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Resumo Matriarca do Sétimo Ciclo Lunar – Aquela que Ama Todas as Coisas

Mãe, me mostre como amar

Além do meu medo humano

Me ensine todas as alegrias da vida

Atrás dos véus das lágrimas.

Me deixe encontrar o prazer de

Um amante de mãos gentis,

Me deixe conhecer a sabedoria de

Respeito sem demandas.

Oh, Guardiã do Perdão,

Me ensine como ver

Além dos pequenos julgamentos,

Sustentando a dignidade humana.

Eu irei aprender sua medicina

De Mãe, amante, amiga,

Ensinando outros como amar

E corações quebrados como consertar.

Aquela que Ama Todas as Coisas é a Matriarca do Sétimo Ciclo Lunar e do mês de Julho. A cor
conectada a sua medicina é o amarelo e seu ciclo representa o amor a verdade encontrado em todas
as formas de vida. Ela nos ensina a sabedoria da compaixão e como ser uma mulher amorosa e uma
mãe nutridora.

Aquela que Ama Todas as Coisas é a Guardiã da Sabedoria Sexual e nos mostra que toda ação da vida
física é tão sagrada quanto nosso crescimento espiritual porque eles são os mesmos. Quando nos
comportamos como se todos os atos fossem sagrados, não há julgamento. Essa Matriarca nos ensina
a amar nossos corpos e a honrar os prazeres de ser humanos. Ela nos mostra que respirar, comer,
andar, tocar, trabalhar, observar um pôr do sol, fazer amor, e dançar são todos atos de prazer dados
pela Mãe Terra aos seres humanos. Ela nos pede a fazer tudo na vida com um coração alegre. Em sua
sabedoria, Aquela que Ama Todas as Coisas nos ensina que nós podemos encontrar alegrias da vida
física, sem tentar escapar de nossas dores nos tornando viciados em falsos prazeres ou a padrões de
comportamento compulsivos.

Aquela que Ama Todas as Coisas é a Guardiã do Amor Incondicional e é conectada ao Avó Sol. Assim
como os raios do Avó Sol, que brilha em tudo sem reter calor ou sustentação de vida, essa Matriarca
ama todas suas crianças igualmente. Aquela que Ama Todas as Coisas usa a forma do amor
incondicional para nos mostrar que ela não julga nosso comportamento. Ela está disposta a nos amar
o suficiente para nos permitir passar pelas difíceis lições autoimpostas que são as consequências de
seguir o torto caminho. Ter que experenciar as consequências das nossas ações sem amor podem não
nos dar prazer, mas lembrar e evitar essas armadilhas no futuro irá sempre nos trazer de volta ao
equilíbrio. Essa Matriarca contém a sabedoria de permitir e não sufocar suas crianças ou impor regras
rígidas. Ela usa sua habilidade de nos permitir de passar pelas difíceis lições da vida por nossa conta
mas está sempre esperando para amparar nossos desapontamentos e consertar nossos corações
quebrados.

Aquela que Ama Todas as Coisas nos ensina que toda ação na vida é igual porque a reação é igual ao
movimento original. Se somos bons para nossos corpos, nossos corpos são saudáveis e bons conosco.
Se nutrimos e respeitamos nós mesmos, iremos receber o mesmo respeito e nutrição dos outros. Se
nós mentimos para nós mesmos, outros irão mentir para nós da mesma maneira. Se nós pensamos
pensamentos positivos, boas coisas irão acontecer para apoiar nossas atitudes. Se nós aplicarmos a
verdade do amor a todas as coisas, acharemos caminhos para conhecer e amar o Self. Essa Matriarca
nos instrui de uma maneira que aplica o conceito do livre-arbítrio em sua forma mais pura. Sua
compreensão primeira é de que iremos evoluir, não importa o que aconteça. A Cura e o crescimento
poderão levar muitos ciclos na Roda de Medicina, mas ela está disposta a nos amar
incondicionalmente através de todas esses Ritos de Passagem até que amemos a nós mesmos o
suficiente para quebrar os padrões de escravidão autoimpostos.

A liberdade encontrada em amar a Si-Mesma sem condicionamentos é o talento que faz com que
Aquela que Ama Todas as Coisas seja a Guardiã das Crianças. Ela permite as crianças a desenvolver
expressões de autoamor, as encorajando a serem sua melhor versão. Essa Matriarca usa o amor da
criança em descobrir a vida como linha guia para a criação dos jovens. Ela ensina a criança dentro de
nós a aceitar amor, a dar amor, a encontrar maneiras de amar a si-mesma, e a amar a verdade acima
de todas as coisas.

