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para entender a importância dessas

O que são os direitos de vizinhança? previsões:

Sabemos que relações entre vizinhos são


sempre uma grande fonte de problemas, seja
em casas ou em condomínios edilícios. Nem
sempre o convívio entre vizinhos é pacífico e,
por isso, é necessário que existam previsões Também já vi diversas disputas entre
claras sobre os direitos de cada um. condôminos, processos em que um vizinho
prefere que seu imóvel caia do que realizar
obras que podem favorecer o outro vizinho, e
inúmeros outros absurdos.
Os direitos de vizinhança regulam desde
frutos e galhos de árvores até o direito de
construir e o direito de passagem no imóvel
dos vizinhos, e estão previstos nos arts. 1277 Assim, é importante conhecermos as
a 1313 do Código Civil. previsões dos direitos de vizinhança, sempre
buscando exemplos de sua aplicação prática.
Vamos começar, então?

A natureza jurídica do direito de vizinhança é


de obrigação propter rem, ou seja, de
obrigação que acompanha a coisa. Quais são os direitos de vizinhança?

Os direitos de vizinhança previstos no Código


Civil tratam sobre:
Mas antes de começar a falar sobre esses
direitos, vou contar um pouco da minha
experiência com eles para destacar sua
importância. -O uso anormal da propriedade

-As árvores limítrofes e seus frutos;

Qual a importância dos direitos de vizinhança -O direito de passagem de vias, cabos e


tubulações
Lembro que, na época da faculdade,
apresentei um trabalho sobre os direitos de -Direito de passagem da água
vizinhança. Ainda jovem, com pouca
experiência, pensei que tinham coisas -Os limites entre prédios e o direito de
desnecessárias de serem previstas, já que tapagem (muros);
eram alguns pontos que poderiam ser
resolvidos com um pouco de senso comum e -O direito de construir.
conversa entre as partes.
Abaixo, você confere cada um deles em
detalhes.

Mais tarde, já advogado, enfrentei um


processo que tinha como único pedido que um
dos vizinhos não deixasse sua bicicleta no Uso anormal da propriedade
corredor do prédio comum. Era um prédio de
dois andares, cada um com apenas um Usando aquele velho ditado de avó, “seu
apartamento, e o vizinho de baixo prendia sua direito acaba quando começa o direito do
bicicleta no meio do corredor para atrapalhar a outro”, conseguimos entender a principal ideia
passagem do vizinho de cima. do que seria o uso anormal da propriedade,
previsto nos arts. 1277 a 1281 do Código Civil.

Tenho até um vídeo no meu canal do


YouTube, o Advocacia Simples, falando sobre
essa experiência. Confira com mais detalhes
O uso normal da propriedade é todo aquele realizada, infelizmente, sem um arquiteto ou
que não gera incômodos ou danos ao vizinho. engenheiro responsável.
Assim, o uso anormal é aquele que afeta de
alguma forma esses direitos, como define o
art. 1277 do CC:
Árvores e frutos

O Código Civil traz algumas previsões sobre


Art. 277. O proprietário ou o possuidor de um árvores limítrofes e seus frutos, que entendo
prédio tem o direito de fazer cessar as serem autoexplicativas. Por isso, vou
interferências prejudiciais à segurança, ao reproduzir aqui os artigos:
sossego e à saúde dos que o habitam,
provocadas pela utilização de propriedade
vizinha.
Art. 1282. A árvore, cujo tronco estiver na
linha divisória, presume-se pertencer em
comum aos donos dos prédios confinantes.“
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências
considerando-se a natureza da utilização, a
localização do prédio, atendidas as normas
que distribuem as edificações em zonas, e os Art. 1283. As raízes e os ramos de árvore, que
limites ordinários de tolerância dos moradores ultrapassarem a estrema do prédio, poderão
da vizinhança.“ ser cortados, até o plano vertical divisório,
pelo proprietário do terreno invadido.“

Como podemos ver, a regra não é a mesma


para todos os locais, já que devem ser Art. 1284. Os frutos caídos de árvore do
considerados todos os envolvidos. Um terreno vizinho pertencem ao dono do solo
hospital com grande frequência de onde caíram, se este for de propriedade
ambulâncias, por exemplo, não pode ser particular.“
punido por sua própria natureza, assim como
um aeroporto, desde que construído de
acordo com a legislação vigente.
Como é possível ver, a redação é bem direta e
clara, e até hoje não vi questionamentos sobre
esse tema.
Casos práticos

