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Brasileira
Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof.ª Denise Costa
Prof.ª Letícia Francez
C837a
Costa, Denise
ISBN 978-65-5663-956-7
ISBN Digital 978-65-5663-954-3
CDD 709
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, seja bem-vindo aos estudos da Arte Brasileira. Conhecer as criações
artísticas produzidas em nosso país é fundamental para compreendermos as origens de
nossa história, assim como os caminhos que nos trouxeram até a arte produzida na
contemporaneidade. É também uma forma de valorizarmos nossos saberes, percebendo
a diversa riqueza cultural que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos e que hoje se
converte em importantes expressões e manifestações artísticas.
Por fim, na Unidade 3, nosso foco será a arte brasileira no século XX e XXI.
Verificaremos as influências das correntes artísticas europeias em nossa arte, observando
o modo como foi se constituindo o modernismo em nosso país. Nesta unidade,
abordaremos também sobre a Semana de Arte Moderna, os manifestos produzidos
pelos artistas e a organização das Bienais. Ao final da unidade, vamos discorrer sobre
a arte realizada na contemporaneidade, identificando a produção artística da segunda
metade do século XX e os hibridismos do século XXI.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
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interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse
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ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................135
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 207
UNIDADE 1 -
ORIGENS DA ARTE
BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste primeiro tópico você irá conhecer as origens da arte brasileira.
Abordar estes caminhos iniciais é também referir-nos ao que precede a chegada dos
portugueses, em 1500, bem como a formação política do Brasil, pois aqui viviam as
populações denominadas pré-cabralinas, ou seja, comunidades que possuíam sua
própria cultura. Segundo Tirapeli (2006, p. 11), “as estimativas sobre o número de
habitantes nativos no Brasil na época da chegada dos europeus são pouco precisas,
variando entre um e dez milhões de indivíduos”. O autor alega que na bacia amazônica
podem ter vivido, na época, 5,6 milhões de indivíduos.
Entrar nas cavernas mais primitivas da nossa história para conhecer os mistérios
dos primórdios de nossos antepassados, suas descobertas, práticas e costumes é um
convite a uma viagem fascinante às origens milenares do ser humano.
3
outros continentes a escrita já existisse na época das grandes navegações, no território
da América do Sul onde é hoje o Brasil, a escrita não foi detectada, sendo introduzida
após a chegada dos Europeus.
Para Prous (2011, p. 11), “as artes da Pré-História (grafismos e objetos aos quais
atribuímos um valor estético, elaborados por grupos humanos que não deixaram textos
escritos e sobre os quais não dispomos de documentação escrita) são estudadas pela
arqueologia, ou seja, a partir da interpretação dos vestígios materiais”. Esses vestígios
são rigorosamente analisados, datados e descritos por arqueólogos, possibilitando o
acesso das pessoas interessadas às informações.
INTERESSANTE
O que é Carbono 14? Os cientistas usam o carbono 14 para determinar a idade
de fósseis animais e vegetais ou de qualquer objeto que seja subproduto de
tais, como um pedaço de madeira ou de pano. Prous (2007) explica que os
seres vivos (vegetais e animais) absorvem partículas de carbono. Quando
ocorre a morte, não há mais renovação do carbono; o carbono radioativo
(de massa atômica 14), instável, transforma-se, então, progressivamente
em carbono 12 (isótopo estável) e quanto menos carbono 14 sobra, maior
será o tempo decorrido desde a morte. O método não permite datar com
segurança além de 40.000 anos, quando a quantidade de carbono 14 se
torna pequena demais para ser medida e a margem de erro aumenta muito.
4
2.1 REGISTROS MILENARES DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL
O que entendemos hoje como arte, ou seja, as manifestações estéticas
registradas durante milênios, em rochas ou em outras produções utilitárias e cerimoniais,
acompanham o ser humano, desde tempos remotos, quando já se sentia a necessidade
de se comunicar. Já o período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou
acontecimentos por meio de inscrições em rochas. As artes gravadas, desenhadas ou
pintadas em paredes de rochas, são denominadas rupestres “do latim rupes, rupis, que
significa rochedo”, como explica Prous (2011, p. 11). Podem ser encontradas em várias
regiões do Brasil, datadas de milhares de anos, como mostra a figura a seguir:
FIGURA 2 – DESENHO
5
As cores eram aplicadas na rocha friccionando uma espécie de massa de
pigmento seco e duro. Algumas pinturas eram elaboradas com as mãos, por meio de
sopro, ou também com pincéis confeccionados com galhos de árvores. As tintas eram
produzidas com um aglutinante, possivelmente extraído de gordura animal, para dar liga
ao pigmento, facilitando a pintura.
FIGURA 3 – PINTURA
6
FIGURA 5 – GRAVURA PICOTEADOS: LAPA DE POSEIDON, MINAS GERAIS
Os registros da arte rupestre sofreram a ação do clima por milhares de anos, por
esse motivo, suas cores e formas podem estar com aspecto diferente do que quando
foram produzidas. Além disso, sabe-se que há riscos de atos de vandalismo, o que
significa grande perda para o patrimônio histórico.
7
NOTA
Em relação às formas das figuras, aquelas consideradas biomorfas referem-
se às formas de organismos vivos; as zoomorfas correspondem às formas de
animais e as antropomorfas são relativas às formas de seres humanos.
Na figura a seguir pode-se observar as oito tradições da arte rupestre, que estão
distribuídas em todas as regiões do Brasil.
8
São encontradas gravuras com sulcos de aproximadamente um centímetro,
onde há vestígios de pigmentos em preto, branco, marrom ou roxo. Alguns registros
possuem conjuntos de círculos que fazem referência à forma de pegadas de animais,
possivelmente felídeos. Há também gravuras picoteadas com algumas incisões circulares
e representações biomorfas, que possuem semelhanças com organismos vivos.
9
A Tradição Litorânea, encontrada no litoral do estado de Santa Catarina, do
município de Porto Belo até o Farol de Santa Marta. No município de Laguna, caracteriza-
se por gravações com sulcos de até quatro centímetros de largura, feitas no granito. O
pesquisador André Prous encontrou registros de quatorze temas com formas humanas
e geométricas, todos com características comuns, mas com temas bem específicos,
parecendo marcar sua individualidade.
10
A Tradição Geométrica, como nomeada, possui quase somente gravuras
geométricas. Gaspar (2003, p. 28) indica que “atravessando o planalto de Sul até o
Nordeste, cortando os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato
Grosso” estão localizadas essas inscrições. Prous classifica a Tradição Geométrica em
setentrional, locais próximos a rios, e meridionais, como aponta Gaspar (2003), aquelas
que possuem gravações, por vezes, retocadas com pigmentos, em locais que não são
banhados por águas.
11
FIGURA 13 – TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (MERIDIONAL). MORRO DO AVENCAL (SC)
12
FIGURA 15 – SANTANA DO RIACHO (MG)
13
FIGURA 17 – TOCA DO BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA (PI)
14
FIGURA 19 – PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA (PI)
Prous (2011) considera que as figuras são variadas e aparentam terem sido
produzidas em diversos momentos. Aparecem impressões de mãos, grafismos ou figuras
carimbadas nas rochas. As figuras antropomorfas e zoomorfas são representadas de
maneira tosca.
15
FIGURA 21 – LAPA DO BOQUETE – JANUÁRIA (MG)
Gaspar (2003, p. 34) afirma que “os répteis são formas frequentes na tradição
São Francisco” e, como cita Prous (2011, p. 30), no Peruaçu surge tardiamente o estilo
Caboclo, com figuras complexas. Pode-se notar a representação de armas e objetos
utilitários.
16
FIGURA 23 – SERRA DA CARETA – PRAINHA (PA)
DICA
Para saber mais sobre este assunto, procure assistir ao filme "O Ateliê
de Luzia - Arte Rupestre no Brasil". Produzido por Marcos Jorge, a
produção retrata as conclusões atuais da arqueologia no que se refere aos
vestígios visuais do homem brasileiro. A sociedade brasileira é investigada
desde suas origens, abordando os limites
17
3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SAMBAQUIS
Sítios arqueológicos, conforme Tirapeli (2006, p. 13), são locais “onde há
indicativos da presença de seres humanos há milhares de anos”. Em um país gigante
como o Brasil, pesquisadores já encontraram uma infinidade de sítios arqueológicos,
como indica a imagem das ocorrências georreferenciadas, ou seja, com informações
sobre a forma, dimensão e localização exata, bem como suas coordenadas no globo
terrestre. No mapa é possível verificar que há ocorrência em todas as regiões, conforme
Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN).
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FIGURA 26 – SAMBAQUI
Para Gaspar (2004, p. 24), “no sambaqui ocorreria a associação espacial de três
importantes domínios da vida cotidiana: o espaço da moradia, o local dos mortos e o de
acumulação de restos faunísticos relacionados com a dieta de seus construtores”. Esses
vestígios, como outros, guardam importantes informações sobre a vida das comunidades
que aqui viveram há milhares de anos, possibilitando resgatar o conhecimento sobre
nossas origens.
IMPORTANTE
Reconhecidos como parte integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro pela
Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, os bens de natureza material
de valor arqueológico são definidos e protegidos pela Lei nº 3.924, de 26 de
julho de 1961, sendo considerados bens patrimoniais da União. Também são
considerados sítios arqueológicos os locais onde se encontram vestígios positivos
de ocupação humana, os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou
locais de pouso prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos”, as
grutas, lapas e abrigos sob rocha, além das inscrições rupestres ou locais com
sulcos de polimento, os sambaquis e outros vestígios de atividade humana.
19
DICA
A página do IPHAN na internet traz diversas informações importantes sobre
preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial do país. Acesse
em: http://portal.iphan.gov.br.
20
FIGURA 28 – SÍTIO ARQUEOLÓGICO ITACOATIARAS DO RIO INGÁ (PB)
21
FIGURA 30 – BOQUEIRÃO DO SÍTIO DA PEDRA FURADA
DICA
No site da UNESCO você encontra alguns vídeos sobre os sítios arqueológicos
do Parque Nacional da Serra da Capivara. Acesse e assista para conhecer
mais em: http://whc.unesco.org/en/list/606/video/.
22
DICAS
Na página da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) podem
ser visualizadas mídias com modelos interativos de diversos elementos da
Pré-História do Brasil. Acesse em: http://fumdham.org.br/midias/midias-
modelos-interativos/.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A arte vem sendo produzida pelo ser humano desde os tempos mais distantes,
quando ainda não havia instrumentos e ferramentas para sua execução. Vestígios
milenares de grafismos, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, podem ser
observados nas mais diversas regiões do Brasil, mas é importante relembrar alguns
conceitos para localizar-nos no tempo histórico.
• Sítios arqueológicos são locais onde existem vestígios da presença humana datados
de milhares de anos.
24
AUTOATIVIDADE
1 O período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos
por meio de inscrições em rochas. Sobre o que são as artes rupestres, produzidas
há milhares de anos, encontradas em várias regiões do Brasil, Assinale a alternativa
CORRETA:
2 De acordo com o texto deste Tópico, os desenhos, formas delineadas nas rochas,
pelos povos pré-históricos, muitas vezes recebiam pinturas. Descreva como eram
produzidas as tintas utilizadas nas pinturas rupestres.
25
( ) Elevações com formato arredondado, consequência do acúmulo de conchas.
( ) Colinas, formadas na maior parte por restos de plástico, caracterizadas por serem
elevações com formato arredondado.
( ) Amontoado de conchas, cascas de ostras e outros restos de alimentos de origem
animal e outros vestígios de indivíduos que viveram no litoral do Brasil.
26
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO
1 INTRODUÇÃO
A arte tem grande importância no que se refere ao esclarecimento sobre as origens
do ser humano. Hoje é possível descobrir cada vez mais sobre os nossos primórdios por
meio das pesquisas e análises científicas de registros e objetos considerados artísticos
e assim desvelar o passado. Diante disso, neste tópico serão apresentadas informações
sobre vestígios da arte pré-histórica, como esculturas, objetos e outras tendências
estéticas encontradas no vasto território que é o Brasil.
2 ARTE MARAJOARA
Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os
marajoaras, ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável
na modelagem da argila. Com alto grau de complexidade, combinando modelagem e
textura, a cerâmica Marajoara apresenta grafismos geométricos naturalistas, ou seja,
composições com plantas, formas humanas ou de animais diversos. Além disso, agregam
elementos estéticos dos padrões naturalmente estampados em peles e cascos de animais.
Esses desenhos estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações.
27
mortos, acompanhados por tangas cerimoniais, também feitas de cerâmica”. O autor
alerta que além da cerâmica cerimonial, há também objetos de formas simples, de uso
diário, sem decorações.
FIGURA 33 – TANGAS
28
Motivos geométricos, como os do vaso globular marajoara representado na
figura a seguir, fazem referência ao movimento da água. As cores das pinturas podem
variar e, muitas vezes, a policromia se faz presente nas peças.
DICA
Quer saber mais sobre a Cultura Marajoara? Confira “Cultura Marajoara,
um Breve Guia”. Acesse em: https://issuu.com/lmarcosdaniel/docs/um_
breve_guia_marajoara_.
3 CULTURA SANTARÉM
A cidade de Santarém, localizada no estado do Pará, no norte do Brasil, diante
do Rio Amazonas, observa o espetáculo do encontro de suas águas com o Rio Tapajós,
cada um com sua cor, sua beleza e seus mistérios. Foi nesse lugar, antes da chegada
dos europeus, que uma comunidade desenvolveu uma cultura que realizou o que Prous
(2011) denomina cerâmica cerimonial de destaque no que se refere à criação com argila:
a cerâmica Santarém, também conhecida por Tapajônica.
Prous (2011, p. 78) observa que os artistas “não alcançaram o nível da cerâmica
dos Marajoara nos jogos de incisão e excisão, de textura e de cor, mas desenvolveram
uma extraordinária virtuosidade na modelagem”, com riqueza de detalhes e símbolos.
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A primeira delas seria os vasos de gargalo, os quais possuem representações
de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças. Possuem também figuras de sapos
ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Prous (2011) relaciona essas peças com
cerâmicas produzidas por populações litorâneas do Equador.
30
É importante observar que essas cerâmicas trazem figuras da mitologia
amazônica, como o muiraquitã, visto na figura seguinte e, também, onças, papagaios
e serpentes.
FIGURA 37 – MUIRAQUITÃ
Outra característica são pequenos furos que possivelmente eram utilizados para
prender enfeites. Há também indicação de que as mulheres eram responsáveis pela
criação dessas estatuetas antropomorfas com tamanhos entre 3,5 e 20 centímetros de
altura.
31
FIGURA 39 – ESTATUETA ANTROPOMORFA
32
NOTA
O Canal Cassiquiare (ou Braço Cassiquiare ou, ainda, rio Cachequirique) é o
ponto de confluência entre duas das mais importantes bacias da América
do Sul, a do Amazonas, a maior do planeta, com 6,2 milhões de km² e a do
Orinoco, a terceira maior da América do Sul, com 948 mil km². Trata-se de
uma situação geográfica única; o Cassiquiare interliga naturalmente duas
das mais importantes bacias hidrográficas do mundo e é decisivo para
conformar a maior ilha marítimo-fluvial do planeta, a Ilha das Guianas, com
aproximadamente 1,7 milhão de km². O Cassiquiare tem se constituído em
tema de interesse geopolítico desde o começo da colonização e da conquista
ibérica no continente.
FONTE: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5533/1/BEPI_n18_Cassi-
quiare.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021.
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
34
AUTOATIVIDADE
1 Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os marajoaras,
ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável na
modelagem da argila. As cerâmicas dos povos marajoaras agregam elementos
estéticos que estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações.
Quais as características da produção da cerâmica Marajoara?
35
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
4 Antes da chegada dos europeus, os povos que habitavam as margens do Rio Tapajós,
na cidade de Santarém, estado do Pará, desenvolveram a produção da cerâmica
cerimonial. Sobre qual a possibilidade dos padrões da cerâmica Santarém terem
chegado ao Brasil, assinale a alternativa CORRETA:
5 Os artistas das margens do Rio Tapajós, estado do Pará, conceberam criações com
riqueza de detalhes e símbolos. Caracterize e explique os elementos estéticos das
cerâmicas de Santarém.
