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Introdução

A lei impõe diferentes ritos e formalidades processuais, consoante a natureza dos direitos
em causa, para o fim de acautelar os direitos e situações da vida social. Esta cautela é feita
mediante um impulso judicial fundado no principio do acesso a justiça, o qual se chama
por acção.

Pela diversidade das situações da vida social e dos direitos que assistem as pessoas
existem nestes termos diversos tipos de acção a que nos propugnamos desenvolve-los
nesta secção.
1. Classificação da Acções

De acordo com a doutrina do autor Tomas Timbane, as acções podem ser classifica
conforme os seguintes critérios:

 Ao objecto (ou fim prosseguido pelo autor);


 A forma;
 Aos interesses em discussão.

1.1.Classificação segundo o critério da finalidade ou objecto

Consagrada no artigo 4º nº 1, neste critério as acções são classificadas atendendo à sua


finalidade, podendo ser:

 declarativas; e
 executivas,
1.1.1. Acções declarativas

As Ações declarativas visam uma declaração quanto a uma relação jurídica, e a ação visa
desfazer, tornando certo aquilo que é incerto, desfazer a dúvida em que se encontram as
partes quanto à relação jurídica. Destinam-se a obter a declaração pelo tribunal, da
solução concreta que resulta da ordem jurídica para a situação real que serve de base à
pretensão deduzida pelo autor.

Sustenta-se ainda elas visam o ser ou não-ser da relação jurídica, e obrigatoriamente


supõe a pureza – relativa – do enunciado que se postula, de forma que por esse enunciado
postula-se não a condenação, a constituição, mandamento ou execução.

Por exemplo A pede que o tribunal profira uma declaração final do direito, isto é, profira
uma sentença que ponha cobro ao conflito que o separa do R., resolvendo definitivamente
esse litígio.

1.1.1.1. Classificação das acções declarativas

Estas acções podem se subdividir em: acções (declarativas) de condenação; acções


(declarativas) de simples apreciação, estas subdivididas em acções de simples apreciação
positiva ou negativa; e acções (declarativas) constitutivas.
Acções declarativas de condenação (art. 4º nº 2 al. b) visam uma sentença de
condenação do réu. Tais acções tendem a uma sentença em que, além da declaração
quanto à existência de uma relação jurídica, contém a aplicação da regra sancionadora:

Causa: elas têm como causa a falta de cumprimento de qualquer obrigação por parte do
réu, violação do direito.

Objecto: estas acções visam obter a condenação do reu, no cumprimento de uma


obrigação.

Aqui o autor deve alegar a titularidade de um direito, invocar a sua violação por parte do
réu e requerer que o tribunal não só confirme a titularidade e a violação desse direito,
como também condene o réu a realizar determinada prestação destinada a reintegrar o
direito violado ou então a reparar de outro modo a falta cometida.

Por exemplo: A pede ao tribunal para condenar o B ao pagamento de quantia certa,


entrega de uma coisa, ou mesmo para prestação de um facto, seja positivo (fazer algo) ou
negativo (abster –se de determinada conduta)

Acções declarativas constitutivas (art. 4º nº 2 al. c)) as acções constitutivas se propõem


a verificação e declaração da existência das condições, segundo as quais a lei permite a
modificação de uma relação ou situação jurídica e, em consequência dessa declaração, a
criação, modificação ou extinção de uma situação jurídica. Ou seja, através desta acção
busca-se a pretensão constitutiva, que o autor identifica no plano do direito subjetivo à
tutela jurídica, de forma que o titular da acção age para a constituição a que tem direito,
tanto por ato próprio – direito de denúncia, direito de resolução -, quanto através de ato
judicial – a sentença.

Para salientar as acções declarativas constitutivas tratam de um efeito jurídico que uma
vez requerido e comprovada a existência dos pressupostos que o condicionam apenas
depende da decisão do tribunal, ou seja, dizem-se “constitutivas” – porque nestas acções
o efeito jurídico pretendido, embora dependa da manifestação da vontade do autor, nasce
ou constitui-se directamente da decisão judicial.

Elas são, na generalidade dos casos, o instrumento processual adequado com vista ao
exercício de alguns direitos potestativos – designadamente daqueles direitos potestativos
cujo exercício não depende de um simples acto unilateral do respetivo titular, carecendo
de ser integrados numa decisão de uma autoridade judicial.

