendo-a, mas ainda não sabia quem iria conseguir protegê-
la de mim.
Ainda havia outro ponto naquela equação que ela não sabia. Para ela eu
era só mais um bilionário aficionado por teologia e com negócios nesse ramo,
a pobre mulher indefesa sob os meus cuidados não tinha qualquer ideia sobre
a minha ligação com a máfia italiana e o histórico da minha família.
Acreditava que não era algo que ela precisasse saber de fato. Conhecer sobre
a máfia a corromperia para sempre e seria um caminho sem volta. Saber
demais no nosso mundo sempre tinha um preço. Se ela descobrisse sobre
nossos negócios jamais poderia ser afastar.

— Vamos logo — disse num tom ainda mais frio quando a encarei.

— Está tudo bem?

Eu não respondi, mas era óbvio que não estava nada bem. Quanto mais
perto eu me sentia de me livrar de toda aquela situação, pior ela se mostrava.
No momento em que não a deixei para morrer não imaginava que o preço da
sua vida pudesse ser tão alto.

— Comporte-se.

— Eu iriei. — Pacífica, ela abaixou a cabeça concordando e seguiu na


minha frente até a porta da sala. Eu a abri para que pudéssemos ir até a
garagem e nenhuma outra frase foi dita até nos acomodarmos no carro.

Eu não tinha outra palavra para descrever o que viria a seguir que não
fosse tragédia. Era muito mais fácil sair para uma missão e ter que matar dez
na companhia do Thiago do que enfrentar a minha família sabendo que eu
estava mentindo para eles.

Aquele nó desagradável no meu peito se tornava ainda mais intenso à


medida que eu dirigia para a mansão. Poderia desviar o caminho, dizer que
havia acontecido um imprevisto que precisava da minha atenção, mas todos
eram espertos para deduzir rapidamente que havia algo de errado.

Iria sobreviver àquele dia e depois falar sobre o divórcio.

Tio Marco certamente não iria gostar, ninguém se afastava da máfia,


mas eu iria precisar de um bom plano, um argumento infalível que no
momento eu ainda não tinha. Nedja seria mandada para longe e
provavelmente nunca mais pisaria na Itália.

Eu ficaria livre e aquela tentação constante que perturbava o meu peito


e a minha alma me deixaria em paz.

Estacionei o carro em uma das vagas da enorme garagem. Os homens


da segurança olharam para mim, movimentaram suas cabeças, mas não
disseram nenhuma palavra enquanto eu dava a volta no carro e abria a porta
para Nedja.

— Bem-vinda à mansão Bellucci. — Estendi a mão para ela.

— Obrigada. — Deu um sorriso e mexeu no cabelo, evidenciando


ainda mais o seu brilho.

Coloquei a mão no centro das suas costas por reflexo para guiá-la pelo
caminho e a vi estremecer. Suas pupilas dilataram e eu percebi que não era o
único que sentia os efeitos da nossa aproximação. Isso poderia tornar tudo
ainda mais difícil e desconcertante.

Aquele tesão que pairava no ar iria acabar me fazendo cometer ainda


mais loucuras.

Racional, Ettore!, briguei comigo mesmo.

Ao contrário do Thiago, eu pensava mais, estudava como agir e o que


fazer, mas desde que a Nedja havia aparecido no meu caminho, pensar
definitivamente havia deixado de ser uma das minhas maiores prioridades.

Quando entrei na mansão eu ouvi muitas vozes. Todos já deveriam


estar ali para aquele momento. Não deveria ser uma surpresa, se fosse eu do
outro lado também estaria curioso com um primo que se casou às pressas
com uma mulher estrangeira.

Tolo!, eu certamente pensaria comigo, assim como foi quando o


Thiago trouxe a Juliana para a nossa convivência, mas daquela vez o idiota a
cair naquela armadilha era eu.

Assim que entramos na sala, percebi que Nedja congelou.

— Vai ficar tudo bem — incentivei-a ao empurrar as suas costas um


pouco mais. Tínhamos chegado até ali, não era mais o momento de voltar
atrás.

A primeira pessoa que vi foi a minha avó. Rosimeire Bellucci estava


sentada em sua típica poltrona e se levantou assim que seus olhos pousaram
em nós. Eu a vi analisar a Nedja rapidamente antes de sorrir para nós dois.

— Então essa é a minha nova neta?

— Sim. — Forcei um sorriso.

— Seja bem-vinda à família, querida. — Ela se aproximou e deu um


beijo na bochecha da Nedja, que correspondeu. — Ela ainda não fala italiano,
não é? — minha avó percebeu rapidamente.

— Vai aprender logo — garanti.

— Inglês? — Nedja comentou.

— Ah, sim. — Minha avó trocou o idioma. Eu ainda ficava surpreso


com todas as habilidades que ela tinha.

Logo a minha tia Laís veio ver a minha esposa e o restante da família
surgiu de outros cantos dos corredores.

Movimentei a cabeça quando ouvi passos vindos do andar de cima e vi


meu pai descendo com seus outros dois irmãos. A expressão séria deles não
era uma surpresa para mim. Sabia que a minha atitude não era o que
esperavam e que eu seria recriminado por isso, mas não mais do que já estava
fazendo comigo mesmo.

— Ettore!

— Tio Marco. — Movimentei a cabeça diante do chefe da máfia em


sinal de respeito.

— É bonita.

— Obrigado.

— Espero que não se torne um problema.

— Vou ficar de olho nela e a manterei bem longe dos nossos assuntos.

— Eles nunca ficam longe demais. — O tom firme dele me lembrou do


quanto a máfia estava arraigada em nós.

Só torcia para que durante aquele almoço conseguíssemos fingir ser


uma família comum e não deixar que Nedja soubesse de assuntos que não
precisava. Mantê-la distante ainda parecia uma das minhas prioridades.

Ela já tinha inimigos suficientes para lidar, não precisava dos meus
também.

— Enquanto não me arrumam uma esposa vocês já parecem bem


ocupados. — Dante apareceu na companhia do Lorenzo e me cumprimentou
com um tapinha no ombro. — Meus parabéns pelo casamento, primo.

— Obrigado. — Dei um sorriso amarelo.

— Para aqueles que eu pensei que ficariam por último, você e o Thiago
até que foram bem rápidos.

— Parece que a vida ainda nos surpreende. — Dei de ombros.

— Com toda certeza.

Esquivo, ainda tentava lidar com aquilo enquanto a minha família me


parabenizava. Percebi que o meu pai estava me analisando e precisava me
esforçar para mentir um pouco melhor. Estava trazendo uma mulher
desconhecida para casa e os riscos disso eram inegáveis. O casamento por
paixão era absurdo, mas o que eu havia feito era muito pior.

— Ah, minha nora! — Minha mãe apareceu na sala com um ar


animado e fez com que todos se voltassem para ela, derrubando um pouco do
clima de tensão que havia se estabelecido e eu fiquei aliviado com isso.
Quando Thiago apareceu com a Juliana e o bebê o clima de família se
estabeleceu e foi como se de fato a Nedja estivesse sendo acolhida como uma
Bellucci. Nina, mamãe, minha avó e até as minhas tias fizeram com que aos
poucos ela fosse se soltando. Só que eu não conseguia deixar de ficar tenso,
com medo de que ela deixasse escapar algo que não deveria dizer.

— Está com a chave do meu carro? — Thiago parou ao meu lado e


trombou no meu ombro, chamando a minha atenção para ele.

— Carro?

— O da aposta.

— Eu não vou te dar a minha Ferrari.

— Isso é o que veremos. — Ele riu. — Já transou com ela? — lançou


seu olhar de predador na direção da Nedja, o que involuntariamente me fez
rosnar.

— Claro que não!

Ele deu uma risada baixa e eu acertei o seu peito com uma cotovelada.

— Deixe de ser idiota.

— Eu, idiota? Ah, Ettore, você já foi mais esperto.

Fiquei calado, geralmente eu tinha o que dizer, mas daquela vez era
como se as minhas palavras só piorassem a situação.

— Thiago! — Juliana se aproximou de nós com o bebê nos braços e o


entregou para o pai. — Fica de olho nele que eu vou ajudar a terminarem de
arrumar a mesa lá fora.

— Está bem. — Ele ajeitou a criança enquanto a mulher se afastava e


virou o menino para mim. — Olhe só, Ettore!

— É só um bebê. — Bufei.

— Ele é o símbolo da minha família e das minhas responsabilidades.


Além de ser a principal razão pela qual eu preciso voltar inteiro após cada
missão. Ainda tenho muito o que ensinar para ele.

— Você vai.

— Os filhos da minha irmã estão longe, seria legal que ele tivesse com
quem brincar.

— Tenho certeza de que você e a Juliana já estão trabalhando em um


próximo.

— O seu pode chegar antes.

— Há outras formas de você conseguir uma Ferrari.

— Já não é mais sobre isso que estou falando.

— Então melhor calar a boca. — Fui mais ríspido e ele riu.

Certamente eu iria enlouquecer com tudo aquilo se não desse um jeito


naquela situação o mais rápido possível. Thiago era o único que sabia a
verdade, mas ao invés de ficar ao meu lado ele parecia querer me jogar mais
ao fogo.
Capítulo vinte e cinco

A família do Ettore foi muito mais acolhedora do que eu poderia


imaginar. Todos eram muito gentis e rapidamente fizeram com que eu me
sentisse em casa. Como meu pai não teve outra esposa após a morte da minha
mãe, minha família não era numerosa como aquela e a minha relação com o
meu tio não era muito boa mesmo antes de tudo o que ele havia feito. Com
exceção da Regina, o restante dos meus primos tendia a me evitar e me viam
como uma estranha que estava dando as costas à vida que uma mulher como
eu deveria ter. Até parecia que não merecêssemos estudar e ter um pouco de
instrução.

Embora houvesse uma forte proteção, que eu notei pelos homens


armados na propriedade assim que chegamos, as mulheres pareciam muito
unidas e felizes. Eles eram certamente uma família poderosa e a segurança
sempre se fazia necessária.

— Eu gostaria de ajudar. — Aproximei-me da matriarca da família que


me havia dirigido um ar muito gentil desde o primeiro minuto.

Devido ao fato de como o meu casamento com o Ettore aconteceu,


imaginei que pudessem ficar receosos com a minha presença, mas estavam
todos me tratando muito bem. Era evidente o carinho e o respeito que tinham
por ele a ponto de agirem daquela forma. Quase conseguia me esquecer de
que estávamos mentindo para eles, que o neto não havia me escolhido de
verdade, ao menos não da forma romântica que estavam pensando.
— Pode colocar esses guardanapos na mesa. — Ela me entregou uma
caixa com os tecidos bem enrolados.

— Está bem.

Segui para fora da cozinha e vi uma mesa muito grande, com espaço
para mais de uma dezena de pessoas. Ela estava sob a sombra de uma árvore
e a luz do sol que passava pela copa formava uma sombra sobre a toalha
verde.

Havia uma mulher mais jovem, ajeitando os pratos e os talheres. Ela


era loira e tinha um ar bem angelical. Assim que notou a minha presença,
ainda um tanto perdida, carregando a caixa, veio para perto de mim e se
apresentou.

— Sou Juliana. A esposa do Thiago. Nossos maridos são amigos e


espero que possamos ser também. Já fui uma estranha nessa família e acho
que consigo compreender como está se sentindo hoje.

— Eles estão sendo muito gentis comigo.

— Apesar de tudo são uma família incrível.

— Tudo?! — Levantei a sobrancelha com um ar curioso e querendo


compreender um pouco melhor sobre o que ela estava falando.

— Os negócios — respondeu brevemente e eu continuei sem


compreender, mas antes que eu fizesse qualquer outra pergunta, ela pegou a
caixa da minha mão. — Vamos colocar esses guardanapos ao lado dos pratos.

— Ah, sim!
Fui para o outro lado da mesa e nos dividimos ajeitando.

— Tenho um material para aprender italiano que ganhei da nona assim


que cheguei, eles foram muito úteis. Se quiser posso deixar com você.

— Ficaria muito grata.

— Depois te mando uma lista com aplicativos de celular. Também me


ajudaram bastante. Quanto mais rápido aprender o italiano será melhor para
você.

Balancei a cabeça concordando e não tivemos muito mais tempo para


uma conversa particular porque logo todos haviam saído para a mesa e foram
se acomodando nas cadeiras, como se já tivessem o lugar marcado. Eu fiquei
de pé, esperando até que o Ettore se aproximou de mim, surpreendendo-me
com a sua respiração na minha nuca.

— Sente-se perto de mim.

— Okay. — Deixei-me ser guiada e me acomodei na cadeira que ele


puxou.

O cheiro da lasanha estava maravilhoso. Por mais que eu gostasse do


tempero forte e das comidas típicas que eram servidas na minha terra, era
fácil se apaixonar pelos sabores da Itália. Naquele dia com a família do Ettore
eu me senti tão bem que quase me deu um aperto no peito ao pensar que
aquele acolhimento tinha uma data de validade.

Não sabia exatamente quando nem como, mas já estava acordado.


Iríamos nos divorciar e cada um seguiria o seu caminho.
Capítulo vinte e seis

Thiago estava sentado ao meu lado, observando a esposa e o filho


deitado em um carrinho, mordiscando os dedos dos pés como se fosse algo
saboroso. Ainda era estranho pensar que alguém tão pequeno e indefeso se
tornaria um de nós um dia.

Pietro era apenas um bebê, mas dado ao pai que tinha, seria só uma
questão de tempo para que começasse a sujar as mãos. Certamente o primeiro
presente da adolescência seria uma automática.

Nedja do outro lado sorria e despejava simpatia. Achava difícil que ela
continuasse se comportando daquela forma se ao menos tivesse noção dos
lobos que estavam ao seu redor. Esse era um motivo ainda mais intenso para
que eu a tirasse dali.

Eu vi o Lorenzo se levantar e acompanhei o meu primo até que ele se


aproximasse do irmão, mexendo no ombro dele.

Thiago se inclinou para trás para ouvir o que o caçula tinha a dizer.

— Temos um problema.

— Onde?

— Só um capacho criando confusão.

— Estamos em família agora.

— Você sabe, precisa ir até lá e mandar um recado.


— Agora?

— Sim.

— Eu vou com você — falei rápido demais, só estava sufocado com


aquela situação, mas deixar a Nedja sozinha com o restante da minha família
poderia não ser uma boa alternativa, por melhor que ela estivesse se
comportando.

— Logo hoje? — Lorenzo ficou surpreso com o meu anúncio.

— Aposto que o Thiago está morrendo de saudades de trabalhar


comigo.

— E como — brincou abrindo um sorriso debochado que eu fingi


ignorar.

— Tenho certeza de que vamos acabar com isso logo.

— Já volto, amor. — Thiago se inclinou na direção da Juliana e deu


um rápido selinho nela.

— Se cuida.

— Sempre. Vou estar de volta logo.

— Está bem.

Foi a minha vez de me levantar atraindo a atenção da Nedja para mim.


Ela se remexeu na cadeira, perguntando se era o momento para vir junto, mas
fiz um gesto com a mão para que ela ficasse onde estava.

— Vou sair com o Thiago, já volto.


— Sair? — Ela arregalou os olhos castanhos, parecendo um tanto
surpresa.

— Volto em breve. Temos um assunto importante para resolver.

— Está bem. — Acabou concordando quando viu que não havia mais o
que ser dito.

Inclinei-me mais na sua direção e aproximei a minha boca da sua


orelha, percebi os seus pelos se eriçarem com a minha respiração, mas fingi
que não havia nada demais naquilo. Era como se eu ignorasse o tesão em
algum momento ele fosse desaparecer, ao menos era pelo que eu estava
torcendo.

— Comporte-se e muito cuidado com o que diz.

— Sim.

— Voltaremos logo.

Soltei a cadeira e dei um passo para trás, sugando o ar com força como
se houvesse passado tanto tempo submerso que acabei perdendo o fôlego.

Nedja assentiu e eu segui o Thiago para fora da casa. Assim que


saímos da vista de todos, Thiago tirou a arma que estava escondida na calça e
contou as balas, testando a mira e guardou de volta.

— Espero que ainda saiba usar uma dessas — debochou de mim.

— Não faz ideia dos homens que eu matei enquanto estava no Oriente
Médio.
— Assim vai ficar exibido. — Thiago riu. — Mas eu quero ver na
prática se aprendeu algo.

— Estou ansioso por isso. — Entramos no meu carro como nos velhos
tempos e eu peguei a minha própria arma.

A minha racionalidade me dizia para não sair de perto da Nedja, ela


estava segura com a minha família, mas poderia nos complicar ainda mais.
Entretanto, eu precisava desesperadamente aliviar toda aquela tensão que
estava me corroendo. Alguns tiros e toda a adrenalina de estar em missão
com o Thiago novamente iriam me ajudar, quem sabe depois disso seria mais
fácil voltar a pensar melhor.

Dirigi até o endereço que o Lorenzo nos havia mandado. Não era uma
missão difícil, a típica queima de arquivo com que estávamos tão habituados.
Era comum aparecer algum peixe pequeno ousando nos desafiar. Eram
sempre tolos que tinham uma ilusão errônea de que possuíam alguma chance
de tomar o controle de Roma de nós, quem sabe até mesmo do restante da
Itália, mas uma morte rápida e bastante sangue sempre deixava um bom
aviso.

Éramos os Bellucci e nos desafiar sempre gerava consequências.

Estacionei o carro e o Thiago foi o primeiro a descer.

— Pode me esperar aqui. Eu não vou demorar.

— Irei junto.

— O casamento empolga a gente, não é mesmo? — Gargalhou e eu


fechei a cara. Esperava que aquela piada interna terminasse logo.

— Vamos acabar com alguns idiotas. — Saquei minha arma.

— É disso que eu gosto. — O sorriso do Thiago se tornou maior e


ainda mais sombrio.

Fomos até o portão de entrada do prédio e eu mexi no meu relógio,


tirando uma pequena bomba que coloquei sobre a fechadura. Nós nos
afastamos alguns passos e quando ela explodiu a fechadura de aço, Thiago
chutou o portão, passando por ele.

— Estamos sendo invadidos! — Ouvi alguém gritar.

— Você não queria um pouco de ação? — Thiago me empurrou para o


lado antes que um homem aparecesse no alto da escada com uma arma
apontada para nós.

Tombei contra a parede e o tiro passou bem no meio de mim e do meu


primo. Thiago apontou a sua arma e atirou contra o sujeito na cabeça,
fazendo com que ele tombasse para a frente e descesse rolando a escada sem
brecha para tentar nos atingir novamente.

Movimentei o meu corpo para o lado e chutei o cadáver para o chão,


observando o rastro vermelho nos degraus cor de cimento de onde ele havia
caído até onde havia parado.

Assim que pisamos no alto da escada, outro homem veio em nossa


direção. Thiago o socou no estômago e o empurrou para trás, jogando-o na
minha direção. Segurei o braço onde o sujeito sustentava uma arma e o bati
contra o meu joelho, forçando-o a soltá-la. Ouvi o som oco do metal caindo
pela escada enquanto acertava o queixo do homem contra o joelho e o
empurrava contra a parede, dando um tiro contra a sua têmpora que o apagou
de imediato, mas fez com que sangue e miolos espirrassem na minha camisa.

A porta estava aberta e havia outros homens dentro do cômodo,


preparados para contra-atacar. Logo eu vi droga e outras substâncias pelo
ambiente. Eram muito idiotas se achavam que poderiam operar na nossa
cidade sem a nossa autorização.

Um tiro foi disparado contra mim sem que eu percebesse e esse


explodiu no escudo que eu estava usando, fazendo com que ele vibrasse.

— Você está bem? — Thiago se virou para mim, preocupado.

— Estou ótimo. — Cerrei os dentes ao endireitar o corpo. Iriam


precisar de muito mais do que uma bala para conseguir me derrubar.

Eles eram uns cinco e nós apenas dois. Tirei uma cápsula de fumaça do
meu relógio e logo o ambiente ficou completamente embaçado, balanceando
a situação um pouco mais a nosso favor.

— Você e esses seus brinquedos — comentou o Thiago.

— Admite que estava com saudades deles.

— Um pouco.

Ouvi um homem urrar enquanto vinha na minha direção. Movi o meu


corpo para o lado, fazendo com que ele acertasse uma das mesas e agarrei a
sua cabeça, batendo com ela contra o tampo. O pó de droga subiu, deixando-
o ainda mais tonto até que eu pegasse um pequeno canivete que estava ao
lado da sua cabeça e acertasse a sua jugular. Deixei que ele escorresse para o
chão, engasgando-se no próprio sangue enquanto eu me virava para o
próximo que estava mirando em mim.

Ele disparou, dando três tiros contra o meu peito que me fizeram
tombar um pouco para trás, mas não tiveram qualquer efeito mais letal.

— Não foi bom o suficiente.

— Esses Bellucci são demônios. — Ouvi-o praguejar antes que o


Thiago acabasse de uma vez por todas com a sua vida.

— Com certeza somos. — Comentei ao vê-lo cair de joelhos enquanto


a fumaça se dissipava, deixando apenas eu e Thiago de pé em meio aos
corpos cujas vidas tínhamos acabado de ceifar.
Capítulo vinte e sete

Acomodei-me no sofá, olhando para os outros quando a avó do Ettore


me ofereceu um pedaço de torta de chocolate que estava com uma aparência
ótima.

Juliana se sentou perto de mim e acomodou o filho nos braços,


ninando-o até que ele voltasse a dormir parando de chorar. Ela soltou um
longo e profundo gemido, como se lamentasse algo e isso chamou ainda mais
a minha atenção.

— O que foi? — Inclinei-me para a frente e coloquei o pratinho sobre a


mesa de centro antes de fixar meus olhos na jovem esposa.

— Eu sempre fico preocupada quando ele sai assim, mesmo sabendo


que é muito bom no que faz.

— Preocupada?

— Você não?! Eu não sei o que seria de mim se algum dia o Thiago
não voltasse para casa.

— Por que ele não voltaria?

O Ettore me havia dito para não fazer perguntas demais, mas era difícil
com tantas informações vagas pairando no ar. Por mais receptiva que a
família dele estava sendo comigo, era óbvio que eu não sabia de tudo.

Tinha confiado a minha vida aquele homem porque não me restavam


escolhas, mas isso não significava que ele compartilharia informações
comigo. Ettore havia sido honesto, eu não sabia tudo sobre ele, mas ainda
assim estávamos ali, envolvidos.

— Vamos falar sobre outra coisa. — A avó mudou de assunto sem que
a Juliana respondesse à pergunta que eu havia feito.

Assenti com um movimento de cabeça. Sabia que todos estavam me


analisando e por isso eu precisava ter atenção na forma como agia.

— Como está a adaptação na Itália, Nedja?

— Acabei de chegar, mas a cidade é muito linda.

— Há muitos pontos encantadores em Roma — Luize se aproximou do


assunto, envolvendo-se na conversa. — Não apenas o meu filho. — Deu uma
risadinha contida. — Espero que eu possa ajudá-la a conhecer.

— Ficaria extremamente honrada. — Sorri para a minha sogra.

— Será um imenso prazer. Tem algumas feiras, exposições, a cultura


cigana...

— Mãe. — A irmã do Ettore a cortou. — Vamos com calma.

— Agora que a Nedja é uma de nós tenho certeza de que ela vai querer
algumas funções para se ocupar. Quem sabe me ajudar no intermédio com o
meu povo...

— Tenho certeza de que ela vai encontrar o seu lugar. — A moça loira
afagou o ombro da mãe e piscou para mim.

— Obrigada.
— Não por isso.

Antes que qualquer outro assunto fosse iniciado, Ettore entrou na sala
acompanhado do primo. Ele havia tirado a camisa e a esfregava em algumas
áreas do corpo. Ele poderia estar tentando esconder, mas eu vi as manchas
vermelhas.

Foi impossível conter o meu impulso de correr na sua direção.

— Ettore!

— É melhor não me tocar agora. — Ele estendeu a mão para me


afastar, mas só me deixou ver ainda mais o sangue na camisa.

Meu estômago se retorceu e eu senti vontade de tremer.

— Eram os homens do meu tio? —Toquei o seu peito em busca de


algum machucado, por mais que não conseguisse ver nada.

— Não. — Ele passou a mão sobre o meu braço e segurou o meu


pulso, fazendo com que o encarasse com firmeza. — Eles não estão aqui.

— Mas... — Balbuciei sem compreender qual seria a outra razão para


que ele estivesse daquele jeito.

— Eu tenho os meus próprios inimigos. — Soltou-me e eu tombei para


trás antes de me recompor. — Fique aqui. Vou tomar um banho e me trocar
para que possamos ir embora.

Assenti com um movimento de cabeça e ele desapareceu escada acima


acompanhado do primo.
Virei-me para trás e percebi que todos estavam reparando em mim.
Ficara perplexa demais com o que havia presenciado, por mais que fizesse o
meu melhor para disfarçar. Só com o coração apertado e as memórias do
sangue no Ettore que eu consegui compreender ao que Juliana estava se
referindo ao compartilhar comigo o seu medo.

Eu tenho meus próprios inimigos...

Havia sido ingenuidade minha ao pensar que um homem que lutava tão
bem quanto o Ettore e havia me feito escapar de situações difíceis, não
tivesse aprendido todas essas habilidades por necessidade de colocar em
prática.

Aquela realidade sendo escancarada diante dos meus olhos me colocou


mais em choque do que deveria, pois me fez refletir a respeito da minha
própria vida. Até que ponto eu realmente estaria segura ao lado dele.

— Vamos até a cozinha. — Senti mãos fofas e enrugadas envolverem


os meus braços com carinho e chamarem a minha atenção. — Vou preparar
um copo de água com açúcar para você.

— Muito obrigada, senhora Bellucci.

— Pode me chamar de Rosi, querida. Ou nona. Agora você também é


da família.

Dei o melhor sorriso que consegui enquanto deixava que ela me


guiasse até a cozinha. Sentei-me em um dos bancos altos e logo ela preparou
uma bebida calmante para mim.
— Queria dizer para você que fica mais fácil com o tempo, mas
infelizmente esse é um preço que todas nós temos que pagar.

Tomei a água em boas goladas enquanto absorvia as informações que


ela estava passando para mim.

— Mas sempre terá o nosso cuidado e proteção.

— Só quero saber se ele vai ficar bem — finalmente consegui me


expressar com todo aquele turbilhão incômodo me preenchendo.

— Eles geralmente ficam.

— Geralmente? — Engoli em seco sentindo minha garganta arder.

Já tinha perdido o meu pai, a minha vida e toda a minha existência não
poderiam ficar sem o Ettore também.

— Vai ficar tudo bem. — Ela voltou a afagar o meu ombro e o seu
sorriso me tranquilizou um pouco.
Capítulo vinte e oito

Saí do banheiro com o cabelo pingando e a certeza de que não havia


mais sangue impregnado em mim. Não foi bom deixar que a Nedja me visse
naquele estado. A sua expressão de choque e surpresa ainda estava marcada
na minha mente. Esperava que a resposta que eu havia dado fosse o suficiente
para sanar suas dúvidas, mas certamente não seria por muito tempo.

