Os Contos Com Nível A2 58-66

Você também pode gostar

Você está na página 1de 9
O professor e 0 bébedo Numa vila de provincia havia um professor muito respeitado por todos. Tinha estudado no semi- nario! e era um grande conhece- dor de muitos assuntos. Todas as manhs, cruzava? a praca com um ar muito sério, com os seus dculos redondos e livros grossos debaixo do braco para ir para a Biblioteca Municipal. Tinha uma coluna no jor- nal’ da terra, onde escrevia sobre Filologia Romanica. Ninguém lia os seus artigos, mas todos o achavam uma pessoa muito importante e de muito mérito*. O professor gostava de dar a imagem de uma pessoa de grande erudicao’. 'Semindrio: escola em que os estudantes vao ser padres. 2 Cruzar: atravessar um espace fisico. > Coluna no jornal: espaco reservado para a publicagao de um texto de um dado cronista. 4 Mérito: valor. 5 ErudigSo: grande conhecimento cobtido pela leiturs e pelo estude. ©Tromba ou trombas: maneira ofensiva de referie a cara de uma pessoa; focinho de certos animais; enariz» do elefante. 7 Sua bestat: ofenss dirigida a alyuts uma besta é um animal que se pode cavalgar. ®Implicar com (alguém): discutir com uma pessoa s6 porque nao se gosta dela. Nessa mesma vila havia um bébedo. Todos se riam dele. Mesmo quando estava sébrio. Mas riam-se, ndo por causa do seu vicio, mas porque ele, mesmo quando estava bébedo, dizia as verdades que ninguém tinha coragem de dizer. Além disso, este b&bedo era 0 Gnico tocador de trompa da banda da terra. As vezes, ia para 0 ensaio bébedo e o maestro irritava-se: - O senhor trompista nao esté a entrar no tempo certo! Daqui a nada leva com a trompa na tromba‘ ~ Eu nao gosto que me ofendam! = Quem é que 0 ofendeu, sua besta’?! E comegava a discussao. Mas dizem que o maestro é que implicava com? o honem. Na verdade, ‘© trompista era um bom instrumentista, apesar de bébedo. Contam que um © Lidet - Exigden Técnicas, Lde. dia, ia a banda a passar na rua, para dar a volta ao centro da vila, e 0 bébedo caiu numa valeta’ e ai ficou, a tocar os contratempos" de uma marcha conhecida. Quando a banda deu a volta e passou pela valeta onde o homem estava caido, viram que a trompa ainda estava dentro do compasso"’, no acorde™ certo. Certo dia, ao cair da tarde, o professor encontrou o bébedo ?Valeta: um dos dois lados da estrada, ‘onde escorrem as dguas da chuva. '° Contratempo: o tempo fraco de um ‘compasso. * Compasso: medida de tempo sempri igual em que se divide uma obra musical. ? Acorde: trés ou mais sons musi tocados ao mesmo tempo @ que formarn uma harmonia. estendido no chao. Muito aflito, 0 professor correu em seu auxilio"’. Procut ver se estava desmaiado, sentou-o num banco de jardim e com um lenco | pou-lhe a cara. Depois, perguntou-lhe, num tom de voz que mostrava mt preocupacio: —O senhor, o que é que sente? Dor no peito? Tonturas? O senhor sc do coragao? ~ Pa-re-ce im-po-ssi-vel! - responde o bébedo ~ articulando™ as palav devagar. - Um doutor em Teologia, em Filosofia e em Filologia e nao sabe quando um homem esté bébedo! Exercicios e@ Compreens: 1. Escolhe a frase abaixo que melhor serve de conclusao ao texto. a) Ao saber adquirido através dos livros devemos juntar o saber adquit através da experién b) O alcoolismo traz problemas sociais muito sérios. ) O mérito dos bons artistas raramente é reconhecido. d) Asociedade tem muitos preconceitos. (fw Vocabulario 2. Para cada alinea, diz qual das palavras explicadas no texto corresponde ao significado apresentado abaixo. a) : sabedoria adquirida através do estudo. b) : produzir sons da fala humana. ) _____: pequena vala de um e de outro lado da rua, que serve para as aguas da chuva escorrerem. 4) ___: «cara» de certos animais. 3. Assinala com uma cruz (X) 0 significado com que as palavras so usadas no texto. 41. Vila: a) Casa grande com um grande jardim. oo b) Pequena cidade. 2. Cruzar: a) Desenhar uma cruz. b) Ir de um lado ao outro. 3. Contratempo: a) Tipo de ritmo musical em que as batidas fracas séo as mais [| importantes. b) Pequeno problema. O 4, Doutor: a) Médico. i) b) Pessoa com um qualquer grau académico. Oo > Gramatica 4. Completa as frases com os verbos entre paranteses no Pretérito Mais- -Que-Perfeito Composto. a) O professor {estudar) no seminério. b) Omaestro discutiu com 0 trompista porque elenao___ no tempo certo. ©) Ninguém da banda notou que obébedo (car) na valeta d) Parece que o professor nunca (ver) um bébedo na vida. (entrar) © Lidel - Edigdes Técnicas, Lda, O falso colete ' Certa vez, num certo hotel de uma pequena cidade, numa certa noite, viam-se, do lado de fora, da rua, no 1.