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UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS
PRIMITIVOS
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que quando os europeus aportaram nas terras brasileiras, viviam
aqui diversas comunidades, espalhadas por todo o território. Povos que nas ricas
florestas viviam e da natureza extraíam seu sustento e suas tradições. Neste tópico,
abordaremos algumas das manifestações artísticas dos povos primitivos, expressões
de suas identidades e valioso meio de comunicação.
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Neste tópico serão abordadas algumas das manifestações artísticas dos
indígenas, bem como as características dessas produções, considerando que a arte era
e é ainda produzida por esses povos como elemento da vida cotidiana.
DICA
Como forma de complementar seus estudos, assista ao vídeo “Os primeiros
brasileiros”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J8AS-aeqsfU.
2 ARTE INDÍGENA
A arte indígena permanece viva nas comunidades que superaram adversidades
e ainda conservam as tradições de seu povo. Como observa Tirapeli (2006, p. 14),
“diferentemente do que ocorre na cultura dos não-índios, a arte está presente em tudo
o que fazem. Em cada objeto existe a indicação de elementos simbólicos e espirituais,
como desenhos que representam os mitos que cultuam”. A arte denominada utilitária
recebe padrões decorativos de acordo com as crenças e a simbologia característica de
cada povo, a marca de cada identidade que precisa ser respeitada e preservada.
DICA
No livro “Grafismos Indígenas: estudos de uma antropologia estética”, organizado
por Lux Vidal, encontramos uma coletânea de textos de diversos autores que
abordam sobre a riqueza estética dos grafismos produzidos pelos grupos
indígenas do Brasil. Acesse em: http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/
biblio%3Avidal-2000-grafismo/Vidal_2000_Grafismo_indigena_OCR.pdf.
38
2.1 CERÂMICA
As cerâmicas, produzidas nos diversos grupos indígenas existentes no Brasil,
são utilizadas para atividades diárias como armazenamento e preparo de alimentos,
transporte de água, entre outras funções da vida cotidiana.
39
A peça seguinte é um vaso, conhecido como camuti, que necessita ser produzido
com barro de boa qualidade para que o resultado seja uma peça perfeita. As cores
das pinturas aplicadas modificam-se após o processo de queima e envernizamento,
tornando-se mais escuras. Um pigmento amarelo torna-se mais laranja, por exemplo.
40
FIGURA 45 – BONECA KARAJÁ
Os elementos místicos que habitam os objetos parecem penetrar neles por meio
dos materiais utilizados na sua confecção. Para os indígenas, um pincel, por exemplo,
possui seus próprios saberes, que influenciam o indivíduo durante a criação, como
ilustra o texto que segue.
41
de uma característica que é aproximada a uma “forma de conhecimento”, pois
permite a esses instrumentos a execução dos desenhos. Os “saberes” dos pincéis
não são, entretanto, indiferenciados e, assim, os de talo de palmeira “conhecem”
apenas a decoração das grandes onças que é reproduzida através de pequenos
pontos. Os pincéis flexíveis de cabelo, por sua vez, “sabem” reproduzir, através de
um tracejado fino e acurado, as variadas pinturas corporais da serpente sobrenatural
Tulupele/Turupere.
FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh.
São Paulo: Iepé, 2014. p. 58-59.
42
2.2 CESTARIA
Como o nome indica, a cestaria indígena é um conjunto de objetos como
cestos, peneiras e outros utensílios confeccionados com elementos vegetais de certa
flexibilidade, para que trançados de extrema beleza e simbologia possam ser conduzidos
pelas mãos indígenas. Esses utensílios são fabricados para transportar cargas,
armazenar materiais e alimentos, peneirar produtos extraídos da natureza empregados
no preparo de alimentos ou ornamentos, coar ingredientes, entre outras funções.
Possuem diferentes formatos, tamanhos, desenhos e cores, obedecendo os costumes
das diferentes comunidades que utilizam esses recipientes. Os padrões decorativos dos
trançados variam e estão ligados às culturas de cada povo indígena.
O texto a seguir trata das narrativas míticas que integram os belos grafismos
das cestarias de alguns povos indígenas, como a serpente sobrenatural.
43
Muitos fatores influenciam na escolha de um padrão a ser reproduzido
em um trançado, tais como a facilidade de execução, seu conhecimento, se
é apropriado para o objeto que se deseja confeccionar. No resultado final são
especialmente apreciadas a sua proporção e o ajuste correto das tiras de arumã,
ou seja, a habilidade técnica.
FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh.
São Paulo: Iepé, 2014. p. 84-85.
Considerado o mais difícil dos trabalhos em cestaria, está o katari anon, ou cesto
cargueiro pintado com padrões decorativos. Feito de arumã, “uma planta herbácea
silvestre encontrada em terrenos úmidos da terra firme e que, ao ser colhida, volta a
brotar, sendo, portanto, renovável” (VELTHEN; LINKE, 2014, p. 26), é também resistente
e flexível, o que permite o traçado de motivos geométricos.
A beleza dos grafismos produzidos nos trançados não possue apenas a função
de adorno. Os entrelaçamentos dos vegetais originam mais do que símbolos inspirados
na natureza, são verdadeiras histórias construídas nos fios de palha, contadas pelos
ancestrais a cada geração, fazendo viver a riqueza cultural dos povos indígenas.
44
FIGURA 47 – SÍLABAS GRÁFICAS DO POVO BANIWA
45
2.3 ARTE PLUMÁRIA
De cores impressionantes e variadas, a arte plumária é utilizada pelos indígenas
como adorno festivo ou cotidiano. Tirapeli (2006, p. 47) afirma que a arte plumária é
mais do que adorno, “ela ganha caráter de uma linguagem codificada, não-verbal, que
indica o sexo, a idade e a filiação de seus portadores”. Além da diversidade de cores, as
composições dos adornos são caracterizadas pelo uso de plumas, penugens e penas
de diversas texturas e tamanhos, que formam arranjos de surpreendente beleza em
diademas, colares, pulseiras, brincos, cintos e outros enfeites.
46
FIGURA 50 – GUERREIRO KAGWAHÍVA
NOTA
Atualmente é proibida a comercialização da arte plumária indígena para
preservar as aves brasileiras. Os artefatos plumários mais antigos que
conhecemos são dos Tupinambá e estão em coleções etnográficas europeias,
porque foram levadas para lá por aventureiros que tiveram contato com esses
indígenas – como no caso de Hans Staden, que levou um manto tupinambá
com ele ao retornar para a Europa (BASTOS; MINERINI, 2019, p. 13).
DICA
A Fundação Bienal, no ano de 1983, realizou a exposição “Arte plumária
no Brasil”. O catálogo pode ser visto em: http://www.bienal.org.br/
publicacoes/2127
47
2.4 MÁSCARAS
Na cultura indígena as máscaras possuem o papel de carregar em si simbologias
e importantes elementos estéticos. Utilizadas em diversos rituais, auxiliam nas
representações dos antepassados, criando ligação com os espíritos.
FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=objetos-ritualisticos>.
Acesso em: 3 ago. 2021.
FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=objetos-ritualisticos>.
Acesso em: 3 ago. 2021.
49
Para Prous (2011, p. 106), “não há dúvida de que essa arte era praticada, pois foram
encontrados carimbos modelados de cerâmica nos estados de Goiás e da Bahia, que
permitiam aplicar um mesmo motivo repetidas vezes sobre o corpo”, assim como existem
algumas inscrições rupestres antropomorfas que indicam o uso da pintura corporal.
A pintura corporal é utilizada também para especificar a hierarquia tribal, com
padrões que estabelecem a marca de cada indivíduo dentro das sociedades, demonstrando
o papel de cada um na estrutura social do grupo. A utilização do corpo como suporte da
pintura pelos povos indígenas possui diversas funções: de ritualísticas à proteção ao sol,
insetos e maus espíritos. Prous (2011) expõe que as pinturas configuram as características
de cada integrante ou não da comunidade, pois variam de acordo com a situação da
pessoa, como ser casada, ter filhos etc. Outra característica é a imperfeição das pinturas
em momentos mais difíceis, como o luto.
Para essa importante tradição, Tirapeli, anuncia que os pigmentos mais comuns
são “o jenipapo – que resulta em uma tinta de coloração negra – ou o urucum – que
produz uma tinta vermelha” (2006, p. 15). O vermelho do urucum é sinônimo de proteção
e beleza, além de simbolizar a humanidade. A cor negra produzida a partir do jenipapo
pode durar na pele por até quinze dias e atua na proteção contra os maus espíritos.
Pintam o corpo com diferentes motivos geométricos, que simbolizam elementos
tradicionais de cada cultura, como exposto na figura a seguir:
50
A pele do corpo é suporte para pinturas, escarificações ou outros elementos que
cada cultura indígena traz. Conservar o que aprenderam com seus ancestrais é também
manter viva a história de seu povo.
Vidal (2000, p. 235), sobre a pintura de peixe mostrada na figura que segue,
relata que “o desenho único é abstrato, decorativo, mas igualmente simbólico: isto é,
traduz noções básicas do pensamento, cujo conteúdo se encontra na própria forma
do desenho e na tendência do estilo”. Além disso, os padrões gráficos de cada povo
indígena obedecem também às tradições dos antepassados.
51
DICA
O Museu do Índio, situado no Rio de Janeiro (RJ), abriga um rico
acervo etnográfico dos povos indígenas no Brasil. São 19.918 objetos
contemporâneos, na sede, expressões da cultura material de
aproximadamente 150 povos indígenas que viveram e vivem no território
brasileiro. As peças de uso ritual e cotidiano, feitas dos mais variados
materiais como madeira, palha, argila etc., foram obtidas diretamente dos
índios por meio de doações e compras a partir de 1947. Acesse em: http://
tainacan.museudoindio.gov.br/.
52
LEITURA
COMPLEMENTAR
ANTES O MUNDO NÃO EXISTIA
Ailton Krenak
Aqui nesta região do mundo, que a memória mais recente instituiu que se chama
América, aqui nesta parte mais restrita, que nós chamamos de Brasil, muito antes de ser
'América' e muito antes de ter um carimbo de fronteiras que separa os países vizinhos e
distantes, nossas famílias grandes já viviam aqui, são essa gente que hoje é reconhecida
como tribos. As nossas tribos. Muito mais do que somos hoje, porque nós tínhamos muitas
etnias, muitos grupos com culturas diversas, com territórios distintos. Esses territórios
se confrontavam, ou às vezes tinham vastas extensões onde nenhuma tribo estava
localizada, e aquilo se constituía em grandes áreas livres, sem domínio cultural ou político.
Nos lugares onde cada povo tinha sua marca cultural, seus domínios, nesses
lugares, na tradição da maioria das nossas tribos, de cada um de nossos povos, é que
está fundado um registro, uma memória da criação do mundo. Nessa antiguidade desses
lugares a nossa narrativa brota, e recupera o feito dos nossos heróis fundadores. Ali, onde
estão os rios, as montanhas, está a formação das paisagens, com nomes, com humor,
com significado direto, ligado com a nossa vida, e com todos os relatos da antiguidade que
marcam a criação de cada um desses seres que suportam nossa passagem no mundo.
Nesse lugar, que hoje o cientista, talvez o ecologista, chama de habitat, não
está um sítio, não está uma cidade nem um país. É um lugar onde a alma de cada
povo, o espírito de um povo, encontra a sua resposta, a resposta verdadeira. De onde
sai e volta, atualizando tudo, o sentido da tradição, o suporte da vida. O sentido da vida
corporal, da indumentária, da coreografia das danças, dos cantos. A fonte que alimenta
os sonhos, os sonhos grandes, o sonho que não é somente a experiência de estar tendo
impressões enquanto você dorme, mas o sonho como casa da sabedoria.
53
aprendizado para o sonho. E, quando nós sonhamos, nós estamos entrando num outro
plano de conhecimento, onde nós trocamos impressões com os nossos ancestrais, não
só no sentido de nossos antigos, meus avós, meu bisavô, gerações anteriores, mas com
os fundadores do mundo. Tomara que a palavra habitat tenha esse sentido que estou
pensando, que ela não seja só um sítio, uma cidade, ou lugar só na geografia, que ela
tenha também espírito, porque, se ela tiver espírito, então eu consigo expressar uma
ideia que aproxima, para você, o lugar de onde estou tentando contar um pouco da
memória que nós temos de criação do mundo, quando o tempo não existia.
Nós não temos uma moda, porque nós não podemos inventar modas. Nós
temos tradição, e ela está fincada em uma memória de antiguidade do mundo, quando
nós nos fazemos parentes, irmãos, primos, cunhados, da montanha que forma o vale
onde estão nossas moradias, nossas vidas, nosso território. Aí, onde os igarapés, as
cachoeiras, são nossos parentes, ele está ligado a um clã, está ligado a outro, ele está
relacionado com seres que são aquilo que chamaria de fauna, está ligado com os seres
da água, do vento, do ar, do céu, que liga cada um dos nossos clãs, e de cada uma das
nossas grandes famílias no sentido universal da criação.
Algumas danças nossas, que algumas pessoas não entendem, talvez achem
que a gente esteja pulando, somente reagindo a um ritmo da música, porque não
sabem que todos esses gestos estão fundados num sentido imemorial, sagrado. Alguns
desses movimentos, coreografias, se você prestar atenção, ele é o movimento que o
peixe faz na piracema, ele é um movimento que um bando de araras faz, organizando
o vôo, o movimento que o vento faz no espelho da água, girando e espalhando, ele é o
movimento que o sol faz no céu, marcando sua jornada no firmamento e é também o
caminho das estrelas, em cada uma das suas estações. Por isso que eu falei a você de
um lugar que a nossa memória busca a fundação do mundo, informa a nossa arte, a
nossa arquitetura, o nosso conhecimento universal.
Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava
desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco
assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do
meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E
que talvez fosse um povo como a folha que cai. E que a nossa cultura, os nossos valores,
fossem muito frágeis para subsistirem num mundo preciso, prático: onde os homens
54
organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem
olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro
ali pode ter. Enquanto meu pai, meu avô, meus primos, olham aquela montanha e veem
o humor da montanha e veem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia
para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio, mas o cientista olha o rio e calcula
quantos megawatts ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem.
Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores,
para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você
ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra
esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se
ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo dos nossos cantos, mas um engenheiro
florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele
pode ter. Ali não tem música, a montanha não tem humor, e o rio não tem nome. É tudo
coisa. Essa mesma cultura, essa mesma tradição, que transforma a natureza em coisa,
ela transforma os eventos em datas, tem antes e depois. Data tudo, tem velho e tem
novo. Velho é geralmente algo que você joga fora, descarta, o novo é algo que você
explora, usa. Não há reverência, não existe o sentido das coisas sagradas. Eu fiquei com
medo. Eu fiquei pensando: e agora?
Esse sonho veio me mostrar que aquela caricatura de poder que os homens
estavam inventando aqui na terra é só uma simulação, porque eu pude encontrar, andar
junto com os meus parentes, meu irmão mais velho, que na nossa língua original se
chama Kiãnkumakiã. Esse irmão mais velho que estava com a gente sempre, desde a
fundação do mundo, só que não é Deus. E nós vimos os meninos, os rapazes andando
num campo bonito, vasto. Uma relva baixinha e os rapazes traziam na mão esquerda
feixes de varas, daquelas varas sem gomo, lisas, taboca de fazer flecha, mas na ponta
não tinha lâmina, na ponta tinha pendão assim igual ao trigo florando. Um grupo grande,
incontável de rapazes e um guerreiro mais maduro, que estava de lado, só mostrando
uma parte do rosto, a vista apontando para o leste. Quando olhei assim eu vi um grande
55
lago, saindo quase da mesma altura da terra firme. Aí aqueles moços foram andando
para lá e, num gesto, eles se transportavam para outro lugar firme, para a outra margem
de um lago muito grande, que liga tudo, numa canoa grande de luz, como se fosse de
luzes assim... com gesto de vontade, só com a vontade. Não tem foguete, míssil que
faz isso, tecnologia que se inventa. E todo esse 'futuro' já aconteceu na fundação do
mundo. Os meus irmãos mais velhos já conhecem tudo isso. Então, de sonho é isso. É
um caminho que só podemos fazer dentro da tradição e aprender que além do nosso
conhecimento restrito sobre uma ou outra coisa avançada para uma percepção que é
integral, tudo está ligado, as coisas que têm existência física, elas foram todas fundadas
a partir da palavra que foi ordenando a criação do mundo, que quando nós narramos as
histórias antigas nós criamos o mundo de novo, limpamos o mundo.
