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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery

http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377


Curso de Educação Física - N.7, JUL/DEZ 2009

EDUCAÇÃO FÍSICA: NUTRIÇÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES EM


ADOLESCENTES

Rosana Oliveira Dilly1

Resumo:

Os transtornos na alimentação e uma nutrição inadequada são características


apresentadas na fase da adolescência. É de conhecimento comum a
importância da atividade física na prevenção da obesidade e doenças crônicas
associadas ao sobrepeso, sendo assim o presente trabalho pretende levantar
esses questionamentos bem como colaborar na formação do profissional de
Educação Física na sua conduta com essa faixa etária.

Palavras – chave: Adolescência, Alimentação, Exercícios.

Abstract:

Eating disorders and inadequate nutrition are common characteristics on


teenagers. It’s common knowledge the importance of physical activity to prevent
obesity and chronic diseases associated with overweight, therefore this essay
want to bring up these questionings and also how to cooperate with the
formation of the physical education professional in your behavior with this age
group.

Password: Teens; Alimentation; Exercise.

1
Aluna do Curso de Educação Física - FMG
INTRODUÇÃO

A busca incansável do corpo perfeito é prioridade para milhões de


pessoas que querem ficar dentro dos padrões de beleza impostos pelo cinema,
moda, televisão, publicidade, entre outros, e transforma esse desejo em
escravidão. Porém, nunca se viu uma epidemia tão grande de sobrepeso e
obesidade cada vez mais precoce, além de problemas cardíacos, diabetes,
colesterol elevado, entre outros. A única saída é o fim do sedentarismo, a
prática de atividade física, uma alimentação balanceada e a busca de
informações com profissionais competentes. Tal que promoveremos o
desenvolvimento completo do indivíduo.
Este trabalho tem o objetivo de demonstrar conceitos e características
sobre nutrição e os transtornos alimentares mais comuns em adolescentes,
para que através dessas informações o profissional de Educação Física esteja
mais bem preparado na orientação e esclarecimento de seus alunos.
Segundo MARTINS et al. (apud CARNEIRO, 2007), comprova-se que,
independente da atividade física, quem a pratica de forma regular apresenta
melhor qualidade dietética e menor ingestão de calorias, levando a concluir que
qualquer atividade física melhora imediatamente a qualidade da alimentação e
diminui a quantidade de calorias ingeridas pelo indivíduo. .
O professor tem papel fundamental na conscientização e instrução dos
alunos, mediando, questionando, refletindo e discutindo para dar maior clareza
sobre esses assuntos e interferindo de maneira segura e adequada na vida dos
mesmos. Devemos trabalhar com a heterogenia da turma, conhecer suas
angústias, medos e, de maneira efetiva, ensiná-los a conviver com suas
realidades, emoções, pensamentos e mudanças corporais.
ADOLESCÊNCIA E A INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO

Segundo o dicionário Aurélio (2001), adolescência é o período da vida


humana que começa com a puberdade e se caracteriza por mudanças
corporais e psicológicas, estendendo-se, aproximadamente, dos 12 aos 20
anos.
De acordo com Papalia et al. (2000), adolescência é um período de
transição e desenvolvimento entre a infância e a idade adulta, em que ocorrem
grandes mudanças cognitivas, físicas e psicossociais inter-relacionadas. Tem
seu início marcado pela puberdade e é um período de grandes riscos, pois
alguns adolescentes têm dificuldades em lidar com tantas mudanças que
ocorrem simultaneamente.
O mesmo dicionário define nutrição como o ato ou efeito de nutrir(-se);
sustento, alimento; Conjunto de processos que vão desde a ingestão dos
alimentos até a sua assimilação pelas células.
Biologicamente é a fase de maior velocidade do crescimento do
indivíduo, o que implica uma necessidade de maior aporte calórico e de
nutrientes (Carneiro, 2007).
De acordo com Papalia (2006), os adolescentes assim como as outras
pessoas devem evitar alimentos muito calóricos, ricos em colesterol, gorduras
e pobres em nutrientes, pois eles podem prejudicar a saúde a curto e longo
prazo.
Com relação aos minerais, as deficiências mais comuns nos
adolescentes são de: zinco, ferro e cálcio. O cálcio é importante para a
formação e desenvolvimento ósseo, associado ao exercício tem melhores
resultados. A deficiência de zinco pode retardar a maturidade sexual, e baixos
níveis de ferro podem levar o adolescente à anemia, sendo o que o mesmo, em
bons níveis, proporciona benefícios cognitivos.
Fica evidente que o adolescente deve ter uma dieta rica e balanceada
para seu pleno desenvolvimento e deve ser bem orientado quanto a isso, pelos
profissionais competentes, dentre eles o professor de educação física.

