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Apostila SME-SP

ÍNDICE

Língua Portuguesa ............................................................................................ 1


Informática. ..................................................................................................... 89
Legislação Específica: Federais e Municipais .............................................. 136
Legislações Municipais, Documentos e publicações ................................... 244
Currículos e Orientações Didáticas .............................................................. 285
Conhecimentos Específicos. ......................................................................... 341
Ciências Naturais .......................................................................................... 453
Geografia ...................................................................................................... 492
História ......................................................................................................... 530
Língua Portuguesa - Conhecimentos Específicos. ....................................... 580
Matemática ................................................................................................... 677

Apostilas Domínio
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Língua Portuguesa

SUMÁRIO

Concepção de linguagem verbal em seu processo de interlocução e sua relação com


todas as áreas de conhecimento, quanto ao domínio das capacidades de leitura e de
escrita para os diferentes gêneros e práticas sociais; uso da variedade culta da língua
escrita para a produção de texto; leitura e compreensão de texto. .......................... 1

Apostilas Domínio
Língua Portuguesa

Eis alguns significados da palavra


Concepção de linguagem verbal em seu
processo de interlocução e sua relação interpretar, de acordo com o dicionário
com todas as áreas de conhecimento, Priberam:
quanto ao domínio das capacidades de - Fazer a interpretação de.
leitura e de escrita para os diferentes - Tomar (alguma coisa) em determinado
gêneros e práticas sociais; uso da sentido.
variedade culta da língua escrita para a - Explicar (a si próprio ou a outrem).
produção de texto; leitura e compreensão - Traduzir ou verter de uma língua para
de texto. outra.

Ou seja, ao interpretar:
Caro(a) candidato(a), esta etapa do edital - Tomamos a informação do texto em
se trata da Língua Portuguesa concebida de determinado sentido;
maneira mais comum nos concursos - Explicamos a nós mesmos aquilo que
públicos. Ou seja, é a abordagem que acabamos de ler;
costuma aparecer em todos os concursos, - E traduzimos para nosso intelecto todas
nas questões a respeito da Língua as palavras que formam as informações do
Portuguesa, tendo em vista a gramática texto, realizamos a intelecção.
normativa e suas regras (valorizadas pela
variedade culta). Já compreender é o mesmo que
A linguagem verbal é a linguagem escrita, entender. Ou seja, quando interpretamos
por isso é necessário realizar o estudo de
um texto da maneira correta,
seu uso, tendo em mente as normas compreendemos e entendemos a mensagem
gramaticais, assim como as práticas da que nos transmite.
língua em relação à interpretação textual e Ter dificuldades em interpretar um texto
sua produção (no caso, reescrita de trechos pode gerar vários problemas, já que, todos
e textos). os dias, nos deparamos com diversos textos,
O material aqui apresentado tem em vista a seja em jornais, panfletos, nos estudos e,
Língua Portuguesa como costuma ser sobretudo, na internet. E nesse mundo
abordada em concursos públicos, virtual as falhas em interpretar um texto já
surprindo tudo aquilo que o edital requer. se tornaram uma piada, ou melhor, um
Por outro lado, pode ser interesante estudar meme. Duvida? Então dê uma olhada nos
esta apostila em conjunto com a apostila comentários de publicações em redes
de Língua Portuguesa - Conhecimentos sociais, especialmente aquelas que
Específicos (e vice-versa). São temas que envolvam algum tipo de notícia.
se complementam e o estudo em conjunto Em um concurso público saber
pode ser bastante benéfico, ajudando a interpretar é essencial, visto que há muitas
compreender melhor os assuntos questões desse tipo. A maioria delas irá
abordados. apresentar um texto e alternativas com
possíveis interpretações das ideias e
INTERPRETAÇÃO E informações apresentadas pelo autor.
COMPREENSÃO DE TEXTOS Apenas uma será a correta. Para isso, é
necessário confrontar as alternativas com o
Para interpretar e compreender um texto, texto em si e verificar se é aquilo mesmo
é preciso lê-lo. Sim, isso parece óbvio, mas que está sendo dito.
não se trata de qualquer leitura. Um texto só Existem vários tipos e gêneros de textos
pode ser compreendido a partir de uma que podem cair em perguntas de concursos
leitura atenta, com calma, analisando todas e é preciso estar preparado para todos.
as informações nele presentes. Geralmente há a informação de onde o texto
foi retirado, geralmente ao final. Assim,

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Língua Portuguesa

caso não consiga identificar qual o tipo ou de tema (as ideias secundárias podem ser
gênero do texto, essa informação será de chamadas de subtemas).
grande ajuda.
O título também pode ajudar nesse Veja o parágrafo:
sentido, uma vez que pode apresentar o “A pandemia acelerou o pagamento de
tema ou assunto que será abordado ao longo compras com o celular, porque muita gente
do texto. optou pela modalidade sem contato para
É interessante ter essa noção, porém não evitar tocar em dinheiro. A Apple tem uma
é o conhecimento do gênero ou tipo que opção robusta de pagamentos eletrônicos há
será determinante para uma boa mais de cinco anos com seu software Wallet
interpretação. Todo texto apresenta alguma para iPhone, que permite que as pessoas
informação, que pode ser compreendida ao façam compras com cartão de crédito e
se realizar uma leitura atenta. carreguem documentos importantes como
Até mesmo as imagens trazem cartão de embarque e dados de saúde”.
informações, não precisam ser apenas (Disponível em: Como a atualização do iOS e do Android vai
mudar seu smartphone (msn.com). Adaptado.)
palavras. Tiras de jornais apresentam texto
e imagem. É comum trazerem conteúdo A ideia principal (ou central) está logo
bem-humorado ou de caráter crítico, com no início: A pandemia acelerou o
toque de ironia. pagamento de compras com o celular. E
Uma imagem sem qualquer texto pode logo após temos a secundária, uma
ser passível de interpretação. Caso seja a justificativa: porque muita gente optou pela
imagem de alguém sorridente, é possível modalidade sem contato para evitar tocar
inferir se tratar de alguma coisa boa. As em dinheiro.
propagandas fazem isso com frequência, O restante do parágrafo se desenvolve a
pois as empresas querem seus produtos partir da ideia principal, tendo alguma
associados a momentos felizes. Tipo o relação com pagamentos com o celular.
Natal, uma época festiva e em família, que Saber que a Apple tem uma opção
acabou sendo associado à Coca-Cola, robusta de pagamentos eletrônicos com seu
graças a muito marketing. software é uma informação até importante
Uma notícia de jornal ou um artigo de e que se relaciona com o tema. Porém, saber
opinião podem apresentar ideias que virão que esse aplicativo também possibilita
de encontro a nossas confecções e valores. carregar documentos importantes e dados
Às vezes o autor pode defender um de saúde é um dado irrelevante para a ideia
posicionamento com o qual não principal, já que não se relaciona com
concordamos. Entretanto, nosso pessoal pagamentos de compras com celular. Ao
não deve entrar em jogo. Interpretar um realizar a releitura de um texto é
texto é entender aquilo que está escrito, não interessante não perder tempo focando em
aquilo em que acreditamos. Sendo assim, informações de pouca relevância.
ao iniciar uma leitura, manter a neutralidade O título do texto apresenta uma ideia
é crucial. geral a respeito do tema principal que será
abordado por ele.
Tópico Frasal
Argumento
Um parágrafo é organizado a partir de O tópico frasal apresenta a ideia central.
uma ideia central e outras secundárias. O autor precisa defender essa ideia e, para
Quando o autor quer iniciar uma nova ideia, isso, se valerá da argumentação. Ele quer
ele inicia outro parágrafo. O tópico frasal convencer o leitor a comprar sua ideia.
normalmente inicia o parágrafo (é comum O autor pode recorrer ao argumento de
estar nos dois períodos iniciais) e nele está autoridade, quando faz uso de uma
contida a ideia principal, também chamada autoridade no assunto para defender sua

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Língua Portuguesa

ideia, podendo ser uma pessoa importante, textos de outros autores. Pode ser feita por
ou uma instituição. meio:
Pode fazer uso do argumento histórico, - Da citação: é dizer, nas mesmas
remetendo sua ideia a fatos históricos que palavras, aquilo que outro autor disse. Seria
tenham sentido com o que está sendo uma citação direta.
exposto. - Da paráfrase: é dizer aquilo que outro
Também pode utilizar o argumento de autor disse, mas a partir das próprias
exemplificação, que é pegar um fato palavras. Seria uma citação indireta.
cotidiano para ilustrar sua ideia. É como as - Da alusão: é um tipo de referência
lições de moral, pegar pelo exemplo de vaga, indireta, com poucos detalhes que
outrem. indicam se tratar de uma referência a outro
Existe o argumento de comparação, autor. Geralmente, para “pegar” a alusão, é
que justamente compara elementos para dar preciso ter um conhecimento prévio.
força à argumentação. - Da paródia: uma paródia é uma
O argumento por apresentação de releitura de uma obra, texto, personagem ou
dados estatísticos pode ser muito útil, pois fato. Aparece de maneira cômica, com o
apresenta dados concretos para fortalecer o uso de deboche e ironia. O mais comum é
argumento. Se o argumento é sobre a se parodiar algo famoso, conhecido.
pobreza no Brasil, o número de pessoas que
vivem nessa situação pode fortalecer o Informações explícitas
argumento, mostrando que ele diz a Estão expostas no texto, com todas as
verdade, pois está de acordo com os dados. palavras. Ao ler, fica óbvia. Basta ler aquilo
Já o argumento por raciocínio lógico que o autor do texto diz para compreender
está pautado na relação de causa e efeito. É e interpretar a informação.
seguir uma lógica do tipo “se isso aconteceu
lá, acontecerá aqui também”. Informações implícitas
As conjunções e os advérbios são muito Para conseguir detectar as informações
utilizados nas argumentações. Por exemplo, implícitas, o leitor deve deduzir aquilo que
quando o autor desejar comparar algo, o autor quis dizer, mas não disse de maneira
poderá empregar tanto quanto. explícita. Trata-se de ler nas entrelinhas.
“O desemprego aumentou tanto quanto
a pobreza, ou seja, um tem relação com o Inferência
outro”. A inferência está relacionada a ideias
não explicitadas pelo autor. A questão de
Intertextualidade um concurso pode pedir, por exemplo, para
Os pesquisadores atuais dizem que todo analisar a partir do ponto de vista do autor.
texto apresenta intertextualidade, visto que Isso quer dizer que o candidato precisa
é quase impossível escrever um texto sem encontrar no texto aquilo que o autor disse,
qualquer tipo de referência. Afinal, quando literalmente e explicitamente. Quando
escrevemos um texto, buscamos referências questão apresentar enunciados do tipo
mentais de outros textos que já lemos. É conclui-se, infere-se, será preciso inferir, ou
preciso escrever uma notícia? Ah, então seja, fazer uma dedução a partir de uma
vou pensar em uma notícia que já li e tentar informação que não está explicita no texto.
escrever mais ou menos igual. Ou seja, tendo em vista tudo o que foi lido
no texto, o que será que o autor quis dizer?
Esses pesquisadores gostam de Mas é preciso que essa inferência tenha
complicar as coisas. Para simplificar, uma lógica, que esteja relacionada com o
vamos tomar a intertextualidade como uma texto.
referência mais explícita, quando o autor do De “Brasil está importando
texto, em sua escrita, faz referências a computadores moderníssimos” é possível

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Língua Portuguesa

inferir que o Brasil não está produzindo Orações adjetivas. “Alunos que fizeram
computadores modernos em número silêncio foram premiados”. O que fizeram
suficiente, afinal, se a produção fosse silêncio indica que há alunos que não
suficiente, não haveria a necessidade de fizeram silêncio e que, provavelmente, não
importação. É possível inferir também que ganharam prêmio algum.
parte dos brasileiros está exigindo Palavras denotativas. “Até mesmo
computadores moderníssimos, pois é Gabriel conseguiu entregar a tempo”. O até
necessário haver demanda para importação. mesmo indica que havia poucas
Mas não é possível inferir que os expectativas em torno de Gabriel, e que
computadores importados são mais caros, outras pessoas conseguiram entregar a
pois o trecho não faz nenhuma menção a tempo.
preços; ser importado não torna o Sobre os subentendidos: A informação
computador necessariamente mais caro. subentendida depende do contexto é está
Aliás, o assunto nem é preço, não há lógica. ainda menos evidente. É preciso ler nas
Pensar que algo é mais caro por ser entrelinhas.
importado é ler sem manter a neutralidade. Vamos supor que, em uma tira, um
adulto, para um grupo de crianças, do que
Pressupostos e Subentendidos elas estão brincando. A resposta é “de
Os pressupostos e subentendidos estão governo”. O adulto adverte para que não
na área dos implícitos. Para “pegá-los”, é façam bagunça. Elas então respondem que
preciso ter um ponto, a partir de algo. não é preciso se preocupar, pois não vão
Sobre os pressupostos: Quando fazer absolutamente nada.
inferimos uma ideia de um texto, buscamos Dessa tira seria possível subentender que
aquilo que está pressuposto e subentendido, o governo não trabalha, pois quem não faz
isto é, aquilo que está implícito. O autor não nada também não trabalha. Se as crianças
vai transmitir uma ideia completa, com estão brincando de governo e não estão
todas as informações explícitas, todavia, a fazendo nada, então o governo nada faz,
partir de certas palavras e expressões é não faz seu trabalho.
possível inferir a ideia.
Quando é dito “José parou de jogar Contexto
futebol”, podemos pressupor que José Um texto é produzido em um
jogava futebol. determinado contexto. Por exemplo, um
É importante prestar atenção aos verbos. texto jornalístico é produzido na redação de
Por exemplo, se o autor disser “Os um jornal. Além disso, esse texto será
funcionários deixaram o emprego após o distribuído e lido em outros contextos. Da
pronunciamento do diretor”. O verbo deixar mesma forma um poema, seu contexto de
indica que, até antes do pronunciamento do produção e de recepção é outro.
diretor, os funcionários estavam Há também o contexto histórico. Um
trabalhando normalmente. texto antigo pode apresentar muitas
Os advérbios, do mesmo modo. referências que dizem respeito ao tempo em
“Mariana também deixou a festa cedo”. O que foi produzido. O contexto dos dias
também indica que mais pessoas além de atuais já pode ser bem diferente. Basta
Mariana deixaram a festa cedo. pensar em alguns textos antigos que
Os adjetivos. “Os profissionais apresentam costumes que não fazem
qualificados conseguem emprego com sentido hoje em dia. Não entender esse
maior facilidade”. O qualificados indica contexto pode prejudicar muito a
que há profissionais que não são compreensão do texto e levar a
qualificados e que esses talvez não interpretações errôneas.
consigam emprego com tanta facilidade Sem falar de certas palavras que podem
quanto os qualificados. deixar o leitor atual perdido. O

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Língua Portuguesa

conhecimento histórico é muito importante, quais a opinião do autor fica aparente, ou


assim como a compreensão desse contexto seja, textos nos quais o autor apresenta seu
histórico de produção. ponto de vista sobre determinada coisa ou
Vamos supor que dois amigos estão assunto.
jogando um videogame de luta e um deles “O céu é azul”, isso é um fato. “O céu
diz para seu personagem: “Acabe com ele”. está bonito hoje”, isso é uma opinião, o
Dentro desse contexto, não se trata de uma ponto de vista de quem está falando. Um
frase que incita à violência. Mas fossem fato é incontestável, uma opinião não, já
duas pessoas brigando na rua e um que outros podem discordar dela.
expectador gritando a mesma frase, aí sim Veja o texto de uma questão:
seria uma incitação à violência. Por isso é
importante compreender o contexto dentro (Câmara de Taquaritinga - Técnico
do texto. Legislativo - VUNESP)
Textos técnicos e teóricos, como artigos,
possuem uma linguagem técnica, mais O líder é um canalha. Dirá alguém que
difícil, pois é produzido dentro do contexto estou generalizando. Exato: estou
científico, pensando em leitores que generalizando. Vejam, por exemplo, Stalin.
entendem sobre o assunto. Diferente de um Ninguém mais líder. Lenin pode ser
jornal, que visa um público mais amplo, esquecido, Stalin, não. Um dia, os
variado. camponeses insinuaram uma resistência.
Stalin não teve nem dúvida, nem pena.
Coerência Textual Matou, de fome punitiva, 12 milhões de
Um texto precisa ser organizado, com camponeses. Nem mais, nem menos: 12
suas ideias bem relacionadas. As ideias milhões. Era um maravilhoso canalha e,
secundárias precisam ter uma relação com portanto, o líder puro.
a ideia principal, pois as secundárias não E não foi traído. Aí está o mistério que,
podem falar sobre um assunto que não tem realmente, não é mistério, é uma verdade
nada a ver com a principal. A boa historicamente demonstrada: o canalha,
organização das ideias faz com que o texto quando investido de liderança, faz, inventa,
seja coerente. aglutina e dinamiza massas de canalhas.
O texto coerente apresenta uma ordem e Façam a seguinte experiência: ponham um
ele não se contradiz. O autor não pode santo na primeira esquina. Trepado num
apresentar uma ideia em um parágrafo e, caixote, ele fala ao povo. Mas não
mais diante, dizer o contrário. Ele estaria convencerá ninguém, e repito: ninguém o
sendo incoerente. seguirá. Invertam a experiência e coloquem
Há questões de concursos que mesclam na mesma esquina, e em cima do mesmo
correção gramatical, reescrita de textos e caixote, um pulha indubitável.
coerência. Por exemplo: Instantaneamente, outros pulhas, legiões de
“Há a necessidade premente da pulhas, sairão atrás do chefe abjeto.
implantação de programas, projetos e (Nelson Rodrigues, “Assim é um líder”. O óbvio Ululante.
Adaptado)
atividades de conservação e uso de
energia”. É correto afirmar que, do ponto de vista
O trecho destacado poderia ser do autor: líderes são lembrados
substituído por urge a, visto que o sentido e especialmente por atos que ele classifica
a ideia seriam mantidos. Algo que urge tem como canalhice.
urgência, ou seja, necessidade. Logo no início o autor já diz que um líder
é um canalha. Depois apresenta alguns
Ponto de Vista do Autor líderes e os atos que cometeram,
Há textos impessoais, onde a opinião do “canalhices” para o autor. A seguir, diz que
autor não é expressa. Há também textos nos um santo não será seguido por ninguém,

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Língua Portuguesa

mas o canalha sim. Stalin, canalha para o sobretudo, em sua intencionalidade. Há


autor, não pode ser esquecido e, realmente, obras literárias adaptadas, por exemplo,
é um líder que não foi esquecido pela com linguagem mais simples ou mais atual
história. (considerando os clássicos). Muitas versões
adaptadas são resumidas, apresentando
Tipos de Discursos no Texto apenas as situações principais de toda a
Quando o autor realiza o discurso direto trama.
em um texto, isso quer dizer que ele está Uma adaptação pode ser pegar um texto
escrevendo exatamente o que outra pessoa e transformar sua estrutura. Apresentar as
disse. Por exemplo, quando o autor indica a mesmas ideias, mas de maneira diferente,
fala de uma personagem. com outras palavras e em outra ordem.
Quando o autor realiza o discurso Muitos textos utilizados em questões de
indireto, ele não diz exatamente o que a concursos são adaptados, pois não caberiam
personagem disse. Por exemplo: “Ela lhe numa prova, já que são originalmente
falou sobre o caso ocorrido ontem”. O autor longos demais, e uma prova não é um livro!
está dizendo sobre o que ela falou, porém Nesse caso, o texto é adaptado com
não com as palavras expressas. objetivos didáticos.
O discurso indireto livre é uma mistura No caso de um concurso, os textos são
dos dois anteriores. Junto com a fala do verbais, pois fazem uso de palavras para
narrador, a fala do personagem também é transmitir sua mensagem, usam a
apresentada. Por exemplo: “O rapaz estava linguagem verbal. As palavras são signos,
cansado. Poxa vida, como é duro viver mas uma cor também pode ser um signo.
assim. Por mais que lamentasse, ele não Como no caso do semáforo. A cor vermelha
conseguia fazer nada a respeito”. Veja que indica “pare”. Não é preciso escrever com
em “Poxa vida, como é duro viver assim” palavras para captar a mensagem. Essa é a
temos a fala do personagem, e não mais a linguagem não-verbal, que pode aparecer
do autor. também em placas de trânsito, por exemplo.
Grande parte delas possuem apenas
Síntese Textual desenhos que têm um significado completo.
Realizar uma síntese textual é sintetizar Sendo assim, é possível adaptar um texto
as ideias do texto longo, ou seja, fazer um verbal para a linguagem não-verbal e vice-
resumo, apresentando suas principais versa.
ideias. Apresenta um caráter mais pessoal, Há também textos que misturam ambas
pois a escolha das informações mais as linguagens. Uma placa com um cachorro
relevantes será feita por quem escreve a e a frase “Cão Bravo!” é um exemplo. Isso
síntese. É feita tendo como base aquilo que significa para ter cuidado, pois na casa em
foi lido e compreendido de um texto. Não questão existe um cachorro grande, que
há um aprofundamento nas ideias do texto pode atacar e machucar alguém.
e as ideias secundárias não devem ser
contempladas. Dica
Apresenta vocabulário preciso e clareza, Para tentar buscar as informações de um
bem como a linguagem denotativa, ou seja, texto, é interessante realizar algumas
em seu sentido literal. perguntas, como:
O quê?; Quem?; Como?; Quando?;
Adaptação Onde?; Por quê?.
Sintetizar um texto é realizar um tipo de O que foi dito no texto? Quem fez isso?
adaptação. De um texto longo, ele se torna Como fez isso? Quando fez isso? Onde fez
uma síntese das principais ideias. O resumo isso? Por que fez isso?
também é uma adaptação, pois apresenta o Nem sempre é possível encontrar todas
texto com poucas palavras, focando, as respostas, mas é uma dica que facilita

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Língua Portuguesa

bastante a compreensão, sobretudo de Questões


notícias.
01. (Órgão: Prefeitura de São Miguel
De olho na ambuiguidade do Passa Quatro - Médico -
I. Um amigo dizia ao outro: – Sabe o que OBJETIVA/2022)
é, rapaz? A minha mulher não me
compreende. E a tua? – Sei lá. Estudo analisa morte por câncer
Nunca falei com ela a teu respeito. associada ____ exposição laboral

II. À noite, enquanto o marido lê jornal, Estudo elaborado pelo Ministério da


a esposa comenta: – Você já percebeu como Saúde indica que, entre 1980 e 2019, mais
vive o casal que mora aí em frente? de 3 milhões de pessoas morreram no Brasil
Parecem dois namorados! Todos os dias, por até 18 tipos de câncer que podem ter
quando chega em casa, ele traz flores para sido causados pela exposição ____
ela, a abraça, e os dois ficam se beijando produtos, substâncias ou misturas presentes
apaixonadamente. Por que você não faz o em ambientes de trabalho.
mesmo: – Mas querida, eu mal conheço Segundo o Atlas do Câncer Relacionado
essa mulher... ao Trabalho no Brasil, ao longo de 39 anos,
o Sistema de Informações sobre
III. Um sujeito vai visitar seu amigo e Mortalidade registrou 3.010.046 óbitos
leva consigo sua cadela. Na chegada, após decorrentes desses tipos de câncer. O
os cumprimentos, o amigo diz: resultado, segundo ____ equipe técnica,
– É melhor você não deixar que sua poderia ser menor, caso mais ações
cadela entre nesta casa. Ela está cheia de tivessem sido feitas para controlar ou
pulgas. eliminar a exposição dos trabalhadores
– Ouviu, Laika? Não entre nessa casa, ____ agentes cancerígenos.
porque ela está cheia de pulgas! Após uma primeira versão do atlas,
publicada em 2018, os pesquisadores
No primeiro item, tua diz respeito à voltaram a se debruçar sobre os registros
mulher do interlocutor e teu diz respeito ao nacionais de câncer de bexiga, esôfago,
interlocutor. Não há ambuiguidade, tudo é estômago, fígado, glândula tireoide,
bastante compreensível. laringe, mama, mesotélio, nasofaringe,
No segundo item, o mesmo foi ovário, próstata, rim e traqueia, brônquios e
empregado no sentido de por que você não pulmões. Também são analisados o sistema
faz o mesmo comigo?, mas sem o comigo a nervoso central e os casos de leucemias,
expressão fica ambígua, pois pode também linfomas não Hodgkin, melanomas
indicar fazer o mesmo que o homem que cutâneos e mielomas múltiplos.
mora em frente. É disso que sai o efeito de O objetivo do estudo é contribuir no
humor. planejamento e na tomada de decisão nas
No terceiro item, ela pode indicar tanto ações de vigilância em saúde do
a cadela quanto a casa, por isso há trabalhador.
ambiguidade. Claro, quem tem pulgas é a Segundo ____ estimativas globais, em
cadela, mas o efeito de humor surge por 2015, cerca de 30% dos trabalhadores
conta da ambiguidade, podemos entender vítimas de doenças associadas ao trabalho
que é a casa que está cheia de pulgas. morreram em consequência de um tipo de
câncer também relacionado ao trabalho. Do
total de mortes em consequência dos 18
tipos de câncer, a proporção de óbitos foi
1,4 vezes maior entre os homens.

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No caso do câncer de laringe, a diferença 02. (TIBAGIPREV - Contador -


chegou a ser sete vezes maior. Além disso, FAFIPA/2022)
os óbitos relacionados a apenas oito das 18
tipologias selecionadas (pulmão, mama, Letra de médico
próstata, estômago, esôfago, fígado,
leucemia e sistema nervoso central) Na farmácia, presencio uma cena
representam mais de 80% de todos os curiosa, mas não rara: balconista e cliente
falecimentos. tentam, inutilmente, decifrar o nome de um
O atlas apresenta uma análise do medicamento na receita médica. Depois de
problema nas cinco regiões brasileiras e várias hipóteses acabam desistindo. O
informações sobre atividades econômicas e resignado senhor que porta a receita diz que
situações de exposição. Há, ainda, vai telefonar ao seu médico e voltará mais
recomendações, como a importância da tarde. "Letra de doutor", suspira o
fiscalização dos processos e atividades com balconista, com compreensível resignação.
potencial cancerígeno e a urgência de Letra de médico já se tornou sinônimo de
estruturação de sistemas de informação e hieróglifo, de coisa indecifrável.
monitoramento capazes de gerar dados Um fato tanto mais intrigante quando se
sobre os efeitos dos contaminantes considera que os médicos, afinal, passaram
ambientais na saúde humana. pelas mesmas escolas que outros
“Quando falamos de câncer relacionado profissionais liberais. Exercício da
ao trabalho, estamos falando de agentes caligrafia é uma coisa que saiu de moda,
químicos, físicos e biológicos que podem mas todo aluno sabe que precisa escrever
ser eliminados e substituídos. No Brasil, legivelmente, quando mais não seja, para
isso constitui um problema, porque conquistar a boa vontade dos professores. A
convivemos com agentes que já foram letra dos médicos, portanto, é produto de
banidos em outros países”, disse a gerente uma evolução, de uma transformação. Mas
da Unidade Técnica de Exposição que fatores estariam em jogo atrás dessa
Ocupacional, Ambiental e Câncer do transformação?
Instituto Nacional de Câncer (Inca). Que eu saiba, o assunto ainda não foi
(Fonte: Sul 21 - adaptado.) objeto de uma tese de doutorado, mas
podemos tentar algumas explicações. A
De acordo com o texto, analisar os itens primeira, mais óbvia (e mais ressentida),
abaixo: atribui os garranchos médicos a um
I. O atlas não apresenta uma análise mecanismo de poder. Doutor não precisa se
individual das regiões do Brasil; traz
informações mais relacionadas à fazer entender: são os outros, os seres
preocupação com as atividades econômicas humanos comuns, que precisam se
do país. familiarizar com a caligrafia médica.
II. Em 2015, estimativas globais Quando os doutores se tornarem mais
apontavam que entre as vítimas de doenças humildes, sua letra ficará mais legível.
associadas ao trabalho, cerca de 30% Pode ser isso, mas acho que não é só
morreram em consequência de um tipo de isso. Há outros componentes: a urgência,
câncer. por exemplo. Um doutor que atende
III. Os 18 tipos de câncer apontados no dezenas de pacientes num movimentado
estudo matam mais os homens do que ambulatório de hospital não pode mesmo
mulheres. caprichar na letra. Receita é uma coisa que
Está(ão) CORRETO(S): ele precisa fornecer - nenhum paciente se
(A) Somente o item I. considerará atendido se não levar uma
(B) Somente o item III. receita. A receita satisfaz a voracidade de
(C) Somente os itens II e III. nossa cultura pelo remédio, e está envolta
(D) Todos os itens. numa aura mística: é como se o doutor,

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Língua Portuguesa

através dela, acompanhasse o paciente. predominante para a letra ilegível, sendo


Mágica ou não, a receita é, muitas vezes, questionado se todos os profissionais têm
fornecida às pressas; daí a ilegibilidade. essa característica.
Há um terceiro aspecto, mais obscuro e
delicado. É a relação ambivalente do Gabarito
médico com aquilo que ele receita - a sua
dúvida quanto à eficácia (para o paciente, 01.C - 02.C
indiscutível) dos medicamentos. Uma
dúvida que cresce com o tempo, mas que é TIPOLOGIA TEXTUAL
sinal de sabedoria. Os velhos doutores
sabem que a luta contra a doença não se As tipologias textuais são fundamentais
apoia em certezas, mas sim em tentativas: para a leitura e produção de textos. Elas
"dans la médicine comme dans l'amour, ni designam uma espécie de sequência
jamais, ni toujours", diziam os respeitados teoricamente definida pela natureza
clínicos franceses: na medicina e no amor, linguística predominante em sua
"sempre" e "nunca" são palavras proibidas. composição.
Daí a dúvida, daí a ansiedade da dúvida, da Diferente daquilo que ocorre com os
qual o doutor se livra pela escrita rápida. E gêneros textuais, as tipologias apresentam
pouco legível. propriedades linguísticas intrínsecas, como
[...] o vocabulário, relações lógicas, tempos
verbais, construções frasais e outras
SCLIAR, Moacyr. A face oculta ? inusitadas e reveladoras
histórias da medicina. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001. características que definem os gêneros.
[adaptado] Os tipos de texto são estruturas mais ou
menos fixas, padrões que servem para a
O texto traz suposições acerca dos escrita de diversos gêneros textuais.
motivos pelos quais a caligrafia dos Enquanto os gêneros podem se modificar e
médicos seria fruto de uma evolução (ou novos podem aparecer, os tipos textuais não
transformação). Sobre essas teorias, se modificam tanto assim, sem falar que é
assinale a alternativa que encontra difícil pensar no surgimento de novos tipos.
embasamento no texto: Desse modo, um único texto pode
(A) Uma das teorias se baseia na tese de apresentar características de mais de um
doutorado e atribui a letra ilegível dos tipo textual, pois estamos falando sobre a
médicos ao fato de sua suposta estrutura de escrita, e um texto pode ser
superioridade intelectual em relação a construído de diversas maneiras. Um
outros profissionais. romance, por exemplo, apresenta narração,
(B) O autor acredita que médicos que descrição, e pode apresentar argumentação
conscientemente escrevem de forma e exposição. Pode haver um tipo
ilegível não têm dúvidas sobre a eficácia predominante, mas pode haver também a
dos medicamentos que estão prescrevendo estrutura de outros tipos textuais.
(C) Uma das teses afirma que a "letra Há cinco tipos textuais, ou tipos de
ilegível' do médico se dá devido a correria textos.
em que o médico fornece a receita, por ter
que atender muitos pacientes. Texto Narrativo
(D) Uma suposição levantada pelo autor Possui, como principal característica,
é a de que os pacientes não dão uma narração, ou seja, esse tipo de texto
credibilidade a médicos que têm a letra conta uma história, ficcional ou não,
legível, por isso, é necessário que a geralmente contextualizada em um tempo e
prescrição seja datilografada. espaço, nos quais transitam personagens.
(E) Em uma das teorias, o fator
humildade é descartado como fator

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Língua Portuguesa

Os gêneros textuais que mais se pesquisas, etc. Pode aparecer em jornais


apropriam do texto narrativo são: também, quando o editorial defende um
romances, contos, crônicas, biografias, etc. ponto de vista sobre determinado assunto.
Podemos dividir o esquema narrativo
pode em: Texto Expositivo
- apresentação: apresenta uma situação Seu objetivo é apresentar informações a
estável; cerca de um objeto ou fato específico,
- complicação: uma força perturbadora, enumerando suas características por meio
que instaura um desequilíbrio; de uma linguagem clara. É muito
- clímax: o auge da narrativa, que importante que o texto expositivo apresente
determina o final; dados verdadeiros e comprováveis.
- desfecho: retoma o equilíbrio. O texto expositivo dará preferência ao
conteúdo, em detrimento da mensagem. Por
Basta pensar em um conto, no qual o isso a linguagem empregada precisa ser
narrador, tanto em primeira ou terceira acessível e, até mesmo, impessoal,
pessoa, narra uma história com personagens buscando a neutralidade, ou
e seus feitos. Há um começo, um meio e um impessoalidade.
fim. Diferente do texto dissertativo, onde há
Nesse tipo de texto, os tempos verbais argumentos sobre um tema, o texto
mais empregados são o pretérito perfeito, o expositivo irá expor informações sobre o
pretérito imperfeito e o pretérito mais-que- tema, sem fazer juízo de valor, ou seja, sem
perfeito do indicativo. apresentar argumentos.
Os textos narrativos aparecem mais em Os gêneros que mais se apropriam dessa
livros de ficção, romances, contos e estrutura são: reportagem, resumo,
novelas. Podem aparecer em jornais fichamento, artigo científico, etc.
também, no caso das crônicas. Mas é O tipo expositivo está bastante presente
possível narrar uma história de maneira oral em jornais, por exemplo. Uma notícia
também. expõe fatos sem apresentar pessoalidade.
São apenas os fatos ocorridos que estão na
Texto Dissertativo notícia, não uma opinião. Resumos de
O texto dissertativo, ou dissertativo- artigos também são exemplos, pois expõem
argumentativo, é um texto opinativo, ou sobre o que o artigo irá falar.
seja, apresenta ideias que são desenvolvidas
por meio de estratégias argumentativas, Texto Descritivo
visando convencer o interlocutor. Os A finalidade desse tipo textual é
gêneros que mais fazem uso da estrutura descrever, objetivamente ou
dissertativa são: ensaio, carta subjetivamente, coisas, lugares, pessoas ou
argumentativa, dissertação, editorial, etc. situações. Consiste na exposição das
A argumentação deve ser coerente e propriedades, qualidades e características,
consistente, expor os fatos, refletir sobre oferecendo ao leitor a possiblidade de
questão, apresentando justificativas. visualização daquilo que está sendo
O tempo verbal mais utilizado nesse tipo apresentado (descrito).
textual é o presente do indicativo, uma vez Os gêneros que mais se apropriam dessa
que aborda um assunto presente no estrutura são: laudo, relatório, ata, guia de
contexto comunicativo no qual o viagem, etc. Sem falar nos textos literários,
enunciador está situado. já que os autores descrevem os cenários, as
É um tipo de texto bastante comum no personagens, etc.
meio acadêmico, pois teses e dissertações O tipo descritivo está presente em
desenvolvem ideias que são desenvolvidas diversos gêneros. Até mesmo uma notícia
com argumentos baseados em teóricos, em pode, em algum momento, apresentar uma

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Língua Portuguesa

descrição, do ambiente de onde o fato a ser avistada na "Toca do Índio", praia que,
ocorreu, por exemplo. segundo ele, fica a aproximadamente três
quilômetros da Praia do Guaraú [por mar].
Texto Injuntivo O profissional também contou que
Esse tipo de texto é utilizado para passar socorristas chegaram a utilizar motos
instruções ao interlocutor, empregando aquáticas para procurar a vítima, mas não
verbos no imperativo para atingir seu adiantou.
objetivo. O autor escreve a informação se Soniel explica que os bombeiros
referindo a algo a ser feito ou a como deve costumam navegar quase 300 metros ao
ser feito. redor da área do desaparecimento. A
Esse tipo está mais presente nos gêneros distância, segundo ele, normalmente é
que: manual de instruções, receitas suficiente para localizar vítimas. No caso de
culinárias, bulas, regulamentos, editais, etc. Priscilla, porém a estratégia não funcionou.
Uma receita apresenta verbos no "Uma coisa bem fora do normal", lembra.
imperativo, para indicar o que deve ser A sobrevivente relatou que, depois de ter
feito, cada passo a ser tomado para se sido arrastada pelo mar para a segunda
chegar a um determinado fim de maneira região de pedras, ela conseguiu subir nas
correta. rochas e seguiu por uma trilha.
O sargento explicou que a trilha, apesar
Questões de poder ser utilizada, é pouco
movimentada e "difícil de andar". Além
01. (EMDUR - Técnico em Segurança disso, demonstrou surpresa pelo fato de a
do Trabalho - FAU/2022) esteticista não saber nadar e ter conseguido
Bombeiro que atuou na busca de se manter na água por horas numa região de
mulher dada como morta, mas que mar agitado.
apareceu viva horas depois revela: Fonte: https://g1.globo.com/sp/santos-
regiao/noticia/2022/05/20/bombeiroque-atuou-na-busca-de-
'nunca vi algo semelhante'. mulher-dada-como-morta-mas-que-apareceu-vivahoras-depois-
revela-nunca-vi-algo-semelhante.ghtml (adaptado) Acesso em
20 de maio de 2022.
"Em 20 anos de profissão, nunca vi algo
semelhante", afirma o 3° sargento de Assinale a alternativa que apresente o
Polícia Militar Soniel, de 49 anos, que tipo textual predominante no texto:
atuou nas buscas pela esteticista Priscilla
Pereira da Silva, de 46, que ficou (A) Poesia.
desaparecida por quase 9h na última terça- (B) Narração.
feira (17) no mar em Peruíbe, no litoral de (C) Música.
São Paulo. Ela chegou a ser dada como (D) Notícia.
morta por familiares e amigos. Em (E) Argumentação.
entrevista exclusiva, o sargento do Corpo
de Bombeiros confessou que nunca havia 02. (MGS - Monitor Educacional -
vivenciado situação semelhante à que foi IBFC/2022) Muitos estudantes de Língua
protagonizada pela esteticista. Portuguesa acabam por confundir “tipos
Soniel conta que o grupo de salvamento, textuais” com “gêneros textuais”. Os tipos
formado por seis oficiais, começou o textuais também denominados tipos de
trabalho de buscas por volta das 8h, na Praia textos, caracterizam-se pelo seu conteúdo e
do Guaraú. A mulher, no entanto, foi pelo seu layout (formato). Já os gêneros
encontrada longe do mar, mais textuais são tipos relativamente estáveis de
precisamente na beira da estrada, por volta enunciados, os quais apresentam uma
das 16h. Foi uma colega confeiteira quem a função comunicativa baseada nas relações
resgatou. Segundo o sargento, durante os socioculturais e comunicativas. Sabendo-se
trabalhos de buscas, a sobrevivente chegou que há apenas cinco tipos textuais, assinale

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Língua Portuguesa

a alternativa que não pode ser denominada compreensão, com linguagem simples e
de tipo textual. descontraída, poucos (ou nenhum)
(A) Texto narrativo. personagens, apresentando uma visão
(B) Texto descritivo. crítica a respeito de contextos e
(C) Texto dramático. circunstâncias, podendo conter humor
(D) Texto dissertativo. crítico, irônico e sarcástico, com uma linha
cronológica estabelecida.
Gabarito O principal objetivo da crônica é
01.B - 02.C provocar uma reflexão sobre o assunto que
ela aborda.
GÊNEROS TEXTUAIS A crônica pode ser descritiva, narrativa,
dissertativa, humorística, lírica, poética,
Conto narrativo-descritiva, jornalística, histórica,
Refere-se a uma narrativa breve e crônica-ensaio, ou filosófica.
fictícia. A sua especificidade não pode ser
fixada com exatidão, porque a diferença Diário
entre um conto extenso e uma novela é Trata-se de um tipo de texto pessoal em
difícil de determinar. que uma pessoa relata experiências, ideias,
Um conto apresenta um grupo reduzido opiniões, desejos, sentimentos,
de personagens e um argumento não acontecimentos e fatos do cotidiano. Ainda
demasiado complexo, uma vez que entre as que com a expansão da internet o diário
suas características aparece a economia de manuscrito tem sido pouco explorado,
recursos narrativos. muitas pessoas preferem produzir seus
Uma das características do conto é que textos com papel e caneta.
ele possui um enredo único, geralmente Na comunicação virtual, os blogs se
focando apenas em uma situação. E um assemelham aos diários uma vez que
conto também é simples de ser interpretado, muitos possuem as mesmas características
ao contrário de outros gêneros textuais. e, por isso, são comumente chamados de
Nele também as histórias costumam se “Diários Virtuais".
desenrolar em um espaço de tempo mais As principais características dos diários
curto. são:
De onde o espaço da ação ser limitado: o Relatos pessoais, verídicos, escritos em
conto pode transcorrer numa sala, num primeira pessoa e em ordem cronológica.
cômodo, etc. E quando as personagens se Têm caráter intimista e confidente,
deslocam, os lugares não apresentam, via geralmente em linguagem informal.
de regra, a mesma intensidade dramática.
Os pontos percorridos podem ser vários, Biografia
mas exclusivamente um conterá a tônica É a história de vida de uma pessoa. Este
dramática; os demais funcionam como vocábulo também pode ser usado em
paradas necessárias à preparação do drama sentido simbólico/figurado. Nesse caso, a
que deflagrará em certo local. Assim, a noção de biografia faz referência à história
unidade de ação gera a unidade de lugar. de vida em geral.
(Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários) Nos casos mais usuais, porém, uma
biografia é uma narração escrita que resume
Crônica os principais fatos na vida de uma pessoa.
Bastante presente em jornais, revistas, Também se dá o nome de biografia ao
portais de internet e blogs. Aborda aspectos género literário em que se
do cotidiano, questões comuns do dia a dia. inserem/enquadram estas narrações.
É um gênero situado entre o jornalismo Enquanto gênero literário, a biografia é
e a literatura. São textos curtos e de fácil narrativa e expositiva. É redigida na terceira

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Língua Portuguesa

pessoa, à exceção das autobiografias (onde Anedota


o protagonista é o próprio a narrar as ações). A Anedota é um gênero textual
Livros de biografia já contaram histórias humorístico, que tem o intuito de levar ao
de músicos, cientistas, políticos e riso. São textos populares que vão sendo
personalidades em geral mundo afora. contados em ambientes informais, e que
Essas obras vão a fundo na vida do normalmente não possuem um autor.
biografado, revelando, assim, detalhes da Trata-se de um texto narrativo simples
intimidade dessas celebridades, tornando- em que geralmente há presença de enredo,
as mais humanas aos olhos dos fãs e personagens, tempo, espaço.
admiradores.
Lenda
Editorial A Lenda é uma narrativa de caráter
Faz parte dos textos jornalísticos e que ficcional com um fundo histórico que é
normalmente aparecem no início das transfigurado pela imaginação popular e
colunas. transmitida oralmente pelos povos do
Os editoriais são textos de opinião, com mundo inteiro
o objetivo de persuadir o leitor por meio de
argumentos consistentes como Mito
comparações, depoimentos de autoridades, O Mito é um relato fantástico de tradição
dados estatísticos, de pesquisa etc. oral, geralmente protagonizado por seres
A tipologia textual dos textos que encarnam as forças da natureza e os
argumentativos é a que está mais presente aspectos gerais da condição humana. Trata-
nas sequências do gênero editorial. se também de uma narrativa acerca dos
Mesmo possuindo caráter subjetivo, tempos heroicos, que geralmente guarda
pode apresentar objetividade, já que os um fundo de verdade, passado de geração
editoriais apresentam quais assuntos serão em geração.
abordados em cada seção do jornal. Observe que as designações lendas e
São textos organizados pelos mitos são muitas vezes usadas como
editorialistas, que expressam as opiniões da sinônimos.
equipe , não levando a assinatura do autor.
No geral, eles apresentam a opinião do Cartum
meio de comunicação (revista, jornal, rádio, Cartum é uma narrativa humorística,
etc.). expressa através da caricatura. O cartum é
uma anedota gráfica, e seu objetivo é
Carta de leitor provocar o riso do espectador. E como uma
Esse gênero textual possibilita o diálogo das manifestações da caricatura, ele chega
dos leitores com o editor de jornais e ao riso através da crítica mordaz, satírica,
revistas ou entre os leitores. É comum irônica e principalmente humorística, do
aparecer em uma seção dedicada às cartas comportamento do ser humano, das suas
de jornais ou revistas, como, por exemplo, fraquezas, dos seus hábitos e costumes.
Painel do Leitor, Fórum dos Leitores, Muitas vezes, porém, o riso contido num
Cartas, entre outros. cartum pode ser alcançado apenas com um
O objetivo da carta do leitor é jogo criativo de ideias, por um achado
proporcionar aos leitores a oportunidade de humorístico ou por uma forma inteligente
emitirem sua opinião a respeito dos de trocadilho visual. Na composição do
assuntos publicados em jornais ou revistas cartum podem ser inseridos elementos
ou sobre assuntos polêmicos do momento, da história em quadrinhos, como balões,
bem como apresentar elogios ou críticas. subtítulos, onomatopeias, e até mesmo a
divisão das cenas em quadrinhos. A

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Língua Portuguesa

narrativa do cartum pode comportar uma geralmente ocorre com as tiras cômicas ou
cena apenas ou uma sequência de cenas. humorísticas e com historinhas didáticas),
ou pode ser um capítulo de uma história
Charge seriada (é o caso das tiras de aventuras, em
É um cartum cujo objetivo é a crítica geral).
humorística imediata de um fato ou
acontecimento específico, em geral de Questões
natureza política. O conhecimento prévio,
por parte do leitor, do assunto de uma 01. (Prefeitura de Costa Marques -
charge é, quase sempre, fator essencial para Professor de Língua Portuguesa –
sua compreensão. A charge usa, quase IBADE/2022)
sempre, os elementos da caricatura na sua
primeira acepção, coisa que nunca acontece MORRA BEM
com o cartum, onde os bonecos
representam um tipo de ser humano e não Um dos meus textos mais conhecidos
uma pessoa específica. chama-se A morte devagar, que publiquei
na véspera de Finados de 2000 e que logo
História em quadrinhos ganhou o mundo com o título Morre
Forma de narração, em sequência Lentamente. No início foi equivocadamente
dinâmica, de situações representadas por atribuído a Pablo Neruda, por isso o
meio de desenhos que constituem pequenas espalhamento e seu sucesso. Passado tanto
unidades gráficas sucessivas (quadrinhos) e tempo, já me devolveram a autoria e hoje
são geralmente integrados por textos esse texto virou canção na França e entrou
sintéticos e diretos apresentados no roteiro de um filme italiano – sem falar
em balões e legendas. nas traduções para o espanhol, que alguns
Desde o seu surgimento, a narrativa dos desconfiados ainda acreditam ser seu
quadrinhos experimenta permanente idioma de origem.
evolução. Em sintonia com as linguagens Na época, aproveitando a proximidade
do cinema e da televisão, experimentam-se do Dia dos Mortos, escrevi puxando as
novas concepções de montagem, de planos orelhas (não os pés) daqueles que morrem
e de enquadramentos. em vida: os que evitam o risco, a arte, a
Apresentam-se normalmente nas paixão, o mistério, as viagens, as perguntas
seguintes categorias: cômicos, infantis, de - apenas atravessam os dias respirando.
aventuras (faroeste, policial, ficção Hoje, dia de Finados, 17 anos depois,
científica etc.), sentimentais, biográficos, reitero: não morra lentamente. Morra
históricos, de lendas e contos, ou de rápido, de uma vez só, sem delongas. Morra
propaganda. São conhecidas nos países de quantas vezes for necessário.
língua inglesa pela expressão comics, por Quando fiz meu mapa astral, ouvi da
ter sido humorística a primeira função astróloga: “Você tem dificuldade de lidar
manifesta das HQ, um humor facilmente com ambivalências, gosta das coisas
acessível a todas as classes sociais e que esclarecidas, para o bem ou para o mal”. E
assegurou a sua difusão. ela concluiu: “Morrer é algo que você faz
bem. Ficar em banho-maria, não”.
Tira Sombrio? Soturno? Ao contrário.
Historieta ou fragmento de história em Entendi com clareza sobre o que ela falava.
quadrinhos, geralmente apresentada em Morte é a antessala da luz. Não a morte
uma única faixa horizontal, com três ou definitiva, que encerra o assunto, mas as
quatro quadros, para ser publicada em diversas mortes em vida, os vários
jornais ou revistas. Uma tira de HQ pode falecimentos a que somos submetidos. É
conter uma história curta e completa (como preciso morrer bem enquanto se vive.

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Língua Portuguesa

Cada final de amor é uma pequena 02. (Câmara de Ipuiuna -


morte, por exemplo. Morre lentamente Encarregado de Serviços Gerais -
quem fica alimentando fantasias de retorno, Unilavras/2022)
planejando vinganças, cultivando
lembranças com naftalina. Sei que dói, mas Eu sei, mas não devia
não deixe esse amor definhando na UTI, dê Marina Colasanti

logo a extrema-unção, acabe com isso,


morra rápido, morra de vez, para que possa Eu sei que a gente se acostuma. Mas não
renascer ligeiro também. devia.
Finais de carreira, finais de amizade, A gente se acostuma a morar em
finais de ciclo: mortes que acontecem aos apartamentos de fundos e a não ter outra
30, aos 40 anos, em qualquer idade. Dói, dói vista que não as janelas ao redor. E, porque
demais, não estou negando a dor, mas o que não tem vista, logo se acostuma a não olhar
você prefere? As dúvidas, as ilusões, o para fora. E, porque não olha para fora, logo
apego? Prefere a sobrevida a uma vida se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
nova? Confie na experiência de quem já se E, porque não abre as cortinas, logo se
enterrou algumas vezes. Morra. Morra bem acostuma a acender mais cedo a luz. E, à
morrido, baby. medida que se acostuma, esquece o sol,
Final de juventude, final da faculdade, esquece o ar, esquece a amplidão.
final de uma viagem de intercâmbio: vai A gente se acostuma a acordar de manhã
ficar agindo como se tivesse 18 anos para sobressaltado porque está na hora. A tomar
sempre? Mate o garoto, renasça adulto. o café correndo porque está atrasado. A ler
A morte daqueles que amamos é trágica, o jornal no ônibus porque não pode perder
mas nossa própria morte, não. Ela é uma o tempo da viagem. A comer sanduíche
contingência de nossa longa existência, e porque não dá para almoçar. A sair do
essa não é uma frase cínica, simplesmente é trabalho porque já é noite. A cochilar no
assim. Nossos sonhos morrem. Nosso ônibus porque está cansado. A deitar cedo e
passado morre. Nossas crenças, nossas dormir pesado sem ter vivido o dia.
fases. Fazer o quê? Morra bem. Morra com A gente se acostuma a abrir o jornal e a
categoria. Com dignidade. O menos ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra,
lentamente possível. Morra de morte bem aceita os mortos e que haja números para os
arrematada, uma, duas, três mil vezes, mortos. E, aceitando os números, aceita não
morra em definitivo sempre que for acreditar nas negociações de paz. E, não
exigido, para sobrar tempo. acreditando nas negociações de paz, aceita
Tempo para a vida em frente. ler todo dia da guerra, dos números, da
(O GLOBO, Marta Medeiros) longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia
O Texto é classificado como uma/um: inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso
(A) reportagem. ir. A sorrir para as pessoas sem receber um
(B) apólogo. sorriso de volta. A ser ignorado quando
(C) editorial. precisava tanto ser visto.
(D) conto. A gente se acostuma a pagar por tudo o
(E) crônica. que deseja e o de que necessita. E a lutar
para ganhar o dinheiro com que pagar. E a
ganhar menos do que precisa. E a fazer fila
para pagar. E a pagar mais do que as coisas
valem. E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar
mais dinheiro, para ter com que pagar nas
filas em que se cobra.

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Língua Portuguesa

A gente se acostuma a andar na rua e ver COESÃO E COERÊNCIA


cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios.
A ligar a televisão e assistir a comerciais. A Um texto é uma unidade da língua em
ir ao cinema e engolir publicidade. A ser uso. Para que o texto seja um texto de fato,
instigado, conduzido, desnorteado, lançado ele precisa apresentar e conter os fatores de
na infindável catarata dos produtos. textualidade, que são fatores internos
A gente se acostuma à poluição. Às salas (coesão e coerência), e fatores externos,
fechadas de ar condicionado e cheiro de pragmáticos, como a intencionalidade, a
cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. aceitabilidade, a informatividade, a
Ao choque que os olhos levam na luz situacionalidade e a intertextualidade.
natural. Às bactérias da água potável. À São os fatores de textualidade que tornam
contaminação da água do mar. À lenta uma sequência de orações um texto de fato.
morte dos rios. Se acostuma a não ouvir O texto é o produto final e os fatores de
passarinho, a não ter galo de madrugada, a textualidade são as ferramentas para se
temer a hidrofobia dos cães, a não colher atingir esse fim.
fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, Coesão Textual
para não sofrer. Em doses pequenas, Para bem entendermos acerca da coesão
tentando não perceber, vai afastando uma e coerência presente nos textos precisamos,
dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta primeiro, compreender que é por meio
acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta destes recursos que partes separadas de um
na primeira fila e torce um pouco o pescoço. enunciado se conectam de forma
Se a praia está contaminada, a gente molha compreensível e, assim, formam um só
só os pés e sua no resto do corpo. Se o enunciado transmissor de sentido.
trabalho está duro, a gente se consola Antes de mais nada:
pensando no fim de semana. E se no fim de
semana não há muito o que fazer a gente vai Vale a pena lembrar que os textos se
dormir cedo e ainda fica satisfeito porque dividem em parágrafos com o intuito de
tem sempre sono atrasado. apresentar o desenvolvimento das ideias.
A gente se acostuma para não se ralar na Em cada um dos parágrafos deve existir
aspereza, para preservar a pele. Se uma ideia central a ser desenvolvida. Como
acostuma para evitar feridas, sangramentos, no texto geral, o parágrafo também se
para esquivar-se de faca e baioneta, para organiza com introdução, desenvolvimento
poupar o peito. A gente se acostuma para e fim. Logo, ele precisa ser pensado de
poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e modo a formar um conjunto coeso.
que, gasta de tanto acostumar, se perde de
si mesma.
Disponível em:
Examinemos o exemplo a seguir:
<http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp>. Acesso em
20 mar. 2020.
“Alugarei um apartamento; visitei
alguns esta manhã para conhecer a situação
A partir da função social do texto em
e localização”.
questão, pode-se considerar que este
pertence ao gênero textual Nos dois trechos acima, separados por
(A) crônica. ponto e vírgula, a coesão textual encontra-
(B) conto. se presente na continuidade da conjugação
(C) notícia. do verbo em primeira pessoa do singular,
(D) anedota. EU, assim, é possível inferir que as ações
“alugar” e “visitar” foram praticadas pelo
Gabarito mesmo sujeito.
01. E - 02. A

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Língua Portuguesa

Seguindo a mesma lógica de inferência antecipa uma exemplificação. Por antecipar


de elementos do texto, o pronome um elemento, esta referenciação pode ser
indefinido ALGUNS, presente na segunda caracterizada por catáfora.
oração, reporta-se contextualmente ao
substantivo APARTAMENTOS mencionado Antes de mais nada:
anteriormente. Vale a pena lembrar que os pronomes
Logo, é possível afirmar que os podem recuperar ideais ou elementos já
enunciados apresentados possuem coesão expressos no texto. Deste modo, eles
entre si, como também, são coerentes, uma variam de acordo com o gênero, pessoa e
vez que o conjunto de ideias obtidos número do substantivo que substituem.
estabelecem uma relação lógica. - Os pronomes pessoais do caso reto
Retomando o exemplo citado, um são: eu; tu; ele; ela; nós; vós; eles; elas.
enunciado sem coerência seria: - Os pronomes pessoais do caso
oblíquo são: me; mim; comigo; te; ti;
“Alugarei um apartamento; tomei café contigo; se; o; a; lhe; si; consigo; ele; ela;
da manhã em alguns esta manhã”. nos; nós; conosco; vos; vós; convosco;
os; as; lhes; eles; elas.
Nesta segunda construção, não há - Os pronomes possessivos são: meu;
sequência lógica entre as ideias, pois quem minha; meus; minhas; teu; tua; teus; tuas;
busca alugar um apartamento não vai até seu; sua; seus; suas; nosso; nossa; nossos;
eles para tomar café da manhã. Podemos, nossas; vosso; vossa; vossos; vossas.
portanto, afirmar que é um texto com ideias
contraditórias, sendo incoerente. - A substituição atribui coesão aos textos
Há, ainda, outros dois princípios de evitando construções repetitivas. Assim,
coerência textual. Retomaremos aos como estudado no tópico anterior –
mecanismos que garantem a coesão aos referenciação – aqui os pronomes
enunciados, abordando os recursos assumem, também, papel fundamental para
denominados: referenciação, substituição e a relação entre orações. Vejamos a seguir:
elipse.
A referenciação pode ocorrer em dois “Encontrei bons livros na biblioteca da
níveis: minha escola. Você os quer para estudar?”
1 - Referência pessoal – utilização de O enunciado acima, apresenta o uso do
pronomes pessoais e possessivos para pronome pessoal “os” em substituição de
retomar vocábulos presentes. Exemplo: “bons livros”. Logo, ao optar pela
Todos os alunos foram aprovados. construção com o pronome, evitamos a
Agora, eles precisam entregar os repetição do termo “bons livros” na frase.
documentos na data prevista.
A utilização do pronome pessoal “eles” - A elipse constitui-se como um recurso
tem por função retomar “todos os alunos”. em que ocorre a omissão de um termo da
Por retomar um elemento já presente no frase que pode ser facilmente subentendido
enunciado, esta referenciação pode ser pelo contexto. Na frase “As rosas florescem
caracterizada por anáfora. em maio, as margaridas em agosto.” fica
claro que a construção da segunda oração
2- Referência demonstrativa – utilização de seria: as margaridas florescem em agosto.
pronomes demonstrativos e advérbios. Identificamos, portanto, a elipse do verbo
Exemplo: “florescem”.
Arquivamos todos os documentos, com
exceção deste: folha de declaração de bens. Avançando nossos estudos, quando
O pronome demonstrativo “deste” faz falamos em coesão, não podemos nos
referência ao vocábulo “documentos” e esquecer, também, do uso de conjunções,

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Língua Portuguesa

elas são capazes de ligar as orações Proporcional: quanto mais; à


estabelecendo relações entre elas, ou seja, proporção que.
garantem a coesão sequencial dos Quanto mais ouvia, mais se
enunciados, por isso são, também, decepcionava.
chamados de nexos. A relação estabelecida
entre os enunciados pode se dar em Temporal: quando; enquanto.
diferentes níveis, como: Quando chegaram a porta estava aberta.

Aditivas: e; nem; não só... mas também. Final: para que; a fim de que.
Eles não gostam de ler nem de estudar. Estacione para que consigamos
conversar direito.
Adversativas: mas; porém; contudo;
entretanto. Para fechar nossos estudos sobre os
Lia bastante livros, mas não entendia elementos de coesão, devemos retomar a
bem. questão dos tempos e modos verbais, uma
vez que o uso adequado do verbo garante a
Alternativas: ou... ou; ora... ora; quer... coesão entre os elementos do enunciado.
quer. Comecemos pelos tempos do modo
Ora quer mudar-se, ora quer ficar. indicativo:
Presente – apresenta os fatos não
Explicativas: porque; pois. concluídos, em que o tempo do enunciado
Preciso revisar o conteúdo, pois a prova coincide com o próprio momento da
será semana que vem. enunciação dos fatos.
- Moramos na rua das Acácias.
Conclusiva: logo; portanto; assim; - Esta palavra se escreve de outra forma.
então; por conseguinte.
O chão estava todo molhado, logo É, ainda, no tempo presente que se
choveu. expressam as verdades científicas.
- Cometas são corpos de luz própria.
Comparativa: como; tal qual.
Ela era sozinha como sua mãe. Pretérito perfeito – apresenta os fatos
concluídos, situando-os em um momento
Conformativa: conforme; segundo; anterior ao presente.
como. - Ele morou nesta rua.
Conforme estava escrito, não abrimos Ou em um momento anterior do futuro.
ontem. - Assim que você desembarcar, envie
mensagem para dizer se chegou bem.
Condicional: se; caso.
Se levantar cedo, conseguiremos bons Pretérito imperfeito – apresenta os fatos
lugares no ônibus. não concluídos, porém o ponto de
referência é o passado.
Concessiva: embora; não obstante. - Em 1956, ele partia daquela cidade em
Ela era linda, embora se julgasse feia. busca de novas aventuras.

Causal: porque; pois. Pretérito mais-que-perfeito: apresenta o


Porque não acredita na história, foi fato como concluído e o ponto de referência
investigar o ocorrido. da ação é um tempo anterior ao passado.
- Fui informada de que, meses antes, ele
Consecutiva: tal; tanto; tão. mudara de São Paulo com a família toda.
Dedicou-se tanto ao emprego.

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Língua Portuguesa

Futuro do presente: representa o fato Futuro – indica um acontecimento futuro


como não concluído e o situa em um em relação a outro também futuro.
momento posterior ao presente. - Quando ele morar sozinho, aprenderá
- Os trabalhadores não pagarão por isso. preciosas lições.

Há, ainda, uma outra construção O parágrafo precisa ser desenvolvido em


possível na qual podemos denominar torno de uma ideia central e apresentar um
“modalidade hipotética” ou “modalidade raciocínio completo.
dubitativa”: Quando o autor muda de parágrafo, ele
- Quem estará me ligando essa hora? precisa conectar as ideias. É preciso ter
cuidado para não quebrar o encadeamento
Futuro do pretérito: apresenta fatos não das ideias e prejudicar a clareza.
concluídos e que se situam em 3 momentos É interessante compor o parágrafo com
diferentes – momento posterior ao passado frases curtas e longas, pois, dessa forma, a
(categórico); momento simultâneo ao leitura acaba ganhando ritmo, ficando mais
passado (possível); simultâneo ao presente fluída e agradável.
(universo hipotético). Para detectar um parágrafo, basta
- O ministro comunicou que observar a linha e a margem da página, já
renunciaria ao cargo. (posterior, que a primeira linha do parágrafo começa
categórico) com um recuo maior em relação à margem
- Imaginei que eles estariam na frente de do que as demais linhas do texto.
casa. (simultâneo ao passado, possível) O sinal gráfico que simboliza o
- Se eles estudassem um pouco mais, parágrafo é §.
eles seriam aprovados. (simultâneo ao
presente, hipotético) Coerência Textual
No tópico anterior, estudamos um dos
E, agora, passemos para os tempos do princípios da coerência, o princípio da não
modo subjuntivo: contradição (sugiro que retome ao
Presente – indica um acontecimento momento anterior e revise tal princípio).
presente, porém duvidoso ou incerto. Neste momento, analisaremos mais dois
- Talvez eu estude mais tarde. princípios fundamentais para a existência
Pode, ainda, indicar um desejo. de coerência nos enunciados, o princípio da
- Espero que aprendam a lição. não tautologia e o princípio da relevância.
A não tautologia admite a não
Pretérito perfeito – indica um passado redundância de informações presentes na
incerto. frase, mesmo que seja expressa por palavras
- Que tenham todos terminado a diferentes. Veja o exemplo: Visitamos o
faculdade. Canadá há cinco anos (coerência correta).
Visitamos o Canadá há cinco anos atrás
Pretérito imperfeito – indica uma (coerência incorreta).
hipótese ou condição. O princípio da relevância admite que as
- Se ele parasse de gritar, seria uma ideias devem estar relacionadas entre si,
pessoa querida. não podem ser apresentadas de forma
fragmentada para que não haja desvio no
Pretérito mais-que-perfeito – indica uma sentido da mensagem. Exemplo:
situação ocorrida no passado do passado. O homem estava com muita fome, mas
- Se tivessem procurado um pouco não tinha dinheiro na carteira e por isso foi
mais, teriam encontrado. ao banco e sacou uma determinada quantia
para utilizar. Em seguida, foi a um
restaurante e almoçou. (Coerência correta)

19
Língua Portuguesa

O homem estava com muita fome, mas a respeito de Machado de Assis, a


não tinha dinheiro na carteira. Foi a um intertextualidade de nada valerá, pois os
restaurante almoçar e em seguida foi ao feitos de sentidos só ocorrerão caso o leitor
banco e sacou uma determinada quantia consiga captar essa intertextualidade,
para utilizar. (Coerência incorreta) reconhecendo que elementos de Machado
Antes de finalizar, vale a pena entender de Assis estão presentes no texto.
que textos coerentes precisam apresentar Sobre a informatividade, é preciso
uma boa continuidade temática, ou seja, os considerar os conhecimentos prévios do
assuntos precisam surgir de forma de forma leitor e os novos conhecimentos trazidos
organizada, sem que se crie a sensação de pelo texto. É necessário haver um
mudança de assunto repentina. equilíbrio, pois um texto que apresenta
É necessário que novas informações apenas informações novas ao leitor será de
sejam introduzidas no texto, pois isto dá difícil compreensão, já que não haverá uma
uma sequência ao todo. Um texto que não âncora para esses novos conhecimentos.
introduz aos poucos novas informações, Mas um texto que traz poucas informações
argumentos e pontos de vista, torna-se um novas se torna chato, pois não causará
texto chato, cansativo e repetitivo, além de interesse, uma vez que o leitor já sabe tudo
irrelevante. Essa introdução de novas aquilo.
informações é chamada de progressão
semântica. Questões

Um texto é escrito para alguém, para um 01. (Prefeitura de Córrego Novo -


receptor. O texto possui um produtor Fiscal Tributário - Máxima/2022)
(autor) e um receptor. “Portanto termino dizendo para vocês,
A intencionalidade de um texto diz homens e sociedade: "HOMENS
respeito àquilo que o produtor objetivava ao TAMBÉM ABORTAM". O modalizador
escrever o texto. Todo texto possui uma destacado iniciando o período pode ser
finalidade, a intenção do autor é atingir essa substituído sem prejuízo de sentido por:
finalidade. (A) No entanto;
A aceitabilidade tem a ver com o (B) Por conseguinte;
receptor do texto, aquele que lê. Um texto (C) Contato;
bem aceito é um texto lido e apreciado por (D) Porquanto.
muitos. Quando isso ocorre, a
intencionalidade do autor pode ter sido 02. (Prefeitura de Palhoça - Professor
positiva, já que o texto não foi rejeitado. de Anos Finais - ESES/2022) Há um tipo
A situacionalidade diz respeito ao de coesão que é feita através de termos
contexto de produção e de recepção de um (normalmente os pronomes) que fazem
texto. Um texto sobre futebol é produzido referência a elementos anteriormente
visando um público receptor que aprecia citados. Sendo assim, na frase Pelé e Xuxa
futebol. A aceitabilidade desse texto para são extremamente famosos. Esse foi o
um público que não gosta de futebol seria principal jogador de futebol de todos os
nula. Seria um texto fora de contexto, fora tempos, e esta, apresentadora de
de situação. Um mesmo texto pode causar programas infantis, tem-se a chamada:
impressões e produzir significados (A) Coesão lexical.
diferentes em situações diferentes. (B) Coesão por elipse.
A intertextualidade só será efetiva (C) Coesão por inclusão.
dependendo dos fatores de produção e (D) Coesão referencial.
recepção. Se um autor colocar elementos de
Machado de Assis dentro de seu texto e a Gabarito
pessoa que ler esse texto não conhecer nada 01.B - 02.D

20
Língua Portuguesa

ORTOGRAFIA km (quilômetro)
yd (jarda)
Alfabeto
A letra representa o som na escrita e o Uso do H
conjunto de letras de um sistema de escrita Em nossa língua, o h não representa
forma o alfabeto. nenhum som e é utilizado somente:
O alfabeto da Língua Portuguesa possui - No início de algumas palavras
26 letras: hoje; havia
abcdefghijklmnopqrstuvwx
yz - Ao final de interjeições:
ah! oh!
Ordem alfabética
A ordem alfabética serve para organizar - Em palavras compostas, quando o
palavras e nomes em geral em uma lista segundo elemento, que começa por h, se
alfabética, ou seja, numa sequência que se junta ao primeiro pelo uso do hífen:
inicia no primeiro e vai até o último. super-homem; pré-vestibular
Essa ordem deve seguir a ordem das
letras no alfabeto, ou seja, começa com a e - Em dígrafos ch, lh, nh:
vai até o z, na ordem em que as letras chove; malha; lenha
aparecem no alfabeto (a, b, c, d, e...).
Para organizar essa ordem alfabética, é Abreviação
preciso analisar se a palavra inicia com a Existem palavras longas e temos pouco
letra a, pois ele será o primeiro. Do tempo, pois vivemos de maneira acelerada.
contrário, passa-se à próxima letra, no caso, Então, para falar ou escrever mais rápidos,
b, e assim em diante. acabamos por abreviar certas palavras, para
Mas pode haver mais de uma palavra que acelerar as coisas. A abreviação ocorre de
se inicia com a letra a. Para saber qual vem uma maneira que não cause prejuízo à
primeiro, é só ver a próxima letra. A palavra compreensão da palavra. É comum
cuja segunda letra vier antes será o abreviarmos palavras de compostos greco-
primeiro. latinos, como:
Alberto vem primeiro que Amanda, pois fotografia (foto); automóvel (auto);
o l vem antes do m no alfabeto. Quando motocicleta (moto); quilograma (quilo).
houver letras repetidas, basta usar essa
mesma regra. Por exemplo, Fernanda vem Abreviatura
primeiro que Fernando, pois a diferença Representa uma palavra por meio de
está na última letra e o a aparece antes do o suas sílabas iniciais ou letras. É possível
no alfabeto. realizar uma abreviatura escrevendo a
primeira sílaba e a primeira letra + ponto
As letras a, e, i, o, u são vogais. As final abreviativo: núm. (número)
demais são consoantes. Em uma palavra cuja segunda sílaba seja
vogal, a abreviação se estende até a
Emprega-se as letras k, w e y em apenas consoante seguinte: biol. (biologia)
dois casos: O acento gráfico da primeira sílaba, se
- Ao transcrever nomes estrangeiros e houver, será preservado: fáb. (fábrica)
seus derivados: Caso a segunda sílaba se inicie por duas
Willian; Mary; kafkiano consoantes, estas devem ser preservadas:
gloss. (glossário)
- Quando abreviamos os símbolos de Há ainda os casos que não obedecem a
uso internacional: nenhuma regra em particular: Ltda.
kg (quilograma)

21
Língua Portuguesa

(limitada); apto. (apartamento); Cia. rema


(Companhia); entre outros. Abolido pelo Acordo Ortográfico. Só é
utilizado em palavras estrangeiras, nomes
Siglas próprios e seus derivados:
São as letras iniciais das palavras, ou Günter Grass
partes iniciais, formando uma quase-
palavra. É comum utilizar siglas para Apóstrofo
assinar um nome, em nomes de Indica que houve a supressão de um
organizações, partidos políticos, sociedades fonema, normalmente uma vogal. Está
culturais, estudantis, etc. ligado ao modo de pronunciar as palavras
MEC: Ministério da Educação. ou em palavras ligadas pela preposição de:
FGV: Fundação Getúlio Vargas. copo d’água; anel d’ouro
IBGE: Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Cedilha
Detran: Departamento Estadual de Aparece debaixo da letra c, antes de a, o
trânsito. e u, representando a fricativa alveolar surda
Embrapa: Empresa Brasileira de /s/:
pesquisa agropecuária. calça; paçoca; açude

Notações Léxicas Hífen


São sinais acessórios da escrita. - Liga elementos de palavras compostas
ou derivadas por prefixação:
Acento agudo pré-moldado; couve-flor
- Assinala as vogais tônicas fechadas i e
u: - Une pronomes átonos a verbos:
físico; açúcar enviaram-me uma mensagem.

- Assinala as vogais tônicas abertas e - Quando escrevemos e a linha termina,


semiabertas a, e e o: separa uma palavra em duas partes:
pálido; exército; herói Como é bom poder estudar e adquirir no-
-vos conhecimentos!
Acento grave
Indica a crase, que é a junção da Hífen e Palavras Compostas
preposição a com o artigo feminino a(s). O hífen é utilizado em palavras
Para não repetir o a duas vezes, usa-se o a compostas em que a união dos dois
com crase: elementos apresenta um sentido único,
Vou a a praia (a preposição + a artigo) todavia, cada elemento mantém sua própria
Vou à praia independência, como acentuação própria.
- Palavras compostas nas quais os
Acento circunflexo elementos perderam seu significado
Indica as vogais tônicas semifechadas e próprio, formando um novo significado:
e o, e a vogal tônica a seguida de consoante arco-íris; água-viva
nasal:
mês; alô; tâmara - Palavras compostas cujo primeiro
elemento possui forma adjetiva:
Til latino-americano; sócio-histórico
Utilizado sobre as letras a e o para
indicar a nasalidade: - Palavras compostas com radicais auto-
mãe; melões , neo-, proto-, pseudo- e semi-, caso o
*É um sinal gráfico, não um acento. próximo elemento começar com h:

22
Língua Portuguesa

proto-histórico; semi-humano - sota-, soto-, vice- e ex- (com o sentido


de estado anterior):
- Palavras compostas com o radical pan- soto-ministro; vice-presidente; ex-atleta
ou circum-, quando o próximo elemento
começar por vogal, h, m ou n: - pós-, pré- e pró-, quando possuírem
pan-americano; pan-helênico; circum- acento e significado próprios:
navegação pós-doutor; pré-escola; pró-ocidente

- Palavras compostas com bem, se o - Quando não houver acento, ocorre


próximo elemento necessitar ou possuir aglutinação com o radical seguinte:
autonomia: pospor; preestabelecido; procônsul
bem-aventurança
- Se o segundo elemento iniciar com a
- Em palavras compostas com mal, se o mesma vogal com que o prefixo termina,
elemento seguinte começar com vogal ou h: ocorre o hífen:
mal-entendido; mal-humorado intra-aurais; supra-auricular

- Palavras compostas com sem, além, G ou J?


aquém e recém: Não há uma regra geral que abarcará
sem-vergonha; além-mar; aquém- todos os usos dessas duas letras. Entretanto,
fronteiras; recém-formado existem algumas regras que podem ajudar
em diversas situações:
- Quando o segundo elemento iniciar por
vogal, r ou s, não há hífen, e o r e o s são Utiliza-se g:
duplicados: - Em substantivos que terminam em -
autoajuda; paraquedas; autorregulagem; agem, -igem, -ugem (exceto pajem):
autossabotagem garagem; fuligem; ferrugem

Hífen e a Prefixação - Em palavras que terminam em -ágio,


- contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e égio, -ígio, -ógio, -úgio:
ultra-, há hífen caso o elemento a seguir estágio; egrégio; prodígio; relógio;
inicie por h ou pela mesma vogal que refúgio
finaliza o prefixo:
contra-almirante; ultra-humano - Em verbos quer terminam em -ger e -
gir:
- ante-, anti-, arqui- e sobre-, caso o proteger, fugir
elemento a seguir inicie por h ou pela
mesma vogal que encerra o prefixo, há - Em palavras que derivam de outras
hífen: grafadas com g:
arqui-inimigo; garagista; fuliginoso
do contrário, antiepilético.
Utiliza-se j:
- super- e inter-, caso o elemento a - Em palavras que derivam de outras
seguir inicie por h ou r, haverá hífen: terminadas em -ja:
super-humano; inter-relações loja – lojista
cereja – cerejeira
- ab-, ad-, ob-, sob- e sub-, caso o
elemento seguinte iniciar por r, haverá - Em todas as formas da conjugação dos
hífen: verbos que terminam em -jar ou -jear:
sub-reino; ab-rogar

23
Língua Portuguesa

viajar – viajo; viaje (viagem é um Letra Ç


substantivo) - Nunca aparece antes de e e i. É usado
despejar – despejo, despeje somente antes de a, o e u.

- Palavras cognatas ou que derivam de - Usado em palavras de origem indígena,


outras que possuam j: africana, árabe, italiana, francesa ou
nojo – nojento exótica:
jeito – jeitoso açaí - açúcar - muçarela - Moçambique

- Palavras de origem africana ou - Palavras com o sufixo -guaçu e -açu:


ameríndia (como o tupi-guarani) ou árabe: Paraguaçu Paulista - cupuaçu
pajé – canjica – jiló – Jericó
- Palavras que têm origem no radical to:
*Berinjela é o correto, sendo uma atento - atenção; exceto - exceção
palavra que gera dúvidas.
- Palavras que derivam de outras
R e RR terminadas em -tar e -tor:
- A sua pronúncia da letra r é marcada adotar – adoção; setor - seção
por tremer a língua quando se está entre
duas vogais. - Em adjetivos e substantivos que
- Quando estiver entre uma vogal e uma derivam do verbo ter e seus derivados:
consoante, deve ser pronunciada de forma deter - detenção
fraca.
- Pode iniciar palavras, e nesses casos - Em palavras que derivam de outras
sua pronúncia é forte, como se fosse rr. terminadas em -tivo:
introspectivo - introspecção
- Nenhuma palavra se inicia por rr.
- Sua pronúncia é forte, é o próprio nome - Na frente de ditongos:
da letra, mas feito com a garganta, sem feição
tremer a língua. *Quando o verbo terminar em r e a
- Aparece apenas entre duas vogais. palavra que será sua derivada remover esse
r:
C, Ç, S e SS reeducar – reeducação; importar -
Letra C importação
- Utilizada em palavras de origem
africana, árabe ou tupi: Letra S
cipó - cacique - Substantivos que derivam de verbos em
corr, d, nd, nt, pel, rg, rt, no radical:
- Em palavras que derivam de outras que concorrer - concurso; imergir - imersão
terminam com -te e -to:
marte - marciano; torto – torcido - Adjetivos pátrios ou títulos de nobreza
que terminem em -ês(a) e -ense:
- Após ditongos: paranaense – marquês
coice – foice
- Palavras que terminam em -oso e -isa:
- Palavras com terminações -ecer e - saboroso – fantasia
encer:
anoitecer - pertencer - Palavras que possuam o som de z e que
aparecem após um ditongo:
coisa - maisena

24
Língua Portuguesa

- Em substantivos que terminem em ase, - Depois do prefixo en:


ese, ise, ose: enxugar - enxaqueca
tese - mitose
*deslize e gaze são algumas exceções. - Em palavras que começam por me:
mexerica - mexer
- Em verbos que terminam com isar,
caso seu correspondente possuir s no - Em palavras de origem tupi, africana
radical: ou inglesa (mantendo a grafia orifinal):
liso - alisar xavante - xampu - xerife
*Exceções: catequizar - catequese,
batizar - batismo, hipnotizar - hipnose), O CH
sintetizar – síntese. - Utilizado em palavras de origem latina,
francesa, espanhola, italiana, alemã,
- Em palavras derivadas, caso a letra s inglesa, árabe:
seja parte do radical da palavra original, o chave - cheque - chope sanduíche
diminutivo ocorre com s:
Luís - Lusinho; mesa - mesinha - Em palavras derivadas que possuam
*Quando a palavra de origem não ch:
terminar em s, o z é utilizado: chifre – chifrada; encher - enchente
mané - manezinho; pé - pezinho
- Aumentativo ou diminutivo, sufixos -
O SS acho, -achão, -icho, -ucho
- Ocorre entre duas vogais e nunca deve rabicho - gorducho - bonachão
iniciar uma palavra.
- Após an, en, in, on, un:
- Aparece em verbos que terminam em gancho - encher - inchado - poncho -
primir, meter, mitir, cutir, ceder, gredir, escarafunchar
sed(i)ar:
impressão - imprimir; repercussão – Inicial Maiúscula ou Minúscula
repercutir; omissão - omitir Maiúscula
- Na primeira palavra de período ou
- Quando o prefixo termina em vogal e a citação;
próxima palavra começa com s: - Em substantivos próprios;
assimétrico - minissaia - Em nomes de épocas históricas, datas e
fatos importantes;
O SC - Em topônimos e locativos;
Pode ser um dígrafo. Nesse caso a - Em nomes de altos cargos e dignidades;
unidade sonora se perde, representa apenas - Em nomes de altos conceitos religiosos
um som consonantal, que equivale a /s/. ou políticos;
Quando ocorre, na separação silábica, o s e - Em títulos de revistas e jornais;
o c são separados: - Em expressões de tratamento.
nas-cer
*Ocorre com maior frequência em Minúscula
palavras mais cultas: - Em nomes dos dias, meses, estações do
descender - ascender - consciência ano;
- Em cargos e títulos;
O “X” - Em pontos cardeais.
- Aparece após ditongo:
feixe - caixa

25
Língua Portuguesa

Porquês Onde: indica lugar no qual / em que.


Por que (separado e sem acento): A cidade onde nasci é grande. (A cidade
utilizado para fazer perguntas. Pode ser na qual nasci é grande)
substituído por por qual motivo, por qual
razão. Aonde: é a junção da preposição a +
Por que você fez isso? (por qual motivo onde. Deve ser empregado com verbos que
você fez isso?) indicam movimento.
Vou aonde a vida me levar.
Por quê (separado e com acento): deve
ser usado no final de frases. A, há ou à
Você fez isso por quê? A: pode ser um artigo feminino ou uma
Ele se irritou e nem disse por quê. preposição.
Quando aparece sozinho: Então é assim? A borboleta. (artigo feminino antes do
Por quê? substantivo feminino)
O prédio fica a cem metros de distância
Porque (junto e sem acento): é (preposição indicando distância)
utilizado em respostas e justificativas. Tem Vou ao trabalho daqui a 2h. (preposição
o mesmo valor de em razão de, pois, devido que indica tempo futuro)
a.
Eu me cansei porque você demorou Há: verbo haver. Pode indicar tempo
muito. (Eu me cansei pois você demorou passado ou ter o sentido de existir.
muito) Isso ocorreu há mil anos.
Há uma casa naquela rua.
Porquê (junto e com acento): Tem o
mesmo valor de razão, motivo, causa. É À: junção de artigo com preposição,
comum ser precedido de artigo. formando crase.
Eu queria saber o porquê de ele ter se Fui à missa.
cansado. (Eu queria saber o motivo de ele
ter se cansado). Ao encontro de ou De encontro a
Ao encontro de: significa que algo está
Mal ou Mau de acordo.
Mal: é o oposto de bem. Minha ideia foi ao encontro da sua. (as
Você está bem? ideias estão de acordo)
Não, estou mal.
De encontro a: indica algo que não está
Mau: é o oposto de bom. de acordo.
Você é um homem bom. Minha ideia foi de encontro à sua. (as
Não, eu sou um homem mau. ideias se opõem)

Mais ou Mas Afim ou Afim de


Mas: tem o mesmo valor de porém, Afim: indica semelhança, igualdade.
indicando uma oposição a uma ideia Para meu aniversário, convidarei apenas
anterior. os meus parentes e afins.
Eu gosto dela, mas ela me cansa.
Afim de: locução prepositiva que pode
Mais: tem o valor de adição. É o ser substituído por para.
contrário de menos. Vim aqui a fim de festejar.
Ele é mais forte que eu. Também indica interesse: Estou a fim de
você. (estou interessado em você)
Onde ou Aonde

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Língua Portuguesa

Funções do Como - Função de conjunção subordinativa


- Função de substantivo: para exercer comparativa: apresenta o valor de tal qual.
esta função deve acompanhado de artigo, “Eu estudei como você, mas falhei.”
adjetivo, pronome ou numeral.
“Já sabemos o como, agora falta saber o - Função de conjunção subordinativa
quando”. conformativa: apresenta valor de
conforme.
- Função de verbo: a conjugação do “Como eu havia dito, não aceitarei
verbo comer na 1ª pessoa do singular do menos que isso”.
presente do indicativo é como.
“Eu como de tudo um pouco”. - Função de partícula expletiva ou de
realce: tem essa função quando seu
- Função de pronome relativo: emprego realçar uma ideia ou palavra
normalmente acontece quando como ser dentro da frase. Em casos assim, o como
precedido de modo, forma, maneira e jeito, pode ser removido sem qualquer prejuízo
apresentando o mesmo sentido de com o(a) sintático.
qual, pelo(a) qual, etc. “Sentiu como um aperto no peito e
“Não gosto do modo como ele me precisou se sentar”.
chama.” - Função de interjeição: aparece em
“Gosto do jeito como a professora frases interrogativas ou exclamativas, para
ensina”. expressar emoção.
“Como?! Então ele realmente fez isso?”
- Função de advérbio: neste caso, pode
ser um advérbio de modo “Isso não ocorreu Questões
como eu esperava.”; interrogativo de
modo “Boa tarde. Como posso ajudá-lo?”; 01. (MPE/GO - Secretário Auxiliar -
de intensidade (pode ser substituído por MPE/GO/2022) Assinale a alternativa em
quanto ou quão) “Como é maravilhoso o que todas as palavras estão escritas de
final da tarde”. forma correta:
(A) garagem – genjiva – jilete
- Função de preposição acidental: é (B) vertigem – laranjinha – hegemonia
comum acontecer quando como apresentar (C) gis – algema – estrangeiro
valor semântico de por, na condição de ou (D) geito – vertiginoso - prodígio
na qualidade de.
“Como escritor, é meu dever escutar meu 02. (Prefeitura de Juatuba - Assistente
público leitor”. Social - REIS & REIS/2022) Marque a
“E ela ainda saiu como a vítima da alternativa que traz uma afirmação correta
história!” sobre o uso das letras iniciais maiúsculas e
minúsculas na frase a seguir.
- Função de conjunção coordenativa “A cidade de Brasília, capital do país, foi
aditiva: apresenta o valor de bem como. projetada por Lúcio Costa e inaugurada no
“Não só canta, como dança”. dia 21 de Abril de 1960.”
(A) Todas as letras iniciais das palavras
- Função de conjunção subordinativa são usadas adequadamente.
causal: apresenta o valor de porque, no (B) Há erro, pois a palavra “cidade” deve
início de uma frase. ser escrita com inicial maiúscula.
“Como guardamos dinheiro ao longo do (C) Há erro, pois a palavra “capital”
ano, fomos viajar no Natal”. deve ser escrita com inicial maiúscula.
(D) Há erro, pois a palavra “Abril” deve
ser escrita com inicial minúscula.

27
Língua Portuguesa

Gabarito chamados de encontros consonantais


inseparáveis. Esse encontro acontece com
01.B - 02.D maior frequência (não é regra!) entre uma
consoante + um l ou r. São inseparáveis por
SÍLABAS ser necessário estarem na mesma sílaba
para formar o som.
Tente pronunciar, pausadamente, a flo-res; psí-qui-co; tzar.
palavra banana. Note que a pronúncia é
dividida em pequenos intervalos: ba - na - Esse encontro pode ocorrer em sílabas
na. Houve uma pausa entre cada som diferentes, sendo os encontros
emitido. consonantais separáveis, ocorrendo no
Cada uma dessas “partes” são as sílabas interior das palavras e a maioria desses
da palavra. Trata-se de cada som ou grupo encontros acontece entre duas consoantes.
de som pronunciado em apenas uma Note que os sons das consoantes são
expiração. independentes, não se juntam para formar
Podem compor uma sílaba: um som só, mas formam sons distintos.
- uma vogal, um ditongo ou um tritongo. ob-tu-so; naf-ta-li-na; cor-rup-to.
é, eu, uai!. *O m e o n no final de sílabas não são
fonemas, apenas possuem a função de
- uma vogal, um ditongo ou um tritongo tornar o som anasalado, como se fosse o til.
junto com consoantes. Por exemplo em samba, minto. Por isso não
fa-lar; vá-cuo; Pa-ra-guai. há encontro consonantal nesses casos.

Ditongo: ocorre quando há uma vogal e Dígrafo: é o encontro de duas letras que,
uma semivogal em uma mesma sílaba. quando pronunciadas, emitem apenas um
Apenas i e u funcionam como semivogais, único som.
pois se junta a uma vogal para formar uma - Dígrafos consonantais: representam
sílaba. Quando a semivogal aparece antes sons consonantais.
da vogal, temos um ditongo crescente. lh, nh, ch, rr, ss, qu, gu, sc, sç, xc, xs.
Quando a vogal aparece antes da palha, manhã, chave, carro, isso,
semivogal, temos um ditongo decrescente. quente, guerra, consciente, cresça, excesso,
á-gua (crescente); pai (decrescente). exsudar.
O ditongo pode ser oral quando a vogal
for oral, mais aberta na pronúncia, ou pode - Dígrafos vocálicos: representam sons
ser nasal, quando a vogal possui pronúncia vocálicos.
anasalada, o som sai mais pelo nariz. am, an, em, en, im, in, om, on, um, un.
pai (oral); quan-do (nasal). também, tanto, tempo, tento, timbre,
tinto, pomba, tonto, algum, mundo.
Tritongo: ocorre com a junção de uma
semivogal + vogal + outra semivogal em Quando a sílaba termina com uma vogal,
uma mesma sílaba. Pode ser oral ou nasal. ela é chamada de aberta: ba-na-na.
em-xa-guei (oral); sa-guão (nasal). Quando termina com uma consoante, é
chamada de fechada: lar.
Hiato: é o encontro de duas vogais, mas
em sílabas diferentes. É possível classificar as palavras em
sa-ú-de (a e ú formam um hiato) relação ao número de sílabas que possuem.
- Monossílabas: possuem apenas uma
Encontro consonantal: é o encontro de sílaba.
duas ou mais consoantes em uma palavra. nó; pá; voz.
Pode acontecer na mesma sílaba, sendo

28
Língua Portuguesa

- Dissílabas: possuem duas sílabas. (A) hepática.


me-ta; ho-je; fe-liz. (B) homenagem.
(C) eletrônica.
- Trissílabas: possuem três sílabas. (D) constrangeram.
jus-ti-ça; pro-je-to; sí-la-ba. (E) condenada.

- Polissílabas: possuem mais de três Gabarito


sílabas.
fi-na-li-da-de; ma-tu-ri-da-de; ge-nu-í- 01.B - 02.C
no.
ACENTUAÇÃO TÔNICA E GRÁFICA
Regras para separar sílabas:
- Não se separam os ditongos: á-gua. Acentuação Tônica
- Não se separam os tritongos: sa-guão. O acento tônico indica a intensidade de
- Não se separam os dígrafos ch, lh, nh, uma das sílabas de determinada palavra. A
gu e qu: cha-ma; pa-lha; le-nha; pe-guei; sílaba que leva acento é denominada
quen-te. tônica. As demais, que não apresentam
- Não se separam encontros acentuação sensível, são chamadas de
consonantais inseparáveis, como em: psi- átonas.
có-lo-go; bí-ceps; pa-trão, entre outros. Podemos classificar as palavras com
- Separam-se os hiatos: sa-ú-de. mais de uma sílaba, em relação ao acento
- Separam-se os dígrafos rr, ss, sc, sç e tônico, em:
xc: car-ro; as-sa-do; cons-ci-en-te; cres-ça; - Oxítonas: última sílaba é a mais forte
ex-ce-ção. Jo-sé; ci-vil; cor-rói
- Separam-se os encontros consonantais
separáveis: ab-do-me; Is-ra-el; abs-tra-to; - Paroxítonas: penúltima sílaba é a mais
entre outros. forte
- Quando o som de x se equivaler a cs, fe-li-ci-da-de; bên-ção; pro-i-bi-do
ele deve se juntar à vogal seguinte, se
houver: fi-xo; o-xi-gê-nio. - Proparoxítonas: a sílaba mais forte é a
- Quando há duas vogais idênticas, ficam antepenúltima
separadas: vo-o; ál-co-ol; com-pre-en-der. ár-vo-re; bró-co-lis; pro-pa-ro-xí-to-na

Questões As palavras com apenas uma única


sílaba são chadas de monossílabos, e podem
01. (Prefeitura de Marco - Agente de ser classificados como átonos ou tônicos.
Comunitário de Saúde - ESP/CE/2022) - Átonos: são pronunciados com pouca
Assinale a alternativa que apresenta o grupo intensidade, não possuindo autonomia
de palavras com a separação silábica fonética, se apoiando no vocábulo vizinho,
correta: como se fossem uma sílaba átona deste.
Exemplo: Envie-me / a carta / de
(A) mu-tua-men-te; hos-til; ter-res-tre. apresentação.
(B) gla-ci-al; di-a; mu-tu-a-men-te. Um monossílabo átono é uma palavra
(C) pers-pec-ti-va; ma-go-ar; su-fi-cien- vazia de sentido, tais quais: os artigos; os
te. pronomes oblíquos e suas combinações;
(D) ma-goar; gla-cial; dia. elementos de ligação (preposições,
conjunções); as formas de tratamento dom
02. (EMDUR - Advogado - FAU/2022) (D. João), frei (Frei Caneca), são (São
Assinale a alternativa cuja palavra possua João).
mais de quatro sílabas:

29
Língua Portuguesa

- Tônicos: possuem independência em: tam-bém; a-mém; nin-guém


fonética, são pronunciados com maior força ens: pa-ra-béns; há-réns; re-féns
e não precisam se apoiar em outro
vocábulo. A mesma regra vale para as formas
Exemplos de monossílabos tônicos: é, si, verbais que terminam em s, r ou z que são
dó, eu, flor, etc. acompanhadas pelos pronomes lo, la, los,
las, uma vez que essas consoantes deixam a
Quando uma palavra depende do acento cena para a entrada do pronome.
tônico da palavra anterior, amparando-se na fazer + la = fazê-la
mesma, temos a ênclise (ouvindo-te). repôs + lo = repô-lo
Quando ocorre o contrário, ou seja, a satisfez + las = satisfê-las
palavra átona se ampara na que vem depois,
temos a próclise (te peguei). Sendo assim, oxítonas que terminam em
Os pronomes pessoais me, te, se, lhe, o, i ou u, seguidas ou não de s, não levam
a, nos, vos, lhes, os, as, estão relacionados acento gráfico.
ao verbo dentro da frase, e podem aparecer a-li; u-ru-bu
em próclise ou em ênclise. *para esta regra, há algumas exceções
Já o artigo definido (o, a, os, as), o em casos de hiato.
indefinido (um, uns), os pronomes relativos
(que, quem), as preposições e conjunções - Paroxítonas
monossilábicas aparecem apenas em São acentuadas apenas:
próclise. Aquelas que terminam em i ou u,
seguidas de s ou não.
Acentuação Gráfica lá-pis; jú-ri
Acento agudo (´): marca a sílaba tônica; * Os prefixos paroxítonos que terminam
empregado nas vogais abertas e em i não levam acento: semideus
semiabertas.
Acento circunflexo (^): utilizado em Aquelas que terminam em ão, ãos, ã, ãs.
vogais tônicas semifechadas: a, e e o. bên-ção; ór-gãos; í-mã; ór-fãs
Trema (¨): a partir do Novo Acordo
Ortográfico, deixou de ser utilizado. Antes Aquelas que terminam em l, r, n, ps, x.
era colocado sobre a letra u para indicar que a-do-rá-vel; cór-tex; câ-non; bí-ceps; fê-
ela deve ser pronunciada nos grupos gue, nix
gui, que, qui. Seu uso apenas continua em
palavras estrangeiras e derivadas. Aquelas que terminam em um, uns.
Ex.: Müller, mülleriano. ál-bum; ál-buns.

- Proparoxítonos Aquelas que terminam em ditongo oral.


Essa é a mais fácil. Todas as palavras jér-sei; tín-heis; fê-mea
proparoxítonas recebem acento gráfico.
mé-di-co; al-co-ó-li-co; jor-na-lís-ti-co *Nem prefixos paroxítonos que
terminam em r, muito menos as palavras
- Oxítonas paroxítonas terminadas em ens, são
São acentuadas as palavras oxítonas acentuados.
terminadas em: super-herói; nu-vens
a: já; pá; ma-ra-já; a-na-nás
e: Pe-lé; pé; ca-fés - Ditongos
o: do-mi-nó; a-vô; a-vó Não levam acento os ditongos abertos -
*as vogais acima podem estar ou não ei e -oi de palavras paroxítonas.
seguidas de s. as-sem-blei-a; ji-boi-a

30
Língua Portuguesa

Por outro lado, os ditongos abertos -ei, - porquê, em final de frase ou


eu e -oi, em monossílabos tônicos e em substantivo;
oxítonas, são acentuados. porque, advérbio ou conjunção.
pa-péis; be-le-léu; he-rói pôde, verbo poder no pretérito perfeito;
pode, verbo poder no presente do
- Hiatos indicativo;
Quando o i ou u tônicos não formar têm, verbo ter na terceira pessoa do
sílaba com a vogal anterior, deverão receber plural do presente do indicativo;
acento agudo. tem, verbo ter na terceira pessoa do
sa-í-a; a-í; sa-ú-de; vi-ú-va singular do presente do indicativo;
vêm, verbo vir na terceira pessoa do
Se essas vogais apareceram antes de nh, plural do presente do indicativo;
nd, mb ou de qualquer consoante que não s vem, verbo vir na terceira pessoa do
(e que não se inicie em outra sílaba), não singular do presente do indicativo.
haverá acento.
ra-i-nha; a-in-da; Co-im-bra; ju-iz - Há distinção de acento em certos
verbos, singular e plural, que está ligada à
Os hiatos OO e EE não são acentuados. diversidade de pronúncia:
a-bem-ço-o; vo-o; le-em; cre-em O pão contém glúten;
Os pães contêm glúten.
- Outros Casos
- O acento fica facultativo em:
As vogais tônicas i e u das paroxítonas, fôrma, substantivo;
precedidas de ditongo decrescente, não louvámos, verbo louvar no pretérito
serão acentuadas. Todavia, há acento nas perfeito do indicativo (no Brasil, usa-se sem
oxítonas. acento, porém, em Portugal, utilizam o
fei-u-ra; Pi-a-uí acento).

- Não há acento no u tônico (em formas Questões


rizotônicas de verbos) precedido de g ou q
e seguido de e ou i. 01. (MPE/GO - Secretário Auxiliar -
ar-gui; o-bli-que MPE/GO/2022) Assinale a alternativa em
que a palavra deve receber o acento
- As seguintes palavras deixaram de circunflexo, de forma correta:
receber acento por conta do Novo Acordo (A) Vôo
Ortográfico: (B) Crêem
coa, do verbo coar; (C) Enjôo
para, do verbo parar; (D) Pôde
pela, do verbo pelar;
pera, fruta; 02. (Prefeitura de Marco - Agente de
pelo, do verbo pelar, ou referente a pelos Comunitário de Saúde - ESP/CE/2022)
corporais; Assinale a alternativa que tem todas as
polo, extremidade, jogo. palavras acentuadas corretamente.
(A) Lâmpada; café; bárbarie; cumplice.
- Permanecem as seguintes distinções: (B) Larápio; inconfidência; pitú; caída.
pôr, verbo; (C) Distúrbio; cajú; cafuné;
por, preposição; contêmporaneo.
quê, substantivo ou em final de frase; (D) Recíproco; barbárie; pélvis;
que, pronome, conjunção; cúmplice.

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Língua Portuguesa

Gabarito ao redor de um radical comum, são


chamadas de famílias de palavras.
01.D - 02.D Esse radical pode aparecer intacto em
toda a família, mas é comum que o radical
FORMAÇÃO DAS PALAVRAS de palavras de uma mesma família apareça
sob formas diversas, já que muitas
Veja: alterações ocorreram nas palavras ao longo
novo - novinho dos tempos. Povo e uma palavra que deriva
novos - novinhos do latim populus, e muitas palavras derivam
da forma pov-: repovoar, povoado,
Ambas as palavras iniciam por nov-. povoamento.
Trata-se do radical da palavra, uma parte Já o radical latim popul- ainda aparece
invariável. A parte final da palavra é em algumas palavras: popularidade,
variável, pois trata-se da desinência, que, popular.
nos substantivos, adjetivos e em alguns O adjetivo latim publicus correspondia a
pronomes, pode marcar o gênero e o populus, e sua forma public- está presente
número, e nos verbos, número e pessoa. em algumas palavras: publicidade, público.
- Cartas: desinência -s marca o plural.
- Linda: desinência -a marca o A derivação pode ocorrer:
feminino. Pelo acréscimo de um sufixo a um
- Andamos: desinência -mos marca a 1ª radical, sufixação - tenista, cachorrada,
pessoa do plural. pastelaria.
Pela anteposição de um prefixo a um
Um elemento, o afixo, pode se juntar ao radical, prefixação - incerto, desfazer, pré-
radical e modificar seu sentido. Aqueles história.
que aparecem antes do radical são os Pelo acréscimo de um prefixo e um
prefixos, os que aparecem depois, os sufixo a um radical, ao mesmo tempo,
sufixos. parassintética – encurtar (en + curta + ar),
Reaparecer (re- é um prefixo, modifica o empalidecer (em + pálido + ecer), anuviar
significado da palavra aparecer) (a + nuvem + ar).
Fibroso (-oso é um sufixo, modifica o *É comum (mas não regra) que verbos
significado da palavra fibra) formados a partir de um nome ou adjetivo
sejam formadas por parassíntese.
As palavras que dão origem a outras Pela troca da terminação de um verbo
novas, e que não são formadas por nenhuma por a, o ou e:
outra, são chamadas de primitivas: casa, cantar - canto; castigar - castigo; tocar -
flor, pedra. toque
Já as palavras que se originam de outra, A derivação pode ocorrer ainda pela
seja pelo acréscimo ao seu radical de um mudança da classe de uma palavra,
prefixo ou sufixo, são chamadas de denominada derivação imprópria. Neste
derivadas: casebre, florista, pedraria. caso, o significado da palavra é estendido.
Tanto as primitivas, quanto as derivadas, Adjetivos tornam-se substantivos: o
caso apresentem somente um radical, são azul, o belo.
chamadas de simples: tênis, tenista, ano, Particípios tornam-se substantivos ou
anuário. adjetivos: filho querido, um feito incrível.
Quando apresentam mais de um radical, Infinitivos tornam-se substantivos: o
são compostas: livre-pensador, pedra- cantar do pássaro, o bater dos sinos.
pomes. Substantivos tornam-se adjetivos:
As palavras que se formaram por jogador monstro, garota prodígio.
derivação ou composição, e que se agrupam

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Língua Portuguesa

Adjetivos tornam-se advérbios: comprar 02. (Nova Odessa - Contador -


barato, rir baixo. MetroCapital Soluções/2022) As palavras
Palavras invariáveis tornam-se couve-de-bruxelas e anuviar são formadas,
substantivos: o porquê disso, o sim, o não. respectivamente, por
Substantivos próprios tornam-se (A) composição por aglutinação e
substantivos comuns: penduraram um judas composição por justaposição.
que seria malhado mais tarde. (B) derivação parassintética e derivação
sufixal.
As palavras podem ser formadas por (C) derivação regressiva e derivação
composição, que é a associação de duas ou imprópria.
mais palavras ou dois ou mais radicais, (D) composição por justaposição e
formando uma nova palavra. derivação parassintética.
Pode ocorrer por justaposição, ou seja, (E) composição por justaposição e
com a união de duas ou mais palavras (ou derivação prefixal e sufixal.
radicais) sem que a estrutura seja alterada.
Podem se unir com ou sem hífen: Gabarito
girassol, televisão, greco-romano.
Pode ser que ocorra a aglutinação, ou 01.B - 02.D
seja, duas ou mais palavras (ou radicais) são
unidos com a supressão de um ou mais de CLASSES DE PALAVRAS
um elemento fonético:
planalto (plano alto), boquiaberto (boca As classes de palavras, ou classes
aberto); cabisbaixo (cabeça + baixo). gramaticais, classificam, agrupam e
apresentam as funções das palavras da
As palavras podem apresentar uma Língua Portuguesa. A análise de cada uma
simplificação em sua forma, ou redução, das classes de maneira isolada faz parte da
sem prejudicar o sentido: morfologia. A análise de seus usos e
Coca (Cola-Cola); pólio (poliomielite); funções dentro de uma oração faz parte da
Zé (José). sintaxe. Aqui você estará estudando tanto as
classes de palavras no nível da morfologia
Quando uma palavra é formada pela quanto no nível da sintaxe, ou seja, será um
entrada de um elemento de línguas estudo morfossintático. Para uma maior
diferentes, temos palavras híbridas, compreensão da questão da sintaxe, é muito
formação por hibridismo: importante estudar também a oração e o
auto (grego) + móvel (latim) = período.
automóvel O substantivo, o artigo, o adjetivo, o
numeral, o pronome e o verbo são classes
Questões variáveis, ou seja, flexionam. Costuma-se
chamar, com exceção do verbo, a flexão
01. (Câmara Municipal de Taboão da dessas classes de flexão nominal. A flexão
Serra - Oficial Legislativo - Avança verbal é, obviamente, a flexão dos verbos.
SP/2022) A palavra “cabisbaixo” é formada As demais classes são invariáveis, ou
pelo processo de: seja, não flexionam.
(A) prefixação.
(B) aglutinação. SUBSTANTIVO
(C) sufixação. Com o substantivo, nomeamos coisas e
(D) justaposição. seres em geral. São substantivos: nomes de
(E) parassíntese. pessoas, animais, coisas, lugares, vegetais,
instituições.

33
Língua Portuguesa

Uma palavra de outra classe que Existem substantivos sobrecomuns, que


desempenhar alguma dessas funções terá a são aqueles que só possuem um gênero
equivalência de um substantivo. tanto para o masculino, quanto para o
O substantivo pode ser concreto quando feminino: a criança, a vítima, o algoz, o
se refere a coisas reais, concretas. Quando cônjuge, etc.
o substantivo se refere a alguma ação, ação, Existem os epicenos, que possuem
qualidade ou estado (coisas que não são apenas um gênero para animais de ambos os
concretas), ele será abstrato. sexos: a águia, a baleia, o besouro, o
gato e árvore são concretos; condor.
consciência e instrução são abstratos. Existem aqueles com apenas um gênero
para nomear coisas: o vento, a rosa, a
Quando for possível utilizar o alface, a alma, o livro.
substantivo para se referir a uma totalidade Existem alguns que terminam com a mas
ou a uma abstração, ele será comum. Caso são masculinos: o clima, por exemplo.
faça referência a um indivíduo em Existem aqueles com apenas uma forma
específico, será próprio. para ambos os gêneros. O que indicará o
homem, casa e país são comuns, pois gênero será o artigo que precede o
fazem referência a uma totalidade; substantivo: o agente, a agente; o jornalista,
José, Londres e Brasil são próprios, pois a jornalista; o artista, a artista; etc.
José é um indivíduo único, e só há uma Certos substantivos possuem formas
Londres, assim como um Brasil. exclusivas para o masculino e para o
feminino, sendo pares opostos
Quando o substantivo possui apenas um semanticamente: cabra/bode; boi/vaca;
radical, ele é simples: bola, cola. homem/mulher; cavalo/égua; etc.
Quando possui mais de um radical, é Em muitos casos, o feminino acontece
composto: guarda-roupas, cachorro- quando se suprime a vogal temática o ou e:
quente. mestre, mestra; lobo, loba.
Quando o substantivo deriva de alguma Existem casos nos quais o masculino
palavra, ele é derivado: pedreiro, que termina em ão. O feminino pode aparecer
deriva de pedra, ou seja, um substantivo com ao: leão, leoa; pavão, pavoa; anfitrião,
primitivo, visto que não deriva de nenhuma anfitrioa (anfitriã); etc.
outra palavra. Com ã: cortesão, cortesã; alemão,
Quando indicar um conjunto de uma alemã; pagão, pagã; etc.
mesma espécie, temos um substantivo Com ona: respondão, respondona;
coletivo: matilha, rebanho, tripulação. valentão, valentona; solteirão; solteirona;
etc.
Algumas palavras podem se tornar Existem casos que não seguem essas
substantivos quando um artigo vier antes regras: cão/cadela; ladrão/ladra;
delas: barão/baronesa; etc.
O cair da noite é lindo. (o verbo, aqui, Alguns substantivos apresentam gênero
não possui função de verbo, mas tornou-se duplo: a personagem, o personagem; a
um substantivo e sujeito da oração) pijama, o pijama; etc.
A bonita pensa que é quem? (o adjetivo
tornou-se substantivo) Quando for masculino, é antecedido pelo
artigo o ou os. Caso seja feminino, pelos
Os substantivos podem flexionar em artigos a, as.
gênero: feminino e masculino. O mais O menino.
comum é o masculino terminar com o átono A menina.
e o feminino com a átono.

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Língua Portuguesa

Também podem flexionar em número, *Existem exceções à regra:


indicando singular ou plural. A letra s (às grão-mestres, grã-cruzes, grã-finos,
vezes es) marca o plural. terra-novas, claro-escuros (ou claros-
Menino, singular; escuros), nova-iorquinos, os nova-
Meninos, plural. trentinos, são-bernardos, são-joanenses,
Quando terminar em vogal ou ditongo, o cavalos-vapor.
s marca o plural: pai, pais; café, cafés.
Quando terminar em em, im, om, ou um, A variação pode ocorrer apenas no
o s marca o plural: harém, haréns; capim, último elemento:
capins; dom, dons; atum, atuns. (repare que - Quando não houver hífen unindo as
o m sai para a entrada de n + s). palavras:
Quando terminar em r, z, n ou s, o es girassol - girassóis
marca o plural: lugar, lugares; paz, pazes;
abdômen, abdômenes (ou abdomens); - Quando houver um verbo e um
inglês, ingleses. substantivo:
Quando terminar em al, el, ol, ul, o l dá lava-louça - lava-louças
lugar para is: real, reais; anel, anéis; lençol,
lençóis; paul, pauis. - Quando houver palavra invariável e
Quando terminar em il, caso seja tônico, uma variável:
dá lugar para is, caso seja átono, para eis: recém-nascido - recém-nascidos
fuzil, fuzis; réptil; répteis.
Quando terminar em ão, o plural pode - Quando a segunda palavra for uma
ser marcado por: repetição da primeira:
ões: balão, balões; peão, peões; etc. bate-bate - bate-bates
ãos: cidadão, cidadãos; grão, grãos; etc.
ães: pão, pães; guardião, guardiães, etc. A variação pode acontecer somente no
Certos substantivos só são usados no primeiro elemento:
plural, como: óculos, núpcias, copas (naipe - Quando houver um substantivo, uma
de baralho), etc. preposição e outro substantivo:
No caso dos diminutivos -zinho e -zito, o mão-de-vaca - mãos-de-vaca
s deve sair para a entrada dos sufixos: pés,
pezinhos. - Quando o segundo elemento
determinar ou limitar o primeiro, apontando
No caso dos substantivos compostos, o uma semelhança, um tipo ou fim, como se
plural pode ocorrer nos dois elementos fosse um adjetivo:
unidos por hífen: peixe-boi – peixes-boi
- Quando houver dois substantivos:
tio-avô - tios-avôs Os dois elementos podem permanecer
invariáveis:
- Quando houver um substantivo e um - Quando houver verbo e advérbio:
adjetivo: o bota-fora - os bota-fora
água-viva - águas-vivas
- Quando houver um verbo e um
- Quando houver um adjetivo e um substantivo no plural:
substantivo: o saca-rolhas - os saca-rolhas
curta-metragem - curtas-metragens
Os substantivos também podem
- Quando houver um numeral e um flexionar em grau, aumentativo ou
substantivo: diminutivo.
terça-feira - terças-feiras

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Língua Portuguesa

O aumentativo indica um tamanho ARTIGO


maior, pode ser sintético, quando formado O artigo é uma palavra que é colocada
por sufixos aumentativos: antes do substantivo, determinando-o ou
ão: cavalão indeterminando-o.
aça: barcaça O artigo pode ser definido: a, o, as, os:
alha: fornalha A moça; O rapaz; As moças; Os rapazes.
açõ: ricaço - Encontrei-me com o padre. (nessa
ona: meninona firmação, o artigo define o padre, fia
uça: dentuça subtendido se tratar de um conhecido, um
uço: dentuço padre em específico)

Caso o aumentativo ocorra com a ajuda O artigo pode ser indefinido: uma, um,
de um adjetivo como grande e semelhantes, umas, uns:
temos o aumentativo analítico: Uma coisa; Umas coisas; Um negócio;
Uma grande promoção; Uns negócios.
Inteligência enorme. - Encontrei-me com um padre. (nesta
afirmação, o artigo deixa o substantivo
O diminutivo indica que algo é menor, indefinido, já que esse tal padre pode ser
ou pode ser utilizado como forma qualquer um, não sendo especificado)
carinhosa. *Os artigos indefinidos podem
Assim como o aumentativo, pode ser transmitir uma ideia de imprecisão,
sintético: justamente por serem indefinidos.
inho: Marquinho
inha: casinha Além de flexionar em número, os artigos
ejo: vilarejo também flexionam em gênero e devem
estar de acordo com o gênero e número do
Pode também ser analítico, mas, neste substantivo:
caso, com o adjetivo pequeno e Masculino: no, nos, do, dos, ao, aos,
semelhantes: Você pode dar uma pequena num, nuns, pelo, pelos.
entrada e dividir o restante. Feminino: na, nas, da, das, à, às, numa,
numas, pela, pelas.
O substantivo possui algumas funções
sintáticas dentro de um texto: A função sintática do artigo é a de
Sujeito: O cachorro subiu no sofá. adjunto adnominal. Aparece junto ao
Predicativo do sujeito: Carla é substantivo, concordando em número e
professora. gênero.
Predicativo do objeto: A menina achou Além disso, o artigo pode substantivar
o moço bonito. certas classes de palavras, ou seja, faz com
Objeto direto: Eu decifrei o enigma. que certas palavras desempenhem papel de
Objeto indireto: Eu concordo com substantivo.
Maria. O dourado é muito mais bonito que o
Complemento nominal: Rita tem pavor prateado. (dourado e prateado são
de abelhas. adjetivos, mas, nesta frase, funcionam
Aposto: João, o pai, veio aqui. como substantivos, pois há o artigo o
Vocativo: Garçom, traga mais uma determinando-os)
rodada!
É empregado em locuções adjetivas: ADJETIVO
Estava com cólica de rim. (renal) É comum dizer que o adjetivo expressa
E em locuções adverbiais: Saiu de uma qualidade, mas dizer que alguém é
manhã. ruim não é bem uma qualidade. Sendo

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Língua Portuguesa

assim, o mais correto seria dizer que o Quando terminar em r, z ou s, o es marca


adjetivo modifica o substantivo. o plural: espetacular, espetaculares; eficaz,
Menino (substantivo) eficazes; escocês, escoceses.
Menino alto (substantivo + adjetivo) Quando terminar em al, ol, ul, o plural é
No primeiro exemplo é apenas menino, marcado por ais, óis, uis, respectivamente:
no segundo, menino alto, ou seja, o mortal, mortais; mongol, mongóis; azul,
substantivo foi modificado pelo adjetivo. azuis.
Quando terminar em el, éis marca o
A posição do adjetivo pode dar um plural: cruel, cruéis. No caso dos átonos,
significado distinto à frase: usa-se eis: inteligível, inteligíveis.
Pedro é um menino grande. (ele é um Quando terminar em il, is marca o plural:
menino alto) anil, anis. Quando for átono, usa-se eis:
Pedro é um grande menino. (é um fácil, fáceis.
menino com virtude, não se trata mais de Quando terminar em ão, o plural fica em
altura) ões: bonitão, bonitões. Mas existem
exceções, como alguns que terminam em
Um chinês velho meditava. (um chinês ães: alemães, charlatães, catalães. E outros
que é velho meditava, o núcleo é chinês, que terminam em ãos: cristãos, pagãos,
velho é determinante) vãos.
Um velho chinês meditava. (um velho
que é chinês meditava, o núcleo é velho, No caso dos adjetivos compostos,
chinês é determinante) formados por dois elementos, somente o
último fica no plural:
O adjetivo pode se tornar um substantivo Tecidos verde-escuros.
quando um artigo o anteceder: *surdo-mudo é uma exceção, sendo
A camisa xadrez. (característica da surdos-mudos, assim como cores que
camisa, adjetivo, modificando o possuam no segundo elemento um
substantivo) substantivo, ficando ambos invariáveis:
O xadrez da camisa. (substantivação do papéis verde-piscina.
adjetivo, pois tornou-se termo nuclear da
oração, que no exemplo anterior era O adjetivo flexiona em gênero,
camisa) masculino e feminino, de acordo com o
substantivo que modifica:
Expressões formadas por uma ou mais Menino alto.
palavras podem ter a equivalência de um Menina alta.
adjetivo, são chamadas de locução adjetiva:
Presente de grego (preposição + Certos adjetivos possuem a mesma
substantivo) forma para os dois gêneros, como os que
Eixo de trás (preposição + advérbio) terminam em u: hindu, zulu; os que
terminam em ês: cortês, descortês, montês
O adjetivo pode flexionar em número, e pedrês; os que terminam em or: anterior,
singular ou plural. O número estará de posterior, inferior, superior, interior,
acordo com o substantivo que ele modifica: multicor, incolor, sensabor, melhor, pior,
Chocolate gostoso; Chocolates gostosos. menor.
*Para a regra acima, com exceção dos
Quando terminar em vogal ou ditongo, o adjetivos supracitados, basta colocar um a
s marca o plural: pobre, pobres; mau, maus. na frente do masculino para torna-lo
*Caso a terminação seja nasal, vogal ou feminino:
ditongo, o m dá lugar ao n + s: bom, bons; Homem nu; Mulher nua;
ruim; ruins. Homem escocês; Mulher escocesa;

37
Língua Portuguesa

Homem trabalhador; Mulher Esse é um caso de superlativo relativo


trabalhadora. de superioridade. Seria de inferioridade de
a frase fosse: Pelé é o jogador menos
O adjetivo pode, ser uniforme, ou seja, lembrado do Santos.
apresenta apenas uma forma para ambos os
gêneros: Arqui, extra, hiper e super também são
Garota exemplar; Garoto exemplar; formas de superlativo:
Escolha feliz; Lugar feliz. Arqui-inimigo; extracurricular;
hipermercado; superelegante.
O adjetivo pode flexionar em grau,
comparativo ou superlativo. Bom, mal, grande e pequeno são
Comparativo: faz uma comparação adjetivos com comparativos e superlativos
entre duas coisas referente a uma anômalos.
determinada qualidade, em grau inferior, Comparativo de superioridade:
igual ou superior: melhor, pior, maior, menor.
O pão custa menos que a carne. Superlativo relativo: ótimo, péssimo,
A prata brilha tanto quanto o ouro. máximo, mínimo.
O dólar vale mais que o real. Superlativo absoluto: o melhor, o pior,
o maior, o menor.
Tal comparação pode ocorrer entre duas
qualidades de um mesmo ser ou coisa: Em termos sintáticos, no texto o adjetivo
O copo está menos vazio que cheio. pode desempenhar as funções de adjunto
Jonas é tão orgulhoso quanto valente. adnominal ou de predicativo.
O copo está mais vazio que cheio. Adjunto adnominal: o adjetivo
modifica o sujeito sem necessidade de
No caso do superlativo, ele pode ser verbo.
absoluto sintético quando apresentar um A moça bonita saiu para passear. (moça
grau elevado de certa qualidade: é núcleo do sujeito e o adjetivo bonita o
Meu pai é boníssimo. (bondade em um modifica)
grau elevado) Predicativo do sujeito: o adjetivo
Mas pode ser uma característica ruim, ou modifica o sujeito por meio de um verbo.
talvez um defeito: Joel ficou triste com o resultado. (triste
Aquele rapaz é burríssimo. modifica o substantivo Joel, que o sujeito
O superlativo pode ser absoluto da oração)
analítico, quando palavras que indicam Predicativo do objeto: o adjetivo
intensidade são empregas, tais quais modifica o sujeito o objeto através por meio
extremamente, muito, etc.: de um verbo transitivo.
A maçã é muito gostosa. O turista achou o passeio maravilhoso.
O dia está extremamente quente. (maravilhoso modifica o substantivo
passeio, que é o núcleo do objeto direto)
Pode ser relativo, quando a qualidade do
ser ou coisa se sobressair perante a um PRONOME
grupo: Em uma oração, o pronome pode:
Pelé é o jogador mais lembrado do - Representar um substantivo, sendo um
Santos. (de todos os jogadores que já pronome substantivo:
passam pelo clube, o mais lembrado deles é Havia um menino parado, que olhava
Pelé) para o outro lado da rua. (neste caso, o
pronome substituiu o substantivo, para,
assim, evitar sua repetição)

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Língua Portuguesa

Sintaticamente, no texto pode apresentar Complemento nominal: Rita tinha


a função de: saudade de mim.
Sujeito: Ela é má. Complemento verbal: Solicitei a ela
Objeto indireto: Relatei o caso para mais empenho.
eles.
Já a, as, o, os podem ter a função de
- Pode acompanhar um substantivo, complemento do verbo transitivo direto.
sendo um pronome adjetivo: Marcos a abraçou.
Na minha visão, é uma má ideia. (o Lhe e lhes podem ter a função de
pronome determina o significado do complemento do verbo transitivo indireto.
substantivo, ou seja, não é qualquer visão, O menino lhe obedeceu com facilidade.
mas minha visão) Já me, te, se, no e vos podem ter a função
Sintaticamente, no texto pode apresentar de objeto direto ou objeto indireto.
a função de: Abraçou-me com carinho. (objeto
Adjunto adnominal: Meu bairro é direto)
sossegado. Obedeceu-nos sem chororô. (objeto
indireto)
Pronomes pessoais: indicam a pessoa
do discurso: *Os pronomes pessoais da 2ª pessoa não
1ª pessoa, quem fala: eu (singular), nós são mais usados, ou, quando são, não
(plural); apresentam a conjugação verbal correta. É
2ª pessoa, com quem se fala: tu mais comum utilizar você/vocês, que
(singular), vós (plural); equivalem à 3ª pessoa, mas se referem à 2ª
3ª pessoa, de quem ou de que se fala: ele, pessoa do discurso.
ela (singular), eles, elas (plural).
Você e vocês servem para indicar a 2ª Em relação à tonicidade, o pronome
pessoa do discurso, mas se comportam pode ser:
como os de 3ª pessoa. Ele vai; Você vai; Tônico: mim, ti, si;
Eles vão; Vocês vão. Átonos: me, te, se, lhe, lhes, o, a, os, as,
*Estes também são chamados de nos, vos.
pronomes retos, pois podem funcionar
como sujeitos da oração: Eles queriam fazer Quando o pronome é da mesma pessoa e
bagunça. faz referência ao próprio sujeito da oração,
Podem funcionar como predicativo chama-se oblíquo reflexivo. Tirando o, a,
também: O problema sou eu. os, as, lhe, lhes, os demais oblíquos podem
ser reflexivos:
Os oblíquos funcionam como objetivos Maria fala de si o tempo todo.
ou complementos:
1ª pessoa singular: me, mim, comigo; Pronomes de tratamento: são
2ª pessoa singular: te, ti, contigo; utilizados para se dirigir a pessoas de
3ª pessoa singular: se, si, consigo, lhe, o, maneira respeitosa, dependendo do grau de
a; formalidade ou do cargo exercido.
1ª pessoa plural: nos, conosco; Vossa Alteza: príncipes, arquiduques,
2ª pessoa plural: vos, convosco; duques (abreviatura V.A.);
3ª pessoa plural: se, si, consigo, lhes, os, Vossa Eminência: Cardeais
as. (abreviatura V.Em.ª);
Sintaticamente, no texto, ele, ela, nós, Vossa Excelência: Altas autoridades do
eles e elas podem exercer a função de: Governo e das Forças Armadas (abreviatura
Agente da passiva: O almoço foi feito V.Ex.ª);
por ele.

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Língua Portuguesa

Vossa Magnificência: Reitores das Variáveis femininos: esta, estas, essa,


Universidades (abreviatura V.Mag.ª); essas, aquela, aquelas;
Vossa Majestade: Reis, imperadores Invariáveis: isto, isso, aquilo.
(abreviatura V.M.);
Vossa Excelência Reverendíssima: Indicando aquilo que está próximo:
Bispos e arcebispos (abreviatura V.Ex.ª Veja bem, estas são minhas mãos.
Rev.mª); (objeto próximo do falante)
Vossa Paternidade: Abades, superiores Pode indicar o tempo presente, ou que
de conventos (abreviatura V.P.); está próximo:
Vossa Reverência (V.Rev.ª) ou Vossa Esta semana será produtiva! (a semana
Reverendíssima (V.Rev.mª): Sacerdotes atual)
em geral;
Vossa Santidade: Papa (abreviatura Indicando aquilo que está próximo da
V.S.); pessoa a quem se fala:
Vossa Senhoria: funcionários públicos Veja bem, essas são suas mãos. (objeto
graduados, pessoas de cerimônia está próximo da pessoa a quem se fala)
(abreviatura V.S.ª). Pode indicar o tempo passado:
*Ao se referir na 2ª pessoa, a quem se Eu me lembro bem, esse dia foi maneiro.
fala, é utilizado o verbo na 3ª pessoa: (um dia que já se foi, está no passado)
Vossa Excelência é capaz de tomar sua
decisão sem interferências externas. Indicando algo que está longe de quem e
Ao se referir na 3ª pessoa, de quem se a quem se fala:
fala, o possessivo torna-se Sua: Aquele homem, perto do poste, é meu
Sua Alteza solicita uma reunião urgente vizinho.
com o cardeal. Indica um passado muito remota,
distante:
Pronomes possessivos: indicam posse e Os dinossauros viveram há milhões de
se referem à pessoa do discurso. anos. Naquele tempo o planeta Terra era
1ª pessoa singular: meu, minha, meus, diferente.
minhas;
2ª pessoa singular: teu, tua, teus, tuas; Os variáveis podem, no texto, ter a
3ª pessoa singular: seu, sua, seus, suas; função sintática de um substantivo ou de
1ª pessoa plural: nosso, nossa, nossos, um adjetivo.
nossas; Minha casa é aquela. (predicativo)
2ª pessoa plural: vosso, vossa, vossos, Esta tarefa é difícil. (adjunto adnominal)
vossas; Os invariáveis podem desempenhar a
3ª pessoa plural: seu, sua, seus, suas. função de um substantivo.
Podem exercer no texto, sintaticamente, Isso é perfeito. (sujeito)
a função de adjunto adnominal ao Ele disse aquilo. (objeto direto)
acompanharem o substantivo: Ela necessita disso. (objeto indireto)
Minha rua é esburacada. (adjunto
adnominal do sujeito) Pronomes relativos: fazem referência a
Aquela é a minha rua. (adjunto um substantivo já mencionado.
adnominal do predicativo do sujeito) Variáveis masculinos: o qual, os quais,
cujo, cujos, quanto, quantos;
Pronomes demonstrativos: indicam Variáveis femininos: a qual, as quais,
posição lugar ou a posição da pessoa do cuja, cujos, quanta, quantas;
discurso. Invariáveis: quem, que, onde.
Variáveis masculinos: este, estes, esse,
esses, aquele, aqueles;

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Língua Portuguesa

Cujo e cuja têm o mesmo valor de do anos tem?; Quantas horas serão
qual, da qual e só pode aparecer antes de necessárias?.
um substantivo sem artigo:
O apresentador, cujo nome não me O interrogativo quem pode funcionar
recordo, foi demitido. (O apresentador, do como sujeito ou objeto indireto. Ou seja,
qual o nome não me recordo, foi demitido.) pode ter a função sintática de um
substantivo.
Quem só pode ser utilizado com pessoas Quem falou isso? (sujeito)
e uma preposição sempre o antecede: Quem produziu essa música? (objeto
Aquele moço, de quem meu pai nos direto)
falou, abriu uma empresa.
O interrogativo qual pode funcionar
Onde equivale a em que: como adjunto adnominal.
A cidade onde nasci é pequena. (A Qual carro é o seu?
cidade em que nasci é pequena.).
O interrogativo que pode funcionar com
Sintaticamente, no texto podem adjunto adnominal, com função adjetiva.
desempenhar a função de: Que conversa foi essa? (que tipo de)
Sujeito: Fábio, que é esperto, venceu na
vida. (Fábio venceu na vida / Fábio é O interrogativo quanto pode funcionar
esperto) como adjunto adnominal, acompanhando
Predicativo: Caio é o profissional, que um substantivo (como geralmente faz).
muitos respeitam. (Caio é o profissional / Quantos cachorros ela tem?
Muitos respeitam o profissional)
Complemento nominal: Ele tem medo Pronome indefinido: faz referência à 3ª
que os gatos arranhem. (Ele tem medo de pessoa, seja no singular ou plural. Não faz
gato / Os gatos arranham) referência a algo em específico, por isso o
Objeto direto: Rafael fez o curso, que indefinido. Indicam algo indeterminado,
Marcos indicou. (Rafael fez o curso / impreciso.
Marcos indicou o curso) Alguém em casa?
Objeto indireto: João falou sobre a Qualquer, cada, quem, ninguém, outro,
causa com a qual Rita simpatiza. (João algum, nenhum, muito são exemplos de
falou sobre a causa / Rita simpatiza com a pronomes indefinidos.
causa) Sintaticamente, no texto podem ter a
Adjunto adnominal: O rapaz cujo pai é função de um substantivo, caso
matemático quer ser literato. (O rapaz quer desempenhem a função de pronomes
ser literato / O pai do rapaz é matemático) substantivos.
Adjunto adverbial: Já visitei a cidade Alguém fez isso. (função de sujeito)
onde você vive. (Visitei a cidade / Você Caso exerçam a função de um pronome
vive em uma cidade) adjetivo, apresentaram a função sintática de
Agente da passiva: O quadro que um adjetivo.
Gabriela pintou ficou lindo. (O quadro é Cada pessoa pensa o que quiser.
lindo / O quadro foi pintado por Gabriela) (adjunto adnominal)

Pronomes interrogativos: Fazem NUMERAL


referência à 3ª pessoa e são utilizados em Indica quantidade, ordem e lugar em
frases interrogativas. uma série. Pode ser:
Por que fez isso?; Que horas são?; Quem - Cardinal: os números básicos (um,
disse?; Qual será seu pedido?; Quantos dois, três...), que indicam quantidade em si
mesma:

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Língua Portuguesa

Cinco e cinco são dez. (veja que neste O emprego dos fracionários deve
caso os numerais funcionam como concordar com os cardinais quanto indicar
substantivos) número das partes:
Podem indicar também a quantidade de O despertador marcava dez e um quinto.
algo, acompanhando o substantivo:
Três pratos de trigo para três tigres Meio ou meia deve concordar em gênero
famintos. com aquilo que a quantidade da fração está
designando:
Flexiona em gênero os cardinais um e Estava a um passo e meio de distância.
dois, assim como as centenas a partir de Até às dez e meia da noite haverá tempo.
duzentos:
uma, duas; duzentos, duzentas. - Coletivo: indicam um conjunto de seres
ou coisas, dando o número exato: dezena,
Flexiona em número milhão, bilhão, década, dúzia, novena, centena, cento,
etc.: milhar, milheiro, par.
Dois trilhões.
Flexionam-se em número:
Ambos pode substituir os dois e flexiona centena, centenas; par, pares.
em gênero:
Ambos os técnicos se estranharam. Sintaticamente, em um texto o numeral
Foi perfurar uma orelha e acabou pode substituir um substantivo.
perfurando ambas. Sujeito: Dois é mais que um.
Predicativo do sujeito: O número da
- Ordinal: ordena, em uma série, uma sorte é treze.
sucessão de seres ou coisas: Objeto direto: Acertei duas respostas e
O piloto brasileiro foi o primeiro ela acertou cinco.
colocado no Grande Prêmio. Pode ter a função de adjunto adnominal
quando acompanhar o substantivo.
Podem flexionar em número e gênero: Dois funcionários chegaram tarde.
sexto, sexta; décimo, décima.
sextos, sextas; décimos, décimas. VERBO
Palavra que expressa ação, estado, fato
- Multiplicativo: indica o aumento ou fenômeno. O verbo é indispensável na
proporcional de uma quantidade: organização do período. Na oração, sua
Meu irmão tem o dobro da idade do meu função obrigatória é a de predicado.
primo. Pode flexionar em número e pessoa:
1ª pessoa (singular): Eu canto
Caso possua valor de substantivo, é 1ª pessoa (plural): Nós cantamos
invariável. Quanto apresenta valor de 2ª pessoa (singular): Tu cantas
adjetivo, pode flexionar em número e 2ª pessoa (plural): Vós cantais
gênero: 3ª pessoa (singular): Ele canta / Você
Tomou três doses duplas de whisky. canta
3ª pessoa (plural): Eles cantam / Vocês
Os multiplicativos dúplice, tríplice e etc. cantam
podem variar em número: *Veja que as pessoas correspondem aos
Formaram alianças tríplices. pronomes pessoais.

- Fracionário: indica diminuição Pode também flexionar em modo, que


proporcional de uma quantidade: são as diferentes formas de um verbo se
Quitei três quintos do financiamento. realizar:

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Língua Portuguesa

Modo indicativo - expressa um fato Ação praticada e sofrida pelo sujeito:


certo: Carla cortou-se.
Vou amanhã.; Dormiram tarde.
Modo imperativo - expressa ordem, A voz passiva pode ser expressa:
pedido, proibição ou conselho: Com o verbo auxiliar ser e o particípio
Venha aqui,; Não faça isso.; Sejam do verbo que se deseja conjugar - O livro foi
cuidadosos. aberto por Carla.
Subjuntivo - expressa um fato possível, Ou com o pronome apassivador se e uma
hipotético, duvidoso: terceira pessoa verbal, tanto no singular
É provável que faça sol. quanto no plural, que esteja em
concordância com o sujeito:
Os verbos também possuem formas Não se vê uma nuvem no céu. (= não é
nominais, que são: vista uma nuvem no céu)
Infinitivo pessoal (quando houver
sujeito) - É necessário repensarmos os A voz reflexiva aparece quando formas
nossos hábitos. da voz ativa se juntam aos pronomes
Infinitivo impessoal (quando não oblíquos me, te, nos, vos e se (seja no
houver sujeito) - Eles pediram para singular ou no plural):
participar no trabalho. Eu me cortei. (Eu cortei a mim mesmo)
Gerúndio - Estou estudando.
Particípio - Havia estudado. Quando o acento tônico recai no radical
de certas formas verbais, temos as formas
Os verbos apresentam a flexão de rizotônicas: falam, andem, pergunte.
tempo. Existe o tempo presente, que indica Quando o acento tônico recai na
que o fato ocorre no momento atual. Existe terminação, temos as formas
o tempo pretérito, que indica fato ocorrido arrizotônicas: falamos, falemos.
no passado. Existe o tempo futuro, que
indica que o fato ainda vai ocorrer. Classificação
No modo indicativo e no subjuntivo, o Os verbos são classificados em:
pretérito divide-se em imperfeito, perfeito Regulares - acordar, beber e abrir são
e mais-que-perfeito. verbos regulares, pois a flexão dos mesmos
No modo indicativo, o futuro divide-se segue um certo padrão. Podemos dizer que
em do presente e do pretérito. No falar pertence à 1ª conjugação, fazer, à 2ª, e
subjuntivo, em simples e composto. mentir à 3ª.
O tempo presente é indivisível. Irregulares - são verbos que não
seguem esse padrão estabelecido pelos
Vozes do verbo regulares, como, por exemplo, averiguar,
Pode flexionar na voz. O fato que o haver, medir, etc.
verbo expressa pode ser representado na *Os verbos são irregulares quando
voz ativa, voz passiva ou voz reflexiva. Na apresentam alterações nos radicais e nas
voz ativa temos um objeto direto, que se terminações verbais.
torna o sujeito da voz passiva. No caso da haver - houve: houve uma alteração no
voz reflexiva, tanto o objeto direto quanto radical hav-, que virou houv-. O verbo
o indireto são a mesma pessoa do sujeito. haver é irregular
Apenas os verbos transitivos permitem dar - dou: houve alteração na
transformação de voz. terminação, -ar para -ou. O verbo dar é
Ação praticada pelo sujeito, voz ativa: irregular.
Carla abriu o livro. Alguns verbos, como os da 1ª
Ação sofrida pelo sujeito, voz passiva: conjugação com radicais terminados em g,
O livro foi aberto por Carla. precisam mudar de letra em certas

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Língua Portuguesa

conjugações: chegar - cheguei. Essa é uma pessoas, números e vozes. Conjugar é


necessidade gráfica, parar manter a agrupar as flexões do verbo de acordo com
uniformidade da pronúncia. Caracteriza-se uma ordem. Existem três conjugações, que
como uma discordância gráfica, não como são marcadas pela vogal temática:
uma irregularidade verbal. 1ª conjugação vogal temática a:
fal-a-r, and-a-r, cant-a-r.
Defectivos - são verbos como abolir e 2ª conjugação vogal temática e:
falir, que não possuem algumas formas. faz-e-r, com-e-r, bat-e-r.
Abundantes - apresentam duas ou mais 3ª conjugação vogal temática i:
formas equivalentes. A abundância abr-i-r, part-i-r, sorr-i-r.
acontece do particípio. O verbo entregar,
por exemplo, possui os particípios A vogal temática aparece com mais
entregado e entregue. ênfase no infinitivo e os verbos nesse modo
terminam com uma vogal temática + sufixo
A função do verbo pode ser a de r.
principal, que significa que o verbo *O verbo pôr tem a terminação -or, não
mantém seu significado total: possuindo a vogal temática no infinitivo.
Comi pão. Por isso é considerado um verbo anômalo.
Quando o verbo é combinado com
formas nominais de um verbo principal, Os verbos apresentam tempos
constituindo uma conjugação composta do primitivos e derivados. Os primitivos são
mesmo, perde seu significado próprio. Esse o:
verbo possui a função de auxiliar: - Presente do infinitivo impessoal -
Tenho comido pão. falar, fazer, etc.;
* Os auxiliares de uso mais comum são - Presente do indicativo (1ª e 2ª pessoas
ter, haver, ser e estar. do singular e 2ª pessoa do plural) - faço,
faças, fazeis;
Estrutura do verbo - Pretérito perfeito do indicativo (3ª
O verbo possui um radical que é pessoa do plural) - fizeram.
geralmente invariável, e uma terminação
que pode variar para indicar o modo e o Os tempos derivados são formados com
tempo, a pessoa e o número: o radical dos primitivos. Veja o tempo
fal- (radical) ar (terminação) = falar; simples na voz ativa:
faz- (radical) er (terminação) = fazer; Presente do infinitivo
abr- (radical) ir (terminação) = abrir dizer
Pretérito imperfeito do indicativo:
Os verbos possuem uma vogal temática, dizia, dizias, dizia, etc.
que indica a conjugação. Há também a Futuro do presente: direi, dirás, dirá,
desinência verbo-temporal, que expressa etc.
o modo e o tempo do verbo: em Futuro do pretérito: diria, dirias, diria,
“falássemos” o elemento destacado no etc.
verbo indica o tempo pretérito imperfeito Infinitivo pessoal: dizer, dizeres, dizer,
do subjuntivo. Além disso, há a desinência etc.
número-pessoal, que indica a pessoa e o Gerúndio: dizendo
número: em abrimos, a flexão -mos indica Particípio: dito
primeira pessoa do plural.
Presente do indicativo
Conjugação do verbo faço, fazes, fazeis
Quando conjugamos um verbo, fazemos Presente do subjuntivo: faço - faça,
uso de todos os seus modos, tempos, faças, faça, façamos, façais, façam.

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Língua Portuguesa

Imperativo afirmativo: fazes - faze; - Imperativo negativo - as pessoas do


fazeis -fazei. apresentam a mesma forma daquelas do
presente do subjuntivo.
Pretérito perfeito do indicativo Afirmativo: Faça você.
fizeram Negativo: Não faça você.
Pretérito mais-que-perfeito do
indicativo: fizera, fizeras, fizera, etc. Tempo Composto
Pretérito imperfeito do subjuntivo: Voz ativa - são antecedidos pelo verbo
fizesse, fizesses, fizesse, etc. ter ou pelo haver, seguidos do particípio do
Futuro do subjuntivo: fizer, fizeres, verbo principal: Tenho dormido pouco;
fizer, etc. Havíamos estado lá.
Voz Passiva - são antecedidos pelo
Modo indicativo verbo ter ou pelo haver + o verbo ser,
Presente - expressa uma ação que ocorre seguidos do particípio do verbo principal:
no tempo atual: Corro todos os dias. Tenho sido feito de bobo por ela; Ambos
Pretérito perfeito - expressa uma ação haviam sido vistos na rua.
concluída: Corri ontem. Locução Verbal – é formada por um
Pretérito imperfeito - expressa uma verbo auxiliar seguido de gerúndio ou
ação que ainda não foi acabada: infinitivo do verbo principal: Eles devem
Antigamente não corria um dia sequer. iniciar os trabalhos a partir de amanhã; As
Pretérito mais-que-perfeito - expressa compras foram pagas à vista.
uma ação anterior a outra que já foi Em “As compras foram pagas à vista”, a
concluída: Correra pela manhã antes de ir à forma foram (verbo ser) é o auxiliar, e
escola. pagas o principal.
Futuro do presente - expressa uma ação
que será realizada: Correrei amanhã cedo. Verbo pronominal: são conjugados em
Futuro do pretérito - expressa uma conjunto com um pronome oblíquo átono
ação futura em relação a outra, já concluída: (me, te, se, nos, vos, se). Esse pronome
Falou que não correria hoje. oblíquo deve fazer referência à mesma
pessoa do sujeito.
Modo subjuntivo Essa conjugação pode ser reflexiva,
Presente - expressa uma ação incerta no caso a ação recaia sobre o próprio sujeito:
tempo atual: Que eles corram. Cortei-me. (o sujeito cortou a si mesmo)
Pretérito imperfeito - expressa o verbo Ou pode ser recíproca, caso existam
no passado que depende de uma ação dois sujeitos na oração e a ação recaia sobre
também passada: Se ele corresse teria mais ambos: Eles se beijaram. (ambos deram um
vigor. beijo e receberam um beijo)
Futuro - expressa uma ação futura cuja
realização depende de outra ação: Quando Verbo significativo: é o verbo que
eles correrem ficarão cansados. apresenta função sintática de núcleo do
predicado verbal ou verbo-nominal. Nestes
Modo imperativo casos, o verbo é a informação de maior
É dividido em: relevância.
- Imperativo afirmativo - em sua João comeu torta. (o verbo é a
formação, a 2ª pessoa do singular e do informação mais relevante, sem ele a frase
plural são derivadas das pessoas sequer faria sentido)
correspondentes do presente do indicativo, Esse tipo de verbo também pode ser
retirando o s do final. As demais pessoas chamado de pleno. Indicam ações
apresentam a mesma forma do presente do praticadas ou fenômenos da natureza.
subjuntivo.

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Língua Portuguesa

Pode ser transitivo direto, ou seja, Que eu intermedeie (presente do


precisa de um complemento para fazer subjuntivo).
sentido, mas não necessita Verbo requerer: Eu requeiro (presente
obrigatoriamente de uma preposição para se do indicativo); Eu requeri (pretérito
conectar ao objeto direto. perfeito do indicativo); Que eu requeira
Pode ser transitivo indireto, ou seja, (presente do subjuntivo).
precisa de um complemento e necessita Verbo reaver no pretérito perfeito do
obrigatoriamente de uma preposição para se indicativo: Eu reouve; Ele reouve; Eles
ligar ao objeto indireto e fazer sentido. reouveram.
Pode ser intransitivo, ou seja, não Verbo pôr: Eu punha (pretérito
necessita de complemento para fazer imperfeito do indicativo); Eu pus (pretérito
sentido e podem formar predicados por perfeito do indicativo); Eu pusera (pretérito
conta própria. mais-que-perfeito do indicativo).
O cachorro comeu ração. (o verbo se liga Verbo manter: Eu mantive; Ele
ao objeto direto, que é ração, sem manteve; Eles mantiveram (pretérito
preposição) perfeito do indicativo).
Eu fui a São Paulo. (o verbo se liga ao Verbo ver: Quando eu vir; Quando ele
objeto indireto, que é São Paulo, com o uso vir; Quando eles virem (futuro do
de preposição) subjuntivo).
Minha pipa caiu. (intransitivo, pois o
verbo já apresenta sentido por si mesmo) Ter e Haver
Quando o verbo haver apresentar o
Verbo de ligação: apresenta a função sentido de existir, acontecer, realizar-se e
sintática de predicado, ligando o sujeito ao fazer (este em orações que indiquem
predicativo. Importante lembrar que o tempo), ele será impessoal. Ou seja, deve
núcleo do predicado é um adjetivo, pois é a ficar na 3ª pessoa do singular.
informação mais relevante. Há diversas montanhas nessa região.
Diferente dos verbos transitivos ou (sentido de existem).
intransitivos, não indica uma ação realizada Porque não há dúvidas de que, ao
ou sofrida. desenhar, aquele homem estava
São verbos de ligação: ser, estar, escrevendo. (sentido de existem)
permanecer, ficar, tornar-se, andar, Houve muitas festas e celebrações
parecer, virar, continuar, viver. durante o mês de junho. (sentido de
A mulher parece nervosa. (não apresenta aconteceram)
nenhum tipo de ação, mas sim liga o sujeito, Para organizar melhor o evento, haverá
a mulher, ao predicativo, nervosa) algumas reuniões na próxima semana.
(sentido de será realizada)
Verbos que podem causar confusão Há muitos meses que ela não me visita.
Certas conjugações podem causar um nó (sentido de faz)
em nossa cabeça. Veja algumas delas:
Verbo intervir: Eu intervenho (presente Quando o verbo ter puder substituir o
do indicativo); Eu intervinha (pretérito verbo haver, deve aparecer na 3ª pessoa do
imperfeito do indicativo); Eu intervim singular, já que também será impessoal.
(pretérito perfeito do indicativo). Vale lembrar que o uso do ter no lugar do
Verbo gerir: Eu giro (presente do haver apresenta um pouco mais de
indicativo); Que eu gira; Que eles giram informalidade ao texto.
(presente do subjuntivo). Tem diversas montanhas nessa região.
Verbo intermediar: Eu intermedeio; (sentido de existem).
Eles intermedeiam (presente do indicativo); Teve muitas festas e celebrações durante
o mês de junho. (sentido de aconteceram)

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Língua Portuguesa

Para organizar melhor o evento, terá Tu: estudavas; escrevias; partias.


algumas reuniões na próxima semana. Ele/Ela: estudava; escrevia; partia.
(sentido de será realizada) Nós: estudávamos; escrevíamos;
Tem muitos meses que ela não me visita. partíamos.
(sentido de faz) Vós: estudáveis; escrevíeis; partíeis.
Eles: estudavam; escreviam; partiam.
“Eles haviam ficado tristes.”
“Eles tinham ficado tristes.” Futuro do Pretérito do Indicativo
Na frase acima, o verbo haver foi Eu: estudaria; escreveria; partiria.
empregado com sentido de ter. Nesse tipo Tu: estudarias; escreverias; partirias.
de caso é possível usar haviam, pois não há Ele/Ela: estudaria; escreveria; partiria.
impessoalidade. Nós: estudaríamos; escreveríamos;
partiríamos.
CONJUGAÇÃO DE ALGUNS Vós: estudaríeis; escreveríeis; partiríeis.
VERBOS REGULARES Eles: estudariam; escreveriam;
Verbos: estudar; escrever; partir. partiriam.
Gerúndio: estudando; escrevendo;
partindo. Futuro do Presente do Indicativo
Particípio Passado: estudado; escrito; Eu: estudarei; escreverei; partirei.
partido. Tu: estudarás; escreverás; partirás.
Infinitivo: estudar; escrever; partir. Ele/Ela: estudará; escreverá; partirá.
Nós: estudaremos; escreveremos;
Presente do Indicativo partiremos.
Eu: estudo; escrevo; parto. Vós: estudareis; escrevereis; partireis.
Tu: estudas; escreves; partes. Eles: estudarão; escreverão; partirão.
Ele/Ela: estuda; escreve; parte.
Nós: estudamos; escrevemos; partimos. Presente do Subjuntivo
Vós: estudais; escreveis; partis. Que eu: estude; escreva; parta.
Eles: estudam; escrevem; partem. Que tu: estudes; escrevas; partas.
Que ele/ela: estude; escreva; parta.
Pretérito Perfeito do Indicativo Que nós: estudemos; escrevamos;
Eu: estudei; escrevi; parti. partamos.
Tu: estudaste; escreveste; partiste. Que vós: estudeis; escrevais; partais.
Ele/Ela: estudou; escreveu; partiu. Que eles: estudem; escrevam; partam.
Nós: estudamos; escrevemos; partimos.
Vós: estudastes; escrevestes; partistes. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Eles: estudaram; escreveram; partiram. Se eu: estudasse; escrevesse; partisse.
Se tu: estudasses; escrevesses; partisses.
Pretérito Mais-Que-Perfeito do Se ele/ela: estudasse; escrevesse;
Indicativo partisse.
Eu: estudara; escrevera; partira. Se nós: estudássemos; escrevêssemos;
Tu: estudaras; escreveras; partiras. partíssemos.
Ele/Ela: estudara; escrevera; partira. Se vós: estudásseis; escrevêsseis;
Nós: estudáramos; escrevêramos; partísseis.
partíramos. Se eles: estudassem; escrevessem;
Vós: estudáreis; escrevêreis; partíreis. partissem.
Eles: estudaram; escreveram; partiram.

Pretérito Imperfeito do Indicativo


Eu: estudava; escrevia; partia.

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Língua Portuguesa

Futuro do Subjuntivo Presente do Indicativo


Quando eu: estudar; escrever; partir. Eu: adéquo; sou; vou.
Quando tu: estudares; escreveres; Tu: adéquas; és; vais.
partires. Ele/Ela: adéqua; é; vai.
Quando ele/ela: estudar; escrever; Nós: adequamos; somos; vamos.
partir. Vós: adequais; sois; ides.
Quando nós: estudarmos; escrevermos; Eles: adéquam; são; vão.
partirmos.
Quando vós: estudardes; escreverdes; Pretérito Perfeito do Indicativo
partirdes. Eu: adequei; fui; fui.
Quando eles: estudarem; escreverem; Tu: adequaste; foste; foste.
partirem. Ele/Ela: adequou; foi; foi.
Nós: adequamos; fomos; fomos.
Imperativo Afirmativo Vós: adequastes; fostes; fostes.
-- Eles: adequaram; foram; foram.
estuda; escreve; parte Tu.
estude; escreva; parta Você. Pretérito Mais-Que-Perfeito do
estudemos; escrevamos; partamos Nós. Indicativo
estudai; escrevei; parti Vós. Eu: adequara; fora; fora.
estudem; escrevam; partam Vocês. Tu: adequaras; foras; foras.
Ele/Ela: adequara; fora; fora.
Imperativo Negativo Nós: adequáramos; fôramos; fôramos.
-- Vós: adequáreis; fôreis; fôreis.
Não estudes; escrevas; partas Tu. Eles: adequaram; foram; foram.
Não estude; escreva; parta Você.
Não estudemos; escrevamos; partamos Pretérito Imperfeito do Indicativo
Nós. Eu: adequava; era; ia.
Não estudeis; escrevais; partais Vós. Tu: adequavas; eras; ias.
Não estudem; escrevam; partam Vocês. Ele/Ela: adequava; era; ia.
Nós: adequávamos; éramos; íamos.
Infinitivo Pessoal Vós: adequáveis; éreis; íeis.
Por estudar; escrever; partir Eu. Eles: adequavam; eram; iam.
Por estudares; escreveres; partires Tu.
Por estudar; escrever; partir Ele/Ela. Futuro do Pretérito do Indicativo
Por estudarmos; escrevermos; partirmos Eu: adequaria; seria; iria.
Nós. Tu: adequarias; serias; irias.
Por estudardes; escreverdes; partirdes Ele/Ela: adequaria; seria; iria.
Vós. Nós: adequaríamos; seríamos; iríamos.
Por estudarem; escreverem; partirem Vós: adequaríeis; seríeis; iríeis.
Eles. Eles: adequariam; seriam; iriam.

CONJUGAÇÃO DE ALGUNS Futuro do Presente do Indicativo


VERBOS IRREGULARES Eu: adequarei; serei; irei.
Verbos: adequar; ser; ir. Tu: adequarás; serás; irás.
Gerúndio: adequando; sendo; indo. Ele/Ela: adequará; será; irá.
Particípio Passado: adequado; sido; Nós: adequaremos; seremos; iremos.
ido. Vós: adequareis; sereis; ireis.
Infinitivo: adequar; ser; ir. Eles: adequarão; serão; irão.

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Língua Portuguesa

Presente do Subjuntivo ADVÉRBIO


Que eu: adéque; seja; vá. Possui a função de modificar o verbo, o
Que tu: adéques; sejas; vás. adjetivo ou o próprio advérbio. Dentro da
Que ele/ela: adéque; seja; vá. oração, sua função sintática é a de adjunto
Que nós: adequemos; sejamos; vamos. adverbial. Pode ser classificado como:
Que vós: adequeis; sejais; vades. - De afirmação: sim, certamente,
Que eles: adéquem; sejam; vão. deveras, incontestavelmente, realmente,
efetivamente.
Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Se eu: adequasse; fosse; fosse. - De dúvida: talvez, quiçá, acaso,
Se tu: adequasses; fosses; fosses. porventura, certamente, provavelmente,
Se ele/ela: adequasse; fosse; fosse. decerto, certo.
Se nós: adequássemos; fôssemos;
fôssemos. - De intensidade: assaz, bastante, bem,
Se vós: adequásseis; fôsseis; fôsseis. demais, mais, menos, muito, pouco, quanto,
Se eles: adequassem; fossem; fossem. quão, quase, tanto, tão, etc.

Futuro do Subjuntivo - De lugar: abaixo, acima, adiante, aí,


Quando eu: adequar; for; for. além, ali, aquém, aqui, atrás, através, cá,
Quando tu: adequares; fores; fores. defronte, dentro, detrás, fora, junto, lá,
Quando ele/ela: adequar; for; for. longe, onde, perto, etc.
Quando nós: adequarmos; formos;
formos. - De modo: assim, bem, debalde,
Quando vós: adequardes; fordes; depressa, devagar, mal, melhor, pior e
fordes. quase todos aqueles que terminam em -
Quando eles: adequarem; forem; forem. mente: inteligentemente, pesadamente, etc.

Imperativo Afirmativo - De negação: não, tampouco.


--
adéqua; sê; vai Tu. - De tempo: agora, ainda, amanhã,
adéque; seja; vá Você. anteontem, antes, breve, cedo, depois,
adequemos; sejamos; vamos Nós. então, hoje, já, jamais, logo, nunca, ontem,
adequai; sede; ide Vós. outrora, sempre, tarde, etc.
adéquem; sejam; vão Vocês.
Quando empregados em interrogações
Imperativo Negativo diretas ou indiretas, alguns advérbios
-- podem ser classificados como
Não adéques; sejas; vás Tu. interrogativos:
Não adéque; seja; vá Você. - Por que? de causa:
Não adequemos; sejamos; vamos Nós. Por que fez isso?
Não adequeis; sejais; vades Vós.
Não adéquem; sejam; vão Vocês. - Onde? de lugar:
Quero saber onde está minha carteira.
Infinitivo Pessoal
Por adequar; ser; ir Eu. - Como? de modo:
Por adequares; seres; ires Tu. Como está seu pai?
Por adequar; ser; ir Ele/Ela.
Por adequarmos; sermos; irmos Nós. - Quando? de tempo:
Por adequardes; serdes; irdes Vós. Quando será seu aniversário?
Por adequarem; serem; irem Eles.

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Língua Portuguesa

Locução adverbial: são expressões, de (termo regido). A preposição é uma palavra


uma ou mais palavras, que funcionam como invariável.
advérbio. Podem ser formadas por uma Sintaticamente, a preposição não
preposição + um substantivo, um adjetivo desempenha nenhuma função sintática na
ou um advérbio: à noite; de repente; de oração. Sua função é unir palavras.
perto. - “Vou a Paris”
Mas podem ser mais complexas, como Vou (regente)
palmo a palmo. a (preposição)
Da mesma forma que os advérbios, as Paris (regido)
locuções adverbiais podem ser:
- De afirmação (ou dúvida): Quando expressa por apenas um
com certeza; sem dúvida vocábulo, a preposição é simples; quando
formada por dois ou mais vocábulos (sendo
- De intensidade: o último uma simples, normalmente de), é
de pouco, de muito, etc. composta.
Simples: a; ante; após, até; com; contra;
- De lugar: de; desde; em; entre; para; perante;
por aqui, à direita, etc. por(per); sem; sob; sobre; trás.

- De modo: As preposições simples também são


de bom grado, à toa, etc. chamadas de essenciais, para distingui-las
de palavras de outras classes que podem
- De negação: acabar funcionando como proposições. São
de maneira alguma, de modo algum, etc. as preposições acidentais: afora,
conforme, consoante, durante, exceto, fora,
- De tempo: mediante, não obstante, salvo, segundo,
de dia, à noite, etc. senão, tirante, visto, etc.

Quando o advérbio modifica o adjetivo, Locuções prepositivas: são expressões


o particípio isolado ou o advérbio, aparece normalmente formadas por advérbio (ou
antes destes: locução adverbial) + preposição, e possuem
Meio capenga, consegui atravessar o função de preposição. Alguns exemplos:
deserto. abaixo de; apesar de; devido a; junto a.

No caso dos advérbios de tempo e de Uma preposição isolada não apresenta


lugar, podem aparecer antes ou depois do um sentido, mas, dentro de uma oração,
verbo: pode expressar:
Outrora fora um lugar de glórias. Assunto: Comentou sobre futebol.
Eu não consigo sair daqui. Tempo: Caminhei durante dias.
Finalidade: Estudo para aprender.
No caso dos advérbios de negação, vêm Lugar: Vivo em Brasília.
sempre antes do verbo: Meio: Viajei de ônibus.
Não consegui completar os objetivos Falta: Estou sem grana.
propostos. Oposição: Jogou a torcida contra o
técnico.
PREPOSIÇÃO
Possuem a função de relacionar dois As preposições a, de e per podem se unir
termos de uma oração, fazendo com que o a outras palavras, formando uma única
sentido do primeiro (termo regente) seja outra. Quando essa união ocorre sem a
explicado ou completado pelo segundo perda de fonema, temos a combinação;

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Língua Portuguesa

caso haja perda de fonema, o resultado é a Ou você arruma um emprego ou você


contração. estuda. (quando um fato for cumprido, o
- A preposição a pode se unir aos artigos outro não poderá ser efetivado)
e pronomes demonstrativos o, os, ou com o
advérbio onde: ao, aos, aonde. Conclusiva - indica uma conclusão,
*Dica: onde indica lugar, aonde, consequência: logo, pois, portanto, por
movimento: Me lembro daquele lugar, onde conseguinte, por isso, assim, então.
vivi na infância; Vou aonde você for. (vou Carlos gastou tudo em apostas, por isso
a + onde) ficou pobre. (a primeira oração apresenta
um fato, a segunda, sua consequência)
- As preposições a, de, em, per podem se
contrair com artigos, e algumas até mesmo Explicativa - indica explicação, motivo:
com pronomes e advérbios: que, porque, pois, porquanto.
a + a = à; de + o = do; em + esse = nesse; Vou dormir, pois estou caindo de sono.
per + a = pela. (a segunda oração explica a primeira, ou
seja, por estar muito cansado, vai dormir)
CONJUNÇÃO
Tem a função de ligar orações ou Conjunção subordinativa: faz uma
palavras da mesma oração. São conectivos. ligação de dependência, ou seja, o sentido
Uma conjunção é invariável. da segunda oração dependerá da primeira.
Não desempenham função sintática na Excetuando as integrantes, as
oração. Quando utilizada em um período subordinativas iniciam orações que indicam
composto, faz com que haja uma relação de circunstâncias.
coordenação ou subordinação entre as Causal - apresenta ideia de causa:
orações que integram o período. porque, pois, porquanto, como [no sentido
de porque], pois que, por isso que, já que,
Conjunção coordenativa: faz uma uma vez que, visto que, visto como, que.
ligação entre orações sem que uma dependa O cachorro late porque é bravo. (a causa
da outra, ou seja, a segunda oração não de o cachorro latir é ele ser bravo)
completa o sentido da primeira. Pode ser:
Aditiva - indica a ideia de adição: e, Comparativa - inicia uma oração que
nem, mas também, mas ainda, senão termina o segundo elemento de uma
também, como também, bem como. comparação: que, do que (depois de - mais,
Comeu o bolo, bem como o brigadeiro. menos, maior, menor, melhor, pior), qual
(comeu o bolo + o brigadeiro) (depois de tal), quanto (depois de tanto),
Meu cachorro não só rola, mas também como, assim como, bem como, como se, que
dá a patinha. (o cachorro rola e dá a patinha) nem.
Era mais inteligente que forte.
Adversativa - indica oposição, Nada me chateia tanto quanto uma
contraste: mas, porém, todavia, contudo, no pessoa falsa.
entanto, entretanto.
O jogo estava bom, mas o time levou um Concessiva - inicia uma oração que
gol. (a segunda oração apresenta uma ideia indica uma concessão, um fato contrário:
contrária, que faz oposição à primeira = embora, conquanto, ainda que, mesmo que,
estava bom / ficou ruim) posto que, bem que, se bem que, apesar de
que, nem que, que.
Alternativa - indica alternativa, Coma, mesmo que apenas um pouco.
alternância: ou...ou, ora...ora, quer...quer, João se veste mal, embora seja rico.
seja...seja, nem...nem, já...já.

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Língua Portuguesa

Condicional - inicia uma oração que Veio me cumprimentar assim que me


apresenta uma hipótese ou condição viu.
necessária: se, caso, contanto que, salvo se, Agora que está chovendo, você quer sair
sem que [no sentido de se não], dado que, de casa.
desde que, a menos que, a não ser que.
Seria mais bonita, se fosse menos Integrante - inicia uma oração que pode
metida. funcionar como substantivo. Quando o
Hoje será um dia feliz, caso faça sol. verbo indicar certeza, utiliza-se que,
quando indicar incerteza, se.
Conformativa - inicia uma oração que Afirmo que sou inocente.
indica conformidade: como, conforme, Verifique se o gás está fechado.
segundo, consoante.
As coisas não são como antigamente. Locução conjuntiva: no entanto, visto
que, desde que, se bem que, por mais que,
Consecutiva - inicia uma oração que ainda quando, à medida que, logo que, a
indica consequência: que (quando fim de que, ao mesmo tempo que.
combinada com: tal, tanto, tão ou tamanho,
presentes ou latentes na oração anterior), de INTERJEIÇÃO
forma que, de maneira que, de modo que, É uma palavra ou locução utilizada para
de sorte que. exprimir uma emoção ou estado emotivo.
Minha voz falhava tanto que mal podia Uma mesma interjeição pode expressar
falar. mais de uma reação emotiva, até mesmo
opostas.
Final - inicia uma oração que exprime Sintaticamente, não desempenha função
fim, finalidade: para que, a fim de que, na oração.
porque [no sentido de para que], que. Alegria/satisfação: ah! oh! oba! opa!
Trouxe a almofada para que se Animação: avante! coragem! eia!
aconchegue. vamos!
Troquei algumas peças a fim de que o Aplauso: bis! bem! bravo! viva!
problema seja resolvido. Desejo: oh! oxalá! tomara!
Dor: ai! ui!
Proporcional - inicia uma oração que Espanto/surpresa: ah! chi! ih! oh! ué!
indica proporcionalidade: à medida que, ao uai! puxa!
passo que, à proporção que, enquanto, Impaciência: hum! hem!
quanto mais... (mais), quanto mais... (tanto Invocação: alô! ó! olá! psiu!
mais), quanto mais... (menos), quanto Silêncio: psiu! silêncio!
mais... (tanto menos), quanto menos... Suspensão: alto! basta!
(menos), quanto menos... (tanto menos), Terror: ui! uh!
quanto menos... (mais), quanto menos...
(tanto mais). Locução interjectiva: duas ou mais
Quanto menos pensava, menos se palavras que, juntas, formam expressões
preocupava. (o fato de uma oração se que valem por interjeições: ai de mim!;
realiza de maneira simultânea ao da outra) raios te partam!.
*Note que as interjeições aparecem
Temporal - inicia uma oração que sempre acompanhadas por um ponto de
indica tempo: quando, antes que, depois exclamação. São muito utilizadas em
que, até que, logo que, sempre que, assim histórias em quadrinhos ou na linguagem
que, desde que, todas as vezes que, cada vez literária.
que, apenas, mal, que [no sentido de desde
que].

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Língua Portuguesa

Questões “Atenção!”
“Silêncio!”
01. (TIBAGIPREV - Contador -
FAFIPA/2022) "[...] balconista e cliente Existem frases formadas por mais de
tentam, inutilmente, decifrar o nome de um uma palavra, podendo ou não conter um
medicamento na receita médica." verbo:
As palavras destacadas no trecho “Que droga!”
anterior são classificadas, no seu contexto “Pula a fogueira.!
de uso, respectivamente como:
(A) Advérbio, adjetivo e preposição. Quando as frases não possuem verbo, o
(B) Adjetivo, conjunção e substantivo. que indica se tratar de uma frase é a
(C) Substantivo, preposição e adjetivo. melodia, a pronúncia da frase.
(D) Adjetivo, conjunção e substantivo. As frases que não possuem verbo são as
(E) Substantivo, advérbio e adjetivo. frases nominais, as que possuem, as frases
verbais.
02. (Prefeitura de Viamão - Médico
Clínico Geral - FUNDATEC/2022) No Os tipos de frases são:
excerto “O conceito vem, ainda que Exclamativas: funcionam para
vagarosamente, ganhando destaque nas expressar uma emoção ou surpresa. O ponto
mídias sociais e em rodas de conversas e de exclamação marca esse tipo de frase, já
debates”, a locução conjuntiva sublinhada que são terminadas com ele.
exprime uma: “Que susto!”
(A) Conformidade.
(B) Causa. Interrogativas: funcionam para
(C) Condição. expressar uma pergunta ou dúvida. O ponto
(D) Concessão. de interrogação marca esse tipo de frase, já
(E) Comparação. que são terminadas com ele.
“Qual sabor?”
03. (Prefeitura de Arroio do Padre -
Técnico em Enfermagem - Declarativas: funcionam para expressar
OBJETIVA/2022) Na frase “Humanos uma declaração. O ponto final marca esse
queriam seus pets pintadinhos”, o verbo tipo de frase, já que são terminadas com ele.
sublinhado está no tempo: Podem ser afirmativas ou negativas.
(A) Presente. “Eu fiz isso”. (afirmativa)
(B) Pretérito perfeito. “Eu não fiz isso”. (negativa)
(C) Pretérito imperfeito.
(D) Futuro do presente. Imperativas: assim como as
exclamativas, são marcadas pelo ponto de
Gabarito exclamação. Funcionam para expressar
uma ordem, pedido ou conselho. Podem ser
01.E - 02.D - 03.C afirmativas ou negativas. O verbo vem no
imperativo.
ANÁLISE SINTÁTICA “Coma tudo!” (afirmativa)
“Não coma tudo!” (negativa)
Frase
São enunciações que apresentam sentido Oração é toda declaração que pode ser
completo. Utilizamos frases para expressar feita por meio de um verbo, evidente ou
pensamentos e sentimentos. oculto.
Existem frases formadas por apenas uma Uma frase pode conter uma ou mais
palavra: orações:

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Língua Portuguesa

Eu comprei macarrão e molho. (apenas - Pronome demonstrativo, relativo,


uma forma verbal) interrogativo, ou indefinido: Quem quebrou
Eu comprei tomate e fiz o molho. (duas a vidraça? / Ninguém gostou da comida.
formas verbais) - Um numeral: Quando um não quer,
dois não insistem.
Importante não confundir oração e frase, - Palavra ou uma expressão
pois uma frase pode ser formada sem um substantivada: O corajoso enfrenta os
verbo, já a oração necessita de um verbo. desafios.
- Uma oração: É inevitável que ele venha
O período é uma frase organizada ao aqui hoje.
redor de uma ou mais orações. Ele sempre
termina com uma pausa, marcada por O sujeito é simples quando possui
ponto, ponto de interrogação, ponto de somente um núcleo:
exclamação e, às vezes, até dois-pontos. A menina cantou alto. (o verbo faz
O período é simples quanto possui referência a apenas um sujeito)
apenas uma oração:
O menino jogava bola. Quando há mais de um núcleo, o sujeito
O período é composto quando possui é composto:
mais de uma oração: Farinha, açúcar, sal e fermento são os
Você sabe que ela confia em mim. (a ingredientes. (substantivos)
frase toda é um período, com duas orações: Ele e eu escrevemos esta carta.
você sabe que / ela confia em mim) (pronomes)

O sujeito e o predicado são termos O sujeito será indeterminado quando o


essenciais da oração. O sujeito é sobre o que verbo não fazer referência a uma pessoa
a declaração é feita, o predicado é aquilo determinada ou quando não ficar claro
que se diz sobre o sujeito. quem realiza a ação do verbo.
O menino chutou a bola longe. Anunciaram o vencedor. (terceira pessoa
Sujeito: O menino do plural, não é claro quem anunciou)
Predicado: chutou a bola longe. Não se fala sobre isso por aqui. (terceira
pessoa do singular, o verbo não se refere a
Tanto o sujeito quanto o predicado ninguém em específico)
podem não estar expressos. Às vezes ficam
subentendidos pelo contexto. Em casos Quando o verbo for impessoal, a oração
assim, o sujeito e o predicado são ocultos não terá sujeito.
ou elípticos: Choveu hoje. (verbo impessoal, não dá
Acordei com grande disposição. (o para atribuí-lo a um ser)
sujeito só pode ser eu, por causa do verbo) Há algo de podre no Reino da
Na parede clara, duas manchas. (o verbo Dinamarca. (quando o verbo haver indicar
haver fica subentendido, “havia duas “existir” ou tempo decorrido)
manchas na parede”.) Era tarde. (verbo ser, fazer e ir,
indicando tempo em geral)
Na segunda pessoa, os sujeitos são: eu e
tu no singular, nós e vós no plural. Caso o verbo indique uma ação do
Na terceira pessoa, o núcleo do sujeito sujeito, podemos ter um caso de atividade,
pode ser: passividade ou atividade e passividade ao
- Um substantivo: Jorge falava muito. mesmo tempo.
- Pronomes pessoais ele, ela (singular); Marcos apertou o botão do controle. (o
eles, elas (plural): Ele estava sentado à sujeito Marcos realiza uma ação sobre o
mesa. / Elas estavam sentadas à mesa.

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Língua Portuguesa

controle por meio do verbo apertou; - Verbo-Nominal: é formado pela


Marcos é o agente) ligação do predicativo do sujeito com um
A população periférica foi atingida pelo verbo significativo
deslizamento. (o sujeito A população não O homem respirou aliviado. (o verbo
realiza ação, na verdade sofre a ação; o aliviar é um verbo significativo e está
sujeito é paciente) ligado a homem, já aliviado é uma
Penteou-se às pressas cantarolando uma qualificação)
canção. (o sujeito ele está oculto, sofrendo
a ação de vestir-se e realizando a ação de Termos Integrantes da Oração
cantarolar; é ao mesmo tempo agente e Algumas palavras podem completar o
paciente) sentido de outras. Algumas realizam essa
ligação ao substantivo, adjetivo ou
No caso do predicado, ele pode ser advérbio por meio de preposição, sendo
nominal, verbal ou verbo-nominal. camadas de complementos nominais. As
- Nominal: formado por um verbo de palavras que fazem parte do sentido do
ligação com o predicativo do sujeito. Os verbo são os complementos verbais.
verbos de ligação estabelecem uma união - Complemento nominal pode ser
entre duas palavras ou expressões de caráter representado por:
nominal. Já o predicativo do sujeito é o Substantivo (pode ser acompanhado por
termo do predicado nominal que faz modificadores):
referência direta ao sujeito. O caso da mulher estrangeira chamou
Era músico e ator. (representado por atenção.
substantivo, ou pode ser por expressão Expressão substantivada:
substantivada) Você gosta daquele pilantra?
Ela ficou surpresa, sem palavras. Oração:
(representado por adjetivo ou locução Tenho conhecimento de que fará o
adjetiva) possível.
Sempre fez tudo na casa. (representado Numeral:
por pronome) A derrota de um é a conquista de todos.
Dois são os fatos principais do noticiado. Pronome:
(representado por numeral) O sonho dele era viajar pela Europa.
O ruim é que gastei o dinheiro.
(representado por oração) - Complemento verbal pode ser o
objeto direto que complementa um verbo
- Verbal: no caso do predicado verbal, transitivo direto.
apresenta um verbo significativo como Homens e mulheres narram histórias.
sujeito, ou seja, verbos que apresentam uma (substantivo complementa o verbo)
nova ideia para o sujeito, podendo ser Os políticos nada fizeram. (o pronome
transitivos ou intransitivos. complementa o verbo)
Tarde, a moça dormiu. (verbo O trabalhador recebe 1200. (o numeral
intransitivo, não há necessidade de complementa o verbo)
complemento para o sentido) Tem um quê de mentira. (a palavra
Meu irmão gosta de jogos. (verbo substantivada complementa o verbo)
transitivo indireto, pois há a necessidade da O padre dizia que o pecado não
preposição, no caso, de, o verbo está ligado compensa. (a oração complementa o verbo)
a ela, não a jogos)
Pedro jogou bola. (verbo transitivo O complemento verbal pode ser o objeto
direto, pois não há a necessidade de indireto, que complementa um verbo
preposição, o verbo faz ligação direta ao transitivo indireto:
objeto bola)

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Língua Portuguesa

Falaram de diversos temas polêmicos. As duas irmãs ficaram contentes.


(substantivo complementa o verbo por uma (expresso por numeral)
ligação com preposição) A piada que lhe contei foi engraçada.
Discutia com todos. (pronome (expresso por oração)
complementa o verbo por uma ligação com
preposição) Adjunto adverbial - é um termo com
Rafael optou pelo primeiro. (numeral valor de advérbio, indicando fato expresso
complementa o verbo por uma ligação com pelo verbo ou intensificando seu sentido,
preposição) bem como o de um adjetivo ou de outro
Quem dará esmola aos necessitados? advérbio.
(expressão substantivada complementa o Eu jamais havia visto moça igual.
verbo por uma ligação com preposição) (representado por advérbio)
Esqueceu-se de que havia combinado o De repente começou a respirar com
horário. (oração complementa o verbo por força ao meu ouvido. (representado por
uma ligação com preposição) locução ou expressão adverbial)
Como eu achasse muito pouco, irritou-
Agente da passiva: tem a função de se. (representado por oração)
indicar quem pratica a ação sofrida ou
recebida pelo sujeito. Ocorre na voz Os adjuntos adverbiais podem ser:
passiva. De causa: A moça, por desejo de amar
Antes de deixar o local foi filmado pela e de paixão, escreveu uma carta ao amado.
câmera de segurança. (substantivo indica De companhia: Morei com meus pais
quem praticou a ação de filmar) durante vinte anos.
Acabou aplaudido por todos. (pronome De concessão: Apesar de exausto, não se
indica quem praticou a ação de aplaudir) entregou.
O homem foi agredido por ambos. De dúvida: Talvez o documento fique
(numeral indica quem praticou a ação de pronto para sexta.
agredir) De fim: Vou falar bem alto, para todos
O time foi formado por quem sabia do me escutarem.
assunto. (oração indica quem praticou a De instrumento: Retirou os pelos com a
ação de formar) lâmina.
De intensidade: Tenho estudado muito.
Termos acessórios da oração: são De lugar: Eu estudo em Bauru.
termos que se unem a um verbo ou a um De meio: Cheguei de moto do trabalho.
nome e lhes dão significado. São acessórios De modo: Ela baila com alegria.
pois não são essenciais para a compreensão De negação: Não quero mais estudar.
do enunciado. De tempo: Ontem o carteiro passou.
Adjunto adnominal - apresenta valor
de adjetivo, delimitando ou especificando o Aposto e vocativo
valor do substantivo. O aposto é um termo nominal que se liga
O projeto inicial foi aceito. (expresso por ao substantivo, ao pronome ou a um
adjetivo) elemento equivalente destes. Funciona para
Estava com um bafo de onça. (expresso explicar ou apreciar. Normalmente o aposto
por locução adjetiva) e o termo ao qual faz referência aparecem
Cessaram as inscrições. (expresso por separados por vírgula, travessão ou dois-
artigo definido) pontos:
Às vezes, um milagre acontece. Ele, Pelé, é o rei do futebol. (o termo
(expresso por artigo indefinido) entre vírgulas explica o pronome)
Amanda nunca revelou este meu
segredo. (expresso por pronome adjetivo)

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Língua Portuguesa

Em algumas ocasiões, o aposto não “Aqui, perto da estrada, a alegria


ficará separado de seu termo por nenhuma impera.”
pontuação:
O mês de agosto. (de agosto explica o O verbo pode vir antes do sujeito:
mês, de qual mês se trata) - Em perguntas.
*Não confundir: O clima do Brasil. (do “O que faz você aqui?”
Brasil, neste caso, tem valor de adjetivo, ou - Quando a oração apresentar uma forma
seja, é um adjunto adnominal) verbal imperativa.
Uma oração pode representar o aposto: “Diga você, seu espertalhão.”
Finalizado, só havia uma opção: fazer o - Quando a oração apresentar verbo na
trabalho. passiva pronominal.
“Oferecia-se a refeição às onze.”
O vocativo é um termo exclamativo e
que fica isolado do restante da frase. Ele O predicativo pode aparecer antes do
chama, invoca ou nomeia uma pessoa, algo. verbo:
Deus te abençoe, meu neto. - Em orações interrogativas e
exclamativas:
Ordem dos termos na oração “Que cantor seria esse?”
Ordem direta: é mais comum em “Que bonitos eram os dois quando
orações enunciativas ou declarativas. pequenos.”
sujeito + verbo + objeto direto + objeto - Em orações afetivas.
indireto “Coragem, esse era o principal
ou diferencial dele!”
sujeito + verbo + predicativo
Na voz passiva analítica, o particípio
“José estendeu a mão ao amigo”. pode aparecer antes do verbo auxiliar ser,
Sujeito: José demonstrando um desejo.
Verbo: estendeu “Iluminados sejam aqueles que seguem
Objeto direto: a mão o bom caminho”.
Objeto indireto: ao amigo
O período composto
“José é legal”. Em um período composto pode haver a
Sujeito: José oração principal, que é aquela que não
Verbo: é exerce função sintática em outra oração do
Predicativo: legal mesmo período. Pode haver a oração
subordinada, aquela que exerce função
Por razões estilísticas, é possível inverter sintática em outra oração. Pode haver a
essa ordem. O sujeito é realçado quando oração coordenada, que nunca é termo de
aparece depois do verbo. outra, mas pode ter ligação com outra
“A terra onde cantam os rouxinóis”. coordenada em sua integridade.
A oração coordenada pode ser
O predicativo, o objeto direto ou assindética quando não apresentar
indireto e o adjunto adverbial são conectivo (Não quero ir embora,). Pode ser
realçados quando aparecem antes do verbo. sindética quando for ligada por uma
“Pouco foi seu empenho.” conjunção coordenativa.
“Meu amor, tão singelo, a uma pessoa Acordei, levantei, comi, dirigi, cheguei.
ingrata entreguei”. (os termos estão justapostos, sem ligação
“A ele contava todos os seus segredos por conectivo, pois não é necessário para
mais profundos”. formar sentido, trata-se de uma assindética)

57
Língua Portuguesa

“Levantou-se, olhou sua obra com Predicativas, quando realizarem a


satisfação, andou cinco ou seis passos e, função de predicativo: O bom é / que o
novamente, se acocorou.” evento será sábado.
No período acima, ocorrem quatro Apositivas, quando realizarem a função
orações coordenadas entre si, e elas de aposto: Eu tinha um desejo: / que
retomam o mesmo referente como sujeito pudesse abrir uma empresa.
das ações expostas, que no caso está oculto. Agentes da passiva, quando realizaram
O sujeito é Ele, pois ele levantou-se, ele a função de agente da passiva: As regras são
olhou sai obra, ele andou cinco ou seus feitas / por quem manda.
passos e ele se acocorou.
No caso das orações subordinadas
No caso da sindética, pode ser: adjetivas, possuem a função de adjunto
- Aditiva, com uma conjunção aditiva: adnominal de um substantivo ou pronome
Paulo e Roberto conversaram na escola e no antecedente. O mais comum é iniciarem
trabalho. por um pronome relativo. Elas podem
- Adversativa, com uma conjunção depender de qualquer termo da oração,
adversativa: Demorou, mas chegou. desde que o núcleo do mesmo seja um
- Alternativa, com uma conjunção pronome ou substantivo.
alternativa: Ou você estuda para a prova ou Há cães / que rosnam, / cães / que latem,
você vai reprovar de ano. / cães / que mordem.
- Conclusiva, com uma conjunção A subordinada adjetiva pode ser
conclusiva: O funcionário trabalhou bem, restritiva, caso restrinja o significado do
portanto recebeu um bônus. substantivo ou pronome antecedente,
- Explicativa, com uma conjunção exercendo a função de adjunto adnominal.
explicativa: Não é preciso ficar com medo, São necessárias e indispensáveis para o
pois ele é manso. entendimento da frase.
Esse é um dos poucos pratos / que é
A oração subordinada tem a função de apreciado por todos os turistas.
termo essencial, integrante ou acessório de Pode ser também explicativa, ao
outra oração. Podem ser substantivas, acrescentar uma informação acessória,
adjetivas e adverbiais, visto que exercem esclarecendo ou ampliando sua
funções semelhantes às dos substantivos, significação. Não são essenciais para o
adjetivos e advérbios. entendimento do sentido da frase.
- As substantivas podem ser iniciadas Carlos Alberto, / que é um ótimo
por um pronome, um pronome indefinido atacante, / marcou o gol.
ou advérbio interrogativo, mas o mais
comum é iniciarem pela conjunção As orações subordinadas adverbiais
integrante que. podem ser: realizam a função de adjunto adverbial de
Subjetivas, quando realizarem a função outras orações. É comum serem iniciadas
de sujeito: É capaz / que ela durma de novo. por uma das conjunções subordinativas,
Objetivas diretas, quando realizarem a exceto as integrantes. De acordo com a
função de objeto direto: Nós queremos / que conjunção ou locução conjuntiva com que
o Brasil se desenvolva. iniciam, as subordinadas adverbiais podem
Objetivas indiretas, quando realizarem ser classificadas como:
a função de objeto indireto: Lembro-me / de - Causais, quando a conjunção for
que disse isso. subordinativa causal:
Completivas nominais, quando Não comprou o lanche, / pois estava sem
realizarem a função de complemento dinheiro.
nominal: Tenho medo / de viajar à noite. - Comparativas, quando a conjunção
for subordinativa comparativa:

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Língua Portuguesa

Pedro é trabalhador tanto quanto - De particípio: podem ser adjetivas;


Alberto. adverbiais (temporais, causais, concessivas,
- Concessivas, quando a conjunção for condicionais).
subordinativa concessiva: Ocupado com um trabalho importante, /
Jonas quer jogar bola, / embora esteja esqueci de comer.
muito cansado.
- Condicionais, quando a conjunção for Questões
subordinativa condicional:
Se fosse barato, / não me incomodaria. 01. (Prefeitura de Córrego Novo -
- Conformativas, quando a conjunção Assistente Social - Máxima/2022) “Com
for subordinativa conformativa: os dias, Senhora, o leite na primeira vez
Faremos a torta / conforme a receita coalhou.” O termo destacado é:
passada pela Ana Maria. (A) Vocativo;
- Consecutivas, quando a conjunção for (B) Adjunto adnominal;
subordinativa consecutiva: (C) Aposto;
Trabalhou duro, / de modo que venceu (D) Núcleo do sujeito.
na vida.
- Finais, quando a conjunção for 02. (Prefeitura de São Miguel do Passa
subordinativa final: Quatro - Médico - OBJETIVA/2022)
Estava pensando em estudar, / para que Assinalar a alternativa que apresenta uma
eu consiga passar no concurso. oração cujo verbo tem como complemento
- Proporcionais, quando a conjunção for um objeto indireto:
subordinativa proporcional: (A) Ana e Carla tem mais uma chance.
À medida que o tempo passa, / ficamos (B) Ela é tão linda.
mais velhos. (C) Essas notícias falam só a verdade.
- Temporais, quando a conjunção for (D) Esses móveis precisam de conserto.
subordinativa temporal:
Você saberá / quando for a hora. Gabarito

Orações reduzidas 01.A - 02.D


São orações subordinadas dependentes,
que não começam por pronome relativo FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE”
nem por conjunção subordinativa.
Apresentam o verbo em uma das formas Funções do “que”
nominais: o infinitivo, o gerúndio, ou o A palavra que pode apresentar diversas
particípio. classificações dentro das classes de
- De infinitivo: podem sem substantivas palavras, podendo desempenhar a função
(objetivas diretas, objetivas indiretas, de várias delas.
completivas nominais, predicativas, O que pode determinar ou substituir um
apositivas); adjetivas; adverbiais (causais, substantivo, por isso pode exercer a função
concessivas, condicionais, consecutivas, de pronome, que pode ser de:
finais, temporais). Pronome indefinido, quando apresentar
A solução era / ficar em casa. um sentido vago.
Que ânimo!
- De gerúndio: podem ser adjetivas; ou Pronome interrogativo, quando
adverbiais (causais, concessivas, empregado em orações interrogativas. A
condicionais). pergunta pode ser feita somente com que ou
Viu uma mulher / sorrindo. com a expressão o que.
Que prato vamos escolher? (direta)

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Língua Portuguesa

Não sei que prato vamos escolher? O que, quando empregado no sentido de
(indireta) conjunção subordinativa integrante,
Pronome relativo, quando retoma e inicia orações substantivas.
substitui um termo antecedente, para evitar A situação demonstra que a velha
sua repetição. Pode também unir duas política não tem fim.
orações e até mesmo introduzir uma oração
subordinada adjetiva. No sentido de subordinativa integrante
O prato que ele comeu é muito bom. consecutiva, apresenta a consequência de
Não disse / o que queria. algo expresso na outra oração. Além de unir
Falou do que foi servido. orações adverbiais, aparece precedida de
intensificador (tanto, tão, tal, etc.)
O que pode se equivaler à preposição de Fazia tanto calor que suava litros.
e, neste caso, seu uso ocorre no meio de
uma locução verbal. A subordinativa adverbial inicia as
Eu não tenho que aturar tudo o que tenho orações adverbiais. Pode ser comparativa
que aturar nesta casa. quando as orações estabelecem uma
comparação.
As interjeições exprimem algum tipo de Empenhava-se mais que o outro.
emoção, como espanto ou admiração. O
que pode funcionar como interjeição. A subordinativa adverbial pode ser
– Sim, os dois foram vistos juntos. concessiva, ou seja, há uma ideia de
– Quê! concessão entre as orações.
Que gritasse o mais alto, ele não se
O que pode modificar um adjetivo ou abalaria.
advérbio, intensificando-os. Por isso pode
apresentar a função de advérbio. A subordinativa adverbial pode ser
Que incrível é esse lugar! causal, ou seja, há uma ideia de causa e
consequência entre as orações.
As conjunções coordenativas iniciam as Irei à escola, que preciso estudar.
orações coordenadas e as conjunções
subordinativas, as orações subordinadas. O A subordinativa adverbial pode ser
que pode apresentar a função dessas final, ou seja, há uma ideia finalidade entre
conjunções. as orações.
No caso da conjunção coordenativa, Segurei-lhe o braço que não caísse.
ela pode ser aditiva, com o que, ao realizar
a união de duas orações coordenadas, O que pode funcionar como uma
exprimindo ideia de adição. Aparece entre partícula expletiva ou de realce. Essa
verbos repetidos. partícula não possui função sintática ou
Nossa, aquela sua amiga fala que fala! semântica, por isso sua retirada não
representa prejuízo. Seu uso acarreta
A conjunção coordenativa também intensidade àquilo que se pretende
pode ser explicativa. Neste caso, o sentido expressar.
estabelecido pela união de duas orações é o Quase que comprei por impulso.
de explicação. O comum é aparecer depois Os quietos é que são os piores. (há a
de um imperativo. possibilidade de utilizar também as
Trabalhem, que a vida não está fácil! (o expressões é que, será que, foi que).
que da explicativa pode ser substituído por
porque ou pois).

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Língua Portuguesa

O que pode ter função de substantivo. A construção com o se apassivador pode


Para isso, precisa ser precedido por artigo ser transformada em voz passiva analítica.
ou pronome, ou seja, ser determinado por É necessário usar o verbo ser ou estar +
eles. Levará acento em todos os casos. particípio.
O quê do queijo. Ovos frescos são vendidos.
Esta apostila tem um quê de sucesso.
Quando o se é empregado para tornar o
Funções do “se” sujeito da oração indeterminado, ele tem a
Assim como o que, o se também função de índice de indeterminação do
apresenta diversas funções, dependendo de sujeito. Para isso ocorrer, o sujeito não
como for utilizado. Vamos conhecê-las. deve estar nem explícito, nem subentendido
Quando o se indicar uma ação do sujeito pelo contexto. Sempre ocorre na voz
ao próprio sujeito, terá a função de passiva, e normalmente com verbo
pronome reflexivo. Esse tipo de pronome intransitivo, verbo transitivo indireto ou
desempenha, sintaticamente, a função de verbo de ligação.
objeto direto ou indireto. É o contexto da Sofre-se muito em São Paulo. (sofre =
frase que explicitará o sujeito ou o tornará verbo intransitivo; se = índice de
implícito. indeterminação do sujeito; muito =adjunto
Rose se olhava no espelho. (Rose = adverbial de intensidade; em São Paulo
sujeito; se = objeto direto; olhava = verbo (adjunto adverbial de lugar)
transitivo direto) Precisa-se de padeiro. (precisa = verbo
Deu-se um carro novo de presente. (deu transitivo indireto; se = índice de
= verbo transitivo direto indireto; se = indeterminação do sujeito; de padeiro =
objeto indireto; um carro novo de presente objeto indireto)
= objeto direto)
Quando o se estiver presente nos verbos
Quando o se apresentar uma relação de pronominais, terá a função de parte
reciprocidade, ou seja, dois ou mais seres integrante do verbo. Por acompanhar o
praticam e recebem uma ação ao mesmo verbo, o pronome integrará o verbo em
tempo, terá a função de pronome todas as flexões. Dependendo do contexto,
recíproco. o sujeito pode ser explícito ou implícito. A
Paulo e Andreia se beijaram. parte integrante não exerce nenhuma
função sintática.
Quando o se torna o sujeito paciente, Ela se tornou uma atriz famosa. (ela =
apresenta a função de pronome sujeito; se = parte integrante do verbo;
apassivador. Para isso, precisa ligar-se a tornou = verbo de ligação)
um verbo transitivo direto ou transitivo Atrapalhava-se com a conversa (sujeito
direto e indireto. O agente da passiva implícito; atrapalhava = verbo transitivo
(aquele que pratica a ação sobre o sujeito indireto; se = parte integrante do verbo;
paciente), não existe. Por isso a construção com a conversa = objeto indireto)
estará na voz passiva sintética. O verbo o
verbo precisa concordar com o sujeito Quando o se puder ser removido da
paciente (aquele que recebe a ação). construção sem acarretar em prejuízo
Vendem-se ovos frescos. (vendem = semântico e sem afetar sua estrutura
verbo transitivo direto; se = pronome sintática, apresentará a função de partícula
apassivador; ovos frescos = sujeito expletiva ou de realce. Para isso ocorrer, o
paciente) se não pode ser parte integrante de um
verbo, um pronome reflexivo, uma
partícula apassivadora ou índice de
determinação do sujeito.

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Língua Portuguesa

Foi-se a época de abundância. (foi = 02. (AL/MA - Técnico de Gestão


verbo intransitivo; a época = sujeito) Administrativa - ND/2022) "... porque no
lugar do papel com o número da fila usa-se
O se pode exercer a função de papel moeda." O "se" pode ser classificado,
conjunção ao lugar duas orações. sintaticamente, de igual maneira em:
Pode ser a de conjunção subordinativa (A) mora-se em um lugar extremamente
integrante, não apresentando valor perigoso.
semântico, aparecendo no começo da (B) garante-se informação verdadeira
oração. Inicia uma oração subordinada aqui.
substantiva. (C) vive-se bem na cidade do Rio de
Se ela cumprirá a promessa, ninguém Janeiro.
pode afirmar. (D) necessita-se de apoio em decisões
Pode ser a de conjunção subordinativa importantes.
condicional, que apresenta ideia de
condição. Inicia uma oração subordinada Gabarito
adverbial condicional.
Se ela cumprir sua promessa, informarei 01.C - 02.B
a todos.
Pode ser a de conjunção subordinativa PONTUAÇÃO
causal, que apresenta ideia de causa. Inicia
uma oração subordinada adverbial causal. Vírgula
Se você tem pressa, não fique enrolando. Separa elementos de uma oração e
Pode ser a de conjunção subordinativa orações de um só período. No interior da
concessiva, que apresenta ideia de oração:
concessão. Inicia uma oração adverbial - Separa elementos que desempenham a
concessiva. mesma função sintática (complementos,
Se o acesso à internet melhorou, a sujeito composto, adjuntos), caso não
qualidade da conexão tem deixado a estejam unidos pelas conjunções e, ou e
desejar. nem:
No céu fosco, pelo vão da janela, as
Questões estrelas ainda brilhavam. (C. D. de
Andrade)
01. (Câmara do Jaboatão dos
Guararapes - Analista Legislativo - - Separa elementos que desempenham
IDIB/2022) No período “...além de seu funções sintáticas variadas, visando realçá-
valor e importância dentro de seu contexto los.
e discurso, o significado único que ela - Isolando o aposto, ou outro elemento
possui...”, a partícula “que” desempenha de valor simplesmente explicativo:
função de pronome relativo. Aponte a Jonas, o jogador, é um craque.
alternativa em que a partícula “que”
desempenha a mesma função. - Isolando o vocativo:
(A) Queremos entender o que você quis Cara, desse jeito não dá.
realmente dizer naquele momento?
(B) Ele nunca me visita, que o trabalho - Isolando o adjunto adverbial
o impede de viajar por muito tempo. antecipado:
(C) O Jornal Zero Impacto, que é de Depois de um belo almoço, retornei ao
Curitiba, divulgou em 1ª mão essa notícia. trabalho.
(D) Viajar de avião é mais prazeroso do
que viajar de carro. - Isolando os elementos repetidos:
O pão está quentinho, quentinho.

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Língua Portuguesa

A vírgula pode ser empregada no interior - Isola orações intercaladas:


da oração para: Caso eu vá mais cedo, pensou consigo,
- Separar, na datação, o nome do lugar: todos acharão esquisito.
Júnior Almeida, 09 de outubro de 2001.
- Isola orações subordinadas adjetivas
- Indicar a supressão de uma palavra explicativas:
(normalmente o verbo) ou de um grupo de Senhor, que lavras a terra, descanse um
palavras: pouco.
Veio a chuva; com ela, o frio.
- Separa orações subordinadas
A vírgula entre orações. adverbiais, sobretudo se antepostas à
- Separa as orações coordenadas principal:
assindéticas: Quando meu irmão voltou da Europa,
Deitava-me, dormia, sonhava. trouxe presentes para a família.

- Separa as orações coordenadas - Separa orações reduzidas de particípio,


sindéticas, menos aquelas introduzidas pela de gerúndio e de infinitivo, caso se
conjunção e: equivalham a orações adverbiais:
Terminara a refeição, mas continuava Escondido no canto, observava-os com
com fome. atenção.
Não obtendo sucesso, entristeceu-se.
- As orações coordenadas unidas pela Ao abrir a porta, já sabia o que
conjunção e, e que possuem sujeito encontraria.
diferente, são separadas por vírgula:
A senhora sorria calidamente, e o IMPORTANTE LEMBRAR
menino correspondia ao sorriso. - Qualquer oração, ou termo de oração,
com valor puramente explicativo é
- Quando a conjunção e é reiterada, o pronunciada entre pausas. Sendo assim, são
comum é separar as orações introduzidas isolados por vírgula.
por ela: - Os termos essenciais e integrantes da
E nasce, e cresce, e vive, e falece. oração são interligados sem pausa. Desse
modo, não podem ser separados por
- A conjunção adversativa mas deve vir vírgula. Sendo assim, não se utiliza vírgula
no início da oração, diferente das demais, entre uma oração subordinada substantiva e
que podem vir tanto no início como depois a sua principal.
de um de seus termos. No primeiro caso, a
vírgula ocorre antes da conjunção; já no Ponto
segundo, é isolada por vírgulas: - Indica o fim de uma oração declarativa,
Faça o que bem entender, mas saiba dos tanto a absoluta, quanto a derradeira de um
riscos. período composto:
Faça o que bem entender, porém saiba Nada pode contra a seleção brasileira.
dos riscos. Nada pode contra essa equipe que encanta
Faça o que bem entender, saiba, todavia, o mundo há gerações e gerações.
dos riscos.
- É utilizado ao final das orações
- Se a conjunção conclusiva pois estiver independentes, sendo chamado de ponto
proposta a um termo da oração a que simples.
pertence, deverá ser isolada por vírgulas: Faz calor. Há chuva. Parece que o verão
Veste roupas alviverdes; é, pois, começou.
palmeirense.

63
Língua Portuguesa

- Ao final de cada oração ou período que, I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e
ligados pelo sentido, representarem espaços comunitários, ressalvadas as restrições
legais;
desdobramentos de somente uma ideia II - opinião e expressão;
central (não desencadeando, portanto, III - crença e culto religioso;
mudança do teor do conjunto). IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; (...)
“Cálido, o estio abrasava. No esplendor (Estatuto da Criança e do Adolescente)

cáustico do céu imaculado, o sol, dum


brilho intenso de revérbero, parecia girar - A palavra que vem após o ponto e
vertiginosamente, espalhando raios em vírgula deve ser minúscula, já que uma
torno. Os campos amolentados, numa nova sentença não foi iniciada.
dormência canicular, recendiam a
coivaras...” (Coelho Neto) Dois Pontos
São utilizados:
- O ponto simples também é utilizado em - Antes de uma citação:
abreviaturas: Como afirma o artigo 2º do ECA:
Sr. “Considera-se criança, para os efeitos desta
Sra. Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre
- Na escrita, quando um grupo de ideias doze e dezoito anos de idade”.
é encerrado e quer-se passar para o
seguinte, um novo parágrafo é iniciado. O - Antes de apostos discriminativos.
ponto parágrafo é o que marca essa Duas coisas me impressionaram naquele
mudança. Ele é o ponto que marca o fim do país: a educação do povo e a limpeza das
parágrafo, com o próximo grupo de ideias ruas.
tendo início na próxima linha, num novo
parágrafo. - Antes de orações apositivas:
Eu só peço o seguinte: tenha cuidado.
- O ponto que finaliza o escrito é
chamado de ponto final. É o último ponto, - Para indicar um esclarecimento, um
ao final do texto. resultado, ou resumo do que foi dito:
Resumindo: faça tudo o que ele pediu.
Ponto e Vírgula *Os subtítulos de obras são marcados
- É utilizado para separar orações por dois pontos, já que, geralmente,
coordenadas de certa extensão: possuem um caráter explicativo.
"Logo após pegou o pacote vermelho; Batman: O Cavaleiro das Trevas
entregou seu conteúdo ao amigo, ficando
apenas com a embalagem”. - Para anunciar a fala de personagens nas
obras de ficção:
- Utilizado para separar as séries ou “Ela acudiu pálida e trêmula, cuidou que
membros de frases já interiormente me estivessem matando, apeou-me, afagou-
separadas por vírgulas. me, enquanto o irmão perguntava:
“Uns estudam, ralam, labutam; outros, — Mana Glória, pois um tamanhão
descansam, curtem, viajam”. destes tem medo de besta mansa?”
(Machado de Assis)
- Usado para separar os diversos itens de
enunciados enumerativos (em leis, Ponto de Interrogação
decretos, portarias, regulamentos, etc.). - Utilizado no fim das orações ou frases
Art. 16. O direito à liberdade compreende os para indicar uma pergunta direta:
seguintes aspectos: Conte-me tudo. O que foi que ela fez?

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Língua Portuguesa

- Pode ser utilizado entre parênteses, ao - Para indicar uma ideia incompleta ao
final de uma pergunta intercalada: final de uma frase:
Ontem o Corinthians (alguém Mas é isso: as marcas na sala, a taça
duvidada?) perdeu mais um jogo. sobre a mesa... Fui tapeado!

- Se a pergunta envolver dúvida, é - Para indicar uma interferência em um


comum utilizar reticências após o ponto de diálogo, por exemplo, quando um
interrogação: personagem está conversando e outro
E?... como pôde?... o Antônio?... interrompe sua fala:
— Ora, mas você não pode estar
- Caso a pergunta denote surpresa, ou pensando que eu...
não possua endereço nem resposta, utiliza- — É exatamente isso o que estou
se a combinação de interrogação e pensando, e digo mais...
exclamação: — Calma! Deixe-me explicar o caso!
Como é que é?!
- Para realçar uma palavra ou expressão,
- Ao final de perguntas indiretas, o ponto a mesma pode vir “cercada” de reticências:
de interrogação não é utilizado: E o cãozinho... Pobrezinho... Parece que
Quero saber quem foi. Perguntei quem ninguém quer adotar animais nesta cidade.
foi.
- Para indicar a supressão de um trecho
Ponto de Exclamação de uma citação.
- Utilizado depois das interjeições, É importante “[...] destacar que o
locuções ou frases exclamativas: pesquisador há de tomar cuidado com o uso
Meu Deus! Que Susto! de estrangeirismos, utilizando-os somente
nos casos de indisponibilidade de
- Utilizado depois de um imperativo: vocabulário equivalente na língua
Por aqui. Venha logo! portuguesa”. (MEDEIROS, 1999, p. 205)

- Pode substituir a vírgula depois de um Aspas


vocativo enfático: São utilizadas para:
São Pedro! mande chuva para nós. - No início uma citação textual:
E disse Sigmund Freud: “o sonho é a
Reticências estrada real que conduz ao inconsciente”.
Podem ser utilizadas:
- Para indicar, por parte do narrador ou - Dar ênfase ou evidenciar uma
personagem, uma pausa numa ideia expressão:
iniciada, mostrando que o mesmo passou a O tal “trabalho” que ele fez não vale um
outras considerações: centavo!
— Se eu pego ele... Não contem nada
para ele, vamos deixar as coisas como estão - Indicar estrangeirismos, gírias ou
por enquanto. expressões:
Ele estava meio que numa “bad”.
- Para indicar uma hesitação, dúvida,
surpresa, ou inflexões emocionais daquele - Indicar o título de obras:
que fala: O livro “Dom Casmurro” foi escrito por
Quis beijá-la... Não consegui... Comecei Machado de Assis.
a tremer... e saí correndo...

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Língua Portuguesa

Parênteses Asterisco
- Indicam, no texto, uma explicação ou - Remete a uma nota de rodapé, ou, nos
reflexão referente àquilo que se diz: dicionários, a um verbete.
E o meu irmão (aquele pestinha) - Esconde um nome próprio que não se
quebrou o vaso que estava sobre a mesa. quer mencionar:
O Sr. M* disse às pessoas...
- Indicam nota emocional, expressa
geralmente de maneira exclamativa, ou Questões
interrogativa:
Havia a escola, que era azul e tinha 01. (MPE/GO - Secretário Auxiliar -
Um mestre mau, de assustador pigarro... MPE/GO/2022) Assinale a frase escrita em
(Meu Deus! que é isto? que emoção a desconformidade com a norma-padrão da
minha língua portuguesa quanto ao emprego da
Quando estas coisas tão singelas narro?) vírgula.
(B. Lopes) (A) O presidente do procedimento
*Também é usada para indicar o autor de investigatório criminal declarará, a
uma frase ou citação, como no exemplo qualquer tempo, seu impedimento ou
acima. suspeição.
(B) Durante a tramitação da
Colchetes investigação, o interessado poderá arguir o
São usados para: impedimento ou a suspeição do presidente
- Na transcrição de textos alheios, do procedimento investigatório criminal.
indicar um acréscimo do autor, de caráter (C) A arguição de suspeição ou de
complementar e didático: impedimento será formalizada em peça
“A [palavra] do meio é a correta”. própria, acompanhada das respectivas
razões, e instruída com a prova do fato
- Em uma referência bibliográfica, para constitutivo alegado, sob pena de não
indicar uma informação que não está conhecimento.
presente na obra: (D) Recebida a arguição será autuada,
ALENCAR, José de. O Guarani. 2 ed. em apartado e apensada aos autos
Rio de Janeiro: B. L. Garnier Editor [1864]. principais.

Travessão 02. (Prefeitura de Nova Hartz -


- Indica o início da fala de uma Técnico de Enfermagem -
personagem e também a mudança de OBJETIVA/2022) Em relação à
interlocutor, daquele que fala: pontuação, assinalar a alternativa
— Então, como foi a festa? CORRETA:
— Estava esplendida minha cara, (A) Ele disse por, que estava com
esplendida! dúvidas sobre o conteúdo.
(B) Maria, e Cleide, disseram que iriam
- Isola, com travessão duplo, palavras ou buscar João na estação.
frases: (C) Ele foi preso, visto que, ameaçou sua
E ele fez — mesmo que sem vontade — esposa.
todo o dever de casa. (D) O presidente da empresa, Ramiro,
disse que estávamos de folga.
- Pode dar ênfase à parte final de uma
frase: Gabarito
Por maiores que sejam os desejos e
necessidades, o povo só quer mesmo uma 01.D - 02.D
coisa — um país melhor.

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Língua Portuguesa

CONCORDÂNCIA NOMINAL E *Em anexo é invariável:


VERBAL Envio-lhe, em anexo, os documentos.

Concordância Nominal Leso


É a relação estabelecida entre as palavras Do adjetivo “lesado”, deve concordar
e o substantivo que as rege: com o substantivo com o qual forma
- Deve ocorrer concordância de gênero palavra composta:
e número entre o núcleo nominal e os O deputado cometeu crime de lesa-pátria
artigos, os pronomes indefinidos variáveis,
os demonstrativos, os possessivos, os Predicativo
numerais cardinais e os adjetivos. - Quando o substantivo apresentar
sentido indeterminado, sem artigo, o
- Adjetivo com dois ou mais adjetivo aparece no masculino:
substantivos: É proibido entrada.
- Em substantivos do mesmo gênero, o
adjetivo passa para o plural desse gênero ou - Quando o substantivo apresentar
concorda com o mais próximo: sentido determinado, com artigo, o adjetivo
Cabelo e bigode feitos (ou feito). deve concordar com o substantivo:
É necessária muita paciência.
- Em substantivos de gêneros diferentes,
o adjetivo passa ao masculino plural ou - Meio, de metade, pode variar:
concorda com o mais próximo: Só contou meias verdades.
Barba e bigode feitos (ou feito).
- Meio, de advérbio, não varia:
- Caso o adjetivo esteja anteposto aos Estava meio cansado.
substantivos, concordará com o substantivo
mais próximo: - Muito, Pouco, Bastante, Tanto,
Mantenha feitas a barba e o bigode. quando pronomes, podem variar:
Havia bastantes nuvens no céu.
- O adjetivo deve concordar com o *Quando advérbios, não variam:
substantivo mais próximo, quando teste Ficaram muito cansados.
possuir sentido equivalente ou gradação:
Exalava muita raiva e rancor. - Só, quando adjetivo, pode variar
Ele se sente só.
Particularidades Eles se sentem sós.
Possível
- Quando preceder de o mais, o menor, - Quando indicar exclusão, não pode
o melhor, o pior (no singular): variar:
Chegou o mais próximo possível. Só quem já passou por isso sabe.

- Quando preceder de os mais, os - As palavras pseudo, alerta, salvo,


menores, os melhores, os piores (no exceto não são variáveis:
plural): Ele (ela) é um pseudointelectual.
Escolheu os melhores possíveis. É bom ficarmos alerta.
Salvo-condutos.
Incluso e Anexo Exceto ele (eles).
- O adjetivo concordará com o
substantivo ao qual se refere: - Quite, de se livrar de algo, concorda
Envio-lhe inclusos (ou anexos) os com quem faz referência:
documentos. Estamos quites com o banco.

67
Língua Portuguesa

- As palavras obrigado, mesmo e Tu e ele fazeis bem. Como o vós deixou


próprio devem concordar com o gênero e de ser utilizado, o mais comum, hoje, é “Tu
número da pessoa a qual fazem referência: e ele fazem bem”.
Muito obrigada.
Ela mesma fez aquilo. - Quando as expressões não só...mas
Sim, ela, a própria. também, tanto/quanto estão relacionadas a
sujeitos compostos, há a possibilidade de
Importante lembrar que o artigo concordância tanto no singular quanto no
concorda com o substantivo: plural:
Os gatos. Tanto meu primo quanto seu pai
A gata. conseguiram (ou conseguiu) uma nova
casa.
Quando o pronome substitui o
substantivo, deve concordar com o mesmo: - Quando o sujeito composto, que estiver
Rafael é um cara bacana. Ele é meu ligado por ou, indicar uma exclusão ou
amigo. sinonímia, o verbo deve ficar no singular:
Maria e Gabriela são conhecidas. Elas Carlos ou André será o vencedor.
são minhas vizinhas.
*Note que: o adjetivo deve concordar - Mas se indicar uma inclusão ou
com o substantivo. Quando o pronome antonímia o verbo deve ficar no plural:
substitui o substantivo, o adjetivo concorda O bem e o mal estão presentes nas
com o mesmo. pessoas.

Concordância Verbal - Caso indicar uma retificação, o verbo


O verbo concorda em número e pessoa dever concordar com o núcleo mais
com o sujeito da oração. próximo:
- Com sujeito simples, concordância em O técnico ou os jogadores darão
número e pessoa: entrevista após o jogo.
Rafael escreverá diversos romances e
poesias. - Quando expressões do tipo a maioria
de, a maior parte de + um nome representar
- Caso seja sujeito composto, verbo no o sujeteito, o verbo deve concordar no
plural: singular para realçar o todo, ou no plural
Seu olhar e seu sorriso mexeram com para realçar a ação individual:
meu coração. A maioria das pessoas quer um país
melhor.
- Caso um desses sujeitos aparecer A maioria das pessoas querem um país
depois do verbo, então a concordância melhor.
ocorre com o núcleo mais próximo, ou fica
no plural: Quando o referente do pronome relativo
Ainda imperavam (ou imperava) o ferro que for, por exemplo, daqueles, o verbo vai
e o porrete. para a 3ª pessoa do plural.
Não sou daqueles que corre.
- Se o sujeito for composto por pronomes *Mas a concordância poderia ocorrer
pessoais distintos, a concordância do verbo com um daqueles.
se dará pela prioridade gramatical das Não sou um daqueles que correm.
pessoas:
Eu e você somos amigos. - Quando houver o verbo ser + pronome
pessoal + que, a concordância do verbo
ocorre com o pronome pessoal:

68
Língua Portuguesa

Sou eu que faço isso. Somos nós que - O verbo ser fica no singular em
fazemos isso. expressões como é muito, é pouco, é mais
de, é tanto, é bastante que indicam um
- Caso ocorra o verbo ser + pronome preço, medida ou quantidade:
pessoal + quem, então o verbo concordará Hoje em dia cem reais é quase nada.
com o pronome pessoal ou ficará na 3ª
pessoa do singular: - Quando o verbo ser indicar data, hora
Sou eu quem começo a dança. Sou eu ou distância, deve concordar com o
quem começa a dança. predicativo:
São exatamente duas horas. Hoje são 20
- O verbo fica no plural quando os nomes de setembro.
próprios locativos ou intitulativos forem
precedidos de artigo no plural. Do - Quando temos a voz passiva sintética e
contrário, fica no singular: o pronome apassivador se, o verbo deve
Os Estados Unidos são uma potência concordar com o objeto direto aparente, que
mundial. é o sujeito paciente:
Minas Gerais é um estado brasileiro. Observavam-se luzes.

- Quando as expressões um dos e uma - Quando o sujeito é indeterminado e


das vier antes do pronome relativo, o verbo houver o pronome indeterminador do
fica no plural ou na 3ª pessoa do singular: sujeito, o verbo aparece na 3ª pessoa do
Ele é um dos que mais jogou (ou singular:
jogaram). Precisa-se de funcionários.

- Caso transmita a ideia de seletividade, Questões


o verbo fica no singular:
Aquele é um dos livros de Stephen King 01. (Prefeitura de Bom Conselho -
que virará filme este ano. Técnico de Laboratório -
UPENET/IAUPE/2022) Assinale a
- Quando ocorre sujeito nome de algo alternativa cujo termo sublinhado NÃO
(ou um dos pronomes nada, tudo, isso ou indica exemplo de Concordância Nominal.
aquilo) + o verbo ser + predicativo no (A) “...ele escreveria a famosa afirmação
plural, o verbo ser fica no singular ou no de que a vontade de ter fé...”
plural (o que comumente ocorre): (B) “E que um dos métodos mais
Assim falou o professor: a pátria não é importantes para criar essa crença...”
ninguém, são todos. (C) “...ou com praticamente nenhuma
consciência.”
- Caso os pronomes quem, que e o que (D) “Este é o verdadeiro poder do
iniciem uma oração interrogativa, o verbo hábito.”
ser deverá concordar com o nome ou (E) “...cria os mundos onde cada um de
pronome que o suceder: nós habita. ”
Quem foram os eleitos?
02. (Prefeitura de Pedras Altas -
- Quando o primeiro termo (que é Tesoureiro - OBJETIVA/2022) Em
sujeito) for um substantivo e o segundo relação à concordância verbal, assinalar a
termo for um pronome pessoal, o verbo ser alternativa CORRETA:
vai concordar com o pronome pessoal: (A) Haviam documentos guardados na
As árvores somos nós. gaveta
(B) Os meninos não compreendeu
aquele cartaz.

69
Língua Portuguesa

(C) As alunas passaram na prova. seja retirado da oração, a estrutura sintática


(D) Existe muitas pessoas que gostam de da mesma não é prejudicada, já que se trata
verão. de um termo acessório.

Gabarito - Ventou pouco ontem.


Ventou é um verbo impessoal
01.E - 02.C intransitivo, impessoal pois não há alguém
praticando a ação e intransitivo por
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL apresentar um sentido completo. Ao falar
ventou, não há necessidade de
Regência Nominal complemento, o sentido já fica
É a relação entre um substantivo, compreensível.
adjetivo ou advérbio e os termos por eles Pouco ontem é um adjunto adverbial de
regidos. Uma preposição sempre será a intensidade (pouco) e de tempo (ontem).
intermediadora dessa relação. Esse complemento não é necessário para o
Exemplos: verbo, é apenas um termo acessório.

Substantivos Um verbo também pode ser transitivo,


união a, com, entre o que significa que ele precisa de um
compaixão de, para com, por complemento para criar um sentido.
respeito a, para com, com, por O verbo é transitivo direto quando é
acompanhado de objeto direto e não requer
Adjetivos uma preposição para a regência.
acessível a - Faço crochê.
compatível com Faço é transitivo direto, pois não
desgostoso com, de apresenta um sentido. Quem faz, faz
atencioso com, para com alguma coisa. Faço! Tá, mas faz o quê? Por
isso há a necessidade do complemento,
Advérbios nesse caso a pessoa faz crochê, que é o
rente a objeto direto, uma vez que não há uma
perto de preposição entre o verbo e o complemento.

Regência Verbal Por outro lado, no caso dos verbos


É a relação entre o verbo e seus termos transitivos indiretos, o complemento
complementares, que podem ser objetos ocorre por meio de um objeto indireto.
diretos ou indiretos, ou entre os termos que Isso quer dizer que há a necessidade de uma
caracterizam o verbo, como os adjuntos preposição para a regência desse verbo.
adverbiais. - Voltei de Sergipe.
Um verbo pode ser intransitivo, o que Voltei é transitivo indireto, pois está
significa que ele apresenta um sentido ligado à preposição. Quem volta, volta de
completo, por isso não precisa de um algum lugar. Sergipe é objeto indireto, já
complemento. Mesmo que adjuntos que sua relação com voltei ocorre
adverbiais possam acompanhar alguns indiretamente, por meio da preposição de.
desses verbos, não podem ser considerados
como objetos. Um verbo pode ser transitivo direto e
O adjunto adverbial demonstra uma indireto. Em determinadas construções, o
circunstância, ou seja, tempo, intensidade, verbo pode precisar de um objeto direto e
modo, lugar, etc. Trata-se de um termo um indireto para fazer sentido.
acessório da oração e pode modificar um
verbo, um advérbio ou um adjetivo. Caso

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Língua Portuguesa

“Eu vou emprestar o livro a você”. Ensinar: se utilizado com pessoas, é


(objeto direto = o livro; objeto indireto = transitivo indireto, se utilizado com
a você) coisas, transitivo direto.
“Agradeci o convite ao noivo”. (objeto “O professor ensinou aos alunos”.
direto = o convite; objeto indireto = ao “O professor deveria ter ensinado
noivo) aquilo”.
“O professor podia ensinar os alunos até
É importante prestar atenção, pois que aprendessem tudo”. (aqui aquilo que é
alguns verbos podem possuir mais de um ensinado é silenciado, por isso é transitivo
sentido, mas a mesma grafia. Como assistir. direto)
No sentido de observar, ele é transitivo No sentido de castigar, educar, é
indireto: Eu assisti ao jogo de futebol. transitivo direto.
Porém, no sentido de prestar assistência “Vou ensiná-lo agora mesmo!”
(ou acompanhar), pode ser transitivo direto:
O médico assistiu o paciente. Esquecer: no sentido de perder da
lembrança, é transitivo direto.
Pronome relativo “Nunca esqueci o beijo que me deu”.
Esses pronomes iniciam orações Quando pronominal, pede a preposição
adjetivas. Caso o verbo, nesse tipo de de, sendo transitivo indireto.
oração, precisar de uma preposição, ela “Eu me esqueci do dever de casa”.
deve aparecer antes do pronome relativo.
O autor do qual sou fã venceu o Nobel. Interessar: no sentido de dizer respeito
(eu gosto do autor) a, importar, ser proveitoso, ser do interesse
Este é o quadro a cujo pintor aludi. (aludi de, é transitivo direto ou indireto.
ao pintor) “Isso interessa a você?”.
O bairro aonde foram é inóspito. (foram “Eu pensei que isso não te interessasse”.
a) No sentido de prender a atenção, é
A cidade donde vinha é pouco transitivo direto.
conhecida. (vinha de) “O filme na televisão interessou o
garoto”.
Alguns verbos e suas regências: No sentido de causar curiosidade, pode
Aspirar: se empregado no sentido de ser direto e indireto.
sorver, é transitivo direto. “O anúncio conseguiu interessar toda a
“Aspirou o ar lentamente”. população em suas promoções.”
Caso seja usado no sentido de pretender, No sentido de ter interesse, é indireto
é transitivo indireto. podendo ser com a preposição em ou por:
“Ele aspirava à carreira de jogador.” “Ele não tinha interesse em
matemática”.
Chamar: no sentido de convocar, é “Ele se interessava por futebol”.
transitivo direto.
“Pedro chamou o filho para dentro.” Responder: no sentido de dar resposta,
No sentido de invocar, é transitivo é transitivo indireto em relação à
indireto. pergunta.
“Chamou pela mãe”. “A partir da leitura do texto, responda à
No sentido de qualificar, é transitivo questão”.
direto. Para expressar resposta, é transitivo
“Acho que vou chamá-lo inocente”. (o direto.
objeto direto vem com predicativo) “Respondi todas as cartas”.
“Acho que vou chamá-lo de inocente”. Pode ser direto e indireto.
(pode vir precedido pela preposição de)

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Língua Portuguesa

“Respondeu-lhe que planejava tomar CRASE


novos rumos no futuro”.
No sentido de replicar, é transitivo Apesar de a crase ser marcada na escrita
indireto. com o acento grave, não se trata de uma
“Respondeu com igual ferocidade”. questão de acentuação ou tonicidade, mas
Pode ser intransitivo. sim de uma contração da preposição a, que
“Perguntei, mas não responde.” pode ser com:
Se utilizado com sentido de repetir um - o artigo feminino a ou as
som, é intransitivo. “Fomos à Bahia e assistimos às
“Um gato miou, outro respondeu”. festividades”.
No sentido de ser responsável, é
transitivo indireto com preposição por. - o pronome demonstrativo a ou as
“O rapaz respondia pelo idoso”. “Chamou as funcionárias e entregou o
documento à mais experiente”.
Questões
- o a inicial dos pronomes aquele(s),
01. (SEA/SC - Engenheiro - aquela(s), aquilo
IBADE/2022) A alternativa em que a “Estava se referindo àquele menino”.
regência verbal está de acordo com a norma “Poucos se aventuram àquela cidade”.
culta da língua é:
(A) Quero-lhe muito bem, por isso vou A crase é resultado da contração da
assistir ao seu jogo. preposição a (exigida por um termo
(B) Assim que lhe encontrar, aviso-lhe subordinante) com o artigo feminino a ou
do acontecido. as (solicitado por um termo dependente).
(C) Marta esqueceu do compromisso e
não pagou ao pintor. “Fui à praia”
(D) Ela namora com Luís, mas prefere Fui a (preposição) +
mais suas amigas de farra do que ele. a (artigo) praia
(E) Sérgio desobedecia seus avós, mas
obedecia os pais. “Assisti à peça”
Assisti a (preposição) +
02. (TJ/RS - Juiz Estadual - a (artigo) peça
FAURGS/2022) Qual das expressões
sublinhadas abaixo é um termo regido por Quando não existe a presença da
um antecedente nominal? preposição ou do artigo, o uso da crase não
(A) Sêneca esforçou-se por mostrar. acontece.
(B) o autodomínio, pode ser trilhado por “Os turistas visitaram a praia”
qualquer indivíduo. Os turistas visitaram +
(C) pode auxiliar os humanos a viver de a (artigo) praia
modo harmônico.
(D) Ele nos mostra que estar preparado “Não conte a ninguém”
para um revés da sorte é o caminho mais Não conte +
seguro. a (preposição) ninguém
(E) tomam a realidade simplesmente por
aquilo que nossos olhos veem. Casos onde não há crase
- diante de palavras masculinas
Gabarito “Não assisto a filmes de terror, pois
tenho medo”.
01.A - 02.D

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Língua Portuguesa

*Se as palavras moda ou maneira forem - diante do substantivo terra, em


retomadas, por elipse, pelas expressões à oposição a bordo, a mar
moda de ou à maneira de, a crase aparece “O capitão resolveu fazer uma parada
diante de nomes masculinos: para os marinheiros descerem a terra.”
“Estilo à Machado de Assis”. *Com exceção desse tipo de caso, usa-se
“Deixou crescer o bigode à Salvador crase:
Dalí”. “O piloto realizou uma manobra, e o
avião voou rente à terra”.
- diante de substantivos femininos
utilizados em sentido geral e indeterminado - diante de artigos indefinidos e de
“Não comparece a festas, muito menos a pronomes pessoais (mesmo os de
reuniões”. tratamento) e interrogativos
“Chegaram à estação a uma hora ruim.”
- diante de nomes de parentesco que “Para solucionarem o problema,
precedidos de pronome possessivo recorreram a mim”.
“Peça desculpas a sua avó!” *Senhora e senhorita são exceções, por
isso a crase deve ser utilizada:
- diante de nomes próprios, quando não “Peço à senhora que tenha pena de
admitirem o artigo mim”.
“Ela pretende ir a Brasília e depois a São “Quero entregar este presente à
Paulo”. senhorita”.
* Se o nome próprio admitir o artigo, ou
vier acompanhado de adjetivo ou locução - antes de outros pronomes que não
adjetivo, ocorrerá o uso da crase: aceitam o artigo, situação que ocorre com a
“Fomos à Alemanha para conhecer a maioria dos indefinidos e relativos e grande
cultura local”. parte dos demonstrativos
“Fui à bela São Paulo”. “Referi-me a todas as pessoas”.
“Pois essa é a vida a que almejamos”.
- diante da palavra casa, no sentido de “Diariamente chegam visitas a esta
lar, domicílio, quando não estiver localidade”.
acompanhada de adjetivo ou locução *Certos pronomes admitem o artigo, e
adjetiva dão espação à crase:
“Voltei a casa alegre.” [Vou para casa; “Prestavam atenção umas às outras”.
vim de casa.] “Diga à tal senhora que aqui nós
*Se a palavra casa estiver acompanhada trabalhamos com seriedade e
de adjetivo ou locução adjetiva, ocorrerá o profissionalismo”.
uso da crase:
“Fui à casa de meu vizinho”. - diante de numerais cardinais que se
*Quando casa não designar um lar, referem a substantivos não determinados
deve-se empregar a crase: pelo artigo, utilizados em sentido genérico
“O economista foi à Casa da Moeda”. “Assisti a duas séries em sequência”.
“Dom Pedro II pertenceu à casa de “A fábrica fica a seis quilômetros da
Bragança”. casa do trabalhador.”
“O número de pessoas na arquibancada
- em locuções formadas pela repetição não chegava a quinze.”
da mesma palavra *A crase deve ser utilizada em locuções
“Os lutadores ficaram frente a frente”. adverbiais que expressam hora determinada
“Dia a dia, luto para melhorar de vida”. e em casos nos quais o numeral ser
precedido de artigo:
“Chegou às duas horas da tarde”.

73
Língua Portuguesa

“Entregaram as medalhas às três atletas Dica:


vencedoras”. Usamos crase quando temos a
preposição a + o artigo a.
- diante de verbos “Vou à Lua”.
“Estou disposto a fazer tudo o que Tem crase, pois o verbo pede a
pedir”. preposição a (quem vai, vai a algum lugar)
“Começaram a trabalhar com afinco”. e Lua é feminina (a Lua).

- Antes de palavra no plural: “Vou a Marte”.


“Não gosto de ir a festas muito lotadas.” Não tem crase, pois Marte é indefinido.
Ninguém diz “o Marte” ou “a Marte”.
Por outro lado
A crase ocorre antes de locuções “Vou ao Japão”.
formadas de substantivo feminino Não tem crase, pois Japão é masculino
- locuções adverbiais (à parte); (o Japão). Então a preposição a se junta ao
- locuções conjuntivas (à medida que); artigo a, formando ao.
- locuções prepositivas (à força de).
*Em locuções adverbiais que indicam “Vou às praias do Nordeste”.
instrumento ou meio, a crase é opcional: Tem crase, pois a preposição está no
“Escrever a (ou à) mão”. plural, assim como o artigo antes do
substantivo no plural.
Em casos nos quais a palavra distância
aparecer determinada, ou quando essa “Vou a praias e a montanhas.”
palavra significar na distância, usa-se Não há crase, pois a preposição fica no
crase: singular, apesar de os substantivos estarem
“O gol estava à distância de 30 metros no plural. Os substantivos não estão
do batedor da falta”. especificados, como no exemplo acima.
* Há um certo consenso entre gramáticos
de não utilizar crase nos casos onde a “Vou aos pontos turísticos mais
distância não estiver especificada. Por isso conhecidos”.
escreve-se: A preposição se junta ao artigo no plural
“Educação a distância”. os, formando aos.
“Observava-o a distância”.
Questões
Haverá crase quando a locução
prepositiva até a aparecer seguida de 01. (PC-SP - Escrivão de Polícia -
palavra feminina: VUNESP/2022) Assinale a alternativa em
“Até à hora da saída, os alunos fizeram que os sinais indicativos de crase estão
muita bagunça”. empregados de acordo com a norma-
padrão.
Uso facultativo da crase (A) Foi comunicado à todas as seções
- antes de nomes próprios femininos: que os adiantamentos de salário estão
“Entregarei o presente de aniversário à suspensos, até à próxima semana.
Júlia (ou a Júlia)”. (B) Serão destinados recursos à
populações desabrigadas, com especial
- antes de pronomes possessivos atenção às crianças.
femininos: (C) Os depoimentos serão colhidos de
“Enviei a carta a minha mãe (ou à minha segunda à sexta- -feira, exigida à presença
mãe)”. da autoridade competente.

74
Língua Portuguesa

(D) Está definido que à partir da próxima Próclise obrigatória:


semana os documentos serão enviados à - Em orações com palavras negativas
matriz, para arquivamento. sem pausa entre tal palavra e o verbo:
(E) A preferência no atendimento será Nunca a encontrei tão bela e serena.
dada àquelas pessoas que fizeram
agendamento pelo site, como convém à - Em orações que começam por
ordem dos trabalhos. pronomes ou advérbios de interrogação:
Quem me enviou esse presente?
02. (Prefeitura de Juatuba - Assistente Por que te entregas a ele?
Social - REIS & REIS/2022) Assinale a
alternativa em que está correto o uso da - Em orações exclamativos ou que
crase. indicam desejo:
(A) À partir daquele momento, tudo Que Deus me acuda!
começou a fazer sentido.
(B) Os livros foram entregues à ele. - Em orações subordinadas
(C) Ela havia se referido às crianças da desenvolvidas, mesmo que seja uma
vizinha. conjugação oculta:
(D) Tudo terminou dentro do prazo, Quando me vesti, ela já me esperava
graças à Deus. toda pronta.

Gabarito - Preposição em e gerúndio:


Isso não está lhe fazendo bem.
01.E - 02.C
- Nem a ênclise, nem a próclise, ocorre
COLOCAÇÃO PRONOMINAL com particípios. A forma oblíqua regida de
preposição é utilizada quando o particípio
Ênclise estiver desacompanhado de auxiliar:
Quando o pronome átono vem depois do Dada a mim a redação, foi embora.
verbo:
Sujei-me - A próclise e a ênclise são aceitas com
infinitivos, todavia, há uma preferência pela
Próclise segunda:
Quando o pronome átono vem antes do Conta-me histórias para me
verbo: impressionar.
Eu me sujei. Para não irritá-la, saí de fininho.

Mesóclise - Se o pronome apresentar a forma o


Quando o pronome átono aparece no (principalmente no feminino a) e o
meio, só podendo ocorrer com formas do infinitivo estiver regido pela preposição a,
futuro do presente ou do futuro do pretérito: a ênclise é mais utilizada:
Sujar-me-ei; Sujar-me-ia Se me ouvisse, não continuaria a mimá-
lo.
Regras
- Verbo no futuro do presente ou futuro A próclise pode ocorrer também:
do pretérito: apenas próclise ou mesóclise: - Em advérbios (bem, mal, ainda, já,
Eu me limparia. sempre, só, talvez) ou em locuções
Eu me limparei. adverbiais que não tenham pausa os
Limpar-me-ei separando:
Limpar-me-ia Até mesmo ele, aos poucos, já me
parecia mais familiar.

75
Língua Portuguesa

- Em orações com ordem inversa que Dirija-se ao balcão, e tudo lhe será
comecem com objeto direto ou predicativo: devolvido.
Fazem o que querem lá dentro; isso te
garanto. - Ao escrever, nunca inicie uma oração
com um pronome oblíquo átono:
- Quando o sujeito estiver anteposto ao Me fizeram de bobo. Não é o correto na
verbo com o numeral ambos ou pronomes norma culta
indefinidos: Fizeram-me de bobo. Esse é o correto.
Alguém lhe carregue daqui.
Questões
- Em orações alternativas:
- Só há duas opções: ou as pegue ou as 01. (PC/SP - Investigador de Polícia -
pego eu. VUNESP/2022) Assinale a alternativa em
que a posição do pronome destacado está
- Quando houver uma pausa antes do em conformidade com a norma-padrão de
advérbio ou locução adverbial, usa-se colocação pronominal.
ênclise: (A) Atualmente, ainda considera-se um
Desde cedo, notou-se sua grande marco histórico o domínio de técnicas de
genialidade. agricultura.
(B) Se conhecendo a natureza de nossos
- Em locuções verbais com o verbo ancestrais, será possível encontrar algumas
principal no gerúndio ou infinitivo, usa-se respostas.
ênclise: (C) Nossa forma de organização resume-
O policial veio interrogar-me. se ao que já era visto entre nossos ancestrais
coletores.
- Temos próclise com o verbo auxiliar (D) A psicologia evolutiva tem
quando temos: dedicado-se a desvendar a origem de
Uma palavra negativa: Ninguém o aspectos da nossa natureza.
questiona aqui. (E) Jamais soube-se o período de tempo
Advérbios ou pronomes de interrogação: em que os humanos sobreviveram da caça e
Que é que lhe podia ocorrer? da coleta.
Orações que comecem com palavras
exclamativas ou que denotem desejo: Ele 02. (Prefeitura de São Miguel do Oeste
nos há de ajudar! - Técnico Administrativo -
Orações subordinadas desenvolvidas, AMEOSC/2022) Marque a frase escrita
mesmo que a conjugação esteja oculta: com exemplo de próclise.
Então virei à esquerda, onde o sujeito me (A) Pense na riqueza do "Nosso
estava aguardando Planeta".
(B) O crescimento constante da
- Se não houver um elemento que atraia população e o consequente aumento do
a próclise, a ênclise pode ocorrer ao verbo consumo.
auxiliar: (C) A maioria dos seres vivos só se
Ia-me correndo atrás dele. utiliza daquilo que realmente precisa para
subsistir.
- O pronome átono não pode fazer (D) Mas uma espécie como a nossa,
ênclise ao verbo principal que estiver no capaz de realizações magníficas no campo
particípio. Nesse caso, o ocorre a próclise das artes, das ciências e da filosofia.
ou a ênclise com o verbo auxiliar:
Tenho-o visitado diariamente, nunca Gabarito
notou? 01.C - 02.C

76
Língua Portuguesa

SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS Por outro lado, existem diversos pares


sinônimos que são praticamente
Sinônimo “perfeitos”:
A sinonímia é o fato linguístico de - adversário e antagonista;
existirem sinônimos. Essa palavra também - alfabeto e abecedário;
designa o emprego de sinônimos. - após e depois.
Quando falamos em sinônimos, estamos
falando sobre palavras que apresentam É interessante analisar o contexto no
sentido igual ou aproximado. Por exemplo: qual a palavra foi empregada e entender seu
Moço - Rapaz significado pela lógica e, claro, entendendo
Garota - Menina o significado da palavra.
Bonito - Belo “As histórias falavam de deuses,
Morte - Falecimento monstros, heróis, profetas, reis e rainhas, o
personagem comum era apenas figurante.”
Apesar de, na maioria das vezes, o uso No contexto acima, a palavra em
de um ou outro ser indiferente, é preciso destaque quer dizer “pessoa que ocupa um
lembrar que há algumas diferenças entre os papel secundário ou insignificante”.
significados, por vezes sutis.
Certos sinônimos apresentam um “Hoje vivemos o ápice de uma forma
sentido mais amplo, outros, mais restrito. social individualista”.
Há também contextos nos quais os A palavra destacada, no contexto acima,
sinônimos se encaixam melhor, como numa apresenta o sentido de “grau mais elevado,
linguagem mais culta, literária ou científica. culminância”.
Quando falamos “oculista” e
“oftalmologista”, pensamos no médico “Ele não quer saber de sabichões de
profissional dos olhos. Apesar de possuir o jornais, de cientistas e sua fala complexa,
mesmo significado, “oculista” é um termo ele quer os seus coetâneos que estão no
menos científico e menos formal. O mesmo YouTube.”
vale para “argênteo”, que significa o A palavra em destaque, no contexto
mesmo que “prateado”, contudo, é acima, tem o sentido de “da mesma época,
empregado com maior frequência no contemporâneo”.
contexto literário.
Outro exemplo é a palavra “O homem comum não se dobra aos
“transformação” e “metamorfose”. A saberes tradicionais”.
primeira apresenta um significado mais Um sinônimo para a palavra acima
amplo, a segunda, mais restrito. Quando destacada é curva, pois se dobrar e se
falamos “fulano passou por uma curvar possuem o mesmo sentido.
metamorfose”, estamos fazendo uso de uma
de uma metáfora. Sim, metamorfose “Agora é a vez dele de desenhar a
significa “transformação”, mas está mais narrativa de como o mundo é.”
relacionada ao processo, por exemplo, da A palavra acima destacada poderia ser
lagarta se tornar borboleta. substituída por delinear, pois, dentro desse
Certos sinônimos podem variar em grau. contexto, apresentam o mesmo sentido, são
Por exemplo, posso dizer “menina bonita” sinônimas. Delinear é desenhar traços,
e “menina linda”. Note, porém, que a contornos, mas pode ter o sentido de
segunda opção apresenta um maior grau de planejar. Quem desenha uma narrativa,
beleza, já que “linda” está um pouco acima planeja uma narrativa.
de “bonita”.

77
Língua Portuguesa

Esse sentido da palavra dentro do A mesma dica sobre a contextualização


contexto é seu valor semântico. As e grau (apresentada no uso dos sinônimos),
preposições, por exemplo, podem vale para o uso dos antônimos. Por
apresentar diferentes valores semânticos exemplo, “destruído” e “quebrado” são
em diferentes contextos. antônimos de “inteiro”. Podemos dizer que
“Consegui, com muito esforço, comprar o segundo é um antônimo mais imediato,
minha casa própria”. (com apresenta valor todavia, o primeiro também é válido, mas
de causa, pois a causa de conseguir a casa apresenta um maior grau. Algo destruído
própria é com muito esforço) está arrasado, algo quebrado, por sua vez,
“Vou com meu tio Zé”. (com apresenta pode até ser consertado.
valor de companhia, pois a pessoa vai
junto com o tio Zé, na companhia dele) Homônimo
“Me cortei com a navalha”. (com A homonímia ocorre quando palavras
apresenta valor de instrumento, pois foi apresentam a mesma pronúncia, mas a
com o instrumento navalha que me cortei) grafia, ou seja, a escrita é diferente, bem
“Moro a poucos metros da padaria”. (a como seu significado.
apresenta valor de distância, pois marca a O contexto do uso da palavra determina
distância entre a padaria e onde moro) seu significado, por isso pode causar
“O livro está sobre a mesa.” (sobre tem ambiguidade, isto é, a compreensão de uma
sentido de lugar, pois sobre a mesa é o frase pode ficar incerta, sem precisão.
lugar onde o livro está) Podem ser homógrafos heterofônicos,
“Conversou sobre Língua Portuguesa”. o que significa que a escrita é igual, mas há
(sobre tem valor de assunto, pois o assunto diferenças na fala, sobretudo no timbre ou
da conversa foi língua Portuguesa) na intensidade das vogais:
“Em vez disso, dê minha visão ao pelo (de cabelo); pelo (per+o, pelo
homem que nunca viu o nascer do sol, o caminho)
rosto de um bebê ou o amor nos olhos da apoio (substantivo); apoio (verbo, eu
pessoa amada”. apoio)
Seria um sinônimo para a expressão Podem ser homófonos heterográficos,
destacada No lugar disso. Invés que não com escrita diferente, mas pronúncia igual:
poderia ser utilizado, já que a preposição consertar (arrumar, reparar); concertar
utilizada foi de. Igual a isso também não (tocar música)
caberia, já que a expressão original indica sela (de cavalo); cela (onde presos são
algo diferente, não igual. colocados)
Podem ser homófonos homográficos,
Antônimo com pronúncia e escrita iguais:
A antonímia é uma relação de oposição cedo (advérbio de tempo); cedo (verbo,
entre o significado de dois termos. Sendo ceder)
assim, os antônimos são aquelas palavras acordo (verbo, acordar); acordo
que apresentam significados opostos, ao (substantivo, entendimento)
contrário do que acontece com os
sinônimos. Parônimo
Por exemplo: A paronímia acontece quando as
Claro - Escuro palavras apresentam semelhanças na
Quente - Frio pronúncia e na escrita.
Bom - Mau flagrante (de evidente); fragrante (de
Bem - Mal perfumado)
osso (substantivo, parte do corpo); ouço
(verbo ouvir)

78
Língua Portuguesa

Hipônimo e Hiperônimo O Sol é uma estrela. (sentido literal da


O sentido das palavras pode apresentar palavra, apenas denota o astro)
uma hierarquia. A hiponímia é uma relação Mas o uso de uma palavra pode indicar
de restrição do sentido. Quando uma outros sentidos, evocar outras ideias. Essa
palavra é hipônimo de outra, isso quer dizer seria a conotação, sentido conotativo.
que seu sentido é um pouco mais restrito, Ele é meu sol. (pode indicar que a pessoa
que engloba menos noções. é a alegria da outra, assim como o Sol
A hiperonímia é uma relação de ilumina o dia, a pessoa ilumina a vida da
ampliação do sentido. Quando uma palavra outra)
é hiperônimo de outra, isso quer dizer que
seu sentido é um pouco mais amplo, que Questões
engloba mais noções.
Japão é hipônimo de país, pois a palavra 01. (Prefeitura de Nova Hartz -
Japão não pode englobar país, mas o Auxiliar Administrativo -
contrário ocorre. Ou seja, Japão abarca OBJETIVA/2022) Assinalar a alternativa
menos sentidos, dentro de uma hierarquia, que apresenta antônimos:
que país. (A) Débil - frágil.
País é hiperônimo de Japão, pois país (B) Cômico - melancólico.
pode englobar Japão, mas não o contrário. (C) Certo - garantido.
Ou seja, país abarca mais sentidos, dentro (D) Triste - enfadado.
de uma hierarquia, que Japão.
02. (Prefeitura de Simão Dias -
Polissemia Auxiliar de Serviços Gerais - Objetiva
Ocorre quando uma palavra apresenta Concursos/2022)
mais de um significado. Tais palavras são Em relação aos sinônimos das palavras,
polissêmicas. marcar C para as sentenças Certas, E para
Um bom exemplo é a pena, que possui as Erradas e, após, assinalar a alternativa
vários significados: pluma (de pássaro); que apresenta a sequência CORRETA:
instrumento utilizado para escrever; (_) “Fácil” é um sinônimo de
punição (cumprir a pena na prisão); dó (ter “laborioso”.
pena de alguém). (_) “Ligeiro” é um sinônimo para
“fugaz”
Sentido Próprio e Figurado (_) “Nocivo” é um sinônimo de
Quando a palavra é utilizada em seu “inócuo”.
sentido original, literal, então foi (A) C - E - C.
empregada em seu sentido próprio. Quando (B) E - C - E.
a palavra é utilizada de modo simbólico, (C) C - C - E.
fora de seu contexto original, ela está sendo (D) E - E - C.
utilizada em seu sentido figurado. (E) E - C - C.
A estrutura e feita de puro aço. (é feita
do metal) Gabarito
Ele tinha punhos de aço. (fora do 01.B - 02.B
contexto original, ninguém tem punhos de
aço, mas há quem tenha punhos bem fortes, EQUIVALÊNCIA E
como o aço) TRANSFORMAÇÃO DE
ESTRUTURAS
Denotação e Conotação
O uso de uma palavra pode denotar ou Muitos concursos costumam cobrar esse
indicar somente uma coisa, seu sentido assunto nos editais. O que normalmente é
próprio, sentido denotativo. cobrado pelas questões das provas é um tipo

79
Língua Portuguesa

de reescrita de frase, ou reorganização, de E por qual motivo fazemos isso? Porque


uma maneira que o sentido original seja a miscigenação (a mistura da população)
mantido, bem como a correção gramatical. enriquece o país.
Sendo assim, não há como responder a
questões desse tipo de maneira isolada. Tais Alternativa A - Incorreta
questões requerem do candidato o domínio (A) A nossa mistura é como a população,
de outros assuntos da Língua Portuguesa, e nós damos as boas-vindas à miscigenação
tais quais a concordância verbal e porque esse fato enriquece o país.
nominal, regência, pontuação, uso das A mistura da população é como a nossa,
classes de palavras, oração e período, e por e não a nossa mistura é como a população.
aí vai. Nunca se sabe como a banca cobrará A expressão não tem o mesmo alcance, pois
tal assunto, por isso é interessante estudar e ocorreu um reducionismo.
buscar compreender e fixar a maioria dos
assuntos da gramática de nossa língua. Alternativa C - Incorreta
Vamos analisar uma questão de um (C) A população é uma mistura como a
concurso: nossa, e nós damos as boas-vindas porque
esse fato enriquece a miscigenação e o país.
(APEX - Analista - IADES) Quanto à A mistura da população é como a nossa,
equivalência e à transformação de nunca foi dito que a população é uma
estruturas do texto, assinale a alternativa mistura. O sentido foi alterado
que reescreve o período “A mistura da indevidamente.
população é como a nossa, e nós damos as
boas-vindas a esse fato porque a Alternativa D - Incorreta
miscigenação enriquece o país”, mantendo (D) A mistura da população é como a
o sentido original da informação. nossa miscigenação, e nós damos as boas-
(A) A nossa mistura é como a população, vindas a esse fato porque enriquece o país.
e nós damos as boas-vindas à miscigenação No texto original, as boas-vindas são
porque esse fato enriquece o país. dadas ao fato de a mistura da população ser
(B) A mistura da população é como a como a nossa, e não pelo fato de a mistura
nossa, e a esse fato as boas-vindas são dadas da população ser como a nossa
por nós porque o país é enriquecido pela miscigenação. O sentido foi alterado.
miscigenação.
(C) A população é uma mistura como a Alternativa E - Incorreta
nossa, e nós damos as boas-vindas porque (E) A mistura é como a nossa população,
esse fato enriquece a miscigenação e o país. e nós damos as boas-vindas porque a
(D) A mistura da população é como a miscigenação enriquece esse fato e o país.
nossa miscigenação, e nós damos as boas- Já começa errado, pois o texto original
vindas a esse fato porque enriquece o país. não diz que a mistura é como a população,
(E) A mistura é como a nossa população, e sim que a mistura da população é como a
e nós damos as boas-vindas porque a nossa. Além disso, a miscigenação apenas
miscigenação enriquece esse fato e o país. enriquece o país, não o fato e o país.

“A mistura da população é / como a Alternativa B - Correta


nossa, / e nós damos as boas-vindas a esse (B) A mistura da população é como a
fato / porque a miscigenação enriquece o nossa, e a esse fato as boas-vindas são dadas
país” por nós porque o país é enriquecido pela
A mistura da população é: ela é o que? miscigenação.
Ela é como a nossa. A mistura da população é como a nossa,
Além disso, nós damos as boas-vindas a como no original.
esse fato, ou seja, à mistura da população.

80
Língua Portuguesa

/ e a esse fato as boas-vindas são dadas gramatica. O problema é que o verbo fazer
por nós, apenas houve uma alteração para a está conjugado de maneira errada. O correto
voz passiva, mas o sentido foi mantido. seria façam, para concordar com doadores
/ porque o país é enriquecido pela de sangue.
miscigenação, também na voz passiva, com
o sentido mantido. Alternativa B - Incorreta
(B) Na Fundação Hemopa, faça a
Vamos analisar outra questão: atualização do doador de sangue e de seus
dados.
(HEMOPA - Patologia Clínica - A atualização do doador de sangue não
IADES) Considerando a equivalência e deve ser feita, apenas a atualização dos
transformação de estruturas, assinale a dados do doador de sangue. O começa até
alternativa que reescreve a oração “Doador estava correto, pois a ação deve ser feita na
de sangue, faça a atualização de seus dados Fundação Hemopa.
na Fundação Hemopa.”, mantendo a
correção gramatical e o sentido da Alternativa C - Incorreta
informação. (C) Doador, faça a atualização de sangue
(A) Doadores de sangue, faça a e de seus dados na Fundação Hemopa.
atualização dos seus dados na Fundação O doador deve fazer apenas a
Hemopa. atualização dos seus dados, não a de
(B) Na Fundação Hemopa, faça a sangue. Aliás, há como atualizar o sangue?
atualização do doador de sangue e de seus
dados. Alternativa D - Incorreta
(C) Doador, faça a atualização de sangue (D) Faça a atualização do doador de
e de seus dados na Fundação Hemopa. sangue, dos seus dados, na Fundação
(D) Faça a atualização do doador de Hemopa.
sangue, dos seus dados, na Fundação É para ser feita apenas a atualização dos
Hemopa. dados do doador, e não a atualização do
(E) Na Fundação Hemopa, doador de doador em si.
sangue, faça a atualização dos seus dados.
Alternativa E - Correta
Texto original: (E) Na Fundação Hemopa, doador de
Doador de sangue, faça a atualização de sangue, faça a atualização dos seus dados.
seus dados na Fundação Hemopa. Na Fundação Hemopa, local correto.
/ doador de sangue, quem deve realizar a
Quem é o sujeito que deve fazer algo? O ação.
doador de sangue. / faça a atualização dos seus dados,
O que ele deve fazer? A atualização de aquilo que deve ser feito pelo doador de
seus dados. sangue na tal Fundação.
Onde ele deve fazer isso? Na Fundação
Hemopa. Além de tudo isso, é interessante ter em
mente a ordem dos termos, se é direta ou
Alternativa A - Incorreta indireta:
(A) Doadores de sangue, faça a
atualização dos seus dados na Fundação Ordem Direta
Hemopa. A estrutura da oração deve ser: Sujeito –
Se o plural tivesse sido utilizado Verbo – Complemento (que pode ser objeto
corretamente na frase toda, até poderia estar direto ou indireto) – Adjunto Adverbial.
correta, pois a estrutura e a equivalência O carteiro entregou a encomenda ontem
seriam mantidas, bem como a correção de manhã.

81
Língua Portuguesa

Sujeito: o carteiro (C) Contanto que seja oficializado pela


Verbo: entregou medicina, o órgão poderá ser considerado o
Complemento: a encomenda maior do corpo humano (título que hoje é
Adjunto adverbial: ontem de manhã da pele).
(D) Mesmo que seja oficializado pela
Ordem Indireta medicina, considera-se que ele é o maior
Os termos da oração são deslocados. órgão do corpo humano (título que hoje é
Ontem de manhã, o carteiro entregou a da pele).
encomenda. (E) Quando oficializado pela medicina,
o órgão foi considerado o maior do corpo
Voz Ativa humano (título que hoje é da pele).
A voz é ativa quando o sujeito realiza a
ação do verbo. Gabarito
Eu pintei o quadro.
01.C
Voz Passiva
A voz é passiva quando o sujeito recebe Vejamos um outro exemplo:
a ação do verbo. “Trouxe de volta a louça que a
O quadro foi pintado por mim. arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon,
há muitos anos responsável pelo sítio
Voz Passiva Sintética: Formada por um arqueológico, ensinou os locais a fazerem
verbo transitivo direto (ou direto e para terem uma fonte de subsistência”.
indireto) na terceira pessoa do singular ou Vamos supor que uma questão afirme
plural, somada ao pronome apassivador se. que a oração intercalada “[...] há muitos
Relatou-se uma notícia bombástica. anos responsável pelo sítio arqueológico
[...]” possa ser transposta para o final da
Voz Passiva Analítica: Formada por frase, sem ocasionar alterações de sentido
um verbo auxiliar (ser ou estar) somado ao texto.
com o particípio de um verbo transitivo Essa afirmação estaria errada. A frase
direto, ou direto e indireto. ficaria:
Uma notícia bombástica foi relatada. “Trouxe de volta a louça que a
arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon
Questão ensinou os locais a fazerem para terem uma
fonte de subsistência, há muitos anos
01. (SES/DF - Cardiologista - IADES) responsável pelo sítio arqueológico”.
No que se refere à equivalência e à Na frase original, a oração intercalada
transformação de estruturas do texto, tem ligação com Niéde Guidon, explica que
assinale a alternativa que reescreve o ela é responsável pelo sítio arqueológico há
período “Se oficializado pela medicina, o muitos anos. Já na frase com alteração, a
órgão pode ser considerado o maior do oração intercalada passar a estar
corpo humano (título que hoje é da pele).”, relacionada a uma fonte de subsistência,
mantendo a coerência e a coesão da uma explicação, pois seria essa fonte a
informação. responsável pelo sítio arqueológico há
(A) Conforme oficializado pela muitos anos. Desse modo, há sim uma
medicina, o órgão é considerado o maior do alteração de sentido, e bem grande.
corpo humano (título que hoje é da pele).
(B) Embora oficializado pela medicina, Esse tipo de assunto pode aparecer no
o órgão será considerado o maior do corpo edital como Reescrita de frases e
humano (título que hoje é da pele). parágrafos do texto, ou como
reestruturação textual. É basicamente a

82
Língua Portuguesa

mesma coisa (corrigir palavras incorretas (Prefeitura de Barretos - Agente de


de um texto, pode ser um erro de ortografia, Controle de Vetores - VUNESP) Observe
de acentuação, ou de concordância, como a figura para responder à questão.
plural, gênero). Como os concursos cobram
o gênero culto, ou norma-padrão, claro que
essa correção deve acompanham tal norma,
ou seja, seguir as regras gramaticais.
Vamos ver como ele é cobrado nas
questões.

(CM/Cáceres - Jornalismo - UFMT) A


frase A julgar pelas pesquisas de opinião,
tudo vai mal. pode ser reescrita de diversas
maneiras, conservando-se o sentido.
Assinale a alternativa que NÃO apresenta
reescrita com o mesmo sentido da original.
(A) De acordo com as pesquisas de
opinião, tudo vai mal.
(B) Apesar das pesquisas de opinião,
As frases reescritas, a partir da figura,
tudo vai mal.
apresentam versão correta quanto à
(C) Considerando as pesquisas de
pontuação em:
opinião, tudo vai mal.
(A) O que são rios aéreos, brasileiros?
(D) Haja vista as pesquisas de opinião,
Maiores que o Rio Amazonas, são fluxos de
tudo vai mal.
água que surgem da transpiração da
Floresta Amazônica.
Alternativa A - Incorreta
(B) Vocês sabem, brasileiros o que são,
A julgar pelas e de acordo com
rios aéreos? Fluxos de água, maiores que o
apresentam a mesma função. É o mesmo
rio Amazonas, surgem da transpiração da
que dizer segundo tal coisa, tal coisa
floresta Amazônica.
acontece.
(C) Vocês sabem o que são rios aéreos,
brasileiros? Surgem da transpiração da
Alternativa B – Correta
Floresta, Amazônica e são, maiores que o
Apesar das indica uma ideia de
rio Amazonas.
contraste. Na verdade, as pesquisas indicam
(D) Brasileiros, vocês, sabem o que são,
que tudo vai mal. Utilizar apesar das traria
rios aéreos, os fluxos de água que surgem
a ideia de que as pesquisas indicam o
da transpiração da Floresta Amazônica e
contrário de tudo ir mal.
são, maiores que o rio Amazonas?
(E) Brasileiros o que são rios aéreos?
Alternativa C - Incorreta
Maiores, que o Rio Amazonas, são os
Considerando as tem o mesmo valor de
fluxos de água que surgem da transpiração,
de acordo com e a julgar pelas. É uma
da Floresta Amazônica.
conclusão que se baseia na pesquisa.
Alternativa A - Correta
Alternativa D - Incorreta
A primeira vírgula foi utilizada para
Haja vista tem o mesmo sentido de tendo
isolar o vocativo, brasileiros.
em vista. Ou seja, segundo as pesquisas, a
A segunda vírgula isola uma
julgar pelas, considerando as. A conclusão
comparação, um segmente com valor
leva em conta as pesquisas.
comparativo, que é Maiores que o Rio
Amazonas.

83
Língua Portuguesa

Alternativa B - Incorreta Alternativa B - Incorreta


Brasileiros é um vocativo e deveria ser Para chegar às finais, um time não pode
isolado entre duas vírgulas, uma antes e ser eliminado. Quando chega à final o time
outra depois. pode perder a final, mas não ser eliminado.
Não há uma justificativa para o emprego
da vírgula após são. Alternativa C - Incorreta
Envelhecer não impede um ator de atuar.
Alternativa C - Incorreta A segunda frase não é a negativa da
A vírgula após amazônica está incorreta, primeira.
pois está isolando o adjetivo que modifica o
substantivo floresta. Alternativa D - Incorreta
A vírgula após o são está incorreta, pois Na primeira frase, foram proibidos de
não há regra que justifique seu uso. sair do colégio. Na segunda, foram
proibidos de entrar no colégio.
Alternativa D - Incorreta
A vírgula após vocês está separando o Alternativa E - Correta
sujeito de seu verbo, sabem. A segunda frase é a negativa da primeira,
A vírgula após o são está incorreta, pois pois um filme que não agrada é um filme
não há regra que justifique seu uso. Em que aborrece, mas com a frase empregada
ambos os casos. na forma negativa.

Alternativa E - Incorreta Algumas dicas para reescrever frases:


Uma vírgula deveria ser usada após Você pode reescrever modificando
brasileiros, para isolar o vocativo. palavras por outras que sejam sinônimas:
A vírgula após maiores está incorreta, Diversos cachorros entraram na casa do
pois atrapalha a comparação e nenhuma vizinho.
regra a justifica. Assim como a vírgula após Vários cães adentraram a casa do
transpiração. vizinho.

(PC/RJ - Inspetor de Polícia - FGV) Você pode modificar palavras por outras
Todas as frases abaixo foram reescritas na que sejam antônimas:
forma negativa, mantendo-se o sentido O homem era rico.
original; a forma adequada de reescritura O homem não era pobre.
está na frase:
(A) A empresa fracassou / A empresa Você pode substantivar um verbo:
não se desenvolveu; Trabalhará até que o problema se
(B) O time foi eliminado / O time não foi conclua
campeão; Trabalhará até a conclusão do problema.
(C) Essa atriz está envelhecendo / Essa *Ou fazer o inverso, trocar a
atriz não atua mais; substantivação pelo verbo.
(D) Proibiram-nos de sair do colégio /
Proibiram-nos que não entrássemos no Você pode mudar o tempo verbal:
colégio; Em 2002 o Brasil ganhou sua última
(E) Aquele filme me aborreceu / Aquele Copa.
filme não me agradou. Em 2002 o Brasil ganha sua última copa.

Alternativa A - Incorreta Você pode utilizar uma locução verbal:


Uma empresa fracassar não significa que Tomarei guaraná com goiabada para
ela não se desenvolveu. A segunda frase sobremesa.
não apresenta a forma negativa da primeira.

84
Língua Portuguesa

Vou tomar guaraná com goiabada para “Pais biológicos desistem de guarda e
sobremesa. STF reintera adoção”.
*Pode fazer o inverso. O correto seria reitera.

Você pode utilizar o tempo composto: “Atos contrários aos bons costumes
Eu fora um bom aluno quando criança. incindem na perda da adoção”.
Eu tinha sido um bom aluno quando O correto seria incidem.
criança.
“É fundamental analizar as motivações
Você pode trocar uma oração reduzida dos candidatos à adoção”.
por uma desenvolvida: O correto seria analisar.
É recomendável economizar energia.
É recomendável que todos Preste atenção às alternativas das
economizemos energia. questões. A frase reescrita corretamente
*Pode ser feito o oposto. deve seguir as normas gramaticais, bem
como respeitar a informação da frase
Você pode trocar conjunções de mesmo original, apesentando a mesma ideia,
valor: mesmo que com o uso de palavras
Fiz isso porque ela pediu. diferentes.
Fiz isso pois ela pediu.
Questão
Em “A medicina preventiva tem como
principal objetivo manter”, uma reescrita 01. (MPE/GO - Secretário Auxiliar -
possível seria MPE/GO/2022) “Platão alfinetou
“O principal propósito da medicina Diógenes, e este retorquiu com
preventiva é manter”. serenidade”
Houve uma transformação da voz ativa A frase acima manterá seu sentido
em voz passiva analítica, mantendo o básico caso se substituam os elementos
sentido original e a correção gramatical. sublinhados, respectivamente, por:
(A) redarguiu − correspondeu −
Em “O que diferencia um abusivo harmonia
loitering de uma apenas inocente ausência (B) provocou − replicou − tranquilidade
de movimento depende da interpretação do (C) recriminou − interpôs − dignidade
guarda.”, uma reescrita possível seria (D) perturbou − rebateu – animosidade
“A depender da interpretação do guarda,
se estabelece a distinção entre o abuso do Gabarito
loitering e a mera falta de movimento”.
A condição para a diferença entre um 01.B
loitering abusivo e uma inocente ausência
(ou falta) de movimento é a interpretação PARALELISMO SINTÁTICO E
do guarda. Ou seja, essa diferença depende SEMÂNTICO
da interpretação do guarda.
Por mais que um texto apresente uma
Também é possível reescrever frases boa escrita e boa estrutura, caso suas ideias
escritas de maneira incorreta, que não não estiverem bem dispostas, a coerência
seguem a norma culta, que estão incorretas pode ficar prejudicada.
gramaticalmente. O paralelismo nada mais é do que a
“O juiz julgou procedente a pretenção de organização de ideias similares dentro de
adoção requerida pela família”. um texto, fazendo correspondência entre si.
O correto seria pretensão.

85
Língua Portuguesa

Paralelismo Sintático menos...; Primeiro... segundo...; Ou... ou...;


O paralelismo é a apresentação de ideias Ou seja...; Isto é...
similares, coordenadas e equivalentes, em
formas gramaticais ou semânticas idênticas. Paralelismo Semântico
Ocorre quando existe simetria entre as Ocorre quando existe uma sequência de
estruturas sintáticas presentes na oração. expressões simétricas no plano da coerência
Ocorre a quebra de paralelismo quando e das ideias.
elementos que não são equivalentes quanto O menino tem duas notas e cinco
à forma ou ao conteúdo são associados. moedas. (O verbo ter confere sentido a
ambas as frases, não há a necessidade de
- Sem paralelismo sintático: repeti-lo)
Retirei todas as informações do evento
no site e do jornal. Aspirei e gostei do ar.
- Com paralelismo sintático:
Retirei todas as informações do evento Veja o exemplo acima. O verbo aspirar
no site e no jornal. é transitivo direto e gostar é transitivo
indireto, e apenas um único complemento
A frase abaixo possui paralelismo: está sendo atribuído a ambos. Isso fere o
O funcionário deseja um aumento de paralelismo.
salário e o reconhecimento de seu esforço Para corrigi-lo, é preciso apresentar um
pela empresa. objeto direto para aspirei e um objetivo
Veja que a preposição de é utilizada após indireto para gostei.
aumento e após reconhecimento, que são
verbos substantivados abstratos. Aspirei o ar e gostei dele.

A frase abaixo não possui paralelismo O paralelismo também pode ser


sintático: quebrado de outros modos, como, por
Quando se nega a alguém a oportunidade exemplo, duas informações distintas são
de tomar decisões importantes, ele começa apresentadas ao mesmo tempo:
a achar importantes as decisões que lhe Vi dois homens: um é seu tio e o outro
permitem tomar. está parado. (a primeira informação fala
Quando se nega a alguém (negar + sobre quem é a pessoa, a segunda, fala sobre
preposição) a oportunidade de tomar como a pessoa está)
decisões importantes (objeto indireto, pois
há a necessidade de preposição para o Para corrigir isso, é preciso fazer com
verbo). que ambas informações sejam ligadas por
Ele começa a achar (achar não precisa de uma mesma ideia:
preposição) importantes as decisões que lhe Vi dois homens: um é seu tio e o outro
permitem tomar (objeto direto). seu irmão. (agora a ideia de parentesco liga
As orações não apresentam paralelismo as duas informações, a ideia de quem são
sintático, pois a primeira apresenta objeto tais pessoas)
indireto e a segunda, direto.
As classes gramaticais podem organizar
Dentre as estruturas que podem formar o o paralelismo entre:
paralelismo sintático, podemos citar: Por Orações e verbos no infinitivo: A
um lado... por outro...; Tanto... quanto...; vitamina não serve apenas melhorar a
Ora... ora...; Quanto mais... mais...; Não... disposição, mas também para aumentar a
nem...; Seja... seja...; Quer... quer...; Não saúde.
só... mas também...; Quanto menos... Orações com verbos no gerúndio: A
vitamina tem servido não apenas

86
Língua Portuguesa

melhorando a disposição, mas também Questões


aumentando a saúde.
Orações com verbos conjugados: A 01. (FUNSAÚDE - Analista Admin. -
vitamina não somente melhora a FGV/2022) Assinale a frase que não
disposição, mas também aumenta a saúde. apresenta paralelismo sintático em sua
Substantivos: A vitamina ajuda não só a estruturação.
melhora da disposição, mas também o (A) “Quando se nega a alguém a
aumento da saúde. oportunidade de tomar decisões
Adjetivos: A vitamina é não apenas importantes, ele começa a achar
importante, mas também essencial para a importantes as decisões que lhe permitem
saúde. tomar.”
Concordância entre tempos verbais: Se a (B) “Qualquer agência com 10 milhões a
maioria trabalhasse, haveria menos menos de faturamento do que a nossa é
desemprego entre a população. muito pequena para oferecer serviços bons;
qualquer agência, com 10 milhões a mais, é
O paralelismo pode ser formado por muito grande para ser eficiente.”
ideias similares quando: (C) “Não é a quantidade de dinheiro que
Há ideia de adição numa comparação você ganha, é a quantidade de dinheiro que
entre situações: O respeito é importante não você guarda.”
só entre os alunos como também entre os (D) “Adquirimos dinheiro com trabalho,
professores. guardamo-lo com temor e perdemo-lo com
Há ideia de alternância: O respeito é algo grande dor.”
importante, seja em casa, seja na escola. (E) “Empresa privada é aquela que o
Há ideia de adição acrescida à de governo controla, empresa estatal é aquela
equivalência: O respeito é necessário tanto que ninguém controla.”
para os alunos quanto para os professores e
gestores. 02. (SSP/AM - Técnico de Nível
Há uma sequência negativa: Não Superior - FGV/2022) Uma das marcas da
podemos deixar de respeitar, nem os alunos, boa estruturação textual é, em alguns casos,
nem os professores. a existência de um paralelismo sintático
Há uma referência a características entre seus termos; o pensamento abaixo em
negativas e positivas a um fato: Se, por um que o paralelismo foi respeitado é
lado, a notícia alegra os otimistas, por (A) O funcionário deseja um aumento de
outro, deixa os pessimistas muito tristes. salário e o reconhecimento de seu esforço
pela empresa.
O paralelismo semântico pode organizar (B) Era necessário ter-se preparado,
a sequência lógica das ideias: prestar atenção nas questões e as respostas
José Carlos gosta de azul e de amarelo. dadas calmamente.
(a relação semântica entre azul e amarelo é (C) Abrir a porta, encaminhar-se à
que ambas são cores) garagem, a ligação do carro e sair
José Carlos gosta de azul e de música. rapidamente eram fatos cotidianos.
(não há lógica entre azul e música) (D) Os rios nessa região são de grande
volume de água, barrentos, de quantidade
razoável de peixes e de beleza imensa.
(E) Conhecia todos de vista: Pedro,
Heitor, Guilherme, Roger e o primo de
Fernando.
Gabarito
01.A - 02.A

87
Informática

SUMÁRIO

Utilização de diferentes linguagens midiáticas para desenvolvimento das práticas


educativas. ............................................................................................................... 1
Apropriação tecnológica. .................................................................................... 7
Compreensão dos usos das tecnologias e da cultura digital no cotidiano escolar.9
Promoção de práticas pedagógicas, reflexivas, colaborativas e dialógicas utilizando
recursos tecnológicos. ........................................................................................... 15
Papel e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação. .......................... 22
Letramento digital. ............................................................................................ 32
Uso da tecnologia para ensinar, aprender e pesquisar. ..................................... 36
Revista Magistério n. 10: educomunicação
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/acervo/revista--magisterio-n-10-
educomunicacao. ................................................................................................... 38
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Uso
de tecnologias em contexto de pandemia: o que aprendemos e como prosseguir
aprendendo?– São Paulo : SME / COPED, 2021.................................................. 40
Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade
: Ensino Fundamental : componente curricular:Tecnologias para Aprendizagem. –
2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50630.pdf. ......................... 40
Secretaria Municipal de Educação. O uso da tecnologia e da linguagem midiática na
Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT, 2015. .................................................. 42
Instrução Normativa SME nº 52, de 10/12/2021 - Dispõe sobre a organização dos
Laboratórios de Educação Digital - LED, e dá outras providências. .................... 45

Apostilas
Domínio
Informática

Educacionais (UEs). Atentas, curiosas e


Utilização de diferentes linguagens
com um olhar sempre investigativo, os
midiáticas para desenvolvimento das
práticas educativas.
bebês e as crianças, mesmo as bem
pequenas, vão se apropriando das
possibilidades de interação com esse
UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES universo e das diferentes formas pelas quais
LINGUAGENS MIDIÁTICAS PARA os adultos estabelecem relações
DESENVOLVIMENTO DAS comunicativas e expressivas com esses
PRÁTICAS EDUCATIVAS recursos midiáticos, tecnológicos e digitais.

A utilização das linguagens midiáticas Linguagens Midiáticas e Educação:


tem como objetivo aproximar e entrelaçar o Tintas, luzes, telas...
relacionamento entre alunos e professores
no ambiente escolar1. Seu uso é Crianças brincam, expressam-se e
considerado como uma ferramenta relacionam-se com o mundo por meio das
facilitadora na aproximação de ambos, diferentes linguagens. Assim, materializam
fazendo com que partilhem um universo ideias, hipóteses, fantasias, desejos, lógicas,
mais abrangente dos letramentos, e nem sempre ouvidos e considerados pelos
percebam-se como interlocutores capazes adultos.
de, em colaboração, adentrar novas esferas Conforme estabelecido pelas Diretrizes
e gêneros nos quais as tecnologias da Curriculares Nacionais para a Educação
informação exercem um papel Infantil (DCNEIs), a aproximação com as
significativo. Mamede-Neves e Duarte multimídias garante o direito das crianças
(2008, p. 781), afirmam que “as novas ao acesso e uso dos diferentes recursos
gerações estão integradas a uma nova tecnológicos e midiáticos, amplia suas
cultura em formação, uma cultura em que a possibilidades de expressão. Neste sentido,
convergência das mídias vem um dos papéis das educadoras e dos
transformando seu modo de viver e de ver o educadores é o de potencializar a produção
mundo”. Portanto, é possível considerar as de culturas infantis, que tenham a escuta
tecnologias de informação e comunicação apurada e sensível na gestão do seu
como um importante recurso à disposição cotidiano com os bebês e as crianças e
da educação, não somente pela sua serem defensores das várias formas de ser
capacidade de disseminação, mas também criança e viver as infâncias.
pela possibilidade de construção do “É a pedagogia que colhe e acolhe a
conhecimento através de experiência em criança competente e possibilita um
que predominem a comunicação e a professor competente. Que cria um
colaboração. contexto de escuta” (PONZIO, 2008, p. 50).
Na sociedade contemporânea, desde que Esta postura de educador competente
nascem, meninos e meninas estão possibilita a cultura da investigação e da
cotidianamente inseridos em um universo pesquisa, bem como exige das educadoras e
midiático que é potencializado por dos educadores despirem-se das certezas,
diferentes recursos tecnológicos e digitais2. para pautarem-se na observação, no diálogo
O computador, o celular, a TV, o rádio, a com bebês e crianças, sua relação com as
câmera fotográfica, o gravador de voz, a linguagens midiáticas.
filmadora e o projetor são bons exemplos de Permite considerar a escuta para além
recursos que permeiam o cotidiano de das palavras, como uma ação planejada,
nossas crianças dentro e fora das Unidades que permite conhecer as hipóteses

1 2
PASQUETTI, L. L.; SAINZ, R. L.; NASCIMENTO, C. O. A utilização https://www.sinesp.org.br/images/14_-
das linguagens midiáticas na relação alunos e professores no ambiente _O_USO_DA_TECNOLOGIA_E_DA_LINGUAGEM_MIDIATICA_NA_
escolar. EDUCACAO_INFANTIL.pdf

1
Informática

formuladas por eles diante das múltiplas contínua sobre as condições de produções
linguagens expressivas, das experiências que são ofertadas a eles: quais recursos
que eles têm com os diversos recursos disponibilizamos? Como os organizamos?
tecnológicos e midiáticos. É importante Em quais tempos e
observamos qual a relação que bebês e espaços? Devemos ter clareza que esses
crianças já estabeleceram ou não com os espaços não devem estar apenas
computadores, câmeras digitais, circunscritos aos Laboratórios de
retroprojetores, tablets, celulares e como Informática, e os recursos não se encerram
esta experiência digital se torna parte do com o uso do computador, devendo integrar
processo de construção de conhecimento outros olhares, abordagens e recursos, a
por eles. partir do desenvolvimento de projetos
Nesse sentido, um caminho a considerar pautados em uma perspectiva de educação
seria disponibilizar diferentes recursos e pela descoberta e não pela instrução.
equipamentos, tais como, tablets, Portanto, não se trata apenas de autorizar
smartphones, câmeras digitais, microfones, ou negar o uso dos recursos tecnológicos e
gravadores, dentre outros, com os quais os midiáticos, ou ainda limitar seu tempo de
bebês e as crianças podem ter acesso a acesso e manuseio: trata-se de uma questão
aplicativos, objetos de aprendizagem e de mediação, de parceria nas descobertas
simulações que estejam em um contexto infantis, “ajudando a criança a elaborar seus
pedagógico. Tais situações precisam novos conhecimentos e experiências”
possibilitar uma postura investigativa, a (FORTUNA, 2014, p. 23).
partir da observação e das interações com Organizar experiências em que os bebês
situações que simulem ações do cotidiano, e as crianças, desde bem pequenas possam
com os quais bebês e crianças possam interagir com outras crianças e linguagens
observar, retratar, registrar e são fundamentais: “assim elas partilham e
expressar o mundo ao redor segundo seu constroem cultura, mas também se regulam
olhar e concepções. mutuamente em relação às tecnologias
Ao proporcionar estes recursos e digitais” (FORTUNA, 2014, p. 23).
equipamentos aos bebês e crianças é Trata-se de ampliar as possibilidades de
imprescindível que não sejam criação e expressão das crianças, para que
simplesmente apresentados, considerando- mergulhem nas diferentes gramáticas das
os como receptores passivos de mídias e linguagens tecnológicas e midiáticas e não
produtos digitais, mas que, acima de tudo, apenas no uso técnico de ferramentas.
utilizem estes equipamentos e recursos Experiências nas quais bebês e crianças
digitais de forma autônoma, sendo criados pintam desenhos prontos, brincam com
e proporcionados situações e contextos nos jogos carregados de estereótipos e sem
quais possam exercitar sua criatividade, sentido ou assistem a filmes e desenhos
senso de curiosidade e investigação, para com vistas ao silenciamento de seus corpos,
que possam, assim, ser autores e pouco contribuem para a formação de um
protagonistas de suas ações. cidadão crítico. Nesse sentido, educadoras
Dessa forma, considerar as ideias, e educadores devem despir-se de certezas,
sugestões, problemas e dúvidas dos bebês e aguçar o olhar para a investigação com as
das crianças possibilita a educadoras e crianças, o que se traduz na metáfora do
educadores planejar e proporcionar cada viajante, evocando um olhar de constante
vez mais novas e ricas experiências, estranhamento e maravilhamento diante das
revelando uma imagem de meninos e descobertas. É encantar-se com a lógica
meninas competentes e produtores de apresentada por Maria Eduarda (5 anos), ao
cultura, desde a primeira infância, nos desenhar a Cuca e dialogar com sua
diversos tempos e espaços das UEs. Para professora:
isso, é necessário um processo de reflexão

2
Informática

- “Que lindo seu desenho!” adultos e crianças nas UEs de Educação


- “Não, Prô! Está é uma Cuca e ela tem Infantil.
que estar horrorosa!”
As Mídias na Educação
No cotidiano, ao favorecer a escuta em
suas diferentes formas, educadoras e O universo midiático possui variados
educadores provocam questionamentos e meios que atuam na transmissão dos mais
entram em contato com as hipóteses diversos tipos de informação e linguagem3.
formuladas pelas crianças, o que implica Conforme explicitado em capítulo anterior,
em um planejamento com intencionalidade, como exemplo de recursos midiáticos
marcado pela imaginação, curiosidade e encontramos a televisão, o rádio, os jornais,
frequentes tomadas de decisões, a internet, revistas, vídeos, dentre outros,
construindo um currículo que emerge na que funcionam como veículos de
relação entre bebês, crianças e adultos no informação e conhecimento. As mídias
dia a dia das UEs de Educação Infantil. interligam-se e complementam-se, cada
Essa “viagem” pressupõe desnaturalizar uma com sua particularidade e, nessa
o olhar no cotidiano e permitir-se encantar perspectiva, cada mídia tem uma linguagem
com as descobertas e os diálogos para além e um objetivo na disseminação das
das palavras, com luzes e sombras, informações.
fotografias, vídeos, desenhos projetados no Podemos afirmar que as mídias e as
retroprojetor ou no projetor, brincadeiras tecnologias de informação e comunicação
com webcam, dentre outras tantas vêm promovendo uma forte integração e
possibilidades, favorecendo experiências socialização entre as pessoas em geral, de
diversas. forma que esse processo midiático também
Nesse sentido, o processo de formação tem impactado, ou causado mudanças na
das educadoras e educadores deve educação. Nesse sentido, depreendemos
contemplar os princípios da Pedagogia da que as mídias conseguem atuar
Infância, considerando a arte como expressamente no cotidiano da vida social e
fundamento, em um diálogo constante com cultural do indivíduo, transformando
suas diferentes manifestações expressivas. conhecimento, oportunizando novas
Requer, portanto, a formação de um aprendizagens, capacitando-o para se tornar
profissional para além da técnica um cidadão crítico. Logo, esse processo
reducionista em programas, softwares e midiático pode expressar-se também como
aplicativos. Outra questão importante a ser cultural, social e educativo, e de suma
destacada refere-se à relação entre a importância para as crianças que estão em
tecnologia e o processo de documentação formação e ao mesmo tempo absorvendo e
pedagógica, conforme destaca SCHWALL: aprendendo nessa escola midiática que a
“Os professores usam a tecnologia globalização oferece. Sobre esse aspecto,
diariamente para processar vários Belloni (2009, p.1083) afirma que, a mídia-
documentos, como as conversas das educação é parte essencial dos processos de
crianças, carta aos pais, fotografias tiradas socialização das novas gerações, mas não
com câmeras digitais e documentação que apenas, pois deve incluir também
será colocada na parede da sala de aula”. populações adultas, numa concepção de
(SCHWALL, 2012, p. 42). educação ao longo da vida.
Câmeras digitais, filmadoras, Nesse contexto, o uso das mídias na
gravadores, arquivos em pastas digitais são, educação pode oportunizar aos docentes
hoje, fundamentais para qualificar registros práticas pedagógicas inovadoras,
e documentos dos processos vividos por permitindo que a criatividade seja uma forte

3
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/midias- educacao-infantil-contribuicoes-desafios-trabalho-pedagogico.htm

3
Informática

aliada nesse processo de interatividade. As universo infantil quanto ao uso dos recursos
novas tecnologias podem ampliar em muito midiáticos e tecnológicos, como televisão,
o acesso da criança a sua própria autonomia celular, rádio, e etc. Pois, como ser social e
de aprendizagem. Sobre essa perspectiva, integrado com o meio em que vivem, as
Belloni e Gomes (2008, p.717) afirmam crianças absorvem e apropriam-se dos mais
que variados conteúdos através desses recursos.
O uso da internet, televisão e vídeo na
A interação entre pares e com adultos, educação infantil também pode
em situações favoráveis e inovadoras proporcionar momentos de lazer e
de aprendizagem e com uso
pedagógico apropriado das aprendizagem. As cores dos desenhos
Tecnologias de Informação e animados e as músicas igualmente infantis,
Comunicação (TIC), pode levar as remetem a criança para o seu imaginário e
crianças a desenvolverem a ensina a refletir. Nessa possibilidade, a
comportamentos colaborativos e sala de aula ganha rumores tecnológicos e
autônomos de aprendizagem,
benéficos para o seu desenvolvimento as crianças ganham asas imaginárias.
intelectual e sócio afetivo. Contudo, o público infantil necessita de
atenção pedagógica especial quanto ao uso
Sendo assim, fica reconhecida a das tecnologias em sala de aula. Todos os
importância das mídias e dos recursos sujeitos da escola devem se envolver nessa
tecnológicos na educação, tendo em vista os tarefa de conhecer melhor as novas
benefícios que podem proporcionar e linguagens oriundas dos recursos
contribuir para o desenvolvimento da midiáticos para atuarem de forma adequada
criança integralmente. e enriquecedora para o processo de ensino e
aprendizagem do aluno. Em geral, os
A Educação Infantil no Contexto alunos da Educação Infantil, apesar de
Midiático compreenderem uma faixa-etária bastante
tenra e inicial da vida, já manuseiam com
No contexto educacional infantil, a muita destreza os aparelhos tecnológicos,
integração das mídias às práticas demonstrando habilidades digitais diversas,
pedagógicas tem sido fomentada pelas e adentram aos âmbitos escolares já
Diretrizes Curriculares Nacionais para a trazendo consigo as suas experiências
Educação Infantil, que compõem em sua vividas nos seus ambientes sociais de
proposta pedagógica curricular para a convívio. Nesse sentido, para melhor
Educação Infantil eixos norteadores como atender a esses alunos midiatizados da
brincadeiras e interações que garantem Educação Infantil, os sujeitos escolares e
experiências que “[...] possibilitem a mediadores precisam estar atentos em
utilização de gravadores, projetores, buscar aprender, se atualizar e se preparar
computadores, máquinas fotográficas, e para atuarem de forma mais adequada junto
outros recursos tecnológicos e midiáticos.” ao público infantil.
(BRASIL, 2010, p.27).
Essa visibilidade dada pela Secretaria de A educação escolar precisa
compreender e incorporar mais as
Educação Básica (SEB/MEC) ao cenário da novas linguagens, desvendar os seus
Educação Infantil quanto à necessidade da códigos, dominar as possibilidades de
abordagem das mídias e as tecnologias expressão e as possíveis
torna-se importante, tendo em vista que manipulações. É importante educar
atualmente o público infantil já se encontra para usos democráticos, mais
progressivos e participativos das
manipulando os aparelhos digitais já desde tecnologias, que facilitem a evolução
muito cedo. Essa iniciativa da SEB/MEC dos indivíduos. (MORAN, 2013,
sugere o reconhecimento da apropriação e p.53)
interação já existentes, em grande parte, no

4
Informática

Entendemos, entretanto, que a Educação contribuir massivamente para a Educação,


Infantil no contexto midiático ainda está afinal, como principais veiculadoras dos
caminhando de forma tímida, afinal, mais diversos tipos de informações,
acompanhar o crescimento e o avanço integram um vasto universo de conteúdos
tecnológico e a diversidade midiática na multidisciplinares a serem trabalhados nas
fluência de informações, necessita muito salas de aulas. Nas suas múltiplas
mais do que equipamentos disponíveis, mas linguagens, as mídias trabalham também
também de profissionais qualificados para como agentes transformadores, tendo em
atuarem com esses equipamentos de forma vista que, como mediadores de informações
a atenderem as expectativas da Educação num âmbito globalizado, trabalham com as
Infantil para os seus alunos. emoções, valores e opiniões de seus
receptores, e isso é ainda mais processado
As Novas Aprendizagens no Cenário nas crianças por sua rápida e instantânea
Pedagógico absorção do que está ao seu redor e agindo
nele.
O ambiente escolar interpretado As especificidades pedagógicas dos
virtualmente por seus alunos possibilita recursos midiáticos e tecnológicos
trazer para a sala de aula a realidade deles, impactam diretamente nos resultados de
promove uma maior integridade e aprendizagem dos alunos da Educação
intensidade na relação Infantil. Numa transmissão enriquecedora,
aluno/docente/escola, além de proporcionar estimulante e colorida, as mídias são
um desenvolvimento significativo no utilizadas para ensinar através das mais
processo de ensino e aprendizagem. Sobre diversas formas: por imagens, sons, filmes,
esse aspecto, Moran (2013, p.31) afirma e falas educativas. Nessa possibilidade, é
que relevante dizer que, esse processo acontece
na sala de aula como numa grande
Com as tecnologias atuais, a escola brincadeira. Enquanto as crianças olham
pode transformar-se em um conjunto atentas para o seu interlocutor colorido, um
de espaços ricos de aprendizagem
significativas, presenciais e digitais,
mundo novo se abre e descortina na sua
que motivem os alunos a aprender imaginação. Essa sincronia proporciona ao
ativamente, a pesquisar o tempo todo, público da Educação Infantil momentos
a serem proativos, a saber tomar únicos de aprendizagem, em que a sua
iniciativas e interagir. (MORAN, autonomia poderá se fortalecer e o cidadão
2013, p.31)
crítico e consciente começa a ser gerado
As novas aprendizagens adquiridas pelo dentro dele.
público infantil atual através das diversas Logo, essa relação das mídias nas
interações com o mundo midiático no seu escolas deve acontecer de forma a propiciar
cotidiano, diferencia-o das crianças de e fomentar a construção de novas ideias aos
outrora, quando o ensino tradicional era alunos. Contudo, não se deve esquecer os
protagonizado mais pelo docente do que mediadores, os docentes, que nesse
pelo aluno. Há alguns anos, as ferramentas processo, tanto ensinam quanto aprendem,
de aprendizagem utilizadas pelos docentes e ousamos dizer que aprendem mais do que
na Educação Infantil eram apenas massas, ensinam. Sendo assim:
[..] as mídias apresentam-se,
lápis coloridos, brinquedos e brincadeiras, pedagogicamente, sob três formas:
atualmente, entretanto, somados a essas como conteúdo escolar integrante das
ferramentas estão os recursos tecnológicos várias disciplinas do currículo,
e midiáticos, que podem propiciar um portanto, portadoras de informação,
ambiente de aprendizagem mais virtual e ideias, emoções, valores; como
competências e atitudes profissionais;
conectado à realidade das crianças atuais. e como meios tecnológicos de
No âmbito pedagógico, as mídias podem

5
Informática

comunicação humana (visuais, aprender a trabalhar com as diferentes


cênicos, verbais, sonoros, linguagens geradas pelas mídias, de forma
audiovisuais) dirigidos para ensinar a
pensar, ensinar a aprender a aprender,
a criar práticas pedagógicas e metodologias
implicando, portanto, efeitos midiatizadas que permitam a geração de
didáticos como: desenvolvimento de novos saberes atrelados à realidade de seus
pensamento autônomo, estratégias alunos. Nesse aspecto, vale ressaltar a
cognitivas, autonomia para organizar importância da criatividade docente na
e dirigir seu próprio processo de
aprendizagem, facilidade de análise e
utilização das novas tecnologias para a
resolução de problemas, etc. obtenção de resultados satisfatórios junto
(LIBÂNEO, 2011, p.70) ao corpo discente.

