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Desafios das Humanidades e Ciências Sociais no século XXI – As

Humanidades Digitais

Atualmente, no século XXI, as humanidades e as ciências sociais, em geral,


enfrentam diversos desafios, principalmente devido a era digital que surgiu e se
proliferou de maneira muito rápida, tomando conta de todos os segmentos, de certa
forma contaminando até as humanidades. Problemas como definir o que é ciência,
diferenciar o que realmente é ciência de senso comum, pessoas plagiando obras e a
imensa quantidade de informação, afetam diretamente e são enfrentados
constantemente pelas ciências sociais.

Com as ferramentas existentes nos meios digitais, a busca por informação


ficou muito fácil se comparado ao século passado, além desse interesse em
encontrar informações ter se tornado muito acessível por se tão prático. Ao mesmo
tempo que se tornou tão simples surgiram problemas, justamente por essa
facilidade, ao pesquisar sobre algum tema específico a quantidade de resultados
que se encontram são incontáveis, conhecido como avalanche de dados, em meio à
tantos resultados de busca, fica praticamente impossível ter a certeza do que é
informação verídica, e principalmente, fica difícil saber o que realmente é ciência ou
apenas o senso comum.

Segundo Nigel, em sua obra A Ciência e Senso Comum, senso comum, é


algo que não possui uma comprovação, não estão sujeitos a testes para comprovar
a veracidade dos fatos apresentados, já a ciência apresenta diversos testes, que
comprovam a veracidade dos fatos apresentados através dos métodos científicos.
Diferenciar esses dois conceitos tem sido apenas um dos diversos problemas
enfrentados pelas humanidades, principalmente em uma época em que com os
meios digitais, nas redes sociais principalmente, as pessoas falam sobre certos
assuntos como se fossem cientistas especializados naquele determinado tema,
falam com tanta convicção que muitas pessoas acabam acreditando nas
informações espalhadas, isso acaba gerando um problema mais grave ainda, as
fake News. Essa obra de Nigel, foi escrita em 1968, esse problema já era recorrente
num século em que as ferramentas digitais de comunicação nem existiam, com o
passar do tempo e o desenvolvimento desses meios, podemos observar como esse
problema aumentou muito, definir corretamente o que é ciência em meio ao uma
avalanche de informações que se encontra principalmente na internet se torna
extremamente complexo.

Na obra de Pedro Demo, Demarcação Científica, o autor também tenta ajudar


a solucionar esse problema das humanidades, definir o que realmente faz parte da
ciência. Demo já diz que senso comum é um conhecimento mais raso, está correto,
porém não é tão aprofundado, já o conhecimento científico é algo mais específico,
um economista saberá explicar de maneira mais técnica a inflação do que um
homem que possui o conhecimento comum e básico. Pedro definiu esse problema
em 1995 e, mais uma vez, percebe-se como esse problema afeta desde muito
tempo a cientificidade, agravando mais esses problemas com os meios digitais e a
avalanche de dados, muita informação sem saber a veracidade dos fatos
apresentados nesse meio.

Demo também retrata em sua obra outro problema, a sociedade não leva à
sério as humanidades, as ciências exatas possuem conhecimentos específicos e
únicos, 1+1 sempre será 2, independente de qual cientista ou em qual época esteja
sendo realizado essa conta. Já nas ciências sociais e humanas “1+1” pode variar
dependendo de diversos fatores. Como o autor diz, cada conceito pertencente à
humanidade também deverá ser levado em conta a época, período e todo o contexto
em que aquele conceito foi criado ou então contestado. Com isso, infelizmente as
humanidades acabam não sendo levadas à sério, um cientista de humanas estuda
durante toda sua vida, sempre se aprimorando, porém mesmo com todo esse estudo
não é tratado da maneira correta e séria que deveria ser.