Nestas acções não se pede a condenação do réu a prestação alguma, muito menos se reage
contra uma situação de insegurança/ incerteza jurídica, mas sim, pretende-se produzir um
mero efeito jurídico, seja, criando/constituindo uma nova relação jurídica ou modificando
ou extinguindo uma situação jurídica já existente

Por exemplo: A pretende obter, com a ajuda do tribunal, um efeito jurídico novo, que
altera a esfera jurídica do demandado (Réu), independentemente da vontade deste. As
acções constitutivas.

O que o A pretende obter através da acção é produzir um mero efeito jurídico, o qual pode
consistir na criação de uma relação jurídica nova, como a constituição de uma servidão
de passagem em benefício de prédio encravado (art. 1550º); na modificação de uma
relação jurídica existente como na separação judicial de pessoas e bens – art. 176 Lei da
Família; e até na extinção de uma relação jurídica existente como é o caso do divórcio
litigioso – art. 195/5 L.F.

Acções de simples apreciação (art. 4º nº 2 al. a)) São aquelas em que reagindo contra
uma situação de incerteza, o autor pretende apenas obter a declaração (com força
vinculativa própria das decisões judiciais) da existência ou inexistência de um direito ou
de um facto. Elas provocam uma providência jurisdicional que reclama, para sua
prolação, um processo regular de conhecimento, por meio do qual o juiz tenha
pleno conhecimento do conflito de interesses a fim de que possa proferir uma
decisão pela qual extraia da lei a regra concreta aplicável à espécie.

Nesta espécie de acções o autor pretende sanar a sua dúvida diante de uma situação de
incerteza acerca de um direito ou de um facto, não se tem de invocar a violação ou lesão
de um direito, o autor apenas reage contra uma situação de incerteza objectiva e grave,
que o prejudica.

Estas acções se dividem em: de simples apreciação positiva – quando o autor solicita que
o tribunal aprecie uma situação de incerteza sobre a existência de um direito ou facto e
por fim ponha cobro à mesma, declarando que existe o aludido direito ou facto; e de
simples apreciação negativa – quando o autor em face à incerteza quanto à inexistência
de um direito ou facto, solicita que o tribunal declare a inexistência do facto ou direito.

1.1.2. Acções executivas

A sua previsão legal está no art. 4º nº 3 e, com o mesmo se visa a realização coerciva do
direito violado, com o auxílio dos meios de que os órgãos judiciais dispõem para o efeito.
Ou seja, elas pressupõem que a verificação da existência do direito já tenha sido efectuada
quer seja através de uma sentença condenatória proferida numa acção declarativa; quer
seja através dum documento que a lei confere essa dignidade (art. 46º). Isto é, por exemplo
quando o credor, com fundamento no título executivo extrajudicial ou judicial, que é a
sentença proferida na ação condenatória, pedirá que se realize essa decisão.

1.2. Quanto à forma:

O processo como é doutrinariamente definido é o conjunto ordenado de actos a praticar,


bem como de formalidades a cumprir, tanto na propositura, bem como, especialmente, no
desenvolvimento da acção.

Tal como dissemos na introdução do presente trabalho, a acções são diversificadas quanto
a natureza dos interesses levados a juízo, bem como os valores envolvidos ou postos em
causa, vai resultar que as acções assumam formas diferentes. Nestes termos, as acções
não vão seguir a mesma solenidade, ou formalismo.

A este respeito, de pronto, o nº 1 do art. 460º do C.P.C. estabelece a primeira distinção ou


dicotomia de formas de processo, isto é, a primeira classificação a fazer dentro das formas
de processo que, o processo pode ser comum ou especial, sendo que nos termos do nº2
do artigo 460, aplica-se o processo comum a todos os casos a que não corresponda
processo especial, enquanto este se aplica aos casos expressamente designados na lei.

Os processos comuns podem ser: ordinário e processo sumário. Para tal o legislador usou
o critério valor da causa, sendo que, ao primeiro, aplica-se quando o valor da causa excede
o da alçada do Tribunal Judicial da Província e ao segundo, aplica-se quando o valor da
causa não excede o valor da alçada do Tribunal Judicial da Província, nos termos do art
462 do CPC.

Distinção entre as formas de processo comum (no âmbito das acções/processos


declarativos): no âmbito da acções declarativas
As formas de processo comum (ordinária e sumária) são definidas com base em critérios
assentes exclusivamente no valor da acção de acordo com o art. 461 do CPC.

O valor da causa: representa o valor expresso do pedido. O art. 305º nº 1 sustenta esta
posição, impondo que “a toda a causa deve ser atribuído um valor certo, expresso em
moeda legal, o qual representa a utilidade económica do pedido”.