Um dos maiores exemplos de atuação do


advogado especialista em direito imobiliário Direito de passagem
neste tema dos direitos de vizinhança é a
questão do barulho, em especial de O direito de passagem é um direito de
estabelecimentos comerciais, como bares. É vizinhança muito interessante, previsto no art.
extremamente comum que bares gerem 1285 do Código Civil, que dispõe:
ruídos acima do permitido pela legislação
local, se estendendo pela noite e
incomodando a vizinhança. Nesses casos, é
possível notificar o estabelecimento e, caso Art. 1285. O dono do prédio que não tiver
não seja cessado a ruído, ajuizar uma ação acesso a via pública, nascente ou porto, pode,
com essa finalidade. mediante pagamento de indenização cabal,
constranger o vizinho a lhe dar passagem,
cujo rumo será judicialmente fixado, se
necessário.“
Também é muito comum enfrentarmos casos
envolvendo a necessidade de realizar ou de
cessar alguma obra que possa estar gerando
prejuízo aos vizinhos, ou por haver risco de Com esse direito, o proprietário de um imóvel
queda, especialmente considerando que “preso”, ou seja, sem acesso a qualquer
grande parte das obras domésticas é
saída, pode obrigar um vizinho a lhe dar Também há diversas disposições sobre a
passagem. possibilidade de canalização de água pelos
imóveis vizinhos, havendo, inclusive,
aplicação das previsões de passagem de
cabos e tubulações para esta finalidade,
É importante destacar que, como vem sempre focando no uso essencial, seja à vida,
decidindo o STJ, não se exige que o acesso seja à uma atividade econômica.
seja impossível, podendo ser apenas um
acesso muito difícil ou de grande custo. A
ideia da lei é, realmente, impedir que um
imóvel fique cercado, dependendo da boa Novamente, temos a lógica de que, se há
vontade dos vizinhos para que se possa fruir algum prejudicado, ele pode ser indenizado, e
dele. até mesmo exigir a demolição da obra, caso
esteja dentro do prazo do art. 1.302 (um ano e
um dia – vou abordar com mais detalhes no
tópico de direito de construir).
Também existe direito de passagem para
cabos e tubulações, previsto nos arts. 1286 e
1287 do Código Civil, que segue lógica
semelhante, buscando não isolar o imóvel de Limites entre prédios – muros e outros
serviços essenciais.
Todo proprietário tem o direito de delimitar o
seu imóvel, tanto para deixar claros os limites
da sua propriedade, como para evitar conflitos
Em todos os casos, é devida indenização ao com os vizinhos, como prevê o art. 1297 do
proprietário do imóvel afetado pela passagem. Código Civil:

Deseja encerrar o dia com a garantia de que Art. 1297. O proprietário tem direito a cercar,
seu escritório está seguro? Automatize suas murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu
atividades e viva uma rotina tranquila em 2022 prédio, urbano ou rural, e pode constranger o
seu confinante a proceder com ele à
Começar grátis no Astrea demarcação entre os dois prédios, a aviventar
rumos apagados e a renovar marcos
Passagem de águas destruídos ou arruinados, repartindo-se
proporcionalmente entre os interessados as
Sabemos que a água é essencial para a vida. respectivas despesas.“
Por isso, há um grande regramento sobre
passagem de águas no Código Civil, entre os
arts. 1288 e 1296. Esses artigos destacam
apenas os direitos de vizinhança, ou seja, os É mais um dos direitos de vizinhança que
direitos relativos diretamente aos vizinhos. pode gerar grandes discussões,
Existem normas próprias que regulam especialmente quando se presume que as
questões maiores de utilização e passagem divisas são de propriedade de todos os
de água, inclusive normas ambientais. vizinhos (§1º), e que as despesas de
manutenção devem ser repartidas.

Em resumo, o fluxo natural da água deve ser


tolerado pelo proprietário do imóvel que a No dia a dia, é muito comum vermos vizinhos
recebe, mas qualquer alteração artificial deve se negando a dividir o custo da obra, ou
ser indenizada. Além disso, não é possível mesmo se aproveitando dela para ir
que haja nenhuma alteração com o intuito de empurrando, aos poucos, a divisão para o
prejudicar um dos vizinhos, como é a lógica lado do outro vizinho e aumentar o seu próprio
do direito da vizinhança. imóvel.

Direito de construir
A maior de todas as previsões do Código Civil ou dificultar, o escoamento das águas da
sobre direitos de vizinhança está neste tópico, goteira, com prejuízo para o prédio vizinho.
sobre direito de construir, que abrange os arts.
1299 a 1313 do Código Civil.

