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E MEDIEVAL
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
270.4 R367e
Mazula, Ronaldo
História da igreja antiga e medieval / Ronaldo Mazula – Batatais, SP :
Claretiano, 2013.
276 p.
ISBN: 978-85-8377-022-0
CDD 270.4
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Raquel Baptista Meneses Frata Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Temas introdutórios e comunidade primitiva. Constituição e organização da Igreja.
Heresias antigas, escritores cristãos e concílios ecumênicos. Perseguições roma-
nas e aliança com o Estado. Queda de Roma (476). Introdução ao Cristianismo
medieval e Cristandade, Feudalismo. Cisma de Oriente. Islamismo e Cruzadas.
Heresias Medievais e Inquisição. Cátaros, valdenses, apocalípticos. Ciência es-
colástica e a mística medieval. Movimentos de renovação eclesial (mendicantes).
Transição entre Idade Média e Idade Moderna Idade. Período pré-luterano.
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1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Você iniciará o estudo de História da Igreja Antiga e Medie-
val, que é um dos Cadernos de Referência de Conteúdos que com-
põem os Cursos de Graduação na modalidade EaD.
Inicialmente, este estudo nos permitirá refletir sobre os te-
mas introdutórios relacionados à história da Igreja antiga. Isso sig-
nifica que construiremos conhecimentos sobre a comunidade pri-
10 © História da Igreja Antiga e Medieval
Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste
conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar
essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abor-
dagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a
partir do qual você possa construir um referencial teórico com base
sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua pro-
fissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social.
Desejamos que este estudo leve você a compreender a His-
tória da Igreja, seu desenvolvimento e caminhada ao longo do
tempo. Na História da Igreja, vamos enfatizar a Antiguidade e a
Medievalidade cristãs. A divisão do tempo recebe o nome e pe-
riodização clássica e divide a História em quatro grandes períodos:
1) Idade Antiga.
2) Idade Média.
3) Idade Moderna.
4) Idade Contemporânea.
Fundação do Cristianismo
O Cristianismo foi fundado por Jesus Cristo e teve continui-
dade com seus discípulos, com destaque inicial para Pedro, Paulo
e os apóstolos. A fundação ocorreu na Palestina, na época, domi-
nada política e militarmente pelos romanos, que estavam vivendo
o seu apojeu.
© Caderno de Referência de Conteúdo 13
Idade Média
O período medieval é extenso e vai do século 5º ao 15. É marcado
pela grande influência da Igreja Católica na política, economia e socie-
dade. É o período de maior e mais expressiva influência do Cristianis-
mo na sociedade com o chamado Sistema de Cristandade. Os valores
cristãos permeavam a vida de todos; as verdades eram as verdades da
Igreja; as doutrinas eram as defendidas e propagadas pelo Cristianismo.
Vejamos alguns acontecimentos da cristandade medieval.
Cruzadas
As Cruzadas foram convocadas para reconquistar Jerusalém,
os "lugares santos" resgatar os cristãos que caíram em mãos mu-
çulmanas. A primeira foi convocada pelo Papa Urbano II, no ano
de 1095. Foram um total de nove Cruzadas, a última aconteceu no
ano de 1270. Os cristãos tiveram algumas vitórias, mas não conse-
guiram a reconquista total da região.
Inquisição
A Inquisição é a instituição cristã mais criticada em toda a Histó-
ria da Igreja. Em função do surgimento de algumas heresias medievais
e da crise no mundo feudal, o surgimento das cidades e pré-humanis-
mo e pré-modernismo, a Igreja e o Império tentaram manter as estru-
turas políticas, econômicas e sociais. O Papa Lúcio III e o Imperador
Frederico Barba-Roxa, em 1184 optaram pela excomunhão e punição
aos hereges. Em 1232, a Inquisição passou cometer muitos atos ilíci-
tos, que cresceram quando ela passou a ser dirigida e instrumentali-
zada pelas lideranças políticas medievais e modernas.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em História da Igreja Antiga e
Medieval. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Apócrifos: escritos cristãos dos primeiros séculos que
visavam dar notícias e einformações da vida de cristo,
apóstolos e comunidade cristã primitiva, mas que conti-
© Caderno de Referência de Conteúdo 17
I- Cristianismo no Império
Crise da Igreja e da Vida Apóstolos, Padres
Romano pagão (séculos I-III) JESUS CRISTO: fonte
Religiosa beneditina Apostólicos, Apócrifos
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de História da Igreja pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a
resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além dis-
so, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimen-
tos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
2. CONTEÚDOS
• Noções preliminares: historicidade da Igreja e historiogra-
fia eclesiástica.
• O nascimento da Igreja: Mundo Romano e Mundo Judaico.
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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nossos estudos se iniciam pela exploração de conceitos in-
trodutórios sobre a História da Igreja. Isso significa que você está
convidado a refletir sobre noções preliminares relacionadas à his-
tória da Igreja - definição, método, divisão, fontes, ciências auxilia-
res; à historicidade da Igreja e à historiografia eclesiástica.
Ao longo desta unidade, você será convidado também a res-
ponder às seguintes indagações:
1) Quando e como ocorreu o nascimento da Igreja?
2) Quais são as características fundamentais da Antiguida-
de Cristã e quais são suas fontes e cronologia fundamen-
tal?
3) Como era a comunidade de Jerusalém e como ocorreu a
expansão inicial da Igreja?
4) Como aconteceu a expansão do Cristianismo além dos
limites da Palestina?
Responder a tais questionamentos constituirá, portanto,
nosso primeiro desafio. E o primeiro passo em direção à superação
desse desafio consiste na abordagem do conceito da historicidade
da Igreja, abordagem essa que constitui o próximo tópico deste
material.
5. HISTORICIDADE DA IGREJA
O processo por meio do qual se estabelece a compreensão
e assimilação do conceito da historicidade da Igreja se inicia, fun-
damentalmente, pelo seguinte questionamento: qual a base de
sustentação em que se processa o desenvolvimento histórico da
Igreja?
Com efeito, a história da Igreja tem suas bases na revela-
ção divina, na manifestação das obras de Deus e na encarnação
de Jesus Cristo no mundo, evento no qual se materializa a ação de
© U1 - História da Igreja Antiga: Temas Introdutórios e Comunidade Primitiva 29
Método
A configuração do método que fundamenta a História da
Igreja é ditada pelos mesmos princípios que regulam a investiga-
ção histórica de modo geral, levando-se em conta as peculiarida-
des que emanam da vertente da fé, muito embora estas especifi-
cidades não representem um impedimento na aplicação do rigor
metodológico.
d) religioso: a Igreja é obra divina e obra humana, por isso sua his-
tória precisa ser tratada com base em uma 'perspectiva religiosa',
sem que isso prejudique a vertente científica propriamente dita.
Divisão
A divisão da História da Igreja, que também pode ser enten-
dida como a vida da comunidade cristã ou como o percurso da
Igreja na história, pode ser analisada com base em vários aspectos
e sob diversas perspectivas.
Entre essas perspectivas, destaca-se a que se baseia nas
ideias de Gómez (1987, p. 7), segundo o qual: "A história, como a
vida, não conhece pausas nem censuras, nem saltos no vazio. No
entanto, também na história existem épocas e períodos com ca-
racterísticas muito acentuadas que os diferenciam de outras épo-
cas e períodos".
Com efeito, sob essa perspectiva, a História da Igreja é vista
como um processo contínuo, na medida em que os eventos que
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Informação complementar––––––––––––––––––––––––––––––
É a obra Antiquae, Mediae, Novae Nucleus de Cristóvão Keller (conhecido tam-
bém como Cellarius), publicada em 1675-1676 que inaugura a utilização dessa
proposta de divisão tripartite da história nos manuais.
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Durante a vigência do romantismo, com destaque para Mo-
ehler – Haase, essa divisão também foi, propositalmente, aplicada
à história eclesiástica.
Desde o início do século 20, no entanto, difundiu-se uma di-
visão quadripartida e que comportava as seguintes épocas:
a) Antiga.
b) Média.
c) Nova ou Moderna.
d) Contemporânea.
A aplicação dessa divisão quadripartida à História da Igreja
gerou a seguinte configuração cronológica:
a) Idade Antiga
1º período (1-313): marcado pela atuação da Igreja no
Império Romano pagão (perseguições dos mártires).
2º período (313-692): marcado pela atuação da Igreja
no Império Romano cristão (oficialização do Cristia-
nismo e dos grandes concílios).
b) Idade Média
1º período (692-1073): marcado pela atuação da Igreja
na formação da Europa (cristandade medieval).
2º período (1073-1303): em que se deu o apogeu do po-
der temporal dos papas (auge da cristandade).
c) Idade Moderna
3º período (1303-1517): marcado pelo clamor pela re-
forma (crise eclesial pré-luterana).
4º período (1517-1648): marcado pelas Reformas Protes-
tante e Católica (renovação e fechamento tridentino).
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
É importante ressaltar que a divisão historiográfica referida no texto principal
não corresponde à divisão da historiografia considerada oficial que data o fim
da Idade Antiga em 476, o da Idade Média em 1453 (ou 1492) e o da Moderna
em 1789. Importa ressaltar também que há quem conside o Concílio Vaticano II
(1962-1965) como um novo marco na divisão da História da Igreja Católica.
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d) Idade Contemporânea
5º período (1648-1789): estendeu-se até a Revolução
Francesa (silêncio eclesial e críticas modernistas).
6º período (período após 1789): marcado pelas revo-
luções sociais (intransigência católica, diálogo com
modernidade e abertura pós-vaticana) (BIHLMEYER-
TUECHLE, 1964, p. 16 - 17).
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Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Nesse tempo, a Igreja, com as bases lançadas por Jesus e pelos apóstolos,
elaborou as formas fundamentais da própria vida interna (piedade, liturgia, cons-
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Três povos se sobressaíam no contexto dessa época: romanos, gregos e judeus.
Como cultura e religião estão numa estreita relação, as características destes
povos irão convergir na expansão e consolidação da religião cristã.
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O ambiente ao qual se refere o texto bíblico mencionado
trata-se do Império Romano, que, à época em questão, dominava
várias regiões, entre elas a Palestina, onde nasceu Jesus Cristo.
Sociedade romana
A sociedade romana era chamada de "cooperativa da felici-
dade", felicidade que pertencia aos mais privilegiados (aristocra-
Comunicação
No que diz respeito à integração entre as regiões que consti-
tuíam o Império Romano, observa-se que o império era entrecorta-
do por grandes estradas que levavam o nome dos seus respectivos
construtores, dentre as quais ganhavam relevância as seguintes:
• Via Ápia: que se estendia de Roma a Brindisi.
• Via Aurélia: de Roma a Genova.
• Via Domicia: que se estendia da Itália à Espanha, passan-
do pela Gália.
Como o império expandiu intensamente seus limites na ba-
cia mediterrânea, a navegação desenvolveu-se e o caminho do
mar tornou-se preferível em detrimento das rotas terrestres.
A propósito dessa configuração estrutural, o bispo cristão
Melitão de Sardes (+175) dizia, em síntese, que o Cristianismo e o
Império Romano tinham sido ordenados, pela Providência divina,
um para o outro (GÓMEZ, 1995, p. 18).