Nesse contexto, os docentes da As Contribuições e Desafios das


Educação infantil precisam começar a Mídias na Educação Infantil
compreender mais amplamente o seu papel
como mediador da educação e da formação Depreendemos que o universo
de seus alunos nos dias atuais. midiático, tão abrangente, pode contribuir
As novas aprendizagens trazidas nos de forma bastante intensa para a Educação
históricos de vida dos alunos Infantil, oportunizando um mundo novo de
contemporâneos requerem ainda mais interação, colaboração, democracia e
preparo e disponibilidade do docente para o autonomia para o público infantil,
acesso ao mundo da aprendizagem virtual. disponibilizando múltiplas frentes de
Entretanto, esse apelo tem sido inegável e aprendizagens nas mais diversas
cotidiano no mundo da Educação Infantil. linguagens. A influência das mídias na
O docente atual deve, portanto, preocupar- socialização e na projeção das mais
se quanto ao seu preparo e a sua formação, diversas culturas têm contribuído num
pois as crianças contemporâneas tendem a âmbito global para a integração mundial e
absorver um sem número de informações e para um compartilhamento gigante de
acabam por dominarem mais as máquinas informações em tempo real. O público
do que os próprios mestres e professores. infantil representa uma parte desse todo
Nesse sentido, global, e é igualmente influenciada. Nessa
perspectiva, “muitos estudos têm mostrado
Muitos professores já sentiram que a importância crescente das mídias na
precisam mudar sua maneira de criação dos mundos sociais e culturais das
ensinar – querem se adaptar ao ritmo
e às exigências educacionais dos
crianças, onde ocorrem os processos de
novos tempos e anseiam por oferecer socialização”. (BELLONI &GOMES,
um ensino de qualidade, adequado às 2008, p. 722).
novas exigências sociais e Entretanto, apesar da grande relevância
profissionais. Colocam-se como e importância das mídias já ser reconhecida
mestres e aprendizes, com
expectativas de que por meio da
em todos os setores e âmbitos sociais,
interação didática com os alunos, a culturais, econômicos e políticos, no âmbito
aprendizagem aconteça para ambos. educacional infantil, um dos grandes
(BOELTER, 2006, p. 19) desafios está na desigualdade que esses
setores emergem e que afetam a realidade
Todavia, apesar da perspectiva do das crianças brasileiras.
docente na aprendizagem por meio da O uso das TIC’s nas unidades escolares
interação didática com seus alunos em sala de Educação Infantil tem sido adotado de
de aula, essa interação só se tornará maneira ainda tímida, contudo, parte
possível se a linguagem aluno/professor for significativa das Escolas tem oportunizado
semelhante. Sendo assim, importa esse acesso aos seus alunos em sala de aula.
acrescentar que o docente atual precisa Em contrapartida, existem ainda alunos

6
Informática

que, por suas condições socioeconômicas, trizescurricular es_2012.pdf. Acesso em


não têm acesso a esses recursos, gerando agosto de 2021).
um quadro desigual em todos os sentidos As experiências que envolvem recursos
nos âmbitos escolares. Com essa tecnológicos e midiáticos, não são
perspectiva, Belloni (2005, p.10) destaca contempladas nas práticas pedagógicas da
que Educação Infantil, visto que podem
prejudicar o desenvolvimento infantil.
A escola deve integrar as tecnologias ( ) Certo ( ) Errado
de informação e comunicação porque
elas já estão presentes e influentes em
todas as esferas da vida social, 02. (Prefeitura de São Paulo/SP -
cabendo a escola, especialmente a Coordenador Pedagógico - FCC) A partir
escola pública, atuar no sentido de das expectativas de aprendizagem na
compensar as terríveis desigualdades Educação Infantil, considerando as
sociais e regionais que o acesso linguagens midiáticas e os meios
desigual a essas máquinas está
gerando. tecnológicos presentes nas instituições de
educação infantil, o uso do computador nas
Mediante os estudos dos autores escolas
referenciados, acreditamos que as crianças (A) afasta a criança do seu tempo de ser
são constantemente confrontadas com o criança por promover a interação criança-
quadro cultural escolar e as suas práticas máquina mais que criança-criança.
culturais midiáticas, sendo lidas como (B) integra a criança na cibercultura que
desvinculadas do contexto sociocultural e, povoa o presente das relações sociais e que
portanto, marginalizadas. Os docentes exige o desenvolvimento de habilidades
fazem, em muitos casos, uma leitura adulta adequadas desde cedo.
do alto de suas concepções e se esquecem (C) pode integrar de maneira coerente o
da necessidade que essas crianças possuem universo infantil quando possibilita a
de um intermediador que o aproxime e o inclusão no mundo digital e a ampliação das
insira na cultura escolar de forma formas de aprender e comunicar-se.
igualitária. Logo, ao encontro do (D) facilita o trabalho do professor por
explicitado, corroboramos a importância ampliar o leque de atividades didáticas
dos estudos e autores aludidos, bem como a possíveis e promover boas condições de
relevância da presente pesquisa. concentração nas tarefas.
(E) relativiza a autoridade do professor
Questões por reforçar o fato de que todos somos
aprendizes na interação com o novo e com
01. (Prefeitura de Londrina/PR - o outro.
Professor de Educação Básica - Alternativas
Prefeitura de Londrina/PR/2021) Com 01.Errado/ 02.C
base nas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil, julgue o item:
As práticas pedagógicas que compõem a Apropriação tecnológica.
proposta curricular da Educação Infantil
devem ter como eixos norteadores as
interações e a brincadeira e devem garantir APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA
algumas experiências. (Fonte: Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação A formação docente para a utilização das
Infantil, 2010, p. 25. Disponível em: tecnologias digitais deve considerar
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/dire diferentes contextos4. Entre eles, e

4
https://lilianbacich.com/2018/08/09/etapas-de-apropriacao-das- tecnologias-digitais/

7
Informática

sobretudo, o tempo de apropriação das apresentações, tornando-as mais


tecnologias digitais em situações de ensino interessantes aos estudantes e aproximando
e aprendizagem por parte dos educadores. mais os estudantes dos conceitos com que
Essa não é uma ação que ocorre de um dia devem interagir. Em seguida, o professor
para o outro. Estudos demonstram que se passa por um momento de apropriação;
trata de um movimento gradativo e que nessa situação, ele passa a atuar de forma
ocorrem em etapas até que seja possível mais crítica ao selecionar o que utilizar para
alcançar uma ação crítica e criativa por aprimorar sua prática, inicia um processo de
parte do professor na integração das avaliação do potencial pedagógico dos
tecnologias digitais em sua prática. recursos e começa a desenvolver projetos
A pesquisa Apple Classrooms of que ampliam o uso do recurso digital que
Tomorrow – ACOT (Apple, 1991) era, até o momento, um suporte para a
identificou cinco etapas nesse processo. prática com a qual estava familiarizado.
Finalmente, tem início um processo
denominado inovação, em que a
criatividade passa a ser a tônica e espera-se
que a integração das tecnologias digitais às
práticas pedagógicas seja ainda mais
evidente e eficiente em relação à
aprendizagem dos alunos.
O papel do professor, ao fazer uso das
tecnologias digitais, baseado nos objetivos
de aprendizagem que pretende atingir,
Inicialmente, o professor é exposto ao supõe, portanto, uma análise da abordagem
uso de tecnologias digitais e inicia o pedagógica mais adequada a ser utilizada.
processo de exploração dos recursos, no
sentido de identificar as competências Questões
necessárias para seu uso, compreendendo
técnicas essenciais para lidar com eles. Em 01. (SEDF - Professor de Educação
seguida, ao sentir-se confortável com Básica - CESPE/CEBRASPE) A respeito
alguns recursos básicos, o professor passa a do uso de tecnologias digitais na educação
adotá-lo em algumas práticas. Por exemplo, básica, julgue o item a seguir.
no início do uso dos computadores nas Trazer as inovações tecnológicas para a
escolas, o professor deixa de utilizar a prática pedagógica significa submetê-las à
máquina de escrever e passa a utilizar um dinâmica da sala de aula. Não se trata de
editor de texto ao elaborar uma tarefa a ser utilizar recursos aos quais os alunos já
realizada pelos alunos, ou, mais estejam familiarizados simplesmente para
recentemente, aprende a utilizar um recurso tornar a aula mais atrativa, mas sim de
como o PowerPoint, ou Prezi, e começa a apropriar tais recursos para cumprir com os
utilizá-los em suas aulas. Note-se que propósitos educativos previamente
ocorre apenas uma substituição de um estabelecidos.
recurso já utilizado em sua prática, por ( ) Certo ( ) Errado
outro, mais “tecnológico”. A próxima etapa
é identificada como adaptação; nesse 02. (SES/PE - Analista em Educação
momento, tem início um processo de na Saúde - INSTITUTO AOCP) A
identificar como o recurso pode ser melhor articulação entre Currículo, Saúde e
utilizado para possibilitar um aprendizado Tecnologias Digitais de Informação e
mais eficiente por parte de seus alunos. O Comunicação tem representado um desafio
professor passa a inserir vídeos, ou a ser enfrentado pelos professores no
pequenas simulações em suas cotidiano de suas práticas pedagógicas.

8
Informática

Sobre essa temática, é correto afirmar que uniforme, sem considerar a individualidade
(A) no que diz respeito ao currículo, não de cada pessoa5. Contudo, esse estilo de
há a possibilidade de haver concepções, ensino chamado grosseiramente de
visto que o currículo é definido unicamente “tradicional” já não faz sentido em um
como grade curricular ou divisão em mundo que tem as informações nas palmas
disciplinas. das mãos, com um ou dois toques.
(B) nas escolas onde há melhoria das A era digital mudou drasticamente a
condições para apropriação de tecnologia forma como nos relacionamos na sociedade
em sala de aula, seu uso é sempre superior e trouxe uma agilidade/facilidade nunca
ao esperado, visto que as concepções dos vista às inúmeras ações do cotidiano. Com
professores não influenciam suas práticas isso, abraçar a cultura digital no ensino é
pedagógicas. equiparar a escola às demandas e
(C) a pós-modernidade evidenciou a expectativas do século 21.
irrelevância de outros aspectos nos estudos Para tanto, toda a comunidade escolar —
de currículo, não havendo influência diretores, professores, funcionários,
portanto do multiculturalismo ou de estudantes e família ― precisa estar
questões culturais e de poder. preparada para quebrar velhos paradigmas
(D) o grande desafio da utilização das e assumir uma nova postura pedagógica, o
Tecnologias Digitais de Informação e que é conhecido como educação 4.0.
Comunicação para o ensino é que elas não
são compatíveis com o planejamento do Cultura Digital na Educação
processo educativo e nem com processos
pedagógicos, ficando necessariamente fora Desde que a internet se popularizou (em
do contexto educacional. meados de 1995 até cerca de 2010), os
(E) a concepção de ensino e recursos digitais eram utilizados como uma
aprendizagem revela-se na prática de sala ferramenta de apoio a mais à aula do
de aula e na forma como professores e professor. Nesse contexto, a metodologia
alunos utilizam os recursos tecnológicos de ensino continuava sendo analógica,
disponíveis - livro didático, giz e quadro, porém com algumas intervenções da
televisão ou computador. A presença desse tecnologia.
aparato tecnológico na sala de aula não Atualmente, a grande diferença no
garante mudanças na forma de ensinar e processo de ensino-aprendizagem pautado
aprender. pela tecnologia é que os recursos digitais
Gabarito devem ser efetivamente incorporados ao
01.Certo / 02.E currículo escolar como um meio de
desenvolvimento do projeto pedagógico.
Assim sendo, a cultura digital se refere
Compreensão dos usos das tecnologias e ao uso permanente dos recursos digitais
da cultura digital no cotidiano escolar. existentes e das linguagens associadas ao
que chamamos de mundo digital. A
comunicação passa a ser traduzida por meio
COMPREENSÃO DOS USOS DAS de diferentes formatos (como vídeos,
TECNOLOGIAS E DA CULTURA áudios e animações) e se estende ao uso de
DIGITAL NO COTIDIANO ESCOLAR aplicativos, redes sociais, bibliotecas
virtuais, portais on-line etc.
Ao longo de gerações, a educação nas Tudo isso para que o aprendizado se
escolas foi pautada por uma metodologia torne colaborativo, o estudante assuma o
pedagógica normalmente baseada na papel de protagonista na produção do
replicação de informações de maneira
5
https://escoladainteligencia.com.br/blog/cultura-digital/

9
Informática

próprio conhecimento e tenha a Vantagens da Cultura Digital


possibilidade de vivenciar um ensino mais
personalizado e os relacionamentos As crianças e os jovens usam a
interpessoais se estreitem. tecnologia cada vez mais no dia a dia6.
Então, ela pode ser uma ótima aliada para
Importância para a Formação garantir o seu engajamento no processo de
Integral do Estudante do Século 21 aprendizagem e o desenvolvimento de
competências que levam à formação
Para compreender a importância da integral dos estudantes.
cultura digital na educação, primeiramente Veja a seguir algumas das principais
é preciso entender o que significa vantagens da cultura digital na escola.
“transformação digital”. Especialmente no
mundo corporativo, essa expressão se Atende às Novas Necessidades dos
refere às profundas modificações em Alunos
atividades, processos, competências e Os nativos digitais — crianças e jovens
modelos de negócios e organizacionais para que cresceram em meio à presença de
alavancar totalmente uma mistura de tecnologias digitais — são naturalmente
tecnologias digitais. atraídos por esses recursos e têm facilidade
Consequentemente, a sociedade sofreu para usá-los. Assim, seus comportamentos
um grande impacto, com mudanças e hábitos são bastante diferentes daqueles
presentes e futuras, nas relações de pessoas nascidas em outras épocas.
interpessoais, profissionais e de consumo. As crianças e os adolescentes de hoje
Ou seja, espera-se que, em pouco tempo, estão acostumados a acessar um grande
praticamente todas as nossas ações sejam volume de informações rapidamente,
pautadas pelo digital. navegar na internet, comunicar-se por
A partir dessas premissas, a escola deve dispositivos eletrônicos, jogar videogame
adequar seu projeto político-pedagógico a ou jogos online, assistir a vídeos e desenhos
tais demandas, a fim de oferecer um ensino animados com certa frequência.
que forneça todas as condições para que Eles têm necessidades distintas, então, o
seus estudantes sejam preparados para as ensino tradicional, em que o professor
necessidades que estão por vir. transmite conhecimento e os alunos
De outro lado, a cultura digital, como aprendem de maneira passiva, seguindo o
dissemos, favorece que os estudantes mesmo padrão e estilo, está ultrapassado e
consigam explorar seus potenciais, uma vez não atende às suas demandas.
que a utilização de tecnologias possibilita Diante disso, tem se tornado cada vez
que eles identifiquem a forma como podem mais desafiador prender a atenção deles
aprender melhor. durante as aulas e despertar seu interesse
Por sua vez, o professor tem seu papel na pelos estudos. Por um lado, eles são ávidos
sala de aula ressignificado ao deixar a por descobrir coisas novas. Mas, por outro
posição de detentor do conhecimento para lado, muitas escolas usam métodos que não
ser um tutor no processo de ensino- são suficientemente estimulantes.
aprendizagem. Com isso, talentos podem Implementar uma cultura digital na
ser reconhecidos mais facilmente e os escola é uma maneira de fazer com que o
estudantes têm condições de explorar suas processo de ensino-aprendizagem esteja
maiores aptidões em diferentes áreas. alinhado a essas novas demandas. Assim, é
possível otimizá-lo e engajar seus alunos,
como abordamos a seguir.

6
https://blog.elevaplataforma.com.br/cultura-digital/

10
Informática

Ajuda a Aumentar o Engajamento Permite Desenvolver Competências e


dos Alunos Habilidades Socioemocionais
Quando a escola consegue realmente Uma vez que a cultura digital promove
integrar a tecnologia às suas práticas uma transformação profunda no processo
pedagógicas, é mais fácil engajar os de ensino-aprendizagem, várias habilidades
estudantes. Isso acontece porque os alunos e competências apontadas na BNCC como
se sentem mais estimulados a participar das fundamentais para a vida pessoal e
atividades propostas. profissional de qualquer indivíduo podem
Além disso, a cultura digital possibilita a ser desenvolvidas.
adoção da abordagem do ensino Os estudantes são incentivados a ter uma
individualizado, que permite identificar postura mais ativa, tornando-se
dificuldades e pontos fortes dos alunos. protagonistas de sua aprendizagem, por
Assim, cada um deles consegue se exemplo. Além disso, dependendo de como
desenvolver em seu próprio ritmo e a escola utiliza os recursos digitais, é
conforme seu estilo de aprendizagem. possível estimular a criatividade, o
Consequentemente, o engajamento dos pensamento crítico, a comunicação, a
estudantes aumenta — uma vez que reduz colaboratividade, a liderança, entre outras
as chances de ficarem frustrados por não habilidades socioemocionais.
conseguirem aprender no mesmo ritmo que Desse modo, a escola consegue fornecer
os seus colegas, por exemplo — e eles o ensino integral e forma jovens preparados
aprendem melhor. para enfrentar os desafios que surgirem no
futuro, encontrando soluções efetivas para
Otimiza o Processo de Ensino- problemas e promovendo transformações
Aprendizagem e a Gestão Escolar benéficas para a sociedade.
As ferramentas tecnológicas otimizam
todas as atividades relacionadas ao Relação Entre a Cultura Digital a as
processo de ensino-aprendizagem, desde o Metodologias Ativas de Aprendizagem
planejamento das aulas, passando pelos
deveres de casa e trabalhos em grupo até as As metodologias ativas de aprendizagem
avaliações. constituem uma proposta de trabalho
Então, o trabalho dos professores é pedagógico capaz de modificar a atmosfera
otimizado, pois eles gastam menos tempo da sala de aula ao colocar o estudante no
para planejar as suas aulas e têm mais centro do processo de ensino-aprendizagem
recursos à sua disposição para facilitar a e proporcionar a experimentação dos
explicação de conceitos complexos e conteúdos na prática.
avaliar seus alunos, por exemplo. Graças à tecnologia, as metodologias
Os estudantes também notam a ativas ganham um novo sentido, pois os
praticidade ao resolverem exercícios e recursos digitais são um mecanismo
estudarem em casa. Eles podem fazer isso indispensável à sua promoção. Na
por meio de plataformas digitais, obtendo sequência, veja alguns exemplos.
feedback imediato e entendendo o que
erraram, bem como assistir a videoaulas Ensino Híbrido (Blended Learning)
para esclarecer dúvidas que persistem após A proposta do ensino híbrido é que o
as aulas. estudante desenvolva os conteúdos de
Os benefícios não se limitam a esses dois forma autônoma, mesclando atividades on-
grupos da comunidade escolar. A cultura line e off-line. Utilizando a internet, ele fará
digital também deve estar presente na rotina pesquisas e realizará atividades que
dos diretores de escolas, otimizando complementem os conteúdos abordados em
processos de gestão do colégio. sala de aula.

11
Informática

Aprendizagem Baseada em Projetos Plataformas Adaptativas


Nessa proposta, os estudantes Entre as ferramentas disponíveis
encontrarão soluções para desafios atualmente, as plataformas adaptativas
sugeridos de forma colaborativa. Para isso, merecem destaque. Afinal, elas são
precisarão usar os recursos disponíveis, baseadas na personalização do ensino, que
incluindo a tecnologia ― como é o caso da traz diversos benefícios que já abordamos,
robótica ― de modo a investigar a melhor e oferecem diversos recursos. Alguns deles
forma de chegar ao objetivo desejado. são:
- Videoaulas;
Aprendizagem Baseada em - Questionários;
Problemas - Jogos educacionais;
Enquanto na aprendizagem baseada em - Plano de estudos;
projetos o estudante “põe a mão na massa”, - Estatísticas do desenvolvimento dos
na baseada em problemas ele se debruça alunos;
sobre a teoria. Para facilitar o raciocínio, - Material didático completo;
aplicativos, portais de pesquisa, bibliotecas - Avaliações on-line.
digitais e outros recursos para estudo on-
line devem estar disponíveis. Além disso, o uso de uma plataforma de
ensino permite que o professor torne as suas
Aprendizagem Entre Pares (Peer aulas mais dinâmicas, facilitando a
Instruction) compreensão, maximizando o
Aqui, os estudantes se reúnem para aproveitamento das aulas e engajando os
debater determinados assuntos, e o alunos.
aprendizado acontece com base no Ela também é interessante por permitir
compartilhamento de ideias. O professor que os pais e responsáveis acompanhem de
faz testes e avalia o nível de retenção das perto a evolução das crianças e
informações. Essa mensuração pode ser adolescentes, já que as informações ficam
feita por meio de aplicativos que fornecem registradas na plataforma.
dados sobre quais conteúdos precisam de
maior atenção e o que a classe realmente Ambiente Virtual de Aprendizagem
reteve. (AVA)
O próprio site da escola pode se
Recursos que Podem Ajudar a transformar em uma grande ferramenta
Desenvolver uma Cultura Digital na pedagógica a partir da instalação de um
Escola Ambiente Virtual de Aprendizagem. Assim
como nos cursos de Educação a Distância
Como podemos observar, abraçar a (EAD), o “AVA”, como é chamado, rompe
cultura digital implica a escola passar a com as barreiras físicas da escola, e o
pensar digitalmente. Assim como na estudante tem acesso a muitos ― senão a
indústria, isso significa que todos os todos ― conteúdos ou materiais de que
processos (ou, pelo menos, a maioria deles) necessita para seus estudos.
outrora analógicos passem a acontecer por Além disso, trata-se de um canal
meios digitais — o que inclui desde as áreas importante de comunicação com a família,
administrativa, pedagógica, de uma vez que toda a vida escolar do
comunicação até a segurança, apenas para estudante está registrada no AVA. Em
citar alguns. outras palavras, é como se fosse uma
Abaixo, vamos apontar alguns recursos mochila escolar digital, só que em vez de
digitais que podem auxiliar a criação de papel, livros e cadernos físicos, abriga todas
uma cultura na escola em torno da essas informações on-line, de forma
tecnologia no âmbito pedagógico. totalmente segura.

12
Informática

Aulas de Programação concentrados em um tablet, eliminam o


Há algum tempo, a robótica se faz peso das mochilas e otimizam o espaço
presente em boa parte das escolas físico, além de estimularem a leitura, uma
brasileiras. Mas é possível ir além. vez que é possível haver interações dos
Começou a circular pelo mercado de estudantes com os conteúdos.
trabalho um bordão que faz todo sentido ao Além disso, trata-se de uma
presente cenário tecnológico: “A oportunidade para os professores se
programação é o novo inglês”, como atualizarem para a utilização dos recursos
intitula uma reportagem do G1. Por isso, as digitais em sala de aula e para a própria
escolas devem se antecipar a mais essa escola ampliar sua infraestrutura
demanda e implantar essa atividade em seu tecnológica.
currículo.
De forma lúdica, o estudante aprenderá Google Education
conceitos importantes de programação, É um conjunto de ferramentas na nuvem
como desenvolvimento de softwares e que pode ajudar o estudante a aumentar as
sistemas de informação, sempre de forma oportunidades de pensamento crítico,
transversal com outras disciplinas. comunicação, colaboração e criatividade,
além de apoiar os objetivos de aprendizado.
Gamificação Inclui e-mail, drive, sala de aula,
A proposta da gamificação é trazer o documentos, planilhas, apresentações,
conceito e a dinâmica dos jogos para a sala sites, calendário e suporte 24 horas.
de aula, sendo esta considerada também
uma metodologia ativa de aprendizagem. Como a Cultura Digital Pode Auxiliar
Embora, como as demais, não necessite da no Desenvolvimento das Competências
tecnologia para acontecer, o mundo dos da BNCC?
jogos virtuais torna-se um relevante canal
para exploração dos conteúdos. A cultura digital é uma das 10
competências gerais presentes na BNCC a
Redes Sociais serem desenvolvidas na educação básica.
As redes sociais são um importante meio Ela justifica o papel essencial da tecnologia
de conectar os estudantes, não apenas com para o ser humano e estabelece que o
os conteúdos programáticos, mas também estudante precisa ter domínio do universo
no que tange ao relacionamento digital.
interpessoal. Nesse aspecto, usando as Para isso, é preciso fazer uso das
mídias sociais de forma criativa, é possível ferramentas digitais de forma ética e
garantir que estudantes, atuais e passados, e qualificada, bem como compreender o
suas famílias se sintam conectados à escola, pensamento computacional e como a
o que cria neles uma sensação de tecnologia é capaz de impactar tanto a vida
pertencimento. das pessoas quanto a sociedade como um
Toda a comunidade escolar tem acesso todo.
― inclusive em tempo real ― a atividades Dessa forma, a cultura digital deve ser
comemorativas, projetos, aulas especiais e trabalhada na escola em conjunto com os
palestras e os próprios estudantes ganham demais componentes curriculares, já que o
voz ao terem a possibilidade de atuar domínio global dos principais fundamentos
ativamente nas redes. da tecnologia conecta pensamentos e
elimina as desigualdades.
Livros Digitais Com isso, para que a escola esteja
Aos poucos, as escolas também estão preparada para abraçar a cultura digital, é
substituindo os livros físicos pelos digitais. preciso estabelecer o planejamento de uma
As vantagens são inúmeras. Como ficam agenda de implementações que inclua a

13
Informática

adequação do projeto pedagógico, desenvolvimento de aulas virtuais e se


melhorias na infraestrutura, capacitação dos caracterizam por permitir a discussão de
professores e qualificação dos estudantes diferentes temas entre os estudantes e a
para o uso das tecnologias. troca de mensagens em tempo real.
A cultura digital é imprescindível para o
estudante hiperconectado desta geração. 02. (SEDUC/SP - Supervisor de
Em meio a essa questão, também estão o Ensino - VUNESP/2019) Danilo, Diretor
pensamento crítico e a gestão das emoções. de Escola, participou de um curso na Escola
de Formação e Aperfeiçoamento dos
Questões Professores “Paulo Renato Costa Souza” –
EFAP relativo às teorias e práticas de
01. (SEED/PR - Professor - gestão escolar, docência e processos de
CESPE/CEBRASPE/2021) A cultura ensino e aprendizagem. Como os demais
digital abrange os processos de cursos oferecidos pela EFAP, esse baseou-
transformação socioculturais que se no documento Eixos de Formação São
acontecem com o uso das tecnologias Paulo (SEE/EFAP, 2017). Dos cursos de
digitais de comunicação e informação formação continuada para Diretores de
(TDIC). Na educação, trabalhar nessa Escola realizados pela EFAP, Danilo
perspectiva permite coligar aos processos e escolheu as seguintes disciplinas: Gestão
às práticas educacionais novas formas de Educacional e Grandes Temas da
aprender e ensinar. A respeito de Educação.
tecnologias educacionais, assinale a opção Quanto à disciplina Grandes Temas da
correta. Educação, ela foi dividida nos seguintes
(A) Por intermédio de ferramentas Temas: Alfabetização; Avaliação
síncronas, a interação entre professores e Educacional; Cultura Digital; Cultura
estudantes, embora não seja obrigatória, Inclusiva; Currículo; Liderança
possibilita a colaboração entre os Educacional; Temas Transversais e Direito
participantes e a elucidação de dúvidas em Educacional. Na pesquisa de satisfação
tempo real. realizada no final da referida disciplina,
(B) As metodologias ativas apresentam Danilo elogiou muito a forma como foi
grande dificuldade de adaptação às trabalhado o tema cujo objetivo consistia
tecnologias digitais, porque, nessas em fornecer novas formas de expressão, de
metodologias, o estudante deve adotar uma relação com as informações
postura participativa, enquanto as (acompanhamento, controle, organização e
tecnologias digitais implicam a construção atualização de dados) e novos modos de
do conhecimento baseada na transmissão de interação, a partir da flexibilização do
informação. tempo e do espaço. Portanto, ao tecer tal
(C) A utilização de ferramentas elogio, Danilo estava se referindo ao tema
assíncronas condiciona o aprendizado e a (A) alfabetização.
conclusão das tarefas à conexão, em (B) avaliação educacional.
momento real, de forma simultânea, de (C) cultura inclusiva.
estudantes e professores. (D) cultura digital.
(D) As ferramentas que permitem uma (E) currículo.
maior liberdade aos professores e
estudantes também restringem suas Alternativas
autonomias, por possibilitarem a opção de 01.A / 02.D
gravação das aulas e demandarem um
controle alternativo da rotina de estudos.
(E) Os chats e os fóruns fazem parte do
mesmo grupo de ferramentas de

14
Informática

Ferramentas e Tecnologias Digitais


Promoção de práticas pedagógicas, para Uso Pedagógico
reflexivas, colaborativas e dialógicas
utilizando recursos tecnológicos. No contexto da cultura digital, em que a
vida de estudantes e professores está
permeada por diversas tecnologias digitais
PROMOÇÃO DE PRÁTICAS de informação e comunicação, podem ser
PEDAGÓGICAS, REFLEXIVAS, listadas várias opções de ferramentas para
COLABORATIVAS E DIALÓGICAS uso pedagógico, com vistas à melhoria da
UTILIZANDO RECURSOS qualidade do ensino-aprendizagem. Nesse
TECNOLÓGICOS sentido, abaixo algumas categorias das
principais ferramentas que um educador
Numa sociedade intensamente permeada pode explorar em suas atividades
pelas tecnologias digitais de informação e pedagógicas.
comunicação (TDIC), é importante discutir
sobre como explorar, de modo mais prático, Ferramentas para Atividades Mão na
as possibilidades tecnológicas de forma Massa
significativa e efetiva em âmbito As abordagens mão na massa primam
educacional7. Essa presença das TDIC no pela concepção e execução de atividades,
contexto educacional tem modificado por educandos e professores, numa
substancialmente as práticas e, por perspectiva de aprender fazendo.
decorrência, as concepções que nós, Geralmente, são formas de ensino-
educadores, temos sobre o processo de aprendizagem interdisciplinar com alto
ensino--aprendizagem, especialmente potencial para engajar o estudante na
nesses tempos de cultura digital. Emergem- própria aprendizagem. Enquanto realizam
-se, nesse cenário, novas formas de ensinar na prática determinadas tarefas e ações com
e estratégias pedagógicas que estejam mais os colegas e educadores, os estudantes
alinhadas às novas demandas que eclodem desenvolvem habilidades essenciais à vida,
na contemporaneidade. Um dos à cidadania e aos conteúdos curriculares.
questionamentos pertinentes diz respeito a: Esse grupo de estratégias pedagógicas é
como relacionar teorias e diferentes classificado como metodologias ativas pelo
métodos didáticos às ferramentas digitais seu potencial para desenvolver
disponíveis para o professor atualmente? aprendizagem ativa e aliar teoria e prática.
Esta questão tem seus desdobramentos: Nesse sentido, as atividades mão na massa
Quais ferramentas ou tecnologias podem geralmente embasam projetos desafiadores
ser mais adequadas para situações em sala e estimulam o interesse dos estudantes,
de aula? De que recursos o professor pode engajando-os especialmente porque
lançar mão para imbuir suas aulas de fomentam reflexões vinculadas à sua
tecnologias digitais com bom potencial realidade ou ao seu contexto.
pedagógico? Quais concepções teóricas Exemplos dessas estratégias
podem embasar os usos das diferentes pedagógicas são o movimento Maker, a
ferramentas disponíveis para o educador? abordagem Steam (Science, Technology,
Quais conteúdos podem ser ensinados por Engineering, Arts e Mathematics), a
meio das ferramentas e tecnologias? De robótica pedagógica, as propostas Fab-Labs
algum modo, estes são alguns dos etc. Em cada uma dessas abordagens,
questionamentos que permeiam e norteiam podem ser adotadas ferramentas
as reflexões sobre as práticas pedagógicas (analógicas ou digitais) distintas, com
utilizando recursos tecnológicos. grande destaque para as tecnologias digitais

7
MILL, D.; VELOSO, B. G. Práticas Pedagógicas com Tecnologias Digitais: reflexões propositivas.

15
Informática

de informação e comunicação (TDIC), tais e/ou edição de áudio, imagem e vídeo são
como dispositivos robóticos (proprietários muito bem aceitas e estimulantes, podendo
ou livres), laboratórios fixos ou ambulantes, ser adotadas ferramentas simples e gratuitas
softwares de edição de imagens, vídeos, para edição de imagem, sons e vídeos
músicas e/ou textos, simuladores, captados por celulares (smartphones) ou
aplicativos de realidade aumentada e/ou câmeras fotográficas. Desta forma, as
realidade virtual etc. Enfim, existe hoje tecnologias digitais promovem o
uma infinidade de opções de ferramentas audiovisual como meio de aprendizagem
para diferentes formatos de propostas mão ativa para conteúdos curriculares diversos.
na massa. Por isso, é importante conhecer o
máximo de opções tecnológicas para adotar
aquelas mais adequadas à abordagem Ferramentas de Realidade Virtual e
pedagógica que se pretenda implementar. Realidade Aumentada
O que é a Realidade Virtual (RV) e a
Ferramentas de Audiovisual Realidade Aumentada (RA)? É necessário
Explorar atividades pedagógicas por esclarecer o que são e que uma difere da
meio de audiovisual sempre se mostrou ser outra, embora sejam temas diretamente
estratégia interessante porque motivam, associados e muitas vezes usados juntos, na
engajam e desenvolvem habilidades perspectiva da realidade misturada. Numa
técnicas, comunicacionais, interpessoais definição geral, podemos dizer que a
(como a coletividade e o trabalho em realidade virtual é uma tecnologia de
equipe), dentre outras. Assim, considerando interface entre o usuário e um sistema
as facilidades de criação, produção, edição operacional, com recursos ou dispositivos
e/ou acesso a materiais audiovisuais, esta (óculos, capacetes, headsets etc.) e efeitos
pode ser uma ótima possibilidade para visuais, sonoros e táteis, proporcionando a
propostas transdisciplinares, como sensação de presença em ambientes
pedagogia por projetos ou estratégias diferentes daquele em que o indivíduo se
pedagógicas coletivas similares. encontra. Por meio de um conjunto de
Basicamente, essa categoria de ferramentas dispositivos e tecnologias digitais, o
tecnológicas é composta de aplicativos de usuário imerge em realidades simuladas
captação e edição audiovisual (imagens, para desfrutar de sensações, experimentar
sons, músicas, vídeos etc.), produção e uso cenários e atividades muitas vezes
de videoaulas sobre conteúdos curriculares, incomuns no mundo físico.
cursos on-line etc. Por seu turno, a realidade aumentada é
A depender do tipo de uso do uma experiência que sobrepõe objetos
audiovisual no processo de ensino- virtuais ao ambiente real, proporcionando
aprendizagem, podemos agrupar as ao usuário a ilusão de que os objetos reais e
possibilidades tecnológicas ou ferramentas virtuais coexistem no mesmo espaço.
em três categorias: a) produção e/ou edição Assim, diferentemente da realidade virtual,
de audiovisual; b) uso de videoaulas a realidade aumentada pressupõe atenção e
próprias ou disponíveis na internet; e c) presença do usuário no mundo real,
adoção de cursos on-line como apoio ou enquanto expande as suas possibilidades
complemento aos conteúdos tratados em pelo povoamento do mundo real com
sala de aula. Cada categoria dessas guarda elementos imaginários virtuais. A RA
ricas possibilidades técnico-pedagógicas e busca desenvolver novas formas de
pode experienciar o mundo real, numa
ser adotada em situações específicas, de perspectiva distinta das mídias tradicionais,
modo complementar ou individualizado. como os livros, filmes e mesmo a RV.
Por exemplo, em propostas de Pela imersão (quase completa) nesses
aprendizagem com crianças, a produção ambientes simulados, a RV e a RA podem

16
Informática

ser exploradas com grande e ímpar riqueza elementos dos games em situação de não
também no contexto educacional. De um jogo. Isto é, o professor lança mão de
modo ou outro, podem ser explorados estratégias como recompensas, atividades
elementos virtuais para contribuir com a em grupo, ranqueamento baseado nas
aprendizagem e compreensão de elementos conquistas dos
da realidade do mundo físico, podendo alunos, dentre outros aspectos que
trazer benefícios ao ensino-aprendizagem estimulam a aprendizagem e o
pela maior interação e compreensão que engajamento. Ademais, salienta-se que são
cerca o usuário/educando. Na cultura vários os exemplos de games, tanto
digital, essas noções de RV e RA são educacionais como voltados ao
destaques, especialmente por seu potencial entretenimento, que podem ser profícuos a
alternativo ao real, pois tecnologias dessa diferentes áreas e disciplinas.
natureza costumam estimular o interesse de No âmbito dos games voltados ao
crianças e adolescentes, com grande entretenimento, mas que possuem
sucesso na representação de certa magia conteúdos que podem ser explorados pela
pela manipulação do real (físico, orgânico e educação, citam-se: Valiant Hearts, com
inorgânico), possibilitando maior temática da Primeira Guerra Mundial;
engajamento e interesse em projetos Minecraft, que traz conteúdos atinentes à
pedagógicos com diversos formatos e geologia e a outras áreas; Dreams, um
conteúdos curriculares. sistema de criação
de jogos em que se pode ensinar
Ferramentas de Jogos e Games programação, física, lógica e outros
Games são jogos eletrônicos que podem conteúdos; etc. Quando nos referimos a
ser jogados em televisões, computadores, games com finalidades educacionais, são
laptops, consoles (como Playstation, Xbox vastas as opções, tais como o site Racha
e Wii), smartphones e tablets. Segundo Cuca, que possui jogos para diferentes áreas
Alves (2018, p. 381), "o jogo digital é um do conhecimento; o Português Coruja, que
artefato cultural mediado por suportes ensina conteúdos da Língua Portuguesa; o
informáticos [...] que visam a atividades Mestre da Matemática, explorando
com fins de entretenimento ou outros, a conteúdos matemáticos; dentre outros.
exemplo dos jogos pedagógicos". Isso Enfim, são muitas as opções, e cabe ao
significa que nem todo jogo digital pode ser professor identificar as potencialidades e as
considerado como educacional. limitações, objetivando selecionar jogos
Existem, pois, games que são que estejam mais adequados à sua proposta
desenvolvidos com finalidades pedagógica.
precipuamente didáticas e educativas.
Outros, no entanto, circunscrevem-se aos Ferramentas em Nuvem
objetivos de entretenimento. De acordo Dados os avanços atinentes às
com Grübel e Bez (2006), os jogos com tecnologias digitais e à velocidade e
finalidades educativas podem facilitar o estabilidade de conexão da internet,
processo de ensino-aprendizagem, servindo existem, hoje, ferramentas para
como ótimo recurso didático ou estratégia armazenamento e produção de conteúdo na
para os educadores. nuvem. Quando nos referimos ao termo
São várias as teorias que procuram "nuvem", estamos tratando, em síntese, da
fundamentar a incorporação dos games ao utilização de recursos computacionais
processo de ensino e aprendizagem variados, como armazenamento e
(MATTAR, 2018, p. 275). Nesse sentido, aplicações para internet, que podem ser
um jogo pode ser utilizado à luz de acessados virtualmente de qualquer local,
propostas como a gamificação. desde que se possua um dispositivo
Esta que, por sua vez, se refere ao uso de conectado à rede mundial de computadores.

17
Informática

As vantagens disso são múltiplas, por físico, demandariam configurações técnicas


exemplo, a possibilidade de ter à disposição mais avançadas, porém, a partir do
conteúdos variados sem a necessidade de compartilhamento, em nuvem, das
utilizar um mesmo computador físico, ou configurações de computadores remotos,
também lançar mão de aplicações que possibilita o acesso em tempo real a vários
demandam configurações avançadas, talvez games, desde que se possua uma boa
inviáveis para um dispositivo pessoal, mas conexão com a internet. Enfim, as
que podem ser acessadas pelo ferramentas em nuvem utilizam-se das
compartilhamento, em nuvem, das possibilidades tecnológicas e proporcionam
configurações técnicas de uma série de vantagens que podem ser
supercomputadores. Aliás, algumas exploradas na educação.
ferramentas permitem o trabalho remoto, Cabe ao usuário definir as opções que
mediante o compartilhamento de arquivos, podem ser mais bem utilizadas em sua
a elaboração de planilhas e textos, além de prática.
outras possibilidades que conectam
usuários dispersos no espaço e no tempo. Ferramentas para Atividades com
Pensando no uso pedagógico, as Redes sociais
ferramentas em nuvem possuem As redes sociais são espaços virtuais nos
aplicabilidade em quaisquer disciplinas. quais sujeitos se conectam de diferentes
Elas podem conectar professores e alunos formas. Atuando como receptores, mas
em propostas de ensino-aprendizagem também como produtores de conteúdo, os
variadas, permitindo o compartilhamento usuários estabelecem relações intrincadas
de conteúdos em várias mídias, além de que envolvem as possibilidades da
propiciar o trabalho em grupo, contanto que tecnologia e, mormente, da internet. Quer
os usuários se conectem à internet e tenham dizer que, nas redes sociais, estão presentes
acesso àquilo que está disponível variados recursos midiáticos, como vídeos,
virtualmente. O docente também pode se hiperlinks, áudios, imagens, texto e outras
utilizar do armazenamento em nuvem para tantas possibilidades que estabelecem
manter arquivos sem estar limitado a um comunicação entre os envolvidos. Nesses
mesmo computador físico, além de garantir espaços virtuais, as pessoas relacionam-se
a cópia de segurança dos seus dados. Tal de distintas maneiras, compartilhando
como referido, a computação em nuvem interesses, objetivos e valores em comum.
refere-se, ainda, ao uso de aplicações Hodiernamente, muito daquilo que se
complexas e que talvez não poderiam ser produz na internet se relaciona, em alguma
acessadas por um computador pessoal medida, a essas redes.
simples, o que permite o uso, por exemplo, Considerando-se toda a sua influência
de jogos, de modo que o docente precisará, nas relações humanas contemporâneas,
em vez de um dispositivo com configuração esses espaços de conexão virtual também
técnica mais avançada, de uma conexão podem ser utilizados em âmbito
mais rápida com a internet. educacional. A convergência midiática
Dentre as opções disponíveis, há os propiciada pela internet e amplamente
serviços de armazenamento, como o utilizada nas redes sociais possibilita que
OneDrive, o DropBox e o Google Drive. docentes e discentes se conectem de
Este, por exemplo, conta com uma série de variadas formas, a partir de recursos
ferramentas para edição e criação de textos, tecnológicos diversos. A título de exemplo,
planilhas e slides, além de permitir a salas virtuais específicas, como grupos,
elaboração de formulários. Podemos citar, podem ser criadas com a finalidade de
inclusive, o Google Stadia, um serviço de compartilhar conteúdos de uma disciplina.
streaming que proporciona ao usuário uma Vídeos, textos, imagens e outros arquivos
biblioteca de jogos que, num computador podem ser acessados pelos membros de

18
Informática

uma mesma comunidade. Haja vista a Atualmente, existem diferentes opções,


profusão de recursos disponíveis das quais podemos destacar os AVA como
virtualmente, são quase infinitas as o Moodle, a BlackBoard e o Amadeus. Há
possibilidades de uso das redes sociais, pois também outras ferramentas de gestão
conteúdos da internet podem ser bastante populares, como o Google
compartilhados e utilizados de muitas Classroom. Independentemente das
maneiras dentro desses espaços. especificidades técnicas de cada uma delas,
Atualmente, existe uma gama de opções suas possibilidades permitem o uso tanto
para usuários que buscam se conectar em em propostas de educação a distância como
espaços virtuais. Cada uma delas volta-se de ensino híbrido (blended learning), sala
mais especificamente a um conjunto de de aula ou aprendizagem invertida etc. É
finalidades. O Facebook é a rede social fundamental que o profissional tenha
mais acessada no conhecimento das capacidades técnicas de
mundo, e seu uso é bastante amplo, cada ferramenta, identificando as opções de
abrangendo múltiplos interesses. Mas criação e armazenamento de conteúdo, a
existem exemplos com objetivos mais fim de explorar aquelas que estejam em
restritos, como: Instagram, voltado consonância com as suas intenções para a
preponderantemente ao compartilhamento gestão do processo de ensino-
de fotos; Twitter, que enfoca aprendizagem.
o compartilhamento de mensagens curtas;
LinkedIn, direcionado a perfis Práticas Pedagógicas com Abordagem
profissionais; dentre outros. Por terem uso da Aprendizagem Ativa
bastante amplo, a aplicação das redes
sociais na educação demanda Essas tecnologias que apresentamos
conhecimento aprofundado por parte do anteriormente podem ser trabalhadas no
professor, a fim de estabelecer objetivos ensino-aprendizagem, em sala de aula ou
que conduzam propostas de ensino- extraclasse, na perspectiva da
aprendizagem bem delimitadas e com aprendizagem ativa e/ou metodologia ativa.
intenções pedagógicas bem definidas. Essas abordagens têm se tornado populares
no contexto da cultura digital,
Ferramentas para Gestão do Ensino- especialmente pelo seu potencial para
Aprendizagem proporcionar aprendizagens mais
As tecnologias digitais também podem significativas e efetivas. Buscando
ser aliadas da gestão do processo de ensino- promover ensino-aprendizagem mais
aprendizagem. Existem variadas opções coerente com a cultura digital, autores
que permitem ao professor disponibilizar como Moran (2015) e Mattar (2017)
conteúdos em diferentes mídias, bem como sugerem que sejam exploradas as chamadas
elaborar várias atividades explorando um metodologias ativas de aprendizagem.
conjunto de ferramentas em sites, Nesse sentido, parece evidente que as
softwares, ambientes virtuais de propostas pedagógicas apresentadas se
aprendizagem (AVA) e outros recursos integram adequadamente às estratégias
disponíveis para gerir propostas didáticas e didático-pedagógicas das metodologias
pedagógicas. Grosso modo, o professor ativas, especialmente pelo seu grande
pode reunir arquivos de texto, elaborar potencial de estímulo à participação e ao
conteúdos audiovisuais, indicar sites e engajamento dos estudantes, de modo a
páginas da internet, além de poder criar despertar a curiosidade e fomentar a
atividades como fóruns para discussão aprendizagem efetiva.
virtual assíncrona, questionários, chat para Basicamente, as metodologias ativas,
comunicação síncrona, dentre outros. como abordagem didática, buscam inverter
a lógica tradicional de ensino-

19
Informática

aprendizagem, substituindo a posição didático-pedagógicas mais efetivas, mais


passiva do estudante, que é marcada pela contextualizadas com a cultura digital têm
recepção de conhecimentos, por uma como princípio a superação do modelo
posição de protagonista do próprio tradicional de ensino-aprendizagem (que
aprendizado. Assim, a Aprendizagem Ativa historicamente se voltou para o ensino, o
está relacionada a um conjunto de práticas docente ou, ainda, para os conteúdos) e
pedagógicas que consideram o estudante consideram em sua concepção e aplicação
como corresponsável pelo próprio processo os aspectos essenciais apresentados na
de construção do conhecimento, que se figura abaixo.
desenvolve de maneira mais autônoma,
participativa, colaborativa e ativa quando
integramos as TDIC no ensino-
aprendizagem. Observa-se que essas
tecnologias agregam diversos tipos de
ferramentas e materiais com ricas
possibilidades de uso pedagógico. São
contribuições em formato textual,
audiovisual, animações, vídeos, videoaulas,
podcasts, apresentações em slides, mapas
conceituais, pôsteres e infográficos,
repositórios de objetos de aprendizagem
e/ou recursos educacionais abertos (REA), Com o professor e os estudantes
sites e bases de dados diversos etc. predispostos a participar de atividades
Sendo assim, merecem destaque, nesse disruptivas e com vontade de inovar no
cenário de aplicação das tecnologias ensino-aprendizagem, podemos descrever
digitais no ensino-aprendizagem, as
abordagens didático--pedagógicas que brevemente os elementos ou aspectos
desejamos imprimir nas propostas que indicados na figura, como se segue:
elaboramos, que podem ser caracterizadas - Desafio (atividades inquietantes pela
como mais (ou menos) ativas de acordo busca de soluções): as atividades precisam
com a intensidade de envolvimento dos desafiar o estudante para que se envolva
alunos em atividades práticas ou situações efetivamente no processo de construção do
de aprendizagem didaticamente próprio conhecimento, estimulando sua
organizadas. Essa perspectiva tem relação vontade de aprender.
direta com o potencial das metodologias - Engajamento (atividades
ativas de colaborar para o engajamento dos motivadoras e envolventes): a
estudantes em estratégias cognitivas, como aprendizagem ocorre mais facilmente
protagonistas da sua aprendizagem, quando o estudante está genuinamente
estimulando a reflexão sobre suas práticas, envolvido com a atividade pedagógica, em
aguçando a sua capacidade crítica e iniciativas de aprendizagem ativa que
explorando atitudes pessoais e valores articulem teoria e prática (aplicação prática
sociais. Conforme Mill (2020), esse de conhecimentos tratados teoricamente).
processo compreende elementos como - Contextualização (significação pelo
autonomia, senso crítico, criatividade, vínculo com a realidade experienciada):
colaboração, pesquisa, investigação, a aprendizagem é mais significativa quando
comunicação, tomada de decisões, o estudante percebe o conhecimento a ser
socialização, trabalho em equipe, aprendido de modo contextualizado e
confiança, participação, empatia, interessante para suas práticas sociais
engajamento, responsabilidade, resolução cotidianas, pois costuma se envolver mais
de problemas, ludicidade, diálogo,
construção do conhecimento etc. nos projetos quando percebe os vínculos
Dito de outra forma, como já destacamos com a realidade e com os seus
em Mill (2020), as diversas práticas conhecimentos prévios dessa realidade.

20
Informática

- Mão na massa (atividades práticas e – muitas delas gratuitas e de fácil acesso por
com significado): como um dos pilares da parte de professores e outros profissionais
aprendizagem ativa, a cultura mão na massa da educação. Contudo, antes de adotar
mostra-se essencial para a melhoria do qualquer recurso tecnológico no processo
ensino-aprendizagem, explorando de ensino-aprendizagem, é sempre
estratégias de "aprender fazendo" ou de essencial que o docente tenha um bom
"faça você mesmo" como forma de aliar embasamento teórico para respaldar a sua
teoria e prática. prática. A consciência crítica também é
- Protagonismo (estudante como fundamental, na medida em que permite
sujeito e autor da aprendizagem): como desvelar as potencialidades e limitações das
já argumentamos anteriormente, a base das tecnologias digitais, sem incorrer numa
metodologias ativas é o protagonismo do ingenuidade que atribua a elas toda a
estudante, sendo essencial incentivá-lo responsabilidade por garantir a qualidade
como sujeito e autor da própria da educação em geral.
aprendizagem, como corresponsável pela
aprendizagem e como centro do processo Questões
pedagógico.
- Coletividade (aprendizagem em 01. (Prefeitura de Pitangueiras/SP -
grupos, no contato com pares): as Professor Educação Básica II - Instituto
estratégias de aprendizagem ativa são Consulplan/2019) Conforme José
normalmente permeadas pela interação, Armando Valente (2017), um dos autores
pelo diálogo e pela colaboração entre pares, de “Metodologias ativas para uma educação
com colegas estudantes e com professores – inovadora”, as metodologias ativas são
o que ressalta a importância das atividades entendidas como práticas pedagógicas
em grupos, das oportunidades que o alternativas ao ensino tradicional. Elas
coletivo apresenta aos componentes da colocam o foco do processo de ensino e de
equipe, na socialização de informações e aprendizagem no aprendiz, envolvendo-o
experiências, no diálogo e na inteligência na aprendizagem por meio da:
coletiva. (A) Resolução de problemas.
(B) Educação por Paulo Freire
Esses aspectos devem ser considerados denominada “bancária”.
como intimamente inter-relacionados, (C) Transmissão de informações
senão interdependentes, e sempre numa centrada no professor.
perspectiva de superar limitações da (D) Observância a instruções lidas em
abordagem pedagógica do ensino manuais técnicos.
tradicional, costumeiramente mais voltada
ao conteúdo e ao professor como detentor e 02. (MGS - Pedagogia - IBFC) O uso
transmissor de conhecimentos aos das novas tecnologias na educação pode
estudantes, ouvintes e passivos. promover algumas mudanças na
Geralmente, eles podem ser trabalhados abordagem pedagógica tornando o processo
com base em propostas pedagógicas com de transmissão de conhecimento mais
diferentes configurações e contextos, com dinâmico e criativo. Diversas habilidades
todas as indicações (categorias e exemplos) podem ser praticadas no ensino escolar,
feitas. facilitando os tipos de comunicação e
Portanto, busca-se oferecer subsídios interação entre os professores e os alunos.
que possam despertar o interesse pelo uso Dessa forma, o uso das novas tecnologias
das TDIC de forma realmente significativa na escola pode:
e efetiva em sala de aula. I. Oportunizar ao professor diferentes
Consideramos que, atualmente, há uma formas e recursos de ensino e
infinidade de opções disponíveis na internet aprendizagem.

21
Informática

II. Estabelecer novas relações com o diversificada de uma forma de ensinar


saber. diferente, aprender e agir, tendo dessa
III. Envolver os alunos para novas forma uma cultura popular modernista e
descobertas. suas formas de ensinar que os cercam
IV. Contribuir para as práticas (Martinsi, 2008). Assim, diante das
educacionais. pesquisas e leituras realizadas durante o
V. Utilizar o computador somente como processo, observa-se que as TIC
fonte de informação. proporcionam um acesso rápido às
informações atualizadas através de
Assinale a alternativa correta: mecanismos automáticos de buscas e isso
(A) I, II, III e IV apenas. mostrou que elas auxiliam de fato no
(B) I, II e III apenas. processo de ensino-aprendizagem gerindo
(C) I, II, III e V apenas. muitas contribuições para o ensino na
(D) I, II, IV e V apenas. escola (Almeida, 2003).
Notamos que as TIC nos oferecem
Alternativas diversos recursos que podem ser utilizados
01.A / 02.A como ferramentas didáticas pedagógicas
em sala de aula para ser cada dia inseridas
em sala de aula, pois se torna essencial para
Papel e uso das Tecnologias da o processo de ensino-aprendizagem. Para
Informação e Comunicação. Kenski (2007, p.46), “Não há dúvida de que
as novas tecnologias de comunicação e
informação trouxeram mudanças
PAPEL E USO DAS TECNOLOGIAS consideráveis e positivas para a educação”.
DA INFORMAÇÃO E Diante disso, podemos compreender que a
COMUNICAÇÃO utilização das tecnologias em sala de aula
pode contribuir para o processo de
Atualmente, a sociedade vive um aprendizagem do aluno e também para sua
constante processo de globalização, interação com o ambiente em que estiver
principalmente a população mais jovem, inserida e com os indivíduos que os rodeia,
que ocasiona os avanços das tecnologias, tornando dessa maneira a sala de aula um
sobretudo aquelas relacionadas à espaço mais atrativo e interativo para todos
informação e comunicação8. Nesse sentido, os envolvidos no processo.
o que nos motivou pesquisar este tema foi à Diante do exposto, passamos a fazer o
necessidade de aprofundarmos os nossos seguinte questionamento: quais as
conhecimentos acerca da importância da contribuições da inserção das TIC no
inserção das tecnologias de informação e processo de ensino-aprendizagem?
comunicação (TIC) no processo de ensino- Para responder essa questão, elencamos
aprendizagem. É notório que as TIC tornam como objetivo geral analisar as
as aulas mais atrativas e os alunos têm a contribuições da inserção das TIC no
oportunidade deconstruir conhecimentos de processo de ensino-aprendizagem.
forma autônoma e significativa. Definimos os seguintes objetivos
Nesse sentido, o grande desafio de uma específicos de investigação: Refletir sobre a
sociedade moderna exige de todos nós uma importância da incorporação de novas
reflexão para um educar contemporâneo, metodologias na sala de aula; discutir a
que proporcione modificar os métodos importância da inserção das TIC no
atuais do modo de ensinar, oferecendo para processo de ensino-aprendizagem;
as novas gerações uma interação identificar os impactos das TIC no processo

8
LIMA, M. F.; ARAÚJO, J. F. S. A utilização das tecnologias de processo de ensino-aprendizagem.
informação e comunicação como recurso didático-pedagógico no

22
Informática

de ensino-aprendizagem dos alunos; refletir funcionais para um melhor suporte no


sobre a importância da inserção das TIC na processo de ensino-aprendizagem. Diante
Educação Infantil. desse entendimento, Vieira (2011) destaca
Consideramos o estudo da temática alternativas para o uso das TIC, destacando
a importância de o professor utilizar as TIC
relevante, pois não basta só unir o para facilitar a transição do conhecimento,
tradicional com o renovado é preciso que as pois o mesmo auxilia nesse aprendizado no
TIC viabilizem o aumento do aprendizado dia a dia; além disso, ele consegue instruir
dos alunos no processo de ensino- os alunos a caracterizar seus próprios
aprendizagem permitindo a opção de aliar conhecimentos, reconstruí-los e
uma metodologia antiga a uma nova forma materializá-los por meio de novas
de construção de conhecimentos, pois a linguagens. Diante desse processo, o aluno
mesma oferece várias técnicas e é instigado a sua bagagem de conhecimento
procedimentos que vão além das atividades prático de forma crítica e criativa. De
acordo com Pinto (2005, p. 41):
usadas diariamente em sala de aula.
O conceito de “era tecnológica”
A Construção do Conhecimento encobre, ao lado de um sentido
razoável e sério, outro, tipicamente
Ligado aos Avanços Tecnológicos ideológico, graças ao qual os
interessados procuram embriagar a
A educação formal (aquela que ocorre consciência das massas, fazendo-as
crer que têm a felicidade de viver nos
nos sistemas de ensino tradicionais) é o melhores tempos jamais desfrutados
princípio da formação humana, ou seja, as pela humanidade […] A sociedade
formações sociais de sua organização para capaz de criar estupendas máquinas e
aparelhos atualmente existentes,
a vida. São várias as transformações no desconhecidos e jamais sonhados
decorrer dessa formação para a construção pelos homens de outrora, não pode
do conhecimento na sociedade em que deixar de ser melhor do que qualquer
outra precedente.
vivemos, para que possamos formar
cidadãos verdadeiramente agentes de
Uma vez que muitos veem as
transformações.
tecnologias digitais como uma concepção
É cada vez mais evidente a presença
transformadora e deliberativa para um
constante dessas transformações na
melhor silogismo, ou seja, uma visão
sociedade e a cada dia vemos a importância
mediadora no processo de ensino-
do homem e da tecnologia criando um novo
aprendizagem, e isso os fazem verem que as
olhar diante do sistema educacional e que
tecnologias proporcionam o domínio de
estão ligadas aos avanços tecnológicas.
novas habilidades e entendimentos, mas
Porém, observa-se que a educação não
sempre considerando que existirão alguns
está preparada para uma mudança em curto
problemas que podem estar associados à
prazo para o novo de uma nova geração
inclusão de novas tecnologias a frente dos
computadorizada. As escolas encontram-se
alunos e professores em sala de aula
em fase de adaptação, onde no Brasil tem,
diariamente auxiliando no conteúdo
em média, menos de 1 computador para 4
escolar, tornado-se um desafio para ambos
alunos de 15 anos; assim o País é penúltimo
principalmente para os professores que tem
em ranking de computador por aluno de
que saber lidar com toda essa metodologia
acordo com o Programa Internacional de
diferenciada juntando o tradicional com o
Avaliação de Estudantes (PISA), pois
renovado e levando um melhor
sabemos que poderia ser muito mais nas
conhecimento do ensino-aprendizagem
escolas para o acesso de todos (Agência
para os alunos. Seguindo essa linha de
Brasil, 2020).
O mundo dos computadores (hardware) pensamentos, Moran, Masetto e Behrens
está em constante evolução assim como as (2013, p. 36) enfatizam que:
ferramentas (software) estão cada vez mais
Os docentes podem utilizar os

23
Informática

recursos digitais na educação, busca de tecnologias avançadas, e diante


principalmente a internet, como apoio disso vê-se a prioridade da inclusão das TIC
para a pesquisa, para a realização de
atividades discentes, para a
nas instituições escolares que busquem uma
comunicação com os alunos e dos melhoria no modo de transmitir o
alunos entre si, para integração entre conhecimento para auxiliar no aprendizado
grupos dentro e fora da turma, para a do aluno e, dessa forma, procurando
publicação de páginas web, blogs, ampliar os métodos de ensino que
vídeos, para a participação em redes
sociais e entre muitas outras
proporcione para os alunos um ambiente
possibilidades. interativo, participativo, dinâmico no
processo de ensino-aprendizagem.
Observa-se diante da fala do autor que os
professores, ao fazerem uso das mídias O Uso da Informática como
digitais, encontram um suporte de apoio por Ferramenta Pedagógica na Educação
meio da internet que proporciona um Escolar
caminho mais rápido e fácil para elaborar as
atividades dos seus alunos, assim como sua O uso da informática como ferramenta
comunicação tanto individual como em pedagógica oferece um aumento na eficácia
grupos dentro e fora do sistema e na qualidade do ensino, assim temos que
educacional. pensar na busca de uma superação dos
Assim, em uma sociedade moderna em supostos problemas de ensino e dessa
todas as circunstâncias sabemos que a maneira buscarmos identificar formas que
tecnologia digital é uma primordialidade ajude a superar esses problemas diante de
mundial, e que a unidade escolar deve estar um ensino renovado dentro das escolas.
elaborada para preencher os requisitos da Por isso, podemos dizer que cada dia o
realidade atual, uma vez que todos nós que uso de computadores está crescendo nas
fazemos parte da instituição escolar temos escolas e rompendo barreiras no ensino,
o dever de conhecer as novas exigências facilitando e preparando para um
que o mundo nos oferece. Segundo desempenho escolar aceitável para todos
Almeida (2003, p. 78), “É por meio das que fazem parte da instituição escolar, pois
tecnologias digitais que aplicaremos mais a chegada dessas mídias traz um
informações temáticas em sala de aula e a crescimento significativo tanto dentro
cada dia que as exploramos descobriremos como fora das instituições que possa levar
muito mais para que possamos transformar diferentes formas de como trabalhar seus
as questões em interatividade”. conteúdos escolares (Almeida, 2003, p. 79).
Observamos que o ensino é centrado em Assim, compreende-se que a utilização
conteúdos programáticos, que o professor de computadores nas escolas vem
não é mais visto como figura central na sala rompendo barreiras e se desenvolvendo de
de aula e que suas metodologias são forma positiva quanto à importância do
baseadas na pedagogia tradicional, pois na reconhecimento do seu uso benefício para
sociedade e na nova era digital isso tudo explorar as habilidades e competências
mudou. Sabemos que o professor não é diversas, organizando e tornando fácil o
mais o único foco do conhecimento desempenho no aprendizado do aluno.
transmitido, com isso, que hoje a sociedade Uma escola informatizada tem um papel
que se representa obriga que a educação representativo na educação, um meio, um
molde o aluno para encarar no dia a dia canal de comunicação. a presença do
novas situações e deixar de ser um computador na sala de aula torna-se um ato
transmissor de informações e se de aprendizagem, onde se tende a ser mais
transformar em um ser novo com novas ativo e participativo, estimula ao
ideias e interações (Serafim; Sousa, 2011). aprendizado e o seu interesse e motivação
A sociedade está constantemente em para descobrir as informações que desejam

24
Informática

isso acontece quando o mesmo é usado pelo aprender em conjunto ajuda a descobrir
aluno de forma responsável. novas relações e desafiar regras, agir com
Nessa sociedade em que muitos estão em improviso e pôr ao lado novos detalhes e
sintonia com as tecnologias, os professores outras atividades e deixando-as mais
têm em mente que a implantação da diferentes e inovadoras.
informática no ambiente escolar é As TIC oferecem aos alunos a
importantíssima, e colabora de modo geral construção de seus saberes diante da
para a composição de materiais midiáticos comunicabilidade e interligações com o
para auxiliar no processo de ensino- mundo de diversidade, o qual não existe
aprendizagem dos seus alunos. limitações sociais e culturais o que tornam
Diante disso, o computador passa a ser o conhecimento e as experiências uma
uma ferramenta na produção do constante. Seguindo esse entendimento,
conhecimento gerando inúmeras constata-se que as mídias digitais são
possibilidades para que os indivíduos geradoras de meios dinâmicos de ensino-
busquem suas idealizações, pois em uma aprendizagem, a importância de quando
visão geral do sistema educacional, bem usadas, possibilitando o fortalecimento
observa-se que o Brasil precisa muito e o desenvolvimento das práticas
melhorar e ampliar a capacitação dos pedagógicas modernas em todas as esferas
professores para que os mesmos estejam escolares. Na sociedade moderna em que
prontos para transmitir aos seus alunos estamos inseridos, em que a mão de obra
conhecimento e que as escolas de fato humana está ficando de lado e dando o lugar
estejam prontas e equipadas para oferecer às máquinas, pois cabe nesse momento ao
qualidade e oportunidade para todos. ser humano o dever de ser crítico e criativo,
Assim sendo, as tecnologias digitais são ter uma boa observação e excelentes ideias.
recursos tecnológicos que se incorporam É nessa era da informática que se torna
proporcionando uma comunicação indispensável que os indivíduos saibam e
diversificada modificando o sistema de consigam distinguir o que há de importante
ensino. E vem cooperando com um e fundamental.
diferencial muito produtivo, que melhora a É preciso deixar claro que as
interação entre professor e aluno, tecnológicas não podem se tornar uma
melhorando o modo de transmitir e ferramenta principal para o processo de
aprender. Tornando-se uma tecnologia ensino-aprendizagem, mas sim, um
utilizada para agregar, contribuir e dividir mecanismo que proporcione a mediação
informações, assim, as TIC auxiliam para entre aluno, professor e saberes escolares;
um melhor desenvolvimento quando usada com isso, são imprescindíveis que possa ser
em prol da educação, unindo-se aos superado a didática da pedagogia
métodos mais utilizados como giz, quadro, tradicional é, introduzindo o novo (a
livros e jogos lúdicos pedagógicos educação moderna com a transformação
abrilhantando ainda mais a aprendizagem. digital) ao velho (a educação tradicional
com livros, giz e quadro negro). Dessa
A Inclusão cas TIC na Sala de Aula no forma, entendemos que, a introdução das
Processo de Ensino-Aprendizagem TIC no espaço escolar, vai depender da
formação do professor em um
A inclusão das TIC em sala de aula entendimento que venha trazer um avanço
contribui de forma significativa no na maneira de pensar e rever os conceitos
desempenho do conhecimento do aluno para transformar o ensino em aulas
para que possa transformar a compreensão dinâmicas e desafiadoras com o auxílio das
quanto aos questionamentos e inovações no tecnologias.
processo de aprender em conjunto. Não Dentro desses argumentos observamos
podemos esquecer que o processo de que o professor atua como um mediador no

25
Informática

processo de aprendizagem do aluno, dessa Diante dos argumentos supracitados, é


forma contribuindo para seu de suam importância analisaremos que o
desenvolvimento cognitivo proporcionando professor e a tecnologia podem fazer
a procura de alternativas que busque grandes feitos no aprendizado do aluno, e
soluções mais adequadas aos problemas e que isso comesse pelo professor, utilizando
ao modo individual do pensamento em suas aulas as TICs para que o mesmo
(Imbernón, 2010). formule conteúdos didáticos organizados e
Assim, diante do que já foram necessários oferecido pelas tecnologias.
pesquisados pode-se fazer uma reflexão que O professor deve ser porta de entrada
as TIC, quando bem utilizadas em sala de para tal mudança para estabelecer todo o
aula, proporcionam uma interação de potencial necessário que essa tecnologia
conhecimento e a construção de seus oferece.
saberes. Com a chegada das TIC e com uma
Além do que, proporciona o geração nova de alunos em uma era
favorecimento e o desenvolvimento da cibernética, gestores, professores,
aprendizagem, e ainda dar oportunidade funcionários, alunos e seus familiares
para um melhor domínio no campo da tendem a difundir o ambiente escolar em
comunicação proporcionando aos alunos a
ocasião favorável da construção e um ambiente democrático e fomentador de
compartilhamento do conhecimento, ações educativas que repasse as fronteiras
deixando-os pessoas democráticas que da sala de aula, influenciando todos a
aprendem a reconhecer as competências de observarem o mundo como muito além dos
cada um. Para que os meios tecnológicos muros escolares, apreciando diariamente os
estejam presentes na vida escolar, é pensamentos e princípios de todos. A figura
necessário que os alunos e professores do professor tende a ser inteligente para
saibam usar de maneira correta, é um conseguir identificar as divergentes
elemento substancial, é a elaboração e maneiras de cogitar as curiosidades dos
atualização de professores, de maneira que
a tecnologia seja introduzida de fato no alunos sem que eles estabeleçam o seu
currículo escolar, e não seja percebida modo de pensar.
apenas como uma ferramenta de auxílio Para tanto, a utilização das TIC nas
complementar ou um aparato marginal. escolas requer novas formas de
Assim, para que isso venha a ocorrer, o comunicação, de ensinar e aprender,
professor deve levar em consideração sua facilitando o aprendizado dos que estão
formação continuada para o seu processo de com dificuldade de aprendizagem. As
desenvolvimento, pois essas mudanças máquinas (computadores) e programas
acarretam mudanças para nova era e ele (software) em sala de aula não podem ser
sendo o mediador ele se torna a figura usados por apenas um professor ou
principal ao levar seus conhecimentos para disciplina, mas sim deve ser notada como
dentro da escola. um recurso de auxílio do professor na
Sabe-se que o professor não será ligação dos conteúdos curriculares, seu
substituído pela tecnologia, mas ambos objetivo não está somente nas habilidades
juntos podem adentrar na sala de aula de digitação ou em concepções simples de
levando aprendizado e conhecimento para como funciona o computador, a sempre
os alunos, pois basta que ele comece a uma gama de circunstâncias que deve ser
pensar como introduzir no cotidiano escolar conhecida minuciosamente tanto pelo aluno
de forma decisiva para que após essa etapa quanto pelo professor.
passe a construir conteúdos didáticos Assim, as chances para o uso das TIC
renovados e dinâmicos, que estabeleça todo são de que o professor deve utilizá-las para
o potencial necessário que essa tecnologia instruir os alunos e também criar condições
oferece (Vieira, 2011, p. 134). para que eles consigam descrever seus
pensamentos, reconstrua e materialize

26
Informática

através de novas linguagens, nesse meio o Observamos também que o processo de


aluno é instigado a transformar as aprendizagem intermediária por meio da
informações em conhecimento prático para informática gera muitas transformações
lidar com as situações de vida diária para a formação de compreensão e ideias, já
(Vieira, 2011). Dessa forma, Valente (1999, que, anteriormente, a única via de
p. 4) ressalta que as mídias digitais são aprendizagem era a sala de aula, e as
canais de auxilio no modo estrutural do ferramentas eram o giz, quadro e livros
conhecimento; para tanto, a implantação da didáticos; hoje é oferecida a navegação em
informática como auxiliar do processo de vários espaços de informação, que nos
construção do conhecimento implica permite enviar e receber vários tipos de
mudanças na escola que vão além da informações virtualmente. Então, o
formação do professor. É necessário que computador é visto como um equipamento
todos os segmentos da escola alunos, importante que oferece conhecimento.
professores, administradores e Conseguimos constatar diante do
comunidades de pais estejam preparados e decorrer da pesquisa que o ensino-
suportem as mudanças educacionais aprendizagem e o progresso das TIC nos
necessárias para a formação de um novo últimos tempos trouxeram para o ensino
profissional. Nesse sentido, a informática é tradicional uma agregação de sentidos
um dos elementos que deverão fazer parte alternativos, tanto em termos materiais
da mudança, porém essa mudança é mais como metodológicos para uma melhor
profunda do que simplesmente montar aprendizagem, pois já se observam os
laboratórios de computadores na escola e resultados e que em curto prazo veremos os
formar professores para utilização dos efeitos das práticas pedagógicas.
mesmos. As exigências quanto à utilização das
Ao observarmos o comentário do autor mídias digitais se mostram a cada dia de
citado acima, podemos dizer que para suma importância para todas as áreas, por
construir laboratórios de informática nas isso não é diferente na área educacional. A
unidades escolares não significa dizer que todo instante os professores percebem que
isso se torna suficiente para a educação no aqueles que não se tornarem capazes de
Brasil, é necessário que as pessoas que utilizar a informática como meio auxiliador
participam do ambiente escolar, para o ensino-aprendizagem ficarão
principalmente as famílias dos alunos, desconectados da realidade e poderá ficar
sejam protagonistas das suas próprias fora do mercado de trabalho.
histórias e redesenhem seu papel na sua Diante disso, poderíamos perguntar se o
caminhada em todos os aspectos dentro do mundo da informatização está sendo
ambiente escolar. eficiente para a aprendizagem do aluno?
Em uma sociedade moderna tem-se à Será que com a utilização da Informática
disposição muitas mudanças e inovações como ferramenta auxiliadora do processo
tecnológicas para ser utilizada no ambiente de aprendizagem eles aprendem mais, se
escolar, a que se encontra em conformidade interessam mais? Que ideias existem de
com uma sociedade pautada na aprendizagem nos planejamentos
comunicação e informação, visto que, por educacionais? Devemos pensar e repensar
intermédio desses meios temos a nesses questionamentos, pois ainda falta
viabilidade virtual de ter acesso a vários muito para que sejam concluídas muitas
tipos de informações em todo mundo, questões.
porque a nova era digital oferece muitos
benefícios em se tratando de avanços As multimídias são importantes em sala
científicos, educacionais, comunicação e de aula e a cada dia está se tornando uma
conhecimento. mudança no ensino, os professores já
utilizam como ferramenta de auxilio no

27
Informática

ensino aprendizagem e isso vêm gerando familiares, onde os jovens e crianças têm
mudanças na educação. acesso de forma fácil e fica à vontade ao
O ser humano se relaciona com seu utilizarem esses recursos.
meio, no qual está em constante desafio Para Moran, Masetto e Behrens (2013, p.
com a natureza, e se transforma 32):
continuamente com seu trabalho, gerando
um mundo de diferentes culturas. E ao A criança também é educada pela
unificar seu trabalho com a cultura ele passa mídia, principalmente pela televisão.
Aprende a informar-se, a conhecer -
a ser um ser tradicionalmente mergulhado os outros, o mundo, a si mesmo - a
nas contestações de “opressor-oprimidos”, sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
sobrevindo a partir disso a imposição de sua ouvindo, "tocando" as pessoas na tela,
suplantação diária (Freire, 2001). que lhe mostram como viver, ser feliz
Observamos diante desses argumentos e infeliz, amar e odiar. A relação com
a mídia eletrônica é prazerosa -
que apenas em um ponto de vista discursivo ninguém obriga - é feita por meio da
as TIC são capazes de atingir suas sedução, da emoção, da exploração
finalidades de uma intercomunicação sensorial, da narrativa - aprendemos
realmente libertadora; se usarmos de vendo as estórias dos outros e as
maneira correta e consciente sobre os estórias que os outros nos contam.
recursos e sua incumbência no meio
educativo. Do contrário, funde-se uma Por meio dessas tecnologias a escola
imaginação de democracia e de pode oferecer uma oportunidade de os
comunicação em uma real circunstância alunos poderem ter acesso aos sites
que é, sem dúvida, criada pelas mídias educacionais, com o auxílio do professor,
sociais e os proprietários da autoridade. com todas as variedades de informações
Assim, esperamos ter colaborado para necessárias para um bom aprendizado,
tornar cada dia maior à observação crítica interagindo com colegas por meio da
quanto à utilização das TIC em sala de aula tecnologia que até então não existia nas
transmitindo as reais necessidades de escolas.
indagar os meios tecnológicos não só como Na visão de Valente (1993, p. 115), o
um simples auxílio no processo de ensino- professor tem que está bem preparado para
aprendizagem ou meios que associam os poder desenvolver práticas educativas com
conjunto de valores, conhecimentos, base no uso dessas tecnologias de
habilidades e atitudes, mas sim como um comunicação e in formação, fazendo com
novo método de aprendizagem que que as crianças tenham um processo de
disponibiliza uma nova forma de desenvolvimento como também de
aprendizagem e rompe com a ideia de interação por meio de uma educação
modelo tradicional instituindo outra prática voltada para o progresso e também para o
comunicacional. mundo mais tecnológico e atrativo.
O professor deve desenvolver em suas
O uso das Tecnologias na Educação práticas educativas atividades mais
Infantil atrativas como também jogos e vários
outros recursos tecnológicos para que as
Nos últimos anos, as tecnologias tiveram crianças desenvolvam suas habilidades,
um grande aumento e com isso o mundo se conhecimentos e sua capacidade de
transformou e as pessoas também tiveram aprender, com base nessas novas
que se adaptarem a essas transformações e tecnologias.
com isso passaram a pensarem e agirem de Para se trabalhar com essas tecnologias
forma diferente, um novo estilo de viver. E dentro da Educação Infantil é necessário
essas transformações chegaram às certo planejamento sistematizado, mesmo
indústrias, às escolas e aos ambientes que para essas crianças seja somente uma

28
Informática

brincadeira, para o educador é um recurso pode mais conceber a pesquisa


que vale muito. Assim, os mesmos vão se científica sem uma aparelhagem
complexa que redistribui as antigas
acostumando e se adaptando com as divisões entre experiência e teoria.
atividades propostas com base nas Emerge, neste final do século XX,
tecnologias. um conhecimento por simulação
Hoje em dia, podemos perceber que as que os epistemologistas ainda não
TIC se encontram em todos os lugares do inventaram.
campo educacional; com isso, os
professores têm a necessidade de manter-se A inclusão das tecnologias no ensino é
atualizado diariamente, pois vivemos em um campo amplo e cada dia mais utilizadas
uma sociedade de constantes por todos, sendo quase indispensável no
transformações e que tivéssemos políticas progresso de capacidades e competências
públicas que possibilitasse rever os para praticar ações e atividades hoje em dia.
programas curriculares das escolas e a sua Compreendendo o Art. 22 da Lei nº
infraestrutura para dar mais oportunidade 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da
ao ensino infantil que é a base de suma Educação Nacional (LDB), implica dizer
importância para a criança aprender a que: “a Educação Básica tem por
interagir, pesquisar e opinar (Machado, finalidades desenvolver o educando,
2013). assegurar-lhe a formação comum
Diante desse entendimento, vimos a indispensável para o exercício da cidadania
indispensabilidade de transformação da e fornecer-lhe meios para progredir no
sociedade atual, em especial quando se trabalho e em estudos posteriores”. Isso
referem às metodologias educacionais, pois mostra que o uso das tecnologias em sala de
as instituições escolares precisam aula irá colaborar na realização de novas
reformular o modo de ensinar, unindo o formas de pensar diante das concepções
tradicional ao moderno para que as aulas oferecida na norma.
haja mais interação e interesse. Diante do exposto, a LDB (1996) nos
Percebemos que hoje as escolas não têm mostra a finalidade da educação básica e o
como ignorar as tecnologias, a todo o que ela nos assegura; mas para que isso
momento o mundo encontra-se conectados ocorra, precisa-se de um desenvolvimento
a elas e toda equipe escolar precisa estar da capacidade de aprender, tendo como
preparadas e aptas para manipular de forma meios básicos o pleno domínio da leitura,
corretas as tecnologias, pois o mundo exige da escrita e do cálculo; a compreensão do
todos os dias mudanças (Baracho; Gripp; ambiente natural e social, do sistema
Lima, 2012). E essas mudanças são político, da tecnologia, das artes e dos
contínuas; por isso a escola precisa em valores em que se fundamenta a sociedade;
primeiro lugar está apta para lidar com as o desenvolvimento da capacidade de
novas tecnologias e os conteúdos. aprendizagem, tendo em vista a aquisição
Na visão de Lévy (2008, p. 7): de conhecimentos e habilidades e a
formação de atitudes e valores; o
Novas maneiras de pensar e de fortalecimento dos vínculos de família, dos
conviver estão sendo elaboradas no laços de solidariedade humana e de
mundo das telecomunicações e da tolerância recíproca em que se assenta a
informática. As relações entre os vida social (Brasil, 1996).
homens, o trabalho e a própria
inteligência dependem, na verdade,
A aplicação educacional das
da metamorfose incessante de tecnologias, de acordo com Belloni e
dispositivos informacionais de Gomes (2008) melhora a relação de
todos os tipos. Escrita, leitura, visão, aluno/professor, fortalece capacidades e
audição, criação, aprendizagens são competências intelectivas nos alunos,
capturados por uma informática
cada vez mais avançada. Não se
desenvolve espaços de atividades de

29
Informática

aprendizados mais práticos, pois “muitos rotina escolar, pois facilitam a


estudos têm mostrado a importância comunicação, o compartilhamento dos
crescente das mídias na criação dos mundos alunos em sala de aula.
sociais e culturais das crianças, onde Para Belloni (2005, p. 10), esse elo deve
ocorrem os processos de socialização” ser contínuo, e a escola deve integrar as
(Belloni; Gomes, 2008, p. 722). De acordo tecnologias de informação e comunicação
com Kenski (2007, p. 141), “as tecnologias porque elas já estão presentes e influentes
precisam estar associadas com o sistema em todas as esferas da vida social, cabendo
educacional, para que possa ser inserida nos a escola, especialmente a escola pública,
exercícios diários dos métodos e princípios atuar no sentido de compensar as terríveis
da pedagogia, tendo em vista o desigualdades sociais e regionais que o
cumprimento das suas especificidades acesso desigual a estas máquinas está
dentro do ensino-aprendizagem e das TIC gerando.
empregadas”. Isso nos mostra que existe Com o uso das tecnologias na Educação
um elo entre escola, TIC, professores e Infantil, o professor consegue despertar no
alunos, ambos devem estar interligados aluno a curiosidade com o auxílio de
para que de fato ocorra a interação no atividades e gerando nele a capacidade de
aprendizado. gerar e criar novas ideias e com isso
Diante disso, Moran (2000, p. 137) estimulando a sua relevância pelas tarefas
afirma que: tornando possível uma transformação no
modo de aprender, uma vez que as
O primeiro espaço é o de uma nova tecnologias estão tornando-se máquinas
sala equipada e com atividades com qualidades necessárias para expandir a
diferentes que se integra com a ida ao
laboratório para desenvolver mente e a cultura de todos com consciência
atividades de pesquisa e de domínio na hora de transmitir os conteúdos para um
técnico-pedagógico. Essas atividades maior conhecimento, pois no pensamento
se aplicam e complementam a de Valente (2002, p. 23):
distância nos ambientes virtuais de
aprendizagem e se completam com O professor pode dedicar-se à
espaços e tempos de experimentação, exploração da informática em
de conhecimento da realidade, de atividades pedagógicas mais
inserção em ambientes profissionais e sofisticadas. Ele poderá integrar
informais. conteúdos disciplinares, desenvolver
projetos utilizando os recursos das
Diante disso, essa nova maneira de tecnologias e saber desafiar os alunos
integrar as tecnologias em sala de aula para que, a partir do projeto que cada
um desenvolve, seja possível atingir
demanda de toda uma diferente forma de os objetivos que ele determinou em
aprendizado, uma nova geração na era seu planejamento.
digital. Observamos que a escola é e sempre
será um meio que trará possibilidades para Com isso, temos que pensar que a
que a criança se desenvolva e se realize no tecnologia quando usada na Educação
seu desenvolvimento intelectual. Mas para Infantil tem que chegar a um objetivo que é
que isso ocorra, temos que ter escolas o de contribuir no aprendizado, sem
equipadas e professores qualificados. E esquecer que o ensino tradicional deve
“essa emergente realidade requer do sempre acompanhar que também é muito
professor, novas e constantes importante na vida dos alunos e sempre
aprendizagens, pois, pairam sobre ele levando em consideração que “toda prática
características como um dos principais educativa demanda a existência de sujeitos,
mediadores entre a sociedade e as TIC” um que ensinando, aprende, outro que,
(Hatje; Bianchi, 2007, p. 22). As aprendendo, ensina” (Freire, 1996, p. 69).
tecnologias encontram-se parceiras na Isso mostra que as tecnologias trazem

30
Informática

um benefício enorme e que, ao utilizá-las novas maneiras de aprender, em tempos que


em sala de aula, torna oportunas mudanças conceitos, valores e culturas estão se
no modo de pensar e agir, tanto no transformando na sociedade, cobrando de
aprendizado da criança como na todos os cidadãos novas maneiras de
intermediação do educador. Corroborando comunicação e novas formas de obter
essa ideia, Moran (2000, p. 17-18) ressalta conhecimento.
que as mudanças na educação dependem Com base nas observações, a utilização
também dos alunos. Alunos curiosos e das TIC na sala de aula traz um melhor
motivados facilitam enormemente o desenvolvimento cognitivo, o professor
processo, estimulam as melhores consegue despertar no aluno a curiosidade
qualidades do professor, tornam-se com o auxílio de atividades, gerando nele a
interlocutores lúcidos e parceiros de capacidade de gerar e criar novas ideias e
caminhada do professor-educador. Alunos com isso estimulando a sua relevância pelas
motivados aprendem e ensinam, avançam tarefas, tornando possível uma
mais, ajudam o professor a ajudá-los transformação no modo de aprender.
melhor. Alunos que provêm de famílias Portanto, conclui-se que é importante
abertas, que apoiam as mudanças, que tanto para o professor como para o aluno ter
estimulam afetivamente os filhos, que acesso às diversas informações oferecidas
desenvolvem ambientes culturalmente com o uso das TIC durante o processo de
ricos, aprendem mais rapidamente, crescem ensino-aprendizagem, deixando mais
mais confiantes e se tornam pessoas mais acessível a comunicação e o alcance das
produtivas. competências escolares. Podemos dizer que
Portanto, ambos se tornam figuras as TIC, quando usadas de forma
importantes em uma sociedade moderna na responsável no ensino, podem representar
qual a tecnologia domina todos os espaços, um grande desafio para os professores, pois
e dessa forma o aprendizado passa a ser requerem uma qualificação, uma
visto como um ato liberal, levando os ressignificação das metodologias
alunos a exprimirem-se através de palavras, desenvolvidas em sala de aula, bem como
gestos, atos; suas ideias e suas conversas um aprimoramento no planejamento de
em conjunto torna-se melhores, visto que ensino.
dessa maneira o educador se torna um
facilitador da comunicação, das relações Questões
dentro da sala de aula, diferente do
educador que só traz informações e 01. (Prefeitura de Betim/MG -
conteúdos e que só ele domina os Professor PI-L - INSTITUTO
conhecimentos. Olhando por outro ângulo, AOCP/2020) As Tecnologias da
isso traz para o professor uma centralidade Informação e Comunicação referidas como
nos seus atos e pensamentos para que TICs são consideradas sinônimo das
aquelas aulas tradicionais fiquem um pouco Tecnologias da Informação (TI). Em se
de lado e ele pense em enriquecer e tratando de informação e comunicação, as
dinamizar suas aulas, e que ele se sinta mais possibilidades tecnológicas apareceram
seguro e menos estressado para as novas como uma alternativa da era moderna,
mudanças de introduzir as TIC em sala de facilitando a educação com a inserção de
aula. computadores nas escolas. Assinale a
A sociedade moderna vive em um alternativa correta sobre o seu uso na
mundo de tecnologias que gera vários educação e no aprendizado.
benefícios no seu dia a dia e, quando (A) A inserção das TICs no cotidiano
introduzidas no processo de ensino- escolar permite o desenvolvimento do
aprendizagem, favorecem novas pensamento crítico criativo e a
metodologias de ensino e, com isso, surgem aprendizagem cooperativa, uma vez que

31
Informática

torna possível a realização de atividades IV. A integração das TICs aos processos
interativas. educacionais transcende as questões
(B) A inserção das TICs no cotidiano puramente técnicas para se situar no nível
escolar anima o desenvolvimento do da definição das grandes finalidades sociais
pensamento lógico, com interação entre da educação.
aluno e máquina, o que faz que o professor
seja o que soluciona os problemas técnicos. (A) Todas as alternativas estão corretas
(C) O papel da tecnologia no processo (B) Apenas a alternativa I está errada
ensino-aprendizagem subentende uma (C) Estão corretos os itens III e IV;
concepção do fazer mais rápido, sendo a (D) Nenhum item está correto
melhor ferramenta de aprendizado. (E) Estão corretas as alternativas II e III
(D) A inserção das TICs no cotidiano
escolar anima o desenvolvimento do Alternativas
pensamento técnico e a aprendizagem 01.A / 02.C
competitiva.
(E) O papel da tecnologia no processo
ensino-aprendizagem se dá como Letramento digital.
ferramenta pedagógica que tem como
fundamental mediador o computador.
LETRAMENTO DIGITAL
02. (Prefeitura de Aurora/CE - Nível
Superior Comum (Magistério) -
Os jovens da geração atual estão
Prefeitura de Aurora/CE) A mudança
acostumados a interagir com as inúmeras
cultural ocorrida neste século é cada vez
tecnologias digitais que estão à sua
mais abrangente, da vovó aos netinhos
disposição, uma vez que entram em contato
todos utilizam as tecnologias da
com essas ferramentas desde os primeiros
comunicação e informação (TICs) em seus
anos de vida9. Mas será que eles sabem
cotidianos privado e profissional. Com
utilizar esses recursos na construção da sua
relação ao uso das TICs na educação,
aprendizagem? É exatamente isso que o
assinale a alternativa CORRETA:
letramento digital propõe: garantir que os
I. Em um mundo interligado as pessoas
alunos tenham as habilidades necessárias
têm que ter acesso à internet, mas nas
para aproveitar os benefícios dos elementos
escolas, isso não é viável, posto que
digitais nos seus estudos.
interfere negativamente nos processos de
O uso da tecnologia por crianças e
ensino e de aprendizagem, dispersando os
adolescentes é frequentemente associado ao
alunos/as.
entretenimento e diversão, mas ela também
II. O ensino com tecnologia envolve
é uma poderosa aliada para potencializar o
quatro componentes principais: alunos,
aprendizado. Para tanto, é imprescindível
professores, conteúdos e ferramentas
que educadores e discentes aprendam a
tecnológicas, dentre esses, o que produz a
compreender o universo digital e lidar com
mediação do ensino, que é indispensável, é
o grande volume de informações que ele
o conteúdo extraído do currículo escolar.
oferece.
III. Os jovens precisam de currículos que
Se antes os alunos liam apenas os
lhes ajudem a avaliar os custos e as
conteúdos didáticos impressos em papel,
vantagens e a fazer escolhas sensatas sobre
hoje em dia as informações também estão
o papel que os novos meios de informação
disponíveis nas telas do computador,
exercem em suas vidas no trabalho, em casa
celular e tablet, podendo ser acessadas a
e em outros locais.
qualquer momento, inclusive, fora do

9
https://blog.elevaplataforma.com.br/o-que-e-letramento-digital-como- ele-funciona-e-qual-sua-importancia/

32
Informática

horário de aula. Nesse contexto, o Em resumo, o conceito consiste em um


letramento digital tem se destacado e sido conjunto de competências que possibilitam
bastante debatido entre as instituições de que uma pessoa consiga compreender e
ensino, pois se faz necessário para que os utilizar as informações geradas pela
estudantes aprendam a reconhecer as internet, exercitando o seu senso crítico.
funcionalidades das ferramentas digitais e Portanto, trata-se da capacidade de leitura e
entendam como usá-las na sua rotina de escrita na esfera digital, bem como de
estudos. pensar criticamente sobre o conteúdo
A palavra “letramento” nos remete a visualizado, de modo a influenciar o
letras e ao processo de alfabetização (que cenário social e cultural que está ao seu
visa à decodificação do código linguístico, redor.
ou seja, à compreensão de palavras e O letramento digital prevê que as
textos)10. Mas, para além de decodificar, as habilidades adquiridas nesse processo
pessoas “letradas” compreendem o sejam funcionais e aplicadas na prática de
contexto das produções textuais. Sabem maneira consciente. Pode-se dizer que um
quando se usa cada gênero, de que forma se indivíduo é letrado digitalmente quando
cria e interpreta discursos e quais são suas pode ler e escrever nas plataformas on-line,
intenções comunicativas. mas principalmente, passa a agir de forma
Logo, o letramento é uma “leitura do ativa e crítica em relação às informações
mundo”, pois é o que permite entender as com as quais se depara.
diversas situações comunicativas que nos
rodeiam. Diferenças entre a Alfabetização e o
Esse conceito, então, quando Letramento Digital
acompanhado do adjetivo “digital”, refere-
se à capacidade de compreender as Apesar de serem parecidos e
situações de leitura e escrita que acontecem frequentemente confundidos, é importante
no contexto tecnológico. ressaltar que a alfabetização digital e o
Se podemos definir letramento como um letramento digital são coisas diferentes.
conjunto de competências que permite que Basicamente, o primeiro conceito ensina o
indivíduo compreenda o que lê, não é difícil indivíduo a acessar a internet e pesquisar
perceber que as habilidades requeridas para nas suas plataformas, como o Google.
a leitura em papel e no meio digital podem Sendo assim, a pessoa tende a usar os
diferir um pouco. recursos tecnológicos para visitar os sites
Assim, o letramento digital envolve não que mais gosta, mas faz isso de uma forma
só a capacidade de leitura e escrita em telas limitada. Em muitos casos, pode ser que
de celulares e computadores, como a não tenha discernimento sobre como o
utilização dos recursos tecnológicos ambiente digital funciona, podendo
implicados ― localização, filtros, análises cometer erros ou até mesmo ter atitudes que
etc. coloquem em risco a sua imagem e
O letrado digital necessita quase que segurança.
aprender um novo idioma, uma vez que a Por sua vez, o letramento digital orienta
forma como as informações são dispostas os discentes sobre como interagir com os
na internet é bastante diferente dos meios conteúdos disponibilizados na internet, traz
tradicionais de comunicação. Trata-se de à tona as melhores técnicas de leitura e
uma linguagem que abrange mais que escrita on-line, instrui como pesquisar e
palavras, envolvendo códigos verbais e não selecionar informações confiáveis e que
verbais, como símbolos, imagens e agreguem no seu aprendizado.
desenhos.

10
https://escolasdisruptivas.com.br/steam/letramento-digital/

33
Informática

Diante disso, a alfabetização digital quando precisam utilizá-los para tarefas


permite que o aluno acesse os recursos mais complexas. Nesse sentido, ao se tornar
digitais, já o letramento digital é mais letrado digitalmente, o discente aprende a
amplo, possibilitando ao indivíduo adotar usar a tecnologia para além do
essas ferramentas para interação social, entretenimento.
expandir os seus conhecimentos, Isso significa ter mais autonomia para
compartilhar informações relevantes e conduzir a sua jornada de aprendizado, haja
executar atividades educacionais. vista que o aluno sabe quais são as melhores
formas de utilizar as ferramentas que estão
Importância desse Processo disponíveis para expandir os seus
conhecimentos, deixando de se limitar aos
Em plena era da Transformação Digital, conteúdos apresentados dentro da sala de
saber explorar os recursos tecnológicos é aula.
uma habilidade imprescindível para
adequar-se à modernidade, estar ciente de Gera Maior Engajamento com a
como se comportar na internet, impulsionar Escola
os seus estudos e preparar-se para o futuro A partir do momento que tem a
acadêmico e profissional. Veja quais são as habilidade de separar informações falsas,
vantagens de trabalhar o letramento digital sabe em quais locais buscar dados que
nas escolas. contribuem para os seus estudos e se torna
mais independente no processo de
Desenvolve o Pensamento Crítico aquisição de conhecimento, o aluno tende a
Basta navegar um pouco pela internet engajar-se com as atividades escolares,
para nos depararmos com os mais variados dedicando-se mais aos projetos propostos.
tipos de informações, desde aquelas que são Com isso, a aprendizagem deixa de ser
recorrentes na sociedade até outras com um processo monótono e entediante, sendo
acontecimentos duvidosos. Sem falar dos muito mais interativa e entusiasmante.
variados tipos de opiniões emitidas pelos Afinal, o jovem entende que há diversos
influenciadores digitais. caminhos para se desenvolver, que mesmo
Com o grande volume de informações que uma disciplina seja complexa, existe a
lançadas nas plataformas a cada milésimo possibilidade de estudar os seus conteúdos
de segundo, por vezes, fica difícil distinguir de uma maneira mais divertida e que se
o que é real do que é mentira, como fake encaixe no seu raciocínio.
news e imagens manipuladas e que
distorcem o sentido de uma determinada Estimulando o Letramento Digital nas
situação. Escolas
Uma das bases do letramento digital é
desenvolver o pensamento crítico do aluno, Ao contrário do que muita gente pensa,
oferecendo mecanismos para que saiba somente disponibilizar os equipamentos
reconhecer quais são as características das tecnológicos na escola não é o suficiente
informações verdadeiras e dos conteúdos para que os estudantes aprendam a explorar
falsos, ou seja, estabelece uma espécie de os seus benefícios e desenvolver as suas
filtro sobre o que ele consome e reproduz competências no ambiente digital.
virtualmente. Acompanhe, abaixo, como a escola e
educador devem atuar nesse processo.
Promove a Autonomia do Aluno
Muitas pessoas são alfabetizadas Aprenda Sobre Tecnologias da
digitalmente, estão sempre com os seus Informação e Comunicação
dispositivos móveis à mão para navegar nas Antes de qualquer coisa, é preciso que
redes sociais, mas apresentam dificuldades educadores responsáveis por promover o

34
Informática

letramento digital estejam atualizados sobre Outra alternativa interessante é criar


as tecnologias da informação, o que os sites, blogs, grupos ou jornais on-line, que
ajuda a escolher as ferramentas adequadas possam ser gerenciados pelos alunos e
às características da sua turma. educadores e alimentados com notícias,
Levando isso em consideração, é vídeos e textos que sirvam de base para
recomendado que a instituição de ensino debates entre a turma, o que ajuda a
invista na capacitação dos professores, aprimorar a capacidade de interpretação e
treinando-os quanto ao uso dos recursos a pensamento crítico de todos.
serem inseridos nas aulas. Também é válido Implementar o letramento digital nas
instruir os profissionais sobre os formatos escolas é uma estratégia educativa
de comunicação no universo digital e como fundamental para que os alunos recebam
eles podem ser aplicados na educação. uma formação condizente com as práticas e
ferramentas contemporâneas. A iniciativa
Disponibilize as Ferramentas contribui não só para o desenvolvimento do
Necessárias jovem enquanto estudante e cidadão, mas
Há que se ter em mente que o letramento também o prepara para utilizar os
digital não se resume a aulas de benefícios da tecnologia na vida adulta, na
informática. Atualmente, a maioria dos universidade e no mercado de trabalho.
alunos acessa a internet por meio dos seus
dispositivos em casa, inclusive, muitos Questões
deles aprendem a utilizar essas ferramentas
antes de ingressar na escola. 01. (Prefeitura de Vila Velha/ES -
Sabendo disso, para que a formação seja Professor - IBADE/2020) A partir da
efetiva, é preciso que a escola ofereça mais escola, a criança deverá ter acesso a
do que uma sala de informática, adquirindo instrumentos mais especializados, como
também mídias atualizadas para que os uma educação para lidar com a tecnologia
professores possam utilizar conteúdos de comunicacional. Se ela tiver maiores
diferentes formatos durante as aulas. A oportunidades de expressão e
adesão de tablets e notebooks, por exemplo, desenvolvimento de suas habilidades
traz dinamicidade para o aprendizado, pois comunicativas, seguramente será formada
são fáceis de manusear e comportam mais bem preparada, capaz de tomar
aplicativos que auxiliam no decisões frente às mensagens midiáticas
desenvolvimento cognitivo dos estudantes. recebidas. Na escola, a mídia deve atuar
como mediadora de possíveis
Crie Narrativas Digitais para aprendizagens, ser mais uma importante
Apresentar Conteúdos linguagem de expressão e comunicação de
Uma das possibilidades geradas pela conhecimentos e não ser, apenas,
tecnologia é a interação, que pode ocorrer instrumento que professores e alunos
de forma instantânea ou não. Para engajar e utilizam passivamente. Se o desejável é que
aproximar os alunos, é indicado inserir essa os professores incorporem tecnologias
característica dentro de contextos de digitais à prática pedagógica,
aprendizagem coletiva, como a realização transformando-a para melhor integrá-las no
de projetos e pesquisas em grupo. contexto escolar, é preciso ir além. Os
Incentive os discentes a usar ferramentas professores precisam compreender os
colaborativas, nas quais eles possam gêneros discursivos e linguagens digitais
pesquisar e estruturar a produção do que são usados pelos alunos, para integrá-
conteúdo em conjunto. Desse modo, é los, de forma criativa, construtiva e
possível trocar informações, dialogar sobre contextualizada ao cotidiano escolar.
o tema e construir os trabalhos no modelo Integrar, não significa abandonar práticas
remoto. existentes, que são produtivas e necessárias,

35
Informática

ao contrário, implica que a elas se momentos do dia a dia das pessoas11. Nesse
acrescente o novo. (adaptado: MELO, José cenário, captar a atenção dos estudantes
M. TOSTA, Sandra P., in: Mídia e pode se tornar uma tarefa difícil. Por isso, é
Educação) essencial que o uso da tecnologia na
Nesse sentido, é imprescindível que educação seja uma realidade aliada ao
professores e alunos sejam: ensino.
(A) letrados digitais.
(B) criadores de conteúdos. Benefícios do Uso da Tecnologia na
(C) nativos digitais. Educação
(D) usuários competentes.
(E) receptores das tecnologias. Conforme mencionado, conseguir que as
crianças fiquem atentas ao conteúdo
02. (Prefeitura de Florianópolis/SC - ensinado em sala de aula não é fácil. Por
Professor - FEPESE/2019) Analise as isso, atualmente existem inúmeras
afirmativas abaixo. possibilidades dentro do campo da
1. O letramento digital é um requisito tecnologia que otimizam esse ensino.
para a inclusão digital.
2. O letramento digital é um requisito Possibilita Aulas Inovadoras e
para o exercício da cidadania. Atraentes
3. O letramento digital é substitutivo dos Tudo o que é novidade e permite
processos de ensino aprendizagem de interação gera naturalmente uma
alfabetização e letramento do ensino curiosidade por parte das pessoas. Imagine
tradicional. então que isso é ainda mais evidente quando
falamos de crianças! Com as diversas
Assinale a alternativa que indica todas as possibilidades atuais, fica muito mais fácil
afirmativas corretas. construir aulas divertidas e dinâmicas que
(A) É correta apenas a afirmativa 3. prendem a atenção dos pequenos.
(B) São corretas apenas as afirmativas 1
e 2. Melhora a Qualidade do Ensino
(C) São corretas apenas as afirmativas 1 Com a ajuda das tecnologias é possível
e 3. ir além e melhorar bastante a qualidade do
(D) São corretas apenas as afirmativas 2 ensino das crianças. A diversidade é
e 3. tamanha que tanto pais quanto educadores
(E) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3. podem explorar ao máximo o potencial das
ferramentas para entreter e auxiliar o
Alternativas aprendizado dos alunos, tornando-se peça
01.A / 02.B fundamental para o desenvolvimento deles.

Aumenta a Integração Entre Alunos e


Uso da tecnologia para ensinar, aprender Professores
e pesquisar. Se antes o papel do professor era apenas
ministrar aulas, hoje isso já é um tanto
diferente. Com a tecnologia, as crianças
USO DA TECNOLOGIA PARA podem interagir muito mais com os
ENSINAR, APRENDER E docentes, que passam a figurar como
PESQUISAR verdadeiros mentores e apoiadores da
educação, mais flexíveis e abertos ao
Em nosso mundo, a interatividade está diálogo com os pequenos.
presente em praticamente todos os
11
https://ctrlplay.com.br/uso-da-tecnologia-na-educacao-como-ela- muda-a-forma-de-ensinar/

36
Informática

Melhora o Desempenho Escolar aprendam de fato os conteúdos e até


Aqui a matemática é simples: tendo pesquisem mais sobre eles fora da sala de
aulas mais criativas, dinâmicas e aula.
interessantes, a integração entre alunos e
professores aumenta. A soma de todos esses Valoriza Mais o Professor
fatores é uma dedicação maior da parte dos Tradicionalmente o professor é visto
estudantes, resultando em um melhor como aquela figura não muito interessante
desempenho e na diminuição dos índices de que fala por horas à frente dos alunos e
reprovação. Mais um ponto a favor do uso ainda sobre algo que não é atrativo. Com a
da tecnologia na educação. tecnologia, o jogo vira: há uma
possibilidade de interação muito maior
Amplia o Leque das Formas de Ensino entre aluno e docente, que passa a ser mais
Imagine que nos tempos atuais é enorme ouvido.
a quantidade de ferramentas que podem ser Além disso, os professores comumente
usadas no ensino das crianças. passam muito tempo tendo que anotar
Computadores, tablets, educação a informações para o papel para depois
distância, aplicativos, robótica, vídeos e a repassá-las aos pais e\ou à direção. Isso,
internet são apenas alguns exemplos do que além de não ser viável para o meio
pode ser aplicado na área da educação. E ambiente, implica retrabalho para o
em cada uma dessas opções as crianças são profissional que poderia usar esse tempo
estimuladas a aprenderem de um jeito para se dedicar ao que realmente importa, o
inovador. aprendizado dos alunos.

Reduz o Uso de Papel Aplicando a Tecnologia no Ensino


Você sabe o quanto é gasto para produzir
uma folha de papel? De acordo com o Nem todo mundo consegue ter a atenção
Instituto Akatu, para fabricar um quilo de presa da mesma maneira, há pessoas que se
papel são necessários 540 litros de água. Na engajam com games, outras com vídeos,
escola é muito comum que haja o etc. A tecnologia ajuda a ampliar o leque
desperdício desse produto, seja com folhas das formas de ensino para que cada criança
rasgadas pelos alunos, seja com espaços possa ser estimulada na aprendizagem de
mal-aproveitados para emitir comunicados acordo com o modo que for mais adequado
e convites escolares. para ela.

Por esse motivo, quando o ambiente Games e Vídeos


escolar passar a expandir o uso de Por exemplo, ao fazer o uso da
computadores, tablets e até celulares, gamificação, o aluno deve cumprir várias
haverá uma enorme economia de água e etapas até chegar no objetivo final. Assim,
diminuição do corte de árvores. há mais estímulo para que o desafio seja
vencido. Em relação ao trabalho com
Desperta a Curiosidade dos Alunos vídeos, que tal se os alunos fossem os
Em um mundo com milhões de próprios protagonistas e produzissem esse
informações a todo o instante, conseguir material para explicar determinado
prender a atenção de alguém não é fácil, assunto?
especialmente quando se trata de crianças.
Porém, quando você utiliza recursos Redes Sociais
visualmente mais interativos e atraentes, Outra opção é contar com as redes
como jogos e vídeos, é natural que haja sociais. Desta forma, a turma tenha um
mais curiosidade dos envolvidos. Assim, grupo em que serão compartilhadas
fica mais fácil fazer com que os pequenos

37
Informática

pesquisas e descobertas em relação a diversos instrumentos tecnológicos é deixar


alguma temática estudada. de acompanhar a evolução que está na
essência da humanidade. Nesse cenário,
Leituras On-line pode-se afirmar que:
O custo dos livros pode dificultar I. A disseminação e uso de tecnologias
bastante a democratização do acesso a eles. digitais, marcadamente dos computadores e
Por isso, há muitos títulos em bibliotecas da internet, favoreceu o desenvolvimento
virtuais gratuitas, e há editoras e livrarias de uma cultura de uso das mídias e, por
que facilitam o acesso ao seu material. conseguinte, de uma configuração social
pautada num modelo digital de pensar,
Aplicativos criar, produzir, comunicar, aprender - viver.
Os alunos ainda podem contar com II. Cabe à escola procurar meios de
aplicativos de estudos para inúmeras promover a integração tecnológica,
funções. Por exemplo, há os que ajudam a oferecendo meios para a produção de um
organizar a rotina, elaboram resumos sobre conhecimento a nível contemporâneo.
os conteúdos etc. III. Se a educação, antes do surgimento
tecnológico, visava à agregação de valores
Como dissemos, o uso da tecnologia na aos conhecimentos produzidos e
educação realmente faz parte da base que as divulgados em sala de aula, com as
crianças precisam para a vida. Com a ajuda tecnologias ela perdeu esse caráter
dos recursos tecnológicos existentes, eles agregador e diminuiu o interesse pelos
terão muitas possibilidades de se valores e pela ética.
desenvolver. Além disso, estarão Está correto apenas o que se afirma em:
conscientes e críticos em um mundo onde a (A) I e III.
realidade virtual já faz parte do dia a dia. (B) I e II.
(C) I.
Questões (D) II.

01. (MJSP - Técnico Especializado em


Formação e Capacitação - Revista Magistério n. 10:
educomunicação
CESPE/CEBRASPE/2022) Com o
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
surgimento da pandemia de covid-19, o br/acervo/revista--magisterio-n-10-
isolamento social promoveu alterações educomunicacao
repentinas no processo de ensino e
aprendizagem nas escolas brasileiras.
Tendo essa situação como referência, EDUCOMUNICAÇÃO
julgue o item a seguir.
Uma vez que as novas tecnologias da Desde que começaram a discussão para
informação e comunicação passaram a a construção do Currículo da Cidade, em
mediar o processo educativo, o professor 2017, não via-se outro lugar para nossos
deixou de controlar esse processo. estudantes que não o de autores de suas
( ) Certo ( ) Errado histórias.
Esse lugar só é possível se nós, adultos,
02. (Prefeitura de Manaus/AM - nos colocarmos à margem. Não como
Professor de Língua Portuguesa - meros expectadores, mas como aqueles que
IBADE) As escolas têm percebido a criam oportunidades e permitem erros e
importância das tecnologias para a acertos, oferecem espaço para que os
aprendizagem na atualidade. Pensar no estudantes expressem seus pontos de vista e
processo de ensino e aprendizagem em exerçam, de fato, o protagonismo. Isso tudo
pleno século XXI sem o uso constante dos permeado de muita escuta ativa.

38
Informática

Os profissionais da educação são os elos comunicação e suas tecnologias com o


mediadores do processo. São os animadores propósito de fortalecer o protagonismo das
e construtores dos diálogos dos projetos na crianças e adolescentes e conectar a escola
escola. A dedicação de colocar e firmar a uma pedagogia freiriana, que respeita o
meninas e meninos no centro das decisões valor da pluralidade dos sujeitos na escola.
de escolha dos conteúdos de interesses e das Os estudantes educomunicadores são
formas de expressão pela mídia transforma nossos parceiros. Um exemplo notável foi a
estes profissionais em militantes do direito participação na maior pesquisa sobre o que
à comunicação democrática e participativa pensa o estudante sobre Educação no país.
na comunidade escolar. Em 2017, estudantes do Programa
Essa é a premissa dos projetos de Imprensa Jovem organizaram uma consulta
educomunicação desenvolvidos na Rede pública que reuniu 43.655 estudantes que
Municipal de Ensino. Projetos que têm puderam falar o que pensam sobre
como fundamento básico a proposição do educação e escola. Pela primeira vez na
diálogo permanente dos estudantes com a Rede, o Currículo da Cidade promoveu o
comunidade escolar. pensamento do estudante, incluindo os
Por meio de proposições, como Rádio dados da pesquisa como referência ao
Escolar, Produção Audiovisual, Cinema, trabalho pedagógico dos professores.
Fotografia, Comunicação pelas Redes O reconhecimento da prática de
Sociais, Jornal Mural e Impresso, História Educomunicação na Rede é inegável. Seja
em Quadrinhos, Fanzine, Agências de pela inspiração da criação de lei municipal,
Notícias, dentre outros, crianças, pelo impacto na diminuição da violência
adolescentes e jovens, estudantes da nas escolas, pelos prêmios nacionais e
Educação Infantil ao Ensino Fundamental, internacionais conquistados, pela referência
desenvolvem o seu direito à comunicação no Brasil com a Alfabetização Midiática
democrática e responsável. Elas e eles, Informacional, segundo a Unesco.
coletivamente, constroem suas produções A construção de uma proposta de
com propósito de intervenção social nas educação que inova pela solidariedade e a
suas comunidades, como campanhas, parceria entre estudantes e professores
difusão de iniciativas educacionais, mediada pelos princípios da democracia são
promoção de cultura de paz com e pela os lemas da educomunicação, uma proposta
comunicação para apoiar o convívio que tem força e capacidade de oferecer um
escolar, utilizando uma comunicação bem paradigma de educação pública que rompe
peculiar: estudante falando com/para barreiras, rumo a uma educação de
estudante. qualidade a todos.
Nesse percurso, estudantes produzem e
realizam a leitura crítica da mídia alinhada Caso queira ter acesso à íntegra deste
à Matriz de Saberes, e suas produções material, acessar o link abaixo:
contribuem para promoção da educação https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
para os Objetivos do Desenvolvimento br/acervo/revista--magisterio-n-10-
Sustentável nas comunidades escolares. educomunicacao
As iniciativas para construir uma cultura
educomunicativa na Rede só são possíveis
por meio da formação continuada dos
profissionais da Educação. Desde 2001,
com a implantação do Projeto
Educom.Rádio, a Rede Municipal de
Ensino tem recebido em seus territórios
especialistas em Educomunicação para
ampliar o repertório das linguagens de

39
Informática

presencial, que é a modalidade motriz da


São Paulo (SP). Secretaria Municipal de educação pública paulistana.
Educação. Coordenadoria Pedagógica. Dito isso, é também importante registrar
Uso de tecnologias em contexto de
os esforços que temos feito e faremos, a
pandemia: o que aprendemos e como
partir deste documento, para qualificação
prosseguir aprendendo?– São Paulo :
SME / COPED, 2021. de estratégias potentes que poderão resultar
no uso adequado e assertivo dos diversos
dispositivos e instrumentos tecnológicos
USO DE TECNOLOGIAS EM que foram adquiridos para nossa rede de
CONTEXTO DE PANDEMIA: O QUE ensino, quais sejam: tablets para uso
APRENDEMOS E COMO individual dos estudantes e nos
PROSSEGUIR APRENDENDO? Laboratórios de Educação Digital (LED),
além dos notebooks adquiridos para uso
Sabemos que o contexto da pandemia, exclusivo das(os) professoras(es).
ainda vivenciada, trouxe para toda a Neste documento, vocês encontrarão um
sociedade mundial diversos lutos, desafios pequeno registro do que representou esse
e aprendizagens. Isso tudo não foi diferente contexto pandêmico para a educação,
para os brasileiros, paulistas e paulistanos, fazendo erigir o uso das TDIC, a elucidação
incluindo vocês e nossos bebês, crianças, de alguns termos importantes e os
adolescentes, jovens e adultos que consequentes resultados práticos de sua
compõem a Rede Municipal de Ensino de compreensão para que, nos próximos anos,
São Paulo. possamos investir – ainda mais – nas
Entre as poucas certezas que poderemos aprendizagens de nossos bebês, crianças,
ter diante de um contexto altamente adolescentes, jovens e adultos por meio
desafiador, queremos destacar o papel desse instrumento tão indispensável
preponderante – do presente e do futuro chamado tecnologia.
– que as Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDIC) terão Caso queira ter acesso à íntegra deste
em nossa sociedade. Com certeza, a material, acessar o link abaixo:
educação não estará apartada dos usos https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/
sociais que se darão por meio das wp-content/uploads/2021/09/Uso-de-
tecnologias. Tecnologias_versao-final-2.pdf
Este documento reúne discussões
importantes, a partir desse contexto Secretaria Municipal de Educação.
pandêmico, em relação a conceitos, Coordenadoria Pedagógica. Currículo da
procedimentos, inspirações de práticas e cidade : Ensino Fundamental :
sugestões importantes que poderão compor componente curricular:Tecnologias para
alguns próximos passos para que, como Aprendizagem. – 2.ed. – São Paulo : SME
rede, planejemos o lugar das TDIC na / COPED, 2019.
promoção de saberes, conhecimentos e http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
aprendizagens. als/1/Files/50630.pdf
Nesse sentido, foram elucidados termos
que, apesar de não haverem nascido no
contexto da pandemia, ganharam relevância TECNOLOGIAS PARA
e chegaram a casa de muitos brasileiros. APRENDIZAGEM
Refiro-me, em especial, a: “ensino
híbrido”, “ensino remoto”, “educação a O Currículo da Cidade busca alinhar as
distância” etc. Queremos registrar nosso orientações curriculares do Município de
sincero compromisso com o ensino São Paulo à Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), documento que define

40
Informática

as aprendizagens essenciais a que todos os Continuidade: O processo de construção


estudantes brasileiros têm direito ao longo curricular procurou romper com a lógica da
da Educação Básica. A BNCC estrutura-se descontinuidade a cada nova administração
com foco em conhecimentos, habilidades, municipal, respeitando a memória, os
atitudes e valores para promover o encaminhamentos e as discussões
desenvolvimento integral dos estudantes e a realizadas em gestões anteriores e
sua atuação na sociedade. Sua integrando as experiências, práticas e
implementação acontece por meio da culturas escolares já existentes na Rede
construção de currículos locais, de Municipal de Ensino.
responsabilidade das redes de ensino e Relevância: O Currículo da Cidade foi
escolas, que têm autonomia para organizar construído para ser um documento
seus percursos formativos a partir da sua dinâmico, a ser utilizado cotidianamente
própria realidade, incorporando as pelos professores com vistas a garantir os
diversidades regionais e subsidiando a direitos de aprendizagem a todos os
forma como as aprendizagens serão estudantes da Rede.
desenvolvidas em cada contexto escolar. Colaboração: O documento foi
Diante disso, a Secretaria Municipal de elaborado considerando diferentes visões,
Educação de São Paulo – SME deu início concepções, crenças e métodos, por meio
ao processo de atualização curricular em de um processo dialógico e colaborativo,
março de 2017, com a realização de um que incorporou as vozes dos diversos
seminário municipal, que reuniu diretores e sujeitos que compõem a Rede.
coordenadores pedagógicos de todas as Contemporaneidade: A proposta
escolas de Ensino Fundamental da Rede, curricular tem foco nos desafios do mundo
professores de referência, além de gestores contemporâneo e busca formar os
e técnicos das Diretorias Regionais de estudantes para a vida no século XXI.
Educação (DREs).
De abril a junho, professores e O Currículo da Cidade foi construído
estudantes da Rede foram consultados por para todos os estudantes da Rede
meio de amplo processo de escuta, que Municipal de Ensino de São Paulo,
mapeou suas percepções e recomendações inclusive os que necessitam de atendimento
sobre o que e como aprender. Enquanto educacional especializado – aqueles que
43.655 estudantes enviaram suas têm algum tipo de deficiência,
percepções por meio de um questionário transtornos globais de desenvolvimento
individual disponibilizado via aplicativo, ou altas habilidades/superdotação.
16.030 educadores deram indícios de como Aplica-se, também, a crianças e
organizam suas práticas curriculares, adolescentes de diferentes origens étnico-
compartilhadas por meio do site da SME. raciais, além de imigrantes e refugiados de
Essas percepções e indicadores também vários países.
serviram como referência para a produção A proposta da atualização do Currículo
desse currículo. da Cidade de São Paulo reforça a mudança
O Currículo da Cidade foi construído de de paradigma que a sociedade
forma coletiva, tanto para espelhar a contemporânea vive, na qual o currículo
identidade da Rede Municipal de Ensino de não deve ser concebido de maneira que o
São Paulo, quanto para assegurar que seja estudante se adapte aos moldes que a escola
incorporado por todos os seus integrantes. oferece, mas como um campo aberto à
O processo foi realizado sob a orientação diversidade. Essa diversidade não é no
da Coordenadoria Pedagógica (COPED) da sentido de que cada estudante poderia
Secretaria Municipal de Educação de São aprender conteúdos diferentes, mas sim
Paulo, tendo como base as seguintes aprender conteúdos de diferentes maneiras.
premissas para sua construção:

41
Informática

Para que esses estudantes tenham seus cada componente curricular foram
direitos garantidos, reconhece-se a elaborados por Grupos de Trabalho (GTs)
necessidade de adequações didáticas e formados por professores, supervisores e
metodológicas que levem em consideração técnicos da Secretaria Municipal de
suas peculiaridades, documentos esses que Educação de São Paulo e das Diretorias
serão produzidos pela SME dialogando Pedagógicas (DIPEDs) das Diretorias
com o Currículo da Cidade. Regionais de Educação (DREs). Os GTs
O Currículo da Cidade estrutura-se com reuniram-se de março a junho de 2017 e
base em três conceitos orientadores: produziram a primeira versão do Currículo
Educação Integral: Tem como da Cidade. No mês de agosto essa versão foi
propósito essencial promover o colocada para consulta das equipes gestora
desenvolvimento integral dos estudantes, e docente, supervisores e formadores das
considerando as suas dimensões intelectual, DREs, no Sistema de Gestão Pedagógica
social, emocional, física e cultural. (SGP), totalizando mais de 9.000 leituras e
Equidade: Partimos do princípio de que mais de 2.550 contribuições que foram
todos os estudantes são sujeitos íntegros, analisadas pelas equipes técnicas do Núcleo
potentes, autônomos e, portanto, capazes de Técnico de Currículo (NTC) e Divisão de
aprender e desenvolver-se, contanto que Ensino Fundamental e Médio (DIEFEM).
os processos educativos a eles destinados Além disso, a primeira versão do
considerem suas características e seu documento foi encaminhada a leitores
contexto e tenham significado para suas críticos que também trouxeram
vidas. Assim sendo, buscamos fortalecer contribuições.
políticas de equidade, explicitando os Após a incorporação das contribuições
direitos de aprendizagem, garantindo as pelas equipes técnicas do NTC/DIEFEM, o
condições necessárias para que eles sejam documento tem sua versão finalizada, para
assegurados a cada criança e adolescente da ser implementado pelas escolas da Rede. As
Rede Municipal de Ensino, independente ações de implementação contarão com
da sua realidade socioeconômica, cultural, orientações didáticas, materiais curriculares
étnico-racial ou geográfica. e formação continuada.
Educação Inclusiva: Respeitar e Caso queira ter acesso à íntegra deste
valorizar a diversidade e a diferença, material, acessar o link abaixo:
reconhecendo o modo de ser, de pensar e de http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Porta
aprender de cada estudante, propiciando ls/1/Files/50630.pdf
desafios adequados às suas características
biopsicossociais, apostando nas suas
possibilidades de crescimento e orientando- Secretaria Municipal de Educação. O uso
da tecnologia e da linguagem midiática na
se por uma perspectiva de educação
Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT,
inclusiva, plural e democrática. 2015.

O Currículo da Cidade foi organizado


em três Ciclos (Alfabetização, Na sociedade contemporânea, desde que
Interdisciplinar e Autoral) e apresenta uma nascem, meninos e meninas estão
Matriz de Saberes, os Objetivos de cotidianamente inseridos em um universo
Desenvolvimento Sustentável, os Eixos midiático que é potencializado por
Estruturantes, os Objetos de Conhecimento diferentes recursos tecnológicos e digitais.
e os Objetivos de Aprendizagem e O computador, o celular, a TV, o rádio, a
Desenvolvimento de cada Componente câmera fotográfica, o gravador de voz, a
Curricular. filmadora e o projetor são bons exemplos de
Os objetos de conhecimento e objetivos recursos que permeiam o cotidiano de
de aprendizagem e desenvolvimento de nossas crianças dentro e fora das Unidades

42
Informática

Educacionais (UEs). Atentas, curiosas e Nosso objetivo com este texto é


com um olhar sempre investigativo, os subsidiar as educadoras e os educadores em
bebês e as crianças, mesmo as bem seus estudos e pesquisas nos momentos
pequenas, vão se apropriando das coletivos para o fortalecimento das práticas
possibilidades de interação com esse pedagógicas que utilizam os recursos
universo e das diferentes formas pelas quais tecnológicos e midiáticos em ambientes
os adultos estabelecem relações híbridos, de modo a democratizar o acesso,
comunicativas e expressivas com esses provocando discussões sobre a presença, o
recursos midiáticos, tecnológicos e digitais. papel e a potencialidade destes nas UEs
Em consonância com o Programa Mais como suportes das manifestações
Educação São Paulo – Programa de expressivas dos bebês e das crianças, como
Reorientação Curricular e Administrativa, recursos que ampliem a pesquisa, a
Ampliação e Fortalecimento da Rede descoberta, a investigação, a observação, a
Municipal de Ensino de São Paulo comunicação, a interação e a divulgação
(RMESP), a Diretoria de Orientação das experiências infantis em conjunto com
Técnica – Educação Infantil (DOT-EI) vem diferentes formas de linguagem. Tais
trabalhando em parceria com a Rede o interações são possibilitadas a partir da
conceito de Currículo Integrador da ação das educadoras e dos educadores para
Infância Paulistana, a partir do propor novos modos de organização do
fortalecimento das concepções expressas espaço e do tempo que garantam aos bebês
nas Diretrizes Curriculares Nacionais e na e crianças experiências enriquecedoras e
Orientação Normativa nº 01/2013 significativas com os recursos tecnológicos
“Avaliação na Educação Infantil: e midiáticos.
aprimorando os olhares”. Tais documentos Isto deve acontecer de maneira
defendem que as propostas pedagógicas das contextualizada no cotidiano das crianças
Unidades Educacionais de vem ter como em suas vivências, estando esses materiais
um de seus princípios a valorização das disponíveis ao acesso.
múltiplas linguagens infantis como formas O papel das educadoras e educadores é
de expressão e não como disciplinas importantíssimo como “observador
escolares e/ou áreas do conhecimento. participativo” (SÃO PAULO, 2013). São
Muitas indagações nos cercam nesse esses atores que, a partir de seu olhar atento,
contexto: como conjugar brinquedos, sensível, interessado nos bebês e nas
papéis, tesouras, tintas, lápis de cor, lupas, crianças, movem-se partindo de uma
lanternas, massa de modelar, areia, indagação: como proporcionar uma
computador, câmera digital, projetor, organização do espaço de forma criativa, na
scanner, gravador, TV, rádio e outros qual a escola da infância seja um território
materiais no cotidiano da Educação Infantil de amplas possibilidades de imaginação, de
constituindo ambientes híbridos, espaços criação, de invenção, de descoberta, de
ricos em possibilidades de experiências acolhimento e de viver a plenitude de uma
para as crianças? Como o espaço e o tempo infância potente e feliz?
deverão ser organizados para a utilização de Para isso, defendemos que educadoras e
tais recursos? Quem deve utilizar esses educadores tenham como princípio de sua
materiais, as crianças ou somente os prática pedagógica o interesse pelos
adultos? Que interações deverão ser potenciais, pensamentos, formas de
asseguradas entre crianças e essa gama de expressão, ideias e teorias dos bebês e
recursos? Como os diferentes espaços das crianças. Educadoras e educadores podem
UEs devem traduzir-se em ambientes de apoiar experiências infantis a partir da
infinitas possibilidades de descobertas, organização dos espaços, dos tempos e dos
experiências e criação para as crianças? diferentes materiais que fazem parte do
cotidiano das Unidades de Educação

43
Informática

Infantil. O espaço da EU deve ser momento os recursos tecnológicos e


considerado como um importante elemento digitais devem ser apresentados aos bebês?
curricular, ser planejado de forma a garantir Em que contexto? Por estarem, em alguns
que os bebês e as crianças vivenciem casos, expostos a estes estímulos em suas
experiências cotidianas de participação, de residências, cabe à escola trazer para as
escolha, de recolhimento, de diferentes atividades pedagógicas esta cultura? Com
interações, de colaboração, de valorização e qual finalidade? É adequado? O que dizem
de formas de expressão. as pesquisas que tratam deste assunto?
É preciso abrir o debate sobre a relação Seria oportuno disponibilizar e
entre as linguagens midiáticas e a Educação compartilhar experiências desenvolvidas na
Infantil, além de como os recursos Rede para que se possa analisar e buscar
tecnológicos, digitais e as mídias estão referencial teórico e prático e, assim, a
presentes e sendo utilizados de diferentes partir destas bases, estimular o
formas nas UEs. protagonismo e a autoria de educadoras e
Na RMESP vivencia-se duas situações educadores que trabalham com bebês e
distintas, uma delas é o Laboratório de crianças, a partir do diagnóstico e da
Informática. A outra, são os espaços avaliação destas vivências.
híbridos, em que se utilizam recursos As reflexões acima e os aspectos que
tecnológicos em experiências e atividades serão destacados neste documento devem
diversas com os bebês e as crianças, que estar presentes durante os estudos e
podem ser considerados como pesquisas das educadoras e educadores em
provocadores de reflexões e diálogos, momentos coletivos, considerando a
contribuindo para a construção do Orientação Normativa nº 01/2013, no que
Currículo Integrador da Infância Paulistana. tange à construção do Projeto Político-
Como deve ser um trabalho que leve em Pedagógico (PPP). Tal Orientação
conta o desenvolvimento da autonomia de compreende e considera os diferentes
educadoras e educadores de bebês e contextos socioculturais das crianças, bem
crianças, que tenha como mote os recursos como interesses e necessidades delas.
tecnológicos e digitais? Como criar esta Considera também, o bebê e a criança como
cultura de apropriação para que educadores pessoas capazes, que têm direito a serem
e crianças sejam protagonistas de ações de ouvidas e levadas a sério em suas
aprendizagem? especificidades como sujeitos potentes,
Esta não é tarefa fácil e deve ser refletida socialmente competentes, com direito à voz
e concebida na perspectiva de uma gestão e à participação nas escolhas, respeitando a
democrática que leve em consideração o especificidade de cada faixa etária,
bom uso dos espaços e permita “os entendendo que os bebês e as crianças dos
deslocamentos e os movimentos amplos das Centros de Educação Infantil e das Escolas
crianças nos espaços internos e externos às Municipais de Educação Infantil têm
salas de referência das turmas e à necessidades de espaços e tempos
instituição” (BRASIL, 2009). diferentes.
É preciso, ainda, refletir sobre o quê e A proposta é democratizar o acesso e
como se oferecem mídias e recursos digitais criar ambientes que possibilitem a
aos bebês e crianças e como concebemos expressão e a manifestação do bebê e da
este uso, tendo claro que é imprescindível criança nas diferentes linguagens e nos
superar o uso comercial de mera instrução e modos de agir, para que eles criem e
reprodução, ressignificando estas mídias e recriem, vejam o mundo com seus próprios
recursos para que possam ser instrumen tos olhos, levantem hipóteses, construam
de ação e experiências críticas e relações e teorias numa concepção de
significativas para bebês e crianças. infância que produz cultura e que inventa
Necessita-se pesquisar sobre em que

44
Informática

outras tantas possibilidades de conhecer e Pensamento Computacional e fomento ao


experimentar o mundo. pensamento criativo;
- desenvolver o trabalho com os projetos.
Caso queira ter acesso à íntegra deste
material, acessar o link abaixo: Professor Orientador de Educação
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Porta Digital – POED
ls/1/Files/17138.pdf É o professor que ministra as aulas do
Laboratório de Educação Digital, de
Tecnologias no Ensino Médio e de
Instrução Normativa SME nº 52, de Informática Aplicada à Educação do Curso
10/12/2021 - Dispõe sobre a organização
Normal de Nível Médio, eleito pelo
dos Laboratórios de Educação Digital -
LED, e dá outras providências
Conselho de Escola e designado por ato do
Secretário Municipal de Educação.
As atribuições do POED não se
Instrução Normativa SME nº 52, de confundem com as do Coordenador
10/12/2021 - Dispõe sobre a organização Pedagógico da Unidade Educacional,
dos Laboratórios de Educação Digital - Diretoria Regional de Educação.
LED, e dá outras providências.12 A convocação do POED para participar
da formação continuada em serviço dar-se-
Esta Instrução dispõe sobre a á por meio de norma específica.
organização dos Laboratórios de Educação
Digital - LED, e dá outras providências. Carga Horária das Aulas
Assegurada a atribuição de todas as
Objetivos do Trabalho com aulas para fins de composição da Jornada
Tecnologias para Aprendizagem: Básica Docente - JBD ou Jornada Especial
- integrar e favorecer o desenvolvimento Integral de Formação – JEIF, serão
do Projeto Político-Pedagógico da Unidade atribuídas na ordem:
Educacional; - até 2 (duas) horas-aula para
- contribuir com a efetivação da Política organização do espaço, equipamentos do
Educacional da Secretaria Municipal de LED, pesquisa, planejamento e execução de
Educação; aulas voltadas a Educação Maker;
- contribuir com a integração das - até 6 (seis) horas-aula de Projeto de
diferentes Áreas de Conhecimento e Articulação e desenvolvimento de saberes
atividades complementares; ligados ao uso de Tecnologias;
- aprimorar as ações, pautadas no - até 2 (duas) horas-aula para docência
Currículo da Cidade - Tecnologias para compartilhada no Ciclo Interdisciplinar;
Aprendizagem - TPA, na perspectiva da - até 2 (duas) horas-aulas de Trabalho
educação integral, da equidade e da Colaborativo de Autoria – TCA.
educação inclusiva, tendo a garantia das
aprendizagens para referenciar o trabalho Acervo do Laboratório de Educação
pedagógico e o ambiente escolar como Digital LED
local de promoção do protagonismo do O acervo do Laboratório de Educação
estudante; Digital LED, mencionado no inciso III do
- articular o trabalho com Tecnologias a artigo 7º, é constituído pelos seguintes
favor das aprendizagens dos estudantes; equipamentos:
- promover o Laboratório de Educação - 01 Computador Desktop;
Digital como ambiente privilegiado para - 01 projetor multimídia;
experimentação e desenvolvimento do - Caixa de som;

12
https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/instrucao-normativa- 2021#:~:text=Art.,da%20Rede%20Municipal%20de%20Ensino., visitado
secretaria-municipal-de-educacao-sme-52-de-10-de-dezembro-de- em: 12.09.2022.

45
Informática

- 20 notebooks;
- 01 Impressora 3D;
- 20 tablets;
- 04 kits de Robótica.

Caso queira ter acesso na íntegra, visite:


https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/i
nstrucao-normativa-secretaria-municipal-
de-educacao-sme-52-de-10-de-dezembro-
de-
2021#:~:text=Art.,da%20Rede%20Munici
pal%20de%20Ensino.

46
Legislação Específica: Federais e Municipais

SUMÁRIO

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - artigos 5, 37, 38, 39 ,40,


205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214 ao 229. ..................................... 1
Lei Federal n.º 8.069, de 13/07/1990 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Artigos 53 a 59 e 136 a 137. ................... 36
Lei Federal n.º 9.394, de 20/12/1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. ............................................................................................................... 38
Lei Federal nº 10.436, de 24/04/2002 - Dispõe sobre a língua brasileira de sinais -
Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr. 2002.
Seção 1, p. 23. ...................................................................................................... 68
Lei Federal n.º 10.639, de 09/01/2003 – Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e dá outras providências ............................................................ 69
Lei n.º 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História
e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. .......................................... 69
Lei Federal n.º 10.793, de 01/12/2003 – Altera a redação do art. 26, § 3º, e do art. 92
da Lei n.º 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 69
Lei Federal n.º 11.645, de 10/03/2008 – Altera a Lei n.º 9.394/96, modificada pela
Lei n.º 10.639/03, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para
incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. .................................................................... 70
Lei Federal nº 11.114/05 de 16/05/2005 - Altera os arts. 6º , 30, 32 e 87 da Lei nº
9.394, de 20/12/96, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental
aos seis anos de idade. .......................................................................................... 70

Apostilas
Domínio
Legislação Específica: Federais e Municipais

Lei Federal nº 12.796, de 04/04/2013 – Altera a Lei n.º 9.394/96, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais
da educação e dar outras providências. ................................................................ 71
Lei Federal nº 13.005 de 25/06/2014 - Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE
e dá outras providências. ...................................................................................... 74
Lei Federal nº 13.146, de 06/07/2015 – Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Cap IV. ........................ 75
Lei Federal nº 14.191 de 03/08/2021 - inclui o capítulo V-A, na Lei 9394/96, que
trata da Educação Bilíngue para Surdos. .............................................................. 77
Resolução CNE/CEB nº 1, de 28/05/2021 - Institui Diretrizes Operacionais para a
Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos ao seu alinhamento à Política
Nacional de Alfabetização (PNA) e à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e
Educação de Jovens e Adultos à Distância. ......................................................... 79
Resolução CNE/CEB nº 4, de 13/07/2010 - Define Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educação Básica. ............................................................................ 80
Resolução CNE/CEB nº 5, de 17/12/2009 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil ........................................................................................ 83
Resolução CNE/CEB nº 1, de 05/07/2000 - Estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. ................................................ 83
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, de 11/09/2001 - Institui Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica. ........................................................... 84
Parecer CNE/CEB nº 2/2007, 31/01/2007 - Parecer quanto à abrangência das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. ................................. 86
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília:
MEC/SEESP, 2008. .............................................................................................. 88

Apostilas
Domínio
Legislação Específica: Federais e Municipais

CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - CONSED;


UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO -
UNDIME; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Frente de Trabalho da Base Nacional
Docente. Referenciais Profissionais Docentes para Formação Continuada. Brasília:
Consed/ Undime/ MEC, 2019. ............................................................................. 90
CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - CONSED;
UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO -
UNDIME. Anexo Proposta de Matriz de Desenvolvimento Profissional Docente,
BNC-Formação Continuada na Prática: Implementando processos formativos
orientados por referenciais profissionais. Brasília: Consed/ Undime, 2021 ......... 92

Apostilas
Domínio
Legislação Específica: Federais e Municipais

o direito à paz, ao meio ambiente


Constituição da República Federativa do equilibrado.
Brasil de 1988 - artigos 5, 37, 38, 39 ,40, A quarta dimensão de direitos
205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, fundamentais diz respeito à engenharia
213, 214 ao 229. genética (patrimônio genético de cada
indivíduo), do qual se extraem direitos
como congelamento de embrião, pesquisas
Direitos e Garantias Fundamentais com células-tronco, inseminação artificial,
barriga de aluguel etc.
Os direitos e garantias fundamentais são A quinta dimensão de direitos estão
termos que se distinguem, de modo que são voltadas ao universo virtual. Sendo
direitos fundamentais os benefícios que conhecida como época do direito
possuem respaldo na Constituição Federal, cibernético e os famosos crimes virtuais.
enquanto que as garantias fundamentais A sexta dimensão de direitos
servem para exercícios dos direitos fundamentais está em fase de construção e
fundamentais. muitos entendem que busca-se a felicidade
Os direitos fundamentais são dirigidos nessa dimensão.
não apenas as pessoas brasileiras, mas todas
aquelas que estejam no território nacional, Dispositivos da Constituição Federal
sejam brasileiros, estrangeiros, que aqui sobre o tema:
residam ou não.
TÍTULO II
Eficácia DOS DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS
Nos direitos fundamentais temos dois CAPÍTULO I
tipos de eficácia: vertical e horizontal. DOS DIREITOS E DEVERES
Na eficácia vertical temos a imposição INDIVIDUAIS E COLETIVOS
de obrigações positivas ou negativas ao
Estado. Art. 5º Todos são iguais perante a lei,
Na eficácia horizontal temos o respeito sem distinção de qualquer natureza,
aos cidadãos com relação as demais pessoas garantindo-se aos brasileiros e aos
da sociedade. estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à
Dimensão dos Direitos Fundamentais liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
A primeira dimensão de direitos I - homens e mulheres são iguais em
fundamentais buscava impor limites à direitos e obrigações, nos termos desta
atuação do Estado e à criação de um Estado Constituição;
liberal; conhecida como direito à prestação II - ninguém será obrigado a fazer ou
negativa (non facere) do Estado. Exemplos: deixar de fazer alguma coisa senão em
os direitos à liberdade, à vida. virtude de lei;
A segunda dimensão de direitos III - ninguém será submetido a tortura
fundamentais é conhecida como direito à nem a tratamento desumano ou
prestação positiva (facere), dentre os quais degradante;
se destacam os direitos sociais como saúde, IV - é livre a manifestação do
trabalho. pensamento, sendo vedado o anonimato;
A terceira dimensão de direitos V - é assegurado o direito de resposta,
fundamentais é chamada de direitos proporcional ao agravo, além da
metaindividuais ou transindividuais, como indenização por dano material, moral ou à
imagem;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

VI - é inviolável a liberdade de entrar, permanecer ou dele sair com seus


consciência e de crença, sendo assegurado bens;
o livre exercício dos cultos religiosos e XVI - todos podem reunir-se
garantida, na forma da lei, a proteção aos pacificamente, sem armas, em locais
locais de culto e a suas liturgias; abertos ao público, independentemente de
VII - é assegurada, nos termos da lei, a autorização, desde que não frustrem outra
prestação de assistência religiosa nas reunião anteriormente convocada para o
entidades civis e militares de internação mesmo local, sendo apenas exigido prévio
coletiva; aviso à autoridade competente;
VIII - ninguém será privado de direitos XVII - é plena a liberdade de associação
por motivo de crença religiosa ou de para fins lícitos, vedada a de caráter
convicção filosófica ou política, salvo se as paramilitar;
invocar para eximir-se de obrigação legal XVIII - a criação de associações e, na
a todos imposta e recusar-se a cumprir forma da lei, a de cooperativas independem
prestação alternativa, fixada em lei; de autorização, sendo vedada a
IX - é livre a expressão da atividade interferência estatal em seu
intelectual, artística, científica e de funcionamento;
comunicação, independentemente de XIX - as associações só poderão ser
censura ou licença; compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
X - são invioláveis a intimidade, a vida atividades suspensas por decisão judicial,
privada, a honra e a imagem das pessoas, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
assegurado o direito a indenização pelo em julgado;
dano material ou moral decorrente de sua XX - ninguém poderá ser compelido a
violação; associar-se ou a permanecer associado;
XI - a casa é asilo inviolável do XXI - as entidades associativas, quando
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar expressamente autorizadas, têm
sem consentimento do morador, salvo em legitimidade para representar seus filiados
caso de flagrante delito ou desastre, ou judicial ou extrajudicialmente;
para prestar socorro, ou, durante o dia, por XXII - é garantido o direito de
determinação judicial; propriedade;
XII - é inviolável o sigilo da XXIII - a propriedade atenderá a sua
correspondência e das comunicações função social;
telegráficas, de dados e das comunicações XXIV - a lei estabelecerá o
telefônicas, salvo, no último caso, por procedimento para desapropriação por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma necessidade ou utilidade pública, ou por
que a lei estabelecer para fins de interesse social, mediante justa e prévia
investigação criminal ou instrução indenização em dinheiro, ressalvados os
processual penal; casos previstos nesta Constituição;
XIII - é livre o exercício de qualquer XXV - no caso de iminente perigo
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as público, a autoridade competente poderá
qualificações profissionais que a lei usar de propriedade particular, assegurada
estabelecer; ao proprietário indenização ulterior, se
XIV - é assegurado a todos o acesso à houver dano;
informação e resguardado o sigilo da fonte, XXVI - a pequena propriedade rural,
quando necessário ao exercício assim definida em lei, desde que trabalhada
profissional; pela família, não será objeto de penhora
XV - é livre a locomoção no território para pagamento de débitos decorrentes de
nacional em tempo de paz, podendo sua atividade produtiva, dispondo a lei
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

XXVII - aos autores pertence o direito XXXV - a lei não excluirá da apreciação
exclusivo de utilização, publicação ou do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
reprodução de suas obras, transmissível direito;
aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXXVI - a lei não prejudicará o direito
XXVIII - são assegurados, nos termos da adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
lei: julgada;
a) a proteção às participações XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de
individuais em obras coletivas e à exceção;
reprodução da imagem e voz humanas, XXXVIII - é reconhecida a instituição do
inclusive nas atividades desportivas; júri, com a organização que lhe der a lei,
b) o direito de fiscalização do assegurados:
aproveitamento econômico das obras que a) a plenitude de defesa;
criarem ou de que participarem aos b) o sigilo das votações;
criadores, aos intérpretes e às respectivas c) a soberania dos veredictos;
representações sindicais e associativas; d) a competência para o julgamento dos
XXIX - a lei assegurará aos autores de crimes dolosos contra a vida;
inventos industriais privilégio temporário XXXIX - não há crime sem lei anterior
para sua utilização, bem como proteção às que o defina, nem pena sem prévia
criações industriais, à propriedade das cominação legal;
marcas, aos nomes de empresas e a outros XL - a lei penal não retroagirá, salvo
signos distintivos, tendo em vista o para beneficiar o réu;
interesse social e o desenvolvimento XLI - a lei punirá qualquer
tecnológico e econômico do País; discriminação atentatória dos direitos e
XXX - é garantido o direito de herança; liberdades fundamentais;
XXXI - a sucessão de bens de XLII - a prática do racismo constitui
estrangeiros situados no País será crime inafiançável e imprescritível, sujeito
regulada pela lei brasileira em benefício do à pena de reclusão, nos termos da lei;
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre XLIII - a lei considerará crimes
que não lhes seja mais favorável a lei inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
pessoal do "de cujus"; anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito
XXXII - o Estado promoverá, na forma de entorpecentes e drogas afins, o
da lei, a defesa do consumidor; terrorismo e os definidos como crimes
XXXIII - todos têm direito a receber dos hediondos, por eles respondendo os
órgãos públicos informações de seu mandantes, os executores e os que,
interesse particular, ou de interesse podendo evitá-los, se
coletivo ou geral, que serão prestadas no omitirem; (Regulamento)
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, XLIV - constitui crime inafiançável e
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescritível a ação de grupos armados,
imprescindível à segurança da sociedade e civis ou militares, contra a ordem
do Estado; constitucional e o Estado Democrático;
XXXIV - são a todos assegurados, XLV - nenhuma pena passará da pessoa
independentemente do pagamento de taxas: do condenado, podendo a obrigação de
a) o direito de petição aos Poderes reparar o dano e a decretação do
Públicos em defesa de direitos ou contra perdimento de bens ser, nos termos da lei,
ilegalidade ou abuso de poder; estendidas aos sucessores e contra eles
b) a obtenção de certidões em executadas, até o limite do valor do
repartições públicas, para defesa de patrimônio transferido;
direitos e esclarecimento de situações de XLVI - a lei regulará a individualização
interesse pessoal; da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:

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Legislação Específica: Federais e Municipais

a) privação ou restrição da liberdade; LIX - será admitida ação privada nos


b) perda de bens; crimes de ação pública, se esta não for
c) multa; intentada no prazo legal;
d) prestação social alternativa; LX - a lei só poderá restringir a
e) suspensão ou interdição de direitos; publicidade dos atos processuais quando a
XLVII - não haverá penas: defesa da intimidade ou o interesse social o
a) de morte, salvo em caso de guerra exigirem;
declarada, nos termos do art. 84, XIX; LXI - ninguém será preso senão em
b) de caráter perpétuo; flagrante delito ou por ordem escrita e
c) de trabalhos forçados; fundamentada de autoridade judiciária
d) de banimento; competente, salvo nos casos de
e) cruéis; transgressão militar ou crime
XLVIII - a pena será cumprida em propriamente militar, definidos em lei;
estabelecimentos distintos, de acordo com LXII - a prisão de qualquer pessoa e o
a natureza do delito, a idade e o sexo do local onde se encontre serão comunicados
apenado; imediatamente ao juiz competente e à
XLIX - é assegurado aos presos o família do preso ou à pessoa por ele
respeito à integridade física e moral; indicada;
L - às presidiárias serão asseguradas LXIII - o preso será informado de seus
condições para que possam permanecer direitos, entre os quais o de permanecer
com seus filhos durante o período de calado, sendo-lhe assegurada a assistência
amamentação; da família e de advogado;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, LXIV - o preso tem direito à
salvo o naturalizado, em caso de crime identificação dos responsáveis por sua
comum, praticado antes da naturalização, prisão ou por seu interrogatório policial;
ou de comprovado envolvimento em tráfico LXV - a prisão ilegal será
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na imediatamente relaxada pela autoridade
forma da lei; judiciária;
LII - não será concedida extradição de LXVI - ninguém será levado à prisão ou
estrangeiro por crime político ou de nela mantido, quando a lei admitir a
opinião; liberdade provisória, com ou sem fiança;
LIII - ninguém será processado nem LXVII - não haverá prisão civil por
sentenciado senão pela autoridade dívida, salvo a do responsável pelo
competente; inadimplemento voluntário e inescusável
LIV - ninguém será privado da liberdade de obrigação alimentícia e a do depositário
ou de seus bens sem o devido processo infiel;
legal; LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus"
LV - aos litigantes, em processo judicial sempre que alguém sofrer ou se achar
ou administrativo, e aos acusados em geral ameaçado de sofrer violência ou coação em
são assegurados o contraditório e ampla sua liberdade de locomoção, por
defesa, com os meios e recursos a ela ilegalidade ou abuso de poder;
inerentes; LXIX - conceder-se-á mandado de
LVI - são inadmissíveis, no processo, as segurança para proteger direito líquido e
provas obtidas por meios ilícitos; certo, não amparado por "habeas-corpus"
LVII - ninguém será considerado ou "habeas-data", quando o responsável
culpado até o trânsito em julgado de pela ilegalidade ou abuso de poder for
sentença penal condenatória; autoridade pública ou agente de pessoa
LVIII - o civilmente identificado não jurídica no exercício de atribuições do
será submetido a identificação criminal, Poder Público;
salvo nas hipóteses previstas em lei;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

LXX - o mandado de segurança coletivo LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e


pode ser impetrado por: administrativo, são assegurados a razoável
a) partido político com representação duração do processo e os meios que
no Congresso Nacional; garantam a celeridade de sua tramitação
b) organização sindical, entidade de (Vide ADIN 3392)
classe ou associação legalmente LXXIX - é assegurado, nos termos da lei,
constituída e em funcionamento há pelo o direito à proteção dos dados pessoais,
menos um ano, em defesa dos interesses de inclusive nos meios digitais. (Incluído pela
seus membros ou associados; Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
LXXI - conceder-se-á mandado de § 1º As normas definidoras dos direitos
injunção sempre que a falta de norma e garantias fundamentais têm aplicação
regulamentadora torne inviável o exercício imediata.
dos direitos e liberdades constitucionais e § 2º Os direitos e garantias expressos
das prerrogativas inerentes à nesta Constituição não excluem outros
nacionalidade, à soberania e à cidadania; decorrentes do regime e dos princípios por
LXXII - conceder-se-á "habeas-data": ela adotados, ou dos tratados
a) para assegurar o conhecimento de internacionais em que a República
informações relativas à pessoa do Federativa do Brasil seja parte.
impetrante, constantes de registros ou § 3º Os tratados e convenções
bancos de dados de entidades internacionais sobre direitos humanos que
governamentais ou de caráter público; forem aprovados, em cada Casa do
b) para a retificação de dados, quando Congresso Nacional, em dois turnos, por
não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, três quintos dos votos dos respectivos
judicial ou administrativo; membros, serão equivalentes às emendas
LXXIII - qualquer cidadão é parte constitucionais. (Vide ADIN 3392
legítima para propor ação popular que vise § 4º O Brasil se submete à jurisdição de
a anular ato lesivo ao patrimônio público Tribunal Penal Internacional a cuja
ou de entidade de que o Estado participe, à criação tenha manifestado adesão.
moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e !!! Atenção para a inclusão do direito à
cultural, ficando o autor, salvo proteção de dados pessoais, antes não era
comprovada má-fé, isento de custas constitucionalmente um direito
judiciais e do ônus da sucumbência; constitucional fundamental, portanto há
LXXIV - o Estado prestará assistência grandes chances de ser cobrado pelos
jurídica integral e gratuita aos que concursos.
comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o Questões
condenado por erro judiciário, assim como
o que ficar preso além do tempo fixado na 01. (TRT 4ª REGIÃO – Técnico
sentença; Judiciário - FCC/2022) Diante do que
LXXVI - são gratuitos para os dispõe a Constituição Federal sobre os
reconhecidamente pobres, na forma da direitos e garantias fundamentais,
lei: A - é a todos assegurada,
a) o registro civil de nascimento; independentemente do pagamento de taxas,
b) a certidão de óbito; a obtenção de certidões em repartições
LXXVII - são gratuitas as ações de públicas, para defesa de direitos e
"habeas-corpus" e "habeas-data", e, na esclarecimento de situações de interesse
forma da lei, os atos necessários ao pessoal.
exercício da cidadania. B - tendo em vista o princípio da
inviolabilidade, não é admitido o ingresso

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Legislação Específica: Federais e Municipais

na casa do indivíduo sem o consentimento afirmar que os direitos e garantias


do morador, em nenhuma hipótese. fundamentais têm como destinatários não
C - é permitida a criação de tribunal apenas os brasileiros, mas também os
penal especial para o julgamento de crimes estrangeiros, residentes ou não no Brasil, e
hediondos que provoquem grande apátridas, caso se encontrem dentro do
repercussão social. território nacional.
D - o princípio do direito à duração D - Decisão recente do Supremo
razoável do processo aplica-se Tribunal Federal reconhece como
exclusivamente no âmbito judicial, não beneficiários dos direitos e garantias
havendo qualquer disposição a esse respeito fundamentais acolhidos pela Constituição
àqueles que tramitam no âmbito Federal de 1988 não somente os brasileiros
administrativo, por serem estes, e estrangeiros residentes no Brasil, mas
naturalmente, mais céleres. também os estrangeiros de passagem pelo
E - conceder-se-á mandado de segurança território brasileiro, desde que haja, nesse
sempre que a falta de norma caso, tratado internacional entre o Brasil e o
regulamentadora torne inviável o exercício país de origem do estrangeiro, para que ele
dos direitos e liberdades constitucionais e tenha preservados seus direitos.
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, E - Uma análise sistematizada do texto
à soberania e à cidadania. constitucional permite afirmar que os
estrangeiros não residentes no Brasil são
02. (PC/RJ - Delegado de Polícia - detentores de direitos, limitados, no
CESPE-CEBRASPE/2022) O caput do entanto, àqueles que dizem respeito à vida
art. 5.º, iniciando o Título II da Constituição e à integridade física, em razão do que
Federal de 1988, referente aos direitos e dispõe o inciso III do art. 1.º da Carta
garantias fundamentais, estabelece, de Política, ao tratar da dignidade da pessoa
forma expressa, que todos são iguais humana como princípio fundamental da
perante a lei, sem distinção de qualquer República Federativa do Brasil.
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no Brasil Alternativas
determinados direitos. A respeito desse
assunto, assinale a opção correta. 01.A – 02.C
A - Embora o ordenamento jurídico
estabeleça que as pessoas jurídicas são Administração Pública
detentoras de personalidade jurídica, o
texto constitucional garante a plenitude de Princípios
direitos apenas às pessoas físicas. Sendo
assim, as pessoas jurídicas têm seus direitos Princípio da Legalidade
garantidos apenas com base na legislação Por ele, o administrador fica sujeito às
infraconstitucional. imposições da lei.
B - O texto constitucional é claro ao
prever que apenas os estrangeiros Princípio da Impessoalidade
residentes no Brasil dispõem de todos os Quando estamos diante da
direitos garantidos aos brasileiros. Assim, impessoalidade não nomeamos apenas um
os estrangeiros não residentes no Brasil sujeito, os atos são praticados visando o
estarão submetidos apenas ao ordenamento bem do interesse público. Os atos
jurídico de seu país de origem. praticados não se direcionam a um terceiro.
C - Os direitos e garantias fundamentais
destinam-se à proteção do ser humano em Princípio da Moralidade
sua totalidade. Assim, uma interpretação Tem relação ao brocardo que entende
teleológica e lógico-sistemática permite que nem tudo que é lícito também é

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Legislação Específica: Federais e Municipais

honesto, é a moral jurídica que rege as O prazo de validade do concurso é de 02


regras da boa administração. anos prorrogável por igual período para que
o candidato que passou no concurso público
Princípio da Publicidade seja convocado.
Quando falamos em publicidade a A doutrina mais tradicional entende que
primeira falamos que devemos remeter é a a aprovação cria apenas uma expectativa de
transparência. Alguns atos adotam a direito e não um direito (adquirido) à posse.
publicidade para terem validade, sendo Infelizmente o que ocorre é que a
requisito de eficácia e moralidade. Administração anuncia realização de um
Exemplo: mandado de segurança, habeas novo certame sem ter nomeado os que
data, direito de certidão. passaram e estão na sua expectativa de
direito. Nesse caso estamos diante do
Princípio da Eficiência desvio de finalidade da Administração, que
A eficiência preza pela qualidade e infelizmente atua como forma de
produtividade nas condutas da arrecadação de fundos.
Administração.
Concurso de Provas ou Provas e
Princípio da Finalidade Títulos
A finalidade é elemento de qualquer ato Dependendo da complexidade,
praticado pela Administração e atende o atribuição do cargo além da aprovação no
interesse público. Todos os atos devem ter concurso faz-se necessária a apresentação
interesse público e ser convenientes para a de títulos, para saber qual é o caso em
Administração específico, consulte o edital.
A finalidade, elemento essencial de
qualquer ato praticado pela Administração, Funções de Confiança e Cargos em
é sempre o atendimento do interesse Comissão
público e conveniência da Administração, Com previsão no inciso V, do artigo 37,
visando satisfazer interesses privados. Caso entende que aos cargos que requeiram
algum ato seja praticado para perseguição maior confiança dos agentes públicos é
ou favoritismo estaremos diante do abuso necessário ter esse agente maior
de poder. qualificado.
São ocupados por servidores de carreira,
(artigo 37, CF) devendo a lei disciplinar percentuais
mínimos.
A CF aborda a Constituição no artigo 37 Já os cargos em comissão previsão no
e trata da Administração Pública Direta e inciso II do artigo 37e são ocupados por
Indireta, não englobando a administração pelos servidores de cargo efetivo, que
fundacional. realizam funções de direção, chefia e
Dentre os assuntos alguns merecem assessoramento.
maior destaque como é o caso dos O Judiciário vai cuidar para que os
concursos públicos. A Súmula Vinculante cargos em comissão não dominem os
43 traz: assentos públicos, prejudicando cada vez
“É inconstitucional toda modalidade de mais a realização de concurso público.
provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em A Súmula Vinculante 13 traz:
concurso público destinado ao seu A nomeação de cônjuge, companheiro
provimento, em cargo que não integra a ou parente em linha reta, colateral ou por
carreira na qual anteriormente investido”. afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da
autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo

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Legislação Específica: Federais e Municipais

de direção, chefia ou assessoramento, para b) a de um cargo de professor com outro


o exercício de cargo em comissão ou de técnico ou científico;
confiança ou, ainda, de função gratificada c) a de dois cargos ou empregos
na administração pública direta e indireta privativos de profissionais de saúde, com
em qualquer dos Poderes da União, dos profissões regulamentadas;
Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste É a situação em que o servidor ocupa,
mediante designações recíprocas, viola a conforme a Constituição Federal/88, mais
Constituição Federal. de um cargo, emprego ou função pública,
ou ainda, quando o servidor recebe
Remuneração, subsídio e vencimento proventos de aposentadoria
simultaneamente com a remuneração de
Esses três termos não devem ser cargo, emprego ou função pública na
confundidos, pense que o subsídio é uma Administração Pública direta ou indireta.
maneira de controle, que é paga em parcela
única aos seguintes servidores: – Em regra é proibida a acumulação de
- Os membros de poder, detentores de cargos, empregos, funções, pensões e
mandato eletivo, Ministros de Estado, aposentadoria, mas existem exceções
Secretários Estaduais e Municipais. expressamente previstas na Constituição
- Os servidores de carreira cuja lei Federal de 1988.
organizadora tenha optado por essa forma
de remuneração. - O Ministério Público. Responsabilidade Civil da
- Os exercentes da Advocacia Pública e Administração (art. 37§6º, CF)
da Defensoria Pública.
- Os Ministros do TCU. § 6º As pessoas jurídicas de direito
- Os servidores policiais. público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos
Em vez de “remuneração/vencimento”, danos que seus agentes, nessa qualidade,
a regra mais comum, receberão “subsídio”, causarem a terceiros, assegurado o direito
ou seja, uma parcela única remuneratória, de regresso contra o responsável nos casos
as seguintes categorias de servidores de dolo ou culpa.
públicos (lato sensu):
Quem fixa o subsídio é a lei, de modo Aqui temos a responsabilidade objetiva
que para os ministros do STF há sanção do Estado, de modo que toda a sociedade
presidencial, enquanto que a fixação do deva responder pelos danos que a
subsídio do Presidente da Republica Administração cause a seus agentes.
independe deste. Essa responsabilidade não se estende
Os demais servidores receberão apenas as pessoas jurídicas de direito
remuneração. público mas também aos particulares que
prestem serviços públicos através do direito
Acumulação Remunerada de Cargos de regresso
Via de regra temos essa proibição, Ex: motorista da ambulância que bate
porém a Constituição em seu artigo 37, XVI em carro particular. O Estado deve pagar o
traz as exceções, vejamos: particular entrando com direito de regresso
XVI - é vedada a acumulação contra o motorista.
remunerada de cargos públicos, exceto,
quando houver compatibilidade de
horários, observado em qualquer caso o
disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Dispositivos sobre o tema: VII - o direito de greve será exercido nos


termos e nos limites definidos em lei
CAPÍTULO VII específica;
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA VIII - a lei reservará percentual dos
SEÇÃO I cargos e empregos públicos para as
DISPOSIÇÕES GERAIS pessoas portadoras de deficiência e
definirá os critérios de sua admissão;
IX - a lei estabelecerá os casos de
Art. 37. A administração pública direta contratação por tempo determinado para
e indireta de qualquer dos Poderes da atender a necessidade temporária de
União, dos Estados, do Distrito Federal e excepcional interesse público; (Vide
dos Municípios obedecerá aos princípios Emenda constitucional nº 106, de 2020)
de legalidade, impessoalidade, moralidade, X - a remuneração dos servidores
publicidade e eficiência e, também, ao públicos e o subsídio de que trata o § 4º do
seguinte: art. 39 somente poderão ser fixados ou
I - os cargos, empregos e funções alterados por lei específica, observada a
públicas são acessíveis aos brasileiros que iniciativa privativa em cada caso,
preencham os requisitos estabelecidos em assegurada revisão geral anual, sempre na
lei, assim como aos estrangeiros, na forma mesma data e sem distinção de
da lei; índices;
II - a investidura em cargo ou emprego XI - a remuneração e o subsídio dos
público depende de aprovação prévia em ocupantes de cargos, funções e empregos
concurso público de provas ou de provas e públicos da administração direta,
títulos, de acordo com a natureza e a autárquica e fundacional, dos membros de
complexidade do cargo ou emprego, na qualquer dos Poderes da União, dos
forma prevista em lei, ressalvadas as Estados, do Distrito Federal e dos
nomeações para cargo em comissão Municípios, dos detentores de mandato
declarado em lei de livre nomeação e eletivo e dos demais agentes políticos e os
exoneração; proventos, pensões ou outra espécie
III - o prazo de validade do concurso remuneratória, percebidos
público será de até dois anos, prorrogável cumulativamente ou não, incluídas as
uma vez, por igual período; vantagens pessoais ou de qualquer outra
IV - durante o prazo improrrogável natureza, não poderão exceder o subsídio
previsto no edital de convocação, aquele mensal, em espécie, dos Ministros do
aprovado em concurso público de provas Supremo Tribunal Federal, aplicando-se
ou de provas e títulos será convocado com como limite, nos Municípios, o subsídio do
prioridade sobre novos concursados para Prefeito, e nos Estados e no Distrito
assumir cargo ou emprego, na carreira; Federal, o subsídio mensal do Governador
V - as funções de confiança, exercidas no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
exclusivamente por servidores ocupantes dos Deputados Estaduais e Distritais no
de cargo efetivo, e os cargos em comissão, âmbito do Poder Legislativo e o subsídio
a serem preenchidos por servidores de dos Desembargadores do Tribunal de
carreira nos casos, condições e percentuais Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte
mínimos previstos em lei, destinam-se e cinco centésimos por cento do subsídio
apenas às atribuições de direção, chefia e mensal, em espécie, dos Ministros do
assessoramento; Supremo Tribunal Federal, no âmbito do
VI - é garantido ao servidor público civil Poder Judiciário, aplicável este limite aos
o direito à livre associação sindical; membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores
Públicos;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

XII - os vencimentos dos cargos do XX - depende de autorização legislativa,


Poder Legislativo e do Poder Judiciário em cada caso, a criação de subsidiárias das
não poderão ser superiores aos pagos pelo entidades mencionadas no inciso anterior,
Poder Executivo; assim como a participação de qualquer
XIII - é vedada a vinculação ou delas em empresa privada;
equiparação de quaisquer espécies XXI - ressalvados os casos especificados
remuneratórias para o efeito de na legislação, as obras, serviços, compras
remuneração de pessoal do serviço público e alienações serão contratados mediante
XIV - os acréscimos pecuniários processo de licitação pública que assegure
percebidos por servidor público não serão igualdade de condições a todos os
computados nem acumulados para fins de concorrentes, com cláusulas que
concessão de acréscimos ulteriores; estabeleçam obrigações de pagamento,
XV - o subsídio e os vencimentos dos mantidas as condições efetivas da
ocupantes de cargos e empregos públicos proposta, nos termos da lei, o qual somente
são irredutíveis, ressalvado o disposto nos permitirá as exigências de qualificação
incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, técnica e econômica indispensáveis à
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; garantia do cumprimento das
XVI - é vedada a acumulação obrigações.
remunerada de cargos públicos, exceto, XXII - as administrações tributárias da
quando houver compatibilidade de União, dos Estados, do Distrito Federal e
horários, observado em qualquer caso o dos Municípios, atividades essenciais ao
disposto no inciso XI: funcionamento do Estado, exercidas por
a) a de dois cargos de professor; servidores de carreiras específicas, terão
b) a de um cargo de professor com outro recursos prioritários para a realização de
técnico ou científico; suas atividades e atuarão de forma
c) a de dois cargos privativos de integrada, inclusive com o
médico; compartilhamento de cadastros e de
c) a de dois cargos ou empregos informações fiscais, na forma da lei ou
privativos de profissionais de saúde, com convênio.
profissões regulamentadas; § 1º A publicidade dos atos, programas,
XVII - a proibição de acumular estende- obras, serviços e campanhas dos órgãos
se a empregos e funções e abrange públicos deverá ter caráter educativo,
autarquias, fundações, empresas públicas, informativo ou de orientação social, dela
sociedades de economia mista, suas não podendo constar nomes, símbolos ou
subsidiárias, e sociedades controladas, imagens que caracterizem promoção
direta ou indiretamente, pelo poder pessoal de autoridades ou servidores
público; públicos.
XVIII - a administração fazendária e § 2º A não observância do disposto nos
seus servidores fiscais terão, dentro de suas incisos II e III implicará a nulidade do ato
áreas de competência e jurisdição, e a punição da autoridade responsável, nos
precedência sobre os demais setores termos da lei.
administrativos, na forma da lei; § 3º A lei disciplinará as formas de
XIX - somente por lei específica poderá participação do usuário na administração
ser criada autarquia e autorizada a pública direta e indireta, regulando
instituição de empresa pública, de especialmente:
sociedade de economia mista e de I - as reclamações relativas à prestação
fundação, cabendo à lei complementar, dos serviços públicos em geral,
neste último caso, definir as áreas de sua asseguradas a manutenção de serviços de
atuação; atendimento ao usuário e a avaliação

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Legislação Específica: Federais e Municipais

periódica, externa e interna, da qualidade economia mista, e suas subsidiárias, que


dos serviços; receberem recursos da União, dos Estados,
II - o acesso dos usuários a registros do Distrito Federal ou dos Municípios para
administrativos e a informações sobre atos pagamento de despesas de pessoal ou de
de governo, observado o disposto no art. 5º, custeio em geral.
X e XXXIII; § 10. É vedada a percepção simultânea
III - a disciplina da representação de proventos de aposentadoria decorrentes
contra o exercício negligente ou abusivo de do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a
cargo, emprego ou função na remuneração de cargo, emprego ou função
administração pública. pública, ressalvados os cargos acumuláveis
§ 4º Os atos de improbidade na forma desta Constituição, os cargos
administrativa importarão a suspensão dos eletivos e os cargos em comissão
direitos políticos, a perda da função declarados em lei de livre nomeação e
pública, a indisponibilidade dos bens e o exoneração.
ressarcimento ao erário, na forma e § 11. Não serão computadas, para efeito
gradação previstas em lei, sem prejuízo da dos limites remuneratórios de que trata o
ação penal cabível. inciso XI do caput deste artigo, as parcelas
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de de caráter indenizatório previstas em
prescrição para ilícitos praticados por lei.
qualquer agente, servidor ou não, que § 12. Para os fins do disposto no inciso
causem prejuízos ao erário, ressalvadas as XI do caput deste artigo, fica facultado aos
respectivas ações de ressarcimento. Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu
§ 6º As pessoas jurídicas de direito âmbito, mediante emenda às respectivas
público e as de direito privado prestadoras Constituições e Lei Orgânica, como limite
de serviços públicos responderão pelos único, o subsídio mensal dos
danos que seus agentes, nessa qualidade, Desembargadores do respectivo Tribunal
causarem a terceiros, assegurado o direito de Justiça, limitado a noventa inteiros e
de regresso contra o responsável nos casos vinte e cinco centésimos por cento do
de dolo ou culpa. subsídio mensal dos Ministros do Supremo
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e Tribunal Federal, não se aplicando o
as restrições ao ocupante de cargo ou disposto neste parágrafo aos subsídios dos
emprego da administração direta e indireta Deputados Estaduais e Distritais e dos
que possibilite o acesso a informações Vereadores.
privilegiadas. § 13. O servidor público titular de cargo
§ 8º A autonomia gerencial, efetivo poderá ser readaptado para
orçamentária e financeira dos órgãos e exercício de cargo cujas atribuições e
entidades da administração direta e responsabilidades sejam compatíveis com a
indireta poderá ser ampliada mediante limitação que tenha sofrido em sua
contrato, a ser firmado entre seus capacidade física ou mental, enquanto
administradores e o poder público, que permanecer nesta condição, desde que
tenha por objeto a fixação de metas de possua a habilitação e o nível de
desempenho para o órgão ou entidade, escolaridade exigidos para o cargo de
cabendo à lei dispor sobre: destino, mantida a remuneração do cargo
I - o prazo de duração do contrato; de origem. (Incluído pela Emenda
II - os controles e critérios de avaliação Constitucional nº 103, de 2019)
de desempenho, direitos, obrigações e § 14. A aposentadoria concedida com a
responsabilidade dos dirigentes; utilização de tempo de contribuição
III - a remuneração do pessoal. decorrente de cargo, emprego ou função
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às pública, inclusive do Regime Geral de
empresas públicas e às sociedades de Previdência Social, acarretará o

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Legislação Específica: Federais e Municipais

rompimento do vínculo que gerou o Questões


referido tempo de
contribuição. (Incluído pela Emenda 01. (DPE/RO - Oficial de Diligência –
Constitucional nº 103, de 2019) CESPE-CEBRASPE/2022) Um
§ 15. É vedada a complementação de governador de estado havia sido aprovado
aposentadorias de servidores públicos e de em concurso público antes de concorrer às
pensões por morte a seus dependentes que eleições e de tomar posse. Passados dois
não seja decorrente do disposto nos §§ 14 anos do seu mandato, ele foi nomeado para
a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em
lei que extinga regime próprio de o referido cargo, na mesma unidade
previdência social. (Incluído pela federativa da sua governança.
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Com relação a essa situação hipotética,
§ 16. Os órgãos e entidades da assinale a opção correta.
administração pública, individual ou A - O governador perderá o cargo eletivo
conjuntamente, devem realizar avaliação se tomar posse no cargo público.
das políticas públicas, inclusive com B - A nomeação para o cargo público
divulgação do objeto a ser avaliado e dos deve ser anulada, em razão de se tratar do
resultados alcançados, na forma da governador da mesma unidade federativa.
lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 109, de 2021) C - O governador poderá tomar posse no
cargo público, mas não poderá exercê-lo
Art. 38. Ao servidor público da durante o mandato do cargo eletivo.
administração direta, autárquica e D - A nomeação para o cargo público
fundacional, no exercício de mandato pode ser suspensa até o término do mandato
eletivo, aplicam-se as seguintes do governador.
disposições: E - O governador poderá tomar posse e
I - tratando-se de mandato eletivo exercer o cargo público, acumulando-o com
federal, estadual ou distrital, ficará o cargo eletivo, desde que haja
afastado de seu cargo, emprego ou função; compatibilidade.
II - investido no mandato de Prefeito,
será afastado do cargo, emprego ou 02. (Telebras - Técnico em Gestão de
função, sendo-lhe facultado optar pela sua Telecomunicações - CESPE-
remuneração; CEBRASPE/2022) Com base na
III - investido no mandato de Vereador, Constituição Federal de 1988, julgue o item
havendo compatibilidade de horários, que se segue, a respeito da organização dos
perceberá as vantagens de seu cargo, poderes e da organização do Estado.
emprego ou função, sem prejuízo da A regra de vedação à acumulação
remuneração do cargo eletivo, e, não remunerada de cargos públicos abrange
havendo compatibilidade, será aplicada a autarquias, fundações, empresas públicas,
norma do inciso anterior; sociedades controladas, direta ou
IV - em qualquer caso que exija o indiretamente, pelo poder público e as
afastamento para o exercício de mandato sociedades de economia mista bem como
eletivo, seu tempo de serviço será contado suas subsidiárias.
para todos os efeitos legais, exceto para
promoção por merecimento; ( ) certo ( ) errado
V - na hipótese de ser segurado de
regime próprio de previdência social, 03. (DPE/RO - Oficial de Diligência
permanecerá filiado a esse regime, no ente - CESPE-CEBRASPE/2022) Assinale a
federativo de origem. (Redação dada opção que apresenta o princípio
pela Emenda Constitucional nº 103, de constitucional que obriga a administração
2019) pública a manter ou ampliar a qualidade dos
serviços prestados à população, evitando

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Legislação Específica: Federais e Municipais

desperdícios e buscando sempre a máxima Agentes Públicos


excelência na prestação de seus serviços.
A -princípio da publicidade dos atos da Classificam-se em:
administração pública
B -princípio da legalidade -Agentes políticos: denominação
C -princípio da impessoalidade conferida aos Chefes do Poder Executivo,
D -princípio da moralidade seus auxiliares e membros do Legislativo.
E - princípio da eficiência - Agentes particulares colaboradores:
prestam tarefas de maneira transitória, é o
Alternativas caso dos jurados.
- Servidores públicos: conhecidos
01.C – 02.certo – 03.E também como agentes administrativos ou
funcionários públicos, prestam trabalho
Servidores Públicos para o Estado e como contrapartida são
remunerados. Por prestarem serviço
Estabilidade público são regidos por regime jurídico
Muito cuidado quanto ao período para próprio. Exemplo: a lei 8.112/1990 aplica-
adquirir estabilidade, ela será adquirida se aos servidores federais.
após 03 anos e não 02 anos como
encontramos em algumas leis municipais. Cargo, emprego e função pública
Para que agente adquira estabilidade é
necessária uma avaliação especial de Cargo público é um lugar reservado
desempenho realizada por comissão dentro da organização da Administração
especial. Pública. Pelo cargo temos uma série de
atribuições que contemplam um conjunto
Dos Militares dos Estados, do Distrito de vantagens a serem retribuídas
Federal e dos Territórios (vencimentos, garantias e subsídios). O
O amparo constitucional conferido aos cargo pode ser vitalício, efetivo ou em
militares sofreu alterações com a Emenda comissão.
18/98, pois até a Emenda todos eram O provimento é a sistemática que
considerados servidores militares, preenche os cargos e pode se dar de forma
posteriormente os militares das Forças originária ou derivada.
Armadas e os federais são estudados no
artigo 142 da Constituição Federal. Emprego público: é aquele ocupado por
uma pessoa que vai será contratada pelo
Empregados Públicos regime celetista (CLT).
Atenção: aqui a relação é contratual e
São os agentes contratados pelo regime não estatutária
da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). Com a Emenda no 19/98 foram Função pública: atribuição ou atividade
admitidos celetistas na Administração conferida a alguém que ocupa um cargo
Direta público.
Quando se tem um agente celetista o Atenção: há cargos sem função, mas não
Estado faz um contrato notório na relação há função sem cargo.
entre capital e trabalho, de cunho civil, além
disso, os litígios do servidor celetista Dispositivos Constitucionais:
competem a Justiça do Trabalho, enquanto
aos estatutários compete a Justiça Federal. Art. 39. A União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios instituirão
conselho de política de administração e

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Legislação Específica: Federais e Municipais

remuneração de pessoal, integrado por disciplinará a aplicação de recursos


servidores designados pelos respectivos orçamentários provenientes da economia
Poderes. com despesas correntes em cada órgão,
§ 1º A fixação dos padrões de autarquia e fundação, para aplicação no
vencimento e dos demais componentes do desenvolvimento de programas de
sistema remuneratório observará: qualidade e produtividade, treinamento e
I - a natureza, o grau de desenvolvimento, modernização,
responsabilidade e a complexidade dos reaparelhamento e racionalização do
cargos componentes de cada serviço público, inclusive sob a forma de
carreira; adicional ou prêmio de produtividade
II - os requisitos para a § 8º A remuneração dos servidores
investidura; públicos organizados em carreira poderá
III - as peculiaridades dos cargos. ser fixada nos termos do § 4º.
§ 2º A União, os Estados e o Distrito § 9º É vedada a incorporação de
Federal manterão escolas de governo para vantagens de caráter temporário ou
a formação e o aperfeiçoamento dos vinculadas ao exercício de função de
servidores públicos, constituindo-se a confiança ou de cargo em comissão à
participação nos cursos um dos requisitos remuneração do cargo
para a promoção na carreira, facultada, efetivo. (Incluído pela Emenda
para isso, a celebração de convênios ou Constitucional nº 103, de 2019)
contratos entre os entes federados.
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes Art. 40. O regime próprio de previdência
de cargo público o disposto no art. 7º, IV, social dos servidores titulares de cargos
VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, efetivos terá caráter contributivo e
XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei solidário, mediante contribuição do
estabelecer requisitos diferenciados de respectivo ente federativo, de servidores
admissão quando a natureza do cargo o ativos, de aposentados e de pensionistas,
exigir. observados critérios que preservem o
§ 4º O membro de Poder, o detentor de equilíbrio financeiro e
mandato eletivo, os Ministros de Estado e atuarial. (Redação dada pela Emenda
os Secretários Estaduais e Municipais Constitucional nº 103, de 2019)
serão remunerados exclusivamente por § 1º O servidor abrangido por regime
subsídio fixado em parcela única, vedado o próprio de previdência social será
acréscimo de qualquer gratificação, aposentado: (Redação dada pela
adicional, abono, prêmio, verba de Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
representação ou outra espécie I - por incapacidade permanente para o
remuneratória, obedecido, em qualquer trabalho, no cargo em que estiver investido,
caso, o disposto no art. 37, X e XI. quando insuscetível de readaptação,
§ 5º Lei da União, dos Estados, do hipótese em que será obrigatória a
Distrito Federal e dos Municípios poderá realização de avaliações periódicas para
estabelecer a relação entre a maior e a verificação da continuidade das condições
menor remuneração dos servidores que ensejaram a concessão da
públicos, obedecido, em qualquer caso, o aposentadoria, na forma de lei do
disposto no art. 37, XI. respectivo ente federativo; (Redação
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e dada pela Emenda Constitucional nº 103,
Judiciário publicarão anualmente os de 2019)
valores do subsídio e da remuneração dos II - compulsoriamente, com proventos
cargos e empregos públicos. proporcionais ao tempo de contribuição,
§ 7º Lei da União, dos Estados, do aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75
Distrito Federal e dos Municípios

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Legislação Específica: Federais e Municipais

(setenta e cinco) anos de idade, na forma de § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei
lei complementar; complementar do respectivo ente federativo
III - voluntariamente, desde que idade e tempo de contribuição
cumprido tempo mínimo de dez anos de diferenciados para aposentadoria de
efetivo exercício no serviço público e cinco servidores com deficiência, previamente
anos no cargo efetivo em que se dará a submetidos a avaliação biopsicossocial
aposentadoria, observadas as seguintes realizada por equipe multiprofissional e
condições: interdisciplinar. (Incluído pela
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de contribuição, se homem, e cinquenta e § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei
cinco anos de idade e trinta de complementar do respectivo ente federativo
contribuição, se mulher; idade e tempo de contribuição
b) sessenta e cinco anos de idade, se diferenciados para aposentadoria de
homem, e sessenta anos de idade, se ocupantes do cargo de agente
mulher, com proventos proporcionais ao penitenciário, de agente socioeducativo ou
tempo de de policial dos órgãos de que tratam o
III - no âmbito da União, aos 62 inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII
(sessenta e dois) anos de idade, se mulher, do caput do art. 52 e os incisos I a IV do
e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, caput do art. 144. (Incluído pela
se homem, e, no âmbito dos Estados, do Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Distrito Federal e dos Municípios, na idade § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei
mínima estabelecida mediante emenda às complementar do respectivo ente federativo
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, idade e tempo de contribuição
observados o tempo de contribuição e os diferenciados para aposentadoria de
demais requisitos estabelecidos em lei servidores cujas atividades sejam exercidas
complementar do respectivo ente com efetiva exposição a agentes químicos,
federativo. (Redação dada pela físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) associação desses agentes, vedada a
§ 2º Os proventos de aposentadoria não caracterização por categoria profissional
poderão ser inferiores ao valor mínimo a ou ocupação. (Incluído pela Emenda
que se refere o § 2º do art. 201 ou Constitucional nº 103, de 2019)
superiores ao limite máximo estabelecido § 5º Os ocupantes do cargo de professor
para o Regime Geral de Previdência terão idade mínima reduzida em 5 (cinco)
Social, observado o disposto nos §§ 14 a anos em relação às idades decorrentes da
16. (Redação dada pela Emenda aplicação do disposto no inciso III do § 1º,
Constitucional nº 103, de 2019) desde que comprovem tempo de efetivo
exercício das funções de magistério na
§ 3º As regras para cálculo de proventos educação infantil e no ensino fundamental
de aposentadoria serão disciplinadas em e médio fixado em lei complementar do
lei do respectivo ente respectivo ente federativo. (Redação
federativo. (Redação dada pela dada pela Emenda Constitucional nº 103,
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) de 2019)
§ 4º É vedada a adoção de requisitos ou § 6º Ressalvadas as aposentadorias
critérios diferenciados para concessão de decorrentes dos cargos acumuláveis na
benefícios em regime próprio de forma desta Constituição, é vedada a
previdência social, ressalvado o disposto percepção de mais de uma aposentadoria à
nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e conta de regime próprio de previdência
5º. (Redação dada pela Emenda social, aplicando-se outras vedações,
Constitucional nº 103, de 2019) regras e condições para a acumulação de
benefícios previdenciários estabelecidas no

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Regime Geral de Previdência § 13. Aplica-se ao agente público


Social. (Redação dada pela Emenda ocupante, exclusivamente, de cargo em
Constitucional nº 103, de 2019) comissão declarado em lei de livre
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. nomeação e exoneração, de outro cargo
201, quando se tratar da única fonte de temporário, inclusive mandato eletivo, ou
renda formal auferida pelo dependente, o de emprego público, o Regime Geral de
benefício de pensão por morte será Previdência Social. (Redação dada
concedido nos termos de lei do respectivo pela Emenda Constitucional nº 103, de
ente federativo, a qual tratará de forma 2019)
diferenciada a hipótese de morte dos
servidores de que trata o § 4º-B decorrente § 14. A União, os Estados, o Distrito
de agressão sofrida no exercício ou em Federal e os Municípios instituirão, por lei
razão da função. (Redação dada pela de iniciativa do respectivo Poder
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Executivo, regime de previdência
§ 8º É assegurado o reajustamento dos complementar para servidores públicos
benefícios para preservar-lhes, em caráter ocupantes de cargo efetivo, observado o
permanente, o valor real, conforme limite máximo dos benefícios do Regime
critérios estabelecidos em lei. Geral de Previdência Social para o valor
§ 9º O tempo de contribuição federal, das aposentadorias e das pensões em
estadual, distrital ou municipal será regime próprio de previdência social,
contado para fins de aposentadoria, ressalvado o disposto no §
observado o disposto nos §§ 9º e 9º-A do 16. (Redação dada pela Emenda
art. 201, e o tempo de serviço Constitucional nº 103, de 2019)
correspondente será contado para fins de § 15. O regime de previdência
disponibilidade. (Redação dada complementar de que trata o § 14 oferecerá
pela Emenda Constitucional nº 103, de plano de benefícios somente na modalidade
2019) contribuição definida, observará o disposto
§ 10 - A lei não poderá estabelecer no art. 202 e será efetivado por intermédio
qualquer forma de contagem de tempo de de entidade fechada de previdência
contribuição fictício. complementar ou de entidade aberta de
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. previdência
37, XI, à soma total dos proventos de complementar. (Redação dada pela
inatividade, inclusive quando decorrentes Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
da acumulação de cargos ou empregos § 16 - Somente mediante sua prévia e
públicos, bem como de outras atividades expressa opção, o disposto nos § § 14 e 15
sujeitas a contribuição para o regime geral poderá ser aplicado ao servidor que tiver
de previdência social, e ao montante ingressado no serviço público até a data da
resultante da adição de proventos de publicação do ato de instituição do
inatividade com remuneração de cargo correspondente regime de previdência
acumulável na forma desta Constituição, complementar.
cargo em comissão declarado em lei de § 17. Todos os valores de remuneração
livre nomeação e exoneração, e de cargo considerados para o cálculo do benefício
eletivo. previsto no § 3° serão devidamente
§ 12. Além do disposto neste artigo, atualizados, na forma da lei.
serão observados, em regime próprio de § 18. Incidirá contribuição sobre os
previdência social, no que couber, os proventos de aposentadorias e pensões
requisitos e critérios fixados para o Regime concedidas pelo regime de que trata este
Geral de Previdência artigo que superem o limite máximo
Social. (Redação dada pela Emenda estabelecido para os benefícios do regime
Constitucional nº 103, de 2019) geral de previdência social de que trata o

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Legislação Específica: Federais e Municipais

art. 201, com percentual igual ao IV - definição de equilíbrio financeiro e


estabelecido para os servidores titulares de atuarial; (Incluído pela Emenda
cargos efetivos. Constitucional nº 103, de 2019)
§ 19. Observados critérios a serem V - condições para instituição do fundo
estabelecidos em lei do respectivo ente com finalidade previdenciária de que trata
federativo, o servidor titular de cargo o art. 249 e para vinculação a ele dos
efetivo que tenha completado as exigências recursos provenientes de contribuições e
para a aposentadoria voluntária e que opte dos bens, direitos e ativos de qualquer
por permanecer em atividade poderá fazer natureza; (Incluído pela Emenda
jus a um abono de permanência Constitucional nº 103, de 2019)
equivalente, no máximo, ao valor da sua VI - mecanismos de equacionamento do
contribuição previdenciária, até completar deficit atuarial; (Incluído pela
a idade para aposentadoria Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
compulsória. (Redação dada pela VII - estruturação do órgão ou entidade
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) gestora do regime, observados os
§ 20. É vedada a existência de mais de princípios relacionados com governança,
um regime próprio de previdência social e controle interno e
de mais de um órgão ou entidade gestora transparência; (Incluído pela
desse regime em cada ente federativo, Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
abrangidos todos os poderes, órgãos e VIII - condições e hipóteses para
entidades autárquicas e fundacionais, que responsabilização daqueles que
serão responsáveis pelo seu financiamento, desempenhem atribuições relacionadas,
observados os critérios, os parâmetros e a direta ou indiretamente, com a gestão do
natureza jurídica definidos na lei regime; (Incluído pela Emenda
complementar de que trata o § Constitucional nº 103, de 2019)
22. (Redação dada pela Emenda IX - condições para adesão a consórcio
Constitucional nº 103, de 2019) público; (Incluído pela Emenda
§ 21. (Revogado). (Redação dada pela Constitucional nº 103, de 2019)
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) X - parâmetros para apuração da base
§ 22. Vedada a instituição de novos de cálculo e definição de alíquota de
regimes próprios de previdência social, lei contribuições ordinárias e
complementar federal estabelecerá, para extraordinárias. (Incluído pela
os que já existam, normas gerais de Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
organização, de funcionamento e de
responsabilidade em sua gestão, dispondo, Art. 41. São estáveis após três anos de
entre outros aspectos, efetivo exercício os servidores nomeados
sobre: (Incluído pela Emenda para cargo de provimento efetivo em
Constitucional nº 103, de 2019) virtude de concurso público.
I - requisitos para sua extinção e § 1º O servidor público estável só
consequente migração para o Regime perderá o cargo:
Geral de Previdência I - em virtude de sentença judicial
Social; (Incluído pela Emenda transitada em julgado; (Incluído pela
Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
II - modelo de arrecadação, de II - mediante processo administrativo
aplicação e de utilização dos em que lhe seja assegurada ampla
recursos; (Incluído pela Emenda defesa;
Constitucional nº 103, de 2019) III - mediante procedimento de
III - fiscalização pela União e controle avaliação periódica de desempenho, na
externo e social; (Incluído pela forma de lei complementar, assegurada
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) ampla defesa.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 2º Invalidada por sentença judicial a § 4º O militar da ativa que aceitar cargo,


demissão do servidor estável, será ele emprego ou função pública temporária,
reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, não eletiva, ainda que da administração
se estável, reconduzido ao cargo de origem, indireta, ficará agregado ao respectivo
sem direito a indenização, aproveitado em quadro e somente poderá, enquanto
outro cargo ou posto em disponibilidade permanecer nessa situação, ser promovido
com remuneração proporcional ao tempo por antigüidade, contando-se-lhe o tempo
de serviço. de serviço apenas para aquela promoção e
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua transferência para a reserva, sendo depois
desnecessidade, o servidor estável ficará de dois anos de afastamento, contínuos ou
em disponibilidade, com remuneração não, transferido para a inatividade.
proporcional ao tempo de serviço, até seu § 5º Ao militar são proibidas a
adequado aproveitamento em outro sindicalização e a greve.
cargo. § 6º O militar, enquanto em efetivo
§ 4º Como condição para a aquisição da serviço, não pode estar filiado a partidos
estabilidade, é obrigatória a avaliação políticos.
especial de desempenho por comissão § 7º O oficial das Forças Armadas só
instituída para essa finalidade. perderá o posto e a patente se for julgado
indigno do oficialato ou com ele
SEÇÃO III incompatível, por decisão de tribunal
DOS SERVIDORES PÚBLICOS militar de caráter permanente, em tempo de
MILITARES paz, ou de tribunal especial, em tempo de
DOS MILITARES DOS ESTADOS, guerra.
DO DISTRITO FEDERAL E DOS § 8º O oficial condenado na justiça
TERRITÓRIOS comum ou militar a pena privativa de
liberdade superior a dois anos, por
Art. 42. São servidores militares sentença transitada em julgado, será
federais os integrantes das Forças submetido ao julgamento previsto no
Armadas e servidores militares dos parágrafo anterior.
Estados, Territórios e Distrito Federal os § 9º A lei disporá sobre os limites de
integrantes de suas polícias militares e de idade, a estabilidade e outras condições de
seus corpos de bombeiros militares. transferência do servidor militar para a
§ 1º As patentes, com prerrogativas, inatividade.
direitos e deveres a elas inerentes, são § 10 Aplica-se aos servidores a que se
asseguradas em plenitude aos oficiais da refere este artigo, e a seus pensionistas, o
ativa, da reserva ou reformados das Forças disposto no art. 40, §§ 4.º, 5.º e 6.º
Armadas, das polícias militares e dos § 11 Aplica-se aos servidores a que se
corpos de bombeiros militares dos Estados, refere este artigo o disposto no art. 7º, VIII,
dos Territórios e do Distrito Federal, XII, XVII, XVIII e XIX.
sendo-lhes privativos os títulos, postos e
uniformes militares. Art. 42 Os membros das Polícias
§ 2º As patentes dos oficiais das Forças Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
Armadas são conferidas pelo Presidente da instituições organizadas com base na
República, e as dos oficiais das polícias hierarquia e disciplina, são militares dos
militares e corpos de bombeiros militares Estados, do Distrito Federal e dos
dos Estados, Territórios e Distrito Federal, Territórios.
pelos respectivos Governadores. § 1º Aplicam-se aos militares dos
§ 3º O militar em atividade que aceitar Estados, do Distrito Federal e dos
cargo público civil permanente será Territórios, além do que vier a ser fixado
transferido para a reserva. em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do

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Legislação Específica: Federais e Municipais

art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, terras áridas e cooperará com os pequenos
cabendo a lei estadual específica dispor e médios proprietários rurais para o
sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso estabelecimento, em suas glebas, de fontes
X, sendo as patentes dos oficiais conferidas de água e de pequena irrigação.
pelos respectivos governadores.
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Questões
Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios aplica-se o que for fixado em lei 01. (IPE Saúde - Analista de Gestão
específica do respectivo ente estatal. em Saúde - Administração –
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, FUNDATEC/2022) Conforme previsto na
do Distrito Federal e dos Territórios o Constituição Federal Brasileira de 1988, o
disposto no art. 37, inciso XVI, com servidor _______________ para cargo de
prevalência da atividade provimento ____________ em virtude de
militar. (Incluído pela Emenda concurso público adquire estabilidade após
Constitucional nº 101, de 2019) ______ anos de efetivo serviço. Ainda, para
a aquisição da estabilidade, tem-se a
SEÇÃO IV ______________ de avaliação especial de
DAS REGIÕES desempenho por comissão instituída para
essa finalidade.
Art. 43. Para efeitos administrativos, a Assinale a alternativa que preenche,
União poderá articular sua ação em um correta e respectivamente, as lacunas do
mesmo complexo geoeconômico e social, trecho acima.
visando a seu desenvolvimento e à redução A - indicado – provisório – dois –
das desigualdades regionais. obrigatoriedade
§ 1º Lei complementar disporá sobre: B - nomeado – provisório – três –
I - as condições para integração de possibilidade
regiões em desenvolvimento; C - indicado – efetivo – dois –
II - a composição dos organismos possibilidade
regionais que executarão, na forma da lei, D - nomeado – efetivo – três –
os planos regionais, integrantes dos planos obrigatoriedade
nacionais de desenvolvimento econômico e E - nomeado – efetivo – dois –
social, aprovados juntamente com estes. obrigatoriedade
§ 2º Os incentivos regionais
compreenderão, além de outros, na forma 02. (Telebras - Técnico em Gestão de
da lei: Telecomunicações - CESPE-
I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e CEBRASPE/2022) Com base na
outros itens de custos e preços de Constituição Federal de 1988, julgue o item
responsabilidade do Poder Público; que se segue, a respeito da organização dos
II - juros favorecidos para poderes e da organização do Estado.
financiamento de atividades prioritárias; Em que pese a estabilidade dos
III - isenções, reduções ou diferimento servidores e servidoras em efetivo exercício
temporário de tributos federais devidos por três anos após a nomeação para cargo de
pessoas físicas ou jurídicas; provimento efetivo em virtude da
IV - prioridade para o aproveitamento aprovação em concurso público, estes
econômico e social dos rios e das massas poderão perder o cargo em razão de
de água represadas ou represáveis nas sentença judicial transitada em julgado e
regiões de baixa renda, sujeitas a secas mediante processo administrativo que
periódicas. observe a ampla defesa.
§ 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, ( ) Certo ( ) Errado
a União incentivará a recuperação de

19
Legislação Específica: Federais e Municipais

Alternativas IX - garantia do direito à educação e à


aprendizagem ao longo da
01. D – 02.certo vida. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 108, de 2020)
Educação Parágrafo único. A lei disporá sobre as
categorias de trabalhadores considerados
A Educação faz parte da Ordem Social e profissionais da educação básica e sobre a
está disciplinada entre os artigos 205 – 214 fixação de prazo para a elaboração ou
da Constituição Federal. adequação de seus planos de carreira, no
Tanto a União quanto os Estados, o âmbito da União, dos Estados, do Distrito
Distrito Federal e os Municípios Federal e dos Municípios.
organizarão, em regime de colaboração,
seus sistemas de ensino CAPÍTULO III
A garantia que a União oferece em ramo DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E
educacional é a oportunidade em iguais DO DESPORTO
condições com um padrão de qualidade de SEÇÃO I
ensino, conferindo ainda o financiamento DA EDUCAÇÃO
das instituições de ensino públicas.
Compete aos municípios a oferta do Art. 205. A educação, direito de todos e
ensino infantil, de modo que Estados e dever do Estado e da família, será
Distrito Federal cuidam do ensino promovida e incentivada com a
fundamental e médio. colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu
Princípios Constitucionais (art. 206, preparo para o exercício da cidadania e
CF): sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com Art. 206. O ensino será ministrado com
base nos seguintes princípios: base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso I - igualdade de condições para o acesso
e permanência na escola; e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, II - liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber; o saber;
III - pluralismo de ideias e de III - pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas, e coexistência de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino; instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em IV - gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais; estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da V - valorização dos profissionais da
educação escolar, garantidos, na forma da educação escolar, garantidos, na forma da
lei, planos de carreira, com ingresso lei, planos de carreira, com ingresso
exclusivamente por concurso público de exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes provas e títulos, aos das redes
públicas; públicas;
VI - gestão democrática do ensino VI - gestão democrática do ensino
público, na forma da lei; público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade. VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional VIII - piso salarial profissional nacional
para os profissionais da educação escolar para os profissionais da educação escolar
pública, nos termos de lei federal. pública, nos termos de lei federal.

20
Legislação Específica: Federais e Municipais

IX - garantia do direito à educação e à VII - atendimento ao educando, em todas


aprendizagem ao longo da vida. as etapas da educação básica, por meio de
Parágrafo único. A lei disporá sobre as programas suplementares de material
categorias de trabalhadores considerados didático escolar, transporte, alimentação e
profissionais da educação básica e sobre a assistência à saúde.
fixação de prazo para a elaboração ou § 1º O acesso ao ensino obrigatório e
adequação de seus planos de carreira, no gratuito é direito público subjetivo.
âmbito da União, dos Estados, do Distrito § 2º O não-oferecimento do ensino
Federal e dos Municípios. obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade
Art. 207. As universidades gozam de da autoridade competente.
autonomia didático-científica, § 3º Compete ao Poder Público
administrativa e de gestão financeira e recensear os educandos no ensino
patrimonial, e obedecerão ao princípio de fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e junto aos pais ou responsáveis, pela
extensão. frequência à escola.
§ 1º É facultado às universidades
admitir professores, técnicos e cientistas Art. 209. O ensino é livre à iniciativa
estrangeiros, na forma da lei. privada, atendidas as seguintes condições:
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às I - cumprimento das normas gerais da
instituições de pesquisa científica e educação nacional;
tecnológica. II - autorização e avaliação de
qualidade pelo Poder Público.
Art. 208. O dever do Estado com a
educação será efetivado mediante a Art. 210. Serão fixados conteúdos
garantia de: mínimos para o ensino fundamental, de
I - educação básica obrigatória e maneira a assegurar formação básica
gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) comum e respeito aos valores culturais e
anos de idade, assegurada inclusive sua artísticos, nacionais e regionais.
oferta gratuita para todos os que a ela não § 1º O ensino religioso, de matrícula
tiveram acesso na idade própria; facultativa, constituirá disciplina dos
II - progressiva universalização do horários normais das escolas públicas de
ensino médio gratuito; ensino fundamental.
III - atendimento educacional § 2º O ensino fundamental regular será
especializado aos portadores de ministrado em língua portuguesa,
deficiência, preferencialmente na rede assegurada às comunidades indígenas
regular de ensino; também a utilização de suas línguas
IV - educação infantil, em creche e pré- maternas e processos próprios de
escola, às crianças até 5 (cinco) anos de aprendizagem.
idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do Art. 211. A União, os Estados, o Distrito
ensino, da pesquisa e da criação artística, Federal e os Municípios organizarão em
segundo a capacidade de cada um; regime de colaboração seus sistemas de
VI - oferta de ensino noturno regular, ensino.
adequado às condições do educando; § 1º A União organizará o sistema
VII - atendimento ao educando, no federal de ensino e o dos Territórios,
ensino fundamental, através de programas financiará as instituições de ensino
suplementares de material didático- públicas federais e exercerá, em matéria
escolar, transporte, alimentação e educacional, função redistributiva e
assistência à saúde. supletiva, de forma a garantir equalização

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Legislação Específica: Federais e Municipais

de oportunidades educacionais e padrão § 1º A parcela da arrecadação de


mínimo de qualidade do ensino mediante impostos transferida pela União aos
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos
Municípios; respectivos Municípios, não é considerada,
§ 2º Os Municípios atuarão para efeito do cálculo previsto neste artigo,
prioritariamente no ensino fundamental e receita do governo que a transferir.
na educação infantil § 2º Para efeito do cumprimento do
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal disposto no "caput" deste artigo, serão
atuarão prioritariamente no ensino considerados os sistemas de ensino federal,
fundamental e médio. estadual e municipal e os recursos
§ 4º Na organização de seus sistemas de aplicados na forma do art. 213.
ensino, os Estados e os Municípios § 3º A distribuição dos recursos públicos
definirão formas de colaboração, de modo assegurará prioridade ao atendimento das
a assegurar a universalização do ensino necessidades do ensino obrigatório, no que
obrigatório. se refere a universalização, garantia de
§ 4º Na organização de seus sistemas de padrão de qualidade e equidade, nos
ensino, a União, os Estados, o Distrito termos do plano nacional de
Federal e os Municípios definirão formas educação.
de colaboração, de forma a assegurar a § 4º Os programas suplementares de
universalização, a qualidade e a equidade alimentação e assistência à saúde previstos
do ensino obrigatório. (Redação dada no art. 208, VII, serão financiados com
pela Emenda Constitucional nº 108, de recursos provenientes de contribuições
2020) sociais e outros recursos orçamentários.
§ 5º A educação básica pública terá
§ 5º A educação básica pública atenderá como fonte adicional de financiamento a
prioritariamente ao ensino regular. contribuição social do salário-educação,
§ 6º A União, os Estados, o Distrito recolhida pelas empresas na forma da
Federal e os Municípios exercerão ação lei.
redistributiva em relação a suas § 6º As cotas estaduais e municipais da
escolas. (Incluído pela Emenda arrecadação da contribuição social do
Constitucional nº 108, de 2020) salário-educação serão distribuídas
§ 7º O padrão mínimo de qualidade de proporcionalmente ao número de alunos
que trata o § 1º deste artigo considerará as matriculados na educação básica nas
condições adequadas de oferta e terá como respectivas redes públicas de
referência o Custo Aluno Qualidade ensino. (Incluído pela Emenda
(CAQ), pactuados em regime de Constitucional nº 53, de 2006)
colaboração na forma disposta em lei § 7º É vedado o uso dos recursos
complementar, conforme o parágrafo único referidos no caput e nos §§ 5º e 6º deste
do art. 23 desta Constituição. (Incluído artigo para pagamento de aposentadorias e
pela Emenda Constitucional nº 108, de de pensões. (Incluído pela Emenda
2020) Constitucional nº 108, de 2020)
§ 8º Na hipótese de extinção ou de
Art. 212. A União aplicará, anualmente, substituição de impostos, serão redefinidos
nunca menos de dezoito, e os Estados, o os percentuais referidos no caput deste
Distrito Federal e os Municípios vinte e artigo e no inciso II do caput do art. 212-A,
cinco por cento, no mínimo, da receita de modo que resultem recursos vinculados
resultante de impostos, compreendida a à manutenção e ao desenvolvimento do
proveniente de transferências, na ensino, bem como os recursos
manutenção e desenvolvimento do ensino. subvinculados aos fundos de que trata o

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Legislação Específica: Federais e Municipais

art. 212-A desta Constituição, em Constituição, observadas as ponderações


aplicações equivalentes às anteriormente referidas na alínea "a" do inciso X do caput
praticadas. (Incluído pela Emenda e no § 2º deste artigo; (Incluído pela
Constitucional nº 108, de 2020) Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
§ 9º A lei disporá sobre normas de
fiscalização, de avaliação e de controle das IV - a União complementará os recursos
despesas com educação nas esferas dos fundos a que se refere o inciso II do
estadual, distrital e municipal. (Incluído caput deste artigo; (Incluído pela
pela Emenda Constitucional nº 108, de Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
2020) V - a complementação da União será
equivalente a, no mínimo, 23% (vinte e três
Art. 212-A. Os Estados, o Distrito por cento) do total de recursos a que se
Federal e os Municípios destinarão parte refere o inciso II do caput deste artigo,
dos recursos a que se refere o caput do art. distribuída da seguinte forma: (Incluído
212 desta Constituição à manutenção e ao pela Emenda Constitucional nº 108, de
desenvolvimento do ensino na educação 2020)
básica e à remuneração condigna de seus a) 10 (dez) pontos percentuais no âmbito
profissionais, respeitadas as seguintes de cada Estado e do Distrito Federal,
disposições: (Incluído pela Emenda sempre que o valor anual por aluno
Constitucional nº 108, de (VAAF), nos termos do inciso III do caput
2020) Regulamento deste artigo, não alcançar o mínimo
I - a distribuição dos recursos e de definido nacionalmente; (Incluído pela
responsabilidades entre o Distrito Federal, Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
os Estados e seus Municípios é assegurada b) no mínimo, 10,5 (dez inteiros e cinco
mediante a instituição, no âmbito de cada décimos) pontos percentuais em cada rede
Estado e do Distrito Federal, de um Fundo pública de ensino municipal, estadual ou
de Manutenção e Desenvolvimento da distrital, sempre que o valor anual total por
Educação Básica e de Valorização dos aluno (VAAT), referido no inciso VI do
Profissionais da Educação (Fundeb), de caput deste artigo, não alcançar o mínimo
natureza contábil; (Incluído pela definido nacionalmente; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
II - os fundos referidos no inciso I do c) 2,5 (dois inteiros e cinco décimos)
caput deste artigo serão constituídos por pontos percentuais nas redes públicas que,
20% (vinte por cento) dos recursos a que se cumpridas condicionalidades de melhoria
referem os incisos I, II e III do caput do art. de gestão previstas em lei, alcançarem
155, o inciso II do caput do art. 157, os evolução de indicadores a serem definidos,
incisos II, III e IV do caput do art. 158 e as de atendimento e melhoria da
alíneas "a" e "b" do inciso I e o inciso II do aprendizagem com redução das
caput do art. 159 desta desigualdades, nos termos do sistema
Constituição; (Incluído pela Emenda nacional de avaliação da educação
Constitucional nº 108, de 2020) básica; (Incluído pela Emenda
III - os recursos referidos no inciso II do Constitucional nº 108, de 2020)
caput deste artigo serão distribuídos entre VI - o VAAT será calculado, na forma da
cada Estado e seus Municípios, lei de que trata o inciso X do caput deste
proporcionalmente ao número de alunos artigo, com base nos recursos a que se
das diversas etapas e modalidades da refere o inciso II do caput deste artigo,
educação básica presencial matriculados acrescidos de outras receitas e de
nas respectivas redes, nos âmbitos de transferências vinculadas à educação,
atuação prioritária, conforme estabelecido observado o disposto no § 1º e
nos §§ 2º e 3º do art. 211 desta consideradas as matrículas nos termos do

23
Legislação Específica: Federais e Municipais

inciso III do caput deste caput deste artigo; (Incluído pela


artigo; (Incluído pela Emenda Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
Constitucional nº 108, de 2020) c) a forma de cálculo para distribuição
VII - os recursos de que tratam os prevista na alínea "c" do inciso V do caput
incisos II e IV do caput deste artigo serão deste artigo; (Incluído pela Emenda
aplicados pelos Estados e pelos Municípios Constitucional nº 108, de 2020)
exclusivamente nos respectivos âmbitos de d) a transparência, o monitoramento, a
atuação prioritária, conforme estabelecido fiscalização e o controle interno, externo e
nos §§ 2º e 3º do art. 211 desta social dos fundos referidos no inciso I do
Constituição; (Incluído pela Emenda caput deste artigo, assegurada a criação, a
Constitucional nº 108, de 2020) autonomia, a manutenção e a consolidação
VIII - a vinculação de recursos à de conselhos de acompanhamento e
manutenção e ao desenvolvimento do controle social, admitida sua integração
ensino estabelecida no art. 212 desta aos conselhos de educação; (Incluído
Constituição suportará, no máximo, 30% pela Emenda Constitucional nº 108, de
(trinta por cento) da complementação da 2020)
União, considerados para os fins deste e) o conteúdo e a periodicidade da
inciso os valores previstos no inciso V do avaliação, por parte do órgão responsável,
caput deste artigo; (Incluído pela dos efeitos redistributivos, da melhoria dos
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) indicadores educacionais e da ampliação
IX - o disposto no caput do art. 160 desta do atendimento; (Incluído pela Emenda
Constituição aplica-se aos recursos Constitucional nº 108, de 2020)
referidos nos incisos II e IV do caput deste XI - proporção não inferior a 70%
artigo, e seu descumprimento pela (setenta por cento) de cada fundo referido
autoridade competente importará em crime no inciso I do caput deste artigo, excluídos
de responsabilidade; (Incluído pela os recursos de que trata a alínea "c" do
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) inciso V do caput deste artigo, será
X - a lei disporá, observadas as destinada ao pagamento dos profissionais
garantias estabelecidas nos incisos I, II, III da educação básica em efetivo exercício,
e IV do caput e no § 1º do art. 208 e as observado, em relação aos recursos
metas pertinentes do plano nacional de previstos na alínea "b" do inciso V do caput
educação, nos termos previstos no art. 214 deste artigo, o percentual mínimo de 15%
desta Constituição, sobre: (Incluído (quinze por cento) para despesas de
pela Emenda Constitucional nº 108, de capital; (Incluído pela Emenda
2020) Constitucional nº 108, de 2020)
a) a organização dos fundos referidos no XII - lei específica disporá sobre o piso
inciso I do caput deste artigo e a salarial profissional nacional para os
distribuição proporcional de seus recursos, profissionais do magistério da educação
as diferenças e as ponderações quanto ao básica pública; (Incluído pela Emenda
valor anual por aluno entre etapas, Constitucional nº 108, de 2020)
modalidades, duração da jornada e tipos de XIII - a utilização dos recursos a que se
estabelecimento de ensino, observados as refere o § 5º do art. 212 desta Constituição
respectivas especificidades e os insumos para a complementação da União ao
necessários para a garantia de sua Fundeb, referida no inciso V do caput deste
qualidade; (Incluído pela Emenda artigo, é vedada. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 108, de 2020) Constitucional nº 108, de 2020)
b) a forma de cálculo do VAAF § 1º O cálculo do VAAT, referido no
decorrente do inciso III do caput deste inciso VI do caput deste artigo, deverá
artigo e do VAAT referido no inciso VI do considerar, além dos recursos previstos no
inciso II do caput deste artigo, pelo menos,

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Legislação Específica: Federais e Municipais

as seguintes disponibilidades: (Incluído Público, no caso de encerramento de suas


pela Emenda Constitucional nº 108, de atividades.
2020) § 1º Os recursos de que trata este artigo
I - receitas de Estados, do Distrito poderão ser destinados a bolsas de estudo
Federal e de Municípios vinculadas à para o ensino fundamental e médio, na
manutenção e ao desenvolvimento do forma da lei, para os que demonstrarem
ensino não integrantes dos fundos referidos insuficiência de recursos, quando houver
no inciso I do caput deste falta de vagas e cursos regulares da rede
artigo; (Incluído pela Emenda pública na localidade da residência do
Constitucional nº 108, de 2020) educando, ficando o Poder Público
II - cotas estaduais e municipais da obrigado a investir prioritariamente na
arrecadação do salário-educação de que expansão de sua rede na localidade.
trata o § 6º do art. 212 desta § 2º As atividades de pesquisa, de
Constituição; (Incluído pela Emenda extensão e de estímulo e fomento à
Constitucional nº 108, de 2020) inovação realizadas por universidades e/ou
III - complementação da União por instituições de educação profissional e
transferida a Estados, ao Distrito Federal e tecnológica poderão receber apoio
a Municípios nos termos da alínea "a" do financeiro do Poder Público.
inciso V do caput deste artigo. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 108, de Art. 214. A lei estabelecerá o plano
2020) nacional de educação, de duração decenal,
§ 2º Além das ponderações previstas na com o objetivo de articular o sistema
alínea "a" do inciso X do caput deste artigo, nacional de educação em regime de
a lei definirá outras relativas ao nível colaboração e definir diretrizes, objetivos,
socioeconômico dos educandos e aos metas e estratégias de implementação para
indicadores de disponibilidade de recursos assegurar a manutenção e desenvolvimento
vinculados à educação e de potencial de do ensino em seus diversos níveis, etapas e
arrecadação tributária de cada ente modalidades por meio de ações integradas
federado, bem como seus prazos de dos poderes públicos das diferentes esferas
implementação. (Incluído pela Emenda federativas que conduzam a:
Constitucional nº 108, de 2020) I - erradicação do analfabetismo;
§ 3º Será destinada à educação infantil II - universalização do atendimento
a proporção de 50% (cinquenta por cento) escolar;
dos recursos globais a que se refere a III - melhoria da qualidade do ensino;
alínea "b" do inciso V do caput deste artigo, IV - formação para o trabalho;
nos termos da lei." (Incluído pela V - promoção humanística, científica e
Emenda Constitucional nº 108, de 2020) tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de
Art. 213. Os recursos públicos serão aplicação de recursos públicos em
destinados às escolas públicas, podendo educação como proporção do produto
ser dirigidos a escolas comunitárias, interno bruto.
confessionais ou filantrópicas, definidas em
lei, que: Questões
I - comprovem finalidade não-lucrativa
e apliquem seus excedentes financeiros em 01. (Prefeitura de Rio Claro/SP -
educação; Professor de Educação Básica II -
II - assegurem a destinação de seu Avança SP/2022) Em consonância com o
patrimônio a outra escola comunitária, Art. 208 da Constituição Federal de 1988, o
filantrópica ou confessional, ou ao Poder dever do Estado com a educação será

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Legislação Específica: Federais e Municipais

efetivado mediante a garantia de, Cultura (arts. 215 – 216, CF)


EXCETO:
A - Acesso aos níveis mais elevados do O termo cultura refere-se a um sistema
ensino, da pesquisa e da criação artística, de ideias, técnicas e comportamentos que
segundo a capacidade de cada um. caracterizam uma sociedade.
B - Atendimento ao educando, em todas Todas as manifestações culturais devem
as etapas da educação básica, por meio de ser valorizadas e respeitadas, pois estamos
programas suplementares de material tratando de um processo de civilização.
didático escolar, transporte, alimentação e Nosso calendário é constituído por datas
assistência à saúde. comemorativas para os mais diversos
C - Atendimento educacional segmentos.
especializado aos portadores de deficiência, O Sistema Nacional de Cultura é
preferencialmente na rede regular de pautado na política de cultura, além das
ensino. suas diretrizes.
D - Educação básica obrigatória e
gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) DA CULTURA
anos de idade, assegurada sua oferta
gratuita, apenas para os que a ela tiverem Art. 215. O Estado garantirá a todos o
acesso na idade própria. pleno exercício dos direitos culturais e
E - Progressiva universalização do acesso às fontes da cultura nacional, e
ensino médio gratuito. apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
02. (Prefeitura de Porto Ferreira /SP - § 1º O Estado protegerá as
Professor de Educação Básica I - Nosso manifestações das culturas populares,
Rumo/2022) Segundo o Art. 205 da indígenas e afro-brasileiras, e das de
Constituição da República Federativa do outros grupos participantes do processo
Brasil de 1988, o ensino será ministrado civilizatório nacional.
com base em alguns princípios. São § 2º A lei disporá sobre a fixação de
exemplos desses princípios, EXCETO: datas comemorativas de alta significação
A - liberdade de aprender, ensinar, para os diferentes segmentos étnicos
pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e nacionais.
o saber. § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional
B - garantia do direito à educação e à de Cultura, de duração plurianual, visando
aprendizagem ao longo da vida. ao desenvolvimento cultural do País e à
C - piso salarial profissional nacional integração das ações do poder público que
para os profissionais da educação escolar conduzem à:
pública, nos termos de lei federal. I defesa e valorização do patrimônio
D - pluralismo de ideias e de concepções cultural brasileiro;
pedagógicas, e coexistência de instituições II produção, promoção e difusão de bens
públicas e privadas de ensino. culturais;
E - valorização dos profissionais da III formação de pessoal qualificado
educação escolar, garantidos, na forma da para a gestão da cultura em suas múltiplas
lei, planos de carreira, com ingresso dimensões;
preferencialmente por concurso público de IV democratização do acesso aos bens
provas e títulos, aos das redes públicas. de cultura;
V valorização da diversidade étnica e
Alternativas regional.

01.D – 02.E

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 216. Constituem patrimônio III - qualquer outra despesa corrente


cultural brasileiro os bens de natureza não vinculada diretamente aos
material e imaterial, tomados investimentos ou ações apoiados.
individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à Art. 216-A. O Sistema Nacional de
ação, à memória dos diferentes grupos Cultura, organizado em regime de
formadores da sociedade brasileira, nos colaboração, de forma descentralizada e
quais se incluem: participativa, institui um processo de
I - as formas de expressão; gestão e promoção conjunta de políticas
II - os modos de criar, fazer e viver; públicas de cultura, democráticas e
III - as criações científicas, artísticas e permanentes, pactuadas entre os entes da
tecnológicas; Federação e a sociedade, tendo por
IV - as obras, objetos, documentos, objetivo promover o desenvolvimento
edificações e demais espaços destinados às humano, social e econômico com pleno
manifestações artístico-culturais; exercício dos direitos culturais.
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor § 1º O Sistema Nacional de Cultura
histórico, paisagístico, artístico, fundamenta-se na política nacional de
arqueológico, paleontológico, ecológico e cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas
científico. no Plano Nacional de Cultura, e rege-se
§ 1º O Poder Público, com a pelos seguintes princípios:
colaboração da comunidade, promoverá e I - diversidade das expressões
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, culturais;
por meio de inventários, registros, II - universalização do acesso aos bens
vigilância, tombamento e desapropriação, e serviços culturais;
e de outras formas de acautelamento e III - fomento à produção, difusão e
preservação. circulação de conhecimento e bens
§ 2º Cabem à administração pública, na culturais;
forma da lei, a gestão da documentação IV - cooperação entre os entes
governamental e as providências para federados, os agentes públicos e privados
franquear sua consulta a quantos dela atuantes na área cultural;
necessitem. V - integração e interação na execução
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a das políticas, programas, projetos e ações
produção e o conhecimento de bens e desenvolvidas;
valores culturais. VI - complementaridade nos papéis dos
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio agentes culturais;
cultural serão punidos, na forma da lei. VII - transversalidade das políticas
§ 5º Ficam tombados todos os culturais;
documentos e os sítios detentores de VIII - autonomia dos entes federados e
reminiscências históricas dos antigos das instituições da sociedade civil;
quilombos. IX - transparência e compartilhamento
§ 6 º É facultado aos Estados e ao das informações;
Distrito Federal vincular a fundo estadual X - democratização dos processos
de fomento à cultura até cinco décimos por decisórios com participação e controle
cento de sua receita tributária líquida, para social;
o financiamento de programas e projetos XI - descentralização articulada e
culturais, vedada a aplicação desses pactuada da gestão, dos recursos e das
recursos no pagamento de: ações;
I - despesas com pessoal e encargos XII - ampliação progressiva dos
sociais; recursos contidos nos orçamentos públicos
II - serviço da dívida; para a cultura.

27
Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 2º Constitui a estrutura do Sistema educacional e, em casos específicos, para a


Nacional de Cultura, nas respectivas do desporto de alto rendimento;
esferas da Federação: III - o tratamento diferenciado para o
I - órgãos gestores da cultura; desporto profissional e o não- profissional;
II - conselhos de política cultural; IV - a proteção e o incentivo às
III - conferências de cultura; manifestações desportivas de criação
IV - comissões intergestores; nacional.
V - planos de cultura; § 1º O Poder Judiciário só admitirá
VI - sistemas de financiamento à ações relativas à disciplina e às
cultura; competições desportivas após esgotarem-
VII - sistemas de informações e se as instâncias da justiça desportiva,
indicadores culturais; regulada em lei.
VIII - programas de formação na área § 2º A justiça desportiva terá o prazo
da cultura; e máximo de sessenta dias, contados da
IX - sistemas setoriais de cultura. instauração do processo, para proferir
§ 3º Lei federal disporá sobre a decisão final.
regulamentação do Sistema Nacional de § 3º O Poder Público incentivará o
Cultura, bem como de sua articulação com lazer, como forma de promoção social.
os demais sistemas nacionais ou políticas
setoriais de governo. Ciência e Tecnologia (arts. 218 – 219
§ 4º Os Estados, o Distrito Federal e os B)
Municípios organizarão seus respectivos
sistemas de cultura em leis próprias. É papel do Estado promover o
desenvolvimento científico, a pesquisa, a
Desporto (art. 217, CF) capacitação científica e tecnológica e a
inovação.
O Estado tem o dever de incentivar e
resguardar as práticas desportivas Tipos de Pesquisa
a) pesquisa científica básica e
Tipos de Prática Desportiva tecnológica receberá tratamento prioritário
A prática desportiva formal é regulada do Estado, tendo em vista o bem público e
por normas nacionais e internacionais e o progresso da ciência, tecnologia e
pelas regras de prática desportiva de cada inovação;
modalidade, aceitas pelas respectivas b) pesquisa tecnológica voltar-se-á
entidades nacionais de administração do preponderantemente para a solução dos
desporto. problemas brasileiros e para o
A prática desportiva não-formal é desenvolvimento do sistema produtivo
caracterizada pela liberdade lúdica de seus nacional e regional.
praticantes.
Caberá a União, aos Estados, ao Distrito
DO DESPORTO Federal e aos Municípios firmar
instrumentos de cooperação com órgãos e
Art. 217. É dever do Estado fomentar entidades públicos e com entidades
práticas desportivas formais e não-formais, privadas, para realizar o compartilhamento
como direito de cada um, observados: de recursos humanos especializados e para
I - a autonomia das entidades a execução de projetos de pesquisa, de
desportivas dirigentes e associações, desenvolvimento científico e tecnológico e
quanto a sua organização e funcionamento; de inovação.
II - a destinação de recursos públicos
para a promoção prioritária do desporto

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Legislação Específica: Federais e Municipais

CAPÍTULO IV Art. 219. O mercado interno integra o


DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E patrimônio nacional e será incentivado de
INOVAÇÃO modo a viabilizar o desenvolvimento
cultural e sócio-econômico, o bem-estar da
Art. 218. O Estado promoverá e população e a autonomia tecnológica do
incentivará o desenvolvimento científico, a País, nos termos de lei federal.
pesquisa, a capacitação científica e Parágrafo único. O Estado estimulará a
tecnológica e a inovação. formação e o fortalecimento da inovação
§ 1º A pesquisa científica básica e nas empresas, bem como nos demais entes,
tecnológica receberá tratamento públicos ou privados, a constituição e a
prioritário do Estado, tendo em vista o bem manutenção de parques e polos
público e o progresso da ciência, tecnológicos e de demais ambientes
tecnologia e inovação. promotores da inovação, a atuação dos
§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á inventores independentes e a criação,
preponderantemente para a solução dos absorção, difusão e transferência de
problemas brasileiros e para o tecnologia.
desenvolvimento do sistema produtivo
nacional e regional. Art. 219-A. A União, os Estados, o
§ 3º O Estado apoiará a formação de Distrito Federal e os Municípios poderão
recursos humanos nas áreas de ciência, firmar instrumentos de cooperação com
pesquisa, tecnologia e inovação, inclusive órgãos e entidades públicos e com
por meio do apoio às atividades de entidades privadas, inclusive para o
extensão tecnológica, e concederá aos que compartilhamento de recursos humanos
delas se ocupem meios e condições especializados e capacidade instalada,
especiais de trabalho. para a execução de projetos de pesquisa, de
§ 4º A lei apoiará e estimulará as desenvolvimento científico e tecnológico e
empresas que invistam em pesquisa, de inovação, mediante contrapartida
criação de tecnologia adequada ao País, financeira ou não financeira assumida pelo
formação e aperfeiçoamento de seus ente beneficiário, na forma da lei.
recursos humanos e que pratiquem
sistemas de remuneração que assegurem ao Art. 219-B. O Sistema Nacional de
empregado, desvinculada do salário, Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI)
participação nos ganhos econômicos será organizado em regime de colaboração
resultantes da produtividade de seu entre entes, tanto públicos quanto privados,
trabalho. com vistas a promover o desenvolvimento
§ 5º É facultado aos Estados e ao científico e tecnológico e a inovação.
Distrito Federal vincular parcela de sua § 1º Lei federal disporá sobre as normas
receita orçamentária a entidades públicas gerais do SNCTI.
de fomento ao ensino e à pesquisa científica § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os
e tecnológica. Municípios legislarão concorrentemente
§ 6º O Estado, na execução das sobre suas peculiaridades.
atividades previstas no caput , estimulará a
articulação entre entes, tanto públicos Questão
quanto privados, nas diversas esferas de
governo. 01. (MANAUSPREV - Analista
§ 7º O Estado promoverá e incentivará Previdenciário - FCC/2021) Diante dos
a atuação no exterior das instituições regramentos constitucionais para a ciência,
públicas de ciência, tecnologia e inovação, tecnologia e inovação,
com vistas à execução das atividades
previstas no caput.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

A - é vedada a articulação entre entes O Poder Executivo tem competência


públicos e privados para a realização de para renovar a concessão, permissão e
pesquisas científicas. autorização para o serviço de radiodifusão
B - os Estados e o Distrito Federal são sonora e de sons e imagens. Para que não
obrigados a vincular parcela de sua receita seja feita a renovação ou permissão é
orçamentária a entidades públicas de necessária a aprovação de, no mínimo, dois
fomento ao ensino e à pesquisa. quintos do Congresso Nacional, em votação
C - os Municípios são obrigados a nominal. O ato de outorga ou renovação
destinar parcela de seu orçamento à União somente produzirá efeitos legais após
Federal, para financiamento das deliberação do Congresso Nacional.
universidades federais.
D - a pesquisa tecnológica voltar-se-á COMUNICAÇÃO SOCIAL
preponderantemente para a solução dos
problemas brasileiros e para o Art. 220. A manifestação do
desenvolvimento do sistema produtivo pensamento, a criação, a expressão e a
nacional e regional. informação, sob qualquer forma, processo
E - o Estado apoiará a formação de ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
recursos humanos nas áreas de ciência, observado o disposto nesta Constituição.
tecnologia e inovação, vedada, no entanto, § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que
a concessão de meios e condições especiais possa constituir embaraço à plena
de trabalho para os que dela se ocupem. liberdade de informação jornalística em
qualquer veículo de comunicação social,
Alternativa observado o disposto no art. 5º, IV, V, X,
XIII e XIV.
01.D § 2º É vedada toda e qualquer censura
de natureza política, ideológica e artística.
Comunicação Social (arts. 220 – 224, § 3º Compete à lei federal:
CF) I - regular as diversões e espetáculos
públicos, cabendo ao Poder Público
O ser humano precisa ser livre para se informar sobre a natureza deles, as faixas
comunicar, temos na comunicação um etárias a que não se recomendem, locais e
conjunto de direitos, formas e processos horários em que sua apresentação se
que permitem que o pensamento flua, seja mostre inadequada;
usando os meios de informação como rádio II - estabelecer os meios legais que
e televisão, permitindo a difusão em tempo garantam à pessoa e à família a
real. possibilidade de se defenderem de
As redes sociais (whatss) é uma das programas ou programações de rádio e
formas de comunicação mais frequentes no televisão que contrariem o disposto no art.
dia a dia. 221, bem como da propaganda de
Nenhuma lei terá dispositivo que produtos, práticas e serviços que possam
restrinja a liberdade de informação ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
jornalística, pois a comunicação social é § 4º A propaganda comercial de tabaco,
considerada um direito fundamental (artigo bebidas alcoólicas, agrotóxicos,
5º). medicamentos e terapias estará sujeita a
A propriedade de empresa jornalística e restrições legais, nos termos do inciso II do
de radiodifusão sonora e de sons e imagens parágrafo anterior, e conterá, sempre que
é privativa de brasileiros natos ou necessário, advertência sobre os malefícios
naturalizados há mais de dez anos, ou de decorrentes de seu uso.
pessoas jurídicas constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sede no País.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 5º Os meios de comunicação social execução de produções nacionais.


não podem, direta ou indiretamente, ser (Incluído pela Emenda Constitucional nº
objeto de monopólio ou oligopólio. 36, de 2002)
§ 6º A publicação de veículo impresso de § 4º Lei disciplinará a participação de
comunicação independe de licença de capital estrangeiro nas empresas de que
autoridade. trata o § 1º.
§ 5º As alterações de controle societário
Art. 221. A produção e a programação das empresas de que trata o § 1º serão
das emissoras de rádio e televisão comunicadas ao Congresso Nacional.
atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, Art. 223. Compete ao Poder Executivo
artísticas, culturais e informativas; outorgar e renovar concessão, permissão e
II - promoção da cultura nacional e autorização para o serviço de radiodifusão
regional e estímulo à produção sonora e de sons e imagens, observado o
independente que objetive sua divulgação; princípio da complementaridade dos
III - regionalização da produção sistemas privado, público e estatal.
cultural, artística e jornalística, conforme § 1º O Congresso Nacional apreciará o
percentuais estabelecidos em lei; ato no prazo do art. 64, § 2º e § 4º, a contar
IV - respeito aos valores éticos e sociais do recebimento da mensagem.
da pessoa e da família. § 2º A não renovação da concessão ou
permissão dependerá de aprovação de, no
Art. 222. A propriedade de empresa mínimo, dois quintos do Congresso
jornalística e de radiodifusão sonora e de Nacional, em votação nominal.
sons e imagens é privativa de brasileiros § 3º O ato de outorga ou renovação
natos ou naturalizados há mais de dez anos, somente produzirá efeitos legais após
ou de pessoas jurídicas constituídas sob as deliberação do Congresso Nacional, na
leis brasileiras e que tenham sede no País. forma dos parágrafos anteriores.
§ 1º Em qualquer caso, pelo menos § 4º O cancelamento da concessão ou
setenta por cento do capital total e do permissão, antes de vencido o prazo,
capital votante das empresas jornalísticas e depende de decisão judicial.
de radiodifusão sonora e de sons e imagens § 5º O prazo da concessão ou permissão
deverá pertencer, direta ou indiretamente, será de dez anos para as emissoras de rádio
a brasileiros natos ou naturalizados há e de quinze para as de televisão.
mais de dez anos, que exercerão
obrigatoriamente a gestão das atividades e Art. 224. Para os efeitos do disposto
estabelecerão o conteúdo da neste capítulo, o Congresso Nacional
programação. instituirá, como seu órgão auxiliar, o
§ 2º A responsabilidade editorial e as Conselho de Comunicação Social, na
atividades de seleção e direção da forma da lei.
programação veiculada são privativas de
brasileiros natos ou naturalizados há mais Questão
de dez anos, em qualquer meio de
comunicação social. 01. (UNESP - Assistente
§ 3º Os meios de comunicação social Administrativo II - VUNESP/2022) Em
eletrônica, independentemente da relação à Comunicação Social, prevista na
tecnologia utilizada para a prestação do Carta Magna, assinale a alternativa correta.
serviço, deverão observar os princípios A - Os meios de comunicação social não
enunciados no art. 221, na forma de lei podem, direta ou indiretamente, ser objeto
específica, que também garantirá a de monopólio ou oligopólio.
prioridade de profissionais brasileiros na

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Legislação Específica: Federais e Municipais

B - A publicação de veículo impresso de III - definir, em todas as unidades da


comunicação depende de licença ou Federação, espaços territoriais e seus
autorização do Congresso Nacional. componentes a serem especialmente
C - A propriedade de empresa protegidos, sendo a alteração e a supressão
jornalística e de radiodifusão sonora de permitidas somente através de lei, vedada
sons e imagens é exclusiva dos brasileiros qualquer utilização que comprometa a
natos. integridade dos atributos que justifiquem
D - O ato de outorga ou renovação dos sua proteção;
veículos de comunicação somente IV - exigir, na forma da lei, para
produzirá efeitos legais após a deliberação instalação de obra ou atividade
do Presidente do Poder Executivo. potencialmente causadora de significativa
E - O prazo de concessão ou permissão degradação do meio ambiente, estudo
dos veículos de comunicação será de 15 prévio de impacto ambiental, a que se dará
anos para as emissoras de rádio e de 20 anos publicidade;
para as de televisão. V - controlar a produção, a
comercialização e o emprego de técnicas,
Alternativa métodos e substâncias que comportem risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio
01.A ambiente; (Regulamento)
VI - promover a educação ambiental em
Meio Ambiente (art.225, CF) todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a
Todos tem o direito de ter um meio preservação do meio ambiente;
ambiente ecologicamente preservado, já VII - proteger a fauna e a flora, vedadas,
que se trata de um bem de uso comum do na forma da lei, as práticas que coloquem
povo. Para que haja essa proteção de modo em risco sua função ecológica, provoquem
eficaz, cabe ao Poder Público juntamente a extinção de espécies ou submetam os
com a coletividade a busca pelo mais animais a crueldade. (Regulamento)
correto, já que assim teremos uma boa VIII - manter regime fiscal favorecido
qualidade de vida. para os biocombustíveis destinados ao
consumo final, na forma de lei
Art. 225. Todos têm direito ao meio complementar, a fim de assegurar-lhes
ambiente ecologicamente equilibrado, bem tributação inferior à incidente sobre os
de uso comum do povo e essencial à sadia combustíveis fósseis, capaz de garantir
qualidade de vida, impondo-se ao Poder diferencial competitivo em relação a estes,
Público e à coletividade o dever de especialmente em relação às contribuições
defendê-lo e preservá- lo para as presentes de que tratam a alínea "b" do inciso I e o
e futuras gerações. inciso IV do caput do art. 195 e o art. 239 e
§ 1º Para assegurar a efetividade desse ao imposto a que se refere o inciso II do
direito, incumbe ao Poder Público: caput do art. 155 desta
I - preservar e restaurar os processos Constituição. (Incluído pela Emenda
ecológicos essenciais e prover o manejo Constitucional nº 123, de 2022)
ecológico das espécies e § 2º Aquele que explorar recursos
ecossistemas; minerais fica obrigado a recuperar o meio
II - preservar a diversidade e a ambiente degradado, de acordo com
integridade do patrimônio genético do País solução técnica exigida pelo órgão público
e fiscalizar as entidades dedicadas à competente, na forma da lei.
pesquisa e manipulação de material § 3º As condutas e atividades
genético; consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou

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Legislação Específica: Federais e Municipais

jurídicas, a sanções penais e Caso o menor de idade cometa algum ato


administrativas, independentemente da infracional, ele ficará sujeito as normas de
obrigação de reparar os danos causados. legislação especial, que são as trazidas no
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Estatuto da Criança e Adolescente.
Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Os artigos 229 e 230 abordam o
patrimônio nacional, e sua utilização far- Princípio da Solidariedade, de modo que os
se-á, na forma da lei, dentro de condições pais têm o dever de assistir seus filhos,
que assegurem a preservação do meio enquanto menores, já os filhos maiores
ambiente, inclusive quanto ao uso dos devem ajudar os pais quando estes se
recursos naturais. encontrarem na velhice ou enfermidade.
§ 5º São indisponíveis as terras Os idosos além da Constituição Federal,
devolutas ou arrecadadas pelos Estados, possuem amparo em legislação específica,
por ações discriminatórias, necessárias à o atual Estatuto da Pessoa Idosa.
proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator Dispositivos Constitucionais sobre o
nuclear deverão ter sua localização tema:
definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas. CAPÍTULO VII
§ 7º Para fins do disposto na parte final Da Família, da Criança, do
do inciso VII do § 1º deste artigo, não se Adolescente, do Jovem e do Idoso
consideram cruéis as práticas desportivas
que utilizem animais, desde que sejam Art. 226. A família, base da sociedade,
manifestações culturais, conforme o § 1º do tem especial proteção do Estado.
art. 215 desta Constituição Federal, § 1º O casamento é civil e gratuita a
registradas como bem de natureza celebração.
imaterial integrante do patrimônio cultural § 2º O casamento religioso tem efeito
brasileiro, devendo ser regulamentadas por civil, nos termos da lei.
lei específica que assegure o bem-estar dos § 3º Para efeito da proteção do Estado,
animais envolvidos. é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar,
Família, Criança e Adolescente e devendo a lei facilitar sua conversão em
Idoso casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade
As famílias constituem-se por sua familiar a comunidade formada por
própria vontade, cada indivíduo possui qualquer dos pais e seus descendentes.
autonomia para criar os vínculos familiares § 5º Os direitos e deveres referentes à
que bem entenderem. O papel do Estado sociedade conjugal são exercidos
com relação a família é cuidar da relação do igualmente pelo homem e pela mulher.
nascimento dos filhos, com a oferta de § 6º O casamento civil pode ser
preservativos e pílulas do dia seguinte. O dissolvido pelo divórcio.
Estado irá atuar de forma complementar, § 7º Fundado nos princípios da
subsidiária. dignidade da pessoa humana e da
Com relação aos abusos, violência e paternidade responsável, o planejamento
exploração sexual da criança e adolescente, familiar é livre decisão do casal,
a lei punirá quem praticar o ato delituoso. competindo ao Estado propiciar recursos
A constituição ressalta ainda sobre a educacionais e científicos para o exercício
adoção, de modo que sejam filhos de desse direito, vedada qualquer forma
adoção ou sanguíneos os direitos de todos coercitiva por parte de instituições oficiais
serão iguais perante a família. ou privadas.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 8º O Estado assegurará a assistência III - garantia de acesso do trabalhador


à família na pessoa de cada um dos que a adolescente e jovem à escola;
integram, criando mecanismos para coibir IV - garantia de pleno e formal
a violência no âmbito de suas relações. conhecimento da atribuição de ato
infracional, igualdade na relação
Art. 227. É dever da família, da processual e defesa técnica por profissional
sociedade e do Estado assegurar à criança, habilitado, segundo dispuser a legislação
ao adolescente e ao jovem, com absoluta tutelar específica;
prioridade, o direito à vida, à saúde, à V - obediência aos princípios de
alimentação, à educação, ao lazer, à brevidade, excepcionalidade e respeito à
profissionalização, à cultura, à dignidade, condição peculiar de pessoa em
ao respeito, à liberdade e à convivência desenvolvimento, quando da aplicação de
familiar e comunitária, além de colocá-los qualquer medida privativa da liberdade;
a salvo de toda forma de negligência, VI - estímulo do Poder Público, através
discriminação, exploração, violência, de assistência jurídica, incentivos fiscais e
crueldade e opressão. subsídios, nos termos da lei, ao
§ 1º O Estado promoverá programas de acolhimento, sob a forma de guarda, de
assistência integral à saúde da criança, do criança ou adolescente órfão ou
adolescente e do jovem, admitida a abandonado;
participação de entidades não VII - programas de prevenção e
governamentais, mediante políticas atendimento especializado à criança, ao
específicas e obedecendo aos seguintes adolescente e ao jovem dependente de
preceitos: entorpecentes e drogas afins.
I - aplicação de percentual dos recursos § 4º A lei punirá severamente o abuso, a
públicos destinados à saúde na assistência violência e a exploração sexual da criança
materno-infantil; e do adolescente.
II - criação de programas de prevenção § 5º A adoção será assistida pelo Poder
e atendimento especializado para as Público, na forma da lei, que estabelecerá
pessoas portadoras de deficiência física, casos e condições de sua efetivação por
sensorial ou mental, bem como de parte de estrangeiros.
integração social do adolescente e do § 6º Os filhos, havidos ou não da relação
jovem portador de deficiência, mediante o do casamento, ou por adoção, terão os
treinamento para o trabalho e a mesmos direitos e qualificações, proibidas
convivência, e a facilitação do acesso aos quaisquer designações discriminatórias
bens e serviços coletivos, com a eliminação relativas à filiação.
de obstáculos arquitetônicos e de todas as § 7º No atendimento dos direitos da
formas de discriminação. criança e do adolescente levar-se- á em
§ 2º A lei disporá sobre normas de consideração o disposto no art. 204.
construção dos logradouros e dos edifícios § 8º A lei estabelecerá:
de uso público e de fabricação de veículos I - o estatuto da juventude, destinado a
de transporte coletivo, a fim de garantir regular os direitos dos jovens;
acesso adequado às pessoas portadoras de II - o plano nacional de juventude, de
deficiência. duração decenal, visando à articulação das
§ 3º O direito a proteção especial várias esferas do poder público para a
abrangerá os seguintes aspectos: execução de políticas públicas.
I - idade mínima de quatorze anos para
admissão ao trabalho, observado o Art. 228. São penalmente inimputáveis
disposto no art. 7º, XXXIII; os menores de dezoito anos, sujeitos às
II - garantia de direitos previdenciários normas da legislação especial.
e trabalhistas;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, fomento à capacitação dos adolescentes e
criar e educar os filhos menores, e os filhos jovens para inserção no mercado de
maiores têm o dever de ajudar e amparar trabalho; definição de políticas públicas que
os pais na velhice, carência ou assegurem a inclusão digital dos jovens,
enfermidade. promovendo acesso à diversas mídias
eletrônicas de forma a garantir igualdade de
Questões direitos e maiores possibilidades de
ascensão social.
01. (Prefeitura de Osasco/SP - Oficial E - aplicação de percentual dos recursos
de Escola – VUNESP/2021) Segundo a públicos destinados à saúde na assistência
Constituição Federal (1988), em seu art. ao idoso; elaboração de normas de
227, o Estado promoverá programas de construção dos logradouros e dos edifícios
assistência integral à saúde da criança, do de uso público e de fabricação de veículos
adolescente e do jovem, admitida a de transporte coletivo, a fim de garantir
participação de entidades não acesso adequado às pessoas portadoras de
governamentais, mediante políticas deficiência; programas de prevenção e
específicas e obedecendo, dentre outros, atendimento especializado à criança, ao
aos seguintes preceitos: adolescente e ao jovem dependente de
A - criação de projetos de ampliação e entorpecentes e drogas afins.
atendimento humanizado para as pessoas
carentes e com vulnerabilidade social, bem 02. (Prefeitura de Cananéia/SP -
como de integração familiar da criança e do Auxiliar Feminino da Casa da Criança e
adolescente portador de deficiência, do Adolescente – VUNESP/2020) A
mediante a capacitação para o trabalho e a Constituição Federal determina, em seu
convivência, e a facilitação do acesso ao artigo 227, que é dever da família, da
mercado de trabalho, com a eliminação de sociedade e do Estado assegurar à criança,
barreiras atitudinais e de todas as formas de ao adolescente e ao jovem, o direito à vida,
discriminação. à saúde, à alimentação, à educação, ao
B - elaboração de normas para assegurar lazer, à profissionalização, à cultura, à
o direito à proteção especial a crianças e dignidade, ao respeito, à liberdade e à
adolescentes como forma de reduzir toda convivência familiar e comunitária, além de
atitude de preconceito; incentivos fiscais e colocá- -los a salvo de toda forma de
subsídios, nos termos da lei, ao negligência, discriminação, exploração,
acolhimento, sob a forma de guarda, do violência, crueldade e opressão, com
idoso, órfão ou abandonado; obediência aos A - pleno respeito.
princípios de brevidade, excepcionalidade e B - amplo cuidado.
respeito à condição peculiar de pessoa em C - absoluta prioridade.
desenvolvimento. D - completo interesse.
C - criação de programas de prevenção e E - profunda convicção.
atendimento especializado para as pessoas
portadoras de deficiência física, sensorial Alternativas
ou mental, bem como de integração social
do adolescente e do jovem portador de 01.C - 02.C
deficiência, mediante o treinamento para o
trabalho e a convivência, e a facilitação do
acesso aos bens e serviços coletivos, com a
eliminação de obstáculos arquitetônicos e
de todas as formas de discriminação.
D - elaboração do estatuto da juventude,
destinado a regular os direitos dos jovens;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

II - progressiva extensão da
Lei Federal n.º 8.069, de 13/07/1990 – obrigatoriedade e gratuidade ao ensino
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do médio;
Adolescente e dá outras providências. III - atendimento educacional
Artigos 53 a 59 e 136 a 137. especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de
ensino;
Capítulo IV IV – atendimento em creche e pré-escola
Do Direito à Educação, à Cultura, ao às crianças de zero a cinco anos de idade;
Esporte e ao Lazer (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do
Art. 53. A criança e o adolescente têm ensino, da pesquisa e da criação artística,
direito à educação, visando ao pleno segundo a capacidade de cada um;
desenvolvimento de sua pessoa, preparo VI - oferta de ensino noturno regular,
para o exercício da cidadania e qualificação adequado às condições do adolescente
para o trabalho, assegurando-se-lhes: trabalhador;
I - igualdade de condições para o acesso VII - atendimento no ensino
e permanência na escola; fundamental, através de programas
II - direito de ser respeitado por seus suplementares de material didático-escolar,
educadores; transporte, alimentação e assistência à
III - direito de contestar critérios saúde.
avaliativos, podendo recorrer às instâncias § 1º O acesso ao ensino obrigatório e
escolares superiores; gratuito é direito público subjetivo.
IV - direito de organização e § 2º O não oferecimento do ensino
participação em entidades estudantis; obrigatório pelo poder público ou sua oferta
V - acesso à escola pública e gratuita, irregular importa responsabilidade da
próxima de sua residência, garantindo-se autoridade competente.
vagas no mesmo estabelecimento a irmãos § 3º Compete ao poder público recensear
que frequentem a mesma etapa ou ciclo de os educandos no ensino fundamental, fazer-
ensino da educação básica. (Redação dada lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
pela Lei nº 13.845, de 2019) responsável, pela freqüência à escola.
Parágrafo único. É direito dos pais ou
responsáveis ter ciência do processo Art. 55. Os pais ou responsável têm a
pedagógico, bem como participar da obrigação de matricular seus filhos ou
definição das propostas educacionais. pupilos na rede regular de ensino.

