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Apostila de Direito Do Consumidor - Primeira Parte Fevereiro 2022
Apostila de Direito Do Consumidor - Primeira Parte Fevereiro 2022
- Aspectos históricos
- Dispositivos constitucionais. Origem e
finalidade.
- Princípios que norteiam as relações
consumeristas.
- A Política Nacional das Relações de Consumo.
- Conceitos: consumidor, fornecedor, produtos e
serviços.
- O consumidor perante a Teoria Finalista,
Maximalista e Finalista Atenuada.
I - ASPECTOS HISTÓRICOS
1
Cediço que o CDC foi editado em 11/09/1990. Antes
mesmo de sua criação já existiam relações de consumo
que eram protegidas, inadequadamente, pelas regras do
direito civil. Nesse sentido, aplicamos durante quase
um século às relações de consumo a lei civil e tal
aplicação, naturalmente, influenciou na nossa formação
jurídica, fato este que dificultou a compreensão da
nova era jurídica, iniciada com sobredita lei que
regula as relações jurídicas de consumo.
2
industriais que se tornaram a parte mais forte na
relação jurídica de consumo.
3
essa é uma forte característica contratual que
fundamenta-se na autonomia da vontade, pois presume-se
que o que ali está contido é fruto da deliberação
conjunta das partes envolvidas, que se apresentam em
igualdades de condição e não da imposição de uma sobre
a outra.
4
Esta proclamação inspirou posteriormente
legislações de proteção do consumidor em diversos
países, tornando o referido dia, 15 de março, como o
Dia Mundial de Proteção ao Consumidor. A partir desse
pronunciamento, ocorreu uma crescente inserção da
proteção ao consumidor nas constituições sendo este
mais um importante passo para a fundação deste ramo
jurídico. Entre os anos 1974 e 1990, cerca de 30
(trinta) países passaram por uma transição rumo à
democracia. Mauro Cappelletti afirma que este processo
incluiu a feitura de novos textos constitucionais que
passam a conter a proteção ao consumidor e a tutela
dos interesses difusos.
5
do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(…)
XXXII - o Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor;
6
“O Estado e o Direito assumem novas
funções promocionais e se consolida
o entendimento de que os direitos
fundamentais não devem limitar o seu
raio de ação às relações políticas,
entre governantes e governados,
incidindo também em outros campos,
como o mercado, as relações de
trabalho e a família.”
7
Para Daniel Sarmento, referida teoria
simplesmente nega aplicação da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, ou seja, os direitos
fundamentais não se aplicariam nas relações entre
particulares.
8
b) dimensão positiva, impondo um dever para o
legislador implementar direitos fundamentais,
ponderando, porém, quais deles devam se aplicar às
relações privadas. Essa a teoria prevalente na
Alemanha.
9
Constituição. Significa que nenhuma lei poderá
desrespeitar a normatividade do CDC, pois está
lastreado na força normativa da Constituição, o que
garante a eficácia de suas normas.
10
princípio basilar da economia de mercado, mesmo assim,
a CF/88 confere proteção ao consumidor contra os
eventuais abusos ocorridos no mercado de consumo,
abrindo uma brecha para a intervenção do Estado na
ordem econômica.
INFLUÊNCIA
O Código de defesa do consumidor foi inspirado em
vários modelos legislativos estrangeiros, mas foi o
Código de Consumo Francês nossa principal influência.
Salienta-se que o CDC foi uma norma extremamente
revolucionária, servindo, hoje, como modelo para
outros países da América Latina.
11
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR => Lei Ordinária
n.° 8.078 de 11 de setembro de 1990.
CONCEITO
CARACTERÍSTICAS DA LEI
OBJETO de tutela
O direito consumerista é concebido como conjunto
de princípios e regras destinadas à proteção do
consumidor, logo se verifica que não é o consumo o
objeto central da tutela instituída (como ocorre na
França), e sim o próprio consumidor.
TERMINOLOGIA
NORMA COGENTE
12
vendedora a patamar razoável, ainda que
a cláusula tenha sido celebrada de modo
irretratável e irrevogável." (Superior
Tribunal de Justiça, REsp 292.942/MG,
Quarta Turma, Relator Ministro Sálvio de
Figueiredo Teixeira, data da decisão:
03/04/2001.
13
O interesse social permite que se combata os
abusos não só das partes, mas de toda a coletividade,
pois as relações jurídicas de consumos são
disseminadas.
14
trabalhista, da criança e do adolescente, do idoso e
outras leis ou estatutos tendentes a criar uma esfera
particular de normatização.
15
Ademais, para Rizzatto Nunes, o CDC é uma lei
principiológica, modelo até então inexistente no
Sistema Jurídico Nacional. Como lei principiológica
entende-se aquela que ingressa no sistema jurídico de
forma horizontal, atingindo toda e qualquer relação
jurídica que possa ser caracterizada de consumo e que
também seja regrado por outra norma jurídica
infraconstitucional, levando a sua aplicação a todas
as áreas do direito, seja público, privado,
contratual, extracontratual, material, formal, mas
que, frisa-se, se caracterize uma relação jurídica de
consumo.
16
Outrossim, tomemos como exemplo da sua inserção
horizontal um contrato de seguro de automóvel, pois
continua sendo regrado pelo Código Civil e pelas
demais normas editadas pelos órgãos que regulamentam o
setor (SUSEP, instituto de Resseguros, etc.).
Etretanto, também está submetido a todos os princípios
e regras da Lei 8.078/90, ressaltando que esta última
prevalece sobre àquelas. Igualmente ocorre com os
serviços públicos, pois continuam regidos pelas leis e
princípios de Direito Público, mas o que for
pertinente as relações de consumo fica também sujeitos
a disciplina do CDC.
17
previstos pela lei, a serem observados pela sociedade
(também o Poder Público), que servem de diretrizes
para todo o sistema de proteção e defesa do
consumidor.