É verdade que o Império Romano foi benéfico ao Cristianismo
em certos aspectos por conta dos seguintes elementos: tolerância re-
ligiosa; unificação política (diversidade de povos dentro do mesmo Es-
tado); a unidade cultural helenística; intenso comércio e rápidas vias
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Judaísmo
Para compreender o ambiente em que nasceu a Igreja é es-
sencial, também, conhecer a dinâmica do Judaísmo, outra grande
religião muito presente no contexto em questão. E para alcançar
essa compreensão, abordaremos, nesse item do material, elemen-
tos básicos que compõem a história, a dinâmica social e geográfi-
ca, bem como o desenvolvimento da religiosidade judaica que se
desenvolveu em Israel.
Israel está localizada em uma pequena e estreita faixa de ter-
ra entre a África e a Ásia. Trata-se de uma região muito cobiçada
pelas potências antigas, posto que configurava uma área estrategi-
camente muito bem situada.
O povo judeu sofreu com várias invasões e exílios. Em mea-
dos do ano 200 a.C., por exemplo, toda a região foi dominada pelo
Império Selêucida da Síria, quando se iniciou o que foi chamado
de "helenização forçada" da região, que por sua vez gerou uma
resistência muito forte da parte dos Macabeus. Mais tarde, antes
mesmo do nascimento de Cristo, no ano 63 a.C., os romanos domi-
naram a região confiando o governo local aos idumeus Herodes e
Arquelau, líderes regionais nessa época.
Neste ambiente, proliferou o gênero literário apocalíptico,
bem como o desejo de libertação fundamentado na crença da vin-
da do Messias, daí o fortalecimento da expectativa messiânica.
Inicialmente, a sociedade judaica organizava-se em tribos
nômades que viviam no deserto. Já à época do nascimento de Je-
sus Cristo predominava, há séculos, uma organização baseada no
sedentarismo, em que a propriedade se submetia a um sistema
patriarcal, com evidente supremacia masculina.
Hassidins
Os Hassidins constituíram uma comunidade de homens sé-
rios, que buscavam a última e mais profunda vontade de Deus,
expressa na Lei; eram fechados, não se envolviam com o povo e
representavam uma certa elite político-espiritual.
Saduceus
Os Saduceus constituíam um grupo de origem incerta que
teria surgido há pelo menos 120 anos antes de Cristo. O grupo
era composto pelos mais ricos e altos sacerdotes e, por isso, es-
tavam muito vinculados ao templo e eram rejeitados por fariseus
e zelotas. Tinham uma visão racionalista, mais aberta à cultura
helenística.
A respeito dos Saduceus, Morin (1982, p. 108-109), expli-
citando características relevantes desse segmento, afirma o se-
guinte:
[...] Herodes os tratou duramente. Do ano 6 ao ano 70, comanda-
ram uma política de conciliação com o invasor romano. A partir do
ano 6 o sumo sacerdote, Joazar, persuadia os judeus a declararem
seus bens. Acalmavam os movimentos populares. Entre eles é que
se deve procurar os responsáveis pela morte de Jesus.
Suas tendências doutrinais conservadoras são coerentes com sua
posição política. São defensores da ordem estabelecida. Em maté-
ria cultual, apegam-se à letra da Torá e, neste ponto, muitas vezes,
entram em conflito com os fariseus. Assim, a presença de Deus é
muito localizada no Santo dos Santos do templo.
Fariseus (Separados)
Os Fariseus constituíam o maior grupo na época de Jesus,
composto por uma classe média separada do povo e das elites
sacerdotais. Formavam um grupo bem organizado, que conhecia
profundamente a Lei mosaica, observando-a de modo incansável
e escrupuloso.
Nesse grupo, majoritariamente laical, existiam alguns escri-
bas e poucos sacerdotes.
Na época de Jesus, eles estavam separados do poder políti-
co, personificado em Herodes, antigo aliado deles. Em contrapar-
tida, tinham uma grande influência junto ao povo e isso lhes dava
um grande poder no contexto político, o que se explica, segundo
Morin (1982, p. 111-112), da seguinte maneira:
O segredo de sua influência é conseqüência de dupla oposição. Pri-
meiramente, diante da massa popular, afirmavam sua origem judaica
com uma piedade bastante desenvolvida. A interpretação escrupu-
losa da Lei os levava a uma observância rigorosa do sábado, a um
extremo cuidado com a pureza legal, ao pagamento integral dos dízi-
mos dos mínimos produtos. Com isso, pretendiam impor ao povo em
geral, em toda a sua vida, uma pureza totalmente semelhante àquela
que devia caracterizar o sacerdote oficiante do templo. Os saduceus
não exigiam tanto, pois tinham que manter as distinções. Os fariseus,
mais católicos que o papa, mostravam-se, assim, como exemplo ao
povo. Fascinavam a todos e a todos desprezavam.
Por outro lado, opunham-se à nobreza sacerdotal e leiga na área re-
ligiosa, constituindo-se uma nova casta de intérpretes da Escritura
com espírito renovador. Diante dos que se agarravam apenas ao livro
da Lei, os fariseus escribas combinavam a exegese da Lei escrita com
as contribuições da Tradição oral para a elaboração de uma teologia
mais aberta e mais espiritualista. Eles tinham uma idéia bastante ele-
vada das relações entre o homem e o Criador, da liberdade humana
e da providência. Manifestavam uma viva fé messiânica e afirmavam
a existência dos anjos, o julgamento depois da morte e a ressurrei-
Essênios
Os Essênios tratavam-se de grupo formado por judeus que se
articulou no século 2º a.C. Repudiavam o culto do templo e os sa-
crifícios, levando uma vida de rigor ascético, ao estilo dos monges,
com celibato, vida comum, partilha dos bens etc. Não se permi-
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8. JESUS CRISTO
Em Jesus de Nazaré está a origem da História da Igreja. A
Igreja apresenta-se a si mesma como fundada por Cristo. Mas Cris-
to existiu realmente? Para responder a esta pergunta, é preciso
remontar às "fontes históricas" da vida de Jesus, que podem ser
divididas em três categorias:
1) Fontes cristãs: Os "Evangelhos" (Mateus, Marcos, Lucas
e João) e as "Cartas" de Paulo. Infelizmente, Jesus não
deixou nada escrito, mas, por meio destas obras, pode-
mos conhecer bem a sua vida e seu ensinamento, apesar
de que essas fontes apresentam algumas lacunas.
2) Fontes não cristãs: "fontes judias" (Flávio Josefo, 37-100)
e a tradição talmúdica.
3) Fontes pagãs: Tácito (55-120), Suetônio (70-128) e Plí-
nio, "O Jovem" (61-114).
© U1 - História da Igreja Antiga: Temas Introdutórios e Comunidade Primitiva 55
Vida pública
Alguns autores modernos como Van Beber, Belser, entre ou-
tros, fundamentando-se no testemunho de determinados Padres
da Igreja, restringem a vida pública de Jesus a um ano de dura-
ção. No entanto, a maioria dos autores inclina-se para dois anos
e meio.
Morte
Como Cristo começou sua atividade pública aos trinta anos
(Lc 3, 23), sua morte teria ocorrido nos anos 32-33, ou, 14 Nisan (1º
mês do ano judaico) de 783 de Roma, isto é, 7 de abril do ano 30.
Pierini (1998, p. 41-43), tratando deste tema, conceitua uma
"cronologia relativa da vida de Cristo" e uma "cronologia absoluta
da vida de Cristo". Na primeira, confrontam-se os quarto evange-
lhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e são colocadas algumas di-
ferenças de disposição e proporção (PIERINI, 1998). A respeito da
mencionada "cronologia absoluta", por sua vez, Pierini (1998, p.
43-45) diz o seguinte:
Todavia, além dos problemas da cronologia relativa existem os da
cronologia absoluta: isto é, trata-se de atribuir a cada etapa da
vida Cristo uma data, segundo um calendário que estabeleça anos,
meses e dias precisos e até, se possível, horas e minutos. Mas as
dificuldades que se encontram são consideráveis, às vezes até in-
superáveis.
A primeira questão refere-se ao ano e ao dia do nascimento de Cris-
to. A esse respeito, Mateus diz que Jesus nasceu "no tempo do rei
Herodes" (MT 2,1), e Lucas, que o evento se verificou durante o cen-
so realizado "enquanto Quirino era governador da Síria" (Lc 2,2). As
indicações, como se vê, são muito vagas, e devem ser completadas
com informações oferecidas por outros autores. Quanto a Herodes,
o escritor hebreu Flávio Josefo afirma que ele morreu antes da Pás-
coa (=11 de abril) do ano 750 da fundação de Roma. Deve-se deduzir,
então, que o nascimento de Jesus, ocorrido muito antes da morte de
Herodes, verificou-se necessariamente antes de 750, e que Dionísio,
o Pequeno, estabelecendo o ano do nascimento em 753 da fundação
de Roma, errou em três anos: Cristo, então, nasceu ao menos três
anos [...] antes de Cristo. Pelo menos três anos, mas provavelmente
também não mais do que sete anos. De fato, o censo a que Lucas se
refere deve ter sido, conforme indicam os dados arqueológicos, o se-
Atividade de Cristo
Jesus nasceu, milagrosamente, de acordo com textos ne-
otestamentários, de Maria Virgem em Belém. Até a idade de 30
anos levou uma vida oculta na pequena vila de Nazaré com seus
pais. Depois disso, começou sua atividade de Mestre, ensinando
uma mensagem de paz, amor e respeito; curando muitas pes-
soas de vários males e fazendo muitos milagres. Cristo não se
apresentou como um reformador da religião judaica, e sim como
o instaurador de um novo modo de viver a relação com Deus e
com o próximo.
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
O Cristianismo afirma que "Jesus Cristo" é "Deus". E esta convicção de fé no
Cristo é sustentada pela própria consciência messiânica de Jesus, pelas profe-
cias que se cumprem n'Ele, pelos milagres (especialmente a ressurreição corpó-
rea), pela santidade e pureza de sua vida, pela sabedoria, pela verdade absoluta
de sua doutrina e pela divina sublimidade de sua pessoa.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Merece a máxima atenção o modo como Jesus proferia sua
fala com perfeita segurança, de ser inatingível para os homens,
que não perde nunca o próprio equilíbrio. O Reino de Deus anun-
ciado por Ele destina-se a todos os homens (universalismo) e não
só aos judeus.
A obra de Jesus volta-se, essencialmente, para a fundação da
Igreja. Jesus acentua, reiteradamente, o aspecto comunitário da
sua religião, o que se pode observar no uso reiterado da primeira
pessoa do plural (nós, nosso) no Pai nosso "Pai 'Nosso', venha a
'nós' o vosso reino, o pão 'nosso' de cada dia" [...]. Ele quer reunir
o "povo de Deus". E Ele fundou a sua Igreja como uma Igreja Mis-
sionária, o que se evidencia quando delega aos seus discípulos a
missão de anunciar a boa nova do Reino a todo o mundo.
