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CUIDADO E INTERAÇÃO
1ª Edição
Indaial - 2020
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
N518i
ISBN 978-65-5646-109-0
ISBN Digital 978-65-5646-110-6
1. Mediação familiar. – Brasil. Centro Universitário Leonardo
Da Vinci.
CDD 158.24
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO.............................................................................5
CAPÍTULO 1
A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA..........7
CAPÍTULO 2
A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS
INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO........................................................51
CAPÍTULO 3
O AUTOCUIDADO FAMILIAR.........................................................93
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Intervenção familiar: cuidado
e interação. Nesta disciplina, teremos a oportunidade de conhecer um pouco a
respeito de como podemos trabalhar com as famílias que tem um(a) filho(a) com
TEA (Transtorno do Espectro Autista), sobre como é importante não negligenciar
que essas famílias também precisam ser cuidadas durante o percurso de
tratamento e de inclusão escolar de seus filhos. Este livro didático foi organizado
e pensado de forma a expor temas que estejam diretamente ligados à intervenção
familiar. Sendo assim, o livro foi dividido em três capítulos, com subitens em cada
um, sobre os quais faremos uma breve descrição.
Esperamos que goste do livro e que ele possa fazer diferença na vida pessoal
e profissional. Bons estudos!
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A mãe de uma criança autista, Barnett (2013, p. 49), nos descreve de forma
delicada e sensível como percebia seu filho:
Neste breve relato, podemos entender a dor dessa mãe que se coaduna a
outras tantas mães. Como poderemos ajudar as famílias a compreenderem o que
é ter um filho autista para poderem ajudar seus próprios filhos?
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://www.tebfix.com/image/catalog/articles/
kids/ST5.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
O tempo entre identificar e diagnosticar uma criança com autismo pode ser
muito angustiante para as famílias. Alguns escritos atuais de autistas adultos e
de seus pais (GRANDIM; SCARIANO, 1999; NOTHOMB, 2003) nos atestam ao
sofrimento das famílias até que fosse iniciado um tratamento e, mesmo durante a
sua execução, um espaço de tempo até que pudessem colher os efeitos clínicos
das terapêuticas empreendidas.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
A ideia, portanto, é de não deixarmos que o desejo dos pais de cuidar do filho
autista se perca. Dessa premissa, buscaremos neste livro apresentar informações,
reflexões, cases, teorias, ferramentas e estratégias que poderão contribuir com
todos os que estão cuidando das famílias que têm filhos autistas. Esperamos
permitir que o material disponível contribua com o seu crescimento!
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://st2.depositphotos.com/3065183/8661/i/950/depositphotos_86610744-
stock-photo-family-woman-with-a-child.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
Pela escuta de alguns pais (GAIATO; TEIXEIRA, 2018), alguns relatam que
profissionais da área de saúde podem não ter conferido atenção devido ao que
os pais diziam sobre seus bebês apresentarem sinais de sofrimento psíquico
ou mesmo sinais de autismo. Neste tempo, entre o que fazer diante do que
observavam e o diagnóstico do especialista, os pais comumente relatam um
período de muita angústia, medo, sentimento de culpa e ansiedade culminando no
atraso de intervenções pontuais que já poderiam ter sido realizadas precocemente.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
Quando uma família fica grávida, ela espera o nascimento do bebê ideal,
imaginado como das propagandas da TV. As mães e os pais pensam muitas
coisas sobre como será seu filho, com quem ele irá parecer, até mesmo qual
profissão terá no futuro, antecipando o que o filho virá a ser antes mesmo que ele
responda a este desejo. Esse movimento antecipatório é prévio e primordial para
que a criança exista em sua condição de sujeito. No entanto, nem sempre elas
responderão a tudo o que os pais desejam, gerando um descompasso entre a
mensagem imaginária dos pais e a resposta singular dos filhos.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcSEk9GtIhLHdD-
krtp74gtw0YzBI-Vb2kNF_2zjlS3mQEUqnx5O&usqp=CAU>. Acesso em: 22 maio 2020.
A dor dos pais com a perda dos ideais imaginados em relação ao filho(a)
pode e deve ser trabalhada em conjunto durante as sessões das terapêuticas.
