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CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS INDIOS
CURSO DE PSICOLOGIA
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) como estratégia para o cuidado em saúde mental nos
Centros de Atenção Psicossociais (CAPS): Uma análise a partir de psicólogos alagoanos
Bibliografia: f. 82 – 89
Apêndice: 90 - 94
Anexo: 95 - 97
ISAIAS PESSOTTI
RESUMO
The Sanitary Reform and Psychiatric Reform movements started great changes in Brazilian
mental health, these changes culminated in discussions about new methods and practices.
From the questioning of the conception of mental illness and the development of public
policies and the network of substitutive services, among them the CAPS, to the psychiatric
hospital became necessary the creation of strategies that can understand the human being and
its complexity from interdisciplinary teams in health services, bringing not only care, but also
the promotion of biopsychosocial well-being. The Singular Therapeutic Project is a strategy,
developed by the Ministry of Health, able to reach the goals of the Psychiatric Reform in the
substitutive services. It is the group planning - user, interdisciplinary team and family - of the
care of the users in the institutions, considering their uniqueness, potentialities and
limitations. its objectives are the development of autonomy and social reintegration. The
present work aimed to analyze the proposals of the Singular Therapeutic Project as a strategy
of care in Mental Health from a qualitative field research through semi structured interviews
with three psychologists from Alagoas. From the collected data it became evident that,
although the PTS is the base for the professionals' performance in the CAPS guided by the
principles of Psychiatric Reform, there is a distancing about the theory and its application.
The aim was to understand this reality and to reflect on the challenges of its implementation
and maintenance.
1 INTRODUÇÃO 9
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 78
REFERÊNCIAS 82
APÊNDICE 90
ANEXO 95
1 INTRODUÇÃO
especialidade da medicina, com objeto definido, no século XIX. Pinel ficou conhecido por
modificar a forma de tratar os ditos loucos, ordenando a soltura dos grilhões que
acorrentávamos internos. (TENÓRIO, 2002, p. 26).
As ideias apresentadas por Pinel estão bem distantes das discutidas pelos defensores da
Reforma Psiquiátrica atualmente. Porém, não se deve negar a importância que a reforma
proposta por Pinel e a construção de uma especialidade voltada para o sofrimento psíquico
dentro da medicina, teve no avanço da saúde mental e na construção de novos dispositivos.
O movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileira tem, desde suas primeiras
manifestações, o foco na modificação no modelo de atenção, propondo novas formas de
intervenção nas questões de saúde e, principalmente, o rompimento com o modelo
médico/hospitalar, citado anteriormente, destacando a complexidade do processo
saúde/doença e partindo do pressuposto de que há a necessidade de preparar a população para
lidar com a loucura de modo diferente. Como bem coloca FLEURY (1997, p. 165):
Uma das consequências do movimento da reforma psiquiátrica foi a criação dos Centros
de Atenção Psicossociais (CAPS), que foram considerados estratégicos para a mudança no
modelo de atenção em saúde mental a partir da consolidação da Reforma Psiquiátrica como
política do governo. Dessa forma, a portaria 366 do Ministério da Saúde de fevereiro de 2002
que efetiva a sua implementação, baseada na lei 10.216, estabelece três modalidades de
serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, “definidos por ordem crescente de
porte/complexidade e abrangência populacional”. Essa define, ainda que, os CAPS serão
constituídos em serviços ambulatoriais de atenção diária funcionando de acordo com a lógica
do território e afirma seu caráter independente de qualquer estrutura hospitalar. Segundo o
Ministério da Saúde,
essas técnicas estão sendo aplicadas a fim de questioná-las e melhorá-las ou propor novas
formas de fazer, como no caso do PTS.
Para tanto, foi realizada, primeiramente, um estudo bibliográfico e uma consequente
análise, utilizando autores do campo da saúde mental, tais como: Amarante, Pessotti,
Laurenti, Pereira, entre outros.
Após essa etapa, iniciou – se a pesquisa de campo a partir de entrevistas
semiestruturadas com três psicólogos que atuam em CAPS no estado de Alagoas. Partiu - se
do pressuposto de que os profissionais que atuam nos serviços são os mais adequados para
problematizar a realidade dessas instituições. Desse modo, os mesmos foram questionados
sobre aspectos relacionados à atuação da psicologia no CAPS, à percepção e função do PTS, à
construção do PTS dentro dos serviços e organização enquanto equipe e os desafios
vivenciados na construção e aplicação da estratégia.
Os dados foram analisados a partir do método de Análise de Conteúdo de Lawrence
Bardin (1977), de caráter qualitativo. Trata-se de um método que busca compreender as
informações a partir dos sentidos que são atribuídos e “visa o conhecimento de variáveis de
ordem psicológica, sociológica, histórica etc., por meio de um mecanismo de dedução com
base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens particulares”
(BARDIN, 1977, p.39) a partir de critérios definidos pelo pesquisador, como no caso da
entrevista.
Destarte, esse trabalho foi organizado em quatro capítulos. O primeiro capítulo
apresenta o processo histórico da saúde mental, desde as primeiras concepções da loucura até
o movimento de Reforma Psiquiátrica atual. O segundo capítulo aborda a construção do
Sistema Único de Saúde (SUS) e a trajetória das políticas públicas de saúde mental no Brasil,
enfatizando os CAPS como um dos principais serviços substitutivos. O terceiro capítulo
prioriza a discussão a respeito da atuação da Psicologia na saúde mental e suas possíveis
contribuições para a construção do PTS dentro do CAPS. O quarto capítulo destina-se à
análise e discussão dos dados coletados na pesquisa de campo. Por fim, são citadas as
considerações finais, que abordam as percepções gerais obtidas a partir da revisão
bibliográfica e das entrevistas realizadas com os psicólogos.
Buscou-se, com as análises realizadas destacar a evolução que o Brasil alcançou no
processo de Reforma Psiquiátrica e discutir a série de modificações que a mesma implica.
Sobretudo no que diz respeito à lógica psiquiátrica que ainda é reproduzida pelos profissionais
nos novos dispositivos, é necessário toda a atenção, pois, como apontado por Spohr (2011, p.
563) “a maneira como se compreende um determinado fenômeno determina a maneira de se
14
lidar com ele, tanto pelos especialistas como pelas demais pessoas envolvidas”. Logo,
discussões e debates que envolvem a sociedade civil, o governo e a rede de assistência são
imprescindíveis para conscientizar a todos e capacitar os profissionais para atuar nesses
serviços partindo do pressuposto de que o modo como a sociedade entende a pessoa em
sofrimento psíquico determinará como funcionará a assistência a esse indivíduo.
15
A loucura nem sempre foi tratada como um problema de saúde pública que necessita de
intervenções médicas. As interpretações dadas ao tema são múltiplas e construídas com
enfoques distintos a partir de cada contexto e época influenciando diretamente nas práticas
destinadas a ela. Porém, é perceptível que por se tratar de manifestações de comportamentos
que não se enquadram às normas estabelecidas socialmente, os ditos loucos sempre receberam
atenção diferenciada e, por essa razão, muitos foram os estudiosos que se debruçaram sobre
esse fenômeno e suas possíveis causas.
Até meados do século XVII "a loucura circulava livremente pelas ruas e era tema
recorrente de diversas expressões artísticas, como peças de teatro e romances" (BATISTA,
2014, p. 393). Naquele período prevaleciam interpretações religiosas. O dito louco era
compreendido ora como sábio, ora como amaldiçoado e era, até certo ponto,
tolerado. Contudo, segundo Foucault (1972) durante a segunda metade do século foram
criadas várias casas de internamento com a finalidade de retirar essas pessoas do convívio
16
social junto a outras minorias. E lugares que, durante os séculos anteriores, serviram para
isolar os leprosos também foram ocupados com essa finalidade.
Naquele contexto, é perceptível que a segregação não tinha ainda como objetivo um
tratamento médico para a loucura, e sim manter distante da sociedade todos aqueles que, de
alguma forma, desviavam das regras estabelecidas socialmente. Tirou-lhes, assim,
a liberdade através da internação nessas instituições precárias onde a maioria passava o resto
da vida (ARBEX, 2013).
Considerando que, até então, a loucura não era compreendida sob o aspecto patológico,
mas explicada principalmente através da teologia e vista como algo do campo de atuação de
religiosos e não da medicina, o século XVIII foi um grande marco na história da loucura. As
principais teorias que são apresentadas pelo viés clínico surgem a partir dessa época, apesar
de apresentarem, inicialmente, concepções pessoais dos seus autores sem grande valor
científico e não sistematizadas (PESSOTTI, 1999, p.38) vistas às limitações da época.
A partir do momento que a medicina passou a questionar as explicações místicas sobre
a loucura e dedicar-se aos estudos da "mente", explicando-a a partir da fisiologia e anatomia –
mesmo sem grandes embasamentos científicos – tornou-se necessário diferenciar o
sobrenatural do que estava associado às chamadas “doenças mentais”. Delimitando seus
objetos de estudos a fim de distinguir os dois “fenômenos”, visto que
Phillipe Pinel, psiquiatra francês, ficou conhecido por ser o primeiro médico a propor
um tratamento às pessoas acometidas de doença mental, como passou a ser chamada na
época. Seu tratamento se baseava em uma concepção moral da loucura, proposta que
se diferenciava completamente das vigentes em sua época afirmando que as causas
da mesma se davam pelos desarranjos das funções mentais, destacando, desse modo, os
aspectos subjetivos até então ignorados. Para o psiquiatra, os estudiosos de sua época estavam
equivocados ao procurar as razões na anatomia ou na fisiologia do encéfalo. Pinel defendia,
ainda que, o manicômio era o lugar ideal para o tratamento desses desarranjos visto a
facilidade de monitoramento e intervenção. Sua obra "Traitémédical-
philosophiquesurl’aliénationmentale ou lamanie", ou seja, Tratado Medico-Filosófico sobre a
Alienação Mental ou Mania, datada de 1801, é tida como um marco para a psicopatologia
apresentando uma classificação nosográfica diferente das apresentadas anteriormente e
indicando as paixões e seus excessos como fatores da loucura (PESSOTTI, 1996, p.69).