Parágrafo único. Em se tratando de vãos, ou


aberturas para luz, seja qual for a quantidade,
É importante entender, ainda, que os direitos altura e disposição, o vizinho poderá, a todo
de vizinhança aqui previstos podem ser tempo, levantar a sua edificação, ou
limitados pelo Estatuto da Cidade, pelo Plano contramuro, ainda que lhes vede a claridade.“
Diretor e por diversas legislações municipais
sobre construções, não sendo absoluta a
previsão do Código.
Este prazo vale para as ações demolitórias, e
se inicia a partir da conclusão da obra.
Enquanto a obra estiver em curso, a ação
Aqui, há diversas limitações ao direito de cabível é a ação de nunciação de obra nova,
construir em sua propriedade. Por exemplo, o que visa suspender a obra antes que ela
proprietário deve construir de uma forma que termine. Com o fim do prazo, não há
seu imóvel não despeje água no imóvel possibilidade de discussão sobre a obra
vizinho (art. 1300) e deve observar distâncias realizada.
mínimas para abertura de janelas, de 1,5m de
frente para o terreno do vizinho, e de 0,75m
se a visão não for direta (art. 1301).
Temos grande atuação na parte de direitos de
vizinhança relativa ao direito de construir. É
muito comum a propositura de ação de
Há também previsão de distância mínima de nunciação de obra nova e ação demolitória,
3m para construção em imóveis rurais, de mesmo em casos que não estão
possibilidade de construir junto à parede de expressamente previstos no Código, em que
outros imóveis em imóveis urbanos, entre se identifica que o objetivo da construção foi
diversas outras. apenas a má-fé de um vizinho para prejudicar
o outro, como, por exemplo, fazer um muro
excepcionalmente alto apenas para fazer
sombra na piscina do vizinho. Leia também:
O ponto principal a se observar neste tópico é As diferenças entre prescrição e decadência
que seguimos a linha dos demais direitos de
vizinhança: a ideia é evitar conflitos entre
vizinhos, fazendo previsões mínimas de
convivência de modo a reduzir o incômodo. Direitos de vizinhança na prática

Quanto mais estudo direitos de vizinhança, e


sempre que tenho novas demandas nessa
Prazo decadencial para demolição de obra área, vejo como é difícil a convivência entre
indevida vizinhos.

Existe uma previsão importantíssima neste


tópico, que é o prazo decadencial para se
exigir a demolição de alguma obra que venha Por isso a atuação dos advogados da área
a infringir alguma previsão do Código, acaba sendo imprescindível, e devemos focar
conforme o art. 1302 do Código Civil: especialmente na tentativa de mediar o
conflito e oferecer as soluções mais rápidas
aos clientes, que muitas vezes são as
extrajudiciais – seja uma notificação ou
Art. 1.302. O proprietário pode, no lapso de mesmo uma tentativa de conciliação prévia.
ano e dia após a conclusão da obra, exigir que
se desfaça janela, sacada, terraço ou goteira
sobre o seu prédio; escoado o prazo, não
poderá, por sua vez, edificar sem atender ao Além disso, é sempre importante levar em
disposto no artigo antecedente, nem impedir, consideração a ideia principal das previsões
do Código Civil, que são manter a boa-fé e Cães dóceis e que não representam perigo a
evitar que um vizinho prejudique o outro. Com terceiros não precisam usar focinheira. Ela
isso em mente, fica mais fácil entender os desrespeita a dignidade do animal e é
direitos de vizinhança. configurado crueldade e crime de maus tratos
(Art. 32 da Lei Nº 9.605/98 e art. 3º, I do
Decreto Nº 24.645/34), no caso em questão, o
cão é da raça beagle, a qual é considerada
umas das mais dóceis do mundo.

Contanto que o animal não represente um


risco à saúde, sossego e segurança dos
demais, o animal poderá transitar nas áreas
comuns do prédio. Impedir o acesso fere o
tópico do direito de “ir e vir” (Art. 5º da
Constituição).

É cediço que a área de lazer do condomínio


encontrava-se vazia, não apresentando risco
a nenhuma outra pessoa.