Os profissionais poderão explicar como acontecerá o tratamento e, com seu
início, logo os pais poderão ver efeitos clínicos benéficos às crianças e, assim,
a aceitação do diagnóstico poderá acontecer de forma conjunta, quer dizer, ao
longo do processo de tratamento. É de extrema importância o acolhimento e a
explicação dos profissionais especialistas, especialmente para os casos de
crianças entre zero a três anos, quando se considera, atualmente, um tempo
oportuno de realização de intervenções devido à neuroplasticidade cerebral e das
janelas de oportunidade. Falaremos melhor sobre isso na próxima seção.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTpSqU1YB4wXz
BZENLwdI-zR4EwegjjKnTqn72I-wNf6-BEhhqQ&usqp=CAU>. Acesso em: 22 maio 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://images.prismic.io/
netmums/9399814cc6114f2a572ef59cff22512c820de1ab_colic.
jpg?auto=compress,format>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://lh3.googleusercontent.com/93JZAmlD7drnD_
WPPYYMuvPSlJesFnk2EesbI5KmTzXQXg8x8vK_
JLs1EWN8fyCEiABUStA=s113>. Acesso em: 22 maio 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/67/
Jean_Piaget_in_Ann_Arbor.png>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/67/28/49/672849c5327769e50de0457d38a167ec.
jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://madreshoy.com/wp-content/uploads/2015/09/
canguro-jugar.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/wp-content/uploads/2019/09/sinapse-
o-que-e-onde-como-e-por-que-acontece-1-1024x402.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://www.colegiodomus.com.br/files/noticias/0000001-0000500/431/9b3
64db7662965afebfba2aa7d0c23df.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://atusaludenlinea.com/wp-content/uploads/2015/06/
Estimulaci%C3%B3n.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51ASAvvZvFL._
SX342_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/protocoloteasp2014-170630030352/95/protoco-
lo-tea-sp2014-66-638.jpg?cb=1498791895>. Acesso em: 22 maio 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FÓRUM DE DISCUSSÃO
3 A FAMÍLIA NO TRATAMENTO
CASE
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
O caso apresentado muito pode nos colocar a refletir sobre o papel da família
nos cuidados com bebês e crianças. Um ambiente rico em estimulação e permeado
de vínculo afetivo promove o crescimento e desenvolvimento global das crianças,
enquanto um ambiente asséptico e com escassez de estímulos pode causar o
atraso global no desenvolvimento das crianças. Podemos pensar, sobretudo, que
a intervenção precoce permite uma considerável melhora dos sintomas autísticos
em crianças pequenas de forma mais ligeira, mas a intervenção terapêutica
também o faz com crianças maiores e adolescentes.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
bons momentos e o que eles já puderam alcançar. As rotinas da vida diária devem
e podem ser bons momentos de estimulação e interação entre as crianças e seus
pais. Entendendo isso, muitos comportamentos que terminam por gerar brigas
poderão ser prevenidos.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
sem demandar demais, efeitos benéficos poderão advir. Asperger, em seu trabalho
com os autistas, observou que, para se fazer escutar, deveríamos não nos
ocupar demais dessas crianças, no sentido de não insistir de forma inadvertida
forçando uma intervenção, seu conselho era o de a falar “sem se aproximar deles
pessoalmente, não exprimindo muito os sentimentos, mas, ‘fingindo uma paixão
desbotada’” (ASPERGER, 1998, p. 69).
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-a4lxM-DBXDo/Wbe0g3ZwcvI/
AAAAAAAAGxw/378cueNfzicQdNXh_7UB-M1YI8S92ne1ACEwYBhgL/
s1600/brincar.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
Bom, para podermos ajudar as famílias com seus filhos com autismo,
podemos solicitar de antemão, como dissemos anteriormente, que nos informem
da rotina diária da família e como descrevem cada momento do dia. Como um
“Plano de Ação Inicial”, podemos fazer com a família dois quadros de rotinas: o
atual (antes da intervenção terapêutica) e o quadro a ser aplicado. Solicitamos
aos pais que coloquem no quadro diário tudo o que acontece em cada dia da
semana e em certa hora e momento específico do dia, por exemplo: “manhã de
segunda-feira: acorda com dificuldade da cama, em horário variado, não se veste
sozinho, café da manhã confuso (descrever como acontece tudo), o banho, vestir
roupas, saída para escola, o percurso; tarde: horário de almoço”, e assim por
diante, até o momento de ir dormir. Em um outro quadro, refazer a rotina de forma
clara, ilustrada e objetiva, salientando a reorganização familiar no processo.
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FONTE: <https://img.elo7.com.br/product/main/22D657E/quadro-
de-rotina-tea-pecs-tdah.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
O quadro tem a função de orientar a criança no seu dia a dia, sendo assim,
ele deve ser uma ferramenta de uso diário em que os pais devem estar atentos à
atualidade das mudanças, colocando-as no quadro, como quando algo da rotina
que irá mudar, por exemplo, se um dia da semana ela irá almoçar com sua avó
ao invés de ser em casa com os pais. Isso permite à criança ir trabalhando a
flexibilização mental e emocional, podendo aprender em como lidar com as
frustrações e os imprevistos, os quais podem acontecer a qualquer momento em
nossas vidas, você não concorda?