A loucura aparece no Traité como algo tratável uma vez que seria causada por um
desequilíbrio na razão ou nos afetos que podia ser corrigido. Nesse sentido, a experiência dos
médicos alienistas que se dedicavam ao estudo e tratamento da mesma, serviria como
parâmetro para o julgamento e a intervenção nesses casos, entendendo que
Desse modo, Pinel não entendeu a loucura como algo estático, mas passível de
mudanças. Optou pelo termo "alienação mental" – a fim de distanciá-la dos aspectos
anatômicos irreversíveis – restringindo a categoria "loucura" e voltando-se apenas para os
erros de imaginação e de julgamento que acarretariam nos desvios cometidos pelas pessoas,
consequentemente desconsiderando uma série de comportamentos considerados
"anormais" que estão presentes em outras teorias.
19
Apesar de ter o manicômio como espaço central para realização do tratamento moral, a
exclusão por acorrentamento é criticada por Pinel, e o fim dessa forma de tratar tornou-se um
marco de sua carreira e da história da loucura. Antes, os pacientes viviam amarrados ou
algemados em asilos por serem considerados perigosos até para os outros "loucos". Pinel
defende a “liberdade” dessas pessoas dentro do manicômio, com permissão de circular no
espaço e de ter contato com outros (TENÓRIO, 2002, p. 26).
Dessa forma, o tratamento passa a ter como objetivo devolver essas pessoas a
sociedade após um período de reeducação, no qual deveriam aprender a se comportar
“adequadamente”. Assim, "o louco não é, para Pinel, substancialmente diverso do homem
sadio, já que em tantos momentos da vida, qualquer um age indiferente à razão ou ao bom
senso" (PESSOTTI, 1996, p. 73). Sob essa perspectiva, a loucura é uma possibilidade humana
que precisa ser diagnosticada e ajustada.
Apesar da fama de Pinel estar diretamente relacionada à ênfase nos fatores
“mentais”, os fatores orgânicos não foram desconsiderados em nenhum momento na sua
teoria. Segundo o autor, a alienação mental pode ser provocada por diversas causas, inclusive,
por comprometimentos orgânicos.
Aprendi que a alienação mental é causada, em alguns casos, por lesões orgânicas ou
por uma disposição hereditária, mas, mais frequentemente, por afetos morais muito
profundos e contrastados [...] Seja qual for a acepção que se dê ao termo, é certo,
todavia, que as paixões estão entre as causas mais comuns de doença; a alienação
mental oferece inúmeros exemplos (PINEL; TRAITÉ apud PESSOTTI, 1994,
p.156-7).
No que diz respeito ao diagnóstico, Pinel, influenciado pelo iluminismo francês1, propôs
como método a observação detalhada dos comportamentos. Por essa razão, a retirada desses
indivíduos da sociedade para o manicômio, para o psiquiatra, era indispensável para o
diagnóstico e o tratamento. Para que essas observações tenham valor científico alguns
critérios foram apontados por ele e expostos por Pessotti (1996, p. 157):
1
Movimento que aconteceu entre 1680 e 1780 na Europa, tendo como centro a França. O iluminismo francês
propõe a substituição de explicações metafísicas pelo saber racional e científico como forma de validar o
conhecimento humano.
20
Assim, a finalidade desse tipo de diagnóstico não era encaixar os sintomas em uma
categoria nosológica preexistente, mas refletir e questionar os fatores envolvidos na
manifestação e na mudança de determinados comportamentos dos indivíduos.
A classificação encontrada no Traité foi considerada a mais clara e completa da época,
apresentando quatro categorias, as três primeiras já haviam sido adotadas anteriormente
por Cullen (PESSOTTI, 1999, p.57). São elas:
1.Mania: Instinto furioso que tem como principal característica o delírio geral
podendo ser causado por fatores morais ou físicos implicando confusão de ideias,
perda de julgamento e desarranjo total das faculdades mentais.
2.Melancolia: Difere da mania por se tratar de um delírio parcial com a presença de
uma ideia fixa que pode durar vários anos. Há uma confusão a respeito da distinção
dessas duas primeiras classificações no Traité, por conta da afirmação de Pinel de
que uma pode transformasse na outra, mas não distingue de forma clara.
3.Demência: Pinel conceitua essa como sendo insuficiência da mente que pode ser
resultado de acidentes ou desarranjos orgânicos.
4. Idiotia: Refere-se a uma carência ou insuficiência intelectual, não apresentando
perda de razão. Podendo resultar de situações ou condições desfavoráveis da vida
adulta. [Trecho adaptado] (PESSOTTI, 1996, p.99).
Nesse contexto, o médico aparece, então, como pedagogo e autoridade moral, cabendo a
ele estabelecer a ordem social e “reeducar” os alienados. Pessotti (1996, p. 166) afirma que,
As ideias apresentadas por Pinel no tópico anterior serviram como base para o modelo
de Psiquiatria que temos hoje, dando uma nova direção à prática médica da época. A partir da
definição de loucura como sendo uma lesão das funções mentais e da designação do alienista
como detentor do saber capaz de modificar os comportamentos desviantes, Pinel conseguiu
aproximar a medicina dos fatores psicológicos presentes nas psicopatologias e dar a noção de
tratamento que, até então, não havia sido direcionada.
Contudo, é importante destacar que, segundo Pessotti (1996, p. 129)
É indiscutível o fato de que a relação da medicina com essas instituições contribuiu para
a legitimação do poder da figura do médico: de um lado exclusão e disciplina, do outro a
construção do saber. Porém, entendeu-se que o conhecimento promovido por Pinel tinha
pouca legitimidade científica pela falta de fundamentação experimental, baseado nas
experiências e observações dos médicos que logo foram questionadas por estudiosos de base
organicista.
Ainda que a concepção de Pinel seja bastante criticada atualmente foi através dele e dos
seus sucessores que a Psiquiatria apropriou-se das “doenças da mente”, inicialmente na
França e em outros países como a Itália e toda a Europa, ampliando posteriormente para os
demais países. Desse modo, a chamada “medicina moral” ou “medicina psicológica” passou a
considerar tanto os aspectos orgânicos como os subjetivos. (CHERUBINI, 2006).
Logo, durante o século XIX, na França, a psiquiatria constituiu-se como uma
especialidade médica e tinha o manicômio como seu núcleo gerador (PESSOTTI, 1996).
Muitos estudiosos centraram seus estudos nos “desajustes mentais”. O resultado disso foi um
grande número de manicômios, internações e diagnósticos, tornando esse período conhecido
como o “século dos manicômios” (PESSOTTI, 1996, p.9).
Apesar de Pinel ter conseguido muitos seguidores, o modelo organicista da loucura
proposto incialmente por Hipócrates também ganhou ampla aceitação nessa época, dividindo
a classe médica em duas vertentes: a visão organicista e a visão moral da loucura.
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Segundo Pessotti (1996), apesar das duas vertentes não se distinguirem em sua totalidade, a
primeira criticava os métodos e o ambiente do tratamento moral, além do papel do médico.
Uma das diferenças mais claras entre o tratamento moral e o tratamento físico é
justamente a diversidade do papel do médico no processo terapêutico: guia,
interlocutor, conselheiro e pedagogo, num caso; mero responsável pelo diagnóstico e
pela prescrição (e eventual supervisão) de tratamentos, no outro. Quem
prescreve horários rígidos não é o segundo. Este prescreve o emprego de meios
físicos de intervir no organismo (p.229).
[...] trouxe inúmeras consequências para o portador de transtorno mental como, por
exemplo, a fragmentação e/ou extinção do convívio familiar; perda da identidade,
liberdade; negação da subjetividade e de todos os direitos; incapacidade de exercer a
cidadania (BARRIGÍO, 2006, p.20)
superlotados, sujos, sem camas, geralmente úmidos e com pouca iluminação, entre outros
problemas. Apesar de ter como objetivo a cura, esses espaços não possuíam condições
suficientes para que os pacientes recebessem o tratamento adequado às suas circunstâncias e
particularidades. Assim, com essas condições, a institucionalização passou a ser um
agravante do sofrimento mental e diminuiu as chances dessas pessoas voltarem a viver em
sociedade.
Para que compreendamos melhor a realidade abordada até então torna-se importante
conhecer como foram construídas as classificações de doenças usadas atualmente e refletir
sobre como essas afetam a nossa compreensão de loucura e consequentemente o modo como
a sociedade lida com a mesma.
25
afirmou que a mesma foi base para as classificações do século XIX junto à de Esquirol, um
dos seus discípulos.