Então, antes do mundo, existia não só a história dos espíritos, dos elementos,
mas a história de todos os nossos povos antigos que conseguiram, ao longo dos tempos,
manter essa memória da criação do mundo. Existem milhões de toneladas de livros,
arquivos, acervos, museus guardando uma chamada memória da humanidade. E que
humanidade é essa que precisa depositar sua memória nos museus, nos caixotes? Ela
não sabe sonhar mais. Então ela precisa guardar depressa as anotações dessa memória.
Como essas duas memórias se juntam, ou não se juntam? É muito importante para
nossos povos tradicionais que ainda guardam essa memória, herdeiros dessa tradição,
cada vez mais restrita no planeta, ilhados em alguns cantinhos do Pacífico, da Ásia, da
África, aqui da América, num mundo cada vez mais mudado pelo homem, onde o dia
e a noite já não têm mais fronteira, porque inventaram artifícios para ele rodar direto,
dia-noite-dia. Quando o homem rompe a separação entre o dia e a noite, como ele
vai sonhar? Quando os homens trabalham de dia, de noite, de dia, de noite, qualquer
hora, eles estão se parecendo muito com a criação dos homens mesmo, que são as
máquinas, mas muito pouco parecido com o criador do homem, que é o espírito.
Para esses pequeninos grupos humanos, nossas tribos, que ainda guardam
essa herança de antiguidade, esta maneira de estar no mundo, é muito importante que
essa humanidade que está cada vez mais ocidental, civilizada e tecnológica, lembre,
ela também, dessa memória comum que os humanos têm da criação do mundo, e
que consigam dar uma medida para sua história, para sua história que está guardada,
registrada nos livros, nos museus, nas datas, porque, se essa sociedade se reportar a
uma memória, nós podemos ter alguma chance. Senão, nós vamos assistir à contagem
regressiva dessa memória no planeta, até que só reste a história. E, entre a história e a
memória, eu quero ficar com a memória.
FONTE: Adaptada de KRENAK, A. Adaptada de Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, A. (org.). Tempo e
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A arte indígena, com grande riqueza de estilos, pode ser apreciada nas cerâmicas,
nas cestarias, na arte plumária, nas máscaras, nas pinturas corporais dos povos. É
também rica em mistérios e simbologias.
57
AUTOATIVIDADE
1 A arte indígena, admirada desde a chegada dos europeus, permanece viva nas
comunidades que superaram adversidades e ainda conservam as tradições de seu
povo. Aponte as características e em quais objetos são encontrados esses detalhes.
3 Na pintura corporal indígena são utilizados cores e traços que simbolizam proteção e
beleza. Para conseguir essas cores, os povos utilizam pigmentos naturais. Sobre os
pigmentos mais comuns e de onde são extraídos, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizadas plumas, galhos e folhas de diversas
texturas, tamanhos e cores.
b) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizadas plumas, penugens e penas de
diversas texturas, tamanhos e cores.
c) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizados pelos, penugens e folhas de
diversas texturas, tamanhos e cores.
d) ( ) Na arte plumária dos indígenas são utilizados pelos, penugens e penas de
diversas texturas, tamanhos e cores.
58
5 A cestaria indígena é um conjunto de objetos como cestos, peneiras e outros utensílios
confeccionados com elementos vegetais de certa flexibilidade. Possuem diferentes
formatos, tamanhos, desenhos e cores, obedecendo os costumes das diferentes
comunidades que utilizam esses recipientes. Os padrões decorativos dos trançados
variam e estão ligados às culturas de cada povo indígena. Analise as sentenças sobre
a finalidade dos utensílios fabricados:
59
REFERÊNCIAS
AMORIM, L. B. Cerâmica marajoara: a comunicação do silêncio. Belém: Museu
Paraense Emílio Goeldi, 2010.
KRENAK, A. Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, Adauto (org.). Tempo
e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. Disponível em: https://
docplayer.com.br/12411274-Antes-o-mundo-nao-existia-ailton-krenak.html.
Acesso em: 30 jul. 2021.
60
PROUS, A. Artes Pré-Históricas do Brasil. Belo Horizonte: C/Arte, 2011.
PROUS, A. O Brasil antes dos brasileiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
61
62
UNIDADE 2 —
INFLUÊNCIAS CULTURAIS
NA ARTE BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
63
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
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64
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
DIFERENTES CULTURAS CRIANDO A ARTE
NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico iremos caminhar mais adiante pelas trilhas da
história, observando as diversas influências culturais que conduziram a formação do
país, bem como o papel da arte nesse processo. Com a chegada dos europeus ao
Brasil, a partir do século XVI, iniciaram-se diversas transformações no território que já
era habitado por povos indígenas. Portugal queria imprimir uma nova identidade com
características europeias. Nessa direção, o governo português, considerando o Brasil
sua propriedade, procurava importar a cultura europeia e eliminar os costumes dos
chamados silvícolas que aqui viviam.
Os europeus queriam registrar informações sobre o Brasil, tendo passado por aqui
muitos artistas viajantes e aventureiros que enfrentaram a longa travessia do Atlântico
para conhecer as belezas e mistérios do Novo Mundo. Muitos permaneceram por vários
anos nas terras brasileiras, construindo com suas obras a história e perpetuando a
memória do nosso país.
65
No cenário histórico do Brasil, mesmo antes das primeiras missões artísticas,
muitas narrativas foram ilustradas e muitos artistas produziram imagens apenas a
partir de descrições e histórias contadas, sem ter conhecido o Brasil, como é o caso de
Théodore de Bry (1528-1598), que ilustrou os escritos de Jean de Léry (1534-1611), o qual
viveu cerca de um ano com o povo Tupinambá, como mostrado na ilustração a seguir:
FIGURA 1 – OBRA “INDÍGENAS CANIBAIS”, CRIADA PELO ARTISTA THÉODORE DE BRY EM 1592
66
INTERESSANTE
Quem foi Maurício de Nassau?
Johann Mauritius van Nassau-Siegen nasceu em 17 de agosto de 1604, em
Dillenburg, na Alemanha. Era neto do conde João VI, por sua vez irmão do príncipe
Guilherme de Orange, fundador dos Países Baixos. Pelo lado da mãe, seu bisavô
foi Cristiano III, rei da Dinamarca. Embora ingressasse aos 14 anos na carreira
militar, Nassau teve formação humanista: na Universidade da Basileia, estudou
teologia, filosofia, matemática, música, ciências de guerra, boas maneiras,
esgrima e equitação. Tornou-se coronel aos 25 anos, lutou contra a Espanha,
encomendou quadros de Rembrandt e iniciou a construção de uma mansão em
Haia. Em agosto de 1636, foi convidado pela WIC1 para ser governador-geral do
Brasil holandês. Como o salário de 1.500 florins mensais (mais um adiantamento
de 15 mil florins e 2% sobre o total das presas de guerra) fosse atraente – e os
gastos com sua nova casa, grandes –, Nassau aceitou. Em 23 de janeiro de 1637,
chegou ao Recife, com três mil soldados, oitocentos marinheiros e seiscentos
indígenas e negros.
Foi nas terras baixas localizadas na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe (zona alagadiça
que lembrava a Holanda) que Nassau ergueu a Cidade Maurícia, símbolo de sua administração.
Ali, na ilha de Antônio Vaz (hoje bairro de Santo Antônio), construiu, à própria custa, o Vrijburg,
sua residência oficial, também chamada Palácio Friburgo ou das Torres (imagem abaixo). “No
meio daquele areal infrutuoso, plantou um jardim e todas as castas de árvores de fruta que
dão no Brasil”, escreveu frei Manuel Calado, padre português que conheceu o lugar. Entre
milhares de flores e frutos, Nassau plantou também dois mil coqueiros. Fez um zoológico
com todos os tipos de animais encontráveis no país. O conde adorava “que todos fossem
ver suas curiosidades”. O conde construiu também o Palácio Boa Vista, onde despachava os
assuntos oficiais. Nassau não agiu apenas em benefício próprio. Deu ao povo pão e circo:
contrário à monocultura, obrigou senhores de engenho a plantar mandioca, “o pão do Brasil”.
Por decreto, proibiu a derrubada dos cajueiros, já quase em extinção. Ladeou as ruas com
mamoeiros, jenipapeiros e mangueiras. Proibiu, por edital, “o lançamento do bagaço de cana
nos rios e açudes”, evitando mortandade de peixes que alimentavam os pobres. Promoveu
cavalhadas, peças de teatro e a famosa farsa do boi voador. Convocou a primeira assembleia
legislativa democrática do continente. Permitiu a construção de sinagogas, aproximou
calvinistas e católicos (só não fez concessões aos jesuítas). O povo o comparava a Santo
Antônio, “a quem ninguém recorria sem se ver atendido”.
FONTE: BUENO, E. Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro,
Leya, 2012. 480 p.
67
Os artistas viajantes Frans Post, Albert Eckhout, Georg Marcgraf e Zacharias
Wegener foram responsáveis por desenhar e pintar paisagens locais, etnias brasileiras, a
fauna, a flora, e elaborar os mapas da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro. Frans
Post, segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 1062), “utilizou a paleta de
cores holandesa para representar as nossas cenas tropicais, mostrando um desenho
sóbrio e simplificado, mantendo a luminosidade da atmosfera local”, sendo o primeiro
pintor a registrar as peculiaridades das paisagens brasileiras.
FIGURA 2 – OBRA “ENGENHO DE AÇÚCAR”, CRIADA PELO ARTISTA FRANS POST EM 1668
Albert Eckhout retratou habitantes, fauna e flora. Teixeira Leite e Mendes Silva
(2015, posição 1041), ressaltam que “para os artistas holandeses da época, flores e frutos
passaram a ser um tema principal. Bueno (2012, p. 165) expõe que “as frutas brasileiras
foram retratadas com frescor nos quadros de Eckhout. Tanto ele como o próprio Nassau
achavam que o abacaxi e o caju poderiam se transformar em símbolos da fertilidade e do
exotismo dos trópicos”. A figura seguinte comprova a beleza da representação de Eckhout.
68
FIGURA 3 – OBRA “NATUREZA MORTA”, CRIADA PELO ARTISTA ALBERT ECKHOUT, S/D
Suas naturezas mortas eram novidade por estas terras e Eckhout abraçou os
temas da cultura brasileira, como explica Mendes Silva (2015, posição 1126):
69
FIGURA 4 – OBRA “CAJUS”, CRIADA PELO ARTISTA ZACHARIAS WAGENER EM 1641
FIGURA 5 – OBRA “CARTA DA PARAÍBA”, CRIADA PELO ARTISTA GEORG MARCGRAF EM 1647
70
DICA
Conheça o documentário sobre as primeiras expedições e viajantes que
estiveram no Brasil entre os séculos XVI e XIX.
Acesse os episódios da série em:
Episódio 1: https://youtu.be/5CECkxBtZQc.
Episódio 2: https://youtu.be/qjKGpUu3Zi8.
Episódio 3: https://youtu.be/xEKr4jOoa4A.
Episódio 4: https://youtu.be/nh9ntKXYKXE.
71
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Frans Post, Albert Eckhout, Georg Marcgraf e Zacharias Wagener foram responsáveis
pelos registros das imagens e descrições em mapas e ilustrações de aspectos
peculiares do Brasil.
72
AUTOATIVIDADE
1 O artista Théodore de Bry ilustrou os escritos de qual viajante que viveu por cerca
de um ano com o povo Tupinambá no Brasil. Com relação ao exposto, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) Barão de Langsdorff.
b) ( ) Georg Marcgraf.
c) ( ) Jean de Léry.
d) ( ) Víctor Meirelles.
a) ( ) Maurício de Nassau.
b) ( ) Barão de Langsdorff.
c) ( ) Albert Eckhout.
d) ( ) Georg Marcgraf.
73
a) ( ) Albert Eckhout.
b) ( ) Hercule Florence.
c) ( ) Frans Post.
d) ( ) Georg Marcgraf.
74
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ARTE DO PERÍODO COLONIAL NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
O período colonial abrange do século XVI até o início do século XIX, especificamente
de 1500 a 1822 quando foi proclamada a independência do Brasil. Nesse período, o
país estava sob o controle e poder de Portugal e a identidade brasileira sofreu muitas
influências estrangeiras.
NOTA
Para relembrar sobre as fases do renascimento:
A palavra renascença significa nascer de novo ou ressurgir. (GOMBRICH,
2012, p. 223).
As obras renascentistas possuem como características principais a
valorização dos padrões da Antiguidade Clássica, a utilização da perspectiva,
do claro-escuro, do esfumato e da tinta a óleo.
Trecento foi o período marcado pelo início do renascimento, na cidade de
Florença, Itália, nos fins do século XII e permaneceu até o início do século
XIV (POZENATO; CAUER, 2001).
75
Quattrocento refere-se ao período em que o renascimento ganha destaque e quando
Lorenzo de Médici (1449-1492) tornou-se mecenas, promovendo o interesse pela arte
(REIS, 2010).
Cinquecento data do início do século XVI e é o mais célebre período da arte italiana, e um dos
maiores de todos os tempos. Foi a época de Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo
(1474-1564), Rafael (1483-1520) e Ticiano (c. 1488-1576), Corregio (1489-1534) e Giorgione
(1478-1510), Dürer (1471-1528) e Holbein (1460-1524) (GOMBRICH, 2012).
2 ARTE COLONIAL
Durante o período colonial a produção artística constituiu-se, em sua maioria,
ligada à religião e à cultura portuguesa, como explica Tirapeli (2010a, p. 20): “a igreja teve
um papel importante na formação da cultura colonial”. A formação que os portugueses
queriam para o Brasil dependia dos ensinamentos dos representantes das ordens
religiosas que aqui estiveram, como também do financiamento dos europeus, que então
tomaram posse das terras brasileiras.
Para Toledo (1983, p. 293), “fica um fato fundamental: por mais de três séculos
o barroco traduziu as aspirações e as contradições da sociedade brasileira, ávida de
encontrar seus próprios caminhos. É a arte que dá expressão aos anseios da nação
em sua longa busca de autoafirmação”. E, foi pelo ensino da arte que muito do que
temos hoje foi construído, o que ocorreu principalmente nas corporações de ofícios
que, inspiradas nas guildas da Idade Média, tinham como propósito ensinar as técnicas.
76
2.1 ARQUITETURA
A arquitetura colonial do Brasil traz em si características que foram incorporadas
pelos missionários que estavam incumbidos de difundir a religião, tendo como tarefa
primordial a construção de igrejas. Portugal enviou para a Terra de Santa Cruz, como
era chamado o Brasil, religiosos de diversas ordens. Jesuítas, beneditinos, franciscanos
e carmelitas, assim começaram a erguer os chamados tejupares, que na língua tupi-
guarani significa lugar de gente. Mais adiante as construções passam a ser feitas de
taipa, estrutura de varas, preenchidas com barro e cal.
FIGURA 6 – OBRA “HABITAÇÃO DE NEGROS”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS EM 1835
77
FIGURA 7 – CENTRO HISTÓRICO DE OURO PRETO – MINAS GERAIS
NOTA
O que significa lusitano?
lusitano1 (lu.si.ta.no)
sm.
1. Aquele que nasceu ou viveu na Lusitânia, antiga região do oeste da
península Ibérica, correspondente em grande parte ao atual território
português.
2. Aquele que nasceu ou que vive em Portugal; PORTUGUÊS; LUSO
a.
FONTE: <https://www.aulete.com.br/lusitano>. Acesso em: 5 set. 2021.
78
FIGURA 8 – SALVADOR – BAHIA
Segundo Tirapeli (2010a, p. 12), “no litoral, a pedra e a cal eram os materiais
empregados nas casas, enquanto no interior podia variar”, como por exemplo em São
Paulo onde utilizava o barro batido ou em Minas Gerais, onde costumava-se associar a
madeira ao alicerce de pedras. Essas construções residenciais, com dois pavimentos,
eram destinadas também ao comércio no piso térreo.
79
FIGURA 10 – CASA DE FAZENDA DE ENGENHO DO SÉCULO XVII, ILHABELA – SÃO PAULO
FIGURA 11 – OBRA “USINA DE AÇÚCAR” CRIADA PELO ARTISTA FRANS POST NO SÉCULO XVII
80
FIGURA 12 – CASA DE CÂMARA E CADEIA, OURO PRETO – MINAS GERAIS
INTERESSANTE
O texto de Percival Tirapeli assinala a representação dos engenhos de
produção de açúcar no período colonial. Que tal conhecer um pouco desse
material?