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/puN6C
mwCcZzgfJCFMtvezW9VNPngzC6geCYkvwDvBgtpkPwSEKtVzUJ
ABEPn/218-winnicott-01.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
Por outro lado, o “objeto autístico” além de persistir por mais tempo que o
transicional, se caracteriza como uma criação da criança com a finalidade não de
operar como substituto simbólico, mas funcionando como um objeto real e literal
que realizaria certa borda protetiva entre a criança autista e o mundo. Podemos
observar que as crianças com autismo que elegeram objetos específicos com os
quais não deixa de levar para todos os lugares, caso haja a insistência em retirá-
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
los, ele entra em crise e sem poder se comunicar, pode chorar muito levando
tempo para ser acalmado.
O emprego conferido aos objetos por essas crianças pode ser o de duplicação
de seu corpo, tratando-os como pedaços que se integram a ele. Esses “objetos
autísticos” podem fazer parte da construção de sua imagem, e, por isso, têm
fundamental importância, funcionando como extensões de seus corpos, ainda que
possam parecer estranhos e inadequados à primeira vista. Tentaremos explicar
com o recorte de um caso:
CASE
Ian é um menino autista com a idade de sete anos. Sua mãe sinaliza que
ele é muito rígido para mudar a rotina e anda para todos os lugares com uma
bolinha em mãos. Sendo aficionado pelas bolinhas, em todo local que vê uma
máquina de bolinhas, exige que sua mãe compre mais bolinhas, senão chora e
se joga ao chão fazendo birra. Ele ainda fala pouco e quando o faz, gagueja, mas
aponta e segura as pessoas próximas pelo braço ao que deseja. Se insistimos
com ele em deixar a bolinha, ele grita e faz birra. A terapeuta, então, propõe
brincar com ele por meio do seu “objeto autístico”, a sua “inha”, como diz ao se
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
Esse caso pode parecer uma intervenção pequena, no entanto, ele nos
ilustra um trabalho sensível de respeito à criança quanto ao que ela apresenta
como importante para si, o objeto predileto sendo gradualmente adequado às
situações e regras sociais, conferindo diminuição da angústia e início da emissão
da fala com intenções.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
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Até que a criança com autismo tenha aprendido a como lidar nas situações, ela
pode entrar em uma crise de angústia reagindo de distintas maneiras. Importante
que os pais façam a distinção de uma crise de angústia ao de uma birra, e não
generalizem as duas situações. Porém, faz-se importante buscar acalmar a
criança em ambas.
Esse modo de agir além de não ajudar a criança com autismo pode provocar
a piora de seus sintomas, pois um atraso no manejo dos comportamentos vai
acontecer. O sentimento de culpa dos pais não tratado, de pensarem que
provocaram algo ao filho, de terem transmitido alguma coisa que culminou
no autismo, denotam a necessidade de se trabalhar com o terapeuta esses
sentimentos e concepções acerca do filho para que o quanto antes as intervenções
possam acontecer.
Podemos conferir com muitas famílias que seus filhos com TEA são dotados
de boa capacidade quanto à memorização de palavras, lugares e imagens. Alguns
pais falam do modo como os filhos conseguem decorar longos percursos, números
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
de ônibus, nomes de ruas pelas quais passam todos os dias como quando vão
para a escola. Sugerimos ofertar livros, mapas, aproveitar para construir juntos o
mapa de sua região fomentando à criança suas habilidades.
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3
AANd9GcRzYoWH1cMQNJq6nzEgw9ErD7LNsnuB_0F75PmX-
Ao4B7LECaQM&usqp=CAU>. Acesso em: 22 maio 2020.
CASE
Quando Fernandinho começou a falar, aos cinco anos, seus pais animaram-
se e contaram aos terapeutas da alegria de vê-lo falando por horas. Em certos
momentos, chegava a parecer não escutar o que os outros diziam, tamanho era
o seu desejo em falar chegando a ser verborrágico. Logo depois começou a
desenvolver com certa presteza a leitura e escrita, o que lhe permitiu ler livros.
Eles observaram que ele passou a se interessar por assuntos específicos,
como dinossauros, os quais ele memorizou nomes, idade geológica, tamanho,
habilidades, chegando a se tornar um expert no assunto, o que lhe permitia
ter assunto para conversar com outras pessoas. Todavia, mesmo diante dessa
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
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FONTE: <https://particionando.files.wordpress.
com/2015/07/123.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/f/fd/
Templegrandin.jpg>. Acesso em: 22 maio 2020.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
Tudo isso que os pais nos contam de seus filhos autistas nos indicam sobre
como podemos realizar intervenções criativas e eficazes com essas crianças.
FONTE: <https://i0.wp.com/akos.ba/wp-content/uploads/2017/09/kako-motivirati-
dijete-za-ucenje.jpg?fit=2551%2C1417&ssl=1>. Acesso em: 22 maio 2020.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Bom, até o momento pudemos fazer o início de nosso percurso e começamos
com a pretensão em dizer um pouco sobre o conhecimento da família com criança
autista. Portanto, neste capítulo, vimos:
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
REFERÊNCIAS
APA. American Psychiatric Association: diagnostic and statistical Manuel of
mental disorders. 4. ed. Washington: American Psychiatric Association, 1994.
