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AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

FILOSOFIA
Agostinho quer conhecer a Deus, porque sabe que por Deus é conhecido.

Agostinho quer conhecer a Deus, porque sabe que por Deus é conhecido. Diante
desta realidade quer fazer a experiência de Deus, pois sente que é amado. Isso o
leva a confessar a Deus suas misérias e a deparar-se com o que lhe desagrada. Por
isso quer renunciar a si mesmo para somente estar com Deus. Sabe também que o
que confessa a Deus por ele já é conhecido. Porém, que finalidade tem para os
homens conhecerem as suas confissõ es e que benefícios isso pode acarretar?
Agostinho questiona, mas a resposta está que a caridade crê em tudo, mesmo nã o
podendo provar que fala a verdade. Aqueles, porém, que o ouvem, creêm, porque
os ouvidos foram abertos pela caridade. Os frutos de suas confissõ es sã o colhidos,
nã o do que foi, mas do que é. Nesta ó tica, Agostinho fala da ignorâ ncia do homem
que desconhece até o que nele habita; percebe no outro mas nã o percebe em si
mesmo. De uma coisa Agostinho tem certeza: ele ama a Deus e por causa desse
amor quer encontrar resposta para a pergunta: “Quem é Deus?” Por isso,
contempla a criaçã o em busca de respostas. Continua a sua busca e agora se
pergunta: “Quem és tu?” Um homem, é o que responde; sabe que até mesmo o
homem é criado por Deus.

Agostinho começa a perceber que somente no interior (alma) encontrará a Deus e


que estará diante dele. Esse encontro, porém, se dá vencendo as forças exteriores,
que é a força da sua natureza.

Santo Agostinho se depara com uma nova indagaçã o: Que amo, entã o, quando amo
a meu Deus? Sente-se interiormente pequeno diante de Deus, pois, como ele
mesmo diz, está acima de sua alma. Sabe, porém, que somente a alma pode levá -lo
à intimidade com o Altíssimo. Seus sentidos devem convergir para o Senhor,
experimentando assim uma comunhã o cada vez maior.

Somente vencendo sua natureza, ou seja, mortificando-se, poderá estar subindo os


degraus até o seu Criador. Cada envolvimento que Santo Agostinho tem com o
Senhor ele vai se conhecendo e descobrindo novas maneiras de estar cada vez mais
pró ximo de Deus.

Agora chega aos vastos campos da memó ria, a qual considera um palá cio onde
encontram-se os tesouros de inú meras imagens e lembranças trazidas por
percepçõ es e também pelos sentidos. Esse relacionamento que Santo Agostinho
trava com a memó ria, coloca diante daquilo que ele realmente é, ou seja, começa a
se conhecer. Suas limitaçõ es, suas qualidades e defeitos estã o todas diante dele, e
reconhece, no entanto, que nã o é capaz de compreender inteiramente a si mesmo.

Agostinho se enche de admiraçã o e espanto quando fica diante de uma realidade:


Os homens buscam conhecer grandes lugares, mas esquecem de si mesmo.

A viagem pelos campos vastos do palá cio da memó ria o faz encontrar com os seus
afetos e sentimentos. Recordou-se de ter experimentado momentos alegres e
tristes, de ter sentido medo, de desejos antigos e sofrimentos físicos e eis que suas
emoçõ es também vêem a tona. Coisas que considerava terem caído no
esquecimento se encontram agora diante dele; isso o faz pensar no que significa
esquecer e ao mesmo tempo lembrar-se novamente.

Agostinho começa a refletir e a perceber que o fato de esquecer-se nã o significa


que determinada realidade nã o esteja presente na sua vida. Diante disso ele afirma
que o esquecimento nã o é senã o falta de memó ria. Agostinho quer compreender a
natureza da memó ria e como isso se realiza; constata nesse momento sua limitaçã o
e uma aproximaçã o maior de si ao dizer:

”Todavia que há mais perto de mim do que eu mesmo?”

