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Niterói
2020
2
Ficha catalográfica automática - SDC/BAU Gerada com
informações fornecidas pelo autor
DOI: http://dx.doi.org/10.22409/PPGAU.2020.m.10290298733
CDD -
AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho a Doralice, Patrícia e Maria (in memoriam), mãe, irmã e
avó, mulheres com quem aprendi sobre amor, cumplicidade e superação. E Pedro
(in memoriam), pai, com quem aprendi sobre esperança e coragem.
RESUMO
This Dissertation presents the study based on applied research with the
objective of generating subsidies for the implementation of public policies that
indicate possible solutions to the issue of organized occupations of real estate,
originally for industrial use abandoned, for various reasons - economic crisis , urban
violence, etc.
The work stops, specifically in the manufacturing spaces, located on Avenida
Brasil, in the city of Rio de Janeiro, in the section comprised by Planning Area 3 (AP
3), which, after a process of emptying its original productive functions, converted in
industrial ruins, which were subsequently occupied for housing purposes.
This work was developed from primary and secondary sources, building
hypotheses about the motivations for occupations in manufacturing plants.
Throughout the work, interviews were carried out with occupational residents in the
city of Rio de Janeiro, agents of the Public and Private Power concerning the context
of the region's real estate market.
The analysis of the research made it possible to approach different
experiences, seeking to understand through their reports the multifaceted process
that produced spaces like these, reusing ruins of old factories and adapting for
housing purposes. The practices of the social actors involved and their interactions
were also analyzed, as they develop forms of ordering the occupation and the action
of the Public Power in these spaces.
With this work, as we stated earlier, we intend to contribute with elements that
foster future policies to address this relevant issue.
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO........................................................................................................15
METODOLOGIA.....................................................................................................18
CENÁRIO DE ILEGALIDADES.....................................................................................90
14
INCENTIVO À AUTOGESTÃO............................................................................102
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................115
INTRODUÇÃO
1
Empresa que produzia e vendia peças automotivas. Teve falência e fechou em 1996.
16
METODOLOGIA
da Borgauto, reconduzi a pesquisa para o aporte das ruínas fabris da AP-3, por
terem expressão e relevância no levantamento de dados junto aos órgãos públicos,
privados, por meio de entrevistas, audiências e dados públicos disponíveis.
Por fim, os procedimentos técnicos utilizados foram: pesquisa bibliográfica a
partir de materiais publicados sobre o contexto do fenômeno estudado, constituído
por livros, periódicos e material disponível na Internet; de caráter documental através
de busca por materiais disponíveis em órgãos públicos da cidade do Rio de Janeiro -
Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Habitação, ITERJ
(Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro) e levantamento
realizado diretamente com pessoas vinculadas ao recorte da pesquisa - setor
privado que corresponde a investimento da localidade, no caso: Firjan, ADEMI,
Corretora Sérgio Cortes, Pesquisadores de instituições de ensino superior UFRJ -
UFF - IPPUR - UERJ - PUC, Pesquisadores de instituições da sociedade civil de
pesquisa, consultoria e ação pública - Observatório de Favelas, Redes da Maré.
Operacionalização da pesquisa
Por conseqüência da presença da milícia e do recorte da pesquisa não
possuir nenhuma ocupação desenvolvida ou relacionada a movimentos sociais
precisei, ao longo do segundo ano de trabalho, alterar o método de estudo. No
início, pretendia ancorar a pesquisa num estudo etnográfico sobre a ocupação da
Borgauto, no bairro de Ramos, na Avenida Brasil.
Com o propósito de entrada em campo mobilizei pesquisadores na intenção
de conseguir algum moderador para a minha aproximação.
Ao longo do primeiro ano de trabalho – 2018 – e até meados do segundo
semestre do ano seguinte, busquei acesso a alguma ocupação, nesta avenida. À
medida que esse método se inviabilizou, decidi alterá-lo mas, mantenho todo o
material levantado depositado na pesquisa como forma de dar visibilidade ao
interesse de pesquisar ainda que, não seja possível construir uma verificação de
padrões com a quantidade de registros encontrados. Além disso, demonstrar a
dificuldade de operacionalizar um estudo etnográfico em ocupações de ruínas fabris
na Avenida Brasil.