Aquela que Ama Todas as Coisas é a Mãe-Nutridora, a amante sensual, a Guardiã de Todos os Atos de
Prazer, e a Guardiã da Sabedoria Sexual. Essa Matriarca incorpora os atributos do amigo devoto que
vê a força de nossa medicina pessoal, assim como nossa fraqueza, aceitando ambos os lados sem
julgamento. Pacientemente, ela nos ampara em nosso processo de crescimento nos apontando
nossos talentos, nos incentivando a crescer. Aquela que Ama Todas as Coisas ignora nossa relutância
em usar os talentos que temos em mãos, porque ela entende que um dia, em nosso caminho pessoal
de cura, iremos encontra-los dentro de nós mesmos.

A Sacralidade do Amor

Aquela que Ama Todas as Coisas sentiu um quente estremecimento subindo seu corpo quando ela
relaxou na luz do Avó Sol. Foi maravilhoso receber aquele dourado calor dentro dela mesma e permitir
que seu corpo absorvesse a bondade do amor incondicional do Avó Sol. Aquela que Ama Todas as
Coisas virou a palma das suas mãos para cima para receber os raios solares como se eles fossem o
néctar de preciosas flores tropicais. Enquanto o espírito das águas do rio corrente lhe cantava uma
canção, ela foi lembrada da multiplicidade dos prazeres simples que podiam ser experenciados em
um corpo humano. O fluxo borbulhante da água, ondulando sobre redondas pedras em seu caminho,
gorgolejava um agradecimento contínuo. Um espirro ocasional de pequenas gotas de água banhavam
seus pés com novas sensações enquanto ela recebia todas percepções que seus sentidos humanos
podiam abranger.

Aquela que Ama Todas as Coisas cheirou o rico perfume do solo molhado da beira do rio misturado
com muitas fragrâncias das flores selvagens e das ervas florescentes. O aroma sutil das cebolas verdes
selvagens que vinham da floresta sombreada atrás dela a lembrou dos diversos saborosos alimentos
que a Mãe Terra oferece livremente. O cheiro das úmidas folhas caídas na vegetação rasteira junto
com o sutil odor de bagas surgindo e videiras de uva, prometendo um tempo abundante de colheita
durante as luas vindouras. Ela desvelou na bondade perpétua que o ser e estar humana oferece.

Aquela que Ama Todas as Coisas abriu em seus olhos uma fenda para ver os raios de sol e o prisma do
arco-íris refletido através da rede criada pelos seus cílios. As brilhantes, efervescentes cores dançavam
ao redor da sua linha de visão, dando a ela outro prazer para apreciar. Ela podia ver os reflexos das
cores capturados na umidade da transpiração da sua pele. Ela notou que a água, como os sentimentos,
podia refletir qualquer sutil nuance no jogo da mudança entre luz e sombra. Ela relembrou como ela
ficou maravilhada com as extensas e variadas sensações que ela encontrou quando encarnou pela
primeira vez em sua forma humana feminina. Ela tinha sido como um beija-flor naquela época,
degustando tudo o que as flores da experiência humana podiam oferecer, voando de uma à outra em
total contentamento.

Uma vez ela havia assistido o beija-flor sugar e degustar todos os diferentes néctares que ele
encontrou florescendo em um prado da floresta. Ela decidiu que o mundo era para ser saboreado com
a mesma alegria. Aqueles primeiros dias a ensinaram a Medicina que o Beija-flor oferecia e a mesma
atitude de amor e alegria continuou a dar forma a toda experiência em sua Caminhada na Terra.
Aquela que Ama Todas as Coisas silenciosamente enviou seu agradecimento para a menor de todas
as criaturas aladas, que cantarolavam a canção deixando a alegria da vida afastar a negatividade e o
medo. Perdida em seus sentimentos, a relaxada Matriarca mal notou que ela estava seguindo as cores
de um raio de sol através de seus cílios e dentro de uma brilhante coletânea de memórias que a
lembravam das alegrias e provações que ela descobriu na Boa Estrada Vermelha.

Ela lembrou como ela foi iniciada na sexualidade, aprendendo os prazeres de copular, em um campo
de papoulas de milho e no musgo verde macio. O dia havia sido quente cheio com os sons de seu
próprio coração pulsante e dos chamados dos tordos e cotovias. Os pássaros estavam circulando, e
depois mergulhando no prado para se deleitarem dos grãos e das sementes da grama selvagem. Ela
estava andando perto de um homem que havia tocado profundamente seu coração durante as
passadas últimas luas. Juntos eles haviam explorado os sopés ao redor e compartilharam muitos fogos.
Ele havia protegido ela, havia provido seus fogos com comida para cozinhar, e a havia mostrado
respeito devido a uma mulher. Esse homem sabia que toda mulher era uma extensão da Mãe Terra e
que machucar uma mulher de qualquer maneira traz as consequências da escassez para todas as
Crianças da Terra. Na noite anterior, quando se sentaram próximo ao fogo, ele havia falado para ela
sobre a responsabilidade de dar prazer a uma mulher de uma maneira que iria ensinar e preservar a
alegria de copular.