Jesus fundou a Igreja também como sociedade visível e comu-
nidade histórica, o que se pode perceber na solene declaração: "tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno nunca prevalecerão contra ela" (Mt 16, 18); na instituição dos
Separação da sinagoga
Os cristãos eram, desde o princípio, uma comunidade distinta,
mas continuavam observando a Lei mosaica e participavam das ceri-
mônias do Templo. As autoridades judaicas olhavam com bons olhos
e simpatia aquele grupo de "judeus fervorosos"; mas, ao crescer a ex-
pectativa dos povos com os milagres dos apóstolos, a simpatia trans-
formou-se em hostilidade: Pedro e João foram levados ao Sinédrio e
foram pressionados a não pregar, tendo sofrido ameaças caso não se-
2) De acordo com o que você estudou até aqui, de que modo as culturas roma-
na e judaica contribuíram para o desenvolvimento do Cristianismo?
12. CONSIDERAÇÕES
Ao longo do que se expôs nesta unidade, privilegiou-se a
aquisição de noções preliminares sobre a historicidade da Igreja
e a historiografia eclesiástica, as quais são imprescindíveis para a
compreensão da história da Igreja Antiga.
Além disso, estabeleceu-se a reflexão sobre o ambiente em
que nasceu a Igreja; sobre a historicidade e vida de Jesus Cristo;
sobre a comunidade de Jerusalém e sua expansão inicial e sobre a
expansão do Cristianismo para além dos limites da Palestina, bem
como sobre suas principais características.
Na Unidade 2, ampliaremos a perspectiva abordando a orga-
nização do Cristianismo antigo; as heresias e cismas dos três pri-
meiros séculos; os escritores eclesiásticos; os concílios e os Padres
da Igreja.
COMBY, J. Para ler a História da igreja. Tradução de Maria Stela Gonçalves-Adail V. Sobral.
São Paulo: Loyola, 1994. v.2.
CESARÉIA, Eusébio de. História eclesiástica. Tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo:
Novo Século, 2002.
DEBARROS A. C. Doze homens, uma missão. Curitiba: Luz e Vida, 1999.
DRANE, J. A vida da Igreja primitiva. Tradução de José Raimundo Vidigal São Paulo:
Paulinas, 1985.
FIGUEIREDO, F. A. Introdução à patrística. Petrópolis: Vozes, 2009.
FREYNE, S. Jesus, um Judeu da Galiléia. Tradução de Élcio. V. Filho. São Paulo: Paulus,
2008.
GÓMEZ, J. A. Manual de historia de la iglesia. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1987.
JEDIN, H. Manual de historia de la iglesia. Barcelona: Herder, 1980. v. 1.
KEE, H. C. As origens cristãs em perspectiva sociológica. Tradução de J. Rezende Costa.
São Paulo: Paulinas, 1983.
MORIN, E. Jesus e as estruturas de seu tempo. Tradução de Vicente R. de Souza. São
Paulo: Paulinas, 1982.
PIERINI, F. A Idade antiga I. Tradução de José M. Almeida. São Paulo: Paulus, 1998.
PIERRARD, P. História da igreja. Tradução de Álvaro Cunha. São Paulo: Paulinas, 1982.
PRIETO, C. Cristianismo e paganismo. Tradução de Euclides M. Balancin. São Paulo:
Paulus, 2007.
SAULNIER, C-ROLLAND B. A Palestina no tempo e Jesus. São Paulo: Paulinas, 1979.
2. CONTEÚDOS
• Organização e constituição da Igreja - culto e liturgia; vida
monástica.
• Heresias e cismas dos três primeiros séculos - heresias
judaizantes, gnosticismo, montanismo, milenarismo, he-
resias antitrinitárias, controvérsias penitenciais e cismas.
• Escritores eclesiásticos - padres apostólicos, apologistas,
apócrifos e escritores eclesiásticos.
• Heresias, cismas e concílios - controvérsias trinitárias,
cristológicas e soteriológicas.
• "Padres da Igreja" - escritos latinos e gregos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você teve a oportunidade de adquirir
noções preliminares sobre a historicidade da Igreja, a historiogra-
fia eclesiástica e o ambiente no qual se deu o nascimento da Igre-
ja. Estudamos, também, a cronologia fundamental e as principais
fontes disponíveis sobre a história de Jesus Cristo, a dinâmica da
chamada "comunidade de Jerusalém", bem como os eventos que
determinaram os contornos de sua expansão inicial e, finalmente,
a expansão do Cristianismo para além dos limites da Palestina.
Um domínio razoável desses temas credencia você a se aventu-
rar por outros domínios, quais sejam a organização e constituição do
Cristianismo, a instituição e expansão da vida monástica, o advento
das heresias e cismas dos primeiros séculos, o despontar da obra dos
pensadores cristãos (escritores eclesiásticos e Padres da Igreja) e a
convocação dos concílios ecumênicos a partir do século 4º.
Esse novo percurso que ora se inicia está fundamentado nos
seguintes questionamentos:
6. HIERARQUIA DA IGREJA
Nas primeiras décadas em que se desenvolveu o Cristianismo,
toda a autoridade eclesial foi centralizada na pessoa de Pedro (por
mandato do próprio Cristo) e dos apóstolos. Ao abordar este tema,
Debarros (1999, p. 32-33), escritor evangélico, esclarece que:
Em fins do primeiro século a Igreja presenciou o surgimento e a
expansão de seu mais sutil inimigo, o chamado gnosticismo cristão
[...]. Os gnósticos cristãos arrebanhavam inúmeros fiéis nas fileiras
da Igreja ao se apresentarem como possuidores de uma teologia
secreta – a verdadeira gnosis ou conhecimento – herdada direta-
mente dos apóstolos, que, por sua vez a teriam recebido de Cristo.
Como reação a essa corrente herética, a Igreja suscitou a chamada
Sucessão Apostólica, ou seja, um mecanismo de defesa da ortodo-
xia cristã, segundo o qual se afirmava que, se Jesus de fato passara
algum ensino secreto a alguém, teria de ser, necessariamente, aos
seus discípulos, isto é, àqueles aos quais confiara a direção de sua
Igreja. Estes, por sua vez, só poderiam ter perpetuado tal ensina-
mento passando-o aos líderes das comunidades que iam fundando,
e assim sucessivamente (conf. 2 Tm 2.2). Deste modo, desmasca-
rava-se os intentos obscuros daqueles hereges, cuja procedência
nada tinha de apostólica.
A Sucessão Apostólica, enquanto dispositivo teológico, teve, por-
tanto, seu mérito no que diz respeito a estratégia de defesa da fé
cristã naqueles dias, quando era grande a ameaça do gnosticismo.
De fato, para algumas comunidades cristãs como as de Roma, Éfe-
so, Antioquia e Corinto, não foi tarefa difícil rastrear suas origens
apostólicas. Muitas delas possuíam seus próprios registros episco-
pais, os quais documentavam a ligação do presente com seu pas-
sado apostólico. Por outro lado, como diversas congregações de
localidades menores não podiam reclamar para si qualquer base
apostólica sustentável para suas origens – já que em várias cidades
do Império o cristianismo tinha chegado por vias desconhecidas
– muitas delas trataram de criar suas próprias lendas e tradições
acerca de suas pretensas matrizes apostólicas.
Diáconos
Os diáconos assistiam ao bispo na celebração da eucaristia
e na administração do batismo. Ao seu cuidado estavam a distri-
buição das esmolas, a administração, sob a vigilância do bispo, dos
bens temporais da comunidade. Esse caráter de suporte ao traba-
lho do bispo, bem como seu status na hierarquia da Igreja são bas-
© U2 - Organização do Cristianismo Antigo, Liturgia, Vida Monástica,Heresias,
Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 89
Sacerdotes
O ofício de sacerdote, por sua vez, também se submetia ao
de bispo. Sob essa perspectiva, os sacerdotes não podiam exercer
nenhum ministério sem sua aprovação e somente por encargo ou
delegação do bispo poderiam presidir a eucaristia e a administra-
ção dos sacramentos. Segundo Bihlmeyer–Tuechle (1964, p. 108),
os sacerdotes:
[...] formavam o seu conselho ("senado" segundo Inácio); no ensino
e no culto eram os seus assistentes [...] No conjunto, feita exceção
de algumas comunidades maiores, o seu cargo não os empenhava
muito; era antes honorífico [...] Somente no período sucessivo, com
a criação das paróquias, os presbíteros adquiriram maior importân-
cia (§ 62); contudo, em Roma e noutras cidades bastante grandes
esse desenvolvimento já se iniciara antes.
cân. 77) e, pela primeira vez na Síria, também de bispos de zonas rurais
(Eus.VII, 30,10; concílio de Elvira [314] cân 13). Mas com essa evolução
não foi afetada em nada a autoridade do bispo da cidade. Ele conti-
nuou a ser o superior das diversas igrejas urbanas como também das
rurais, situadas dentro do território dependente da cidade.
2. Como os fiéis de uma cidade formavam uma "paróquia" assim
diversas "paróquias" constituíam, por sua vez, uma província
eclesiástica, cujos confins regularmente coincidiam com os das
províncias do império romano; igualmente, como chefes dessas
eparquias achavam-se os bispos das capitais de província, que
desde o século 4º tomaram o nome de metropolitas. A adequa-
ção da divisão eclesiástica com a política era sugerida por razões
geográficas e históricas, mas havia também um motivo religioso,
enquanto habitualmente as outras igrejas das províncias deviam
sua origem à igreja da capital e, portanto, se encontravam em
condição de igrejas filiais em confronto com a igreja matriz ou
igreja originária. No Oriente, exceto no Egito, a articulação da
Igreja em províncias concluiu-se essencialmente já no século 2º,
no Ocidente, ao invés um pouco mais tarde. Desde a metade do
século 2º os bispos de uma província costumavam reunir-se em
sínodos, para discutir assuntos de importância; os primeiros de
que se tem notícia foram os que se celebravam na Ásia Menor
pelas controvérsias montanistas. Também aqui se pode recordar
um modelo político, isto é, as dietas provinciais da Ásia Menor
(conventos). Os sínodos se demonstraram meio eficaz para man-
ter e consolidar a unidade da Igreja; mais tarde na Ásia Menor
tornaram-se anuais.
3. Acima das organizações provinciais existiam organizações ecle-
siásticas mais vastas. O concílio de Nicéia, de 325, fala destas
como de uma instituição já em ato havia muito e atribui de
modo explícito uma autoridade de supermetropolita – assim se
poderia chamar estes altos dignitários da Igreja - aos bispos de
Roma, Alexandria e Antioquia. As três jurisdições compreendiam
uma o Ocidente, outra o Egito e as províncias limítrofes, a ter-
ceira a diocese política do Oriente (Síria, Cilícia, Mesopotâmia,
Palestina). Neste ordenamento devem ser vistas as origens da
constituinte patriarcal sucessiva. Parece que o concílio aluda, no
mesmo cânon, à existência de outros metropolitas de grau supe-
rior e a este propósito cogitou-se, em primeiro lugar, nos bispos
de Éfeso (Ásia proconsular), Cesaréia de Capadócia, Cesaréia de
Palestina, Heracléia na Trácia. No mesmo plano se encontra tam-
bém, de fato, e não só juridicamente, o bispo de Cartago para a
África norte-ocidental. Em todos estes casos tinha valor decisivo
a relação entre igreja matrizes e igrejas filiais; os bispos daquelas
capitais faziam valer antigos direitos de consagração e eventual-
mente de deposição sobre os bispos das igrejas dependentes.
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Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 93
8. SÍNODOS E CONCÍLIOS
A instituição conciliar não era desconhecida na Igreja primi-
tiva, mas adquiriu importância após a conversão de Constantino.