Art. 4° (…)
18
I – reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo.
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA
O principio da transparência consta em diversos
artigos do CDC de forma implícita e explicita como é o
caso do caput do artigo 4.° do CDC, conforme segue:
19
contratos redigidos em linguagem hermética,
impenetrável, técnica, que o contratante não podia
decifrar e, por isso, somente depois percebia que
tinha sido enganado.
PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
20
saber quais eram os seus componentes ou como era o seu
funcionamento.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
21
proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria de sua
qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das
relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
22
O principio da solidariedade aparece novamente nos
artigos 12 e 18, caput, nos parágrafos 1° e 2° do
artigo 25, no parágrafo 2° do art. 28 e no art. 34,
entre outros. Dessa forma, tanto a responsabilidade
por vício ou defeito será solidária.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
23
fim de se estabelecer o equilíbrio nas relações de
consumo.
24
realizaram a relação, sendo este os produtos ou
serviços.
CONSUMIDOR STANDARD
25
utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
26
departamentos. Entre as últimas, consigne-se a
hipótese de uma prefeitura como consumidora, conforme
o entendimento jurisprudencial:
“Administrativo. Serviço de
telefonia. Falta de pagamento.
Bloqueio parcial das linhas da
Prefeitura. Município como
consumidor. 1. A relação jurídica,
na hipótese de serviço público
prestado por concessionária, tem
natureza de Direito Privado, pois o
pagamento é feito sob a modalidade
de tarifa, que não se classifica
como taxa. 2. Nas condições
indicadas, o pagamento é
contraprestação, aplicável o CDC, e
o serviço pode ser interrompido em
caso de inadimplemento, desde que
antecedido por aviso. 3. A
continuidade do serviço, sem o
efetivo pagamento, quebra o
princípio da isonomia e ocasiona o
enriquecimento sem causa de uma das
partes, repudiado pelo Direito
(interpretação conjunta dos arts. 42
e 71 do CDC). 4. Quando o consumidor
é pessoa jurídica de direito
público, a mesma regra deve lhe ser
estendida, com a preservação apenas
das unidades públicas cuja
paralisação é inadmissível. 5.
Recurso especial provido” (STJ –
REsp 742.640/MG – Segunda Turma –
Rel. Min. Eliana Calmon – j.
06.09.2007 – DJ 26.09.2007, p. 203).
27
O consumidor pode ser ainda um ente
despersonalizado, mesmo não constando expressamente
menção a ele na Lei Consumerista. Incide a
equivalência das posições jurídicas, uma vez que tais
entes podem ser fornecedores, como antes exposto,
cabendo, do mesmo modo, a sua qualificação como
consumidores. Entes despersonalizados são
coletividades de seres humanos ou de bens que não
possuem personalidade jurídica própria, também
conhecidos como pessoas formais.
28
Surge ai o problema, a definição de destinatário
final, em razão da sua ambigüidade. Diante do termo em
baila surgiram algumas correntes, sendo as mais
relevantes a que seguem:
TEORIAS
DESTINATÁRIO FINAL
Cumpre registrar, desde inicio, que o consumidor
pode ser o destinatário final do produto ou serviço,
seja sob o aspecto fático e econômico. Aonde a
destinação fática seria aquela que retira o produto,
por exemplo, da cadeia de produção e o atribui destino
pessoal ou familiar. Por sua vez, o destino final
econômico é aquele que não admite revenda, uso
profissional, pois o bem seria novamente um
instrumento de produção, cujo preço será incluído no
preço final do profissional para adquiri-lo, já que
nesse caso o destino seria intermediário.
29
aumentar o preço da consulta ou mesmo captar novos
clientes. Para essa corrente esse advogado não seria
consumidor, pois não estaria utilizando o bem como
destinatário final, mas estaria incorporando-o no seu
labor para auferir renda. Diferente seria se ele
utilizasse o mesmo aparelho em seu quarto dando-lhe
uma destinação pessoal, pois nesse caso e, somente
nessa hipótese, ele seria considerado consumidor.
30
existem outras teorias a respeito da caracterização do
consumidor. Uma delas, como se verá, até se justifica,
eis que a aplicação cega e literal da teoria finalista
pode gerar situações de injustiça.
Como destacado pela própria Claudia Lima Marques
no trecho transcrito, vários julgados do Superior
Tribunal de Justiça adotam esse posicionamento
categórico. A ilustrar, por todos:
31
que possa dificultar a propositura da
ação no foro eleito. 4. Conflito de
competência conhecido para declarar
competente o Juízo Federal da 12ª Vara
da Seção Judiciária do Estado de São
Paulo” (STJ – CC 92.519/SP – Segunda
Seção – Rel. Min. Fernando Gonçalves –
j. 16.02.2009 – DJe 04.03.2009).
32
Assim, defende que a expressão “destinatário
final” deve ser interpretada de forma ampla, bastando
que o consumidor seja o destinatário fático de bem ou
serviço, isto é, que retire do mercado, encerrando
objetivamente a cadeia produtiva em que foi inserido o
fornecimento do bem ou da prestação do serviço, não
podendo apenas, ser objeto de revenda.
33
Os maximalistas defendem em última análise que o
CDC seria um Código geral de consumo, para toda a
sociedade de consumo, devendo aplicar uma
interpretação extensiva para que as suas normas possam
servir cada vez mais às relações de mercado.
34
para isto a atuação do STJ. Desde a
entrada em vigor do CC/2002, parece-me
crescer uma tendência nova da
jurisprudência, concentrada na noção de
consumidor final imediato
(Endverbraucher), e de vulnerabilidade
(art. 4º, I), que poderíamos denominar
aqui de finalismo aprofundado.