Ela não poderia ficar por perto, porque já sabia demais e isso só se
tornaria ainda pior. Iria ligar para a minha prima Manuela, marcar uma visita
aos Estados Unidos e já deixar a minha esposa por lá de uma vez por todas.
Faria acordos para que tomassem conta dela e contornaria aquela situação.

Assim que pisei no corredor, deparei-me com o meu pai. Ele olhou
diretamente para mim e pressenti que estava me esperando. Eu não previa
uma conversa com ele naquele momento, mas seria difícil de escapar.

— Precisava ter saído para brincar de assassino com o seu primo logo
hoje?

— Tínhamos um trabalho para ser feito.

Meu pai colocou as mãos dentro dos bolsos e estufou o peito,


assumindo uma postura ainda mais firme.

— Thiago poderia muito bem dar um jeito nisso sozinho.

— Já foi solucionado.

— Ela não nasceu entre nós. Por mais que você tenha sido bem claro
sobre onde ela se envolveu, é melhor ir com calma.

— Ela vai se adaptar.

— Só não queira que ela quebre antes. As mulheres são mais sensíveis
do que nós, filho e exigem o dobro do nosso cuidado e proteção. Não gosto
da forma impensada como se casou, mas cada um de nós compreende que às
vezes o coração nos faz cometer imprudências. A única coisa que importa
agora é que ela é a sua esposa, uma Bellucci e parte da nossa família.

— E se eu não quiser?

— Como assim? — Deu um passo para trás, arregalando os olhos,


completamente surpreso com a pergunta que eu fiz.

— Há uma forma de desistir?

— Desistir do quê, Ettore? — Meu pai apertou os olhos e exigiu de


mim uma resposta mais objetiva.

— Do casamento.

— Você acabou de se casar.

— E se foi precipitado? Se ela não for o que queria? Como eu faço


para acabar com isso?

— Não há como acabar com isso. — A fala dele foi firme e me acertou
como um soco. Percebi que o havia irritado pela forma como os músculos do
seu rosto se movimentaram. Eu tinha falado o que não deveria para o meu
pai, mas não havia uma forma de voltar atrás. — Alguns de nós nem tiveram
a escolha que você teve. Tomou-a para si e agora ela é a sua responsabilidade
para o restante da vida. Esse é o casamento.

— Mas nem nos casamos numa igreja conforme as nossas tradições.

— Palavras foram trocadas, documentos assinados e isso tem poder.


Você assumiu um compromisso que deve honrá-lo. É o que eu espero de
você.

— Claro, pai. — Assenti com um movimento de cabeça e percebi que


não era apenas uma Ferrari que eu gostava que eu iria perder. — Vou levá-la
para casa agora.

— Faça isso. — Ele apertou o meu ombro. — Cuide da sua família.

— Pode deixar.

Segui pelo corredor passando por ele e fui tomado por um desconforto
na boca do estômago. Era para ser apenas um casamento falso, mas o Thiago
tinha razão. Desde que aquela mulher havia entrado na minha vida ela havia
se tornado minha.
Capítulo vinte e nove

Coloquei o copo sobre a bancada no momento em que o Ettore entrou


na cozinha. Nossos olhos se encontraram e eu senti um calafrio que subiu da
base da minha espinha e revirou o meu peito por completo.

— Vamos para casa? — disse num tom firme que fez com que eu me
levantasse.

— Ainda é cedo. — A avó dele se intrometeu.

— Voltaremos para ficar mais tempo outro dia.

A mulher buscou os meus olhos e eu assenti com um movimento de


cabeça. Por mais tensa que estivesse com tudo o que havia acontecido, ainda
sentia desesperadamente o quanto queria ficar próxima ao Ettore.

Ele me estendeu a mão e eu entrelacei os meus dedos aos seus. O suor


frio fez com que as nossas palmas escorressem, mas ele me segurou com
firmeza.

— Você está bem? — fui surpreendida com a sua pergunta.

— Estou. — Eu não tinha certeza daquilo, mas não apareceram


palavras mais adequadas.

— Então vamos. — Ele me puxou, e eu me permiti ser levada.

— Nos veremos em breve — murmurou a avó dele com um aceno.

— Sim. — Sorri para ela.


Apesar do dia não estar sendo como eu imaginava, um ponto era
inegável: a família do Ettore havia sido muito receptiva comigo. Eles eram
harmoniosos e pareciam estar ali para cuidar uns dos outros o tempo todo,
algo que era admirável.

Nenhuma palavra foi dita enquanto nos acomodávamos no carro e ele


dirigia de volta para o apartamento. Esperava que fosse me perguntar sobre
como fora ficar sozinha com os seus familiares, mas nem isso.

Aquele clima estava me enlouquecendo e quando finalmente


colocamos os pés na sala de estar, eu me virei para ele, encarando-o séria e
deixei que as palavras saíssem.

— Ettore... — comecei a dizer o seu nome, mas ele me interrompeu.

— Você acha que está segura comigo?

Sua pergunta me pegou completamente desprevenida e fez com que eu


arregalasse os olhos, abrindo a boca por alguns instantes.

— Por que eu não estaria? — precisei me recompor para conseguir


questioná-lo.

— Eu não sou o homem que pensa.

Lembrei-me da roupa, do sangue e estremeci. Ele não era só um rico


excêntrico, havia muito mais por detrás disso, mas o quê?

— Você me protegeu até agora. — Contra a minha sanidade, dei um


passo na sua direção e senti todo o meu corpo estremecer.

— Por mais que eu não devesse. — Achei que ele fosse se afastar, mas
ao invés disso, veio mais na minha direção e seus dedos tocaram o meu rosto.

Estremeci quando eles contornaram a minha face e me fizeram soltar


um profundo gemido. Meu corpo inteiro vibrou. Os efeitos que ele provocava
em mim eram intensos e pareceram ainda mais naquele momento. Se havia
um pingo de racionalidade me dizendo para escapar daquele homem, ela se
evaporou quando seus dedos contornaram os meus lábios e os pressionaram.

— Você não entende...

— O que eu não entendo?

— Que não vai conseguir se livrar de mim.

— Por que eu iria querer me livrar de você?

Devolvi-lhe o olhar firme e ele me encarou como se estivesse olhando


dentro da minha alma.

Ele era o meu marido e por mais maluco que aquilo parecesse, não
pensei na farsa nem nas circunstâncias em que a união havia acontecido.

Ettore soltou o meu rosto e desceu com a mão pela minha nuca,
segurando a minha cabeça com força e me puxou para ele. Todo o meu corpo
cedeu quando os nossos lábios se encontraram. Eu não pensei em
absolutamente mais nada que não fosse envolver os seus ombros e retribuir o
momento. Nunca havia sido beijada e imaginava como seria algumas vezes,
mas nada se comparava.

A pressão da sua boca na minha me deixou sem fôlego enquanto a mão


livre vinha para a minha cintura para me puxar contra o seu peito. A forma
como ele apertava os dedos em mim era dolorosa, Ettore era forte demais,
porém eu não queria que ele parasse.

Afastei os lábios, permitindo que a sua língua se encontrasse com a


minha e o meu corpo se moldou perfeitamente ao seu, como se fôssemos
destinados a ficar daquele jeito.

Ele parou de devorar a minha boca quando precisamos de fôlego e


desceu pelo meu pescoço, roçando os lábios e a barba por fazer na minha pele
de uma forma que me arrepiava completamente.

Queria mais...

Cada célula minha pedia por mais atenção, mais toques e que ele
chegasse até lá. Se havia perigos ou consequências, eu já não conseguia mais
medir. Por aquele momento eu busquei uma estranha liberdade que
alimentava o meu âmago e aquecia o interior das minhas coxas.

Gemi baixo quando ele apertou um dos meus seios sob o vestido. A
pressão era enlouquecedora. Era como se a cada carícia ele despertasse em
mim uma sensação nova e completamente desconhecida.

Quando seus dentes rasparam na pele do meu pescoço, eu inclinei a


cabeça para trás arfando com as sensações. Meu peito começou a se
movimentar rápido e eu torci os dedos na camisa sobre os seus ombros.

Pouco a pouco, Ettore foi subindo até que a sua boca alcançou a minha
orelha e um gemido ainda mais alto saiu da minha garganta.

— Se continuarmos não terá mais volta. — Seu tom era sério,


carregado de tensão enquanto a minha mente já não conseguia processar mais
nada racionalmente.

— Já não tem mais volta. — Subi com a mão pelo seu rosto e o puxei
para a minha boca.

Seus braços firmes enlaçaram a minha cintura e ele me pegou no colo.


Só percebi que havíamos chegado ao quarto quando minhas costas pousaram
sobre o colchão macio da cama.

Eu o vi ficar diante de mim e tirar a camisa, exibindo os músculos


largos e perfeitamente delineados. Procurei rapidamente por algum sinal de
machucado, mas não encontrei nada. Ele estava bem e isso era o que
importava.

— Você é linda!

Não tive tempo de reagir ao seu comentário quando ele se deitou sobre
mim e voltou a me beijar. Eu estava toda quente e fiquei ainda mais quando o
seu quadril se acomodou entre as minhas coxas. O meu vestido havia subido
e a sua calça esfregava diretamente na minha roupa íntima. Havia um volume
ali, rígido e pulsando que deixava o meu sexo latejando.

No meu mundo não se falava sobre aquelas sensações. Por mais


instruída que eu me julgasse, meus contatos com o sexo oposto nunca me
permitiram experimentar algo naquela proporção.

— Ettore! — gemi o seu nome enquanto a sua boca desenhava o


contorno da minha face.
— Você vai ser minha, Nedja.

— Sua...

Nossas palavras ecoaram pelo quarto, mas de certa forma eu não


achava que era apenas aquele momento que nos tornava um do outro. Isso já
havia acontecido sem que houvéssemos nos dado conta.

Suas mãos firmes traçaram a lateral do meu corpo e eu me inclinei um


pouco para a frente a fim de que tirassem o meu vestido. Não me dei conta do
seu paradeiro, pois logo em seguida a sua boca veio parar no meu seio,
contornando a elevação para fora do sutiã de um jeito que provocou uma
nova onda de efeitos viciantes.

Ettore não se deu ao trabalho de tirar a peça completamente, apenas


agarrou uma das alças laterais e puxou para baixo em um tranco, fazendo
com que o meu seio soltasse.

Eu me retorci quando o mamilo foi abocanhado e embolei o lençol da


cama nos meus dedos. Era incrível! A sua língua me provocou, seus dentes e
beijos me enlouqueceram e quanto mais ele me mostrava tudo o que eu
poderia experimentar, com mais desejo eu ficava.

Ettore escorregou para o vale entre os meus seios, descendo com a


boca para o meu ventre até alcançar as minhas coxas. Assim que eu senti o
seu fôlego tocar a região da minha calcinha, meu corpo se retorceu e eu me
inclinei para cima.

Só ouvi o som da renda fina sendo rasgada enquanto ele a puxava com
força e reduzia a bela peça a farrapos, porém eu não tive tempo de lamentar.
Assim que seus lábios se aproximaram do meu sexo, foi como se o meu
mundo houvesse se resumido aos nossos corpos e uma necessidade
incontrolável de nós unir.

Eu não consegui conter os espasmos do meu corpo, nem os sons que


escapavam da minha boca quando a sua língua abriu passagem por entre
meus grandes lábios. Eu não fazia ideia do êxtase que um toque assim
poderia provocar até que Ettore estivesse me mostrando. Com sua firmeza,
ele agarrou a minha cintura e deteve o meu rebolado, me estabilizando para
que pudesse alcançar mais fundo. Enquanto a sua língua se movimentava,
seus lábios me pressionavam e sua boca me sugava, eu sentia o meu ventre
dar voltas e uma tensão enlouquecedora crescer, chegando ao ápice quando
um dedo invadiu o meu canal.

Eu contraí o meu corpo inteiro para depois desabar na cama em meio


às ondas que pulsavam do meu interior. Meu peito subia e descia rápido
enquanto os meus olhos buscavam direção.

Ainda estava me recuperando do estopim quando o Ettore tirou a calça


e eu vi o seu membro. Rígido, pulsando... Sabia bem para onde ele iria
porque havia uma parte do meu corpo ansiosa por isso.

Distanciei as coxas por reflexo e ele se deitou, cobrindo o meu peito


com o seu. Sua mão veio parar no meu rosto e nos encaramos no momento
em que ele se conectou a mim. Cravei as unhas nas suas costas quando
comecei a sentir a dor, ele me rasgou, mas eu estava tão presa na cama que
não havia para onde escapar. Fiquei tensa e tentei fechar as pernas, mas ele
mordeu a minha boca, tirando o meu foco do que acontecia mais abaixo e
voltou a me beijar.

Aos poucos fui ficando mais calma enquanto o sentia se movimentar


dentro de mim. Ele começou devagar, deixando que eu me acostumasse com
a sua presença até que foi ganhando ritmo e comecei a ouvi-lo gemer. Pelo
som, estava gostando.

Eu o abracei, correspondendo ao beijo até que a dor já não me


incomodasse tanto.

Não havia mais volta, éramos um só.


Capítulo trinta

Tão deliciosa... Tão apertada...

Eu tentei me conter, mas estava tão afoito que gozei mais rápido do
que gostaria. Meus músculos se enrijeceram enquanto eu via seus olhos
revirarem nas órbitas embaixo de mim.

— Ettore... — meu nome ecoou pelo quarto escapando por entre seus
lábios macios.

Encostei a minha testa na sua, com a respiração ofegante e permaneci


assim por um momento, até que me recuperasse por completo.

Não havia falado nada para ela, não tínhamos um novo acordo, mas
aquele sexo havia selado o nosso destino.

Fui um idiota ao pensar que havia outra alternativa. Meu pai estava
certo, ela era a minha esposa e não havia forma de fugir disso.

Rolei para o lado e me acomodei, olhando para o teto. Estava sedento


por ela e me satisfizera, mas isso não era tudo.

— Nedja... — Inclinei-me na sua direção e ela chiou baixinho.

— Não fala nada agora. — Estendeu uma das mãos trêmulas e colocou
sobre os meus lábios.

Eu assenti.

Ficamos na cama por longos minutos até que eu me levantei. Fui ao


banheiro me limpar e vi o seu sangue em mim. Considerando a forma como
ela fora criada, não deveria estar surpreso, mas só fez com que o meu ato
pesasse ainda mais sobre meus ombros.

Nedja era minha...

Eu tinha que lidar com esse fato, mas ela também não sabia exatamente
quem era o homem com quem havia se casado e logo essas cartas teriam que
ser colocadas sobra a mesa.

Voltei para o quarto com alguns lenços e entreguei-os para ela, para
que pudesse se limpar do sêmen que eu havia deixado escorrer.

Ela ficou me encarando e aquele clima foi me deixando louco.

— Acho melhor tomarmos um banho. — Sugeri.

Ela balançou a cabeça em afirmativa e a puxei para a suíte junto


comigo. Nedja deixou o sutiã que ainda estava preso ao seu corpo cair no
chão e se juntou a mim dentro do box. Seus dedos finos percorreram o meu
corpo e eu voltei a encará-la.

Seu rosto delicado, as feições árabes exóticas e exuberantes. Olhar para


ela por todos os dias da minha vida não seria um grande sacrifício e
provavelmente o que mais estava me pesando era admitir que eu queria e que
desde o início sabia onde estava me metendo e deixei que acontecesse.

— Foda-se... — resmunguei baixinho ao segurá-la pelo queixo e voltar


a beijá-la.

Seu sabor era bom e a ingenuidade me consumia. Deveria ter provado


daqueles lábios antes e daquele corpo macio ao invés de simplesmente fingir
que seguiríamos uma vida longe um do outro.

Nedja envolveu o meu pescoço e correspondeu ao meu beijo assim


como havia feito antes, demonstrando que ela também queria.

Eu precisei me recordar que havia acabado de tirar a sua virgindade e


precisava ir com mais calma, ou a tomaria novamente dentro do banheiro.
Seus seios empinados e o copo nu esguio eram convidativos demais.

Quando me afastei do beijo, ela estava ofegando e eu sorri satisfeito.

— Você gosta?

Ela balançou a cabeça fazendo que sim.

— Afasta as pernas.

— Ettore...

— Afasta. — Colei o corpo ao seu e ela arregalou os olhos antes de


cumprir a minha ordem.

Acariciei os seus seios, apertando os mamilos antes de descer com a


mão pelo seu ventre e acomodá-la entre as suas coxas. Encontrei o seu
clitóris com a ponta do meu dedo e Nedja escorou na parede de vidro,
tombando a cabeça.

Comecei a estimulá-la, observando seus olhos e a sua boca se


remexerem enquanto involuntariamente ela rebolava na minha mão. Seus
gemidos foram ficando mais altos e eu intensifiquei o estímulo, fazendo com
que ela gozasse enquanto eu a encarava.
Inclinei a minha cabeça para a frente e mordi a sua boca, antes de
afastar a minha mão e Nedja inclinar-se para a frente, segurando os meus
antebraços para não cair.

Ela sorriu para mim, jogando os cabelos para trás e não disse nada, mas
seu olhar de satisfação já era o que eu precisava.

Terminamos de tomar banho e eu puxei uma toalha para que ela


pudesse se enrolar. Saímos do box juntos e fomos nos vestir.
Capítulo trinta e um

Por mais que eu ainda estivesse dolorida, fora tão bom que eu queria
repetir a dose. E o que ele fez comigo no banheiro me pegou completamente
desprevenida e me levou ao êxtase numa intensidade louca.

Enquanto eu desfrutava do sexo e da companhia do Ettore, foquei nisso


e não me preocupei com mais nada. Queria que fosse simples assim, mas
havia palavras pairando no ar e eu sabia que precisariam ser ditas em algum
momento.

— Vou pedir algo para comermos. — Ele avisou ao pegar o celular.

— Está bem.

— Tem algo em mente?

— Tabule? — Abri um sorriso amarelo. — Deixa para lá.

— Por quê? — Ele chegou mais perto para me analisar. — Acha que
não tem um restaurante de comida árabe na capital do velho mundo?

— Não é isso. — Movimentei a cabeça para baixo, mexendo na barra


da saia do meu vestido ao ficar ainda mais sem graça. — Só não quero te dar
esse tipo de trabalho.

— Nada que um aplicativo não resolva. — Ele moveu a cabeça e falou


alto. — Lola!

— Sim, Ettore! — Eu me surpreendi com a voz mecânica que ecoou


pela casa.

— Faça um pedido de jantar árabe completo para duas pessoas no


restaurante mais bem avaliado da cidade.

— Vou providenciar. Bebidas?

Ettore se virou para mim, esperando pela minha resposta e eu falei:

— Suco de laranja.

— Uma boa garrafa de Bourbon.

— Pedido encaminhado ao restaurante, a previsão de entrega é de uma


hora.

— Obrigada, Lola.

— Por nada, Ettore.

— Ela estava aí o tempo todo? — arisquei-me a perguntar.

— Sim. — Deu de ombros como se fosse óbvio e puxou uma cadeira


da bela mesa de jantar, indicando a outra para que eu me acomodasse.

Engoli em seco, prevendo que o momento havia chegado, mas fui me


sentar.

— O divórcio... — Comecei a puxar assunto, por mais que naquele


momento, principalmente depois do que havia acontecido entre nós dois,
fosse mais do que evidente que não era mais algo que eu desejasse.

— Não vai acontecer. — Ele foi tão enfático que eu não sabia se ficava
aliviada ou tensa. — Você quis ser uma Bellucci e agora é uma.
Fiquei encarando-o por alguns minutos. Havia me livrado do meu tio,
mas para isso acabei me comprometendo com outro homem para o restante
da minha vida.

— Isso não é tudo.

— O que mais? — Arrisquei-me a perguntar mesmo sabendo que


poderia me arrepender.

— A cena que presenciou hoje pode voltar a se repetir.

Engoli em seco como se um gato estivesse descendo com as garras


afiadas pelo meu pescoço. Não foi nem um pouco agradável recordar-me da
imagem dele sujo de sangue, principalmente por toda aflição que senti no
momento.

— Quem são seus inimigos?

— Muitos. Principalmente aqueles que ousam desafiar a minha família


e às vezes a polícia.

— Polícia?! — Recostei-me contra a cadeira como se houvesse tomado


um coice.

— Você está presa a mim e não acho que tenha mais justificativas para
manter em segredo, principalmente diante de tudo que presenciou hoje. Os
Bellucci, a minha família é a principal líder da máfia italiana há muitos anos.

— Máfia?!

— É por isso que consegui lidar tão bem com os homens do seu tio.
Aprendi a matar e me defender muito cedo. Agora você faz parte disso como
todas as mulheres que se casam conosco.

Eu fiquei calada, absorvendo as informações que ele passava para mim


como se estivesse anestesiada. O choque foi tamanho que eu mal conseguia
respirar. De fato, havia algo, ele não seria tão bom lutador e teria todas
aquelas habilidades por simples hobby, mas pertencer à máfia...

Eu não sabia muito a respeito a não ser algumas histórias e


informações que vinham de filmes e séries de televisão. Entretanto, como o
próprio Ettore havia citado, se entre os seus inimigos estavam a polícia, isso
significava que não estavam tão alinhados com a lei quanto eu gostaria.

— Vocês são criminosos?

— Somos. — Ele não teve qualquer recato em dizer.

— Isso significa que eu... — Nem consegui terminar a frase.

— Não precisa se envolver com nada, nem saber de coisa alguma, mas
inevitavelmente faz parte de tudo isso.

— As outras mulheres sabem?

— É claro!

— Foi por isso que a Juliana disse que ficava tão preocupada. — Foi
mais um pensamento alto do que uma pergunta.

— O Thiago está na linha de frente, ele se arrisca um pouco mais do


que a maioria de nós.

— E você? — Aquela era uma pergunta que me corroeria se eu não a


fizesse.

— Geralmente lido com meus computadores.

— Então o que aconteceu hoje?

— Digamos que eu precisei de um pouco de adrenalina.

Voltei a ficar pálida e trêmula enquanto ouvia as suas palavras. O mais


estranho de tudo era que eu não estava com medo, nem com vontade de sair
correndo. O meu maior pavor era a possibilidade de que algo lhe acontecesse.

— Não quero que se machuque. — Inclinei-me para a frente e toquei a


sua mão, fazendo com que ele se surpreendesse com o meu ato.

— Cuidamos muito bem uns dos outros.

— Eu só tenho você agora. — Essa era a verdade, sem aquele homem


eu estaria perdida, sozinha e morreria rápido.

Por mais insano que parecesse, eu não conseguia ver além da minha
necessidade de permanecer com ele. Ettore era o meu refúgio, meu porto
seguro e a minha proteção.

— Você tem todos os Bellucci. A minha família é a sua família.

Absorvi aquela afirmação e me recordei de todas as pessoas que havia


conhecido durante o almoço. Queria aquilo...

Inclinei-me na sua direção e foi a minha vez de procurar pelos seus


lábios. Ettore agarrou o meu pescoço e mergulhou a sua boca na minha com
desejo e fome numa intensidade que me acendeu completamente outra vez.
Ele esticou a mão e me puxou pela cintura, arrastando a cadeira, mas antes
que pudesse me acomodar no seu colo para que continuássemos nos beijando,
o interfone soou.

Ele rosnou baixinho com a boca ainda na minha.

— Deve ser o nosso jantar.

— Acho que ainda não passou uma hora.

— Podem ter adiantado...

— Então ele espera. — Esfregou a boca no meu pescoço, fazendo-me


fechar os olhos com os efeitos.

O som ecoou novamente e o fez bufar.

— Acho melhor você atender.

— Okay. — Ele ficou de pé e me afastou, indo até a porta para


recepcionar o nosso jantar.

Enquanto eu o observava de longe, tive um pouco mais de tempo para


processar as informações que ele havia me passado.

Máfia!

Criminosos...

O sangue, as armas e os inimigos faziam parte da vida dele e por isso


conseguira reagir tão bem enquanto eu estava fugindo dos homens do meu
tio. No fundo, Ettore poderia ser mais perigoso do que eles e estávamos
casados.
Capítulo trinta e dois

Puxei o meu celular do bolso enquanto a observava comer. Deveria


estar mais empolgada com os pratos típicos da sua terra natal, mas eu
também compreendia as informações que lhe havia dado e feito com que
engolisse. Tinha certeza de que ela não fazia a menor ideia de onde estava se
envolvendo quando pensou que se casar comigo fosse uma boa alternativa,
mas assim como eu, Nedja tinha que lidar com as consequências das suas
escolhas.

Estávamos unidos e aquilo era inevitável.

Ettore:

Pietro está dormindo?

Thiago:

O que aconteceu com você? Nunca pergunta sobre o meu filho.

Imagino que esteja sem o que fazer, mas podemos solucionar


isso.

Ettore:

Eu só quis saber. Acredito que uma Ferrari como aquela não é


um automóvel adequado para carregar um bebê.

Thiago:
Então quer dizer que o carro já é meu?

Ettore:

Odeio admitir que você tem razão.

Thiago:

Por que geralmente é o contrário?

Ettore:

Sim.

Thiago:

Está arrependido?

Ettore:

Menos do que deveria.

Thiago:

Então não é tão ruim.

Ettore:

Eu a trouxe para cá e fiz com que fizesse parte do nosso mundo,


mas realmente pensei que seria mais fácil me afastar.

Thiago:

Essa nunca é uma parte fácil.

Ettore:
Estou vendo.

Thiago:

Ao menos já aproveitou a melhor parte?

Ettore:

Você é um idiota!

Thiago:

Se há um idiota entre nós dois certamente não sou eu. Nem havia
me casado com a Juliana e não consegui me livrar dela, imagina só a
sua situação.

Você estava fodido desde o início só não conseguia enxergar.

Ettore:

Vou dar para você a chave do carro. Satisfeito?

Thiago:

Não é sobre isso.

Ettore:

Então é sobre o quê?

Thiago:

Existem coisas que acontecem e simplesmente não conseguimos


controlar.

Ettore:
Esse papo de bobo apaixonado não combina com o assassino da
máfia.

Thiago:

Onde está vendo um bobo? Mas no fundo, apesar de tudo, eu não


me arrependo de tê-la na minha vida. Você também não precisa.

Ettore:

É mais complicado do que parece.

Thiago:

Só se você ficar preso a números e teorias demais.

Deixa fluir. Pode ser mais fácil.

Ettore:

Ou não.

Thiago:

Só vai ter certeza quando viver, mas de um jeito ou de outro tudo


acaba se acomodando.

Ettore:

Agora eu sou um homem casado.

Thiago:

Exatamente como eu. Estamos de volta na mesma página.

Ettore:
Como se fosse algo incrível.

Thiago:

Certamente não é um velório. Relaxe e aproveite a melhor parte.

Ettore:

Vou pensar melhor a respeito disso.

Thiago:

Você já parece ter pensado bastante e não deu muito certo.

Fiquei olhando para o celular por um tempo, sem encontrar as palavras


exatas para responder o meu primo. Aquilo era um saco!

Thiago:

Vou deixar você com a sua esposa e vou aproveitar a minha. Nos
falamos amanhã para você me entregar o meu carro.

Ettore:

Até amanhã.