Além do mais, para o Supremo Tribunal de


Justiça (STJ), o condomínio não pode proibir
que um morador tenha um animal de
Exercício 01 estimação. Existe o argumento do direito à
propriedade e à liberdade individual na área
privativa. Porém, caso o convívio com o
animal se torne inviável, deve ser analisado o
Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, caso individualmente, o que não se vislumbra
após consultar a convenção do condomínio e no caso em tela.
constatar a permissão de animais de
estimação, realizou um sonho antigo e
adquiriu um cachorro da raça Beagle. Ocorre
que o animal, muito travesso, precisou dos
serviços de um adestrador, pois estava
destruindo móveis e sapatos do dono. Assim,
Daniel contratou Cleber, adestrador
renomado, para um pacote de seis meses de Exercício 02
sessões. Findo o período do treinamento,
Daniel, satisfeito com o resultado, resolve Um apartamento em Santa Catarina, foi o
levar o cachorro para se exercitar na área de mais desejado do mundo por usuários do site
lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, de intermediação de aluguel de temporada
solta a coleira e a guia para que o Beagle Airbnb, em 2022. O levantamento da
possa correr livremente. Minutos depois, o plataforma levou em consideração todas as
síndico lhe chama a atenção e aplica multa acomodações colocadas por hóspedes em
por descumprimento do dever de guarda do suas listas de preferência. O imóvel foi
animal, alegando que o direito de possuir o marcado 275.862 vezes nas listas de desejos
cachorrinho limitava-se à unidade autônoma e dos internautas.
não às áreas comuns do prédio.
O proprietário resolveu então locar o imóvel
Neste caso, qual seria a defesa possível para para diferentes pessoas ao longo de todo o
Daniel e seu beagle? verão. Tal fato causou queixas com relação
aos demais condôminos que pretendem a
proibição desta modalidade de locação em
relação às unidades condominiais autônomas.
A Constituição Federal assegura o cidadão ao
direito de propriedade (Art. 5º, XXII e Art. 170, Neste caso, qual a solução para o proprietário
II), ou seja, o condômino pode manter animais que pretende locar o bem utilizando tal
em casa ou apartamento, contanto que a plataforma?
permanência deles não atrapalhe ou coloque
em risco a vida de outros moradores.
É possível dizer que não há legislação em Extrai-se, por oportuno, trecho do voto do
vigor aplicável a modalidade de locação por Ministro Raul Araújo a respeito no REsp
intermédio de plataformas digitais. Essa 1.819.075 / RS:
modalidade de locação, por ter características
singulares, não se enquadra ou se regula por
nenhuma das normas mencionadas, quais
sejam: hospedagem, lei 11.771/08; locação “[…] Portanto, existindo na Convenção de
residencial ou locação por temporadas Condomínio regra impondo destinação
previstas na lei 8.245/91. residencial, mostra-se indevido o uso das
unidades particulares que, por sua natureza,
Apesar de preservar o direito a propriedade, é implique o desvirtuamento daquela finalidade
imperioso ressaltar que não é possível utilizar residencial (CC/2002, arts. 1.332, III, e 1.336,
o bem imóvel do modo que bem entender, IV).”
conforme preconiza o jurista Carvalho Santos:

Não obstante isso, ressalva-se a possibilidade


“Ninguém pode usar de sua propriedade de de que os próprios condôminos de um
um modo nocivo, estatui o Código, e com isso condomínio edilício residencial deliberem em
não fere nem arranha o direito do assembleia, por maioria qualificada (de dois
proprietário”. terços das frações ideais), permitir a utilização
das unidades condominiais para fins de
Isso significa dizer que o direito a propriedade hospedagem, por intermédio de plataformas
não é absoluto, não se pode fazer o que bem digitais ou outra modalidade de oferta,
entender com o imóvel pelo simples fato de ampliando seu uso para além do estritamente
ser dono. residencial e, posteriormente, incorporem
essa modificação à Convenção do
Condomínio. […].

Tratando-se de condomínio é de
1 Conceitos condominiais sobre o Condomínio
conhecimento geral a existência de normas
que regulam aquela comunidade, sendo a O direito de propriedade tem como ponto
convenção e o regimento interno, os quais característico a exclusividade, segundo o
devem ser obedecidos pelos residentes. artigo 1231 do Código Civil: A propriedade
presume-se plena e exclusiva, até prova em
contrário. Entretanto, é plenamente possível
mais de um titular no exercício de propriedade
Ao decidir pela moradia em um condomínio, – que chamamos de condomínio ou
automaticamente há adesão às suas normas, compropriedade. Por isso, temos no
que devem ser submetidas a todos, de modo ordenamento jurídico brasileiro o condomínio
a preservar a paz social na localidade. geral e o condomínio edilício.