FONTE: TIRAPELI, P. Arte colonial: barroco e rococó. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010a.
81
Em 1549, como apresenta Battistoni Filho (2020), Tomé de Souza trouxe um
regimento sobre a construção de edificações, que passaram a ser executadas com
materiais mais duradouros, como a Casa da Torre, de Garcia d’Ávila, uma das residências
de destaque da época, na qual usou-se cal extraída de ostras.
2.1.1 Fortificações
Em alguns pontos estratégicos do litoral brasileiro foram construídas
fortificações com o objetivo de proteger e defender a terra brasileira de invasores que
porventura tentassem ocupar e dominar o território controlado pelos portugueses. Essas
fortificações incluem fortalezas e fortes. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN, 2021, s.p.), “as fortalezas são as grandes edificações militares,
com duas ou mais baterias de canhões instaladas em pontos diferentes no interior da
construção onde existem vários prédios, torre de observação, entre outras obras”, como
a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, na cidade de Governador Celso Ramos, em
Santa Catarina, mostrada na imagem que segue:
82
FIGURA 14 – FORTALEZA DE SANTA CRUZ DE ANHATOMIRIM – SANTA CATARINA
Menores que a fortaleza, os fortes são edificações que, como indica o Iphan
(2021, s.p.), “possuem uma ou mais baterias de artilharia, mas todas instaladas no
mesmo local”, como mostra a imagem do forte de Santo Antônio da Barra, em Salvador,
no estado da Bahia, popularmente chamado de Farol da Barra.
Esse forte, como aponta o Iphan (2021, s.p.), foi “construído no local da segunda
cidade lusitana de Salvador” em 1534 e reconstruído em 1582. Atualmente é um museu
naval.
83
Segundo Tirapeli (2010a, p. 13) “muitas delas resistiram ao tempo e ainda
podem ser conhecidas de perto”. O autor registra que a cidade com maior número de
fortificações é Salvador, na Bahia. A Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, também possui
muitas fortificações, além de outras cidades localizadas no litoral ou em fronteiras,
como a maior fortaleza do Brasil, situada em Rondônia, às margens do Rio Guaporé, que
guardava a fronteira da região amazônica.
2.1.2 Igrejas
A importância da construção de igrejas no período colonial estava ligada às
transformações culturais que a Coroa Portuguesa pretendia promover nas sociedades
originárias, como era o caso dos povos indígenas, entendendo que necessitavam ser
civilizados ao seu modo.
Nas igrejas das diversas ordens religiosas, conforme Tirapeli (2010a, p. 16), “a arte
colonial atinge seu ponto alto, com muitos elementos importantes para compreender a
arte daquele período”.
Como afirma Battistoni Filho (2020, posição 74), “a primeira igreja da Companhia
de Jesus no Brasil, foi a da Ajuda em Salvador, Bahia”, construída em taipa, foi fundada
pelo padre Manoel da Nóbrega, em 1549. O autor complementa que em 1572 o arquiteto
jesuíta Francisco Dias reergueu a igreja utilizando pedra e cal.
84
As construções religiosas, que conforme Oliveira (2013, p. 23) incluíam “capelas
urbanas e rurais, igrejas conventuais e paroquiais, catedrais e igrejas de Irmandades – a
tipologia do templo católico colonial apresenta poucas variações”, geralmente possuíam
desenhos simples, que acompanhavam tendências do gosto lusitano, no entanto,
alguns edifícios religiosos apresentam traçados curvilíneos, como mostrado na da igreja
de São Francisco, em Ouro Preto, Minas Gerais, conforme a imagem seguinte:
85
FIGURA 18 – PRINCIPAIS ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS DO INTERIOR DA IGREJA NOSSA SENHORA DO
CARMO - PARAÍBA
Mais uma vez vamos apresentar a cidade de Ouro Preto de Minas Gerais,
destacando-a pela sua localização, onde foram encontrados veios de ouro, o que causou
em 1692, segundo Tirapeli (2010a, p. 75), “disputa pelas ordens religiosas e irmandades
para ver quem construía os melhores templos”. Segundo Battistoni Filho (2020, posição
272-3) “a talha é exuberante de ornatos e esplendor em ouro, que atrai e extasia o fiel”,
pois com o domínio do ciclo do ouro, como retrata a figura a seguir, as igrejas tornaram-
se exemplo de riqueza e ostentação.
86
FIGURA 19 – OBRA “ANJO ATLANTE DO ALTAR LATERAL DE SÃO MIGUEL”, IGREJA MATRIZ DE CATAS ALTAS – MI-
NAS GERAIS. ENTALHE ATRIBUÍDO A ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA E MANOEL GONÇALVES VALENTE, 1746-47
FIGURA 20 – ALTAR-MOR DA IGREJA NOSSA SENHORA DO PILAR, ENTALHE REALIZADO PELO ARTISTA
FRANCISCO XAVIER DE BRITO EM 1746, OURO PRETO – MINAS GERAIS
87
O altar e a capela-mor da Igreja Nossa Senhora do Pilar, referência do estilo
barroco joanino, criada em 1746 por Francisco Xavier de Brito, um dos melhores
entalhadores portugueses da época.
NOTA
Segundo Tirapeli (2010a, p. 77), “o estilo barroco denominado joanino, que
coloca anjos sobre as colunas, abaixo de um dossel – escultura imitando
tecido caído sobre o trono – e, na parte superior, um grupo escultórico da
Santíssima Trindade; Deus Pai, Jesus e a pomba do Espírito Santo”.
2.2 PINTURA
Com predominância de temas religiosos, as primeiras pinturas da época colonial
aparecem em grande quantidade nas igrejas, sendo encontradas algumas pinturas de
retratos, com destaque para Minas Gerais, que segundo Teixeira Leite e Mendes Silva
(2015, posição 541):
FIGURA 21 – OBRA “DAVI TOCA HARPA – SACERDOTE OFERECE PÃO E VINHO - SACERDOTE SACRIFICA UM
CORDEIRO, REALIZADAS NO TETO DA IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA, EM SALVADOR
– BAHIA. PINTURA CRIADA PELO ARTISTA JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA EM 1786.
FIGURA 22 – OBRA “DETALHE DO TETO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO”, NA CIDADE DE ITU
– SÃO PAULO. PINTURA CRIADA POR JESUÍNO DO MONTE CARMELO
No Rio de Janeiro Ricardo do Pilar (1635-1700). Sua obra mais conhecida está na
sacristia do Mosteiro de São Bento, como mostrado na figura seguinte:
FIGURA 23 – OBRA “SACRISTIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO” CRIADA PELO FREI RICARDO DO PILAR NO
SÉCULO XVII
89
Outro importante artista é Caetano da Costa Coelho (nasceu provavelmente em
Portugal e faleceu no Rio de janeiro s/d), cujo detalhe da obra do forro da capela-mor da
igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, localizada na cidade do Rio de
janeiro, está mostrada na figura a seguir.
FIGURA 24 – OBRA “CRISTO, VIRGEM MARIA E SÃO FRANCISCO” CRIADA PELO ARTISTA CAETANO DA
COSTA COELHO EM 1732
FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa22412/caetano-da-costa-coelho>.
Acesso em: 6 set. 2021.
As pinturas dos forros das igrejas, inicialmente “eram feitas dentro de molduras
formadas por madeiras dispostas em formas geométricas” (TIRAPELI, 2010a, p. 30),
como mostrado na figura a seguir:
90
FIGURA 25 – CAPELA DOURADA, MOSTEIRO DE SANTO ANTÔNIO, RECIFE – PERNAMBUCO
FIGURA 26 – OBRA “ASCENSÃO DE CRISTO” CRIADA POR MESTRE ATAÍDE NO SÉCULO XIX
91
Toledo (1993, p. 288) expõe que “a pintura do Brasil colonial, como estamos
vendo, conheceu uma diversificação em função de vários condicionantes, como
região, entidade patrocinadora (que por vezes formava seus próprios artistas) e fatores
circunstanciais”. Esses fatores enriqueceram não só a pintura, mas toda a arte do
período colonial.
2.3 ESCULTURA
Cabral trouxe na capela de seu navio uma imagem de Nossa Senhora da Boa
Esperança, que parece ter sido o modelo utilizado pelos mestres vindos de Portugal
para ensinar a escultura no Brasil.
FIGURA 27 – OBRA “NOSSA SENHORA DO MONTE SERRATE”, CRIADA PELO ARTISTA AGOSTINHO DA
PIEDADE CRIADA EM 1636
92
FIGURA 28 – OBRA “NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO”, CRIADA PELO ARTISTA AGOSTINHO DE JESUS, SÉCULO XVII
No século XVIII, de acordo com Tirapeli (2010a, p. 26), “os santos feitos para se
colocar nos altares principais eram grandes e, quando de madeira, podiam ter formas
mais elegantes, com as vestimentas esvoaçantes e coloridas”, como podemos observar
na figura a seguir:
FIGURA 29 – OBRA “SÃO JOÃO DA CRUZ”, IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO, SABARÁ – MINAS
GERAIS. ESCULTURA CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA (ALEIJADINHO) EM 1771
93
O artista Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), conhecido como Mestre
Valentim, foi um dos mais importantes escultores. Muitas das obras de Mestre Valentim
são preservadas até hoje, com destaque para o conjunto de jacarés, como afirmam
Amália e Minerini (2019, p. 33), que é “considerada a primeira fundição em bronze feita
no Brasil”, localizada no Passeio Público, na cidade do Rio de Janeiro.
FIGURA 30 – OBRA “CHAFARIZ DOS JACARÉS”, CRIADA PELO ARTISTA MESTRE VALENTIM, S/D
NOTA
Vamos conhecer uma matéria prima muito usada do Brasil para criar
esculturas? Conhecido por pedra-sabão, o esteatito é um filossilicato de
magnésio hidratado, passou a ser chamado assim, provavelmente devido
a sua maciez e sedosidade percebida ao toque, uma vez que se trata de
uma rocha metamórfica ultramáfica composta principalmente de talco.
Em Minas Gerais, é encontrado em cores que variam do cinza ao verde.
94
3 O BARROCO NO BRASIL
O estilo barroco surgiu na Itália, no século XVI e difundiu-se pela Europa. Segundo
Reis (2010, p. 77), “o termo barroco (palavra portuguesa que significa pérola imperfeita)
é usado desde a Idade Média para indicar um raciocínio tortuoso, que confundia o falso
com o verdadeiro” e foi utilizado para criticar o excesso de dramaticidade do estilo diante
da elegância da arte renascentista.
INTERESSANTE
Os jesuítas eram membros da Companhia de Jesus, ordem da Igreja
Católica que trabalhava para catequizar os índios na América.
Entre os jesuítas que vieram para o Brasil, estava José de Anchieta (1534-1597)
que é considerado o primeiro dramaturgo do Brasil. Anchieta escreveu 12 obras que
eram representadas por crianças e adultos entre colonos e indígenas. Seus textos foram
escritos em forma de versos e os conteúdos eram apresentados em forma de alegorias
em peças teatrais. As histórias continham dramas de consciência com o objetivo de
apresentar situações que servissem de exemplo. As obras de Anchieta fazem parte das
primeiras manifestações artísticas barrocas do Brasil.
95
A chegada do barroco no brasil com os jesuítas
Em 1539, foi fundada na Europa, por Inácio de Loyola, uma ordem religiosa
chamada Companhia de Jesus (ou Ordem dos Jesuítas), inserindo-se no contexto
da Contrarreforma que renovou o catolicismo. Ela foi uma resposta do Vaticano à
Reforma Protestante, feita no século XVI e defendida em teses de Martinho Lutero,
resultando na doutrina luterana. Outro reformista foi João Calvino, que, junto com
Lutero, contribuiu para a cisão com o catolicismo e para a origem das religiões
protestantes, espalhando-se rapidamente pela Europa.
FONTE: Adaptada de AMÁLIA, A.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Senac São Paulo,
2019. E-book.
É importante salientar que em Minas Gerais, conforme Battistoni Filho (2020), nas
cidades de Ouro Preto e Diamantina onde a mineração era explorada, o estilo barroco de
formas exuberantes teve início com as construções arquitetônicas e os retábulos das igrejas.
96
A igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada na cidade de Embu, em São Paulo,
é considerada expressão máxima do barroco mineiro, com os altares e pinturas muito
bem conservadas, como vemos na figura seguinte:
FIGURA 31 – IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EMBU – SÃO PAULO, CONSTRUÍDA ENTRE 1690 E 1740
97
FIGURA 32 – OBRA “A BATALHA DOS GUARARAPES” CRIADA PELO ARTISTA JOÃO DE DEUS SEPÚLVEDA
NO SÉCULO XVIII
FIGURA 33 – OBRA “O SEPULTAMENTO” CRIADA PELO ARTISTA JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA EM 1786
98
Entre os escultores, destaca-se Antônio Francisco Lisboa (nasceu em 1730 na
cidade de Ouro Preto – Minas Gerais e faleceu em 1814) no qual também é reconhecido
pelo trabalho de entalhador e arquiteto.
FIGURA 34 – PROJETO DA FACHADA DA IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, OURO PRETO – MINAS GERAIS,
ELABORADO POR ALEIJADINHO EM 1766
99
FIGURA 35 – IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS, EM OURO PRETO – MINAS GERAIS
FIGURA 36 – OBRA “OS DOZE PROFETAS” (DETALHE) CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA
(ALEIJADINHO) EM 1805
100
FIGURA 37 – SANTUÁRIO DE BOM JESUS DE MATOSINHOS, CONGONHAS – MINAS GERAIS
Sua obra “Os passos da paixão de Cristo”, esculpida em cedro, conta com
sessenta e seis esculturas em tamanho natural que compõem as cenas da Via Sacra
em seis capelas. As policromias, ou seja, as pinturas da representação são atribuídas a
Mestre Ataíde e Francisco Xavier Carneiro (1765-1840).
FIGURA 38 – OBRA “OS PASSOS DA PAIXÃO DE CRISTO” (PASSO DA CRUZ) CRIADA PELO ARTISTA ANTÔNIO
FRANCISCO LISBOA (ALEIJADINHO) ENTRE 1796-99
101
Aleijadinho obteve pouca educação formal, mas segundo Toledo (1983, p. 210),
“cresceu em ambiente de intensa produção artística, ao lado dos mais conceituados
profissionais da época” entre eles o pai arquiteto e o tio entalhador. Com seu talento e
vivendo nesse meio, tornou-se grande e reconhecido artista do período colonial, suas
obras alinham-se ao barroco mineiro, mas também teve grande destaque com obras ao
estilo rococó.
102
século XVIII. O conjunto edificado e escultórico conserva seus valores intrínsecos:
a Igreja do Bom Jesus; o adro com as estátuas dos profetas em pedra sabão; os
passos e capelas com suas sete estações ambos concluídos em 1805 e expressivo
conjunto escultórico representativo da Paixão de Cristo.
FIGURA 39 – PINTURA DE MESTRE ATAÍDE – IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO EM OURO
PRETO – MINAS GERAIS
103
Mestre Ataíde é um representante da pintura que evidencia a ampliação do
espaço com a visão do céu. Suas obras mostram características de feições familiares,
como a madona, e demonstram grande domínio de perspectiva e também uma estética
peculiar. Um dos elementos característicos de seus trabalhos, na representação das
figuras, são os traços mestiços.
4 O ROCOCÓ NO BRASIL
O termo rococó tem origem na palavra francesa rocaille, que significa concha.
Nasceu em Paris, França, no século XVIII em oposição à suntuosidade do barroco. De
características mais suaves e delicadas, com temática leve, utiliza linhas curvas e cores
claras como elementos principais.
104
FIGURA 40 – PRINCIPAIS ELEMENTOS DA FACHADA DA IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO,
OURO PRETO – MINAS GERAIS
105
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Além das construções religiosas e outras construções civis que formaram as cidades,
foram erguidas fortificações em alguns pontos estratégicos do litoral brasileiro, com
o objetivo de proteger e defender o território de invasores que porventura tentassem
ocupar e dominar o território controlado pelos portugueses.
• Na arte do período colonial, destaca-se o estilo barroco que surgiu na Itália, no século
XVI. Termo originário da palavra portuguesa que significa pérola imperfeita. Chegou
ao Brasil trazido pelos europeus e destacou-se na arte religiosa, expressando-
se principalmente na arquitetura, escultura e pintura. Suas características, como
excesso de dramaticidade e detalhes rebuscados, podem variar de acordo com a
região, principalmente na arquitetura, pois além das diversas ordens religiosas, os
europeus traziam arquitetos e mestres de obras de diversas nacionalidades para
realizar os trabalhos.