A posição geral defendida por Griesinger naquele texto foi a de que as doenças
mentais são, em última instância, doenças do cérebro, sendo este o órgão acometido
na loucura. Mais especificamente, as manifestações sintomáticas constituem por si
mesmas reações e tentativas de reestabilização desse órgão com o funcionamento
morbidamente perturbado. O cérebro funcionaria segundo um sistema mais
27
• Kraepelin (1883/1915)
2
Médico, filósofo e psicólogo, considerado o pai da Psicologia. Destacou-se pela construção do primeiro
laboratório de Psicologia localizado na Universidade de Leipzig localizado na Alemanha e pela publicação de
Principles of Physiological Psychology em 1873.
28
[...] a partir da sexta revisão, aprovada em 1948, passou-se a ter uma verdadeira
classificação de doenças, visto que não incluía apenas aquelas mortais, mas todas as
doenças, lesões e mesmo sintomas. Incorporava também alguns motivos de consulta
que não eram propriamente doenças. A Organização Mundial de Saúde, desde esta
sexta revisão, passou a ser responsável pela chamada “Classificação Internacional de
Doenças” e suas sucessivas revisões. (LAURENTI, 1994, p.113)
Atualmente, está na sua décima edição, apresentando onze tipos de “transtornos mentais
e comportamentais” que se desdobram em cem possibilidades para diagnóstico (F00 ao F99).
Contudo, o lançamento da sua décima primeira edição foi divulgado em 2018 pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e será apresentada em maio de 2019 (BRASIL, 2019).
Segundo levantamento de dados apresentado pela Academia Brasileira de Neurologia,
em 2013, em seu artigo intitulado “A Classificação Internacional de Doenças, a Família de
Classificações Internacionais, a CID 11 e a Síndrome Pós-Poliomielite” da primeira
classificação à última o número de categorias cresceu aproximadamente 1.003%, de 157 para
1.575. Contudo, esse aumento foi significante a partir da sexta edição. Assim, as revisões
apresentaram o seguinte quantitativo: CID 1 (1990) – 157 códigos; CID 2 (1909) -
157 códigos; CID 3 (1920) – 166 códigos; CID 4 (1929) - 164 códigos; CID 5 (1938) - 164
códigos; CID 6 (1948) - 769 códigos; CID 7 (1955) - 800 códigos; CID 8 (1965) - 858
códigos; CID 9 (1975) - 809 códigos; CID 10 (1989) - 1.575 códigos.
Por sua vez, o DSM, publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), foi
construído com o intuito de padronizar o diagnóstico médico sobre os transtornos mentais.
Atualmente, está na sua quinta edição publicada em 2013 (DSM-5).
A primeira edição foi publicada em 1953 e “consistia basicamente em uma lista de
diagnósticos categorizados, com um glossário que trazia a descrição clínica de cada categoria
diagnóstica” (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014, p.69) contendo 106 categorias diagnósticas.
O DSM-II, publicado em 1968, não sofreu grandes modificações, as que houveram se
referiam às terminologias e ao acréscimo de 76 categorias, totalizando 182.O seu sucessor, o
DSM-III, foi um marco para uma nova visão baseada nas ideias de Kraepelin, apresentando
enfoque mais descritivo e com critérios explícitos de diagnóstico. Logo, a partir da terceira
publicação o DSM começou a aperfeiçoar-se através de pesquisas empíricas, testes e revisões
bibliográficas. Assim, o DSM-IV apresentou um aumento significativo de dados e
especificações, contendo 297 possibilidades de diagnósticos. No Manual mais recente, o
DSM-5, o número de doenças apresentadas são, em torno, de 300 e há inúmeras críticas de
estudiosos por ser menos criteriosa que as demais, o que aumenta a probabilidade de mais
30
pessoas serem diagnosticadas com transtornos mentais (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014, p.
82). Portanto, é notório que
Como seu irmão gêmeo, o CID, o DSM destina-se, desde então, a uniformizar os
critérios de diagnóstico, o registro estatístico e a comunicação entre clínicos. Mas,
por ser uma ordenação das doenças mentais em grupos e subgrupos, embora com
critérios eminentemente descritivos, traduz uma concepção das formas da doença
mental ou, pelo menos, uma definição delas em categorias distintas. É, portanto,
como o CID, uma autêntica classificação das formas da alienação mental (ou da
loucura). (PESSOTTI, 1999, p. 182)
Atualmente, os profissionais têm buscado subsídio nas versões atuais dessas duas
classificações. Contudo, torna-se importante destacar que durante toda a história da loucura as
tentativas de normatização das pessoas que apresentam sofrimentos psíquicos têm gerado
estigmas e exclusões. É indiscutível o quanto esses estudos contribuíram para um melhor
suporte à saúde mental e a possibilidade de desenvolvimento de potencialidades dentro dos
serviços, porém, com o crescente número de diagnósticos e uso de fármacos evidenciam-se as
marcas de segregação que se pretende combater. E, ao que parece, torna-se cada dia mais fácil
encaixar-se em uma dessas categorias. Desse modo, cabe aos profissionais fazerem uso desses
instrumentos com responsabilidade e cautela para que as intervenções sejam direcionadas
adequadamente visando à autonomia e o bem-estar do sujeito na sociedade.
No Brasil, a loucura passou a ser vista como problema social no final do século XIX e
apropriada pelo discurso religioso. Até então, os ditos loucos faziam parte do convívio social
não sendo vistos como ameaça à paz social. A medicina nos séculos anteriores não tinha a
psiquiatria como especialidade e os poucos médicos que havia prestavam serviços à
população rica que podia pagar pelos mesmos. Assim, apenas no século XIX através da
influência de Pinel e Esquirol, a assistência aos denominados doentes mentais passou a ter
caráter médico no Brasil. Dessa forma, inicialmente, aqueles com melhores condições de vida
passaram a ser tratados nas suas próprias residências, os mais carentes e com comportamentos
que se sobressaiam aos demais eram enviados para instituições, e alguns julgados
indefesos continuavam vagando pelas cidades.
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O primeiro lugar destinado aos loucos no Brasil foi a Santa Casa de Misericórdia, uma
instituição de caráter religioso localizada no Rio de Janeiro, onde se concentravam todas as
minorias e doentes sob os cuidados de religiosos, sem nenhum tipo de tratamento específico.
[...] a estimativa é que 70% dos atendidos não sofressem de doença mental. Apenas
eram diferentes ou ameaçavam a ordem pública. Por isso, o Colônia tornou–se
destino de desafetos, homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoolistas,
mendigos, negros, pobres, pessoas sem documentos e todos os tipos de indesejados,
inclusive os chamados insanos. A teoria eugenista, que sustentava a ideia de limpeza
social, fortalecia o hospital e justificava seus abusos. Livrar a sociedade da escória,
desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse alcançar (p.22).
Esse trecho da obra de Arbex (2013) denuncia a relação do Brasil com a loucura durante
décadas e o atraso com relação a outros países que já desenvolviam outros métodos.
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As famosas colônias, apresentadas por Arbex (2013) em seu livro foram espaços criados
como solução para a superlotação do Hospício Nacional e tinham como proposta oferecer
formas de “tratamento” voltadas para o trabalho e destinadas aos alienados indigentes. São
definidas pela autora como galpões localizados distante das cidades onde os ditos loucos eram
mantidos em condições desumanas. Logo, rapidamente foram espalhadas pelo Brasil como
extensões dos hospitais psiquiátricos e tornando - se, consequentemente, também,
superlotadas.
Entende – se que, seguindo os passos da medicina francesa, o funcionamento desses
serviços teve como base a segregação e o isolamento da loucura de forma a distanciá-la da
sociedade e maquiar as diferenças existentes entre os indivíduos.
É notório que, no Brasil, diferente da Europa, a psiquiatria não nasce com o objetivo de
tratamento da alienação em busca de diagnósticos e cura, mas vinculada a religião e com
pouca cientificidade, permanecendo assim por décadas. Apenas em 1884, com a criação da
disciplina de psiquiatria nas faculdades de medicina, iniciam-se estudos e tratamentos clínicos
com a finalidade de curar os alienados. E, assim como outros países, o Brasil contribuiu para a
criação de classificações e enquadramento dos comportamentos e sofrimentos humanos tendo
a indústria farmacêutica e os hospitais como aliados (TYKANORI, 2017).
A institucionalização da loucura começou a ser questionada no Brasil, no ano de 1970,
por estudiosos que propunham uma reforma no modo de assistência e seu tratamento
desumano junto a outros movimentos de manifestação social de insatisfação com as decisões
governamentais. Mas, apenas a partir da criação do Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM), no final da década de 1980, essas discussões ganharam maior visibilidade e
mais adeptos. A partir disso, serviços substitutivos e estratégias foram propostas e
desenvolvidas no Brasil a fim de modificar a realidade da psiquiatria e a visão do sofrimento
psíquico como incapacitante. Esses serão discutidos nos próximos capítulos.