A proliferação dos sínodos, por sua vez, ocorreu a propósito
do advento das heresias e também da consideração de que estes
constituíam uma instituição necessária para o exercício harmonio-
so e regular do governo da Igreja.
Os principais concílios ecumênicos da Antiguidade foram os
seguintes:
1) Niceia (325), em que se deliberou o posicionamento
contrário ao arianismo.
2) Constantinopla (381), em que se reafirmou a posição
contrária ao arianismo e a outras heresias.
3) Éfeso (431), em que se firmou posição contrária a Nestório.
4) Calcedônia (451), em que se firmou posição contrária ao
monofisismo.
5) II de Constantinopla (553), marcado pela negação dos
chamados "três capítulos".
6) III de Constantinopla (680-681), em que a Igreja marca
posição contra os monoteletas.
9. CULTO E SACRAMENTOS
Para compreender a dinâmica do culto cristão, bem como o
lugar que os sacramentos ocupam nessa dinâmica, é fundamental
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Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 97
Batismo
O batismo, administrado pelos apóstolos aos convertidos
no momento imediatamente posterior em que estes realizavam a
profissão de fé em Cristo, configura a admissão à Igreja.
Até o século 2º, ao que tudo indica, o batismo era adminis-
trado somente aos adultos, muito embora o ato de se batizar as
crianças configure, para Irineu (180) e para Orígenes (254), uma
tradição apostólica.
O batismo podia ser administrado por qualquer cristão, mas,
geralmente, era conduzido pelo bispo. Ocorria, inicialmente, so-
mente por ocasião da vigília pascal, situação que se modificou pos-
teriormente, admitindo-se a realização da cerimônia em outros
momentos do ano litúrgico.
Catecumenato
O catecumenato é definido como o tempo destinado à pre-
paração que antecede o batismo do neófito, que por sua vez pode
ser definido da seguinte maneira: "pagão recém-convertido ao
cristianismo; cristão-novo [...] pessoa que vai receber o batismo
ou recentemente batizada" (HOUAISS, 2009).
Na verdade, não podemos falar de uma catequese propria-
mente dita nas primeiras décadas de existência do Cristianismo,
já que os primeiros convertidos eram judeus que eventualmente
tiveram acesso à pregação apostólica e se integraram à comunida-
de cristã primitiva em Jerusalém ou em comunidades oriundas da
Diáspora.
A despeito disso, a preparação para a profissão do Cristianismo,
de início, centrava-se nos ensinamentos de Jesus e na sua ressurrei-
ção. Posteriormente, com o advento de obras escritas, como os evan-
gelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, bem como outros escritos e
cartas neotestamentárias, enfatizava-se não somente os ensinamen-
tos de Jesus, mas também relatos sobre a vida de Jesus e das comu-
Eucaristia
A eucaristia ou "fração do pão", no tempo dos apóstolos, era
celebrada pela tarde, constituindo-se como uma "comida de frater-
nidade" ou ágape, termo que designa uma "festa dos primitivos cris-
tãos que consistia em uma refeição comum com a qual era celebra-
do o rito eucarístico" (HOUAISS, 2009) em recordação à última Ceia
do Senhor e que desapareceu definitivamente no século 4º.
Por ocasião da proibição das "eterias" por obra do imperador
Trajano (98-117), os cristãos passaram a celebrar a Eucaristia pela
manhã, afastando a cerimônia do conceito de "comida da fraterni-
dade", que, por sua vez, acabou por se converter, paulatinamente,
em mero evento beneficente em proveito aos pobres.
Informação complementar––––––––––––––––––––––––––––––
O termo "eterias" é de origem grega e designa as associações de modo geral. Os
cristãos constituíam que uma eteria, pelo menos sob a ótica do Império Romano,
representava uma ameaça ao equilíbrio do ordenamento social vigente, o que
certamente motivou perseguições da parte do Império.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O registro mais antigo de uma cerimônia eucarística orga-
nizada de modo semelhante ao que conhecemos hoje em dia é a
descrição da uma missa celebrada por São Justino (+165), cerimô-
nia em que se reconhece os seguintes momentos:
1) Recitação de algumas orações.
2) Leitura da Sagrada Escritura.
3) Homilia do bispo ou presidente da assembleia.
4) Oração em comum por todos os homens.
5) Apresentação das oferendas (pão e vinho misturado
com água).
6) Consagração mediante as palavras da Instituição.
7) Resposta dos assistentes ("amém") em sinal de adesão.
8) Distribuição do Corpo e Sangue de Cristo aos fiéis (essa
distribuição era feita pelos diáconos e após a comunhão
do presidente da assembleia).
Ordem
Os candidatos ao sacerdócio, inicialmente, eram escolhidos
pelos apóstolos e se exigia deles qualidades morais e intelectuais.
Podiam ser recrutados também entre homens casados, mas, com
o passar do tempo, foi se exigindo o celibato dos candidatos. Com
a expansão do Cristianismo, os bispos foram assumindo esta fun-
ção e cuidavam da preparação destes. A ordenação, ministrada
unicamente pelo bispo, essencialmente, acontecia mediante a im-
posição das mãos e oração consecratória. Posteriormente à admi-
nistração do sacramento da ordem, foram acrescentadas algumas
cerimônias simbólicas (entrega do cálice e patena, prostração, un-
ção com óleo etc.).
Matrimônio
A santidade do matrimônio é defendida pelos Santos Padres
desde o século 2º. A despeito disso, foi somente no século 4º que
se estabeleceu e clarificou as posições da Igreja em relação a esse
sacramento, bem como em relação à virgindade.
Paralelamente a esse processo, a legislação civil, que regu-
lava o matrimônio, conformou-se à legislação eclesiástica durante
os séculos 4º e 5º.
Muitas peculiaridades marcavam a dinâmica do matrimônio
no contexto desse momento da História da Igreja. Entre essas pe-
culiaridades merece destaque, em primeiro lugar, o fato de que,
no Ocidente, a bênção nupcial era celebrada durante o transcur-
Penitência
A propósito das conversões do século 4º, pessoas com pouco
espírito de fervor ingressaram na dinâmica da Igreja. Essa situação
promoveu a multiplicação de escândalos, cuja marca era a inob-
servância evidente da doutrina e dos mandamentos defendidos
pela Igreja (pecado), escândalos esses que estimularam a Igreja a
desenvolver e exercitar o seu "direito penal".
A pena mais grave, nesse contexto, era a "excomunhão",
por meio da qual o fiel ficava excluído da Igreja. A aplicação desta
pena se dava a propósito da incidência dos três pecados canôni-
cos: apostasia, adultério e homicídio.
Os clérigos, por sua vez, eram castigados mediante a "sus-
pensão" e "deposição" do cargo. Na Espanha, os bispos eram cas-
tigados mediante a privação da "comunhão fraterna" e do direito
de assistir aos sínodos.
Informação complementar––––––––––––––––––––––––––––––
A nomenclatura utilizada na listagem (Ex. "3. XI. 313") são indicativos do me-
canismo de sequenciação de leis, artigos e acordos que integravam o código
jurídico romano vigente na época em questão.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
À semelhança dos ascetas e virgens, considerando-se a aus-
teridade com que se submetem à dinâmica da vida cristã, destaca-
-se o advento da vida monástica, cujo desenvolvimento histórico é
detalhado a seguir.
Heresias judaizantes
As heresias judaizantes são definidas, de modo geral, como
a incidência, da parte dos chamados "judeus-cristãos" (século 1º),
que não aceitaram a universalidade do Cristianismo e defenderam
a vigência da Lei Mosaica, em erro caracterizado como a inobser-
vância à doutrina e regras vigentes.
As correntes ligadas a essa modalidade herética dividem-se
em duas categorias principais: a dos que se limitavam a perma-
necer fiéis à Lei de Moisés e os que ousaram impor a observân-
cia dessa lei, sobretudo a circuncisão, aos cristãos provenientes
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Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 119
Gnosticismo
O termo "gnosticismo" refere-se a um movimento anterior
ao Cristianismo, cuja origem etimológica nos remete ao sentido do
termo gnosis (ciência). As primeiras influências desse movimen-
to na dinâmica do Cristianismo deram-se nas chamadas comuni-
dades paulinas, a despeito de que Paulo, nesse contexto, previne
seus fiéis da "falsa gnose" (Cl 2, 2).
A gnose, com efeito, é considerada, de acordo com Ribei-
ro (1989, p. 24): "[...] a heresia mais complexa, que compreende
elementos filosófico-religiosos orientais e cristãos", afirmação que
define o termo e, ao mesmo tempo, determina sua importância no
contexto do desenvolvimento do Cristianismo.
Ribeiro (1989, p. 24-25), em seu discurso sobre a gnose, ain-
da afirma o seguinte:
Os gnósticos não compunham uma seita, porém vários movimentos
sincréticos que absorviam todas as tradições religiosas da época: a
filosofia helênica (sobretudo Platão), o dualismo persa, as doutrinas
dos cultos de mistério (Elêusis e Dionísio), o judaísmo e o cristianis-
mo. Ao contrário das heresias judaicas, apegadas ainda às tradições
mosaicas, os gnósticos eram pagãos que, aceitando a fé cristã, que-
riam nela introduzir suas concepções pessoas e suas teorias filosó-
ficas. Esta heresia sempre esteve em contínua evolução, mas os di-
versos sistemas dela nascidos têm um ponto em comum, que é o
conceito de que entre Deus e a matéria existem uma série de seres
intermediários que tornam possível ao homem alcançar a divindade.
Montanismo ou milenarismo
O Milenarismo representou a esperança e crença em um
eventual e próximo retorno de Cristo ao mundo para fundar um
"reino milenar" com seus eleitos. Ao final do transcurso de mil
anos da fundação desse reino, ocorreria a ressurreição geral e o
juízo universal.
Seu advento está ligado à ação de Montano, sacerdote pa-
gão da deusa Cibeles que, convertido ao Cristianismo, se desviou
logo da fé ortodoxa, elaborando e introduzindo suas ideias heréti-
cas na Frígia, região da Ásia Menor, em torno do ano 150.
O sacerdote Montano considerava a si mesmo como instru-
mento do Espírito Santo para conduzir a Igreja à perfeição. Sua dou-
trina destacava o iminente retorno de Cristo, que, por sua vez, o teria
enviado por meio do Espírito Santo para estabelecer o reino milenário
na Terra. Essa doutrina baseava-se no rigorismo moral (inicialmente,
os montanistas pregavam a renúncia ao matrimônio, o jejum rigoroso
três dias por semana e proibiam que se fugisse diante de eventual
possibilidade de submissão ao martírio) e no rigorismo penitencial
(admitiam o poder da Igreja para perdoar os pecados, mas recomen-
davam que não se fizesse uso desse poder, pois entendiam que os
fiéis, contando com a alternativa de receber o perdão da Igreja, po-
deriam incorrer em negligência deliberada em relação à observância
das regras da Igreja às quais se submetiam). Os montanistas também
Heresias antitrinitárias
Foi em meados do ano 180 d.C. que o escritor cristão Teófilo
de Antioquia utilizou pela primeira vez a palavra 'tríade' ou 'trinda-
de' para explicar a fé num só Deus em três pessoas que configura o
dogma da Santíssima Trindade. Com efeito, segundo esse dogma,
a Trindade Sagrada representa um só Deus (em outras palavras, o
Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus).