• A arte colonial contou com obras de diversos artistas europeus e brasileiros. Entre
os artistas brasileiros destaca-se Antônio Francisco Lisboa, conhecido como
Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde, também conhecido como Mestre Ataíde.
• Outro estilo artístico também percebido neste período foi o rococó que tem seu
termo originário da palavra francesa rocaille, que significa concha. Esse estilo nasceu
em Paris, França, no século XVIII em oposição à suntuosidade do barroco. O rococó
é um estilo que possui características mais suaves e delicadas que o barroco, com
temática leve, utiliza linhas curvas e cores claras como elementos principais.
106
AUTOATIVIDADE
1 Do século XVI ao início do século XIX, especificamente de 1500 a 1822, quando foi
proclamada a independência, o Brasil estava sob o controle e poder de Portugal e a
identidade brasileira sofreu muitas influências estrangeiras. Sobre a denominação
desse período, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Barroco.
b) ( ) Rococó.
c) ( ) Neoclássico.
d) ( ) Colonial.
2 Além das construções religiosas e outras construções civis que formaram as cidades, do
Brasil. A partir de 1549, principalmente no litoral, passaram a ser utilizados materiais mais
duradouros, que faziam com que a estrutura também fosse mais forte, como realizado
na Casa da Torre, de Garcia D’ávila, Considerando esses aspectos, responda como são
denominadas as construções erguidas em pontos estratégicos do litoral brasileiro,
descrevendo os dois tipos dessas edificações e com qual objetivo foram construídas.
3 O barroco, palavra portuguesa que significa pérola imperfeita, é um estilo que surgiu
na Itália, no século XVI e chegou ao Brasil trazido pelos europeus. Descreva quais são
as principais características do barroco, bem como em que linguagens artísticas esse
estilo pode ser reconhecido e por que ocorrem variações?
4 A arte colonial contou com obras de diversos artistas europeus e brasileiros. Em Minas
Gerais dois nomes brasileiros foram destaque por suas obras de valor inestimável.
Quanto ao nome desses dois artistas, assinale a alternativa CORRETA:
5 O rococó, termo originário da palavra francesa rocaille, que significa concha, nasceu
em Paris, França, no século XVIII. Analise as sentenças a seguir e identifique as
principais características do estilo.
107
I- O rococó é um estilo que possui características suaves e delicadas e surgiu em
oposição ao barroco.
II- O rococó é um estilo que possui temática leve, utiliza cores claras e linhas curvas.
III- O rococó é um estilo que possui temática leve, mas predomina cores escuras.
IV- O rococó é um estilo em que predomina a utilização de linhas retas, luminosidade
em destaque para a figura e surgiu em oposição ao renascimento.
108
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
FRUTOS DE UMA ÉPOCA REAL
1 INTRODUÇÃO
Avançando pela trilha da história da arte brasileira, como observado na obra
de Mestre Valentim, as temáticas começam a diversificar, dando “sinais evidentes
de mudança de gosto. Características certamente influenciadas pelos modelos
portugueses contemporâneos, que apontam para um interesse maior por obras laicas
e pelo retorno ao classicismo”, como ressalta Pereira (2013, p. 67). O autor expõe como
exemplo as obras em bronze do Passeio Público, no Rio de Janeiro, inaugurado no ano
de 1793, nas quais Mestre Valentim explora a temática da mitologia greco-romana, nas
representações de Apolo, Mercúrio, Diana e Júpiter.
FIGURA 41 – OBRAS “NINFA ECO”, 1783 (ESQUERDA) E “CAÇADOR NARCISO”, 1785 (DIREITA), CRIADAS
POR MESTRE VALENTIM
109
FIGURA 42 – OBRA “CHEF CAMACAN MONGOYO”, CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1834
INTERESSANTE
Você sabe quem foi Joachim Lebreton?
Joachim Lebreton, por sugestão de Alexander von Humboldt, foi líder do
grupo chamado Missão Francesa. Havia sido secretário perpétuo do Instituto
de França e diretor da Seção de Belas-Artes do Ministério do Interior daquele
país, tendo-se ocupado de instalar no Museu do Louvre, em 1793, o acervo
resultante da espoliação de Napoleão Bonaparte nos países conquistados.
110
2 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA
Temendo a invasão do território português pelos franceses, a família real
portuguesa transfere-se para o Brasil e as mudanças nas artes são intensificadas,
principalmente após o fim das guerras napoleônicas, quando muitos artistas franceses,
com dificuldades, buscaram auxílio com D. João VI, que acolhe o pedido.
Nesse sentido, Amália e Minerini (2019, p. 46) sustentam que “a Missão Artística
Francesa foi responsável por inaugurar a Academia de Belas Artes no Brasil, na cidade
do Rio de Janeiro e trazer a arte neoclássica para todo o país, estilo responsável por
suplantar o barroco, que já atravessava mais de 200 anos como arte colonial e popular
brasileira”. Contudo, o neoclássico, como aponta Barbosa (2005, p. 19), “que na França
era arte da burguesia antiaristocratizante foi no Brasil arte da burguesia a serviço dos
ideais da aristocracia, a serviço do sistema monárquico”, pois encontrou no Brasil um
estilo muito particular que foi o barroco brasileiro.
111
FIGURA 43 – OBRA “JANTAR BRASILEIRO”, CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1827
FIGURA 44 – COMPOSIÇÃO COM ALGUMAS OBRAS DO LIVRO VIAGEM PITORESCA AO BRASIL, DE JEAN-
-BAPTISTE DEBRET, REALIZADAS NO SÉCULO XIX
112
FIGURA 45 – OBRA “BANDEIRA BRASILEIRA” CRIADA PELO ARTISTA JEAN-BAPTISTE DEBRET EM 1822
Essas obras de arte, que hoje podem ser vistas nos museus brasileiros, contam
com a sinceridade de um artista, que chega ao Brasil fragilizado e, diante de tamanho
impacto cultural, mergulha na descoberta do novo.
INTERESSANTE
Este texto de Bueno (2012) apresenta um pouco sobre Napoleão Bonaparte.
Vamos conhecer?
O rei do mundo
Napoleão Bonaparte (1769-1821) foi um dos maiores generais da história.
Assumiu o poder na França depois de liderar uma brilhante campanha militar
no Egito. Seu regime autocrático foi bem aceito após o caos provocado
pela Revolução Francesa. Em 1804, Napoleão proclamou-se imperador – e
ele próprio se coroou. Entre 1805 e 1810, conquistou praticamente toda a
Europa: só não venceu a Inglaterra, a qual bloqueou por mar. Em 1807, enviou
a Portugal um ultimato, forçando-o a declarar guerra aos britânicos. Ainda que
por vias indiretas, o Brasil iria lucrar duplamente com Napoleão: além da vinda
da família real, deve a ele o envio da missão artística francesa, em 1816.
113
2.1 VISÃO DOS ARTISTAS VIAJANTES
A tradição das expedições e missões de cientistas e naturalistas, entre as
quais, segundo Amália e Minerini (2019, p. 43), “destacam-se a Expedição do príncipe
Maximilian von Wied-Neuwied, a Missão Austríaca e a Expedição do barão de Langsdorff”,
com trabalhos científicos.
NOTA
Alexander von Humboldt foi físico, geógrafo, geólogo, mineralogista,
botânico, etnógrafo e antropólogo que lançou as bases que estruturam
várias ciências, como a oceanografia, a geografia, a geologia e a
climatologia. Entre tantas viagens que fez pelo mundo, uma delas
passou pela América do Sul e Central. Ele foi uma das mais importantes
referências para expedições científicas que vieram explorar e conhecer
o Brasil.
A Missão Austríaca foi uma das mais longas expedições, reconhecida pelo
importante trabalho de Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius.
Conforme Amália e Minerini (2019, p. 44), o zoólogo Spix e o botânico Martius “identificaram
em torno de 6,5 mil variantes na flora, 85 mamíferos, 350 aves, 130 anfíbios, 146 peixes e
2,7 mil insetos”. Muitas dessas espécies, ilustradas pelo talentoso artista Thomas Ender
(1793-1875), em uma viagem de mais de dez mil quilômetros pelo Brasil.
114
FIGURA 46 – OBRA “FÁBRICA DE PÓLVORA” CRIADA PELO ARTISTA THOMAS ENDER, EM 1817-18
FIGURA 47 – OBRA “SAGUI DE CARA BRANCA”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS EM 1823
115
FIGURA 48 – OBRA “ARATICUM”, CRIADA PELO ARTISTA HERCULE FLORENCE EM 1827
116
FIGURA 50 – OBRA “HOMEM E MULHER BORORÓ”, CRIADA PELO ARTISTA AIMÉ-ADRIEN TAUNAY, EM 1827
FIGURA 51 – OBRA “CAPOEIRA”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS, EM 1835
117
Após o desentendimento com o barão de Langsdorff, Johan Moritz Rugendas
segue em sua viagem pitoresca pelo Brasil, construindo uma obra que conta com
centenas de ilustrações no qual traz descrições de detalhes do cotidiano do período
colonial.
FIGURA 52 – OBRA “COSTUMES DE SÃO PAULO”, CRIADA PELO ARTISTA JOHANN MORITZ RUGENDAS, EM 1835
DICA
Há diversos documentos disponíveis para aprofundar nossos conhecimentos
sobre as expedições dos viajantes ao Brasil, como nas páginas sugeridas
desta Unidica:
Para conhecer algumas obras de Debret e outros artistas, acesse em: http://
museuscastromaya.com.br/brasiliana/.
118
INTERESSANTE
Debret tinha quase cinquenta anos quando aceitou o convite de Joachim
Lebreton para se juntar à colônia de bonapartistas que imigrou para o Rio
de Janeiro em 1816. Com Napoleão, seu patrono, exilado na ilha de Santa
Helena, Debret ainda foi abandonado pela mulher e perdeu seu único
filho, Honoré, um jovem artista de 19 anos. O pintor de história tem a visão
aguçada pela aflição da dor.
Segundo Teixeira Leite e Mendes Silva (2015, posição 494) “a tradição da pintura
colonial sairia profundamente abalada pela estética neoclássica importada da Europa,
especialmente da França”, porém, o estilo neoclássico foi contestado por alguns artistas e,
principalmente na arquitetura, foi marcado pelo ecletismo. Como explica Tirapeli (2010b,
p. 31), “o fim do período imperial foi marcado pelo início do ecletismo, que, no Brasil,
reúne elementos dotados das linhas curvas do barroco, paredes lisas e ornamentos com
o pouco dourado do rococó e colunas e arcos romanos típicos do estilo neoclássico”.
Podemos ver exemplos do estilo neoclássico e eclético nas imagens a seguir.
119
FIGURA 54 – ESTAÇÃO DA LUZ EM SÃO PAULO, CONSTRUÇÃO ECLÉTICA DO SÉCULO XIX
INTERESSANTE
Para conhecer detalhes arquitetônicos do Theatro da Paz, localizado
na cidade de Belém, Pará, construído no século XIX, durante o ciclo da
borracha, acesse em: https://theatrodapaz.com.br/.
120
FIGURA 55 – OBRA “MONUMENTO A D. PEDRO I”, CRIADA PELO ARTISTA LOUIS ROCHET EM 1857
121
3.1 TALENTOS BRASILEIROS DA ARTE ACADÊMICA
A arte acadêmica no Brasil teve grande destaque na pintura. Entre os pintores
considerados hoje grandes artistas, que guiaram suas pinceladas com incomum
maestria e perfeição, estão Victor Meirelles, Pedro Américo, Almeida Júnior (1850-1899),
Eliseu Visconti (1866-1944), entre outros.
FIGURA 56 – OBRA “A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR MEIRELLES, EM 1860
Outra obra do artista que causa grande impacto, tanto pelo tamanho como
pelas linhas e cores da composição é a pintura intitulada “Moema”, que representa a
pintura indianista, inspirada no poema épico Caramuru, escrito em 1781 pelo frei José de
Santa Rita Durão (1722-1784). Segundo Faria Couto (2015, posição 1078):
122
Mais do que uma manifestação estética, portanto, o indianismo no
Brasil esteve fortemente vinculado a uma política cultural nacionalista,
intencionalmente implementada pelo governo e pessoalmente
avalizada pelo próprio imperador. Além dos povos nativos, esse projeto
cultural procurava destacar também a exuberante natureza do país,
bem como construir uma memória histórica repleta de mitos e heróis.
123
FIGURA 58 – OBRA “INDEPENDÊNCIA OU MORTE”, CRIADA PELO ARTISTA PEDRO AMÉRICO, EM 1886-88
José Ferraz de Almeida Júnior, nascido em Itu, São Paulo, após estudar na
Europa, decide representar em suas obras as pessoas simples do interior. Entre as
pinturas destaca-se a obra “Amolação interrompida”, de 1894 no qual Tirapeli (2010b, p.
24) destaca que o artista, “além de pintar as expedições – entradas e bandeiras – dos
bandeirantes, valorizou a cultura local, retratando o caipira em atividades cotidianas”,
como também é percebido na obra realista “Caipira picando fumo”.
FIGURA 59 – OBRA “CAIPIRA PICANDO FUMO”, CRIADA PELO ARTISTA ALMEIDA JÚNIOR EM 1893
124
A obra “Caipira picando fumo” é um exemplo de arte com domínio de técnicas
tradicionais, seguindo as regras acadêmicas de composição. Entre as características do
estilo, destaca-se que a figura está centralizada no espaço da tela, sendo que a linha da
base da casa propõe equilíbrio. Já o emprego da luz e sombra dão volume para garantir
a profundidade.
FIGURA 60 – OBRA “MOÇA NO TRIGAL”, CRIADA PELO ARTISTA ELISEU VISCONTI EM 1913
É importante citar o que diz Pereira (2013, p. 82) sobre a produção artística
acadêmica do século XIX, que “partiu de uma postura inicial neoclássica, mas
posteriormente, incorporou ideias e valores de movimentos que lhe foram posteriores
– tais como, o romantismo, o realismo, o impressionismo e o simbolismo”. Portanto, os
artistas muitas vezes seguiam correntes diversas, pois elas aconteciam e acontecem
ao mesmo tempo.
125
INTERESSANTE
Essas e outras obras estão em acervos de diversos museus e podem ser
visualizadas em:
http://pinacoteca.org.br/.
https://masp.org.br/.
https://www.institutoricardobrennand.org.br/.
126
LEITURA
COMPLEMENTAR
RUGENDAS, UM CRONISTA VIAJANTE
127
Assim, um ano após partir junto com a expedição, em 1825, Rugendas se
desentende com Langsdorff e parte sozinho para Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo
retornando ao Rio de Janeiro, mas mantendo-se fiel ao seu objetivo, registrando tipos,
costumes, paisagens, fauna e flora da terra tropical, fazendo com que a natureza se
submetesse ao seu olhar e se acomodasse ao registro minucioso de sua poética. Seus
desenhos seriam as matrizes para sua pintura e gravura, esta, na maior parte das vezes,
realizada por litógrafos que buscavam seguir o traço original do artista.
128
“A satisfação do romântico está na insatisfação”, conforme Gerd Bornheim
ensinava. Esta insatisfação o leva a um escapismo em que ele vai procurar outras
paragens, lugares incomuns, a natureza, o homem não contaminados pela sociedade e
até a morte. Ele não se deixa aprisionar. Ele valoriza as emoções, a liberdade de criação,
a imaginação, o amor platônico enfim, constrói a sua realidade não na cópia do que vê,
mas na fábula visual que compõe a partir do que vê.
O artista capta as imagens observadas não como cópia da realidade, mas como
interpretação daquilo que vê. Se o modelo se enquadra dentro da norma e da regra
proveniente de seu aprendizado acadêmico, a imaginação romântica o liberta por meio
da representação das imagens, nas indumentárias, na composição mais diagonalizada
e, até mesmo na busca de uma expressão que não chega a aflorar totalmente aos rostos.
129
O apoio do naturalista Alexander Von Humboldt foi fundamental para que
Rugendas voltasse a planejar uma nova viagem ao continente americano. México, Chile,
Peru, Uruguai, Argentina e Brasil são os países de seu novo roteiro de viagem. Ele almeja
tornar-se “o ilustrador dos novos territórios do mundo”. Enquanto não inicia esta viagem
ele pinta telas de temas brasileiros a partir dos desenhos que havia feito. Nessas obras
nota-se uma impregnação mais romântica, pelas paisagens idílicas, por uma natureza
em que a imagem retida nas experiências passadas se reveste de cargas idílicas e de
lugares paradisíacos.