Aquela que Ama Todas as Coisas descobriu que estar perto desse homem trouxe muitos novos e
curiosos sentimentos. Seu corpo reagia de estranhas maneiras se suas mãos inesperadamente se
tocassem ou se seus olhos se encontrassem. Ela não sabia como medir a inundação de emoções ou o
fluxo de sangue que colocava sua face em brasas. Ela era inocente em relação a velocidade acelerada
das batidas de seu coração e do quente jorro de calor percorrendo entre suas coxas. Cão Emplumado,
o homem ao seu lado, era muito diferente dos outros homens que ela havia encontrado. Nenhum
deles jamais havia feito ela se sentir dessa maneira. A atração que ela sentia por Cão Emplumado deu
a ela a sensação de anseio e excitação, mas ela não sabia como lidar com a inundação de emoções
que a tomavam quando ela estava com ele. Alguns sentimentos eram extremamente prazerosos e
outros infligiam uma dor aguda de anseio. Ela estava confusa porque não entendia o que ela ansiava,
desejava. Algumas vezes era difícil respirar quando ele colocava seus braços sobre seus ombros ou
sorria enquanto olhava fundo em seus olhos.

A dança de acasalamento durou três meses, deixando Aquela que Ama Todas as Coisas encantada
pela sensualidade do toque e de se sentir nutrida. O campo da intimidade havia crescido durante esse
tempo em que ela e Cão Emplumado haviam compartilhado seus mais profundos pensamentos mas
não seus trajes de dormir. Hoje, no campo das papoulas de milho que irradiava todas as cores rosa-
salmão de um Sol recém-nascido, ela iria abrir a si mesma para seu homem de uma nova maneira.

Cão Emplumado havia conquistado seu nome porque ele carregava a Medicina da Pena, simbolizando
uma mensagem do espírito, e Cão, que ensina o valor de servir a humanidade com lealdade. Esse
homem incorporava as três Medicinas necessárias em um relacionamento: respeito, confiança e
intimidade. Cão Emplumado entendia a importância em construir uma fundação de mútuo respeito
que depois daria luz a confiança. Ele sabia que quando confiança e respeito estão presentes em
qualquer relacionamento, intimidade e o compartilhamento dos desejos do coração podem florescer,
enraizados em solo fértil. Em sua sabedoria, Cão Emplumado havia permitido Aquela que Ama Todas
as Coisas o tempo que ela precisava para experimentar a construção dessa fundação no
relacionamento deles. Dessa forte e cuidadosa base de união, a atração sexual estava naturalmente
envolvida.

Aquela que Ama Todas as Coisas recordou toda gentil carícia daquele dia de tempos atrás e reviveu a
beleza e sacralidade daquela primeira relação. Ela havia ganhado um presente que era o desejo da
Mãe Terra para todas suas crianças: descobrir os prazeres da sexualidade humana sem culpa, medo
ou dor. No decorrer dos próximos anos, Aquela que Ama Todas as Coisas e Cão Emplumado
compartilharam todos os alegres prazeres da vida e do amor em sua união.

As felizes experiências compartilhadas com seu companheiro e o nascimento dos seus filhos ensinou
Aquela que Ama Todas as Coisas a alegria do nutrir e do ser nutrida. Através dos Ritos de Passagem
sexual compartilhado com Cão Emplumado, ela pode se tornar a Guardiã da Sabedoria Sexual. Através
da maternação de sua prole, ela redescobriu o mundo através dos olhos de suas crianças. A maravilha
da vida e a excitação de estar viva a permitiu dominar a arte de ser uma calorosa e sensual mulher e
uma nutridora, compreensiva mãe. Seu coração se encheu de amor transbordante enquanto lembrava
da bondade que a vida lhe deu através de sua filha e de seus três filhos.