° andar do edificio, portas a bater e luzes a acender, As luzes acendiam-se por alguns segundos e depois apagavam-se logo. Nao se ouviam vozes. Sd se viam luzes a acender e a apagar. Um policia, que fazia a vigia® de noite na rua, viu aquilo e achou estra- nho. Esperou que a coisa se resol- vesse sozinha. Era um policia novo, com pouca experiéncia. Naquela profissdo t3o perigosa, quanto mais tarde tivesse de entrar em cenas de violéncia e confusdo, melhor. Poupava-se’. E, afinal, podia apenas ser alguma festa ou, entao, podiam ser héspedes espanhdis, que so sempre mais desassossegados.* Fazer a vigia: fazer vigilancia; vigiar; ver se tudo ests hem e tomar madidas se alguma coisa estiver mal. 3 Poupar-se: nao gastar todas as energias que uma pessoa term numa sé acao. “Desassossegado: que nao tem sossego; que nunca esta calmo. *Reforgos: pessoas que ajudam outras numa dada ago. “Com firmeza: sem hesitar, de modo seguro. Porém, a situacao nao se resolveu por ela propria. Depois do 1.° andar, a cena repetiu-se no 2.° andar, exatamente do mesmo modo. Nada a fazer. O policia tinha de agit, A primeira coisa que fez foi procurar reforcos*: bateu & porta do hotel e veio o empregado da noite. = O senhor tem de ir comigo ja la acima ao 2.° andar porque estd a acon- tecer uma coisa muito estranha neste hotel. O empregado foi vestir um casaco e voltou. = Muito bem. Agora faca o favor de ir na frente, pois conhece melhor o edificio do que eu. - disse com firmeza' o policia. 61] Foram pé ante pé’, com uma pequena lanterna na mao. Nao acendiam as luzes para nao espan- tar’ © ladrio, se houvesse ladrao. 7P6 ante pé: com cuidado @ silenciosamenta. *Espantar: fazer uma pessoa fugir com medo. *Mascote: objeto, animal ou pessoa que representa uma organizacao. '°Cafeteira: recipiente comprido de metal onde se aquece gua ou leite. Algumas cafeteiras eram de esmalte branco. Subiram ao 1.° andar. Tudo sosse- gado. No 2.° andar, tudo sossegado. A confusao ja andava no 3.° andar. Subiram ao 3.° andar. Grita o policia, assustado: ~ Olhe, senhor! Ja aqui anda um colete! Isto nda é nada bom sinall... Aproximaram-se. O empregado desata a gargalhada. - £ 0 gato Juliano, a nossa mascote!” O bicho tinha ido de noite 4 cozinhe do hotel roubar leite. Enfiou a cabeca na cafeteira e nao a conseguiu tirar. Andava perdido pelo hotel, dando com a cafeteira’’ nas portas dos quartos. Os clientes abriam para ver quem era, nao viam ninguém e fechavam a porta. Resta dizer que a cafeteira era brancae o gato era preto. Por isso é que pareceu ao policia que era um colete. O nome oficial do hotel é Hotel Avenida, mas toda a yente que vive nesta cidade diz que é o Hotel do Colete. Exercicios 8 Compreensio | 1. Assinala se as afirmagées so verdadeiras (V) ou falsas (F). Corrige oralmente as afirmagées falsas. 2) O que chamou a atengao do policia foi o barulho. O b) O policia era um pouco cobarde. oO ©) Opolicia nao gostava de espanhiis. oO d) O policia e 0 empregado subiram ao 2.° andar em siléncio porque (_} estavam cheios de medo. e) O gato com a cabeca na cafeteira parecia um colete por causadas [_} cores: preto e branco. f) Ahistoria deste conto passa-se num tempo e num espago deter [_| minado. © Udet - Eaicbes Tecnices, La [D Gramai 2. Preenche os espacos com certo/a(s) ou este/a(s). a) Ha __ pessoas que nao respeitam ninguém e quando vé para os hotéis fazem imenso barulho, b) hotel parece muito caro. E melhor escolhermos outre ° vez, ia eu no meio da rua, vejo um policia a correr atr de uma pessoa e a dizer «Alto!». Parecia um filme! d) As vezes, os nomes dos edificios ou ruas tém origem em historias curi sas, como do «Hotel do Coleten. 3. Faz a correspondéncia. Colca a letra certa da coluna B em cada espa da coluna A. Coluna A Coluna B 1. Viam-se portas a hater @ hizes a acender. |_| Q As acées repetem-se. 2, Bateu 3 porta do hotel e veio 0 empregado.