Rugendas estaria de volta ao Rio de Janeiro nos anos de 1845 e 1846. Nesse
segundo momento ele encontra um Brasil já bem diferente. A Academia Imperial das
Belas Artes gozava do apoio de D.Pedro II e já estava instalada em prédio próprio, na
Travessa das Belas Artes, no centro do Rio de Janeiro, obra neoclássica de Grandjean
de Montigny.
130
Costumes da Bahia (1835)
131
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A missão artística francesa trouxe para o Brasil, junto com os artistas, o estilo
neoclássico, que logo foi contestado por artistas românticos resultando em
transformações na arquitetura, passando a ser desenvolvida com um estilo eclético
que, além da combinação de diversos estilos, buscava a valorização da cultura, dos
temas e da história brasileira.
• No século XIX muitos artistas destacaram-se na arte acadêmica, como Victor Meirelles,
Pedro Américo e Almeida Júnior. Os pintores Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo, Belmiro
de Almeida e Henrique Bernardelli não se vincularam a um único estilo, assumindo
correntes como o romantismo, o realismo, o impressionismo e o simbolismo.
132
AUTOATIVIDADE
1 Em 1816, chegava ao Brasil a Missão Artística Francesa, sob a liderança de Joachim
Lebreton, com diversos artistas, encantados com a diversidade e as cores do nosso
país e que registraram belíssimas imagens históricas. Sobre qual era o objetivo
planejado por D. João VI para a missão, assinale a alternativa CORRETA:
2 A missão artística francesa trouxe, junto com os artistas, o estilo neoclássico para o
Brasil. Descreva como foi recebido esse novo estilo entre os artistas e interessados
nas realizações artísticas?
3 Entre os anos de 1815 e 1817, ocorreu a Missão Austríaca. Foi uma das mais longas,
além de ser reconhecida pelo importante trabalho de cientistas e naturalistas. Cite
os participantes mais importantes da expedição que trabalharam sob a influência do
naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt e descreva o que estudaram
no Brasil e qual o produto desse estudo?
5 No século XIX, D. João VI trouxe para o Brasil a Missão Artística Francesa, com o
objetivo de impulsionar o ensino da arte e o contexto artístico e cultural, fundando
uma academia de artes. Sobre o nome dos pintores históricos que se formaram pela
Academia Nacional de Belas Artes, assinale a alternativa CORRETA:
133
a) ( ) Pedro Américo e Almeida Júnior.
b) ( ) Victor Meirelles e Almeida Júnior.
c) ( ) Eliseu Visconti e Henrique Bernardelli.
d) ( ) Victor Meirelles e Pedro Américo.
134
REFERÊNCIAS
AMÁLIA, A.; MINERINI, J. História da arte brasileira. São Paulo: Senac São
Paulo, 2019. E-book.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. Trad. Álvaro Cabral. 16. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2012.
PEREIRA, S. G. Arte no Brasil no século XIX e início do século XX. In: A História
da Arte no Brasil: textos de síntese. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2013.
135
TEIXEIRA LEITE, J. R.; MENDES SILVA, R. Da pré-história ao fim do período
colonial. Rumo Certo, 2015. E-book.
TOLEDO, B. L.; ZANINI, W. (Coord.). História geral da arte no Brasil. São Paulo:
Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983, v. 2.
136
UNIDADE 3 —
ARTE BRASILEIRA NO
SÉCULO XX E XXI
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
137
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
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138
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
RUMO A UMA ESSÊNCIA ESTILÍSTICA
BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS DE
CORRENTES ARTÍSTICAS DA EUROPA
1 INTRODUÇÃO
Caro Acadêmico, estamos nos aproximando do tempo atual nesta caminhada
pela arte brasileira e, como vimos, nas primeiras décadas do século XX ainda havia
fortes características do academicismo, fruto dos estudos de artistas influenciados pelo
neoclassicismo trazido pela Missão Francesa, em 1816.
Por detrás dessa cortina já havia algum movimento, alguns dos artistas da
Missão, seduzidos pela experiência brasileira, já viviam um momento de ruptura com
uma nova direção nos seus padrões estéticos.
139
2 VANGUARDAS EUROPEIAS NO BRASIL
Em alguma etapa de seus estudos você provavelmente já deve ter conhecido as
Vanguardas Europeias, as quais formam um conjunto de movimentos artístico-culturais
que ocorreram no início do século XX em diversas partes da Europa. Conhecer essas
vertentes artísticas e sua influência nas produções brasileiras é fundamental para que
se possa perceber a constituição da arte moderna em nosso país. Para isso, é necessário
também compreender o contexto em que tais movimentos se estabeleceram no
continente europeu.
140
2.1 EXPRESSIONISMO
Tanto no Brasil como nos demais países em que se manifestou, o Expressionismo
foi uma vertente artística de vanguarda que ressaltava a subjetividade, predominando
o caráter emocional. Com origem na Alemanha nos primeiros anos do século XX, o
movimento propunha um novo modo de se fazer arte, tendo como um de seus principais
objetivos desvincular a beleza da arte por meio de composições intuitivas e pessoais.
De acordo com Proença (2008), o expressionismo procurava retratar as inquietações do
ser humano naquele início de século, de modo a se opor ao impressionismo — corrente
anterior que se preocupava apenas em ressaltar as sensações provocadas pela luz.
A seguir, conheça alguns dos artistas brasileiros que, no início do século XX,
realizaram suas produções a partir da influência expressionista.
FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2048/a-mulher-de-cabelos-verdes>.
Acesso em: 21 jul. 2021.
Apesar das críticas recebidas por essas obras, Anita Malfatti teve o apoio de
diversos outros artistas e juntos foram em busca de uma arte brasileira que estivesse
liberta das regras impostas pelas academias de Arte. Observamos assim a importante
contribuição desta artista para os rumos da arte nacional, tornando-se destaque e
contribuindo para a disseminação da vertente expressionista em território brasileiro.
142
FIGURA 2 – OBRA “INTERIOR DE POBRES”, CRIADA PELO ARTISTA LASAR SEGALL EM 1924
143
Essa e outras obras do artista “tornaram-se instrumentos de denúncia social”, a
partir dos quais “a força dramática se acentua pela distorção das figuras inspiradas pelas
secas do Nordeste” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 103). O artista expressa as mazelas dos
personagens por meio da desarticulação das formas, compondo um ritmo que vai se
delineando por meio de traços escuros e marcantes.
2.2 FAUVISMO
O Fauvismo foi um movimento com origem na França, inspirado na palavra
francesa fauve (fôv), que significa fera, tendo como principais características a
simplificação das formas e o uso intenso das cores. A partir de temáticas leves, as
quais se distanciavam de questões críticas sociais ou políticas, as pinturas fauvistas
eram elaboradas utilizando-se de pinceladas separadas e diminuindo a sensação
de profundidade. As figuras não eram representadas de modo realista, mas apenas
sugeridas, assim como as cores, as quais não correspondiam à realidade pois eram
utilizadas de modo puro, sem o emprego de gradações.
Seu período de efervescência foi mais curto em relação aos demais movimentos
de vanguarda, contudo algumas das inovações presentes nessa vertente permanecem
sendo utilizadas ainda na atualidade. De acordo com Proença (2008, p. 184), “os fauvistas
tiveram suas obras rejeitadas, mas deram início ao gosto pelas cores puras, que hoje
vemos em tantos objetos do cotidiano e em peças do vestuário”.
144
FIGURA 4 – OBRA “ZIZA NO ATELIER”, CRIADA PELO ARTISTA ARTHUR TIMÓTHEO DA COSTA EM 1919
Ao longo de sua vida, Inimá produziu pinturas nas quais a intensidade das
cores está presente. Em seus trabalhos, é possível identificar traços influentes de Paul
Cézanne (1839-1906) e Henri Matisse (1869-1954). O artista mineiro utilizava cores puras
e expressivas, como o vermelho, azul, amarelo e verde, os quais eram empregados na
tela com vivacidade. Contudo, há também a predominância de tons mais neutros, como
brancos e cinzas, em muitas de suas obras.
145
FIGURA 5 – OBRA “ABSTRAÇÃO FAUVE”, CRIADA PELO ARTISTA INIMÁ JOSÉ DE PAULA EM 1977
DICA
A Fundação Inimá de Paula foi criada em 1998 com o intuito de preservar,
divulgar e resguardar a obra desse artista. Para ver outros trabalhos e
conhecer mais detalhes sobre a sua história acesse o site do museu, o
qual está localizado na cidade de Belo Horizonte e abriga muitas de suas
produções. Acesse em: http://www.museuinimadepaula.org.br/.
2.3 CUBISMO
Com surgimento na França, o Cubismo foi uma vertente que se caracterizou pelo
uso de formas geométricas, tendo por objetivo o rompimento da perfeição das figuras.
Para o crítico de arte Guillaume Apollinaire “o cubismo difere dos estilos anteriores de
pintura, pois deixou de ser uma arte de imitação, para se tornar uma arte de imaginação”
(GANTEFÜHRER-TRIER, 2010, p. 16). Assim como as demais vanguardas artísticas que
aconteceram no início do século XX, abrangeu principalmente as artes plásticas e
exercendo influência sobre a literatura.
146
Inspirados pelo trabalho de Paul Cézanne, o qual entendia que a arte deveria
transformar a natureza ao invés de retratá-la, o movimento cubista teve como pioneiros
Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque (1882-1963), além de Fernand Léger
(1881-1955) também como um dos principais artistas. De modo geral, suas principais
características eram o desapego à realidade, a utilização de formas geométricas, o
exercício da fragmentação, a renúncia da perspectiva e a experimentação.
Essa vertente contou ainda com duas fases distintas: o Cubismo Analítico que,
por volta de 1909, destacou-se pela preponderância do uso de cores neutras e “pela
decomposição dos elementos que fazem parte da obra, com a preocupação de oferecer
a visão total de todos os ângulos e lados, numa sequência de planos sucessivos e
sobrepostos”; e o Cubismo Sintético que, em torno de 1911, “procurou reconstruir a figura,
tornando-a reconhecível, e incluiu elementos como vidro, metais, pedaços de madeira,
letras, números e objetos, com a intenção de tornar a pintura não só visual, mas também
provocadora de sensações táteis” (REIS, 2010, p. 127).
IMPORTANTE
O Cubismo exerceu influência não apenas na pintura brasileira, mas também
na literatura, tendo como destaque as obras dos escritores Oswald de Andrade,
Raul Boop e Érico Veríssimo. Na literatura cubista o objetivo foi a destruição da
sintaxe e o fim da linearidade.
147
Ainda que não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, Tarsila
do Amaral teve importante colaboração no desenvolvimento do modernismo brasileiro,
criando obras que indicariam novos rumos para a arte. Em 1924, no Brasil, deu início a
uma fase chamada posteriormente de pau-brasil. Proença (2008, p. 202) explica que,
segundo o crítico Sérgio Milliet, essa fase da artista ficou caracterizada “pelas cores ditas
caipiras, rosas e azuis, as flores de baú, a estilização geométrica das frutas e plantas
tropicais, dos caboclos e negros, da melancolia das cidadezinhas, tudo isso enquadrado
na solidez da construção cubista”.
148
FIGURA 7 – OBRA “PIETÁ’, CRIADA PELO ARTISTA VICENTE DO REGO MONTEIRO EM 1924
Proença (2008, p. 202) explica que, “depois das exposições de Segall e Malfatti,
começou a desenvolver-se a ideia de uma mostra coletiva com o que havia de mais
atualizado no país”. Desse modo, Di Cavalcanti inicia uma amizade com os intelectuais
paulistas Mário de Andrade e Oswald de Andrade e juntos organizam em 1922 a Semana
de Arte Moderna. No ano seguinte o artista vai estudar em Paris, onde tem contato com
diversos pintores como Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger e Henri Matisse
e passa a ter um novo direcionamento em sua obra.
149
FIGURA 8 – OBRA “PESCADORES”, CRIADA PELO ARTISTA DI CAVALCANTI EM 1951
IMPORTANTE
Assim como acontece com outros artistas do modernismo brasileiro, o trabalho
de Di Cavalcanti foi influenciado por muitos pintores de diferentes correntes
europeias de vanguarda, não se restringindo somente às características do
cubismo. De todo modo, o que se ressalta na produção desse artista é a criação
de um estilo artístico que se relaciona com a realidade brasileira, entendendo a
arte também como uma forma de manifestação social.
2.4 SURREALISMO
O Surrealismo foi uma vertente artística que teve como foco a livre expressão de
ideias. Sem preocupação com a lógica, os artistas associados a esse movimento tomaram
como base para sua estética as teorias psicanalíticas que valorizavam o inconsciente.
Gombrich (2012, p. 592) explica que “muitos dos surrealistas estavam profundamente
impressionados com os escritos de Sigmund Freud, segundo o qual, quando nossos
pensamentos em estado vígil ficam entorpecidos, a criança e o selvagem que existem em
nós passam a dominar”.
150
No Brasil, o movimento surrealista foi absorvido pelo modernismo por volta
de 1920. Ainda que não tenha expressado muita força, alguns importantes artistas
apresentaram influências dessas características em seus trabalhos, deixando marcas na
cultura e na história da arte. Uma das pinturas brasileiras mais marcantes que carregam
aspectos do surrealismo é a obra “Abaporu” (antropófago em tupi-guarani), de Tarsila do
Amaral, produzida em 1928. Nela podemos observar elementos que são características
em alguns trabalhos da artista, como a utilização de cores fortes, a abordagem de temas
imaginários e a alteração da realidade.
152
FIGURA 11 – OBRA “COMPOSIÇÃO”, CRIADA PELO ARTISTA CÍCERO DIAS EM 1928
De acordo com o crítico Antonio Bento, a obra de Cícero Dias está relacionada à
vertente surrealista, abarcando características de um "imaginário fantástico nordestino",
composto por mitos e fábulas tanto nas produções artísticas como na literatura de
cordel. (CÍCERO..., 2021, s.p.). Além das características surrealistas, Cícero caminha
também por outras vias em suas obras, influenciando e sendo influenciado por suas
vivências durante sua carreira, porém nunca abandonando suas origens.
153
3.1 LITERATURA
Além da pintura, a literatura brasileira foi uma das principais linguagens artísticas
a receber influência das vanguardas europeias, no início e ao longo do século XX, dando
origem ao que se configurou como o modernismo brasileiro. De acordo com Alfredo Bosi
(2015, p. 699), “é a sedução do irracionalismo, como atitude existencial e estética, que
dá o tom aos novos grupos, ditos modernistas, e lhes infunde aquele tom agressivo com
que se põem em campo para demolir as colunas parnasianas e o academismo em geral”.
IMPORTANTE
Apesar de algumas divergências internas existentes, Pagnan (2010, p. 245)
resume as características que envolviam a literatura modernista:
a. versos livres, cuja base estava no Dadaísmo e no Surrealismo;
b. ênfase na ordem do subconsciente, para a livre associação de ideias, de
imagens, também inspirada no Dadaísmo e no Surrealismo;
c. velocidade – o mundo moderno, com as diversas invenções, tornara-
se mais veloz, por isso a literatura deveria ser a expressão da agitação
mundana. E a visão futurista do momento;
d. resgate histórico crítico – um olhar crítico sobre nosso passado para
repensar o presente e construir o futuro foi indispensável nessa fase;
e. a compreensão de quem somos como raça, como povo, miscigenado,
fruto de diversos povos;
f. simultaneidade.
FONTE: PAGNAN, C. L. Manual compacto de literatura brasileira. São Paulo:
Rideel, 2010.
154
Canção do Exílio
FONTE: MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
3.2 ESCULTURA
Também a escultura passava por transformações no início do século XX a partir das
mudanças que ocorriam na Europa. Stephen Farthing (2011, p. 444) afirma que a escultura
modernista “é um ponto de inflexão na busca dos escultores por descobrir o que era a sua
arte, começando pelo reexame das noções de representação, espaço, forma, volume e
massa, seguindo-se a escolha dos materiais, até chegar aos métodos construtivos”.