A alçada dos tribunais: corresponde ao valor até ao qual esse tribunal julga sem
possibilidades de recurso ordinário, ou seja, julga definitivamente, sendo que o
T.J.Província tem como valor da alçada 50 vezes o salário mínimo; e o T.J.Distrito tem
como valor da alçada 25 o salário mínimo1.

O processo ordinário é a forma mais solene do processo comum.

Aplica-se às acções declarativas que, não sendo especiais, tenham um valor superior ao
da alçada do Tribunal Judicial de Província (art. 462º, 1ª parte). É o processo que regula
unicamente todos os seus actos, desde a propositura da acção até à decisão final, por essa
razão, é aplicável subsidiariamente ao processo sumário e aos processos especiais (art.
463º nº 1).

O processo sumário é mais ligeiro que o processo ordinário. Aplica-se às acções


declarativas que, não sendo especiais, tenham um valor igual ou inferior ao da alçada do
tribunal judicial de província (art. 462º).

1.3. Classificação das acções quanto aos interesses em discussão:

Este critério de classificação das acções verifica-se apenas no âmbito do processo ou da


acção declarativa.

Quanto aos interesses em discussão a acção ou o processo (declarativo) pode ser:

 de jurisdição voluntária; ou
 de jurisdição contenciosa.

Processos de jurisdição contenciosa são aqueles em que a actividade dos tribunais é


desencadeada com vista à obtenção de uma “justa composição” de litígios, ou seja, para
que sejam decididos conflitos de interesses de acordo com critérios de legalidade. Nestes

1
Cfr. art. 38 da LOJ
processos – existe, portanto, um conflito de interesses ou um litígio entre as partes e
solicita-se ao tribunal a respetiva resolução.

Por exemplo: a acção para a cobrança de um crédito.

Processos de jurisdição voluntária são aqueles em que a actividades dos tribunais é


desencadeada para se obter a regulamentação de situações anómalas de interesses, mas
que não são litígios, isto é, nos processos de jurisdição voluntária não há, em princípio,
um conflito de interesses a resolver, mas um só interesse a regular, face ao conflito de
opiniões ou de representações acerca do mesmo interesse. São processos de jurisdição
voluntária, entre outros, os processos previstos e regulados no Livro III, Título IV,
Capítulo XVIII, arts. 1409º ss.

A diferença entre os processos de jurisdição voluntaria e de jurisdição contenciosa:

Os processos de jurisdição voluntária divergem dos processos de jurisdição contenciosa


em 4 pontos fundamentais:

 Predominância do princípio do inquisitório2;


 b) Predominância da conveniência e oportunidade – arts. 1410º;
 c) Alterabilidade das resoluções/decisões tomadas – art. 1411º/1;
 d) Inadmissibilidade de recurso para o tribunal supremo – art. 1411º/2.

Nos processos de jurisdição voluntária as decisões podem ser tomadas segundo critérios
de conveniência e de oportunidade (art. 1410º), o que significa que nesses processos as
decisões podem ser fundamentadas num critério não normativo, assente na
discricionariedade do juiz. Enquanto nos processos de jurisdição contenciosa as decisões
decorrem do uso de critérios normativos extraídos nas regras jurídicas3.

Nos processos de jurisdição voluntária, devido ao seu específico critério de decisão não
vigora o princípio da disponibilidade das partes sobre o objecto do processo, porquanto o
tribunal pode investigar livremente os factos, coligir (reunir) as provas, ordenar
inquéritos, recolher informações convenientes recusar as provas consideradas
desnecessárias – art. 1409º nº 2. Ao passo que nos processos de jurisdição contenciosa
vigora o princípio do dispositivo (arts. 666º a 664º) – visto que o juiz decide sobre os

2
cfr. art. 1409º/2
3
cfr. art. 664º CPC.
factos que lhe são apresentados pelas partes e tem de admitir todos os meios probatórios
e somente a título excepcional pode tomar em conta qualquer prova omitida pelas partes
(art. 645º) ou recusar qualquer prova indicada pelas partes.
2. Conclusão

Terminado a parte teórica do trabalho concluímos os seguintes aspetos relativos as


acções:

As acções se diversificam proporcionalmente as situações jurídicas passiveis de serem


apreciadas pelos órgãos jurisdicionais, assim sendo, elas podem ser declarativas quando
está em causa ou a condenação do reu a reparar um direito, ou na apreciação do direito
do autor da acção podendo ser negativo quando se pretende a apurar a não existência de
um direito e a positiva quando é o contrario, ou mesmo a constituição, modificação e
extinção de um direito. Também podem ser executivas quando a pretensão é executar a
decisão já proferida.

Os processos podem ser de jurisdição contenciosa ou voluntaria.

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