A oposição a esse dogma é o que define mencionada heresia
antitrinitária, cujas primeiras ocorrências caracterizaram-se pela
negação da divindade de Cristo a propósito da dificuldade encon-
trada pelos indivíduos que incorreram na prática dessas heresias
em conciliá-la com o monoteísmo.
A origem das heresias antitrinitárias está ligada aos seguin-
tes movimentos:
• Monarquianismo ou "unidade de Deus" – O fundamento
desse movimento consiste no sacrifício da divindade do
Verbo e do Espírito Santo ou na negação da distinção real
entre as três Pessoas Divinas em favor da ideia que no-
meia o movimento, qual seja a da unidade de Deus.
• Monarquianismo dinamista ou adocionista – Esse movi-
mento foi criado por Teodoto, Teodoto "O Jovem" e Paulo
de Samosata. O fundamento do movimento está ligado à
crença de que Cristo foi um homem puro que nasceu mi-
lagrosamente da Virgem Maria. Além disso, no batismo,
Deus infundiu a Cristo um poder (dynamis) sobrenatural e
o adotou por Filho (daí a nomenclatura adocionista). Teo-
doto foi condenado no ano 190 pelo papa Vítor, mas a he-
resia sobreviveu, tendo, inclusive, dado origem a outras.
• Monarquianismo modalista ou patripasiano - Movimento
criado por Noeto de Esmirna, Praxeas e Epígono que en-
© U2 - Organização do Cristianismo Antigo, Liturgia, Vida Monástica,Heresias,
Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 123
sina que Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são
uma só e mesma Pessoa. Esta única Pessoa, existente em
Deus, manifesta-se de diversos modos (o que explica a
nomenclatura modalista): como Criador, como Redentor
(o Pai é quem padece = patripasianos), como Santificador
etc. Segundo essa perspectiva, foi o Pai que se encarnou
e que, ao nascer, toma o nome de Filho (que morre na
cruz), mas continua na condição de Pai.
Controvérsias soteriológicas
Enquanto no Oriente desenvolviam-se as lutas trinitárias e
cristológicas, no Ocidente ventilavam-se questões prático-religio-
sas que tinham por objeto a Igreja como instituição salvífica (dona-
tismo), a condição originária do homem e as relações entre a graça
e a liberdade humana (pelagianismo e semipelagianismo).
Essas discussões remetem a reflexão ao conceito da Sote-
riologia, bem como às doutrinas que, no contexto mencionado,
se filiaram a esse conceito. Com efeito, a Soteriologia, segundo o
Dicionário Houaiss (2009), refere-se à "parte da teologia que trata
da salvação do homem" ou à "doutrina da salvação da humanida-
de por Jesus Cristo". E entre as doutrinas criadas sob esse funda-
mento, destacam-se o Donatismo e o Pelagianismo, cuja natureza
é detalhada nos itens seguintes.
Donatismo
O Donatismo expressou-se em doutrinas rigoristas, rebatiza-
ção dos hereges e novacionismo, que faziam depender a eficácia
dos Sacramentos não somente da fé ortodoxa, mas também da
moralidade da autoridade que os ministra (dispensa). Os adeptos
dessas doutrinas erravam também no que diz respeito à organiza-
ção da Igreja, a qual não admite pecadores em seu seio. O cisma
Padres apostólicos
Os chamados Padres Apostólicos foram discípulos dos após-
tolos que atuaram como escritores, tendo sido os seus escritos
produzidos e divulgados após o advento do Novo Testamento, em
especial no período que se estende do final do século 1º até a
primeira metade do século 2º. A obra inclui importantes escritos
de tipo pastoral para edificação e instrução (Koiné, em grego vul-
gar), importância essa que é reconhecida por Bihlmeyer e Tuechle
(1962, p. 172), segundo os quais essa obra constitui:
Apologistas
Os cristãos, durante os três primeiros séculos, foram objeto
de ódio da parte do Estado, dos intelectuais e do povo.
As apologias, produzidas ao longo do período entre os séculos
2º e 4º, após a morte de Juliano, o Apóstata, em 363, não configura-
ram obras sistemáticas ou tratados de religião, mas obras polêmicas
produzidas para refutar as objeções de seus adversários e, por isso,
dirigiam-se contra e hereges oponentes do Cristianismo.
Os principais apologistas foram:
• Gregos: Quadrato (123-124), Aristides (136-161), Tacia-
no (170), Aristo de Pela (140), Teófilo de Antioquia (180),
Melitão de Sardes (170), Atenágoras (177) e Justino (165).
• Latinos: Minúcio Félix (200), Tertuliano, Arnóbio de Sicca
(300) e Lactâncio (+317).
17. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde construir conhecimentos sobre a
organização e constituição da Igreja, tendo em vista os cultos que a
caracterizam, tais como o batismo, o catecumenato e a eucaristia.
Você também teve a oportunidade de estudar, em se tratando da
dinâmica cristã, a liturgia, os sacramentos, as festas e a origem e
o desenvolvimento da vida monástica no Oriente e no Ocidente,
além das heresias e cismas que marcaram os três primeiros sécu-
los da Era Cristã, bem como a obra dos escritores eclesiásticos, os
concílios e a atuação dos Padres da Igreja.
Na perspectiva da continuidade dos estudos em História da
Igreja Antiga e Medieval, abordaremos, na próxima unidade, as
© U2 - Organização do Cristianismo Antigo, Liturgia, Vida Monástica,Heresias,
Escritores Cristãos e Concílios Ecumênicos 137
18. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
ACIDIGITAL. Sacramentos. Disponível em: <http://www.acidigital.com/sacramentos/>.
Acesso em: 10 mar. 2011.
MERCABÁ - WEB CATÓLICA DE FORMACIÓN E INFORMACIÓN. Las persecuciones
contra los cristianos. Disponível em: <http://www.mercaba.org/Fichas/catacombe/2_
las_persecuciones_contra_los_c.htm>. Acesso em: 15 fev. 2011.
2. CONTEÚDOS
• Perseguições do Império Romano aos cristãos.
• Igreja no Império Romano Cristão.
140 © História da Igreja Antiga e Medieval
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você pôde compreender a organização e a
constituição da Igreja. Nesta unidade, focalizaremos a relação de
poder estabelecida pelo Império Romano contra os cristãos. Fo-
ram diversas as frentes de hostilidades levantadas contra os cris-
tãos: as judaicas, as dos pagãos, as calúnias populares e as dos
intelectuais.
Veremos, também, a expansão do Cristianismo nos três pri-
meiros séculos, a conversão de Constantino, sua política religiosa
e seus sucessores até Teodósio.
Vamos, então, aos acontecimentos no mundo cristão daque-
la época!
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quando se trata o tema das perseguições sofridas pelos cristãos, é preciso es-
clarecer alguns pontos importantes:
• Nesta unidade, ponderaremos as perseguições sofridas pelos cristãos no perío-
do que vai do século 1º ao 4º. No decorrer da História do Cristianismo, houve
muitas perseguições contra os seguidores de Cristo e, ainda hoje, ocorrem
perseguições contra cristãos.
• Outras religiões também sofreram perseguições em outros momentos da his-
tória humana.
• Os primeiros séculos da história cristã são chamados da época das persegui-
ções. Também se fala da época da Igreja das catacumbas, ou ainda, da Igre-
ja das perseguições, ou Igreja dos mártires. Estas expressões são oportunas,
mas historicamente apresentam limitações. Nem todos os cristãos dos primeiros
Hostilidades judaicas
Desde as primeiras décadas do Cristianismo, os judeus hosti-
lizaram os cristãos (morte de Jesus, de Estevão, prisão de Pedro e
dos apóstolos etc.), e muitos escritores cristãos falam que as sina-
gogas judaicas eram "mananciais das perseguições".
Assim, o primeiro desafio do Cristianismo foi libertar-se das
influências judaicas, pois tanto Jesus como seus discípulos eram
todos judeus. Tanto que, inicialmente, os cristãos conviviam har-
monicamente com os costumes sociais e religiosos judaicos, e só
com o decorrer de algumas décadas, é que foram se separando da
tradição judaica.
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 143
Calúnias populares
O povo das várias cidades onde os cristãos fundavam suas
comunidades não tinha acesso ao culto cristão e isso deixava vá-
rias interrogantes ou dívidas sobre o que era e como se desenvol-
viam os ritos cristãos. Por outro lado, os cristãos não participavam
dos cultos públicos. Assim, os cristãos foram acusados de ateísmo
(negavam-se a participar dos cultos tradicionais, do culto imperial
e das religiões orientais) – o povo supunha que os cristãos não ti-
nham religião. Para a mentalidade antiga, isso era uma aberração
que ameaçava o equilíbrio social, com ofensas aos deuses que, por
isso, enviavam calamidades (inundações, terremotos, epidemias,
povos bárbaros) ao império, atingindo toda a população.
Muitos romanos acreditavam que os cristãos tinham um culto
abominável, o culto ao asno crucificado ou a um bandido condenado
à cruz. Deturpando a celebração da ceia eucarística, o povo acusava
os cristãos de prática do incesto, já que se amavam com os irmãos e
isto levava a crer que o culto tinha muitas orgias; também afirmavam
que a eucaristia tinha como momento mais importante um "banque-
te infanticida", em que se comia o corpo de Cristo e se bebia o seu
sangue (isso podia ocorrer com o sacrifício de uma criança).
Aprofundando esta questão, Jedin (1980, p. 204-205) afirma:
As comunidades cristãs que, como fruto do trabalho missionário,
surgiram por várias cidades do império, dado sua separação de tudo
o que tinha relação com o culto pagão, tinham que atrair sobre si,
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 147
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Celso foi um filósofo platônico do século 2º que escreveu um tratado contra os
cristãos chamado "Discurso Verdadeiro". O tratado não chegou até nós, mas
conhecemos partes de seu conteúdo porque ele foi objeto de uma refutação por
Orígenes, um dos padres da Igreja, em seu tratado "Contra Celso", escrito 70 ou
80 anos depois de Celso (SUBSOLO, 2007).
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Faz-se, então, necessário conhecer um pouco mais esses es-
critores anticristãos. Como temos mais informações de Porfírio
(nascido em 233, na cidade de Tiro, na Fenícia), vamos nos deter
em sua vida. Ele viveu numa época em que alguns imperadores per-
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 149
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mas houve momentos de perseguição contra os cristãos e aqui se destaca o
mártir Santo Inácio de Antioquia, que foi levado a Roma para ser morto e neste
contexto, escreveu sete belas cartas nas quais não renuncia à sua fé cristã e faz
uma grande apologia do Cristianismo e da santificação por meio do martírio. Es-
creveu carta aos cristãos de Roma, Éfeso, Magnésia, Filadélfia, Esmirna, Trales,
e uma pessoal a São Policarpo de Esmirna, também martirizado no ano 154.
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Adriano (117-138): em seu reinado e após as conquistas de
Trajano, o Império Romano chegou à sua maior extensão, mas já
se iniciavam várias revoltas e problemas em muitas regiões, o que
fez com que tivesse que reforçar as fronteiras e centralizar o poder.