Não insisti porque a perda daquela aposta certamente não era o que
mais estava pesando sobre mim e sim o fato de que eu havia me casado e
uma mulher estava fazendo parte da minha vida. Por mais bonita e atraente
que ela fosse, tê-la na minha casa e compartilhar particularidades com ela,
ainda era algo com que eu precisaria me acostumar.
Capítulo trinta e três

Acordei com o sol da manhã tocando o meu rosto em uma carícia


agradável e me virei para o lado, deparando-me com o Ettore deitado ali. Ele
já estava acordado e encarava o teto em completo silêncio.

— Oi.

— Bom dia. — Ele se inclinou na minha direção e o sorriso sutil que


dirigiu para mim fez com que o meu coração se aquecesse de uma forma
estranha que nem consegui explicar. Mesmo com todos os alertas que
berravam na minha mente, eu só conseguia pensar no quanto gostava da sua
companhia e me sentia confortável ao seu lado.

— Dormiu bem?

— Sim.

Ele segurou o meu queixo, puxou o meu rosto e eu fechei os olhos,


preparando-me para o beijo que veio em seguida. Gostava muito daquilo. Por
mim poderíamos passar o dia inteiro naquela cama apenas nos beijando.

Ettore girou para cima de mim cobrindo o meu corpo com o seu e eu
afundei a cabeça no travesseiro quando ele abocanhou o meu pescoço.

— Eu tenho que sair — murmurou com a boca na minha orelha.

— Tem certeza? — Passei as mãos pelos seus ombros largos e ele me


pressionou ainda mais.
Ele segurou o meu rosto, fazendo com que eu o encarasse e estremeci
com o peso firme do seu olhar.

— Não faz ideia do risco que está correndo.

— Acho que não... — Suguei o ar com força, tentado me recuperar


daquela pressão toda. — Mas você me machucaria?

Aquela era uma pergunta que eu já deveria ter feito antes, a minha vida
dependia disso e provavelmente fosse o motivo de eu ter tanto medo da
resposta que viria a seguir.

— Não... — Foi um alívio tremendo quando ele sussurrou aquela


palavra. — Jamais machucaria você. — Soltou o meu pescoço e os seus
dedos foram substituídos pelos seus lábios.

— Só prometa que vai me proteger.

— Sempre.

Era o que eu precisava para movimentar a minha cabeça e fazer com


que ele voltasse a me beijar. Mergulhei naquele sabor enquanto sentia o meu
corpo todo aquecer ao passo que os seus músculos rígidos eram friccionados
contra a minha pele.

Estava usando um vestido fino e Ettore logo se livrou da sua bermuda e


cueca. Sabia que ele iria me tomar novamente e estava pronta para isso.
Enquanto a sua língua domava a minha, ele subiu com a minha saia,
embolando-a na minha cintura e puxou a minha calcinha num tranco só,
tirando-a pela ponta do meu pé. Eu não tinha muitas peças, se continuasse
assim eu precisaria comprar novas logo.

Parei de pensar em tal trivialidade quando ele interrompeu o beijo para


introduzir dois dedos na minha boca, surpreendendo-me ao me fazer sugá-
los, deixando-os úmidos. Ele afastou a mão e foi com ela para o centro das
minhas coxas.

Gemi, arquejando o corpo quando ele começou a me estimular. Seus


dedos precisos conseguiam fazer loucuras pelo meu corpo. A forma como ele
me conduzia ao prazer tornava completamente impossível resistir. Só queria
que ele continuasse ali e me fizesse experimentar cada vez mais.

Ele voltou a segurar o meu rosto e me encarou enquanto eu me retorcia


debaixo dele com o prazer que estava me proporcionando. Sem qualquer
receio, ele enfiou um dos dedos em mim e começou a me estimular por
dentro, fazendo com que as paredes do meu canal se comprimissem para
envolvê-lo.

Eu só ansiei por mais, até que ele trocou o dedo por algo bem mais
grosso e eu me espichei com o desconforto. A dor foi bem menor do que na
noite anterior e eu percebi que poderia me adaptar à presença dele até que não
incomodasse mais.

Ettore apoiou uma das mãos na cama e começou a se movimentar para


dentro de mim. Só que ele não afastou a outra, mantendo-a sobre o meu
clitóris a ponto que conseguia disfarçar completamente a dor da penetração.

Foi se tornando cada vez melhor e eu queria que ele fizesse mais
rápido. Sentia a necessidade de chegar logo ao ápice e quando ele explodiu,
foi como se estivesse fora de mim por alguns instantes enquanto me
recuperava.

Percebi que o Ettore também havia chegado lá quando ele investiu um


pouco mais contra mim e depois tombou, escorando a sua testa na minha. Ele
estava suado e ofegante, certamente precisaria de um banho, mas o sorriso
nos lábios dele me aqueceu.

— Realmente preciso sair. — Levantou-se da cama e o vi caminhar nu


até o banheiro. — Tenho trabalho a fazer, fiquei tempo demais no Oriente
Médio e algumas coisas simplesmente pararam.

— Entendo. — Sentei-me na cama ainda ofegante e puxei a saia numa


tola tentativa de esconder minha intimidade depois que ele já havia tomado
tudo.

— Você pode ficar aqui e estudar italiano. É bom que aprenda o quanto
antes para que possa fazer outras atividades. Nem todos por aqui falam
inglês.

— Eu vou aprender. — Fiquei de pé e senti o sêmen dele escorrer pelas


minhas coxas. — Também precisava de um banho. — Ettore. — Parei no
batente da porta e atraí a sua atenção de dentro do box para mim.

— O que foi?

— Sei que já me deu tanta coisa, mas eu precisava de um computador


novo. Um celular também. Tudo o que eu tinha ficou no palácio que está
dominado pelo meu tio e eu certamente não vou voltar lá para buscar. — Abri
um sorriso sem jeito. — Tem o dinheiro que o sheik Hassan me deu, posso
usá-lo, mas eu precisaria sair para comprar.

— Guarde o dinheiro. Vou te dar um dos meus cartões de crédito até


que consiga um para você.

— Obrigada!

— Não posso sair com você agora, mas vou ligar para a minha irmã
para que a acompanhe até um shopping. Também pode comprar roupas novas
e o que mais precisar.

— Está bem.

Ele saiu do chuveiro e passou por mim, e a proximidade das nossas


peles fez com que o meu coração acelerasse novamente. A vontade de segui-
lo foi insana, mas eu permaneci no mesmo local pensando se começava a
tirar o vestido para tomar o meu próprio banho.

Virei-me nos calcanhares no momento em que vi o Ettore puxar um


cartão preto da carteira e colocá-lo sobre os lençóis que havíamos deixado
revirados.

— 4562 — falou os números. — Consegue decorar?

— Sim.

— Tem certeza?

— Acho que sim.

— De qualquer forma, o que você precisar acredito que a minha irmã


possa providenciar para você.
— Está bem.

Ele colocou um terno, ajeitou a gravata e sapatos lustrosos.


Preparando-se como se fosse um homem de negócios comum. Entretanto,
senti o meu estômago revirar quando me recordei da conversa que tivemos na
noite anterior.

— Eu irei vê-lo mais tarde?

Ettore se virou para mim, pareceu surpreso com a minha pergunta antes
de finalmente respondê-la.

— Sim. — Ele chegou mais perto e envolveu o meu rosto, fechei os


olhos e fiquei na ponta dos pés quando os seus lábios tocaram os meus
brevemente. — Até mais tarde.

— Até.

— Se arrume e fique aqui. Minha irmã virá encontrá-la.

— Como ela vai entrar?

— Vou permitir o acesso.

Assenti e ele foi embora sem falar mais nada.

Certamente o meu pai não aprovaria o meu marido, tampouco


escolheria um homem como esses para mim. Não havia outras circunstâncias
que me fizessem envolver com o Ettore que não fossem aquelas, mas ainda
assim eu estava absorvendo o fato de estar casada com ele.

O mais importante de tudo era que eu estava segura na Europa e


poderia começar uma nova vida, com uma nova família.

Os Bellucci...

Regina, minha prima, certamente iria ter um troço se eu contasse para


ela. Não imaginei que pudesse contar de fato, mas pensei em como ela seria
dominada pelo choque e me perguntava se eu não estava com medo.

Medo...

Aquela palavra badalou na minha cabeça. Sim, havia medo, mas eu já


havia lidado tanto com ele após a morte do meu pai que os efeitos pareciam
diferentes.

Se o meu marido era um homem temido, meu tio não seria louco de se
aproximar. Todo o mal que ele havia feito ficaria em Mamlaka. Eu não
conseguiria vingar o meu pai como gostaria, muito menos recuperaria o
Emirado dele, mas teria a minha chance de construir uma vida longe de tudo
aquilo.

Só queria agradecer a Regina pela oportunidade de escapar.

Percebi que me perdera em pensamentos e finalmente entrei no


banheiro. Precisava ficar pronta antes que a irmã do Ettore chegasse. Seria
bom passar um tempo com ela e conhecer um pouco mais sobre a família.
Agora que ele havia me contado a verdade, poderia reparar em como ela
impactava as outras mulheres da família.

Estava penteando o meu cabelo após colocar um dos vestidos quando


ouvi o som da porta da sala sendo aberta. Ela realmente se parecia com uma
fortificação que era capaz de deixar qualquer um do lado de fora.

— Nedja! — Uma voz doce ressoou o meu nome.

— Estou aqui no quarto.

— Ah, sim! — Ela veio até mim e me encontrou com um sorriso


gentil. Os cabelos eram bem mais claros do que os do irmão e os olhos
também, mas ela tinha vários traços no rosto que se assemelhavam com os do
Ettore.

— Eu me atrasei, desculpa.

— Não se preocupe. Temos tempo.

— Eu não quero incomodá-la.

— Na verdade, vai ser um prazer passar o dia com a esposa do meu


irmão e conhecer um pouco mais sobre a mulher que encantou o Ettore. Não
me leve a mal, mas o casamento foi uma surpresa para todos nós.

— Eu imagino.

— Além disso, quem não gosta de fazer compras? Computador, roupas


e tudo que uma mulher pode precisar para sobreviver.

Ela era animada e tinha um ar muito agradável que me lembrou da mãe


deles e me fez pensar que poderíamos passar um bom dia juntas.

— Estou pronta. — Coloquei o pente sobre a bancada.

— Aquilo deve ser para você. — Apontou para o cartão que ainda
estava sobre os lençóis.
— Ah, é! — Abri um sorriso sem jeito.

— Acredito que ele logo vai providenciar um com seu nome .

— Falou que sim.

— Meu irmão é um homem que costuma cumprir as promessas.

Naquela altura era algo bom de se ouvir já que tudo o que eu mais
precisava era confiar no Ettore.

Nós duas descemos juntas e Nina me direcionou para um dos carros


que estavam parados na frente do prédio. Havia dois homens conosco e mais
alguns em outros veículos. Eu não fiz perguntas, mas sabia que estavam ali
para nos protegerem dos inimigos da família.

Ainda quando a minha vida estava na melhor fase, eu havia nascido


como a filha de um Emir e muitos olhares se voltavam na minha direção, nem
todos eram bem intencionados e desde cedo tinha me habituado com a
segurança no palácio e principalmente fora dele. Sempre havia alguém de
olho em mim, ainda que eles não houvessem me protegido do meu tio. Eu
poderia lidar com a segurança dos Bellucci.

— Ah, Nedja, posso perguntar quantos anos você tem? — Nina se


inclinou na minha direção quando o veículo começou a se mover.

— Vinte e dois.

— Que coincidência. Temos a mesma idade! — Ela pareceu


empolgada. — Quando as minhas primas ainda moravam conosco eu sempre
fui a mais nova. Aí elas se casaram e eu fiquei um pouco sozinha, até que a
Juliana chegou no ano passado, mas com o bebê não resta muito tempo para
fazer coisas de garotas. É bom ter rostos femininos tomando a casa
novamente, por mais que a minha mãe esteja com um pouco de ciúmes.

— Ela está? — Levantei a sobrancelha, surpresa.

— É coisa de mãe. — Nina riu como se fosse algo com que eu não
devesse me preocupar. — Ciúmes normais. Foi assim quando o Ettore
decidiu sair de casa e se mudar para o seu próprio apartamento. Minha mãe é
cigana, estava acostumada com a família inteira debaixo do mesmo teto, mas
o meu pai consegue balancear um pouco as coisas.

— Acha que ela vai gostar de mim?

— Por que não gostaria? Ela vai te amar, principalmente quando os


netos vierem. Minha mãe adora crianças, se dependesse dela certamente
seríamos mais do que quatro irmãos.

— Parece uma ótima família.

— E somos , apesar de tudo. — Ela manteve o sorriso, mas as suas


palavras me fizeram pensar em assuntos que não iriam ficar esquecidos, ao
menos por um tempo.

— Como você lida?

— Com o quê?

Inclinei-me na direção dela e falei o mais baixo que consegui.

— A máfia...
— Ah! — Ela recompôs o sorriso e não pareceu tão surpresa com a
minha pergunta. — Talvez para você possa ser diferente, mas tudo é como
sempre foi desde que eu nasci. Faz parte da minha família e do que eles são
por muitas gerações e vai continuar assim pelas próximas. Com o tempo você
se acostuma. — Piscou para mim como se fosse algo trivial.

— Mas você não fica com medo? — Não consegui deter mais aquela
pergunta.

— Você era uma princesa, não tinha motivos para ter medo?

— Vários.

— Isso parece que não vai mudar.

Eu assenti, recostando-me no banco e fiquei quieta. Eram informações


para absorver e uma realidade para processar. Estar casada com o Ettore era
muito mais complexo do que eu poderia ter imaginado quando o sheik
Hassan sugeriu, mas eu tinha feito aquilo e precisava lidar com as
consequências.

Estávamos envolvidos demais e não tinha mais a ilusão de que


pudéssemos seguir uma vida sem o outro. Só que o que provavelmente mais
me chocava, era que apesar de tudo eu o queria. Quando fechava os meus
olhos me recordava da sensação do seu corpo no meu, dos seus beijos e do
quanto a nossa conexão me dava prazer.

Ettore Bellucci era o meu marido...

— Chegamos — anunciou a minha cunhada quando o veículo parou no


estacionamento de um centro de compras. Era um enorme prédio decorado
com muito requinte.

Havia vários como aqueles em Dubai, estar ali não era uma surpresa
para mim, mas ainda assim eu estava um pouco receosa. Por mais gentil que
a irmã do Ettore estivesse sendo comigo, havia algo em que tinha medo de
causar uma má impressão.

Um dos homens abriu a porta do carro e ela foi a primeira a descer.

—Vamos! — Agarrou o meu pulso e saiu me arrastando junto. —


Temos muito o que fazer e se enrolarmos não dará tempo.

— Certo — murmurei sem jeito.

— Que tal começarmos pelos eletrônicos? Fico imaginando como deve


estar sendo horrível para você ficar sem celular e computador. A minha vida
inteira depende disso. Se você reparou bem no meu irmão. É claro que
reparou! — Riu sozinha. — Bom, deve ter notado o quanto os computadores
são importantes para nós.

— Ele é muito bom com eles.

— Excelente.

— Você também?

— Eu gosto. — Deu de ombros com certo ar de modéstia.

— Aposto que também consegue fazer várias coisas.

— Tenho alguns projetos que posso mostrar para você depois.


— Adoraria conhecer. — De fato eu fiquei empolgada e enquanto era
arrastada atrás da loira radiante pelo corredor do centro de compras, eu me
esqueci completamente de que havia algo com que eu devesse me preocupar
e que há pouco tempo estava correndo para salvar a minha vida.

— Aqui!

Entramos em uma loja de celulares, computadores e outros eletrônicos


e paramos diante de um mostruário com muitos aparelhos.

— Qual deles você mais gosta?

— Parecem todos ótimos.

— Eles têm funcionalidades diferentes. — Passou a mão pela tela de


um deles, contornando o objeto. — Eu particularmente prefiro os mais
compactos, porque eles cabem nos bolsos e em bolsas menores. Depois
podemos fazer alguma adaptação se você achar que está faltando alguma
funcionalidade.

— No sistema do celular? — perguntei surpresa.

— Sim.

— E conseguem fazer isso?

— Não faz ideia de tudo o que conseguimos fazer. — Ela deu uma
risadinha, fingindo falsa modéstia e chamou a minha atenção para outro
aparelho. — Esse dobra no meio.

— É legal.
— Bem compacto.

— E esse aqui? — Tomei outro aparelho nas mãos. Ele se parecia um


pouco com o que eu costumava ter e me deixou com saudades,
principalmente das informações contidas nele, como as fotos com o meu pai e
até mesmo com a minha mãe.

Certamente, naquela altura, Youssef já deveria ter destruído o aparelho


e tudo mais ligado a mim por simples raiva ou tentativa de me encontrar.

— Regina... — sussurrei o nome da minha prima, ao me recordar dela


quase que num rompante e fui varrida por um calafrio.

Eu não tinha quaisquer notícias desde a minha fuga e temia muito o


que poderia ter acontecido como consequência aos atos dela por me ajudar.
Não acreditava que o seu pai pudesse feri-la, mas eu deveria esperar qualquer
coisa do Youssef.

— Quê? — Nina se inclinou para mim.

— Nada.

— Quem é Regina? — Ela insistiu.

— Só uma prima de quem eu tenho saudades.

— Agora com o celular poderá ligar para ela.

— Não é assim tão simples. — Tentei disfarçar, mas logo percebi que
poderia estar me comprometendo, porque a família do Ettore ainda não sabia
nada sobre as reais circunstâncias de eu estar ali. Como ele não havia
contado, achei melhor não comentar.
— Daremos um jeito de recuperar o número dela para você. — Nina
tentou me animar.

— Obrigada! — Só me restou agradecer no momento para não ter que


me abrir ou muito menos começar a chorar.

Uma vendedora se aproximou dela e conversaram em italiano. Não


entendi coisa alguma, mas deduzi que era sobre o aparelho que eu havia
escolhido quando Nina quis confirmar comigo se era aquele mesmo que eu
iria levar.

— Isso, esse aqui.

— Ótimo! Agora vamos para os computadores. — Minha cunhada me


empurrou para outra ala da loja.

Vi vários modelos e paguei pelas compras com o cartão que o Ettore


havia me dado. Depois fomos para uma loja de roupas, seguimos para
perfumes, sapatos. Eu escolhi mimos e presentes para a vida inteira. Nina
também escolheu algumas peças para ela e não parecia entediada enquanto eu
entrava e saía dos provadores com os mais diversos modelos.

— Você não gosta de mostrar um pouco os ombros? — Tombou a


cabeça para o lado enquanto reparava no vestido longo que eu tinha acabado
de colocar.

— É que...

— Sua cultura.

— Isso.
— Minha mãe também só usa saias longas. Ela certamente amaria esse
vestido. — Apontou para uma das peças que eu havia experimentado, mas
descartado.

— O que acha de levarmos para ela? — Peguei e coloquei de volta no


cabide, levantando para que eu pudesse analisar melhor os detalhes em
vermelho da estampa.

— É um bom presente.

— Vamos separar esse também.

— Ótimo!

Talvez eu houvesse exagerado um pouco nas compras. Tive certeza


quando olhei para trás e vi que todos os seguranças estavam com os braços
bem cheios e se esforçando para lidar com todos os volumes. Só que o fato de
Nina não ter se importado me deixou aliviada. Eu estava acostumada com o
luxo, como eles mesmos diziam, era uma princesa, meu pai sempre foi um
homem muito rico e me providenciou tudo o que o dinheiro era capaz de
comprar, o que não parecia ser diferente com o meu marido.

Nós duas almoçamos juntas em um dos restaurantes do próprio espaço


no meio da sessão de compras e quando deixamos o local, já estava
escurecendo. O dia havia passado rápido e de forma tão agradável que eu mal
havia me dado conta.

Todas as compras foram acomodadas nos bagageiros dos carros e nós


duas voltamos para o banco de trás.
— Quero ver só a cara do Ettore quando vir essa fatura. — Ela deu
uma gargalhada.

— Foi demais, não é? — Cobri o rosto completamente sem jeito. —


Podemos devolver algumas coisas.

— Claro que não! Você é a esposa dele e merece tudo que escolheu. Eu
realmente estou adorando ter você por perto. Meu irmão está sempre tão
sério. Com toda certeza é a leveza que o Ettore precisava na vida. Porque fora
isso eram as matanças com o Thiago e os computadores com o meu pai e os
meus outros irmãos.

— Matanças? — Engoli em seco.

— Não vamos pensar nisso. — Ela mudou rapidamente de assunto.


Fiquei feliz por isso porque não queria ficar com a mente cheia de imagens
dele sujo de sangue novamente.

Eu observei a cidade se movendo ao lado do carro enquanto presumi


que estávamos retornando para o apartamento. O sol já havia se posto atrás
dos prédios e o céu parecia cada vez mais escuro. Imaginei que faltasse
pouco para que o Ettore pudesse voltar para casa e logo eu estaria em seus
braços novamente.

Completamente distraída e absorta em meus pensamentos, não percebi


o que aconteceu até sentir a batida. Algo acertou a lateral do carro e me fez
chacoalhar dentro do veículo, acelerando o meu coração e fazendo com que
eu movimentasse a cabeça de um lado para o outro.

Nina falou algo com o motorista, pareceu alarmada, mas eu não


compreendi as suas palavras, o que só me deixou com ainda mais medo.

— O que está acontecendo? — arrisquei-me a perguntar.

— Bateram na gente.

— Por quê?

— Eu não sei. — Os olhos claros dela estavam arregalados e a


expressão de espanto não ajudou nem um pouco a amenizar a minha.

Um disparo atingiu o vidro do carro, mas esse não se estilhaçou. Era


blindado. Só que o impacto foi o suficiente para me assustar ainda mais.

Os inimigos do Ettore...

Foi o primeiro pensamento que tive, mas era difícil saber estando
indefesa no banco de trás do veículo alvejado.

— Fique abaixada. — Nina me orientou, puxando-me para o pequeno


espaço atrás dos bancos dianteiros e fazendo com que protegêssemos as
cabeças com os braços.

— O que vai acontecer? — choraminguei quando outro disparo


impulsionou o meu corpo a pular com o estrondo.

— Os seguranças vão proteger a gente. Fique calma.

Por mais que eu soubesse bem que o meu desespero não ajudaria em
nada naquele momento, era difícil controlar os efeitos desencadeados em meu
sangue e a adrenalina que me impulsionava a sair correndo.

Dei um grito quando outro disparo acertou a lateral do carro.


— Respire... — Nina me instruiu e eu percebi o quanto ela estava bem
mais preparada para tudo aquilo do que eu. — Vamos ficar bem.

Fechei os olhos e me encolhi ainda mais. Apertei os braços dela e


esperei que aquele pesadelo parasse.

A sensação de segurança e proteção durou bem menos do que eu


gostaria.
Capítulo trinta e quatro

— O mercado de ações continua sendo uma boa estratégia para


lavarmos o dinheiro recebido? — Virei-me para o meu irmão Nicolae que
estava sentado do outro lado da mesa em uma das salas de reunião do prédio.

Depois de ter passado tanto tempo fora, estava como uma sensação de
que havia perdido demais e precisava correr para me livrar dela.

— É claro. — Ele falou sem hesitar. — Faço muito bem o meu


trabalho, meu irmão.

— Isso é indiscutível.

Desde que havia assumido as finanças da máfia, Nicolae era um jovem


contador que lidava com a maior parte das nossas transações e tinha o
principal foco em transformar o dinheiro que vinha das drogas, do
contrabando e outras fontes ilícitas. Era responsabilidade dele pagar os
nossos salários e garantir que a máquina da máfia continuasse funcionando,
não apenas para a nossa família, mas todos os associados que estavam em
nossas folhas de pagamento.

Meu celular começou a tocar e eu o ignorei por um tempo, até que o


próprio Nicolae indicasse para mim.

— É a Nina.

— Elas estão gastando o dinheiro que nós nos esforçamos para receber.

Havia recebido notificações das compras a tarde inteira, mas não me


importava com isso. Dinheiro era o que mais tínhamos, independente da fonte
e queria prover todo o conforto que a minha esposa merecia.

— Assim que terminarmos aqui eu voltarei para casa e as verei —


disse para o meu irmão assim que a ligação terminou, mas antes que eu
guardasse o aparelho. Ele começou a tocar novamente.

— Deve ser urgente.

— Vou atender.

Ele assentiu com um movimento curto de cabeça.

— O que foi, Nina? Se tiveram algum problema com o cartão podem


usar o seu, depois eu envio o dinheiro para você. Dê a Nedja o que ela quiser.

— Ettore, nós fomos atacadas... — Ela estava ofegante do outro lado


da linha e foi como se o mundo inteiro houvesse paralisado por alguns
instantes.

— Atacadas? — Meu coração ficou apertado.

— Sim.

— Como ela está? — Senti um desconforto tão grande no peito que foi
difícil de controlar, porque não estava acostumado com tal tipo de sensação.

— Estamos bem.

— Onde?

— Na mansão Bellucci. Os seguranças nos trouxeram para cá.

— Eu estou indo para aí.


— Rápido!

Desliguei a chamada e fiquei de pé, dirigindo ao meu irmão uma


expressão séria.

Odiava lidar com a sensação de estar me sentindo impotente. Eu a


havia deixado sozinha acreditando que estava em segurança e que nada
aconteceria, mas havia me enganado.

— Eu preciso ir — anunciei piscando os olhos e fechando as mãos em


punho enquanto respirava fundo para tentar normalizar o meu corpo.

— O que aconteceu? — Ele também se levantou.

— Atacaram elas.

— Quem? Estão bem?

— Parece que sim. — Pisquei os olhos, ainda desorientado. — Estão


na casa da vovó.

— Vou com você. — Ele passou a mão pelo paletó que havia
pendurado no encosto da cadeira de couro e me acompanhou até a garagem
do prédio.

Dirigi o mais rápido que consegui, ziguezagueando pelos veículos nas


ruas e avenidas até finalmente estacionar na garagem da mansão que era um
lar para todos nós.

Nem me dei ao trabalho de esperar pelo meu irmão, fui direto para a
entrada numa necessidade selvagem de vê-la logo e constatar com os meus
próprios olhos que estava tudo bem.
— Nedja! — chamei pelo seu nome quando pisei na sala e eu a vi
sentada no sofá, devolvendo um copo para a minha avó.

Corri até ela e tomei o seu rosto, levantando o queixo e fazendo um


inventário rápido de cada um dos seus traços. Os olhos castanhos dela ainda
estavam arregalados, o pânico não havia se dissolvido completamente da sua
expressão, entretanto eu não encontrei nenhum machucado visível.

— Você se feriu?

Ela só fez que não.

— Que bom! — Soltei um profundo suspiro e me inclinei para beijá-la


na testa.

Ficamos assim por um momento até que eu me virei, procurando pela


minha irmã entre os presentes na sala ou qualquer pessoa que pudesse me dar
uma resposta.

Estavam todos ali. Meus tios, meu pai, minhas tias e até primos. Não
foi uma surpresa notar o Thiago surgindo pela mesma entrada que eu.
Qualquer ataque à nossa família tinha que ser tratado de forma energética e
imediata. Nada era mais precioso do que a nossa segurança, fosse dos
homens ou das mulheres.

— Como isso aconteceu?