O SUS é resultado de lutas sociais que tiveram maior destaque na década de 1970 com a
visibilidade do Movimento Sanitário em conjunto com outros movimentos, como o de
Reforma Psiquiátrica. Com eles foi possível mobilizar a sociedade e propor novos modelos de
organização dos serviços e práticas de saúde através de políticas públicas de assistência,
responsabilizando o Estado pela saúde da população que, até então, ficava a mercê da
filantropia e de algumas ações pontuais geralmente com o objetivo de conter epidemias
(CARVALHO, 2013). Uma das conquistas foi a inclusão no texto constitucional de 1988 da
saúde como um dos direitos dos cidadãos que devem ser assegurados pelo Estado:
37
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado. (BRASIL, 1988, p. 118-119)
Assim, o SUS tem como objetivo central formular e implementar a política nacional de
saúde com ações nas três esferas do governo, além de, como bem destacado, controlar os
serviços privados. Sua regulamentação data de 1990, realizada através das leis federais nº
8.080 e nº 8.142 que detalham a organização e o funcionamento do sistema
(VASCONCELOS; PASCHE, 2008, p. 533) e determina como alguns de seus princípios
básicos a universalidade, a integralidade e a equidade. Esses têm como finalidade cessar as
desigualdades e as exclusões no que se refere às políticas públicas de saúde tornando-as
inclusivas. Assim, a constituição prevê o SUS como um dos integrantes do denominado “tripé
da seguridade” junto com o Sistema de Previdência Social e o Sistema Único de Assistência
Social (SUAS) rompendo com a neutralidade do Estado e políticas marcadas pela exclusão de
milhares de brasileiros (VASCONCELOS; PASCHE, 2008, p. 532-533).
A partir das garantias do texto constitucional e do entendimento de saúde da OMS como
um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças,
tornou-se necessário repensar as práticas em saúde mental. Logo, os tratamentos desumanos
que eram destinados aos ditos loucos e as práticas baseadas exclusivamente no modelo
médico passam a ser legalmente inaceitáveis. É nesse cenário que a saúde mental começa a
trilhar um caminho oposto ao percorrido até então e “os hospitais psiquiátricos começam a ser
criticados do ponto de vista ideológico, político, sanitário e fundamentalmente prático”
(LANCETTI; AMARANTE, 2008, p. 626).
As primeiras experiências do novo modo de cuidado em saúde mental aconteceram em
Santos e em São Paulo no final dos anos 1980 e são consideradas marcos inaugurais da nova
prática que propôs desconstruir o hospital psiquiátrico. Em maio de 1989 aconteceu a
intervenção na Casa de Saúde de Anchieta (único hospital psiquiátrico de Santos) motivada
por denúncias de maus tratos, mortes, superlotação, entre outros.
Imediatamente foram abolidos os maus tratos físicos e psicológicos e a equipe reorganizada
para dar assistência aos pacientes. Posteriormente, foram criados os Núcleos de Atenção
Psicossociais (NAPS) e alguns outros serviços substitutivos com o intuito de construir uma
38
Esse artigo representa bem as ideias da Reforma Psiquiatra à medida que visa à
reinserção social e ao cuidado voltado para o bem-estar biopsicossocial exigindo condições
adequadas para o acolhimento de forma humanizada das pessoas que estão em sofrimento
psíquico e apontando a família e a comunidade como central no processo.
Assim, por meio dessa lei e da III Conferência Nacional de Saúde Mental realizada
também em 2001 com o tema “Cuidar sim, excluir não”, a política nacional de saúde mental
passa a consolidar-se e a ganhar maior visibilidade, expandindo-se com o financiamento do
Ministério da Saúde. A última Conferência aconteceu em Brasília e reuniu profissionais,
40
familiares e usuários dos serviços totalizando 1.480 delegados selecionados nas conferências
municipais e estaduais (BRASIL, 2005).
Os CAPSs aparecem nesse cenário como o principal serviço no processo
de desospitalização e desinstitucionalização. No entanto as residências terapêuticas
formalizadas pelas portarias 106 e 1.220, ambas do ano 2000, são também fundamentais para
o caminho da reinserção social dos pacientes que por diversas razões não possuem suporte
social e familiar, sobretudo aqueles que viveram por muito tempo em hospitais psiquiátricos.
Entende-se, na portaria 106, como Serviços Residenciais Terapêuticos “moradias ou casas
inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de
transtornos mentais” (BRASIL, 2000, p. 23) de forma a substituir o modelo asilar e devolver-
lhes a cidadania.
A mesma portaria destaca a importância de adequação para cada tipo de necessidades
dos moradores e divide as Residências Terapêuticas essas em duas modalidades: Tipo I
destinada a pessoas em processo de desinstitucionalização e devendo acolher no máximo oito
moradores; e o tipo II para os que têm acentuado nível de dependência e necessitam de
cuidados permanentes específicos, normalmente devido a comprometimento físico, devendo
comportar no máximo dez moradores. Cabe a rede de serviços dar os suportes adequados a
esses moradores e fazer o Projeto Terapêutico específico para que se consiga atingir os
objetivos designados.
É indiscutível a evolução da saúde mental brasileira desde a luta antimanicomial até a
criação e a efetivação de serviços substitutivos evidenciados pela diminuição de hospitais
psiquiátricos e extensão de serviços na atenção básica e especializada. A pesquisa divulgada
pelo Ministério da Saúde no ano de 2015 afirma que em 2002 o Brasil contava com 51.393
leitos em hospitais psiquiátricos que foram reduzidos para 25.988 no ano de 2014. Em
contrapartida, houve um aumento do número de CAPSs de 148 em 1998 para 2.209 em 2014.
Esses dados corroboram a análise de Amarante (2018) sobre o processo de reforma
psiquiátrica à medida que apresenta uma modificação de forma lenta, porém significativa.
A política tenta abarcar, desse modo, todas as possíveis situações que levam as pessoas
a chegarem até esses serviços e destaca a necessidade de uma equipe especializada para
intervir de forma a promover a autonomia e a integração social e familiar dos usuários por
meio de intervenções individuais e coletivas. Além dos atendimentos individuais e de caráter
medicamentoso a assistência prestada inclui: atendimento em grupos, oficinas terapêuticas,
visitas domiciliares, atendimento à família, atividades comunitárias e refeições diárias.
No que diz respeito aos recursos humanos previstos na portaria de Nº 336 do Ministério
da Saúde (2002) e reforçados em 2004 com a publicação do manual “Saúde Mental no SUS:
Os Centros de Atenção Psicossociais”, deve fazer parte da equipe técnica mínima dos CAPS
os seguintes profissionais:
respeito à formação dos profissionais para uma atuação direcionada para os serviços
substitutivos. Além de planos de atuação que visem à quebra de barreiras socialmente
existentes com relação à saúde mental.
Assim, para que aconteça a efetivação das políticas em questão é necessário ainda o
bom funcionamento da rede de serviços disponíveis e da articulação dos profissionais
enquanto equipe interdisciplinar. E, consequentemente, do diálogo entre os conhecimentos a
fim de tentar compreender os usuários em sua totalidade.
Apesar das políticas apontarem uma necessidade de união dos saberes é comum
encontrarmos equipes multidisciplinares nos serviços públicos ao invés de interdisciplinares,
onde cada profissional efetua suas intervenções de forma isolada sem que haja um diálogo ou
cooperação com os demais para compreender as demandas e planejar intervenções
considerando todos os aspectos. Esse tipo de interação da equipe pode limitar a assistência à
medida que isolam os conhecimentos e os profissionais não têm uma visão completa da
realidade dos usuários.
Pensando nessa integração de profissionais dentro dos serviços de saúde mental e nos
princípios do SUS, o Ministério da Saúde propõe a criação de equipes de referência. Trata-se
da responsabilidade que a equipe tem com o usuário ou família de modo a conduzir o caso a
45
fim de garantir a assistência integral e a criação de vínculo. Assim, a equipe deve fazer
reuniões para discutir o projeto terapêutico do usuário ou família e se necessário mediar o
contato com outras instituições e serviços (BRASIL, 2007).
Nos CAPS, além da equipe de referência, há a necessidade de determinar o Terapeuta
de Referência (TR) do usuário, considerando que acolhem casos mais complexos que os
demais serviços de saúde. Em geral, o TR é o técnico que faz o acolhimento, porém é
necessário considerar a criação de vínculo entre o usuário e o profissional e o impacto que a
relação estabelecida tem no acompanhamento, podendo a equipe optar pela substituição desse
se necessário (BRASIL, 2004).
Portanto, é importante ressaltar a necessidade do desenvolvimento de estratégias que
ajudem a efetivar uma atuação interdisciplinar nos CAPS que sirvam de base para
intervenções de forma mais concreta no sistema público de saúde.
O Projeto Terapêutico Singular (PTS) aparece nesse cenário como uma estratégia para
planejar e nortear o trabalho em equipe em casos mais complexos respeitando a singularidade
dos usuários. Trata-se de um projeto que deve ser pensado para, e com, a pessoa e sua família
com finalidade terapêutica "que personalize o atendimento de cada pessoa na unidade e fora
dela e proponha atividades durante a permanência diária no serviço, segundo suas
necessidades" (BRASIL, 2004, p.16). Logo, trata-se de uma análise entre os envolvidos para a
compreensão da demanda e planejamento de ações. O PTS deve ser dividida em quatro
elementos:
1) O diagnóstico: que deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social,
que possibilite uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do usuário.
Deve tentar captar como o Sujeito singular se produz diante de forças como as
doenças, os desejos e os interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a
família e a rede social. Ou seja, tentar entender o que o Sujeito faz de tudo que
fizeram dele. 2) Definição de metas: uma vez que a equipe fez os diagnósticos, ela
faz propostas de curto, médio e longo prazo, que serão negociadas com o Sujeito
doente pelo membro da equipe que tiver um vínculo melhor. 3) Divisão de
responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um com clareza. 4)
Reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas
correções de rumo. (BRASIL, 2007, p.41)
Desse modo, o PTS tem como principal característica a compreensão do usuário como
um ser socio-histórico, ou seja, construído a partir da sua relação com o meio e com os outros,
e, portanto, ativo no processo de acompanhamento nos serviços. Por isso, ele se adequa às
necessidades de cada caso e aos recursos disponíveis na instituição e na comunidade. Além
disso, valoriza as diversas especialidades a fim de uni-las para dar um melhor suporte aos
usuários através da equipe e da rede de serviços presentes nos municípios.
