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SISTEMA FINANCEIRO

Autoria: Aulo Pércio Vicente Nardo

1ª Edição
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Janes Fidelis Tomelin

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Tiago Lorenzo Stachon

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Tiago Lorenzo Stachon
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech


UNIASSELVI

N224s

Nardo, Aulo Pércio Vicente

Sistema financeiro. / Aulo Pércio Vicente Nardo– Indaial: UNIASSELVI,


2022.

137 p.; il.

ISBN Digital 978-65-5646-482-4

1. Conhecimento financeiro – Brasil. II. Centro Universitário Leonar-


do da Vinci.

CDD 658

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL................ 7

CAPÍTULO 2
A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO...................................... 49

CAPÍTULO 3
FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA............. 93
APRESENTAÇÃO
Essa disciplina tem como missão apresentar a estrutura do Sistema
Financeiro brasileiro, bem como aspectos básicos que norteiam as transações
entre agentes superavitários e deficitários da economia. Antes de abordarmos
quais aspectos serão trabalhados em cada capítulo, é importante entender qual
a capacitação que você está obtendo com esta disciplina, de forma a enxergar o
potencial retorno dela para si.

É importante ter em mente que vivemos em uma época de maior facilidade


para o indivíduo ter acesso a diferentes opções de investimentos, principalmente
com a difusão de aplicativos de fácil acesso a corretoras e bancos. Qualquer
pessoa pode, do conforto de sua casa, na academia enquanto se exercita, ou
mesmo no ônibus em direção ao trabalho, ler uma série de informativos a respeito
do desempenho semestral apresentado por determinada empresa; ou notícias
internacionais e nacionais sob aspectos geopolíticos, e, a partir do leque de
informações que dispõe, acessar os aplicativos de suas corretoras e bancos para
realizar determinada aplicação.

Isso tem atraído a busca pelo conhecimento financeiro por parte dos
indivíduos por dois motivos. De um lado, o próprio investimento pessoal em busca
de acumular riqueza. Dificilmente uma pessoa é completamente desinteressada de
um entendimento básico sobre as opções de investimentos e os riscos envolvidos,
mesmo quando assessorada por um profissional especializado. Também há quem
prefira por conta própria, sem qualquer acompanhamento, decidir os rumos de
seu portifólio de ativos.

Por outro lado, há aqueles que, à medida que se interessam e acumulam


capacidades a respeito do sistema financeiro, desejam atuar prestando serviço
no mercado financeiro, isso como agentes autônomos ou como assessores de
investimento para instituições bancárias ou corretoras. Para atuar como prestador
de serviços no mercado financeiro será necessário tirar alguma certificação, tal
como CPA-10, CPA-20, CEA, ANCORD etc. Para todas estas opções é necessário
conhecimento do funcionamento do Sistema Financeiro Nacional.

Isto posto, voltamos à divisão do seu livro da disciplina. Este se encontra


dividido em três capítulos que, por sua vez, possuem outras subdivisões. Estas
subdivisões estarão descritas na apresentação de cada capítulo.
O Capítulo 1 apresenta a estrutura do Sistema Financeiro Nacional,
descrevendo e discutindo o papel de cada órgão normativo, entidades supervisoras
e instituições operadoras que o compõem, bem como suas finalidades e funções.

O Capítulo 2 trata primeiramente das intermediações financeiras, a fim de dar


suporte teórico à análise posterior dos mercados monetários, creditícios, cambiais
e de capitais. Também são discutidas questões fundamentais dos investimentos
de renda fixa e variável, para você ter um suporte inicial no mercado de capitais e
nos aspectos basilares desse mercado. Por fim, se trabalha os diversos conceitos
de risco existentes no mercado de capitais.

O Capítulo 3 analisa a base com que são decididas as taxas de juros do


mercado e, por consequência, os referenciais comparativos para a viabilidade de
projetos empresariais. Também complementa a discussão a respeito da política
monetária e como esta atua para estimular ou não a economia. Neste mesmo
âmbito, discute as questões relacionadas a investimentos com recursos próprios
ou de terceiros. Por fim, discutiremos alguns aspectos recentes do sistema
financeiro que estão impactando o mundo com o surgimento das fintechs e a
evolução do mercado de cripto ativo com os NFTs.

Esperamos que este material forneça informações essenciais para que, no


futuro, você possa desempenhar com excelência seu papel como profissional.

Bons estudos!

Prof. Aulo Pércio Vicente Nardo.


C APÍTULO 1
A ESTRUTURA DO SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Identificar as subdivisões dos diferentes organismos e agentes que compõem o


Sistema Financeiro Nacional.

 Aprender as atribuições dos órgãos e entidades que compõem o Sistema


Financeiro Nacional.

 Entender quem são os órgãos normativos, entidades supervisoras e as


instituições operadoras do Sistema Financeiro Nacional.

