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Seis e Meia
ficar a pensar na vida, no sentido da existncia, sei l, em coisas mais profundas do que a altura do dia poderia prometer. O autocarro das 6.30 especial. Talvez porque estar frio, por chover e por ainda ser noite. Ou talvez no seja por nenhum destes motivos. Andar de autocarro to cedo desperta-me a conscincia para o cio dos dias comuns quando considero que acordar s 9 devia ser proibido. como se o acordar cedo dos outros me aborrecesse a mim prpria, ou, pela primeira vez na vida, a minha preguia me incomodasse. um choque de vida real. Acordar ainda durante a noite, o sono, de to pequeno, no deixa que os sonhos germinem. Fazer pela vida, cada dia mais um passo na independncia, mais uma conquista de liberdade. De a noite ser to curta, aprende-se a sonhar acordado. pelos olhares sonhadores (ou sonolentos?) das pessoas que viajam no autocarro das 6.30 que desenvolvi a ideia de que a adversidade um ancoradouro de sonhos. Porque as adversidades parecem no ter fim, e os sonhos, esses, no tm limites: reproduzemse at ao infinito.
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Daniela Teixeira
Sol ainda no d sinais de querer nascer. Pela rua ouo apenas o toc toc dos meus sapatos e, uma ou outra vez, o barulho de um carro que passa. Chego paragem onde j se aglomeram guarda-chuvas ansiosos que esperam pelo autocarro. Ao badalar do sino da igreja, que a esta hora parece mais perto, o autocarro chega. Entro. J no h lugares sentados e resta-me passar os 50 minutos da viagem em p, tal como muitos outros. A gua que escorre dos guarda-chuvas faz um pequeno regato no autocarro. Entram as ltimas pessoas: uma mulher com uma criana de colo e outra pela mo, um senhor de meia idade est com dificuldade em fechar o guarda-chuva: preto, velho e ferrugento. Andar de autocarro s 6.30 da manh faz-me sempre
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