Art. 53-A. É dever da instituição de Art. 56. Os dirigentes de


ensino, clubes e agremiações recreativas e estabelecimentos de ensino fundamental
de estabelecimentos congêneres assegurar comunicarão ao Conselho Tutelar os casos
medidas de conscientização, prevenção e de:
enfrentamento ao uso ou dependência de I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, II - reiteração de faltas injustificadas e de
de 2019) evasão escolar, esgotados os recursos
escolares;
Art. 54. É dever do Estado assegurar à III - elevados níveis de repetência.
criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e Art. 57. O poder público estimulará
gratuito, inclusive para os que a ele não pesquisas, experiências e novas propostas
tiveram acesso na idade própria; relativas a calendário, seriação, currículo,
metodologia, didática e avaliação, com

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Legislação Específica: Federais e Municipais

vistas à inserção de crianças e adolescentes VIII - requisitar certidões de nascimento


excluídos do ensino fundamental e de óbito de criança ou adolescente quando
obrigatório. necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local
Art. 58. No processo educacional na elaboração da proposta orçamentária
respeitar-se-ão os valores culturais, para planos e programas de atendimento
artísticos e históricos próprios do contexto dos direitos da criança e do adolescente;
social da criança e do adolescente, X - representar, em nome da pessoa e da
garantindo-se a estes a liberdade da criação família, contra a violação dos direitos
e o acesso às fontes de cultura. previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
Constituição Federal ;
Art. 59. Os municípios, com apoio dos XI - representar ao Ministério Público
estados e da União, estimularão e facilitarão para efeito das ações de perda ou suspensão
a destinação de recursos e espaços para do poder familiar, após esgotadas as
programações culturais, esportivas e de possibilidades de manutenção da criança ou
lazer voltadas para a infância e a juventude. do adolescente junto à família natural.
XII - promover e incentivar, na
Capítulo II comunidade e nos grupos profissionais,
Das Atribuições do Conselho ações de divulgação e treinamento para o
reconhecimento de sintomas de maus-tratos
Art. 136. São atribuições do Conselho em crianças e adolescentes. (Incluído pela
Tutelar: Lei nº 13.046, de 2014)
I - atender as crianças e adolescentes nas XIII - adotar, na esfera de sua
hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, competência, ações articuladas e efetivas
aplicando as medidas previstas no art. 101, direcionadas à identificação da agressão, à
I a VII; agilidade no atendimento da criança e do
II - atender e aconselhar os pais ou adolescente vítima de violência doméstica e
responsável, aplicando as medidas previstas familiar e à responsabilização do agressor;
no art. 129, I a VII; (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
III - promover a execução de suas Vigência
decisões, podendo para tanto: XIV - atender à criança e ao adolescente
a) requisitar serviços públicos nas áreas vítima ou testemunha de violência
de saúde, educação, serviço social, doméstica e familiar, ou submetido a
previdência, trabalho e segurança; tratamento cruel ou degradante ou a formas
b) representar junto à autoridade violentas de educação, correção ou
judiciária nos casos de descumprimento disciplina, a seus familiares e a
injustificado de suas deliberações. testemunhas, de forma a prover orientação
IV - encaminhar ao Ministério Público e aconselhamento acerca de seus direitos e
notícia de fato que constitua infração dos encaminhamentos necessários;
administrativa ou penal contra os direitos (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
da criança ou adolescente; Vigência
V - encaminhar à autoridade judiciária XV - representar à autoridade judicial ou
os casos de sua competência; policial para requerer o afastamento do
VI - providenciar a medida estabelecida agressor do lar, do domicílio ou do local de
pela autoridade judiciária, dentre as convivência com a vítima nos casos de
previstas no art. 101, de I a VI, para o violência doméstica e familiar contra a
adolescente autor de ato infracional; criança e o adolescente; (Incluído pela Lei
VII - expedir notificações; nº 14.344, de 2022) Vigência
XVI - representar à autoridade judicial
para requerer a concessão de medida

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Legislação Específica: Federais e Municipais

protetiva de urgência à criança ou ao Art. 137. As decisões do Conselho


adolescente vítima ou testemunha de Tutelar somente poderão ser revistas pela
violência doméstica e familiar, bem como a autoridade judiciária a pedido de quem
revisão daquelas já concedidas; (Incluído tenha legítimo interesse.
pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência
XVII - representar ao Ministério Público
para requerer a propositura de ação cautelar Lei Federal n.º 9.394, de 20/12/1996 –
de antecipação de produção de prova nas Estabelece as Diretrizes e Bases da
causas que envolvam violência contra a Educação Nacional.
criança e o adolescente; (Incluído pela Lei
nº 14.344, de 2022) Vigência
XVIII - tomar as providências cabíveis, LEI Nº 9.394, DE 20 DE
na esfera de sua competência, ao receber DEZEMBRO DE 19961
comunicação da ocorrência de ação ou
omissão, praticada em local público ou Estabelece as diretrizes e bases da
privado, que constitua violência doméstica educação nacional.
e familiar contra a criança e o adolescente;
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Vigência Faço saber que o Congresso Nacional
XIX - receber e encaminhar, quando for decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
o caso, as informações reveladas por
noticiantes ou denunciantes relativas à TÍTULO I
prática de violência, ao uso de tratamento Da Educação
cruel ou degradante ou de formas violentas
de educação, correção ou disciplina contra Art. 1º A educação abrange os processos
a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei formativos que se desenvolvem na vida
nº 14.344, de 2022) Vigência familiar, na convivência humana, no
XX - representar à autoridade judicial ou trabalho, nas instituições de ensino e
ao Ministério Público para requerer a pesquisa, nos movimentos sociais e
concessão de medidas cautelares direta ou organizações da sociedade civil e nas
indiretamente relacionada à eficácia da manifestações culturais.
proteção de noticiante ou denunciante de § 1º Esta Lei disciplina a educação
informações de crimes que envolvam escolar, que se desenvolve,
violência doméstica e familiar contra a predominantemente, por meio do ensino,
criança e o adolescente. (Incluído pela Lei em instituições próprias.
nº 14.344, de 2022) Vigência § 2º A educação escolar deverá vincular-
Parágrafo único. Se, no exercício de suas se ao mundo do trabalho e à prática social.
atribuições, o Conselho Tutelar entender
necessário o afastamento do convívio TÍTULO II
familiar, comunicará incontinenti o fato ao Dos Princípios e Fins da Educação
Ministério Público, prestando-lhe Nacional
informações sobre os motivos de tal
entendimento e as providências tomadas Art. 2º A educação, dever da família e do
para a orientação, o apoio e a promoção Estado, inspirada nos princípios de
social da família. liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm, visitado em: 14.09.2022.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 3º O ensino será ministrado com III - atendimento educacional


base nos seguintes princípios: especializado gratuito aos educandos com
I - igualdade de condições para o acesso deficiência, transtornos globais do
e permanência na escola; desenvolvimento e altas habilidades ou
II - liberdade de aprender, ensinar, superdotação, transversal a todos os níveis,
pesquisar e divulgar a cultura, o etapas e modalidades, preferencialmente na
pensamento, a arte e o saber; rede regular de ensino;
III - pluralismo de ideias e de IV - acesso público e gratuito aos
concepções pedagógicas; ensinos fundamental e médio para todos os
IV - respeito à liberdade e apreço à que não os concluíram na idade
tolerância; própria; (Redação dada pela Lei nº
V - coexistência de instituições públicas 12.796, de 2013)
e privadas de ensino; V - acesso aos níveis mais elevados do
VI - gratuidade do ensino público em ensino, da pesquisa e da criação artística,
estabelecimentos oficiais; segundo a capacidade de cada um;
VII - valorização do profissional da VI - oferta de ensino noturno regular,
educação escolar; adequado às condições do educando;
VIII - gestão democrática do ensino VII - oferta de educação escolar regular
público, na forma desta Lei e da legislação para jovens e adultos, com características e
dos sistemas de ensino; modalidades adequadas às suas
IX - garantia de padrão de qualidade; necessidades e disponibilidades,
X - valorização da experiência extra- garantindo-se aos que forem trabalhadores
escolar; as condições de acesso e permanência na
XI - vinculação entre a educação escolar, escola;
o trabalho e as práticas sociais. VIII - atendimento ao educando, em
XII - consideração com a diversidade todas as etapas da educação básica, por
étnico-racial. meio de programas suplementares de
XIII - garantia do direito à educação e à material didático-escolar, transporte,
aprendizagem ao longo da vida. alimentação e assistência à saúde;
XIV - respeito à diversidade humana, IX – padrões mínimos de qualidade do
linguística, cultural e identitária das pessoas ensino, definidos como a variedade e a
surdas, surdo-cegas e com deficiência quantidade mínimas, por aluno, de insumos
auditiva. (Incluído pela Lei nº 14.191, de indispensáveis ao desenvolvimento do
2021) processo de ensino-aprendizagem
TÍTULO III adequados à idade e às necessidades
Do Direito à Educação e do Dever de específicas de cada estudante, inclusive
Educar mediante a provisão de mobiliário,
equipamentos e materiais pedagógicos
Art. 4º O dever do Estado com educação apropriados; (Redação dada pela Lei nº
escolar pública será efetivado mediante a 14.333, de 2022)
garantia de: X – vaga na escola pública de educação
I - educação básica obrigatória e gratuita infantil ou de ensino fundamental mais
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de próxima de sua residência a toda criança a
idade, organizada da seguinte partir do dia em que completar 4 (quatro)
forma: anos de idade.
a) pré-escola; XI – alfabetização plena e capacitação
b) ensino fundamental; gradual para a leitura ao longo da educação
c) ensino médio; básica como requisitos indispensáveis para
II - educação infantil gratuita às crianças a efetivação dos direitos e objetivos de
de até 5 (cinco) anos de idade; aprendizagem e para o desenvolvimento

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Legislação Específica: Federais e Municipais

dos indivíduos. (Incluído pela Lei nº criará formas alternativas de acesso aos
14.407, de 2022) diferentes níveis de ensino,
independentemente da escolarização
Art. 4º-A. É assegurado atendimento anterior.
educacional, durante o período de
internação, ao aluno da educação básica Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis
internado para tratamento de saúde em efetuar a matrícula das crianças na
regime hospitalar ou domiciliar por tempo educação básica a partir dos 4 (quatro) anos
prolongado, conforme dispuser o Poder de idade.
Público em regulamento, na esfera de sua
competência federativa. (Incluído Art. 7º O ensino é livre à iniciativa
pela Lei nº 13.716, de 2018). privada, atendidas as seguintes condições:
I - cumprimento das normas gerais da
Art. 5º O acesso à educação básica educação nacional e do respectivo sistema
obrigatória é direito público subjetivo, de ensino;
podendo qualquer cidadão, grupo de II - autorização de funcionamento e
cidadãos, associação comunitária, avaliação de qualidade pelo Poder Público;
organização sindical, entidade de classe ou III - capacidade de autofinanciamento,
outra legalmente constituída e, ainda, o ressalvado o previsto no art. 213 da
Ministério Público, acionar o poder público Constituição Federal.
para exigi-lo.
§ 1º O poder público, na esfera de sua Art. 7º-A Ao aluno regularmente
competência federativa, deverá: matriculado em instituição de ensino
I - recensear anualmente as crianças e pública ou privada, de qualquer nível, é
adolescentes em idade escolar, bem como assegurado, no exercício da liberdade de
os jovens e adultos que não concluíram a consciência e de crença, o direito de,
educação básica; mediante prévio e motivado requerimento,
II - fazer-lhes a chamada pública; ausentar-se de prova ou de aula marcada
III - zelar, junto aos pais ou para dia em que, segundo os preceitos de
responsáveis, pela frequência à escola. sua religião, seja vedado o exercício de tais
§ 2º Em todas as esferas administrativas, atividades, devendo-se-lhe atribuir, a
o Poder Público assegurará em primeiro critério da instituição e sem custos para o
lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos aluno, uma das seguintes prestações
termos deste artigo, contemplando em alternativas, nos termos do inciso VIII do
seguida os demais níveis e modalidades de caput do art. 5º da Constituição Federal.
ensino, conforme as prioridades I - prova ou aula de reposição, conforme
constitucionais e legais. o caso, a ser realizada em data alternativa,
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no no turno de estudo do aluno ou em outro
caput deste artigo tem legitimidade para horário agendado com sua anuência
peticionar no Poder Judiciário, na hipótese expressa;
do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, II - trabalho escrito ou outra modalidade
sendo gratuita e de rito sumário a ação de atividade de pesquisa, com tema,
judicial correspondente. objetivo e data de entrega definidos pela
§ 4º Comprovada a negligência da instituição de ensino.
autoridade competente para garantir o § 1º A prestação alternativa deverá
oferecimento do ensino obrigatório, poderá observar os parâmetros curriculares e o
ela ser imputada por crime de plano de aula do dia da ausência do
responsabilidade. aluno.
§ 5º Para garantir o cumprimento da § 2º O cumprimento das formas de
obrigatoriedade de ensino, o Poder Público prestação alternativa de que trata este artigo

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Legislação Específica: Federais e Municipais

substituirá a obrigação original para todos conteúdos mínimos, de modo a assegurar


os efeitos, inclusive regularização do formação básica comum;
registro de frequência. IV-A - estabelecer, em colaboração com
§ 3º As instituições de ensino os Estados, o Distrito Federal e os
implementarão progressivamente, no prazo Municípios, diretrizes e procedimentos para
de 2 (dois) anos, as providências e identificação, cadastramento e
adaptações necessárias à adequação de seu atendimento, na educação básica e na
funcionamento às medidas previstas neste educação superior, de alunos com altas
artigo. habilidades ou superdotação;
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica V - coletar, analisar e disseminar
ao ensino militar a que se refere o art. 83 informações sobre a educação;
desta Lei. VI - assegurar processo nacional de
avaliação do rendimento escolar no ensino
TÍTULO IV fundamental, médio e superior, em
Da Organização da Educação colaboração com os sistemas de ensino,
Nacional objetivando a definição de prioridades e a
melhoria da qualidade do ensino;
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito VII - baixar normas gerais sobre cursos
Federal e os Municípios organizarão, em de graduação e pós-graduação;
regime de colaboração, os respectivos VIII - assegurar processo nacional de
sistemas de ensino. avaliação das instituições de educação
§ 1º Caberá à União a coordenação da superior, com a cooperação dos sistemas
política nacional de educação, articulando que tiverem responsabilidade sobre este
os diferentes níveis e sistemas e exercendo nível de ensino;
função normativa, redistributiva e supletiva IX - autorizar, reconhecer, credenciar,
em relação às demais instâncias supervisionar e avaliar, respectivamente, os
educacionais. cursos das instituições de educação superior
§ 2º Os sistemas de ensino terão e os estabelecimentos do seu sistema de
liberdade de organização nos termos desta ensino.
Lei. § 1º Na estrutura educacional, haverá um
Conselho Nacional de Educação, com
Art. 9º A União incumbir-se-á de: funções normativas e de supervisão e
I - elaborar o Plano Nacional de atividade permanente, criado por lei.
Educação, em colaboração com os Estados, § 2° Para o cumprimento do disposto nos
o Distrito Federal e os Municípios; incisos V a IX, a União terá acesso a todos
II - organizar, manter e desenvolver os os dados e informações necessários de
órgãos e instituições oficiais do sistema todos os estabelecimentos e órgãos
federal de ensino e o dos Territórios; educacionais.
III - prestar assistência técnica e § 3º As atribuições constantes do inciso
financeira aos Estados, ao Distrito Federal IX poderão ser delegadas aos Estados e ao
e aos Municípios para o desenvolvimento Distrito Federal, desde que mantenham
de seus sistemas de ensino e o atendimento instituições de educação superior.
prioritário à escolaridade obrigatória,
exercendo sua função redistributiva e Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
supletiva; I - organizar, manter e desenvolver os
IV - estabelecer, em colaboração com os órgãos e instituições oficiais dos seus
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sistemas de ensino;
competências e diretrizes para a educação II - definir, com os Municípios, formas
infantil, o ensino fundamental e o ensino de colaboração na oferta do ensino
médio, que nortearão os currículos e seus fundamental, as quais devem assegurar a

41
Legislação Específica: Federais e Municipais

distribuição proporcional das Federal à manutenção e desenvolvimento


responsabilidades, de acordo com a do ensino.
população a ser atendida e os recursos VI - assumir o transporte escolar dos
financeiros disponíveis em cada uma dessas alunos da rede municipal.
esferas do Poder Público; Parágrafo único. Os Municípios poderão
III - elaborar e executar políticas e optar, ainda, por se integrar ao sistema
planos educacionais, em consonância com estadual de ensino ou compor com ele um
as diretrizes e planos nacionais de sistema único de educação básica.
educação, integrando e coordenando as
suas ações e as dos seus Municípios; Art. 12. Os estabelecimentos de ensino,
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, respeitadas as normas comuns e as do seu
supervisionar e avaliar, respectivamente, os sistema de ensino, terão a incumbência de:
cursos das instituições de educação superior I - elaborar e executar sua proposta
e os estabelecimentos do seu sistema de pedagógica;
ensino; II - administrar seu pessoal e seus
V - baixar normas complementares para recursos materiais e financeiros;
o seu sistema de ensino; III - assegurar o cumprimento dos dias
VI - assegurar o ensino fundamental e letivos e horas-aula estabelecidas;
oferecer, com prioridade, o ensino médio a IV - velar pelo cumprimento do plano de
todos que o demandarem, respeitado o trabalho de cada docente;
disposto no art. 38 desta Lei; V - prover meios para a recuperação dos
VII - assumir o transporte escolar dos alunos de menor rendimento;
alunos da rede estadual. VI - articular-se com as famílias e a
Parágrafo único. Ao Distrito Federal comunidade, criando processos de
aplicar-se-ão as competências referentes integração da sociedade com a escola;
aos Estados e aos Municípios. VII - informar pai e mãe, conviventes ou
não com seus filhos, e, se for o caso, os
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão responsáveis legais, sobre a frequência e
de: rendimento dos alunos, bem como sobre a
I - organizar, manter e desenvolver os execução da proposta pedagógica da
órgãos e instituições oficiais dos seus escola;
sistemas de ensino, integrando-os às VIII – notificar ao Conselho Tutelar do
políticas e planos educacionais da União e Município a relação dos alunos que
dos Estados; apresentem quantidade de faltas acima de
II - exercer ação redistributiva em 30% (trinta por cento) do percentual
relação às suas escolas; permitido em lei;
III - baixar normas complementares para IX - promover medidas de
o seu sistema de ensino; conscientização, de prevenção e de
IV - autorizar, credenciar e supervisionar combate a todos os tipos de violência,
os estabelecimentos do seu sistema de especialmente a intimidação sistemática
ensino; (bullying), no âmbito das escolas;
V - oferecer a educação infantil em X - estabelecer ações destinadas a
creches e pré-escolas, e, com prioridade, o promover a cultura de paz nas escolas
ensino fundamental, permitida a atuação XI - promover ambiente escolar seguro,
em outros níveis de ensino somente quando adotando estratégias de prevenção e
estiverem atendidas plenamente as enfrentamento ao uso ou dependência de
necessidades de sua área de competência e drogas.
com recursos acima dos percentuais
mínimos vinculados pela Constituição

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I - as instituições de ensino mantidas,


I - participar da elaboração da proposta respectivamente, pelo Poder Público
pedagógica do estabelecimento de ensino; estadual e pelo Distrito Federal;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, II - as instituições de educação superior
segundo a proposta pedagógica do mantidas pelo Poder Público municipal;
estabelecimento de ensino; III - as instituições de ensino
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; fundamental e médio criadas e mantidas
IV - estabelecer estratégias de pela iniciativa privada;
recuperação para os alunos de menor IV - os órgãos de educação estaduais e
rendimento; do Distrito Federal, respectivamente.
V - ministrar os dias letivos e horas-aula Parágrafo único. No Distrito Federal, as
estabelecidos, além de participar instituições de educação infantil, criadas e
integralmente dos períodos dedicados ao mantidas pela iniciativa privada, integram
planejamento, à avaliação e ao seu sistema de ensino.
desenvolvimento profissional;
VI - colaborar com as atividades de Art. 18. Os sistemas municipais de
articulação da escola com as famílias e a ensino compreendem:
comunidade. I - as instituições do ensino fundamental,
médio e de educação infantil mantidas pelo
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão Poder Público municipal;
as normas da gestão democrática do ensino II - as instituições de educação infantil
público na educação básica, de acordo com criadas e mantidas pela iniciativa privada;
as suas peculiaridades e conforme os III – os órgãos municipais de educação.
seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da Art. 19. As instituições de ensino dos
educação na elaboração do projeto diferentes níveis classificam-se nas
pedagógico da escola; seguintes categorias administrativas:
II - participação das comunidades I - públicas, assim entendidas as criadas
escolar e local em conselhos escolares ou ou incorporadas, mantidas e administradas
equivalentes. pelo Poder Público;
II - privadas, assim entendidas as
Art. 15. Os sistemas de ensino mantidas e administradas por pessoas
assegurarão às unidades escolares públicas físicas ou jurídicas de direito privado.
de educação básica que os integram III - comunitárias, na forma da lei
progressivos graus de autonomia § 1º As instituições de ensino a que se
pedagógica e administrativa e de gestão referem os incisos II e III do caput deste
financeira, observadas as normas gerais de artigo podem qualificar-se como
direito financeiro público. confessionais, atendidas a orientação
confessional e a ideologia
Art. 16. O sistema federal de ensino específicas.
compreende: § 2º As instituições de ensino a que se
I - as instituições de ensino mantidas referem os incisos II e III do caput deste
pela União; artigo podem ser certificadas como
II - as instituições de educação superior filantrópicas, na forma da lei.
mantidas pela iniciativa privada;
III - os órgãos federais de educação. Art. 20. As instituições privadas de
ensino se enquadrarão nas seguintes
Art. 17. Os sistemas de ensino dos categorias:
Estados e do Distrito Federal I - (Revogado)
compreendem: II - Revogado)

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Legislação Específica: Federais e Municipais

III - (Revogado pela Lei nº 13.868, de situados no País e no exterior, tendo como
2019) base as normas curriculares gerais.
IV - (Revogado pela Lei nº 13.868, de § 2º O calendário escolar deverá
2019) adequar-se às peculiaridades locais,
inclusive climáticas e econômicas, a
TÍTULO V critério do respectivo sistema de ensino,
Dos Níveis e das Modalidades de sem com isso reduzir o número de horas
Educação e Ensino letivas previsto nesta Lei.
CAPÍTULO I
Da Composição dos Níveis Escolares Art. 24. A educação básica, nos níveis
fundamental e médio, será organizada de
Art. 21. A educação escolar compõe-se acordo com as seguintes regras comuns:
de: I - a carga horária mínima anual será de
I - educação básica, formada pela oitocentas horas para o ensino fundamental
educação infantil, ensino fundamental e e para o ensino médio, distribuídas por um
ensino médio; mínimo de duzentos dias de efetivo
II - educação superior. trabalho escolar, excluído o tempo
reservado aos exames finais, quando
CAPÍTULO II houver;
DA EDUCAÇÃO BÁSICA II - a classificação em qualquer série ou
Seção I etapa, exceto a primeira do ensino
Das Disposições Gerais fundamental, pode ser feita:
a) por promoção, para alunos que
Art. 22. A educação básica tem por cursaram, com aproveitamento, a série ou
finalidades desenvolver o educando, fase anterior, na própria escola;
assegurar-lhe a formação comum b) por transferência, para candidatos
indispensável para o exercício da cidadania procedentes de outras escolas;
e fornecer-lhe meios para progredir no c) independentemente de escolarização
trabalho e em estudos posteriores. anterior, mediante avaliação feita pela
Parágrafo único. São objetivos escola, que defina o grau de
precípuos da educação básica a desenvolvimento e experiência do
alfabetização plena e a formação de candidato e permita sua inscrição na série
leitores, como requisitos essenciais para o ou etapa adequada, conforme
cumprimento das finalidades constantes do regulamentação do respectivo sistema de
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº ensino;
14.407, de 2022) III - nos estabelecimentos que adotam a
progressão regular por série, o regimento
Art. 23. A educação básica poderá escolar pode admitir formas de progressão
organizar-se em séries anuais, períodos parcial, desde que preservada a sequência
semestrais, ciclos, alternância regular de do currículo, observadas as normas do
períodos de estudos, grupos não-seriados, respectivo sistema de ensino;
com base na idade, na competência e em IV - poderão organizar-se classes, ou
outros critérios, ou por forma diversa de turmas, com alunos de séries distintas, com
organização, sempre que o interesse do níveis equivalentes de adiantamento na
processo de aprendizagem assim o matéria, para o ensino de línguas
recomendar. estrangeiras, artes, ou outros componentes
§ 1º A escola poderá reclassificar os curriculares;
alunos, inclusive quando se tratar de V - a verificação do rendimento escolar
transferências entre estabelecimentos observará os seguintes critérios:

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Legislação Específica: Federais e Municipais

a) avaliação contínua e cumulativa do Parágrafo único. Cabe ao respectivo


desempenho do aluno, com prevalência dos sistema de ensino, à vista das condições
aspectos qualitativos sobre os quantitativos disponíveis e das características regionais e
e dos resultados ao longo do período sobre locais, estabelecer parâmetro para
os de eventuais provas finais; atendimento do disposto neste artigo.
b) possibilidade de aceleração de
estudos para alunos com atraso escolar; Art. 26. Os currículos do ensino
fundamental e médio devem ter uma base
c) possibilidade de avanço nos cursos e nacional comum, a ser complementada, em
nas séries mediante verificação do cada sistema de ensino e estabelecimento
aprendizado; escolar, por uma parte diversificada,
d) aproveitamento de estudos concluídos exigida pelas características regionais e
com êxito; locais da sociedade, da cultura, da
e) obrigatoriedade de estudos de economia e da clientela.
recuperação, de preferência paralelos ao
período letivo, para os casos de baixo Art. 26. Os currículos da educação
rendimento escolar, a serem disciplinados infantil, do ensino fundamental e do ensino
pelas instituições de ensino em seus médio devem ter base nacional comum, a
regimentos; ser complementada, em cada sistema de
VI - o controle de frequência fica a cargo ensino e em cada estabelecimento escolar,
da escola, conforme o disposto no seu por uma parte diversificada, exigida pelas
regimento e nas normas do respectivo características regionais e locais da
sistema de ensino, exigida a frequência sociedade, da cultura, da economia e dos
mínima de setenta e cinco por cento do total educandos.
de horas letivas para aprovação; § 1º Os currículos a que se refere o caput
VII - cabe a cada instituição de ensino devem abranger, obrigatoriamente, o
expedir históricos escolares, declarações de estudo da língua portuguesa e da
conclusão de série e diplomas ou matemática, o conhecimento do mundo
certificados de conclusão de cursos, com as físico e natural e da realidade social e
especificações cabíveis. política, especialmente do Brasil.
§ 1º A carga horária mínima anual de que § 2o O ensino da arte, especialmente em
trata o inciso I do caput deverá ser ampliada suas expressões regionais, constituirá
de forma progressiva, no ensino médio, componente curricular obrigatório da
para mil e quatrocentas horas, devendo os educação básica.
sistemas de ensino oferecer, no prazo § 3º A educação física, integrada à
máximo de cinco anos, pelo menos mil proposta pedagógica da escola, é
horas anuais de carga horária, a partir de 2 componente curricular obrigatório da
de março de 2017. educação básica, sendo sua prática
§ 2o Os sistemas de ensino disporão facultativa ao aluno:
sobre a oferta de educação de jovens e I – que cumpra jornada de trabalho igual
adultos e de ensino noturno regular, ou superior a seis horas;
adequado às condições do educando, II – maior de trinta anos de idade;
conforme o inciso VI do art. 4o. III – que estiver prestando serviço
militar inicial ou que, em situação similar,
Art. 25. Será objetivo permanente das estiver obrigado à prática da educação
autoridades responsáveis alcançar relação física;
adequada entre o número de alunos e o IV – amparado pelo Decreto-Lei no
professor, a carga horária e as condições 1.044, de 21 de outubro de 1969;
materiais do estabelecimento. V – (VETADO)
VI – que tenha prole.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 4º O ensino da História do Brasil levará dos negros no Brasil, a cultura negra


em conta as contribuições das diferentes brasileira e o negro na formação da
culturas e etnias para a formação do povo sociedade nacional, resgatando a
brasileiro, especialmente das matrizes contribuição do povo negro nas áreas
indígena, africana e europeia. social, econômica e política pertinentes à
§ 5º No currículo do ensino História do Brasil.
fundamental, a partir do sexto ano, será § 2o Os conteúdos referentes à História
ofertada a língua inglesa. e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados
§ 6º As artes visuais, a dança, a música no âmbito de todo o currículo escolar, em
e o teatro são as linguagens que constituirão especial nas áreas de Educação Artística e
o componente curricular de que trata o § 2o de Literatura e História
deste artigo. Brasileiras. § 3o
§ 7º A integralização curricular poderá (VETADO)
incluir, a critério dos sistemas de ensino,
projetos e pesquisas envolvendo os temas Art. 26-A. Nos estabelecimentos de
transversais de que trata o caput. ensino fundamental e de ensino médio,
§ 8º A exibição de filmes de produção públicos e privados, torna-se obrigatório o
nacional constituirá componente curricular estudo da história e cultura afro-brasileira e
complementar integrado à proposta indígena. (Redação dada pela Lei nº
pedagógica da escola, sendo a sua exibição 11.645, de 2008).
obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas § 1º O conteúdo programático a que se
mensais. § 9º Conteúdos relativos aos refere este artigo incluirá diversos aspectos
direitos humanos e à prevenção de todas as da história e da cultura que caracterizam a
formas de violência contra a criança, o formação da população brasileira, a partir
adolescente e a mulher serão incluídos, desses dois grupos étnicos, tais como o
como temas transversais, nos currículos de estudo da história da África e dos africanos,
que trata o caput deste artigo, observadas as a luta dos negros e dos povos indígenas no
diretrizes da legislação correspondente e a Brasil, a cultura negra e indígena brasileira
produção e distribuição de material didático e o negro e o índio na formação da
adequado a cada nível de sociedade nacional, resgatando as suas
ensino. (Redação dada pela Lei nº contribuições nas áreas social, econômica e
14.164, de 2021) política, pertinentes à história do
§ 9º-A. A educação alimentar e Brasil.
nutricional será incluída entre os temas § 2º Os conteúdos referentes à história e
transversais de que trata o caput. cultura afro-brasileira e dos povos
§ 10. A inclusão de novos componentes indígenas brasileiros serão ministrados no
curriculares de caráter obrigatório na Base âmbito de todo o currículo escolar, em
Nacional Comum Curricular dependerá de especial nas áreas de educação artística e de
aprovação do Conselho Nacional de literatura e história brasileiras.
Educação e de homologação pelo Ministro
de Estado da Educação. Art. 27. Os conteúdos curriculares da
educação básica observarão, ainda, as
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de seguintes diretrizes:
ensino fundamental e médio, oficiais e I - a difusão de valores fundamentais ao
particulares, torna-se obrigatório o ensino interesse social, aos direitos e deveres dos
sobre História e Cultura Afro- cidadãos, de respeito ao bem comum e à
Brasileira. ordem democrática;
§ 1o O conteúdo programático a que se II - consideração das condições de
refere o caput deste artigo incluirá o estudo escolaridade dos alunos em cada
da História da África e dos Africanos, a luta estabelecimento;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

III - orientação para o trabalho; regras comuns: (Redação dada pela


IV - promoção do desporto educacional Lei nº 12.796, de 2013)
e apoio às práticas desportivas não-formais. I - avaliação mediante acompanhamento
e registro do desenvolvimento das crianças,
Art. 28. Na oferta de educação básica sem o objetivo de promoção, mesmo para o
para a população rural, os sistemas de acesso ao ensino
ensino promoverão as adaptações fundamental; (Incluído pela Lei nº
necessárias à sua adequação às 12.796, de 2013)
peculiaridades da vida rural e de cada II - carga horária mínima anual de 800
região, especialmente: (oitocentas) horas, distribuída por um
I - conteúdos curriculares e mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
metodologias apropriadas às reais educacional; (Incluído pela Lei nº
necessidades e interesses dos alunos da 12.796, de 2013)
zona rural; III - atendimento à criança de, no
II - organização escolar própria, mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o
incluindo adequação do calendário escolar turno parcial e de 7 (sete) horas para a
às fases do ciclo agrícola e às condições jornada integral; (Incluído pela Lei nº
climáticas; 12.796, de 2013)
III - adequação à natureza do trabalho na IV - controle de frequência pela
zona rural. instituição de educação pré-escolar, exigida
Parágrafo único. O fechamento de a frequência mínima de 60% (sessenta por
escolas do campo, indígenas e quilombolas cento) do total de horas; (Incluído pela
será precedido de manifestação do órgão Lei nº 12.796, de 2013)
normativo do respectivo sistema de ensino, V - expedição de documentação que
que considerará a justificativa apresentada permita atestar os processos de
pela Secretaria de Educação, a análise do desenvolvimento e aprendizagem da
diagnóstico do impacto da ação e a criança. (Incluído pela Lei nº 12.796,
manifestação da comunidade de 2013)
escolar.
Seção III
Seção II Do Ensino Fundamental
Da Educação Infantil
Art. 32. O ensino fundamental
Art. 29. A educação infantil, primeira obrigatório, com duração de 9 (nove) anos,
etapa da educação básica, tem como gratuito na escola pública, iniciando-se aos
finalidade o desenvolvimento integral da 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a
criança de até 5 (cinco) anos, em seus formação básica do cidadão,
aspectos físico, psicológico, intelectual e mediante:
social, complementando a ação da família e I - o desenvolvimento da capacidade de
da comunidade. aprender, tendo como meios básicos o
pleno domínio da leitura, da escrita e do
Art. 30. A educação infantil será cálculo;
oferecida em: II - a compreensão do ambiente natural e
I - creches, ou entidades equivalentes, social, do sistema político, da tecnologia,
para crianças de até três anos de idade; das artes e dos valores em que se
II - pré-escolas, para as crianças de 4 fundamenta a sociedade;
(quatro) a 5 (cinco) anos de idade. III - o desenvolvimento da capacidade de
aprendizagem, tendo em vista a aquisição
Art. 31. A educação infantil será de conhecimentos e habilidades e a
organizada de acordo com as seguintes formação de atitudes e valores;

47
Legislação Específica: Federais e Municipais

IV - o fortalecimento dos vínculos de § 2º Os sistemas de ensino ouvirão


família, dos laços de solidariedade humana entidade civil, constituída pelas diferentes
e de tolerância recíproca em que se assenta denominações religiosas, para a definição
a vida social. dos conteúdos do ensino religioso.
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino
desdobrar o ensino fundamental em ciclos. Art. 34. A jornada escolar no ensino
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam fundamental incluirá pelo menos quatro
progressão regular por série podem adotar horas de trabalho efetivo em sala de aula,
no ensino fundamental o regime de sendo progressivamente ampliado o
progressão continuada, sem prejuízo da período de permanência na escola.
avaliação do processo de ensino- § 1º São ressalvados os casos do ensino
aprendizagem, observadas as normas do noturno e das formas alternativas de
respectivo sistema de ensino. organização autorizadas nesta Lei.
§ 3º O ensino fundamental regular será § 2º O ensino fundamental será
ministrado em língua portuguesa, ministrado progressivamente em tempo
assegurada às comunidades indígenas a integral, a critério dos sistemas de ensino.
utilização de suas línguas maternas e
processos próprios de aprendizagem. Seção IV
§ 4º O ensino fundamental será Do Ensino Médio
presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da Art. 35. O ensino médio, etapa final da
aprendizagem ou em situações educação básica, com duração mínima de
emergenciais. três anos, terá como finalidades:
§ 5º O currículo do ensino fundamental I - a consolidação e o aprofundamento
incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que dos conhecimentos adquiridos no ensino
trate dos direitos das crianças e dos fundamental, possibilitando o
adolescentes, tendo como diretriz a Lei no prosseguimento de estudos;
8.069, de 13 de julho de 1990, que institui II - a preparação básica para o trabalho e
o Estatuto da Criança e do Adolescente, a cidadania do educando, para continuar
observada a produção e distribuição de aprendendo, de modo a ser capaz de se
material didático adequado. adaptar com flexibilidade a novas
§ 6º O estudo sobre os símbolos condições de ocupação ou aperfeiçoamento
nacionais será incluído como tema posteriores;
transversal nos currículos do ensino III - o aprimoramento do educando como
fundamental. pessoa humana, incluindo a formação ética
e o desenvolvimento da autonomia
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula intelectual e do pensamento crítico;
facultativa, é parte integrante da formação IV - a compreensão dos fundamentos
básica do cidadão e constitui disciplina dos científico-tecnológicos dos processos
horários normais das escolas públicas de produtivos, relacionando a teoria com a
ensino fundamental, assegurado o respeito prática, no ensino de cada disciplina.
à diversidade cultural religiosa do Brasil,
vedadas quaisquer formas de Art. 35-A. A Base Nacional Comum
proselitismo. Curricular definirá direitos e objetivos de
§ 1º Os sistemas de ensino aprendizagem do ensino médio, conforme
regulamentarão os procedimentos para a diretrizes do Conselho Nacional de
definição dos conteúdos do ensino religioso Educação, nas seguintes áreas do
e estabelecerão as normas para a habilitação conhecimento:
e admissão dos professores. I - linguagens e suas
tecnologias;

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Legislação Específica: Federais e Municipais

II - matemática e suas § 8º Os conteúdos, as metodologias e as


tecnologias; formas de avaliação processual e formativa
III - ciências da natureza e suas serão organizados nas redes de ensino por
tecnologias; meio de atividades teóricas e práticas,
IV - ciências humanas e sociais provas orais e escritas, seminários, projetos
aplicadas. e atividades on-line, de tal forma que ao
§ 1º A parte final do ensino médio o educando
diversificada dos currículos de que trata demonstre:
o caput do art. 26, definida em cada sistema I - domínio dos princípios científicos e
de ensino, deverá estar harmonizada à Base tecnológicos que presidem a produção
Nacional Comum Curricular e ser moderna;
articulada a partir do contexto histórico, II - conhecimento das formas
econômico, social, ambiental e contemporâneas de linguagem.
cultural.
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular Art. 36. O currículo do ensino médio
referente ao ensino médio incluirá será composto pela Base Nacional Comum
obrigatoriamente estudos e práticas de Curricular e por itinerários formativos, que
educação física, arte, sociologia e filosofia deverão ser organizados por meio da oferta
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da de diferentes arranjos curriculares,
matemática será obrigatório nos três anos conforme a relevância para o contexto local
do ensino médio, assegurada às e a possibilidade dos sistemas de ensino, a
comunidades indígenas, também, a saber:
utilização das respectivas línguas I - linguagens e suas tecnologias;
maternas. II - matemática e suas tecnologias;
§ 4º Os currículos do ensino médio III - ciências da natureza e suas
incluirão, obrigatoriamente, o estudo da tecnologias;
língua inglesa e poderão ofertar outras IV - ciências humanas e sociais
línguas estrangeiras, em caráter optativo, aplicadas;
preferencialmente o espanhol, de acordo V - formação técnica e
com a disponibilidade de oferta, locais e profissional.
horários definidos pelos sistemas de § 1o A organização das áreas de que
ensino. trata o caput e das respectivas competências
§ 5º A carga horária destinada ao e habilidades será feita de acordo com
cumprimento da Base Nacional Comum critérios estabelecidos em cada sistema de
Curricular não poderá ser superior a mil e ensino.
oitocentas horas do total da carga horária do I - (revogado);
ensino médio, de acordo com a definição II - (revogado);
dos sistemas de ensino. III – (revogado).
§ 6º A União estabelecerá os padrões de § 2º O ensino médio, atendida a
desempenho esperados para o ensino formação geral do educando, poderá
médio, que serão referência nos processos prepará-lo para o exercício de profissões
nacionais de avaliação, a partir da Base técnicas.
Nacional Comum Curricular. § 3º A critério dos sistemas de ensino,
§ 7º Os currículos do ensino médio poderá ser composto itinerário formativo
deverão considerar a formação integral do integrado, que se traduz na composição de
aluno, de maneira a adotar um trabalho componentes curriculares da Base Nacional
voltado para a construção de seu projeto de Comum Curricular - BNCC e dos
vida e para sua formação nos aspectos itinerários formativos, considerando os
físicos, cognitivos e incisos I a V do caput.
socioemocionais.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de § 10. Além das formas de organização


2008) previstas no art. 23, o ensino médio poderá
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante ser organizado em módulos e adotar o
disponibilidade de vagas na rede, sistema de créditos com terminalidade
possibilitarão ao aluno concluinte do ensino específica. (Incluído pela Lei nº 13.415,
médio cursar mais um itinerário formativo de 2017)
de que trata o caput § 11. Para efeito de cumprimento das
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a exigências curriculares do ensino médio, os
oferta de formação com ênfase técnica e sistemas de ensino poderão reconhecer
profissional considerará: competências e firmar convênios com
I - a inclusão de vivências práticas de instituições de educação a distância com
trabalho no setor produtivo ou em notório reconhecimento, mediante as
ambientes de simulação, estabelecendo seguintes formas de comprovação:
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, I - demonstração
de instrumentos estabelecidos pela prática; (Incluído pela Lei nº
legislação sobre aprendizagem 13.415, de 2017)
profissional; II - experiência de trabalho
II - a possibilidade de concessão de supervisionado ou outra experiência
certificados intermediários de qualificação adquirida fora do ambiente escolar;
para o trabalho, quando a formação for III - atividades de educação técnica
estruturada e organizada em etapas com oferecidas em outras instituições de ensino
terminalidade credenciadas; IV - cursos
§ 7º A oferta de formações oferecidos por centros ou programas
experimentais relacionadas ao inciso V do ocupacionais; (Incluído pela Lei nº
caput, em áreas que não constem do 13.415, de 2017)
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, V - estudos realizados em instituições de
dependerá, para sua continuidade, do ensino nacionais ou
reconhecimento pelo respectivo Conselho estrangeiras; (Incluído pela Lei
Estadual de Educação, no prazo de três nº 13.415, de 2017)
anos, e da inserção no Catálogo Nacional VI - cursos realizados por meio de
dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco educação a distância ou educação
anos, contados da data de oferta inicial da presencial mediada por
formação. tecnologias. (Incluído pela
§ 8º A oferta de formação técnica e Lei nº 13.415, de 2017)
profissional a que se refere o inciso V do § 12. A oferta de formações
caput, realizada na própria instituição ou experimentais em áreas que não constem do
em parceria com outras instituições, deverá Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos
ser aprovada previamente pelo Conselho dependerá, para sua continuidade, do
Estadual de Educação, homologada pelo reconhecimento pelo respectivo Conselho
Secretário Estadual de Educação e Estadual de Educação, no prazo de três
certificada pelos sistemas de anos, e da inserção no Catálogo Nacional
ensino. dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco
§ 9º As instituições de ensino emitirão anos, contados da data de oferta inicial da
certificado com validade nacional, que formação.
habilitará o concluinte do ensino médio ao § 12. As escolas deverão orientar os
prosseguimento dos estudos em nível alunos no processo de escolha das áreas de
superior ou em outros cursos ou formações conhecimento ou de atuação profissional
para os quais a conclusão do ensino médio previstas no caput.
seja etapa obrigatória. (Incluído
pela Lei nº 13.415, de 2017)

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Seção IV-A será desenvolvida de forma: (Incluído


Da Educação Profissional Técnica de pela Lei nº 11.741, de 2008)
Nível Médio I - integrada, oferecida somente a quem
já tenha concluído o ensino fundamental,
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na sendo o curso planejado de modo a
Seção IV deste Capítulo, o ensino médio, conduzir o aluno à habilitação profissional
atendida a formação geral do educando, técnica de nível médio, na mesma
poderá prepará-lo para o exercício de instituição de ensino, efetuando-se
profissões técnicas. Parágrafo matrícula única para cada
único. A preparação geral para o trabalho aluno; (Incluído pela Lei nº 11.741, de
e, facultativamente, a habilitação 2008)
profissional poderão ser desenvolvidas nos II - concomitante, oferecida a quem
próprios estabelecimentos de ensino médio ingresse no ensino médio ou já o esteja
ou em cooperação com instituições cursando, efetuando-se matrículas distintas
especializadas em educação para cada curso, e podendo
profissional. ocorrer: (Incluído pela Lei nº 11.741,
de 2008)
Art. 36-B. A educação profissional a) na mesma instituição de ensino,
técnica de nível médio será desenvolvida aproveitando-se as oportunidades
nas seguintes formas: (Incluído pela educacionais disponíveis; (Incluído
Lei nº 11.741, de 2008) pela Lei nº 11.741, de 2008)
I - articulada com o ensino b) em instituições de ensino distintas,
médio; (Incluído pela Lei nº 11.741, aproveitando-se as oportunidades
de 2008) educacionais disponíveis; (Incluído
II - subseqüente, em cursos destinados a pela Lei nº 11.741, de 2008)
quem já tenha concluído o ensino c) em instituições de ensino distintas,
médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, mediante convênios de
de 2008) intercomplementaridade, visando ao
Parágrafo único. A educação planejamento e ao desenvolvimento de
profissional técnica de nível médio deverá projeto pedagógico
observar: (Incluído pela Lei nº unificado. (Incluído pela Lei nº 11.741,
11.741, de 2008) de 2008)
I - os objetivos e definições contidos nas
diretrizes curriculares nacionais Art. 36-D. Os diplomas de cursos de
estabelecidas pelo Conselho Nacional de educação profissional técnica de nível
Educação; (Incluído pela Lei nº médio, quando registrados, terão validade
11.741, de 2008) nacional e habilitarão ao prosseguimento de
II - as normas complementares dos estudos na educação superior. (Incluído
respectivos sistemas de pela Lei nº 11.741, de 2008)
ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, Parágrafo único. Os cursos de educação
de 2008) profissional técnica de nível médio, nas
III - as exigências de cada instituição de formas articulada concomitante e
ensino, nos termos de seu projeto subsequente, quando estruturados e
pedagógico. (Incluído pela Lei nº organizados em etapas com terminalidade,
11.741, de 2008) possibilitarão a obtenção de certificados de
qualificação para o trabalho após a
Art. 36-C. A educação profissional conclusão, com aproveitamento, de cada
técnica de nível médio articulada, prevista etapa que caracterize uma qualificação para
no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, o trabalho. (Incluído pela Lei nº
11.741, de 2008)

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Seção V CAPÍTULO III


Da Educação de Jovens e Adultos DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Da Educação Profissional e
Art. 37. A educação de jovens e adultos Tecnológica
será destinada àqueles que não tiveram (Redação dada pela Lei nº 11.741, de
acesso ou continuidade de estudos nos 2008)
ensinos fundamental e médio na idade
própria e constituirá instrumento para a Art. 39. A educação profissional e
educação e a aprendizagem ao longo da tecnológica, no cumprimento dos objetivos
vida. da educação nacional, integra-se aos
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão diferentes níveis e modalidades de
gratuitamente aos jovens e aos adultos, que educação e às dimensões do trabalho, da
não puderam efetuar os estudos na idade ciência e da tecnologia.
regular, oportunidades educacionais § 1º Os cursos de educação profissional
apropriadas, consideradas as características e tecnológica poderão ser organizados por
do alunado, seus interesses, condições de eixos tecnológicos, possibilitando a
vida e de trabalho, mediante cursos e construção de diferentes itinerários
exames. formativos, observadas as normas do
§ 2º O Poder Público viabilizará e respectivo sistema e nível de ensino.
estimulará o acesso e a permanência do § 2º A educação profissional e
trabalhador na escola, mediante ações tecnológica abrangerá os seguintes
integradas e complementares entre si. cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de
§ 3º A educação de jovens e adultos 2008)
deverá articular-se, preferencialmente, com I – de formação inicial e continuada ou
a educação profissional, na forma do qualificação profissional; (Incluído
regulamento. pela Lei nº 11.741, de 2008)
II – de educação profissional técnica de
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão nível médio; (Incluído pela Lei nº
cursos e exames supletivos, que 11.741, de 2008)
compreenderão a base nacional comum do III – de educação profissional
currículo, habilitando ao prosseguimento de tecnológica de graduação e pós-
estudos em caráter regular. graduação. (Incluído pela Lei nº
§ 1º Os exames a que se refere este artigo 11.741, de 2008)
realizar-se-ão: § 3º Os cursos de educação profissional
I - no nível de conclusão do ensino tecnológica de graduação e pós-graduação
fundamental, para os maiores de quinze organizar-se-ão, no que concerne a
anos; objetivos, características e duração, de
II - no nível de conclusão do ensino acordo com as diretrizes curriculares
médio, para os maiores de dezoito anos. nacionais estabelecidas pelo Conselho
§ 2º Os conhecimentos e habilidades Nacional de Educação. (Incluído
adquiridos pelos educandos por meios pela Lei nº 11.741, de 2008)
informais serão aferidos e reconhecidos
mediante exames. Art. 40. A educação profissional será
desenvolvida em articulação com o ensino
regular ou por diferentes estratégias de
educação continuada, em instituições
especializadas ou no ambiente de
trabalho. (Regulamento)(Regulame
nto) (Regulamento)

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 41. O conhecimento adquirido na VI - estimular o conhecimento dos


educação profissional e tecnológica, problemas do mundo presente, em
inclusive no trabalho, poderá ser objeto de particular os nacionais e regionais, prestar
avaliação, reconhecimento e certificação serviços especializados à comunidade e
para prosseguimento ou conclusão de estabelecer com esta uma relação de
estudos. (Redação dada pela Lei nº reciprocidade;
11.741, de 2008) VII - promover a extensão, aberta à
participação da população, visando à
Art. 42. As instituições de educação difusão das conquistas e benefícios
profissional e tecnológica, além dos seus resultantes da criação cultural e da pesquisa
cursos regulares, oferecerão cursos científica e tecnológica geradas na
especiais, abertos à comunidade, instituição.
condicionada a matrícula à capacidade de VIII - atuar em favor da universalização
aproveitamento e não necessariamente ao e do aprimoramento da educação básica,
nível de escolaridade. (Redação dada mediante a formação e a capacitação de
pela Lei nº 11.741, de 2008) profissionais, a realização de pesquisas
pedagógicas e o desenvolvimento de
CAPÍTULO IV atividades de extensão que aproximem os
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR dois níveis escolares. (Incluído pela
Lei nº 13.174, de 2015)
Art. 43. A educação superior tem por
finalidade: Art. 44. A educação superior abrangerá
I - estimular a criação cultural e o os seguintes cursos e
desenvolvimento do espírito científico e do programas: (Regulamento)
pensamento reflexivo; I - cursos seqüenciais por campo de
II - formar diplomados nas diferentes saber, de diferentes níveis de abrangência,
áreas de conhecimento, aptos para a abertos a candidatos que atendam aos
inserção em setores profissionais e para a requisitos estabelecidos pelas instituições
participação no desenvolvimento da de ensino, desde que tenham concluído o
sociedade brasileira, e colaborar na sua ensino médio ou
formação contínua; equivalente; (Redação dada pela Lei
III - incentivar o trabalho de pesquisa e nº 11.632, de 2007).
investigação científica, visando o II - de graduação, abertos a candidatos
desenvolvimento da ciência e da tecnologia que tenham concluído o ensino médio ou
e da criação e difusão da cultura, e, desse equivalente e tenham sido classificados em
modo, desenvolver o entendimento do processo seletivo;
homem e do meio em que vive; III - de pós-graduação, compreendendo
IV - promover a divulgação de programas de mestrado e doutorado, cursos
conhecimentos culturais, científicos e de especialização, aperfeiçoamento e
técnicos que constituem patrimônio da outros, abertos a candidatos diplomados em
humanidade e comunicar o saber através do cursos de graduação e que atendam às
ensino, de publicações ou de outras formas exigências das instituições de ensino;
de comunicação; IV - de extensão, abertos a candidatos
V - suscitar o desejo permanente de que atendam aos requisitos estabelecidos
aperfeiçoamento cultural e profissional e em cada caso pelas instituições de ensino.
possibilitar a correspondente concretização, Parágrafo único. Os resultados do
integrando os conhecimentos que vão sendo processo seletivo referido no inciso II do
adquiridos numa estrutura intelectual caput deste artigo serão tornados públicos
sistematizadora do conhecimento de cada pelas instituições de ensino superior, sendo
geração; obrigatória a divulgação da relação nominal

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Legislação Específica: Federais e Municipais

dos classificados, a respectiva ordem de § 1º Após um prazo para saneamento de


classificação, bem como do cronograma deficiências eventualmente identificadas
das chamadas para matrícula, de acordo pela avaliação a que se refere este artigo,
com os critérios para preenchimento das haverá reavaliação, que poderá resultar,
vagas constantes do respectivo conforme o caso, em desativação de cursos
edital. (Incluído pela Lei nº 11.331, e habilitações, em intervenção na
de 2006) instituição, em suspensão temporária de
§ 1º O resultado do processo seletivo prerrogativas da autonomia, ou em
referido no inciso II do caput deste artigo descredenciamento.
será tornado público pela instituição de § 2º No caso de instituição pública, o
ensino superior, sendo obrigatórios a Poder Executivo responsável por sua
divulgação da relação nominal dos manutenção acompanhará o processo de
classificados, a respectiva ordem de saneamento e fornecerá recursos adicionais,
classificação e o cronograma das chamadas se necessários, para a superação das
para matrícula, de acordo com os critérios deficiências.
para preenchimento das vagas constantes § 3º No caso de instituição privada,
do edital, assegurado o direito do candidato, além das sanções previstas no § 1o deste
classificado ou não, a ter acesso a suas notas artigo, o processo de reavaliação poderá
ou indicadores de desempenho em provas, resultar em redução de vagas autorizadas e
exames e demais atividades da seleção e a em suspensão temporária de novos
sua posição na ordem de classificação de ingressos e de oferta de cursos.
todos os candidatos. (Redação § 4º É facultado ao Ministério da
dada pela Lei nº 13.826, de 2019) Educação, mediante procedimento
§ 2º No caso de empate no processo específico e com aquiescência da
seletivo, as instituições públicas de ensino instituição de ensino, com vistas a
superior darão prioridade de matrícula ao resguardar os interesses dos estudantes,
candidato que comprove ter renda familiar comutar as penalidades previstas nos §§ 1º
inferior a dez salários mínimos, ou ao de e 3º deste artigo por outras medidas, desde
menor renda familiar, quando mais de um que adequadas para superação das
candidato preencher o critério deficiências e irregularidades
inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, constatadas.
de 2015) § 5º Para fins de regulação, os Estados e
§ 3º O processo seletivo referido no o Distrito Federal deverão adotar os
inciso II considerará as competências e as critérios definidos pela União para
habilidades definidas na Base Nacional autorização de funcionamento de curso de
Comum Curricular. (Incluído pela graduação em
lei nº 13.415, de 2017) Medicina. (Incluído pela Lei
nº 13.530, de 2017)
Art. 45. A educação superior será
ministrada em instituições de ensino Art. 47. Na educação superior, o ano
superior, públicas ou privadas, com letivo regular, independente do ano civil,
variados graus de abrangência ou tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho
especialização. acadêmico efetivo, excluído o tempo
reservado aos exames finais, quando
Art. 46. A autorização e o houver.
reconhecimento de cursos, bem como o § 1o As instituições informarão aos
credenciamento de instituições de educação interessados, antes de cada período letivo,
superior, terão prazos limitados, sendo os programas dos cursos e demais
renovados, periodicamente, após processo componentes curriculares, sua duração,
regular de avaliação. requisitos, qualificação dos professores,

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Legislação Específica: Federais e Municipais

recursos disponíveis e critérios de alterações; (Incluída pela lei nº


avaliação, obrigando-se a cumprir as 13.168, de 2015)
respectivas condições, e a publicação deve V - deve conter as seguintes
ser feita, sendo as 3 (três) primeiras formas informações: (Incluído pela lei nº
concomitantemente: 13.168, de 2015)
I - em página específica na internet no a) a lista de todos os cursos oferecidos
sítio eletrônico oficial da instituição de pela instituição de ensino
ensino superior, obedecido o superior; (Incluída pela lei nº 13.168,
seguinte: de 2015)
a) toda publicação a que se refere esta b) a lista das disciplinas que compõem a
Lei deve ter como título “Grade e Corpo grade curricular de cada curso e as
Docente”; respectivas cargas horárias; (Incluída
b) a página principal da instituição de pela lei nº 13.168, de 2015)
ensino superior, bem como a página da c) a identificação dos docentes que
oferta de seus cursos aos ingressantes sob a ministrarão as aulas em cada curso, as
forma de vestibulares, processo seletivo e disciplinas que efetivamente ministrará
outras com a mesma finalidade, deve conter naquele curso ou cursos, sua titulação,
a ligação desta com a página específica abrangendo a qualificação profissional do
prevista neste inciso; docente e o tempo de casa do docente, de
c) caso a instituição de ensino superior forma total, contínua ou
não possua sítio eletrônico, deve criar intermitente. (Incluída pela lei nº
página específica para divulgação das 13.168, de 2015)
informações de que trata esta Lei; § 2º Os alunos que tenham
d) a página específica deve conter a data extraordinário aproveitamento nos estudos,
completa de sua última atualização; demonstrado por meio de provas e outros
II - em toda propaganda eletrônica da instrumentos de avaliação específicos,
instituição de ensino superior, por meio de aplicados por banca examinadora especial,
ligação para a página referida no inciso poderão ter abreviada a duração dos seus
I; (Incluído pela lei nº 13.168, de cursos, de acordo com as normas dos
2015) sistemas de ensino.
III - em local visível da instituição de § 3º É obrigatória a frequência de alunos
ensino superior e de fácil acesso ao e professores, salvo nos programas de
público; (Incluído pela lei nº 13.168, educação a distância.
de 2015) § 4º As instituições de educação superior
IV - deve ser atualizada semestralmente oferecerão, no período noturno, cursos de
ou anualmente, de acordo com a duração graduação nos mesmos padrões de
das disciplinas de cada curso oferecido, qualidade mantidos no período diurno,
observando o seguinte: (Incluído pela sendo obrigatória a oferta noturna nas
lei nº 13.168, de 2015) instituições públicas, garantida a necessária
a) caso o curso mantenha disciplinas previsão orçamentária.
com duração diferenciada, a publicação
deve ser semestral; (Incluída pela lei Art. 48. Os diplomas de cursos
nº 13.168, de 2015) superiores reconhecidos, quando
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) registrados, terão validade nacional como
mês antes do início das prova da formação recebida por seu titular.
aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de § 1º Os diplomas expedidos pelas
2015) universidades serão por elas próprias
c) caso haja mudança na grade do curso registrados, e aqueles conferidos por
ou no corpo docente até o início das aulas, instituições não-universitárias serão
os alunos devem ser comunicados sobre as

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Legislação Específica: Federais e Municipais

registrados em universidades indicadas sistemático dos temas e problemas mais


pelo Conselho Nacional de Educação. relevantes, tanto do ponto de vista científico
§ 2º Os diplomas de graduação e cultural, quanto regional e nacional;
expedidos por universidades estrangeiras II - um terço do corpo docente, pelo
serão revalidados por universidades menos, com titulação acadêmica de
públicas que tenham curso do mesmo nível mestrado ou doutorado;
e área ou equivalente, respeitando-se os III - um terço do corpo docente em
acordos internacionais de reciprocidade ou regime de tempo integral.
equiparação. Parágrafo único. É facultada a criação de
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de universidades especializadas por campo do
Doutorado expedidos por universidades saber.
estrangeiras só poderão ser reconhecidos
por universidades que possuam cursos de Art. 53. No exercício de sua autonomia,
pós-graduação reconhecidos e avaliados, na são asseguradas às universidades, sem
mesma área de conhecimento e em nível prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
equivalente ou superior. I - criar, organizar e extinguir, em sua
sede, cursos e programas de educação
Art. 49. As instituições de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às
superior aceitarão a transferência de alunos normas gerais da União e, quando for o
regulares, para cursos afins, na hipótese de caso, do respectivo sistema de
existência de vagas, e mediante processo ensino;
seletivo. II - fixar os currículos dos seus cursos e
Parágrafo único. As transferências ex programas, observadas as diretrizes gerais
officio dar-se-ão na forma da lei. pertinentes;
III - estabelecer planos, programas e
Art. 50. As instituições de educação projetos de pesquisa científica, produção
superior, quando da ocorrência de vagas, artística e atividades de extensão;
abrirão matrícula nas disciplinas de seus IV - fixar o número de vagas de acordo
cursos a alunos não regulares que com a capacidade institucional e as
demonstrarem capacidade de cursá-las com exigências do seu meio;
proveito, mediante processo seletivo V - elaborar e reformar os seus estatutos
prévio. e regimentos em consonância com as
normas gerais atinentes;
Art. 51. As instituições de educação VI - conferir graus, diplomas e outros
superior credenciadas como universidades, títulos;
ao deliberar sobre critérios e normas de VII - firmar contratos, acordos e
seleção e admissão de estudantes, levarão convênios;
em conta os efeitos desses critérios sobre a VIII - aprovar e executar planos,
orientação do ensino médio, articulando-se programas e projetos de investimentos
com os órgãos normativos dos sistemas de referentes a obras, serviços e aquisições em
ensino. geral, bem como administrar rendimentos
conforme dispositivos institucionais;
Art. 52. As universidades são IX - administrar os rendimentos e deles
instituições pluridisciplinares de formação dispor na forma prevista no ato de
dos quadros profissionais de nível superior, constituição, nas leis e nos respectivos
de pesquisa, de extensão e de domínio e estatutos;
cultivo do saber humano, que se X - receber subvenções, doações,
caracterizam por: heranças, legados e cooperação financeira
I - produção intelectual resultante de convênios com entidades
institucionalizada mediante o estudo públicas e privadas.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Parágrafo único. Para garantir a Art. 54. As universidades mantidas pelo


autonomia didático-científica das Poder Público gozarão, na forma da lei, de
universidades, caberá aos seus colegiados estatuto jurídico especial para atender às
de ensino e pesquisa decidir, dentro dos peculiaridades de sua estrutura,
recursos orçamentários disponíveis, sobre: organização e financiamento pelo Poder
I - criação, expansão, modificação e Público, assim como dos seus planos de
extinção de cursos; carreira e do regime jurídico do seu
II - ampliação e diminuição de vagas; pessoal.
III - elaboração da programação dos § 1º No exercício da sua autonomia,
cursos; além das atribuições asseguradas pelo
IV - programação das pesquisas e das artigo anterior, as universidades públicas
atividades de extensão; poderão:
V - contratação e dispensa de I - propor o seu quadro de pessoal
professores; docente, técnico e administrativo, assim
VI - planos de carreira docente. como um plano de cargos e salários,
§ 1º Para garantir a autonomia didático- atendidas as normas gerais pertinentes e os
científica das universidades, caberá aos recursos disponíveis;
seus colegiados de ensino e pesquisa II - elaborar o regulamento de seu
decidir, dentro dos recursos orçamentários pessoal em conformidade com as normas
disponíveis, sobre: (Redação dada gerais concernentes;
pela Lei nº 13.490, de 2017) III - aprovar e executar planos,
I - criação, expansão, modificação e programas e projetos de investimentos
extinção de cursos; (Redação dada referentes a obras, serviços e aquisições em
pela Lei nº 13.490, de 2017) geral, de acordo com os recursos alocados
II - ampliação e diminuição de pelo respectivo Poder mantenedor;
vagas; (Redação dada pela Lei nº IV - elaborar seus orçamentos anuais e
13.490, de 2017) plurianuais;
III - elaboração da programação dos V - adotar regime financeiro e contábil
cursos; (Redação dada pela Lei nº que atenda às suas peculiaridades de
13.490, de 2017) organização e funcionamento;
IV - programação das pesquisas e das VI - realizar operações de crédito ou de
atividades de extensão; (Redação financiamento, com aprovação do Poder
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) competente, para aquisição de bens
V - contratação e dispensa de imóveis, instalações e equipamentos;
professores; (Redação dada pela Lei VII - efetuar transferências, quitações e
nº 13.490, de 2017) tomar outras providências de ordem
VI - planos de carreira orçamentária, financeira e patrimonial
docente. (Redação dada pela Lei nº necessárias ao seu bom desempenho.
13.490, de 2017) § 2º Atribuições de autonomia
§ 2º As doações, inclusive monetárias, universitária poderão ser estendidas a
podem ser dirigidas a setores ou projetos instituições que comprovem alta
específicos, conforme acordo entre qualificação para o ensino ou para a
doadores e universidades. (Incluído pesquisa, com base em avaliação realizada
pela Lei nº 13.490, de 2017) pelo Poder Público.
§ 3º No caso das universidades públicas,
os recursos das doações devem ser dirigidos Art. 55. Caberá à União assegurar,
ao caixa único da instituição, com anualmente, em seu Orçamento Geral,
destinação garantida às unidades a serem recursos suficientes para manutenção e
beneficiadas. (Incluído pela Lei nº desenvolvimento das instituições de
13.490, de 2017) educação superior por ela mantidas.

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 56. As instituições públicas de desenvolvimento e altas habilidades ou


educação superior obedecerão ao princípio superdotação: (Redação dada pela Lei
da gestão democrática, assegurada a nº 12.796, de 2013)
existência de órgãos colegiados I - currículos, métodos, técnicas,
deliberativos, de que participarão os recursos educativos e organização
segmentos da comunidade institucional, específicos, para atender às suas
local e regional. necessidades;
Parágrafo único. Em qualquer caso, os II - terminalidade específica para
docentes ocuparão setenta por cento dos aqueles que não puderem atingir o nível
assentos em cada órgão colegiado e exigido para a conclusão do ensino
comissão, inclusive nos que tratarem da fundamental, em virtude de suas
elaboração e modificações estatutárias e deficiências, e aceleração para concluir em
regimentais, bem como da escolha de menor tempo o programa escolar para os
dirigentes. superdotados;
III - professores com especialização
Art. 57. Nas instituições públicas de adequada em nível médio ou superior, para
educação superior, o professor ficará atendimento especializado, bem como
obrigado ao mínimo de oito horas semanais professores do ensino regular capacitados
de aulas. (Regulamento) para a integração desses educandos nas
classes comuns;
CAPÍTULO V IV - educação especial para o trabalho,
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL visando a sua efetiva integração na vida em
sociedade, inclusive condições adequadas
Art. 58. Entende-se por educação para os que não revelarem capacidade de
especial, para os efeitos desta Lei, a inserção no trabalho competitivo, mediante
modalidade de educação escolar oferecida articulação com os órgãos oficiais afins,
preferencialmente na rede regular de bem como para aqueles que apresentam
ensino, para educandos com deficiência, uma habilidade superior nas áreas artística,
transtornos globais do desenvolvimento e intelectual ou psicomotora;
altas habilidades ou superdotação. V - acesso igualitário aos benefícios dos
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços programas sociais suplementares
de apoio especializado, na escola regular, disponíveis para o respectivo nível do
para atender às peculiaridades da clientela ensino regular.
de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será Art. 59-A. O poder público deverá
feito em classes, escolas ou serviços instituir cadastro nacional de alunos com
especializados, sempre que, em função das altas habilidades ou superdotação
condições específicas dos alunos, não for matriculados na educação básica e na
possível a sua integração nas classes educação superior, a fim de fomentar a
comuns de ensino regular. execução de políticas públicas destinadas
§ 3º A oferta de educação especial, nos ao desenvolvimento pleno das
termos do caput deste artigo, tem início na potencialidades desse alunado.
educação infantil e estende-se ao longo da Parágrafo único. A identificação
vida, observados o inciso III do art. 4º e o precoce de alunos com altas habilidades ou
parágrafo único do art. 60 desta superdotação, os critérios e procedimentos
Lei. para inclusão no cadastro referido no caput
deste artigo, as entidades responsáveis pelo
Art. 59. Os sistemas de ensino cadastramento, os mecanismos de acesso
assegurarão aos educandos com aos dados do cadastro e as políticas de
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento das potencialidades do

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Legislação Específica: Federais e Municipais

alunado de que trata o caput serão definidos infantil, e se estenderá ao longo da


em regulamento. vida. (Incluído pela Lei nº 14.191, de
2021)
Art. 60. Os órgãos normativos dos § 3º O disposto no caput deste artigo será
sistemas de ensino estabelecerão critérios efetivado sem prejuízo das prerrogativas de
de caracterização das instituições privadas matrícula em escolas e classes regulares, de
sem fins lucrativos, especializadas e com acordo com o que decidir o estudante ou, no
atuação exclusiva em educação especial, que couber, seus pais ou responsáveis, e das
para fins de apoio técnico e financeiro pelo garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de
Poder Público. julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com
Parágrafo único. O poder público Deficiência), que incluem, para os surdos
adotará, como alternativa preferencial, a oralizados, o acesso a tecnologias
ampliação do atendimento aos educandos assistivas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de
com deficiência, transtornos globais do 2021)
desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação na própria rede pública Art. 60-B. Além do disposto no art. 59
regular de ensino, independentemente do desta Lei, os sistemas de ensino assegurarão
apoio às instituições previstas neste aos educandos surdos, surdo-cegos, com
artigo. deficiência auditiva sinalizantes, surdos
com altas habilidades ou superdotação ou
CAPÍTULO V-A com outras deficiências associadas
(Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) materiais didáticos e professores bilíngues
DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE com formação e especialização adequadas,
SURDOS em nível superior. (Incluído pela Lei nº
14.191, de 2021)
Art. 60-A. Entende-se por educação Parágrafo único. Nos processos de
bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei, contratação e de avaliação periódica dos
a modalidade de educação escolar oferecida professores a que se refere o caput deste
em Língua Brasileira de Sinais (Libras), artigo serão ouvidas as entidades
como primeira língua, e em português representativas das pessoas
escrito, como segunda língua, em escolas surdas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de
bilíngues de surdos, classes bilíngues de 2021)
surdos, escolas comuns ou em polos de
educação bilíngue de surdos, para TÍTULO VI
educandos surdos, surdo-cegos, com Dos Profissionais da Educação
deficiência auditiva sinalizantes, surdos
com altas habilidades ou superdotação ou Art. 61. Consideram-se profissionais da
com outras deficiências associadas, educação escolar básica os que, nela
optantes pela modalidade de educação estando em efetivo exercício e tendo sido
bilíngue de surdos. (Incluído pela Lei nº formados em cursos reconhecidos,
14.191, de 2021) são: (Redação dada pela Lei nº
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços 12.014, de 2009)
de apoio educacional especializado, como o I – professores habilitados em nível
atendimento educacional especializado médio ou superior para a docência na
bilíngue, para atender às especificidades educação infantil e nos ensinos
linguísticas dos estudantes fundamental e médio; (Redação dada
surdos. (Incluído pela Lei nº 14.191, de pela Lei nº 12.014, de 2009)
2021) II – trabalhadores em educação
§ 2º A oferta de educação bilíngue de portadores de diploma de pedagogia, com
surdos terá início ao zero ano, na educação habilitação em administração,

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Legislação Específica: Federais e Municipais

planejamento, supervisão, inspeção e Art. 62. A formação de docentes para


orientação educacional, bem como com atuar na educação básica far-se-á em nível
títulos de mestrado ou doutorado nas superior, em curso de licenciatura plena,
mesmas áreas; (Redação dada pela admitida, como formação mínima para o
Lei nº 12.014, de 2009) exercício do magistério na educação
III – trabalhadores em educação, infantil e nos cinco primeiros anos do
portadores de diploma de curso técnico ou ensino fundamental, a oferecida em nível
superior em área pedagógica ou médio, na modalidade normal.
afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de § 1º A União, o Distrito Federal, os
2009) Estados e os Municípios, em regime de
IV - profissionais com notório saber colaboração, deverão promover a formação
reconhecido pelos respectivos sistemas de inicial, a continuada e a capacitação dos
ensino, para ministrar conteúdos de áreas profissionais de magistério. (Incluído
afins à sua formação ou experiência pela Lei nº 12.056, de 2009).
profissional, atestados por titulação § 2º A formação continuada e a
específica ou prática de ensino em unidades capacitação dos profissionais de magistério
educacionais da rede pública ou privada ou poderão utilizar recursos e tecnologias de
das corporações privadas em que tenham educação a distância. (Incluído pela Lei
atuado, exclusivamente para atender ao nº 12.056, de 2009).
inciso V do caput do art. 36; (Incluído § 3º A formação inicial de profissionais
pela lei nº 13.415, de 2017) de magistério dará preferência ao ensino
V - profissionais graduados que tenham presencial, subsidiariamente fazendo uso de
feito complementação pedagógica, recursos e tecnologias de educação a
conforme disposto pelo Conselho Nacional distância. (Incluído pela Lei nº 12.056,
de Educação. (Incluído pela lei nº de 2009).
13.415, de 2017) § 4º A União, o Distrito Federal, os
Parágrafo único. A formação dos Estados e os Municípios adotarão
profissionais da educação, de modo a mecanismos facilitadores de acesso e
atender às especificidades do exercício de permanência em cursos de formação de
suas atividades, bem como aos objetivos docentes em nível superior para atuar na
das diferentes etapas e modalidades da educação básica pública. (Incluído
educação básica, terá como pela Lei nº 12.796, de 2013)
fundamentos: (Incluído pela Lei nº § 5º A União, o Distrito Federal, os
12.014, de 2009) Estados e os Municípios incentivarão a
I – a presença de sólida formação básica, formação de profissionais do magistério
que propicie o conhecimento dos para atuar na educação básica pública
fundamentos científicos e sociais de suas mediante programa institucional de bolsa
competências de trabalho; (Incluído de iniciação à docência a estudantes
pela Lei nº 12.014, de 2009) matriculados em cursos de licenciatura, de
II – a associação entre teorias e práticas, graduação plena, nas instituições de
mediante estágios supervisionados e educação superior. (Incluído pela Lei
capacitação em serviço; (Incluído pela nº 12.796, de 2013)
Lei nº 12.014, de 2009) § 6º O Ministério da Educação poderá
III – o aproveitamento da formação e estabelecer nota mínima em exame
experiências anteriores, em instituições de nacional aplicado aos concluintes do ensino
ensino e em outras médio como pré-requisito para o ingresso
atividades. (Incluído pela Lei nº em cursos de graduação para formação de
12.014, de 2009) docentes, ouvido o Conselho Nacional de
Educação - CNE. (Incluído pela Lei
nº 12.796, de 2013)

60
Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 7º (VETADO). (Incluído pela § 3º Sem prejuízo dos concursos


Lei nº 12.796, de 2013) seletivos a serem definidos em regulamento
§ 8º Os currículos dos cursos de pelas universidades, terão prioridade de
formação de docentes terão por referência a ingresso os professores que optarem por
Base Nacional Comum cursos de licenciatura em matemática,
Curricular. (Incluído pela lei nº física, química, biologia e língua
13.415, de 2017) (Vide Lei nº 13.415, portuguesa. (Incluído pela Lei nº
de 2017) 13.478, de 2017)

Art. 62-A. A formação dos profissionais Art. 63. Os institutos superiores de


a que se refere o inciso III do art. 61 far-se- educação manterão: (Regulamento)
á por meio de cursos de conteúdo técnico- I - cursos formadores de profissionais
pedagógico, em nível médio ou superior, para a educação básica, inclusive o curso
incluindo habilitações normal superior, destinado à formação de
tecnológicas. (Incluído pela Lei nº docentes para a educação infantil e para as
12.796, de 2013) primeiras séries do ensino fundamental;
Parágrafo único. Garantir-se-á II - programas de formação pedagógica
formação continuada para os profissionais a para portadores de diplomas de educação
que se refere o caput, no local de trabalho superior que queiram se dedicar à educação
ou em instituições de educação básica e básica;
superior, incluindo cursos de educação III - programas de educação continuada
profissional, cursos superiores de para os profissionais de educação dos
graduação plena ou tecnológicos e de pós- diversos níveis.
graduação. (Incluído pela Lei nº
12.796, de 2013) Art. 64. A formação de profissionais de
educação para administração,
Art. 62-B. O acesso de professores das planejamento, inspeção, supervisão e
redes públicas de educação básica a cursos orientação educacional para a educação
superiores de pedagogia e licenciatura será básica, será feita em cursos de graduação
efetivado por meio de processo seletivo em pedagogia ou em nível de pós-
diferenciado. (Incluído pela Lei nº graduação, a critério da instituição de
13.478, de 2017) ensino, garantida, nesta formação, a base
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso comum nacional.
previsto no caput deste artigo os
professores das redes públicas municipais, Art. 65. A formação docente, exceto para
estaduais e federal que ingressaram por a educação superior, incluirá prática de
concurso público, tenham pelo menos três ensino de, no mínimo, trezentas horas.
anos de exercício da profissão e não sejam
portadores de diploma de Art. 66. A preparação para o exercício do
graduação. (Incluído pela Lei nº magistério superior far-se-á em nível de
13.478, de 2017) pós-graduação, prioritariamente em
§ 2º As instituições de ensino programas de mestrado e doutorado.
responsáveis pela oferta de cursos de Parágrafo único. O notório saber,
pedagogia e outras licenciaturas definirão reconhecido por universidade com curso de
critérios adicionais de seleção sempre que doutorado em área afim, poderá suprir a
acorrerem aos certames interessados em exigência de título acadêmico.
número superior ao de vagas disponíveis
para os respectivos Art. 67. Os sistemas de ensino
cursos. (Incluído pela Lei nº promoverão a valorização dos profissionais
13.478, de 2017) da educação, assegurando-lhes, inclusive

61
Legislação Específica: Federais e Municipais

nos termos dos estatutos e dos planos de II - receita de transferências


carreira do magistério público: constitucionais e outras transferências;
I - ingresso exclusivamente por concurso III - receita do salário-educação e de
público de provas e títulos; outras contribuições sociais;
II - aperfeiçoamento profissional IV - receita de incentivos fiscais;
continuado, inclusive com licenciamento V - outros recursos previstos em lei.
periódico remunerado para esse fim;
III - piso salarial profissional; Art. 69. A União aplicará, anualmente,
IV - progressão funcional baseada na nunca menos de dezoito, e os Estados, o
titulação ou habilitação, e na avaliação do Distrito Federal e os Municípios, vinte e
desempenho; cinco por cento, ou o que consta nas
V - período reservado a estudos, respectivas Constituições ou Leis
planejamento e avaliação, incluído na carga Orgânicas, da receita resultante de
de trabalho; impostos, compreendidas as transferências
VI - condições adequadas de trabalho. constitucionais, na manutenção e
§ 1º A experiência docente é pré- desenvolvimento do ensino
requisito para o exercício profissional de público. (Vide Medida Provisória
quaisquer outras funções de magistério, nos nº 773, de 2017)
termos das normas de cada sistema de § 1º A parcela da arrecadação de
ensino. (Renumerado pela Lei nº impostos transferida pela União aos
11.301, de 2006) Estados, ao Distrito Federal e aos
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º Municípios, ou pelos Estados aos
do art. 40 e no § 8o do art. 201 da respectivos Municípios, não será
Constituição Federal, são consideradas considerada, para efeito do cálculo previsto
funções de magistério as exercidas por neste artigo, receita do governo que a
professores e especialistas em educação no transferir.
desempenho de atividades educativas, § 2º Serão consideradas excluídas das
quando exercidas em estabelecimento de receitas de impostos mencionadas neste
educação básica em seus diversos níveis e artigo as operações de crédito por
modalidades, incluídas, além do exercício antecipação de receita orçamentária de
da docência, as de direção de unidade impostos.
escolar e as de coordenação e § 3º Para fixação inicial dos valores
assessoramento pedagógico. (Incluído correspondentes aos mínimos estatuídos
pela Lei nº 11.301, de 2006) neste artigo, será considerada a receita
§ 3º A União prestará assistência técnica estimada na lei do orçamento anual,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos ajustada, quando for o caso, por lei que
Municípios na elaboração de concursos autorizar a abertura de créditos adicionais,
públicos para provimento de cargos dos com base no eventual excesso de
profissionais da educação. (Incluído arrecadação.
pela Lei nº 12.796, de 2013) § 4º As diferenças entre a receita e a
despesa previstas e as efetivamente
TÍTULO VII realizadas, que resultem no não
Dos Recursos financeiros atendimento dos percentuais mínimos
obrigatórios, serão apuradas e corrigidas a
Art. 68. Serão recursos públicos cada trimestre do exercício financeiro.
destinados à educação os originários de: § 5º O repasse dos valores referidos
I - receita de impostos próprios da neste artigo do caixa da União, dos Estados,
União, dos Estados, do Distrito Federal e do Distrito Federal e dos Municípios
dos Municípios; ocorrerá imediatamente ao órgão

62
Legislação Específica: Federais e Municipais

responsável pela educação, observados os fora dos sistemas de ensino, que não vise,
seguintes prazos: precipuamente, ao aprimoramento de sua
I - recursos arrecadados do primeiro ao qualidade ou à sua expansão;
décimo dia de cada mês, até o vigésimo dia; II - subvenção a instituições públicas ou
II - recursos arrecadados do décimo privadas de caráter assistencial, desportivo
primeiro ao vigésimo dia de cada mês, até o ou cultural;
trigésimo dia; III - formação de quadros especiais para
III - recursos arrecadados do vigésimo a administração pública, sejam militares ou
primeiro dia ao final de cada mês, até o civis, inclusive diplomáticos;
décimo dia do mês subsequente. IV - programas suplementares de
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os alimentação, assistência médico-
recursos a correção monetária e à odontológica, farmacêutica e psicológica, e
responsabilização civil e criminal das outras formas de assistência social;
autoridades competentes. V - obras de infraestrutura, ainda que
realizadas para beneficiar direta ou
Art. 70. Considerar-se-ão como de indiretamente a rede escolar;
manutenção e desenvolvimento do ensino VI - pessoal docente e demais
as despesas realizadas com vistas à trabalhadores da educação, quando em
consecução dos objetivos básicos das desvio de função ou em atividade alheia à
instituições educacionais de todos os níveis, manutenção e desenvolvimento do ensino.
compreendendo as que se destinam a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do Art. 72. As receitas e despesas com
pessoal docente e demais profissionais da manutenção e desenvolvimento do ensino
educação; serão apuradas e publicadas nos balanços
II - aquisição, manutenção, construção e do Poder Público, assim como nos
conservação de instalações e equipamentos relatórios a que se refere o § 3º do art. 165
necessários ao ensino; da Constituição Federal.
III – uso e manutenção de bens e
serviços vinculados ao ensino; Art. 73. Os órgãos fiscalizadores
IV - levantamentos estatísticos, estudos examinarão, prioritariamente, na prestação
e pesquisas visando precipuamente ao de contas de recursos públicos, o
aprimoramento da qualidade e à expansão cumprimento do disposto no art. 212 da
do ensino; Constituição Federal, no art. 60 do Ato das
V - realização de atividades-meio Disposições Constitucionais Transitórias e
necessárias ao funcionamento dos sistemas na legislação concernente.
de ensino;
VI - concessão de bolsas de estudo a Art. 74. A União, em colaboração com
alunos de escolas públicas e privadas; os Estados, o Distrito Federal e os
VII - amortização e custeio de operações Municípios, estabelecerá padrão mínimo de
de crédito destinadas a atender ao disposto oportunidades educacionais para o ensino
nos incisos deste artigo; fundamental, baseado no cálculo do custo
VIII - aquisição de material didático- mínimo por aluno, capaz de assegurar
escolar e manutenção de programas de ensino de qualidade.
transporte escolar. Parágrafo único. O custo mínimo de que
trata este artigo será calculado pela União
Art. 71. Não constituirão despesas de ao final de cada ano, com validade para o
manutenção e desenvolvimento do ensino ano subsequente, considerando variações
aquelas realizadas com: regionais no custo dos insumos e as
I - pesquisa, quando não vinculada às diversas modalidades de ensino.
instituições de ensino, ou, quando efetivada

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Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 75. A ação supletiva e redistributiva II - apliquem seus excedentes


da União e dos Estados será exercida de financeiros em educação;
modo a corrigir, progressivamente, as III - assegurem a destinação de seu
disparidades de acesso e garantir o padrão patrimônio a outra escola comunitária,
mínimo de qualidade de ensino. filantrópica ou confessional, ou ao Poder
§ 1º A ação a que se refere este artigo Público, no caso de encerramento de suas
obedecerá a fórmula de domínio público atividades;
que inclua a capacidade de atendimento e a IV - prestem contas ao Poder Público dos
medida do esforço fiscal do respectivo recursos recebidos.
Estado, do Distrito Federal ou do Município § 1º Os recursos de que trata este artigo
em favor da manutenção e do poderão ser destinados a bolsas de estudo
desenvolvimento do ensino. para a educação básica, na forma da lei,
§ 2º A capacidade de atendimento de para os que demonstrarem insuficiência de
cada governo será definida pela razão entre recursos, quando houver falta de vagas e
os recursos de uso constitucionalmente cursos regulares da rede pública de
obrigatório na manutenção e domicílio do educando, ficando o Poder
desenvolvimento do ensino e o custo anual Público obrigado a investir prioritariamente
do aluno, relativo ao padrão mínimo de na expansão da sua rede local.
qualidade. § 2º As atividades universitárias de
§ 3º Com base nos critérios pesquisa e extensão poderão receber apoio
estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a União poderá financeiro do Poder Público, inclusive
fazer a transferência direta de recursos a mediante bolsas de estudo.
cada estabelecimento de ensino,
considerado o número de alunos que TÍTULO VIII
efetivamente frequentam a escola. Das Disposições Gerais
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não
poderá ser exercida em favor do Distrito Art. 78. O Sistema de Ensino da União,
Federal, dos Estados e dos Municípios se com a colaboração das agências federais de
estes oferecerem vagas, na área de ensino fomento à cultura e de assistência aos
de sua responsabilidade, conforme o inciso índios, desenvolverá programas integrados
VI do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta de ensino e pesquisa, para oferta de
Lei, em número inferior à sua capacidade de educação escolar bilingüe e intercultural
atendimento. aos povos indígenas, com os seguintes
objetivos:
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva I - proporcionar aos índios, suas
prevista no artigo anterior ficará comunidades e povos, a recuperação de
condicionada ao efetivo cumprimento pelos suas memórias históricas; a reafirmação de
Estados, Distrito Federal e Municípios do suas identidades étnicas; a valorização de
disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras suas línguas e ciências;
prescrições legais. II - garantir aos índios, suas
comunidades e povos, o acesso às
Art. 77. Os recursos públicos serão informações, conhecimentos técnicos e
destinados às escolas públicas, podendo ser científicos da sociedade nacional e demais
dirigidos a escolas comunitárias, sociedades indígenas e não-índias.
confessionais ou filantrópicas que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em
não distribuam resultados, dividendos, regime de colaboração, desenvolverão
bonificações, participações ou parcela de programas integrados de ensino e pesquisa,
seu patrimônio sob nenhuma forma ou para oferta de educação escolar bilíngue e
pretexto; intercultural aos estudantes surdos, surdo-

64
Legislação Específica: Federais e Municipais

cegos, com deficiência auditiva Art. 79-A. (VETADO) (Incluído


sinalizantes, surdos com altas habilidades pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
ou superdotação ou com outras deficiências
associadas, com os seguintes Art. 79-B. O calendário escolar incluirá
objetivos: (Incluído pela Lei nº 14.191, de o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional
2021) da Consciência Negra’. (Incluído
I - proporcionar aos surdos a pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
recuperação de suas memórias históricas, a
reafirmação de suas identidades e Art. 79-C. A União apoiará técnica e
especificidades e a valorização de sua financeiramente os sistemas de ensino no
língua e cultura; (Incluído pela Lei nº provimento da educação bilíngue e
14.191, de 2021) intercultural às comunidades surdas, com
II - garantir aos surdos o acesso às desenvolvimento de programas integrados
informações e conhecimentos técnicos e de ensino e pesquisa. (Incluído pela Lei nº
científicos da sociedade nacional e demais 14.191, de 2021)
sociedades surdas e não surdas. (Incluído § 1º Os programas serão planejados com
pela Lei nº 14.191, de 2021) participação das comunidades surdas, de
instituições de ensino superior e de
Art. 79. A União apoiará técnica e entidades representativas das pessoas
financeiramente os sistemas de ensino no surdas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de
provimento da educação intercultural às 2021)
comunidades indígenas, desenvolvendo § 2º Os programas a que se refere este
programas integrados de ensino e pesquisa. artigo, incluídos no Plano Nacional de
§ 1º Os programas serão planejados com Educação, terão os seguintes
audiência das comunidades indígenas. objetivos: (Incluído pela Lei nº 14.191,
§ 2º Os programas a que se refere este de 2021)
artigo, incluídos nos Planos Nacionais de I - fortalecer as práticas socioculturais
Educação, terão os seguintes objetivos: dos surdos e a Língua Brasileira de
I - fortalecer as práticas socioculturais e Sinais; (Incluído pela Lei nº 14.191, de
a língua materna de cada comunidade 2021)
indígena; II - manter programas de formação de
II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinados à
pessoal especializado, destinado à educação educação bilíngue escolar dos surdos,
escolar nas comunidades indígenas; surdo-cegos, com deficiência auditiva
III - desenvolver currículos e programas sinalizantes, surdos com altas habilidades
específicos, neles incluindo os conteúdos ou superdotação ou com outras deficiências
culturais correspondentes às respectivas associadas; (Incluído pela Lei nº 14.191,
comunidades; de 2021)
IV - elaborar e publicar III - desenvolver currículos, métodos,
sistematicamente material didático formação e programas específicos, neles
específico e diferenciado. incluídos os conteúdos culturais
§ 3º No que se refere à educação correspondentes aos surdos; (Incluído
superior, sem prejuízo de outras ações, o pela Lei nº 14.191, de 2021)
atendimento aos povos indígenas efetivar- IV - elaborar e publicar
se-á, nas universidades públicas e privadas, sistematicamente material didático
mediante a oferta de ensino e de assistência bilíngue, específico e
estudantil, assim como de estímulo à diferenciado. (Incluído pela Lei nº
pesquisa e desenvolvimento de programas 14.191, de 2021)
especiais. (Incluído pela Lei nº § 3º Na educação superior, sem prejuízo
12.416, de 2011) de outras ações, o atendimento aos

65
Legislação Específica: Federais e Municipais

estudantes surdos, surdo-cegos, com Art. 82. Os sistemas de ensino


deficiência auditiva sinalizantes, surdos estabelecerão as normas de realização de
com altas habilidades ou superdotação ou estágio em sua jurisdição, observada a lei
com outras deficiências associadas efetivar- federal sobre a matéria. (Redação
se-á mediante a oferta de ensino bilíngue e dada pela Lei nº 11.788, de 2008)
de assistência estudantil, assim como de Parágrafo único.
estímulo à pesquisa e desenvolvimento de (Revogado). (Redação dada pela
programas especiais. (Incluído pela Lei nº Lei nº 11.788, de 2008)
14.191, de 2021)
Art. 83. O ensino militar é regulado em
Art. 80. O Poder Público incentivará o lei específica, admitida a equivalência de
desenvolvimento e a veiculação de estudos, de acordo com as normas fixadas
programas de ensino a distância, em todos pelos sistemas de ensino.
os níveis e modalidades de ensino, e de
educação continuada. Art. 84. Os discentes da educação
§ 1º A educação a distância, organizada superior poderão ser aproveitados em
com abertura e regime especiais, será tarefas de ensino e pesquisa pelas
oferecida por instituições especificamente respectivas instituições, exercendo funções
credenciadas pela União. de monitoria, de acordo com seu
§ 2º A União regulamentará os requisitos rendimento e seu plano de estudos.
para a realização de exames e registro de
diploma relativos a cursos de educação a Art. 85. Qualquer cidadão habilitado
distância. com a titulação própria poderá exigir a
§ 3º As normas para produção, controle abertura de concurso público de provas e
e avaliação de programas de educação a títulos para cargo de docente de instituição
distância e a autorização para sua pública de ensino que estiver sendo
implementação, caberão aos respectivos ocupado por professor não concursado, por
sistemas de ensino, podendo haver mais de seis anos, ressalvados os direitos
cooperação e integração entre os diferentes assegurados pelos arts. 41 da Constituição
sistemas. Federal e 19 do Ato das Disposições
§ 4º A educação a distância gozará de Constitucionais Transitórias.
tratamento diferenciado, que incluirá:
I - custos de transmissão reduzidos em Art. 86. As instituições de educação
canais comerciais de radiodifusão sonora e superior constituídas como universidades
de sons e imagens e em outros meios de integrar-se-ão, também, na sua condição de
comunicação que sejam explorados instituições de pesquisa, ao Sistema
mediante autorização, concessão ou Nacional de Ciência e Tecnologia, nos
permissão do poder termos da legislação específica.
público; (Redação dada pela Lei nº
12.603, de 2012) TÍTULO IX
II - concessão de canais com finalidades Das Disposições Transitórias
exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus Art. 87. É instituída a Década da
para o Poder Público, pelos concessionários Educação, a iniciar-se um ano a partir da
de canais comerciais. publicação desta Lei.
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir
Art. 81. É permitida a organização de da publicação desta Lei, encaminhará, ao
cursos ou instituições de ensino Congresso Nacional, o Plano Nacional de
experimentais, desde que obedecidas as Educação, com diretrizes e metas para os
disposições desta Lei. dez anos seguintes, em sintonia com a

66
Legislação Específica: Federais e Municipais

Declaração Mundial sobre Educação para utilizando também, para isto, os recursos da
Todos. educação a distância;
§ 2º (Revogado). (Redação dada IV - integrar todos os estabelecimentos
pela lei nº 12.796, de 2013) de ensino fundamental do seu território ao
§ 3º Cada Município e, supletivamente, sistema nacional de avaliação do
o Estado e a União, deverá: rendimento escolar.
I – matricular todos os educandos a partir § 4º (Revogado). (Redação
dos seis anos de idade, no ensino dada pela lei nº 12.796, de 2013)
fundamental, atendidas as seguintes § 5º Serão conjugados todos os esforços
condições no âmbito de cada sistema de objetivando a progressão das redes
ensino: (Redação dada pela Lei nº escolares públicas urbanas de ensino
11.114, de 2005) fundamental para o regime de escolas de
a) plena observância das condições de tempo integral.
oferta fixadas por esta Lei, no caso de todas § 6º A assistência financeira da União
as redes escolares; (Incluída pela Lei aos Estados, ao Distrito Federal e aos
nº 11.114, de 2005) Municípios, bem como a dos Estados aos
b) atingimento de taxa líquida de seus Municípios, ficam condicionadas ao
escolarização de pelo menos 95% (noventa cumprimento do art. 212 da Constituição
e cinco por cento) da faixa etária de sete a Federal e dispositivos legais pertinentes
catorze anos, no caso das redes escolares pelos governos beneficiados.
públicas; e (Incluída pela Lei nº
11.114, de 2005) Art. 87-A. (VETADO). (Incluído
c) não redução média de recursos por pela lei nº 12.796, de 2013)
aluno do ensino fundamental na respectiva
rede pública, resultante da incorporação dos Art. 88. A União, os Estados, o Distrito
alunos de seis anos de Federal e os Municípios adaptarão sua
idade; (Incluída pela Lei nº 11.114, legislação educacional e de ensino às
de 2005) disposições desta Lei no prazo máximo de
§ 3º O Distrito Federal, cada Estado e um ano, a partir da data de sua
Município, e, supletivamente, a União, publicação.
devem: (Redação dada pela Lei nº § 1º As instituições educacionais
11.330, de 2006) adaptarão seus estatutos e regimentos aos
I – matricular todos os educandos a partir dispositivos desta Lei e às normas dos
dos 6 (seis) anos de idade no ensino respectivos sistemas de ensino, nos prazos
fundamental; (Redação dada pela por estes estabelecidos.
Lei nº 11.274, de 2006) § 2º O prazo para que as universidades
I - (revogado); (Redação dada cumpram o disposto nos incisos II e III do
pela lei nº 12.796, de 2013) art. 52 é de oito anos.
a) (Revogado) (Redação dada
pela Lei nº 11.274, de 2006) Art. 89. As creches e pré-escolas
b) (Revogado) (Redação dada existentes ou que venham a ser criadas
pela Lei nº 11.274, de 2006) deverão, no prazo de três anos, a contar da
c) (Revogado) (Redação dada publicação desta Lei, integrar-se ao
pela Lei nº 11.274, de 2006) respectivo sistema de ensino.
II - prover cursos presenciais ou a
distância aos jovens e adultos Art. 90. As questões suscitadas na
insuficientemente escolarizados; transição entre o regime anterior e o que se
III - realizar programas de capacitação institui nesta Lei serão resolvidas pelo
para todos os professores em exercício, Conselho Nacional de Educação ou,
mediante delegação deste, pelos órgãos

67
Legislação Específica: Federais e Municipais

normativos dos sistemas de ensino, motora, com estrutura gramatical própria,


preservada a autonomia universitária. constituem um sistema linguístico de
transmissão de ideias e fatos, oriundos de
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data comunidades de pessoas surdas do Brasil.
de sua publicação.
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do
Art. 92. Revogam-se as disposições das poder público em geral e empresas
Leis nºs 4.024, de 20 de dezembro de 1961, concessionárias de serviços públicos,
e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não formas institucionalizadas de apoiar o uso e
alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de difusão da Língua Brasileira de Sinais -
novembro de 1995 e 9.192, de 21 de Libras como meio de comunicação objetiva
dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs e de utilização corrente das comunidades
5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de surdas do Brasil.
18 de outubro de 1982, e as demais leis e
decretos-lei que as modificaram e quaisquer Art. 3º As instituições públicas e
outras disposições em contrário. empresas concessionárias de serviços
públicos de assistência à saúde devem
Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º garantir atendimento e tratamento
da Independência e 108º da República. adequado aos portadores de deficiência
auditiva, de acordo com as normas legais
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO em vigor.

Art. 4º O sistema educacional federal e


Lei Federal nº 10.436, de 24/04/2002 -
os sistemas educacionais estaduais,
Dispõe sobre a língua brasileira de sinais
- Libras e dá outras providências. Diário municipais e do Distrito Federal devem
Oficial da União, Brasília, DF, 25 abr. garantir a inclusão nos cursos de formação
2002. Seção 1, p. 23. de Educação Especial, de Fonoaudiologia e
de Magistério, em seus níveis médio e
superior, do ensino da Língua Brasileira de
Sinais - Libras, como parte integrante dos
LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs,
2002.2 conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a
Sinais - Libras e dá outras providências. modalidade escrita da língua portuguesa.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data


Faço saber que o Congresso Nacional de sua publicação.
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da
Art. 1º É reconhecida como meio legal Independência e 114o da República.
de comunicação e expressão a Língua
Brasileira de Sinais - Libras e outros FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como
Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma
de comunicação e expressão, em que o
sistema linguístico de natureza visual-
2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm, visitado em: 14.09.2022.

68
Legislação Específica: Federais e Municipais

especial nas áreas de Educação Artística e


Lei Federal n.º 10.639, de 09/01/2003 – de Literatura e História Brasileiras.
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro § 3o (VETADO)"
de 1996, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir "Art. 79-A. (VETADO)"
no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática "História e
Cultura Afro-Brasileira", e dá outras
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá
providências o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional
da Consciência Negra’."

LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO Lei n.º 9.394/96, que estabelece as


DE 2003.3 diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da Rede
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de Ensino a obrigatoriedade da temática
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá
outras providências.
da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática "História e
Cultura Afro-Brasileira", e dá outras Nobre candidato(a), essa lei já foi
providências. estudada nessa apostila.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional Lei Federal n.º 10.793, de 01/12/2003 –
Altera a redação do art. 26, § 3º, e do art.
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
92 da Lei n.º 9.394/96, que estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e
LEI Nº 10.793, DE 1º DE
79-B:
DEZEMBRO DE 2003. 4
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, oficiais e
Altera a redação do art. 26, § 3o, e do
particulares, torna-se obrigatório o ensino
art. 92 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro
sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
de 1996, que estabelece as diretrizes e
§ 1o O conteúdo programático a que se
bases da educação nacional&quot;, e dá
refere o caput deste artigo incluirá o estudo
outras providências.
da História da África e dos Africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
brasileira e o negro na formação da
Faço saber que o Congresso Nacional
sociedade nacional, resgatando a
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política pertinentes à
Art. 1º O § 3o do art. 26 da Lei no
História do Brasil.
9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a
§ 2o Os conteúdos referentes à História
vigorar com a seguinte redação:
e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados
no âmbito de todo o currículo escolar, em

3
14.09.2022.
4
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.793.htm, visitado em:

69
Legislação Específica: Federais e Municipais

Art.26 Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de


§ 3º A educação física, integrada à 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
proposta pedagógica da escola, é com a seguinte redação:
componente curricular obrigatório “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de
da educação básica, sendo sua prática ensino fundamental e de ensino médio,
facultativa ao aluno: públicos e privados, torna-se obrigatório o
I – que cumpra jornada de trabalho estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena.
igual ou superior a seis horas; § 1ºO conteúdo programático a que se
II – maior de trinta anos de idade; refere este artigo incluirá diversos aspectos
III – que estiver prestando serviço da história e da cultura que caracterizam a
militar inicial ou que, em situação similar, formação da população brasileira, a partir
estiver obrigado à prática desses dois grupos étnicos, tais como o
da educação física; estudo da história da África e dos africanos,
IV – amparado pelo Decreto-Lei no a luta dos negros e dos povos indígenas no
1.044, de 21 de outubro de 1969; Brasil, a cultura negra e indígena brasileira
V – (VETADO) e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas
VI – que tenha prole. (NR) contribuições nas áreas social, econômica e
Art. 2º (VETADO) política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à história e
Art. 3º Esta Lei entra em vigor no ano cultura afro-brasileira e dos povos
letivo seguinte à data de sua publicação. indígenas brasileiros serão ministrados no
âmbito de todo o currículo escolar, em
Lei Federal n.º 11.645, de 10/03/2008 –
especial nas áreas de educação artística e de
Altera a Lei n.º 9.394/96, modificada pela literatura e história brasileiras.” (NR)
Lei n.º 10.639/03, que estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data
para incluir no currículo oficial da rede de sua publicação.
de ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira e Brasília, 10 de março de 2008; 187o
Indígena”. da Independência e 120o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE
2008.5
Lei Federal nº 11.114/05 de 16/05/2005 -
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro Altera os arts. 6º , 30, 32 e 87 da Lei nº
de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9.394, de 20/12/96, com o objetivo de
9 de janeiro de 2003, que estabelece as tornar obrigatório o início do ensino
diretrizes e bases da educação nacional, fundamental aos seis anos de idade.
para incluir no currículo oficial da rede de
ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira e LEI Nº 11.114, DE 16 DE MAIO DE
Indígena”. 2005.6

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Altera os arts. 6º , 30, 32 e 87 da Lei nº


Faço saber que o Congresso Nacional 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: objetivo de tornar obrigatório o início do
ensino fundamental aos seis anos de idade.

5 6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2010/2008/lei/l11645.htm, visitado em: 14.09.2022. 2006/2005/lei/l11114.htm, visitado em: 14.09.2022.

70
Legislação Específica: Federais e Municipais

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA catorze anos, no caso das redes escolares


Faço saber que o Congresso Nacional públicas; e
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: c) não redução média de recursos por
aluno do ensino fundamental na respectiva
Art. 1º Os arts. 6º , 30, 32 e 87 da Lei nº rede pública, resultante da incorporação dos
9.394, de 20 de dezembro de 1996, passam alunos de seis anos de idade;
a vigorar com a seguinte redação:
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data
" Art. 6º . É dever dos pais ou de sua publicação, com eficácia a partir do
responsáveis efetuar a matrícula dos início do ano letivo subsequente.
menores, a partir dos seis anos de idade, no
ensino fundamental." (NR) Brasília, 16 de maio de 2005; 184º da
Independência e 117º da República.
"Art. 30.
..................................................................... LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
.....
................................................................
.......................
II – (VETADO) "
Lei Federal nº 12.796, de 04/04/2013 –
" Art. 32º . O ensino fundamental, com
Altera a Lei n.º 9.394/96, que estabelece as
duração mínima de oito anos, obrigatório e diretrizes e bases da educação nacional,
gratuito na escola pública a partir dos seis para dispor sobre a formação dos
anos, terá por objetivo a formação básica do profissionais da educação e dar outras
cidadão mediante: providências.
................................................................
................" (NR)

"Art. 87.
.....................................................................
....... LEI Nº 12.796, DE 4 DE ABRIL DE
................................................................ 2013.7
.........................
§ 3º Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
..................................................................... de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
............. da educação nacional, para dispor sobre a
I – matricular todos os educandos a partir formação dos profissionais da educação e
dos seis anos de idade, no ensino dar outras providências.
fundamental, atendidas as seguintes
condições no âmbito de cada sistema de Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de
ensino: dezembro de 1996, passa a vigorar com as
a) plena observância das condições de seguintes alterações:
oferta fixadas por esta Lei, no caso de todas
as redes escolares; “Art. 3º
b) atingimento de taxa líquida de .....................................................................
escolarização de pelo menos 95% (noventa ......
e cinco por cento) da faixa etária de sete a ................................................................
..............................

7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2013/lei/l12796.htm,visitado em: 14.09.2022.

71
Legislação Específica: Federais e Municipais

XII - consideração com a diversidade “Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis


étnico-racial.” (NR) efetuar a matrícula das crianças na
educação básica a partir dos 4 (quatro) anos
“Art. 4º de idade.” (NR)
.....................................................................
..... “Art. 26. Os currículos da educação
I - educação básica obrigatória e gratuita infantil, do ensino fundamental e do ensino
dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de médio devem ter base nacional comum, a
idade, organizada da seguinte forma: ser complementada, em cada sistema de
a) pré-escola; ensino e em cada estabelecimento escolar,
b) ensino fundamental; por uma parte diversificada, exigida pelas
c) ensino médio; características regionais e locais da
II - educação infantil gratuita às crianças sociedade, da cultura, da economia e dos
de até 5 (cinco) anos de idade; educandos.
III - atendimento educacional
especializado gratuito aos educandos com ................................................................
deficiência, transtornos globais do ...................” (NR)
desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, “Art. 29. A educação infantil, primeira
etapas e modalidades, preferencialmente na etapa da educação básica, tem como
rede regular de ensino; finalidade o desenvolvimento integral da
IV - acesso público e gratuito aos criança de até 5 (cinco) anos, em seus
ensinos fundamental e médio para todos os aspectos físico, psicológico, intelectual e
que não os concluíram na idade própria; social, complementando a ação da família e
................................................................ da comunidade.” (NR)
..............................
VIII - atendimento ao educando, em “Art. 30.
todas as etapas da educação básica, por .....................................................................
meio de programas suplementares de ...
material didático-escolar, transporte, ................................................................
alimentação e assistência à saúde; ..............................
................................................................ II - pré-escolas, para as crianças de 4
....................” (NR) (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.” (NR)

“Art. 5º O acesso à educação básica “Art. 31. A educação infantil será


obrigatória é direito público subjetivo, organizada de acordo com as seguintes
podendo qualquer cidadão, grupo de regras comuns:
cidadãos, associação comunitária, I - avaliação mediante acompanhamento
organização sindical, entidade de classe ou e registro do desenvolvimento das crianças,
outra legalmente constituída e, ainda, o sem o objetivo de promoção, mesmo para o
Ministério Público, acionar o poder público acesso ao ensino fundamental;
para exigi-lo. II - carga horária mínima anual de 800
§ 1º O poder público, na esfera de sua (oitocentas) horas, distribuída por um
competência federativa, deverá: mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
I - recensear anualmente as crianças e educacional;
adolescentes em idade escolar, bem como III - atendimento à criança de, no
os jovens e adultos que não concluíram a mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o
educação básica; turno parcial e de 7 (sete) horas para a
................................................................ jornada integral;
....................” (NR)

72
Legislação Específica: Federais e Municipais

IV - controle de frequência pela fundamental, a oferecida em nível médio na


instituição de educação pré-escolar, exigida modalidade normal.
a frequência mínima de 60% (sessenta por ................................................................
cento) do total de horas; ..............................
V - expedição de documentação que § 4º A União, o Distrito Federal, os
permita atestar os processos de Estados e os Municípios adotarão
desenvolvimento e aprendizagem da mecanismos facilitadores de acesso e
criança.” (NR) permanência em cursos de formação de
docentes em nível superior para atuar na
“Art. 58. Entende-se por educação educação básica pública.
especial, para os efeitos desta Lei, a § 5º A União, o Distrito Federal, os
modalidade de educação escolar oferecida Estados e os Municípios incentivarão a
preferencialmente na rede regular de formação de profissionais do magistério
ensino, para educandos com deficiência, para atuar na educação básica pública
transtornos globais do desenvolvimento e mediante programa institucional de bolsa
altas habilidades ou superdotação. de iniciação à docência a estudantes
................................................................ matriculados em cursos de licenciatura, de
...................” (NR) graduação plena, nas instituições de
educação superior.
“Art. 59. Os sistemas de ensino § 6º O Ministério da Educação poderá
assegurarão aos educandos com estabelecer nota mínima em exame
deficiência, transtornos globais do nacional aplicado aos concluintes do ensino
desenvolvimento e altas habilidades ou médio como pré-requisito para o ingresso
superdotação: em cursos de graduação para formação de
docentes, ouvido o Conselho Nacional de
................................................................ Educação - CNE.
...................” (NR)
§ 7º (VETADO).” (NR)
“Art. 60.
..................................................................... “Art. 62-A. A formação dos
.. profissionais a que se refere o inciso III do
Parágrafo único. O poder público art. 61 far-se-á por meio de cursos de
adotará, como alternativa preferencial, a conteúdo técnico-pedagógico, em nível
ampliação do atendimento aos educandos médio ou superior, incluindo habilitações
com deficiência, transtornos globais do tecnológicas.
desenvolvimento e altas habilidades ou Parágrafo único. Garantir-se-á formação
superdotação na própria rede pública continuada para os profissionais a que se
regular de ensino, independentemente do refere o caput , no local de trabalho ou em
apoio às instituições previstas neste artigo.” instituições de educação básica e superior,
(NR) incluindo cursos de educação profissional,
cursos superiores de graduação plena ou
“Art. 62. A formação de docentes para tecnológicos e de pós-graduação.”
atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de “Art. 67.
graduação plena, em universidades e .....................................................................
institutos superiores de educação, admitida, ...
como formação mínima para o exercício do ................................................................
magistério na educação infantil e nos 5 ..............................
(cinco) primeiros anos do ensino § 3º A União prestará assistência técnica
aos Estados, ao Distrito Federal e aos

73
Legislação Específica: Federais e Municipais

Municípios na elaboração de concursos VII - promoção humanística, científica,


públicos para provimento de cargos dos cultural e tecnológica do País;
profissionais da educação.” (NR) VIII - estabelecimento de meta de
aplicação de recursos públicos em educação
“Art. 87. como proporção do Produto Interno Bruto -
..................................................................... PIB, que assegure atendimento às
.. necessidades de expansão, com padrão de
................................................................ qualidade e equidade;
.............................. IX - valorização dos (as) profissionais da
§ 2º (Revogado). educação;
§ 3º X - promoção dos princípios do respeito
..................................................................... aos direitos humanos, à diversidade e à
.......... sustentabilidade socioambiental.
I - (revogado);
................................................................ Instâncias
.............................. I - Ministério da Educação - MEC;
§ 4º (Revogado). II - Comissão de Educação da Câmara
................................................................ dos Deputados e Comissão de Educação,
...................” (NR) Cultura e Esporte do Senado Federal;
III - Conselho Nacional de Educação -
“Art. 87-A. (VETADO).” CNE;
IV - Fórum Nacional de Educação.
Art. 2º Revogam-se o § 2º , o inciso I do
§ 3º e o § 4º do art. 87 da Lei nº 9.394, de Sistema Nacional de Avaliação da
20 de dezembro de 1996. Educação Básica
O Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica, coordenado pela União,
Lei Federal nº 13.005 de 25/06/2014 - em colaboração com os Estados, o Distrito
Aprova o Plano Nacional de Educação - Federal e os Municípios, constituirá fonte
PNE e dá outras providências. de informação para a avaliação da
qualidade da educação básica e para a
orientação das políticas públicas desse nível
A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 de ensino.
aprova o Plano Nacional de Educação – O sistema de avaliação a que se refere o
PNE. caput produzirá, no máximo a cada 2 (dois)
anos:
Diretrizes I - indicadores de rendimento escolar,
I - erradicação do analfabetismo ; referentes ao desempenho dos (as)
II - universalização do atendimento estudantes apurado em exames nacionais de
escolar; avaliação, com participação de pelo menos
III - superação das desigualdades 80% (oitenta por cento) dos (as) alunos (as)
educacionais, com ênfase na promoção da de cada ano escolar periodicamente
cidadania e na erradicação de todas as avaliado em cada escola, e aos dados
formas de discriminação; pertinentes apurados pelo censo escolar da
IV - melhoria da qualidade da educação; educação básica;
V - formação para o trabalho e para a II - indicadores de avaliação
cidadania, com ênfase nos valores morais e institucional, relativos a características
éticos em que se fundamenta a sociedade; como o perfil do alunado e do corpo dos
VI - promoção do princípio da gestão (as) profissionais da educação, as relações
democrática da educação pública; entre dimensão do corpo docente, do corpo

74
Legislação Específica: Federais e Municipais

técnico e do corpo discente, a infraestrutura


das escolas, os recursos pedagógicos Lei Federal nº 13.146, de 06/07/2015 –
disponíveis e os processos da gestão, entre Institui a Lei Brasileira de Inclusão da
outras relevantes. Pessoa com Deficiência (Estatuto da
A elaboração e a divulgação de índices Pessoa com Deficiência). Cap IV.
para avaliação da qualidade, como o Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica -
IDEB, que agreguem os indicadores Lei Federal nº 13.146, de 06/07/20158
mencionados no inciso I do § 1º não elidem
a obrigatoriedade de divulgação, em CAPÍTULO IV
separado, de cada um deles. DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Os indicadores mencionados no § 1º
serão estimados por etapa, estabelecimento Art. 27. A educação constitui direito da
de ensino, rede escolar, unidade da pessoa com deficiência, assegurados
Federação e em nível agregado nacional, sistema educacional inclusivo em todos os
sendo amplamente divulgados, ressalvada a níveis e aprendizado ao longo de toda a
publicação de resultados individuais e vida, de forma a alcançar o máximo
indicadores por turma, que fica admitida desenvolvimento possível de seus talentos e
exclusivamente para a comunidade do habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
respectivo estabelecimento e para o órgão sociais, segundo suas características,
gestor da respectiva rede. interesses e necessidades de aprendizagem.
Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo Parágrafo único. É dever do Estado, da
do Ideb e dos indicadores referidos no § 1º família, da comunidade escolar e da
. sociedade assegurar educação de qualidade
A avaliação de desempenho dos (as) à pessoa com deficiência, colocando-a a
estudantes em exames, referida no inciso I salvo de toda forma de violência,
do § 1º , poderá ser diretamente realizada negligência e discriminação.
pela União ou, mediante acordo de
cooperação, pelos Estados e pelo Distrito Art. 28. Incumbe ao poder público
Federal, nos respectivos sistemas de ensino assegurar, criar, desenvolver, implementar,
e de seus Municípios, caso mantenham incentivar, acompanhar e avaliar:
sistemas próprios de avaliação do I - sistema educacional inclusivo em
rendimento escolar, assegurada a todos os níveis e modalidades, bem como o
compatibilidade metodológica entre esses aprendizado ao longo de toda a vida;
sistemas e o nacional, especialmente no que II - aprimoramento dos sistemas
se refere às escalas de proficiência e ao educacionais, visando a garantir condições
calendário de aplicação. de acesso, permanência, participação e
aprendizagem, por meio da oferta de
Para acompanhar a lei na íntegra, serviços e de recursos de acessibilidade que
acesse: eliminem as barreiras e promovam a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato inclusão plena;
2011-2014/2014/lei/l13005.htm III - projeto pedagógico que
institucionalize o atendimento educacional
especializado, assim como os demais
serviços e adaptações razoáveis, para
atender às características dos estudantes
com deficiência e garantir o seu pleno
acesso ao currículo em condições de

8
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13146.htm, visitado em: 14.09.2022.

75
Legislação Específica: Federais e Municipais

igualdade, promovendo a conquista e o XIII - acesso à educação superior e à


exercício de sua autonomia; educação profissional e tecnológica em
IV - oferta de educação bilíngue, em igualdade de oportunidades e condições
Libras como primeira língua e na com as demais pessoas;
modalidade escrita da língua portuguesa XIV - inclusão em conteúdos
como segunda língua, em escolas e classes curriculares, em cursos de nível superior e
bilíngues e em escolas inclusivas; de educação profissional técnica e
V - adoção de medidas individualizadas tecnológica, de temas relacionados à pessoa
e coletivas em ambientes que maximizem o com deficiência nos respectivos campos de
desenvolvimento acadêmico e social dos conhecimento;
estudantes com deficiência, favorecendo o XV - acesso da pessoa com deficiência,
acesso, a permanência, a participação e a em igualdade de condições, a jogos e a
aprendizagem em instituições de ensino; atividades recreativas, esportivas e de lazer,
VI - pesquisas voltadas para o no sistema escolar;
desenvolvimento de novos métodos e XVI - acessibilidade para todos os
técnicas pedagógicas, de materiais estudantes, trabalhadores da educação e
didáticos, de equipamentos e de recursos de demais integrantes da comunidade escolar
tecnologia assistiva; às edificações, aos ambientes e às
VII - planejamento de estudo de caso, de atividades concernentes a todas as
elaboração de plano de atendimento modalidades, etapas e níveis de ensino;
educacional especializado, de organização XVII - oferta de profissionais de apoio
de recursos e serviços de acessibilidade e de escolar;
disponibilização e usabilidade pedagógica XVIII - articulação intersetorial na
de recursos de tecnologia assistiva; implementação de políticas públicas.
VIII - participação dos estudantes com § 1º Às instituições privadas, de
deficiência e de suas famílias nas diversas qualquer nível e modalidade de ensino,
instâncias de atuação da comunidade aplica-se obrigatoriamente o disposto nos
escolar; incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII,
IX - adoção de medidas de apoio que XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do
favoreçam o desenvolvimento dos aspectos caput deste artigo, sendo vedada a cobrança
linguísticos, culturais, vocacionais e de valores adicionais de qualquer natureza
profissionais, levando-se em conta o em suas mensalidades, anuidades e
talento, a criatividade, as habilidades e os matrículas no cumprimento dessas
interesses do estudante com deficiência; determinações.
X - adoção de práticas pedagógicas § 2º Na disponibilização de tradutores e
inclusivas pelos programas de formação intérpretes da Libras a que se refere o inciso
inicial e continuada de professores e oferta XI do caput deste artigo, deve-se observar o
de formação continuada para o atendimento seguinte:
educacional especializado; I - os tradutores e intérpretes da Libras
XI - formação e disponibilização de atuantes na educação básica devem, no
professores para o atendimento educacional mínimo, possuir ensino médio completo e
especializado, de tradutores e intérpretes da certificado de proficiência na
Libras, de guias intérpretes e de Libras; ()
profissionais de apoio; II - os tradutores e intérpretes da Libras,
XII - oferta de ensino da Libras, do quando direcionados à tarefa de interpretar
Sistema Braille e de uso de recursos de nas salas de aula dos cursos de graduação e
tecnologia assistiva, de forma a ampliar pós-graduação, devem possuir nível
habilidades funcionais dos estudantes, superior, com habilitação, prioritariamente,
promovendo sua autonomia e participação; em Tradução e Interpretação em Libras. ()

76
Legislação Específica: Federais e Municipais

Art. 29. (VETADO).


Lei Federal nº 14.191 de 03/08/2021 -
inclui o capítulo V-A, na Lei 9394/96, que
Art. 30. Nos processos seletivos para trata da Educação Bilíngue para Surdos.
ingresso e permanência nos cursos
oferecidos pelas instituições de ensino
superior e de educação profissional e LEI Nº 14.191, DE 3 DE AGOSTO
tecnológica, públicas e privadas, devem ser DE 20219
adotadas as seguintes medidas:
I - atendimento preferencial à pessoa Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
com deficiência nas dependências das de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Instituições de Ensino Superior (IES) e nos Educação Nacional), para dispor sobre a
serviços; modalidade de educação bilíngue de
II - disponibilização de formulário de surdos.
inscrição de exames com campos
específicos para que o candidato com O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
deficiência informe os recursos de Faço saber que o Congresso Nacional
acessibilidade e de tecnologia assistiva decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
necessários para sua participação;
III - disponibilização de provas em Art. 1º O art. 3º da Lei nº 9.394, de 20
formatos acessíveis para atendimento às de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e
necessidades específicas do candidato com Bases da Educação Nacional), passa a
deficiência; vigorar com a seguinte redação:
IV - disponibilização de recursos de
acessibilidade e de tecnologia assistiva “Art. 3º
adequados, previamente solicitados e .....................................................................
escolhidos pelo candidato com deficiência; .............................................
V - dilação de tempo, conforme ................................................................
demanda apresentada pelo candidato com ...............................................................
deficiência, tanto na realização de exame XIV - respeito à diversidade humana,
para seleção quanto nas atividades linguística, cultural e identitária das pessoas
acadêmicas, mediante prévia solicitação e surdas, surdo-cegas e com deficiência
comprovação da necessidade; auditiva.” (NR)
VI - adoção de critérios de avaliação das
provas escritas, discursivas ou de redação Art. 2º A Lei nº 9.394, de 20 de
que considerem a singularidade linguística dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e
da pessoa com deficiência, no domínio da Bases da Educação Nacional), passa a
modalidade escrita da língua portuguesa; vigorar acrescida do seguinte Capítulo V-
VII - tradução completa do edital e de A:
suas retificações em Libras.
“CAPÍTULO V-A
DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE
SURDOS

Art. 60-A. Entende-se por educação


bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei,
a modalidade de educação escolar oferecida
em Língua Brasileira de Sinais (Libras),
como primeira língua, e em português

9
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2021/Lei/L14191.htm, visitado em: 14.09.2022.

77
Legislação Específica: Federais e Municipais

escrito, como segunda língua, em escolas “Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em


bilíngues de surdos, classes bilíngues de regime de colaboração, desenvolverão
surdos, escolas comuns ou em polos de programas integrados de ensino e pesquisa,
educação bilíngue de surdos, para para oferta de educação escolar bilíngue e
educandos surdos, surdo-cegos, com intercultural aos estudantes surdos, surdo-
deficiência auditiva sinalizantes, surdos cegos, com deficiência auditiva
com altas habilidades ou superdotação ou sinalizantes, surdos com altas habilidades
com outras deficiências associadas, ou superdotação ou com outras deficiências
optantes pela modalidade de educação associadas, com os seguintes objetivos:
bilíngue de surdos. I - proporcionar aos surdos a
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços recuperação de suas memórias históricas, a
de apoio educacional especializado, como o reafirmação de suas identidades e
atendimento educacional especializado especificidades e a valorização de sua
bilíngue, para atender às especificidades língua e cultura;
linguísticas dos estudantes surdos. II - garantir aos surdos o acesso às
§ 2º A oferta de educação bilíngue de informações e conhecimentos técnicos e
surdos terá início ao zero ano, na educação científicos da sociedade nacional e demais
infantil, e se estenderá ao longo da vida. sociedades surdas e não surdas.”
§ 3º O disposto no caput deste artigo será
efetivado sem prejuízo das prerrogativas de “Art. 79-C. A União apoiará técnica e
matrícula em escolas e classes regulares, de financeiramente os sistemas de ensino no
acordo com o que decidir o estudante ou, no provimento da educação bilíngue e
que couber, seus pais ou responsáveis, e das intercultural às comunidades surdas, com
garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de desenvolvimento de programas integrados
julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com de ensino e pesquisa.
Deficiência), que incluem, para os surdos § 1º Os programas serão planejados com
oralizados, o acesso a tecnologias participação das comunidades surdas, de
assistivas. instituições de ensino superior e de
entidades representativas das pessoas
Art. 60-B. Além do disposto no art. 59 surdas.
desta Lei, os sistemas de ensino assegurarão § 2º Os programas a que se refere este
aos educandos surdos, surdo-cegos, com artigo, incluídos no Plano Nacional de
deficiência auditiva sinalizantes, surdos Educação, terão os seguintes objetivos:
com altas habilidades ou superdotação ou I - fortalecer as práticas socioculturais
com outras deficiências associadas dos surdos e a Língua Brasileira de Sinais;
materiais didáticos e professores bilíngues II - manter programas de formação de
com formação e especialização adequadas, pessoal especializado, destinados à
em nível superior. educação bilíngue escolar dos surdos,
Parágrafo único. Nos processos de surdo-cegos, com deficiência auditiva
contratação e de avaliação periódica dos sinalizantes, surdos com altas habilidades
professores a que se refere o caput deste ou superdotação ou com outras deficiências
artigo serão ouvidas as entidades associadas;
representativas das pessoas surdas.” III - desenvolver currículos, métodos,
formação e programas específicos, neles
Art. 3º A Lei nº 9.394, de 20 de incluídos os conteúdos culturais
dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e correspondentes aos surdos;
Bases da Educação Nacional), passa a IV - elaborar e publicar
vigorar acrescida dos seguintes arts. 78-A e sistematicamente material didático
79-C: bilíngue, específico e diferenciado.

78
Legislação Específica: Federais e Municipais

§ 3º Na educação superior, sem prejuízo – para os anos iniciais do Ensino


de outras ações, o atendimento aos Fundamental, que tem como objetivo a
estudantes surdos, surdo-cegos, com alfabetização inicial e uma qualificação
deficiência auditiva sinalizantes, surdos profissional inicial, a carga horária será
com altas habilidades ou superdotação ou definida pelos sistemas de ensino, devendo
com outras deficiências associadas efetivar- assegurar pelo menos 150 (cento e
se-á mediante a oferta de ensino bilíngue e cinquenta) horas para contemplar os
de assistência estudantil, assim como de componentes essenciais da alfabetização e
estímulo à pesquisa e desenvolvimento de 150 (cento e cinquenta) horas para o ensino
programas especiais.” de noções básicas de matemática;
– para os anos finais do Ensino
Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data Fundamental, que tem como objetivo o
de sua publicação. fortalecimento da integração da formação
geral com a formação profissional, carga
Brasília, 3 de agosto de 2021; 200o da horária total mínima será de 1.600 (mil e
Independência e 133o da República. seiscentas) horas; e
– para o Ensino médio, que tem como
JAIR MESSIAS BOLSONARO objetivo uma formação geral básica e
profissional mais consolidada, seja com a
oferta integrada com uma qualificação
Resolução CNE/CEB nº 1, de 28/05/2021 - profissional ou mesmo com um curso
Institui Diretrizes Operacionais para a técnico de nível médio, carga horária total
Educação de Jovens e Adultos nos mínima será de 1.200 (mil e duzentas)
aspectos relativos ao seu alinhamento à horas.
Política Nacional de Alfabetização (PNA)
e à Base Nacional Comum Curricular Modalidades de Oferta da EJA
(BNCC), e Educação de Jovens e Adultos
- concomitantemente e
à Distância.
- integrada.

Currículos
Resolução CNE/CEB nº 1, de Os currículos dos cursos da EJA,
28/05/2021 - Institui Diretrizes independente de segmento e forma de
Operacionais para a Educação de oferta, deverão garantir, na sua parte
Jovens e Adultos nos aspectos relativos relativa à formação geral básica, os direitos
ao seu alinhamento à Política Nacional e objetivos de aprendizagem, expressos em
de Alfabetização (PNA) e à Base competências e habilidades nos termos da
Nacional Comum Curricular (BNCC), e Política Nacional de Alfabetização (PNA) e
Educação de Jovens e Adultos à da BNCC, tendo como ênfase o
Distância.10 desenvolvimento dos componentes
essenciais para o ensino da leitura e da
A EJA é organizada em regime escrita, assim como das competências
semestral ou modular, em segmentos e gerais e as competências/habilidades
etapas, com a possibilidade de relacionadas à Língua Portuguesa,
flexibilização do tempo para cumprimento Matemática e Inclusão Digital.
da carga horária exigida, sendo que para
cada segmento, há uma correspondência a. Educação Física: componente
nas etapas da Educação Básica e carga curricular obrigatório do currículo da EJA e
horária específica: sua prática é facultativa aos estudantes nos

10
d&alias=191091-rceb001-21&category_slug=junho-2021-
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downloa pdf&Itemid=30192, visitado em: 14.09.2022

79
Legislação Específica: Federais e Municipais

casos previstos na Lei nº 10.793, de 1º de estudantes, como os sujeitos do campo;


dezembro de 2003, esse componente população de rua; comunidades específicas;
curricular é fundamental para trabalhar refugiados e migrantes egressos de
temas relacionados à saúde física e psíquica programas de alfabetização em locais de
em um processo de aprendizagem difícil acesso, periferias, entre outros.
contextualizado.
b. Língua Inglesa: é um componente Ausência Justificada com Critérios
curricular de oferta obrigatória, a partir do (AJUS)
2º segmento. O requerimento Ausência Justificada
com Critérios (AJUS) deverá ser utilizado
Carga Horária nos casos em que o estudante ultrapassar o
limite de 25% (vinte e cinco por cento) de
a. Direta: será de, no mínimo, 30% faltas, a solicitação será analisada e, sendo
(trinta por cento), sempre com o professor, deferida, a aprovação estará vinculada à
para mediação dos conhecimentos, obtenção de 50% (cinquenta por cento) de
conteúdos e experiências; rendimento em cada componente
b. Indireta: será de no máximo 70% curricular, bem como a realização de
(setenta por cento) da carga horária exigida atividades compensatórias domiciliares.
para a EJA, para a execução de atividades
pedagógicas complementares, elaboradas Para ter acesso na íntegra, visite:
pelo professor regente. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=
com_docman&view=download&alias=191
EJA Direcionada 091-rceb001-21&category_slug=junho-
A EJA Direcionada é uma alternativa de 2021-pdf&Itemid=30192
atendimento ao estudante trabalhador
matriculado em qualquer segmento da EJA
que, por motivos diversos, enfrenta Resolução CNE/CEB nº 4, de 13/07/2010 -
dificuldades em participar das atividades no Define Diretrizes Curriculares Nacionais
início ou no fim do turno de estudo. Gerais para a Educação Básica.
Deve ser desenvolvida por atividades
previamente planejadas pelos professores,
de forma a cumprir a carga horária prevista RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE
para o componente curricular e pode ser JULHO DE 2010 11
ofertada em ambientes empresariais,
possibilitando melhor aproveitamento do Define Diretrizes Curriculares
tempo dos estudantes trabalhadores, no Nacionais Gerais para a Educação Básica.
espaço escolar.
Objetivos das Diretrizes
Regulamentação I - sistematizar os princípios e as
Os sistemas de ensino deverão diretrizes gerais da Educação Básica
regulamentar a oferta da EJA Direcionada. contidos na Constituição, na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
EJA Multietapas (LDB) e demais dispositivos legais,
Ofertado para ampliação do atendimento traduzindo-os em orientações que
da EJA presencial, em situações de baixa contribuam para assegurar a formação
demanda que impossibilite a básica comum nacional, tendo como foco
implementação de um turno para a os sujeitos que dão vida ao currículo e à
modalidade; dificuldade de locomoção dos escola;

11
CEBN42010.pdf?query=AGR, visitado em: 14.09.2022.
https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNE

80
Legislação Específica: Federais e Municipais

II - estimular a reflexão crítica e estudo da História e das Culturas Afro-


propositiva que deve subsidiar a Brasileira e Indígena,
formulação, a execução e a avaliação do d) a Arte, em suas diferentes formas de
projeto político-pedagógico da escola de expressão, incluindo-se a música;
Educação Básica; e) a Educação Física;
III - orientar os cursos de formação f) o Ensino Religioso.
inicial e continuada de docentes e demais
profissionais da Educação Básica, os A parte diversificada pode ser
sistemas educativos dos diferentes entes organizada em temas gerais, na forma de
federados e as escolas que os integram, eixos temáticos, selecionados
indistintamente da rede a que pertençam. colegiadamente pelos sistemas educativos
ou pela unidade escolar.
OBS: na Educação Básica, é necessário
considerar as dimensões do educar e do Etapas da Educação Básica
cuidar, em sua inseparabilidade, buscando
recuperar, para a função social desse nível São etapas correspondentes a diferentes
da educação, a sua centralidade, que é o momentos constitutivos do
educando, pessoa em formação na sua desenvolvimento educacional:
essência humana. - a Educação Infantil, que compreende: a
Creche, englobando as diferentes etapas do
Organização Curricular desenvolvimento da criança até 3 (três)
A escola de Educação Básica é o espaço anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com
em que se ressignifica e se recria a cultura duração de 2 (dois) anos;
herdada, reconstruindo-se as identidades - o Ensino Fundamental, obrigatório e
culturais, em que se aprende a valorizar as gratuito, com duração de 9 (nove) anos, é
raízes próprias das diferentes regiões do organizado e tratado em duas fases: a dos 5
País. (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
Cabe aos sistemas educacionais, em finais;
geral, definir o programa de escolas de - o Ensino Médio, com duração mínima
tempo parcial diurno (matutino ou de 3 (três) anos.
vespertino), tempo parcial noturno, e tempo
integral (turno e contra turno ou turno único Modalidades da Educação Básica
com jornada escolar de 7 horas, no mínimo, - Educação de Jovens e Adultos: destina-
durante todo o período letivo), tendo em se aos que se situam na faixa etária superior
vista a amplitude do papel socioeducativo à considerada própria, no nível de
atribuído ao conjunto orgânico da Educação conclusão do Ensino Fundamental e do
Básica, o que requer outra organização e Ensino Médio.
gestão do trabalho pedagógico. - Educação Especial: é parte integrante
da educação regular, devendo ser prevista
Formação Básica Comum e Parte no projeto político-pedagógico da unidade
Diversificada escolar. Envolve alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e
Integram a base nacional comum altas habilidades/superdotação.
nacional: - Educação Profissional e Tecnológica:
a) a Língua Portuguesa; a Educação Profissional Técnica de nível
b) a Matemática; médio é desenvolvida nas seguintes formas:
c) o conhecimento do mundo físico, I - articulada com o Ensino Médio, na
natural, da realidade social e política, modalidade integrada, na mesma instituição
especialmente do Brasil, incluindo-se o ou concomitante, na mesma ou em distintas
instituições;

81
Legislação Específica: Federais e Municipais

II - subsequente, em cursos destinados escola se situa e as necessidades locais e de


a quem já tenha concluído o Ensino Médio. seus estudantes.
- Educação do Campo: a educação para A missão da unidade escolar, o papel
a população rural está prevista com socioeducativo, artístico, cultural,
adequações necessárias às peculiaridades ambiental, as questões de gênero, etnia e
da vida no campo e de cada região. diversidade cultural que compõem as ações
- Educação Escolar Indígena: ocorre em educativas, a organização e a gestão
unidades educacionais inscritas em suas curricular são componentes integrantes do
terras e culturas, as quais têm uma realidade projeto político-pedagógico, devendo ser
singular, requerendo pedagogia própria em previstas as prioridades institucionais que a
respeito à especificidade étnico-cultural de identificam, definindo o conjunto das ações
cada povo ou comunidade e formação educativas próprias das etapas da Educação
específica de seu quadro docente, Básica assumidas, de acordo com as
observados os princípios constitucionais, a especificidades que lhes correspondam,
base nacional comum e os princípios que preservando a sua articulação sistêmica.
orientam a Educação Básica brasileira.
- Educação a Distância: caracteriza-se Avaliação
pela mediação didático- pedagógica nos A avaliação no ambiente educacional
processos de ensino e aprendizagem que compreende 3 (três) dimensões básicas:
ocorre com a utilização de meios e - avaliação da aprendizagem: baseia-se
tecnologias de informação e comunicação, na concepção de educação que norteia a
com estudantes e professores relação professor-estudante-conhecimento-
desenvolvendo atividades educativas em vida em movimento, devendo ser um ato
lugares ou tempos diversos. reflexo de reconstrução da prática
- Educação Escolar Quilombola: é pedagógica avaliativa, premissa básica e
desenvolvida em unidades educacionais fundamental para se questionar o educar,
inscritas em suas terras e cultura, transformando a mudança em ato, acima de
requerendo pedagogia própria em respeito à tudo, político.
especificidade étnico-cultural de cada - avaliação institucional interna e
comunidade e formação específica de seu externa: a avaliação institucional interna
quadro docente, observados os princípios deve ser prevista no projeto político-
constitucionais, a base nacional comum e os pedagógico e detalhada no plano de gestão,
princípios que orientam a Educação Básica realizada anualmente, levando em
brasileira. consideração as orientações contidas na
regulamentação vigente, para rever o
Projeto Político-pedagógico conjunto de objetivos e metas a serem
O projeto político-pedagógico, concretizados, mediante ação dos diversos
interdependentemente da autonomia segmentos da comunidade educativa, o que
pedagógica, administrativa e de gestão pressupõe delimitação de indicadores
financeira da instituição educacional, compatíveis com a missão da escola, além
representa mais do que um documento, de clareza quanto ao que seja qualidade
sendo um dos meios de viabilizar a escola social da aprendizagem e da escola.
democrática para todos e de qualidade - avaliação de redes de Educação
social. Básica: ocorre periodicamente, é realizada
Cabe à escola, considerada a sua por órgãos externos à escola e engloba os
identidade e a de seus sujeitos, articular a resultados da avaliação institucional, sendo
formulação do projeto político-pedagógico que os resultados dessa avaliação sinalizam
com os planos de educação – nacional, para a sociedade se a escola apresenta
estadual, municipal –, o contexto em que a qualidade suficiente para continuar
funcionando como está.

82
Legislação Específica: Federais e Municipais

Para ter acesso na íntegra, visite: É considerada Educação Infantil em


https://normativasconselhos.mec.gov.br/no tempo parcial, a jornada de, no mínimo,
rmativa/view/CNE_RES_CNECEBN4201 quatro horas diárias e, em tempo integral, a
0.pdf?query=AGR jornada com duração igual ou superior a
sete horas diárias, compreendendo o tempo
total que a criança permanece na
Resolução CNE/CEB nº 5, de 17/12/2009 - instituição.
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil Princípios
- éticos;
- políticos e
Currículo - estéticos.
O currículo da Educação Infantil é
concebido como um conjunto de práticas Para ter acesso na íntegra, visite:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_do
que buscam articular as experiências e os cman&view=download&alias=2298-rceb005-
saberes das crianças com os conhecimentos 09&category_slug=dezembro-2009-
que fazem parte do patrimônio cultural, pdf&Itemid=30192
artístico, ambiental, científico e
tecnológico, de modo a promover o
desenvolvimento integral de crianças de 0 a Resolução CNE/CEB nº 1, de 05/07/2000 -
5 anos de idade. Estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação de Jovens e
Adultos.
Espaço e Garantia do Estado (art. 5º)
A Educação Infantil, primeira etapa da
Educação Básica, é oferecida em creches e
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 1, DE 5
pré-escolas, as quais se caracterizam como
DE JULHO DE 2000
espaços institucionais não domésticos que
constituem estabelecimentos educacionais
Estabelece as Diretrizes Curriculares
públicos ou privados que educam e cuidam
Nacionais para a Educação e Jovens e
de crianças de 0 a 5 anos de idade no
Adultos.
período diurno, em jornada integral ou
parcial, regulados e supervisionados por
Idade
órgão competente do sistema de ensino e
A idade mínima para a inscrição e
submetidos a controle social.
realização de exames supletivos de
É dever do Estado garantir a oferta de
conclusão do ensino médio é a de 18 anos
Educação Infantil pública, gratuita e de
completos.
qualidade, sem requisito de seleção.
É obrigatória a matrícula na Educação
Cursos-presenciais e a distância
Infantil de crianças que completam 4 ou 5
Nos cursos semi-presenciais e a
anos até o dia 31 de março do ano em que
distância, os alunos só poderão ser
ocorrer a matrícula.
avaliados, para fins de certificados de
As crianças que completam 6 anos após
conclusão, em exames supletivos
o dia 31 de março devem ser matriculadas
presenciais oferecidos por instituições
na Educação Infantil.
especificamente autorizadas, credenciadas
A frequência na Educação Infantil não é
e avaliadas pelo poder público, dentro das
pré-requisito para a matrícula no Ensino
competências dos respectivos sistemas,
Fundamental.
conforme a norma própria sobre o assunto e
As vagas em creches e pré-escolas
sob o princípio do regime de colaboração.
devem ser oferecidas próximas às
residências das crianças.

83
Legislação Específica: Federais e Municipais

Instituições Estrangeiras
Os estudos de Educação de Jovens e Resolução CNE/CEB nº 2/2001, de
Adultos realizados em instituições 11/09/2001 - Institui Diretrizes Nacionais
estrangeiras poderão ser aproveitados junto para a Educação Especial na Educação
Básica.
às instituições nacionais, mediante a
avaliação dos estudos e reclassificação dos
alunos jovens e adultos, de acordo com as
normas vigentes, respeitados os requisitos RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE
diplomáticos de acordos culturais e as 11 DE SETEMBRO DE 2001.
competências próprias da autonomia dos
sistemas. Institui Diretrizes Nacionais para a
Os certificados de conclusão dos cursos Educação Especial na Educação Básica.
a distância de alunos jovens e adultos
emitidos por instituições estrangeiras, Sistemas de Ensino
mesmo quando realizados em cooperação Os sistemas de ensino devem matricular
com instituições sediadas no Brasil, todos os alunos, cabendo às escolas
deverão ser revalidados para gerarem organizar-se para o atendimento aos
efeitos legais, de acordo com as normas educandos com necessidades educacionais
vigentes para o ensino presencial, especiais, assegurando as condições
respeitados os requisitos diplomáticos de necessárias para uma educação de
acordos culturais. qualidade para todos.
Deve-se conhecer a demanda real de
Exames Supletivos atendimento a alunos com necessidades
Os exames supletivos, para efeito de educacionais especiais, mediante a criação
certificado formal de conclusão do ensino de sistemas de informação e o
médio, quando autorizados e reconhecidos estabelecimento de interface com os
pelos respectivos sistemas de ensino, órgãos governamentais responsáveis pelo
deverão observar a LDB e as diretrizes Censo Escolar e pelo Censo Demográfico,
curriculares nacionais do ensino médio. para atender a todas as variáveis implícitas
A língua estrangeira é componente à qualidade do processo formativo desses
obrigatório na oferta e prestação de exames alunos.
supletivos.
Os sistemas deverão prever exames Educação Especial
supletivos que considerem as Trata-se de um processo educacional
peculiaridades dos portadores de definido por uma proposta pedagógica que
necessidades especiais. assegure recursos e serviços educacionais
Os estabelecimentos poderão aferir e especiais, organizados institucionalmente
reconhecer, mediante avaliação, para apoiar, complementar, suplementar e,
conhecimentos e habilidades obtidos em em alguns casos, substituir os serviços
processos formativos extra-escolares, de educacionais comuns, de modo a garantir
acordo com as normas dos respectivos a educação escolar e promover o
sistemas e no âmbito de suas competências, desenvolvimento das potencialidades dos
inclusive para a educação profissional de educandos que apresentam necessidades
nível técnico, obedecidas as respectivas educacionais especiais, em todas as etapas
diretrizes curriculares nacionais. e modalidades da educação básica.

Para ter acesso na íntegra, visite:


http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0120
00.pdf

84
Legislação Específica: Federais e Municipais

Educandos Parcerias
Consideram-se educandos com As escolas das redes de educação
necessidades educacionais especiais os que, profissional podem avaliar e certificar
durante o processo educacional, competências laborais de pessoas com
apresentarem: necessidades especiais não matriculadas
- dificuldades acentuadas de em seus cursos, encaminhando-as, a partir
aprendizagem ou limitações no processo de desses procedimentos, para o mundo do
desenvolvimento que - dificultem o trabalho.
acompanhamento das atividades
curriculares, compreendidas em dois Professores Capacitados
grupos:
- aquelas não vinculadas a uma causa São considerados professores
orgânica específica; capacitados para atuar em classes comuns
- aquelas relacionadas a condições, com alunos que apresentam necessidades
disfunções, limitações ou deficiências; educacionais especiais aqueles que
- dificuldades de comunicação e comprovem que, em sua formação, de
sinalização diferenciadas dos demais nível médio ou superior, foram incluídos
alunos, demandando a utilização de conteúdos sobre educação especial
linguagens e códigos aplicáveis; adequados ao desenvolvimento de
- altas habilidades/superdotação, grande competências e valores
facilidade de aprendizagem que os leve a
dominar rapidamente conceitos, Professores Especializados
procedimentos e atitudes. São considerados professores
especializados em educação especial
Atendimento Educacional aqueles que desenvolveram competências
Especializado para identificar as necessidades
Os sistemas de ensino, mediante ação educacionais especiais para definir,
integrada com os sistemas de saúde, implementar, liderar e apoiar a
devem organizar o atendimento implementação de estratégias de
educacional especializado a alunos flexibilização, adaptação curricular,
impossibilitados de freqüentar as aulas em procedimentos didáticos pedagógicos e
razão de tratamento de saúde que implique práticas alternativas, adequados ao
internação hospitalar, atendimento atendimentos das mesmas, bem como
ambulatorial ou permanência prolongada trabalhar em equipe, assistindo o professor
em domicílio. de classe comum nas práticas que são
As classes hospitalares e o atendimento necessárias para promover a inclusão dos
em ambiente domiciliar devem dar alunos com necessidades educacionais
continuidade ao processo de especiais.
desenvolvimento e ao processo de
aprendizagem de alunos matriculados em Para ter acesso na íntegra, visite:
escolas da Educação Básica, contribuindo http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201
para seu retorno e reintegração ao grupo .pdf, visitado em: 13.09.2022.
escolar, e desenvolver currículo
flexibilizado com crianças, jovens e
adultos não matriculados no sistema
educacional local, facilitando seu
posterior acesso à escola regular.

85
Legislação Específica: Federais e Municipais

identidades, seus sistemas filosóficos, suas


Parecer CNE/CEB nº 2/2007, 31/01/2007 - artes, seu conjunto de valores relacionais,
Parecer quanto à abrangência das suas religiões e celebrações, seus heróis
Diretrizes Curriculares Nacionais para a míticos e históricos, seus homens, mulheres
Educação das Relações Étnico-Raciais e e crianças, não mais serem retratados e
para o Ensino de História e Cultura Afro-
representados em materiais didáticos,
Brasileira e Africana.
órgãos, instituições e práticas pedagógicas
de modo pejorativo, desrespeitoso,
inferiorizante e subalternizados pela
Parecer CNE/CEB nº 2/2007, 31/01/2007
hegemonia de referenciais de pensamento e
- Parecer quanto à abrangência das
de conhecimento intrinsecamente
Diretrizes Curriculares Nacionais para
refratários à riqueza representada pela
a Educação das Relações Étnico-Raciais
diversidade.
e para o Ensino de História e Cultura
Mesmo que a existência de problemas
Afro-Brasileira e Africana.
prático-concretos, em alguns casos, possa
dificultar o cumprimento integral das
O Parecer CNE/CP nº 3/2004, que
determinações das Diretrizes – dentre eles,
configura as Diretrizes Curriculares
salvo as louváveis exceções conhecidas, a
Nacionais para a Educação das Relações
ainda escassa produção e distribuição de
Étnico-Raciais e para o Ensino de História
material didático diversificado, de
e Cultura Afro-Brasileira e Africana, é um
qualidade e adequado aos níveis de ensino,
dos que tiveram o maior número de
assim como a insuficiente atenção oficial
tiragens. No entanto, não obstante o acerto
dada ao necessário processo de formação de
deste fato, a providencial e sábia
professores com conteúdos específicos e
provocação do CEERT e do MIEIB para
metodologias apropriadas aos objetivos
que a Câmara de Educação Básica deste
preconizados pelas Diretrizes – não se pode
Conselho se pronuncie acerca da
transigir com qualquer evidência de
abrangência do referido documento
descaso ou negligência no seu
normativo, no que diz respeito à Educação
cumprimento, nem tampouco tolerar a
Infantil, é um indicador preciso – não o
inoperância diante de qualquer obstáculo ou
único, evidentemente, – a confirmar as
dificuldade.
reiteradas observações de inúmeros agentes
Além das razões legais que determinam
educacionais de que há um hiato, já
a obrigatoriedade da sua execução, a
preocupante, entre as determinações das
comprovada existência de desigualdades
Diretrizes Curriculares Nacionais para a
étnico-raciais atestadas em estudos
Educação das Relações Étnico- Raciais e
publicamente disponíveis, produzidos por
para o Ensino de História e Cultura Afro-
órgãos oficiais como, por exemplo, o INEP,
Brasileira (doravante Diretrizes), tornadas
o IBGE e o IPEA, bem como em estudos
públicas desde o início de 2004, e sua
publicados por vários pesquisadores na área
execução concreta nos sistemas de ensino
de educação, agregam razões históricas,
distribuídos em todo o território nacional.
sociais e éticas suficientes para que as
A persistência desse hiato pode resultar
referidas Diretrizes traduzam-se,
em prejuízos à celeridade do processo de
rapidamente, em ações efetivas em todas as
construção de uma efetiva igualdade étnico-
instâncias do sistema educacional
racial na educação brasileira, atrasando a
brasileiro, sejam elas municipais, estaduais
oportunidade histórica conquistada pela
ou federal.
sociedade, em especial, pelas populações
As indicações acima mencionadas nos
negras e demais grupos populacionais,
asseguram a imperiosa necessidade de
historicamente discriminados, de verem as
orientar as instâncias competentes a
suas especificidades culturais, suas
adotarem mecanismos de observação da

86
Legislação Específica: Federais e Municipais

aplicação das determinações presentes nas Brasileira e Africana devem estar presentes
Diretrizes, tanto no que concerne ao no conjunto de todas as atividades
acompanhamento regular da sua execução desenvolvidas com as crianças.
quanto no referente à avaliação periódica
dos seus resultados, cabendo também a Já nas Disposições Preliminares do
recomendação de que as experiências Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei
educacionais que se configurem como nº 8.069, de 13 de julho de 1990, ao
eficazes na promoção da igualdade étnico- especificar os direitos fundamentais
racial, sejam amplamente divulgadas. inerentes às crianças e aos adolescentes, o §
Quanto à abrangência das Diretrizes no 3º estabelece que esses cidadãos terão
âmbito da Educação Infantil, objeto assegurados, por lei ou por outros meios,
específico da consulta feita a esta Câmara, todas as oportunidades e facilidades, a fim
os textos normativos não deixam margem de lhes facultar o desenvolvimento físico,
para dúvidas. No primeiro parágrafo do mental, moral, espiritual e social, em
item intitulado, História e Cultura Afro- condições de liberdade e dignidade.
Brasileira – Determinações, do Parecer No que diz respeito à educação, por
CNE/CP nº 3/2004, parecer que corporifica evidente, não se pode pressupor um
as Diretrizes, lê-se: A obrigatoriedade de desenvolvimento integral da criança e do
inclusão de História e Cultura Afro- adolescente, em condições de liberdade e
Brasileira e Africana nos currículos de dignidade se não, de forma deliberada, se
Educação Básica trata-se de decisão tomar esses valores como fundamentos
política, com fortes repercussões basilares das práticas de cuidar e de educar.
pedagógicas, inclusive na formação de Nesse sentido, as condições de liberdade e
professores (negrito do relator). No que diz dignidade, no que diz respeito ao convívio
respeito à composição dos níveis escolares, no espaço escolar entre crianças de
a relação é insofismável. A Lei nº 9.394, de pertencimento étnico-racial diverso, como é
20 de dezembro de 1996 – LDB, estabelece o caso na maioria das nossas creches e
no inciso I do art. 21 que a Educação Básica escolas brasileiras – sobretudo, nas
é formada pela Educação Infantil, Ensino públicas, onde a maioria de crianças e
Fundamental e Ensino Médio (negrito do adolescentes é negra – impõe, dentre as
relator). Disso decorre que a clareza da ações genéricas e indistintas, a adoção de
inclusão da Educação Infantil na órbita de concepções pedagógicas, procedimentos
incidência das Diretrizes é cristalina. Em educativos e práticas de cuidar,
continuação, a Resolução CNE/CP n 1, de previamente planejados para combater
17 de junho de 2004, ao oficializar a estereótipos, positivar e equalizar as
instituição das Diretrizes Curriculares representações da diversidade étnico-racial,
Nacionais para a Educação das Relações valorizar as identidades familiares e
Étnico-Raciais e para o Ensino de História comunitárias, elevar a auto-estima, a auto-
e Cultura Afro-Brasileira e Africana, imagem e a auto confiança das crianças e
expressa no seu art. 1 que essas Diretrizes adolescentes, negros, bem como combater,
devem ser observadas pelas instituições de educativamente, todos os preconceitos,
ensino, que atuam nos níveis e modalidades sobretudo os preconceitos raciais, por mais
da educação brasileira e, em especial, por ingênua e pueril que seja a forma como eles
instituições que desenvolvem programas de possam apresentar-se. Enfim, concepções e
formação inicial e continuada de procedimentos sobejamente especificados
professores (negrito do relator). nas determinações estabelecidas pelo
Cabe observar que, embora os conteúdos Parecer CNE/CP nº 3/2004, relativas às
da Educação Infantil não sejam organizados Diretrizes mencionadas.
em componentes curriculares, os temas Ampliando um pouco mais o escopo das
referentes à História e Cultura Afro- observações e argumentos, não só relativo à

87
Legislação Específica: Federais e Municipais

obrigatoriedade legal e normativa, mas a racial. Na nossa história republicana, nunca


necessidade histórica, social e ética de houve momento mais propício para a
aplicação das Diretrizes para a Educação radicalização desse processo. Nesse
Infantil, pode-se recorrer à Convenção sentido, as Diretrizes, pela oportunidade do
sobre os Direitos da Criança, em vigor seu surgimento e pelos objetivos
internacional desde 2 de setembro de 1990, preconizados nas suas determinações, no
e que foi ratificada pelo Governo Brasileiro, que diz respeito à construção da igualdade
em 24 de setembro do mesmo ano. No étnico-racial, configura-se como um
artigo 29, ao emitir orientações aos documento normativo impar cuja aplicação
Estados-Parte da Convenção sobre a imediata, da Educação Infantil à Educação
educação das crianças, recomenda: preparar Superior, é uma necessidade indiscutível
a criança para assumir uma vida
responsável numa sociedade livre, com Para ter acesso na íntegra, visite:
espírito de compreensão, paz, tolerância, http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb002_
07.pdf, visitado em: 13.09.2022.
igualdade de sexos e amizade entre todos os
povos, grupos étnicos, nacionais e
religiosos e pessoas de origem indígena.
BRASIL. Ministério da Educação.
(negrito do relator) Secretaria de Educação Especial. Política
A decisão constitucional de incluir as Nacional de Educação Especial na
crianças e adolescentes no âmbito da Perspectiva da Educação Inclusiva.
cidadania codificando legalmente os seus Brasília: MEC/SEESP, 2008.
direitos fundamentais, dentre eles os
mencionados direitos à dignidade, ao
respeito, à liberdade e a não discriminação, Política Nacional de Educação
foi sabiamente interpretada pela relatora do Especial na Perspectiva da Educação
texto das Diretrizes ao incorporar a Inclusiva12
Educação Infantil no órbita da sua
abrangência. Ao fazer isso, transformou as O movimento mundial pela inclusão é
Diretrizes, além de texto normativo uma ação política, cultural, social e
específico voltado à promoção da igualdade pedagógica, desencadeada em defesa do
étnico-racial na educação, em documento direito de todos os alunos de estarem juntos,
caucionador e ao mesmo tempo aprendendo e participando, sem nenhum
complementar de uma política pública de tipo de discriminação. A educação
Estado relativa à proteção dos direitos das inclusiva constitui um paradigma
crianças e dos adolescentes, em especial, educacional fundamentado na concepção
daquelas que, historicamente, mais têm de direitos humanos, que conjuga igualdade
sofrido com a violação dos seus direitos: as e diferença como valores indissociáveis, e
crianças e adolescentes negros. que avança em relação à idéiade eqüidade
Em um país com metade da população formal ao contextualizar as circunstâncias
negra e com um histórico de quase 400 anos históricas da produção da exclusão dentro e
de escravidão – a contar do início do nosso fora da escola.
ingresso involuntário no mundo moderno, Ao reconhecer que as dificuldades
em 1500 – o longo processo de construção enfrentadas nos sistemas de ensino
da democracia só se concluirá na sua evidenciam a necessidade de confrontar as
plenitude quando se igualizar as práticas discriminatórias e criar alternativas
oportunidades, os direitos e as condições para superá-las, a educação inclusiva
mínimas de existência, liquidando-se, de assume espaço central no debate acerca da
uma vez por todas, com a discriminação sociedade contemporânea e do papel da

12
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf, visitado em: 13.09.2022.

88
Legislação Específica: Federais e Municipais

escola na superação da lógica da exclusão. escolar. Também define, dentre as normas


A partir dos referenciais para a construção para a organização da educação básica, a
de sistemas educacionais inclusivos, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas
organização de escolas e classes especiais séries mediante verificação do
passa a ser repensada, implicando uma aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...]
mudança estrutural e cultural da escola para oportunidades educacionais apropriadas,
que todos os alunos tenham suas consideradas as características do alunado,
especificidades atendidas. seus interesses, condições de vida e de
Nesta perspectiva, o Ministério da trabalho, mediante cursos e exames” (art.
Educação/Secretaria de Educação Especial 37).
apresenta a Política Nacional de Educação O Plano Nacional de Educação - PNE,
Especial na Perspectiva da Educação Lei nº 10.172/2001, destaca que “o grande
Inclusiva, que acompanha os avanços do avanço que a década da educação deveria
conhecimento e das lutas sociais, visando produzir seria a construção de uma escola
constituir políticas públicas promotoras de inclusiva que garanta o atendimento à
uma educação de qualidade para todos os diversidade humana”. Ao estabelecer
alunos. objetivos e metas para que os sistemas de
ensino favoreçam o atendimento às
Marcos Históricos e Normativos necessidades educacionais especiais dos
alunos, aponta um déficit referente à oferta
No Brasil, o atendimento às pessoas com de matrículas para alunos com deficiência
deficiência teve início na época do Império nas classes comuns do ensino regular, à
com a criação de duas instituições: o formação docente, à acessibilidade física e
Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em ao atendimento educacional especializado.
1854, atual Instituto Benjamin Constant – A Convenção sobre os Direitos das
IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em Pessoas com Deficiência, aprovada pela
1857, atual Instituto Nacional da Educação ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário,
dos Surdos – INES, ambos no Rio de estabelece que os Estados Parte devem
Janeiro. No início do século XX é fundado assegurar um sistema de educação inclusiva
o Instituto Pestalozzi - 1926, instituição em todos os níveis de ensino, em ambientes
especializada no atendimento às pessoas que maximizem o desenvolvimento
com deficiência mental; em 1954 é fundada acadêmico e social compatível com a meta
a primeira Associação de Pais e Amigos dos de inclusão plena.
Excepcionais – APAE e; em 1945, é criado A decisão constitucional de incluir as
o primeiro atendimento educacional crianças e adolescentes no âmbito da
especializado às pessoas com superdotação cidadania codificando legalmente os seus
na Sociedade Pestalozzi, por Helena direitos fundamentais, dentre eles os
Antipoff. mencionados direitos à dignidade, ao
A atual Lei de Diretrizes e Bases da respeito, à liberdade e a não discriminação,
Educação Nacional - Lei nº 9.394/96, no foi sabiamente interpretada pela relatora do
artigo 59, preconiza que os sistemas de texto das Diretrizes ao incorporar a
ensino devem assegurar aos alunos Educação Infantil no órbita da sua
currículo, métodos, recursos e organização abrangência. Ao fazer isso, transformou as
específicos para atender às suas Diretrizes, além de texto normativo
necessidades; assegura a terminalidade específico voltado à promoção da igualdade
específica àqueles que não atingiram o étnico-racial na educação, em documento
nível exigido para a conclusão do ensino caucionador e ao mesmo tempo
fundamental, em virtude de suas complementar de uma política pública de
deficiências e; a aceleração de estudos aos Estado relativa à proteção dos direitos das
superdotados para conclusão do programa crianças e dos adolescentes, em especial,

89
Legislação Específica: Federais e Municipais

daquelas que, historicamente, mais têm Referenciais Profissionais Docentes para


sofrido com a violação dos seus direitos: as Formação Continuada. Brasília:
crianças e adolescentes negros. Consed/ Undime/ MEC, 2019.13
Em um país com metade da população
negra e com um histórico de quase 400 anos Desenvolver uma profissão docente
de escravidão – a contar do início do nosso forte” é um objetivo-chave de diversos
ingresso involuntário no mundo moderno, sistemas reconhecidos pela qualidade da
em 1500 – o longo processo de construção educação que ofertam, tais como os da
da democracia só se concluirá na sua Finlândia, Canadá, Austrália, Cingapura e
plenitude quando se igualizar as Xangai (DARLING-HAMMOND et al.,
oportunidades, os direitos e as condições 2017). Embora a valorização dos
mínimas de existência, liquidando-se, de profissionais da educação seja um dos
uma vez por todas, com a discriminação princípios que orientam o ensino brasileiro
racial. Na nossa história republicana, nunca (art. 206, inciso V da Constituição Federal
houve momento mais propício para a e art. 3º, inciso VII da LDB), muitos são os
radicalização desse processo. Nesse desafios a serem superados para o
sentido, as Diretrizes, pela oportunidade do fortalecimento da profissão no país. Nesse
seu surgimento e pelos objetivos sentido, é preciso, primeiro, reconhecer a
preconizados nas suas determinações, no docência como uma profissão altamente
que diz respeito à construção da igualdade exigente, a qual demanda a tomada de uma
étnico-racial, configura-se como um série de decisões complexas, singulares e
documento normativo impar cuja aplicação contextualizadas (SHULMAN, 2014; LES-
imediata, da Educação Infantil à Educação SARD, 2006). Isso porque, nos contextos
Superior, é uma necessidade indiscutível. nos quais a atividade de ensinar ocorre, os
professores lidam com situações-problema
Para ter acesso na íntegra, visite: plurais, instáveis, geralmente atravessadas
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politi pelas particularidades dos estudantes
caeducespecial.pdf, (TARDIF e LESSARD, 2014). Essas
características da profissão exigem não
somente que os docentes tenham uma base
CONSELHO NACIONAL DE de conhecimentos profissionais específica,
SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - mas que sejam capazes de raciocinar a
CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS partir dessa base e utilizá-la para
DIRIGENTES MUNICIPAIS DE fundamentar suas escolhas e ações
EDUCAÇÃO - UNDIME; MINISTÉRIO
(SHULMAN, 2014).
DA EDUCAÇÃO. Frente de Trabalho da
Base Nacional Docente. Referenciais
Profissionais Docentes para Formação Referenciais Profissionais
Continuada. Brasília: Consed/ Undime/
MEC, 2019. Referenciais profissionais são utilizados
para orientar políticas para do- centes em
diversos sistemas educacionais, como os da
CONSELHO NACIONAL DE Austrália, Cana- dá, Chile, Cingapura,
SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - Colômbia, Equador, Estados Unidos,
CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS Escócia, In- glaterra, México, Nova
DIRIGENTES MUNICIPAIS DE Zelândia e Peru (MECKES, 2014;
EDUCAÇÃO - UNDIME; ABRUCIO et al., 2017). Em alguns deles,
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Frente os referenciais são usados para definir o que
de Trabalho da Base Nacional Docente. os licenciandos precisam saber e ser

13
http://profissaodocente.org.br/assets/pdf/pd.pdf

90
Legislação Específica: Federais e Municipais

capazes de fazer ao final dos cursos de tomada de decisões em relação aos


formação inicial, orientando os processos profissionais, tais como o ingresso e o
de acreditação e avaliação de instituições crescimento na carreira (KLEINHENZ e
formadoras de professores. Sistemas INGVARSON, 2007).
educacionais que se utilizam de processos Nesse sentido, cabe destacar que, dado
de certificação para o ingresso na docência que os referenciais pretendem definir o que
– algo como uma licença para o exercício seria uma boa atuação, eles não devem
da profissão – geralmente contam com prescrever ou padronizar o modo específico
referenciais que especificam o que é como se manifestam, mas, sim, deve-se
exigido dos iniciantes. Em alguns casos, garantir que profissionais com estilos e
como na Austrália e na Escócia, há também abordagens distintas possam alcançar o
uma especificação dos referenciais em mesmo conjunto de referenciais
níveis de desempenho para os profissionais (MECKES, 2014).
em serviço, orientando a progressão em Referenciais profissionais estão
termos de carreira e salários. presentes em muitas sociedades e, de modo
Para além desses usos, tanto a geral, visam diferenciar uma profissão de
construção quanto a discussão de uma mera ocupação, definindo o campo de
referenciais profissionais docentes atuação, saberes e práticas específicas dessa
apresentam um vasto potencial formativo, profissão, buscando proteger sua
especialmente se tiverem como foco os integridade (NOVAES, 2013).
processos de formação inicial e continuada,
conforme destacam Silva, Almeida e Gatti Proposta de Referenciais Profissionais
(2015). O processo de construção desta proposta
O uso de referenciais profissionais de referenciais foi desenvolvido ao longo
docentes para orientar processos formativos dos meses de julho a novembro de 2019 por
é muito presente em sistemas educacionais uma frente de trabalho envolvendo
como os de Ontário, no Canadá, e da representantes do Conselho Nacional de
Califórnia, nos Estados Unidos. Nessas Secretários de Educação (Consed), da
localidades, os referenciais são utilizados União Nacional de Dirigentes Muni- cipais
como base para sistemas avaliativos (Undime) e do Ministério da Educação
formativos nos quais professores e (MEC), cujos nomes constam de lista
mentores ou outros profissionais se juntam apresentada ao final deste documento. A
para formular, colocar em prática e metodologia de trabalho envolveu a
acompanhar planos de desenvolvimento realização de três encontros presenciais e
profissional, como parte de programas de um conjunto de atividades efetuadas nas
apoio para professores iniciantes e de redes de ensino dos participantes.
programas de formação continuada, bem Para desenvolver referenciais
como de oportunidades de discussão profissionais para professores, o primeiro
coletiva acerca do que se espera da atuação passo é definir o que pode ser considerado
docente e de uso para autoavaliação e um bom exercício da profissão docente. A
reflexão sobre a prática. partir de uma ampla experiência na
Os referenciais para uma profissão construção de referenciais profissionais
expressam um tipo de consenso sobre o que docentes, Kleinhenz e Ingvarson (2007)
é valorizado e que se deseja alcançar em afirmam que processos eficazes de
termos de sua atuação, servindo de elaboração de referenciais dos quais eles
orientação para os profissionais e as participaram contaram com uma
políticas que incidem sobre eles. Além combinação entre o conhecimento derivado
disso, como nível de qualidade, eles podem de evidências de pesquisas com a
especificar a qualidade dessa atuação, “sabedoria da prática” advinda de
sendo usados como ferramentas para a professores de referência, além de buscar

91
Legislação Específica: Federais e Municipais

ouvir uma diversidade de opiniões de qualidade em seu contexto. Mais do que


(informadas e razoáveis) sobre o que é um isso, é também uma oportunidade para que
bom trabalho docente no sistema construam ou revisem uma política de
educacional em questão. formação continuada sistêmica e coerente
alinhada a essa visão, superando modelos
Para ter acesso na íntegra, visite: fragmentados de desenvolvimento
http://profissaodocente.org.br/assets/pdf/pd.pdf profissional.
Para que um documento de política
educacional, como a BNC- Formação
CONSELHO NACIONAL DE Continuada, produzido por outra instância –
SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - no caso, o CNE - seja reconhecido como
CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS válido por uma rede de ensino, ele precisa
DIRIGENTES MUNICIPAIS DE passar por um processo de apropriação.
EDUCAÇÃO - UNDIME. Anexo Proposta
Trata-se de um processo que envolve a
de Matriz de Desenvolvimento
Profissional Docente, BNC-Formação
análise, a discussão e a construção de
Continuada na Prática: Implementando estratégias e ações pela própria rede, de
processos formativos orientados por maneira que o documento produzido a
referenciais profissionais. Brasília: partir dele seja considerado pertinente e
Consed/ Undime, 2021. adequado àquele contexto, passando a fazer
parte de seu cotidiano.
A Base Nacional Comum da Formação
Continuada (BNC-FC), conforme descrita
CONSELHO NACIONAL DE
na resolução que a define, está baseada na
SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO -
ideia de referenciais profissionais (do
CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS
inglês, professional standards).
DIRIGENTES MUNICIPAIS DE
Um dos significados da palavra standard
EDUCAÇÃO - UNDIME. Anexo
(em inglês), traduzida como estándar (em
Proposta de Matriz de Desenvolvimento
espanhol) e como padrão, referente ou
Profissional Docente, BNC-Formação
referencial (em português) é estandarte.
Continuada na Prática: Implementando
Assim como um estandarte – uma bandeira
processos formativos orientados por
ou insígnia que representa um grupo de
referenciais profissionais. Brasília:
indivíduos –, os referenciais para uma
Consed/ Undime, 2021.14
profissão expressam um tipo de consenso
sobre o que é valorizado e o que se deseja
A BNC-Formação Continuada foi
alcançar em termos de sua atuação, uma
instituída pela resolução n. 1 do Conselho
direção a ser seguida, servindo de
Nacional de Educação (CNE), em 27 de
orientação para os profissionais e as
outubro de 2020 – a mesma que dispõe
políticas que incidem sobre eles. Outro
sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais
significado da palavra standard remete a um
para a Formação Continuada de Professores
padrão ou nível de desempenho a ser
da Educação Básica (BRASIL, 2020)1.
alcançado. Neste caso, eles podem ser
Trata-se de uma importante
usados como instrumentos de medida para
oportunidade para que as redes de ensino
a realização de decisões profissionais, por
discutam o que esperam que os professores
exemplo, acerca de quem deve ser
saibam e sejam capazes de fazer em seu
contratado ou promovido
exercício profissional e, a partir dessa
(KLEINHENZ;INGVARSON, 2007;
visão, consolidem uma visão compartilhada
MECKES, 2014).
do que é considerado um trabalho docente

14
df, visitado em: 13.09.2022.
http://undime.org.br/uploads/documentos/php9w8HE3_61a5889f88c53.p

92
Legislação Específica: Federais e Municipais

Visão Compartilhada da Atuação Kleinhenz e Ingvarson (2007) explicam


Docente que processos eficazes de elaboração de
Embora as concepções sobre a qualidade referenciais contaram com uma
do trabalho docente possam variar entre os combinação entre o conhecimento derivado
indivíduos, quando se pensa na formação de evidências de pesquisas e a “sabedoria
continuada docente em uma rede de ensino da prática” advinda de professores de
é importante que todos os envolvi- dos referência, além de buscar ouvir uma
construam uma visão nítida e diversidade de opiniões.
compartilhada de onde se pretende chegar Os esforços empreendidos pela frente
com as ações, ou seja, do que constitui um de trabalho envolvendo o Consed, a
trabalho docente de qualidade naquele Undime e o MEC em 2019 visaram
contexto. Além disso, é igualmente contemplar esse ponto. Foi realizado um
relevante que se tenha uma linguagem levantamento que abrangeu diversos atores-
comum sobre a profissão, a ser chave e professores atuantes em todas as
compartilhada pela comunidade de prática etapas e modalidades, na busca pela
comprometida com o desenvolvi- mento diversidade de contextos e de práticas e de
profissional de seus participantes. um aprofundamento – e não uma
O uso de referenciais profissionais que representatividade – das práticas
representem essa visão compartilhada do observadas.
trabalho docente de qualidade, descritos Tomando por base esse levantamento e
nessa linguagem comum dos profissionais achados de estudos empíricos sobre práticas
de uma rede, busca promover a coerência e docentes consideradas eficazes, os
o alinhamento estratégico entre: membros da FT discutiram e selecionaram
• todas as ações de formação os principais aspectos para compor uma
oferecidas pela rede, sejam elas promovidas proposta do que pode ser considerado um
por quaisquer instâncias (central, bom exercício da docência no Brasil.
intermediária ou unidades escolares);
• acompanhamento e apoio à prática Organização do Documento
pedagógica; Uma maneira de organizar os
• a colaboração profissional entre os referenciais profissionais que atende a essa
pares; preocupação é a partir de matrizes de
• a autoavaliação e reflexão por parte desenvolvimento profissional. Partindo de
dos docentes. uma visão da atuação docente como algo
que está em um processo contínuo de
Dessa maneira, espera-se que os desenvolvi- mento, o que significa que não
esforços que as redes já realizam no âmbito existiria a ideia de um “professor pronto”,
da formação continuada sejam mais mas sim de profissionais que aprendem e se
eficazes, de modo que as formações desenvolvem durante toda a carreira,
obtenham maior êxito no alcance dos diversos sistemas de ensino elaboram
objetivos relativos à aprendizagem dos documentos que detalham os referenciais
professores e à melhoria contínua de sua em níveis de desenvolvimento. Esse é o
atuação profissional. caso da Califórnia, apresentado
Do mesmo modo, espera-se também anteriormente. Assim, espera-se que os
uma melhoria em termos da eficiência dos professores sejam capazes de “se enxergar”
processos formativos pois, ao gerar uma nos documentos – não somente tendo a
lógica de complementariedade entre esses chance de identificar aonde gostariam de
diferentes esforços, evita-se que haja chegar, mas também de onde partem em seu
ambiguidade, conflito ou sobreposição na desenvolvimento profissional.
implementação da política de formação
continuada da rede.

93
Legislação Específica: Federais e Municipais

Políticas Locais preciso que cada um dos docentes da rede


O conteúdo da BNC-FC precisa ser reconheça suas práticas e as de seus colegas
analisado e adaptado de acordo com o nos documentos.
contexto da rede na qual será utilizado, em
um processo que envolva os profissionais Planejamento da formação
citados e todos os outros interessados, tanto continuada a partir de referenciais
internos como externos à rede. profissionais

Critérios a serem considerados no Uma ação de formação continuada “bem


processo de adequação dos referenciais planejada” precisa partir de uma definição
profissionais objetiva do que se espera alcançar, a qual
Independentemente do caminho deve decorrer de um bom levantamento das
escolhido pela rede para elaborar seu necessidades formativas, bem como das
documento local de referenciais condições objetivas nas quais ela ocorre.
profissionais a partir da BNC-FC, entende- As propostas de planejamento da
se que seus produtos devem observar os formação continuada aqui des- critas
seguintes aspectos: partem do pressuposto de que as redes de
ensino tenham documentos de referenciais
- Adequação ao Contexto da Rede profissionais locais que descrevam o que os
Os documentos precisam representar o professores precisam saber e serem capazes
que a rede espera que os seus professores de fazer para uma atuação profissional
saibam e sejam capazes de fazer tendo em focada no desenvolvimento e aprendiza-
vista o contexto institucional e sociocultural gem dos seus estudantes.
no qual estão inseridos. Esses referenciais profissionais podem
fornecer fundamentos
- Linguagem Comum teóricos e metodológicos para a atuação
É importante, também, que estejam dos professores quando es- tes se apoiam na
redigidos de acordo com a linguagem visão descrita no documento para refletir e
adotada pelos profissionais da rede quando tomar decisões acerca de suas práticas.
estes refletem sobre e discutem o seu fazer. Podem, do mesmo modo, orientar sua
Portanto, precisam considerar os termos atuação de maneira indireta, ao servir como
empregados nos documentos oficiais da eixo organizador das iniciativas de
rede, como por exemplo os currículos, as formação continuada das redes.
diretrizes de políticas e os documentos de Baseando-se nesses referenciais, e em
programas estruturantes. necessidades formativas dos docentes
identificadas a partir deles, são planejadas
- Reconhecimento dos Aspectos iniciativas de formação continuada que
Comuns e das Especificidades apoiam os professores na aquisição ou no
Para favorecer a coerência e o desenvolvimento de conhecimentos e
alinhamento dos processos formativos da habilidades, bem como no questionamento
rede, é recomendável que as redes e reflexão acerca de aspectos que possam
mantenham alguma base comum a todos os estar impedindo-os de atuar de modo
docentes em seus documentos locais. É alinhado à visão contida nos referenciais
desejável, porém, que as redes deem um profissionais, tais como suas próprias
passo a mais ao diferenciar o que, de fato, crenças e disposições, assim como
for específico em relação à atuação em possíveis limitações oriundas de suas
determinada etapa, modalidade ou área do condições de trabalho – que necessitariam
conhecimento. Para que o documento seja ser debatidas com as instâncias de gestão.
efetivamente útil para a análise das práticas Como resultado dessas iniciativas de
docentes por professores e formadores, é formação continuada, é esperada uma

94
Legislação Específica: Federais e Municipais

melhoria na capacidade dos docentes de para o novos


atuar profissionalmente de acordo com os aprimoramento conhecimentos, de
referenciais e que essa boa atuação da prática, caráter prático e
contribua para o desenvolvimento e a visando a modelar. Nesse
aprendizagem dos estudantes. melhoria da sentido, tutor e
A atuação profissional docente, porém, aprendizagem tutorado constroem
depende não somente de que o professor dos estudantes. uma relação de
seja capaz de fazê-lo e de que queira fazê- Os princípios da parceria e
lo, mas também de que tenha condições metodologia da corresponsabilidade,
favoráveis para tal. São exemplos de tutoria podem ser com foco no
condições institucionais que podem empregados em desenvolvimento da
interferir na atuação profissional docente: o abordagens prática do tutorado,
tempo alocado para as aulas e para a individuais ou de forma
realização das de- mais atividades coletivas. Neste customizada,
profissionais (inclusive para o documento, as sempre com o
desenvolvimento profissional), a sugestões objetivo de melhorar
quantidade de alunos com os quais atua, a propostas para as os resultados de
infraestrutura e recursos pedagógicos redes de ensino aprendizagem dos
disponíveis, o clima escolar, entre outras. buscam articular alunos (DIAS;
Esses e outros fatores do contexto ambas as GUEDES, 2014, p.
institucional - como por exemplo os abordagens: 7).
materiais didáticos aos quais os alunos têm ações no
acesso, as expectativas em relação ao acompanhamento
sucesso escolar dos estudantes, as e apoio a
oportunidades que lhes são oferecidas para professores, de
engajamento na sala de aula e na escola modo individual,
como um todo, apenas para citar alguns - bem como ações
também afetam o desenvolvimento e a formativas
aprendizagem dos estudantes, os quais coletivas, no
também são condicionados pelo contexto sentido de
sociocultural no qual estão inseridos. promover o
desenvolvimento
Cotidiano Escolar de comunidades
de práticas no
Tutor Tutoria contexto escolar.
O tutor é um Tutoria é a
formador que metodologia de Equipe responsável pela formação
tem o papel de formação em continuada
acompanhar a serviço, realizada no A secretaria pode decidir atuar somente
prática cotidiano da escola com profissionais do quadro próprio ou
profissional dos por um profissional contar com colaboradores externos.
tutorados de mais experiente, que Qualquer que seja a configuração adotada,
maneira que, ao reconhece, valoriza é importante que a equipe responsável pela
ajudá-los a e parte dos formação continuada observe seu papel
refleti- rem sobre conhecimentos e da como gestora de todos os processos
a prática, vivência do tutorado formativos da rede. Nesse sentido, mesmo
contribua para para desencadear o que a iniciativa seja executada por
sua processo de formadores externos, é função dessa equipe
aprendizagem aprendizagem, ga- rantir a qualidade das atividades
profissional e buscando agregar desenvolvidas e sua coerência com os

95
Legislação Específica: Federais e Municipais

objetivos pretendidos. Para isso, a equipe anteriores já constituídos acerca dos temas
precisa analisar, acompanhar e orientar o propostos. Desse modo, evita-se inclusive
trabalho dos formadores desde a proposição uma situação bastante comum: que os
das ações até a sua execução, visando a professores, no decorrer da carreira,
eficácia das ações para o alcance de seus acabem sendo submetidos,
objetivos, conforme discutido na próxima sistematicamente, a uma mesma ação
etapa. formativa, partindo sempre da “estaca
zero”.
Características de formações eficazes
No momento do desenho das ações, é Fortalecimento dos formadores de
imprescindível que a equipe responsável professores
pela formação continuada considere as
características de iniciativas de formação
continuada avaliadas como eficazes: foco É quase um consenso que um formador
no conhecimento pedagógico do conteúdo; de professores precisa, antes de mais nada,
uso de metodologias ativas de ser um bom professor. Esse profissional
aprendizagem; trabalho colaborativo entre precisa conhecer muito bem e demonstrar
pares; duração prolongada da formação e na prática o que os professores com os quais
coerência sistêmica. De nada adiantará se trabalhará precisam saber e ser capazes de
todas as etapas anteriores forem bem fazer. Processos formativos baseados em
implementa- das, mas for elaborada uma referenciais profissionais, como os
iniciativa na qual o docente não tenha propostos neste documento, têm como
oportunidade de aplicar os conhecimentos vantagem apresentar de maneira muito
aprendidos com seus alunos e nem de transparente quais são essas expectativas
refletir junto aos formadores e aos pares em relação ao trabalho docente.
sobre essas experiências, por exemplo. Neste documento, partimos do
pressuposto de que um bom professor, para
Levantamento de necessidades uma rede de ensino, é aquele que atua de
formativas orientado por referenciais modo alinhado ao proposto pela matriz de
profissionais desenvolvimento profissional local,
demonstrando práticas que se aproximem
Um aspecto que colabora para que os de seus níveis mais avançados em alguns
processos de desenvolvi- mento dos elementos apresentados. Nesse sentido,
profissional alcancem seus objetivos é deve-se considerar que é pouco provável
justamente os professores se tornarem que algum profissional demonstre uma
agentes da sua própria aprendizagem (GA- atuação excelente em todos os domínios,
RET; PORTER; DESIMONE; BIRMAN; ainda mais em se tratando de um
YOON, 2001). Isso não significa que as documento que estará no início de sua
redes devem se isentar de sua implementação.
responsabilidade pela formação continuada
de seus profissionais. Significa sim que, Educação Infantil e Anos Iniciais do
para compartilhar a responsabilidade com Ensino Fundamental
os docentes por seus processos formativos, O conhecimento pedagógico do
as redes necessitam envolvê-los em todas as conteúdo geralmente não é um problema,
suas fases, desde a definição dos dado os professores serem polivalentes. De
referenciais profissionais que os orientarão todo modo, é preciso garantir que os
até a avaliação das ações de formação, formadores tenham desenvolvido uma
passando pelo levantamento de suas compreensão aprofundada dos temas e
necessidades formativas, as quais precisam abordagens que serão objeto das formações.
considerar os conhecimentos e experiências

96
Legislação Específica: Federais e Municipais

Anos Finais do Ensino Fundamental e aprendizagem; d) subsidiar, orientar e


Ensino Médio sugerir práticas pedagógicas alternativas
Por diversas vezes os formadores são aos professores; e) apoiar o processo de
alocados para formar professores de outras formação contínua dos professores de sua
disciplinas ou áreas. Nestes casos, área do conhecimento” (CEARÁ, 2017, p.
comumente a saída adotada é oferecer 5).
formações mais genéricas ou focadas em
práticas pedagógicas pouco específicas. Acompanhamento e avaliação de
Ainda que esse formador possa se esforçar ações formativas
para oferecer exemplos relativos a essas
áreas, é pouco provável que ele consiga Obter informações sobre as formações
apoiar os participantes a aprofundarem seu junto aos professores participantes, durante
conhecimento sobre o conteúdo a ser e após a sua realização, pode contribuir
ensinado e conduzir discussões acerca de muito para que a tomada de decisões pelos
como os estudantes raciocinam sobre os responsáveis seja mais ajustada às
conceitos e ideias das outras áreas, por necessidades do público-alvo.
exemplo. A avaliação das ações formativas por
meio da percepção dos participantes é uma
Função do PCA das estratégias mais utilizadas nas redes de
O PCA foi instituído para atuar no ensino do país, muitas vezes sendo a única
acompanhamento e o apoio ao trabalho forma de coleta de informação. Ela
docente nas escolas estaduais, segundo a geralmente é executada ao final da ação
área que lhe for conferida, a saber: formativa, por meio de questionário
Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, solicitando opiniões dos participantes a
Ciências da Natureza e Matemática e suas respeito de diferentes aspectos da referida
Tecnologias e Ciências Humanas e suas ação.
Tecnologias.
Para assumir a função de PCA, o Uso das informações
professor deve cumprir, preferencialmente, Embora seja frequentemente utilizada, é
40 horas semanais na unidade escolar em comum observar dificuldades para uso das
que atua. Dessas 40 horas, parte continua informações produzidas a partir da
sendo dedica- da à regência de classe e parte percepção de participantes. Assim sendo,
passa a ser dedicada à função de PCA – recomenda-se seu desenvolvimento
inicialmente 20 horas, reduzidas para 10 considerando a capacidade de uso dos
horas (CE- ARÁ, 2013; 2017). De todo dados obtidos. Não basta apenas coletar
modo, trata-se de um profissional que não informação a partir de instrumentos e
só tem experiência prévia como docente, estratégias adequadas, é preciso também
mas que vivencia a escola da mesma que a tomada de decisão esteja, de algum
perspectiva que os colegas de área que deve modo, fundamentada nas análises a partir
coordenar. dos dados produzidos.
Dentre suas atribuições, podemos
destacar as seguintes: “(a) coordenar o Atores envolvidos
planejamento dos professores da sua área Dado que o objetivo deve ser a
do conhecimento sob orientação do identificação de elementos que apontem a
Coordenador Escolar; b) articular com os satisfação ou não dos participantes quanto
professores de sua área estratégias que às ações planeja- das e executadas,
favoreçam à aprendizagem dos alunos; c) subsidiando as decisões de curto, médio e
acompanhar a execução dos planos de aula longo prazo, sugere-se que a coleta de
dos professores de sua área do informações seja realizada valorizando as
conhecimento e os resultados de opiniões de professores, coordenadores

97
Legislação Específica: Federais e Municipais

pedagógicos e até integrantes das equipes Trata-se de um tipo de avaliação que


responsáveis pela formação. constitui um espaço importante de
identificação de situações que possam
Questionário prejudicar as atividades previstas,
Caso as ações formativas abarquem um proporcionando informações em tempo
grande conjunto de participantes, sugere-se hábil para a tomada de decisão. Por
priorizar itens de respostas fechadas. exemplo, no caso de ações formativas em
Assim, torna-se possível o acesso mais ambiente remoto, é preciso verificar
rápido às opiniões dos participantes, sistematicamente se os participantes
permitindo uma ação ágil por parte dos conseguem acompanhar as atividades
responsáveis. online e se o acesso à internet está sendo
Por meio desse questionário é plausível, garantido de forma satisfatória. Já em ações
por exemplo, produzir informações quanto: formativas em ambiente presencial, é
• ao atendimento das necessidades preciso certificar-se da adequação do
formativas dos participantes, espaço físico, dos equipamentos e materiais
• às condições institucionais para a disponíveis para o desenvolvimento das
realização das formações, ações planejadas. Em ambos os casos, é
• à qualidade da equipe de formação, preciso acompanhar, por exemplo, se está
• à adequação das estratégias de sendo garantido aos professores tempo
formação utilizadas. disponível para a realização de atividades
propostas para além dos encontros
Formulário formativos. Em todos esses exemplos
Sugerimos que o formulário esteja mencionados, são necessárias ações no
voltado ao acompanhamento e avaliação do curto prazo por parte dos responsáveis, de
apoio institucional propiciado para o modo a garantir as condições adequadas
desenvolvimento das ações formativas, para efetivação das formações.
incluindo aspectos relativos à infraestrutura
física e materiais disponíveis, bem como o Estratégias de Avaliação
apoio e a garantia aos cursistas de Tomando como referência a matriz local
condições de trabalho adequadas ao a ser construída pela própria rede, sugere-se
desenvolvimento do curso, como tempo que sejam utilizadas estratégias avaliativas
disponível. Seu preenchimento por parte como observação de sala de aula
dos formadores responsáveis deve ser feito (presencialmente ou por meio de gravação
periodicamente e os dados produzidos de vídeo), análise dos planos de aula, bem
devem ser organizados de modo a facilitar como de relatos de práticas dos docentes,
o seu acesso àqueles que são diretamente com foco em verificar em que medida há
responsáveis pela formação. apropriação e repercussão nas ações
pedagógicas dos conhecimentos e práticas
Lista de Verificação desenvolvidas nas ações de formação
Recomenda-se, como parte do processo continuada no cotidiano escolar.
de elaboração do planejamento das ações de Para a observação de aula, deve-se
formação, que os responsáveis elenquem os definir focos específicos bem delimitados,
aspectos essenciais para a realização alinhados à matriz local, de modo a
adequada das atividades propostas, proporcionar in- formações que sejam ao
disponibilizando, assim, um check list que mesmo tempo precisas e indispensáveis. A
poderia orientar a secretaria ou até mesmo autoavaliação pode ser adequada para
a escola no levantamento prévio das identificar com os docentes participantes
condições necessárias, de modo a auxiliar das ações de formação movimentos de
na solução de eventuais dificuldades antes compreensão quanto às modificações e
mesmo do início das formações. aprimoramentos de suas práticas

98
Legislação Específica: Federais e Municipais

pedagógicas. A análise dos planos de aula, de 40 horas, na ao analisarem


por sua vez, pode contribuir também para maioria dos casos). sistemas
apreender se há ou não elementos presentes Vale ressaltar que educacionais
na formação e que foram de algum modo esses países com bons
apropriados pelos docentes. contratam resultados,
Este nível de avaliação faz mais sentido prioritariamente os destacam a
em momento posterior às ações de professores em importância do
formação, dado que as mudanças nas tempo integral, para uso do tempo
práticas docentes não se realizam em curto atuar em uma única fora de sala de
espaço de tempo. escola (OECD, aula para a
2019). Isso significa colaboração e o
Condições favoráveis a processos que eles garantem, desenvolvi-
formativos orientados por referenciais de fato, entre 37% e mento
profissionais 62% da jornada de profissional
trabalho dos docente, de modo
Tempo reservado Tempo reservado professores para que professores
para atividades para formação atividades fora de possam trabalhar
extraclasse continuada entre sala de aula. em conjunto no
pares Também vale planejamento,
Uma condição Uma condição destacar que a observação e
importante que pode favorável à jornada de trabalho análise de aulas,
favorecer os participação dos – incluindo as por exemplo. Na
processos docentes em atividades literatura
formativos baseados formações extraclasse – é empírica também
em referenciais continuadas exercida, há evidências de
profissionais é a eficazes é majoritariamente, na que iniciativas de
garantia de um garantir que unidade escolar, formação
tempo adequado da tenham a podendo envolver continuada
jornada de trabalho oportunidade de atividades diversas, avaliadas como
docente para as compartilhar esse tais como: eficazes
atividades tempo com atividades de apoio contaram com a
pedagógicas fora da colegas de às aulas (preparo de participação
sala de aula, sendo profissão. Ou aulas, correção de coletiva dos
uma parcela desse seja, que uma tarefas, docentes (de um
tempo destinada à parcela desse comunicação com grupo de
formação tempo fora da pais, atendimento a professores de
continuada. Darling- sala de aula seja alunos etc.); apoio a uma mesma
Hammond, Wei e reservada para a atividades escola, etapa de
Andree (2010) participação extracurriculares; ensino, área ou
destacam que os coletiva em coordenar uma série) (SNOW-
professores dos processos de disciplina/ área, RENNER;
países com melhores formação e série ou tema; ser LAUER, 2005).
desempenhos colaboração responsável por uma Há diversas
educacionais da profissional, em turma (no caso de formas de
Europa e da Ásia espaços professores dos anos organizar as
reservam entre 15 e apropriados para finais do Ensino jornadas de
25 horas semanais tais atividades. Fundamental ou no trabalho docentes
para esse tipo de Darling- Ensino Médio); de modo a
atividade (de Hammong, Wei e participar de garantir essas
jornadas semanais Andree (2010), atividades de condições.

99
Legislação Específica: Federais e Municipais

colaboração e e em cada estabelecimento escolar, por uma


desenvolvi- mento parte diversificada, exigida pelas
profissional características regionais e locais da
(MORICONI; sociedade, da cultura, da economia e dos
GIMENES; LEME, educandos.
2021). D - A educação física, integrada à
proposta pedagógica da escola, é
componente curricular facultativo ao que
Para ter acesso na íntegra, visite: cumpra jornada de trabalho igual ou
http://undime.org.br/uploads/documentos/ superior a quatro horas diárias.
php9w8HE3_61a5889f88c53.pdf, E - No currículo do ensino fundamental,
a partir do quinto ano, será ofertada a língua
Questões inglesa.

01. (Prefeitura de Louveira/SP - 03. (Prefeitura de Laranjal


Professor de Educação Básica - Paulista/SP - Professor de Educação
Avança/2022) Todas as alternativas, Básica - PEB II - Avança/2022) Conforme
abaixo, trazem incumbências dos previsto na Lei de Diretrizes e Bases da
Estabelecimentos de Ensino, frente à Educação Nacional (LDBEN 9394/96), a
Educação, com base no artigo 12 da LDB, educação básica, nos níveis fundamental e
exceto: médio, será organizada de acordo com as
A - administrar seu pessoal e seus seguintes regras comuns, EXCETO:
recursos materiais e financeiros. A - Nos estabelecimentos que adotam a
B - assegurar o cumprimento dos dias progressão regular por série, o regimento
letivos e horas-aula estabelecidas. escolar pode admitir formas de progressão
C - velar pelo cumprimento do plano de parcial, desde que preservada a sequência
trabalho de cada docente. do currículo, observadas as normas do
D - articular-se com as famílias e a respectivo sistema de ensino.
comunidade, criando processos de B - Poderão organizar-se classes, ou
integração da sociedade com a escola. turmas, com alunos de séries distintas, com
E- assumir o transporte escolar dos níveis equivalentes de adiantamento na
alunos da sua rede de abrangência. matéria, para o ensino de línguas
estrangeiras, artes, ou outros componentes
02. (Prefeitura de Louveira/SP - curriculares.
Professor de Educação Básica - Avança C - Os sistemas de ensino disporão sobre
SP/2022) Tomando os excertos da LDB a oferta de educação de jovens e adultos e
como base, considere a alternativa correta: de ensino noturno regular, adequado às
Alternativas condições do educando.
A - A educação básica é formada pela D - A carga horária mínima anual será de
educação infantil, ensino fundamental, duzentas horas para o ensino fundamental e
ensino médio, ensino profissionalizante e para o ensino médio, distribuídas por um
ensino tecnológico. mínimo de oitocentos dias de efetivo
B - A escola poderá reclassificar os trabalho escolar, excluído o tempo
alunos, exclusive quando se tratar de reservado aos exames finais, quando
transferências entre estabelecimentos houver.
situados no País e no exterior E - O controle de frequência fica a cargo
C - Os currículos da educação infantil, da escola, conforme o disposto no seu
do ensino fundamental e do ensino médio regimento e nas normas do respectivo
devem ter base nacional comum, a ser sistema de ensino, exigida a frequência
complementada, em cada sistema de ensino

100
Legislação Específica: Federais e Municipais

mínima de setenta e cinco por cento do total 06. (SME - SP - Professor de Ensino
de horas letivas para aprovação Fundamental II e Médio - Matemática -
FGV) A mudança estrutural proposta pela
04. (Prefeitura de Porto Ferreira/SP - Lei nº 10.639/03, de acordo com Nilma
Professor de Educação Básica I - Nosso Gomes, abre caminhos para a construção de
Rumo/2022) Tendo por base a Lei nº 9.394, uma educação antirracista. Sobre a
de 20 de dezembro de 1996, assinale a educação antirracista, assinale V para a
alternativa que apresenta uma incumbência afirmativa verdadeira e F para a falsa.
dos docentes. ( ) Deve valorizar todas as situações de
A - Assegurar o cumprimento dos dias sala de aula que possibilitem analisar a
letivos e horas-aula estabelecidas. diversidade cultural e étnico-racial.
B - Colaborar com as atividades de ( ) Deve ter, entre seus objetivos, o de
articulação da escola com as famílias e a valorizar a equidade de oportunidades,
comunidade. quando oferecidas a todos.
C - Organizar, manter e desenvolver os ( ) Deve estimular os alunos, por meio de
órgãos e instituições oficiais dos seus procedimentos e atitudes, a atuarem em
sistemas de ensino. uma sociedade multicultural. As
D - Coletar, analisar e disseminar afirmativas são, respectivamente,
informações sobre a educação. (A) F, F e V
E - Estabelecer ações destinadas a (B) V, F e V.
promover a cultura de paz nas escolas. (C) F, V e V.
(D) V, V e F.
05. (Prefeitura de Itapiranga/SC - (E) V, V e V.
Professor de Matemática -
AMEOSC/2022) Entre as formas definidas 07. (SME - SP - Professor de Ensino
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Fundamental II e Médio - Artes - FGV)
Nacional - LDB para que a classificação em Sobre as consequências da mudança
qualquer série ou etapa, exceto a primeira estrutural proposta pela Lei nº 10.639/03,
do ensino fundamental aconteça NÃO de acordo com Nilma Gomes, assinale V
consta: para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
A - Por promoção, para alunos que ( ) Mantém as relações propostas e
cursaram, com aproveitamento, a série ou evocadas na elaboração curricular. ( )
fase anterior, na própria escola. Deverá romper com o silêncio e desvelar
B - Por transferência, para candidatos rituais pedagógicos a favor da
procedentes de outras escolas. discriminação racial. ( ) Estabelece que o
C - Por determinação do representante trabalho acerca das questões raciais deve
oficial das Secretarias Municipais de acontecer como uma mudança cultural e
Educação. política no campo curricular.
D - Independentemente de escolarização
anterior, mediante avaliação feita pela As afirmativas são, respectivamente,
escola, que defina o grau de (A) F, V e V.
desenvolvimento e experiência do (B) V, V e V.
candidato e permita sua inscrição na série (C) F, V e F.
ou etapa adequada, conforme (D) F, F e V.
regulamentação do respectivo sistema de (E) F, F e F.
ensino.

101
Legislação Específica: Federais e Municipais

08. (SME - SP - Professor de Ensino (C) de todo o currículo, por meio de


Fundamental II e Médio - Matemática - projetos de livre escolha dos alunos.
FGV) A Lei nº 11.645/08 incluiu, no (D) da parte diversificada do currículo,
currículo oficial escolar, a obrigatoriedade de acordo com as características étnico-
do estudo da história e das culturas culturais dos alunos.
indígenas. Sobre essa lei, assinale V para a (E) de todo o currículo escolar, em
afirmativa verdadeira e F para a falsa. ( ) O especial nas áreas de educação artística, e
estudo dos povos indígenas brasileiros de literatura e história brasileiras.
resgata suas contribuições nas áreas social,
econômica e política. ( ) Essa lei procura 10. (SME - SP - Coordenador
reparar o tratamento de exclusão oferecido Pedagógico - VUNESP) A Lei Federal n°
historicamente aos grupos indígenas no 13.005/2014 aprovou o Plano Nacional de
Brasil. ( ) Essa lei rompeu com a visão Educação – PNE, com vigência por 10
etnocêntrica que apresenta a ideia de que, (dez) anos, a contar da sua publicação. O
aquele que é diferente, é naturalmente art. 2° dispõe sobre as diretrizes do PNE,
inferior. entre as quais consta a de
(A) valorização das tecnologias como a
As afirmativas são, respectivamente, prioridade para a melhoria do ensino no
(A) V, V e V. país.
(B) V, V e F. (B) diminuição dos bolsões regionais de
(C) V, F e F. analfabetismo.
(D) F, V e V. (C) promoção do princípio da gestão por
(E) F, F e V. resultados da educação pública.
(D) promoção dos princípios do respeito
09. (SME - SP - Coordenador aos direitos humanos, à diversidade e à
Pedagógico - VUNESP) A LDBEN (Lei n° sustentabilidade socioambiental.
9.394/96) sofreu uma atualização em 2003, (E) privatização do atendimento escolar.
quando foi introduzido pela Lei n° 10.639,
o artigo 26A, o qual estabelece: “Nos 11. (SME - SP - Coordenador
estabelecimentos de Ensino Fundamental e Pedagógico - VUNESP) A Lei n° 13.146,
Médio, oficiais e particulares, torna-se de 6 de julho de 2015, que institui a lei
obrigatório o ensino sobre História e brasileira de inclusão da pessoa com
deficiência (Estatuto da Pessoa com
Cultura Afro-Brasileira”. Nos dois Deficiência), em seu art. 27, dispõe que “A
parágrafos desse artigo, são definidos quais educação constitui direito da pessoa com
conteúdos serão incluídos e em qual âmbito deficiência, assegurados sistema
do currículo serão desenvolvidos. A Lei n° educacional inclusivo em todos os níveis e
11.645, de 2008, altera o artigo 26A da aprendizado ao longo de toda a vida, de
LDBEN, para incluir, no currículo oficial forma a alcançar o máximo
da Educação Básica, a temática “História e desenvolvimento possível de seus talentos e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
estabelecendo conteúdos a serem incluídos sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de
e que estes deverão ser ministrados no aprendizagem.” A mesma lei, no Parágrafo
âmbito único desse artigo, estabelece que “É dever
do Estado, da família, da comunidade
(A) da base nacional comum do escolar e da sociedade assegurar
currículo, nas aulas de história do Brasil, do _____________________ à pessoa com
sexto ano do Ensino Fundamental ao deficiência, colocando-a a salvo de toda
terceiro ano do Ensino Médio. forma de violência, negligência e
(B) das aulas de educação física, discriminação”.
educação artística e história, apenas.

102
Legislação Específica: Federais e Municipais

Assinale a alternativa que completa (D) I e II, apenas.


corretamente o texto. (E) II e III, apenas.
(A) implantação de programas de
segurança 14. (SME - SP - Professor de Ensino
(B) orientação profissional Fundamental II e Médio - Sociologia -
(C) educação de qualidade FGV) O Conselho Tutelar é órgão
(D) atividades sanitárias permanente e autônomo, encarregado pela
(E) assistência social e psicológica sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente.
12. (SME - SP - Professor de Ensino No que se refere à rotina escolar, o
Fundamental II e Médio - Artes - FGV) Conselho Tutelar deverá ser acionado nas
A LDB/96 define o Ensino Médio como situações listadas a seguir, à exceção de
etapa final da Educação Básica. uma.

Nessa etapa do ensino Assinale-a.


(A) é esperada a consolidação dos (A) Elevados níveis de repetência do
conhecimentos anteriormente adquiridos. aluno.
(B) é iniciada a implementação da (B) Faltas injustificadas do aluno,
heteronomia intelectual. esgotados os recursos escolares.
(C) é desenvolvida a dissociação entre (C) Evasão escolar.
teoria e prática. (D) Notas baixas do aluno em uma
(D) é estimulada a estruturação do avaliação escolar.
pensamento hegemônico. (E) Maus-tratos sofridos pelo aluno.
(E) é implementada a formação
específica para o mundo do trabalho. 15. (SME - SP - Professor de Ensino
Fundamental II e Médio - Matemática -
13. (SME - SP - Professor de Ensino FGV) José e Beatriz vão matricular sua
Fundamental II e Médio - Sociologia - filha, de 4 anos, em uma das escolas da
FGV) Sobre a valorização do contexto Rede Municipal de Ensino de São Paulo.
sociocultural dos alunos, segundo o Como esta é a primeira experiência do
Estatuto da Criança e do Adolescente, casal, estão em dúvida sobre a participação
analise as afirmativas a seguir. dos pais no processo escolar. Sua vizinha,
I. Estabelece o respeito aos valores agente comunitária, explicou que o Estatuto
culturais, artísticos e históricos próprios do da Criança e do Adolescente prevê essa
contexto social da criança e do adolescente, participação considerando o seguinte
desde que seja garantida sua expressão fora critério:
do contexto escolar. II. Estabelece o (A) é direito dos pais ou responsáveis ter
respeito aos valores culturais, artísticos e ciência do processo pedagógico, mas não de
históricos próprios do contexto social da participar da definição das propostas
criança e do adolescente, garantindo-se a educacionais.
estes a liberdade da criação e o acesso às (B) é direito dos pais ou responsáveis ter
fontes de cultura. III. Estabelece que as ciência do processo pedagógico, bem como
escolas não podem interferir nos valores o de participar da definição das propostas
culturais, artísticos e históricos próprios do educacionais.
contexto social dos alunos. (C) os pais ou responsáveis devem
cuidar para que a criança mantenha a
Está correto o que se afirma em pontualidade e a assiduidade, o uso do
(A) I, apenas. uniforme e o cumprimento das tarefas, sem
(B) II, apenas. interferir nas propostas educacionais e
(C) III, apenas. pedagógicas.

103
Legislação Específica: Federais e Municipais

(D) a escola deve combinar com os pais


ou responsáveis seus direitos e formas de
participação.
(E) os pais ou responsáveis, caso
queiram conhece-lo, terão acesso ao
processo pedagógico da escola.

Alternativas

01.E – 02.C – 03.D – 04.B – 05.C -


06.E – 07.A - 08. A - 09. E - 10.A - 11. D
- 12. A - 13. B - 14. D - 15. B

104
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

SUMÁRIO

Lei Municipal nº 16.271, de 17/09/2015 - Aprova o Plano Municipal de Educação


de São Paulo ........................................................................................................... 1
Decreto nº 28.302, de 21/11/1989 - Institui o Movimento de Alfabetização de Jovens
e Adultos da Cidade de São Paulo. ........................................................................ 2
Decreto nº 54.452, de 10/10/13 - Institui, na Secretaria Municipal de Educação, o
Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento
da Rede Municipal de Ensino de São Paulo- Mais Educação São Paulo. ............. 4
Decreto nº 57.379, de 13/10/2016 - Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de
Educação, a Política Paulistana de Educação Especial, na Perspectiva da Educação
Inclusiva. ................................................................................................................ 5
RESOLUÇÃO CME nº 03/2021 - Dispõe sobre procedimentos de flexibilização
curricular nas Unidade escolares da Rede Municipal de Ensino ......................... 13
Resolução CME nº 04/2021 - Alterações do Regimento Educacional das Unidades:
EMEF, EMEFM, CIEJA e EMEBS da Rede. ...................................................... 14
Recomendação CME nº 07/2021 - Busca Ativa Escolar. ................................ 14
Recomendação CME nº 03/2021 - Medidas de Flexibilização para a garantia do
direito à aprendizagem. ........................................................................................ 17
Recomendação CME nº 01/2022 – Aprendizagem Híbrida: o Ensino, a Educação,
os desafios e as possibilidades. ............................................................................ 17
Recomendação CME nº 02/2022 – Diretrizes Gerais para a Educação Especial na
Perspectiva Inclusiva com abordagem específica na Rede Municipal de São Paulo.
Portaria n° 5930/13, de 14/10/2013 - Programa de Reorganização Curricular e
Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São
Paulo- Mais Educação São Paulo ......................................................................... 20
Portaria nº 8.764, de 23/12/2016 - Regulamenta o Decreto nº 57.379, de 13 de
outubro de 2016, “Institui no Sistema Municipal de Ensino a Política Paulistana de
Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva. ................................ 23
Apostilas
Domínio
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Portaria nº 8.824, de 30/12/2016 - Institui, no âmbito da secretaria municipal de


educação o “PROJETO REDE”, integrando os serviços de apoio para educandos e
educandas, público-alvo da educação especial, nos termos do decreto nº 57.379, de
13/10/16, e dá outras providências. ...................................................................... 24
Instrução Normativa SME nº 18, de 18/04/2022 - Dispõe sobre a alteração do
regimento educacional das unidades: EMEF, EMEFM, CIEJA E EMEBS da rede
municipal de ensino. .............................................................................................. 27
Instrução Normativa SME nº 12, de 24/02/2022 - Institui no âmbito da Secretaria
Municipal de Educação o projeto Formação da Cidade, destinado aos docentes e
coordenadores pedagógicos das unidades educacionais diretas, indiretas e parceiras da
rede municipal de ensino e dá outras providências. ............................................. 29
Instrução Normativa SME nº 20, de 26/06/2020 - Estabelece procedimentos para
comunicar ao conselho tutelar, vara da infância e juventude os casos de suspeita ou
confirmação de violência aos bebês, crianças e adolescentes matriculados na rede
municipal de ensino. ............................................................................................. 30
Instrução Normativa SME nº 50, de 09/12/2021 - Institui os projetos de
fortalecimento das aprendizagens e reorganiza o projeto de apoio pedagógico –
PAP........ ................................................................................................................ 31
Instrução Normativa SME nº 51, de 10/12/2021 - Dispõe sobre a Organização das
Salas de Leitura, Espaços de Leitura e Núcleos de Leitura e dá outras
providências........................................................................................................... 33
Instrução Normativa SME Nº 26, DE 10/08/2022 - Reorienta o Programa “SÃO
PAULO INTEGRAL – SPI” nas escolas Municipais de Educação Infantil- EMEIs,
CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL – CEMEIs, Escolas
Municipais de Ensino Fundamental - EMEFs, Escolas Municipais de Ensino
Fundamental e Médio - EMEFMs e nos Centros Unificados - CEUs da Rede Municipal
de Ensino e dá outras providências. ..................................................................... 34

-
Apostilas
Domínio
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

As metas e estratégias estabelecidas


Lei Municipal nº 16.271, de 17/09/2015 -
Aprova o Plano Municipal de Educação
neste PME aplicam-se indistintamente a
de São Paulo todos os sistemas educacionais existentes
no Município de São Paulo.

O Plano Municipal de Educação de São As metas são as seguintes:


Paulo tem vigência pelo prazo de 10 (dez) META 1.
anos, contados de 2015 (data de publicação Ampliar o investimento público em
da presente lei). educação, aplicando no mínimo 33% (trinta
e três por cento) da receita resultante de
São diretrizes do Plano Municipal de impostos, compreendida a proveniente de
Educação (PME): transferências, em manutenção e
- superação do analfabetismo; desenvolvimento do ensino e em educação
- universalização do atendimento inclusiva.
escolar;
- superação das desigualdades META 2.
educacionais, com ênfase na promoção da Assegurar uma relação educando por
cidadania e na erradicação de todas as docente no sistema municipal de ensino que
formas de discriminação; fortaleça a qualidade social da educação e
- melhoria da qualidade de ensino; as condições de trabalho dos profissionais
- promover a educação integral em da educação, na seguinte proporção.
tempo integral;
- formação para o trabalho e para a META 3.
cidadania, com ênfase nos valores morais e Fomentar a qualidade da Educação
éticos em que se fundamenta a sociedade; Básica em todas as etapas e modalidades,
- promoção da educação em direitos com melhoria do fluxo escolar e da
humanos; aprendizagem.
- promoção humanística, cultural,
científica e tecnológica do Município; META 4
- valorização dos profissionais de Valorizar o profissional do magistério
educação; público da educação básica, em especial da
- difusão dos princípios da equidade, da rede municipal de ensino, aproximando
dignidade da pessoa humana e do combate gradativamente seu rendimento médio até a
a qualquer forma de violência; equiparação ao dos demais profissionais
- autonomia da escola; com escolaridade equivalente até o sexto
- fortalecimento da gestão democrática ano de vigência deste PME e garantir uma
da educação e dos princípios que a política de formação continuada.
fundamentam;
- promoção da educação em META 5.
sustentabilidade socioambiental; Universalizar, até 2016, a Educação
- desenvolvimento de políticas Infantil para as crianças de 4 (quatro) e 5
educacionais voltadas à superação da (cinco) anos de idade e assegurar, durante a
exclusão, da evasão e da repetência vigência do Plano, atendimento para 75%
escolares, articulando os ciclos e as etapas das crianças de zero a 3 anos e 11 meses ou
de aprendizagem, visando à continuidade 100% da demanda registrada, o que for
do processo educativo e considerando o maior.
respeito às diferenças e desigualdades entre
os educandos. META 6.
Universalizar o Ensino Fundamental de
9 (nove) anos público e gratuito com

1
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

qualidade socialmente referenciada para a com as necessidades econômicas, sociais e


demanda de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e culturais.
garantir que pelo menos 95% (noventa e
cinco por cento) dos educandos conclua META 12.
essa etapa na idade recomendada, até o Assegurar condições, no prazo de um
último ano de vigência deste Plano. ano, para a efetivação da gestão
democrática da educação, prevendo
META 7. recursos financeiros e apoio técnico e
Estimular a universalização, até 2016, aprimorar mecanismos efetivos de controle
do atendimento escolar para toda a social e acompanhamento das políticas
população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) educacionais no Município de São Paulo.
anos e elevar, até o final do período de
vigência deste Plano, a taxa líquida de META 13.
matrículas no Ensino Médio para 85% Elaborar Planos Regionais de Educação,
(oitenta e cinco por cento). no prazo de dois anos, que deverão observar
as metas e estratégias do Plano Municipal
META 8. de Educação e diretrizes de SME, além de
Universalizar, para a população com adequar as suas metas e estratégias
deficiência, transtornos globais do específicas às particularidades de cada
desenvolvimento e altas habilidades ou região, visando reduzir as desigualdades e
superdotação, o acesso à Educação Básica e promover a melhoria na qualidade de
ao atendimento educacional especializado, atendimento à população em especial nas
preferencialmente na rede regular de áreas mais desfavorecidas.
ensino, com a garantia de sistema
educacional inclusivo, de salas de recursos Caro(a) candidato(a), para acesso na
multifuncionais, classes, escolas ou íntegra acesse:
serviços especializados, públicos ou https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/
conveniados, até o final de vigência deste lei-16271-de-17-de-setembro-de-2015
Plano.

META 9. Decreto nº 28.302, de 21/11/1989 - Institui


Oferecer educação integral em tempo o Movimento de Alfabetização de Jovens e
integral em, no mínimo, 50% (cinquenta Adultos da Cidade de São Paulo.
por cento) das escolas públicas, de forma a
atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por
cento) dos educandos da Educação Básica O Decreto n. 28.302/1989 foi revogado.
até o final da vigência deste Plano.
O texto normativo que trata sobre o
META 10. mesmo assunto é a Lei 14.058/2005, sendo
Superar, na vigência deste PME, o assim trazemos ao estudo.
analfabetismo absoluto na população com
15 (quinze) anos ou mais e ampliar a LEI Nº 14.058, DE 10 DE OUTUBRO
escolaridade média da população. DE 2005
META 11. Institui o programa Movimento de
Estimular, em regime de colaboração Alfabetização de Jovens e Adultos do
com o Estado de São Paulo e a União, a Município de São Paulo - MOVA/SP, junto
expansão das instituições de educação à Secretaria Municipal de Educação, e dá
superior públicas em todas as regiões do outras providências.
Município de São Paulo e em consonância

2
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

JOSÉ SERRA, Prefeito do Município de § 1º As classes serão agrupadas em


São Paulo, no uso das atribuições que lhe núcleos.
são conferidas por lei, faz saber que a § 2º A entidade conveniada poderá
Câmara Municipal, em sessão de 14 de contar com mais de um núcleo, sendo que a
setembro de 2005, decretou e eu promulgo subordinação destes, no aspecto
a seguinte lei: administrativo e pedagógico, será
estabelecida pela Secretaria Municipal de
Art. 1º Fica instituído o programa Educação.
Movimento de Alfabetização de Jovens e § 3º O auxílio financeiro previsto neste
Adultos do Município de São Paulo - artigo destinar-se-á, exclusivamente, ao
MOVA/SP, junto à Secretaria Municipal de custeio das despesas oriundas do
Educação. funcionamento das classes instaladas,
Parágrafo único. O MOVA tem como conforme planilha de custos previamente
principal objetivo o combate ao analisada e aprovada pelos órgãos técnicos
analfabetismo existente entre jovens e da Secretaria Municipal de Educação.
adultos na cidade de São Paulo,
proporcionando para tanto, o atendimento Art. 5º O acompanhamento técnico-
daqueles que não tiveram acesso ou pedagógico e o acompanhamento da
continuidade de estudos no ensino execução dos convênios a que se refere o
fundamental. art. 2º desta lei caberão às Coordenadorias
de Educação, sob orientação e coordenação
Art. 2º Caberá à Secretaria Municipal de da Diretoria de Educação Técnica -
Educação adotar as medidas necessárias à DOT/CONAE.
execução do programa ora instituído,
ficando autorizada a firmar convênios com Art. 6º A Secretaria Municipal de
entidades assistenciais, sociedades e Educação, mediante portaria, baixará
associações regularmente constituídas, nos normas complementares, objetivando o
termos da Lei nº 7.693, de 6 de janeiro de desenvolvimento do programa ora
1972, e em conformidade com as diretrizes instituído.
político-educacionais traçadas pela
Secretaria Municipal de Educação. Art. 7º As despesas decorrentes da
execução desta lei correrão por conta das
Art. 3º A Secretaria Municipal de dotações orçamentárias próprias,
Educação manterá permanentemente o suplementadas se necessário.
Fórum Municipal do Movimento de
Alfabetização de Jovens e Adultos e os Art. 8º Esta lei entrará em vigor na data
Fóruns Regionais do Movimento de de sua publicação.
Alfabetização de Jovens e Adultos,
congregando parceiros e colaboradores do Art. 9º Revogam-se as disposições em
MOVA/SP, como instância de diálogo, contrário.
planejamento e avaliação do programa.
Parágrafo único. Os Fóruns Regionais de
que trata o "caput" deste artigo estarão
vinculados às respectivas Coordenadorias
de Educação.

Art. 4º Poderá ser concedido auxílio


financeiro às entidades conveniadas, no
valor a ser fixado em termo próprio, por
classe a ser instalada.

3
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Desenvolvimento da Educação Básica -


Decreto nº 54.452, de 10/10/13 - Institui, IDEB;
na Secretaria Municipal de Educação, o
IV- a ressignificação da avaliação, com
Programa de Reorganização Curricular e
Administrativa, Ampliação e ênfase no seu caráter formativo para alunos
Fortalecimento da Rede Municipal de e professores;
Ensino de São Paulo- Mais Educação São V- a alfabetização de todas as crianças
Paulo. até o 3º ano do ensino fundamental, nos
termos do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa - PNAIC;
Institui, na Secretaria Municipal de VI- a integração entre as diferentes
Educação, o Programa de Reorganização etapas e modalidades da educação básica;
Curricular e Administrativa, Ampliação e VII- o incentivo à autonomia e
Fortalecimento da Rede Municipal de valorização das ações previstas nos projetos
Ensino -– Mais Educação São Paulo. político-pedagógicos das unidades
educacionais;
FERNANDO HADDAD, Prefeito do VIII- o fortalecimento da gestão
Município de São Paulo, no uso das democrática e participativa, com
atribuições que lhe são conferidas por lei, envolvimento das famílias.

DECRETA: Art. 4º A promoção da melhoria da


qualidade social da educação será efetivada
Art. 1º Fica instituído, na Secretaria a partir dos seguintes eixos:
Municipal de Educação, o Programa de I - infraestrutura;
Reorganização Curricular e Administrativa, II - currículo;
Ampliação e Fortalecimento da Rede III- avaliação;
Municipal de Ensino - Mais Educação São IV - formação do educador;
Paulo. V - gestão.
§ 1º No eixo infraestrutura, caberá à
Art. 2º O Programa ora instituído Secretaria Municipal de Educação definir
considera o conhecimento construído pela as ações que promovam a ampliação do
Rede Municipal de Ensino articulado com a atendimento na educação infantil, a
pertinente legislação em vigor, as eliminação do turno intermediário do
normatizações emanadas do Conselho ensino fundamental, a ampliação da jornada
Nacional de Educação e as contribuições dos alunos e da sua exposição ao
oriundas da consulta pública a que foi conhecimento, bem como a eliminação de
submetido o documento de referência barreiras arquitetônicas, assegurando
contando com seus objetivos, metas e bases condições de melhoria da qualidade do
conceituais e programáticas. ensino e da aprendizagem e da
acessibilidade e inclusão.
Art. 3º O Programa Mais Educação São § 2º O currículo na educação infantil
Paulo terá por finalidades principais: deverá considerar as características e as
I- a ampliação do número de vagas para necessidades das diferentes fases de
a educação infantil e universalização do desenvolvimento das crianças e adequar-se
atendimento para as crianças de 4 (quatro) às alterações promovidas na Lei de
e 5 (cinco) anos de idade; Diretrizes e Bases da Educação Nacional
II- a integração curricular na educação pela Lei Federal nº 12.796, de 4 de abril de
infantil; 2013.
III- a promoção da melhoria da § 3º O currículo no ensino fundamental
qualidade social na educação básica e, terá a duração de 9 (nove) anos e deverá ser
consequentemente, do Índice de

4
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

organizado em 3 (três) ciclos de de dotações orçamentárias próprias,


aprendizagem, assim especificados: suplementadas se necessário.
I - ciclo de alfabetização: do 1º ao 3º
anos; Art. 7º Este decreto entrará em vigor na
II - ciclo interdisciplinar: do 4º ao 6º data de sua publicação.
anos;
III - ciclo autoral: do 7º ao 9º anos. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO
§ 4º A avaliação abrangerá as dimensões PAULO, aos 10 de outubro de 2013, 460º da
fundação de São Paulo.
institucional, externa e interna, e, na
unidade educacional, assumirá caráter FERNANDO HADDAD, PREFEITO
formativo e comporá o processo de
aprendizagem como fator integrador entre
as famílias e o processo educacional. Decreto nº 57.379, de 13/10/2016 -
§ 5º A síntese da avaliação do processo Institui, no âmbito da Secretaria
de ensino e aprendizagem dos alunos será Municipal de Educação, a Política
Paulistana de Educação Especial, na
expressa em conceitos para o ciclo de
Perspectiva da Educação Inclusiva.
alfabetização e em notas de 0 (zero) a 10
(dez), seguidas de comentários, para os
demais ciclos. Institui, no âmbito da Secretaria
§ 6º A periodicidade para a atribuição Municipal de Educação, a Política
dos conceitos/notas será bimestral, Paulistana de Educação Especial, na
resultante de provas e da análise do Perspectiva da Educação Inclusiva.
desempenho global do educando, a ser
enviada aos pais e/ou responsáveis para FERNANDO HADDAD, Prefeito do
acompanhamento. Município de São Paulo, no uso das
§ 7º A formação do educador será atribuições que lhe são conferidas por lei,
realizada de maneira sistemática nas
unidades educacionais e com as Diretorias CONSIDERANDO as disposições da
Regionais de Educação, além de outras, Convenção Internacional sobre os Direitos
provenientes de parcerias com outros entes das Pessoas com Deficiência e seu
federativos, inclusive nos Polos de Apoio Protocolo Facultativo, promulgada pelo
Presencial UAB-SP a serem implantados Decreto Federal nº 6.949, de 25 de agosto
em unidades integrantes dos Centros de 2009, e das Leis Federais nº 9.394, de 20
Educacionais Unificados - CEUs. de dezembro de 1996, e nº 13.146, de 6 de
§ 8º Para o eixo gestão, a Secretaria julho de 2015, bem como a Política
Municipal de Educação deverá promover Nacional de Educação Especial na
ações que visem fortalecer a gestão Perspectiva da Educação Inclusiva e as
participativa e democrática das unidades orientações do Ministério da Educação para
educacionais, possibilitando o debate e a sua implementação;
tomada de decisão conjunta por toda a
comunidade escolar. CONSIDERANDO, ainda, a Lei
Municipal nº 16.271, de 17 de setembro de
Art. 5º A Secretaria Municipal de 2015, que aprovou o Plano Municipal de
Educação deverá estabelecer normas Educação de São Paulo, bem como as
complementares voltadas ao pleno diretrizes da atual Política Municipal da
cumprimento do disposto neste decreto. Educação;
Art. 6º As despesas decorrentes da
execução deste decreto correrão por conta

5
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

CONSIDERANDO, finalmente, a Educação de Jovens e Adultos, Educação


deficiência como um conceito em evolução, Profissional e Educação Indígena;
resultante da interação entre as pessoas com VI – da institucionalização do
deficiência e as barreiras atitudinais e Atendimento Educacional Especializado -
ambientais que impedem a sua plena e AEE como parte integrante do Projeto
efetiva participação na sociedade em Político-Pedagógico – PPP das unidades
igualdade de oportunidades com as demais educacionais;
pessoas, VII – do currículo emancipatório,
inclusivo, relevante e organizador da ação
DECRETA: pedagógica na perspectiva da integralidade,
assegurando que as práticas, habilidades,
CAPÍTULO I costumes, crenças e valores da vida
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES cotidiana dos educandos e educandas sejam
articulados ao saber acadêmico;
Art. 1º Fica instituída a Política VIII – da indissociabilidade entre o
Paulistana de Educação Especial, na cuidar e o educar em toda a Educação
Perspectiva da Educação Inclusiva, com o Básica e em todos os momentos do
objetivo de assegurar o acesso, a cotidiano das unidades educacionais;
permanência, a participação plena e a IX – do direito à brincadeira e à
aprendizagem de crianças, adolescentes, multiplicidade de interações no ambiente
jovens e adultos com deficiência, educativo, enquanto elementos
transtornos globais do desenvolvimento – constitutivos da identidade das crianças;
TGD e altas habilidades nas unidades X – dos direitos de aprendizagem,
educacionais e espaços educativos da visando garantir a formação básica comum
Secretaria Municipal de Educação, e o respeito ao desenvolvimento de valores
observadas as diretrizes estabelecidas neste culturais, geracionais, étnicos, de gênero e
decreto e os seguintes princípios: artísticos, tanto nacionais como regionais;
I – da aprendizagem, convivência social XI – do direito de educação ao longo da
e respeito à dignidade como direitos vida, bem como qualificação e inserção no
humanos; mundo do trabalho;
II – do reconhecimento, consideração, XII – da participação do próprio
respeito e valorização da diversidade e da educando e educanda, de sua família e da
diferença e da não discriminação; comunidade, considerando os preceitos da
III – da compreensão da deficiência gestão democrática.
como um fenômeno sócio-histórico-
cultural e não apenas uma questão médico- Art. 2º Serão considerados público-alvo
biológica; da Educação Especial os educandos e
educandas com:
IV – da promoção da autonomia e do I - deficiência (visual, auditiva, física,
máximo desenvolvimento da intelectual, múltipla ou com
personalidade, das potencialidades e da surdocegueira);
criatividade das pessoas com deficiência, II - transtornos globais do
bem como de suas habilidades físicas e desenvolvimento - TGD (autismo,
intelectuais, considerados os diferentes síndrome de Asperger, síndrome de Rett e
tempos, ritmos e formas de aprendizagem; transtorno desintegrativo da infância);
V – da transversalidade da Educação III - altas habilidades.
Especial em todas as etapas e modalidades
de educação ofertadas pela Rede Municipal
de Ensino, a saber, Educação Infantil,
Ensino Fundamental, Ensino Médio,

6
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

CAPÍTULO II III - elaboração e redimensionamento do


ACESSO E PERMANÊNCIA PPP das unidades educacionais para
assegurar a oferta do AEE nos diferentes
Art. 3º A matrícula nas classes comuns e tempos e espaços educativos, consideradas
a oferta do Atendimento Educacional as mobilizações indispensáveis ao
Especializado - AEE serão asseguradas a atendimento das necessidades específicas
todo e qualquer educando e educanda, visto do público-alvo da Educação Especial, bem
que reconhecida, considerada, respeitada e como as condições e recursos humanos,
valorizada a diversidade humana, vedadas físicos, financeiros e materiais que
quaisquer formas de discriminação, favoreçam seu processo de aprendizagem e
observada a legislação vigente. desenvolvimento;
§ 1º A matrícula no agrupamento, turma IV - trabalho articulado entre os
e etapa correspondentes será efetivada com professores responsáveis pelo AEE,
base na idade cronológica e outros critérios professores das classes comuns e demais
definidos, em conjunto, pelos educadores educadores da unidade educacional;
da unidade educacional, Supervisão Escolar V - avaliação pedagógica para a
e profissionais responsáveis pelo AEE, aprendizagem, utilizada para reorientação
ouvidos, se necessário, a família, outros das práticas educacionais e promoção do
profissionais envolvidos e, sempre que desenvolvimento, realizada pelos
possível, o próprio educando ou educanda. educadores da unidade educacional, com a
§ 2º A unidade educacional deverá participação, se necessário, do Supervisor
mobilizar os recursos humanos e estruturais Escolar, das famílias e de representantes de
disponíveis para garantir a frequência dos Centro de Formação e Acompanhamento à
educandos e educandas. Inclusão – CEFAI, além de outros
§ 3º Fica vedado o condicionamento da profissionais envolvidos no atendimento;
frequência e da matrícula dos educandos e VI - prioridade de acesso em turno que
educandas a quaisquer situações que viabilize os atendimentos na área da saúde,
possam constituir barreiras ao seu acesso, quando necessários, e a compensação de
permanência e efetiva participação nas ausências nos termos do regimento
atividades educacionais. educacional;
VII - atendimento às necessidades de
Art. 4º A Secretaria Municipal de locomoção, higiene e alimentação a todos
Educação, em suas diferentes instâncias, que necessitem, por meio da mobilização de
assegurará a matrícula, a permanência profissionais da unidade educacional,
qualificada, o acesso ao currículo, a considerando as atribuições especificadas
aprendizagem e o desenvolvimento dos nos artigos 3º, 6º, 8º, 15, 17, 20 e 24 do
educandos e educandas, de modo a garantir Decreto nº 54.453, de 10 de outubro de
resposta às suas necessidades educacionais, 2013, em relação ao público-alvo da
mediante: Educação Especial, mediante discussão da
I - identificação do público-alvo da situação com o próprio educando e
Educação Especial, por meio do educanda, a família, os professores
preenchimento do cadastro de educandos e responsáveis pelo AEE e a Supervisão
educandas no Sistema Escola On Line - Escolar;
Sistema EOL; VIII - adequação do número de
II - formação específica dos professores educandos e educandas por agrupamento,
para atuação nos serviços de Educação turma e etapa, se necessário, considerando
Especial e de formação continuada dos o atendimento à demanda, a apresentação
profissionais de educação que atuam nas de justificativa pedagógica fundamentada
classes comuns das unidades educacionais; no PPP e a avaliação dos profissionais da
unidade educacional, da Supervisão Escolar

7
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

e do CEFAI, com posterior autorização § 2º A oferta do AEE será realizada, de


expressa do Diretor Regional de Educação; maneira articulada, pelos educadores da
IX - modificações e ajustes necessários e unidade educacional e pelos professores
adequados nas unidades educacionais e em responsáveis pelo AEE.
sua organização, que não acarretem ônus § 3º A oferta do AEE dar-se-á nos
desproporcional ou indevido, como diferentes tempos e espaços educativos, sob
acessibilidade arquitetônica, nos as seguintes formas:
mobiliários e nos equipamentos, nos I - no contraturno;
transportes, na comunicação e na II - por meio de trabalho itinerante;
informação; III - por meio de trabalho colaborativo.
X - articulação intersetorial na § 4º Será assegurado o AEE às crianças
implementação das políticas públicas. matriculadas em Centros de Educação
§ 1º Para dar cumprimento ao disposto Infantil - CEIs, Escolas Municipais de
no inciso VII do “caput” deste artigo, a Educação Infantil – EMEIs e Centros
unidade educacional deverá, se necessário, Municipais de Educação Infantil –
acionar os profissionais da saúde, as CEMEIs.
instituições conveniadas e outras visando a § 5º Para os fins do disposto no § 4º deste
orientação dos procedimentos a serem artigo, o Secretário Municipal de Educação
adotados pela comunidade educativa. editará portaria regulamentando a oferta e
§ 2º A matrícula do educando e organização do AEE.
educanda público-alvo da Educação
Especial não caracterizará, por si só, Art. 6º Na Educação de Jovens e Adultos
justificativa para adequação do número de - EJA, a Educação Especial atuará nas
educandos e educandas, devendo ser unidades educacionais e espaços educativos
considerados os critérios previstos no inciso a fim de possibilitar a ampliação de
VIII do “caput” deste artigo. oportunidades de escolarização, a formação
para inserção no mundo do trabalho, a
CAPÍTULO III autonomia e a plena participação social.
ATENDIMENTO EDUCACIONAL § 1º Na EJA, a oferta e a organização do
ESPECIALIZADO – AEE AEE serão condizentes com os interesses,
necessidades e especificidades desses
Art. 5º Para os fins do disposto neste grupos etários.
decreto, considera-se Atendimento § 2º Visando dar cumprimento ao
Educacional Especializado - AEE o disposto no § 1º deste artigo, o trabalho dos
conjunto de atividades e recursos professores das classes e turmas da EJA
pedagógicos e de acessibilidade deverá ser articulado com o trabalho dos
organizados institucionalmente, prestado professores do AEE no que diz respeito à
em caráter complementar ou suplementar às elaboração de estratégias pedagógicas e
atividades escolares, destinado ao público- formativas e às metodologias, de modo a
alvo da Educação Especial que dele favorecer a aprendizagem e a participação
necessite. dos educandos e educandas jovens e adultos
§ 1º O AEE terá como função identificar, no contexto escolar e na vida social.
elaborar e organizar recursos pedagógicos e
de acessibilidade que eliminem as barreiras CAPÍTULO IV
existentes no processo de escolarização e SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO
desenvolvimento dos educandos e ESPECIAL
educandas, considerando as suas
necessidades específicas e assegurando a Art. 7º Consideram-se Serviços de
sua participação plena e efetiva nas Educação Especial aqueles prestados por:
atividades escolares.

8
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

I - Centros de Formação e humanos e materiais necessários ao


Acompanhamento à Inclusão – CEFAIs; desenvolvimento de seus trabalhos nas
II - Salas de Recursos Multifuncionais – unidades educacionais.
SRMs (antes denominadas Salas de Apoio § 4º Competirá à DIPED e ao CEFAI,
e Acompanhamento à Inclusão – SAAIs); em conjunto com os demais profissionais
III - Professores de Atendimento da DRE, articular e desenvolver ações que
Educacional Especializado – PAEEs (antes garantam a implementação das políticas
denominados Professores Regentes de públicas de Educação Especial e das
SAAIs); diretrizes da Secretaria Municipal de
IV - Instituições Conveniadas de Educação em cada território.
Educação Especial; § 5º Competirá ao Coordenador
V - Escolas Municipais de Educação elaborar, coordenar, implementar e avaliar
Bilíngue para Surdos – EMEBSs; o plano de trabalho do CEFAI, em
VI - Unidades Polo de Educação consonância com as diretrizes da Secretaria
Bilíngue. Municipal de Educação e da DRE.
Parágrafo único. De acordo com as suas § 6º Competirá ao PAAI realizar
especificidades, os Serviços de Educação trabalho de orientação, de formação
Especial serão responsáveis pela oferta do continuada e de acompanhamento
AEE, juntamente com as unidades pedagógico para as unidades educacionais,
educacionais. ficando responsável pela organização do
AEE, por meio de trabalho itinerante e
Art. 8º O CEFAI será composto por: mediante atuação conjunta com os
I - Coordenador: profissional de profissionais da DRE e da unidade
educação, integrante da carreira do educacional.
Magistério Municipal, nomeado como § 7º Competirá ao Auxiliar Técnico de
Assistente Técnico de Educação I, com Educação executar as atividades técnico-
habilitação ou especialização em Educação administrativas do CEFAI que lhe forem
Especial, em uma de suas áreas, ou em atribuídas pelo Coordenador, respeitada a
Educação Inclusiva; legislação em vigor.
II - Professores de Apoio e
Acompanhamento à Inclusão - PAAIs, Art. 9º A Sala de Recursos
designados pelo Secretário Municipal de Multifuncionais – SRM poderá ser
Educação, dentre os professores da carreira instalada em unidades educacionais e
do Magistério Municipal, com habilitação espaços educativos com local adequado e
ou especialização em Educação Especial, dotada, pela unidade educacional, pela
em uma de suas áreas, ou em Educação DRE e pela Secretaria Municipal de
Inclusiva; Educação, com equipamentos, mobiliários
III - Auxiliar Técnico de Educação, e materiais didáticos e pedagógicos para a
integrante do Quadro dos Profissionais da oferta do AEE no contraturno.
Educação da Rede Municipal de Ensino. Parágrafo único. A SRM será instalada
§ 1º O CEFAI será composto por 8 (oito) mediante indicação do CEFAI em conjunto
PAAIs, podendo esse número ser ampliado, com o Supervisor Escolar, em função da
justificada a necessidade, por solicitação existência de demanda.
fundamentada do Diretor Regional de
Educação e com anuência do Secretário Art. 10. O Professor de Atendimento
Municipal de Educação. Educacional Especializado - PAEE será
§ 2º O CEFAI será vinculado à Divisão designado, por ato do Secretário Municipal
Pedagógica – DIPED e integrará a DRE. de Educação, dentre integrantes da Classe
§ 3º A DRE será responsável por dos Docentes do Quadro do Magistério
disponibilizar, aos CEFAIs, os recursos Municipal, efetivos e estáveis, com

9
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

habilitação ou especialização em Educação I - Escolas Municipais de Educação


Especial, em uma de suas áreas, ou em Bilíngue para Surdos – EMEBSs;
Educação Inclusiva. II - Unidades Polo de Educação
Bilíngue, para surdos e ouvintes;
Art. 11. As instituições de direito III - escolas comuns: unidades
privado, sem fins lucrativos, voltadas ao educacionais de Educação Infantil, Ensino
atendimento do público-alvo da Educação Fundamental, Ensino Médio e Educação de
Especial e que tenham convênio com a Jovens e Adultos para surdos e ouvintes,
Secretaria Municipal de Educação deverão com a indicação de:
observar as diretrizes deste decreto e a a) agrupar os educandos e educandas
legislação vigente. com surdez na mesma turma, considerando
Parágrafo único. Quando necessário e a idade cronológica e o agrupamento, turma
caso haja anuência da família, os educandos e etapa no processo de compatibilização da
e as educandas serão encaminhados às demanda, devido à diferença linguística,
instituições de que trata o “caput” deste objetivando a circulação e o uso de Libras;
artigo, atendidos os seguintes critérios: b) assegurar a oferta do AEE aos
I - indicação, mediante avaliação educandos e educandas com surdez,
pedagógica, de que o educando ou contemplando atividades em Libras, bem
educanda se beneficiará do atendimento como ensino e aprimoramento de Libras e
oferecido; ensino de língua portuguesa.
II - verificação da capacidade de
atendimento da demanda para AEE no Art. 13. A oferta da Educação Bilíngue
contraturno escolar, nas SRMs existentes nas unidades educacionais deverá, de
no território; acordo com a necessidade dos educandos e
III - modalidade de atendimento das educandas, contar com o apoio dos
estabelecida no termo de convênio; seguintes profissionais:
IV – público-alvo estabelecido no termo I - para as EMEBSs, instrutor de Libras,
de convênio. preferencialmente surdo, e guia-intérprete
de Libras/língua portuguesa;
CAPÍTULO V II - para as Unidades Polo de Educação
EDUCAÇÃO BILÍNGUE Bilíngue e as escolas comuns, instrutor de
Libras, preferencialmente surdo, intérprete
Art. 12. A Educação Bilíngue, no âmbito de Libras/língua portuguesa e guia-
da Rede Municipal de Ensino, será intérprete de Libras/língua portuguesa.
assegurada aos educandos e educandas com
surdez, surdez associada a outras Art. 14. A aquisição de Libras dar-se-á
deficiências e surdocegueira, ficando por meio da interação dos educandos e
adotada a Língua Brasileira de Sinais - educandas com surdez com toda a
Libras como primeira língua e a língua comunidade educativa em que a Libras seja
portuguesa, na modalidade escrita, como considerada língua de comunicação e de
segunda língua. instrução, devendo possibilitar aos surdos o
§ 1º A Educação Bilíngue deverá acesso ao conhecimento, a ampliação do
contemplar os Componentes Curriculares uso social da língua nos diferentes
da Base Nacional Comum e as condições contextos e a reflexão sobre o
didático-pedagógicas para que a Libras e a funcionamento da língua e da linguagem
língua portuguesa constituam línguas de em seus diferentes usos.
instrução, comunicação e de circulação na
escola. Art. 15. A língua portuguesa, como
§ 2º A Educação Bilíngue será ofertada segunda língua, deverá contemplar o ensino
em: da modalidade escrita, considerada como

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Legislações Municipais, Documentos e Publicações

fonte necessária para que o educando e a Art. 20. A Educação Bilíngue


educanda com surdez possam construir seu desenvolvida nas unidades educacionais
conhecimento, para uso complementar e deverá compor o PPP de cada unidade
auxiliar na aprendizagem das demais áreas educacional e considerar as diretrizes
de conhecimento. estabelecidas pela Secretaria Municipal de
Educação.
Art. 16. As unidades educacionais
deverão garantir ações interdisciplinares CAPÍTULO VI
visando a circulação de Libras e o SERVIÇOS DE APOIO
desenvolvimento e aprendizagem dos
educandos e das educandas com surdez, Art. 21. Os serviços de apoio serão
bem como a formação continuada em oferecidos por:
Libras, envolvendo os profissionais da I - Auxiliar de Vida Escolar – AVE:
unidade educacional, educandos e profissional com formação em nível médio,
educandas, famílias e comunidade por meio contratado por empresa conveniada com a
da organização de projetos e de atividades Secretaria Municipal de Educação, para
previstos no PPP. oferecer suporte intensivo aos educandos e
educandas com deficiência e TGD que não
Art. 17. As DREs poderão, em atuação tenham autonomia para as atividades de
conjunta com o CEFAI e a Supervisão alimentação, higiene e locomoção;
Escolar, propor a implantação de Unidades II - Estagiário do Quadro Aprender Sem
Polo de Educação Bilíngue em unidades Limite: estudante do curso de Licenciatura
educacionais da Rede Municipal de Ensino, em Pedagogia, contratado por empresa
quando constatada a existência de conveniada com a Secretaria Municipal de
demanda, espaço físico adequado, recursos Educação, para apoiar, no desenvolvimento
necessários e parecer favorável do do planejamento pedagógico e atividades
Conselho de Escola quanto à adesão ao pedagógicas, os professores das salas de
projeto. aula que tenham matriculados educandos e
Parágrafo único. A implantação de educandas considerados público-alvo da
Unidade Polo de Educação Bilíngue nas Educação Especial, mediante avaliação da
unidades educacionais dar-se-á por ato necessidade do serviço pela DRE, DIPED e
oficial do Secretário Municipal de CEFAI.
Educação. § 1º A indicação do AVE será realizada
mediante avaliação da necessidade do
Art. 18. As atuais SAAIs Bilíngue I e serviço pela DRE, por meio da DIPED e do
SAAIs Bilíngue II instaladas nas Unidades CEFAI.
Polo de Educação Bilíngue passarão a ser § 2º As atividades relacionadas aos
denominadas Classes Bilíngue I e Classes cuidados oferecidos pelo profissional de
Bilíngue II. que trata o inciso I do “caput” deste artigo
não configuram atendimento na área da
Art. 19. Os professores que atuam nas saúde.
EMEBSs e Classes Bilíngues serão
denominados Professores Bilíngues. Art. 22. A existência dos serviços de
Parágrafo único. Os Professores apoio não será condição para a efetivação
Bilíngues deverão comprovar habilitação da matrícula ou frequência na unidade
em sua área de atuação, habilitação educacional.
específica na área de surdez, em nível de Parágrafo único. As unidades
graduação ou especialização, na forma da educacionais deverão se organizar com o
legislação em vigor, além do domínio de seu quadro de profissionais, a fim de
Libras. assegurar o atendimento às necessidades

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Legislações Municipais, Documentos e Publicações

dos educandos e educandas, de acordo com quaisquer entraves, obstáculos, atitudes ou


o disposto no inciso VII do artigo 4º deste comportamentos que limitem ou impeçam
decreto. o exercício dos direitos dos educandos e
educandas à participação educacional,
Art. 23. Serão assegurados os seguintes gozo, fruição, acessibilidade, liberdade de
serviços de suporte técnico e de apoio movimento e expressão, comunicação,
intensivo: acesso à informação, compreensão e
I - Auxiliar de Vida Escolar – AVE, nos circulação.
termos do inciso I do “caput” e do § 1º do § 2º As barreiras classificam-se em:
artigo 21 deste decreto; I - barreiras arquitetônicas: entraves
II - Supervisão Técnica, com a função de estruturais do equipamento educacional que
orientar a atuação dos AVEs, oferecer às dificultem a locomoção do educando e
equipes escolares suporte e orientação educanda;
técnica sobre sua área de atuação, ações II - barreiras nas comunicações e na
formativas aos profissionais da Rede informação: qualquer entrave, obstáculo,
Municipal de Ensino, além da indicação de atitude ou comportamento que dificulte ou
tecnologia assistiva; impossibilite a comunicação expressiva e
III - Núcleo Multidisciplinar, que integra receptiva, por meio de códigos, línguas,
a equipe do Núcleo de Apoio e linguagens, sistemas de comunicação e de
Acompanhamento para a Aprendizagem – tecnologia assistiva;
NAAPA, criado pelo Decreto nº 55.309, de III - barreiras atitudinais: atitudes ou
17 de julho de 2014, desenvolvendo, comportamentos que impeçam ou
quando necessário: prejudiquem a participação plena da pessoa
a) atividades de avaliação, apoio e com deficiência em igualdade de condições
encaminhamento dos educandos e e oportunidades com as demais pessoas.
educandas com suspeita ou quadros de
deficiência, TGD, altas habilidades e Art. 25. A promoção da acessibilidade,
outros; visando a eliminação das barreiras,
b) apoio às unidades educacionais e considerará:
CEFAIs, mediante articulação intersetorial I - a acessibilidade arquitetônica: a
no território e fortalecimento da Rede de eliminação das barreiras arquitetônicas nas
Proteção Social, observada a sua área de unidades educacionais, criando condições
atuação. físicas, ambientais e materiais à
Parágrafo único. Os serviços de que trata participação, nas atividades educativas, dos
este artigo poderão ser realizados por meio educandos e educandas que utilizam
da celebração de convênios ou parcerias cadeira de rodas, com mobilidade reduzida,
com instituições especializadas e serão cegos ou com baixa visão;
regulamentados em portaria do Secretário II - a acessibilidade física: a aquisição de
Municipal de Educação. mobiliário adaptado, equipamentos e
materiais específicos, conforme a
CAPÍTULO VII necessidade dos educandos e educandas,
ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS E com acompanhamento dos responsáveis
ACESSIBILIDADE pelo AEE, para assegurar a sua adequada
utilização;
Art. 24. A Secretaria Municipal de III - a acessibilidade de comunicação,
Educação promoverá a acessibilidade e a que abrange:
eliminação de barreiras de acordo com as a) a eliminação de barreiras na
normas técnicas em vigor. comunicação, estabelecendo mecanismos e
§ 1º Para os fins deste decreto, alternativas técnicas para garantir o acesso
consideram-se barreiras, dentre outras,

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Legislações Municipais, Documentos e Publicações

à informação, à comunicação e ao pleno de dotações orçamentárias próprias,


acesso ao currículo; suplementadas se necessário.
b) a consideração da comunicação como
forma de interação por meio de línguas, Art. 29. Este decreto entrará em vigor na
inclusive a Libras, visualização de textos, data de sua publicação, revogados os
Braille, sistema de sinalização ou Decretos nº 45.415, 18 de outubro de 2004,
comunicação tátil, caracteres ampliados, e nº 51.778, de 14 de setembro de 2010.
dispositivos multimídia, linguagem
simples, escrita e oral, sistemas auditivos, PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE
meios de voz digitalizados, modos, meios e SÃO PAULO, aos 13 de outubro de 2016,
formatos aumentativos e alternativos de 463º da fundação de São Paulo.
comunicação e de tecnologias da FERNANDO HADDAD, PREFEITO
informação e das comunicações, dentre
outros;
c) a implantação e ampliação dos níveis RESOLUÇÃO CME nº 03/2021 - Dispõe
de comunicação para os educandos e sobre procedimentos de flexibilização
educandas cegos, surdos ou surdocegos; curricular nas Unidade escolares da Rede
d) o acesso à comunicação para Municipal de Ensino
educandos e educandas com quadros de
deficiência ou TGD que não fazem uso da
oralidade, por meio de recursos de
Unidade Educacional
comunicação alternativa ou aumentativa,
quando necessário;
A Unidade Educacional deverá fazer
e) o acesso ao currículo para os
constar no Regimento Educacional bem
educandos e educandas com baixa visão,
como, na elaboração do Projeto Pedagógico
assegurando os materiais e equipamentos
os institutos previstos na legislação que
necessários;
garantam as condições efetivas do direito à
IV - o transporte escolar municipal
educação e à aprendizagem,
gratuito, por meio de veículos adaptados,
proporcionando a cada estudante, trajetória
quando necessário.
educacional de sucesso e situações
concretas de conclusão do ensino
CAPÍTULO VIII
fundamental e do ensino médio, diurno e
DISPOSIÇÕES FINAIS
noturno, em idades próprias, rompendo
com a dinâmica de reprovação, abandono e
Art. 26. As disposições deste decreto
exclusão.
aplicam-se, no que couber, às instituições
de Educação Infantil sob a supervisão da
Oganização do Ensino
Secretaria Municipal de Educação.
A organização do Ensino Fundamental
em 3 ciclos de aprendizagem –
Art. 27. A Secretaria Municipal de
Alfabetização, Interdisciplinar e Autoral -
Educação, por meio da Divisão de
em conformidade com o Decreto
Educação Especial, fixará as normas
54.452/13, que visa a aquisição das
complementares, específicas e
aprendizagens essenciais num tempo de 3
intersetoriais que viabilizem a implantação
anos para cada ciclo, deverá ser garantida,
e implementação da Política Paulistana de
sem retenção em cada ano, desde que
Educação Especial, na Perspectiva da
cumprido 75% da carga horária anual do
Educação Inclusiva, ora instituída.
ciclo.
Art. 28. As despesas decorrentes da
execução deste decreto correrão por conta

13
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Diferença entre os Conceitos Carga Horária nas Unidades de


Ensino
Classificação de Alunos -
independentemente de escolarização a. Carga horária total mínima de 3.000
anterior, mediante avaliação realizada pela horas;
unidade educacional, exceto para o 1º ano b. Carga horária máxima da Formação
do ensino fundamental. Geral da BNCC de 1800 horas;
Reclassificação - é o ato aplicado pela c. Itinerários Formativos das áreas de
unidade educacional para a devida conhecimento e/ou profissionalizantes;
adequação da trajetória do estudante com d. Componentes das áreas de
possibilidade de avanço, mediante conhecimento e dos itinerários
verificação do aprendizado. profissionalizantes na forma híbrida sob a
Reforço/Recuperação - definida no responsabilidade e o acompanhamento de
artigo 24 inciso V da Lei 9394/96 que reza docente habilitado;
“obrigatoriedade de estudos de e. a expedição de certificados para os
recuperação, de preferência paralelos ao estudantes que optarem por itinerários
período letivo para casos de baixo profissionalizantes no Ensino Médio;
rendimento escolar a serem disciplinados
pelas instituições de ensino em seus Para acesso na íntegra, visite:
regimentos” para garantia de continuidade https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/
do percurso escolar. resolucao-secretaria-municipal-de-
educacao-sme-cme-4-de-25-de-novembro-
Para acesso na íntegra, visite: de-2021
https://www.sinesp.org.br/179-saiu-no-
doc/13141-resolucao-cme-n-03-2021-
dispoe-sobre-procedimentos-de- Recomendação CME nº 07/2021 - Busca
flexibilizacao-curricular-nas-unidades- Ativa Escolar.
escolares-da-rede-municipal-de-ensino

A busca ativa, parte integrante das


Resolução CME nº 04/2021 - Alterações estratégias cotidianas das UEs, deve estar
do Regimento Educacional das Unidades: incluída nos planos de ação de forma
EMEF, EMEFM, CIEJA e EMEBS da articulada ao Projeto Político Pedagógico
Rede.
(PPP) para a prevenção do abandono e da
evasão escolar. Organizar ações que
atentem para questões como:
Diferentes Unidades Educacionais da
Rede Municipal
- frequência, análise de faltas
consecutivas e/ou interpoladas;
EMEF – Escola Municipal de Ensino
- defasagem idade/ano, trajetória
Fundamental
escolar;
EMEFM – Escola Municipal de Ensino
- falta de acessibilidade ao currículo;
Fundamental e Médio
- conhecimento do perfil do estudante
CIEJA – Centro Integrado de Educação
em relação a sua participação:
de Jovens e Adultos
- participação nas atividades;
EMEBS – Escola Municipal de
- interesse/desinteresse pelas propostas
Educação Bilíngue para Surdos
oferecidas;
- interesses específicos de
conhecimento acima do apresentado para o
coletivo;

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Legislações Municipais, Documentos e Publicações

- relações interpessoais com colegas e 16.271/15, é responsabilidade da Secretaria


equipe escolar; Municipal de Educação, dos órgãos
- dificuldades de aprendizagem; regionais, bem como das unidades
- dificuldades de aprendizagem por educacionais públicas da RME e privadas
descontinuidade; de educação infantil do Sistema Municipal
- ventos de indisciplina, dificuldade de Ensino e envolve o compromisso de
habitual para seguir as regras propostas de todos na sua realização, recomenda-se:
convivência.
1. À SME.
Acolhimento. - Organizar programas e projetos
O cuidado na Escola vai além do espaço específicos que aumentem o interesse e a
físico. Envolve diálogo, sinergia, motivação dos jovens em situação de risco;
amorosidade. Acolher se transforma em - Rever a legislação para melhorar o
atitude, deixa de ser um ato pontual, em fluxo escolar, no que se refere à reprovação
momentos específicos do contexto dos estudantes, nos ensinos fundamental e
pedagógico, para tornar-se parte integrante, médio;
constante e contínua, do Projeto Político - Propor diferentes perspectivas para os
Pedagógico. Ações envolvendo atividades estudantes, possibilitando opções mais
colaborativas entre escola e território atrativas no seu processo educacional;
constituem um meio para estreitar laços. - Criar condições para a participação dos
profissionais da Unidades Educacionais em
Identificar causas e providenciar atividades formativas;
encaminhamentos para os órgãos - Organizar propostas para atividades
competentes. híbridas e de ampliação de tempo de
Ações que demandam intervenções ao permanência;
identificar motivos que afetam a - Divulgação das ações de busca ativa,
participação dos estudantes na vida escolar realizadas pelas UEs, intensificando o fluxo
e que precisam ser foco das reflexões nas de informações no território, mobilizando a
diferentes instâncias democráticas da comunidade para a conscientização do
Unidade Educacional, com o cuidado ético processo.
de preservar a pessoa. Pode-se destacar
alguns exemplos: gravidez na adolescência, A divulgação pode ser realizada por
cuidador de irmãos, cuidador de idosos, meio de:
cuidador de pessoas com deficiência, - Campanhas midiáticas
cuidador de pessoas doentes, trabalho conscientizadoras;
infantil, violência doméstica, conflito com - Distribuição de panfletos, cartazes.
a Lei, abuso psicológico, abuso sexual, falta
de apoio de adulto responsável, situação de 2- À DRE.
pobreza extrema, situação de rua, falta de - Identificar as causas do abandono e da
acessibilidade ou recursos (ex: cadeira de evasão;
rodas, órtese, prótese, recursos de - Criar equipes internas para análise e
tecnologia assistiva). planejamento nas Unidades Educacionais;
A Busca Ativa é responsabilidade de - Potencializar a ação da Rede de
toda a sociedade e a divisão de ações entre Proteção Social no território;
as diferentes instâncias das Secretarias e - Criar comissões Intersetoriais nas
dos territórios é fundamental para regionais e participar das centrais;
potencializar os ganhos neste processo. - Organizar formas para utilização de
Entendendo então que a Busca Ativa informações do CADÚnico;
Escolar, meta estabelecida no Plano - Organizar formação continuada dos
Municipal de Educação, aprovado pela Lei educadores e socialização de informações;

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Legislações Municipais, Documentos e Publicações

- Criar e oferecer condições necessárias - formação de comissões - participação


para participação das equipes escolares em de representantes dos diferentes segmentos
cursos de formação, promovidos pelo da comunidade educacional: Conselhos de
CEFAI, NAAPA, DIPED, entre outros, CEI/Escola/CIEJA/CEU, APMs, Grêmios
com foco em temas que subsidiem a Estudantis, Comissões de Mediação de
atuação dos educadores. Conflitos, entre outros, objetivando:
- a organização de fóruns de discussão
3. à Unidade Educacional e/ou encontros sobre Busca Ativa
- Localizar famílias dos bebês e das envolvendo comissões intersetoriais dos
crianças para identificar motivos de territórios e todos os atores do processo de
ausência e orientar sobre a importância das vida escolar;
atividades que promovam o - o cruzamento de informações entre a
desenvolvimento integral; escola e a comunidade do território;
- identificar adolescentes grávidas que - o diálogo entre as UEs da região;
evadem, propondo ações de acolhimento - o (re)planejamento de ações e
para o regresso no convívio escolar; estratégias;
- repensar a avaliação e os - a avaliação periódica da eficácia das
procedimentos de recuperação das estratégias propostas.
aprendizagens considerando o contexto - mapeamento e monitoramento -
vivido pelos estudantes; conhecer o perfil dos estudantes, por meio
- organizar atividades específicas do levantamento e monitoramento de
direcionadas aos estudantes em situação informações sobre as vulnerabilidades em
de vulnerabilidade ou cuja família pode ter que se encontram, é importante para
passado por um processo de pauperização, prevenir o abandono escolar, sendo
em decorrência da crise gerada pela Covid- necessárias ações como:
19; - registro periódico e o acompanhamento
- planejar atividades, com conteúdos constante da participação dos estudantes
significativos, que atendam as nas atividades educacionais presenciais
singularidades dos estudantes; e/ou híbridas;
- realizar avaliação e a autoavaliação, - atualização dos registros cadastrais,
com o objetivo de assegurar a dialogicidade com os endereços e telefones dos
entre os atores do processo de ensino e estudantes, de parentes, de amigos, de
aprendizagem; vizinhos, facilita a busca de informações,
- utilizar metodologias e estratégias que em relação aos estudantes ausentes;
favoreçam a participação de todos nas - levantamento e registro de informações
atividades propostas e contribuam para a de famílias com bebês e crianças, não
aprendizagem de estudantes que retornem atendidas nas UEs, contribui para o
em qualquer tempo; planejamento de ações, que possam garantir
- promover atividades artísticas, o ingresso destes bebês e crianças no CEI,
culturais, esportivas que possibilitem o EMEI e Educação Básica;
desenvolvimento de múltiplas habilidades - compartilhamento de dados, por meio
dos estudantes, contribuindo para sua de recursos digitais, agiliza o fluxo de
permanência na escola; informações e o planejamento de ações
- realizar processos de classificação, entre os envolvidos no processo de busca
reclassificação, recuperação/reforço, ativa.
compensação de ausências, previstos na
LDB, artigos 23 e 24, contribuem para III- CONCLUSÃO.
prevenir o abandono do processo Paulo Freire ao ser questionado se “O
educacional e, portanto, minimizar a Brasil tem jeito?”
defasagem idade/ano escolar; (ANEXO 3)

16
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Responde que sim! Só que tem jeito na


medida em que nos determinamos a forjá- Recomendação CME nº 03/2021 -
lo Medidas de Flexibilização para a garantia
do direito à aprendizagem.
Nenhum jeito aparece por acaso. Paulo
Freire (2001)
Conforme revela Paulo Freire, "nada
A relação desenvolvimento e
aparece por acaso”; é preciso que “nos
aprendizado é discutida a tempos e vários
determinemos a forjá- lo”. Este é o nosso
teóricos publicaram estudos.
compromisso, o “nosso ofício”: incluir.
Este é apenas o passo inicial, porém não é
Piaget pondera que a aprendizagem está
o suficiente. É preciso, sim, incluir todos na
associada ao nível de desenvolvimento
escola, uma vez que muitos encontram-se
atingido pela criança.
privados do direito à educação e,
principalmente, é preciso identificar os
Vygotsky considera que o
motivos e os obstáculos que afastam da
desenvolvimento das funções psíquicas da
escola crianças, adolescentes, jovens,
criança interage continuamente com a
adultos e idosos. A localização e a
aprendizagem, ou seja, apropriando-se do
manutenção do vínculo,ainda no final deste
conhecimento socialmente produzido.
ano, são determinantes para assegurar que
nenhum estudante torne-se um dado
Wallon associa o desenvolvimento a
estatístico da exclusão em 2022.
três fatores: sociais, biológicos e psíquicos.
Dando realce ao fator afetivo.
Compreender quem são, localizar onde
estão e por que não estão estudando é a base
Para Freinet é o trabalho e a cooperação
para elaborar o diagnóstico do abandono e
que permitem o desenvolvimento reflexivo,
da evasão escolar, passo essencial para
sendo a ação concreta a medida de
traçar planos de ação visando promover
adequação à realidade.
condições necessárias para assegurar o
acesso, a permanência, aprendizagem,
Caro(a) candidato(a), para ter acesso
desenvolvimento integral e a plena
na íntegra acesse:
participação dos bebês, crianças, jovens,
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
adultos e idosos na escola.
br/wp-
content/uploads/2022/01/Recomendacao-
IV- DELIBERAÇÃO DO
CME-no-03.2021-Medidas-de-
PLENÁRIO
Flexibilizacao-para-a-garantia-do-direito-
a-aprendizagem-Publicado-DOC-
O Conselho Municipal de Educação
22.07.2021-pgs.-13-e-14.pdf
aprova, por unanimidade, a presente
Recomendação.
Recomendação CME nº 01/2022 –
Caro(a) candidato(a), para ler na Aprendizagem Híbrida: o Ensino, a
íntegra acesse Educação, os desafios e as possibilidades.
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
br/acervo/recomendacao-cme-no-07-2021/
Com a situação pandêmica vivida nos
últimos dois anos, houve a necessidade da
uma nova forma de organização escolar.
O contexto da pandemia produziu uma
mudança paradigmática no que se refere
aos usos e ocupação dos ambientes virtuais,

17
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

passaram a fazer parte de suas rotinas a


preocupação com as condições dos Recomendação CME nº 02/2022 –
estudantes e suas famílias, a necessidade de Diretrizes Gerais para a Educação
estabelecer formas de interação Especial na Perspectiva Inclusiva com
significativas, a disponibilização de um abordagem específica na Rede Municipal
tempo e dedicação maiores ao de São Paulo.
planejamento.
Neste contexto é que os professores
passaram a recorrer com maior frequência A presente Recomendação tem por
ao uso sistemático das tecnologias, em duas objetivo elaborar normas complementares
situações: naquelas em que parte dos às diretrizes definidas pelo Conselho
estudantes frequentava presencialmente a Nacional de Educação (CNE) e, na sua
sala de aula e os outros alunos composição, apresenta pressupostos,
acompanhavam de forma síncrona a aula conceitos, princípios e diretrizes, pilares da
por meio do acesso à plataforma digital política de educação especial na perspectiva
disponível ou por meio de sequências inclusiva, consubstanciada em marco
didáticas em que parte do percurso era regulatório das esferas nacional e municipal
realizado com a mediação do professor e e em documentos nacionais e internacionais
parte com autonomia do estudante. que tratam da Educação inclusiva.
A ideia de Educação Híbrida é muito
mais ampla que a de “ensino híbrido”. A Recomendação CME n. 02/2022 traz
4 anexos:
O Ensino Híbrido deve ser pensado em
três perspectivas significativas – tempos, ANEXO I - Referencias Legais e
espaços e interações – enquanto pedagogia, Normativas.
para que não seja entendido apenas como ANEXO II - Notas históricas sobre o
abordagem movimento municipal de São Paulo que
tecnológica. Há que se pensar como esse resgatam os principais movimentos e ações
ensino híbrido abre um espaço efetivo de realizadas na cidade de São Paulo para o
interação, com foco nas aprendizagens que atendimento das pessoas com deficiência.
acontecem nos diferentes momentos, no ANEXO III - Perfil do Público-alvo da
ciclo da vida. É crucial pensar qual é o Educação Especial, com análise dos dados
Currículo que deve emergir como fonte de de todas as etapas e modalidades da
conhecimento a fim de constituir uma educação básica da rede municipal de
comunidade de aprendizagem. ensino, relativos à matrícula e trajetória
O ensino híbrido não pode ser escolar do público-alvo da educação
confundido com a atividade remota. De especial, com intersecções: idade, tipo de
acordo com Schlemmer e Moreira (2019), o deficiência, etapa da educação básica,
Ensino Remoto ou Aula Remota se ensino regular, escola especial, sexo e raça.
configura como uma modalidade de ensino ANEXO IV - Percursos e avanços das
ou aula que pressupõe o distanciamento políticas públicas de Educação Especial na
geográfico de professores e estudantes. perspectiva Inclusiva no município de São
Paulo, que retratam a trajetória da SME, nos
Caro(a) candidato(a), para ter acesso últimos 20 anos, a continuidade e o
na íntegra acesse: aperfeiçoamento das políticas que
file:///C:/Users/Nathalia/Downloads/Reco resultaram na Política Paulistana de
mendacao-CME-no-01-2022- Educação Especial na Perspectiva
Aprendizagem-Hibrida-o-Ensino-a- Inclusiva.
Educacao-os-desafios-e-as-
possibilidades.pdf.

18
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Conceito de deficiência. promoção de sua integração nas classes


Deficiência é uma questão coletiva e da comuns.
esfera pública, e é nossa obrigação prover
todas as condições que efetivamente 4- Desenvolvimento e aprendizagem de
garantam o exercício dos direitos humanos todos os estudantes.
e da justiça social. As escolas de educação regular, públicas
e privadas, devem assegurar as condições
Inclusão necessárias para o pleno acesso,
A Lei nº 13.146/2015, Lei Brasileira da participação e aprendizagem.
Inclusão, determina, no artigo 1º, que seu
principal objetivo é “assegurar e promover, 5- Avaliação.
em condições de igualdade, o exercício dos A avaliação pedagógica realizada pela
direitos e das liberdades fundamentais das unidade educacional compreende a
pessoas com deficiência, visando à sua verificação do aprendizado efetivamente
inclusão social e cidadania”. realizado pelo aluno. A avaliação nessa
perspectiva se configura num processo
Princípios e Diretrizes no atendimento dinâmico, considerando tanto o
escolar conhecimento prévio e o nível atual de
1- Acesso/ Ingresso na escola. desenvolvimento do estudante, quanto às
A Convenção sobre os Direitos das possibilidades de aprendizagem futura.
Pessoas com Deficiência, aprovada pela
ONU em 2006 e ratificada com força de 6- Acessibilidade/Tecnologia Assistiva.
Emenda Constitucional, por meio do O direito da pessoa com deficiência à
Decreto Legislativo nº186/2008 e do concessão dos recursos de tecnologia
Decreto Executivo nº 6.949/2009, assistiva está assegurado em diversos
estabelece que os Estados Partes devem dispositivos do nosso marco legal.
assegurar um sistema de educação inclusiva
em todos os níveis de ensino, em ambientes 7- Formação Docente - Inicial e
que maximizem o desenvolvimento Continuada.
acadêmico e social compatível com a meta Um dos aspectos imprescindíveis para a
da plena participação e inclusão. construção de sistemas educacionais
inclusivos é a formação continuada de
2- Vinculação da matrícula à faixa etária. todos os professores que atuam nas classes
A Portaria nº 1.035, que homologa o comuns e os professores que atuam no
Parecer CNE/CEB nº 2/2018, estabelece o atendimento educacional especializado.
corte etário para matrícula inicial na
Educação Infantil/Pré-Escola e no Ensino 8- Projeto Político Pedagógico.
Fundamental exigindo que a criança tenha A LDB estabelece, no artigo 14, que “Os
4 anos completos até o dia 31 de março do sistemas de ensino definirão as normas da
ano de sua matrícula na Pré-escola e 6 anos gestão democrática do ensino público na
completos na mesma data, no 1º ano do educação básica, de acordo com as suas
Ensino Fundamental. peculiaridades” e, assegura no inciso I -
participação dos profissionais da educação
3- Atendimento Educacional na elaboração do projeto pedagógico da
Especializado – AEE. escola”.
O acesso ao ensino regular e a oferta do
AEE, para estudantes público-alvo da
educação especial estão assegurados na
LDB como serviços de apoio
especializados para atendimentos e para a

19
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Caro(a) candidato(a), para acesso na - fortalecimento da gestão democrática e


íntegra acesse: participativa, com envolvimento das
file:///C:/Users/Nathalia/Downloads/Reco famílias.
mendacao-CME-n.02.2022-Diretrizes-
para-a-Educacao-Especial-no-Sistema- Eixos:
Municipal-de-Sao-Paulo.pdf. - Infraestrutura;
- Currículo;
- Avaliação;
Portaria n° 5930/13, de 14/10/2013 - - Formação do Educador;
Programa de Reorganização Curricular e - Gestão.
Administrativa, Ampliação e
Fortalecimento da Rede Municipal de
Ensino de São Paulo- Mais Educação São Reorganização Curricular
Paulo I - Educação Infantil:
a) Os Centros de Educação Infantil
CEIs, os Centros Municipais de Educação
Regulamenta o Decreto nº 54.452, de Infantil - CEMEIs e as Escolas Municipais
10/10/13, que institui, na Secretaria de Educação Infantil - EMEIs deverão
Municipal de Educação, o Programa de redimensionar a sua prática pedagógica
Reorganização Curricular e Administrativa, assegurando o atendimento à criança com
Ampliação e Fortalecimento da Rede base na pedagogia da infância, de modo a
Municipal de Ensino de São Paulo - Mais articular suas experiências e seus saberes
Educação São Paulo. com os conhecimentos que fazem parte do
patrimônio cultural, artístico, ambiental,
Finalidades científico e tecnológico a fim de promover
o seu desenvolvimento integral.
- ampliação do número de vagas para a b) Elaboração de uma proposta político-
educação infantil e universalização do pedagógica integradora que efetivar-se-á
atendimento para as crianças de 4 (quatro) por meio de um currículo que considere as
e 5 (cinco) anos de idade; crianças de zero a 5 (cinco) anos de idade,
- integração curricular na Educação com o compromisso de assegurar o direito
Infantil; de viver situações acolhedoras, seguras,
- promoção de melhoria da qualidade agradáveis, desafiadoras, que lhes
social na Educação Básica e, possibilitem a apropriação de diferentes
consequentemente, dos Índices de linguagens e saberes que circulam na
Desenvolvimento da Educação Básica - sociedade.
IDEB; c) Articulação com o Ensino
- ressignificação da avaliação com Fundamental, envolvendo os educadores
ênfase no seu caráter formativo para das duas etapas de ensino, por meio do
educandos e professores; planejamento de ações que ressaltem a
- alfabetização a todas as crianças até o importância da brincadeira, ludicidade,
3º ano do Ensino Fundamental nos termos expressão corporal e da imaginação como
do Pacto Nacional pela Alfabetização na elementos integrantes do currículo.
Idade Certa - PNAIC; II - Ensino Fundamental: regular e nas
- integração entre as diferentes etapas e modalidades Educação de Jovens e Adultos
modalidades da Educação Básica; - EJA e Educação Especial:
- incentivo à autonomia e valorização a) No Ensino Fundamental regular, o
das ações previstas nos Projetos Político- currículo terá duração de 9(nove) anos e
Pedagógicos das Unidades Educacionais. deverá organizar-se em 3 (três) Ciclos de
Aprendizagem e Desenvolvimento, assim
especificados:

20
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

a.1 - Ciclo de Alfabetização: valores e habilidades para leitura, escrita e


compreendendo do 1º ao 3º anos iniciais do oralidade, as múltiplas linguagens, que se
Ensino Fundamental, com a finalidade articulem entre si e com todos os
promover o sistema de escrita e de componentes curriculares, bem como, a
resolução de problemas matemáticos por solução de problemas matemáticos.
meio de atividades lúdicas integradas ao II - Etapa Básica dois semestres as
trabalho de letramento e desenvolvimento aprendizagens relacionadas à Lingua
das áreas de conhecimento, assegurando Portuguesa, à Música, a Expressão
que, ao final do Ciclo, todas as crianças Corporal e demais linguagens assim como
estejam alfabetizadas. o aprendizado da Matemática, das Ciências,
a.2 - Ciclo Interdisciplinar: da História e da Geografia devem ser
compreendendo do 4º ao 6º anos do Ensino desenvolvidos de forma articulada, tendo
Fundamental, com a finalidade de em vista a complexidade e a necessária
aproximar os diferentes ciclos por meio da continuidade do processo de alfabetização.
interdisciplinaridade e permitir uma III- Etapa Complementar dois semestres
passagem gradativa de uma para outra fase representa o momento da ação educativa
de desenvolvimento, bem como, consolidar para jovens e adultos com ênfase na
o processo de alfabetização/ letramento e de ampliação das habilidades conhecimentos e
resolução de problemas matemáticos com valores que permitam um processo mais
autonomia para a leitura e a escrita, efetivo de participação na vida social.
interagindo com diferentes gêneros textuais IV- Etapa Final dois semestres objetiva
e literários e comunicando-se com fluência enfatizar a capacidade do jovem e do adulto
e com raciocínio lógico. em intervir em seu processo de
a.3 - Ciclo Autoral: compreendendo do aprendizagem e em sua própria realidade,
7º ao 9º anos do Ensino Fundamental, com visando a melhoria da qualidade de vida e
a finalidade de promover a construção de ampliação de sua participação da
projetos curriculares comprometidos com a sociedade.
intervenção social e concretizado por meio b.1 - No Centros Integrados de Educação
do Trabalho Colaborativo de Autoria - de Jovens e Adultos - CIEJAs e na EJA
TCA, com ênfase ao desenvolvimento da organizada na forma Modular, serão
construção do conhecimento, considerando respeitadas as especificidades de cada
o domínio das diferentes linguagens, a projeto, suas matrizes curriculares,
busca da resolução de problemas, a análise adequando, no que couber, essas formas de
crítica e a estimulação dos educandos à atendimento à nova proposta de ciclos.
autoria. b.2 Nas classes do Movimento de
b) Ensino Fundamental Modalidade: Alfabetização de Adultos - MOVA e nos
Educação de Jovens e Adultos - EJA: nas Centros Municipais de Capacitação e
Unidades Educacionais que mantêm a Treinamento - CMCT, serão respeitadas as
Educação de Jovens e Adultos na forma especificidades que lhes são próprias.
regular, o currículo organizar-se-á em c) Ensino Fundamental Modalidade:
Etapas na periodicidade semestral, Educação Especial: o currículo da
conforme segue: Educação Especial nas Escolas Municipais
I- Etapa de Alfabetização – dois de Educação Bilíngue para Surdos -
semestres – objetiva a alfabetização e o EMEBSs será organizado de acordo com o
letramento como forma de expressão, previsto na alínea a, do inciso II deste
interpretação e participação social, no artigo, observadas as suas especificidades.
exercício da cidadania plena, ampliando a III- Ensino Médio:
leitura de mundo do jovem e do adulto a) No Ensino Médio, terceira etapa da
favorecendo a sua formação integral, por Educação Básica, o currículo será
meio da aquisição de conhecimentos, organizado em séries anuais com duração

21
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

de 3 (três) anos e terá como finalidade a - As aulas de Língua Inglesa serão


consolidação da formação básica do ministradas, a partir da Etapa
cidadão, capacitando-o para o exercício da Complementar, pelo professor especialista
cidadania e para o desenvolvimento de da área.
habilidades básicas para o mundo do
trabalho. Avaliação
b) Nesta etapa deverão ser aprofundados A Avaliação abrangerá as dimensões
os conhecimentos adquiridos no Ensino institucional, externa e interna e, na
Fundamental, buscando articular o Unidade Educacional, assumirá um caráter
currículo com a preparação para o trabalho formativo e comporá o processo de
e a cidadania, propiciando a formação ética, aprendizagem.
o desenvolvimento da autonomia Os conceitos/notas, síntese das
intelectual e do pensamento crítico e a avaliações dos educandos, e demais
compreensão dos fundamentos científico- informações serão registradas em Boletim
tecnológicos dos processos produtivos. emitido pela Unidade Educacional, e
Parágrafo Único - As metodologias divulgado aos pais e/ou responsáveis, na
curriculares do Ensino Médio deverão periodicidade bimestral, como forma de
contemplar o acesso às Tecnologias de compreender e acompanhar o processo de
Informação e Comunicação, suas ensino e aprendizagem dos educandos.
linguagens e as redes mundiais de Parágrafo Único: Aos educandos com
conhecimento. deficiência, Transtorno Global do
Desenvolvimento - TGD e altas
Ciclo de Alfabetização habilidades/superdotação, deverão ser
O Ciclo de Alfabetização será elaborados relatórios descritivos em todos
ministrado pelo Professor de Educação os anos do Ciclo, assegurando o
Infantil e Ensino Fundamental I. acompanhamento de seus avanços e
dificuldades pelos pais e/ou responsáveis.
Ciclo Interdisciplinar
No Ciclo Interdisciplinar, os 4ºs e 5ºs Programa Mais Educação São Paulo
anos do Ensino Fundamental serão O Programa Mais Educação São Paulo
ministrados pelo o Professor de Educação contemplará, ainda, a ampliação da jornada
Infantil e Ensino Fundamental I. diária dos educandos com os seguintes
objetivos:
EJA I- aumentar, gradativamente, o tempo de
No Ensino Fundamental Modalidade permanência dos educandos na escola, por
EJA, as aulas serão ministradas, conforme meio de ações sistematizadas no
segue: contraturno escolar, de caráter educacional
- Nas Etapas de Alfabetização e Básica: que promovam:
as aulas serão ministradas pelo Professor de a) a melhoria do processo de ensino e da
Educação Infantil e Ensino Fundamental I; aprendizagem;
- Nas Etapas Complementar e Final: as b) as relações de convívio;
aulas serão ministradas pelo Professor de c) o enriquecimento do currículo;
Ensino Fundamental II e Médio; d) a integração entre os diferentes
- As aulas de Laboratório de Informática segmentos da escola.
Educativa e de Sala de Leitura programadas II- potencializar o uso dos recursos e
para as diferentes Etapas da EJA serão espaços disponíveis ampliando os
ministradas em docência compartilhada ambientes de aprendizagem e
com o profissional de educação designado possibilitando seu acesso a educandos e
para a função; professores;

22
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

III- propiciar a recuperação paralela para - Fase 5 - Avaliação e possíveis


educandos com aproveitamento readequações.
insuficiente;
Parágrafo Único: O trabalho referido no Para acesso na íntegra,visite:
caput deste artigo será implantado no https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/
início do ano letivo com término previsto portaria-secretaria-municipal-da-
para o último dia de efetivo trabalho educacao-5930-de-15-de-outubro-de-2013
escolar.

Atividades Curriculares
Deverão integrar as atividades
curriculares desenvolvidas no contraturno
Portaria nº 8.764, de 23/12/2016 -
escolar, os programas e projetos já
Regulamenta o Decreto nº 57.379, de 13
existentes na Rede Municipal de Ensino de outubro de 2016, “Institui no Sistema
envolvendo, em especial: Municipal de Ensino a Política Paulistana
I- Laboratórios de Informática de Educação Especial, na Perspectiva da
Educativa; Educação Inclusiva.
II- Salas de Leitura;
III- Recuperação Paralela;
IV- Bandas e Fanfarras;
V- Esporte Escolar;
VI- Xadrez;
VII- Nas ondas do rádio; O Sistema Municipal de Ensino a
VIII- Aluno Monitor; Política Paulistana de Educação Especial,
IX- Especialistas dos CEUs; na perspectiva da Educação inclusiva foi
X- outros, oferecidos por diferentes criado a partir da Convenção sobre os
esferas governamentais. Direitos das Pessoas com Deficiência.

Fases Por educação especial entende-se uma


A organização das atividades modalidade de ensino não substitutiva ao
curriculares do contraturno escolar serão ensino regular, que perpassa todas as etapas
estruturadas em 5(cinco) Fases, conforme e modalidades do Sistema Municipal de
segue: Ensino.
- Fase 1 - Diagnóstico das necessidades
apontadas no Projeto Político-Pedagógico e O público-alvo da educação especial
análise dos projetos e programas já será os educandos e educandas com
implantados na Unidade Educacional bem deficiência, transtornos globais do
como as possibilidades de implantação de desenvolvimento e altas habilidades ou
novos; superdotação.
- Fase 2 - Gerenciamento das atividades
curriculares realizadas no contraturno São serviços de educação especial:
escolar e levantamento dos professores - Centro de Formação e
interessados em assumir as aulas, bem Acompanhamento à Inclusão - CEFAI;
como, a necessidade de contratação de - Salas de Recursos Multifuncionais -
especialistas das áreas envolvidas; SRM;
- Fase 3 - Planejamento das Ações com - Professores de Atendimento
definição dos projetos que terão Educacional Especializado - PAEE;
continuidade e dos que serão implantados; - Instituições Conveniadas de Educação
- Fase 4 - Execução e acompanhamento; Especial;

23
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

- Escolas Municipais de Educação II- cumprimento de 1 (uma) hora para


Bilíngue para Surdos - EMEBSs; refeição por dia, não incluída na sua jornada
- Unidades Polo de Educação Bilíngue. de trabalho;
III- direito a férias de 30 (trinta) dias,
Caro(a) candidato(a), para acesso na gozadas obrigatoriamente em período
íntegra acesse: coincidente com o das férias escolares;
https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/ IV- apresentar-se devidamente
portaria-secretaria-municipal-de- uniformizado e identificado.
educacao-8764-de-23-de-dezembro-de-
2016 Competências Diversas

Art. 3º Caberá ao Auxiliar de Vida


Portaria nº 8.824, de 30/12/2016 - Institui, Escolar AVE dentro do seu horário de
no âmbito da secretaria municipal de trabalho:
educação o “PROJETO REDE”, I - organizar sua rotina de trabalho
integrando os serviços de apoio para conforme orientações da Equipe Escolar e
educandos e educandas, público-alvo da demanda a ser atendida, de acordo com as
educação especial, nos termos do decreto funções que lhes são próprias;
nº 57.379, de 13/10/16, e dá outras II auxiliar na locomoção dos educandos
providências. e educandas nos diferentes ambientes onde
se desenvolvem as atividades comuns a
todos nos casos em que o auxílio seja
Serviços de suporte técnico necessário;
Os serviços de suporte técnico de apoio III auxiliar nos momentos de higiene,
intensivo e integrantes do Projeto Rede troca de vestuário e/ou fraldas/ absorventes,
serão prestados por profissional higiene bucal em todas as atividades,
denominado Auxiliar de Vida Escolar inclusive em reposição de aulas ou outras
AVE, supervisionado pelo Supervisor organizadas pela U.E., nos diferentes
Técnico, contratados pela Associação tempos e espaços educativos, quando
Paulista para o Desenvolvimento da necessário;
Medicina SPDM - por meio de celebração IV - acompanhar e auxiliar, se
de Convênio com a Secretaria Municipal de necessário, os educandos e educandas no
Educação especialmente para esse fim. horário de refeição;
V- executar procedimentos, dentro das
Cada Auxiliar de Vida Escolar AVE - determinações legais, que não exijam a
deverá, atender de 02 (dois) a 06 (seis) infraestrutura e materiais de ambiente
educandos e educandas por turno de hospitalar, devidamente orientados pelos
funcionamento, observadas as profissionais da instituição conveniada a
especificidades do público-alvo da SME, responsável pela sua contratação;
Educação Especial elegível para este apoio VI - utilizar luvas descartáveis para os
e as características da Unidade procedimentos de higiene e outros
Educacional. indicados, quando necessário, e descartá-
las após o uso, em local adequado;
Trabalho do AVE VII - administrar medicamentos para o
O trabalho do AVE será organizado na educando ou educanda, mediante a
seguinte conformidade: solicitação da família ou dos responsáveis,
I- jornada de trabalho de 8 (oito) horas com a apresentação da cópia da prescrição
diárias, de segunda a sexta-feira, cumprida médica, e autorização da Equipe Gestora da
em horário a ser estabelecido pela SPDM; UE;

24
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

VIII - dar assistência às questões de educando e educanda que recebe seus


mobilidade nos diferentes espaços cuidados e a U.E. onde atua.
educativos: transferência da cadeira de
rodas para outros mobiliários e/ou espaços Art. 4º - Caberá ao Supervisor Técnico
e cuidados quanto ao posicionamento contratado pela SPDM:
adequado às condições do educando e I - apresentar-se à direção da U.E
educanda; devidamente uniformizado e identificado;
IX - auxiliar e acompanhar o educando II - supervisionar tecnicamente a atuação
ou educanda com Transtorno Global do dos AVEs e relatar anomalias à
Desenvolvimento TGD - que não possui Coordenação Técnica;
autonomia, para que este se organize e III - oferecer suporte e orientações
participe efetivamente das atividades técnicas às equipes escolares e pais, sobre
educacionais com seu as respectivas áreas de atuação (Fisioterapia
agrupamento/turma/classe, somente nos e Terapia Ocupacional), a fim de sanar as
casos em que for identificada a necessidade situações adversas inerentes ao processo de
de apoio; inclusão;
X - realizar atividades de apoio a outros IV - analisar os relatórios da Rotina
estudantes, sem se desviar das suas funções Diária dos Alunos, realizados pelo AVE;
e desde que atendidas as necessidades dos V - realizar avaliação funcional na U.E.
educandos e educandas pelas quais o em que o educando ou educanda são
serviço foi indicado; atendidos pelo AVE, mediante autorização
XI - comunicar à direção da Unidade da família, formalizada por meio do
Educacional, em tempo hábil, a necessidade preenchimento de Termo de
de aquisição de materiais para higiene do Consentimento;
educando ou educanda; VI - realizar avaliação funcional o
XII - reconhecer as situações que educando ou educanda que não são
ofereçam risco à saúde e bem estar do atendidos pelo AVE, mediante solicitação
educando ou educanda, bem como outras da DRE/ CEFAI e autorização da família,
que necessitem de intervenção externa ao formalizada pelo preenchimento de Termo
âmbito escolar tais como: socorro médico, de Consentimento;
maus tratos, entre outros e comunicar a VII - realizar a prescrição de tecnologia
equipe gestora para as providências assistiva, materiais específicos e
cabíveis; mobiliários, quando necessário;
XIII preencher a Ficha de Rotina Diária, VIII - informar a DRE/ CEFAI casos de
registrando o atendimento e ocorrências e necessidade de AVE para educandos ou
encaminhar à Equipe Gestora para arquivo educandas identificados durante as visitas;
mensal no prontuário dos educandos e IX - ministrar aulas nos cursos de
educandas; capacitação;
XIV - comunicar ao Supervisor X - participar da elaboração do material
Técnico/Coordenação dos Serviços de escrito informativo.
Apoio e a Equipe Gestora da Unidade
Educacional, os problemas relacionados ao Art. 5º - Os profissionais do Núcleo
desempenho de suas funções; Multidisciplinar, vinculado a SPDM e
XV - receber do Supervisor Técnico, dos integrante do Núcleo de Apoio e
profissionais da U.E., e do CEFAI as Acompanhamento para a Aprendizagem
orientações pertinentes ao atendimento dos NAAPA, deverão realizar suas funções em
educandos e educandas; conformidade com a Portaria SME nº
XVI - assinar o termo de sigilo, a fim de 6.566/14.
preservar as informações referentes ao

25
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Art. 6º - Caberá à Unidade Educacional: creme hidratante, papel toalha, fio dental,
I - formalizar a solicitação do AVE, via sabonete líquido, enxaguatório bucal,
e-mail, para a DRE/CEFAI quando absorvente feminino, fraldas descartáveis,
caracterizado que o educando ou educanda sondas, se necessário, sendo obrigatório o
são públicos-alvo para este atendimento; uso de iodo ou solução antisséptica, luva
II - imprimir, mensalmente, folhas de estéril e xilocaína e pomada para o
frequência do AVE, conforme modelo procedimento.
encaminhado pelo CEFAI, observando-se o § 1º - Nas folhas de frequência referidas
mês de competência; nos incisos III e VIII deste artigo, deverão
III - garantir o registro da frequência do ser registrados os horários reais dos
AVE e a fidedignidade do registro, sem profissionais especificando, inclusive, os
emendas ou rasuras, mediante minutos.
preenchimento do horário de entrada/saída § 2º - Fica vedada a dispensa do ponto
e refeições, bem como outras ocorrências, do dia, assim como permitir alterações de
tais como: atrasos, saídas antecipadas, horário fora daquele estabelecido pela
faltas, férias, reposições, licenças e outros SPDM.
afastamentos, anexando os documentos § 3º - Na hipótese de descumprimento do
comprobatórios referentes aos disposto no inciso IV deste artigo, será de
afastamentos; responsabilidade do Diretor de Escola a
IV - encaminhar a folha de frequência entrega da folha de frequência diretamente
original do AVE ao CEFAI, no 1º dia útil na SME/COPED/DIEE, até o 3º dia útil do
do mês subsequente, contendo o carimbo da mês subsequente.
Unidade Educacional e assinatura e § 4º - Os materiais indicados no inciso X
carimbo do Diretor de Escola; deste artigo deverão ser requisitados às
V - arquivar cópia das Folhas de DREs ou adquiridos com verbas próprias da
Frequência e dos comprovantes de Unidade Educacional.
afastamento ou saída antecipada na
Unidade Educacional; Art. 7º - Caberá a Diretoria Regional de
VI - comunicar, via e-mail, à Educação por intermédio do CEFAI:
DRE/CEFAI, quando ocorrerem 2 faltas I - encaminhar formulário padronizado
consecutivas do AVE, no prazo de 72 de solicitação do Auxiliar de Vida Escolar -
horas; AVE para SME/COPED/DIEE, após
VII - solicitar alteração de horário do avaliação positiva da necessidade do
AVE, quando necessário, visando ao pleno profissional solicitado pela Unidade
atendimento do educando ou educanda, via Educacional;
e-mail, para a DRE/ CEFAI e aguardar II - encaminhar a solicitação de alteração
autorização; de horário do AVE, enviada pela U.E. para
VIII - atestar frequência do Supervisor a SME/COPED/DIEE com cópia para a
Técnico, registrando o horário de entrada e SPDM a qual deverá visar, sempre, o
saída em cada visita; atendimento ao educando ou educanda;
IX formalizar, por e-mail, solicitação de III - encaminhar todas as FFI à
visita do Supervisor Técnico para indicação SME/COPED/DIEE, via memorando,
de tecnologia assistiva, materiais organizadas em um único número de TID,
específicos e mobiliários para a ratificando a frequência atestada pela
DRE/CEFAI, no caso de educando ou Unidade Educacional;
educanda que não são atendidos pelos IV - agendar junto à Coordenação
serviços de suporte técnico e apoio Técnica da SPDM, via e-mail, com cópia
Intensivo; para SME/COPED/DIEE, a visita do
X - disponibilizar os seguintes materiais: Supervisor Técnico na U.E. que não possui
luvas descartáveis, lenços umedecidos, educando ou educanda atendidos pelos

26
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

serviços de suporte técnico e Apoio nas Unidades Escolares da Rede Municipal


Intensivo, para avaliação funcional e/ou de Ensino;
para indicação de tecnologia assistiva, - da implementação do Ensino Médio,
materiais específicos e mobiliários; conforme Resolução CME 02/2021 de
V- assinar e carimbar a Folha de 09/09/2021, que estabelece diretrizes para
Frequência dos profissionais do Núcleo implementação do Novo Ensino Médio;
Multidisciplinar, registrando o horário de
entrada e saída dos mesmos. 2. a legislação e normas municipais que
Parágrafo Único Para a alteração de tratam de Regimento Educacional, em
horário referida no inciso II deste artigo o especial:
Auxiliar de Vida Escolar deverá aguardar - o Decreto nº 54.452, de 2013, que
autorização expressa da SPDM. institui, na Secretaria Municipal de
Educação, o Programa de Reorganização
Art. 8º - Os casos omissos ou Curricular e Administrativa, Ampliação e
excepcionais serão resolvidos pela Fortalecimento da Rede Municipal de
Diretoria Regional de Educação em Ensino – “Mais Educação São Paulo” e a
conjunto com a SPDM, ouvida a Secretaria Portaria SME 5.930/13 que o regulamenta;
Municipal de Educação COPED/DIEE. - o Decreto nº 54.454, de 2013, que fixa
diretrizes gerais para a elaboração dos
Art. 9º - Esta Portaria entrará em vigor Regimentos Educacionais das Unidades
na data de sua publicação, revogadas as integrantes da Rede Municipal de Ensino,
disposições em contrário, em especial, a bem como delega competência ao
Portaria SME nº 5.594, de 28/11/11. Secretário Municipal de Educação para o
estabelecimento das normas gerais e
complementares que especifica e a Portaria
Instrução Normativa SME nº 18, de SME 5941/13 que o regulamenta.
18/04/2022 - Dispõe sobre a alteração do
regimento educacional das unidades:
3. as Normas da Secretaria Municipal de
EMEF, EMEFM, CIEJA E EMEBS da
rede municipal de ensino. Educação que abordam os temas
relacionados ao Regimento Educacional:
- a Instrução Normativa SME nº 16, de
Dispõe sobre a alteração do Regimento 2021, que dispõe sobre normas gerais do
Educacional das Unidades: EMEF, Regime Escolar dos estudantes da
EMEFM, CIEJA e EMEBS da Rede Educação Infantil, do Ensino Fundamental
Municipal de Ensino. e Médio, da Educação de Jovens e Adultos
e da Educação Profissional da Rede
O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE Municipal de Ensino, e dá outras
EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições e, providências;
- a Instrução Normativa SME nº 50, de
CONSIDERANDO: 2021, que institui os Projetos de
1. a necessidade de alterações do Fortalecimento das Aprendizagens e
Regimento Educacional das Unidades reorganiza o Projeto de Apoio Pedagógico -
EMEF, EMEFM, CIEJA e EMEBS da PAP, destinados aos estudantes da Rede
Rede Municipal de Ensino a partir: Municipal de Ensino,
- da impossibilidade de retenção em anos
intermediários dos ciclos do ensino RESOLVE:
fundamental, conforme Resolução CME
03/2021, de 16/09/2021, que dispõe sobre Art. 1º O Regimento Educacional de
procedimentos de Flexibilização Curricular Escola Municipal de Ensino Fundamental
(EMEF); Escola Municipal de Ensino

27
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Fundamental e Médio (EMEFM); os Parágrafo único. Além do contido no


Centros Integrados de Educação de Jovens caput, na alteração do Regimento
e Adultos (CIEJA); as Escolas Municipais Educacional das EMEFMs deverá constar:
de Educação Bilíngue para Surdos I – a carga horária total mínima de 3.000
(EMEBS), com fundamento na Resolução horas;
CME nº 04/21, deverá ser alterado II – a carga horária máxima da Formação
conforme disposições da presente Instrução Geral da BNCC de 1.800 horas;
Normativa. III – os Itinerários Formativos das áreas
de conhecimento e/ou profissionalizantes;
Art. 2º A alteração regimental de que IV – os Componentes das áreas de
trata a presente Instrução Normativa, conhecimento e dos itinerários
excepcionalmente, passa a vigorar a partir profissionalizantes na forma híbrida sob a
de 2022. responsabilidade e o acompanhamento de
Parágrafo único. A alteração regimental docente habilitado.
deverá ser avaliada, aprovada, homologada
e publicada pela Diretoria Regional de Art. 5º Mediante a aprovação do
Educação até o final do 1º semestre de Conselho de Escola, a alteração regimental
2022. será encaminhada para
manifestação/parecer do Supervisor
Art. 3º Observadas, a avaliação do Escolar e na sequência:
processo educativo em todo o período I – para homologação do Diretor
letivo e a frequência mínima exigida pela Regional de Educação, quando se tratar de
LDB nº 9.394/96, a promoção ou retenção Unidades Educacionais de Ensino
do estudante no Ensino Fundamental e Fundamental – Regular e EJA e Bilíngue
Médio deverá ocorrer: para Surdos.
I – no último ano de cada Ciclo: II – para a Secretaria Municipal de
Alfabetização, Interdisciplinar e Autoral; Educação, quando se tratar de Unidades
II – no segundo semestre da Etapa da Educacionais de Ensino Fundamental que
EJA: Alfabetização; mantêm propostas curriculares
III – em cada semestre das Etapas da diferenciadas; de Ensino Médio e, de
EJA: Básica, Complementar e Final; Educação Profissional Técnica de Nível
IV – em cada Série do Ensino Médio. Médio.
§1º Nos anos que compõem os três Parágrafo único. O Regimento
Ciclos: Alfabetização, Interdisciplinar e Educacional das U.Es mencionadas no
Autoral, o estudante terá continuidade de inciso II deverá ser encaminhado, na
sua trajetória escolar, independentemente integra, para SME/COPED;
do resultado obtido nas avaliações, desde
que, cumprida a frequência mínima exigida. Art. 6º No âmbito da SME/COPED os
§2º A decisão sobre retenção ou Regimentos Educacionais serão assim
promoção ocorrerá ao término de cada analisados:
Ciclo e considerará o desempenho global I. Pela COPED/NTC, no que concerne à
do estudante no decorrer de todos os proposta pedagógica e organização
períodos letivos. curricular do Ensino Médio e Educação
Profissional Técnica de Nível Médio;
Art. 4º As determinações constantes na II. Pela COPED/DIEFEM, no que
presente Instrução Normativa para as concerne à proposta pedagógica de unidade
EMEFs, poderão ser aplicadas, no que educacional que mantém organização
couber, às Unidades Educacionais com curricular diferenciada.
Ensino Médio. Parágrafo único. Na sequência caberá a
SME/COPED o encaminhamento do

28
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Regimento Educacional a SME/Gabinete - Centros de Educação Infantil - CEIs;


para as providências de remessa para - Centros Municipais de Educação
apreciação e deliberação do Conselho Infantil - CEMEIs;
Municipal de Educação, conforme norma - Escolas Municipais de Educação
vigente. Infantil - EMEIs;
- Escolas Municipais de Ensino
Art. 7º Caberá ao Supervisor Escolar Fundamental - EMEFs;
diligenciar junto às Unidades Educacionais - Escolas Municipais de Ensino
orientando e acompanhando o processo de Fundamental e Médio - EMEFMs;
alteração regimental, bem como, quanto ao - Escolas Municipais de Educação
cumprimento dos prazos de entrega do Bilíngue para Surdos - EMEBSs;
referido documento. - Centros Integrados de Educação de
Jovens e Adultos - CIEJAs;
Art. 8º Havendo a necessidade de - Unidades de Educação Infantil
alterações complementares poderão ser parceiras e indiretas.
construídas pela Equipe Educacional e,
após a aprovação pelo Conselho de Escola, O “Projeto Formação da Cidade” tem
passarão a vigorar a partir de 2023. como finalidades principais:
- fortalecer os espaços de formação
Art. 9º Esta Instrução Normativa entra continuada das Unidades Educacionais, por
em vigor na data de sua publicação, meio de ações específicas voltadas para o
revogando disposições em contrário, em processo de ensino e aprendizagem,
especial o parágrafo 6º do artigo 15 da recuperação, eliminação de barreiras para a
Portaria SME nº 5.930, de 2013, e os artigos aprendizagem e recursos de acessibilidade,
96 e 97 do Anexo Único da Portaria SME enfrentamento do abandono e outras formas
nº 5.941 de 2013. de exclusão educacional;
- consolidar a atuação do Coordenador
Pedagógico como agente formador dos
Instrução Normativa SME nº 12, de
24/02/2022 - Institui no âmbito da professores;
Secretaria Municipal de Educação o - consolidar os processos de formação
projeto Formação da Cidade, destinado continuada de professores em horários
aos docentes e coordenadores pedagógicos coletivos na Unidade Educacional;
das unidades educacionais diretas, - integrar os profissionais da educação
indiretas e parceiras da rede municipal de que atuam nas Unidades Educacionais e
ensino e dá outras providências. órgãos regionais e centrais da SME;
- fortalecer as aprendizagens dos
estudantes devido à pandemia;
A presente Instrução Normativa tem
- implementar o Currículo da Cidade e
como finalidade instituir o Projeto
todos os documentos que o integram,
Formação da Cidade destinado aos
incluindo a Priorização Curricular.
Docentes e Coordenadores Pedagógicos
nas unidades educacionais diretas, indiretas
O mencionado projeto realizar-se-á, com
e parceiras da Rede Municipal de Ensino,
exclusividade, nas horas adicionais que
nos termos da presente Instrução
compõem a Jornada Especial Integral de
Normativa.
Formação – JEIF e horas de trabalho
O “Projeto Formação da Cidade”
coletivo da Jornada Básica de 30 horas
realizar-se-á, exclusivamente, nos horários
reservadas aos docentes que estarão
coletivos, e nos horários destinados à
organizados em agrupamentos
formação continuada nas Unidades
denominados “Grupos de Percurso
Educacionais:
Formativo”.

29
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Outrossim, os profissionais em exercício 5. no componente de Língua Brasileira


nos Centros de Educação Infantil parceiros de Sinais - LIBRAS.
participarão do Projeto nos horários de c) Grupos de Professores ocupantes de
formação continuada. Funções Docentes que atuam como:
Importante mencionar que os “Grupos 1. Professor Orientador de Sala de
de Percurso Formativo” serão constituídos Leitura – POSL (Professor Orientador de
por agrupamentos de docentes e Sala de Leitura);
Coordenadores Pedagógicos, que se 2. Professor Orientador de Educação
reunirão por meio de plataforma virtual, Digital – POED (Professor Orientador de
que, por afinidade de Educação Digital);
área/componente/atuação, participarão de 3. Professores de Apoio e
um conjunto de atividades planejadas com Acompanhamento à Inclusão – PAAI
vistas a alcançar as finalidades da (Professor de Apoio e Acompanhamento à
Formação da Cidade e serão constituídos Inclusão);
conforme segue: 4. Professores de Atendimento
- Nas Unidades Educacionais de Educacional Especializado – PAEE
Educação Infantil: (Professor de Atendimento Educacional
a) Professores de Educação Infantil e Especializado);
Ensino Fundamental I 5. Professores de Apoio Pedagógico –
b) Professores de Educação Infantil PAP (Projeto de Apoio Pedagógico).
d) Grupo de Coordenadores
- Nas Escolas Municipais de Ensino Pedagógicos
Fundamental – EMEFs, Escolas Municipais
de Ensino Fundamental e Médio – Assim, estudamos os pontos principais
EMEFMs, Escolas Municipais Educação constantes dessa Instrução Normativa.
Bilíngue para Surdos – EMEBSs e Centros Caso entenda necessário ter acesso a
Integrados de Educação de Jovens e íntegra da Instrução Normativa, acessar o
Adultos – CIEJAs, link abaixo:
a) Professores de Educação Infantil e https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/l
Ensino Fundamental I, que atuam: eis/instrucao-normativa-secretaria-
1. no Ciclo de Alfabetização; municipal-de-educacao-sme-12-de-24-de-
2. nos 4º e 5º anos do Ciclo fevereiro-de-2022
Interdisciplinar;
3. nas Etapas/ Módulos de Alfabetização
e Básica da EJA e do CIEJA. Instrução Normativa SME nº 20, de
b) Grupos de Professores de Ensino 26/06/2020 - Estabelece procedimentos
Fundamental II e Médio que atuam: para comunicar ao conselho tutelar, vara
1. nos 6º anos do Ciclo Interdisciplinar, da infância e juventude os casos de
suspeita ou confirmação de violência aos
Ciclo Autoral e Etapas Complementar e
bebês, crianças e adolescentes
Final da modalidade EJA, por componente matriculados na rede municipal de ensino.
curricular;
2. nas séries do Ensino Médio, por área
do conhecimento;
A Instrução Normativa SME 20/2020,
3. nas Etapas/ Módulos Complementar e
tem como finalidade estabelecer
Final da EJA (Educação de Jovens e
procedimentos para comunicação ao
Adultos), do CIEJA (Centro Integrado de
Conselho Tutelar, Vara da Infância e
Educação de Jovens e Adultos) e da EJA
Juventude os casos de suspeita ou
Modular, por área do conhecimento.
confirmação de violência aos bebês,
4. no componente de Língua Portuguesa
crianças e adolescentes matriculados nas
para Surdos;

30
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Unidades Educacionais da Rede Direta e - Acolher a vítima, resguardando-a e


Rede Parceira. protegendo-a de sofrimento, de forma que
Para os efeitos desta Instrução receba tratamento digno;
Normativa considera-se: - Interagir com a vítima de modo a
- bebê: do nascimento até 2 (dois) anos assegurar a manutenção da sua confiança, a
de idade, confiabilidade dos dados obtidos;
- criança: entre 2 (dois) anos e 12(doze) - Proporcionar espaço adequado e tempo
anos incompletos e, para que a vítima exponha suas ideias;
- adolescente: entre 12 (doze) anos e 18 - Buscar formas de esclarecer as
(dezoito) anos incompletos. eventuais dúvidas suscitadas pela vítima;
- Assegurar condições para a
Caberá à Chefia Imediata da Unidade comunicação da criança e do adolescente
Educacional comunicar ao Conselho com deficiência, transtornos globais do
Tutelar casos de suspeita ou confirmação de desenvolvimento, altas
caso de violência, por meio de “Termo de habilidades/superdotação;
Notificação”, na conformidade do Anexo - Preservar, em consonância com a
Único, parte integrante desta Instrução legislação vigente, a identidade social,
Normativa. cultural, costumes e tradições, quando se
tratar de imigrantes ou povos pertencentes
Os funcionários da UE devem relatar, à a comunidades tradicionais.
chefia, os casos de suspeita ou confirmação Por fim, importante lembrar que as
de violência, imediatamente após tomarem chefias imediatas deverão dar ciência
conhecimento do fato, sob pena de infração expressa da presente Instrução Normativa a
administrativa sujeita à multa nos termos do todos os servidores da Unidade
artigo 245 da Lei federal nº 8.069, de 1990. Educacional.

A comunicação de que trata o caput deve Dessa forma, estudamos os pontos


ser mantida em sigilo com o intuito de principais e as inovações constantes dessa
preservar a intimidade e o interesse social, Instrução Normativa. Caso entenda
ficando a UE responsável por: necessário ter acesso a íntegra da Instrução
- comunicar as notificações ao Núcleo de Normativa, acessar o link abaixo:
Apoio e Acompanhamento para a http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/in
Aprendizagem - NAAPA; strucao-normativa-secretaria-municipal-
- acompanhar o andamento do caso junto de-educacao-sme-20-de-26-de-junho-de-
ao Conselho Tutelar; 2020
- informar os serviços de saúde e de
assistência social da região;
- manter o devido sigilo em relação aos Instrução Normativa SME nº 50, de
procedimentos de notificação não 09/12/2021 - Institui os projetos de
fortalecimento das aprendizagens e
compartilhando, com a família ou
reorganiza o projeto de apoio pedagógico
responsável pela possível vítima, as – PAP.
suspeitas da situação de violência.

A comunicação ao Conselho Tutelar não Estudaremos nesse momento a Instrução


está condicionada ao registro de Boletim de
Normativa SME nº 50 de 2021 que institui
Ocorrência.
os projetos de fortalecimento das
Na hipótese de revelação espontânea de
violência, o servidor envolvido deverá, aprendizagens e reorganiza o projeto de
mediante conhecimento da Chefia apoio pedagógico - PAP, destinados aos
Imediata: estudantes da rede municipal de ensino.