46
fato dessas políticas estarem em desenvolvimento e, por essa razão, serem alvos de frequentes
ameaças e enfraquecidas a partir de cortes de investimento.
possível “desvio de rota da sociedade brasileira” (AMARANTE, 2018) com uma privatização
ainda mais radical.
50
A primeira tese que trata do fenômeno psicológico foi defendida por Manoel Ignacio
de Figueiredo Jaime, em 1836, com o título: As paixões e afetos d’alma em geral e
em particular sobre o amor, a amizade, a gratidão e o amor da pátria. A partir da
década de 1840 foram criados os primeiros hospícios no Brasil, baseando-se na
necessidade de oferecer tratamento adequado aos “loucos”, que até então viviam nas
ruas, prisões e nas “casinhas de doudos” das Santas Casas de
Misericórdia (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p. 8)
À medida que o golpe militar de 1964 contribuiu para o crescimento das clínicas
psicológicas retardou o desenvolvimento de outras áreas de atuação induzindo os profissionais
a manterem o foco em demandas individuais. Assim, apenas a partir da década de 1980 essa
realidade começou a ser modificada e a psicologia ganhou espaço em outros campos,
incluindo o da saúde pública que teve sua inserção influenciada pelos movimentos de
Reforma Psiquiátrica e Reforma Sanitária, abordados no capítulo anterior.
Deste modo, o contexto histórico da década de 1980 com a crescente manifestação de
movimentos nos diversos âmbitos permitiu que novos estudos e reflexões fossem
desenvolvidos sobre o exercício da psicologia no Brasil. Logo, tornou-se um marco para a
história da psicologia brasileira. Tais críticas se voltavam ao caráter elitista e excludente da
profissão que tinha como principal campo de atuação a clínica, além da inadequação dos
modelos teóricos advindos de outros países, com diferente realidade sociocultural
(YAMAMOTO; COSTA, 2010, p. 257).
Com relação ao diagnóstico da atuação do psicólogo no Brasil foram realizados dois
estudos relevantes, o primeiro denominado “Quem é o psicólogo brasileiro?” divulgado pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 1988 e o segundo realizado quase vinte anos depois
(2006 – 2008) pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da Associação Nacional de
55
Com a instituição do SUS, em 1988, surge uma nova proposta de atenção em saúde
mental, o trabalho em equipes multiprofissionais passa a ser uma prioridade. O
psicólogo então, ao lado de outros profissionais passa a integrar o novo modelo
de atenção (POUBEL, 2014, p. 193).
Dessa forma, a ciência psicológica dentro das políticas públicas de saúde deve ter como
foco a garantia de direitos e o fortalecimento das políticas, compreendendo os sujeitos como
resultados da sua relação com o processo histórico-cultural. Assim, cabe ao psicólogo, junto
aos outros profissionais que compõem a equipe, afirmar a subjetividade e o campo das
relações sociais em suas intervenções a fim de garantir a integralidade das ações
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2011). Para tanto,
Contudo, a intervenção da Psicologia não é importante apenas nos casos de doença, mas
indispensáveis também nos processos de promoção e prevenção da saúde à medida que busca
melhorar a qualidade de vida sob o viés biopsicossocial. Com o objetivo de auxiliar a atuação
de psicólogos nesses novos espaços o Conselho Federal de Psicologia criou o Centro de
Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), no ano de 2006. Esse
órgão é responsável por pesquisas sobre a atuação dos psicólogos em políticas públicas com a
finalidade de basear elaborações de referências técnicas.
No contexto da saúde e mais especificamente da saúde mental, o psicólogo encontra-se
envolvido com o movimento da reforma psiquiátrica. Entende-se hoje que esse profissional é
um ator importante dentro dos serviços substitutivos, pois se dedica ao entendimento do
sofrimento psíquico e os aspectos envolvidos no mesmo.
Como dito anteriormente, o processo de Reforma Psiquiátrica que teve suas discussões
iniciadas no Brasil durante a década de 1980 foi, sem dúvidas, de grande importância para a
história da Psicologia. A criação de Políticas Públicas com o objetivo de gerar transformações
no tratamento da saúde mental no Brasil criou demandas para a Psicologia e foi responsável
pela sua inserção no SUS.
Como afirmam Sales e Dimenstein (2009), os psicólogos têm atuado no processo de
desinstitucionalização como atores importantes por ter como objeto de intervenção o
58
No que diz respeito à atuação da Psicologia nos CAPS não é possível isolá-la das
demais áreas do conhecimento visto que no modelo de assistência antimanicomial a clínica
“precisa estar pautada constantemente em um movimento de transformação, de circulação e
interlocução com diferentes saberes e práticas” (PEREIRA, 2007, p.30). Sendo assim,
sujeito. Ele deve significar a possibilidade, muito menos de responder sobre uma
doença e muito mais de indicar as possibilidades de projetos a partir do que se
identifica como um modo do sujeito atuar na vida, estabelecer relações e constituir
sua experiência subjetiva.
Assim, os CAPS exigem dos técnicos uma atuação que supere as teorias das disciplinas
durante as intervenções, de modo a articular os saberes para desenvolver vínculos e garantir o
cuidado de forma integral. Os diagnósticos devem ser interpretados nesses contextos como
uma ferramenta auxiliadora do processo terapêutico não como uma forma de rotular os
indivíduos e padronizar o tratamento.
Ainda sobre as possíveis contribuições da Psicologia nesses espaços, Alves e Francisco
(2009, p.770) destacam a necessidade de uma abordagem psicossocial na qual o psicólogo
“procura, para além do intrapsíquico, caminhar – de forma cautelosa e comprometida com o
político e o ser sujeito em sua singularidade e coletividade –, alicerçando ações capazes de
romper a individualização”.
Segundo esses mesmos autores, a Psicologia torna-se indispensável dentro da equipe
interdisciplinar de Saúde Mental à medida que faz uso de técnicas como a “escuta analítica e
atenta” e a observação de expressões do mundo interno e das relações sociais. Compreende,
assim, o sofrimento como resultado da experiência do sujeito, atravessada por aspectos
internos e externos a ele. A Psicologia pode direcionar as intervenções para as potencialidades
do usuário, visando à autonomia e a reinserção social dentro do PTS, definido pelo Conselho
Federal de Psicologia (2003, p.96) como uma:
Bússola que orienta usuários e equipes no percurso pelo serviço e pela rede, o
projeto terapêutico singular, articula os recursos colocados à disposição pela
política, mas também aqueles que nos trazem cada usuário, seus familiares e suas
referências. Instrumento mutável que busca responder às necessidades, naquele
momento e para cada usuário, sendo ainda a expressão e o espaço de inscrição das
soluções e estratégias criadas por cada um na reconstrução de sua história e vida.
Diante da discussão feita até então, é possível constatar que as possibilidades de atuação
da Psicologia nas políticas públicas, especificadamente no CAPS, estão, ainda, em
construção, assim como a própria reforma psiquiátrica e as suas estratégias de cuidado em
saúde mental, devido a sua recente implantação. A fim de compreender como tem se dado a
efetivação da reforma psiquiátrica nos CAPS por meio da utilização do PTS optamos
por realizar entrevistas semiestruturadas com três psicólogos alagoanos que atuam nesses
serviços. Essas serão discutidas no próximo capítulo deste trabalho onde será verificada a
62
Esse capítulo tem como finalidade analisar o que foi discutido nos capítulos anteriores
sobre o Projeto Terapêutico Singular (PTS) a partir das vivências apresentadas por psicólogos
alagoanos que estão atualmente inseridos nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS).
Para atingir os objetivos foi realizada uma pesquisa de campo que “consiste na
observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de
variáveis presumivelmente relevantes para ulteriores análises” (RUIZ, 1976
apud CHIAPETTI, 2010, p.145). Sendo essa de cunho qualitativo, julgada como ideal por
permitir uma melhor exploração dos aspectos subjetivos, à medida que “avança por caminhos
individuais que caracterizam a manifestação dos diferentes sujeitos estudados e incorpora
novas informações sobre o estudado a amplos sistemas de interações que adquirem sentido
por meio das construções do pesquisador” (GONZÁLEZ REY, 2002). Dessa forma, permite
uma compreensão ampla do objeto de estudo não limitando a pesquisa a aspectos
quantitativos e possibilitando a exploração de questões que possam surgir durante o processo.
A técnica utilizada para coleta de dados foi a de entrevista semiestruturada,
compreendida como “uma conversação com um propósito definido” (RODRÍGUEZ, 1994
apud SARRIERA; SAFORCADA, 2010). Logo, foi construído um roteiro com dez
questionamentos (ver APÊNDICE) para mediar a entrevista. As perguntas partiram da
atuação da psicologia no CAPS e do trabalho em equipe de forma geral, para em seguida
adentrar nas questões específicas que abordavam o entendimento e a construção do PTS
dentro das instituições.