Iniciando seus estudos em 1912, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, o artista
vai à Roma, Itália, onde permanece por seis anos aperfeiçoando seus aprendizados na
escultura. Mais tarde, em 1921, após um período de retorno a São Paulo, ganha uma
bolsa e viaja para Paris. Na cidade francesa, Brecheret procura mesclar algumas de suas
referências para compor um estilo pessoal, baseado na geometria da escultura cubista,
na sintetização da forma e na estilização do art déco (VICTOR..., 2021, s.p.).
155
FIGURA 12 – OBRA “TOCADORA DE GUITARRA”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR BRECHERET EM 1923
Alguns anos depois, no Brasil, o artista intensifica seu trabalho, produzindo obras
de grande porte, como o “Monumento às Bandeiras”, o qual já havia apresentado em
1920, porém em menor escala. De modo geral, Victor Brecheret deixou sua importante
contribuição para a legitimação da arte brasileira, por meio das influências externas
recebidas e sintetizadas em formas simples, porém expressivas.
FONTE: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/monumentos/monumento-as-bandeiras/>.
Acesso em: 20 set. 2021.
Essa obra começou a ser desenhada no ano de 1920, mas foi concretizada
somente 33 anos depois. Essa escultura, de grande porte, possui cerca de 11 metros de
altura total, por 8,40 metros de largura e 43,80 metros de profundidade.
156
INTERESSANTE
Em 2020, na mostra “Vozes contra o racismo” foram feitas projeções em
diversos monumentos da cidade de São Paulo durante o Festival das
Luzes. O “Monumento às Bandeiras”, de Victor Brecheret, recebeu as luzes,
que provocaram a impressão de movimento na obra. Assista em: https://
www.youtube.com/watch?v=Ip3WXHgt5bM.
Vamos conhecer mais uma obra do artista Victor Brecheret, intitulada “Musa
impassível”, realizada em 1923, que foi criada para o túmulo da poetisa Francisca Júlia.
FIGURA 14 – OBRA “MUSA IMPASSÍVEL”, CRIADA PELO ARTISTA VICTOR BRECHERET EM 1923
INTERESSANTE
Na ocasião da morte da poetisa Francisca Júlia (1871-1923), foi aprovada
a construção de um mausoléu, idealizado pelo grupo de artistas e
intelectuais que mais tarde fundariam o Movimento de Arte Moderna. A
obra abrigaria uma estátua feita por Victor Brecheret.
A estátua, Musa impassível, esquecida no cemitério do Araçá, em São
Paulo, foi descoberta por acaso em 1992, pela filha de Brecheret. Em
2006, a estátua foi levada para a Pinacoteca do Estado de São Paulo,
onde foi restaurada e está exposta.
Assim diz Menotti Del Picchia em uma crônica ao Correio paulistano:
157
[...] que se ergue hoje, no Cemitério do Araçá [...].
É A musa impassível, um mármore [...] criado pelo cinzel triunfal de Victor Brecheret, [...] na
augusta expressão dos seus olhos, do seu busto erecto, das suas mãos rítmicas, há toda
a grandeza e a beleza daquela musa impassível da formidável parnasiana que concebeu e
realizou a “Dança das centauras”.
FONTE: REIS, E. V. dos. Manual compacto de arte. São Paulo: Rideel, 2010.
FONTE: REIS, E. V. dos. Manual compacto de arte. São Paulo: Rideel, 2010.
3.3 ARQUITETURA
Diferentemente das outras expressões artísticas, a arquitetura tardou um
pouco mais a se modernizar no Brasil. Nas duas primeiras décadas do século XX nossos
arquitetos ainda seguiam padrões clássicos de composição, os quais eram ensinados
nas poucas escolas de arquitetura do país.
158
arquiteto russo inseriu o Brasil no mapa da arquitetura moderna mundial, logo no início
dos anos 1930. Nesse contexto, foi posicionado na historiografia da arquitetura como o
iniciador da arquitetura moderna no Brasil”.
FIGURA 15 – CASA NO BAIRRO VILA MARIANA, CRIADA PELO ARQUITETO GREGORI WARCHAVCHIK EM 1928
3.4 GRAVURA
Foi a partir das décadas de 1930 e 1940 que a gravura começou a afirmar-se
no Brasil. De início, o artista de maior repercussão foi Oswaldo Goeldi (1895-1961), o
qual trazia um estilo expressionista por meio da representação de animais como gatos,
abutres e peixes, ou de casarios suburbanos e ruas sombrias (BATTISTONI FILHO, 2018).
159
FIGURA 16 – OBRA “PESADELO”, CRIADA PELO ARTISTA OSWALDO GOELDI EM 1935
160
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Cubismo foi uma vertente que se destacou pelo uso de formas geométricas, tendo
por objetivo o rompimento da perfeição das figuras. Ainda que não haja nenhum
pintor brasileiro considerado exclusivamente cubista, podemos observar suas
influências em alguns trabalhos de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Rego Monteiro
e Di Cavalcanti.
• O Surrealismo teve como foco a livre expressão de ideias. Sem preocupação com
a lógica, os artistas tomaram como base para sua estética as teorias psicanalíticas
que valorizavam o inconsciente. Mesmo que no Brasil não tenha expressado muita
força, alguns artistas apresentaram influências dessas características em seus
trabalhos, como Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Cícero Dias.
161
AUTOATIVIDADE
1 No início do século XX, a sociedade passava por diversas mudanças, tendo em vista
a Segunda Revolução Industrial ocorrida no século XIX e a Primeira Guerra Mundial.
No Brasil, inclusive, também se percebeu grande influência desses acontecimentos.
Dessa forma, descreva quais os principais movimentos artísticos que influenciaram a
arte moderna e como esse conjunto de movimentos é conhecido e por meio de quais
linguagens se expressaram?
3 O cubismo surgiu na França e foi uma vertente que se caracterizou pelo uso de
formas geométricas, tendo por objetivo o rompimento da perfeição das figuras. No
Brasil não há artistas que tenham em suas obras características totalmente cubistas,
mas podemos encontrar traços de cubismo nas obras de alguns artistas. Com base
nas informações do texto, que artistas possuem características que fazem referência
ao cubismo? Assinale a alternativa CORRETA:
163
164
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
ARTE MODERNA BRASILEIRA: EM BUSCA DA
RUPTURA
1 INTRODUÇÃO
No início do século XX a arte brasileira ainda carregava traços da herança
acadêmica do século XIX, enquanto na Europa surgiam novas possibilidades a partir de
experiências individuais de alguns artistas, resultando no que definiu a arte moderna.
165
Está ali entre os trabalhos da Sra. Malfatti em atitude de quem diz:
eu sou o ideal, sou a obra-prima, julgue o público do resto tomando-
me a mim como ponto de referência. Tenhamos coragem de não ser
pedante: aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento;
foram, isto sim, um pedaço de carvão em movimento.
A artista Anita, que havia estudado na Europa e nos Estados Unidos, voltava
ao Brasil com novas ideias, disposta a refletir sobre a arte e, principalmente, abrir
novos caminhos para a arte brasileira, valorizando a cultura nacional. Assim, com ajuda
de amigos, expôs suas obras sem imaginar o que viria por parte da crítica. A artista
ficou muito abalada e parou de pintar, pois muitas obras haviam sido vendidas e os
compradores decidiram devolver.
166
As conferências tratavam de assuntos em torno dos aspectos estéticos da arte
no Brasil, que vinha seguindo os padrões europeus, mas necessitava de mais liberdade,
como também de valorização da cultura nacional, tanto na literatura, na música, na
arquitetura, na pintura, na escultura ou outra linguagem artística.
INTERESSANTE
Para conhecer o teor da crítica de Monteiro Lobato à exposição de Anita
Malfatti, acesse: https://issuu.com/jailsonsbrito/docs/paranoia_ou_mistificacao.
A luta pela valorização das nossas raízes, exibindo o que é nacional ao invés
dos temas clássicos dos retratos e naturezas-mortas, foi intensa. E o escritor Oswald de
Andrade juntamente com outros intelectuais, escritores e artistas foram responsáveis
por trazer à tona o discurso sobre o Brasil.
167
FIGURA 18 – REVISTA DE ANTROPOFAGIA
168
FIGURA 19 – OBRA “ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL”, CRIADA PELA ARTISTA TARSILA DO
AMARAL EM 1924
FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1617/estrada-de-ferro-central-do-brasil>.
Acesso em: 24 ago. 2021.
169
3.3 MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO
Enquanto o Movimento Pau Brasil propunha uma arte de exportação e ressaltava
a modernização brasileira, o Movimento Antropofágico buscava devorar a cultura e as
técnicas estrangeiras para reelaborá-las de modo mais legítimo e autônomo.
170
4 FORMAÇÃO DE SOCIEDADES, CLUBES E GRUPOS
Na década de 1930 surge uma propensão à formação de grupos. Como conceitua
Coelho (2014, p. 214), “é um conjunto de indivíduos reunidos ao redor de um fim comum
a ser perseguido e que serve de centro ordenador das relações entre esses indivíduos,
uns em relação aos outros, e entre eles e o fim buscado”. O objetivo desses grupos era
discutir e defender as tendências que aproximavam seus componentes.
171
4.2 SOCIEDADE PRÓ-ARTE MODERNA
Reunindo muitas das figuras do primeiro modernismo, a fundação da Sociedade
Pró-Arte Moderna (SPAM) aconteceu em São Paulo, ao final de 1932. Com objetivos
bem definidos e de notável expressividade, o movimento “propunha-se a estreitar as
relações entre os artistas e as pessoas, promover exposições, concertos, conferências
e instalar uma sede social” (BATTISTONI FILHO, 2018, p. 98).
Conforme Amália e Minerini (2019, p. 80), “o debate que se instalou com a primeira
bienal se deu sobre arte figurativa versus arte abstrata, porque a abstração se tornou a
grande novidade apresentada pela bienal paulista para os brasileiros”. O interesse afetou
diversos grupos que iniciaram trabalhos abstratos, como o Atelier Abstração, fundado
por Samson Flexor em 1953.
FONTE: <http://www.conhecendomuseus.com.br/museus/museu-de-arte-moderna-de-sp/>.
Acesso em: 20 set. 2021.
No Rio de Janeiro, o Grupo Frente, composto por Ivan Serpa (1923 - 1973), Aluísio
Carvão (1920 - 2001), Décio Vieira (1922 - 1988), João José da Silva Costa (1931 - 2014),
Lygia Clark (1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004) e Vicent Ibberson (1931 - 2017). Em 1955
uniram-se ao grupo Abraham Palatnik (1928 - 2020), Franz Weissmann (1911 - 2005), Rubem
Ludolf (1932 - 2010) e Hélio Oiticica (1937 - 1980), entre outros (AMÁLIA; MINERINI, 2019).
173
No ano de 1956 os grupos Frente e Ruptura fizeram juntos a primeira exposição
de arte concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM – SP). No ano seguinte
realizam a mostra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM – RJ) (LUZ, 2013).
FONTE: <https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/museus/museu-de-arte-contemporanea-da-usp/>.
Acesso em: 20 set. 2021.
174
A Bienal Internacional de São Paulo, criada pelo empresário Francisco
Matarazzo Sobrinho (1892-1977) – conhecido por Ciccillo Matarazzo – em 1951, é
a primeira exposição de arte moderna de grande porte realizada fora dos centros
culturais europeus e norte-americanos. Sua origem articula-se a uma série de outras
realizações culturais em São Paulo – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
– Masp (1947), Teatro Brasileiro de Comédia – TBC (1948), Museu de Arte Moderna de
São Paulo – MAM/SP (1949) e Companhia Cinematográfica Vera Cruz (1949) – que
aponta para o forte impulso institucional que as artes recebem na época, beneficiado
por mecenas como Ciccillo Matarazzo e Assis Chateaubriand (1892 - 1968).
175
A 5ª Bienal (1959) é grande sucesso de público e traz como novidade,
segundo o crítico Mário Pedrosa (1900 - 1981), a "ofensiva tachista e informal". Aí
também é inaugurada uma área para teatro, que passa a dividir o espaço, com as
mostras de filmes, com as artes plásticas e a arquitetura. Vale lembrar que em 8 de
maio de 1962 é criada a Fundação Bienal de São Paulo, marcando o desligamento
do MAM/SP. Desde fins dos anos 1950, o projeto cultural impulsionado pelos
industriais paulistas perde força, levando a uma recomposição do meio artístico de
São Paulo. Na 6ª edição, de 1961, a curadoria geral de Mário Pedrosa combina obras
contemporâneas (Kurt Schwitters, 1887-1948) com retrospectivas históricas (Alfredo
Volpi, 1896 - 1988). A ampliação da participação nacional e a maior representação de
obras de caráter histórico valem uma série de críticas ao evento. A mostra de 1963,
por sua vez, destaca-se pela grandiosidade que, a partir daí, torna-se um de seus
traços característicos.
A 16ª Bienal (1981), sob a curadoria geral de Walter Zanini, tem papel
importante no resgate do prestígio do evento, abalado na década anterior. Zanini
organiza a mostra tendo como eixo as analogias de linguagens entre obras variadas
(Núcleo 1: "Linguagens Aproximadas"). Fortalece o núcleo histórico (Núcleo 2),
apresenta o acervo do Museu do Inconsciente e reconquista a participação dos
artistas contemporâneos (entre esses, tem grande impacto a representação
nacional, com Antônio Dias (1944), Cildo Meireles (1948), Tunga (1952), entre
outros). Em 1985, a curadora da 18ª Bienal, Sheila Leirner (1948), com o auxílio
de arquitetos, apresenta novas soluções para a montagem da exposição. A ideia
norteadora do evento – a "grande tela" – leva a que as obras sejam expostas em
três vastos corredores, com 30 cm de distância entre cada uma delas. Nos anos
1990, as mostras são organizadas com base em grandes temas, por exemplo
"Ruptura com o Suporte" (1994) e "Antropofagia" (1998). Nessa década, as bienais
são tomadas por espetáculos de diversos tipos: dança, teatro, música etc., o que
faz delas eventos culturais mais amplos.
FONTE: Adaptada de BIENAL Internacional de São Paulo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e
Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
termo905/bienal-internacional-de-sao-paulo. Acesso em: 14 set. 2021.
176
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A Semana de Arte Moderna foi um marco importante na arte brasileira, dando início
a um novo ciclo. A ideia de realizar o evento surgiu a partir de críticas feitas por
Monteiro Lobato às exposições, inicialmente à exposição de Lasar Segall, em 1913 e,
principalmente, às obras de Anita Malfatti na exposição de 1917.
177
• Na década de 1930 surge uma propensão à formação de grupos com o objetivo de
discutir e defender as tendências que aproximavam seus componentes para discutir
a arte e suas tendências. Em São Paulo, destacaram-se o Núcleo Bernardelli, a
Sociedade Pró-Arte Moderna, o Clube dos Artistas Modernos e o Grupo Santa Helena.
178
AUTOATIVIDADE
1 A Semana de Arte Moderna foi realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de
São Paulo, onde foram apresentados concertos, conferências e exposições. O evento
foi um marco importante na história da arte brasileira, pois atuou fundamentalmente
na valorização de um perfil estético nacional. Quais acontecimentos determinaram a
realização do evento e qual era a intenção dos organizadores?
179
a) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Acadêmica, Clube dos Artistas Modernos,
Grupo Santa Madalena.
b) ( ) Núcleo Bernardetti, Sociedade Pró-Arte Moderna, Clube dos Turistas Modernos,
Grupo Santa Madalena.
c) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Acadêmica, Clube dos Artistas Modernos,
Grupo Santa Helena.
d) ( ) Núcleo Bernardelli, Sociedade Pró-Arte Moderna, Clube dos Artistas Modernos,
Grupo Santa Helena.
a) ( ) Ocorreu em 1961. Seu objetivo era reunir atores brasileiros, expondo as tendências
da dramaturgia do pós-guerra, promovendo também o contato entre os diretores.
b) ( ) Ocorreu em 1951. Seu objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros,
expondo as tendências artísticas acadêmicas, promovendo também o contato
entre os expositores.
c) ( ) Ocorreu em 1951. Seu objetivo era reunir obras de artistas brasileiros e estrangeiros,
expondo as tendências artísticas do pós-guerra, promovendo também o contato
entre os expositores.
d) ( ) Ocorreu em 1953. Seu objetivo era reunir obras de artistas estrangeiros, expondo
as tendências artísticas do pós-guerra, promovendo também o contato entre os
expositores.