POSIÇÃO DO STJ
35
farmácia, pela compra realizada no seu
estabelecimento. Após delonga discussão sobre a
configuração ou não da relação jurídica de consumo o
STJ, por maioria, decidiu pela inexistência.
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mercado a fim de consumi-lo.
Contudo, a teoria finalista pode ser
abrandada a ponto de autorizar a
aplicação das regras do CDC para
resguardar, como consumidores (art.
2º daquele Código), determinados
profissionais (microempresas e
empresários individuais) que
adquirem o bem para usá-lo no
exercício de sua profissão. Para
tanto, há que demonstrar sua
vulnerabilidade técnica, jurídica ou
econômica (hipossuficiência). No
caso, cuida-se do contrato para a
aquisição de uma máquina de bordar
entabulado entre a empresa
fabricante e a pessoa física que
utiliza o bem para sua sobrevivência
e de sua família, o que demonstra
sua vulnerabilidade econômica.
Destarte, correta a aplicação das
regras de proteção do consumidor, a
impor a nulidade da cláusula de
eleição de foro que dificulta o
livre acesso do hipossuficiente ao
Judiciário. Precedentes citados:
REsp 541.867-BA, DJ 16.05.2005; REsp
1.080.719-MG, DJe 17.08.2009; REsp
660.026-RJ, DJ 27.06.2005; REsp
684.613-SP, DJ 1º.07.2005; REsp
669.990-CE, DJ 11.09.2006, e CC
48.647-RS, DJ 05.12.2005” (STJ –
REsp 1.010.834-GO – Rel. Min. Nancy
Andrighi – j. 03.08.2010).
37
sentido, a 3ª turma negou provimento a recurso
especial interposto pela Marbor Máquinas Ltda., de
Goiás, que pretendia mudar decisão de primeira
instância. A decisão beneficiou uma compradora que
alegou ter assinado, com a empresa, contrato que
possuía cláusulas abusivas.
38
consumo, outros julgamentos realizados depois,
voltaram a aplicar a tendência maximalista. Dessa
forma, agregaram novos argumentos a favor do conceito
de consumo, de modo a tornar tal conceito "mais amplo
e justo", conforme destacou.
REsp 476428 / SC
RECURSO ESPECIAL 19/04/2005
39
2002/0145624-5 Direito do
Consumidor. Recurso especial.
Conceito de consumidor. Critério
subjetivo ou finalista. Mitigação.
Pessoa Jurídica. Excepcionalidade.
Vulnerabilidade. Constatação na
hipótese dos autos. (...) - A
relação jurídica qualificada por ser
"de consumo" não se caracteriza pela
presença de pessoa física ou
jurídica em seus pólos, mas pela
presença de uma parte vulnerável de
um lado (consumidor), e de um
fornecedor, de outro.
- Mesmo nas relações entre pessoas
jurídicas, se da análise da hipótese
concreta decorrer inegável
vulnerabilidade entre a pessoa-
jurídica consumidora e a
fornecedora, deve-se aplicar o CDC
na busca do equilíbrio entre as
partes. Ao consagrar o critério
finalista para interpretação do
conceito de consumidor, a
jurisprudência deste STJ também
reconhece a necessidade de, em
situações específicas, abrandar o
rigor do critério subjetivo do
conceito de consumidor, para admitir
a aplicabilidade do CDC nas relações
entre fornecedores e consumidores-
(...). (grifei)
40
manteve a decisão agravada que
rejeitou as preliminares. Daí o REsp
da concessionária ré. A Turma, em
princípio, examinou a questão
relativa à admissibilidade e
processamento desse REsp e
reconheceu que, como a discussão
versa sobre competência, poderia
influenciar todo o curso processual,
justificando, pela excepcionalidade,
o julgamento do REsp, sem que ele
permanecesse retido, conforme tem
admitido a jurisprudência. A Turma
também reconheceu a legitimidade
ativa da recorrida, pois cabe à
locatária, no caso a empresa, o
pagamento das despesas de luz (art.
23 da Lei do Inquilinato). Mas
proveu o recurso quanto à
inexistência de consumo e a
consequente incompetência da vara
especializada em Direito do
Consumidor. Argumentou-se que a
pessoa jurídica com fins lucrativos
caracteriza-se, na hipótese, como
consumidora intermediária e a
uniformização infraconstitucional da
Segunda Seção deste Superior
Tribunal perfilhou-se à orientação
doutrinária finalista ou subjetiva,
na qual o consumidor requer a
proteção da lei. O Min. Relator
ressaltou que existe um certo
abrandamento na interpretação
finalista a determinados
consumidores profissionais, como
pequenas empresas e profissionais
liberais, tendo em vista a
hipossuficiência. Entretanto, no
caso concreto, a questão da
hipossuficiência da empresa
recorrida em momento algum restou
reconhecida nas instâncias
ordinárias. Isso posto, a Turma
reconheceu a nulidade dos atos
processuais praticados e determinou
a distribuição do processo a um dos
41
juízos cíveis da comarca. Precedente
citado: REsp 541.867-BA” (STJ – REsp
661.145/ES – Rel. Min. Jorge
Scartezzini – j. 22.02.2005).
42
por conta e risco do representando,
não figurando, pessoalmente,
como vendedor nos negócios que
intermedia. Tendo isso em vista, não
se pode imputar a ele a
responsabilidade pela não conclusão
da venda decorrente da falência da
sociedade estrangeira a quem
ele representa. 4. Não tendo sido
possível concluir a entrega da
mercadoria, contudo, por força de
evento externo pelo qual nenhuma das
partes responde, é lícito que seja
resolvida a avença, com a
devolução, pelo representante, de
todos os valores por ele
recebidos diretamente, salvo os que
tiverem sido repassados à
sociedade estrangeira, por regulares
operações contabilmente
demonstradas. 5. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido.