Como resultado dessa busca pelo levantamento etnográfico pude conhecer
estudos produzidos sobre a região à luz do contexto da pesquisa – ocupações,
ruínas fabris, vazios urbanos – e de outras demandas também. Conheci
20
2
Prefeitura do Rio de Janeiro
21
Sistematização de dados
À medida que a pesquisa etnográfica se mostrou inviável, alterei a condução
do levantamento de dados sobre a dissertação e redistribuí as minhas possíveis
fontes de informações, conforme – respeitada a quantidade limitada de fontes
secundárias que o percurso da pesquisa demonstrou disponível – comenta a
reportagem sobre o trabalho de Talese
[...]
3
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
4
Secretaria Municipal de Urbanismo do Município do Rio de Janeiro
24
O artigo 183, por sua vez, fixou que todo aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirirá o seu domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Este artigo abriu a possibilidade de regularização de
extensas áreas de nossas cidades ocupadas por favelas, vilas, alagados ou invasões, bem como
loteamentos clandestinos espalhados pelas periferias urbanas, transpondo estas formas de
moradia para a cidade denominada formal.
8
Leandro Gomes Souza é Gerente de Cartografia e Cadastro Técnico, na Coordenadoria
Técnica de Informações da Cidade, no IPP
9
Instituo Pereira Passos
10
Consultar Analise espacial e gestão municipal de vazios urbanos no Rio de Janeiro,
IPPUR - UFRJ, 2014 (Leandro Gomes Souza)
29
11
SABREN – Sistema de Assentamentos de Baixa Renda
31
Fonte: <http://www.data.rio/app/sabren>
Acesso em: 15 de Jul de 2019
12
O nome "Palace" era um edifício residencial no bairro "Barra da Tijuca" (o "Palace II") foi
demolido em 1998, logo após colapso de uma parte de sua estrutura, que condenou 44
apartamentos e provocou oito mortes. O evento foi transmitido largamente pela mídia brasileira à
época (MARTINS, p. 168)
36
13
Tradução genérica da legenda: limite terrain - linha de fronteira; immeuble principal -
edifício principal; entrepot - armazém; terrain de sports - campo de esportes; entrée - entrada;
bars - bares; zone de loisirs - área de lazer; logements - habitação
38
14
Em janeiro de 2001, a Parmalat informou à FEEMA que os
vazamentos estavam solucionados, que a amônia já havia sido retirada pela
empresa Amonex e que os resíduos contaminados por óleo BPF seriam
15
removidos pela COMTECOM . Em fevereiro de 2001, a FEEMA notificou
mais uma vez a empresa a apresentar uma avaliação de seu passivo
ambiental, em que constasse o grau de contaminação do solo e águas
subterrâneas, como também um cronograma para mitigação dos problemas
porventura identificados. A investigação geoambiental trouxe resultados
surpreendentes: constatou a contaminação do solo por mercúrio e cromo, e
das águas subterrâneas por cromo, chumbo e níquel. (FEEMA. Crimes
ambientais- Transcrição de apresentação em DVD)
14
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
15
Empresa dedicada a minimizar o impacto da indústria na natureza.
Ver: http://contecomambiental.com.br/quem-somos/
42
Fonte: A abertura da Avenida Brasil e o desenvolvimento dos subúrbios no Rio de Janeiro, 2005
Fonte: A abertura da Avenida Brasil e o desenvolvimento dos subúrbios no Rio de Janeiro, 2005
46
Toda área próxima à Avenida Brasil foi destinada à localização fabril, além
de armazéns, oficinas, garagens, respeitando-se apenas terrenos de
propriedade militar. Mas esta destinação natural não foi disciplinada a
tempo, pois a participação maior do transporte rodoviário no Brasil somente
se verificou na década de 1950, tendo havido alguma antecipação pela
ocupação de vastos terrenos por favelas. A invasão da área pelas favelas,
atraída pela ocupação fabril no espaço, impediu a instalação de indústrias
em alguns trechos, (notadamente) entre Olaria e Lucas.
16
O Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro - ITERJ tem como
atribuição constitucional democratizar o acesso à terra – posseiros, sem teto e sem terra –
intervindo na solução dos conflitos e nos processos de regularização fundiária. Como órgão
49
18
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
54
elaborado em 2001 que não foi publicado e também não teve suas propostas de
intervenção executadas constantes do Estudo Técnico: Revitalização da Avenida
Brasil, feito pela Coordenadoria de Planejamento Local – GPL-3, da Gerência de
Planejamento Urbano da AP3. Fui orientada pelo Técnico da Equipe à relevância de
mencionar a data de criação do estudo, porque já não caracteriza a situação atual
desses locais e caracterizá-los a partir do material disponibilizado para pesquisa
registraria dados equivocados.