— É o que ainda estamos tentando entender — comentou o meu primo


Dante ao dar um passo à frente. À medida que envelhecia, o mais velho da
nossa geração se projetava para assumir a posição que logo seria dele.
— Quem eram?

— Árabes — informou o Lorenzo. — O que nos deixou ainda mais


surpresos. Eles atacaram diretamente o carro com as mulheres. Estavam atrás
dela. — Ele apontou para a minha esposa que se encolheu no sofá
aumentando a expressão de medo.

— Ettore — chamou a minha avó e eu não fui o único a me voltar para


a matriarca da família.

— Sim.

— Está no momento de nos contar o real motivo desse casamento. —


Ela cruzou os braços e o clima na sala se tornou ainda mais pesado.

Ninguém ousou falar palavra alguma enquanto esperavam por uma


resposta minha. Todas as formas como pensei que conseguiria conduzir
aquele casamento já haviam caído por terra há muito tempo. Entretanto, ainda
acreditava que a ideia da paixão súbita pudesse colar, mas diante daquele
ataque eu precisava ser honesto com aqueles que eram mais importantes para
mim.

— O pai da Nedja foi morto em uma conspiração do irmão para tomar


o poder do Emirado... — comecei a contar, dizendo tudo o que eu sabia desde
o momento em que ela cruzara o meu caminho e eu a tinha colocado no meu
carro. Todos ouviram com muita atenção e não falaram nada até que eu
terminasse.

— E quando pretendia nos contar? — Meu pai cerrou os dentes e me


lançou uma expressão de recriminação que se assemelhava com quando eu
era criança e fazia algo que ele não aprovava.

— Achei que ela estivesse segura aqui.

— Eles poderiam tê-la matado! — Elevou a voz, me dando uma bronca


sem se importar com a família inteira assistindo. — Poderiam ter matado a
sua irmã. Nós temos que proteger os nossos. Não dá para fazer isso quando
guardamos segredos como esses e nos metemos em guerras que não são
nossas.

— Tem razão. — Abaixei a cabeça, sabendo que não havia argumentos


para discutir com ele. — Eu vou dar um jeito nisso e nos livrar dessa ameaça
— garanti me sentindo culpado. Era claro que eu não queria que nenhuma
vida, principalmente da minha família fosse prejudicada pelos meus atos.

Jamais me perdoaria se algo houvesse acontecido com a minha irmã.

— Nós vamos dar um jeito nisso. — Thiago projetou a voz, corrigindo-


me. — Nos metemos em algumas confusões de vez em quando, mas o que
nos mantém inseparáveis é fato de sempre estarmos juntos. Nedja é uma de
nós agora e esse idiota vai se arrepender de ousar vir atrás dela porque vai ter
que lidar com todos nós.

Eu abri um sorriso discreto quando percebi os outros assentindo.

Aquilo era verdade, nunca estávamos sozinhos, sempre tínhamos um


ao outro e isso fazia com que sobrevivêssemos a todas as batalhas.

A sala voltou a ficar em silêncio por um momento até que o meu pai se
aproximou de mim e bateu no meu braço, me chamando para uma conversa
mais particular.

— Você cometeu um erro.

— Eu sei. — Nem tentei discutir.

— Não deveria ter se envolvido, nem trazido ela para cá. — Ele deu
uma breve pausa, mas antes que eu respondesse, continuou. — Mas não é o
primeiro e nem será o último de nós a cometer erros. Eu mesmo roubei a sua
mãe do altar. O que mais importa agora é o que vai fazer. Tomou-a para si.
Ela é sua, Ettore! É uma consequência, não tem mais volta. Cuide e a proteja,
lide com esses inimigos. Nós estaremos aqui para ajudá-lo.

— Obrigado, pai.

A verdade estava exposta. Aquele era o momento de lidar com as


escolhas que tinha feito para mim mesmo e garantir a segurança da minha
esposa e da minha família.
Capítulo trinta e cinco

Com a família dele inteira me envolvendo, algumas das mulheres me


perguntando se eu queria mais água ou algo para comer, eu fui me sentindo
melhor. Meu coração não estava mais acelerado, mas ainda havia a
necessidade de abraçar o Ettore.

Fiquei me perguntando qual era o momento em que poderíamos ficar


sozinhos e eu afundaria a minha cabeça no seu peito. A sua presença e os
seus braços eram o que mais faziam com que eu me sentisse segura.

— Outro copo? — A bondosa avó dele se inclinou para mim.

Apenas balancei a cabeça fazendo que não.

— Ficará tudo bem. — Ela afagou o meu ombro como se tivesse muita
propriedade para afirmar aquilo, por mais que fosse frágil e tão indefesa
quanto eu.

— Eu não quero que ele se machuque.

— Ele não irá. Meus filhos e netos são duros na queda e você será
mantida em segurança. Agora que todos sabem o que está acontecendo será
mais fácil lidarem com a situação e se prepararem para qualquer outro ataque.
Você por enquanto só precisa se preocupar em ficar onde é seguro.

— Vamos voltar para o apartamento dele?

— Recomendo que fique aqui por enquanto.


— Mas...

— Há muitos homens de vigia e uma segurança reforçada.

— Entendo.

Fiquei quieta. Por mais que quisesse ficar sozinha com o meu marido,
não era momento de fazer exigências.

— Tem certeza de que não está com fome? Posso pedir para
prepararem uma bela sopa. Será fácil de engolir.

— Acho que todos precisaremos jantar. — Esforcei-me para sorrir para


ela.

— É uma boa ideia. Quer ficar aqui ou me acompanhar até a cozinha?

— Ficarei aqui.

— Está bem.

Enquanto as vozes em italiano ecoavam pelo cômodo espaçoso e bem


decorado, eu procurei por ele, encontrando-o conversando com o primo e
quando os nossos olhares se cruzaram ele veio na minha direção. Foi como se
o tempo houvesse parado à nossa volta enquanto eu observava cada um dos
seus passos até que ele ficasse bem diante de mim.

— Você vai ficar segura. — A promessa veio num tom neutro,


tranquilo e baixo.

— Eu sei. — Levantei a cabeça, confiante. Aquela não fora a primeira


vez que eu havia escapado das garras do meu tio.
Ele esticou a mão, contornando o meu rosto e eu fechei os olhos,
dissolvendo-me na sensação. Era completamente inapropriado ele estar me
tocando assim na frente de todos, por mais que fôssemos casados, mas
ninguém pareceu se importar. Os costumes ocidentais eram completamente
diferentes dos nossos.

— Será que podemos ficar sozinhos? — pedi em um tom de súplica,


mesmo sem saber se deveria.

— Vem comigo. — Ele desceu com a mão pelo meu braço


escorregando e me provocando calafrios até chegar a minha e fazer com que
eu me levantasse.

Deixei que o Ettore me puxasse e seguimos em silêncio para fora da


sala. Assim que chegamos ao jardim eu observei as poucas nuvens no céu e
algum punhado de estrelas. A minha mão ainda suava em contato com a sua e
ofeguei quando ele me girou, ficando de frente para mim.

— Eu poderia ter pagado muito caro hoje.

— Com certeza não vai continuar pensando assim quando vir a fatura
do cartão de crédito. — Fiquei boba comigo mesma por conseguir fazer uma
piada naquele momento.

— Não pensei que o seu tio viria atrás de você em Roma.

— Parece que ele é mais esperto do que pensávamos.

— Eu não irei menosprezá-lo mais.

— É melhor.
— Nedja... — Ele agarrou o meu rosto, fazendo com que eu o
encarasse e o meu nome ficou ecoando pelo ambiente à nossa volta.

— Só me beija. — Era tudo o que eu mais queria naquele momento.

A sua mão pesada e firme subiu pela minha nuca, puxando o meu
cabelo com força quando a sua boca tomou a minha na mesma ânsia
desesperada que eu estava sentindo. Afastei os lábios e deixei que a sua
língua buscasse a minha.

Ele envolveu a minha cintura e me pressionou contra o seu corpo,


fazendo-me arfar enquanto nossos contornos me demonstravam o quanto
poderiam se encaixar perfeitamente. A necessidade por aquele contato
ultrapassava o racional e me fazia encontrar alento em meio ao desespero.

Gemi contra os seus lábios quando ele deixou que a palma escorregasse
da minha cintura para apalpar a minha nádega sem qualquer cerimônia.
Estávamos no meio do jardim, mas ele não teve pudor algum em me tocar,
recordando-me do quanto inevitavelmente eu era dele.

Mordeu o meu lábio inferior enquanto retomava o ar para depois descer


com a boca pelo meu pescoço, me provocando vários calafrios. Apertei os
seus ombros e pressionei as pálpebras com força, mergulhando nas sensações
e esperando por mais.

Seus dentes raspavam na minha pele, seus dedos e lábios estavam me


pressionando e eu me sentia enlouquecer aos poucos da melhor forma
possível. Nos braços dele não havia medo, só uma entrega que era maior do
que nós mesmos.
Ele me empurrou e eu percebi que estávamos dando passos para trás
até que as minhas costas se colidiram contra uma parede fria. Mal tive tempo
de perceber onde era exatamente, mas presumi que estávamos perto da
piscina.

Ettore esfregou o seu corpo mais no meu e mesmo com toda a roupa
que ainda estávamos usando eu senti o volume na sua calça e toda a minha
necessidade pulsando por ele. Queria aquele homem em mim numa ânsia
mais forte do que eu conseguia explicar.

Enfiou uma das pernas entre as minhas, me forçando a abri-las e puxou


a saia do meu vestido, levantando-a até a minha cintura. Eu não consegui
deter o gemido quando a sua mão alcançou o meu sexo. Ele afastou a
calcinha e me provocou como se não estivéssemos em céu aberto.

Tombei a cabeça para trás e só conseguia arfar enquanto cada parte


minha cedia ao prazer provocado pela pressão dos seus dedos. Ele sabia
exatamente como me tocar e a necessidade por mais palpitava dentro de mim.
O pudor poderia me indicar o contrário, mas eu afastava as minhas pernas o
máximo que conseguia para permitir o seu contato.

A sua boca na minha silenciava alguns dos meus gemidos enquanto ele
não parava até perceber que me tinha feito gozar.

Ainda estava ofegante e mole, escorando nele e na parede quando


Ettore me girou, colocando-me de costas para ele. Voltou a subir com a
minha saia, colocando a parte debaixo do meu corpo exposta ao passo que
uma das suas mãos segurava a minha cintura. Eu ouvi o zíper da sua calça
sendo aberto pouco antes de ele entrar em mim.

Inclinei-me para a frente e cravei as minhas unhas na parede, rebolando


enquanto ele se acomodava no meu canal. Houve só um pouco de dor, bem
no início, mas ela logo começou a se dissipar enquanto eu era rendida pela
fricção deliciosa da sua pele na minha. Era tão natural que eu conseguia me
movimentar por conta própria, esperando pela próxima investida.

Seus dedos afundaram na minha nádega e Ettore fez mais pressão. Ele
aumentou a velocidade dos movimentos e eu podia sentir a sua respiração na
minha nuca enquanto a minha bunda esfregava na sua nádega. Até que ele
explodiu em mim. A pressão do seu líquido foi me preenchendo enquanto ele
não parava de se movimentar. Eu pedi por mais, o prazer estava se
aproximando de novo e ele me deu até que eu alcançasse um segundo
orgasmo.

Ettore tirou a mão da minha bunda e apoiou na parede na nossa frente,


recuperando-se um pouco antes de arriscar-se a falar.

— Dobre isso e coloque dentro da calcinha até que possa se limpar. —


Ele me entregou um lenço e eu o usei para me recompor um pouco.

O silêncio se estabeleceu entre nós por mais um momento até que me


arrisquei a quebrá-lo.

— Precisamos voltar lá para dentro agora ou podemos ficar aqui por


mais um tempo?

— Podemos ficar aqui o quanto você quiser.


Sorri para ele e Ettore me puxou para mais perto.
Capítulo trinta e seis

No dia seguinte, deixei a Nedja na casa com a minha avó e as outras


mulheres. Por mais que confiasse plenamente na fortificação que havia
construído para mim no apartamento onde eu morava era melhor que ela
estivesse em um local onde havia outras pessoas que pudessem tomar conta
dela e até mesmo conversar enquanto aquele caos ainda se desencadeava
sobre nós.

Algo costumava ser regra no meu mundo que provavelmente se


aplicaria naquela situação também. Quando tínhamos inimigos incansáveis,
precisávamos interrompê-los antes que machucassem qualquer um de nós.

Nós nos reunimos na instalação destinada aos assuntos da máfia no


prédio da empresa. Meu pai e meus irmãos estavam ali, também o Thiago e o
tio Theo.

— Com quem estamos lidando? — Ele deu um passo à frente


chamando atenção do restante de nós. O seu histórico em ações como aquela
o precedia. Não era à toa que o Thiago tivera muito bem a quem puxar.

— Youssef Al-Kudsi — Giovane mexeu no tablet que estava na sua


mão e apontou para a imagem que surgiu no monitor atrás de nós. —
Segundo filho que assumiu o Emirado de Mamlaka após a morte do irmão em
um acidente doméstico.

— Acidente? — resmunguei.
— É o que está documentado pelos arquivos da polícia deles. — Meu
irmão deu de ombros.

— É claro. — Cruzei os braços em expressão arredia e meu irmão


continuou com o seu breve discurso.

— Ele é um extremista. Daqueles que certamente fomentam os ataques


teoristas. Era ativamente contra as atitudes do irmão mais velho enquanto
Mohammed governava o Emirado com uma visão mais pacifista e evolutiva.
É um sujeito bem totalitarista e contra os direitos das mulheres, só que
infelizmente, ele tem muitos seguidores, ao que parece. As famílias mais
tradicionais de Mamlaka o apoiam.

— E onde a Nedja entra nisso? — questionou o Thiago tentando trazer


o assunto para algo mais próximo do que ele pudesse compreender.

— Ela é uma ponta solta. — A resposta veio de mim. — Ela sabe o que
o tio fez, teve uma criação mais livre com o pai e certamente é uma ameaça
ao governo que ele está tentando construir.

— Ela é só uma mulher — balbuciou o Giovane.

— Eu não a menosprezaria — afirmou o meu pai. — Se pensarmos


pela perspectiva do Youssef, temos uma mulher aliada a estrangeiros que já
sobreviveram às mais diversas tentativas de assassinato. Quanto mais rápido
ele conseguir se livrar dela melhor.

— Mas há o resto de nós — salientei.

— É por isso que ele deve estar tentando agir com o mínimo de
cautela. Além de estar mexendo com os Bellucci, o que se ele for um pouco
mais esperto saberá quem somos, as ações dele na Itália podem causar um
impacto internacional. Por mais extremista que ele seja. Acho pouco provável
que queira ser visto como um terrorista em âmbito mundial.

— Então vamos até ele e o matamos. — Thiago deu de ombros como


se fosse muito simples.

— Não. — Meu pai interveio outra vez. — Não podemos entrar em um


palácio árabe e chegar atirando.

— Ah, eu posso!

— Thiago. — Theo conteve o filho.

— Já fiz isso outras vezes. — Deu de ombros.

— Mateo está certo. Temos que ter cautela e pensar em como vamos
agir.

— Enquanto isso esperamos? — Não gostava daquilo, mas parecia ser


a medida mais sensata no momento.

— Vamos nos proteger e aguardar, assim como sempre fizemos.

— Okay! — Balancei a cabeça e encarei o Giovane. — Monitore esse


cara, acompanhe cada passo dele e dos seus homens que possam estar em
Roma ou qualquer outra parte da Itália. Antes que ele tente nos atacar
novamente precisamos saber.

— Pode deixar comigo.


— O resto de nós volta a trabalhar — concluiu o meu pai para que a
pequena multidão se dissipasse e depois ele veio para perto de mim. — Terá
a sua oportunidade de pegar esse homem, mas precisa ser cauteloso.

— Eu sei. Só não quero que ele volte a tocar em um fio do cabelo dela.

— Não irá! — Ele deu um tapa no meu ombro e eu assenti.

Desde que Nedja estivesse segura eu poderia aguardar o momento


certo para agir.
Capítulo trinta e sete

Admito que foi ótimo ficar na mansão. Ter a companhia da avó do


Ettore, de suas tias e até mesmo a sua mãe foi muito bom. Elas eram pessoas
alegres e se reuniram para me ajudar com o italiano ou simplesmente jogar
conversa fora. Juliana, a esposa do Thiago, até me tinha entregue um material
que ela mesma usara para aprender o idioma quando chegara naquela casa em
uma situação pior do que a minha.

Minha sogra era quem estava mais curiosa. Ela queria saber sobre mim
e não deveria ser uma surpresa. Onde eu havia nascido, seria ela e o restante
da família a escolher uma esposa para o filho, mas eu era uma completa
estranha jogada na sua casa e ela mal sabia as minhas procedências.

— Eu também era uma princesa. — Ela me deu um sorriso muito


gentil ao segurar a minha mão e afagá-la com carinho. — Dos ciganos. O
meu povo está pela Europa há muito tempo.

— Ouvi falar em minhas pesquisas. — A minha fala pareceu deixá-la


ainda mais animada.

— É um povo um pouco marginalizado.

— Mas com uma cultura muito bonita.

— Sim. — Seu sorriso se alargou. — Quando tudo isso passar eu posso


levá-la para conhecer a casa dos meus pais.

— Será um grande prazer... Ah! — Eu me levantei ao me recordar do


vestido que Nina e eu havíamos escolhido para ela durante o momento de
compras. Com o estresse do dia anterior eu havia me esquecido
completamente de entregar. — Pode esperar aqui um pouquinho?

— Sim.

A minha sogra assentiu e eu saí da sala, indo até um dos quartos que a
avó dele havia designado para mim para que eu pudesse ficar confortável
durante o tempo que precisasse ficar na casa. Todas as sacolas com as
compras estavam em um canto, certamente sendo sido deixadas ali pelos
seguranças. Demorei um pouco, mas encontrei o embrulho com o vestido e
retornei para a sala, onde a Luize estava aguardando por mim.

— Eu e Nina escolhemos para você. Ela disse que iria gostar.

— Ah, não precisava! — Ela abriu a embalagem e verificou o que


havia dentro, tirando para que pudesse ver os detalhes antes de guardá-lo
novamente. — Eu amei. É lindo! Você tem muito bom gosto.

— Fico feliz que tenha gostado.

— Eu estou muito contente. Não me leve a mal. Fiquei com medo


quando o Ettore apareceu com você. A notícia me pegou desprevenida e eu
não estava pronta para ela, mas agora consigo enxergar com outros olhos.
Não está tirando de mim o meu menino, mas me dando outra filha.

Meus olhos ficaram lacrimejados ao ouvir as palavras dela e eu precisei


me deter para não começar a chorar.

— Ei! — Afagou o meu ombro. — O que foi?


— A minha mãe morreu quando eu era muito pequena. Já não me
recordo direito de como era a convivência com ela.

— Ah, querida, eu sinto muito. — Ela se inclinou e me deu um beijo


na testa. — Mas agora tem a nós.

— Muito obrigada por isso.

Ela me abraçou bem apertado em um afago que não me lembrava de ter


recebido em outro momento da vida. Na corrida para sobreviver não
conseguira planejar um fim melhor do que encontrar um bom marido e toda
uma família disposta a cuidar de mim.

— Mamãe... Nedja. — Ouvi a voz do Ettore e me afastei dela.

Fiquei distraída com o carinho que nem tinha percebido a sua


aproximação. Ele havia chegado na companhia de outros homens da família
que logo se dispersaram.

— Ei, filho!

Ele sorriu para mãe antes de se inclinar para mim.

— Está tudo bem?

— Sim.

— Ótimo.

— Vou deixar vocês. — Luize se levantou, desaparecendo rapidamente


em um dos corredores quase como se fosse fumaça.

— Aconteceu algo?
— Não. Só me reuni com a minha família para que eles pudessem
saber um pouco mais sobre o seu tio e o que podemos esperar dele.

— Ele está aqui? — Fiquei pálida por um momento e um tanto


aterrorizada com a possibilidade de encontrá-lo.

— Não.

Soltei um suspiro de alívio.

— O que aconteceu ontem não vai se repetir. Está bem?

Movimentei a cabeça assentindo.

— Ettore... — Senti o meu coração apertar quando me lembrei de casa,


da minha família e principalmente da Regina.

— O que foi?

— Não sei se é possível, mas será que você conseguiria informações.


— Poderia ser tolice o que eu estava pedindo, mas precisava tentar.

— Quais informações? — Ele permaneceu me encarando e parecia me


analisar bem.

— A Regina, minha prima...

— Aquela que ajudou você a fugir do palácio?

— Essa mesma. — Meu estômago foi se revirando ainda mais. Se o


meu tio havia feito algo com ela eu nunca iria conseguir me perdoar.

— Quer saber como ela está?

— Por favor.
— Vou providenciar as informações para você.

— Muito obrigada. — Eu me levantei por reflexo e abracei a sua


cintura, afundando a minha cabeça no seu peito. Respirei o cheiro másculo e
firme da sua pele, aninhando-me quando ele me envolveu com os braços,
deixando-me tão perto quanto possível.

Ficamos assim por um tempo até que ele se afastou. Para quem não
tinha o hábito de abraçar muito, nem de ter contato com o sexo oposto, eu me
havia habituado a isso muito rápido, mas era algo impossível de não gostar.

— Vou ligar para o meu irmão.

— Está bem.

Ele pegou o telefone e discou alguns números. Não demorou muito


para que a chamada começasse a tocar e alguém atendesse do outro lado da
linha.

— Ettore?

— Giovane, preciso que faça uma busca para mim.

— Sempre a postos, irmão.

— Regina. É uma das filhas do sheik Youssef Al-Kudsi. Quero que


descubra como ela está. Invada câmeras e microfones se for necessário, mas
cuidado para não deixar rastros.

— Você não é o único bom nisso.

— Fale menos e trabalhe mais.


— Já encontrei.

— Rápido! — Deixei escapar a exclamação, mas eu não sabia se era


um bom sinal ou se deveria ficar apreensiva com o que viria a seguir.

— Nem todos estão tentando se esconder, cunhada.

— Como ela está? — Inclinei-me para a frente quase tocando o


telefone.

— Parece bem. Acabou de se casar.

— Casar?! — A notícia me fez tombar para trás.

— Parece que estão todos empolgados em trocar votos.

— Com quem ela se casou, Giovane? — Ettore fez o questionamento


que deveria ter saído de mim.

— Zyan Ahmad Al-Sabbah. É um jovem sheik que acabou de assumir


o Emirado de Qasir com a morte do pai.

— Qasir... — Balbuciei aquela palavrava atraindo a atenção do Ettore


para mim.

— O que foi?

— O Emir de lá costumava ser um amigo do meu pai.

— O que justifica o casamento da sua prima. Ele está buscando


aliados.

Assenti, concordando. Matrimônios arranjados eram comuns, mas eu


fiquei pensando em como Regina estaria sob a tutela de um aliado do seu pai.
Só torcia muito para que fosse lá quem fosse, ele não a machucasse.

— O pai do homem pode até ter sido um extremista, mas o marido da


sua prima tem um histórico muito diferente. — A voz do meu cunhado
chamou a nossa atenção de volta para a chamada.

— Modelo aclamado em Milão e outras cidades da Europa. Parece um


ótimo exemplo de que sabe aproveitar bem a vida, consigo contar pelo menos
umas trinta mulheres diferentes só na primeira página de busca de imagens
nos sites acessíveis da internet. Nossa... Tem umas lindas!

— Giovane, se concentre! — Ettore o recriminou.

— Desculpa. É que esse sujeito teve algumas distrações bem


interessantes nos últimos anos. A lista de conquistas é bem grande apesar de
nenhum relato de algum envolvimento mais duradouro.

— Em resumo, um pegador. — Ettore voltou a cortar o irmão que


estava divagando novamente a respeito das informações que havia
conseguido sobre o marido da minha prima Regina.

— Isso!

— Por que um homem com esse currículo se uniria em um casamento


arranjado? — Ettore quis saber.

— Ele é o único herdeiro do Emirado de Qasir. Com a morte do pai


precisou assumir o lugar. O casamento dele já parecia estar sendo negociado
entre o seu antecessor e o Youssef.

— Caiu de paraquedas.
— Basicamente.

O silêncio se estabeleceu por um momento até que eu me inclinei um


pouco e voltei o assunto para o que mais me preocupava, minha prima.

— E a Regina?

— Olhe, cunhada, posso estar sendo equivocado, mas o homem com


quem a sua prima se casou parece um grande cafajeste nas minhas pesquisas,
só que nada me indica que ele seja violento ou que possa feri-la de alguma
forma. Ele tem ideais evidentes que parecem se distinguir muito do que o seu
tio busca. Imagino que o Youssef não tenha se atentado a isso quando fechou
o acordo com o pai desse tal Zyan. Com isso, eu me arrisco a dizer que a sua
prima está segura. Acabei de puxar imagens recentes do palácio em Qasir e
ela está bem.

— Que bom! — Soltei um suspiro de alívio tão profundo que fez com
que os meus ombros caíssem com o próprio peso.

— Fique de olho nela — ordenou Ettore ao irmão.

— Farei isso.

— Muito obrigada! — Estendi a mão em busca da do meu marido e ele


sorriu para mim.

Depois de tudo o que eu havia descoberto sobre aquele homem eu tinha


motivos para temê-lo, ao mesmo tempo em que tudo o que ele fazia por mim
me levava a confiar nele ainda mais. Já tinha sido completamente envolvida
pela sua família e sua vida e não enxergava um caminho em que ele não
estivesse mais junto comigo.
Capítulo trinta e oito

Dormir na casa da minha avó não teria sido a minha primeira escolha.
Sentia falta da modernidade e tecnologia do meu apartamento, até mesmo do
ar solitário que havia nele. Por mais que eu houvesse me acostumado ao fato
de que eu não estava mais sozinho.

Algumas semanas já se haviam passado desde que a minha família


soube os motivos pelos quais Nedja havia entrado na minha vida e não havia
mais discussões. Ela era a minha esposa.

Involuntariamente eu a havia escolhido, ainda que houvesse tentado


não cometer os mesmos erros que o Thiago. Trazer uma mulher para as
nossas vidas era assumir estar com ela até o fim, não havia outra alternativa.

O casamento nunca poderia ser desfeito, mas ao vê-la abrir os olhos


lentamente ao meu lado e fitar o teto branco do quarto, tinha certeza de que
essa era a última coisa que eu queria.

— Você é minha, Nedja! — Rolei para cima dela e cobri o seu corpo
com o meu.

— Ei... — Ela se retorceu, segurando os meus ombros. — Bom dia


para você também.

Mordi o seu queixo e ela fechou os olhos, arqueando o seu peito contra
o meu de uma forma que me permitia sentir o seu coração acelerar à medida
que a minha boca deslizava pelo contorno do seu pescoço e descia um pouco
mais até o decote da camisola. Tão linda, perfumada e macia...

Seus mamilos ficaram rígidos, sendo pressionados ainda mais contra a


fina seda. Abocanhei um deles sob o tecido, sorvendo-o ao ponto de fazê-la
gemer e se contorcer ainda mais abaixo de mim.