ADOLESCÊNCIA E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

Os Transtornos Alimentares ocorrem em todos os grupos étnicos e em


todas as classes sociais; a ocorrência frequente em algumas famílias indica
possível causa genética, sendo outros fatores que podem estar associados os
transtornos neuroquímicos, questões socioculturais e relacionadas com o
desenvolvimento (PAPALIA et al., 2000).
Os transtornos alimentares são mais comuns nas sociedades
industrializadas, pois o alimento é abundante e existe a cobrança social por um
corpo magro (PAPALIA et al, 2000).
Segundo Ballone (apud FERREIRA, 2007), crianças são alvo de
gozações na escola, o que leva ao entendimento de que ser magro é
esteticamente agradável. Muitas das vezes a criança não está gorda, mas tem
uma personalidade frágil e é afetada por esses comentários.
Caracterizam-se como Transtornos Alimentares, desvios do
comportamento alimentar que podem levar ao emagrecimento extremo ou à
obesidade.

Anorexia nervosa

De acordo com Ballone (apud FERREIRA, 2007), a anorexia nervosa é


uma patologia psiquiátrica, em que a paciente corre o risco de morte.
Caracteriza-se pela recusa do alimento perante o medo de engordar. Está
associada a uma combinação de fatores como disfunção hipotalâmica,
estresse, exercício em excesso, perda de peso e gordura, restrição dietética
progressiva com eliminação de alimentos e comportamento isolativo. A perda
de peso é tida como uma conquista, enquanto o ganho de peso é considerado
um fracasso do autocontrole.
A anorexia tem sido diagnosticada em pré-adolescentes na faixa etária
de até 10 ou 11 anos embora a prevalência seja de 15 a 22 anos. Fato que traz
preocupação com o surgimento cada vez mais precoce dessa doença (Leal
apud FERREIRA, 2007).
A pessoa com anorexia sofre com a distorção da imagem corporal,
mesmo estando a baixo do peso indicado como ideal para seu tipo físico ela
acredita que esta muito acima dele.
São problemas fisiológicos da anorexia: comprometimento
cardiovascular, problemas gastrointestinais, ausência de menstruação e
infertilidade temporária por causa da diminuição dos hormônios femininos,
hipotensão (pressão baixa), hipotermia (baixa temperatura corporal),
sangramento gástrico e esofágico, osteoporose e morte. Adolescentes no
período da puberdade também podem apresentar atraso no desenvolvimento
físico e no crescimento, e não atingir a estatura estimada (WILLING, 2007).
Esses transtornos apresentam alguns sintomas em comum, como
preocupação excessiva com o peso e uma representação alterada da forma
corporal, distorcida. Cabe aos familiares e pessoas mais próximas identificarem
o problema e oferecer ajuda, já que dificilmente os pacientes reconhecem que
estão doentes.
O tratamento é de longa duração e deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar (médico, psicólogo, nutricionista, professor de educação física).
A anorexia pode ser tratada, mas a taxa de reincidência é alta. Até 25%
dos pacientes anoréxicos evoluem para invalidez crônica, e entre 2 a 10%
morrem prematuramente (BEUMONT et al., apud PAPALIA et al., 2000).