(Recurso Especial Nº 1.173.060,
Terceira Turma, Superior Tribunal de
Justiça, Relator: Nancy Andrighi,
Julgado em 16/10/2012)
43
consumidor ainda é cercado por uma publicidade
crescente, não estando, ademais, tão organizado quanto
os fornecedores.
VULNERABILIDADE ECONÔMICA
A regra, é que o consumidor é sempre o mais fraco
na relação sob o enfoque econômico que, como vimos, é
resultado do sistema capitalista estruturado na
chamada produção em série, a Standartização da
produção, ou seja, a homogeneização da produção.
44
objetivas de impor sua vontade seja, pela ignorância
do consumidor, sua dispersão, pela pressão das
necessidaddes, ou por muitos outros mecanismos. O
próprio contrato de adesão é um exemplo desses
mecanismos.
A doutrina tradicionalmente aponta a existência de
três modalidades de vulnerabilidade: jurídica (falta
de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de
seus reflexos na relação de consumo), técnica
(ausência de conhecimento específico acerca do produto
ou serviço objeto de consumo), e fática (situações em
que a insuficiência econômica, física ou até mesmo
psicológica do consumidor o coloca em pé de
desigualdade frente ao fornecedor).
VULNERABILIDADE JURÍDICA
Essa espécie de vulnerabilidade se manifesta pela
falta de conhecimentos jurídico, contábil e econômico
do consumidor, o que o fragiliza diante do poderio do
fornecedor que, sob a alegação de legalidade de suas
práticas, fragiliza e anula uma possível discussão
sobre o tema, fazendo com que o consumidor
simplesmente acate as exigências do fornecedor e acabe
por pagar tarifas indevidas, aceitar obrigações que
não são licitas, condicionar a aquisição de um produto
ou serviço a outro, entre outras práticas abusivas.
VULNERABILIDADE TÉCNICA
Mesmo na sociedade de massa em que vivemos é
possível, ainda que mesmo remotamente, o consumidor
não seja o mais fraco da relação sob o aspecto
econômico, poderá ser quanto ao conhecimento técnico,
pois, inegavelmente, é o fornecedor que possui
conhecimentos sobre o processo produtivo, pois a ela
cabe o monopólio da cadeia produtiva.
45
sobre produtos ou serviços por ele adquiridos, ficando
sujeito a vontade dos fornecedores e tendo como única
garantia a confiança na boa-fé da outra parte, no
proceder honesto, leal do fornecedor, fato que lhe
deixa sensivelmente exposto.
VULNERABILIDADE FÁTICA
Ocorre em situações que a insuficiência econômica,
de mercado, física ou até mesmo psicológica do
consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao
fornecedor em determinados mercados, como é o caso de
existirem um ou poucos fornecedores, afetando o
direito de escolha do consumidor.
46
produção em massa. Nesse sentido, a relação jurídica
de consumo não se caracteriza pela presença de pessoa
física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de
uma parte vulnerável de um lado (consumidor), e de um
fornecedor, de outro, o que permite seu reconhecimento
mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, desde que
da análise do caso concreto verificar inegável
vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica consumidora e
a fornecedora.
VULNERABILIDADE INFORMACIONAL
47
todas as pessoas expostas as práticas comerciais e à
dsiciplina contratual) como consumidoras denominando-
as de consumidores por equiparação ou bystandard.
DA COLETIVIDADE DE PESSOAS
Art. 2º (...)
Parágrafo único. Equipara-se a
consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis,
que haja intervindo nas relações de
consumo.
48
Por outro lado, a aludida regra, segundo Rizzatto
Nunes, tem como escopo garantir e proteger uma
particular coletividade de pessoas, como o condomínio
e, por analogia, a massa falida, o espólio (mesmo que,
tecnicamente, não se trate de uma coletividade de
pessoa e o artigo não contemple os entes com
personalidade anômala) que possam ser, de alguma
maneira, afetadas pela relação de consumo. Assim, o
aludido artigo amplia o caput do art. 2º e permite,
por exemplo, que a massa falida ao adquirir produtos
possa estar resguardada pelas regras do CDC.
49
Min. Paulo de Tarso Sanseverino – j.
18.10.2016 – DJe 28.10.2016).
50
coletiva. Por isso, teria no CDC previsão tanto da
tutela individual, quanto da coletiva, conforme
artigos 81 e 91 do CDC. Assim, para o renomado Mestre,
entra em cena, portanto, a defesa dos interesses
individuais homogêneos, coletivos e difusos, que podem
ser objeto de ações coletivas, inclusive intentadas
por associações voltadas à proteção dos direitos do
consumidor, Ministério Público etc.
51
Imagine um pedestre que atropelado em decorrência
deste defeito de fabricação de um veículo adquirido
por um consumidor ou de uma empresa de transporte
coletivo, que após brusca colisão com uma escola,
causa lesão aos seus passageiros e fere diversas
crianças que ali estudavam.
52
Art. 29 Para os fins deste Capítulo
e do seguinte, equiparam-se aos
consumidores todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas.
53
Assim, o artigo 29, assim como o 17, apresenta-se
como regra excepcionadora da abrangência original do
CDC, pois amplia a incidência da legislação
consumerista para além dos restritos limites da
relação de consumo, originada pela relação do
consumidor e fornecedor descritos no caput dos artigos
2° e 3°, respectivamente. Assim, basta que o
consumidor esteja exposto áquelas práticas,
prescindindo, portanto, da efetiva participação da
pessoa na relação juridica de consumo (art. 2°) ou que
seja atingida pelo evento danoso (art. 17).
FORNECEDOR
Art. 3º - Fornecedor é toda pessoa
física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação,
construção, transformação,
importação, exportação, distribuição
ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.
54
produtor, contrutor e prestador de serviços)
fornecedor presumido (importador) e fornecedor
aparente (comerciante) e devem estar transacionando
produtos ou serviços. Assim, temos que a expressão
fornecedor foi utilizada pelo CDC para designar o
gênero, do qual fabricante, produtor, construtor,
prestador de serviços, importador e comerciante são
espécies.