— Ettore... — Gemia o meu nome sendo tragada pelo êxtase das


minhas carícias enquanto eu provava dela como um animal sedento.

Era completamente diferente ter uma mulher que me despertava vários


sentimentos e estava ao meu lado todas as manhãs do que saciar as minhas
necessidades esporadicamente com prostitutas. Não fazia ideia do que era ter
uma esposa até de fato estar com uma.

Minha...

Só minha e de mais ninguém.

Puxei as alças da sua camisola, fazendo com que descessem pelos seus
ombros e projetando os seus seios, deixando que escapassem livres direto
para a minha boca. Ela gemeu ainda mais alto enquanto eu me inundava em
um deles e apertava o outro com a mão. Não eram grandes, mas tinham o
tamanho perfeito para serem envolvidos pelos meus lábios, sugados, sorvidos
mordiscados.

Os sons da minha esposa se tornavam mais altos, não tinham nenhuma


palavra reconhecível, mas indicavam que o prazer dela estava se
intensificando com os meus toques. Eu podia perceber o quanto ela queria
mais de mim a ponto que as suas coxas se afastavam mais e o seu corpo se
friccionava no meu.
Levantei a sua camisola e beijei o seu ventre, raspando os dentes na
pele macia até chegar perto da calcinha minúscula, bem do jeito que eu
gostava. Beijei o tecido e Nedja se retorceu, embolando o lençol nos dedos e
afundando a cabeça no travesseiro.

Meu pau estava tão rígido que chegava a me causar uma dor física.
Ansiava desesperadamente por estar dentro dela, por compartilhar os seus
fluidos com os meus enquanto nos friccionávamos um no outro em busca do
êxtase.

Arranquei a sua calcinha em um movimento rápido, jogando o tecido


em algum canto do chão e ela deixou escapar um gritinho mais agudo, que foi
silenciado pela pressão do meu dedo sobre os seus lábios.

— Shi... Não vai querer que ninguém ouça a gente.

Ela arregalou um pouco mais os olhos, processando o que eu havia


falado e depois assentiu, voltando a se esfregar em mim, num pedido
silencioso para que eu continuasse o que estávamos fazendo.

Voltei a descer com a boca pelo seu ventre e abri a sua coxa com as
duas mãos. Acomodei a minha cabeça entre as suas pernas e sorvi o cheiro do
seu sexo. Ela estava molhada a ponto da sua excitação brilhar em algumas
gotas. Quando afundei a minha cabeça ali, chupando e lambendo, Nedja
agarrou o meu cabelo e me deixou perceber o quanto estava se contendo para
não gritar de prazer.

Eu bebi dela, penetrando com a minha língua e chupando o seu clitóris.


Quanto mais ela se retorcia, apertava os olhos e os dedos, mais eu entendia
que o seu ápice estava próximo. Fiz movimentos circulares sobre o seu maior
ponto de prazer e introduzi dois dedos dentro dela. Logo os seus espasmos
me indicaram que ela havia gozado.

Não esperei que se recuperasse, ajoelhei-me na cama e puxei a sua


cintura, fazendo com que se virasse e ficasse de bruços.

— Segura na cabeceira da cama. — Ordenei com a boca na sua orelha


e a mão no seu quadril.

Ainda envolta pelo momento, ela atendeu ao meu pedido sem


questionar e fiz com que se inclinasse um pouco mais para a frente, me
dando uma visão maravilhosa da sua bunda perfeitamente redonda que
deixou o meu pau ainda mais afoito. Sem cerimônia, uni nossos corpos num
tranco, fazendo com que ela tombasse mais com o movimento, mas
segurando a sua cintura eu a puxei de volta, fazendo com que se encaixasse
perfeitamente.

O seu canal apertado comprimiu o meu pau e foi a minha vez de me


conter para não gemer em meio à pressão e à visão deliciosa das suas nádegas
na minha pélvis.

Subi com uma das mãos, escorregando pela linha da sua coluna, até
agarrar o cabelo no fim da nuca. Puxei-o para trás com mais força e ela
deixou escapar um gritinho, mas rebolou em mim, indicando que estava
gostando e esfregou aquela bunda gostosa de um jeito que me deixou ainda
mais louco. Ainda chegaria até ali, mas teria que esperar por outro momento.

A mão que estava em sua cintura agarrou uma das nádegas,


espalmando-a com o tapa e meus dedos afundaram na pele macia. Segurei-a
naquela posição, completamente refém a mim enquanto eu me entregava à
necessidade selvagem de me mover mais rápido e mais forte.

Só parei de enfiar nela quando ejaculei, preenchendo-a com o meu


sêmen, mas Nedja rebolou um pouco mais em mim. Ela queria mais do meu
pau e eu dei, esforçando-me para me manter rígido mesmo depois do
orgasmo para que a minha esposa encontrasse o seu próprio prazer.

Quando ela escorregou completamente mole, deixei que se deitasse na


cama e me acomodei ao seu lado.

— Já vai para empresa? — Ela se aninhou no meu peito como uma


gatinha manhosa e colocou a mão sobre o meu coração sem qualquer recato.

— Preciso ir.

— Eu sei. — Soltou um suspiro, mas não pareceu desapontada,


certamente já estava se acostumando com aquela rotina.

— Notícias do meu tio?

— Estamos rasteando os homens dele em Roma, mantendo-os


afastados de qualquer rastro seu, mas é sempre necessário que tomemos
cuidado.

— Será que vai ser sempre assim tendo que fugir dele?

— Eu darei um jeito nele — prometi ao segurar o seu queixo e fazer


com que me encarasse. — Só preciso agir com cautela para não nos causar
um problema maior ainda.
— Eu sei. — Deu um sorriso para mim.

— Como estão indo as aulas de italiano? — perguntei no idioma.

— Molto bene, mio amore — pareceu empolgada. – Sua família tem


sido muito atenciosa e dedicada comigo.

— São sua família também.

— Eu sei... Só tenho a agradecer você por tudo isso.

— Fique aqui. — Acariciei o seu rosto, tirando uma mecha do cabelo


castanho que havia atravessado a sua face. — Permaneça segura, é tudo o que
eu peço.

— Vou me comportar.

Afaguei o seu rosto e ela fechou os olhos no momento em que eu a


beijei.

Permanecemos na cama, mas eu logo tive que levantar, tinham muitos


compromissos me esperando ao longo do dia, por mais que os lençóis quentes
e os braços da Nedja fossem mais do que convidativos. Se o meu trabalho
não fosse tão importante, poderia passar o dia inteiro naquele colchão.

Dormiríamos, transaríamos e conversaríamos, sem nos preocuparmos


com o que o mundo poderia estar querendo lá fora.
Capítulo trinta e nove

Saí do quarto bem depois do meu marido. A mansão estava calma, mas
logo uma empregada passou por mim, dando-me bom dia no idioma deles e
seguiu para o interior do cômodo para trocar os meus lençóis e arrumar a
cama. Aquele local não era exatamente como um palácio, mas funcionava
como um, muitas pessoas frequentando e empregados por todo canto.

Sentia que o Ettore queria voltar para o apartamento, que só estávamos


ali pela minha segurança. Seria apenas uma questão de tempo, mas no
momento eu poderia dizer que estava feliz. Tinha notícias esporádicas da
minha prima Regina, não sabia exatamente como estava sendo o casamento
dela, mas ela parecia segura. Era o que eu poderia desejar no momento, que
estivesse longe do pai.

Em algum dia esperava que nós duas pudéssemos voltar a conversar.


Sermos as amigas que éramos. Entretanto, precisaria de cautela para isso. Iria
conversar com o Ettore a respeito em algum momento. Faria-me muito bem
voltar a falar com a minha prima, mas eu precisava pensar que o pai dela
ainda tinha a intenção de fazer algo contra mim.

— Paciência, Nedja... — sussurrei para mim mesma ao descer a


escada.

— Buongiorno, minha neta. — A amável avó do Ettore sorriu para


mim do sofá da sala e eu me aproximei dela, parando no meio do caminho
quando meu estômago se retorceu.
— Que cheiro é esse? — Coloquei a mão sobre a barriga por reflexo.

— O almoço sendo preparado. — Ela levantou uma das sobrancelhas e


deixou de lado o seu bordado para reparar bem em mim. — O que você
sentiu?

— Fiquei enjoada de repente. Não deve ser nada. — Dei de ombros.

— Sente-se, minha criança. — Ela bateu no espaço vazio no sofá ao


seu lado e eu fui me acomodar ali.

A mãe do meu pai havia morrido antes do meu nascimento e eu não


sabia como era a experiencia de ter uma avó.

— Há quanto tempo cheiros fortes provocam enjoo?

— Reparei agora.

— Hum... — Ela pareceu ponderar a respeito. — Você está atrasada?

— Atrasada?

— Seu ciclo.

— Ah! — Dei um sorriso sem jeito e comecei a pensar sobre aquilo.


Com tudo o que estava acontecendo, menstruação não era um dos assuntos
que estava na minha mente. — Pode ser, não tenho certeza.

— Pedirei que uma médica da minha confiança venha ver você.

— Médica?

— Ela precisa fazer alguns exames para termos certeza da gravidez e


começarmos a acompanhar o bebê.
— Gravidez? Bebê? — Aquela mulher estava falando aquelas palavras
com tamanha desenvoltura que me deixou completamente em choque. — A
senhora não acha que possa ser um alarme falso? Pode ser um pouco cedo
para tudo isso. Ettore e eu...

— Estão fazendo sexo.

Corei instantaneamente. Por mais que a relação entre um homem e uma


mulher fosse bem natural, aquele tipo de conversa aberta nunca tive com
ninguém.

— Sim, mas...

— Duvido que estivessem tentando evitar. Então era de se prever que


acontecesse logo.

— Um bebê... — Inclinei a cabeça para baixo e coloquei as duas mãos


cruzadas sobre o meu ventre.

— Ah, mais um bisnetinho ou bisnetinha. — Ela suspirou parecendo


contente enquanto eu lidava com a bomba que havia caído sem preparo.

Para quem não previa sequer um marido, eu estava casada e naquele


momento com uma suspeita de gravidez.

— A senhora vai chamar a médica?

— Sim.

— Obrigada. — Eu ainda estava meio pasma e piscando os olhos para


absorver aquilo.
— Ficará tudo bem, Nedja. Essa família adora crianças.

— Só fui um pouco pega de surpresa.

— Esses jovens que se surpreendem com o óbvio. — Ela balançou a


cabeça fazendo uma expressão que arrancou de mim uma gargalhada. — Vá
tomar o seu café da manhã, criança. Logo a médica virá vê-la.

— Está bem. — Assenti ao me levantar e ir até a sala de jantar onde a


mesa ainda estava posta. Pelo horário parecia que estavam esperando apenas
por mim, mas eu comi sem pressa. Engolindo gradualmente aquela novidade.
Capítulo quarenta

Quando estacionei na garagem da mansão, não percebi nada de


diferente, por mais que alguma coisa me incomodasse. Não ignorei
completamente aquele instinto, porque o alerta era sempre importante para
nós, principalmente considerando todos os inimigos que precisávamos
enfrentar diariamente.

Reparei nos soldados em seus postos. Seguravam suas armas ou


conversavam uns com os outros. Estavam descontraídos e sem nenhum sinal
de ataque. Isso deveria ser o suficiente para que eu parasse de me preocupar.

Quando entrei na mansão, vi a Nedja na sala perto da minha avó e da


minha mãe. A forma como a última dava pulinhos no sofá me indicou que
havia algo que eu precisasse saber.

— O que foi? — Franzi o cenho e parei diante delas, sem me


aproximar demais.

Esquadrinhei suas feições, uma a uma, em busca de uma resposta


racional para cada uma delas, mas não encontrei nada que pudesse me ajudar
de fato.

— Temos uma boa notícia. — Minha mãe abriu um sorriso de orelha a


orelha.

— Deixa a Nedja contar. — Minha avó deteve a nora.

— Contar o quê? — Levantei uma das sobrancelhas com um ar ainda


mais confuso.

— Ettore...

— Nedja, o que foi? — De repente o meu coração ficou apertado e eu


senti um pouco de falta de ar. Por mais que a minha mãe houvesse deixado
escapar que era uma boa notícia, o clima do momento me deixou tenso.

— Será que podemos ir até o jardim? — Ela olhou para as outras duas
mulheres que estavam com ela que assentiram.

— Vem. — Ofereci a mão e quando ela segurou nos meus dedos


percebi o quanto estavam suados.

Fiquei ainda mais curioso e confuso. Nada passava pela minha cabeça
que pudesse justificar aquela sua reação, mas esperei que caminhássemos até
o jardim para envolver a sua cintura e fazer com que me encarasse.

— Nedja... — Busquei seus olhos, exigindo que ela me dissesse algo.

— Ettore... — Seus dedos trêmulos subiram pelo meu peito até que ela
apertou o meu ombro.

— Fala o que está acontecendo. Está me deixando nervoso — admiti


aquilo com certo ar de deboche. Eu não costumava ser um homem ansioso,
controlava a minha vida toda bem metodicamente, mas ela tinha mudado
muito da minha perspectiva.

— Eu não estava esperando por isso...

— Nedja, fala logo! — Meu tom foi um pouco mais incisivo e ela
estremeceu contra o meu peito.
— Eu estou grávida.

— Grávida?!

Ela só balançou a cabeça fazendo que sim e se afastou um passo,


colocando a mão sobre o seu ventre e eu cobri os seus dedos como os meus.
Havia um bebê ali, um nosso...

Tudo o que o Thiago me disse sobre a notícia de que ele teria um filho
só fez sentido para mim naquele momento. Deixei que as minhas pernas
cedessem e fiquei de joelhos diante dela, beijando o seu ventre.

— Vou ser pai — murmurei com a cabeça na sua barriga.

— Vai. — Acariciou o meu cabelo e me puxou para mais junto de si


enquanto ficávamos naquela posição por um tempo.

Esperei que alguns momentos se passassem até que voltei a ficar de pé.
Segurei o seu rosto com as duas mãos e ela arregalou os olhos ao me encarar.

— Eu amo você, Nedja. — Não previa que aquelas palavras fossem


sair da minha boca em algum momento da minha vida, mas elas soaram com
muita naturalidade.

Enquanto eu olhava para ela, aninhada nos meus braços e pensava no


filho que iríamos ter. Tive certeza de que a possibilidade de que aquele
casamento fosse uma farsa só havia enganado a mim mesmo.

Nedja era minha esposa, independente das formas como havia


acontecido.

— Eu também amo você. — Ela ficou nas pontas dos pés e aproximou
a sua boca da minha.

Voltei a envolvê-la junto a mim e tomei a sua boca sem recato.


Transformando palavras em atos e demonstrando o quanto inevitavelmente
pertencíamos um ao outro.
Capítulo quarenta e um

Estava olhando pela janela e suspirei quando ele envolveu a minha


cintura e me aconchegou em seus braços fortes. Aqueles músculos e a
pressão eram sem dúvidas a melhor parte dos meus dias.

— Vamos descer para jantar.

— Ainda é um pouco cedo. — Girei para poder encará-lo.

Peguei a sua mão e ele me acompanhou com o olhar até que eu a


colocasse sobre o meu vente e suspiramos juntos.

— Estou feliz com isso — admiti.

— Eu também. — Afagou a minha barriga depois subiu com a mão


para o meu rosto. — Só é mais um motivo para que eu mantenha você segura.

— Sei que estou segura aqui. Ou meu tio fez algo?

— Ele tem buscado estratégias, mas é esperto o bastante para saber que
nos atacar diretamente é um erro. Tenho certeza de que ficará tempo todo à
espreita, esperando por uma falha nossa.

— Que não vamos cometer — falei rápido demais, mas confiava


naquilo.

Ele só balançou a cabeça fazendo que não.

— Ettore.

— O que foi?
— Sei que pode não ser adequado no momento e que tudo o que tem
feito por mim é me proteger, mas eu realmente sinto falta da Regina. Às
vezes eu fico pensando em como seria se ela estivesse aqui.

— Nedja... — Ele soltou o ar com força e pareceu momentaneamente


irritado. — Sabe que não podemos ir até lá buscá-la e que seria arriscado
demais, principalmente agora que ela está casada.

— Mas pelo que o seu irmão disse, pode ser que o marido dela não seja
um homem ruim. Quem sabe possamos confiar nele...

— Arriscar você, ainda mais agora que está grávida é algo que eu não
vou admitir. — Ele foi bem enfático de um jeito que me fez estremecer. Sua
preocupação comigo era sensata e deixava ainda mais evidente que ouvi-lo
dizer que me amava não fora apenas da boca para fora.

— Eu entendo. — Recuei e abaixei a cabeça. — Só queria poder falar


com ela.

Ficamos em silêncio por um momento até que ele voltou a atrair o meu
olhar.

— Verei o que posso fazer.

— Obrigada.

Nós descemos para o jantar e ele não voltou a falar mais nada comigo
até que voltamos para o quarto e o vi sentado na cama, muito compenetrado
enquanto encarava a tela do notebook no seu colo.

— O que você está fazendo? — Sentei-me na beirada da cama e me


arrisquei a perguntar.

— Cruzando as informações que o meu irmão juntou sobre a sua prima


e verificando onde ela está.

— Onde? — Engoli em seco.

— Ela e o marido foram para Dubai. Parece que se encontraram com o


sheik Hassan.

— Isso deve ser uma boa notícia, não é?

— Pode ser. — Ettore tinha todos os motivos do mundo para ter os pés
atrás com o marido da minha prima, por mais que fosse a Regina quem
houvesse me ajudado a fugir. — Pegue o seu celular. — Ele indicou o objeto
que eu havia deixado sobre o móvel de cabeceira.

— Está bem.

— Vou ligar para o quarto do hotel onde ela está para que possam
conversar.

— É sério?! — Fiquei em choque. Ao mesmo tempo que muito feliz,


não esperava que ele fosse fazer aquilo.

— Sim, mas Nedja, não diga nada a ela. Eu entendo que ela a ajudou e
protegeu, mas quanto menos a sua prima souber, melhor para as duas.

Balancei a cabeça concordando. Só de poder ouvir a voz dela depois de


tanto tempo já me deixaria muito feliz.

— Está chamando. — Ettore indicou o meu celular e eu o coloquei no


ouvido.

Levou apenas alguns toques para que uma voz feminina ressoasse do
outro lado e me aquecesse me recordando das lembranças mais felizes que eu
tinha da minha antiga vida.

— Olá?

— Regina? — balbuciei o seu nome.

O silêncio se estabeleceu logo em seguida e pareceu levar muitos


instantes para que ela criasse coragem de me questionar.

— Nedja? — arriscou-se.

— Sim, sou eu. — Meus olhos lacrimejaram ao confirmar para ela.

— Por Allah! Imaginei que nunca mais iria ouvir você.

— Eu também! — Inspirei profundamente.

— Fico muito feliz que você tenha chegado a Sahra e encontrado


abrigo. Eu tinha medo de que o meu pai a encontrasse ou você morresse no
deserto.

— Foi quase, mas eu tive ajuda.

— Eu conversei com a esposa do sheik Hassan hoje, ela me disse que


você esteve por lá. Estou tão aliviada, Nedja. Não sabe o quanto me
preocupei com você.

— Se não fosse pela sua ajuda eu certamente não estaria aqui. —


Aquela era uma verdade inegável. — Muito obrigada, Regina.
— Eu precisava fazer algo. Não poderia deixar que continuasse
naquela cela, mas como conseguiu esse telefone para falar comigo?

— Foi o meu marido. Ele consegue qualquer coisa.

— Marido?! — questionou, aquela certamente não era uma notícia que


estava esperando.

Quando Regina me ajudou a fugir de uma das celas do palácio onde eu


havia crescido e passado quase toda a minha vida, eu não tinha nenhum noivo
muito menos a perspectiva de um casamento. Era pouco provável que fizesse
sentido para ela no momento, mas era muita coisa para explicar e fatos que eu
nem sabia se poderia dizer. Por enquanto tínhamos que nos contentarmos
com a possibilidade de falar uma com a outra após tanto tempo.

— É uma longa história — disse por fim.

— Precisa me contar o que aconteceu com você — insistiu.

— Com calma, em outro momento. Só queria ouvir você e saber como


está. Não temos uma oportunidade para isso há muito tempo e eu sinto falta
da minha prima favorita.

— Também sinto a sua falta.

— Sei que se casou, que não está mais em Mamlaka. — Mudei de


assunto para que pudéssemos falar dela e não de mim.

— É verdade.

— E você está segura?


Ela fez uma breve pausa, ponderando sobre aquilo, mas a resposta que
me deu em seguida fez com que eu ficasse contente.

— Estou.

Ettore olhou para mim e fez um sinal para que eu desligasse a


chamada. Sabia que não poderia me delongar demais naquela conversa, mas
aquele momento já era muito mais do que eu poderia desejar. Regina estava
livre do pai e segura, assim como eu.

Meu marido indicou o celular e eu entendi momentaneamente o que ele


queria dizer com isso.

— Consiga um celular — falei para Regina. — Será mais fácil


conversarmos por ele. Tome cuidado.

— Você também.

— Até mais, Regina. — Despedi-me e então a chamada caiu sem que


eu tivesse tempo de desligar por mim mesma.

— Ela está bem. — Ettore afirmou para mim.

— Sim, está. — Encarei-o com o maior sorriso do mundo. — Muito


obrigada por ter me deixado falar com ela.

— Imagino o quanto deve estar sendo difícil para você ficar longe de
tudo.

— Eu encontrei um novo lar. — Entrelacei os meus dedos com os dele


e Ettore empurrou o computador do seu colo para a outra extremidade da
cama.
— Vou monitorar e avisarei quando ela tiver um número.

— Obrigada.

— Agora chega da sua prima por hoje. — Ele me puxou pela cintura e
fez com que eu me acomodasse no seu colo.

Elevei o meu vestido, subindo-o até que a minha calcinha pudesse ser a
única peça entre o meu sexo e a braguilha da sua calça. Eu poderia ser
inexperiente no início, mas o meu corpo já havia aprendido bem rápido como
se moldar ao dele.

Ettore mordeu o meu pescoço e eu tombei a cabeça para trás, soltando


um gemido baixo enquanto cada pedaço de mim queimava como uma
fogueira de chamas altas, pedindo por mais dele.

Ele segurou a minha cintura e me levantou, enquanto com a outra mão


abria a calça e extraía o membro. Não se deu ao trabalho de tirar as nossas
roupas, só afastou a minha calcinha e me fez sentar. Eu arfei, espichando o
corpo todo, e depois estremecendo, rebolando até que ele entrasse por
completo.

Segurei os seus ombros e inclinei o meu corpo um pouco mais para a


frente, me movimentando enquanto ele me segurava firme, ajudando para que
eu subisse e descesse no seu membro rígido.

Era tão gostoso...

Só conseguia pensar em mais , numa necessidade que ia além do que


eu conseguia compreender. Seus dedos apertavam as minhas nádegas e
empurravam a minha calcinha para o lado enquanto eu só buscava elevar
aquela sensação.

Inclinei a minha cabeça, procurando pela sua boca e ele mordeu o meu
lábio inferior. Meu corpo inteiro vibrou com aquela onda de êxtase e me
permiti ser levada pelo orgasmo, rápido e intenso enquanto o meu clitóris se
esfregava em sua pélvis.

Ofegante, encostei-me nele, esperando recuperar o fôlego enquanto me


dissolvia completamente em deliciosos espasmos.

— Você é gostosa demais. — Segurou o meu cabelo ao me encarar


com um ar de predador.

— Acho que vamos acabar fazendo muitos filhos assim. — Ri. Ao me


levantar ainda bamba do seu colo.

— Algum problema? — Ele segurou o meu pulso para que eu não me


afastasse demais e inércia me puxou de volta para cama.

— Não.

— Quanto mais melhor. — Jogou-me sobre o colchão. Deitando-se


sobre mim e acabando com qualquer nobre intenção de descansar um pouco.
Capítulo quarenta e dois

Thiago se acomodou ao meu lado, colocando as mãos sobre a barriga e


levantou as pernas, pondo os pés na minha mesa de um jeito que me fez
revirar os olhos.

— O que pensa que está fazendo? — Parei de digitar no meu teclado e


me virei para ele com uma expressão raivosa. — Tira a porra desse pé da
minha mesa!

— Foi mal. — Ele desceu com as pernas.

Bufei, voltando a digitar.

— Vai ficar o dia inteiro nesse computador?

— Algum de nós ainda tem trabalho para fazer.

— Estou entediado — admitiu demonstrando porque estava tão


disposto a torrar a minha paciência.

— Está tudo parado por esses dias. Ninguém precisando de um recado.


Sem membros de gangues que acham que possam ser maiores do que nós.
Nada...

— Ainda bem, não é! Se não perderíamos todos os associados.


Precisamos de homens vivos para que a máfia continue funcionando.

— É... — Ele se inclinou para a frente, estalando as costas num creck


bem audível. — Não quer ir matar o tio da Nedja?
— Já teria feito isso se fosse tão simples.

— Minha agenda anda meio vazia esses dias.

— Vai foder a sua mulher ou brincar com o seu filho.

— Saíram com a minha mãe hoje.

— Tenho certeza de que vai encontrar algo o que fazer. Quem sabe a
Nina ou alguém nos andares de cima não esteja disponível para ensinar você
a programar?

— Não... — Ele fez uma careta. — Deixo essas coisas dos


computadores para vocês.

— Então vai limpar as suas armas.

— Fiz isso de manhã.

— Ah, Thiago...

— Você é o meu melhor amigo, cara. — Apertou o meu ombro. — E


vai ser pai também. Estou feliz por você.

— Também estou muito feliz. — Foi inevitável deixar que um sorriso


se formasse nos meus lábios.

— Quem te viu quem te vê. Para quem não a queria, até que se jogou
rápido.

— Eu a queria — admiti num tom baixo. — Era só complicado...

— Torna tudo ainda melhor.

— Pode ser que sim.


— Ettore. — Meu irmão se levantou e veio para perto de mim. A
tensão em suas feições acabou com o momento de distração que eu estava
tendo com o Thiago.

— O que foi?

— Pediu que eu ficasse de olho na prima da Nedja.

— Sim...

— Ela foi levada.

— Como assim levada?!

— Oba! Diversão. — Thiago se impulsionou para se levantar da


cadeira e eu o puxei de volta, fazendo-o bater contra o encosto.

— Fica quieto, porra!

Thiago fez bico e eu dei brecha para que o meu irmão continuasse a
falar.

— Estou monitorando as câmeras do palácio onde ela mora. Alguns


homens do pai dela acabaram de levá-la.

— O marido permitiu?

— Não. Foi distraído. Ele está claramente contra o Youssef. Vamos


fazer alguma coisa ou deixar que resolvam por conta deles? — Giovane
colocou as mãos dentro dos bolsos e ficou esperando por uma posição minha.

— É claro que vamos fazer alguma coisa! — Meu primo saltou do meu
lado.
— Thiago!

Ele me lançou um ar de indignação, mas o conhecia o suficiente para


saber que só queria derramar um pouco de sangue, não importava de quem
fosse. Estávamos lidando com a família da minha esposa e assuntos que
podiam ser delicados. Por mais que eu achasse que devesse sim ajudar, a
segurança e a proteção da mulher e do meu bebê a caminho eram o crucial
para mim. Diferente do Thiago, não colocaria todos em uma incursão sem
pensar primeiro.