1.1 Relações nos condomínios

O condômino que for residir em prédio de Assim, há dois feixes de relações no


apartamento ou for utilizar-se de um conjunto condomínio: (a) relações internas ou
de comercial sabe, perfeitamente, que terá de intracondominiais e (b) relações externas ou
obedecer à convenção de condomínio e ao extracondominiais, nesse sentindo, segundo o
regulamento interno do edifício. doutrinador Anderson Schreiber:

a) Relações internas, os direitos e deveres


de cada condômino são exercidos em
consonância com a sua fração ideal sobre o
A destinação residencial prevista na
bem comum, dividindo-se, por exemplo, as
convenção deve nortear a conduta dos
despesas e frutos da coisa proporcionalmente
condôminos.
à respectiva quota condominial.

b) Relações externas, qualquer condômino


apresenta-se como proprietário integralmente
e independentemente de sua respectiva b.1 condomínio edilício tradicional;
fração ideal.
b.2 condomínio de lotes; e
2 Natureza Jurídica b.3 condomínio urbano simples
Há algum tempo, o condomínio era visto como
inconveniente, por ser fonte de inúmeros Temos ainda a multipropriedade,
conflitos entre os condôminos. Inclusive uma caracterizada pelo fracionamento temporal da
curiosidade para vocês: Segundo Schreiber: propriedade exclusiva sobre um mesmo bem.
“O instituto conhecido pelos romanos como
mater rixarum (mãe de rixas) já foi Importante: A multipropriedade pode ocorrer
jocosamente chamado de condemônio, em tanto em condomínios voluntários como em
alusão ao pandemônio que causa entre os condomínios edilícios.
coproprietários, envolvidos em infinitos
debates acerca do uso da coisa, dos limites 4. Característica do condomínio Edilício:
de atuação de cada um, da divisão de
despesas empregadas na manutenção do O condomínio Edilício trata-se da existência
bem e de tantas outras questões tormentosas de uma edificação composta de partes
que o compartilhamento da propriedade sujeitas a propriedade exclusiva e propriedade
suscita” comum, que serão utilizadas, em conjunto,
pelos condôminos – salvo quando ocorrer
Em relação a própria natureza jurídica do alguma das hipóteses previstas na legislação.
instituto, existe opiniões contrárias sobre o
tema. Vejamos que para alguns: Segundo Schrebeibr: o condomínio edilício
abrange, assim, um condomínio forçado das
a) No condomínio, a propriedade recai sobre a partes comuns, que o próprio Código Civil
quota e não sobre a coisa; enumera a título exemplificativo: solo,
estrutura do prédio, telhado, rede geral de
b) Existem tantos direitos de propriedade distribuição de água, esgoto, gás e
quanto condôminos; eletricidade, entre outras partes (art. 1331, §
2º), vejamos:
c) Nova pessoa coletiva.
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes
Interessante o entendimento de Ebert que são propriedade exclusiva, e partes que
Chamoun: a diversidade de teorias não traz são propriedade comum dos condôminos.
utilidade à figura do condomínio, bastando
compreendê-lo como “a participação numa ● As partes suscetíveis de utilização
propriedade de vários titulares”, de tal modo independente, tais como
que ostenta “a mesma natureza jurídica do apartamentos, escritórios, salas, lojas
domínio, da propriedade”. e sobrelojas, com as respectivas
frações ideais no solo e nas outras
partes comuns, sujeitam-se a
3.Conceitos condominiais sobre tipos de propriedade exclusiva, podendo ser
condomínios alienadas e gravadas livremente por
Existem dois gêneros de condomínio: seus proprietários, exceto os abrigos
para veículos, que não poderão ser
a) o condomínio geral ou ordinário, que se alienados ou alugados a pessoas
divide em: estranhas ao condomínio, salvo
autorização expressa na convenção
a.1 condomínio voluntário, que deriva do de condomínio.
acordo de vontades entre os condôminos; ● O solo, a estrutura do prédio, o
telhado, a rede geral de distribuição
a.2) condomínio necessário, que decorre de de água, esgoto, gás e eletricidade, a
imposição legal, como no caso de paredes, calefação e refrigeração centrais, e as
cercas, muros e valas entre terrenos vizinhos. demais partes comuns, inclusive o
acesso ao logradouro público, são
b) o condomínio edilício, tradicionalmente utilizados em comum pelos
chamado condomínio horizontal ou de condôminos, não podendo ser
apartamentos que se divide em três espécies: alienados separadamente, ou
divididos.

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