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Capítulo 1 A ORIENTAÇÃO FAMILIAR JUNTO AOS FILHOS COM TEA
LAZNIK, M-C. A hora e a vez do bebê. São Paulo: Instituto Langage, 2013a.
LAZNIK, M-C. A voz como primeiro objeto da pulsão oral. In: A voz da sereia: o
autismo e os impasses na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma Ed., 2013c.
MALEVAL, J-C. O autista e sua voz. São Paulo: Blucher Ed., 2017.
MANNONI, M. A criança retardada e a mãe. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
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C APÍTULO 2
A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A
ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA
EDUCAÇÃO
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro acadêmico, falar sobre a relação entre a família e a escola no processo
de inclusão escolar de crianças autistas é necessário. Essa é uma temática
importante de ser refletida e articulada. Trouxemos, para você, neste capítulo,
um conteúdo que perpassa pela história da Educação Especial à Educação
Inclusiva, com uma reflexão inversa ao usual, a de que o tratamento contribui com
a educação, mas, sobretudo, que o ato de educar pode ser uma possibilidade
fundamental ao tratamento da criança autista. Será trabalhado, nessa temática,
como a escola e a família podem ser parceiras na inclusão de crianças autistas.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
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FONTE: <https://static.wixstatic.com/
media/744ba7_79d8757c573d47f3a9cedead6c72ec4c~mv2.
png>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
FONTE: RHAME, M. Laço social e educação: um estudo sobre os efeitos do encontro com
o outro no contexto escolar. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/48/48134/tde-17012011-143132/publico/MONICA_MARIA_FARID_
RAHME.pdf. Acesso em: 23 jun. 2020. p. 80.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://www.diarioliberdade.org/archivos/Administradores/diego/2013-
07/040713_o_menino_selvagem_cartaz.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
CASE
Joana é uma criança com autismo, tem 8 anos e estuda em escola regular. A
escola tem conhecimento sobre isso. Certo dia, sua família levou à psicóloga que
acompanha a criança um relatório da escola, o qual demandava à profissional
orientações que pudessem ajudar a escola no seu exercício educativo para com
a aluna. No relatório, vieram descritas queixas referentes ao comportamento
da criança, descritos como: “não quer aprender e se mostra desinteressada”, e
“transgride as regras da escola”. Quanto a este comportamento, “transgressor”,
a escola se queixava de que não conseguia compreender a menina que batia,
chutava, dava rasteira na coordenadora, gritava, quando contrariada. O relatório
provocou um mal-estar na psicóloga com relação ao seu conteúdo, que,
configurado como um diário, datado, descrevia em quase oito páginas, de forma
detalhada, os atos da criança dentro da sala de aula e fora dela como se ela
fosse uma “transgressora”, cuja única resposta para solucionar o caso estaria
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
por meio de um laudo psicológico. Tal descrição da escola não foi, a priori,
reconhecida pela família da criança, que não conseguia ver a filha dentro do
quadro que diziam. Contudo, e mediante o envio de outros relatórios, a família
sentiu-se inibida em questionar a escola. Diante disso, e do que o caso evocou,
a psicóloga questionou com a família essas marcações da escola a respeito da
criança. Foi proposto como princípio de um trabalho interdisciplinar, uma reunião
com a escola, em que buscou-se saber da proposta de trabalho com a criança,
se ela contava com o Apoio Escolar, se tinha acesso ao AEE (Atendimento
Educacional Especializado), e em que circunstâncias ocorriam os problemas.
Nesse sentido, a psicóloga buscou compreender e saber sobre a criança,
como a viam, como funcionava e se localizava na escola, como aconteciam as
relações com outras crianças, invertendo a lógica, procurou-se instigar a escola
a ver e a olhar para a criança para além de seu comportamento dado como
“transgressor” e se eles poderiam ser lidos, ou seja, se queriam dizer alguma
coisa, se poderiam ser entendidos e compreendidos além dessa forma. Isso
permitiu, também, que a família pudesse expor e explicar as particularidades
da filha, o que ainda não havia sido feito. Assim, puderam informar que Joana
era uma menina muito metódica, gostava de seriações, não suportava muitos
ruídos ou barulhos, apresentava inflexibilidade diante de mudanças, tinha
uma excelente memória e para todos lugares levava seu caderno e caneta em
mãos, entrando em crise se fosse forçada a ceder por sua retirada. A psicóloga
aproveitou e esclareceu como as crianças autistas têm um funcionamento
diferenciado ao de outras crianças, e que, às vezes, o modo dela reagir pode
parecer uma transgressão à norma, quando se deveria buscar distinguir uma
crise de angústia diante da frustração ao de uma birra. A escola pode repensar
o seu fazer e compreendeu as dificuldades da criança, propondo remodelar o
plano pedagógico, o AEE e o Apoio Escolar (falaremos deles adiante), de modo a
permitirem o uso do caderno durante as aulas, por exemplo, aproveitando-o para
que Joana realizasse suas atividades de escrita. A família logo noticiou que as
queixas diminuíram, que houve maior aproximação entre eles e as professoras,
e que Joana estava se comportando de modo distinto, inclusive permitindo a
aproximação de outras crianças, mudando seu comportamento. Parece que
um novo olhar foi lançado sobre a criança. De certa maneira, ainda que a ela
permaneça se colocando em muitos momentos em posição de recusa de querer
saber, e tenha respondido como “transgressora” da norma, como criança que
parecia impossível de se educar, um novo olhar foi lançado sobre ela, um que
não a obrigue a fazer todo o prescrito do processo de ensino, mas que a acolha.