Dizer adeus a Cão Emplumado foi difícil quando ele fez a passagem para o Mundo Espiritual. Ela
experimentou mais dor quando ela enterrou seus filhos e os filhos deles, depois de ter visto todos eles
envelhecerem enquanto ela ainda carregava um corpo que não envelhecia. Aquela que Ama Todas as
Coisas desenvolveu um ressentimento durante aqueles invernos seguintes que trouxe a ela uma das
mais difíceis lições de sua vida. A Mãe Terra nunca disse que algum dos treze aspectos dela mesma
acharia ser humana uma tarefa fácil, mas Aquela que Ama Todas as Coisas convenientemente
esqueceu as consequências de ter um corpo humano que não morre. Ela ressentiu pelo fato de ter
sido deixada para aproveitar os prazeres de ser humana enquanto enterrava seus entes amados e eles
foram viver no Campo do Outro Lado do Mundo Espiritual.

A Matriarca foi testada uma vez e de novo quando seu ressentimento transformava os sentimentos
de alegria que ela poderia experenciar para um sentido negativo. Ela achou difícil amar a verdade de
ser imortal, e ainda mais difícil amar a vida ao redor dela enquanto ela ainda estava de luto pelo amor
que havia compartilhado no passado. Aquela que Ama Todas as Coisas queria sua família de volta. Ela
queria recapturar a Medicina da brincadeira de sua filha, Pequena Lontra, para preencher aquelas
horas de solidão quando a sombra do ressentimento escurecia seu caminho. A Mãe Terra falou com
Aquela que Ama Todas as Coisas, a relembrando da Medicina carregada pela Pequena Lontra,
homônimo de sua filha. A Matriarca não estava pronta para recuperar o equilíbrio da Medicina da
Mulher de ser um adulto que é jovem de coração, brincando ou trabalhando com a mesma inocência
e deleite. Ela não conseguia enxergar o valor em recuperar o equilíbrio necessário em sua vida
aceitando o que tinha acontecido e, como uma criança, decidindo viver a alegria do presente. Aquela
que Ama Todas as Coisas estava focada em todo o amor que ela sentiu e havia perdido, esquecendo
de notar os presentes de renovação e abundância que lhe estava sendo oferecido através da sabedoria
da Mãe Terra.

Aquela que Ama Todas as Coisas se encontrou julgando todos os atos da vida como nunca sendo
suficiente para preencher o crescente buraco em seu coração. Ela insistiu em viver no passado e
esquecer a alegria que um dia ela encontrou em estar viva. Ela andou por muitos Sois e Noites para
visitar o mar, onde ela pretendia compartilhar suas salgadas lágrimas de lamento e remorso com o
oceano. Assim que ela chegou na casa da água infinita, ela se jogou na salmoura querendo morrer,
esquecendo que isso, também, era impossível. Enquanto seu corpo afundava sob as espumosas ondas,
ela foi picada pela enguia, fazendo sua humilhação completa. Se arrastando pelas dunas de areia, ela
gritou de dor e começou a acusar a si mesma de todas as tendências vitimistas que ela acumulou
durante sua passagem sombria pela tristeza.

Aquela que Ama Todas as Coisas começou a culpar ela mesma por nunca envelhecer; ela culpou sua
família por ser humana; ela culpou a Mãe Terra por dar a ela a experiência do prazer e agora essa dor
intolerável. Ela esbravejou e delirou, mandando seu nojo e revolta para os Quatro Ventos enquanto
gritava sua raiva. A crescente ferida vermelha em sua perna onde a enguia a havia picado refletia a
raiva que ela sentia rasgá-la e rasgar o mundo. Ela estava furiosa que tal amor e tal prazer tenha
contido quaisquer consequências. Aquela que Ama Todas as Coisas intencionara a viver a vida
buscando nada além da felicidade última. Não foi suposto existir outro, perturbador lado da
experiência humana. Vida com dor não era justo. Ela estava desesperançada incapaz de parar a triste
existência que ela abominava, mesmo tentando levar sua própria vida.

Perdida em sua própria miséria, Aquela que Ama Todas as Coisas não notou nada ao redor dela até
que um vendaval trouxe quebrantes ondas e o som das asas do Pássaro Trovão trouxe ela de volta a
realidade. Hinoh, o Chefe Trovão, mandou o Pássaro Trovão com suas batentes asas com som de
trovão para ensinar Aquela que Ama Todas as Coisas como seus próprios sentimentos afetavam o
equilíbrio na natureza. Ela escutava a voz de Hinoh, e assim ele gritou dentro de seus ouvidos.