Bulimia nervosa

Na bulimia, a pessoa geralmente se mantém próxima ao peso normal ou


até mesmo com um leve sobrepeso. Ela é caracterizada pela compulsão que a
pessoa tem de se alimentar (ataque voraz pela comida) seguida de vômito, e
uso contínuo de laxantes ou diuréticos, como forma de evitar que a quantidade
ingerida a faça engordar. Isso causa um alívio imediato aos bulêmicos,
tornando um ciclo vicioso. Pessoas com esse transtorno podem ficar várias
horas sem comer na tentativa de compensar o ato de compulsividade
(FERREIRA,2007). Essa patologia pode implicar na diminuição da atividade do
sistema nervoso simpático e no eixo tireoidiano.
Segundo Baptista et al. (apud FERREIRA, 2007), a grande maioria das
bulémicas preenche padrões de depressão, tristeza e ideias de suicídio. Elas
não têm distorção de imagem, mas preocupam-se com o peso e, sentem-se
culpadas pela compulsividade e a forma com que não conseguem resistir ao
alimento. Entre as consequências, destacam-se: problemas psicológicos,
desidratação, pele seca e amarelada, perda dos dentes e do cabelo,
calosidade nos dedos das mãos (devido a tentativa de induzir o vômito),
arritmia cardíaca.
Geralmente o indivíduo com esses transtornos não tem consciência da
doença. O tratamento para a bulimia tende a ser mais bem-sucedido porque os
pacientes querem fazê-lo. Mas, embora ele possa inicialmente acelerar a
recuperação, ele não parece afetar o resultado a longo prazo; os sintomas
costumam desaparecer aos 40 anos, mesmo sem tratamento (KEEL et al.,
apud PAPALIA et al., 2000).
Estudos realizados sugerem que existem mecanismos de transmissão
distintos entre esses transtornos, com fatores ambientais predominando na
bulimia, e fatores genéticos mais atuantes na anorexia.

Obesidade

Segundo Carneiro (2007), é um estado de supernutrição, em que a


ingestão inadequada se estende por longo prazo (semanas ou meses);
ocorrem alterações nos estoques de energia, no peso e composição corporal.
Estudos indicam que filhos de pais obesos estão mais propensos a se
tornarem obesos até o início da adolescência.
Ainda segundo Carneiro (2007), com a orientação aos pais sobre a
atividade física e informações sobre nutrição, a obesidade pode ser combatida,
pois através da instrução escolar pode-se melhorar os hábitos alimentares e de
atividade física dos pais e dos adolescentes.

Transtorno compulsivo alimentar


É um transtorno alimentar no qual a pessoa come muito em pouco
tempo e sente que não consegue controlar o impulso pelo alimento; ocorre a
sensação de arrependimento e descontrole. Neste tipo de transtorno não há a
preocupação com o peso ou forma do corpo, tão pouco atitudes
compensatórias como vômitos ou uso de laxantes.
Por suas características, tem relação direta com a obesidade e indireta
com os outros transtornos alimentares. Pouco se sabe sobre suas causas, mas
aponta-se para causas psicológicas (FERREIRA, 2007).

Vigorexia

A Vigorexia, segundo Ballone (apud FERREIRA, 2007), está nascendo


no seio de uma sociedade consumista e competitiva, em que o culto à imagem
acaba adquirindo prioridade. Afeta predominantemente os homens, entre 15 a
35 anos, que desejam desenvolver seus músculos.
Suas principais características são: distorção na auto-imagem,
sobrecarga de exercícios, intensidade e pouco tempo de recuperação (dores
musculares e fadiga persistentes), insônia, além de problemas cardíacos,
renais e hepáticos, retenção de líquidos e atrofia testicular.
Tentando alcançar o corpo perfeito, a pessoa torna-se dependente da
academia e exercícios físicos, implicando mudança de dieta, baseada em
proteínas e carboidratos e, quase sempre acarretando o consumo de
estimulantes, desde a cafeína, passando por anfetaminas, cocaína,
anabolizantes e esteróides. (Diário da Manhã – GO, 2008).
Pessoas com esse transtorno, mesmo fortes fisicamente, ao se
vizualizarem em espelhos, sentem-se fracos e magros.
A necessidade de fazer atividade física constante afasta a pessoa com
vigorexia dos amigos, da família, do trabalho e de qualquer outra atividade. Ela
se torna um ser introvertido, fechado e até mesmo violento.
Uma pessoa vigoréxica não está fisicamente saudável. Ossos, tendões,
articulações e músculos sofrem consequências do exercício excessivo, e
lesões são frequentes, comprometendo o funcionamento harmonioso do
organismo. Por causa da constante dor proveniente da sobrecarga de
exercícios, o corpo libera grande quantidade de Endorfina para tentar reduzi-la,
o que aumenta ainda mais com a prática de exercícios, formando um ciclo
vicioso.
Resgatar a auto-estima é fundamental para a pessoa com vigorexia. O
tratamento psicológico deve ser acompanhado de orientação médica sobre
alimentação, desintoxicação de produtos e mudança da visão corporal. A
atividade física deve ser reduzida gradativamente.