Não reduzindo a criança ao seu diagnóstico de autismo, mas supondo haver
nela um saber próprio, parece ter permitido a construção de um novo sentido,
de modo que ela agora aparece menos ansiosa e suporta brincar com jogos e
atividades que lhe exijam um esforço a mais em pensar, em suportar a relação
intersubjetiva, para chegar a algum fim.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
Podemos ver, nesse caso, que o processo de inclusão não se faz com um
saber maciço sobre o outro, mas do encontro entre eles. O psicólogo e a escola,
ao suporem na criança com autismo a presença de uma subjetividade e um saber
únicos, podem permitir um tratamento dessas crianças, antecipando-as como
sujeito. Por meio dessa suposição faz-se uma leitura que articula, distingue e
confere direção ao que a criança apresenta.
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn%3AANd9GcRBfLiC0nAYIc99lCoBhLsADGg0Lr0ZsIeBBg&usqp=CAU>.
Acesso em: 22 jun. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
A segregação, palavra que você deve ter observado que temos usado muito,
existe em nossa sociedade e na contemporaneidade como um traço quase
que inerente às relações. As pessoas vivem em comunidades, como prédios
e condomínios, mas podemos ver que, muitas vezes, neles não se pratica a
agregação, quer dizer, as pessoas vivem juntas, mas não estabelecem relações,
mantém-se afastadas umas das outras, protegendo suas individualidades. Esse
processo atual pode ser um problema, principalmente quando consideramos o
contexto escolar com a proposta de incluir pessoas consideradas diferentes. A
pesquisa da tese de Mitsumori (2005) demonstrou, por meio de entrevistas com
professoras universitárias que ministravam disciplinas em Educação Inclusiva,
que efeitos inclusivos, ou seja, não segregativos, podem surgir quando se pode
salientar e atentar para a particularidade dos alunos.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://lh3.googleusercontent.com/N5ezz_
hOH1KfN8wk4Rn5iIw9eVJHmyqrpNI95E0AY0n219axzsg2H_
qStUrprusclXDkUQ=s128>. Acesso em: 23 jun. 2020.
Como vimos com o caso do “Menino selvagem”, tratado por Itard, a busca
desse educador foi tanto por tentar expulsar a “selvageria” do menino, quanto
em reconhecer algo do qual ele não ainda sabia. Ao assistir ao filme, você verá
que Itard não teve problemas quanto aos instrumentos que criou e que tinha
disponíveis para realizar os treinamentos e a integração da criança ao processo
civilizatório, mas esbarrou na singularidade dela, entre o que ela demonstrava
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
querer ou não fazer, ou entre o que ela conseguia assimilar ou não. Victor
demonstrou aprender, em certa medida, o que lhe foi transmitido, de acordo com
suas condições, mas Itard queria que ele respondesse exatamente da forma que
ele esperava. Será que não é o que vemos acontecer em muitas salas de aula?
FONTE: <https://www.revide.com.br/media/
cache/8d/32/8d320f13a485568da4631a056740d5e4.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://lh3.googleusercontent.com/p/AF1QipMMCwmQvFTpu9Un9aKm3-
SV-nz1aGRzvYSM8PZ8=s1280-p-no-v1>.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
Falaremos um pouco mais sobre esses dois recursos, lembrando que foram
pensados como recursos educacionais e não clínicos.
FONTE: <https://institutoitard.com.br/wp-content/uploads/2018/06/comunicacao-alternati-
va-1-800x400.jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
escolar, e que ele possa ser apresentado à família em uma reunião, em que ele
poderá saber dos pais como é a criança, suas preferências, dificuldades, o que e
como pode-se agir em momentos de crises. Os pais poderão fazer parceria com o
mediador escolar o processo de adaptação até que a criança se sinta segura em
estar com aquele novo professor.