— Então? — Giovane insistiu.

— O que acha que o Youssef possa estar querendo ao levar a filha?

— Informações da Nedja. — Meu irmão nem titubeou para responder.


— Ela sabe da ligação das duas e vai usar uma para tentar atrair a outra.

— Está vendo? — meu primo se remexeu.

— Thiago! — gritei com ele de novo.

— Vai deixar que esse homem seja uma sombra em cima da vida de
vocês agora que estão começando uma família? — Ele tocou em um ponto
importante.

— Claro que não!

— Então vamos logo cortar esse mal pela raiz.

— Iremos para a mansão — anunciei ao me levantar. — Conversarei


com a Nedja para avisar o que está acontecendo, então pensaremos em um
plano.
— Bom, marido. — Thiago deu um tapinha nas minhas costas.

— Eu vou junto? — Giovane ficou olhando para mim.

— Pega as suas coisas.

— Oba!

— Vamos nos divertir um pouco, moleque. — Thiago bagunçou o


cabelo loiro do meu caçula e eu balancei a cabeça em negativo.

Aquilo não era uma brincadeira, mas eu sabia que os teria ao meu lado
para o que precisasse, principalmente proteger a minha esposa.
Capítulo quarenta e três

Eu estava na biblioteca ouvindo a Rosimeire contar sobre o local. A


construção que o marido havia feito para ela e a relação que os dois tinham
com os livros. Era lindo o amor deles e de certa forma eu me senti inspirada
por isso.

Ettore era um homem com quem eu estava construindo tudo aquilo,


laços que seriam nossos para todo sempre. Estirada em um dos sofás, afaguei
a minha barriga que ainda não dava qualquer sinal da gravidez e pensei no
bebê que teríamos em alguns meses. Aquilo me deixava em êxtase.

— A sua vida mudará um pouco — comentou a nona ao perceber que


eu estava pensando na gravidez —, mas valerá muito a pena.

— Já sinto que sim.

— Nedja! — Fui pega num rompante de susto quando o Ettore abriu a


porta da biblioteca de uma vez.

Vi o suor brotar da sua testa e a respiração ofegante me indicou que


havia algo de errado acontecendo.

— Meu tio...

— Ele pegou a sua prima.

— Por quê?

— Provavelmente quer alguma informação para conseguir chegar mais


fácil até você. Por acaso disse algo a ela durante as mensagens que tem
trocado desde que eu passei o número de telefone?

— Não falei nada demais — garanti, com o coração apertado e ficando


cada vez mais aflita com a possibilidade do que poderia acontecer com ela.
— Ettore, ele vai machucá-la... — Comecei a chorar sem conseguir me conter
e a avó dele veio para junto de mim, envolvendo os meus ombros e me
puxando para perto.

— Fique calma, criança.

— Se ele fizer algo com a Regina. — Solucei.

— É a filha dele, não a machucaria — ponderou o meu marido.

— Aquele homem é um monstro. Ele matou o meu pai! — Lembrar-


me daquilo fez com que o meu coração doesse tanto que o meu choro se
tornou ainda mais intenso.

— Ettore... — Rosimeire encarou o neto.

— Faremos algo, nona.

— Tomem muito cuidado.

— Nós iremos.

— Vem comigo. — Ettore estendeu a mão para mim e eu me levantei,


secando as lágrimas com as costas das mãos.

— Por favor, a proteja — supliquei enquanto caminhávamos pelo


corredor.
— Confie em mim.

Eu confiava com todo o meu coração.


Capítulo quarenta e quatro

Fomos para uma velha sala de computadores que costumava ser usada
nos tempos do meu pai. Havia bastantes equipamentos ali, por mais que
estivessem desatualizados, serviram para que acessássemos os servidores da
empresa e pudéssemos trabalhar.

Thiago estava escorado na parede, batendo com o pé na superfície e


parecia inquieto. Ele queria entrar logo em ação, mas só seria possível fazer
isso quando eu tivesse certeza sobre como lidaríamos com a situação e a
melhor forma de enfrentar o sheik Youssef. Porém o mais importante de tudo
era que aquele verme sairia da sombra da minha esposa de uma vez por todas.

Eu observei o marido da Regina, o tal sheik Zyan mostrou uma


preocupação nítida quando a esposa desapareceu. Ele não seria tão bom ator a
ponto de sofrer sozinho e fez com que eu acreditasse poder confiar nele. Se
iríamos resgatar a sua esposa e acabar de uma vez por todas com aquela
situação, precisaríamos da sua ajuda. Um Emir com suas influências e
ligações seria capaz de encobrir a nossa incursão pelo Oriente sem tornar
aquilo um grande incidente internacional.

Entrei em contato com o homem e pedi que fosse para um local mais
reservado para que pudéssemos conversar em segurança. As pesquisas do
Giovane indicavam que nem todos os que o cercavam eram confiáveis.

Assim que ele se trancou no cômodo que eu havia indicado em uma


pesquisa rápida pelo mapa online que eu tinha do palácio, fiz uma ligação
para o seu celular.

Zyan logo atendeu.

— Quem é? — seu tom era questionador.

— Ettore Bellucci.

— Eu deveria conhecê-lo?

— Passou muito tempo na Itália. É possível que tenha ouvido falar da


minha família.

— Bellucci... — sussurrou o meu sobrenome como se estivesse


esperando que fizesse sentido. — Uma família poderosa e muito influente.

— Isso. — Não me delonguei.

— O que quer comigo? Não tenho tempo a perder nesse momento.

— Não é o único que quer se livrar do Youssef. Sua esposa está


correndo risco.

— Eu sei que ela está correndo risco! — Alterou o seu tom e eu


percebi a fúria que o consumia. Certamente seria uma que eu estaria sentindo
se fosse com a Nedja.

— Fale baixo ou vão acabar ouvindo-o. — Fiz com que se contivesse.

— Vai dizer que tem mais alguém me espionando?

— Certamente.

Youssef não era um homem tão limitado quanto eu gostaria. Por mais
que ele não tivesse a mesma tecnologia que eu, poderia prever os espiões que
havia infiltrado para que ficassem de olho na filha e no marido.

— Como vou saber se posso confiar em você se até o homem que


trabalha para mim me traiu? — questionou o homem desconfiado. Eu não
tinha tempo para aquilo, porém, entendia as suas ressalvas.

A conversa era alta, a ligação estava no viva-voz. Então a minha


esposa se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro antes de falar.

— Sheik Zyan... — O tom era baixo, ainda choroso e eu envolvi a sua


cintura por puro reflexo.

— Quem é?

— Nedja, sou prima da Regina. Imagino que ela tenha falado para você
sobre mim.

— Falou... O que está fazendo com um italiano?

— É uma história longa e vai precisar ficar para outro momento. Agora
temos que trazer a minha prima de volta e fazer com o que o meu tio pague
pelo que fez para todos nós e deixe de ser um monstro nas nossas vidas.

— Como podem me ajudar?

— Estamos indo para aí. — Avisei quando o Giovane fez um gesto


para mim, indicando que havia cumprido as solicitações que passei para ele.
— Chegamos em algumas horas.

— Horas?! Até lá a Regina... — Ele nem conseguiu terminar a frase.

— Eu sei que está aflito. Se você realmente gosta da minha prima,


precisa esperar — disse Nedja —, os Bellucci são a melhor chance da
Regina. Yussef é um homem cruel, um assassino e sozinho você não tem
chances, principalmente porque boa parte dos seus homens ainda são adeptos
dos ideais do seu pai.

— E os Bellucci são o quê? — Zyan quis saber.

— Defendemos os nossos — respondi. — Yussef ainda é uma ameaça


para a Nedja e a Regina é importante para a minha esposa. É o que precisa
saber.

— Será mesmo?

— Não temos tempo a perder, Zyan. — Nedja nos recordou do óbvio.


Assim como o homem com quem conversávamos do outro lado da linha, ela
queria que a prima ficasse a salvo.

— O que eu preciso fazer? — Ele recuou, desistindo de me questionar.

— Seu pai possuía uma pista de pouso particular — afirmei, porque já


tinha verificado.

— Sim.

— Garanta que possamos pousar lá sem que o Said descubra.

— Acha que isso vai ser fácil?

— Precisamos chegar aí rápido, então dê um jeito. Nos encontre lá em


três horas — dizendo aquilo eu desliguei a chamada.

— Acha que ele vai conseguir? — Nedja buscou o meu olhar ainda
muito apreensiva com toda aquela situação.

— Se ele quer recuperar a sua prima vai precisar nos ajudar.

— Ah, Regina. — Ela suspirou.

— Só tenha um pouco de paciência.

Nedja assentiu. Estávamos fazendo o que podíamos e a minha esposa


sabia disso. No que dependesse de mim aquela situação finalmente terminaria
e ela não precisaria mais se preocupar com a ameaça do Youssef.

— Você vai ficar aqui com a minha avó e o restante da família.

— Na-não — gaguejou balançando a cabeça.

— Nedja!

— Eu preciso ir. O Zyan tem que confiar em vocês para que possam
trabalhar juntos. Ele precisa me ver.

— Eu não vou arriscar você! — Cerrei os dentes deixando que ela


percebesse a fúria que aquela possibilidade causava em mim.

— Estarei segura, você pode garantir isso.

— Não mais segura do que aqui.

— Por favor.

— Ela pode ter razão. Deixa-a ir. — Thiago poderia estar sendo
racional, mas a sua fala me fez querer voar no pescoço dele.

— Cala a boca, porra!


Meu primo finalmente recuou e eu voltei a encarar a Nedja. Ela
precisava compreender o quanto aquilo era complicado.

Desci com as mãos para o seu ventre e o seu olhar acompanhou as


pontas dos meus dedos. Ficamos em silêncio por alguns instantes até que ela
puxou o meu toque de volta para o seu rosto.

— Vamos ficar bem. Você sabe que sim.

— Eu realmente prefiro que você fique.

— É uma briga minha, minha prima e minha família — repetiu a


palavra minha tantas vezes na expectativa de que eu mudasse de ideia.

— Mas você é MINHA ESPOSA!

— É por isso que você está indo.

— Nedja...

— Por favor, Ettore. Eu tenho que estar lá. Precisamos ir logo. Regina
pode não ter muito tempo e eu não me perdoaria se algo acontecesse com ela.

— Vai ficar onde eu mandar que fique.

Nedja assentiu.

— Vamos logo! — chamou o Thiago se movimentando para que nos


levantássemos para seguir naquela missão.
Capítulo quarenta e cinco

Desde que eu havia me mudado para a Itália ainda não conseguia


pensar em quais circunstâncias eu voltaria ao local onde eu havia nascido, se
é que em algum momento isso iria acontecer. Por mais que assuntos
inacabados ainda pairassem no ar.

Sentia que de alguma forma o meu pai estava olhando por mim,
esperando que eu fizesse alguma coisa, ainda que sozinha fosse
completamente incapaz. Talvez indiretamente ele houvesse colocado o Ettore
no meu caminho e me proporcionado tudo aquilo.

Havia sido acolhida, encontrado uma família e um marido que me


proporcionava tudo, inclusive amor. O que era evidenciado pela crescente
expressão tensa em seu rosto sério. Se dependesse do Ettore eu não estaria
naquele avião, mas precisava estar. Os Bellucci eram a minha família agora,
mas aquela briga era minha.

Tinha que estar lá ao menos para assistir a queda do Youssef depois de


todo mal que ele fizera não apenas para mim, mas para outros membros da
família.

No avião estavam Ettore, o primo Thiago, o irmão mais jovem do meu


marido, Giovane, além de muitos soldados. A maioria desconhecidos e um ou
outro que eu já tinha visto por perto em algum momento.

Durante a viagem, eles estavam compenetrados em computadores,


telefones, agitando tudo, se preparando para um ataque. Eu fiquei quieta não
queria atrapalhar, por mais que quisesse ajudar de alguma forma, sabia que
não deixar meu marido se preocupar comigo naquele momento era o melhor
que poderia fazer.

Ettore tinha habilidades que ainda me deixavam boquiaberta. Ele sabia


de tudo, conseguia ver tudo e estar em todos os lugares. Com a tecnologia era
como se ele conseguisse se infiltrar em cantos inacessíveis. Havia descoberto
em quem o marido da minha prima poderia confiar e em quem não.

Quando ele fechou a tela do computador sobre o seu colo depois de


longas horas naquela posição, conversando com aqueles que estavam no
avião e outros que haviam ficado na Itália, como seu pai e tios, meu marido
se virou para mim. O sorriso discreto que ele me deu me acolheu e fez com
que o retribuísse.

— Chegamos — anunciou e eu percebi que o avião estava pousando.

— Está bem.

Os outros homens se movimentaram e ficaram de pé quando a


aeronave pousou no solo. Vi pegarem armas, conferirem balas e miras e
engoli em seco. Ettore estava preocupado comigo, mas também não queria
que o meu marido se machucasse.

— Me prometa que ficará tudo bem? — Segurei a mão dele e fiz com
que me encarasse enquanto meus olhos eram pura súplica.

— Voltaremos para casa logo, amor.

— Eu amo você — disse alto, deixando que a minha voz reverberasse


sem medo algum que os demais ouvissem.

— Também amo você. — O tom do meu marido foi bem mais contido,
mas a forma como se inclinou para me beijar foi tudo o que eu precisava.

A porta do avião foi aberta e nos posicionamos para sair.

Eu fui uma das últimas, seguindo os homens que eram como uma
poderosa escolta. O calor do deserto logo me envolveu e tive a sensação do
que era estar de volta.

Esquadrinhei melhor a pequena pista de pouso com o olhar logo


encontrei um carro com um homem próximo a ele. Nunca tinha visto o sheik
Zyan, marido da minha prima, pessoalmente, mas pelas imagens que o Ettore
havia me mostrado, logo deduzi que era ele. O sujeito nos observou com
receio e certo ar de curiosidade.

Ettore se aproximou mais dele e tirou os óculos de sol para que


pudessem se encarar diretamente.

— Vejo que veio sozinho. — Meu marido olhou em volta.

— Você disse que eu não deveria confiar em ninguém.

— Ainda assim confiou em mim.

— Confiei nela. — Zyan apontou para mim ao me encontrar atrás da


muralha de homens fortes. — Mas eu admito que situações desesperadas
exigem medidas insanas.

— Vamos buscar a Regina. — Sorri com confiança.


O sheik voltou a analisar os homens que estavam comigo.

— Haverá um exército esperando por nós. Não me levem a mal, mas


não sei se com esse número teremos alguma chance.

— Com certeza não nos conhece. — Riu Thiago perto de mim. O


melhor amigo do meu marido me causava arrepios, mas era, sem dúvidas,
uma das nossas melhores apostas. — Só me diga quem eu preciso matar e
considere feito. — Ele levantou a manga do terno e checou as horas. —
Espero voltar para casa e colocar o meu filho para dormir.

Lembrei-me do bebê Pietro e da adorável Juliana e a imagem me


impulsionou ainda mais a solucionar aquilo e poder voltar para a Itália. Evitei
o impulso de tocar a minha própria barriga. A minha gravidez não era algo
que precisava ser evidenciada naquele momento de tensão e o melhor era que
o Ettore não se desviasse do foco ficando preocupado demais comigo.

O sheik pareceu receoso diante da fala do Thiago. Eu também tive


muito medo quando descobri que havia me envolvido com a máfia, porém,
por mais assustador que fosse, havia outras coisas que compensavam.

— Precisarei conseguir outros veículos e trazê-los para cá. — Depois


de longos minutos refletindo, o sheik voltou a falar.

— Não se preocupe, nossa carona já deve estar chegando. — Ettore


indicou o horizonte e logo eu vi veículos 4x4 avançarem pelas dunas do
deserto e virem em nossa direção.

— Como? — o sheik ficou boquiaberto.


— É possível contratar tudo com dinheiro e os contatos certos.

— Só vamos até ela, por favor — pediu o homem e a expressão dele


fez com que o meu coração se enchesse com alegria. O marido da Regina
realmente se importava com a segurança dela e saber que a minha prima
também havia encontrado um lar me deixava mais do que feliz.

— Vamos.

Entramos nos carros e seguimos para o início e o fim de tudo.


Capítulo quarenta e seis

Os carros pararam em uma duna que margeava o palácio em Mamlaka.


Estávamos a quase um quilômetro da construção homérica no meio do
deserto, mas sem nos aproximarmos demais com os veículos para não chamar
atenção que não deveríamos. Por mais que confiasse muito no Thiago e nos
demais homens que estavam comigo, ainda estávamos em pequeno número e
o elemento surpresa seria a nossa vantagem.

Abrimos os porta-malas e pegamos o equipamento para o ataque e eu


falei rapidamente com os homens que o foco era entrar, tirar a Regina e de
preferência nos livrarmos do Youssef. Rápidos, limpos e cuidando uns dos
outros.

Meu irmão caçula estava empolgado. Ele não participava muito de


missões como aquela, mas havia insistido para vir. Por mais que houvesse um
pouco de receio e eu conseguisse ouvir a minha mãe falando no fundo da
minha mente que eu precisava tomar conta dele, Giovane havia sido treinado
como todos nós e eu tinha certeza de que suas habilidades não me
desapontariam. Ele poderia muito bem dar conta de alguns soldados árabes
sem muito esforço. Sem contar que a tecnologia com que estávamos
habituados era sempre um ponto que nos deixava em larga vantagem.

— Vou precisar de uma dessas — falou o sheik em italiano chamando


a minha atenção.

— Já usou uma arma, sheik? — Thiago pegou um revólver de pequeno


calibre e bateu com ele no peito do Zyan, fazendo com que o homem se
assustasse.

— Não, mas eu posso me virar.

— É melhor que fique aqui comigo — sugeriu Nedja sendo racional


naquele momento, o marido da prima certamente não estava preparado para
uma incursão como aquela e poderia só nos atrapalhar. Eu não queria ter mais
alguém para resgatar em meio a tiroteios socos e chutes.

— Eu não vou ficar aqui esperando. — Cerrou os dentes, mas aquele ar


de salvador dele não nos ajudaria em nada.

— Nedja tem razão — Ajeitei uma das armas na cintura. — Você não
poderá ver a sua esposa novamente se não estiver vivo para isso.

— E querem que eu só fique aqui e espere?

— É o melhor.

— Não! — Ele segurou a arma e apontou para o deserto, tentando


mirar.

— Zyan. — Minha esposa colocou a mão sobre o meu ombro e fez


com que me virasse. Ele pareceu estranhar a proximidade dela e eu me
recordei que ali era completamente inadequado o toque entre pessoas de
sexos opostos, mas Nedja já estava há bastante tempo entre nós para não se
preocupar mais com isso.

— Eu também amo a minha prima e quero que ela volte para nós. Eu
não estaria viva se não fosse por ela. Regina se arriscou muito para me dar
uma chance de escapar e eu quero mais do que tudo que ela possa voltar para
você.

— Não posso ficar esperando. — Ele baixou os olhos e no fundo eu


conseguia sentir a sua preocupação, mas era inútil se ele não tinha as
habilidades que precisávamos naquele momento. Além de que se ele ficasse
ali, Nedja não estaria sozinha, o que em alguma parcela me aliviava um
pouco.

— Os homens do meu tio são perigosos. Eles mataram o meu pai, o


próprio rei. A Regina vai precisar de você quando sair de lá. — Nedja se
virou para nós. — Confie neles como eu confio.

— Okay... Só a tragam para mim, por favor. — Zyan acabou


assentindo.

— Fiquem aqui. — Aproximei-me da minha esposa e beijei-a


brevemente nos lábios.

Não gostava de deixá-la naquele ponto do deserto, mas Nedja havia


crescido ali e poderia lidar com o clima por pouco tempo. Esperava ser
rápido, fazer o que precisava e retornar logo para ela.

Fiz um gesto para o Thiago e ele seguiu na frente, nos liderando como
estava habituado. Peguei de volta os meus óculos de sol e o acomodei no
rosto, usando a lente como um visor para enxergar as imagens de um drone
que seguia na frente, fazendo uma batida e antecipando os inimigos que
encontraríamos mais à frente.

— Legal! — ouvi uma exclamação do meu irmão através dos nossos


comunicadores.

— Contenha-se, Giovane — fui sério. – Essa não é uma brincadeira.

— Deixa o garoto se divertir. — Thiago interveio.

— Vai deixar o Pietro se divertir assim?

— Mas é claro! Ele ainda só é novo demais para conseguir segurar uma
arma.

Neguei com a cabeça e o meu primo riu. Provavelmente logo teríamos


um pequeno assassino entre nós e uma Juliana ensandecida, nada que eu não
esperasse para a minha família.

A distração se dissipou no momento em que nos aproximamos do


palácio. Escoramos no muro e o Giovane colocou outro drone no céu. Os
homens que estavam de vigia não perceberam de onde os tiros vinham até
que fossem abatidos.

Movi-me para o lado e deixei que um dos corpos caísse na areia sobre
meus pés quando ele despencou lá de cima.

Havia estudado um mapa do local antes de chegarmos ali e direcionei


os homens para uma entrada lateral. Com a arma em punho, segui primeiro.
Coloquei uma pequena bomba no portão de ferro que o explodiu, permitindo
que pudéssemos entrar. Havia outros soldados no pátio, fazendo ronda e eles
se surpreenderam com a nossa invasão. Um deles gritou em árabe e eu não
entendi nada. Um alarme foi soado e de repente eles estavam correndo. Já
não estávamos mais nas sombras do elemento surpresa.
Giovane operou um dos drones e matou pelo menos uns cinco de uma
única vez, sem que eles tivessem tempo ou qualquer brecha de apontarem
suas armas para nós.

— Cuidado para não machucar inocentes — alertei. — Provavelmente


há mulheres e crianças por aqui. Não viemos fazer uma chacina.

— Pode deixar, irmão. — Giovane acatou.

Aquele não era um jogo de videogame, mas a vida real e ele precisava
entender as consequências dos nossos atos.

— Vá atrás da prima da Nedja — Thiago falou para mim. — Damos


um jeito no restante por aqui.

— O tio dela...

— Ah, esse eu vou me divertir. — O sorriso sombrio do Thiago foi o


suficiente para que eu soubesse que ele iria caçar o homem.

Pelas minhas buscas, Regina deveria estar em uma das celas da


pequena masmorra onde a Nedja havia me narrado ter sido presa pelo tio
após o homem ter matado o irmão.

Fiz uma anotação mental e segui por um corredor do pátio.

Um soldado atravessou o meu caminho e eu me esquivei, movendo o


corpo para o lado e grudando-o em uma parede para escapar de um soco.
Girei rapidamente e acertei-o na boca do estômago com um chute bem em
cheio, fazendo com que voasse até parar contra uma porta de ferro.

Atirei nele e rodei acertando outros dois que vinham logo atrás de mim,
mas não fui rápido o bastante para impedir que um tiro me acertasse, mas a
bala ricocheteou no meu escudo e rolou pelo chão.

Arranquei o sujeito morto de cima do portão e chutei com mais força,


fazendo com que o metal abrisse e me permitisse entrar. O local era abafado,
poeirento e cheio de areia. Não era adequado para que um homem prendesse
uma filha, mas vivia em um mundo onde estava acostumado a lidar com
monstros o tempo todo e coisas assim não deveriam me surpreender.

— Zyan... — ouvi uma voz fanha, fraca, chamando pelo sheik.

Tirei os óculos e guardei no bolso para que ela pudesse ver o meu rosto
antes de me aproximar mais. Dentro da cela, encolhida e assustada como a
mulher inofensiva que era, a prima da Nedja virou-se para mim, arregalando
os olhos. Ela era um pouco mais jovem do que a minha esposa e tinha os
mesmos traços árabes e bonitos. Senti pena ao vê-la debilitada naquele estado
e raiva por saber que seu sofrimento fora causado pelo próprio pai, mas eu
estava ali para ajudá-la.

— Regina?

Recuou, assustando-se ainda mais.

— Consegue entender inglês? — perguntei para ela. Eu não falava


nada de árabe e se ela não me entendesse poderíamos ter um problema.

— Quem é você? — respondeu no idioma em que eu a havia


questionado me dando um momento de alívio.

— Sou Ettore. Sua prima disse que eu provavelmente a encontraria


aqui.

— Você é o homem com quem a Nedja se casou? — Ela abriu a boca


evidenciando ainda mais o seu espanto com a minha presença.

— Sim.

— O que está fazendo aqui?

— Vim tirá-la desse lugar e levá-la de volta para o seu marido.

— Onde ele está?

— Esperando por você.

Ela soltou um suspiro de alívio e seus olhos lacrimejaram.

Explicações e apresentações teriam que ficar para depois. Não


tínhamos tempo para aquilo e eu só precisava conseguir tirá-la dali.

— Afaste-se da grade. — Cheguei perto e coloquei uma pequena


bomba sobre a fechadura, acionando pelo relógio quando Regina se afastou.

— Vem comigo. — Ele me estendeu a mão quando a grade abriu.

Ela olhou para a minha mão e eu bufei com aquela besteira de não
poder tocar, mas logo a Regina pareceu deixar isso de lado e entrelaçou os
seus dedos aos meus.

Puxei-a para fora daquele local, levando-a de volta ao pátio onde os


meus homens ainda lutavam com os soldados do pai dela. Aterrorizada, a
mulher escondeu a cabeça no meu peito e começou a tremer.

— Você está segura comigo — garanti.


Ela não falou mais nada e eu sabia que só precisava tirá-la logo dali.

— Ettore! — Thiago veio correndo na minha direção ofegante e a


forma como o meu primo olhou para mim não me deixou contente.

— Cadê ele?

— Fugiu assim que começamos a invadir.

— Merda! Para onde?

— Não sei...

— Nedja! — Pensei imediatamente na minha esposa indefesa no


deserto, com apenas a companhia de um homem que nunca tinha usado uma
arma antes. — Se aquele desgraçado... — Cerrei os dentes sentindo uma fúria
descomunal me consumir.

— Vamos até ela. — Thiago movimentou os outros para que saíssemos


do palácio.

Precisava chegar a Nedja mais rápido do que o tio que queria matá-la.
Capítulo quarenta e sete

Zyan estava inquieto e por mais que eu tentasse não demostrar para não
o deixar ainda mais nervoso, também estava apavorada. Confiava
imensamente em todas as habilidades do Ettore, mas ao me recordar do meu
marido sujo de sangue o meu peito entrava em completo pânico.

Vai ficar tudo bem..., repetia para mim mesma em pensamentos


enquanto implorava para Allah que cuidasse deles.

Havia pedido ao meu marido e à sua família que se arriscassem pela


minha prima e só podia torcer para que ninguém mais se machucasse.

Ouvi um ronco de motor e areia se movimentando. Zyan e eu nos


viramos no momento em que um carro irrompeu da duna no deserto. Como
Ettore e os homens haviam seguido a pé nos deixando ali, não sabia quem
esperar e um calafrio na base da minha espinha me fez estremecer.

Assim que o veículo parou eu dei vários passos para trás, apavorada
com a imagem do meu tio descendo dele. Youssef parecia ainda mais velho
do que eu me lembrava, usava roupas típicas e o olhar que lançou para mim
fez com que o meu âmago se retorcesse. Eu tinha medo daquele homem, mas
também muita raiva por tudo o que ele havia feito.