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Há várias posições sobre a relação entre Cristianismo e Estado. Existem os que
consideram que a aliança entre a Igreja e o Estado, até chegar a converter-se o
Cristianismo em religião oficial do império (390), colocou os cristãos e a hierar-
quia eclesiástica numa dependência diante do Estado (cesaropapismo). Outros a
veem como uma situação de privilégio, porque a "liberdade religiosa" decretada
em Milão foi substituída a favor da Igreja e contra o paganismo, o que provocou
muitos equívocos até nossos dias. Inclusive, houve momentos, especialmente
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 163
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Segundo cálculos aproximativos, sobre uma população de 50 milhões de habi-
tantes no Império Romano, eram cristãos uns 6 ou 7 milhões no início do século
4º. Os cristãos eram, em sua maioria, procedentes das classes inferiores; mas
também existiam cristãos vindos das classes altas (nobres e intelectuais).
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Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Constantino morreu no dia de Pentecostes de 337, dois meses depois de receber
o batismo. A Igreja grega o venera como santo, juntamente com sua mãe, Santa
Helena. A Igreja Ocidental não rendeu culto a Constantino, mas atribuiu-o à sua
mãe.
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Pierini, sintetizando a obra de Constantino, assim escreve:
[...] como bom militar e astuto político herda as reformas da te-
trarquia, mas as corrige, livrando avante só as mais seguras: assim,
acentua a autocracia do poder imperial, mantendo contempora-
neamente a divisão administrativa do Império introduzida por Dio-
cleciano; concentra em suas mãos o poder militar, mas ao mesmo
tempo aperfeiçoa a já iniciada distinção entre tropas de fronteira e
tropas de manobra interna, incrementando e privilegiando parti-
cularmente as últimas; aperfeiçoa a burocracia palaciana, mas ao
mesmo tempo procura tornar cada vez mais articulada e estável
a burocracia subalterna; mostra-se respeitoso em relação à an-
tiga Roma, mas ao mesmo tempo funda uma nova, em Bizâncio,
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 167
mitida pelo apóstolo Pedro aos romanos" e agora ensinada pelo bis-
po de Roma, Damaso, e pelo de Alexandria, Pedro. Em 391, enfim, é
proibido completamente o culto pagão, sob todas as formas.
A união da causa imperial com a cristã caminha, pois, para se tornar
integral: isso, no entanto, não consegue afasar a ameaça que pesa
sobre o Império, inclusive porque, dado que os seculares inimigos
persas, no Oriente, ressuscitaram o zoroatrismo para opor-se me-
lhor às religiões do Império romano, assim os bárbaros ou são pa-
gãos ou são cristãos de confissão ariana, pregada a eles pelo bispo
godo Ulfila, entre os anos 341 e 383.
A divisão religiosa, porém, não é a única nem a mais importante:
a causa imperial, pelo menos no Ocidente, está definitivamente
arruinada, porque as inflitrações e as invasões bárbaras, cada vez
mais freqüentes, recebem apoio dos escravos fugitivos, dos colo-
nos que não suportavam os laços com a terra, dos artesãos prole-
tarizados e de todos os outros segmentos que haviam encontrado
um momento de fusão logo após a batalha de Adrianópolis, quan-
do os godos vitoriosos saqueiam a Trácia, e se reencontram quando
os godos de Alarico, subindo a Ilíria e descendo pela Itália, chegam
às portas de Roma. (1986, p. 131-132).
Os povos bárbaros
A partir do Edito de Milão, os cristãos tiveram mais liberdade
de ação. É claro que, mesmo no primeiro século, os cristãos já che-
gavam a várias regiões que não eram dominadas pelos romanos.
O Império Romano era o grande fascínio dos povos germâ
nicos e eslavos, conhecidos como bárbaros, por serem rudes e não
terem alcançado o progresso dos romanos. Por isso, vários povos
do norte e leste europeu ameaçam as fronteiras do império, que
vai se debilitando, até a queda em 476.
Vários destes povos eram pagãos, alguns já conheciam rudi-
mentos da fé cristã e outros já conheciam várias heresias. Tanto os
que já estavam dentro das fronteiras do império como os que esta-
vam fora precisavam ser evangelizados. Foi necessário um trabalho
intenso e árduo, que durou vários séculos. Os missionários, em sua
grande maioria, monges, percorreram toda a Europa, evangelizando
godos, visigodos, lombardos, ostrogados, frísios, francos etc.
Um destaque especial ao povo franco, que se converteu di-
retamente do paganismo ao Cristianismo, quando o rei Clóvis foi
batizado em 496. Na Idade Média, foi este povo que dominou to-
dos os outros povos e, pelo fato de ser cristão, levou e, em alguns
momentos, impôs a religião cristã aos povos submetidos militar e
politicamente ao Império Franco.
© U3 - Perseguições Romanas, Oficialização do Cristianismo e Aliança com o Estado Romano 175
O Papado fortalecido
Quando os povos bárbaros começaram a invadir as frontei-
ras do Império Romano, este começou a entrar em crise, a qual
teve seu ponto alto na deposição do Imperador Rômulo Augústu-
lo, no ano de 476.
A queda do Império Romano não se deu só por causa dessas
invasões, outros motivos contribuíram para isso: a depravação dos
costumes, as imoralidades, a falta de seriedade e espírito de sa-
crifício e de trabalho dos cidadãos do império, as lutas pelo poder
que geravam muitas mortes, golpes militares e desestabilização
política, a crise econômica, a manutenção de um grande exército
etc. Era, pois, inevitável a queda.
Estejamos atentos, porque esta queda do Império Romano só
se deu na parte Ocidental do império. A parte Oriental só caiu no ano
de 1453, quando os turcos otomanos dominaram Constantinopla.
O MONACATO CRISTÃO
No primeiro século, já existiam no seio da Igreja primitiva
os ascetas, ermitães ou anacoretas (homens que deixam tudo e
retiravam-se à solidão dos desertos, das florestas e dos lugares
mais distantes para se dedicar à vida espiritual) e as virgens (mu-
lheres que, embora vivendo com suas famílias, consagravam-se
totalmente a Deus e viviam em oração e prestando serviços cari-
tativos em suas comunidades). Esses homens e mulheres viviam
sozinhos e com poucos vínculos com a comunidade eclesial e não
muito preocupados em organizar mosteiros ou casas de vida co-
mum. Muitos deles ajudavam os iniciantes na introdução da vida
anacorética e ascética como Santo Hilarião, Santo Antão etc.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Como era a relação dos cristãos com o mundo romano e quais as principais
causas das perseguições?
8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você foi convidado a compreender o proces-
so histórico de perseguição sofrido pelos cristãos na antiguidade,
bem como as diversas frentes de hostilidades judaicas e pagãs
contra a fé cristã, por meio das calúnias populares e intelectuais
articuladas contra os seguidores de Cristo. Mas o Cristianismo re-
sistiu a tudo isso e foi se estruturando internamente e conquistan-
do espaços externamente. Precisamos, contudo, refletir sobre isto:
a religião cristã, vítima de tamanha perseguição, tornou-se livre e,
posteriormente, veio a ser a religião oficial do Império Romano.
Na proxima unidade, veremos as características do mundo
medieval, queda de Roma e ascensão do Cristianismo.
Até lá!
9. E-REFERÊNCIA
Celso – Texto: SUBSOLO. Celso. Disponível em: <http://www.subsolo.org/hermenauta/
archives/2007/01/eterno_retorno.html>. Acesso em: 13 maio 2011.
2. CONTEÚDOS
• Idade Média.
• Queda de Roma (476), povos germânicos e eslavos (bár-
baros).
• Ascensão da Igreja, o Estado Pontifício e o Feudalismo.
• Espiritualidade Cristã .
• Vida monástica.
180 © História da Igreja Antiga e Medieval
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 3, você foi convidado a compreender a relação
de poder estabelecida pelo Império Romano contra os cristãos.
Nesta unidade, vamos reconhecer a terminologia e as ca-
racterísticas do mundo medieval, estudar a queda de Roma (476),
as características dos povos germânicos e eslavos (bárbaros), a as-
censão da Igreja e a organização do Cristianismo medieval.
Bom estudo!
5. IDADE MÉDIA
A Idade Média é um dos períodos mais interessantes de se
estudar, seja no âmbito social, seja no âmbito eclesial.
Quando se fala em Idade Média, pensa-se no "século de ferro"
da Igreja, na papisa Joana, no Feudalismo, na Cristandade e no auge
do papado, no surgimento do Islamismo, nas Cruzadas, na Inquisição,
na perseguição aos hereges e às mulheres acusadas de bruxaria, no
Humanismo e no início do Renascimento (porque o Renascimento
continua até o século 16), temas que até hoje são discutidos com evi-
dência e nem sempre analisados criticamente.
Para entender melhor, vejamos alguns esclarecimentos in-
trodutórios para nos situar no contexto da Idade Média:
1) A Idade Média está inserida no período entre os séculos
8º e 13. Porém, para alguns historiadores eclesiásticos,
a Idade Média já começa com o Edito de Milão, em 313;
para outros, inicia-se com a derrocada do Império Roma-
no do Ocidente, ocorrida no ano 476, ou com o fim das
controvérsias doutrinais antigas, no 3º Concílio de Cons-
tantinopla, em 681. E ela se estenderia até o início da
crise eclesial do século 13, ou até a queda de Constanti-
nopla, em 1453; ou ainda, até a descoberta da América e
a vitória espanhola contra os muçulmanos, em 1492; ou
até o início da reforma luterana, em 1517.
Queda de Roma
A partir do século 2º, o grande Império Romano passou por vá-
rias crises e, de modo especial, sofreu com o processo migratório de
vários povos do norte e leste europeu que ameaçavam as fronteiras.
Islamismo
Igualmente importante, é ressaltar neste momento o sur-
gimento do Islamismo (nome que significa "submetido à vontade
divina"), com Maomé. Após uma vida de comerciante, Maomé foi
aos poucos articulando a nova religião surgida na Península Arábi-
ca, com uma profissão de fé simples: fé e adoração só em Alá, o
Deus único; obediência ao Corão como livro sagrado; e o respeito e
obediência a Maomé, o profeta. A partir do ano 622, começou-se a
sua expansão religiosa e militar, fenômeno conhecido como "Égira
muçulmana". Nos séculos 7º e 8º, os muçulmanos conquistaram o
Oriente Médio, chegaram às portas de Constantinopla em 718 e to-
maram todo o norte africano, de onde chegaram na Espanha no ano
711, sendo barrados na França, na famosa batalha de Poitiers, pelo
franco Carlos Martelo.
8. ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
A Idade Média marca o robustecimento da espiritualidade
cristã, o qual, com as bases na antiguidade cristã e com os novos
dogmas, adquiriu estabilidade. Nesse período, destacamos os se-
guintes aspectos:
1) Cresceu a piedade eucarística e a instituição da festa de
Corpus Christi, em 1264.
2) Desenvolveu as imagens de Cristo: ícones, vitrais, pinturas etc.
3) Criou-se a Via-Sacra, a partir do ano 1150.
4) Verificou-se o aumento da devoção mariana: orações,
dedicação de Igrejas a Maria. O sábado torna-se o dia
mariano e formula-se a Ave Maria (a saudação do anjo
© U4 - Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo 197
9. VIDA MONÁSTICA
O desenvolvimento e a expansão do Cristianismo, nos primei-
ros séculos, foram muito enriquecidos com o testemunho de muitos
de seus seguidores, com especial destaque para os mártires. Um dos
grupos que mais se desenvolveu e ajudou na sua consolidação foi a
vida monástica. Já nos primeiros séculos, surgiram ascetas, anacore-
tas e virgens, homens e mulheres que se consagravam ao seguimento
de Jesus Cristo e abandonavam tudo para viver o ideal do deserto.