“Filha, você criou esses ventos gelados porque seu coração se tornou frio. Você abandonou seu nome
e jogou sua ira sob as outras Crianças da Terra que dependem de seu amor e nutrição. Na sua raiva,
você criou uma tempestade que mandará muitos para sua morte, e mesmo assim você não aprendeu
nada da escassez que você trouxe quando se recusou a amar. Você, também, deve pesar a tempestade
que você levou adiante e deve ver por si mesma o tipo de dor que você criou dentro de seu corpo e
como essa dor pode prejudicar o mundo natural.”
Assim que a voz de Hinoh sumiu, Aquela que Ama Todas as Coisas foi atingida por uma onda que
arrastou seu corpo para o mar furioso. Para o fundo ela foi, tombando e rolando pelas investidas das
ondas. Girando entre as correntezas, sendo jogada de lá para cá, ela escorregou para dentro da
escuridão de seu próprio inconsciente e autopiedade. A última coisa que ela se lembra era que alguma
coisa estava muito, muito errada.

A sensação de sua perna queimando e o cheiro desagradável de pele apodrecendo trouxe Aquela que
Ama Todas as Coisas para seu juízo. Ela lutou para manter seu estômago sob controle mas miserável
de qualquer maneira. Água salgada derramava de sua boca enquanto ela sentia suas entranhas se
contraindo e soltando, de novo e outra vez. Quando ela finalmente conseguiu levar a si mesma para
um pedregulho próximo, ela ficou espantada com os destroços ao seu redor. A praia estava coberta
com o cadáver de animais de todos os tipos de criaturas que morreram na tempestade. Lágrimas
silenciosas rolavam pelas suas bochechas assim que Aquela que Ama Todas as Coisas percebeu o
horror de sua própria criação. Os destroços em frente a ela foram forjados por sua autopiedade
compulsiva. Ela atingiu um lugar dentro de si mesma onde ela odiava quem e o que ela era.

Depois que Cão Emplumado morreu, ela alimentara sua autopiedade tendo amantes que ela não
amava. Ela os havia usado pelo prazer que eles podiam lhe dar. Ela quebrara alguns corações no meio
do caminho e caiu na projeção de sua própria dor em outros negando como suas ações estavam
literalmente destruindo todas as lições de respeito, confiança, e intimidade que eram a medicina de
seu parceiro. Agora ela chegara a esse pavoroso desfecho: a praia cheia de corpos quebrados, sujando
a areia ao seu redor.

Enquanto ela tocava a ferida em sua perna, a voz da Enguia filtrou-se através das ondas, chegando até
seus sentidos encharcados.

“Aquela que Ama Todas as Coisas, me escute, me escute com seu coração. Eu sou o condutor do amor,
essa é minha Medicina. Os choques elétricos de minha picada não foram para te machucar. O choque
foi necessário para te mostrar que algumas vezes através da dor, o amor pode ser recuperado. Se você
aceitar minha Medicina, talvez eu seja capaz de ajudar você.”

“Porque alguém haveria de querer me ajudar Enguia? Eu quase destruí a mim mesma e todos aqueles
que eu prometi amar antes de vir para minha caminhada na Terra.”

A Enguia respondeu: “Eu não esqueci o verdadeiro significado do amor Mãe. Ele não conhece
barreiras, não encontra defeitos, e espera além do tempo para endireitar as coisas. O fogo do Avó Sol
mexe com a água da Mãe Terra dentro de mim. Eu escolho ser o condutor do amor incondicional dos
dois. Você poderia aceitar o amor deles e o meu?”

Aquela que Ama Todas as Coisas chorou e concordou com a cabeça, sentindo que lhe estava sendo
dada a oportunidade para voltar para quem ela realmente era. A Matriarca de repente se deu conta
de que ela punira a si mesma e todos ao seu redor enquanto ela andava com suas sombras. Mais do
que nunca, ela queria recuperar o amor, libertando a escuridão da culpa e do medo. Enguia sentiu a
mudança no coração da Matriarca e continuou a falar.

“Aquela que Ama Todas as Coisas, para recuperar a abundância que você teve um dia em sua vida,
você deve atravessar uma ponte que você criou entre o lado sombra da sua natureza e seu amoroso
coração. A ponte pode aparecer para você como um arco-íris porque reflete todas as lindas cores
encontradas na sua vida. A ponte é feita de perdão e atravessa o abismo do medo humano, amargura,
ódio e inveja. Essas emoções doloridas são adotadas quando o coração está quebrado, na tentativa
de mascarar a dor. Você deve atravessar essa ponte de bom grado. Para fazer essa jornada, você deve
largar todo julgamento negativo e/ou culpa que você tenha sobre si mesma e/ou por qualquer outra
pessoa, lugar, evento, localização, ou ideia que você já tenha experimentado.”