31
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

A Equipe Gestora de acordo com o contido As aulas mencionadas no artigo anterior


no Currículo da Cidade e os Princípios e serão atribuídas, prioritariamente, aos
Diretrizes Pedagógicos desta Instrução Professores de Ensino Fundamental II e
Normativa oportunizará aos estudantes com Médio, a título de JOP (Jornada de
dificuldades constatadas nos diagnósticos Trabalho/Opção) ou JEX (Jornada Especial
de aprendizagem, os seguintes Projetos: de Hora Aula Excedente - com aluno),
- Projeto de Fortalecimento das conforme segue:
Aprendizagens no Ciclo de Alfabetização; - Nas UEs não participantes do
- Projeto de Fortalecimento das Programa São Paulo Integral: 2ª Etapa do
Aprendizagens no Ciclo Interdisciplinar; Processo Inicial de Escolha/ Atribuição,
- Projeto de Fortalecimento das constante no Anexo I, da IN SME nº 47, de
Aprendizagens no Ciclo Autoral; 2021;
- Projeto de Apoio Pedagógico - - Nas UEs que participam do Programa
Recuperação de Aprendizagens; São Paulo Integral: nos termos do artigo 21
- Projeto de Recuperação Contínua das da IN SME nº 40, de 2019;
Aprendizagens no Ensino Médio e Curso - Na DRE: na 2ª Etapa do Processo
Normal de nível médio. Inicial de Escolha/ Atribuição, constante no
As principais novidades desta instrução Anexo X, da IN SME nº 47, de 2021;
normativa são as seguintes:
As Unidades Educacionais de Ensino O saldo de aulas, disponível ou vago,
Fundamental e Ensino Fundamental e deverá ser informado à DRE e comporá o
Médio deverão formar turmas de saldo das fases da DRE de
Recuperação Paralela considerando o escolha/atribuição.
número total de turmas do Ciclo Autoral em
funcionamento e conforme segue: Finalizado o Processo Inicial de
a) UEs com até 6 (seis) turmas do Ciclo Escolha/ Atribuição, as aulas
Autoral formação de 3 (três) turmas de remanescentes serão ofertadas, no âmbito
Recuperação Paralela; da Unidade Educacional, a título de JEX,
b) UEs com 7 (sete) ou 8 (oito) turmas aos Professores de Educação Infantil e
do Ciclo Autoral formação de até 4 (quatro) Ensino Fundamental I, com aulas atribuídas
turmas de Recuperação Paralela; ou em vaga no módulo sem regência.
c) UEs com 9 (nove) ou mais turmas do
Ciclo Autoral formação de até 5 (cinco) Dessa forma, estudamos os pontos
turmas de Recuperação Paralela. principais e as inovações constantes dessa
Instrução Normativa. Caso entenda
Excetuam-se do disposto no “caput” as necessário ter acesso a íntegra da Instrução
Escolas Municipais de Educação Bilíngue Normativa, acessar o link abaixo:
para Surdos - EMEBSs. https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/i
nstrucao-normativa-secretaria-municipal-
As UEs integrantes do Programa São de-educacao-sme-50-de-9-de-dezembro-
Paulo Integral – SPI, em razão das de-2021
condições específicas de tempo e espaço,
poderão ofertar aos estudantes número
diferenciado de turmas de recuperação,
observado o limite estabelecido nas alíneas
“a”, “b” e “c”.

32
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

- até 2 (duas) horas-aula para docência


Instrução Normativa SME nº 51, de compartilhada no 4º e/ou 5º anos do Ciclo
10/12/2021 - Dispõe sobre a Organização
Interdisciplinar;
das Salas de Leitura, Espaços de Leitura e
Núcleos de Leitura e dá outras - até 2 (duas) horas-aulas de Trabalho
providências. Colaborativo de Autoria – TCA1.

As aulas destinadas à articulação do


O objetivo desta Instrução Normativa é Trabalho Colaborativo de Autoria – TCA,
organizar o atendimento aos estudantes nas serão ministradas em docência
Salas de Leitura, Espaços de Leitura e 2
compartilhada entre o POSL e um dos
Núcleos de Leitura, das Escolas Municipais docentes da turma.
de Ensino Fundamental - EMEFs, Escolas
Municipais de Ensino Fundamental e Os POSLs serão responsáveis pelo
Médio - EMEFMs e Escolas Municipais de desenvolvimento, acompanhamento e
Educação Bilíngue para Surdos - EMEBSs desdobramentos do projeto, bem como, dos
da Rede Municipal de Ensino, oferecendo registros das atividades no SGP3.
atendimento aos estudantes de todas as
turmas das Escolas Municipais de Ensino Os regentes da turma serão os
Fundamental – EMEFs, Escolas Municipais responsáveis pelos registros de frequência
de Ensino Fundamental e Médio - realizados no SGP.
EMEFMs e Escolas Municipais de
Educação Bilíngue para Surdos - EMEBSs; Preferencialmente, o POSL (Professor
despertando nos estudantes o interesse pela Orientador de Sala de Leitura) e o POED
leitura literária, por meio da vivência de (Professor Orientador de Educação Digital)
diversas situações nas quais seu uso se faça não deverão atuar como docentes nas
necessário, e pela interação com materiais mesmas turmas de TCA (Trabalho
publicados dos mais diversos gêneros Colaborativo de Autoria).
literários e suportes, potencializando o
desenvolvimento do comportamento leitor As aulas destinadas ao Projeto de
e, por fim, promovendo o acesso à produção Articulação e Promoção de Leitura
literária sem qualquer hierarquização. Literária, inciso II do artigo 19, ministradas
As últimas novidades desta Instrução no contraturno dos estudantes, destinar-se-
são que assegurada a atribuição de todas as ão para o desenvolvimento de projetos
aulas mencionadas nos artigos 6º e 17 desta como da Academia Estudantil de Letras,
IN, para fins de composição da Jornada Clube de Leitura, Jovens Mediadores de
Básica Docente - JBD ou Jornada Especial Leitura.
Integral de Formação - JEIF, serão
atribuídas na ordem: As aulas mencionadas no inciso III do
- até 2 (duas) horas-aula para art. 19, referentes ao 4º e/ou 5º anos, do
organização do espaço, pesquisa, leitura do Ciclo Interdisciplinar, serão ministrada em
acervo, planejamento e execução de leituras docência compartilhada com o regente da
simultâneas; turma e destinam-se ao desenvolvimento de
- até 6 (seis) horas-aula de Projeto de projetos de promoção da leitura literária e
Articulação e Promoção de Leitura integram a grade Programas Especiais –
Literária; Projeto Interdisciplinar.

1 3
TCA: Trabalho Colaborativo de Autoria. SGP: Sistema de Gestão Pedagógica.
2
POSL: Professor Orientador de Sala de Leitura.

33
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Os POSLs serão responsáveis pelo Por fim, excepcionalmente, em 2022, as


desenvolvimento, acompanhamento e Unidades Educacionais deverão
desdobramentos do projeto, bem como, dos encaminhar no Plano de Trabalho dos
registros das atividades no SGP. POSL as ações específicas que serão
realizadas objetivando a celebração dos 50
Os regentes da turma serão os anos da Sala e Espaço de Leitura na Rede
responsáveis pelos registros de frequência Municipal de Ensino de São Paulo.
realizados no SGP.
Dessa forma, estudamos os pontos
Outrossim, as diretrizes das ações principais e as inovações constantes dessa
pedagógicas desenvolvidas nas Salas e Instrução Normativa. Caso entenda
Espaços de Leituras são: necessário ter acesso a íntegra da Instrução
- a literatura como direito inalienável do Normativa, acessar o link abaixo:
ser humano e como fonte das várias leituras https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/le
da realidade e do próprio desenvolvimento is/instrucao-normativa-secretaria-
da história e das culturas; municipal-de-educacao-sme-51-de-10-de-
- a leitura do mundo precedente à leitura dezembro-de-2021
da palavra, entendendo que a leitura
começa antes do contato com o texto e vai
para além dele; Instrução Normativa SME Nº 26, DE
- a garantia da bibliodiversidade de 10/08/2022 - Reorienta o Programa “SÃO
forma a atender toda a comunidade PAULO INTEGRAL – SPI” nas escolas
Municipais de Educação Infantil- EMEIs,
educativa, tornando propício o trabalho CENTROS MUNICIPAIS DE
com a leitura e possibilitando ao leitor EDUCAÇÃO INFANTIL – CEMEIs,
novas perspectivas sobre si, o outro e o Escolas Municipais de Ensino
mundo; Fundamental - EMEFs, Escolas
- o Currículo da Cidade como base para Municipais de Ensino Fundamental e
a consecução de três conceitos orientadores Médio - EMEFMs e nos Centros
Unificados - CEUs da Rede Municipal de
que o fundamentam: educação integral, Ensino e dá outras providências.
equidade e educação inclusiva, tendo a
dialogicidade como norteadora do trabalho
pedagógico e a leitura como um processo de
O Programa São Paulo Integral - SPI,
compreensão mais abrangente da realidade;
tem como objetivo principal a promoção de
- a leitura literária como aquela que experiências pedagógicas visando à
promove aprendizagens múltiplas e permite consecução da educação integral por meio
a interlocução com a Matriz de Saberes do da expansão do tempo de permanência dos
Currículo da Cidade; estudantes na escola de forma qualificada, a
- a leitura literária como atividade ressignificação dos espaços e do currículo,
principal das interações entre docentes, garantindo o direito de acesso aos
bebês, crianças e estudantes; territórios educativos na escola e para além
- a promoção do contato qualificado com dela, numa perspectiva de formação e
o livro, independentemente de seu formato, desenvolvimento integral, contemplando as
como objeto simbólico de nossa sociedade aprendizagens multidimensionais e a
que suporta o texto literário em seus mais integralidade dos sujeitos, fica reorientado
diversos gêneros, estilos e aspectos gráfico- na conformidade desta Instrução
editoriais. Normativa, com fundamentação nas
seguintes diretrizes gerais e pedagógicas:

34
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

Diretrizes Gerais: g) a expansão qualificada do tempo de


a) o território educativo em que os aprendizagem como possibilidade de
diferentes espaços, tempos e sujeitos, superar a fragmentação curricular e a lógica
compreendidos como agentes pedagógicos, educativa demarcada por espaços físicos e
podem assumir intencionalidade educativa tempos rígidos, na perspectiva da garantia
e favorecer o processo de formação das da aprendizagem multidimensional dos
crianças e adolescentes para além da escola, estudantes;
potencializando a Educação Integral e
integrando os diferentes saberes, as h) a intersetorialidade das políticas
famílias, a comunidade, a vizinhança, o sociais e educacionais como interlocução
bairro e a cidade; configurando-se, assim, a necessária à corresponsabilidade na
Cidade de São Paulo como Cidade formação integral, fomentado o
Educadora; protagonismo de crianças, adolescentes e
seus educadores;
b) a educação como propulsora da
democracia, possibilitando às crianças e aos i) integrar a Proposta Pedagógica das
adolescentes a compreensão da sociedade e UEs assegurando o direito ao convívio das
a participação nas decisões que afetam os crianças e dos adolescentes em ambientes
lugares onde vivem e por onde transitam; acolhedores, seguros, agradáveis,
desafiadores, que possibilitem a
c) o diálogo como estratégia na apropriação de diferentes linguagens e
implementação de políticas socioculturais saberes que circulam na sociedade e
que reconhecem as diferenças, promove a considerem o Atendimento Educacional
equidade e cria ambientes colaborativos Especializado, sempre que necessário;
que consideram a diversidade dos sujeitos,
da comunidade escolar e de seu entorno; j) fomentar a intersetorialidade
consolidando, nos territórios, o diálogo
d) a autonomia das Unidades permanente e ações conjuntas com as
Educacionais com responsabilidade Secretarias de Cultura, Esporte, Assistência
coletiva, favorecendo a criatividade e as Social, Saúde, Verde e Meio Ambiente,
diferentes aprendizagens, na diversidade Direitos Humanos e Cidadania, Mobilidade
cultural existente em cada território; e Transportes, Urbanismo e Licenciamento,
Segurança Urbana, Desenvolvimento
e) a comunidade de aprendizagem como Econômico, Trabalho e Turismo, entre
rede de construção de um projeto educativo outras, assim como com as organizações da
e cultural próprio para educar a si mesma, sociedade civil;
suas crianças e seus adolescentes;
k) fortalecer os processos democráticos
f) a garantia às crianças e aos nas Unidades Educacionais, em suas
adolescentes do direito fundamental de diferentes instâncias decisórias, como:
circular pelos territórios educativos, Conselhos de Escola, Grêmios Estudantis,
apropriando-se deles, como condição de Associações de Pais e Mestres - APMs,
acesso às oportunidades, aos espaços e Comissão de Mediação de Conflitos,
recursos existentes e ampliação contínua do Conselho Gestor e Colegiado de Integração
repertório sociocultural e da expressão (CEUs), Servidores, Usuários e Amigos do
autônoma e crítica, asseguradas as CEU- APMSUAC; bem como demais
condições de acessibilidade aos que colegiados e instituições auxiliares;
necessitarem;

35
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

l) desenvolver ações na perspectiva da d) Das unidades de Percurso que


Educação Inclusiva e criar oportunidades compõem os diferentes itinerários
para que todas as crianças e todos os formativos Percursos de Estudo e Formação
adolescentes aprendam e construam saberes como expressão da autonomia dos
e conhecimentos juntos, de acordo com adolescentes, garantindo seu protagonismo
suas possibilidades, em todas as etapas e e exercício do seu direito de escolha;
modalidades de ensino;
e) a articulação das experiências e
m) identificar possibilidades para o saberes dos estudantes com os
desenvolvimento de novas estratégias, conhecimentos que fazem parte do
ancoradas na concepção da Educação patrimônio cultural, artístico, ambiental,
Integral e promover ações que integrem as científico e tecnológico, assim como
políticas públicas de inclusão social. atitudes e valores, de modo a promover
aprendizagens multidimensionais, com
Diretrizes pedagógicas: vistas ao seu desenvolvimento integral;
a) o Currículo da Cidade em diálogo com
o Projeto Político-Pedagógico das f) a valorização do diálogo entre as
Unidades Educacionais, significativo e pedagogias: social, popular, formal,
relevante, organizador da sua ação participativa e de projetos;
pedagógica na perspectiva da integralidade,
garante que práticas, costumes, crenças e g) a potencialização do Currículo da
valores, que estão na base da vida cotidiana Cidade – Educação Infantil como subsídio
dos estudantes, sejam articulados ao fortalecedor do Projeto Político-
conhecimento acadêmico, produzindo Pedagógico nas Unidades de Educação
aprendizagens significativas, além de criar Infantil, no intuito de promover reflexões
condições para o protagonismo, a autoria e sobre as práticas pedagógicas e o processo
a autonomia; de transição da Educação Infantil para o
Ensino Fundamental, na articulação dos
b) o atendimento à criança com base na trabalhos desenvolvidos nas duas etapas da
pedagogia da infância, de modo a articular Educação Básica;
suas experiências e saberes com os
conhecimentos que fazem parte do h) a aplicação e análise dos resultados
patrimônio cultural, artístico, ambiental, dos Indicadores de Qualidade da Educação
científico, esportivo e tecnológico e o Infantil Paulistana, com o objetivo de
acesso a processos de apropriação, auxiliar as equipes de profissionais das
renovação e articulação de conhecimentos e Unidades Educacionais, juntamente com as
aprendizagens de diferentes linguagens a famílias e pessoas da comunidade, a
fim de promover o seu desenvolvimento desenvolver um processo de autoavaliação
integral; institucional participativa que leve a um
diagnóstico coletivo sobre a qualidade da
c) as experiências educativas que levam educação promovida pela Unidade, de
em consideração o direito das crianças e dos forma a obter melhorias no trabalho
adolescentes ao lúdico, à imaginação, à educativo desenvolvido com as crianças;
criação, ao acolhimento, à curiosidade, à
brincadeira, à democracia, à proteção, à i) a promoção de reflexões e discussões
saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, formativas acerca do Currículo da Cidade,
à dignidade, à convivência e à interação como subsídio importante para orientar a
com seus pares para a produção de culturas prática pedagógica no Ensino Fundamental,
infantis e juvenis; tendo por base os princípios da Inclusão, da
Equidade e da Educação Integral, em

36
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

diálogo com o Projeto Político-Pedagógico m) a ressignificação do currículo, na


das Unidades Educacionais, com a “Matriz perspectiva da Educação Integral, Integrada
de Saberes” e com os Objetivos de e Integradora de forma a torná-lo mais
Desenvolvimento Sustentável - ODS, eficaz na aprendizagem do conjunto de
articulados aos Territórios do Saber conhecimentos que estruturam os saberes
propostos pelo Programa São Paulo escolares, qualificando a ação pedagógica e
Integral; fortalecendo o desenvolvimento integral
dos estudantes como cidadãos de direito,
j) a promoção de reflexões e discussões ampliando, assim, as possibilidades de
formativas acerca do Currículo da Cidade, participação e de aprendizagens para a
como subsídio importante para orientar a valorização da vida.
prática pedagógica no Ensino Médio, tendo
por base os princípios da Inclusão, da Para aderir ao Programa “São Paulo
Equidade e da Educação Integral, em Integral – SPI”, as Unidades Educacionais
diálogo com o Projeto Político-Pedagógico de Ensino Fundamental deverão apresentar
das Unidades Educacionais, com a “Matriz as seguintes condições:
de Saberes” e com os Objetivos de - espaços educativos compatíveis com o
Desenvolvimento Sustentável - ODS, número de estudantes por turno que
articulados aos Itinerários Formativos, participarão do SPI, considerando,
Percursos de Estudo e Formação e seus inclusive, outros equipamentos/espaços do
desdobramentos, propostos pelos entorno, além da possibilidade de
documentos norteadores municipais, organização dos espaços entre os turnos de
permitindo que os estudantes realizem funcionamento;
escolhas interligadas ao seu projeto de vida, - proposta de adesão amplamente
de forma que suas aprendizagens sejam discutida com a comunidade educativa e
significativas e contextualizadas; aprovada pelo Conselho de Escola;
- possibilidade de assegurar a
k) para o Ensino Fundamental, a permanência do estudante em turno de
concepção das Experiências Pedagógicas tempo integral por 07 (sete) horas diárias,
como possibilidades de exprimir as totalizando 08 (oito) horas-aula de efetivo
intencionalidades e concepções trabalho educacional quando se tratar de
pedagógicas propostas, com vistas a Unidades Educacionais de Ensino
promover aprendizagens nos Territórios do Fundamental.
Saber, além de outras experiências locais Já as Escolas de Educação Infantil
e/ou universais que dialoguem com o poderão aderir observadas as seguintes
Projeto Político-Pedagógico da Unidade condições:
Educacional; - atendimento de turmas de crianças com
4 (quatro) e 5 (cinco) anos, desde que, a
l) para o Ensino Médio, a concepção das demanda para essa faixa etária esteja
unidades de Percurso como possibilidades plenamente atendida;
de exprimir as intencionalidades e - assegurar a permanência das turmas
concepções pedagógicas propostas, com envolvidas em turno de tempo integral por
vistas a promover aprendizagens nos 08 (oito) horas diárias;
Itinerários Formativos, além de outras - proposta de adesão amplamente
experiências locais e/ou universais que discutida com a comunidade educativa e
dialoguem com o Projeto Político- aprovada pelo Conselho de Escola.
Pedagógico da Unidade Educacional;
As EMEIs que funcionam em tempo
integral, por 08 (oito) horas diárias, devem
participar compulsoriamente do SPI.

37
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

As principais inovações dessa Instrução (vinte mil reais), no valor do primeiro


Normativa ficam por conta da composição repasse do PTRF, bem como que as UEs
do módulo de professores, nas Unidades que permanecerem no Programa, além dos
Educacionais com classes do Ensino percentuais mencionados nos incisos I a III
Fundamental, que determina que nas deste artigo, terão acréscimo de R$
unidades participantes do SPI, 10.000,00 (dez mil reais) no valor do
exclusivamente com turmas do Ensino primeiro repasse do PTRF.
Fundamental I, o módulo será acrescido de
Professor de Educação Infantil e Ensino Por fim¸ o segundo POEI será eleito
Fundamental I, conforme segue: somente nas Unidades Educacionais que
- até 05 (cinco) classes: 01 (um) contarem com 06 (seis) ou mais turmas
Professor; integrantes do SPI.
- a partir de 06 (seis): 2 (dois)
Professores. Dessa forma, estudamos os pontos
principais e as inovações constantes dessa
Nas unidades participantes do SPI, Instrução Normativa. Caso entenda
exclusivamente com turmas do Ensino necessário ter acesso a íntegra da Instrução
Fundamental II, o módulo será acrescido de Normativa, acessar o link abaixo:
Professor de Ensino Fundamental II e https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/l
Médio, preferencialmente da área de eis/instrucao-normativa-secretaria-
Linguagens: municipal-de-educacao-sme-26-de-10-de-
- até 04 (quatro) classes: 01 (um) agosto-de-2022
Professor;
- de 5 a 8 classes: mantido o módulo Questões
constante na Portaria SME nº 7.779/2017,
alterada pela Portaria SME nº 8.231/2017 01. A respeito do Plano Municipal de
- a partir de 09 (nove) classes: 02 (dois) Educação do município de São Paulo,
Professores. julgue a assertiva abaixo:
Uma das diretrizes do Plano Municipal
Nas unidades que participam do SPI com de Educação está a formação para o
classes do Ensino Fundamental I e Ensino trabalho e para a cidadania, com ênfase nos
Fundamental II terão seus módulos valores morais e éticos em que se
acrescidos conforme já mencionado. fundamenta a sociedade.
( ) Certo
A permanência na UE dos profissionais ( ) Errado
estará condicionada à continuidade no
Programa “São Paulo Integral”. 02. Segundo a Lei n. 16.271/2015 a Meta
2 do Plano Municipal de Educação do
A organização dos horários do Município de São Paulo é fomentar a
profissional do módulo de Docentes deverá qualidade da Educação Básica em todas as
contemplar o horário de funcionamento do etapas e modalidades, com melhoria do
turno da Unidade Educacional, em fluxo escolar e da aprendizagem.
articulação com os horários dos demais ( ) Certo
docentes que atuarão com as turmas ( ) Errado
integrantes do Programa.
03. Sobre o Decreto n. 54.452/2013, o
Com relação aos recursos financeiros a currículo na educação infantil deverá
novidade é que exclusivamente no ano da considerar as características e as
implantação/adesão ao Programa, as necessidades das diferentes fases de
Unidades terão acréscimo de R$ 20.000,00 desenvolvimento das crianças e adequar-se

38
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

às alterações promovidas na Lei de 05. Acerca do Decreto Estadual n.


Diretrizes e Bases da Educação Nacional 57.379/2016 assinale a assertiva correta.
pela Lei Federal nº 12.796, de 4 de abril de A) A matrícula nas classes comuns e a
2013. oferta do Atendimento Educacional
( ) Verdadeiro Especializado - AEE serão asseguradas a
( ) Falso todo e qualquer educando e educanda, visto
que reconhecida, considerada, respeitada e
04. (SME - SP - Coordenador valorizada a diversidade humana, vedadas
Pedagógico - VUNESP) O município de quaisquer formas de discriminação.
São Paulo definiu a “Política Paulistana de B) Fica permitido o condicionamento da
Educação Especial na Perspectiva da frequência e da matrícula dos educandos e
Educação Inclusiva”, no âmbito de sua educandas.
Secretaria de Educação, por meio do C) O CEFAI será composto por 9 (nove)
Decreto n° 57.379, de 2016, em PAAIs, podendo esse número ser ampliado,
consonância com acordos internacionais, justificada a necessidade, por solicitação
com a legislação nacional e com a fundamentada do Diretor Regional de
municipal. Nos termos do citado decreto, os Educação e com anuência do Secretário
educandos com deficiência, transtornos Municipal de Educação.
globais de desenvolvimento ou com D) o público-alvo da Educação Especial
superdotação, os quais constituem a são os educandos e educandas,
clientela da Educação Especial, deverão ter exclusivamente, com deficiência visual.
acesso ao AEE – Atendimento Educacional
Especializado que lhe for pertinente. 06. Acerca da Portaria n. 5.930/2013
Considerando-se o estabelecido por essa julgue a assertiva.
legislação, é correto afirmar que o AEE é A Avaliação abrangerá as dimensões
entendido como “o conjunto de atividades e institucional, externa e interna e, na
recursos pedagógicos e de acessibilidade Unidade Educacional, assumirá um caráter
organizados institucionalmente”, o qual formativo e comporá o processo de
deverá ser prestado aprendizagem.
exclusivamente no formato itinerante, ( ) Verdadeiro
um dia por semana, na própria sala de aula ( ) Falso
das classes do ensino regular que incluem
alunos especiais. 07. Acerca da Portaria n. 5.930/2013
B) por profissional habilitado, em julgue a assertiva.
centros de Educação Especial próprios para Ciclo Interdisciplinar: compreendendo
cada tipo de deficiência ou de superdotação, do 7º ao 9º anos do Ensino Fundamental,
com programação mensal de integração com a finalidade de aproximar os diferentes
com escolas do ensino regular. ciclos por meio da interdisciplinaridade e
C) por professor especializado, dia sim, permitir uma passagem gradativa de uma
dia não, em alternância com o ensino para outra fase de desenvolvimento, bem
regular, em sala de recursos situada no como, consolidar o processo de
mesmo prédio em que o aluno frequenta a alfabetização/ letramento e de resolução de
classe comum. problemas matemáticos com autonomia
D) em caráter complementar ou para a leitura e a escrita, interagindo com
suplementar, e realizado de maneira diferentes gêneros textuais e literários e
articulada pelos professores do ensino comunicando-se com fluência e com
regular e pelos responsáveis pelo AEE. raciocínio lógico.
E) em classes especiais, incluídas entre ( ) Verdadeiro
as classes comuns, em escolas do ensino ( ) Falso
regular e em caráter substitutivo a ele.

39
Legislações Municipais, Documentos e Publicações

08. (SME - SP - Coordenador 10. Acerca da Portaria 8.824/2016


Pedagógico - VUNESP) As unidades de julgue o item abaixo:
ensino do sistema municipal que ofertam a Cabe à Unidade Educacional garantir o
Educação Bilíngue para os educandos e registro da frequência do AVE e a
educandas com surdez, surdez associada a fidedignidade do registro, sem emendas ou
outras deficiências, surdocegueira, de rasuras, mediante preenchimento do horário
acordo com os dispositivos presentes na de entrada/saída e refeições, bem como
Portaria n° 8.764, de 23 de dezembro de outras ocorrências, tais como: atrasos,
2016, que regulamenta a Política Paulistana saídas antecipadas, faltas, férias,
de Educação Especial, na Perspectiva da reposições, licenças e outros afastamentos,
Educação Inclusiva, deverão organizar-se anexando os documentos comprobatórios
considerando referentes aos afastamentos.
A) Libras e Língua Portuguesa – na ( ) Verdadeiro
modalidade escrita – como línguas de ( ) Falso
instrução e de circulação, que devem ser
utilizadas de forma simultânea no ambiente 11. Acerca da Instrução Normativa n.
escolar, colaborando para o 18/2022 julgue o item abaixo:
desenvolvimento de todo o processo A decisão sobre retenção ou promoção
educativo. ocorrerá ao término de cada Ciclo e
B) a Língua Brasileira de Sinais como considerará o desempenho global do
aquela que ocupa uma posição de suporte, estudante no decorrer de todos os períodos
indispensável para a aprendizagem e o letivos.
desenvolvimento da Língua Portuguesa ( ) Verdadeiro
escrita. ( ) Falso
C) a relação direta entre Educação
Bilíngue e surdez. 12. Acerca da Instrução Normativa n.
D) a presença de tradutores\intérpretes 18/2022 julgue o item abaixo:
da Libras como mediadores da Caberá ao Supervisor Escolar diligenciar
comunicação pais-professores. junto às Unidades Educacionais orientando
E) a presença do professor regente, e acompanhando o processo de alteração
preferencialmente surdo, graduado em regimental, bem como, quanto ao
curso superior de Pedagogia, que cumprimento dos prazos de entrega do
favorecerá a construção de uma identidade referido documento.
bilíngue e bicultural. ( ) Verdadeiro
( ) Falso
09. Acerca da Portaria 8.764/2016
julgue a assertiva: Gabarito
A oferta do AEE deve ser assegurada,
cabendo aos educadores da Unidade 01. Certo - 02. Errado - 03. Verdadeiro
Educacional e aos demais profissionais - 04. D - 05. D - 06. Verdadeiro - 07.
envolvidos orientar os familiares e Falso - 08. A - 09. Verdadeiro - 10.
responsáveis, bem como o educando e Verdadeiro - 11. Verdadeiro - 12.
educanda quanto à importância do Verdadeiro
atendimento e suas diferentes formas.
( ) Verdadeiro
( ) Falso

40
Currículos e Orientações Didáticas

SUMÁRIO

____________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.


Currículo da cidade: Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED, 2019;
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2019/07/51927.pdf 1
______________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade: Educação de Jovens e Adultos: Componentes – São Paulo:
SME/COPED, 2019. https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-de-jovens- -
e-adultos-eja/publicacoes-eja/curriculo-da-cidade-eja/ ......................................... 4
_____________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica
Currículo da cidade: povos indígenas: orientações pedagógicas. – São Paulo: SME /
COPED, 2019 https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/
Portals/1/Files/53254.pdf ....................................................................................... 7
_____________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da cidade: povos migrantes: orientações pedagógicas. – São Paulo: SME /
COPED, 2021 https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/06/Curr%C3%ADculo-da-Cidade-Povos-Migrantes-WEB.
Pdf.......................................................................................................................... 10
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade. Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. São Paulo: SME /
COPED, 2017. http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50628.pdf....13
_______. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de
Ensino Fundamental e Médio. Orientações didáticas do currículo da Cidade: Língua
Portuguesa, volume 1. São Paulo: SME/ COPED, 2018.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50723.pdf ......................... 14
_______. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de
Ensino Fundamental e Médio. Orientações didáticas do currículo da Cidade: Língua
Portuguesa, volume 2. São Paulo: SME/ COPED, 2018.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50726.pdf ......................... 15
Apostilas Domínio
Currículos e Orientações Didáticas

________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo


da cidade: Ensino Fundamental: Matemática. – 2.ed.– São Paulo: SME / COPED,
2019. http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50629.pdf ............... 17
_________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática – volume 1. – 2. ed. São
Paulo: SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50724.pdf ......................... 18
________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática – volume 2. – 2.ed. – São
Paulo: SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50722.pdf ......................... 19
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular: Ciências da
Natureza. – 2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50633.pdf ......................... 27
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do currículo da cidade: Ciências Naturais. – 2.ed. – São Paulo:
SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50720.pdf... ....................... 31
___________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente curricular: História. – 2.ed. –
São Paulo: SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50632.pdf ......................... 34
___________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do currículo da cidade: História. – 2.ed. – São Paulo: SME /
COPED, 2019. http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50728.pdf 36

Apostilas Domínio
Currículos e Orientações Didáticas

___________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.


Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente curricular: Geografia. – 2.ed.
– São Paulo: SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50730.pdf ___________.
Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas
do currículo da cidade : Geografia. – 2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50730.pdf ......................... 39
___________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente curricular : Arte. – 2.ed. – São
Paulo: SME / COPED, 2019.
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50636.pdf ......................... 41
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade - Educação Especial: Língua Brasileira de Sinais. São Paulo: SME
/ COPED, 2019. https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/08/CC-da-Ed-Especial-LIBRAS.pdf ................................ 45
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade - Educação especial: Língua Portuguesa para surdos. – São Paulo:
SME / COPED, 2019.
https://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/51128.pdf......................... 46
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do Currículo da Cidade: Educação Especial – Língua Brasileira
de Sinais – Língua Portuguesa para surdos. São Paulo: SME/COPED, 2021.
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/11/Livro_OD_Libras_LP-Surdos_WEB.pdf ..................... 48
__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações para atendimento de estudantes: altas habilidades / superdotação. São
Paulo: SME/COPED, 2021. https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/09/caderno_EE_ALTAS-WEB.pdf ................................... 49

Apostilas Domínio
Currículos e Orientações Didáticas

__________. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.


Orientações para atendimento de estudantes: transtorno do espectro do autismo. São
Paulo: SME / COPED, 2021. https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/09/caderno_EE_TEA-web.pdf ......................................... 51

Apostilas Domínio
Currículos e Orientações Didáticas

diversidade, procurando reduzir as


Secretaria Municipal de Educação. desigualdades de oportunidade e acesso
Coordenadoria Pedagógica. Currículo da que impedem direitos fundamentais.
cidade: Educação Infantil. São Paulo: A educação inclusiva pressupõe que
SME / COPED, 2019; todos possam ter experiências de
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/ aprendizagem de acordo com suas
wp-content/uploads/2019/07/51927.pdf potencialidades, sem discriminação e com
base na igualdade de oportunidades e na
equidade, independentemente de suas
O presente currículo procura o condições socioeconômicas, físicas,
fortalecimento das políticas de equidade e intelectuais, de gênero, étnico-raciais, de
da educação inclusiva, além de garantir as idade, religiosas, ou por haver nascido em
condições necessárias para que sejam um território diferenciado dos demais. A
assegurados os direitos de aprendizagem e educação integral compreende o
compromisso com as práticas integradas
desenvolvimento a todos os bebês e de formação e a integralidade do
crianças das nossas Unidades desenvolvimento humano em suas
Educacionais, respeitando suas realidades dimensões intelectual, física, afetiva,
socioeconômica, cultural, étnico-racial e social, ética, moral e simbólica. Para
geográfica. viabilizar esses princípios, torna-se
necessário garantir políticas curriculares
O propósito é que o Currículo da específicas para as populações que têm
Cidade – Educação Infantil oriente o tido os seus direitos historicamente não
trabalho na Unidade Educacional e, mais atendidos.
especificamente, na sala de referência. A educação para as relações étnico-
A educação é entendida como um raciais visa que bebês e crianças se
processo social, um bem público e um reconheçam em suas identidades e possam
valor comum a ser compartilhado por compreender a diversidade étnica e racial
todos. Ter acesso à educação pública, laica do mundo como uma grandeza de
e de qualidade é um direito de todos os experiências e possibilidades, tornando
bebês e crianças e um dever do Estado. obrigatório nos currículos o ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira,
A educação possibilita constituir uma Africana e Indígena e desenvolvendo uma
vida comum nos territórios, cenário educação antirracista no cotidiano escolar.
constantemente renovado, onde as A educação para as relações de gênero
atividades são criadas a partir da herança visa promover a igualdade social entre as
cultural do povo que nele vive. Um pessoas de diferentes gêneros e a liberdade
território é sempre um espaço de disputa de expressão sobre os sentimentos e
de poder, um espaço social em que forças pensamentos, rompendo com
econômicas, políticas, culturais estão em preconceitos, reconhecendo que há muitos
permanente tensão, disputando a modos de ser menino e menina, e que essas
hegemonia. Participar de vivências e regras não devem definir os modos como
experiências que deem valor aos as pessoas se constituem. A educação
elementos extraídos dos territórios confere especial, por meio de um desenho
aos bebês e às crianças um olhar de universal para a aprendizagem, abre as
compreensão sobre as suas vidas e cria portas para que bebês e crianças com
pertencimento e cumplicidade. Ao deficiência, altas habilidades/precocidade
pensarmos em um projeto educativo e TGD possam aprender, mesmo que por
público, devemos partir de três princípios: caminhos diferentes, por meio de ações
equidade, inclusão e integralidade. A que respondam às necessidades e ampliem
equidade é uma estratégia para atingir a as capacidades de todos e de cada um.
igualdade a partir do reconhecimento da

1
Currículos e Orientações Didáticas

A educação para o desenvolvimento crianças, juntamente com a(o)


sustentável, trazido pela Agenda professora(or), são sujeitos das relações e,
2030/ONU, contempla estes e outros como sujeitos, são agentes de seu processo
princípios e conceitos, organizados em de viver, aprender e constituir para si as
dezessete Objetivos de Desenvolvimento melhores qualidades humanas.
Sustentáveis (ODS), que se referem às As crianças compartilham e se alternam
dimensões ambiental, social e econômica. nos protagonismos de uma organização
Todos esses princípios, compromissos, curricular significativa.
conceitos e políticas educacionais unem-se Intencionalidade pedagógica no
ao compromisso de uma educação que traz planejamento e na organização dos
a democracia como pressuposto de uma espaços, tempos, interações (abordagem
escola pública que se deseja relacional), materialidades e narrativas,
comprometida com a qualidade da favorecendo e ampliando as aprendizagens
formação humana, transformadora e e o desenvolvimento infantil. Metodologia
emancipadora. de projetos se dá a partir da observação e
A escola é um lugar onde se aprende a escuta atenta, aliadas à garantia de
conduzir a existência, tendo em vista o participação das crianças nas proposições
interesse comum, e não apenas os desejos pedagógicas e tomadas de decisões e ainda
e interesses individuais. Na Educação à intencionalidade da ação docente.
Infantil, os espaços possibilitam o Registros, tanto infantis quanto docentes,
exercício da ação coletiva e da autonomia que materializam a observação e escuta
dos bebês e das crianças nas suas atenta das interações das crianças com
investigações, isto é, na sua descoberta de seus pares e com as culturas.
si e dos outros e no conhecimento do Documentação pedagógica se constituia
mundo. Estar nesse espaço educativo partir do registro refletido e
possibilita aos bebês e às crianças criar problematizado, dando subsídios à
uma voz própria, com autoria e mudança na prática pedagógica.
protagonismo. É um tempo para identificar A infância é um tempo fundamental
os seus sentimentos e desejos, construir para bebês e crianças de zero a doze anos
um estilo pessoal frente ao mundo, observarem, pesquisarem e
aprender a compreender as pessoas e a experimentarem modos de participar e
diversidade de seus modos de ser e estar, pertencer a grupos, de investigarem o
fazer escolhas desenvolvendo significados mundo social e natural e de aprenderem a
pessoais e significações sociais. “dizer” a sua palavra, constituindo assim
O processo de aprender e desenvolver autoria e protagonismo infantil. São
as qualidades humanas é dialógico e pontos comuns desta etapa de vida a
requer necessariamente a expressão de ludicidade, ou a capacidade de brincar; a
quem aprende e, por isso, a importância da fantasia do real, ou a possibilidade de
convivência com as múltiplas linguagens. imaginar ativamente; a interatividade, ou a
Aprender é resultado de um processo de interação contínua com os pares ou com os
comunicação entre adultos, bebês e adultos; a reiteração, ou o fazer de novo e,
crianças e a cultura e, por isso, a escuta ao fazer de novo, reinventar o mundo. A
docente do que bebês e crianças estão nos integração da educação de bebês e crianças
dizendo (não apenas por meio da fala) é maiores se faz necessária para articular
fundamental. Ninguém aprende quando se concepções e práticas que permitam traçar
sente humilhado ou constrangido, quando as linhas de continuidade de forma que
sua história e sua vida não são acolhidas haja movimento, brincadeira, pesquisa,
pelo outro; por isso, acolhimento e escuta conversa, discussão e reflexão, num
devem ser o coração do método no compromisso pedagógico que possibilita a
trabalho docente. Para aprender, bebês e integração dos currículos e dos sujeitos.

2
Currículos e Orientações Didáticas

Assim, pensar as transições exige refletir principalmente para as mais vulneráveis,


sobre tais premissas (integração e por meio da definição de eixos estratégicos
infância) para que a continuidade dos e metas.
processos de aprendizagem das crianças 2) O compromisso com a Rede de
seja respeitada e não haja rupturas bruscas, Proteção Social que atende bebês, crianças
uma vez que a Educação Básica preza pela e jovens em situação de vulnerabilidade
educação integral dos sujeitos. por meio de equipes multiprofissionais
Pensar numa educação democrática é que propõem modos de atendimento e
pensar numa educação feita para todos e cuidados nos territórios: os documentos
com todos, que promova igualdade de municipais acima citados pretendem
condições, observando as diferenças, as assegurar uma boa experiência de infância
desigualdades, as diversidades culturais, para as crianças. Os direitos das crianças
étnicas, sociais, políticas e econômicas. O não são postergáveis; eles precisam ser
compromisso com a democracia revela defendidos e realizados neste momento,
uma gramática pedagógica do currículo pois não poderão ser restituídos
que corresponde a um pensar e fazer a posteriormente.
educação que não se encerra no campo dos 3) O Compromisso com a Base
preceitos filosóficos e teóricos, mas sua Nacional Comum Curricular: foi iniciado
concretização e sua evolução são com o estabelecimento do diálogo entre o
garantidas pela organização e gestão Currículo Integrador da Infância
pedagógica participativa dos tempos, Paulistana (SÃO PAULO, 2015a) e os
espaços, materialidades, das interações, Direitos de Aprendizagens e
dos projetos, das brincadeiras e das Desenvolvimento na Educação Infantil
experiências com múltiplas linguagens. contidos na BNCC (BRASIL, 2017).
O Projeto Político Pedagógico Descobrir pontos comuns foi um
constitui-se em documento vivo, dinâmico primeiro passo deste documento, feito em
e reflexivo, contextualizado, construído âmbito da representação de profissionais
coletivamente e articulado à autoavaliação da RME. O segundo passo nessa relação,
institucional, à documentação pedagógica, presente no final deste documento de
à formação permanente das(os) Orientação Curricular, foi o exercício de
educadoras(es) e aos planos de ação. estabelecer relações entre os Objetivos de
Marcos Políticos em defesa da Aprendizagem da BNCC (BRASIL, 2017)
educação e da infância no PPP, e Objetivos de Aprendizagem que foram
apresentando três políticas públicas elaborados a partir dos Indicadores de
significativas para a Educação Infantil na Qualidade da Educação Infantil
Cidade de São Paulo, são elas: Paulistana.
1) O Compromisso com Plano
Municipal de Educação da Cidade de São Caso queira ter acesso à íntegra deste
Paulo e com o Plano Municipal pela material, acessar o link abaixo:
Primeira Infância: o PME (SÃO PAULO, https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov
2015e), com o intuito de melhorar a .br/wp-
qualidade da educação no município, na content/uploads/2019/07/51927.pdf
especificidade da Educação Infantil,
estabelece como prioridade a ampliação da
oferta de atendimento em creche. O Plano
Municipal pela Primeira Infância
estabelece as bases que nortearão as ações
necessárias para proporcionar uma
primeira infância plena, estimulante e
saudável para as crianças no município,

3
Currículos e Orientações Didáticas

assegurados a cada jovem e adulto da Rede


Secretaria Municipal de Educação. Municipal de Ensino, independentemente
Coordenadoria Pedagógica. Currículo da
da sua realidade socioeconômica, cultural,
Cidade: Educação de Jovens e Adultos:
étnico-racial ou geográfica.
Componentes – São Paulo: SME/COPED,
2019. Educação Inclusiva: Respeitar e
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/ valorizar a diversidade e a diferença,
educacao-de-jovens- -e-adultos- reconhecendo o modo de ser, de pensar e
eja/publicacoes-eja/curriculo-da-cidade- de aprender de cada estudante,
eja/ propiciando desafios adequados às suas
características biopsicossociais, apostando
nas suas possibilidades de crescimento e
A Secretaria Municipal de Educação orientando-se por uma perspectiva de
(SME), com objetivo de potencializar o educação inclusiva, plural e democrática.
ensino e a aprendizagem dos estudantes da Somos seres de cultura e linguagem,
Educação de Jovens e Adultos (EJA) no perceber-se como tal abre possibilidades
Município de São Paulo, apresenta o para refletir sobre como pensamos,
Currículo da Cidade: Educação de Jovens e produzimos e nos expressamos. A arte
Adultos que constitui-se como o resultado potencializa modos de ler e fazer do ser
de um trabalho coletivo e dialógico que poético e estésico. O Componente
contou com a participação de professores Curricular Arte pode proporcionar
das diversas formas de atendimento da EJA experiências artísticas e estésicas que
(Regular, Modular, Centros Integrados de contribuam para a autonomia do estudante,
Educação de Jovens e Adultos – CIEJAs e no exercício da reflexão e percepção de
Movimento de Alfabetização de São Paulo um mundo culturalmente vivido.
– MOVA), representantes das Diretorias O Currículo da Cidade – Educação de
Regionais de Educação (DREs), técnicos da Jovens e Adultos – Arte, parte da premissa
Coordenadoria Pedagógica (COPED) e de que o estudante, como cidadão, tem
pesquisadores da área. direito ao conhecimento artístico
O Currículo da EJA, assim como os produzido, acumulado pelo ser humano, e
outros Currículos da Cidade de São Paulo, de constituir-se competente para vivenciar
estrutura-se com base em três conceitos esse conjunto de saberes e/ou experiências
orientadores: de forma autônoma no aprender e viver
Educação Integral: Tem como processos artísticos e culturais.
propósito essencial promover o Nesse sentido, ensinar arte é propor
desenvolvimento integral dos estudantes, encontros estésicos, artísticos e educativos.
considerando as suas dimensões Com base neste olhar, trazemos o Currículo
intelectual, social, emocional, física e da Cidade – Educação de Jovens e Adultos
cultural. – Arte. O desejo é que o professor, ao olhar
Equidade: Partimos do princípio de para o currículo, encontre percursos
que todos os estudantes são sujeitos pedagógicos potentes, percebendo
íntegros, potentes, autônomos e, portanto, possibilidades de entradas, preparos e
capazes de aprender e desenvolver-se, poéticas pessoais para exercer a docência
contanto que os processos educativos a de modo autônomo e autoral.
eles destinados considerem suas A elaboração de um currículo, entendida
características e seu contexto e tenham como processo de deliberação sobre
significado para suas vidas. Assim sendo, -finalidades, objetivos, conhecimentos,
buscamos fortalecer políticas de equidade, metodologias e formas de avaliação a serem
explicitando os objetivos de aprendizagem contemplados na escolarização, implica a
e desenvolvimento, garantindo as reflexão prévia sobre a função social da
condições necessárias para que eles sejam escola e o conhecimento do público-alvo.

4
Currículos e Orientações Didáticas

Nesse sentido, no Currículo da Cidade para A partir daí é possível compreender que
a EJA, a escolha de Objetos de é papel da Educação Física contribuir com
Conhecimento articula-se à definição de a valorização da identidade e da diversidade
Objetivos de Aprendizagem e dos sujeitos da EJA, proporcionando-lhes,
Desenvolvimento e estes, por sua vez, por meio da tematização das práticas
dialogam com as -finalidades pretendidas corporais, os saberes e modos de significar
para a escolarização, considerando as dos mais diversos grupos, aproximando-se
especificidades da modalidade, das etapas e das realidades, reconhecendo seus marcos
dos estudantes. Invertendo-se a equação, históricos, suas marcas sociais, seus
temos que a seleção de Objetos de expoentes culturais identitários e suas
Conhecimento e Objetivos de concepções de mundo, que estão atreladas
Aprendizagem e Desenvolvimento diretamente ao modo como vivem, às suas
demanda uma reflexão prévia sobre o perfil aspirações, às convicções e às crenças.
do estudante da Educação de Jovens e Todas as pessoas observam, perguntam
Adultos e a função social dessa modalidade. e procuram explicações para o mundo
No caso específico de Ciências Naturais, vivido. Um mundo que, no contexto dos
demanda ainda a deliberação sobre jovens e adultos da EJA, envolve sujeitos
concepções a respeito da natureza do que representam múltiplas culturas e
conhecimento científico e do papel do contextos socioeconômicos e
ensino de Ciências Naturais na formação de socioambientais específicos. Gente que
jovens e adultos. traz para o ambiente escolar saberes que
Em consonância com os pressupostos refletem as experiências de trajetórias de
ideológicos e educacionais de cada época, suas vidas.
a Educação Física recorreu às práticas A compreensão do espaço vivido é o
corporais hegemônicas da tradição euro- caminho da transformação do cidadão.
estadunidense para priorizar o Mas isso depende da postura dos sujeitos
desenvolvimento da aptidão física, do sociais em contrapor o que está dado como
ensino esportivo, da aquisição de realidade e seu entendimento do que pode
habilidades motoras e do questionamento ser modificado, transformado. Para isso é
da sociedade classista. fundamental uma forma de ensinar e
Na tentativa de contrapor-se a esse aprender que permita o diálogo, a troca de
modelo, o componente se deixou ideias, a discussão de fatos e a construção
influenciar pelo pensamento pós-crítico, de opiniões próprias pelos estudantes. A
ampliou o seu olhar e passou a perceber os partir da consciência dos lugares, o
estudantes enquanto sujeitos históricos, protagonismo e o pensamento crítico dos
sociais, políticos, culturais, cuja estudantes pode fazê-los alcançar a
gestualidade é perpassada pelos compreensão e a aplicação do raciocínio
marcadores sociais das diferenças (o geográfico para, com isso, refletir sobre as
gênero, a classe, a etnia e a religião). lógicas de apropriação do espaço
Sabedora de que os corpos refletem as globalizado.
insígnias culturais dos contextos aos quais
pertencem e são constantemente A Geografia é a ciência da
reconstruídos em meio a vivências, potencialização da capacidade de observar
discursos e experiências estéticas, a o real produzido na complexa rede de
Educação Física redimensionou sua fenômenos sociais e naturais em constante
função, voltando-se para a formação de transformação. É diante deste vasto
sujeitos que valorizem o direito às “laboratório-mundo” que estudantes e
diferenças e questionem os dispositivos de professores da EJA têm a oportunidade de
sua produção. buscar as temáticas, os recortes espaciais,
as inter-relações e os métodos de estudos.

5
Currículos e Orientações Didáticas

Afinal, a Geografia nos serve para entender comunitários, como alternativa possível à
o que vivemos num enredo de cenas prontas crescente exclusão e ao enfrentamento de
e muitas a construir. preconceitos e discriminações diversas.
A aprendizagem de História se inscreve Nessa direção, a Secretaria Municipal de
numa concepção de educação Educação (SME) apresenta um currículo
emancipadora e permanente (BRASIL, fundamentado em planejamentos
2000) e, para tal, necessita realizar um personalizados a partir de esferas
diálogo com os conhecimentos prévios, discursivas inerentes ao contexto,
com as noções trazidas pelos estudantes permitindo, assim, que os professores
sobre o conhecimento histórico a partir de tenham maior liberdade na seleção dos
suas vivências sociais e culturais. O textos e de outros suportes pedagógicos no
estudante jovem e adulto traz consigo uma sentido de que a aprendizagem ocorra. Cabe
série de saberes estruturados, modelos de enfatizar, ainda, que tal proposta
mundo, compreensão de fatos e valores organizacional além de ter uma
consolidados. É, pois, por meio de uma preocupação estritamente didática, tem a
ação continuada que o processo educativo intenção de contribuir para que os docentes
se realiza, em um constante dialogar com alfabetizadores e de Língua Portuguesa
os conhecimentos prévios, para que se consigam pensar em suas práticas
possa ampliar a capacidade de pedagógicas como sistemas abertos, que
interpretação da realidade por meio de lhes permitam, desse modo, pensar e agir
procedimentos como a leitura, o estudo, a com maior autonomia em face da realidade
reflexão, a pesquisa e a intervenção no educativa que vivenciam.
meio e na sociedade. A aprendizagem da Língua Inglesa na
A História deve contribuir para que a Educação de Jovens e Adultos (EJA)
cidadã e o cidadão que enfrentam um contribui de modo especial para a formação
cotidiano desafiador, complexo e intrincado integral do estudante em vários aspectos, ao
possam atribuir sentidos à sua existência e contrário do que muitos imaginam.
compreender que o acontecer humano se Questionar a relevância dessa
faz no tempo e no espaço, questionando-se aprendizagem, além da língua materna,
permanentemente suas vivências pessoais, para estudantes adultos que apresentam
sociais e cotidianas. Fundamental para se histórias singulares de aprendizagem
compreender o momento presente e ter escolar – na maioria das vezes fruto de sua
condições de interpretar o mundo de forma trajetória de vida – é negar-lhes a
autônoma. possibilidade de ver-se e sentir- -se parte de
A escola e os espaços de oferta da EJA um mundo que lhes pertence, por direito. A
e mesmo as aulas de Língua Portuguesa se presença da Língua Inglesa, doravante
transformaram em territórios de também tratada como LI, está em toda
intensificação das diferenças linguísticas e parte: nas ruas, nos meios de comunicação,
culturais, sendo necessária a ampliação de especialmente no mundo digital. Esse
perspectiva na construção curricular. estudante a percebe, no seu dia a dia,
O ensino do português brasileiro, nesse interagindo com uma série de informações
sentido, precisa ser comprometido com a que lhe são transmitidas por meio da
construção de conhecimentos, valores, presença dessa língua nos mais variados
habilidades e atitudes que permitam a contextos e situações, tais como: bus,
participação – de estudantes, mas também escrita no chão do corredor de ônibus, sale,
dos professores – na vida pública, em suas 50% off ou off price nos estabelecimentos
esferas política, econômica (cuja comerciais, o hambúrguer ou
expressão mais direta é o mundo do cheeseburguer pedido na lanchonete, o funk
trabalho), bem como na vida cultural e ou o hip hop que ele conhece e aprecia (ou
social, no fortalecimento dos laços não), o danger na placa de aviso no

6
Currículos e Orientações Didáticas

trabalho, o aviso sonoro “Next station…” concretização dos direitos de


no metrô, entre outras tantas expressões que aprendizagem, diante da complexidade
o cercam e que já fazem parte do seu cultural que as tecnologias os envolveram.
mundo, letrado ou não. Não se trata apenas de computadores,
No Currículo da Cidade: Educação de mas de ferramentas tecnológicas com
Jovens e Adultos: Matemática, assume-se potencial para promover a equidade e a
que o conhecimento está ligado a uma rede aproximação da escola ao universo dos
de significados, os quais podem ser estudantes, que possibilitam além do acesso
caracterizados por meio de relações a e imersão em tecnologias, a
serem estabelecidas. São propostos experimentação, a depuração de ideias, o
objetivos de aprendizagem e protagonismo, o desenvolvimento de
desenvolvimento que podem ser competências não cognitivas, a valorização
conectados por meio de relações advindas do trabalho em equipe e das várias formas
de múltiplos contextos que possibilitam de comunicação e expressão.
tecer significados, integrando-os em feixes
que formarão a rede de significados. Ao Caso queira ter acesso à íntegra deste
planejar o tratamento didático dos objetos material, acessar o link abaixo:
de conhecimento e de seus objetivos de https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br
aprendizagem e desenvolvimento, o /educacao-de-jovens-%20-e-adultos-
professor buscará privilegiar relações que eja/publicacoes-eja/curriculo-da-cidade-
possam ser percebidas ou vivenciadas eja/
pelos estudantes.
A Matemática permite analisar
fenômenos e situações presentes na Secretaria Municipal de Educação.
realidade para resolver problemas, obter Coordenadoria Pedagógica Currículo da
informações e conclusões que não estão cidade: povos indígenas: orientações
explícitas. Envolve, ainda, modelos, pedagógicas. – São Paulo: SME /
relações, padrões e regularidades que COPED, 2019
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/
possibilitam conhecer, analisar a realidade
wp-content/uploads/
e obter informações para tomar decisões. É Portals/1/Files/53254.pdf
uma área de conhecimento fundamental na
escola e sua aprendizagem contribui para a
formação integral e para enfrentar desa-fios
presentes na vida cotidiana dos estudantes Educar é como catar piolho na cabeça
da EJA. da criança.
É preciso que haja esperança,
A sociedade atual vive um momento
abandono, perseverança.
importante em sua história em âmbito
A esperança é crença de que se está
mundial, com o surgimento e
cumprindo uma missão; o abandono é a
desenvolvimento das tecnologias de
confiança do educando na palavra; a
informação e comunicação (TIC) em
perseverança é a perseguição aos mais
contextos digitais, que tem provocado
teimosos dos piolhos, é não permitir que
inúmeras transformações das relações
um único escape, se perca.
interpessoais com impactos significativos
Só se educa pelo carinho e catar piolho
em seus vários âmbitos, inclusive na
é o carinho que o educador faz na cabeça
Educação.
do educando, estimulando-o, pela palavra
Daí a importância de se pensar este
e pela magia do silêncio.
documento para os estudantes da EJA e
Ser educador é ser confessor dos
suas especificidades na perspectiva da
próprios sonhos e só quem é capaz de
atuação deste grupo como cidadãos plenos
oferecer um colo para que o educando
na sociedade, garantindo a viabilização e

7
Currículos e Orientações Didáticas

repouse a cabeça e se abandone ao som das nossos primeiros colonizadores – os


palavras mágicas, pode fazer o outro portugueses – foram os heróis que
construir seus próprios sonhos. E pouco descobriram uma nova terra e tiveram que
importa se os piolhos são apenas lutar bravamente para conquistá-la de
imaginários! bárbaros nativos que por aqui viviam, mas
Daniel Munduruku sem o intuito de desenvolvê-la para as
futuras gerações. Esses nativos eram
O Currículo da Cidade – Povos pessoas cruéis – sem rei nem lei – que
Indígenas: Orientações Pedagógicas foi comiam seus inimigos em faustos
elaborado em 2019 seguindo o ritmo da banquetes de mãos, pés, braços, pernas,
oralidade e contando histórias tradicionais. crânios e bebiam sangue como aperitivo.
Ele está em sintonia com os avanços do Gente assim precisa ser dominada,
debate pedagógico em torno da Lei Nº controlada e domesticada através da
9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da violência física e era preciso submetê-la a
Educação) e das Leis Nº 10.639/2003 e uma doutrinação religiosa capaz de lhes
11.645/2008 (que tornaram obrigatório o revelar a verdade. Assim foi implantada a
estudo de História e Cultura Afro-Brasileira cruz e a espada no coração dos nativos. A
e Indígena nos ensinos fundamental e lei do Deus cristão e a lei dos homens. Só
médio nas escolas públicas e particulares assim esses homens e mulheres poderiam
brasileiras). ser chamados de civilizados. Como se
A relação que desenvolvemos pode intuir, por trás dessa história contada
pessoalmente com os povos indígenas é pelos vencedores há elementos fantasiosos
bastante sintomática de nossa que serviam para alimentar a combalida
identificação e de nossa identidade estrutura real europeia e convencê-la que
nacional. aqui se encontravam minas de ouro
Durante muito tempo aprendemos a capazes de renovar os repertórios do velho
chamar os primeiros habitantes do Brasil mundo.
de índios. Esta alcunha – para usar uma Os “índios” foram, na verdade, uma
palavra erudita – trazia consigo imagens e invenção do colonizador para reduzi-los e
significados que nem sempre dignificavam escravizá-los. Precisamos entender que
àqueles a quem ela desejava nomear. não existem “índios” no Brasil.
Normalmente, vinha acompanhada por Precisamos aprender como chamá-los,
adjetivos que não faziam jus à riqueza da como festejá-los, como conhecê-los, como
diversidade que ela compunha. Quase valorizá-los. Chamaremos de indígenas,
sempre significava atraso tecnológico, pois ser um indígena é pertencer a um
primitivismo, canibalismo, entre outros povo específico.
termos negativos. Nomear alguém com Há no Brasil algumas tribos. Quase
essa palavra era qualificá-lo aquém dos todas elas vivendo na zona urbana e são
demais seres humanos e enquadrá-lo em denominadas "tribos urbanas".
um passado imemorial, que nem mais Caracterizam-se por ser parte da cultura
existia. Essa ideia congelava os “índios” a nacional, mas que apresentam algum
um passado tão remoto que a vaga diferencial que pode se revelar através da
lembrança deles nos remetia à dos homens vestimenta, do corte de cabelo, das gírias
das cavernas ou dos dinossauros. Assim ou palavreado, etc.. No entanto, não são
eram estudados: como seres do passado. autônomas. Dependem em tudo da
Os livros os traziam assim e assim eram sociedade brasileira. Isso as caracteriza
estudados na escola. E isso tudo por causa como tribo. Como exemplo poderíamos
de uma palavra... acompanhada de uma nomear aqui: emo, eskatistas, skinheads,
mal contada história de “descobrimento” funkeiros, etc.
do país. Nessa história nos diziam que

8
Currículos e Orientações Didáticas

É preciso conhecer toda a diversidade não seguisse uma organização hierárquica.


cultural e linguística se quisermos ser A não aceitação criou uma barreira ainda
justos com todos estes povos que habitam até hoje impede a relação respeitosa entre
nossa terra brasileira desde tempos os diversos olhares existentes.
imemoriais. Sendo necessário olhar a O Brasil não conhece sua
história sob a ótica dessa gente nativa sociodiversidade nativa, pois ainda está à
(indígena) para não cairmos na falsa ideia mercê de [pre]conceitos quinhentistas,
de que o modo de vida ocidental é o único pois não consegue acompanhar a riqueza
ponto de referência humana. da diversidade, reproduzindo estereótipos
Por fim, que há populações indígenas e desvalorizando os saberes ancestrais dos
em franco crescimento. Estas populações povos indígenas nacionais.
enfrentam difíceis problemas para suas Desde XVI, o Brasil desenvolveu
sobrevivências por conta dos projetos políticas para os povos indígenas e que
econômicos que se estendem de norte a sul essas soluções obedeciam a diferentes
do Brasil e que normalmente atingem os interesses econômicos e sociais de acordo
habitantes dessas regiões. com a época em questão.
Os povos indígenas estão presentes no É possível verificar que a política
território brasileiro há milhares de anos – exterminacionista, inicialmente, tinha a
são aproximadamente 12 mil –, bem antes ver com o extermínio dos indígenas por
de o Brasil ter esse nome. Aqui chegaram considerá-los um empecilho para a
atravessando agruras geográficas, exploração colonial. Em seguida, foi
climáticas e culturais. Muitos dos grupos gestada a política assimilacionista com a
que enfrentaram o desafio de ter melhores clara intenção de fazer as diferenças
condições de vida foram se estabelecendo desaparecerem como num passe de
em determinadas regiões, criando o mágica, desejando que os indígenas
próprio estilo de vida, que chamamos de fossem assimilados pela cultura europeia.
cultura. Esse estilo foi sendo aprimorado Essa política não deu certo e, ainda no
ao longo do tempo, mas foi basicamente sistema colonial, mas já no seu finalzinho
movido pelo instinto de sobrevivência dele, foi praticada a política
baseado numa concepção de integracionista, imaginando que as
pertencimento ao universo. Essa visão de populações indígenas pudessem, por
humanidade ocasionou constantes vontade própria, se integrar ao novo
aperfeiçoamentos, seja na cultura material, modelo de país que surgiu após a
criação de objetos cada vez mais Independência, no século XIX. Foi nesse
sofisticados para o uso cotidiano, seja na século que também foram criados os
compreensão de humanidade, repassada principais mitos sobre os indígenas, que
de geração a geração por um sistema ficaram fixados na mente dos brasileiros
educacional baseado na oralidade. por causa das ideias trazidas pela
Quando os colonizadores europeus por Revolução Industrial e pelo pensamento
aqui aportaram, foi assim que encontraram do francês Jean Jacques Rousseau e sua
estes povos organizados, mas, embora teoria sobre o “bom selvagem”, e pelas
fascinados com toda essa riqueza cultural, literaturas românticas de Gonçalves Dias e
foram incapazes de valorizar a experiência José de Alencar, que apresentaram um
dos indígenas e tiveram as atitudes que indígena submisso ao modelo europeu.
lhes pareceram mais natural: a No fim do século XIX, pudemos
escravização, o extermínio, a perceber que a Proclamação da República
desmoralização cultural. Assim faziam por não alterou muito o jeito de enxergar os
pertencerem a uma cultura dita civilizada povos indígenas, mas trouxe um elemento
que não aceitava como hoje ainda não novo no trato com aquelas populações que
aceita, outros modos de pensamento que ainda não tinham contato com o Brasil, por

9
Currículos e Orientações Didáticas

meio da sensível política desenvolvida por a cobiça de diferentes grupos e empresas,


Cândido Mariano Rondon, o marechal tanto nacionais quanto internacionais.
responsável pela criação do SPI – uma Os indígenas também estão em São
instituição que foi posteriormente Paulo, essa grande metrópole brasileira.
substituída pela FUNAI sob a égide dos Estão resistindo, apesar de muitos séculos
militares, que tomaram o poder em 1964, já terem passado e a cidade ter sufocado
e que até hoje ainda e responsável pela muitas de suas expressões.
política para os povos indígenas. Os povos indígenas estão por aqui
Após o regime militar (1964-1985), a buscando traçar um caminho para manter
sociedade brasileira exigiu que se suas culturas apesar de tantas dificuldades
elaborasse uma nova Constituição. A e incompreensão porque ainda passam. No
Assembleia Nacional Constituinte foi entanto, mantém viva sua dignidade
eleita com esse objetivo. O movimento mostrando que é possível outro caminho
social se mobilizou, tornando a Carta de convivência e respeito com a natureza e
Magna um reflexo de um país novo, com as pessoas que as cercam no contexto
democrático e múltiplo em sua formação e urbano em que vivem.
cultura. Nela, os povos indígenas puderam Tentar compreender a
ver registrados em que seus direitos são contemporaneidade dessas culturas é
garantidos passando do paradigma fundamental para que se mantenha o
integracionista para um novo modelo no respeito e a dignidade delas.
qual já não são mais vistos como Nossos povos têm muita clareza de seu
sociedades em mutação para um estágio lugar no mundo. Cabe a nós, educadores e
superior, mas, sim, como grupos humanos educadoras, encontrar estratégias para
completos em sua dignidade e princípios discutir alternativas para que esses modos
de vida, que precisam ser respeitados e de vida possam ter um lugar, não apenas
conhecidos por toda a sociedade brasileira. na escola ou na cidade de São Paulo, mas
no coração de todos os brasileiros.
O movimento indígena – como
instância política – cresceu, e se Caso queira ter acesso à íntegra deste
multiplicaram as organizações material, acessar o link abaixo:
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
comunitárias em busca de reivindicações content/uploads/Portals/1/Files/53254.pdf
especificas que culminaram com a
necessidade de formar profissionais
qualificados em diversas áreas do Secretaria Municipal de Educação.
conhecimento. Essas pessoas – homens e Coordenadoria Pedagógica. Currículo da
mulheres – formam o que hoje chamamos cidade: povos migrantes: orientações
pedagógicas. – São Paulo: SME /
Indígenas em Movimento, pois atuam de
COPED, 2021
forma autônoma na sociedade brasileira https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/
sem abrir mão de sua ancestralidade. wp-
Aqui percebemos que, apesar das content/uploads/2021/06/Curr%C3%ADc
muitas conquistas políticas, as populações ulo-da-Cidade-Povos-Migrantes-WEB.
indígenas ainda são consideradas um pdf
entrave para o progresso.
Tal pensamento ainda é difundido
especialmente por grandes grupos O currículo presente está em
econômicos que têm vasto interesse nas consonância com a Política Municipal para
terras tradicionalmente ocupadas pelos a População Imigrante, a Lei Municipal nº
povos originários. Essas terras são ricas 16.478/2016, que assevera a garantia de
em minérios – ouro, prata, diamante, direitos no Município de São Paulo. A
nióbio, cassiterita, entre outros –, e atiçam partir do compromisso com a tríade:

10
Currículos e Orientações Didáticas

Educação Integral, Equidade e Educação de pessoas de diferentes origens em nossas


Inclusiva, dialoga com os Objetivos do escolas.
Desenvolvimento Sustentável da Agenda Assegurar a educação inclusiva e
2030, apresentando as pontes existentes. equitativa e de qualidade, e promover
Este material convida a um movimento oportunidades de aprendizagemao longo da
de desvelar de práticas e convoca ao vida para todos.
compromisso com a equidade, valorização
das diversas nacionalidades e, finalmente, Decreto nº 57.533/2016
permite-nos refletir acerca da xenofobia e
racismo, além de indicar caminhos Regulamenta a Lei nº 16.478/ 2016, que
possíveis para o debate e resolução de institui a Política Municipal para a
conflitos advindos destes. Para terminar, População Imigrante
evidencio uma, dentre outras,
aprendizagens deste documento: migrar é Artigo 20
um direito e, a partir dessa premissa básica. I - priorizar e ampliar ações educativas
“Todos os seres humanos nascem livres de combate à xenofobia, considerando as
e iguais em dignidade e direitos”. Esse suas interfaces com as demais formas de
trecho da Declaração Universal dos discriminação;
Direitos Humanos (Resolução 217A (III) da II - introduzir conteúdos que promovam
Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 a interculturalidade e a valorização das
de dezembro de 1948), soma-se ao seguinte culturas de origem dos alunos imigrantes ou
excerto da Convenção da UNESCO filhos de imigrantes dentro das grades
Relativa à Luta contra as Discriminações no curriculares, em todas as disciplinas e
Campo do Ensino, de 1960: “[...] se entende etapas de educação, com inclusão de
por discriminação toda distinção, exclusão, materiais pedagógicos sobre a temática das
limitação ou preferência fundada na raça, correntes migratórias contemporâneas,
na cor, no sexo, no idioma, na religião, nas compreendendo o refúgio, e o diálogo
opiniões políticas ou de qualquer outra intercultural;
índole, na origem nacional ou social, na III - fortalecer e ampliar programas de
posição econômica ou o nascimento, que formação intercultural voltados para
tenha por finalidade ou por efeito destruir profissionais de ensino;
ou alterar a igualdade de tratamento na IV - promover, divulgar e garantir apoio
esfera do ensino [...]”. Esses dois trechos pedagógico, material e institucional a
apresentam o princípio-base para o tema projetos de acolhimento, promoção da
desta publicação, ressaltando a importância interculturalidade e valorização da cultura
do trabalho pedagógico qualificado de de origem dos alunos imigrantes e de suas
todos vocês, profissionais de educação da famílias, com sua participação, nos
rede municipal de ensino, para que para, de estabelecimentos de ensino e equipamentos
fato, “ninguém seja deixado para trás” rumo públicos municipais em geral.
ao alcance da Agenda 2030, em especial do
ODS 4 e para a garantia do direito humano Decreto nº 57.533/2016
à educação dos estudantes refugiados e
migrantes que vivem no território Regulamenta a Lei nº 16.478/ 2016, que
paulistano. institui a Política Municipal para a
Como educadoras e educadores, temos População Imigrante
um papel importantíssimo na promoção de
direitos à população migrante e, nesse Artigo 19
sentido, devemos buscar metodologias de
aprendizagem que consigam incluir toda a É garantido a todas as crianças,
riqueza que nos é apresentada pela presença adolescentes, jovens e adultos imigrantes o

11
Currículos e Orientações Didáticas

direito à educação, por meio do ingresso, Decreto Municipal 54.453/2013


permanência e terminalidade na rede de
ensino público municipal, não constituindo Artigo 11
obstáculo ao exercício deste direito a
impossibilidade de comprovação
documental [...]. São atribuições do Coordenador
Pedagógico:
Lei de Migração (Lei Federal nº II - elaborar o plano de trabalho da
13.445/2017) coordenação pedagógica, articulado com o
plano da direção da escola, indicando
Artigo 3º metas, estratégias de formação,
cronogramas de formação continuada e de
A política migratória brasileira rege-se encontros para o planejamento do
pelos seguintes princípios e diretrizes: acompanhamento e avaliação com os
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao
racismo e a quaisquer formas de demais membros da Equipe Gestora.
discriminação; Política Municipal para a Os sujeitos que migram são múltiplos e
População Imigrante (Lei Municipal nº diversos. Ao ter contato com tantas
16.478/2016) histórias em movimento, nos aproximamos
de seus sonhos, seus desejos, suas
Artigo 2º trajetórias, as experiências que carregam
consigo, os desafios que enfrentam para sair
São princípios da Política Municipal e ao chegar e permanecer, as formas como
para a População Imigrante: se entendem na sociedade receptora e como
IV - combate à xenofobia, ao racismo, ao compreendem a realidade onde se inserem.
preconceito e a quaisquer formas de É preciso entender de que somos todas e
discriminação todos, sem exceções, titulares de direitos
Artigo 3º São diretrizes da atuação do humanos, dentre os quais o direito à
Poder Público na implementação da educação.
Política Municipal para a População Uma das primeiras barreiras que parece
Imigrante: se impor, a linguística, e sobre o momento
X - prevenir permanentemente e oficiar da matrícula, processo que inaugura o
as autoridades competentes em relação às contato e a relação da escola com as e os
graves violações de direitos da população estudantes migrantes e seus familiares e
imigrante, em especial o tráfico de pessoas, responsáveis.
o trabalho escravo, a xenofobia, além das Existe uma necessidade das escolas
agressões físicas e ameaças psicológicas no adotarem uma postura comprometida com
deslocamento. uma educação antirracista e não xenofóbica
e promoverem práticas pedagógicas
Decreto nº 57.533/2016 inclusivas e que valorizem a diversidade.
Existem redes de apoio que podem
Regulamenta a Lei nº 16.478/2016, que auxiliar as escolas no processo de se
institui a Política Municipal para a reinventar. As parcerias nos mostram que
População Imigrante não estamos sozinhos e que podemos contar
com o apoio de diferentes atores nesta
Artigo 20 caminhada.

I - priorizar e ampliar ações educativas Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
acessar o link abaixo:
de combate à xenofobia, considerando as https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
suas interfaces com as demais formas de content/uploads/2021/06/Curr%C3%ADculo-da-
discriminação; Cidade-Povos-Migrantes-WEB.pdf

12
Currículos e Orientações Didáticas

possibilitando a todos, desde bebês até


SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal adultos, o acesso a uma formação
de Educação. Coordenadoria Pedagógica. indispensável, cuja qual lhes possibilitará
Currículo da Cidade. Ensino realização pessoal, profissional e o pleno
Fundamental: Língua Portuguesa. São exercício da cidadania.
Paulo: SME / COPED, 2017. Para o alcance dos objetivos é evidente
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port que há que haver uma organização. Para
als/1/Files/50628.pdf isso o currículo da cidade preserva a
subdivisão do Ensino Fundamental de nove
anos em três ciclos. O ciclo de
Currículo da Cidade. Ensino Alfabetização compreende os três
Fundamental: Língua Portuguesa. primeiros anos (1°, 2° ,3°). O
interdisciplinar envolve os três anos
Neste estudo iremos nos atentar no seguintes (4°, 5°, 6°) e por fim o autoral
currículo para cidade, destinado ao ensino abarca os três anos finais (7°, 8°, 9°).
fundamental de língua portuguesa. A ideia central é proporcionar ao
No desenvolvimento do currículo da estudante o maior tempo de aprendizagem
cidade, houve a preocupação em se no âmbito de cada ciclo, havendo o devido
promover um currículo integrador, acompanhamento, seu desenvolvimento
levando-se em conta a organização dos intelectual e afetivo e suas características de
tempos, espaços e materiais que natureza sociocultural.
contemplem as vivências das crianças no Dentro do processo de aprendizagem
seu cotidiano, integrando a importância do alguns modos, formas, didáticas podem ser
brincar com os saberes de diferentes utilizados para se medir a evolução, dentre
componentes curriculares, em permanente elas está a avaliação. A partir da avaliação
diálogo. é possível mensurar a qualidade do
É importante destacar que na elaboração currículo, pois se verificará, por esse ato
do currículo da cidade o mesmo fora pedagógico, a progressão dos alunos,
orientado pela Educação Integral, sendo possibilitando ao docente definir novos
aquela em que se busca promover o trajetos de trabalho, se necessário for,
desenvolvimento dos estudantes em todas planejamento contínuo de atividades, quais
as suas dimensões (intelectual, física, dificuldades os alunos estão tendo.
social, emocional e cultural) e sua formação Portanto, auxilia na verificação do alcance
como sujeito de direitos e deveres. dos objetivos traçados.
Vislumbra neste modo de pedagogia, a Ao nos debruçarmos sobre o currículo
preocupação em desenvolver todo o em análise, identifica-se que os objetivos de
potencial dos estudantes e prepará-los para aprendizagem e desenvolvimento estão
se realizarem como pessoas, profissionais e identificados por uma sigla EF OX LPSXX
cidadãos comprometidos com o bem-estar, em que:
humanidade e planeta.
Ponto de relevância quando da EF: ensino fundamental;
construção do currículo, diz respeito à OX: ano de escolaridade;
educação inclusiva, sendo aquela em que se LPSXX: componente curricular Língua
reconhece a diversidade humana e da Portuguesa para surdos, seguido da
construção de uma escola que seja para sequência de objetivos de aprendizagem e
todos, sem barreiras, sem preconceitos, sem desenvolvimento desse componente.
distinção, garantindo a matrícula, a Quando se passa à análise de introdução
permanência e aprendizagem a todos. e concepções deste documento, verifica-se
A manutenção do direito à educação é que o mesmo entende que a aprendizagem
algo que deve ser preservado, da Língua Portuguesa acontece por meio de

13
Currículos e Orientações Didáticas

quatro atividades basilares, quais sejam: Proposta curricular vigente: consiste


falar, ouvir, ler e escrever. Diante disso, é naquele em que de um lado são organizados
que o documento fora organizado nos eixos determinados conhecimentos acadêmicos
de prática de leitura de textos, prática de produzidos e de outro são definidas as
produção de textos escritos, prática de prioridades governamentais para o
escuta e produção de textos orais e ainda segmento educacional ao qual se refere
prática de análise linguística/multimodal. (educação infantil, ensino fundamental,
Dentro desse currículo encontram-se ensino médio).
modelos, concepções teóricas, aspectos Já o Projeto político-pedagógico, visa
didáticos e metodologias que se apresentam articular a proposta governamental à
ao professor como forma de subsídios, para especificidade da realidade local, suas
que o mesmo pode usufruí-los da forma necessidades e aspirações.
mais eficaz, sempre visando o melhor Diante deste cenário, há que se levar em
desempenho no processo de aprendizagem conta o conjunto de estudantes reais que
do aluno. frequentam a escola, bem como cada uma
das salas de aula efetivas, considerando as
Caso queira ter acesso à íntegra deste material, necessidades de aprendizagem dos
acessar o link abaixo: estudantes e também suas possibilidades de
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fil
es/50628.pdf aprendizagem nos diferentes momentos do
processo de ensino.
Assim, com tais parâmetros em mãos,
torna-se possível atualizar ou concretizar os
Secretaria Municipal de Educação.
objetivos de aprendizagem e
Coordenadoria Pedagógica. Divisão de
Ensino Fundamental e Médio. desenvolvimento, definindo os conteúdos
Orientações didáticas do currículo da necessários para alcança-los.
Cidade: Língua Portuguesa, volume 1. Ponto de relevância para o estudo destas
São Paulo: SME/ COPED, 2018. orientações, refere-se à didática
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port pedagógica, sendo ela considerada
als/1/Files/50723.pdf instrumento que organiza e distribui no
tempo e espaço as ações didáticas que
foram planejadas, cujas quais possibilitam
Orientações didáticas do currículo da que o grupo estabeleça vínculo e se
cidade – Língua Portuguesa – Volume 1 organize para cumprir suas tarefas
Neste estudo iremos nos atentar no assumindo responsabilidades.
currículo para cidade, destinado às Vale ressaltar, que ela não é o
orientações didáticas do currículo para o planejamento das atividades em si, mas
ensino fundamental de língua português traduz e organiza a intencionalidade das
para a implementação e consolidação dos propostas.
objetivos de aprendizagem. Outra forma de aprendizado muito
Sempre antes de iniciar um trabalho, utilizada que pode ser objeto de didática
especialmente os de longo prazo, tal qual o pelos professores, é com relação ao modelo
ensino fundamental, é imprescindível o de organização em espiral, sendo essa
planejamento para o bom desempenho e àquela em que implica abordar um mesmo
desenvolvimento dos alunos. Ao se planejar conteúdo de maneiras diversas ao longo de
decisões devem ser tomadas, e para tanto um mesmo ano escola, dentro de um
algumas referências auxiliarão o mesmo ciclo e de todo o ensino
profissional da educação. fundamental.
De modo geral, têm-se as seguintes A organização do tempo para o alcance
referências: Proposta curricular vigente; dos objetivos traçados é de vital
Projeto político-pedagógico. importância, devendo o docente priorizar

14
Currículos e Orientações Didáticas

por modalidades didáticas que otimizem a material traz aos educadores, diz respeito à
sua utilização, considerando-se: importância da leitura, sendo fundamental
• o princípio da organização do que o professor conheça as necessidades de
currículo em espiral, para que os alunos aprendizagem dos estudantes para
tenham contato com o conteúdo em organizar o ensino de modo eficaz com
diferentes momentos; resultados que de fato ajudem a avançar.
São também consideradas modalidades
• natureza de cada conteúdo e suas
didáticas de ensino de leitura: leitura
necessidades de abordagem;
colaborativa, leitura em voz alta feita pelo
• necessidade de haver uma seleção professor, roda de leitores e leitura
dos conteúdos em função do tempo de que programada.
se dispõe para ensinar e dos objetivos de Observa-se diante de todo o material,
aprendizagem e desenvolvimento que são vários os modos de aprendizagem:
propostos para os estudantes. leitura, escrita, audição e também estão
entre a avaliação, pois é nesse momento
Com relação às modalidades didáticas onde pode se aferir o desenvolvimento dos
de ensino da linguagem verbal, são alunos, o atingimento dos objetivos
atividades elaboradas de modo a tematizar delimitados, abre-se a possibilidade do
aspectos muito específico do conteúdo, professor rever suas estratégias de aula, o
utilizando-se de procedimentos que tempo gasto em cada disciplina, entre outro
permitem lançar uma lente de aumento fatores essenciais ao progresso educacional.
sobre aquele aspecto, tratando esse
conteúdo de modo intenso. Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
Tais modalidades de atividades tanto acessar o link abaixo:
podem ser de escuta ou de leitura, de http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fil
produção de textos orais ou escritos, como es/50723.pdf
de análise linguística, entre outros.
Passemos à análise da produção de
textos, pois por muito tempo tal produção ______Secretaria Municipal de Educação.
Coordenadoria Pedagógica. Divisão de
era vista tão somente como reprodução,
Ensino Fundamental e Médio.
pois com a intensa preocupação de conduzir Orientações didáticas do currículo da
a atividade, de transmitir informações, a Cidade: Língua Portuguesa, volume 2.
produção textual em si não ocorria. São Paulo: SME/ COPED, 2018.
Neste documento, em estudo, observa-se http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
a preocupação na produção de texto, als/1/Files/50726.pdf
entendendo sendo essa o espaço de
interlocução, de devolução da palavra ao
sujeito. A sala que antes era apenas um Para iniciarmos este breve estudo, se faz
lugar de transmissão de informação, passa a necessário entender o que é a análise
ser também lugar de interação verbal. linguística. A análise linguística está
Portanto, o texto é tido como o espaço de relacionada a pesquisas que se propõem ao
reflexão sobre a língua e linguagem, de ensino da língua materna. A partir de tais
interação entre os sujeitos. pesquisas, que ganharam força nos anos
São diversas as operações de produção 1970, notou-se que o ensino da gramática
de texto: contextualização, elaboração e tradicional, como sendo objetos de ensino
tratamento dos conteúdos temáticos, nomenclatura e classificação gramatical,
planejamento/planificação, textualização, não bastavam para aprendizagem da Língua
revisão. Portuguesa.
Outro fator primordial no
desenvolvimento do aluno que esse

15
Currículos e Orientações Didáticas

Sendo assim, a análise linguística propõe produção de texto oral. Muito embora haja
outra maneira de ensino, utilizando também especificidade para cada tipo de linguagem,
como objeto de ensino o texto. A partir do escrita e oral, elas não podem ser vistas
texto surge para o estudante uma outra como opostas, tendo em vista que ambas se
metodologia para reflexão e decorrente da materializam em gêneros textuais
aprendizagem da língua. vinculados a diferentes contextos. Tanto
O texto passou a ser objeto de ensino nas um quanto a outra pode vir a apresentar
salas de aulas, trazendo consigo a mais ou menos uso formal.
necessidade de refletir sobre o processo de As atividades propostas poderão estar
elaboração de qualquer texto, seja ele oral, articuladas a projetos, sequências de
escrito ou multimodal, com objetivo de atividades ou atividades independentes,
levar o estudante a refletir sobre diferentes tendo por base gêneros destinados à escuta
recursos linguísticos, estilísticos, e/ou à produção oral por frequentação ou
discursivos os quais poderão ser utilizados por aprofundamento, podendo haver ou não
como estratégias de ler e compreender atividade de sistematização linguística.
textos, bem como elaborá-los. Quando é apresentado ao estudante
É de fundamental importância ter em trabalhos com textos orais, é comum que se
mente que a análise linguística não é peça a anotação daquilo que considera
estática, pois o conceito se amplia conforme importante, bem como nos trabalhos com
as diversas linguagens que utilizam texto escrito, porém, no geral, o estudante é
diferentes mídias e circulam nas mais encaminhado a se atentar a parágrafos,
diversas culturas. identificando ideias principais, construindo
Com relação à gramática é uma área de sínteses.
grande tensão, ao menos dois conflitos, Na linguagem oral, há por costume que
sobre o tema, ainda permanecem nos dias tudo fique relativamente “solto”, sem haver
atuais quanto às práticas de ensino da língua uma clareza sobre quais recursos
portuguesa. O primeiro está relacionado à linguísticos estão sendo tomados como foco
tradição, cujo qual tem por crença principal da aprendizagem.
que o ensino da gramática de nomenclatura Para auxiliar de forma eficaz na
gramatical é o que possibilita a aprendizagem, é necessário que o professor
aprendizagem de leitura e produção de selecione recursos expressivos como foco
textos orais e escritos. para o desenvolvimento da prática da escuta
Já o segundo nega o primeiro, condena o atenta, sendo sugerido a análise de tópicos
ensino da gramática normativa, tendo por discursivos e paráfrase na tomada de notas.
base uma crença de que não é necessária Por fim, é importante o estudo vinculado
ensiná-la. à análise linguística e a construção de
Para que se possa ter uma melhor atividades independentes. É sugerido, ao
organização das práticas de análises docente, que embora a sistematização seja
linguísticas em diferentes modalidades construída de maneira independente,
organizativas de atividades, é mister ao vincule-se a textos que o estudante já tenha
professor considere que as práticas de tido algum contato, tal qual em atividade de
leitura e produção de textos escritos e/ou leitura, escuta, produções por frequentação
multimodais podem estar relacionados a ou por aprofundamento.
apenas à leitura, à produção para
aprofundamento ou à produção por Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
frequentação (textos que podem ser acessar o link abaixo:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
produzidos sem necessidade de Files/50726.pdf
aprofundamento).
A análise linguística também possui
vínculo com as práticas de escuta e

16
Currículos e Orientações Didáticas

proporcionando a eles desafios adequados


________. Secretaria Municipal de às suas características biopsicossociais,
Educação. Coordenadoria Pedagógica. apostando nas suas possibilidades de
Currículo da cidade: Ensino
crescimento e orientando-se por uma
Fundamental: Matemática. – 2.ed.– São
Paulo: SME / COPED, 2019. perspectiva de educação inclusiva, plural e
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port democrática.
als/1/Files/50629.pdf
Outro ponto de relevante estudo, diz
respeito ao conceito de educação integral,
O currículo da cidade foi desenvolvido sendo essa entendida como aquela que
para todos os estudantes da rede municipal promove o desenvolvimento dos estudantes
de ensino de São Paulo, envolvendo aos que em todas as suas dimensões (intelectual,
necessitam de atendimento educacional física, social, emocional e cultural) e sua
especializado tais como: os que possuem formação como sujeito de direitos e
algum tipo deficiência, transtornos globais deveres. Essa é uma pedagogia que visa
de desenvolvimento ou os chamados desenvolver todo o potencial dos
superdotados. estudantes, preparando-os a se realizarem
O mesmo também é aplicado às crianças como pessoas, profissionais, cidadãos.
e adolescentes de diferentes origens ético- Vale ressaltar, que essa concepção não
racionais, imigrantes e refugiados de vários se confunde com educação de tempo
países. integral, cuja qual pode ser incorporada
A ideia central de atualização do tanto pelas escolas de período regular de
currículo da cidade de São Paulo é não cinco horas, quanto pelas de período de sete
deixar estática o aprendizado, mas horas.
demonstrar que a forma de aprender o Fica evidenciado que o currículo
conteúdo pode se dar de variadas formas, pensado na atualidade precisa dialogar com
maneiras diferentes. a dinâmica da sociedade, de forma que
Visando à garantia dos direitos dos novas gerações possam participar
estudantes, reconhece-se que há ativamente da transformação positiva tanto
necessidade de adequações didáticas e de sua realidade local, quanto dos desafios
metodológicas que levem em consideração globais, em temas como direitos humanos,
suas peculiaridades. meio ambiente, desigualdade social,
Desta forma, segundo o currículo da política, entre outros.
cidade irá se estruturar em três conceitos
orientadores: Para a atualização do currículo de
Educação Integral: aquele que tem por matemática, foi levado em consideração a
propósito promover o desenvolvimento formação dos estudantes da educação
integral dos estudantes levando em conta básica e as concepções da matemática como
suas dimensões intelectual, social, área do conhecimento, destacando suas
emocional, física e cultural. potencialidades formativas e sua utilidade
Equidade: tem por objetivo que cada no cotidiano da sociedade. Diante deste
estudante é capaz de aprender e cenário, verificou-se que a matemática,
desenvolver-se, contanto que processos bem como outras áreas de conhecimento
educativos a eles destinados considerem trouxeram contribuições para a ampliação
suas características e seu contexto e tenham do desenvolvimento cognitivo dos alunos,
significado para suas vidas. proporcionando análise e tomada de
Educação Inclusiva: Tal conceito visa decisões em suas realidades, além da
respeitar e valorizar a diversidade e melhoria nos valores sociais, emocionais,
diferença que cada estudante tem em seu estéticos, éticos e científicos.
modo de ser, de pensar e de aprender,

17
Currículos e Orientações Didáticas

É importante analisar o conjunto de O professor é de suma importância no


ideias da matemática que possibilitam o seu ciclo de aprendizagem matemático do
desenvolvimento: interdependência, aluno, pois é ele quem irá, diante do cenário
variação, equivalência, representação, em que vive, cultural, político, econômico,
ordem, proporcionalidade e aproximação. étnico, propor tarefas que proporcionarão
Ao longo de todo o ensino fundamental, aos estudantes possibilidades de
haverá o estabelecimento de uma aprendizagem. É importante que além de
articulação natural entre eles. propor as tarefas, o professor separe um
Assim como para o ensino de qualquer momento para que a discussão dos
outra matéria da grade curricular do resultados encontrados, assim poderá se
estudante, é necessário que para a disciplina analisar, por exemplo, o caminho
de matemática também haja reflexão acerca desenvolvido por cada aluno para encontrar
das diferentes estratégias de ensino. É o resultado e comparar os resultados entre
importante que se tenha em mente que o eles.
aluno já possui conhecimentos prévios e
experiências de fora da escola. Sendo Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
assim, compete à escola articular esses tipos acessar o link abaixo:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fil
de conhecimentos e experiências que o es/50629.pdf
aluno carrega consigo àqueles que irá
aprender, possibilitando o alcance dos
objetivos de aprendizagem e _________. Secretaria Municipal de
desenvolvimento propostos para cada ano Educação. Coordenadoria Pedagógica.
de escolaridade. Orientações didáticas do currículo da
Pode citar como exemplos variados de cidade: Matemática – volume 1. – 2. ed.
aprendizagem matemático a resolução de São Paulo: SME / COPED, 2019.
problemas, tarefas investigativas, uso de http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
recursos tecnológicos, jogos, modelagem, als/1/Files/50724.pdf
entre outros.
Nesse momento do estudo, é importante
relacionarmos a estrutura utilizada na O objetivo primordial deste estudo é
montagem curricular de matemática. Foram apresentar algumas reflexões, discussões e
fundamentais nessa organização: direitos sugestões que focalizem o ensino e
de aprendizagem, ideias fundamentais da aprendizagem em matemática, com base a
matemática, objetivos de desenvolvimento subsidiar o professor.
sustentável, eixos estruturantes, objetos de A gestão de aula é permeada por
conhecimento e objetivos de aprendizagem conflitos e indagações. Por mais experiente
e desenvolvimento. que seja o professor, até mesmo diante de
Também foram levados em conta outros um bom planejamento, o docente pode ser
eixos articuladores, tais quais jogos, surpreendido com imprevistos e perguntas
brincadeiras, processos matemáticos e surgirem em sua mente, tais como:
conexões extramatemática. O estudante não entendeu a explicação.
Com relação ao ciclo de alfabetização, o Qual intervenção devo fazer?
foco está em aglutinar os conhecimentos Como se forma na cabeça do aluno os
que a criança e o adolescente já possuem conceitos que estou ensinando?
com os novos conhecimentos,
possibilitando o desenvolvimento das O tempo previsto para a aula não foi
crianças e sua participação na sociedade. suficiente? Como adequar o planejamento a
A alfabetização matemática se preocupa essa situação?
com as diferentes práticas de leitura e Muito embora pareça uma atividade
escrita que envolvem as crianças e com as simples, o planejamento é complexo, pois é
quais elas se envolvem. nesse momento em que o professor antecipa

18
Currículos e Orientações Didáticas

e organiza todas suas ações, como será o comunicar as ideias matemáticas que estão
método de aprendizagem que irá utilizar, desenvolvendo ao longo das atividades.
verifica o que os alunos precisam saber para Pode se destacar como grande missão
que possam realizar a atividade, antecipa dos educadores na sociedade
dúvidas que possam surgir na aula, faz contemporânea é a concretização das
previsão do tempo para discorrer sobre o conexões extramatemáticas, ou seja, prever
um currículo que atenda ao princípio e
tema do dia e ainda define critérios de valores éticos, políticos e estéticos, de
avaliação. modo que possibilite aos estudantes a
A sala de aula é um ambiente onde se construção de uma sociedade mais justa e
encontram vários tipos de pessoas, democrática.
diferenças étnicas, diferenças econômicas, Uma das formas de se potencializar o
diferenças de aprendizado e até mesmo de aprendizado dos alunos de matemáticos tem
nacionalidade, devido à globalização em sido a utilização de jogos e brincadeiras,
que se vive. cujos quais têm se constituído de forma
Diante de tal cenário, é preciso que o desafiadora e dinâmica como contextos
para resolução de problemas, pois são
ambiente escolar seja democrático, cabendo atrativos e favorecem a criatividade na
ao docente ter discernimento para lidar com elaboração de estratégias de soluções.
a complexa heterogeneidade do grupo. Quanto aos processos matemáticos é
Tendo ciência da sala que possui, das importante destacar que o ensino dessa
características dos estudantes é que assim matéria envolve não apenas os conceitos,
poderá realizar uma melhor organização de mas também os processos que a
grupos na sala, quando, por exemplo, for aprendizagem desta área abarca. Tais
realizar uma atividade em grupo. processos estão presentes quando se usa a
O currículo traz como forma de auxiliar matemática de forma diferente da mera
aplicação de algoritmos, compreendendo
o professor que logo no início do ano todos as ações que permitem trabalhar com
estabeleça alguns combinados com a turma os conceitos dessa área. Eles são
para o bom desenvolvimento. fundamentais na resolução de atividades
A organização da sala de aula por matemáticas.
agrupamentos produtivos depende do
objetivo de aprendizagem e da atividade Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
que se pretende desenvolver. Quando se for acessar o link abaixo:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fil
realizar atividades em grupo, dois critérios
es/50724.pdf
devem ser observados: o primeiro diz
respeito aos diferentes níveis de
conhecimento dos estudantes que devem
ser próximos; e o segundo se refere ao perfil Leonardo ________. Secretaria Municipal
das relações sociais dos integrantes que irão de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
compor o grupo. Orientações didáticas do currículo da
cidade: Matemática – volume 2. – 2.ed. –
Outro ponto relevante em que o
São Paulo: SME / COPED, 2019.
professor deve se atentar é quanto à sua http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
rotina de trabalho. Essa nada mais é do que als/1/Files/50722.pdf
a organização do tempo didático, pensada
com antecedência semanal ou quinzenal, de
modo a otimizar a aprendizagem dos
alunos. Eixo Grandezas e Medidas
Nessa organização, é importante que se A importância das grandezas e medidas
leve em conta o procedimento matemático para a formação dos cidadãos é indiscutível.
que possibilitam a ampliação do Afinal, este conteúdo matemático, de
conhecimento de representar, relacionar, caráter prático e utilitário, foi construído ao
operar, resolver problemas, investigar e longo da história da humanidade, a partir de

19
Currículos e Orientações Didáticas

inúmeras necessidades cotidianas atreladas aproximação entre as massas; estimar e


ao controle das dimensões espaciais (a comparar a capacidade de recipientes de
demarcação dos limites de terra para o tamanhos diferentes a partir da observação;
plantio e construções arquitetônicas), observar a passagem do tempo a partir da
temporais (a previsão do ciclo das estações análise de autorretratos e fotografias do
do ano e condições climáticas para plantio, próprio desenvolvimento.
colheita e sobrevivência) e econômicas (a A condução de atividades dessa natureza
necessidade de um sistema monetário com pode ser fundamentada pelo pro- fessor a
equivalência de valores para mediar as partir das contribuições da História da
relações comerciais). Matemática, resgatando a origem da
Grandeza é tudo aquilo que pode ser medida em diferentes civilizações em que
contado, mensurado. Existem dois ti- pos os primeiros instrumentos da huma- nidade
de grandezas: as discretas e as contínuas. utilizados para medição foram as partes do
Essas grandezas envolvem duas no- ções corpo. Mesmo entre os povos latino-
elementares da matemática, ou seja, contar americanos atuais, a diversidade de padrões
e medir. As grandezas discretas são de medida é enorme e pode ser explorada
consideradas contáveis, pois podem ser pedagogicamente em sala de aula. Além
facilmente quantificadas. Já as grandezas dos aspectos históricos, cabe ao professor
contínuas são passíveis de medida, pois não desenvolver situações-problema que gerem
permitem a contagem direta/imedia- ta. reflexões nos estudantes e para que
Enquanto a primeira resulta na quantidade percebam que, em alguns momentos, o uso
de objetos (contagem); a segunda quantifica de partes do corpo como unidade de medida
suas qualidades (massa, temperatura, de comprimento é inadequado, tendo em
comprimento, capacidade, valor, volume e vista que palmos, pés, dedos e braços são de
tempo) por meio da medida. tamanhos diferentes e que as percepções
De acordo com Frías et al. (2008), para táteis (para compa- rar medidas de massa e
medir é preciso saber previamente o que se capacidade) e visuais (para observar a
mede. Por essa razão, é necessário refletir passagem do tempo) não são suficientes e
acerca das qualidades e dos atribu- tos das exatos e que, por isso, tornam-se arbitrárias.
pessoas e dos objetos, uma habilidade
fundamental que dá origem à com- Grandezas geométricas: área e
preensão do conceito de medida. perímetro
Um dos problemas que envolve o ensino
O ensino das grandezas e medidas dessas grandezas é o caráter de revisão que
De acordo com o documento curricular livros didáticos dão a elas, sem levar em
de matemática, é recomendável que no consideração uma abordagem conceitual.
Ciclo de Alfabetização, as crianças tenham No Ciclo Interdisciplinar, essa noção é
primeiramente a oportunidade de explorar iniciada com figuras desenhadas em malhas
as partes do corpo como unidades quadriculadas e unidades de medida
arbitrárias e como primeiro instrumento explícitas. As atividades propostas se
para medir, comparar e estimar grandezas. assemelham mais às contagens do que à
Por exemplo, utilizar a polegada, palmo, pé, noção de área ou de perímetro e, apesar
passo e braço para medir a grandeza de dessa iniciação, no Ciclo Autoral, ela é
comprimento; explorar o movimento da retomada em caráter de revisão, pois mui-
balança de contrapeso, tendo o corpo como tas vezes se considera que os estudantes já
eixo central e os dois braços como pra- tos construíram conhecimentos necessários
para comparar a massa de dois objetos para para operar com estas grandezas. Em alguns
saber qual é o mais leve e o mais pe- sado casos, mesmo sem intencionalidade, as
ou utilizar, ainda, um peso padrão em uma figuras geométricas planas e suas
das mãos para verificar o equilíbrio e respectivas fórmulas para os cálculos de

20
Currículos e Orientações Didáticas

área e perímetro são introduzidas no Ciclo propiciadas pelas diversas formas de


Autoral, sem a perspectiva de relacioná-las comunicação caracterizam a aquisição de
com os estudos realizados no Ciclo competências geométricas iniciais de
Interdisciplinar e de discutir os conceitos naturezas distintas, sendo elas: a primeira
envolvidos. refere-se à comunicação com o uso de
Outra dificuldade se refere à falta de vocabulário próprio e compreensível não só
identificação das grandezas, áreas e pelos estudantes, mas também no ambiente
perímetros, se essas não estiverem social; a segunda envolve a leitura e
explícitas no enunciado de um problema. interpretação do espaço, essencial para a
Os dois problemas a seguir envolvem uma compreensão de noções espaciais e de seus
figura retangular, com as mesmas medidas, elementos e a terceira abrange as
para ser calculada a área. Os estudantes do construções de representações do espaço.
Ciclo Interdisciplinar têm mais sucesso na São habilidades distintas, afinal, é muito
resolução do segundo problema do que no diferente descrever e compreender um
primeiro. espaço já representado, de representá-lo.
1. Um jardim retangular mede 6 Essas três competências são imbricadas,
metros de frente por 9 metros de fundos. mas, quando separadas, ajudam o professor
Quantos metros quadrados de grama é na exploração do vocabulário, na
preciso comprar para cobrir todo o jardim? compreensão do espaço e na construção de
2. Um retângulo mede 6 cm de base e representações espaciais.
9 cm de altura. Qual é sua área? Os estágios do desenho definidos por
Luquet (1927) permitem ao professor
De acordo com Bellemain e Lima (2002) analisar as representações espaciais
a construção das relações entre área e construídas pelas crianças. São eles:
perímetro é um processo complexo e dura realismo fortuito, realismo falhado ou
por vários anos na escolarização. É preciso incapacidade sintética, realismo intelectual
levar em conta que, entre essas duas e realismo visual. Piaget e Inhelder (1993)
grandezas geométricas, existe um processo adotaram os estágios do desenho definidos
duplo de diferenciação e de coordenação. É por Lu- quet (1927), por considerar em que
necessário, ao mesmo tempo, diferenciar eles revelam uma notável convergência
propriedades simultâneas presentes em uma com a evolução mental e a geometria
figura (o comprimento do contorno de uma espontânea da criança.
superfície e a área dela) e coordenar essas Atualmente, estudos de Clements e
mesmas propriedades no caso da Sarama (2000) afirmam que os estágios do
apropriação de fórmulas. pensamento geométrico e as etapas da
aquisição da noção espacial não são rígidos.
Eixo Geometria Por isso, nos dois primeiros ciclos do
Ensino Fundamental (Alfabetização e
Relações Espaciais Interdisciplinar), o professor pode
Para desenvolver noções espaciais, é encontrar nas representações dos estudantes
importante que as crianças e os todas as características gráficas descritas
adolescentes tenham oportunidade de por Luquet (1927), ou seja, os professores
vivenciar o espaço que estão inseridos por podem encontrar nos desenhos das crianças
meio de atividades práticas exploratórias traços referentes ao realismo falhado,
como: informar a localização de pessoas e realismo intelectual e realismo visual.
objetos. Curi (2013) destaca que esse tema Luquet (1927) baseia-se no que
é relativamente novo nos currículos. Para a denomina de realismo para analisar o
autora, é uma temática que precisa estar desenho da criança. O autor refere-se a
relacionada ao seu uso social. Outro ponto realismo como a qualidade do desenho ser
fundamental que destaca é que as interações análoga a um objeto, está atrelada ao

21
Currículos e Orientações Didáticas

conceito de “compreensão” das Realismo Intelectual


características gerais do “objeto”. Segundo Para Luquet (1927) quando a criança
o autor, há duas espécies de desenho: o supera a incapacidade sintética, o desenho
figurativo e o desenho não figurativo, ou infantil torna-se plenamente realista,
em um sentido mais amplo, o geométrico. É representando os pormenores do objeto ou
a esse segundo tipo de desenho que este do espaço. O autor classifica essa fase do
texto vai se ater. desenho como sendo Rea- lismo
Intelectual. Ele afirma que “O realismo
Realismo Fortuito intelectual traz ao desenho contra- dições
Essa fase do desenho infantil, flagrantes com a experiência [...]. Elas
denominada por Luquet (1927) como escapam à criança porque ela tem a sua
realismo fortuito, é caracterizada pelo atenção totalmente monopolizada pela
desenho involuntário e pelo fato de a execução do desenho, durante e depois da
criança verificar que seu traçado produz execução.” (LUQUET, 1927, p. 188).
acidentalmente uma similaridade com um
objeto que tenha a intenção de desenhar. Realismo Visual
A criança, produzindo um desenho, pode Luquet (1927) aponta que o realismo
encontrar ocasionalmente similari- dades visual exclui os diferentes processos do
entre seu desenho e os objetos que estaria desenho impostos pelo realismo intelectual,
desenhando, outras vezes não. Mui- tas ou seja, a transparência dá lugar à
vezes, a criança tem a intenção de desenhar opacidade, o rebatimento e a mudança de
um barco, por exemplo e, ao final do ponto de vista são substituídos pela
desenho, relaciona seu traçado com uma perspectiva que os equivale no realismo
casa, interpretando aquele desenho como o visual, a perspectiva modifica o aspecto que
desenho de uma casa. Às vezes, ela faz o apresenta a linha de um objeto ou de um
traçado do barco e relaciona-o com esse detalhe visto de frente. Luquet (1927)
objeto, interpretando a sua representação considera que, nessa fase, a criança se
como um barco. A partir de várias tenta- preocupa em representar, no desenho, todos
tivas, a habilidade gráfica da criança vai os elementos possíveis que constituem o
melhorando e ela começa a relacionar seu objeto representado. As crianças misturam
desenho com o objeto que tinha a intenção pontos de vista para que o outro entenda sua
de desenhar. representação e para que ela tenha certeza
que sua representação será entendida pelo
Realismo Falhado outro. Costuma-se utilizar de desenhos e
Segundo Luquet (1927), é nesse estágio legendas para nomear os objetos
que as crianças dão detalhes ao desenho representados. Luquet (1927) afirma que os
que, para elas, naquele momento, são progressos gráficos não surgem de uma só
importantes. Afirma que, nesta fase, vez, pois requerem uma luta contra os
somente estão preocupadas em representar hábitos contrários profundamente
cada um dos objetos de forma diferente, não enraizados em seu modo de desenhar.
integrando os objetos que compõem o Segundo o autor, “a fase do realismo visual
espaço em sua totalidade. Para Piaget e não se fixa de imediato, podendo o realismo
Inhelder (1993) é neste estágio que as intelectual reaparecer nos desenhos das
crianças iniciam a representação do espaço crianças, e ainda, num mesmo desenho,
por meio das relações topológicas, ou seja, certas partes são conformes ao realismo
das propriedades gerais dos objetos como: intelectual e em outras partes são
vizinhança, separação, continuidade e conformes ao realismo visual” (LUQUET,
descontinuidade. 1927, p. 191).

22
Currículos e Orientações Didáticas

Figuras geométricas espaciais Figuras Geométricas Espaciais

Justifica-se o ensino de Geometria desde As figuras geométricas espaciais podem


os anos iniciais do Ensino Funda- mental, ser organizadas em dois grupos: (prismas,
porque ela permite o desenvolvimento de pirâmides e outros) e corpos redondos
um tipo de pensamento que os números e a (cones, cilindros e esferas). Quando as
álgebra não possibilitam, ou seja, o ensino figuras geométricas espaciais não são ocas,
da Geometria proporciona uma são denominadas de sólidos geométricos.
interpretação e uma compreensão Iniciamos com a apresentação de algumas
organizada do mundo real e uma visão mais características dos poliedros.
abrangente da Matemática. Um poliedro é uma figura geométrica
Os documentos curriculares mais atuais, espacial limitada por um mesmo conjunto
como o documento Orientações finito de polígonos, que são denominados
Curriculares e Proposição de Expectativas faces.
de Aprendizagem (2007), focalizam o Cada lado de um polígono desse
trabalho com relações espaciais e com conjunto coincide com um lado de outro
figuras geométricas espaciais e planas. polígono (PIRES; CURI; CAMPOS, 2012,
Esses documentos destacam que o trabalho p.93-94). Os lados desses polígonos que se
com geometria contribui para a aprendiza- encontram se constituem as arestas dos
gem de números e medidas, pois incentiva poliedros. A aresta de um poliedro é um
o estudante a observar e a perceber segmento que se origina quando as faces do
semelhanças e diferenças, identificar poliedro se juntam. Os vértices dos
regularidades etc. Além disso, sugerem que polígonos também são os vértices do
esse trabalho seja feito a partir da poliedro composto por eles. O vértice de
exploração dos objetos do mundo físico, de um poliedro é um ponto no qual mais de
obras de arte, pinturas, desenhos, esculturas duas arestas e mais de duas faces se juntam
e artesanato, pois isso possibilita (PIRES, CURI E CAMPOS, 2012, p.94).
estabelecer conexões intramatemáticas
(internas à Matemática) e extramatemáticas Os poliedros são convexos, se tiverem as
(com ou- tras áreas do conhecimento). seguintes características:
Atualmente, o enfoque dado ao ensino -Duas faces distintas não pertencem ao
de geometria envolve as noções espaciais e mesmo plano;
o estudo das figuras geométricas, tanto com - Cada aresta pertence apenas a duas
relação às suas características e faces,
propriedades como às suas medidas.
- As faces são formadas por polígonos
As contribuições da etnomatemática
planos,
também trouxeram à baila a importância da
geometria como modo de interpretar o - O plano de cada face deixa o poliedro
mundo e perceber as múltiplas leituras do todo em um mesmo semiespaço.
espaço não advindas apenas da geometria
grega. Os Poliedros de Platão possuem
O Currículo da Cidade aponta, nos seus características próprias e obedecem as
objetivos de aprendizagem e seguintes condições:
desenvolvimento o enfoque para a análise O número de arestas é igual em todas as
figurativa com estudo de figuras e suas faces,
propriedades independentemente das Em cada vértice incide o mesmo número
medidas, como os da análise qualitativa no de arestas, Vale a relação de Euler: V + F =
estudo das medidas das figuras e da análise A+2
estrutural, levando em conta a equivalência O paralelepípedo é um poliedro de
de figuras e as transformações geométricas. Platão, pois as 6 faces são quadriláteros em

23
Currículos e Orientações Didáticas

que o número de arestas é igual a 4 em todas iniciar o trabalho de geometria pelas figuras
as seis faces. De cada vértice, par- tem geométricas espaciais, pois os objetos que
sempre 3 arestas. A relação de Euler é as crianças têm contato em seu cotidiano
válida: 8 + 6 = 12 + 2 (14). são tridimensionais e guardam similaridade
São Poliedros de Platão as seguintes com as figuras geométricas espaciais, como
classes de Poliedros: tetraedro (4 faces), esferas, cilindros, pirâmides, entre outros.
hexaedro (6 faces), octaedro (8 faces), A planificação das figuras geométricas
dodecaedro (12 faces), icosaedro (20 faces). espaciais traz a oportunidade de as crianças
observarem que a sua decomposição pode
Geometria de transformações gerar as figuras geométricas planas.
Quando um objeto sofre uma mudança Neste texto, como anunciado no título,
na sua forma, no seu tamanho ou na sua trataremos das figuras geométricas planas,
posição em relação a outros objetos, uma vez que já temos outro texto neste
dizemos que ele sofreu uma transformação, material que trata da geometria espacial.
por exemplo, uma folha de papel rasgada ao Muitos objetos, por terem espessura
meio, um vaso que transportamos do centro muito pequena, carregam consigo a ideia de
de uma mesa para pia, uma fotografia que serem bidimensionais, um exemplo disso
foi ampliada ou reduzida de tamanho, todos pode ser a folha de papel, que é, na verdade,
esses objetos passaram por algum tipo de tridimensional (possui comprimento,
transformação, por uma mudança, quer seja largura e espessura), mas, por sua espessura
de lugar, de posição ou mesmo tamanho. ser tão pequena, muitas vezes, é confundida
Como vimos, o mundo das com uma figura geométrica plana.
transformações é amplo, mas, ao
refletirmos sobre o seu ensino na educação Eixo Probabilidade e Estatística
básica, estamos nos referindo às isometrias Durante muito tempo, a Estatística
e às homotetias. ocupou um espaço secundário nos
currículos de Matemática, por isso
As figuras geométricas planas podemos afirmar que muitos de nós,
Durante muito tempo, começava-se a professores, tivemos o contato mais
ensinar geometria na escola por meio das aprofundado com este eixo somente no
figuras geométricas planas, tendo o seu Ensino Superior. Atualmente, devido a sua
principal foco no reconhecimento do relevância social, estudos apontam a
quadrado, do retângulo, do triângulo e do importância do desenvolvimento do
círculo. Acreditava-se que as crianças pensamento estatístico desde muito cedo.
aprenderiam “mais e melhor” se primeiro Smole, Ishihara e Chica (2009) destacam
fossem apresentadas às figuras planas. que os estudantes desenvolvem noções
Hoje, a partir de inúmeras pesquisas rudimentares de estatística ainda na
desenvolvidas na Educação Matemática, Educação Infantil, realizando pequenas
sabemos que foram cometidos muitos pesquisas e construindo tabelas e gráficos
equívocos ao associar, por exemplo, para organizar os dados. A estatística no
retângulos com caixas de sapato, quadrado Ensino Fundamental foi proposta desde os
com dados e, até mesmo, círculo a bolas de Parâmetros Curriculares Nacionais (1997),
futebol, uma vez que há, nesse contexto organizada no bloco de conteúdo
explicitado, figuras geométricas planas e denominado “Tratamento da Informação”.
espaciais. Alguns documentos posicionam-se sobre o
tema, defendendo que o trabalho com a
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Estatística envolve: a leitura e interpretação
PCN (1997) trouxeram uma demarcação de informações estatísticas, coleta,
para o ensino da geometria no Brasil, organização, resumo e apresentação de
indicando que seria mais adequado se dados, construção de tabelas e gráficos,

24
Currículos e Orientações Didáticas

cálculo e interpretação de medidas de três colegas, satisfazendo sua curiosidade


tendência central e de dispersão. inicial. A seguir, a pergunta poderá ser es-
tendida para toda turma. Além disso,
Roteiro de trabalho para o ensino da podemos provocar a curiosidade com novas
questões: O grupo de meninos terá a mesma
Estatística preferência que o grupo de meninas? Se
É comum que os estudantes demonstrem investigarmos a preferência dos pais,
disposição em levantar dados, construir teremos o mesmo resultado para todo o
gráficos e observar fenômenos. A partir de grupo das crianças?
um tema de interesse, eles poderão 7. Conteúdos matemáticos –
envolver-se em uma pesquisa. Entretanto, Conforme o nível da turma, será necessário
pesquisar, atividade inerente à Estatística, avançar nos conteúdos matemáticos.
requer planejamento de maneira que os Contagem, intervalo, razão, fração, ângulo,
dados coletados, com rigor, possam ser cálculos, proporção e porcentagem podem
ser úteis.
tratados e sistematizados a partir de uma
8. Tabelas e gráficos - Antes de os
linguagem própria. Vejamos como o
estudantes organizarem os dados e ele-
professor pode planejar esse processo.
geram a melhor forma de representação,
1. Definição do tema ou assunto -
pode-se discutir com eles que as tabelas
Refere-se ao momento de escolha dos
organizam informações em linhas e
temas e/ou assuntos do cotidiano dos
colunas, enquanto os gráficos usam
estudantes. O professor poderá negociar o
imagens (barras, setores, linhas ou
tema com a turma.
elementos pictóricos). Alguns materiais são
2. Leituras sobre o tema - Os
úteis nesta fase do trabalho, como papel
estudantes pesquisam informações sobre o
quadriculado, régua, transferidor e
tema e realizam discussões para definir
compasso. As tecnologias digitais também
quais aspectos específicos pretendem
podem ser um recurso valioso. Não
pesquisar do tema escolhido.
podemos esquecer que existe uma
3. Organização dos trabalho - Discutir
variedade de tipos de gráficos (de barra, de
e registrar como irão organizar os trabalhos
setor, de linha ou elementos pictóricos) e
(distribuir tarefas, definir responsabilidades
tabelas (simples e de dupla entrada), ambos
e etc.).
utilizados a partir da natureza das
4. Objetivos e público-alvo - Definir
informações a serem comunicadas. É
os objetivos e o público-alvo da pesquisa de
importante proporcionar aos estudantes
campo, ou seja, os entrevistados. Os
uma diversidade de situações em que
estudantes levantam hipóteses sobre os
possam interpretar e construir tabelas e
possíveis resultados para compará-los com
gráficos, avançando em sua complexidade.
os resultados finais. Definir o público-alvo
9. Relatório – Mesmo nos anos
ajudará a elaborar as perguntas.
iniciais, o professor pode produzir com os
5. Instrumentos de pesquisa – Elaborar
estudantes um relatório com a descrição dos
com os estudantes questões curtas e
objetivos da pesquisa, como os dados foram
objetivas, cujas respostas são passíveis de
coletados, o nome dos pesquisadores e as
mensuração. As respostas em forma de
tabelas ou gráficos produzidos com a
alternativas facilitarão a compreensão dos
representação dos resultados.
entrevistados e a tabulação posterior dos
10. Divulgação – Os estudantes
dados.
6. Coleta de dados – Discutir com os divulgam os resultados da pesquisa, por
estudantes como se apresentar ao exemplo, para outras turmas da escola, para
entrevistado, explicar os objetivos da os familiares ou na comunidade local.
pesquisa e perguntar se está dis- posto a Podem ser utilizados cartazes, cópias,
participar da entrevista. A princípio, nos exposições e seminários, entre outros.
anos iniciais do Ensino Fundamental, as
crianças podem fazer perguntas a dois ou

25
Currículos e Orientações Didáticas

11. Análise crítica – A pesquisa não se No Ensino Fundamental, os problemas


esgota na produção de tabelas e gráficos, de combinatória podem envolver as ideias
mas os estudantes precisam aprender a de produto cartesiano, permutação, arranjo
relacionar os dados, refletir sobre os e combinação. Como já foi comentado em
resultados e criticá-los. As análises críticas outros textos deste material, não se pretende
da turma podem constar em um relatório estabelecer nomenclatura que permita aos
produzido coletivamente. Nesta etapa é estudantes identificar as diferenças entre
importante que os estudantes sejam essas ideias, nem fazer uso de fórmulas
estimulados a comunicar oralmente ou por como as que são ensinadas no Ensino
escrito o que perceberam sobre as Médio, sem discussão das ideias. O que se
informações contidas em tabelas e gráficos. pretende é que os estudantes explorem
situações contextualizadas e as resolvam
Problemas de Combinatória por meio de procedimentos pessoais,
Autores, como Borba (2010), afirmam chegando a alguma sistematização no Ciclo
que as situações que envolvem o Autoral.
significado de combinatória constituem-se
em um verdadeiro problema, de acordo com Probabilidade
as concepções de educadores matemáticos Os estudos de Piaget e Inhelder (1993)
sobre o tema. Comentam que esses sobre a origem da ideia de acaso na criança
problemas envolvem uma situação que permitem compreender como se dá o
abarca dados e conhecimentos que desenvolvimento da noção de
possibilitam sua solução, mas que, no probabilidade. Esses autores destacam os
início, não há uma estratégia que possibilita mesmos estágios definidos pela Filosofia na
sua resolução. Isso implica em uma análise construção da ideia de acaso pela criança.
mais cuidadosa do que é colocado no Eles afirmam que nem tudo que está à nossa
enunciado, do que se deseja determinar e volta pode ser previsto de antemão com
das formas que permitem chegar à resposta precisão, mas que, mesmo assim, os
esperada. indivíduos, ao vivenciarem uma situação,
arriscam uma predição na tentativa de
Raciocínio Combinatório compreendê-la e conviver com ela. Eles
O raciocínio combinatório envolve um consideram que esse tipo de atitude leva a
modo de pensar muito presente na análise crer que o ser humano na idade adulta
de situações em que, dados determinados “possui” uma intuição de probabilidade. Os
conjuntos, devem-se agrupar os elementos resultados dos estudos desses autores
de modo a atender critérios específicos (de
escolha e/ou de ordenação) e determinar mostram que: o primeiro estágio de
(direta ou indiretamente) o total de desenvolvimento da ideia de acaso pela
agrupamentos possíveis. criança (antes dos 7- 8 anos de idade) “se
Esse modo de pensar está estreitamente caracteriza pela ausência de operações
associado às situações do cotidiano, como a propriamente ditas, isto é, de composição
organização de equipes e de campeonatos reversível; os raciocínios em jogo
esportivos, e também às situações contidas permanecem então pré-lógicos e são
em outras áreas do conhecimento, como na regulados apenas por sistemas de
nutrição, nas combinações de elementos de regulações intuitivas” (PIAGET;
categorias diversas para equilíbrio
alimentar. Além disso, as situações que INHELDER, 1993, p. 294). Nesse estágio,
envolvem combinatória desenvolvem um “a criança nem sequer entrevê a
raciocínio de caráter hipotético dedutivo, possibilidade de um sistema que lhe
base para o raciocínio científico, no qual é permita achar, sem esquecer nenhuma,
possível isolar variáveis, manter algumas todas as combinações duas a duas, todas as
constantes e variar outras. permutações, ou todos os arranjos dois a
dois realizáveis por meio de alguns

26
Currículos e Orientações Didáticas

elementos” (PIAGET; INHELDER, 1993, experimento é repetido n vezes; observa-se


p. 294). Eles afirmam que isso ocorre a frequência relativa de ocorrência de um
porque essas são operações multiplicativas certo resultado e calcula-se o limite.
particulares e as crianças, nesse estágio, não
são capazes de compreender as operações 3. Abordagem Axiomática
aditivas e multiplicativas mais simples. Consideramos P(A) como a
Segundo eles, durante esse primeiro probabilidade de ocorrência do evento A,
estágio, a criança não diferencia o possível associada ao espaço amostral S, P(A).
do necessário. Seu pensamento oscila entre A P (A) deve satisfazer os seguintes
o previsível e o imprevisto, mas nada é para axiomas:
ela nem seguramente previsível, quer dizer, Axioma 1: 0 ≤ P(A) ≤ 1
dedutível segundo um elo de necessidade; Axioma 2: P(S) = 1
nem seguramente imprevisível, quer dizer, Axioma 3: Se A ∩ B=∅, então P(A∪B)
fortuito (PIAGET; INHELDER, 1993, p. = P(A) + P(B)
294). Esta abordagem possibilitou grande
avanço científico, especialmente do ponto
Segundo Bayer et al. (2005), a de vista teórico e não existe
conceituação de Probabilidade se incompatibilidade entre esse enfoque e os
aperfeiçoou ao longo dos anos e, enfoques clássico e frequentista.
atualmente, são consideradas três diferentes
abordagens:
1. Abordagem Clássica __________. Secretaria Municipal de
Segundo o autor, a abordagem clássica Educação. Coordenadoria
foi publicada pelo italiano Girolamo Pedagógica. Currículo da cidade:
Cardano no livro Liber de ludo alea (Livro Ensino Fundamental: componente
dos jogos de azar) em 1525. Cardano foi o curricular: Ciências da Natureza. –
primeiro a apresentar probabilidades na 2.ed. – São Paulo : SME / COPED,
forma de “frações”. A utilização desta 2019.
abordagem para se estabelecer http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/
probabilidades é direta, mas só pode ser Portals/1/Files/50633.pdf
usada em espaços amostrais equiprováveis.
Seja P(A), a probabilidade de ocorrer o
evento A. Utilizando o conceito clássico a O Currículo da Cidade busca alinhar as
probabilidade de ocorrer A , P(A) é dada orientações curriculares do Município de
por: P(A) São Paulo à Base Nacional Comum
= n (A): Total (s), onde n(A) é o número Curricular (BNCC), documento que define
de resultados favoráveis ao evento A e as aprendizagens essenciais a que todos os
Total estudantes brasileiros têm direito ao longo
(s) é o número total de resultados em S da Educação Básica. A BNCC estrutura-se
com foco em conhecimentos, habilidades,
2. Abordagem Frequentista
atitudes e valores para promover o
O conceito frequentista se refere ao desenvolvimento integral dos estudantes e a
cálculo de probabilidades por meio de sua atuação na sociedade. Sua
observações sucessivas de um experimento implementação acontece por meio da
aleatório. A probabilidade é estimada de construção de currículos locais, de
forma experimental, podendo ser responsabilidade das redes de ensino e
encontrada quando o número de escolas, que têm autonomia para organizar
experimentações n tende ao infinito. A seus percursos formativos a partir da sua
probabilidade de ocorrência do evento A própria realidade, incorporando as
pode ser definida como um limite: o diversidades regionais e subsidiando a

27
Currículos e Orientações Didáticas

forma como as aprendizagens serão da sua realidade socioeconômica, cultural,


desenvolvidas em cada contexto escolar. étnico-racial ou geográfica.
O Currículo da Cidade foi construído de - Educação Inclusiva: ou seja, respeitar e
forma coletiva, para todos os estudantes da valorizar a diversidade e a diferença,
Rede Municipal de Ensino de São Paulo, reconhecendo o modo de ser, de pensar e de
inclusive os que necessitam de atendimento aprender de cada estudante, orientando-se
educacional especializado e tem como base por uma perspectiva de educação inclusiva,
para sua construção, as seguintes plural e democrática.
premissas: Continuidade: O processo de O Currículo da Cidade foi organizado
construção curricular procurou romper com em três Ciclos (Alfabetização,
a lógica da descontinuidade a cada nova Interdisciplinar e Autoral) e apresenta uma
administração municipal, respeitando as Matriz de Saberes, os Objetivos de
gestões anteriores e integrando as Desenvolvimento Sustentável, os Eixos
experiências, práticas e culturas escolares já Estruturantes, os Objetos de Conhecimento
existentes na Rede Municipal de Ensino. A e os Objetivos de Aprendizagem e
Relevância, pois foi construído para ser um Desenvolvimento de cada Componente
documento dinâmico, a ser utilizado Curricular.
cotidianamente pelos professores com O Currículo da Cidade deve ser
vistas a garantir os direitos de integrador, onde a criança não deixa de
aprendizagem a todos os estudantes da brincar ao ingressar no Ensino
Rede. A Colaboração, tendo em vista que Fundamental, ela continua a ser
foi elaborado considerando diferentes compreendida em sua integralidade e tendo
visões, concepções, crenças e métodos, por oportunidades de avançar em suas
meio de um processo dialógico e aprendizagens sem abandonar a infância.1
colaborativo. Contemporaneidade: tendo Sendo assim, o currículo do Ensino
em vista que busca formar os estudantes Fundamental considera a organização dos
para a vida no século XXI. tempos, espaços e materiais que
contemplem as vivências das crianças no
O Currículo da Cidade estrutura-se com seu cotidiano, a importância do brincar e a
base em três conceitos orientadores: integração de saberes de diferentes
- Educação Integral: cujo propósito Componentes Curriculares, em permanente
essencial e promover o desenvolvimento diálogo.
integral dos estudantes, considerando as O Currículo tem como base o Estatuto da
suas dimensões, intelectual, social, Criança e do Adolescente (ECA), o qual
emocional, física e cultural. considera a infância como o período que vai
- Equidade: partindo-se do princípio de do nascimento até os 12 anos incompletos,
que todos os estudantes são sujeitos e a adolescência como a etapa da vida
íntegros, potentes, autônomos e, portanto, compreendida entre os 12 e os 18 anos de
capazes de aprender e desenvolver-se, idade. A lei define que a criança e o
desde que os processos educativos a eles adolescente usufruam de todos os direitos
destinados considerem suas características fundamentais inerentes à pessoa humana e
e seu contexto e tenham significado para devem ter acesso a todas as oportunidades e
suas vidas. Assim sendo, o documento condições necessárias ao seu
busca fortalecer políticas de equidade, e os desenvolvimento físico, mental, moral,
direitos de aprendizagem, garantindo as espiritual e social.
condições necessárias para que eles sejam O Currículo da Cidade leva em conta as
assegurados a cada criança e adolescente da especificidades das fases do
Rede Municipal de Ensino, independente desenvolvimento e considera os diferentes

1
(SÃO PAULO, 2015, p. 8).

28
Currículos e Orientações Didáticas

contextos em que as crianças e os do processo de escolarização sejam,


adolescentes que vivem na Cidade de São realmente e sem distinções, para todos.
Paulo estão inseridos. Para tanto, acolhe O direito à educação implica a garantia
essa diversidade referenciando-se pelos das condições e oportunidades necessárias
estudos sobre as relações étnico-raciais, para que bebês, crianças, adolescentes,
pelas Leis 10.639/03 e 11.645/08, assim jovens e adultos tenham acesso a uma
como pela atuação do Núcleo Étnico-Racial formação indispensável para a sua
da SME, que, dentre outras atividades, realização pessoal, formação para a vida
fomenta práticas educacionais voltadas à produtiva e pleno exercício da cidadania.
aprendizagem de Histórias e Culturas Assim sendo, a Secretaria Municipal de
Africanas, Afro Brasileiras, Indígenas, Educação define uma Matriz de Saberes
assim como a de Imigrantes e de que fundamenta-se em:
Refugiados. 1. Princípios éticos, políticos e estéticos
Conforme explanado, o currículo definidos pelas Diretrizes Curriculares
envolve os diferentes saberes, culturas, Nacionais, orientados para o exercício da
conhecimentos e relações que existem no cidadania responsável, que levem à
universo de uma rede de educação. Os construção de uma sociedade mais
Currículos são orientadores, denominados igualitária, justa, democrática e solidária.
como um conjunto de aprendizagens 2. Saberes historicamente acumulados
concomitantes e interconectadas. que fazem sentido para a vida dos bebês,
Currículos são processos permanentes e crianças, adolescentes, jovens e adultos no
devem ser centrados nos estudantes, pois o século XXI e ajudam a lidar com as rápidas
propósito fundamental de um currículo é mudanças e incertezas em relação ao futuro
dar condições e assegurar a aprendizagem e da sociedade.
o desenvolvimento pleno dos mesmos, 3. Abordagens pedagógicas que
sendo necessário dialogar com a realidade priorizam as vozes de bebês, crianças,
das crianças e adolescentes, de forma a adolescentes, jovens e adultos, reconhecem
conectarem-se com seus interesses, e valorizam suas ideias, opiniões e
necessidades e expectativas. experiências de vida, além de garantir que
A Educação Integral orienta o Currículo façam escolhas e participem ativamente das
da Cidade. A educação integral é aquela que decisões tomadas na escola e na sala de
promove o desenvolvimento dos estudantes aula.
em todas as suas dimensões (intelectual, 4. Valores fundamentais da
física, social, emocional e cultural) e a sua contemporaneidade baseados em
formação como sujeitos de direito e “solidariedade, singularidade, coletividade,
deveres. A aprendizagem de conteúdos igualdade e liberdade”, que buscam
curriculares, ainda que importante, não é o eliminar todas as formas de preconceito e
suficiente para que as novas gerações sejam discriminação e todas as formas de
capazes de promover os necessários opressão que coíbem o acesso de bebês,
avanços sociais, econômicos, políticos e crianças, adolescentes, jovens e adultos à
ambientais nas suas comunidades, no Brasil participação política e comunitária e a bens
e no mundo. materiais e simbólicos.
Assim, sendo o Currículo baseado na 5. Concepções de Educação Integral e
equidade, a ideia de educação inclusiva Educação Inclusiva voltadas a promover o
sustenta-se em um movimento mundial de desenvolvimento humano integral e a
reconhecimento da diversidade humana e equidade, de forma a garantir a igualdade de
da necessidade contemporânea de se oportunidades para que possam vivenciar a
constituir uma escola para todos, sem Unidade Educacional de forma plena e
barreiras, na qual a matrícula, a expandir suas capacidades intelectuais,
permanência, a aprendizagem e a garantia físicas, sociais, emocionais e culturais.

29
Currículos e Orientações Didáticas

Os Ciclos de Aprendizagem, são vistos Elas se retroalimentam para dar sentido


como processos contínuos de formação, ao processo de ensino e de aprendizagem.
que coincidem com o tempo de No que concerne a Síntese da
desenvolvimento da infância, puberdade e Organização Geral do Currículo da Cidade.
adolescência e obedecem a movimentos de O Currículo da Cidade organiza-se a partir
avanços e recuos na aprendizagem, ao invés dos seguintes elementos:
de seguir um processo linear e progressivo • Matriz de Saberes; Temas Inspiradores,
de aquisição de conhecimentos. O Ciclo de Ciclos de Aprendizagem, Eixos
Alfabetização (1º ao 3º ano) é entendido Estruturantes, Objetos de Conhecimento,
como tempo sequencial de três anos que Objetivos de Aprendizagem e
permite às crianças construírem seus Desenvolvimento
saberes de forma contínua, respeitando seus No Ensino Fundamental, o componente
ritmos e modos de ser, agir, pensar e se curricular de Ciências aborda os fenômenos
expressar. da natureza que são estudados em diversas
A Organização geral do Currículo ocorre áreas de conhecimento, das quais fazem
por Áreas do Conhecimento e parte a Biologia, a Física, a Química, as
Componentes Curriculares: Linguagens: Geociências, a Astronomia e a
Língua Portuguesa, Língua Portuguesa para Meteorologia. Sendo assim, os fenômenos
Surdos, Arte, Língua Inglesa, Língua estudados, no âmbito das Ciências Naturais,
Brasileira de Sinais – Libras e Educação recebem atenção das diferentes áreas dentro
Física; Matemática: Matemática; Ciências de suas especificidades, e essas
da Natureza: Ciências Naturais; Ciências particularidades revelam o desafio de tratar
Humanas: Geografia e História. Além das os conhecimentos das ciências de maneira
Áreas do Conhecimento e dos articulada e integrada. A abordagem
Componentes Curriculares descritos acima, das Ciências Naturais nas salas de aula
o Currículo da Cidade apresenta de forma deve congregar, portanto, os
inédita no Brasil um currículo para a conhecimentos construídos sobre o mundo
Área/Componente Curricular Tecnologias natural e as práticas que envolvem a
para Aprendizagem. produção, a divulgação e a legitimação de
O Projeto Político-Pedagógico da Escola conhecimentos, como forma de contribuir
(PPP): A garantia dos direitos e objetivos de para que os estudantes ampliem seu
aprendizagem e desenvolvimento previstos repertório e valorizem a ciência como
no Currículo da Cidade requer prática cultural.
investigação, análise, elaboração, Pelo exposto, ensinar Ciências Naturais
formulação, planejamento e tomada de na educação básica torna-se um
decisões coletivas. compromisso social e cultural que garante à
Político-Pedagógico à luz da nova população o contato com mais uma das
proposta curricular, de forma a incorporá-la formas de conhecer o mundo em que se
ao seu cotidiano em consonância com a vive, as relações entre seres e objetos, os
identidade e as peculiaridades da própria diversos fenômenos e, é claro, em
escola. diferentes escalas.
A Avaliação é um ato pedagógico, que A fim de evidenciar a promoção da
subsidia as decisões do professor, permite Alfabetização Científica, o documento de
acompanhar a progressão das Ciências Naturais está organizado em:
aprendizagens, compreender de que forma abordagens temáticas, práticas científicas,
se efetivam e propor reflexões sobre o eixos temáticos, objetos de conhecimento e
próprio processo de ensino, possuindo três objetivos de aprendizagem e
formas: a diagnóstica, a cumulativa e a desenvolvimento. Esses elementos devem
formativa. estar presentes em todos os anos escolares
do Ensino Fundamental.

30
Currículos e Orientações Didáticas

As abordagens temáticas propostas neste elementos do próprio fazer científico e,


documento são: entre eles, ganha destaque o Ensino por
1. Linguagem, representação e Investigação, onde é possível que a
comunicação; aprendizagem de conceitos, procedimentos
2. Práticas e processos investigativos; e habilidades aconteça de maneira integrada
3. Elaboração e sistematização de e significativa. O professor, por sua vez tem
explicações, modelos e argumentos; o papel de promover atividades e de
4. Relações entre Ciência, Tecnologia, situações em que os estudantes sejam
Sociedade e Ambiente; envolvidos com a resolução e a discussão
5. Contextualização social, cultural e de problemas sobre as ciências. Esses
histórica. aspectos se coadunam com os eixos
O Ciclo de Alfabetização é marcado pelo estruturantes da Alfabetização Científica e,
contato mais formal dos estudantes com por isso, o ensino por investigação é um
modos de organizar códigos e interpretá- bom modo de desenvolvê-la.
los.
O Ciclo Interdisciplinar, por sua vez, Caro candidato, o presente conteúdo traz uma
caracteriza-se por apresentar uma relação síntese das informações constantes no Documento
“Currículo da Cidade – Ciências Naturais” -
mais concreta com os códigos das ciências., Ciências da Natureza. Caso queira ter acesso à
onde os estudantes possam transitar de íntegra deste documento, basta acessar o link
ações e observações concretas para a abaixo:
constituição mais sistematizada de
raciocínios que apresentem abstrações http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
Files/50633.pdf
sobre fenômenos, sua ocorrência e modos
de explicá-los. Neste Capítulo são
apresentados os quadros de objetivos de
__________. Secretaria Municipal
aprendizagem e desenvolvimento.
de Educação. Coordenadoria
Já o ciclo autoral o Ciclo Autoral se
Pedagógica. Orientações didáticas
caracteriza por estimular o
do currículo da cidade: Ciências
desenvolvimento da autoria e
Naturais. – 2.ed. – São Paulo: SME
responsabilidade por meio de projetos de
/ COPED, 2019.
intervenção social, em que prática e teoria
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.b
relacionam-se. O ensino de Ciências, na
r/Portals/1/Files/50720.pdf
perspectiva da Alfabetização Científica,
pode colaborar nesse sentido, ao fomentar
uma postura investigativa e crítica perante
processos e fenômenos naturais e sociais. O papel da ciência na sociedade atual é
O Documento defende que o ensino de um foco dos estudos constantes na proposta
Ciências deve ter como objetivo a curricular de Ciências Naturais da
Alfabetização Científica dos estudantes. Secretaria Municipal de Educação de São
Isso implica desenvolver entre eles o Paulo.
conhecimento sobre conceitos das Ciências O estudo demonstra que, além da ideia
Naturais, sobre modos de construir de que a escola ensina conteúdo aos alunos,
conhecimentos científicos e sobre que de fato é correta, busca demonstrar que
influências mútuas entre ciência e o ensinamento escolar vai além do
sociedade, de tal maneira que possam conteúdo didático. Além do conteúdo
interagir de modo consciente na sociedade, escolar, o conteúdo cientifico também pode
percebendo fenômenos e ações e ser estudado pelos alunos escola ensina.
posicionando-se de modo crítico frente a Nas aulas de Ciências Naturais, além dos
eles. Para isso, o trabalho didático com os temas e tópicos de interesse dessa área,
temas das ciências deve considerar podem ser ensinados os próprios modos de

31
Currículos e Orientações Didáticas

construir conhecimento científico, além das Assim, o pensamento cientifico e a


múltiplas relações e influências existentes criatividade podem caminhar unidos, pois,
entre ciência e sociedade. realizar tarefas de Ciências Naturais em
O estudo leciona que a escola é para os sala de aula não é uma tarefa fácil e precisa
alunos, além do local de estudos, o local levar em consideração questões particulares
onde eles interagem e convivem com suas para um bom planejamento.
próprias individualidades e subjetividades e O ensino e a aprendizagem apesar de
dos demais alunos que convivem. ligados, podem muitas vezes não ocorrer no
A escola marca a vida dos estudantes e mesmo ritmo. Assim, sendo considerado na
vice-versa, somos modificados por ela e a maioria das vezes como a responsabilidade
modificamos. Os estudantes lembrarão da do professor, ensinar é a tentativa de
escola, pelos aspectos emocionais, nas promover a aprendizagem do aluno, que
épocas de avaliação, das amizades e pode muitas vezes não ser alcançada.
convívio social, e ainda pelas A alfabetização cientifica, portanto,
oportunidades de crescimento e deve ocorrer de forma que se diferencie de
enriquecimento e desenvolvimento trazidos um ensino limitado a temas e conceitos de
pela instituição. ciências, devendo serem implementadas
A gestão da sala de aula não acontece estratégias práticas com os alunos para
apenas naquele local, mas no espaço tanto.
escolar, sendo necessário realizar outras O professor deve desenvolver nas aulas
atividades com os estudantes, pois é de Ciências Naturais, o questionamento, a
necessário identificar locais, materiais, busca pela construção de modos de
pessoas e entornos da escola que permitam resolução de problemas, fomentar debates e
o trabalho com temas das Ciências ideias.
Naturais. É papel dos estudantes envolverem-se
Alfabetização Científica é objetivo do nas atividades e proporem caminhos às
ensino de Ciências Naturais. Desse modo, a discussões com o conhecimento que já
Alfabetização Científica é um processo possuem. Para que o estudante se envolva,
contínuo e que segue se transformando, todavia, é preciso que a escola apresente
assim, situações vividas no cotidiano tem oportunidades, inserindo os mesmos nos
relação com conhecimento cientifico direta processos de ensino e de aprendizagem de
ou indiretamente. Essa relação se estende maneira significativa;
entre a sociedade e a tecnologia. O planejamento do professor pode ser
Assim, existem alguns eixos apresentado como uma lista de
estruturantes que auxiliam no planejamento temas a abordar, habilidades a
das propostas didáticas da Alfabetização desenvolver, estratégias a utilizar e modos
Científica. São eles de avaliar os estudantes.
- A compreensão de termos e conceitos No Currículo da Cidade voltado ao
científicos básicos; ensino de Ciências Naturais, há a hipótese
- O entendimento de aspectos da de um disco dinâmico, que revela como os
natureza da ciência e dos fatores que elementos centrais do currículo podem se
influenciam sua prática: relacionar e serem considerados para o
- A compreensão de que há relações planejamento dos professores, trazendo
entre ciência, tecnologia, sociedade e assim fundamentos para o mesmo, todavia
ambiente. devendo sempre existir equilíbrio dos eixos
O trabalho com os eixos estruturantes estruturadores da Alfabetização Cientifica.
deve ocorrer de forma equivalente. Assim, No que concerne as abordagens
surgirão novas discussões entre os alunos temáticas, o documento curricular para o
oriundas da iteração entre os mesmos, de ensino de Ciências Naturais da SME-SP,
seus conhecimentos e de suas experiências.

32
Currículos e Orientações Didáticas

traz as referidas, quais sejam: 1. mente que a avaliação deve analisar como
Linguagem, representação e comunicação; os processos são construídos e como eles
2. Práticas e processos investigativos; colaboram para a sua aprendizagem.
3. Elaboração e sistematização de A orientação traz sugestões para
explicações, modelos e argumentos; integração dos objetivos de aprendizagem e
4. Relações entre ciência, tecnologia, desenvolvimento presentes nos eixos
sociedade e ambiente; temáticos.
5. Contextualização social, cultural e Para que os objetivos de aprendizagem e
histórica. desenvolvimento propostos no currículo da
Os Objetivos de Aprendizagem e Cidade de São Paulo sejam atingidos, é
Desenvolvimento são o centro do disco necessário que o professor tenha
dinâmico do currículo e, no planejamento oportunidades de refletir sobre a sua
de aula e no desenvolvimento das experiência e prática de sala de aula e sobre
atividades podem se relacionar de como articulá-las com as possibilidades
diferentes modos com os demais didáticas e metodológicas que propiciem
componentes curriculares. uma verdadeira integração entre os eixos
Acerca da Implementação de práticas temáticos da área e que forneçam percursos
científicas nas aulas de Ciências Naturais é formativos claros ao longo dos ciclos de
importante que o trabalho com os aprendizagem.
estudantes traga, como elemento central, No currículo, as habilidades estão
práticas que se assemelham às práticas das expressas nos objetivos de aprendizagem
ciências. O Documento informa que o e desenvolvimento, na articulação entre os
professor de Ciências Naturais deve verbos e os objetos de conhecimento.
trabalhar para que os estudantes possam se Esses últimos se referem aos conteúdos
envolver com problemas da temática conceituais de cada área das Ciências
científica e com sua resolução de modo a Naturais, enquanto os verbos representam
que tenham contato com conteúdos e as ações e operações que o sujeito precisa
práticas das ciências, realizando discussão mobilizar para resolver problemas, tomar
sobre o tema, por intermédio de fóruns de posição, comunicar ideias.
discussão, e a constituição de autoridade O Ensino de Ciências como cultura para
epistêmica, ou seja do verdadeiro todos não deve estar atrelada somente ao
conhecimento entre os estudantes. livro didático como única referência em
No que diz respeito à Avaliação no sala de aula, assim, ampliar os espaços
Ensino de Ciências Naturais. educativos por meio de experiências
Todo o currículo de Ciências Naturais da planejadas e articuladas, aproximar a
SME-SP está estruturado com o objetivo de pesquisa acadêmica sobre ensino de ciência
desenvolver a Alfabetização Científica e com as atividades em sala de aula
mostra-se relacionado ao estabelecimento favorecem, assim, os processos de
de investigações em sala de aula. aprendizagem. A escola e seus profissionais
O estabelecimento de critérios para uma devem adequar seu trabalho às
avaliação não é mera formalidade, mas necessidades dos estudantes e não o
deve revelar as razões que a sustentam e que inverso.
a garantem. A Avaliação escolar deve O ensino de ciências, na perspectiva de
construir critérios que permitam o uma educação inclusiva, poderá corroborar
julgamento de uma situação com base e em com o desenvolvimento e aprendizagem
coerência com os objetivos que se tem com dos estudantes para além dos muros da
o ensino e a educação. Há também a escola, contribuindo para a diminuição das
avaliação do ensino e da aprendizagem, distâncias sociais e a construção de uma
cujo objetivo principal é o alcance, da sociedade mais justa.
educação escolar. Por fim, deve-se ter em

33
Currículos e Orientações Didáticas

Possui alicerces fundamentados na


investigação, na elaboração de hipóteses e __________. Secretaria Municipal de
na formação de uma consciência crítica, na Educação. Coordenadoria Pedagógica.
qual os indivíduos podem organizar seus Currículo da cidade: Ensino
pensamentos de forma lógica e estabelecer Fundamental : componente curricular:
História. – 2.ed. – São Paulo: SME /
conexões entre o seu cotidiano e os
COPED, 2019.
conhecimentos sistematizados, ampliando, http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
assim, os seus saberes. als/1/Files/50632.pdf
Dessa forma, é importante que todos os
processos que envolvem a Alfabetização
Científica sejam discutidos, analisados e
Currículo da cidade – História –
construídos no ambiente escolar, bem como
ensino fundamental
possam abranger os sujeitos da ação
pedagógica, por meio de diferentes
Para iniciarmos o presente estudo é
métodos e estratégias, visando à inclusão
necessário definir que o presente currículo
dos estudantes para a formação de valores e
da cidade orienta-se por alguns conceitos
saberes humanos.
que são de suma importância no
O presente documento ainda, apresenta
desenvolvimento escolar, pessoal,
duas sugestões de atividades pautadas na
humanístico do aluno.
Didática Multissensorial com a intenção de
Visando à garantia dos direitos dos
estimular os professores a planejar outras
estudantes, reconhece-se que há
atividades inclusivas para suas turmas que
necessidade de adequações didáticas e
utilizem diferentes estímulos sensoriais. Os
metodológicas que levem em consideração
recursos tecnológicos, por sua vez, farão
suas peculiaridades.
com que as pessoas com deficiência
Desta forma, segundo o currículo da
desenvolvam
cidade irá se estruturar em três conceitos
suas potencialidades e habilidades e,
orientadores:
portanto, as Tecnologias de Informação e
Educação Integral: aquele que tem por
Comunicação, vêm se tornando, de forma
propósito promover o desenvolvimento
crescente, importantes instrumentos de
integral dos estudantes levando em conta
nossa cultura e, sua utilização, um meio
suas dimensões intelectual, social,
concreto de inclusão e interação no mundo,
emocional, física e cultural.
trazendo aos professores um ambiente de
Equidade: tem por objetivo que cada
aprendizagem com altas expectativas a
estudante é capaz de aprender e
respeito de seus estudantes, que entendam
desenvolver-se, contanto que processos
as diferenças como um fator positivo,
educativos a eles destinados considerem
compartilhem o saber, discutam e troquem
suas características e seu contexto e tenham
experiências.
significado para suas vidas.
Caro candidato, o presente conteúdo traz uma
Educação Inclusiva: Tal conceito visa
síntese das informações constantes no Documento respeitar e valorizar a diversidade e
“Orientações Didáticas do Currículo da Cidade – diferença que cada estudante tem em seu
Ciências Naturais”. Caso queira ter acesso à modo de ser, de pensar e de aprender,
íntegra deste documento, basta acessar o link proporcionando a eles desafios adequados
abaixo:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
às suas características biopsicossociais,
Files/50720.pdf apostando nas suas possibilidades de
crescimento e orientando-se por uma
perspectiva de educação inclusiva, plural e
democrática.
Fica evidenciado que o currículo
pensado na atualidade precisa dialogar com

34
Currículos e Orientações Didáticas

a dinâmica da sociedade, de forma que reconhecer-se sujeito histórico, adquirir


novas gerações possam participar consciência de si e preparar-se par o
ativamente da transformação positiva tanto exercício da cidadania tal como
de sua realidade local, quanto dos desafios estabelecido na Lei n°9.394/1996 – Lei de
globais, em temas como direitos humanos, Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a
meio ambiente, desigualdade social, qual passou por diversas alterações, sendo
política, entre outros. uma delas a obrigatoriedade do estudo
Para o alcance dos objetivos é evidente História e Cultura Afro-brasileira e
que há que haver uma organização. Para Indígena.
isso o currículo da cidade preserva a A proposta apresentada no currículo da
subdivisão do Ensino Fundamental de nove cidade, parte da premissa de que o ensino
anos em três ciclos. O ciclo de de História tem o compromisso de formar
Alfabetização compreende os três estudantes para refletirem intelectualmente
primeiros anos (1°, 2° ,3°). O sobre suas vivências e também de outras
interdisciplinar envolve os três anos sociedades, possibilitando, assim, a
seguintes (4°, 5°, 6°) e por fim o autoral compreensão de si mesmos, dos demais e
abarca os três anos finais (7°, 8°, 9°). das coletividades.
A ideia central é proporcionar ao Dentro do ciclo de aprendizagem, uma
estudante o maior tempo de aprendizagem das ferramentas a serem utilizadas do
no âmbito de cada ciclo, havendo o devido conhecimento histórico é de questionar a
acompanhamento, seu desenvolvimento qualidade, fidedignidade e as tendências
intelectual e afetivo e suas características de das fontes de informação para coletar dados
natureza sociocultural. e registrar os fatos históricos do elas contam
Com relação a avaliação no sistema de sobre a época em que foram produzidas, os
aprendizagem. A avaliação é tida como de seus autores, usos, semelhanças e
grande importância, sendo um ato diferenças, entre outras.
pedagógico que auxilia o docente nas Diante de tais questionamentos,
decisões, buscando sempre a progressão na contextualizando com o conhecimento
aprendizagem, compreendendo de que prévio, abre-se uma janela de
forma se efetivam e propor reflexões sobre oportunidades para novos conhecimentos,
o próprio processo de ensino. avanço no domínio de novos saberes e na
O ensino da história é de grande interpretação dos já existentes.
importância para a formação dos jovens,
adultos e crianças, pois através dela irão Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
descobrir a que sociedade complexa acessar o link abaixo:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
pertencem, com diversidade cultural e Files/50632.pdf
histórica e imersa em um contexto histórico
nacional e mundial.
O documento, ora estudado, traz à tona
que os conteúdos estudados e os trabalhos
produzidos em História na escola decorrem
de um múltiplo diálogo entre a história da
disciplina, as práticas e escolhas dos
professores, da área de conhecimento de
referência, solicitações de estudantes, dos
materiais didáticos disponíveis, entre
outros.
A importância no ensino da História no
currículo do estudante na educação básica,
também repousa no fato de possibilitar-lhe

35
Currículos e Orientações Didáticas

diversificadas. É o caso, por exemplo, da


_____. Secretaria Municipal de Educação. proposta de organização de sequências
Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas.
didáticas do currículo da cidade: História. A sequência didática é uma unidade
– 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. maior que permite acompanhar as
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
diferentes ações para consecução dos
als/1/Files/50728.pdf
objetivos estabelecidos para cada conteúdo,
já que a análise de uma aula não expressa o
processo mais amplo de ensino e
Orientações Didáticas do Currículo aprendizagem, com objetivos maiores de
da Cidade: História um curso, e nem a totalidade dos conteúdos
O documento “Orientações Didáticas do conceituais, procedimentais e atitudinais
Currículo da Cidade: História” tem como que se mesclam em continuidades,
objetivo oferecer orientações didáticas descontinuidades e sobreposições.
conceituais, procedimentais e atitudinais de Para avaliar a coerência e pertinência
modo a contribuir para a prática docente dos objetivos mais amplos, é necessário ter
cotidiana nos Ciclos de Alfabetização, a percepção do conjunto completo e, ao
Interdisciplinar e Autoral com a abordagem mesmo tempo, das atividades específicas e
dos conteúdos históricos por eixos como elas se entrelaçam em seriação e se
temáticos. Nesse sentido, apresenta complementam no processo de ensino e
sugestões de sequências didáticas e aprendizagem. Cada atividade precisa ser
procedimentos metodológicos da área de avaliada em relação à sua função e local,
História, voltados ao trabalho pedagógico considerando-a no conjunto do que a
em sala de aula. antecede e do que será posterior a ela.
Sempre é Bom Planejar Objetivos de Aprendizagem,
Existem diferentes tipos de Conteúdos e Escolhas Didáticas
planejamento escolar, entre os quais se Dentro dos objetivos de aprendizagem,
insere o Projeto Político-Pedagógico, que conteúdos e escolhas didáticas, é proposto
permite uma perspectiva ampla do papel da que os professores construam relações entre
escola diante de sua comunidade interna e os objetivos mais amplos propostos no
suas relações com o sistema de ensino e a Currículo da Cidade e os objetivos
sociedade. A partir dele, o grupo de específicos de ensino e aprendizagem de
professores planeja suas aulas, orientando- História, os diferentes tipos de conteúdo e
se pelos objetivos de aprendizagem e as situações didáticas que escolhem
desenvolvimento que pretende atingir e desenvolver no cotidiano de sala de aula.
apoiando-se em conhecimentos teóricos e No ensino de História considera-se
práticos. importante a criação de situações de ensino
Muitas vezes, no caso do ensino de e aprendizagem que possibilitem aos
História, os planejamentos centram-se em estudantes do Ensino Fundamental:
objetivos relacionados aos conteúdos, - Ampliar seus domínios práticos e
entendendo-os como tema, as informações intelectuais e valorizar princípios éticos;
básicas e os conceitos. Para concretização - Pensar e agir com criticidade,
da aula, o professor confia nos textos e nos autonomia e responsabilidade;
exercícios propostos pelo livro didático - Perceber-se como sujeito histórico que
adotado. interage e respeita outros sujeitos do
Há, todavia, outras propostas para a presente e do passado na sua diversidade;
organização do planejamento cotidiano das - Identificar, analisar e refletir sobre
aulas, que favorecem a criação de situações fatos históricos para explicar a história do
de ensino e aprendizagem mais presente e do passado, questionando,

36
Currículos e Orientações Didáticas

confrontando e relacionando-os entre si e noções, conceitos e informações, como


com os sujeitos históricos que os também procedimentos (como se faz) e
protagonizaram; atitudes (como agir a partir de determinados
- Compreender e analisar diferentes valores).
referências temporais para os estudos
históricos; Diagnósticos, Intervenção e Avaliação
- Distinguir e analisar como diferentes de Aprendizagem
sociedades constituem seus territórios e Em diferentes etapas do ensino, cabe ao
como, historicamente, as sociedades professor investigar o que os estudantes já
constroem noções e representações para sabem a respeito do que vão estudar em
espaços vividos e imaginados; cada momento. Essa tarefa desdobra-se do
- Identificar e compreender as atuações princípio de que há aprendizagem nas
de protagonismo histórico de diversos interações sociais que antecedem à escola e
grupos e sociedades na luta por fora dela. Isso significa dizer que os
legitimidade e reconhecimento de seus estudantes sabem e pensam a respeito de
projetos específicos em diferentes tempos e muitas questões de seu cotidiano, e que seus
espaços sociais; saberes prévios e de seus grupos sociais são
- Reconhecer a interculturalidade nas associados e transformados nos estudos
práticas sociais, identificando as escolares.
representações construídas em relação ao Conhecendo o que o estudante já sabe, o
outro, respeitando e acolhendo os professor é capaz de intervir, de
indivíduos, os grupos e as culturas, problematizar, de contribuir para que
considerando-os como imersos em avance em seus domínios e reflexões. Para
processos contínuos de elaboração, levantar saberes prévios, é possível criar
construção e reconstrução de seus vínculos situações diagnósticas por meio de
e identidades, e valorizando suas diferenças atividades cotidianas ou em situações
e historicidades; específicas nas quais seja possível analisar
- Reconhecer e analisar as culturas o que o estudante sabe para resolver
híbridas e como elas estabelecem novas questões ou problemas.
raízes, a partir de encontros, conflitos e Em todos os temas de estudo, no dia a
negociações históricas; dia da sala de aula, é importante dialogar
- Estabelecer relações entre diversas com os estudantes, valorizando o que
áreas de conhecimento, considerando a sabem e buscando conhecer seus
complexidade dos objetos de estudo; conhecimentos prévios. Essas situações são
- Apropriar-se da leitura, da escrita e importantes também porque evidenciam
desenvolver o gosto, o prazer de conhecer e para eles mesmos o que já sabem,
de se aproximar de diferentes escritores, permitindo que esse saber anterior seja uma
perspectivas, realidades fictícias e base para aprender e confrontar dados e
históricas; ideias novas.
- Saber lidar criticamente com a O professor pode escolher e organizar
informação histórica disponível, atuando suas intervenções, de modo mais
com discernimento e responsabilidade nos consciente, com relação ao domínio
contextos das culturas digitais. específico e mais profundo do
conhecimento histórico, para promover
Em uma perspectiva ampla, ao delinear avanços no modo de os estudantes
objetivos específicos para o ensino de pensarem historicamente.
História, é importante considerar que uma
formação integral e global do estudante,
requer conteúdos escolares entendidos em
perspectivas dilatadas, que incluam tanto

37
Currículos e Orientações Didáticas

Diferentes Fontes de Informação nas O trabalho de coleta de dados de


Aulas de História documentos pode ser ampliado para a
Nas aulas de História, há inúmeras pesquisa bibliográfica de livros, artigos e
oportunidades de uso de diferentes sites. Ainda pode ser complementada com
materiais didáticos. De modo amplo, estudos de campo, visitas a bibliotecas,
podem ser utilizados aqueles produzidos museus, arquivos, exposições e estudos do
para fim escolar, e também fontes e meio, que podem dar continuidade ao
materiais diversos criados para outros trabalho de coleta de informações
desígnios, mas que se transformam em
material de ensino por meio das finalidades Os Eixos Temáticos, os Ciclos, os Anos
dadas a eles pelo professor. e as Situações de Sala de Aula
Os eixos temáticos são questões
Em uma perspectiva ampla, todo problematizadoras que estruturam a
material (textos, imagens, objetos, mapas, organização de conteúdos e objetivos de
músicas, filmes e outros) utilizado em sala aprendizagem, partindo da ideia de que
de aula, para mediar a relação do estudante estudar história na escola envolve situações
com o conhecimento, pode ser considerado de investigação, de pesquisa e de busca de
material didático. Mesmo que tais materiais respostas para questões e problemas
não tenham sido produzidos para uso relacionados às vivências históricas. Eles se
didático, possuindo outra função social, ao concretizam em conteúdos e objetivos,
serem utilizados em uma aula, tornam-se próprios do saber histórico e com questões
materiais pedagógicos. da vida contemporânea, para problematizar
o cotidiano dos estudantes na relação com a
Metodologia de Uso de Documento história brasileira e mundial. Os conteúdos,
Histórico no Ensino por sua vez, são entendidos como
Para os historiadores, diante do informações, conceitos, procedimentos e
reconhecimento das mudanças na produção atitudes explicitadas.
e acesso à informação e à cultura, existem
uma preocupação e uma possibilidade de Foram apresentadas neste texto, informações
diversificar suas fontes históricas de estudo. resumidas do conteúdo sugerido, em virtude da
didática do material. No entanto, caso queira ter
Foram, ao longo das últimas décadas, acesso à íntegra deste documento, basta acessar o
realizados esforços para melhor link abaixo:
compreender interdisciplinarmente as http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
linguagens e suas representações, Files/50728.pdf
ampliando o leque de opção para análise
documental. A fotografia, por exemplo, tem
sido valorizada como fonte documental
pelos historiadores principalmente a partir
do século XX, apesar de ter sido criada na
primeira metade do século XIX.

O uso didático de qualquer material em


sala de aula implica o ato de aprender a ler
para além do texto e a questionar temas e
conceitos historicamente. Seja um texto
verbal ou uma imagem, um filme ou um
mapa, o material escolar deve ser encarado
como objeto de ensino e aprendizagem.

38
Currículos e Orientações Didáticas

Geografia e as intencionalidades do
_____. Secretaria Municipal de Educação. professor diante de seus estudantes.
Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Em Geografia, como nos demais
cidade: Ensino Fundamental : componentes curriculares, uma ampla
componente curricular: Geografia. – 2.ed. organização de conteúdos está
– São Paulo: SME / COPED, 2019. fundamentada nos objetos de conhecimento
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port da área, nos conceitos estruturantes, na
als/1/Files/50730.pdf contextualização, nas didáticas associadas a
____. Secretaria Municipal de Educação. cada temática geográfica e suas abordagens
Coordenadoria Pedagógica. Orientações
conceituais.
didáticas do currículo da cidade :
Geografia. – 2.ed. – São Paulo : SME / Pontos que precisam ser do
COPED, 2019. conhecimento dos professores: 1)
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port Definição dos conteúdos de ensino; 2)
als/1/Files/50730.pdf Definição dos objetivos de aprendizagem;
3) Definição das modalidades
organizativas; 4) Comunicação clara dos
objetivos aos estudantes; 5) A aula com
Orientações Didáticas do Currículo
cadência ou ritmo claro; 6) Uso criativo do
da Cidade: Geografia
espaço escolar; 7) A previsão do registro ou
O documento “As Orientações Didáticas
produto final; 8) Avaliação de todas as
do Currículo da Cidade: Geografia” busca
etapas; 9) Envolvimento dos estudantes no
subsidiar a implementação do currículo de
processo de avaliação
Geografia na Rede, uma vez que norteiam o
trabalho com os Eixos Estruturantes do
Organizando a ação didática:
Currículo, apresentando reflexões,
sequências de atividades e projetos em
discussões e sugestões que possibilitam a
Geografia
articulação entre os objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento e o
CICLO DE ALFABETIZAÇÃO -
trabalho pedagógico em sala de aula nos
Sequência de Atividades
Ciclos de Alfabetização, Interdisciplinar e
Autoral.
OBSERVANDO FORMAS NA
Nesse sentido, trata também da gestão da
PAISAGEM VIVIDA
sala de aula, dos saberes e fazeres do
- Perceber as construções do entorno da
trabalho docente, das modalidades
escola e comparar as diferenças e
organizativas e de sugestões de sequências
semelhanças entre elas, identificando os
de atividades para cada ciclo. São propostas
tipos de moradia observados na
para a organização do planejamento das
comunidade onde vive.
aulas, que favorecem a aprendizagem dos
- Reconhecer e identificar no espaço a
estudantes nessa área do conhecimento.
posição do corpo e de outros objetos,
utilizando espaços da escola e
A Gestão da Sala de Aula
representando os locais de vivência,
utilizando-se do desenho de croquis.
Planejar aulas que façam sentido para os
- Descrever oralmente imagens da
estudantes envolve um conjunto de ações
paisagem do local de vivência, elaborando
pensadas pelo professor e a equipe escolar
legendas simples para as imagens dos
(outros colegas parceiros das estratégias
fenômenos naturais observados.
didáticas e coordenação pedagógica). É
primordial pensar em questões do campo da
Objetivos didáticos:
didática considerando as necessidades dos
- Ensinar a comparar diferentes
estudantes, os objetos de conhecimento da
paisagens e seus componentes;

39
Currículos e Orientações Didáticas

- Contextualizar a observação da - Participação de situações de


paisagem e introduzir noção de posição; comunicação oral;
- Utilizar o desenho de observação para - Publicar suas produções por meio de
representar formas. exposição

Conteúdos PARA ONDE VOCÊ VAI?


- Observação de imagens de paisagens - Representar os locais de vivência
do espaço vivido em diferentes ângulos e utilizando-se do desenho de croquis,
distâncias observando e desenhando objetos em
- Noção de que a paisagem se mostra por diferentes posições – verticais (de cima
sua aparência, mas há movimentos que não para baixo), laterais, frontais – utilizando
vemos nas imagens que vemos das procedimentos para ler e compreender
paisagens; mapas e outras representações espaciais
- Análise de imagens e objetos comuns em seu cotidiano: mapa de ruas,
construídos na paisagem local; guias turísticos, plantas de casa ou ruas etc.
- Participação de situações de - Localizar, nos desenhos dos trajetos,
comunicação oral; informações como endereços, nomes de
- Desenho de observação; ruas, pontos de referência etc. e elaborar
- Primeiras noções de posição. maquete que represente os lugares de
vivência, como bairro e cidade, destacando
CONSTRUINDO O PRIMEIRO MAPA os pontos de referência.
- Aplicar, de forma lúdica, princípios de - Reconhecer e elaborar legendas com
localização e posição de objetos símbolos de diversos tipos de
(referenciais espaciais, como frente e atrás, representações em diferentes escalas
esquerda e direita, em cima e embaixo, cartográficas.
dentro e fora etc.).
- Representar objetos do cotidiano em Objetivos didáticos
relação a tamanho, forma, textura e cor para - Identificar ritmos do cotidiano a partir
iniciar a construção da noção de proporção dos deslocamentos para escola e outras
e de legenda, por meio de representação de localidades
desenhos, mapas mentais, maquetes etc. - Incentivar a reflexão sobre os meios de
- Identificar imagens bidimensionais e transporte, seus usos e suas implicações.
tridimensionais em diferentes tipos de
representações cartográficas em diferentes Conteúdos
suportes e tecnologias digitais. - Desenho do percurso casa-escola
- Meios de transporte e deslocamento
Objetivos didáticos - Noções sobre Croqui
- Criar condições para que as crianças
representem os locais de vivência, CICLO INTERDISCIPLINAR -
utilizando o desenho de croqui; Sequência de Atividades
- Observar e desenhar objetos em
diferentes posições; ÁGUAS E TERRAS DA SUPERFÍCIE
- Aprender procedimentos para ler e - Identificar e compreender as mudanças
entender os mapas. ocorridas nos rios da cidade e nos córregos
do entorno da escola como consequência
Conteúdos das ações antrópicas e seu resultado na
- Desenho de objetos em diferentes vulnerabilidade social.
perspectivas; - Descrever os impactos do uso do solo e
- Construção de um mapa a partir do da água no cotidiano da cidade e do campo
mapa de ruas; e reconhecer a importância de uma atitude

40
Currículos e Orientações Didáticas

responsável de cuidado com o meio em que Conteúdos:


vivem. - Agricultura em climas semiáridos e
- Identificar as formas e funções da áridos;
Cidade de São Paulo e analisar as mudanças - Leitura de imagem;
sociais, econômicas e ambientais - Usos da terra no Zimbabue (África).
provocadas pelo seu crescimento.
Objetivos didáticos
Objetivos didáticos - Reconhecer a ligação entre os
- Identificar formas de relevo; movimentos populares em diversos países
- Construir blocos diagrama e a do norte da África e Oriente Médio contra
visualização tridimensional do relevo; governos ditadores;
- Leitura de textos expositivos; - Conhecer as características sociais e
- Identificar bacias hidrográficas e seus culturais destes países;
rios na cidade de São Paulo. - Promover ações entre estudantes que
contribuam para reconhecer a importância
Conteúdos da democracia no mundo contemporâneo.
- O relevo da cidade de São Paulo;
- Os relevos e suas formas fundamentais; Foram apresentadas neste texto, informações
- A água como agente externo resumidas do conteúdo sugerido, em virtude da
didática do material. No entanto, caso queira ter
modificador do relevo; y Leitura e acesso à íntegra deste documento, basta acessar o
produção de textos expositivos; link abaixo:
- Produção de desenhos de representação http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
geográfica. Files/50730.pdf

CICLO AUTORAL - Sequência de


Atividades ____. Secretaria Municipal de Educação.
Coordenadoria Pedagógica. Currículo da
CULTURAS DA TERRA cidade: Ensino Fundamental :
- Identificar os principais movimentos componente curricular : Arte. – 2.ed. –
São Paulo: SME / COPED, 2019.
nacionalistas e separatistas no mundo, com
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Port
destaque para a região do Oriente Médio. als/1/Files/50636.pdf
- Analisar os componentes físico-
naturais da Eurásia e os determinantes
histórico-geográficos de sua divisão em
Europa e Ásia. Currículo da cidade: Ensino
- Explicar as características físico- Fundamental: componente curricular:
naturais e a forma de ocupação e usos da Arte
terra em diferentes regiões da Europa, Ásia, No documento em questão, são
África e Oceania. disponibilizadas orientações e objetivos
essenciais que visam ao desenvolvimento
Objetivos didáticos: integral dos estudantes, ao fortalecimento
- Conhecer o uso da terra na África das políticas de equidade e de educação
estudando o Zimbábue; inclusiva, além de garantir as condições
- Comparar questões socioambientais do necessárias para que sejam assegurados os
Zimbábue e do Brasil; direitos de aprendizagem aos estudantes,
- Relacionar ao modo de vida na respeitando suas realidades geográfica,
agricultura e as questões climáticas. socioeconômica, cultural e étnico-racial.
O propósito é que o Currículo da Cidade
oriente o trabalho na escola e, mais
especificamente, na sala de aula. A

41
Currículos e Orientações Didáticas

formação continuada dos profissionais da 2. Saberes historicamente acumulados


Rede também é condição para o salto que fazem sentido para a vida dos bebês,
qualitativo na aprendizagem dos crianças, adolescentes, jovens e adultos no
estudantes, premissa em que está século XXI e ajudam a lidar com as rápidas
fundamentado o documento. mudanças e incertezas em relação ao futuro
da sociedade.
Concepções e Conceitos que 3. Abordagens pedagógicas que
Embasam o Currículo da Cidade priorizam as vozes de bebês, crianças,
A construção do Currículo da Cidade foi adolescentes, jovens e adultos, reconhecem
orientada por concepções e conceitos, e valorizam suas ideias, opiniões e
considerando a importância de conceber os experiências de vida, além de garantir que
pressupostos de um currículo integrador. façam escolhas e participem ativamente das
Sendo assim, o currículo do Ensino decisões tomadas na escola e na sala de
Fundamental considera a organização dos aula.
tempos, espaços e materiais que 4. Valores fundamentais da
contemplem as vivências das crianças no contemporaneidade baseados em
seu cotidiano, a importância do brincar e a “solidariedade, singularidade, coletividade,
integração de saberes de diferentes igualdade e liberdade”, os quais buscam
Componentes Curriculares, em permanente eliminar todas as formas de preconceito e
diálogo. discriminação, como orientação sexual,
gênero, raça, etnia, deficiência e todas as
Um Currículo para a Cidade de São formas de opressão que coíbem o acesso de
Paulo bebês, crianças, adolescentes, jovens e
A Secretaria Municipal de Educação adultos à participação política e
define uma Matriz de Saberes que se comunitária e a bens materiais e simbólicos.
compromete com o processo de 5. Concepções de Educação Integral e
escolarização. A Matriz orienta o papel da Educação Inclusiva voltadas a promover o
SME, das equipes de formação dos órgãos desenvolvimento humano integral e a
regionais, dos supervisores escolares, dos equidade, de forma a garantir a igualdade de
diretores e coordenadores pedagógicos das oportunidades para que os sujeitos de
Unidades Educacionais e dos professores direito sejam considerados a partir de suas
da Rede Municipal de Ensino na garantia de diversidades, possam vivenciar a Unidade
saberes, sobretudo ao selecionar e organizar Educacional de forma plena e expandir suas
as aprendizagens a serem asseguradas ao capacidades intelectuais, físicas, sociais,
longo de todas as etapas e modalidades da emocionais e culturais. Essas concepções
Educação Básica e fomentar a revitalização estão explicitadas nos princípios que
das práticas pedagógicas, a fim de darem norteiam os Currículos da Cidade.
conta desse desafio.
Matriz de Saberes
Referências que Orientam a Matriz de A Matriz de Saberes tem como propósito
Saberes formar cidadãos éticos, responsáveis e
A Matriz de Saberes estabelecida pela solidários que fortaleçam uma sociedade
SME fundamenta-se em: mais inclusiva, democrática, próspera e
1. Princípios éticos, políticos e estéticos sustentável, e indica o que bebês, crianças,
definidos pelas Diretrizes Curriculares adolescentes, jovens e adultos devem
Nacionais (BRASIL, 2013, p. 107-108), aprender e desenvolver ao longo do seu
orientados para o exercício da cidadania processo de escolarização.
responsável, que levem à construção de
uma sociedade mais igualitária, justa,
democrática e solidária.

42
Currículos e Orientações Didáticas

Temas Inspiradores do Currículo da Eixos - Os eixos estruturantes organizam


Cidade os objetos de conhecimento de cada
O Currículo da Cidade incorporou os componente curricular, agrupando o que os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável professores precisam ensinar em cada ano
(ODS), pactuados na Agenda 2030 pelos do Ensino Fundamental.
países-membros das Nações Unidas, como
temas inspiradores a serem trabalhados de Currículo da Cidade na Prática
forma articulada com os objetivos de Para ser efetivo, o Currículo da Cidade
aprendizagem e desenvolvimento dos precisa dialogar com as diferentes ações das
diferentes componentes curriculares. Os 17 escolas, das DREs e da SME. Dessa
objetivos são precisos e propõem: 1. maneira, a implementação do Currículo da
Erradicação da pobreza; 2. Fome zero e Cidade acontece por meio da realização de
agricultura sustentável; 3. Saúde e bem- um conjunto de ações estruturantes.
estar; 4. Educação de qualidade; 5.
Igualdade de gênero; 6. Água potável e Avaliação e Aprendizagem
saneamento básico; 7. Energia Limpa e A avaliação concebida como parte
Acessível; 8. Trabalho decente e integrante do processo de ensino fornece
crescimento econômico; 9. Indústria, elementos para o professor traçar a sua
inovação e infraestrutura; 10. Redução das trajetória de trabalho, por meio do
desigualdades; 11. Cidades e comunidades planejamento e replanejamento contínuo
sustentáveis; 12. Consumo e produção das atividades, uma vez identificados os
responsáveis; 13. Ação contra a mudança conhecimentos que os estudantes já
global do clima; 14. Vida na água; 15. Vida possuem e suas dificuldades de
terrestre; 16. Paz, justiças e instituições aprendizagem
eficazes; 17. Parcerias e meios de
implementação. Síntese da Organização Geral do
Currículo da Cidade
Ciclos de Aprendizagem: - Ciclo de O Currículo da Cidade organiza-se a
Alfabetização; - Ciclo Interdisciplinar; - partir dos seguintes elementos:
Ciclo Autoral. • Matriz de Saberes - Explicita os
direitos de aprendizagem que devem ser
Organização Geral do Currículo da garantidos a todos os estudantes da Rede
Cidade Municipal de Ensino ao longo do Ensino
Fundamental.
Áreas do Conhecimento e Componentes • Temas Inspiradores - Conectam os
Curriculares - o Currículo da Cidade aprendizados dos estudantes aos temas da
organiza-se por Áreas do Conhecimento e atualidade.
Componentes Curriculares: • Ciclos de Aprendizagem - Definem as
- Linguagens: Língua Portuguesa, três fases em que se divide o Ensino
Língua Portuguesa para Surdos, Arte, Fundamental na Rede Municipal de Ensino.
Língua Inglesa, Língua Brasileira de Sinais • Áreas do
– Libras e Educação Física Conhecimento/Componentes
- Matemática: Matemática Curriculares - Agrupam os objetos de
- Ciências da Natureza: Ciências conhecimento e objetivos de aprendizagem
Naturais e desenvolvimento.
- Ciências Humanas: Geografia e • Eixos Estruturantes – Organizam os
História objetos de conhecimento.
• Objetos de Conhecimento - Indicam
o que os professores precisam ensinar a

43
Currículos e Orientações Didáticas

cada ciclo em cada um dos componentes O Ensino de Arte nos Ciclos


curriculares.
• Objetivos de Aprendizagem e - Ciclo de Alfabetização - A Arte na
Desenvolvimento - Definem o que cada infância durante o Ciclo de Alfabetização
estudante precisa aprender a cada ano e preocupa-se em expandir as relações e
Ciclo em cada um dos componentes propiciar o contato artístico consigo, com o
curriculares. outro e com o meio. Há uma ênfase maior
nas experiências e processos de criação
Um Currículo Pensado em Rede durante o processo de alfabetização e
No Currículo da Cidade, os objetivos de construção de conhecimento em Arte. Na
aprendizagem e desenvolvimento estão contextualização, por exemplo, as escolhas
identificados por uma sigla de obras, referenciais e assuntos podem
surgir dos processos vividos pelos
E F O X A X X
estudantes.
em que: - Ciclo Interdisciplinar - Neste ciclo, a
EF Ensino Fundamental; relação da Arte não ocorrerá somente
0X ano de escolaridade; interdisciplinarmente, mas de maneira
AXX Componente Curricular Arte intradisciplinar. O professor de Arte
seguido da sequência de objetivos de trabalha com todas as linguagens,
aprendizagem e desenvolvimento desse possibilitando que elas se movimentem
componente. dentro e fora da linguagem, visando à
reflexão, à repercussão em si e no outro e
Currículo de Arte para a Cidade de ao diálogo entre as áreas e os componentes
São Paulo curriculares, observando: o contexto, a
- Introdução e Concepções do ampliação de saberes e as relações.
Componente Curricular - Ciclo Autoral - Após a iniciação
- Direitos de Aprendizagem do realizada no Ciclo de Alfabetização e as
Currículo de Arte: Os direitos de vivências artísticas relacionadas a outras
aprendizagem visam à garantia do acesso e áreas do conhecimento e com o meio no
à apropriação do conhecimento de todas as Ciclo Interdisciplinar, o Ciclo Autoral
crianças e jovens, a fim de se construir uma possibilita ao estudante a experiência de
sociedade mais justa e solidária. apropriar, pertencer, estar e ser não somente
no contexto escolar, mas na sua relação com
Ensinar e Aprender Arte no Ensino a sociedade a que pertence.
Fundamental
A experiência artística na escola Foram apresentadas neste texto, informações
promove o exercício da liberdade, tanto na resumidas do conteúdo sugerido, em virtude da
didática do material. No entanto, caso queira ter
forma de acesso aos signos culturais quanto acesso à íntegra deste documento, basta acessar o
em seu aspecto criativo. Uma linha em um link abaixo:
projeto de trabalho didático pode ser a linha http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
riscada, pintada, esticada, dobrada, Files/50636.pdf
marcada com um gesto, traçada na trajetória
de um movimento, a linha do tempo, das
pautas da partitura, da faixa de pedestre, dos
fios de alta tensão, dos fios da instalação e,
inclusive, dos fios de nosso cabelo. A Arte
lida com a potência latente, com o que
poderá ser: um novo olhar, outra
interpretação ou uma invenção.

44
Currículos e Orientações Didáticas

Quanto ao currículo da cidade – Libras


_________. Secretaria Municipal de para o ensino fundamental foi organizado
Educação. Coordenadoria Pedagógica. em 4 eixos: Uso da língua de sinais,
Currículo da Cidade - Educação Especial: Identidade surda, Prática de análise
Língua Brasileira de Sinais. São Paulo: linguística, Arte e literatura surda, tendo
SME / COPED, 2019. como foco a competência linguística e o
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov. desenvolvimento da consciência
br/wp-content/uploads/2021/08/CC-da-Ed- metalinguística necessários para que os
Especial-LIBRAS.pdf
estudantes surdos construam
conhecimentos sobre sua primeira língua –
Libras – e sua segunda língua – Língua
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS Portuguesa escrita.
É importante destacar que na elaboração
Neste estudo iremos nos debruçar nas do currículo da cidade o mesmo fora
orientações curriculares destinadas orientado pela Educação Integral, sendo
especialmente aos alunos surdos, visando aquela em que se busca promover o
sempre uma educação para todos. desenvolvimento dos estudantes em todas
Para cada etapa escolar há que haver um as suas dimensões (intelectual, física,
objetivo específico, de acordo com a idade, social, emocional e cultural) e sua formação
escolaridade, entre outros. O currículo de como sujeito de direitos e deveres.
Libras direcionado à educação infantil Vislumbra neste modo de pedagogia, a
indica objetivos de aprendizagem e preocupação em desenvolver todo o
conhecimento necessários para que bebês e potencial dos estudantes e prepará-los para
crianças surdas possam se comunicar em se realizarem como pessoas, profissionais e
Língua de Sinais, sendo assim, fora cidadãos comprometidos com o bem-estar,
organizado em um único eixo: Base humanidade e planeta.
Precursora da Aquisição da Língua de Cada vez é necessário que haja uma
Sinais, sendo composta por três objetos de preocupação em se ter uma educação
conhecimento: Visualidade, Organização inclusiva, sendo essa um movimento
Linguístico-Motora, Compreensão e mundial de reconhecimento da diversidade
Interação. humana e da necessidade contemporânea de
Para que tais objetivos basilares sejam se constituir uma escola para todos, sem
alcançados, necessário se faz a construção barreiras.
de ambiente comunicativo propício à O modo de realizar a educação de surdos
aquisição de Libras, por meio da nem sempre foi unânime, nem sempre foi
organização de tempos e espaços que pela linguagem de sinais. Tal educação tem
privilegiem as relações dos bebês e crianças sido objeto de estudo no Brasil e no mundo
surdas com os interlocutores bilíngues. há décadas. Primeiramente priorizou-se o
Já para o ensino fundamental, o currículo ensino aos surdos na língua oral, com
de Libras foi organizado em três ciclos, caráter normalizador e proibitivo em
quais sejam: Alfabetização, relação ao uso da língua de sinais nos
Interdisciplina e Autoral, e apresenta espaços escolares.
como base a Matriz de Saberes; os Para fins de aprendizado, a instauração
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; da oralidade, como modo preferencial de
Eixos Estruturantes, Objetos de comunicação nos espaços educacionais, foi
Conhecimento, conforme consta na parte 2 o II Congresso Internacional de Educação
deste documento, bem como os Objetivos de dos Surdos, ocorrido em Milão. Com a
aprendizagem e desenvolvimento da divulgação dessa modalidade de
Libras. aprendizado para os surdos, começou-se a
experimentar um período em que a

45
Currículos e Orientações Didáticas

estimulação auditiva e o desenvolvimento o foco é a permanência da consolidação da


da fala ganha espaço de destaque. Tem-se competência linguística a ser desenvolvida
que o objetivo primordial era a em conjunto com objetivos de domínio da
normalização das pessoas surdas, tidas consciência metalinguística da Libras.
como deficientes, e a integração delas na É importante ter em mente que não é
comunidade ouvinte. descartado o ensino, aos estudantes surdos,
Para que tal filosofia oralista se da Língua Portuguesa, na modalidade
instalasse, houve opressão às línguas de escrita, sendo essa considerada a segunda
sinais, proibindo que crianças e jovens língua, enquanto que a Libras é definida
surdos usassem a Língua de Sinais em como a primeira.
ambientes educacionais. Os conteúdos com carga horária e
As reflexões quanto ao uso bilíngue na complexidade gradativa deverão ser
América Latina tiveram como precursores ministrados em Libras, desta forma,
Carlos Sanchez, na Venezuela, e Luis verifica-se que haja uma preferência ao
Bechares, no Uruguai. Já no Brasil, os professor de Língua Portuguesa para surdos
impactos dessas reflexões ocorreram na do domínio da Libras e conhecimento
década de 1980, com a influência dos explícito dos seus aspectos linguísticos.
estudos linguísticos das línguas de sinais
conforme Ferreira (1995), Skliar (1998) e Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
Quadros (1997). Contudo, apenas na última acessar o link abaixo:
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/w
década do século passado começou-se a p-content/uploads/2021/08/CC-da-Ed-Especial-
implementar na educação de surdos as LIBRAS.pdf
práticas bilíngues, ainda gerando conflitos
nas escolas de surdos.
Para os estudiosos do caso, Pickersgill e __________. Secretaria Municipal de
Gregory (1998) a competência adequada Educação. Coordenadoria Pedagógica.
nas duas línguas, de sinais e língua da Currículo da Cidade - Educação especial:
comunidade ouvinte, possui impacto no Língua Portuguesa para surdos. – São
desenvolvimento da criança e pode ser Paulo: SME / COPED, 2019.
determinante para o seu futuro educacional https://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Por
e social. tals/1/Files/51128.pdf
A relação entre as duas línguas deve ser
estimulada, bem como as habilidades de
estabelecer relações de similaridades e Língua Portuguesa para surdos –
divergências entre as línguas. Educação especial
Neste momento do estudo, se faz
necessário saber que o currículo para Iniciaremos o presente estudo de língua
Língua Brasileira de Sinais está organizado portuguesa para surdos. A priori, é válido
de forma promover a consolidação da mencionar que o presente currículo foi
competência linguística em Libras pelos organizado para os nove anos do Ensino
estudantes surdos, bem como domínio da Fundamental e está alinhado aos princípios
consciência metalinguística da Libras. norteadores e bases teóricas que
O objetivo na Educação Infantil é alicerçaram o currículo da cidade.
permitir que bebês e crianças surdas Na elaboração deste currículo definiu-se
possam ter um ambiente que permita o que Libras ganhasse centralidade, sendo
desenvolvimento das bases precursoras organizados dois grupos de trabalhos:
para aquisição da Língua de Sinais. Libras e Língua Portuguesa para surdos,
Já no Ensino Fundamental, tendo em visando a interrelação entre os dois
vista o grande número de crianças surdas currículos de forma que ocorresse o
que chegam à escola sem língua adquirida, encadeamento de conteúdos e metas.

46
Currículos e Orientações Didáticas

O presente currículo fora elaborado acompanhamento, seu desenvolvimento


tendo por concepções e conceitos a intelectual e afetivo e suas características de
formação de um currículo integrador. Desta natureza sociocultural.
feita, o currículo do ensino fundamental Com relação a avaliação no sistema de
considera a organização dos tempos, aprendizagem. A avaliação é tida como de
espaços e materiais que contemplem as grande importância, sendo um ato
vivências das crianças no seu cotidiano, a pedagógico que auxilia o docente nas
importância do brincar e a integração de decisões, buscando sempre a progressão na
saberes de diferentes componentes aprendizagem, compreendendo de que
curriculares, em permanente diálogo. forma se efetivam e propor reflexões sobre
É importante destacar que na elaboração o próprio processo de ensino.
do currículo da cidade o mesmo fora Ao nos debruçarmos sobre o currículo
orientado pela Educação Integral, sendo em análise, identifica-se que os objetivos de
aquela em que se busca promover o aprendizagem e desenvolvimento estão
desenvolvimento dos estudantes em todas identificados por uma sigla EF OX LPSXX
as suas dimensões (intelectual, física, em que:
social, emocional e cultural) e sua formação EF: ensino fundamental;
como sujeito de direitos e deveres. OX: ano de escolaridade;
Vislumbra neste modo de pedagogia, a LPSXX: componente curricular Língua
preocupação em desenvolver todo o Portuguesa para surdos, seguido da
potencial dos estudantes e prepará-los para sequência de objetivos de aprendizagem e
se realizarem como pessoas, profissionais e desenvolvimento desse componente.
cidadãos comprometidos com o bem-estar, O modo de realizar a educação de surdos
humanidade e planeta. nem sempre foi unânime, nem sempre foi
Com objetivo de se ter um currículo cada pela linguagem de sinais. Tal educação tem
vez mais inclusivo, que dê oportunidades a sido objeto de estudo no Brasil e no mundo
todos de aprendizagem, resguardando seus há décadas. Primeiramente priorizou-se o
direitos, é de suma importância que o ensino aos surdos na língua oral, com
mesmo tenha um diálogo com a dinâmica e caráter normalizador e proibitivo em
os dilemas da sociedade contemporânea, de relação ao uso da língua de sinais nos
modo que as novas gerações possam espaços escolares.
participar ativamente da transformação Para fins de aprendizado, a instauração
positiva tanto da sua realidade local, quanto da oralidade, como modo preferencial de
dos desafios globais, tais como os temas comunicação nos espaços educacionais, foi
ligados a direitos humanos, meio ambiente, o II Congresso Internacional de Educação
desigualdade social, política, economia, dos Surdos, ocorrido em Milão. Com a
entre tantos outros. divulgação dessa modalidade de
Para o alcance dos objetivos é evidente aprendizado para os surdos, começou-se a
que há que haver uma organização. Para experimentar um período em que a
isso o currículo da cidade preserva a estimulação auditiva e o desenvolvimento
subdivisão do Ensino Fundamental de nove da fala ganha espaço de destaque. Tem-se
anos em três ciclos. O ciclo de que o objetivo primordial era a
Alfabetização compreende os três normalização das pessoas surdas, tidas
primeiros anos (1°, 2° ,3°). O como deficientes, e a integração delas na
interdisciplinar envolve os três anos comunidade ouvinte.
seguintes (4°, 5°, 6°) e por fim o autoral Com relação à língua portuguesa no
abarca os três anos finais (7°, 8°, 9°). currículo bilíngue para surdos, o
A ideia central é proporcionar ao aprendizado da segunda língua, portuguesa
estudante o maior tempo de aprendizagem em sua modalidade escrita, deverá ser
no âmbito de cada ciclo, havendo o devido subsidiada pelos recursos linguísticos e

47
Currículos e Orientações Didáticas

cognitivos em sua primeira língua, Libras. Para cada etapa escolar há que haver um
Há também uma orientação para que os objetivo específico, de acordo com a idade,
conteúdos com carga horária e escolaridade, entre outros. O currículo de
complexidade gradativa deverão ser Libras direcionado à educação infantil
ministrados em Libras, levando a entender indica objetivos de aprendizagem e
que o professor de língua portuguesa para conhecimento necessários para que bebês e
surdos, preferencialmente, deverá ter o crianças surdas possam se comunicar em
domínio da Libras e conhecimento explícito Língua de Sinais, sendo assim, fora
dos seus aspectos linguísticos. organizado em um único eixo: Base
Quanto ao processo de aquisição de Precursora da Aquisição da Língua de
Libras iniciado na educação infantil com o Sinais, sendo composta por três objetos de
estímulo de bases cognitivas e linguísticas conhecimento: Visualidade, Organização
para a aquisição, fora dividido em cinco Linguístico-Motora, Compreensão e
eixos estruturantes: Interação.
Prática de leitura de textos; Para que tais objetivos basilares sejam
Produção sinalizada; alcançados, necessário se faz a construção
Prática de análise linguística; de ambiente comunicativo propício à
Prática de produção de textos escritos; aquisição de Libras, por meio da
Dimensão intercultural. organização de tempos e espaços que
Tal divisão fora pensada de forma que privilegiem as relações dos bebês e crianças
houvesse gradação e continuidade na surdas com os interlocutores bilíngues.
organização e na apresentação dos Ao se analisar o currículo da cidade
objetivos de aprendizagem e língua portuguesa para surdos do ensino
desenvolvimento durante as atividades a fundamental verifica-se que o mesmo fora
serem realizadas com os estudantes surdos. organizado em cinco eixos:
Prática de leitura de textos;
Caso queira ter acesso à íntegra deste material, Produção sinalizada;
acessar o link abaixo: Prática de análise linguística;
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/
Files/51128.pdf
Prática de produção de textos escritos;
Dimensão intercultural.
Dentro de cada eixo estão elencados os
objetos de conhecimento e objetivos de
__________. Secretaria Municipal de
aprendizagem e desenvolvimento para cada
Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações didáticas do Currículo da
ano/ciclo.
Cidade: Educação Especial – Língua Vale ressaltar, que as orientações
Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa didáticas neste currículo não têm por
para surdos. São Paulo: SME/COPED, finalidade engessar a prática docente ou
2021. mesmo apresentar receitas prontas, mas
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov. sobretudo, apontar possibilidades de
br/wp- organização das atividades, estratégias de
content/uploads/2021/11/Livro_OD_Libra ensino e práticas pedagógicas, tendo com o
s_LP-Surdos_WEB.pdf base os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento propostos nos currículos
de Libras e Língua portuguesa para surdos.
Orientações didáticas do currículo da Na etapa da educação infantil tem-se as
cidade – Libras – educação especial atividades para elas elaboradas, envolvendo
o eixo: Bases Precursoras da aquisição da
Neste material iremos abordar sobre as língua de sinais, com ênfase no estímulo e
orientações didáticas do currículo da cidade observação para o desenvolvimento das
– Libras. habilidades sensoriais, motoras e

48
Currículos e Orientações Didáticas

linguísticas, necessárias para aquisição de Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
linguagem, divididas em três objetos do acessar o link
abaixo:https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
conhecimento: br/wp-
Visualidade; content/uploads/2021/11/Livro_OD_Libras_LP-
Organização linguístico-motora; Surdos_WEB.pdf
Compreensão e interação.
Para resumir, a educação infantil é uma
etapa de ensino que visa ao direito de __________. Secretaria Municipal de
aprendizagem e ao desenvolvimento, por Educação. Coordenadoria Pedagógica.
meio de campos de experiências. Orientações para atendimento de
Para o ensino fundamental, o ensino da estudantes: altas habilidades /
superdotação. São Paulo: SME/COPED,
língua de sinais seja sistematizado
2021.
privilegiando o uso e aprofundamento no https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.
conhecimento da gramática de Libras, br/wp-
consolidando a competência linguística e o content/uploads/2021/09/caderno_EE_AL
domínio da consciência metalinguística. O TAS-WEB.pdf
desenvolvimento dessa consciência trará ao
estudante o conhecimento linguístico
necessário para compreender como as Orientações para atendimentos de
formas executadas e percebidas na Libras estudantes – Altas habilidades/
constituem sentidos, e como esses poder ser superdotação
representados/escritos na Língua
Portuguesa. Este material buscar trazer informações
Com relação à avaliação em Libras e das que auxiliarão na identificação e
Libras requer que os professores tenham atendimento adequado às necessidades
claros os objetivos de aprendizagem e educacionais dos estudantes com altas
desenvolvimento que serão avaliados, habilidades/superdotação – AH/SD.
considerando-se a interlocução entre os Para se iniciar esse estudo, necessário se
diferentes eixos e objetos de conhecimento. faz a conceituação do tema superdotação ou
Tal avaliação deve levar em altas habilidades. Este é um termo utilizado
consideração, tanto a capacidade expressiva para se referir a pessoas que se destacam
como a compreensiva dos estudantes, pois por terem um talento ou inteligência
cada criança pode variar sua apropriação notável quando comparadas aos seus pares.
linguística a depender do tempo de O estudioso do assunto, Renzulli (1986)
exposição de língua. trouxe uma teoria chamada de Três anéis,
Desta forma, é preciso que no processo os quais são essenciais para a formação do
de avaliação o professor leve em conta tanto comportamento superdotado, que consiste:
os objetivos de aprendizagem algo para o
ano/ciclo quanto às características de seu habilidades acima da média em alguma
grupo. área de conhecimento, grande
O objetivo do ensino da Língua envolvimento com tarefa e altos níveis de
Portuguesa escrita para os alunos surdes criatividade.
deve ser a habilidade de produzir textos, Ao longo do tempo, variados conceitos
obtendo, então, a importância de se foram criados a fim de explicar, definir
trabalhar o texto em interações na língua de pessoas que possuíam altas habilidades, tais
sinais. como: precoce; prodígio; gênio.
Uma das formas mais utilizadas para se Precoce: usado para àquelas pessoas que
promover o ensino bilíngue é o uso de jogos apresentam determinadas habilidades antes
e brincadeiras, com enfoque no uso de do tempo esperado para sua idade.
artefatos lúdicos que se convertem em Prodígio: se refere às crianças que
desafios e aprendizagens. apresentam grande domínio em uma área

49
Currículos e Orientações Didáticas

específica de conhecimento, sem haver Tipo 2: neste tipo, procura-se a utilização


treinamento para tanto, não sendo comum de métodos, materiais e técnicas
para sua idade. instrucionais os quais servirão de
Gênio: termo utilizado para aquelas aprimoramento para o desenvolvimento do
pessoas que deixaram contribuições enriquecimento do Tipo 3.
extraordinárias à humanidade como Albert Tipo 3: consiste em investigações de
Einstein, Pablo Picasso, Stephen Hawking. problemas reais que ainda não possuem
Para o pesquisador Joseph Renzulli soluções, podem ser realizadas de forma
(2004) há dois grupos: a superdotação individual ou em pequenos grupos.
acadêmica e a superdotação criativo- Quando uma instituição de ensino se
produtivo. preocupa em cultivar tais exemplos de
A primeira faz referência a habilidades atividades de enriquecimento, favorece o
mais valorizadas pela escola tradicional, processo de identificação de estudantes
tendo características que podem ser com AH/SD.
medidas ou avaliadas no contexto escolar, e Vale mencionar a importância da escola
por meio dos testes de inteligência. no momento em que identifica o aluno com
A segunda está relacionada com o tais habilidades, é necessário que haja uma
desenvolvimento de produtos originais que parceria com a família, orientando-a a
visam responder a problemas reais do respeito de atividades de atendimento a tais
cotidiano desses estudantes. estudantes, atividades fora do contexto
A avaliação desses alunos com altas escolar que atendam às suas necessidades.
habilidades/superdotação não está restrita a Na elaboração dos documentos
uma única forma, mas sim multidisciplinar, pedagógicos para estudantes com AH/SD, é
levando em conta, sobretudo, da importante que tenha a descrição sobre o
observação manifestada durantes as desenvolvimento da aprendizagem em
atividades escolares, participação em diferentes áreas do conhecimento,
projetos, dentre outros, envolvendo apontando suas potencialidades e
diferentes informantes e instrumentos: especificidades.
relato de professores, relato dos pais, dos Compete ao professor trabalhar em
colegas, autonomeação, testes psicológicos, conjunto com esse aluno, ser seu aliado no
entre outros. processo de compreensão da realidade, em
Caso o professor constate que o seu cada uma das linguagens científicas,
aluno possui indicadores de superdotação estimule-o, o desafie.
ou altas habilidades, deve promover ao
enriquecimento curricular, sendo essa, uma Caso queira ter acesso à íntegra deste material,
estratégia pedagógica que propõe acessar o link abaixo:
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/w
atividades desafiadoras, que buscam p-content/uploads/2021/09/caderno_EE_ALTAS-
atender às necessidades e aos interesses dos WEB.pdf
estudantes com AH/SD.
Há um modelo de enriquecimento
curricular mundialmente conhecido,
desenvolvido por Renzulli, 1970, sendo
compostos por três tipos: Tipo 1, Tipo 2,
Tipo 3.
Tipo 1: oferecido a todos os estudantes
da escola, visando a realização de
atividades exploratórias, para que
conheçam as diferentes áreas de ensino, por
meio de disciplinas, visitas e palestras que
não fazem parte do currículo regular.

50
Currículos e Orientações Didáticas

É mister ter em mente que o trabalho


__________. Secretaria Municipal de escolar com tais alunos, exigirá do docente
Educação. Coordenadoria Pedagógica.
uma posição que leve em conta um
Orientações para atendimento de
estudante que, por vezes, se esquiva do laço
estudantes: transtorno do espectro do
autismo. São Paulo: SME / COPED, social e, portanto, nem sempre estará em
2021. posição de curiosidade como os demais
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov. alunos. Desta forma, torna-se um desafio ao
br/wp- educador, para que o mesmo encontre
content/uploads/2021/09/caderno_EE_TE meios de levar a ele o aprendizado, de
A-web.pdf suscitar sua curiosidade.
Com relação às atribuições,
responsabilidades e articulação entre os
Orientações para atendimentos de serviços de educação especial, exige que as
estudantes – Transtorno do espectro do equipes tenham especial atenção no tocante
autismo TEA ao Plano de Trabalho do Atendimento
Educacional Especializado que, em
Este material buscar trazer informações conformidade com o descrito na portaria n°
que auxiliarão na identificação e 8.764, art. 24, deve ser elaborado e
atendimento adequado às necessidades executado pelos educadores da Unidade
educacionais dos estudantes com transtorno Educacional em conjunto com o professor
do espectro do autismo. do AEE e/ou com apoio do PAAI, devendo
Pesquisas apontam que vem crescendo o haver prévia avaliação pedagógica/estudo
número de crianças com TEA, dessa forma de caso, onde se poderá verificar:
é necessário que haja a adequação Identificação das barreiras, barreiras
curricular para atendê-las com qualidade no existentes e necessidades educacionais;
processo de aprendizagem. A inclusão Definição e organização das estratégias,
escolar desses estudantes possibilita, com serviços e recursos pedagógicos e de
relação ao seu desenvolvimento, que a acessibilidade;
circulação discursiva e o trabalho Tipo de atendimento conforme as
educacional produzam efeitos em seu necessidades educacionais específicas dos
desenvolvimento físico, psicomotor, da educandos;
linguagem e cognitivo. Cronograma de atendimento;
A escola acaba por se tornar um Carga horária.
ambiente acolhedor, produzindo uma ação
civilizatória, lançando-a no circuito Para o bom andamento do ensino ao
social/coletivo. Contudo, há que se falar aluno com o transtorno do espectro do
que por vezes quando o professor tem a autismo, é preciso que dois princípios
notícia de que haverá em sua sala de aula norteadores sejam atendidos: Acolhimento
um aluno com TEA, os mesmos sentem-se às diferenças e educabilidade, tendo vista
inseguros e exigidos a saber mais sobre as que as características de se esquivarem de
dificuldades desse estudante, que, na contato social, de terem interesses restritos,
maioria das vezes, só possuem apego a rotinas, comportamentos
conhecimento básico advindo da internet. repetitivos, entre outros.
Apesar dos docentes possuírem saber O princípio do acolhimento é um
prévio pautados nas teorias pedagógicas, é princípio ético de toda prática inclusiva,
somente a partir de seu encontro e de sua portanto, não sendo de ordem
experiência com esse aluno, que poderá assistencialista, já que se refere a uma
construir caminhos, que o auxiliem na noção específica e complexa de respeito à
reflexão sobre aprendizagem escolar. alteridade, de reconhecimento do outro em
sua singularidade e subjetividade.

51
Currículos e Orientações Didáticas

Ou seja, não se deve partir da premissa


que tais estudantes possuem alguma
deficiência, no sentido deficitário, mas sim
que se está diante de um estudante com
características singulares, e que toda
atividade venha a visar a equidade, bem
como a sua participação com o coletivo da
sala de aula.
Com relação ao princípio da
educabilidade, tem-se que compete ao
professor desenvolver estratégias e
procedimentos que possam atender aos
percursos específicos de cada estudante ter
o devido acompanhamento na construção
de suas aprendizagens.
Outro ponto importante para o
desenvolvimento do estudante com o
transtorno do espectro do autismo é por
meio da escrita alfabética, sendo essa uma
via potente e possível quando se trata de
escolarização de crianças com TEA, pois
possibilita a reordenação do campo
simbólico com um usufruto das produções
escritas para que a criança possa dizer de si
e dirigir seu texto a um outro que a
reconhece e a toma no laço social.
Sendo assim, a escolarização de
estudantes com TEA precisa ser pensada
em uma perspectiva que reconheça que
todo aprendizado produz subjetivação,
desta forma, a aprendizagem precisa ser
entendida em sua dimensão formativa, no
sentido de possibilitarem construções
subjetivas para todas as crianças.

Caso queira ter acesso à íntegra deste material,


acessar o link abaixo:
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/w
p-content/uploads/2021/09/caderno_EE_TEA-
web.pdf

52
Conhecimentos Específicos

SUMÁRIO

ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2017 ...................... 1


ARROYO, Miguel. Currículo, território em disputa. Petrópolis: vozes, 2011 .. 4
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo,
preconceito e discriminação na Educação Infantil. São Paulo: Contexto, 1998. .... 6
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 2004 ................................................................................ 12
LOURO Guacira Lopes.Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-
estruturalista. 16ª edição. Petrópolis: Vozes, 2014 ............................................... 15
MICHELÈ Sato e Isabel Carvalho. Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios - 1ª
Edição - Penso/ Editora Artmed, 2005 .................................................................. 20
MOLL, Jaqueline. Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos
e espaços educativos. Porto Alegre: Penso, 2012 ................................................. 21
SILVA, Edson. Ensino e sociodiversidades indígenas: possibilidades, desafios e
impasses a partir da lei 11.645/2008. Caicó, v.15, n.35, p.21-37. Mneme - Revista de
Humanidades, jul/dez. 2014. Dossiê Histórias Indígenas. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/ mneme/article/view/7485 ............................................ 25
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: componente do ato
pedagógico. São Paulo: Cortez, 2008 ................................................................... 33
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens -
entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999 ................................................... 38
VILLAS BOAS, Benigna M. F. As Dimensões do Projeto Político- -Pedagógico:
novos desafios para a escola. Ilma Passos Alencastro Veiga, Marília Fonseca (orgs.).
Campinas: Papirus, 2001 - (Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico)........ ................................................................................................... 52
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Orientações para atendimento de estudantes: transtorno do espectro do autismo. São
Paulo: SME / COPED, 2021 ................................................................................. 54
Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos

São Paulo (SP) . Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.


Retratos da EJA em São Paulo : história e relatos de práticas. - São Paulo : SME /
COPED, 2020 ........................................................................................................ 54
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Conhecer para proteger: enfrentando a violência contra bebês, crianças e adolescentes.
São Paulo: SME/COPED, 2020 ............................................................................ 55
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Ansiedade e medo em tempos de pandemia: a arte favorecendo ressignificações. São
Paulo: SME/COPED, 2021. (Coleção Diálogos com o NAAPA, v.1) ................. 59
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Vulnerabilidade e educação. São Paulo: SME/ COPED, 2021. (Coleção Diálogos com
o NAAPA, v. 3) ..................................................................................................... 61
São Paulo (SP) Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Povos Migrantes: orientações didáticas. SME/ COPED, 2021 ............................. 63
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Educação Integral: política São Paulo educadora. - São Paulo: SME/ COPED,
2020........ ............................................................................................................... 66
São Paulo (SP). Orientação normativa nº 01: avaliação na educação infantil:
aprimorando os olhares. São Paulo: SME / DOT, 2014 ....................................... 68
São Paulo (SP). Orientação Normativa de registros na Educação Infantil. São Paulo:
SME / COPED, 2020 ............................................................................................ 69
São Paulo (SP). Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. São
Paulo: SME / DOT, 2016 ...................................................................................... 71
São Paulo (SP). Currículo integrador da infância paulistana. São Paulo: SME/DOT,
2015 ....................................................................................................................... 72
São Paulo (SP). Orientação Normativa de educação alimentar e nutricional para
Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED / CODAE, 2020 ........................... 74

Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.


Avaliação no contexto escolar: vicissitudes e desafios para (res)significação de
concepções e práticas. São Paulo: SME / COPED, 2020 ..................................... 76
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da cidade : considerações do Conselho Municipal de Educação de São Paulo.
- São Paulo : SME / COPED, 2022 https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/ uploads/2022/06/Parecer-Curriculo-da-Cidade-_CME.pdf .................... 78
BARBOSA, Maria Carmem Silveira; FARIA, Ana Lucia Goulart de; MELLO,
Suely Amaral. Documentação pedagógica: teoria e prática. São Carlos, SP: Pedro &
João Editores, 2017 ............................................................................................... 80
CIPPITELLI, Alejandra; DUBOVIK, Alejandra. Construção e construtividade:
materiais naturais e artificiais nos jogos de construção. São Paulo: Phorte Editora,
2018... .................................................................................................................... 82
FINCO, Daniela; OLIVEIRA, Fabiana de. A Sociologia da pequena infância e a
diversidade de gênero e de raça nas instituições de Educação Infantil. Cap. 3. IN: Faria
Ana Lúcia Goulart de; FINCO, Daniela (Orgs.). Sociologia da Infância no Brasil.
Campinas, SP: Autores Associados, 2011 (Coleção Polêmicas do nosso tempo) 82
MELLO, Suely Amaral. O processo de aquisição da escrita na Educação Infantil:
contribuições de Vygotsky. Cap. 2. IN: FARIA, Ana Lúcia Goulart & MELLO, Sueli
Amaral (orgs.). Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores
Associados, 2009. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo...................................... 87
BARBOSA, Maria Carmem Silveira e HORN, Maria da Graça Souza. Projetos
Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008 .......................... 90
BARBIERI, Stela. Territórios da Invenção: Ateliê em Movimento. São Paulo:
Jujuba Editora, 2021 ............................................................................................ 100
PRADO, Patrícia D. . Educação Infantil: contrariando as idades. 1. ed. São Paulo:
Képos (Selo Editora Laços), 2015 ...................................................................... 101
MONÇÃO, Maria Aparecida Guedes. Gestão na Educação Infantil: cenários do
cotidiano. São Paulo: Edições Loyola, 2021 ....................................................... 102
Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Caminhos pedagógicos da educação inclusiva. In:


GAIO, R.; MENEGHETTI, R.G.K. (org). Caminhos pedagógicos da Educação
Especial. Petropólis: Editora Vozes, 2004 .......................................................... 104
MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer?
2 ed. São Paulo: Moderna, 2006 ......................................................................... 105

Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos

“Racismo e política”; “Racismo e direito”;


ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. “Racismo e economia”. De modo geral,
São Paulo: Pólen, 2017 eles exploram a seguinte questão central: “o
racismo é sempre estrutural, ou seja, [...] ele
é um elemento que integra a organização
1,2 econômica e política da sociedade. [...] é a
Pós-doutor em Direito pela Faculdade manifestação normal de uma sociedade, e
de Direito da Universidade de São Paulo, não é um fenômeno patológico ou que
atualmente Almeida é docente na expressa algum tipo de anormalidade”
Universidade Presbiteriana Mackenzie e na (ALMEIDA, 2019, p.20).
Escola de Administração de Empresas da No primeiro capítulo, “Raça e racismo”,
Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Almeida (2019) explica que o conceito de
Com longa trajetória nos estudos do direito raça, enquanto noção relacional e histórica,
e da filosofia, alguns artigos publicados por remonta ao século XVI, tendo sofrido
ele são: “Republicanismo e questão racial”; atualizações desde então. Porém, é no
“Crise, racismo e neoliberalismo”; “Estado século XVIII, com o projeto iluminista, que
e direito: a construção da raça”. ocorre a laicização de uma variedade de
Embora o foco de sua obra mais recente, racismo antes justificada em crenças
Racismo estrutural, não seja a análise de teológicas. No projeto iluminista, o homem
discurso, recomendamos a sua leitura por passa a ser objeto filosófico-antropológico
abordar questões relativas aos sujeitos, à visto a partir da dicotomia civilizado versus
história e ao contexto social da linguagem –
selvagem. No século seguinte, esse mesmo
elementos que não podem ser homem se torna objeto de investigação e de
negligenciados em uma análise discursiva discursos pseudocientíficos que
sobre a realidade brasileira. Com o objetivo associariam, de modo determinista,
principal de apresentar uma teoria social características biológicas, condições
contemporânea crítica e profunda, climáticas e/ou ambientais a diferenças
mantendo uma abordagem didática, morais, psicológicas e intelectuais. Essas
Racismo estrutural desafia o leitor a pensar teorias raciais de base biológica serviriam,
sobre questões de discurso dentro de redes então, de sustentação ideológica para a
de práticas racistas. Para isso, o autor nos manutenção da exploração de traço colonial
apresenta, ao longo do livro, um panorama mesmo após a abolição da escravidão. Isso
dos campos da filosofia, da ciência política, pode ser visto, por exemplo, na primeira
da teoria do direito e da teoria econômica grande crise do capitalismo em 1873, cujos
em diálogo com o conceito de raça. desdobramentos se dão no imperialismo e
Racismo estrutural é um pocketbook de no neocolonialismo em território africano.
264 páginas que compõe a série Após essa breve contextualização
Feminismos Plurais, lançada pela Editora histórica, Almeida descreve as semelhanças
Pólen, em 2019, com o selo Sueli Carneiro. e especificidades entre os termos
O livro traz, na última capa, os preconceito, discriminação e racismo,
pesquisadores Marcelo Paixão reforçando como, ao longo da história, a
(Universidade de Austin, Texas, Estados discriminação se desdobrou em
Unidos) e Luiz Felipe de Alencastro “estratificação social, um fenômeno
(Universidade Paris Sorbonne e Fundação intergeracional, em que o percurso de vida
Getúlio Vargas) para endossar a relevância de todos os membros de um grupo social -
da obra. o que inclui as chances de ascensão social,
A obra está dividida em cinco capítulos: de reconhecimento e de sustento material -
“Raça e racismo”; “Racismo e ideologia”; é afetado” (ALMEIDA, 2019, p.33).

1
https://bit.ly/3RscQFJ &lang=pt
2
https://www.scielo.br/j/bak/a/8R37NgQt56Sf5P58KRfMFzq/?format=pdf

1
Conhecimentos Específicos

Posteriormente, o autor apresenta três constrói brancos e negros de modos


abordagens do racismo: individualista, distintos na esfera social, sobretudo no que
institucional e estrutural. O objetivo é concerne à questão do direito e dos regimes
enfatizar a importância de se compreender de exploração da força de trabalho. Por esse
o racismo para além da questão de desvio, motivo, é imperioso questionar a
desarranjo ou anormalidade meritocracia enquanto perspectiva que
comportamental de um único indivíduo ou alega igualdade de oportunidades entre
grupo, mas sim como um conjunto de todos os sujeitos sociais em uma sociedade
práticas inconscientes, conscientes e até fraturada pelo capitalismo.
mesmo institucionalizadas, que se No terceiro capítulo, “Racismo e
articulam sofisticadamente de modo a política”, o autor (i) define o conceito de
normalizar “relações políticas, econômicas, Estado e sua relação com o capitalismo, (ii)
jurídicas e até familiares” (ALMEIDA, elucidando a articulação de uma narrativa
2019, p.52). nacionalista nesse contexto. Além disso,
O segundo capítulo, “Racismo e aborda neste capítulo questões como (iii)
ideologia”, leitura obrigatória para analistas representatividade, (iv) biopolítica e (v)
do discurso, concentra-se em explicar necropolítica.
questões como (i) a naturalização do Em continuidade ao capítulo anterior,
racismo, (ii) a relação entre racismo, que se encerra tratando da meritocracia,
ideologia e estrutura social, (iii) os papéis Almeida inicia o capítulo estabelecendo as
desempenhados pela ciência e pela cultura bases de sua Teoria Social que
na manutenção do racismo, (iv) o lugar do inevitavelmente passa pela discussão sobre
branco no processo de racialização e, por uma teoria do Estado burguês. Aqui,
fim, (v) as relações entre racismo e Almeida aprofunda sua crítica a uma
meritocracia. perspectiva liberal que, fundada na noção
Conforme Almeida (2019), a de indivíduo livre (especialmente para
perpetuação do racismo é possível na estabelecer contratos) na ordem do
medida em que (i) produz sistema de capitalismo, restringe-se a uma
explicação específico para as desigualdades compreensão individualista de racismo que
e (ii) constitui subjetividades insensíveis enxerga todo o conjunto articulado de
diante da discriminação e da violência práticas de discriminação racial apenas sob
racial. Nessa operação ideológica, ciência e as lentes de um desvio ético pessoal frente
cultura ocupam papéis importantes. A à igualdade (formal) estabelecida em lei.
primeira, produzindo discursos de Sobre as relações entre racismo, Estado e
autoridade, elevados à categoria de capitalismo, Almeida se ampara na
verdade, que se sofisticam ao longo do concepção proposta por Mascaro (2013,
desenvolvimento do capitalismo e dos p.19), que afirma que “a reprodução do
avanços tecnológicos de modo, por capitalismo se estrutura por meio de formas
exemplo, a substituir o racismo científico sociais necessárias e específicas, que
pelo “relativismo cultural” e pelo constituem o núcleo de sua própria
“multiculturalismo” que passam a evocar; a sociabilidade”, sendo o racismo uma dessas
segunda, a partir de um modelo de formas.
humanidade controlável, no qual a prática Para Almeida (2019), não é possível
de aniquilamento cultural é trocada pelo compreender o racismo sem pensar seu
poder de determinação de valor e funcionamento a partir das estruturas
significado. A Teoria Social apresentada estatais, pois é por meio do Estado que se
por Almeida nos permite perceber que a opera com a classificação e divisão de
possibilidade de estabelecer valor e pessoas. A ideologia nacionalista, por sua
significado é sempre realizada numa vez, apresenta-se como funcional à
operação relacional que simultaneamente tentativa de reconstruir uma identidade

2
Conhecimentos Específicos

comum numa tentativa de apagar os seção, em especial, traz contribuições


conflitos entre os diferentes grupos/classes teóricas fundamentais para o analista do
e as contradições do sistema capitalista, o discurso e sua reflexão teórico-político-
qual, ao longo do tempo, sofistica suas ética necessária ao fazer científico.
estratégias e técnicas de reprodução. Como O quinto capítulo, porém, não menos
exemplo disso, o autor aponta os limites da importante, dedica-se a tratar da relação
representatividade em instituições “Racismo e economia”, questão
majoritariamente compostas por pessoas fundamental para se compreender a
brancas; o exercício disciplinar e perspectiva estrutural construída na Teoria
regulamentador da vida ou de sua Social apresentada por Almeida. O
suspensão; e a reprodução de um sistema empenho do autor em destrinchar a
burocrático mortífero, que se diz exceção, problemática pode ser notado nas 14
mas que estabelece como política o subseções que desenvolvem o assunto.
aniquilamento da população negra Essas seções retomam todo o
brasileira. desenvolvimento de ideias preliminares
O quarto capítulo, “Racismo e direito”, apresentadas no primeiro capítulo e
está subdividido em seis seções, que tratam também ao longo de todo o livro, que já
(i) do direito e da justiça, (ii) do direito apontavam para a questão central da obra:
como norma, (iii) do direito como poder, Como o racismo, enquanto traço contínuo
(iv) do direito como relação social, (v) da da exploração colonial, projeta-se no
raça e da legalidade, (vi) do direito e Brasil contemporâneo estruturando o (e
antirracismo. sendo estruturado pelo) conjunto de
Ao longo do conjunto dessas seções, o instituições e relações no quadro do
autor explica como diferentes concepções capitalismo periférico para a reprodução
sobre a noção de direito estão não somente desse último sistema?
relacionadas a momentos históricos Em suma, o livro de Almeida supera
distintos, como também a projetos de quaisquer limitações que o formato de
justiça social variados. Parte dessa pocketbook possa impor à compreensão da
discussão tece críticas a paradigmas discussão proposta. Quanto à sua
individualistas, que ignoram os efeitos das contribuição para os estudos de análise do
instituições estatais na constituição do discurso, recomendamos a leitura e
racismo, ou colocam sob suspeição compreensão do livro como um todo. A
concepções amparadas em uma dimensão abordagem de Almeida sobre o racismo
meramente ética, ou seja, que ainda se estrutural se revela potente para estudos
mantêm focadas no indivíduo ao ignorarem discursivos que considerem a perspectiva
o funcionamento estrutural complexo do epistemológica dos sujeitos diretamente
racismo em diferentes dimensões afetados por esse fenômeno social, que tem
(ideológica, cultural, política, econômica, a linguagem como uma de suas ferramentas
institucional, material). Em contraposição a de sustentação.
essas posturas, o autor propõe pensar o
direito a partir das dinâmicas de poder e das
relações sociais constituídas no interior do
capitalismo. Sobre isso, é preciso destacar a
maestria com que o autor recupera na
Teoria Social as conexões entre o direito, o
surgimento das sociedades capitalistas e a
constituição do “racismo como uma relação
estruturada pela legalidade” (ALMEIDA,
2019, p.136) que reproduz a condição
colonial no mundo contemporâneo. Esta

3
Conhecimentos Específicos

outros espaços e, com isso, pressionam o


ARROYO, Miguel. Currículo, território currículo oficial para incorporar o resultado
em disputa. Petrópolis: vozes, 2011 de suas lutas.
Isso não significa que o currículo oficial
perdeu sua força controladora, mas sim que
3
algo realmente forte inaugurou-se: a
A concepção de currículo como campo possibilidade de que as histórias-memórias
de disputa não é nova, pois veio à tona, dos diversos sujeitos sejam contadas, ainda
internacionalmente, nos anos de 1970 e, no que por meio de outras linguagens. Assim,
Brasil, nos anos de 1980. Revelou-se, desde não se trata de uma vitória final dos
então, um importante balizador para a coletivos populares sobre o Estado, mas de
análise das relações de poder que envolvem uma nova estratégia de luta que tem
os currículos. O próprio professor Miguel alterado o lugar da escolarização na visão
Arroyo contribuiu fortemente para o debate desses coletivos, e também na visão da
dessa época. academia, que vendia a ideia de que a
Se o referido tema não é novo, qual é o escolarização retiraria os brasileiros da
acréscimo que traz o último livro de subcidadania. Também não se trata de uma
Arroyo, Currículo, território em disputa? O prática completamente difundida e
autor destaca que o currículo não é apenas consolidada entre os professores, mas
território de disputas teóricas. Quem apenas de um desenho alternativo de
disputa vez nos currículos são os sujeitos da currículo onde os saberes da docência
ação educativa: os docentes-educadores e tenham vez.
os alunos-educandos. Os professores e Obviamente, a escola continua
alunos não se pensam apenas como importante para esses sujeitos, mas os
ensinantes e aprendizes dos conhecimentos saberes, as conquistas, as experiências e
dos currículos, mas exigem ser tudo mais que as novas lutas são capazes de
reconhecidos como sujeitos de experiências produzir podem, estrategicamente, se
sociais e de saberes que requerem ter vez no converter em prática curricular, em
território dos currículos. conteúdo político, em ato a ser valorizado
Arroyo aponta ainda duas novidades: 1) dentro da escola. Tal situação tem
o currículo oficial está cada vez mais ameaçado fortemente o currículo oficial,
pressionado pelos coletivos populares, que uma vez que se vê brotar no seu interior
exigem o direito de ver suas narrativas algo maior que ele mesmo: a inesperada
também pronunciadas pela escola; 2) ação dos movimentos sociais que adentra os
entretanto, esses coletivos, por sua vez, não processos de escolarização por outra via: a
lutam mais pela escolarização em si; aos do acesso pelo direito. Isso justifica a forte
poucos passaram a entender que o processo reação estatal: Parâmetros Curriculares
de sua afirmação como sujeitos de direitos Nacionais, Provinha Brasil, Exame
não se dá exclusivamente pela escola Nacional do Ensino Médio (Enem),
(promessa apregoada por muito tempo). Diretrizes Curriculares Nacionais, Índice de
Agora, a luta é por pertencimento social Desenvolvimento da Educação Básica
amplo, por acesso aos bens materiais e (Ideb), entre outros; tudo com o intuito de
culturais, simbólicos e memoriais, na reforçar o caráter conteudista e cognitivista
diversidade de espaços sociais, onde o da escolarização, bem como retirar o poder
direito à escola adquire outra relevância. da nova estratégia, essa que une saberes,
Assim, os coletivos populares, embalados direito e escolarização.
por um amplo movimento de afirmação,
inverteram a antiga lógica: articulam o seu
direito à escola à conquista e ocupação de
3
https://bit.ly/3TZlA87

4
Conhecimentos Específicos

Para ilustrar as questões apresentadas até de educar – pelo frio cumprimento de metas
aqui, me remeto, parte a parte, ao livro de do ensino por competência e de avaliação
Arroyo. de resultados. Isso ocorre porque as
Na primeira parte, intitulada “Os políticas públicas da educação entendem
professores e seus direitos a ter vez nos que os saberes daqueles que frequentam a
currículos - autorias, identidades escola pública são desqualificados, sem
profissionais”, Arroyo acredita que a crédito, sem valor; são saberes pobres, de
atividade do professor não se reduz, de pobres; pretendem educar os alunos para a
forma alguma, a validar o controle das empregabilidade, para esse tipo de trabalho
instâncias superiores sobre a escola. que mais desumaniza do que humaniza.
Entretanto, essas instâncias tiveram o poder Para Arroyo, infelizmente, perdemos a
de bloquear a arte de educar dos possibilidade de substituir esse trabalho
professores, isto é, de governar o campo das embrutecido e embrutecedor por um
possibilidades de se ensinar de outras trabalho cujo princípio é a transformação
maneiras, com práticas inventadas, criadas do homem para que ele se integre à vida, ao
e imaginadas pelos professores, ou seja, mundo, enfim, às práticas sociais;
bloquearam a autoria profissional do perdemos a oportunidade de educar a partir
professor e seus saberes docentes. Para o do trabalho cujo princípio é educativo. O
autor, dois grandes momentos históricos trabalho como princípio educativo é, para
foram responsáveis, no Brasil, por esse Arroyo, o elo perdido dos saberes docentes,
bloqueio: a ditadura de 1964 e as atuais mas também o elo a ser encontrado.
políticas neoliberais; ambas produziram a Na terceira parte do livro, Arroyo
secundarização da autoria docente, defende a tese de que “Os sujeitos sociais e
substituindo-a por controles de mercado e suas experiências se afirmam no território
controles científicos, com o intuito de do conhecimento”, isto é, apesar de haver o
matematizar e estatistizar os resultados impedimento às experiências sociais para se
escolares através de modelos de integrarem ao conhecimento considerado
competências, reduzidos ao treinamento e legítimo, os coletivos sociais mostram que
fórmulas descontextualizadas de metas os saberes têm, sim, sua origem na
avaliativas. Contudo, para Arroyo, a autoria experiência social e não apenas na
docente não foi totalmente eliminada, uma artificialidade das questões
vez que a arte de educar não se separa do epistemológicas. Se isso for negado ou
mundo da vida, das práticas reais das ignorado, produziremos, além de injustiça
pessoas, de suas mazelas, de seus desejos. social, uma injustiça cognitiva, diz Arroyo,
Embora alguns queiram negar essa relação, citando Zygmunt Baumn. Manter essa
não se pode desconsiderar que são os separação entre experiência social e
eventos sociais, culturais e políticos que conhecimento legítimo é sustentar a brutal
convocam a docência para a ação. E é isso hierarquização dos saberes, é desperdiçar
que desbloqueia a arte de educar ou a experiências sociais, é desconsiderar que
autoria docente. todo conhecimento tem sua origem na
A segunda parte do livro, “Os saberes do experiência social; é, enfim, empobrecer os
trabalho docente disputam lugar nos currículos pela negação das experiências
currículos”, denuncia que, sociais e da sua diversidade.
lamentavelmente, contra os avanços de se Na quarta parte do livro, “As crianças,
educar partindo das vivências humanas ou os adolescentes e os jovens abrem espaços
desumanas dos sujeitos, vê-se nascer, nos nos currículos”, o autor apresenta duas
dias de hoje, financiada pelas reformas questões potentes para esse debate. A
educacionais, a função aulista do professor. primeira é que a pedagogia, a partir das
Tal fato substitui a necessária função novas vivências das crianças e jovens, foi
educadora da docência – que é a própria arte interrogada na sua visão messiânica,

5
Conhecimentos Específicos

romântica de criança e promotora de complementarão a educação média e sairão


destinos, dando lugar a outra pedagogia sem saber nada ou pouco de si mesmos” (p.
capaz de (1) revelar às crianças- 262). Arroyo preconiza que saber de si é
adolescentes suas próprias configurações reconhecer-se vivo numa temporalidade,
na realidade, uma vez que hoje se torna espacialidade e memorialidade específicas.
cada vez mais difícil separar infância de Pode ser, também, saber-se sem-lugar e
adolescência, cabendo à pedagogia se reivindicar valorizado o que foi tomado
interessar por esse “hífen” que não separa, como desvalor; não apenas para ter o
mas une; (2) traduzir o perverso e tenso real reconhecimento do outro, mas para ter o
vivido por essas infâncias, posto que elas direito de contar a própria história, a
não mais acreditam nas antigas ilusões que exemplo dos coletivos afrodescendentes,
a pedagogia, por vezes, ainda tenta indígenas e quilombolas. Pode ser, ainda, a
sustentar; (3) revelar às crianças- capacidade pedagógica dos docentes de
adolescentes seus direitos negados. escutarem esse saber de si, auxiliando esses
A segunda questão reside no embate coletivos com novas propostas
entre as concepções inovadoras e as pedagógicas. Um exemplo: o tempo dos
concepções conservadoras para a educação coletivos marginalizados não é o mesmo
da infância e adolescência. Vê-se nascerem tempo da escola; o tempo deles é o aqui e
propostas cada vez mais propedêuticas, agora, enquanto o da escola é o futuro. Não
sequenciais, lineares e etapistas, enfim, seria o caso de a escola praticar o tempo
propostas pobres de experiências, presente, que não é um nem outro tempo,
competindo com propostas ávidas por mas o reconhecimento de como outras
revelar o humano nomeado através da identidades foram parar no esquecimento,
palavra, o que, em termos educacionais e propondo que esses coletivos libertem seus
benjaminianos, poderia ajudar a criança a saberes da condição folclórica a que foram
saber mais de si, nomear-se, revelar-se e submetidos? O que está em jogo na luta
revelar o outro. No que concerne pelo saber de si mesmo é (des)romantizar a
especificamente aos jovens, eles já sabem, pedagogia e, portanto, os sujeitos da
e não se deixam mais enganar que serão pedagogia: professores e alunos; acordá-los
incluídos socialmente por meio da desse sono durante o qual se acredita,
escolarização. Já sabem que, para que essa erroneamente, que cada um nasceu para o
velha promessa possa se efetivar, o lugar- que é.
escola, os tempos, os espaços, a Para finalizar, é bom lembrar que o livro
organização e a estrutura escolar deveriam de Arroyo é rico em exemplos de didáticas
se alterar e nada se alterou. Sabem que são de reconhecimento de sujeitos, isto é, de
vistos como Outros “in-incluíveis”, ou seja, didáticas mais radicais e mais significativas
aqueles que não sabem reconhecer os para a docência de hoje.
esforços do poder público para a melhoria
de sua educação. Mas, quais são mesmo os
esforços? Os jovens resistem a conviver em CAVALLEIRO, Eliane dos Santos Do
um sem-lugar, isto é, resistem a habitar em silêncio do lar ao silêncio escolar:
racismo, preconceito e discriminação na
um espaço que, em qualquer momento, foi
Educação Infantil. São Paulo: Contexto,
para eles pensado. 1998
Na quinta e última parte do livro, Arroyo
se ocupa com “O direito a conhecimentos
emergentes nos currículos”. Indigna-se com 4,5
A interpretação crítica e analítica de
o fato de que as crianças-adolescentes uma pesquisa feita pela professora Eliane
“passarão anos na educação fundamental, Cavalleiro sobre a discriminação das

4 5
https://bit.ly/3xgvNmH https://bit.ly/3BxlflH

6
Conhecimentos Específicos

crianças negras em sala de aula. Os escolar, de uma forma institucionalizada,


resultados são chocantes e mostram como fora desse ambiente, Kabengele
inúmeras situações de preconceito racial Munanga é referência neste assunto, bem
ocorridas durante as aulas. Esse livro é um como Thomas Pettigrew e Henrique Cunha
primeiro e importante passo para que o Júnior.
Brasil rompa o silêncio em torno do Com o tópico “Relações étnicas no
racismo e comece a lutar para eliminá-lo de Brasil”, a autora usa citações de vários
vez do sistema educacional. outros pesquisadores para que entendamos
A obra trata a necessidade da discussão como a identidade do negro está deformada
das relações étnicas para a promoção de ante a formação do país. E como esse tipo
uma educação igualitária e compromissada de questão racial provoca medo em
com o desenvolvimento do futuro cidadão. qualquer tipo de discussão, estando coberta
Sendo que a falta dessas discussões, pode por uma nuvem de estereótipos. Eliane
ocasionar a existência de preconceito e Cavalleiro traz esses conceitos que
discriminação étnica, dentro da escola, o reforçam a sua experiência profissional
que confere a criança negra a incerteza de através de conceitos vistos, ouvidos e
ser aceita por parte dos professores e vividos.
alunos. Mostrando assim, o silenciamento Em sua obra, Eliane Cavalleiro afirma
que existe, por parte da família, que com o que o racismo, o preconceito racial e a
intuito de protegera criança, adia o contato discriminação racial estão presentes na
com o racismo da sociedade e as dores dele sociedade brasileira e são altamente
decorrente e também por parte da escola, prejudiciais para a população negra, tanto
através do seu corpo docente, que além de nas relações sociais (família, escola, bairro,
cometer práticas racistas, na maioria dos trabalho etc.) quanto nos meios de
casos, nada fazem quando são informados comunicação. Conceitos estes que imputam
sobre tais práticas. O que resta para a alguns estereótipos ao indivíduo negro,
criança somente o seu silenciamento. dificultando mais ainda a sua aceitação no
Para o desenvolvimento da análise cotidiano da vida social. Sendo assim,
desejada, foi realizada uma pesquisa de através de sua pesquisa, a autora busca
campo, através da observação sistemática descobrir em que momento esse racismo é
do cotidiano escolar por oito meses, onde introjetado no ser humano, em qual fase da
foi observado a relação professor/aluno, vida ou ambiente esses conceitos lhe são
aluno/professor e aluno/aluno, no que diz ensinados e como se dá o processo de
respeito à expressão verbal, prática não socialização depois do reconhecimento
verbal e prática pedagógica. Além disso, dessas diferenças.
foram realizadas entrevistas com o corpo Com base na sua experiência em uma
docente, com as crianças e seus familiares, escola de educação infantil por mais de
buscando compreender como percebem, quatro anos, Eliane Cavalleiro conclui que
entendem e elaboram a formação desde muito cedo o racismo está presente na
multiétnica da sociedade brasileira. vida de uma pessoa. Na escola em que foi
O embasamento teórico da obra teve feita a pesquisa, as crianças tinham entre
como fundamento a obra de autores como quatro e cinco anos de idade e, nessa faixa
Paulo Freire e Rosemberg que abordam etária, crianças negras já apresentavam uma
temas voltados para a educação, utilizando- identidade negativa em relação ao grupo
se também da ideia de Jerusa Vieira Gomes étnico ao qual pertenciam, do mesmo modo
e Goffman, onde os mesmos falam sobre a em que crianças brancas revelavam um
importância da socialização no processo da sentimento de superioridade, assumindo em
formação da identidade do indivíduo. E diversas situações atitudes preconceituosas
para explicar a maneira como o racismo e discriminatórias, sentimentos estes que na
pode ser identificado tanto no ambiente maioria das vezes já traziam de casa e era

7
Conhecimentos Específicos

reforçado na escola, dificultando a que a relação entre crianças e adultos em


socialização, pois devido as diferenças âmbito escolar era recheada de
étnicas, acabam por excluir crianças negras discriminação, preconceito racial e
de diversas atividades do cotidiano escolar. racismo. Além de sua experiência própria
Se ao chegarem à escola, crianças de como criança negra em um contexto
quatro a seis anos de idade já apresentavam escolar. A partir de então foi possível que a
uma identidade negativa ou sentimento de autora pudesse compreender como se
superioridade em relação à outra, é certo desenvolve o processo de socialização desta
que estes conceitos pré-estabelecidos se nova geração de sujeitos e da relação entre
iniciam no lar e se perpetuam na escola. escola e família para contribuição da
Levando em consideração que é na infância construção destes sujeitos.
onde começamos o processo de construção Para a autora há uma necessidade de se
da nossa identidade, se durante o convívio discutir sobre racismo, porém ao realizar o
com outras crianças, uma é excluída por mesmo, pode-se trazer a tona a naturalidade
causa de sua cor, essa exclusão pode causar de como o racismo prospera em meio a
danos profundos nesse processo de sociedade, como por exemplo, a forma com
construção, pois esse indivíduo, agora que o mesmo se dá através da internet e
excluído, pode se auto excluir em outros redes sociais, propagando uma ideologia
momentos. suja e sem cabimento algum. Sendo assim,
A obra está organizada em tópicos que é importante começar a discutir sobre isso
falam sobre a educação infantil- na pré-escola para que se possa trabalhar o
socialização: família, escola e sociedade, caráter das crianças desde o inicio de sua
onde a autora mostra os caminhos da formação, além de que se faça necessária a
socialização e explica as diferenças entre presença da família neste processo de
racismo, preconceito e discriminação, o que socialização e educação.
é um grande ponto de interrogação A autora acredita no conceito
nasociedade. Em outro tópico têm-seas compartilhado por muitos pesquisadores e
relações étnicas no Brasil, com uma breve estudiosos do desenvolvimento humano
história sobre o negro e a educação na (Freud, Piaget, Erikson, Berger, Luckmann,
sociedade brasileira. E por fim, nos dois entre outros) tal conceito defende que a
últimos tópicos, Eliane Cavalleiro mostra socialização do zero aos sete anos é uma
algumas experiências que vivenciou etapa fundamental para o desenvolvimento
durante os oitos meses de sua pesquisa, bem humano, pois considera a educação
como alguns resultados e conclusões. recebida pela criança como significativa
A autora inicia sua obra tratando sobre a para o desenvolvimento futuro social.
necessidade de se discutir sobre relações Nessa etapa da vida, ocorre a primeira
étnicas e do quanto esta discussão se faz socialização do indivíduo –socialização
necessária para a promoção de uma primária –e é o que nomeia o primeiro
educação igualitária e compromissada com capitulo, que chama-se “Educação Infantil
o desenvolvimento do futuro do cidadão. –Socialização: Família, Escola e
As motivações para a produção da obra Sociedade”, ela resume a Socialização
foram varias, mas o pontapé inicial se deu a Primária sendo “a ampla e consistente
partir de seu ingresso no Núcleo de introdução de um indivíduo no mundo
Pesquisas e Estudos Interdisciplinares do objetivo de uma sociedade ou de um setor
Negro Brasileiro, da universidade de São dela’’ (Berger & Luckmann, 1976, p. 175).
Paulo (NEINB-USP), além de sua vasta Ela afirma que numa relação dialética
experiência profissional em uma escola de homem/sociedade, o novo membro, no caso
educação infantil por mais de quatro anos. a criança em processo de socialização,
As relações em tal ambiente lhe interioriza um mundo já posto, que lhe é
propiciaram a possibilidade de poder notar apresentado com uma configuração já

8
Conhecimentos Específicos

definida, construída anteriormente à sua incutidas na criança podem diferir nas


existência. Assim, interagindo com outros, instituições educativas.
a criança aprenderá atitudes, opiniões, Para ela, a identidade resulta da
valores a respeito da sociedade ampla e, percepção que temos de nós mesmos,
mais especificamente, do espaço de advinda da percepção que temos de como
inserção de seu grupo social e, em os outros nos veem. Desse modo, a
conformidade com Berger e Luckmann, identidade é concebida como um processo
Nicolas Caporrós também concebe a dinâmico que possibilita a construção
socialização primária como uma tarefa gradativa da personalidade no decorrer da
familiar. “Da família sai o possuidor, o existência do indivíduo. Pais, adultos e os
comunista, a mulher passiva, o dominado e pares serão fontes de definição do
o dominador. (...) as futuras relações ‘’verdadeiro’’ ou ‘’real’’ da identidade do
homem/mulher, tanto em autovalorização e indivíduo. Esses irão lhe mostrar “aquilo
valorização do outro, já estão que é permitido, proibido ou prescrito sentir
ideologicamente plantadas em semelhança ou exprimir, a fim de que seja garantido,
às dos adultos” (Caporrós, 1981, p. 52). simultaneamente, seu direito à existência,
Para a autora a socialização torna enquanto ser psíquico autônomo, e o da
possível à criança a compreensão do mundo existência do seu grupo, enquanto
por meio das experiências vividas, ocorre comunidade histórica social” (Costa,
paulatinamente à necessária interiorização 1994,p.3).
das regras afirmadas pela sociedade, esse Para a autora, a despreocupação com a
início de vida a família e a escola serão os questão da convivência multiétnica, quer na
mediadores primordiais, família, quer na escola, pode colaborar para
apresentando/significando o mundo social, a formação de indivíduos preconceituosos e
não se podem esquecer as particularidades discriminadores. A ausência de
de cada ser, além de que a criança mostra- questionamento pode levar inúmeras
se um parceiro ativo, podendo procurar crianças e adolescentes a cristalizarem
novas informações em outros lugares. aprendizagem baseadas, muitas vezes, no
Deste modo, as atitudes e os comportamento acrítico dos adultos a sua
comportamentos sociais não serão volta. Além de que ela entende a educação
exclusivamente as atitudes e os como um processo social no qual os
comportamentos de seus mediadores. cidadãos têm acesso a se prepararem para o
Então, pode-se dizer que a experiência exercício de sua cidadania.
escolar amplia e intensifica a socialização Por conta da ausência da educação racial
da criança. nas escolas, a autora faz alguns
Já que tanto a escola e a família são questionamentos, sendo eles “Se a
mediadores, cria-se um entrave, pois o que educação é um processo social, qual seria a
para a escola pode representar um problema relação entre a aprendizagem de
ou um momento de conflito, no interior do preconceitos, atitudes discriminatórias e a
grupo familiar pode representar, apenas, produção escolar de cidadãos? Qual tipo de
parte do modo habitual da vida do grupo. cidadão está sendo formado nas escolas?
Problemas encontrados não encontrados Em que medida a socialização, promovida
pela criança familiar poderão ser atualmente nas escolas, contribui para a
encontrados no cotidiano escolar. construção de uma sociedade que seja de,
Consequentemente, a ausência de relação de fato, uma “democracia racial”, livre de
entre a família e a escola impossibilita, a desigualdades tão gritantes entre negros e
ambas as partes, a realização de um brancos? Qual é sua contribuição para a
processo de socialização que propicie um construção de uma sociedade de cidadãos
desenvolvimento sadio. Além de que, menos racistas?”.
certos valores, as normas e as crenças

9
Conhecimentos Específicos

A tentativa de responder essas questões funcionamento mental que inclui pré-


fez com que fosse necessário, a autora fazer julgamento rígido e julgamento errado dos
uma revisão sucinta sobre o racismo, o grupos humanos” (Pettigrew, 1973).
preconceito e a discriminação, bem como A maneira em que a autora mostra o
de algumas palavras sobre as relações preconceito racial no Brasil é através do
étnicas no Brasil. Embora seja uma tarefa envolvimento de atitudes e
bastante complexa, mas imprescindível comportamentos negativos e, em algumas
para se compreender a análise pretendida de situações, atitudes supostamente positivas
racismo, preconceito e discriminação contra negros, apoiadas em conceitos ou
étnicos. opiniões não fundamentadas no
A autora trata o Racismo como uma conhecimento, e sim na sua ausência. A
prática que reproduz na consciência social essência do preconceito racial “reside na
coletiva um amplo conjunto de falsos negação total ou parcial da humanidade do
valores e de falsas verdades e torna os negro e outros não brancos, constitui a
resultados da própria ação como justificativa para exercitar o domínio sobre
comprovação dessas verdades falseadas os povos de cor”. (Hasenbalg, 1981, p.1).
(Cunha Jr. 1992). Além de o racismo A autora diz que a Discriminação se
atribuir a inferioridade a uma raça e está evidencia quando, em condições sociais
baseado em relações de poder, legitimadas dadas, de suposta igualdade entre brancos e
pela cultura dominante (Kabengele negros, se identifica um favorecimento para
Munanga, 19960). A forma em que se pode um determinado grupo nos aspectos social,
identificar o racismo no Brasil é em leituras educacional e profissional. Fato que
comparativas, quantitativas e qualitativas, expressa um processo institucional de
das desigualdades sociais e das suas exclusão do grupo, desconsiderando suas
consequências na vida da população negra habilidades e conhecimentos. Na nossa
e branca. sociedade, ela vê como um processo que
E ainda fala sobre a subdivisão de acarreta inúmeras desvantagens para o
racismo, o racismo individual e o racismo grupo negro e para toda sociedade
institucional. O primeiro inclui atitudes brasileira, direta ou indiretamente.
preconceituosas e comportamentos Ao tratar sobre Convivência multiétnica,
discriminatórios. Contrastando com essa aos poucos foi percebido que há uma
ideia, porém, o racismo institucional ausência de questionamentos sobre a
engendra um conjunto de arranjos diversidade étnica que sinaliza o despreparo
institucionais que restringem a participação e desinteresse da escola pra lidar com estas
de um determinado grupo racial. Esse tipo situações, nas reuniões pedagógicas não é
de racismo está ligado à estrutura da abordado o assunto logo sendo tratado
sociedade e não aos seus indivíduos. como um assunto pessoal e não sério mas
A autora entende o preconceito como um reconhecem a falta de preparação para lidar
julgamento negativo, na maioria das vezes, com estas situações uma das professoras
e, prévio em relação às pessoas ocupantes chagou a ter dois alunos negros no qual os
de qualquer outro papel social significado. chamava de São Benedito e fala sobre o mal
Ele é mantido apesar de os fatos o comportamento das crianças. A
contradizerem, pois não se apoia em uma Desvalorização sistemática é notada
experiência concreta. Ele sinaliza suspeita, quando grande parte dos comentários feitos
intolerância, ódio irracional ou aversão a em sala repercutiu negativamente na
indivíduos pertencentes a uma mesma raça, autoestima das crianças expondo as a
religião ou a “outras raças, credos, humilhação como nos momentos em que a
religiões, etc”. Deste modo, o preconceito professora pede para que elas amarrem o
envolve aspectos emocionais e cognitivos. cabelo por ser “armado” uma das
É “um modo efetivo e categórico de garotinhas brincava com uma boneca negra

10
Conhecimentos Específicos

onde a coleguinha responde que ela havia mesmo tempo em que lhes confere o lugar
ganhado a boneca por ser preta e que ela daquele que não é bem-vindo e aceito no
não tinha bonecas pretas, pois ela gostava grupo. Uma entrevistada afirma que era
das brancas a outra garota ao ser frequentemente discriminada por outros
questionada sobre sua cor ela se diz ser alunos e pelos professores, agredida várias
morena e se pudesse mudar, seria branca. vezes por colegas, a entrevistada aponta o
Família e relações étnicas: durante esta preconceito, como o fator responsável por
parte do livro a autora trata sobre as toda a violência sofrida. E devido a toda
relações dos indivíduos no meio social, essa agressão a entrevistada afirma que nem
como eles lidam com o racismo no dia a dia conseguia se concentrar nos seus estudos e
em ambientes distintos, no trabalho, na começou a ficar retraída, com vergonha de
escola e em casa. Foram realizadas diversas ser negra. E é apontado também a existência
entrevistas com os familiares, onde a de um mau atendimento para as mães e
preocupação básica era levantar os efeitos parentes de crianças negras por parte de
das relações multiétnicas, na sociedade professores e funcionários.
brasileira e na vida dos entrevistados. Bem diferente, entretanto, é a percepção
E analisando os depoimentos dados é que as famílias brancas têm do problema
fácil observar que existe uma diferença étnico no Brasil. O branco apenas vê o
bastante acentuada entre os depoimentos preconceito e não sofre, diretamente, as
dos integrantes do grupo negro e os do consequências dele.
branco. Para os negros o reconhecimento do Sem dúvida, as entrevistas apontam para
preconceito se dá de modo concreto e os a existência do preconceito na sociedade
prejuízos podem ser contabilizados, já as atual. Entretanto, percebe-se que essa
famílias bancas apesar de reconhecerem a questão é camuflada até mesmo no
existência do preconceito, elas o tratam cotidiano familiar. Dessa maneira, a criança
como algo normal, algo que sempre existirá não é educada para respeitar e conviver com
e que não adianta querer acabar com ele. as diferenças, sobretudo com as
A autora fala também de como essas diversidades étnicas. As mães afirmam não
entrevistas revelam o preconceito na ter tempo de conversar sobre esses assuntos
relação conjugal e familiar. Onde uma com seus filhos ou então acabam
entrevistada diz que o seu parceiro só esquecendo, deixando toda a
assumiria o filho se fosse branco e que antes responsabilidade para a escola que
dela sua mãe também já viveu situações geralmente possui pouco preparo para
semelhantes. abordar esse assunto. A ausência de
A desigualdade de diretos e as diferenças informação pode representar para a criança
derivadas da condição étnica aparecem branca a ideia de pertencer a um grupo
claramente quando o negro se candidata a étnico superior, visto que essa ideia é muito
um emprego, uma das entrevistadas afirma difundida pela sociedade de modo implícito
que sempre perde a vaga de emprego para e até mesmo explicito. Por outro lado, para
alguém branco e que a maioria dos a criança negra esse silêncio sobre o
funcionários sempre são brancos, outra preconceito pode levá-la a entender o seu
mulher relata as humilhações sofridas no grupo como inferior, ideia que se conforma
seu ambiente de trabalho por parte de seus automaticamente, à superioridade branca.
superiores, que era agredida ofendia, mas Outra consequência do silencio no lar
teve eu abaixar a cabeça, pois precisava pode resultar na dificuldade de a criança
muito do emprego. negra agir diante de situações de conflitos
Para os indivíduos negros, a experiência étnicos. As crianças não sabem o que fazer
escolar também parece repleta de e geralmente acabam ficando com vergonha
acontecimentos prejudiciais, o que dificulta de contar para os pais.
a aquisição de uma identidade positiva, ao

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Conhecimentos Específicos

Quanto a quem cabe conversar sobre


preconceito com a criança, não há uma FREIRE, Paulo. Pedagogia da
única indicação. Assim, ora a família autonomia: saberes necessários à prática
aparece como aquela que deve educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004
desempenhar esse papel é transferido para a
escola. O problema é quem muitas mães
passam essa responsabilidade apenas para a 6,7
Paulo Freire inicia seu livro
escola, pois geralmente os pais tem uma declarando sua aversão ao neoliberalismo e
compreensão errada do papel da escola. sua influência na sociedade, tornando-a
De forma objetiva e de uma linguagem desigual e excludente. Critica ainda a
compreensível a todos os públicos, a obra malvadez transvestida de ética que o
que é resultado de oito meses de pesquisa mercado adota para o seu próprio benefício.
em uma pré-escola municipal aborda No primeiro capítulo, defende sua
diversas situações que acabam por chocar o posição de que, o sujeito, ao passo que
leitor. São situações rotineiras de racismo, ensina, aprende. Ensinar e aprender são atos
preconceito e discriminação racial em indissociáveis em que um inexiste sem o
âmbito escolar retratados em uma outro.
profundidade que nos possibilitar por vezes Em cada capítulo, o autor cria nove
projetar as cenas em nossas mentes e se subtópicos para discutir a ideia geral.
emocionar ao sentir que este tipo de Referente ao capítulo 1, os tópicos são:
situação ainda se faz presente de uma Ensinar exige rigorosidade metódica: O
explicita ou não. docente necessita ensinar aquilo que vive, o
Uma pesquisa extremamente original, já que lhe é próximo e próximo dos estudantes
que há um silenciamento em cima do para que se tenha uma visão crítica acerca
racismo no âmbito escolar que acaba do objeto/fenômeno estudado.
propiciando uma suposta “democracia
racial” que por vezes é abordada pela Ensinar exige pesquisa: Novamente são
autora. Pode-se então afirmar que a duas ações indissociáveis. Para ensinar, é
pesquisadora foi muitíssima feliz pela sua necessário pesquisa, busca, indagações. Já
originalidade. Cabe ressaltar que devido a pesquisa serve para comprovar, constatar,
sua escrita leve, objetiva e completa, não é indagar o que está sendo ensinado, gerando,
necessário que haja conhecimentos prévios portanto, o aprendizado.
sobre o assunto para que se possa Ensinar exige respeito aos saberes dos
compreender o texto, já que a autora antes educandos: Freire reforça a ideia de que os
de descrever como foi sua experiência na saberes ensinados devem ter relação com a
pré-escola como pesquisadora, faz todo um
aparato esclarecendo os termos a serem vida dos estudantes, fazendo com que esses
utilizando, propiciando assim um melhor educandos tenham uma visão crítica da
entendimento de sua completíssima obra. sociedade em que vivem.
A obra acaba por destacar o quão é Ensinar exige criticidade: Defende a
importante que a sociedade tenha ideia de superação em contraponto à
entendimento de que o racismo existe sim e ruptura, da curiosidade ingênua. A
é constante, principalmente no âmbito curiosidade é essencial, pois é ela que move
escolar, em especifico, as crianças. Além de a criatividade.
abranger todos os tipos de públicos, Ensinar exige estética e ética: Defende
principalmente aos racistas para que se
possam ter a noção do quão prejudicial se que, a experiência educativa não pode ser
torna para a sociedade um comportamento meramente técnica, deve aprofundar-se no
baseado em ignorância e intolerância. seu caráter formador, observando e
respeitando a natureza do educando.