Cada vez que Agostinho reflete, percebe ainda mais a complexidade desse
mecanismo chamado memó ria e argumenta o que de fato ele Agostinho é, e qual a
sua natureza. Para Agostinho a memó ria é algo que lhe provoca admiraçã o, devido
a sua imensa amplidã o e que o faz vê-la como a campos, antros e inú meras
cavernas e cheias também de incontá veis coisas, tais como os afetos da alma.
Discorrendo sobre esse mundo interior que é a memó ria, nã o consegue, portanto,
encontrar-lhe os limites. Embora a memó ria nã o possua limites para chegar a
Deus, Agostinho percebe que deve transcender a razã o humana para relacionar-se
afetivamente com Deus. No entanto, uma dú vida paira sobre ele, pois onde irá
encontrar a Deus? Sem uso da memó ria como o poderá encontrar? Para que se
encontre algo é preciso antes de tudo ter conhecimento do que se procura e ao
encontrar, reconhecê-lo. Há muitas coisas que desaparecem de nossas vistas mas
nã o de nossa memó ria. Mas quando uma lembrança é esquecida, é a pró pria
memó ria que possibilita sua recordaçã o. Nã o é possível resgatar de nenhum modo
uma lembrança perdida se seu esquecimento fosse completo.

Santo Agostinho agora associa a busca de Deus à felicidade. Procurar a Deus é


conduzir sua vida interior à vivência dessa felicidade, algo que é desejado por
todos sem exceçã o. A felicidade é conhecida de todos e isso nã o aconteceria se a
memó ria nã o tivesse em si essa realidade, expressa por essa palavra. A felicidade
nã o é algo que possa ser experimentada pelos sentidos; ela precisa ser amada e
desejada para que, quem procura, seja de fato feliz. A verdadeira felicidade só pode
ser experimentada, no entendimento de Agostinho, por alguém que serve a Deus
por puro amor.

Agostinho diz que nem todos desejam ser felizes, pois nã o buscam a alegria que
vem de Deus que é, portanto, a ú nica felicidade. Aquele, porém que busca a
verdadeira alegria, busca viver na verdade, pois a felicidade provém da verdade.
Encontrar a verdade é encontrar a Deus; que é a pró pria verdade e quando se
aprende a conhecê-la, nunca mais a esquece. Porém, onde é a habitaçã o de Deus?
Agostinho nã o está somente em busca de encontrar a Deus; quer agora saber onde
ele habita, onde em sua memó ria Deus criou um esconderijo, onde Deus edificou o
seu santuá rio, dando-lhe a honra de aí residir. Agostinho, no entanto, compreende
que tal busca nã o é importante, porque sabe, que Deus habita em sua consciência e
que cada vez que pensar no Senhor se aproximará dele. O encontro com o Senhor
possibilita Santo Agostinho a querer conhecê-lo, mas esse encontro foi iniciado
pelo pró prio Deus que levou Agostinho a ir a sua procura. Toda a busca de
Agostinho por Deus, foi através da razã o querendo encontrar respostas; nã o
obstante, quando voltou sua atençã o para o seu interior, sua surdez foi vencida,
sua cegueira afugentada e respirou o perfume divino. Saboreou a presença de Deus
e agora o deseja ainda mais; sentiu o toque de Deus e o desejo de paz o inflamou.

Diante de suas misérias e limitaçõ es experimenta a misericó rdia divina e deposita


toda a sua esperança naquele que é a fonte de todos os dons. Agostinho vê surgir
todas as suas paixõ es, os prazeres pelos sentidos, a curiosidade muitas vezes
disfarçada com o nome de conhecimento, o orgulho que denomina como miséria
desprezível, e que tantas vezes era acometido por tentaçõ es em tréguas. Os
louvores dos homens, eram para Agostinho, como uma fornalha onde todos os dias
era posto à prova. A vangló ria era para ele uma tentaçã o perigosa, filha do amor
aos louvores e do excesso de vaidade. Da mesma forma o amor-pró prio, que busca
reconhecimento naquilo que nã o conquistou. O esforço que Santo Agostinho
empregou para esse encontro com Deus, possibilitou-o a uma contemplaçã o de sua
vida e de todo o auxílio que de Deus recebeu, mesmo reconhecendo suas fraquezas
de pecador. Deus é a luz de sua existência que conduziu a reconhecer as mentiras
em que estava envolvido. Aqueles que buscavam o caminho para deus através da
ciência tiveram seus coraçõ es inchados pela soberba como afirma Santo Agostinho.
No entanto, o ú nico mediador entre Deus e os homens é Jesus, que abraçou todo o
projeto de rendeçã o e no qual Agostinho afirma colocar todas as suas esperanças
para se ver curado de todas as sua feridas.

Publicado por: Luiz Augusto Guimarã es Gomes

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