A mente d’Aquela que Ama Todas as Coisas se encheu das memórias de culpa, vergonha,
arrependimento, delito, e dor insensata que ela tenha causada a si mesma ou a outros. Perdoar todas
essas coisas seria um teste inacreditavelmente desafiador, mas ela percebeu que ela tinha que
começar por algum lugar para recuperar o amor que havia sido um dia seu guia. Ela passou muitos
Sois e Noites andando pela margem do mar, lavando embora seu lado sombrio. Ela sentiu toda
emoção, sem deixar a si mesma ser arrastada por elas de novo. Devagar, ela percebeu uma mudança
no seu bem-estar e praticava a procura de algo que ela poderia amar em si mesma e no mundo ao seu
redor. Ela sussurrou palavras de agradecimento toda vez que ela encontrava um novo avanço,
destruindo as correntes do coração quebrado que a levou a uma existência sem vida. A vivacidade
começou a retornar, enquanto ela fortalecia cada passo adiante em seu processo de cura agradecendo
o Grande Mistério pelo presente da vida.

Sua mudança de atitude diante do mundo ao seu redor trouxe de volta a vibração das cores da
natureza que haviam parecido antes tão desbotadas. Quando ela nadou por debaixo das ondas, os
corais eram tesouros de criaturas que a faziam companhia, refletindo as cores do arco-íris da ponte
que o perdão havia criado em sua vida. Quando ela retornou para a vida mais uma vez, os oito braços
do polvo a ensinou que ela estava envolvida com amor, em todas as direções, desde que ela desejasse
isso. A tinta roxa que o polvo soltava na água para proteger a si mesmo de predadores mostrou Aquela
que Ama Todas as Coisas que a cor roxa, representava gratidão e cura, e era também sua proteção
contra sua destrutiva natureza sombria. Enquanto ela agradecesse por todos os passos de cura que
dera, a cura iria continuar.

De vez em quando, um dia cinza traria memórias nebulosas do passado da experiência d’Aquela que
Ama Todas as Coisas. Primeiro, ela resistia aos pensamentos que traziam medo de seu lado sombra,
mas diferente de sua solução passada, que era negar a existência de sua mente perturbada, ela
confrontou as memórias tentando encontrar maneiras que ela poderia ter resolvido aqueles
problemas passados. Sua nova habilidade desenvolvida de ser grata por toda lição na vida a impediu
de retornar aos comportamentos imprudentes que uma vez a forçaram a usar o prazer como fuga,
entorpecendo tudo até o esquecimento. Aquela que Ama Todas as Coisas estava aprendendo a se
responsabilizar pelas suas ações, percebendo que toda vez que ela alimentava o lado positivo de um
desafio procurando por maneiras de expressar sua habilidade de amar todas as experiências
igualmente, ela poderia facilmente encontrar soluções necessárias. Ela notou que a reação oposta,
negativa também a tornava responsável por jogá-la em sentimentos antigos de despreocupação que
fazia ela querer correr e se esconder da vida.

Logo o dia chegou em que Aquela que Ama Todas as Coisas estrava confiante que estava pronta para
andar entre seus companheiros humanos sem refletir seu passado sob eles. Ela iniciou sua jornada, se
movendo por entre colinas e vales, atravessando florestas, e cruzando riachos. No crepúsculo, no
sexto Sol de sua jornada, ela acordara com o som de um Veado sedento tomando água. Aquela que
Ama todas as Coisas intencionalmente assistira o Veado enquanto ela se arrastou pela grama próxima
ao riacho. Aquela que Ama Todas as Coisas lutava contra as lágrimas em seus olhos pelas memórias
de Pequena Lontra, sua filha, que emergiam em sua mente. Sua pequena menina aprendera a andar
em solo coberto de musgo próximo a um riacho muito similar a esse da clareira. O Veado sentira a
angústia da Matriarca e se virou, falando para Aquela que Ama Todas as Coisas.

“Você é a Mãe de Todos os Atos de Prazer, Aquela que Ama Todas as Coisas, e mesmo assim você
esquecera de ser gentil consigo mesma. Você seria gentil e cuidadosa comigo e minha prole, mas é
impiedosa em relação a si mesma. Nós criaturas ouvimos sobre seu tormento e sobre sua cura e nos
regozijamos com seu processo. Eu fui mandado para cruzar seu caminho, a lembrando da tenra e
sensível gentileza de minha Medicina, não para que você possa aplicar essa calma e conforto a outros
mas para que você pare de ser tão dura consigo mesma. Em todos os sentidos, você é humana. O fato
de que você não experimentara o envelhecer e a morte de seu corpo não significa que você tenha que
se forçar além da capacidade de outros humanos. Doce Mãe, não há nenhum problema em ser
humana. Suas emoções sempre serão uma parte de você, elas nunca irão desaparecer, mas não é
errado tocá-las de tempos em tempos com gentileza. Você atravessou a ponte do perdão e agora você
precisa redescobrir maneiras de ser gentil consigo mesma. Encontrar o equilíbrio entre força e
gentileza é uma tarefa delicada. Você pode chamar pela minha Medicina qualquer hora que precisar.”