 Compreender o papel de cada órgão, entidade e instituição no funcionamento


do sistema financeiro.
SiSTEmA FiNANCEiro

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A discussão do Sistema Financeiro Nacional perpassa primeiramente
pela apresentação da estrutura do sistema e dos órgãos e entidades que o
compõem, discutindo suas atribuições e finalidades. Nesse sentido, o primeiro
questionamento e entendimento que temos de compreender é: “o que é um
sistema?” (BERTALANFFY, 1977).

Um sistema nada mais é do que um conjunto de elementos organizados de


forma a realizar um determinado fim. Por exemplo, o sistema digestivo é composto
de vários órgãos, cada um realizando um determinado papel, cuja função é a
transformação do que ingerimos em nutrientes para o corpo. Dessa forma, temos
a ingestão de líquidos e alimentos, e a digestão e a evacuação dos resíduos.

No caso do Sistema Financeiro Nacional estamos falando da estruturação


dos órgãos e instituições responsáveis pela captação dos recursos financeiros e
da distribuição deles, de forma a estimular e otimizar o fluxo financeiro.

A complexidade do Sistema Financeiro Nacional representa um verdadeiro


desafio para o aluno que está se deparando com o assunto pela primeira vez, e
até para profissionais que já atuam no mercado. Recomendamos que você tenha
consigo mais uma perspectiva de, aos poucos, retomar a leitura, conforme for
compreendendo os assuntos abordados, de forma a melhorar seu entendimento
do tema tratado.

Ressaltamos, mais uma vez, a fim de trazer a você um maior estímulo, que
qualquer certificação para atuar no sistema financeiro perpassa pela estruturação
do Sistema Financeiro Nacional.

O capítulo está elaborado de forma a facilitar esta compreensão.


Primeiramente ele apresenta todo o organograma do Sistema Financeiro
Nacional, e, posteriormente, são apresentados organogramas menores que são
partes deste todo, a fim de trabalhar cada aspecto de forma bem dividida e de fácil
visualização e entendimento.

O capítulo está dividido em duas seções. A primeira seção trabalha as


subdivisões do Sistema Financeiro Nacional e seus principais aspectos e
abrangência, com foco no detalhamento dos órgãos normativos e entidades
supervisoras do sistema. A segunda seção detalha as subdivisões dentro do
subsistema operador.

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SiSTEmA FiNANCEiro

2 CONCEITO E FUNÇÕES
De acordo com o próprio site do Banco Central do Brasil (também conhecido
como Bacen) o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por um conjunto
de entidades e instituições que promovem a intermediação financeira, isto
é, o encontro entre credores e tomadores de recursos. É por meio do sistema
financeiro que as pessoas, as empresas e o governo circulam a maior parte dos
seus ativos, pagam suas dívidas e realizam seus investimentos.

A questão de intermediação financeira será detalhadamente discutida


no Capítulo 2. Por hora, vamos nos voltar ao entendimento do papel de cada
entidade e instituição na estrutura do Sistema Financeiro Nacional. Para começar
este entendimento vamos visualizar todo o conjunto de entidades e instituições
que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional, e, após isso, desmembraremos
este em figuras menores, discutindo cada aspecto relevante de forma detalhada.

FIGURA 1 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) COMPLETO

FONTE: Bacen (2021b, s. p.)

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Observe a Figura 2 e perceba que ela é a própria Figura 1, recortada para


focar em mostrar suas informações primárias. Na parte superior, na horizontal
e circulado em verde, se encontram os diferentes “mercados” da economia;
enquanto na vertical temos a separação por classificação das diferentes
organizações que compõem o SFN.

O jargão econômico, carinhosamente chamado pelos economistas de


“economês”, é usado quando nos referimos ao “mercado”, sendo ele uma
simplificação de forma a permitir a análise econômica, construindo um modelo.
Um modelo é sempre uma simplificação da realidade. Por exemplo, quando se
analisa o “mercado de câmbio” estamos falando de todos os estabelecimentos
no país que ofertam moeda estrangeira, e de todos os indivíduos que desejam
adquirir moeda estrangeira. Dessa forma, para facilitar a análise, “unimos” todos
estes estabelecimentos e indivíduos em um único mercado (modelo simplificado
da realidade), no qual todas as ofertas e as demandas por moeda estrangeira se
encontram.

FIGURA 2 – PRINCIPAIS EIXOS PARA ENTENDER A FIGURA 1

FONTE: Adaptada de: Bacen (2021b, s. p.)

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SiSTEmA FiNANCEiro

Observando a parte circulada em verde temos a divisão por mercados dentro


da estrutura do Sistema Financeiro brasileiro. São estes os mercados: monetário
(moeda), crédito, capitais, câmbio, seguros privados e previdência fechada. Já
na parte circulada em vermelho temos as subdivisões das entidades que visam
normatizar, fiscalizar e operacionalizar as intermediações financeiras.