Ao longo dessa última Audiência, identifiquei que há um aspecto recorrente
sobre os projetos elaborados pelo Grupo Técnico que é a concepção e execução de
tais projetos estarem atrelados à submissão de interesses políticos. Sobre isso, o
Técnico comenta na Audiência que: “a trajetória dos projetos é fragmentada”. Sendo
assim, as proposições do Poder Público são concatenadas através da incidência das
prioridades políticas, aquém ou não (verificada maior freqüência ao dito: aquém) a
essas ruínas fabris.
Fonte: Autora
58
19
A Área de Especial Interesse Urbanístico é uma área submetida a regime urbanístico
específico, relativo a implementação de políticas públicas de desenvolvimento urbano e formas
de controle que prevalecerão sobre os controles definidos para as Zonas e Subzonas que a
contêm. A Área de Especial Interesse Urbanístico é aquela destinada a projetos específicos de
estruturação ou reestruturação, renovação e revitalização urbana.
Dentre as AEIUs criadas no município, destaca-se como exemplo a AEIU da Avenida
Brasil
Fonte: http://www.rio.rj.gov.br/web/smu Acesso em: Dezembro de 2019
20
Buffer zone é usada para definir proximidade espacial, podendo englobar um ou mais
polígonos de uma certa área ao redor de pontos, linhas ou áreas.
61
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019– Imóveis em Estado de Abandono, Capa
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
22
O somatório entre domicílios e estabelecimentos vagos é descrito como vazios urbanos.
Ler: IPP, 2012
69
áreas onde há imóveis em estado de abandono foi feita uma abordagem a partir das
áreas de planejamento da cidade, estabelecidas no Plano Diretor vigente:
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono, p. 08
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
70
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono, p. 08
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
72
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
74
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
75
Esse mesmo trecho possui proposta para o trecho superior do terreno como
intenção de urbanização de terrenos remanescentes da Transcarioca (Figura 33).
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
Esses dados coletados junto à SMU demonstram que vêm sendo feitos
estudos técnicos de investigação dos imóveis abandonados e que os projetos não
seguem uma trajetória de execução que, segundo os técnicos que mediaram as
audiências, mudam de prioridade conforme mudam as gestões do Município.
Por último, o terceiro terreno em que se propõe a construção de um bosque.
76
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
(Esse vazio não possui mais detalhes)
Fonte: Audiência com a SMU RJ, Out. 2019 – Imóveis em Estado de Abandono,
Foto concedida pela SMU e reproduzida pela Autora
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23
Administrador Judicial na recuperação e falência de um empreendimento
24
À época desta dissertação a Assessoria de Pesquisa, Acervo e Memória do ITERJ foi extinta. O
acervo continua disponível à pesquisa.
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25
Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro
26
Adjudicação compulsória é uma ação que visa o registro de um imóvel para o qual não se
tem a documentação correta exigida em lei. Com ela, o proprietário do imóvel pode obter a Carta
de Adjudicação, pela qual um juiz determina que se proceda ao registro de imóveis
27
A usucapião é uma das formas de aquisição originária de propriedade, desde que se
encontrem preenchidos os requisitos básicos. Posse ininterrupta, ânimo de dono e sem oposição,
além do prazo de tempo definido legalmente, são requisitos para que o possuidor possa requerer
a usucapião, seja de forma judicial ou extrajudicial, ou seja, diretamente em um cartório
imobiliário, presente no Código Civil e no Estatuto das Cidades
81
28
Associação de Empresas do Mercado Imobiliário
29
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
84
Somado a isso, a ausência do Estado contribui para que esses locais não
desenvolvam potenciais para atrair mercado investidor, além do cenário de
degradação em expansão com lojas fechando. No último ano, sendo usuária do
transporte público que passa pela avenida, acompanhei lojas com baixo movimento
de clientes fecharem e, rapidamente, passarem por um processo de degradação e,
posterior, ocupação.