Com aquelas palavras, Veado e Cervo foram embora. A floresta os envolveu, deixando Aquela que
Ama Todas as Coisas com seus pensamentos. As palavras ditas pelo Veado haviam reforçado a
resolução da Matriarca em encontrar a ternura consigo mesma que ela precisava para continuar. Com
suavidade, Aquela que Ama Todas as Coisas enviou suas palavras de agradecimento para todas suas
crianças criaturas e para o Grande Mistério. Depois ela se lavou no riacho, comeu algumas amoras, e
olhou para o caminho a frente, começando sua trilha mais uma vez.

Duas luas depois, ela chegou a um acampamento dos Duas-Pernas que estavam ocupados
demonstrando todas as doloridas ações que os humanos poderiam infligir uns aos outros. Ela
percebeu que seu tempo com eles iria testar tudo o que ela havia aprendido. Essa lição na vida iria
fornecer à Aquela que Ama Todas as Coisas a oportunidade de caminhar através do último Rito de
Passagem de amar a verdade em todas as coisas. Como a Guardiã do Perdão, ela foi chamada para
mostrar a esses membros da Tribo da Terra como curar seus corações. O desafio de completar a tarefa
que foi colocada em seu caminho trouxe à tona pensamentos fugazes de querer correr de sua missão,
mas ao invés disso ela agradeceu pela oportunidade de crescimento.

Toda vez que um membro dessa banda de humanos tentava passar rumores para a Matriarca sobre
outra pessoa, ela combatia com um comentário sobre a natureza positiva ou traços dessa pessoa.
Quando alguém estava se sentindo desanimado, ela era a primeira a demostrar gentileza e
encorajamento amoroso. Quando um homem estava em alvoroço, cuspindo raiva naqueles próximos
a ele, ela espantava as nuvens ensinando como toda raiva na verdade é dirigida a si mesmo.
Perdoando a si mesmo por ser humano ou por depender de outros para fazer coisas que deveriam ter
sido cuidadas por si mesmo geralmente dissolvia a raiva instantaneamente. Invernos passaram, e
novas gerações dessa Tribo nasceram, aprendendo os presentes do perdão, gentileza, e amor que
Aquela que Ama Todas as Coisas oferecia livremente.

Aquela que Ama Todas as Coisas viajou para diferentes Clãs e Tribos, compartilhando a experiência de
sua Caminhada pela Terra e a sabedoria que ela reuniu através de seu processo de cura. Ela ensinou
as mulheres jovens a respeitar seus corpos e a nutrir suas crianças. Ela compartilhou as lições da
sexualidade sagrada (respeito, confiança e intimidade) com os homens jovens, que depois iriam usar
sua compreensão da sabedoria sexual e relacionamentos para formar laços duradouros com suas
parceiras. A Mãe-Nutridora ensinou as crianças como aproveitar os prazeres de ser humanos amando
o gelo de seus pés quando em um riacho no alto de uma montanha ou aproveitando o aroma do vapor
de um quente guisado tanto quanto seu delicioso sabor. Os sentidos eram para ser honrados e
respeitados, porque essas habilidades de percepção deu a raça humana os prazeres da vida.

Através do exemplo, Aquela que Ama Todas as Coisas mostrou para suas crianças humanas que todo
ato da vida física é sagrado. Quando abordado de uma maneira amorosa e significativa, nada o que
tem a ver com a sexualidade é julgado como sujo ou errado pela Guardiã da Sabedoria Sexual. A Mãe
de Todos os Atos de Prazer ensinou que as funções do corpo humano eram honrados processos
naturais que mantém o corpo saudável e cheio de vida. Ela ensinou aos jovens adultos a maneira como
o corpo masculino dava pela genital e recebia através do coração e como o corpo feminino recebe
através da genital e dá através do coração. Quando uma fêmea e um macho ficam cara a cara, esse
processo de dar e receber cria um círculo entre os dois. Se um ou outro está frio, insensível, ou com
medo, o círculo não tem permissão de completar-se. Quando esse tipo de desconexão ocorre, é tempo
de descobrir qual dos três pontos de respeito, confiança, e intimidade foi perdido.