6 7
https://bit.ly/3TWF2T3 https://bit.ly/3eIdala

12
Conhecimentos Específicos

Ensinar exige corporeificação das “certo”, pois, por vezes, há de se sair do


palavras pelo exemplo: O professor ensina, caminho da decência. Ser condicionado diz
também, pelo exemplo. De nada adianta respeito a voltar ao caminho certo.
dizer-se crítico e ao mesmo tempo exigir Ensinar exige respeito à autonomia do
passividade dos estudantes. ser do educado: Refere-se, novamente, ao
Ensinar exige risco, aceitação do novo e respeito à individualidade comportamental,
rejeição à discriminação: Necessita-se que na aparência, na cultura, no gênero, entre
um professor exerça a democracia de fato, outras características que se apresentem no
não segregando ou discriminando pessoas, estudante, por parte do professor.
devido suas particularidades características. Ensinar exige bom senso: Discute a
Deve-se, no entanto, dialogar com os diferença entre a autoridade exigida para o
estudantes, interagir e discutir, e não professor e o autoritarismo. Para dosar a
polemizando. medida certa do exercício de autoridade,
Ensinar exige reflexão crítica sobre a leva-se em conta o bom senso.
prática: O professor deve possuir uma Ensinar exige humildade, tolerância e
postura de constante autoavaliação crítica, luta em defesa dos direitos dos educadores:
buscando melhorar aula a aula. A raiva que Critica o tratamento desrespeitoso com o
surge de alguns momentos, a respeito de professor no Brasil, bem como o
alguns assuntos, se for bem direcionada, comodismo de parte dos docentes frente a
pode ser construtiva, contudo, deve-se isso.
tomar o devido cuidado para que não se Ensinar exige apreensão da realidade:
transforme em odiosidade. O professor deve ter clareza, além de
Ensinar exige o reconhecimento e a defender o seu posicionamento quanto a
assunção da identidade cultural: assuntos que ensina, tendo,
Corresponde à atitude do professor frente, consequentemente, segurança daquilo que
tanto a assuntos polêmicos quanto ao está falando, demonstrando, ensinando.
comportamento dos estudantes. Debate Ensinar exige alegria e esperança: O
também a influência do espaço vivido no futuro deve ser problematizado por meio da
cotidiano para a formação do caráter dos esperança.
estudantes. Ensinar exige a convicção de que a
No segundo capítulo, o autor chama a mudança é possível: Intervir na realidade
atenção novamente para o exemplo que os imposta é possível. Por meio das aulas,
professores devem dar aos seus estudantes estudante e professor devem indagar-se os
(de uma construção conjunta e crítica do motivos de estudar tal assunto, como um
conhecimento, sem pré-conceitos e objetivo a levá-los a pensar como mudar tal
estigmas impostos socialmente). realidade.
Novamente, nove subtítulos dividem a ideia Ensinar exige curiosidade: A
no capítulo dois. São eles: curiosidade, como já dito, não invadindo a
Ensinar exige consciência do privacidade do outro, é o elemento que leva
inacabamento: Atribui, nesta parte, o fato as pessoas a pensarem. Questionamentos
de que o ser humano evoluiu, tomando, acerca da realidade devem ser estimulados
cada um, uma verdade para si. Seus valores, e dialogados, nunca com uma resposta
no entanto, devem estar abertos a novas pronta por parte do professor. Deve levar o
experimentações, conhecendo, assim, o estudante a pensar.
mundo do outro. A sabedoria docente garante autoridade
Ensinar exige o reconhecimento de ser ao professor, sem que necessite ser
condicionado: Explica a diferença entre ser autoritário.
condicionado (ter consciência do inacabado Os tópicos correntes do último capítulo
e ir além) e ser determinado. Ser são:
condicionado, não quer dizer seguir sempre

13
Conhecimentos Específicos

Ensinar exige segurança, competência Ensinar exige disponibilidade para o


profissional e generosidade: A diálogo: A segurança do professor deve
incompetência do professor, assim como partir de não ter vergonha por não conhecer
sua mesquinhez, o desqualifica perante aos algo e, assim, poder dialogar com seus
estudantes. Não há como cobrar respeito estudantes com a abertura para novos
das instituições nas quais o docente está conhecimentos.
submetido, se não houver respeito com Ensinar exige querer bem aos
aqueles que estão a educar. educandos: Deve-se saber dosar o “querer
Ensinar exige comprometimento: Deve bem” dos estudantes, evitando que esse
haver uma ponte, que ligue a prática sentimento sobressaia em resultados
docente, seu posicionamento perante a sala avaliativos, ou participativos do estudante.
de aula e sua própria vida, suas próprias Não ser arrogante quanto ao próprio
atitudes. Necessita ainda estar preparado conhecimento é uma forma de tratar bem os
para questionamentos que devem surgir. educandos, de ser mais humano.
Ensinar exige compreender que a Interessante que, ao iniciar o livro, um
educação é uma forma de intervenção no assunto fica a perambular no inconsciente:
mundo: Cabe aqui um protesto contra as como dar uma aula, dando uma abertura tão
forças externas que tentam diminuir o valor grande aos estudantes, sem que se exerça
humano devido ao baixo poder aquisitivo. um poder controlador para que não vire
Necessita-se que se tome uma posição e que uma desordem? Posteriormente, o autor
ensine como defende-la. explica que é necessário exercer sua
Ensinar exige liberdade e autoridade: autoridade docente quando necessário,
Retoma a questão da autoridade como porém, de modo não autoritário, ou seja,
sendo necessária, desde que haja devida respeitando o outro. E essa autoridade,
educação. Permitir uma situação que muitas vezes, provém do próprio saber
atrapalhe a aula não é educar, é ser omisso, docente, não precisando necessariamente se
prejudica o funcionamento. exaltar durante uma aula.
Ensinar exige tomada consciente de O livro casa bem às práticas docentes
decisões: A educação é uma forma de num parâmetro geral, que extrapola as
intervir na realidade. Dessa forma, são práticas em sala de aula e adentram na vida
necessárias certas posturas e tomadas de dos docentes. Uma vertente discutida nesse
decisões pela parte docente, pois suas ações sentido vem do desrespeito histórico com o
interferem no modo como os estudantes professor e, dessa forma, a fala de Paulo
enxergam a realidade. Freire nunca foi tão atual. Em
Ensinar exige saber escutar: O contrapartida, faz-se necessário que o
professor não deve ser impositivo, deve professor transpareça respeito aos
ouvir o estudante para que possa aprender a estudantes para exigir respeito a si próprio.
falar de forma que o estudante possa ouvir. Todas as práticas são organizadas de
Dialogando criticamente. As avaliações forma a repensar o comportamento frente
devem estimular a opinião e não serem aos/às estudantes, mostrando-lhes o
regradamente silenciosas. O silencio é tão respeito que merecem, sabendo ouvir, não
importante quanto à fala, tudo depende do discriminando qualquer característica que
momento. lhes seja particular, mas ao mesmo tempo
Ensinar exige reconhecer que a tendo que possuir uma postura de
educação é ideológica: Necessita-se que, autoridade, de quem domina o conteúdo
ao ouvir um discurso ideológico, tenha apresentado, para que não precise
intrínseco em sua percepção uma ideologia verbalizar tal “autoridade de
própria para traduzir aquilo que está sendo conhecimento”.
escutado. Ou seja, é preciso ouvir com Embora por vezes prolixo, o livro é bem
criticidade. completo e Paulo Freire, como nome

14
Conhecimentos Específicos

primeiro a se pensar no quesito educação no didáticos e processos de avaliação são


Brasil, sabe como prender o leitor para colocados em questão.
práticas importantes a serem pensadas e Os aportes teóricos mais relevantes para
repensadas no cotidiano escolar. a construção de sua argumentação vêm
fundamentalmente do campo dos Estudos
Feministas mas, também, dos Estudos
LOURO Guacira Lopes.Gênero, Culturais, dos Estudos Negros, dos Estudos
sexualidade e educação: Uma perspectiva
Gay e Lésbicos. Voltados todos para as
pós-estruturalista. 16ª edição. Petrópolis:
Vozes, 2014
“diferenças”, para as formas como estas são
constituídas e fixadas, valorizadas ou
negadas, esses vários campos têm,
8
Gênero, sexualidade e educação enfoca seguramente, múltiplos pontos de contato.
algumas questões centrais das práticas São todos, também, espaços de uma
educativas da atualidade. A produção das produção teórica fértil, crítica e engajada.
diferenças e das desigualdades sexuais e de O livro assume, pois, a perspectiva de
gênero, em suas articulações com outros que as mulheres e os homens feministas
“marcadores sociais”, como raça, etnia, precisam estar atentos às relações de poder
classe, é analisada pela autora, numa que se inscrevem nas várias dinâmicas
perspectiva que busca referências nas sociais em que elas e eles tomam parte.
teorizações pós-estruturalistas. Recusando a concepção de um binarismo
A instituição escolar é o espaço rígido nas relações de gênero, busca uma
privilegiado no livro, mas certamente não é problematização mais ampla e complexa,
seu alvo exclusivo. Recebe especial atenção na qual tenham lugar as múltiplas e
o modo como os sujeitos, em relações intrincadas combinações de gênero,
sociais atravessadas por diferentes sexualidade, classe, raça, etnia. Longe de
discursos, símbolos, representações e uma análise distanciada e isenta, a autora
práticas, vão construindo suas identidades, acentua que estamos todos e todas
arranjando e desarranjando seus lugares envolvidos/as nesses arranjos, e chama
sociais, suas disposições, suas formas de ser atenção para a difícil tarefa de pôr em
e de estar no mundo. questão relações de poder das quais
fazemos parte.
9
Este processo de “fabricação” dos Nos dias de hoje, a luta pela aceitação
sujeitos é continuado e geralmente muito das diferenças e pela igualdade de direitos é
sutil, quase imperceptível. Antes de tentar cada vez mais eloquente em diversas
percebê-lo pela leitura das leis ou dos instituições.
decretos que instalam e regulam as A fim de contribuir sobre as discussões
instituições, ou percebê-lo nos solenes sobre diferenças e igualdade foi publicado
discursos das autoridades, Guacira Lopes o livro Corpo Gênero e Sexualidade: um
Louro se volta, aqui, especialmente para as debate contemporâneo na educação. O livro
práticas cotidianas, rotineiras e comuns. organizado por Guacira Lopes Louro, Jane
Entende que são precisamente os gestos e Felipe Neckel e Silvana Vilodre Goellner,
as palavras banalizados que devem se reúne ensaios objetivando refletir as
tornar alvos de atenção renovada, de “posições” que os sujeitos ocupam na
questionamento e de desconfiança. A tarefa sociedade. Vejamos os textos:
mais urgente seria desconfiar do que é Tendo como ponto de partida (e de
tomado como “natural”. Desta forma, chegada!) um artigo de jornal que
currículos, normas, procedimentos de estabelece relações entre o aumento do
ensino, teorias, linguagem, materiais número de mulheres que trabalham fora do

8 9
https://bit.ly/3qsCJJR https://bit.ly/3BbstKO

15
Conhecimentos Específicos

âmbito doméstico e o crescimento da se não cumprida, revela ‘desleixo’.


obesidade na população norte-americana, Goellner historiciza as práticas sociais de
Dagmar Estermann Meyer defende, no cuidado com o corpo; lembra que se nos
primeiro capítulo, o conceito de gênero séculos XVI e XVII os banhos eram
como instrumento teórico e político para o considerados como danosos à pele, e que a
estranhamento das desigualdades sociais, partir do século XVIII o asseio é visto como
bem como um recurso para os educadores fator fundamental para a conservação do
na medida em que possibilita a corpo - um corpo que, tal como as máquinas
desnaturalização das verdades (incluindo as a vapor desse período, foi objeto da ciência
produzidas pelo discurso científico). Para para que se tornasse limpo, produtivo,
sustentar esses argumentos, Meyer retoma trabalhando sem desperdício de energia.
o conceito de gênero sob o enfoque do Convergiam para esse fim medidas
feminismo pós-estruturalista, que educativas que condicionavam os gestos; a
compreende a linguagem como, para além ginástica dava forma ao físico, aos
de representação, produção de corpos sentimentos e ao caráter. O escrutínio
femininos e masculinos. Nessa perspectiva, médico hierarquizava sujeitos de acordo
gênero é ferramenta para a com pistas biológicas: cor de pele, sexo
desnaturalização, apontando para a anatômico, formato do crânio. A autora
polissemia de masculinidades e sinaliza que ainda hoje estamos sujeitos a
feminilidades que se articulam a muitas alguns desses valores, enquanto outros se
‘marcas’ sociais como classe, etnia, entre perderam. Alerta que próteses, implantes,
outras. Finalmente, a autora exercita esse vitaminas oferecem restrições e liberdade,
olhar tecendo questões no âmbito pois ampliam funções e expressões
educativo, para então retornar à notícia com corporais, sendo também formas de
que abre seu texto, destacando como as disciplina e controle.
pedagogias culturais podem, ao veicular Guacira Lopes Louro, no terceiro
determinadas ‘descobertas científicas’, capítulo, inicia reconhecendo a
mascarar suas condições de produção, imprevisibilidade e a metamorfose
reproduzindo representações de gênero em constante como marcadores, desde a década
vez de fomentar reflexões que as concebam de 1960, para nosso tempo. Refutando o
como historicamente constituídas. imobilismo que pode resultar de um retorno
No segundo capítulo, Silvana Vilodre ao passado, propõe que educadoras e
Goellner, tendo como referência os Estudos educadores assumam essas mutações que os
Culturais e a História do Corpo, igualmente confrontam, como mola propulsora para
defende que a linguagem constrói o corpo discutir ideias como a de ‘tolerância’ e
(sendo este não apenas organismo, mas ‘aceitação da diferença”, com o intuito de
também os adereços e gestos que o refletir sobre os currículos e a prática
formatam), conferindo-lhe marcas de feiura pedagógica. A autora salienta que as novas
ou beleza, anormalidade ou normalidade. identidades culturais (que se distinguem do
Se por um lado a autora atesta a modelo central de homem branco ocidental,
historicidade do corpo, ressalta também que classe média e heterossexual), mais do que
a classificação é sempre política, já que revelar múltiplas posições de sujeito, não
implica exclusão de uns corpos e aceitação devem ser tomadas como novo centro, pois
de outros. Goellner aponta, ainda, que tal movimento corresponderia
atualmente o corpo ocupa lugar central na simplesmente à inversão dos polos margem
definição do sujeito: criar um corpo esbelto, e núcleo. Por outro lado, não se pode
sarado, é marcar uma identidade. Além desconsiderar o caráter referencial - ainda
disso, o cuidado para tornar o corpo que da ordem da ficção - que o padrão
saudável - tal como prescrito pelas central assume na construção dos
pedagogias culturais - é dever, tarefa que, currículos: ser homem, por exemplo, acaba

16
Conhecimentos Específicos

sendo naturalizado na medida em que se um determinado coletivo. As imagens que


consolida como a norma, em relação à qual povoam nosso cotidiano, portanto, devem
se estabelece, como excêntrico, alternativo, levar a um questionamento acerca dos
“o dia da mulher”. A tolerância, logo, é processos de constituição das identidades
assimétrica. Louro propõe uma mudança de gênero de adultos e crianças.
epistemológica: que sejam questionados os Jimena Furlani, no quinto capítulo,
discursos de ‘aceitação’ das diferenças, em busca discutir a educação sexual para
prol de uma reflexão acerca das condições crianças sob uma perspectiva em que a
de produção dessas diferenças, dos modos sexualidade constitui o sujeito em todas as
pelos quais elas são construídas; que as etapas de sua existência, o que requer da
identidades culturais que parecem estranhas escola uma dedicação continuada a essa
em sala de aula sejam apreendidas na sua temática, e não apenas em atividades
transitoriedade e complexidade, e localizadas. Esta proposta tem como norte a
possibilitem a educadoras e educadores desconstrução de padrões acerca da
reconhecer o caráter igualmente inventivo, sexualidade; partindo da linguagem com a
produzido historicamente, de suas próprias qual educadoras e educadores introduzem
‘figuras’. as discussões em sala de aula, Furlani
Partindo dos Estudos Culturais e das enfatiza que a escola não apenas reproduz
contribuições de Michel Foucault para os modelos de normalidade, mas também os
Estudos Feministas, Jane Felipe Neckel se engendra. Para a autora, a escolha do
propõe, no quarto capítulo, a discutir a vocabulário que se utiliza está atravessada
erotização das imagens femininas, pelas relações de poder. O uso do ‘homem’,
especialmente no que se refere às meninas. enquanto genérico, para tratar da espécie
Mesmo as pequenas se deparam com a humana é criticado por Furlani, que o
construção cultural de um corpo pela mídia localiza em um momento histórico anterior
que, através de sacrifícios e múltiplas ao movimento feminista. De modo
formatações, seria a materialização de uma semelhante, a frase “meninos têm pênis,
beleza inerente ao feminino, naturalmente meninas têm vagina” pontua na menina um
fútil e fetichizada. A autora retoma Shirley órgão que não é visível, o que traz mais
Steinberg para localizar na década de 1950 confusão do que explicação sobre as
o direcionamento de produtos específicos diferenças anatômicas. Por outro lado, esse
para o cuidado com o corpo das/para as modo de associar a sexualidade à
crianças. Ao consumo são associadas reprodução implica manter a
imagens que articulam infância e desejo, o heterossexualidade como modelo, bem
que Tatiana Landini explicita como a como menosprezar o prazer e outras
existência de uma “erótica infantil”. Assim práticas sexuais que não a penetração
sendo, Neckel aponta uma contradição, vaginal. Seguindo a autora, a ênfase no
pois, ao mesmo tempo que se condenam ‘aparelho reprodutor’ desconsidera que a
veementemente atos sexuais que envolvam sexualidade está presente em crianças e
crianças e adultos, cria-se uma esfera idosos, favorecendo a cristalização de
comercializável na qual as crianças e a preconceitos.
sedução se entrelaçam, em um tipo de No sexto capítulo, Rosimeri Aquino da
‘pedofilização’ generalizada. Partindo Silva e Rosângela Soares pretendem
desse ponto, Neckel historiciza a pedofilia, discutir as relações entre a escola e as
passando pelos conceitos dicionarizados e concepções de juventude produzidas pela
por práticas sexuais com crianças em mídia, através de exemplos da emissora
diferentes tempos e culturas. A autora MTV e dados coletados em uma pesquisa
rompe com noções estereotipadas e realizada em uma escola pública de Porto
naturalizantes, afirmando que a eleição do Alegre. O artigo busca problematizar as
alvo sexual é construída historicamente por falas de professoras e professores que

17
Conhecimentos Específicos

focalizam a influência da mídia sobre a masculinidade e, de outro, a repetição de


juventude e advogam que os interesses dos um padrão que recita que a mulher, ‘por ter
jovens estariam predominantemente fora menos fôlego’, submerge.
dos muros da escola. Por um lado, as O oitavo capítulo, de Sandra dos Santos
autoras destacam que as relações entre Andrade, inicia pela análise de uma seção
mídia, juventude e escola são complexas; se da revista Boa Forma intitulada “Desafio de
a tendência escolar é sustentar algumas verão”. O referido segmento revela
normas, concordando com Guacira Louro exercícios de poder, dado o caráter
que os currículos podem fixar, por disciplinador e prescritivo assumido pela
exemplo, um modelo de revista. O controle do corpo feminino,
heterossexualidade, a televisão pode materializado nas rotinas de atividades
explorar outras possibilidades, como a físicas e restrições alimentares, incita a um
homossexualidade. De outra parte, a escola determinado tipo de consumismo, pois não
não se resume à esfera cognitiva, seria o ascetismo o caminho para o corpo
potencializando espaços sociais de ideal, mas o consumo de produtos
encontros e exercício da sexualidade para específicos que adquirem o rótulo de
os jovens. Dessa feita, as autoras retomam ‘saudáveis’. Aliás, Andrade destaca que
Louro: é preciso que se atente para aquilo continuamente o modelo de beleza se funde
que a escola nega e produz, para identidades ao de saúde. A autora salienta ainda que,
sociais marcadas por etnia, classe, geração embora as palavras enfatizem que para
e gênero que ali se constituem. seguir adiante em uma dieta basta força de
Alex Branco Fraga, no sétimo capítulo, vontade e autocontrole, as imagens de
parte de uma matéria publicada pela revista alimentos veiculadas pela revista são
Veja que traz uma entrevista com João manipuladas cuidadosamente para
Paulo Diniz sobre um acidente de mobilizar o desejo. Andrade localiza a
helicóptero por ele vivenciado, que importância de refletir sobre esses aspectos
culminou com a morte de sua namorada, a na medida em que o corpo, não sendo
modelo Fernanda Vogel. O autor não visa a separado da mente, está implicado nesses
investigar outro possível desfecho para o processos educativos das pedagogias
acidente, tampouco identificar supostos culturais.
culpados, mas sim atentar ‘ao texto’. Fraga No nono capítulo, Márcia Luiza
enfoca a sutil contraposição entre o estilo de Machado Figueira propõe abordar a revista
vida de João, calcado em uma rigorosa e Capricho no que se refere à constituição do
intensa rotina de exercícios, e o de corpo adolescente feminino na
Fernanda, que aparece caracterizado pelo contemporaneidade. Isso porque, se ao
pedido do namorado para que deixe de tratar das atividades físicas, dicas de moda
fumar. Para o autor, esse discurso sintetiza e embelezamento o corpo editorial da
de certa forma algo disseminado na revista se coloca como orientador da
contemporaneidade, a saber, a valorização adolescente para que se produza como um
de um estilo de vida no qual o sujeito sujeito singular, Figueira considera que se
investe em si mesmo por meio da ‘boa ‘produzem’ saberes que ‘criam’ um
forma’. Esse discurso hoje vem tomando determinado modelo de corpo, de menina
um rumo um tanto ‘mórbido’, de classe média, branca e heterossexual. As
responsabilizando o sedentário pelo próprio top models são tomadas como norte,
destino infeliz. Assim, a despeito da ‘glamourizando’ um estilo de vida no qual
imagem de top model estampada nas a vigilância constante da própria aparência
revistas, Fernanda perdeu pela fraqueza na surge como naturalmente feminina. A
corrida pela saúde. Fraga destaca esse autora enfatiza que a revista educa não
episódio na medida em que põe em relevo, apenas pelo que afirma, mas ainda pelo que
de um lado, o modelo hegemônico de nega: o corpo obeso, ameaça vislumbrada

18
Conhecimentos Específicos

que sustenta o autocontrole, não é retratado A autora do décimo segundo capítulo,


nas páginas da revista. Figueira aponta Claudia Cordeiro Rael, utiliza três desenhos
também que a revista classifica como animados da Disney a fim de discutir de que
‘defeitos’ aspectos que constituem o forma os discursos de gênero são
humano no corpo da grande maioria das veiculados, construindo um modo (ideal) de
mulheres: estrias, celulite, rugas ou feminilidade. Rael afirma que tais desenhos
espinhas são apresentadas como se valem de diversos recursos simbólicos,
‘anomalias’ que precisam ser urgentemente como por exemplo o uso de cores claras e
extirpadas. traços finos e suaves para representar as
Rosângela Soares, autora do décimo heroínas e cores escuras e linhas grossas
capítulo, discute, através da análise da conformando o grotesco para designar as
versão gay do programa Fica comigo da vilãs e os vilões. As heroínas são
MTV, a dimensão política da sexualidade, consideradas como diferentes pelo coletivo,
já que relacionada à normatização e jogos e esse coletivo é porta-voz do discurso que
de poder que a sustentam. A autora destaca define o que é ser mulher, discurso esse que
as medidas cautelosas tomadas pela parte do binarismo masculino/ feminino, no
emissora para a realização do programa, qual a mulher aparece como aquela que
como escolha minuciosa dos participantes ocupa o espaço doméstico, embelezando-o,
(tanto os protagonistas como a plateia) e e responsabiliza-se pela educação e cuidado
abordagem prévia da temática da do marido. A autora reconhece aí a
homossexualidade em outros programas da reprodução de padrões dominantes de
grade. Essas condições, de acordo com sexualidade e a produção de identidades.
Soares, engendraram um paradoxo, pois, ao Edvaldo Souza Couto, autor do décimo
mesmo tempo que marcaram a diferença do terceiro capítulo, explicita o debate sobre as
episódio gay em relação aos demais, intervenções tecnológicas não apenas na
maquiaram uma semelhança com os atividade humana, mas também nos corpos.
programas em que os casais eram Dada a complexidade da atualidade, alguns
heterossexuais. Assim, ‘criou-se’ um autores defendem que seria necessário um
homossexual próximo da normalidade, em novo corpo, mesclado à cibernética, para a
uma tolerância que negou outras formas de sobrevivência. Couto traz à tona a reflexão
viver a homossexualidade, mantendo o filosófica sobre o que definiria o ser
ponto de vista da heterossexualidade como humano nessa perspectiva. O autor
padrão regulatório. apresenta práticas de modificação das
Ruth Sabat, no décimo primeiro microestruturas corporais, bem como
capítulo, reflete acerca da publicidade, discursos que preconizam a presença de
naquilo que ela representa enquanto nano-robôs reguladores dos processos de
modelos hegemônicos de masculinidade e alimentação e funcionamento interno do
feminilidade. Ainda que apareçam sob a corpo, redimensionando o papel dos
égide do prazer e da descontração, informes próprios órgãos. As cirurgias estéticas
publicitários educam: partem de reparadoras, então, seriam superadas pelas
concepções existentes na sociedade, cirurgias transgressoras. O autor destaca
fixando-as, de modo que o público possa como concepções de saúde e doença
compreendê-las e tomá-las como metamorfoseiam-se nesse contexto pós-
parâmetros reguladores da vida social. humano e pós-biológico.
Assim, a unidade entre imagem e palavra da A dinamização da educação deve ser
publicidade delimita significações, embora posta para todos, independente de sexo,
isso não garanta que o público não possa gênero, cultura, raça, etnia, pois viabilizar
estranhar e estabelecer outras relações e mudanças pressupõe o respeito às
formas de compreender o que está sendo particularidades sociais e culturais de cada
transmitido. indivíduo, dentro ou fora do universo

19
Conhecimentos Específicos

escolar, como uma educação para a autores (pesquisadores, professores,


diversidade. pedagogos, animadores, associações,
Meninos e meninas sofrem igualmente organismos, etc.) adotam diferentes
com a maneira como o masculino e o discursos sobre a EA e propõem diversas
feminino são ensinados na escola, e para maneiras de conceber e de praticar a ação
compreender as múltiplas opressões de educativa neste campo. Cada um predica
gênero na escola é preciso levar em conta sua própria visão e viu-se, inclusive,
tanto às condições socioeconômicas, formarem-se “igrejinhas” pedagógicas que
históricas e culturais de origem do aluno, propõem a maneira “correta” de educar, “o
quanto de funcionamento das escolas, o melhor” programa, o método “adequado”.
preparo dos professores, os critérios de Agora, como encontrar-se em tal
avaliação e etc. diversidade de proposições? Como
As diversidades culturais precisam caracterizar cada uma delas, para identificar
começar a serem trabalhadas como aliadas aquelas que mais convêm ao nosso contexto
para a eliminação das desigualdades entre de intervenção, e escolher as que saberão
os gêneros e não como estanques e o inspirar nossa própria prática?
professor tem um importante papel nesta Uma das estratégias de apreensão das
construção, pois suas práticas conforme diversas possibilidades teóricas e práticas
constatamos em nossa análise tem no campo da educação ambiental consiste
infelizmente dificultado propostas efetivas em elaborar um mapa deste “território”
pedagógico. Trata-se de reagrupar
na tentativa de busca por uma equidade dos proposições semelhantes em categorias, de
gêneros. caracterizar cada uma destas últimas e de
distingui-las entre si, ao mesmo tempo
relacionando-as: divergências, pontos
MICHELÈ Sato e Isabel Carvalho. comuns, oposição e complementaridade.
Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios É assim que identificaremos e
- 1ª Edição - Penso/ Editora Artmed, 2005 tentaremos cercar diferentes “correntes” em
educação ambiental. A noção de corrente
refere-se aqui a uma maneira geral de
conceber e de praticar a educação
10
A educação ambiental dialoga com ambiental. Podem se incorporar, a uma
outras áreas do conhecimento, inclusive mesma corrente, uma pluralidade e uma
com os saberes populares. É através da diversidade de proposições. Por outro lado,
colaboração de diversos autores do Brasil, uma mesma proposição pode corresponder
México, Canadá, Espanha e França que esta a duas ou três correntes diferentes, segundo
obra abarca a pesquisa como um dos o ângulo sob o qual é analisada. Finalmente,
embora cada uma das correntes apresente
caminhos às transformações necessárias um conjunto de características específicas
para a inclusão social e a justiça ambiental. que a distingue das outras, as correntes não
A ultrapassagem das fronteiras, revelada são, no entanto, mutuamente excludentes
neste livro, é de grande importância a todos em todos os planos: certas correntes
aqueles que aceitam a educação ambiental compartilham características comuns. Esta
como contribuição ímpar à sustentabilidade sistematização das correntes torna-se uma
planetária. ferramenta de análise a serviço da
Quando se aborda o campo da educação exploração da diversidade de proposições
ambiental, podemos nos dar conta de que, pedagógicas e não um grilhão que obriga a
classificar tudo em categorias rígidas, com
apesar de sua preocupação comum com o o risco de deformar a realidade.
meio ambiente e do reconhecimento do Exploraremos brevemente 15 correntes
papel central da educação para a melhoria de educação ambiental. Algumas têm uma
da relação com este último, os diferentes tradição mais “antiga” e foram dominantes
10
https://bit.ly/3BEmKif

20
Conhecimentos Específicos

nas primeiras décadas da EA (os anos de acerca da educação como formação


1970 e 1980); outras, correspondem a integral, não como uma retórica, mas como
preocupações que surgiram recentemente. um projeto coletivo viável, concretizado em
Entre as correntes que têm uma longa práticas que possibilitam reinventar a
tradição em educação ambiental, escola, ressignificando não só seu lugar,
analisaremos as seguintes: central num projeto educativo, mas,
• naturalista sobretudo, como articuladora de ações, de
• conservacionista/recursista
• resolutiva educadores, agentes e instituições.
• sistêmica A organização desse livro muito se
• científica assemelha ao processo que instituiu, a partir
• humanista de 2007, sob a coordenação do Ministério
• moral/ética da Educação, amplo debate no território
nacional sobre Educação Integral,
Entre as correntes mais recentes: alavancado pelo documento Educação
• holística Integral: texto-referência para o debate
• biorregionalista nacional (BRASIL, Ministério da
• práxica Educação, 2009), por sua vez fruto de
• crítica trabalho conjunto de representantes de
• feminista diversas instâncias e esferas, além de
• etnográfica pesquisadores, professores e educadores de
• da ecoeducação várias regiões do país. A professora
• da sustentabilidade Jaqueline Moll, também responsável pela
organização desse livro, vem, desde então,
Cada uma das correntes será apresentada assumindo a gestão do processo que busca
em função dos seguintes parâmetros: identificar e dar visibilidade a experiências
- a concepção dominante do meio já em curso, por meio de estudos realizados
ambiente; com o auxílio de pesquisadores de
- a intenção central da educação Universidades públicas, e incentivar e
ambiental; acompanhar tantas outras construídas e
- os enfoques privilegiados; construindo-se, principalmente pela adesão
- o(s) exemplo(s) de estratégia(s) ou de ao Programa Mais Educação, indutor da
modelo(s) que ilustra(m) a corrente. política de Estado para a Educação Integral.
A importância desse registro deve-se ao
Finalmente, esta sistematização deve ser fato de que a referida professora conseguiu
vista como uma proposta teórica e será organizar o livro através também de um
vantajoso que constitua objeto de amplo e democrático processo, em que
discussões críticas. escolhas e decisões foram sendo tomadas,
uma a uma, no diálogo com e entre os
autores e seus pontos de vista, ou a partir da
MOLL, Jaqueline. Caminhos da vista de seus pontos, diversos, diferentes e
Educação Integral no Brasil: direito a complementares. Entusiasta de iniciativas
outros tempos e espaços educativos. Porto que propiciam a reinvenção da escola,
Alegre: Penso, 2012 orquestrou uma obra coletiva, polifônica e
reveladora do movimento que atravessa o
país em direção à ampliação não só dos
11
tempos de e na escola, mas dos espaços
O livro Caminhos da Educação entendidos como significativamente
Integral no Brasil insere-se num conjunto educativos.
de obras que vêm oportunizando reflexões
11
https://bit.ly/3eONC5W

21
Conhecimentos Específicos

Portanto, mais do que mais um livro experiências resultantes de projetos


sobre o tema da Educação Integral, educativos reais em curso no Brasil ou de
Caminhos da Educação Integral no Brasil sua história.
reúne textos que reafirmam o direito a O que se vê, no entanto, é uma
outros tempos e espaços educativos, que só importante contribuição a educadores que
pode ser assegurado mediante um projeto circulam nas escolas, nas universidades, na
de educação que considere a integralidade gestão pública e na sociedade civil, para a
do ser humano e a responsabilidade social, construção de projetos na direção da
portanto, coletiva, por esse projeto, o que Educação Integral, oferecendo referências
demanda, certamente, novos pactos entre teóricas e práticas. Ou seja, o livro, pela sua
educadores, sociedade e governo. forma de organização, pode subsidiar a
elaboração de projetos educativos em
O livro vem somar-se a outros, e, como termos de fundamentos, contextos e
em espiral, mergulha na história da possibilidades, ajudando a problematizar
educação brasileira e revisita autores questões como o que se quer, o que se tem
consagrados e oferece subsídios para os à disposição e o que se pode fazer
debates e a reflexão sobre as práticas que acontecer ou, simplesmente, a relação entre
vêm caracterizando o crescente movimento História e utopias, necessidades e recursos,
nacional em direção à Educação Integral a ações e realizações.
partir da escola, buscando inspiração nos Miguel Arroyo, autor que vem
processos históricos que oferecem, a cada inspirando iniciativas pedagógicas por todo
tempo, pelo protagonismo de pensadores, o Brasil sob a perspectiva de novos tempos
novas ideias e conceitos. No prefácio, Lia na escola, abre a primeira parte do livro,
Faria aponta a contribuição do livro intitulada Compondo matrizes para o
enquanto referencial teórico para pesquisas, debate e composta por oito artigos,
para a compreensão das marcas/marcos discorrendo, no texto O direito a tempos-
que, historicamente, permearam a luta pelo espaços de um justo viver, sobre políticas
direito à educação no Brasil e para a públicas e programas governamentais e a
visibilidade de experiências que revelam a necessidade de serem superadas visões
possibilidade de repensar a escola pública negativas sobre as infâncias-adolescências
brasileira em seus limites históricos e populares e de reforçar seu protagonismo e
pedagógicos. suas presenças afirmativas. Carlos R.
Brandão, no artigo O outro ao meu lado,
Mesmo que segmentado em três partes, reflete sobre tempos remotos e atuais para
cada uma delas com um conjunto de artigos pensar a partilha do saber e a educação de
que se aproximam quanto à abordagem do hoje, apontando para a importância de uma
tema, o livro se organiza de modo a garantir educação voltada à formação de pessoas
a articulação e a complementaridade das capazes de criar um novo mundo
reflexões apresentadas. Essa organização humanizado.
poderia estar a sugerir a não superação da Ainda nessa primeira parte do livro, três
dicotomia teoria-prática, uma vez que os artigos debruçam-se sobre pressupostos
artigos iniciais debruçam-se em conceituais e históricos acerca da Educação
considerações mais amplas e teóricas sobre Integral a partir de educadores
a Educação Integral nos contextos fundamentais para o debate
históricos e políticos, enquanto que, na contemporâneo: Anísio Teixeira, Darcy
sequência, seguem-se artigos que Ribeiro e Paulo Freire. O direito à
estabelecem uma relação mais estreita entre educação e a (re)humanização da educação
teoria e prática, enfocando desafios do continuam sendo referenciais para a
cotidiano da escola, até chegar-se, na problematização da qualidade social da
terceira e última parte, à concretude de educação pública, segundo Marcos Antonio

22
Conhecimentos Específicos

M. das Chagas, Rosemaria J. V. Silva e Oferecendo contribuições importantes


Silvio Claudio Souza no texto Anísio para a revisão de currículos, outro conjunto
Teixeira e Darcy Ribeiro; também para de artigos debate temas como
Celso Ilgo Henz em Paulo Freire e a sustentabilidade, intertransculturalidade,
Educação Integral e Jaime Giolo em educação para a paz e direitos humanos:
Educação de tempo integral. Fechando esse Rachel Trajber discute políticas públicas
momento do livro, Ubiratan D'Ambrosio, para os desafios da contemporaneidade em
com o artigo Formação de valores: um Educação Integral em escolas sustentáveis;
enfoque transdisciplinar, adverte que a Roberto Padilha defende a necessidade de
Educação Integral implica na construção de articular saberes a partir de ações e
conhecimento e na vivência de sistemas de parcerias intergeracionais, interterritoriais,
valores subordinados à ética maior de intersetoriais e interculturais, princípios
respeito, solidariedade e cooperação; Marta caros para a operacionalização de quaisquer
K. O. Rabelo, com Educação Integral como projetos de Educação Integral, em
política pública: a sensível arte de Educação Integral e currículo
(re)significar os tempos e os espaços intertranscultural; João Roberto de Araújo,
educativos, destaca o Programa Mais em Ensinar a paz: proposta para um
Educação para discutir a concepção de currículo de Educação Integral, analisa a
Educação Integral como política pública. E relação entre agressividade, educação e
Jaqueline Moll discorre sobre os violência; Paulo César Carbonari, em
compromissos para a consolidação da Direitos humanos e Educação Integral:
Educação Integral como política pública e interfaces e desafios retoma a ideia de
as contribuições do Programa Mais educação enquanto formação de sujeitos de
Educação no artigo A agenda da Educação direitos.
Integral. Temas como alfabetismos e letramentos
Na segunda parte, denominada Possíveis e sua relação com o Programa Mais
configurações da escola, os projetos Educação são debatidos por Ivany S. Ávila,
educativos e o currículo podem ser vistos no texto Por entre olhares, danças,
como elementos centrais das reflexões em andanças, os alfabetismos, letramentos na
que diferentes pesquisadores abordam tanto perspectiva da Educação Integral, assim
relações de ensino e de aprendizagem e como o da aprendizagem significativa é
práticas de gestão quanto a formação de objeto de reflexão de Alexsandro dos S.
educadores e interfaces com agências Machado, em Ampliação de tempo escolar
formadoras, saberes e conhecimentos, e aprendizagens significativas: os diversos
aproximando pressupostos teóricos e tempos da Educação Integral. A questão da
cotidiano da escola e desvelando novas formação de professores, tanto do ponto de
relações que surgem a partir de um novo vista de política pública quanto do de
paradigma de Educação Integral. O texto de interfaces com a universidade, é tratada por
Suzana M. Pacheco e Maria Beatriz P. Verônica Branco, em A política de
Titton, Educação Integral: a construção de formação continuada de professores, e Inês
novas relações no cotidiano, e Os jovens Mamede, em A integração da universidade
educadores em um contexto de Educação para a formação.
Integral, de Juarez Dayrell, Levindo D. Encerrando essa segunda parte do livro,
Carvalho e Saulo Geber, debatem a Carmen Teresa Gabriel e Ana Maria
presença de novos atores no interior da Cavaliere, em Educação Integral e
escola, em especial os jovens educadores, currículo integrado: quando dois conceitos
cujas características, estéticas e saberes se articulam em um programa, buscam
nem sempre são reconhecidos, sendo identificar os conceitos de Educação
percebidos estranhamentos nas relações Integral e currículo integrado à luz de
com outros educadores. diferentes tendências e perspectivas

23
Conhecimentos Específicos

teórico-metodológicas, em documentos escolar da Secretaria de Educação de


referenciais do Programa Mais Educação. E Goiás (GO), e por Rosa Luzardo, em A
Simone Valdete dos Santos, em Educação experiência nas escolas de Cuiabá (MT),
Integral e educação profissional, discute as numa iniciativa do governo estadual.
interfaces possíveis entre educação Experiências municipais, oferecendo
profissional e Educação Integral com subsídios em termos de diretrizes
destaque ao PROEJA (Programa Nacional conceituais e metodológicas, são
de Educação Profissional Integrada à apresentadas por Danilo de M. Souza, em A
Educação de Jovens e Adultos), instituinte experiência em Palmas (TO); Cláudio
de práticas pedagógicas na perspectiva da Aparecido da Silva, em O arranjo
Educação Integral. educativo local: a experiência de
Até esse momento do livro é possível Apucarana (PR); Maria Antônia G. da
observar o diálogo entre teoria e prática, Silva, em Diretrizes conceituais e
num crescendo, em que elementos teórico- metodológicas do Programa Bairro-Escola
práticos vão sendo oferecidos para que se de Nova Iguaçu (RJ); Neuza Maria S.
possa pensar em possibilidades e desafios Macedo, Macaé Maria Evaristo, Madalena
decorrentes de políticas, programas e ações, F. Godoy e Tadeu Rodrigo Ribeiro, em A
observados pelos diferentes autores, a partir experiência da escola integrada em Belo
dos lugares que ocupam no debate sobre Horizonte (MG); Lúcia Helena Couto, Ana
Educação Integral na atualidade. Na Lúcia Sanches e Sonia Tatiane Ramos, em
terceira e última parte do livro, Vivências e Com mais, a criança faz muito: experiência
itinerários em políticas públicas, o Brasil da da rede municipal de Diadema (SP), e
diversidade ganha corpo nas significativas Lucineide Pinheiro e Rosa Luciana P.
experiências de estados e municípios, Rodrigues, em A experiência da rede
dando visibilidade a histórias bem municipal de ensino de Santarém (PA).
sucedidas de gestão pública na direção da Os textos finais do livro contemplam,
Educação Integral, em que os autores sobremaneira, as interfaces entre a escola, a
refletem sobre concepções teórico- sociedade civil e o Estado, dois deles
metodológicas dos projetos propostos e os revisitando os CIEP (Centros Integrados de
impactos não só nos processos educativos Educação Pública) e seus pressupostos, em
da escola, mas também da comunidade e da A construção dos centros integrados em
cidade. Americana e Santa Bárbara D'Oeste (SP),
Abrindo essa parte, Gesuína Leclerc por Herb Carlini, e em Das escolas do
aborda a organicidade do Programa Mais Amanhã ao ginásio carioca: a Trajetória
Educação enquanto uma estratégia indutora da Educação Integral na cidade do Rio de
da Educação Integral, no artigo Programa Janeiro (RJ), por Heloísa Messias
Mais Educação e práticas de Educação Mesquita, e os demais abordando a
Integral. Experiências estaduais de participação das organizações não
Educação Integral são apresentadas por governamentais no debate nacional:
Adriana Sperandio e Janine M. P. de Comunidades educativas: por uma
Castro, em Mais tempo na escola: desafios educação para o desenvolvimento integral,
compartilhados entre gestores, educadores de Natacha G. da Costa; A contribuição das
e comunidade escolar da rede estadual de organizações não governamentais para o
ensino do Espírito Santo (ES); também por debate da Educação Integral, de Maria
Claudia Cristina P. Santos e Roberto Carlos Júlia A. Gouveia, Lucia Helena Nilson e
Vieira, em Reflexão sobre o Programa Stela Ferreira, e Conexão Felipe Camarão:
Mais Educação na rede estadual de ensino experiência de educação, cultura e
da Bahia (BA); por Jaime Ricardo Ferreira tradição oral, de Vera Santana.
e Seila Maria V. de Araújo, em Ampliação É possível perceber, no conjunto de
de tempos e de oportunidades no contexto textos, a convergência de ideias dos

24
Conhecimentos Específicos

diferentes autores ao problematizarem a Brasil, não ocorre sem muitas tensões e


escola pública e acenarem para as reais conflitos a exemplo dos acalorados debates
possibilidades de sua reinvenção, sendo a sobre as cotas para negros nas
promoção da Educação Integral, aqui universidades. Porém, durante muito tempo
claramente compreendida em sua plenitude no Brasil vigorou e sem restrições a
de formação humana, não só uma escolha chamada “Lei do Boi”. Tratava-se da Lei
metodológica, mas principalmente uma 5.465 de 03/07/1968 que assim ficou
ação política, social e filosófica. O volume conhecida por beneficiar filhos de
da obra justifica-se pela consistência das fazendeiros e criadores de gado que
reflexões nela contidas, oferecendo ingressavam sem vestibular nas
material substancial para a continuidade do universidades públicas inicialmente nos
debate sobre Educação Integral. cursos de Agronomia e Veterinária. Na
verdade a Lei passou a valer para todos os
cursos! E só foi revogada em dezembro de
SILVA, Edson. Ensino e sociodiversidades 1985! Ou seja, durante muitos anos em
indígenas: possibilidades, desafios e nosso país existiu, e sem contestações,
impasses a partir da lei 11.645/2008. cotas para ricos nas universidades públicas,
Caicó, v.15, n.35, p.21-37. Mneme – pois a citada Lei não beneficiava filhos de
Revista de Humanidades, jul/dez. 2014. trabalhadores pobres no campo. (SILVA,
Dossiê Histórias Indígenas. Disponível 2012b).
em: https://periodicos.ufrn.br/ Entretanto, na atual conjuntura
mneme/article/view/7485 sociopolítica em que o país se reconhece
pluriétnico e são questionadas as
desigualdades sociais herdadas do regime
12
A Lei 11.645/2008: uma conquista escravocrata, como forma de repará-las
dos movimentos sociais vem sendo favorecidas oportunidades de
A Lei 11.645, promulgada em ingresso das pessoas negras e indígenas nos
marços/2008, que determinou a inclusão cursos de Ensino Superior. Tal medida é
nos currículos escolares da Educação motivo de acirrados debates e campanhas
Básica pública e privada o ensino da contrárias, com a defesa da meritocracia
História e Culturas Afro-brasileiras e acadêmica. Contudo, quem defende essa
Indígenas, faz parte de um conjunto de perspectiva não questiona as condições
mudanças provocadas pelas mobilizações favoráveis em que foram construídos tais
da chamada sociedade civil, os movimentos méritos, em detrimento da falta de
sociais. São conquistas pelo oportunidades historicamente vivenciadas
reconhecimento legal de direitos por determinados grupos sociais,
específicos e diferenciados em anos especificamente negros e indígenas, ainda
recentes, quando observamos a organização que outros não sejam lembrados a exemplo
sociopolítica no Brasil. Nas últimas dos povos ciganos que vivem em nosso
décadas, portanto, em diversos cenários país.
políticos, os movimentos sociais com Foi nesse contexto de acaloradas
diferentes atores conquistaram e ocuparam discussões polêmicas, que a implementação
seus espaços, reivindicando o da implementação da Lei 11.645/2008 veio
reconhecimento e o respeito às somar-se aos debates sobre o
sociodiversidades. reconhecimento e respeito às
Todavia, se faz necessário ter presente sociodiversidades no Brasil contemporâneo
que o reconhecimento dessa nova (SILVA, 2012a). E exigindo, portanto, um
configuração das sociodiversidades no repensar sobre a História do país,

12
https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/view/7485/5816

25
Conhecimentos Específicos

discussões sobre a chamada “formação” da BERGAMASHI, 2010). Nesse caso,


sociedade brasileira e da “identidade quando nos referirmos a Educação
nacional”. A respeito da existência de uma Indígena/EI é muito importante ter presente
suposta “cultura brasileira”, “nordestina”, que quem vivencia e pratica a EI são os
“amazônica” “catarinense”, etc. A índios e somente os índios cotidianamente,
problematização das ideias e concepções a em suas aldeias e locais de moradias.
respeito da “mestiçagem”, do lugar dos Portanto, a Educação Indígena é bem mais
índios, negros e outras minorias que ampla do que acorre na escola. A EI,
formam a maioria da chamada população pensada enquanto expressões
brasileira. socioculturais dos povos indígenas tem sido
Após sete anos da promulgação da Lei objeto de estudos acadêmicos e mais
11.645/2008, observamos além de precisamente em pesquisas no âmbito
possibilidades, alguns desafios e impasses antropológico, assim como da Educação.
para a sua execução, propondo uma A Educação Escolar Indígena/EEI é
avaliação crítica das ações para a efetivação compreendida a partir dos documentos
da Lei nas perspectivas das reflexões a oficiais como a LDBEN (Lei de Diretrizes
seguir. A nossa avaliação ocorre a partir de e Bases da Educação Nacional de 1996), as
nossas experiências de pesquisas e ensino DCEEI (Diretrizes Curriculares para a
sobre a temática indígena e enquanto Educação Escolar Indígena de 1999),
docente com atuação na Educação Básica, dentre outros, e de estudos relacionados a
no âmbito da formação de professores, bem esse assunto (NASCIMENTO, 2005).
como no ensino nos níveis da graduação e Trata-se de uma modalidade de ensino
pós-graduação em História em cursos no específica, diferenciada, bilíngue ou
Nordeste brasileiro. multilíngue em alguns casos, como também
intercultural. Constituindo-se como
Definições importantes e necessárias espaços de organização dos processos
São muito importantes e necessárias educativos formais implementados nas
definições sobre o que seja a Educação escolas indígenas. Em outras palavras, a
Indígena, Indígena, Educação Escolar Educação Escolar Indígena/EEI são os
Indígena e o ensino da temática indígena, processos de escolarização vivenciados
pois infelizmente, com frequência pelos povos indígenas.
presenciamos que existem muitas As escolas indígenas nas aldeias são na
confusões não somente nas falas de pessoas maioria de 1º a 5º ano e uma ou outra de
que estão à frente de órgãos públicos na Ensino Médio. Embora existam escolas
área de Educação, como também são indígenas em áreas urbanas, a exemplo de
encontradas em documentos aldeias em bairros de Dourados/MS e
administrativos estatais atribuições Crateús/CE, geralmente após a conclusão
equivocadas no que se refere aos da 5º ano (antiga 4ª série) do Ensino
significados dos referidos termos. Tais Fundamental I, os indígenas vão continuar
equívocos e confusões resultam, sobretudo, os estudos nas escolas não indígenas fora do
do desconhecimento, desinformações, pré- território indígena, localizadas, nas áreas
conceitos, equívocos e generalizações que urbanas das cidades.
comumente ocorrem sobre a temática Existem vários estudos e reflexões sobre
indígena. como são vivenciadas nas escolas
A Educação Indígena/EI são os indígenas. Como os indígenas se
processos educativos não formais que se apropriaram dessa instituição escolar
constituem a partir das relações colonial e colonizadora e da Educação
socioculturais históricas vivenciadas de formal, que é uma ideia ocidental, a partir
geração em geração entre grupos e dos seus pontos de vistas. Nessa perspectiva
indivíduos indígenas. (BRAND, 2012; a EEI tem sido ser objeto de estudos

26
Conhecimentos Específicos

acadêmicos pedagógicos e também os O racismo institucional ou


antropológicos. Podendo a EEI ser incluída sistêmico opera de forma a induzir,
manter e condicionar a organização e
como uma cadeira específica nos cursos de a ação do Estado, suas instituições e
formação de professores/as, políticas públicas – atuando também
particularmente nos cursos de Pedagogia, nas instituições privadas, produzindo
como o estudo de uma modalidade do e reproduzindo a hierarquia racial.
ensino, embora desconheçamos alguma (WERNECK, 2013, p.17).
experiência desse tipo.
Por fim, o ensino da temática indígena Ocorrendo na maioria das vezes de
são reflexões sobre os povos indígenas, formas sutis, nos corredores ou gabinetes
atendendo as exigências da Lei das secretarias estaduais ou municipais de
11.645/2008, tratando do assunto nas Educação, nos setores administrativos das
escolas não indígenas nas áreas urbanas ou escolas e também nas salas de aulas por
rurais. Ou seja, tratar a respeito da temática várias maneiras: desde o desconhecimento
indígena no ensino, significa conhecer da referida Lei, ao descrédito com as
sobre os povos indígenas: sua História, as inciativas que venham atender as suas
diversidades socioculturais, as formas de exigências. E ainda com a falta de apoio ou
ser e de viverem diferentes entre si e da mesmo no impedimento, melhor dizendo o
sociedade não indígena. engavetamento de processos de ações que
Em razão da citada Lei, indiretamente favoreçam as discussões sobre a temática
tornou-se obrigatório o conteúdo a temática indígena.
indígena na formação de professores, O racismo institucional vem sendo
motivo pelo qual a necessidade de constar manifestado em ações de agentes que atuam
no currículo das universidades e na Educação em diferentes níveis e muitas
instituições de formação de professores/as. das vezes estar intimamente ligado a
Dessa forma, suscitando a formulação de convicções ideológicas, a concepções
políticas de formação continuada para excludentes, racistas e ocorrendo quase
professores/as em exercício docente nas sempre como um descompromisso
redes de ensino público estadual, municipal intencional, mas de forma sutil, silencioso,
e privado. Como também para os/as demais e, portanto, tornando-se difícil de ser
profissionais que atuam na Educação. identificado e ser combatido.
O que vem ocorrendo nos cursos de Esse tipo de racismo é comumente
licenciaturas, principalmente Pedagogia e expresso nas regiões mais antigas de
nas formações de professores/as é que colonização ou onde existem conflitos
erroneamente vem sendo incluída uma latentes em razão das invasões de terras
cadeira nomeada por Educação Indígena. indígenas. A exemplo do Nordeste onde
Quando na verdade ao se buscar atender as existem os chamados “índios misturados”,
exigências da Lei 11.645/2008 para e é facilmente constatável que no âmbito da
formação do professorado, o correto seria Educação a identidade indígena quando não
uma cadeira sobre o ensino da temática é veementemente negada ou sempre
indígena. questionada, torna-se motivo de chacotas.
Tendo sempre como horizonte comparativo
O racismo institucional o fenótipo de indígenas habitantes na região
Outro aspecto que consiste tanto como amazônica, portadores de uma suposta
um impasse quanto um desafio significativo cultura pura e imutável e por isso vistos
para a implementação da Lei 11.645/2008 é como “índios verdadeiros” em oposição aos
o racismo institucional. Essa expressão do “índios aculturados”.
racismo foi assim definida:

27
Conhecimentos Específicos

Controvérsia nas interpretações da para a Educação das Relações Étnico-


legislação Raciais como subsídio para implementação
Vem ocorrendo também controvérsias e da Lei 10.639, sendo atribuída essa
equívocos nas interpretações da legislação conquista as mobilizações do Movimento
recente que determinou o ensino da Negro. Tão normatização ainda não ocorreu
temática étnico-racial na Educação Básica. em relação à Lei 11645 e assim o ensino da
Por contabilizarem mais da metade da temática afro-brasileira ganhou maior
população brasileira e concentrando um visibilidade, resultando em maiores
considerável contingente nas áreas interesses de pesquisas nas universidades e
urbanizadas dos municípios, portanto com instituições de ensino superior. E com
maior visibilidade, os negros ocupam os consideráveis aportes de recursos para
espaços sociopolíticos por meio dos publicações, para formação do
movimentos organizados reivindicatórios professorado e projetos que discutam ou
de direitos sociais. Nesse sentido a Lei executem ações para superação da
10.639/2003 que tornou obrigatório o discriminação étnico-racial, onde de forma
ensino da História e Cultura Afro-Brasileira majoritária o “étnico-racial” objetivamente
foi uma conquista bastante exaltada pelo tem comtemplado apenas a temática negra.
Movimento Negro, que constantemente Nas universidades e centros de ensino,
enfatiza o seu significado para afirmação multiplicaram-se os cursos, as cadeiras, os
identitária e a superação da discriminação seminários, os congressos, etc. sobre a
racial. temática afro. Foram formados os
Cinco anos depois, em 2008 o Governo NEAB/Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro
Federal promulgou a Lei 11.645 “que e muito raramente um NEABI, ou seja,
estabelece as diretrizes e bases da educação onde a letra “I” de índio significasse a
nacional, para incluir no currículo oficial da inclusão também dos estudos sobre a
rede de ensino a obrigatoriedade da temática indígena. E assim, por essa e
temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira outras razões, a Lei 11.645 é quase
e Indígena’”. A partir da leitura desse texto despercebida ou até mesmo ignorada nas
da Lei, surge uma controvérsia, um impasse discussões sobre a Educação Básica e nos
nas interpretações: essa Lei incorporou a estabelecimentos de ensino, permanecendo
Lei 10.639/2003 ou é outra lei? Ou seja, são no geral as visões equivocadas sobre os
duas leis diferentes? Se forem duas leis, indígenas. Tornando-se recorrentes
porque o texto da Lei 11.645/2008 afirma algumas práticas “pedagógicas” que nos
“História e Cultura Afro-Brasileira e remetem a imagens de índios genéricos,
Indígena”? Lembrando que as leis ou a Lei desconsiderando as sociodiversidades dos
no preâmbulo de seu/s texto/s estar escrito povos indígenas existentes no Brasil.
que se alterou a Lei nº 9.394 de 20 de
dezembro de 1996, a LDBEN, conhecida De qual “índio” estamos falando?!
como LDB, que em seus artigos 26-A e 79- Um dos maiores desafios, de uma forma
B previa a inclusão da temática étnico- em geral, para tratar da temática indígena
racial no ensino. Em outras palavras, as leis no ensino é a superação de imagens
10.639/2003 e 11.645/2008 representam exóticas, folclorizadas, para visões críticas
para os movimentos sociais, para as sobre os povos indígenas (SILVA, 2013). A
organizações negras e indígenas, bandeiras escola é uma das instituições responsáveis
de mobilizações históricas, todavia, pela veiculação de muitas ideias, imagens e
juridicamente a LDBEN é a legislação que informações equivocadas a respeito dos
rege a Educação Brasileira. (GOMES, índios no Brasil. Ainda é comum na maioria
2008). das escolas, principalmente no universo da
Observamos também que foi publicada Educação Infantil, que no dia 19 de abril,
pelo MEC em 2006 as Orientações e Ações quando se comemora o Dia do Índio, em

28
Conhecimentos Específicos

todos os anos vir se repetindo as mesmas culturas são dinâmicas e apenas diferentes
práticas: enfeitam as crianças, pintam seus e mais do que isso: são resultados das
rostos, confeccionam penas de cartolina e relações históricas entre os diferentes
as colocam nas suas cabeças. grupos humanos (AIRES, 2013). Ou seja,
As crianças nas escolas são vestidas com para melhor se compreender os atuais
saiotes de papel geralmente verdes e não povos indígenas nas suas
faltam os gritos e os cenários com ocas e sociodiversidades, se faz necessário
florestas! Dizem que estão imitando os perceber as diversas experiências
índios, numa tentativa de homenageá-los! vivenciadas por esses povos nos diversos
Entretanto, tais supostas homenagens se processos de colonização, que resultaram
referem à qual índio? As supostas imitações na história das relações socioculturais ao
correspondem às situações dos povos longo mais de 500 anos no Brasil
indígenas no Brasil? Como essas imagens (OLIVEIRA, 2011). Buscando
ficarão gravadas na memória dos/as compreender as expressões socioculturais
estudantes desde tão cedo? Quais serão suas indígenas como produtos das relações
atitudes quando se depararem com os índios históricas em cada região do país.
reais? Quais as consequências da Se por um lado, em razão da ignorância
reprodução dessas desinformações sobre as e do desconhecimento tais discursos e
diversidades étnicas existente no nosso imagens equivocadas sobre uma suposta
país? (SILVA, 2010a). “pureza” dos grupos indígenas existem até
O que muitas das vezes aprendemos mesmo na Amazônia, por outro, mesmo
sobre os índios na escola está associado naquela Região são utilizados “pré-
basicamente às imagens do que é também conceitos” e discursos perversos para negar
na maioria dos casos são veiculadas pela as identidades indígenas. A exemplo dos
mídia: um índio genérico, ou seja, sem estar discursos usados pelos grandes
vinculado a um povo indígena. Ou ainda latifundiários, madeireiras, empresas de
com um biótipo de indivíduos habitantes na mineração privadas e até públicas, grandes
Região Amazônica e no Xingu. Com projetos governamentais para construções
cabelos lisos, muitas pinturas corporais e de barragens e hidrelétricas e demais
adereços de penas, nus, moradores das interessados nas terras dos povos indígenas.
florestas, portadores de culturas exóticas, Portanto, negar as identidades dos povos
etc. Ou também os diversos grupos étnicos indígenas é a condição para omitir seus
são chamados de “tribos” e assim pensados direitos, principalmente aos seus territórios.
como primitivos, atrasados. Ou ainda O último Censo IBGE/2010 apontou que
imortalizados pela literatura romântica do no Brasil existem 305 povos indígenas,
Século XIX, como nos livros de José de falando 274 línguas e contabilizando cerca
Alencar, onde são apresentados índios de 900 mil indivíduos. Significando que
belos e ingênuos, ou valentes guerreiros e tratar sobre os grupos que se convencionou
ameaçadores canibais, ou seja, bárbaros, chamar-se genericamente de “índios” é uma
bons selvagens ou heróis. situação parecida ao olhar um
As imagens e discursos que afirmam os caleidoscópio: são povos em suas múltiplas
indígenas na Amazônia como “puros”, expressões socioculturais, diversos entre si
autênticos e “verdadeiros” em oposição aos e diferentes de nossa sociedade. Pensar os
habitantes em outras regiões do país, povos indígenas é, portanto, pensar sempre
principalmente nas mais regiões antigas da em experiências sociohistóricas plurais e
colonização portuguesa, a exemplo do diferenciadas.
Nordeste, se baseiam em uma ideia O pouco conhecimento generalizado
equivocada de culturas melhores, sobre os povos indígenas está associado
superiores ou inferiores. Quando as basicamente à imagem do índio que é
pesquisas antropológicas afirmam que as tradicionalmente veiculada pela mídia: um

29
Conhecimentos Específicos

índio genérico, vivendo nas chamadas indígenas se constitui em um grande


“tribos”, visão a partir da perspectiva desafio para o ensino da temática indígena.
etnocêntrica e evolucionista de uma suposta
hierarquia de raças, onde os índios A formação para o ensino
ocupariam obviamente o último degrau da A formação para o professorado e os
chamada “civilização”. agentes que atuam na Educação no âmbito
Portanto, além de ser necessário das relações étnico-raciais sobre a temática
descontruir a ideia de uma suposta indígena talvez seja o maior desafio a ser
identidade genérica nacional ou regional, é enfrentado. A formação específica tem que
necessário também questionar as ser pensada em duas frentes: nos cursos de
afirmações que expressam uma cultura licenciatura e de formação para o
hegemônica que nega, ignora e mascara as magistério; e para aqueles/as professores/as
diferenças socioculturais. Questionando em exercício docente e demais profissionais
ainda uma suposta identidade e cultura que atuam na Educação.
nacional que constitui o discurso impositivo Na ausência ainda de uma normatização
de um único “povo brasileiro”. Uma que detalhe as ações para a implementação
unidade anunciada muitas vezes em torno da Lei 11.645, se tem notícias de
da ideia de raça, um tipo biológico a pouquíssimas iniciativas em centros de
exemplo das imagens sobre o mulato, o formação de professores/as que incluíram
mestiço, o nordestino, o sertanejo, o cadeiras específicas sobre a temática
pernambucano, dentre outras. indígena. Essa inclusão se faz necessária
São ideias e narrativas que fundamentam não somente apenas nos cursos de
uma identidade e cultura nacional, Pedagogia, mas também em todos os cursos
escondem as diferenças sejam de classes de licenciaturas em todas e diversas áreas
sociais, gênero, étnico-raciais e etc. ao do conhecimento, a exemplo da
buscar uniformizá-las. Negando também os Matemática, Química, Física, Botânica, etc.
processos históricos marcados pelas Existe um demanda implícita suscitada
violências de grupos politicamente pela Lei, todavia esbarra-se em pelo menos
hegemônicos (HALL, 1999). Negando duas situações limites: a inexistência de
ainda as violências sobre grupos a exemplo definição explicita legal em razão da citada
dos povos indígenas e os oriundos da África ausência de normatizações complementares
que foram submetidos a viverem em e, sobretudo, a carência de profissionais
ambientes coloniais. Observemos ainda que especializados para atender a demanda
as identidades nacionais além de serem instaurada sejam nos espaços educacionais
fortemente marcadas pelo etnocentrismo públicos ou privados. (PEREIRA;
são também pelo sexismo: se diz o mulato, MONTEIRO, 2013) As universidades
o mestiço, o catarinense, o paranaense, o enquanto centros de formação de
gaúcho, etc. acentuando-se o gênero formadores, não priorizaram a formação de
masculino. profissionais sobre a temática indígena, isso
É necessário, portanto, problematizar porque o assunto foi sempre considerado
ainda as ideias e afirmações de identidades residual e, por conseguinte de menor
generalizantes como a mestiçagem no relevância, ignorado até na maioria dos
Brasil, sendo um discurso para negar, cursos de Ciências Humanas e Sociais.
desprezar e suprimir as sociodiversidades Observa-se, por exemplo, na área da
existentes no país. Afirmar os direitos as História que quando ocorrem concursos
diferenças é, pois, questionar o discurso da públicos no Ensino Superior para a cadeira
mestiçagem como identidade nacional História Indígena, em geral os editais
usado para esconder a história de índios e flexibilizam as exigências para
negros na História do Brasil. Portanto, o candidatos/as que possuam formação em
(re)conhecimento das sociodiversidades Antropologia, isso em razão da carência de

30
Conhecimentos Específicos

especialistas sobre a temática indígena na indígenas pelas reivindicações de seus


área da História. Situações semelhantes direitos sociais.
também ocorrem se os concursos forem na No âmbito da chamada formação
área de Educação e destinado ao ensino nos continuada de professores/as, outro aspecto
cursos de licenciaturas. ainda mais desafiador vem sendo a
A outra situação diz respeito à formação superação de um limite: a ausência do
daquele/a professor/a que se encontra em compromisso profissional com o ensino
exercício docente na Educação Básica. As sobre a temática indígena. Como motivar,
conhecidas formações de professores cujas o/a professor/a, o/a profissional da
responsabilidades são das secretarias Educação que atua há vários anos seja em
municipais e estaduais de Educação. Nos sala de aula, seja em outras atividades
últimos tempos, em várias cidades, o pedagógicas, para o interesse pelo
Ministério Público tem exigido desses aprendizado, o conhecimento a respeito dos
órgãos ações para implementação da Lei povos indígenas quando por convicções
11.645. Ocorre que as citadas secretarias ao ideológicas, posturas racistas e excludentes
procurar atender as exigências em geral têm e também as precárias condições de
improvisado formações realizadas em trabalho não estimulam suas ações docentes
curtíssimos espaços de tempo, às vezes uma sobre a temática indígena.
manhã ou uma tarde, de forma massiva
reunindo o professorado e os/as Os subsídios didáticos
profissionais/as da Educação de todos os Os poucos subsídios didáticos, sejam
níveis e modalidades de ensino em grandes publicações específicas, documentários,
auditórios. E ainda recorrendo a supostos filmes, sites, etc. disponíveis sobre a
formadores “especialistas” nem sempre temática indígena em geral são produções
reconhecidos com tais nos locais e de circulação/divulgação bastante
estudos/pesquisas sobre a temática que restrita. Em comparação a considerável
afirmaram abordar. Nesses casos, ao quantidade sobre a temática afro-brasileira,
Ministério Público falta acompanhar e os subsídios elaborados pelo MEC a
fiscalizar bem de perto todo o processo para respeito dos povos indígenas, embora
o cumprimento do que determinou a Lei. enviados a todas as escolas no país, trata-se
ainda de uma produção mínima. Só
É muito recomendável sempre que recentemente o Governo Federal vem
possível à participação efetiva de indígenas publicando editais com o objetivo de
nesses cursos de formação, pois suas fomentar a produção de subsídios didáticos
experiências de vida, narrativas e sobre a temática indígena. A quantidade de
expressões socioculturais contribuem para subsídios reconhecidamente tão baixa,
desmistificações e o conhecimento sobre os talvez se justifique pela complexidade e a
povos indígenas. Bem como, são necessidade de especialistas no trato com o
recomendáveis visitas pedagógicas de tema, os custos exigidos para a produção ou
professores, profissionais da Educação e ainda mesmo a pouca importância e
estudantes a aldeias e também de indígenas prioridade que se deu ao assunto. Tal
as escolas. Esses intercâmbios, quando situação significa uma lacuna considerável
previamente e devidamente preparados, são para o ensino e assim perpetuam-se
oportunidades ímpares de aprendizados imagens e discursos equivocados sobre o
sobre os povos indígenas. E se realizados “índio” na maioria dos livros didáticos,
nas aldeias localizadas próximas as escolas geralmente tido como única e mais usada
(MACÊDO, 2009), além de favorecer a fonte de informações sobre os povos
superação de preconceitos tão comuns indígenas.
nessas regiões, contribuem para a A Lei 11.645/2008 em seu artigo 2º
solidariedade com as mobilizações afirma que:

31
Conhecimentos Específicos

Os conteúdos referentes à história professores e alunos, todavia trata-se de um


e cultura afro-brasileira e dos povos subsídio que expressa valores, concepções
indígenas brasileiros serão
ministrados no âmbito de todo o
e visões de mundo. Nesse sentido,
currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de Várias pesquisas demonstraram
literatura e história brasileiras. como textos e ilustrações de obras
didáticas transmitem estereótipos e
valores dos grupos dominantes,
Mas, a temática indígena, seguindo o generalizando temas, como família,
que prevê a base curricular nacional criança, etnia, de acordo com os
comum, é tratada pontualmente no 6º ano preceitos da sociedade burguesa
do Ensino Fundamental de História e no 1º (BITTENCOURT, 2002, p.72).
Ano do Ensino Médio. Embora que 6º Ano,
lamentavelmente os povos indígenas são Estudos sobre os livros didáticos de
citados nos livros didáticos quando se História, publicados entre os anos de 1999
discute as origens da humanidade, na a 2005 e destinados às séries 5ª a 8ª do
condição de “povos primitivos”. Ensino Fundamental (atuais 6º ao 9º ano),
No que diz respeito às outras áreas do distribuídos às escolas públicas e que foram
conhecimento, mesmo Educação Artística e avaliados pelo Programa Nacional do Livro
Literatura, são tímidas as iniciativas que Didático/PNLD-MEC, concluiu que os
abordam pontualmente a temática indígena índios eram caracterizados como
e em geral como sempre ocorreu de forma “primitivos” reproduzindo pressupostos
folclorizadas, baseada em pesquisas evolucionistas e valores etnocêntricos. Os
superficiais e evidenciando-se o exotismo povos indígenas foram citados como
cultural de um índio genérico o que “tribos” vivendo na “Pré-História”,
contribui para a continuidade das considerados em processos de extinção e
desinformações sobre a situação em que suas expressões socioculturais e religiosas
vivem os povos indígenas no Brasil. tratadas de formas pejorativas. Além das
Outra questão séria é a falta de subsídios inúmeras imprecisões classificatórias e
específicos sobre a temática indígena em conceituais nas abordagens sobre as
acervos nos centros de ensino e ainda mais diversidades sociolinguísticas, a negação da
nas bibliotecas das escolas da Educação presença indígena ao longo da História do
Básica. O que torna difícil e em algumas Brasil, foi constatada uma ausência de
situações até impossível o acesso as fundamentação teórica nos conteúdos.
informações sobre os povos indígenas. Esta (GOBBI, 2010).
é uma situação que também pode ser Afora uma extrema carência de
constatada nas bibliotecas das subsídios didáticos sobre a temática
universidades e centros de formação de indígena para a Educação Infantil,
professores onde existem diversos cursos constatamos que mesmo após a
de licenciatura. promulgação da Lei 11.645/2008 os
São bastante conhecidas as politicas de manuais didáticos de História ainda que
adoção do livro didático nas escolas aprovados/recomendados pelo PNLD,
públicas, as formas de escolhas, os salvo algumas poucas exceções, continuam
interesses editoriais e mercadológicos e as trazendo nos conteúdos sobre os povos
margens possíveis de participação no indígenas os mesmos equívocos das
processo do professorado e demais abordagens anteriores. O mais preocupante
profissionais que atuam na Educação. O é que se trata de livros amplamente
livro didático constitui um dos destinados às escolas públicas de todo o
instrumentos, senão o subsídio mais país, utilizados para informação/formação
comum utilizado em sala de aula. É um guia de uma geração de estudantes, professorado
de conteúdos a ser estudados por e profissionais da Educação.

32
Conhecimentos Específicos

Nessa perspectiva uma pesquisadora Outros tímidos avanços a serem


afirmou: considerados são o pequeno número de
Dar às crianças e adolescentes a publicações sobre a temática indígenas e os
oportunidade de aprender sobre os editais públicos recentes para favorecê-las.
povos indígenas é dar-lhes a
oportunidade de conhecer a grande
Bem como as iniciativas, ainda que de
riqueza que reside na diversidade formas equivocadas, de formações
cultural existente no Brasil, riqueza destinadas ao professorado e aos
que deve ser valorizada e respeitada. profissionais da Educação sobre a temática
Como fontes de aprendizado que são indígena. Por isso é que se faz necessário a
e pelo lugar que ocupam no sistema
educacional brasileiro, os livros publicação das aguardadas orientações, a
didáticos deveriam abordar a semelhança do que ocorreu para o ensino da
temática indígena e a diversidade temática afro, no sentido de definições,
cultural de modo que os alunos sugestões e indicações de como tratar a
percebessem tal valor. (GOBBI, 2012, temática indígena no ensino conforme a
p. 242).
determinação legal.
O estudo da temática indígena, além de
É importante acrescentar que também se
questionar visões colonizadoras, ufanismos
trata de uma oportunidade para o
e concepções deterministas sobre o lugar
professorado e demais profissionais que
dos povos indígenas na História do Brasil,
atuam na Educação. E tendo presente as
possibilita repensar a história, superar
estimativas do Censo IBGE/2010 que
estereótipos, equívocos, pré-conceitos e
contabilizou cerca de 40% da população
(re)conhecer os significados da riqueza que
indígena habitando em áreas urbanizadas e
são as sociodiversidade indígenas em nosso
ainda que o universo escolar trata-se de um
país. (SILVA, 2010b)
ambiente onde sobremaneira seja possível a
formação crítica para se conhecer e
vivenciar as sociodiversidades étnico-
racial. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da
aprendizagem: componente do ato
Considerações finais pedagógico. São Paulo: Cortez, 2008
A Lei 11.645/2008 foi uma conquista
dos movimentos sociais e simboliza as
transformações históricas recentes que vem 13
A tese central que delineia todas as
ocorrendo no Brasil. Procuramos a partir da discussões e reflexões suscitadas por
constatação de algumas possibilidades, Luckesi (2011) nessa obra é que “sem ações
desafios e impasses, realizar um balanço pedagógicas planificadas, não há avaliação
crítico a respeito da implementação da Lei. da aprendizagem!”. E fundamenta sua
Mas, uma avalição que não seja tão formulação tratando o ato de avaliar sob a
somente pessimista, pois embora com os ótica operacional, ou seja, como um meio
equívocos apontados, as poucas iniciativas de tornar os atos de ensinar e aprender
com as quais algumas universidades e produtivos e satisfatórios, um recurso
centros de ensino, principalmente nos subsidiário para a obtenção de resultados
cursos de Pedagogia, têm incluído cadeiras positivos em ações pedagógicas planejadas
de “Educação Indígena” ou até mesmo com no âmbito escolar. Por isso, adverte:
nomes atípicos como “Culturas nativas”, ou
ainda cadeiras para o ensino sobre as Isso nos leva a informar ao leitor
relações étnico-raciais onde se prioriza a que não desejamos fazer um livro
temática afro e bem menos a indígena, são sobre medidas educacionais, o que
contabilizados pequenos avanços. implicaria tratar o ato de avaliar a

13
https://bit.ly/3dfsG7R

33
Conhecimentos Específicos

aprendizagem como se fosse avaliação de acompanhamento


separado do ato pedagógico. Tratar a depende da existência de um projeto
avaliação como um ato isolado, em execução. O planejamento define
separado do pedagógico, tem sido a aonde se deseja chegar com a ação,
tradição tanto na vida escolar como assim como os meios para chegar aos
nas representações da sociedade. resultados desejados. (p. 20)
Desejamos, nesta obra, romper com
esse padrão. O ato de avaliar a Para explicitar sua formulação, no
aprendizagem é muito mais do que o
ato técnico isolado de investigar a
Capítulo I “Projeto Político-Pedagógico da
qualidade dos resultados da escola e seus parâmetros para a avaliação da
aprendizagem. (p. 14-15) atividade docente e discente”, Luckesi dá
tratamento à filosofia que deve orientar de
Assim, o autor explica que embora modo consciente a ação pedagógica em sala
historicamente os exames escolares tenham de aula: reconhecer o fato de que o ser
sempre ocorrido em separado da ação de humano está no centro de atenção da prática
ensinar e aprender, a avaliação não pode se educativa e que, por meio dela, deverá ser
dar dessa forma, sob pena de não se ajudado a constituir-se como sujeito e como
constituir como o terceiro componente do cidadão, em conexão com o sagrado.
ato pedagógico. Para tanto, faz uma A partir daí, inicia o desfile de autores e
distinção entre duas condutas, esperar e formulações que lapidam as pedras atiradas
construir, definindo a primeira como na correnteza de suas problematizações
meramente a postura de aguardar que os sobre a avaliação operacional.
resultados se deem em decorrência de uma Primeiramente, recorre a Freud e sua
prática sem acompanhamento e sem linguagem psicanalítica para tratar sobre “a
consequente intervenção, ainda que formação do eu saudável”, aquele que se
necessários; e a segunda como um torna sujeito, ou seja, que toma posse de si
investimento em busca de soluções para os mesmo e é capaz de confrontar-se com as
impasses que surgem durante um projeto facilidades e dificuldades da vida e do
que tem como objetivo o mundo, administrando-as para o seu bem-
autodesenvolvimento do educando. estar, do outro e do meio ambiente. Em
De acordo com essa compreensão, para seguida, retoma as formulações de Jung
se produzir o resultado desejado (isto é, a sobre as necessidades espirituais do ser
aprendizagem), o ato pedagógico deve ser humano que se referem a vivências e
dialeticamente composto de um algoritmo aprendizagens sutis, as quais podem dar-se
de três elementos: estabelecimento de por meio da poesia, da literatura, do
metas (ou planejamento), seguido de silêncio, da respiração, dos rituais e outras,
execução e somado à avaliação adquiridas por intermédio dos cinco
operacional: sentidos ou da mente discursiva:

Para que a avaliação seja possível Todos nós - filósofos, poetas,


e faça sentido, o primeiro passo é cientistas, literatos, místicos,
estabelecer e ter uma ação práticos, construtores dos mais
claramente planejada e em execução, variados bens e recursos -
sem o que a avaliação não tem como vivenciamos experiências que vão
dimensionar-se e ser praticada, pois além da cotidianidade; são
que o seu mais profundo significado, experiências inefáveis que temos
a serviço da ação, é oferecer-lhe diante das mais variadas situações,
suporte, com o objetivo de tais como uma criança que se
efetivamente chegar aos resultados expressa, um pôr do sol nostálgico, o
desejados. Do exposto, segue-se que a alvorecer de um novo dia, um ato de
avaliação caminha pari passu com amizade, o compartilhamento de um
um projeto de ação e a ele se submete. ritual [...]. (p. 31)
Mais que isso: a existência da

34
Conhecimentos Específicos

Ele encerra o capítulo reiterando sua incorporando, integralmente,


compreensão de que a avaliação contribuições de diversos
pesquisadores que abordem o ser
operacional é um recurso subsidiário dessa humano como um “ser a caminho”,
ação pedagógica de formar o educando um ser “em travessia”, como nos
como sujeito-cidadão ciente de si, do outro, diria Guimarães Rosa. (p. 72)
do meio ambiente e do sagrado, na medida
em que consiste em um modo de investigar Quanto aos conteúdos, Luckesi explica
para intervir. Assim, a avaliação retrata a que se constituem de elementos do senso
qualidade dos resultados que estão sendo comum, das ciências, dos valores estéticos,
obtidos, cabendo ao professor, com base éticos e religiosos, herdados de culturas que
nessa constatação, decidir e investir na nos antecederam, por meio de mecanismos
obtenção do que foi planificado. como a convivência, o ensino familiar e o
Para discutir como esse processo pode se escolar etc. O currículo é, pois, a expressão
efetivar, no Capítulo II, toma as palavras de da ciência do presente traduzida para as
Max quando diz que “nenhuma teoria vai à possibilidades de assimilação e, por isso,
prática sem, antes, passar por múltiplas seus conteúdos devem articular o educando
mediações”, e elenca os quatro “recursos em processo de formação com a cultura
mediadores” que levam a essa ação geral da sociedade, viabilizar a integração
pedagógica: 1) uma teoria pedagógica das novas gerações na cultura familiar,
compatível com a prática da avaliação da grupal, comunitária e social:
aprendizagem; 2) os conteúdos escolares;
3) a didática; e 4) o educador. Assim sendo, faz sentido que a
Sobre o primeiro, adverte que, em geral, escola seja um lugar especial por
onde a cultura elaborada é, por um
as teorias que norteiam as práticas lado, assimilada pelos educandos que
avaliativas são mais medievais que dela participam. O senso comum não
contemporâneas, pois concebem o ser necessita da instituição escolar para
humano como “dado pronto”, e não como ser transmitido e assimilado. Isso se
um ser em processo de construção, voltado dá no dia a dia das pessoas. Então, a
escola tem por obrigação - para isso
para o crescimento, para as múltiplas e foi instituída socialmente - de
novas possibilidades de expressão; e que, oferecer aos educandos o melhor
dessa forma, assentada em uma visão conhecimento passível de
estática, a avaliação não pode ser trabalhada assimilação, a depender de sua idade
na perspectiva operacional, pois a e de seu nível de desenvolvimento. É
nesse sentido que os conteúdos
cosmovisão que a sustenta é a mesma curriculares fazem a mediação entre
formulada por Hegel sobre o ser humano: o educando e a cultura que o cerca,
dinâmica, e segundo a qual melhores especialmente a cultura elaborada.
resultados são obtidos quando há propósito (p. 93)
e investimento para isso. Portanto, para que
traduza esse ideário filosófico e político, a E, para que a transmissão e a assimilação
teoria pedagógica a ser adotada deve ser desses conhecimentos aconteçam em
sintonia com a proposta avaliativa
construtiva:
operacional, Luckesi apresenta um conceito
de metodologia que vai para além das meras
Vale lembrar que dizemos
técnicas de ensinar e aprender. Trata-se de
pedagogia “construtiva”, e não
“construtivista”. O termo
uma didática considerada como a forma de
“construtivista” está vinculado à facilitar esse processo, que expressa a ideia
pedagogia decorrente dos estudos e de mediadora fundamental e efetiva para a
pesquisas do professor Jean Piaget, sua realização, que sinaliza os recursos
enquanto o termo “construtiva” está práticos básicos para que os desejos
livre de uma conotação teórica deste embutidos nos atos de ensinar e aprender
ou daquele autor, o que nos permite sejam realizados:
produzir novas sínteses, Esta é a ordem lógica dos passos

35
Conhecimentos Específicos

do ensinar e do aprender: exposição - Aqui, Luckesi conclui a primeira parte


assimilação - exercitação - aplicação do livro e introduz os pontos que serão
- recriação - criação -, na qual o
educador segue a direção da maior
discutidos em detalhes na segunda parte: A
para a menor atividade e o educando, avaliação da aprendizagem como
da menor para a maior atividade, da componente pedagógico. Os seis capítulos
dependência para a autonomia, como seguintes tratam de temas que aprofundam
vimos sinalizando. No primeiro a discussão sobre como fazer para que a
passo, o educador ocupa o lugar de
ator principal; no último passo, o
educação possa transitar da prática dos
lugar de ator secundário. Já com o exames escolares para a avaliação da
educando, dá-se o inverso. No aprendizagem na escola. Em geral, trazem
primeiro passo, é dependente da reflexões sobre como é imprescindível a
informação que vem por meio do adoção de uma pedagogia construtiva, que
educador; no último, é autônomo e
pede auxílio se necessitar. (p. 111) não “espera” que o educando tenha
aprendido alguma coisa, mas que “investe”
Nesses passos, cabe ao educador na construção dos resultados definidos e
acolher, receber o educando; nutri-lo, desejados. São eles: I) Avaliação da
oferecer-lhe o melhor em relação à Aprendizagem na Escola: investigação e
informação, ao procedimento, ao valor, à intervenção; II) Primeira Constatação: a
afetividade; sustentar, garantir as condições escola pratica mais exames que avaliação;
psicológicas, de tempo e de atendimento III) Segunda Constatação: razões da
para que ele aprenda; e confrontar, mostrar resistência a transitar do ato de examinar
que nem tudo está adequado e que há outras para o de avaliar; IV) O Ato de Avaliar: a
possibilidades. É dizer, pois, que embora o aprendizagem na escola; V) Instrumentos
educador e o educando sejam os sujeitos de Coleta de Dados para a Avaliação da
dessa relação pedagógica, cada um tem um Aprendizagem na escola: um olhar crítico;
papel específico e com um grau de e VI) Instrumentos de Coleta de Dados para
maturidade diferenciado: a Avaliação da Aprendizagem na Escola:
um olhar construtivo.
Do ponto de vista humano, como No Capítulo I, Luckesi apresenta a
cidadãos, ambos são sujeitos de investigação como um conjunto de
iguais direitos e deveres; contudo, do procedimentos que subsidiam a avaliação
ponto de vista pedagógico, no de produto e a avaliação de
contexto da prática educativa escolar,
ambos têm papéis diferenciados. O
acompanhamento, distinguindo-as por seus
educador é o líder e, como tal, objetivos: descrição e qualificação da
constitui o “adulto da relação realidade; e descrição, qualificação e
pedagógica”; o educando é o intervenção na realidade, se necessário.
liderado e, como tal, constitui o que No segundo capítulo, como uma das
recebe o suporte do primeiro. Este
tem a autoridade própria de sua
razões que podem explicar o porquê de
condição, o que não quer dizer haver mais exames do que avaliações no
autoritarismo; trata-se da autoridade ambiente escolar, Luckesi discute a
de alguém que já fez um caminho de racionalidade brasileira traduzida na sua
amadurecimento e, agora, se própria legislação, que passa a utilizar o
encontra no papel de líder de um
processo. Para ser o líder, que faz a
termo “avaliação” apenas no ano de 1996,
mediação do processo de ensinar e com a nova Lei de Diretrizes e Bases da
aprender, e fazer jus a esse lugar, o Educação. A de 1972 menciona “aferição
educador precisa possuir as do aproveitamento escolar”, a de 1961
condições de maturidade psicológica, trabalhava com o conceito de “sistema de
científica e cultural. (p. 134-135)
exames” e as anteriores delimitavam “as
modalidades e as práticas dos exames”.

36
Conhecimentos Específicos

No capítulo seguinte, que trata da O que importa avaliar é o


segunda constatação sobre as razões da resultado da ação, e esta deve estar
definida nessas instâncias. Nesse
resistência em se adotar a avaliação contexto, os instrumentos necessitam
operacional, Luckesi responde a indagações ser elaborados, aplicados e
como: o que dificulta a assunção de uma corrigidos segundo especificações
verdadeira prática de avaliação da decorrentes dessas decisões prévias à
aprendizagem em nossas escolas?; que ação. Elas definem os resultados
almejados, e, então, a avaliação
fatores atuam para que o trânsito do ato de existe para informar se eles foram
examinar para o ato de avaliar na escola se atingidos ou não e, com que
faça tão lentamente? Para tanto, apresenta qualidade. Se nossos instrumentos de
um conjunto de autores nacionais e coleta de dados não nos
estrangeiros, explicitando assim que o proporcionam isso, são
insatisfatórios. (p. 295-296)
problema não reside apenas no Brasil, e que
é fruto de ações fundamentadas, inclusive,
Como síntese das considerações feitas
na publicação da Ratio studiorum, em 1548,
nesses capítulos sobre a elaboração de
pelos jesuítas, que estiveram atentos à
instrumentos de pesquisa que investigam a
criação de normas que garantissem uma
avaliação escolar, Luckesi formaliza um
administração comum e uniforme em todos
conjunto de regras gerais que podem ajudar
os seus colégios.
o pesquisador a observar os cuidados
No Capítulo IV, Luckesi dá mais um
necessários no processo de elaboração de
passo em seu estudo, definindo o conceito e
suas questões, por acreditar que um
os procedimentos relacionados ao ato de
instrumento bem elaborado é o recurso que
avaliar a aprendizagem na escola.
amplia a capacidade de observação, que faz
Entendida como acompanhamento da ação
jus à realidade do que se deseja investigar.
pedagógica, a avaliação operacional recebe
Finalmente, na terceira e última parte da
diferentes denominações, tais como
obra, Luckesi aborda temas correlatos à
“diagnóstica”, pelo próprio autor,
avaliação da aprendizagem, retomando
“mediadora”, por Jussara Hoffmann,
conceitos e processos tratados ao longo de
“dialética”, por Celso Vasconcellos,
todo o livro, desta vez também sob a ótica
“dialógica”, por José Eustáquio Romão e
da ética entendida como um modo de agir
“formativa”, por Benjamin Bloom. No
do ser humano, na sua relação com tudo que
entanto, ainda que tenham nuanças sutis,
o cerca, compreendido filosoficamente:
todas implicam dois processos articulados e
indissociáveis: diagnosticar - Ela manifesta um saber vivido e
acompanhando, monitorando a construção vivente que rege as relações das
do resultado almejado; e intervir - pessoas com tudo o que as cerca: as
testemunhando a qualidade final do que foi outras pessoas, os outros seres vivos,
produzido, tendo em vista a melhoria dos o meio ambiente, o sagrado. Ela
expressa uma convicção interna de
resultados. cada ser humano sobre o modo de
Nos dois últimos capítulos, a ênfase relacionar-se com tudo com base em
recai sobre a questão dos instrumentos de valores, fator que exige tomada de
coleta de dados do desempenho do posição de acordo com sua
educando, sob o olhar crítico e construtivo positividade ou negatividade. Que
valor orienta e/ou sustenta agir desta
de Luckesi. Segundo afirma, para que a ou daquela forma? (p. 384-385)
coleta no universo educacional esteja em
conformidade com as exigências do objeto O próprio Luckesi trata de responder à
investigado e com a forma pela qual o pergunta, afirmando que, aliado ao pacto
objeto de pesquisa é abordado, é preciso profissional e curricular, o ético com a
ter-se em conta as configurações do projeto verdade constitui o farol que deve estar
da escola, dos planos de ensino e das aulas: sempre indicando a conduta do educador

37
Conhecimentos Específicos

em todos os seus atos e rituais na prática da Essa definição resgata o senso comum.
avaliação escolar. Afinal, são imbricados e Entretanto, ela levanta uma questão tão
traduzem-se em um só, que significa a banal que poderia ser ignorada: como se
busca do sucesso, o comprometimento com sabe se um aluno “adquiriu, ou não, no
o projeto pedagógico, por meio do prazo previsto, os novos conhecimentos e
constante investimento em soluções para os as novas competências que a instituição,
impasses emergentes. Por isso, avisa que conforme o programa, previa que
“lamentar resultados negativos não traz adquirisse”? Indiretamente, essa simples
nenhuma solução; o sucesso depende do definição remete a um mundo de agentes e
investimento adulto na busca dos resultados de práticas de avaliação: o grau de
positivos” (p. 395). aquisição de conhecimentos e de
De fato, investir em vez de lamentar é competências deve ser avaliado por
bem mais substancial em qualquer situação alguém, e esse julgamento deve ser
da vida. E, especificamente no caso da sustentado por uma instituição para tornar-
avaliação dessa obra, parece mais se mais do que uma simples apreciação
conveniente que o leitor invista em sua subjetiva e para fundar decisões de seleção
leitura e não confie tanto na descrição de orientação ou de certificação.
limitada desta resenha, sob o risco de Os alunos são considerados como tendo
lamentar depois o que José Saramago já há alcançado êxito ou fracasso na escola
muito, e com requintada sutileza, nos porque são avaliados em função de
deixou como advertência em sua A exigências manifestadas pelos professores
caverna: ou outros avaliadores, que seguem os
programas e outras diretrizes determinadas
A não ser, A não ser, quê, A pelo sistema educativo. As normas de
não ser que esses tais rios não excelência e as práticas de avaliação, sem
tenham duas margens, mas engendrar elas mesmas as desigualdades no
muitas, que cada pessoa que lê domínio dos saberes e das competências,
seja, ela, a sua própria desempenham um papel crucial em sua
margem, e que seja sua, a transformação em classificações e depois
margem a que terá de chegar. em julgamentos de êxito ou de fracasso:
sem normas de excelência, não há
avaliação; sem avaliação, não há
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da hierarquias de excelência; sem hierarquias
excelência à regulação das aprendizagens de excelência, não há êxitos ou fracassos
- entre duas lógicas. Porto Alegre: declarados e, sem eles, não há seleção, nem
Artmed, 1999 desigualdades de acesso às habilitações
almejadas do secundário ou aos diplomas.
Normalmente, define-se o fracasso
14 escolar como a simples consequência de
A avaliação no princípio da
excelência e do êxito escolares dificuldades de aprendizagem e como a
O que é um aluno fracassado? Para o expressão de uma falta "objetiva" de
sociólogo: conhecimentos e de competência. Essa
visão, que "naturaliza" o fracasso, impede a
"O aluno que fracassa é aquele compreensão do que ele resulta de formas e
que não adquiriu no prazo previsto os de normas de excelência instituídas pela
novos conhecimentos e as novas
escola, cuja execução local revela algumas
competências que a instituição,
conforme o programa, previa que arbitrariedades, entre as quais a definição
adquirisse" (Isambert-Jamati, 1971). do nível de exigência, do qual depende o

14
https://bit.ly/3xlYbUL

38
Conhecimentos Específicos

limiar que separa aqueles que têm êxito ao sabor de um funcionamento particular do
daqueles que não os têm. sistema de ensino, de sua maneira de
Nas sociedades humanas, quase todas as “tratar" as diferenças.
desigualdades culturais que correspondem Hoje, depois de mais de 20 anos de
a uma forma ou outra de domínio do real debates sobre a diferenciação possível e
proporcionam classificações, que os desejável do ensino, a maioria dos sistemas
sociólogos chamam de "hierarquias de escolares ainda mantém amplamente a
excelência", para distingui-las de outros ficção segundo a qual todas as crianças de
tipos do hierarquias. A excelência define-se seis anos que entram na primeira série da
como a qualidade de uma prática, na escola obrigatória estariam igualmente
medida em que se aproxima de uma norma desejosas e seriam capazes de aprender a ler
ideal. Ela remete a competências e a escrever em um ano. Todo mundo sabe
subjacentes, isto é, a uma “hierarquia de que isso é falso, o que não impede que tal
competência”. ficção permaneça no princípio da estrutura
O fracasso escolar não é a simples escolar, do tratamento das faixas etárias e
tradução “lógica" de desigualdades tão da distribuição do programa em graus
reais quanto naturais. Não se pode pura e anuais. No início da escolaridade
simplesmente compará-lo a uma falta de obrigatória, as diferenças de idades são as
cultura, de conhecimentos ou de únicas que a escola aceita levar em conta.
competências. Essa falta é sempre relativa a Para afrontar a formidável diversidade dos
uma classificação, ela própria ligada a ritmos de desenvolvimento, desejou-se
formas e a normas de excelência escolar, a ignorar ou deixar por conta das dispensas
programas, a níveis de exigência, a por idade o fato de que, aos seis anos, certos
procedimentos de avaliação. alunos possam manifestar um nível de
Sendo assim, a análise dos desenvolvimento que outros só atingirão
procedimentos de avaliação não dispensa a aos sete ou oito, ao passo que outros já o
explicação da gênese das desigualdades haviam atingido aos quatro ou cinco. Um
reais nos domínios cobertos pelas formas e atraso de desenvolvimento só é considerado
pelas normas de excelência. Ao contrário, quando tiver originado dificuldades graves,
ela convida a não esquecer jamais: até mesmo um fracasso. A repetição da
primeira série de escolaridade obrigatória,
- por um lado, que o fracasso que pretende aumentar a homogeneidade
escolar é sempre relativo a uma dos alunos que passam para o ano seguinte,
cultura escolar definida, ou seja, a
formas e normas particulares de
está muito fortemente ligada à classe social,
excelência, a programas e a que é, assim, indiretamente considerada,
exigências; por uma medida de diferenciação grosseira
- por outro, que a medida da e cujos efeitos são duvidosos.
excelência, por intermédio dos Quanto às diferenças que não dizem
procedimentos de avaliação nunca é
um simples reflexo das desigualdades
respeito a um avanço ou a um atraso do
de conhecimentos e de competências, desenvolvimento, elas tem alguns remédios
que ela as dramatiza, amplia-as, conhecidos, utilizados apenas quando as
desvia-as às vezes e, sobretudo, põe dificuldades são confirmadas: reprovação,
as hierarquias de excelência a serviço apoio pedagógico, atendimento médico-
de decisões que as sobre-determinam.
pedagógico ou psiquiátrico. A escola não
pensa realmente sobre as diferenças; ela
As diferenças e as desigualdades
trata seus efeitos com meios rudimentares.
extraescolares - biológicas, psicológicas,
econômicas, sociais e culturais - não se
transformam em desigualdades de
aprendizagem e de êxito escolar, a não ser

39
Conhecimentos Específicos

Os procedimentos habituais de estruturadas, desgastadas, que podem


avaliação, obstáculos à mudança das ser retomadas no quadro de uma
avaliação clássica.
práticas pedagógicas 6 O sistema clássico de avaliação
A característica constante de todas as força os professores a preferir os
práticas de avaliação é submeter conhecimentos isoláveis e cifráveis às
regularmente o conjunto dos alunos a competências de alto nível
provas que evidenciam uma distribuição (raciocínio, comunicação), difíceis de
delimitar em uma prova escrita ou em
dos desempenhos, portanto de bons e maus tarefas individuais.
desempenhos, senão de bons e maus alunos. 7 Sob a aparência de exatidão, a
Às vezes, diz-se que essa avaliação é avaliação tradicional esconde uma
normativa, no sentido de criar uma grande arbitrariedade, difícil de
distribuição normal, ou curva de Gauss. É alcançar unanimidade em uma equipe
pedagógica: como se entender
também comparativa: os desempenhos de quando não se sabe nem explicitar,
alguns se definem em relação aos nem justificar o que realmente se
desempenhos dos outros mais do que a avalia?
domínios almejados ou a objetivos. É
igualmente uma avaliação muito pouco Nem todos esses mecanismos ocorrem
individualizada (a mesma para todos no ao mesmo tempo e nem sempre são
mesmo momento, segundo o princípio do suficientemente fortes para impedir
exame), mas onde cada um é avaliado totalmente a inovação. No entanto, são
separadamente por um desempenho que freios que devem ser considerados em uma
supostamente reflete suas competências estratégia de mudança das práticas
pessoais. pedagógicas. Isso não quer dizer que basta
Em que e por que os procedimentos de mudar a avaliação para que o resto se
avaliação ainda em vigor na maioria das transforme como por milagre. A mudança
escolas do mundo levantam um obstáculo à das práticas pedagógicas se choca com
inovação pedagógica? Distinguirei sete outros obstáculos.
mecanismos complementares: Nenhuma inovação pedagógica maior
pode ignorar o sistema de avaliação ou
1 A avaliação frequentemente esperar contorná-lo. Consequentemente, é
absorve a melhor parte da energia necessário em qualquer projeto de reforma,
dos alunos e dos professores e não
sobra muito para inovar.
em qualquer estratégia de inovação, levar
2 O sistema clássico de avaliação em conta o sistema e as práticas de
favorece uma relação utilitarista com avaliação, integrá-los à reflexão e modificá-
o saber. Os alunos trabalham “pela los para permitir a mudança.
nota”: todas as tentativas de A avaliação tradicional é uma amarra
implantação de novas pedagogias se
chocam com esse minimalismo.
importante, que impede ou atrasa todo tipo
3 O sistema tradicional de de outras mudanças. Soltá-la é, portanto,
avaliação participa de uma espécie de abrir a porta a outras inovações.
chantagem, de uma relação de força Talvez seja exatamente isto, afinal de
mais ou menos explícita, que coloca contas, que dá medo e que garante a
professores e alunos e, mais
geralmente, jovens e adultos, em
perenidade de um sistema de avaliação que
campos opostos, impedindo sua não muda muito, ao passo que, há décadas,
cooperação. vem-se denunciando suas falhas no plano
4 A necessidade de regularmente docimológico e seus efeitos devastadores
dar notas ou fazer apreciações sobre a autoimagem, o estresse, a
qualitativas baseadas em uma
avaliação padronizada favorece uma
tranquilidade das famílias e as relações
transposição didática conservadora. entre professores e alunos.
5 O trabalho escolar tende a
privilegiar atividades fechadas,

40
Conhecimentos Específicos

A parcela de avaliação formativa em explicitar, para otimizá-la e instrumentá-la,


toda avaliação contínua uma forma de regulação presente em toda
Afirmo que uma avaliação é formativa ação educativa de uma certa duração.
se, ao menos na mente do professor,
supostamente contribuir para a regulação A ideia de avaliação formativa
das aprendizagens em curso no sentido dos A ideia de avaliação formativa
domínios visados. Essa linguagem abstrata sistematiza o funcionamento, levando o
permite definir a regulação por meio de professor a observar mais metodicamente
suas intenções, sem se fechar de saída em os alunos, a compreender melhor seus
uma concepção particular dos objetivos, da funcionamentos, de modo a ajustar de
aprendizagem ou da intervenção didática. maneira mais sistemática e individualizada
Isso é particularmente importante quando suas intervenções pedagógicas e as
se tenta, como farei aqui, descrever a situações didáticas que propõe, tudo isso na
parcela de avaliação formativa em toda expectativa de otimizar as aprendizagens:
prática pedagógica, independentemente de "A avaliação formativa está portanto
qualquer referência ao vocabulário centrada essencial, direta e imediatamente
especializado e aos modelos prescritivos. sobre a gestão das aprendizagens dos
Entretanto, ter-se-á o cuidado de não alunos (pelo professor e pelos
esquecer que é preciso um “aprendiz” para interessados)". Essa concepção se situa
aprender, um professor para organizar e abertamente na perspectiva de uma
gerir as situações didáticas. regulação intencional, cuja intenção seria
Proponho considerar como formativa determinar ao mesmo tempo o caminho já
toda prática de avaliação contínua que percorrido por cada um e aquele que resta a
pretenda contribuir para melhorar as percorrer com vistas a intervir para otimizar
aprendizagens em curso, qualquer que seja os processos de aprendizagem em curso.
o quadro e qualquer que seja a extensão Pretendo apresentar de maneira
concreta da diferenciação do ensino. Essa condensada o que me parece o caminho
ampliação corre o risco, de um ponto de mais fecundo para orientar tanto a pesquisa
vista prescritivo, de fazer com que a ideia quanto a formação no curso dos próximos
de avaliação formativa perca seu rigor. Na anos, sobre a ideia de avaliação formativa.
perspectiva descritiva que aqui adoto, essa
ampliação autoriza a dar conta das práticas Utilizar todos os recursos possíveis!
correntes de avaliação contínua sob o É formativa toda avaliação que ajuda o
ângulo de sua contribuição almejada ou aluno a aprender e a se desenvolver, ou
efetiva para a regulação das aprendizagens melhor, que participa da regulação das
durante o ano escolar. aprendizagens e do desenvolvimento no
Ensinar é esforçar-se para orientar o sentido de um projeto educativo. Tal é a
processo de aprendizagem para o domínio base de uma abordagem pragmática.
de um currículo definido, o que não Importa, claro, saber como a avaliação
acontece sem um mínimo de regulação dos formativa ajuda o aluno a aprender, por que
processos de aprendizagem no decorrer do mediações ela retroage sobre os processos
ano escolar. Essa regulação passa por de aprendizagem. Todavia, no estágio da
intervenções corretoras, baseadas em uma definição, pouco importam as modalidades:
apreciação dos progressos e do trabalho dos a avaliação formativa define-se por seus
alunos. O que é isso senão uma forma efeitos de regulação dos processos de
rudimentar e “selvagem” de avaliação aprendizagem. Dos efeitos buscar-se-á a
formativa? Como Bloom (1972, intervenção que os produz e, antes ainda, as
1979,1988) salientou a propósito da observações e as representações que
pedagogia do domínio, os modelos teóricos orientam essa intervenção.
de avaliação formativa não fizeram senão

41
Conhecimentos Específicos

a) Uma concepção ampla da observação ele se dispensa. O clima, as condições de


Melhor seria falar de observação trabalho, o sentido da atividade ou a
formativa do que de avaliação, tão autoimagem importam tanto quanto os
associada está esta última palavra à medida, aspectos materiais ou cognitivos da
às classificações, aos boletins escolares, a situação didática.
ideia de informações codificáveis, Pode-se ajudar um aluno a progredir de
transmissíveis, que contabilizam os muitas maneiras: explicando mais
conhecimentos. Observar é construir uma simplesmente, mais longa ou
representação realista das aprendizagens, diferentemente; engajando-o em nova
de suas condições, de suas modalidades, de tarefa, mais mobilizadora ou mais
seus mecanismos, de seus resultados. A proporcional a seus recursos; aliviando sua
observação é formativa quando permite angústia, devolvendo-lhe a confiança,
orientar e otimizar as aprendizagens em propondo-lhe outras razões de agir ou de
curso sem preocupação de classificar aprender; colocando-o em um outro quadro
certificar, selecionar. A observação social, desdramatizando a situação,
formativa pode ser instrumentada ou redefinindo a relação ou o contrato didático,
puramente intuitiva, aprofundada ou modificando o ritmo de trabalho e de
superficial, deliberada ou acidental, progressão, a natureza das sanções e das
quantitativa ou qualitativa, longa ou curta, recompensas, a parcela de autonomia e de
original ou banal, rigorosa ou aproximativa, responsabilidade do aluno.
pontual ou sistemática. Nenhuma A ampliação da intervenção segue várias
informação é excluída a priori, nenhuma direções complementares. Ela leva a se
modalidade de percepção e de tratamento é desvincular:
descartada. - dos "sintomas", para ater-se às causas
Nada impede avaliar conhecimentos, profundas das dificuldades;
fazer balanços. Para reorientar a ação - do programa em curso, para reconstruir
pedagógica, é preciso, em geral, ter uma estruturas fundamentais ou pré-requisitos
ideia do nível de domínio já atingido. É essenciais;
possível também interessar-se pelos - da correção dos erros, para se interessar
processos de aprendizagem, pelos métodos pelo que eles dizem das representações dos
de trabalho, pelas atitudes do aluno, por sua alunos, para servir-se deles como pontos de
inserção no grupo, ou melhor dizendo, por entrada em seu sistema de pensamento
todos os aspectos cognitivos, afetivos, (Astolfi, 1997);
relacionais e materiais da situação didática. - das aquisições cognitivas, para levar
em conta as dinâmicas afetivas e relacionais
b) Uma concepção ampla da subjacentes;
intervenção - do indivíduo, para considerar um
Não há razão alguma para associar a contexto e condições de vida e de trabalho
ideia de observação formativa a um tipo na escola e fora dela.
particular de intervenção. O Essa ampliação da intervenção, baseada
desenvolvimento e a aprendizagem em teoria, que responde à complexidade do
dependem de múltiplos fatores real e adota uma abordagem sistêmica,
frequentemente entrelaçados. Toda encontra na prática inúmeros obstáculos:
avaliação que contribua para otimizar, por identidade e competência dos professores,
pouco que seja, um ou vários dentre esses falta de disponibilidade, divisão do trabalho
fatores pode ser considerada formativa. entre professores.
Não se vê motivo para se restringir à
definição da tarefa ou às instruções, ao
procedimento didático e a seus suportes, ao
tempo conferido ao aluno ou ao apoio que a

42
Conhecimentos Específicos

c) Uma concepção ampla da regulação clássica, senão sempre explícita, entre um


A propósito de avaliação formativa e, tempo do ensino, no sentido amplo, e um
mais geralmente, de pedagogia de domínio, tempo da regulação. Esse esquema supõe
Allal (1988a) distinguiu três tipos de que se possa, com razão, dissociar dois
regulação: momentos sucessivos na ação pedagógica:
- as regulações retroativas, que - em um primeiro momento, o professor
sobrevêm ao termo de uma sequência de faria os alunos trabalharem, na base de uma
aprendizagem mais ou menos longa a partir hipótese didática otimista;
de uma avaliação pontual; - em um segundo momento, ele se
- as regulações interativas, que dedicaria (na medida de seus meios) a
sobrevêm ao longo de todo o processo de corrigir e a diferenciar essa primeira ação
aprendizagem; global, intervindo junto a certos alunos ou
- as regulações “proativas”, que subgrupos em dificuldade.
sobrevêm no momento de engajar o aluno Hoje, as didáticas melhor concebidas
em uma atividade ou situação didática não asseguram de antemão senão as
novas. aprendizagens de uma fração dos alunos, os
Essas três modalidades podem melhores, dos quais se diz habitualmente
combinar-se. Nenhuma deveria ser que aprendem a despeito da escola e se
associada a um procedimento conformam com todos os tipos de
estereotipado. pedagogias. Dentre outras coisas, impõem-
Quanto a regulação interativa, é preciso se nuanças: alguns aprendem só o suficiente
associá-la a uma modalidade de direção de para se sair honrosamente e progredir de
classe e de diferenciação do ensino. série em série. Outros não aprendem nada
Certamente, definindo microssequências de ou quase nada e se acham rapidamente em
trabalho, ou mesmo de ensino, pode-se situação muito difícil. Para além da
levar toda regu1ação interativa a uma diversidade dos destinos escolares,
regulação proativa ou retroativa e percebe-se um único fenômeno: a
reencontrar-se em uma lógica da impotência das pedagogias para gerar na
antecipação ou da remediação. O interesse maioria dos alunos, pelo menos nos
do conceito é justamente fazer a avaliação momentos compartilhados, aprendizagens à
formativa pender para o lado da altura das ambições declaradas da escola.
comunicação contínua entre professores e Pode-se analisar essa impotência de
alunos (Cardinet, 1988). Nesse espírito, diversas maneiras, insistir sobre o currículo,
melhor seria considerar as regulações os meios de ensino, o método, os suportes
proativas e retroativas como formas um audiovisuais, a relação pedagógica, etc.
pouco frustradas de regulação interativa, Sem descartar totalmente esses fatores,
concessões às condições de trabalho que, na julgo que eles passam ao lado do essencial:
maior parte das classes, impedem uma o sucesso das aprendizagens se passa na
interação equilibrada com todos os alunos. regulação contínua e na correção dos erros,
A regulação interativa é prioritária porque muito mais do que no gênio do método.
só ela é verdadeiramente capaz de agir Sabe-se muito bem disso quanto à leitura:
sobre o fracasso escolar. há toda sorte de maneiras de ensinar e de
aprender a ler. Sem as opor, seria melhor
1) A didática como dispositivo de procurar o que as aprendizagens eficazes
regulação têm em comum. Encontrar-se-ia sem
Como conceber dispositivos didáticos dúvida um denominador constante:
favoráveis a uma regulação contínua das regulações intensas e individualizadas ao
aprendizagens? longo de todo o processo.
Conceber a didática como dispositivo de Daí decorre a concepção da didática
regulação é romper com uma distinção defendida aqui: um dispositivo que

43
Conhecimentos Específicos

favorece uma regulação contínua das representação, de percepção e de ação. A


aprendizagens. interação social o leva a decidir, a agir, a se
A didática, deve concernir ao seguinte posicionar, a participar de um movimento
registro: antecipar, prever tudo o que fosse que o ultrapassa, a antecipar, a conduzir
possível, mas saber que o erro e a estratégias, a preservar seus interesses.
aproximação são a regra, que será preciso A aula tradicional “modernizada” é uma
retificar o alvo constantemente. Nesse forma de interação social. Pode-se duvidar
espírito, a regu1ação não é um momento de sua eficácia, especialmente quanto à
específico da ação pedagógica, é um participação dos alunos mais fracos. As
pedagogias ativas buscam, pois, estruturas
componente permanente dela. de interação menos dependentes do
Em que se transforma a avaliação professor como personagem central
formativa nessa perspectiva? É uma forma (trabalhos de grupo), menos fechadas na
de regulação dentre outras. Antes de escola (investigações, espetáculos) e que
recorrer a isso, cumpre, caso se privilegie a sejam acompanhadas de projetos, regras do
regulação no curso da aprendizagem, jogo ou problemas que têm, para os alunos,
alicerçar mais estratégias educativas sobre mais sentido e atrativo do que os exercícios
o próprio dispositivo didático e, em escolares convencionais. Meu propósito
particular, sobre dois outros mecanismos não é debater aqui pedagogias ativas e
interativas em detalhe, mas assinalar que
que, eles sim, não exigem a intervenção essa é uma das problemáticas às quais a
constante do professor: a regulação pela perspectiva pragmática conduz no
ação e a interação e a autorregulação de momento em que se está mais preocupado
ordem metacognitiva. com as regulações do que com a avaliação.

2) A regulação pela ação e a interação 3) A autorregulação de ordem


Weiss (1989, 1993) propôs falar-se de metacognitiva
interação formativa pensando não só nas A outra via promissora concerne ao que
interações didáticas clássicas, mas em todas Bonniol e Nunziati chamaram de avaliação
formadora. Portanto, não se trata mais de
as situações de comunicação nas quais a multiplicar os feedbacks externos, mas de
estimulação ou a resistência da realidade formar o aluno para a regulação de seus
não são assumidas somente pelo professor, próprios processos de pensamento e
mas por outros parceiros. A aprendizagem aprendizagem, partindo do princípio de que
se nutre das regulações inseridas na própria todo ser humano é, desde a primeira
situação, que obriga o aluno, conforme as infância, capaz de representar, pelo menos
interações, a ajustar sua ação ou suas parcialmente, seus próprios mecanismos
representações, a identificar seus erros ou mentais.
suas dúvidas, a levar em conta o ponto de Ainda aqui, a abordagem absolutamente
vista de seus parceiros, ou seja, a aprender não exclui a avaliação explícita feita pelo
por ensaio e erro, conflitos cognitivos, professor, especialmente como encarnação
cooperação intelectual ou qualquer outro de um modelo de objetivação dos processos
mecanismo. e dos conhecimentos, de explicação dos
A ideia de que a aprendizagem e o objetivos e das expectativas. Contudo, se
desenvolvimento passam por uma interação está bem longe dos testes com critérios
com o real não é nova. Toda a psicologia seguidos por remediações. Finalmente, a
genética piagetiana é indissociavelmente avaliação formadora tem apenas um
construtivista e interacionista. parentesco limitado com a avaliação
A ação é fator de regulação do formativa. Ela privilegia a autorregulação e
desenvolvimento e das aprendizagens a aquisição das competências
muito simplesmente porque obriga o correspondentes.
indivíduo a acomodar, diferenciar,
reorganizar ou enriquecer seus esquemas de

44
Conhecimentos Específicos

Os obstáculos a uma regulação eficaz exatamente o que se passa em uma


1- Uma lógica mais do conhecimento do determinada aprendizagem.
que da aprendizagem
O primeiro obstáculo é aquele que todas 3- Regulações inacabadas
as pedagogias por objetivos procuram O terceiro obstáculo com o qual o
transpor: na maioria dos sistemas escolares, professor se depara é a falta de tempo, o
o currículo formal enfatiza mais os número impressionante de microdecisões a
conteúdos a ensinar, as noções a estudar e a tomar durante o dia, a dispersão contínua
trabalhar do que os conhecimentos entre mil problemas de ordens diversas.
propriamente ditos. Em situação cotidiana Quaisquer que sejam suas origens, essa
de trabalho, dá-se mais ênfase aos fragmentação do tempo e das intervenções
conteúdos do que às aprendizagens muito do professor tem efeitos consideráveis
específicas que esta ou aquela tarefa sobre a regulação das aprendizagens. Resta
supostamente favorece. Ora, a regulação saber como o professor gerencia a divisão
não pode ser feita senão por meio de de seu tempo entre os subgrupos e entre os
pequenos toques, no momento em que o alunos. Em tal situação, ele tem a impressão
aluno está às voltas com uma dificuldade de que deveria “se dividir em quatro”: tenta
concreta. Se o professor não tem estar “em todo lugar ao mesmo tempo”,
exatamente em mente os domínios dedicar-se a cada um, estar disponível para
específicos visados, intervirá sobretudo todo mundo, para responder a seu
para manter o aluno na tarefa ou para ajudá- sentimento pessoal da equidade - o direito
lo a realizá-la, intervenções que não que cada aluno tem de receber atenção - e
garantem absolutamente uma regulação das também para fazer frente às demandas
aprendizagens. relativamente insistentes de uma parte dos
alunos, a começar pelos mais favorecidos.
2- Uma imagem muito vaga dos Consequência: inúmeras intervenções
mecanismos da aprendizagem reguladoras não têm efeito, porque
O segundo obstáculo que a regulação permanecem inacabadas ou muito
encontra deve-se à própria abstração da "descosturadas".
noção de aprendizagem. Para a maioria dos
professores, a mente do aluno permanece 4- Regulações muito centradas sobre o
uma caixa preta, na medida em que o que aí êxito da tarefa
se passa não é diretamente observável. É O quarto obstáculo com o qual se choca
difícil reconstituir todos seus processos de a regulação das aprendizagens é a
raciocínio, de compreensão, de prioridade dada pela maioria dos
memorização, de aprendizagem a partir professores, com frequência
daquilo que diz ou faz o aluno, porque nem involuntariamente, à regulação das tarefas e
todo funcionamento se traduz em condutas ao controle do trabalho. Em princípio, as
observáveis e porque a interpretação destas aprendizagens são determinantes. Todavia,
últimas mobiliza uma teoria inacabada da no dia a dia, o importante é que o trabalho
mente e do pensamento, das representações, seja feito, que os alunos cheguem ao final
dos processos de assimilação e de de seus exercícios, que participem das
acomodação, de diferenciação, de lições e das atividades coletivas, que
construção, de equilíbrio das estruturas cumpram seu ofício de aluno.
cognitivas. Mesmo quando a formação dos Esse modo de orientação é o oposto dos
professores familiarizou-os com as princípios da escola ativa e da construção
principais noções de psicologia do do saber pela atividade autônoma do
desenvolvimento e da aprendizagem, seus sujeito. Isso não significa que o professor
conhecimentos teóricos são muito abstratos ignore esses princípios. Simplesmente, as
para que possam ajudá-los a compreender exigências do trabalho escolar e a

45
Conhecimentos Específicos

administração de uma classe não lhe Talvez seja um realismo utópico. Será que
permitem deixar aos alunos, sobretudo aos temos realmente escolha?
mais fracos, todo o tempo requerido para
construir conhecimentos ou competências Não mexa na minha avaliação! Uma
conforme seu ritmo. abordagem sistêmica da mudança
Mudar a avaliação é fácil dizer! Nem
Um realismo surrealista? todas as mudanças são válidas. Pode-se
Para levar em conta as diferenças e bastante facilmente modificar as escalas de
pensar as regulações individualizadas, no notação, a construção das tabelas, o regime
quadro de um dispositivo e de sequências das médias, o espaçamento das provas.
didáticas, é necessário afrontar uma Tudo isso não afeta de modo radical o
complexidade que descarta definitivamente funcionamento didático ou o sistema de
receitas, modelos metodológicos prontos ensino. As mudanças das quais se trata aqui
para uso. Portanto, aceitar romper com as vão mais longe. Para mudar as práticas no
necessidades de grande parte dos sentido de uma avaliação mais formativa,
professores, assumir o risco de lhes propor menos seletiva, talvez se deva mudar a
procedimentos que não correspondem nem escola, pois a avaliação está no centro do
à sua imagem da profissão, nem a seu nível sistema didático e do sistema de ensino.
de formação. E aceitar sem dúvida também Transformá-la radicalmente é questionar
entrar em conflito com uma classe política um conjunto de equilíbrios frágeis. Os
e com autoridades escolares que não pedem agentes o pressentem, adivinham que,
tanto e das quais, ao menos uma parcela, se propondo-lhes modificar seu modo de
conforma muito bem com a relativa avaliar, podem-se desestabilizar suas
ineficácia das pedagogias em vigor. práticas e o funcionamento da escola.
É que há realismo e realismo. Um deles Entendendo que basta puxar o fio da
conservador, de visão curta, que se esconde avaliação para que toda a confusão
por detrás das tradições e interesses pedagógica se desenrole, gritam: "Não
adquiridos para se resignar às mexa na minha avaliação!”
desigualdades com um fatalismo sombrio Coloco-me aqui na perspectiva de uma
ou alegre. Esse realismo não pode persistir evolução das práticas no sentido de uma
senão recusando-se a ver uma parte da avaliação formativa, de uma avaliação que
realidade ou inventando fatalidades ajude o aluno a aprender e o professor a
biológicas ou socioculturais que o protejam ensinar. Não retomo a necessária
de qualquer questionamento. articulação entre avaliação formativa e
Existe um outro realismo, mais diferenciação do ensino: a avaliação
inovador, que se preocupa com o futuro, formativa não passa, no final das contas, de
tanto dos indivíduos quanto das sociedades, um dos componentes de um dispositivo de
que não se conforma com o fato de que individualização dos percursos de formação
tantas crianças e adolescentes passem e de diferenciação das intervenções e dos
tantos anos na escola para sair dela sem enquadramentos pedagógicos. Se a
dominar verdadeiramente sua língua diferenciação é impossível, a avaliação
materna, sem ler correntemente e gostar formativa será apenas uma regulação global
disso, desamparados diante de um texto e, em resumo, clássica, da progressão de um
simples, desprovidos de meios de ensino frontal.
argumentação ou de expressão dos
sentimentos. O realismo didático, tal qual
defendo aqui, consiste em considerar os
aprendizes como são, em sua diversidade,
suas ambivalências, sua complexidade,
para melhor levá-los a novos domínios.

46
Conhecimentos Específicos

Avaliação no centro de um octógono não veem como essas atividades coletivas e


pouco codificadas poderiam derivar em
1 - Relações entre as famílias e a escola uma nota individual no boletim.
Se existem relações de confiança,
explicações podem ser dadas, os pais
compreendem que uma avaliação sem
notas, mais formativa, é em definitivo do
interesse de seus filhos. Se o diálogo entre
a escola e a família é rompido (Montandon
e Perrenoud, 1994), há razões para temer
que uma mudança do sistema de avaliação
focalize os temores e as oposições dos pais.
A mudança pode ser bloqueada por essa
única razão.
Quando se fala do sistema de avaliação,
a escola parece ainda muito próxima 2 - Organização das turmas e
daquilo que os pais conheceram "em sua possibilidades de individualização
época", mesmo quando deixaram a escola Uma avaliação somente é formativa se
há quatorze anos. desemboca em uma forma ou outra de
A avaliação os tranquiliza sobre as regulação da ação pedagógica ou das
chances de êxito de seu filho ou os habitua, aprendizagens.
pelo contrário, à ideia de um fracasso Uma avaliação formativa, no sentido
possível, até mesmo provável. Preocupadas mais amplo do termo, não funciona sem
com a "carreira" de seus filhos, as famílias regulação individualizada das
de classe média ou alta aprenderam o bom aprendizagens. A mudança das práticas de
uso das informações dadas pela escola avaliação é então acompanhada por uma
sobre seu trabalho, suas atitudes e suas transformação do ensino, da gestão da aula,
aquisições. Elas sabem contestar certas do cuidado com os alunos em dificuldade.
tabelas ou certas correções, fazer contato Entre momentos de apoio - interno ou
com o professor para melhor compreender externo - e verdadeiras pedagogias
as razões de eventuais dificuldades e diferenciadas, há todo o tipo de
intervir junto à criança e sobretudo utilizar organizações intermediárias, mais ou
as notas ou as apreciações qualitativas para menos ambiciosas. Não é necessário, para
modular a pressão que exercem sobre os ir no sentido da avaliação formativa,
deveres e, mais geralmente, o sono, as perturbar de alto a baixo a organização do
saídas, o tempo livre, as atitudes de seu trabalho. Em contrapartida, lá onde parece
filho. impossível romper, ao menos parcialmente,
Mudar o sistema de avaliação leva com uma pedagogia frontal, por que
necessariamente a privar uma boa parte dos considerar uma transformação das práticas
pais de seus pontos de referência habituais, de avaliação em um sentido mais formativo.
criando ao mesmo tempo incertezas e Uma avaliação formativa coloca à
angústias. É um obstáculo importante à disposição do professor informações mais
inovação pedagógica: se as crianças precisas, mais qualitativas, sobre os
brincam é porque não trabalham e se processos de aprendizagem, as atitudes e as
preparam mal para a próxima prova; se aquisições dos alunos.
trabalham em grupo, não se poderá avaliar No ensino secundário, acumulam-se
individualmente seus méritos; se engajam- outras deficiências maiores: fragmentação
se em pesquisas, na preparação de um extrema do tempo escolar, tanto para os
espetáculo, na escrita de um romance ou na professores quanto para os alunos; remissão
montagem de uma exposição, os pais quase do apoio a estruturas especializadas

47
Conhecimentos Específicos

(quando existem), por não poder praticar o disciplina escolar e qualquer aprendizagem.
apoio integrado no contexto de um horário No decorrer dos últimos anos, no plano
estourado; divisão do trabalho entre teórico, assiste-se, especialmente no campo
especialistas das diversas disciplinas, cujo do francês (Allal, Bain e Perrenoud, 1993),
funcionamento e nível do aluno ninguém mas isso se estenderá a outras disciplinas, a
percebe globalmente; dificuldade de uma reintegração da avaliação formativa à
trabalho da equipe pedagógica devido à didática. Em campo, contudo, essa
atribuição das horas e ao número de reintegração levará tempo. Ainda mais que,
professores por turma; horário muito como é frequentemente o caso no ensino
pesado dos alunos, todas as atividades de secundário, os professores se percebem
apoio ou de desenvolvimento somando-se a como seus próprios metodólogos ou
uma semana muito cheia; repartição de trabalham com formadores centrados em
todas as horas entre as disciplinas, o que uma disciplina e que se preocupam muito
deixa pouco tempo para realizar projetos pouco com a avaliação.
interdisciplinares, aproveitar as
oportunidades ou responder a necessidades 4 -Contrato didático, relação
não-planejadas; organização fixa do tempo pedagógica e oficio de aluno
ao longo de todo o ano; locais utilizados por Ir em direção a uma avaliação mais
várias turmas, nos quais é impossível deixar formativa é transformar consideravelmente
material e muito difícil de reorganizar o as regras do jogo dentro da sala de aula. Em
espaço, apenas por um ou dois períodos de uma avaliação tradicional, o interesse do
quarenta e cinco minutos. aluno é o de iludir, mascarar suas falhas e
A escola primária dispõe, a esse respeito, acentuar seus pontos fortes. O oficio de
de numerosos trunfos, que tornam ao menos aluno consiste principalmente em
possível uma diferenciação integrada do desmontar as armadilhas colocadas pelo
ensino. Para ir em direção a uma professor, decodificar suas expectativas,
individualização dos percursos de formação fazer escolhas econômicas durante a
(Perrenoud, 1993a, 1996b), deve-se, preparação e a realização das provas, saber
contudo, mudar a organização das turmas, negociar ajuda, correções mais favoráveis
mesmo no primário, e romper a ou a anulação de uma prova malsucedida.
estruturação do curso em graus (Perrenoud, Em um sistema escolar comum, o aluno
1997a e 1997e). tem, sinceramente, excelentes razões para
querer, antes de tudo, receber notas
3 - Didática e métodos de ensino suficientes. Para isso, deve enganar, fingir
A ideia de avaliação formativa ter compreendido e dominar por todos os
desenvolveu-se no quadro da pedagogia de meios, inclusive a preparação de última
domínio ou de outras formas de pedagogia hora e a trapaça, a sedução e a mentira por
diferenciada, relativamente pouco pena.
preocupadas com os conteúdos específicos Toda avaliação formativa baseia-se na
dos ensinos e das aprendizagens. A ênfase aposta bastante otimista de que o aluno quer
era dada às adaptações, ou seja, a uma aprender e deseja ajuda para isso, isto é, que
organização mais individualizada dos está pronto para revelar suas dúvidas, suas
itinerários de aprendizagem, baseada em lacunas, suas dificuldades de compreensão
objetivos mais explícitos, coletas de da tarefa.
informação mais qualitativas e regulares e Se o professor que tenta fazer a avaliação
intervenções mais diversificadas. Hoje, formativa tem o poder de decidir,
ainda, esse modelo cibernético mantém praticamente ao mesmo tempo, o destino
toda a sua validade, em um nível escolar do aluno, este último, sobretudo em
relativamente elevado de abstração, em um sistema muito seletivo, terá todas as
qualquer ordem de ensino para qualquer razões para conservar suas estratégias

48
Conhecimentos Específicos

habituais, mobilizar sua energia para iludir. aquisições reais e, portanto, distinguir mais
E o professor achar-se-á reforçado no uso claramente os professores mais e menos
da avaliação como instrumento de controle eficientes.
do trabalho e das atitudes (Chevallard,
1986a) e de seleção. Ir em direção à 6 - Programas, objetivos, exigência
avaliação formativa seria renunciar à A introdução de uma pedagogia
seleção, o mecanismo permanente da diferenciada e de uma avaliação formativa
relação pedagógica, não fazer os alunos leva, cedo ou tarde, a mexer nos programas.
viverem sob a ameaça da reprovação ou da Inicialmente, para abreviá-los, para extrair
relegação para orientações menos sua essência: não podemos cobrir um
exigentes. programa excessivamente sobrecarregado
senão nos resignarmos com o êxito de uma
5 - Acordo, controle, política importante fração dos alunos.
institucional Ir em direção à avaliação formativa é não
Não se faz avaliação formativa sozinho, mais fabricar tantas desigualdades, é criar
porque apenas se pode avançar nesse os meios para remediar as dificuldades dos
sentido modificando bastante alunos mais lentos, mais fracos. Ora, não se
profundamente a cultura da organização pode "matar todos os coelhos de uma só
escolar, não só em escala de sala de aula, cajadada": é indispensável, para lutar contra
mas também de estabelecimento. o fracasso escolar, deter-se no essencial, no
É dispensável, vencer um obstáculo de cerne dos programas, renunciando a todos
peso: o individualismo dos professores a os tipos de noções e de saberes que não são
vontade ciosa de fazer como se quer, uma indispensáveis, ao menos não para todos os
vez fechada a porta de sua sala de aula alunos. Os movimentos de modernização
(Gather Thurler, 1994b, 1996). Também é dos programas nesse sentido (Perret e
provável que uma avaliação formativa Perrenoud, 1990). Não subestimemos a
favoreça, sem que isso seja uma amplitude da tarefa.
necessidade absoluta, uma divisão do Uma avaliação formativa, posta a
trabalho diferente entre os professores, serviço da regulação individualizada das
porque a explicação dos objetivos, a aprendizagens, colocará o dedo, mais
elaboração dos testes com critérios ou a rápido do que um ensino frontal, sobre as
construção de sequências didáticas ou de incoerências e as ambições desmedidas de
estratégias de adaptação ultrapassam as certos planos de estudos. Quando muitos
forças de cada um considerado alunos de determinada idade cometem os
isoladamente. Deve-se, portanto, rumar mesmos erros e não se pode facilmente
para uma divisão das tarefas, um remediar isso, porque ultrapassam seu
desencerramento dos graus, uma estágio de desenvolvimento intelectual,
colaboração entre professores que ensinam quando certos tipos de saberes
em classes paralelas ou na mesma marginalizam, sistematicamente, uma
disciplina. maioria de alunos, porque se encontram
Paradoxalmente, uma avaliação demasiadamente afastados de sua
formativa poderia dar à administração experiência e de suas aquisições anteriores,
escolar mais controle sobre a qualidade e a deve-se certamente revisar o plano de
conformidade do ensino de uns e de outros. estudos ou deixá-lo mais próximo da vida,
Com certeza, limitaria a parcela das ou mais realista em relação às aquisições
informações cifradas, mas conduziria a anteriores e às atitudes dos alunos. Toda
representações mais precisas daquilo que os pedagogia diferenciada funciona como um
alunos sabem fazer realmente. Em vez de analisador crítico dos planos de estudos.
comparar taxas de fracassos ou médias de
turmas, poder-se-iam comparar as

49
Conhecimentos Específicos

7 - Sistema de seleção e de orientação agentes, que não tivessem por tarefa


A vocação da avaliação formativa é a de ensinar, mas dizer quem atingiu um
contribuir para as aprendizagens. Acha-se, domínio suficiente para obter um diploma
portanto, em uma lógica de ação: não é o ou chegar a um ciclo de formação.
momento de se resignar com as Se o sistema de seleção e de orientação
desigualdades e dificuldades. Nada impede deixa as famílias e os alunos assumirem
que a realidade resista (Hutmacher, 1993), suas responsabilidades, correrem os riscos
que o tempo passe, que o milagre não de uma orientação demasiadamente
aconteça. Acontecem fracassos que ambiciosa e, portanto, de um fracasso
obrigam a fazer o balanço das aquisições algum tempo mais tarde, a escola estaria, no
então não é mais possível remediar, deve-se momento da decisão, em uma relação mais
tomar decisões de seleção ou de orientação. de ajuda do que de autoridade. Seu papel
Em si, a avaliação formativa não dá as não seria mais o de impedir de entrar em
costas á essa perspectiva. Em uma determinada habilitação difícil ou de
interpretação maximalista da pedagogia de progredir no curso, mas dar conselhos,
domínio, poder-se-ia esforçar-se para dar informações, indicações a partir das quais
constantemente novas chances, os alunos e suas famílias se determinariam
considerando que uma aprendizagem com conhecimento de causa. Nesse caso,
jamais é impossível, que jamais se "tentou em vez de se opor à avaliação formativa, a
tudo" para levá-la a cabo. Sem ser avaliação seletiva a prolongaria, na mesma
derrotista, deve-se considerar não apenas lógica cooperativa: quando não é mais
restrições econômicas, que limitam os tempo de aprender, quando se deve fazer
recursos e o tempo disponíveis, mas um balanço e tomar decisões, restam
também a boa vontade decrescente dos conselhos a dar, regulações a operar. A
aprendizes. escola poderia assistir aos pais e crianças
A articulação da avaliação formativa e em sua negociação da orientação (Bain,
da seleção não é evidente: em um 1979; Berthelot, 1993; Duru-Bellat, 1979;
determinado momento, apenas no final de Richiardi, 1988) mais do que decidi-la em
um ano escolar ou de um ciclo de estudos seu lugar.
plurianual, a avaliação muda de lógica.
Quando se quer ajudar o aluno a aprender, 8 - Satisfações pessoais e profissionais
estabelece-se bruscamente um balanço que, A avaliação tradicional é uma fonte de
sem ser definitivo, comanda decisões a angústia para os alunos com dificuldade e
curto prazo, por vezes dificilmente até para os demais, que não têm grande
reversíveis. Portanto, a questão é saber se os coisa a temer, mas não o sabem... Também
professores podem desempenhar esse duplo é uma fonte de estresse e de desconforto
papel, os alunos adivinhando que as para uma parte dos professores, que não
dificuldades reveladas em uma perspectiva gostam de dar notas. Mesmo para eles, e “a
formativa podem, em determinado fortiori” para os outros, o sistema de
momento voltar-se contra eles em uma avaliação é um tipo de "faixa de segurança",
perspectiva certificativa ou seletiva. bem-vinda face às múltiplas incertezas que
Nós nos encontramos aí diante de um concernem aos objetivos e aos programas,
paradoxo: a avaliação formativa deveria ao procedimento pedagógico, à disciplina,
estar inteiramente do lado do aluno e, ao lugar dos pais na escola, etc. O sistema
portanto, lhe dar recursos para enfrentar a tradicional de avaliação oferece uma
seleção, do mesmo modo que o advogado direção, um parapeito, um fio condutor;
de defesa encontra-se ao lado do acusado estrutura o tempo escolar, mede o ano, dá
em um processo ou o médico ao lado de seu pontos de referência, permite saber se há
paciente contra a doença. Seria melhor que um avanço na tarefa, portanto, se há
a seleção fosse encarnada por outros cumprimento de seu papel.

50
Conhecimentos Específicos

Não se pode responsabilizar o medo da distingue ainda mais a realização das ideias
mudança por todas as resistências. Muitos e de modelos sedutores.
professores sabem ou percebem que, sem Se, mais do que nunca, é necessário
evolução, estão condenados à rotina e ao mudar a avaliação em um sentido mais
tédio (Huberman, 1989). Definitivamente, a formativo, importa integrar o caráter
mudança não passa de um momento difícil, sistêmico das práticas em nossas
por vezes estimulante, caso resulte em uma estratégicas de mudança. Para se opor
renovação e crie equilíbrios mais fecundos. simultaneamente à avaliação, à didática, à
A situação é mais grave quando os relação entre professores e alunos, aos
professores pressentem que não programas, à organização das turmas e do
encontrarão, em um novo sistema de curso, à seleção, não existe método pronto.
avaliação, as satisfações, confessáveis ou Pode-se, no entanto, indicar três pistas
não, que lhes proporciona a avaliação complementares que implicam fortemente
tradicional. os primeiros agentes envolvidos:
Uma avaliação formativa somente pode 1. Fazer evoluir o funcionamento dos
ser cooperativa, negociada, matizada, estabelecimentos em direção a uma
centrada mais na tarefa e nos processos de autoridade negociada, verdadeiros projetos,
aprendizagem do que na pessoa. Priva uma autonomia substancial, resultante de
definitivamente do poder de classificar, de uma real responsabilidade.
distinguir, de condenar globalmente alguém 2. Favorecer a cooperação entre
em função de seus desempenhos professores em equipes pedagógicas ou em
intelectuais. Toda mudança, em qualquer redes.
instituição, pode colocar em perigo a 3. Agir sobre todos os parâmetros
economia psíquica dos agentes, o equilíbrio (estatuto dos professores, formação, gestão)
às vezes frágil que construíram entre os que aumentam o grau de profissionalização
prazeres e as frustrações, as liberdades e os do professor e das profissões conexas.
deveres que sua tarefa permite ou impõe. Isso deveria conduzir os defensores da
Negá-lo leva a uma análise que ignora uma avaliação formativa e da diferenciação,
dimensão essencial dos sistemas vivos e de como os didáticos das disciplinas, os
sua complexidade. partidários da escola ativa, os defensores
das tecnologias novas ou de qualquer outra
Abordagem sistêmica pode ser modernização dos conteúdos ou dos
desmobillzadora? métodos a trabalharem em mais estreita
A abordagem sistêmica aqui adotada colaboração com aqueles que refletem
nada tem de original, ela se impõe em todas sobre a organização escolar como sistema
as ciências sociais que têm por tarefa dar complexo.
conta das organizações e das práticas A perspectiva sistêmica ainda não faz
humanas (ver, por exemplo, Amblard, parte da cultura comum de todos os
1996; Bernoux, 1985; Crozier e Friedberg, pesquisadores em educação e de todos os
1977; Friedberg, 1993). Se em educação se inovadores. Se ela lhes falta, são fadados a
deve incessantemente fazer retomadas, isso se perguntar, durante décadas ainda, por
acontece em razão da constante tentação de que a escola não adota as belas ideias
esquecer a complexidade para acreditar em resultantes de seus trabalhos ou da reflexão
uma mudança rápida e limitada da escola. dos movimentos pedagógicos.
Essa tentação é compreensível: se
aceitamos a abordagem sistêmica,
avaliamos a impossibilidade de mudar
radicalmente as práticas de avaliação sem
fazer evoluir o conjunto da profissão de
professor e da organização escolar; o que

51
Conhecimentos Específicos

Conclusão
Avaliação formativa, regulação, VILLAS BOAS, Benigna M. F. As
diferenciação: as mesmas questões, o Dimensões do Projeto Político- -
mesmo combate Pedagógico: novos desafios para a escola.
Ilma Passos Alencastro Veiga, Marília
Enquanto a intenção de instruir não der
Fonseca (orgs.). Campinas: Papirus, 2001
resultados, o conflito entre a lógica - (Coleção Magistério: Formação e
formativa e a lógica seletiva permanecerá. Trabalho Pedagógico)
Pode-se, certamente, prorrogar e atenuar a
seleção, mas o centro do problema está
alhures, na impotência da escola em 15
Após uma longa trajetória de discussão
alcançar seus fins educativos declarados. em torno da temática do projeto político-
Não se pode pedir que a avaliação pedagógico, divulgada pela coleção
substitua o ensino. Em contrapartida, ela "Magistério: Formação e Trabalho
não deveria jamais impedir uma pedagogia Pedagógico", iniciada em 1989, decidimos
diferenciada, ativa, construtivista, aberta, pela continuidade da temática, em virtude
cooperativa, eficiente, mas se colocar a seu do interesse suscitado por duas obras:
serviço. Isso não dispensa de desenvolver Projeto político-pedagógico: Uma
prioritariamente essa pedagogia, com suas construção possível e Escola: Espaço do
dimensões avaliativas, além de todas as projeto político-pedagógico.
demais. A apresentação do tema em debates em
Desse ponto de vista, se a avaliação sala de aula, na graduação e na pós-
formativa engana-se ao se separar da graduação, em seminários, encontros
didática (Bain, 1988a e b), perde-se promovidos por instituições públicas e
também caso se torne uma problemática privadas, inspirou a retomada do projeto
autônoma, ao passo que seu único interesse pedagógico como tema revisitado pelas
seria o de se articular com uma pedagogia ricas contribuições dos interlocutores
diferenciada. presentes nas respectivas atividades.
Daí porque, conhecendo o peso das Nesse sentido, o presente livro incorpora
palavras, seria bom que ao agrupamento as reflexões em torno de políticas
daqueles que trabalham sobre as diversas educacionais, intervenções da comunidade,
facetas e funções da avaliação, façam o da família e da escola, paradigmas
contrapeso das associações, departamentos curriculares e avaliativos e do esforço da
universitários, programas e projetos de construção das identidades dos sujeitos do
pesquisa ou de desenvolvimento que processo educativo.
reúnam abordagens transversais e A estrutura metodológica do livro
abordagens didáticas do ensino e da compõe-se de quatro dimensões:
aprendizagem, em torno do tema da a) O projeto político-pedagógico no
diferenciação, da regulação, da contexto das políticas educacionais.
individualização dos percursos. b) Os territórios da intervenção da
comunidade, da família e da escola.
c) Os desafios dos paradigmas
curriculares e avaliativos.
d) A construção das identidades dos
sujeitos do processo educativo.
Na primeira dimensão, Marília Fonseca
reflete sobre “A gestão da educação básica
na ótica da cooperação internacional: Um
salto para o futuro ou para o passado?”.

15
https://bit.ly/3e8YIhF

52
Conhecimentos Específicos

Comenta a base “gerencialista” das mas para dar condições para que as crianças
orientações internacionais, sua exigência de dessas famílias permaneçam na escola e se
produtividade para a escola e de preparem para um futuro com maior grau de
“performatividade” para o professor. escolaridade e melhores chances de
Analisa as orientações políticas definidas ascensão social. Mostra, mediante
pelo Banco Internacional de Reconstrução avaliações realizadas por trabalhos
e Desenvolvimento (Banco Mundial) para a acadêmicos e por organismos
formação e o desempenho do professor de internacionais (Unesco, Unicef e outros)
ensino básico. Examina os documentos que o Programa Bolsa-Escola melhorou a
estratégicos do Banco para a educação que qualidade de vida das famílias em
orientam os projetos de financiamento condições de extrema pobreza; evitou o
desenvolvidos em parceria com alguns trabalho infantil; contribuiu para o
estados brasileiros. Interroga sobre efeitos desenvolvimento da autoestima e da
da visão compartilhada entre o Banco e os cidadania dos setores excluídos, além de
quadros educacionais sobre a formação e a criar uma cultura escolar positiva.
atuação do professor. Na terceira dimensão, Anna Rosa
O segundo texto, de autoria de Ilma Fontella Santiago apresenta o texto:
Passos Alencastro Veiga, intitulado: “Projeto político-pedagógico e organização
“Projeto político-pedagógico: Novas trilhas curricular: Desafios de um novo
para a escola”, contém, de um lado, uma paradigma”. Colocando em questão a
reflexão sobre as relações mais amplas da racionalidade que tem conduzido a
escola com as políticas públicas, organização e o desenvolvimento de
alicerçadas na visão estratégica, e, de outro, projetos político-pedagógicos para as
uma busca de compreensão dos escolas de educação básica, esse texto
pressupostos que devem embasar a pretende provocar uma reflexão sobre a
construção do projeto político-pedagógico possibilidade de uma dinâmica curricular
da instituição educativa na visão fundamentada em um paradigma que
emancipadora. reconheça as relações de poder e os
Na segunda dimensão, Virgínio Sá, após processos de subjetivação imbricados nas
uma breve conceitualização em torno do práticas pedagógicas. Busca argumentos na
termo participação, em seu artigo teorização pós-estruturalista, nos estudos
denominado: “A (não) participação dos pais culturais e na pedagogia pós-crítica e
na escola: A eloquência das ausências”, aponta condições para a condução de uma
procura problematizar um certo saber proposta pedagógica ética e politicamente
“convencional” que atravessa as comprometida com as representações e os
representações dominantes, sobretudo significados culturais das comunidades
docentes, em relação à (não) participação envolvidas.
dos pais na escola, questionando, O segundo texto dessa dimensão, de
nomeadamente, a tendência para o Benigna Maria de Freitas Villas Boas,
estabelecimento de uma relação linear entre intitulado “Avaliação formativa: Em busca
a não participação dos pais e seu suposto do desenvolvimento do aluno, do professor
desinteresse pela educação dos filhos. e da escola”, faz uma incursão sobre a
Outro texto dessa dimensão, de construção do conceito de avaliação
Cristovam Buarque e outros, reflete sobre formativa manifestada em três diferentes
“Bolsa-Escola e Renda Mínima: situações. A autora analisa a visão de
Similitudes e diferenças”. O texto apresenta alguns estudiosos sobre a avaliação
o Programa Bolsa-Escola, implementado formativa, destacando ser ela parte
no Distrito Federal no período 1995-98, essencial do trabalho pedagógico
como estratégia inovadora não apenas para comprometido com a aprendizagem do
aumentar a renda das famílias excluídas, aluno e do professor e com o

53
Conhecimentos Específicos

desenvolvimento da escola. Aborda ainda o


planejamento, a importância da São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
autoavaliação pelo aluno e a consideração Educação. Coordenadoria Pedagógica.
da sua autoestima como componente Orientações para atendimento de
necessário ao sucesso de seu trabalho. estudantes: transtorno do espectro do
autismo. São Paulo: SME / COPED, 2021
A última dimensão conta com dois
artigos. O primeiro, de José Vieira de
Sousa, discute “A identidade do sujeito
social, ético e político e o projeto político- Prezado(a) Candidato(a), tal conteúdo
pedagógico da escola”. Parte de dois já foi previamente abordado na apostila de
pressupostos básicos, segundo os quais toda “Currículo e Orientações Didáticas”.
identidade é relacional, e a constituição da
identidade do sujeito em suas dimensões
São Paulo (SP) . Secretaria Municipal de
sociais, éticas e políticas tem, como
Educação. Coordenadoria Pedagógica.
referência, a identidade da escola, ou seja, o Retratos da EJA em São Paulo : história e
seu projeto político-pedagógico. relatos de práticas. – São Paulo : SME /
O último texto contempla a questão “O COPED, 2020
sujeito reflexivo no espaço da construção
do projeto político-pedagógico”. De autoria
de Lúcia Maria Gonçalves de Resende, o 16
O documento Retratos da Educação de
texto discute a necessidade de que, nos Jovens e Adultos nasce do desejo de muitos
diversos espaços educativos, os sujeitos educadores em dar visibilidade a uma
possam vivenciar os atos de ensinar, modalidade do ensino fundamental
pesquisar e aprender. Essa vivência compõe destinada aos estudantes que não
um quadro cuja organicidade estará conseguiram estudar no tempo certo - vale
referendada pela concepção e pela ressaltar que a EJA faz parte do ensino
construção coletiva de um projeto político- fundamental que compõe a educação básica
pedagógico, no qual persistem ideias, deste país, voltada aos estudantes com mais
histórias de vida, crenças e mitos de 15 anos que não puderam completar seus
relacionados à identidade do grupo que o estudos na idade apropriada.
gerou. São jovens, adultos e idosos que buscam
O livro constitui mais um esforço de na escola a continuidade de seus estudos e
aproximação ao complexo e a busca da garantia de seus direitos.
multidimensional tema como o projeto Procuram conhecimento educacional para
político-pedagógico. Por essas terem o reconhecimento social. São sujeitos
características, reconhecemos a que já sofreram a exclusão e o fracasso
impossibilidade de compreendê-lo em escolar e tentam, mais uma vez, por meio
todas as suas dimensões. Em muitos casos, da escola, seu lugar nessa sociedade tão
deixamos de aprofundar certas questões que desigual.
merecem outros espaços de reflexão. Um segundo desejo é o de transformar
Outras questões mereceriam tratamento esse documento em leitura reflexiva nos
mais específico. Reconhecemos que o livro horários coletivos em nossas unidades
terá valido a pena se suscitar dúvidas e educacionais, apoiando os profissionais
incertezas e servir de ponto de partida para envolvidos e valorizando o trabalho da
novos estudos, sob o ângulo de análise de Educação de Jovens e Adultos,
outros investigadores. considerando os desafios encontrados como
a superdiversidade do perfil dos nossos
estudantes e o pouco de conhecimento

16
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2020/10/WEB_Retratos_EJA_2020.pdf

54
Conhecimentos Específicos

sobre o trabalho pedagógico com jovens e O Capítulo IV “Os desafios da Educação


adultos. de Jovens e Adultos” nos encanta na
Em busca de promover maior medida em que, em meio a tantas incertezas
organização didática dos temas que serão e dúvidas, profissionais que acreditam na
apresentados, o documento está dividido mudança, propõem práticas inovadoras e
em quatro partes: A história da Educação de exitosas a fim de atender a heterogeneidade
Jovens e Adultos; Modalidades de encontrada na EJA.
Atendimento; Relatos dos profissionais Esperamos que o documento possa
envolvidos e Desafios da Educação de auxiliar os profissionais que atuam na
Jovens e Adultos. Um panorama Educação de Jovens e Adultos a fim de
apresentado pelo olhar dos profissionais reconhecer as especificidades dessa
que estão envolvidos diretamente na modalidade e as possibilidades existentes,
modalidade. Professores e gestores que para que a EJA deixe de ser o “a extensão
estão no chão da sala de aula, trabalhando do Ensino Fundamental Regular” da escola
cotidianamente na busca assertiva das e passe a ter seu lugar reconhecido por
respostas dos mais diversos desafios, todos, um lugar de defesa de direitos
sempre de maneira dialógica e democrática. daqueles que já foram excluídos de alguma
O Capítulo I, intitulado “A história da forma e que carregam nas costas um
Educação de Jovens e Adultos” busca fracasso que, um dia, foi do sistema.
orientar o leitor sobre o contexto da EJA,
sua história, suas lutas e conquistas. Prezado(a) Candidato(a), caso queira
Tomamos como marco inicial os anos de acessar o documento na íntegra segue o
1930 com os movimento anarco- link: <https://bit.ly/3QFzZDC>.
sindicalistas e o apoio da Igreja Católica até
os dias atuais. Um panorama político social
e educacional repleto de lutas que, em São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
grande parte, foram organizadas pelos Educação. Coordenadoria Pedagógica.
movimentos sociais. Conhecer para proteger: enfrentando a
O Capítulo II nomeado “Modalidades de violência contra bebês, crianças e
Atendimento” apresenta as formas de adolescentes. São Paulo: SME/COPED,
2020.
atendimento da Educação de Jovens e
Adultos oferecidas pela Secretaria de
Educação da cidade de São Paulo,
considerando suas especificidades de São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
organização. Educação. Coordenadoria Pedagógica.
O Capítulo III “Relatos dos profissionais Conhecer para proteger: enfrentando a
envolvidos” nos presenteia com as histórias violência contra bebês, crianças e
de profissionais de diferentes lugares de adolescentes. São Paulo: SME/COPED,
atuação (professores, coordenadores, 2020.
diretores e supervisores), que perceberam 17
que o trabalho com a Educação de Jovens e Tendo em vista as necessidades de
Adultos exige uma postura diferenciada, orientações apontadas pelos profissionais
amorosa e afetivamente mais aproximada, da Rede Municipal de Ensino - RME acerca
em que gestores, professores e estudantes dos procedimentos a serem adotados nas
aprendem juntos e desvelam a riqueza da situações de suspeita ou constatação de
curiosidade epistemológica, tão em falta violências praticadas contra bebê, criança e
nos tempos atuais. adolescente matriculados nas Unidades
Educacionais - UEs da RME, a Secretaria

17
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
content/uploads/2021/02/Conhecer-para-Proteger-WEB.pdf

55
Conhecimentos Específicos

Municipal de Educação apresenta este O documento pressupõe a conexão entre


documento, elaborado, dialogicamente, os aspectos cognitivos, educativos,
pelas equipes do NAAPA e Supervisores comportamentais, sociais e emocionais do
Escolares, que buscaram expressar as bebê, da criança e do adolescente, além de
indagações das equipes educacionais, bem parcerias institucionais da escola com os
como revelar as práticas já existentes, que demais serviços da rede de proteção social
visam à garantia da dignidade de bebês, à infância e à adolescência. As conexões e
crianças e adolescentes. ações conjuntas são importantes para
Condizente com o Currículo da Cidade, efetivar o que está previsto nas leis,
o presente documento reafirma os conceitos convenções, tratados e declarações:
orientadores de educação inclusiva, - direito ao amor e à compreensão por
equitativa e integral alinhado com o parte dos pais e da sociedade.
compromisso de aprendizagem - medidas administrativas, sociais e
humanizado e sustentável. educativas adequadas à proteção da criança
A violência contra a criança é um contra todas as formas de violência.
fenômeno com múltiplas faces e com raízes - garantia dos direitos fundamentais e de
culturais muito presentes, reflexo de como não ser exposto à negligência,
a sociedade vê as infâncias e a adolescência, discriminação, exploração, violência,
de como constrói relações de empatia e de crueldade e opressão.
poder entre as gerações e de como lida com - direito à educação sexual esclarecedora
os tabus. Na maioria das vezes, a violência (adequada à idade, cientificamente acurada,
contra a criança atrapalha o culturalmente idônea, baseada nos direitos
desenvolvimento e dificulta o processo de humanos, na equidade de gêneros e numa
aprendizagem, impedindo que a escola abordagem positiva quanto à sexualidade e
cumpra sua função social. Devido a isso, o ao prazer).
envolvimento da escola é imprescindível na - direito à educação integral em
promoção de uma gradativa mudança sexualidade (baseada em um currículo
cultural que considere bebês, crianças e sobre aspectos cognitivos, emocionais,
adolescentes como sujeitos de direitos, que físicos e sociais da sexualidade; com o
saibam reconhecer as situações de objetivo de construir conhecimentos,
violência, pedir ajuda, proteger-se e habilidades, atitudes e valores que
compartilhar conhecimentos de promovam saúde, bem-estar e dignidade,
autoproteção, exercendo, assim, sua relacionamentos sexuais de respeito,
cidadania. considerando como suas escolhas afetam o
A mudança cultural se faz na construção bem-estar próprio e o de outras pessoas).
permanente do compromisso com a
existência digna dos estudantes e efetiva-se Diante dos desafios postos na
na prática do currículo escolar, que contemporaneidade no que tange às
promove o conhecimento necessário, para dificuldades de aprendizagem e aos fatores
que os sujeitos possam compreender o que impactam no desenvolvimento de cada
mundo e a si mesmos. Defendemos um estudante, inclusive ao que se refere aos
currículo que cuide dos sujeitos de modo a diversos tipos de violência, a Secretaria
garantir dignidade para todos; que construa Municipal de Educação de São Paulo cria,
conhecimento apropriado à idade, para que em 2014, o Núcleo de Apoio e
estejam atentos e prevenidos em relação a Acompanhamento para a Aprendizagem -
perigos potenciais; que desenvolva respeito NAAPA, que dentre suas funções apoia a
ao outro; que oriente os sujeitos para que Unidade Educacional na articulação com os
saibam reconhecer e se proteger das várias demais serviços da rede de proteção social
formas de violência. às infâncias, com a finalidade de
possibilitar que a escola e o sistema de

56
Conhecimentos Específicos

garantia de direitos da criança e do família ou por pessoas de confiança da


adolescente sejam corresponsáveis pela família. Isso exige sensibilidade, cuidado e
proteção, cuidado e acompanhamento do grande atenção da escola para reparar nas
bebê, da criança e do adolescente exposto à alterações de comportamento e na queda de
situação de violências. rendimento do estudante, que costumam ser
Conforme a LDB, a educação tem por recorrentes em todos os tipos de violência,
finalidade o pleno desenvolvimento do evitando, assim, rotular a situação como
sujeito para o exercício da cidadania e “indisciplina” ou “desinteresse” pelos
qualificação para o trabalho. Nesse aspecto, estudos.
a potencialidade da escola no É imprescindível compreender que,
enfrentamento às violências está em comumente, a vítima mantém vínculos com
promover, por meio do currículo escolar, a quem pratica a violência, o que facilita a
prevenção, os encaminhamentos e os continuidade da situação abusiva, mas
cuidados adequados que se iniciam nas dificulta a denúncia e a busca por ajuda e
situações de violência e permanecem pelo proteção, de maneira que questionar a
tempo que se fizer necessário, contando, vítima ou culpá-la por manter esse afeto só
inclusive, com ajuda de outros parceiros. piora a situação e interfere na relação de
O enfrentamento às violências deve estar confiança estabelecida com quem ela
presente no cotidiano escolar, de forma decidiu revelar a violência.
transversal, interdisciplinar em todos os Outro ponto a se considerar é a
ciclos, pois é por meio da mobilização da necessidade de diferenciar a violência
escola que a história das vítimas pode estrutural da violência negligencial, uma
mudar. Para isso, todos os membros da vez que a violência estrutural se caracteriza
Unidade Educacional devem estar atentos pela restrição do acesso aos direitos
aos sinais de suspeita, acolhendo (quando a básicos, decorrente da estrutura dos
violência for revelada) na escuta, na ação sistemas econômico, social e político que
com a vítima, no encaminhamento e atinge todo o grupo familiar, já na violência
acompanhamento do caso notificado. negligencial, pais e responsáveis com
A escuta que cabe às instituições de condições de prover as necessidades do
educação é diferente da escuta bebê, da criança e do adolescente
especializada e do depoimento especial, reiteradamente não exercem tais
que são realizados por autoridade policial obrigações.
ou judicial, que são os responsáveis por Destacamos, ainda, que a afetividade e
coletar provas. os vínculos construídos na escola entre
Este documento tipifica cada uma das bebês, crianças e adolescentes e educadores
violências contra bebê, criança e são de fundamental importância no
adolescente para ajudar a apurar o olhar movimento preventivo e protetivo, pois um
sobre o fenômeno, que deve ser ambiente afetivo e respeitoso contribuirá
compreendido de forma ampla, dentro de com a caminhada de enfrentamento à
contextos complexos, nos quais, violência, promovendo condições de
geralmente, mais de um tipo de violência desenvolvimento e aprendizagem humana.
ocorre simultaneamente.
Ressaltamos que o mesmo sinal pode Contextos e tipos de violência contra
indicar a presença de diferentes formas de bebês, crianças e adolescentes
violência, sendo necessária a atenção A década de 1980 caracterizou-se pelo
quanto à frequência e à intensidade dessas processo de redemocratização do país e
manifestações, considerando que a maior impulsionou a revisão do currículo escolar,
parte das violências contra bebê, criança e contemplando, de forma mais ampla, a
adolescente acontece em ambiente função social da escola, rompendo com a
doméstico e são cometidas por pessoas da lógica excludente do modelo anterior, que

57
Conhecimentos Específicos

invisibilizava a violência contra bebê, diferentes em cada contexto


criança e adolescente, já que os sinais de socioeconômico. É preciso destacar que
violência ou as demais violações de direitos não há um único perfil de agressor, nem um
eram, muitas vezes, confundidos com mau padrão único de família em que aconteça o
comportamento e/ou com desinteresse do problema, tampouco um perfil único de
estudante em aprender. Essa mudança de vítima.
paradigma torna o fenômeno da violência Dadas as dificuldades maiores das
contra bebês, crianças e adolescentes mais escolas para lidar com a violência sexual,
perceptível, impondo novos desafios. conforme constatado na pesquisa realizada
É preciso compreender que toda na Rede Municipal de Ensino (NERI,
violência contra bebê, criança e adolescente 2018), o documento traz com mais detalhes
está inserida em um macrossistema o conceito e os sinais específicos sobre esse
multicausal, que se evidencia de diferentes tipo de violência que atinge meninos e
formas, por se tratar de um fenômeno meninas com e sem deficiência.
amplo, complexo e diretamente relacionado Ressaltamos que não há hierarquia entre
à concepção de infância e adolescência da os tipos de violência, sendo importante
sociedade em determinado tempo histórico. analisar, de forma sistêmica, a violência
A realidade familiar, social, econômica e institucional, a violência entre crianças e
cultural é articulada como um sistema adolescentes, a violência autoinfligida, a
composto de subsistemas combinados entre violência estrutural e o trabalho infantil.
si dinamicamente, podendo resultar na Há outra situação que exige atenção
desumanização que nega a condição permanente e que pode estar atrelada a
peculiar do sujeito em desenvolvimento. todos os tipos de violência aqui tipificados:
As formas de violência contra bebês, o racismo. Além de ser um crime
crianças e adolescentes tipificadas neste imprescritível e inafiançável, a cultura que
documento são: o envolve se materializa também por meio
- violência física; das violências estrutural, psicológica,
- violência química; física, sexual entre as crianças e os
- violência psicológica; adolescentes.
- violência sexual; A atenção aos sinais de violência requer
- violência institucional; sensibilidade que desnaturalize qualquer
- violência negligencial; posicionamento racista ou discriminatório.
- violência estrutural; Isso exige que o educador redobre a atenção
- violência entre crianças e adolescentes; a situações de discriminação, de
- violência autoinfligida; autorrejeição dos estudantes, de negação da
- trabalho infantil. sua identidade (resultante de violências
Nesse contexto, a violência doméstica psicológicas) ou de distribuição desigual de
(física, química, psicológica, sexual, atenção ou afetos (que se caracteriza como
negligencial) resulta de múltiplas forças violência institucional). Isso porque, de
que atuam na família, no indivíduo, na forma evidente ou camuflada, prejudicam o
comunidade e na cultura, considerando os desenvolvimento integral do estudante e
aspectos históricos, a interação de fatores dificultam a construção de uma cultura de
socioeconômicos, políticos e as vivências inclusão, de equidade, de paz e não
culturais das famílias, que influenciam os violência, pretendida pela Rede Municipal
padrões de relacionamento entre pais e de Ensino.
filhos, entre gêneros e entre gerações. Lembramos ainda que a Rede Municipal
Dessa maneira, a violência doméstica de Ensino tem recebido cada vez mais
demanda um olhar atento e sensível da estudantes imigrantes e refugiados. O
escola, pois, acontece em todas as classes Censo Escolar de 2016 (INEP/MEC)
sociais, mas evidencia-se de formas demonstra que houve aumento de 112% no

58
Conhecimentos Específicos

número de matrículas de estrangeiros em literalmente de um dia para o outro,


todo o Brasil entre 2008 e 2016. A mesma transportando as atividades que eram
pesquisa demonstrou que 64% dos realizadas na escola, presencial,
estrangeiros estavam matriculados em interacional e dialogicamente para as telas
escolas públicas. Em São Paulo, a Rede dos smartphones e dos computadores se
Municipal de Ensino atende mais de 80 apresentaram como um grande desafio aos
grupos étnicos, de diversos países. A profissionais da educação. O trabalho
presença dos estudantes estrangeiros remoto, da perspectiva dos professores,
implica acolhimento, esforço na “mudou e aumentou, com destaque para as
comunicação e ensino da língua atividades que envolvem interface e/ou
portuguesa, bem como atenção aos direitos interação digital”, demandando um esforço
universais da criança e do adolescente. muito maior do que o trabalho presencial.
O foco do documento está voltado para O isolamento social ocasionado pela
bebês, crianças e adolescentes. No entanto, pandemia do coronavírus Sars-Cov-2,
considerando que a Rede Municipal de causador da Covid-19, sem precedentes na
Ensino também atende jovens, adultos e história recente da humanidade, fez com
idosos na Educação de Jovens e Adultos - que a sensação de incerteza quanto ao
EJA, esse documento também poderá presente e ao futuro aumentasse
inspirar o cuidado desse público, se exposto exponencialmente. A escola conhecida e
a situações de violência. vivida cotidianamente, com seus espaços,
cheiros, sons e pessoas deixou de ser o local
Prezado(a) Candidato(a), caso queira de trabalho de Professores, Auxiliares
acessar o documento na íntegra segue o Técnicos da Educação, Diretores,
link: <https://bit.ly/3ROTPOc>. Assistentes de Direção e Coordenadores
Pedagógicos, assim como deixou de ser o
lugar de promoção de aprendizagem
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de dos(as) estudantes. O chão da escola
Educação. Coordenadoria Pedagógica. precisou ser reinventado e simulado nos
Ansiedade e medo em tempos de espaços virtuais.
pandemia: a arte favorecendo A apreensão parecia ser o sentimento
ressignificações. São Paulo:
que circulava nos coletivos, e dela
SME/COPED, 2021. (Coleção Diálogos
com o NAAPA, v.1)
derivaram perguntas que pareciam ecoar
em todos os espaços educativos, tais como:
terei recursos tecnológicos suficientes para
desenvolver meu trabalho? Terei um espaço
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
físico adequado para isso? Como farei para
Educação. Coordenadoria Pedagógica.
dividir o meu tempo entre o trabalho
Ansiedade e medo em tempos de
doméstico e o de educador(a)? Conseguirei
pandemia: a arte favorecendo
dar atenção para os meus familiares?
ressignificações. São Paulo:
Conseguirei auxiliar meus filhos em suas
SME/COPED, 2021. (Coleção Diálogos
dúvidas na escola nessa nova configuração?
com o NAAPA, v.1)
E os alunos que não têm acesso às
18 tecnologias, como poderemos auxiliá-los
No dia 18 de março, tivemos
em seu processo de ensino-aprendizagem?
oficialmente decretado, pelo município, o
Todas essas perguntas pareciam ter em sua
afastamento social e a substituição das
essência a mesma dúvida: é possível dar
aulas presenciais pelo ensino remoto. Como
conta do processo de ensino-aprendizagem
se pode imaginar, a alteração dos modos de
em tempos de distanciamento social?
viver e de trabalhar, que ocorreram

18
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2021/03/Diálogos_NAAPA_Vol-1_WEB.pdf

59
Conhecimentos Específicos

Diante de mudanças tão grandes e do Entra-se em um círculo vicioso de imaginar


ritmo vertiginoso em que elas precisaram o que pode ser feito e antecipar o seu
ser implantadas, as falas que já eram insucesso, incapacitando o sujeito para a
conhecidas nos espaços de acolhimento e ação.
escuta mediadas por psicólogos, e que
revelavam o sofrimento de ter que viver em Você Sabia Que:
um ritmo de vida acelerado, também se Os principais sintomas corporais que se
intensificaram, e, somadas as questões relacionam à sensação de ansiedade são:
relacionadas ao desenvolvimento do - Frio na barriga;
trabalho, foram ganhando voz as pessoas - Sensação de afogamento e de
que expressavam seu esgotamento, tais sufocamento;
como: trabalho 24 horas e não dou conta de - Mal-estar generalizado;
todas as tarefas! Às vezes, acho que vou - Euforia;
explodir! Sinto-me em constante pressão e - Sudorese nas mãos;
que estou sempre devendo algo para - Alteração de apetite;
alguém, inclusive para mim mesma(o)! - Alteração no sono;
Sinto-me frustrada(o)! Sinto-me cansada(o) - Tensões musculares;
física e mentalmente o tempo todo! Mas o - Estado constante de alerta;
que essas dúvidas e falas revelam? - Sensação permanente de que algo ruim
Sintomas de ansiedade. Mas o que é essa tal vai acontecer;
de ansiedade, afinal? - Aumento da irritabilidade;
A ansiedade se origina no conflito entre - Dificuldade para se concentrar;
o que é demandado externamente e os - Baixa autoestima.
recursos que o sujeito tem desenvolvidos
para atender as exigências. Envolve, a um Na dimensão dos pensamentos e das
só tempo, pensamento e emoção, mente e emoções, segundo o Ministério da Saúde, a
corpo, e impacta positiva ou negativamente ansiedade manifesta-se das seguintes
nas possibilidades de ação. Ao sentir-se formas:
ansioso, o sujeito projeta-se para o futuro, - Preocupações, tensões ou medos
tentando antecipar os resultados daquilo exagerados (a pessoa não consegue
que pretende desempenhar. relaxar);
No aspecto positivo, sentir-se ansioso - Sensação contínua de que um desastre
pode levar, por exemplo, uma pessoa a ser ou algo muito ruim vai acontecer;
mais cautelosa no preparo das tarefas que - Preocupações exageradas com saúde,
realizará no futuro. Qual professor não dinheiro, família ou trabalho;
prepara suas aulas? Qual coordenador não - Medo extremo de algum objeto ou
prepara suas formações separando textos, situação em particular;
vídeos e outros recursos, intentando criar - Medo exagerado de ser humilhado
um espaço dialógico e potente para as publicamente;
discussões das temáticas que dizem respeito - Falta de controle sobre os pensamentos,
ao cotidiano escolar? Então, essas são ações imagens ou atitudes, que se repetem
impulsionadas pela sensação de ansiedade. independentemente da vontade;
A ansiedade, no seu aspecto negativo, ao - Pavor depois de uma situação muito
contrário do que foi apresentado difícil.
anteriormente, paralisa a ação. A projeção
dos resultados da ação que precisa ser
desempenhada no futuro assume aspectos
sombrios e negativos. O sujeito passa a
acreditar que tudo que fizer terá,
inevitavelmente, um resultado desastroso.

60
Conhecimentos Específicos

No período de pandemia, as reações Quando procurar ajuda?


comportamentais mais comuns, segundo a - Dificuldade de manter a rotina de
Fiocruz, têm sido: higiene pessoal;
Medo de: - Necessidade de apoio para levantar-se
- Adoecer e morrer; da cama;
- Perder as pessoas que amamos; - Aumento ou diminuição brusca das
- Perder os meios de subsistência ou não horas de sono;
poder trabalhar durante o isolamento e ser - Cansaço e desânimo excessivos, e que
demitido; não passam independentemente das horas
- Ser excluído socialmente por estar de sono;
associado à doença; - Incapacidade de se concentrar em
- Ser separado de entes queridos e de atividades rotineiras e laborais;
cuidadores devido ao regime de quarentena; - Crises de choro constantes;
- Não receber um suporte financeiro; - Medo excessivo e permanente de
- Transmitir o vírus a outras pessoas. morrer, de sair de casa, de que algo
desastroso aconteça;
É esperada também a sensação - Aumento de condutas autodestrutivas,
recorrente de: tais como: abuso de substâncias lícitas e
- Impotência perante os acontecimentos; ilícitas e automutilação.
- Irritabilidade;
- Angústia; Prezado(a) Candidato(a), caso queira
- Tristeza. acessar o documento na íntegra segue o
link: <https://bit.ly/3UaZZcI>.
Informa-se ainda que “em caso de
isolamento, pode-se intensificar os
sentimentos de desamparo, tédio, solidão e São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
tristeza”. Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Vulnerabilidade e educação. São Paulo:
Entre as reações comportamentais mais
SME/ COPED, 2021. (Coleção Diálogos
comuns estão: com o NAAPA, v. 3).
- Alterações ou distúrbios de apetite
(falta de apetite ou apetite em excesso);
- Alterações ou distúrbios do sono São Paulo (SP). Secretaria Municipal de
(insônia, dificuldade para dormir ou sono Educação. Coordenadoria Pedagógica.
em excesso, pesadelos recorrentes); Vulnerabilidade e educação. São Paulo:
- Conflitos interpessoais (com familiares SME/ COPED, 2021. (Coleção Diálogos
e equipes de trabalho); com o NAAPA, v. 3).
- Pensamentos recorrentes sobre a
epidemia, a saúde da família e o medo da 19
Considerando as muitas
morte; condicionantes que impactam a
- Em quadros mais intensos, é necessário aprendizagem e o desenvolvimento de
que se procure ajuda profissional. Como já bebês, crianças e adolescentes, este volume
dissemos, ninguém entra no sofrimento propõe refletir acerca das vulnerabilidades
sozinho e tampouco sai dele sozinho, os inscritas nos sujeitos que se relacionam no
profissionais de saúde mental estão espaço educacional, que vão para além
preparados para apoiá-los e auxiliá-los a daquelas que comumente são associadas ao
passar por esse período. termo, portanto, expandir a leitura dessa
circunstância vulnerável demanda,

19
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_d ital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Vulnerabilidade-e-
ivulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDig educacao.pdf

61
Conhecimentos Específicos

inicialmente, entendê-la como uma de São Paulo estão expostos neste tempo
condição a que qualquer pessoa pode histórico marcado pelas repercussões da
experimentar em algum momento da vida. COVID-19, consideramos relevante
No ambiente educacional, há contextos promover a reflexão acerca das diferentes
de múltiplas carências, de violação de formas de como cada grupo social ou cada
direitos, de doenças crônicas, de indivíduo tem experenciado as
dificuldades de aprendizagem, e há também consequências das necessidades do
a presença marcante de crianças e isolamento social. É fato que todos temos
adolescentes que se encontram vulneráveis nossa rota de existência alterada pela
por outros motivos, fato este que presença do vírus e pelos riscos de
pretendemos estabelecer como eixo do contaminação, mas é preciso compreender
nosso diálogo, uma vez que estar vulnerável que um incontável número de fatores
a alguma situação é algo bastante amplo determinará as marcas deixadas por essas
que merece atenção. experiências em nossa vida emocional e
A literatura é uma sugestão para abrir a social.
discussão sobre esse tema tão caro, Nós, das equipes do NAAPA, temos nos
principalmente se considerarmos este disponibilizado a refletir sobre os aspectos
tempo histórico marcado por incertezas e psicossociais que hoje atravessam a vida de
solidão, sentimentos acentuados diante do todos aqueles que compõem a comunidade
isolamento social imposto pela pandemia. escolar, buscando potencializar práticas
Na escola, em determinados contextos, coletivas que auxiliem profissionais da
estudantes e professores vivem uma educação, familiares, responsáveis e
dinâmica que não favorece o conhecimento estudantes, para que, por meio do
de quem é o outro, pois essa percepção, conhecimento teórico, das dinâmicas
muitas vezes, se constitui a partir de uma afetivas e da educação, possam se
vivência fragmentada e acelerada pelo reconhecer como indivíduos potentes e
movimento da própria vida e das relações merecedores de uma vida digna e
estabelecidas, portanto, estreitar laços sustentada por direitos humanos universais.
demanda o reconhecimento da humanidade Assim, neste texto dialogaremos sobre
e da fragilidade do outro. uma expressão que, embora seja
Dessa forma, o texto literário pode ser o frequentemente utilizada nas situações em
caminho para estabelecer a escuta e o que abordamos as questões referentes às
diálogo, a fim de buscar estratégias para o desigualdades sociais presentes na vida de
enfrentamento de tantas situações e estudantes da RME, é pouco aprofundada e
contextos que fragilizam e marcam crianças acaba por se perder, quer seja pelo fato de
e adolescentes no espaço educacional. É carregar ideias cristalizadas ou até mesmo
certo que a leitura de um conto, de um por se tratar de terminologia tomada por
poema ou de uma crônica pode ser importante dispersão semântica. Trata-se
disparadora de questões enfrentadas por do termo vulnerabilidade.
todos, como o medo, a tristeza, a raiva,
entretanto, o percurso que o livro apresenta Aprendendo Sobre Vulnerabilidade
busca marcar justamente o campo da O termo vulnerabilidade começou a ser
vulnerabilidade, buscando dar corpo ao que largamente utilizado nos anos 1980 pelos
parece anônimo, exercitando a alteridade profissionais de saúde pública que
do olhar na busca incansável de se enfrentavam o rápido crescimento de uma
aproximar e enxergar vulnerabilidades síndrome até então desconhecida, mas que
presentes na vida de crianças e deixava marcas impiedosas nas populações
adolescentes. mais jovens. Em diversos países a Aids
Diante dos múltiplos desafios aos quais imprimiu seus registros, fazendo com que
educadores da Rede Municipal de Ensino os pesquisadores buscassem compreender

62
Conhecimentos Específicos

quais eram os grupos sociais mais expostos vulnerabilidade seja um termo amplamente
ou sujeitos aos riscos de contaminação, cunhado pelas políticas públicas de saúde e
assim, com o passar do tempo, os termos assistência social, é preciso considerar seus
“riscos” e “população de risco” foram, impactos diretos nos modos de
gradativamente, substituídos pelo termo aprendizagem de estudantes, uma vez que
vulnerabilidade, de maneira que se seu uso nos ajuda a ampliar a compreensão
procurava relacionar uma série de variáveis dos múltiplos fatores que fragilizam os
socioeconômicas e os grupos sociais ou sujeitos na fruição de sua cidadania, sendo
indivíduos que poderiam estar mais ou aprendizagem e desenvolvimento
menos vulneráveis à epidemia. importantes dimensões a serem
Assim, tratar as questões da Aids sob a consideradas quando fazemos referência à
perspectiva da vulnerabilidade possibilitou infância e à adolescência.
a compreensão de que além de se considerar Entendemos, ainda, que é necessário
o comportamento do sujeito, era necessário destacar diferentes perspectivas da
compreendê-lo na interação de múltiplos vulnerabilidade que podem se dar no
fatores sociais, econômicos, políticos e âmbito individual, quando marcada pelas
culturais, engendrando, assim, a ideia de ações e experiências do indivíduo, no
que as condições e possibilidades de social, quando traduz a forma como a
proteção de uma pessoa não se reduzem à sociedade se estrutura e como as relações
sua simples vontade individual, sendo são produzidas em diferentes grupos e
necessário reconhecer a complexidade da contextos, e na institucional, que deriva da
doença e dos recursos necessários para sua forma como o Estado responde às
prevenção. necessidades específicas dos indivíduos ou
Conforme Adorno: O termo dos grupos sociais no que se refere à
vulnerabilidade carrega em si a ideia de garantia dos direitos humanos
procurar compreender primeiramente todo fundamentais e de cidadania.
um conjunto de elementos que caracterizam
as condições de vida e as possibilidades de Prezado(a) Candidato(a), caso queira
uma pessoa ou de um grupo – a rede de acessar o documento na íntegra segue o
serviços disponíveis, como escolas e link: <https://bit.ly/3Dw1AUy>.
unidades de saúde, os programas de cultura,
lazer e de formação profissional, ou seja, as
ações do Estado que promovem justiça e São Paulo (SP) Secretaria Municipal de
cidadania entre eles – e avaliar em que Educação. Coordenadoria Pedagógica.
medida essas pessoas têm acesso a tudo Povos Migrantes: orientações
isso. Ele representa, portanto, não apenas pedagógicas. SME/ COPED, 2021.
uma nova forma de expressar um velho
problema, mas principalmente uma busca
para acabar com velhos preconceitos e São Paulo (SP) Secretaria Municipal de
permitir a construção de uma nova Educação. Coordenadoria Pedagógica.
mentalidade, uma nova maneira de Povos Migrantes: orientações
perceber e tratar os grupos sociais e avaliar pedagógicas. SME/ COPED, 2021.
suas condições de vida, de proteção social e 20
de segurança. É uma busca por mudança no Neste documento, apresentamos as
modo de encarar as populações-alvo dos “Orientações Pedagógicas Povos
programas sociais. Migrantes”, construído por muitas mãos ao
O excerto acima nos apoia na longo do ano de 2020. Nele abordamos o
compreensão de que embora a acolhimento e valorizamos a presença de

20
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- Migrantes-WEB.pdf
content/uploads/2021/06/Currículo-da-Cidade-Povos-

63
Conhecimentos Específicos

migrantes internacionais nas Unidades Este documento “Orientações Pedagógicas


Educacionais da Rede Municipal de Ensino Povos Migrantes” nos aproximará das
de São Paulo. Ao oferecer subsídios principais discussões sobre a presença,
teóricos e revelar experiências exitosas acolhida, convivência e valorização de
implementadas no trabalho cotidiano com migrantes internacionais nas escolas de
as e os estudantes migrantes temos a nossa cidade.
intenção de possibilitar a reflexão sobre as É recorrente pensarmos no Brasil como
práticas educacionais realizadas na Rede, um país onde diferentes culturas se
nos mais diversos momentos da vida encontram e essa diversidade é celebrada.
escolar – desde a matrícula aos espaços de Aprendemos que nosso país é formado por
vivências e salas de aula, desde a Educação diversos povos, inclusive pelos que
Infantil ao Ensino Médio. chegaram aqui vindos de outros lugares do
Considerando que todas e todos mundo.
profissionais que atuam nas UEs são Não podemos esquecer, no entanto, que
educadores e educadoras, este documento a chegada de pessoas ao Brasil nem sempre
também é destinado a auxiliares técnico de foi pacífica. O sequestro humano a que
educação, agentes educacionais, diretoras, foram submetidos povos de diversas partes
diretores, assistentes de direção, de África e sua escravização em território
coordenadoras e coordenadores brasileiro, assim como as políticas
pedagógicos, professoras e professores. É migratórias seletivas, que subsidiavam a
fundamental que todas e todos os chegada de europeus baseadas em uma
educadores estejam atentos e sejam política de branqueamento da população,
atuantes na promoção do direito a educação são marcas violentas da história de nosso
de migrantes internacionais. país.
O documento apresentado está em Sob a perspectiva contemporânea, ao
consonância com a Política Municipal para observar a chegada de novas pessoas ao
a População Imigrante, a Lei Municipal nº Brasil, de diferentes partes do mundo,
16.478/2016, que assevera a garantia de devemos nos questionar se, de fato, todas as
direitos no Município de São Paulo. A culturas são bem acolhidas por aqui.
partir do compromisso com a tríade: A partir desse questionamento, o
Educação Integral, Equidade e Educação documento “Orientações Pedagógicas
Inclusiva, dialoga com os Objetivos do Povos Migrantes” nos convida a refletir
Desenvolvimento Sustentável da Agenda sobre as nossas práticas enquanto
2030, apresentando as pontes existentes. educadoras e educadores que
Este material convida a um movimento cotidianamente se deparam com as
de desvelar de práticas e convoca ao migrações em sala de aula, seja em razão da
compromisso com a equidade, valorização presença de estudantes de diversas origens
das diversas nacionalidades e, finalmente, ou pela percepção da mobilidade humana
permite-nos refletir acerca da xenofobia e como um fato da realidade ao longo da
racismo, além de indicar caminhos história da humanidade. A proposta é
possíveis para o debate e resolução de apresentar as migrações internacionais sob
conflitos advindos destes. Para terminar, a perspectiva que reconhece a pessoa
evidencio uma, dentre outras, migrante como sujeito de direitos e nos
aprendizagens deste documento: migrar é afastar de estereótipos e preconceitos.
um direito e, a partir dessa premissa básica, Daremos especial atenção ao direito à
convido a todas e todos para essa leitura. educação da população migrante. Direito
Gostaríamos de dar-lhes as boas-vindas este que trilhou uma longa trajetória,
à nossa caminhada em meio a conceitos, marcada pela mobilização e luta de diversos
línguas, culturas e experiências setores da sociedade, até o seu pleno
relacionadas às migrações internacionais. reconhecimento em diferentes documentos

64
Conhecimentos Específicos

legais. Este documento parte de um direito Na terceira parte, passaremos a olhar


estabelecido e nos convida a olhar para a sala de aula. Abordaremos a
particularmente para a forma como o direito necessidade das escolas adotarem uma
à educação se consolida no dia a dia das postura comprometida com uma educação
escolas e é exercido por estudantes antirracista e não xenofóbica e promoverem
migrantes. É fundamental construir uma práticas pedagógicas inclusivas e que
estrutura adequada para a permanência valorizem a diversidade. A apresentação de
desses estudantes nas escolas, acolhendo experiências de Unidades Educacionais da
suas especificidades e valorizando as Rede nos serve de inspiração e trazem
culturas e línguas de origem. caminhos possíveis para garantir o acesso
Como educadoras e educadores, temos pleno à educação da população migrante
um papel importantíssimo na promoção de em nossa cidade.
direitos à população migrante e, nesse Na quarta parte, trataremos das redes de
sentido, devemos buscar metodologias de apoio que podem auxiliar as escolas no
aprendizagem que consigam incluir toda a processo de se reinventar. As parcerias nos
riqueza que nos é apresentada pela presença mostram que não estamos sozinhos e que
de pessoas de diferentes origens em nossas podemos contar com o apoio de diferentes
escolas. atores nesta caminhada.
Ao longo do documento “Orientações Cada parte do documento “Orientações
Pedagógicas Povos Migrantes” será Pedagógicas Povos Migrantes” é finalizada
possível observar que os sujeitos que com propostas de reflexão sobre o campo
migram são múltiplos e diversos. Ao ter migratório. A ideia é que
contato com tantas histórias em o movimento de pessoas pelo mundo
movimento, nos aproximamos de seus mobilize em nós a vontade de nos
sonhos, seus desejos, suas trajetórias, as aproximar e aprender com novas formas de
experiências que carregam consigo, os viver e que nos estimule ao movimento.
desafios que enfrentam para sair e ao chegar Teremos sempre um testemunho na seção
e permanecer, as formas como se entendem Tantas formas de viver e sugestões de
na sociedade receptora e como atividades chamadas Para praticar o
compreendem a realidade onde se inserem. movimento. Ao final, na seção Para
Na primeira parte, serão apresentados os aprofundar-se sobre os temas, indicamos
principais conceitos que envolvem o tema, sugestões de leituras complementares e
com o intuito de oferecer subsídios sites interessantes.
conceituais para a reflexão sobre as
migrações. Nosso ponto de partida é o Prezado(a) Candidato(a), caso queira
entendimento de que somos todas e todos, acessar o documento na íntegra segue o
sem exceções, titulares de direitos link: <https://bit.ly/3qJOhbv>.
humanos, dentre os quais o direito à
educação.
Na segunda parte, entraremos pelos
portões da escola. Serão apresentados
dados da migração na cidade de São Paulo
e na Rede Municipal de Ensino e, a partir
deles, refletiremos sobre uma das primeiras
barreiras que parece se impor, a linguística,
e sobre o momento da matrícula, processo
que inaugura o contato e a relação da escola
com as e os estudantes migrantes e seus
familiares e responsáveis.

65
Conhecimentos Específicos

multidimensionalidade, as propostas
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de pedagógicas devem se organizar
Educação. Coordenadoria Pedagógica. organicamente de maneira a reconhecer e
Educação Integral: política São Paulo valorizar as singularidades, a diversidade
educadora. – São Paulo: SME/ COPED,
social, cultural, de gênero, religiosa,
2020.
territorial, socioeconômica e linguística.
Propôs-se que, a partir desta, algumas
publicações fossem referenciadas de modo
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de a se recuperar, historicamente, como foi se
Educação. Coordenadoria Pedagógica. constituindo a concepção de Educação
Educação Integral: política São Paulo Integral no contexto brasileiro e no
educadora. – São Paulo: SME/ COPED, Município de São Paulo.
2020. Assim, serão apresentadas, além das
21 concepções e conceitos da Educação
Ao longo do processo de elaboração do Integral do Currículo da Cidade de São
documento, partiu-se de conceituações Paulo, as compreensões históricas deste
contemporâneas da Educação Integral e de processo no Brasil, das bases legais que
suas diversas formas de atendimento. amparam políticas públicas de Educação
A Secretaria Municipal de Educação de Integral e da importância da formação
São Paulo tem como premissa a Educação integral das crianças no século XXI, de
Integral. O Currículo da Cidade, em todas modo a integrar saberes e educar para
as suas etapas, modalidades e formas de transformar. Após toda a contextualização
atendimento, orienta-se pela Educação contemporânea e o resgate histórico com
Integral entendida como aquela que seus diversos referenciais teóricos,
promove o desenvolvimento dos estudantes apresenta-se a trajetória deste conceito no
em todas as suas dimensões (intelectual, Município de São Paulo. Em seguida o
física, social, emocional e cultural) como documento propõe, potencializa e
parte indissociável do processo de redimensiona diretrizes para o
aprendizagem ao longo da vida e sua fortalecimento da implementação desta
formação como sujeitos de direitos e concepção (ou concepções) bem como da
deveres, comprometida com o exercício da Política São Paulo Educadora. O último
cidadania. Trata-se não de uma modalidade, capítulo tratará da Avaliação da e na
mas uma concepção política, um paradigma Educação Integral.
urgente, necessário e possível para a Deste modo, as publicações produzidas
qualidade social em educação na nossa neste contexto, possibilitarão um diálogo
cidade. Uma abordagem pedagógica mais direto sobre os avanços, os desafios e
voltada ao desenvolvimento dos bebês, as ações que se realizam para que a
crianças, adolescentes, jovens e adultos na Educação Integral, independentemente da
perspectiva da Cidade Educadora. jornada expandida ou regular, aconteça nas
Essa concepção, no entanto, não se Unidades Educacionais do Município
confunde com Educação em tempo integral (CEIs, CEMEIs, EMEBS, EMEIs, EMEFs,
e pode ser incorporada tanto pelas Unidades EMEFMs, CIEJAs e CECIs). Com relação,
Educacionais de período regular de cinco especificamente, ao Programa São Paulo
horas, quanto pelas de período ampliado de Integral, vigente na Rede Municipal de
sete horas. Ela não se define pelo tempo de Ensino desde 2015, é importante destacar
permanência, mas pela qualidade da que este é parte da Política São Paulo
proposta curricular, que supera a Educadora, Meta 14, Projeto 25, a constar
fragmentação e o foco único em conteúdos no Plano de Metas do Município (2017-20).
abstratos. Na perspectiva da
21
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2021/02/Educacao_Integral.pdf

66
Conhecimentos Específicos

Assim, "Fomentar a intersetorialidade longo do processo na perspectiva da


consolidando, nos territórios, o diálogo Educação Integral.
permanente e ações conjuntas com as A política pública de Educação Integral
Secretarias de Cultura, Esporte, Assistência na Cidade de São Paulo é fruto de uma
Social, Saúde, Verde e Meio Ambiente, longa história que vem se construindo.
Direitos Humanos e Cidadania, Mobilidade Nas três últimas décadas, o debate
e Transportes, Urbanismo e Licenciamento, acadêmico sobre Educação Integral tem
Segurança Urbana, entre outras, assim envolvido sociólogos, filósofos,
como com as organizações da sociedade historiadores e pedagogos, entre outros
civil" é parte das ações para que seja estudiosos preocupados em compreender os
atingido o Ideb de 6,5 nos anos iniciais do problemas e apontar possíveis soluções
Ensino Fundamental e de 5,8 nos anos para melhorar a qualidade educacional e
finais do Ensino Fundamental. formativa do conhecimento construído na
Todavia, a implementação e a escola do Brasil.
compreensão da concepção de Educação Nestes quase 30 anos, a agenda da
Integral em uma rede de ensino implica, Educação Integral seguiu resistindo nas
diretamente, em uma nova maneira de se ações e fazeres pedagógicos em muitas
pensar o currículo desde sua formulação até Unidades Educacionais, pautando e
o trabalho pedagógico em sala de aula. materializando-se em Programas da
Trata-se de uma proposta bastante Secretaria Municipal de Educação,
desafiadora, pois possibilita aos educadores indutores de projetos integrados entre
e a toda a comunidade escolar repensar Unidade Educacional, comunidade e
sobre como o trabalho pedagógico pode território para o pleno desenvolvimento dos
dialogar com os diferentes contextos bebês, crianças, adolescentes, jovens e
sociais, políticos, econômicos e culturais adultos, independentemente do tempo
dos diferentes territórios da cidade. expandido da jornada escolar.
É preciso reconhecer a potencialidade Este documento é, sobretudo, um
dos territórios enquanto espaços educativos convite aos profissionais da Rede
e construir aprendizagens significativas, em Municipal de Ensino de São Paulo para
que os estudantes sejam, de fato, seguirem um processo de reflexão coletiva
reconhecidos como sujeitos da própria no que se refere aos melhores caminhos
aprendizagem. Por reconhecer o quão é para planejar, avaliar e articular um
complexa a concepção e implementação da trabalho integrado e integrador.
Educação Integral é imprescindível o amplo
diálogo, a escuta e a participação dos Prezado(a) Candidato(a), caso queira
educadores, a comunidade escolar e acessar o documento na íntegra segue o
equipes da Secretaria Municipal de link: <https://bit.ly/3BFGyS6>.
Educação.
Todas as concepções e práticas
pedagógicas dos territórios educativos, as
publicações, o resgate histórico, entre
outros, referenciados neste documento
devem inspirar e provocar, os sujeitos
históricos do processo de aprendizagem,
instigando-os, de fato, para uma
transformação na forma de pensar e agir de
todos os atores participantes da educação. É
imprescindível o estudo e o debate
constante entre todos de maneira a se
observar os problemas e os avanços ao

67
Conhecimentos Específicos

no contínuo aprimoramento das concepções


São Paulo (SP). Orientação normativa nº que fundamentam suas práticas
01: avaliação na educação infantil: pedagógicas.
aprimorando os olhares. São Paulo: SME
O documento elaborado pelo GT
/ DOT, 2014.
apresenta reflexões sobre Concepção de
Educação Infantil, de Criança e Infância, de
Currículo, Perfil do Educador(a) da
São Paulo (SP). Orientação normativa
Infância, Participação da Família, Projeto
nº 01: avaliação na educação infantil:
Político Pedagógico, Contextualizando a
aprimorando os olhares. São Paulo:
Avaliação na Educação Infantil, Avaliando
SME / DOT, 2014.
o Processo de Aprendizagem e
22 Desenvolvimento da criança, Avaliação
A Rede Municipal de Ensino de São
Institucional, Articulação da Educação
Paulo – RMESP, com a implantação do
Infantil com o Ensino
Programa Mais Educação São Paulo
Fundamental, Registrando o Processo de
Reorganização Curricular e Administrativa,
Avaliação e Expedindo Documentação
Ampliação e Fortalecimento da Rede
Educacional. Cada um desses itens defende
Municipal de Ensino, ao estabelecer os
a ideia de criança potente, criativa,
princípios da Reorganização da Educação
inventiva, sujeito de direitos que se
Infantil Paulistana, apresenta significativos
constitui no tempo e no espaço social, e que
avanços com relação às concepções de
a partir de seu modo próprio de ver e
criança, infância e educação infantil,
compreender o mundo produz as culturas
incluindo a avaliação no bojo dessa outra
infantis.
forma de “olhar” as crianças no cotidiano
Além de tratar sobre a avaliação na
das Unidades Educacionais de Educação
educação infantil, a Orientação Normativa
Infantil.
Nº 01/2013 – Avaliação na Educação
Tal “olhar” vem sendo aprimorado de
Infantil: aprimorando os olhares traz
maneira democrática, colegiada e dialógica
subsídios para a construção de um currículo
na interlocução entre SME DOT/ Educação
integrador que rompa com a cisão entre: o
Infantil e representantes das equipes das
CEI e a EMEI, a EMEI e a EMEF, o brincar
Diretorias de Orientação Técnico-
e o aprender, o corpo e a mente, a Unidade
Pedagógicas – DOT-P das Diretorias
Educacional e a Família, o Currículo e o
Regionais de Educação – DRE e
Projeto Político Pedagógico, a prática
representantes da Supervisão para a
pedagógica e a avaliação, os adultos e as
construção de uma pedagogia da e com a
crianças, a cidade e as infâncias. Esse
infância e de um currículo integrador para a
caráter integrador do currículo para a
educação infantil paulistana ao longo dos
infância traz a avaliação como parte
encontros formativos “Diálogos para a
fundamental do trabalho político
construção do currículo da infância
pedagógico.
paulistana”.
Reafirma a relevância de considerar que
Como parte da beleza desse diálogo, no
a infância não se encerra aos cinco anos e
ano de 2013 foi constituído o Grupo de
onze meses de idade, e que a criança
Trabalho Avaliação na educação infantil –
continua potente e criativa ao ingressar no
GT Avaliação, para a elaboração da
ensino fundamental. Tal documento
Orientação Normativa Nº 01/2013 –
configura a educação infantil como
Avaliação na Educação Infantil:
território privilegiado dessa infância e, o(a)
aprimorando os olhares, que tem o objetivo
educador(a) como responsável pela
de apoiar o trabalho das Unidades
construção do cenário para a criação
Educacionais de Educação Infantil da rede

22
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Orientacao-Normativa- n01

68
Conhecimentos Específicos

infantil e, por possibilitar às crianças


múltiplas experiências sobre o mundo e São Paulo (SP). Orientação Normativa de
sobre as coisas sem deixar de serem registros na Educação Infantil. São
crianças. Paulo: SME / COPED, 2020.
Por isso, consideramos que a Orientação
Normativa Nº 01/2013 – Avaliação na
Educação Infantil: aprimorando os olhares São Paulo (SP). Orientação Normativa
é um importante objeto de estudo e reflexão de registros na Educação Infantil. São
para as educadoras e os educadores da Rede Paulo: SME / COPED, 2020.
Municipal de Ensino com foco na
23
construção do trabalho pedagógico de Esta publicação cumpre com dois
maneira a respeitar e considerar a papéis, complementares e interligados, o
pluralidade das comunidades e as primeiro de dar publicidade à Normativa de
singularidades dos contextos educacionais Registro, o segundo de indicar
dos quais os bebês, as crianças, suas possibilidades que algumas Unidades
famílias e os profissionais das unidades são Educacionais foram realizando ao longo
os autores da construção desse projeto destes anos.
educacional em um movimento de Reconhecemos que a meta final de todo
interlocução entre esses atores sociais. registro da Educação Infantil seja
As proposituras apresentadas nesse transformar ou subsidiar uma
documento são fundamentais e Documentação Pedagógica, porém não são
enriquecedoras para transformação do todas as Unidades que possuem no seu
trabalho pedagógico para e com a infância cotidiano a estratégia de produzir registros.
na cidade de São Paulo. Como marco na A Normativa assume a responsabilidade de
história desta etapa da educação básica na indicar caminhos, ao longo dela será
rede, inaugura um tempo de fortalecimento possível ver trechos e fotos de como
e consolidação de concepções que algumas de nossas Unidades
consideram as crianças o centro do Projeto materializaram seus percursos.
Político Pedagógico. Deixamos dois alertas, o primeiro: não
Assim, esperamos que esse documento existe certo ou errado quando estamos
seja um dos materiais de estudo que o falando de uma construção coletiva de
auxilie nas reflexões de suas ações e registros, o que precisa existir é o desejo de
práticas, que seja utilizado nos horários coletivamente alcançarmos as melhores
coletivos e nas discussões com seus estratégias, e que esta seja significativa para
colegas. o corpo docente, gestores, para os bebês e
crianças e seus responsáveis/familiares. O
Prezado(a) Candidato(a), caso queira segundo: não é possível alcançar a
acessar o documento na íntegra segue o excelência no fazer docente sem ter
link: <https://bit.ly/3S6zSCb>. registros sistematizados. Quanto mais
sistematizado e coletivamente forem
construídos os registros, maiores serão as
possibilidades de haver uma transformação
intencional do fazer docente.
Por fim, todo registro merece uma
curadoria e uma devolutiva. Ao realizar
estes atos, iremos ao encontro da
documentação pedagógica, não há sentido
em pedir um registro docente sem a gestão

23
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2020/12/ON-Registros-Digital.pdf

69
Conhecimentos Específicos

efetivar uma devolutiva. O mesmo se potencialidade formativa que possui. Por


espera para as produções infantis e para as isso, os registros devem ser considerados
comunicações aos responsáveis. como instrumentos reveladores das práticas
Destacamos, ao longo da Normativa, cotidianas e como recursos pedagógicos
trechos do Currículo da Cidade: Educação para a ressignificação dessas práticas. Os
Infantil, pois os princípios que emanam registros do cotidiano da UE são elaborados
deste documento perpassam toda a pela(o) professora(or) a partir da
Normativa. Recomendamos que façam observação e da escuta de bebês e crianças,
muitas leituras coletivas deste material, bem como da sua prática pedagógica, sendo
construam coletivamente respostas e também subsidiado pelas informações
proposições aos itens indicados e, acima de obtidas nas reuniões e nos encontros
tudo, assumam uma forma de registrar os formativos, coordenados pela equipe
fazeres docentes, gestores, infantis e gestora. Pertinente também observar a
comunitários, em busca de uma possibilidade de utilizar o diálogo com as
intencionalidade que respeite e reflita famílias/responsáveis por meio de agenda,
acerca do que seja melhor para os bebês e das redes sociais e/ou da documentação
crianças da Cidade de São Paulo. pedagógica. Além do registro da(o)
A partir da multiplicidade de professora(or), os bebês, as crianças e as
instrumentos de registros utilizados pelas famílias/responsáveis podem ser
Unidades Educacionais (UE) da Rede incentivados a produzir registros.
Municipal de Ensino (RME) – A identidade da Educação Infantil
planejamento, carta de intenção, semanário, Paulistana tem passado por uma
diário de bordo, caderno de observação, reconfiguração significativa, uma vez que, a
caderno de passagem, portfólio, mural, partir de 2002, a Educação Infantil passou a
painel, agenda, redes sociais, relatório ser responsabilidade direta da Secretaria
individual do bebê e da criança, registros de Municipal de Educação, nos termos
reuniões e horários formativos, projeto Decreto nº 41.588/01 (SÃO PAULO,
político-pedagógico, entre outros – e os 2001). Em face da transferência da
diferentes usos destes instrumentos no Secretaria de Assistência Social para a
cotidiano dos Centros de Educação Infantil Secretaria de Educação, a Educação Infantil
(CEI) diretos e parceiros (indiretos e acolheu as demandas da faixa etária de 0 a
particulares), dos Centros Municipais de 3 anos, até então não atendidas pela SME, e
Educação Infantil (CEMEI), dos Centros de suscitou o trabalho pedagógico com bebês.
Educação Infantil Indígena (CEII), das Considerando o grande número de
Escolas Municipais de Educação Infantil Unidades Educacionais de bebês e crianças
(EMEI) e das Escolas Municipais de que compõem a Educação Infantil da RME,
Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) compreendemos que há entre os
fez-se necessário a elaboração de uma documentos e as práticas pedagógicas
Orientação Normativa que trata de registros múltiplos entendimentos. Nesse contexto, a
na Educação Infantil. presente Orientação Normativa tem como
Muitos desses registros já estão objetivos subsidiar as equipes gestoras e
incorporados à dinâmica das UEs há muito docentes na elaboração dos diversos
tempo, entretanto, carecem de atenção, instrumentos de registros das Unidades
cuidado e critérios nas suas elaborações, Educacionais e promover o estudo e a
pois ainda há dúvidas sobre o que convém reflexão para que esses instrumentos de
ou deve compor cada um desses registros possam tornar-se documentação
instrumentos de registro. pedagógica.
A produção diária e permanente de O Currículo Integrador da Infância
registros deve superar o mero cumprimento Paulistana (SÃO PAULO, 2015) apresenta
burocrático para avançar no sentido da a documentação pedagógica como a

70
Conhecimentos Específicos

possibilidade de comunicar as vivências e Qualidade da Educação Infantil Paulistana,


aprendizagens dos bebês e das crianças, provoca a busca de transformações para
valorizando seu protagonismo, sua autoria garantir o direito à Educação Infantil
e, também, o protagonismo docente. E é por pública de Qualidade Social a todos os
meio da qualificação dos registros já bebês e crianças que vivem suas infâncias
realizados, de novas proposições acerca nas Unidades de Educação Infantil da Rede
desses e da reflexão sobre as práticas, que Municipal de Ensino de São Paulo, que se
almejamos o uso efetivo do conceito de configura hoje umas das maiores Redes de
documentação pedagógica na Educação Educação Pública da América Latina.
Infantil da Rede Municipal de Ensino de Agradecemos a colaboração de todas as
São Paulo. Unidades de Educação Infantil que
Considerando a Constituição Federal enviaram suas contribuições e de todos os
(1988), que prevê como dever do Estado o atores que integram a Rede Municipal de
atendimento em creches e pré-escolas, a Lei Ensino, que direta ou indiretamente
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional colaboraram com essa construção.
(Lei nº 9.394/96), que estabelece a Este documento representa, como nos
Educação Infantil como primeira etapa da aponta Bondioli, a compreensão de que a
Educação Básica, a Emenda Constitucional Qualidade não é um valor absoluto, não é
nº 59/2009, que prevê a obrigatoriedade da um produto, não é um dado, mas sim se
matrícula de crianças a partir de quatro anos constrói, através da consciência, da troca de
na Educação Infantil, o Plano Nacional de saberes, do confronto construtivo de pontos
Educação (Lei nº 13.005/14), com a de vista, do hábito de pactuar e examinar a
ampliação da oferta de matrículas de 0 a 3 realidade, da capacidade de cooperar para
anos e a chegada de novos profissionais aspectos da “transformação para melhor”.
docentes e gestores no cenário educativo Os Indicadores de Qualidade da
municipal, faz-se necessário relembrar o Educação Infantil Paulistana inauguram
percurso histórico dos registros na RME e uma nova maneira na compreensão e na
explicitar o que se entende por instrumentos prática da avaliação e precisam estar
de registros e quais são suas finalidades. constantemente presentes no fazer
pedagógico.
Prezado(a) Candidato(a), caso queira Os Indicadores de Qualidade da
acessar o documento na íntegra segue o Educação Infantil Paulistana têm como
link: <https://bit.ly/3U99oBG>. objetivos auxiliar as equipes de
profissionais das Unidades Educacionais,
juntamente com as famílias e pessoas da
São Paulo (SP). Indicadores de Qualidade comunidade, a desenvolver um processo de
da Educação Infantil Paulistana. São autoavaliação institucional participativa
Paulo: SME / DOT, 2016. que leve a um diagnóstico coletivo sobre a
qualidade da educação promovida em cada
Unidade, de forma a obter melhorias no
São Paulo (SP). Indicadores de trabalho educativo desenvolvido com as
Qualidade da Educação Infantil crianças.
Paulistana. São Paulo: SME / DOT, Este documento foi construído a partir
2016. de uma experiência de autoavaliação
desenvolvida nas Unidades de Educação
24
Acreditamos que a prática da Infantil da Rede Municipal de Ensino de
Autoavaliação Institucional Participativa, São Paulo nos anos 2013 e 2014. Esse
por meio do uso dos Indicadores de processo contou com a participação

24
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/25101.pd f

71
Conhecimentos Específicos

voluntária de 441 Unidades Educacionais nas Escolas Municipais de Educação


de todas as Diretorias Regionais de Infantil EMEIs, Escolas Municipais de
Educação (DREs) da capital, incluindo Educação Bilíngue para Surdos - EMEBS,
Escolas Municipais de Educação Infantil Centros Municipais de Educação Infantil
(EMEIs), Centros de Educação Infantil CEMEIs e Centros de Educação Infantil -
(CEIs) diretos e indiretos e Creches CEIs diretos, indiretos e
particulares/conveniadas (CEIs particulares/conveniados da Cidade de São
conveniados). Paulo.
Com base nessa experiência, que
utilizou o documento publicado pelo MEC Prezado(a) Candidato(a), caso queira
em 2009, Indicadores da Qualidade na acessar o documento na íntegra segue o
Educação Infantil, um Grupo de Trabalho – link: <https://bit.ly/3RIe4N7>.
GT, composto por profissionais
representativos da Rede, elaborou a versão
preliminar do documento Indicadores da São Paulo (SP). Currículo integrador da
Qualidade na Educação Infantil Paulistana, infância paulistana. São Paulo:
que foi utilizado em todas as Unidades de SME/DOT, 2015.
Educação Infantil da capital, no primeiro
semestre de 2015.
Essa primeira versão foi revista e São Paulo (SP). Currículo integrador da
aperfeiçoada pelo mesmo GT, infância paulistana. São Paulo:
incorporando as sugestões encaminhadas SME/DOT, 2015.
pela Rede, para que as Unidades de
Educação Infantil de São Paulo possam A DOT – Educação Infantil e Ensino
25

contar com seus próprios Indicadores de Fundamental e Médio vêm trabalhando na


Qualidade, adaptados à sua realidade, construção de uma pedagogia que oriente a
testados em toda Rede e preparados por um Rede Municipal de Ensino de São Paulo
grupo de profissionais representativos. quanto às concepções que embasam a
Assim, previstos no calendário escolar, implantação do Currículo Integrador da
são planejados dois momentos de trabalho Infância Paulistana.
coletivo com participação dos profissionais, Esta proposta está anunciada em vários
das famílias e da comunidade: o primeiro, documentos já publicados pela Secretaria
para a realização da autoavaliação; e o Municipal de Educação (SME), dentre eles
segundo, para a elaboração do plano de as Diretrizes contidas no Programa de
ação, o qual visa aprimorar aqueles Reorganização Curricular “Mais Educação
aspectos apontados na autoavaliação que São Paulo” – Reorganização Curricular e
necessitam ser revistos e melhorados, seja Administrativa, Ampliação e
por ações da própria Unidade, seja por Fortalecimento da Rede Municipal de
medidas solicitadas a outras instâncias de Ensino de São Paulo e a Orientação
decisão da administração municipal, das Normativa nº 01/13 – Avaliação na
entidades mantenedoras conveniadas ou de Educação Infantil: aprimorando os olhares.
outros órgãos. O presente documento é fruto de ampla
Com esta iniciativa, a Rede Municipal de discussão e construção coletiva. Num
Ensino espera poder contribuir para a primeiro momento com as equipes das
construção de experiências educativas de Diretorias de Orientação Técnica das
qualidade cada vez mais significativa para Diretorias Regionais de Educação (DREs)
todas as crianças de zero a cinco anos e 11 e, posteriormente, com as equipes das
meses de idade que vivem suas infâncias Unidades Educacionais (UEs), quando
25
https://www.sinesp.org.br/images/28_- .pdf
_CURRICULO_INTEGRADOR_DA_INFANCIA_PAULISTANA

72
Conhecimentos Específicos

foram realizados treze Seminários de práticas que valorizem as interações


Regionais, um em cada DRE. entre bebês e crianças, facilitando a criação
Os Seminários tinham como objetivo das culturas infantis.
proporcionar momentos de reflexões, A criança tem direito de prosseguir seus
discussões e debates sobre as cisões estudos, aprofundando seu acesso ao
históricas entre o Centro de Educação conhecimento produzido pela humanidade,
Infantil (CEI) e a Escola Municipal de sem abandonar suas infâncias. Esses podem
Educação Infantil (EMEI) e destes com o ser dois dos principais ganhos dessa
Ensino Fundamental, rupturas estas que integração.
distanciam e, por vezes, antagonizam as Sendo um processo de reflexão e
propostas pedagógicas da Educação Infantil construção, o currículo integrador para a
e do Ensino Fundamental, tais como a cisão infância paulistana está em construção
entre o corpo e a mente, a razão e a fantasia, como obra coletiva, aberta à participação e
as concepções e as práticas pedagógicas, o à autoria dos educadores e das educadoras
brincar e o aprender, o tempo/ ritmo das da Educação Infantil e do Ensino
crianças e o tempo institucional. Fundamental, dos bebês, crianças, de suas
Apresentamos o documento “Currículo famílias/responsáveis e comunidade.
Integrador da Infância Paulistana” como Configura-se como um movimento de
subsídio para os momentos de estudo reorientação curricular que considera a
coletivo dos educadores e educadoras de integralidade dos sujeitos e do processo
ambas as etapas da Educação Básica, com o educativo, o lugar da cultura e o papel da
intuito de promover reflexões sobre as educação escolar no processo de formação
práticas pedagógicas com vistas a um da pessoa, o protagonismo e a autoria de
processo de transição da Educação Infantil bebês e crianças, o reconhecimento das
para o Ensino Fundamental que articule os diversidades, a valorização das diferenças e
trabalhos desenvolvidos nas duas etapas. o compromisso com a igualdade.
Integrar, nesse caso, não significa
desconsiderar diferenças entre os objetivos Por que um Currículo Integrador da
e direitos de aprendizagem de cada Infância Paulistana?
etapa/segmento, mas sim, garantir que as Faz pouco tempo que as diferentes
concepções, ações e registros considerem ciências ligadas à compreensão do ser
bebês e crianças reais em sua inteireza e humano e de seu desenvolvimento
potencialidade tanto na Educação Infantil perceberam o papel que a educação (a
quanto no Ensino Fundamental. relação das novas com as velhas gerações e
com o mundo) tem na formação da
Afirmar que crianças e bebês são o eixo inteligência e da personalidade de cada
do trabalho pedagógico significa valorizar e pessoa. Antes disso, entendia-se que o ser
compreender as especificidades e humano era produto de sua genética e,
diversidades dos conceitos de infância e de desse ponto de vista, havia pouco que o
criança, assim como a importância de que trabalho docente pudesse fazer para a
os direitos de bebês e crianças balizem seu constituição dos sujeitos. Com isso, o foco
percurso nas instituições educacionais da do trabalho escolar era a transmissão de
Rede Municipal de Ensino de São Paulo. conteúdos escolares sempre com vistas à
preparação das crianças para aprendizagem
Esperamos que o conteúdo deste de novos conteúdos nas etapas seguintes.
documento provoque ações que Com base nessa compreensão, estruturou-
transformem desde o currículo, se uma forma de organizar o trabalho
compreendido como um instrumento vivo, docente nas Unidades Educacionais para
até a criação de espaços adequados tanto promover essa transmissão de conteúdos
nas salas, quanto nas áreas externas, além sem considerar, no entanto, o que estudos e

73
Conhecimentos Específicos

pesquisas recentes em diferentes campos do Nesse sentido, a organização dos


conhecimento têm mostrado: à medida que tempos, espaços e materiais e a proposição
conhecem o mundo de objetos e pessoas, o de vivências precisam contemplar a
bebê e a criança se constituem como importância do brincar, a integração de
pessoas (constituem sua inteligência e sua saberes de diferentes componentes
personalidade). curriculares, as culturas infantis e culturas
Isso apresenta um novo desafio para as da infância em permanente diálogo.
Unidades Educacionais: organizar o Na perspectiva de um Currículo
trabalho pedagógico para bebês e crianças Integrador, a criança não deixa de brincar,
para promover a constituição por cada bebê nem se divide em corpo e mente ao
e cada criança da máxima inteligência e das ingressar no Ensino Fundamental. Ao
melhores qualidades da personalidade, contrário, ela continua a ser compreendida
lembrando que este é um processo contínuo em sua integralidade e tendo oportunidades
para a criança que entra na Educação de avançar em suas aprendizagens sem
Infantil e segue pelo Ensino Fundamental. abandonar a infância.
Um currículo integrador da infância de 0 a
12 anos é uma resposta inicial a esse novo Prezado(a) Candidato(a), caso queira
cenário onde o processo educativo adquire acessar o documento na íntegra segue o
um novo sentido. link: <https://bit.ly/3DqBH8W>.
Enfrentar esse desafio na maior rede
municipal de educação do nosso país como
é a Rede Municipal de Educação de São São Paulo (SP). Orientação Normativa de
Paulo é contribuir para a qualidade social da educação alimentar e nutricional para
educação da infância não apenas paulistana, Educação Infantil. São Paulo: SME /
mas brasileira e para além de nossas COPED / CODAE, 2020.
fronteiras.

O currículo integrador na perspectiva São Paulo (SP). Orientação Normativa


de uma educação democrática: de educação alimentar e nutricional
concepções e princípios para Educação Infantil. São Paulo:
A constituição de um currículo que trate SME / COPED / CODAE, 2020.
de modo integrado bebês e crianças que
26
ingressam na Educação Infantil e Os princípios e diretrizes que embasam
prosseguem seus estudos no Ensino o Currículo da Cidade – Educação Infantil
Fundamental requer que educadoras e devem dialogar com os momentos de
educadores compartilhem concepções e alimentação nas UEs, como garantia de
princípios sobre as diversas infâncias e seus direitos, do protagonismo infantil, da escuta
direitos. de bebês e crianças, do acesso aos bens
O currículo integrador da Infância culturais, do respeito à diversidade étnico-
Paulistana que envolve a Educação Infantil cultural, étnico-racial, de gênero e da
e o Ensino Fundamental da Rede Municipal inclusão de bebês e crianças com
de Ensino de São Paulo pressupõe que o deficiência. Retomamos cenas e excertos do
trabalho coletivo das Unidades Currículo da Cidade – Educação Infantil,
Educacionais se fundamente no que revelam a concepção de infância, de
planejamento de propostas pedagógicas que aprendizagem/desenvolvimento e a
acolham e respeitem as vozes de bebês e intencionalidade docente para dialogar com
crianças, suas histórias e potencialidades. a Orientação Normativa de Educação
Alimentar e Nutricional.

26
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2020/12/ON-Alimentação-Digital.pdf

74
Conhecimentos Específicos

O currículo constitui-se também pelos adequadas, com mobiliário móvel


momentos de alimentação dentro do apropriado à faixa etária, organizado de
contexto educacional. A alimentação tem a forma a possibilitar a circulação local dos
finalidade de promover a saúde e bem-estar bebês e crianças, proporcionando a elas
de bebês e crianças numa relação que vai fazerem escolhas, servirem-se e permitindo
além do cuidado com a saúde física, descarte das sobras de alimentos. O
integrando aspectos afetivos, sociais e ambiente pode ser utilizado, também, para
cognitivos. É preciso considerar a realizações de atividades que ofereçam às
integralidade do sujeito e atuar de forma crianças experiências culinárias, além de
reflexiva e intencional, respeitando e outras atividades/vivências.
acolhendo os desejos e necessidades A recomendação da Orientação
infantis. Assim, a organização dos Normativa 01/2015 traz que o ambiente da
ambientes, a seleção e oferta de mobiliários alimentação seja permeado de práticas
apropriados à altura das crianças, os sociais e pedagógicas. No Projeto Político
utensílios e materiais adequados oferecidos, Pedagógico (PPP), deve estar expressa a
a organização dos tempos e as interações concepção sobre a alimentação, como é a
possíveis, são exemplos da materialização organização desse momento e a
do Currículo da Cidade – Educação intencionalidade pedagógica. Assumir
Infantil nos momentos de alimentação. coletivamente a alimentação na UE,
Os Indicadores de Qualidade da enquanto uma prática social, requer rever
Educação Infantil Paulistana (SÃO continuamente o planejamento, de forma a
PAULO, 2016) reafirmam a importância assegurar a observação, escuta e registro
de um lugar aconchegante, acolhedor e que também nesses momentos.
atende às necessidades e possibilite a O Currículo da Cidade – Educação
interação e as aprendizagens dos bebês e Infantil defende, enquanto referência
das crianças. Nesse sentido, a apresentação estética para bebês e crianças que vivem
do alimento oferecido, o direito de escolher boa parte do dia nas UEs de Educação
o que quer comer, o envolvimento e a Infantil, que as marcas das próprias crianças
participação dos bebês e das crianças na remetam a noção de pertencimento e que se
organização desse momento são reconheçam nesse ambiente. Isso implica
fundamentais para a construção da dizer que é preciso romper com os modelos
autonomia. e estéticas estereotipados, como por
Nos dias destinados à aplicação e exemplo, desenhos de frutas/legumes com
elaboração do Plano de Ação dos carinhas e pernas, desenhos e personagens
Indicadores de Qualidade da Educação tidos pelas mídias como adequados para o
Infantil Paulistana, famílias, universo infantil.
educadoras(es) e as equipes se reúnem Da mesma forma, a estética na
para refletir sobre o cotidiano vivido composição do prato construída a partir do
considerando as vozes de bebês e imaginário dos adultos, tais como alimentos
crianças, para, assim, tomarem decisões moldados representando animais,
sobre onde se quer chegar, o que pode ser personagens (mais conhecidos como pratos
qualificado e quais ações serão com carinhas, decorados ou divertidos) não
desenvolvidas no cotidiano dos CEIs, repercute na aceitação dos alimentos,
EMEIs e CEMEIs, incluindo também tudo descaracteriza-os e não indicam o
aquilo que diz respeito aos momentos de porcionamento correto para as crianças.
alimentação. As(Os) gestoras(es) das UEs devem
A Orientação Normativa 01/2015, define planejar e priorizar os materiais necessários
refeitório como: Ambiente para para a efetivação de ações para EAN, o que
alimentação, socialização e autonomia dos significa definir quais e quanto dos recursos
bebês e crianças, com dimensões financeiros disponíveis serão investidos

75
Conhecimentos Específicos

para aquisição de bens permanentes e de sujeitos que interagem no contexto escolar


consumo para esse fim. – gestores(as), professores(as),
funcionários(as) – e tampouco as condições
Prezado(a) Candidato(a), caso queira e os processos de trabalho. Ainda, quando
acessar o documento na íntegra segue o se trata de avaliação da aprendizagem,
link: <https://bit.ly/3DqlUXM>. prevalece a compreensão de que suas
principais finalidades são a classificação e
a seleção dos estudantes. Essa visão
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de dominante, associada na maioria das vezes
Educação. Coordenadoria Pedagógica. a consequências punitivas, tende a se
Avaliação no contexto escolar: reproduzir diante de outras demandas que
vicissitudes e desafios para gradativamente são postas à escola, seja a
(res)significação de concepções e práticas. da avaliação institucional, dos profissionais
São Paulo: SME / COPED, 2020. da educação, de programas, o que suscita a
associação da ideia de avaliação à
possibilidade de consequências negativas,
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de resultando em resistências para análises de
Educação. Coordenadoria Pedagógica. concepções e práticas vigentes.
Avaliação no contexto escolar: De fato, por em questão pontos de vista
vicissitudes e desafios para sobre avaliação não é uma tarefa simples,
(res)significação de concepções e pois conduz, no limite, ao confronto, como
práticas. São Paulo: SME / COPED, diz Azanha, com a “mentalidade
2020. pedagógica” que tem sido dominante na
escola brasileira, o que supõe ir além da
27
Esta publicação resulta de iniciativa da busca de aprimoramento de técnicas e de
Secretaria Municipal de Educação de São procedimentos avaliativos, mas, também,
Paulo (SME/SP) e visa dar continuidade revelar os fundamentos que os alicerçam.
aos estudos sobre avaliação educacional, Veja-se que se fala em “mentalidade
desde há muito tempo presentes na Rede. pedagógica” dominante. Certamente são
Sua oportunidade decorre do diversas as concepções e práticas de
reconhecimento de que é difícil mudar a avaliação vivenciadas na Rede Municipal
abrangência, as finalidades e as maneiras de de Ensino de São Paulo (RME/SP) que, em
se conduzir a avaliação escolar, além de 2018, somavam mais de 3.500
considerar a significativa renovação do estabelecimentos escolares e
quadro do magistério, ocorrida em anos aproximadamente 760.000 estudantes
recentes. Na escrita do texto assume-se matriculados nas etapas e modalidades de
como principais interlocutores os ensino ofertadas Educação Infantil, Ensino
profissionais que atuam nas Unidades Fundamental, Ensino Médio, Educação de
Educacionais, tendo como parâmetro, para Jovens e Adultos e Educação Profissional.
discussão do tema, os princípios de uma No caso dos Centros de Educação Infantil
educação equitativa, integral e inclusiva, tal há que se ter em conta não apenas aqueles
como afirmados nos documentos oficiais da de administração direta, mas, também, os
Rede Municipal de ensino. conveniados, indiretas e parceiras, que se
A discussão do tema avaliação, no responsabilizam por 85% das matrículas.
âmbito escolar, usualmente se restringe a Ainda há que se considerar que em cada
tratar de avaliação de aprendizagem dos um desses estabelecimentos convivem
estudantes, não abrangendo os demais diferentes e divergentes posicionamentos
em relação à avaliação, os quais precisam
27
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- df
content/uploads/2020/04/Livro_Avaliacao_no_contexto_2020.p

76
Conhecimentos Específicos

ser debatidos com vistas à construção de um decorrências desse entendimento é a de que


projeto de escola com o qual se os resultados das avaliações –
comprometam os seus diversos integrantes. aprendizagem, larga escala e institucional –
O modo de conceber e conduzir a devem balizar iniciativas dessas diversas
avaliação reflete, no limite, concepções de instâncias, dentro de sua área de atuação,
educação, de escola e de sociedade que pois todas são igualmente responsáveis por
orientam o trabalho escolar. Avalia-se para promover a qualidade do trabalho escolar,
afirmar valores, ou seja: Os critérios de com vistas a promover a aprendizagem de
avaliação não são estabelecidos de modo todos os estudantes.
dissociado das posições, crenças, visões de No âmbito da escola, é desejável que os
mundo e práticas sociais de quem os estudos, reflexões e debates sobre essas
concebe, mas emergem da perspectiva vertentes da avaliação envolvam os
filosófica, social e política de quem faz o diversos atores da comunidade escolar
julgamento e dela são expressão. Assim, os (profissionais da educação, estudantes,
enfoques e critérios assumidos em um famílias), pois esse processo pode vir a se
processo avaliativo revelam as opções constituir em um caminho promissor para o
axiológicas dos que dele participam. aprimoramento do projeto político
Portanto, ter como perspectiva debater, pedagógico da escola.
aprimorar e/ou redirecionar concepções e Quanto ao envolvimento de diretores,
práticas de avaliação em curso no contexto assistentes de direção, coordenadores
escolar impõe o desvelamento do projeto pedagógicos e docentes nos processos
educacional e social vivenciado pela escola. avaliativos, o Decreto nº 54.453, de 10 de
Espera-se que esta publicação estimule e outubro de 2013 fixa as atribuições dos
subsidie os profissionais da escola nesse Profissionais de Educação que integram as
processo, por meio da difusão de equipes escolares das unidades
contribuições da literatura e de documentos educacionais da RME/SP. Em articulação
normativos elaborados pela própria com diretrizes, prioridades e metas
Secretaria Municipal de Educação de São estabelecidas pela SME/SP, a avaliação, no
Paulo. âmbito da escola, é tratada, neste decreto,
O caminho a ser trilhado será específico como atividade que tem um sentido de
em cada uma das escolas da Rede, pois apoiar e orientar desde a elaboração do
estas têm uma história, trajetórias e projeto político pedagógico da Unidade
dinâmicas próprias, que irão imprimir Educacional, até os planos de trabalho da
interações diferenciadas com as concepções direção, da coordenação pedagógica e
e proposições exploradas no decorrer dos dos(as) professores(as), contemplando a
capítulos deste livro, que tratam de algumas participação dos estudantes e pais no
vertentes que integram o campo da processo de planejamento.
avaliação educacional: avaliação da
aprendizagem, avaliação externa e em larga Prezado(a) Candidato(a), caso queira
escala e avaliação institucional. A opção foi acessar o documento na íntegra segue o
focalizar vertentes de avaliação que mais link: <https://bit.ly/3qGHT53>.
diretamente se fazem presentes no
cotidiano escolar, dado que os destinatários
desta publicação são os profissionais
atuantes nas escolas.
Essa delimitação não deve significar a
desconsideração da necessária relação entre
as iniciativas que ocorrem nas várias
instâncias da Rede – escolas, órgãos
regionais e órgão central. Uma das

77
Conhecimentos Específicos

O Currículo da Cidade, resultado desse


São Paulo (SP). Secretaria Municipal de processo, envolvendo diferentes segmentos
Educação. Coordenadoria Pedagógica. da comunidade educativa, incluindo, além
Currículo da cidade: considerações do da equipe educacional, estudantes e
Conselho Municipal de Educação de São responsáveis, técnicos e pesquisadores da
Paulo. – São Paulo: SME / COPED, 2022. área, é o foco deste estudo do Conselho.
O Currículo da Cidade Ensino
Fundamental, Educação Infantil, Educação
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de de Jovens e Adultos, Língua Brasileira de
Educação. Coordenadoria Pedagógica. Sinais e Língua Portuguesa para Surdos,
Currículo da cidade: considerações do com fundamentação no disposto nas
Conselho Municipal de Educação de São determinações legais, em especial a LDB nº
Paulo. – São Paulo: SME / COPED, 9.394/96 e a BNCC instituída pela
2022. Resolução CNE/CP nº 2/2017, e, também,
pelas Diretrizes Curriculares presentes nos
28 documentos produzidos pela SME ao longo
Trata o presente de manifestação deste
Conselho, a partir de solicitação da dos anos, especialmente as contidas no
Secretaria Municipal de Educação, por Currículo Integrador da Infância Paulistana,
meio do processo SEI 6016.2020/0071275- nas Orientações Curriculares e Proposição
5, de apreciação do Currículo da Cidade. de Expectativas de Aprendizagem para o
Este documento destaca dimensões que Ensino Fundamental, nas Orientações
embasam a elaboração do Currículo da Curriculares e Proposição de Expectativas
Cidade e, na visão dos Conselheiros, de Aprendizagem para o Ensino
constituem um currículo integrador, Fundamental: Libras, nas Orientações
emancipatório e inovador, que tem como Curriculares e Proposição de Expectativas
foco promover a formação que zela pelo de Aprendizagem para a Educação Infantil
direito às aprendizagens e ao e Ensino Fundamental: Língua Portuguesa
desenvolvimento dos bebês, crianças, para pessoas surdas, nos Direitos de
adolescentes, jovens e adultos matriculados Aprendizagem dos Ciclos Interdisciplinar e
nas Unidades Educacionais do Município. Autoral, nos Indicadores de Qualidade da
As dimensões destacadas do Currículo Educação Infantil e nos Padrões de
foram representadas por textos e mapas Qualidade na Educação Infantil, foi
conceituais/imagéticos, que se apresentam construído tendo como base premissas e
de forma articulada visando compartilhar as conceitos orientadores.
estratégias de análise dos Conselheiros e
contribuir com os educadores para a Premissas
construção de seus percursos de estudo e a. Continuidade: O processo de
aprofundamento sobre o Currículo da construção curricular procurou romper com
Cidade. O processo de atualização a lógica da descontinuidade a cada nova
curricular, com início em março de 2017, administração municipal, respeitando a
ocorreu, na Secretaria Municipal de memória, os encaminhamentos e as
Educação, de modo concomitante à discussões realizadas em gestões anteriores
discussão, em nosso país, da Base Nacional e integrando as experiências, práticas e
Comum Curricular – BNCC, que define as culturas escolares já existentes na Rede
aprendizagens essenciais a que todos os Municipal de Ensino.
educandos têm direito ao longo da b. Relevância: O Currículo foi
Educação Básica. construído como um documento dinâmico,
a ser utilizado cotidianamente pelos
28
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- _CME.pdf
content/uploads/2022/06/Parecer-Curriculo-da-Cidade-

78
Conhecimentos Específicos

professores com vistas a garantir os direitos cotidiano escolar e, principalmente,


de aprendizagem e desenvolvimento a reconhece as aspirações, interesses e
todos os bebês, às crianças, aos necessidades dos bebês, crianças,
adolescentes, aos jovens e adultos da Rede. adolescentes, jovens e adultos.
c. Colaboração: O documento foi
elaborado considerando diferentes visões, Conceitos orientadores
concepções, crenças e métodos, por meio Orientado pelos conceitos orientadores
de um processo dialógico e colaborativo, da Equidade, Educação Integral e Educação
que incorporou as vozes dos diversos Inclusiva, o Currículo da Cidade considera
sujeitos que compõem a Rede. as diferentes formas de aprender de cada
d. Contemporaneidade: A proposta bebê, criança, adolescente, jovem e adulto
curricular teve como foco os desafios do na relação com seus contextos de vida.
mundo contemporâneo na perspectiva de Propõe que a apresentação dos conteúdos se
formar os educandos para a vida no século dê a partir de práticas e recursos
XXI. pedagógicos que garantam a todos o direito
Com base nessas premissas, o Currículo às aprendizagens e ao desenvolvimento
da Cidade de São Paulo reforça a mudança integral, e que a mediação pedagógica
de paradigma que a sociedade considere as diferentes formas de aprender
contemporânea vive, na qual o currículo e a criação de estratégias e oportunidades
não deve ser concebido de maneira que o para todos os educandos, reconhecendo e
estudante se adapte aos moldes que a escola respeitando a riqueza das diferenças e da
oferece, mas como um campo aberto à diversidade presentes no cotidiano escolar:
diversidade. Para tanto, o debate mais a. Equidade: Considera a diferença
aprofundado, a reflexão coletiva ancorada como característica inerente da
num elenco maior de saberes e humanidade, sendo necessária a promoção
conhecimentos, no estudo dos documentos de “Uma igualdade que reconheça as
e versões da BNCC, nas pesquisas, nas diferenças e de uma diferença que não
experiências docentes e nas discussões nos produza, alimente ou reproduza as
Grupos de Trabalho, bem como nas desigualdades”.
Consultas Públicas e no coletivo de cada O Currículo da Cidade é concebido
Unidade Educacional da Rede Municipal de como um campo aberto à diversidade, a
Ensino – RME foram a base para a qual não diz respeito ao que cada bebê,
construção do Currículo – Educação criança, adolescente, jovem e adulto
Infantil, Ensino Fundamental, Educação de poderia aprender em relação aos conteúdos,
Jovens e Adultos, Língua Brasileira de mas sim às distintas formas de aprender de
Sinais e Língua Portuguesa para Surdos, cada educando na relação com seus
que se configuram, no campo da educação contextos de vida.
paulistana, não como documentos prontos e Para efetivar esse processo de mediação
acabados, mas como documentos plurais, pedagógica, ao planejar, o professor precisa
abertos às releituras que possibilitam considerar as diferentes formas de
mudanças e inovações a serem aprender, criando, assim, estratégias e
experenciadas no contexto das práticas oportunidades para todos e cada um dos
educativas. educandos. Essa consideração aos
A proposta curricular, considerando as diferentes estilos cognitivos faz do
diferentes realidades da nossa cidade, professor um pesquisador contínuo sobre os
reconhece a importância do acolhimento processos de aprendizagem.
integral e da participação, respeita a forma b. Educação Integral: Promove o
como as aprendizagens são desenvolvidas desenvolvimento de bebês, crianças,
em cada contexto escolar, oferece diretrizes adolescentes, jovens e adultos em todas as
e orientações a serem utilizadas no suas dimensões: intelectual, física, social,

79
Conhecimentos Específicos

emocional e cultural e de sua formação jovens e adultos estigmatizados pela


como sujeito de direitos e deveres na sociedade, por sua diferença, de estarem em
perspectiva de educação integral. uma escola que acolhe e se dedica a
Para serem alcançados os grandes oferecer uma educação pautada no respeito
desafios da humanidade: a cultura da paz, e no compromisso com a qualidade.
os direitos humanos, a democracia, a ética e
a sustentabilidade é necessário que Prezado(a) Candidato(a), caso queira
crianças, adolescentes, jovens e adultos acessar o documento na íntegra segue o
tenham oportunidade de identificar, link: <https://bit.ly/3xslNXF>.
desenvolver, incorporar e utilizar
conhecimentos, habilidades, atitudes e
valores. A aprendizagem de conteúdos
BARBOSA, Maria Carmem Silveira;
curriculares, ainda que importante, não é o FARIA, Ana Lucia Goulart de; MELLO,
suficiente para que as novas gerações sejam Suely Amaral. Documentação
capazes de promover os necessários pedagógica: teoria e prática. São Carlos,
avanços sociais, econômicos, políticos e SP: Pedro & João Editores, 2017
ambientais nas suas comunidades, no Brasil
e no mundo.
Conforme a BNCC, independentemente 29
do tempo de permanência do educando na Temos, portanto, neste livro, uma
escola, o fator primordial a ser considerado polifonia de vozes que não apenas são
é a intencionalidade dos processos e investigativas em seus modos de
práticas educativas fundamentadas por uma compreender as crianças, a pedagogia e a
concepção de Educação Integral. escola, como também são muito
c. Educação Inclusiva: Reconhece a propositivas. Este é um livro com caráter de
diversidade humana e a diferença, bem iniciação a um mundo da pedagogia que
como a necessidade contemporânea de se muito nos orgulha, pois trata, com muito
constituir uma escola para todos, respeito, da escolha profissional que
eliminando as barreiras que possam impedir fizemos e nos convida a seguir trabalhando,
o acesso, a permanência, a participação, a investigando nossa atividade profissional,
aprendizagem e o desenvolvimento de uma profissão ainda nova e pouco
todos os bebês, crianças, adolescentes, valorizada no mundo da educação. O texto
jovens e adultos. fala de uma pedagogia do dia a dia, que se
A Proposta de um Currículo inclusivo constrói a partir das ações e das práticas
envolve conceber que os conteúdos e cotidianas , do seu registro, da análise e da
estratégias devem favorecer a reflexão que se faz a partir deste cotidiano
aprendizagem de todos, ou seja, um que transborda vitalidade, alegria e
currículo mais negociado que se traduz na memória.
prática, numa perspectiva Uma outra pedagogia, uma pedagogia
multidimensional, em todos os espaços que cria vida, onde teoria e prática não se
educativos. separam, assim como o saber e a
A qualidade dessa proposta está na experiência, o pensar e o fazer, o viver e o
valorização da heterogeneidade dos sujeitos narrar. Esperamos que gostem tanto dele
que estão nas Unidades Educacionais e na quanto nós e que suas indicações possam
ação coletiva e colaborativa dos contribuir para a constituição de pedagogias
educadores, bem como na efetivação de democráticas, participativas e
uma educação que rompe com as barreiras contextualizadas. Além disto, cremos que o
que impedem bebês, crianças, adolescentes, livro também toca em duas importantes
temáticas educativas, uma delas é da
29
https://bit.ly/3BhKR4X

80
Conhecimentos Específicos

formação continuada dos professores e educativo, portanto incita a mudança em


professoras. É certo que na formação inicial algumas regras relativas aos lugares do
de professores/as sempre ficam lacunas, poder ao propor o diálogo com as famílias
aprender junto aos colegas, organizar e a comunidade;
grupos de estudos, fazer pesquisa na escola • Inclui a permanente escuta,
é o modo mais adequado de construir novas observação, registro e compartilhamento do
pedagogias. acontecido exigindo, permanente, a
As universidades, centros de pesquisa, reflexão participativa;
secretarias de educação são pontos de • O valor dado aos processos é tão
apoio, mas sem professores/as desejosos/as grande quanto aquele destinado ao produto
de aprender, de investigar, de criar novas final. Se é que o produto final será,
abordagens educativas não há como efetivamente, avaliado como tal;
transformar hábitos de pensamento e ação, • O processo a ser realizado é
tão arraigados na escola, que incidem na continuamente planejado, executado e
exclusão das crianças (dentro ou fora da replanejado de acordo com sua
escola) ou na sua medicalização e na significância. As trajetórias podem mudar e
transformação da docência numa profissão a singularidade de cada um tem lugar num
da repetição, da cópia, do fazer sempre o processo coletivo;
mesmo e não da invenção e da criação. • O sentido das ações realizadas na
E a segunda questão é a da abordagem escola é fundamental; todas as
da didática. O século vinte construiu uma aprendizagens precisam ser
didática sequencial, linear, onde cada um contextualizadas e significativas;
dos elementos tem seu lugar na estrutura da • Há um compromisso social, histórico e
organização do trabalho pedagógico. singular com a seleção do trabalho
Começamos qualquer trabalho pedagógico pedagógico, o tempo das crianças e dos/as
com o planejamento estabelecendo professores/as tem muito valor.
objetivos, definindo os conteúdos, • Os processos pedagógicos formam as
estratégias, avaliando o produto final, na crianças como sujeitos e estudantes bem
década de 70, foi introduzido o feedback como os professores e as professoras como
para mostrar certo movimento de retorno. sujeitos e profissionais;
Retornamos para começar na mesma • A experiência educacional constrói
ordem. Há uma sequência e independência história pessoal e social, memória e
entre os elementos que compõe a didática possibilita a escolha de percursos de vida
assim como o poder do planejamento e da individual e em comum.
decisão está centrada, especificamente,
no/a docente. Constituir no campo da didática uma
A documentação pedagógica cumpre o virada, que desloque o eixo por onde se
papel de uma outra forma de organização constitui toda a pedagogia escolar parece
do trabalho pedagógico. Menos formal, não ser um grande desafio para o qual nos
linear, mais interativa. A Documentação aponta a Documentação Pedagógica. Um
Pedagógica não é apenas uma “novidade” convite. Um convite para repensar
na pedagogia. Ela pode ser incluída no aprendizagem, pratica docente, função
longo percurso histórico das pedagogias social da escola e muitos outros temas que
progressistas constituindo uma ruptura no fazem parte de nosso dia a dia educacional.
modo como se realiza a didática
hegemônica. A documentação pedagógica é
um processo que inclui:
• Vários atores e não apenas o/a
professor/a no processo de reflexão,
planejamento e decisão sobre os rumos

81
Conhecimentos Específicos

escolar, encarando-a como mais uma


CIPPITELLI, Alejandra; DUBOVIK, importante linguagem na qual a criança
Alejandra. Construção e construtividade: precisa ser alfabetizada: a da
materiais naturais e artificiais nos jogos construtividade.
de construção. São Paulo: Phorte Editora, O livro traz o relato de experiências que
2018 colocam as crianças como protagonistas na
criação dos espaços construtivos e que
evidenciam algumas das aprendizagens que
30 ocorrem quando a elas são propostos jogos
Nesta obra, como ponto de partida,
fizemos uma análise exaustiva do porquê de construir em um contexto que atende a
dos Jogos de Construção e dos propósitos uma intencionalidade pedagógica.
que os espaços de construção têm para É nesse tipo de contexto que as crianças
oferecer às crianças, considerando-os como desenvolvem os aspectos cognitivos,
linguagem de expressão e de comunicação. afetivos, simbólicos, imaginativos,
Levando em consideração essa expressivos e que provocam interações
linguagem da Construção, desenvolvemos, sociais capazes de estimular nelas o espírito
num segundo momento, os três temas de colaboração, a troca de saberes, o
centrais desta experiência, o espaço como esforço individual e coletivo nas
contexto de aprendizagem, como um meio experiências construtivas.
de construir relações, um espaço Trata-se de uma obra provocativa e
contextualmente preparado como estratégia inspiradora, que busca cumprir um duplo
de aprendizagem, um espaço construído papel: levar os professores de crianças, em
pelos materiais. Nesse ponto, particular os de educação infantil, a
compartilhamos alguns critérios utilizados melhorar suas práticas pedagógicas, e levar
para a seleção desses em duas grandes as crianças a extrair dos espaços de
divisões que utilizamos: materiais naturais construção tudo o que eles podem oferecer
e artificiais. como linguagem de expressão e de
Além dessas considerações referentes ao comunicação.
espaço e aos materiais, fazemos um breve Por último, compartilhamos o Catálogo
resumo sobre a decisão de propor de materiais, com previsões de algumas
experiências de construção em pequenos ações que podem - mas não
grupos, a importância de usar essa obrigatoriamente devam - ser realizadas
estratégia pedagógica como um modo de com as crianças.
observar os processos das crianças.
Abordamos, também, o uso da
Documentação Pedagógica que torna FINCO, Daniela; OLIVEIRA, Fabiana
de. A Sociologia da pequena infância e a
visíveis os processos de aprendizagem e os
diversidade de gênero e de raça nas
saberes das crianças, relatando duas instituições de Educação Infantil. Cap. 3.
experiências de Jogos de Construção, uma IN: Faria Ana Lúcia Goulart de; FINCO,
mais longa como a dos dinossauros, Daniela (Orgs.). Sociologia da Infância
desenvolvida ao longo de duas semanas, e no Brasil. Campinas, SP: Autores
outra, a construção de um labirinto, feita Associados, 2011 (Coleção Polêmicas do
durante um dia de aula. nosso tempo)
Os chamados Jogos de Construção
constituem o foco desta obra; todavia,
31
busca-se aqui um aprofundamento na Expressões que as autoras e o autor da
abordagem dessa prática pedagógica tão obra Sociologia da Infância no Brasil
utilizada com as crianças no contexto destacam em seus textos para dimensionar
os estudos da infância como campo de
30 31
https://bit.ly/3TZlA87 https://bit.ly/3qECawt

82
Conhecimentos Específicos

pesquisa e área de conhecimento. Em cinco A proposta do livro é apresentar o que


capítulos, o livro, lançado no segundo pode ser entendido como mais um ramo da
semestre de 2011, provoca inquietações nos Sociologia, que considera as crianças
seus leitores, à medida que explicita que o pequenas como sujeitos. Elas não se
organizam em movimento, mas são
ator social criança, constantemente socialmente discriminadas. Como fica a
excluído e silenciado, ganha espaço e resposta da Sociologia? Pensar a SI,
visibilidade nas Ciências Sociais, aportada em pesquisas que revelem
abandonando a condição de passivo no trato cotidiano, experiências, saberes e vozes das
e na relação com a cultura e a sociedade. crianças diante da diversidade, rompe com
Os objetivos da obra destacam duas o autoritarismo do mundo adulto e pode,
temáticas principais: a oposição firme ao nas Ciências Sociais, transgredir o pacto já
conceito de criança assentado no acordado, no que se refere à pesquisa,
adultocentrismo pautado na visão europeia olhando o mundo de outra perspectiva,
"com olhos de criança".
de criança e infância; e a explicitação das
Invenção é a expressão que remete ao
especificidades e das diversidades das
capítulo 1, "A pesquisa com crianças em
crianças brasileiras. A construção do
infâncias e a Sociologia da Infância", de
volume apresenta diálogo intergeracional e
autoria de Anete Abramowicz. Reflete
de múltiplas experiências: autoras e autor
sobre o que vê uma criança quando olha a
partem de particularidades de cada trajeto
cidade, a instituição e sobre como a busca
acadêmico e apresentam a diversidade de
de compreender esse olhar de criança tem
saberes que envolvem a temática.
suscitado pesquisas e polêmicas. Esse olhar
Identificam e pautam o campo da
da criança vai permitir a análise de dois
Sociologia da Infância (SI), apontando para
conceitos complexos: tempo e infância.
as Ciências Sociais a premência da devida
Afirma Abramowicz que o tempo da
atenção às crianças pequenas, a suas
criança é o tempo do presente, que ela é
produções, a suas formas de ver, entender e
contemporânea. É um presente do qual o
relacionar-se no mundo como legítimas
adulto não faz parte, que ele desconhece. A
expressões do pensamento, da cultura e da
criança, por sua vez, não é apenas presente:
ação humana.
também é passado, onde se inscreve e é
A obra é caracterizada pelo rompimento
inscrita. Ou seja, ao chegar ao mundo, a
com as perspectivas tradicionais de
criança habitará um tipo de infância
compreender a infância ou as crianças. Não
reconhecida pelo grupo que a cerca, com
se constitui num manual de SI ou em
suas marcas de gênero, raça, sexualidade,
palavra final ao debate: prevê a necessidade
dentre outras. Todavia, não fica presa a
de um novo paradigma, no que se refere à
essas amarras: se subjetiva, cria e recria,
construção social da infância. Convida-nos,
contrapõe-se, experimenta, no movimento
como fará também, no capítulo 1, Anete
que a SI nomina como "processo de autoria
Abramowicz, à invenção.
social". É a criança, ao mesmo tempo,
Transgressão é o desafio colocado logo
universal, individual, singular. E, nas
na introdução pelas organizadoras da obra.
dobras e desdobras daquilo que não
Se o pressuposto é que as crianças pensam
sabemos - e não somos -, a infância se
e imaginam, é porque são seres com agência
revela na possibilidade de o mundo ser
desde seu ingresso no mundo. Suas
outro, ser novo. As pesquisas com crianças
perspectivas, criações, interpretações,
devem remeter a esse novo, à
enfim, o exercício de constituir-se como
inventividade, e inserem-nos num
"criadores e criaturas" fazem parte do
movimento político: lidamos com um
universo da pesquisa sociológica brasileira,
"povo de traços específicos", no saber de
a começar com Florestan Fernandes.
Deleuze, "um povo que falta, que ainda não
existe, o povo a ser inventado".

83
Conhecimentos Específicos

A fala e a agência das crianças grupo populacional, geracional, de


promovem inversão hierárquica no discurso perspectiva estrutural, efetivando-se como
estabelecido: se a criança fala, é como o unidade de observação e não apenas
subalterno falar, os excluídos falarem. A SI, estudos oriundos de um "projeto de adulto"
ao tomar a criança e sua infância como (psicológico ou pedagógico). Nesse ponto,
lugar de suas pesquisas, cria campo teórico os capítulos 1 e 2 dialogam ao propor o foco
para "inventar a criança", que se contrapõe da SI nas crianças enquanto são crianças,
radicalmente a outros paradigmas teóricos, para as quais a próxima geração é a próxima
como as referências do campo da geração de crianças.
Psicologia do Desenvolvimento e da Para Nascimento, a "nova concepção
própria Sociologia da Educação. sociológica considera as crianças como
Com "Asas e desejo", desfecho do participantes de uma rede de relações que
capítulo, a autora trata da imprevisibilidade. vai além da família e da escola e ou da
Trabalhar com infância, sob a perspectiva creche", ampliando o campo de pesquisa
da invenção, é considerar o imprevisível, a das Ciências Sociais e exigindo nova ordem
multiplicidade de contextos, a arte, o metodológica. Afirma ainda, em outro
intempestivo, o ocasional, a "des-idade". É ponto de consonância com Abramowicz,
um devir. Não devir de vir a ser, mas de que não existe uma infância, mas várias.
processo onde "o espaço da criação também A autora observa que a investigação com
deve ser produzido numa espécie de crianças deve ir além da sua condição de
produção de criar". alunos ou de seres em desenvolvimento,
Reconhecimento é a marca do capítulo 2, tirando-as do papel de fragilidade,
assinado por Maria Letícia Nascimento. incompetência e negatividade. Suas
Enquanto Abramowicz teoriza a respeito de indicações vêm sustentar as pesquisas
como se constitui a área e seus fundamentos descritas nos capítulos 3, 4 e 5 da obra,
para a pesquisa, ou seja, diz a que veio a SI, diretamente afetas à área de SI.
Nascimento, com "Reconhecimento da O capítulo 3, "A sociologia da pequena
Sociologia da Infância como área de infância e a diversidade de gênero e de raça
conhecimento e campo de pesquisa", nas instituições de educação infantil", de
pontua que a SI já é um campo formado e Daniela Finco e Fabiana de Oliveira, traz,
mais que uma "nova onda". como expressão principal, a diversidade.
Expressões caraterísticas da SI, como Unindo a pesquisa de doutorado da
culturas infantis, culturas de pares, cultura primeira e o mestrado da segunda, o texto
da infância, categoria geracional, sujeito de desvela preconceitos envolvendo,
direito, ator social vêm sendo apropriadas e respectivamente, gênero e raça em
passam a fazer parte do repertório de instituições de Educação Infantil.
pesquisa da área de infância. Desde a As autoras relacionam os estudos de
década de 1990, o campo só cresceu no gênero e raça, considerando-os como
mundo e no Brasil: publicações, teses, características constitutivas de experiências
pesquisas, apresentações em congressos e cotidianas de crianças pequenas,
seminários, marcam o campo e revelam responsáveis por marcas identitárias.
suas características e relevância. Observam que, no caso do gênero, há
Nascimento não se alheia às críticas como comportamentos esperados pelos adultos,
as de Castro e Kominsky (2010), que no que se refere a meninas e meninos, e que
consideram a área como incipiente. são reforçados nas práticas e na
Coordena a pesquisa "Infância e Sociologia organização do trabalho na instituição.
da Infância, entre a invisibilidade e a voz" e Sobre raça, a situação não é diferente e
assinala que o fim da pesquisa, em 2012, se apresenta-se envolta num pacto de silêncio.
contraporá a esse quadro de incipiência. É nos gestos do adulto, nos carinhos ou na
Na SI as crianças são consideradas como ausência destes, nas palavras, que se

84
Conhecimentos Específicos

revelam preconceitos que marcam e não urbano, com foco nas crianças sem-
diferenciam a criança negra da não negra. terra.
Essa relação, implicitamente, informa às A luta pela terra prescinde de um projeto
crianças modelos ideais de beleza e jeitos educativo pelo Movimento Sem Terra
de ser menina ou menino, reforçando os (MST), pois as crianças estão atreladas ao
estereótipos sociais. movimento. São desenvolvidas atividades
Finco e Oliveira ouvem as crianças e os pedagógicas nos assentamentos, fazendo
educadores. Registram atitudes. parte do conjunto de lições da luta pela
Concordam que muito cedo há, por parte terra. Há os encontros sem-terrinha,
dos adultos, mesmo inconscientemente, cirandas infantis, núcleos infantis e outros.
uma "educação" para constranger os corpos A ciranda infantil faz parte da educação não
das crianças. Por exemplo, às meninas são formal, definida pelo MST como "espaço
atribuídas tarefas que exigem delicadeza; educativo organizado com objetivo de
aos meninos, as que dependem de força. trabalhar as várias dimensões de ser criança
Professoras preocupam-se quando meninos sem-terrinha, como sujeito de direitos, com
preferem ficar mais tempo com as meninas, valores, imaginação, fantasia [...]". Eleger a
identificando-os como "afeminados", ciranda como objeto de estudo alia-se à
"sossegados". As meninas que preferem perspectiva da SI, visto que partem ambas
brincadeiras ditas "de menino" são da agência infantil, da sua cultura e das
"abrutalhadas". O bebê negro é repreendido experiências.
quando escolhe uma bolsa rosa para
brincar, no dizer da professora: "Negão com As cirandas são um espaço onde as
essa bolsa rosa é meio estranho, não dá crianças sem-terra constroem relações entre
certo". As pesquisas convergem na si e com os adultos. Vão, na experiência
evidência de que o espaço destinado à comunitária, "constituindo-se como sujeito
educação da infância acaba por ser espaço lúdico, ressignificando seu brincar, sua
da "educação do corpo", civilizando-o e experiência cultural e suas relações
discriminando-o. sociais". A proposta educativa das cirandas
As autoras inferem que as crianças pauta-se em referencial emancipatório, e
transgridem tais normativas sociais. Pelo daí a estreita ligação com a SI: prevê que,
brincar, descobrem outros significados que como as crianças estão em todos os lugares
compartilham e têm a oportunidade de criar do assentamento, os adultos passam a
e recriar. Ao romper essas fronteiras nas educar o próprio olhar, ao compreendê-las
instituições de Educação Infantil, as como também companheiras, sujeitos
crianças podem sofrer micropenalidades, a partícipes da luta de um novo projeto de
começar pelo "acabou a brincadeira". Para sociedade.
que a Educação Infantil possa ser "um
espaço coletivo de educação para o respeito Identidade é a expressão que, por fim,
e a valorização das diferenças, de uma Peterson Rigato da Silva traz à obra. O
educação que favoreça a diversidade", é capítulo 5, "A presença masculina na
urgente romper com os processos de Educação Infantil: diversidade e
homogeneização, que silenciam as crianças identidades na docência" abarca a polêmica
e embasam preconceitos. do docente masculino presente nas
instituições de Educação Infantil.
Construção alternativa é a referência do
texto de Edna Rossetto, capítulo 4: "A Utilizando bibliografia pertinente ao
Educação das crianças sem-terrinha nas tema, o autor pontua o estranhamento
cirandas infantis: construção de uma presente nas instituições, quando estas se
alternativa em movimento". O desafio é deparam com o homem professor "no
pensar a educação da infância em contexto lugar" da professora mulher. As

85
Conhecimentos Específicos

desigualdades entre os gêneros ultrapassam Documentos como as Diretrizes


a relação com as crianças e marcam a Curriculares para a Educação Infantil
profissão docente, legitimando a mulher no legislam em favor da diversidade e dos
trabalho com a infância vinculado à direitos das crianças de ter seus saberes e
maternagem, à paciência, à intuição e culturas valorizados e reconhecidos.
também ao educar/cuidar. O homem Todavia, grande parte das instituições de
professor é questionado não na proporção Educação Infantil segue modelos
de sua dedicação ou competência, mas no predeterminados, pautados numa educação
campo da moralidade, das leituras sociais urbana. Como fica a diversidade? Como
preconceituosas presentes nas unidades ficam as crianças quilombolas, ribeirinhas,
educativas. caiçaras, indígenas? E mais: diante de
tantas pesquisas e do cotidiano das crianças
A intenção do autor passa pela ciência de brasileiras, como explicar a possibilidade
que as crianças, na instituição, sinalizam a de um exame nacional para a Educação
emergência de outro espaço educativo, Infantil? Quais as suas bases? Diversidade?
também de quebra de paradigmas, em face Cultura Infantil? Ou apenas o ensino
da diversidade e dos desafios do cotidiano, sistematizado, reiterando a escolarização
visando ao rompimento com modelos das crianças antes do Ensino Fundamental?
hegemônicos. E, tratando-se das crianças bem pequenas,
de zero a 3 anos, qual a pauta de trabalho e
A leitura de Sociologia da Infância no atendimento a esse grupo? A creche é tida
Brasil, em sua totalidade, expressa, como como espaço educativo, com profissionais
aponta no prefácio a professora Eloisa formados para esse fim? Em outra ordem de
Candal Rocha, a retomada de um ideias, como os cursos de Pedagogia têm
movimento de luta em favor das crianças, pautado as questões propostas pela
da infância e da educação. Lutas que, desde Sociologia da Infância? Elas são
os anos de 1980, movem pesquisadores e consideradas na formação dos professores
acadêmicos comprometidos com as e, depois, nas instituições de Educação
conquistas sociais no campo da infância, Infantil? Esses questionamentos e muitos
por uma sociedade mais justa. outros não possuem resposta imediata, mas
aportes da Sociologia da Infância podem
A obra marca pela inovação e por ajudar a pensá-los (ou repensá-los) numa
assumir que o desafio da SI também está em perspectiva mais próxima da categoria
identificar e desconstruir modelos geracional definida como infância, tendo as
existentes e de rejeição a esse novo, à crianças, em seus mais diversos contextos,
invenção, à criança com agência, onde há consideradas como seus sujeitos.
padronização de comportamentos e
instituições. É o que acontece quando o A Sociologia da Infância no Brasil já
professor trabalha com o mesmo vem traçando sua história. Pode ajudar-nos
planejamento durante décadas, ou ainda a compreender e a agir melhor em relação à
quando são propostas expectativas de infância e às crianças, viabilizando uma
aprendizagem na Educação Infantil. A sociedade com "asas e desejos", que
expectativa é do adulto e, invariavelmente, possibilite o novo, que desperte as Ciências
pode levar à frustração de um e de outros Sociais para a criança agora, no tempo
implicados na relação educativa (adultos e presente.
crianças). Não considera o tempo presente
das crianças nem a infância como categoria
geracional.

86
Conhecimentos Específicos

surgiu para garantir a posse, a propriedade,


a diferença, o controle da mercadoria,
MELLO, Suely Amaral. O processo de sendo muito tardia na história da cultura
aquisição da escrita na Educação escrita a utilização deste instrumento como
Infantil: contribuições de Vygotsky. Cap. veículo de comunicação. O autor ainda
2. IN: FARIA, Ana Lúcia Goulart & sublinha um segundo aspecto, que é a
MELLO, Sueli Amaral (orgs.). escrita como uma poderosa tecnologia de
Linguagens infantis: outras formas de expansão da memória. Enfatiza que é
leitura. Campinas, SP: Autores importante trazer para o debate a
Associados, 2009. Coleção Polêmicas do
possibilidade de uma educação para a
Nosso Tempo
submissão versus uma educação para a
insubordinação, pois, se a escrita tem sua
origem no poder, ensinar a escrita “[...]
como se fosse apenas um objeto neutro é
32
Esse livro é o primeiro dos dois reproduzir a própria lógica da dominação e
volumes que compõe a publicação do III da fragmentação e, mesmo sem
Seminário Linguagens na Educação Infantil consciência, ensinar um valor”. Do mesmo
realizado durante o 14º COLE em julho de modo pontua ainda duas tendências que, de
2003. O livro trata de temas ligados à formas distintas, sustentam a perspectiva
pedagogia da infância numa perspectiva alienante da educação para a submissão: o
não antecipatória da escolarização e não pragmatismo pedagógico de um lado e do
marcada pela preparação para o ensino outro a posição elitista conservadora que,
fundamental. Tem como foco de discussão não compreendendo a dimensão maior dos
a educação das crianças de 0 a 6 anos de processos sociais e das formas de
idade e não o ensino. É composto de artigos reprodução social enfatiza que, “[...] se
que descrevem pesquisas, reflexões e deve ensinar a literatura erudita para as
experiências envolvendo as diferentes crianças, ensinar-lhes a língua culta, a
linguagens das crianças. norma culta. Culto aparece no discurso
No prefácio do livro, escrito por Luiz como se não fosse expressão de classe,
Percival Leme Britto com o título: como se fosse uma dádiva divina, ou então,
Educação Infantil e Cultura Escrita, o como patrimônio universal da humanidade,
mesmo justifica sua participação nessa desvinculado daqueles que o produziram”.
publicação pelo fato de comungar da “[...] Para Luiz Percival “[...] antecipar o ensino
insubordinação aos modelos de educação das letras, em vez de trazer o debate da
acomodatícia ou adaptadora à lógica da cultura escrita no cotidiano, é inverter o
dominação”. O autor desenvolve uma processo e aumentar a diferença”.
forma revolucionária de compreender o Ana Lúcia Goulart de Faria faz a
processo de aquisição da escrita. Enfatiza a apresentação desse primeiro volume e
necessidade de compreendermos o destaca a complexidade da pedagogia da
fenômeno da escrita com uma visão mais Educação Infantil que, como “[...] campo
ampla, em que é necessário considerar que de conhecimento vem revolucionando
“[...] a escrita foi produzida principalmente teorias educacionais de ‘mão única’
em função da necessidade de registro da centradas no ensino (e não na educação) e
propriedade e do fluxo do comércio. no professor que ensina alunos e alunas” (p.
Desenvolveu-se e sofisticou-se à medida 2). Salienta que esse livro tem a pretensão
que a sociedade de classes, expandiu-se”. de contribuir com a formação dos
Assim, o autor destacada a ideia de que a professores que, atentos às diferentes
escrita não tem somente a função de formas de leitura e de comunicação que as
comunicação, pois surgiu com o poder,
32
https://bit.ly/3qFCTO4

87
Conhecimentos Específicos

crianças têm mostrado, buscam indicações passemos a “[...] deixar contaminar o


de especificidades para o trabalho e ensino fundamental com atividades que
compreensão dessas crianças pequenas. julgamos típicas da educação infantil” (p.
No DEBATE UM, Maria Cristina 24). Ao longo do artigo Suely enumera e
Rizzoli desenvolve o artigo com o título: discute sugestões e atividades que no geral
Leitura com letras e sem letras na são vistas, na escola, como improdutivas,
Educação Infantil do norte da Itália. Nesse mas que “[...] são essenciais para a
artigo Maria Cristina traz a experiência da formação da identidade, da inteligência e da
rede pública de educação infantil da cidade personalidade da criança, além de
de Bolonha, no norte da Itália com livros e constituírem as bases para a aquisição da
crianças pequenininhas. Segundo a autora escrita como um instrumento cultural
os pedagogos e educadores de Bolonha complexo” (p. 24). A autora enfatiza a
assumiram a importância do livro para a contribuição de Vygotsky, o qual pontua
criança e, essa atitude deu indicativos ao que para a realização dessas atividades
município de Bolonha para a iniciativa de através das quais as crianças se apropriam
um trabalho, no qual, são exploradas as da cultura, é necessário apontar o caráter
várias possibilidades que o livro oferece. ativo da criança que aprende. A autora
No artigo a autora desenvolve com riqueza sublinha a ideia de que a escrita tem que ser
de detalhes essas várias possibilidades que mais uma das linguagens de expressão das
o livro oferece para as diferentes idades, crianças e que essas linguagens não podem
desde crianças com idade de seis meses, estar separadas, nem entre si, nem de
dois anos, bem como com crianças maiores. experiências significativas que tragam
Salienta que alguns princípios têm conteúdo à expressão das crianças nas
orientado esse trabalho. Em primeiro lugar, diferentes linguagens.
o princípio da compreensão de que o livro é No DEBATE TRÊS, Melissa Cristina
um instrumento de conhecimento, mas Asbahr discute os livros de autoajuda para
também é o veículo para fomentar o crianças. O artigo intitula-se: Lá vem a
relacionamento. Em segundo lugar, a história, e a autora traz para discussão a
percepção de que o livro é um objeto a ser ideologia contida nesse tipo de literatura a
explorado e que ajuda a criança a inventar e qual, transpõe questões de origem social,
construir outras histórias. E em terceiro política ou estruturais às explicações
lugar, a compreensão de que o livro psicológicas. Melissa salienta que uma das
também é uma ocasião para a criança viver características marcantes dessa literatura é
aventuras emocionantes que constituem a que são “[..] permeados pelo discurso
chave de acesso ao mundo da imaginação. neoliberal, os textos de autoajuda
No DEBATE DOIS, Suely Amaral incentivam concepções individualistas que
Mello desenvolve o artigo com o título: O tendem a culpabilizar as pessoas por tudo
processo de aquisição da escrita na que lhes acontece na vida” (p. 43). Uma
Educação Infantil. A autora parte da ideia grande contribuição desse artigo é nos
de que muito do trabalho que se tem alertar sobre este tipo de literatura que,
desenvolvido com as crianças na educação como fala a autora, compartilha com
infantil e no ensino fundamental, sobretudo, “literatura” só no nome, pois enquanto a
no que se refere a aquisição da escrita, literatura trata de temas universais,
carece de uma base científica, assim, busca articulando-os quanto ao modo de dizê-los,
nos estudos e conhecimentos de Vygotsky numa construção plena de sentidos
essas contribuições. Sugere que, com os múltiplos, tendo a ver com a arte da palavra,
novos conhecimentos sobre os processos de com polissemia, a literatura de autoajuda
desenvolvimento das crianças, busque-se caracteriza-se como diretiva, imperativa,
uma inversão no processo de contaminação com discurso prescritivo, pretendendo
que até hoje tem sido predominante e ordenar, aconselhar, dirigir as ações de seus

88
Conhecimentos Específicos

leitores. Assim esse artigo nos auxilia a Pestalozzi. No entanto, a autora pontua que,
conhecer as diferentes produções voltadas não só no Brasil como também em outras
às crianças, para melhor lidar com as partes do mundo, “[...] esteve em vigor uma
possibilidades de leituras das mesmas. dada representação da prática educativa que
No DEBATE QUATRO, Heloísa determinou o privilégio de certos aspectos
Helena Pimenta Rocha traz análises dos de suas teorias em detrimento de outros
discursos e práticas que, intentaram fazer da mais considerados originalmente pelos
criança objeto de intervenção higiênica e filósofos” (p. 90). Tratando
disciplinar, sendo o título de seu artigo: A especificamente da apropriação das ideias
Higienização da infância no “século da da Pedagogia de Froebel, destinada às
criança”. O presente artigo desenvolve crianças menores de 7 anos, intervém
uma significativa contribuição para a acentuando que sua efetivação prática
compreensão da história da educação aproximou-se do modelo de ensino escolar
infantil, no qual a autora interroga acerca e teve sua prática reduzida aos dons e
das representações produzidas pelos ocupações, distanciando-se dos princípios
médicos-higienistas brasileiros sobre as originalmente anunciados por Froebel.
crianças pequenas e sua educação. A autora No DEBATE SEIS, Zeila de Brito Fabri
utiliza como fonte de análise as obras Demartini encerra este volume com o
produzidas pelo médico higienista carioca artigo: Relatos orais sobre a infância e o
Dr. Oscar Clark, centrando sua análise processo de alfabetização. Nesse artigo a
naqueles que eram considerados, pelo autora privilegia os relatos orais de
autor, os direitos das crianças pequenas, professores/as sobre a infância e sobre o
bem como nos objetivos a que, em sua processo de alfabetização no final do século
concepção, deveria visar a educação XIX e primeiras décadas do século XX.
infantil. A análise dessas obras torna-se Através dos relatos orais a autora descreve
relevante para a compreensão da educação como estes/as professores/as representam a
infantil brasileira, pois, constituem infância e o que contam sobre os jardins-de-
“Representações e estratégias que tiveram infância, sobre as escolas e sobre como se
uma larga difusão a partir do final do século viam como alfabetizadores/as. Os dados
XIX, orientando todo um conjunto de dos relatos trazem questões para a
iniciativas voltadas para os propósitos de discussão de realidades atuais como a
disciplinamento e controle social” (p.82). diferenciação ou não do atendimento de
No DEBATE CINCO, Mônica crianças de zonas rurais e urbanas, bem
Appezzato Pinazza traz o artigo: Os como a diversidade das classes sociais das
pensamentos de Pestalozzi e Froebel nos crianças atendidas; a idade legal
primórdios da pré-escola oficial paulista: considerada adequada para se alfabetizar; o
das inspirações originais não- predomínio atual de professoras mulheres
escolarizantes à concretização de práticas que trabalham com a educação infantil; as
escolarizantes. A autora aborda nesse questões referentes à prática pedagógica
artigo dados históricos do processo de inerente à educação infantil, entre outras,
implantação da educação pré-escolar em que ainda necessitam de mais pesquisas e
instituições oficiais no Brasil e, mais permanecem abertas para discussões.
especificamente no estado de São Paulo,
ocorridos no final do século XIX e início do
século XX. Em sua análise focaliza as
configurações das práticas educativas para
a faixa etária da pré-escola que, sofreram
influência da pedagogia de Froebel, bem
como das escolas primárias brasileiras que,
receberam influência da pedagogia de

89
Conhecimentos Específicos

aprendizagem humana e o que significa


BARBOSA, Maria Carmem Silveira e trabalhar com projetos no contexto atual.
HORN, Maria da Graça Souza. Projetos No terceiro capitulo, busca na etimologia da
Pedagógicos na educação infantil. Porto palavra projeto seu entendimento em uma
Alegre: Artmed, 2008 abordagem pedagógica. As compreensões
de trabalhar com projetos não se encerram
na sala de aula, é a abordagem do quarto
33
Em sua introdução, as autoras capitulo.
enfatizam a importância de se lutar por uma O quinto e o sexto trabalham com a ideia
educação infantil de qualidade e central de que não existe uma estrutura
humanizadora. Ressalta a defesa da única e fixa na construção de um projeto de
indissociabilidade entre o cuidar e o educar trabalho, discutindo diferentes modos de
que deve caracterizar as ações escolares dirigi-lo e o papel que desenvolvem os
voltadas para este nível de ensino. diversos atores desse processo: educadores,
Tendo essa premissa as autoras propõem alunos e pais. O oitavo e o nono capítulos
discutir aspectos que julgam ser essenciais apontam questões cruciais da metodologia
e que devem ser considerados e revistos de trabalho, demonstrando o quanto é
para que as ações educativas na educação importante rompermos com as tradicionais
infantil, sejam sistematizadas e garantam, praticas usadas para avaliar os alunos.
um processo emancipatório para as E por fim o décimo capítulo traz a
crianças. abordagem do trabalho desenvolvido na
Abordando alguns aspectos das ações região da Reggio Emilia, na Itália,
escolares entre crianças de 0 à 5 anos de realizando uma discussão metodológica e a
idade como: exemplificação do cotidiano, por meio do
- A rotina do cotidiano das práticas relato de um projeto desenvolvido em uma
educativas das escolas dessa rede de ensino.
- A organização dos espaços
- A presença do brincar como eixo do Trajetos e Projetos
trabalho educativo-pedagógico A vida dos seres humanos é constituída
As autoras falam de a importância deste por uma constante elaboração e
trabalho estar orientado por projetos, pois reelaboração de projetos. Esse vocábulo,
eles interferem positivamente sobre o portanto, não é de domínio exclusivo do
desenvolvimento infantil. campo educacional. Observamos o uso dos
Buscando discursar a respeito do tema o projetos em diferentes áreas do
texto foi estruturado em quatro partes: a conhecimento, como a arquitetura, a
rotina, o espaço físico, a importância do engenharia, a sociologia.
brincar e o trabalho com projetos. Na área educacional o movimento
O livro está estruturado em dez denominado Escola Nova teve um papel
capítulos, iniciando com a abordagem da importante no questionamento aos novos
origem das palavras projeto e como foi sistemas educacionais que emergiam no
sendo construído nos diferentes momentos mundo ocidental fazendo uma severa crítica
da história da educação esse modo à escola tradicional, bem como às
organizar o ensino. concepções de criança, de aprendizagem e
O segundo capitulo tem como título "Por de ensino. Esse movimento uniu
que voltar a falar em projetos" fala a educadores de vários pontos da Europa e da
retomada do modo de organizar o ensino na América do Norte, estendendo-se também
perspectiva dos novos paradigmas da para outros continentes.
ciência, explicitando como se dá a

33
https://bit.ly/3qFhzbC

90
Conhecimentos Específicos

As propostas teóricas e metodológicas miniatura, preparando seus participantes


emanadas da Escola Nova não eram para a vida adulta. A função primordial da
certamente unas em termos de alternativas escola seria a de auxiliar a criança a
pedagógicas, mas em todos os lugares onde compreender o mundo por meio da
se constituiu tinha como objetivo a crítica e pesquisa, do debate e da solução de
a construção de uma visão crítica à problemas, devendo ocorrer uma constante
educação convencional: “... a necessidade inter-relação entre as atividades escolares e
de quebrar o quadro coercitivo dos as necessidades e os interesses das crianças
programas escolares para suscitar certa e das comunidades.
criatividade”. Quatro passos eram considerados
Alguns de seus fundadores e principais norteadores da planificação de um projeto:
representantes foram Ovide Decroly (1871- decidir o propósito do projeto, realizar um
1932), Maria Montessori (1870-1952) e plano de trabalho para sua resolução,
John Dewey (1859- 1952). No Brasil, por executar o plano projetado e julgar o
meio da escrita de um documento trabalho realizado.
denominado Manifesto dos Pioneiros da Dewey afirmava que “projetar e realizar
Educação (1932), educadores como é viver em liberdade” e levantava como
Lourenço Filho, Paschoal Lemme, Cecília princípios fundamentais para a elaboração
Meireles e Anísio Teixeira agruparam-se de projetos na escola:
em torno de um grande movimento de a) princípio da intenção - toda ação para
democratização da educação, uma causa ser significativa precisa ser compreendida e
que em seu entendimento beneficiaria as desejada pelos sujeitos, deve ter um
crianças brasileiras. significado vital, isto é, deve corresponder
Em geral, os escolanovistas procuraram a um fim, ser intencional, proposital;
criar formas de organização do ensino que b) princípio da situação-problema - o
tivessem as seguintes características: pensamento surge de uma situação
1. A globalização dos conhecimentos, problemática que exige analisar a
2. O atendimento aos interesses e às dificuldade, formular soluções e estabelecer
necessidades dos alunos, conexões, constituindo um ato de
3. A sua participação no processo de pensamento completo;
aprendizagem, c) princípio da ação - a aprendizagem é
4. Uma nova didática realizada singularmente e implica a razão, a
5. A reestruturação da escola e da sala emoção e a sensibilidade, propondo
de aula. transformações no perceber, sentir, agir,
pensar;
Visando essa nova organização foram d) princípio da real experiência anterior
pensadas várias estratégias como os centros - as experiências passadas formam a base na
de interesses (Decroly), os projetos e as qual se assentam as novas;
unidades didáticas. e) princípio da investigação científica - a
John Dewey e seu seguidor William ciência se constrói a partir da pesquisa, e a
Kilpatrick são apontados como os aprendizagem escolar também deve ser
principais representantes da pedagogia de assim;
projetos. Dewey acreditava que o f) princípio da integração - apesar de a
conhecimento só é obtido através da ação, diferenciação ser uma constante nos
da experiência, pois o pensamento é projetos, é preciso partir de situações
produto do encontro do indivíduo com o fragmentadas e construir relações,
mundo. O foco é a vida em comunidade e a explicitar generalizações;
resolução de problemas emergentes da g) princípio da prova final - verificar se,
mesma. Nesse contexto, a sala de aula ao final do projeto, houve aprendizagem e
funcionaria como uma comunidade em se algo se modificou;

91
Conhecimentos Específicos

h) princípio da eficácia social - a escola Segundo Barbier (1994), “O projeto não


deve oportunizar experiências de é uma simples representação do futuro, do
aprendizagem que fortaleçam o amanhã, do possível, de uma ideia; é o
comportamento solidário e democrático. futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um
Hoje voltamos a falar de projetos, porém
não da mesma forma que a Escola Nova o possível a transformar em real, uma ideia a
fez. transformar em ato”.
É necessário dar-lhes “uma nova Como vimos anteriormente, os projetos
versão”, na qual esteja incluído: são um dos muitos modos de organizar as
1. O contexto sócio histórico, e não práticas educativas. Eles indicam uma ação
apenas o ambiente imediato, intencional, planejada coletivamente, que
2. O conhecimento das características tenha alto valor educativo, com uma
dos grupos de alunos envolvidos, estratégia concreta e consciente, visando à
3. A atenção à diversidade e obtenção de determinado alvo. Através dos
4. O enfoque em temáticas projetos de trabalho, pretende-se fazer as
contemporâneas e pertinentes à vida das crianças pensarem em temas importantes do
crianças. seu ambiente, refletirem sobre a atualidade
e considerarem a vida fora da escola. Eles
Mas o que é projetar? são elaborados e executados para as
A palavra projeto significa pensar e/ou crianças aprenderem a estudar, a pesquisar,
fazer uma ação direcionada para o futuro. a procurar informações, a exercer a crítica,
É um plano de trabalho, ordenado e a duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar,
particularizado para seguir uma ideia ou um a gerir as aprendizagens, a refletir
propósito, mesmo que vagos. Um projeto é coletivamente e, o mais importante, são
um plano com características e elaborados e executados com as crianças e
possibilidades de concretização. Um não para as crianças. Projetar é como
projeto pode ser esboçado por meio de construir um puzzle cujas peças estão
diferentes representações, como cálculos, dentro da caixa, mas não há na tampa o
desenhos, textos, esquemas e esboços que desenho da figura final. Monta-se, tenta-se,
definam o percurso a ser utilizado para a procuram-se aquelas que têm conteúdo ou
execução de uma ideia. Um projeto é uma forma semelhantes e, aos poucos, vai
abertura para possibilidades amplas de emergindo uma surpreendente figura. Os
encaminhamento e de resolução, conteúdos são peças do quebra-cabeça e
envolvendo uma vasta gama de variáveis, somente ganham significação quando
de percursos imprevisíveis acompanhados relacionados em um contexto.
de uma grande flexibilidade de
organização. Os projetos permitem criar, Projetualidade em diferentes tempos:
tanto individualmente quanto em grupo, um na escola e na sala de aula
modo próprio para abordar ou construir Trabalhar com projetos não significa
uma questão e respondê-la. apenas ter uma sala dinâmica e ativa, pois
As estruturas de projetos apresentam muitas vezes “as crianças produzirão muito,
alguns pontos que são gerais, podendo ser mas de maneira estéril” (Tonucci, 1986).
considerados comuns, e outros que são Os resultados são vários e vistosos,
específicos, estando de acordo com a porém os processos são pobres, parciais,
problemática desenvolvida. fragmentados e duram apenas o tempo da
No âmbito pedagógico: realização.
1. A definição do problema; Para haver aprendizagem, é preciso
2. O planejamento do trabalho; organizar um currículo que seja
3. A coleta, a organização e o registro significativo para as crianças e também
das informações; para os professores. Um currículo não pode
4. A avaliação e a comunicação. ser a repetição contínua de conteúdos, como

92
Conhecimentos Específicos

uma ladainha que se repete infindavelmente pressuposto de que, apenas porque elas são
no mesmo ritmo, no mesmo tom. Os pequenas, não merecem atenção ou a
projetos abrem para a possibilidade de ampliação de horizontes e aprendizagens
aprender os diferentes conhecimentos complexas. Para construir uma
construídos na história da humanidade de programação curricular flexível, é preciso,
modo relacional e não linear, propiciando em primeiro lugar, redefinir e construir, de
às crianças aprender através de múltiplas forma sintética e clara, os objetivos que
linguagens, ao mesmo tempo em que lhes temos para a educação das crianças
proporcionam a reconstrução do que já foi pequenas e os conhecimentos que
aprendido. consideramos essenciais para a sua inserção
As disciplinas, seus conteúdos no mundo.
fundamentais e suas subdivisões são os Outro grave problema que afeta a
conteúdos da matéria que os professores educação infantil é o do calendário de
devem dominar, mas isso não é o programa festividades. Alguns meses do ano, as
de trabalho dos alunos em sala de aula. Não crianças ficam continuamente expostas
pode haver um “já foi ensinado e ponto àquilo que poderíamos chamar da indústria
final”, já que em um grupo as das festas. Elas se tornam objetos de
aprendizagens não acontecem de uma única práticas pedagógicas sem o menor
vez e nem para todos do mesmo modo. significado, que se repetem todos os anos
Segundo Dewey (1959, p.80), “O principal da sua vida na educação infantil, como
mérito, o valor do programa e das matérias episódios soltos no ar. Manter tradições
é para o professor e não para o aluno. Eles culturais, cívicas e/ou religiosas é algo
estão aí para mostrar os caminhos...”. fundamental para as crianças pequenas e
Para redimensionar a concepção de precisa constar no currículo, mas o
currículo, uma das questões fundamentais é importante é a construção do sentido (real
passar da ideia de programa escolar, como ou imaginário) dessas práticas e não apenas
uma lista interminável de conteúdos a comemoração.
fragmentados, obrigatórios e uniformes em E possível afirmar que, para o
que cada disciplina se constitui como um desenvolvimento de um projeto, o que se
amontoado de informações especializadas faz é uma opção pelo aprofundamento dos
que são servidas nas escolas em pequenas conhecimentos e não pela extensão dos
doses, para aquela de programação, em que mesmos.
o currículo se constrói através de um A organização do trabalho pedagógico
percurso educativo orientado, porém sem por meio de projetos precisa partir de uma
ser fechado ou pré-definido em sua situação, de um problema real, de uma
integralidade. interrogação, de uma questão que reflita as
O currículo não pode ser definido “preocupações” do grupo.
previamente, precisando emergir e ser Os projetos propõem uma aproximação
elaborado em ação. global dos fenômenos a partir do problema
Para tanto, é fundamental “emergi-las” e não da interpretação teórica já
em experiências e vivências complexas que sistematizada através das disciplinas. Ao
justamente instiguem sua curiosidade. aproximar-se do objeto de investigação,
Nessas situações, é importante ressignificar várias perguntas podem ser feitas e, para
as diferentes formas de interpretar, respondê-las, serão necessárias as áreas de
representar e simbolizar tais vivências, por conhecimento ou as disciplinas.
meio do desenho, da expressão corporal, do Acreditamos que é preciso alertar que há
contato com diferentes matérias. dois tipos de conhecimentos funcionando
Constatamos simplificações não em um projeto: o conhecimento do
científicas e empobrecedoras do mundo professor, que deve possibilitar
para as crianças e que partem do compreender as crianças com as quais

93
Conhecimentos Específicos

trabalha conhecer os temas importantes E preciso compor o currículo com as


para a infância contemporânea, e também o necessidades que nós, os adultos,
conhecimento dos conteúdos das acreditamos que sejam aquelas
disciplinas. O professor precisa ter um apresentadas pelas crianças e que podemos
repertório suficientemente amplo para que, obter por meio da observação das
à medida que surge uma situação, ele possa brincadeiras e de outras manifestações não-
compreendê-la e organizar-se para verbais, assim como da escuta de suas falas
encaminhar seus estudos pessoais, assim das quais emergem os interesses imediatos.
como o trabalho com as crianças, criando As aprendizagens nos projetos
perguntas e desafios. Os conhecimentos acontecem a partir de situações concretas,
que o professor adquire ao realizar os das interações construídas em um processo
projetos não são os mesmos dos alunos da contínuo e dinâmico. O planejamento é
educação infantil eles são de ordem feito concomitantemente com as ações e as
diferente. atividades que vão sendo construídas
Saber os conteúdos gerais da área de “durante o caminho”. Um projeto é uma
biologia, por exemplo, é uma competência abertura para as possibilidades amplas e
dos professores para que eles possam fazer com uma vasta gama de variáveis, de
perguntas, oferecer experiências, contribuir percursos imprevisíveis, criativos, ativos,
no desenvolvimento dos projetos e no inteligentes acompanhados de uma grande
estabelecimento de relações e não para flexibilidade de organização.
transmitir conceitos previamente
organizados. Ex.: Saber que o peixe Beta é Projetualidade na escola: a
um animal originário do sudeste da Ásia, articulação entre proposta pedagógica e
que é denominado peixe de guerra devido a a organização do ensino em projetos de
uma tribo muito guerreira, chamada Ikan trabalho
Bettah, que habitava o antigo Sião, hoje A construção de uma proposta
Tailândia, pode ser importante para o pedagógica, legitimada como o documento
professor pensar em estratégias de norteador de todo o trabalho na escola, é
desenvolvimento do trabalho. Porém, para imprescindível quando se pretende alcançar
as crianças da educação infantil, essas uma educação de qualidade desde a
informações isoladas não fazem o menor Educação Infantil a Universidade.
sentido. O que interessa para as crianças é Além disso, a proposta pedagógica deve
poder ter a experiência de cuidar do peixe, ser construída por todos os integrantes da
saber o que ele come, conhecer as histórias comunidade escolar: alunos, professores,
do peixe de briga, verificar pela aparência funcionários, direção e pais dos alunos.
características como as cores, o tipo de Essa construção coletiva deverá ser
nadadeiras e aprender como se preparam responsável pela convergência de
para a luta. pensamento à qual as correntes da
É claro que muitas vezes as crianças nos psicologia, da filosofia e da sociologia dão
surpreendem querendo saber como é que suporte, ao que entendemos por educação,
funciona um motor de locomotiva a vapor, por ensino e aprendizagem, por criança,
como foi possível colocar o oxigênio nos enfim, pelo tipo de cidadão que queremos
tubos de mergulho, como as estrelas ficam formar.
presas no céu. Essas perguntas são difíceis Segundo Kramer (1997), uma proposta
de serem respondidas, e o professor precisa pedagógica sempre contém uma aposta, não
aprender a desdobrar a pergunta e partir, sendo um fim, mas um caminho que se
junto com as crianças, à procura das constrói no (ou ao) caminhar como um
respostas possíveis, através de estratégias instrumento que responda às necessidades
adequadas ao seu modo de ser e pensar. sociais da comunidade onde se insere e, a
partir disso, desvelar o “para que” e “para

94
Conhecimentos Específicos

quem” se ensina. Ter a clareza quanto ao possibilidade metodológica possível nessa


papel que a escola assume diante de sua perspectiva, partindo-se de uma situação-
comunidade leva-nos a explicitar que problema para a qual convergem diferentes
princípios nortearão esse documento. campos do conhecimento. Seu papel é o de
Portanto, o caráter reflexivo e dialógico articular e estabelecer relações
deverá guiar a construção desse compreensivas que possibilitem novas
instrumento de trabalho. convergências geradoras.
Discussões recentes acerca da Nessa concepção de ensino e
organização por disciplina apontam para a aprendizagem, o papel do professor
necessidade da integração dos conteúdos reveste-se de fundamental importância,
estruturados em núcleos que ultrapassam os pois cabe a ele organizar estratégias e
limites das disciplinas, centrados em temas, materiais, colocando seus alunos em
problemas, tópicos ou ideias. Segundo contato com diferentes objetos da cultura
Hernández (1998), a definição sobre o que, muitas vezes, só estarão disponíveis na
sentido da globalização se estabelece como escola. O professor atua como um guia que
uma questão que vai além da escola e que, aponta vários caminhos que os alunos
possivelmente, na atualidade, motivada poderão seguir, adotando uma atitude de
pelo desenvolvimento das ciências, receba escuta e diálogo.
um novo sentido, centrando-se na forma de
relacionar os diferentes saberes, em vez de Projetualidade na sala de aula
preocupar-se em como levar adiante sua Reapresentando a ideia de que não
acumulação. O mundo atual caracteriza-se trabalhamos projetos de maneira
pela globalização; as questões estão fragmentada, com tempos
relacionadas tanto em nível local como predeterminados, com atividades
também internacionalmente. As dimensões planejadas com antecedência, queremos
financeiras, culturais, políticas, ambientais, reafirmar que, para se trabalhar com a
entre outras, são interligadas e organização do ensino em projetos de
interdependentes. Além disso, a velocidade trabalho, é preciso inseri-lo em uma
com que novas pesquisas apontam outros proposta pedagógica que contemple
caminhos, novas descobertas e, concepções de ensino e aprendizagem,
consequentemente, novos conhecimentos educação, modos de organizar o espaço. Ao
não permite acompanhar todo esse definirmos todas essas questões, é
processo, do mesmo modo que a escola de fundamental permitirmos que “o mundo
outros tempos deu conta de todas as entre na sala de aula”. Nesse sentido, não
informações consideradas importantes da cabe considerar uma sala como uma
época. estrutura centrada na figura do adulto, com
Nessa concepção, presta-se atenção a lugares e materiais definidos previamente,
tudo o que se passa na escola, propiciando- os quais não permitem novas interações das
se aos alunos as aprendizagens crianças com o meio, novos olhares das
consideradas mais significativas, na medida crianças da realidade em que se inserem. A
em que são oferecidas múltiplas sala de aula é um microcosmo onde
possibilidades para a intervenção educativa. complexas relações e fatores interligam-se
Se pensarmos em um currículo integrado, como elementos estruturantes do fazer
organizado em torno de ideias, tópicos ou pedagógico. Compõe esse contexto as
princípios que congregam as diferentes relações de tempo, de espaço, de interações
áreas do conhecimento, a organização do entre crianças e crianças, crianças e
ensino deverá ser compatível com essa professores, crianças e comunidade escolar.
proposta e não poderá tratar do conteúdo de
uma forma fragmentada. Trabalhar com
projetos de trabalho emerge como uma

95
Conhecimentos Específicos

Os tempos na sala de aula aprendizagem por meio das interações


Os projetos podem ter tempos diferentes possíveis entre as crianças e os objetos e
de duração. Existem projetos de curto, delas entre si. A partir dessa compreensão,
médio e longo prazos. O tempo será o espaço nunca é neutro, podendo ser
definido na ação. É importante lembrar que estimulante ou limitador de aprendizagens,
uma mesma turma de alunos pode dependendo das estruturas espaciais que
desenvolver vários e distintos projetos ao estão postas e das linguagens que estão
longo do ano, que muitos deles podem ter representadas.
uma existência concomitante e que nem A partir da perspectiva sócio histórica de
todos os projetos precisam necessariamente desenvolvimento tanto Wallon (1989)
ser desenvolvidos por todos os alunos. como Vygotsky (1984) relacionam
Nesse tipo de organização pedagógica, os afetividade, linguagem e cognição com as
conceitos e as habilidades consideradas práticas sociais. Ou seja, para esses autores,
relevantes e adequadas aos alunos da pré- o meio social é fator preponderante no
escola devem estar claros para os desenvolvimento dos indivíduos, fazendo
educadores, podendo contribuir na parte constitutiva desse processo. Ao
elaboração dos projetos. A ordem em que interagirem nesse meio e com outros
esses conteúdos serão trabalhados, o nível parceiros, as crianças aprendem pela
de profundidade e o tipo de abordagem própria interação e imitação. A implicação
serão definidos pelo processo do trabalho pedagógica decorrente dessa ideia é a de
cooperativo do grupo. que a forma como organizamos o espaço
interfere significativamente nas
Os espaços na sala de aula aprendizagens infantis. Ou seja, quanto
Zabalza e Fornero (1998) fazem uma mais o espaço for desafiador e promover
interessante distinção entre espaço e atividades conjuntas entre parceiros, quanto
ambiente, apesar de terem a clareza de que mais permitir que as crianças se descentrem
são conceitos intimamente ligados. da figura do adulto, mais fortemente se
Afirmam que o termo espaço se refere aos constituirá como propulsor de novas e
locais onde as atividades são realizadas e significativas aprendizagens.
caracterizam-se pelos objetos, pelos Que características, então, esses espaços
móveis, pelos materiais didáticos e pela e ambientes deverão ter para dar conta
decoração. O ambiente, por sua vez, diz disso? O espaço destinado às crianças
respeito ao conjunto desse espaço físico e pequenas não será sempre o mesmo. Suas
às relações que nele se estabelecem, as necessidades físicas, sociais e intelectuais,
quais envolvem os afetos e as relações ao se modificarem, incidem em
interpessoais dos envolvidos no processo - modificações também no meio em que
adultos e crianças. Em outras palavras, estão inseridas. Além disso, e levando em
podemos dizer que o espaço se refere aos consideração as necessidades básicas e as
aspectos mais objetivos, enquanto o potencialidades das crianças pequenas e a
ambiente refere-se aos aspectos mais construção da sua autonomia moral e
subjetivos. O ambiente “fala”, transmite- intelectual, é de extrema relevância apontar
nos sensações, evoca recordações, passa- que não é somente o espaço limitado das
nos segurança ou inquietação, mas nunca salas de aula ou das atividades
nos deixa indiferentes. propriamente ditas que devemos considerar
Segundo Horn (2004), o espaço é então e ou tão-somente os modos de organizá-los.
entendido em uma perspectiva definida em Todos os espaços das instituições de
diferentes dimensões: a física, a funcional, educação infantil são “educadores” e
a temporal e a relacional, legitimando-se promovem aprendizagens (hall de entrada,
como um elemento curricular. Nessa biblioteca, banheiros, cozinha, corredores,
perspectiva, estrutura oportunidades para a pátios, etc.) na medida em que, devido às

96
Conhecimentos Específicos

suas peculiaridades, promovem o Com propósitos didáticos, para fins de


desenvolvimento das múltiplas linguagens uma melhor abordagem, vamos organizar
infantis. este capítulo inicialmente em torno do
A construção do processo de aprender a trabalho com projetos com crianças
aprender é facilitada quando os adultos pequenas na creche e, posteriormente, com
atuam de maneira a não centralizar as as crianças maiores da pré-escola.
atividades, permitindo que as crianças
procurem competentemente materiais e Projetos na creche
atividades que as desafiem. Isso não se faz A primeira infância, período que vai dos
sem a parceria de um espaço que seja 0 aos 3 anos, é uma etapa que começa
cúmplice na construção da autonomia dominada pelos instintos e reflexos que
moral e intelectual por parte das crianças. possibilitam as primeiras adaptações e que
Em um contexto pensado em cantos e se estendem pela descoberta do ambiente
recantos com diferentes temáticas, que geral e pelo início da atividade simbólica. E
permitem seu livre trânsito e que, ao mesmo o momento em que as crianças têm uma
tempo, proporciona ricas interações, os dependência vital dos adultos. O modo de
temas dos projetos são alimentados, assim viver e de manifestar-se, de conhecer e de
como se preveem novos rumos nos construir o mundo, pauta-se na experiência
trabalhos, se levantam dúvidas e se buscam pessoal, nas ações que realizam sobre os
respostas, fatores propulsores no objetos e no meio que as circundam. Os
andamento de um projeto. Um ambiente primeiros anos de vida da criança estão
rico e instigante suscita muitas marcados por uma constante busca de
interrogações às crianças, o que é ponto de relações: as pessoas, os objetos e o
partida para o desenvolvimento de projetos ambiente são interrogados, manipulados,
significativos. mediante uma atitude de intercâmbio
Também é importante lembrar que o interativo, juntamente com um processo de
espaço tem um caráter simbólico, pois forte empatia. Na creche, desde muito
oferece um ambiente de cumplicidade, que pequenas, elas aperfeiçoam as experiências
permite a emergência das singularidades, que já existem e adquirem novas
das diferentes identidades, das estratégias.
experiências, dos sentimentos e das Com essas características, fica evidente
emoções. que as crianças bem pequenas necessitam
de um modo muito específico de
Diferenças de projetos na creche e na organização do trabalho pedagógico e do
pré-escola ambiente físico. Nessa perspectiva, os
Os projetos podem ser usados nos projetos podem constituir-se em um
diferentes níveis da escolaridade, desde a eficiente instrumento de trabalho para os
educação infantil até o ensino médio. O que educadores que atuam com essa faixa
é importante considerar, a priori, é que cada etária.
um desses níveis possui especificidades e Os projetos com bebês têm seus temas
características peculiares que os vão derivados basicamente da observação
distinguir em alguma medida: com relação sistemática, da leitura que a educadora
ao grupo etário, à realidade circundante, às realiza do grupo e de cada criança. Ela deve
experiências anteriores dos alunos e dos prestar muita atenção ao modo como as
professores. Porém, em sua essência, assim crianças agem e procurar dar significado às
como qualquer tema pode ser abordado suas manifestações. E a partir dessas
nessa perspectiva, também é possível observações que vai encontrar os temas, os
utilizá-lo em qualquer etapa da problemas, a questão referente aos projetos.
escolaridade. O trabalho com essa faixa etária, como
já afirmamos antes, requer como uma tarefa

97
Conhecimentos Específicos

fundamental da educadora a de organizar o Projetos na pré-escola


espaço: interno (da sala de aula) e externo A segunda infância, período que vai dos
(do pátio). Esse espaço deve incentivar e 3 aos 6 anos, é caracterizada por ser um
estruturar as experiências corporais, momento importante de formação da
afetivas, sociais e as expressões das criança. Nesse período, elas têm
diferentes linguagens da criança. O aumentadas as suas motivações, seus
ambiente bem-estruturado, mas flexível e sentimentos e seus desejos de conhecer o
passível de mudanças, deverá prever a mundo, de aprender. Sem exagero, pode-se
possibilidade de os materiais também se dizer que elas quase explodem de tanta
modificarem ao longo do ano, curiosidade. Então, o adulto deverá
acompanhando a trajetória do grupo, ou desempenhar um papel desafiador,
seja, suas novas aquisições, suas povoando a sala de aula com objetos
necessidades e seus interesses. O ambiente, interessantes, bem como ampliando e
isto é, a sala das crianças deve ser vista aprofundando as experiências das crianças.
como um educador auxiliar que provoca O fato de elas terem muito desenvolvida sua
aprendizagens: pode haver nessa sala oralidade, ter domínio do seu próprio corpo,
materiais como caixas, instalações, tendas, faz seu rol de experiências aumentar
tapetes, almofadas, cestas para jogo de cotidianamente, o que possibilita sua
manipulação, materiais vindos da natureza, participação ativa não somente com relação
bonecos, brinquedos de construção, trapos ao surgimento das temáticas, mas também
de pano, bolas de tamanhos e materiais na construção do projeto. Esta é uma das
diversos. diferenças de abordagem com relação ao
Um projeto pode iniciar durante as trabalho com projetos na creche.
atividades de exploração dos materiais da
sala. O educador observa, anota dados Comunidade de aprendizagem
relevantes - data, criança, espaço, materiais, Quando uma escola propõe um trabalho
canais sensoriais, tipo de jogo - e, após um com projetos todos aprendem! Aprendem
período inicial de observação, pode os alunos, os professores, os funcionários,
preparar um projeto. Nessa faixa etária, é os pais, as instituições, a sociedade, isto é,
fundamental considerar que as coisas toda a comunidade troca informações, cria
importantes da vida a serem descobertas e conhecimentos comuns, formula perguntas
conhecidas são a procura do olhar, o ser e realiza ações. Trabalhar com projetos é
correspondido, o sorrir, a conversa (seja ela criar uma escola como uma instituição
qualquer tipo de relação vocal), o tocar aberta e a escola como uma comunidade de
(contato motor), o contato físico, a retenção investigação e de aprendizagens que
de um objeto (dar, oferecer), o imitar, o estimula o pensamento renovado em todas
esconder, os jogos de linguagem, os jogos as áreas. O percurso de construção de um
de manipulação, as músicas, as saídas para projeto não é apenas uma forma, mas
o espaço externo, as festas, a vida em grupo. também é conteúdo de aprendizagem - de
As atividades de sobrevivência, como solidariedade, de argumentação, de
alimentar-se, banhar-se, brincar, dormir, negociação, de trabalho coletivo, de
comunicar-se verbalmente e relacionar-se escolhas.
com os companheiros, também são as
grandes aprendizagens desse grupo etário. O professor na pedagogia de projetos
A construção de projetos para crianças A pedagogia de projetos oferece aos
pequenas pode ter durações diferenciadas, professores a possibilidade de reinventar o
sendo possível pensar em projetos que dure seu profissionalismo, de sair da queixa, da
um dia ou talvez uma semana. sobrecarga de trabalho, do isolamento, da
fragmentação de esforços para criar um
espaço de trabalho cooperativo, criativo e

98
Conhecimentos Específicos

participativo. “O professor passa a ocupar o trabalhados, inclusive atualizar-se em


papel de co-criador de saber e de cultura, relação ao tema, discuti-lo com os outros
aceitando com plena consciência a educadores da escola e ampliar seus
‘vulnerabilidade’ do próprio papel, junto à conhecimentos, apresentando propostas de
dúvida, ao erro, ao estupor e à curiosidade” trabalho para o grupo. Além disso, deve
(Rinaldi, 1994, p.15). selecionar os conhecimentos centrais e não
A pedagogia de projetos também transmitir rapidamente os conhecimentos
possibilita tratar o trabalho docente como da área. O ensino gera uma série de
atividade dinâmica e não repetitiva. O processos de desenvolvimento que, de
professor pode repensar a sua prática, outro modo, não seria possível despertar
atualizar-se e transformar a compreensão nas crianças, isto é, o ensino precede e
do mundo pelo estudo contínuo e coletivo estimula o desenvolvimento mental da
sobre diferentes temas, juntamente com as criança, O papel do docente é também ser
crianças. E possível revisar seu modo de aquele que registra e que cria a memória.
ensinar e, com isso, transformar a própria
história como sujeito educador. Analisar As crianças e o grupo na pedagogia de
metacognitivamente o processo de projetos
aprendizagem realizado pelo grupo, avaliar Para o grupo de alunos, os projetos
e reinstrumentalizar para continuamente propiciam a criação de uma história de vida
qualificar o seu ofício. A vida cooperativa coletiva, com significados compartilhados.
que se estabelece na sala de aula ajuda o Eles estimulam a aprendizagem do diálogo,
professor a sair da sua solidão, já que ele do debate, da argumentação, do aprender a
passa a compartilhar tarefas, a coproduzir ouvir outros, do cotejar diferentes pontos de
estratégias pedagógicas, a criar e a vista, do confronto de opiniões, do negociar
aprender. significados, da construção coletiva, da
Ao professor cabe prioritariamente criar cooperação e da democracia. As crianças
um ambiente propício em que a engajam-se nas próprias aprendizagens, na
curiosidade, as teorias, as dúvidas e as construção do conhecimento, no
hipóteses das crianças tenham lugar, sejam desenvolvimento de novas habilidades e no
realmente escutadas, legitimadas e aperfeiçoamento daquelas já dominadas, no
operacionalizadas para que se construa a prazer de expor o seu saber, no ver e sentir
aprendizagem. Pode-se complementar essa as controvérsias e na construção de uma
ideia com o conceito de comunidade de visão coletiva.
investigação, que é um espaço onde há A construção de um grupo de
descoberta e invenção por toda a parte, aprendizagem que colabora, que se envolve
estimulando, assim, o pensamento com as tarefas, que é corresponsável pelo
renovado em todas as áreas. E preciso que a empreendimento coletivo, define uma
sala de aula e a escola em sua totalidade efetiva participação no grupo. Cabe
tornem-se uma comunidade de salientar ainda que as crianças podem criar
investigação, na qual as crianças possam projetos individualmente, em pequenos
aprender umas com as outras e dialogar não grupos ou em duplas, ou mesmo em grande
só com os professores, mas também com os grupo. Cada um pode ser diferente, ter seus
textos, os materiais, as atividades, criando interesses, mas é preciso aprender a
conhecimentos e significados com conviver e aprender com os limites da vida
solidariedade social. coletiva.
Independentemente do trabalho com as A pedagogia de projetos vê a criança
crianças, é tarefa do educador articular o como um ser capaz, competente, com um
tema com os objetivos gerais previstos para imenso potencial e desejo de crescer.
o ano letivo ou ciclo e realizar uma previsão Alguém que se interessa, pensa, duvida,
dos conteúdos que podem vir a ser procura soluções, tenta outra vez, quer

99
Conhecimentos Específicos

compreender o mundo a sua volta e dele desta premissa, a disposição dos adultos
participar, alguém aberto ao novo e ao que acompanham as crianças em elaborar
diferente. Para as crianças, a metodologia ateliês vem ganhando força.
de projetos oferece o papel de protagonistas Construir espaços e disponibilizar
das suas aprendizagens, de aprender em materiais que unam o pensar e o fazer, e
sala de aula, para além dos conteúdos, os proporcionem uma experiência estética,
diversos procedimentos de pesquisa, artística, corporal, sensorial e proporcione
organização e expressão dos narrativas coletivas. Afetar a infância com
conhecimentos. as descobertas vindas das possibilidades
Para as crianças, trabalhar com projetos que carregam os materiais. Promover
é também aprender a trabalhar em grupo afetação e afeto.
criando uma cultura de aprendizagem A obra de “Stela Barbieri”, Territórios
mútua. Muitas habilidades e capacidades da Invenção, que está no clube de assinatura
são desenvolvidas na execução de projetos: para professores “Diálogos Embalados”, é
flexibilidade, organização, interpretação, uma das mais completas obras sobre o
coordenação de ideias, formulação de tema, cuja leitura é indispensável àqueles
conceitos teóricos, antevisão de processos, que desejam aprofundar-se no tema.
capacidade de decisão, verificação da
viabilidade dos empreendimentos, decisão Experiência estética do ateliê
sobre elas, mudança de rumos, A estética, de modo geral, está ligada à
desvendamento do novo, ampliação de experiência visual. Ela é a construção e a
conhecimentos e garantia de inclusão na formatação de algo que nos provoque as
rede de saberes previamente adquiridos. mais diversas sensações, de bem-estar, de
curiosidade, de desejo. Nós, seres humanos,
degustamos experiências estéticas ao longo
de toda a vida.
BARBIERI, Stela. Territórios da De tal forma, que toda a experiência
Invenção: Ateliê em Movimento. São estética dos educadores se reflete em suas
Paulo: Jujuba Editora, 2021 ações diárias. Assim, sabendo que as
crianças são seres intrinsecamente ligados à
arte, em razão de sua capacidade criativa, o
Um livro que traz experiências, quanto for possível que o ateliê seja
esteticamente atraente, maior será o vínculo
vivências, trocas, fazeres e afetos. Tudo criado entre os elementos disponibilizados
isso regado à teoria que embasa o trabalho e o desejo do poder inventivo da criança.
da artista plástica e educadora Stela
Barbieri. Compondo o espaço, materialidade e
Com experiência no chão da escola, na tempo
coordenação de professores e em A construção do ateliê nas escolas passa
educativos da Bienal de Artes de São Paulo necessariamente pela reflexão acerca do
e do Instituto do Tomie Ohtake, Stela tem espaço, da materialidade e do tempo. Há de
um olhar amplo pelo fazer artístico em sala existir uma conexão muito estreita entre
de aula, e com generosidade ímpar o estes três itens, para que sejam harmônicos
compartilha com seus leitores. entre si, e generosos em suas ofertas para a
34
criança.
A importância do ateliê na criação A definição de espaço e as nuances que
das invenções o diferenciam de lugar devem estar muito
A curiosidade natural da criança é a bem estabelecidas. Vale a leitura de
força que a move em direção ao novo, ao “Espaços afetivos - Habitar a escola”, de
desconhecido e ao surpreendente. Dentro Rayssa Oliveira.