O empresário, suponho segundo o levantamento de dados para a pesquisa
junto aos órgãos do Setor Privado, não tendo o seu negócio assegurado pela
Fiscalização, autuação e intervenção da Municipalidade sobre a ação ilegal intensa
no corredor viário da avenida tem pouca alternativa sobre a sua permanência ou
entrada nesses espaços.
Além da Carta Industrial, a Firjan comenta em reportagem no Jornal O Globo
(Maio de 2019)que o Norte Fluminense é a região do RJ com mais investimentos
previstos para os próximos anos.
similar (Figura 35) e em entrevista do Diretor dessa Corretora ao Jornal Diário de Rio
em Julho de 2019 é dito que a perspectiva sobre os imóveis da localidade é
diferente.
Por último, agendei uma entrevista com o Diretor da Corretora Sergio Castro
que fez a venda da antiga fábrica Sabão Português onde foi possível explorar o
contexto da atuação do empresariado que investe na AP-3 e obter mais detalhes.
Com isso, descobri que também tinha concluído inúmeras vendas de imóveis na
área de recorte da pesquisa.
O Diretor da Corretora sugeriu que marcássemos uma reunião para que
conversássemos pessoalmente sobre o assunto da pesquisa em sua Sede, na Rua
da Assembléia, no Centro do Rio de Janeiro.
Apresentei um breve resumo da minha pesquisa para o conhecimento do
Diretor Sr. Claudio, disse que realizo um levantamento sobre a região da Avenida
Brasil para compreender a dinâmica relacionada ao investimento e ao
desaquecimento de interesses desses espaços construídos, e ele comentou que em
2018 vendeu o Sabão Português, então Assai e esse ano (2019) vendeu o Touring,
próximo à Linha Amarela.
Sr. Claudio comentou que existe um interesse maior por um dos lados da
avenida – sentido Centro do Rio – ainda que, existam clientes para procurando
ambos os lados:
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O problema é que você tem uma informalidade, Corretores que não são
registrados trabalham nos imóveis e assim, os imóveis ficam por vender por
anos e anos.
Mas, quando entrega a uma empresa séria o preço é normal e quando não
tem invasão e documentação normal, vende.
(...)
O Touring, por exemplo, foi vendido para um investidor de locação. Ele vai
reformar tudo e nós já temos dois a três candidatos para alugar. Estamos
esperando só sair a licença.
(...)
E tem procura, tem gente para comprar. Só não consigo vender, porque
tenho que tirar primeiro esses invasores.
89
Sr. Claudio discursa sobre a estrutura de poder feita por grupos ilegais
através da mercantilização da moradia, conforme comentado neste Capítulo mais a
frente, sobre a atuação das milícias: “Tem problema habitacional? Tem. Mas, não
pensem que eles são coitadinhos não, porque eles invadem e, imediatamente, o
chefe aluga. E aí, aquele pessoal todo que vai morar paga aluguel pro chefe. É
sempre assim. O negócio é extremamente lucrativo.”
30
Segundo a Secretaria de Urbanismo da PCRJ, o IPTU Progressivo segue sem
regulamentação até o momento (Dinâmica do desenvolvimento Urbano e Ordenamento Territorial
- SMU/ SUBU/ CGPP/ GNIU 2019, p. 26)
91
O moleque roubava direto e eles mandaram ele sair daqui ou iam matar
ele. A mãe se mudou com o filho para a Maré, porque sabia que logo, iam
matar o filho dela
(Fala de Morador do Conjunto Palace, na Avenida Brasil.
Dezembro de 2018)
Fonte: Livro ‘No Sapatinho’: A evolução das milícias no Rio de Janeiro (2008 – 2011)
31
Coordenador Geral do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro e do Redes da Maré,
Doutor em Sociologia da Educação, professor Adjunto do Departamento de Educação da UFF,
Consultor do UNICEF e Canal Futura
99
Esse projeto de Lei pode ser considerado como uma ação do Poder Público
para enfrentamento desses grupos. Contudo, a Milícia continua avançando em
diversas áreas da cidade.
AUTOGESTÃO
32
O movimento squatter (ou okupa) surge no contexto europeu da contracultura, nos anos
1960
33
https://www.observatoriodefavelas.org.br/
105
Maré.
Com isso, entrei em contato com pesquisadores da instituição para reunião
visando explanar sobre o meu estudo e a necessidade de mobilizar apoio para
entrar em alguma ocupação.