CONCEITO
55
habitual, seja cíclica ou continua, como no caso do
estudante que, apesar de ser funcionário de uma
empresa, vende roupas para ajudar a pagar a
mensalidade. Nesse caso, sua atividade de venda é
exercida com características de atividade
profissional, pois faz dela uma atividade regular
ainda que seja realizada de forma cíclica, já que só
vende seus produtos em determinados períodos. Igual
ocorre com os vendedores ambulantes das praias
brasileiras, que trabalham somente alguns meses do
ano.
DA PESSOA JURÍDICA
56
Com relação a pessoa jurídica estrangeira o artigo
em baila se refere àquela admitida em nosso território
e que, nessa qualidade, presta serviços ou venda
produtos, como no caso da companhia aérea que aqui faz
escalas, ou da companhia teatral estrangeira que vem
ao país para realizar apresentações.
DA PESSOA FÍSICA
57
denominadas de entidades filantrópricas ou
beneficentes, podem ser consideradas fornecedor. Esse
é o entendimento dos nossos trinbunais, conforme REsp
n.° 519.310/SP, em parte transcrito:
58
exemplo), e sua apreciação é
autônoma em relação aos atos que a
compõem”.
59
configurada a habitualidade”.7 A
mesma conclusão serve para a relação
de consumo, visando a caracterizar o
fornecedor de produtos ou prestador
de serviços, em um mais um diálogo
de complementaridade entre o CDC e o
CC/2002. Ato contínuo de estudo, a
atividade desenvolvida deve ser
tipicamente profissional, com
intuito de lucro direto ou vantagens
indiretas.8 A norma descreve algumas
dessas atividades, em rol meramente
exemplificativo (numerus apertus),
eis que a Lei Consumerista adotou um
modelo aberto como regra dos seus
preceitos.
60
A categoria conta com o apoio da nossa melhor
doutrina, caso de Claudia Lima Marques, que cita o seu
exemplo do estipulante profissional ou empregador dos
seguros de vida em grupo e leciona:
“Indenização. Fornecedor.
Contratação de empréstimo e
financiamento. Fraude. Negligência.
Injusta negativação. Dano moral.
Montante indenizatório.
Razoabilidade e proporcionalidade.
Prequestionamento. Age
negligentemente o fornecedor,
equiparado à instituição financeira,
que não prova ter tomado todos os
cuidados necessários, a fim de
evitar as possíveis fraudes
cometidas por terceiro na
contratação de empréstimos e
financiamentos. (…)” (TJMG –
Apelação cível 1.0024.08.958371-
0/0021, Belo Horizonte – Nona Câmara
Cível – Rel. Des. José Antônio Braga
– j. 03.11.2009 – DJEMG 23.11.2009).
61
para o agente financeiro, responsável pelo empréstimo
visando à aquisição do bem de consumo. Do negócio
decorreu a inscrição indevida do consumidor no
cadastro de inadimplentes, o que gerou a
responsabilização solidária dos dois envolvidos na
contratação.
Nos termos da ementa:
62
relacionados com o contrato de empréstimo de dinheiro
para funcionários públicos. Vejamos a sua ementa, com
destaque especial:
63
protocolo do pedido de desligamento.
Pela aplicação do conceito de
fornecedor equiparado, tendo os
demandados participado de alguma
forma da execução do contrato de
mútuo bancário que configura relação
de consumo, cabível a aplicação do
Código de Defesa do Consumidor para
obrigar a parte demandada à
devolução em dobro dos valores
indevidamente descontados, a teor do
artigo 42, parágrafo único, do CDC,
na medida em que à conduta lesiva
não se pode conferir a qualidade de
erro justificável. (…)” (TJRS –
Recurso Cível 0058556-
77.2015.8.21.9000, Caxias do Sul –
Segunda Turma Recursal da Fazenda
Pública – Rel. Des. Mauro Caum
Gonçalves – j. 26.08.2016 – DJERS
27.09.2016).
PRODUTO
64
celebração de contrato de fornecimento de produto
(art. 3° § 1°) ou prestação de serviço. (art. 3° §
2°).
Conceito de produto
VALOR ECONÔMICO
AMOSTRA GRÁTIS
65
A única referência à amostra grátis que o CDC faz
é aquela do parágrafo único do artigo 39, que serve
apenas para liberar o consumidor de qualquer
pagamento. Não obstante, analogicamente, deve
ressaltar que a amostra grátis também está submetida
as exigências legais de qualidade, garantia,
durabilidade, proteção contra vício, defeitos, etc.,
pois apesar de ter sido pago pelo consumidor, possui
valor econômico.
MATERIAL OU IMATERIAL
66
Relação entre sociedade de advogados
e empresa de software. Aplicação do
Código de Defesa do Consumidor.
Teoria finalista mitigada. Da
responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço. Inadimplemento
total da obrigação. Prescrição
quinquenal. Voto vencido. O
consumidor intermediário, por
adquirir produto ou usufruir de
serviço com o fim de, direta ou
indiretamente, dinamizar ou
instrumentalizar seu próprio negócio
lucrativo, não se
MÓVEL OU IMÓVEL
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alguns doutrinadores apenas o terreno seria um produto
que não sofreria desgaste com o tempo.
SERVIÇO
CDC Art. 3º (...)
§ 2º - Serviço é qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
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mediante remuneração direta ou indireta, denomina-se
serviço.
REMUNERAÇÃO
A característica principal do serviço, para
incidência do CDC, é a remuneração.
Para efeitos de proteção do Código do Consumidor
os serviços devem ser prestados de forma profissional
e habitual, no mercado de consumo, mediante
remuneração, excluindo-se os de caráter trabalhista e
fiscal, conforme veremos a seguir.