34
https://bit.ly/3Dwe0fv

100
Conhecimentos Específicos

Desta forma, há de se pensar numa A fórmula para construção do ateliê


construção do espaço que favoreça a oferta Diante do que se observa, é óbvia a
rica de materiais a serem disponibilizados, conclusão de que não existe uma fórmula
e consequentemente uma generosa dose de mágica para a construção de um ateliê para
tempo para que a construção da conexão da a infância.
criança com tudo isso seja estabelecida de Diferentemente da preparação de um
forma a dar vazão à sua criação e sua bolo, onde existe uma lista de ingredientes
experimentação. específicos e suas doses, a ordem exata de
Um interessante exercício é a construção sua inserção e o tempo correto de preparo,
do mapa da escola. O que sabemos nosso visando um resultado único, na construção
próprio espaço pode contribuir muito na do ateliê o educador deve estar mais atento
construção dos ateliês. às possibilidades criativas, às necessidades
interativas, às intencionalidades dos
O ato de desenhar nos ateliês materiais e a uma adequação de tempo para
O desenho é uma das formas mais que todas as conexões sejam estabelecidas.
primitivas de comunicação. A criança que “Territórios da Invenção - Ateliê em
desenha traz para o mundo e para a movimento” é uma obra indispensável e
posteridade aquilo que está elaborado muito profunda, que faz um passeio por
dentro de si. Nos desenhos podemos todas as linhas que compõem esta teia tão
identificar seus desejos, suas experiências rica de sensações, sentimentos e
anteriores, sua imaginação acerca do possibilidades que um ateliê para a infância
mundo e até mesmo os traços de sua pode oferecer.
personalidade.
À criança deve-se entregar o direito de
desenhar. E não apenas nas construções de
PRADO, Patrícia D. . Educação Infantil:
ateliês. Este dever deriva de seu próprio contrariando as idades. 1. ed. São Paulo:
desejo, e a possibilidade de desenhar deve Képos (Selo Editora Laços), 2015
estar disponível a qualquer tempo.

As possibilidades das narrativas


35
As narrativas nascem da união das Apesar dos avanços teóricos e políticos
experiências vividas pela criança ao longo que buscam reconhecer as meninas e
de suas vidas, somadas à sua capacidade meninos pequenos, no presente, por meio
criativa que nasce dos estímulos a que ela de uma Pedagogia que respeite seus direitos
se expõe durante a experiência do ateliê. de viverem suas infâncias plenamente nos
As construções das narrativas ganham espaços públicos, coletivos e educativos
ainda mais robustez, quando passam a ser das creches e pré-escolas, ainda
construídas no coletivo, onde a experiência convivemos com concepções que as/os
e a imaginação de cada criança se unem à enxergam no futuro.
dos outros, formando um contexto único e Tais concepções estão fundamentadas
exclusivo. numa perspectiva de progresso e evolução
Esta nova linguagem que se forma, linear das crianças e objetivam medir seu
igualmente passa a compor o repertório desenvolvimento a partir de modelos pré-
individual, construindo uma teia coletiva de estabelecidos e prepará-las para o Ensino
narrativas, e possibilitando ao educador Fundamental.
mais atento a coleta de fartos e ricos Prado questiona a finalidade das idades
registros. na educação infantil, propondo que os
encontros entre as diferentes idades seja
uma possibilidade de traçar novas formas
35
https://bit.ly/3TZlA87

101
Conhecimentos Específicos

de pensar a educação das crianças. Segundo


a autora, ao observar as crianças, foi MONÇÃO, Maria Aparecida Guedes.
possível constatar entre todas elas, Gestão na Educação Infantil: cenários do
independentemente da idade, a presença de cotidiano. São Paulo: Edições Loyola,
vínculos afetivos e a construção de laços de 2021
amizade, existindo poucos conflitos entre
maiores e menores (estes estavam mais
36
presentes nas relações de mesma idade) e, O livro Gestão na Educação Infantil:
quando havia, as negociações eram mais cenários do cotidiano é fruto de sua
democráticas entre crianças de idades pesquisa de doutoramento, defendida no
diferentes, haviam também relações de Programa de Pós-Graduação em Educação
benevolência e poder entre maiores e da Universidade de São Paulo (USP), no
menores e vice-versa. A pesquisadora ano de 2013, sob orientação do Professor
percebeu uma ampliação nos repertórios de Doutor Vitor Henrique Paro, que prefacia a
brincadeiras das crianças menores e em obra.
relação as crianças maiores, havia uma Na introdução do livro a autora aponta
aceitação da presença dos menores, ora que são poucas as pesquisas na área da
sendo atenciosos ora repreendendo-os em educação que discutem especificamente a
seus comportamentos e atitudes gestão na Educação Infantil, destacando os
estabelecendo regras e formas próprias para trabalhos das seguintes autoras: Bianca
utilização dos brinquedos. Cristina Corrêa (2001, 2006), Mirian
À necessidade de ampliação do conceito Tronolonne (2003), Eva Cristina Mendes
de infância, ultrapassando as concepções (2007) e Cinthia Magda Fernandes Ariosi
teóricas desenvolvimentistas, não de forma (2010). Diante dessa constatação,
a ignorá-las ou rejeitá-las, mas no sentido assinalamos a relevância acadêmica e social
de coloca-las sob perspectivas, do livro ora resenhado.
reconhecendo suas possibilidades e Monção entende a Educação Infantil
limitações, questionando suas concepções e como espaço de socialização da criança
generalizações. pequena, direito delas e de suas famílias, o
Pedagogia da alteridade que respeite as qual deve ser convertido em uma política
crianças, reconheça uma condição infantil pública. Busca, assim, compreender em que
(no plural), para além de uma natureza medida pode se efetivar uma gestão
infantil (no singular), inscrita na capacidade democrática que possibilite a relação
das crianças de conviver e de estabelecer cuidar/educar entre professores e familiares
relações na diferença e no convívio. das crianças.
Prado nos fala que a capacidade das O objetivo geral é analisar a interação
crianças em transitar entre os tempos é a de entre a família e o CEI, visando identificar
transmutação: evidenciada por Benjamin e a especificidade da administração
Sarmento, fundindo os tempos presente, educacional nesse segmento. A autora
futuro e passado, realidade e fantasia, defende que o compartilhamento da
transpondo o espaço-tempo das educação da criança entre família e
experiências, subvertendo e alterando uma instituição tem de ser garantido pela gestão
dada lógica formalizada, ao mesmo tempo, escolar.
que coexistindo com ela, na exploração de A pesquisa baseou-se no aspecto
suas contradições e possibilidades. qualitativo do tipo etnográfico, e os
instrumentos de coleta de dados foram a
observação participante e entrevistas
semiabertas com roteiro pré-estabelecido

36
https://bit.ly/3xoClzM

102
Conhecimentos Específicos

com gestores, professores e familiares das concepções tradicionais, que não mais se
crianças. sustentam nesse segmento, revelando ações
Além da introdução e das considerações humanas pouco democráticas e afetuosas.
finais, o livro está dividido em seis Os profissionais da Educação Infantil
capítulos, a saber: O cenário da Educação precisam ter em mente que a criança
Infantil no Brasil, no qual Monção discute necessita ser acolhida e respeitada para que
os direitos fundamentais das crianças se sinta segura e pertencente ao espaço
enquanto norteadores das políticas públicas escolar.
e práticas cotidianas na Educação infantil; Nas relações interpessoais entre adultos,
Gestão democrática na Educação Infantil, Monção verificou de que modo elas
cuja análise está pautada na especificidade ocorrem entre gestoras e professoras e entre
da gestão educacional e sua relação com a direção e coordenação e de que maneira
democracia e a singularidade da gestão na essas ações reverberam nas famílias. A
EI; Centro de Educação Infantil Anália autora aponta o quanto a gestão fica
Franco, no qual a autora apresenta a impactada diante de certas atitudes dos
instituição em que foi realizada a pesquisa professores em relação às crianças,
empírica, sua organização e o quadro de impossibilitando um trabalho coletivo de
profissionais. qualidade. Nota-se a importância de
Além desses há os capítulos Cenas do discussões e reflexões em horários de
cotidiano no CEI Anália Franco: em foco as formação para que as docentes possam
relações entre adultos e crianças; Relações avançar norteando suas práticas por teorias
entre os adultos no CEI Anália Franco: que as sustentem, abandonando o senso
tensões e contradições; Relação entre comum.
educadoras e famílias, em que Monção Uma gestão que se diz democrática pode
analisa os dados referentes às relações entre deixar de incorporar às formações os
esses personagens. Vale lembrar que o Auxiliares Técnicos de Educação (ATE’s),
nome da instituição é fictício. que estão em constante contato com as
Durante a leitura fui me impactando com crianças; nem mesmo os agentes escolares,
os resultados apresentados, denunciados os auxiliares de cozinha e limpeza e demais
pela autora no decorrer da obra e em suas atores, conforme menciona Monção.
considerações finais. No que se refere à A participação das famílias na escola é
categoria relações entre adultos e crianças, contraditória, muitas aceitam de forma
Monção sinaliza a rotina da instituição: incondicional o que é proposto pelas
momentos de entrada e saída das crianças; profissionais, outras protestam, mas, de
troca de turnos das professoras; momentos forma geral, não é dada a oportunidade, por
de alimentação, higiene e descanso nos parte das professoras, para que os pais
quais deve haver a integração entre cuidado expressem seus sentimentos. As reuniões
e educação; “atividades” pedagógicas, e o de pais e professores é prescritiva, com
papel das emoções. informes repetitivos e não prioriza a voz
O cuidado não é entendido como algo dos responsáveis pelas crianças. Tal fato se
necessário à aprendizagem, mas um deve à falta de participação dos pais na
assistencialismo. Foram notadas práticas escola e de reflexões junto com eles a
pedagógicas díspares no mesmo ambiente respeito do desenvolvimento infantil e do
escolar por parte das professoras, umas porquê de determinadas propostas
atentas às crianças, outras nem tanto. pedagógicas.
Verificam-se, de maneira geral, práticas Diante do exposto, Monção aponta que a
autoritárias, com uso de contenção dos visão assistencialista dos profissionais
corpos, castigos e punições, formas de impede uma reflexão acerca da melhoria do
educar as crianças, sem muita atenção às trabalho coletivo, tais como: relatórios que
demandas infantis, portanto amparadas em depreciam as crianças, marcados por

103
Conhecimentos Específicos

preconceitos em relação à população pobre; e stricto sensu, a disseminar as pesquisas


cotidiano improvisado, com muitas faltas que apontam o “outro lado da moeda”.
de professores; reuniões pedagógicas sem Espera-se que tais profissionais
articulação com discussões de momentos ressignifiquem suas práticas e se coloquem
precedentes; predomínio de práticas de sempre em busca de uma Educação Infantil
controle das crianças, como castigos e pública de qualidade. Docentes e gestores,
punições; pouca participação das famílias preocupados com as crianças, suas famílias
nos conselhos do CEI; dificuldade de e com a própria profissionalização também
comunicação entre professores e familiares. devem comprometer-se com a causa da
As denúncias apresentadas por Maria primeira infância.
Aparecida Guedes Monção, infelizmente,
revelam uma escola da primeira infância
que desrespeita os direitos fundamentais da MANTOAN, Maria Teresa Eglér.
criança. Segundo a autora, o conteúdo do Caminhos pedagógicos da educação
livro não pode restringir-se a denúncia e inclusiva. In: GAIO, R.; MENEGHETTI,
indignação, com o risco de tornar-se mais R.G.K. (org). Caminhos pedagógicos da
um dos trabalhos que, ao descrever o “chão Educação Especial. Petropólis: Editora
da escola”, pode servir de munição para Vozes, 2004
aqueles que não são comprometidos com a
educação pública e denigrem sua imagem
por meio da defesa do sistema de ensino A obra traz uma reflexão sobre as
privado, considerado símbolo de eficiência possibilidades do ser humano, para além
e sucesso, reforçando os interesses de das possíveis deficiências que seu corpo
mercado e a proliferação dos ideais possa abrigar, e no diálogo com as
neoliberais. Ao contrário, a proposta é que diferenças contidas nas várias áreas de
o conteúdo deste trabalho sirva como conhecimento. O livro mostra o sentido da
estímulo para defendermos com mais diferença e o modo de lidar com ela em sala
coragem a importância da educação pública de aula, a partir da ampliação do conceito
infantil e da primeira infância, para garantir de igualdade.
os direitos das crianças e de suas famílias. De acordo com Gaio e Meneghetti um
Os dados sinalizam o quanto os ato isolado para época, no final do século
formadores de professores nos cursos de XIX, no que se refere às Pessoas com
Pedagogia têm papel crucial ao apontar que Necessidades Educacionais Especiais foi à
as relações entre crianças e profissionais; implantação das instituições públicas: o
professoras e gestoras; docentes e famílias Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual
devem estar pautadas na escuta, no diálogo Instituto Benjamim Constant) em1854 e o
e no respeito, principalmente em Instituto dos Surdos-Mudos (atual Instituto
instituições que atendem crianças de 0 a 3 Nacional da Educação dos Surdos-INES)
anos, demonstrada na pesquisa apresentada. em1856, pois naquele momento não existia
Trata-se de uma obra que merece ser lida nenhuma legislação educacional que se
por todos aqueles e aquelas que buscam referia sobre Educação Especial. Diante das
atuar na Educação Infantil. A perspectiva poucas ações estatais em relação à
crítica da autora causa sobressaltos, uma Educação Especial inicia-se a implantação
vez que ela apresenta uma realidade que de instituições privadas especializadas,
(in)visibiliza a criança e suas famílias, além sendo a primeira o Instituto Pestalozzi em
de apontar os graves problemas da 1926.
educação brasileira. Com o crescimento da industrialização a
Os resultados apresentados na presente partir da década de 30 do século passado,
obra convocam profissionais engajados, surge uma maior preocupação com a
que cursaram e cursam pós-graduação lato escolaridade da população. No entanto

104
Conhecimentos Específicos

ainda com poucas escolas e deficiente, corroborando para a obra de


consequentemente com poucas Classes Mantoan e deixando grandes pistas de que
Especiais. Garantida pela legislação, isto é, tal direito deve transformar a escola e a
com a Constituição Brasileira de 1946, foi sociedade. Como membros do governo,
fundada a primeira Associação de Pais e podem confirmar que a ideia de Mantoan
Amigos dos Excepcionais (APAE), vai ao encontro da Política Nacional de
buscando ocupar o espaço vazio da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Especial na rede nacional. Educação Inclusiva, de 2008. Além disso,
De acordo com Gaio; Menenghetti “a elas encerram seu prefácio asseverando que
inclusão escolar envolve, basicamente, uma o ato de incluir significa não deixar
mudança de atitude face ao outro: que não ninguém de fora, e que é preciso quebrar o
é mais um indivíduo qualquer, com o qual paradigma da normalização imposto ao
topamos simplesmente na nossa existência longo dos anos pelo sistema de ensino, que
e com o qual convivemos um certo tempo, foi planejado para apenas uma parcela da
maior ou menor, de nossas vidas”. sociedade.
Esse indivíduo é um ser humano com Na Apresentação de sua obra, Maria
quem convivemos, por isso precisamos Teresa Eglér Mantoan comenta sua
respeitá-los. Cumprir o nosso papel trajetória como professora, que se iniciou
possibilitará a eles o acesso ao saber, quando ela tinha dezessete anos e passou
pequenos avanços para alguns, enormes por todas as fases da educação, chegando ao
avanços para outros. Ensino Superior e à coordenação de um
Para Gaio; Menenghetti “o outro é grupo de pesquisa da Universidade
alguém que é essencial para a nossa Estadual de Campinas (Unicamp). Desse
constituição como pessoa e dessa alteridade modo, Mantoan é capaz de afirmar que o
é que subsistimos, e é dela que emana a desejo por transformar a escola é fruto do
justiça, a garantia da vida compartilhada”. seu encantamento pela própria educação e
O grande desafio para que ocorra a pela força de ressignificar o universo
inclusão é oferecer oportunidades, é preciso escolar com ações solidárias e plurais. Ela
garantir o avanço na aprendizagem, bem ainda questiona as mudanças que ocorreram
como, no desenvolvimento integral do na educação desde que o primeiro exemplar
indivíduo com necessidades educacionais do seu livro foi lançando, em 2005. Assim,
especiais. ela possibilita que o leitor trace as próprias
conclusões ao notar que as mudanças no
meio educacional são lentas e reticentes ao
MANTOAN, Maria Tereza Eglér. comparar com as mudanças provocadas em
Inclusão Escolar: O que é? Por quê? 2005 e em 2015. Ela encerra seu texto de
Como Fazer? 2 ed. São Paulo: Moderna, apresentação postulando que as mudanças
2006 precisam ser um compromisso coletivo;
caso contrário, o maior prejudicado acaba
sendo o maior interessado: o próprio aluno.
37
O livro se inicia com um prefácio de As escolhas não podem tolher a liberdade
Claudia Pereira Dutra e Martinha Clarete dos alunos e o seu desejo de se encantar
Dutra dos Santos, que atuaram no com a escola que frequentam.
Ministério da Educação nos anos de 2003 a O primeiro capítulo do livro é dedicado
2013 e possuem um lugar de fala no que a entender o processo de inclusão escolar
tange às políticas para a Educação com base em evidências empíricas que a
Inclusiva. Elas afirmam que a inclusão autora coloca. Além disso, é importante
escolar é um direito inalienável do aluno salientar a diferença de dois processos que

37
https://bit.ly/3UdUf1Q

105
Conhecimentos Específicos

ocorrem nas escolas: a inclusão e a diferenças não sejam escondidas, mas


integração. Apesar de estarem associados a reveladas e compreendidas como
práticas com alunos deficientes, os dois importantes para o avanço do pensamento
processos são bem distintos, e um deve plural.
ceder lugar ao outro. Assim, ela pontua a O primeiro capítulo do livro marca ainda
diferença que pode ser percebida entre os a distinção entre o processo de integrar e
dois processos antagônicos: na integração, incluir os alunos deficientes, traduzindo-se
há uma seleção previa dos alunos a partir de em debates acalorados entre os
uma mudança adaptativa deles ao regime profissionais da área de saúde e da área
escolar, enquanto a inclusão torna-se mais educacional.
radical e questionadora ao colocar todos os
alunos para frequentar a mesma sala de Embora tenhamos caminhados
aula, isto é, atinge não somente os alunos muito no Brasil, a inclusão ainda
mexe com associações de pais que
deficientes, mas toda a comunidade escolar, adotam paradigmas tradicionais de
que buscará meios para oferecer o melhor assistência às suas clientelas; afeta
atendimento aos alunos. professores da Educação Especial,
Buscando referência no próprio escrito que se sentem temerosos de perder o
de Mantoan, a lógica da inclusão é espaço que conquistaram nas escolas
e classes especiais; envolve ainda
provocativa e complexa, mesmo para os grupos de pesquisa das universidades
educadores inclusivos, pois envolve um (Mantoan, 2015, p. 25)
grande confronto social e de questões que
estão enraizadas em nosso meio. Para encerrar esse primeiro capítulo,
Assim, Mantoan comenta as reviravoltas Mantoan (2015, p. 29) afirma que “a
que percorrem a sociedade, afirmando que distinção entre integração e inclusão é um
é necessário estar de prontidão para bom começo para esclarecermos o processo
perceber essas mudanças, bem como para de transformação das escolas”. Essa
não sucumbir ao antigo padrão imposto diferenciação irá reforçar a luta de
educadores e pais para que a inclusão
pelos movimentos anteriores. Com essa escolar seja a tônica do século XXI.
analogia, a autora propõe uma reflexão bem O Capítulo Dois é dedicado a analisar os
séria ao leitor: de qual lado estamos no porquês da efetivação da inclusão escolar;
processo de inclusão? Presos aos antigos para isso, a autora recorre a três questões
ditames ou como sentinelas atentas às temáticas: a questão da identidade versus
novas cirandas da educação? diferença, a questão legal e a questão das
Como afirma Mantoan (2015, p. 21), “os mudanças. Todas as três questões formam o
velhos paradigmas da modernidade escopo de que a autora precisa para
continuam sendo contestados, e o defender que a inclusão seja
verdadeiramente uma prática - e não uma
conhecimento, matéria-prima da educação ilusão de muitos educadores e pais de
escolar, mais do que nunca, passa por uma alunos deficientes.
reinterpretação”. Com todas essas questões norteando o
Cabe destacar que, ainda dentro desse seu texto no segundo capítulo, Mantoan
primeiro capítulo, Mantoan (2015) afirma assevera que o fracasso dos alunos e a
que as mudanças no nível social não devem exclusão encontram-se originados no
ser ignoradas pela escola, uma vez que ela próprio cerne da escola, que não admite o
expressa os valores e sentimentos que seu erro e reluta em promover práticas que
emergem da sociedade. Dessa forma, o avaliem as lógicas de como o ensino está
ensino e a nova forma de ensinar devem sendo ministrado. Dessa forma, o aluno vai
reconhecer o que Mantoan (2015, p. 23) se distanciando e sendo cada vez mais
pontua como “caráter multidimensional dos penalizado, pois não encontra amparo nem
problemas e das soluções”, como uma na própria escola que o acolhe.
maneira de propor um currículo no qual as

106
Conhecimentos Específicos

A autora trata a primeira questão, da uma vez que o acolhimento desse aluno
identidade versus diferença, pontuando que deficiente não pode ser interpretado como
alguns sentimentos, como a tolerância e o bondade da unidade escolar, mas como um
respeito, podem estar nutridos de valores direito resguardado e inalienável.
prepotentes, isto é, podem se traduzir como A terceira e última questão de que
um preconceito velado, haja vista que se Mantoan trata no segundo capítulo é a
subentende que marcam certa superioridade questão das mudanças, uma vez que seria
daquele que tolera e respeita o aluno ilógico pensar que todos os movimentos
deficiente. legais e sociais não respingassem no meio
De acordo com Mantoan (2015, p. 35), escolar. Na verdade, todos esses
“as ações educativas têm como eixos o movimentos precisam ser abraçados pela
convívio com a diferença e a aprendizagem escola, a fim de produzir uma grande crise
como experiência relacional, participativa, em nível globalizado, gerando a quebra de
que produz sentido para o aluno, pois paradigmas.
contempla sua subjetividade”. Desse modo, Mantoan (2015, p. 57) assevera que
a diferença nas escolas estabelece uma “conhecemos os argumentos pelos quais a
ruptura com o padrão elitista, que persegue escola tradicional resiste à inclusão - eles
o sistema educacional brasileiro desde a sua refletem a sua incapacidade de atuar diante
origem, pois cria mecanismos nos quais a da complexidade, da diferença, da
identidade do aluno é considerada variedade, da singularidade”. Com isso,
importante. Além disso, a diferença produz, questiona-se o verdadeiro papel da escola
positivamente, novas posturas na na atualidade, de promover a consciência
sociedade, por meio de lutas pela promoção cidadã nos seus alunos. Com essa verdade,
da igualdade. a escola precisa formular novos jeitos de
Na questão legal, a autora trata da incluir esse aluno com todas as suas
inclusão sob enfoque de leis e diretrizes que diferenças, pois a inclusão é o melhor
norteiam o sistema educacional, visando caminho para desenvolvê-lo, promovendo
garantir e advogar que os alunos deficientes oportunidades de viver com dignidade no
sejam acolhidos pela escola regular. Para meio social. A inclusão torna-se também
isso, ela busca reforço na Constituição uma via para vencer barreiras sociais como
Federal de 1988, na Lei nº 9.394/96 (Lei de o preconceito, pois forma gerações mais
Diretrizes e Bases da Educação Nacional - preparadas para encarar a vida com seus
LDBEN), no Decreto nº 6.094 (Plano de percalços.
Metas Compromisso Todos pela De acordo com Mantoan (2015, p. 60), a
Educação), na Política Nacional de inclusão torna-se “um motivo a mais para
Educação Especial na Perspectiva da que a educação se atualize”. Assim, o
Educação Inclusiva, no Decreto nº 7.611/11 segundo capítulo é encerrado abrindo
(Educação Especial e o atendimento brecha para que o leitor possa se convencer
educacional especializado), no Decreto nº de que a inclusão é o melhor caminho de
7.612/11(Plano Nacional dos Direitos da modernização das práticas escolares
Pessoa com Deficiência), dentre outros vigentes até se perguntar como fará a
documentos legais que são analisados no inclusão acontecer no seio das escolas.
decorrer do capítulo. No terceiro capítulo, Mantoan declara
Com todos os mecanismos legais, que há inúmeros desafios para que a
Mantoan tece comentários e chega a inclusão aconteça de fato. O maior desses
concluir que a escola necessita se desafios seria mudar as condições
reorganizar, estabelecendo novas práticas excludentes que originaram a própria escola
de ensino que versem para contemplar as pública. Com isso, é preciso considerar o
diferenças nas salas de aula, bem como princípio democrático da educação para
cumprir o que está previsto na legislação, todos e saber que a luta será muito grande.

107
Conhecimentos Específicos

Dentro do terceiro capítulo, Mantoan O professor deixa de ser alguém dotado


considera pontos relevantes para que o de todo material intelectual e passa a ser
processo de inclusão escolar aconteça de alguém que interage e aprende com as
fato: a recriação do modelo educativo, a novas experiências provocadas na turma. O
reorganização dos aspectos pedagógicos e seu novo papel requer determinação,
administrativos da escola, a preparação do formação consistente e coragem para
professor inclusivo para sua atuação romper com o ensino tradicional, a fim de
voltada à turma toda; ela propõe também voltar-se ao processo de inclusão.
uma pedagogia da diferença. Conforme defende Mantoan (2015, p.
Mantoan (2015, p. 65) postula que 81), “formar o professor na perspectiva da
“superar o sistema tradicional de ensinar é educação inclusiva implica ressignificar o
um propósito que temos de efetivar com seu papel, o da escola, o da educação e o das
práticas pedagógicas usuais”. Logo, o
toda urgência. Essa superação refere-se ao professor tem o desafio de ensinar a toda
‘que’ ensinamos aos nossos alunos e ao uma turma, sem diferenciar aulas e
‘como’ ensinamos”. conteúdos a específicos alunos - todos estão
Logo, percebe-se que o modelo incluídos e abraçados pelo novo modelo
educativo vigente precisa sofrer drásticas escolar.
mudanças, pois se tornou obsoleto frente O terceiro capítulo encerra-se tratando
aos novos contextos sociais e à demanda da questão que permeou toda a sua obra, a
que os novos tempos impulsionam; pedagogia da diferença, pela qual Mantoan
questiona-se ainda que o ensino (2015) afirma que deve ser adotada nas
escolas, destacada nas práticas
memorizado e friamente racionalista não pedagógicas, pois ela pode ensinar muito
serve às novas concepções sociais. A mais do que os teoremas e conteúdos
verdadeira qualidade do ensino reside na curriculares.
capacidade de oferecer aos alunos a aptidão Mantoan celebra a pedagogia da
para atuar, com cidadania e autonomia, no diversidade como a nova maneira de incluir
meio social, visando à sua plena inclusão. a diversidade no meio escolar: as diferentes
Dessa forma, os aspectos pedagógicos e etnias, os diferentes gêneros, as minorias e
administrativos da escola precisam ser os marginalizados socialmente. A inclusão,
revistos, reforçando a ideia de que o novo nesse sentido, torna-se algo relacionado à
desafio dos gestores e coordenadores ação educativa de repensar todo o processo
escolares é a estimulação de um ambiente de ensino para cada aluno, ao invés de
escolar criativo, acolhedor, e que valorize a buscar fórmulas e modelos-padrão para
diversidade, bem como o trabalho de cada guiar todo trabalho pedagógico ao longo do
um. Nesse sentido, a gestão de cunho ano letivo. Por fim, cabe acrescentar que o
tecnicista e burocrático precisa ser processo de inclusão deve ser pensado
abandonada, dando lugar a uma gestão considerando cada aluno, com suas
democrática e dialógica, na qual todas as particularidades e aptidões.
ideias podem ser ouvidas. A função do A autora encerra sua obra dando vistas
professor também deve alterar-se no novo esperançosas de que o movimento inclusivo
modelo pedagógico. cresce a cada dia nas escolas brasileiras,
seja pelos incentivos legais, seja pela
O professor inclusivo não procura pesquisa e soluções democráticas que
eliminar a diferença em favor de uma
suposta igualdade do alunado - tão invadem o universo escolar. A inclusão não
almejada pelos que apregoam a terá uma expansão rápida, mas o
homogeneidade da sala de aula. Ele compromisso com a transformação da
está atento aos diferentes tons das escola deve ser o leme dessa mobilização de
vozes que compõem a turma, transformar a escola comum para os novos
promovendo a harmonia, o diálogo,
contrapondo-as, complementando-as tempos.
(Mantoan, 2015, p. 79).

108
Ciências Naturais

SUMÁRIO

Propriedades e transformação dos materiais. Uso e conservação dos materiais. 1


Fontes, consumo, transporte e transformação de energia. .................................. 4
Ambiente e seres vivos........................................................................................ 7
Luz, som e relação com objetos. ....................................................................... 11
Água: uso, poluição e tratamento. ..................................................................... 12
Recursos renováveis e não renováveis. ............................................................. 15
Reversibilidade e irreversibilidade. ................................................................... 20
Luz e sombra; Sol e Terra e suas interações. Sistema Solar, Terra e Lua e os
movimentos da Terra. Planetas do sistema solar; Movimentos da Terra e da Lua e suas
fases. Formação do planeta Terra e os movimentos no sistema solar, em especial, os
eclipses. ................................................................................................................. 23
Corpo humano: composição e funcionamento e sua relação com o ambiente. Corpo
Humano: relação entre alimentação, atividade física e saúde. Ações e as influências
humanas no ambiente. Funções e características dos sistemas que compõem o corpo
humano. ................................................................................................................. 29
Ensino Investigativo, Alfabetização científica e contextualização. .................. 34
CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. O ensino de ciências e a proposição de
sequências de ensino investigativas. In:CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. (Org.).
Ensino de Ciências por Investigação: condições para implementação em sala de aula.
São Paulo: Cengage Learning, 2013. .................................................................... 35
SASSERON, Lúcia Helena. Alfabetização científica, ensino por investigação e
argumentação: relações entre ciências da natureza e escola. Revista Ensaio, Belo
Horizonte, v. 17, n. especial, p. 49-67, nov. 2015. ............................................... 37

Apostilas
Domínio
Ciências Naturais

pura é a temperatura na qual a substância


Propriedades e transformação dos passa do estado sólido para o estado
materiais. Uso e conservação dos líquido ao ser aquecida.
materiais
•O ponto de ebulição de uma substância
pura é a temperatura na qual a substância
Em uma temperatura12 definida, a passa do estado líquido para o estado
maioria das substâncias se encontra em um gasoso ao ser aquecida. Não é a mesma
dos três estados da matéria: sólido, líquido coisa que evaporação, que pode acontecer
ou gasoso. As características físicas que na superfície de um líquido em qualquer
distinguem esses três estados são: temperatura.
•forma: é uma característica das Dilatação Térmica
substâncias sólidas, já que um líquido Calor é a energia transferida em virtude
assume a forma do recipiente e um gás em de uma diferença de temperatura. Quando
um recipiente fechado ocupa totalmente o uma substância recebe calor, os átomos e
recipiente e em um recipiente aberto moléculas da substância ganham energia.
escapa para a atmosfera. A forma de um Quando a temperatura aumenta, as
sólido se deve a sua rigidez mecânica. A moléculas vibram mais depressa em um
forma de um sólido pode ser modificada sólido ou se movem mais depressa em um
pela aplicação de forças. Elasticidade é a líquido ou em um gás. Quando um sólido
capacidade de um sólido recuperar sua
é aquecido até o ponto de fusão ou um
forma original quando as forças que o líquido é aquecido até o ponto de ebulição,
deformaram são removidas. Os líquidos e a energia fornecida à substância é usada
gases são chamados de fluidos porque não para tornar as moléculas mais livres.
resistem a deformações mecânicas e, Temperatura é o grau de calor de um
portanto, não possuem forma definida. corpo. Para definir uma escala de
temperatura, atribuímos valores numéricos
•superfícies: estão presentes apenas em a dois graus de calor reprodutíveis e fáceis
sólidos e líquidos. Um gás colorido liberado de medir.
na atmosfera se dispersa e logo se torna
invisível. A superfície de um sólido é uma •No caso da escala Celsius (°C), esses
interface definida entre o sólido e o líquido pontos são:
ou gás que o envolve. A transferência de - O ponto de fusão do gelo, que recebe
matéria entre um sólido e a substância que o valor de 0 °C (zero grau Celsius).
o envolve é nula ou muito pequena. A - O ponto de ebulição da água à pressão
superfície livre de um líquido é uma atmosférica, que recebe o valor de 100 °C
interface entre o líquido e a atmosfera; essa (100 graus Celsius).
interface também é definida, embora a
transferência de matéria entre um líquido e Um sólido se dilata quando é aquecido e
um gás seja relativamente comum (um se contrai quando é resfriado. Quando um
exemplo é a evaporação da água). sólido é aquecido, os átomos do sólido
vibram mais intensamente e a distância
Mudanças de Estado entre eles aumenta.
As substâncias puras mudam de estado
a uma temperatura bem definida. Por Alguns materiais se aquecem com mais
exemplo: o gelo funde a 0°C e a água ferve facilidade do que outros. No verão, por
a 100°C à pressão atmosférica. exemplo, um carro exposto ao Sol se
•O ponto de fusão de uma substância

1 2
BREITHAUPT, J. Física. LTC: 2018. https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/lei-lavoisier.htm

1
Ciências Naturais

aquece muito mais que uma piscina. O Transferência de Calor


aumento de temperatura de um objeto Calor é a energia transferida em virtude
depende: de uma diferença de temperatura. A
•da energia fornecida ao objeto; quanto transferência de calor pode ocorrer por três
maior a energia fornecida, maior o processos: condução, convecção e radiação.
aumento de temperatura; Enquanto a condução e a radiação
•da massa do objeto; quanto maior a acontecem em sólidos, líquidos e gases, a
massa, menor o aumento de temperatura; convecção acontece apenas em líquidos e
•do tipo de material de que é feito o gases.
objeto.
Convecção
O calor específico, de uma substância é Quando um fluido é aquecido, torna-se
a energia necessária para produzir uma menos denso e tende a subir. Se o fluido é
variação de uma unidade de temperatura em aquecido em um espaço fechado, formam-
uma unidade de massa da substância, ou se espontaneamente correntes nas quais o
seja, a medida numérica da quantidade de fluido aquecido sobe e é substituído por
calor que acarreta uma variação unitária de fluido frio, que, por sua vez, é aquecido e
temperatura na unidade de massa da sobe.
substância.
Radiação
Fusão e solidificação Todo objeto aquecido emite ondas
Quando um sólido puro é aquecido, a eletromagnéticas. Essa radiação,
temperatura aumenta até o sólido fundir. conhecida como radiação térmica, é
Quando o sólido atinge o ponto de fusão, a constituída principalmente por raios
temperatura deixa de aumentar mesmo que infravermelhos, mas pode incluir também
o sólido continue a ser aquecido. A energia raios luminosos se a temperatura for
fornecida enquanto o sólido se encontra no suficientemente elevada.
ponto de fusão é chamada de calor latente A radiação térmica é absorvida mais
porque não produz um aumento de eficientemente por superfícies escuras e
temperatura. Isso acontece porque a energia rugosas e menos eficientemente por
é usada para romper as ligações que superfícies lisas e espelhadas. O corpo
mantêm os átomos ou moléculas do sólido negro é um corpo que absorve toda a
em uma estrutura rígida. Quando um radiação incidente. Um pequeno furo na
líquido é resfriado até atingir o ponto de superfície de um objeto oco se comporta
fusão, passa para o estado sólido, liberando como um corpo negro, já que toda a
energia. radiação que penetra no furo é absorvida
pela superfície da cavidade. O Sol e as
Vaporização e liquefação outras estrelas podem ser considerados
Quando um líquido é aquecido, a corpos negros, pois toda a radiação que
temperatura do líquido aumenta até que ele incide na superfície de uma estrela é
atinja o ponto de ebulição. A partir desse absorvida.
instante, a energia fornecida é usada para
liberar as moléculas do líquido, que se Condução de calor
desprendem na forma de gás. A energia Alguns materiais conduzem calor muito
fornecida enquanto o líquido se encontra no melhor que outros.
ponto de ebulição é chamada de calor Os metais conduzem melhor o calor
latente porque não produz um aumento de que os não metais por causa da presença de
temperatura. Essa energia é liberada elétrons de condução nos metais. Quando
quando um vapor se condensa para formar um metal é aquecido, os elétrons ganham
um líquido. energia e se movem mais depressa,

2
Ciências Naturais

transferindo energia para outros átomos e Então, Lavoisier realizou vários


elétrons. experimentos para observar esse fato
Os não metais não contêm elétrons de envolvendo reações de combustão e
condução e por isso não conduzem calor sempre mediu com balança a massa das
tão bem como os metais. A condução de substâncias testadas e a massa dos
calor nos não metais acontece por meio de produtos obtidos. Um desses experimentos
vibrações atômicas que se propagam no que ele colocou mercúrio em uma retorta,
interior do material. cujo tubo alcançava uma redoma com ar
Quando aquecemos um não metal, a colocada em um recipiente que também
vibração dos átomos aumenta no ponto em continha mercúrio.
que o material foi aquecido e esse aumento Quando ele aqueceu a retorta,
é transmitido para o resto do material. Este calcinando o mercúrio, o volume de ar na
processo também acontece nos metais, mas redoma diminuiu, o que pode ser
é menos eficiente que a transferência de visualizado pelo aumento do volume
calor por meio dos elétrons de condução. ocupado pelo mercúrio. Houve também o
aparecimento de um composto vermelho,
Lei de Lavoisier o óxido de mercúrio II.
Assim, era óbvio que o mercúrio havia
A lei de Lavoisier é a Lei de conservação reagido com algum constituinte do ar na
da massa, ou seja, a massa total dos retorta para formar o óxido de mercúrio II.
produtos é sempre igual à massa total dos Hoje sabemos que ele reagiu com o
reagentes. oxigênio, assim como ocorre em todas as
A Lei de Lavoisier criada no final do combustões.
século XVIII pelo cientista francês Mas o ponto aqui é que Lavoisier pesou
Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) é cuidadosamente a retorta com o mercúrio
também chamada de Lei de Conservação no início e depois da reação. O resultado
da Massa ou ainda de Lei de Conservação foi que se o sistema permanecesse fechado
da Matéria. Essa Lei é muito conhecida todo o tempo, a massa de todas as
atualmente por dizer o seguinte: “Na substâncias envolvidas no início seria
natureza, nada se perde, nada se cria, tudo igual à massa de todas as substâncias no
se transforma.” final, ou seja, não houve perda nem ganho
No entanto, ela é mais bem expressa de massa.
por: “Em uma reação química feita em Lavoisier explicou que a aparente perda
recipiente fechado, a soma das massas dos de massa ocorreu em razão de os produtos
reagentes é igual à soma das massas dos das reações de combustão serem gasosos
produtos.” e, portanto, em sistemas abertos que
Bem, Lavoisier é considerado o “pai” fossem pesados, ia parecer que a massa
da Química moderna, porque ele usava diminuiu.
técnicas extremamente precisas para a Portanto, realmente nada é criado ou
época, tais como o uso de balanças, destruído, porque os elementos que
realização das reações em recipientes constituem as espécies iniciais não
fechados, anotação de aspectos somem, eles simplesmente se rearranjam a
quantitativos, repetição de experimentos e fim de formar novas substâncias.
assim por diante. Essa lei foi e é muito importante por
Na época já era bem sabido que quando vários motivos, como o fato de representar
algum material entra em combustão, como um avanço no entendimento das reações
quando ocorre a queima de um pedaço de químicas. Entendeu-se que elas
papel, no final o “peso” na balança será apresentam certa regularidade nas massas
menor que no início. Havia então uma (lei ponderais) e volumes (lei volumétrica)
aparente perda de massa. das substâncias envolvidas nos reagentes e

3
Ciências Naturais

nos produtos. Isso proporcionou um A - calor específico.


avanço porque outras teorias erradas B - caloria.
foram abandonadas com essas C - capacidade térmica.
descobertas, como a teoria do flogístico. D - dilatação térmica.
Ela também representou uma maior E - temperatura.
precisão dos cálculos estequiométricos
que envolvem as reações químicas, que Alternativas
incluem as quantidades dos reagentes e 01.C – 02.A
dos produtos. Isso é especialmente
importante hoje em indústrias e
Fontes, consumo, transporte e
laboratórios químicos, que precisam saber
transformação de energia
de fatores tais como o rendimento de uma
reação.
Energia3 é uma grandeza escalar: um
Questões número real associado a uma unidade de
medida.
01. (SEE/AC – Professor PNS P2 – No Sistema Internacional de Unidades
Matemática e Física – IBADE/2020) (SI), principal sistema de unidades dentre
Observe a imagem. os diversos utilizados mundial-mente, a
unidade de energia é o joule (J).
Usualmente, são definidos tipos de
energia, como energia cinética,
energia potencial etc.
Entre 1820 e 1850, diversos processos de
conversão entre fenômenos de naturezas
distintas foram descobertos (Pessoa Jr.,
2009). Para cada uma das naturezas, estava
Fonte da imagem: Mais Engenharia. vinculada um tipo de energia: mecânica,
Disponível em: cinética e potencial (gravitacional, elástica,
https://maisengenharia.altoqi.com.br/estru eletrostática) , térmica, química, elétrica, de
tural/incendio-em-predios/. Acesso em: radiação eletromagnética, nuclear e de
fev. 2020. massa.
Na ocorrência de incêndios as chamas Todas as formas de energia estão
tendem a subir, conforme exposto na foto relacionadas pelo princípio de conservação
acima. O processo responsável por esta da energia.
ocorrência é a:
A - condução. Classificação de Formas de Energia
B - irradiação. É possível classificar as formas de
C - convecção. energia em duas categorias: quanto à sua
D - ebulição. natureza e quanto ao movimento.
E - evaporação.
Quanto à natureza da energia
02. (Prefeitura de Aracruz/ES – Esta categoria se refere à natureza física
Professor de Ciências – IBADE/2019) A da energia. Assim, temos, por exemplo:
medida numérica da quantidade de calor Energia mecânica, Energia térmica,
que acarreta uma variação unitária de Energia química, Energia elétrica, Energia
temperatura na unidade de massa da de radiação eletromagnética, Energia
substância define o que seja nuclear, Energia de massa, e etc.

3
PHILIPPI A. J., REIS, L. B. Energia e Sustentabilidade. Manole, 2016.

4
Ciências Naturais

No geral, cada uma dessas formas de forma constante ao planeta. Essa energia é
energia é obtida através da utilização de responsável pela criação, variações e
recursos naturais por meio de tecnologias transformações dos recursos.
adequadas, o que também permite a Em virtude das transformações, a lista
conversão de uma forma de energia em dos elementos considerados primários se
outra. estende, incluindo a biomassa, as chuvas, os
rios, as marés, o petróleo, os minérios, o gás
Quanto ao movimento natural e até mesmo as altas temperaturas
Esta categoria se refere ao movimento no centro do planeta. Alguns recursos
atual ou potencial de uma ou mais podem ser aproveitados em seu estado
partículas ou corpos. Assim, temos: natural, e outros necessitam de algum tipo
• Energia cinética: se houver de intervenção por parte do homem para
movimento atual de partículas macroscó- que este possa utilizá-los ou melhorar sua
picas ou microscópicas. eficiência no uso. Eles também podem ser
• Energia potencial: se houver utilizados das duas formas: a luz solar, por
movimento potencial (no sentido de ser exemplo, é um recurso aproveitado de
possível de ocorrer) de partículas forma natural na agricultura, porém, para a
macroscópicas ou microscópicas. geração de energia elétrica, é necessário o
uso de equipamentos específicos, ou seja,
Alguns exemplos de processos de uma transformação.
conversão de energia são os seguintes:
• Termomecânica (trabalho em calor e Cadeias Energéticas, Suprimento e
calor em trabalho). Consumo
• Eletromecânica (trabalho em
eletricidade e eletricidade em trabalho). Pode-se entender por cadeia energética
• Termoquímica (reações químicas que “o conjunto de atividades associado à
absorvem, chamadas de endo-térmicas; ou produção e ao transporte de energia
produzem, chamadas de exotérmicas; vinculada a certo recurso natural até os
energia térmica; o calor). diversos pontos onde se dá o consumo
• Eletroquímica (reações químicas que final” (Reis, 2011a, p. 2).
produzem eletricidade, como na pilha, e A cadeia energética é basicamente
eletricidade usada para produzir reações formada pelo sistema de extração,
químicas, como na eletrólise). beneficiamento, transporte,
comercialização e consumo.
Recursos Naturais Energéticos A geração é responsável pela
transformação das fontes primárias ou dos
Fundamentalmente, todos os recursos energéticos em uma forma comercializável
energéticos são naturais, ou seja, não de energia. Para cada tipo de fonte, existem
requerem atividade para que existam, são tecnologias disponíveis para tal conversão.
elementos da natureza que podem ser úteis Os principais energéticos, renováveis ou
ao homem para sobrevivência, não, em muitos casos, produzem as mesmas
desenvolvimento e conforto. formas de energias comercializáveis. Por
Os elementos ou recursos naturais como exemplo, com o diesel obtido a partir do
luz solar, solo, vento, água e aqueles petróleo, pode-se produzir energia elétrica
formados principalmente por cadeias de através de grupos moto-geradores, o
carbono são considerados primários, ou mesmo diesel pode ser provido de soja, ou
seja, o homem não precisa interferir para ainda, a eletricidade, que é o energético
que existam; a natureza é responsável por final, pode vir de outras tantas fontes, como
sua criação. Basicamente, o Sol é o grande hidrelétricas, térmicas a carvão ou
provedor de tudo, pois fornece energia de nucleares.

5
Ciências Naturais

Estrutura e Variáveis Básicas do de cargas. O valor da intensidade energética


Setor de Transportes reflete a eficiência dos veículos, a utilização
de sua capacidade e das condições de
O setor de transportes pode ser operação do referido veículo.
caracterizado como conjunto dos diversos A distribuição e integração dos modais
modais de locomoção de mercadorias e de de transporte em um país, região ou no
pessoas, compreendendo o meio (elemento mundo tem diversos impactos, dentre os
transportador), a via (trajetória percorrida), quais se ressaltam a integração dos diversos
as instalações complementares (terminais) mercados abrangidos, a eficiência da
e a forma de controle (logística). integração efetivada, a comodidade
Geralmente, entre regiões, estados e relacionada ao acesso a bens e serviços e os
países, predomina a movimentação de impactos ambientais, que afetam
cargas, sendo que, nas cidades, predomina fortemente a qualidade de vida dos
o deslocamento de pessoas. Os transportes habitantes. Sendo um dos fatores
regionais são compostos de ferrovias, importantes da infraestrutura necessária
rodovias, hidrovias e aerovias, ao passo que para o desenvolvimento, assim como
o transporte urbano engloba o uso de energia, telecomunicações e saneamento, o
ônibus, metrôs, barcos, trens suburbanos e setor de transportes tem efeitos positivos e
automóveis, helicópteros, caminhões, negativos sobre o meio ambiente e a
motos, bicicletas e até animais. qualidade de vida da população. Como
A estrutura do setor de transportes, nesse efeitos positivos, pode‐se considerar a
contexto, pode ser caracterizada por seus facilidade de intercâmbio entre regiões,
componentes (subsetores) principais, possibilitando maiores trocas, seja de
denominados modais, que são: rodoviário, pessoas e mercadorias ou até mesmo de
ferroviário, aquaviário e dutoviário. O serviços, como educação e saúde. Como
modal aquaviário compreende os efeitos negativos, além dos diversos
transportes marítimos e fluviais, e o modal impactos ambientais relacionados às vias
dutoviário se refere ao transporte por meio associadas aos diversos tipos de transporte,
de dutos, como ocorre com o gás natural e pode‐se citar a poluição, causada
no setor de petróleo. principalmente pelo uso indiscriminado de
O uso dos modais pode se destinar ao combustíveis derivados do petróleo.
transporte de passageiros ou de Além disso, os meios de transporte
cargas (frete). Dados e informações apresentam uma relação intrínseca com a
relacionadas ao transporte de passageiros energia em sua tração (força motriz), que
utilizam a unidade passageiro quilômetro vai desde o uso direto da própria energia
(pass.km), que corresponde a um humana até o desenvolvimento de
passageiro transportado por um quilômetro, tecnologias mais sofisticadas, em busca de
independentemente do modal. Enquanto maior eficiência energética, aumento de
que, no transporte de cargas, se usa a utilização de fontes renováveis e melhor
unidade toneladas quilômetro (t.km), adequação ambiental, nos rumos da
correspondente a uma tonelada de carga sustentabilidade. De uma forma geral, a
transportada por um quilômetro, escolha do sistema de transporte mais
independentemente do modal e do tipo de adequado para determinada situação
carga transportado. Uma característica envolve análises técnicas e econômicas, ex‐
fundamental na avaliação da energia no pectativas das cargas ou dos passageiros a
setor de transportes é a intensidade serem transportados e consideração das
energética, que é definida como a energia condições urbanas e regionais.
con‐sumida por pass.km no caso do O grau de dificuldade da escolha está
transporte de passageiros ou energia associado a questões como custos, consumo
consumida por t.km no caso do transporte energético, capacidade ofertada,

6
Ciências Naturais

flexibilidade, produtividade, velocidade, Eletrobrás concorre com o selo Conpet na


regularidade, segurança etc. avaliação de sistemas de iluminação,
O processo de planejamento e gestão que geladeiras e equipamentos de ar
encaminha a melhor decisão a ser tomada condicionado.
faz parte do estudo da logística de
transportes, que leva em consideração todas Alternativas
as variáveis citadas. Por outro lado, dentre 01.Certo - 02.A
os fatores que influem na escolha do modal
pelos usuários se ressaltam o preço de
utilização, a infraestrutura disponível e a Ambiente e seres vivos
qualidade dessa infraestrutura.

Questões
Cada ser vivo4 é um organismo. Todos
01. (Pretobrás – Engenheria os organismos compartilham oito
Ambiental – CESP/CEBRASPE/2022) características que definem as propriedades
Julgue o item que se segue, relativo à da vida:
prevenção da poluição e ao uso racional Seres vivos são feitos de células que
dos recursos naturais. contêm DNA
O estímulo à implementação de A célula é a menor parte de um ser vivo
sistemas de cogeração de energia, como o que retém todas as propriedades da vida.
reaproveitamento de resíduos de Em outras palavras, é a menor unidade da
energéticos do processo produtivo, é uma vida. O DNA, abreviação de ácido
estratégia para o aumento da eficiência desoxirribonucleico, é o material genético,
energética industrial. ou as instruções da estrutura e função das
( ) certo ( ) errado células.

02. (Prefeitura de Ilhabela/SP – Seres vivos preservam a ordem em


Engenheiro Elétrico – VUNESP/2020) suas células e corpos
Assinale a alternativa correta, acerca do Uma das leis do Universo é que tudo
conceito de eficiência energética. tende a se tornar aleatório ao longo do
A - Eficiência energética significa gerar tempo. De acordo com essa lei, se você
a mesma quantidade de energia, isto é, construir um castelo de areia, ele
realizar o mesmo trabalho, com menos desmanchará com o tempo. Os seres vivos,
recursos naturais. enquanto permanecem vivos, não
B - Eficiência energética significa gerar desmancham. Eles usam a energia para
mais quantidade de energia e, portanto, reconstruir e reparar a si mesmos, evitando
realizar mais trabalho, com a mesma danos.
quantidade de recursos naturais.
C - O Programa Nacional de Controle de Seres vivos regulam seus sistemas
Energia Elétrica (PROCEL) indica ao Os seres vivos mantêm suas condições
consumidor os produtos que apresentam os internas em função da sobrevivência.
melhores níveis de eficiência energética. Mesmo quando o ambiente muda, os
D - O selo PROCEL de Eficiência organismos tentam manter suas condições
Energética é concedido a fogões, internas. Esse processo é a homeostase.
aquecedores de água a gás e carros, Pense no que acontece quando você sai de
destacando sua eficiência energética. casa em um dia frio, sem casaco. Sua
E - O Programa de Etiquetagem da temperatura corporal começa a cair e seu
corpo responde puxando o sangue das
4
KRATZ, R. F.; SIEGFRIED, D. R. Biologia Essencial para Leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.

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Ciências Naturais

extremidades do corpo para o núcleo, a fim células: da pele, do coração, do fígado,


de retardar a transferência de calor para o cerebrais e assim por diante. Seu corpo se
ar. Também provoca calafrios, o que faz desenvolveu a partir de uma simples célula
com que você se mova e gere mais calor que tem cabeça em uma extremidade e
corporal. Essas respostas preservam a “cauda” na outra. O DNA em suas células
temperatura interna do corpo em uma faixa controlou todas essas mudanças à medida
ideal para a sobrevivência, mesmo que a que seu corpo se desenvolveu.
temperatura externa esteja baixa.
Seres vivos se reproduzem
Seres vivos respondem a sinais do Pessoas fazem bebês, galinhas fazem
ambiente pintinhos e moldes viscosos plasmodiais
Se você de repente disser “Buu!” para fazem moldes viscosos plasmodiais. Ao se
uma pedra, ela não fará nada. Faça isso com reproduzir, os organismos passam cópias de
um amigo ou um sapo, e provavelmente o seu DNA para seus descendentes,
verá pular. Isso porque os seres vivos garantindo que eles tenham algumas das
possuem sistemas para perceber e características dos pais.
responder a sinais (ou estímulos). Muitos
animais sentem o ambiente por meio dos Seres vivos evoluem ao longo do
seus cinco sentidos, assim como você, tempo
porém mesmo organismos menos As aves voam, mas a maioria de seus
conhecidos, como plantas e bactérias, parentes mais próximos, os dinossauros não
sentem e respondem. No processo de voava. As penas mais antigas encontradas
fototaxia, as plantas direcionam seu em registros fósseis pertenceram ao
crescimento para áreas iluminadas. dinossauro Archaeopteryx. Nenhum
pássaro ou pena foi encontrado em fósseis
Seres vivos transferem energia entre anteriores ao Archaeopteryx. A partir de
si e ao ambiente constatações como essas, os cientistas
Os seres vivos necessitam de um inferem que ter penas é uma característica
suprimento constante de energia para que nem sempre esteve presente na Terra.
crescer e manter a ordem. Organismos Em vez disso, ela se desenvolveu em um
como as plantas capturam a energia da luz determinado período. Logo, os pássaros de
do sol e a utilizam para produzir moléculas hoje têm características que se
de alimentos que contêm energia química. desenvolveram mediante a evolução de
Então as plantas e outros organismos que as seus ancestrais.
comem transferem a energia química dos
alimentos aos processos celulares. À A Vida na Terra
medida que esses processos ocorrem, eles
transferem a maior parte da energia de volta A vida na Terra é extraordinariamente
ao ambiente em forma de calor. bela, diversa e complexa. Você levaria a
vida inteira explorando apenas o universo
Os seres vivos crescem e se dos microorganismos. Quanto mais souber
desenvolvem a respeito dos seres vivos, mais apreciará as
Você começou a vida como uma única semelhanças entre as formas de vida do
célula que se dividiu para formar novas planeta, e mais se deslumbrará com as
células, que se dividiram novamente. diferenças.
Agora, seu corpo é feito de
aproximadamente 100 trilhões de células. À Bactérias
medida que seu corpo se desenvolvia, suas Compostas em sua maioria de
células recebiam sinais que lhes diziam organismos unicelulares, as bactérias são
para mudar e se tornar tipos específicos de procariontes, o que significa que não

8
Ciências Naturais

possuem uma membrana nuclear em torno A seguir a classificação taxonômica do


do DNA. A maioria das bactérias tem uma maior para o menor:
parede celular composta de peptidoglicano:
uma molécula híbrida de açúcar e proteína. Domínios: Agrupam organismos
A maioria das pessoas está familiarizada segundo características fundamentais,
com bactérias ausadoras de doenças, como como estrutura celular e química. Os
Streptococcus pyogenes, Mycobacterium organismos classificados como
tuberculosis e Staphylococcus aureus. No eucariontes [Eukaria] são separados das
entanto, a maioria das bactérias não causa bactérias [Bacteria] e arqueas [Archaea]
doenças aos humanos. Em vez disso, elas porque suas células possuem núcleo, pelas
desempenham papéis importantes no meio diferenças dos tipos de moléculas
ambiente e na saúde dos seres vivos, encontradas na parede e membrana
incluindo os humanos. As bactérias celular, e pelas diferenças da síntese de
fotossintéticas contribuem muito para a proteínas. (Apresentamos os três domínios
produção de alimentos e oxigênio, e as E. na seção anterior “Nossos Vizinhos: A
coli que vivem em seu intestino produzem Vida na Terra”.)
vitaminas necessárias para você se manter Reinos: Classificam os organismos em
saudável. Então, quando estudamos as função de características do
bactérias, percebemos que plantas e desenvolvimento e estratégia nutricional.
animais não sobrevivem sem elas. Os organismos do reino animal (Animalia)
De modo geral, as bactérias possuem são separados do vegetal (Plantae) devido
tamanho de 1 a 10 micrômetros (um às diferenças no desenvolvimento e ao fato
milionésimo de metro) de comprimento e de que as plantas produzem o próprio
são invisíveis a olho nu. Além de não alimento por meio da fotossíntese,
possuírem núcleos, seu genoma tem um enquanto os animais ingerem seus
único círculo de DNA. Elas se reproduzem alimentos. (Os reinos são mais úteis no
assexuadamente (o que significa que domínio eucarionte por não serem bem
produzem cópias de si mesmas) pelo definidos no domínio procariótico.)
processo de fissão binária. Filos: Separam os organismos com
As bactérias têm diversas maneiras de base nas características específicas que
obter a energia de que necessitam para seu definem os principais grupos dentro dos
crescimento e várias estratégias para reinos. No reino Plantae, as plantas com
sobreviver em ambientes extremos. Sua flores (angiospérmicas) integram um filo
grande diversidade metabólica lhes diferente das plantas produtoras de cones
permitiu colonizar quase todos os (coníferas).
ambientes da Terra. Classes: Agrupam os organismos de
acordo com as características que definem
Classificando com Precisão: os principais grupos dentro dos filos. No
Taxonomia filo Angiophyta, plantas de sementes que
têm duas folhas (dicotiledóneas, classe
Os biólogos trabalham com pequenos Magnoliopsida) integram uma classe
grupos de seres vivos para determinar separada das plantas de sementes que têm
quão similares são os diferentes tipos de apenas uma folha (monocotiledôneas,
organismos. Daí a criação da hierarquia classe Liliopsida).
taxonômica, um sistema de nomenclatura Ordens: Classificam os organismos
que classifica os organismos por suas com base em características determinantes
relações evolutivas. Dentro dessa que definem os principais grupos dentro da
hierarquia, os seres vivos são organizados classe. Na classe Magnoliopsida, as
do maior grupo, mais inclusivo, para o moscadeiras (Magnoliales) participam de
menor grupo, menos inclusivo. uma ordem diferente das pimenteiras

9
Ciências Naturais

(Piperales) devido às diferenças na Questões


estrutura de suas flores e pólen.
Famílias: Distinguem os organismos 01. (Prefeitura de Laranjal
com base nas características Paulista/SP – Professor de Educação
diferenciadoras que definem os principais Básica - Ciências – MetroCapital
grupos dentro da ordem. Na ordem Soluções/2019) No que se refere às
Magnoliales, os ranúnculos características dos seres vivos, analise os
(Ranunculaceae) estão em uma família itens a seguir e, ao final, assinale a
diferente das rosas (Rosaceae), devido às alternativa correta:
diferenças na estrutura da flor. I – Todos os seres vivos são
Gêneros: Diferenciam os organismos constituídos por uma ou mais células. As
com base nas características que definem os exceções seriam os vírus, que, por não
principais grupos dentro da família. Na possuírem células, não são considerados
família Rosaceae, as rosas (Rosa) estão em como seres vivos por muitos
um gênero diferente das cerejas (Prunus), pesquisadores. II – Os seres vivos
graças às diferenças na estrutura da flor. precisam o tempo todo absorver matéria
Espécies: Separam os organismos do ambiente, num processo chamado
eucarióticos com base na possibilidade de “captação”. III – Os seres vivos são
se reproduzirem uns com os outros. Ao capazes de processar as moléculas
caminhar por um jardim de rosas, você absorvidas, transformando-as em outras
pode ver muitas cores diferentes de rosas da para obtenção ou produção de energia.
china (Rosa chinensis), que são A - Apenas o item I é verdadeiro.
consideradas uma única espécie por B - Apenas o item II é verdadeiro.
poderem se reproduzir umas com as outras. C - Apenas os item III é verdadeiro.
D - Apenas os itens I e III são
Biodiversidade verdadeiros.
A diversidade de seres vivos na Terra é E - Nenhum dos itens é verdadeiro.
chamada de biodiversidade. Em quase
todos os lugares em que os biólogos 02. (Prefeitura de Laranjal
pesquisaram neste planeta, das cavernas Paulista/SP – Professor de Educação
mais profundas e escuras às exuberantes Básica - Ciências – MetroCapital
florestas tropicais da Amazônia e até as Soluções/2019) No que se refere às
profundezas de oceanos, eles encontraram características dos seres vivos, analise os
vida. itens a seguir e, ao final, assinale a
Nas cavernas mais profundas e escuras, alternativa correta:
onde nenhuma luz entra, as bactérias obtêm (A) Reproduzem-se sexualmente. (B)
energia dos metais presentes nas rochas. Respondem aos estímulos do meio. (C)
Na floresta amazônica, as plantas Utilizam gás carbônico na produção de
crescem atadas ao topo das árvores, matéria orgânica.
coletando água e formando pequenos lagos A - Apenas o item I é verdadeiro.
no céu que abrigam insetos e sapos. B - Apenas o item II é verdadeiro.
Nos oceanos profundos, peixes cegos e C - Apenas os item III é verdadeiro.
outros animais vivem nos escombros que D - Apenas os itens I e III são
lhes chegam como uma neve vinda do verdadeiros.
mundo humano. Cada um desses ambientes E - Nenhum dos itens é verdadeiro.
apresenta um conjunto único de recursos e
desafios, e a vida na Terra é amplamente Alternativas
diversa, devido às maneiras como os 01.D – 02.B
organismos responderam a esses desafios
ao longo do tempo.

10
Ciências Naturais

Fotoelétrico, também descoberto por Hertz:


Luz, som e relação com objetos quando a luz atinge uma superfície
metálica, os elétrons são, às vezes, ejeta-dos
da superfície. Como exemplo das
dificuldades que surgiram, os experimentos
Antes56 do início do século XIX, a luz mostraram que a energia cinética de um
era considerada um fluxo de partículas elétron ejetado é independente da
emitido pelo corpo visualizado, ou
emanado dos olhos do observador. Newton, intensidade da luz. Essa descoberta
o arquiteto chefe do modelo de partículas da contradizia o modelo de onda, que
luz, sustentava que estas eram emitidas de sustentava que um feixe intenso de luz
uma fonte de luz e que estimulavam o senso podia acrescentar mais energia ao elétron.
de visão ao entrar nos olhos. Com essa Einstein propôs uma explicação do efeito
ideia, ele foi capaz de explicar a reflexão e fotoelétrico em 1905, utilizando um modelo
a refração. baseado no conceito de quantização
A maioria dos cientistas aceitou o desenvolvido por Max Planck (1858-1947),
modelo de partículas de Newton. em 1900. O modelo de quantização supõe
Entretanto, durante sua época, outro
modelo, que argumentava que a luz pode que a energia de uma onda de luz esteja
ser um tipo de movimento de ondas, foi presente em partículas chamadas fótons;
proposto. desse modo, a energia é considerada
Em 1678, o físico e astrônomo holandês quantizada. De acordo com a teoria de
Christian Huygens mostrou que um modelo Einstein, a energia de um fóton é proporcio-
de onda de luz também podia explicar a nal à frequência da onda eletromagnética: E
reflexão e a refração. = hf.
Em 1801, Thomas Young (1773-1829) Em razão desses desenvolvimentos, a
proporcionou a primeira demonstração luz deve ser considerada tendo uma
experimental clara da natureza de onda da natureza dupla. Ou seja, tem características
luz. Young mostrou que, em condições de uma onda em algumas situações e de
apropriadas, raios de luz interferem uns nos uma partícula em outras. A luz é a luz, com
outros de acordo com o princípio da certeza. Entretanto, a pergunta “a luz é uma
superposição. Esse comportamento não onda ou uma partícula?” é inadequada. A
podia ser explicado na época por um luz, às vezes, se comporta como uma onda,
modelo de partícula, porque não era e outras, como uma partícula.
concebível como duas ou mais partículas
poderiam chegar juntas e cancelar uma a Medições da Velocidade da Luz
outra.
Desenvolvimentos adicionais durante o A luz propaga-se a uma velocidade tão
século XIX levaram à aceitação geral do alta (com três dígitos, c = 3,00 x 108 m/s),
modelo de onda de luz, o mais importante que as primeiras tentativas de medir sua
resultante do trabalho de Maxwell que, em velocidade foram malsucedidas. Galileu
1873, afirmou que a luz era uma forma de tentou medi-la ao posicionar dois
onda eletromagnética de alta frequência. observadores em torres separadas por
Embora o modelo de onda e a teoria aproximadamente 10 km. Cada um deles
clássica de Eletricidade e Magnetismo transportava uma lanterna apagada. Um
sejam capazes de explicar a maior parte das observador acendia a lanterna primeiro e
propriedades conhecidas da luz, não depois o outro acendia a dele no momento
explicam os experimentos subsequentes. em que via a luz da primeira. Galileu
O fenômeno mais relevante é o Efeito argumentou que, ao saber o tempo de

5 6
SERWAY, R A.; JEWETT, J. W. Física para cientistas e engenheiros: CHABAY, R. W.; SHERWOOD, B. A. Física básica: matéria e
volume 4 : luz, óptica e física moderna. São Paulo: Cengage, 2018. interações. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

11
Ciências Naturais

tráfego dos feixes de luz de uma lanterna instantâneo. A taxa de propagação da


para outra e a distância entre as duas, ele fronteira entre as regiões já esticadas e
podia obter a velocidade. Seus resultados ainda não esticadas é chamada de
não foram conclusivos. Hoje em dia, “velocidade do som” no material. Há várias
percebemos (como Galileu concluiu) que é formas de medir essa velocidade. Um dos
impossível medir assim a velocidade da luz, métodos mais simples é colocar um
porque o tempo de tráfego para a luz é microfone na ponta de uma haste metálica,
muito menor que o tempo de reação dos bater com um martelo na outra ponta da
observadores. haste e usar uma interface de computador
para medir o tempo que a perturbação leva
A Velocidade do Som no Sólido para viajar de uma ponta à outra da haste.

Em nossa análise de objetos que Questões


exercem forças de tensão, tais como cipós,
cordas e fios, fizemos a (excelente) 01. (Prefeitura de Areal/RJ –
aproximação de que a deformação das Farmacêutico - Bioquímico –
ligações interatômicas é praticamente a GUALIMP/2019) A relação entre a
mesma ao longo do comprimento do objeto. velocidade da luz no vácuo e sua
Do mesmo modo, assumimos que, dentro velocidade no interior da substância
dos objetos que exercem forças de determina o índice de:
compressão, as ligações interatômicas são A - Refração.
todas igualmente comprimidas. B - Bioimpedância.
C - Bioequivalência.
A propagação do estiramento ou da D - Liofilização.
compressão
Essa compressão ou estiramento, que é Alternativas
igual para todas as ligações, não ocorre 01.A
instantaneamente. Quando Tarzan começa
a puxar a ponta do cipó para baixo, ele
estica ligeiramente primeiro as ligações Água: uso, poluição e tratamento
interatômicas entre os átomos vizinhos da
ponta do cipó. Como resultado do seu
deslocamento para baixo, esses átomos
O planeta Terra7, em sua vasta extensão,
esticam as ligações de seus vizinhos, e o
possui cerca de 70% de todo seu território
estiramento das ligações interatômicas se
coberto por água, é muita água, mas nem
propaga rapidamente para cima, até a outra
toda essa água pode ser consumida, sabe
ponta do cipó, deixando o cipó inteiro
por quê? Porque em média 97,5% de toda
tensionado.
sua água é salgada, o que significa dizer que
É a fronteira entre a região esticada do
é imprópria para o consumo, restando
cipó e a nova região que se deforma que
apenas 2,5% de água doce, da qual
sobe, ao longo do comprimento do cipó.
podemos desfrutar e que encontra-se nas
Átomos individuais sofrem deslocamentos
geleiras, nos rios, nos lagos e aquíferos
minúsculos, embora no diagrama, por
subterrâneos.
clareza, tenhamos exagerado muito o
estiramento das molas interatômicas e a
A água é uma substância química
distância percorrida por cada átomo. O
composta por dois átomos de hidrogênio
processo é o mesmo para a compressão.
(H) e um átomo de oxigênio (O). Sua
Esse processo é rápido, mas não é
fórmula química é H2O. Durante nosso dia

7
RADUNS, C. D. [et al.]. Água e energia elétrica: teoria e prática sobre o uso eficiente. Ijuí: Ed. Unijuí, 2020.

12
Ciências Naturais

podemos perceber a água em seus três próprias para o consumo. Além disso,
estados físicos: sólido, líquido e gasoso. muitas aparentam estar, mas podem
Recursos hídricos são as águas que estão também encontrarem-se poluídas ou com
no planeta à disposição do consumo do ser graus de toxidade. Por isso, é importante
humano. Elas podem ser tanto superficiais sabermos o que é a água, qual sua
(lagos, rios, nascentes), quanto subterrâneas importância e como preservá-la.
(aquíferos, lençóis freáticos). Denomina-se água potável toda água
O normal é que toda água penetre no que é própria para o consumo humano. Ela
solo ao entrar em contato com ele, mas em não pode ter cheiro, nem sabor, nem cor e
alguns casos a água não penetra no solo e, deve estar livre de microorganismos
então, começa a acumular-se na superfície, patogênicos. Seres patogênicos são aqueles
originando os córregos, rios e que fazem mal à saúde humana, como vírus,
eventualmente, os lagos. São essas as bactérias e alguns fungos. Usar a água é tão
principais fontes de água doce do planeta, comum para nós que nem nos damos conta
ainda que representem somente 0,14% de do quanto a usamos. O uso dá água é
toda a água do planeta Terra. As fontes de classificado em três grupos, o que confere à
água superficial nunca têm a mesma água, irrigação, abastecimento doméstico e
haja vista lembrar que estão sujeitas ao industrial.
processo de evaporação, condensação e, em
seguida, a chuva. Assim, a água que um dia Abastecimento
esteve em um lago, no outro dia, após a Logo após sua saída das estações de
chuva, pode estar em um rio e vice e versa, tratamento, a água permanece em alguns
pois as nuvens se deslocam com o vento, e reservatórios e posteriormente é enviada
as águas decorrentes de um lugar podem ir para abastecer a população, para que as
para outro. Todo esse processo do ciclo da pessoas possam usar em suas mais variadas
água favorece os ecossistemas que ne- tarefas cotidianas.
cessitam de água para manter suas relações Para atender as necessidades básicas de
biológicas. todos, deve ser feito um plane-jamento de
As águas subterrâneas são as águas, que abastecimento, pois em muitas cidades não
penetram no solo e se depositam debaixo da há reservas de água o suficiente para manter
terra, preenchendo os vazios que há entre as a população abastecida, enquanto outras
rochas. Essas reservas denominam-se cidades possuem mais água do que pede sua
aquíferos que são abastecidos pela água da demanda. Com um bom planejamento é
chuva. O volume de água encontrado nos pos-sível evitar riscos decorrentes de secas
aquíferos é muito maior daquele que se e cheias.
encontra em todos os rios, lagos ou até
mesmo córregos. Vale ressaltar ainda que Irrigação
os aquíferos são as maiores fontes de água A irrigação é bastante utilizada na
doce que a humanidade possui. A maior agricultura e é o que mais consome água no
reserva que temos no Brasil é o Aquífero Brasil, já que nosso país apresenta uma área
Guarani, localizado no subsolo dos estados de 29,6 milhões de hec-tares que carece de
de SP, MS, GO, PR, SC e RS. As águas um sistema de irrigação eficiente. A
subterrâneas não estão livres da poluição, irrigação é necessária para a agricultura,
pois os agrotóxicos, metais pesados, lixo e pois é ela a responsável pela produção de
esgoto pe-netram na terra e afetam a alimentos para o Brasil. De toda água que é
qualidade da água que se concentra no consumida no Brasil, cerca de 70% de seu
subsolo. volume destina-se à agricultura. O ideal
Portanto, mesmo que tenhamos muitas seria diminuir o uso da água e, ainda assim,
reservas de água doce, temos que ficar manter a produtivida-de, para isso novos
atentos, pois nem todas estão em condições métodos de irrigação vêm sendo estudados.

13
Ciências Naturais

Indústria de tratamento, a água passa por uma


A água na indústria é muito utilizada no triagem que é feita por barreiras físicas que
processo de confecção, bem como no tirarão partículas maiores como animais
acabamento de muitos produtos. Há quem mortos, galhos, folhas e lixo.
diga que todos os produtos envolvem o uso
da água para constituírem-se e tomar forma Pré-tratamento
como são. Cerca de 22% de toda água Assim que a água chega na estação de
potável é utilizada nas indústrias, pois a tratamento, ela recebe uma dose de cloro de
cada se-gundo são retirados cerca de 2,3 acordo com seu volume. O cloro irá ajudar
milhões de litros de água dos rios para uso a retirar substâncias nas etapas que se
industrial. seguirão a essa. As etapas seguintes ao pré-
Muitos processos de produção das tratamento exigem que a água tenha um
indústrias envolvem a adição de produtos determinado pH (acidez ou neutralidade).
químicos na água. Por isso, é muito Então, à água são adicionadas algumas
importante tomar cuidado na hora de substâncias que corrigirão seu pH antes do
devolvê-la ao meio ambiente, pois ela deve início do tratamento.
ser tratada para não oferecer nenhum risco Quando a água finalmente ficar tratada,
aos ecossistemas. a ela são adicionados, novamente, cloro e as
demais substâncias para que possa ter os
Reúso indireto padrões de potabilidade.
A água, após ser utilizada nas
residências ou indústrias, é tratada e des- Coagulação
pejada nos rios para ser utilizada Nessa fase do tratamento são
novamente pela natureza ou pela própria adicionadas substâncias que auxiliam as
população, caso seja captada novamente. partículas de sujeira a se unirem. Após elas
estarem unidas, é realizada uma intensa
Reúso direto agitação da água.
Os efluentes, depois de tratados, são
encaminhados diretamente para o local Floculação
onde serão reutilizados. Esse método de Ao chegarem a essa fase do tratamento,
tratamento é mais usado na agricultura e nas as partículas de sujeira estarão
indústrias. agrupadas. Para tanto, a água começa a ser
agitada lentamente, ocasionando a
Reciclagem interna formação de flocos maiores de impurezas
Logo após a água ser utilizada, ela é que podem ser retirados com mais
tratada e reaproveitada para a mesma facilidade.
finalidade. O exemplo que melhor ilustra a
reciclagem interna da água é o caso de uma Decantação
indústria que utiliza água para determinado Nesse momento a água é depositada em
processo e, então, a trata para utilizá-la tanques onde fica em repouso.
novamente no mesmo processo. Isso faz com que os flocos de impurezas se
depositem no fundo do reservató-rio, sendo
As Fases do Tratamento da Água facilmente retirados.

Captação Filtração
Primeiro a água é captada. É nesse Logo após a retirada das impurezas, vista
processo em que a água é retirada dos rios, no processo anterior, a água passa por um
córregos e lagos. Através de tubulações ela filtro de areia, carvão mineral e cascalho. É
é bombeada e levada à estação de nesse processo que as sujeiras menores e
tratamento. Mas antes de entrar na estação quase invisíveis serão removidas da água.

14
Ciências Naturais

Vale ressaltar que o carvão ajuda a deixá-la B - A coagulação e a floculação


com características de uma substância constituem a parte mais delicada do
organoléptica: sem cor, sem sabor e sem tratamento convencional de água, essa fase
odor. Depois de todo esse processo, nova- se não for bem conduzida pode acarretar
mente é feita a correção do seu pH. grandes prejuízos na qualidade e no custo
do produto distribuído à população.
Desinfecção C - Na maioria das instalações de
Na parte que confere à desinfecção da tratamento de água em funcionamento, as
água, adiciona-se a ela, novamente, uma unidades de coagulação e de floculação
certa quantidade de cloro para que a água precedem os decantadores.
que sair da estação de tratamento chegue até D - A coagulação depende das
seu destino final totalmente livre de vírus e características da água bruta, tais como:
bactérias. O cloro em si não é o responsável turbidez, cor verdadeira, pH, alcalinidade,
pela desinfecção, ele reage com a água e temperatura, sólidos totais dissolvidos,
força iônica, tamanho e distribuição das
forma o ácido hipocloroso (HClO) que partículas em suspensão e estado coloidal,
dependendo do pH se ioniza e forma o íon potencial zeta, qualidade microbiológica,
hipoclorito (ClO-), estes são os reais presença de metais e intensidade de
responsável pela eliminação dos mi- agitação.
crorganismos presentes na água. E - A floculação é o processo no qual é
realizada a desestabilização das partículas
Fluoretação suspensas e dos coloides presentes nas
Nesse processo, acresce-se à água uma águas, permitindo assim que eles
certa quantidade de flúor para prevenir a posteriormente se aglutinem formando
flocos, passíveis de serem separados na
população das cáries. De fato, quando sedimentação ou na filtração.
bebemos um copo de água refrescante nem
imaginamos como é longo o processo pelo 02. (PGE/PE – Analista
qual a água passou para tornar-se adequada Administrativo de Procuradoria -
para bebermos! Engenheria – CESP/CEBRASPE/2019)
Questões Julgue o item subsecutivo, relativo a
processo de tratamento de água.
01. (SAAE de Juazeiro/BA – O uso de cloro no processo de
Engenheiro Civil – Asconprev/2019) Em desinfecção da água garante elevada
tratamento de água a finalidade da eficiência na inativação de eventuais
coagulação e floculação é transformar bactérias e vírus presentes na água.
impurezas que se encontram em suspensão ( ) certo ( ) errado
fina em estado coloidal ou em solução,
bactérias, protozoários e/ ou plâncton, em Alternativas
partículas maiores (flocos), para que 01.E – 02.Certo
possam ser removidas por sedimentação e/
ou filtração ou, em alguns casos, por
flotação.
Em relação a esse tema, assinale a Recursos renováveis e não renováveis
alternativa INCORRETA:
A - A sobrecarga nos decantadores
ocasiona passagens de flocos formados para A preocupação89 com o meio ambiente
os filtros. e as consequências das ações humanas no
planeta Terra são temas cada vez mais

8
http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/recursos-naturais-renovaveis- Conversão de Energia. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
versus-nao-renovaveis-resiliencia-e-a-uso-sustentavel
9
BEZERRA, E. C.; TEIXEIRA, G. P.; ROCHA, M. F.; MARIMON, G. C.

15
Ciências Naturais

constantes em diversos meios de extração de sementes para venda. O


comunicação. Contudo, apesar do impacto foi a retirada das sementes e a
aumento da consciência ambiental, capacidade da floresta de produzir novas
percebe-se cada vez mais também o sementes é a resiliência.
consumismo desenfreado que as Deste modo, percebe-se que muitos
sociedades vivem. Esse consumismo recursos naturais renováveis, têm se
visualiza o planeta como um grande tornado não renováveis, devido ao não
recurso natural. respeito da capacidade de resiliência deste
Recurso Natural é toda matéria ou recurso. Ou seja, retira-se mais do recurso
energia, oriundos da natureza, úteis para o natural, do que a capacidade deste de se
homem. Exemplo: água, petróleo, renovar.
madeira, solo, entre outros. Os recursos Um exemplo disso é a questão da água.
naturais são divididos em dois tipos: Apesar do planeta Terra possuir uma
renováveis e não renováveis. grande parcela da sua superfície coberta de
Recursos naturais renováveis são água, muitas pessoas sofrem com a falta de
aqueles que se renovam em prazo curto água, pois a água doce existente muitas
comparado com o tempo de vida humano. vezes está poluída e imprópria para o
Alguns exemplos de recursos renováveis consumo.
são: água, solo, matéria orgânica,
biocombustíveis, e vento. Existem diversos outros exemplos de
Os não renováveis são aqueles que não recursos naturais, que devido a degradação
se renovam em um prazo curto comparado ambiental, estão se tornando cada vez mais
com o tempo de vida humano. Por escassos, o que justifica que a natureza não
exemplo: petróleo, carvão mineral, seja um recurso natural renovável.
minérios, materiais radioativos e gás Deve-se considerar o tempo que o
natural. recurso natural leva para se renovar. Por
A natureza de forma geral pode ser exemplo, uma floresta cujos elementos
considerada um recurso natural renovável, (madeira, frutos, sementes, entre outros)
pois dentro dos ciclos biogeoquímicos são retirados em quantidade e velocidade
existe ciclagem de nutrientes (nitrogênio, mais alta do que ela pode produzir
oxigênio, carbono, entre outros) em tempo estaremos tornando a floresta também um
relativamente curto (comparado com o recurso não renovável.
tempo de vida do homem). Analisando sob Para que a natureza seja renovável
esse aspecto pode-se concluir realmente deve-se utilizá-la de forma consciente.
que a natureza é um recurso natural Esse uso é conhecido como uso
renovável. sustentável, que significa utilizar, mas
Porém, atualmente, é possível perceber garantindo a continuidade deste recurso
exatamente o oposto. Com a degradação para as gerações futuras. A garantia dessa
ambiental existente, a natureza deixa de se continuidade, ou seja, que o recurso
tornar um recurso natural renovável, pois renovável continue renovável baseia-se na
seus recursos são consumidos de forma consideração da sua resiliência, pensando
muito mais acelerada do que a capacidade de forma sustentável.
de renovação destes.
A capacidade de um recurso natural se Biomassa, Células Combustíveis e o
renovar após algum impacto se chama Uso de Hidrogênio Como Fonte
resiliência. A palavra resiliência está Alternativa de Energia
ligada a propriedade de algo, voltar ao
estado original, após sofrer alguma A biomassa é transformada a partir da
alteração. Para exemplificar pode-se fonte primária de energia dos orga-nismos
imaginar uma floresta no qual se faz uma vivos: o sol. Os organismos absorvem a

16
Ciências Naturais

energia emitida pelo sol por meio dos Péletes: similar ao briquete,
fótons a partir da conversão conhecida apresentando diferença apenas nas di-
como fotossíntese, gerando energia mensões do material.
química na forma de glicose ou açúcar. Trituração: utilizado para adequar o
A médio e longo prazo, a biomassa tamanho da matéria para utilização em
torna-se uma opção frente à exaustão de fornalhas. Quanto menor a granulometria
fontes não renováveis e às desejada, maior será o gasto de energia na
regulamentações ambientais que, cada vez transformação.
mais, buscam restringir a exploração
indiscriminada (predatória) de recursos A aplicação de células combustíveis
naturais e desenvolver ciclos sustentáveis O conceito de células combustíveis
de expansão da economia. As vantagens certamente originou-se da pilha desen-
ambientais do uso racional da biomassa se volvida pelo físico Alessandro Volta ainda
dão principalmente no controle das no século XVIII. As células combustíveis
emissões de CO2 e enxofre (ROSILLO- aplicam a conversão de energia química
CALLE.; BAJAY, 2000). A utilização para geração de energia elétrica e calor.
desse recurso ainda é de difícil De forma geral, todas as células
contabilização devido à larga utilização combustíveis operam de forma
não comercial. semelhante, seguindo também a lógica da
A biomassa, assim como o petróleo, é pilha de Volta. A principal diferença entre
classificada em sua estrutura química os dois é que a segunda armazena energia,
como um hidrocarboneto, apresentando, ao passo que a primeira atua como um
no entanto, um oxigênio a mais em sua gerador de energia por meio de um
cadeia. A presença desse átomo é refletida combustível. As células produzem um
no processo de combustão, exigindo fluxo constante de energia em forma de
menos oxigênio do ar, o que torna o corrente contínua a partir das reações
processo mais limpo, mas também reduz a químicas que acontecem a partir do
liberação de energia do processo, o que eletrólito com o cátodo e ânodo. O
reduz seu PCS (poder calorífico superior). processo de equilíbrio energético se inicia
A matéria orgânica a ser utilizada como com a oxidação do combustível,
fonte de energia, geralmente, precisa geralmente hidrogênio, no ânodo da
passar por tratamentos termomecânicos célula. Nesse processo, é liberado um
para que possa ser utilizada com elétron, que alimenta a carga do circuito.
eficiência. Os processos mais utilizados O íon com carga positiva liberado desse
(BARRETO; RENDEIRO; NOGUEIRA, balanço energético atravessa o eletrólito
2008) são os de secagem, torrefação, até o cátodo, onde o elétron liberado e o
briquetes, péletes e trituração. íon se encontram novamente. Nesse ponto,
Secagem: remoção da umidade contida ocorre uma nova reação química
na biomassa por meio da evaporação por (geralmente consumindo oxigênio),
transferência de calor. origem do resíduo da geração de energia,
Torrefação: resulta em um material geralmente água ou dióxido de carbono.
intermediário entre biomassa e car-vão a Tecnicamente, pode-se construir um
partir do processo de pré-carbonização, sistema desse tipo a partir de diversos
podendo atingir diferentes níveis de insumos. Os modelos mais desenvolvidos
densidade energética, dependendo dos e que têm aplicações comerciais práticas
parâmetros adotados. são explicados a seguir.
Briquetagem: processo de prensagem PEMFCs: célula combustível com
de material sólido, com o objetivo de funcionamento por meio da membrana de
aumentar a densidade e o PCS, podendo troca de prótons. Nesse projeto, uma
alcançar qualidade superior à da lenha. membrana de polímero condutora de

17
Ciências Naturais

prótons contém a solução de eletrólito que que atendam à crescente demanda


separa o cátodo e ânodo. energética sem causar impacto ao meio
PAFC: as células combustíveis de ambiente. A exploração desses recursos
ácido fosfórico foram primeiramente fósseis está num ritmo aproximadamente 1
desenvolvidas em 1991 por Tanner e milhão de vezes mais rápido que o de
Elmore. Os íons do hidrogênio são geração (BRINNER; PHILLIPS, 2001), o
conduzidos através do eletrólito de ácido que nos dá uma ideia de quão rápido esses
fosfórico do ânodo para o cátodo, sendo recursos chegarão à exaustão.
que o processo geralmente trabalha entre Uma das primeiras abordagens do
temperaturas de 150-200 °C. O calor deve ponto de vista comercial e social feita
ser removido do sistema para que a célula é a comparação da utilização do
continue a operar, sendo uma hidrogênio com os combustíveis fósseis.
possibilidade de aplicação para cogeração. Quando comparado com os demais
SAFC: são as células combustíveis de combustíveis, o hidrogênio apresenta o
ácido sólido. Nesse caso, o ele-trólito é maior conteúdo energético por peso (35,7
formado por uma camada sólida de ácido kWh/kg, aproximadamente o triplo da
que, em regime de operação (140-150 °C), gasolina), mas tem o menor conteúdo
atinge uma configuração com alta energético por volume (600 kWh/m3 à
densidade protônica, propiciando alta pressão de 200bar) (aproximadamente
condutividade no meio. 5,5% do apresentado pela gasolina). Para
AFC: são as células alcalinas que ele fosse adotado como combustível
(desenvolvidas por Francis Bacon, em da frota de veículos, toda a cadeia
1959). Elas foram a fonte primária de precisaria ser remodelada. O hidrogênio é
energia do programa Apollo da NASA predominantemente armaze-nado em
(WILLIAMS, 1994), funcionando através forma de gás, pois só é liquefeito sob
de eletrodos poro-sos de carbono e uma temperaturas muito baixas (-253 °C).
solução de eletrólito de hidróxido de sódio Todos os aspectos relativos à segurança
ou hidróxido de potássio. operacional necessitariam ajustes,
exigindo uma completa revisão do sistema
O hidrogênio como fonte alternativa de distribuição, armazenamento e
de energia utilização. Essas adaptações, no entanto, já
O hidrogênio como fonte alternativa de foram comprovadamente testadas, com
energia pode ser utilizado tanto nos estudos que datam de 30 anos atrás e
processos de combustão quanto em células veículos comerciais disponíveis ao
de combustível. Ele é tão leve que sobe às mercado consumidor (BMW e DC).
camadas mais altas da atmosfera, sendo
raramente encontrado em sua forma pura Geração de Energia Eólica
(ALTORK; BUSBY, 2010). Apesar de ser
um dos elementos disponíveis em maior A produção de energia eólica se dá por
volume no universo (o sol, por exemplo, é meio da transformação da energia me-
feito de hidrogênio em sua a maior parte), cânica do vento em energia elétrica. A
sua captação é difícil e sua presença ocorre utilização da energia mecânica do vento é
nas formas de compostos moleculares conhecida pela humanidade há centenas de
como a água. anos, passando por aplicações de produção
A maior parte dos combustíveis de alimentos (moinhos) e navais. Os
utilizados é de origem fóssil (derivados do moinhos de eixo horizontal passaram a ser
petróleo e carvão), mas é de conhe- utilizados na região do mediterrâneo e na
cimento geral que essa cadeia não é Europa entre os anos de 1300 e 1875
sustentável e os esforços da ciência têm (FLEMING; PROBERT, 1984).
sido justamente para encontrar alternativas

18
Ciências Naturais

O vento é resultado das movimentações Geração de Energia Nuclear


das massas de ar que compõem nossa
atmosfera. Esses movimentos, assim como Esse processo é fundamentado no
as marés, apresentam algum princípio de equivalência entre massa-
comportamento sazonal, estando energia, identificado pelo físico vencedor
fortemente relacionados com os ciclos de do prêmio Nobel Albert Einstein (1879-
órbita de translação e rotação. A variação 1955). A partir das reações químicas de
de temperatura acaba por causar o fissão ou fusão nuclear, um elemento
deslocamento de massas de ar, que podem transforma parte de sua massa, que é,
ser aproveitadas para a movimentação das então, convertida em energia na forma de
pás de moinhos. A geração de energia calor.
elétrica por meio da movimentação das Essas reações químicas são aplicadas
massas de ar ocorre pelo acoplamento do em ambientes controlados, nas usinas
eixo das turbinas a geradores de nucleares, para aquecer água e gerar vapor,
eletricidade. que movimenta uma turbina acoplada a um
gerador. Perceba que, nesse processo, a
Geração de Energia Hídrica fonte de energia não depende mais
A geração de energia por meio de diretamente do sol, como visto nos
hidrelétricas é fundamentada na processos de ciclo das águas e correntes de
transformação da energia potencial ar, mas ainda faz uso do gerador e de
gravitacional da água a partir da turbinas.
canalização dessa energia por turbinas,
geradores ou outros elementos de Geração de Energia Geotérmica
conversão. Para que o fluxo das águas
aconteça e seja possível realizar esse A energia geotérmica está amplamente
processo, deve-se contar com os ciclos de disponível no mundo e é largamente
evaporação e condensação das águas. utilizada para geração de energia elétrica
Muitas vezes, aproveita-se o fluxo de ou aclimatação de ambientes. Essa energia
córregos e rios para criação de PCH é limpa (sem emissão de gases nocivos),
(pequenas centrais hidrelétricas), onde segura e confiável (renovável e
existe pouco ou nenhum controle da vazão sustentável), e pode ter um papel
de água, o que limita e também define a importante em atender aos requisitos
taxa de conversão da energia potencial mundiais de energia (OZTURK;
gravitacional da água em energia elétrica. YUKSEL, 2016). Um dos pontos mais
Para contornar essa limitação, foram importantes a respeito dela é que, ao
desenvolvidas as hidrelétricas, que contrário das outras fontes renováveis
utilizam o alagamento de grandes áreas (solar e eólica), é possível obter energia
para criação de reservatórios, a partir dos constante dessa fonte (BALTA; DINCER;
quais é possível ter maior controle sobre o HEPBALSI, 2009).
volume de água que passa pelas turbinas, A energia geotérmica é obtida por meio
facilitando a gestão do sistema de de perfurações com profundidade
distribuição. suficiente para alcançar água aquecida ou
A transformação da energia nas por aparições naturais (gêiseres). A água
hidrelétricas ocorre, então, a partir do aquecida libera vapor, que pode ser
mesmo princípio físico que a energia utilizado para movimentar uma turbina
eólica. O processo é dependente do acoplada a um gerador, assim como nos
gerador, que usa a variação do campo processos de geração eólica, hídrica e
magnético impressa às pás para alcançar a nuclear.
indução eletromagnética pela variação do
fluxo.

19
Ciências Naturais

Geração de Energia Solar


Reversibilidade e irreversibilidade
A energia solar vem sendo explorada de
duas formas: por meio do efeito
fotovoltaico ou de concentração. O efeito
fotovoltaico é capaz de converter a energia A termodinâmica10 é uma ciência natural
solar diretamente em energia elétrica. A fundamental que trata dos diversos aspectos
luz absorvida excita os elétrons do da energia, e mesmo pessoas sem
material a um estado mais elevado de conhecimento técnico têm uma
energia, gerando o potencial elétrico. compreensão básica da energia e da
primeira lei da termodinâmica, uma vez que
Questões raramente encontramos aspectos da vida
que não envolvam a transferência ou
01. (Prefeitura de Petrolina/PE – transformação da energia em diferentes
Professor Substituto de Ensino formas. Todas as pessoas que estão fazendo
Fundamental – Anos Finais de Ciências dieta, por exemplo, baseiam seus estilos de
– AEVSF/FACAPE/2021) A energia é vida no princípio de conservação da
um dos fatores de suma importância para o energia.
meio ambiente, uma vez que esta pode ser Embora os aspectos da primeira lei da
usada e retirada de maneira exacerbada e, termodinâmica sejam facilmente
por consequência, esgotada. Em compreendidos e aceitos pela maioria das
contrapartida, existem energias pessoas, não existe consciência popular
disponíveis que podem ser transformadas sobre a segunda lei da termodinâmica, e
e distribuídas em vários setores da assim os aspectos da segunda lei não podem
sociedade, de maneira a atender a ser totalmente apreciados, nem mesmo
demanda. Dessa forma, a energia pode ser pelas pessoas com algum conhecimento
classificada em renovável e não renovável. técnico. Isso faz com que alguns estudantes
São exemplos de energias renováveis e vejam a segunda lei como algo que de
não renováveis, respectivamente: interesse puramente teórico e não como
A - Hidrelétrica, termelétrica, eólica / uma ferramenta de engenharia importante e
nuclear e gás natural. prática. Consequentemente, os estudantes
B - Nuclear, hidrelétrica, termelétrica / mostram pouco interesse em um estudo
eólica e gás natural. detalhado da segunda lei da
C - Gás natural, nuclear, hidrelétrica / Termodinâmica. Isso é lamentável, porque
termelétrica e eólica. acabam tendo uma visão unilateral da
D - Gás Natural, hidrelétrica, Termodinâmica e não uma perspectiva
termelétrica / eólica e nuclear. geral e equilibrada.
E - Eólica, nuclear, hidrelétrica / Muitos eventos comuns que passam
termelétrica e gás natural. despercebidos podem servir como
excelentes veículos para conceitos
Alternativas importantes da termodinâmica. A seguir,
01.A tentamos demonstrar a relevância dos
conceitos da segunda lei, como exergia,
trabalho reversível, irreversibilidade e a
eficiência de segunda lei em diversos
aspectos da vida diária, usando exemplos
com os quais até mesmo as pessoas sem
conhecimento técnico podem se identificar.

10
ÇENGEL, Y. A.; BOLES, M. A. Termonidânica. Porto Alegre: AMGH,
2013.

20
Ciências Naturais

Esperamos que isso aumente nossa destruída. Nos sistemas de engenharia,


compreensão e gosto pela segunda lei da tentamos identificar as principais fontes de
termodinâmica e nos incentive a usá-la com irreversibilidades e as minimizamos para
mais frequência em áreas técnicas e não maximizar o desempenho. Na vida diária,
técnicas. O leitor mais criterioso deve ter uma pessoa deve fazer exatamente isso para
em mente que os conceitos apresentados maximizar seu desempenho.
são sensíveis e difíceis de quantificar, e são A exergia de uma pessoa em
oferecidos aqui para estimular o interesse determinado momento e lugar pode ser
no estudo da segunda lei da termodinâmica vista como a quantidade máxima de
e para ampliar nossa compreensão e gosto trabalho que ela pode realizar naquele
por ela. momento e local. Certamente é difícil
Os conceitos da segunda lei são usados quantificar a exergia, por causa da
implicitamente em diversos aspectos da interdependência das capacidades física e
vida diária. Muitas pessoas bem-sucedidas intelectual de uma pessoa. A capacidade de
parecem utilizar bastante esses conceitos executar tarefas físicas e intelectuais
sem nem mesmo perceber. Existe uma simultaneamente complica as coisas ainda
consciência cada vez maior de que a mais. A educação e o treinamento
qualidade tem um papel tão importante obviamente aumentam a exergia de uma
quanto a quantidade. até mesmo nas pessoa. O envelhecimento diminui a
atividades diárias. exergia física. Ao contrário da maioria das
Em termodinâmica, o trabalho reversível coisas mecânicas, a exergia dos seres
de um processo é definido como o máximo humanos é uma função do tempo, e a
trabalho útil produzido (ou o mínimo exergia física e/ou intelectual de uma
consumo de trabalho) para aquele processo. pessoa é desperdiçada se não for utilizada
Esse é o trabalho útil que um sistema no momento exato. Um barril de petróleo
forneceria (ou consumiria) durante um não perde nada de sua exergia se for
processo entre dois estados especificados se deixado parado por 40 anos. Entretanto,
aquele processo fosse executado de forma uma pessoa perderá grande parte de sua
reversível (perfeita). A diferença entre o exergia durante o mesmo período se ficar
trabalho reversível e o trabalho útil real apenas sentada.
deve-se às imperfeições, e é chamada de ir- As crianças nascem com diferentes
reversibilidade (o potencial de trabalho níveis de exergias (talentos) para dife-
desperdiçado). No caso especial do estado rentes áreas. Fazer testes de aptidão em
final ser o estado morto ou o estado da crianças pequenas é simplesmente uma
vizinhança, o trabalho reversível torna-se tentativa de descobrir a extensão de suas
um máximo e é chamado de exergia do exergias ou talentos. Depois desses testes,
sistema no estado inicial. A as crianças são direcionadas para as áreas
irreversibilidade de um processo reversível nas quais têm maior exergia, e quando
ou perfeito é zero. adultas terão mais chances de apresentar
A exergia de uma pessoa na vida diária níveis maiores de desempenho sem
pode ser vista como o melhor trabalho que extrapolar seus limites se estiverem
aquela pessoa pode realizar sob as naturalmente adaptadas para aquela área.
condições mais favoráveis. O trabalho Podemos ver o nível de atenção de uma
reversível na vida diária, por sua vez, pode pessoa como sua exergia para as questões
ser visto como o melhor trabalho que uma intelectuais.
pessoa pode realizar sob algumas condições Quando uma pessoa está bem
especificadas. Então, a diferença entre o descansada, o nível de atenção (e, portanto,
trabalho reversível e o trabalho real a exergia intelectual) está no máximo, e sua
executado sob aquelas condições pode ser exergia diminui com o tempo à medida que
visto como a irreversibilidade ou a exergia a pessoa se cansa. As diferentes tarefas da

21
Ciências Naturais

vida diária exigem diferentes níveis de Na vida diária, a eficiência de primeira


exergia intelectual, e a diferença entre a lei ou a performance de uma pessoa pode
atenção disponível e a necessária pode ser ser vista como o que essa pessoa realizou
vista como a atenção desperdiçada ou em relação ao esforço aplicado. Já a
destruição da exergia. Para minimizar a eficiência de segunda lei de uma pessoa
destruição da exergia, deve haver um bom pode ser vista como seu desempenho em
ajuste entre o nível de atenção disponível e relação ao melhor desempenho possível sob
o nível de atenção necessário. as circunstâncias. A felicidade está
Considere um estudante bem descansado intimamente relacionada à eficiência da
que planeja passar as próximas quatro horas segunda lei.
estudando e assistindo a um filme de duas As crianças provavelmente são os seres
horas. Sob o ponto de vista da primeira lei, humanos mais felizes, porque é pouco o que
não faz diferença a ordem em que essas podem fazer, mas elas fazem isso muito
tarefas são executadas. Mas, sob o ponto de bem considerando suas capacidades
vista da segunda lei, isso faz muita limitadas. Ou seja, as crianças têm
diferença. Dessas duas tarefas, o estudo eficiências de segunda lei muito altas em
requer mais atenção intelectual do que suas vidas diárias. O termo “vida plena”
assistir a um filme e, portanto, faz sentido também se refere à eficiência de segunda
de acordo com a termodinâmica, estudar lei. Considera-se que uma pessoa tem uma
primeiro, quando o nível de atenção é vida plena e, portanto, uma eficiência de
maior, e assistir ao filme depois, quando o segunda lei muito alta se ela utilizou todas
nível de atenção é menor. Um estudante que as suas capacidades até o limite durante a
faz isso ao contrário desperdiça muito de vida inteira.
sua capacidade de permanecer atento ao Uma pessoa com alguma deficiência tem
assistir primeiro ao filme, pois precisa ficar de se esforçar mais para realizar aquilo que
indo e voltando enquanto estuda, por conta uma pessoa fisicamente apta realiza.
do nível de atenção insuficiente, fazendo Mesmo assim, apesar de realizar menos
menos no mesmo tempo. com mais esforço, a pessoa deficiente que
Em termodinâmica, a eficiência de tem desempenho notável em geral recebe
primeira lei (ou a eficiência térmica) de mais elogios. Assim, podemos dizer que
uma máquina térmica é definida como a essa pessoa deficiente teve uma eficiência
razão entre o trabalho líquido e o consumo da primeira lei baixa (realizou pouco com
de calor, ou seja, ela é a fração de calor muito esforço), mas uma eficiência da
fornecida que é convertida em trabalho segunda lei muito alta (realizou o máximo
líquido. Em geral, a eficiência de primeira possível dentro das circunstâncias).
lei pode ser vista como a razão entre o Na vida diária, a exergia também pode
resultado desejado e o custo necessário. A ser vista como as oportunidades. Uma
eficiência de primeira lei não faz referência expressão poética da exergia e da
ao melhor desempenho possível, portanto a destruição da exergia. que temos e a
eficiência de primeira lei sozinha não é uma destruição da exergia como as
medida realista do desempenho. Para oportunidades desperdiçadas. O tempo é o
superar essa deficiência, definimos a maior bem que possuímos, e o tempo
eficiência de segunda lei que é uma medida desperdiçado é a oportunidade de fazer algo
do desempenho real com relação ao melhor útil que foi desperdiçada.
desempenho possível sob as mesmas A segunda lei da termodinâmica também
condições. Nas máquinas térmicas, a tem interessantes ramificações filosóficas.
eficiência de segunda lei é definida como a Massa e energia são grandezas que se
razão entre a eficiência térmica real e a conservam e são associadas com a primeira
eficiência térmica máxima possível lei da termodinâmica, enquanto entropia e
(reversível) sob as mesmas condições. exergia são grandezas que não se

22
Ciências Naturais

conservam e são associadas com a segunda D - diferença entre o calor que entra no
lei. Percebemos, através dos nossos cinco sistema e o trabalho fornecido ao sistema
sentidos, que o universo é composto de pela vizinhança.
grandezas conservadas, e assim, tendemos E - diferença entre o calor que sai do
a ver as grandezas não conservadas como sistema e o trabalho realizado pelo sistema
sendo não reais ou mesmo fora deste na vizinhança.
universo. A amplamente aceita teoria do big
bang sobre a origem do universo nos deu a Alternativas
noção de que este é um universo todo- 01.B
material, onde tudo é feito de matéria (mais
corretamente, massa-energia) apenas.
Luz e sombra; Sol e Terra e suas
Como grandezas conservadas, massa e interações. Sistema Solar, Terra e Lua e
energia se encaixam na descrição de os movimentos da Terra. Planetas do
grandezas verdadeiramente físicas, mas sistema solar; Movimentos da Terra e da
entropia e exergia não, pois a entropia pode Lua e suas fases. Formação do planeta
ser criada e a exergia pode ser destruída. Terra e os movimentos no sistema solar,
Assim, entropia e exergia não são grande- em especial, os eclipses
zas verdadeiramente físicas, apesar de
estarem intimamente relacionadas com a
massa e a energia. Portanto, a segunda lei Sistema Solar
diz respeito a grandezas que possuem um
tipo de existência diferente, um universo no O sistema solar11121314151617 é um
qual coisas são criadas do nada e também conjunto de planetas, asteroides e cometas
deixam de existir do nada, e abre um que giram ao redor do sol. Cada um se
universo que está além de um universo mantém em sua respectiva órbita em
todo-material que se conserva, como o que virtude da intensa força gravitacional
nós conhecemos. exercida pelo astro, que possui massa
muito maior que a de qualquer outro
Questões planeta.
Os corpos mais importantes do sistema
01. (PC/AM – Perito Criminal – 4ª solar são os oito planetas que giram ao redor
Classe – Engenharia Mecânica – do sol, descrevendo órbitas elípticas, isto é,
FGV/2022) A primeira lei da órbitas semelhantes a circunferências
termodinâmica estabelece o princípio da ligeiramente excêntricas.
conservação de energia, pelo qual se pode O sol não está exatamente no centro
dizer que uma variação positiva de energia dessas órbitas, razão pela qual os planetas
em um sistema é resultado da podem encontrar-se, às vezes, mais
A - soma do calor que entra no sistema próximos ou mais distantes do astro.
com o trabalho realizado pelo sistema na
vizinhança. Origem do Sistema Solar
B - soma do calor que entra no sistema O sol e o Sistema Solar tiveram origem
com o trabalho fornecido ao sistema pela há 4,5 bilhões de anos a partir de uma
vizinhança. nuvem de gás e poeira que girava ao redor
C - soma do calor que sai do sistema com de si mesma. Sob a ação de seu próprio
o trabalho fornecido ao sistema pela peso, essa nuvem se achatou,
vizinhança. transformando-se num disco, em cujo
centro formou-se o sol. Dentro desse
11 14
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Universo/sistemasolar.php http://astro.if.ufrgs.br/lua/lua.htm
12 15
http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?co https://biologo.com.br/bio/formacao-da-terra/
16
nteudo=267 https://www.tecmundo.com.br/ciencia/237310-saiba-origem-nomes-
13
http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?co dos-planetas-sistema-solar.htm
17
nteudo=269 https://www.significados.com.br/sistema-solar/

23
Ciências Naturais

disco, iniciou-se um processo de Mercúrio


aglomeração de materiais sólidos, que, ao Mercúrio é o mais veloz entre os deuses
sofrer colisões entre si, deram lugar a romanos, e também o mais veloz planeta a
corpos cada vez maiores, os outros completar sua órbita. Ele tem um ano de
planetas. aproximadamente 88 dias terrestres, e é o
A composição de tais aglomerados planeta mais próximo do Sol. Graças a
relacionava-se com a distância que havia essa agilidade, recebeu o nome do deus
entre eles e o sol. Longe do astro, onde a responsável por carregar as mensagens
temperatura era muito baixa, os planetas entre as divindades.
possuem muito mais matéria gasosa do que
sólida, é o caso de Júpiter, Saturno, Urano e Vênus
Netuno. Os planetas perto dele, ao Você pode conhecer Vênus pelo nome
contrário, o gelo evaporou, restando apenas de Estrela Dalva também. É um planeta
rochas e metais, é o caso de Mercúrio, cintilante, com brilho intenso, assim como
Vênus, Terra e Marte. a deusa Vênus, patrona da beleza e do
amor na mitologia romana. Com essa
Os componentes do Sistema Solar singularidade que brilha aos olhos, os
povos antigos o batizaram em homenagem
O sol a essa divindade.
O Sol é a fonte de energia que domina
o sistema solar. Sua força gravitacional Terra
mantém os planetas em órbita e sua luz e O nome Terra foge do escopo dos
calor tornam possível a vida na Terra. A deuses. A princípio, há indícios de que o
Terra dista, em média, aproximadamente nosso planeta era chamado de Gaia pelos
150 milhões de quilômetros do Sol, gregos, no entanto, em alguma parte da
distância percorrida pela luz em 8 minutos. história, surgiu o nome Terra, que se
Todas as demais estrelas estão localizadas originou de palavras de origem inglesa e
em pontos muito mais distantes. germânica que designavam “solo” ou
As observações científicas realizadas “chão”.
indicam que o Sol é uma estrela de
luminosidade e tamanho médios, e que no Marte
céu existem incontáveis estrelas maiores e Também conhecido como planeta
mais brilhantes, mas para nossa sorte, a vermelho, teve em sua cor a principal fonte
luminosidade, tamanho e distância foram de inspiração para que recebesse o nome do
exatos para que o nosso planeta deus romano da guerra, Marte.
desenvolvesse formas de vida como a
nossa. Júpiter
O Sol possui 99,9% da matéria de todo O gigante gasoso, e maior planeta do
o Sistema Solar. Isso significa que todos os nosso sistema solar, recebeu o nome em
demais astros do Sistema juntos somam homenagem ao principal deus do panteão
apenas 0,1%. romano.

Composição do Sol Saturno


O Sol é uma enorme esfera de gás O planeta rodeado de anéis recebeu o
incandescente composta essencialmente de nome de Saturno, rei dos titãs e
hidrogênio e hélio, com um diâmetro de 1,4 comandante do mundo antes do
milhões de quilômetros. nascimento de seu filho Júpiter, de acordo
com a mitologia romana.

24
Ciências Naturais

Urano quilômetros) pelo tempo gasto nesse


Apesar de ser observável a olho nu, processo (cerca de 24 horas). Portanto:
Urano passou despercebido pelos povos da 40.000 / 24 = 1.666.
antiguidade, e só foi descoberto em 1781 Apesar da grande velocidade atingida
pelo astrônomo Willian Herschel. O durante o movimento de rotação, os
cientista achou que seria uma boa ideia habitantes da Terra não conseguem
nomear o planeta recém descoberto com o perceber esse movimento. Por esse
nome do rei inglês Jorge III. Mas sua ideia motivo, temos a impressão de que é o Sol
não deu muito certo, e em 1850, decidiu- que está se deslocando ao redor da Terra.
se nomear o astro em homenagem ao deus Essa concepção foi defendida durante
grego do céu: Urano. anos, principalmente pela igreja católica,
sendo classificada como modelo
Netuno geocêntrico, no entanto, cientistas
Descoberto em 1846, graças a provaram o contrário e estabeleceram o
previsões matemáticas feitas a partir das modelo heliocêntrico, sendo o Sol o centro
perturbações da órbita de Urano, o planeta do universo.
recebeu o nome do deus romano dos O movimento de rotação é de
mares. fundamental importância para a
manutenção da vida no planeta Terra.
Através dele há a alternância de exposição
à radiação solar, pois se somente uma
porção do planeta fosse voltado para o Sol,
sua temperatura seria muito elevada,
enquanto a outra porção apresentaria
temperaturas baixas.
Movimentos da Terra
Translação
Como todos os corpos do Universo, a Translação é o movimento elíptico que
Terra também não está parada. Ela realiza a Terra realiza ao redor do Sol. Esse
inúmeros movimentos. Os dois movimento, juntamente com a inclinação
movimentos principais do nosso planeta do eixo de rotação da Terra, é responsável
são o de rotação e o de translação, cujos pelas estações do ano.
efeitos sentimos no cotidiano. De acordo com os cálculos elaborados
por pesquisadores da área de astronomia, o
Rotação tempo para concluir o movimento de
O movimento de rotação é translação é de 365 dias e 6 horas, que
caracterizado pelo deslocamento que a equivale a um ano. As horas restantes (6)
Terra realiza em torno de seu próprio eixo. são acumuladas ao longo de quatro anos
Esse processo tem duração de 23 horas, 56 para totalizar um dia (6 horas. 4 anos = 24
minutos e 4,09 segundos, sendo horas ou um dia), o ano no qual ocorre esse
responsável pela variação diária na fato é conhecido como ano bissexto.
radiação solar, onde uma parte da Terra Esse movimento sofre variações
fica voltada para o Sol, caracterizando o durante seu trajeto que podem aproximar
dia; enquanto a outra parte fica oposta ao ou distanciar a Terra do Sol. O período no
Sol, noite. qual ocorre a aproximação é denominado
A velocidade do movimento de rotação periélio, a distância entre os dois (Terra e
é impressionante: cerca de 1.666 Sol) é de aproximadamente 147. 500.000
quilômetros por hora. Esse resultado é km; em contrapartida, quando se
obtido através da divisão do perímetro da encontram mais afastados a distância é de
Terra (aproximadamente 40.000 aproximadamente 152.500.000 km.

25
Ciências Naturais

O movimento de translação e a Esse fenômeno é bem compreendido desde


inclinação de 66º33’ no eixo de rotação da a Antiguidade. Acredita-se que o grego
Terra são responsáveis diretos pelo Anaxágoras (430 a.C.), já conhecia sua
surgimento das estações do ano (inverno, causa, e Aristóteles (384 - 322 a.C.)
verão, outono e primavera). registrou a explicação correta do fenômeno:
as fases da Lua resultam do fato de que ela
Solstícios (verão ou inverno) - não é um corpo luminoso, e sim um corpo
Ocorrem quando o Sol atinge seu máximo iluminado pela luz do Sol.
afastamento angular do equador celeste. O Quando a Lua encontra-se em
hemisfério da Terra em que estiver conjunção com o Sol, a face visível está
acontecendo o solstício de verão, terá o dia totalmente às escuras e a face oculta está
(período de insolação) com duração mais iluminada. É a Lua nova.
longa, enquanto o hemisfério oposto Uma vez que nesta fase a Lua nasce e
marca o solstício de inverno, quando as se põe com o Sol, ela só é visível quando
noites têm duração mais longa. ocorre um eclipse solar.
Quanto mais afastados estivermos do Aproximadamente 7,5 dias depois a
equador terrestre, maiores serão as Lua encontra-se num ângulo de 90º em
diferenças entre os dias e as noites ao longo relação ao Sol. Nesta fase a porção
do ano. No equador, em qualquer época, os iluminada equivale a metade da face
dias e as noites têm sempre a mesma visível, portanto um quarto da superfície
duração. lunar. Vem daí o nome Quarto crescente.
Nesta fase a Lua nasce aproximadamente
Equinócios (primavera ou outono) - ao meio-dia e se põe à meia-noite.
Ocorrem quando o Sol cruza o equador Quando a Lua se encontra em oposição
celeste. Nestes dias, em qualquer ponto da ao Sol, em torno de 15 dias após a Lua
Terra, dias e noites têm igual duração (12 nova, sua face visível fica totalmente
horas). Quando em um hemisfério estiver iluminada, é a Lua cheia. Nesta fase a Lua
acontecendo o equinócio de outono, no nasce quando o Sol se põe e seu ocaso
outro estará ocorrendo o de primavera. ocorre ao nascer do Sol. É nessa fase
Os equinócios podem ocorrer em 19, 20 também que acontecem os eclipses lunares
ou 21 de março e 21, 22 ou 23 de setembro, (o momento em que a Lua cheia está mais
já os solstícios nos dias 20, 21 ou 22 de próxima da Terra é denominado Superlua.)
dezembro e 20, 21 ou 22 de junho. Essa Mais uma semana até que se forme um
variação é conseqüência de o ano civil ter ângulo de 270º e a Lua estará em Quarto
um número inteiro de dias, 365 ou 366, e o minguante. Nesta fase a Lua nasce à meia-
período decorrido entre uma mesma estação noite e se põe ao meio-dia.
consecutiva ser de 365,2422 dias.
Movimentos da Lua
Lua
A Lua, como o Sol e a Terra, não está
A Lua é o único satélite natural da parada no céu, ela gira ao redor da Terra,
Terra, situando-se a uma distância de cerca que por sua vez gira ao redor do Sol.
de 384.405 km do nosso planeta. A Lua possui muitos movimentos, mas
os principais são translação, rotação e
Fases da Lua revolução.
À medida que a Lua viaja ao redor da O movimento de translação é o que ela
Terra ao longo do mês, ela passa por um faz em torno do Sol, acompanhando a
ciclo de fases, durante o qual sua forma Terra. Sua duração é de um ano, como o
parece variar gradualmente. O ciclo da Terra, portanto, 365 dias.
completo dura aproximadamente 29,5 dias.

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Ciências Naturais

O movimento de rotação é o que ela faz mais a leste do Sol e, portanto, a face
em torno do seu próprio eixo. visível vai ficando crescentemente mais
O movimento em que a Lua gira em iluminada a partir da borda que aponta
torno da Terra é chamado de revolução. para o oeste, até que aproximadamente 1
Dura aproximadamente 28 dias, assim semana depois temos o Quarto-Crescente,
como a rotação, e é ele que permite a com 50% da face iluminada.
existência das quarto fases, de 7 em 7 dias.
Este período de 28 dias, em que a Lua Lua Quarto-Crescente:
gira ao redor da Terra e ao redor de si Lua e Sol, vistos da Terra, estão
mesma se chama mês lunar.O número de separados de 90°. A Lua está a leste do Sol
dias do mês lunar é diferente do número de e, portanto, sua parte iluminada tem a
dias do mês da Terra. convexidade para o oeste.
O tempo que a Terra leva para girar ao A Lua nasce aproximadamente meio-
redor do Sol, que é de 365 dias, se chama dia e se põe aproximadamente meia-noite.
ano terrestre, e o tempo que a Lua leva A Lua tem a forma de um semi-círculo
para girar, junto com a Terra, ao redor do com a parte convexa voltada para o oeste.
Sol, se chama ano lunar. Lua e Sol, vistos da Terra, estão separados
de aproximadamente 90°. A Lua nasce
Tamanho da Lua aproximadamente ao meio-dia e se põe
A Lua é muito grande, mede 38 milhões aproximadamente à meia-noite. Após esse
de quilômetros quadrados de área, e tem dia, a fração iluminada da face visível
3,474 quilômetros de diâmetro, mas é 13 continua a crescer pelo lado voltado para o
vezes menor que a Terra. oeste, até que atinge a fase Cheia.
Com 1/4 do tamanho da Terra e 1/6 de
sua gravidade, é o único corpo celeste Lua Cheia
visitado por seres humanos e onde a Lua e Sol, vistos da Terra, estão em
NASA (sigla em inglês de National direções opostas, separados de 180°, ou
Aeronautics and Space Administration) 12h.
pretende implantar bases permanentes. A Lua nasce aproximadamente 18h e se
põe aproximadamente 6h do dia seguinte.
Distância da Lua Na fase cheia 100% da face visível está
A distância média da Lua à Terra é de iluminada. A Lua está no céu durante toda
aproximadamente 384 000 quilômetros. Se a noite, nasce quando o Sol se põe e se põe
pudessemos ir de avião até ela, nós no nascer do Sol. Lua e Sol, vistos da
levariamos 16 dias para chegar. Terra, estão em direções opostas,
separados de aproximadamente 180°, ou
Fases da Lua 12h. Nos dias subsequentes a porção da
face iluminada passa a ficar cada vez
Lua Nova: menor à medida que a Lua fica cada vez
Lua e Sol, vistos da Terra, estão na mais a oeste do Sol; o disco lunar vai dia a
mesma direção. dia perdendo um pedaço maior da sua
A Lua nasce aproximadamente 6h e se borda voltada para o oeste.
põe aproximadamente 18h. Aproximadamente 7 dias depois, a fração
A Lua Nova acontece quando a face iluminada já se reduziu a 50%, e temos o
visível da Lua não recebe luz do Sol, pois Quarto-Minguante.
os dois astros estão na mesma direção.
Nessa fase, a Lua está no céu durante o dia, Lua Quarto-Minguante
nascendo e se pondo aproximadamente A Lua está a oeste do Sol, que ilumina
junto com o Sol. Durante os dias seu lado voltado para o leste.
subsequentes, a Lua vai ficando cada vez

27
Ciências Naturais

A Lua nasce aproximadamente meia- minutos. Portanto um eclipse solar total só


noite e se põe aproximadamente meio-dia. é visível, se o clima permitir, em uma
A Lua está aproximadamente 90° a estreita faixa sobre a Terra, chamada de
oeste do Sol, e tem a forma de um semi- caminho do eclipse. Em uma região de
círculo com a convexidade apontando para aproximadamente 3000 km de cada lado do
o leste. A Lua nasce aproximadamente à caminho do eclipse, ocorre um eclipse
meia-noite e se põe aproximadamente ao parcial.
meio-dia. Nos dias subsequentes a Lua Um eclipse lunar ocorre quando a Lua
continua a minguar, até atingir o dia 0 do entra na sombra da Terra. À distância da
novo ciclo. Lua, 384 mil km, a sombra da Terra, que se
O intervalo de tempo médio entre duas extende por 1,4 milhões de km, cobre
fases iguais consecutivas é de 29d 12h 44m aproximadamente 3 luas cheias. Em
2.9s (aproximadamente 29,5 dias). Esse contraste com um eclipse do Sol, que só é
período é chamado mês sinódico, ou visível em uma pequena região da Terra,
lunação, ou período sinódico da Lua. um eclipse da Lua é visível por todos que
possam ver a Lua. Como um eclipse da Lua
Eclipses pode ser visto, se o clima permitir, de todo
a parte noturna da Terra, eclipses da Lua
Um eclipse acontece sempre que um são muito mais freqüentes que eclipses do
corpo entra na sombra de outro. Assim, Sol, de um dado local na Terra. A duração
quando a Lua entra na sombra da Terra, máxima de um eclipse lunar é 3,8 hr, e a
acontece um eclipse lunar. Quando a Terra duração da fase total é sempre menor que
é atingida pela sombra da Lua, acontece um 1,7 hr.
eclipse solar.
Formação da Terra
Quando um corpo extenso (não
pontual) é iluminado por outro corpo A História da Terra diz respeito aos
extenso definem-se duas regiões de registros do desenvolvimento do planeta
sombra: Terra até os dias de hoje.
• umbra: região
da sombra que não recebe luz de nenhum A Terra foi formada em torno de 4,54
ponto da fonte. bilhões de anos atrás, aproximadamente
• penumbra: um terço da idade do universo, por acreção
região da sombra que recebe luz de alguns da nebulosa solar.
pontos da fonte. A escala de tempo geológico retrata os
grandes períodos de tempo desde o início
A órbita da Terra em torno do Sol, e a da Terra até o presente, e suas divisões
órbita da Lua em torno da Terra, não estão registram alguns eventos definitivos da
no mesmo plano, ou ocorreria um eclipse da história da Terra.
Lua a cada Lua Cheia, e um eclipse do Sol A desgaseificação vulcânica
a cada Lua Nova. provavelmente criou a atmosfera
O plano da órbita da Lua em torno da primordial, e depois o oceano, mas a
Terra não é o mesmo plano que o da órbita atmosfera primitiva não continha quase
da Terra em torno do Sol. nenhum oxigênio.
Durante um eclipse solar, a umbra da Grande parte da Terra foi derretida
Lua na Terra tem sempre menos que 270 devido a colisões frequentes com outros
km de largura. Como a sombra se move a corpos, o que levou a um extremo
pelo menos 34 km/min para Leste, devido à vulcanismo. Enquanto a Terra estava em
órbita da Lua em torno da Terra, o máximo seu estágio inicial (Proto-Terra), acredita-
de um eclipse dura no máximo 7 1/2 se que uma gigantesca colisão de impacto

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Ciências Naturais

com um corpo do tamanho de um planeta barco que transportava o Sol pelo céu. Os
chamado Theia tenha formado a Lua. antigos chineses acreditavam que um
As primeiras evidências incontestáveis imenso dragão estava engolindo o Sol. No
da vida na Terra datam de pelo menos 3,5 entanto, os eclipses não causavam medo a
bilhões de anos atrás. todas as civilizações antigas. Os esquimós,
Remontam à Era Eoarquéia, depois que por exemplo, interpretavam tais
uma crosta geológica começou a se fenômenos como sinais de boa sorte. A
solidificar após o Éon Hadeano. Existem respeito do Sistema Solar e dos
fósseis de tapete microbiano como os movimentos da Terra, Sol e Lua, assinale
estromatólitos encontrados em arenito de a alternativa incorreta:
3,48 bilhões de anos descoberto na A - Os pescadores que vivem no litoral
Austrália Ocidental. conhecem muito bem a regularidade da
Outra evidência física inicial de uma subida e descida do nível do mar, as quais
substância biogênica é do grafite em estão associadas à fase da Lua e ao período
rochas metassedimentares de 3,7 bilhões do dia.
de anos descobertas no sudoeste da B - O movimento anual aparente do Sol
Groenlândia, bem como “restos da vida na esfera celeste pode ser entendido
biótica” encontrados em rochas de 4,1 através da translação da Terra em torno do
bilhões de anos no oeste da Austrália. Sol.
Uma das razões para o interesse na C - Eclipse lunar é quando a Lua
atmosfera primitiva e no oceano é que elas atravessa a sombra da Terra.
formam as condições sob as quais a vida D - O fenômeno que ocorre quando a
surgiu pela primeira vez. Lua projeta sua sombra na superfície
terrestre é conhecido como Eclipse Lunar.
Questões
Alternativas
01. (Prefeitura de Iporã do Oeste/SC 01.D – 02.D
– Professor de Ciências –
AMEOSC/2019) Dos planetas que
compõe o sistema solar, os mais próximos Corpo humano: composição e
funcionamento e sua relação com o
à Terra são:
ambiente. Corpo Humano: relação entre
A - Marte e Mercúrio. alimentação, atividade física e saúde.
B - Vênus e Júpiter. Ações e as influências humanas no
C - Júpiter e Mercúrio. ambiente. Funções e características dos
D - Vênus e Marte. sistemas que compõem o corpo humano

02. (Prefeitura de Vinhedo/SP –


Professor de Educação Básica II – Organismos1819 seguem as regras da
Ciências – IBFC/2019) O Sol e a Lua são física e da química, e o corpo humano não
os corpos celestes mais próximos da é exceção. A Primeira Lei da
realidade humana na Terra. Apesar de os Termodinâmica se aplica ao seu
povos, desde os primórdios da história, metabolismo, que é todas as reações
serem curiosos a respeito das estrelas e do químicas que ocorrem em suas células ao
universo como um todo, o Sol e a Lua têm mesmo tempo.
sido os principais atores em nosso
magnífico teatro celestial. No Egito Dois tipos de reações químicas podem
Antigo, os eclipses do Sol eram explicados ocorrer quando um organismo metaboliza
como sendo ataques de uma serpente ao moléculas:
18
https://socientifica.com.br/enciclopedia/corpo-humano/ de Janeiro: Alta Books, 2020.
19
KRATZ, R. F.; SIEGFRIED, D. R. Biologia Essencial para Leigos. Rio

29
Ciências Naturais

• Reações As células possuem moléculas grandes


anabólicas constroem moléculas. As que contêm energia armazenada, mas
pequenas se combinam em grandes quando estão ocupadas trabalhando,
moléculas para reparo, crescimento ou precisam de uma fonte útil de energia. É aí
armazenamento. Como a síntese proteica que entra a ATP. As células mantêm a ATP
(molécula grande) a partir de aminoácidos à mão para fornecer energia para todo o
(moléculas pequenas). trabalho que fazem.
• Reações As moléculas dos alimentos na forma de
catabólicas quebram moléculas como proteínas, carboidratos e gorduras,
açúcares, gorduras ou proteínas para liberar fornecem a matéria e a energia de que todo
sua energia armazenada. ser vivo precisa para alimentar reações
anabólicas e catabólicas, e criar ATP.
Durante as reações químicas, os átomos
recebem novos parceiros de ligação e a Organismos precisam de matéria para
energia é transferida. construir suas células, crescendo, se
Cada tipo de molécula de alimento que regenerando e reproduzindo. Imagine
você conhece carboidratos, proteínas e que você rale o joelho e perca um pedaço de
gorduras, é uma molécula grande que se pele. Seu corpo repara o dano construindo
divide em subunidades. novas células da pele para cobrir a área
Os carboidratos complexos, também ralada. Assim como uma pessoa que
chamados de polissacarídeos, se constrói uma casa precisa de madeira ou
decompõem em açúcares simples, os tijolos, seu corpo precisa de moléculas para
monossacarídeos; as proteínas se construir novas células.
decompõem em aminoácidos; e gorduras e
óleos, em glicerol e ácidos graxos. Depois Organismos precisam de energia para
que as células quebram grandes moléculas se mover, produzir novos materiais e
de alimento em subunidades, reconectam- transportá-los pelas células. Essas
nas com facilidade às moléculas atividades são exemplos do trabalho
específicas, de que precisam. celular, os processos que ocorrem nas
As células transferem energia entre as células e exigem energia. Quando você
reações anabólicas e catabólicas usando sobe escadas, as células musculares das
um intermediário a adenosina trifosfato suas pernas se contraem e cada contração
(ou ATP, abreviado). A energia das gasta energia. Mas as atividades em que
reações catabólicas é transferida para a você decide se envolver não são as únicas
ATP, que então fornece energia para que exigem energia. Suas células
reações anabólicas. individuais precisam de energia para fazer
A ATP se liga a três fosfatos (tri- seu trabalho.
significa “três”; logo, trifosfato significa
“três fosfatos”). Quando ela fornece energia O alimento é um combo que contém
a um processo, um de seus fosfatos é duas coisas de que todo organismo precisa:
transferido para outra molécula, matéria e energia.
transformando a ATP em adenosina
difosfato (ADP). As células a recriam com Fotossíntese: Somente autótrofos,
energia de reações catabólicas para como plantas, algas e bactérias verdes,
reconectar um grupo fosfato à ADP. As participam da fotossíntese, um processo
células constroem e decompõem ATP o que consiste em usar energia do sol,
tempo todo, dando origem ao ciclo dióxido de carbono do ar e água do solo
ATP/ADP. para produzir açúcares. (O dióxido de
carbono fornece a matéria de que as
plantas precisam para produzir alimento.)

30
Ciências Naturais

Quando as plantas removem átomos de No passado, os seres humanos tinham


hidrogênio da água para usar nos açúcares, que trabalhar pesado para encontrar comida
liberam oxigênio residual. e, às vezes, voltavam de mãos vazias. Para
Respiração celular: Tanto autótrofos sobreviver, o corpo humano desenvolveu
quanto heterótrofos fazem respiração um mecanismo de armazenamento de
celular, um processo que usa oxigênio para energia que pode ser usado durante os
ajudar a quebrar moléculas de alimentos, períodos de baixa ingestão de alimentos.
como açúcares. A energia armazenada nas Ele conserva a gordura rica em energia em
ligações das moléculas dos alimentos é seus quadris, coxas, abdômen e nádegas.
transferida para ATP. À medida que a Então, se ingerir em um dia mais calorias
energia é transferida para as células, a do que o necessário, as calorias extras serão
matéria das moléculas dos alimentos é armazenadas como gordura no tecido
liberada como dióxido de carbono e água. adiposo. Cada 3.500 calorias extras
equivalem a cerca de 400g de gordura. E o
Se você pensar a respeito, a fotossíntese seu corpo não abre mão da energia extra
e a respiração celular são os opostos um do com facilidade! Se continuar consumindo
outro. A fotossíntese consome dióxido de mais calorias do que gasta, você ganhará
carbono e água, produzindo alimentos e peso, porque é muito mais fácil para o seu
oxigênio. A respiração celular consome corpo criar gordura do que usá-la.
alimentos e oxigênio, produzindo dióxido
de carbono e água. Sistemas do Corpo Humano
Seu corpo absorve energia potencial
química quando você se alimenta, e depois Os sistemas que compõem o corpo
transfere a energia desse alimento para as humano podem ser divididos em:
células. Quando usa energia para se esquelético, circulatório, nervoso,
exercitar, ela é transformada em calor, que muscular, sensorial, nervoso, circulatório,
você transfere para o ambiente. respiratório, digestório, endócrino,
urinário, reprodutor, imunológico e
A energia pode ser medida de diversas tegumentar.
maneiras, e a energia dos alimentos é
medida em calorias. Basicamente, uma Sistema esquelético
caloria é uma unidade de medida de energia O Sistema esquelético é a fundação do
térmica. É necessária 1 caloria para elevar a corpo humano, pois é o que nos sustenta e
temperatura de 1 grama de água em 1 grau dá forma. Esse sistema consiste em entre
Celsius (não Fahrenheit). As calorias que 206 e 213, em um corpo humano adulto, e
você conta e vê descritas nas embalagens 270 em bebês (durante o crescimento,
são, na verdade, quilocalorias. (Quilo alguns ossos se fundem), além de
significa “mil”, portanto uma quilocaloria cartilagens, ligamentos e tendões. Apesar
equivale a mil calorias.) As quilocalorias de também fazerem parte do sistema
são representadas por um C maiúsculo, esquelético, os dentes não são
enquanto as calorias são representadas por considerados ossos.
um c minúsculo. De agora em diante, Além de sustentar o corpo, o sistema
usamos o termo Caloria (com C maiúsculo) esquelético também protege órgãos
para representar as quilocalorias das internos e atua juntamente ao sistema
informações nutricionais com as quais você muscular para permitir que o corpo humano
está familiarizado. se movimente. Uma outra função muito
Se você se exercita, precisa consumir importante desse sistema, é a produção de
calorias adicionais para suprir seu corpo células sanguíneas na medula óssea e o
com a energia necessária para o aumento de armazenamento de sais minerais, tais como
atividade física. o cálcio.

31
Ciências Naturais

Sistema muscular Sistema respiratório


O sistema muscular é formado por cerca O sistema respiratório é o que nos
de 650 músculos que auxiliam no permite absorver oxigênio e expelir dióxido
movimento, sustentação do corpo e fluxo de carbono, processo conhecido como
sanguíneo. Os músculos podem ser respiração. O oxigênio será carregado
através do sangue para células por todo o
divididos em duas categorias: voluntários, corpo e utilizado na respiração celular.
que são coordenados pelo sistema nervoso, O sistema respiratório é basicamente
ou involuntários, que funcionam composto por pulmões e diversos tubos que
independente da vontade da pessoa, como o garantem a comunicação entre o órgão e o
coração ou os músculos presentes no resto do corpo. Esse sistema pode ser
intestino. dividido em: porção condutora (fossas
nasais, faringe, laringe, traqueia, brônquios
Existem três tipos de músculos: e bronquíolos) e porção respiratória
• Músculos (bronquíolos respiratórios, ductos
alveolares e alvéolos).
esqueléticos, que são ligados aos ossos e
auxiliam os movimentos voluntários;
Sistema circulatório
• Músculos lisos,
O sistema circulatório, também
que se encontram dentro dos órgãos e
conhecido como cardiovascular, é o
ajudam a mover substâncias através desses.
sistema responsável pelo transporte de
• Músculos
oxigênio e nutrientes pelo corpo. Esse
cardíacos, que se encontram no coração e
sistema é constituído pelo coração e vasos
ajudam a bombear o sangue.
sanguíneos.
Sistema sensorial
A circulação sanguínea é dividida em:
O sistema sensorial é o conjunto de
• Pequena
células e órgãos, chamados receptores,
circulação ou circulação pulmonar: é o
responsáveis por captar informações do
circuito que o sangue percorre do coração
ambiente e enviar para o sistema nervoso,
ao aos pulmões, e vice-versa.
através de impulsos elétricos. É dessa forma
• Grande
que sentimos odores, gostos e texturas.
circulação ou circulação sistêmica: é o
Os principais órgãos desse sistema são:
caminho de irrigação do coração às demais
olhos, língua, ouvidos, nariz e pele.
partes do corpo humano.
Sistema nervoso
Sistema digestório
O sistema nervoso controla tanto as
O sistema digestório é responsável pela
ações voluntárias do corpo humano, como
digestão de alimentos, a absolvição de
movimentos conscientes, por exemplo,
seus nutrientes e eliminação do que não
andar, correr, estender os braços, etc,
pode ser aproveitado pelo corpo.
quanto ações involuntárias, como a
respiração, Além disso, é responsável
O sistema digestório é formado pelos
enviar sinais para diferentes partes do
seguintes órgãos:
corpo.
Boca: é onde a digestão começa, já na
O sistema nervoso pode ser dividido em:
mastigação do alimento e na liberação de
central, que inclui o cérebro e a medula
enzimas digestivas; da Faringe, o alimento
espinhal e periférico, que é formado por
seguirá em direção ao esôfago;
nervos, que conectam todo o corpo ao
Esôfago: esse órgão é um músculo liso
sistema nervoso central.
que produz contrações, chamadas
peristálticas, para que o alimento chegue
ao estômago.

32
Ciências Naturais

Estômago: é onde o suco gástrico é O sistema reprodutor masculino inclui:


produzido e o alimento digerido; Testículos, são glândulas localizadas na
Intestino delgado: esse, com cerca de 6 bolsa escrotal, que produzem os
metros, é a parte mais longa do sistema hormônios masculinos e os
digestório. É no intestino delgado onde espermatozoides, as células reprodutoras
ocorre a absorção de nutrientes; masculinas;
Intestino grosso é onde se forma a Vesícula seminal, produtora do líquido
massa fecal, o material não absorvido pelo seminal, que neutraliza a urina, protegendo
corpo, que será eliminado pelo ânus. os espermatozoides;
Próstata, que libera uma secreção que
Além desses órgãos, as chamadas também compõe o esperma;
glândulas acessórias são importantes nesse Uretra, canal que atende ao sistema
processo: as glândulas salivares que, como urinário, mas também ao reprodutor,
já vimos, liberam enzimas digestivas; do servindo de caminho para o esperma;
pâncreas, que produz o suco pancreático, Pênis, que é por onde o esperma será
que também contém enzimas necessárias a expelido;
digestão; e o fígado, que produz a bile,
responsável pela emulsificação de O sistema reprodutor feminino consiste
gorduras. em:
Ovários, responsáveis pela produção
Sistema urinário dos hormônios sexuais femininos;
O sistema urinário é responsável pela Tubas uterinas, responsáveis por unir
produção, armazenamento e eliminação da ovários ao útero;
urina, um processo necessário para Útero, que acomodar o feto em
auxiliar o corpo a expelir resíduos desenvolvimento;
desnecessários. Esse resíduo é chamado de Vagina, que tem as funções de servir de
ureia e é produzido quando determinados passagem para o sangue menstrual, para a
alimentos são decompostos. penetração do pênis durante a relação
O sistema urinário consiste em dois rins, sexual e para a saída o bebê.
dois ureteres, bexiga e a uretra. A urina
produzida pelos rins, desce pelos ureteres Durante a concepção, um
até a bexiga e sai do corpo pela uretra. espermatozoide se funde com um óvulo,
que cria um óvulo fertilizado, chamado
Sistema endócrino zigoto, que cresce no útero. A gestação
O sistema endócrino consiste em um humana dura em torno de 40 semanas.
conjunto de glândulas que liberam
hormônios no sangue. Esses hormônios Sistema imunológico
percorrem diferentes tecidos e regulam O sistema imunológico é a defesa do
várias funções corporais, como a função corpo contra bactérias, vírus e outros
sexual, metabolismo e crescimento e patógenos que podem ser prejudiciais ao
função sexual. Por exemplo, uma das corpo humano. O sistema imunológico é
glândulas do pâncreas libera os hormônios ativado quando os antígenos (proteínas na
chamados de insulina e glucagon, que superfície de bactérias, fungos e vírus) se
regulam o açúcar no sangue. ligam a receptores nas células
imunológicas, alertando o corpo sobre sua
Sistema reprodutor presença. Esse processo é conhecido como
O sistema reprodutor permite que os resposta imune.
humanos se reproduzam. Há dois tipos de resposta imune: a inata
ou não específica (barreiras físicas,
químicas ou biológicas que nascem com o

33
Ciências Naturais

ser humano, como cílios, suor ou muco) e I. O sistema cardiovascular humano


a adquirida ou específica (que se adapta a atua na distribuição de substâncias para
situações específicas, é o caso de todas as células do corpo.
anticorpos). II. O sistema nervoso humano ajuda na
percepção de mudanças no meio externo e
O sistema imunológico é composto por: interno do corpo.
Baço, que filtra o sangue; Marque a alternativa CORRETA:
Linfonodos que, espalhados pelo corpo, A - As duas afirmativas são
filtram a linfa, fluido que contém verdadeiras.
leucócitos, que ajudam o corpo a combater B - A afirmativa I é verdadeira, e a II é
infecções; falsa.
Medula óssea, que produz hemácias, C - A afirmativa II é verdadeira, e a I é
leucócitos e plaquetas; falsa.
Apêndice, onde se concentram os D - As duas afirmativas são falsas.
leucócitos;
Timo, glândula que produz linfócitos. Alternativas
01.D – 02.A
Sistema tegumentar
O sistema tegumentar é a pele, o maior
órgão do corpo, pelos, cabelos e unhas.
Esse sistema protege o corpo humano, Ensino Investigativo, Alfabetização
sendo a primeira defesa contra bactérias e científica e contextualização
vírus, por exemplo. A nossa pele também
ajuda a regular a temperatura corporal e a
eliminar os resíduos através da O ensino de investigação de
transpiração. Ciências2021 é uma prática pedagógica
facilitadora da alfabetização científica do
Questões ensino fundamental.
A sala de aula é um espaço de encontro
01. (Prefeitura de Conhcas/SP – entre conhecimentos diversos. A relação
Professor PEB II - Ciências – pedagógica, composta pelo professor,
MetroCapital Soluções/2019) Como se alunos e conhecimentos, envolvendo
sabe, o corpo humano é composto de diferentes dimensões.
vários órgãos, os quais estão interligados Podemos destacar: as de ordem afetiva,
formando um sistema. Nesse sentido, relacionadas às expectativas de cada um;
pode-se afirmar que o esôfago faz parte do as de ordem pedagógica, relacionadas aos
sistema: recursos didáticos e diferentes estratégias
A - Endócrino. de ensino que o professor tem à sua
B - Reprodutor. disposição, e as de ordem epistemológica,
C - Respiratório. relacionadas às características do
D - Digestório. conhecimento que se deseja ensinar. Todas
E - Excretor. essas dimensões estão envolvidas na
tomada de decisões do professor e em suas
02. (Prefeitura de Olivença/AL – ações, o que exige um trabalho de
Professor de Ciências – constante aperfeiçoamento.
ADM&TEC/2019) Leia as afirmativas a Uma atividade pode ser considerada
seguir: investigativa quando não se limita apenas
à memorização, porém quando leva o
20
l1nq.com/fXUVs
21
CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de ciências por investigação. São
Paulo: Cengage Learning, 2013.

34
Ciências Naturais

estudante a reflexão, a discussão, a


problematização e questionamentos, além CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. O
da mesma oferecer um espaço para que os ensino de ciências e a proposição de
aprendentes compartilhem suas ideias e sequências de ensino investigativas.
opiniões. In:CARVALHO, Anna Maria Pessoa de.
A Alfabetização Científica (Org.). Ensino de Ciências por
configurado-se no objetivo principal do Investigação: condições para
ensino das ciências na perspectiva de implementação em sala de aula. São
contato do estudante com os saberes Paulo: Cengage Learning, 2013
provenientes de estudos da área e as
relações e os condicionantes que afetam a
construção de conhecimento científico.
O objetivo22 deste livro é dar visibilidade
Questões para questões importantes e atuais
relacionadas ao ensino-aprendizagem de
01. (Prefeitura de Itapiranga/SC – Ciências por investigação, de modo a
Professor de Ciências – auxiliar professores do Ensino
AMEOSC/2021) Gabriel é um professor Fundamental a aprimorar seus conhe-
de Ciências da Escola Florentino Avidos e cimentos sobre este tema.
ele precisa de estabelecer uma No capítulo “O ensino de Ciências e a
metodologia de ensino da sua matéria com proposição de sequências de ensino
um conteúdo específico para Ciências. investigativas”, Anna Maria Pessoa de
Gabriel não quer ser um professor Carvalho apresenta as bases teóricas que
tradicionalista, apenas baseado em fundamentam a abordagem de ensino de
conteúdo, somente estabelecendo uma Ciências por investigação. Além de
relação de ensino do tipo transmissão - discorrer sobre as contribuições de Jean
recepção. Dessa forma, ele apresenta Piaget e Lev Vigotsky para a compreensão
algumas metodologias no processo de dos processos envolvidos na construção de
ensino-aprendizagem, dispostos abaixo, conhecimentos pelos alunos e o papel do
EXCETO: professor em guiá-los nessa construção, a
A - A principal metodologia exposta autora discute características do
pelo Gabriel é a prática voltada conhecimento científico que precisam ser
exclusivamente ao conteúdo científico consideradas para a elaboração de
baseado apenas nos livros didáticos. atividades de ensino que sejam
B - A pesquisa que é uma atividade que representativas dessa área de conhecimento
ensina o aluno a estudar propiciando o e que proporcionem condições para a
desenvolvimento de habilidades de inserção dos estudantes no universo da
localizar, selecionar e usar informações Ciência. Os elementos envolvidos na
para aprender com independência. criação de sequências investigativas de en-
C - Gabriel adota a metodologia de sino e sua condução em sala de aula,
pesquisa baseada no princípio investigativo apresentados neste capítulo, voltam a ser
em que o principal é o desenvolvimento do explorados nos capítulos posteriores, de
pensamento crítico científico. modo a oferecer ao leitor a oportunidade de
D - As práticas experimentais com o aprofundar-se na discussão de cada um
objetivo de melhorar a aprendizagem do deles.
conteúdo científico em que os alunos No capítulo “Problematização no ensino
conseguem aplicar o conhecimento de Ciências”, Maria Candida Varone de
adquirido. Morais Capecchi apresenta a
Alternativas problematização como um processo que
01.A não se limita à apresentação de enunciados
22
CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de ciências por investigação. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

35
Ciências Naturais

bem estruturados, mas que envolve a uma aproximação entre os alunos e os


inserção gradativa dos estudantes em novas conceitos científicos e para que a leitura
formas de olhar e falar sobre fenô-menos. seja bem aproveitada é necessário o
Por meio da análise de uma situação de sala desenvolvimento de estratégias com os
de aula em que foi realizada uma atividade alunos.
de experimentação investigativa, a autora No capítulo “Por que os objetos
explora o papel das interações discursivas flutuam? Três versões de diálogos entre as
estabelecidas entre professora e alunos e explicações das crianças e as explicações
dos alunos entre si na construção desse científicas”, Maria Lucia Vital dos Santos
novo olhar. Abib apresenta três exemplos de atividades
No capítulo “Interações discursivas e experimentais sobre o mesmo tema,
investigação em sala de aula: o papel do estruturadas em diferentes níveis de
professor”, Lúcia Helena Sasseron discute dificuldade. Levando-se em conta a
as ações do professor que fomentam o apresentação de resultados de pesquisas
processo de argumentação em aulas de sobre concepções de crianças e ado-
Ciências tendo em vista a alfabetização lescentes e das explicações científicas para
científica. A autora identifica duas esferas o tema flutuação dos corpos, a autora
de atuação do professor, uma delas discute o papel mediador do professor e
relacionada a propósitos pedagógicos e a possíveis formas de atuação dos alunos em
outra relacionada a propósitos epis- cada uma das atividades propostas.
temológicos, que se misturam na No capítulo “Sobre a natureza da
constituição desse processo. Para ilustrar Ciência e o ensino”, Viviane Briccia
essa discussão, são expostos processos de explora a relação entre visões de Ciências e
argumentação ocorridos em duas aulas formas de ensino dessa disciplina em sala
distintas, uma delas que compreende a de aula. A partir da apresentação das
realização de uma atividade de experi- principais distorções sobre a natureza do
mentação e a outra que envolve a leitura de conhecimento científico, identificadas por
um texto. pesquisadores tanto na divulgação
No capítulo “O que se fala e se escreve científica como no ensino de Ciências, a
nas aulas de Ciências?”, Carla Marques autora propõe formas de trabalho em sala de
Alvarenga de Oliveira discorre sobre a aula que possibilitam a formação de visões
importância de momentos de discussão mais adequadas, discutindo, por meio de
entre os estudantes e dos registros escritos exemplos, o papel do professor em
dessas discussões na organização e promovê-las.
sistematização dos conhecimentos No capítulo “A Biologia e o ensino de
trabalhados em aulas de Ciências. Para ilus- Ciências por investigação: dificuldades e
trar esse tema, a autora apresenta a análise possibilidades”, Daniela Lopes Scarpa e
dos argumentos desenvolvidos por uma Maíra Batistoni e Silva discutem algumas
aluna, tanto em discussões orais como em das especificidades da biologia que
registros escritos, ao longo de três aulas de precisam ser consideradas quando se almeja
uma sequência de ensino investigativa. um ensino pautado na investigação.
No capítulo “Ciências e leitura: um Levando-se em conta a identificação de di-
encontro possível”, Luciana Sedano discute ficuldades envolvidas na realização de
o papel de atividades de leitura no ensino de experimentos investigativos com temas de
Ciências por meio da apresentação de biologia, as autoras defendem a
resultados de uma pesquisa voltada para a necessidade de utilização de modalidades
análise da qualidade das leituras realizadas di-dáticas diversas para a promoção de um
por alunos ao longo de uma sequência de ensino dinâmico e criativo nos moldes da
ensino de Ciências. A autora argumenta que alfabetização científica. Para ilustrar essa
o texto nas aulas de Ciências contribui para proposta, são apresentados dois exemplos

36
Ciências Naturais

de iniciativas que buscam superar as uma larga visão histórica e cultural.


dificuldades identificadas. O ensino por investigação e a
Podemos concluir que o leitor terá um argumentação, por outro lado, cumprem
amplo material sobre estratégias para o uma função dupla em nossas pesquisas: ao
ensino de Ciências por investigação, seus mesmo tempo em que representam
fundamentos teóricos e as ações do modalidades de interação trabalhadas para
professor ao conduzi-las. É importante o desenvolvimento da Alfabetização
destacar que o propósito não é levar o Científica em sala de aula, constituem-se
professor à mera reprodução das propostas em formas de estudo dos dados
aqui apresentadas, mas propiciar elementos provenientes de nossas pesquisas
para que reflita sobre suas próprias aulas e (CARVALHO, 2013; MACHADO;
elabore seus planos de trabalho. SASSERON, 2012; FERRAZ;
SASSERON, 2012; entre outros). Essa
dubiedade, que pode ser encarada como
SASSERON, Lúcia Helena. Alfabetização um empecilho a um estudo cuidadoso e
científica, ensino por investigação e
criterioso, tem nos possibilitado avanços
argumentação: relações entre ciências da
natureza e escola. Revista Ensaio, Belo no entendimento que vemos construído
Horizonte, v. 17, n. especial, p. 49-67, nov. acerca do papel de professores e
2015 estudantes no desenvolvimento de um
Ensino de Ciências que possa atender às
demandas sociais e oficiais em termos de
O objetivo23 é discutir e buscar relações formação de pessoas, sujeitos na sociedade
entre as ideias que circundam a atual.
Alfabetização Científica, o Ensino por O objetivo com este trabalho é discutir
Investigação e a Argumentação em a escola como um espaço de culturas,
situações de Ensino de Ciências da destacando a influência da cultura escolar
natureza. Para tanto, optamos por trazer à para o desenvolvimento de práticas
tona discussões acerca da escola como um didáticas. Ao mesmo tempo, discutimos
espaço em que culturas são apresentadas, aspectos vinculados à cultura científica.
produzidas e negociadas. Ao longo do Desse modo, torna-se possível refletir
texto, identificamos elementos que acerca de uma pretensa cultura científica
configuram a cultura escolar e a cultura escolar e, junto a isso, identificar como a
científica. Nossa proposta discute Alfabetização Científica, o Ensino por
movimentos para a concretização de uma Investigação e a Argumentação podem se
cultura híbrida nas aulas de ciências da relacionar e contribuir para o aprendizado
natureza: a cultura científica escolar. das ciências da natureza em sala de aula.
Finalizamos o texto destacando de que O ensino de ciências da natureza cujo
modo a Alfabetização Científica, o Ensino objetivo maior seja a Alfabetização
por Investigação e a Argumentação Científica precisa considerar perspectivas
permitem a concretização do culturais da escola e das ciências,
estabelecimento da cultura científica engendrando ações que respeitam e
escolar. conciliam normas e práticas de ambas as
A Alfabetização Científica tem se culturas, mas que, ao mesmo tempo,
configurado no objetivo principal do percebe a importância de o Ensino de
ensino das ciências na perspectiva de Ciências (ou o de qualquer outra disciplina
contato do estudante com os saberes escolar) ser trabalhado na perspectiva de
provenientes de estudos da área e as Ensino de Ciências. Não se trata, pois, de
relações e os condicionantes que afetam a pautar como objetivo a formação de
construção de conhecimento científico em
23
https://www.scielo.br/j/epec/a/K556Lc5V7Lnh8QcckBTTMcq/?lang=pt &format=pdf

37
Ciências Naturais

cientistas; assim como não deve ser


almejada a formação de estudantes que
saibam usar os conhecimentos aprendidos
tão somente em práticas circunscritas no
âmbito escolar. O uso da abordagem
didática do ensino por investigação
parece-nos muito profícuo para o
estabelecimento dessa cultura híbrida, a
cultura científica escolar, permitindo que a
argumentação, em sua forma e estrutura
correspondente ao trabalho científico,
faça-se presente e explicite o
desenvolvimento dos estudantes para
atuação e pertencimento à sociedade em
que vivem, conhecendo e reconhecendo
seus problemas e ajudando a enfrentá-los.

Caso queira ter acesso à íntegra deste


material, disponibilizo o link abaixo:
https://www.scielo.br/j/epec/a/K556Lc
5V7Lnh8QcckBTTMcq/?lang=pt&format
=pdf

38
Geografia

SUMÁRIO

Representação cartográfica por meio do uso dos mapas. Primeiras noções de


pertencimento contextualizadas cultura e espacialmente. Primeiras noções espaciais,
os primeiros conceitos, o alfabeto cartográfico e os processos de raciocínio ......... 1
Os espaços livres e áreas verdes do lugar de vivência da criança ...................... 7
O trabalho na família e na escola ...................................................................... 10
Noções de diversidade cultural e os processos de formação do povo brasileiro: o
reconhecimento da importância dos processos migratórios na formação social e cultural
da Cidade de São Paulo ......................................................................................... 14
Primeiras noções de ciclo hidrológico e a importância da água no cotidiano .. 23
Estudos sobre o trabalho no campo e na cidade, com enfoque nas relações de
interdependência e integração, por meio da circulação de mercadorias e matérias-
primas .................................................................................................................... 26
CASTELLAR, Sonia; VILHENA, Jerusa. Ensino de geografia. Coleção Ideias em
ação- Cengage.2011 .............................................................................................. 30
STRAFORINI, Rafael. Ensinar geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries
iniciais. São Paulo: Annablume, 2004 .................................................................. 35

Apostilas Domínio
Geografia

Tipos de Mapas
Representação cartográfica por meio do Os mapas podem ser classificados por
uso dos mapas. Primeiras noções de temas.
pertencimento contextualizadas cultura e • Mapas políticos: representam a divisão
espacialmente. Primeiras noções territorial em municípios, estados, países,
espaciais, os primeiros conceitos, o
continentes e suas capitais e cidades
alfabeto cartográfico e os processos de
raciocínio
importantes.
• Mapas físicos: representam um ou
vários elementos naturais, como os rios
(hidrografia), as formas de relevo, as
Há diferentes formas de representação
diferentes altitudes, os tipos de vegetação,
da superfície terrestre. Os mapas, assim
entre outros.
como as plantas, são representações
• Mapas econômicos: apresentam
reduzidas em duas dimensões
aspectos relacionados às atividades
(comprimento e largura); por isso são
econômicas, como a distribuição das
classificados como bidimensionais. Eles
indústrias, a localização de matérias-
são elaborados em um plano e, como você
primas, atividades agropecuárias, tipos de
já deve ter visto, podem ser apresentados
comércio e serviços, etc.
em vários suportes, como o papel ou a tela
• Mapas demográficos: apresentam
de um computador, por exemplo1.
informações relacionadas às populações,
Já a maquete é uma representação
como a densidade demográfica,
tridimensional da superfície terrestre, que
movimentos migratórios, etc.
apresenta os elementos em suas três
• Mapas históricos: apresentam
dimensões – comprimento, largura e
informações sobre determinado momento
profundidade –, da forma como nós os
histórico.
vemos na realidade, só que em miniatura
(reduzido). Para a elaboração de maquetes A Linguagem Cartográfica
pode-se utilizar diversos materiais, como Os mapas e as plantas são um meio de
papel, plástico, madeira, argila, entre comunicação que representa diferentes
outros. aspectos do mundo real, como o relevo, o
clima, a rede de transportes, o traçado das
A diferença entre mapa e planta
ruas em uma cidade, entre muitos outros.
Os mapas representam áreas extensas da
Isso é feito por meio de uma linguagem
superfície da Terra; por isso não mostram
específica, a linguagem cartográfica, para
muitos detalhes. Para representar todos os
que qualquer pessoa possa ler e entender o
países em um mesmo mapa, por exemplo,
que eles estão informando. Nessas
elabora-se mapas-múndi, também
representações, as informações da realidade
chamados planisférios.
são apresentadas por meio de linhas, pontos
Neles, mesmo as grandes cidades
e áreas, dependendo da forma como se
aparecem como pontos muito pequenos.
manifestam no espaço geográfico, e podem
Já as plantas são representações de áreas
variar de tamanho, forma e cor, por
bem menos extensas da superfície da Terra,
exemplo. O significado de cada elemento
e, por isso, mais detalhadas do que os
representado aparece na legenda do mapa.
mapas. Para pesquisar as ruas de uma
Além disso, os mapas, por serem
cidade, por exemplo, utiliza-se uma planta
representações reduzidas da realidade, que
urbana.
mantêm uma proporção entre as distâncias
e o que é representado, também apresentam
uma escala cartográfica, que determina o
nível de detalhamento das informações.
1 Sene, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil, 6o ano: ensino fundamenta, anos finais. São Paulo. Scipione, 2018.

1
Geografia

Dependendo da escala utilizada, uma


cidade pode aparecer como um ponto num
mapa do mundo ou ter o traçado de suas
ruas representado em uma planta urbana,
como nos exemplos da página anterior.
A seleção, organização e apresentação
das informações a serem representadas nos
mapas e plantas são tarefas dos
profissionais que trabalham com
Cartografia.
Observe no mapa abaixo a legenda, a
escala e os outros elementos de um mapa.

Espaço Geográfico: orientação


No mapa anterior, para representar a área
Todas as pessoas moram em
dos estados do Brasil, a variável visual
determinada parte da superfície terrestre ou
utilizada foi a cor, pois a intenção era
do espaço geográfico. Ao dizer onde mora,
apenas diferenciar um estado do outro.
você está fornecendo a localização de sua
Observe agora nos mapas seguintes outras
moradia. Contudo, se quisesse informar a
variáveis utilizadas nas representações.
alguém como fazer para ir aonde você
Em representações que exigem uma
mora, talvez apenas o endereço não fosse
ordenação, também podemos utilizar a cor.
suficiente. Seria necessário fornecer outras
No primeiro mapa ao lado, áreas de
informações para que a pessoa pudesse se
altitudes diferentes foram coloridas de
orientar.
forma ordenada.
As informações necessárias para que as
Quando elementos diferentes exigem
pessoas se orientem no espaço geográfico
uma localização pontual, podemos
dependem da época e do lugar onde vivem
representá-los por meio de formas distintas.
e por onde circulam. Dependem também, de
Em representações que exigem
certa forma, da maneira como vão se
proporcionalidade, podemos utilizar a
locomover (se a pé ou utilizando algum
diferença de tamanho.
meio de transporte).
Para se deslocar no espaço geográfico, as
pessoas procuram utilizar pontos de
referência que facilitem sua orientação.
Na Antiguidade, por exemplo, se a
distância a ser percorrida não fosse muito

2
Geografia

longa, as referências podiam ser um rio, um É importante ressaltar que a orientação


lago, um monte. Ainda hoje, referências pelos astros sempre se dá de forma
desse tipo são utilizadas para a orientação aproximada e só é possível com o céu
em algumas comunidades, e alguns povos limpo, sem nuvens.
indígenas utilizam referenciais da paisagem
natural e conhecimentos que foram Os pontos de orientação
passados de geração a geração para se A observação do Sol foi usada para criar
orientar. Os moradores das cidades podem um conjunto de pontos de orientação que
utilizar também elementos da paisagem são chamados de pontos cardeais: leste (L),
cultural (prédios, estabelecimentos oeste (O), norte (N) e sul (S).
comerciais, entre outros) para indicar uma Com base nos pontos cardeais, foram
localização. criados pontos intermediários, ou seja,
Mas como se orientar em espaços pontos entre os pontos cardeais, que são os
maiores, como no mar ou no céu, onde não colaterais:
existem esses pontos de referência? • nordeste (NE), entre o norte e o leste;
Para distâncias maiores, os povos • noroeste (NO), entre o norte e o oeste;
antigos aprenderam a observar as estrelas, • sudeste (SE), entre o sul e o leste;
inclusive o Sol, e também a Lua, guiando- • sudoeste (SO), entre o sul e o oeste.
se pela posição desses astros no céu. A
observação dos astros foi por muito tempo Há ainda os pontos que estão entre os
um importante referencial para a orientação cardeais e os colaterais, que são os
dos indivíduos em grandes deslocamentos subcolaterais:
na Terra. Mas, com o avanço da tecnologia, • nor-nordeste (NNE);
como vimos na Unidade 1, surgiram muitos • su-sudoeste (SSO);
recursos tecnológicos, como a bússola e o • és-nordeste (ENE);
GPS. • oés-sudoeste (OSO);
• és-sudeste (ESE);
A orientação pelo Sol • oés-noroeste (ONO);
Com base na observação dos astros, • su-sudeste (SSE);
especialmente do Sol, os seres humanos • nor-noroeste (NNO).
criaram pontos de orientação como norte, O conjunto de todos esses pontos –
sul, leste e oeste. cardeais, colaterais e subcolaterais – deu
Ao observar o movimento aparente do origem a uma representação gráfica
Sol, percebeu-se que todas as manhãs essa denominada rosa dos ventos.
estrela surge do mesmo lado no céu, ao que
se convencionou chamar de nascente, leste,
este ou oriente.
Constataram também que todos os dias o
Sol se põe ou desaparece do lado oposto ao
lado onde surge, e deram o nome de poente,
oeste ou ocidente.
A partir desses pontos de orientação,
estabeleceram-se os pontos norte e sul.
Se estendermos o braço direito para o
leste, o braço esquerdo estendido apontará As coordenadas geográficas
para o oeste. À frente, estará o norte, Para localizar com precisão determinado
também chamado de setentrional ou boreal, lugar no espaço geográfico, a informação
e às costas, o sul, também conhecido como baseada apenas nos pontos de orientação
meridional ou austral. não é suficiente, pois eles indicam somente
uma localização aproximada.

3
Geografia

A forma como as pessoas se orientam no Antártico, no hemisfério sul.


espaço, como se observou anteriormente, Os meridianos são linhas traçadas do
depende das características de cada espaço polo norte ao polo sul. Cada meridiano
geográfico, da cultura de um povo, dos equivale à metade de um círculo. Todos os
recursos de localização disponíveis e do meridianos têm o mesmo tamanho, o que
tipo de meio de transporte utilizado. Por não acontece com os paralelos.
exemplo, os pilotos dos navios e dos aviões, A cada meridiano corresponde outro
as pessoas que caminham por florestas e oposto, chamado antimeridiano, com o qual
desertos, longe das estradas, e, hoje em dia, se completa uma circunferência em torno da
os motoristas diariamente para evitar o Terra, passando pelos polos.
trânsito das cidades orientam-se por meio Todos os meridianos e seus
de equipamentos que lhes fornecem a antimeridianos dividem a Terra em duas
localização, como o GPS. partes (dois hemisférios), mas ficou
Para fornecer a localização, esses estabelecido que um deles seria usado como
equipamentos baseiam-se em um sistema referência para essa divisão. Esse
de coordenadas geográficas, ou seja, linhas meridiano, que passa pelo Observatório
imaginárias que se cruzam sobre a esfera Real de Greenwich, na região metropolitana
terrestre. Essas linhas são denominadas de Londres, Inglaterra, é chamado de
paralelos e meridianos. meridiano de Greenwich ou Principal. O
As linhas que vão de um polo a outro da meridiano de Greenwich e seu
Terra (semicírculos), no sentido norte-sul, antimeridiano dividem a Terra em
são chamadas de meridianos. As linhas que hemisfério ocidental (oeste) e hemisfério
dão uma volta completa ao redor da esfera oriental (leste).
terrestre, no sentido leste-oeste, são Se forem traçados 180 meridianos em
chamadas de paralelos. Os paralelos cada hemisfério, a distâncias iguais, cada
formam círculos completos. um deles equivalerá a um grau (1º). O
meridiano de Greenwich é o meridiano de
0º. Cada um dos hemisférios tem 180º.
Paralelos e Meridianos
O equador é um círculo imaginário
equidistante dos polos que divide a Terra
em hemisfério norte e hemisfério sul. Em
alguns países, há um monumento marcando
o local por onde essa linha imaginária
passa2.
Paralelamente ao equador, são traçados
outros círculos menores, chamados de
paralelos. Se forem traçados 90 paralelos
em cada hemisfério, a distâncias iguais,
cada um deles corresponderá a um grau
(1º). O equador é o paralelo principal ou
inicial (0º). Latitude e Longitude
Com base nas coordenadas geográficas,
Cada hemisfério vai de 0º a 90º. podemos localizar com precisão qualquer
Além do equador, quatro paralelos lugar da superfície da Terra. As medidas em
recebem nomes, por serem considerados graus das coordenadas geográficas de um
mais importantes: círculo polar Ártico e lugar indicam sua latitude e longitude.
trópico de Câncer, no hemisfério norte; A latitude é a distância em graus de um
trópico de Capricórnio e círculo polar lugar qualquer da superfície terrestre até a

2 Lucci, Elian Alabi. Geografia: território e sociedade, 6o ano: ensino fundamental, anos finais. Saraiva, 2018.

4
Geografia

linha do equador. Todos os lugares situados


em um mesmo paralelo têm a mesma
latitude. Tendo a linha do equador como
referência (paralelo de 0°), a latitude pode
ser norte ou sul, variando de 0° a 90°.
A longitude é a distância em graus de um
lugar até o meridiano de Greenwich. Todos
os lugares situados em um mesmo
meridiano têm a mesma longitude. Como
na esfera terrestre o meridiano de
Greenwich é o meridiano de 0°, a longitude
pode ser leste (este ou oriental) ou oeste
(ocidental), variando até 180°.
Projeção Cilindrica
Para determinar um ponto na superfície
terrestre por meio de sua latitude e
longitude, observa-se o cruzamento do
paralelo e do meridiano que passam por
esse ponto. Esse cruzamento determina uma
coordenada geográfica.

Projeções
Você já sabe que o planeta Terra tem a
forma aproximada de uma esfera. Então,
como fazer para representar essa forma em
uma superfície plana, como os mapas? Isso Projeção de Mercator

só é possível graças às projeções. Esse tipo


de representação, porém, apresenta alguns Se observar o globo terrestre, verá que os
problemas. É como abrir uma bola de paralelos são círculos de tamanhos
futebol em gomos e tentar montar com eles diferentes, dos quais o maior é o equador.
uma figura plana, como um retângulo. Eles vão ficando menores conforme se
Para representar uma superfície curva, aproximam dos polos.
como a da Terra, em uma superfície plana, Já os meridianos são semicírculos de
é preciso fazer algumas alterações, que mesmo tamanho que vão de um polo a
resultam em distorções. Uma das aplicações outro.
mais importantes das projeções é o Na projeção de Mercator, os paralelos
planisfério, que é a representação de toda a ficam do mesmo tamanho, e os meridianos
esfera em um só plano. não se encontram nos polos. Isso indica
Entre as projeções mais utilizadas para a que, nesse caso, as maiores deformações
elaboração do planisfério terrestre está a estão nas regiões polares, que ficam
projeção cilíndrica, criada em 1569 pelo bastante aumentadas. As regiões próximas
cartógrafo Gerhard Mercator (1512-1594). do equador são representadas com maior
exatidão.
Para preservar as proporções dos
continentes, o cartógrafo Arno Peters
(1916-2002) publicou, em 1973, o seu
planisfério. Como seu objetivo era
preservar as proporções, Peters acabou
distorcendo as formas, que ficaram
alongadas.

5
Geografia

A escala numérica é representada por uma


fração. No mapa anterior, lê-se “1 para 18 000
000 (1:18 000 000)”, ou seja, 1 cm no mapa
corresponde a 18 000 000 cm no terreno (na
realidade), ou seja, 180 km.
Dessa forma, se nesse mapa a distância entre
duas localidades, medida com a régua, for de 1
cm, isso quer dizer que a distância na realidade
entre elas é de 18 000 000 cm (ou 180 km); já
se a distância entre duas localidades for de 5 cm
Planisfério de Peters no mapa, a distância na realidade é de 5 vezes
18 000 000 cm, que equivale a 90 000 000 cm
Nas últimas décadas vem sendo muito (5 3 18 000 000 = 90 000 000), ou 900 km.
usada a projeção de Arthur Robinson Como geralmente expressamos as medidas
(1915-2004), já que apresenta distorções ou distâncias em metros ou quilômetros, temos
menos acentuadas nas proporções e nas de converter a unidade de medida para aquela
que desejamos utilizar.
formas.
O GPS
O GPS (sigla do termo inglês Global
Positioning System) é um sistema de orientação
e navegação por satélite desenvolvido e
operado pelo Departamento de Defesa dos
Estados Unidos. É constituído de um conjunto
de satélites que fica no espaço sideral em órbita
da Terra (observe a ilustração desta página); de
estações de controle e antenas de recepção, na
superfície terrestre; e de aparelhos receptores
móveis – o receptor GPS – de mão ou acoplados
Projeção de Robinson
a veículos terrestres, aéreos ou aquáticos. Os
satélites emitem ondas de rádio que podem ser
Escala cartográfica captadas em qualquer ponto do planeta. As
Para representar um cômodo, um quarteirão, ondas, recebidas de pelo menos quatro satélites,
um município, um país ou todos os países em servem para que o aparelho receptor calcule a
uma folha de papel, você já sabe que é preciso exata posição de seu usuário, fornecendo a
fazer uma numérica redução. E para que essa latitude, a longitude e a altitude, além do
redução mantenha uma proporção entre as horário exato.
medidas representadas e as reais, ela deve ser Atualmente, o GPS é o sistema de orientação
realizada por meio de uma escala. Em outras mais utilizado no mundo e no Brasil, mas
palavras, a escala informa quantas vezes o existem outros desenvolvidos para que os
tamanho real foi reduzido para ser representado países não fiquem dependentes do
no mapa ou na planta. fornecimento exclusivo de sinais do sistema
Um mapa-múndi apresenta uma escala estadunidense: o Glonass (operado pela
pequena porque exibe poucos detalhes em Rússia), o Beidou ou Compass (da China), o
função da redução ser muito grande. Já a planta IRNSS (Índia) e o Galileo.
de um quarto, por exemplo, apresenta uma
escala grande porque apresenta mais detalhes Questões
em virtude da pequena redução.
Há duas formas de representar a escala: a 01. (Prefeitura de Balneário
gráfica e a numérica. Camboriú/SC – Professor de Geografia –
A escala gráfica é representada por uma reta FEPESE - 2021) Analise o texto abaixo:
(ou barra) dividida em partes iguais, como uma Nas regiões mais distantes da linha do
régua. Ela permite visualizar mais rapidamente Equador, os raios solares atingem a superfície
a proporção entre o tamanho real e a terrestre de forma _________. Essa situação
representação. gera _________ concentração de calor na

6
Geografia

superfície; portanto, as temperaturas médias são diferentes, mesmo que tenham paisagens
mais ___________ que na zona próxima ao muito parecidas3.
Equador em determinada época do ano. Os lugares não estão isolados uns dos
Assinale a alternativa que completa outros. Eles se relacionam, uma vez que as
corretamente as lacunas do texto
pessoas, os governos e as empresas de
A - vertical • menor • altas
B - vertical • menor • baixas
lugares diferentes também estabelecem
C - vertical • maior • baixas relações. Isso acontece quando pessoas se
D - inclinada • menor • baixas locomovem de um lugar a outro para
E - inclinada • maior • baixas trabalhar, estudar e se divertir, quando são
veiculadas notícias e informações, quando
02. (IBGE – Supervisor de Coleta e são firmados acordos entre governos dos
Qualidade - CESPE/CEBRASPE - 2021) As países ou quando são realizadas compra e
coordenadas geográficas constituem um dos venda de produtos entre empresas de
elementos básicos dos mapas. Acerca desse lugares diferentes.
assunto, assinale a opção correta. São, portanto, as pessoas que dão sentido
A - A latitude máxima refere-se ao ângulo
ao lugar.
formado entre o plano da eclíptica e o eixo da
Terra.
B - As medidas em graus entre um
A História dos Lugares
meridiano e outro indicam as latitudes, Os lugares estão em permanente
estabelecidas a partir de um ponto zero. transformação, o que pode ser percebido
C - O valor de cada paralelo é determinado pelas alterações das paisagens. Em alguns
pelo ângulo formado entre o plano do equador lugares a alteração é lenta; em outros,
e o meridiano de referência. ocorre depressa. Da mesma forma, em
D - Por meio das coordenadas geográficas, é determinados momentos históricos há
possível relacionar a distância real com a mudanças mais rápidas do que em outros,
distância gráfica expressa nos mapas. mas sempre está havendo alguma
E - As coordenadas geográficas são alteração4.
determinadas com base na rede geográfica de
A observação de fotografias é uma das
linhas dispostas no sentido norte-sul e leste-
oeste.
maneiras pelas quais podemos comparar
Alternativas diferentes momentos históricos. Isso vale
01 – D | 02.E tanto para lugares como para objetos e
pessoas. Você já observou fotografias de
seus avós, pais ou pessoas de outras épocas?
Os espaços livres e áreas verdes do lugar O que elas podem revelar sobre aqueles
de vivência da criança tempos?
Na verdade, sempre que vemos uma
fotografia estamos olhando para o passado.
Quando registramos alguém ou alguma
Lugar
paisagem por meio de uma fotografia
Lugar é uma parte ou porção
estamos “congelando” um momento. E
determinada do espaço em que vivemos. O
quando comparamos uma fotografia atual
lugar é onde as pessoas moram, estudam,
com uma antiga de um mesmo lugar,
trabalham, consomem, ou seja, realizam as
podemos notar suas transformações. Em
atividades cotidianas e, portanto,
outras palavras, podemos perceber os
desenvolvem suas relações sociais, afetivas
efeitos da passagem do tempo.
e de solidariedade — de ajuda e
colaboração — ou de conflitos. Essas
relações fazem com que os lugares sejam

3 Lucci, Elian Alabi. Geografia: território e sociedade, 6o ano: ensino 4 Sene, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil, 6o ano: ensino
fundamental, anos finais. Saraiva, 2018. fundamenta, anos finais. São Paulo. Scipione, 2018.

7
Geografia

Preservando a História dos Lugares praça, ao lado do parque, próximo à igreja,


Uma das maneiras de conhecer a história entre outros.
de um lugar é por meio de seu patrimônio
cultural. Um patrimônio cultural é todo bem Sociedade
material (edificações, monumentos, obras As pessoas conseguem transformar os
de arte, praças, paisagens naturais, etc.) ou elementos da natureza em bens necessários
imaterial (festas, rituais, conhecimentos, à sobrevivência. Para isso, interferem nas
criações científicas, etc.) importante para paisagens, modificando-as.
uma comunidade, porque é um elemento Dessa forma, as transformações nas
significativo de sua identidade. paisagens e as atividades cotidianas são
Uma das maneiras de proteger um realizadas por indivíduos e pela sociedade.
patrimônio é o tombamento, para garantir O termo sociedade refere-se a grupos de
que ele não seja destruído nem modificado indivíduos (grupos sociais) que mantêm
e seja preservado para as gerações futuras. diversos tipos de relações entre si.
No Brasil, o Instituto do Patrimônio O primeiro grupo social do qual
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), participamos é a família; depois, passamos
criado em 1937, é um dos órgãos a integrar o grupo dos amigos, dos vizinhos,
responsáveis pelo tombamento de bens, da escola, de lazer, da comunidade
além dos órgãos estaduais e municipais. religiosa. Outros grupos sociais são, por
Também há tombamento de paisagens exemplo, o profissional (empresa) e o
naturais. A serra do Mar, por exemplo, político (organização política).
grande conjunto de serras recoberto pela
Mata Atlântica e que ocupa áreas de vários Grupo social e regras
estados brasileiros, entre eles Rio de Cada grupo social atua e estabelece as
Janeiro, São Paulo e Paraná, foi tombada relações entre seus membros, em boa parte,
pelos órgãos competentes de cada estado. de acordo com um conjunto de regras ou
normas. Essas regras ou normas, de certo
O lugar onde você mora modo, regulam a maneira de agir das
Se lhe perguntassem onde você mora, o pessoas. Elas podem ser combinadas pelos
que diria? membros dos próprios grupos, como é o
Ao responder, você estaria informando a caso da família, dos amigos ou dos
localização de sua moradia, que poderia vizinhos, e variam conforme a opinião e o
estar situada no campo ou na cidade. Sobre modo de pensar dessas pessoas.
a moradia, geralmente é informado: As normas e as regras podem ser
• o nome da rua, avenida ou praça; transmitidas oralmente, como nos grupos
• o número da moradia (casa ou prédio da família, dos amigos e das sociedades
de apartamentos). Se a pessoa mora em um indígenas, e também podem ser escritas,
prédio, é informado também o número do como ocorre nos grupos da escola, da
apartamento; empresa, da comunidade religiosa, do
• o nome do bairro. partido político e da sociedade brasileira.
É possível informar ainda o nome do Neste último caso, todas as pessoas que
município e do estado. Isso é necessário se, vivem no Brasil devem respeitar um
por exemplo, vamos receber uma conjunto de normas ou regras, que são as
correspondência pelo correio. Para isso, é leis.
preciso fornecer também o Código de Determinadas regras, com caráter de lei,
Endereçamento Postal (CEP). influenciam a formação de valores.
Além do nome da rua, do número da Houve uma época no Brasil em que as
casa, do bairro, da cidade e do estado em escolas eram destinadas somente aos
que mora, também pode-se usar outros meninos, pois às meninas eram reservados
pontos de referência, como: em frente à apenas os preparos e aprendizados das

8
Geografia

funções de mãe e cuidadora do lar. Isso Questões


fazia com que muitas pessoas pensassem
que as mulheres não precisavam ir para a 01. (Prefeitura de Vacaria/RS –
escola. Hoje, porém, esse pensamento Professor de Ensino Fundamental –
mudou e a lei garante a todas as crianças e FUNDATEC - 2021) Sabemos da
a todos os jovens — meninos e meninas — importância do lugar e do sentimento que as
o direito de frequentar a escola. pessoas constroem com o seu lugar. Nesse
sentido, Kaercher (2016), no livro
Espaço Geográfico Movimentos para explicar a geografia –
O espaço geográfico é fruto das Oscilações, traz a ideia de lugarização, que
modificações realizadas pelos seres é:
humanos ao longo da história. É o objeto de A - Fazer o aluno compreender que ele
estudo da Geografia. O espaço geográfico tem poder de atuação sobre o espaço e que
compreende paisagens e lugares diferentes. ele é agente construtor e transformador do
A Geografia estuda como os seres lugar no qual está inserido.
humanos se relacionam entre si e com o B - Partir do abstrato, do invisível aos
meio em que vivem. Você já viu que as olhos, para o palpável e visível aos olhos.
paisagens são um “retrato” do espaço e que, C - Desvincular o conhecimento
por meio da observação das paisagens, geográfico com aquilo que ele percebe ao
podemos ver e perceber os elementos abrir uma janela do quarto.
presentes no espaço em determinado D - Conhecer o espaço a partir do outro
momento. Assim, uma das maneiras de e compreender aspectos sintéticos de um
perceber as relações entre as pessoas e entre espaço qualquer.
elas e os lugares que habitam é por meio da E - Compreender a geografa a partir de
observação das paisagens. outra realidade, de se seu desconhecimento
O espaço geográfico engloba, portanto, diário. Tendo obstáculos na percepção
os elementos e os aspectos existentes na daquilo que está próximo.
paisagem e as diferentes ações que as
pessoas produzem nela. Essas ações, que 02. (Prefeitura de Maravilha/SC –
envolvem as relações econômicas, sociais e Professor de Geografia – Unoesc - 2021)
políticas, são as diversas atividades que a A Base Nacional Comum Curricular
sociedade realiza. O espaço é, desse modo, (BNCC) está organizada com base nos
bastante dinâmico. principais conceitos da geografia
A dinâmica das relações entre as pessoas contemporânea, diferenciados por níveis de
de uma sociedade, as atividades que complexidade. Território, lugar, região,
realizam, a desigualdade natureza e paisagem são conceitos de:
de suas condições de vida, suas moradias A - Espaço Geográfico.
e a paisagem são características do espaço B - Conexões Geográficas.
geográfico. O objetivo principal da C - Tempo Geográfico.
Geografia, portanto, é analisar o espaço D - Natureza Geográfica.
geográfico e as suas contradições, os
processos e as relações que nele ocorrem, Alternativas
compreendendo como a sociedade organiza
o espaço e nele vive. 01 – A | 02 - A

9
Geografia

quais são as habilidades que a família deve


O trabalho na família e na escola desenvolver com a criança.

Inteligência emocional
A falta de controle emocional pode
Com o intuito de melhorar a experiência causar diversos problemas de socialização
educacional dos alunos, o trabalho em na vida adulta. Por isso, é recomendado
conjunto entre família e escola é trazer práticas para a sala de aula que
fundamental. Quando não há interação, contribuam com desenvolvimento da
surgem dificuldades para a implementação inteligência emocional das crianças.
de um projeto pedagógico que traga Nesse contexto, é necessário ajudar os
resultados efetivos. Assim, ambas as partes pequenos a educarem suas emoções. Da
devem se unir e criar metas simultâneas, mesma maneira que a escola se preocupa
compartilhando princípios semelhantes com o bem-estar físico dos alunos, é preciso
para conseguirem trilhar um caminho de levar em consideração o seu bem-estar
sucesso5. emocional, analisando como eles são
Essa atitude de parceria proporcionará capazes de proteger as suas emoções e se
mais segurança e qualidade na relacionar com as pessoas.
aprendizagem dos estudantes, fazendo com Assim sendo, é essencial que as famílias
que eles se tornem bons cidadãos, capazes invistam na saúde emocional de seus filhos,
de enfrentar os desafios da sociedade. Mas, dando abertura para eles poderem conversar
apesar de ser importante, não é uma tarefa sobre qualquer assunto. Isso contribui para
fácil, pois algumas questões precisam ser prevenir depressão, ansiedade, fobias,
trabalhadas. estresse e agressividade.
Também é crucial entender que as
Qual é a importância da família na crianças e os adolescentes precisam
formação da criança? vivenciar cada etapa da vida. Naturalmente,
Conviver, aprender e receber carinho elas têm a necessidade de correr riscos,
dos pais é de grande valia na garantia de inventar, frustrar-se e brincar.
uma formação saudável às crianças, pois Ainda é válido promover eventos com
faz com que elas tenham boas referências atividades que exijam a participação dos
para toda a vida. responsáveis. Isso pode parecer algo muito
O apoio da família é imprescindível para simples, porém é bastante significativo,
que o jovem possa desenvolver autoestima pois auxilia no fortalecimento dos laços
e confiança, adquirindo habilidades para entre alunos, pais e escola. Com isso, a
saber lidar com suas emoções, como família se mostra atenta e disponível,
alegria, frustração e tristeza, além de favorecendo o desenvolvimento da criança,
enfrentar os desafios e medos e assumir tanto no aspecto físico quanto emocional e
responsabilidades. intelectual.
Sem falar que os pais também são
responsáveis por promover estímulos para Empatia
o crescimento saudável, a socialização, a A empatia é definida como a capacidade
comunicação, a cidadania, a segurança e a que o ser humano tem de se colocar no lugar
aprendizagem da criança e do adolescente. do outro em determinada situação —
A partir de uma convivência de habilidade indispensável para conseguir
qualidade, o indivíduo tende a se espelhar enxergar o próximo sem preconceitos e
nos familiares, seguindo os seus exemplos julgamentos.
em todas os aspectos da vida. Acompanhe

5 Eleva. Família e escola: por que é importante eles andarem juntos? Visitado em 09.09.2022.
Somos Educação. https://blog.elevaplataforma.com.br/familia-e-escola/.

10
Geografia

No contexto escolar, a empatia é de Obediência às regras


extrema relevância para a criança saber Geralmente, as crianças que não
lidar com o diferente, estando disposta a conseguem seguir regras e acabam sendo
acolher os colegas que se diferem em conhecidas pelo seu mau comportamento,
termos físicos ou culturais, por exemplo. além de precisarem refazer diversas vezes
Antes de o aluno conseguir compreender as tarefas solicitadas, pois não as fazem
o que a outra pessoa está sentindo, ele deve dentro dos padrões exigidos.
saber identificar, nomear e expressar suas Para que o pequeno aprenda a obedecer
próprias emoções, além de ficar consciente às regras de casa e da escola, os pais e
das consequências de suas decisões e ações. professores também devem orientá-lo
Diante de uma situação conflituosa, você corretamente. Dar mais de uma direção por
pode perguntar ao estudante o porquê de ele vez é errado. Em vez de falar ‘’pegue uma
ter agido de determinada forma e o que folha de papel, faça um desenho e pinte-o’’,
sentiu ou pensou para agir assim. Estimule o ideal é esperar a criança pegar a folha de
a criança a imaginar o sentimento do outro, papel para depois dar o próximo comando.
trazendo à tona possibilidades, mas O exemplo é simples, mas serve para
incentivando ela mesma a solucionar o muitas situações.
problema. Além disso, é importante sempre Após dar uma instrução para o seu aluno,
dialogar com os pais. questione o que ele deve fazer e o aguarde
explicar o que ouviu de você. É
Trabalho em equipe perfeitamente normal as crianças menores
Ter senso coletivo e de cooperação são se distraírem, comportarem-se de forma
características fundamentais para as impulsiva e esquecerem de suas obrigações.
pessoas que desejam conviver bem em Entretanto, é necessário olhar para cada
qualquer comunidade. Na fase adulta, essa erro como uma oportunidade de ajudá-las a
habilidade é relevante principalmente no aperfeiçoar as habilidades delas.
ambiente de trabalho.
Nos primeiros anos da escola, a criança Respeito ao espaço do outro
já começa a trabalhar em grupo, mesmo que Existem crianças que são muito tímidas
seja em atividades de jogos. Em situações e evitam o contato com quem não seja
como essas, ela pode assumir a liderança ou próximo, mas também há aquelas que
se sentir confortável em seguir ordens, mas buscam os outros o tempo todo, sem se
o importante é saber cooperar para o bem preocupar se estão sendo inconvenientes ou
coletivo. Nesse caso, o professor pode não.
distribuir funções para que cada aluno tenha Assim sendo, é necessário ensinar a
uma responsabilidade a ser cumprida. criança a respeitar o espaço de outras
O estimulo à cooperação em casa pode pessoas. Em casa, uma boa dica é criar
ser dado de várias formas, desde a aplicação regras domésticas como ‘’não pegue o que
de jogos coletivos entre os familiares até a não é seu sem pedir’’ ou ‘’bata na porta
determinação de regras para cada membro antes de abrir’’.
da família para manter a organização do lar. Na escola, caso o estudante pegue coisas
Crianças pequenas podem aprender a das mãos das pessoas sem perguntar ou
guardar seus brinquedos para manterem a empurre alguém quando está impaciente, o
casa arrumada, por exemplo. professor deve determinar consequências
Também é indicado verbalizar sobre para esse tipo de comportamento. Os pais
como o trabalho em equipe contribui para precisam ser informados sobre os
que tudo fique melhor, como a acontecimentos para que possam conversar
possibilidade de concluir uma atividade em com os seus filhos em casa e reforçar a
menos tempo, sem sobrecarregar uma única necessidade de respeitar colegas e
pessoa. professores.

11
Geografia

Quando trabalhadas em parceria entre a Agrega valor às famílias


família e a escola, essas habilidades ajudam As famílias podem sentir certo
a formar seres humanos, filhos e alunos desconforto se a escola as chamarem
com valores e mais conscientes, apenas para falar sobre o comportamento
respeitando a comunidades em que vivem. dos filhos. Desse modo, o colégio deve
Isso resulta em bons relacionamentos com estabelecer um vínculo de parceria com os
os colegas e ótimo desempenho escolar. responsáveis, permitindo que os dois lados
possam discutir não somente sobre
Por que é importante família e escola resultados e comportamento, mas também
andarem juntas? outras ideias responsáveis por agregar valor
Muitos educadores têm dificuldade de à família.
lidar com os conflitos dos alunos, pois não
entendem o que acontece em suas vidas fora Gera valor para a sociedade
da escola. De igual modo, alguns pais não A educação se estende por toda a vida.
conseguem contribuir para a educação dos Por isso, uma escola que trabalha em
filhos porque não compreendem a vivência parceria com as famílias, forma cidadãos
deles no ambiente escolar. Por conta disso, capacitados não apenas com conhecimento,
é importante revelar os benefícios da mas com habilidades socioemocionais para
parceria entre família e escola. Assim, enfrentar os desafios e, assim, contribuir
todos podem se empenhar nessa tarefa. para o desenvolvimento da sociedade.
Vejamos a seguir.
Melhora os resultados dos alunos
Mantém as responsabilidades Com metas e responsabilidades
alinhadas alinhadas, tanto a família quanto a escola
Em alguns ambientes escolares, há certa estarão mais dispostas a ajudar os alunos
discordância entre pais e professores quanto nos ambientes escolar, familiar e social. A
às responsabilidades no processo consequência disso é que o rendimento
educacional. As escolas cobram o empenho deles aumentará, tendo todo esse empenho
das famílias que, por sua vez, culpam os a favor de sua educação. Isso os deixarão
colégios pelo baixo desempenho dos mais engajados com as atividades
alunos. pedagógicas.
Por isso, é importante que os
responsáveis façam parte do processo Como promover a parceria entre
pedagógico, compreendendo como as família e escola?
atividades são desenvolvidas. Dessa Para que família e escola possam
maneira, ambos os lados conseguem trabalhar juntas, é preciso planejar algumas
reconhecer seus deveres e se empenharem estratégias e adotar novas práticas no
em cumpri-los. tratamento dos estudantes e familiares, com
o intuito de esclarecer a importância dessa
Minimiza o impacto dos conflitos parceria para todos. Vejamos a seguir
Quando família e escola decidem algumas medidas para adotar.
trabalhar em conjunto, a comunicação flui
com mais facilidade, criando um trabalho Convide a família para o espaço
consistente antes dos problemas surgirem. escolar
Isso é fundamental, porque, além de É preciso agendar eventos além das
resolver os conflitos existentes, diminui o reuniões comuns, permitindo que os
impacto daqueles que ainda poderão responsáveis possam se familiarizar mais
ocorrer. com o ambiente escolar e entender suas
atividades. Marcar encontros em horários
acessíveis, promover festividades e outras

12
Geografia

comemorações podem ser interessantes Utilize ferramentas digitais para


para eles. integrar a família
Nem sempre os responsáveis podem
Apresente os colaboradores da escola estar presentes em reuniões e acompanhar o
Além disso, o colégio precisa apresentar trabalho escolar de perto. Pensando nisso, é
gestores, educadores e demais necessário assegurar que eles possam
colaboradores às famílias. Assim, elas terão acessar o desempenho dos alunos, eventos
ciência da qualidade dos profissionais que e notícias da escola por meio da internet.
serão responsáveis por contribuir com o Assim, a família estará ciente de todos os
desenvolvimento de seus filhos. Dessa acontecimentos.
forma, terão mais respeito e admiração pela
escola. Desenvolva atividades para casa
Além de eventos escolares, é preciso
Revele o plano pedagógico às famílias promover atividades que permitam a
Ao revelar o plano de ensino aos participação da família em casa também,
responsáveis, eles estarão cientes da pois a educação não se restringe aos muros
qualidade dos conteúdos e daquilo que o do colégio. Para isso, é possível incentivar
colégio deseja proporcionar aos alunos. atividades como: leituras, pesquisas,
Com isso, a família saberá quais são os atividades extracurriculares, questionários
assuntos trabalhados em sala e as e outras tarefas.
habilidades a serem desenvolvidas.
Promova projetos sociais
Incentive os responsáveis a opinar Ao desenvolver projetos sociais, além de
sobre os processos estreitar os laços com familiares e alunos, a
A família também precisa ser escutada escola mostrará sua preocupação com a
para que o colégio entenda o contexto no comunidade local. Isso permite que os
qual o estudante está inserido e descubra estudantes coloquem seus conhecimentos
como ajudá-lo. Tanto educadores quanto em prática, gerando valor para a sociedade.
gestores precisam ouvir os pais e utilizar as
informações objetivando dar mais sentido à Incentive a família a compartilhar
educação dos alunos. Com um diálogo mais conhecimento
aberto, o ambiente escolar se torna mais O colégio pode permitir que os pais
acolhedor e adequado à realidade da compartilhem seus conhecimentos com os
comunidade. alunos por meio de palestras. Como a
família já está inserida no mercado de
Desenvolva atividades culturais e trabalho, externar essas experiências com
esportivas os demais alunos enriquecerá o pensamento
Atividades de lazer e descontração crítico e criativo dos jovens. Essa atitude
estimulam o interesse das crianças e dos também pode deixar as famílias mais
adolescentes. Sendo assim, a escola precisa motivadas a contribuir com a educação
aproveitar essas oportunidades para se porque se sentirão úteis no processo.
aproximar dos alunos e da família. Isso fará A cooperação e o envolvimento das
com que ambos deixem de olhar o ambiente famílias fazem uma grande diferença em
escolar como um local tenso e sem alegria, como as crianças e os adolescentes se
passando a considerá-lo como um lugar desenvolvem, por isso é primordial estreitar
mais prazeroso. os laços entre família e escola. Mas, para
desenvolver essas ideias, é fundamental
investir na construção de uma relação
sólida entre os envolvidos. E tudo isso vai
favorecer a educação, engajando os

13
Geografia

membros da comunidade na aprendizagem especificidades conferidas pelas


e trazendo resultados mais significativos. experiências, valores e conhecimentos dos
diferentes atores que as constituem, assim,
Questões ao escolher a escola para a criança e
adolescente, as famílias devem adequar-se
01. (Prefeitura de Itapecerica da às especificidades desta organização, não
Serra/SP – Pedagogo – FUDEP - 2021) sendo possível relações individualizadas e
Castro e Regattieri (2009) estudaram a baseadas nas necessidades familiares.
interação escola-família tendo como fio C - As escolas devem ter no diálogo seu
condutor o questionamento sobre como principal instrumento de atuação, buscando
construir uma relação entre escola e família alcançar a melhor comunicação possível;
que favoreça a aprendizagem das crianças e desta forma é fundamental avaliar situações
adolescentes. Nesse estudo, a finalidade da e contextos concretos, planejar ações e
interação escola-família priorizada pelas oportunizar diferentes formas de
autoras é descrita como: participação da família na vida escolar.
A - O conhecimento do aluno no seu D - As convocações das famílias ainda
contexto social como elemento para que as constituem as melhores formas de
práticas pedagógicas, escolares e resolução de conflitos e confrontos nas
educacionais possam ser revistas. relações estabelecidas com as escolas. Os
B - A efetivação do direito das famílias problemas de aprendizagem e/ou de
à informação sobre a educação dos filhos. comportamento são evidentemente melhor
C - Uma maior proximidade entre resolvidos quando a escola chama a família
comunidade e escola para conscientização à responsabilidade que lhe cabe.
dos responsáveis sobre seus papéis na
educação dos filhos. Alternativas
D - A consolidação da gestão
democrática da escola por meio dos órgãos 01 – A | 02 – C
colegiados.

02. (Prefeitura de Bauru/SP –


Professor Substituto de Educação Básica Noções de diversidade cultural e os
processos de formação do povo brasileiro:
– Prefeitura de Bauru - 2021) As relações
o reconhecimento da importância dos
entre escola e família estão presentes no processos migratórios na formação social
cotidiano escolar e não raramente e cultural da Cidade de São Paulo
provocam discussões acaloradas sobre
como devem ser estabelecidas e qual o
papel e responsabilidade de cada uma
dessas instituições sociais no processo de Formação do Povo Brasileiro
ensino e aprendizagem. Sobre estas Muitos povos contribuíram para a
relações, com base na bibliografia indicada, formação da população brasileira: os
podemos AFIRMAR: indígenas que aqui viviam; os africanos
A - No mundo contemporâneo há um trazidos à força na condição de
evidente desinteresse das famílias em escravizados; os europeus e asiáticos que
relação às atividades escolares, enfrentando emigraram para o Brasil em grandes
os professores a ausência dos pais no contingentes entre os séculos XIX e XX6.
acompanhamento das tarefas escolares e na Com a colonização portuguesa, os
resolução de problemas de aprendizagem africanos e seus descendentes, além de
verificados em sala de aula. grande parte dos indígenas, foram forçados
B - As escolas apresentam a assimilar um modo de vida e de produção

6 Lucci, Elian Alabi. Geografia: território e sociedade, 7o ano: ensino fundamental, anos finais. Saraiva, 2018.

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Geografia

totalmente diferente do que aquele que extração de minérios, construção de


possuíam. Enquanto realizavam hidrelétricas e hidrovias, expansão da
praticamente todos os tipos de trabalho atividade agropecuária). Como exemplo,
(sobretudo os escravizados africanos), a podemos citar a construção da Usina de
maioria desses povos perdeu sua cultura, Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, que é a
suas terras (no caso dos indígenas) e, não segunda maior do país, ficando atrás
raro, a própria vida. Essa imposição do somente da binacional Itaipu. Desde o
chamado homem branco (o português) início de sua construção, em 2011, a obra
sobre os nativos e os africanos é a origem vem provocando uma forte resistência dos
da situação desfavorecida de indígenas e indígenas e protestos de boa parte da
afrodescendentes ainda existente nos dias sociedade brasileira. A construção da usina
de hoje. causou grande impacto ambiental com a
inundação de uma extensa área, maior do
Os Indígenas que a de muitos municípios brasileiros.
De acordo com o Censo de 2010, havia A sobrevivência e a perpetuação dos
no Brasil 817.963 indígenas. valores culturais e dos modos de vida dos
Apesar de esse número ser maior que o povos indígenas que ainda restam no Brasil
mostrado no censo realizado em 2000, que estão diretamente relacionadas ao
indicava 734 mil indígenas, ele é muito reconhecimento e à demarcação de áreas de
pequeno quando comparado ao que havia posse permanente para os diversos grupos.
antes da chegada dos portugueses. Essa delimitação territorial, no entanto,
Estima-se que, na época da chegada dos tem sido feita de forma alheia ao modo de
portugueses, viviam no Brasil entre 3 e 5 organização social e espacial dos indígenas,
milhões de indígenas. Essa população restringindo, em muitos casos, a área em
nativa pertencia a diferentes povos, com que anteriormente eles estavam distribuídos
seus costumes, línguas, crenças, modos de e habituados a viver.
construir moradias e de obter alimentos, A identificação e a demarcação das
formas de organização social, enfim, seu terras indígenas no Brasil são de
modo de vida próprio. responsabilidade da Fundação Nacional do
Os portugueses capturaram e forçaram Índio (Funai), órgão do governo federal
os indígenas a trabalhos escravos, o que deu fundado em 1967.
origem às lutas de resistência contra o De qualquer forma, a demarcação das
colonizador. Populações indígenas inteiras terras indígenas possibilita certa autonomia
foram exterminadas em razão, entre outros para esses povos e significa relativa
motivos, dos conflitos com os demais garantia de não interferência dos demais
grupos, que invadiram (e até hoje invadem) grupos. No entanto, para que os indígenas
as suas terras, e das doenças transmitidas tenham essa autonomia, além da
por eles, como gripe, catapora e sarampo. regulamentação territorial, é necessário
Outros povos desapareceram porque seus haver fiscalização intensa por parte do
membros foram obrigados a se integrar à governo brasileiro.
sociedade e à cultura dos não indígenas, Há ainda centenas de áreas indígenas a
sem exercer ou transmitir sua língua, seus serem demarcadas. Segundo o Conselho
costumes, suas crenças e seus valores, Indigenista Missionário (Cimi), o processo
sofrendo um processo denominado de demarcação apresentava um ritmo lento
aculturação. nos anos iniciais do século XXI. Grandes
grupos econômicos — empresas e
Nos últimos 50 anos, o processo de investidores ligados à extração de minérios
extermínio intensificou-se em razão da e de madeira — impunham resistência a
ocupação da Amazônia, com a construção esse processo. Muitos fazendeiros e
de grandes estradas transregionais e a empresas entravam com ações na justiça
execução de projetos econômicos (áreas de contra as demarcações. Assim, alguns

15
Geografia

povos indígenas ainda aguardavam o Escravizados até então, passaram a disputar


julgamento para poder ocupar empregos com os imigrantes europeus, que
definitivamente suas terras. começavam a chegar em grande número ao
Apesar disso, segundo muitos país.
antropólogos, as demarcações, que foram
ocorrendo em maior número Além da sua força de trabalho, os povos
principalmente a partir da Constituição africanos muito contribuíram para a nossa
Federal de 1988, vêm contribuindo para o cultura. Diversas manifestações culturais
aumento da taxa de crescimento brasileiras têm origem ou influência dos
populacional dos indígenas. homens e das mulheres provenientes da
Outro ponto importante está relacionado África. São exemplos: música (como o
ao atendimento à saúde — como a samba), arte (danças, capoeira, esculturas,
vacinação para imunizar esses povos contra entalhes), língua (palavras como “babá”,
uma série de doenças. “pamonha” e “tagarela” são de origem
africana), religião (candomblé e umbanda)
Os afrodescendentes e culinária (feijoada, canjica, acarajé).
Os negros que foram retirados à força da
África e trazidos para o Brasil na condição Os Quilombos e os quilombolas
de escravizados pertenciam a diferentes Para fugir dos maus-tratos e da
grupos, entre eles os sudaneses, como os submissão ao colonizador, os escravizados
povos ioruba e malê, e os bantos, como os resistiram de diversas maneiras. Uma delas
povos zulu, suaíli e quicuio. foi a formação de quilombos, para onde
negros, além de indígenas e mestiços,
O tráfico de pessoas escravizadas fugiam . Nos quilombos, considerados
começou oficialmente em 1559, quando a fortalezas escondidas no meio da mata, eles
Coroa portuguesa autorizou o comércio se organizavam, plantavam, criavam
regular de seres humanos entre África e animais e viviam em liberdade.
Brasil. Ao longo dos mais de 300 anos de No Brasil, houve diversos quilombos,
escravidão, estima-se que foram trazidos tanto pequenos quanto grandes. Parte da
para o Brasil entre 3,5 e 4 milhões de produção quilombola era usada para a
pessoas. sobrevivência da sua população; parte era
Inicialmente, os africanos escravizados comercializada com comunidades vizinhas.
De acordo com o IBGE, atualmente
trabalharam na lavoura da cana-de--açúcar. existem cerca de 3 mil comunidades
Depois, foram forçados a trabalhar na quilombolas. Os moradores dessas
lavoura do algodão, na mineração e, no comunidades lutam para obter o direito às
século XIX, na lavoura do café. Muitos terras que vêm sendo ocupadas desde o
deles executavam também diversas tarefas tempo de escravização. Visam, assim,
domésticas. garantir sua sobrevivência, sem perder suas
A extinção oficial do tráfico deu-se em tradições e seu modo de vida.
1850. Entretanto, acredita-se que entre
1851 e 1855 ainda tenham entrado cerca de Desigualdade Racial
6.100 africanos no Brasil. Na história do Brasil, desde o período
É importante destacar que a abolição da colonial, passando pelo Império e pela
escravidão, em 1888, não promoveu a República, até os dias atuais, vimos
igualdade, mas a marginalização dos acompanhando um grave quadro de
afrodescendentes na sociedade brasileira, desigualdades: de gênero (entre homens e
tornando-os vítimas também de preconceito mulheres), sociais (entre ricos e pobres) e
racial, que foi considerado crime pela raciais (entre brancos e negros).
Constituição Federal de 1988. Apesar das lutas e reivindicações contra
Com a abolição, os senhores de engenho as desigualdades, esse quadro histórico
se desobrigaram totalmente de prover a persiste. No que diz respeito às
sobrevivência dos trabalhadores. desigualdades entre brancos e negros, por

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Geografia

exemplo, ainda é identificado um menor Paulo. Essa cidade passou a receber


acesso ao Ensino Superior, aos cargos de também, especialmente a partir dos anos
chefia e aos melhores salários para a grande 1990, muitos imigrantes bolivianos, que,
maioria dos afrodescendentes. sem opção de emprego em seu país, se
A história de discriminação e submetendo, na maioria das vezes, a
desigualdade no Brasil, no entanto, não condições precárias de trabalho.
segue sem lutas, criatividade e superação.
Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio Os Movimentos Migratórios
às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Os seres humanos sempre se deslocaram
com base na Pesquisa Nacional por pela superfície terrestre, mudando de um
Amostra de Domicílios (Pnad), indica que, local para o outro. Os motivos para isso
no ano de 2017, mais da metade dos podem ser variados; a busca por novas
empreendedores brasileiros era oportunidades de emprego e melhores
afrodescendente. Essa grande parcela, condições de vida é um exemplo.
contudo, ainda sofre com alguns Esses deslocamentos são chamados
obstáculos, como a falta de investimentos e migrações. As migrações entre diferentes
linhas de crédito, o que dificulta o seu países são denominadas migrações
crescimento no mundo dos negócios. externas; aquelas que ocorrem dentro de um
mesmo país são as migrações internas.
Outros povos As pessoas que se mudam de um lugar
Os brancos, que predominaram na para o outro são os migrantes. Quando saem
formação da população brasileira, do seu país de origem, são emigrantes. Ao
pertencem a vários grupos, destacando-se entrarem em outros países são imigrantes.
entre os que vieram para o país os de origem Assim, as pessoas que vão morar em outros
europeia, principalmente os portugueses, países são consideradas emigrantes no seu
que colonizaram o Brasil. Os italianos e os país de origem e imigrantes no lugar onde
espanhóis também tiveram grande vão viver.
participação na composição da população
brasileira. Eles, no entanto, começaram a As Migrações Internas
vir para o Brasil em grande número a partir O primeiro grande deslocamento
da segunda metade do século XIX. populacional interno foi motivado pela
Outros grupos de brancos de origem descoberta de ouro na região de Minas
europeia participaram da composição Gerais, Goiás e Mato Grosso. Durante o
étnica da população brasileira: alemães, século XVIII, dirigiram-se para essas
austríacos, holandeses, russos, poloneses, regiões muitos paulistas e nordestinos.
iugoslavos, etc. Dos brancos asiáticos que No século XIX e início do XX,
vieram para o Brasil, os mais numerosos ocorreram dois grandes movimentos
foram os sírio-libaneses e os judeus. internos da população. Entre 1870 e 1912,
Os japoneses constituem outro grupo o surto da borracha atraiu, principalmente,
importante da população brasileira. Apesar nordestinos para a Amazônia; e, entre 1870
de a primeira leva de japoneses ter chegado e 1930, no auge da economia cafeeira,
ao Brasil somente em 1908, eles formam o muitos nordestinos e mineiros dirigiram-se
5o maior grupo de imigrantes que entraram para São Paulo e Paraná. Com isso, a região
no país, por nacionalidade. O Brasil é o país Centro-Sul foi se constituindo em uma
com a maior quantidade de japoneses e importante área de atração populacional,
descendentes fora do Japão: cerca de 1,5 principalmente nordestina.
milhão no total. Quase metade desse Essa situação continuou com o processo
contingente vive no estado de São Paulo. de industrialização, que se intensificou
Recentemente, a imigração coreana tem depois de 1950. Como as indústrias foram
sido expressiva, sobretudo na cidade de São se concentrando em São Paulo e no Rio de

17
Geografia

Janeiro, nessas cidades e em seus arredores fluxos migratórios descritos aqui, são
se fixou a maior parte dos migrantes. comuns outros tipos de deslocamento:
O deslocamento da população ocorreu • Migração temporária/sazonal:
em função de diferenças no nível de corresponde, por exemplo, ao
desenvolvimento regional. O Centro-Sul deslocamento populacional em
oferecia mais oportunidades de trabalho, determinados períodos do ano para locais
melhores salários, mais acesso à educação e em que há trabalhos temporários.
à saúde. A população saía das áreas de Camponeses que se deslocam para outros
economia mais frágil e se dirigia para as que municípios para trabalhar em alguma
ofereciam melhores oportunidades de colheita ou plantação e depois retornam
emprego, em razão do maior crescimento para o seu município de origem realizam
econômico. esse tipo de migração.
As migrações no século XX também • Migração pendular: movimento
podem ser explicadas pelas dificuldades diário da população que se desloca de uma
que as famílias da área rural tinham em cidade ou localidade para outra para
conseguir terras com tamanho e qualidade trabalhar ou estudar e retorna no fim do dia.
de solo suficientes para assegurar uma Muitos especialistas não consideram
produção capaz de propiciar algum esses fluxos uma migração, pois não se trata
rendimento econômico, ou mesmo a de uma mudança, e sim de uma
subsistência. transferência momentânea, diária.
Principalmente durante as décadas de • Migração de retorno: trata-se do
1970 e 1980, a região amazônica deslocamento de pessoas para o seu
transformou-se em um novo polo de atração município, estado ou região de origem. Nas
populacional para a população rural do duas últimas décadas, grande parte dos que
Nordeste, de São Paulo, do Paraná e do Rio deixaram a região metropolitana de São
Grande do Sul. Paulo, por exemplo, corresponde a
Esses agricultores migrantes migrantes de retorno. Dados do Censo
enfrentavam as consequências de algumas Demográfico de 2010, divulgados pelo
transformações ocorridas no Centro-Sul, IBGE, revelaram que o Nordeste foi a
entre elas: a expansão da agricultura região com o maior retorno de migrantes na
mecanizada, o parcelamento cada vez maior primeira década do século XXI. Os estados
da pequena propriedade familiar e a dessa região que apresentaram migração de
aquisição de pequenas propriedades por retorno mais expressiva foram
grandes empresas agrícolas. Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte
A partir dos anos 1990 outra tendência e Paraíba. A região Sul ficou em segundo
que se verificou nos fluxos migratórios lugar, com destaque para o Rio Grande do
internos foi o deslocamento de pessoas das Sul e para o Paraná.
grandes para as médias cidades, entre No caso do Paraná, grande parte dos
outros fatores, devido à desconcentração da migrantes de retorno corresponde àqueles
atividade econômica observada no país. que haviam partido para a região Norte e
Grande parte desses fluxos é intrarregional, para Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste,
ou seja, ocorre entre localidades da mesma para trabalhar na expansão da fronteira
região. agrícola, e que passaram a retornar. Na
Já os movimentos migratórios inter- região Sudeste houve a inversão da corrente
regionais (entre regiões) diminuíram a migratória entre Minas Gerais e Rio de
partir de meados da década de 1990, Janeiro, ou seja, migrantes passaram a
segundo dados da pesquisa deixar o Rio de Janeiro, entre outros fatores,
“Deslocamentos populacionais no Brasil”, por causa da grave crise no estado, e
divulgados pelo IBGE, Em um país tão passaram a retornar para Minas Gerais.
grande e diverso como o Brasil, além dos

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Geografia

Modos de interação e sociabilidade do caso desta pesquisa, trabalhamos com seis


imigrante com a cidade de São Paulo grupos, coletivos e/ou organizações
Levantamento de 2019 feito pela Polícia migratórias a saber: 2 de origem boliviana;
Federal considera que, atualmente, a cidade 2 de origem venezuelana, sendo um deles
conta com uma população de mais de 360 voltado especificamente para o público
mil imigrantes de 200 nacionalidades. LGBTQI+; 2 de origem latina em geral.
Quanto à classificação específica de Três deles têm como foco principal
pessoas em situação de refúgio, o aspectos culturais (promoção de eventos,
Ministério da Justiça registra 52.517 divulgação da cultura de origem;
pessoas de mais de 100 nacionalidades fortalecimento de laços e vínculos
diferentes que solicitaram refúgio na capital identitários etc.) e outros três são de caráter
entre 1993 e 2020 (SMDHC, 2020SMDHC predominantemente civil, ou seja, voltado
- Secretaria Municipal de Direitos para a luta por direitos dos imigrantes,
Humanos e Cidadania. I Plano Municipal participação, visibilidade etc.
de Políticas para Imigrantes: 2021 - 2024. Tentamos, assim, categorizar algumas
São Paulo, 2021.)7. possibilidades a partir de falas colhidas de
12 imigrantes durante os trabalhos de
execução dos projetos de comunicação,
bem como alguns itens observados, no
intuito de desenhar um quadro referencial
no qual é possível verificar múltiplas e
simultâneas possibilidades
comunicacionais e informacionais do
imigrante a partir de trocas e interações em
Número de pessoas imigrantes registradas em São Paulo por país de
origem, em junho de 2019 dois níveis, basicamente:
A - o primeiro formado por suas redes e
conexões locais e transnacionais ao,
principalmente, participar de diferentes
espaços coletivos (escolas, centros
culturais, pontos turísticos, igrejas etc.);
B - o segundo pelo contato permanente
com a cidade, seu ritmo e cotidiano,
especialmente, ao usufruir de serviços
Número acumulado de solicitações de refúgio realizadas em São Paulo
(1993 - 2020)
básicos, como transporte, postos de saúde e
hospitais, Centro de Referência e
Nessa perspectiva, não é tarefa fácil Atendimento para Imigrantes - CRAI6,
sistematizar os modos de interação e centros de documentação (Polícia Federal,
sociabilidade a partir da rotina de produção Poupatempo) etc.
de práticas comunicativas dos grupos.
Além disso, apesar de tratarmos aqui de São Paulo: uma cidade que assusta
coletivos, organizações e associações de O contato do imigrante permanente com
imigrantes de origem latino-americana a cidade, seu ritmo e cotidiano,
estabelecidos em São Paulo, há, pelo especialmente, ao usufruir de seus espaços
menos, cinco anos, é preciso destacar a públicos, também é um elemento de
heterogeneidade e diversidade natural, não interferência nos seus modos de interação e
só dos grupos de maneira individual, mas sociabilidade. Além disso, geralmente,
dos próprios membros de cada grupo. No características próprias locais nesses

7 Camila Escudero. Os imigrantes e a cidade de São Paulo: modos de https://www.scielo.br/j/remhu/a/3dRQspfQsDSfnvGbs6YWctp/#. Visitado


interação e sociabilidade. REMHU, Rev. Interdiscip. Mobil. Hum. 30 em 09.09.2022
(64) • Jan-Apr 2022.

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Geografia

aspectos tendem a ser percebidas, Além disso o fato de São Paulo ser uma
especialmente, por quem é de fora, ao cidade com muitos serviços funcionando 24
mesmo tempo em que são comparadas com horas por dia, tudo precisando ser muito
as das suas cidades de origem. Uma delas é rápido para atender a todos, tráfegos de
a quantidade de pessoas que vivem em São veículos e fluxos de informações intensos,
Paulo e a grandeza do território, conforme obras e reformas a todo momento, entre
relatado nas falas abaixo: outros fatores, há a percepção por parte do
A cidade é muito grande. Não estamos imigrante de que “ninguém tem tempo para
acostumados com isso. Eu morava em nada”. A própria imagem de São Paulo, no
Caracas, que é uma capital, uma cidade contexto brasileiro, é de “a cidade que
grande. Mas aqui é muito maior, é outro nunca para”.
mundo. (Imigrante 8). Não existe receita para chegar numa
São Paulo é imensa. Demora para a cidade como São Paulo. Por mais que você
gente chegar nos lugares. As coisas aqui são planeje, tenha contatos, quando chega aqui
muito rápidas, é muita gente. (Imigrante 6). é só você e Deus. Não que as pessoas aqui
Eu moro aqui há bastante tempo. Mas sejam individualistas, mas não há tempo
não conheço tudo. Não dá. A cidade é muito para o outro. Todo mundo corre muito. É
grande. Eu gosto de frequentar o Parque do um dia a dia frenético, não dá tempo para
Ibirapuera12 e o Memorial da América reparar quem é o outro. (Imigrante 2).
Latina, quando tem algum evento. Vou na Outro ponto constantemente
25 de Março13 também. Mas esses lugares mencionado é o clima da cidade que acaba
sempre estão lotados. É muita gente. por interferir nas relações com o próprio
(Imigrante 5). território. Considerado subtropical úmido,
A infraestrutura da cidade, no que diz as estações são relativamente definidas,
respeito aos meios de transporte, também é porém, contabilizam frequentes e intensas
outro ponto constantemente comentado. É mudanças em curtos períodos, muitas delas
interessante observar que as referências ocasionadas pela poluição do ar, a
históricas presentes na cidade - em nomes existência de poucas áreas verdes, a alta
de bairros, estações de metrô etc. - também concentração de edifícios, proximidade
compõem a relação com São Paulo. com o mar etc.
O metrô é sempre lotado. Fora que para Logo que a gente chega, precisamos de
chegar no meu trabalho eu demoro duas um tempo para nos adaptar, inclusive ao
horas. Veja, em duas horas no meu país, eu clima. Aqui em São Paulo, o tempo muda
praticamente, viajava de ponta a ponta. toda hora. Acordamos com calor, depois
Além disso, é muito bairro, muito lugar. temos que pegar o casaco. Chove, faz calor
Tudo com o nome estanho. (Imigrante 4). de novo. Não estamos acostumados a isso.
Uma coisa que eu não ando aqui, de jeito Só que a cidade é tão intensa e não para
nenhum, é nisso que vocês chamam de nunca, que nem temos direito a esse tempo.
‘fura-fila’14. Deus me livre. Você já viu a (Imigrante 11).
altura daquilo? Não pode ser seguro. Eu Às vezes, eu me programo para ir no
prefiro ficar duas horas em um ônibus Parque Ibirapuera. Saio de casa com sol e
atravessando a cidade do que 10 minutos roupa de calor. Chego lá, está frio e
dentro daquilo. (Imigrante 10). chovendo. O tempo aqui é maluco.
Na minha cidade, eu andava de bicicleta. (Imigrante 9).
Aqui, com esse trânsito todo, nem me Demorou para eu entender o que
imagino numa bicicleta. Eu tive que significava ‘efeito cebola’. A gente sai cedo
aprender a andar de ônibus. Tive que de casa com um monte de roupa porque está
aprender todos os nomes daquelas linhas de frio e ao longo do dia vai tirando tudo,
metrô, onde fazer conexão. Foi complicado. casacos, blusas. Vamos descascando
(Imigrante 1). mesmo [risos]. (Imigrante 8).

20
Geografia

Em São Paulo, ainda, há a proporcionalmente, muito menos


particularidade de não ser uma cidade de conhecidos e ele, por sua vez, será em
fronteira internacional, tema essencial princípio um anônimo (...) será classificado
quando se estuda territórios e migrações. Os como membro de alguma categoria, num
imigrantes chegam por processos de mundo urbano heterogêneo e diversificado”
interiorização ou por via direta, de ordem (Velho, 2000, p. 20)”. Nesse sentido, são
particular. Na visão do imigrante, esse é um ilustrativos os trechos abaixo:
dos motivos pelo qual os habitantes locais Para mim, migrar para São Paulo foi um
não estão acostumados com outras formas ato de liberdade. No meu país eu morava
de interações e sociabilidades. Esse ponto é numa cidade pequena. E eu vestia saia,
representado pela fala abaixo: tinha cabelo comprido, estava sempre
Quando cheguei ao Brasil, cheguei por maquiada. Mas eu fazia isso pelos outros,
uma cidade de fronteira. É muito diferente não por mim. Quando eu cheguei aqui em
da realidade de São Paulo, pode apostar. São Paulo, eu vi que ninguém me conhecia.
Aqui não tem fronteira com outro país. E esse anonimato para mim foi
Acho que é por isso que as pessoas não têm transformador. Eu cortei o cabelo, passei a
contato direto com outras culturas. E nos vestir jeans e tênis o tempo todo. E isso não
acham estranhos, exóticos. Somos pessoas. era um problema. Na verdade, ninguém
(Imigrante 7). reparava. E foi assim que comecei a me
Há o fato de, conforme percebido pelos assumir lésbica. Então, para mim, foi
imigrantes latino-americanos, contexto libertador. (Imigrante 11).
desse trabalho, o Brasil ter tido um tipo de Quando eu chego num lugar e falo que
colonização diferente do restante da sou boliviano, ninguém acredita. Porque
América Latina. Ao contrário dos outros sou loiro, tenho pele e cabelos claros, e sou
países invadidos pelos espanhóis, aqui se gay. Além disso, não trabalho em
deu a ocupação portuguesa, o que confecção [risos]. Sou artista. Faço
significou em idioma, hábitos, costumes, performances em casas de shows da cidade,
tradições, religiosidades etc. diferentes. standup comedy... As pessoas falam: ‘você
São Paulo não lembra em nada a está mentindo’. ‘Não pode ser boliviano’.
América Latina. Nossa cultural não é Mas sou. (Imigrante 12).
parecida com a de vocês. Não é só por causa
da língua. Aqui é tudo diferente. (Imigrante A cidade como espaço para o
3). imigrante exercer seu papel de mediador
Aqui em São Paulo não me sinto na sociocultural
América Latina. Sou latino-americano, Os trechos de falas dos imigrantes
conheço vários países da América Latina, destacados no item acima procuram
mas não me sinto em casa aqui. Acho que demonstrar não só trajetórias e
minha cultura é muito mais próxima da subjetividades, mas o modo de
caribenha, enquanto vocês parecem que sociabilidade e interação do estrangeiro
tem uma cultura mais europeia, não sei. É com a cidade de São Paulo. Indicam, além
um outro mundo. (Imigrante 2). da forma como se constituem as relações
Por fim, o anonimato, conforme Velho sociais na cidade por meio da convivência
(2000), uma situação, em princípio, típica no espaço comum - seja com os moradores
de uma grande cidade das sociedades locais, seja com os próprios imigrantes -, a
complexas moderno-contemporâneas, é composição de significados compartilhados
responsável por classificar pela cor, pele, em um nível sociocultural.
roupas, língua etc. tem efeitos diversos no Tal modo de sociabilidade e interação
caso migratório, entre eles o de liberdade e compreende um processo complexo, que
o de quebra de estereótipos. “Devido à envolve conhecimentos, reconhecimentos,
dimensão e complexidade do meio, terá, ações e relações e mostra que, no caso dos

21
Geografia

processos migratórios, as características da De acordo com o autor (Sodré, 2014, p.


cidade - geográficas, climáticas, de 221), organizar o comum induz
infraestrutura etc. - não são significantes universalmente ao diálogo e à ação, no caso
vazios para os sujeitos externos, mas deste trabalho, concretizada na realização
produzem sentidos e exigem tensão e de práticas midiáticas. Nesse sentido,
conflito com matrizes culturais compostas molda o cotidiano do sujeito imigrante na
de identidades e histórias. Talvez resida aí cidade, revelando diferenças, mas, também,
a razão de que, conforme apontou Portes identidades; e destacando arbitrariedades e
(2001), o imigrante está muito mais ligado exclusão, porém, impondo o
ao urbano do que o nativo. reconhecimento dos modos de interação,
Além disso, remete à ideia de usos e interpelação que os sujeitos
“metrópole, cosmopolitismo e mediação”, imigrantes fazem com o espaço que
destacada por Velho (2010), demonstrando frequentam e se conectam.
que a vivência em uma cidade como São
Paulo pode ampliar o universo de Questões
experiências e o desenvolvimento de visões
de mundo do sujeito. Isso fica muito 01. (Prefeitura de Maracajá/SC –
evidente nos relatos dos participantes desta Professor de Geografia – Unesc - 2020)
pesquisa, quando verificamos que a Diariamente, milhares de brasileiros saem
interação com os espaços desperta no de suas casas localizadas na periferia para o
imigrante questões e consciências mais centro da cidade, ou das cidades-satélites
amplas, de ordem universal, como para as metrópoles, retornando após a
participação, pertencimento, cidadania, luta jornada de trabalho. Que tipo de migração é
coletiva, direitos e deveres. essa?
É nesse sentido que podemos afirmar A - Transumância.
que o imigrante é um mediador, conforme B - Nomadismo.
entende Velho (2010). Ele interpreta e C - Temporária.
reinventa as práticas socioculturais. Não é D - Pendular.
um “autor da cultura”, mas sua habilidade
de transitar em situações e espaços 02. (Prefeitura de Belém/PA –
específicos - na maioria das vezes por pura Professor Licenciado Pleno – Geografia
necessidade e questão de sobrevivência - o – AOCP - 2021) Comum nas lavouras de
capacita a interagir com distintos grupos e café e cana-de-açúcar, pela necessidade de
códigos, ressignificando estruturas mão de obra em determinados períodos do
consolidadas. ano, esse tipo de migração caracteriza-se
E é justamente no ato dessas mediações justamente por estar ligada às estações do
culturais que se estabelecem os vínculos e o ano, sendo do tipo temporária, em que o
comum, dos quais nos fala Sodré (2014), migrante sai de um determinado local em
evidenciando nesse processo a um certo período do ano e retorna após
comunicação e a organização social dos alguns meses. O texto faz referência
grupos envolvidos. Como visto, o vínculo A - à Migração Pendular.
criado pelos imigrantes com a cidade em B - ao Êxodo Rural.
suas atuações como mediador - seja de
aspecto negativo, seja de aspecto positivo - C - à Migração Diária.
integra sua extensão afetiva e dialógica, D - à Migração Forçada.
promovendo uma reciprocidade E - à Migração Sazonal.
comunicacional entre espaço, tempo e
sujeitos. “O comum é sentido antes de ser Alternativas
pensado ou expressado, portanto, é algo que
ancora diretamente na existência” (Sodré, 01 – D | 02 – E
2014, p. 204).

22
Geografia

Primeiras noções de ciclo hidrológico e a


importância da água no cotidiano

Quase toda a água está em contínua


circulação no planeta Terra, mudando
constantemente de estado físico. Esse
movimento permanente da água é chamado
de ciclo hidrológico ou ciclo da água. Em
alguns casos, como nas geleiras polares, a
água aprisionada não realiza esse Disponibilidade de água no mundo
movimento8. A água recobre a maior parte da
Ao receber a luz do Sol, a água de rios, superfície da Terra.
lagos e oceanos se aquece e evapora, ou Porém, cerca de 96% de toda a água está
seja, passa do estado líquido para o estado nos oceanos e nos mares. Apenas 4% são de
gasoso, transformando-se em vapor. Esse água doce e, dessa porcentagem, somente
vapor de água forma as nuvens e se uma pequena parte está disponível na
condensa, isto é, passa do estado gasoso ao superfície e no subsolo. O restante está
líquido em forma de precipitação e, desse “aprisionado” em geleiras e na neve, nos
modo, a água volta ao solo quando chove. polos e no alto de montanhas.
Parte dessa água se infiltra no solo e, assim, Como existem diferentes tipos de clima
alimenta os aquíferos e abastece as no globo terrestre, a água está distribuída de
nascentes. A outra parte escoa diretamente forma desigual pelo planeta.
pela superfície. Tanto a água que escoa pela Há lugares em que há muita água e
superfície quanto a que se infiltra no outros que sofrem com sua escassez,
subsolo abastece rios, lagos e oceanos. enfrentando sérios problemas. Regiões de
Na unidade anterior, vimos que a floresta tropical, por exemplo, onde há
irradiação solar incide de forma desigual elevado índice de chuva, têm um volume de
sobre a Terra e que o ar se movimenta em água até mil vezes superior ao encontrado
virtude das diferenças de pressão em regiões desérticas.
atmosférica. Desse modo, a energia solar
também influi nos ventos e, como os ventos Bacias Hidrográficas
deslocam as nuvens, quando chove, parte Observe a ilustração a seguir, que
da água dos oceanos que evaporou é representa duas bacias hidrográficas.
deslocada para o interior dos continentes. Note que ambas são formadas por um
Já os rios que correm dos continentes em conjunto de terras e pela rede hidrográfica,
direção ao mar levam parte da água de volta composta do rio principal e de seus
aos oceanos, de forma que o ciclo da água afluentes e subafluentes. Repare também
está sempre recomeçando. que as bacias hidrográficas são delimitadas
por porções mais altas do relevo, como
serras ou colinas, chamadas de divisores de
água, que delimitam os caminhos pelos
quais as águas das chuvas vão escoar até
chegar à rede de rios ou se infiltrar pelo
subsolo, alimentando os reservatórios de
águas subterrâneas.

8
Sene, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil, 6o ano: ensino fundamenta, anos finais. São Paulo. Scipione, 2018.

23
Geografia

Quando as bacias hidrográficas se


localizam em áreas onde a temperatura e a
umidade permitem o desenvolvimento de
atividades agrícolas, são utilizadas para
irrigação dos cultivos e para abastecer o
gado. Nos centros urbanos e nas áreas rurais
podem ser usadas para o abastecimento da
população e atividades de lazer, desde que
não sofram com a poluição, o que pode
encarecer o tratamento para seu uso ou
mesmo inviabilizá-lo.
Além de serem importantes para o
Bacia Hidrográfica
transporte, a pesca e outras atividades,
alguns rios dessa bacia são usados para
O tamanho da área de uma bacia é gerar energia elétrica em virtude dos
estabelecido pela distância entre seus terrenos com desnível, condição
divisores de águas e pode ser delimitado em fundamental para a construção de barragens
diversas escalas, já que cada afluente de um que geram quedas de água em grande
rio principal tem a própria bacia e faz parte volume.
de uma bacia maior. Observe no mapa As bacias hidrográficas são
abaixo as dez maiores bacias hidrográficas fundamentais para o ser humano, uma vez
do mundo. que fornecem água para sua sobrevivência
O rio principal dá nome à bacia e à rede. e para o desenvolvimento das mais diversas
Por exemplo: bacia do Amazonas, bacia do atividades. Por isso, para preservá-las é
Nilo, bacia do Mississípi, etc. importante compreender que constituem
um sistema ecológico, ou seja, um conjunto
formado pelas águas, pelo solo e pelos seres
vivos encontrados nas áreas que abrangem
cada bacia.
Portanto, a preservação das águas está
relacionada à dinâmica de outros elementos
da natureza que também precisam ser
preservados.
As dez maiores Bacias Hidrográficas do Mundo

Preservação e Abastecimento de Água


A utilização das bacias hidrográficas é Os diversos usos da água podem
muito distinta entre os países e as regiões do degradar em diferentes escalas a qualidade
planeta, variando conforme as desse recurso. Ao usar a água como via de
características físicas, sociais, culturais e transporte, por exemplo, os impactos
econômicas de cada lugar. Contudo, de causados podem ser considerados
modo geral, os rios que correm em relevos pequenos. Por outro lado, o lançamento de
planos são usados para navegar, exceto nos esgoto sem tratamento nos rios provoca
períodos de estiagem, quando sua grandes impactos ambientais, assim como o
profundidade diminui. Já os rios que uso agrícola da água, já que os produtos
apresentam desnível em seu curso não são químicos utilizados se misturam à água e se
navegáveis, mas têm potencial para a infiltram no solo, comprometendo a
construção de usinas hidrelétricas, pois elas qualidade das nascentes e das águas
utilizam, basicamente, a força da queda da subterrâneas.
água em suas turbinas para gerar energia
elétrica.

24
Geografia

Além disso, a preservação é fundamental Art. 1o - A água faz parte do patrimônio


para que a água possa ser utilizada pela do planeta. Cada continente, cada povo,
sociedade no abastecimento de residências, cada nação, cada região, cada cidade, cada
na irrigação agrícola, na pesca, em cidadão é plenamente responsável aos olhos
atividades de lazer, entre outros usos. de todos.
Nas grandes cidades, onde existem Art. 2o - A água é a seiva do nosso
muitas residências, estabelecimentos planeta. Ela é a condição essencial de vida
comerciais e indústrias, é comum haver de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem
dificuldade de abastecimento em razão de ela não poderíamos conceber como são a
dois fatores principais: o desperdício e a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura
poluição de rios e mananciais. O ou a agricultura. O direito à água é um dos
desperdício de água é causado direitos fundamentais do ser humano: o
principalmente pela falta de manutenção da direito à vida, tal qual é estipulado do Art.
rede de distribuição – o que gera muitos 3o da Declaração dos Direitos do Homem.
vazamentos – e também pelo consumo Art. 3o - Os recursos naturais de
excessivo em residências, indústrias e na transformação da água em água potável são
agropecuária. lentos, frágeis e muito limitados. Assim
Já a poluição está relacionada, em sendo, a água deve ser manipulada com
muitos casos, ao despejo de esgoto racionalidade, precaução e parcimônia.
doméstico e industrial sem nenhum Art. 4o - O equilíbrio e o futuro do nosso
tratamento em rios que atravessam as planeta dependem da preservação da água e
cidades, como mostra a foto abaixo. Vale de seus ciclos. Estes devem permanecer
ressaltar que o despejo indevido de esgoto intactos e funcionando normalmente para
residencial ocorre, em geral, por causa da garantir a continuidade da vida sobre a
carência de investimentos públicos em Terra. Este equilíbrio depende, em
saneamento básico em áreas com moradias particular, da preservação dos mares e
precárias. oceanos, por onde os ciclos começam.
Esses problemas tornam necessária a Art. 5o - A água não é somente uma
busca de água em mananciais cada vez mais herança dos nossos predecessores; ela é,
distantes, o que aumenta as despesas com sobretudo, um empréstimo aos nossos
sua distribuição e seu tratamento. sucessores. Sua proteção constitui uma
Outro problema relacionado à necessidade vital, assim como uma
preservação da água é o uso clandestino. obrigação moral do homem para com as
gerações presentes e futuras.
Declaração Universal dos Direitos da Art. 6o - A água não é uma doação
Água gratuita da natureza; ela tem um valor
A presente Declaração Universal dos econômico: precisa-se saber que ela é,
Direitos da Água foi proclamada tendo algumas vezes, rara e dispendiosa e que
como objetivo atingir todos os indivíduos, pode muito bem escassear em qualquer
todos os povos e todas as nações, para que região do mundo.
todos os homens, tendo esta Declaração Art. 7o - A água não deve ser
constantemente no espírito, se esforcem, desperdiçada, nem poluída, nem
através da educação e do ensino, em envenenada. De maneira geral, sua
desenvolver o respeito aos direitos e utilização deve ser feita com consciência e
obrigações anunciados e assumam, com discernimento para que não se chegue a
medidas progressivas de ordem nacional e uma situação de esgotamento ou de
internacional, o seu reconhecimento e a sua deterioração da qualidade das reservas
aplicação efetiva9. atualmente disponíveis.

9
DECLARAÇÃO Universal dos Direitos da Água. Biblioteca virtual de Ambiente/declaracao-universal-dos-direitos-da-agua.html. Visitado em
direitos humanos. www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio- 09.09.2022.

25
Geografia

Art. 8o - A utilização da água implica no


respeito à lei. Sua proteção constitui uma Estudos sobre o trabalho no campo e na
obrigação jurídica para todo homem ou cidade, com enfoque nas relações de
grupo social que a utiliza. Esta questão não interdependência e integração, por meio
deve ser ignorada nem pelo homem nem da circulação de mercadorias e matérias-
pelo Estado. primas
Art. 9o - A gestão da água impõe um
equilíbrio entre os imperativos de sua
proteção e as necessidades de ordem
econômica, sanitária e social. A Agropecuária e o Agronegócio no
Art. 10o - O planejamento da gestão da Brasil
água deve levar em conta a solidariedade e A agropecuária é o termo usado para
o consenso em razão de sua distribuição abordar de forma conjunta as práticas da
desigual sobre a Terra. agricultura e da pecuária. É uma atividade
do setor primário e a que mais contribui
Questões para a economia brasileira. O Brasil está
entre os maiores produtores e exportadores
01. (Prefeitura de Candelária/RS – mundiais de alimentos10.
Geólogo – FUNDATEC - 2021) O termo Outra atividade importante para a
ciclo hidrológico refere-se ao constante economia brasileira é o agronegócio. Em
movimento da água sobre, na e sob a 2017, a agricultura e o agronegócio
superfície da Terra. Qual alternativa abaixo contribuíram com cerca de 23,5% do PIB
contém somente fenômenos desse ciclo? brasileiro. O agronegócio pode ser
A - Precipitação e evaporação. considerado uma cadeia produtiva, pois
B - Intemperização e silitização. envolve desde a transformação da produção
C - Salinização e contaminação. agropecuária em itens industrializados, até
D - Desertificação e urbanização. a distribuição e venda. Também faz parte do
E - Intrusão e deposição. agronegócio empresas fabricantes de
agrotóxicos e de máquinas especializadas
02. (Prefeitura de Crato/CE – no setor.
Professor de Geografia – CEV-URCA -
2021) Em relação as Bacias Hidrográficas
do Brasil, qual bacia hidrográfica tem suas
vertentes delimitadas pelos divisores de
água da Cordilheiras dos Andes, pelo
Planalto das Guianas e pelo Planalto
Central.
A - Bacia do Paraná;
B - Bacia do Paraguai;
C - Bacia do Rio São Francisco;
D - Bacia do Rio Amazonas ou
Amazônica;
E - Bacia do Rio Parnaíba.
O que é o agronegócio
Alternativas

01 – A | 02 – D A Industrialização da Agricultura
A industrialização no Brasil ultrapassou
os limites das cidades e influencia a

10
Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da Geografia, 7o ano. São Paulo. Saraiva. 2018.

26
Geografia

produção no campo. Por causa disso, a plantada novamente após a colheita e


agricultura foi se tornando cada vez mais produz por alguns anos, seja uma cultura
intensiva e, portanto, altamente temporária, que precisa ser plantada
especializada. Grande parte da produção na novamente após a colheita.
agricultura é determinada pela indústria,
que utiliza os produtos agrícolas como Cana-de-açúcar
matéria-prima. A cana-de-açúcar é uma cultura
A prática agrícola é controlada por temporária.
grandes grupos empresariais, que plantam, Ela está muito bem adaptada às
coletam, armazenam, beneficiam e condições climáticas em diferentes estados
distribuem os produtos. Além disso, brasileiros, já que é plantada desde o
fornecem equipamentos e técnicas período colonial.
necessários para o desenvolvimento da A cana-de-açúcar fornece matéria-prima
agricultura. Essa cadeia de produção para as usinas processadoras que produzem
chama-se complexo agroindustrial. açúcar e álcool.
Integram esse complexo unidades Com a mecanização da colheita da cana,
produtivas diversificadas, como usinas de muitos trabalhadores que trabalhavam no
processamento de cana-de-açúcar, fábricas corte perderam o emprego. Porém, há um
de sucos, de molhos de tomate, de movimento para capacitar essa mão de obra
processamento de leite, frigoríficos, entre para trabalhar com as novas tecnologias,
outras. Elas são o elo entre a indústria e a como operador e eletricista de máquinas
agricultura e podem estar instaladas no colheitadeiras.
campo ou na cidade.
Os principais produtos agrícolas do Laranja
Brasil são destinados tanto para o complexo Como uma árvore de laranja produz por
agroindustrial quanto para a venda innatura muitos anos, ela é considerada uma cultura
(sem ser beneficiado antes da venda) para o permanente. Mas uma plantação exige
consumo interno ou para a exportação. cuidados para evitar sua contaminação por
bactérias que causam doenças e danificam a
A modernização da Agricultura árvore, que pode ter de ser eliminada. Parte
As mudanças significativas registradas das laranjas é destinada à produção de sucos
na produção rural fazem parte do processo industrializados, integrando uma cadeia
de modernização da agricultura. A Empresa agroindustrial.
Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) teve um importante papel para a Café
formação desse cenário, por meio de O café também é uma cultura
investimentos em ciência e tecnologia que permanente – um pé de café pode produzir
aumentaram significativamente a por cerca de 25 anos. O café chegou ao
produtividade brasileira, através do Brasil trazido da Guiana Francesa em
desenvolvimento de sementes resistentes a meados do século XVIII. A planta adaptou-
pragas, uso de agrotóxicos e de máquinas se bem às condições climáticas do país,
agrícolas, por exemplo. A modernização da espalhando-se pelo litoral, até consolidar-se
agricultura resultou em mudanças no na Baixada Fluminense e no Vale do
espaço de produção agrícola e nas relações Paraíba, onde esteve ligada ao
de trabalho. desenvolvimento dessas áreas. O café foi o
Porém, o processo de modernização da principal produto de exportação do país
agricultura ocorreu de maneira desigual no durante o século XIX e início do século XX.
território brasileiro e variou de acordo com Atualmente, o Brasil é o maior produtor
o produto cultivado, seja uma cultura mundial.
permanente, aquela que não precisa ser

27
Geografia

O café solúvel é um exemplo da alimentar do país, pois a maior parte dos


industrialização do café antes de chegar ao alimentos consumidos tem origem na
consumidor. Observe no mapa a produção dessa organização.
distribuição geográfica da produção de café Nos últimos anos foram criados
arábica, planta originária da Etiópia programas de apoio à agricultura familiar
(África), que é o tipo mais cultivado no que buscam oferecer crédito para compra
Brasil. de equipamentos e construção de formas de
armazenamento da produção, como o
Soja Programa Nacional de Fortalecimento da
Entre as culturas temporárias, a soja Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa
destaca-se no Brasil contemporâneo, sendo Nacional de Fortalecimento da Agricultura
cultivada em grandes propriedades. Familiar Florestal (Pronaf Florestal), que
Atualmente, o Brasil é o segundo maior visa estimular a introdução de sistemas
produtor de soja do mundo, atrás apenas agroflorestais para a manutenção de áreas
dos Estados Unidos. Usada como matéria- que ainda possuem elevada biodiversidade.
prima para os mais diferentes setores da Há uma maior participação da
indústria, como cosméticos, farmacêutica, agricultura familiar na produção de
adubos, plásticos, fábricas de óleo, de mandioca, feijão, arroz, milho, café, trigo e
bebidas, de alimentos e de farelo. hortifrútis (hortaliças e frutas).
Parte importante dos complexos Com a mudança de hábitos alimentares,
agroindustriais integra-se à cadeia como a adoção de dietas sem produtos que
produtiva da soja, o principal produto tenham origem animal, cresceu a produção
agrícola exportado pelo Brasil. Essa cultura de hortaliças e frutas. O cultivo de
vem atraindo grandes investimentos hortaliças costuma ocorrer junto a áreas de
industriais no setor de processamento do elevado consumo, como as metrópoles e
produto. grandes cidades, o que facilita o transporte.
Recentemente, empresários chineses Já as frutas são cultivadas em diversos
passaram a investir na produção e estados e visam tanto ao mercado interno
processamento de soja no Brasil para quanto à exportação.
abastecer seu país de origem, o maior Como ocorre em atividades urbanas, a
consumidor de soja do mundo. mulher também atua nas atividades rurais.
Cultivada tradicionalmente nos estados
do sul do país desde a década de 1970, a Agricultura urbana, orgânica e
soja avançou sobre o Cerrado do Brasil florestal
central, transformando a paisagem dos No Brasil existe um movimento que
estados de Mato Grosso, Mato Grosso do cresce nos últimos anos envolvendo a
Sul e Goiás. Ela também está presente no produção agrícola. Trata-se dos agricultores
oeste da Bahia e no Mapito, nome dado à orgânicos, que buscam se opor ao uso de
região que compreende parte do Maranhão, agrotóxicos e à compra de sementes de
do Piauí e do Tocantins. empresas multinacionais.
Eles usam sementes crioulas, que são
Agricultura Familiar resultado da seleção de anos de práticas
A agricultura familiar consiste em uma agrícolas de pequenos agricultores.
organização social na qual, em geral, são Parte desses agricultores cultiva as
desenvolvidas atividades agropecuárias em sementes ou as compra de outros
um espaço rural. Este, por sua vez, é agricultores que as reproduzem sem uso de
gerenciado por uma família e há o intermediários ou de insumos químicos. Em
predomínio da mão de obra familiar. geral, eles estão organizados em
A produção agrícola da agricultura movimentos sociais, como o Movimento
familiar é fundamental para a segurança dos Pequenos Agricultores, que busca

28
Geografia

reunir agricultores empenhados em manter (frangos, perus) e suínos (porcos).


as práticas tradicionais no campo de modo Em muitas áreas, a criação de gado
a resgatar a identidade cultural de seus bovino também conheceu um processo de
integrantes. modernização: a pecuária extensiva, na
Já a agricultura urbana também pode ser qual os animais são criados soltos e ocupam
entendida como um movimento alternativo vastas áreas para pastar, foi substituída pela
de produção agrícola. Ela consiste em pecuária intensiva, na qual os animais são
cultivar em áreas propícias à agricultura em confinados em estábulos, onde recebem
cidades, como terrenos sem uso, e áreas alimentação balanceada para engorda.
livres em habitações e condomínios, por Novas experiências têm sido
meio de hortas comunitárias. O objetivo é desenvolvidas, como a associação entre a
oferecer comida saudável à população criação de peixes e o gado suíno. Segundo
local. Ela diminui os custos de transporte estudos recentes, o porco não aproveita nem
dos alimentos, que são cultivados em 30% da alimentação que recebe. O restante
pequena escala sem uso de agrotóxicos e é eliminado em suas fezes, dejetos
com sementes crioulas. causadores de poluição ambiental quando
O sistema agroflorestal (SAF) ou atingem os cursos de água. O esterco
agrofloresta é formado pela introdução de tratado do porco está sendo transformado
espécies para fins agrícolas em áreas em ração para alimentar peixes criados em
naturais ou em áreas degradadas. Neste tanques e lagos artificiais.
último caso, o replantio de árvores é feito Assim, o que era problema transforma-
associado à plantação de café e banana, por se em solução, fazendo com que os
exemplo. produtores economizem na limpeza e na
Os sistemas agroflorestais diminuem a alimentação de seus animais e
perda de solo por erosão, evitam a diversifiquem seus negócios ao investirem
compactação do solo (que costuma ocorrer também na produção de pescado.
pelo trânsito de máquinas pesadas) e ainda
mantêm a biodiversidade, já que, diferente Questões
da monocultura, produzem várias plantas
ao mesmo tempo. Outra vantagem é a 01. (Prefeitura de Fortaleza/CE –
possibilidade de controle de pragas de Professor Geografia – Prefeitura de
modo natural. Um inseto ou lagarta que Fortaleza - 2022) As atividades
surge na plantação pode ser fonte de econômicas e produtivas da sociedade
alimento de pássaros, atraídos pela encontram-se divididas em setores.
cobertura vegetal. Por fim, a maior Assinale a alternativa CORRETA que cita
presença de árvores garante maior acúmulo o setor da economia referente às atividades
de água das chuvas (que penetra mais de agricultura e de pecuária.
lentamente no solo) e temperaturas mais A - Setor de Serviços.
amenas. B Setor Primário.
C - Setor Industrial.
A Pecuária D - Setor Quaternário.
A pecuária, assim como a agricultura,
também sofreu profundas transformações 02. (Prefeitura de Betim/MG –
com a industrialização do campo. O Professor – Geografia – INSTITUTO
desenvolvimento de vacinas e técnicas de AOCP - 2020) Sobre as atividades rurais
controle de doenças, a alimentação, a do Brasil e suas implicações, assinale a
reprodução e o melhoramento das espécies alternativa correta.
por meio de pesquisas de laboratório foram A - Devido a características climáticas
responsáveis, em parte, pelo aumento da favoráveis, o Brasil se mantém como
produção de bovinos (bois, vacas), aves segundo maior produtor e exportador

29
Geografia

mundial de trigo, ficando atrás somente da p. 39) reitera que, “por ser a disciplina que
Rússia, líder no segmento. explica o espaço geográfico construído e
B - Os boias-frias são assalariados rurais organizado pela sociedade, seu estudo é
que, juntamente com a família, ocupam fundamental na formação do aluno
pequenas áreas de terras devolutas ou enquanto cidadão, na medida em que
improdutivas, isto é, terras que não estão permite a apropriação desse conhecimento
sendo utilizadas e que pertencem ao não negligenciado a particularidade dos
governo. lugares”11.
C - Apesar de ser um dos protagonistas A Geografia ainda contribui para o
do agronegócio mundial e ter modernizado fortalecimento do sentido de cidadania
sua agricultura, o Brasil ainda tem grandes quando expõem as disparidades sociais
desafios. Há grande concentração de existentes, quando ajuda o aluno a entender
riqueza em pequena parcela de os processos de dominação. E isso se dá na
propriedades rurais e existem milhões de medida em que o aluno tem o “contato
hectares de solos e pastagens degradados. cotidiano com o outro, que implica na
D - A Lei de Terras aprovada em 1966, descoberta de modos de vida, problemas e
durante o governo militar, assegurou que o perspectivas comuns. Por outro lado,
Estado tem a obrigação de garantir o direito produz junto com a identidade, a
ao acesso à terra para quem nela vive e consciência da desigualdade e das
trabalha. contradições nas quais se fundam a vida
E - O Brasil não apresenta riscos de humana” (CARLOS, 2003, p. 87).
desertificação de áreas agrícolas, pois está Essa disciplina possibilita trabalhar com
inserido na Zona Intertropical do planeta os alunos fenômenos que fazem parte da
sob forte influência de ventos alísios vida cotidiana deles e, diante disso,
úmidos. favorece a construção cidadã crítica, uma
vez que possibilita ao aluno compreender
Alternativas os processos de dominação existentes e
como esses se produzem. O discente passa
01 – B | 02 – C a reconhecer-se também como produtor do
espaço, criando sua identidade a partir do
lugar em que vive e por onde circula.
CASTELLAR, Sonia; VILHENA, Jerusa. Nesse aspecto, Portela (2017) acredita
Ensino de geografia. Coleção Ideias em que a Geografia enquanto disciplina escolar
ação- Cengage.2011 é a que melhor oferece condições de
entender e de desenvolver os conteúdos que
dizem respeito à cidade, uma vez que,
Contribuições geográficas advindas estuda espaço geográfico em conjunto com
do ensino de cidade as interferências da sociedade e propicia a
A contribuição da Geografia para o construção de pensamentos que incluem o
ensino de cidade está diretamente cotidiano.
relacionada à formação cidadã, uma vez Partir do pressuposto de uma
que lida com os aspectos sociais, aprendizagem baseada nos espaços de
econômicos, políticos e culturais que vivência dos alunos, agrega novos
podem ser debatidos em sala de aula dentro conhecimentos científicos aqueles
do conteúdo de cidade. Sobre o ensino da colocados pelo censo comum e demostra a
Geografia e formação cidadã, Gallo (2008, importância da Geografia. Para Castellar e

11 Alice Silva Costa Alelaf. Mugiany Oliveira Brito Portela. AS =&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiv0c2OxIr6AhWGqZUCHWVHDE


CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA PARA O ENSINO DE CIDADE E A A4FBAWegQIGRAB&url=https%3A%2F%2Fwww.revistaedugeo.com.br
FORMAÇÃO CIDADÃ. Revista Brasileira de Educação em Geografia, %2Frevistaedugeo%2Farticle%2Fdownload%2F971%2F550&usg=AOv
Campinas, v. 11, n. 21, p. 05-25, jan./dez., 2021. Vaw1-Rkd9B3XEkI-UdZsvj-uM. Visitado em 10.09.2022.
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd

30
Geografia

Vilhena (2010, p. 123), “ensinar e estudar um cidadão consciente das ações humanas
geografia tendo a cidade como ponto de em sua cidade e, consequentemente, no
partida facilita e socializa o processo de espaço geográfico.
aprendizagem, porque os alunos articulam Cavalcanti (2010, p. 7) considera que
os conceitos científicos em redes de “os objetivos do ensino de Geografia, nesse
significados que não lhes são estranhos”. eixo, estão, portanto, voltados para a
O ensino e o estudo dessa temática formação da cidadania, destacando-se nessa
facilita a aprendizagem, pois os conceitos formação o desenvolvimento da
geográficos que são apresentados em sala consciência de necessidade de luta pelo
de aula se tornam visíveis ao aluno em direito à cidade”. Para Gomes (2014), o ser
detrimento do seu cotidiano urbano, no qual cidadão está diretamente relacionado com a
os conceitos aprendidos podem ser capacidade de compreender e de participar
aplicados. Como destaca Cavalcanti (2010, ativamente das discussões políticas. A
p. 43), ao se ensinar sobre cidade, “[...] deve política ao qual o autor se refere é o ato de
se levar em consideração, portanto, o local, discutir ideias diferentes referentes a um As
o lugar do aluno, mas visando propiciar a contribuições da Geografia para o ensino de
construção por esse aluno de um quadro de cidade e a formação cidadã determinado
referências mais geral que lhe permita fazer assunto, não como o profissional político,
análises mais críticas desse lugar”. Trata-se mas como cidadão. É esse conhecimento
de um ensino capaz de despertar o olhar do politizado que torna os moradores da cidade
aluno para outros lugares e realidades, a, de fato, serem cidadãos e terem
incluindo os dele mesmo. condições de lutarem pelo direito aos
Esse tipo de conteúdo torna possível, a espaços da cidade.
partir do estudo de sua cidade e dos Para Cavalcanti (2010, p. 74), o ser
fenômenos ocorridos nela, conseguir cidadão consiste em “exercer o direito de
identificar em outros lugares os mesmos morar, de produzir e de circular na cidade;
fenômenos e os motivos que os exercer direito a criar à cidade é cumprir o
ocasionaram. Outro aspecto a ser dever de garantir o direito coletivo à
considerado nesse tipo de ensino é a cidade”. Seguindo o mesmo raciocínio da
contribuição dada para que o aluno construa autora, Siqueira (2014, p. 344) descreve que
sua identidade local e assuma o sentimento “a cidadania perpassa pelo direito de todos.
de pertencimento. Como afirma Gomes Direito a condições básicas de existência
(2014, p. 60), “a identidade é antes de tudo como moradia, saúde, educação, lazer,
um sentimento de pertencimento, uma transporte [...]”.
sensação de natureza compartilhada, de Além dos direitos citados pelos autores,
uma unidade plural, que possibilita e dá é importante salientar outros direitos:
forma e consistência à própria existência”. aqueles relativos à tecnologia e a
A cidade é um espaço socialmente informação. Aqui não se trata do ensino de
produzido pelo homem ao longo de séculos, informática, mas do acesso a recursos
que, durante seu processo de tecnológicos que possibilitem a troca de
(re)construção, esteve atrelado a diversos informações e a comunicação. Segundo
fatores sociais e econômicos. Apresenta em artigo publicado pelo MEC (s/d, p. 4),
sua estrutura vários aspectos relevantes ao referente à implantação de tecnologias na
ensino, pois representa de forma explícita educação no Ensino Médio, “não é mais
os aspectos culturais, históricos, possível pensarmos em cidadania plena,
econômicos, diferenças sociais e aspectos hoje, sem uma alfabetização tecnológica”.
ambientais de conservação ou degradação. No atual cenário da modernidade em que
Todos esses elementos são ensinados em vive a sociedade brasileira, no qual as
sala de aula, de modo a colaborar com a tecnologias estão inseridas de diversas
formação do aluno para que esse se torne formas, é impossível a escola, enquanto

31
Geografia

instituição que contribui com o processo de geográfico é visto ainda para Cavalcanti
formação cidadã, deixar de empregar (2010, p. 58) como: um conceito que
tecnologias nas práticas docentes. embora não seja elementar do raciocínio
Segundo Borba e Peteado (2001, apud geográfico [...] tem ganhado muita
Cursino, 2017, p. 45): O acesso à importância na educação geográfica. Por
informática deve ser visto como um direito ser de fundamental relevância para a
e, portanto, nas escolas públicas e compreensão da espacialidade
particulares o estudante deve usufruir de contemporânea e por ser uma possibilidade
uma educação que no momento atual de trabalhar concretamente com conceitos
inclua, no mínimo, uma “alfabetização geográficos básicos, como paisagem, lugar
tecnológica”. Tal alfabetização deve ser e território.
vista não como um curso de informática, O fato do ensino de cidade abranger os
mas sim, como um aprender a ler essa nova conceitos básicos da Geografia já mostra a
mídia. Assim, o computador deve estar potencialidade desse conteúdo frente às
inserido em atividades essências, tais como mudanças sociais, políticas, econômicas e
aprender a ler, escrever, compreender tecnológicas. Os conceitos e categorias da
textos, entender gráficos, contar, Geografia, que por momentos se
desenvolver noções espaciais etc. E, nesse apresentam de forma abstrata ao
sentido, a Informática na escola passa a ser entendimento do aluno, podem, pelo ensino
parte da resposta a questões ligadas à de cidade, ser mostrados de modo concreto.
cidadania. Quando o aluno tem a oportunidade de
O uso de tecnologias tem contribuído aprender Geografia pelos exemplos
para o exercício da cidadania brasileira; por encontrados em sua cidade, o raciocínio
exemplo, o site e-Democracia é uma geográfico se estabelece de modo eficaz.
importante via de comunicação que Em outros termos, conforme Castellar e
possibilita a população participar Vilhena (2010, p. 122), ao se estudar a
conjuntamente com o poder legislativo do cidade na Geografia, é importante realizar
Brasil na formulação de leis e projetos, A observação das áreas comerciais, do
além de permitir que sejam apresentadas centro histórico, das áreas residências, da
ementas de leis que podem ser votadas pela ocupação irregular, da exclusão geográfica
população. Assim, qualquer cidadão com e de sua correlação, permitindo ao aluno a
acesso à internet pode participar e opinar a compreensão do valor da cidade e de seus
respeito das políticas públicas que estão conflitos e contradições espaciais e as
sendo desenvolvidas no país. Mas, para dimensões culturais da população que nela
opinar nessas discussões é necessário que habita.
se possua o conhecimento politizado. A realização do estudo da cidade deve
O uso da internet para manter-se levar o aluno a compreender as diferenças
conectado é uma ferramenta que poder ser ocorridas no tempo/espaço e os fatores que
usada para o exercício da cidadania; no as ocasionaram/ocasionam na cidade. Por
entanto, a rede, por si só, não garante este esse viés, o aluno pode ser levado a
exercício. Assim, as tecnologias da verificar os contrastes nas paisagens
informação como a internet apresentam encontradas na cidade, suas diferenças
possibilidades para o exercício da históricas e culturais, os aspectos políticos
cidadania, mas, para isso, é necessária a e econômicos que os constituem.
formação adequada e, nesse aspecto, a Ainda segundo Castellar e Vilhena
Geografia escolar, no ensino de cidade, por (2010), o estudo da cidade colabora de
incluir o uso das tecnologias, pode forma decisiva para que os alunos
contribuir para o processo de formação identifiquem as ações sociais e culturais de
cidadã. diferentes lugares e se reconheçam nesse
O ensino de cidade como conteúdo processo, na compreensão de que a vida em

32
Geografia

sociedade é dinâmica e que o espaço colocando o seu saber, como especialista,


geográfico absorve essas mudanças para criar condições para os alunos
realizadas pela sociedade. construírem um conhecimento crítico sobre
O ensino de cidade, segundo Cavalcanti o mundo. Criar condições para formar
(2010, p. 58), também deve contribuir “para cidadãos que saibam trabalhar com o saber
o desenvolvimento de habilidades geográfico”. Não se trata da apresentação
necessárias aos deslocamentos do aluno, do conhecimento geográfico como um fim
seja em espaços mais imediatos de seu em si mesmo, mas com o intuito de fazer
cotidiano, seja em espaços mais complexos, com que o aluno consiga por si só aplicar e
habilidades que são fundamentais, mesmo utilizar os saberes geográficos.
que não suficiente, para usufruir do pleno Ao tratar do ensino geográfico pelo
direito à cidade”. Complementando esse conteúdo de cidade, os alunos começam a
raciocínio, Castellar e Vilhena (2010, p. vivenciar esse conteúdo de modo mais
123) expõem que Ao incorporar-se a direto nas séries iniciais do Ensino
linguagem cartográfica na elaboração de Fundamental maior. Nessa etapa, o aluno é
mapas e roteiros criados a partir de levado a conhecer aspectos que compõem a
observações do cotidiano, estimula-se um cidade e a diferenciar esse espaço do
instrumental de pesquisa que torna mais campo. As primeiras noções sobre a cidade
acessível à compreensão dos conceitos iniciam-se pelo estudo do lugar,
geográficos e, simultaneamente, fornece caracterizando esses espaços com suas
elementos de análise e intervenção concreta construções expressas nas paisagens
na realidade urbana em que vivem os cotidianas do viver urbano. O aluno passa a
próprios estudantes. perceber a cidade como uma criação social
A cartografia na Geografia é tomada e histórica.
como uma linguagem que é tão importante As discussões presentes no conteúdo
quanto saber ler, pois apresenta símbolos e expresso da cidade como objeto de estudo
signos que necessitam de interpretação para podem abarcar de modo amplo uma
que se consiga compreender as informações variedade de outros aspectos da Geografia,
presentes em cartas e mapas. Para os PCNs como enfatiza Bento (2011, p.72) “estudar
(1998, p. 33), “esta linguagem possibilita cidade abre uma imensidão de sentimentos
sintetizar informações, expressar e perspectivas, incluem-se conceitos e
conhecimentos, estudar situações, entre categorias diversas que podem ser
outras coisas, sempre envolvendo a ideia da apresentados aos alunos de forma real e
produção do espaço: sua organização e eficaz”, como a própria cartografia, que nos
distribuição”. estudos geográficos tem como objetivo
Os PCNs (1998) orientam que “é apresentar a localização dos fenômenos
fundamental que o espaço vivido pelos espaciais.
alunos continue sendo o ponto de partida É evidente que o ensino de cidade para a
dos estudos [...] e que esse permita Geografia escolar tem respaldo legal.
compreender como o local, o regional e o Por exemplo, as Leis e Diretrizes, bem
global relacionam-se nesse espaço”. Com como os currículos oficiais, apontam que a
base nisso, para ensinar a cidade como formação cidadã é um dos objetivos do
espaço de vivência do aluno, sugere-se ao ensino de Geografia; nessa particularidade,
professor que faça essas interligações entre a compreensão sobre a cidadania está
os espaços, para que os alunos consigam atrelada ao ensino sobre cidade.
entender as interações entre o local, o A contribuição da Geografia para o
regional e o global. aluno, segundo a BNCC (2018, p. 353)
Os PCNs (1998) afirmam que o papel do consiste em “desenvolver o pensamento
professor no ensino de Geografia é assumir espacial, estimulando o raciocínio
a postura “de um educador que está geográfico para representar e interpretar o

33
Geografia

mundo em permanente transformação e Como afirma Cavalcanti (2010, p. 36),


relacionando componentes da sociedade e “na prática, a Geografia ensinada não
da natureza”. Para Cavalcanti (2019), o consegue, muitas vezes ultrapassar ou
raciocínio geográfico é um modo de operar superar as descrições e as enumerações de
o pensamento geográfico e esse, por sua dados e fenômenos como é tradição dessa
vez, diz respeito à capacidade de analisar disciplina”.Apesar de ainda ser uma prática
geograficamente os fatos ou fenômenos. A comum, a abordagem da Geografia já vem
disciplina de Geografia tem o compromisso buscando novas formas pedagógicas de
de possibilitar o entendimento do aluno ensino-aprendizagem que coloquem o
acerca do mundo à sua volta, bem como das aluno em diferentes situações de vivência
transformações a que está submetido. com os lugares.
Nesse intuito, o ensino de Geografia Bento (2011) afirma que o professor
deve ter por objetivo apresentar a realidade consegue atingir maior interesse dos alunos
vivenciada pelos alunos, trazendo aportes quando o assunto constitui algo da
teóricos e conceituais, com o intuito de realidade deles, pois, dessa forma, os alunos
possibilitar seu desenvolvimento podem estudar a partir de observações e de
intelectual correspondente à construção de conversas com aqueles que vivem há mais
conhecimentos referentes a temas tempo nesses lugares. Segundo Cavalcanti
geográficos que colaboram para a formação (2010, p. 43):
do aluno como cidadão que sabe exercer Para que os alunos entendam os espaços
sua cidadania. de sua vida cotidiana, que se torna
Aqui a cidadania diz respeito ao sujeito extremamente complexos é necessário que
consciente de seus direitos e pró-ativo na aprendam a olhar, ao mesmo tempo, para
sociedade e não apenas àquele residente da um contexto mais amplo e global, do qual
cidade. todos fazem parte, e para os elementos que
De acordo com a BNCC (2018), o os caracterizam e distinguem em contexto
raciocínio geográfico é uma forma de local”.
exercitar o pensamento espacial, ação que
favorece a compressão de aspectos Questões
fundamentais da realidade. A Geografia
ganha sua notabilidade social quando 01. (Prefeitura de São José de
estuda as relações humanas no processo Princesa/PB – Professor Educação
histórico e no espaço e por meio de leituras Infantil – CONPASS) Um dos objetivos
do lugar, do território, a partir de sua do ensino de Geografia nos anos iniciais do
paisagem. Esses são conceitos que podem Ensino Fundamental é levar o aluno a
ser observados de forma mais evidente no identificar e relacionar aquilo que na
ensino do conteúdo de cidade. Para isso, o paisagem representa as heranças das
professor pode se apropriar dos aspectos sucessivas relações no tempo entre a
históricos-sociais da própria cidade com sociedade e a natureza. Nesse sentido, a
que o aluno convive Para Bento (2011, p. análise da paisagem deve:
73), a cidade pode estar sendo analisada na A - a descrição e o estudo de um mundo
perspectiva do lugar que nesse contexto: estático
Desempenha um papel único na vida das B - os processos físicos inseridos em
pessoas que habitam, pois ali elas têm laços, contextos exclusivamente particulares
principalmente culturais, no que diz C - os processos sociais inseridos em
respeito ao modo de vida, ao modo de fazer contextos exclusivamente particulares
as coisas, de se relacionar com a natureza e D - focar as transformações em seu
com o espaço vivido e, se toda essa relação dinamismo
não existir, esse lugar não terá significado E - os processos biológicos inseridos
para o indivíduo. apenas em contextos particulares

34
Geografia

02. (Prefeitura de São José os a escrita e a discussão precisam ser


Campos/SP – Professor I – VUNESP) A garantidas como procedimentos
Geografia tem como objeto de estudo as fundamentais para a formação cidadã em
relações entre o processo histórico que relação às metamorfoses do mundo
regula a formação das sociedades humanas contemporâneo12.
e o funcionamento da natureza, por meio da Como bem ilustra Callai (1999) primeiro
leitura do espaço geográfico e da paisagem. é preciso possuir clareza do por que estudar
Nos primeiros anos do Ensino Geografia. Para a autora há três razões para
Fundamental, o ensino de Geografia deve ensinar essa disciplina na sociedade
abordar principalmente o estudo da contemporânea: “conhecer o mundo e obter
paisagem, do lugar e do território. Nos informações; conhecer o espaço produzido
Parâmetros Curriculares Nacionais de pelo homem e contribuir na formação do
História e Geografia, paisagem é definida cidadão”.
como uma Dessa forma, desde as séries iniciais
A - unidade visível, com múltiplos precisa desenvolver nos educandos a
espaços e tempos, em permanente capacidade de observar, analisar,
transformação, resultante da interação entre interpretar e raciocinar criticamente o
seus elementos sociais, culturais e naturais. espaço geográfico e as suas transformações.
B - unidade visível, caracterizada pela Esses procedimentos de ensino-
relação dinâmica entre os elementos apredizagem em Geografia são bem
biofísicos da natureza. ilustrados por Cavalcanti (2002; 2006).
C - síntese de distintos espaços Além disso, acrescenta “o ensino de
topológicos caracterizados pela semelhança Geografia precisa levar o educando a
entre seus elementos bio- físicos. compreender a sua realidade sob o ponto de
D - unidade geográfica caracterizada vista de sua espacialidade”. A mesma
pela relação assimétrica entre fatores de autora enfatiza que "a Geografia na escola
ordem culturais e econômicos. tem a finalidade de formação de modos de
E - configuração da dinâmica política de pensar geográficos por parte dos alunos".
uma região, de um estado ou de uma nação. Nesta proposta de ensino de Geografia
precisa ressaltar, portanto, a espacialidade
Alternativas do universo vivido e percebido pelos
educandos para evidenciar as contradições
01 – D | 02. – A da sociedade contemporânea a partir do seu
lugar vivido. Para (STRAFORINI, 2004) é
dessa forma que o educando possa obter o
STRAFORINI, Rafael. Ensinar
geografia: o desafio da totalidade-mundo
esclarecimento e criar inquietações para
nas séries iniciais. São Paulo: conquista de outra possibilidade de
Annablume, 2004 existência humana.
Neste caso, a Geografia destaca-se desde
as séries iniciais ao oferecer a alfabetização
O ensino de Geografia nas séries iniciais escrita e a alfabetização cartográfica no
precisa interpretar e problematizar os plano oficial do ensino público e privado.
fenômenos espaço-temporal na perspectiva Assim, os educandos conforme as
de propiciar ao educando conhecer, habilidades e competências dos educadores
desenvolver o espírito investigativo e, podem também perceber e compreender o
também, estabelecer sua comunicação espaço vivido, através do trabalho com a
corporal, afetiva e social com os elementos alfabetização cartográfica.
do espaço geográfico. Além disso, a leitura,

12 A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS NAS SÉRIES INICIAIS. https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/17560216022012Metod


Metodologia de Ensino. ologia_do_Ensino_de_Geografia_Aula_7.pdf. Vistado em 10.09.2022.

35
Geografia

A alfabetização cartográfica consiste na Como por exemplo, as questões sociais


construção de conhecimentos, signos e adentram, todos os dias, pela mídia a
representações, referentes à compreensão e vivência dos alunos.
leitura de legenda, cartogramas, tabelas, Sobre esse quesito, Straforini (2004, p.
gráfico, mapas, cartas e imagens 77) assegura: se esse desafio não for
(fotografias e imagens de satélites). Como enfrentado continuaremos como uma
se pode observar, o ensino de Geografia disciplina irrelevante ou secundária nas
precisa cultuar de forma mais significativa séries iniciais, participando no conjunto das
esse recurso desde as séries iniciais na disciplinas como aquela na qual se
perspectiva de ampliar e possibilitar uma encaixam as atividades comemorativas.
leitura mais completa da realidade espacial No mesmo sentido, a compreensão da
do mundo contemporâneo. escala do fenômeno geográfico esbarra
Sobre o processo de alfabetização nas tanto na indigência pedagógica como na
séries iniciais Callai (1999, p.65) assevera teórica conceitual por parte da maioria dos
que: “a compreensão da alfabetização como educadores que ensinam nas sereis iniciais.
capacidade de leitura não só do texto, mas Straforini (2004) ainda aponta a existência
também da experiência humana vivida por de um possível desencontro teórico-
todos, cotidianamente, e de escritura, metodológico da Geografia com a
igualmente não só do texto, mas também Educação. No entanto, a compreensão da
como construção da própria história não “totalidade-mundo”, ou melhor, dos
ocorre. Num e outro caso entende-se fenômenos sociais que assolam a vida dos
leitura/escrita não só como uma habilidade educandos dos diversos lugares geográficos
mecânica, mas como uma manifestação de precisa ultrapassar o “método sintético” e o
cidadania. Neste sentido, a alfabetização do “método analítico”. Dessa forma, há
ler e do escrever (inclusive mapas) é um possibilidade desde as séries iniciais dos
meio para a constituição do cidadão que educadores, principalmente, dos
sabe o quê, e por que, lê e/ou escreve. “geógrafos-educadores” contextualizar a
Como se observa a alfabetização tanto sobreposição e a multiplicidade de
escrita como cartográfica precisa fenômenos sociais, econômicos, políticos e
transcender os construtos pedagógicos e culturais que interferem a vida e, até
conceituais para alcançar a mesmo, a tranqüilidade do ser criança neste
contextualização da vida na escola. período de globalização de algumas
Através, também, dessa alfabetização há porções do território.
possibilidade de promover ações Em síntese, o ensino de Geografia nas
interdisciplinares em diálogo com as outras séries iniciais precisa no mínimo (re)
disciplinas ministradas (Matemática, dimensionar as competências e as
Ciências, Português, Educação Física e habilidades conforme os níveis cognitivos
outras). Podendo, assim, ampliar a dos educandos para formação de conceitos
produção de relações, sentido e significado e, sobretudo, para a vida.
no processo de ensino-aprendizagem nas Para isso, faz-se necessário tanto
séries iniciais tanto para os educandos conhecer as linhas pedagógicas como o
como para os educadores. pensamento geográfico. Desse modo,
Há na atualidade do ensino de Geografia acredito que quanto mais qualificado
desde as séries iniciais a necessidade de (formação continuada voltada para a
ultrapassar o conhecimento imediato (o educação geográfica) do pedagogo e do
local) para outras escalas – estaduais, “geógrafo-educador” maiores serão as
regionais e globais (vice-versa) -, uma vez possibilidades das escolas e da Geografia
que o universo vivido pelos alunos torna-se formar os “pequenos-educandos” na
interconectado às múltiplas perspectiva de conquistarem suas próprias
territorialidades do mundo contemporâneo. autonomias no raciocínio espacial e,

36
Geografia

conseqüentemente, tornarem cidadãos D - o embasamento teórico-conceitual


críticos e reflexivos. nas ideias de Lev Vygostky, na chamada
teórica sócioconstrutivista ou sócio-
Questões histórica.
E - a compreensão da relação entre as
01. (SEDU/ES – Professor B – escalas local e global por meio dos
Geografia - CESPE/CEBRASPE) A chamados círculos concêntricos.
cerca das metodologias de ensino de
geografia, julgue o item que se segue. Alternativas
A dinamização de fatos concretos da
realidade geográfica é a proposta de 01 – Errado | 02 – E
metodologia que pode contribuir para o
estudante compreender a organização do
espaço geográfico, dando condições para se
estabelecerem análises do mesmo,
buscando evitar a facilidade para a
realização de uma pesquisa de observação
que se restrinja somente à descrição.
( ) Certo
( ) Errado

02. (Prefeitura de Capim/PB –


Professo B Geografia – FACET
Concursos - 2020) “O ensino de geografia
contribui para a formação da cidadania por
meio da prática de construção e
reconstrução de conhecimentos,
habilidades, valores que ampliam a
capacidade de crianças e jovens
compreenderem o mundo que vivem e
atuam, numa escola organizada como um
espaço aberto e vivo de culturas. ”
CAVALCANTI, Lana de S. A Geografia
Escolar e a Cidade: Ensaios sobre o ensino
de geografia para a vida urbana cotidiana.
Campinas/SP: Papirus, 2008. p.81.
Para se atingir os objetivos e
contribuições destacados pela autora, nos
últimos anos a Geografia Escolar tem se
pautado, no plano teórico-metodológico,
nas seguintes perspectivas, EXCETO:
A - a formação de conceitos geográficos
enquanto instrumentalizadores do
pensamento espacial.
B - a atenção especial em relação ao
lugar, por se encontrar ali a dinâmica da
vida cotidiana.
C - o desenvolvimento da linguagem
cartográfica como recurso importante no
pensamento espacial.