Na reunião com o Pesquisador João34, em outubro de 2018, fui convidada a
conhecer os espaços internos do OF35onde ele apresentou as atividades
desenvolvidas pelos pesquisadores e integrantes, contou a sua atuação. Perguntei
se algum deles era morador de ocupação na região, disse que não tem registro de
colaboradores que residam nas ocupações, contudo, a maioria é residente em
comunidades ali e fora dali, como requisito da provisão de oportunidade de atividade
remunerada ou não junto ao OF. Fomos para a área externa do galpão principal do
OF e caminhamos até a Avenida Brasil para que eu conhecesse o galpão Bela
Maré36 e o Pesquisador contou que esses galpões são arrendados. Ao longo do
trajeto até uma das ruas transversais à Avenida onde funciona o Bela ele indicou
que eu observasse construções ao longo da calçada que estavam fechando e que
eram, rapidamente, reformadas pelo tráfico de drogas para que gerassem aluguéis.
Sobre isso, há discussões sobre o valor de troca em detrimento do valor de
uso presente nesses espaços, independente da intenção inicial de ocupar para
morar. A pesquisa não se detém em aprofundamentos sobre esse foco de
discussão, contudo, identificou indícios do recurso de aluguéis bastante presente
nas ocupações de moradia desenvolvido e mantido, tanto por morador como por
lideranças ilegais.
As conversas com o OF contribuíram para o conhecimento das ações
desenvolvidas pelo grupo de pesquisadores ao longo dos anos de atuação.
Conversei também com o Fundador Jailson Santos37 que orientou entrar em contato
34
João Felipe P. Brito, Pesquisador do OF com quem troquei e-mail's, me recebeu e
apresentou os espaços físicos dos galpões da Sede do OF e o Bela Maré. Bacharel em Ciências
Sociais, UFRJ (2009); Mestre em Sociologia e Antropologia, PPGSA-UFRJ (2012); Doutor em
Sociologia, PPGSA-UFRJ (2016)
35
Observatório de Favelas
36
Galpão vinculado ao OF com atividades artísticas (dança, teatro, etc)
37
Jaílson de Souza e Silva, criador do Observatório de Favelas. Geógrafo, Doutor em
Sociologia da Educação, fundador e atual diretor geral da Universidade Internacional das
Periferias - UNIperiferias/IMJA
106
Doze anos de luta, nega. Nós passamos por todos os processos. Mais
dois anos de preparação, porque antes de entrarmos aqui nós ficamos dois
anos mobilizando as famílias. Imagina famílias que moram em vários
lugares. Aqui tinha de Caju, Anchieta, Campo Grande, Cantagalo, Pavão
Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Babilônia. Todo mundo não se conhecia,
então, você precisa de um preparo, dividir tarefas, cada um fazer a sua
parte, a própria interiorização que é o mais importante. Conhecer o próprio
38
A Redes da Maré é uma instituição da sociedade civil que produz conhecimento, elabora
projetos e ações para garantir políticas públicas efetivas que melhorem a vida dos 140 mil
moradores das 16 favelas da Maré. Ver: http://www.redesdamare.org.br/
39
O MNLM é uma entidade do movimento popular de moradia, com 20 anos de luta,
organizado nacionalmente em 18 estados. Possui como missão estimular a organização e
articulação da classe trabalhadora na busca da unidade de suas lutas, pela conquista de uma
política habitacional de interesse social com reforma urbana, sob o controle dos trabalhadores,
que garanta a universalização dos direitos sociais, contribuindo para a construção de uma
sociedade socialista, igualitária e democrática. <http://mnlmrj.blogspot.com/p/apresentacao.html>
107
movimento, a gente tem que falar que não luta só pela casa que é uma luta
maior, que é pela cidade, da reforma urbana.
A gente tem um núcleo, que chamamos de núcleo duro, que a gente
sabe sobre políticas públicas, que sabe o nosso papel, que é militante. Tem
ocupação que não tem essa organização por trás, é difícil.
É um quebrar de paradigma que a gente faz. Esse é o nosso grande
diferencial, foi construído coletivamente.
(Entrevista com a Coordenação da Ocupação Manoel Congo em Maio
de 2019)
Fonte: Acervo pessoal da Autora, a partir de proposta como Aula Externa na Tutoria do Estágio
Docente, da disciplina Projeto de Habitação Popular, Primeiro Semestre de 2019, EAU/ UFF
“Esta concepção representa uma nova forma de pensar o espaço da cidade, gerido
pelos seus cidadãos, em oposição à forma burocrática e centralizada com a qual
muitas vezes o espaço urbano é gerido pelo Estado.”