Com o tempo, este estilo de vida foi se organizando e deu origem à
vida comum ou cenobitismo, com o surgimento de várias regras mo-
násticas (Pacômio, Agostinho, Basílio, Isidoro de Sevilha etc.) e com
a construção de grandes mosteiros no Oriente e no Ocidente. No
Ocidente, uma figura de grande destaque foi São Bento de Núrsia, a
partir do início do século 6º, considerado o pai do monacato do Oci-
dente: a partir de Subíaco e Montecassino (mosteiro fundado no ano
529), seus monges percorreram toda a Europa, fundando mosteiros,
convertendo povos bárbaros e romanos, construindo cidades e con-
servando a ciência. Com o tempo, os mosteiros tornaram-se muito
ricos e fontes de grande poder, também eles nas mãos dos senho-
res feudais e reis. Houve um processo de grande decadência que só
foi superado com as reformas monásticas medievais, com destaque
para a de São Bento de Aniane, no início do século 9º e a reforma de
Cluny, a partir do ano 909, na Borgonha francesa. Este mosteiro tinha
vínculos com Roma e ficou livre da ingerência das autoridades locais
e também dos bispos; com abades íntegros e firmes, foram fundados
centenas de mosteiros reformados que conduziram o Cristianismo a
viver uma das suas maiores reformas até a sua consolidação medieval
com o apogeu da Cristandade, representada especialmente por um
papa saído do movimento reformístico de Cluny: papa Gregório VII
(1073-1085). Sobre Cluny, Del Roio assim escreve:
Uma inovação que teria inúmeras conseqüências se daria com a mu-
dança da antiga regra beneditina do ora et labora. O trabalho manual
seria reservado aos leigos, para que os monges se concentrassem
plenamente na oração. Esta deveria ser vista não mais como súplica
para alcançar graças, mas como glorificação de Deus, através da qual
© U4 - Características do Mundo Medieval, Queda de Roma e Ascensão do Cristianismo 199
4) Como você analisa a posição cristã diante da invasão dos povos germânicos
e eslavos?
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você teve a oportunidade de compreender a
terminologia e as características do mundo medieval, bem como
a queda de Roma (476) e as particularidades dos povos germâni-
cos e eslavos (bárbaros). Com esses conhecimentos, foi possível
analisar a ascensão da Igreja, o Estado Pontifício, o feudalismo e a
organização eclesial na Idade Média.
Na Unidade 5, vamos estudar o Cisma do Oriente (1054), as
Igrejas ortodoxas, o Islamismo e as Cruzadas.
Claretiano - Centro Universitário
200 © História da Igreja Antiga e Medieval
2. CONTEÚDOS
• Cisma do Oriente (1054) e as Igrejas Ortodoxas.
• Islamismo.
• Cruzadas (as ordens militares).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 4, você pôde estudar e refletir sobre os concei-
tos relacionados às terminologias e às características do mundo
medieval, especialmente da "primeira Idade Média".
Agora, na Unidade 5, você terá a oportunidade de refletir
sobre a situação do Cristianismo entre os séculos 10 e 13, tendo
como temas principais o Cisma do Oriente (1054), as Igrejas Orto-
doxas e o Islamismo. Compreenderemos, ainda, os objetivos e as
estratégias das Cruzadas.
Está pronto para o desafio?
Bom estudo!
Como você pode notar, é por meio deste contexto, com mui-
tas mudanças e transformações, que é preciso analisar a vida do
Cristianismo e suas mudanças, que pouco a pouco o inseriram no
mundo da modernidade com suas rupturas e desafios.
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Podemos resumir o pontificado de Inocêncio III como a época do auge e do apo-
geu da hierocracia, ou também, eclesiocracia ou eclesiocentrismo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os sucessores de Inocêncio III continuaram a sua obra, tanto
na relação política com os imperadores como nos assuntos eclesi
ásticos. As relações da Igreja com a monarquia alemã foi se enfra
quecendo e, simultaneamente, fortaleceu-se a aliança daquela
com a monarquia francesa, de modo especial com o rei São Luís IX
(1226-1270). O sinal do estreitamento da relação e dependência
da Igreja com a França se deu com a convocação do Concílio Ecu
mênico de Lyon, em 1274, para fortalecer a reforma eclesiástica,
buscar ajuda para a Terra Santa e se tentar a união com a Igreja
Grega. Com o Papa Bonifácio VIII (1294‑1303), foi iniciada a fase de
decadência do poder temporal dos papas em função do enfraque
cimento da Igreja. As nações europeias buscavam o fortalecimento
da autonomia. Estavam mais preocupadas com os seus assuntos
internos, com o fortalecimento das novas classes burguesas em
detrimento da nobreza feudal, com o surgimento do humanismo
e da sociedade e cultura modernas. Bonifácio VIII não conseguiu
dialogar com as novas realidades que surgiam e nem com o poder
político estabelecido e acabou ficando sozinho.
© U5 - A Cristandade Medieval: Cisma do Oriente (1054), Igrejas Ortodoxas,
Islamismo e Cruzadas 213
Causas políticas
Já nos primeiros séculos, com o surgimento da discussão em
torno da data pascal, no século 2º, e das heresias e de discursos
© U5 - A Cristandade Medieval: Cisma do Oriente (1054), Igrejas Ortodoxas,
Islamismo e Cruzadas 215
Causas eclesiástico-doutrinais
Além das questões políticas, outro fator importante na divi-
são foram as heresias.
Como muitas delas brotaram e tiveram seu apoio em segmen-
tos das Igrejas do Oriente, automaticamente se produziram tensões
entre as autoridades locais e a autoridade romana. Assim, podemos
destacar o Arianismo, o Nestorianismo, o Monofisismo etc.
A questão da Iconoclastia (guerra das imagens), no século
8º, e a do Filioque (procedência do Espírito Santo), no século 9º,
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Dentre as tentativas de união ou diálogo, podemos citar o II Concílio de Lyon, em
1274 e os Concílios de Ferrara e Florença, em 1431-1443.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Atualmente, as Igrejas Ortodoxas Orientais dividem-se nos
seguintes patriarcados: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Bulgária,
Constantinopla, Romênia, Moscou e Sérvia. Além disso, existem as
Igrejas "autocéfalas" da Grécia, Chipre, Polônia e República Tche-
ca. Calcula-se que os ortodoxos são atualmente uns 150 milhões
fiéis. Não há um magistério central, elas se articulam em um regi-
me sinodal de colegiado.
Dessa maneira, entre as Igrejas Ortodoxas, temos as cha-
madas Igrejas Antigas Orientais: a Igreja Apostólica da Armênia,
a Igreja Síria Ortodoxa, a Igreja copta Ortodoxa e a Igreja Etíope
© U5 - A Cristandade Medieval: Cisma do Oriente (1054), Igrejas Ortodoxas,
Islamismo e Cruzadas 217
8. ISLAMISMO E CRUZADAS
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as características da Cristandade medieval?
5) Qual a importância deste estudo medieval para minha vida acadêmica e pro-
fissional?
10. CONSIDERAÇÕES
A Unidade 5 encerra-se aqui. No decorrer deste estudo, você
pôde estudar e refletir sobre alguns conceitos relacionados à Cris-
tandade medieval, ao Cisma do Oriente (1054), às características
do Islamismo e às Cruzadas.
Na próxima unidade, você vai estudar conceitos relaciona-
dos ao auge e à crise da Cristandade, às heresias medievais, à In-
quisição e à Reforma da Igreja na passagem para a Idade Moderna.
Até lá!
2. CONTEÚDOS
• Auge e crise da Cristandade (investiduras).
• Heresias medievais (cátaros, valdenses, apocalípticos).
• Movimentos de renovação eclesial (mendicantes).
• Inquisição.
• Transição entre Idade Média e Idade Moderna.
• Ciência escolástica e a mística medieval.
• Crise da Cristandade e os movimentos pré-luteranos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A unidade anterior abordou o tema da Cristandade medieval,
o Cisma do Oriente, o Islamismo e as Cruzadas. Agora, na Unidade
6, você terá a oportunidade de estudar conceitos relacionados ao
auge e à crise da Cristandade medieval, às heresias medievais e
aos movimentos de renovação eclesial, à Inquisição e à transição
entre Idade Média e Idade Moderna, destacando a ciência esco-
lástica, a mística medieval, a crise da Cristandade e os movimentos
pré-luteranos.
Vamos lá?
Reformas monásticas
Como já vimos, na segunda fase da Idade Antiga da Igreja
(séculos 4º ao 7º), surgiram várias Ordens Religiosas no Cristia-
nismo. Elas se desenvolveram a partir do Oriente, e dali, poste-
riormente, se expandiram para o Ocidente cristão. Como muitas
instituições sociais ou religiosas, já na Idade Média, várias dessas
Ordens desapareceram.
Em contrapartida, outras, especialmente a Ordem Benedi-
tina, desenvolveram-se muito, trazendo uma grande contribuição
para a Igreja e ajudando no fortalecimento do sistema de Cris
tandade. A Ordem Beneditina teve um grande destaque em todo
este processo. Em 529, São Bento de Núrsia fundou, na Itália, o
mosteiro de Monte Cassino.
Na Europa, aconteceu uma grande expansão de mosteiros e
a regra beneditina, muito precisa e fundamentada no ora et labo-
ra (oração e trabalho), foi, aos poucos, impondo-se sobre as outras
regras do Ocidente. No início do século 8º, com o apoio dos impe-
radores em seus projetos de reforma eclesial, ela foi imposta a todo
o Ocidente e os mosteiros foram fundados em todos os países, nos
locais mais inóspitos e distantes, levando progresso e novidades re-
ligiosas, agrícolas e culturais para várias regiões europeias.
© U6 - O Auge e a Crise da Cristandade A Inquisição A Transição Entre a Idade Média e a Idade Moderna 231
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A reforma monástica de Cluny, na França, foi iniciada por um nobre, Guilherme, o
Pio, de Aquitânia e São Berno, um grande reformador, e expandiu-se pela Fran-
ça, Itália, Espanha, Inglaterra, Portugal, Alemanha etc. No seu apogeu, foram
mais de 1.500 mosteiros dependentes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nesse mesmo período, novas ordens surgiram:
1) Em 950, São Nilo fundou o mosteiro na Calábria e, de-
pois, assumiu a abadia de Grottaferrata, em Roma.
2) Camaldolenses de São Romualdo, fundados em 982, na
Itália.
3) Valombrosa de São João Gualberto.
4) Congregação da Cava etc.
Houve, também, as reformas do clero secular, a partir do sé-
culo 11, que iniciaram, em muitas regiões, um tipo de "vida comum"
ou "vida canônica".
Desse modo, com a Reforma Gregoriana (1073-1085), foi
fortalecida a autoridade papal e a tentativa de se acabar com a
intromissão leiga dos nobres e príncipes nos assuntos da Igreja.
Contemporaneamente ao apogeu da Igreja, surgiram vários
movimentos contra seu poder temporal, os quais exigiam uma
1) Alemanha.