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTE489FX
mXsI4F8D0OI9hwx48zvADWe4Jq-yg&usqp=CAU>. Acesso em: 22 jun. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://pacs.ou.edu/media/filer_public/fc/9e/fc9ef24d-d68d-4d77-b0ec-
55802f60113e/registered-behavior-technician.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
Esperamos que até este ponto você possa ter entendido que a Educação
Inclusiva se propõe a ser uma quebra de paradigmas em nosso modo usual
de pensar o processo do educar. Não se propõe uma integração da criança
às normas de forma a torná-la uma criança dita normal. A Educação Inclusiva
indica uma mudança de pensamento provocando em nós repensar o modo como
tratávamos a educação, como se ela só fosse possível entre iguais e não entre os
diferentes, sendo estes não somente as crianças com deficiências e/ou autismo,
mas também aquelas crianças que passam por outras diversas dificuldades.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://media.gettyimages.com/photos/maud-mannoni-writer-in-france-
on-january-21-1988-picture-id110148892>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/
foto/0,,55627414,00.jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
A autora nos estimula a refletir sobre a criança com autismo e/ou deficiência,
em qual lugar devemos colocá-la, se como objeto de cuidados somente para ser
treinado ou como indivíduo capaz de aprender e se desenvolver a partir do que
deseja e do que assimila. Faz-se urgente pensar quais crianças e adolescentes
queremos formar como cidadãos adultos no futuro, como autônomos e
independentes ou como eternos incapazes e alienados?
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcSV1931FdH-
fE_8aoDZNvUru4DmpZcNNbpmAFg&usqp=CAU>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
5 COMO TRABALHAR EM
PARCERIA: A ESCOLA E A FAMÍLIA
ALCANÇANDO NOVOS SABERES,
NOVAS POSSIBILIDADES
Esperamos que, até este ponto, você tenha aproveitado um pouco do
que trouxemos a respeito da Educação Inclusiva para crianças com autismo.
Entendemos que este trabalho só acontecerá com a participação de todos os
principais atores do processo de inclusão escolar: a escola, a família, a sociedade
civil e os próprios indivíduos com autismo. Será que podemos retomar como ponto
de partida a reflexão acerca de concepções prévias que temos sobre: o educar e
o aprender? O que seria educar e aprender?
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FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTaoNEk7a
ZHwns9QBBI6ooxBT4YChDh-QAd0Q&usqp=CAU>. Acesso em: 23 jun. 2020.
Nesse sentido, podemos analisar que o ato de educar tem em seu seio o ato
de ensinar, contido de cuidado, e que provoca a produção de um saber único no
aprendiz.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
FONTE: <https://cdn.brasildefato.com.br/media/86670680141b115f3518b6f8b9530870.
jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/
bEfDZ4fKF4EzWjTxYmCfnAQj65PpJ7hSXxgTaVrJRyGwg4tK6W2ScKdxX2yM/
lev-vygotsky.jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
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FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2019/07/
howard-gardner-750x430.jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
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FONTE: <https://fatherly.com/wp-content/uploads/2016/04/980x-209.
jpg>. Acesso em: 23 jun. 2020.
Será que poderia haver projetos inclusivos que a escola poderia propor junto
à comunidade escolar (famílias, rede de apoio, educadores, alunos)? Mantoan
(2003, p. 33) salienta:
Talvez você esteja se perguntando: isso tudo não é utopia? Sonhos de uma
escola ideal? Acreditamos que a escola real trata de alunos reais e a discussão da
Educação Inclusiva se amplia para além das crianças com deficiência e/ou com
autismo, pois propõe lidar com crianças reais, não forçando-as a se adequarem
a métodos prévios a todos, mas talvez temos nas mãos momento de recriar e
repensar o fazer da educação, o que não significa que seja fácil.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
Você deve se lembrar do Capítulo 1, que foi dito sobre como muitas
crianças autistas têm boa capacidade de memorizar imagens e palavras, fazendo
pareamento mental entre palavra e coisa, desse modo, deixar exposto o que será
realizado promove segurança à criança, prevenindo momentos de crise. Sabemos
que podem acontecer contingências ao longo do ano escolar, e é importante
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
Precisa ser entendido que a criança com autismo não está reduzida às
explicações e às características dos manuais médicos classificatórios, mas ela
é uma criança que tem direitos e que depende da socialização e da escola para
que seu desenvolvimento, mesmo tendo suas especificidades, possa ocorrer de
forma saudável. Se nos congelarmos ao fato de que os autistas têm dificuldades
na interação social, nós podemos correr o risco de os tratarmos com frieza
distanciando-os da relação interpessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, você viu como a Educação Inclusiva se apresenta como
uma proposta que busca permitir novos aprendizados e estimula o respeito às
diferenças e à capacidade de sermos mais solidários. Vimos que as pessoas com
autismo têm o direto de acessar a Educação Regular, e que suas famílias poderão
participar de formas efetivas no processo da inclusão escolar, resultando na
construção de novas possibilidades e novos saberes junto com a escola. Pudemos
ver que o processo educativo pode contribuir muito com o desenvolvimento da
criança com autismo, nas habilidades sociais, na compreensão de regras e limites,
de modo que o processo de educar pode também ser uma via de acréscimo ao
tratamento da criança. Nesse caminho, a presença efetiva das famílias destas
crianças na escola será essencial à construção da inclusão, uma vez que os pais
apresentarão as dificuldades do(a) filho(a), mas, sobretudo, as desenvolturas
dele(a), contribuindo para a construção de um plano pedagógico adaptado à
criança e as suas particularidades. Nesse sentido, novas perspectivas se abrem
às crianças autistas no fazer diário da interação familiar com a escola.