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consumidor, é a que os mesmos devem ser prestados
mediante remuneração, exceto, os de caráter
trabalhista e fiscal.
70
oposta ao consumidor. Solidariedade
decorrente de lei. Furto Comprovado.
A disponibilização de estacionamento
visa angariar a clientela, ensejando
a configuração de depósito irregular
e consequente dever de guarda e
vigilância, pouco importando tratar-
se de estacionamento gratuito.
Lucros cessantes afastados. Dano
material correspondente ao valor do
veículo furtado. Sentença
parcialmente procedente. Recurso não
provido” (TJSP – Apelação 0097300-
21.2007.8.26.0000 – Acórdão 4895504,
São Paulo – Décima Câmara de Direito
Privado – Rel. Des. Antonio Manssur
– j. 18.11.2010 – DJESP 24.02.2011).
71
Estado a responsabilidade por
prejuízo sofrido pelo furto ocorrido
em estacionamento privado de
supermercado. Recurso conhecido e
não provido” (TJMG – Apelação Cível
1.0702.06.285022-8/0011, Uberlândia
– Décima Sétima Câmara Cível – Rel.
Des. Márcia de Paoli Balbino – j.
24.04.2008 – DJEMG 09.05.2008).
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guarda e segurança dos veículos
estacionados no local,
presumivelmente seguro” (STJ – REsp
437.649/SP – Quarta Turma – Rel.
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira –
j. 06.02.2003 – DJ 24.02.2003, p.
242).
Nesse sentido:
73
STJ: inexiste violação ao art. .3,§2º,
do Código de Defesa do Consumidor,
portanto, para a caracterização da
relação de consumo, o serviço pode ser
prestado pelo fornecedor mediante
remuneração obtida de forma indireta.
PÚBLICO OU PRIVADO
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tributos em gerais para fomentar as atividades
próprias do Estado, não são objeto de relação de
consumo, bem como aqueles serviços uti univesi, ou
seja difusos decorrentes das atividade precípua do
Estado, visando ao bem comum, tal como ocorre com a
Educação Pública, Saúde, saneamento básico, segurança,
etc., quando serão aplicados o Art. 37 parágrafo 6º da
CF de 1988.
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dispositivos, o art. 6, X, e o art. 22, abaixo
transcritos:
Art. 6º São direitos básicos do
consumidor (...)
X – a adequada e eficaz prestação
dos serviços públicos em geral.
SERVIÇO NOTARIAL
Atualmente, o STJ possui precedente afastando a
aplicação do CDC aos serviços notarias, sob o
argumento de que o STF entende que as custas e
emolumentos possuem natureza administrativo-tributária
e por isso não há como reconhecer a relação e consumo,
pois no lugar de consumidor há contribuinte, bem como
não há como considerar que os cartórios de notas e
registros sejam fornecedores, eis que seus serviços
não integram o mercado de consumo.
MERCADO DE CONSUMO
- Serviços advocatícios
- Contratos de crédito educativo
- Relação condominial
- Locação predial urbana
- Contratos de autogestão de serviço de saúde
- Previdência privada complementar fechada (Súmula
563)
76
Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às entidades abertas de previdência
complementar, não incidindo nos com tratos
previdenciários celebrados com entidades fechadas.
77
Conforme visto acima, apenas os serviços públicos
divisíveis e mensuráveis serão objetos de uma relação
de consumo protegida pelo CDC, desde que remunerados
por tarifa ou preço público. O art. 22 do CDC impõe
uma série de exigências aos fornecedores de serviços
públicos, vejamos:
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e lixo; VII - telecomunicações; VIII
- guarda, uso e controle de
substâncias radioativas,
equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados
a serviços essenciais; X - controle
de tráfego aéreo; XI compensação
bancária.
79
• Interrupção do serviço público essencial em caso
de inadimplência de pessoa jurídica de direito público
consumidora.
SERVIÇO BANCÁRIO
80
As discussões doutrinárias e jurisprudencial
quanto o enquadramento da atividade bancária como
relação jurídica cessaram com a edição da Súmula 297
do STJ que declarou que o CDC é aplicável as
instituições financeiras.
Por fim, destaca-se que o próprio STF já se
manifestou sobre a constitucionalidade do §2º do
artigo 3º do CDC, ADI 2591.
CONCLUSÃO
Por tudo que foi estudado podemos concluir que o
CDC incidirá nas relações jurídicas de consumo,
consubstanciada pela presença do consumidor em um dos
pólos e noutro o fornecedor, transacionando um produto
ou serviço. Poderá ainda ser aplicado se a prática
comercial puder se tornar relação de consumo, pelo
simples fato de expor e poder se impor a um consumidor
em potencial ou lhe causar algum acidente de consumo.
81
Assim o rol descrito no artigo 6° do CDC não é um
rol taxativo, pelo contrário, há nele apenas uma
síntese dos institutos e direito material e formal do
consumidor. Seria, na verdade, uma prévia do que será
abordado nos títulos e capítulo seguintes.
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Destarte, passemos ao estudo de alguns
instrumentos que o consumidor pode utilizar para
viabilizar o efetivo cumprimento do princípio do
acesso a justiça, entre os quais estão o foro
privilegiado, adstrição da tutela especifica de
obrigação de fazer e não fazer, a proibição da
denunciação da lide, a inversão do ônus da prova e a
desconsideração da pessoa jurídica do fornecedor.
FORO DE ELEIÇÃO
83
para que as demandas oriundas de tal
negócio jurídico possam ser movidas
em tal lugar" (Manual de direito
processual civil, vol. I, p. 277).
84
contratual de eleição, por ser
considerada cláusula abusiva,
devendo a ação ser proposta no
domicílio do réu, podendo o juiz
reconhecer a sua incompetência ex
officio".