Nesse capítulo exploraremos o significado da parte destacada em vermelho,


bem como o que compete a cada instituição. As separações por mercados e a
abrangência destes mercados serão trabalhadas no Capítulo 2. Vamos dar
continuidade, entendendo a subdivisão entre órgãos normativos, as entidades
supervisoras e as instituições operadoras.

2.1 ÓRGÃOS NORMATIVOS


Os órgãos normativos determinam as regras gerais para o funcionamento
do Sistema Financeiro Nacional. Eles estabelecem o que deve ser feito em cada
tipo de mercado. Como poderemos observar, na figura a seguir, são eles:

· Conselho Monetário Nacional – CMN.

· Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP.

· Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC.

FIGURA 3 – ÓRGÃOS NORMATIVOS DO SFN

FONTE: Adaptada de: Bacen (2021b, s. p.)

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Conforme o Banco Central do Brasil (BACEN, 2021a), o principal órgão


normativo (também pode aparecer em provas de certificação como órgão
regulador) é o Conselho Monetário Nacional, e a este cabe determinar o
funcionamento dos mercados monetário, de crédito, de capitais e de câmbio. O
CMN é constituído pelo Ministro da Economia, o secretário especial da fazenda e
o Presidente do Banco Central do Brasil.

O Conselho Monetário Nacional possui algumas funções, conforme pode


ser observado na figura a seguir. Nessa figura, observe que a regulamentação
do câmbio e o valor da moeda em termos de moedas estrangeiras (paridade da
moeda) remetem ao mercado de câmbio. Disciplinar o crédito remete ao mercado
de crédito. Já fixar índices de encaixe e regular as operações de redesconto e
de mercado aberto remetem ao mercado monetário. Como já salientado, estes
aspectos serão trabalhados de forma detalhada no Capítulo 2. Nesse momento, é
importante entender a respeito de quem são os órgãos normativos e a abrangência
de cada um.

FIGURA 4 – FUNÇÕES DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL

FONTE: Furlani (2013, p. 8)

Para complementar a explicação sobre o Conselho Monetário


Nacional assista ao vídeo a seguir: https://www.youtube.com/
watch?v=xskdV-Cq_XU.
Obs.: veja os comentários do vídeo, pois houve uma mudança
com relação à autonomia do Banco Central para a impressão de
moeda.

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SiSTEmA FiNANCEiro

Por fim, cabe salientar sobre um órgão que está no âmbito normativo, mas
não faz parte das decisões normativas de funcionamento do SFN. Este é o
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional – CNSFN. Veremos que,
para alguns livros, ele aparece ao lado do CMN, como no caso da Figura 5, em
que aparece como “Conselho de Recursos do SFN”; e outras vezes, como no
caso do site do Banco Central, este não aparece no organograma.

FIGURA 5 – O PAPEL DO CONSELHO DE RECURSOS DO SFN

FONTE: Adaptada de: Silva et al. (2017, p. 70)

Essa variação mencionada ocorre porque o CRSFN é, de acordo com


Bacen (2021b), um órgão integrante da estrutura do Ministério da Fazenda. Ele
tem por finalidade, em última instância administrativa, os recursos contra as
sanções aplicadas pelo BC e pela CVM, assim como nos processos de lavagem
de dinheiro, e nas sanções aplicadas pelo Conselho de Controle Atividades
Financeiras – COAF e demais autoridades competentes (a respeito da criação do
COAF veja a leitura complementar no fim do capítulo).

Isto é, o CRSFN não é propriamente um órgão normativo, mas a última


opção de recurso caso alguma entidade financeira queira recorrer da decisão de
primeira instância tomada pelo Bacen (por exemplo, um banco que recebeu uma
multa e julga esta como indevida). Essa entidade recorrerá, primeiro, ao próprio
Bacen (recurso de primeira instância); e, em segunda instância, caso o Bacen
mantenha sua decisão punitiva, poderá recorrer ao CRSFN.

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Para dicas a respeito do que pode cair em uma prova de


certificação sobre o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro
Nacional – CRSFN, assista ao vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=ded2C1dUKuc.

Agora, vamos falar sobre os outros dois órgãos normativos. O Conselho


Nacional de Seguros Privados (CNSP) é o órgão máximo do segmento de
seguros, exercendo a fiscalização e o controle do funcionamento das sociedades
seguradoras e dos corretores de seguro. Isto é, tem por objetivo fixar as diretrizes e
estabelecer as normas da política de seguros privados e previdência complementar
aberta no Brasil. Já o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)
tem como principais competências regular, normatizar e coordenar as atividades
fechadas de previdência complementar (ou seja, os fundos de pensão) (ASSAF
NETO, 2015).