180
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL:
PANORAMA DO SÉCULO XXI
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, seguiremos mais adiante pelo caminho da história da
arte brasileira. Percorrendo seus meandros, já atravessamos alguns séculos e vimos
quanta riqueza foi construída.
181
Nesse sentido, a produção de arte está relacionada ao cenário de seu próprio
tempo. Para Coli (2011, p. 30), “alargando mais ainda o campo do conceito, descobrimos
que as diversas épocas constroem uma espécie de pano de fundo estilístico comum às
obras, por diferentes que sejam”. A própria temática, os materiais, a formação de grupos,
manifestos, ocorrem de acordo com o contexto vivido.
Para Canton (2011b, p. 35), “no emaranhado disperso da vida cotidiana, afinal
procuramos o eu através do outro, rastreamos nossas histórias e abrimos nossos diários
íntimos na tentativa de nos oferecer verdadeiramente para o mundo”. Para a autora, os
artistas contemporâneos procuram justamente a troca genuína de memórias e sentidos.
Pode-se dizer que a arte contemporânea, com raízes nas correntes surgidas na
Europa à época da Primeira Guerra Mundial, como por exemplo o dadaísmo, se estabelece
após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o interesse dos artistas em movimentar a arte
contemporânea ocorreu no início da década de 1950 com a arte concreta, estimulada
pela primeira Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, e rompendo com a arte
figurativa do modernismo brasileiro.
182
FIGURA 23 – OBRA “EPOPEIA PAULISTA”, CRIADA PELA ARTISTA MARIA BONOMI EM 2004
DICA
Para conhecer um pouco mais dos mistérios da gravura na obra e na
voz da artista Maria Bonomi, acesse em: https://www.youtube.com/
watch?v=HFAByQ6dmbg.
DICA
Conheça o vídeo que traz informações sobre o desenvolvimento da videoarte,
bem como alguns trechos de obras de artistas que utilizaram esse suporte.
Acesse em: https://tvbrasil.ebc.com.br/midia-em-foco/2018/08/videoarte.
183
A década de 1980 foi marcada pelo fim da ditadura em 1985, a anistia, o
movimento pelas eleições diretas para presidente da república e a Constituição Federal
de 1988. Todos esses eventos promoveram no Brasil um novo horizonte político,
econômico e social. A abertura de um novo tempo, com novas possibilidades, fervilhava
nas artes, agora com o consentimento e a aceitação do novo.
INTERESSANTE
Vamos conhecer mais sobre a videoarte?
Assista ao vídeo Corpo & anima de Antonio Dias: https://www.youtube.com/
watch?v=yjHSSqEWmN4.
DICA
O professor de Filosofia Celso Favaretto esclarece sobre o que é arte.
Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI.
184
2.1.1 Arte Concreta
A arte concreta surge no Brasil com o manifesto do Grupo Ruptura, inspirado
no abstracionismo formal, como o neoplasticismo, que valorizava as composições
geométricas organizadas e teve como um de seus precursores o artista holandês Piet
Mondrian (1872-1944).
FIGURA 24 – OBRA “CONTRADIÇÃO ESPACIAL”, CRIADA PELO ARTISTA WALDEMAR CORDEIRO EM 1958
FONTE: <https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento630502/waldemar-cordeiro-fantasia-exata>.
Acesso em: 20 set. 2021.
Lygia Clark, com seus bichos produzidos em metal, buscava o equilíbrio entre o
bidimensional e o tridimensional e convidava o público a interferir nas formas, como na
obra mostrada na imagem seguinte:
185
FIGURA 25 – OBRA “BICHO”, CRIADA PELA ARTISTA LYGIA CLARK EM 1960
Para Konell (2021, p. 88), essa série criada pela artista, na qual utiliza placas de
metal polido unidas por dobradiças “configuram como uma existência poética que se
movimenta no espaço a partir da participação do público. Diante da obra, o sujeito se
sente estimulado a movimentar e transformar o objeto, para potencializar sensações de
estranhamento sobre o organismo vivo criado”.
DICA
Assista ao vídeo para conhecer os “Parangolés” de Hélio Oiticica. Acesse
em: https://www.youtube.com/watch?v=iaQBW7FitQE.
186
Outras obras, como Bilaterais e Relevos espaciais, já convidavam o espectador
a sair de seu lugar para atuar na própria obra, deixando-se envolver pelos sentidos.
DICA
Assista ao vídeo “O vazio como forma”, para conhecer as esculturas de Franz
Weissmann. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=zvBxJhyziZg.
FIGURA 26 – OBRA “SEM TÍTULO” CRIADA PELO ARTISTA AMÍLCAR DE CASTRO EM 1948
187
2.1.2 Arte Cinética
A arte cinética possui raízes no concretismo e surgiu nas primeiras décadas do
século XX, quando alguns artistas como Marcel Duchamp (1887-1968) e Naum Gabo (1890-
1977) passaram a enfatizar movimentos mecânicos em suas obras (KINDERSLEY, 2012).
188
O artista também possui alguns trabalhos confeccionados em papel, que
produzem sensações ópticas de movimento e cores.
FIGURA 29 – OBRA “PROJETO COCA-COLA” CRIADA PELO ARTISTA CILDO MEIRELES EM 1970
Sobre a produção de Meirelles, Luz (2013, p. 177) expõe que “a obra não está
no mercado de arte, nem nos museus ou galerias: está no próprio meio, tornando-
se mensagem de seu protesto”, da mesma forma que realiza em “Zero Cruzeiro”.
Podemos observar que a obra de Meirelles também carrega traços de outras correntes
contemporâneas, como visto neste tópico.
INTERESSANTE
Aprecie outras obras de Cildo Meireles, esse importante artista brasileiro.
Acesse em: https://www.wikiart.org/pt/cildo-meireles.
189
2.1.4 Arte conceitual
Surgiu nos anos 1960, “como um desafio às classificações impostas à arte por
museus e galerias”, como afirma Vanderloo (2011, p. 500). Uma das principais referências
da arte conceitual é Joseph Kosuth (1945-), que provoca o espectador com suas obras
trazendo o conceito como princípio básico.
FIGURA 30 – OBRA “A REBELIÃO DOS ANIMAIS” CRIADA PELO ARTISTA NELSON LEIRNER EM 1973
DICA
Assista ao vídeo para conhecer a obra de Antonio Manuel. Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=MBxw1K95-tw.
190
2.1.5 Instalações
A proposta da instalação é trabalhar com objetos e materiais utilizados em
contextos diversos, principalmente da vida cotidiana. Esses elementos, modificados ou
não, conforme o imaginário do artista, são apresentados com outro conceito, provocando
estranhamento e reflexão no público.
DICA
Para conhecer um pouco mais da obra apresentada por Vallauri na 18a
Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, assista o vídeo em: https://www.
youtube.com/watch?v=CFRN-C0_-wI.
Cildo Meireles é um dos artistas mais conhecidos no Brasil, por suas instalações.
A obra “Desvio para o vermelho”, criada em 1967, foi montada em versões diferentes
desde 1984. Outra obra de Cildo Meireles, cujo título é “Através”, que está exposta no
Instituto Inhotim, provoca o público a percorrer seus caminhos em forma de labirinto.
191
Essa obra apresenta uma variedade de materiais, entre eles tecido, tela, rede,
plástico, cerca, papel, arame, vidro, grade de prisão e madeira, convida o público a
penetrar seus espaços a fim de provocar diferentes percepções sensitivas. Segundo
Konell (2021, p.176), “os diferentes tipos de obstáculos evidenciam o quanto é necessário
que o público/participante seja cauteloso em sua fruição”.
2.1.6 Performances
As performances são combinações de linguagens artísticas diversas, podendo
transitar pelo teatro, artes, visuais, música e dança. Essa linguagem nasceu na década
de 1960, por artistas que não queriam usar somente objetos para fazer arte, mas sim,
queriam explorar a relação do corpo com o espaço. Para Rosa e Rosa (2015, p. 51) “em uma
performance, o artista utiliza o corpo para interagir com o público e ambiente em tempo real:
a obra é a ação proposta pelo artista. Há, em geral, liberdade para imprevistos, mesmo com
o planejamento do que o artista fará ou com uma reação já esperada do público”.
FIGURA 32 – OBRA “A BONDADE DOS ESTRANHOS”, CRIADA PELO ARTISTA MAURÍCIO IANÊS EM 2008
FONTE: <https://entretenimento.uol.com.br/album/mauricio_ianes_bienal2_album.htm#fotoNav=21>.
Acesso em: 21 set. 2021.
192
Essa performance consistia em esperar que pessoas estranhas doassem ao
artista qualquer coisa para que ele pudesse sobreviver por aqueles dias. Assim, ao
analisar a imagem da performance apresentada pode-se verificar a quantidade de
objetos que foi doado a ele.
2.1.7 Grafite
O grafite, arte ligada ao movimento hip hop, surgiu na década de 1970 na periferia
de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde no final dos anos 1970 o artista Jean-Michel
Basquiat (1960-1988), começou a fazer intervenções em paredes. Nos anos 1980 foi a
vez de Keith Haring (1958-1990) inserir sua marca nos muros americanos.
193
O grafite é uma expressão voltada ao público que circula no cotidiano das
cidades e pode apreciar gigantescas obras cheias de vida e cor. Muitas vezes essas
obras são um retrato verdadeiro da sociedade.
DICA
Em “Cidade cinza – Os Gêmeos”, você poderá conhecer um pouco mais
sobre o universo do grafite e o percurso dos artistas. Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=-XG-71wqwUI.
No vídeo “Os Gêmeos – Segredos”, podemos fazer uma visita guiada pelos
artistas irmãos, Otávio e Gustavo Pandolfo, por sua exposição na Pinacoteca
em 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=_fRTGMnZ3xk&t=3s.
Daniel Senise (1955), Leonilson (1957 – 1993), Maurício Bentes (1958 – 2003),
Ricardo Basbaum (1961), Leda Catunda (1961), entre outros, que participaram da
exposição “Como vai você, geração 80”. Esses movimentos foram referências tanto para
a compreensão como para a expansão da arte brasileira no século XXI.
194
FIGURA 34 – OBRA “SANTOS”, CRIADA PELA ARTISTA LEDA CATUNDA EM 2012
Canton (2011c, p. 51) reforça que “os sentidos, na obra dos artistas contemporâneos,
não estão prontos, mas se configuram no acontecimento, isto é, na construção das
múltiplas relações que acontecem entre a obra e o observador”. O novo caminho da arte
é híbrido, pois há escolhas para os fazeres, as criações e as poéticas.
FIGURA 35 – OBRA “SEM TÍTULO”, CRIADA PELA ARTISTA SANDRA CINTO EM 2001, INSTALADA NA RUA
DA QUITANDA EM SÃO PAULO
195
Nessa obra a cama é a referência de espaço e tempo. De parada e reflexão.
Para Amália e Minerini (2019, p 115), “a arte contemporânea é um território amplo, fértil,
instável e aberto. Por conta disso é que coexistem tantas vertentes, técnicas, poéticas,
linguagens e o que mais os artistas quiserem”. É possível deixar a própria marca do
artista e a identidade de seu tempo nos lugares e nas coisas, para traduzir um tempo
vivido. Como na obra de Rosana Paulino (1967), mostrada na figura a seguir:
FIGURA 36 – OBRA “A PERMANÊNCIA DAS ESTRUTURAS”, CRIADA PELA ARTISTA ROSANA PAULINO EM 2017
No Brasil, nos últimos anos, muitos outros artistas foram responsáveis pela
materialização de sentidos em suas obras, como por exemplo Adriana Varejão (1964),
Beatriz Milhazes (1960), Vik Muniz (1961), Tunga (1952 - 2016), Nuno Ramos (1960), entre
muitos outros.
196
Para Rosa e Rosa (2015. p. 63) a arte nunca termina e em nosso tempo ela pode
ser percebida como:
197
LEITURA
COMPLEMENTAR
ARTE CONTEMPORÂNEA E MEIO AMBIENTE NO MUSEU INHOTIM
ORIGEM DO MUSEU
A partir de 2006, o local foi aberto ao grande público em dias regulares. São
cerca de quatrocentos e cinquenta obras de artistas brasileiros e estrangeiros, com
destaque para trabalhos de Cildo Meireles, Tunga, Hélio Oiticica, Matthew Barney,
Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama, Paul McCarthy, Zhang Huan, Valeska Soares,
Marcellvs e Rivane Neuenschwander. As exposições são sempre renovadas e as galerias
são anualmente inauguradas. Em 2010, o Instituto recebeu 42.000 alunos e 3.500
professores. No mesmo ano, o número de visitações atingiu a marca de 169.289 (cf. site
http://www.inhotim.org.br).
CARACTERÍSTICAS
198
Podem incluir a performance, o objeto, o vídeo [...] obras cinéticas,
numa proposta de integração da obra com o espaço onde se
encontra. Tornam o espaço ativo a partir de tensões e relações que
se estruturam entre as peças que o compõem. O que define uma
instalação é justamente a transformação que se opera num espaço
que, mais que abrigá-la, também a constitui (COSTA, 2004, p. 63).
FIGURAS – OBRAS “GIGANTE DOBRADA” (2001) DE AMÍLCAR DE CASTRO E “INMENSA” (1982- 2002) DE
CILDO MEIRELES
Nessas obras, o espectador entra em seu espaço, a fim de fruir sua poética, a
partir das referências que possui, de tal forma que tanto as obras quanto o espectador
convivem e interagem com o ambiente natural, composto por uma reserva florestal.
200
A ocupação espacial de Hélio Oiticica (1937 -1980), figuras 27, 28 e 29, em pleno
ar livre, criada com planos geométricos coloridos, permite ao fruidor observar e criar
espaços cromáticos dos elementos da obra com a paisagem natural. Há um cromatismo
presente na relação espacial entre formas e cores. Ortogonalmente instaladas, as
paredes configuram-se em diferentes possibilidades visuais, compondo perspectivas
plásticas geométricas.
FIGURAS – HÉLIO OITICICA, COM NOVE PAREDES COLORIDAS, NA OBRA “INVENÇÃO DA COR -
PENETRÁVEL -MAGIC SQUARE # 5- DE LUXE” (1977)
201
FIGURAS – OBRA “VEGETATION ROOM INHOTIM” (2010) DE CRISTINA IGLESIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
202
da sensibilidade humana com a arte é válida! O aguçamento da sensibilidade estética
favorece a humanização, pois implica parar, pensar e refletir sobre um fenômeno, um
objeto artístico, uma ação ou fato que pode estar numa instância exterior ou interior.
Fora ou dentro de nós, o fenômeno estético manifesta-se num eterno pensar sobre a
realidade que nos cerca.
203
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O século XXI inicia com uma diversidade de avanços tecnológicos, semeados por
todo o século anterior. Esses avanços facilitaram o cotidiano e ofereceram um novo
panorama às artes. Os artistas passam a apropriar-se das novas tecnologias para
materializar suas concepções.
• A década de 1980 foi marcada pelo fim da ditadura, em 1985, a anistia, o movimento
pelas eleições diretas para presidente da república, a Constituição Federal de 1988,
promovem no Brasil um novo horizonte político, econômico e social. A abertura de
um novo tempo, com novas possibilidades, fervilhava nas artes.
• Artistas realizam obras em diferentes correntes com a arte concreta, a arte cinética,
a pop art, a arte conceitual, as instalações, as performances e o grafite.
204
AUTOATIVIDADE
1 A arte contemporânea, com raízes nas correntes surgidas na Europa, à época da
Primeira Guerra Mundial, como por exemplo o dadaísmo, se estabelece após a
Segunda Guerra Mundial. Descreva quando iniciou a arte contemporânea no Brasil e
o que impulsionou o rompimento com a arte figurativa do modernismo brasileiro?
I- Maria Bonomi.
II- Amilcar de Castro.
III- Hélio Oiticica.
IV- Cildo Meireles.
205
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
206
REFERÊNCIAS
AMARAL, A. Tarsila: estudos e anotações. In: AMARAL, A.; BARROS, R. T. de.
(Org.) Tarsila: estudos e anotações. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2020.
BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 50. ed. São Paulo: Cultrix,
2015. E-book.
CANTON, K. Espaço e lugar. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011b.
CANTON, K. Narrativas enviesadas. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011c.
CÍCERO Dias. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São
Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
pessoa1787/cicero-dias. Acesso em: 29 set. 2021.
207
LUZ, A. A. da. Arte no Brasil no século XX. In: OLIVEIRA, M. A. R. de. História da
arte no Brasil: textos de síntese. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2013.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
208