No que diz respeito aos participantes da pesquisa, foram escolhidos três profissionais da
Psicologia que atuam nos CAPS I, no estado de Alagoas, especificamente, três mulheres. A
escolha das mesmas se deu a partir do levantamento dos CAPS existentes no estado,
totalizando 57 instituições, e os critérios foram: distância entre as cidades e o campus –
considerando a necessidade de deslocamento – e a disponibilidade dos profissionais para
entrevista.
Para que se pudesse verificar a funcionalidade dos métodos selecionados foi
realizada uma entrevista piloto. Essa foi aplicada com um profissional que não terá suas falas
analisadas, compreendendo que “o estudo de caso piloto auxilia-o (pesquisador) na hora de
aprimorar os planos para a coleta de dados tanto em relação ao conteúdo dos dados quanto aos
procedimentos que devem ser seguidos” (YIN, 2005, p.104). Durante essa entrevista pudemos
perceber que as perguntas selecionadas foram adequadas para os objetivos da pesquisa,
64
Dessa forma, a análise de conteúdo se organiza a partir de três fases (BARDIN, 1977):
1. Pré-análise, refere-se a etapa de organização das ideias iniciais de modo a delinear um
plano de análise de forma sistemática. Essa se subdivide em: escolha dos documentos que
serão analisados, formulação de hipóteses e dos objetivos e definição de indicadores para a
análise final. 2. Exploração do material, fase onde se aplica o que foi definido na etapa
anterior, ou seja, administrações sistemáticas das decisões e regras tomadas. Trata-se da etapa
mais longa. 3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretação, onde se pretende
compreender o conteúdo subjacente, momento que o analista propõe inferências e
65
interpretações com base nos objetivos iniciais e nas informações relevantes que possam
surgir.
Para melhor compreensão das entrevistas e da exposição dos dados foram selecionadas
quatro categorias de análises que serão apresentadas como tópicos desse capítulo. São elas:1.
Atuação do psicólogo no CAPS; 2. Função do Projeto Terapêutico Singular; 3. A construção
do Projeto Terapêutico Singular; 4. Desafios do Projeto Terapêutico Singular.
Durante a exposição da análise dos dados, as entrevistadas serão chamadas de Paula,
Adriana e Cinthia – nomes fictícios. A seguir, uma breve apresentação das participantes.
A primeira entrevistada foi Paula, que tem 38 anos, atua como psicóloga há 16 anos e
trabalha no CAPS há 3 anos. Segundo a mesma, tem experiências anteriores, em outros dois
CAPS, totalizando 7 anos inserida na política de assistência a saúde mental.
A segunda entrevistada foi Adriana, que tem 31 anos, atua como psicóloga há 3 anos e 6
meses e está trabalhando no CAPS há 6 meses.
A terceira e última participante chama - se Cinthia, tem 29 anos e atua como psicóloga
há 4 anos e 4 meses, sendo esse o tempo que, também, trabalha na instituição. Assim como
Paula, Cinthia relatou experiência com a realidade de outro CAPS no qual é atualmente
coordenadora.
As duas primeiras entrevistas foram realizadas nas instituições, a terceira foi realizada
na casa da psicóloga porque a mesma se encontrava de férias.
Iniciaremos, nesse momento, a discussão das categorias construídas a partir da análise
dos dados.
A psicologia não é aquele... Aquele lugar que você vai para o consultório, que você
vai para clínica, que as pessoas tem aquela ideia de que “chorou manda para o
psicólogo”. Pelo menos lá a atuação é multidisciplinar realmente, então tenho saber
da Psicologia que você vai trabalhar a especificidade só que muita coisa se mistura
também. (CINTHIA)
Eu acho que a questão do psicólogo é muito essencial, porém ela tem que
sempre articulada com as outras profissões, sabe? A gente tem que ter sempre
essa ideia do junto e não do segregado, do separado. (ADRIANA)
Agora a gente está num período muito bom de entrosamento, do ano passado
para cá. Do ano passado para cá a equipe tá conversando a mesma língua,
sem ser... Independente de ser técnico de nível superior ouoficineiro de nível
médio, todo mundo conversa a mesma língua. Isso flui muito no trabalho só
ajuda demais, a comunicação e a forma como a gente pensa. (CINTHIA)
Adriana expõe a sua dificuldade de conseguir articular as suas intervenções com a dos
demais profissionais, demonstrando a formação de uma equipe multidisciplinar no CAPS –
entendida como um “conjunto de disciplinas que simultaneamente tratam de uma dada
questão, problema ou assunto, sem que os profissionais implicados estabeleçam entre si
efetivas relações no campo técnico ou científico” (ALMEIDA FILHO, 2005, p.38) - e não
interdisciplinar, onde os profissionais têm suas atuações vinculadas, como prevista na política
67
Então, como eu falei... o psiquiatra tá aqui, dá esse suporte, mas é a psicologia que
dá o suporte o resto da semana. (PAULA)
Cinthia foi a única que não relatou essa visão dentro do serviço, apesar de reconhecer as
dificuldades do trabalho em equipe, baseando-se na sua experiência na própria instituição e
em outras. Além disso, a mesma afirma que o CAPS que trabalha se destaca pelo cuidado,
fato que faz com que as pessoas das cidades vizinhas se dirijam até a instituição numa
tentativa de migrar para ela ou iniciar o tratamento.
Eu fui privilegiada, né? Porque eu já entrei no CAPS já tinha uma estrutura muito
boa e já tinha tudo muito definido (CINTHIA)
Hoje aumentou um pouquinho o número de usuários, só não vou saber dizer com
certeza, mas é em torno de 110. Se você for fazer uma comparação com as cidades
próximas você vê... uma cidade maior que essa tem 60. Já teve usuário lá de outras
cidades e a gente não pode fazer esse acompanhamento lá. Mas ele foi porque soube
do serviço de referência, ai arruma um endereço de uma pessoa de lá para poder usar
o CAPS lá. Só que a gente não pode fazer isso porque cada um tem que ter a sua
referência, do seu próprio território. (CINTHIA)
Tem outros serviços que a gente vai e alguém pode dizer assim “não é obrigação
minha, não é função minha... onde foi que eu estudei psicologia pra dar banho, né?!
Mas ai se você for pensar dessa forma, você perdeu a oportunidade de criar um
vínculo. (CINTHIA)
68
Além do que foi citado anteriormente, a partir das falas acima dois pontos merecem
destaque por serem as bases para o cuidado em saúde mental dentro dos princípios da
Reforma Psiquiátrica: o vínculo e a noção de território (BRASIL, 2009). O primeiro diz
respeito ao afeto que tem um importante papel dentro dos serviços seja nas relações dentro e
fora da instituição: profissional-profissional, usuário-profissionais, usuário-família, família-
profissionais. A noção de território associa-se à proposta de reinserção social à medida que
busca a compreensão do sofrimento psíquico e do cuidado em saúde mental considerando o
“lugar” do usuário e suas possibilidades, ou seja, atenta para o seu contexto no qual esse está
inserido.
Quando questionadas sobre a forma com que a equipe se organiza para acolher os
usuários na instituição, todas as psicólogas relataram que esse é uma responsabilidade dos
técnicos de nível superior. Dessa forma, os profissionais se organizam de acordo com os dias
da semana e horários de trabalho de cada profissional para realizar o acolhimento dos
usuários. Contudo, esses não são feitos em equipe em nenhuma das instituições em questão,
exceto em casos específicos. Uma das psicólogas, Paula, afirmou ainda que a instituição que
trabalha selecionou dois dias fixos para melhor organizar os acolhimentos.
Nós fazemos um cronograma e cada dia da semana um técnico fica de... como...
técnico de referência. Segunda a gente tem assistência social... minto, segunda a
gente tem enfermeiro, terça a gente tem enfermeiro, quarta tem psicóloga, quinta
tem outra assistente social e na sexta tem psicólogo. (ADRIANA)
Então no acolhimento a gente... tem os dias que a gente marca o acolhimento fixos
no cronograma, mas no dia que acaba chegando a gente acaba acolhendo. Porque a
gente tem pessoas que moram muito longe aí para vim precisam de transporte e
quando eles chegam aqui a gente acaba acolhendo mesmo que não seja o dia de
acolhimento, por que no cronograma a gente deixa 2 dias para acolhimento.
(PAULA)
69
Então, geralmente a gente fica nessa rotina... Cada profissional faz o acolhimento, a
gente tem uma folhinha de acolhimento que é recente agora que é tipo uma
anamnese, bem legal, cada profissional pode fazer direitinho e fica bem detalhada.
(ADRIANA)
As três psicólogas entrevistadas ao definirem o PTS e a sua função dentro dos CAPS
pontuam a fundamentação e o funcionamento do projeto com propriedade, o que demonstra
conhecimento sobre a estratégia, ainda que de forma teórica.
É um projeto que deve ser feito em grupo, no coletivo, em prol daquele usuário. E
aí tem que abarcar não só ele, mas a família dele, tem que abarcar o todo na
convivência dele social. E aí esse projeto terapêutico (risos)eu tenho que rir né?!