Talvez seja útil a você entender um pouco melhor sobre as


diferenças entre as previdências pública e privada, bem como
previdências complementares aberta e fechada. Para tanto, assista
ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=L7Om927QlGM.
Já sobre assuntos mais cobrados a respeito do Conselho
Nacional de Seguros Privados (CNSP) e do Conselho Nacional de
Previdência Complementar (CNPC), para certificações, veja algumas
dicas no vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=7-
exeLOzfEE.

Uma vez discutidas as questões em torno dos órgãos normativos, vamos


entender o papel das entidades supervisoras.

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SiSTEmA FiNANCEiro

2.2 ENTIDADES SUPERVISORES


As entidades supervisoras, conforme Bacen (2021b), trabalham para que os
cidadãos e os integrantes do sistema financeiro sigam as regras definidas pelos
órgãos normativos. As entidades supervisoras que têm como finalidade cumprir
as normas determinadas pelo Conselho Monetário Nacional são o Banco Central
do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários.

FIGURA 6 – ENTIDADES SUPERVISORAS DO SFN

FONTE: Adaptada de: Bacen (2021b, s. p.)

De acordo com Bacen (2022c), O Banco Central é uma autarquia com a


missão de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um
sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, bem como fomentar o bem-estar
econômico da sociedade. A instituição é responsável por executar a estratégia
estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), para manter a inflação
sob controle e atuar como secretaria executiva desse órgão.

Segundo Assaf Neto (2015), são objetivos do Bacen garantir o poder


aquisitivo da moeda nacional, promover a formação da poupança (esta relacionada
às políticas monetária e creditícia) e preservar as reservas internacionais (estas
relacionadas às intervenções necessárias por parte do Bacen para garantir a
política cambial). É também chamado de “banco dos bancos”, ao atuar como
banco fiscalizador e disciplinador do mercado financeiro, definindo limites e
condutas das instituições; executor de penalidades; e emprestador de última
instância das demais instituições financeiras. É ainda o emissor de papel moeda e
controlador da liquidez da economia.

Já a Comissão Mobiliária de Valores, de acordo com Assaf Neto (2015),


é uma autarquia vinculada ao Ministro da Economia. É administrada por um
presidente e quatro diretores, cuja nomeação cabe ao Presidente da República.

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Tem por finalidade básica a fiscalização e o controle de valores mobiliários, ou


seja, ações, debêntures e outros títulos emitidos pelas sociedades anônimas e
autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional.

São funções básicas da CVM: promover medidas de incentivo à canalização


das poupanças ao mercado acionário; estimular o funcionamento das bolsas de
valores e das instituições operadoras do mercado acionário, em bases eficientes
e regulares; assegurar a lisura nas operações de compra e venda de valores
mobiliários, promovendo a expansão de seus negócios; e dar proteção aos
investidores de mercado (FURLANI, 2013).

QUADRO 1 – RESUMO DAS ATRIBUIÇÕES DO BACEN E DA CVM


BACEN CVM
Executor das políticas monetária e Incentivar a poupança no mercado
cambial. acionário.
Autoridade supervisora. Estimular o funcionamento das
bolsas de valores e das instituições
operadoras do mercado acionário.
Banco emissor de moeda. Assegurar a lisura nas operações de
compra/venda de valores mobiliários.
Banco dos Bancos. Promover a expansão dos negócios do
mercado acionário.
Banco do Governo. Proteger os investidores.
FONTE: Adaptado de: Furlani (2013, p. 9 e 10)

Para completar nosso aprendizado a respeito do Bacen e da CVM vamos


analisar a Figura 7. Ela foi elaborada para que você visualize os mercados que
estão sob a fiscalização do Bacen e da CVM. Note que os mercados monetário,
creditício e cambial são de competência do Bacen, enquanto a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) é a entidade supervisora do mercado de capitais.
E, como já é de seu conhecimento, tanto o Bacen quanto a CVM agem sob a
orientação e tutela do Conselho Monetário Nacional – CMN.

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SiSTEmA FiNANCEiro

FIGURA 7 - HIERARQUIA NA NORMATIZAÇÃO E FISCALIZAÇÃO DOS MERCADOS

FONTE: O autor.

No que se refere à Superintendência de Seguros Privados – Susep, de acordo


com Assaf Neto (2015), é uma instituição executora das diretrizes estabelecidas
pelo CNSP, ou seja, cabe a ela cumprir e fazer cumprir todas as deliberações
do órgão normativo. Desse modo, a Susep é uma autarquia responsável pelo
controle e fiscalização do mercado de seguros, pela previdência privada aberta e
pelas sociedades de capitalização.

Em outras palavras, o principal objetivo da Susep é garantir que as


seguradoras cumpram o seu compromisso de segurar e arcar com os danos do
cliente, quando isso for necessário. Para isso, a Susep fiscaliza rotineiramente os
fundos obrigatórios de reserva das seguradoras. Essa fiscalização colabora para
passar maior segurança para as pessoas e empresas que buscam esse tipo de
produto financeiro. Dessa forma, as empresas que cumprem as regulamentações
da Susep possuem uma chance menor de incorrer em fraudes junto aos seus
clientes, dado que podem ter sua licença para operar suspensa (REIS, 2018b).