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Relembrando:
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1981.
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Capítulo 2 A CRIANÇA AUTISTA, A FAMÍLIA E A ESCOLA: PARCERIAS INCLUSIVAS NA EDUCAÇÃO
MANTOAN, M. T. Inclusão escolar: O que é? Por que? Como fazer? São Paulo:
Moderna, 2003.
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C APÍTULO 3
O AUTOCUIDADO FAMILIAR
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro acadêmico, chegamos ao último capítulo de nossa jornada. Esperamos
que até este momento você possa ter aproveitado do conteúdo que foi ofertado como
suporte e orientação à disciplina sobre intervenção na família com crianças autistas.
2 REVISITANDO OS CONCEITOS DE
FUNÇÃO MATERNA E PATERNA
A família se constitui como uma estrutura organizada com função de inserir
o indivíduo na cultura, transmitindo saberes, valores, uma ética e moral. Faremos
uma breve incursão histórica a respeito do conceito de família para que você
possa compreender o sentido desta instituição no tempo, para depois esclarecer o
que vem a ser as funções materna e paterna na atualidade.
Destacando a função materna desta época, Kamers (2006, p. 112) nos situa
que:
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
FONTE: <http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/
bitstream/handle/20.500.12156.1/1794/P005DJ0456.jpg.
jpg?sequence=2&isAllowed=y>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://i1.wp.com/www.historiadealagoas.com.br/wp-content/uploads/2018/06/
Fotografia-de-M.-Phillipsen-fam%C3%ADlia-em-Macei%C3%B3-final-do-s%C3%A9culo-
XIX.-e1534985741896.jpg?fit=1500%2C750&ssl=1>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
FONTE: <https://cds.radio1.be/sites/default/files/styles/1200x630_scale_and_crop/
public/article/2017_11/adoptie_0709_0.jpg?itok=9J3xErMl>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://s3.amazonaws.com/thumbnails.osvigaristas.
com.br/805x0/17634.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
FIGURA 5 – FAMÍLIA
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
Não são poucos os casos das famílias cujas divisões entre as funções
paterna e materna encontram-se dissonantes. Conforme Gomes et al. (2015), a
sobrecarga emocional entre pais e mães é um dos principais desafios encontrados
por famílias com crianças com diagnóstico de autismo, sendo que o alto nível de
tensão física e emocional com a criança recaem, principalmente, às mães, e há
alta autocobrança dos pais quanto à responsabilidade financeira e ocupacional.
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
família aos especialistas, para que intervenções possam ser realizadas às áreas
identificadas como prejudicadas.
FONTE: <https://supermoderna.com/wp-content/uploads/2019/04/
autismo-diagnostico-psiquiatra.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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FONTE: <https://clubematerno.files.wordpress.com/2015/11/2015-
11-03_23-18-45.jpg?w=300>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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FONTE: <https://www.juicysantos.com.br/wp-content/uploads/2018/03/
mulheres-unidas.gif>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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FONTE: <https://www.olhovivocan.com.br/wp-content/uploads/2020/04/dia-mundial-
de-conscientizacao-do-autismo-696x522.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
Sabe-se que a Lei n° 13.146/2015 dispõe que a pessoa com autismo tem o
direito de ter acesso ao lazer, cabendo ao Estado e à família assegurar isso. Mas,
aos pais ainda cabe o provimento de boa parte da responsabilidade em realizar
as atividades de lazer. As famílias poderão ter acesso aos parques e praças,
passeios ao ar livre podem ser boas atividades de serem realizadas com crianças
autistas. Brincar nos “parquinhos” públicos ou nos prédios ajuda a criança a fazer
uma integração sensorial de seu corpo, coordenando seus movimentos e ainda
possibilita a interação social.