Diniz e Munhoz trazem mais um problema enfrentado, o plágio, reprodução


indevida de uma obra, não reconhecendo o autor que criou e reproduziu primeiro
esse trecho. Mais um problema que gira em torno da avalanche de dados,
atualmente é muito fácil copiar um trecho de outro autor, com um simples clique é
possível transcrever até toda a obra de outra pessoa. Os jovens ao entrarem em
contato com os textos científicos, se encontram perdidos em meio as leituras
extensas, complexas e profundas, encontram nas ferramentas digitais formas que
solucionam e facilitam essas leituras. Ao se deparar com a imensa quantidade de
informações que podem ser obtidas na internet, por exemplo, muitos vão apenas
copiar o conteúdo para evitar todo o trabalho de realizar um texto de autoria própria.
Com isso ocorre o plágio, que é percebido nitidamente pelos caça plágios, diferente
do pastiche, que é a mesma definição do plágio, porém é realizada pelo pasticheiro
que gasta muito esforço para tentar fazer com que a ideia de outro autor passa para
suas próprias obras, porém com a sua voz, nesses casos os caça plágios não
detectam a cópia. O pasticheiro não passa de um frustrado, seu texto nunca terá o
mesmo alcance e a mesma relevância que a obra copiada, sempre estará nas
sombras do original.

Os meios digitais trouxeram diversos problemas, mas como sempre


agregaram muito as humanidades. Na obra de Marques, A realidade que emerge da
avalanche de dados, é retratado um fato histórico, um relato do historiador David
Livingstone de suas viagens à África, escritas em 1871 em jornais velhos, com o
passar do tempo essa tinta esmaeceu e ficou ilegível, com as novas tecnologias
através da fotografia de imagem espectral foi possível recuperar suas impressões
sobre a dinâmica do comércio de escravos. Isso só foi possível com as diversas
inovações digitais e, atualmente, esse problema é quase impossível de ocorrer,
quase todos autores escrevem seus textos nos meios digitais, ficam salvos em
nuvens e com isso se torna impossível que ocorra esse mesmo problema que David
enfrentou.

Junto com a ideia de Marques, na obra de Rollo o autor mostra um aspecto


extremamente importante que as humanidades digitais trouxeram, a partir desses
meio foi possível que autores de todo o mundo se conectassem e interagissem de
maneira muito prática, o que antes era realizado em convenções em determinado
país, hoje essa interação pode ser realizada pelas ferramentas digitais, convenções
online se tornaram comum. Escritores espalhados pelo mundo todo podem escrever
textos em conjunto, simplesmente compartilhando suas ideias através dos meios
digitais, podendo ser por meio de workshops, que reúnem pessoas com o mesmo
objetivo, aprimorar e compartilhar seus conhecimentos técnicos em um grupo.

Mesmo com esses benefícios, Marques deixa claro, as humanidades digitais


chegaram muito rápido e possuem um potencial imenso de ajudar e facilitar as
ciências humanas e sociais, porém seu uso deve ser realizado de maneira eficiente,
sendo monitorado por especialistas evitando que os problemas citados ocorram.
Caso essa fiscalização ocorra da maneira correta, e que sejam criados meios que
ajudem a separar a ciência de todo o conteúdo comum, em um futuro próximo as
dificuldades que as humanidades enfrentam diminuirão, podendo dar local a
inovações que contribuirão para o desenvolvimento das ciências sociais e humanas.

Referências:

DEMO, P. Demarcação Científica. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais.


Editora Atlas, 1995

DINIZ, D. Munhoz, A.T.M. Cópia e Pastiche: plágio na comunicação científica.


Argumentuum, Vitória – ES, ano 3, n.3, vol.1, jan/jun 2021.

MARQUES, Fabricio. A realidade que emerge da avalanche de dados. Revista


Pesquisa Fapesp, nº255, maio de 2017.

NIGEL, E. A Ciência e o Senso Comum. La estrutura de la ciência. Problemas de la


logica de la investigación cientifica. Buenos Aires, Paidos, 1968.

Rollo, Maria. Desafios E Responsabilidades Das Humanidades Digitais: Preservar A


Memória, Valorizar O Patrimônio, Promover E Disseminar O Conhecimento. RJ,
Jan/Abr 2020.  Disponível em:
https://www.scielo.br/j/eh/a/5gB3jG5kdsL3MS5pVBrfHzn/?lang=pt. Acesso em: 05
dez.2021

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