No âmbito do controle, por parte da Susep, das atividades realizadas por


instituições que operam produtos ligados à previdência privada e de seguros
privados, estão inclusas corretoras de valores, bancos comerciais, seguradoras,
entre outros. Além disso, cabe à Susep as funções de: fiscalizar as empresas
do setor de seguros e capitalização, em sua constituição; organização e
funcionamento; proteger a poupança captada por meio das operações dos
mercados supervisionados; observar a liquidez e solvência das empresas que

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

integram o mercado; combater práticas abusivas das empresas e defender os


consumidores; e promover a estabilidade e o aperfeiçoamento dos mercados
supervisionados, assegurando o seu funcionamento e expansão (REIS, 2018b).

Já a Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc


atua na fiscalização e na execução das políticas das entidades do mercado de
previdência complementar fechada, observadas as diretrizes do CNPC.

A Previc, criada em 2009, é uma autarquia vinculada ao Ministério da


Economia que atua em todo o território nacional, funcionando como uma
autarquia de natureza especial. Isto é, possui autonomia administrativa e
financeira e patrimônio próprio. Na prática, a Previc é dirigida por uma Diretoria
Colegiada. Fazem parte dela um diretor-superintendente, outros quatro diretores,
coordenadores gerais, assessores, auditoria interna, Procuradoria Federal,
corregedoria e ouvidoria (SUA PREVIDÊNCIA PRIVADA, 2020).

As atribuições da Previc são fiscalizar o mercado de previdência


complementar fechada. Isto é, acompanhar e supervisionar essas entidades e
garantir os direitos dos investidores. Caso alguma irregularidade seja observada a
autarquia tem competência para apurar, julgar as infrações e aplicar penalidades;
autorizar o funcionamento de novos fundos para que sejam oferecidos no
mercado a investidores; e fazer mediação e conciliação entre as entidades que
oferecem os planos de previdência fechada e seus participantes ou assistidos
(SUA PREVIDÊNCIA PRIVADA, 2020).

2.3 INSTITUIÇÕES OPERADORAS


São as instituições que lidam diretamente com o público no papel da
intermediação financeira. Conforme Silva et al. (2017, p. 86), “o subsistema
operativo tem como função operacionalizar a transferência de recursos do
poupador para o tomador, de acordo com as regras estabelecidas”. Esta é a
parte de maior importância, pois é onde as coisas realmente acontecem e onde a
interação entre entidades e indivíduos se realiza, ou seja, é operacionada.

Na Figura 8 note que há grupos de instituições separados por cores.


Analisando-a em conjunto com a Figura 7, podemos entender melhor a quais
mercados cada grupo de instituições pertence dentro do SFN.

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SiSTEmA FiNANCEiro

FIGURA 8 – AS SUBDIVISÕES DAS INSTITUIÇÕES OPERADORAS

FONTE: Adaptada de: Bacen (2021b, s. p.)

O primeiro grupo na Figura 8 se encontra destacado em vermelho, composto


por instituições que compõem os mercados monetário, creditício e cambial
(contrapondo com a Figura 7), que são mercados orientados e fiscalizados pelo
Bacen. Estes são compostos por instituições bancárias e caixas econômicas,
administradoras de consórcio, cooperativas de crédito, corretoras e distribuidoras,
instituições de pagamento e demais instituições não bancárias.

O segundo grupo, na Figura 8, se encontra destacado em verde, e remete ao


mercado de capitais (como pode ser visto na Figura 7), composto pela bolsa de
valores e de mercadorias e futuros, e supervisionado pela CVM. Lembrando mais
uma vez que estes quatro mercados (monetário, de crédito, cambial e de capitais)
são os principais da atividade econômica e respondem às normas estabelecidas
pelo Conselho Monetário Nacional.

Ainda, temos os mercados menores da economia. De um lado, destacado


em amarelo, na Figura 8, se encontram as seguradoras e resseguradoras,
as entidades abertas de previdência e as entidades de capitalização. Estas
instituições, como observamos na Figura 1, fazem parte do mercado de seguros
privados. Por último, temos o mercado de previdência fechada, que remete, na
Figura 8, às instituições que oferecem os fundos de pensão.

Enfim, finalizamos o “primeiro olhar” ou “the big picture” do Sistema Financeiro


Nacional. Dada a quantidade de instituições e subdivisões que há dentro da
subdivisão das instituições operadoras, estas serão tratadas detalhadamente na
sequência.