Porque tava aqui pensando “quando foi que a gente parou para fazer
isso?”(ADRIANA)
participava do que estava acontecendo, era uma atividade pensada para o momento e
não para o usuário. (CINTHIA)
Com PTS muda tudo virou serviço de cabeça para baixo, enlouquece os
profissionais no início, praticamente tem que mudar toda a sua forma de atuação da
equipe toda e a equipe toda tem que conversar a mesma língua. precisa todo aqui
está em sintonia para funcionar tudo direitinho. (CINTHIA)
Cada usuário vai para o CAPS para participar daquela atividade que tá sendo que foi
pensada para ele. (CINTHIA)
Ele (o usuário) é tratado como um ser humano único mesmo ele tendo o mesmo
transtorno que João e Maria, eles têm histórias diferentes então. (PAULA)
No que diz respeito às percepções sobre o PTS, fica claro a partir do que foi exposto
que, existe um consenso entre as entrevistadas quanto a importância do planejamento através
dessa estratégia. Contudo, apenas Cinthia demonstra segurança ao falar e experiência sobre a
efetivação do mesmo dentro do serviço, enquanto Paula e Adriana afirmam que os CAPS nos
quais atuam estão ainda em processo de implantação do PTS.
O PTS...a gente agora em Janeiro, esse mês, a gente vai sentar para recomeçar o ano,
para fazer o nosso cronograma do ano. (PAULA)
Esse projeto terapêutico (...) Tá sendo pensado de 15 dias atrás para agora, porque
todos usuários que entram a gente senta na reunião e faz esse projeto dele, entendeu?
Dependendo do movimento, os que estão entrando já estão tendo esse plano. Os que
estão aqui a gente vai fazer o seguinte: por grupo cada um vai pegar cinco ou seis
por mês pra planejar isso em reunião, todo mundo tá começando a andar
72
praticamente agora. Incrível né?! Tipo... mais de 10 anos de CAPS, mas a gente tá
falando isso agora. (ADRIANA)
Apesar de não se tratar de uma estratégia adotada recentemente na saúde mental, visto
que as primeiras cartilhas do Ministério da Saúde sobre o tema datam do período entre 2007 e
2010, visivelmente existe uma resistência para sua adoção nos CAPS em questão. Assim, as
perguntas referentes ao PTS tiveram como foco o que foi discutido nas primeiras reuniões de
ambas as equipes.
Então, a partir do momento que você acolhe se usuário você já leva esse usuário
para uma reunião de equipe. Elas acontecem todas as quartas-feiras no segundo
horário e aí levando para a equipe a gente vai definir os dias que o usuário vai
participar do serviço e o plano dele, né? O que é importante para ele naquele
momento, aí ficou definido para a gente avaliar isso a cada dois, três meses. Então, a
cada dois, três meses vai ser trazer novamente para uma reunião para ver a evolução,
como é que ele está reagindo... e para ver mais ou menos como é a interação dele
com serviço e da interação da família também com serviço que é muito importante.
(ADRIANA)
Mas voltando para o PTS, que eu comecei a falar e não terminei, a gente monta uma
planilha de atividades, é interessante ver que profissional vai ficar como responsável
por aquele usuário, porque no montante de muitos eu posso esquecer de dar valor a
algum, aí nesse caminho que a gente tem que sentar com a equipe agora para poder
planejar isso. (PAULA)
A partir das falas destacadas fica nítido que nenhuma das duas instituições conseguiu
ainda colocar em prática a estratégia de forma estruturada, ainda que as psicólogas defendam
que alguns PTS já estão em andamento.
Outra questão observada durante essas duas entrevistas foi o fato das psicólogas
desviarem as suas respostas do PTS para o tratamento de forma geral e para os princípios da
reforma psiquiátrica. Aparentemente, por não fazerem uso da estratégia nas instituições em
que trabalham e, consequentemente, não terem conhecimento aprofundado do que foi
questionado. Nota-se também a insegurança das mesmas ao explicar como esse funciona no
serviço.
Em contrapartida, quando as mesmas questões foram dirigidas à psicóloga Cinthia a
mesma, apesar de ter destacado as limitações na construção do PTS dentro do serviço,
reafirma a utilização da estratégia na instituição na qual trabalha.
73
O ideal é que é assim quando você faz o PTS que você compartilhe com a equipe
toda. Porque cada profissional vai dar sua contribuição. Mas você imagine se a gente
for fazer assim a gente não termina nunca. (CINTHIA)
Contudo, o PTS, segundo o Ministério da Saúde (2007), deve ser priorizado em casos
considerados pela equipe mais graves levando em consideração a demanda dos serviços
substitutivos de Saúde Mental.
O PTS exige que os técnicos se organizem dentro da instituição de modo a dividir as
responsabilidades quanto às atividades definidas a partir da avaliação geral dos planejamentos
dos usuários, logo é “um espaço importantíssimo para avaliação e aperfeiçoamento desses
mesmos recursos” (BRASIL, 2007, p. 55).
Quando questionadas sobre como é ou deveria ser o planejamento das atividades, as
respostas obtidas foram as seguintes:
Então, a gente ainda vai definir né? Como os primeiros PTS foram formados na
semana passada... (ADRIANA)
As ações a gente tem os grupos, e esses grupos a gente geralmente pensa algo, mas é
sempre construído com usuário. (PAULA)
Quem define é lá na hora quando é feito, é até uma coisa que a gente pensava “meu
Deus a gente vai enlouquecer com tanta atividade desse jeito”, mas não é correto a
gente dizer “vamos fazer oficina de dança, futebol, grupo de cuidados em saúde
grupo da fala e tal e quem foi chegando vai se encaixando” não eu irei ao que se faça
dessa forma. O ideal é que aquela atividade surja do PTS. Dá um trabalho danado
fazer isso, porque depois de todos os PTS feito a gente vai colocar tudo na mesa e a
gente vai fazer um levantamento das atividades que surgiram dali. (CINTHIA)
A fala de Cinthia corrobora o que foi citado anteriormente sobre a inversão da lógica no
serviço. O PTS exige que toda a estrutura existente seja repensada com base nele, logo todas
as intervenções realizadas no CAPS devem ter como base o levantamento geral das
necessidades que aparecem nos PTS. Esse é, sem dúvidas, um dos grandes desafios na
implantação do PTS. Em outro momento, Cinthia relatou que, como forma de organizar o
serviço, a equipe destina um tempo específico para atualizar os PTSs do CAPS. Durante esse
tempo, os profissionais param as outras atividades.
Tem tempo que agente faz uma parada PTS, que é uma parada exclusivamente para
atualizar os PTS, e a gente manda uma cartinha de convocação mesmo para os
familiares para que eles possam comparecer ao serviço no horário marcado tudo
certinho para a gente fazer como familiar e com usuários na mesma hora junto. (...)
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Aí quando a gente para o serviço a gente tanto faz atualização como também já faz o
levantamento de quem está faltando fazer PTS para poder fazer. (CINTHIA)
Contudo, ainda fazendo uso desse método a mesma afirma ser inviável para a equipe
fazer as avaliações nos períodos exigidos: “o ideal é que seja de 6 em 6 meses, só que é muito
difícil você encontrar alguma instituição que faça isso, eu pelo menos desconheço algum
CAPS que faça atualização do PTS de 6 em 6 meses” (CINTHIA)
Além do que foi abordado quanto à estruturação do PTS enquanto documento que deve
fazer parte dos prontuários dos usuários, Cinthia nos apresentou o modelo que sua equipe
utiliza (ver ANEXOS A e B). Esse foi dividido em duas etapas: a primeira é uma ficha de
levantamento que contem além da identificação do usuário, seus sintomas, habilidades,
aspectos relacionados à relação com a família e as limitações a serem trabalhadas; a segunda
etapa é organizada em forma de quadro abordando os seguintes pontos: ação, objetivo da
ação, estratégia que será utilizada para alcança-lo, profissional responsável e o prazo em que
deve ser atingida. Os modelos de documentos contem as informações exigidas pelo Ministério
da Saúde para a construção do PTS: diagnóstico, definição de metas, divisão de
responsabilidades e reavaliações (BRASIL, 2007).
Paula e Adriana ao abordarem o mesmo assunto informaram que nos CAPS em que
trabalham ainda não foi criado um modelo de documento. A primeira defende que apesar de
não existir um projeto documentado, os princípios do mesmo é aplicado. A segunda
demonstra aflição ao afirmar que o Ministério da Saúde não disponibiliza um modelo padrão
para o planejamento.
Na verdade eu acho interessante que na prática a gente já aplica o PTS mas não
conseguiu construir ele, individualmente... Porque assim a gente começou a fazer o
PTS e não terminou ainda na planilha das habilidades que dia que o técnico vai ficar
com cada usuário, ou seja ele funciona mas não está estruturado burocraticamente.
mas a gente está nesse caminho burocrático. (PAULA)
Como citado anteriormente, apenas um dos três CAPS faz uso do PTS de forma
adequada, ainda que tenham ficado perceptíveis algumas limitações da equipe no seu
desenvolvimento e aplicação, a partir do que foi exposto pela psicóloga Cinthia. Com o
objetivo de compreender melhor essa realidade optamos por finalizar a entrevista
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questionando-as sobre os desafios que o PTS apresenta para as instituições. Desse modo, as
falas centraram-se em três aspectos importantes: a formação, as questões burocráticas e as
relações interpessoais (entre a equipe e com a família dos usuários).
Sobre a preparação acadêmica para trabalhar com o PTS as psicólogas afirmaram o
seguinte:
Na verdade eu não tive nenhum contato com o PTS durante a minha graduação, Não
me recordo de ter visto em um CAPS que eu trabalhei em outra cidade. (PAULA)
A gente só foi cobrado que tem que produzir, mas o PTS a gente aprendeu na marra
mesmo. (PAULA)
(Risos) ... Eu não tive nenhuma preparação acadêmica para trabalhar com PTS. Na
verdade eu nem sabia o que era PTS. Se eu vi na faculdade eu não me lembro. Eu vi
na especialização, que eu fiz uma especialização em Saúde Mental com ênfase em
CAPS aí a gente teve uma matéria só para trabalhar isso. Como é que fazia e tudo
mais, mas da Universidade eu não tive contato nenhum. (CINTHIA)
Porque assim, é uma coisa que a gente não tem um treinamento por parte do Estado.