Fonte: Acervo pessoal da Autora, a partir de proposta como Aula Externa na Tutoria do Estágio
Docente, da disciplina Projeto de Habitação Popular, Primeiro Semestre de 2019, EAU/ UFF
Las okupaciones son parte de una lucha política al margen del sistema
institucional, entendiendo que es política porque se ejercealgún tipo de
relaciones de poder [...]. Su sentido político es emancipatorio en la medida
en que plante a una resistencia genérica a La dominación [...]. Que
podamos valorar este sentido ideológico general como emancipatorio o
progressista no significa que exista siempre una unânime comprensión de
las dimensiones de la dominación social existente.
Fonte: Acervo pessoal da Autora, em Aula Externa como Ouvinte, PUC - Rio
Ministrada pela Professora Maíra Martins, Junho de 2018
40
União dos Movimentos de Moradia
41
União Moradia Popular
42
Central de Movimentos Populares - A CMP é fruto de um processo histórico de resistência
e dos movimentos sociais populares, em especial das lutas sociais dos anos 1980. Foi fundada no I
Congresso Nacional de Movimentos Populares, realizado de 28 a 31 de outubro de 1993, em Belo
Horizonte - MG. No encontro de fundação, estiveram presentes 950 pessoas oriundas de 22 Estados
do País e representando vários movimentos, tais quais os de prostitutas, negros, mulheres, crianças
e adolescentes, homossexuais, moradores de rua, portadores de deficiência, índios, movimento por
transporte, moradia, saúde, saneamento, direitos humanos, entre outros, demonstrando a amplitude e
a diversidade ali representadas. Seu eixo central de atuação é as Políticas Públicas com Participação
Popular, um instrumento de articulação dos movimentos populares
(https://landportal.org/organization/central-dos-movimentos-populares)
43
Movimento de Luta de Bairros
44
Fundada pelo jornalista André Fernandes em janeiro de 2001, foi logo reconhecida pela
Reuters como a primeira agência de notícias de favelas do planeta http://www.anf.org.br/
112
2019, também não obtive êxito sobre dados relacionados às ocupações de ruínas
fabris na Avenida Brasil em retorno de contato da Secretaria Executiva da
instituição.
45
O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No
total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização
dos trabalhadores rurais.Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas
no MST, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma
Agrária. (https://mst.org.br/quem-somos/)
46
“Movimento dos Trabalhadores Sem Teto — é um movimento que organiza trabalhadores
urbanos a partir do local em que vivem: os bairros periféricos. Não é e nem nunca foi uma
escolha dos trabalhadores morar nas periferias; ao contrário: o modelo de cidade capitalista é que
joga os mais pobres em regiões cada vez mais distantes.
Mas isso criou as condições para que os trabalhadores se organizem nos territórios
periféricos por uma série de reivindicações comuns. Criou identidades coletivas dos
trabalhadores em torno destas reivindicações e de suas lutas. Ao mesmo tempo, a organização
sindical, no espaço de trabalho, tem tido enormes dificuldades em organizar um segmento
crescente de trabalhadores (desempregados, temporários, terceirizados, trabalhadores por conta
própria, etc.), a partir de transformações ocorridas no próprio processo produtivo, que tornaram
as relações trabalhistas mais complexas e diversificadas.
47
Movimento Nacional de Luta por Moradia
48
União de Moradia Popular/ RJ
113
49
Central de Movimentos Populares (mencionado em nota anterior e, novamente, afim de
facilitar a menção aos grupos presentes no Seminário)
50
Ação Livre por Moradia - A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) é o único
entrave para que a situação da ocupação Almor (Ação Livre por Moradia) seja regularizada,
constituindo-se como moradia popular. Localizada na Mem de Sá, no Centro do Rio de Janeiro, a
ocupação foi incluída, em 2010, no Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e
contemplada com o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, do Ministério das
Cidades (FNHIS 2009). Além disso, ganhou um projeto de arquitetura de Chiq da Silva,
associação que defende o enquadramento de propriedades ociosas do Estado em
programashabitacionais, para a realização das obras que o prédio necessitava
(https://lutafob.wordpress.com/2016/04/07/uerj-e-unico-entrave-para-que-ocupacao-seja-
regularizada/).