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

3 AS SUBDIVISÕES DENTRO DO
SUBSISTEMA OPERATIVO
Para analisarmos o papel de cada instituição operadora na economia, vamos
analisá-las por subseções. A primeira subseção analisa o sistema operativo sob
supervisão do Bacen. A segunda subseção analisa as instituições sob supervisão
da CVM. Na terceira subseção trabalhamos as instituições relacionadas à
entidade supervisora Susep. A última, que está relacionada aos fundos de pensão,
abarcamos ao trabalharmos os órgãos normativos e as entidades supervisoras.

3.1 INSTITUIÇÕES DO SISTEMA


OPERATIVO SUPERVISIONADAS
PELO BACEN
O primeiro grupo de instituições operadoras que compõe o Sistema Financeiro
Nacional, como pode ser visto na Figura 8, são os bancos e as caixas econômicas.
Neste grupo temos algumas subdivisões, que são as carteiras com que os
bancos operam. Estes podem ser comerciais, cambiais, de desenvolvimento, de
investimento e múltiplos.

Ainda há outro grupo que é considerado “agente especial” do Sistema


Financeiro Nacional, pois tem como característica comum ser um “braço” do
Estado na atuação de algum segmento do mercado que o Estado considera
estratégico para ele, como na questão rural e de produção de alimentos.
Estamos falando, aqui, então, de segurança alimentar, que está associada
diretamente ao Banco do Brasil; assim como as caixas econômicas no fomento
do crédito habitacional. Alguns destes segmentos são regionais, voltados para o
desenvolvimento específico de uma região.

Os bancos comerciais são constituídos obrigatoriamente sob a forma de


sociedade anônimas (ou seja, têm seu capital social dividido em ações). Eles
executam principalmente operações de crédito de curto prazo, atendendo,
assim, às necessidades de recursos para capital de giro das empresas. A grande
característica de um banco comercial é sua capacidade de criação de moeda,
estabelecida com base nos depósitos à vista captados no mercado (ASSAF
NETO, 2015).

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SiSTEmA FiNANCEiro

Note aqui um aspecto importante: trabalhar com depósito à vista é


característica da carteira “banco comercial”. O aspecto comum que uma instituição
precisa possuir para ser considerada uma instituição financeira “bancária” é
ser capaz de criar moeda escritural. Isto é, são consideradas como instituições
bancárias todas as instituições que têm depósito à vista.

O depósito à vista nada mais é do que sua conta corrente junto ao banco. Isto
é, aquele montante de papel moeda que os indivíduos deixam em uma conta a
sua disposição para sacar parcialmente ou totalmente a qualquer hora que julgar
necessário (por isso o termo “à vista”, para movimentar quando quiser). O “custo”
para o indivíduo por esta “liquidez” é justamente não haver remuneração ao longo
do tempo no depósito à vista.

Acontece que os bancos que trabalham com deposito à vista sabem


que a maioria dos indivíduos não sacam todo o seu dinheiro ao mesmo tempo.
Isso porque as pessoas procuram deixar algum valor em conta corrente para
movimentação, ou fazem pagamentos e transferências de forma eletrônica, que
depois será compensada nas transações entre bancos à noite (as operações
overnight). Dessa forma, o banco não precisa movimentar qualquer papel moeda
físico. O que os bancos fazem? Calculam um percentual mínimo de papel
moeda para manter (dado pela soma das reservas voluntárias e compulsórias) e
honrar seus compromissos com seus clientes (ou seja, calculam o papel moeda
necessário para suprir as movimentações dos caixas eletrônicos).

Como este percentual tende a ser uma parcela pequena de todos os


depósitos à vista, os bancos emprestam a parte não movimentada para indivíduos
que estão à procura de crédito, de empréstimo. Dessa forma, há um aumento
do total de dinheiro circulando na economia, embora a quantidade de dinheiro
impresso pelo banco central continue a mesma. Esse processo de criação de
dinheiro por parte das instituições bancárias é conhecido como criação de moeda
escritural.

Conforme Assaf Neto (2015), os bancos comerciais têm como serviços


a realização de pagamentos de cheques, transferências de fundos e ordem de
pagamentos, cobranças diversas, recebimento de impostos e tarifas públicas,
aluguel de cofre e custódia de valores, serviços de câmbio etc. As principais
operações ativas desenvolvidas pelos bancos comerciais se concentram na
concessão de créditos por meio de descontos de títulos, crédito pessoal, crédito
rural, adiantamentos sob caução de títulos comerciais, cheques especiais etc.
Suas principais fontes de recursos são provenientes de depósitos à vista e a
prazo, operações de redesconto bancário, assistência financeira e operações de
câmbio.

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Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

A multiplicação do dinheiro por parte das instituições bancárias


é conhecida como sistema bancário de reservas fracionadas. Sobre
esse assunto assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=h5WFc3_sx78&t=197s.