— Nedja! — Pareceu surpreso, como se não esperasse que fosse me


encontrar ali.

— Seu porco! — Cerrei os dentes.


— Achei que fosse esperta o bastante para nunca mais voltar.

— Não deixaria impune tudo o que você nos fez. — Estufei o peito,
deixando que a minha ira fosse maior do que qualquer receio.

— Então aqueles homens estão mesmo ajudando você?

— Estão.

— Como?...

— Parece que talvez os meus aliados possam ser melhores do que os


seus, tio.

— Deveria tê-la matado muito antes, no mesmo dia em que me livrei


do fraco do seu pai.

— Talvez esse tenha sido o seu erro.

— Mas ainda não é tarde para repará-lo.

Youssef avançou para cima de mim, com as mãos na direção do meu


pescoço. Sabia que daquela vez ele não teria misericórdia comigo, mas eu iria
lutar, não deixaria que aquele verme escapasse depois de tudo o que ele me
havia feito.

Só que antes que aquele monstro começasse a me esganar eu ouvi um


disparo. Um tiro oco que pareceu ter surgido do nada e acertou o ombro do
Youssef, fazendo com que o homem recuasse, surpreendido. Ele tombou para
trás com o impacto e rolou duna abaixo.

Não consegui absorver direito o que estava acontecendo até que o Zyan
gritou por mim, percebi que ele havia entrado no carro e abriu a porta,
esperando que eu me juntasse a ele.

— Vem!

Pulei dentro do veículo ainda sem conseguir processar o que estava


acontecendo e Zyan acelerou para longe para que pudéssemos sair dali. O
sheik dirigia rápido, colocando o cinto enquanto acelerava e eu podia ouvir os
disparos dos soldados dos meus tios contra nós ao sairmos dali o mais rápido
possível.

A areia subia em todas as direções pelas rodas afundando nelas.


Estávamos envoltos em uma nuvem, mas eu não pensei que fosse exatamente
isso que houvesse feito com que os homens do meu tio desistissem de nós.

O que tinha acontecido?

Fora tudo tão rápido que eu mal estava conseguindo respirar.

— Nossa, o que você fez lá?! — Agarrei o cinto ao questionar Zyan.


— Não achei que fosse atirar.

— Não era porque eu nunca tinha usado uma arma antes que eu estava
com medo.

— Obrigada, Zyan! — Esforcei-me para sorrir. Se não fosse pelo sheik


o meu tio poderia ter feito algo terrível comigo.

— Estou retribuindo o que o seu marido está fazendo pela Regina.

Dei um pequeno sorriso e não falei mais nada.


Ele dirigiu por outros vários minutos até parar ao acreditar que
estávamos seguros, pois não havia nenhum sinal de que estavam atrás de nós.

— Acha que você matou o meu tio? — arisquei-me a perguntar.

— Eu não sei. — Foi honesto.

Virei-me para trás e voltei a observar o horizonte. Será que o Youssef


ainda viria atrás de mim?
Capítulo quarenta e oito

Eu corri o mais rápido que consegui, projetando todo o fôlego em meus


pulmões para conseguir encontrar Nedja. Os rastros de pneus na areia
indicavam que um veículo havia ido até ela. Não conseguir me mover mais
rápido estava me deixando ainda mais angustiado. Deveria chegar perto dela
logo, tomá-la em meus braços e garantir que tudo ficaria bem.

Estava ofegante quando parei diante de alguns sujeitos. Os meus


homens vinham logo atrás de mim, mas não esperei por eles.

— Onde ela está? — rosnei.

Os caras deram um passo para o lado e eu vi um homem surgir da


areia. Ele estava sangrando, havia tomado um tiro de raspão no ombro que eu
não sabia como, mas tinha certeza de que não era do Thiago, porque o meu
primo não cometia aquele erro amador.

— Então você é o bastardo que está com Nedja?

— Onde está a minha esposa?

— Fugiu. — Riu como se houvesse contado uma piada. — Aquela


víbora sempre escapa. Cuidado para que ela não acabe se tornando um
problema para você também. No seu lugar eu só a entregaria para mim e
acabaria com isso.

— Você não vai tocar nela.

— É uma mulher. Não vale nada. — O tom dele me deixou ainda mais
puto.

Para mim Nedja valia tudo.

— Acabe logo com isso. — Thiago parou ao meu lado e percebi que
todos estavam ali.

Certamente não tinha mais nada para ouvir do discurso daquele homem
diante de mim. Sabia que ele sempre significaria uma ameaça para a minha
esposa e tinha ido até ali para que me livrasse dele de uma vez por todas.

Avancei para cima dele e os seus capangas tentaram me parar, mas


precisariam ser muitos mais se quisessem ter alguma chance contra mim. Não
precisei recorrer à tecnologia, apenas os meus músculos e a minha agilidade
já eram o bastante.

Um deles tentou me acertar e eu dei um soco no rosto, fazendo com


que tombasse para trás. Inclinei o meu corpo para escapar de um chute e
puxei a perna do homem, fazendo com que caísse de cara na areia. O último
deles no meu caminho para o Youssef saiu correndo só ao me ver bufar.

— Parece que precisa de homens melhores.

— Quem é você?

— Bellucci — falei o meu sobrenome e deixei que ecoasse pelo


deserto. Aquele homem iria se arrepender no inferno de ter cruzado o meu
caminho.

Youssef tentou me socar, mas eu agarrei a sua mão, apertando os seus


dedos e ouvindo o som das falanges cedendo sob a minha força. Ele era fraco
e não tinha quaisquer chances contra mim.

— Podemos fazer um acordo... — choramingou com os olhos


lacrimejando pela dor que eu lhe havia infringido.

— Você morto e a Nedja em segurança. É o único acordo que eu


quero. — Soltei a sua mão e acertei o seu rosto, fazendo-o cair.

Era velho, patético e não tinha forças para lutar contra mim, por mais
que houvesse tentado. Se esconder atrás de soldados era muito fácil, mas
naquele momento, ele estava fraco e sozinho. Quando ele caiu sobre a areia,
eu pisei nas suas costelas e ossos cederam. O homem cuspiu sangue e o
Thiago pareceu vibrar atrás de mim. Aquilo era por todo medo que ele havia
provocado na Nedja. Chutei o seu rosto e ele perdeu os sentidos. Talvez
Thiago houvesse se delongado mais no momento, mas coloquei um fim
aquilo.

Youssef estava morto e a minha esposa segura.

Chutei o seu corpo moribundo para longe e deixei que fosse sepultado
pela areia.

O suor estava escorrendo pelo meu rosto devido aquele sol


insuportável quando eu voltei para perto da Regina novamente.

— Vamos embora.

— Onde está o meu marido e a minha prima?

— Deveriam estar aqui.

— Deveriam?
— Não se preocupe. A ausência do carro dele indica que fugiram.
Agora vamos nos encontrar com eles.

Ela acabou assentindo.

Giovane logo veio para perto de mim e me disse que havia encontrado
a minha esposa e o sheik Zyan com ajuda do drone e a informação me deixou
aliviado. Tudo o que eu mais queria era envolvê-la em meus braços e garantir
de uma vez por todas que estava segura.

Entramos nos automóveis com os soldados e seguimos as direções


indicadas pelo meu irmão. Não levou muito tempo para que encontrássemos
o carro do sheik estacionado. Assim que eu saí do veículo, Regina veio junto
e corremos até eles.

— Regina! — Assim que o sheik envolveu a sua esposa, eu fui para


perto da minha.

— Nedja!

— Ettore! — Trêmula e um tanto ofegante, ela afundou a cabeça no


meu peito.

Envolvi-a nos meus braços e ficamos assim por um momento até que
eu afastasse para poder vistoriá-la com o olhar em busca de algo.

— Ele machucou você?

Fez que não.

— Zyan atirou nele.


Até que deixar uma arma com o sheik não foi tão ruim e o homem
acabou sabendo como usá-la no fim das contas.

— Meu tio... — Ela estremeceu ao se recordar.

— Dei um jeito nele.

— Você... — Engoliu em seco sem conseguir terminar a frase, mas


sabia que eu o havia matado.

— Ele não será mais uma ameaça, você está segura, meu amor. —
Segurei o seu queixo e levantei o seu rosto para que nos beijássemos.

Ela recostou seus lábios nos meus e depois me abraçou.

— Nedja...

Minha esposa se afastou de mim quando ouviu a voz da prima. As duas


encararam uma à outra e depois se deram um abraço bem apertado. Fiquei
feliz com aquele reencontro e sabia que ambas mereciam o momento.

— Que bom ver que você está bem — falou Regina.

— Igualmente. Fiquei tão preocupada quando o Youssef pegou você,


mas finalmente estamos livres dele.

— Sim... Agora que o meu pai finalmente teve o que merecia, você vai
voltar para cá? Vai morar em Mamlaka de novo?

Cerrei os punhos e precisei me deter para não me intrometer na


conversa delas, mas de forma alguma deixaria a Nedja ali.

— Meu lugar já não é aqui há muito tempo— respondeu a minha


esposa por nós dois e depois se virou para mim com um sorriso. — Vou
voltar para a Itália.

— Ah! — Regina pareceu desapontada, mas ela teria que se conformar


em ter a prima um pouco mais distante.

— Mas vamos continuar cuidando uma da outra. — Nedja sorriu para


ela. — Não importa onde estejamos. Além disso, fico muito mais tranquila ao
saber que você está em boas mãos. — Virou-se para Zyan.

— Ettore, vamos para casa. — Thiago falou comigo com um ar


irritadiço. — Esse calor todo é insuportável, não sei como eles aguentam.

— Tem razão. Vamos.

A nossa missão no Oriente já havia terminado e era o momento de


retornarmos para casa.

Voltamos para os carros e saímos dali o mais rápido possível.


Capítulo quarenta e nove

Um mês depois...

Puxei o celular de cima do sofá e atendi a ligação com um enorme


sorriso quando vi o número da minha prima no identificador de chamada.

— Que bom ouvir você, Regina.

— Sim! — Ela estava suspirando do outro lado da linha. — Como está


tudo por aí? Sei que ontem foi um dia corrido e que não tivemos muito tempo
para conversarmos, mas com o Zyan assumindo Mamlaka os compromissos
parecem ter dobrado.

— Eu entendo. Também fico muito feliz por pensar que o seu marido
poderá dar continuidade aos planos do meu pai.

— Zyan vai cuidar bem do Emirado.

— Sei que tudo está em boas mãos. Principalmente você.

Ela deu uma risadinha do outro lado da linha e imaginei que se


estivéssemos diante uma da outra as suas bochechas teriam ficado
ruborizadas. Apesar do casamento arranjado com um cafajeste, eles pareciam
ter se encontrado um com outro, assim como era em relação a mim e o Ettore.
Um casal improvável, mas que juntos encontrou o melhor caminho.

— Onde você está? — chamou Regina do outro lado da linha


retomando a nossa conversa.
— No apartamento. Acabei de me arrumar e estou esperando que o
Ettore chegue para que possamos ir juntos à consulta médica. Estou muito
ansiosa para saber o sexo do nosso bebê por mais que ele pareça um pouco
tenso em relação a isso.

— Com medo de que seja uma menina?

— Eu não sei, mas pode ser. O mundo nunca é muito fácil para as
mulheres.

— A gente que o diga. — Ela suspirou. — Mas está tudo melhorando,


inclusive por aqui. Logo teremos nosso espaço, você verá.

— Já temos! — Afirmei com convicção. Muitos avanços já haviam


sido alcançados por mais que ainda faltassem tantos outros, mas eu tinha
certeza de que eu e a minha prima estávamos exatamente onde queríamos.

Ouvi o som da porta sendo destravada e me virei a tempo de ver o


Ettore chegar. Ele tirou o paletó do terno e o seu rosto se iluminou com um
sorriso quando nossos olhares se encontraram.

— Regina, eu preciso desligar agora — disse para a minha prima e


encerrei a chamada sem nem esperar por uma resposta dela.

— Estou interrompendo algo? — A voz grave e sedutora do meu


marido aqueceu o meu interior.

— De forma alguma, estava esperando que você chegasse. — Larguei


o celular no meio do caminho e fui até ele.

Ettore segurou o meu rosto e me puxou para um beijo, tomando a


minha boca com a sua e eu correspondi sem pestanejar. Adorava o sabor que
os seus lábios deixavam nos meus e desfrutava de cada gota como se fosse a
última. As suas mãos firmes percorreram a minha cintura e eu estremeci
quando apertaram o meu quadril, despertando uma onda de efeitos e
desencadeando a minha excitação.

— Ettore... — gemi o seu nome enquanto o meu marido escorregava


com a boca pelo meu pescoço, deixando beijos e chupões. — Não vamos ao
médico?

— Temos tempo. — Ele me puxou fazendo com que eu viesse até o


sofá. Encarei-o antes de cair sentada.

Ele voltou a me beijar, mordendo, esfregando e devorando os meus


lábios enquanto as suas mãos me contornavam de um jeito tão intenso que eu
não queria pensar em mais nada, nem no horário que precisávamos sair.

Tínhamos tempo...

Afastei as pernas, permitindo que ele subisse com as mãos por entre as
minhas coxas, elevando a saia do meu vestido até chegar à minha calcinha.
Gemi um pouco mais alto quando os seus dedos começaram a brincar com o
tecido fino. Minha umidade ia se intensificando e podia senti-la escorrer.

Quando ele finalmente afastou o elástico e me tocou diretamente eu


senti as minhas contrações pedindo por mais. Uma onda lasciva de desejo me
percorreu de forma tão intensa que eu só conseguia pensar em quando teria
mais do que aquele dedo.

Ettore estava diante de mim, de pé no sofá quando abriu a calça e


extraiu o pênis, com uma das mãos ele começou a se tocar enquanto com a
outra me alucinava.

— Segura. — Entregou o membro para mim e eu não questionei ao


envolvê-lo com os dedos.

Fiz os mesmos movimentos que antes eram ditados pelos seus dedos
até que o Ettore quis mais de mim.

— Abre a boca! — Eu não conseguia pensar em mais nada a não ser o


quanto o tom de voz dele me ensandecia. — Me engole!

— Engolir? — Fiquei um pouco surpresa porque não sabia exatamente


o que fazer. — Assim? — inclinei-me um pouco para a frente e encostei os
meus lábios.

— Isso! — Ele agarrou o meu cabelo, puxando e eu deixei que


escorregasse pela minha língua.

Envolvi e comecei a chupar o seu pênis. Salivava enquanto o sentia,


provava e desfrutava dele. Apesar da surpresa do primeiro momento, foi se
mostrando ainda mais delicioso e só aumentou ainda mais a minha excitação
enquanto Ettore ainda me estimulava com os dedos.

Logo o meu corpo inteiro estremeceu em ondas de êxtase e um prazer


sublime. Antes que eu me recuperasse completamente, Ettore saiu da minha
boca e me girou no sofá. Caí com as mãos sobre o encosto, sustentando-me
nele enquanto o meu marido puxava o meu quadril. Ele nos uniu em um
tranco e eu cravei as unhas no estofado, jogando o meu cabelo para trás e
rebolando nele para melhorar o encaixe.
Delicioso....

Ele já me havia feito gozar, mas eu queria mais, muito mais...

Ettore começou a se movimentar, afundando os dedos em mim,


segurando-me com força enquanto ditava movimentos cada vez mais afoitos
que tinham o único objetivo de nos levar ao ápice.

Eu nem esperava pela próxima investida, levando-me até ele. Nossos


corpos estalavam com a colisão e toda minha concentração estava em quando
aquela onda se abateria sobre mim novamente.

Ettore tirou o pênis de mim e eu fiquei parada, tremendo e gemendo


enquanto aproveitava o orgasmo que havia acabado de me dominar.

— O que foi? — Procurei pelos olhos dele ainda um pouco desconexa.

— Só não queria sujar você.

— Entendi. — Ofeguei enquanto buscava controlar a minha respiração


e recuperar o fôlego depois do que havíamos feito.

— Recomponha-se para irmos.

— Está bem. — Levantei ainda trocando as pernas e fui até o banheiro


social que ficava no corredor.

Aquelas formas de perder o controle sobre o meu corpo sem dúvidas


eram as melhores.

Saímos do apartamento juntos e fomos numa clínica médica onde os


profissionais já estavam esperando por nós. A doutora que Rosimeire havia
chamado para me ver parecia trabalhar ali e foi a primeira a nos recepcionar.

— Como está se sentindo? — Ela perguntou para mim enquanto nos


guiava por um longo corredor branco.

— Bem. — Dei um sorriso. Se ela fizesse ideia do sexo que tivemos


antes de irmos para lá iria garantir que eu estava bem até demais.

— E os enjoos?

— Esporádicos, principalmente quando tenho contato com cheiros


fortes.

— Algum sinal de sangramento ou dor?

Fiz que não.

— Isso é muito bom, Nedja.

— Sim. — Acariciei o meu ventre. A minha barriga ainda não havia


crescido, mas eu já pensava muito no bebê ali dentro.

— Tem tomado a suplementação?

— Todos os dias.

— Se alimentado bem?

— Eu espero que sim. — Ettore me deu um olhar mais sério e


demonstrando que também se preocupava em como eu estava durante a
gravidez.

— Estou comendo.

— Pode se trocar naquela sala. — Ela me deu uma camisola. — Vamos


fazer o seu ultrassom.

Segui as orientações e quando voltei a médica e o Ettore estavam me


esperando ao lado de uma maca. Meu marido me ajudou a me acomodar e o
exame começou.

Não era o primeiro ultrassom que fazíamos. Assim que chegamos de


Mamlaka depois do embate final com o meu tio, tudo o que a família mais
queria era ter certeza de que eu e o bebê estávamos bem. Ouvir o coração do
meu filho ou filha pela primeira vez havia sido mágico, mas eu estava muito
ansiosa para saber o sexo.

— Querem que eu conte logo ou faça uma surpresa? — perguntou a


médica enquanto movimentava o instrumento dentro de mim e me permitia
ver o bebê na tela.

— Fala logo! — Foi o Ettore quem disse.

— Menino — respondeu ela. — Vocês terão um menino.

— Um menino, amor. — Com os olhos brilhando eu procurei pelos


dele.

— Nosso filho. — Ele cobriu a minha mão com as suas e eu guardei


aquele momento comigo para sempre, enchendo o meu coração.
Epílogo

Um ano depois...

Assim que estacionei na garagem da mansão Bellucci para o almoço


daquela tarde, desci do carro utilitário e fui pegar o meu filho no bebê-
conforto no banco de trás. Eu estava me adaptando a uma nova versão de
carros, já que os esportivos não eram muito adequados para uma criança, mas
só poderia dizer que tudo estava valendo muito a pena.

Não teve momento mais intenso ou incrível na minha vida do que


quando eu pude segurá-lo a primeira vez. Estava acostumado a ser filho,
sobrinho, irmão e primo, mas pai me tinha feito uma nova versão de homem.
Família sempre foi muito importante para nós e naquele momento eu
compreendia isso mais do que nunca.

Meu filho começou a chorar e Nedja estendeu as mãos para pegá-lo no


colo.

— Ei, Erkin, está tudo bem. Mamãe e papai estão aqui.

— Ele deve estar com fome.

— Acho que não. Só um pouco enjoadinho. Deve ser aquela virose,


mas felizmente ela já está passando.

— Eu espero que sim.

— Ettore e o bebê chegaram! — Ouvi alguém gritar da mansão e logo


Nedja estava envolvida pela minha mãe e pela minha irmã que ficavam
disputando quem passava mais tempo com o bebê no colo.

Não era uma surpresa que ele começasse a chorar. Entrei na mansão,
deixando que a minha esposa e o meu filho fossem conduzidos.

Cumprimentei o tio Marco e o Dante que estavam conversando na sala


e segui para o jardim, indo até a velha e conhecida árvore cuja copa fazia
sombra nas nossas refeições de domingo desde antes de eu nascer.

Caminhei um pouco mais pelo jardim até que vi o Thiago sentado na


grama, Juliana estava lendo um livro enquanto o pai e o filho jogavam
pedras. Assim que me viu, o meu primo se levantou e deixou a criança sob os
cuidados da mãe.

— Como está? — Apertou o meu ombro.

— Bem.

— E o Erkin?

— Sendo assediado pelas mulheres. — Abri um sorriso amarelo.

— Com o tempo ele se acostuma.

— Ou elas desistem.

— Isso é difícil. Estão sempre disputando o Pietro até hoje. — Thiago


estufou o peito e colocou as mãos nos bolsos enquanto olhava para o filho
mostrando uma pedra para a mãe. — É incrível, não é?

— Muito — admiti.

— Valeu a pena?
— Eu passaria por tudo de novo para tê-los — afirmei sem pestanejar.

— Essa é a melhor parte.

Thiago sorriu para mim e eu sorri de volta, sabendo que ele também
entendeu o quanto a entrada inesperada da Nedja na minha vida tinha feito
com que eu me transformasse e visse o mundo por outros olhos. Eu não
esperava que me casaria em uma farsa com uma árabe para protegê-la, que a
traria para minha vida e para a minha família e principalmente não
conseguiria viver sem ela.

Meu pai estava certo, não havia volta, quando se tomava uma mulher
para si ela era sua para todo sempre.
Sheik Zyan e Regina
Esposa por obrigação do Sheik

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Sinopse:

O playboy Zyan Ahmad Al-Sabbah há dez anos afastou-se das suas origens e tudo
o que elas representavam, levando uma vida de cafajeste nas passarelas da Europa,
onde atuava como modelo. Entretanto uma doença terminal acometeu seu pai,
obrigando-o a retornar ao Emirado e assumir os seus deveres como sheik. O que o
mulherengo inveterado não previa era que além de um reinado, um casamento
arranjado aguardasse por ele.

Regina era uma mulher doce, ingênua e inocente. Criada para o matrimônio, ela
temia acabar nas mãos de um homem tão cruel quanto o próprio pai, quando ele
escolhesse o seu futuro marido. Só que a beleza inegável e o ar sedutor do jovem
sheik pareciam tornar a união uma tarefa mais tentadora.
Zyan fugiu dos deveres com o seu povo a vida inteira, mas com a morte do pai ele
já não pode mais. O casamento seria apenas mais uma de suas obrigações, mas ele
sempre se esforçou para ser um homem diferente de seu progenitor e a presença da
amável esposa pode revelar espaços em seu coração que nem mesmo ele conhecia.
Sheik Hassan e Rosimeire
Cativa do Sheik

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Sinopse:

O sheik Hassan Khan Al-Abadi não pretendia casar-se novamente; depois de ter
perdido sua primeira esposa para uma doença terrível, ele dedicava a vida ao povo de
Sahra, o Emirado que governava, à sua pequena filha e ao sonho que herdara do pai,
trazer a modernidade ao oriente.

CEO de uma grande incorporadora responsável por empreendimentos em toda Arábia,


ele via a modernidade chegar a cada nova construção.

Hassan só não esperava que uma estrangeira cruzasse o seu caminho e fosse
exatamente como um vislumbre de seus sonhos. Ele foi dominado por um sentimento
avassalador que lhe mostrou que poderia se envolver novamente, mas dessa vez com
uma mulher que ele escolhesse.

Quando Rosimeire ganhou uma viagem para Dubai, não previa se tornar alvo dos
desejos de um homem poderoso. Ela não queria se envolver com alguém de uma
cultura tão incompatível com a sua. Entretanto, o sheik não desistiria dela.
Hassan estava disposto a tudo para torná-la sua.
Agradecimentos

Meu agradecimento mais que especial as minhas leitoras e meus


leitores, que me motivam a continuar sempre, em particular a todos os
participantes do meu grupo do Whats “Leitoras da Jessica”: Lauryen, Eliaci
Pulga, Franciane Almeida, Giane Silveira , Gilma, Ilza Mendes, Juliana Lelis,
Ana Roen, Cristhiane, Fatima Aguiar, Shimenya, Karoline Moreira, Gilcelia
Martins, Larissa Costa, Yeda Santos, Jeanille Silva, Patricia Castelli, Sara
Santos, Eglaia, Silvana Brito, Cristhiane, Nilza Siqueira, Mayana Carvalho,
Cristina Tiemi, Luana Malhães, Lorrany , Cleo Siqueira, Flavia Moreira,
Carol, Regina Fabbris, Tatiana Ribeiro, Ionara, Yeda Santos, Tatiane, Patricia
Almeida, Nay, Mari, Ticyanne Brito, Vanilda Maia, Nedja Mendes, Salene
Oliveira, Nayara Maurisso, Mariana Telles, Agda, Kleia, Si, Key, Lidiane,
Mayana Carvalho, Tatiana Lima, Pauline, Karina, Isabel, Leidiana, Alda
Lamego, Mari e todas as outras. Agradeço também aos leitores do Instagram
e Facebook por todo o carinho e incentivo constante, em especial à
Micheline, amiga, apoiadora e leitora pela qual tenho um carinho todo
especial.

Obrigada, Rosi, por todo carinho. O seu trabalho duro em me


assessorar em todas as etapas dos meus livros, da criação a divulgação, é
responsável pelo meu sucesso. Em especial por me acolher, apoiar, dar
conselhos que acabam se transportando para as páginas dos livros.
Gratidão a toda equipe do Grupo Editorial Portal.

Agradeço meu marido, Gabriel, por estar sempre ao meu lado, me


dando apoio incondicional.

Gratidão meus mentores e protetores espirituais! Que meu caminho até


vocês sempre esteja aberto para que possam me orientar e proteger, para que
eu tome as melhores decisões e nunca desista dos meus sonhos.
Sobre a autora

Jéssica Macedo é mineira, de 26 anos, e Under 30 da Forbes Brasil, a


lista dos jovens mais promissores do país. Mora em Belo Horizonte, Minas
Gerais. De dentro de seu apartamento, na companhia do marido e de três
gatos, ela produz uma série de livros fantasia, romances de época e
contemporâneos, e, principalmente, obras da literatura hot, um verdadeiro
fenômeno editorial entre o público feminino, vendidas em um ritmo intenso
nas plataformas digitais.

Autora best seller da Amazon, iniciou sua experiência no mundo da


escrita aos nove anos e tornou-se autora aos 14, com o lançamento do seu
primeiro livro “O Vale das Sombras”. Com mais de 100 obras publicadas, é
escritora, editora, designer e roteirista. Ajudou a adaptar um dos seus
romances “Eternamente Minha” para um longa-metragem lançado na
plataforma Cinebrac. Hoje, Jéssica é o principal nome de um time de autores,
a maioria mulheres, que compõem o catálogo do Grupo Editorial Portal, que
ela fundou a partir das experiências vividas em outras editoras.

Acompanhe mais informações sobre outros livros da autora nas redes


sociais.
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Outras obras
Esse filho é meu!