2) França.
3) Inglaterra.
4) Espanha.
5) Portugal.
6) Boêmia.
7) Hungria.
8) Dinamarca.
9) Islândia.
10) Bulgária.
11) Armênia.
12) Constantinopla, quando os cruzados tomaram a cidade,
instaurando ali um império latino.
O seu pontificado foi uma grande obra de fortalecimento do
poder eclesial.
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O ponto culminante dessa obra foi o IV Concílio de Latrão, em 1215, que promul-
gou pela primeira vez a doutrina da transubstanciação (no ato da consagração, o
pão e o vinho da comunhão se transformam substancialmente no corpo e sangue
de Cristo).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Além disso, vale destacar os seguintes acontecimentos:
1) Foram condenados os valdenses, os albigenses e as dou
trinas de Joaquim de Fiore.
2) Foi decretada a Inquisição episcopal, que ordenava a cada
bispo investigar as heresias de sua diocese e extirpá-las.
3) Foi proibido fundar ordens religiosas com novas regras
monásticas.
4) Ordenou-se que fossem criadas escolas nas catedrais
para a educação dos pobres.
5) Foi proibido que os clérigos participassem de teatro, de
jogos, de caça e de outros passatempos semelhantes.
6) Foi requerida a confissão de pecados por parte de todos
os fiéis, pelo menos uma vez por ano.
8. INQUISIÇÃO
Agora, estudaremos a "inquisição", entidade mais criticada
e mais incompreendida de toda a História do Cristianismo. Ela foi
Espiritualidade
As heresias medievais (catarismo, valdenses, fraticelli etc.)
questionaram as estruturas eclesiais e sociais e os sacramentos
cristãos. Isso fez com que a Igreja refletisse sobre esse assunto e,
aos poucos, sistematizasse a "teologia dos sacramentos", até defi-
ni-los em sete, no Concílio de Trento, no século 16.
As devoções fortaleceram-se e se expandiram em torno do
"Cristo homem, crucificado e misericordioso" e também nas devo
ções à Virgem Maria e no culto aos santos (apesar do comércio de
relíquias e do crescimento das superstições). Surgiram iniciativas
de beneficência e caridade.
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia a Ciência Esco-
lástica, foi-se fortalecendo a Mística, a qual tinha por objetivo le-
var o cristão a se aprofundar nas verdades reveladas por meio da
"contemplação interior". Assim, se a Escolástica estudava a fé por
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•
Alexandre Hales;
• Alberto Magno;
• Boaventura;
• Tomás de Aquino (o príncipe dos escolásticos, com as
Summa Theologica, Summa contra gentiles etc.).
3) Escolástica tardia (declínio):
• Duns Escoto (opôs-se ao tomismo e acentuou a ativi-
dade humana ante a graça divina).
• Guilherme de Ockam (separou a fé da razão: provo
cou a queda da influência da Teologia, foi um dos pre-
cursores da reforma protestante).
Além disso, é preciso considerar as mudanças econômicas,
políticas, sociais e religiosas que aconteciam diante da crise e de
clínio do sistema feudal medieval, marcado pelo fechamento e
restrição da vida social em torno das estruturas agrária e rural; o
surgimento da cultura burguesa, centrada nas cidades que cres-
ciam em torno de um incipiente processo de desenvolvimento
das manufaturas e indústria; e a ascensão de uma nova classe, a
burguesia, que já não aceitava o poder centralizador dos reis e no-
bres.
Nesse contexto de superação das estruturas medievais, de
crise do feudalismo e surgimento da cultura burguesa e urbana, é
que se iniciou uma nova fase da história chamada de Idade Moder-
na ou Nova. Nesse período, a vida da Igreja foi marcada por duas
situações distintas e bem definidas:
1) Por um lado, a Igreja hierárquica (papas, bispos e alto
clero) viveu uma crise sem precedentes, marcada pela
tentativa de manutenção das estruturas do poder, con-
seguido na Idade Média, e pela corrupção e imoralida-
des de muitos de seus membros.
2) Por outro, houve vários setores da base eclesial que,
diante da decadência e da corrupção, propuseram uma
renovação e promoveram várias tentativas de reformas
na estrutura da Igreja.
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Movimento humanista
A situação da Igreja na Idade Moderna foi muito difícil, pois
o mundo medieval, marcado por uma fé teocêntrica (Deus e Igreja
no centro de tudo), e que originou o Sistema de Cristandade, en-
trou em crise. A Idade Moderna ou Nova, cronologicamente, situa-
-se do começo do século 14, e estendeu-se até o fim do século 18
(Revolução Francesa e a crise das monarquias).
A Europa está passando por grandes mudanças. Um aspecto
importante a se ressaltar foi a expansão das universidades:
As crises de crescimento típicas do período 1250-1500, embora
agravadas pelos mais diversos fatores (climáticos, higiênicos, re-
ligiosos, ambientais, econômicos, demográficos, sociais, políticos),
chegam em muitos casos a resultados concretos de grande impor-
tância, com a constituição de organizações nacionais, estatais, que
mais ou menos respondem às exigências regionais. E todo esse
conjunto de fenômenos vai se desenvolvendo às vésperas das gran-
des descobertas geográficas, dos grandes encontros e desencon-
tros intercontinentais, que levarão ao mundo "aldeia global" e aos
seus respectivos problemas. Mas o período histórico de 1250-1500
traz consigo, no campo especificamente cultural, algumas conquis-
tas igualmente decisivas, importantes e significativas: difunde-se a
alfabetização nos continentes que estão na vanguarda, ou seja, na
Europa e na Ásia; o crescimento quantitativo, embora nem sempre
qualitativo, das instituições educacionais superiores (universitá-
rias); o impulso a uma consciência histórica e filosófica, median-
te os movimentos humanista e renascentista, partindo da Itália e
alcançando a Europa e o mundo inteiro; a descoberta e utilização
cada vez mais ampla, a partir da metade do século XV, de um novo
instrumento de comunicação social: a imprensa. São aquisições de
alcance potencialmente universal, às quais seria preciso acrescen-
tar as novas técnicas de navegação e, infelizmente, também as no-
Informação–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O começo do século 14 é marcado pela crise da Igreja e o declínio do poder
temporal do Papado, com o Exílio de Avinhão.
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Desse modo, o Humanismo é definido como:
[...] doutrina ou atitude que se orienta expressamente por uma
perspectiva antropocêntrica. Afirma ser o homem o criador dos va-
lores morais, que se definem a partir das exigências concretas da
vida. Designa também o movimento filosófico e artístico originado
na Itália, no século XIV, que constitui o ponto de partida da cultura
moderna. Em ambas as vertentes, reconhece-se o seguinte: a tota
lidade do homem, a sua historicidade, a sua naturalidade e o valor
humano das artes clássicas (SCHLESINGER, H.; PORTO H. Dicionário
enciclopédico das religiões. 1995. v. 1, verbete Humanismo).
Papas simultâneos
O papa Gregório XI foi o último papa de Avinhão e morreu logo
depois de chegar a Roma. Mas a influência dos reis franceses era mui-
to grande em função do grande número de cardeais franceses. Neste
contexto, foi eleito o papa Urbano VI (1378-1389). Sua eleição foi du-
vidosa, segundo alguns, pois houve muita pressão no conclave para
que se elegesse um papa italiano e não um francês. O papa era um
homem piedoso e reformador, mas orgulhoso, áspero e imprudente,
e ameaçou criar mais cardeais italianos para fazer frente aos france-
ses. Isso tudo fez com que ele se voltasse contra muitos cardeais que
se afastaram dele e elegesse outro papa, mais próximo dos interes-
ses franceses: Clemente VII (1378-1394), que se instalou em Avinhão.
Cada papa teve apoio de várias nações. O Cisma durou 37 anos.
Tentativas de solução
Houve várias tentativas de se solucionar o Cisma, todas
em vão. O Concílio de Pisa, convocado em 1409 para resolver a
questão, não conseguiu depor os dois papas e elegeu um terceiro,
Alexandre V (1409-1410), conciliador que poderia ter resolvido a
questão, mas morreu logo em seguida. Alexandre V foi sucedido
por João XXIII, totalmente indigno e mundano.
Um só papa novamente
Somente no ano de 1414 foi solucionada a questão, no Concílio de
Constança. Com o apoio do rei Sigismundo da Alemanha, os três papas
foram depostos e eleito o papa Martinho V (1417-1431), que reconduziu
a Igreja a tão esperada paz e tranquilidade. O Concílio criou vários decre-
tos de reforma e condenou as heresias de João Wiclif e João Huss.
3) mundanização;
4) influência do pensamento moderno.
Esta foi uma fase lamentável da história da Igreja. Foram
muitos os eventos e as situações que causaram transtornos à paz
e tranquilidade eclesiais.
Evangelismo
Foi um movimento cristão que surgiu dos Círculos Humanis
tas Cristãos. Esse Humanismo cristão estava:
[...] marcado pelo culto da exegese bíblica, caracterizado por uma con-
cepção otimista do homem, por interpretações amplas dos dogmas,
pelo apego mais às experiências místicas do que às dissertações teoló-
gicas, pelo anseio de uma Igreja evangélica e tolerante, mas também
pela fidelidade ao corpo da Igreja romana (PIERRARD, 1982, p. 162).
Devoção moderna
Do século 14 ao 16, nasceu e se desenvolveu na Igreja um
movimento espiritual que, ligado às tendências modernas, propu
nha uma "nova orientação da vida espiritual", caracterizada pela
perda de prestígio das teorias sábias e por um método de oração
simples, razoável, acessível a todos, visando à perfeição cristã e à
união com Deus em um abandono que, aliás, não é quietismo, mas
ascese.
As causas deste novo movimento foram o culto individualista
medieval, as crises eclesiais deste período e as falhas da vida cristã
(excomunhões aleatórias, interditos, tráfico de relíquias, práticas
supersticiosas, grande parte do clero mal preparado e ineficiente).
As principais características deste movimento foram:
1) cristocentrismo prático que reforça a humanidade do
Redentor e não discute os temas teológicos, pois o fiel
deve imitar os exemplos de Cristo;
2) oração metódica, inflamada e simples;
3) tendência moralista e antiespeculativa;
4) afeto expresso no fervor e desejo de Deus;
5) biblismo, ou seja, apego à Bíblia como base da Revelação;
6) interioridade e silêncio;
7) ascetismo e esforço da vontade: fala-se mais do exercí-
cio das virtudes e da vitória contra os vícios do que da
fidelidade às aspirações do Espírito Santo.
Os principais representantes desta corrente espiritual foram:
1) Geraldo, o Grande (1340-1381).
2) Fiorenzo Radewijnis (+1400).
3) Teodorico de Herxen.
4) Henrique Mande.
5) João Busch.
Um dos maiores representantes foi Tomás Kempis (1380-
1471), autor da Imitação de Cristo, que propõe a conformidade e a
configuração com Cristo.
13. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade abordou, também, conceitos relacionados à
transição entre Idade Média e Idade Moderna, destacando a ciên-
cia escolástica, a mística medieval, a crise da Cristandade e os mo-
vimentos pré-luteranos.
Chegamos ao final do caderno: História da Igreja Antiga e
Medieval. É oportuno observar que o presente trabalho não teve a
pretensão de esgotar o assunto, pois nosso objetivo era o de traçar
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