|_| 3.0 empregado foi vestir um casaco e voltou. |_| 4. Os clientes abriam para ver o que era. |_| 5. O gato tinha enfiado a cabega numa cafeteira. _] @As acdes acontecem s6 um. vez. @A cdo, passada, acontec antes de outra também pa: sada. Traducao automdatica £ famosa a facilidade dos por- tugueses para aprender |linguas estrangeiras. Nao hd, no entanto, nenhum estudo que o confirme com dados objetivos. Por isso, a ideia de que os portugueses con- seguem, se quiserem, falar muitas linguas ¢ mais uma crenca’ do que outra coisa. Esta suposta habilidade’ natural para aprender linguas 6 justificeda por uns com a genética, por outros com a histéria expansionista® de Portugal, por outros ainda, os *Habilidade: capacidade, jeito. * Expansionist se expande; serve para falar de politicas do pasado em que Portugal administrava territérios para além das suas fronteiras. * Lusofonia: conjunto dos falantes de portugués. ‘Inversamente: de modo oposto ou contrario. “Sumariamente: rapidamente e sem fazer nenhuma anélise da situacao. * Bater am (alguém): dar pancadas no corpo Ue alyuéin, com a mao ou com um objeto, como castigo ou vinganca. ' amantes da lusofoniat, com a pré- pria lingua portuguesa, que, segundo dizem, é a lingua mais rica que ha no mundo. Inversamente’, hé portugueses que, além de nao falarem nenhuma lingua estrangeira, ficam muito admirados quando os estrangeiros nao os entendem. E, entdo, pdem-se a falar muito alto e muito devagar, silaba a silaba. Quando verificam que os estrangeiros ndo os percebem, concluem sumariamente® que so burros. Ha histérias estranhas sobre contactos interlinguisticos que envolvem por- tugueses. Por exemplo, a histéria de uma avé que batia nos’ netos, filhos de emigrantes na Alemanha, porque nao entendia o que eles diziam: —Fala como nés, desgracadol - gritava ela. Conta-se também que, certo dia, andavam um pai eum filho a cagar coelhos numa mata, mas que sé tinham uma espingarda’ para os dois. Como nem um © Lide|- Eigbes Técnicas, Lda nem outro eram bons cagadores, ja 5 y *Pardal: pequena ave cinzenta. 1° Com hesitagao: fazer uma coisa com hesitagao 6 fazer uma pausa, ou varias, porque estamos nervasos ou envergonhados. "' Desiludir: desiludimos uma pessoa quando a tornamos infeliz por no conseguirmos fazer o que essa pessoa queria. ™2Previsivelmente: de modo previsivel, perto do meio-dia ainda nao tinham cagado nada, nem um pardal’, De repente, viram ao longe um grupo de cacadores. Aproximaram- -se, curiosos, e perceberam que eram franceses. Cada um tinha a sua arma O pai, entdo, que tinha o filho a estudar na universidade, disse-Ihe: ~ O rapaz, vai la perguntar aos franceses se nos querem vender uma espin- garda. Parece que tém muitas. © rapaz ld foi, com hesitagao”, porque nao sabia falar francés, mas tam- bem nao queria desiludir" o pai. Chegou perto de um francés e perguntou: ~ MéssiG, quer vender o espingadii? O francés respondeu, previsi ~ Je ne comprends pas. Q rapaz voltou com a resposta: =Disse que no, que era do pai. Exercicios @ Compreensio | 1. Completa as frases, de acordo com o sentido do texto. a) Os portugueses tém fama de aprender linguas estrangeiras com fa dade, mas a , b) As razdes geralmente apontadas para esta facilidade em aprender linguas so de trés tipos: razes genéticas, ©) Ha portugueses que, quando no sabem a lingua da outra pessoa com quem querem falar, falam com ela —_ 65| d) Neste conto, hd uma avé que bate nos netos porque e) Neste texto, conta-se também a historia de dois cagadores, um pai e um filo, Conclui-se que eles nao eram la muito bons cacadores, pois #) © rapaz foi falar com os franceses, apesar de nao saber falar francés, porque = 2. Escolhe, de entre as frases abaixo, outro titulo possivel para o conto. a) Burro velho nao aprende linguas. b) Quem nao sabe, inventa. c) Uma anedota sobre franceses. d) Cagadores mentirosos. e) Falar francés é to chique! {QD Gramatica | 3. As frases abaixo estao corretas, mas os seus elementos nao estao pela ordem normal. Reescreve as frases, colocando os seus elementos (pala- vras e grupos de palavras) na sua ordem normal. a) E famosa a facilidade dos portugueses para aprender linguas. b) A lingua mais rica do mundo é © portugués, segundo algumas pessoas. ¢) Quando os estrangeiros nao os entendem, os portugueses ficam muito admirados. d) Andavam, certo dia, um pai e um filho a caca de coelhos.

Você também pode gostar