37
História

SUMÁRIO

A história dos brinquedos: brinquedos de outros povos e de outros tempos ...... 1


A história dos jogos e brincadeiras: nossas brincadeiras e de outras culturas e
épocas... ................................................................................................................... 5
Os espaços lúdicos na Cidade de São Paulo:os espaços de lazer e brincadeiras na
Cidade de São Paulo .............................................................................................. 13
História das relações das sociedades com as águas e os rios ............................ 19
O modo de vida urbano no presente e no passado ............................................ 30
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto,
1998 ....................................................................................................................... 32
GUIMARÃES, Selva. Didática e Prática de Ensino de História. Papirus, 200936
PEREIRA, Amilcar Araújo; MONTEIRO, Ana Maria (org.). Ensino de história e
cultura afro-brasileiras e indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013. ....................... 45

Apostilas
Domínio
História

fluxo em que perdemos a noção do tempo e


A história dos brinquedos: brinquedos de de nós próprios.”
outros povos e de outros tempos O acompanhamento natural para os dois
tipos de brincadeiras humanas – imitativas
e instrutivas – é o brinquedo. E embora
alguns brinquedos tenham evoluído, outros
Uma Breve História Sobre
permaneceram notavelmente consistentes
Brinquedos
com algumas das primeiras iterações
Desde paus e berlindes a ursos de conhecidas na história da civilização
peluche e ao Rato Mickey, os brinquedos humana – quer sejam paus que eram usados
acompanharam sempre os avanços como bengalas, ou a curiosidade natural por
tecnológicos e humanos – embora alguns objetos rolantes que levaram à criação da
tenham permanecido notavelmente fiéis às bola. Desde pedaços do ambiente natural
suas raízes. que eram arremessados, a memórias
O ato de brincar é tão antigo quanto a preciosas de tempos felizes passados ao
própria humanidade. Há até uma definição longo de gerações, os brinquedos cresceram
científica para isto: um comportamento em paralelo com a civilização humana e
agradável, praticado de forma repetida e tornaram-se num dos seus alicerces.
sem razão aparente, que é semelhante, mas Seguem-se alguns exemplos notáveis de
não idêntico, a outros comportamentos – e brinquedos que, à sua maneira, alteraram a
que também se propaga pelo reino animal. forma como brincamos.
Há estudos que observaram animais a
Os primeiros brinquedos
brincar, como por exemplo crocodilos,
Dado que os primeiros brinquedos eram
chimpanzés e vespas1.
provavelmente objetos naturais, as suas
Em relação ao motivo pelo qual as
evidências são raras, mas especula-se que
espécies de todos os tipos brincam, há uma
provavelmente eram paus e pedras, ossos,
série de teorias que vão desde testes para a
cordéis ou uma combinação entre estes
idade adulta, desenvolvimento de aptidões
objetos. E podem ter sido usados para
motoras e inteligência física, ao
imitar atividades de adultos, que usavam
aperfeiçoamento de capacidades de
armas para caçar – e usados como uma
comunicação. E claro, pela simples
espécie de treino para auxiliar na
diversão, que pode ser completamente
autopreservação necessária para sobreviver
inútil, mas que mentalmente é gratificante.
à idade adulta.
“Para mim, uma das qualidades mais
As bolas criadas com o intuito de brincar
evidentes de brincar é o facto de não ter
provavelmente figuram entre os primeiros
estritamente um propósito – é isso que
brinquedos feitos intencionalmente. Pedras
diferencia uma ação lúdica de outra que
semipreciosas em forma de berlindes, que
parece virtualmente idêntica”, diz
se acredita remontarem a 3000-4000 a.C.,
Christopher Bensch, vice-presidente de
foram desenterradas no túmulo de uma
coleções e curador do Strong National
criança no Egito, e toda a civilização
Museum of Play em Rochester, Nova
egípcia cresceu com uma cultura recreativa
Iorque. “Adoro jardinagem e considero isso
muito desenvolvida que incluía bonecas
uma forma de brincar, mas se alguém me
primitivas, desportos com bolas feitas de
mandar cavar 100 buracos, isso passaria a
papiro e tecido, ou feno, e jogos de tabuleiro
ser um trabalho ou uma obrigação.”
como o senet. E há jogos modernos que
“Brincar é restaurador e cativante”,
derivam do “jogo da bugalha”.
acrescenta Christopher. “Na sua forma mais
imersiva, brincar leva-nos a um estado de
1 Simon Ingram. Uma Breve História Sobre Brinquedos. National sobre-brinquedos. Visitado em 12.09.2022.
Gegraphic. https://www.natgeo.pt/familia/2020/12/uma-breve-historia-

1
História

Brinquedos com cordéis vindos das Filipinas. Algumas fontes


Não se sabe quando é que surgiu o supõem que ‘ioiô’ significa ‘venha, venha’
primeiro papagaio, um brinquedo que é há no idioma Tagalog.
muito tempo considerado um símbolo de
alegria nas crianças – embora se acredite A ilustre boneca
que tenha sido inventado na China ou As bonecas estão entre os brinquedos
possivelmente na Indonésia, entre 400 a.C. mais antigos e culturalmente universais.
e 1000 a.C. Os papagaios parecem ter sido Estas imitações em miniatura de humanos
usados para diversos fins, desde são símbolos poderosos e têm sido usados
ferramentas de pesca a dispositivos de desde a aurora dos tempos em tudo, quer
comunicação e instrumentos de medição – seja para fins artísticos ou religiosos, ou
com utilidades no campo de batalha – mas usados como talismãs e para a chamada
também como forma de tributo e, claro, magia negra. Já foram escavadas “bonecas
como brinquedo. Não se sabe muito sobre de pás” esculpidas em madeira de túmulos
os modelos antigos, pois os papagaios não egípcios que datam de cerca de 2000 a.C..
são propícios à preservação durante Em 2017, foi desenterrada uma boneca
milhares de anos; mas os primeiros esculpida em pedra-sabão, com
modelos provavelmente eram feitos de sobrancelhas e maçãs do rosto, no túmulo
papel ou seda, com iterações posteriores de uma criança na Sibéria que datava da
projetadas para refletir temas mitológicos. Idade do Bronze, há cerca de 4500 anos. As
bonecas também surgem no reino animal,
Nas mãos de adultos, o papagaio iria com jovens fêmeas chimpanzés no Uganda
transcender os fins militares para se tornar a exibirem tendências de carinho para com
numa ferramenta científica cada vez mais pequenos ramos de árvores, e os estudos
elaborada, desencadeando o fascínio dos sugerem que este comportamento não é
humanos pela aerodinâmica de voo – dando apenas lúdico, revela também preferências
eventualmente origem, no sentido mais de género por brinquedos nos nossos
literal, às aeronaves. Mas o design simples parentes primatas.
(e provavelmente os materiais) dos Desde então, as bonecas assumiram
primeiros papagaios perdura nos muitas formas: desde bonecas de palha de
brinquedos até hoje. milho, papel e argila, a bonecas russas
Matrioska, bonecas Daruma japonesas e as
O ioiô provavelmente também veio da bonecas Layli iranianas. Em meados do
China e espalhou-se de forma abrangente século XIX, as “bonecas chinesas” com
tanto para leste como para oeste. Na Grécia cabeças de porcelana e corpos feitos de
Antiga já era certamente utilizado, pelo têxteis como tecido e couro tornaram-se
menos em 1000 a.C., com discos feitos de muito populares na Europa, sendo a
pedra, e mais tarde de madeira e terracota. Alemanha e a França os principais
O ioiô já teve vários nomes ao longo da sua produtores. Muitas das bonecas foram
história, incluindo bandalore, whirligig e, inicialmente projetadas para se parecerem
em França, l'emigrette – este último com mulheres adultas; por volta de 1850,
significa “abandonar o país”, uma começaram a ficar mais parecidas com
conotação sinistra que faz referência à crianças, geralmente com roupas e
popularidade deste brinquedo junto da acessórios personalizáveis, bem como casas
aristocracia francesa que fugiu do país elaboradas. As bonecas 'bisque' – assim
durante a Revolução Francesa. Este designadas devido à porcelana ‘biscoito’
brinquedo recuperou o nome ‘ioiô’ nos que lhes conferia características com um
EUA em 1916, quando o seu nome foi acabamento mate realista – tornaram-se
verificado num artigo publicado na populares na segunda metade do século
Scientific American sobre brinquedos XIX, com os modelos mais caros a terem

2
História

por vezes acabamentos com cabelo humano acessíveis com o advento dos processos
verdadeiro. industriais que permitiam a produção de
O fabrico de bonecas evoluiu para engrenagens e mecanismos a baixo custo,
materiais de construção mais resistentes – resultando no aparecimento de brinquedos
com uma mistura de resinas, cola e autónomos aos quais bastava dar corda para
serradura – e recebeu um design mais agirem por conta própria. Foi o nascimento
elaborado no início do século XX, como de uma mecânica ‘real’ em pequena escala
por exemplo a boneca querubim Kewpie e que iria levar à integração de inovações que
a boneca Bye-Lo, que tinha olhos de vidro iriam inspirar muitos brinquedos. Foi este
que fechavam quando se reclinava. Com o tipo de inovação técnica que deu origem a
avanço nos têxteis plásticos e sintéticos, as brinquedos como Tickle Me Elmo e Furby
bonecas atingiram o seu auge no mercado – mas com mais eletrónica e pilhas no seu
de massas em 1959, quando a Barbie da interior”, diz Christopher.
Mattel – uma encarnação de 30 centímetros Em meados do século XIX, para imitar o
de uma ‘modelo adolescente do mundo da advento das viagens a vapor que tinham
moda’ – fez a sua estreia em fato de banho tomado o mundo de assalto, começaram a
e duas cores opcionais para o cabelo. surgir os primeiros comboios de brincar. As
A boneca Barbie, abreviatura para primeiras versões variavam entre modelos
Barbara Millicent Roberts, foi e continua a de ferro fundido, modelos de chumbo com
ser um fenómeno cultural: desde então já se rodas fixas e modelos em miniatura a vapor,
venderam mais de mil milhões de unidades, que tinham o hábito de incendiar os pisos e
e as suas diversas identidades incluem mais móveis dos seus proprietários.
de 200 profissões. Contudo, estes comboios eram
Embora a Barbie tenha recebido o seu inicialmente brinquedos individuais – ao
companheiro Ken em 1961, os estereótipos invés de fazerem parte de um conjunto que
na época significavam que os rapazes podia ser expandido como um sistema de
teriam de esperar até que surgisse um ferrovias real. Em 1891, a Marklin,
boneco que quebrasse as barreiras de fabricante de brinquedos alemã que tinha
género – ou melhor, um “boneco de ação”. experiência com as casas de bonecas
Em 1964, foi lançado no mercado norte- infinitamente expansíveis (e infinitamente
americano de brinquedos o G.I. Joe, lucrativas), começou a criar os primeiros
surgindo no Reino Unido dois anos depois conjuntos de ferrovias personalizáveis,
sob a licença Action Man. Christopher completos com comboios produzidos em
Bensch tem um protótipo da vertente G.I. massa e medidores padronizados. Estes
Joe da Marinha na coleção do National brinquedos continuam a atrair pessoas de
Museum of Play, e também é um artefacto todas as idades – com personagens como
com uma peculiaridade: “Por muito Thomas a prenderem o interesse das
masculino que o G.I. Joe seja, este protótipo crianças, e os entusiastas adultos a
é na verdade um boneco Ken padrão que foi fomentarem um passatempo que vive de
modificado para parecer mais valente.” detalhes intrincados.

A revolução industrial (dos De ursos de peluche ao Rato Mickey


brinquedos) Embora tenham sido encontradas
As técnicas de produção em massa e o esculturas de animais em túmulos de
aparecimento das viagens a vapor também crianças no Antigo Egito, e as bonecas de
deram origem a novos e emocionantes pano caseiras existirem desde pelo menos
brinquedos. “No século XIX, os brinquedos os tempos romanos, os animais de peluche
mecânicos de corda mudaram o são uma invenção relativamente recente.
paradigma”, diz Christopher Bensch. “Os Em 1880, Margarete Steiff, uma costureira
brinquedos elaborados tornaram-se mais alemã, começou a criar almofadas de

3
História

alfinetes em forma de elefante. Depois de assumiu a liderança e começou a produzir


perceber que muitas crianças acabavam por em massa os bonecos do Mickey e da
usar as almofadas como brinquedos, Minnie com as indicações de Charlotte – e
Margarete começou a fazer mais animais. até hoje este brinquedo continua a ser um
Em 1902, nos Estados Unidos, o então ícone.
presidente Theodore ‘Teddy’ Roosevelt foi Atualmente, com os avanços em
caricaturado pelo artista Clifford Berryman segurança de material e no design, os
na sátira de uma cena que aconteceu brinquedos de peluche são tão
durante uma viagem de caça onde o omnipresentes quanto os cobertores para
presidente se recusou a disparar contra um bebés, e estão entre os itens que muitos
urso. apreciam até à idade adulta.
A caricatura iria inspirar um inventor
chamado Morris Michtom a criar um Fomentar a criatividade
protótipo de boneco de peluche a quem Os princípios do educador alemão
Morris chamou “Teddy's Bear”. Margarete Friedrich Froebel iriam inspirar uma
Steiff começou a fazer ursos de peluche na abordagem holística à educação infantil que
mesma época, e os dois brinquedos iriam fomentava a criatividade e as atividades
tornar-se extremamente populares – com a lúdicas – e mais tarde levariam Friedrich a
frase “Teddy Bear” a entrar no vocabulário cunhar o termo “jardim de infância”.
cultural das crianças de forma mais ou Friedrich abriu o primeiro jardim de
menos instantânea. infância na sua cidade natal, Bad
Mais brinquedos de peluche se Blankenburg, em 1840. Para além de
seguiriam, com Peter Rabbit, da autora estimular atividades como origami e
Beatrix Potter, a ser o primeiro brinquedo artesanato enquanto ferramentas
deste género a ser patenteado em 1903. educacionais, Friedrich também criou um
Após a Primeira Guerra Mundial, a Grande conjunto de ‘presentes’ – blocos
Depressão nos Estados Unidos deu origem geométricos simples de madeira – com os
a uma vaga de brinquedos artesanais que quais as crianças podiam fazer estruturas
assumiam a forma de “macacos feitos de durante as suas brincadeiras.
meias”. Os brinquedos que inspiravam
Com o advento do cinema, depois da construções criativas deram um grande
estreia de Mickey em Steamboat Willie, a salto no início do século XX. Frank
costureira Charlotte Clark de Los Angeles – Hornby, um inventor de Lancashire que
com a ajuda dos esboços do seu sobrinho – mais tarde também seria responsável pelos
criou os primeiros bonecos do Rato Mickey Dinky Cars e pelo conjunto de comboios
em 1930, sob a licença da The Walt Disney homónimo, inventou os brinquedos
Company. (A The Walt Disney Company é Meccano em 1900. Neste ano também se
proprietária maioritária da National fez a primeira produção comercial de
Geographic Partners.) plasticina, um material de moldagem
Aparentemente, o próprio Walt Disney parecido com argila que tinha sido
adorava as criações de Charlotte Clark, que inventado três anos antes como ferramenta
foram originalmente distribuídas pelas de ‘expressão livre’ por um artista britânico
pessoas que trabalhavam no estúdio. Mas a chamado William Harbutt.
procura aumentou rapidamente – e para não Os brinquedos posteriores iriam
alterar o design característico desenvolvido depender menos da arte e mais da física. O
por Charlotte – a Disney permitiu que o brinquedo Slinky foi desenvolvido em
padrão de costura do peluche se tornasse 1945, depois de Richard James, um
público, permitindo aos interessados em ter engenheiro naval de Filadélfia, ter feito
um Mickey fazer o seu próprio modelo. Em uma mola cair de uma prateleira e observar
1934, a Knickerbocker Toy Company a mola graciosamente a “caminhar” pelo

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História

chão, onde parou na vertical. Este C - Explorar brincadeiras com liberdade


brinquedo improvável teve muito sucesso: na escola representa um descompromisso
feito com 24 metros de arame e enrolado 98 pedagógico com a criança.
vezes, estima-se que o volume de D - Mediações pedagógicas exploram o
brinquedos Slinky vendido desde o início brincar como parte do processo de
da empresa circundaria o equador 121 desenvolvimento integral da criança.
vezes. E - A brincadeira com regras se impõe
Na Europa, um brinquedo igualmente na escola como expressão que legitima a
icónico também teve uma origem prática pedagógica da educação física.
improvável. Em 1932, durante a depressão
económica entre guerras, um carpinteiro 02. (Prefeitura de Pontes e Lacerda –
dinamarquês chamado Ole Kirk Professor de Educação Infantil –
Christiansen, cujo negócio passava por SELECON - 2022) Para Vygotsky, a
tempos difíceis, iniciou a produção de brincadeira pode ter papel fundamental no
brinquedos simples feitos de bétula. Como desenvolvimento da criança, na qual o jogo
o negócio de brinquedos era lucrativo, as lúdico e o jogo de papéis possibilitam que
suas instalações expandiram-se – haja uma atuação na zona de
recebendo a entrega da primeira máquina desenvolvimento proximal. Nessa
de moldagem de injeção de plástico em perspectiva, uma importante experiência
1947. Em 1949, a empresa começou a que favorece as crianças é:
produzir um produto de brincar chamado A - brincar de mamãe e filhinha no jogo
“tijolo de ligação automática”. Mas por esta do faz de conta
altura já este brinquedo tinha um nome – B - promover jogos com bolas em áreas
uma combinação entre as palavras abertas junto aos colegas
dinamarquesas leg godt, ou ‘brincar bem’: C - imaginar situações e representá-las
LEGO. por meio de desenhos e pinturas
D - fazer atividades de modelagem com
Questões uma variedade de forminhas

01. (SEED/PR – Professor - Alternativas


CESPE/CEBRASPE - 2021) Ao brincar, 01 – D | 02 – A
a criança não está preocupada com os
resultados. É o prazer e a motivação que
impulsionam a ação para explorações
A história dos jogos e brincadeiras: nossas
livres. A conduta lúdica, ao minimizar as brincadeiras e de outras culturas e épocas
consequências da ação, contribui para a
exploração e a flexibilidade do ser que
brinca.
Tizuko Kishimoto. O brincar e suas A história dos jogos e brincadeiras,
teorias. São Paulo: Pioneira, 2002. assim como a história de uma forma geral,
Acerca da prática pedagógica da é uma construção humana que envolve
educação física com relação ao brincar, fatores sócio-econômicos-culturais. Para
assinale a opção correta. Elkonin (1998), o trabalho, como atividade
A - Brincadeiras esportivas auxiliam a humana transformadora da natureza, é
prática de liberdade das crianças ao mesmo anterior a atividades como os jogos e a arte,
tempo em que aperfeiçoam nelas o gesto estas atividades surgiriam em consequência
técnico. do trabalho humano e do uso de
B - Brincadeiras infantis tendem à ferramentas. Esta concepção, fortemente
simplificação motora e o professor precisa influenciada pelo marxismo é
intervir para aperfeiçoar tal estímulo. predominante nas análises de pesquisadores

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História

soviéticos como Elkonin (1998), Vygotsky primeiro, interessa desvendar o surgimento


(1984; 1990) e Leontiev (1988), mas do jogo protagonizado na história, mas para
também aparecem no trabalho de tal, o autor precisa investigar a atividade de
Benjamim (1984)2. jogo em sua fase menos complexa: a de
Para Plekhánov (apud ELKONIN, 1998, imitação e reprodução de atividades sociais,
p. 38), “É de suma importância para sobretudo o trabalho. Para o segundo,
explicar a gênese da arte esclarecer a atitude interessa investigar a cultura lúdica infantil,
do trabalho em face do jogo ou, se preferir, bem como o papel do jogo, mais
do jogo em face do trabalho”. Defendendo especificamente o brinquedo, na
a tese de que o trabalho antecede ao jogo, impregnação cultural da criança. Arkin
Plekhánov utiliza o exemplo dos jogos de (apud ELKONIN, 1998, p. 40), escreve que
guerra: “Primeiro surge a guerra para se construir “uma prática educativa sã,
verdadeira, e a necessidade por ela criada, e fecunda e estável” deve-se conhecer a
logo depois, os jogos de guerra para história do jogo infantil, opinião
satisfazer essa necessidade” compartilhada por Brougère (1995, 1997).
(PLEKHÁNOV, apud ELKONIN, 1998, p. Huizinga (1991), também traça uma
38). A brincadeira é a porta de entrada da história dos jogos a partir da relação do
criança na cultura, sua apropriação passa homem com o trabalho. Segundo ele, na
por transformações histórico-culturais que sociedade antiga, o trabalho não tinha o
seriam impossíveis sem o aspecto sócio- valor que lhe atribuímos atualmente, tão
econômico, neste sentido, a história, a pouco, ocupava tanto tempo do dia. Os
cultura e a economia se fundem jogos e os divertimentos eram um dos
dialeticamente fornecendo subsídios, ou principais meios de que dispunha a
melhor, símbolos culturais, com os quais a sociedade para estreitar seus laços coletivos
criança se identifica com sua cultura. e se sentir unida. Isso se aplicava a quase
Expliquemos melhor. todos os jogos, e esse papel social era
Os jogos e brincadeiras tiveram ao longo evidenciado principalmente em virtude da
da história um papel primordial na realização das grandes festas sazonais.
aprendizagem de tarefas e no O referido autor também fala em
desenvolvimento de habilidades sociais, características comuns que são encontradas
necessárias às crianças para sua própria entre jogos, cultos e rituais, tais como:
sobrevivência. Segundo Elkonin (1998), o ordem, tensão, mudança, movimento,
jogo deve se apresentar como uma solenidade e entusiasmo. Além disso,
atividade que responde à uma demanda da segundo Huizinga (1991), ambos têm o
sociedade em que vivem as crianças e da poder de transferir os participantes, por um
qual devem chegar a ser membros ativos. espaço de tempo, para um mundo diferente
Ora, se são sempre os adultos que da vida cotidiana.
introduzem os brinquedos na vida das Adultos, jovens e crianças se
crianças e as ensina a manejá-los, é de fato misturavam em toda a atividade social, ou
também, como aponta Brougère (1995), seja, nos divertimentos, no exercício das
que manipular brinquedos é acima de tudo, profissões e tarefas diárias, no domínio das
manipular símbolos, nesse sentido, nem armas, nas festas, cultos e rituais. O
sempre a criança vai fazer do brinquedo o cerimonial dessas celebrações não fazia
uso que o adulto espera quando o apresenta muita questão em distinguir claramente as
à criança. crianças dos jovens e estes dos adultos. Até
Aqui, encontramos uma diferença nas porque esses grupos sociais estavam pouco
posições de Elkonin e Brougère, para o claros em suas diferenciações.

2 Alvaro Marcel Palomo Alves. A história dos jogos e a constituição da QFnoECAUQAw&url=https%3A%2F%2Fwww.revistas.udesc.br%2Find


cultura lúdica. ex.php%2Flinhas%2Farticle%2Fdownload%2F1203%2F1018..%2F0&u
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd sg=AOvVaw1KkLMxQCBT1Kx-dM-GlwBP. Visitado em 12.09.2022.
=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwixo6re8I_6AhWYqJUCHZQCBRU

6
História

Outro fator de extrema importância a ser aprender muito cedo para a sobrevivência
ressaltado nessas festas era seu caráter de sua comunidade. A natureza dos jogos
místico. Nas representações sagradas, infantis só pode ser compreendida pela
principalmente nas sociedades não correlação existente entre eles e a vida da
industriais, encontrava-se em jogo um criança na sociedade.
elemento espiritual, difícil de definir, algo
de invisível e inebriante ganhava uma Jogos Tradicionais Brasileiros: a
forma real, bela e sagrada. cultura posta em ação
Conforme Huizinga (1991, p. 17), os O fenômeno dos jogos tradicionais
participantes do ritual estavam "certos de infantis pode ser considerado mundial, se
que o ato concretiza e efetua uma certa em Elkonin (1998) encontramos uma crítica
beatificação, faz surgir uma ordem de ácida ao trabalho de Arkin (1935), onde
coisas mais elevada do que aquela em que este procurou identificar jogos, brincadeiras
habitualmente vivem". Apesar desta e brinquedos “primários” na humanidade,
intenção estar restrita à duração do ritual e em Kishimoto (1993), encontramos uma
da festividade, acreditava-se que seus pesquisa que aponta que certos jogos e
efeitos não cessariam depois de acabado o brinquedos são encontrados em diferentes
jogo; pois sua magia continuaria sendo culturas e momentos históricos. A pergunta
projetada todos os dias, garantindo que acompanhou Elkonin e Kishimoto é a
segurança, ordem e prosperidade para todo mesma: Como surgiram esses jogos?
o grupo até a próxima época dos rituais Representariam eles uma espécie de
sagrados. unidade psíquica da humanidade, a-
Elkonin (1998) aponta a história dos histórica e atemporal? Para se chegar à
povos do extremo oriente como sendo resposta, Elkonin baseia-se, como vimos,
ilustrativa da relação trabalho-jogos. sobretudo no marxismo, na relação
Escreve que, nesses povos, o brinquedo e a brinquedo trabalho, já Kishimoto (1993), à
atividade da criança foram em determinada busca na Antropologia e na tradição oral,
época, uma ferramenta de trabalho responsável pela transmissão do folclore,
modificada e uma modificação da atividade sobre isso escreve:
dos adultos com essa ferramenta, Considerado como parte da cultura
encontrando-se em relação direta com a popular, o jogo tradicional guarda a
futura atividade da criança, o que aponta produção cultural de um povo em certo
para uma imagem de criança que período histórico. Essa cultura não oficial,
acompanhava aqueles povos. A história do desenvolvida sobretudo pela oralidade, não
brinquedo e dos jogos ilustra toda uma fica cristalizada. Está sempre em
representação de infância e à modificação transformação, incorporando criações
da imagem da criança, acompanha a anônimas das gerações que vão se
modificação de seus jogos e brinquedos, sucedendo. Por ser elemento folclórico, o
estando sua história “organicamente jogo tradicional assume características de
vinculada à da mudança de lugar da criança anonimato, tradicionalidade, transmissão
na sociedade e não pode compreender-se oral, conservação, mudança e
fora dessa história” (ELKONIN, 1998, p. universalidade. Não se conhece a origem
47). desses jogos [...] a tradicionalidade e
O lugar da criança na sociedade nos dá a universalidade dos jogos assenta-se no fato
chave para a explicação do lugar que jogos de que povos distintos e antigos como os da
e brincadeiras ocupam em seu Grécia e Oriente brincaram de amarelinha,
desenvolvimento, por exemplo, a criança de empinar papagaios, jogar pedrinhas, e
indígena brasileira quando brinca de arco e até hoje as crianças o fazem quase da
flecha está manipulando uma atividade mesma forma. (KISHIMOTO, 1993, p. 15)
própria dos adultos e que ela terá que Os jogos não permanecem exatamente

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História

os mesmos quando transpostos para outros Esta versão é encontrada por Alexina de
cenários histórico-culturais. Enquanto Magalhães (1909, p. 143) e descrita na obra
manifestação espontânea da cultura Os Nossos Brinquedos. A autora comenta
popular, eles têm a função de perpetuar a que Fiorito aparece em álbuns de anúncios
cultura infantil, ou nos dizeres de Brougère portugueses do início do século. Em São
(1995) “impregnar culturalmente a Paulo, predomina a versão que substitui o
criança”. Fiorito por pirulito e que é cantada pela
Os jogos tradicionais brasileiros maioria das crianças pré-escolares.
carregam a marca de nossa miscigenação, a Grande parte dos jogos tradicionais
mistura do europeu (essencialmente o popularizados no mundo inteiro, como o
português), do negro e do índio fez surgir jogo de saquinhos (ossinhos), amarelinha,
uma combinação genética e cultural bolinha de gude, jogo de botão, pião, pipa e
influenciando a vida social do brasileiro. outros, chegou ao Brasil por intermédio dos
Mas os costumes portugueses, dentre primeiros portugueses.
eles seus jogos e brincadeiras, já A influência portuguesa penetrou de tal
carregavam a influência dos costumes de forma em nossos costumes e valores, que
povos asiáticos, oriundos da presença fica difícil detectar a contribuição exata de
portuguesa nessas terras. portugueses no folclore e, respectivamente,
Kishimoto (1993) ressalta o exemplo da nos jogos tradicionais. Kishimoto (1993),
pipa, também conhecida como papagaio ou aponta algumas pistas, conforme descritas
arraia, que embora divulgada pelos por nós acima. Sua pesquisa procura
portugueses, teve sua origem em terras detectar a representação de infância
asiáticas. Os jogos tradicionais recebem presente nos diferentes agrupamentos
forte influência do folclore, conforme humanos, que no presente momento trata-se
assinalamos anteriormente, nesse sentido, do português, e o papel desempenhado
os contos, lendas e histórias que pelos jogos infantis na construção e
alimentavam o imaginário português se manutenção da cultura popular.
fizeram presentes em brincadeiras e Mas não podemos nos esquecer, que
brinquedos brasileiros. Personagens como a além do português, descrevemos no início
mula-sem-cabeça, a cuca e o bicho-papão, do capítulo a influência de outras duas
trazidos pelos portugueses, foram etnias na consolidação dos jogos
incorporados em brincadeiras que vão tradicionais brasileiros, quais sejam, a
desde a bola de gude até o pique ou pega- negra e a indígena.
pega. Outro exemplo é o nosso carnaval. Por todos os séculos XVI, XVII E XVIII,
Conhecido em Portugal como entrudo, esta os negros africanos entraram no Brasil para
brincadeira portuguesa que baseava-se em substituir o trabalho indígena. Conforme
jogar água, tinta, sujeira uns nos outros, escreve o Pe Anchieta em 1585 (apud
teve sua regulamentação no final da idade KISHIMOTO, 1993, p. 27): “Havia na
média, início da moderna, pelo Papa Paulo colônia, para uma população de 57.000
II em 1466. pessoas, 14.000 negros escravos,
distribuídos pelos trabalhos agrícolas de
Ainda entre os jogos de bater palmas Pernambuco, da Bahia e do Rio”. Em
existe a brincadeira acompanhada com os relação à procedência, Kishimoto (1993)
versos: ressalta a vinda de três culturas principais
Fiorito que bate, bate; para o Brasil: Sudanesas, Sudanesas
Fiorito que já bateu; Islamizadas e Bantus, que predominavam
Quem gosta de mim é ela, no sudeste e nordeste. Essa caracterização
Quem gosta dela sou eu. faz-se necessária porque do mesmo modo
que não podemos igualar o português ao
dinamarquês, só pelo fato de serem

8
História

europeus, não podemos afirmar que os O avô materno a que se refere


Bantus e Sudaneses compartilhavam dos Kishimoto, é o de Câmara Cascudo. Usar
mesmos modos e costumes, ou nos dizeres como fonte de pesquisa a vida particular de
de Geertz (1989), da mesma “teia de um personagem ou ator social (como
significados”. Outra questão a ser colocada, designa a Psicologia Social), não é
é saber se as crianças africanas aqui privilégio somente da metodologia
chegadas no séc. XVI encontraram no conhecida como História de Vida.
Brasil as condições necessárias para Kishimoto (1990, 1993), se utiliza de
reproduzirem seus jogos e brincadeiras. romances, contos, lendas e biografias para
Como dissemos anteriormente, a cultura reconstruir historicamente as brincadeiras
infantil necessita da oralidade para se de crianças negras-escravas e as demais que
disseminar. Kishimoto (1993) levanta a viviam nos engenhos-de-açúcar. A infância
hipótese das crianças africanas terem representada pela autora é a da casa-grande
difundidos entre elas o repertório de e senzala, dos canaviais e engenhos-de-
brincadeiras das crianças brasileiras: “jogos açúcar, e entender a dinâmica relacional
puramente verbais talvez tenham dessa sociedade passa ser fundamental para
encontrado barreiras na linguagem, a compreensão das atividades lúdicas1
dificultando o processo de transmissão” praticadas pelas crianças.
(KISHIMOTO, 1993, p. 28). Com o passar A vida nos engenhos-de-açúcar refletia o
do tempo e a mistura de etnias nos modo como a sociedade brasileira estava
engenhos, as crianças que nasciam organizada, um regime escravocrata e
recebiam desde cedo a influência das patriarcal, onde à mulher cabia uma
culturas portuguesa, indígena e africana. Se condição secundária na educação dos
nas brincadeiras, as crianças adotavam o filhos. Kishimoto (1993) escreve acerca do
repertório cultural de onde viviam, na cotidiano dessa mulher:
literatura oral elas mantinham suas raízes, Afastada do convívio da sociedade, das
pois suas mães jamais deixavam de relações sociais em geral, sobrava-lhe
transmitir às crianças as histórias de suas apenas a companhia das escravas e filhos.
terras. Conforme escreve Câmara Cascudo Dispondo de educação doméstica, trancada
(1958), o traço marcante do africano no interior da casa-grande, sua única função
permaneceu presente na educação das restringia-se a tocar piano, administrar
crianças africanas, haja vista, a utilização escravas, bordar e cuidar dos filhos. Nem
de elementos naturais ser prática universal mesmo a amamentação era feita por ela, e
de quase todos os povos, podendo ser vista sim pelas escravas, a mãe brasileira
nos dias atuais no continente africano. anulava-se, abdicando de seu papel de
Kishimoto (1993, p. 29), comenta a orientadora, deixando a total
confecção de um brinquedo comum no permissibilidade vigorar entre as relações
século XVII, a espingarda de bananeira: mãe-filho. (KISHIMOTO, 1993, p. 31)
Para confeccioná-lo, basta fazer uma A infância como categoria distinta da
série de incisões no talo da bananeira, idade adulta foi reconhecida em meados do
deixando os fragmentos presos pela base. séc. XVI, conforme aponta Ariès (1978),
Ao levantar todos esses pedaços, seguros mas no Brasil esse reconhecimento veio
por uma haste, e ao passar a mão ao longo tardiamente, conforme apontam os
da haste, fazendo-os cair, eles soltam um trabalhos de Del Priore (1998) e Kishimoto
ruído seco e uníssono, simulando o tiro da (1990, 1993). A alta mortalidade infantil
espingarda. Nas brincadeiras de guerra, a registrada no período colonial e a forma
espingarda de bananeira foi uma das armas como as crianças eram aproximadas dos
preferidas de seu avô materno, nascido em adultos, apontam para o reconhecimento da
1825. infância como categoria distinta somente
em meados do séc. XIX. Em 1845, o Barão

9
História

de Lavradio, em uma série de artigos de influenciando-se mutuamente. Cita o


jornal, aponta as causas da mortalidade exemplo do jogo A-í-u, que consistia:
infantil no Rio de Janeiro: o mau tratamento [...] num pedaço de madeira, com doze
do cordão umbilical, vestuário impróprio, partes côncavas, onde colocavam e
pouco cuidado no início das moléstias das retiravam os a-i-u-s, pequenos frutos cor de
escravas e as crianças de mais idade, chumbo, originário da África e de forte
alimentação desproporcional, insuficiente consistência [...] tudo leva a crer que se trate
ou imprópria, desprezo pelas moléstias da do Wari ou mancala, um jogo de damas
primeira infância. Os problemas de saúde, encontrado em várias partes do mundo.
que refletiam uma desigualdade social, (KISHIMOTO, 1993, p. 58)
eram tratados como de origem particular O negro acabava por ressignificar jogos
dos adultos que cuidavam das crianças. do qual participava de forma direta ou
Os meninos de engenho estavam sempre indiretamente, auto-afirmando sua cultura e
cercados de meninos-escravos, viviam dando novos sentidos aos jogos portugueses
soltos, com os meninos escravos exercendo e indígenas com o qual entrava em contato.
o papel de leva pancada, nada mais do que Por último, resta analisarmos o elemento
uma reprodução, em escala menor, das indígena nos jogos tradicionais infantis.
relações de dominação no sistema de Inúmeras são as contribuições da cultura
escravidão, pois o menino branco usava o indígena à sociedade brasileira, na verdade,
menino negro como escravo em suas falar numa sociedade brasileira ou cultura
brincadeiras, conforme lembram Freyre e brasileira é impossível sem passar pelo
Veríssimo (apud KISHIMOTO, 1993, p. índio. A forma de organização social dos
32). Frequentemente os meninos escravos índios brasileiros estava intrincadamente
viravam bois de carro, cavalo de montaria, ligada à natureza quando do descobrimento
burros de liteiras, que eram os meios de do Brasil, dessa forma, é de se esperar que
transporte da época. Aqui temos um as atividades lúdicas das crianças indígenas
exemplo da relação brincadeira-cultura, fossem fortemente influenciadas pelos
sobretudo na função que tem a brincadeira elementos da natureza, notadamente
de colocar a criança em contato com o animais e rios.
mundo adulto, seus valores e normas.
Assim como ocorreu com a cultura
As travessuras aumentavam quando da lúdica portuguesa e africana, a indígena foi
chegada da segunda infância, dos cinco aos marcada pela influência do folclore,
dez anos, quando, segundo Freyre (1963), essencialmente os contos, lendas e histórias
“os meninos tornavam-se verdadeiros passadas de pai para filho. Os animais,
meninos diabos”, na cidade, o panorama era presentes na cultura indígena, assumiam
o mesmo. Citando palavras do Padre Lopes papéis mágicos, sendo incluídos nos rituais
da Gama, Freyre (1963, p. 411) escreve: religiosos de muitas etnias, conforme
“Não compreendia que deixassem os lembra Kishimoto (1993, p. 60): “ algumas
meninos da família viver pelos telhados mães faziam para os filhos brinquedos de
como gatos e pelas ruas empinando barro cozido, representando figuras de
papagaios, jogando o pião com a rapaziada animais e de gente, predominantemente do
mais porca e brejeira”. Para finalizar a sexo feminino”. Esse gosto pela imitação de
exposição acerca da contribuição da cultura animais permaneceu na cultura lúdica
africana, particularmente seus jogos e infantil ao longo do tempo, sendo
brincadeiras, Kishimoto (1993) aponta a transferido para os brinquedos destinados
dificuldade de se isolar o componente negro tanto aos meninos quanto à meninas, como
do branco no convívio no engenho-de- é evidente nas feiras do interior do país,
açúcar, pois, após séculos de convivência, onde se encontra facilmente brinquedos na
as duas culturas misturaram-se, forma de macacos, lagartixas, besouros e

10
História

tartarugas (FREYRE, 1963; KISHIMOTO, animais, abatia aves e tentava pescar,


1993). atividades que mantinham uma estreita
Ainda sobre a influência das relação com o trabalho, preparando-o para
brincadeiras indígenas na cultura lúdica a vida adulta.
atual, Cardim (apud KISHIMOTO, 1993, p. A separação adulto-criança, que se
1), comenta: Tem muitos jogos ao seu acentuou nas sociedades industriais, não
modo, que fazem com muito mais alegria estava presente entre os índios, a criança era
que os meninos portugueses: nesses jogos integrada em um todo social, não sendo
arremedam pássaros, cobras e outros inserida na divisão do trabalho. Sobre isso,
animais [...] os jogos são muito graciosos e escreve Kishimoto (1993, p. 62): “Se o
desenfadiços, nem há entre eles desavenças, curumim auxiliava sua mãe na plantação da
nem queixumes, pelejas, nem se ouvem mandioca ou na do trigo, para em seguida
pulhas, ou nomes ruins e desonestos. ver crescer, chegar a fase da colheita e
Como ressaltamos anteriormente, o depois fazer o beiju ou o pão, essa não era a
predomínio de brincadeiras junto à realidade da maioria das crianças que
natureza, nos rios, é característica marcante comprava o pão na padaria.”
do brincar indígena. A mistura que ocorre Essa proximidade com o mundo adulto,
com os animais e rios tem um registro fazia da criança indígena um ser menos
totêmico nessas culturas, misturando-se, reprimido, pouco lhes restava de proibido e
muitas vezes, com a religião, como é o caso suas investigações acerca da vida eram
das bonecas. Se a boneca de barro era uma incentivadas desde muito cedo, onde
tradição entre tribos de Roraima, a nossa “encantos e descobertas podiam se
boneca industrializada recebeu mais transformar em traquinagens infantis”
influência das bonecas de pano africanas do (KISHIMOTO, 1993, p. 62).
que, propriamente, das construídas por Kishimoto (1993) cita uma pesquisa
essas tribos, estas, sequer ganhavam forma etnográfica realizada por Koch-Grünberg
humana (KISHIMOTO, 1993). (1974), junto à tribos do estado de Roraima.
A brincadeira indígena mais conhecida e Embora não especifique a etnia dos
que, talvez, tenha sido a mais influente e indígenas com quem trabalhou, o autor
presente no imaginário brasileiro, é a de relata o cotidiano das crianças que lá
arco e flecha. Sabe-se por meio da pesquisa viviam, o que nos dá indícios acerca do
histórica que essa brincadeira está presente modo como se organizavam socialmente
na cultura greco-romana e que foram esses povos. Relata que durante os dois
encontradas pinturas rupestres de cavernas primeiros anos de vida, a criança fica
situadas na região do deserto do Saara, permanentemente sob os cuidados da mãe
cerca de 30.000 a.C. (FERREIRA, 1990), ou avó, descansando enquanto permanece
portanto, ela não é privilégio de nossos amarrada às costas da mãe, acompanhando-
antepassados indígenas. Cascudo (1958), a nas mais diversas atividades, desde o
comenta que em qualquer registro dos banho no rio até o trabalho na plantação. Ao
séculos XVI e XVII encontramos relatos de crescer, a vida em grupo estimula a
meninos indígenas brincando de arco e cooperação e a atividade, quando uma
flecha, tacapes e propulsores, ou seja, o criança ganha alguma fruta, imediatamente
arsenal guerreiro de que os pais dispunham. divide-a com outra. Koch-Grünberg
Retomando as palavras de Plekhánov comenta, também, a ausência de brigas e
(apud ELKONIN, 1998), o brinquedo surge xingamentos, reflexo do modo de vida e
depois da guerra, e esta, depois do trabalho. educação dada às crianças.
A brincadeira de arco e flecha tinha uma A partir dos dois anos a educação de
conotação diferente para o menino branco e meninos e meninas diferencia-se. A
o índio, este, mais do que brincar com um menina, desde muito cedo, auxilia sua mãe
instrumento adulto, já caçava pequenos nos serviços domésticos e na plantação,

11
História

além de ajudar na criação dos irmãos. Tem existindo uma sazonalidade na brincadeira,
pouco tempo livre e, quando o tem, imitam que só é praticada em determinadas épocas
suas mães, sempre com um fusozinho, do ano. No Brasil ainda é possível ver
preparando pequenas tecelagens. Já o crianças brincando com o jogo do fio. Entre
menino, ganha como primeiro brinquedo as tribos brasileiras citadas por Kishimoto
um chocalho de cascas de frutas ou unha de (1993), encontrou-se uma variedade de
veado que se amarra a uma boneca. mais de trinta figuras realizadas no jogo do
Tão logo passa a engatinhar, brinca no fio, dentre as mais realizadas estão: o
chão com pedrinhas ou pedacinhos de tamanduá-bandeira, o urubu, a libélula, o
madeira, cava a areia e, às vezes, põe na morcego, a arraia, a piranha, a mandioca, a
boca um punhado de areia, divertindo-se rede de dormir, mulheres e o coito.
com um inseto amarrado a um fio Dentre outros jogos presentes entre as
(KISHIMOTO, 1993). crianças indígenas e que se perpetuaram e
Koch-Grünberg (apud KISHIMOTO, incorporaram à cultura lúdica infantil estão
1993), relata que viu um indiozinho de o jogo de peteca e o aro. Existe uma
poucos anos de idade montar a cavalo em diferença entre a peteca brasileira e a norte-
seu irmão maior, enquanto meninos americana, a brasileira, de origem indígena,
maiores de pião e matraca. Entre os era feita de um punhado de pedrinhas
wapischana, Grünberg encontrou um envolvidas em folhas e amarradas em uma
brinquedo presente também no alto do rio espiga de milho (FERREIRA, 1990), ao
Negro: contrário da americana, idealizada por João
Trata-se de uma pequena mangueira, Perrenoud Teixeira e semelhante ao
trançada elasticamente, como uma prensa voleibol, com a peteca substituindo a bola.
para mandioca. Aberta por um lado, a outra Todos os jogos, brinquedos e
extremidade desemboca em um aro brincadeiras aqui relatados contribuíram
trançado e a ele ligado, quando se põe o para a construção da cultura lúdica infantil
dedo na abertura e se estica a mangueira brasileira, destacando-se na contribuição
pelo aro, esta se contrai e o dedo fica indígena, as atividades lúdicas que imitam
enroscado no trançado. O dedo só fica livre elementos da natureza, principalmente
quando a mangueira se dilata animais.
(GRÜNBERG, apud KISHIMOTO, 1993, Os jogos e brincadeiras presentes na
p. 65). cultura portuguesa, africana e indígena
Outro jogo observado por Grünberg é o acabaram por fundirem-se na cultura lúdica
enigma, este jogo consiste em se cortar um brasileira. Esta cultura lúdica é formada,
pedaço de cana de forma artística em três entre outras coisas, por jogos geracionais e
partes independentes, e que somente com costumes lúdicos.
muita força se pode separá-las. Outro jogo
praticado por tribos como os tapirapé, Questões
taulipáng e xamacocó, é o jogo do fio.
Presente até hoje entre os jogos tradicionais 01. (Prefeitura e Guatambú/SC –
brasileiros, este consiste em se fazer o Professor de Educação Infantil –
maior número possível de figuras FEPESE - 2022)
manipulando um fio de algodão entre os Identifique abaixo as afirmativas
dedos e pés, chegando a ser praticado entre verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) a respeito
os adultos xamacocó. da importância das brincadeiras e jogos no
O que intriga Kishimoto (1993), é que contexto da Educação infantil.
povos muito distantes como os esquimós do ( ) O brincar e o jogar se resumem apenas
Ártico, os índios da América do Norte e as em formas de divertimento e de prazer para
tribos da África constroem figuras idênticas a criança.
quando brincam com o jogo do fio,

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História

( ) Por intermédio da brincadeira, a B - I, II e III, apenas.


criança explora e reflete sobre a realidade e C - I e IV, apenas.
a cultura na qual está inserida. D - II, III e IV, apenas.
( ) A experimentação de diferentes
papéis sociais (o papel de mãe, pai, Alternativas
bombeiro, super-homem) por meio do faz 01 – C | 02 – D
de conta, permite à criança compreender o
papel do adulto e aprender, imitando as
ações desses adultos, o funcionamento da Os espaços lúdicos na Cidade de São
sociedade que está inserida. Paulo:os espaços de lazer e brincadeiras
( ) Brincando, a criança procura na Cidade de São Paulo
conhecer o mundo e conhecer-se a si
mesma.
( ) Por meio da brincadeira, a criança tem A cidade para as crianças é melhor
oportunidade de simular situações e para todos
conflitos da sua vida familiar e social, o que A primeira infância – entre zero e seis
lhe permite a expressão das suas emoções. anos de idade – é um período crucial para a
saúde, o aprendizado, o desenvolvimento e
Assinale a alternativa que indica a o bem-estar social e emocional das
sequência correta, de cima para baixo. crianças. Estudos científicos apontam que
A-V•V•V•V•V as primeiras experiências vividas na
B-V•F•V•F•V infância estabelecem a base para o
C-F•V•V•V•V desenvolvimento integral de meninas e
D-F•V•F•V•F meninos. A Unicef destaca que
E-F•F•V•F•V investimentos destinados a essa fase
retornam em impactos positivos para toda a
02. (Prefeitura de Bandeirante/SC – sociedade. Investir na qualidade do espaço
Psicopedagogo – AMEOSC - 2022) público e viário com foco na primeira
Julgue os itens a seguir, considerado a infância no presente é, portanto, investir no
importância do jogo e da brincadeira na futuro das cidades e das pessoas3.
infância. E não se trata “só” da infância: planejar
I.Os jogos e as brincadeiras possibilitam e construir cidades tendo como parâmetro a
às crianças a construção do seu próprio vulnerabilidade de uma criança resulta em
conhecimento, porém não são elementos cidades seguras e funcionais para todas as
facilitadores da aprendizagem. pessoas. Essa perspectiva deve servir de
II.Os jogos e as brincadeiras oferecem às base para políticas públicas e projetos
crianças, condições de vivenciarem urbanos, que vão influenciar a qualidade de
situação-problema, bem como resolvê-las. vida de muitas famílias.
III.Os jogos e as brincadeiras auxiliam a
criança no processo de pensar, imaginar, Espaços públicos com foco na infância
criar e se relacionar com os demais. em São Paulo
IV.A brincadeira é atividade física ou Na busca por assegurar os direitos e o
mental que se faz de maneira espontânea e desenvolvimento integral de crianças entre
que proporciona prazer. zero e seis anos, São Paulo aprovou em
Fonte: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/jogos- 2018 o Plano Municipal pela Primeira
brincadeiras-naconstrucao-das-aprendizagens-crianca.htm
É CORRETO o que se afirma em: Infância. Entre as várias iniciativas do
A - III e IV, apenas. plano, está o programa Territórios
Educadores, que busca transformar áreas de

3 Paula Manoela dos Santos, Ariadne Samios, Larissa Oliveira e Fernando https://www.wribrasil.org.br/noticias/como-qualificar-espacos-publicos-
Corrêa. Como qualificar espaços públicos para a infância? Experiências para-infancia-experiencias-e-aprendizados-em-sao-paulo. Visitado em
e aprendizados em São Paulo. 12.09.2022.

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História

vulnerabilidade social em ambientes planejadas no Jardim Santo André. A rua


seguros, de aprendizagem e estímulo, para concentra nove escolas que atendem 1.255
crianças e suas famílias. O programa alunos da primeira infância. Entre 2017 e
consiste em ações de segurança viária nos 2019, nove pedestres foram atropelados na
principais trajetos percorridos pelas via. Monitoramento realizado em quatro
crianças a pé e na implantação de novos pontos da via registrou comportamentos
espaços de brincar que estimulem o inseguros no trânsito, especialmente de
desenvolvimento das crianças e fortaleçam motociclistas trafegando em altas
os laços com seus cuidadores e com a velocidades.
cidade. O elevado número de sinistros de
Desde 2019, o WRI Brasil tem trânsito, a maioria atropelamentos, torna o
trabalhado junto à prefeitura e a diversas trajeto motivo de preocupação. Através da
outras organizações no desenvolvimento do ferramenta de monitoramento Quali-Urb
programa. Em 2021, a parceria resultou na Infância, identificamos que a grande
qualificação de duas praças inseridas em maioria dos cuidadores (79,3%) leva as
territórios na zona leste da cidade, uma no crianças a pé até as escolas. A falta de
Jardim Santo André e outra no Jardim atrativos para brincar nas ruas e calçadas foi
Lapena. relatada por 82,6% dos cuidadores, e 67,4%
As praças receberam brinquedos para as consideram que o trajeto até a escola carece
crianças, plantio participativo de mudas, de itens como bancos e vegetação. A
revitalização de paredes e trajetos com insegurança e a falta de conforto e
pinturas lúdicas. Também foram instaladas estímulos positivos é reforçada pela falta de
áreas de descanso para estimular a espaços de brincar onde mães e cuidadores
convivência da comunidade com as não precisem se preocupar com a presença
crianças e a pavimentação de caminhos de carros e o risco de atropelamentos.
com piso regular para facilitar o uso dos No Jardim Lapena, não é muito
espaços por mães com carrinhos bebês ou diferente. Em 2017, a Fundação Tide
para os pequenos que estão aprendendo a Setubal desenvolveu com a comunidade um
andar de bicicleta. plano de bairro que evidenciou a falta de
espaços de encontro e lazer. Para 63% dos
Falta espaço para ser criança moradores, o parque público mais próximo
A qualificação de praças como essas é ficava a menos de um quilômetro de
significativa para a melhoria da qualidade distância. Apesar de não estar tão distante,
de vida da população local. Tão importante o local não é uma referência para atividades
quanto, é assegurar que as crianças e seus de lazer para a população do bairro, além de
cuidadores possam acessar esses espaços de ser inacessível para crianças em idades de
convívio com segurança. No futuro, o zero a cinco anos. Em geral, as crianças
entorno das praças também poderá receber costumavam brincar na rua ou então
intervenções de segurança viária. A utilizavam os brinquedos do pátio do
qualificação dos dois espaços, no entanto, é Centro de Educação Infantil (CEI) apenas
significativa para qualificar esses nos horários que não havia alunos, situação
territórios. Afinal, na falta de espaços de distante do ideal.
lazer qualidade, as crianças vão brincar no
meio da rua – e se esta é uma lembrança Breve panorama histórico do lúdico
revestida em nostalgia para muitos adultos, Explorando a questão em um panorama
tornou-se uma realidade preocupante em histórico na visão mais antiga a diversão
nossas cidades, onde carros circulam em não era algo visto com “bons olhos”, era
velocidades perigosas. algo desfavorável, como uma situação de
É o que ocorre na rua Miguel Ferreira de alienação sendo em última instância nociva
Melo, onde se localizam as intervenções para o praticante. Com o passar dos anos a

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História

questão em discussão foi colocada com restante 5,3 %, e que em área rural, A região
uma característica dos seres humanos, e sul, onde se localiza a maior parte desses
mais relevante na infância. Os estudos de distritos, possui grande parte de sua área
muitos pesquisadores dedicaram-se a protegida por legislação específica, e as
estudar as relações estabelecidas entre subprefeituras onde a incidência de
crianças e brinquedos como meio de moradias subnormais ocorre um cadastro de
externar suas emoções, frustrações e favelas da SEHAB, para o ano de 2000, em
projetar seus desejos. Segundo Luckesi números absolutos com maior número de
(2005) o lúdico é um “fenômeno interno”4. favelas são M’boi Mirim com 272, seguida
Ainda permeando essa linha de de Campo Limpo com 237, Capela do
raciocínio o lúdico passa a ser estudado e Socorro com 221, Cidade Ademar com 198.
valorizado como um fenômeno que cresce Esta mesma lógica se reproduz no espaço
junto com o indivíduo, agora não só na intra-urbano: a maior oferta de infra-
infância, mas em todas as fases da vida. estrutura se dá ao longo das áreas
Sendo assim, o ser humano em todas as industriais e nos centros de comércio e
etapas de sua vida vive experiências serviços envolvidos por bairros de renda
lúdicas. média e alta. Quanto mais distante do
Em uma abordagem mais atual o lúdico centro, menor a disponibilidade de acesso
é uma representação singular que perpassa às redes (transporte, lazer, saúde, educação,
o mundo real para um mundo imaginário, segurança entre outras) de qualidade. Isto
ocupando a mente de pensamentos agrava os problemas de atendimento à
relacionados à alegria, satisfação, diversão, população, uma vez que, segundo os dados
se apropriando de situações cotidianas e do censo, o crescimento demográfico
expondo-se como sons, gestos, expressões significativo da cidade se concentrou
que acabam contaminando o ambiente e os justamente nas áreas periféricas.
indivíduos que lá se encontram. Agravando ainda mais a situação quando
Sintetizando que o que evidência a a escassez de moradia, agressão ambiental,
atividade lúdica é vivenciá-la de maneira ilegalidade e violência é outra da principal
plena aonde a entrega não encontre conseqüência da falta de alternativas de
barreiras físicas ou sociais. Podendo ser moradias legais (ou seja, moradias
uma pintura, uma brincadeira, um passeio reguladas pela legislação urbanística e
ao ar livre, uma leitura, música, ou seja, a inseridas na cidade oficial). A ocupação de
produção individual que envolve a entrega áreas ambientalmente frágeis — beira dos
levando a satisfação pessoal. córregos, encostas deslizantes, várzeas
inundáveis, áreas de proteção de
Caminhando na cidade de São Paulo mananciais, mangues são as principais
Ao andar pela cidade é possível perceber formas de moradia, loteamentos piratas e
diferenças tão gritantes que parece que clandestinos ou de invasões de terra que dão
mudamos de cidade e não apenas de bairro início à formação de favelas. De acordo
um exemplo é a região de Paraisópolis de com a CETESB (2007, p.09):
um lado uma das maiores comunidades da
cidade do outro a região do Morumbi onde Essas invasões não são dirigidas por
o metro quadrado pode custar até seis mil e movimentos contestatórios, mas pela falta
cem reais. Segundo o censo demográfico do de alternativas. Já que todos precisam de
ano de 2000 mostra, em primeiro lugar, que um lugar para morar e ninguém vive ou se
o município de São Paulo concentra 94,7% reproduz sem um abrigo, esse
dos seus domicílios em área urbana e o consentimento à ocupação ilegal, não

4 Marcela Jacob Lira. O elemento lúdico na cidade de São Paulo: como a https://www.nucleodoconhecimento.com.br/geografia/manifestacoes-
geografia influencia nas manifestações lúdicas na cidade de São Paulo. ludicas. Visitado em 12.09.2022.
Núcleo do Conhecimento.

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História

assumido oficialmente, funciona como uma Zona Oeste


válvula de escape para a flexibilização das Segundo Nogueira e Rodrigues (2012,
regras. (CETESB 2007, p.09) p.s/n):
Mas esse consentimento e flexibilização Região que abriga uma múmia, além de
se dão apenas em áreas não valorizadas pelo uma herança cigana, a zona oeste da capital
mercado imobiliário. O sistema financeiro cresceu impulsionado pelo comércio, o
mais do que a lei (norma) é que define onde CEAGESP (Companhia de Entrepostos e
os menos favorecidos podem habitar ou se Armazéns Gerais de São Paulo) como seu
apropriar de terras para morar. maior expoente, e desenvolveu sua maior
Concluindo que grande parte da força pautada pela educação, com
população de São Paulo mora em situação importantes instituições com a USP e a
irregular sem um plano urbanístico vamos PUC, e pela cultura—não á toa é a casa de
analisar cada zona da cidade para apurar de tradicional escola de samba e de intensa
fato com as pessoas materializam o lúdico. produção cinematográfica. Contou com um
morador ilustre no Itaim Bibi Mazzaropi.
Zona Sul (NOGUEIRA e RODRIGUES 2012, p.s/n)
Segundo a gerente de turismo da cidade Fora o mercado de varejo outra opção de
de São Paulo Fernanda Asca a mais famosa entretenimento é a Feira de Flores, um
atração da zona sul é o Parque Ibirapuera. evento único além de quantidade há
Além de enorme área verde-possui um também muita variedade. Pesquisadores do
complexo de importantes museus. Dentre Instituto Politécnico dos Estados Unidos no
eles o museu de Arte Moderna e o museu estado da Virgínia descobriram que na
Afro – Brasil divulgado através do site presença de um jardim florido ou de uma
oficial de turismo de São Paulo. O espaço mesa decorada com plantas vistosas, as
apesar de sua infra-estrutura com pessoas se comunicam melhor, controlam
estacionamento pago, cobranças de valores maus hábitos e ainda assumem uma atitude
para entrar nos museus as marquises mais positiva dentro e fora de casa.
tornaram-se ponto de encontro de várias
“tribos” com skatistas, patinadores, Zona Leste
ciclistas, praticantes de exercício físicos Segunda a pesquisa realizada pelo
entre outros, o que faz do parque uma ótima Datafolha (2010). Com ampla população
opção para os residentes daquela região. entre 16 e 24 anos e de baixa renda familiar,
Nessa zona existem bairros tradicionais extremo leste de SP sofre com falta de áreas
como o Ipiranga onde se localiza o Museu verdes e de lazer o parque do Carmo é um
Paulista conhecido como museu do oásis em meio ao bolsão de pobreza do
Ipiranga que conta com um jardim com extremo da zona leste da capital.
paisagismo inspirado nos jardins europeus Ainda de acordo com o levantamento as
e feiras de artesanato e também Museu de árvores são escassas e as áreas de lazer,
Zoologia. mais ainda. Com a maior parcela de
Outro bairro de relevância cultural é do famílias com renda mensal de até dois
Morumbi onde fica a Fundação Maria Luisa salários mínimos (32%) e muitos jovens
e Oscar Americano com obras de arte, um (27% dos moradores têm entre 16 e 24
jardim com paisagismo e um serviço de chá anos), a diversão depende de criatividade e
bem cotado. jogo de cintura.
A maioria das casas de shows da cidade Segundo moradores que participaram da
de São Paulo se concentra nessa região mais pesquisa. No fim de semana, é comum ver
precisamente na Marginal Pinheiros, garotos sobre a laje das casas empinando
Moema e Vila Olímpia. pipas, uma das principais brincadeiras da
região. As disputas, muitas vezes com
cerol, também acontecem em terrenos

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História

baldios e no parque do Carmo, o principal bicicleta é um meio de transporte comum na


da região. região.
O vigia Jerry Adriani Matos, 40, diz
apreender cerca de dez latas de cerol por Zona Norte
final de semana. “Há acidentes de duas a Essa zona conta com uma subdivisão
três vezes por semana”. Futebol de várzea é entre noroeste e nordeste que compõem
outro passatempo popular. No Itaim uma macro divisão conhecida apenas com
Paulista, campeonatos locais acontecem aos zona norte esses dois tópicos explorados a
domingos no campo do Tossan, como é seguir são pouco conhecidos pela sua
chamado. denominação oficial apenas com zona
Outro problema apontado pelos norte. Durante o trabalho foi percebido a
participantes dessa região é a falta de necessidade da subdivisão devido à riqueza
transporte público durante á noite, o caixa de especificidades que cada parcela tem
Diego Santos Silva, 21, precisa juntar mais para a complementação do tema aqui
três pessoas para dividir um táxi “que sai explorado nesse artigo.
uns R$ 100” para ir a clubes de música
eletrônica, como os da Vila Olímpia (zona Zona Noroeste
oeste). Quando sai do trabalho, em uma Essa região abriga a maioria das sedes de
padaria, à meia-noite, “não tem mais como escolas de samba onde as manifestações
ir de ônibus”. O balconista Luiz Carlos de lúdicas envolvem pessoas de todas as
Oliveira, 30, morador de Lajeado, diz que idades, pois esses lugares oferecem
praticamente desistiu de sair à noite. “Por múltiplas oportunidades de expressão
falta de carro e porque também não há corporal, exploração musical, forte
nenhum lugar interessante para sair no expoente de miscigenação de cultura. De
Lajeado.” acordo com a pesquisa intitulada DNA
Segundo Barros (2008, p.04), “o Paulistano Noroeste-Rede Nossa São
extremo leste é uma das áreas mais Paulo, a Casa Verde é um reduto de escolas
urbanizadas da cidade, com vias pouco de samba da capital, reunindo Unidos do
arborizadas e carência de praças e jardins Peruche, Império de Casa Verde e
residenciais”. Mocidade Alegre.
“A paisagem da zona leste é tão árida Esse pedaço da cidade também conta
que a temperatura pode ficar até dois graus com o parque Pico do Jaraguá aonde as
acima da das áreas mais arborizadas da trilhas oferecidas para os visitantes são
cidade”, diz o arquiteto Paulo Brazil, um mais fácies facilitando a vida de que pratica
dos responsáveis pela implantação do esporte amador. Ainda de acordo com o
Parque da Integração, que, recém- levantamento da pesquisa “a Trilha do
inaugurado e com quase 8 km, vai de São Lago, com 969 metros é indicada até para
Mateus a Sapopemba. Construído sobre idosos e pessoas com deficiência física.
uma adutora da Sabesp, o projeto integra Também tranqüila, a trilha do Silêncio, é
um programa da Escola da Cidade - feita em 30 minutos, ida e volta, em 828
faculdade de arquitetura e urbanismo- que metros”, o que evidencia a preocupação
começou a ser implantado em 2001. com a inclusão.
Naquela época, nem estava definido ainda O bairro da Brasilândia recebeu a arte de
que se tratasse de um parque. A decisão foi Márcio Penha mais conhecido com Presto
um desdobramento das conversas de alunos um grafiteiro em destaque da região. De
e professores com a comunidade. “As acordo Nunes (2015) Se um dia estiver
principais demandas eram sobre segurança triste, observe alguma arte de Presto, que é
e área de lazer”, conta Brazil. Uma ciclovia harmônica, divertida e com personagens
permeia a área, mas a via serve muito mais marcantes. Quando criança, o paulistano
para o tráfego do que para diversão: a colecionava quadrinhos, construía

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História

brinquedos e imaginava criaturas, agora equipamentos culturais. (PONCIANO


pintadas nos muros. 2001, p.107).
Segundo o próprio grafiteiro “A opção A atividade lúdica na região de acordo
de lazer aqui é a rua. Então você vai fazer com os dados levantados gira em torno do
grafite, andar de skate, empinar pipa. Cada período noturno devido o número de
um vai procurar algum meio de se divertir e atrações que essa região oferece.
de interagir com aquele espaço.” (PRESTO,
2015, p.s/n). Questões

Zona Nordeste 01. (Prefeitura de Potim/SP –


De acordo com Ponciano (2001, p.107), Professor e Educação Básica I – REIS &
a região nordeste é uma região REIS - 2022) É notório que as pesquisas
administrativa estabelecida pela prefeitura no setor educacional apontam que a
de São Paulo que engloba as subprefeituras utilização dos jogos e brincadeiras na
da Santana-Tucuruvi, de Vila Guilherme e Educação Infantil é referido como uma
do Jaçanã – Tremembé. Forma com a Zona metodologia contínua de reconhecimento,
Noroeste a macro-zona conhecida inserção, interatividade a ação da criança no
simplesmente como “zona norte”. mundo através do ato de brincar. Diante
desse cenário, o lúdico é referido como um
Os espaços de lazer são o Horto Florestal recurso que possui a capacidade de
, Parque da Cantareira e o Parque da conquistar as crianças e ser um excelente
Juventude. Ainda assim com a grande mediador do processo de aprendizagem.
quantidade de áreas verdes, a qualidade do Desta forma, marque a alternativa correta:
ar é uma das piores da cidade, comprovada A - Em diversos espaços, os jogos e
por medições da CETESB. A Avenida brincadeiras auxiliam às crianças no
Nova como é conhecida conta com as momento de construção do conhecimento,
avenidas Brás Leme, Engenheiro Caetano pois, ofertam a possibilidade de vivenciar
Álvares e Luiz Dumont Villares que situações problemas.
recebem bastante movimento noturno em B - Os jogos utilizados no âmbito escolar
seus bares, casas de shows e restaurante devem propiciar o estudo do pensamento da
sendo um local propício para diversão tema criança, abordando de modo exclusivo suas
intimamente ligado ao lúdico. características afetivas.
De acordo com o Ponciano (2001, p.107) C - O jogo educativo utilizado no âmbito
O distrito de Santana apresenta a maioria da sala se abaliza as brincadeiras se
dos equipamentos culturais da região, como tornando uma excelente ferramenta de
o Arquivo Público do Estado de São Paulo, aprendizado.
a Biblioteca de São Paulo, os teatros D - O docente necessita respeitar o
Alfredo Mesquita e Jardim São Paulo, o processo de cada jogo educativo para que o
Clube Escola Jardim São Paulo, o Mirante mesmo se torne um momento obrigatório,
de Santana e o SESC Santana. Comparado rotineiro, prazeroso e com significado para
às regiões oeste e centro-sul da cidade o aluno.
apresenta pouquíssimos museus,
representados pelo Museu Florestal Otávio 02. (Prefeitura de Crato/CE –
Vecchi. Museu Aberto de Arte Urbana de Professor de Educação Infantil – CEV-
São Paulo, Museu do Dentista, Museu URCA - 2021) Em se tratando do tema
Memória da Jaçanã e o Sítio Morrinhos. No brinquedos, brincadeiras e o brincar, a
ano de 2006 o bairro de Vila Nova literatura sobre o assunto defende que:
Cachoeirinha ganhou o Centro Cultural da A - Para Freud, o brincar é um
Juventude Ruth Cardoso com biblioteca, mecanismo psicológico que garante à
anfiteatro, teatro de arena, dentre outros criança manter uma certa distância em

18
História

relação ao real. O brincar é o modelo do


princípio do prazer oposto ao princípio da História das relações das sociedades com
realidade. Brincar torna-se o arquétipo de as águas e os rios
toda atividade cultural que, como a arte, não
se limita a uma relação simples com o real;
B -A cultura lúdica compreende
* Candidato(a), veremos o conteúdo
conteúdos universais que aparecem sob a
tradicional em História, em que
forma de personagens conhecidos no
normalmente falamos sobre as primeiras
mundo inteiro e produzem brincadeiras
civilizações (sociedades hidráulicas) e
universais em função dos interesses comuns
após isso, conteúdo com foco nos estudos
de todas as crianças, em todos os tempos e
a respeito da relação sociedades/rios,
lugares. Isso porque a cultura lúdica é
como ênfase no Brasil.
natural, já nasce com a criança, logo, todas
as crianças já nascem sabendo brincar;
As mais antigas civilizações da história
C - As culturas lúdicas são idênticas em
surgiram na Antiguidade Oriental entre os
todos os lugares. O meio social, a cidade e
anos 4.000 a.C. e 2.000 a.C. Toda a sua
o sexo da criança não determinam
organização sociopolítica tinha como foco
diferenciações entre as crianças na forma e
o controle das águas e da produtividade
nos conteúdos das brincadeiras. É evidente
agrícola, portanto ficaram conhecidas como
que se pode ter a mesma cultura lúdica aos
civilizações hidráulicas.
4 e aos 12 anos, visto que crianças são
Estas civilizações apresentaram
crianças em todos as idades, lugares e características comuns como a escrita, a
tempos; arquitetura monumental, a agricultura
D - Quando nasce, a criança já está apta extensiva, a domesticação de animais, a
a brincar porque o brincar é natural ao ser metalurgia, a escultura, a pintura em
humano. A criança constrói sua cultura
cerâmica, a divisão da sociedade em classes
lúdica exercitando aquilo que lhe é
e a religião organizada.
biológico, genético. Pode-se observar nas
A invenção da escrita permitiu ao
primeiras brincadeiras do bebê com a mãe
homem registrar e difundir ideias,
que ele já nasce sabendo brincar, não sendo
descobertas e acontecimentos que ocorriam
necessária a interferência de adultos ou de
ao seu redor. Esse avanço é responsável por
outras crianças, embora possam brincar
grandes progressos científicos e
juntos;
tecnológicos que possibilitaram o
E - A cultura lúdica infantil está isolada
surgimento de civilizações mais complexas.
da cultura geral. Não importa o ambiente ou
Apesar da fixação dos diversos grupos
as condições materiais. O processo é direto
humanos em áreas próximas aos rios ter
porque se trata de uma interação direta pois,
ocorrido em regiões distintas, a maioria das
ao brincar, a criança interpreta os elementos
civilizações da Antiguidade se desenvolveu
do ambiente diretamente, de acordo com a
no Crescente Fértil. Esta área possui a
interpretação objetiva que faz deles.
forma de arco e estende-se do Vale do
Jordão à Mesopotâmia, além de abrigar os
Alternativas
rios Tigres e Eufrates. A revolução agrícola
01 – A | 02 – A e a fixação de grupos humanos em locais
determinados ocorreram simultaneamente
no Crescente Fértil. Neste mesmo período
outras civilizações se desenvolveram às
margens dos rios Nilo (egípcia), Amarelo
(chinesa), Indo e Ganges (paquistanesa e
indiana).

19
História

Principais Civilizações Dois reinos - Alto Egito (sul) e Baixo


Egito (norte) - surgiram por volta de 3500
Egito a.C. em consequência da necessidade de
A Civilização egípcia data do ano de unir esforços para a construção de obras
4.000 a.C., permanecendo relativamente hidráulicas.
estável por 35 séculos, apesar de inúmeras - Dinástica: forte centralização política.
invasões das quais foi vítima. Menés, rei do Alto Egito, subjugou em
Em 1822, o francês Jean François 3200 a.C. o Baixo Egito. Promoveu a
Champollion decifrou a antiga escrita unificação política das duas terras sob uma
egípcia tornando possível o acesso direto às monarquia centralizada na imagem do
suas fontes e informação. Até então, o faraó, dando início ao Antigo Império,
conhecimento sobre o Egito era obtido Menés tornou-se o primeiro faraó.
através de historiadores da Antiguidade
greco-romana. Períodos da Época Dinástica
A Época Dinástica é dividida em três
Meio Ambiente e Seus Impactos períodos:
Localizado no nordeste africano de
clima semiárido e chuvas escassas ao longo Antigo Império (3200 a.C. – 2300 a.C.)
do ano, o vale do rio Nilo é um oásis em Capital: Mênfis
meio a uma região desértica. Durante a Foi inventada a escrita hieroglífica.
época das cheias, o rio depositava em suas Construção das grandes pirâmides de
margens uma lama fértil na qual durante a Gizé, entre as quais as mais conhecidas são
vazante eram cultivados cereais e as de Quéops, Quéfrem e Miquerinos. Tais
hortaliças. construções exigiam avançadas técnicas de
O rio Nilo é essencial para a engenharia e grande quantidade de mão-de-
sobrevivência do Egito. A interação entre a obra.
ação humana e o meio ambiente é evidente
na história da civilização egípcia, pois Médio Império (2040 a.C. -1580 a.C.)
graças à abundância de suas águas era Durante 200 anos o Antigo Egito foi
possível irrigar as margens durante o palco de guerras internas marcadas pelo
período das cheias. A necessidade da confronto entre o poder central do faraó e
construção de canais para irrigação e de os governantes locais (nomarcas). A partir
barragens para armazenar água próximo às de 2040 a.C., uma dinastia poderosa (a 12ª)
plantações foi responsável pelo passou a governar o país iniciando o
aparecimento do Estado centralizado. período mais glorioso do Antigo Egito: o
Médio Império. Nesse período:
Evolução Histórica - Capital: Tebas
A história política do Egito Antigo é - Poder político: o faraó dividia o trono
tradicionalmente dividida em duas épocas: com seu filho para garantir a sucessão ainda
- Pré-Dinástica (até 3200 a.C.): ausência em vida.
de centralização política. - Estabilidade interna coincidiu com a
População organizada em nomos expansão territorial.
(comunidades primitivas) independentes da
autoridade central que era chefiada pelos Os Hicsos
monarcas. A unificação dos nomos se deu Rebeliões de camponeses e escravos
em meados do ano 3000 a.C., período em enfraqueceram a autoridade central no final
que se consolidaram a economia agrícola, a do Médio Império, permitindo aos hicsos -
escrita e a técnica de trabalho com metais um povo de origem caucasiana com grande
como cobre e ouro. poderio bélico que havia se estabelecido no
Delta do Nilo - conquistar todo o Egito

20
História

(c.1700 a.c.). Os hicsos conquistaram e Aspectos Políticos


controlaram o Egito até 1580 a.C. quando o Monarquia teocrática:
chefe militar de Tebas os derrotou. Iniciou- - O governante (faraó) era soberano
se, então, um novo período na história do hereditário, absoluto e considerado uma
Egito Antigo, que se tornou conhecido encarnação divina. Era auxiliado pela
como Novo Império. burocracia estatal nos negócios de Estado.
- Havia uma forte centralização do poder
Novo Império - (1580 a.C - 525 a.C.) com anulação dos poderes locais devido à
O Egito expulsou os hicsos necessidade de conjugação de esforços para
conquistando, em seguida, a Síria e a as grandes construções.
Palestina. - O governo era proprietário das terras e
- Capital: Tebas. cobrava impostos das comunidades
- Dinastia de governantes descendentes camponesas (servidão coletiva). Os
de militares. impostos podiam ser pagos via trabalho
- Aumento do poder dos sacerdotes e do gratuito nas obras públicas ou com parte da
prestígio social de militares e burocratas. produção.
- Militarismo e expansionismo,
especialmente sob o reinado dos faraós Aspectos Sociais
Tutmés e Ramsés. - Predomínio das sociedades estamentais
- Conquista da Síria, Fenícia, Palestina, (compostas por categorias sociais, cada
Núbia, Mesopotâmia, Chipre, Creta e ilhas uma possuía sua função e seu lugar na
do Mar Egeu. sociedade).
- Afluxo de riqueza e escravos e aumento - A estrutura da sociedade egípcia pode
da atividade comercial controlada pelo ser comparada a uma pirâmide. No vértice
Estado. Amenófis IV promoveu uma o faraó, em seguida a alta burocracia (altos
reforma religiosa para diminuir a funcionários, sacerdotes e altos militares) e,
autoridade dos sacerdotes e fortalecer seu na base, os trabalhadores em geral. A
poder implantando o monoteísmo (a crença sociedade era dividida nas seguintes
numa única divindade) durante seu reino. categorias sociais:
- Invasões dos “povos do mar” (ilhas do O faraó e sua família - O faraó era a
Mediterrâneo) e tribos nômades da Líbia e autoridade suprema em todas as áreas,
consequente perda sendo responsável por todos os aspectos da
dos territórios asiáticos. vida no Antigo Egito. Controlava as obras
- Invasão dos persas liderados por de irrigação, a religião, os exércitos,
Cambises. promulgação e cumprimento das leis e o
- Fim da independência política. comércio. Na época de carestia era
Com o fim de sua independência política responsabilidade do faraó alimentar a
o Egito foi conquistado em 343 a.C. pelos população.
persas. Em 332 a.C. passou a integrar o Aristocracia (nobreza e sacerdotes). A
Império Macedônio e, a partir de 30 a.C., o nobreza ajudava o faraó a governar.
Império Romano. Grupos intermediários (militares,
burocratas, comerciantes e artesãos).
Aspectos Econômicos Camponeses.
Base econômica: Escravos.
- Agricultura de regadio com cultivo de Os escribas, que dominavam a arte da
cereais (trigo, cevada, algodão, papiro, escrita (hieróglifos), governantes e
linho) favorecida pelas obras de irrigação. sacerdotes formavam um grupo social
- Outras atividades econômicas: criação distinto no Egito.
de animais (pastoreio), artesanato e
comércio.

21
História

Aspectos Culturais montanhoso, desértico e, portanto, menos


- A cultura era privilégio das altas fértil. Já ao sul, a região é constituída por
camadas. planícies muito férteis. A aridez do clima
- Destaque para engenharia e arquitetura obrigou a fixação da população às margens
(grandes obras de irrigação, templos, dos rios Tigre e Eufrates, cujas águas
palácios). permitiram o desenvolvimento da
- Desenvolvimento da técnica de agricultura na região. A construção de obras
mumificação de corpos. de irrigação foi fundamental para o
- Conhecimento da anatomia humana. aproveitamento dos recursos hídricos
- Avanços na Medicina. disponíveis na área.
- Escrita pictográfica (hieróglifos). Além disso, por ser uma região de
- Calendário lunar. grande fertilidade em meio a regiões áridas,
- Avanços na Astronomia e na a Mesopotâmia foi vítima de constantes
Matemática, tendo como finalidade a invasões de povos estrangeiros.
previsão de cheias e vazantes.
Desenvolvimento do sistema decimal. Evolução histórica e características de
Mesmo sem conhecer o zero, os egípcios cada civilização:
criaram os fundamentos da Geometria e do
Cálculo. Sumérios (antes de 2000 a.C.)
Originários do planalto do Irã, fixaram-
Aspectos Religiosos se na Caldéia.
- Politeísmo. Organizavam-se politicamente em
- Culto ao deus Sol. cidades-estado, sendo as principais Ur,
As divindades são representadas com Uruk, Lagash e Eridu. Em cada cidade-
formas humanas (politeísmo Estado o poder político era exercido por
antropomórfico), com corpo de animal ou chefes militares e religiosos (rei-
só com a cabeça de um bicho (politeísmo sacerdotes) chamados de patesi.
antropozoomórfico). A religião era politeísta. O templo era
- Crença na vida após a morte (Tribunal não somente o centro religioso como
de Osíris), daí a necessidade de preservar o político, administrativo e financeiro.
cadáver, desenvolvimento de técnicas de Contribuição cultural: invenção da
mumificação, aprimoramento de escrita cuneiforme: sinais abstratos em
conhecimentos médico-anatômicos. forma de cunha, feitos em tábuas de argila.
Na literatura, destaque para os poemas
Mesopotâmia “O Mito da Criação” e “A Epopeia de
Região do Oriente Médio, localizada Gilgamesh”.
entre os rios Tigre e Eufrates (a palavra
Mesopotâmia significa entre rios), onde se Acadianos (antes de 2000 a.C.)
sucederam as civilizações dos Sumérios, Povo de origem semita que ocupou a
Babilônicos, Assírios e Caldeus. A parte central da Mesopotâmia, realizando,
Mesopotâmia não se unificou sob um por volta de 2300 a.C., durante o reinado de
governo como no Egito, a região era Sargão I, a sua unificação política.
povoada de cidades-estados independentes Estabeleceu sua capital em Akkad, daí o
que periodicamente exerciam forte nome da civilização acadiana.
hegemonia sobre toda a Mesopotâmia. Disputas internas e invasões estrangeiras
levaram ao desaparecimento desse Império.
Meio Ambiente e seus Impactos
Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a
Mesopotâmia pertencia ao chamado
Crescente Fértil. Ao norte, o território é

22
História

Primeiro Império Babilônico (2000 a Síria. Vitória sobre o Egito, ocupação do


a.C. –1750 a.C.) Reino de Judá e Jerusalém com
Grupo de invasores amoritas, vindos do escravização dos hebreus (episódio
deserto da Arábia Capital: Babilônia. conhecido como “O Cativeiro da
Grande centro urbano da Antiguidade Babilônia”).
Oriental, eixo econômico e cultural da Construção de grandes obras públicas,
região. templos e palácios. Zigurate (imponente
Hamurábi foi o mais importante rei construção em forma de torre com degraus,
babilônico. Unificou politicamente a conhecido como a torre de Babel) e os
Mesopotâmia e elaborou o primeiro código famosos “Jardins Suspensos da Babilônia”.
de leis escritas: Código de Hamurábi Com a morte de Nabucodonosor II há o
(compilação de procedimentos jurídicos). enfraquecimento do reino, tornando-se alvo
Neste, está prevista a Lei do Talião (“olho da expansão persa. Chefiados por Ciro I, os
por olho, dente por dente”), abrange quase persas invadiram e dominaram a
todos os aspectos da vida babilônica Mesopotâmia, que se tornou uma província
(comércio, propriedade, herança, direitos do Império Persa.
da mulher, família, escravidão etc.).
Hamurábi realizou uma reforma Fenícia
religiosa, instituindo o culto a Marduk, A Fenícia corresponde atualmente à
principal divindade em honra de quem foi região do Líbano. De recursos naturais
construído um imponente zigurate. escassos, além do clima árido e solo pouco
Rebeliões internas e invasões que apropriado à atividade agrícola, sua
levaram a um enfraquecimento do Império localização geográfica favoreceu
e fragmentação do poder. fundamentalmente a navegação e o
comércio. Essa vocação marítima dos
Império Assírio (1300 a.C.– 612a.C.) fenícios contou ainda com a ajuda das
Ocupou o norte da Mesopotâmia, perto abundantes florestas de cedro, madeira
do curso superior do rio Tigre, região rica adequada para a fabricação de
em madeira e minério (cobre e ferro). embarcações, presentes em seu território.
Capital: Assur. Os fenícios não conheceram na
Principal atividade econômica: pastoreio Antiguidade a centralização política,
e comércio. Grande parte da riqueza vinha organizando-se segundo cidades-estados;
do saque das regiões conquistadas. unidades autônomas do ponto de vista
Militarismo: Usavam cavalos e armas de econômico e administrativo, sendo que as
ferro e passaram para a história como o que mais se destacaram foram Biblos, Tiro
povo mais guerreiro da antiguidade. e Sidon.
Império: Conquista da Mesopotâmia, da A principal classe da sociedade fenícia,
Síria e da Palestina. pelas próprias atividades econômicas dessa
Crueldade com os derrotados de guerra e civilização, era formada pelos comerciantes
escravização dos sobreviventes. e armadores que controlavam a vida
econômica e política das cidades-estados.
Segundo Império Babilônico (612 a.C. A expansão das atividades comerciais
– 539 a.C.) levou os fenícios a controlar a navegação no
Origem semita: derrotando assírios, Mediterrâneo, onde fundaram diversas
estabeleceu seu poder sobre a colônias e feitorias. Entre elas destacam-se
Mesopotâmia. Palermo, na Sicília, Cádis e Málaga, na
Capital: Babilônia. Espanha, e, principalmente, Cartago, no
Com o rei Nabucodonosor II, o império norte da África. A cultura fenícia, dado o
babilônico atingiu seu apogeu. Ampliou as caráter “aberto” de sua organização
fronteiras do reino, dominando a Fenícia e socioeconômica, assimilou diversos

23
História

componentes de outras culturas. Cabe, estabeleceram padrões recorrentes no


destacar, sua mais importante contribuição desenvolvimento de grandes cidades, de
para a cultura ocidental: a invenção do complexos agrícolas (em grande parte
alfabeto com 22 letras, matriz de nossa dependentes de obras de irrigação) e de
escrita atual. estruturas industriais (que se valem dos rios
para construir intrincados fluxos e
Movimentos dos rios/movimentos da metabolismos socioambientais que passam
História pela entrada constante de matéria e energia
A relação estreita entre o desenrolar da e pela saída de produtos mercantilizáveis e
história humana e os movimentos das águas dejetos poluentes). Além dos exemplos
na superfície terrestre, especialmente os acima, poderiam ser mencionados inúmeros
movimentos dos rios que cruzam os outros casos históricos em que
continentes para além dos espaços assentamentos humanos, dinâmicas de
litorâneos, pode ser pensada, de início, por transporte, movimentos de lazer e turismo,
meio de algumas poderosas metáforas. expressões culturais e artísticas e crises de
Heráclito de Éfeso, no século VI a.C., usou saúde pública, entre outros, passaram por
o rio como imagem da história em seu uma interação aturada com sistemas
sentido mais amplo: o próprio fluxo da fluviais.
existência. A renovação permanente das No caso do território brasileiro, foco do
águas do rio, que ao mesmo tempo persiste presente Dossiê, é importante ressaltar que
como uma unidade definida pelas suas não se pode entender a formação da
margens, indica o jogo complexo entre sociedade nacional, em sua grande
mudança e continuidade que pode ser diversidade, sem levar em conta o espaço
observado no acontecer do mundo. continental onde o país foi construído,
Milênios mais tarde, em seu livro clássico, marcado por enormes e complexas redes
publicado em 1946, O Mediterrâneo e o fluviais. A vida social aqui existente, em
Mundo Mediterrânico na Época de Filipe II, sua variedade geográfica, econômica e
Fernand Braudel também usou o cultural, interagiu de maneira acentuada
movimento das águas como metáfora para com esse movimento incessante das águas,
os diferentes níveis de profundidade em que seja em termos de mobilidade, de processos
se pode analisar a História, apresentando os de territorialização, de práticas culturais ou
“acontecimentos” como “cristas de espuma de dinâmicas de exploração econômica. Os
levantadas pelo poderoso movimento das rios também estiveram muito presentes nos
marés” (Braudel, [1946]1995, p. 25)5. conflitos armados e nas disputas por
Essas metáforas, assim como várias domínio político regional, assim como na
outras que poderiam ser mencionadas, própria construção objetiva do Estado
adquirem um sentido humano concreto nas nacional e de suas instituições. Amazonas,
inumeráveis situações em que sociedades São Francisco, Paraná e Tietê, entre tantos
interagiram de maneira intensa com outros rios, tornaram-se ícones no
sistemas fluviais, de modo que estes imaginário do Brasil. A interação com os
últimos se tornaram agentes importantes rios, que já era essencial para as sociedades
para definir a localização geográfica e o indígenas, transformou-se em aspecto
próprio devir da vida cultural, social e inescapável da vida concreta das sociedades
econômica. Pensando apenas no mundo na América portuguesa e no Brasil
contemporâneo, pode-se observar como a enquanto país, inclusive nos seus espaços
proximidade e a relação intensa com rios de litorâneos.
tamanho significativo ou, em sentido mais
amplo, com bacias hidrográficas,

5 José Augusto Pádua. Rafael Chambouleyron. Movimentos dos rios / https://www.scielo.br/j/rbh/a/HvHLtT4HTRGCWdJzrBkqfmf/?lang=pt.


movimentos da História. Scielo Brasil Revista Brasileira de História. Visitado em 12.09.2022.

24
História

Apesar da existência de farta diversidade temática. Não seria o caso de


documentação sobre o mundo dos rios em resumir essa literatura no curto espaço desta
diferentes países, além da sua presença Apresentação.1 De toda forma, uma
marcante em inúmeras descrições da vida tendência que se pode ressaltar na literatura
social em diferentes latitudes, a atenção recente, mesmo que de maneira muito
específica e explícita ao tema fluvial por geral, é a de considerar os rios em si
parte da historiografia foi relativamente mesmos, na sua materialidade biofísica e
modesta até as últimas décadas. Em meados sociotécnica. Ou seja, ir além da visão do
do século XX, no entanto, foi possível espelho exógeno que serve mais que tudo
observar um esforço de inovação no recorte para observar diferentes aspectos da vida
dos objetos de análise histórica, para além social. Os rios, nessa perspectiva, são
daqueles baseados em países e regiões introduzidos no corpo da história, nos seus
definidos segundo um critério movimentos endógenos. A materialidade
essencialmente político. Dentro dessa dos rios, incluindo suas transformações ao
abertura, onde se situa o recorte da Zona da longo da história, expressa em si mesma a
Mata nordestina como objeto de análise por rede de interações sociais, tanto culturais
Gilberto Freyre em 1937, ou do Mar quanto tecnoeconômicas, que com ela vem
Mediterrâneo por Fernand Braudel (no livro interagindo. Essa mesma materialidade,
já citado de 1946), um importante porém, inclusive nos seus aspectos
precedente foi estabelecido por Lucien biofísicos e ecológicos, participa e
Febvre e Albert Demangeon com a influencia no destino dessa rede complexa
publicação em 1935 de seu livro O Reno: (que vem sendo conceituada mediante
Problemas de História e de Economia. expressões como sócio-natureza ou devir
Ironicamente, no entanto, uma iniciativa biocultural). Um trabalho de grande
semelhante foi realizada quase ao mesmo influência, que abriu importantes
tempo pelo escritor e jornalista Emil horizontes dentro dessa nova perspectiva,
Ludwig, que em 1937 publicou um livro foi o livro de Richard White The Organic
sobre a história de vida do rio Nilo Machine: The Remaking of the Columbia
(Ludwig, 1937). É natural, porém, que a River (White, 1995). Nesse livro, o rio
obra de Febvre, por apresentar uma Columbia é visto como uma paisagem
densidade de pesquisa bem mais sólida, híbrida construída pela natureza e pelas
tenha marcado com muito mais relevância diversas intervenções sociotécnicas e
a cena historiográfica. É certo que o culturais ao longo do tempo. A
trabalho foi escrito com uma clara materialidade do rio, além disso, expressa
perspectiva antropocêntrica, procurando as diferenças de concepção e de interesse
descartar qualquer vestígio de dos vários atores sociais que com ele
determinismo geográfico. A ideia central é interagiram, tornando-se ao mesmo tempo
a do rio forjado pela história humana, mais um fenômeno material e um espaço em
do que pela natureza. O foco são as disputa.
questões político-econômicas, servindo o Em que momento os historiadores se
rio como uma espécie de espelho debruçaram sobre a história das intricadas
geográfico para pensar, por exemplo, a relações entre rios e populações no Brasil?
transformação das fronteiras nacionais na Talvez, uma historiografia muito centrada
Europa. no litoral e na sua oposição ao sertão, como
No período mais recente, já sob matriz fundante de uma ideia de nação
influência da nova história ambiental que (notadamente, a partir de finais do século
emergiu a partir da década de 1970, a XIX), tenha subestimado essa temática. De
literatura histórica específica sobre os rios toda forma, uma historiografia mais
cresceu muito, tanto em termos explícita e substantiva com relação ao tema
quantitativos quanto no aspecto da dos rios começou a emergir no país em

25
História

período recente, na virada para o século Nas décadas seguintes, alguns ensaios
XXI - o que não significa dizer que não foram publicados sobre rios emblemáticos,
existia nada de relevante no passado. Ao como no caso do São Francisco e do
contrário, existe uma interessante herança Amazonas,2 mas trabalhos situados no
intelectual a ser redescoberta nesse campo. quadro de uma historiografia acadêmica,
É possível encontrar, em alguns com maior elaboração teórica e
historiadores do século XX, importantes metodológica, só irão aparecer nas portas
análises indiretas que, sem tomar os rios do século XXI. É o caso do belo trabalho de
como eixo do recorte analítico, perceberam Victor Leonardi sobre o complexo do rio
muito bem a sua presença marcante em Negro e suas cidades abandonadas: Os
diferentes momentos da história do país. historiadores e os rios: natureza e ruína na
Cabe destacar, por exemplo, as fortes Amazônia brasileira (Leonardi, 1999); do
descrições de Gilberto Freyre na década de amplo estudo de Haruf Espindola sobre a
1930, no livro já mencionado (Freyre, ocupação histórica de um importante vale
[1937]2004), sobre as dinâmicas de fluvial entre Espírito Santo e Minas Gerais:
envenenamento dos rios do Nordeste pelos Sertão do Rio Doce (Espindola, 2005); do
resíduos das usinas de açúcar. Ou então, de estudo de Janes Jorge sobre o rio Tietê na
maneira ainda mais notável, os trabalhos de cidade de São Paulo, mostrando a
Sérgio Buarque de Holanda, nas décadas de relevância de aproximar história urbana e
1940 e 1950, sobre a centralidade da história fluvial: Tietê - o rio que a cidade
navegação fluvial nos movimentos de perdeu (Jorge, 2006); por fim, da rica e
exploração dos sertões do Centro-Oeste diversificada coletânea organizada por
partindo de São Paulo. O livro Monções, de Gilmar Arruda com o título de A natureza
1945, em especial, apresentou elegantes e dos rios (Arruda, 2008). Esses trabalhos, já
inovadoras análises sobre as relações entre participando de um diálogo aberto com a
rios e sociedades naquele contexto, historiografia internacional e com a
particularmente pelo conceito de “estradas perspectiva da história ambiental, abriram
móveis”, que foram pensadas, de maneira caminho para o tipo de historiografia
próxima das tendências mais recentes, em profissional e mais rigorosa, apesar da sua
sua própria materialidade, considerando variedade de enfoques, que poderemos
detalhadamente as corredeiras e cachoeiras, encontrar nos autores que responderam ao
os períodos de cheias etc. Ainda em 1948, chamado para o presente Dossiê. Uma
inspirado pelo tema da expansão paulista e historiografia que se aproxima da temática
pelo trabalho de Emil Ludwig, o poeta dos rios a partir de diferentes dimensões e
Humberto de Mello Nóbrega publicou um recortes, explorando as ricas conexões
livro que recortava de forma inovadora, ao ecológicas, geográficas, socioeconômicas e
menos no contexto nacional, um rio culturais que podem ser observadas com
específico como objeto de análise histórica. relação ao mundo dos rios em diferentes
Apesar de não ser uma análise profunda, o momentos e lugares da história do Brasil.
livro História do Rio Tietê (Mello Nóbrega, O artigo de André Vasques Vital
[1948]1981) é bastante abrangente e recupera a história do Território do Acre de
informativo, discutindo diferentes aspectos princípios do século XX, no contexto de
da relação entre a sociedade paulista e desenvolvimento da economia da borracha
aquele rio - desde os esforços para na Amazônia brasileira. Com base em uma
promover sua navegação até, por exemplo, discussão com bibliografia recente, o autor
seu papel como inspirador de arte e discute os limites da agência histórica
literatura. Na formulação do próprio autor, pensada apenas a partir da ação humana.
porém, o rio é visto “ora como cenário, ora Seu texto aprofunda uma importante
como comparsa”, já que o protagonismo é reflexão sobre o papel do rio Iaco, suas
sempre do homem. dinâmicas de cheias e vazantes e as

26
História

consequências e imprevisibilidades desse estatura, muitas vezes com pés e mãos de


regime na ação humana. Assim, os pato. O mito relaciona-se com a presença de
tumultuosos acontecimentos políticos e africanos escravizados na região, desde o
econômicos ocorridos no Território do século XVII, e com as modernas
Acre, depois de sua anexação ao Brasil, comunidades remanescentes de quilombo.
ganham novos sentidos também pela A autora aprofunda a sua reflexão,
atuação (imprevisível muitas vezes) do rio mostrando a relação histórica entre os
e pelas implicações das dinâmicas fluviais escravizados da região do Vale do Ribeira e
(como o incremento de doenças decorrentes a África Centro-Ocidental, onde estavam
das águas empoçadas). O rio Iaco é aqui enraizadas crenças acerca de espíritos das
uma “coisa-poder”, nas palavras do autor, águas. Revela assim os diversos pontos em
fundamental para compreender as comum entre as crenças dos dois lados do
articulações políticas locais da região. Atlântico, como o local de habitação dos
Ana Lucia Britto, Suyá Quintslr e seres encantados e os temas do sequestro de
Margareth da Silva Pereira abordam a mulheres, do sentido ventura-desventura e
transformação da região da Baixada da relação e interferência entre o mundo dos
Fluminense entre finais do século XIX e a vivos e o mundo dos mortos. Na realidade,
primeira metade do século XX. Apoiadas o mito dos negros d’água remete ao tráfico
em uma sólida reflexão sobre os rios na negreiro e à escravidão. De fato, envolve a
historiografia, tanto no campo da história travessia de águas e o renascimento num
ambiental como no campo da história dos novo mundo (muitos negros d’água teriam
sistemas sociotécnicos, as autoras sido capturados e gerado descendência na
desvendam como os rios da região foram região), mas também a violência (seus pés
alvo de diversas formas de intervenção ao e mãos eram cortados), o aprendizado de
longo do tempo. Mais ainda, examinam os uma nova língua, a relação entre seres
impactos dessas intervenções desde finais diferentes e o uso do sal associado ao
do século XIX. Trata-se de entender como batismo. Enfim, para Gabriela Paes, o
se articularam as dinâmicas fluviais com as enraizamento do mito na região decorre da
dinâmicas sociais, entendendo os rios como sua capacidade de “servir de metáfora” da
“sistemas tecnológicos e ambientais”. É a experiência da viagem atlântica e da própria
partir de meados do século XIX, com a escravidão.
introdução da ferrovia, que a região e seus O texto de Henri Acselrad retoma as
rios sofrem transformações significativas. experiências dos atingidos pela construção
De região rica passa a ser considerada área da barragem da Usina Hidrelétrica de
insalubre e improdutiva, o que ensejará, nas Tucuruí, no estado do Pará, nos anos 1970
primeiras décadas do século XX, diversas e 1980. O barramento do rio Tocantins
intervenções, no sentido de sanear a região implicou não somente a inundação de uma
e torná-la produtiva. Esse processo, levado imensa área para conformação do lago da
a cabo pelo Estado, dá ensejo ao surgimento usina. Teve, de fato, inúmeras implicações
de uma “hidrocracia” responsável pelas do ponto de vista ambiental (como a
políticas de intervenção nos rios da Baixada decomposição da matéria orgânica que
Fluminense. ficou debaixo da água), por ensejar o
Gabriela Segarra Martins Paes analisa o aparecimento de pragas de mosquitos, por
mito dos negros d’água do rio Ribeira de exemplo, mas igualmente do ponto de vista
Iguape, na região do Vale do Ribeira. Trata- social. Inúmeros grupos populacionais que
se de recuperar e compreender as matrizes havia séculos viviam no e do Tocantins
culturais e os significados atribuídos pela tiveram sua vida alterada, sendo deslocados
população da região à existência desses para outros espaços ou para novos espaços
seres encantados aquáticos geralmente criados pelo barramento. Essas populações
identificados com um rapaz negro de baixa heterogêneas, que viviam ao longo do curso

27
História

do rio, mobilizaram-se contra autoridades texto, esse tipo de representação e uso da


públicas e empresariais, ligadas ao água dos rios da região vai de encontro a
empreendimento, para denunciar os outras relações, construídas secularmente
desmazelos, a negligência e a violência que pelas populações da região. Mais ainda, a
significou esse processo. O texto, transformação da água dos rios em
entretanto, não examina exatamente esses mercadoria tem causado enormes impactos
movimentos, mas sim, de maneira muito socioambientais. As implicações da
original, o processo de produção escrita reconfiguração da água dos rios em
dessas populações atingidas, por meio de mercadoria nos obrigam, desse modo, a
manifestos, cartas, boletins e cordéis. A repensar a relação que construímos com a
produção e circulação de impressos por água nas últimas décadas.
parte de uma população vinculada Haruf Salmen Espindola, Eunice Sueli
majoritariamente à tradição oral permitiu Nodari e Mauro Augusto dos Santos
transformar “um caso em uma causa”. Isso exploram um acontecimento recente, um
significou o aparecimento de um “novo desastre, ocorrido há quase 4 anos. Trata-se
autor” da história do rio - os atingidos pela do rompimento da barragem de Fundão,
barragem. O escrito produzido e publicado que pertencia a dois grandes grupos de
pelos diversos grupos afetados permitiu, exploração mineral: as empresas Vale S.A.
assim, não somente a produção de um e BHP Billinton. Para os autores, é preciso
registro sobre a memória do rio Tocantins, compreender o termo desastre numa
mas também a produção de um registro para perspectiva ampla, uma vez que a fatalidade
a ação. A força do “artefato impresso” significou não somente o rompimento da
reside na duração que lhe permite ser barragem, mas uma série de
“recebido e reconhecido”. Nesse sentido, os acontecimentos que envolveram e ainda
impressos produzidos pelos atingidos pela envolvem áreas rurais, áreas urbanas, rios,
barragem do rio Tocantins fizeram parte de reservas e a zona costeira, impactando a
suas lutas e serviram como forma de vida de seres humanos, da flora e da fauna.
rememoração dessas próprias lutas. O artigo revela a complexidade das
Iane Maria da Silva Batista e Leila consequências do desastre, uma vez que os
Mourão Miranda retomam a questão dos efeitos (e as ações mitigadoras) foram
rios da Amazônia, mas a partir de uma diversos ao longo de toda a área afetada. O
perspectiva distinta do texto de Acselrad, texto introduz, também, a noção de
embora se referindo ao mesmo contexto. As “incerteza” para se pensar a constatação de
autoras partem de uma reflexão sobre os que a mineração industrial representa um
usos e representações das águas e de como “grande risco” (não há aqui como não
essas formas se transformam ao longo do pensar no recente caso do desastre de
tempo. Assim, notadamente a partir da Brumadinho). A reflexão do texto
segunda metade do século XX, os rios se finalmente aborda o problema da
reconfiguram em recursos naturais por diversidade de narrativas sobre o
parte do Estado e de interesses privados. acontecimento, envolvendo diferentes
Disso deriva, desde os anos 1950, o seu grupos e instituições, muitas vezes
reconhecimento para os planos de contraditórias entre si, ensejando o próprio
desenvolvimento da região, aumento das incertezas.
principalmente, relacionados aos projetos Por fim, o texto de Cristina Brito
de exploração das riquezas minerais da examina, por meio dos rios, a relação das
Amazônia. Esse processo de comoditização sociedades com os manatis, na América
da água, por meio da construção de usinas colonial. A partir de uma reflexão sobre o
hidrelétricas na região amazônica, fez os lugar dos rios, a autora busca compreender
rios se tornarem lugares de a relação histórica com esses animais,
“hidronegócios”. Ora, argumenta-se no inclusive na sua dimensão simbólica. Para

28
História

ela, os manatis (como os rios) se tornaram esquecer que, embora em grande parte
metáforas dos “ritmos naturais e sociais”. ignorada, a “fluvialidade” é parte
Assim, a autora examina diversas fundamental da formação histórica do
representações textuais e imagéticas desses Brasil.
animais, produzidas no período colonial,
mostrando como a chegada dos europeus à Questões
América impactou as populações dos
manatis e como se reconfiguraram as 01. (Prefeitura de Gramado –
representações sobre eles (embora estas não Professor – FUNDATEC) Refletindo
tenham sido muito abundantes). Discutem- sobre as classificações periódicas e
se no texto até mesmo os múltiplos usos e políticas do antigo Egito, temos o período
representações indígenas sobre os manatis, que vai de 3.200 a.C. até 2000 a.C. Nesse
com base na documentação produzida por contexto, as capitais foram Tinis e Mênfis,
europeus. A reflexão de Cristina Brito tendo uma forma de governo teocrática.
insere-se numa discussão sobre a relação Considerando o contexto, podemos afirmar
entre o mundo humano e o não humano. que se trata do:
Trata-se aqui de frisar o próprio (A) Antigo Império.
protagonismo desses animais aquáticos no (B) Médio Império.
seu percurso de interações com as (C) Novo Império.
sociedades indígenas e com a sociedade (D) Período Clássico.
colonial. Segundo a autora, os rios (onde (E) Período Arcaico.
habitavam os manatis) podem ser pensados
como lugares de confluência de interações 02. (IF/TO) Acerca do desenvolvimento
entre seres humanos e entre eles e os da agricultura e da consequente
animais, enfim, entre “pessoas e a sedentarização dos grupos humanos,
natureza”. considere as afirmativas abaixo:
Rio poder; rio saneado; rio metáfora; rio I. Esse processo teve início a partir das
protesto; rio negócio; rio desastre; rio civilizações mediterrâneas, sobretudo
animais. Embora referindo-se ao mesmo gregos e romanos, responsáveis pela
objeto - a história dos rios e sua relação com construção de grandes obras públicas, como
as sociedades -, os enfoques apresentados canais de irrigação, diques e aquedutos.
pelos textos deste Dossiê não somente são II. Também identificados sob a
muito diversos, mas igualmente dialogam denominação de “povos fluviais” ou
com campos de conhecimento distintos. “civilizações hidráulicas”, egípcios e
Mais ainda, tratam de espaços/tempos mesopotâmicos foram pioneiros na
múltiplos: a América colonial, os vários constituição de sociedades rigidamente
rios da Amazônia, do século XIX ao século hierarquizadas e com governo.
XX, o rio Ribeira de Iguape e a África, a III. A ocupação humana dos vales dos
Baixada Fluminense da virada do século, o rios Tigre e Eufrates remonta ao período
rio Doce de “ontem”. O que articula as Paleolítico e, devido à abundância de
discussões presentes neste Dossiê é recursos hídricos, essa região foi
certamente a necessidade de incorporar os sucessivamente disputada por vários povos.
rios - na sua agência, nas suas IV. Na região designada como Crescente
representações, na sua simbologia, nos Fértil, verificou-se o desenvolvimento das
impactos da ação antrópica sobre eles, atividades agrícolas atreladas ao avanço de
enfim, na sua complexidade - à reflexão dos técnicas de irrigação e atividades
historiadores. É que, para um país comerciais, tudo isso mediado pela atuação
composto por uma intrincada rede de de Estados fortes.
milhares de rios, oficialmente agrupados
em 12 bacias hidrográficas, não há como

29
História

É correto o que se afirma em: arqueólogo australiano Vere Gordon Childe


(A) I e II. (1892- 1957), uma referência no estudo de
(B) II e IV. períodos remotos da civilização, apontou
(C) III e IV. como necessários para que um aglomerado
(D) I e III. seja classificado como cidade:
(E) II e III. concentração de pessoas, agricultura
especializada, pagamento de taxas a uma
Alternativas divindade, arquitetura monumental,
estratificação social, escrita, ciências,
01 - A | 02 - B cultura e trocas de matéria-prima.
As condições ambientais propícias à
agricultura variada da Mesopotâmia -
O modo de vida urbano no presente e no região fértil graças à localização
passado privilegiada entre os rios Tigre e Eufrates -
favoreceram o estabelecimento desses
grupos, que plantavam cereais e
Um dos conteúdos previstos para o 4º e
domesticavam animais. O excedente era
o 5º ano, a formação das cidades costuma
trocado com as cidades próximas. "Esses
ser ensinada com ênfase na história local. O
fatores levaram ao adensamento da
tema, porém, pode gerar outras abordagens.
população, à construção de habitações e à
Uma das possibilidades é introduzir um
organização de espaços destinados a
assunto que será estudado mais tarde: a
atividades de produção de cerâmica,
formação de Ur e Uruk, as primeiras
artefatos variados de matérias-primas
cidades do mundo, localizadas na antiga
locais", explica Elaine Hirata, professora do
Mesopotâmia - que hoje corresponde ao
Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE),
Iraque6.
da Universidade de São Paulo (USP).
Esse estudo só se justifica se estiver
No centro dessas cidades, ficavam os
articulado a um trabalho mais amplo sobre
templos religiosos, chamados de zigurates.
a origem dos centros urbanos, incluindo
Eles organizavam a distribuição dos
aquele em que a turma mora. "Esse
alimentos e também funcionavam como
conteúdo ajuda o aluno a entender que as
sede do poder político-administrativo. Ao
cidades não são algo pronto, mas foram
redor deles, estavam habitações,
construídas por seres humanos com base
estabelecimentos comerciais e serviços
em condições e necessidades da sociedade",
públicos. A sociedade era formada por
diz Roberto Catelli Junior, formador de
castas. Cada grupo vivia em um bairro.
professores da Secretaria Municipal de
Plantações de trigo e cevada circundavam
Educação de São Paulo.
essas construções. Muros delimitavam as
Embora as primeiras formas de vida
fronteiras. A concentração populacional e o
urbana tenham surgido em 4000 a.C.,
desenvolvimento da agricultura permitiram
aproximadamente, também na
o crescimento da infraestrutura, o avanço da
Mesopotâmia, Ur e Uruk destacavam-se
tecnologia utilizada nas plantações, como
por seu tamanho e sua densidade
as técnicas de irrigação, e da escrita
populacional. A última chegou a ter cerca
cuneiforme, um tipo de registro que
de 494 hectares de área total. Algumas
viabilizou a criação de um código de lei
estimativas apontam que sua população era
mais tarde - fundamental para reger a
de 50 a 80 mil habitantes no ano 3200 a.C.
sociedade.
Foram também os primeiros agrupamentos
a dispor de todos os elementos que o

6 Camila CamiloBruna Nicolielo. Relacionar cidades do passado e do https://novaescola.org.br/conteudo/2070/relacionar-cidades-do-passado-


presente. Nova Escola. e-do-presente. Visitado em 12.09.2022.

30
História

Comparar cidades antigas e atuais sinalizar a proporção exata entre os


para entender conceitos intervalos de tempo de cada data citada.
Para fazer um bom trabalho, estabeleça Com um mapa-múndi, a turma localizou
correspondências entre o passado e o sua cidade e a região da Mesopotâmia. Por
presente. Comece conversando com a fim, a professora pediu que todos
turma sobre o que é uma cidade e o que a escrevessem um texto informativo sobre os
diferencia de outros espaços, usando como casos estudados. Assim, a meninada
exemplo o local onde as crianças moram. aprendeu a relacionar fatos e, ao fim do
Com base nisso, pode-se apresentar as trabalho, compreendeu que a história é um
primeiras cidades (veja os exemplos processo contínuo, sujeito a rupturas e
abaixo), definindo-as como "espaços de permanências.
troca, comércio e relações de poder que
estruturaram a sociedade e a ordem" e Questões
mostrar fotografias de peças da época,
afirma Catelli. 01. (Prefeitura de Santana do
Livramento/RS – Professor de História –
A relação de diferentes tempos OMNI - 2021) A Mesopotâmia é a região
históricos é a estratégia sugerida por Ana conhecida como o berço das civilizações.
Enedi Prince, professora da Universidade Situada, no Oriente Médio, ocupa o
do Vale do Paraíba (Univap). Ela ensinou território que hoje conhecemos por Iraque e
esse conteúdo para turmas de 4º ano na EE algumas porções da Síria e Turquia. Foi
Yoshiya Takaoka, em São José dos nessa região que surgiram as primeiras
Campos, a 94 quilômetros de São Paulo. grande civilizações. Sobre a Mesopotâmia,
Iniciou o trabalho selecionando materiais assinale a alternativa INCORRETA:
de pesquisa sobre as características, a A - Mesopotâmia foi um termo criado
estrutura e o funcionamento de Ur, de Uruk pelos gregos que significava “entre rios”,
e da cidade paulista em que vivem. Em associando-se à região entre os rios Tigre e
seguida, já em classe, propôs uma pesquisa Eufrates.
com base nesses materiais. B - Em suas terras, se desenvolveram os
Enquanto liam sobre as cidades, as povos sumérios e acádios, os amoritas, o
crianças aprendiam a respeito do Império da Babilônia e o Império Assírio.
surgimento das organizações de poder, do C - Por conta da presença de dois
comércio e da agricultura, que estão grandes rios na região, as cheias eram
presentes nas sociedades atuais e surgiram constantes e irregulares e, também,
com a sedentarização do homem. "O avassaladoras. Assim, foram construídas
objetivo foi preparar a turma a responder a grandes e complexas obras hidráulicas
questões como: esses lugares mudaram com pelos habitantes da Mesopotâmia.
o tempo? O que permanece? O modo de D - Nenhuma das alternativas.
vida dos habitantes dessas regiões e o nosso
têm coisas parecidas?", diz ela. Durante as 02. (Prefeitura de Abelardo Luz/SC –
discussões, todas as hipóteses foram Professor de História – GSA Concursos -
acolhidas e debatidas. Depois desse estudo, 2020) Denomina-se Crescente Fértil a
com a ajuda de todos, ela montou uma lista região de terras férteis formada por um arco
comparativa entre as cidades antigas e São semelhante a Lua em quarto crescente que
José dos Campos. vai do Egito até:
Os dados mencionados pela turma A - o Leste do Mar Mediterrâneo;
ajudaram a fazer - com o auxílio do material B - o Sul do Golfo Pérsico;
que a docente levou - uma linha do tempo, C - o Norte do Mar Vermelho;
que marcava datas importantes para as D - o Norte do Golfo Pérsico;
cidades pesquisadas, sem se preocupar em E - o Norte do Mar Mediterrâneo.

31
História

Alternativas compor a consciência histórica de grupos e


de indivíduos.
01 – D | 02 – D Diante dessas mudanças no ensino de
História podem ser relacionados os estudos
desenvolvidos pela autora Circe Bittencourt
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico (2012), que destacam a importância de se
na sala de aula. São Paulo: Contexto, refletir sobre a formação do professor de
1998
história e o cotidiano da sala de aula.
Apontando para o fato de que essa
Ensino de História, Desafios e relação entre os profissionais de história em
possibilidades de um Saber Fazer sala de aula já fazem parte de debates e
encontros há alguns anos, que segundo
Trazer conteúdos históricos eleitos Maria Auxiliadora Schmidt significa que:
atualmente, assim como pensar a educação Mudanças foram sentidas e devemos nos
histórica em uma sociedade no início do congratular com todos os que, individual ou
século XXI, como ressalta a pesquisadora coletivamente, contribuíram e têm
Isabel Barca7: contribuído para a melhoria do ensino de
[...] é tarefa complexa, e como sempre, História em todos os níveis. No entanto, no
polemica. É complexa porque não basta que se refere à prática cotidiana do
passar a crianças e jovens o conteúdo que professor de 1º e 2º graus, isto é, àquela
seus pais aprenderam, na escola e fora dela, instância denominada sala de aula, de um
como pensamento único de um modo geral as mudanças ainda não são
determinado grupo influente. (BARCA, satisfatórias. (BITTENCOURT, 2012, p.
v.7,n.1,pp.5-9, Jan/ Jun 2007 p.05). 55).

Isso faz com que o educador tenha que ir Nesse sentido podemos analisar que
muito além do que era ensinado mesmo com diversas mudanças, a educação
tradicionalmente nos currículos das escolas, e o ensino de história atualmente tem
em especial na disciplina de história nas muitos aspectos que podem ser mais bem
décadas passadas, pois os ensinamentos trabalhados. Um bom caminho é a reflexão
trazem sempre junto a seus conteúdos sobre o espaço que a universidade propõe
orientações formativas ao individuo. Dessa aos acadêmicos, através dos estágios na
forma, para se pensar o ensino de história graduação, onde podem ser observados às
hoje; temos que vencer o desafio de criar estruturas e a atuação dos profissionais que
novas maneiras de formar e capacitar às atuam na prática educativa, que tendem a
novas gerações de nossa sociedade, todo o momento estarem frente a frente com
considerando que é necessário trabalhar os problemas estruturais da educação, que,
com as mentalidades de diferentes grupos no entanto são considerados de forma
sociais e com múltiplas informações que estática como fruto da educação brasileira
permeiam a vida social em uma época por parte das autoridades governamentais,
profundamente marcada pelo impacto de onde geram acima de tudo desencontros
novas tecnologias que aceleram e com o sentido do que deveria ser ensinar a
dinamizam as relações entre pessoas, história. Os professores em grande parte se
grupos e instituições, possibilitando um tornam reféns das dificuldades, pois trazem
acesso múltiplo e variável a fontes diversas de sua formação bagagens a serem
de informação que também ajudam a transpostas na sala de aula, e não recebem
os devidos meios a serem utilizados, pois

7 Luiz Carlos Bento. O SABER HISTÓRICO E O ENSINO DE HISTÓRIA: =&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjuvcT5gJD6AhX0qJUCHYNCDGg


UMA REFLEXÃO SOBRE AS POSSIBILIDADES DO ENSINO ESCOLAR QFnoECAoQAQ&url=https%3A%2F%2Fperiodicos.ufms.br%2Findex.p
DA HISTÓRIA. hp%2Ffatver%2Farticle%2Fview%2F1301&usg=AOvVaw3mq8K8sDlO
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd sCVmq4UIdTdc. Visitado em 12.09.2022.

32
História

para se tornar um profissional de História de história deve possibilitar a apreensão de


significa observar que: conceitos e categorias que permitam os
A sua formação não se restringe a um estudantes pensar historicamente o
curso de História, engloba ainda áreas das processo de construção histórico-social de
Ciências Humanas, como Filosofia, seus próprios meios sociais, produzindo
Ciências Sociais etc. Em geral, essa uma compreensão crítica da vida humana e
formação começa e termina no curso de de si mesmos que é fundamental para a
graduação. efetivação de suas visões históricas de
Formado, o professor de História, como mundo.
tantos outros, envolve-se com encargos Mas se o professor como peça chave
familiares, com a luta pela sobrevivência e dessa prática racionalmente orientada não
quase sempre não dispõe de tempo nem de estiver em plena interação com os objetivos
dinheiro para investir em sua qualificação do ensino de história, o processo de
profissional. Seu cotidiano é preenchido aprendizagem histórica, fica
com múltiplas tarefas; seu tempo de viver é comprometido. E as aulas de história
fragmentado, dilacerado pelas perdem o seu sentido formador.
preocupações muitas vezes contraditórias Nesse caminho, visando à reflexão sobre
entre sua profissão, família e progresso a produção de novos sentidos, procuramos
cultural. (BITTENCOURT, 2012, p. 55). buscar relações com os temas atualizados
Nesse contexto observa-se que o que deveriam ser abordados na sala de aula,
professor de História tende a se preocupar onde nos deparamos com a obra organizada
não somente com a sala de aula e seus por Carla Bassanezi Pinsky, que faz uma
alunos, mas com o que o envolve reflexão sobre os novos temas nas aulas de
socialmente perante os desiquilíbrios história, que em uma breve introdução
presentes em sua vida. Sendo que O destaca que aquela. “velha História de fatos
professor de História pode ensinar o aluno e nomes já foi substituída pela História
a adquirir as ferramentas de trabalho social e Cultural.” (PINSKY, 2010. p. 09).
necessárias; o saber fazer, o saber fazer Nessa obra a autora fala da necessidade
bem, lançar os germes do histórico. Ele é de construção de uma nova roupagem para
responsável por ensinar o aluno a captar e a as aulas de história, que revelam questões
valorizar a diversidade dos pontos de vistas. que competem à atualidade e que se não
Ao professor cabe ensinar o aluno a estão inseridas nas salas de aulas, deveriam
levantar problemas e a reintegrá-los num estar, revelando uma renovação na proposta
conjunto mais vasto de outros problemas, de ensino que deverá partir do intuito de
procurando transformar, em cada aula de promover mudanças para que os alunos
História, temas em problemática. sejam capazes de no mínimo
(BITTENCOURT, 2012, p. 57). compreenderem seus cotidianos a partir de
O ensino de História deveria passar a ser uma reflexão histórica.
algo que levasse o aluno a constituir Em resposta aos novos temas nas aulas
mudanças em seu pensamento, fazendo de História a autora propõe a reflexão de
com que seja necessário dar-se mais diversas temáticas, sendo elas; questões
importância ao ensino a ele proposto. O sociais, direitos humanos, relações de
professor é o autor desse contexto que gênero, corpo, alimentação, novas
direciona o aluno a inserção de novas ideias biografias, ciência e tecnologia, História
e novos caminhos. Pois “a sala de aula não Regional e a História Integrada, na busca de
é apenas um espaço onde transmite fazer uma pesquisa que revela o que os
informações, mas onde uma relação de alunos adquirem de conhecimento nas aulas
interlocutores constrói sentidos.” de História, e o que é aproveitado por eles
(BITTENCOURT, 2012, p. 57). Como uma em seu cotidiano fora do âmbito escolar,
prática racionalmente orientada, o ensino não poderia deixar de conhecer novas

33
História

propostas que deveriam ser articuladas as “capacitar os estudantes para perceber a


aulas de História, nos dias atuais. historicidade de concepções, mentalidades,
O livro Novos temas nas aulas de práticas e formas de relações sociais é
História, “possui um foco duplo: o interesse justamente uma das principais funções das
do aluno e a responsabilidade social do aulas de História.” (PINSKY, 2010. P. 32).
ensino de história.”. (PINSKY, 2010. p. Funções que podem ser trabalhadas com
09). intuito de obter resultados que transformem
Observando a importância da disciplina o olhar do aluno, na sala de aula e que
de história na vida do aluno, buscam-se transforme suas capacidades para as
respostas para trabalhar novos temas. mudanças sociais, pois vivemos em um
Dentre os temas propostos, focamos maior mundo em transformação.
atenção em alguns que podem ser Ao relacionar alguns dos novos temas
trabalhado com os alunos, ajudando na que são propostos atualmente ao ensino de
construção social, adquirindo novas ideias História, é sempre relevante se destacar
e direcionamentos. Pinsky faz um assuntos tais como: direitos humanos, a
posicionamento para as relações de Gênero, cultura, a ciência e tecnologias que fazem
onde, com que o ensino desenvolva novos olhares
[...] desde que ficou claro que as relações no convívio social onde:
de gênero são uma dimensão Acredito que uma “educação em direitos
importantíssima das relações sociais. Tal humanos” – em particular, uma “educação
lacuna é grave, pois um olhar atento a histórica em direitos humanos”- seja não
questões de gênero enriqueceria muito as apenas importante para o estudante no que
aulas de História. Atenção, porém: o diz respeito aos temas trabalhados em sala
importante não é o aluno aprender a palavra de aula como também imprescindível para
gênero com um novo sentido, mas entender a sua formação como sujeito de direitos, ou
e saber usar o conceito corretamente. seja, para a sua formação como cidadão,
(PINSKY, 2010, p. 29). pois, sem o conhecimento dos seus direitos
Visto que o termo gênero, por sua vez, reconhecidos legalmente pelo Estado, ou
faz referência a uma construção cultural, é sem a consciência crítica que o estimule à
uma forma de enfatizar o caráter social e, luta por novos direitos legitimamente
com um sentido histórico, das concepções aceitos pela sociedade, o estudante (na
baseadas nas percepções das diferenças verdade, qualquer indivíduo) dificilmente
sexuais. Podemos observar nas entrelinhas poderá ultrapassar as barreiras existentes à
da obra os diferentes aspectos que podem e sua inclusão numa comunidade política.
até devem ser trabalhados nas aulas de (PINSKY, 2010, p. 57).
História, com intuito de enriquecer e Trazer temas atuais como esse acima
preparar os alunos para um melhor convívio mencionado é fundamental para aformação
social. Na visão de Pinsky. dos estudantes, pois é na sala de aula que é
Gênero trata da construção social da constituído uma linguagem conceitual,
diferença sexual. Quando adotamos a forjada na obtenção de conceitos e
perspectiva de gênero, estamos pensando categorias históricas, que os alunos levam
nas maneiras como as sociedades para o convívio social, produzindo um
entendem, por exemplo, o que é “ser aprendizado que torna-se fundamental em
homem” e “ser mulher”, e o que é que seus cotidianos, constituindo-se numa das
consideram “masculino” e “feminino”. vias principais para a sua formação como
Tratamos essas noções como conceitos cidadãos.
históricos. (PINSKY, 2010, p. 31). Portanto nesse contexto observamos que
Questões estas que necessitam de um a escola, e em especial, o profissional de
olhar especial dos professores, para História, exercem funções formativas
transpor esse saber amplo e fundamental. importantíssimas para o desenvolvimento

34
História

de uma consciência histórica capaz de fazer conexão com a disciplina Língua


com que os indivíduos sejam capazes de se Portuguesa, favorecendo, dessa forma, o
entender temporalmente e de pensar a trabalho disciplinar.
construção histórica de suas vidas de uma
forma mais qualificada e abrangente. 02. (Prefeitura de Ferraz de
Vasconcelos/SP – Professor de Educação
Questões Básica II – VUNESP) As propostas
curriculares de História elaboradas nos
01. (Prefeitura de Lagoa Santa/MG – últimos anos estão relacionadas aos debates
Professor – FUNDEP) No tocante aos e confrontos surgidos no final do período da
usos didáticos de documentos, Circe ditadura militar quando se impôs Estudos
Bittencourt trabalha e analisa o uso da Sociais em substituição à História e
Literatura como documento interdisciplinar Geografia para as oito séries iniciais da
nas práticas de ensino de História. Para a escolarização, mantendo-se precariamente
autora, “Romances, poemas, contos são as duas disciplinas no 2o grau, para atender,
textos que contribuem, pela sua própria na prática, aos exames vestibulares e não
natureza, para trabalhos interdisciplinares. como proposta de formação geral
O uso de textos literários por outras necessária para um ensino terminal
disciplinas faz parte de uma longa ‘tradição profissionalizante ou técnico, conforme
escolar’ que remonta ao período em que estava prescrito no texto oficial do currículo
dominava o currículo humanístico”. para esse nível de escolarização. (Circe
BITTENCOURT, Circe Maria F. Ensino de Bittencourt. “Capitalismo e cidadania nas
História: fundamentos e métodos. São atuais propostas curriculares de História”.
Paulo: Cortez, 2004, p. 338-339. Em Circe Bittencourt (org.). O saber
Sobre a temática da Literatura em histórico na sala de aula.)
conexão com a História, Circe Bittencourt Também na ditadura militar, segundo
identifica uma relação de inúmeros Circe Bittencourt,
benefícios. A respeito desses benefícios, é A - as universidades públicas e privadas,
correto afirmar: assim como os institutos isolados, deixaram
A - A adoção desse referencial torna de oferecer os cursos de graduação em
possível analisar textos como documentos História e Geografia.
de época, cujos autores pertencem a um B - o Ministério da Educação e Cultura
determinado período histórico e são (MEC) criou mecanismos que permitiram a
portadores de referências que podem forte aproximação entre o saber acadêmico
auxiliar a compreensão do tempo e do e o saber escolar.
contexto vivido e estudado. C - houve a aprovação de leis que
B - Os estudos literários teriam como valorizavam a carreira do magistério,
principal objetivo desenvolver o apreço principalmente a dos trabalhadores da
pela leitura e forneceriam, dessa forma, escola pública básica.
elementos para uma análise mais profunda D - tornou-se obrigatória a formação de
e uma melhor compreensão das relações professores de História apenas por meio de
entre conteúdo e forma. licenciaturas plenas, com um mínimo de 4
C - Atualmente a Literatura tem sido de anos de curso.
uso exclusivo da Língua Portuguesa, E - ocorreu uma forte separação entre as
porém, podese romper com essa pesquisas historiográficas acadêmicas,
exclusividade e promover atividades que nacionais e estrangeiras, e a produção
estejam mais integradas com os textos escolar.
literários para os alunos do Ensino Médio.
D - O uso de textos literários em estudos Alternativas
de história deve ser feito sempre em 01 – A | 02 – E

35
História

superiores de graduação, que os saberes


GUIMARÃES, Selva. Didática e Prática
históricos e pedagógicos são mobilizados,
de Ensino de História. Papirus, 2009 problematizados, sistematizados e
incorporados à experiência de construção
do saber docente. Trata-se de um
importante momento de construção da
Este texto reúne algumas reflexões, identidade pessoal e profissional do
resultado de pesquisas, acerca da formação professor, espaço de construção de
do professor de história no Brasil. maneiras de ser e estar na futura profissão.
Especificamente, apresentaremos uma O profissional, egresso dos cursos de
análise da formação inicial, abordando as licenciatura de história, que exerce o
seguintes questões: Quais paradigmas de trabalho pedagógico é um professor.
formação têm nomeado as práticas dos Óbvio? Não é bem assim. Há inúmeras
cursos superiores de história? O que propõe controvérsias sobre esse ponto. Para
o texto/documento das Diretrizes exemplificar essa dificuldade, o texto das
Curriculares Nacionais dos Cursos Diretrizes Curriculares Nacionais dos
Superiores de História, aprovadas em 2001, Cursos Superiores de História, publicadas
produto das novas políticas educacionais do pelo MEC em 2001, sequer menciona a
MEC, para a formação inicial de palavra “professor”. Cabe questionar: os
professores? Como se articulam as questões cursos de licenciatura em história
da formação inicial/ universitária, a acompanharam o movimento histórico de
construção dos saberes docentes e as transformações do ofício docente? Qual(is)
práticas pedagógicas no ensino de história?8 modelo(s) de formaç ão inicial de
Historicamente, o debate sobre a professores de história prevalece(m) no
formação e a profissionalização de Brasil?
historiadores e professores de história tem- Pesquisas realizadas nos anos 70, 80 e 90
se pautado por alguns dilemas políticos e do século XX (Fenelon 1976, 1983, 1985;
pedagógicos que envolvem historiadores, Nadar 1984, 1987; Silva 1982, 1984, 1996;
professores formadores da área pedagógica, Bittencourt 1988, 1994; Zamboni 1983,
professores de história dos vários níveis e 1988; Fonseca 1993, 1997) sobre as
sistemas de ensino, associações sindicais e mudanças ocorridas no ensino de história e
científicas, mais precisamente a Associação os processos de formação de professores
Nacional de História (Anpuh) que, desde demonstraram a enorme distância — e até
meados dos anos 70, tem uma participação mesmo uma discrepância — existente entre
ativa no processo de discussões, trocas de as práticas e os saberes históricos
experiências, proposições e publicações na produzidos, debatidos e transmitidos nas
área. Assim, tratar das questões propostas universidades e aqueles ensinados e
significa, de certa forma, intervir num aprendidos nas escolas de ensino
campo de acirradas disputas teóricas e fundamental e médio. Enquanto, nos cursos
políticas. superiores, os temas eram objeto de várias
Tomou-se lugar-comum afirmar que a leituras e interpretações e predominava uma
formação do professor de história se diversificação de abordagens, problemas e
processa ao longo de toda sua vida pessoal fontes. nas escolas de ensino fundamental e
e profissional, nos diversos tempos e médio, de uma maneira geral, as práticas
espaços socioeducativos. Entretanto, é conduziam à transmissão de apenas uma
sobretudo na formação inicial, nos cursos história, uma versão que se impunha como

8 Fonseca, Seiva Guimarães Didática e prática de ensino de história: 0tornamos%20professores%20de%20Hist%C3%B3ria.%20Did%C3%A1


Experiências, reflexões e aprendizados / Seiva Guimarães Fonseca. - tica%20e%20pr%C3%A1tica%20de%20ensino%20de%20hist%C3%B3r
Campinas, SP : Papirus, 2003. —(Coleção Magistério: Formação e ia.%20FONSECA%2C%20Selva%20Guimar%C3%A3es..pdf. Visitado
Trabalho Pedagógico. em 12.09.2022.
http://www.edufrn.ufrn.br/bitstream/123456789/1610/1/Como%20nos%2

36
História

a verdade. A formação universitária ensino/preparação para a pesquisa,


constituía o espaço da diversificação, do conhecimentos teóricos/prática. Os
debate, do confronto de fontes e resultados desse modelo tornaram-se
interpretações. A escola, o lugar da visíveis no campo profissional. Os egressos
transmissão. E o livro didático, na maioria dos programas das universidades, em geral,
das vezes, a principal — senão a única — orientavam suas carreiras para a pesquisa,
fonte historiográfica utilizada por ingressando em programas de pós-
professores e alunos. graduação. Os egressos dos cursos de
Essas evidências não são isoladas do licenciatura curta em estudos sociais e/ou
conjunto de processos que envolvem a licenciatura plena em história e geografia
produção e a difusão do conhecimento ocupavam o mercado educacional,
histórico, das relações entre os diferentes acentuando o distanciamento entre a
espaços de formação e produção de saberes, formação universitária e a realidade da
bem como da lógica subjacente a essas educação escolar básica.
relações. Analisando retrospectivamente, Nos anos 80, ampliaram-se o debate
podemos afirmar que essa ,configuração é entre os profissionais da área e a luta em
fruto do modelo de formação inicial de defesa de um outro processo de formação,
professores de história e geografia, da profissionalização dos professores e de
realizado nos cursos de licenciatura curta de um novo ensino de história. A crítica á
estudos sociais, instituídos no Brasil formação livresca, distanciada da realidade
durante a ditadura militar, no interior do educacional brasileira, á dicotomia
projeto de descaracterização das bacharelado/licenciatura se processou
humanidades no currículo escolar e de articulada à defesa de uma formação que
(des)qualificãção dos professores de privilegiasse o professor/pesquisador, isto
história. Trata- se de um projeto de é, o professor de história produtor de
desqualificação estratégica, articulado a saberes, capaz de assumir o ensino como
diversos mecanismos de controle e descoberta, investigação, reflexão e
manipulação ideológica que vigoraram no produção.
Brasil no período do regime militar, A defesa de uma outra concepção de
conforme analisado no capítulo 1. formação de professores de história é
As lutas pela extinção dos cursos de recorrente na literatura da área, a partir das
licenciatura curta em estudos sociais críticas ao modelo vigente nos.diversos
durante os anos 70 e 80 do século XX, o programas. Em 1983, Fenelon denunciava:
movimento internacional de revisão e (...) é fácil constatar que o profissional
ampliação da produção historiográfica, o do ensino de História, o recém- formado,
processo de redemocratização do Brasil, os tendo de enfrentar a realidade de uma sala
movimentos sociais, as mudanças de aula com 4D, 50 alunos, 30, 40 horas
curriculares para o ensino fundamental, semanais e péssimas condições de infra-
médio e universitário fizeram emergir estrutura, para não falar do desincentivo da
novos dilemas sobre os modelos de remuneração aviltante, na maioria das
formação e a profissionalização do vezes, se sente perdido, não sabe o que vai
historiador e do professor de história. fazer. Passou quatro anos estudando a sua
Entretanto, durante as últimas três disciplina é de repente se vê perplexo diante
décadas do século XX, predominou o da realidade — quase sempre não tem
modelo de formação que combinava mesmo a segurança sobre sua própria
licenciaturas curtas e plenas de um lado’ e concepção de História, de ensino — e na
bacharelado de outro, estruturados com confusão tenta reproduzir o que aprendeu
base na dicotomia conhecimentos com a intenção de fazer o melhor possível.
específicos da disciplina/conhecimentos Sente-se perdido até mesmo quanto aos
pedagógicos, preparação para o critérios de escolha dos livros didáticos...

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História

sente-se culpado, sua formação ainda é epistemologia dominante na universidade e


deficiente... E o círculo vicioso se o seu currículo profissional normativo:
completa, pois a única segurança que lhe foi Primeiro ensinam-se os princípios
transmitida é a do mito do saber, da cultura, científicos relevantes, depois a aplicação
dos dogmas que estão nos livros, na desses princípios e, por último, tem-se um
academia. (P. 28) practicum cujo objectivo é aplicar à prática
quotidiana os princípios da ciência
Quase 20 anos após essa publicação, a aplicada. Mas, de facto, se o practicum
postura de perplexidade dos recém- quiser ter alguma utilidade, envolverá
formados diante da complexidade da sempre outros conhecimentos diferentes do
educação escolar é atual e não exclusiva da saber escolar. Os alunos- mestres têm
área de história. É resultado da concepção geralmente consciência desse defasamento,
de formação docente, consagrada na mas os programas de formação ajudam-nos
literatura da área como modelo da muito pouco a lidar com essas
racionalidade técnica e científica ou discrepâncias. (P. 81).
aplicacionista. Esse modelo, traduzido e Trata-se de um modelo inadequado ao
generalizado entre nós pela fórmula “três + campo de ação do profissional docente,
um”, marcou profundamente a organização regido pela lógica disciplinar e
dos programas de formação de professores aplicacionista e que, historicamente,
de história. Durante três anos os alunos cumpre funções ideológicas,
cursam as disciplinas encarregadas de epistemológicas e institucionais precisas na
transmitir os conhecimentos de história, em organização e na manutenção do status quo.
seguida cursam as disciplinas obrigatórias O exercício da docência consiste no
da área pedagógica e aplicam os domínio, na transmissão e na produção de
conhecimentos na prática de ensino, um conjunto de saberes e valores por meio
também obrigatória. Enfatizo a palavra de processos educativos desenvolvidos no
obrigatória para expressar uma ideia interior do sistema de educação escolar.
comum entre os graduandos de história e Esse saber docente é, de acordo com a
bastante conhecida dos professores da área literatura da área, um saber plural,
pedagógica. Podemos afirmar que houve heterogêneo, construído ao longo da
uma generalização entre os estudantes de história de vida do sujeito. É constituído
história, da ideia preconcebida de que para pelo conhecimento específico da disciplina,
ser professor de história basta dominar os no caso, o conhecimento historiográfico, os
conteúdos de história. Logo, as disciplinas saberes curriculares (objetivos, conteúdos,
da área pedagógica eram consideradas metodologias e materiais), os saberes
desnecessárias, acessórios, meras pedagógicos (concepções sobre a atividade
formalidades para obtenção dos créditos. educativa) e os saberes práticos da
Esse modelo, apesar de tão amplamente experiência. Assim, o historiador-educador
debatido e criticado na área educacional, ou professor de história é alguém que
ainda persiste como norteador dos cursos de domina não apenas os mecanismos de
preparação dos professores de história no produção do conhecimento histórico, mas
Brasil. A critica a essa concepção foi um conjunto. de saberes, competências e
intensamente debatida entre nós, habilidades que possibilitam o exercício
especialmente nos anos 90, valendo-nos das profissional da docência.
contribuições de pesquisadores de Segundo Tardif (2000, p. 15),
diferentes países, como Donald Schon, (...) quer se trate de uma aula ou do
Zeichner, Gaulthier, Tardif, Nóvoa, Al cão programa a ser ministrado durante o ano
e outros. Vale lembrar que, segundo Schõn inteiro, percebe-se que o professor precisa
(1995), as duas grandes dificuldades na mobilizar um vasto cabedal de saberes e
formação de professores reflexivos são a habilidades, porque sua ação é orientada

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História

por diferentes objetivos: objetivos Em 1997, em consonância com as


emocionais ligados à motivação dos alunos, diretrizes expressas na nova Lei de
objetivos sociais ligados à disciplina e à Diretrizes e Bases, a Secretaria de Ensino
ge3tão da turma, objetivos cognitivos Superior do MEC publicou edital
ligados à aprendizagem da matéria solicitando propostas de diretrizes
ensinada, objetivos coletivos ligados ao curriculares para os cursos superiores de
projeto educacional da escola etc. graduação . Foram nomeadas comissões de
O modelo aplicacionista desconsidera a especialistas para cada área com base nos
diversidade e a complexidade da realidade nomes sugeridos pelas instituições,
na qual se processam o ensino e a entidades e organizações. A Comissão de
aprendizagem. Especialistas de História nomeada pelo
Essa questão remete à história da função MEC, juntamente com a Associação
docente e deve ser analisada no contexto Nacional de História (Anpuh),
das mudanças sociais e educacionais. O desenvolveu, discutiu e elaborou o
“inventário” ou “reservatório” de saberes documento no período de junho a
docentes investigados na atualidade deixa novembro de 1998. Tal documento foi
cada vez mais explícito que saber alguma aprovado e publicado em 2001.
coisa jã não é mais suficiente para o ensino, O texto/documento das Diretrizes
é preciso saber ensinar e construir Curriculares Nacionais dos Cursos
condições concretas para seu exercício. Superiores de História é constituído de um
Perrenoud (2000, pp. 14-15) parte do “preâmbulo” no qual os autores apresentam
movimento da profissão, das demandas a proposta, situam historicamente o
emergentes no social, para delinear “as problema e explicitam a forma de
competências prioritárias, coerentes com o elaboração do documento. A seguir são
novo papel dos professores” — um “roteiro delineadas as diretrizes, em oito itens,
para um novo ofício” —, compatíveis com versando sobre: o perfil do profissional, as
os “eixos de renovação da escola”. Para competências e habilidades, os conteúdos, a
Esteve (1999), houve um aumento das estruturação dos cursos, a duração mínima,
exigências em relação ao professor, sem os estágios e atividades complementares, a
que isso tenha sido acompanhado por formação continuada e a conexão com a
mudanças significativas no processo de avaliação institucional.
formação. Esse descompasso contribuiu
para o aumento de contradições no O que o documento nos diz sobre a
exercício da docência, acentuando a crise formação do professor de história?
de identidade, a baixa auto-estima e o mal- Começaremos pelo perfil do
estar docente. Diante de todas essas profissional:
questões, considerando as críticas e os O graduado deverá estar capacitado ao
problemas do modelo da racionalidade exercício do trabalho do historiador em
técnica norteador da organização dos todas as suas dimensões, o que supõe pleno
programas de formação de professores de domínio da natureza do conhecimento
história, questiono: como a formação inicial histórico e das práticas essenciais de sua
universitária pode contribuir para a atuação, produção e difusão. Atendidas essas
o papel ou a produção do professor, diante exigências básicas e conforme as
desse conjunto plural e complexo de possibilidades, necessidades e os interesses
saberes requeridos na contemporaneidade? das IES, com formação complementar e
O que propõe o texto/documento das interdisciplinar, o profissional estará em
Diretrizes Curriculares Nacionais dos condições de suprir demandas sociais ,
Cursos Superiores de História, produto das relativas ao seu campo de conhecimento
novas políticas educacionais do MEC, para (magistério em todos os graus, preservação
a formação inicial de professores? do patrimônio, assessorias a entidades

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História

públicas e privadas nos setores culturais, mercado de trabalho. Entretanto, a


artísticos, turísticos etc.) uma vez que a “demanda social” é para o magistério,
formação do profissional de História se sobretudo neste momento de ampliação do
fundamenta no exercício da pesquisa. ensino fundamental e médio na rede pública
(MEC/Sesu s.d., p. 4, grifos meus). e do ensino superior na rede privada.
O texto das Diretrizes — documento Vivendo, construindo, fazendo história na
histórico, produção de historiadores realidade social brasileira o indivíduo que
brasileiros — aprovado pelo MEC é faz opção pelo curso de história se defronta
explicito: os cursos de história devem com o seguinte dilema: Ser historiador ou
formar o historiador, qualificado para o ser professor de história? O documento
exercício da pesquisa. Atendida essa curricular prescrito diz: “ser historiador,
premissa o profissional estará apto para pesquisador”; o real dirá: “ser professor”.
atuar nos diferentes campos, inclusive no Por que não ser historiador e professor? Ou
magistério. Forma-se o historiador. Sobre a historiador- professor de história, preparado
formação do professor, o texto silencia. A para o exercício da pesquisa e do ensino?
produção do silêncio é uma operação Por que não assumimos a formação do
lógica. Certeau (1982, p. 70), ao analisar o professor-pesquisador? Como se tornar
lugar social da produção historiográfica e o professor de história nesse contexto
papel dos historiadores na sociedade, educacional?
afirma: “No que concerne às opções, o Os historiadores, de uma maneira geral,
silêncio substitui a afirmação... Aqui o não- zelosos defensores de uma sólida formação
dito é ao mesmo tempo o inconfessado de para a pesquisa, têm evitado reacender a
textos que se tornaram pretextos...”. Por polêmica em torno da dicotomia
que não dizer que o curso de história forma bacharelado/licenciatura. Entretanto, o
professores de história? Por que não documento, ao silenciar sobre o papel dos
confessar, para nós mesmos, formadores, cursos superiores de história na formação
que o campo de trabalho do historiador é do professor, define esses cursos como
basicamente o ensino? locus privilegiado da formação do bacharel.
Na tentativa de combater a operação que Logo, o documento omite o compromisso
produz o silêncio, registro a voz de um político e pedagógico dos historiadores não
outro historiador sobre a formação do apenas com a construção de um novo
professor de história: paradigma de formação mas com o ensino
Revelando, acentuando ou, pelo de história no Brasil.
contrário, escondendo ás disposições inatas Em relação a esse compromisso,
ou adquiridas, entrando em composição transcrevo a seguir a voz do professor
com as influências, as circunstâncias da Eduardo Oliveira França, formado pela
existência têm um papel determinante na Faculdade de Filosofia da USP nos anos 30,
formação de um historiador, assim como de discípulo de Braudel e formador de várias
todos os homens. As circunstâncias são, em gerações no curso de história dessa
primeiro lugar, a profissão, e a profissão, universidade:
para os historiadores, é geralmente o Sempre me preocupei com a formação
ensino: na nossa sociedade, raros são os do professor de História. Preocupação que
verdadeiros historiadores que não sejam aprendi com os professores franceses que,
professores. (Remond 1987, p. 312). ao contrário do que muita gente pensa,
Se, no caso da sociedade francesa, o qual sempre se preocuparam em formar
se refere Remond, o campo de trabalho para professores de História. Eles me ensinaram
os historiadores é o ensino, a profissão é o a pensar no aluno, principalmente o
magistério, no Brasil não é diferente. professor Braudel. Ele não perdia
Constata-se que, mais devagar do que o oportunidade de me dar conselhos
desejado, está ocorrendo uma ampliação do pedagógicos. Ele tinha atualmente aquela

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História

preocupação de nos preparar para sermos O inventário transcrito indica a


professores de História. Absorvi esse simplificação das chamadas competências
comportamento dos professores franceses, profissionais a uma competência
e quando estive no lugar deles, conservei o específica: o conhecimento de uma
mesmo espírito. A USP, com os professores determinada disciplina. Os saberes
franceses, ao contrário do que muita gente profissionais são reduzidos aos saberes
pensa, tinha uma preocupação com a monodisciplinares da história adquiridos no
formação dos professores. (Fonseca 1997, âmbito do curso de graduação. Leia-se: para
p. 100) atuar no mercado de trabalho — magistério
A preocupação compartilhada por etc. — basta dominar, problematizar,
França, seus mestres franceses e conhecer, transitar e desenvolver a pesquisa
educadores é recorrente na literatura no campo da história e da historiografia. Os
especializada e nas atuais políticas de riscos e os problemas decorrentes dessa
formação de profissionais da educação. concepção têm sido amplamente
Entretanto, é uma grande “ausência” no denunciados e debatidos, tais como, a
perfil do profissional definido no texto das hiperespecialização do pesquisador, do
Diretrizes Curriculares Nacionais dos profissional, a compartimentalização do
Cursos Superiores de História. A ausência e saber, do currículo e do ensino. Trata-se de
a omissão tomam- se evidências, no uma postura intelectual e política de
documento, quando se refém às negação da complexidade do conhecimento
competências e habilidades que deverão historicamente produzido em diversos
possuir os profissionais: espaços sociais, uma postura que, no limite,
• Dominar as diferentes concepções diríamos de negação da complexidade do
metodológicas que referenciam a mundo. Nesse sentido, as diretrizes
construção de categorias para a propostas para os cursos de história correm
investigação e a análise das relações sócio- o risco de navegar na contramão da história
históricas; da formação e da profissionalização
• Problematizar, nas múltiplas docente.
dimensões das experiências dos sujeitos O item que trata dos “conteúdos básicos
históricos, .a constituição de diferentes e complementares da área de história”
relações de tempo e espaço; reafirma o paradigma de formação
• Conhecer as interpretações propostas aplicacionista:
pelas principais escolas historiográficas, de • conteúdos histórico historiográficos e
modo a distinguir diferentes narrativas, práticas de pesquisa que, sob diferentes
metodologias e teorias; matizes e concepções teórico-
• Transitar pelas fronteiras entre a metodológicas, problematizem os grandes
História e outras áreas do conhecimento, recortes espaçotemporais, preservando as
sendo capaz de demarcar seus campos especialidades constitutivas do saber
específicos e, sobretudo, de qualificar o que histórico e estimulando, simultaneamente, a
e próprio do conhecimento histórico; produção e a difusão do conhecimento;
• Desenvolver a pesquisa, a produção do • conteúdos que permitam tratamento
conhecimento e sua difusão não só no especializado e maior verticalidade na
âmbito acadêmico, mas também em abordagem dos temas; resguardadas as
instituições de ensino, em órgãos de especificidades de cada instituição e dos
preservação de documentos e no profissionais que nela atuam;
desenvolvimento de políticas e projetos de • conteúdos complementares que
gestão do patrimônio cultural. (MEC/Sesu forneçam instrumentação mínima,
s.d., p. 4). permitindo o atendimento de demandas
sociais de profissionais da área, tais como:
disciplinas pedagógicas, fundamentos de

41
História

arquivologia, de museologia, faculdades ou centros de educação. Cabe


gerenciamento de patrimônio histórico etc., questionar se essa diretriz visa romper com
necessariamente acompanhadas de estágio. a desarticulação existente entre as
(MEC/Sesu s.d.,.p. 5) disciplinas específicas e as pedagógicas ou
É interessante observar a separação que reforçar a hiperespecialização do
o documento traz entre o que é básico, historiador, o fechamento total das
elementar, e o que é complemento na fronteiras do território de formação do
preparação dos profissionais de história. Os professor de história. Manter a prática de
saberes pedagógicos são ensino longe das “pedagogias” assegurará a
“complementares”, sucedem os básicos. construção de um novo paradigma de
Não se articulam, nem se relacionam com formação? Contribuirá para a melhoria da
os conhecimentos específicos da disciplina; qualidade da formação do professor de
situam-se no campo da “instrumentação” história?
para o mercado, da aplicação prática das Vale lembrar aqui, como a
teorias. Os saberes experienciais compartimentalização do saber e a
construídos pelos futuros profissionais ao estruturação disciplinar fazem parte das
longo da vida sequer são mencionados. O lutas estratégicas de exercício de poder no
texto, ao reafirmar um paradigma interior das instituições, corporações e
conservador, propõe uma perspectiva aparatos burocráticos. A força da lógica
inadequada ao momento histórico ao disciplinar na organização curricular dos
ignorar, como sustenta Morin (2000b, p. cursos de história nos remete ã análise
36), que “as realidades e os problemas são foucaultiana sobre as relações saber e
cada vez mais multidisciplinares, poder. Michel Foucault (1996), ao analisar
transversais, multidimensionais, os mecanismos de controle dos discursos,
transnacionais, globais e planetários”. da dominação e da exclusão dos sujeitos nas
Quando trata da organização e da instituições universitárias, afirma:
reestruturação dos cursos, o documento Uma disciplina se define por um
preserva o modelo “três + um”, e reforça domínio de objetos, um corpus de
mais uma vez a necessidade de assegurar proposições consideradas verdadeiras, um
a/formação do historiador. A palavra jogo de regras e definições, de técnicas e de
professor sequer é mencionada. Os estágios instrumentos... E uma proposição deve
e atividades acadêmicas complementares, preencher exigências complexas e pesadas
tais como “a atividades de prática de para poder pertencer ao conjunto de uma
ensino, deverão ser desenvolvidos no disciplina; antes de poder ser declarada
interior dos programas de história, e sob sua verdadeira ou falsa, deve encontrar- se no
responsabilidade...” (MEC/ Sesu s.d., p. 6). verdadeiro. (Pp. 30-34).
Essa novidade é um dos dilemas políticos A estruturação disciplinar fixa os limites
no interior das instituições universitárias. e as regras do “conhecer”, esquadrinha os
Quem deve assumir a prática de ensino? espaços de saber e poder, inclui e exclui
Qual “compartimento” ou “departamento” sujeitos, separa rigidamente os domínios do
deve se responsabilizar por essa disciplina? conhecimento, sua produção e sua
Dentre a diversidade de programas aplicação. Teoria e prática, sujeito e objeto
existentes em faculdades isoladas e em localizam-se em polos distintos. A prática
universidades, constata-se que, em algumas constitui mero campo de aplicação de
instituições, a prática de ensino está sob a teorias; logo, para ser professor é necessário
responsabilidade dos departamentos, dominar os conhecimentos específicos da
institutos ou faculdades de história. Na disciplina que vai ministrar, para a qual ele
maioria das universidades públicas, a foi especializado. A prática e os saberes
prática de ensino e as demais disciplinas práticos não têm estatuto epistemológico,
pedagógicas são desenvolvidas apenas nas não estão “no verdadeiro”, estão fora do

42
História

território da disciplina, logo não são transmissão e à produção de saberes e


validados, valorizados e tampouco valores históricos e culturais. Nesse
considerados no processo de formação sentido, as práticas.- escolares exigem dos
inicial do profissional docente. professores de história muito mais que o
Diante desse conjunto de diretrizes e conhecimento específico ’da" disciplina,
dilemas é necessário repensar as adquirido na formação universitária. Ora, o
articulações entre a formação que o professor de história ensina e deixa de
inicial/universitária, a construção dos ensinar na sala de aula vai muito além de
saberes docentes e as práticas pedagógicas sua especialidade. Daí decorre o que parece
no ensino de história. Consideramos óbvio: a necessidade de articular diferentes
pertinente a questão de Morin (2000a, p. saberes no processo de formação. No caso
79): “De que nos serviriam todos os saberes do professor de história, as dimensões
parcelados, se nós não os confrontássemos, éticas e políticas da formação são
a fim de formar uma configuração que extremamente importantes, pois o objeto do
responda às nossas expectativas, às nossas ensino de história é constituído de
necessidades e às nossas interrogações tradições, ideias, símbolos e representações
cognitivas?”. De que nos serve um que dão sentido às diferentes experiências
currículo que separa tão rigidamente teoria históricas vividas pelos homens nas
e prática, que supervaloriza o conhecimento diversas épocas.
específico da disciplina em detrimento dos Esse objeto e as finalidades da disciplina
outros saberes no atual contexto histórico e estão explícitos nos Parâmetros
educacional de formação do profissional Curriculares Nacionais, nos materiais
docente? institucionais, como os programas e
A busca de respostas às nossas currículos das Secretarias de Educação, no
inquietações — aos dilemas políticos e projeto pedagógico da escola e nos
pedagógicos — tem um alvo: a educação materiais didáticos. Estão explícitos e/ou
escolar. A escola, como lugar social, local implícitos, também, nos discursos dos
de trabalho, espaço de conflitos, de formas setores sociais e políticos dirigentes; nos
culturais de resistência, exerce um papel meios de comunicas ão de massa; no
fundamental na formação da consciência discurso dos especialistas; na tradição
histórica dos cidadãos. A história e seu educativa de cada escola; nas
ensino são, fundamentalmente, formativos. representações de grupos de trabalho,
Essa formação não se dá exclusivamente na alunos e pais. As Diretrizes Curriculares
educação escolar, mas é na escola que Nacionais, ao privilegiarem tão-somente a
experienciamos as relações entre a formação do pesquisador, desconsideram o
formação, os saberes, as práticas, os objeto do ensino de história e o ensino de
discursos, os grupos e os trabalhos história como objeto de reflexão
cotidianos. Os professores de história permanente do historiador/professor.
sujeitos do processo vivenciam uma Finalizando, o professor de história, com
situação extremamente complexa e sua maneira própria de ser, pensar, agir e
ambígua: trata-se de uma disciplina que é ensinar, transforma seu conjunto de
ao mesmo tempo extremamente valorizada, complexos saberes em conhecimentos
estratégica para o poder e a sociedade e ao efetivamente ensináveis, faz com que o
mesmo tempo desvalorizada pelos alunos e aluno não apenas compreenda, mas
por diversos setores do aparato institucional assimile, incorpore e reflita sobre esses
e burocrático. ensinamentos de variadas formas. É uma
É na instituição escolar que as relações reinvenção permanente. Porém o
entre os saberes docentes e os saberes dos historiador, formado de acordo com as
alunos defrontam-se com as demandas da novas diretrizes, revivera velhos
sociedade em relação à reprodução, à problemas. A perplexidade do recém-

43
História

formado, denunciada por Fenelon no início B - desenvolver estratégias e alternativas


dos anos 80, sobreviverá. Isso exigirá dos para ensinar a condição humana.
futuros docentes, das instituições e do C - se organizar de maneira tal que
Estado um investimento na formação possam promover o ensinar a viver.
continuada, com o objetivo de reconstruir D - se estruturar de maneira que possam
as relações entre os saberes adquiridos na refazer uma escola de cidadania.
formação universitária e a complexidade
dos saberes mobilizados no cotidiano da 02. (Prefeitura de Lagoa Santa MG –
sala de aula. Professor – História – FUNDEP) No
Será necessário romper com o decorrer dos últimos anos, uma das
paradigma de formação aplicacionista a principais discussões na área da
favor de uma epistemologia da prática, metodologia do ensino de História tem sido
conforme definida por Tardif(2000), pois, o trabalho educativo com diferentes fontes
assim, será possível “revelar esses saberes, e linguagens no estudo dessa disciplina.
compreender como são integrados Esse movimento não é recente. No entanto,
concretamente nas tarefas dos profissionais o debate desenvolveu-se no contexto de
e como estes os incorporam, produzem, ampliação da pesquisa acadêmica no campo
utilizam, aplicam e transformam em função da historiografia e da educação; no
dos limites e dos recursos inerentes às suas movimento de críticas, avaliação e
atividades de trabalho” (p. 11). renovação dos livros didáticos, da difusão
Àqueles historiadores e educadores que dos livros paradidáticos e outros materiais,
se ocupam da elaboração de currículos e do do avanço das novas tecnologias, das
ensino, cabe dizer que ignorar o professor, mídias em geral e da internet.
hoje, é colocá-lo no centro dos debates. Isso GUIMARÃES, Selva. Didática e prática de
decorre do reconhecimento de uiüa questão ensino de História. Campinas: Papirus,
óbvia: não há educação e ensino sem 2014, p. 257.
professor, e o professor de história é uma Em relação a essa abordagem, com as
pessoa que está na história, assim como a fontes e linguagens, Selva Guimarães nos
faz, sofre, desfruta e transforma. indica que
A - se trata de uma opção metodológica
Questões que recorta o olhar de todos os envolvidos
no processo, os historiadores, os
01. (Prefeitura de Uberlândia/MG – professores, os estudantes e o próprio
Professor História - FUNDEP) Em campo de estudo e, assim,
Interdisciplinaridade, transversalidade e simultaneamente, privilegia apenas a
ensino de História, Selva Guimarães analisa história.
questões pertinentes e necessárias para uma B - a partir dessa abordagem
educação em sentido mais amplo e que vise metodológica as fronteiras disciplinares são
“fornecer ao indivíduo possibilidades de questionadas, os saberes são religados e
desenvolvimento cultural por meio da possibilitam rearticulações em busca de
aquisição / construção de conhecimentos uma maior inteligibilidade da história.
formais e de instrumentos para apreender C - nem todas as linguagens contribuem
esses conhecimentos”. para a produção e difusão de saberes
GUIMARÃES, Selva. Didática e Prática históricos e, dessa forma, não promovem
de Ensino de História. Campinas: Papirus, um pensar autônomo e reflexivo pelos
2012. p. 165. estudantes nas práticas de ensino de
Sendo assim, é incorreto afirmar que as história.
disciplinas devem D - apesar de o professor normalmente
A - formar espíritos capazes de organizar não incorporar noções, saberes,
saberes que foram sendo acumulados. representações de outros campos e do

44
História

mundo vivido, seria proveitoso que ele se no que diz respeito ao caráter
atualizasse em relação a essa opção epistemológico do currículo, visando a
metodológica. descolonização destes, e assim visibilize o
multiculturalismo presente na sociedade e
Alternativas refletido nas escolas, o que dará voz a esse
“outro” com quem se fala e de quem se fala.
01 – A | 02 - B Para essa autora o campo educacional vem
passando por transformações importantes
no seu interior, uma vez que os
PEREIRA, Amilcar Araújo; MONTEIRO, conhecimentos canonizados no currículo
Ana Maria (org.). Ensino de história e escolar apresentam um caráter
cultura afro-brasileiras e indígenas. Rio
monocultural de invisibilidade e
de Janeiro: Pallas, 2013
silenciamento das pessoas negras,
indígenas e de suas culturas.
Diante disso Gomes (2012) cita a
A Lei 10.639/003 juntamente com a
“pluralidade interna a ciência” e a
11.645/08, são frutos das conquistas do
“pluralidade externa da ciência” como um
Movimento Negro e possibilitam que o
movimento de duas vertentes no qual o
currículo de todas as escolas da educação
currículo estaria incluído. Essas vertentes
básica passe por transformações
são “compreendidas como dois conjuntos
importantes no seu interior uma vez que os
de epistemologias” e que procuram “a partir
conhecimentos canonizados no currículo
de diferentes perspectivas, responder as
escolar apresentam um caráter
premissas culturais da diversidade e da
monocultural de invisibilidade e
globalização”. Essas duas perspectivas são
silenciamento das pessoas negras e suas
abaladas e produzidas pelas “reflexões
culturas. Para Alberti (2013) tais leis são
internas a ciência e pelas questões
instrumentos eficientes para o combate ao
colocadas pelos sujeitos” organizados por
racismo no Brasil e pontua que o racismo é
movimentos sociais. Para essa autora
um problema social que envolve a todos e
“quanto mais se amplia o direito à
que por isso mesmo deve ser preocupação
educação, quanto mais se universaliza a
dos educadores (ALBERTI, 2013, p.28).
educação básica e se democratiza o acesso
Nesse contexto, Alberti expõe a polarização
ao ensino superior, mais entram para o
que existe entorno da nossa história
espaço escolar sujeitos antes invisibilizados
nacional, a ideia de uma sociedade mista,
ou desconsiderados como sujeitos de
sem diferenças e de outro lado a ideia de
conhecimento.” (GOMES, 2012, p.2). Uma
que somos uma sociedade multicultural.
vez que nesse espaço, surgem as indagações
Para essa autora, “chegamos num ponto em
sobre a colonização curricular e as
que essa polarização precisa ser antes
exigências de práticas emancipatórias e que
discutida e trabalhada do que repetida. É
dê visibilidade a esse “outro”, rompendo
hora de trazermos essa discussão para
com o paradigma de conhecimento
dentro da sala de aula, lançando um olhar
hegemônico que se torna dominante em
sobre a história da constituição daquelas
detrimento de outra cultura e/ou povos.
identidades cristalizadas de que fala Hebe
Suas indagações sobre o currículo
Mattos, a “mestiça” e a “multicultural”
escolar e a prática pedagógica serão
(ALBERTI, 2013, p.33)9.
reflexões advindas do musical Besouro
Como pode ser visto em Gomes (2012,
Cordão de Ouro “dirigido por João das
p.7), a implementação das referidas leis
Neves e apresentado no 4º FAN (Festival
gerou mudanças no campo da educação e

9 Maria de Fátima de Sales Silva. O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA FUNDAMENTAL PROFESSOR GERALDO COSTA. UFPB.
AFRO-BRASILEIRA AFRICANA E INDÍGENA NO CURRÍCULO DA www.ufpb.br/evento/index.php/xviieeh/xviieeh/paper/viewFile/3293/2741.
ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO Visitado em 12.09.2022.

45
História

Internacional de Arte Negra) no dia 25 de professores lida com essas rupturas. Trata-
Novembro de 2007”. (GOMES, 2012, p.3). se de uma descolonização curricular e não
Sobre a peça teatral realizada pelo FAN, uma africanização do currículo, ou seja,
essa autora nos narra que a partir da história busca-se uma abordagem histórica
do capoeirista Besouro Cordão de Ouro, a contextualizada que tenha em pauta todas
plateia aprendeu muito “do Brasil pós- as culturas que fazem parte da formação da
abolicionista, da vida dos negros na Bahia, nação, uma vez que as culturas negra e
da luta e resistências negras, dos encontros indígena na escola são silenciadas, quando
e desencontros afetivos, da política e da não, homogeneizadoras.
organização da população negra” de forma Sobre culturas silenciadas, um ponto
artística, ritualística, didática e criativa. interessante levantando por Gomes (2012,
Segundo o que discorre Gomes (2012), a p.8) é que não se pode confundir esse
peça possibilitou “uma excelente aula onde silenciamento com o desconhecimento
se enfatizou o conhecimento a cultura e a sobre o tema. Para ela, “é preciso colocá-lo
ação política”. Por que o FAN insere-se em no contexto do racismo ambíguo brasileiro
um contexto diferente daquele encontrado e do mito da democracia racial e sua
no campo educacional, ou seja, “um expressão na realidade social e escolar, ou
paradigma que não separa corporeidade, seja, o silencio parte-se de algo que se sabe,
cognição, emoção, política e arte”, um mas não se quer falar ou e é impedido de
paradigma sem hierarquia de saberes, de falar.” (GOMES, 2012, p.8). Dessa forma a
culturas e que compreende a existência de discriminação racial se faz presente na
uma história de dominação cruel, instituição escolar a partir do silenciamento
exploração e colonização que deu origem a ritualístico do professor.
uma hierarquização epistemológica. A lei 10.639/003 vem para romper com
Para Alberti, as “questões sensíveis” é esse silencio e apresenta rupturas no campo
um dos motivos que impede que os temas curricular e epistemológico de ensino,
ligados a história e cultura afro-brasileira e tornando possível a “fala” daqueles
indígena, sejam abordados na sala de aula, considerados minorias, um diálogo
ou até mesmo evitados. Diante disso, torna- intercultural emancipador, considerando a
se mais que necessário uma ruptura existência de um “outro” enquanto sujeito
epistemológica e uma descolonização ativo.
curricular para que assim as aulas Haja vista que as rupturas culturais e
apresentem características semelhantes a epistemológicas no contexto da lei
apresentação do FAN. 10.639/003 e a 11.645/08 modificam o
A tendência é que a força das culturas fazer do professor, nos faz voltar os olhos
consideradas negadas e silenciadas nos para sua formação.
currículos escolares cresça ainda mais nos Anseia-se por práticas pedagógicas que
últimos anos. Os ditos excluídos começam desfaça o nó uni cultural de colonização
a agir e a exigirem mudanças ainda mais curricular e estabeleça meios para a
significativas no campo curricular e na valorização multicultural na sociedade e na
prática docente, mudanças essas que sala de aula. No campo do currículo as
valorizem as diversas culturas formadoras mudanças são notadas na medida em que
da história nacional, de tal modo que a questões a respeito do currículo
cultura africana e a indígena seja vista de intercultural são postas em pauta.
outro viés e não apenas pelo viés Tendo em vista que para Alberti a
eurocêntrico colonizador. história e cultura afro-brasileira e indígena
Diante desse contexto, Gomes (2012, encaixa-se no que ela chama de “temas
p.7) traz reflexões de como a questão racial sensíveis”, a autora descreve estratégias
é apresentada nos currículos escolares e pedagógicas para trabalhar com tais
também como o campo de formação de assuntos em sala de aula, a começar pelo

46
História

Holocausto, também considerado por ela decididas e profundamente marcadas pelos


um tema “sensível”. africanos e por seus descendentes, já
Profissionais ao trabalhar com esse tema permite afastar o risco da homogeneização
fazem de modo a contrapor a presentes em ideias simplificadas a despeito
homogeneização do judeu como vítima, d’o escravo.” (ALBERTI, 2013, p.44).
algo presente nos livros didáticos, Quanto a efetivação da Lei 10.639/03 no
colocando em xeque a imagem cristalizadas espaço escolar, Gomes (2012, p.10) fala-
dos judeus. Pra isso “existem vários nos que esta deve ser encarada como uma
documentos escritos, fotografias, contribuição das lutas do movimento negro
entrevistas que permitem aos alunos e incluída em todas as áreas do saber e não
conhecer diferentes trajetórias, como um encaixe em disciplinas
organizações familiares, formas de especificas ou vista como mais uma
sociabilidade e de relação (ou não) com a disciplina a ser encaixada na escola. Mas do
religião”. (ALBERTI, 2013, p.36). que falar de uma mudança na história do
Da mesma forma deve ser o ensino sobre Brasil o que se debate é a carência de uma
as culturas negras, quando em muitos casos mudança de âmbito mundial, uma mudança
são apresentando sempre como escravos na história do mundo, história essa
passivos e presos no tempo, havendo colonizadora, cheia de conflitos e embates
sempre uma associação a negro e escravo, de poder.
deve-se contrapor o discurso imagético
apresentado nos livros didáticos do escravo Conclusões parciais
como vítima apanhando no pelourinho, à
“imagem de experiências que mostrem Embora já tenha se passado uma década
africanos e seus descendentes como sujeitos da implementação da Lei 10.639/003 e oito
históricos, mesmo que escravizados” anos da Lei 11.645/08 muitos discursos
(ALBERTI, 2013, p.36). encontram-se enraizados na sociedade e
Como abordar os temas da escravidão ou devem ser desconstruídos. Percebemos isso
o tráfico transatlântico sem traumatizar os quando um docente evita tratar das culturas
alunos ou até mesmo sem ser um mero indígenas e afro-brasileira por ser de certa
difusor de imagens de subjugação? “A religião, por acreditar que certa faixa etária
escravidão deve ser estudada para que se de sua turma não é capaz de reproduzir
perceba seu papel vital na criação do ideias racistas, se faz silencioso diante das
racismo.” (ALBERTI, 2013, p.40). Uma culturas participes da formação da nação.
estratégia possível é apresentar a escravidão
levando em consideração todo o seu As referidas leis vêm buscar garantir o
contexto histórico ao decorrer dos séculos, direito de reconhecimento para as
é levar os alunos a uma reflexão e populações negras, como participes da
dissociação de “trabalho não livre”, formação cultural, social e econômica
“escravo” e “negro”, além de mostrar que brasileira e deve ser estudada em todas as
não foram só os escravizados africanos que escolas da Educação Básica, desde as séries
tiveram condições degradantes de vida, não iniciais, pois assim desde cedo as crianças
minimizado a conheçam e se reconheçam inseridas dentro
dessa cultura.
situação, mas apresentando outras situações
da mesma época. O docente tem uma participação de suma
“Trabalhar com a diversidade de importante nesse processo pois será o
origens, as práticas sociais e implicações da mediador do conhecimento e junto com
escravidão africana e indígena e do tráfico seus alunos, possibilitará a construção e
transatlântico e com a percepção de que a expansão de novas teias de conhecimento
história e a sociedade brasileiras foram no ambiente escolar, capaz de se expandir

47
História

para além das fronteiras escolares, para D - As leis são desnecessárias, pois a
tanto se faz necessário uma formação educação básica brasileira desde os anos de
continuada para as relações étnico-raciais 1980 que contemplo os povos indígenas,
que dialogue e/ou transforme o currículo africanos e seus descendentes;
que as escolas mantêm, tornando-o crítico e E - Um dos pontos a destacar para o
includente. cumprimento das leis é recuperar as
estratégias criadas por africanos e africanas
Se o trabalhar com a história e cultura e seus descendentes para resistir às
afro-brasileira é possível encontrar ainda condições adversas que lhes eram impostas.
muitas resistências e empecilhos, não
obstante, foca-se muito no preconceito e 02. (SEE/MG – Professor de Educação
racismo para com a pessoa negra, a cultura Básica – História – FUMARC) A criança
indígena encontra-se ainda envolta em um e o adolescente que se identificam e são
identificados como brancos têm muito a
véu de ferro, tendo o 19 de abril, como dia ganhar com um ensino qualificado das
de seu desvelamento. histórias e culturas afro-brasileiras e
indígenas. Se um menino que se identifica
Questões como branco se acha no direito de xingar
um colega de classe identificado como
01. (Prefeitura de Milagres/CE – negro por causa de sua raça ou cor, esse
Professor de História – CEV-URCA) menino necessita de tanta ajuda quanto seu
(Concurso Milagres/2018) “Além de colega que sofre o preconceito [...]
atender a uma antiga e justa reivindicação, (ALBERTI, Verena. Algumas estratégias
essas medidas trouxeram uma série de para o ensino de história e cultura afro-
consequências para o ensino de História em brasileira. In.: PEREIRA, Amilcar Araujo,
MONTEIRO, Ana Maria (Orgs.). Ensino
sua totalidade e para a formação dos de História e culturas afrobrasileiras e
profissionais que atuam no magistério. As indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013. p.
mudanças ocasionadas ainda estão em 28).
processo, e poderão ser aceleradas ou No Brasil, por meio da legislação, o
adquirir um ritmo mais lento, conforme a ensino de história e cultura da África e dos
capacidade dos setores interessados em afrodescendentes e indígenas são
intervir no processo.” (LIMA, Mônica. obrigatórios. Primeiro, a Lei 10.639/03, que
Prefácio. IN: PEREIRA, Amilcar Araujo; tornou obrigatório em todas as escolas do
MONTEIRO, Ana Maria. Ensino de país o ensino de história e cultura da África
e afro-brasileira e, posteriormente, a Lei
história e culturas afro-brasileiras e 11.645/08, que acrescentou a essa
indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013) O obrigatoriedade o ensino de história e
texto acima refere-se às leis 10. 639/2003 e cultura indígena. Tomando como base o
11. 645/2008, sobre as quais e suas trecho e o conhecimento da Lei, é
implicações podemos corretamente CORRETO afirmar:
afirmar: A - A proposta é incluir atores na
A - A lei de 2008 visou corrigir a lacuna História brasileira, tomando como
deixada pela lei de 2003 que previa o ensino suficiente para superação da desigualdade
da história e cultura indígena e de raça.
desconsiderava a cultura e história dos B - Acima de tudo, tal obrigatoriedade
africanos e seus descendentes no Brasil; torna-se instrumento importante para o
B - As duas leis fortalecem o combate do racismo no Brasil.
eurocentrismo e o racismo típicos do ensino C - Assume o Brasil como um país
de história na educação básica; racista e exige da escola que se posicione
C - A inexistência de povos indígenas no contra a visão herdada dos europeus.
Brasil atual torna a duas leis totalmente
obsoletas e sem sentido;

48
História

D - Atualmente se questiona a eficácia


legal, já que a legislação acaba por
discriminar um grupo em detrimento de
outro.
E - Volta-se para a adoção de medidas
inclusivas na Educação, ampliando as
culturas que vieram a existir na
Constituição/88.

Alternativas

01 –E | 02 - B

49
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

SUMÁRIO

Aquisição do Sistema de Escrita Alfabética. ..................................................... 1


Linguagem oral e escrita. ................................................................................... 4
Variedade linguística: preconceito linguístico, norma culta e norma-padrão. .. 8
Língua e linguagem: conhecimentos pragmáticos, conhecimentos discursivos,
conhecimentos textuais, conhecimentos gramaticais e conhecimentos notacionais.
............................................................................................................................... 12
Capacidades, procedimentos e comportamentos de produção, leitura de textos orais
e escritos. Prática de produção de textos orais e escritos: produção para
aprofundamento, produção por frequentação. Contexto e Operadores da produção de
texto. ..................................................................................................................... 18
Modalidades didáticas para o ensino de leitura: leitura pontual, leitura
colaborativa/compartilhada, leitura programada, leitura em voz alta feita pelo
professor, roda de leitores, leitura programada. ................................................... 27
Modalidades didáticas para o ensino de produção de textos: reconto, reescrita com
escriba, produção coletiva com escriba, escrita de texto que se sabe de memória,
reescrita de texto, reescrita com modificações, produção de partes dos textos que não
se conhece, texto de autoria. ................................................................................. 36
Prática de análise linguística: características dos textos e gêneros, coesão, coerência,
segmentação, aspectos semânticos e lexicais, aspectos gráficos, variação linguística,
morfologia, sintaxe, fonologia, ortografia. ........................................................... 46
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. São Paulo:
Artes Médicas, 1985. (Capítulo 6- Evolução da Escrita, p. 191- 257). ............... 60
FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção de textos de
pesquisa. Tradução de Rosana Malerba. São Paulo: Cortez, 2013. (Capítulo 3- A
desestabilização das Escritas silábicas: alternâncias e desordem com pertinência, p.63-
76). ........................................................................................................................ 62
GOULART, Cecília M. A.; GONTIJO, Cláudia Maria Mendes; FERREIRA, Norma
Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Sandra de A. (Orgs.). A alfabetização como processo discursivo: 30 anos de A criança


na fase inicial da escrita. São Paulo, Cortez, 2017. (Cap. 2- A alfabetização como
processo discursivo em perspectiva, p. 47-64). ................................................... 64
LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto
Alegre: Artmed, 2002. .......................................................................................... 64
WEISZ, Telma. Relações entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999.
............................................................................................................................... 69
KAUFMAN, Ana Maria; GALLO, Adriana; WUTHENAU, Celina. Como avaliar
aprendizagens em leitura e escrita? Um instrumento para o primeiro ciclo da escola
primária. In: Cavalcanti, Zélia (org.). 30 olhares para o futuro. São Paulo: Escola da
Vila, 2010. ............................................................................................................ 69
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
(Capítulo 5- Para compreender antes da leitura, p. 89-113). ............................... 69
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004. (Cap 3- Os gêneros escolares- das práticas de
linguagem aos objetos de ensino, p. 71-94). ........................................................ 70
ROCHA, Gladys; VAL, Maria da Graça Costa (org). Reflexões sobre práticas
escolares de produção de texto- o sujeito autor. Coleção Linguagem e Educação-
CEALE. São Paulo: Autêntica Editora, 2007. (Cap. 1- A linguagem nos processos
sociais de constituição da subjetividade, p. 15-28) ............................................... 71
Cap. 3- A formação do produtor de texto escrito na escola: uma análise das relações
entre os processos interlocutivos e os processos de ensino, p. 53- 68)................. 79
(Cap. 4- O papel da revisão na apropriação de habilidades textuais pela criança, p.
69- 84) ................................................................................................................... 86
Cap. 5- A produção de textos escritos narrativos, descritivos e argumentativos na
alfabetização: evidências do sujeito na/da linguagem, p. 85-108). ...................... 89
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas/SP: Mercado
das Letras, 1996. ................................................................................................... 94

Apostilas Domínio
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Aquisição do Sistema de Escrita Desse modo, compreender o princípio


Alfabética. alfabético (que é compreender que na
escrita as letras substituem os fonemas) não
é somente memorizar quais letras
1 substituem quais fonemas.
Após a conclusão bem-sucedida da
alfabetização, os indivíduos passam fazer Para uma boa compreensão do SEA é
uso do sistema de escrita alfabética (SEA). preciso desenvolver habilidades de reflexão
Esse processo é uma apropriação, pois o sobre as partes sonoras das palavras, ser
objeto cultural, que é o alfabeto, torna-se capaz de identificar, por exemplo, sílabas e
algo interno, presente na mente da pessoa fonemas iguais em palavras diferentes.
que o reconstruiu. Os aspectos convencionais dizem
Fala-se em sistema de escrita alfabética respeito à memorização das relações
porque é tomado como um sistema fonema-grafema, a separação das palavras
notacional e não como um código. Um na linha, a escrita da direita para a esquerda
código é aprendido na base do decorar e de cima para baixo.
novos símbolos que substituem outros de A escrita alfabética recupera os
um sistema notacional já aprendido. significados (que são as ideias) por meio da
Em um sistema notacional há um representação dos significantes linguísticos
conjunto de “caracteres” ou símbolos e, (que são as palavras).
para cada sistema, existe um conjunto de A própria criança, em sua mente,
“regras” ou propriedades, que definem reconstrói as propriedades do SEA, para
rigidamente como aqueles símbolos poder dominá-lo. Nesse caminho, ela
funcionam para poder substituir os precisa compreender os aspectos
elementos da realidade que notam ou conceituais da escrita alfabética e essa
registram. compreensão funciona como requisito para
São importantes sistemas notacionais a que ela consiga ser capaz de memorizar as
escrita alfabética e a numeração decimal, relações letra-som de maneira produtiva,
por exemplo. A escrita alfabética é uma sendo capaz de gerar a leitura ou a escrita
complexa representação da fala, que foi de novas palavras.
criada após a elaboração de outros sistemas Para se tornar alfabetizado, o aluno
de escrita, como os silábicos ou os precisa reconstruir as seguintes
2
ideográficos, por exemplo. propriedades do SEA :
A compreensão do SEA acontece por - Escreve-se com letras, que não podem
etapas nas quais as crianças vão ser inventadas, que têm um repertório finito
modificando suas explicações para duas e que são diferentes de números e de outros
questões: o que a escrita nota (ou símbolos.
representa)? E como ela cria notações (ou - As letras apresentam formatos fixos e
representações)? leves variações produzem mudanças na
Para que a criança consiga compreender identidade das mesmas (p, q, b, d), embora
os aspectos conceituais do SEA, é uma letra assuma formatos variados (P, p,
necessário que ela trate cada letra como P, p).
uma classe de objetos substitutos - A ordem das letras no interior da
equivalentes (por exemplo, que R, r, R, r palavra não pode ser alterada.
são a mesma letra), bem como ser capaz de - Uma letra pode se repetir no interior de
analisar a ordem serial das letras, fazendo uma palavra e em diferentes palavras, ao
correspondências entre segmentos falados e mesmo tempo em que diferentes palavras
escritos. compartilham as mesmas letras.

1
MORAIS, A. G. de. Apropriação do sistema de escrita alfabética. sistema-de-escrita-alfabetica.
2
Disponível em: MORAIS, A. G. Sistema de Escrita Alfabética. São Paulo:
https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/apropriacao-do- Melhoramentos, 2012.

1
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- Nem todas as letras podem ocupar Período silábico: nesse período a


certas posições no interior das palavras e criança já é capaz de relacionar as letras no
nem todas as letras podem aparecer juntas papel com as partes sonoras que pronuncia
de quaisquer outras. quando fala uma palavra, todavia, ela pensa
- As letras notam ou substituem a pauta que as letras substituem as sílabas que
sonora das palavras que pronunciamos e pronuncia. Passa a entender que a escrita
nunca levam em conta as características nota a pauta sonora, já que tenta relacionar
físicas ou funcionais dos referentes que as sílabas orais que pronuncia com as letras
substituem. escritas no papel, fazendo com que não
- As letras notam segmentos sonoros sobrem letras naquilo que foi escrito. As
menores que as sílabas orais que escritas silábicas estritas aparecem depois e
pronunciamos. estão de acordo com a regra de que há uma
- As letras apresentam valores sonoros letra para cada sílaba pronunciada. Esses
fixos, apesar de muitas apresentarem mais escritas podem ser silábicas quantitativas
de um valor sonoro e certos sons poderem ou “sem valor sonoro”, ou silábicas
ser notados com mais de uma letra. qualitativas ou “com valor sonoro”.
- Além de letras, na escrita de palavras, Período silábico-alfabético: a criança
utilizam-se, também, algumas marcas já compreende que a escrita registrada no
(acentos) que podem modificar a tonicidade papel tem uma relação com as partes
ou o som das letras ou sílabas onde sonoras das palavras, sendo necessário
aparecem. notar os pequenos sons no interior das
- As sílabas podem variar quanto às sílabas. Trata-se de uma fase de transição.
combinações entre consoantes e vogais Quando percebe uma palavra, a criança
(CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, pode colocar duas ou mais letras para
CCVCC...), mas a estrutura predominante escrever uma sílaba, ou pode voltar a pensar
no português é a sílaba CV (consoante – de acordo com a hipótese silábica,
vogal), e todas as sílabas do português colocando uma letra para uma sílaba inteira.
possuem, ao menos, uma vogal. É comum que algumas letras (como B,
3
Ao longo da aprendizagem da escrita C, D, G, K, P, Q, T, V, Z), que apresentam
alfabética, os alunos passam por quatro nomes que correspondem a sílabas CV
fases. (consoante – vogal), apareçam substituindo
Período pré-silábico: nessa fase a sílabas inteiras. Por exemplo, BLEZA para
criança ainda não entende que a escrita beleza.
registra a sequência de partes sonoras das Período alfabético: a criança escreve
palavras. Num primeiro momento, há (mesmo que com erros ortográficos)
apenas uma produção de rabiscos que ainda seguindo um princípio de que a escrita nota
não são letras. Depois a criança consegue a pauta sonora das palavras, adicionando
escrever seu próprio nome e outras letras para cada um dos pequenos sons que
palavras, fazendo uso das letras, mas ainda surgem em cada sílaba.
sem relacioná-las com a parte sonora de tais
palavras. Nessa fase, a criança pode fazer Alcançar uma hipótese alfabética não
uma relação entre coisas grandes serem significa estar alfabetizado. Após entender
escritas com muitas letras, e coisas o funcionamento do SEA, a criança precisa
pequenas com poucas, o chamado realismo dominar as convenções som-grafia de nossa
nominal. A criança já é capaz de criar a língua, compreendendo a relação dos
hipótese de quantidade mínima e a hipótese caracteres da escrita na correspondência
de variedade. grafo-fonêmica.

3
https://www.pomerode.sc.gov.br/downloads/Arquivos/SED/ano1/unidade _03_ano_01_azul(teste_figuras)(07_11_2012).pdf

2
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Sob um olhar construtivista, a criança disponibilidade de formas gráficas ainda é


precisa reconstruir em sua mente as limitada, mas é possível haver a exigência
propriedades do SEA, não havendo a de utilizar a posição na ordem linear. A
possiblidade de “queimar etapas”, pois um criança expressa a diferença de significação
conhecimento novo só pode surgir a partir pela variação de posição na ordem linear.
da transformação de um conhecimento Em um terceiro nível, há uma tentativa
anterior. de inserir valor sonoro a cada uma das letras
Muitos educadores defendem que os que formam uma escrita. Cada letras, para a
alunos se apropriem do SEA no mesmo criança, vale por uma sílaba. É o início da
tempo em que participam de práticas hipótese silábicas. A criança supera a etapa
letradas com os gêneros textuais circulantes de correspondência global entre a forma
em nossa sociedade. escrita e a expressão oral atribuída,
4
Quando a criança começa a interpretar passando a uma correspondência entre
a própria escrita, torna-se capaz de partes do texto e partes da expressão oral. É
acompanhar seus desenhos de outros sinais a primeira vez na qual a criança trabalhará
que representam seu próprio nome. É um a hipótese de que a escrita representa partes
trabalho sobre o modelo de escrita de sonoras da fala.
imprensa, podendo utilizar diversas grafias Em um quarto nível, há a passagem da
semelhantes, de um modo no qual em todas hipótese silábica para a alfabética. A
elas, em conjunto, diz seu nome, mas em criança sente a necessidade de realizar uma
cada uma delas tomadas de forma separada, análise além da sílaba. Ocorre um conflito
também diz seu nome. A hipótese de que o entre a hipótese silábica e as formas fixas
que escrevem são os nomes passa a se recebidas do meio ambiente, evidenciado
generalizar de forma progressiva para os com maior ênfase no caso do nome próprio.
nomes de objetos. Em um quinto nível, temos o final dessa
Em um primeiro nível, escrever é evolução, que é a escrita alfabética. A
reproduzir os traços típicos da escrita que a criança já frequentou a barreira do código,
criança identifica como a forma básica da compreendeu que cada caractere apresenta
mesma. Caso seja a forma de escrita de escrita que corresponde aos valores sonoros
imprensa, haverá grafismos separados entre menores que a sílaba e exerce uma análise
si, feitos de linhas curvas e respostas ou sonora dos fonemas das palavras que
combinações de ambas. Caso se trate da pretende escrever. Isto não significa que
forma cursiva, haverá grafismos todas as dificuldades foram superadas. É
relacionados entre si com uma linha comum e provável que enfrentará
ondulada como forma de base, onde são dificuldades que são próprias da ortografia.
inseridas curvas fechadas ou semifechadas. A hipótese alfabética é atingida depois
Neste nível, a intenção subjetiva do escritor de os conflitos desse momento de transição
conta mais que as diferenças objetivas no do período silábico ao alfabético serem
resultado. As escritas se assemelham muito superados, quando a criança sente que
entre si, mas a criança não as percebe como precisa de uma análise capaz de ir além da
semelhantes, já que a intenção inicial dela sílaba, quando ela desenvolve a capacidade
era a de que fossem diferentes. de realizar uma análise interna da sílaba, e
Em um segundo nível, a hipótese central representa certas unidades dentro de tal
é a de que, para poder coisas diferentes, é sílaba, denominadas de unidades
preciso haver uma diferença objetiva nas intrassilábicas5.
escritas. A forma dos gráficos já está mais Na escrita alfabética, a criança entende
definida, mais perto de letras. A que cada um dos caracteres diz respeito a

4
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. São de textos de pesquisa. Tradução de Rosana Malerba. São Paulo: Cortez,
Paulo: Artes Médicas, 1985. 2013.
5
FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção

3
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

valores sonoros menores que a sílaba, e faz Educação Infantil. Dentre eles há o nível
uma análise sonora dos fonemas ao “escrita alfabética” que caracteriza-se por:
escrever. (A) Seguir os padrões ortográficos.
A identificação do som pode não (B) Compreensão dos caracteres da
significar a identificação da letra escrita na correspondência grafo-fonêmica.
correspondente, o que pode causar (C) Coexistência das hipóteses silábica e
dificuldades ortográficas na escrita. alfabética.
6
Para avaliar a escrita, parte-se do nível (D) Relação entre fonema e grafema.
inicial de cada criança e não se fixam
expectativas mínimas de conquista por ano, Gabarito
mas isso ocorre por acréscimo. Por
exemplo, considerando que nenhuma 01.D - 02.B
criança não pode nem deve terminar o ano
como começou, e é por isso que se espera
que todas as crianças terminem o primeiro Linguagem oral e escrita.
ano com uma escrita que se relaciona de
maneira sistemática com a sonoridade
(silábica), que todas terminem o segundo A linguagem é dialógica, por isso não
com escrita alfabética e que o terceiro ano pode ser individual, sendo algo social, que
seja destinado a explorar questões acontece por meio da interação de duas ou
ortográficas. mais pessoas.
A linguagem é uma comunicação, pois
Questões as pessoas não trocam palavras e sim
enunciados. Ela se transforma por meio da
01. (SEE/AC - Professor de Ensino interação entre as pessoas, um aprende com
Fundamental - FUNCAB) Sobre a escrita o outro e passa para o próximo.
alfabética é correto afirmar que: 7
A principal tarefa que se coloca para a
(A) é a parte da gramática que se dedica Educação Infantil é aproximar as crianças
ao estudo dos fonemas de uma língua e sua dos usos sociais a linguagem oral e escrita.
ocorrência em diferentes contextos. Atualmente não se compreende
(B) é a unidade de som que contribui linguagem oral e linguagem escrita no
para o estabelecimento de diferenças de interior de um quadro de oposições. Pelo
significado entre as palavras. contrário, entende-se que sejam linguagens
(C) é um sistema de representação que se interpenetram, que se imbricam
socialmente construído, constituído por mutuamente. Existem discursos orais que
signos linguísticos. podem ser pouco planejados, que
(D) recupera os significados (as ideias) apresentam a presença física do
por meio da representação dos significantes interlocutor, que se realizam por meio de
linguísticos (as palavras). um registro informal. Todavia, tais
(E) é uma unidade de significação que características já não são mais
possui dupla face. imprescindíveis para a caracterização da
linguagem oral.
02. (Prefeitura de Lençóis Paulista - São duas modalidades da língua
Professor de Educação Infantil I - portuguesa vistas como práticas sociais.
OMNI/2021) Existem níveis de Apresentam características específicas e
conceitualização de leitura e escrita na condições de produção distintas. Deve-se

6 7
KAUFMAN, A. M.; GALLO, A.; WUTHENAU, C. Como avaliar ANDRADE, M. L. da C. V. de O. Língua: modalidade oral/escrita.
aprendizagens em leitura e escrita? Um instrumento para o primeiro modalidade oral/escrita. Disponível em:
ciclo da escola primária. In: Cavalcanti, Z. (org.). 30 olhares para o https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/292072/mod_resource/content/1
futuro. São Paulo: Escola da Vila, 2010. /Texto%20da%20Atividade%201.pdf.

4
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

levar em consideração que as formas visam identificar-se com outros autores e


se adequar aos usos. personagens ou se diferenciar deles, viver
Não se deve entender a modalidade outras aventuras, inteirar-se de outras
escrita como uma representação da fala. histórias, descobrir outras formas de utilizar
Apresenta elementos próprios, como tipo, a linguagem para criar novos sentidos.
tamanho e cores de letras, formatos Cabe fazer da escola uma comunidade
diferentes, o que não aparece na linguagem de escritores que elaborem seus próprios
oral. textos para apresentar suas ideias, para
Tanto uma quanto a outra oferecem a informar sobre fatos que os destinatários
possibilidade para a elaboração de textos precisam ou devem conhecer, para incitar
coesos e coerentes, podendo serem seus leitores a realizar ações que
exposições formais, informais, com consideram valiosas, para convencê-los da
variações de estilo, dialeto, etc. O domínio validade dos pontos de vista ou das
da linguagem oral e escrita é indispensável propostas que tentam promover, para
para a inserção social do indivíduo, visto protestar ou reclamar, para compartilhar
que é por meio dele que o conhecimento é com os demais uma bela frase ou um bom
construído. escrito, para intrigar ou fazer rir.
8
Participar na cultura escrita é se A escola deve estar pautada num âmbito
apropriar de uma tradição de leitura e onde leitura e escrita sejam práticas vivas e
escrita, assumir uma herança cultural que vitais, no qual ler e escrever sejam
engloba o exercício de diversas operações instrumentos que permitem repensar o
com os textos e a colocação em ação de mundo e reorganizar o próprio pensamento,
conhecimentos a respeito das relações entre onde interpretar e produzir textos sejam
os textos; entre eles e seus autores; entre os direitos que é legítimo exercer e
próprios autores; entre os autores, os textos responsabilidades que é necessário assumir.
e seu contexto. Deve-se preservar o sentido do objeto de
Para formar os alunos como praticantes ensino para o sujeito da aprendizagem, o
da cultura escrita, é preciso reconceitualizar necessário é preservar na escola o sentido
o objeto de ensino e elaborá-lo tendo como que a leitura e a escrita possuem como
referência fundamental as práticas sociais práticas sociais, para conseguir que os
de leitura e escrita. Trata-se de colocar em alunos se apropriem delas, possibilitando
jogo uma versão escolar dessas práticas, que se incorporem à comunidade de leitores
que mantenha uma fidelidade à versão e escritores, a fim de que consigam ser
social (não-escolar), requer que a escola cidadãos da cultura escrita.
trabalhe como uma microcomunidade de A aquisição da fala ocorre em contextos
leitores e escritores. informais, dentro das relações sociais
A escola deve ser uma comunidade de estabelecidas pelo bebê e sua mãe desde os
leitores que recorrem aos textos procurando primeiros contatos. Trata-se de uma
resposta para os problemas a serem inserção cultural e social.
9
resolvidos, tratando de encontrar A linguagem oral apresenta função
informação para entender melhor muito importante no desenvolvimento da
determinado aspecto do mundo que é objeto criança, sendo o principal meio de
de suas preocupações, procurando comunicação das crianças, através da qual a
argumentos para defender uma posição com criança amplia seu contato com o mundo de
a qual estão comprometidos, ou para rebater pessoas e objetos que a cercam.
outra que consideram perigosa ou injusta, Ademais, a linguagem oral é essencial
desejando conhecer outros modos de vida, para a internalização de condutas, agindo na

8
LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. escrita na educação infantil. Rev. Cien. Elet. de Pedagogia, Garça, v. 21,
Porto Alegre: Artmed, 2002. n. 11, p. 1-6, jan. 2013.
9
CRUVINEL, F. E.; ALVES, G. M. Como desenvolver a linguagem oral e

5
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

constituição da memória, da imaginação, diversas variedades, há uma que se


formando bases para a memória. aproxima mais daquilo que é prescrito nas
A aquisição da escrita ocorre em gramáticas normativas.
contextos mais formais, como a escola por São os próprios usuários que realizam
exemplo, apresentando uma característica esse processo de variação, por conta de
de maior prestígio, sendo um bem cultural fatores ligados á situação de uso. É por isso
desejável pelas pessoas. que existem variações próprias do falante,
São características da fala: uma como origem geográfica, classe social,
interação face a face; um planejamento podendo configurar um dialeto.
simultâneo (ou quase simultâneo) à As situações que são típicas dos
execução; o acesso imediato à reação do contextos de comunicação que uma pessoa
ouvinte; a possibilidade de redirecionar o percorre ao longo de seu dia são chamadas
texto, posteriormente. de registros ou níveis de fala. Tais registros
São características da escrita: uma podem apresentar maior ou menor grau de
interação a distância; um planejamento formalidade ou informalidade.
anterior à execução; a falta de possibilidade Diversos fatores influenciam a fala de
de resposta imediata; a possibilidade de o uma pessoa, como idade, sexo, profissão,
escritor alterar o texto a partir das possíveis nível social, grau de escolaridade, local
reações do leitor. onde reside, entre outros. Em relação à
São dessas características que os situação de comunicação, esses fatores são:
aspectos específicos, de acordo com o ambiente, tema, estado emocional, nível de
gênero do texto, decorrem. intimidade entre interlocutores, entre
A escrita é um instrumento que outros.
possibilita a participação das pessoas na A fala possibilidade a utilização de
cultura letrada e assim facilitam seu dia-a- recursos extralinguísticos, como, por
dia. Trata-se de uma representação de exemplo, gestos, expressões faciais,
segunda ordem, constituída por um sistema postura, entonação, bem como a
de signos palavras escritas que representam possibilidade de refazer a mensagem, se
os sons e palavras da linguagem oral, que esta não for interpretada de maneira
tem relação com o mundo real. adequada. Por ser uma relação direta entre
É necessário apresentar a escrita como os falantes, há uma maior proximidade
um instrumento de função social: de entre aquele que fala, o locutor, e aquele
expressar ou comunicar, ideias e que escuta, o receptor. Além disso, o
sentimentos, ou seja, é um erro pensar que contexto no qual a conversa ocorre tem
o ensino dos aspectos técnicos da escrita influência em sua produção.
para a criança permite-lhe aprender a Em relação à língua falada, existe uma
escrever e ler conforme requer o uso da prática social evidenciada no cotidiano das
escrita nas diversas situações sociais em pessoas, que é a conversação espontânea.
que é utilizada. A conversação é uma atividade entre
No gênero oral temos a conversação dois ou mais interlocutores, onde há uma
espontânea; a conversação telefônica; a alternância, na qual temas da vida diária são
entrevista pessoal; a entrevista no rádio ou discorridos. As falas são organizadas em
na TV; o debate, etc. turnos, sem uma regra fixa de alternância.
No gênero escrito temos: o bilhete; a O evento comunicativo apresenta:
carta familiar; cartas ao leitor; bula; artigo - Uma situação discursiva: formal ou
científico, etc. informal;
As línguas vivas passam por um - Um evento de fala: casual, espontâneo,
constante processo de transformação. O profissional, institucional;
próprio uso da língua produz mudanças. - Um tema do evento: casual, prévio;
Seja na língua falada ou escrita, entre as

6
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- Um objetivo do evento: nenhum, haver um sentido entre o desenvolvimento


prévio; das ideias principais e secundárias.
- Um grau de preparo necessário para - Concisão: o parágrafo precisa
efetivação do evento: nenhum, pouco, apresentar uma quantidade de informação
muito; adequada ao objetivo do texto. A concisão
- Os participantes: idade, sexo, posição não deve ser buscada em detrimento da
social; formação profissional, crenças etc.; clareza.
- Uma relação entre os participantes: - Clareza: deve-se escolher palavras
amigos, conhecidos, inimigos, adequadas ao contexto, tornando o
desconhecidos, parentes; parágrafo claro e a sua leitura possa ser feita
- Um canal usado para a realização do de maneira eficiente.
evento: face a face, telefone, rádio, - Encadeamento: a transição de um
televisão, internet. parágrafo para outro não pode ser brusca;
impõe-se um encadeamento lógico e natural
O texto falado se desenvolve de acordo entre eles. Os parágrafos não podem ser
com a maneira com a qual a interação se repetitivos sem necessidade, já que a
organiza entre os interlocutores. A estrutura repetição pode interromper o fluxo
da conversa pode se organizar no nível: informacional.
- Local: a conversação é estabelecida por
meio de turnos nos quais os interlocutores A escola deve ensinar o uso da língua
se alternam e desenvolvem suas falas um materna em sua plenitude, ou seja, todas as
após o outro; modalidades (escrita e falada, padrão e não
- Global: ao mesmo tempo em que a padrão) precisam ser valorizadas no
organização local acontece, a formulação ambiente escolar. Todas as práticas
textual respeita determinadas normas de discursivas necessitam de espaço para seu
organização global, sobretudo na questão desenvolvimento na escola, pois precisa
da condução do tópico discursivo. preparar o aluno para as diversas situações
de modalidades de uso.
O texto escrito também é elaborado a Cabe ao professor proporcionar em suas
partir do objetivo do locutor. O orientador aulas atividades capazes de gerar nos
precisar observar certas marcas para ser alunos o respeito pelos diferentes usos da
orientado durante a leitura. O parágrafo de linguagem oral, respeitando a
um texto escrito possui um ou mais individualidade de cada um. A capacidade
períodos que se desenvolvem ao redor de de utilizar a língua em diversas situações de
ideias relacionadas. A paragrafação marca a uso auxilia no processo de aquisição da
intencionalidade do produtor do texto. linguagem em suas variadas formas.
Recursos visuais marcam o parágrafo, As principais abordagens sobre a
como espaços em branco, uma entrada aquisição da linguagem são:
junto à margem esquerda. Apesar de ser - O empirismo: representado pelo
variável, hoje em dia há uma preferência behaviorismo e pelo conexionismo, que se
por parágrafos mais curtos. baseiam na proposta empirista que não
Um parágrafo bem estruturado considera a mente como um componente
apresenta: fundamental para justificar o processo de
- Unidade: cada parágrafo pode conter aquisição. O que importa é o fato de o
apenas uma ideia principal. As ideias conhecimento humano ser derivado da
secundárias precisam se relacionar à experiência e de a única capacidade inata
principal. que ele possuía ser aquela de formar
- Coerência: o principal tema do associações entre estímulos ou entre
parágrafo deve ser evidente. É preciso estímulos e respostas (E-R).

7
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- O racionalismo: este admite a Variedade linguística: preconceito


existência da mente, mas atribui a ela a linguístico, norma culta e norma-padrão.
responsabilidade pela aquisição. Ao
estabelecer uma relação entre linguagem e
mente, pressupõe-se a existência de uma Língua e Linguagem
capacidade inata que subjaz o processo de Língua é um sistema de códigos usado
aquisição. para facilitar o entendimento entre os
- O interacionismo social: o elementos de um grupo social. Já a
interacionismo social propõe que a criança linguagem é individual e flexível e pode
não seja apenas um aprendiz, passivo, mas variar. A maneira de articular as palavras,
um sujeito que constrói seu conhecimento organizá-las na frase, no texto, determina
(mundo e linguagem) pela mediação do nossa linguagem, nosso estilo.
outro. As inovações linguísticas, criadas pelo
falante, provocam, com o decorrer do
Questões tempo, mudanças na estrutura da língua,
que só as incorpora muito lentamente,
01. (Prefeitura de Vertentes - depois de aceitas por todo o grupo social.
Professor de Português - IDHTEC) São Muitas novidades criadas na linguagem não
características da linguagem oral, vingam na língua e caem em desuso.
EXCETO:
(A) Uso de recursos extralinguísticos, Heterogeneidade
tais como: gestos, expressões faciais, A língua não é utilizada por todos da
postura, entonação. mesma maneira, sobretudo considerando o
(B) Possibilidade de refazer a Brasil, um país de vasta extensão e de
mensagem, caso não seja interpretada cultura diversa.
adequadamente. O uso da língua varia de acordo com a
(C) Menos proximidade entre locutor e época, com a região, com a classe social,
receptor. entre outros fatores.
(D) Relação direta entre falantes. Não existe uma variação melhor que a
(E) O contexto interfere. outra. O que existe são situações nas quais
uma variante é mais adequada que outra.
02. (Prefeitura de São Gonçalo do Por exemplo, em ambientes mais formais, é
Amarante - Professor Ensino muito mais interessante utilizar a norma-
Fundamental I - CETREDE) O domínio padrão da língua. Já em conversas com
da linguagem oral e escrita é imprescindível amigos e familiares, descontraídas, nada
para a inserção social do indivíduo, pois é impede que se faça uso de uma variação
por meio dele que o(os)(as) mais livre, menos rígida gramaticalmente.
(A) conhecimento é construído. Uma língua é uma ferramenta para a
(B) informações são censuradas. comunicação. Para haver um entendimento
(C) direito de expressão é autorizado. entre todos, é interessante existir uma regra,
(D) saberes linguísticos são uma norma-padrão. Essa norma segue as
determinados. regras gramaticais, e isso garante que uma
(E) ser humano impõe seus pontos de mesma língua seja compreendida e
vista. ensinada a diversas pessoas. Já pensou que
bagunça seria se não houvesse uma regra
Gabarito geral?
Mas, como cada pessoa é diferente uma
01.C - 02.A da outra e as culturas são diversas, essa
mesma língua apresenta variações, que
podem ocorrer:

8
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- Em nível fonológico: na maneira em


que as palavras são pronunciadas. No Registro
interior de vários estados, como São Paulo, O registro da língua é a forma escrita. O
muitas pessoas puxam o r, que seria uma grau de formalismo está relacionado ao
maneira de falar “caipira. No Rio de quanto o registre segue as normas
Janeiro, é comum as pessoas falarem com o gramaticais. Escrever de maneira formal é
s chiado. escrever seguindo todas as regras da
- Em nível morfossintático: é comum gramática, adequando a linguagem à
observar pessoas conjugando verbos situação. Escrever de maneira informal não
irregulares como se fossem regulares, ou necessariamente quer dizer escrever errado,
até mesmo realizando uma conjugação sem seguir regras. Mas é não ter uma
“errada”, que não segue a norma-padrão. preocupação com a adequação situacional e
Manteu, ao invés de manteve. A variação ser mais flexível, menos formal.
ocorre também na regência, como falar eu
lhe vi ao invés de eu o vi. Linguagem Popular e Linguagem
- Em nível vocabular: dependendo da Culta
região, uma determinada palavra é utilizada A língua falada e a escrita podem valer-
para designar certo conceito. Em São Paulo se tanto da linguagem popular quanto da
é comum falar menino, já no Rio Grande do linguagem culta. Obviamente a linguagem
Sul, guri é mais utilizado. Também existem popular é mais usada na fala, nas
as formas moleque, garoto, piá. expressões orais cotidianas. Porém, nada
impede que ela esteja presente em poesias,
Dialeto contos, crônicas e romances em que o
Trata-se de uma variedade da língua, de diálogo é usado para representar a língua
uma maneira de falar própria de falada.
determinado grupo de falantes da língua. A linguagem informal, ou registro
Pode-se identificar um dialeto nas informal, é empregada quando há
peculiaridades de pronúncia, de familiaridade entre os interlocutores da
vocabulário e de gramática. A nível comunicação ou em situações mais
dialetal, a variação pode ocorrer: descontraídas. É marcada por um
- Regionalmente: muitas regiões do vocabulário mais simples, com uso de
país são marcadas por dialetos próprios, expressões populares, gírias, palavras
maneiras de falar próprias de cada região. abreviadas, sem preocupação em se apegar
- Socialmente: diferentes grupos sociais às normas gramaticais. É uma linguagem
e classes sociais também apresentam mais espontânea.
maneiras distintas de falar, e isso pode
ocorrer em um espaço físico mais reduzido, A Linguagem Popular ou Coloquial
como em uma grande cidade, onde há É aquela usada espontânea e
diversos grupos sociais distintos. fluentemente pelo povo, e é carregada de
- Pela faixa etária: os jovens, vícios de linguagem (solecismo – erros de
sobretudo, apresentam maneiras regência e concordância; barbarismo –
particulares de falar. É comum adultos não erros de pronúncia, grafia e flexão;
compreenderem as conversas de ambiguidade; cacofonia; pleonasmo),
adolescentes, por utilizarem palavras de uso expressões vulgares, gírias e preferência
restrito em seus grupos etários. pela coordenação, que ressalta o caráter oral
- Pela profissão: há maneiras distintas e popular da língua. A linguagem popular
de falar de acordo com profissões está presente nas conversas familiares ou
diferentes. Por exemplo, existe o linguajar entre amigos, anedotas, irradiação de
médico, que apresenta muitos tecnicismos esportes, programas de TV e auditório,
da profissão.

9
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

novelas, na expressão dos esta dos Preconceito linguístico


10
emocionais etc. Uma pessoa pode receber avaliações
É comum ver muitas pessoas não negativas por conta da língua que fala ou do
utilizarem de maneira correta a modo como fala sua língua.
concordância, como em falas do tipo: “Eles O preconceito linguístico é resultado da
foi lá”. Esse é um tipo de fala informal. comparação indevida entre o modelo
idealizado de língua presente nas
A Linguagem Culta ou Padrão gramáticas normativas e nos dicionários e
É a linguagem ensinada nas escolas e os modos de falar reais das pessoas que
serve de veículo às ciências em que se vivem na sociedade, modos de falar que são
apresenta com terminologia especial. muitos e bem diferentes entre si.
Caracteriza-se pela obediência às normas A língua idealizada é baseada na
gramaticais. Mais comumente usada na literatura consagrada, nas opções subjetivas
linguagem escrita e literária, reflete dos próprios gramáticos e dicionaristas, nas
prestígio cultural. É mais artificial, mais regras da gramática latina, etc. No Brasil, a
estável, menos sujeita a variações. Está língua idealizada tem um outro fator, que é
presente nas aulas, conferências, sermões, o português europeu do século XIX. Tudo
discursos políticos, comunicações isso torna quase que impossível que alguém
científicas, noticiários de TV, programas escreva e, sobretudo, fale de acordo essas
culturais etc. regras normativas, já que descrevem e
prescrevem uma língua artificial,
Gíria ultrapassada, que não reflete os usos reais
A gíria é criada por determinados grupos do público atual, seja no Brasil, seja em
que divulgam o palavreado para outros Portugal, ou em qualquer outro lugar do
grupos até chegar à mídia. Os meios de mundo onde a língua é falada.
comunicação de massa, como a televisão e A principal fonte de preconceito
o rádio, propagam os novos vocábulos, às linguístico no Brasil está na comparação
vezes, também inventam alguns. A gíria que as pessoas da classe média urbana das
que circula pode aca - bar incorporada pela regiões mais desenvolvidas realizam entre
língua oficial, permanecer no vocabulário sua maneira de falar e a maneira de falar das
de pequenos grupos ou cair em desuso. pessoas de outras classes sociais e das
Ex.: “chutar o pau da barraca", “viajar na outras regiões.
maionese", “delirar na goiabada", “pirar na Tal preconceito é baseado em dois
batatinha", “galera", “mina", rótulos: o “errado” e o “feio” que, mesmo
“chuchuzinho", “tipo assim". sem nenhum fundamento real, estão
solidificados como estereótipos.
Linguagem Regional Analisando com mais calma, vemos que o
Regionalismos são variações que está em jogo no preconceito linguístico
geográficas do uso da língua padrão, quanto não é a língua, uma vez que a maneira de
às construções gramaticais e empregos de falar é somente um pretexto para
certas palavras e expressões. Há, no Brasil, discriminar um indivíduo ou um grupo
por exemplo, os falares amazônicos, social por suas características
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, socioculturais e socioeconômicas: gênero,
sulino. raça, classe social, grau de instrução, nível
de renda etc.
A escola tem sido, há muito tempo, a
principal agência de manutenção e difusão
do preconceito linguístico e de outras

10
https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/preconceito- linguistico

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

formas de discriminação. Uma formação As provações que suportamos podem


docente adequada, baseada nos avanços das revelar quais são as nossas forças e
ciências da linguagem, que visa a criação de fraquezas. [...]
uma sociedade democrática e igualitária, é Clarice Lispector me mostrou que os
um passo relevante na crítica e na nossos piores defeitos podem estar
desconstrução desse círculo vicioso. sustentando o edifício inteiro. Ao aceitar as
nossas limitações, em vez de lutar contra
Questões elas, a gente se torna livre. Com Clarice,
desisti de lutar contra as minhas angústias,
01. (IBADE - Prefeitura de Costa ansiedades, inseguranças, vergonhas,
Marques - RO – Microscopista – 2022) culpas, obsessões, medos e tristezas, e
passei a olhar com mais carinho para a
A ARTE DE ESCUTAR BONITO Olívia Palito que se escondia no armário
Mirian Goldenberg - Antropóloga e professora da UFRJ para fugir da violência, gritos e surras do
pai e irmãos.
Desde que a pandemia começou, tive (e A minha história familiar me tornou a
continuo tendo) várias fases de depressão, mulher que escreve compulsivamente para,
pânico, ansiedade, desespero, tristeza e como Clarice, salvar as vidas dos meus
desesperança. Ainda não consegui amores e salvar a minha própria vida. Quem
encontrar uma saída da concha ou da eu seria hoje se não tivesse sobrevivido
caverna escura em que me escondi nos como uma formiguinha com medo de ser
últimos dois anos. esmagada?
Foram os meus amigos e os meus livros Rubem Alves me revelou que ostras
que me ajudaram a sobreviver física e felizes não fazem pérolas: é a ostra triste
emocionalmente nos piores momentos. que, para se proteger do grão de areia que
Decidi relembrar aqui algumas lições que machuca, produz as mais belas pérolas. Ele
aprendi em meio a essa tragédia para ajudar também me ensinou "a arte de escutar
quem está precisando de um colete salva bonito", uma arte que só valorizamos em
vidas ou de um abraço carinhoso, como eu meio ao sofrimento, dor e angústia
ainda preciso. existencial.
Viktor Frankl me desafiou a construir Já contei aqui que o meu maior
uma vida com significado. Apesar das arrependimento é não ter aprendido a
circunstâncias dramáticas, ninguém pode "escutar bonito" meus pais para
destruir a liberdade que temos de escolher a compreender melhor a minha própria
melhor atitude para enfrentar o sofrimento história. Tento compensar esse vazio
inevitável. Simone de Beauvoir e Jean-Paul existencial "escutando bonito" meus
Sartre me mostraram que não importa o que amigos nonagenários. [...]
a vida fez de nós: o que importa é o que Meu melhor amigo Guedes, de 98 anos,
fazemos com o que a vida fez de nós, quais me ensinou: "Tem que ter coragem, Mirian,
são os nossos propósitos e projetos de vida. coragem". Ele nunca me deixa desistir
Epicteto me mostrou que a nossa quando me sinto impotente, apavorada e
felicidade e liberdade começam com a sem força para continuar. Sem ele, eu não
compreensão de um princípio básico: teria conseguido enfrentar a depressão, o
algumas coisas estão sob nosso controle e desespero e o pânico que senti em vários
outras, não. Devemos sempre fazer o momentos.
máximo e o melhor que estiver ao nosso Todos os dias às 18h30, desde o primeiro
alcance. Cada obstáculo pode ser encarado dia da pandemia, ele telefona para mim:
como uma oportunidade para descobrirmos conversamos, rimos, lemos, cantamos,
a nossa coragem desconhecida e para brincamos com as palavras e aprendemos
encontrarmos o nosso potencial escondido. juntos a "escutar bonito". A nossa amizade

11
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

é o mais belo presente que ganhei da vida, Língua e linguagem: conhecimentos


um tesouro que nenhum egoísta, vampiro pragmáticos, conhecimentos discursivos,
ou odiador de plantão conseguirá destruir. conhecimentos textuais, conhecimentos
São essas pequenas doses de amor que gramaticais e conhecimentos notacionais.
me dão coragem para continuar escrevendo,
estudando e escutando bonito. São essas
pequenas epifanias que me socorrem nos Pragmática11
momentos em que, como escreveu Clarice, Esse campo da linguística estuda as
eu acho que tudo o que eu faço com tanta relações entre a linguagem, seus usuários e
paixão "é pouco, é muito pouco". o mundo. A partir dos estudos da
Adaptado https://www1.folha.uol.com.br pragmática, a linguagem deixou de ser um
intermediário entre o filósofo e o mundo e
Ao aceitar as nossas limitações, em vez se tornou o próprio alvo do debate
de lutar contra elas, a gente se torna livre.” filosófico.
5º§ O marco inaugural da pragmática é a
A expressão sublinhada nessa frase é teoria dos atos de fala, elaborada por John
característica da linguagem: Langshaw Austin. Essa teoria critica a ideia
(A) formal. de linguagem enquanto representação da
(B) acadêmica. realidade, já que muitas declarações não são
(C) coloquial. descrições do estado das coisas. Essa teoria
(D) prolixa. leva em conta construções culturais e
(E) jurídica. históricas.
Para esse autor, as declarações que
02. (IESES - Prefeitura de Palhoça - podem ser verificadas pela observação,
SC - Professor de Anos Finais - Educação como “O prato está sobre a mesa”, são
Física – 2022) São as variedades consideradas declarações constatativas.
linguísticas comumente usadas no passado, Mas existem declarações que nada
mas que caíram em desuso. São percebidas descrevem, não podendo ser nem
por meio dos arcaísmos – palavras ou verdadeiras, nem falsas, além de
expressões que caíram em desuso no corresponderem, assim que realizadas, à
decorrer do tempo. Essas variedades são realização de uma ação. Estas seriam as
normalmente encontradas em textos declarações constatativas. Um exemplo de
literários, músicas ou documentos antigos. declaração desse tipo seria “Lego a meu
Trata-se das: irmão este relógio”.
(A) Variedades estilísticas. Essas declarações são iniciadas por uma
(B) Variedades históricas. forma verbal flexionada no presente do
(C) Variedades regionais. indicativo, na 1ª pessoa do singular. Esse
(D) Variedades sociais. fato acontece porque o falante realiza a ação
no momento da declaração, e por meio dela.
Gabarito Quando fala “Lego este relógio”, o falante
transmite a herança.
01. C - 02. B Caso a declaração apresente outras
pessoas tempos e modos verbais, passa a ser
não performativa. “O rapaz legou o relógio
a seu irmão”. Trata-se da descrição de um
fato, que pode ser verificado como
verdadeiro ou falso.
É importante ter em mente que nem
todas as declarações performativas ocorrem
11
GUIMARÃES, T. Linguística II. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.

12
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

com o verbo na 1ª pessoa do singular no estará consumado, pois ele não é a pessoa
presente do indicativo. “Proibido fumar” é autorizada para fazer isso. Para cumprir o
um exemplo. Trata-se de uma ação de segundo requisito, isso deve ser feito pelo
proibição que pode ser transformada em padre.
performativa. “Proíbo que se fume aqui”. Para preencher o terceiro requisito, as
As declarações performativas não duas pessoas que estão casando devem
podem ser julgadas enquanto verdadeiras responder “Sim” ao padre. Caso um deles
ou falsas, mas podem ser nulas, não diga “Ah, pode ser...”, o casamento não será
podendo se realizar. Em um casamento, o realizado.
padre pergunta “Marcos, aceita Joana como Para cumprir o quarto requisito, é
sua esposa legítima?”, só que o irmão de preciso que, por exemplo, marido e mulher
Marcos é quem responde “Aceito”. Esta é tenham realmente as intenções
uma declaração performativa, todavia, não apresentadas, como viver juntos até que a
será realizada, visto que Marcos não se morte os separes. Isso acaba cumprindo o
casará por meio da declaração do irmão. quinto requisito, que é agir de acordo com
A ação que corresponde a um o que foi prometido.
performativo só será realizada caso, além Ainda de acordo com Austin, é possível
de ser anunciado, as circunstancias de realizar três atos de fala ao mesmo tempo,
enunciação sejam adequadas. que seriam o ato locucionário, o
Austin elaborou o critério de sucesso ou ilocucionário e o perlocucionário.
fracasso para as performativas. Para haver O ato locucionário é o ato linguístico em
o sucesso do enunciado performativo, é si, a ação de proferir palavras uma a uma
necessário: visando formar uma frase. O ato
- Haver um procedimento aceito ilocucionário acontece na linguagem, como
convencionalmente, capaz de apresentar dar uma ordem em “Ordeno que fique”. O
efeito convencional e de incluir o ato perlocucionário é realizado pela
proferimento de determinadas palavras, por linguagem: caso o interlocutor acate à
determinadas pessoas, em determinadas ordem que eu dei, esse resultado terá sido
circunstâncias; obtido por meio da linguagem.
- Que as circunstâncias e pessoas A maior diferença entre o ato
particulares de cada caso sejam adequadas ilocucionário e o perlocucionário é que o
ao procedimento que é invocado; primeiro sempre é marcado na linguagem.
- Que o procedimento seja executado de
maneira correta e completa por todos os Discurso12
participantes; Para compreender a análise do discurso,
- Que, em casos nos quais haja intenções é preciso compreender a noção de condição
e sentimentos, os participantes tenham, de de produção, pois um discurso sempre é
fato, essas intenções e sentimentos; realizado a partir de condições de produção
- Que os participantes ajam, dadas.
posteriormente, de acordo com o que foi Essas condições envolvem os sujeitos e
convencionado. a situação, podendo ser pensadas em
sentido estrito, relacionando às
No exemplo do casamento, Marcos pode circunstâncias de enunciação, ao contexto
se casar com Joana ao dizer “Aceito”, pois imediato, e em sentido amplo, envolvendo
é uma questão da tradição cristã. Isso o contexto sócio-histórico ideológico.
preenche o primeiro requisito. Quando uma professora fala em sala de
Se no casamento o padrinho fala “Eu os aula, as condições de sentido estrito estão
declaro marido e mulher”, o casamento não ligadas ao ambiente da sala, à presença dos

12
MEDEIROS, L. B. A. Análise do discurso. Porto Alegre: SAGAH, 2016.

13
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

alunos, ao espaço temporal. Em relação às constitutiva da linguagem. Não há como se


condições de sentido amplo, é preciso manter a-ideológico pela linguagem.
considerar a orientação pedagógica da Os sentidos não são inventados no
escola, se se trata de uma escola pública ou momento do processo discursivo, mas, sim,
privada, se possui ou não orientação mobilizados e recortados pela memória
religiosa, entre outros. discursiva.
Também é preciso considerar as
formações imaginárias, que constituem o O texto
13
processo discursivo. É preciso ter em mente É interessante diferenciar que os textos
o que há um destinador, um destinatário, que são produzidos para a escola são
um referente, um código linguístico comum aqueles sob a perspectiva da redação
ao destinador e ao destinatário e uma escolar, sob a perspectiva da produção de
sequência verbal emitida daquele para este. textos, os textos são produzidos na escola.
Essas formações resultam de processos O trabalho com a redação escolar é
discursivos anteriores, que ocorreram em artificial, pois não é uma atividade de
condições de produção diferentes, que significação. O aluno não lê o texto pelo
deram origem a "tomadas de posição" valor que possa ter, muito menos escreve o
implícitas, e estas permitem a emergência texto como um ato interlocutivo, trata-se de
das formações imaginárias no processo apenas um treinamento.
discursivo atual. O professor, da mesma forma, não " lê"
Vale considerar que é por meio da o texto produzido, somente avalia a
ideologia que uma pessoa se constitui como produção do aluno, julgando "erros e
sujeito, se inscreve numa formação acertos", comumente relacionados a
discursiva e é capaz de atribuir sentido. questões gramaticais e ortográficas.
Um enunciado pode implicar em É preciso fazer com que o aluno
diferentes sentidos dependendo da compreenda que existem cinco aspectos a
formação discursiva na qual é produzido. serem considerados:
A interpelação ideológica faz com que - ter o que dizer;
os sentidos dos enunciados pareçam - ter motivos para dizer o que se tem a
evidentes, como se apenas pudessem ser dizer;
aqueles, apresentando somente um sentido - ter um interlocutor;
literal. Pelo olhar da Análise do Discurso, o - constituir-se como interlocutor
sentido é movente, está sempre em enquanto sujeito que diz o que diz para
movimento, e o sentido que se julga quem diz; e
verdadeiro é somente um efeito de sentido - escolher as estratégias certas para
recortado entre vários outros sentidos realizar essas ações.
possíveis.
Os sentidos das palavras encontrados O objetivo do ensino de produção de
nos dicionários conseguem dar conta dos textos na escola precisa focar em
efeitos de sentido que um enunciado pode desenvolver no aluno a competência
mobilizar. A palavra “corrupção” discursiva, que implica no domínio da
empregada em um debate político em época modalidade escrita, sem, no entanto,
de eleição pode causar diferentes efeitos em elaborar situações artificializadas.
diferentes candidatos e em diferentes Cabe ao professor reconhecer e valorizar
eleitores. nos textos das crianças muito mais que
Não há posicionamento neutro pela apenas os aspectos ortográficos e
linguagem. A ideologia é constitutiva da gramaticais, tais quais os aspectos relativos
subjetividade e a subjetividade é ao uso dos recursos linguísticos e à

13
SILVA, A.; PESSOA, A. C.; LIMA, A. Ensino de gramática: reflexões sobre a língua portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

14
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

textualidade sejam enfatizados na sala de - Descritiva: apresentação de


aula desde os primeiros anos. propriedades, qualidades, componentes de
Trabalhar produção de textos orais e um lugar, objeto ou pessoa em um
escritos é algo bastante rico, assim como a determinado espaço-tempo; é comum uma
exploração de atividades de análise e descrição ser feita usando verbos no tempo
reflexão sobre característica da língua. presente e também no gerúndio; advérbios
Os alunos precisam conhecer os de tempo “agora”, “hoje”, “atualmente”.
elementos que configuram um texto, que o - Expositiva: apresenta fatos de
tornam uma ocorrência linguística, escrita conhecimento geral ou restritos à uma área
ou falada, de qualquer extensão, dotada de do conhecimento; relata fatos que ocorrem
uma unidade sociocomunicativa, semântica ou se dão no momento presente de uma
e formal. É preciso estimulá-los a criarem exposição, tais como hábitos, costumes e
textos de diversos gêneros, sem se limitar a gostos pessoais; verbos empregados no
detalhes ortográficos e gramaticais. tempo presente.
Nesse processo, deve-se priorizar o - Injuntiva: prescreve comportamentos
trabalho de revisão e reescrita, já que o ou ações para o interlocutor-leitor;
texto não está pronto em sua primeira apresenta verbos no imperativo ou
versão. Esse processo garante uma análise infinitivo; frases interrogativas; regras,
sobre as propostas do texto, verificar a falta regulamentos ou receitas que definem o que
de informações, bem como questões se deve fazer.
gramaticais.
O gênero textual é uma construção
A competência metagenérica permite composicional relativamente estável a qual
diferenciar os diversos gêneros: se conformam nossas produções textuais;
- Identificando quais gêneros as várias constituído por diferentes tipos de
práticas sociais solicitam (interação de sequências textuais.
forma conveniente); Os gêneros apresentam uma estrutura e
- Os gêneros se agrupam em esferas da organização composicional, o que, na
atividade humana; produção textual, nos leva a escolhas não
- Construção composicional totalmente livres e nem aleatórias, mas essa
relativamente estável a qual se conformam estrutura e organização é relativamente
nossas produções textuais. estável, ou seja, admite variação.
Os gêneros primários são constituídos
As sequências textuais são esquemas em situação de comunicação ligadas às
linguísticos básicos que entram na esferas de atividades cotidianas (diálogo,
constituição textual do gênero, podem ser: conversa face a face). Já os gêneros
- Narrativa: relatos de uma sucessão de secundários, são constituídos em situações
eventos ocorridos no passado (modificação de comunicação ligadas às esferas públicas
de um estado de coisas); apresenta verbos e mais complexas.
de ação no pretérito; advérbios de tempo Podem se transformar para dar criar
(“ontem”, “depois”); discurso outros gêneros de acordo com demandas e
relatado/indireto (“X disse que”). necessidades sociais (carta pessoal e e-mail
- Argumentativa: ordena argumentos pessoal), além de poderem também migrar
para defesa, justificativa ou sustentação de de uma esfera de atividade para outra (o
uma conclusão; apresenta subordinadas resumo escolar, o resumo abstract e a
iniciadas por conjunções subordinativas sinopse), bem como podem se mesclar ou
causais (“porque”, “pois”), condicionais hibridizar.
(“se”, “desde que”), concessivas Para uma boa compreensão de um texto,
(“embora”, “posto que”), adversativas o leitor precisa dominar o conhecimento
(“entretanto”, “no entanto”), etc. linguístico, que envolve ter um vocabulário

15
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

rico, o conhecimento de regras ortográficas Em relação ao ensino, é preciso ter em


e gramaticais e o conhecimento sobre o uso mente que o falante de uma língua natural é
da língua. competente para produzir enunciados de
sua língua, independentemente de qualquer
Gramática estudo prévio de regras de gramática e que
14
Quando se fala em norma culta, fala-se o estudo da língua materna representa a
de um conjunto de fenômenos linguísticos explicação reflexiva do uso de uma língua
que ocorrem habitualmente no uso dos particular historicamente inserida, via pela
falantes letrados em situações mais qual se chega à explicação do próprio
monitoradas de fala e escrita. Essa norma funcionamento da linguagem. A disciplina
teria maior valor social positivo, prestígio escolar gramatical não deve ser reduzida a
social. Por isso se tornou, historicamente, uma atividade de encaixamento em moldes
objeto privilegiado de registro, estudo e que dispensem as ocorrências naturais e
cultivo sociocultural. Tal processo ignorem zonas de imprecisão ou de
produziu, no imaginário dos falantes, a oscilação, inerentes à natureza viva da
representação dessa norma como uma língua.
variedade superior, melhor do que todas as O problema central do ensino de
demais. português não é saber se devemos ou não
Mas isso é uma confusão. Tal ensinar a norma padrão; se devemos ou não
representação imaginária não encontra, ensinar gramática, mas sim como nos livrar
porém, sustento na realidade, pois as do normativismo e da gramatiquice para
mudanças nunca alteram a plenitude podermos oferecer aos nossos alunos
estrutural de nenhuma das variedades da condições para eles se familiarizarem com
língua, e qualquer língua é sempre aquelas práticas sociais de linguagem, orais
heterogênea. A norma culta é somente uma e/ou escritas, relevantes para sua efetiva
dessas variedades, com funções inserção sociocultural.
socioculturais bem específicas. Dentro do estudo das gramáticas e sua
Sempre houve uma busca por fixação, temos:
estabelecer, por meio de instrumentos A gramática normativa: aquela
normativos (gramáticas e dicionários), um relacionada à norma culta, estabelecendo o
padrão de língua para os Estados Centrais uso correto ou errado, que se opõe ao uso
Modernos, de modo a terem eles um popular. É a gramática oficial, cheia de
instrumento de política linguística capaz de regras, comumente ensinada nas escolas.
contribuir para atenuar a diversidade A gramática descritiva: procura
linguística regional e social herdada da descrever o uso da língua no quotidiano das
experiência feudal. Esse instrumento pessoas, respeitando seu uso oral e o tempo
chamamos hoje de norma-padrão. de uso, ou seja, sendo sincrônica.
A norma-padrão não é propriamente A gramática histórica: estuda a história e
uma variedade da língua, e sim um evolução da língua ao longo do tempo,
constructo sócio-histórico que funciona numa perspectiva diacrônica.
como referência para estimular um A gramática comparativa: realiza
processo de uniformização. Seria uma estudos comparativos entre gramáticas que
codificação relativamente abstrata. pertencem a uma mesma família
Já a norma culta seria a variedade que os linguística.
15
letrados usam correntemente em suas É papel da escolar ensinar o português
práticas mais monitoradas de fala e escrita, padrão. Mesmo que a forma padrão seja
uma expressão viva de certos segmentos considerada pertencente a uma classe mais
sociais em determinadas situações. abastada, com maiores condições, as

14 15
VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. F. Ensino de gramática: descrição e uso. POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola.
São Paulo: Contexto, 2009. Campinas/SP: Mercado das Letras, 1996.

16
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

classes sociais menos favorecidas só têm a - Regularidades e irregularidades


ganhar com o domínio dessa forma de falar ortográficas;
e escrever. Todas as variedades da língua - Acentuação das palavras: regras gerais
devem ser apresentadas e respeitadas, relacionadas à tonicidade.
todavia, a norma padrão deve estar presente
e ser ensinada a todos na escola. O aluno deve construir um
O domínio da norma padrão implica na conhecimento de natureza conceitual,
capacidade de escrever textos de diversos precisando compreender não apenas o que
tipos e de leitura produtiva de textos a escrita representa, mas também de que
variados. Esse domínio garante aos alunos maneira ela representa graficamente a
um maior contado com diversas obras que linguagem.
podem ser consideradas mais "difíceis". Desse modo, hoje já se sabe que
Não se trata de obrigar a leitura de textos aprender a escrever envolve dois processos
clássicos, por exemplo, mas sim de garantir paralelos: compreender a natureza do
as condições necessárias para que os alunos sistema de escrita da língua (os aspectos
consigam ler e compreender esses tipos de notacionais) e o funcionamento da
textos sem quaisquer problemas ou linguagem que se usa para escrever (os
dificuldades. aspectos discursivos).
É possível ensinar uma língua sem Faz-se necessário que aprendam os
ensinar sua gramática. Basta pensar que aspectos notacionais da escrita (o princípio
civilizações antigas possuíam escritores, alfabético e as restrições ortográficas) no
mas nenhum documento em forma de interior de um processo de aprendizagem
gramática. Ensinar gramática é ensinar a dos usos da linguagem escrita. É disso que
refletir a respeito do uso da língua e de suas se está falando quando s diz que é preciso
regras. A escola deve apresentar condições “aprender a escrever, escrevendo”
para que os alunos aprendam as variedades Sendo assim, é necessário ensinar os
que não conheçam, com as quais não estão alunos a lidar tanto com a escrita da
familiarizados, incluindo uma variedade linguagem (os aspectos notacionais
mais "elaborada". O acesso aos bens relacionados ao sistema alfabético e às
culturais da sociedade deve ser visto como restrições ortográficas) como com a
algo elementar. O aluno deve ter o maior linguagem escrita (os aspectos discursivos
número possível de experiências relacionados à linguagem que se usa para
linguísticas na variedade padrão. Mais vale escrever). Para isso é preciso que, tão logo
essa variedade ser dominada, ainda que não o aluno chegue à escola, seja solicitado a
descrita, do que apenas descrita. produzir seus próprios textos, mesmo que
não saiba grafá-los, a escrever como lhe for
Conhecimentos notacionais possível, mesmo que não o faça
Estão relacionados à base alfabética do convencionalmente.
16
sistema de escrita. De acordo com a Base Nacional
São aspectos notacionais: Comum Curricular, os elementos
- Sistema de escrita (correspondência notacionais da escrita envolvem conhecer
fonográfica); as diferentes funções e perceber os efeitos
- A separação entre palavras; de sentidos provocados nos textos pelo uso
- Recursos do sistema de pontuação: de sinais de pontuação (ponto final, ponto
maiúscula inicial, ponto final, de interrogação, ponto de exclamação,
exclamação, interrogação, reticências, dois vírgula, ponto e vírgula, dois-pontos) e de
pontos, travessão, aspas e vírgula; pontuação e sinalização dos diálogos (dois-
- Discurso direto e indireto; pontos, travessão, verbos de dizer);

16
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_v ersaofinal_site.pdf

17
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

conhecer a acentuação gráfica e perceber


suas relações com a prosódia; utilizar os Capacidades, procedimentos e
comportamentos de produção, leitura de
conhecimentos sobre as regularidades e
textos orais e escritos. Prática de
irregularidades ortográficas do português produção de textos orais e escritos:
do Brasil na escrita de textos. produção para aprofundamento, produção
por frequentação. Contexto e Operadores
Questões da produção de texto.

01. (Prefeitura de Manaus - Professor


- IBADE) A compreensão de um texto é um Produção de textos orais
processo que se caracteriza pela utilização 17
Essa é uma atividade muito importante
de conhecimentos prévios. O conhecimento no período da alfabetização.
prévio que não está de maneira clara no Os saberes, sentimentos, valores das
texto e que exige do leitor uma competência crianças são expressos por meio linguagem
abrangente, como: vocabulário rico, verbal. Essa linguagem é produzida
conhecimento de regras ortográficas e continuamente junto a outras formas de
gramaticais e o conhecimento sobre o uso expressão, cujos elementos também
da língua, é denominado: externam conhecimentos dos falantes:
(A) estilístico. gestos, sons, cores, números, letras,
(B) linguístico. movimentos.
(C) textual. Há três dimensões que caracterizam a
(D) de mundo. relevância dessa atividade:
Primeira: a relevância de práticas
02. (Prefeitura de Roseira - Professor pedagógicas interativas, nas quais os
de Língua Portuguesa - AGIRH/2021) De participantes falem e sejam ouvidos – uma
acordo com a Base Nacional Comum experiência na qual todos interagem e
Curricular, conhecer a acentuação gráfica e dialogam. Ao conversar, nos apresentamos
perceber suas relações com a prosódia e para os outros, apresentamos
utilizar os conhecimentos sobre as particularidades, sentimentos e
regularidades e irregularidades ortográficas conhecimentos e, da mesma maneira, nos
do português do Brasil na escrita de textos aproximamos dos outros para conhecê-los.
estão incluídos em qual conhecimento Segunda: a experiência dos alunos com
gramatical? a cultura letrada é constituída através de
(A) Variação linguística. práticas orais, por meio de materiais
(B) Semântica. escritos e conhecimentos específicos da
(C) Elementos notacionais da escrita. constituição do sistema alfabético na sala
(D) Morfossintaxe. de aula. Reflexões e perguntas a respeito da
composição de palavras em letras, o
Gabarito destaque a rimas, as semelhanças e
diferenças entre unidades da língua em
01.B - 02.C palavras e textos, bem como sobre suportes
de textos e sentidos do escrito, a relação
entre a fala e a escrita, entre outros, podem
ser temas de conversas.
Terceira: a importância de atividades
que tenham como foco a produção de
gêneros do discurso orais. É possível
aproveitar situações sociais do cotidiano
17
GOULART, C. M. A. Produção de textos orais. Disponível em: textos-orais
https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/producao-de-

18
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

das crianças para indicar a elaboração de todavia o uso de gêneros orais que circulam
ações tais como convidar, listar, avisar, dar nas instâncias públicas e que exigem
recados, contar histórias, entrevistar, adequação a situações de formalidade deve
relatar, apresentar um problema ser desenvolvido.
(individualmente, em duplas ou Para isso, é possível planejar atividades
coletivamente), realizando a exploração de que abordem: debate regrado; roda de
elementos no decorrer de cada criação: conversa; locução de uma notícia ou de
tema, objetivo, destinatário, tratamento, reportagem; seminário; entrevista; elogio;
extensão e características próprias a cada advertência; explicação; crítica; aviso;
gênero. Realizar uma organização e uma convite; recado, entre outros gêneros orais
encenação de pequenos diálogos sociais que circulam socialmente.
19
típicos é também uma atividade produtiva: É preciso que o oral seja trabalhado
podendo ser realizada na escola, na rua, no junto à reflexão, à metacognição,
médico, no mercado, em programas de TV, incentivando o aluno a reconhecer-se como
ao telefone e em outras situações escolhidas sujeito interativo e transformador de
pela turma. situações nas quais se encontre inserido,
A oralidade é uma prática social, uma sendo capaz de dominar o conhecimento
atividade de interação verbal que pressupõe das regras de uso da linguagem e
interlocutor, partilha de ideias em contextos adequando-o a diferentes situações
específicos, com objetivo específico. Dessa sociocomunicativas, assim como de
forma, a oralidade como prática engloba a ampliar sua bagagem linguística, à medida
ação de linguagem, geograficamente que adquire termos e expressões para ele
situada, historicamente, determinada, novos, sendo capaz de reconhecer
culturalmente definida. prováveis desvios quanto ao emprego da
A prática de oralidade pressupõe modalidade preconizada como padrão,
ambientes públicos e privados de uso da corrigindo-os, quando assim for necessário.
20
linguagem, tendo como ponto de partida Para a BNCC, a produção de textos
registros variados. Portanto, as condições orais seria produzir textos pertencentes a
de produção, a formalidade do gênero, o gêneros orais diversos, considerando-se
público alvo determinarão o uso mais ou aspectos relativos ao planejamento, à
menos formal da linguagem. produção, ao redesign, à avaliação das
18
Na escola, a produção de textos orais, práticas realizadas em situações de
sobretudo os de uso público, precisa ser interação social específicas. Já a
planejada. É necessário realizar uma compreensão desse gênero seria proceder a
sistematização das situações por meio das uma escuta ativa, voltada para questões
quais as crianças participem de roda de relativas ao contexto de produção dos
conversa, debates regrados, contação de textos, para o conteúdo em questão, para a
história, anúncios publicitários gravados, observação de estratégias discursivas e dos
entrevistas, recitais. Isso devem envolver recursos linguísticos e multissemióticos
também os alunos que ainda não se mobilizados, bem como dos elementos
apropriaram do sistema de escrita. paralinguísticos e cinésicos.
O planejamento da produção oral na Importante notar que uma das
escola precisa ser parte integrante do competências específicas da Língua
planejamento docente desde a Educação Portuguesa para o Ensino Fundamental é
Infantil. A fala espontânea já é de domínio ler, escutar e produzir textos orais, escritos
das crianças e não necessita de e multissemióticos que circulam em
sistematização da aprendizagem na escola, diferentes campos de atuação e mídias, com

18 20
FARIAS, A. C. S. Leitura e produção de textos orais e escritos na http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_v
alfabetização. Salvador: UFBA, 2019. ersaofinal_site.pdf
19
http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/handle/riufcg/197

19
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

compreensão, autonomia, fluência e consideração a materialidade linguística do


criticidade, de modo a se expressar e texto, bem como considerar os
partilhar informações, experiências, ideias conhecimentos do leitor.
e sentimentos, e continuar aprendendo. Uma situação planejada de ensino que
Os gêneros orais formais e públicos contempla os textos orais, por exemplo,
(gêneros secundários) são característicos de pode ser a produção de textos orais de
certas esferas de comunicação públicas e diferentes gêneros, com diferentes
mais complexas, como a esfera acadêmica, propósitos.
religiosa, empresarial e jornalística.
21
Quando se trabalha com gêneros orais Produção e leitura de textos escritos
na sala de aula, abre-se a possibilidade da Escrever é uma prática social, por isso,
construção de um espaço democrático que atividade de cooperação, interativa e
busca a formação de sujeitos reflexivos e regulada que pressupõe interlocutor,
críticos, socialmente engajados e comunhão de ideias, partilha de
transformadores da realidade social. informações, reunião de intenções
Cabe à escola oferecer aos alunos pretendidas. Desse modo, a atividade de
maneiras de ir além das formas de produção escrita pressupõe um “ter algo a dizer a
oral cotidianas, apresentando-lhes outras alguém”.
formas mais institucionais, como o conto Acontece que a escrita é uma atividade
oral, o debate, a entrevista jornalística, a que pressupõe a presença de um
conferência etc., o que pode possibilitar interlocutor. Ao longo da produção do texto
uma percepção de que o grau de escrito a pessoa com quem interagimos não
formalidade é fortemente dependente do está necessariamente presente. É
lugar social de comunicação, das extremamente necessário que o interlocutor
exigências das instituições nas quais os seja levado em conta, visto que é
gêneros se realizam. característica da escrita ser um ato
22
A leitura oral é capaz de desenvolver inerentemente social que está presente nas
diversas competências relacionadas à inúmeras atividades do dia a dia.
leitura do texto verbal, como assiduidade, Infelizmente a escola, muitas vezes,
fôlego, fluência, velocidade, autonomia, insiste em ignorar a necessidade de
memorização, capacidade crítica, desenvolvimento da produção textual oral e
sensibilidade para o campo literário, escrita.
capacidade de inter-relacionar textos, A produção escrita apresenta uma
capacidade de reconhecer gêneros e dimensão de funcionalidade, assim como
subgêneros, capacidade de síntese e uma dimensão da forma. Por isso não é
hierarquização de ideias, abertura para o suficiente apenas ter o que dizer, é preciso
“novo” e o “diferente”, entre outras. saber como dizer.
A leitura é uma atividade para a Os textos são tipos relativamente
construção de sentido que pressupõe a estáveis de enunciado, os chamados
interação autor-texto-leitor, sendo gêneros do discurso.
necessário levar em conta, além das pistas e Por serem diversos, os gêneros do
sinalizações que o texto oferece, o discurso (orais e escritos) são um universo
conhecimento do leitor, já que, caso o autor infinito. Conforme o campo de atividade
apresente um texto incompleto, fica mais complexo, o repertório de gêneros
pressupondo a inserção do que foi dito em cresce e se desenvolve.
esquemas cognitivos compartilhados, será Inúmeros gêneros encontrados nas
necessário que o leitor o complete, por meio diferentes esferas de produção, circulação e
de contribuições. É preciso levar em de recepção de textos pressupõem um

21 22
http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp- https://bit.ly/3RFgRWY
content/uploads/2014/11/1823.pdf

20
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

interlocutor. Em relação à produção textual contextos de uso, as finalidades e os tipos


escrita, a etapa de recepção é, geralmente, textuais dominantes. Seriam: textos da
adiada, visto que o leitor nem sempre está ordem do relatar, textos da ordem do narrar,
presente no momento da escrita. A não ser textos da ordem do expor, textos da ordem
que se trate de um diálogo por meio de do descrever ações e textos da ordem do
tecnologias digitais nas redes sociais em argumentar.
que os interlocutores, usando a tecnologia Seria interessante que em cada ano
da escrita, interagem simultaneamente. escolar, desde os anos iniciais de
Na escola, para que ocorra o escolarização, os alunos tivessem a
desenvolvimento da competência experiência de situações de uso e reflexão
linguística e discursiva, o processo de de textos dessas cinco categorias,
escrita precisa ser sistematizado pelo realizando uma progressão em espiral no
docente. ensino.
23
A escrita pode ter o foco na língua. Segundo Marcuschi, os gêneros
Nessa visão de sujeito como contribuem para ordenar e estabilizar as
(pré)determinado pelo sistema, o texto é atividades comunicativas do dia a dia. São
tomado corno mero produto de uma entidades sócio-discursivas e formas de
codificação feita pelo escritor a ser ação social incontornáveis em qualquer
decodificado pelo leitor, bastando a ambos, situação comunicativa. Em outras palavras,
para tanto, o conhecimento do código são entendidos como realizações
utilizado. Nessa concepção de texto, não há linguísticas concretas definidas por
espaço para implicitudes, já que o uso do propriedades sociocomunicativas.
código é determinado pelo princípio da Não são modelos estanques em qualquer
transparência: o que está escrito é o que contexto discursivo, caracterizando-se
deve ser entendido e em uma visão situada como eventos textuais altamente maleáveis,
não além nem aquém da linearidade, mas dinâmicos e plásticos.
25
centrada na linearidade. A leitura envolve aspectos
A escrita com foco no leitor é uma neurológicos, naturais, econômicos e
representação do pensamento do sujeito políticos. A correspondência entre os sons e
como absoluto de suas ações e de seu dizer. os sinais gráficos pela decifração do código
O texto é um produto do pensamento, uma e compreensão do conceito ou ideia;
representação mental do escritor. corresponde a um ato de compreensão, uma
Compreende-se a escrita como uma busca daquilo que o texto pode significar,
atividade onde o escritor expressa seu da mesma maneira que se busca extrair
pensamento e intenções, sem considerar as significado da linguagem falada; para que a
experiências e os conhecimentos do leitor. leitura se torne possível, é preciso
A escrita com foco na interação leva em compreender símbolos (significantes) e
conta o escritor e o leitor, tomado como aqueles que simbolizam (significados).
atores/construtores sociais, ativos que, de A leitura pode ser definida como um
maneira dialógica, constroem e são modo de se comunicar com o texto
construídos no texto. Ao escrever dessa impresso através da busca de compreensão.
forma, é necessário ativar conhecimentos Ler ativa diversas ações na mente do leitor
sobre a situação comunicativa, selecionar e por meio das quais extrai informações.
organizar o desenvolvimento das ideias e Trata-se da capacitação de significados em
rever a escrita ao longo do processo. uma crescente comunicação entre o leitor e
24
É possível organizar os gêneros em o texto que implica aprender a descobrir,
cinco agrupamentos, considerando os

23 25
KOCH, I. V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/4/a-leitura-e-a-
Paulo: Contexto, 2010. escrita-no-processo-de-alfabetizacao
24
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/16775

21
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

reconhecer e utilizar os sinais da relação do caráter do leitor com as ocasiões


linguagem. para ler que se manifestam nas práticas de
Considerado que a leitura é a leitura.
compreensão, um aluno que apenas consiga A significativa representação da leitura
decodificar as palavras sem atingir o na vida dos sujeitos, como consequência,
entendimento da ideia contida nelas não explica determinadas características do
pode ser considerado uma pessoa que comportamento leitor, tais quais a
realmente lê. disposição para a leitura, inclinações,
Um dos papéis da escola é o de oferecer interesses, sentimentos, avaliações e
aos estudantes, por meio da leitura, os demais atitudes que são adotadas em
instrumentos necessários para que eles relação ao texto escrito. Embora o
consigam buscar, analisar, selecionar, comportamento leitor seja, em um alto
relacionar, organizar as informações grau, regulado pelo leitor (gostos,
complexas do mundo contemporâneo e interesses, etc.), é também imposto pelas
exercer a cidadania práticas socioculturais ou, pelo menos,
26
A formação de leitores competentes impulsionado pelo contexto social.
que gostem de ler, que leiam para estudar e O comportamento leitor determina a
adquirir conhecimentos ou para obter força motivadora das práticas de leitura, o
informações para as mais diversas interesse, as atitudes, as ações objetivas, a
finalidades, é formar as bases para que as predisposição, etc.
pessoas continuem a aprender durante a Dentro da sala, o comportamento leitor
vida toda. pode ser traduzido em critérios de escolha e
A leitura é um processo que está entre o apreciação das obras, por exemplo;
que se reconhece no texto e o que se recursos que utilizou para a escolha do texto
expropria dele, revelando estratégias – autor, gênero, editora, ilustrações, entre
dinâmicas de produção de sentido que outros.
podem possibilitar diversas condições de
interação entre sujeito e linguagem. Por isso Contexto
a leitura precisa ser tomada como Inclui fatores extralinguísticos: lugar,
habilidade essencial do ser humano, como momento, situação de uso, cultura, público,
prática social e como ato de coprodução do mas fatores linguísticos também são
texto. importantes para a compreensão do texto.
27 28
A leitura é um processo cognitivo, Condições de produção são as
semiológico, cultural, social e histórico de características básicas do contexto
caráter complexo e interativo entre a interlocutivo acionadas pelos sujeitos, de
mensagem exposta no texto (que não é só maneira consciente ou inconsciente, ao
escrita) e o conhecimento, as expectativas e longo do processo de elaboração do texto
os propósitos do leitor, em determinados oral ou escrito.
contextos sociais, culturais, políticos e Em geral, as condições às quais o
históricos. produtor de textos precisa atender estão
O comportamento leitor é a expressão situadas em um determinado tempo, espaço
social da forma com que uma pessoa e cultura, e estão, em primeira instância,
representa e pratica a leitura no contexto da relacionadas aos seguintes aspectos:
cultura escrita que o acolhe. conteúdo temático (assunto tratado no
Esse comportamento representa as texto), interlocutor visado (sujeito a quem o
intrincadas relações que são construídas no texto se dirige e que pode ser conhecido ou
modo de ser ou agir do leitor, isto é, a presumido), objetivo a ser atingido

26
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_p content/uploads/2018/09/Metodologia_comportamento_leitor.pdf
28
de/artigo_maria_jesus_ornelas_valle.pdf https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/condicoes-de-
27
https://cerlalc.org/wp- producao-do-texto

22
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

(propósito que motiva a produção), gênero interlocutor, a depender da situação


textual próprio da situação de comunicação comunicativa em que o texto for produzido.
(regras de jogo, conto, parlenda, debate, A produção de todo texto está inscrita no
publicidade, tirinha etc.), suporte em que o quadro de uma formação social e, mais
texto vai ser veiculado (jornal mural, jornal precisamente, no quadro de uma forma de
da escola, rádio comunitária, revista em interação comunicativa que implica o
quadrinhos, panfleto etc.) e, até mesmo, ao mundo social (normas, valores, regras etc.)
tom a ser dispensado ao texto (formal, e o mundo subjetivo (imagem que o agente
informal, engraçado, irônico, carinhoso dá de si ao agir). Esse contexto
etc.). sociossubjetivo pode ser decomposto em
Tais condições não são rígidas. Pelo quatro parâmetros principais: o lugar social
contrário, costumam variar nos contextos em que o texto é produzido, a posição social
de produção. do emissor, a posição social do receptor e o
No contexto pedagógico, é importante objetivo da interação.
considerar que as condições de produção de
texto variam de maneira expressiva na Produção para aprofundamento e
sociedade. produção por frequentação
30
Na Educação é essencial orientar os Produção para aprofundamento: é a
alunos de maneira cuidadosa sobre os produção de texto que objetiva a ampliação
aspectos distintos que devem ser levados do conhecimento do estudante a cerca de
em conta na escrita de um bilhete ou de uma determinado gênero (e a prática social
fábula; no relato de uma brincadeira ou na correspondente), exigindo um trabalho
contação de uma história, para citar apenas mais aprofundado ao longo de um
alguns exemplos. determinado ano do ciclo, o que supõe a
Caso o trabalho seja levado nesta escolha de modalidades organizativas
perspectiva, haverá grande contribuição adequadas, como a sequência didática, por
para a formação de produtores de texto exemplo.
proficientes e capazes de atuar com eficácia Produção por frequentação: existem
nos mais diversos espaços sociais. textos que podem ser produzidos no
29
O contexto pode ser físico, como por decorrer de determinado ano/ciclo, sem
exemplo a escola e os textos que nela são exigirem um trabalho de aprofundamento
produzidos, ou um jornal, em sua redação. (bilhetes para os responsáveis; convites
A também o tempo de produção, que diz para eventos escolares; bilhetes de
respeito ao momento no qual o texto é solicitação de materiais; regras de
produzido, bem em quanto tempo é convivência, por exemplo). Existem
necessário para produzi-lo. Os jornais por situações ligadas a projetos de leitura e
exemplo, muitos são produzidos escrita que também necessitam da produção
diariamente, para manter a população por frequentação. Um exemplo é a
informada. Neste sentido, os jornalistas elaboração de um jornal ou revista escolar:
dispõem de pouco tempo para a produção não há como escrever textos organizados
dos textos. em todos os gêneros que circulam nesses
A pessoa que escreve o texto, além de portadores se o tratamento didático a ser
emissor, a pessoa que produz o texto, ainda dado a cada um for o de aprofundamento.
recebe o nome de produtor ou locutor, a Pelo contrário, é preciso selecionar um
depender da situação comunicativa em que gênero para aprofundamento e os demais
o texto for produzido. escreve-se por frequentação, isto é, com o
A pessoa que recebe o texto é o recebido, repertório dos estudantes acrescido de uma
ainda recebe o nome de destinatário ou orientação básica do professor. Uma

29
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/6466?locale=pt_BR content/uploads/2019/05/50723.pdf
30
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-

23
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

produção elaborada por frequentação é momentos do processo de conhecimento,


aquela que ocorre a partir do conhecimento em relação à complexidade do objeto (todos
que o estudante já possui por ter os aspectos com os quais se opera nas
frequentado as práticas sociais nas quais práticas sociais de linguagem verbal) e do
esses gêneros circulam, o que lhe garantiu o aspecto do conhecimento selecionado para
contato com eles e conhecimento sobre seu trabalho.
funcionamento. O convívio social e o - Considerar que os objetivos
aprendizado em anos anteriores podem, pretendidos devem referir-se às
desse modo, ter possibilitado a aprendizagens possíveis para os estudantes
aproximação do estudante com esse objeto no período em foco e que os critérios de
de conhecimento. avaliação devem relacionar-se com as
aprendizagens indispensáveis para que eles
O conhecimento ocorre por possam dar continuidade ao seu processo de
aproximações sucessivas do objeto de conhecimento.
conhecimento pelo aluno. Desse princípio, - Considerar a necessidade de
deriva a característica espiral do currículo, organização do currículo em espiral, de tal
que implica abordar um mesmo conteúdo forma que os conteúdos sejam
de maneiras diferentes no decorrer de um reapresentados aos estudantes e que, a cada
mesmo ano escolar. vez que forem tratados, recebam um grau de
Essa característica é indicada como aprofundamento diferenciado.
tratamento para aprofundamento e - Considerar a necessidade de promover
tratamento por frequentação, quando um ensino intensivo, organizado do
mencionada a prática de produção de complexo para o simples e, de novo, para o
textos. complexo, e não um ensino aditivo e linear.
É possível que também seja traduzida - Considerar a necessidade de prever
nas tomadas de decisão a respeito do momentos de avaliação da aprendizagem e
tratamento que os conteúdos linguístico- do estabelecimento de critérios claros a
discursivos irão receber na prática de serem utilizados
análise linguística: promovendo a reflexão
sobre os usos da língua e da linguagem ou Para a escolha dos gêneros do
sobre a própria língua e linguagem, discurso/textuais que serão trabalhados, é
realizando ou não sistematização, preciso considerar certos aspectos:
empregando ou não a metalinguagem. - Sua relevância social para o exercício
Planejar, tendo em vista os fatores da cidadania;
supracitados, dá intencionalidade à prática - Sua relevância para a consecução dos
educativa, o que a potencializa. Veja objetivos colocados no PPP e no Plano de
algumas orientações complementares sobre Ensino;
o que considerar ao planejar o trabalho da - Sua pertinência e adequação para o
sala de aula. trabalho com determinados aspectos do
- Contemplar o que está previsto no conteúdo;
Currículo, no Projeto Político-Pedagógico - O equilíbrio entre os gêneros dos
(PPP) e no Plano de Ensino como diferentes agrupamentos (indicados, no
conteúdos necessários ao desenvolvimento documento curricular, na coluna relativa
da proficiência pretendida. aos objetos de conhecimento), dentro de
- Contemplar as necessidades de cada ano e ao longo do Ensino
aprendizagem colocadas para os estudantes Fundamental;
em função dos objetivos de aprendizagem e - A necessidade de revisitação do gênero
desenvolvimento. ao longo dos nove anos do Ensino
- Contemplar as possibilidades de Fundamental;
aprendizagem dos estudantes nos diferentes

24
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- O tratamento didático que receberá em é coerente com a situação comunicativa em


cada momento de um ano e nos diferentes que irá circular.
anos (por frequentação ou para Tratando-se de uma carta argumentativa
aprofundamento); de leitor, ela poderá tanto circular em um
- O grau de aprofundamento que jornal da escola, quanto em um jornal
receberá a cada vez que for tratado se serão impresso de grande circulação, ou do
abordados na leitura/escuta ou na produção bairro, ou, ainda, em um jornal digital.
e de que maneira é possível articular as Saber qual será a situação comunicativa à
práticas de linguagem; qual o texto se destina, permitirá ao
- A adequação temática dos textos produtor orientar seu discurso e organizá-lo
(enquanto possibilidade) aos interesses dos de modo coerente com tal situação.
estudantes e ao trabalho interdisciplinar. Ademais, será preciso que o trabalho
preveja um estudo das características dos
A prática de produção de textos na textos organizados no gênero “carta
escola não deve ocorrer apenas uma vez ao argumentativa de leitor”, para que as
bimestre como atividade de avaliação. marcas linguísticas e discursivas do gênero
Deve, na verdade, ser frequente, podendo possam ser conhecidas pelos estudantes,
acontecer tanto para aprofundamento, ainda que não as dominem integralmente.
quanto por frequentação. Essas marcas seriam:
Um exemplo de produção por - Esses textos circulam na esfera
frequentação que busca a habilidade de jornalística, em jornais impressos e digitais,
“escrever indicações literárias de livros, revistas, em geral, em uma seção específica
legendas para imagem, verbetes de chamada de espaço de leitores ou algo
curiosidades sobre temas estudados, similar;
respeitando as características da situação - Possuem o objetivo de elogiar, opinar,
comunicativa, além de realizar as diferentes criticar, reclamar, comunicar, agradecer e a
operações de produção de texto, ditando ao cada finalidade corresponde um tipo de
professor ou de próprio punho”. organização textual, o que poderá deixar a
Em um 1º ano, são indicados gêneros carta mais ou menos argumentativa;
diferentes, porém todos da ordem do expor - Apresentam o posicionamento de um
(aspecto tipológico predominante), o que leitor em relação à matéria lida, a um fato
demanda do estudante a ocorrido na semana, ao próprio veículo (no
mobilização/desenvolvimento da mesma caso o jornal ou revista), ou ao
capacidade dominante de linguagem - posicionamento de outro leitor;
apresentação textual de diferentes formas - Esse posicionamento aparece indicado
de saberes -, para textos do domínio social por marcas linguísticas conhecidas como
da transmissão e construção de saberes. organizadores textuais argumentativos, que
Já um trabalho para aprofundamento podem introduzir o posicionamento e o
pode buscar a habilidade de “produzir argumento;
cartas argumentativas de leitor, a partir de - Possuem características comuns às
matérias lidas, considerando as cartas pessoais, como data, vocativo (a
características do gênero e da situação quem é dirigida), corpo do texto, despedida
comunicativa, posicionando-se e assinatura.
criticamente diante do que foi lido”.
Primeiro é preciso que os estudantes Operadores
31
tenham condição de saber qual a base para Os operadores são uma classe que
sua produção, isto é, saber avaliar se o texto abarca tanto os operadores argumentativos
quanto os conectivos.

31
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-26012007- 005718/publico/operadores.pdf

25
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Os operadores argumentativos são os argumentativas diferentes. Operadores:


conectivos lógicos que se aplicam a um mas, porém, contudo, embora.
enunciado, conferindo-lhe um potencial Explicação ou justificação: iniciam
argumentativo específico, enquanto que os enunciados que explicam/justificam o
conectivos podem ligar não apenas enunciado anterior, de modo a mostrar sua
proposições, mas também enunciações a razão/motivação. Operadores: pois
proposições, e mesmo encadear com (anteposto ao verbo), porque, que.
elementos da situação extralinguística ou Comprovação: apresentam um
com reações não ditas que o locutor atribui enunciado que busca comprovar o que foi
a si mesmo ou ao destinatário. Dito de outra dito no enunciado anterior. Operadores:
forma, os elementos conectados podem que, tanto que.
perfeitamente ser de naturezas distintas. Conclusão: apresentam um enunciado de
32
Os operadores argumentativos são valor conclusivo em relação a um ou mais
recursos imprescindíveis para a enunciados. Operadores: por conseguinte,
argumentação, já que apontam para a destarte, logo, por isso.
orientação e o posicionamento Comparação: fazem uma comparação
argumentativo do sujeito, o que dá pistas entre dois enunciados, podendo ser por
para o tipo de argumento a ser defendido e semelhança ou dessemelhança.
o percurso argumentativo a que a situação Operadores: que nem, como, assim como.
de comunicação pretende chegar. Generalização: apresentam um
Ademais, são de essenciais para a coesão enunciado que generaliza algo já descrito
textual, à medida que interliga os vários no primeiro enunciado. Operadores: aliás,
argumentos em um texto, e para a coerência também, é verdade que.
textual, à proporção que traz à tona as Extensão: apresentam um enunciado que
relações de sentido evidenciadas entre os amplia uma informação descrita no
argumentos, contribuindo para a primeiro enunciado. Operadores: bem,
compreensão dos mesmos. aliás, mas.
Vale destacar que, na modalidade de Especificação: apresentam um
argumentação monologal, na qual os dois enunciado que particulariza algo já dito no
sujeitos participantes da argumentação não enunciado anterior. Operadores: como, por
estão presentes fisicamente, o uso dos exemplo.
operadores discursivos é ainda mais Exemplificação: apresentam um
importante, visto que garantirá maior enunciado que exemplifica algo dito
eficiência na clareza do entendimento dos anteriormente. Operadores: como, por
argumentos, bem como nas relações exemplo.
semânticas entre os enunciados. Contraste: conectam enunciado que
Exemplos de operadores: possui uma afirmação que contrasta com o
Adição (conjunção): Conectam primeiro. Operadores: mas, porém,
enunciados cujos argumentos apontam para entretanto.
uma mesma conclusão. Operadores: e, nem, Redefinição: ligam enunciado que
não só, além disso, somado a isso, ademais. redefine algo já dito. Operadores: ou
Alternância (disjunção argumentativa): melhor, isto é, ou seja.
Conectam enunciados distintos, que visam
mudar a opinião para o que está em primeira São funções da coesão:
instância seja aceito. Operadores: ou, ora, - Manter a referência sobre os elementos
caso contrário, já, que. dos quais se fala (expressando-os e
Oposição (contrajunção): Conectam retomando-os);
enunciados com orientações

32
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-26012007- 005718/publico/operadores.pdf

26
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- Permitir o desenvolvimento dos


Modalidades didáticas para o ensino de
comentários sobre os elementos dos quais leitura: leitura pontual, leitura
se fala; colaborativa/compartilhada, leitura
- Permitir que frases, períodos e programada, leitura em voz alta feita pelo
parágrafos componham o texto professor, roda de leitores, leitura
estabelecendo relações significativas. programada.

Questões
33
Falar sobre leitura é perguntar-se sobre
01. (Prefeitura de Macaparana - as condições e possibilidade desta e dos
Professor de Português - IDHTEC) Em efeitos e potencialidades que a leitura pode
qual das alternativas há uma situação realizar no sujeito leitor. Essa discussão
planejada de ensino que contempla os passa pelo âmbito político, educacional,
textos orais em sala de aula? cultural e social.
(A) Estudo da notícia, porém, retirando- A escola é o espaço no qual prevalecem
a do jornal, conhecendo-a a partir do livro os discursos a respeito da leitura e das
didático. práticas leitoras, visto que que a escola é um
(B) Visualizar uma palestra e transcrevê- dos lugares sociais de acesso à leitura, o que
la. coloca os professores como protagonistas
(C) Produzir textos orais de diferentes desta história, participantes e ativos,
gêneros, com diferentes propósitos. especialmente os professores alvos desta
(D) Oficina de leitura. pesquisa, aqueles que trabalham e ensinam
(E) Feira literária. ou pretendem ensinar, leitura.
Atividades sequenciadas de leitura para
02. (IF/SP - Professor - FUNDEP) desenvolver a leitura na escola podem ser
Muitos autores, dentre eles Luiz Antônio situações didáticas adequadas para realizar
Marcuschi, defende o uso dos gêneros o gosto de ler e privilegiadas para
textuais como objeto de ensino de produção desenvolver o comportamento do leitor,
de textos orais e escritos, isso porque eles isto é, atitudes e procedimentos que os
são leitores assíduos desenvolvem a partir da
(A) realizações linguísticas concretas prática de leitura: a formação de critérios
definidas por propriedades contextuais. para selecionar o material a ser lido, a
(B) constructos teóricos definidos por constituição de padrões de gosto pessoal,
propriedades linguísticas intrínsecas. rastreamento da obra de escritores
(C) sequências linguísticas ou de preferidos, etc.
34
enunciados e, não um texto empírico. O foco da psicogênese da escrita nos
(D) conjuntos limitados de categorias processos de apreensão do sistema
teóricas predeterminadas. linguístico foi uma contribuição
importante, todavia, essas ideias chegaram
Gabarito às escolas de maneira superficial e pouco
elaborada.
01.C - 02.A Pior ainda, a adoção dos princípios
piagetianos significou a destituição dos
“saberes tradicionais” dos professores.
Neste sentido, as ideias de Vygotsky a
respeito centralidade do signo e sua

33
https://simelp.fflch.usp.br/sites/simelp.fflch.usp.br/files/inline- FERREIRA, Norma Sandra de A. (Orgs.). A alfabetização como processo
files/S3903.pdf discursivo: 30 anos de A criança na fase inicial da escrita. São Paulo,
34
GOULART, Cecília M. A.; GONTIJO, Cláudia Maria Mendes; Cortez, 2017.

27
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

importância para o desenvolvimento eram leitores nos refugiamos na leitura como


contrapontos à teoria piagetiana. forma de evasão e encontramos prazer e
A confrontação das teorias, sobretudo, bem-estar nela, os maus leitores fogem e
ao papel da linguagem, demonstra os tendem a evitá-la. A transformação da
limites do construtivismo. As teorias de leitura em uma competição entre as
desenvolvimento vigentes, a discussão dos crianças tende a prejudicar os sentimentos
aspectos linguísticos e os métodos de de competência das que encontram maiores
alfabetização marcam as reflexões da problemas, contribuindo para o seu
época. As novas abordagens apresentam o fracasso.
trabalho com textos espontâneos e com - Como é possível realizar diferentes
gêneros textuais, além da oralidade. As coisas com a leitura, é preciso articular
narrativas e a literatura infantil visam o diferentes situações (oral, coletiva,
papel das práticas culturais, da fruição e do individual e silenciosa, compartilhada) e
prazer no processo de aprendizagem da buscar os textos mais adequados para
leitura. atingir os objetivos propostos em cada
35
Antes da leitura, é preciso considerar momento. A única condição é tornar a
para um ensino correto de estratégias de atividade de leitura significativa para as
compreensão leitora antes de entrar na crianças, correspondendo a uma finalidade
matéria: que elas sejam capazes de compreender e
- Ler vai além de possuir um rico cabedal compartilhar.
de estratégias e técnicas. Ler é uma - Antes da leitura, o professor deve
atividade voluntária e prazerosa, e quando pensar na complexidade que a caracteriza e,
se ensina a ler, é preciso levar isso em ao mesmo tempo, na capacidade que as
conta. As crianças e os professores crianças apresentam para enfrentar (de seu
precisam estar motivados para aprender e modo) essa complexidade. Dessa maneira,
ensinar a ler. sua atuação tenderá a observá-las e a lhes
- Tendo isso em vista, é preciso fazer oferecer as ajudas necessárias para que
uma distinção entre as situações em que “se sejam capazes de superar os desafios que
trabalha” a leitura e as situações em que sempre deveriam envolver a atividade de
simplesmente “se lê”. Na escola, ambas leitura.
devem estar presentes, já que são
importantes; ademais, a leitura precisa ser Leitura pontual
36
avaliada como instrumento de Para trabalhar com a constituição da
aprendizagem, informação e deleite. necessidade de ler regularmente, com
- Os alunos não vão acreditar que ler (em diferentes finalidades, em especial, para
silêncio, apenas para ler, sem ninguém lhes informar-se a respeito de atualidades e
perguntar nada a respeito do texto, nem temas relevantes para a vida cidadã ou
solicitar nenhuma tarefa referente ao assuntos em desenvolvimento e estudo em
mesmo) tenha a mesma relevância que aula. Essa atividade é instituir um dia fixo
trabalhar a leitura (ou qualquer outra coisa) na semana, no qual se leia em determinado
se não observarem o professor lendo ao horário.
mesmo tempo que eles. É bastante difícil Há a possibilidade de os leitores serem
que alguém que não sinta prazer com a tanto o professor quanto os alunos, caso o
leitura consiga transmiti-lo aos demais. tema seja socializado e combinado
- A leitura não deve ser considerada uma previamente.
atividade competitiva, por meio da qual
prêmios são obtidos ou sanções são
impostas. Da mesma maneira que os bons

35 36
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-
1998. content/uploads/2019/05/50723.pdf

28
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

37
A leitura pontual possibilita ao aluno conjunto, prática fundamental para a
avaliar o nível de compreensão do texto explicitação das estratégias e
lido. Isso ocorre por meio da identificação procedimentos que um leitor proficiente
de trechos compreendidos e daqueles não utiliza.
compreendidos. É um processo que requer A leitura colaborativa é essencial para o
uma intervenção do professor ou ainda uma ensino de como se lê, diferente da leitura
informação fornecida por outro aluno que independente e silenciosa com questões
tenha atingido a plena compreensão. escritas para resposta, que somente verifica
Realizada a leitura individual, a história aquilo que o aluno já é capaz de fazer. A
é recontada, enfatizando informações leitura colaborativa ensina a ler, e a
relevantes. O processo de discussão é de silenciosa somente verifica se o aluno sabe
grande importância, dado que desenvolve fazê-lo.
habilidades de comunicação e organização, A leitura colaborativa é considerada hoje
com especial atenção para o vocabulário, como uma das atividades mais eficazes para
para identificação da ideia central, e para a intervir no processo de leitura, isto é, para
socialização do conhecimento adquirido. ensinar a ler, orientando os alunos na
O leitor que realiza uma leitura pontual constituição de procedimentos que os
é capaz de empregar uma atividade que se auxiliem na busca de pistas textuais e
baseia na busca dos próprios interesses, a contextuais para construir os sentidos do
exemplo de uma pesquisa. Essa estratégia é texto, levando-os a mobilizar as
usada para um objetivo específico, visando capacidades requeridas nesse processo.
o estudo de um texto/livro, a elaboração de É uma atividade na qual o professor lê
um trabalho de pesquisa, a reescritura, ao um texto com a classe e, ao longo da leitura,
estudo de conteúdos para provas ou faz questionamentos os alunos a respeito
concursos, a elaboração de resenhas e das pistas linguísticas que possibilitam a
sínteses etc. atribuição de determinados sentidos. Nessa
É uma estratégia que pode ser uma atividade é importante que os alunos
aliada, sobretudo se o texto não for familiar, possam explicitar para os seus parceiros os
isto é, de difícil compreensão. Outra processos dos quais fizeram uso para dar
característica é o fato de o leitor procurar no sentido ao texto: como e por quais pistas
texto um grande número de informações, linguísticas lhes foi possível realizar tais ou
acumulando-as de uma maneira que quais inferências, antecipar determinados
esbarrará nos limites da capacidade da acontecimentos, validar antecipações feitas,
memória. etc.
Esse tipo de leitura é uma atividade com
Leitura colaborativa/compartilhada principal finalidade de compreender um
Estudar o texto coletivamente, por meio texto em colaboração com o outro. O
de leitura capaz de mobilizar nos alunos processo de leitura é o foco do trabalho – e
capacidades necessárias para a construção todos os seus conteúdos específicos –, e não
da sua proficiência leitora. A intenção é que o produto desse processo, como ocorre em
a explicitação dos modos de obter uma atividade de leitura silenciosa com
informação para responder às perguntas questões para serem respondidas por escrito
propostas, façam observáveis as estratégias – que permite apenas a verificação do que o
que cada um utiliza para significar, aluno compreendeu do texto, ao invés de
possibilitando a apropriação dessas ensiná-lo como se faz para ler.
estratégias por quem ainda não as construiu. Dá prioridade ao trabalho com
Essa é a leitura na qual professor e capacidades e procedimentos: conteúdos
alunos realizam paulatinamente, em fundamentais no processo de compreensão

37
https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/l ivro/livro.php?codigo=23661

29
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

leitora. As capacidades de leitura referem- IV - a complexidade textual em si,


se ao que é requerido do leitor, enquanto considerando a linguagem empregada no
realiza a decifração do texto, por meio de texto, os recursos discursivos nele
estratégias mais reflexivas (antecipar, presentes, o registro linguístico em que foi
conferir informações, inferir implícitos do escrito, a sua organização interna e a
texto, ativar conhecimento prévio, por progressão temática decorrente.
exemplo), ou ainda, as elaborações de
apreciação e réplica em relação ao texto A progressão dos objetivos de ensino e
lido (identificar valores veiculados e de aprendizagem se dará pela complexidade
relações de intertextualidade e discursiva do texto estudado.
interdiscursividade; identificar a presença Além disso, é necessário levar em
de outras linguagens, ou seja, recursos não consideração que um texto que é possível
verbais na construção do sentido; elaborar de ser lido de maneira autônoma pelo aluno
apreciação estética, entre outras). não representará grandes desafios leitores
Os procedimentos estão relacionados a para ele.
ações que englobam as práticas de leitura, Para que haja um avanço na
como ler da esquerda para a direita e de aprendizagem da leitura, aprofundando e
cima para baixo, ou reler um fragmento de ampliando a sua proficiência e autonomia,
texto para verificar a compreensão, os textos estudados precisam ser um pouco
escanear manchetes numa capa de jornal, mais complexos e difíceis do que aqueles
entre outros. São esses os conteúdos a para os quais já possui proficiência
serem focalizados e tomados como objeto independente: o trabalho colaborativo é que
de ensino no trabalho escolar. possibilita o crescimento, o avanço do
A leitura colaborativa de um texto se aluno e de sua competência intelectual.
baseia no princípio teórico-metodológico A leitura colaborativa é uma modalidade
de que se aprende em colaboração com o didática de ensino da leitura que apresenta
outro. Desse modo, o texto que será lido não essas condições, prevendo momentos de
deve estar no nível de conhecimento real trabalho coletivo da classe, em grupos e
dos alunos, de maneira que possam ler duplas e individual, podendo ser em um
sozinhos. Precisará ser aquele texto para o movimento descendente ou ascendente, no
qual os alunos não possuam autonomia que se refere às parcerias de trabalho.
leitora, de maneira que justifica a leitura em É possível iniciar-se no coletivo e
colaboração. terminar no individual, passando pela
Sendo assim, é possível afirmar que a atividade em grupo; pode ser realizado em
leitura colaborativa seja configurada como movimento contrário; ou, começando pelo
uma modalidade privilegiada para os trabalho em grupo, indo para o individual e,
alunos. depois, chegando ao coletivo.
A complexidade do objeto texto, Para a organização do trabalho por parte
incluindo-se nela: do professor, é preciso, antes de qualquer
I - a adequação do conteúdo às diferentes outro procedimento, a execução de uma
faixas etárias e aos diferentes saberes dos avaliação da proficiência leitora da classe,
alunos, considerando a realidade cultural de modo que se possa ter clareza de quais
específica de seu grupo de origem; conteúdos de leitura precisam ser
II - a pertinência do conteúdo, aprendidos pela turma, a partir de textos
considerando-se a realidade contemporânea com determinada complexidade.
local e regional; Depois, é preciso escolher um material
III - o tratamento dado a esse conteúdo e escrito adequado à tematização dos
a sua adequação às possibilidades de conteúdos que precisam ser discutidos.
compreensão colaborativa dos alunos;

30
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Ao longo do desenvolvimento da colaborativamente os seus sentidos. É


atividade de leitura colaborativa, o essencial que se considere a necessidade de
professor deve: solicitar aos alunos a sustentação das
I - Escolher bons textos com temática do respostas oferecidas, ou nas marcas e
interesse dos alunos; de complexidade recursos linguísticos presentes no texto, ou
adequada para o trabalho em colaboração; e nos seus conhecimentos prévios. Trata-se
organizado em um gênero que corresponda da explicitação dos procedimentos e
às expectativas de aprendizagem da escola; estratégias utilizados pelos diferentes
II - Considerar que o texto possibilite o sujeitos que ensinará aos alunos como
trabalho com as capacidades e lerem.
procedimentos de leitura que precisam ser III - Após a realização da leitura, para o
focalizados, levando em conta as trabalho com a verificação de hipóteses
necessidades de aprendizagem dos alunos; levantadas. A partir de então, procurar a
III – Fazer um levantamento de questões identificação de valores veiculados no texto
adequadas para o trabalho pretendido, (morais, éticos, estéticos, afetivos); o
localizando-as no texto que será lido e estabelecimento de relações intertextuais
procurando antecipar as possíveis ou interdiscursivas entre o texto lido e
respostas, de modo que seja possível avaliar outros; o posicionamento do leitor diante do
a adequação delas para o trabalho que foi apresentado no texto. É um
pretendido; momento privilegiado para o trabalho com
IV – No decorrer da leitura, solicitar que as capacidades de réplica e apreciação do
a cada resposta dada/comentário feito, os leitor em relação ao texto lido.
alunos apresentem justificativas por que
pensaram o que descobriram, ou seja, pedir É primordial que os procedimentos
que contem como pensaram, indicando no utilizados pelos alunos para buscar as
texto, as informações que foram utilizadas informações no texto sejam também foco
no percurso de seu raciocínio. da ação do professor, que precisa solicitar
que sejam explicitados à classe, de maneira
As questões podem ser apresentadas, a que sejam tornadas “visíveis” aos alunos e,
depender das capacidades que se pretende dessa maneira, sejam apropriados por eles,
tematizar: tornando-se parte de seu repertório.
I - Antes de iniciar a leitura, é momento
em que se deve tematizar a ativação de Leitura programada
conhecimento prévio sobre o tema, gênero, Trabalhar com a ampliação da
autor e sua obra, de uma maneira que esses proficiência dos alunos no que se refere à
conhecimentos possibilitem ao leitor uma leitura de textos mais extensos,
maior fluência semântica (compreensão) programando a leitura parte a parte.
por meio da realização de antecipações a A partir da leitura prévia de cada parte, o
respeito de: professor pode promover uma discussão
- O que poderá estar dito no texto; coletiva, ensinando procedimentos de
- Como estará dito (tipo de linguagem – recuperação da parte lida anteriormente. O
variedade e registro; organização interna do trabalho de discussão engloba a
texto; expressões utilizadas pelo autor; mobilização de capacidades de leitura para
marcas do gênero); a atribuição de sentido ao texto,
- Em que contexto o texto foi produzido, considerando suas características mais
entre outros aspectos. específicas.
II - Ao longo da realização da leitura, Nesse tipo de leitura há uma ampliação
buscando promover a ativação das da proficiência leitora, sobretudo, no que se
capacidades de leitura selecionadas para o refere à extensão dos textos trabalhados ou
trabalho com o texto, de maneira a construir à seleção de textos/livros mais complexos.