85
indicação não constitua mera adesão a cláusula
preestabelecida pelo fornecedor.
FORO PRIVILEGIADO
86
contrário ao que o CPC de 74 determina, pois a tutela
da equivalência era a prioritária. Com a reforma de
1994 o CPC passou a adotar o mesmo critério do CDC,
passando a generalizar a tutela especifica, já que até
então vigorava o principio da tutela do equivalente e
não da tutela especifica.
CDC
Art. 84 - Na ação que tenha por
objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, o Juiz concederá
a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que
assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.
Art. 497. Na ação que tenha por
objeto a prestação de fazer ou de
não fazer, o juiz, se procedente o
pedido, concederá a tutela
específica ou determinará
providências que assegurem a
obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente. Parágrafo
único. Para a concessão da tutela
específica destinada a inibir a
prática, a reiteração ou a
87
continuação de um ilícito, ou a sua
remoção, é irrelevante a
demonstração da ocorrência de dano
ou da existência de culpa ou dolo.
Art. 499. A obrigação somente será
convertida em perdas e danos se o
autor o requerer ou se impossível a
tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático
equivalente.
Art. 500. A indenização por perdas
e danos dar-se-á sem prejuízo da
multa fixada periodicamente para
compelir o réu ao cumprimento
específico da obrigação.
Art. 536. No cumprimento de
sentença que reconheça a
exigibilidade de obrigação de fazer
ou de não fazer, o juiz poderá, de
ofício ou a requerimento, para a
efetivação da tutela específica ou a
obtenção de tutela pelo resultado
prático equivalente, determinar as
medidas necessárias à satisfação do
exequente. § 1o Para atender ao
disposto no caput, o juiz poderá
determinar, entre outras medidas, a
imposição de multa, a busca e
apreensão, a remoção de pessoas e
coisas, o desfazimento de obras e o
impedimento de atividade nociva,
podendo, caso necessário, requisitar
o auxílio de força policial. § 2o O
mandado de busca e apreensão de
pessoas e coisas será cumprido por 2
(dois) oficiais de justiça,
observando-se o disposto no art.
846, §§ 1o a 4o, se houver
necessidade de arrombamento. § 3o O
executado incidirá nas penas de
litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a
ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de
desobediência. § 4o No cumprimento
de sentença que reconheça a
exigibilidade de obrigação de fazer
88
ou de não fazer, aplica-se o art.
525, no que couber. § 5o O disposto
neste artigo aplica-se, no que
couber, ao cumprimento de sentença
que reconheça deveres de fazer e de
não fazer de natureza não
obrigacional.
Art. 537. A multa independe de
requerimento da parte e poderá ser
aplicada na fase de conhecimento, em
tutela provisória ou na sentença, ou
na fase de execução, desde que seja
suficiente e compatível com a
obrigação e que se determine prazo
razoável para cumprimento do
preceito. § 1o O juiz poderá, de
ofício ou a requerimento, modificar
o valor ou a periodicidade da multa
vincenda ou excluí-la, caso
verifique que: I - se tornou
insuficiente ou excessiva; II - o
obrigado demonstrou cumprimento
parcial superveniente da obrigação
ou justa causa para o
descumprimento. § 2o O valor da
multa será devido ao exequente. § 3º
A decisão que fixa a multa é
passível de cumprimento provisório,
devendo ser depositada em juízo,
permitido o levantamento do valor
após o trânsito em julgado da
sentença favorável à parte.
(Redação dada pela Lei nº 13.256, de
2016) (Vigência) § 4o A multa será
devida desde o dia em que se
configurar o descumprimento da
decisão e incidirá enquanto não for
cumprida a decisão que a tiver
cominado. § 5o O disposto neste
artigo aplica-se, no que couber, ao
cumprimento de sentença que
reconheça deveres de fazer e de não
fazer de natureza não obrigacional.
89
concreto. Em se tratando de ação que tenha por objeto
o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz, além de conceder a tutela específica da
obrigação, poderá determinar providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao
adimplemento.
§ 1º - A conversão da obrigação em
perdas e danos somente será
admissível se por elas optar o autor
ou se impossível a tutela específica
ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
90
tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.
91
verossimilhança das alegações do autor e justificado
receio de ineficácia do provimento final.
92
indenizatória movida pelo consumidor em face do
fornecedor, conforme parte final do seu artigo 88.
CDC
Art. 88 - Na hipótese do artigo 13,
parágrafo único, deste Código, a
ação de regresso poderá ser ajuizada
em processo autônomo, facultada a
possibilidade de prosseguir-se nos
mesmos autos, vedada a denunciação
da lide.
DECISÃO
93
03/09/2021 07:05
No recurso ao STJ, o hospital afirmou que não foram apontadas falhas em seus
serviços, como enfermagem e hotelaria; por isso, a responsabilidade pelos danos à
paciente só poderia ser imputada aos médicos, que utilizam suas instalações para
operar, mas não têm vínculo com o estabelecimento.
Por outro lado, havendo vínculo de qualquer natureza entre ambos, o hospital
responde solidariamente com o médico pelos danos decorrentes do exercício da
medicina, desde que fique caracterizada a culpa do profissional, nos termos
do artigo 14, parágrafo 4º, do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
94
"Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja
culpa deve ser comprovada pela vítima, de modo a fazer emergir o dever de
indenizar da instituição", comentou a relatora.
Como a ação imputou ao hospital a responsabilidade por atos dos médicos que
atuaram em suas dependências – eles próprios não foram incluídos no processo –,
Nancy Andrighi destacou a necessidade de se apurar a existência de vínculo entre a
instituição e os profissionais, bem como se houve negligência, imperícia ou
imprudência na conduta médica.