Para que o ciclo de partilha sexual entre macho e fêmea seja restaurado, ambos os parceiros precisam
estar dispostos a abrirem-se para dar e receber. Esse elo sagrado apenas pode ser atingido com
respeito mútuo, confiança, e intimidade que formam a fundação que suporta seu amor. Aquela que
Ama Todas as Coisas ensinou suas crianças que copular é uma forma física de comunicação entre
humanos que representa o lado masculino e feminino de cada indivíduo. Se o indivíduo esta infeliz
consigo mesmo, esse sentimento é depois usado para fragmentar o senso interno de integridade da
pessoa, formando uma barreira para o compartilhamento que poderia ser experenciado com o outro.
Através do amor a si mesmo e através do perdão, a cura das feridas do coração pode acontecer.
Quando a pessoa está disposta a perdoar a si mesma, é muito mais fácil perdoar os outros por palavras
insensíveis ou ações inconscientes.

Aquela que Ama Todas as Coisas reviu seu próprio caminho de alegria, dor, autodestruição, e
finalmente, perdão e cura, toda vez que ela assistia outro ser humano passar por lições similares. Toda
vez que ela via a si mesma em outro, o prazer reconfortante de poder direcionar sua energia de um
modo positivo acontecia. Ela se tornou uma curadora curada por ter encarado suas sombras com
amor. Quando ela aprendeu a amar a verdade encontrada em todas as lições da vida, ela aprendeu a
amar a parte de si mesma que a levou quase à beira da destruição. Ela podia merecer seu nome agora
porque ela amava todas as coisas. Ela colocou de lado a necessidade da sombra de ser crítica consigo
mesma e outros e doou sua habilidade de amar a verdade em toda pessoa e todo raio da Roda da
Vida. Ela ganhou a compaixão de uma mulher atormentada um dia que amou e perdeu, quase
perdendo a si mesma no processo. Ela andou nos sapatos de toda Duas-Pernas de coração quebrado
que foi ferido pela dor, e pela experiência ela aprendeu a recuperar o precioso presente do amor.

Aquela que Ama Todas as Coisas aprendeu que lágrimas salgadas eram o começo da transformação e
que através dessas gotículas de angústia, as águas do perdão começam a fluir. A Matriarca do Sétimo
Ciclo Lunar veio a compreender que a cura começa com o perdão a si mesmo pelo o que poderia ter
sido e deveria ter sido encontrado na Boa Estrada Vermelha. Compaixão nasceu das feridas da vida da
Matriarca, e no sutil encontro da compaixão por si mesma, sua cura se realizou. A estrada da saída da
sua dor e entrada na luz do amor foi um longo caminho, mas o prazer restaurador que ela encontrou
na vida valeu o esforço. Os sons do rio ao seu lado a trouxe de volta de suas memórias e a ajudou a
focar no calor agradável subindo pelos seus braços de suas mãos abertas.

As cores do arco-íris do Avó Sol filtrando através de seus cílios exibia imagens curiosas de formas
humanas dançando. Aquela que Ama Todas as Coisas sentiu uma pontada em seu coração quando
reconheceu Cão Emplumado, Pequena Lontra, e seus três fortes filhos, dançando nas cores do arco-
íris. Em sua visão, a Mãe Terra chamou Aquela que Ama Todas as Coisas, deixando ela saber que sua
Caminhada na Terra estava completa.

Um zumbido ensurdecedor encheu seus ouvidos e ela estava flutuando sob o rio. Quando a Matriarca
olhou para baixo de novo, ela capturou seu próprio reflexo na água gelada de uma poça parada. Ela
se transformara em um beija-flor e estava voando no fluxo contínuo de um raio de sol. Para cima ela
viajou, atravessando o profundo azul do espaço, até ela passar através de uma parede flamejante de
fogo, entrando propriamente no corpo do Avó Sol. O fogo queimara seu corpo de beija-flor e de novo
ela se transformou em sua forma humana feminina e se encontrou nos braços de Cão Emplumado.

Assim que o círculo de seu amor estava completo através da reunião de seus corações, os dois
amantes se tornaram uma estrela brilhante. A estrela ardente voou do Avó Sol e tomou seu lugar na
Nação do Céu. Por seis luas, a estrela do amor ilumina o céu do crepúsculo e é chamado de Estrela da
Noite; e depois pelas próximas seis luas, a estrela do amor aparece ao escurecer e é chamado de
Estrela da Manhã.

Através da história d’Aquela que Ama Todas as Coisas e Cão Emplumado, nos foi habilitado enxergar
os dois lados de nossa natureza. A totalidade é refletida pelo pássaro do amor e da alegria que sabe
que não existe separação no espírito humano, exceto as ilusões que impomos a nós mesmos. Beija-
flor canta agora e voa em círculos porque ele conhece o segredo dos amantes – amar todas as coisas
é amar todo reflexo de quem e o que somos.

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