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Sinopse:

Ter um filho sempre foi um sonho para mim, mas não significava que eu precisava de
um homem para isso. Decidi que teria meu bebê sozinha, produção independente, mas
eis que um cara bonito e rico cisma de sacanear a vida de uma mulher bem-sucedida e
cheia de si. Foi exatamente o que pensei quando aquele sujeito arrogante decidiu que
tinha qualquer direito sobre o meu filho. Ele não deveria passar de um doador de
esperma, mas ao que parece, a clínica que fez a minha inseminação artificial usou uma
amostra que não deveria, e um juiz sem noção determinou uma guarda compartilhada.
Terei que conviver com ele como "pai" do meu filho, até conseguir reverter essa
situação insana.
Aprisionada a L'Rell: Amores em Conyex

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Sinopse:

O poderoso príncipe, L’Rell não imaginava que o seu pai fosse bárbaro o bastante
para matar a mulher que ele amava e obrigá-lo a se casar com uma desconhecida em
uma maldita aliança visando a evolução do seu povo.

Adolane tinha uma vida humilde e aprendeu desde nova a cuidar de si sozinha.
Esforçando-se para sobreviver em um mundo cruel, ela não estava preparada para o
pesadelo que recairia sobre ela quando foi arrancada do bar onde trabalhava e levada
para outro planeta.

Ele não se importava se ela morresse.

Ela só queria uma forma de voltar para casa.


Para ambos, aquele casamento era uma obrigação. Eles não se conheciam e nem
queriam fazer com que desse certo, mas a conivência pode fazer com que descubram
novos sentimentos.
Dona da minha redenção (Irmãos Vaughn Livro 4)

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Sinopse:

Mocinho? Não... eu fazia o tipo vilão, me divertia com o caos. A minha família
pensava que poderíamos viver o sonho americano, que todos os Vaughn tinham o
destino nobre de serem médicos, mas nunca me encaixei nessa palhaçada.

Deslocado da família, ganhava a vida cuidando dos meus próprios negócios e


principalmente uma boate agitada no centro de Chicago, por onde transitavam pessoas
não tão corretas assim, talvez como eu mesmo.

Numa noite, acabei me envolvendo em jogo com um velho conhecido. O traficante


era péssimo e perdeu tudo para mim, mas como compensação ele me ofereceu uma
das garotas que tinham chegado ao país.
Levar uma mulher para casa e torná-la minha propriedade nunca esteve nos meus
planos, muito menos perceber o quanto ela era frágil e estava estilhaçada.

Eu gostava da confusão, então ela me atropelou.

Foi aí que percebi que para me consertar, só alguém mais quebrado do que eu.
Os gêmeos e eu: Dupla Escolha

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Sinopse:

O conto que virou livro.


Sarah Walker não imaginava que ao realizar o sonho de ingressar na Universidade
fosse cruzar o caminho dos irmãos Lewis. Iguais, mas completamente diferentes em
personalidade, vão deixá-la louca até saber que são dois.
Marcos e Mathews são populares no campus e conhecidos pela fama de compartilhar
mulheres. Filhos de um rico advogado de Boston, foram mandados para Nova York
com o objetivo de esconder um escândalo, mas eles não conseguem ficar longe de
confusão.
Para os gêmeos, Sarah deveria ser só mais uma como tantas outras calouras com quem
já se envolveram, mas a vizinha de quarto vai chamar a atenção dos dois e fazer com
que a disputem.
Decidir entre a calmaria e a tempestade pode ser muito mais difícil do que ela
pensava.
Leiloada para o mafioso (Herdeiros da máfia Livro 4)

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Sinopse:

Thiago Bellucci é herdeiro da família mais poderosa da Itália e desde garoto aprendeu
a derramar sangue. Ele se tornou assassino da máfia, cruel, impiedoso e temido pelos
inimigos. Não havia motivos para que um homem como ele se envolvesse com mulher
alguma. Sem a obrigação de ter herdeiros, todas eram apenas passatempos.

Juliana Kouris era uma garota simples, que nasceu em uma ilha de pescadores. Com
uma vida pacata, nunca imaginou que seus caminhos se cruzariam com o de um
mafioso. Ela não conhecia esse mundo perigoso, mas uma decisão errada do seu pai
culminou no seu sequestro e fez com que descobrisse o lado mais cruel dos seres
humanos.

Thiago tinha uma missão: entrar, matar aqueles que haviam desafiado a sua família e
sair sem ser notado, mas ele se viu num antro de pecado onde mulheres eram vendidas
para quem pudesse pagar mais. Ele não é uma alma boa e não estava ali para fazer
qualquer ato de caridade. Quando o seu caminho se cruzou com o da jovem inocente,
ela era só uma ferramenta para os seus planos, mas seria o início do seu caos pessoal.
Quando Rosimeire ganhou uma viagem para Dubai, não previa se tornar alvo dos
desejos de um homem poderoso. Ela não queria se envolver com alguém de uma
cultura tão incompatível com a sua. Entretanto, o sheik não desistiria dela.
Hassan estava disposto a tudo para torná-la sua.
Comprada pelo bilionário Grego

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Sinopse:

O bilionário grego do ramo hoteleiro, Klaus Demetriou, há cinco anos sofreu um


terrível acidente que custou a vida de sua esposa e o deixou entre a vida e a morte.
Resgatado por uma família de pescadores, ele sobreviveu por um milagre, mas voltou
para casa com um grande débito.

Pedro Katsaros era um sujeito simples, que se orgulhava da vida que levava e jamais
pediria qualquer favor ao homem que resgatou na praia, mas algo terrível aconteceu
com a sua única filha e ele não teve outra alternativa a não ser recorrer ao magnata
mais poderoso que conhecia.

Klaus não queria se envolver, preso com seus próprios fantasmas, não precisava
complicar a sua vida, mas não teve escolha. Dívidas como a que tinha com o pescador
precisavam ser pagas, principalmente quando o pobre foi assassinado pelos mesmos
criminosos que levaram a sua filha. Rhea se tornou sua responsabilidade e para trazê-
la de volta em segurança precisaria comprá-la.
A virgem que me pertence (Herdeiros da máfia Livro 3)

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Sinopse:

Luca Mancini é o capo de Palermo, chefe da Sicília, o berço da máfia italiana.


Quando ainda era um menino, a sua vida foi marcada pelo assassinato do seu pai e ele
aprendeu muito rápido que a máfia exige sacrifícios. Para se manter no poder e
controlar uma rixa com Roma, concordou com um casamento arranjado que selaria o
acordo e traria paz.

Perla é filha de Marco Bellucci, o chefe da máfia italiana, e sempre soube que em
algum momento o pai escolheria um marido para ela. Só não previa que o desafio
pudesse ser ainda maior do que imaginava. Cresceu entre monstros, mas não estava
pronta para um ainda mais assustador.
Muito sangue foi derramado entre sicilianos e romanos na disputa pelo poder da
Itália e a união do casal não foi bem-vista por todos. Luca precisava estar pronto para
assumir a aliança e proteger Perla a qualquer custo, principalmente quando um bebê
está a caminho.
Alugada para o Natal

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Sinopse:

Estava no auge da minha carreira, CEO de uma empresa em expansão tinha tudo o
que acreditava ser necessário para uma vida perfeita, mas a minha família discordava
disso. As cobranças para ter um relacionamento eram frequentes, mas sempre estive
mais preocupado com o meu trabalho e em curtir a vida do que em ter uma esposa.

Com a proximidade do Natal e um grande evento em família, estava farto de toda a


cobrança, então decidi dar a eles o que tanto queriam. Convenci uma garota que
conheci numa festa a se passar por minha namorada. Ela precisava de dinheiro e eu
estava disposto a contar uma mentira.

Alugar uma mulher para o Natal parecia a solução dos meus problemas, mas
poderia acabar me forçando a rever meus conceitos.
Prometida para Killian: Alfas Gemini

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Sinopse:

O poderoso alfa, Killian Moon, tinha uma obsessão na vida e isso fez com que, por
séculos, ele perseguisse uma lenda. O sexy, porém, mortal e perigoso líder de uma das
maiores e mais temidas alcateias, acreditava que se encontrasse uma Gemini seria
ainda mais forte.

Essa busca parecia inalcançável até que um lobo rechaçado e solitário apareceu
com uma proposta para que finalmente tomasse posse da sua ambição. Ela era tudo o
que Killian queria e ele aceitou o acordo, mas no momento de finalmente conseguir
sua recompensa, a garota fugiu.
Depois da morte dos pais, tudo o que Lara tinha era a irmã, pois foram aprisionadas
pelo tio e viveram uma década longe do mundo. Quando receberam a notícia de que
seriam entregues a pretendentes, elas se desesperaram com a possibilidade de serem
separadas, então decidiram fugir.

Killian estava disposto a tudo pela sua obsessão e faria o necessário para encontrá-
la. No entanto, quando ele finalmente a encontrou, deparou-se com uma garota
ingênua e indefesa que precisava da sua proteção.
Casamento arranjado com o rei: Família Real Fiori

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Sinopse:

Arthur Fiori é o rei de Grã-Aurora, um país insular que vive em monarquia em


pleno século XXI. Sendo um homem frio e impopular, ele sempre esteve muito mais
preocupado com números do que com fotos e aparições públicas. Enquanto o povo
queria adorá-lo, ele focava na gerência do país e suas atitudes contribuíam para o
crescimento de um partido republicano que queria acabar com a monarquia.
Desde a adolescência, Beatriz estava prometida ao rei de Grã-Aurora. Criada para
ser rainha, ela só via o seu noivo através de notícias na internet, mas com a chegada
do casamento, aquilo que não passava de uma ideia se tornou real. A jovem gentil e
carismática logo ganhou a atenção e o coração do povo, mas a vida dentro do palácio
não era tão simples. Um casamento ia muito além de um acordo, papéis assinados e
alianças trocadas.
Um rei distante e frio.
Uma rainha jovem e gentil.
Um casamento de conveniência.
Arthur queria manter a menina longe, pensava que o casamento não precisava ir
além das aparências, porém, tudo o que Beatriz mais desejava era um espaço no seu
coração.
O pai misterioso do meu bebê

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Sinopse:

Rico desde que nasci, cresci numa redoma, distante das pessoas comuns e
convivendo apenas com outros como eu. Herdeiro, prestes a assumir um império, era
tratado como tal. Entretanto havia algo em mim que me impulsionava a querer
conhecer uma versão do mundo onde as pessoas não me vissem como o futuro CEO
da Fontana Empreendimentos.

Em uma louca aventura, peguei o carro do jardineiro e me passei por motorista de


aplicativo, conhecendo pessoas diferentes e indo a lugares da cidade que nunca havia
frequentado. Foi então que eu a conheci.

Aos prantos, Thaís entrou no carro depois de ter visto o ex-namorado a traindo.
Decidi levá-la para se distrair, mas a nossa noite acabou indo muito além de um
sanduiche e algumas risadas.
Então o meu pai ficou doente e eu precisei deixar de lado as distrações para
assumir a minha responsabilidade com todo o legado que ele estava deixando para
mim. Achei que nunca mais voltaria a ver a Thaís, mas a reencontrei um tempo depois
e descobri que estava grávida e eu era o pai do bebê. Mas, para ela, eu não passava de
um humilde motorista, então vi a oportunidade de construir uma relação que não fosse
fundamentada no meu dinheiro. Porém mentiras não duram para sempre. Em algum
momento eu teria que contar para ela quem eu era de verdade.
Meu bebê, minha redenção

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Sinopse:

Badboy e bilionário, eu sou o rei do Texas! CEO e principal dono da Global Oils,
uma enorme petrolífera, sempre tive tudo o que quis e dinheiro suficiente para liquidar
qualquer empecilho. Beleza e charme também são umas das minhas qualidades, o que
fazia com que as mulheres se atirassem aos meus pés.

Prestes a iniciar a extração de uma nova jazida petrolífera, que me tornaria ainda
mais rico e poderoso, Olivia Garcia se tornou uma pedra no meu caminho. A
rancheira pobre se recusava a vender a propriedade para a minha empresa, mas ela iria
descobrir que dinheiro não era o meu único poder.
Disposto a tudo para conseguir o que eu queria, me passei por um cowboy, a seduzi
e a convenci a me dar o que queria.
O destino sempre esteve na minha mão, ou eu achava que era assim até uma
reunião de negócios em um restaurante me fazer reencontrá-la com um bebê nos
braços, que tinha os meus olhos azuis, mudando instantaneamente a minha noção de
amor...
Richard e a Sugar Baby: Amante Secreto

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Sinopse:

Richard Lewis tem dinheiro, status e é dono de uma das maiores companhias de
tecnologia do Vale do Silício, mas ainda é solteiro.
O CEO da Genesis Technology teve uma adolescência complicada. Discriminado
pelos seus colegas de classe, se isolou, no entanto, sua inteligência fez com que
construísse um grande império. Mas um convite para uma reunião de ex-alunos o faria
reviver momentos ruins. Para compor a imagem de homem bem-sucedido, seu melhor
amigo contrata uma garota no site Sugar Baby para acompanhá-lo nessa festa.
Kimberly Adams é uma aluna dedicada e se esforça para ser a filha perfeita, pois quer
orgulhar o pai, que se doou ao máximo para cuidar dela. Determinada a se destacar na
faculdade, ela quer se ver longe de problemas, mas uma noite de loucura, proposta por
sua melhor amiga, pode mudar sua vida toda. Desafiada, Kimberly aceita se inscrever
em um site para se passar por sugar baby. Ela acreditava que seria apenas uma noite
na companhia de um homem mais velho, sem qualquer intimidade, mas apenas um
beijo será o suficiente para que ele fique em sua mente.
Eles não deveriam voltar a se ver, entretanto o que não esperavam era que na manhã
seguinte entrariam na mesma sala de aula, Richard como professor, um hobby que
cultiva há alguns anos, e ela, a aluna.
Eles são proibidos um para o outro, mas o amor não se importa com obstáculos...
Casados por Dever

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Sinopse:

Há cinco anos, Jefferson Miller abandonou a sua família e a empresa para viajar pelo
mundo a bordo de um barco, em busca do próprio destino. Depois de tanto tempo
distante, ele retornou a São Francisco para o enterro do seu irmão mais velho, aquele a
quem era mais apegado. Porém não esperava que, além da multinacional do ramo
esportivo, Jonathan também deixasse uma esposa no testamento.
Para assumir a presidência da Athena, se tornar o CEO e trazer estabilidade para os
negócios diante do mercado, ele precisou cumprir o último pedido do irmão: casar por
meio de um contrato com sua viúva, uma mulher dez anos mais jovem que ele e que
só conheceu no funeral.
Clare tinha o emprego dos sonhos trabalhando como secretária do melhor amigo, à
frente de uma das maiores companhias esportivas do mundo, contudo um terrível
acidente mudaria sua vida para sempre. Jonathan jurou protegê-la e então decidiu
casar-se com ela, mas era um arranjo de fachada, que também o ajudaria a esconder
sua orientação sexual.
Virgem e viúva, não esperava viver um grande amor ao se ver enredada em um
segundo casamento de contrato, mas o que Clare e Jefferson não imaginavam é que
poderiam encontrar o seu porto seguro nos braços um do outro.
Sedução por Vingança

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Sinopse:

Philip Carter é o poderoso CEO da Carter Atlantics, uma empresa multibilionária com
atuação no mundo todo. Rico, poderoso, frio e solitário, ele tem tudo aos seus pés,
mas nem sempre foi assim... Órfão, precisou conquistar tudo por seus próprios méritos
e não deixar que nada nem ninguém ficasse no seu caminho.
Vitória vive em um dos bairros mais pobres de Nova York, perdeu a mãe muito
jovem, a irmã mais nova foi tirada do seu convívio, além de ser obrigada a aturar o pai
alcoólatra, que a fez crescer acreditando que a culpa de todas as tragédias de sua vida
era do CEO da Carter Atlantics.
Com o objetivo de se vingar de Philip Carter, ela vai se tornar sua secretária e usar
todas as suas armas de sedução para descobrir o ponto fraco daquele homem que ela
acreditava ser o culpado de todas as mazelas da sua vida.
Philip não queria se envolver com a secretária onze anos mais nova, mas a
convivência, o desejo, as insinuações e toda a atração tornarão impossível conter seus
instintos. O que começa com um desejo por vingança pode mostrar a dois corações
feridos o que realmente é o amor.
Minha por Contrato

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Sinopse:

Casar era algo que eu nunca tinha imaginado fazer. A vida de solteiro me
proporcionava muitos benefícios e eu usufruía muito bem de todos eles.
Nasci numa família influente, dona de uma companhia aérea, e sempre tive tudo,
mas a política me deu poder. Porém, sempre fui um homem muito ambicioso.
Eu queria mais, almejava a presidência do país.
Acreditava ser a melhor escolha, não apenas pelo meu ego, mas pelos meus feitos
políticos. Entretanto, muitos membros do partido pareciam discordar da minha
candidatura.
Não era o homem perfeito aos seus olhos, mesmo com todo o dinheiro e influência.
Eles preferiam outro candidato, alguém que prezasse pelos valores tradicionais, um
homem comprometido com a família.
Eu precisava ser casado.
Mas o dinheiro poderia solucionar tudo, sem que eu tivesse que mudar meu estilo
de vida. Um casamento por contrato era o que eu precisava.
Penélope é doze anos mais jovem do que eu, ingênua, pobre e facilmente moldável.
Ao meu lado, ela seria a decoração perfeita. Nunca teve nada e iria se comportar para
manter o mundo que oferecia a ela.
Eu controlaria tudo, como sempre controlei. Mas não poderia prever que ela seria
capaz de se infiltrar nas barreiras do meu coração.
O CEO Viúvo e a Babá Virgem

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Sinopse:

Um viúvo envolto em sombras, uma jovem babá cheia de luz e um bebê que precisava
de amor e cuidado.

O CEO da Alliance Cars, Bernard Smith, já perdeu demais. Ele se enclausurou na sua
própria dor e afastou a todos. Viúvo, ele se dedicou a tudo o que mais importava na
vida: seu filho. Assombrado pelo passado, ele não estava disposto a seguir em frente e
a única pessoa que mantém por perto é a governanta, que cuidou dele desde menino.
Porém, após um AVC, seu único apoio não pôde mais ajudá-lo a cuidar do filho.
A jovem estudante, Júlia Oliveira, estava determinada a fazer o intercâmbio dos
sonhos na Inglaterra. Para isso, ela encontrou o emprego como babá em uma mansão,
com um dono recluso e um bebê fofo.
Ela não tinha vivido grandes romances, ainda era virgem, mas Bernard, apesar de
quinze anos mais velho, é o homem mais bonito que já tinha visto e chamava muito a
sua atenção. Embora a atração entre os dois seja inegável, um final feliz pode ser um
grande desafio para ambos, pois Bernard não acredita que merece uma segunda
chance...
Nick (Dinâmica Perfeita)

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Sinopse:

Nick Rodrigues sempre foi o garoto problema, a ovelha negra. Contrariando tudo o
que os seus pais queriam, ele se tornou o guitarrista da banda Dinâmica Perfeita.
Porém, o roqueiro badboy, ao lado dos dois melhores amigos, encontrou o estrelato,
fez fama pelo mundo e conquistou tudo o que sempre quis, ou quase tudo...

A sintonia da banda está prestes a ser bagunçada, porque ele deseja exatamente o que
não deveria cobiçar: a irmã do melhor amigo, a caçula que o vocalista defenderia a
qualquer preço, inclusive com o fim da banda.
Gabriela sempre foi certinha demais e, ao contrário do irmão, é tudo aquilo que os
pais esperavam dela. Dedicada, amável, responsável e virgem, ela não queria
atrapalhar o maior sonho do irmão, mas será muito mais difícil não ser atraída pelo
caos em forma de roqueiro do que ela imaginava.
Bastiaan (Feitiço do Coração)

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Sinopse:

Grosseiro, solitário, insensível e cruel Bastiaan Wass escolheu as trevas e servia bem
esse lado da magia. O bruxo do clã do sangue é dono de uma boate em Amsterdam,
que atrai pessoas do mundo todo pelos drinks que serve, verdadeiras poções, sua
vertente mágica favorita.
Bastiaan nunca se envolveu com nada nem com ninguém, diz coisas estúpidas e
cruéis, sem se importar com quem machuca. Ele jamais se aliaria à rainha da luz cuja
autoridade não reconhece, por isso terá seus poderes retirados até que aprenda a ser
bom, a amar. Contudo, ele já havia trancado seu coração e destruído a chave.
Blindara-se contra tais sentimentos e prometera, junto com seus amigos Áthila e
Thorent, jamais se apaixonar.
A magia era tudo o que o definia, e sem ela Bastiaan se vê perdido. Mas estaria ele
disposto a pagar o preço para tê-la de volta?
Agatha tinha uma vida pacata, com pais super protetores e um irmão mais novo.
Porém, uma viagem a Amsterdam mudará tudo. Perseguidores, que desconhece, irão
separá-la de sua família e ela encontrará abrigo em uma boate cujo dono é temido por
todos. Lá, irá descobrir que o mundo é muito mais do que ela imaginava e sua vida
mudará para sempre.
A Filha Virgem do Meu Melhor Amigo

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Sinopse:

Gutemberg Toledo, Guto, sempre se destacou pelo talento com os números, e


transformou um mercadinho familiar em uma rede de supermercados espalhada por
todo o país. Astuto, determinado, e um empresário incrível, ele conquistou tudo,
menos o que mais ansiava: uma família. Ao se divorciar, esse sonho parecia estar mais
distante do que nunca.

Sem laços familiares fortes, tudo o que ele tem de mais importante é a amizade de
décadas com o sócio. O que ele não esperava era que a filha do seu melhor amigo,
dezoito anos mais jovem, nutrisse sentimentos por ele, um amor proibido. ⠀
Guto vai lutar com todas as forças para não ceder à tentação. Dentre todas as mulheres
do mundo, Rosi deveria ser intocável; não era permitida para ele. Porém, às vezes é
difícil escapar de uma rasteira do desejo.
Vendida para Logan (Clube Secreto)

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Sinopse:

Logan Mackenzie é o herdeiro de um império secular que rege com maestria. No


entanto, por trás do excêntrico e recluso homem de negócios, que vive em um isolado
castelo no interior da Escócia, há muitos segredos e desejos obscuros. Ele não se
rende a uma única mulher, tem várias, e com elas explora a sexualidade ao máximo.
Um convite inesperado o levará ao exclusivo Clube Secreto, um lugar onde todos
os pecados podem ser comprados. O que não imaginava era que se depararia com um
leilão de mulheres. Logan nunca foi uma alma caridosa, mas até os mais egoístas
vivem um momento de altruísmo. Ele decide salvar uma delas, e por tê-la comprado
tem direito a tudo, inclusive a libertá-la.
Camila já havia experimentado o medo nas suas piores formas. Lançada a um
terrível destino, não esperava acordar no jato particular de um milionário a caminho
do nada.
Ele já havia feito a sua cota de boa ação, só esperava que ela fosse embora, mas o
que se fazer quando Camila se recusa, pois não há para onde ir? O lar que ela tinha
havia se transformado em pesadelo e aquele que imaginou que cuidaria dela, roubou
sua inocência e a vendeu para o tráfico humano.
Logan não queria protegê-la, não estava disposto a baixar seus muros por mulher
nenhuma. Porém, enquanto ele a afasta, Camila descobre o lado mais obscuro daquele
homem frio, mas também vai perceber que existe uma chama que pode salvar ambos.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de dezoito anos.
Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta inadequada de personagens.
Trevor e o Bebê Proibido (Dark Wings Livro 1)

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Sinopse:

Diana era o motivo de orgulho para os seus pais adotivos. Esforçada, estudiosa,
cursava medicina, com um futuro muito promissor, mas um convite para visitar o
Inferno vai mudar tudo.
O Inferno era apenas um bar pertencente a um moto clube, ao menos era a imagem
que passava a quem não o frequentava. Porém, ele era uma porta para o submundo,
um lugar de renegados, como Trevor. Um dos irmãos que lidera o Dark Wings é a
própria escuridão, nascido das trevas e para as trevas, que acabará no caminho de
Diana, mudando a vida da jovem para sempre.
Uma virgem inocente que foi seduzida pelas trevas...
Uma noite nos braços do mal na sua forma mais sedutora, vai gerar uma criança
incomum e temida, além trazer à tona um passado que Diana desconhecia, e pessoas
dispostas a tudo para ferir seu bebê.
Um Milionário aos Meus Pés (Irmãos Clark Livro 0)

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Sinopse:
Harrison Clark abriu uma concessionária de carros de luxo em Miami. Se tornou
milionário, figurando na lista dos homens mais ricos do Estados Unidos. O CEO da
Golden Motors possui mais do que carros de luxo ao seu dispor, tem mulheres e sexo
quando assim deseja. Porém, a única coisa que realmente amava, era o irmão gêmeo
arrancado dele em um terrível acidente.
Laura Vieira perdeu os pais quando ainda era muito jovem e foi morar com a avó, que
acabou sendo tirada dela também. Sozinha, ela se viu impulsionada a seguir seus
sonhos e partiu para a aventura mais insana e perigosa da sua vida: ir morar nos
Estados Unidos. No entanto, entrar ilegalmente é muito mais perigoso do que ela
imaginava e, para recomeçar, Laura viveu momentos de verdadeiro terror nas mãos de
coiotes.
Chegando em Miami, na companhia de uma amiga que fez durante a travessia, Laura
vai trabalhar em uma mansão como faxineira, e o destino fará com que ela cruze com
o milionário sedutor. Porém, Harrison vai descobrir que ela não é tão fácil de
conquistar quanto as demais mulheres com quem se envolveu. Antes de poder tirar a
virgindade dela, vai ter que entregar o seu coração.
Quando a brasileira, ilegal nos Estados Unidos, começa a viver um conto de fadas,
tudo pode acabar num piscar de olhos, pois nem todos torciam a favor da sua
felicidade.
Uma Virgem para o CEO (Irmãos Clark Livro 1)

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Sinopse:

Dean Clark nasceu em meio ao luxo e o glamour de Miami. Transformou a


concessionária de carros importados que herdou do pai em um verdadeiro império.
Ele é um CEO milionário que tem o que quer, quando quer, principalmente sexo. Sua
vida é uma eterna festa, mas sua mãe está determinada a torná-lo um homem melhor.

Angel Menezes é uma moça pacata e sonhadora que vive com a mãe em um bairro
de imigrantes. Trabalhando como auxiliar em um hospital, sonha em conseguir pagar,
um dia, a faculdade de medicina. As coisas na vida dela nunca foram fáceis. Seu pai
morreu quando ela ainda não tinha vindo ao mundo, e a mãe, uma imigrante
venezuelana, teve que criá-la sozinha. Porém, sempre puderam contar com uma amiga
brasileira da mãe, que teve um destino diferente ao se casar com um milionário.
Laura mudou de vida, mas nunca deixou para trás a amiga e faz de tudo para ajudar
a ela e a filha. Acredita que Angel, uma moça simples, virgem, e onze anos mais
jovem, é a melhor escolha para o seu filho arrogante e cafajeste, entretanto, tudo o que
está prestes a fazer é colocar uma ovelhinha ingênua na toca de um lobo.

Dean vai enxergar Angel como um desafio, ele quer mais uma mulher em sua cama
e provar que ela não é virgem. No jogo para seduzi-la, ganhará um coração
apaixonado que não está pronto para cuidar...

Será que o cafajeste dentro dele se redimirá ou ele só destruirá mais uma mulher?
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