Os bancos de câmbio atuam intermediando as operações de compra


e venda de moeda estrangeira para seus clientes sem limite de valor. Também
podem realizar operações com instituições financeiras no exterior. Eles realizam,
ainda, outras operações de câmbio, como ingresso de valores do exterior, remessa
de valores para o exterior e operações relativas à importação e exportação dos
seus clientes. Também executam financiamentos a exportações e importações,
além de adiantamentos sobre contratos de câmbio (BACEN, 2022b).

Os bancos de desenvolvimento, de acordo com Silva et al. (2017), têm por


objetivo o desenvolvimento social e econômico regional. Por essa razão estes
são de responsabilidade e controle dos governos estaduais (diferentemente dos
bancos de investimento que são entidades privadas) e concedem créditos de
médio e longo prazo, que podem financiar as atividades agrícolas, comerciais e
de serviços, além de fomentar a economia em diferentes regiões. Geralmente são
programas e projetos que promovem o desenvolvimento econômico e social do
respectivo Estado.

Atualmente existem poucas destas instituições, pois elas foram


desmanteladas junto com as demais instituições bancárias estaduais (que
também podiam ter carteiras de desenvolvimento) na década de 1990, para
apoiar a implantação do plano real. Isso porque os bancos estaduais eram um
fator gerador de inflação (significavam um cheque em branco para governadores
gastarem) e pareciam um empecilho a qualquer projeto sério de estabilização do
poder de compra da moeda nacional.

Os bancos de investimento são as principais instituições procuradas por


quem precisa de crédito a médio e longo prazo no mercado, geralmente para o
investimento de capital de giro de maior prazo e capital fixo.

Essas são instituições privadas que efetuam operações de maior escala,


como repasses de recursos oficiais de crédito, repasses de recursos captados
no exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e
debêntures), financiamento de bens de produção a profissionais autônomos

23
SiSTEmA FiNANCEiro

e financiamento de operações de fusões e aquisições. Um exemplo é o Banco


Mercantil de investimentos (ASSAF NETO, 2015).

Os bancos de investimentos podem também se dedicar a prestar serviços


como avais, fianças, custódias, administração de títulos e valores mobiliários,
assessorias etc. Dessa forma, concorrem com as corretoras no mercado de
capitais. Os bancos de investimentos operam a partir de reservas próprias e
do resultado de suas operações, e com recursos de terceiros, provenientes
da colocação de certificados de depósitos bancários (CDB), vendas de cotas
de fundos de investimento, empréstimos contratados no país e no exterior etc.
(ASSAF NETO, 2015).

Os bancos múltiplos são instituições financeiras que surgiram com a


finalidade de racionalizar a administração ao consolidar em uma única instituição
várias atividades e carteiras. Estes bancos que atuam em vários segmentos
precisam obrigatoriamente que um deles seja comercial ou de investimento.
Outro aspecto interessante é que para ser considerada uma instituição financeira
bancária, necessariamente, o banco múltiplo tem que ter a carteira comercial.
Outras possibilidades em que um banco múltiplo pode atuar são com as carteiras
de crédito imobiliário, de desenvolvimento e leasing (esta é comum para empresas
que querem alugar veículos por um tempo, no lugar de comprar toda uma frota)
(SILVA et al., 2017).

As caixas econômicas são instituições financeiras públicas que auxiliam o


Governo Federal na execução de sua política creditícia, pois têm como diferencial
das demais instituições o fato de serem o principal agente do Sistema Financeiro
Habitacional (SFH), ou seja, do financiamento da casa própria. Os recursos para
tal destinação são oriundos principalmente do FGTS, cadernetas de poupança
e fundos próprios dos agentes financeiros. Também executam atividades
características de bancos comerciais e bancos múltiplos, como o recebimento
de depósitos a prazo (os mais conhecidos dentre esses tipos de ativos são os
CDBs), concessão de empréstimos etc. (BACEN, 2022a).

Para auxiliar na fixação dos conceitos e das diferenças entre


as carteiras de bancos, assista ao vídeo: https://www.youtube.com/
watch?v=wZ_I36i2Q_A.

24
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O Banco do Brasil, segundo Silva et al. (2017), é uma sociedade econômica


de economia mista, cujo controle acionário é exercido pela União. Suas funções
básicas são:

• atuar como agente financeiro do Governo Federal;

• atuar como banco comercial;

• atuar como banco de investimento e desenvolvimento.

Como agente financeiro do Governo Federal, o banco recebe


os títulos e as rendas federais, depósitos compulsórios e
voluntários das instituições financeiras; realiza os pagamentos
necessários e constantes do orçamento da União; efetua
redesconto bancário; executa a política de preços mínimos
agropecuários e a política do comércio exterior do Governo,
adquirindo ou financiando os de exportação; constitui agente
pagador e recebedor no exterior, entre outras operações
(SILVA et al., 2017, p. 90).