51
Movimento de Luta de Bairros
114
52
Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. Atua na defesa
jurídica do direito à moradia nos casos de despejos, remoções, reintegrações de posse e outros
conflitos fundiários;
Acompanha procedimentos administrativos que representem risco para a posse e moradia
das comunidades pobres;
Promove a regularização fundiária de comunidades por meio de usucapião e legitimação de
posse ou auto de demarcação;
Acompanhamento de Políticas Públicas que possam trazer reflexos para o Direito a Moradia
das comunidades pobres, tais como CHOQUE DE ORDEM, TRANSCARIOCA, TRANSOESTE,
TRANSOLÍMPICA, PARQUE OLÍMPICO, ETC (http://www.defensoria.rj.def.br/Cidadao/NUTH)
116
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Janeiro. A Coordenação da SMH diz que “essa região está no radar da Prefeitura” -
embora isto não se traduza em ações concretas. E se está no radar, quais as razões
objetivas para negligenciar esses registros identificados? Essas perguntas não
tiveram respostas suficientes para além da justificativa sobre a alternância dos
interesses de cada Gestão Municipal. Isso reproduz a manutenção da invisibilidade
desses espaços. A Prefeitura do Rio de Janeiro não atua para regularizar, ordenar,
dotar de infraestrutura ou avaliar medidas para as ocupações de ruínas fabris,
conforme verificado na pesquisa.
Isso é claramente observado no discurso dos técnicos que desenvolveram
esses Estudos Técnicos. Em uma das Audiências um dos Técnicos da Equipe da
Coordenação de Planejamento 3 (AP3 – Área de Planejamento 3) confidenciou que
esses estudos foram feitos por equipes capacitadas, mas que foram fragmentados
em virtude das mudanças na Gestão do Município do Rio e Janeiro.
A ausência do Poder Público nesses espaços possibilita o surgimento de
grupos criminosos organizados – milícia e tráfico – que consolidaram a sua
dominação nas ocupações fabris de tal forma que é possível identificá-los nas falas
de setores do mercado imobiliário da cidade do Rio de Janeiro.
O que pode ser observado nas declarações da ADEMI – Associação de
Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário - e da Firjan – Federação das
Industrias do Estado do Rio de Janeiro - é que não vislumbram interesse em
investimentos na área. Uma exceção a essa visão é a da Corretora Sergio Castro
que concluiu a venda da antiga fábrica Sabão Português (2018), na Avenida Brasil.
Com o fim de compreender essa afirmativa sobre a investida em imóveis
abandonados ao longo da Avenida Brasil, entrevistei o Diretor dessa Corretora e ele
demonstrou conhecimento sobre a dificuldade de proposições para esses espaços.
Contudo, confia e defende o potencial existente nessa área. Comenta que os
entraves são de ordem legal ao que diz respeito à propriedade fundiária, assim
como do encarecimento da segurança, responsabilizando a milícia por esse
encarecimento.
Nessa área que concentra vazios urbanos na Brasil, destaca-se o papel que o
Complexo da Maré desempenha o que diz respeito de formação de cultura,
educação, considerando que já contribui com oportunidades de educação,
educação, cultura e emprego. Esses dados não estão disponíveis na Prefeitura do
Rio de Janeiro e sequer são considerados como possibilidade de parceiros para
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condução de acesso, já que a Prefeitura diz que a entrada nas ruínas fabris é
prejudicada por conta de segurança.
Uma aproximação entre a Prefeitura e as instituições atuantes nesses locais
poderia providenciar a entrada nessas ocupações ou um levantamento mais real
sobre esses imóveis para compor os Estudos Técnicos feitos pela Secretaria
Municipal de Urbanismo.
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Movimento Nacional de Luta por Moradia
54
União de Moradia Popular
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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<https://g1.globo.com/rj/norte-fluminense/noticia/2019/05/10/norte-fluminense-
e-a-regiao-do-rj-com-mais-investimentos-previstos-para-os-proximos-anos-diz-
firjan.ghtml>
Acesso em Nov. 2019
O Globo
<https://oglobo.globo.com/rio/interdicoes-na-avenida-brasil-para-obras-na-
antiga-fabrica-de-sabao-portugues-ficam-para-amanha-22839662>
Acesso em Jan. 2020
<http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4236391/4142544/RELATORIOOCUP
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