Então, a gente tem um apoio por parte do estado, mas a gente não tem treinamento.
A equipe não é treinada, o único treinamento que houve foi para produção, para
dizer como que a gente fazia a produção, que tem que prestar contas e registrar as
atividades diariamente, então essa parte a gente teve treinamento, mas de como
estruturar um CAPS não. A gente vai aprendendo no dia a dia. (PAULA)
decorrentes dos dias de trabalho e das cargas horárias. Esses fatores são apontados por elas
como limitantes para a implantação do PTS.
E a verdade é que a gente não consegue fazer isso mais pelo volume de coisas que
tem do que pelas prioridades. (PAULA)
Além das atividades burocráticas que tomam um tempo relevante para serem
realizadas, Paula critica um dos aspectos que é considerado mais importante na aplicação do
PTS, seu caráter mutável.
Eu acho que o maior desafio do PTS nada é não está finalizado. Tudo é processo,
evolução. Porque você monta aqui“Ah, já sei, o usuário é esse... teve essa
dificuldade em casa, a família tem essas carências”, mas daqui a pouco tudo muda.
Aí a gente tem que estar pronto enquanto profissional para reestruturar PTS, eu acho
que esse é o maior desafio. Porque ele está sempre em evolução. (PAULA)
Você pega um usuário aqui, faz PTS dele. O outro profissional que chegar... tá certo
que ele vai ter um outro olhar. E aí aquele PTS para ele pode ser inválido. E aí...
“nada a ver, não quero fazer”. E aí vai fazer o PTS de 400 usuários? Quando você
está no serviço há algum tempo você já consegue acompanhar a aplicação do PTS
tanto a reação deles com relação a isso. Porque o fluxo de profissionais aqui é muito
grande a maioria dos profissionais aqui não são concursados, são contratados. Então
com a mudança de gestão muda muita coisa. Então, tipo... o que eu implantei aqui
agora eu não sei se vai continuar quando eu sair. (ADRIANA)
77
A dificuldade da aplicação é que...muitos não vão, é claro que não são maioria. Mas
ainda estão naquele modelo do intensivo, não-intensivo...“Ah mas eu já fui uma vez
na semana”. Aí a gente tem que explicar de novo que ele vai todo dia da semana
porque é importante ele participar daquela atividade. (CINTHIA)
Tem muitos que a família acaba criando de forma a não responsabilizar, e isso a
gente tem que ir desconstruindo aos pouquinhos. Porque “não pode arrumar a cama
porque é doente”, “não pode ir lavar um copo que é doente”, e a gente tem que
trabalhar isso também. Tem um lá que vive tão cansado que só de chegar no CAPS
já diz que tá cansado, mas mesmo assim ele participa. Porque lá eles não têm o
hábito que muitos CAPS têm do colchão, de ficar deitado, lá ninguém deita. Porque
da mesma forma que a gente tem responsabilidade para trabalhar eles têm que ter
responsabilidade no tratamento deles também. Eles vão lá para o tratamento não
para dormir. Então, você não chegar lá para ver ninguém no corredor, ninguém fora.
O horário que você chegar vai ter sempre corredor vazio, porque eles estão sempre
dentro das salas participando que é uma coisa que a gente cobra muito. A
responsabilidade é um dos principais pilares da autonomia, se você não tem
responsabilidade pelas suas coisas você acaba não conseguindo fazer muita coisa.
Esse trecho resume a passagem dos modelos citados durante o processo histórico da
saúde mental para o de reforma psiquiátrica. Nesse, os serviços visam o cuidado e têm como
conceitos – base, a liberdade e a responsabilidade (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2013), além de organizar o serviço e o tratamento com foco no
desenvolvimento de habilidades e autonomia dos usuários. Os profissionais do CAPS têm,
ainda, como desafio a quebra de estigmas, como a ideia do dito louco como alguém que deve
viver alheio à sociedade, sobretudo dentro das famílias.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi discutido nesse trabalho que teve como objetivo analisar o Projeto
Terapêutico Singular e suas propostas sob as percepções de profissionais da psicologia que
atuam nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) - foi possível compreender que existe
um distanciamento entre a estratégia proposta pelo Ministério da Saúde e a sua aplicabilidade
dentro dos serviços, com as condições que possuem na atualidade.
A história da Saúde Mental brasileira aponta para um descaso com relação aos
tratamentos destinados aos ditos “loucos”. A apropriação da loucura enquanto objeto de
estudo da Psiquiatria durante o século XIX é, sem dúvidas, um grande marco nesse processo
histórico, havendo uma ruptura com explicações e intervenções religiosas. Sob a influência de
concepções científicas, a Psiquiatria direciona tratamentos para as “doenças da mente”. Nesse
sentido, os manicômios foram, durante muitas décadas, o lugar de tratamento de transtornos
mentais. E, como bem coloca Arbex (2013), de outras minorias que, por diversas razões, eram
vistas como ameaças para a sociedade.
Os manicômios foram criticados por vários autores (ARBEX, 2013; MACHADO,
2006; BARRIGÍO, 2006; PESSOTTI 1996, 1999; FOUCAULT, 1972, entre outros) por seu
caráter autoritário e coercitivo. Além disso, os tratamentos destinados a essas pessoas nesse
ambiente tinham como foco o enquadramento a partir de diagnósticos e a adaptação das
pessoas às normas que eram estabelecidas socialmente, privando-lhes, assim, de liberdade e
de autonomia.
A partir da década de 1980, com o desenvolvimento dos movimentos da Reforma
Sanitária e da Reforma Psiquiátrica, essa realidade começou a ser questionada e parcialmente
modificada. Esses movimentos desencadearam uma série de transformações no que diz
respeito às concepções e as estratégias de cuidado em saúde mental, visando um novo modelo
de assistência. A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a efetivação de uma Política de
Saúde Mental brasileira e, consequentemente, de uma rede ampla de serviços de saúde são
resultados desses.
Os CAPS são os principais serviços no processo de desinstitucionalização e
desospitalização- objetivos da Reforma Psiquiátrica - à medida que se destinam ao
acolhimento e ao cuidado de usuários com sofrimento psíquico considerado grave. Com seis
modalidades de acolhimento, a política se propõe a dar assistência de forma humanizada aos
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diversas motivações elencadas pelas entrevistadas. Essas dificuldades são fortalecidas, ainda,
pelo retorno de políticas de ideologia liberal, que se centram na obtenção de lucros a partir da
privatização dos serviços públicos. E, consequentemente, cortes de recursos destinados às
políticas públicas. Há, desse modo, uma grande probabilidade de um retrocesso quanto às
políticas de saúde mental. (AMARANTE, 2018)
A trajetória apresentada mostra que, instituições de repressão como hospitais
psiquiátricos e manicômios são formas desumanas de exclusão e de camuflagem da realidade,
à medida que distancia o “problema” da dita loucura da sociedade como um todo e não
propõe intervenções eficazes e dignas. Ao contrário, reforçam a patologização da vida, o
aumento de diagnósticos e o tratamento predominantemente medicamentoso.
Consequentemente, causa um aumento nos estigmas relacionados aos transtornos mentais e ao
agravamento dos sofrimentos psíquicos.
Podemos concluir, com base nos dados apresentados, que os serviços substitutivos aos
manicômios são essenciais no cuidado em saúde mental e devem ser defendidos e ter seus
métodos e estratégias aperfeiçoados. Necessitam, desse modo, da articulação entre a
Universidade que forma esses profissionais e o Estado que os emprega, na busca de um
aperfeiçoamento dos conhecimentos necessários para a realização de práticas que fortaleçam a
rede de assistência a saúde mental. Para que, desse modo, o cuidado em liberdade, o
desenvolvimento de autonomia, a interação entre os diversos saberes e, principalmente, o
olhar para o sofrimento ao invés da “doença” sejam sempre o alicerce para o desenvolvimento
de uma atenção à saúde mental de qualidade e realmente, emancipatória da autonomia do
sujeito.
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Telefone: 3214-1041
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(Assinatura ou impressão
datiloscópica do(a) voluntário(a) ou Caio de Oliveira Pinto Ferraz
responsável legal - Rubricar as demais
folhas)
Nome:
Idade:
Tempo que atua como psicólogo:
Tempo que atua na instituição:
1. IDENTIDADE DA PESSOA:
Nome:
__________________________________________________________________
Filiação:
_________________________________________________________________
Data de nascimento: ____/_____/_______
Data de inclusão no CAPS: ____/______/_____
Nº de prontuário:____________
Hipótese diagnóstica:_____________________________
Classificação: ( ) intensivo ( ) Semi-intensivo ( ) não intensivo
Turno: ( ) manhã ( ) tarde
PSF de referência:____________________
ACS responsável:_______________________
2. SINTOMAS ATUAIS:
______________________________________________________________________
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3. HABILIDADES:
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4. RELAÇÕES FAMILIARES/TUTOR:
______________________________________________________________________
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______________________________________________________________________
5. LIMITAÇÕES A SEREM TRABALHADAS:
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______________________________________________________________________
6. OBSERVAÇÕES:
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USUÁRIO:_______________________________________________