Segundo a magistrada, a discussão sobre a culpa dos médicos não serve apenas
para que o hospital possa ajuizar ação de regresso contra eles (para se ressarcir de
uma condenação na ação indenizatória), mas, principalmente, para fundamentar a
responsabilidade do próprio hospital perante o consumidor, pois é uma condição
indispensável para que o estabelecimento responda solidariamente pelos danos
apontados.
95
529 do STJ deixa claro que “No seguro de
responsabilidade civil facultativo, não cabe
ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado
causador do dano”. Segunda Seção, aprovada em
13/05/2015. Contudo o próprio STJ reconheceu a
solidariedade da seguradora junto com o segurado, a
Seguradora denunciada pode ser condenada direta e
solidariamente com o segurado a pagar a indenização
devida à vitima, nos limites contratados, editando a
Sumula 537 que segue:
97
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
CDC
Art. 6º - São direitos básicos do
consumidor:
(...)
VIII - a facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
98
Diante das naturais dificuldades da produção da
prova, o CDC inverte o ônus a seu favor, ou seja,
verificando que seria mais uma barreira a efetiva
proteção do consumidor atribuir-lhe o ônus da prova do
fato constitutivo do seu direito o CDC determinou que
o interesse na produção da prova é do fornecedor,
pois os fatos articulados pelo consumidor presume-se
verdadeiros, nos termos do artigo 374, IV do CPC.
EFEITOS DA INVERSÃO
99
constitutivo do seu direito, conforme determina o
inciso I do art. 373 E 374, IV do CPC, sem que lhe
recaia o ônus da inexistência do fato pela não
produção.
ESPÉCIES DE INVERSÃO
100
for hipossuficiente, segundo as suas regras ordinárias
de experiência.
101
prova, tem sentido de desconhecimento técnico e
informativo do produto e do serviço, de suas
propriedades, de seu funcionamento, de sua
distribuição, dos modos especiais de controle, etc.
102
Deve-se comentar, apesar da divergência do tema,
o momento que ocorre a inversão no caso da inversão
ope juicias.
103
Contrariamente se manifesta o Mestre Sérgio
Cavalieri Filho, pois entende desnecessária a
manifestação do juiz sobre a inversão, pois a inversão
não atribui ao fornecedor um novo onus probandi, mas
apenas dispensa o consumidor do ônus da prova do fato
constitutivo do seu direito, mas ainda assim, o réu-
fornecedor terá que provar a existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.
104
No primeiro caso (responsabilidade civil do
fornecedor por acidentes de consumo), o CDC determinou
expressamente que o fornecedor deverá arcar com o ônus
da prova quanto as causas excludentes de sua
responsabilidade, quando afirma em seu art. 12, §3°,
III que “O fabricante, o construtor, o produtor e o
importador só não serão responsabilizados quando
provar que, embora haja colocado o produto no mercado,
o defeito inexiste” ou para o art. 14 §3°, “ O
fornecedor só não será responsabilizado quando provar
que, embora haja colocado o produto no mercado, o
defeito inexiste”
105
responsabilização penal, conforme determina o artigo
69 do CDC
106
legal da pessoa jurídica que a separa rigidamente das
pessoas que a compõem.
Da mesma maneira, em quaisquer demandas
judiciais, seja no pólo ativo ou passivo, quem figura
é a pessoa jurídica e não a pessoa natural que a
representa, seja este sócio, associado, administrador,
etc.
107
da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos
ou contrato social), aparentemente adotando a teoria
maior da desconsideração da pessoa juridica, conforme
segue:
ABUSO DE DIREITO
Código Civil
Art. 187. Também comete ato ilícito
o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
108
Tal como previsto do art. 50 do CC, existe a
possibilidade de desconsiderar a pessoa jurídica do
fornecedor quando o titular desvia ou vai além da
finalidade das normas, estatutos ou do contrato
social, extrapolando ou abusando do mandato que lhe
foi conferido e cause um ato ilícito.
109
adota a teoria maior (Admite a desconsideração APENAS
quando restar provado desvio de finalidade (teoria
maior subjetiva) ou confusão patrimonial (teoria maior
objetiva) mais prejuízo ao credor (art. 50 do CC)),
conforme se depreende do seu artigo 50 e do próprio
caput do artigo 28 do CDC, no qual está inserido o §
5° ora estudado.
110
Ademais, o NCPC encampou a jurisprudência do STJ,
afirmando que não há necessidade processo autônomo
para que seja desconsiderada a personalidade jurídica,
podendo ocorrer em qualquer fase processual.
CDC
Art. 28 (...)
§ 2º - As sociedades integrantes dos
grupos societários e as sociedades
controladas são subsidiariamente
responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste Código.
§ 3º - As sociedades consorciadas
são solidariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste
Código.
§ 4º - As sociedades coligadas só
responderão por culpa.
RESPONSABILIDADE CIVIL
DEVER JURÍDICO
111
Dever jurídico é a conduta externa de uma pessoa
imposta pelo Direito Positivo por exigência da
convivência. Não se trata de simples conselho,
advertência ou recomendação, mas de um comando que a
todos se dirige e a todos vincula.
112
– dano, decorrente da violação de um dever jurídico
originário.
FUNÇÃO
ESPÉCIES
113
ilícito contratual ou relativo e a segunda de ilícito
aquiliano ou absoluto, quando subjetiva.
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ato ilícito pode assumir duplo aspecto e ocasionar uma
responsabilidade civil e outra penal.
Responsabilidade
115
Responsabilidade
Penal
Civil
116
da ineficácia da tradicional responsabilidade civil
nesse novo cenário mercantil.
117
O maior absurdo é que esse sistema foi aplicado
até o dia 10 de março de 1991, pois somente depois
desse dia o CDC entrou em vigor e inverteu a relação
preexistente referente aos riscos do consumo, do
consumidor para o fornecedor, além de estabelecer a
responsabilidade, sem culpa (objetiva), para todos os
casos de acidentes de consumo.
118