Ortorexia

De acordo com Ballone (apud FERREIRA, 2007), dentro das “patologias


culturais”, descreve-se também o exagero em dietas naturalistas, a Ortorexia.
O portador preocupa-se muito com os hábitos alimentares e planeja,
compra e prepara as refeições. Com o tempo, essas pessoas restringem cada
vez mais o cardápio e dispõem de um autocontrole rigoroso para não se
renderem às tentações.
Para Ballone (apud FERREIRA, 2005), essas pessoas sentem-se
superiores pois se controlam diante dos pecados e das impurezas como um filé
ao ponto ou guloseimas.
CONCLUSÃO

O professor de Educação Física tem um papel importantíssimo na


formação dos adolescentes, e por isso não deve se omitir quanto aos
transtornos nutricionais tão presentes no cotidiano dessa faixa etária.
O professor deve mediar situações em que o aluno se apropria do
conhecimento sobre seu próprio corpo e as transformações relativas à
adolescência. Deve conduzir o trabalho de modo que, ao final do mesmo, o
aluno tenha uma concepção crítica sobre os conflitos que o acompanham no
cotidiano, uma opinião própria, sem o senso comum, sem as pressões da
mídia, da sociedade e da família, para que ele possa tomar suas decisões, e
elas sejam as melhores para o seu desenvolvimento: físico, social e cognitivo.
É importante priorizar a promoção de saúde e não somente da beleza ou
estética, como a mídia impõe. Incentivando essa campanha de recuperação,
manutenção e planejamento da saúde nos adolescentes é possível conseguir
mudanças a longo prazo, porém significativas.
Alternativas fáceis como uma merenda escolar mais balanceada (livre de
salgadinhos, refrigerantes e gorduras-trans), incentivo à prática de atividades
extracurriculares, inclusão de temas atuais e polêmicos nas aulas, criação de
debates, sensibilização dos professores de outras matérias como biologia,
química, são algumas medidas que podem diminuir a incidência de transtornos
nutricionais na adolescência.
REFERÊNCIAS

AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Mini Aurélio Século XXI Escolar. 4º


Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

CARNEIRO, Vinícius Guimarães. A influencia da mídia na obesidade de


crianças e adolescentes.
Disponivel em:
HTTP://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/a
rtigos_teses/EDUCACAO_FISICA/monografia/midia-na-obesidade.pdf.
Acesso em: 17 de mar. 2009.

Diário da Manhã – GO. Vigorexia: Forma física acima de tudo.


Disponível em:
HTTP://www.educacaofisica.com.br/noticias_mostrar.asp?id=4570
Acesso em: 19 mar. 2009

FERREIRA, Luciana Gomes. Professor de Educação física e os transtornos


alimentares. Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade Metodista
Granbery - FMG. Minas Gerais: Juiz de Fora, 2007.

PAPALIA, Diane E.; Olds, Sally W.; Feldman, Ruth d. Desenvolvimento


Humano. Porto Alegra: Artmed, 2000.

WILLING, Caroline Teixeira. Transtornos Alimentares.


Disponível em:
HTTP://www.educacaofisica.com.br/coluna_mostrar.asp?id=170.
Acesso em: 20 mar. 2009

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