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
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FONTE: <https://jadeautism.com/wp-content/uploads/2020/02/
autismo-768x513.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
O suporte às famílias com crianças autistas pode ser pela via formal, como
a rede de apoio psicossocial, grupos de pais, saúde, educação, ou pela via
informal, com a ajuda dos familiares, como avós, tios(as) e amigos. Pretende-se
apresentar neste último item de nossos estudos estas duas vias de acolhimento
e suporte que poderão promover qualidade de vida às famílias com crianças
autistas.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
Isso nos indica que realizar um trabalho visando não somente os aspectos
considerados deficitários da criança com autismo, mas procurar considerar as
capacidades desta criança e, por outro lado, ficar atento sobre como a família
compreende o próprio filho, como estabelece as relações dele com a escola,
com amigos e familiares, se há tentativa de incluí-lo em atividades de esporte
e lazer na comunidade. Enfim, é interessante partir da busca de entendimento
sobre como a família se estabelece na sociedade com a criança autista, o que
tem realizado, quais são suas dificuldades e impasses encontrados, o que mais
lhe causa estresse, o que deixou de fazer em prol do filho(a) autista, como cuida
dos(as) outros(as) filhos(as), dentre outros aspectos.
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
FIGURA 11 – NASF
FONTE: <https://www.saobentodouna.pe.gov.br/wp-content/
uploads/2020/05/Nasf.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
FONTE: <https://www.ascbeneditafernandes.com.br/
fotos/9fed084b87cc1708bf5235b44b32b374.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
116
Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
queria, queria, fazia birra, acabou não tem mais essas birras,
essas coisas [...]. Ah ajuda! Ajuda porque às vezes tem alguma
coisa nova que elas começam lá, ela me liga, ou pede pra mim
ir lá, escreve na agenda porque a gente se comunica pela
agenda todo dia né? [...] é bem explicadinho, bem mesmo.
Então se eu tenho alguma dúvida eu peço pra ela e ela já
me responde ou ela pede pra eu ir lá e eu vou... a gente,
sempre que eu vou também ela também me atende nunca
teve problema nenhum... Ah, mais é informação mesmo, né?
Orientação. Sobre o comportamento dele, como que funciona,
como que está funcionando, o que seria legal estar fazendo...
Tem muita criança que é agressiva, então eu acho assim que
os profissionais devem orientar bem a família, a mãe como agir
né? Se acontecer tal coisa como deve agir, a maneira correta
[...]. Então seria isso, orientar bem as mães, a família em geral,
da maneira como agir. E falar claramente, né? Não esconder
nada do que pode ocorrer.
Por meio do relato dessa mãe, veja como o papel da escola é importante
e efetivo na inclusão social e educacional, promovendo bem-estar inclusivo no
ambiente familiar a educação escolar promoveu um outro olhar da mãe com a
criança, identificando mudanças em seu comportamento, sinalizando o aspecto
da comunicação dos educadores com ela, e como isso fez diferença para que
pudesse mudar seu modo de agir com a filha de modo a distinguir as birras.
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn%3AANd9GcTXqmyCu4rSerLsNTuDwKfKm0FYTfZ9QClgoQ&usqp=CAU>.
Acesso em: 19 jul. 2020.
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INTErVENÇÃo FAmiLiAr: CuiDADo E iNTErAÇÃo
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Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
FONTE: <https://www.ibross.org.br/wp-content/uploads/2019/02/
IMG_2065-1.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
FONTE: <http://abraca.autismobrasil.org/novo/wp-content/uploads/2015/03/
BANERABRACA2015-TODOS-720x380.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
O cuidado aos pais e mães que tem filho(a) autista se faz necessário, para
que não percam a individualidade, seus desejos e sonhos para a vida, além do
exercício das funções paterna e materna. Então, vamos observar o relato de uma
mãe acerca dessa temática:
FONTE: <https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/19162358.jpg?w=1200&h=630&a=c&ver-
sion=1575255600>. Acesso em: 19 jul. 2020.
121
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FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/news/320/cpsprodpb/0130/
production/_109140300_carola0.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
122
Capítulo 3 O AUTOCUIDADO FAMILIAR
FONTE: <https://arapiraca.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/2018/04/
IMG_7184-1024x682.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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FONTE: <https://www.roraima1.com.br/wp-content/uploads/2019/04/Emilly-Carvalho-
Aluna-Jazz-Foto-Eduardo-Andrade-21-696x440.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
Uma proposta muito legal é a “sessão azul”. Essa sessão de cinema surgiu
como uma proposta de que as crianças autistas pudessem acessar salas de
cinema, sem que lhes causasse sofrimento, mas alegria. As sessões de cinema
acontecem em horários e dias determinados e a sala é adaptada para as crianças
com autismo, ou mesmo com outros problemas de desenvolvimento, que tenham
hipersensibilidade (como, a auditiva, táctil). As salas são adaptadas em ambiente
meia luz, com volume mais baixo e permite às crianças circularem para se
sentirem mais à vontade. Essa ótima iniciativa tem se disseminado pelo Brasil e
pelo mundo.
FONTE: <https://www.pagina3.com.br/imagens/materia/txtmateria/
politica20199267.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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FIGURA 21 – FAMÍLIA
FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcRwNIFnhvaYb
DoM8oMOO7gP8Epw2AZVLi2JHg&usqp=CAU>. Acesso em: 19 jul. 2020.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A partir do que vimos neste capítulo, podemos concluir que:
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1981.
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