31
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Nela, o professor divide o texto em trechos quiseram fazer inspirados pela obra, ou
que serão lidos um a um, autonomamente e, seja, toda sorte de anotações que a obra lhes
depois, comentados em classe em discussão sugira.
coletiva. O professor deve apresentar o
Ademais, tal modalidade permite o cronograma à classe, combinando o que
trabalho com a obra de determinado autor, será realizado e sugerindo modos de marcar
visto que abre a possiblidade da em que parte interromperam a leitura e
problematização de suas especificidades de procedimentos úteis para retomá-la em
estilo e de tratamento temático. Abre a outro momento, sem perderem o sentido do
possibilidade de ampliação da proficiência texto.
leitora no que se refere a materiais mais Combinando o trecho que será lido em
extensos e complexos, e à autonomia do cada período, o professor estará
aluno por meio da discussão possibilitada apresentando aos alunos perguntas
pelos encaminhamentos dados no estudo instigadoras e orientadoras da leitura. Eles
coletivo de uma obra específica. não precisam respondê-las formalmente, já
A leitura programada tem o objetivo de que são perguntas que devem funcionar
ampliar a proficiência do aluno para a como incentivadoras e como recursos para
leitura de obras mais extensas, bem como chamar a atenção sobre algum aspecto
possibilitar a construção de boas referências linguístico-discursivo interessante da obra.
de textos elaborados em linguagem escrita Eles também podem dispor dessas
e de conhecimentos relativos a ela. perguntas e adicioná-las ao diário.
Esta atividade funciona de acordo com o No dia combinado, o professor conversa
nome que recebe: o professor programa a com a classe sobre aquilo que foi lido, com
leitura, dividindo a obra em trechos que os seguintes procedimentos:
devem ser lidos previamente pelos alunos, I - Retomando o conteúdo lido com a
de acordo com um cronograma feito, e, na classe, por meio de questões orientadoras;
data combinada, é estudada pela classe de II - Solicitando aos alunos que
maneira coletiva. apresentem questões curiosas, instigantes,
Para organizá-la, é preciso realizar o que os emocionaram ou divertiram, as quais
estudo da obra, analisando não somente o a obra lhes sugeriu no decorrer da leitura,
conteúdo temático e o tratamento que bem como investigações que fizeram
recebe, assim como os recursos linguísticos movidos pelo conteúdo da obra, avisando
presentes na obra. que podem recorrer ao diário de leitura;
Terminado o estudo, deve-se organizar III - Recuperando recursos textuais
as suas anotações a respeito de cada uma utilizados na obra, levando em conta o seu
das partes e, a seguir, dividir a obra em estudo e os problematiza junto à classe,
partes a serem lidas em um tempo analisando os efeitos de sentido que
determinado (uma semana, dez dias, duas provocam no texto;
semanas, por exemplo) pelos alunos. IV - Terminando a discussão, é sugerido
Depois, é preciso apresentar a eles o que cada aluno inicie aquilo que foi
trabalho que será realizado, importante para ele – ou curioso, ou o que
contextualizando a obra e explicando-o, mais lhe interessou, e, em seguida, pede
passo a passo. para que anotem no diário de estudos da
Deve-se orientá-los a lerem, com obra;
atenção, e a realizarem um diário de V - Para finalizar, o professor deve
estudos, onde anotarão impressões que perguntar a cada aluno quais foram as
tiveram, eventuais pesquisas que facilidades e dificuldades que encontraram
precisaram fazer para entender algum fato naquele trecho da leitura e os comenta, se
mencionado no texto, seja na internet, com possível, oferecendo orientações.
pais, irmãos ou outras fontes; desenhos que

32
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Esse deve ser o procedimento regular e Leitura em voz alta feita pelo
básico do estudo. No começo, o professor professor
pode fazer a leitura de um ou dois capítulos São finalidades desse tipo de leitura:
da obra no coletivo, conversando com a explicitar ao aluno – por meio da fala do
classe a respeito para, depois, organizar a professor - comportamentos de leitor
leitura como tarefa, realizando na classe (critérios de escolha e apreciação das obras,
apenas a discussão da obra. por exemplo; recursos que utilizou para a
São objetivos gerais de aprendizagem na escolha do texto – autor, gênero, editora,
leitura programada: ilustrações, entre outros); possibilitar aos
I – A ampliação da proficiência dos alunos que não leem o contato com bons
alunos, fazendo com que sejam capazes de textos e com aqueles que não escolheriam
ler textos mais extensos, ou de de maneira independente; ampliar
complexidade maior, atribuindo-lhes repertório de leitura.
sentidos adequados; Esta modalidade didática dá a
II – A mobilização, no decorrer da possibilidade ao professor de modelizar
leitura, as capacidades e a seleção de comportamentos e procedimentos de
procedimentos adequados às finalidades leitura.
colocadas; Também dá a possibilidade aos alunos
III - A capacidade de se posicionar que não sabem ler terem contato com textos
criticamente diante dos textos lidos; organizados em linguagem escrita e,
IV – A demonstração de uma atitude mesmo antes de terem compreendido o
receptiva diante do desafio das leituras sistema de escrita, podem constituir
propostas e disponibilidade para a conhecimentos sobre diferentes registros
ampliação do repertório, por meio do linguísticos; sobre como os textos podem
contato com as obras selecionadas; organizar-se; sobre as características de
V - A demonstração de interesse pela diferentes gêneros; sobre recursos textuais
literatura, considerando-a maneira de presentes em textos diversos e sobre como
expressão da cultura de um povo; produzir um texto.
IV - A demonstração interesse por trocar A leitura em voz alta pelo professor é
impressões e informações com outros uma modalidade didática que precisa ser
leitores, posicionando-se a respeito dos inserida todo dia na rotina, principalmente
textos lidos, fornecendo indicações de no Ciclo de Alfabetização quando a grande
leitura e considerando os novos dados maioria dos alunos ainda não leem por
compartilhados. conta própria de maneira convencional,
mas ela deve prosseguir nos ciclos
A avaliação dessa atividade prevê várias subsequentes para garantir o acesso a obras
fontes de obtenção de informação: o que os alunos não leriam por si mesmos.
desempenho do aluno nas discussões em O professor, nessa atividade, ao ler em
classe; o modo e a frequência com que voz em voz alta, se oferece como
utilizou o diário de estudo da obra; a interpretante que põe em cena a leitura para
realização da leitura de modo assíduo, entre “fazer ler” outros através de sua voz.
outros. Aquele que escuta também está lendo,
Para isso, o professor pode dispor de pois, ler é compreender: seguir a história,
suas anotações de aula relativas aos descobrir os detalhes que anunciam
aspectos indicados, de avaliação coletiva eventos, antecipar a reação do personagem
depois de cada estudo na classe, de pela forma como foi apresentado, festejar
autoavaliação e de avaliação compartilhada ou “ficar enraivecido” com um final nem
com o professor. sempre desejado.
O objetivo da escuta de textos lidos pelo
professor é a aproximação das crianças do

33
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

universo da cultura escrita por meio dos forma, é necessário considerar que essa
livros e de seus autores, de diferentes atividade pode ser uma novidade para
gêneros, trazendo à luz a materialidade muitas delas, o que requer determinado
linguística própria do gênero. tempo para que elas construam
Ouvindo a leitura realizada pelo procedimentos de ouvintes e também de
professor, as crianças se encontram com os leitores.
livros, com suas histórias, o que possibilita Antes da leitura, é interessante iniciar
aos alunos dialogarem com o pensamento explicitando como conheceu o livro, o
do autor, mobilizando seus próprios motivo de sua escolha para leitura.
pensamentos e percepções de mundo, Comentar sobre o autor (se já é conhecido
partilhando dos mistérios, do suspense, das ou não), falar do seu estilo, mencionar
emoções e, assim, podendo nutrir e vitalizar outros livros escritos por ele ou outros do
suas próprias ideias. mesmo gênero, da mesma temática, mas de
Os alunos também aprendem a respeito outros autores.
do ato de ler, que não se lê da mesma No decorrer da leitura, é preciso cuidar
maneira um poema, um conto de da forma de ler. Em geral, o que seduz o
assombração ou um texto teatral. As ouvinte é a trama, todavia ela precisa estar
maneiras da leitura se modificam em embalada pelo ritmo, entonação, cadência
função do gênero e da necessidade do leitor. da voz, volume, expressão facial etc. Todos
Sendo assim, podem desenvolver o gosto e esses elementos em combinação produzem
o encantamento pela leitura, ampliando o uma leitura agradável e envolvente.
vocabulário e o sentido das palavras nos Depois da leitura, é interessante criar um
diferentes contextos em que são clima de conversa literária. A princípio, se
empregadas, identificam que a escrita tem as crianças não estão acostumadas a
uma forma de dizer que lhe é própria, ora participar desse tipo de intercâmbio, então
próxima da linguagem cotidiana, ora mais é legal iniciar propondo perguntas para
rebuscada. desencadear a conversa ou compartilhar
A leitura em voz alta é uma modalidade suas impressões sobre o texto lido; falar da
didática com objetivo de formar leitores, o parte de que mais gostou e por quê; reler
que possibilita aos alunos testemunhar trechos para comentar, retome ilustrações e
comportamentos típicos de um leitor ressalte sua relação com o texto; mencionar
experiente como a razão da escolha do as repetições que aparecem e discuta com a
livro, comentários sobre o autor e sobre o turma qual a intencionalidade do autor.
projeto gráfico, entre outros. Casos seja necessário, deve-se retomar
Quando o professor lê para as crianças, é as palavras difíceis, verificando se o
essencial que sejam organizadas propostas entendimento delas foi possível dentro do
para que elas participem de um espaço de contexto.
conversa a respeito do texto lido. O professor deve disponibilizar o livro
Portanto, a possibilidade de discussão e para que possam tê-lo em mãos. Vale
comentários sobre suas impressões, os ressaltar que o conteúdo da conversa
múltiplos olhares sobre o mesmo texto são dependerá sempre da história e da forma
expandidas, o que amplia a sua como foi escrita naquele livro em
compreensão. particular. O importante é não ritualizar de
É possível potencializar essa atividade, modo mecânico esse momento, só para
fazendo com que seja planejada e, para isso, cumprir a rotina.
a escolha dos livros é decisiva. O aluno pode aprender a partir das
Escutar leitura de histórias é algo que leituras feitas pelo professor:
deve ser aprendido. Algumas das crianças - Ampliação de conhecimento a respeito
que chegam ao 1º ano ainda não da própria leitura: a forma de ler os
desenvolveram o hábito de ouvir. Dessa

34
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

diferentes gêneros, o tom de voz, a Ela diz respeito aos conteúdos que são
velocidade, a emoção, o encantamento etc. transmitidos em situação de uso da
- Desenvolvimento, em atos, de linguagem, aqueles que são aprendidos
comportamentos, procedimentos e enquanto os alunos atuam como leitor e
capacidades de leitura, ouvindo ou englobam: o compartilhamento da leitura,
compartilhando impressões. comentar e recomendar o que se leu, a
- Apropriação da linguagem, do estilo discussão sobre as intenções implícitas de
mais formal e do estilo de um determinado determinado texto, o confronto das
autor; dos recursos textuais, discursivos e interpretações geradas a respeito da leitura
linguísticos utilizados pelo autor. Por de um livro, com outros leitores etc.
exemplo, recursos para indicar a passagem Essa modalidade favorece a observação
do tempo, para diferenciar os falantes etc. e socialização do repertório de critérios de
- Contato com toda a riqueza e a apreciação estética do grupo de leitores
complexidade da linguagem. participantes.
- Reconhecimento das diferentes Esses critérios se referem aos seguintes
organizações discursivas em função dos aspectos: linguagem, conteúdo temático
gêneros que lhe são apresentados. presentes nos textos e projeto editorial da
- Desenvolvimento do gosto por obra. Considerando as mudanças nos meios
ouvir/ler outros textos, ampliando o de produção e recepção dos textos com a
repertório textual e linguístico. ampliação do uso da internet, podemos
- Compreensão da função social da dizer que outros aspectos fundamentais
escrita e a especificidade dos diferentes dizem respeito à confiabilidade do
gêneros. ambiente virtual, facilidade de acesso a
conteúdos e políticas de divulgação de
Roda de leitores obras.
Essa atividade possibilita a socialização A roda de leitores pode ser desenvolvida
das leituras realizadas de maneira uma vez por semana, ou quinzenalmente. O
independente, com o objetivo de observar compartilhamento de impressões a respeito
comportamentos leitores já construídos do material lido tem um grande impacto na
pelos alunos e, ao mesmo tempo, ampliar formação de leitor literário.
seu repertório por meio da explicitação dos Ao lado dele, outros aspectos
comportamentos gerais. contribuem para formar leitores e
Além disso, promove a discussão e o desenvolver comportamentos leitores
estudo de uma determinada obra ou de um como: frequentar espaços de leitura (dentro
conjunto de obras do mesmo autor, com a e fora da escola), acessar críticas literárias,
finalidade de compreender seu estilo participar de eventos de leitura, entre
pessoal. outros.
Pode ser realizada considerando obras
de escolha pessoal ou selecionadas pela Questões
escola.
O professor deve elaborar um espaço de 01. (Prefeitura de Lauro Muller -
divulgação e análise crítica de materiais de Professor de Pedagogia - Instituto
leitura e de desenvolvimento de Excelência) A leitura na escola tem sido,
comportamentos leitores. fundamentalmente, um objeto de ensino.
A roda de leitores ou roda de indicação Para que possa constituir também objeto de
literária, como também é conhecida, é uma aprendizagem, é necessário que faça
das modalidades do ensino da leitura muito sentido para o aluno, a atividade de leitura
utilizada para o trabalho com deve responder, do seu ponto de vista, a
comportamento leitor. objetivos de realização imediata.

35
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Sendo atividades sequenciadas de leitura (C) Leitura diária.


uma proposta de trabalho para desenvolver (D) Leitura colaborativa.
a leitura na escola é CORRETO afirmar: (E) Projetos de leitura.
(A) São situações didáticas adequadas
para promover o gosto de ler e privilegiadas Gabarito
para desenvolver o comportamento do
leitor, ou seja, atitudes e procedimentos que 01.A - 02.D
os leitores assíduos desenvolvem a partir da
prática de leitura: formação de critérios
para selecionar o material a ser lido, Modalidades didáticas para o ensino de
constituição de padrões de gosto pessoal, produção de textos: reconto, reescrita com
rastreamento da obra de escritores escriba, produção coletiva com escriba,
preferidos, etc. escrita de texto que se sabe de memória,
reescrita de texto, reescrita com
(B) São situações didáticas propostas
modificações, produção de partes dos
com regularidade e voltadas para a textos que não se conhece, texto de
formação de atitude favorável à leitura. Um autoria.
exemplo desse tipo de atividade é a “Hora
de...” (histórias, curiosidades científicas,
notícias, etc.). Os alunos escolhem o que 38
A aprendizagem de produção de textos
desejam ler, levam o material para casa por de diferentes gêneros é um dos principais
um tempo e se revezam para fazer a leitura objetivos de aprendizagem da escola.
em voz alta, na classe. A produção escrita foi, ao longo do
(C) São situações didáticas em que o tempo, tida somente como reprodução. Por
professor lê um texto com a classe e, conta da intensa preocupação em conduzir
durante a leitura, questiona os alunos sobre a atividade, em transmitir informações, a
as pistas linguísticas que possibilitam a produção de texto em si não acontecia.
atribuição de determinados sentidos. Estava restrita a atividades como respostas
(D) Nenhuma das alternativas. dirigidas, preenchimentos de lacunas,
questionários com respostas, esquemas
02. (Prefeitura de Cabedelo - dirigidos, cópia e ditado.
Professor de Educação Básica I - O interessante é realizar uma proposta na
EDUCA) É uma atividade em que o qual a produção de texto seja o espaço de
professor lê um texto com a classe e, interlocução, de devolução da palavra ao
durante a leitura, questiona os alunos sobre sujeito.
as pistas linguísticas que possibilitam a A sala de aula que antes era vista como
atribuição de determinados sentidos. [...] é lugar de transmissão de conhecimento,
particularmente importante que os alunos torna-se um lugar de interação verbal. Para
envolvidos na atividade possam explicitar isso, o texto deve ser visto como uma
para os seus parceiros os procedimentos unidade de ensino, o espaço para reflexão
que utilizam para atribuir sentido ao texto: sobre a língua e a linguagem, de interação
como e por quais pistas linguísticas lhes foi entre os sujeitos. O aluno, nessa visão, é
possível realizar tais ou quais inferências, tido como produtor de texto.
antecipar determinados acontecimentos, Tornar o estudante um produtor de
validar antecipações feitas, etc. textos é concebê-lo como participante ativo
O fragmento de texto apresenta a deste diálogo contínuo: com textos e com
proposta de leitura, denominada como: leitores.
(A) Atividades sequenciadas de leitura. Portanto, produzir um texto é uma
(B) Atividades permanentes de leitura. atividade complexa que não é realizada

38
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp- content/uploads/2019/05/50723.pdf

36
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

com ações que partidas do simples para o hierarquicamente, já um artigo de opinião


complexo, por isso, que no processo de será organizado em função do movimento
ensino e de aprendizagem da produção argumentativo considerado mais adequado
escrita, o texto deve ser a unidade de à situação comunicativa. Os dois se
análise, o ponto de partida e de chegada. diferenciam de um conto que é organizado
A produção de um texto é sempre no eixo temporal, realizando relações de
determinada por características da situação causalidade entre suas partes. Nesse
de comunicação onde circulará, já que é sentido, a organização do plano do texto a
essencial que o produtor do texto estabeleça ser produzido está estritamente relacionada
imagens do contexto definido para a sua ao gênero.
produção. 4. Textualização: trata-se da escrita
Ao produzir um texto, o aluno mobiliza propriamente dita, a elaboração textual do
cinco operações principais: plano do texto, fazendo uso dos recursos
1. Contextualização: é a capacidade de disponíveis na língua. Nessa elaboração,
definir e recuperar características da todas as operações anteriores precisam ser
situação de comunicação na qual o texto levadas em conta, a contextualização, a
será produzido, prevendo: quem irá ler, a recuperação/criação do conteúdo temático e
finalidade da comunicação, qual o melhor a planificação do texto.
gênero para dizer, onde irá circular o texto, 5. Revisão: é uma operação que ocorre
ou seja, trata-se da capacidade de antecipar durante a textualização e após escrita da
toda a situação comunicativa em que o texto primeira versão do texto. No primeiro caso
irá circular para definir as escolhas é chamada de revisão processual: enquanto
necessárias, de modo a produzir um texto escrevemos, relemos a parte produzida e a
coerente com as finalidades de ajustamos. Tais ajustes ocorrem pela
comunicação. análise da adequação do texto em relação ao
2. Elaboração e tratamento dos trecho anterior; pela revisão dos recursos
conteúdos temáticos: é uma pesquisa de usados para o estabelecimento da conexão
informações, fatos, ou da criação de uma entre as partes; pela pertinência das
trama, ao se tratar de texto de autoria. Neste escolhas lexicais realizadas etc. Trata-se de
caso a elaboração do conteúdo temático uma revisão processual e contínua: ocorre
poderá acontecer: junto ao processo de produção. No segundo
- Pela criação (invenção), ao se tratar de caso, é chamada de revisão final – ou
textos ficcionais, da esfera literária. posterior -, executada depois que uma
- Pela pesquisa e investigação, ao se primeira versão do texto é produzida. A
tratar de textos das outras esferas. diferença entre esta e a primeira, é que na
Se tratando da reescrita, situação onde o revisão final a análise ocorre tendo em vista
conteúdo temático já está dado, cabe ao o texto num todo, sendo possível analisar a
aluno somente recuperar o conteúdo do sua coerência e coesão, sua correção
texto todo, ou de um trecho do texto-fonte, gramatical, sua adequação ao contexto de
para realizar a reescrita. produção de maneira global, enquanto texto
3. Planejamento/planificação: é a terminado. Ademais, a revisão acontece
elaboração de um plano do texto, uma posteriormente ao momento da produção, o
organização do texto, parte a parte, que abre a possibilidade para produtor ter
definindo a ordem em que aparecerão, quais certo distanciamento do texto, para reler,
relações serão estabelecidas entre elas e revisar e refazer.
como serão articuladas. Os textos são Ao longo da prática de produção de
organizados tendo em vista as textos, existem três atividades essenciais:
características do gênero: um artigo - As de escrita (estrito senso);
expositivo de divulgação científica possui - A reescrita e;
suas informações organizadas - A produção de autoria.

37
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

- Os alunos possuem problemas para


No momento da produção textual, é serem solucionados e decisões a serem
importante considerar as tipologias, pois tomadas em função daquilo que se propõem
estas são ferramentas que estudam os produzir;
gêneros nos seus aspectos linguístico- - A organização da atividade por parte do
estruturais e sociais. Desse modo, existem professor garante a máxima circulação de
seis tipologias: narração, descrição, informação possível;
dissertação, injunção, diálogo e predição. - O conteúdo a ser trabalhado deve
Portanto, as tipologias textuais são manter suas características de objeto
ferramentas essenciais a serviço dos sociocultural real, não sendo transformado
gêneros textuais. em objeto escolar sem qualquer significado
social.
Reconto
Essa atividade tem o objetivo de: Reescrita com escriba
possibilitar a apropriação das Essa atividade tem o objetivo de
características da linguagem escrita da possibilitar a apropriação das
esfera literária. características da linguagem escrita – tanto
Uma das consignas adequadas é em registro literário ou não.
“recontar como se estivesse lendo o texto Uma das consignas adequadas é “ditar
no livro”. ao professor como se estivesse lendo o
Durante essa atividade, alguns aspectos texto”.
são tematizados, tais quais o registro São tematizados nessa atividade os
literário (expressões lexicais, uso de aspectos da progressão temática (relação
pronomes do caso oblíquo, articuladores entre os fatos do texto, eixo organizador
temporais e causais típicos da linguagem fundamental); dos recursos referentes à
literária, anteposição do adjetivo ao coesão sequencial (articuladores textuais);
substantivo), os critérios de sequenciação recursos referentes à coesão referencial; da
de fatos relativos ao gênero do texto seleção lexical adequada ao registro; da
recontado (no geral, sequência temporal organização sintática; dos procedimentos
com as respectivas relações de de escritor (planejamento, revisão
causalidade); recursos de coesão processual e final).
referencial. Durante essa atividade, é interessante
Esse tipo de atividade, que envolve a que o foco seja nos aspectos textuais
leitura e o reconto oral, oferece às crianças (coesão sequencial e referencial, coerência,
oportunidades para a apropriação de formas seleção lexical adequada ao registro).
de expressão que são próprias dos textos
escritos. Produção coletiva com escriba
39
O professor deve organizar situações Possui o objetivo de possibilitar a
de aprendizagem, que são atividades apropriação de características do gênero do
planejadas, propostas e dirigidas com o texto, de aspectos textuais - nos quais se
objetivo de favorecer a ação do aprendiz articulam a produção do conteúdo temático
sobre um dado objeto de conhecimento. e do texto, e notacionais, bem como de
Essas atividades devem respeitar alguns procedimentos de escritor-planejamento,
princípios: revisão processual e final – por meio da
- Os alunos devem colocar em jogo tudo modelização realizada pelo professor.
aquilo que sabem e pensam sobre o Uma das consignas adequadas é que é
conteúdo a ser ensinado; preciso relacionar o processo de produção

39
WEISZ, T. Relações entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999.

38
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

com a adequação do texto às características palavra, como, por exemplo, uma parlenda,
do contexto de produção previsto. uma quadrinha.
São tematizados nessa atividade os O foco, sendo assim, é a compreensão da
aspectos: base alfabética do sistema de escrita: a
- Que dizem respeito às características textualização não precisa ocorrer
do gênero: conteúdo temático; tipos de (planejamento do texto, definição e
personagens; tempo de ação; local; marcas organização dos enunciados que o
de estilo do gênero; compõem, definição de parágrafos), já que
- Que dizem respeito à textualidade: há necessidade de decidir o que será escrito,
registro linguístico; progressão temática visto que o texto é conhecido de cor,
(relação entre os fatos do texto, eixo palavra por palavra.
organizador fundamental); recursos Faz-se preciso que tal atividade se
referentes à coesão sequencial realize a partir de textos da tradição oral,
(articuladores textuais); recursos referentes que naturalmente são aprendidos pela
à coesão referencial; seleção lexical linguagem oral e decorados para, por
adequada ao registro; organização sintática; exemplo, servirem de base para
- Que dizem respeito aos procedimentos brincadeiras (pular corda, esconder,
de escritor: planejamento, revisão selecionar quem começa, entre outras
processual e final. finalidades), declamações, jogos (de bola,
A atividade realizada em duplas ou em de pegar, de pi- que-esconde, entre outros),
pequenos grupos garante às crianças a brincadeiras afetivas entre pais/avós e filho
possibilidade de estabelecer intercâmbios (“cadê o toicinho que estava aqui?”; “serra,
com outras crianças que estão na mesma serra, serrador”).
situação, com interesses, conhecimentos e Por isso não é apenas solicitar que os
necessidades semelhantes e que podem ser estudantes memorizem um conto, uma
compartilhados entre os pares. fábula, ou parte deles, para, depois, solicitar
que os registrem por escrito. É uma
Escrita de texto que se sabe de atividade imprescindível nos anos iniciais
memória de escolaridade, quando o processo de
Atividade que objetiva possibilitar a alfabetização ocorre.
40
apropriação das características do sistema Essa atividade pode envolver uma
de escrita. parlenda, uma cantiga, um trecho de
Consigna adequada é a de que sejam música, entre outros. As crianças podem
consideradas as características do contexto escrever, de forma mais autônoma, e o
de produção e a proficiência dos estudantes professor circular entre elas para realizar as
para grafar de próprio punho (mesmo que intervenções que são necessárias; tais quais
utilizando letras móveis ou realizando a lembrar trechos do texto de que se
atividade em parceria). esqueceram.
Os aspectos tematizados são os O texto escolhido deve fazer parte do
notacionais relativos ao sistema de escrita; repertório cultural infantil para que a
os procedimentos de textualização e revisão preocupação da criança não esteja dirigida
processual e final. ao “que” escrever, mas sim a como fazê-lo.
A escrita estrito senso, ou escrita de Trata-se de um desafio maior e pode ser
textos que são conhecidos de memória, é realizado por aqueles que estiverem mais
uma atividade na qual os alunos devem próximos à hipótese de escrita alfabética. O
escrever textos que conhecem de cor. Nesse que está em jogo, ainda, é a aquisição do
caso, a atividade está em registrar por sistema de escrita, mas já se pode notar,
escrito o texto já apresentado, palavra por

40
https://www.sinesp.org.br/images/sondagem_lingua_portuguesa.pdf

39
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

entre outros, a segmentação do texto em procedimentos de planejamento,


palavras. textualização e revisão (processual e final)
do texto.
Reescrita de texto e reescrita com
modificações A reescrita enquanto atividade de
A reescrita de texto tem o objetivo de produção de textos não é uma reescrita de
possibilitar ao aluno a apropriação de revisão, que é feita como parte do processo
recursos da linguagem escrita e de de ajustar o texto ao contexto de produção,
organização do texto, bem como de modificando depois de uma análise. Muito
procedimentos de escritor: planejamento, pelo contrário, trata-se de escrever,
revisão processual e final. novamente, um texto produzido por outro
Consigna adequada é a de que considere autor, uma atividade para aprender a
as características do contexto de produção e textualizar.
a proficiência dos estudantes para grafar de Essa reescrita é uma atividade essencial
próprio punho. para ensinar a produzir textos, pois a
Os aspectos tematizados são: o aluno operação de textualização, isto é, de
precisará se preocupar com aspectos escolher o texto que será escrito e registrá-
temáticos; a dificuldade é concentrada na lo graficamente, a escrita propriamente dita,
articulação dos procedimentos de registro está no cerne da atividade.
do texto, levando em conta aspectos Nesse tipo de atividade, o aluno não
textuais, gramaticais e notacionais. precisa criar o conteúdo temático, pois este
Ademais, serão focalizados os já está dado, podendo focalizar sua atenção
procedimentos de escritor: planejamento, apenas no ato de textualizar (redigir o
textualização e revisão (processual e final) texto).
do texto. Sendo assim, para textualizar, é
A reescrita com modificações tem o necessário somente recuperar o conteúdo
objetivo de: possibilitar ao aluno a do texto já conhecido, como de um conto de
aprendizagem da articulação de fadas (ou trecho dele). A história é
procedimentos de textualização, escrita e conhecida, mas não se conhece o texto de
criação, com foco somente em uma parte do memória.
texto, o que diminui a complexidade em Para ensinar a produzir textos, é
relação à produção de autoria completa. interessante realizar o resgate de um
Todavia, é posto ao aluno a necessidade de procedimento bastante utilizado: o de imitar
realizar a coesão e coerência do trecho que outros escritores mais experientes.
elaborará com aspectos já pontuados no Partindo desta ideia, para imitar é
trecho do texto-base. preciso desarmar o que se quer imitar para
Consigna adequada é a de que se ver como funciona, qual é o seu
considere as características do contexto de mecanismo. Posteriormente, repetir, trocar
produção e a proficiência dos alunos para de lugar, deslocar, transpor, inverter,
grafar de próprio punho. Sem falar que é ampliar, transgredir, transformar”
preciso focalizar a necessidade de Tal processo, de reescrever um texto
considerar a articulação entre os aspectos tendo outro como apoio, contribui para a
apresentados no texto e a produção da aprendizagem de capacidades e
modificação. procedimentos envolvidos na produção
São tematizados os aspectos relativos às escrita.
características do gênero; relativos à Desse modo, a leitura de textos do
textualidade (coesão e coerência, mesmo gênero a ser produzido, bem como
fundamentalmente); relativos ao registro a leitura compreensiva do texto-fonte, é
linguístico a ser utilizado; progressão relevante condição a ser garantida ao grupo,
temática; aspectos notacionais; para que haja diversas referências da

40
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

linguagem escrita, registro literário e, dessa escrever o trecho estabelecendo a coesão


maneira, poder produzir “imitando” os entre o texto de referência e o trecho a ser
escritores. reescrito;
Se tratando de escritores iniciantes, - Reconto do texto;
sobretudo, no Ciclo de Alfabetização e nos - Elaboração de um plano do texto – a
primeiros anos do Ciclo Interdisciplinar, o planificação (organizar o texto parte a
reconto mostra-se uma atividade capaz de parte) para orientar a reescrita;
anteceder a reescrita, o que garante o - Escrita ou ditado do texto para outro
exercício de organizar os conteúdos grafar;
temporalmente, de explicitar relações de - Revisão durante a reescrita e, ao final,
causalidade que existem entre fatos, de realizar ajustes quando for o caso.
empregar recursos linguísticos e o registro
literário, fazendo uso de expressões que Uma dúvida comum entre professores é
pertencem ao texto, por exemplo, sobre a maneira de realizar essa atividade.
conteúdos que talvez sejam difíceis para os A reescrita precisa ser proposta a partir de
alunos. um trecho do texto lido (início, uma parte
Logo após, tal recurso acaba por ser do meio do texto ou o final).
deixado de lado e a textualização ganha A reescrita de um texto é uma atividade
mais autonomia. Em situações desse tipo, que pode possibilitar a realização em vários
os alunos possuem a oportunidade de dias, reescrevendo e revisando a cada vez
recontar antes de produzir por escrito. uma parte, ou mesmo, ditando ao professor,
O trabalho de reescrita pode ser em grupos ou individualmente, ou, ainda,
organizado: registrando de próprio punho.
- Como um trabalho de leitura de A definição de como o ensino da
diferentes textos do gênero a ser reescrito, textualização por meio da reescrita estará
com o objetivo de repertoriar os estudantes. mais adequada à sua turma, aos objetivos de
Nesta atividade, há a possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento e ao
aprender a respeito da linguagem escrita, produto final combinado para o
das características do estilo do autor, do desenvolvimento do trabalho é uma decisão
gênero, da organização interna do texto, do do professor.
tipo de narrador, do tempo verbal Por se tratar de uma atividade muito
predominante etc. importante para aprender a respeito da
- Como atividades de análises orais da linguagem escrita, é primordial que, até
materialidade dos textos, no gênero a ser antes de saber grafar, os alunos participem
reescrito, ou seja, dos recursos linguístico- de atividades desse tipo ditando ao
discursivos presentes, tais quais: as formas professor.
de iniciar os contos, o modo de apresentar e Eles são capazes de aprender sobre a
caracterizar as personagens, os recursos organização interna dos textos; recursos de
usados para inserir o cenário de terror em linguagem literária; detalhes da linguagem
um projeto de contos de terror, entre outros. escrita como um todo; comportamentos de
- Como atividade de leitura e discussão escritor; entre outros aspectos.
do texto a ser reescrito, com foco na parte a Ao longo do processo da reescrita de um
ser reescrita caso seja um trecho. Nesta texto há a possibilidade de tematizar todos
atividade, é possível aprender a respeito de os conhecimentos ligados ao processo de
todos os aspectos mencionados no trabalho textualização, dado que o foco mais
com leitura de textos, mas de forma mais importante dessa atividade gira em torno
específica, com foco no texto que será dessa operação. Durante uma reescrita é
reescrito, procurando contemplar a possível aprender:
perspectiva pela qual o tema é tratado. - A planificar o texto, recuperando a
Ademais, há um foco na necessidade de sequência dos acontecimentos, realizando

41
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

uma organização parte a parte de acordo Escrever bem é um trabalhando com as


com a ordem definida para a sequência dos palavras. O conhecimento de uma língua
fatos; não é apenas conhecer as palavras em
- A manter a coerência do texto e o uso estado de dicionário, mas os campos
de recursos coesivos pertinentes ao gênero; semânticos a que pertencem e em quais
- A pontuar o texto, realizando uma contextos poderiam ser empregadas. Trata-
organização em parágrafos adequados e se de saber escolher as que seriam mais
preservando a significação presente do produtivas para construir os efeitos de
texto-fonte; sentido desejados.
- A utilizar conhecimentos gramaticais e A depender do gênero, determinadas
sintáticos essenciais para a organização do palavras se fazem necessárias, até mesmo
texto; imprescindíveis. Portanto, a escolha lexical
- A revisar o texto enquanto o redige e, é uma característica que deve ser
no final, após terminada a primeira versão; considerada no processo de (re)escrita e
- A adequar o texto ao contexto de também na leitura de textos.
produção (gênero original) e ao contexto de Dominar a escrita e seus recursos é
circulação. essencial para que o escritor consiga
analisar seu texto e reescrevê-lo. Isso quer
Mesmo que não saibam grafar, todos dizer que ensinar a escrever é, em grande
esses conhecimentos estão em jogo e parte, ensinar recursos linguísticos para os
podem ser aprendidos pelos alunos desde o alunos serem capazes de analisar seus
1º ano de escolaridade de modo que textos e perceber que podem fazer
construam, progressivamente, a autonomia alterações.
escritora. Os conhecimentos a respeito da escrita
A reescrita de textos é muito mais efetiva que as crianças adquirem desde muito cedo
quando o professor age, junto aos alunos, já permitem que elas realizem certas
ensinando-os a trabalhar sobre seus textos alterações no texto, demonstrando que
escritos. esses conhecimentos, mesmo ainda iniciais,
Para o texto estar adequado é necessário existem.
que esteja bem-escrito e não apenas correto. Quando o professor entende um texto
Critérios para definição de textos bem- como um momento do longo processo que
escritos são mais amplos, variam de acordo é a realização da escrita e que, ao escrever,
com épocas, gostos, padrões. Cada os sujeitos estão agindo, trabalhando com a
sociedade tem sua forma de olhar os textos, língua, as rasuras se tornam indícios de
de valorizar ou não determinados traços, reflexões realizadas acerca da língua e que
construções, determinado léxico etc. Esse ficaram marcadas no texto escrito.
fato acontece porque os gêneros de estilo Sendo assim, é preciso refletir sobre as
mais maleável abrem um espaço maior para rasuras, já que elas permitem que se saiba
o autor trabalhar com as palavras. um pouco daquilo que a criança conhece
Nos gêneros literários aquilo que se sobre a língua escrita, suas dúvidas e
entende por escrever bem está, muitas dificuldades na hora da produção de um
vezes, associada às noções de texto.
“criatividade” e “inventividade”. O que não As rasuras e alterações realizadas pela
quer dizer que gêneros de estilo mais criança revelam sua atividade reflexiva na
padronizado não permitam, de maneira produção da escrita. A criança se mostra
alguma, um trabalho de autor, a capaz de se debruçar sobre o próprio texto,
manifestação de um estilo individual. avaliando o que escreveu e realizando
Vale notar que a noção de escrever bem mudanças que considera necessárias.
varia também de acordo com a época em Essa capacidade é denominada como
que os textos são produzidos. reflexão epilinguística e se caracteriza por

42
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

focalizar os próprios recursos linguísticos, Revisar um texto inclui corrigir, mas há


suspendendo o tratamento do tema em duas diferenças:
questão. - Corrigir supõe compreender quais as
Essas atividades epilinguísticas podem razões de um “erro” – que é a melhor
acontecer de maneira “espontânea”, mas maneira de passar de uma etapa a outra do
também como operações conscientes, o que saber do aluno;
abre espaço para sua exploração na sala de - Revisar é ir além de corrigir, pois
aula, no ensino da escrita e da reescrita. possibilita significar também alterar o texto
Se, por um lado, é possível dizer que a em aspectos que não estão “errados”.
reescrita é pouco explorada como prática Reescrever é também tornar o texto mais
escolar, por outro, é possível afirmar que adequado a uma determinada finalidade, a
ela existe como prática social, não apenas um determinado tipo de leitor, a um
na escrita dos autores consagrados da determinado gênero.
literatura, mas também em práticas de
escrita do cotidiano. Produção de partes dos textos que não
Dessa maneira, o trabalho com a se conhece
linguagem ocorre em todas as situações do Essa atividade objetiva possibilitar ao
comportamento verbal, seja em situações aluno a aprendizagem específica de partes
de produção oral ou em situações de de um texto identificadas como dificuldade
produção escrita. O trabalho com a a ser superada.
linguagem estaria presente em todas as Ao longo do processo de aprendizagem
fases da escrita, seja quando o autor de um de conto de fadas, por exemplo, há a
texto começa a planejar o que vai escrever, possibilidade de exercer o foco no cenário,
seja quando começa a fazer anotações ou na complicação, ou na resolução, ou,
visando à produção de seu texto, quando ainda, na apresentação de personagens.
elabora um roteiro do texto. Essa atividade é compreendida em
Na produção escrita de crianças em fase apresentar ao aluno contos dos quais falte a
inicial de escolarização, os alunos em geral parte que se deseja tematizar e que precisará
deixam à vista marcas do processo de ser elaborada por ele, considerando-se as
elaboração do texto, que são as rasuras, os indicações oferecidas nas demais partes do
apagamentos, as inserções e etc. Textos texto.
desse tipo são, para o professor, um A diferença entre essa atividade e a
material bastante rico, que possibilitam ter anterior é que a parte excluída do texto não
a noção das dúvidas, das tentativas de é conhecida do aluno, que precisará realizar
acerto ou os acertos, dos conhecimentos e uma articulação entre aquilo que vai
os desconhecimentos dos aprendizes de escrever aos outros trechos do texto.
escrita. Consigna adequada é a de que sejam
Uma outra característica que essas consideradas as características do contexto
marcas ensinam ao professor é que se passa de produção e a proficiência dos estudantes
a querer compreender esses “erros” para grafar de próprio punho. Ademais, é
cometidos pelas crianças e se passa a não necessário ter o foco na necessidade de
mais condená-los e a corrigi-los sem articular a parte que será elaborada com os
procurar explicações para a sua ocorrência. aspectos apresentados no restante do texto.
A correção deixa de ser tida como um Os aspectos tematizados durante esse
ato mecânico, de simples substituição de tipo de atividade são os relativos às
uma maneira por outra, passando a ser vista características do gênero; os relativos à
como um momento de reflexão para o textualidade (coesão e coerência,
professor que, posteriormente, levará a fundamentalmente); os relativos ao registro
reflexão para a criança. linguístico a ser utilizado; a progressão
temática; os aspectos notacionais; os

43
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

procedimentos de planejamento, decisões sejam tomadas para garantir e


textualização e revisão (processual e final) orientar a textualização:
do texto. - O contexto de produção: em qual
gênero o aluno vai escrever? (conto de
Texto de autoria aventura, conto de assombração, crônica)
É uma atividade que visa possibilitar ao Com qual finalidade e onde o texto irá
aluno a produção de textos na qual se circular? (em um livreto para as famílias;
articulem produção temática e textual. em uma feira cultural por meio da leitura
Consigna adequada é a de que sejam dramática; no mural da escola). Ou seja, as
consideradas as características do contexto decisões do contexto de produção são
de produção e a proficiência dos estudantes definidoras tendo em mente o como irei
para grafar de próprio punho. escrever;
Os aspectos tematizados no decorrer - O conteúdo temático que será abordado
dessa atividade são relativos às (o que dependerá do gênero do texto que
características do gênero; relativos à será produzido);
textualidade (coesão e coerência, - A maneira que se abordará esse tema
fundamentalmente); relativos ao registro que também estará relacionada ao gênero –
linguístico a ser utilizado; progressão se com seriedade, ironia, leveza,
temática; aspectos notacionais; poeticidade, humor, literariedade,
procedimentos de planejamento, dramaticidade, suspense;
textualização e revisão (processual e final) - Qual será o estilo de narrador e a
do texto. perspectiva pela qual o tema será abordado,
A produção de texto em sala de aula no caso de ser um texto literário;
pode acontecer também por meio de - Quais fatos e acontecimentos
escritas de autoria. Diferente da reescrita, constituirão o texto, de que modo serão
onde a produção ocorre a partir de um texto articulados e ao redor de qual eixo serão
de apoio, cujo conteúdo já está dado, se organizados (de temporalidade, com ou
tratando da autoria, o aluno precisará sem definição do tempo -; de relevância -
produzir o conteúdo temático para depois por exemplo: em um relato pessoal,
organizá-lo num novo texto, realizando começar pelo fato mais importante
todas as operações discursivas. Em ocorrido);
atividades do tipo, o conteúdo pode ser - Qual será o registro linguístico que será
elaborado de duas maneiras: utilizado (literário, acadêmico,
- Por meio da criação (invenção), ao se legal/jurídico, jornalístico, pessoal,
tratar da produção de textos ficcionais da informal, mas não íntimo (diário da classe),
esfera literária (contos, fábulas, capítulos de pessoal e íntimo, informal com gírias e
romance, no- velas, entre outros); expressões próprias de determinada rede
- Por meio da pesquisa, ao se tratar de social, entre outros);
produzir textos das demais esferas: - Qual será o estilo desse texto (conto
jornalística, escolar, divulgação científica tradicional mais descritivo ou um conto de
etc. (notícias, reportagens, comentários artimanha mais direto com poucas
digitais, relatórios, artigos de opinião, descrições, por exemplo);
artigos expositivos, bilhetes, manuais,
receitas culinárias, cartas de leitor, verbetes Sem falar que, no decorrer do trabalho
enciclopédicos digitais, verbete de de textualização, as características que
curiosidade, entre outros). abarcam a manutenção da coerência e o
estabelecimento de coesão serão abordados,
Todos os aspectos presentes no ato de implicando na escolha de todos os
produzir deverão ser discutidos antes da mecanismos e recursos textuais adequados
produção de autoria de maneira que as para isso (articuladores textuais adequados

44
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

às relações que se desejar estabelecer entre Por autor, entende-se aquele responsável
os trechos do texto; tipo de pontuação; por uma ação; criação, invenção,
critérios de paragrafação, entre outros). descoberta, fundação, etc. Essa ação pode
Em se tratando de uma proposta para a ocorrer por condição natural, cada pessoa é
produção de autoria de textos literários, o autor e a autoria seria uma característica
pode-se organizar situações onde os alunos da condição humana.
elaborem o conteúdo temático de maneira Autoria é uma construção histórica.
coletiva – a partir da medição do professor Autor é aquele que publicou obras
e contribuição de todos – para que a impressas; escritor, aquele que escreveu um
textualização ocorra no coletivo e em texto que permanece manuscrito e sem
grupos e duplas, tanto para produzir um circulação.
conto completo, quanto somente uma parte Hoje, a função do autor é uma
de um texto. classificativa que permite identificar uma
Considerando esse último caso, o texto é autoria, que seriam características e padrões
apresentado ao estudante de forma parcial, textuais de certos escritos que podem ser
mantendo uma parte desconhecida (que agrupadas distintamente em relação a
pode ser uma parte medial ou final, por outros.
exemplo, ou mesmo o início). Entretanto, a O nome do autor não é o processo de
parte desconhecida precisa dar a individualização de uma pessoa, mas sim o
possibilidade de trabalhar características processo de atribuição de singularidade a
relativas às necessidades de aprendizagem uma obra. É uma construção não de uma
da classe, o que garantirá a manutenção dos identidade civil, mas social e cultural que
temas tratados na parte conhecida, como o não deixa de ter implicações jurídicas e
mesmo tipo de narrador, a resolução de um pode ser exercida de modo não uniforme
problema proposto, entre outros aspectos, a nas diferentes esferas da atividade humana.
depender do conteúdo temático e do gênero. Autoria é desenvolver o processo de
Assim, aquilo que é planejado é tanto o construção da singularidade de um
conteúdo temático da parte a ser produzida texto/textos.
(que deve ser coerente com o do texto da
41
parte conhecida), quanto o texto em si, que No âmbito pedagógico, é importante
também precisa manter coerência e coesão levar em conta que as condições de
com o trecho anterior (e/ou posterior) ao produção de texto podem variar de forma
que será produzido. expressiva na sociedade.
A produção de autoria com pesquisa do Por isso é preciso orientar os alunos de
conteúdo deve envolver a pesquisa de modo cuidadoso quanto aos aspectos
conteúdo temático como: artigo de opinião, distintos que devem ser levados em conta
artigo expositivo, relatório, notícia, na escrita de um bilhete ou de uma fábula;
reportagem, verbetes, comentário no relato de uma brincadeira ou na contação
opinativo, entre outros. de uma história, para citar apenas alguns
Essa pesquisa pode ser realizada a partir exemplos.
da leitura de diversos textos (organizados Um trabalho realizado seguindo esta
em distintos gêneros que tratem do tema), a perspectiva pode contribuir para a formação
partir da observação de filmes, de produtores de texto proficientes e
documentários, a partir de depoimento de capazes de atuar com eficácia nos mais
um entrevistado etc. diversos espaços sociais.
42
O importante é haver um registro do É preciso considerar, na escrita como
estudo realizado, favorecendo a utilização trabalho, o aluno como agente do processo
no momento de produção. e sujeito do discurso. Não se trata de

41 42
https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/condicoes-de- ROCHA, G.; VAL, M. da G. C. (org). Reflexões sobre práticas escolares
producao-do-texto de produção de texto - o sujeito autor. Coleção Linguagem e Educação-

45
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

concebê-lo somente como aquele que (B) a natureza material e discursiva dos
entrega um texto para ser corrigido, a textos não interfere nos processos de ensino
cumprir simplesmente uma tarefa escolar, e e aprendizagem inicial da oralidade, da
sim como um produtor de texto, um sujeito leitura e da escrita.
que tem um projeto de dizer a interlocutores (C) as situações de ensino baseadas na
específicos. leitura em voz alta são desaconselhadas
O aluno espera do professor cero para o desenvolvimento da consciência
retorno, não um retorno qualquer, mas algo fonológica das crianças.
capaz de permitir uma dialogia, (D) a interação em atividades de leitura
entendendo-a como um momento de e reconto oral oferece às crianças
produção de sentido. Na avaliação, devem oportunidades para se apropriarem das
estar presentes elementos concretos e não formas de expressão próprias dos textos
apenas impressões subjetivas. escritos.

Questões Gabarito

01. (Prefeitura de Balneário 01.C - 02.D


Camboriú - Professor de Língua
Portuguesa - FEPESE/2021) Sobre
tipologias textuais, assinale a alternativa Prática de análise linguística:
correta. características dos textos e gêneros,
(A) Os gêneros textuais são formas de coesão, coerência, segmentação, aspectos
semânticos e lexicais, aspectos gráficos,
comunicação a serviço das tipologias variação linguística, morfologia, sintaxe,
textuais. fonologia, ortografia.
(B) As tipologias textuais podem ser
classificadas em primárias e secundárias.
(C) As tipologias textuais são Caro(a) candidato(a), os assuntos deste
ferramentas essenciais a serviço dos tópico possuem relação com os conteúdos
gêneros textuais. abordados na apostila de Língua
(D) O site, o blog, o chat, o e-mail são Portuguesa - Conhecimentos Básicos. São
exemplos de tipologias textuais recentes assuntos que se complementam, por isso o
advindas da presença marcante de um novo estudo em conjunto pode ser uma boa ideia
suporte tecnológico na comunicação: a para potencializar sua aprendizagem.
Internet.
(E) Para a produção de um tipo textual, 43
o autor deve valer-se sempre do nível de Foi a partir dos anos 1970 que as
linguagem cuidada, ou seja, culta. expressões descrição linguística e análise
linguística passaram a ter destaque nos
02. (Prefeitura de Ananindeua - estudos linguísticos no Brasil. Esses
Professor de Educação Infantil - estudos indicaram que o ensino da dita
CETAP) Em relação à leitura pelo gramática tradicional, entendendo, nesse
professor e ao reconto pelas crianças de caso, como objetos de ensino nomenclatura
histórias infantis na pré-escola, pode-se e classificação gramatical, não é suficiente
afirmar que: para a aprendizagem de Língua Portuguesa.
(A) as crianças pré-escolares que A análise linguística passa a ser uma
assistem a atos de leitura de contos não são proposta teórico-metodológica ligada a
capazes de reproduzi-los ou recontá-los. outro objeto de ensino: o texto. Por meio do
texto, a análise linguística passa a

CEALE. São Paulo: Autêntica Editora, 2007. content/uploads/2019/11/od-cc-lingua-portuguesa2.pdf


43
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-

46
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

configurar uma nova proposta significativo da língua em diferentes


metodológica para reflexão e decorrente situações de uso, ou seja, em práticas de
aprendizagem da língua. leitura ou de produção textual.
O texto passa a ser o objeto de ensino em Portanto, a análise linguística não
Língua Portuguesa. O que quer dizer que acontece apenas vinculada à produção
adentrou a sala de aula a necessidade de escrita, mas se torna uma prática essencial
realizar uma reflexão sobre o processo de à aprendizagem de leitura e produção de
elaboração de qualquer texto (oral, escrito textos orais, escritos e/ ou multissemiótcos,
ou multimodal). articulando também a construção do saber
Deixando de ter como norteadoras a metalinguístico por meio da sistematização
classificação e a ideia de correção de determinados recursos linguísticos
linguística, as práticas de análise linguística necessários para o aprimoramento do
objetivam fazer o estudante a refletir a conhecimento linguístico dos estudantes.
respeito dos diferentes recursos É primordial levar em conta as múltiplas
linguísticos, estilísticos, discursivos que semioses que materializam diferentes
poderão ser tomados por ele como textos. O conceito de análise linguística se
estratégias para ler e compreender textos, amplia e passa a englobar diversas
assim como produzi-los. linguagens, que fazem uso de diferentes
A preparação de aulas na perspectiva da mídias e circulam nas mais diversas
prática de análise linguística é a própria culturas.
leitura dos textos produzidos pelos alunos Surgiram, a partir da década de 1980,
nas aulas de produção de texto. Trata-se de várias propostas para o ensino de Língua
uma prática baseada no princípio de “partir Portuguesa, deixando de lado a
do erro para a autocorreção”. mecanicidade, os procedimentos
A análise linguística abarca tanto o esquematizantes, muito comuns na
trabalho sobre questões tradicionais da abordagem tradicional.
gramática quanto questões amplas a O prescritivismo gramatical ainda é
propósito do texto, entre as quais vale a comummente a metodologia utilizada para
pena citar: coesão e coerência internas ao ensinar Língua Portuguesa, desarticulando-
texto; adequação do texto aos objetivos se das práticas de leitura/ escuta e de
pretendidos; análise dos recursos produção de textos (orais, escritos,
expressivos utilizados (metáforas, multimodais).
metonímias, paráfrases, citações, discursos Trata-se de uma dissociação, em
direto e indireto, etc.); organização e distintos cursos de formação docente, dos
inclusão de informações; etc. estudos gramaticais considerados
Essa prática não pode estar limitada à tradicionais, das diversas proposições
higienização do texto do estudante em seus teórico-metodológicas originadas de
aspectos gramaticais e ortográficos, distintas teorias linguísticas e dos fatos da
limitando-se a “correções”. Este é, na língua em uso.
verdade, um trabalho com o estudante o seu Existe uma lacuna na formação docente
texto para que ele alcance seus objetivos no que se diz respeito à sua compreensão
junto aos leitores a que se destina. sobre prescrição e descrição gramatical e de
A denominação “práticas” se deve à como cada proposição organiza de modo
ideia de que “somente se aprende a língua diferente as práticas de análise linguística.
praticando-a. As práticas de linguagem
estão relacionadas ao convívio reflexivo Textos e gêneros
com os recursos linguísticos mobilizados na O ensino de português precisa enfocar a
produção ou na leitura do texto, o que leitura e produção de textos dos mais
demonstra a importância de fazer com que diversos gêneros discursivos/gêneros
o aluno compreenda o potencial textuais a partir dos quais a língua em uso

47
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

deve ser ensinada. Essa perspectiva finalidades, sem falar que o contexto de
originou a produção de inúmeros produção deve ser considerado.
documentos oficiais posteriores, incluindo O gênero é um instrumento capaz de
a Base Nacional Comum Curricular mobilizar esquemas de uso e surge como
(BNCC). material ou simbólico, onde sujeito e
Essa perspectiva criou uma situação estão envolvidos. É uma relação na
disseminação dos conceitos de texto e qual a finalidade social do gênero, e seu
gênero, diversas vezes, desarticulados dos processo de aprendizagem, estão
princípios teóricos que os fundamentam na implicados. Os gêneros podem ser
perspectiva dialógica. Por exemplo, vários classificados como primários e secundários.
materiais didáticos apresentam as questões Os primários são situações de produção
de gramática e estilo desconectadas das mais espontâneas, e os secundários, mas
práticas de leitura e produção textual, rebuscadas, com maior grau de
tornando fragmentado o conceito de gênero formalidade. Os textos podem ser
discursivo/gênero textual e fazendo com organizados pela ordem do narrar, do
que o texto seja somente pretexto para relatar, do expor, do descrever ações e do
ensinar um tópico gramatical. argumentar. Todas essas ordens devem ser
Um trabalho inovador e concreto com a consideradas desde os anos iniciais.
língua no que diz respeito às práticas de
análise linguística possibilita a criação de Coesão
propostas que promovam reflexões sobre A coesão diz respeito ao princípio
movimentos de réplica e compreensão coesivo em que um termo se refere a outro
ativa, articuladas às questões linguístico- estabelecendo uma relação textual.
discursivas que revelam marcas Na reiteração, há palavras que
ideológicas, valores, posições. retomam/reiteram termos por repetição, por
Não se trata de uma proposta de língua sinônimo ou palavra de sentido equivalente,
em processos de modelização, focada em por hiperônimos.
regularidades linguísticas genéricas (no Na elaboração do texto, algumas
sentido de regularidades de um gênero palavras que assumem uma relação coesiva
discursivo), mas é importante construir fazendo referência a um mesmo objeto ou
práticas em que o processo de compreensão tema sem necessariamente serem
ativa seja mobilizado, pondo em diálogo sinônimas, o que se configura como
elementos linguísticos, expressivos, colocação.
discursivos da língua em uso a partir de Em casos do tipo, diferentes termos e
distintas situações de interação. expressões utilizados em um texto
A análise linguística precisa contribuir estabelecem um elo semântico,
para formar sujeitos fundamentalmente participando da construção temática e, por
responsivos e responsáveis pelo seu agir, consequência, da coerência semântica.
capazes de fazer uso da língua nas mais Para realizar atividades com foco nos
diversificadas atividades humanas. Não a princípios coesivos, é essencial realizar a a
língua como sinônimo de nomenclatura e sistematização de sinonímia e hiperonímia,
definições sem articulação com a vida, mas fazendo com que os alunos descrevam as
a língua em uso que constitui os sujeitos em funções textuais de tais recursos.
suas práticas sociais. A análise de campos semânticos é capaz
44
O texto deve ser trabalhado em sala de de contribuir para a compreensão dos
aula como meio de interação social e objeto princípios da colocação. Ademais, o
de reflexão. O texto deve ser compreendido trabalho com campos semânticos pode
por meio de seu funcionamento e participar de estratégias de planejamento

44
DOLZ, J; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.

48
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

textual, o que permite que o aluno crie desinencial e também o uso de vírgula para
mapas lexicais de termos/conceitos/ideias marcar elipse verbal.
do que pretende inserir em seu texto,
estabelecendo, inclusive relações Coerência
hierárquicas (hiperonímia, hiponímia) e de A coerência estilística estabelece a
sentido (sinonímia, antonímia). adequação dos usos da linguagem (escolhas
lexicais e sintáticas) adequados à situação
A coesão verbal e a coesão nominal são de interação, ou ainda, a seleção da
mecanismos de textualização, que, além de variedade linguística apropriada ao
organizar o texto num todo coerente, contexto.
também realizam funções sintáticas, A coerência semântica diz respeito ao
focando a manutenção da progressão princípio da não-contradição, isto é, não
temática do conteúdo referencial do texto. dever haver contradições entre as partes do
A coesão verbal acontece por meio da texto, seus conteúdos postos ou
correlação entre tempos e modos verbais, pressupostos.
seja pela relação lógico-semântica O trabalho com esses aspectos necessita
estabelecida entre as unidades verbais, seja acompanhar gradativamente os processos
pela adequação ao contexto e ao estilo do de construção textual. No caso das
gênero. sequências didáticas com foco em um
Garante a organização temporal e gênero específico, os aspectos estilísticos
hierárquica dos processos indicados pelo dos textos analisados podem ser retomados
verbo em um texto. A coesão nominal está como estratégia de revisão do textual,
relacionada ao encadeamento de nomes e articulando-se ao desenvolvimento da
pronomes, o que se articula à construção de coerência estilística.
sintagmas nominais e à seleção lexical. É Em relação à coerência semântica, é
responsável por reações de sentido que são possível propor a reflexão a respeito de
estabelecidas entre os sintagmas nominais e textos com trechos incoerentes para que o
também pelos procedimentos de retomada e aluno compreenda o que é contradição.
inserção de novas informações a partir das Posteriormente, ele pode analisar possíveis
expressões nominais. contradições em seus próprios textos como
Para realizar atividades com foco nesses estratégias de revisão textual encaminhada
princípios coesivos, existe a articulação de em uma aula com essa finalidade.
diversos conceitos. O trabalho com a
coesão nominal e a coesão verbal articula Segmentação
princípios sintáticos, semânticos e A segmentação está relacionada a
estilísticos, portanto, é viabilizada por meio diferentes níveis de análise linguística:
de um conjunto de atividades que explorem fonológico (fonema, sílaba), morfológico
esses aspectos progressivamente. (morfema, palavra, lexema), sintático
A elipse é um mecanismo coesivo no (sintagma, sentença simples, sentença
qual um termo ou expressão facilmente complexa), textual (paragrafação, citação,
recuperável no texto é omitido, sem ordenação e articulação textual).
comprometer o sentido. É possível ocorrer Ao longo do processo de aprendizagem
elipse nominal, verbal e frasal. da linguagem escrita, o aluno precisa
É possível trabalhar a elipse através de entender diferentes elementos de
atividades de sistematização do conceito de segmentação, adquirindo consciência
elipse com foco em estratégias de silábica, para segmentar palavras; a
construção textual para evitar repetições compreensão da estrutura da palavra e a
excessivas. O professor pode também separação entre elas em uma frase; a noção
relacionar conceitos como o de sujeito de sentença, parágrafo e o decorrente uso da
pontuação etc.

49
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Os elementos de segmentação são O campo semântico diz respeito a


trabalhados seguindo os níveis de análise palavras que apresentam significação
linguística tomados como foco de reflexão próxima e pertencem a determinado
ou sistematização: aspectos morfológicos domínio conceitual, isto é, a uma área do
ou sintáticos, questões de paragrafação ou conhecimento mais ampla. Palavras que
inserção de citação direta ou indireta etc. remetam à esfera literária, por exemplo:
Quando os alunos iniciam a escrita poeta, poema, romancista, romance,
alfabeticamente, as questões da escritor, drama, dramaturgo, estilo,
segmentação do texto em palavras, da estilística, prosa, verso etc.
separação entre as palavras do texto, se Nesse exemplo, não ocorre uma
colocam como um objeto de reflexão. associação de palavras, mas todas elas
Logo os alunos percebem que não remetem a um mesmo campo de atividade
podem mais escrever “tudo colado”. Mas a humana.
pergunta é: onde devem separar? Qual o Existem também os campos léxico-
critério para separar? É normal que no semânticos, relacionados ao agrupamento
esforço para decidir onde separar os alunos de palavras que, associadas, se vinculam a
cometam dois tipos de erros: a um modo de experiência ou atividade
hiposegmentação (erumaveis, derepente, específica. Os termos barco, peixe, maré,
porisso) e a hipersegmentação (de vagar, praia, anzol, isca, por exemplo, remetem à
com tente, pire ques). atividade da pesca.
O critério para separar as palavras em Os campos léxico-semânticos também
um texto é gramatical e morfológico. Isso são capazes de remeter a famílias de
não quer dizer que antes de aprender a palavras, formadas a partir do mesmo
separar as palavras seja necessário ensinar radical, como acontece na associação: mar,
as crianças a classificá-las. É preciso uma maré, marinha, marinheiro, mareado,
aprendizagem de natureza epilinguística. marinado, marisco.
Elas se aproximam deste conhecimento O professor não deve realizar uma
mais rápido se o professor constituir boas definição rígida para esse conceito, mas sim
situações de aprendizagem que garantam criar atividades nas quis os alunos
bons espaços de reflexão. consigam compreender as redes
associativas elaboradas em certos textos,
Aspectos semânticos e lexicais assim como ampliar o vocabulário criando
Para o filósofo frege, os problemas outras associações lexicais.
filosóficos deveriam ser tratados como A semântica está relacionada ao estudo
problemas de linguagem. Por isso elaborou da significação e da interpretação do
uma lógica matemática para analisar as sentido de palavras, sentenças e
expressões linguísticas (analisar as enunciados.
expressões linguísticas a partir de uma Ao ler ou produzir textos, precisamos
linguagem exata, livre de ambiguidades, das nossas capacidades semânticas, visto
vagueza e indeterminações). que a construção de sentido leva em conta a
Para esse autor, a semântica é o estudo seleção de palavras, a ordem que
sincrônico ou diacrônico da significação conferimos a elas em uma sentença, a
como parte dos sistemas das línguas articulação entre sentenças, parágrafos,
naturais. tópicos discursivos, demarcando coesão e
Ele dizia que o valor de verdade de uma coerência ao que pretendemos expressar,
sentença é reconhecido como sendo sua entre outros aspectos textuais e discursivos
referência. O valor de verdade de uma decorrentes disso.
sentença é a circunstância de ela ser O trabalho com a semântica possibilita
verdadeira ou falsa. considerar diferentes aspectos léxico-
semânticos, como a identificação e a

50
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

compreensão de distintos efeitos de sentido Os critérios também podem ser


decorrentes dos usos de aumentativo / combinados entre gênero, profissão, região,
diminutivo; sinonímia / antonímia; grau de escolaridade, faixa etária etc.
polissemia ou homonímia; figuras de Importante dizer que a variedade urbana
linguagem; modalizações epistêmicas, de prestígio é aquela comumente
deônticas, apreciativas; modos e aspectos relacionada aos usuários mais escolarizados
verbais. da língua, que, em nosso país, se encontram
A hiperonímia é a relação de sentido com maior frequência nos centros urbanos.
entre um termo mais genérico e um mais Variação é característica inerente às
específico, sendo um importante recurso línguas, dado que não são homogêneas. O
coesivo. que quer dizer que o sistema linguístico
A análise de hiperônimos possibilita a varia, há variação em diferentes níveis:
participação de atividades focadas tanto em lexical, fonológico, morfológico, sintático e
leitura como em produção textual. discursivo.
No trabalho com o gênero verbete, por As variantes são as formas linguísticas
exemplo, como estratégia de compreensão capazes de ser empregadas em situações de
textual, é possível refletir a respeito das uso que requerem o mesmo valor
relações semânticas estabelecidas entre os referencial/representacional, ou seja, o
termos. mesmo significado, sendo intercambiáveis
no mesmo contexto.
Aspectos gráficos A variação é a manifestação concreta das
Nas práticas de leitura, os estudantes variantes. Por causa da existência de formas
podem se apoiar em alguns índices distintas para dizer a mesma coisa, é
linguísticos e contextuais (saliências possível compreender a variação em
textuais, recursos gráficos, imagens, dados diferentes níveis da língua.
da obra e do autor, gênero, suporte etc.) O professor pode dar foco a
para estabelecer expectativas, antecipações, sistematização do conceito de variação
hipóteses de leitura. linguística, discutindo tal fenômeno, com
Nas atividades de leitura, é essencial foco na reflexão sobre variedades
realizar uma exploração de títulos, prestigiadas e estigmatizadas, questionando
subtítulos, destaques gráficos, espaços o preconceito linguístico de maneira crítica.
entre as palavras, cores, tipos de letras, bem Sem falar que, a cada texto analisado, o
como apresentar gênero, autor, capa, professor pode destacar variantes em
portador e outros elementos contextuais que diferentes níveis de análise, fazendo com
permitam ao estudante construir hipóteses que o aluno reflita a respeito das diferenças
de leitura. fonológicas, prosódicas, lexicais, sintáticas,
buscando a compreensão dos efeitos
Variação linguística semânticos.
Variedade diz respeito aos usos
linguísticos característicos de um grupo Morfologia
45
específico. Pode-se notar a variedade A morfologia da Língua Portuguesa é
gaúcha ou a paulista, se o critério ensinada em todos os anos do ensino
sociolinguístico de análise for básico, objetivando levar em conta, de
essencialmente geográfico. Todavia, outros maneira generalizante, as diferenças e
critérios podem ser estabelecidos para notar peculiaridades dos níveis de aprendizagem
outras variedades, como, por exemplo, a no decorrer desse processo.
ocupação/profissão. Os conteúdos de morfologia dos
currículos de ensino coincidem com os

45
https://periodicos.ufrn.br/gelne/article/view/20850/13822

51
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

conteúdos da chamada gramática Ensinar morfologia é ensinar gramática,


normativa, ou gramática tradicional: classes e para ensinar gramática é preciso um
de palavras (substantivo, artigo, adjetivo, conhecimento de mundo e interdisciplinar,
numeral, pronome, verbo, advérbio, bem como possuir acesso a teorias e
preposição, conjunção e interjeição), documentos que orientam ou regulam o
estrutura e formação de palavras. Todavia, ensino de língua.
para ensinar gramática, não basta saber a Sem dizer que é necessário obter acesso
gramática normativa. a conhecimentos específicos: a gramática
No começo do século XX, uma nova normativa; teorias linguísticas que
ciência surgiu, que foi a Linguística. A obra descrevem a língua e o seu uso, e que
de Ferdinand de Saussure foi o marco dessa normalmente contribuem para aprimorar o
nova área, com o Curso de linguística geral, conteúdo da gramática normativa; teorias
publicada pela primeira vez em 1916. linguísticas sobre a construção do sentido
Paralelamente à vertente europeia do etc.
Estruturalismo, aparece uma outra, Esses conhecimentos precisam ser
chamada de Estruturalismo norte- utilizados para orientar o aluno no uso da
americano, e principais autores foram língua oral ou escrita, em suas práticas de
Edward Sapir e Leonard Bloomfield. Se a escuta, leitura e produção, assim como de
palavra permanece no centro da proposta reflexão gramatical propriamente dita.
saussuriana (o signo é a palavra), para a A tradicional de ensino de gramática
vertente americana do Estruturalismo o apenas se utilizado conhecimento em
morfema é o elemento central. gramática normativa e ainda é muito
Nessa visão, a morfologia praticada em praticada atualmente. Nela, o professor de
grande parte do século XX é uma busca compreender o conteúdo gramatical e
morfologia baseada no morfema, na análise transmiti-lo aos alunos. Se tratando do
sintagmática da palavra. Porém, surgiu o conteúdo formação de palavras, por
Gerativismo, apresentando uma nova exemplo, é comum analisar linearmente a
concepção nos estudos da linguagem. formação de vocábulos, como é feito na
O Gerativismo não segue o mero gramática normativa.
descritivismo dessa teoria da língua É uma perspectiva de ensino
(segmentação, comparação e classificação problemática. Apenas se debruça sobre a
dos enunciados de uma língua); ele visa a forma da língua, em uma perspectiva
construção de uma teoria linguística de prescritiva. Mas a gramática precisa estar a
natureza explicativa, explorando o que é o serviço do sentido, da construção do
conhecimento linguístico e como esse sentido, da interpretação e da produção de
conhecimento é desenvolvido nos textos.
indivíduos. A Linguística Textual baseada no socio-
O Gerativismo inova os estudos interacionismo teve influência na mudança
linguísticos e morfológicos ao propor que a de paradigma de ensino da Língua
competência de um falante em relação ao Portuguesa, a partir da década de 1980. Ver
léxico de sua língua permite que o sujeito o texto como unidade fundamental de
falante reconheça as palavras de sua língua, análise, é se interessar pela linguagem em
rejeite outras, saiba relacionar itens lexicais uso, socializando um conhecimento que
ou perceber a estrutura de um vocábulo. perpassa os limites da gramática normativa
O bom ensino da morfologia requer e das teorias ao redor da forma da língua. O
muitos fatores, e um deles fala a respeito da texto, nessa visão, é tido como unidade
formação do professor e ao seu letramento semântica, e os elementos da língua atuam
profissional, isto é, as práticas de leitura e na construção dessa unidade.
escrita que o auxiliam no trabalho A Análise do Discurso também para a
profissional. mudança no paradigma de ensino de Língua

52
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Portuguesa a partir da década de 1980, do texto. E a gramática do/no texto acaba


mesmo que tenha sido com menos ênfase. por ser compreendida como reflexão
Para essa teoria, não importa a simples metalinguística no texto, e não em orações
transmissão de informação, e sim a produzidas para tal.
linguagem em funcionamento, que constitui A Base Nacional Comum Curricular
sujeitos e sentidos afetados pela língua e dialoga com documentos e orientações
pela história. curriculares produzidos nas últimas
O trabalho com o sentido do/no texto, décadas buscando atualizá-las em relação
fazendo uso sobretudo da Linguística às pesquisas recentes da área e às
Textual ou na Análise do Discurso, em suas transformações das práticas de linguagem
mais diversas vertentes, aparecem novas ocorridas neste século.
ideias a respeito do ensino de língua, Sobre o ensino de análise linguística na
principalmente na área da Linguística escola, esse documento diz que: Se uma
Aplicada, indo de encontro a um ensino face do aprendizado da Língua Portuguesa
considerado tradicional. decorre da efetiva atuação do estudante em
Essas propostas tiveram influência sobre práticas de linguagem que envolvem a
a produção de documentos que orientam o leitura/escuta e a produção de textos orais,
ensino de Língua Portuguesa. Há um escritos e multissemióticos, situadas em
consenso nesse novo olhar: o trabalho com campos de atuação específicos, a outra face
a língua em uso, por meio de textos provém da reflexão/análise sobre/da
variados orais e escritos. É nesse contexto própria experiência de realização dessas
que aparecem propostas específicas para o práticas. Temos aí, portanto, o eixo da
ensino de gramática. Uma delas sendo a da análise linguística/semiótica, que envolve o
Análise Linguística. conhecimento sobre a língua, sobre a
As atividades metalinguísticas já eram norma-padrão e sobre as outras semioses,
realizadas antes; a novidade na Análise que se desenvolve transversalmente aos
Linguística é a ênfase ao uso da língua, dois eixos –leitura/escuta e produção oral,
incorporando, para tal, a reflexão escrita e multissemiótica –e que envolve
epilinguística e levando em conta a reflexão análise textual, gramatical, lexical,
metalinguística. fonológica e das materialidades das outras
Só que, contemporaneamente, ainda semioses.
existem inúmeros problemas relacionados à BNCC apresenta uma inovação ao
atuação de professores no ensino de incorporar, no ensino de língua portuguesa,
gramática, sobretudo porque seguem reflexões e práticas relacionadas às
ensinando gramática levando em multissemioses e as tecnologias digitais e
consideração predominantemente a mantem a perspectiva da análise linguística
reflexão metalinguística. Assim, a análise apresentada por teorias e outros
linguística acaba sendo sinônimo de documentos que lhe antecedem.
reflexão metalinguística
Também nessa perspectiva de ensino de Sintaxe
gramática, é ideia se inicia no uso O sintagma nominal é a expressão que
linguagem, isto é, da prática de produzir ou apresenta como núcleo um nome
interpretar textos, levando em conta o (substantivo ou pronome). Esse núcleo
conhecimento empírico do aluno e, com deve vir acompanhado à esquerda de
isso, realizando o trabalho de reflexão determinantes (artigo, numeral ou pronome
gramatical de maneira planejada. adjetivo) e à direita de modificadores
Ainda assim, os professores (adjetivos, locuções adjetivas, orações
predominantemente seguem a ensinar adjetivas).
gramática dando prioridade a reflexão É essencial proceder com algumas
metalinguística, porém fazendo isso a partir atividades de descrição linguística, nas

53
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

quais os alunos consigam realizar a A topologia pronominal é a colocação


observação das posições do sintagma pronominal de pronomes oblíquos átonos
nominal e suas funcionalidades (sujeito, em relação ao verbo.
complemento, adjunto), refletindo sobre a Existem três possibilidades de
estruturação básica dos períodos, colocação: antes do verbo (próclise), depois
articulando-se aos princípios da do verbo (ênclise) e no meio do verbo
concordância e da coesão referencial. (mesóclise).
As gramáticas prescritivas mostram
O sintagma verbal apresenta no núcleo regras específicas de colocação que,
um verbo ou locução verbal. A gramática diversas vezes, não correspondem a usos
tradicional o determina de predicado formais já previstos na Gramática do
verbal, diferenciando-o do predicado Português Brasileiro.
nominal, que apresenta como núcleo o O professor pode apresentar atividades
predicativo do sujeito. que reflitam diferentes usos da língua no
Nas gramáticas descritivas, o verbo é o que diz respeito à colocação pronominal,
núcleo das sentenças, de acordo com o partindo da descrição linguística, isto é,
princípio de recorrência na língua. Não é mostrar situações reflexivas nas quais o
preciso abrir mão da nomenclatura aluno seja capaz de compreender tanto as
tradicional, visto que é essa que, em geral, possibilidades de realização do sistema
o não especialista tem acesso. linguístico no que se refere à colocação de
Entretanto, é importante proporcionar pronomes, como também compreender as
práticas em que o aluno consiga prescrições que ainda se apresentam em
compreender, pela descrição linguística, a determinados manuais referência.
construção da ordem direta e indireta e a
estruturação básica das sentenças. Nesse sentido, é possível trabalhar a
duplicidade de sentido.
Os tempos verbais podem contribuir Uma outra opção é o trabalho do verbo
para a construção coesiva do texto, ao como organizador da sentença.
estabelecer relações de continuidade, Também é possível trabalhar com o
descontinuidade ou oposição entre os princípio da recorrência. Esse princípio diz
sintagmas verbais. respeito à mesma regra de estruturação
Sem falar que a escolha de tempos linguística que se repete em diferentes
verbais adequados às diferentes situações instâncias da língua. O sintagma nominal é
de interação é importante estratégia formado por um núcleo ao qual se
coesiva. É possível compreender três acrescentam elementos à esquerda e/ou à
relações temporais: tempo simultâneo ao direita. O mesmo princípio estruturante
presente (ao momento da enunciação), acontece na formação de palavras, quando
tempo anterior ao presente, tempo posterior são acrescentados prefixos ou sufixos a um
ao presente. Todavia cada tempo verbal radical.
poderá assumir outros valores a depender Se tratando da sintaxe, a recorrência
do contexto. também pode ser notada. O ser humano
Nas práticas didáticas, é essencial aprende a falar quando identifica e
analisar com os alunos os tempos do compreende esse mecanismo. Desse modo,
pretérito e como ocorre tais usos em em sala de aula, a lógica estruturante da
diferentes gêneros narrativos, por exemplo, língua pode sempre ser retomada.
realizando a descrição de sua Em tais reflexões, espera-se notar a
funcionalidade na própria continuidade primeira seleção que o verbo determina: o
narrativa. sujeito. O professor pode realizar
conclusões reflexivas por meio da análise,
iniciando a sistematização do conceito de

54
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

sujeito: essa palavra é um pronome pessoal explorar a importância da ordem direta e da


que estabelece concordância com o verbo; seleção da ordem sintática dos termos da
ele pode ser omitido na oração, pois é sentença na construção de sentidos.
identificado pelo verbo. Para isso, pode-se relacionar esses
Na sistematização, pode-se encaminhar conhecimentos com os recursos de
certas conclusões: existem verbos com concordância verbal e pontuação. Isso
significação completa, que podem vir ou também implica o sentido e a importância
não acompanhados de expressões que aos conhecimentos desenvolvidos ao longo
indicam circunstâncias; outros verbos não da análise e reflexão gramatical no contexto
apresentam significação completa e da leitura e da produção escrita.
determinam a inserção de complementos, Outro trabalho fundamental é com a
que podem ser introduzidos por preposição variação linguística, princípio constitutivo
ou não. de todas as línguas. Em diferentes
A seguir, pode-se introduzir certos momentos de descrição linguística, tal
anúncios institucionais. É interessante conceito pode e deve ser refletido.
explorar os interlocutores, contexto e Essa sistematização pode acontecer ao
finalidade discursiva antes de iniciar a longo de todo o ano, em atividades
análise das orações. linguísticas e epilinguísticas, de acordo
O professor pode explorar a elipse do com os textos que possuam diferentes
sujeito, no uso de verbos no imperativo, e variedades, usos diversos das linguagens,
também o uso de um complemento verbal vão sendo apresentados aos estudantes, ou
subentendido. seja, nas próprias práticas de leitura/escuta
É possível realizar uma comparação e produção textual.
entre a ordem direta com a construção de
um período a outras possibilidades Paralelismo sintático e semântico é uma
organizativas da estrutura da sentença. estratégia de sequenciação textual com
É importante que o aluno consiga objetivo de realizar a progressão textual.
compreender que: É o processo de sequenciação
- O sujeito é o termo da sentença que parafrástica, isto é, por recorrência, no qual
concorda com o verbo; na ordem direta, o o paralelismo sintático remete à utilização
sujeito antecede o verbo; verbo e/ou o da mesma estrutura sintática “preenchida”
complemento estabelecem uma relação com itens lexicais distintos.
semântica com o sujeito, já que predicam o O paralelismo semântico diz sobre a
sujeito atribuindo-lhe propriedades ou recorrência do mesmo conteúdo temático,
relações; com estruturas sintáticas diferentes. É
- O verbo pode selecionar duas comum, em certos manuais didáticos ou
expressões nominais: o sujeito e o sites na internet, o conceito de paralelismo
complemento verbal; o verbo pode ter estar ligado aos princípios da sequenciação
significação completa ou não; o verbo pode frástica, ou seja, da correlação de frases por
indicar estado; o verbo pode determinar um meio de conectores textuais (se... então;
complemento com ou sem preposição. tanto... como, por um lado... por outro...,
- O complemento verbal é exigido pelo entre outros).
verbo para completar sua significação; o O paralelismo sintático é um importante
complemento verbal pode ser introduzido recurso estilístico utilizado em textos das
com ou sem preposição de acordo com o esfera artístico-literária e publicitária.
verbo. Desse modo, o professor é capaz de
apresentar atividades que busquem
É possível promover uma reflexão a compreender sua funcionalidade no
respeito da construção de sentenças simples estabelecimento de diferentes efeitos de
em notícias e outros textos jornalísticos, ao sentido.

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Já o paralelismo semântico é essencial O resto são possibilidades. Por isso –


para a construção de paráfrases, em citações diferente da ortografia – na pontuação, a
de outros, tomadas de notas, explicações fronteira entre o certo e o errado nem
etc. Isso quer dizer que esse aspecto pode sempre está bem definida.
ser abordado em diferentes situações de Aprender a pontuar vai muito além de
escrita. aprender um conjunto de regras a serem
A questão da pontuação faz parte da seguidas, mas sim aprender um
atividade de textualizar e o seu ensino faz procedimento que incide sobre a
parte da atividade de produção de texto. textualidade, o qual só é possível aprender
A história da pontuação possui relação sob tutoria, fazendo com apoio de quem
direta com a história das práticas sociais de sabe:
leitura. O costume de ler somente com os - Ao conversar a respeito das decisões
olhos – a forma moderna de ler – que cada um tomou ao pontuar e o motivo;
incorporou ao texto um aparato gráfico, - Ao analisar alternativas, seja do ponto
cuja função é mostrar ao leitor unidades de vista do sentido desejado, seja dos
para processar a leitura. aspectos estilísticos e escolhendo aquela
Sendo assim, todas as marcas que que parece melhor entre as possíveis;
existiam nos textos impressos e que hoje - Ao observar os empregos
estão ao alcance de todos, são parte daquilo característicos da pontuação nos diferentes
que entendemos por pontuação: espaços gêneros e seus motivos (a grande
entre parágrafos, alíneas, os brancos laterais quantidade de vírgulas/aposições nas
que indicam um título, as notas de rodapé, notícias jornalísticas como instrumento
os negritos, itálicos, boxes etc. para condensar o texto, por exemplo);
Não é um caso de indicar pausas para - Ao analisar os efeitos estilísticos
respirar, visto que, ainda que um locutor obtidos pela pontuação por diferentes
consiga usar a pontuação para isso, essa não autores.
é sua função no texto escrito.
É comum que as gramáticas apresentam Fonologia
tanto a maiúscula de nome como a de início Trata-se da área da Linguística que
de frase como parte da ortografia. Mas estuda o sistema de sons da língua, ou seja,
atualmente a maiúscula inicial de frase é refere-se ao estudo do fonema, com foco na
considerada como elemento da pontuação. especificação das unidades distintivas da
É ela que indica o início das frases junto língua. O fonema é uma unidade que
com o ponto que indica o final. apresenta valor contrastivo e é, desse modo,
A pontuação é um sistema. Os sinais ou capaz de distinguir significado.
conjuntos de sinais gráficos possuem seu Compreende o estudo de aspectos
valor e função definidos uns em relação aos funcionais e organizacionais dos sons.
outros, compondo um conjunto coerente Fonemas são unidades formadas por
que faz sentido para o leitor, visto que cada significantes que constituem o sistema
elemento ou conjunto de elementos fônico da língua.
demonstra sempre a mesma coisa. O espaço A Fonologia articula objetivos de
desta sistematicidade é o texto. Não é desenvolvimento e aprendizagem ligados à
adequado em um mesmo texto usar o tonicidade e à acentuação, o que caracteriza
mesmo sinal ou conjunto de sinais com a importância da relação entre acentuação e
funções diferentes. aspectos prosódicos (tonicidade e
A única regra obrigatória da pontuação é entonação) nas atividades desenvolvidas
aquela que diz onde não é possível: entre o pelos professores.
sujeito e o verbo e entre o verbo e seu
complemento.

56
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

46
A fonologia aborda os sons da fala Ortografia
47
humana no âmbito funcional, por isso é A ortografia se trata de uma convenção
preciso recorrer à identificação de social que unifica a escrita das palavras em
especificidades desses sons, as quais uma dada cultura, funcionando como um
remetem a uma apreciação físico- recurso que deixa mais fácil a atribuição de
articulatória isolada, sendo assim, a uma sentido aos textos. Essa convenção é
abordagem fonética. regulada por legislação e precisa ser
Por saber que esses estudos são respeitada em situações de interação em
indissociáveis, boa parte dos linguistas que linguagem escrita em todo o nosso país.
se ocupam dos sons da fala humana O trabalho com ensino de ortografia
preferem tratá-los de maneira pressupõe que as crianças estejam
interdependente, tomando-os dentro do escrevendo alfabeticamente e sejam postas
campo de estudos fonético-fonológicos. em situações didáticas nas quais precisem
Entretanto, para uma melhor compreensão refletir a respeito dos aspectos relacionados
se faz necessário entender, também, suas às convenções da língua.
especificidades, uma vez que as As dificuldades ortográficas podem ser
diferenciações entre elas constituem apenas agrupadas em duas grandes categorias:
um recurso metodológico. I - Regulares: aquelas em que pode ser
Os professores devem dominar as identificado um princípio/regras que
disciplinas Fonética e a Fonologia, ou explicam a grafia correta;
podem não se tornarem aptos a lidar com o II - Irregulares: aquelas para as quais não
raciocínio linguístico dos alunos, há um princípio/regras que conduzam à
principalmente, quando cometem grafia correta.
determinados desvios de grafia.
Não é papel da escola formar alunos A partir disso, pode-se propor uma série
especialistas em Fonética e em Fonologia, de atividades de ensino da ortografia
mas ela não pode negar aos alunos o direito pautadas na ideia de que as regularidades e
de conhecer uma das dimensões de sua irregularidades não são aprendidas da
língua materna, a subárea Fonética e mesma maneira pelos estudantes. Para as
Fonologia, visto que é por meio delas que o primeiras, as atividades de ensino e de
aluno entra em contato com a maneira de aprendizagem precisam priorizar uma
produção e percepção dos sons e do modo análise reflexiva e a compreensão do
como estes se combinam e funcionam na princípio gerativo ou da regra que ajuda a
língua, para produzir e fazer sentido ao que lembrar a grafia correta. Já para as
é dito. irregularidades, pode ocorrer uma
Para Fonologia, os fonemas são aproximação pela consulta a fontes
classificados em vogais (fonemas autorizadas até chegar à memorização.
produzidos pela corrente de ar que sai Regularidades diretas: envolvem grafias
livremente pela boca, sem encontrar como P/B, T/D, F/V que constituem pares
qualquer obstáculo), consoantes (fonemas de letras pronunciados de maneira bem
produzidos pela corrente de ar que vem dos parecida, sendo uma das dificuldades dos
pulmões e encontra obstáculos ao sair da estudantes nos primeiros anos do Ciclo de
boca) e semivogais (fonemas que não são Alfabetização.
pronunciados tão fortemente quanto as Regularidades contextuais: o contexto
vogais). da palavra define que letra usar (M, N, NH)
ou til (~) para grafar a nasalização; a disputa
entre R e RR nas palavras como: prato,

46
http://www.filologia.org.br/xxiii_cnlf/cnlf/tomo01/09.pdf content/uploads/2019/11/od-cc-lingua-portuguesa1.pdf
47
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-

57
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

carroça, porta, honra, arara, roda, entre Diversos professores, por exemplo,
outras. passaram a considerar que, perante o texto,
Regulares morfológico-gramaticais: são não seria mais necessário sistematizar o
aquelas em que a compreensão da regra ensino de detalhes ortográficos, já que isso
ajuda a decidir como escrever. Podem ser estaria vinculado a uma metodologia
divididas em dois grupos: mecanicista.
I - As morfológico-gramaticais presentes Trata-se de um comportamento
em substantivos e adjetivos (adjetivos originado da ideia de que a aprendizagem
femininos que indicam lugar de origem ortográfica ocorreria de modo espontâneo
com ESA no final (congolesa, japonesa); através do contato com diferentes textos
substantivos derivados de adjetivos que escritos. Embora seja importante, a leitura
terminam com EZA (beleza, pobreza); de diferentes textos escritos não garante por
adjetivos como famoso, guloso etc. si só a aprendizagem da ortografia.
escrevem-se com o sufixo OSO; sufixo ICE Desse modo, professor deve se vincular,
é grafado com C (meninice, chatice, principalmente, aos textos produzidos pelos
meiguice); substantivos derivados estudantes, isto é, propor atividades
terminados com ANÇA, ÂNCIA, ÊNCIA, integradas ao momento da revisão do texto
entre outras. escrito, enquanto se está produzindo, após a
II - As regulares morfológico- primeira versão e também com orientação
gramaticais presentes em flexões verbais do professor.
(partiu, cantou, bebeu: verbos no pretérito É muito importante apresentar metas
perfeito do indicativo são grafados com U claras para o ensino de ortografia e partir
no final); flexões do pretérito imperfeito do dos conhecimentos prévios dos estudantes.
subjuntivo grafam-se com SS (cantasse, Para isso, é necessário mapear com cuidado
bebesse); infinitivos terminam com R aquilo que os alunos já sabem com relação
(viver, brincar). A terceira pessoa do plural às regularidades contextuais e morfológico-
– no futuro do presente – escreve-se com gramaticais e às irregularidades.
ÃO (viverão, partirão, beberão), enquanto Isso pode permitir o estabelecimento de
todas as demais formas da terceira pessoa metas coletivas e metas específicas a certos
do plural dos demais tempos se escrevem grupos. É um olhar que garante ao professor
com M no final (cantam, vivem, viveram). uma organização, de modo mais consciente
No caso das irregulares – aquelas em que das atividades em grupos, assim como o
não há regras – podem ser exemplificadas encaminhamento de cada bimestre naquilo
com: a disputa do L e H em palavras como: que diz respeito à ortografia.
família, mulher; o som do S (seguro, Esse diagnóstico inicial precisa levar em
cidade); o som do G (girafa, jiboia); som conta acertos, erros ocasionais e erros
do Z (casa, exame, zebra); som do X que recorrentes. Para tal, pode-se propor uma
como apresenta exceções também são atividade de escrita orientada, onde o
consideradas irregulares (enxada, professor trabalhará com lista de palavras,
enchente); o uso do H inicial (hoje, hora, jogos ortográficos, comentários reflexivos
havia); a disputa entre o E, I, O e U em sobre uma leitura ou sobre um vídeo
sílabas átonas (bonito, tamborim, doente). assistido, por exemplo.
Esse mapeamento é importantíssimo, já
O professor precisa mobilizar em sala de que permite ao professor organizar aquilo
aula uma atitude reflexiva para o que os alunos já sabem e o que necessitam
aprendizado da ortografia. Contudo, o fato aprender.
de o texto passar a ser objeto de ensino em O professor pode construir isso a partir
Língua Portuguesa criou certas de um registro sistemático e periódico
interpretações um pouco obscuras com organizado a partir de questões que
relação ao ensino de ortografia. encaminhem a elaboração de um

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

diagnóstico que funcionará para a avaliação elaborar, por exemplo, uma atividade
contínua da aprendizagem, indicando reflexiva a cerca da ortografia levando em
elementos a serem considerados no conta as flexões verbais em que há
planejamento das aulas, assim como ocorrência de ÃO e AM.
encaminhando aspectos importantes em Para isso acontecer, um conto pode
casos de estudantes que participarão da apresentado aos alunos com algumas
recuperação paralela. formas verbais no pretérito perfeito
Esse registro torna-se uma prática de retiradas (exemplos aleatórios:
avaliação que não é configurada como mera caminharam, beberam, encontram),
estratégia de verificação, e sim orienta o deixando espaços para o aluno preencher.
processo de ensino, apontando objetivos a Os alunos deverão, então, completar o
serem atingidos e possibilitando um conto enquanto o professor procede com a
planejamento ligado à concretização dessas leitura oral do texto.
finalidades. Após a realização da leitura, o professor
Pode até parecer complexo, mas é pode realizar uma atividade
possível organizar alguns quadros metalinguística, onde o aluno precisa
orientadores para o trabalho do professor, completar um quadro com as palavras
levando em conta regularidades, regras empregadas para preencher o texto,
contextuais e morfossintáticas, por passando-as para o tempo futuro.
exemplo. Após o preenchimento coletivo do
O professor pode, por exemplo, fazer quadro, o professor pode questionar a
uso de alguns quadros de acompanhamento, turma: o que acontece com a sílaba tônica
buscando intervir qualitativamente no do verbo quando ele passa para o futuro; o
ensino-aprendizagem de convenções que ocorre com a terminação do verbo no
ortográficas, partindo de questões passado e no futuro; que dica podemos
consideradas por ele essenciais para a etapa escrever para compor nossa pauta coletiva
de aprendizagem em questão de revisão?
Com os resultados em mãos, o professor A hora da revisão pode se tornar um
poderá, por exemplo, organizar diferentes espaço colaborativo de aprendizagem. Ao
atividades, levando em consideração três longo da produção dos finais de contos, o
momentos distintos das práticas de professor pode retomar esse aspecto com os
produção textual: alunos e solicitar a eles que mudem os
- Antes da revisão textual; textos com um parceiro previamente
- Durante a revisão textual; estabelecido, para analisar os aspectos da
- Posterior à análise do professor. pauta coletiva de revisão para aquela
ocasião.
É interessante e importante que essas Depois de analisar os textos dos
atividades de análise linguística sejam estudantes, o professor pode retomar
vinculadas a um aspecto de cada vez aspectos que considerar pertinentes ou
(textual, sintático, morfológico, fonológico, apresentar novas observações.
ortográfico). Se tratando da aprendizagem Será essencial apresentar indicações à
da ortografia, o professor pode propor margem do texto do aluno os aspectos que
coletivamente uma pauta coletiva da turma, requerem atenção para aquela reescrita,
que precisa estar visível na sala e ser sem dar a resposta.
elaborada gradativamente de acordo com as Após a devolutiva geral das produções
reflexões linguísticas necessárias à revisão dos estudantes, pode-se solicitar a eles que
se realizam. procedam com a reescrita e a edição final
Antes da revisão textual, em uma do texto, considerando os aspectos
sequência didática em que o objetivo seja linguísticos apontados.
produzir finais de contos, o professor pode

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Outra possibilidade a ser realizada (D) É o estudo de produções discursivas


durante a revisão ou após a devolutiva do ou escritas partindo do pressuposto do real
professor envolve atividades com foco no uso de língua e linguagem.
uso do dicionário como instrumento de
consulta à ortografia. Os usos do X são 02. (Prefeitura de São Roque do
bastante apropriadas para tal prática. Canaã - Professor - IDCAP) Segundo a
A utilização do dicionário pode ser Fonologia, os fonemas se classificam em:
promovida no decorrer da realização do (A) Ditongo, tritongo e hiato.
texto, mas também pode estar vinculada a (B) Vogais, consoantes e semivogais.
uma atividade metalinguística reflexiva. (C) Monossílabo, dissílabo e trissílabo.
Lidar com os textos dos estudantes é (D) Oxítona, paroxítona, proparoxítona.
uma atividade que requer muita empatia por (E) Oclusivas, fricativas, laterais e
parte do professor, para evitar que eles se vibrantes.
sintam inibidos por causa dos desvios
ortográficos. Gabarito
Para tal, é importante apresentar uma
funcionalidade para as orientações do 01.B - 02.B
professor, que não pode ser um puro
apontamento com foco na “higienização”
do texto, e sim ser um passo para a reescrita FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A
dos textos, como parte integrante das psicogênese da língua escrita. São Paulo:
práticas de escrita pela qual todos nós Artes Médicas, 1985. (Capítulo 6-
passamos ao escrever nossos textos. Evolução da Escrita, p. 191- 257).
Aprender a escrever ortograficamente as
vogais nasais é um conhecimento
necessário. Os alunos que conseguem A obra Psicogênese da Língua Escrita é
escrever as nasais são aqueles que resultado de estudos e análise dos métodos
produzem textos com menos erros. de aquisição da leitura e escrita em crianças,
realizadas pela parceria de Emília Ferreiro
Questões e Ana Teberosky, pesquisadoras da área de
linguagem pertencentes à escola de Jean
01. (Prefeitura de Cunha Porã - Piaget. O presente trabalho consiste em um
Professor - UNIFIL/2020) A Semântica, resumo comentado sobre o capítulo 6, de
em geral, deve muito à definição de título “Evolução da Escrita”, integrante da
significados estabelecida pelo lógico obra “Psicogênese da Língua Escrita”.Os
alemão Frege, pois ele legou pelo menos resultados obtidos com as crianças de 4 a 6
duas grandes contribuições: a distinção anos permite definir cinco níveis
entre sentido e referência e o conceito de sucessivos:
quantificador. A respeito da Semântica, Nível 1 - Neste nível, a escrita é a
assinale a alternativa correta. reprodução das características típicas da
(A) É o estudo dos aspectos objetivos do escrita que a criança considera ser a forma
significado, isto é, aqueles inaptos à básica de escrita. Se esta forma básica é a
inspeção pública. escrita de imprensa, em figuras separadas,
(B) É o estudo sincrônico ou diacrônico consiste em curvas e suas respostas ou
da significação como parte dos sistemas das combinações entre elas. Se a escrita básica
línguas naturais. for cursiva, teremos linhas onduladas como
(C) É o estudo do discurso produzido em forma básica das figuras umas das outras,
determinado espaço e tempo, e precisa levar nas quais se inserem figuras fechadas ou
em conta os ápices do discurso. semifechadas. No mesmo nível, pode haver
tentativas de correspondência figurativa

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

entre palavras e referentes. Por exemplo, se pois ainda conserva as hipóteses da


a criança representa a escrita das palavras quantidade mínima e da variedade de
elefante e pássaro, a linha maior representa caracteres.
o elefante e a linha menor representa o Nível 4- Passagem da hipótese silábica
pássaro. O desenho torna-se uma estratégia para a alfabética. Vamos propor, de
clara, com referência ao que a criança imediato, nossa interpretação deste
registra, a necessidade de interpretar o momento fundamental da evolução: a
objeto desejado por suas características, criança abandona hipótese silábica e
garantindo um momento de leitura. descobre a necessidade de fazer uma
Nível 2- O pressuposto central neste análise que vá "mais além" da sílaba pelo
nível é o seguinte: para poder ler coisas conflito entre a hipótese silábica e a
diferentes (ou seja, dar significados exigência de quantidade mínima de granas
diferentes), a escrita deve ser objetivamente (ambas exigências puramente internas, no
diferente. O avanço gráfico mais óbvio é sentido de serem hipóteses originais da
que a forma do gráfico é mais definida e criança) e o conflito entre as formas
mais próxima da letra. No entanto, o fato gráficas que o meio lhe propõe e a leitura
conceitual mais interessante é o seguinte: dessas formas em termos de hipótese
passamos a trabalhar na hipótese de que um silábica (conflito entre uma exigência
certo número de grafos mínimos é interna e uma realidade exterior ao próprio
necessário para escrever algo, e na hipótese sujeito). O conflito entre a hipótese silábica
da diversidade de grafos. Agora, em e as formas fixas recebidas do meio
algumas crianças, a disponibilidade de ambiente se evidencia com maior clareza
formulários gráficos é muito limitada, e a no caso do nome próprio. Ela inicia uma
única possibilidade de responder a todas as busca por símbolos para expressar a escrita
solicitações ao mesmo tempo é usar uma dos objetos referidos, tentando aproximar o
ordem linear de posições. É assim que essas máximo à representação sonora da
crianças expressam diferenças de representação gráfica. De tal modo, a
significado por meio de mudanças criança pode combinar só vogais ou só
posicionais em ordem linear, descobrindo consoantes, fazendo grafias equivalentes
assim precursores combinatórios ao longo para palavras diferentes ou combinar vogais
do período pré-operatório, o que constitui e consoantes numa mesma palavra, na
uma notável aquisição cognitiva., tentativa de ajustar os sons, mas sem tornar
Nível 3- Este nível apresenta uma ainda sua escrita socializável.
tentativa de atribuir um valor razoável a Nível 5- A escrita alfabética constitui o
cada letra que compõe o roteiro. Nessa final desta evolução. Ao chegar a este nível,
tentativa, a criança passa pelo período mais a criança já franqueou a "barreira do
importante da evolução: cada letra código"; compreendeu que cada um dos
corresponde a uma sílaba. É aqui que surge caracteres da escrita corresponde a valores
o que chamamos de hipótese sílaba. Com sonoros menores que a sílaba e realiza
esse pressuposto, a criança deu um salto sistematicamente uma análise sonora dos
qualitativo em relação ao nível anterior, a fonemas das palavras que vai escrever. Isto
criança começa a perceber que existe uma não quer dizer que todas as dificuldades
relação entre pronúncia e escrita, e também tenham sido superadas: a partir desse
começa a separar a escrita de imagens, momento, a criança se defrontará com as
números e letras. As produções da criança dificuldades próprias da ortografia, mas não
apresentam progressos gráficos e terá problemas de escrita, no sentido estrito.
construtivos em relação ao nível anterior, Na última hipótese do processo de
embora só demonstre estabilidade ao aquisição da escrita, o nível de escrita da
escrever seu próprio nome ou palavras que criança é classificado como alfabético.
teve oportunidade e interesse de gravar, Nesta fase, a criança compreende que a

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

escrita tem uma função social: a eventualmente aprendem a escrever durante


comunicação. Embora na transição para o ano letivo são aqueles que começam em
esta fase a criança ainda possa omitir letras níveis bastante avançados de conceituação.
e não separar todas as palavras na frase, ela Aqueles que não aprenderam no mesmo
é capaz de demonstrar que conhece o modo período estão nos estágios iniciais de Não
de construção da escrita e sabe que cada um há saltos repentinos no aprendizado. Todos
dos caracteres corresponde a valores os assuntos se desenvolvem de acordo com
menores que a sílaba, além de conhecer as etapas conceituais que descrevemos para
também o valor sonoro de todas ou quase pré-escolares. Parece que a educação
todas as letras, sem haver problemas no que sistemática, como existe atualmente, é
se refere ao conceito da escrita. voltada exclusivamente para crianças que já
A escrita do próprio nome é uma boa percorreram um longo caminho antes de
situação para trabalharmos com modelo”, entrar na escola
diz Ana Teberosky. Segundo ela, o nome
próprio informa a criança sobre as letras,
sua quantidade, variedade, posição e FERREIRO, E. O ingresso na escrita e
ordem. Além disso, serve de ponto de nas culturas do escrito: seleção de textos
referência para confrontar as ideias das de pesquisa. Tradução de Rosana
crianças com a realidade convencional da Malerba. São Paulo: Cortez, 2013.
escrita. Temos boas razões para defender (Capítulo 3- A desestabilização das
este trabalho como base de apoio para a Escritas silábicas: alternâncias e
aprendizagem da leitura e da escrita: tanto desordem com pertinência, p.63-76).
do ponto de vista linguístico como gráfico,
o nome próprio de cada criança é um
modelo estável. Nome próprio se refere a Na obra se sustenta o seguinte: "A
um único objeto, com o que se elimina, para criança abandona a hipótese silábica e
a criança, a ambiguidade na interpretação. descobre a necessidade de fazer uma
Ao escrever seu nome a criança aprende análise que vá além da sílaba pelo conflito
como a escrita funciona entre a hipótese silábica e a exigência da
Ainda segundo as autoras os níveis de quantidade mínima de grafias (ambas as
escrita são correspondentes a idade e meio exigências puramente internas, no sentido
social a qual a criança é inserida. |Os níveis de serem hipóteses originais da criança) e o
sucessivos se correspondem com a conflito entre as formas gráficas que o meio
progressão em idade: a maioria dos propõe e a leitura dessas formas gráficas em
sujeitos de 4 anos se situa nos níveis 1 termos da hipótese silábica (conflito entre
e 2( pré-silabico), e nenhum chega ao uma exigência interna e uma realidade
nível 5 ( alfabético ); aos 5 anos, os exterior ao próprio sujeito)".
sujeitos se distribuem em todos os níveis,
com certa tendência a se concentrarem De acordo. Porém o que quer dizer “ir além
no nível 3 ( silábico ) isto mostra, entre da silaba” O que ali se disse é basicamente
outras coisas, as enormes diferenças que correto (ainda que deveria ter posto
se pode encontrar ainda entre crianças de palavras gráficas no lugar de formas
mesma idade e da mesma procedência gráficas). Correto, mas insuficiente. Nesse
social); aos 6 anos não há nenhum sujeito fragmento, somente se fala dos conflitos,
que se situe no nível 1, e há vários que mas não se diz nada acerca das maneiras
se situam nos dois últimos níveis. peculiares e próprias de analisar a sílaba em
Os professores seguem o programa função da escrita no momento de crise da
usando a mesma metodologia para todas as hipótese silábica. Por acaso se passa do
crianças mas nem todas as crianças período silábico ao alfabético porque se
progridem no mesmo ritmo. Aqueles que abandona a análise oral em sílabas e se

62
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

passa a uma análise em sequências de depois no computador. Dois desses pares de


fonemas? O período seguinte (que palavras são notáveis. Santiago já sabe que
chamamos silábico-alfabético) parece não se pode escrever somente com vogais.
indicar que isso não ocorre, já que as Produz SA no papel e OD na tela para soda;
produções desse momento da evolução são escreve SAM no papel e ALE na tela
mistas por natureza: algumas sílabas se para salame. Por quê, se Santiago conhece
escrevem com uma única letra, como no todas as letras de soda e de salame, não
período precedente, mas outras sílabas se pode colocá-las juntas? Temos chamado
escrevem com mais de uma letra, alternâncias grafo-fônicas esse fenômeno.
anunciando, ao que parece, o abandono da Como explicá-lo? Creio que assistimos a
análise silábica. alternâncias de centrações cognitivas sobre
dois aspectos da unidade sílaba. A sílaba
Recentemente, foi oferecida maior atenção oral é considerada com base em suas
em processos de produção que podem nos ancoragens diferentes. As letras escolhidas
pôr na pista de um novo modo de correspondem a essas duas ancoragens.
compreensão desse período de transição. Uma centração no lado vocálico da sílaba
Dois exemplos são apresentados para ocorre depois uma centração no lado
explicar a questão: consonantal. A mesma sílaba é ouvida de
outro lugar. (Ouvida e vista porque a escrita
“Maria (5 anos) vai escrever a palavra sopa. permite vê-la).”
Vai dizendo as sílabas enquanto escreve as Soluções curiosas como a de Maria e
vogais correspondentes. O resultado é OA. Santiago já haviam sido observadas pela
Maria observa o resultado e diz "está pesquisadora mexicana Graciela Quinteros.
faltando". Típica situação em que o Ela notou que crianças com hipótese
requisito de quantidade mínima se impõe. O silábica usavam algumas letras com três
interessante é que Maria, buscando outras funções específicas – não correspondentes
letras para pôr, não repete nenhuma das ao som da sílaba propriamente dito:
anteriores, mas volta a dizer "so- Recheio gráfico para separar vogais
pa" enquanto coloca as consoantes iguais ou preencher um espaço dentro da
correspondentes a essas sílabas. (De fato, palavra ou no fim dela.
repete várias vezes "so" antes de pôr S e Curinga como substituta de uma sílaba
várias vezes "pa" antes de grafar P, como se ou de uma consoante que a criança não sabe
buscasse essas letras). O resultado é OASP. grafar. A mesma letra aparece como
Todas as letras da palavra estão ali, mas em curinga em várias palavras.
desordem. Maria não consegue ler sua Nome da sílaba para escrever uma
própria escrita. Poderíamos pensar que sílaba inteira. É comum o uso do K para CA
primeiro analisou as vogais, os núcleos e do H para GA.
vocálicos das sílabas e depois os As sofisticadas soluções são usadas
ataques4 consonantais. Contudo, essa pelos que estão saindo da hipótese silábica
descrição me parece incorreta. Como com valor sonoro convencional e
veremos, se trata sempre de representar a construindo uma silábico-alfabética.
sílaba, a mesma unidade, porém com base
em perspectivas diferentes, ancoragens
diferentes. O que Maria produz são duas
escritas silábicas justapostas.”

“Um caso extraordinário é Santiago,


também de 5 anos (Molinari e Ferreiro,
2007). A essa criança se solicita que escreva
uma lista de compras, primeiro no papel e

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

de linguagem, do registro do cotidiano ao


GOULART, Cecília M. A.; GONTIJO, texto literário, do bilhete ao livro, do lápis
Cláudia Maria Mendes; FERREIRA, ao computador, o professor lê e escreve,
Norma Sandra de A. (Orgs.). A aponta, informa, pergunta, relaciona,
alfabetização como processo discursivo: nomeia, explicita, convida e convoca as
30 anos de A criança na fase inicial da
crianças a participarem, na e pela
escrita. São Paulo, Cortez, 2017. (Cap. 2-
A alfabetização como processo discursivo linguagem, da produção (de conhecimento
em perspectiva, p. 47-64). sobre a) escrita.
O conceito de alfabetização vem-se
modificando ao longo das décadas em
função de índices de analfabetismo, de
A forma de ver e entender a novas demandas sociais e políticas e
alfabetização como processo discursivo Aprender a ler e a escrever se orienta e
surge na década de 80, em intenso trabalho se redimensiona, então, pela seguinte
e investigação com crianças. pergunta: para quem se escreve o que se
A parte social é um do argumento mais escreve, como e por quê? Do jogo
notável, os modos de agir, pensar, falar, simbólico e do desenho à incorporação dos
sentir das crianças vão se constituindo e papéis de leitor e escritor; da leitura e
adquirindo sentido nas relações sociais. escrita imitativas à elaboração da escrita de
Destaca-se, assim, a fundamental acordo com as normas da convenção, a
importância da mediação e da participação alfabetização das crianças se constitui em
de outros na construção do conhecimento um laborioso trabalho simbólico, dialógico,
pela criança, bem como a concepção de que se realiza em condições concretas de
linguagem como produção histórica e enunciação.
cultural, constitutiva dos sujeitos, da Conhecimento da realidade e
subjetividade e do conhecimento. Ou seja, conhecimento linguístico se enredam na
a forma verbal de linguagem como modo de proposta de alfabetização que se concretiza
interação – como produção e produto na relação entre discursos e fortalece os
humanos – afeta, constitui e transforma o sujeitos e suas vidas na sociedade
desenvolvimento e o funcionamento mental democrática, participativa. É o primeiro
dos sujeitos conhecimento que dá sentido ao segundo,
A psicologia psicogenética apresentava- na cadeia dialógica interminável de
se como alternativa às visões enunciados a que estão subordinadas as
comportamentais. determinações do sistema, implicando os
Considerada do ponto de vista da sujeitos nas ações discursivas da sociedade.
alfabetização como processo discursivo, as
diversas relações fonema-grafema-letra-
som implicam a “compreensão de infinitas LERNER, Délia. Ler e escrever na escola:
possibilidades e modos de apreensão, de o real, o possível e o necessário. Porto
apropriação pelas crianças das formas de ler Alegre: Artmed, 2002.
e escrever historicamente construídas”
Como interlocutor privilegiado na
relação de ensino no espaço escolar, o Aprender a ler e escrever na escola, deve
professor organiza o trabalho pedagógico fazer sentido e estar vinculado à vida do
de maneira a ampliar o universo das sujeito, deve possibilitar a sua inserção no
crianças e disponibilizar as mais diversas meio cultural a qual pertence, tornando-o
formas, fontes e suportes de escrita. Usando capaz de produzir e interpretar textos que
os mais variados instrumentos e recursos, fazem parte de seu entorno. Ler e escrever
criando condições de vivenciar os muitos são instrumentos poderosos que permitem
sentidos e possibilidades da forma escrita

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

repensar o mundo e reorganizar o próprio modismos.


pensamento "... O sistema de ensino continua sendo
Se enfrenta o fato de que ensinar a ler e o terreno privilegiado de todos os
escrever na escola tem finalidade voluntarismos - dos quais talvez seja o
puramente didática. A necessidade da último refúgio. Hoje, mais de que ontem,
escola em controlar a aprendizagem da deve suportar o peso de todas as
leitura faz com que se privilegie mais o expectativas, dos fantasmas, das exigências
aspecto ortográfico do que os de toda uma sociedade para a qual a
interpretativos do ato de ler, e o sistema de educação é o ultime portador de ilusões"2.
avaliação, onde cabe somente ao docente o É preciso compreender também, que
direito e o poder de avaliar, não propicia ao essas mudanças não dependem apenas da
aluno a oportunidade de autocorreção e capacitação adequada de seus profissionais,
reflexão sobre o seu trabalho escrito, e já que esta é condição necessária, mas não
consequentemente não contribui para a suficiente, é preciso conhecer o cotidiano
construção da sua autonomia intelectual. escolar em sua essência, buscando
É preciso que se trabalhe ferramentas descobrir os mecanismos ou fenômenos que
capazes de articular os propósitos didáticos permitem ou atravancam a apropriação da
com os comunicativos, o trabalho com leitura e da escrita por todas as crianças que
projetos estimula a aprendizagem, favorece ali estão inseridas. Existe um abismo que
a autonomia, já que envolve toda a classe, e separa a prática escolar da prática social da
evita o parcelamento do tempo e do saber, leitura e da escrita - lê-se na escola trechos
já que tem uma abordagem sem sentido de uma realidade desconhecida
multidisciplinar. para a criança, já que foi produzido
"O desafio [...] é formar seres humanos sistematicamente para ser usado no espaço
críticos, capazes de ler entrelinhas e de escolar - a fragmentação do ensino da
assumir uma posição própria frente à língua (primeiro sílabas simples, depois
mantida, explicita ou implicitamente, pelos complexas, palavras, frases...) não permite
autores dos textos com os quais interagem um espaço para que o aluno possa pensar no
em vez de persistir em formar indivíduos que aprendeu dentro de um contexto que lhe
dependentes da letra do texto e da faça sentido, e ainda, fazem com que esta
autoridade dos outros", (p.27) perca a sua identidade.
Para que haja uma verdadeira "Como o objetivo final do ensino é que
transformação no ensino da leitura e da o aluno possa fazer funcionar o aprendido
escrita, a escola precisa promover uma fora da escola, em situações que já não
aprendizagem significativa. A escola serão didáticas, será necessário manter uma
precisa abandonar as atividades mecânicas vigilância epistemológica que garanta uma
e sem sentido que levam o aluno a semelhança fundamental entre o que se
compreender a escrita como atividade ensina e o objeto ou prática social que se
escolar pura e única. Proporcionar a pretende que os alunos aprendam. A versão
formação de pessoas capazes de apreciar a escolar da leitura e da escrita não deve
literatura e mergulhar em seu mundo de afastar-se demasiado da versão social não-
significados. escolar". (p.35)
Ensinar e ler e escrever faz parte do Vimos que transformar o ensino vai
núcleo fundamental da instituição escolar, além da capacitação dos professores, passa
está nas suas raízes, constitui a sua missão pela sua revalorização pessoal e
alfabetizadora e sua função social, portanto, profissional; requer uma mudança de
é a que mais apresenta resistência a concepção da relação ensino-aprendizagem
mudanças. Além disso, nos últimos anos, para que se possa conceber o
foi a área de que mais sofreu com a invasão estabelecimento de objetivos por ciclos que
de inovações baseadas apenas em abrangem os conhecimentos - objeto de

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

ensino -de forma interdisciplinar, visando sociedades mais abastadas - as práticas de


diminuir a pressão do tempo didático e da leitura passaram a se alternar entre
fragmentação do conhecimento. intensivas ou extensivas (leitura de vários
Voltando a capacitação, enfatizando sua textos com menor profundidade), mas
necessidade, é preciso que se criem espaços sempre mantendo um fator comum: elas,
de discussão e troca de experiências e leitura e escrita, sempre estiveram inseridas
informações, que dentre outros aspectos nas relações com as outras pessoas,
servirão para levar o professor a perceber discutindo hipóteses, ideias, pontos de vista
que a diversidade cultural não acontece ou apertas indicando a leitura de algum
apenas em sua sala de aula, que ela faz parte título ou autor.
da realidade social na qual estamos O aspecto mais importante que podemos
inseridos, e que sendo assim, não poderia tirar acerca dos estudos históricos é que se
estar fora da escola, e ainda, que está aprende a ler, lendo (ou a escrever,
diversidade tem muito a contribuir se o escrevendo), portanto, é preciso que os
nosso objetivo educacional consistir em alunos tenham contato com todos os tipos
preparar nossos alunos para a vida em de texto que veiculam na sociedade, que
sociedade. No que concerne à leitura e eles tenham acesso a eles, que esses
escrita, parece-nos essencial ter corno materiais deixem de ser privilégio de
prioritária a formação dos professores como alguns, passando a ser patrimônio de todos.
leitores e produtores de texto, capazes de Didaticamente, isto significa que os alunos
aprofundar e atualizar seus saberes de precisam se apropriar destes textos através
forma permanente'. de práticas de leitura significativas que
É importante que, ao propor uma propiciem reflexões individuais e grupais,
transformação didática a uma instituição de que embora demandem tempo, são
ensino, seja considerada a sua essenciais para que o sujeito possa, no
particularidade, o que se dá através do futuro, ser um praticante da leitura e da
conhecimento de suas necessidades e escrita.
obstáculos, implícitos ou explícitos, que "...É preciso assinalar que, ao exercer
caberá a proposta suprir ou superar. comportamentos de leitor e de escritor, os
"Prescrever é possível quando se está alunos têm também a oportunidade de
certo daquilo que se prescreve, e se está entrar no mundo dos textos, de se apropriar
tanto mais seguro quanto mais investigada dos traços distintivos[...] de certos gêneros,
está a questão do ponto de vista de ir detectando matizes que distinguem a
didático".(p. 55). 'linguagem que se escreve' e a diferenciam
As escolhas de conteúdo devem ter da oralidade coloquial, de pôr em ação [...]
como fundamento os propósitos recursos linguísticos aos quais é necessário
educativos', ou seja, se o propósito apelar para resolver os diversos problemas
educativo do ensino da leitura e da escrita é que se apresentam ao produzir ou
o de formar os alunos como cidadãos da interpretar textos [...[é assim que as práticas
cultura escrita, então o objeto de ensino a de leitura e escrita, progressivamente, se
ser selecionado deve ter como referência transformam em fonte de reflexão
fundamental às práticas sociais de leitura e metalinguística". (p. 64).
escrita utilizadas pela comunidade, o que "Ler é entrar em outros mundos
supõe enfatizar as funções da leitura e da possíveis. É indagar a realidade para
escrita nas diversas situações e razões que compreendê-la melhor, é se distanciar do
levam as pessoas a ler e escrever, texto e assumir uma postura crítica frente ao
favorecendo seu ingresso na escola como que se diz e ao que se quer dizer, é tirar carta
objeto de ensino. de cidadania no mundo da cultura
Com o avanço das ciências e o aumento escrita...".(p.73).
da diversidade literária disponível - nas Ensinar a ler e escrever foi, e ainda é, a

66
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

principal missão da escola, no entanto, dois 'aprender', a leitura assume um propósito,


fatores parecem contribuir para que a escola um significado, que atende também aos
não obtenha sucesso. Para que seja possível propósitos do docente - de inseri-las no
ler na escola, é necessário que ocorra uma mundo de leitores e escritores.
mudança nessas crenças. Sabendo que a "É assim que a organização baseada em
leitura é antes de tudo um objeto de ensino projetos permite coordenar os propósitos do
que na escola deverá se transformar em um docente com os dos alunos e contribui tanto
objeto de aprendizagem, é importante não para preservar o sentido social da leitura
perder de vista que sua apropriação só será como para dotá-la de um sentido pessoal
possível se houver sentido e significado para as crianças". (p.87).
para o sujeito que aprende, que esse sentido Ainda, o trabalho com projetos, por
varia de acordo com as experiências prévias envolver grupos de trabalho e, abrir espaço
do sujeito e que, portanto, não são para discussão e troca de opiniões, permite
suscetíveis a uma única interpretação ou o estabelecimento de um novo contrato
significado e que o caminho para a didático, ou seja, um novo olhar sobre a
manutenção desse sentido na escola está em avaliação, porque admite novas formas de
não dissociar o objeto de ensino de sua controle sobre a aprendizagem, nas quais
função social. todos os sujeitos envolvidos tomam parte, o
Os temas propostos visam atender que contribui para a formação de leitores
alguma necessidade da comunidade em autônomos, já que estes devem justificar
questão e são estruturados da seguinte perante o grupo as conclusões ou opiniões
forma: que defendem.
a) Proposta do projeto às crianças e O professor: um ator no papel de leitor:
discussão do plano do trabalho; É muito importante que o professor assume
b) Curso de capacitação para as crianças o papel de leitor dentro da sala de aula. Com
visando prepará-las para a busca e consulta esta atitude ele estará propiciando a criança
autônoma dos materiais a serem utilizados a oportunidade participar de atos de leitura.
quando da realização das etapas do projeto; Assumir o papel de leitor consiste em ler
c) Pesquisa e seleção do material a ser para os alunos sem a preocupação de
utilizado e/ou lugares a serem visitados; interrogá-los sobre o lido, mas de conseguir
d) Divisão das tarefas em pequenos com que eles vivenciem o prazer da leitura,
grupos; a experiência de seguir a trama criada pelo
e) Participação dos pais e da autor exatamente para este fim, e ao
comunidade; terminar, que o professor comente as suas
f) Discussão dos resultados encontrados impressões a respeito do lido, abrindo
pelos grupos; espaço para o debate sobre o texto -seus
g) Elaboração escrita dos resultados personagens, suas atitudes. Assumir o papel
encontrados pelos grupos (que passará pela de leitor é fator necessário, mas não
revisão de outro grupo e depois pelo suficiente, cabe ao professor ainda mais,
professor); cabe-lhe propor estratégias de leitura que
h) Redação coletiva do trabalho final; aproximem cada vez mais os alunos dos
i) Apresentação do projeto à textos.
comunidade interessada. As propostas de trabalho e as reflexões
j) Avaliação dos resultados. aqui apresentadas mostram que é possível
. A discussão coletiva das informações sim! Ler e escrever na escola, desde que se
que vão sendo coletadas propicia a troca de promova uma mudança qualitativa na
ideias e a verificação de diferentes pontos gestão do tempo didático, reconsiderando
de vista, como acontece na vida real, e, as formas de avaliação, não deixando que
ainda, durante a realização desses projetos estas interfiram ou atrapalhem o propósito
as crianças não leem e escrevem só para essencial do ensino e da aprendizagem.

67
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Desde que se elaborem projetos onde a pelos alunos e se corrigir.


leitura tenha sentido e finalidade social Numa concepção construtivista de
imediata, transformando a escola em uma educação, o professor não é, nem tampouco
'micros-sociedade de leitores e escritores pode ser, mero espectador da construção de
em que participem crianças, pais e conhecimentos de seus alunos.
professores...". (p. 101). Mas, como isso se realiza na prática
"O saber didático é construído para pedagógica? Como realmente realizar
resolver problemas próprios da intervenções pedagógicas adequadas para
comunicação do conhecimento, é o que os alunos avancem em seus
resultado do estudo sistemático das conhecimentos? O que se deve levar em
interações que se produzem entre o conta para que a aprendizagem realmente
professor, os alunos e o objeto de ensino; é ocorra?
produto da análise das relações entre o Estas questões rodam o cotidiano dos
ensino e a aprendizagem de cada conteúdo educadores, que esperam que seus alunos
específico; é elaborado através da estejam envolvidos em uma realidade de
investigação rigorosa do funcionamento sucesso escolar e não do fracasso, como
das situações didáticas". (p. 105). tem sido.
É importante destacar que as 'situações Não existem nem receitas e nem
boas' não se constituem em situações fórmulas mágicas, mas existem alguns
perfeitas, elas apresentam erros que, ao pressupostos importantes no processo de
serem analisados, enriquecem a prática ensino e aprendizagem e que pode auxiliar
docente, pois são: considerados como na reflexão sobre como fazer para que a
importantes instrumentos de análise da aprendizagem ocorra.
prática didática - ponto de partida de uma É fundamental que os professores
nova reflexão - sendo vistos como parte consigam conhecer o que seus alunos
integrante do processo de construção do sabem sobre o objeto de conhecimento a ser
conhecimento. ensinado e aprendido, pois é a partir da
Quanto mais os profissionais possibilidade de relacionar o novo
conhecerem a prática pedagógica e os que conhecimento com o conhecimento que
exercitam essa prática no dia-a-dia: as possui que a aprendizagem ocorre.48
crenças que os sustentam e os mecanismos Segundo Weisz, as atividades planejadas
que utilizam; quanto mais conhecerem pelos professores, para terem valor
como se dá o processo de ensino e pedagógico e serem boas situações de
aprendizagem da leitura e escrita na escola, aprendizagem, devem considerar alguns
mais estarão em condições de ajudar o princípios:
professor em sua prática docente.
USOS DA AVALIAÇÃO
O sistema de avaliação impede o
WEISZ, Telma. Relações entre o ensino e afastamento definitivo da escola e evita a
a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999 diminuição da auto-estima, além de
proporcionar um estímulo maior ao aluno
que passa a estudar na mesma série que
colegas de idade semelhante.
A autora Telma, faz várias reflexões
sobre o processo de aprendizagem das O DESENVOLVIMENTO
crianças. PROFISSIONAL PERMANENTE
Na sua visão é possível criar um novo Quando se fala da importância de o
tipo de educador capaz de mudar o rumo de professor compreender o que seus alunos
suas ações, interpretar as respostas dadas

48
http://edu-candoconstruindosaber.blogspot.com/2013/01/weisz-telma- o-dialogo-entre-o-ensino-e_19.html

68
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

sabem ou não sabem para poder atuar, a poderiam ser sintetizados da seguinte
questão é mais complexa do que parece. maneira: Elaborar materiais que permitam
Pensa-se sempre que é preciso ter uma diagnosticar o nível inicial de
boa noção daquilo que os alunos sabem do conhecimento dos alunos e avaliar seus
ponto de vista do conteúdo a ser aprendido, avanços ao longo de cada ano escolar.
vista da perspectiva do adulto, ou seja, de Determinar expectativas mínimas de
como os adultos vêem a matéria que está conquista para cada ano da escolaridade
sendo ensinada.
primária. Aplicação do instrumento
envolveu diferentes modalidades: em
KAUFMAN, Ana Maria; GALLO, alguns casos fomos nós, os integrantes da
Adriana; WUTHENAU, Celina. Como equipe, que nos encarregamos dessa
avaliar aprendizagens em leitura e
administração; outras vezes, aplicamos a
escrita? Um instrumento para o primeiro
ciclo da escola primária. In: Cavalcanti, prova junto com os professores.
Zélia (org.). 30 olhares para o futuro. São Entendemos a aprendizagem como um
Paulo: Escola da Vila, 2010. processo e não como uma sucessão de
estágios, desvinculados entre si. Como o
leitor pode notar, parte-se do nível inicial de
É comum que as escolas encontrem
cada criança e não se fixam expectativas
dificuldade em avaliar as aprendizagens,
mínimas de conquista por ano, mas isso
uma delas que está bastante generalizada
acontece por acréscimo. Por exemplo,
apesar de conter uma contradição evidente
consideramos que nenhuma criança não
— consiste em ensinar a ler e a escrever a
pode nem deve terminar o ano como
partir de uma visão construtivista e depois
começou, e é por isso que esperamos que
aplicar avaliações tradicionais para
todas as crianças terminem o primeiro ano
averiguar o que foi aprendido. O eixo da
com uma escrita que se relaciona de
proposta é avaliar as diferentes maneiras
maneira sistemática com a sonoridade
pelas quais as crianças vão abordando as
(silábica), que todas terminem o segundo
mesmas situações de leitura e escrita e
com escrita alfabética e que o terceiro ano
como vão utilizando determinadas
seja destinado a explorar questões
estratégias para processar a informação e
ortográficas
elaborar textos, ano após ano, ao iniciar
cada curso escolar. Para verificar como o
aluno avança em suas práticas de escrita e SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed.
leitura, não é muita utilidade uma situação Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
em que ele escreva ou leia palavras no (Capítulo 5- Para compreender antes da
primeiro ano, orações no segundo e textos leitura, p. 89-113).
no terceiro.
É certo que as alternativas de avaliação Isabel, tem como objetivo nesse livro
mais generalizadas não avaliam processos, ajudar os educadores, professores a
mas estágios. São as provas tradicionais que promover a utilização de estratégias de
verificam o quanto as crianças ignoram e leitura que permitam interpretar e
que não nos oferecem a possibilidade de compreender os textos escritos.
comparar esse dado com aquilo que sabem.
São provas que medem, geralmente, Para compreender... Antes da leitura
saberes linguísticos desligados das práticas
sociais de leitura e escrita. Antes da Leitura seguir seis passos
Os objetivos específicos dessa pesquisa importantes para a compreensão:
1. ler é muito mais do que possuir um

69
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

rico cabedal de estratégias e técnicas. texto


2. ler é um instrumento de É importante ajudar as crianças a
aprendizagem, informação e deleite. utilizar: títulos, ilustrações, sobre o autor,
3. a leitura não deve ser considerada uma cenário, personagem, ilustrações, para
atividade competitiva. compreender o texto com um todo.
4. quem não sente prazer pela leitura não
conseguirá transmiti-lo aos demais.
5. a leitura para as crianças tem que ter DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY,
uma finalidade que elas possam Bernard. Gêneros orais e escritos na
compreender e partilhar. escola. Campinas: Mercado de Letras,
6. a complexidade da leitura e a 2004. (Cap 3- Os gêneros escolares- das
práticas de linguagem aos objetos de
capacidade que as crianças têm para
ensino, p. 71-94).
enfrentá-la.

Motivação para a leitura


Para Schneuwly e Dolz, a escola desde
A criança deve se sentir capaz de fazê-
de sempre trabalhou com os clássicos
la, as atividades tem que ter como ponto de
gêneros escolares narração, descrição e
partida a motivação.
dissertação ou com o estudo de gêneros
literários, como o conto ou a crônica. O
Objetivos da leitura
novo consiste em fazer com que a
Vamos destacar alguns dos objetivos da
aprendizagem dos gêneros de fora da
leitura, que podem e devem ser trabalhados
escola, os literários, jornalísticos ou mesmo
em sala de aula:
os gêneros cotidianos - contribua para a
1. ler para seguir instruções;
compreensão efetiva da língua,
2. ler para obter uma informação de
viabilizando seu uso adequado fora do
caráter geral;
espaço escolar. Os diferentes gêneros
3. ler para aprender;
textuais são mobilizados pelas pessoas de
4. ler para revisar um escrito próprio;
acordo com a condição específica da
5. ler por prazer;
situação de comunicação em que se
6. ler para comunicar um texto a um
encontram, oralmente ou por escrito e
auditório;
devem ser escolhidos conforme o contexto
7. ler para praticar a leitura em voz alta;
para serem bem compreendidos.
e
Dando continuidade à análise, os autores
8. ler para verificar o que se
propõem três formas pelas quais as escolas
compreendeu.
utilizam hoje os gêneros, quase sempre
misturados: o gênero apenas como objeto
Revisão e atualização do
de estudo, fora de seu ambiente produtivo.
conhecimento prévio
É o caso, por exemplo, de estudar
Para compreender o que se está lendo é
jornalismo com alunos, retirá-los do jornal
preciso ter conhecimentos sobre o assunto.
(onde o jornal é produzido e distribuído) e
Mas algumas coisas podem ser feitas para
torná-lo parte do livro didático. Nesse caso,
ajudar as crianças a utilizar o conhecimento
os alunos podem não ver a conexão entre a
prévio que têm sobre o assunto, como dar
publicação de jornais e a leitura de notícias
alguma explicação geral sobre o que será
no contexto original da comunicação e o
lido; ajudar os alunos a prestar atenção a
uso pedagógico da notícia como objeto de
determinados aspectos do texto, que podem
pesquisa. Nesse contexto, o jornalismo
ativar seu conhecimento prévio ou
pode ser entendido apenas como uma
apresentar um tema que não conheciam.
disciplina escola
Estabelecimento de previsões sobre o

70
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Trata-se de fazer um jornal na sala de compõem a comunidade em estudo, pode


aula como se fosse um jornal de verdade, ser trazido para as práticas de ensino, uma
estudando a produção e circulação de vez que circulam efetivamente na
notícias de uma forma mais próxima do que instituição.
acontece fora da escola. O professor traz os
jornais para a sala de aula, explica como
eles funcionam e trabalha com os alunos ROCHA, Gladys; VAL, Maria da Graça
Costa (org). Reflexões sobre práticas
para criar uma situação “fictícia” que se
escolares de produção de texto- o sujeito
aproxime da situação real, ou seja, fazer um autor. Coleção Linguagem e Educação-
jornal que circule na sociedade. Aqui, CEALE. São Paulo: Autêntica Editora,
primeiro pela ficção para mostrar como o 2007. (Cap. 1- A linguagem nos processos
gênero é socialmente útil, depois como algo sociais de constituição da subjetividade, p.
para ensinar. Dessa forma, para os alunos, a 15-28)
notícia não perde a ligação com o jornal e é
compreendida de forma mais completa.
Essa forma de ensinar o gênero texto é Sabemos que a linguagem é um dos
muito eficaz porque não separa a forma eixos básicos na educação infantil, dada sua
como as escolas lidam com a notícia de seu importância para a constituição e formação
contexto original de comunicação. do sujeito, assim, torna-se fundamental
Gênero estudado numa situação real de refletirmos sobre a função da linguagem na
comunicação, utilizado pelos alunos para constituição e formação da subjetividade na
dizer algumas coisas a alguém. É o caso, infância49.
por exemplo, da escrita de uma carta ao Na tentativa de aprofundarmos nos
prefeito, solicitando que a rua da escola seja estudos e pesquisas desenvolvidas por
asfaltada, ou um debate com pessoas Bakhtin (1992) e Benjamin (1984)
convidadas para falar de orientação sexual referentes a esta temática, e buscando
para pré-adolescentes, em que os articular o pensamento de tais autores com
debatedores são os alunos. Esta é uma o pensamento de Vygotsky, a impressão
situação de comunicação em que o aluno primeira é de uma complementaridade.
está realmente envolvido: ele vai usar o Essa complementaridade é, no entanto,
gênero para se comunicar e, por isso, arcada por diferentes caminhos na direção
precisa estudá-lo para que a comunicação de um mesmo ponto essencial: a linguagem
seja boa. Neste caso, o gênero não é como espaço de recuperação do sujeito
somente um objeto de estudo, ele é como ser histórico e social.
condição para que a comunicação ocorra. É Nesta perspectiva Bakhtin (1992) mostra
um modo muito eficaz de ensinar gêneros, que a linguagem só pode ser analisada, na
porque há necessidade de seu uso, o que sua devida complexidade, quando
torna a situação mais significativa. considerada como fenômeno sócio-
Schneuwly e Dolz et al.(2004, p. 63) ideológico e apreendida dialogicamente no
afirmam que “os gêneros materializam as fluxo da história. Sua concepção de
práticas de linguagem” e, por conseguinte, linguagem vai ser construída a partir de
são instrumentos potenciais para uma crítica radical às grandes correntes da
ensino/aprendizagem da língua e de outros linguística contemporânea, por considerar
conteúdos. Então, acreditamos que o estudo que essas teorias não trabalham a língua
dos gêneros comunicativos no contexto como fenômeno social.
escolar, além de ajudar a compreender as Para Bakhtin (1992), A verdadeira
relações estabelecidas entre os sujeitos que substância da língua não é constituída por

49 Wanessa da Silva Rocha Oliveira. Linguagem e Subjetividade: A FnoECAwQAQ&url=https%3A%2F%2Ffiles.cercomp.ufg.br%2Fweby%


Constituição da Subjetividade Em uma Perspectiva Histórico-Cultural. 2Fup%2F248%2Fo%2FWanessa_da_Silva_Rocha_Oliveira.pdf&usg=A
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd OvVaw3aFB6JpXTRsZBoSZAsE9Nt. Visitado em 14.09.2022.
=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjS2fzf7ZT6AhW1qJUCHcuyCTYQ

71
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

um sistema abstrato de formas linguísticas transforma e ganha diferentes significados


nem pela enunciação monológica isolada, de acordo com o contexto em que surge, sua
nem pelo ato psicofisiológico de sua realização como signo ideológico está no
produção, mas pelo fenômeno social da próprio caráter dinâmico da realidade
interação verbal, realizada através da dialógica das interações sociais. O diálogo
enunciação ou das enunciações. A interação revela uma forma de ligação entre a
verbal constitui assim a realidade linguagem e a vida, permitindo que a
fundamental da língua (BAKHTIN, 1992, palavra seja o próprio espaço no qual se
p. 123). confrontam os valores sociais
Assim sendo, a categoria básica da contraditórios.
concepção de linguagem em Bakhtin Vygotsky e Bakhtin apud Jobim e Souza
(1992) é a interação verbal, cuja realidade (1995), ressaltam que, no diálogo, as
fundamental é seu caráter dialógico. Para expressões faciais, os gestos, o tom das
ele, toda enunciação é um diálogo, faz parte vozes e um conhecimento mútuo do tema,
de um processo de comunicação enfim, tudo aquilo que constitui o valor
ininterrupto. Não há enunciado isolado, apreciativo que os interlocutores conferem
todo enunciado pressupõe aqueles que o ao tema do referido diálogo é, por assim
antecederam e todos os que o sucederão; dizer, parte integrante da compreensão
um enunciado é apenas um elo de uma diferenciada do significado das palavras
cadeia, só podendo ser compreendido no nesse diálogo específico. Este fato é
âmbito dessa cadeia. salientado por Jobim e Souza (1995)
Para Bakhtin (1992), a significação é quando enfatiza que:
compreendida como pertencendo a uma [...] a unidade do mundo está nas
palavra, não enquanto tal mas sim, múltiplas vozes que participam do diálogo
enquanto traço de união entre da vida e na história. Assim como não há
interlocutores. A significação é, portanto, nem a primeira nem a última palavra,
um efeito da interação social e, nessa também não existe nem a primeira nem a
medida, o núcleo organizador de qualquer última verdade, mas verdades que se
enunciação é externo ao indivíduo. constituem na linguagem e por meio dela,
Desse modo, o referido autor afirma que: continuamente ao longo da história. A
Os indivíduos não recebem a língua unidade do mundo é polifônica (JOBIM e
pronta para ser usada; eles penetram na SOUZA, 1995, p. 136).
corrente da comunicação verbal; ou melhor, Ao discutir o modo de apreensão das
somente quando mergulham nessa corrente formas linguísticas pelos falantes, Bakhtin
é que sua consciência desperta e começa a (1992) pondera que:
operar... Os sujeitos não “adquirem” a Na realidade, não são palavras o que
língua materna; é nela e por meio dela que pronunciamos ou escutamos, mas verdades
ocorre o primeiro despertar da consciência ou mentiras, coisas boas ou más,
(BAKHTIN, 1992, p. 108). importantes ou triviais, agradáveis ou
Nesse sentido, podemos afirmar que desagradáveis, etc. A palavra está sempre
aquele que compreende participa do carregada de um conteúdo ou de um sentido
diálogo, continuando a criação de seu ideológico ou vivencial (BAKHTIN, 1992,
interlocutor, multiplicando a riqueza do já p. 95).
dito. Seguindo o raciocínio do autor podemos
Ora, tanto Bakhtin (1992) quanto dizer que em cada pessoa, há um potencial
Vygotsky (1998) destacam o valor de sentido que necessita ser desvendado. O
fundamental da palavra como o modo mais outro precisa “chegar a ser palavra”, quer
puro de interação social. dizer, iniciar-se num contexto verbal e
Bakhtin (1992) argumenta que, é no semântico possível para se revelar. A parte
fluxo da interação verbal que a palavra se verbal de nosso comportamento, seja este

72
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

linguagem interior ou exterior, não pode ser fala ou o texto da criança coloca-nos frente
de forma alguma atribuída a um sujeito a frente com o mundo tal qual idealizado e
individual tomado isoladamente, o construído por nós, quer seja nos seus
enunciado verbal não se limita ao indivíduo aspectos perversos ou estigmatizantes, quer
que o expressa, mas pertence também a seu seja na sua dimensão crítica e
grupo social. Restaurar o espaço do sentido transformadora da ordem estabelecida.
significa, portanto, devolver ao sujeito não Portanto, escutar a criança é uma
apenas seu discurso, mas a autoria da sua oportunidade de retomarmos, a partir do
palavra e o lugar do seu desejo no confronto ângulo dela, um olhar crítico sobre as ideias
com a realidade. e valores de nossa cultura.
Para Bakhtin (1992), tomar consciência Para Bakhtin (1992), o sentido da
de si é se assujeitar a uma norma social, a realidade não se esgota nas interações entre
um julgamento de valor, é tentar, num certo olhares e palavras que ocorrem entre as
sentido, ver-se com os olhos de um outro pessoas, também está presente nos objetos
representante de seu grupo social, de sua inventados pelo homem e que existem ao
classe e, portanto, pode ser melhor nosso redor. Como nos afirma Jobim e
compreendida como um reflexo do social Souza (1995): “O campo semântico da
que se manifesta na particularização. realidade, embora criado a partir da
Deste modo, ser significa ser para o linguagem, não se esgota nas interações
outro e, por meio do outro, para si próprio. estritamente verbais entre os homens, mas
O território interno de cada um não é se expande e se renova nas interações dos
soberano, é com o olhar do outro que nos homens com o mundo dos objetos criados
comunicamos com nosso próprio interior. por eles” (JOBIM e SOUZA, 1995, p. 66).
Tudo que diz respeito a mim assegura Deste modo, sendo a linguagem o que
Bakhtin (1992), chega à minha consciência caracteriza e marca o homem, trata-se de
por meio da palavra dos outros, com sua restaurarmos o espaço do sentido na nossa
entoação valorativa e emocional. Do realidade. O sentido da palavra é o caminho
mesmo modo que o corpo da criança, para o resgate daquilo que no homem é
inicialmente, forma-se no interior do corpo sujeito, no qual ele não se anula e nem se
da mãe, a consciência do homem desperta a desfaz.
si própria envolvida na consciência alheia. Nesta perspectiva, o sujeito assume uma
Assim, ao retornar para si o olhar e as importância fundamental, como nos afirma
palavras impregnadas de sentidos que o González Rey (2005), A definição de um
outro lhe transmite, a criança acaba por homem constituído subjetivamente em sua
construir sua subjetividade a partir dos própria história, em que o sentido aparece
conteúdos sociais e afetivos que esse olhar como registro emocional comprometido
e essas palavras lhe revelam. com os significados e as necessidades que
Neste sentido, podemos nos acercar da vão desenvolvendo-se no decorrer de sua
linguagem infantil, percebendo quanto história, fazem da categoria sujeito uma
importa o sentido do olhar e das palavras peça-chave para entender os complexos
que dirigimos às crianças, na medida em processos de constituição subjetiva e de
que estas apreendem os seus vários sentidos desenvolvimento, tanto dos processos
e significados, compreendendo que cada sociais como dos individuais (GONZÁLEZ
época e cada grupo social têm seu REY, 2005, p. 235).
repertório de formas de discurso que Para esse autor o sujeito é sujeito do
funciona como um espelho que reflete e pensamento, mas não de um pensamento
refrata o cotidiano. compreendido de forma exclusiva em sua
A palavra é a revelação de um espaço no condição cognitiva e sim, de um
qual os valores fundamentais de uma dada pensamento entendido como processo de
sociedade se explicitam e se confrontam. A sentido. Sendo que o pensamento se define

73
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

como um processo psicológico, não objetos a via para uma outra compreensão
somente por seu caráter cognitivo, mas por da realidade e para um novo olhar crítico
seu sentido subjetivo, pelas significações e dirigido às coisas do mundo. Na
emoções que se articulam em sua brincadeira, a criança transforma os objetos
expressão, que não é automática, mas em outros. Seu olhar, igual à lente de uma
construída pelo sujeito mediante complexos câmera, penetra os objetos e descobre neles
desenhos intencionais e conscientes, nos a vida que emana do mundo morto das
quais também não se esgota seu caráter coisas.
subjetivo. Os fragmentos que compõem os escritos
Assim, para González Rey (2005) o de Benjamin (1984) sobre a infância
sujeito em sua ação processual e reflexiva desembocam numa visão precisa e sensível
intervém como momento constituinte de si do cotidiano. O autor nos permite penetrar
mesmo e dos espaços sociais em que atua, a na magia do mundo dos objetos, pois são
partir dos quais pode afetar outros espaços eles que alimentam a imaginação da
sociais. O sujeito representa um momento criança, dando conteúdo e forma aos
de subjetivação dentro dos espaços sociais segredos que revela. A criança emprega
em que atua e, simultaneamente, é suas mágicas usando metamorfoses
constituído dentro desses espaços na múltiplas, só ela dispõe tão bem da
própria ação processual que se caracteriza capacidade de estabelecer semelhanças.
dentro deles, a qual está sempre Esse dom a separa dos adultos, cuja
comprometida direta ou indiretamente com imaginação se encontra bem adaptada à
inúmeros sistemas de relação. realidade.
A subjetividade individual para Em vários de seus fragmentos Benjamin
González Rey (2005) se expressa na ação (1984), ressalta o modo como a criança
do sujeito de forma constante e processual. constrói seu universo particular, dando
Sendo que a organização da subjetividade outra significação ao cotidiano,
individual tem na ação intersubjetiva um incorporando às suas vivências uma mística
momento permanente de expressão e de que enfatiza sua sensibilidade pelo mundo
confronto que garante a processualidade de dos objetos, como podemos observar no
sua organização dentro de um processo de fragmento transcrito abaixo:
desenvolvimento permanente ao longo da Para ela, tudo se passa como em sonhos:
vida do sujeito. ela não conhece nada de permanente; tudo
Deste modo, o autor acima nos afirma lhe acontece, pensa ela, vai-lhe de encontro,
que: atropela-a.
A linguagem não é somente uma Seus anos de nômade são horas na
manifestação simbólica presente nos floresta do sonho. De lá ela arrasta a presa
discursos que circulam socialmente, é para casa para limpá-la, fixá-la,
também uma expressão simbólica do desenfeitiçá-la. Suas gavetas têm de tornar-
sujeito pela qual este constrói suas se casa de armas e zoológico, museu
diferentes formas de participação no criminal e cripta. “Arrumar” significaria
complexo processo de sua vida social e atua aniquilar uma construção cheia de
sobre seu próprio desenvolvimento castanhas espinhosas que são um maças
subjetivo, com independência de que o medievais, papéis de estanho que são um
impacto subjetivo dessa participação não tesouro de prata, cubos de madeira que são
esteja limitado na intencionalidade dessa escudos. No armário de roupas de casa da
participação consciente (GONZÁLEZ mãe, na biblioteca do pai, ali a criança já
REY, 2005, p. 236). ajuda há muito tempo, quando no próprio
Neste sentido, Walter Benjamin (1984), distrito ainda é sempre o anfitrião
atribui tanto aos surrealistas como às inconstante, aguerrido (BENJAMIN, 1987,
crianças a capacidade de descobrir nos p. 39).

74
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Para melhor compreendermos o papel da representação do real, de acordo com as


imaginação na constituição da realidade, suas afeições, suas necessidades, seus
encontramos em Vygotsky (1998) um desejos e suas paixões.
caminho que nos leva a observar a relação A criança, ao inventar uma história,
da criança e seus jogos. Na experiência da retira os elementos de sua fabulação de
criança não há limites rígidos entre experiências reais vividas anteriormente,
imaginação e realidade; a forma peculiar mas a combinação desses elementos
com que a criança é capaz de lidar com o constitui algo novo. A novidade pertence à
mundo objetivo nos permite uma criança sem que seja mera repetição de
compreensão mais profunda dos coisas vistas ou ouvidas. Essa faculdade de
mecanismos da atividade criadora do compor e combinar o antigo com o novo,
homem. tão facilmente observada nas brincadeiras
Na infância, a imaginação, a fantasia, o infantis, é a base da atividade criadora do
brinquedo não são atividades que podem se homem.
caracterizar apenas pelo prazer que Para Vygotsky (1998), a imaginação é
proporcionam. Para a criança, o brinquedo uma experiência de linguagem. A
preenche uma necessidade. Portanto, a linguagem no brinquedo, significa sempre
imaginação e a atividade criadora são para necessidade de libertação e criação. Se é no
ela, efetivamente, constituidoras de regras real que a criança procura os elementos
de convívio com a realidade. constitutivos de sua imaginação, suas
Segundo Vygotsky (1998), A criação de histórias, embora fantasias, não deixam de
uma situação imaginária não é algo fortuito ser expressão de uma realidade possível. A
na vida da criança; pelo contrário, é a imaginação da criança trabalha subvertendo
primeira manifestação da emancipação da a ordem estabelecida, pois impulsionada
criança em relação às restrições pelo desejo e pela paixão, ela está sempre
situacionais. O primeiro paradoxo contido pronta para mostrar uma outra possibilidade
no brinquedo é que a criança opera com um de apreensão das coisas do mundo e da
significado alienado numa situação real. O vida.
segundo é que, no brinquedo, a criança A infância para o autor é o momento em
segue o caminho do menor esforço – ela faz que a linguagem humana emerge como
o que mais gosta de fazer, porque o significação, pois é na fala da criança que
brinquedo está unido ao prazer – e, ao acontece a passagem do signo linguístico
mesmo tempo, aprende a seguir os para a ordem do sentido, pois para penetrar
caminhos mais difíceis, subordinando-se a na corrente viva da língua, a criança deve
regras e, por conseguinte, renunciando ao operar uma transformação radical, ou seja,
que ela quer, uma vez que a sujeição a transformar a experiência em discurso
regras e a renúncia à ação impulsiva humano.
constitui o caminho para o prazer no Deste modo, a infância não é apenas uma
brinquedo (VYGOTSKY, 1998, p.130). etapa cronológica na evolução do homem
No entanto, se em seus jogos as crianças que possa ser estudada como fato humano
reproduzem muito daquilo que independente da linguagem. Como nos
experimentam na vida diária, as atividades esclarece Jobim e Souza (1995):
infantis não se esgotam na mera Sendo um momento na história do
reprodução. homem, que se repete eternamente,
Isso porque as crianças não se limitam manifesta, nesse eterno retorno, aquilo que
apenas a recordar e reviver experiências essencialmente permanece como fato
passadas quando brincam, mas as humano. É nesse sentido que uma tal
reelaboram criativamente, combinando-as concepção de infância não é algo que possa
entre si e edificando com elas novas ser compreendido antes da linguagem ou
possibilidades de interpretação e independentemente dela, pois é na

75
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

linguagem e pela linguagem que o homem mundo moderno.


constitui a cultura e a si próprio (JOBIM e Além de tomar a linguagem como
SOUZA, 1995, p.151). referência fundamental para a crítica da
Assim sendo, Jobim e Souza (1995) cultura e da modernidade, Benjamin (1984)
esclarece-nos que não é fora da linguagem também encaminha uma discussão
que devemos procurar os limites da epistemológica no âmbito da filosofia,
linguagem, mas na linguagem mesma; colocando a linguagem no centro da
entretanto, fazer uma experiência desse discussão sobre a distinção entre
gênero só é possível onde as palavras conhecimento e verdade.
desaparecem nos lábios. Essas idéias Neste sentido, Jobim e Souza (1995)
ressonam e se ampliam nas palavras de procurou definir com a ajuda de Benjamin,
Clarice Lispector, pois, para ela a palavra Vygotsky e Bakhtin, uma concepção de
esquecida e ao mesmo tempo almejada é linguagem e de infância que fosse capaz de
um passo atrás em direção à pura expressão. ocupar um lugar de destaque na
No livro de Jobim e Souza, já mencionado, ressignificação do sentido da vida moderna
é dado destaque ao pensamento de e de suas contradições, evitando qualquer
Lispector (1995) que ressalta: ilusão progressista ou qualquer visão
O pré-pensamento é um preto e branco. sistematicamente pessimista.
O pensamento com palavras tem cores Para a referida autora, Considerando a
outras. O pré-pensamento é o pré-instante. diversidade dos modos de semiotizar o real
O pensamento é materialização do que se no mundo moderno, torna-se prioritário
pré-pensou. Na verdade o pré-pensar é o recusar as imposições que a criança sofre,
que nos guia, pois está intimamente ligado desde muito cedo, aos valores, às
à minha muda inconsciência. O pré-pensar significações e aos comportamentos
não é racional. É quase virgem. Às vezes a dominantes, preservando assim a
sensação de pré-pensar é agônica: é a possibilidade de ela se reapropriar dos
tortuosa criação que se debate nas trevas e componentes da singularização e resistir,
que só se liberta depois de pensar – com peremptoriamente, a toda subjetividade da
palavras (LISPECTOR apud JOBIM e equivalência generalizada (JOBIM e
SOUZA, 1995, p.151). SOUZA, 1995, p.159).
Neste sentido, Benjamin (1984) nos Nesta perspectiva, ao negar uma
proporciona uma reflexão filosófica sobre o compreensão da criança que a desqualifica
empobrecimento da experiência do homem como alguém incompleto, quer dizer, que
no mundo moderno e suas repercussões no se constitui num vir-a-ser distante no
uso da linguagem, abordando as questões futuro, Jobim e Souza (1995) privilegiou
da linguagem por meio de aspectos que situá-la no espaço em que o tempo se
poderiam ser considerados estranhos e entrecruza entre presente, passado e futuro,
singularmente anacrônicos. Benjamin rompendo, desse modo, com a noção de
(1984) se interroga sobre sua essência, tempo vazio e linear que flui numa direção
recorrendo à teologia e à mística judaica. única e preestabelecida.
Seus textos sobre a linguagem, embora De acordo com a autora, a criança não se
muitas vezes considerados extremamentes constitui no amanhã: ela é hoje, no seu
herméticos, transmitem, no entanto, uma presente, um ser que participa da
oposição constante a uma concepção de construção da história e da cultura de seu
linguagem como puro instrumento ou tempo, sendo que as questões de infância,
veículo de informações e conhecimentos. linguagem, experiência e temporalidade
Sua preocupação, fundamental é resgatar a podem ser assim retomadas a partir de
dimensão expressiva da linguagem, parâmetros radicalmente diferentes,
dimensão esta que vem se deteriorando possibilitando a construção de um caminho
progressivamente e perdendo seu espaço no desviante na apreensão crítica das coisas,

76
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

do mundo moderno e das contradições da linguagem, descontextualizando espaço e


cultura de nossa época. tempo, subvertendo a ordem e
Em cada geração, principalmente na desarticulando conexões é que a infância
idade contemporânea, aparecem, no mundo problematiza as relações do homem
das coisas e das técnicas, objetos e consigo mesmo, com a cultura e com a
materiais que unicamente as crianças são sociedade. E precisamente essa sua
capazes de experimentar, pois a criança está dimensão crítica frequentemente
sempre pronta para criar outros sentidos desprezada como sendo uma visão ingênua,
para os objetos que possuem significados infantil e mágica da realidade, que
fixados pela cultura dominante, procuramos explorar, destacar e revelar ao
ultrapassando o sentido único que as coisas longo deste trabalho.
novas tendem a adquirir.
Jobim e Souza (1995) afirma que, Sendo Questões
capaz de denunciar o novo no contexto do
sempre igual, ela desmascara o fetiche das 01. (IF/MS – Professor – IF-MS) Ao
relações de produção e consumo. A criança dissertar sobre como avaliar a textualidade,
conhece o mundo enquanto o cria e, ao criar Maria da Graça Costa Val (2006, p. 17)
o mundo, ela nos revela a verdade sempre expõe que: “Um dos pontos-chave da
provisória da realidade em que se encontra. linguística textual é a discussão sobre o que
Construindo seu universo particular no faz de um texto um texto, isto é, em que
interior de um universo maior reificado, ela consiste a essência de um texto, que
é capaz de resgatar uma compreensão propriedade distingue textos de não-
polifônica do mundo, devolvendo, através textos.” Em face do exposto, considere os
do jogo que estabelece na relação com os itens a seguir e julgue as alternativas que
outros e com as coisas, os múltiplos seguem:
sentidos que a realidade física e social pode I. A conceituação teórica, que busca
adquirir. Por isso enriquece estabelecer em que nível se situa e com que
permanentemente a humanidade com novos elementos lida a coerência, mostra-se
mitos (JOBIM e SOUZA, 1995, p. 160). muitas vezes fruto da análise
Neste sentido, ao pertencer ao domínio fenomenológica, empenhada em descobrir
intermediário entre a conquista da ordem que características usualmente apresentam
social do mundo dos adultos e o os textos incoerentes.
desfiguramento desse mesmo mundo, II. Grande número de estudos recentes
proporcionado pelo modo irreverente com apontam a coerência como fator
que a criança se expressa no jogo de imprescindível da textualidade.
linguagem, na fantasia e no diálogo com o III. A coesão é entendida como a
outro, é que a criança resiste ao seu configuração conceitual subjacente e
enquadramento compulsório num mundo responsável pelo sentido do texto, e a
de adultos enrijecidos, além de se constituir coerência como sua expressão no plano
na melhor garantia de orientar um outro linguístico.
olhar ético e estético sobre o mundo IV. Para Charolles (1978), um texto
contemporâneo. coerente e coeso satisfaz a quatro
Deste modo, resgatar a construção de requisitos: a repetição, a progressão, a não-
uma experiência por meio da linguagem e contradição e a articulação. Tais requisitos
sua articulação com um pensamento são denominados pela autora de
próprio é um dos processos que definem o continuidade, progressão, não-contradição
ser sujeito, como momento de um processo e articulação.
de subjetivação dentro do qual a linguagem V. A continuidade é a retomada textual
adquire sentido e significado. de elementos conceituais e informais,
Assim, sonhando a vida na ação e na limitando-se a essa repetição.

77
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

VI. A progressão diz respeito à unidade; Uma nova concepção de leitura


tem a ver com a retomada de elementos no pressupõe o outro, os outros. Há um
decorrer do discurso. componente social no ato de ler. Lemos
A - As afirmativas II e IV estão corretas. para nos conectarmos ao outro que escreveu
B - As afirmativas II, IV e V estão o texto, para saber o que ele quis dizer, o
corretas. que quis significar. Mas lemos também para
C - Somente a afirmativa IV está correta. responder às nossas perguntas, aos nossos
D - As afirmativas II, III e IV estão objetivos. Nas aulas tradicionais de leitura,
corretas. o aluno lê por ler, ou para responder
E - As afirmativas I, II, IV e V estão perguntas para o professor saber que ele leu.
corretas. Em situações sociais, em nossa vida
cotidiana, no entanto, lemos para buscar
02. (SEDUC/AL – Professor – respostas para nossas perguntas. Ler,
Português - CESPE/CEBRASPE - 2021) portanto, pressupõe objetivos bem
A leitura é um processo cognitivo, definidos. E esses objetivos são do próprio
histórico, cultural e social de produção de leitor, em cada uma das situações de leitura.
sentidos. Isso significa dizer: o leitor — um São objetivos que vão sendo modificados à
sujeito que atua socialmente, construindo medida que lemos o texto. Assim, a cada
experiências e história — compreende o nova informação, vamos reformulando
que está escrito a partir das relações que nossos objetivos. Um grande desafio das
estabelece entre as informações do texto e aulas de leitura é levar o aluno a formular (e
seus conhecimentos de mundo, ou seja, o reformular) seus próprios objetivos.
leitor é sujeito ativo do processo. Na leitura, Delaine Cafiero. Letramento e leitura:
não age apenas decodificando, isto é, formando leitores críticos. In: Egon de
juntando letras, sílabas, palavras, frases, Oliveira Rangel e Roxane Helena
porque ler é muito mais do que apenas Rodrigues Rojo. Língua Portuguesa: ensino
decodificar. Ler é atribuir sentidos. E, ao fundamental. Brasília: Ministério da
compreender o texto como um todo Educação, Secretaria de Educação Básica,
coerente, o leitor pode ser capaz de refletir 2010 (com adaptações).
sobre ele, de criticá-lo, de saber como usá- Considerando as competências e as
lo em sua vida. habilidades propostas pelo ReCAL com
Conceber a leitura desse modo muda relação ao componente curricular de língua
radicalmente a forma de pensar e de portuguesa no ensino fundamental, julgue o
organizar o seu ensino. Se os sentidos não próximo item.
estão prontos no texto, é preciso contribuir As competências específicas de
para que os alunos criem boas estratégias linguagens para o ensino fundamental
para estabelecer relações necessárias à incluem a competência de compreender as
compreensão. É importante que, nas aulas linguagens como construção humana,
de leitura, o aluno faça perguntas, levante histórica, social e cultural, de natureza
hipóteses, confronte interpretações, conte dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-
sobre o que leu e não apenas faça as como formas de significação da
questionários de perguntas e respostas de realidade e expressão de subjetividades e
localização de informação. Aula de leitura, identidades sociais e culturais.
então, começa com o acionamento ou a ( ) Certo
mobilização de conhecimentos anteriores ( ) Errado
do leitor. Os textos são marcados pelo
momento histórico em que são escritos, Alternativas
pela cultura que os gerou, e ter essas
informações, no momento da leitura, 01 – A | 02 - Certo
contribui para a compreensão.

78
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

em realizar essa atividade escolar tão


Cap. 3- A formação do produtor de texto destituída de sentido e de significação?
escrito na escola: uma análise das Após uma longa trajetória de ensino de
relações entre os processos interlocutivos língua materna direcionado à Gramática
e os processos de ensino, p. 53- 68) Normativa, defendendo a tese de que o
domínio das regras da língua padrão,
através de exercícios automáticos e
Embora venha ocorrendo de modo mecânicos, seria o método ideal para
mecânico, por se tratar de um exercício de expressar-se com clareza e objetividade, os
treinamento e não de um ato social de resultados obtidos nas escolas (e em
interlocução, a prática da escrita tem diversas provas e demais processos
constituído o conteúdo abordado na aula de avaliativos) nos mostram que essa prática
português, na escola, tanto no ensino médio precisa mudar, pois tanto o objeto de estudo
quanto no fundamental. Conforme explicita como o modo de abordá-lo necessitam de
Bunzen (2006), em algumas escolas, alterações, inovações. Na medida em que
existem professores específicos para assumimos o texto como foco principal do
administrar a disciplina de Redação. A ensino de língua, é preciso rever também os
esses profissionais compete a tarefa de princípios que norteiam as estratégias de
ensinar o aluno a escrever narrações, leitura, de estudos gramaticais e,
descrições e, principalmente, dissertações. principalmente, os mecanismos
Ao propor a dinâmica da escrita, de modo empregados no exercício de produção
geral, o professor está mais interessado em textual, tanto na modalidade oral quanto
avaliar se o aluno sabe escrever de acordo escrita. Com essa nova abordagem,
com as regras da língua padrão do que produzir texto consiste em um ato social em
realmente preocupado em saber o que o que alguém diz algo a outro alguém não
educando conhece e pensa sobre somente para ser avaliado, mas para
determinado assunto ou acerca da realidade posicionar-se sobre determinada questão,
em que vive50. para interagir com o outro que o cerca, seja
Nesse sentido, Antunes (2006, p. 165) ele o professor, os colegas ou a comunidade
complementa que, sob esse enfoque, de modo geral. Há, então, mais
“avaliar uma redação, por exemplo, se probabilidade de que o ato de se expressar,
reduz, assim, ao trabalho de apontar erros, via fala ou escrita, seja um exercício
de preferência aqueles que se situam na interessante e, quem sabe, até prazeroso.
superfície da linha do texto”. A prática de Levando em conta a complexidade de
redação consiste em um ato avaliativo e não textos, mais especificamente, de gêneros
em um processo de interação, de diálogo textuais que circulam em nossa sociedade
entre dois interlocutores: aluno e professor, contemporânea, e a importância que tal
aluno e aluno, aluno e comunidade, entre materialidade discursiva exerce no
outras opções. Eis a situação: o aluno processo de interação social, é possível
escreve um texto para que o professor entender a ênfase que os Parâmetros
aponte os erros (principalmente os Curriculares Nacionais (PCNs-1998, 1999)
gramaticais e de coesão) e atribua uma nota. atribuem ao uso desse material, no meio
Qual seria o estímulo para o aluno escolar. Esse documento oficial elege o
realmente dizer o que sente e pensa se o texto como objeto de ensino e sugere a
próprio processo de produção textual não o prática de escuta, análise de elementos
incentiva a agir dessa forma? Como linguísticos, leitura e produção de textos
encontrar satisfação, e até mesmo prazer, dos diferentes campos discursivos que o

50 Cleide Inês Wittke. A Prática da Escrita na Escola: Processo de processo-de-producao-de-sentido-cleide-ines-wittke-ufpel. Visitado em


Produção de Sentido. Universidade Federal do Rio Grande. 14.09.2022.
https://senallp.furg.br/index.php/anais/26-a-pratica-da-escrita-na-escola-

79
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

aluno precisa dominar para exercer sua de estudo, mas também a metodologia
efetiva participação social. empregada.
Diante desse quadro nos perguntamos:
com toda essa riqueza de material verbal de Composição e redação: diferentes
interação existente e precisando ser enfoques
trabalhado na sala de aula, continua sendo Traçando um breve percurso histórico do
pertinente que o professor de português processo que envolve o estudo de língua
dedique tanto tempo de sua aula efetuando portuguesa no meio escolar, mais
exercícios de metalinguagem, com o velho especificamente, do final do século XVIII
objetivo de identificar, classificar e avaliar? até meados do século XX, podemos notar
Será que tais atividades podem levar nosso que o enfoque era dado ao ensino de regras
aluno ao objetivo almejado pela maioria gramaticais (normativas) e ao exercício de
dos professores de língua materna: que o leitura, entendida, conforme esclarece
aluno se comunique melhor, tanto falando Bunzen (2006, p. 141), “como uma prática
quanto escrevendo? Essa mudança de de decodificação e memorização de textos
concepção exige um redimensionamento na literários”. Nessa época, a atividade de
seleção das atividades propostas e no escrita, denominada composição, era
enfoque dado à produção textual. Como exercitada somente nas séries finais do
estimular o aluno a ter interesse em ensino secundário, nas disciplinas de
expressar-se, tanto falando como Retórica, Poética e Literatura Nacional. A
escrevendo? partir de títulos e de textos-modelo, o aluno
Nessa linha de pensamento, seguimos deveria escrever uma composição. Como
nosso estudo refletindo sobre a passagem vemos, trata-se de um exercício de
da composição à redação e, finalmente, à imitação, já que se parte de modelos pré-
produção textual. Mais do que simples troca determinados, os quais devem ser copiados,
de nomenclatura, há mudanças nas reproduzidos. Não há espaço à criatividade
concepções, nos princípios e na prática nem à inovação.
didático-metodológica. Encontramos um É a partir da década de 70, influenciada
novo olhar da prática da produção escrita na pela Lei 5692/71, que o exercício de
escola. redação ganha ênfase no ensino de língua.
Essa lei provoca mudanças no objetivo, na
Do exercício da redação à prática da metodologia e no método de trabalhar a
produção textual língua materna. Os objetivos passam a ser
Até chegarmos à realidade atual, em que pragmáticos, com vistas a desenvolver a
produzimos textos (alguém que diz algo a postura do aluno como emissor e recebedor
outro alguém com determinada intenção), de mensagens, por meio de códigos
tivemos diferentes abordagens dessa prática diversos, tanto verbais como não verbais.
no meio escolar, com maior ou menor Nessa perspectiva, o ensino de língua é
ênfase à escrita, dependendo das definições visto como atos de comunicação e
defendidas em cada época. Guedes (2008, expressão; o texto é definido como uma
p. 88) nos orienta que as expressões mensagem que precisa ser decodificada
composição, redação e produção textual pelo receptor; e a língua consiste em um
diferenciam-se por se “vincularem a teorias conjunto de sinais (um sistema) que
que expressam diferentes formas de possibilita a decodificação da mensagem.
considerar não só a ação de escrever, a ação Nesse enfoque, construir um texto consistia
de ensinar a escrever textos e a ação de em “submeter uma mensagem a uma
exercitar a linguagem, mas também nossa codificação, o que é, em certo sentido, uma
própria organização social”. Isso significa visão bastante reducionista da própria
que por trás da nomenclatura subjaz uma interação verbal, seja escrita ou oral, pois
teoria a qual sustenta não somente o objeto observa a língua de forma monológica e a-

80
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

histórica” (BUNZEN, 2006, p. 145). O exercício de produção escrita: um


Foi, entretanto, o Decreto Federal no processo de interação verbal
79.298, de 24 de fevereiro de 1977, que No início, a produção escrita era uma
realmente impulsionou a adesão maciça da prática que recebia pouco espaço no ensino
prática de redação na escola, e aprendizagem de língua na escola. Mais
principalmente no ensino médio, a partir de tarde, embora tenha sido uma atividade
janeiro de 1978. Tal Decreto determinou realizada, até mesmo com ênfase,
que todas as Instituições que realizam principalmente no ensino médio, acabou se
vestibulares eram obrigadas a efetuar uma tornando uma espécie de ajuste de contas
prova de redação na disciplina de língua entre professor e aluno. Redigir um texto
portuguesa. A decisão de obrigatoriedade consistia em uma atividade árdua em que o
de fazer redação para ingressar no Ensino aluno deveria se postar diante da folha em
Superior redimensionou o currículo e a branco e escrever sobre um assunto que,
metodologia do ensino de língua na escola, muitas vezes, não tinha praticamente nada a
principalmente, no médio. Desde então, a dizer, por ser uma escolha do professor e
comunidade escolar optava por um dos dois não sua. Além disso, não tinha a
caminhos: ou preparava o aluno para o oportunidade de se informar sobre o tema
trabalho, oferecendo cursos antes de se pronunciar sobre ele.
profissionalizantes, ou, como acontecia na Sob essas condições de produção, a
maioria dos casos, preparava o aluno para redação se tornou um exercício mecânico
passar no vestibular, enfatizando o ensino em que o aluno redige um texto para que o
de redação, principalmente do texto professor aponte erros cometidos,
dissertativo, modalidade exigida pela principalmente, os desvios gramaticais e de
maioria das Universidades e outras coesão, uma vez que esses são de fácil
Instituições de ensino superior. identificação por estarem marcados na
Na época, acreditava-se que essa medida superfície do texto. Soma-se a isso o fato
melhoraria a qualidade na capacidade do que a redação tem servido de instrumento
aluno de se expressar por escrito. No para avaliar o desempenho do aluno no
entanto, diversos trabalhos e pesquisas de conhecimento da língua padrão, única
estudiosos da linguagem, como é o caso de variedade linguística reconhecida no meio
Pécora (1983), Geraldi (1991) e Travaglia escolar.
(2002), mostram que o problema não estava Nesses últimos anos, muitas descobertas
na falha linguística dos alunos, não se têm sido feitas em todas as áreas,
tratando de uma deficiência patológica, mas principalmente no campo da comunicação,
estava diretamente relacionado com as sendo que as práticas de interação social
condições de produção e do processo de vêm mudando com bastante frequência.
ensino e aprendizagem da atividade de Não seria, então, papel da escola o de trazer
escrita, efetuada na sala de aula. Grosso essa realidade para ser trabalhada pelos
modo, a problemática não estava na alunos na aula de língua materna? Sob essa
produção dos alunos, mas nas concepções e ótica, vemos o texto e, de modo mais amplo
na inadequação das propostas de produção o gênero textual, como objeto de estudo no
escrita, o que acabava afetando a qualidade ensino de língua. Surgem as questões: como
do produto em si. Em síntese, um processo estudar o texto? De que maneira trabalhá-
inadequado gerava um produto de baixa lo? Ao nosso ver, deve ser abordado por de
qualidade. O que estava faltando é que o diferentes estratégias de leitura e produção
aluno pudesse assumir seu papel de sujeito- textual (oral e escrita), prática didático-
autor ao produzir seus textos. metodológica que, paulatinamente, poderá
aperfeiçoar a capacidade de expressão do
aluno, tanto falando como escrevendo.

81
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

O texto e o gênero textual intencionalidade. Eles apresentam


Eleito o texto (e o gênero textual) como diferentes caracterizações, com
objeto de estudo, é de primordial vocabulários específicos e empregos
importância que seja definido a concepção sintáticos apropriados, em conformidade
que temos em mente. Quando nos referimos com a função social que exercem. No
a texto, estamos pensando em uma entender de Bronckart (1999, p. 48),
materialidade linguística de variada “conhecer um gênero de texto também é
extensão, que constitui um todo organizado conhecer suas condições de uso, sua
de sentido, isto é, seja coerente e adequado pertinência, sua eficácia ou, de forma mais
à comunicação (tanto oral quanto escrita) a geral, sua adequação em relação às
qual se propõe, em determinada situação características desse contexto social”.
social. Trata-se de uma produção verbal que Nesse contexto, compete ao professor de
exerce adequadamente sua funcionalidade língua materna criar oportunidades para que
comunicativa, ou seja, de uma manifestação o aluno estude os mais diversos gêneros
verbal, constituída de elementos textuais, sua estrutura e funcionalidade,
lingüísticos de diversas ordens, para que se tornem capazes não só de
selecionados e dispostos de acordo com as reconhecê-los e compreendê-los, mas
virtualidades que cada língua põe à também de construí-los de modo adequado,
disposição dos falantes no curso de uma em suas variadas situações sociais.
atividade verbal, de modo a facultar aos Fazemos nossas as palavras de Geraldi
interactantes não apenas a produção de (2006), quando o autor especifica que o
sentidos, como a de fundear a própria exercício dessas habilidades pode
interação como prática sociocultural. proporcionar o desenvolvimento da
(KOCH, 2003, p. 31). competência comunicativa do aluno,
Nesse sentido, Marcuschi (2002, p. 24) capacitando-o a um bom desempenho na
define o texto como “uma identidade sua vida diária, nos mais diversos eventos
concreta realizada materialmente e de interação verbal.
corporificada em algum gênero textual”. Seguindo essa linha de pensamento,
Isso mostra que o texto, ao circular Brait (2002) enfatiza que, ao estudar os
socialmente, sob uma enorme gama de gêneros textuais, precisamos considerar os
gêneros textuais, pode ser desde um diferentes aspectos que constituem seu
enunciado como “Pega ladrão!”, processo de produção, circulação e
“Socorro!”, uma poesia, uma crônica, uma recepção. Suas condições de produção e de
bula de remédio, uma receita culinária, um recepção remetem ao questionamento:
e-mail, uma reportagem, uma charge, uma quem produz a mensagem para quem?
história em quadrinhos, um edital, um blog, Trata-se da identidade social do produtor e
uma ata, uma resenha crítica, um bilhete, do receptor; já a circulação refere-se ao
um manual de instrução até um romance de veículo em que circula a mensagem. Tudo
vários volumes. Para Pereira et al. (2006, isso remete à mensagem em si, ou seja, por
32), o gênero textual “refere-se aos textos que aquilo é dito daquela maneira e não de
encontrados na vida diária que apresentam outro modo? Para Marcuschi (2008, p.
características sócio-comunicativas 149), “o trato dos gêneros diz respeito ao
definidas pelo contexto de produção, trato da língua em seu cotidiano nas mais
conteúdo, propriedades funcionais, diversas formas”.
estruturação do texto”. Como o leitor já deve ter percebido, na
Os gêneros textuais remetem aos medida em que trabalhamos o gênero
diferentes formatos que os textos assumem textual em sala de aula, levando em conta
para desempenhar as mais diversas funções seu caráter funcional, isto é, a partir do
sociais, ressaltando suas propriedades papel social que o texto exerce na
sociocomunicativas de funcionalidade e de sociedade, deixamos de fazer redação

82
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

(gênero escolar) para produzir textos de produção textual consiste nos possíveis
(diferentes gêneros textuais). De acordo receptores do texto produzido. Por que
com Geraldi (2006), o aluno deixa de pensamos que o texto construído em aula
desempenhar o papel de função-aluno e precisa sempre ser lido pelo professor? E
passa a exercer o papel de sujeito-aluno, mais, sempre receber uma nota? Por que
aqui, no caso, o aluno assume o papel de não pode estar dirigido a um colega da
sujeito de seu texto, pois diz o que tem a turma, ou de outra série, ou a um amigo, ou
dizer e não aquilo que o professor espera a leitores de um jornal, entre várias outras
que ele diga. possibilidades? Essa mudança de
Dito de outra forma, abandonamos o concepção traz a tona outro fator: se o texto
exercício mecânico e sem sentido de redigir é visto como um processo de interação entre
um texto dissertativo, para que o professor interlocutores e não um produto final a ser
possa avaliar o desempenho linguístico do avaliado, é digno de ser refeito a partir do
aluno, e passamos à prática social de diálogo que o leitor estabelece ao tentar
interagir com o outro por meio de gêneros compreendê-lo.
textuais que circulam em nossa sociedade. Temos, assim, um novo desafio à prática
Passamos a produzir cartas pessoais e de de produção textual no processo de ensino
opinião, editorial, charge, história em e aprendizagem de língua materna: o texto
quadrinho, poema, e-mail, blog, resenha é um processo, portanto, caso apresente
crítica, resumo, receita culinária, fábula, problemas, tanto na abordagem do
crônica, reportagem, ata, ofício, curriculum conteúdo, na estrutura, como nos elementos
vitae, comunicação, artigo científico e gramaticais, precisa ser re-escrito. Qual é o
tantos outros mais dessa natureza. papel do leitor, principalmente do
Seguindo essa perspectiva, o sentido não professor, diante desse texto? De que
está no texto, mas é produzido pela maneira o leitor pode dialogar com o autor,
interação estabelecida entre seu autor e o apontando aspectos que podem melhorariar
leitor/ouvinte, na medida em que ocorre o a qualidade comunicativa de seu texto?
processo de leitura-escuta, através da Deve usar grades, cartas finais, assinalar
compreensão. Vale lembrar que embora o nas bordas, enfim, como proceder? Há uma
sentido seja produzido, isso não significa fórmula ideal para interagir com o texto do
que qualquer interpretação seja válida, uma aluno? Therezo (2008) defende que o uso
vez que existem pistas deixadas pelo autor de indicadores, cartas finais, ou mesmo
em seu texto que acabam delineando e grades são maneiras produtivas de mostrar
delimitando determinados sentidos ao autor em que e como seu texto pode ser
possíveis, impossibilitando o aceite de melhorado tanto em aspectos cognitivos,
qualquer interpretação. estruturais, linguísticos, enunciativos como
Resumidamente, ao produzir um texto, o discursivos. Diante dessa situação,
aluno deve assumir-me como locutor, como perguntamo-nos: Como estimular e orientar
sujeito de seu dizer, e isso implica que ele a re-escrita do texto do aluno?
tenha o que dizer e tenha razões para esse
dizer; que ele saiba a quem dizer, e com que Além de escrever, é preciso re-
finalidade produz seu dizer. O escrever!
conhecimento desses elementos o auxilia na A prática de escrita consiste em um
escolha das estratégias que constituem seu processo que depende de várias etapas para
dizer, na seleção dos mecanismos que que possa ser realizada com sucesso.
determinam o modo de dizer, por fim, na Concordamos com Antunes (2006, p. 168)
escolha do gênero textual a ser empregado quando a autora defende que escrever um
em diferentes situações sociais. texto consiste em “uma atividade que supõe
Outra questão importante na passagem informação, conhecimento do objeto sobre
do ato de fazer redação para a prática social o qual se vai discorrer, além, é claro, de

83
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

outros conhecimentos de ordem textual- existem diferentes maneiras de dialogar


discursiva e linguística”. com o texto: fazendo indicações na borda,
Nesse contexto, é de extrema no corpo do texto ou no final, usando grades
importância que o professor de língua tenha previamente estabelecidas. Entendemos
consciência do que consiste o processo de que seja de suma importância que o leitor
produção de textos, pois essa estratégia vai escreva uma carta, orientado em que
muito além da simples atividade de fazer aspectos o texto pode ser aperfeiçoado. Para
um texto a partir de um título, de uma Gonçalves (2009, p. 19), a reescrita vai,
temática, de uma imagem ou mesmo de um obviamente, exigir do professor uma
fragmento de outro texto. Existe todo um concepção dialógica da linguagem, que é o
trabalho de estudo, de contextualização do seu verdadeiro papel; isto é, a reescrita vai
assunto a ser abordado, antes de chegar à possibilitar ao aluno ajustar o que tem a
etapa de produção propriamente dita. Além dizer à forma de dizer de um determinado
do conhecimento cognitivo, deve haver um gênero. Isso contribui para a constituição do
estudo do gênero a ser produzido: quem aluno enquanto sujeito que diz o que diz
escreve, para quem, com que finalidade, para quem diz, bem como vai ajudar o aluno
onde circula, se a linguagem é mais ou a escolher adequadamente as estratégias
menos formal, qual o vocabulário mais para realizar sua tarefa e, obviamente, a ter
adequado, entre outras questões dessa para quem dizer o que tem a dizer.
natureza. É preciso que haja conhecimento Seguindo a sequência didática do
da estrutura da frase, do parágrafo, do texto; processo de escrita, o aluno-autor volta a ler
e domínio de usos de elementos de coesão seu texto, observando as indicações feitas e
e linguísticos. Enfim, o produtor de um o re-escreve, reorganizando seu dizer.
texto precisa ter conhecimento de vários Como vemos, essa etapa é bem mais
elementos e mecanismos implicados no complexa do que o simples ato de passar a
processo de construir textos, tendo em limpo. O número de vezes que o texto será
mente que se trata de uma prática social e re-escrito dependerá das condições
não de um ato mecânico, destituído de didático-metodológicas de cada processo
sentido. de escrita. O importante é que o espaço de
Todavia, essa sequência didática ainda re-escrita seja instituído e efetuado no
não está completa, pois, houve a preparação ensino de língua, na escola. Vale lembrar
e a produção. É chegado, então, outro que a re-escrita é parte integrante do
momento da interação social (da leitura e da processo de escrita, na qual o aluno é
compreensão) por parte de um leitor, que estimulado a aperfeiçoar seu texto, sob
pode ou não ser o professor. Qual seria o orientação de um leitor mais experiente
papel do leitor no processo de ensino e que, boa parte das vezes, será o professor
aprendizagem da escrita, na escola? Ao analisar livros didáticos voltados tanto
Compete ao leitor interagir, dialogar com o para o ensino fundamental quanto do
texto produzido. Mas como fazer isso? No médio, foi possível perceber que
caso do professor, ele deve ler o texto não praticamente todos eles apresentam
somente considerando questões gramaticais propostas de produção textual, com maior
e de coesão, que estão na superfície do ou menor enfoque ao gênero, entretanto,
texto, mas conferir também o sentido ainda é bastante raro encontrar espaço e
produzido e todos os efeitos enunciativos e orientação à re-escrita dos textos
discursivos envolvidos nesse processo. produzidos. Essa realidade precisa ser, aos
Defendemos a visão de que o mestre deve poucos, mudada. Mas, para que isso
apontar e orientar em que aspectos o autor aconteça, o professor precisar estar ciente
pode melhorar seu texto, de modo de que a re-escrita consiste em parte
particular, e sua capacidade de se expressar importante do processo de produção textual
por escrito, de modo geral. Para tanto, e deve ser integrada ao exercício da

84
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

produção textual. situação de produção e circulação do texto,


pois, não fazem nenhuma referência à
Propostas de produção textual no variedade linguística a ser adotada e não
livro didático de português proporcionam momento para autoavaliação
Ao analisar diferentes livros didáticos e refeitura do texto.
direcionados ao ensino de língua materna, Os resultados das análises nos mostram
tanto no fundamental quanto no médio, que embora os autores dos livros didáticos
englobando exemplares editados nas assumam a postura de definir o ato de
últimas três décadas, observamos que mais escrita como um processo social de
de 90% deles apresentam propostas de interação verbal, na prática, os exercícios
produção textual, sendo que os exemplares propostos e as metodologias adotadas ainda
produzidos a partir de 2005 abordam o texto enfatizam a produção textual como um
sob uma perspectiva de gênero. Conforme produto. Tendo essa noção como base, não
Macedo Reinaldo (2005, p. 92), “embora os há enfoque no leitor-ouvinte, na
autores dos livros didáticos de português compreensão, o que acaba não dando
estejam sensibilizados para a inclusão de espaço à re-escritura do seu dizer.
textos representativos dos diversos gêneros Acreditamos ser esse o motivo de encontrar
como objeto de leitura, nem sempre oportunidades tão raras de propostas de
apresentam orientação metodológica releitura, de reorganização, enfim, de re-
suficiente para a produção desses textos”. A escritura do seu próprio texto.
análise dessas obras revela que até há a
inclusão do gênero, mas sua abordagem é Questões
superficial, restando ao professor o papel de
abordar de modo sistemático e complexo o 01. (Prefeitura de Itapiranga/SC –
caráter funcional e social do gênero. Surge, Professor de Português – AMEOSC -
então, a questão: nossos professores em 2021) A Linguagem é uma forma de ação
serviço estão teórica e didaticamente interindividual orientada por uma
preparados para exercer essa função? finalidade específica, um processo de
Fundamentamos nosso dizer com base interlocução que se realiza nas práticas
no trabalho realizado por Costa Val. (2003) sociais existentes nos diferentes grupos de
ao analisar 14 coleções de livros didáticos uma sociedade, nos distintos momentos da
de português voltados ao ensino sua história.
fundamental (11 delas recomendadas e 3 Em relação à Linguagem, é
não pelo MEC), publicadas no Guia de INCORRETO afirmar:
Livros Didáticos do PNLD-2002, com foco A - A linguagem, por realizar-se na
na seção relativa às atividades de produção interação verbal dos interlocutores, pode
de textos escritos. A partir de seu estudo, a ser compreendida sem que se considere o
autora constatou que mais de 90% das obras seu vínculo com a situação concreta de
apresentam “propostas numerosas e produção.
variadas de produção de diversos gêneros e B - A importância e o valor dos usos da
tipos de textos escritos, com sugestões linguagem são determinados
quanto à escolha temática” (p. 131). historicamente segundo as demandas
Acrescenta que há tendência geral a sociais de cada momento.
exercícios claros e com correção na C - É no interior do funcionamento da
formulação das propostas, com a linguagem que é possível compreender o
preocupação em oportunizar a construção modo desse funcionamento.
da forma composicional do texto que será D - Produzindo linguagem, aprende-se
produzido. Mas existem também aspectos linguagem. Produzir linguagem significa
negativos como o descuido na adequação produzir discursos.
do dialeto e do registro no que se refere à

85
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

02. (Prefeitura de Brejetuba/ES – Desses pressupostos, decorre a visão de


Professor de Libras – IDCAP - 2020) homem como sujeito passivo, acrítico; dos
Embora os PCNs não contemplem professores como transmissores de
orientações para o ensino do Português conhecimentos e a visão de ensino da língua
como segunda língua, pode-se como exercício de decodificação através de
perfeitamente adotar esta concepção sobre treinamento de letras e sílabas, para
o texto nessa perspectiva pedagógica, sem posteriormente, vencidas as barreiras da
negligenciar os outros aspectos relevantes. fase inicial, voltar-se para o ensino
No caso do ensino para surdos, o texto, prescritivo, normativo. No entanto, cabe
assim concebido, parece ser de importância perguntar se o papel da escola é ensinar
capital, tendo em vista que, embora os metalinguagem ou é ensinar os usos reais da
surdos não tenham o português como língua língua? Afinal o que interessa não é
materna, estão inseridos em boa parte dessa possibilitar ao aluno fazer usos da língua
cultura linguística: os nomes das ruas, das em situações orais e escrita com fluência,
praças, das lojas, a propaganda, o extrato com argumentatividade para se colocar no
bancário, o cartão de crédito, de mundo? Essas questões nos fazem lembrar
aniversário, de natal, constituem apenas Moacir Gadoti quando em seu livro
uma pequena parte do grande universo que Comunicação Docente diz que “vir ao
são as práticas sociais fundadas na(o): mundo é tomar posse da palavra, é fazer da
A - Cognição. experiência um ato discursivo”.
B - Alfabetização. Criticar a demasiada ênfase dada à
C - Inclusão. gramática normativa não é sugerir que se
D - Letramento. retire da escola a análise da língua, mas que
E - Interlocução. a análise da língua seja efetuada a partir dos
textos que circulam na sociedade
Alternativas materializados em “gêneros textuais” e da
“gramática própria da criança”,
01. A | 02 - D (manifestada nos seus textos orais e
escritos) uma vez que, ao chegar à escola,
ela já percebeu a teoria da língua em
(Cap. 4- O papel da revisão na decorrência do seu trabalho de cognição e
apropriação de habilidades textuais pela interação na comunidade linguística em que
criança, p. 69- 84) vive. Sírio Possenti (1996) enfatiza que
saber uma gramática não significa “saber de
cor” algumas regras, algumas análises
morfológicas, sintáticas; o mais profundo
Perspectivas Teóricas desse conhecimento é o conhecimento
Ao refletir sobre a escrita, observa-se intuitivo, inconsciente, necessário para se
que a obsessiva ênfase no ensino da falar uma língua (conhecimento que o aluno
metalinguagem tem distorcido o verdadeiro já tem e que precisa expandir, pois se
sentido da escola que é ensinar a língua alguém fala uma língua é porque tem
(oral e escrita) em seus usos e funções51. domínio de uma gramática interna).
Muitas crenças presentes na relação Tomando como referência o
ensino/aprendizagem da língua, se devem, aprendizado da fala, a criança não tem que,
entre outros aspectos, à visão de primeiro aprender sintaxe de colocação,
aprendizagem como um jogo de estímulo e mas desde muito cedo já é capaz de articular
resposta e ao apego aos aspectos descritivos frases completas, fazem perguntas,
da língua.

51 Margareth Correia Fagundes Costa. A Produção Textual Por Margareth%20Correia%20Fagundes%20Costa%20-%20ok.pdf. Visitado


Crianças: O Papel Da Revisão Textual E Da Reescrita De Textos. Ufpe. em 14.09.2022.
http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ABRALIN_2009/PDF/

86
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

afirmações, negações, exclamações. É que, por sua vez, sedimentam suas


admirável com que rapidez a criança estruturas e que precisam ser ensinadas.
aprende um objeto tão complexo como a Nessa perspectiva, é preciso que
língua sem que ninguém precise ficar vejamos a escrita na escola, não como uma
ensinando, pelo menos, aquele ensino questão de fazer redação para o professor
formal, técnico, através de exercício e ler e dar nota, mas como um trabalho
treinamentos. O que chama atenção no produtivo - perspectiva já apontada por
aprendizado da língua oral não é a questão (Geraldi, 1983) em seu livro O texto na sala
de ser fácil, pois, na verdade, é um trabalho de aula e, posteriormente, Portos de
laborioso e complexo, mas o que se observa passagem em que vamos encontrar a
no aprendizado da fala é que ela ocorre em proposta da pesquisa, do estudo, leitura,
uso efetivo da língua, sempre releitura, escrita, para possíveis reescritas,
contextualizado, significativo. A fala se pois o texto não nasce pronto, acabado. Dos
desenvolve sem que ninguém precise gêneros formais aos mais informais como
conduzir, treinar, exercitar e é fruto de uma diários, cartas, músicas, poesias, etc, todos
interação em situações linguísticas reais. É vão apresentar suas especificidades, mas
a exposição diária, constante, é o convívio todas essas situações permitem a tentativa,
com o objeto do conhecimento (língua oral) os desvios, acertos, reescrita, até chegar a
que possibilita a internalização dos padrões uma forma mais elaborada e todas essas
de regularidades da língua, num processo situações requerem a funcionalidade e
bastante natural e espontâneo. contextualização das atividades.
Sabe-se que o aprendizado da língua Se nesse momento está em discussão a
escrita não é natural e espontâneo (mas o escrita, a reflexão e a reescrita, cabe
convívio com gêneros escritos tem sua lembrar, como a questão da gramática
relevância) e que é preciso ante aos alunos revela-se em diferentes concepções,
dá prioridade à função comunicativa, com orientações didáticas, uma vez que essas
lembra schneuwly (2004, p.48): o Prepará- concepções teóricas norteiam as práticas de
los para dominar a língua em situações ensino. Ampliando essas discussões, Sírio
variadas, fornecendo-lhes instrumentos Possenti (op. cit) fez interessantes
eficazes; o Desenvolver nos alunos uma elucidações acerca dos conceitos de
relação com o comportamento discursivo gramática, buscando compreendê-los
consciente e voluntário, favorecendo quanto a suas funções e objetivos, o que é
estratégias de auto-regulação; o Ajudá-los a interessante para a compreensão desse
construir uma representação das atividades trabalho, pois afinal pensar o papel da
de escrita e fala em situações complexas, revisão textual e da reescrita nas produções
como produto de um trabalho e de uma escritas infantis exige uma noção muito
lenta elaboração. clara do que vem ser gramática.
Uma tentativa de dar mais vida ao ensino Conforme esse autor, temos a gramática
da língua escrita nas escolas seria buscar normativa - (conjunto de regras que são
mais aproximação com as situações seguidas) é o conceito mais popular, é o que
linguísticas da vida cotidiana. Só se aprende se encontra em gramáticas pedagógicas e
a falar/ falando; só se aprende escrever, livros, cujos objetivos, é fazer com que
escrevendo/ reescrevendo; só se aprende a leitores “aprendam falar e escrever
ler/lendo, comentando/ discutindo os textos corretamente”, na verdade, prescreve “o
lidos e reescritos, num processo de reflexão certo”, “o errado”; a gramática descritiva -
constante. Estudos na perspectiva dos ( conjunto de regras que são seguidas) é a
(Dolz,Schneuwly, 2004), (Marcuschi, gramática que orienta os trabalhos de
2001, 2008) indicam que os usos linguistas, cuja preocupação é descrever ou
linguísticos são situados no espaço e no explicar as línguas como são faladas, seu
tempo, sedimentados em práticas sociais objetivo maior é explicitar as regras

87
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

utilizadas pelo falante sem emitir juízo “agente foi“, a gente foi”, “nós fomos”
valorativo e, finalmente, a gramática (gramática descritiva) para situarmos, do
internalizada - ( conjunto de regras que o ponto de vista da aceitabilidade social, a
falante domina) refere-se às hipóteses sobre construção mais indicada (gramática
os conhecimentos que habilitam o falante normativa) e esclarecer que nosso modo de
produzir frases ou seqüências de palavras, falar pode mudar a depender da
de maneira tal, que essas frases ou situação(valorização da gramática interna).
sequências sejam compreensíveis e Assim, o trabalho de revisão textual e
reconhecidas como pertencendo a uma reescrita, aqui defendido, caracteriza-se
língua. Diz respeito ao conhecimento como momentos de reflexão sobre o texto,
lexical (capacidade de empregar as palavras buscando aprimoramento não só no
adequadas) e ao conhecimento sintático - aspectos linguísticos, mas sobretudo do
semântico - discursivo (distribuição das ponto vista dos sentidos, para que a
palavras de maneira tal que venham finalidade comunicativa não seja
produzir sentidos). prejudicada. Trata-se de um procedimento
Desenvolver a gramática interna do diferente de simplesmente apontar o certo e
aluno é defender e praticar a linguagem o errado, configurando-se como uma
enquanto ação produtiva, interativa e oportunidade por parte
comunicativa, o que envolve esses professor/grupo/aluno de estabelecer as
conhecimentos acima expostos; é construções mais indicadas do ponto de
desenvolver a capacidade de reflexão sobre vista formal e informal e da comunicação.
o mundo e também sobre as próprias Em relação ao momento da revisão do
especificidades da linguagem. A linguagem texto Rocha (2005, p. 73) afirma: Durante o
emerge das relações de troca e é, portanto, processo de revisão o aluno tem
nas atividades sociais, inclusive na escola, oportunidade de centrar esforços questões
que ocorrem as aprendizagens intencionais pertinentes ao plano textual-discursivo,
conforme Schneuwly, (2004). Mesmo como dizer mais, dizer de outro jeito,
intencionais, são elas que, paralelo as analisar e/ou corrigir o que foi dito, visando
aprendizagens incidentais, corroboram para ao sucesso da interlocução enquanto
o desenvolvimento do aprendiz. “proposta de compreensão” feita ao locutor,
Logo, o ensino da língua portuguesa como também poder focalizar questões
deve retirar do contexto social suas relativas às normas gramaticais e às
situações de leitura e escrita. Leitura convenções – concordância, ortografia,
entendida como ato de significação em que caligrafia – que igualmente importantes
o leitor através de estratégias cognitivas e para o bom funcionamento da interação
das experiências de vida é capaz de mediada pela escrita.
construir o sentido do texto e ir além dele Também em Schneuwly (2004, p.112)
para criticá-lo e contrapô-lo, se necessário. vamos encontrar uma defesa da revisão
Escrita vista como uma atividade textual: “podemos até dizer que considerar
enunciativa, comunicativa, como seu próprio texto como objeto a ser
linguagem em funcionamento (Bronckart et retrabalhado é o objetivo essencial do
al 1989). ensino da escrita”. Perspectiva apresentada
Cabe ressaltar que a análise dos fatos da pelos PCNs (1997, p.47) que apontam: “O
língua deve emergir não necessariamente objetivo é que os alunos tenham uma
dos manuais didáticos ou programas atitude crítica em relação à sua produção de
preestabelecidos, mas, sobretudo, das texto, o conteúdo a ser ensinado deverá ser
próprias produções escritas dos alunos. procedimentos de revisão dos textos que
Ainda lembrando Possenti, se o aluno produz.
escrever “nós foi”, seria interessante buscar
todas as formas possíveis: “nós foi”,

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Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Questões do conhecimento em todos os campos de


atuação:
01. (Prefeitura de Fortaleza/CE – A - Planejamento de texto.
Professor Língua Portuguesa – B - Revisão de textos.
IMPARH - 2021) Conforme Isabel Solé*, C - Reconstrução das condições de
as estratégias de leitura, realizadas antes, produção e recepção de textos.
durante e depois das atividades com esse D - Edição de textos.
fim, “ajudam o estudante a utilizar o E - Utilização de tecnologia digital.
conhecimento prévio, a realizar inferências
para interpretar o texto, a identificar as Alternativas
coisas que não entende e esclarecê-las para
que possa retrabalhar a informação 01 – A | 02 - C
encontrada por meio de sublinhados e
anotações ou num pequeno resumo, por
exemplo”. A etapa de construção de novos Cap. 5- A produção de textos escritos
conhecimentos, consequência do narrativos, descritivos e argumentativos
entendimento do texto, segundo a autora na alfabetização: evidências do sujeito
espanhola, se mostra pouca efetiva, uma na/da linguagem, p. 85-108)
vez que:
*In https://novaescola.org.br/conteudo/304/para-isabel-sole-a-
leitura-exige-motivacao-objetivos-claros-e-estrategias (acesso em
13/03/2021). Letramento
A - é raro discutir a leitura como um Muitos não sabem o que significa ou até
meio para a aquisição desses novos mesmo não conhecem essa palavra, embora
conhecimentos, pois, apesar de a leitura ser outras palavras (com sentido negativo)
uma habilidade adquirida, aprendida, há sejam mais familiares aos ouvidos das
pouca reflexão sobre ela com o fim de pessoas, como por exemplo, analfabetismo
aprender. que é definida pelo dicionário como:
B - pode ser observado que os alunos “estado ou condição de analfabeto [...] que
apresentam a habilidade de ler, por não possui instrução, ignorante, ou ainda
conseguinte se mostram capazes de atribuir alfabetização/alfabetizar, ensinar a ler e a
sentido ao objeto da leitura, no entanto não escrever” (FERREIRA, 2002, p. 127)52.
se geram novos conhecimentos. O significado da palavra letramento veio
C - o ato de ler um texto em sala de aula da tradução da palavra da Língua Inglesa
implica necessariamente a habilidade de literacy, já existente: Etimologicamente, a
processar a informação nele contida para, palavra literacy vem do latim littera (letra),
consequentemente, produzir novos com o sufixo –cy, que denota qualidade,
conhecimentos. condição, estado, fato de ser (como, por
D -a aquisição de novos conhecimentos exemplo, em innocency, a qualidade ou
representa o resultado automático do condição de ser inocente). No Webster’s
domínio dos códigos de leitura e a Dictionary, litteracy tem a acepção de “the
compreensão leitora no ambiente escolar. condition of being literate”, a condição de
ser literate, e iliterate é definido como
02. (Prefeitura de Cabedelo/PB – “educated; especially able to read and
Professor de Educação Básica – EDUCA write”, educado, especialmente, capaz de
- 2020) Segundo a BNCC, o componente ler e escrever. Ou seja: literacy é o estado
curricular Língua Portuguesa de 1º ao 5º ou condição que assume aquele que
ano do Ensino Fundamental indica para as aprende a ler e escrever (SOARES, 2006, p.
práticas de Leitura/escuta o seguinte objeto

52 Silva, Ruth Pinto da Letramento e gêneros textuais: seus fundamentos http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/2982/1/PDF%20


/ Ruth Pinto da Silva. – Guarabira: UEPB, 2014. Universidade Estadual -%20Ruth%20Pinto%20da%20Silva.pdf. Visitado em 14.09.2022.
da Paraíba.

89
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

17, grifos da autora). linguagem.


Portanto, o aprender a ler e a escrever Por sua vez, os gêneros discursivos
(alfabetizar-se) implica na mudança de fazem representações linguísticas na
estado ou condição social, cultural, política comunicação. Embora exista prejuízo em
e econômica na vida do individuo, essas algumas funções expressivas individuais do
mudanças são designadas literacy. Daí que falante e do ouvinte, a mensagem entre
vem o significado de letramento, que é o emissor e receptor não se dá apenas através
estado ou a condição que adquire um da fala, pois há outros meios.
indivíduo como consequência de ter Sabemos que o diálogo é a principal
aprendido a ler e escrever. forma de comunicação, porém não é o único
É entendido, pois, que alfabetização é meio para uso da linguagem. Existem meios
“ensinar a ler e escrever” e letramento é o que vão além dos domínios da voz, por
estado ou condição de quem, além de saber exemplo, os meios de comunicação de
ler e escrever, põe em prática a leitura e a massa e as mídias eletrônico-digitais. Tudo
escrita. Pode-se dizer que é um estágio isso faz parte da diversidade dos gêneros
superior ao alfabetismo. discursivos, ou seja, existem vários meios
Sobretudo, vale ressaltar que há nível de na comunicação para se fazer uso da
letramento que avalia, segundo Soares linguagem na vida cotidiana.
(2006), o uso que as pessoas fazem da Bakhtin (1997) ainda sugere outras
leitura e da escrita. esferas do discurso que vão além da
comunicação verbo-visual como, por
Gêneros Discursivos/ Textuais exemplo, placas na rua ou anúncios
Em A Poética, de Aristóteles (2001), os luminosos.
gêneros são classificados como obras da A estes Bakhtin se refere como polifonia
voz (formas de representações). Antes, urbana, fato que não exclui a denominação
porém, Platão, em A República (2000), faz desses gêneros de discursivos e de grande
relações entre realidade e representação. relevância.
Dessa forma teria surgido a prosa Segundo Irene Machado (2007, p. 155),
comunicativa, ou seja, interação que se os gêneros discursivos são dispositivos de
realiza através do discurso, do diálogo. organização, troca, transmissão e,
Portanto, estudos de Platão e Aristóteles sobretudo, “elos de uma cadeia que não
serviram como base teórica do que se apenas une como também dinamiza as
entende como gênero. Mais tarde Mikhail relações entre pessoas ou sistemas de
Bakhtin (1997) desenvolveu estudos sobre linguagem e não apenas entre interlocutor e
gêneros discursivos, onde gêneros e receptor”.
discursos passam a ser vistos como “esferas Os gêneros textuais surgiram, digamos,
de usos da linguagem verbal”. conforme as necessidades e atividades
Bakhtin (1997) faz alusão ao romance socioculturais, ou seja, os gêneros textuais
em seus estudos, nele encontrou “a possuem ligações com a vida cultural e
representação da voz na figura dos homens” social. Dessa forma, eles tendem a situar-se
mostrando diversidade nas formas e integrar-se em função das culturas onde
discursivas da oralidade e também estão inseridos, pois também são práticas
possibilidades de combinação não só de sociocomunicativas.
gêneros, mas de discursos. Já Irene Portanto, sofrem variações e, muitas
Machado (2007) afirma que a prosa é um vezes, resultam em outros/novos gêneros.
fenômeno de permeio, passando de uma As tecnologias (ligadas à área da
cultura a outra, evoluindo suas práticas comunicação) como o rádio, a televisão, o
comunicativas e, assim, usando os gêneros jornal, a revista e a internet, principalmente,
discursivos (em que se organizam os textos) têm contribuído bastante para o surgimento
em suas diferentes esferas de uso da de novos gêneros textuais. A intensidade

90
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

dos usos e suas interferências na talvez pelo fato de que no gênero se


comunicação diária têm sido marcantes e encontrem tipos textuais, podendo haver
propícias ao aparecimento de novos dois ou mais tipos (heterogeneidade
gêneros, baseados em outros já existentes tipológica). Há casos também, em que um
(como, por exemplo, as cartas eletrônicas). gênero pode assumir a forma de outro,
Certos gêneros possuem uso e ocorrendo o fenômeno da hibridização ou
funcionalidade próprios. Porém, se usarmos mescla de gêneros, que é chamado de
em outro quadro comunicativo e funcional, intertextualidade intergêneros.
surgirão novos objetivos, ou seja, o que Segundo Marcuschi (2005), os tipos
define ou caracteriza os gêneros textuais textuais são definidos por seus traços
não são apenas os aspectos formais linguísticos predominantes. Assim, um tipo
(estruturais ou linguísticos), mas também textual é dado por um conjunto de traços
aspectos sociocomunicativos e funcionais. que formam uma sequência e não um texto.
Contudo, em muitos casos são as formas Dessa forma, o que denomina um texto
que determinam o gênero e, em outros, narrativo é uma sequência temporal. No
serão as funções, como também haverá descritivo, a sequência é de localização; no
casos em que será o próprio suporte do texto expositivo, a sequência analítica ou a
que determinará o gênero. explicativa; no argumentativo predomina a
Marcuschi (2005, p. 21) afirma que “é sequência contrastiva explícita; e no
impossível se comunicar verbalmente a não injuntivo, a sequência imperativa.
ser por algum gênero”, como também “é Já os gêneros textuais, como diz Bakhtin
impossível se comunicar verbalmente a não [1997], são “relativamente estáveis”, são
ser por algum texto”. Resumidamente, “a fenômenos sociohistóricos e culturais, por
comunicação verbal só é possível por isso não é possível nomeá-los ou
algum gênero textual”. Se a língua é vista caracterizá-los. São formas linguísticas de
como uma forma de ação social e histórica, situações sociais particulares e
os gêneros textuais (comunicação verbal) comunicativas, daí a variação, a
são tidos como ações sociodiscursivas. composição e classificação dos gêneros.
Sobretudo é necessário fazer distinção entre Tendo em vista que os gêneros textuais
tipo textual e gênero textual, a saber: possuem capacidade de adaptação, trata-se
Os tipos textuais constituem sequências de uma ação social, quer dizer, os gêneros
linguísticas abrangendo, em sua estrutura, textuais refletem as estruturas sociais
aspectos lexicais, sintáticos, relação lógica típicas de cada cultura. É importante a
e tempo-verbal. relação oralidade e escrita, apesar dos
Os gêneros textuais são realizações gêneros orais serem pouco lembrados; os
concretas das sequências linguísticas, gêneros textuais fundam-se em critérios
definidas por composição, conteúdo e estilo externos: sociocomunicativos e
(segundo Bakhtin, 1997) e também as discursivos; e os tipos textuais fundam-se
propriedades funcionais – não menos em critérios internos: linguísticos e formais.
importantes. Sendo assim, não é apenas questão da
Em geral, os tipos textuais são forma, mas também de uso adequado.
conhecidos como: narração, argumentação, Bakhtin (1997) caracteriza os gêneros em
exposição, descrição, injunção; já os plano composicional, conteúdo temático e
gêneros textuais são inúmeros: carta estilo. Contudo, não significa que as formas
pessoal, notícia, romance, receita culinária, (estruturação) não sejam importantes.
bula de remédio, lista de compras, artigo Ao observarmos todos esses modos e
científico, poesia, outdoor, e-mail, piada, condições, fica claro que os gêneros
cardápio, aulas virtuais etc. Muitos, porém, textuais (oral e escrito) são formas de
empregam a expressão “tipo textual” de práticas comunicativas e promovem modos
forma errônea, trocam por gênero textual, de combinação, variação, propiciando

91
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

dessa forma, oportunidades de se lidar com escala, e na própria escola”; além de


a língua em seus mais diversos usos na vida “escrita constante, várias vezes por dia,
cotidiana. todos os dias: narrativas, cartas etc.
Muita leitura e muita escrita,
Letramento, Gêneros Textuais e simplesmente porque é assim que se
Ensino aprende” (POSSENTI, 2001, pp. 143-4). A
Conforme a definição de Soares (1999, partir disso, com base em Marcuschi (2005,
p. 3), o conceito aproximado de letramento p. 16) compreendemos que “a língua se dá
é “estado ou condição de quem não só sabe e se manifesta em textos orais e escritos
ler e escrever, mas exerce as práticas sociais ordenados e estabilizados em gêneros
de leitura e de escrita que circulam na textuais para uso em situações concretas”.
sociedade em que vive, conjugando-as com Portanto, o de estudo da língua e análise das
as práticas sociais de interação oral (grifos palavras têm de dar lugar ao “ensino-
da autora)”. aprendizagem”, através de textos na forma
Diante disso, qual seria o verdadeiro de gêneros textuais. Há uma enorme
objetivo do ensino de língua? Seria levar o variedade de gêneros textuais existentes na
aluno a adquirir um grau de letramento cada vida social e o ensino tradicional trabalha
vez mais elevado, fazendo com que apenas com os gêneros mais “famosos” da
desenvolva suas habilidades de leitura e literatura (o conto, o romance, às vezes, a
escrita, permitindo-lhe fazer uso eficiente crônica, raramente a poesia).
de tais técnicas. Contudo, de nada adianta, Segundo Bagno (2002, p. 35), os gêneros
ensinar a ler e a escrever e não oferecer textuais orais estão sendo esquecidos,
oportunidades para que esse desprezados por causa do preconceito
desenvolvimento (das habilidades) venha a contra a língua falada, considerada “sem
acontecer. gramática”. Para ele, é importante o estudo
O ensino tradicional tem se limitado das práticas orais para ampliar o conceito de
apenas a ensinar (depois de ler e escrever) letramento. Assim, juntamente com a
as concepções tradicionais de gramática, capacidade que os seres humanos sempre
seguido de exercícios de classificação tiveram, em diferentes épocas e culturas,
morfológica e de análise sintática, tudo centradas em e com a finalidade de
muito repetitivo e monótono, como escreve “transmitir conhecimentos, preservar a
Soares (1988, p. 18), nosso problema não é memória do grupo e estabelecer vínculos de
apenas ensinar a ler e a escrever, mas é, coesão social, por meio de práticas que
também, e sobretudo, levar os indivíduos – independem do conhecimento de qualquer
crianças e adultos – a fazer uso da leitura e forma de escrita”.
da escrita, envolver-se em práticas sociais Bagno (2002, p. 37) fala também de
de leitura e de escrita. outro tipo de letramento, o letramento
Quer dizer, o professor não deve se digital, em que o computador nos apresenta
contentar em apenas ensinar a ler e a novos textos (hipertextos), por isso surgem
escrever (alfabetizar), mas, além disso, novos gêneros e “novos comportamentos
oferecer aos alunos, condições para o sociais referentes às práticas de uso da
desenvolvimento, cada vez maior, das linguagem oral e escrita e cobrando de nós
habilidades de escrita e leitura. novas teorizações e novos modelos de
Dessa forma, as aulas de português não interpretação dos fenômenos da
se limitariam apenas à gramática linguagem”.
(tradicional, normativa e prescritiva). Ao A prática da redação escolar dificulta
invés de nomenclatura e exercícios bastante o ensino de língua, pois despreza
mecânicos e enfadonhos, deveria-se propor os princípios básicos para a produção do
“leitura de material variado (jornal, revista, texto. De acordo com Bagno (2002), são
literatura – especialmente literatura) em alta eles: quem escreve, o que escreve, para

92
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

quem escreve, para que escreve, quando e situações de comunicação e interação).


onde escreve, isto é, em que situação O objetivo da proposta é simples, a
cultural, social, temporal e espacial. língua deixa de ser vista como apenas
A seguir uma proposta de Soares (1999, regras, para ser uma prática de interação
pp. 4-5), quanto aos objetivos do ensino de sociocomunicativa.
língua na escola:
(1) Promover práticas de oralidade e de Questões
escrita de forma integrada, levando os
alunos a identificar as relações entre 01. (Prefeitura de Vila Velha/ES –
oralidade e escrita. Professor – Pedagogo – IBADE - 2020)
(2) Desenvolver as habilidades de uso da “A linguagem ocupa um papel central nas
língua escrita em situações discursivas relações sociais vivenciadas por crianças e
diversificadas em que haja: adultos. As crianças, desde cedo, convivem
- motivação e objetivo para ler textos de com a língua oral em diferentes situações:
diferentes tipos e gêneros e com diferentes os adultos que as cercam falam perto delas
funções; e com elas.
- motivação e objetivo para produzir Por meio da oralidade, as crianças
textos de diferentes tipos e gêneros, para participam de diferentes situações de
diferentes interlocutores, em diferentes interação social e aprendem sobre elas
situações de produção. próprias, sobre a natureza e sobre a
(3) Desenvolver as habilidades de sociedade. Na instituição escolar, elas
produzir e ouvir textos orais de diferentes ampliam suas capacidades de compreensão
gêneros e com diferentes funções, e produção de textos orais, o que favorece a
conforme os interlocutores, os seus convivência delas com uma variedade
objetivos, a natureza do assunto sobre o maior de contextos de interação e a sua
qual falam ou escrevem, o contexto, enfim, reflexão sobre as diferenças entre essas
as condições de produção do texto oral ou situações e sobre os textos nelas
escrito. produzidos.
(4) Criar situações em que os alunos O mesmo ocorre em relação à escrita. As
tenham oportunidades de refletir sobre os crianças e os adolescentes observam
textos que leem, escrevem, falam ou palavras escritas em diferentes suportes,
ouvem, intuindo, de forma contextualizada, como placas, outdoors, rótulos de
a gramática da língua, as características de embalagens; escutam histórias lidas por
cada gênero e tipo de texto, o efeito das outras pessoas etc. Nessas experiências
condições de produção do discurso na culturais com práticas de leitura e escrita,
construção do texto e de seu sentido. muitas vezes mediadas pela oralidade,
(5) Desenvolver as habilidades de meninos e meninas vão se constituindo
interação oral e escrita em função e a partir como sujeitos letrados.”
do grau de letramento que o aluno traz de Cabe à escola, responsável pelo ensino
seu grupo familiar e cultural, uma vez que formal da leitura e da escrita:
há uma grande diversidade nas práticas de A - repassar os ensinamentos relativos à
oralidade e no grau de letramento entre os gramática da língua para que crianças e
grupos sociais a que os alunos pertencem – jovens leiam com desenvoltura e escrevam
diversidade na natureza das interações orais sem erros.
e na maior ou menor presença de práticas B - transmitir as histórias da cultura
de leitura e de escrita no cotidiano familiar brasileira e treinar a habilidade da escrita
e cultural dos alunos. através de produção de redações com temas
É possível compreender que, com esta variados.
proposta, pode-se haver a prática de leitura C - instruir os alunos quanto à
e escrita (textos falados e escritos em diversidade vocabular existente na Língua

93
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

Portuguesa e a utilização correta da


ortografia. POSSENTI, S. Por que (não) ensinar
D - mostrar com precisão os textos gramática na escola. Campinas/SP:
consagrados da literatura nacional e debater Mercado das Letras, 1996.
sobre as peculiaridades da língua.
E - ampliar as experiências das crianças
e dos adolescentes de modo que possam ler
e produzir diferentes textos com autonomia. Sírio Possenti tem como objetivo em sua
obra nos convencer, através de teses e
02. (Prefeitura de São José/SC – muitos exemplos, em porque a gramática
Auxiliar de Sala – Educação Infantil – não deve ser ensinada nas escolas, ou
FEPESE - 2021) As práticas pedagógicas melhor, em porque a gramática não está
desenvolvidas pelas instituições de sendo ensinada de forma correta pelos
Educação Infantil devem garantir professores.
experiências que contemplem uma
multiplicidade de linguagens e narrativas. Possenti sugere diversas propostas para
Assim, a prática de “contação de histórias” o ensino da Língua Portuguesa que são de
se encerra em uma ferramenta significativa bom senso, podemos citar como exemplo:
para o desenvolvimento infantil. Assinale a VALORIZAÇÃO, da leitura e da
alternativa correta em relação ao assunto. escrita, onde aprende a escrever,
A - As crianças pequenas devem ouvir escrevendo e aprende a ler, lendo;
sempre a mesma história para auxiliar o seu PADÃO DE LÍNGUA, trocar a
processo de interesse e memorização. literatura antiga que é o modelo, pela
B - As histórias precisam ser contadas linguagem dos textos científicos,
sucessivamente em um mesmo local a fim jornalísticos, que apresentam uma forma de
de garantir o silêncio das crianças. linguagem mais próxima do que falamos.
C - Os contos de fadas, o universo dos NOVA VISÃO, a respeito de que o
reis, princesas e bruxas não são educador deve considerar como erros de
recomendados para as crianças, pois podem escrita, mas ressaltando que existem mais
provocar ansiedade e medo. acertos que erros.
D - Criar rituais para o momento de
contar histórias pode auxiliar o processo de Existem propostas que estão muito além
construção do envolvimento e da atenção do que aplicar como uma metodologia do
das crianças em relação às narrativas. ensino, sendo necessária uma revolução
E - Às crianças é desaconselhável cultural, na mentalidade da sociedade e na
recontar histórias do seu jeito, visto que, ao formação dos profissionais da educação
criar suas próprias narrativas, podem acerca de como o ensino passaria a ser
aprender a mentir. entendido e conduzido.
Temos uma Cultura de Ensino
Alternativas Pragmático, ou seja, aula de Língua
Portuguesa é para se ensinar as regras
01 – E | 02 - D
gramaticais, e não ensinar a Língua, pois se
subtende que o aluno não precisa aprender
falar, mas sim escrever e ler.
É importante que tenha revoluções na
educação, que possa passar por uma grande
transformação.

O livro é dividido em duas partes: a


primeira focará em princípios que fariam

94
Conhecimentos Específicos (Lingua Portuguesa)

com que o ensino de língua materna fosse


bem sucedido; enquanto a segunda trará
conceitos de gramáticas relevantes para
uma proposta de ensino.
O autor expõe os problemas que há no
ensino da gramática nas salas de aula e
ressalta o preconceito que há com os alunos
que não aprendem e/ou que chegam na
escola com uma maneira “errada” de falar.
Afinal, não há maneira errada na fala, há
apenas formas diferentes e vivências
diferentes.

Possenti cita três tipos de gramática:


normativa, descritiva e internalizada, ainda
realiza dicas para que não fique somente na
normativa (mais utilizada, padrão).

Segue o link do livro na íntegra:


https://zellacoracao.files.wordpress.com
/2009/03/porque-
nao_ensinar_gramatica_escola.pdf

95
Matemática

SUMÁRIO

Estratégias no ensino de matemática: resolução de problemas, tarefas investigativas,


tecnologias digitais, etnomatemática, modelagem e história da matemática. ........ 1
Números: pensamento numérico, funções dos números naturais: quantificar,
ordenar, comparar, medir e codificar, operações aritméticas, procedimentos de cálculo,
proporcionalidade, ordem e representação. ............................................................. 2
Geometria: noções espaciais: localização, movimentação e representação, figuras
geométricas: identificação, classificação, diferenciação e planificação. ................ 5
Grandezas e Medidas: Unidades de medida: massa, comprimento, capacidade,
tempo, perímetro e área, medida padronizadas e não padronizadas, sistema monetário
e estimativas. ........................................................................................................... 9
Probabilidade e Estatística: Ideias de acaso em situações do cotidiano, Dados: coleta,
leitura, seleção, interpretação, representação, comparação em tabelas e gráficos;
comunicação de dados de pesquisa: produzir textos e solucionar problemas a partir de
dados coletados e produzidos. ............................................................................... 12
Álgebra: desenvolvimento do pensamento algébrico; padrões de regularidades
numéricos ou figurais, regras de formação de sequência numérica ou figural:
ampliação, construção, identificação e descrição; proporcionalidade. ................. 13
Eixos Articuladores: Jogos e Brincadeiras, matemática e educação ambiental e
saúde, Estratégias e procedimentos de resolução de problemas. .......................... 16
PANIZZA, M. Ensinar Matemática na Educação Infantil e séries iniciais: análise e
propostas. Porto Alegre, RS: Artmed, 2006. (Cap. 3- O ensino do número e do sistema
de numeração na educação infantil e na 1ª série. p. 43 - 76); (Cap. 5- Abordagens
parciais à complexidade do sistema de numeração: progressos de um estudo sobre as
interpretações numéricas. p. 95- 142);( Cap.8- Geometria nas séries iniciais do ensino
fundamental: problemas de seu ensino, problemas para seu ensino. p. 169-188). 18

Apostilas Domínio
Matemática

PARRA, C.; SAIZ, C. (Org.). Didática da Matemática: reflexões psicopedagógicas.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. (Cap. 1- Matemática para não-matemáticos p. 11-
250; (Cap.2- A didática da matemática, p. 26-35); (Cap. 5- O sistema de numeração:
um problema didático. p.73-155). ......................................................................... 19
SMOLE, K. S., DINIZ, M.I. (org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades
básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. (Cap. 1-
Comunicação em Matemática, p. 15-28), (Cap. 3- Ler e aprender matemática, p. 69-
86), Cap. 7- Diferentes formas de resolver problemas, p. 121-149). .................... 22

Apostilas Domínio
Matemática

Estratégias no ensino de matemática: -Teste de argumentação: elaboração de


resolução de problemas, tarefas argumentos.
investigativas, tecnologias digitais, Esses momentos, muitas vezes são
etnomatemática, modelagem e história da realizados simultaneamente e não
matemática. necessariamente nessa ordem.

Tecnologias Digitais
A diversidade de estratégias É claro que as crianças têm muita
matemáticas possibilita raciocinar, facilidade com a tecnologia, muitas pessoas
favorece o desenvolvimento. até falam que “parece que já nascem
sabendo tudo!”
Resolução de problemas Desde a alfabetização, o uso da
A resolução de problemas tem mudado tecnologia pode motivar os alunos a
muito com o passar dos tempos. aprenderem, através de jogos, de alguns
Antigamente, era uma forma muito aplicativos que mostrem figuras.
mecânica, onde o professor seguia alguns Por isso, o mais importante é o professor
passos: se adequar a essa nova geração e pesquisar
- Conceito sobre programas, jogos que possam entreter
- Procedimento os estudantes. Assim, ele mostra como
- Aplicação de conceito podemos brincar e aprender ao mesmo
Hoje, os alunos estão diferentes, a tempo.
geração mudou e com isso, o ensino
também têm que mudar. Etnomatemática
O problema é um desafio para os alunos Surgiu nos anos 1970, depois de alguns
e o professor pode usar isso para educadores se mostrarem contra a maneira
desenvolver uma aula que a partir de uma que estava sendo imposta a aprendizagem
prática, a criança aprenda a matéria. É da matemática. O aluno não era “visto”, não
preciso tomar cuidado para que a resolução importava o que e como ele queria
não seja muito difícil, que haverá aprender.
dificuldade em aprendizagem e também D’Ambrosio(1987) afirma que as
não pode ser fácil a ponto do aluno não diferentes formas de matemática que são
aprender novos conhecimentos. próprias de grupos culturais, chamamos de
A resolução de problemas, pode ser Etnomatemática.1
facilmente ligada ao cotidiano, o professor Ou seja, a etnomatemática é uma forma
pode sugerir vários problemas relacionados de aprendizagem através de conhecimentos
a isso, permitindo desenvolvimento de do cotidiano. O professor não precisa
estratégias. ensinar apenas uma maneira de resolver
problemas, ele tem que estimular para que
Tarefas Investigativas o aluno consiga resolver de alguma maneira
Permite desafiar o aluno a criar e pode fazer isso, usando recursos já
experiências que estimulam a criatividade e aprendidos e também conceitos novos
instigam o conhecimento matemático. através de alguma atividade.
Apresentam quatro momentos É mostrar que a matemática está em
- Reconhecimento: exploração da tarefa tudo: na arte, na música, a ida ao
-Formulação de conjecturas: formulação supermercado.
de hipóteses para a resolução da questão.
- Teste: realizar testes e afunilar as
hipóteses levantadas na formulação.

1
D´Ambrosio, U. - “Ethnomatematics and its place in the History of
Pedagogy of Mathematics” - For the Learning of Mahthematics - (1985)

1
Matemática

Modelagem D) Afirma que a construção do


A modelagem matemática é o nome que conhecimento matemático está
damos a essa prática de relacionar o intimamente vinculada à tradição
cotidiano dentro de sala de aula. É vivenciada.
apresentar ao aluno uma tarefa, ou um E) Reconhece a cultura plural
problema e construir o conhecimento valorizando saberes ainda não
matemático através dessa atividade, assim formalizados.
temos mais chances de fixação de conteúdo.
Segundo Barbosa (2001)2, pode assumir 02. (PREFEITURA DE SÃO JOÃO
três configurações: DEL REI/MG – Professor – FUNDEP) A
- O professor descreve a situação e o resolução de problemas é um caminho para
estudante resolve. o ensino da Matemática.
- O professor apresenta um problema de
outra área e assim analisam para chegar a São ações que pressupõem a resolução
uma resolução. de problemas, exceto:
- Os estudantes que formulam o A) Elaborar um ou vários procedimentos
problema, levantam dados, e procuram uma de resolução.
maneira de resolução. B) Compreender apenas o que foi
proposto e responder
História da Matemática C) Comparar resultados pessoais com os
Não é apenas mostrar ao aluno de onde a de outros alunos.
matemática surgiu. É ajudar na evolução D) Validar seus procedimentos.
dos conceitos matemáticos.
O estudante pode contextualizar com Alternativas
questões sociais, culturais de um povo 01. C- 02. B
determinado e saber como chegaram à
conclusão para determinado problema.
Números: pensamento numérico, funções
Questões dos números naturais: quantificar,
ordenar, comparar, medir e codificar,
01. (PREFEITURA DE NOSSA operações aritméticas, procedimentos de
SENHORA DE NAZARÉ/PI– Professor cálculo, proporcionalidade, ordem e
representação.
– AV MOREIRA/2020) Sobre a
abordagem da Etnomatemática é incorreto
afirmar que:
A) A Etnomatemática surgiu na década Os números naturais servem para
de 1970 e foi baseada em críticas sociais quantificar(cardinal), indicar posição
sobre o ensino tradicional de matemática. (ordinal), codificar(código de barras,
B) Tem como pilar relacionar a telefones), medidas.
matemática ao cotidiano do aluno. Na função cardinal, temos que
C) Defende o ensino de matemática diferenciar o recitar os números e contar.
formalista, priorizando os rigores e Sendo que o primeiro, mesmo sendo em
precisões que lhes são peculiares ordem crescente ou decrescente, envolve
apenas a pronúncia e ordem. Já a segunda
parte, é mais complexa e a criança deve
saber fazer a contagem de objetos e saber
que o último número falado, é a quantidade.

2
BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática e os professores: a questão da
formação. Bolema, Rio Claro, SP, v. 14, n. 15, p. 5-23, 2001.

2
Matemática

o estudioso Vergnaud (2009) conceitua aprendizado, pois tais fatos são presentes no
o isomorfismo como sendo uma estrutura dia a dia.
cuja qual consiste numa proporção direta Dentro do ciclo de alfabetização, as
simples entre duas grandezas, por exemplo, crianças resolverão tais problemas por meio
pessoas e objetos, bens e custos, tempo e de desenhos, agrupando a quantidade de um
distância. elemento e depois usando a relação
A partir deste modelo estrutural, comparativa indicando “quantas vezes mais
distingue-se situações de multiplicação se repete aquele agrupamento”.
envolvendo proporcionalidade. No que diz respeito ao produto de
Isomorfismo: em álgebra, é uma medidas, estudam demonstram que o
correspondência biunívoca entre os pensamento multiplicativo se desenvolve
elementos de dois grupos, que preserva as quando o estudante resolve e compreende
operações de ambos. problemas dessa categoria, pois requerem a
Dentro do campo multiplicativo, tem-se ideia da multiplicação para solucioná-los;
a ocorrência de uma proporção direta entretanto, os de proporcionalidade também
simples de duas variáveis, uma em relação podem vir a serem resolvidos com adições
à outra, ou conforme definem alguns de parcelas iguais, no caso de relação “um
autores, uma relação de “um a muitos”. a muitos”.
No entanto, há relação de Ao continuarmos o estudo, é necessário
proporcionalidade que envolvem relação de a análise dos procedimentos de cálculo.
“muitos a muitos”. Segundo pesquisadores informam, crianças
dão sentido aos problemas que envolvem os
Exemplificando: significados da multiplicação a partir de
“Um a muitos”: Pedro toma 2 copos de suas experiências diárias, e, assim,
leite por dia. Quantos copos de leite tomará apresentam formas de multiplicação. Sendo
em uma semana? assim, infere-se que a ideia que se tem da
Faz-se uma regra de três, onde se obterá multiplicação determina a forma como se
o resultado de 14 copos de leite por semana. multiplica, ou seja, os procedimentos de
“Muitos a muitos”: uma torneira enche cálculo.
um tanque com capacidade de 480 litro em
4 horas. Quantos litros de água ela despeja Treffers e Buys (2001) demonstram três
em 8 horas? níveis de aprendizagem na realização de
Ou seja, diante desse caso, também pode cálculos para a multiplicação: cálculo por
se utilizar da regra de três, percebendo a contagem, cálculo estruturado e cálculo
proporcionalidade existente. Ora, se em 4 formal.
horas enche 480 litros, então em 8 horas Cálculo por contagem: é aquele baseado
(dobro do tempo) encherá o dobro de litros, na ação de adicionar parcelas iguais para
qual seja 960. multiplicar. Neste caso, a ação de
No início da aprendizagem as crianças multiplicação não é explícita, pois são
irão resolver tais problemas usando utilizadas adições repetidas.
desenhos, esquemas com o objetivo de Cálculo estruturado: traz a ideia do
demonstrar o raciocínio, bem como o uso agrupamento, ou seja, a mesma quantidade
de adição ou subtração, não usufruindo do se repete algumas vezes, os alunos
raciocínio multiplicativo. Mas é necessário associam essa repetição de agrupamentos à
que haja evolução, que se desenvolva. multiplicação.
Outro ponto relevante do estudo, diz Cálculo formal: sendo aquele que não
respeito à multiplicação comparativa, ou necessita de modelos de apoio ao cálculo.
seja, quando há utilização dos termos Conquanto não se utilizem algoritmo,
dobro, triplo, terça parte, entre outros. É apresentam as sentenças matemáticas e as
matéria de extrema relevância no resolvem recorrendo a diferentes relações

3
Matemática

entre multiplicação e a produtos já Combinado? Esse raciocínio é muito


conhecidos. bom e não tem erro!
E se eu precisar fazer uma conta maior?
Soma E tiver que montar? Aposto que muita gente
As propriedades da soma são: esqueceu como faz conta de subtração.
-Comutativa: a ordem da Parcela, não 300
altera o valor. -109
3+5=5+3
-3+5=5+(-3) 9 não da pra tirar de zero, então
emprestamos, para o zero virar 10(eu não
-Associativa: Em uma adição com três coloquei o 1 junto ao zero, pois a
ou mais parcelas, o resultado também visualização ficaria ruim).
continua o mesmo, independente da ordem. Como o número do lado é zero, pegamos
1+(2+3)=(1+2)+3 do anterior.
1+(-2+3)=(1+(-2))+3

-elemento neutro:o zero é um elemento 29


neutro. 300
Independente de que número você somar -109
a ele, o resultado é o próprio número. ------
2+0=2 191

Subtração Multiplicação
Muita gente acaba confundindo algumas
coisinhas nessa operação, então vamos ver Propriedade Comutativa: a ordem não
se eu consigo esclarecer e tornar a importa
matemática cada vez mais agradável para 2x4=4x2
seus olhos.
Distributiva: podemos multiplicar
Primeiro passo: vamos fazer uma conta separado os termos
bem simples? 2x(3+4)=2x3+2x4=6+8=14
-2-3
Para alguns isso é simples, para outros, Associativa: quando houver 3 números
nem tanto. ou mais, podemos deixar os fatores da
Se você faz parte do segundo grupo, maneira que acharmos mais fácil de realizar
vamos lá! a operação.
Qual o problema aqui? Muitos acabam 11x2x3
confundindo com a operação de 11x(2x3)
multiplicação, onde ‘menos’ com ‘menos’ 11x6=66
é mais.
E esse resultado daria +5. Elemento neutro: no caso da
Mas, não! multiplicação é o 1.
Aqui devemos pensar o seguinte: Qualquer número que multiplicarmos
Estou devendo 2 reais, ao invés de pagar por 1, o resultado é o próprio número.
a pessoa, eu devo 3, novamente. 123456x1=123456
Ora, estou DEVENDO 5!
Toda vez que falarmos devendo, Divisão
colocaremos o sinal de negativo na frente, Agora, que eu quero ver!
portanto essa conta dá -5

4
Matemática

Divisão é uma das operações que temos A) Um desconto de R$ 152 sobre um salário
mais dificuldade! Sempre usamos a de R$ 1.000
calculadora, principalmente quando já representa uma redução de 22% sobre o
sabemos que dará com vírgula o resultado. valor da remuneração.
B) O resultado da subtração 412 - 85 - 135 é
E minha pergunta para você, candidato,
igual a 192.
você sabe diferenciar quando colocamos C) O resultado da multiplicação 9 x 3 x 3 é
vírgula ou quando vem o zero?? maior que 108.
D) O resultado da soma 39 + 14 + 52 é
menor que 98.
E) Se Ana nasceu em 1958, então ela
completará 68 anos em 2039.

Se eu quiser continuar essa conta..


Alternativas
278 3 01. A – 02. B
08 92,6...
20
2 Geometria: noções espaciais: localização,
Como não tinha mais números e eu movimentação e representação, figuras
quero continuar a divisão, eu coloco a geométricas: identificação, classificação,
vírgula diferenciação e planificação.

510 5
01 10 Triângulo

5:5=1
Como eu tenho que abaixar o 1, mas não
da pra dividir por 5, eu coloco o zero na
chave e abaixo o número do lado(no caso o
zero)

510 5
010 102 𝑏∙ℎ
0 𝐴𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 =
2
Retângulo
Questões

01. (PREFEITURA DE AMPARO/SP –


Professor – METROCAPITAL
SOLUÇÕES/2020) Assinale a alternativa que
apresenta o resultado correto para a seguinte
operação com números reais: 19 x 17 – 88
A) 235. 𝐴𝑟𝑒𝑡â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 = 𝑏 ∙ ℎ
B) 240. Quadrado
C) 245.
D) 248.
E) 255.

02. (PREFEITURA DE RIO LARGO/AL


– Professor – ADM&TEC/2019) Leia as
afirmativas a seguir e marque a opção 𝐴𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑑𝑜 = 𝑎 ∙ 𝑎 =
CORRETA: 𝑎²

5
Matemática

Trapézio Ele utilizou 20% da área da mesma, então a


área que ficou livre, é de:
A) 36 m2.
B) 28,8 m2.
C) 19,6 m2.
D) 8,4 m2.
E) 7,2 m2.

02. (PREFEITURA DE
𝐵+𝑏 GUARULHOS/SP – Professor –
𝐴𝑡𝑟𝑎𝑝é𝑧𝑖𝑜 = ∙ℎ
2 VUNESP/2021) O trapézio LAOS da
Círculo figura representa um terreno. Os lados LS e
AO são paralelos.

As medidas do terreno correspondentes


aos lados PL, LA, AO e OS são,
𝐴𝑐í𝑟𝑐𝑢𝑙𝑜 = 𝜋𝑟² respectivamente, iguais a 6 m, 10 m, 19 m
Paralelogramo e 17 m. Se o perímetro desse terreno é igual
a 86 m, é correto afirmar que sua área, em
metros quadrados, é igual a
A) 180.
B) 205.
C) 236.
D) 315.
E) 338.

𝐴𝑝𝑎𝑟𝑎𝑙𝑒𝑙𝑜𝑔𝑟𝑎𝑚𝑜 = 𝑏 ∙ ℎ Alternativas
Losango 01. B – 02. C

Vamos ver primeiro sobre a Relação de


Euler nos poliedros.
F+V=A+2
Onde
f- faces(lados)
v- vértices(são os “pontos”onde se
encontram as retas)
𝐷∙𝑑 a- arestas(retas)
𝐴𝑙𝑜𝑠𝑎𝑛𝑔𝑜 =
2
Lembrando que o número de faces
Questões laterais é igual a forma geométrica da base.
Exemplo: se for um prisma hexagonal,
01. (PREFEITURA DE NOVA teremos 6 faces laterais mais as 2 bases.
ODESSA/SP – Professor de Educação
Básica – METROCAPITAL
SOLUÇÕES/2021) A loja de Bernardo é
de forma quadrada, de lado medindo 6 m.

6
Matemática

Prismas Lembrando que se for um hexágono


regular, é composto por 6 triângulos
equiláteros.
Área do triângulo equilátero
𝑙2 √3
𝐴=
Planificações 4
Cone

Ab=r²
Área lateral(Al)= rg
onde
r-raio
g-geratriz
g²=h²+r²
At=Ab+Al

Quero fazer uma observação aqui!


Eu não fico colocando todas as fórmulas
pra vocês decorarem cada coisinha, pois o
que eu acho importante é saber o conceito.
Na figura temos: prismas triangular,
Por exemplo: não gosto de colocar as
quadrangular, pentagonal e hexagonal
fórmulas feitas da área total, pois basta você
Área lateral(Al): soma das áreas laterais
saber a área da base a área lateral que você
que no caso são retangulares.
saberá fazer.
Para cada prisma basta ver que a 1
quantidade de faces, é a mesma do número 𝑉 = 𝐴𝑏 ∙ ℎ
de arestas da base: triangular tem 3 faces 3
Aqui, no volume, vale a regra que eu
laterais, quadrangular tem 4 faces laterais e
havia explicado acima (quando é pontudo,
assim por diante.
coloca 1/3 na frente)
Área da base(Ab): área de cada figura da
base.
Área total: 2Ab+Al
V=Abh

7
Matemática

Cilindro V=Abh
V=abc
A área temos que fazer de cada lado,
certo?
Vamos pensar: embaixo temos um
retângulo de medidas a e b.
A=ab
Nas laterais, temos: b e c
A=bc
Frente e trás : a e c
A=ac
Como são sempre dois:
A=2bc+2ac+2ab=2(ab+bc+ac)
Se contarmos a parte superior. Alguns
exercícios dizem ás vezes pra desprezar
Al=2rh falando que a caixa está aberta, por
A área lateral do cilindro, se você pensar exemplo).
nele aberto, perceberá que a base é o Pirâmides
comprimento do círculo(2r) e a altura é a
mesma do cilindro.
At=2Ab+Al
V=Abh

Cubo

São basicamente o mesmo caso que


prismas, mas a lateral é um triângulo.
1
𝑉 = 𝐴𝑏 ∙ ℎ
3
Área:6a² ℎ
𝐴𝑙 = 𝑛 ∙ 𝑏 ∙
a-lado do cubo 2
V=a³ n-número de faces laterais
At=Ab+Al
𝐷 = √3𝑎
Esfera
Paralelepípedo

𝑑 = √𝑎2 + 𝑏 2 + 𝑐²

8
Matemática

4 Hm-hectômetro
𝑉 = 𝜋𝑟 3
3 Dam – decâmetro
Al=4r² m-metro
dm-decímetro
cm-centímetro
Questões mm- milímetro

01. (PREFEITURA DE
LONDRINA/PR – Professor de Transformações:
Educação Básica – PREFEITURA DE Sempre que a casa for ao lado uma da
LONDRINA/2021) Em relação a prismas e outra, para a esquerda, dividimos.
pirâmides, julgue o item: Para a direita, multiplicamos.
m→cm (x100)
A imagem, a seguir, se refere a m→mm(x1000)
planificação de um prisma de base m→hm(:100)
triangular. m→km(:1000)

Podemos também utilizar a tabela


Vamos transformar:
2m=____cm
Colocamos o 2 embaixo do m, e
completamos com zero até a casa que
queremos.
k h d m d c m
( ) Certo ( )Errado m m am m m m
2 0 0
02. (PREFEITURA DE
LONDRINA/PR – Professor de 2m=200cm
Educação Básica – PREFEITURA DE
LONDRINA/2021) Em relação a prismas e 0,2m=___mm
pirâmides, julgue o item: k h d m d c m
Prisma de base triangular possui 9 m m am m m m
arestas, 6 vértices e 5 faces. 0 2 0 0
( ) Certo ( )Errado
0,2m=200mm
Alternativas 0,2m=___hm
01. Errado – 02. Certo k h d m d c m
m m am m m m
0 0 0 2
Grandezas e Medidas: Unidades de
medida: massa, comprimento, capacidade, 0,2m=0,002hm
tempo, perímetro e área, medida Observe que a vírgula fica na casa que
padronizadas e não padronizadas, sistema queremos transformar.
monetário e estimativas.
medida de massa
medida de comprimento kg-quilograma
k h d m d c m hg-hectograma
m m am m m m dag-decagrama
g-grama
Km-quilômetro dg-decigrama

9
Matemática

cg-centigrama Hora segundos


mg-miligrama 1-------3600
k h d g d c m 24---------x
g g ag g g g X=24x3600=86400segundos

As transformações são as mesmas que de Soma


comprimento. Como somar 1hora 30 minutos e 2horas
45minutos
Medida de área
1h 30min
2h 45min
Como a medida de área é ao quadrado, ---------------
então de uma casa para outra, fazemos x100 3h 75min
ou :100
Para fazer por tabela, devemos separar Mas, não podemos deixar 75 minutos.
em dois cada unidade. O máximo são 59 minutos.
k h d m d c m Vamos transformar 75
m² m² am² ² m² m² m² minutos=60minutos+15 minutos
60 minutos =1hora
Portanto, acrescentamos mais uma hora:
1m²=___cm² 3+1=4horas
E fica o restante dos minutos
k h d m d c m 1h30min+2h45min=4h15minutos
m² m² am² ² m² m² m²
1 0 0 0 0 Subtração
3h 30min
1h 45min
Colocamos o zero até a última casa que
---------------
queremos.
1m²=10000cm²
Não podemos tirar 30 de 45, então
1m²=___hm²
“emprestamos”1 hora de 3h
k h d m d c m
m² m² am² ² m² m² m²
0 0 0 0 1

1m²=0,0001hm²
Lembrando que mesmo sendo para a
Somamos os 60 minutos a 30 minutos
esquerda, continua sendo na segunda casa
da unidade.

medida de tempo

1 hora----60 minutos----3600s
1 minuto—60segundos Volume
1 dia-24 horas Vamos dividir cada unidade em 3 casas.
Com uma regra de três simples, podemos k h d m d c m
fazer as conversões. m³ m³ am³ ³ m³ m³ m³
Exemplo: quantos segundos tem em 1
dia?

10
Matemática

Para uso da tabela o princípio continua o


mesmo.
1km³=____dam³
k h d m d c m
m³ m³ am³ ³ m³ m³ m³
10 0 00 00

1km³=1000000 dam³
1dm³=___dam³
k h d m d c m
m³ m³ am³ ³ m³ m³ m³
0 0 00 00 1

1dm³=0,000001 dam³
Temos que saber mais transformações
de volume...eu sei, é muita coisa hehe mas
é necessário para ter um estudo completo
dessa parte!
1m³-1000litros
1dm³-1litro
1cm³-1ml
k h d l d c m
l l al l l l

kl-quilolitro
hl-hectolitro
dal-decalitro
l-litro Moedas de R$1,00; R$0,50; R$0,25;
dl-decilitro R$010; R$0,05
cl-centilitro
ml-mililitro Questões
Como são unidades simples, tempos
apenas uma casa em cada unidade, e assim, 01. (PREFEITURA DE
vale o mesmo princípio de comprimento e HELIODORA/MG – Professor de
massa. Educação básica – MÁXIMA/2021)
Coloque (V) para as afirmações verdadeiras
No Brasil, a moeda vigente é o Real e (F) para as afirmações falsas:
(R$). A produção é controlada pelo Banco ( ) A unidade fundamental para medir a
Central. massa é o quilograma.
As cédulas e moedas vigentes hoje no ( ) Para medir o comprimento usamos
país são: como unidade o metro.
( ) Para medir uma superfície usamos
como unidade o quilograma.
( ) A unidade fundamental para medir a
capacidade é o litro.
A sequência CORRETA é:
A) V, F, V, F;
B) V, V, F, V;
C) F, F, V, V;
D) F, V, F, V.

11
Matemática

02. (PREFEITURA DE CAMBÉ/PR –


Professor – INSTITUTO UNIFIL/2021)
Uma piscina foi construída com 4 metros de
largura, 9 metros de comprimento e 1,5
metros de altura Use 1 litro = 1 dm3 ,
assinale a alternativa que apresenta o
volume, em litros, que a piscina comporta.
A) 48000 litros
B) 54000 litros
C) 60000 litros
D) 80000 litros
E) 100000 litros Gráficos de barras são usados
principalmente para fazer comparações.
Alternativas (preferências)
01. B – 02. B

Probabilidade e Estatística: Ideias de


acaso em situações do cotidiano, Dados:
coleta, leitura, seleção, interpretação,
representação, comparação em tabelas e
gráficos; comunicação de dados de
pesquisa: produzir textos e solucionar
problemas a partir de dados coletados e
produzidos.
Gráfico de linhas é usado principalmente
quando temos variáveis envolvendo tempo.
Os gráficos organizam dados através de
números de fatos descritos, tornando
visível a comparação feita.
A recolha e análise de dados é o coração
do pensamento estatístico. A recolha de
dados promove a aprendizagem pela
experiência e relaciona o processo de
aprendizagem com a realidade (SNNE,
apud CAMPOS et al., 2001)3.
Para a coleta de dados existem alguns
aspectos importantes:
- Coletar dados por fontes As tabelas são usadas para organizar os
governamentais, industriais ou individuais. dados e referências.
- Coleta através de um experimento. Nome idade Massa(kg)
- Coleta através de pesquisa. João 33 80
- Coleta de análise. Ana 20 60
Felipe 26 70
Tipos de gráficos
Os gráficos de setores são usados
principalmente para trabalhar com
percentuais.
3
CAMPOS, P., BACELAR, S., OLIVEIRA, E. e GOMES, J. ALEA: Um nas escolas secundárias) in Pedro Campos, Sergio Barcelar, Instituto
contributo Nacional de
para promoção da Literacia Estatística (Análise de dados e ensino da Estatística, Emília Oliveira, José Gomes, Escola Secundária Tomaz
Estatística Pelayo, 2001.

12
Matemática

Questões

01. (PREFEITURA DE
CASCAVEL/PR – Professor Educação
Infantil – UNIOESTE/2022) Em um
campeonato de Basquete, é possível fazer
arremessos que pontuam 1 ponto, 2 pontos
e 3 pontos. A pontuação dos quatro
melhores jogadores no campeonato foi a
seguinte:
(IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra
Jog Númer Númer Númer Pont de Domicílios Contínua (PNAD Contínua)
ado o de o de o de uaçã 2017)
r Arrem Arrem Arrem o É correto afirmar que
essos(1 essos(2 essos(3 Total A) na região Norte registrou-se um
ponto) ponto) ponto) rendimento médio mensal menor que 50%
Cás 4 ? 5 821 do rendimento médio no Brasil.
sio B) na região Sudeste registrou-se um
Már 1 ? 4 735 rendimento médio mensal
cio aproximadamente igual a 50% a mais que o
Ma 13 ? 2 789 rendimento médio no Brasil.
uro C) quanto às diferenças regionais, no
Ped 8 ? 7 223 Centro-Oeste registrou-se rendimento
ro médio mensal maior que 50% a mais do que
o rendimento médio no Nordeste.
Qual é o maior número de arremessos de D) quanto às diferenças regionais, no
dois pontos? Sudeste registrou-se rendimento médio
mensal menor que 50% a mais do que o
A) 385 arremessos. rendimento médio no Norte.
B) 361 arremessos. E ) quanto às diferenças regionais, no
C) 97 arremessos. Sul registrou-se rendimento médio mensal
D)359 arremessos. aproximadamente igual a 50% a mais do
E) 401 arremessos. que o rendimento médio no Sudeste.

02. (PREFEITURA DE Alternativas


GUARULHOS/SP – Professor – 01. E - 02. C
VUNESP/2021) Em 2017, os brasileiros
que declararam possuir algum rendimento
Álgebra: desenvolvimento do pensamento
recebiam, em média, R$ 2.112 por mês. O algébrico; padrões de regularidades
gráfico a seguir apresenta também o numéricos ou figurais, regras de
rendimento médio mensal nas regiões formação de sequência numérica ou
Nordeste, Norte, Sul, Sudeste e Centro- figural: ampliação, construção,
Oeste. identificação e descrição;
proporcionalidade.

A unidade temática Álgebra, por sua


vez, tem como finalidade o
desenvolvimento de um tipo especial de
pensamento – pensamento algébrico – que

13
Matemática

é essencial para utilizar modelos Progressão Geométrica(PG)


matemáticos na compreensão, Termo geral
representação e análise de relações 𝑎𝑛 = 𝑎𝑚 ∙ 𝑞 𝑛−𝑚
quantitativas de grandezas e, também, de Onde
situações e estruturas matemáticas, fazendo Q -razão
uso de letras e outros símbolos. Para esse
desenvolvimento, é necessário que os Sequências
alunos identifiquem regularidades e Começaremos aqui, sequências de
padrões de sequências numéricas e não números, figuras e palavras.
numéricas, estabeleçam leis matemáticas Essa parte de raciocínio, eu vou tentar
que expressem a relação de ensinar todas as maneiras possíveis que eu
interdependência entre grandezas em faço para conseguir resolver esses
diferentes contextos, bem como criar, exercícios. Não temos uma fórmula. Essas
interpretar e transitar entre as diversas questões, depende muito da criatividade do
representações gráficas e simbólicas, para pessoal da banca.
resolver problemas por meio de equações e Por isso, quanto mais treinar, melhor
inequações, com compreensão dos vai ser sua percepção.
procedimentos utilizados. (TRENSURB – Agente metroviário –
Na alfabetização, pode ser estudado os OBJETIVA/2021) Considerando-se que a
números e suas operações. sequência numérica abaixo foi construída
Um padrão é considerado de repetição se obedecendo a certo padrão, assinalar a
repete sempre e classificado como alternativa que apresenta o próximo termo
crescimento se o próximo termo é dessa sequência, de modo que o padrão
encontrado devido a uma alteração do seja mantido:
anterior. 1, 6, 30, 35, 175, 180, 900, 905, ?
Como já tratamos sobre operações A - 4.525
anteriormente, aqui deixarei as sequências. B - 2.225
C – 910
Progressão Aritmética (PA) D - 9.050
Pra quem odeia fórmulas, PA e PG E - 10.505
nunca são matérias muito legais, eu
confesso. Resolução
Eu vou começar com as fórmulas e Só pelos números, conseguimos
depois vamos conversando mais sobre elas perceber que não se trata de uma PA ou
e como podemos fazer os exercícios. uma PG, portanto já excluímos.
Termo geral Agora, vem da nossa percepção,
𝑎𝑛 = 𝑎𝑚 + (𝑛 − 𝑚)𝑟 criatividade para ver como foi feita.
Eu começo pensando na soma dos
Soma anteriores, que nesse caso, também já não
A soma não tem jeito, precisamos do deu.
primeiro termo. Falo os números para ver se às vezes,
começam com a mesma letra.
𝑎1 + 𝑎𝑛 Alguns somam 5 do seu anterior, mas
𝑆𝑛 = ∙𝑛
2 lógico que o número que ele pede, vem
Onde n é o número de termos logo após isso, então devemos descobrir
como é esse número.
Termo central Vamos lá..
Dada uma PA {a1, a2, a3} 5x6=30
O termo central é o a2 Parece que deu certo.
𝑎 +𝑎
Nesse caso, 1 3
2

14
Matemática

Vamos ver se com o próximo também 312211-2 número 1


da. 13112221-
35x5=175 soma=1+3+1+1+2+2+2+1=13
Opa! Acho que deu mesmo!
180x5=900 Sequência de figuras
905x5=4525 Como as figuras são mais visuais, fica
um pouco mais fácil.
Mais uma! (TCE/RO – Técnico Judiciário –
FGV/2021) Observe a sequência de
(IFSP – Analista de Tecnologia da figuras a seguir.
Informação – IFSP) Dada a sequência

1 11 21 1211 111221 312211 ...

Assinale a alternativa que contém a soma


dos algarismos do próximo termo (7º Mantendo o padrão apresentado nas
termo): figuras acima, o número de bolinhas da
A – 10 figura 15 é:
B – 11 A - 238;
C – 12 B - 244;
D – 13 C - 258;
D - 270;
Resolução E - 304.
Eu adoro essa questão hehe
E gostaria de compartilhar com você. Resolução
Bom, eu já falei como eu costumo Figura 1: 1 fileira completa de 3 com 1
pensar..e eu faço isso em todos os bolinha acima.
exercícios. Figura 2: 2 fileiras completas de 4 com
Não é PA e nem PG 2 bolinhas acima.
Não é soma. Portanto, figura 15: 15 fileiras
Vamos falar os números de todas formas completas com 17(15+2)+15
possíveis 15x17=255
Um, onze, vinte e um 255+15=270
Parece que não tem nada de sequência.
Vamos falar de outra maneira. Sequência de palavras
1 11 21 1211 Para essa sequência,
Um, um um, dois um, um dois um um NORMALMENTE, aparecem exercícios
Você percebe que quando fala os para saber qual a letra.
números, é exatamente a quantidade do
anterior? Fala em voz alta até perceber isso. Exemplo
(CÂMARA DE ARACAJU/SE –
312211 nesse número temos, 1 Assistente Administrativo – FGV/2021)
número 3 Um artista criou uma faixa decorativa com
Já temos o começo do próximo o nome do estado escrito diversas vezes
13 em sequência:
Continuando SERGIPESERGIPESERGIPESERG...
312211 temos 1 número 1 A milésima letra dessa faixa é:
1311 A - S;
312211-temos 2 número 2 B - R;
131122 C - G;

15
Matemática

D - I;
E - P. Eixos Articuladores: Jogos e
Brincadeiras, matemática e educação
Resolução ambiental e saúde, Estratégias e
Sergipe tem 7 letras procedimentos de resolução de problemas.
Portanto a milésima letra:
1000|7
30 142 Os Eixos Articuladores estabelecem
20 relação da matemática com outras áreas e
6 também conectar conceitos dentro da
própria matemática. Ajudam na
Como sobra 6, a milésima letra é igual a aprendizagem e na construção de
sexta letra SERGIPE conhecimentos.

Questões Jogos e Brincadeiras


01. (PRFEITURA DE CAMBÉ/PR – Os jogos fazem os alunos buscarem
Professor – INSTITUTO UNIFIL/2021) estratégias, seguir regras.
Uma senha bancária com 6 dígitos foi Há duas formas de trabalhar os jogos:
formada com os termos 𝒂𝟓𝟎 e 𝒂𝟓𝟏 da - O professor pode levar um jogo em sala
progressão aritmética que tem razão r = 4 e de aula, seja presencial ou algum aplicativo
o termo inicial 𝒂𝟏 = 𝟑. Assinale a e e com isso, mostrar ao aluno algum
alternativa que apresenta a senha formada. conhecimento.
A) 151154 - O professor, primeiro faz aula e
B) 154157 explicações e após isso, traz o jogo para
C) 195199 aprofundar os conhecimentos adquiridos.
D) 199203
E) 203207 Quando os jogos abordam como objeto
um tema da Matemática, tanto conceitual
02. (PREFEITURA DE ASPÁSIA/SP como procedimental, eles são denominados
– Professor – OMINI/2021) Um professor, de “jogos de conhecimento”. Ao abordarem
ao ser perguntado sobre sua idade, resolveu as possibilidades de se criar estratégias
responder a essa pergunta, utilizando um (para vencer ou não perder), são chamados
problema matemático. O professor, disse “jogos de estratégia” (CORBALÁN, 1996,
que o produto de sua idade a três anos atrás p.32)4.
com sua idade daqui seis anos é igual a
2236. Ao resolver este problema Nesse tipo de jogo, o estudante precisa
corretamente, um aluno respondeu que a usar o raciocínio matemático, pois é muito
idade de seu professor é igual a. além de sorte, precisa buscar táticas para
A) 43 anos. vencer. Esses jogos podem ser coletivos e
B) 46 anos. podem ser individuais como xadrez e
C) 52 anos. damas.
D) 86 anos.
Piaget (apud WAJSKOP, 1995, p. 63)
Alternativas nos diz que: “Os jogos fazem parte do ato
01. D – 02. B de educar, num compromisso consciente,
intencional e modificador da sociedade;
educar ludicamente não é jogar lições
empacotadas para o educando consumir

4
CORBALÁN, F. Juegos Matemáticos para secundaria y bachillerato. Madrid: Síntesis, 1996.

16
Matemática

passivamente; antes disso é um ato de melhorias fazendo


consciente e planejado, é tornar o indivíduo comparações(exemplo: área desmatada
consciente, engajado e feliz no mundo”.5 com área verde).
Vamos ver alguns jogos para ajudar!
-jogo da memória: o professor pode Estratégias e procedimentos de
colocar os números e o aluno achar o par. resolução de problemas
- boliche: contagem de pinos O processo de resolução de um problema
derrubados. envolve várias habilidades. O aluno deve
-dominó ter autonomia para pensar e formular
-massa de modelar: fazer bolinhas e hipóteses de resoluções.
contar, fazer figuras geométricas. Etapas: leitura, análise e compreensão
-cozinhar: colocar a quantidade certa de do enunciado; planificação do processo de
cada ingrediente. resolução; seleção de estratégias e
-quebra-cabeça. procedimentos a utilizar; modificação do
-blocos de montar plano de resolução, se necessário; discussão
-esconde-esconde: contar até o 10 para e validação dos resultados obtidos e
achar o amigo. apresentação dos resultados.
Podem ser usadas tabelas e gráficos,
A brincadeira pode ser definida como operações matemáticas, entre outros
uma ação que a criança desempenha ao procedimentos.
concretizar regras. É por meio dessas
brincadeiras que as crianças desenvolvem Questões
algumas capacidades importantes, tais
como a atenção, a memória, a imaginação, 01. (PREFEITURA DE
concentração, interpretação, argumentação, BANDEIRANTE/SC – Piscopedagogo –
organização, entre outras. AMEOSC/2022) Julgue os itens a seguir,
considerado a importância do jogo e da
Matemática e educação ambiental e brincadeira na infância.
saúde
As conexões extramatemática I.Os jogos e as brincadeiras possibilitam
relacionam o conhecimento matemático às crianças a construção do seu próprio
com contextos sociais fora da escola. conhecimento, porém não são elementos
A abordagem interdisciplinar das facilitadores da aprendizagem.
questões ambientais para Rodrigues II.Os jogos e as brincadeiras oferecem às
(2006)6 implica em se utilizar a crianças, condições de vivenciarem
contribuição das várias disciplinas para se situação-problema, bem como resolvê-las.
construir uma base comum de compreensão III.Os jogos e as brincadeiras auxiliam a
e explicação do problema tratado e, desse criança no processo de pensar, imaginar,
modo, superar a compartimentação do ato criar e se relacionar com os demais.
de conhecer, provocada pela especialização IV.A brincadeira é atividade física ou
do trabalho científico. mental que se faz de maneira espontânea e
Nos Parâmetros Curriculares que proporciona prazer.
Nacionais(PCN) há várias questões sobre a Fonte:
preocupação com o meio ambiente como o https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/p
desmatamento, poluição e a matemática edagogia/jogos-brincadeiras-naconstrucao-
pode ajudar nessa parte fazendo com que os das-aprendizagens-crianca.htm
alunos coletem dados, busquem estratégias

5
WAJSKOP, Gisela. O brincar na educação infantil. São Paulo: Cortez, interdisciplinar. 2006. Tese –
1995. Universidad de La Habana, Havana, 2006.
6
RODRIGUES, J. S. Educação ambiental e matemática: uma atividade

17
Matemática

É CORRETO o que se afirma em: mesmo que indiretamente. Aprendem a


A) III e IV, apenas. contar, falar os números.
B) I, II e III, apenas. O conhecimento sobre a matemática
C) I e IV, apenas. ocorre junto e da mesma forma que os
D) II, III e IV, apenas. demais. Os pequenos tendem a tentar
resolver seus problemas, da maneira que
02. (PREFEITURA DE SÃO achar mais adequado. O intuito é mostrar
MIGUEL DO OESTE/SC – Pedagogo – através do cotidiano do aluno, onde
AMEOSC/2021) Por que os jogos e podemos melhorar como professores, como
brincadeiras são tão importantes para que as podemos ajudar em alguns erros, falhas e
crianças participem da construção do seu incentivar a melhoria, a construir o sentido
próprio conhecimento? dos conhecimentos por parte dos alunos.
A) Porque o desenvolvimento de uma O livro traz uma maneira de apresentar a
criança está quase sempre atrelado a suas geometria espacial, e mostra que as crianças
vivências e atividades, que precisam já têm uma ideia através da locomoção e
despertar seu interesse, pois só assim apresenta algumas atividades que ajudam
poderá contribuir de forma significativa
com sua evolução. nesse sentido espacial: esconder objetos,
B) Porque a lei não permite que sejam labirinto.
oferecidas às crianças outras atividades que A geometria pode ser trabalhada através
não sejam brincadeiras e jogos. de formas geométricas com desenhos,
C) Porque o desenvolvimento de um revistas, recortes e além disso o tangram é
indivíduo tem e acontece de formas uma ótima atividade, que ajuda não
diferentes em cada fase da vida e na somente com as formas, como com o
infância só é possível aprender por meio de quebra-cabeças.
brincadeiras. A autora defende, assim como a teoria de
D) Porque a brincadeira é a única forma Piaget, que a matemática se baseia em
de fazer com que as crianças se envolvam construção de conhecimento e o papel do
em alguma atividade. professor é ajudar o aluno a alcançá-lo,
mostrando as diversas formas que temos
Alternativas para resolver um problema.
01. D– 02.A O ensinamento da matemática tem sido
repensando, pois por muitos anos era muito
metódico. O papel do professor era apenas
PANIZZA, M. Ensinar Matemática na passar esse conhecimento de uma única
Educação Infantil e séries iniciais: forma, mostrando os conceitos e sem
análise e propostas. Porto Alegre, RS: contextualizar esse problema apresentado.
Artmed, 2006. (Cap. 3- O ensino do
Não existia a preocupação em tornar
número e do sistema de numeração na
educação infantil e na 1ª série. p. 43 - 76); “palpável” para essa criança. Muitas vezes,
(Cap. 5- Abordagens parciais à esse aluno apenas decora e não entende.
complexidade do sistema de numeração: Os jogos são grandes aliados no ensino
progressos de um estudo sobre as da matemática, pois até mesmo a
interpretações numéricas. p. 95- 142);( brincadeira de esconder, precisa contar para
Cap.8- Geometria nas séries iniciais do poder procurar. Pode também ser com
ensino fundamental: problemas de seu boliche que ajudam a criança a recitar os
ensino, problemas para seu ensino. p. números.
169-188). Para os jogos, é muito importante avaliar
o aluno: postura no jogo, estratégias,
relação do aluno com o domínio trabalhado
Mesmo antes de ingressar a escola, as
no jogo específico.
crianças, já tem contato com os números,

18
Matemática

Questões B) as crianças resolvem a conta, mas não


o problema.
01. (PREFEITURA DE PERUIBE/SP C) ela supre uma falha do problema, que
– Coordenador Pedagógico – deveria ter sugerido a operação a ser usada.
VUNESP/2019) Na obra “Ensinar D) isso auxilia as crianças em seu
Matemática na Educação Infantil e nas desenvolvimento matemático.
Séries Iniciais” (Panizza e cols, 2006), E) ela está ensinando o valor posicional
encontram-se reflexões gerais sobre o dos números.
ensino da matemática. Segundo Panizza, a
educação matemática na formação docente Alternativas
deve se estruturar em saberes relativos ao 01. C – 02. B
edifício matemático, saberes relativos à
aprendizagem e saberes didáticos. Esses
saberes “são recursos para escolher as PARRA, C.; SAIZ, C. (Org.). Didática da
Matemática: reflexões psicopedagógicas.
situações adequadas ao saber matemático
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. (Cap.
para o qual se aponte em um dado momento 1- Matemática para não-matemáticos p.
do ensino e para fazer uma gestão de classe 11- 250; (Cap.2- A didática da
que facilite matemática, p. 26-35); (Cap. 5- O sistema
A) o treino de algoritmos”. de numeração: um problema didático.
B) a memorização dos procedimentos a p.73-155).
serem seguidos”.
C) a construção do sentido dos
conhecimentos por parte dos alunos”. Cap. 1- Matemática para não-
D) o tratamento das informações matemáticos p. 11- 250
recebidas cotidianamente pelos alunos”. Luis Santaló, questiona qual o tipo de
E) o desenvolvimento da autoestima e da matemática para preparar as novas
perseverança na busca de soluções”. gerações. Traz em seu artigo que as escolas
devem evoluir conforme esse novo mundo
02. (PREFEITURA DE ITAPEVI/SP e trazer ensinamentos de acordo com essa
– Professor de Educação Básica I – evolução que ocorre.
VUNESP/2019) Mabel Panizza, em Ele crê que o cidadão precisa de
Ensinar matemática na educação infantil e equilíbrio entre a matemática pura(teorias)
nas séries iniciais: análise e propostas, e a aplicada (aplicação da matemática no
mostra que, a uma longa tradição escolar dia-a-dia).
que propunha aos alunos grandes Ele diz que os professores de matemática
quantidades de contas, seguiu-se uma nova devem analisar entre a matemática clássica
corrente baseada na resolução de e moderna, os aprendizados que serão úteis.
problemas. A autora traz o seguinte Uma frase muito interessante que ele diz
problema de adição: “Nesta caixa tenho 3 e eu particularmente gosto:
bolinhas e nesta outra, 42. Quantas bolinhas “A escolha da matemática para aqueles
tenho ao todo?”. Para resolvê-lo, trata-se de que vão ser matemáticos profissionais é
encontrar a operação numérica adequada e relativamente fácil (...) O problema reside
calcular a soma. Conforme a autora, quando na seleção da matemática para a educação
a professora intervém na escolha da daqueles que não tem interesse particular
operação adequada, respondendo por ela”. (p.15)
afirmativamente a pergunta tão conhecida: Sobre esses pensamentos, eu tento
“O sinal é de mais?”, pode-se dizer que sempre me posicionar perante o aluno, da
A) o cálculo da soma põe em prática, por melhor maneira que ele possa aprender, o
si só, o conhecimento do aspecto cardinal “ensinar” faz toda diferença. Devemos
do número. sempre pensar em tornar a matemática, uma

19
Matemática

boa matéria. Eles já têm dificuldade “um conjunto de relações estabelecidas


posicionadas, pois os adultos já colocam explícita e/ou implicitamente entre um
esse medo. aluno ou um grupo de alunos, um
Santaló sugere algumas matérias: determinado meio (que abrange
Probabilidade e Estatística, Computação, eventualmente instrumentos ou objetos) e
Raciocínio Lógico, Teoria dos Conjuntos, um sistema educativo (representado pelo
Cálculo infinitesimal, Teoria dos Grafos, professor) com a finalidade de conseguir
Geometria Fractal, Teoria do Caos. que estes alunos apropriem-se de um saber
De uma certa maneira, ele defende que constituído ou em vias de constituição”.(p.
essas matérias avançadas, sejam inseridas 28)
para os alunos dos anos iniciais, da maneira O contrato didático define regras,
que pode ser ajudada. distribui responsabilidades, que é
estabelecido através de um professor e um
Cap.2- A didática da matemática, p. 26- aluno.
35 Isso quer dizer o papel fundamental da
Foi realizado um trabalho dos Institutos didática é saber o que funciona para cada
de Investigação acera do Ensino da aluno, o que é melhor para a evolução dele,
matemática (IREM) que impulsionou a em termos não só de conhecimento, como
matemática moderna. de comportamento.
Os IREM, focaram nos professores, Para alguma situação, Brousseau coloca
portanto, ajudavam na formação de novos um estágio inicial, define alguns estágios
professores, e também ajudavam aqueles que o aluno deve passar através de tomadas
que já estavam em sala de aula. de decisões, até chegar ao estágio final. E
(...) Outro âmbito importante de sua também faz uma classificação:
atividade foi a produção de materiais de Situações de ação: o professor entrega
apoio para o trabalho dos professores na um problema e o aluno toma uma decisão
sala de aula: textos de matemática, fichas de para resolver.
trabalho para os alunos, jogos e brinquedos Situações de formulação: comunicar
didáticos, coleções de problemas e de informações para o aluno.
exercícios, sequências de lições, etc. (p. 26) Situações de validação: o aluno elabora
Surgiu dentro do IREM, a necessidade provas para provar que o que está dizendo
de “produzir conhecimento” para o ensino está certo.
e um desses pesquisadores foi Guy Situações de institucionalização: os
Brousseau. alunos saibam o significado social daquilo
“Brousseau propõe o estudo das que foi elaborado.
condições nas quase são constituídos os
conhecimentos; o controle destas condições O que acontece quando o professor passa
permitiria reproduzir e otimizar os uma situação e quase não intervém para
processos de aquisição escolar de ajudar?
conhecimentos”.(p.27) Os alunos se organizam para resolver o
Jean Brun(1980) acredita que os problema, tomam decisões, há
modelos gerais acarretam um isolamento comunicação, debates.
dos modelos psicológicos da
realidade(p.27) Cap. 5- O sistema de numeração: um
Por isso, deve haver um equilíbrio, pois problema didático. p.73-155
não podem se reduzir somente a exemplos Esse capítulo é escrito pelas autoras
de dia-a-dia. Délia Lerner e Patrícia Sadovsky e elas
Brousseau define a situação didática fizeram uma pesquisa com um grupo de
como: crianças para saber como elas pensam em
relação a comparação de números.

20
Matemática

Algumas crianças falaram que o um cero Para Santaló, o sentido da matemática


número é maior que outro, pois tem mais está em
algarismos. A) estruturar todo o pensamento,
Exemplo: 12 é maior que 5 agilizando o raciocínio dedutivo, e servir de
E comparando com o mesmo número de ferramenta para a atuação diária em muitas
algarismos, se o primeiro algarismo for tarefas específicas de quase todas as
maior, o número é maior. atividades laborais.
Exemplo 14 e 21 B) preparar o indivíduo para a cidadania,
2 é maior que 1, então o 21 é maior que e servir de base para uma carreira em
14. ciência e tecnologia.
Elas ressaltam o papel dos “nós”, que C) embasar o pensamento teórico
são marcadores, como exemplo dezenas, desenvolvido desde a antiguidade, de modo
centenas. a ser possível a sua aplicação no dia a dia,
Primeiramente, são manipulados esses nas tarefas de muitas atividades laborais.
números e só depois colocam os números D) apresentar a maior parte da
entre eles. matemática europeia, desenvolvida desde
Por exemplo, colocar o 15 entre 10 e 20. Platão e Aristóteles, de modo a desenvolver
Há crianças que escrevem o número o raciocínio indutivo, base para as carreiras
2304 como 20003004. em ciência e tecnologia.
Elas conseguem escrever o 2000 e 3000, E) aplicar os conhecimentos
mas os números entre dois “nós”, eles têm desenvolvidos no decorrer da humanidade
dificuldades. para modelar os problemas atuais, de modo
Características do ensino do sistema de que se possa pensar nas possíveis soluções
numeração: desses problemas.
-estabelecem-se metas definidas para
cada ano. 02. (PREFEITURA DE
-ensina os dígitos primeiro, depois os SOROCABA/SP – Professor de
conceitos de marcadores e por fim a escrita. Matemática – VUNESP/2020) No livro
-explicação do valor posicional de cada Didática da Matemática: reflexões
algarismo. psicopedagógicas, no capítulo escrito por
-concretizar a escrita através dos Delia Lerner e Patricia Sadovsky (In: Parra
marcadores. e Saiz, 1996) , há uma discussão sobre o
São 4 atividades básicas que constituem papel da numeração falada na escrita dos
o eixo ao redor dos quais organizam-se as números.
situações didáticas : operar, ordenar, A esse respeito, essas pesquisadoras
produzir e interpretar(p.118). consideram que crianças que escrevem
convencionalmente qualquer número de
Questões dois e três algarismos podem apelar à
correspondência que existe com a forma
01. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ oral quando se trata de escrever milhares.
DOS CAMPOS/SP – Professor – Analise as seguintes afirmações sobre essa
VUNESP/2019) Ao abordar o motivo para questão:
se ensinar matemática, Pavanello e I. A associação da escrita numérica com
Nogueira, no artigo intitulado Avaliação em a escrita falada, que muitas crianças fazem,
Matemática: algumas considerações citam causa muitas dificuldades para a
Santaló, que aborda a questão da aprendizagem da escrita de números e,
Matemática para não matemáticos, no consequentemente, do sistema de
capítulo 1 do livro Didática da numeração.
Matemática: reflexões psicopedagógicas, II. A numeração escrita é menos
de Parra e Saiz. hermética que a numeração falada porque

21
Matemática

nela existem os vestígios das operações São 3 tipos de comunicação:


aritméticas envolvidas e porque apesar de Oralidade : recurso mais acessível, pois
as potências da base 10 não serem nos anos iniciais que as crianças ainda não
explicitadas, podem ser facilmente sabem ler e escrever, é através da fala que
percebidas, ao contrário da numeração ela consegue se expressar e discutir sobre o
falada. problema apresentado.
III. A coexistência de escritas Representação pictórica: desenhar o que
convencionais e não convencionais pode aprendeu,
estar presente em números de mesma Escrita : nessa parte, é falado não apenas
quantidade de algarismos: há crianças que para chegar em casa e fazer a tarefa, mas de
escrevem 187 para cento e oitenta e sete, uma forma que a criança consiga relatar aos
porém não generalizam essa modalidade às pais o que foi proposto em sala de aula, o
outras centenas, registrando 80094 para que aprendeu.
oitocentos e noventa e quatro. Papel do professor é importante na
IV. Há muitas crianças que produzem interação social, pois ele é o responsável
algumas escritas convencionais e outras não por mediar essa interação entre as crianças.
convencionais dentro da mesma centena ou
de uma mesma unidade de milhar: 804 Cap. 3- Ler e aprender matemática, p.
(convencional), porém 80045 para 69-86
oitocentos e quarenta e cinco; 1006 para mil AUTORAS - Kátia Smole e Maria Diniz
e seis, porém 1000324 para mil trezentos e "Ler é uma atividade dinâmica, que abre
vinte e quatro. ao leitor amplas possibilidades de relação
Segundo essas pesquisadoras, as duas com o mundo e compreensão da realidade
afirmações corretas são apenas que o cerca, que lhe permite inserir-se no
A) I e II. mundo cultural da sociedade em que vive
B) I e III. [...]. Para chegar à compreensão do que leu
C) I e IV. e, consequentemente, para aprender algo
D) II e III. novo a partir da leitura realizada, é preciso
E) III e IV. que os conhecimentos anteriores sejam
ativados durante a leitura e que o leitor
Alternativas indague, questione, busque e procure
01. A – 02. E identificar os aspectos relevantes de um
texto, encontrando pistas e percebendo os
caminhos que o texto sugere" (p.70).
SMOLE, K. S., DINIZ, M.I. (org.). Ler,
escrever e resolver problemas: habilidades
"Alguns elementos que contribuem para
básicas para aprender matemática. Porto
Alegre: Artmed Editora, 2001. (Cap. 1-
que a motivação [para ler] ocorra são: os
Comunicação em Matemática, p. 15-28), objetivos da leitura estarem claros para
(Cap. 3- Ler e aprender matemática, p. 69- todos; a leitura oferecer alguns desafios; o
86), Cap. 7- Diferentes formas de resolver ato de ler constituir-se em uma tarefa para
problemas, p. 121-149).. os alunos; o trabalho ser planejado de modo
que as leituras escolhidas tenham os alunos
como referências; os alunos terem a ajuda
Cap. 1- Comunicação em Matemática, p. de que necessitarem e a possibilidade de
15-28 perceberem seus avanços" (p.72)
Autora: patrícia Candido
A comunicação tem um papel A leitura na matemática é muito
importante no ensino da matemática, pois complexa, pois não exige somente a “leitura
possibilita a relação entre a parte abstrata e “em português, como também a
simbólica. compreensão de símbolos.

22
Matemática

Atividades pedagógicas para estimular diferentes, anotando o nome dos autores


leitura, escrita e interpretação. para garantir a autoria e sistematizar o
- escrever um problema no quadro e trabalho realizado" (p. 136).
fazer a leitura. Foi feito um problema e dado para duas
-questionar o aluno, para que ele salas resolverem e cada uma resolveu de
interprete e consiga chegar na resposta. uma maneira diferente. Isso só mostra que
-dicionário de matemática. O aluno pode não pode ser imposto uma maneira.
escrever palavras que ele tenha dúvida para O papel do professor é de extrema
poder depois buscar no dicionário caso importância para favorecer um ambiente
surja dúvida. para as crianças se expressarem como
-problema em tiras e dar para o aluno quiserem.
montar o problema. A autora mostra a importância da
-conta resolve. Apresentar quantidade de oralidade, pois ela acredita que possibilita
soluções e o aluno decide qual a resolução uma maior resolução para os problemas,
correta. Pode ser trabalhado mais de um que às vezes não consegue ser mostrado na
tipo, para que ele perceba que pode ter escrita.
vários caminhos para resolver.
-apresenta dois problemas para sinalizar Questões
semelhanças e diferenças entre os dois.
- trabalhar poemas e construir mural. 01. (PREFEITURA DE
-artigos de revista GUARULHOS/SP – Professor de
-tabela e gráficos Educação Infantil – VUNESP/2021) Um
Todas as atividades possibilitam uma dos maiores motivos para o estudo da
avaliação constante, assim o professor pode matemática na escola é desenvolver a
analisar os pontos a serem melhorados em habilidade de resolver problemas. Na
cada aluno. Educação Infantil, conforme Smole et alii
(2003), uma das características da
Cap. 7- Diferentes formas de resolver resolução de problemas de matemática é:
problemas, p. 121-149 A) a criança precisa ter aprendido bem
Autora do capítulo - Cláudia Cavalcanti os conceitos numéricos para resolver
problemas adequadamente.
"[...] nas primeiras propostas os alunos B) para resolver problemas, é preciso
podem não apresentar diferentes formas de que as crianças sejam leitoras, isto é,
resolução. Nesse caso, o que fazer? E capazes de ler e interpretar o enunciado do
importante planejar ações para estimular as problema.
diferentes resoluções, por exemplo: C) as problematizações devem ter como
- No momento da correção, colocamos objetivo alcançar algum conteúdo que
as alternativas encontradas pelas crianças mereça ser ensinado e aprendido.
no quadro e discutimos com elas, para D) para resolver problemas, as crianças
assegurar que todos compreenderam as precisam antes ter algum conhecimento
soluções apresentadas para o problema. sobre operações e sinais matemáticos.
- Se não surgirem várias soluções E) um problema deve ter números, e
diferentes, apresentamos um jeito que todos os números devem ser utilizados para
difere daquele, que pode ter surgido em sua resolução.
outra classe ou que tenhamos preparado
antes. O professor coloca a solução no 02. (PRFEITURA DE ARUJÁ/SP –
quadro para que classe analise e tente Professor – VUNESP/2019) Segundo
explicá-la. Smole, Diniz e Cândido (2003), a resolução
- Ao terminar a discussão, os alunos de situações-problemas é uma atividade
devem copiar duas ou três soluções básica para fazer e pensar matemática. De

23
Matemática

acordo com as autoras, é correto afirmar


que, inclusive na educação infantil, essas
situações-problemas podem ser
A) realizadas com as crianças
matriculadas no último ano da pré-escola,
exclusivamente, pois, nessa fase, já
possuem noções numéricas e estão sendo
preparadas para o ingresso no ensino
fundamental.
B) atividades escritas e de fácil
resolução, que devem ser realizadas com as
crianças da pré-escola, apenas. Antes de
propor situações-problemas, o professor
deve ensinar a realização das contas e
aplicar o treino com diferentes números
compreendidos entre zero e dez.
C) somente atividades e situações que
envolvam os numerais escritos. Essas
situações-problemas precisam ser
propostas de forma lúdica, devem envolver
exclusivamente o conceito de número e
estar relacionadas às parlendas e histórias
que têm números.
D) atividades planejadas, jogos, busca e
seleção de informações, resolução de
problemas não convencionais e, até mesmo,
convencionais, desde que permitam o
desafio, ou seja, desencadeiem na criança a
necessidade de buscar uma solução com os
recursos de que ela dispõe no momento.
E) propostas até mesmo na creche, pois
os bebês e as crianças pequenas podem
aprender a identificar numerais com
materiais e objetos concretos, podendo
também aprender a fazer contas com
números baixos, devendo-se ensinar só até
o número cinco. Alternativas

Alternativas
01. C – 02. D

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