Perceba que, através do Banco do Brasil, o Estado consegue executar


sua política creditícia no país, com os depósitos compulsórios e voluntários das
instituições financeiras; os pagamentos da união; o redesconto bancário; e a
política de preços mínimos de produtos agropecuários. Também atua na política
de comércio exterior ao financiar as exportações.

Complementa Assaf Neto (2015) que o Banco do Brasil também exerce a


função de banco de investimento e de desenvolvimento ao operar em modalidades
como créditos a médio e a longo prazo. Desta forma pode financiar as atividades
rurais, comerciais, industriais e de serviços (Banco de Investimento), além de
fomentar a economia de diferentes regiões, ao atender as suas necessidades
creditícias (banco de desenvolvimento). Nessa sua atividade de fomento, ainda, o
Banco do Brasil objetiva o fortalecimento do setor empresarial do país por meio do
apoio a setores estratégicos e pequenas e médias empresas nacionais.

Por fim, de acordo com Silva et al. (2017), atua como banco comercial ao
manter contas-correntes de pessoas físicas e jurídicas; operar com caderneta de
poupança; executar operações de descontos; conceder créditos de curto prazo,
além de outras funções típicas de bancos comerciais. Isto é, o Banco do Brasil
atua como um banco múltiplo.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),


de acordo com Assaf Neto (2015), é uma empresa pública federal vinculada
ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Constitui-se
no principal instrumento, de médio e longo prazo, de execução da política de

25
SiSTEmA FiNANCEiro

financiamento do Governo Federal. Apesar de operar algumas vezes de forma


direta, a atuação do banco se desenvolve, geralmente, de maneira indireta,
através de agentes financeiros credenciados a operar com linhas de financiamento
do BNDES, como bancos comerciais, bancos de investimentos e sociedades
financeiras. Esses agentes do banco assumem a responsabilidade de analisar e
aprovar o crédito solicitado, assim como definir as garantias exigidas. O BNDES
monitora e fiscaliza estas operações de crédito.

Os recursos utilizados para operacionalizar as políticas do BNDES provêm


do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do PIS-PASEP, de recursos próprios
do BNDES, de recursos captados no exterior e de dotações orçamentárias da
União. Os recursos dessas operações envolvem financiamento de longo prazo,
crédito produtivo popular, operações com valores mobiliários, prestações de
garantias financeiras, leasing de equipamentos e financiamento à exportação de
bens e serviços (SILVA et al., 2017).

Ao estudar o emaranhado e complexo Sistema Financeiro


Nacional, você se questione se as instituições são constituídas de
forma a sempre simplificar e otimizar as relações dos diferentes
agentes econômicos. Este é um aspecto de ampla discussão e foge
do escopo dos objetivos desta disciplina. Nosso intento é a sua
compreensão do SFN como ele é. Por isso, para seu estudo pessoal,
assista ao vídeo de uma perspectiva crítica a respeito do BNDES:
https://www.youtube.com/watch?v=XE4s7rhuXrc.

Até aqui estudamos sobre as carteiras de bancos e os agentes especiais,


todas estas instituições supervisionadas pelo Bacen. Um pequeno resumo
abarcando os principais conceitos vistos pode ser visualizado na Figura 9.

Note que na Figura 9 os bancos múltiplos estão salientando a carteira


comercial como “necessária”. Como vimos, isto é para caracterizá-los como
instituição financeira bancária. Contudo, se lembre que a subdivisão de banco
múltiplo também pode ser uma instituição financeira não bancária, basta a
instituição ofertar mais de um tipo de carteira e nenhuma delas ser carteira
comercial.

26
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

É importante você ter esses aspectos em mente, pois materiais mais


antigos sobre o Sistema Financeiro Nacional costumam trazer as instituições
do subsistema operativo divididas em instituições financeiras bancárias e não
bancárias. Saber disso é importante para não ficar perdido ao pesquisar e estudar
por materiais adicionais para um eventual concurso ou certificação.

FIGURA 9 – TIPOS DE CARTEIRAS DE BANCOS E AGENTES ESPECIAIS

FONTE: Bacen (2022a, s. p.)

Nesse momento veremos a subdivisão do sistema operacional da Figura 8:


administradoras de consórcio. Essa instituição é a pessoa jurídica prestadora
de serviços com objeto social principal voltado à administração de grupos de
consórcio, constituída sob a forma de sociedade limitada ou sociedade anônima.

27
SiSTEmA FiNANCEiro

Consórcio é a reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com


prazo de duração e número de cotas previamente determinados. Promovido por
administradora de consórcio, tem a finalidade de propiciar igualmente a seus
integrantes a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento.

A adesão de um consorciado a um grupo de consórcio se dá mediante


assinatura de contrato de participação. Nesse contrato, devem estar previstos os
direitos e os deveres das partes, tais como a descrição do bem a que o contrato
está referenciado e seu respectivo preço (que será adotado como referência para
o valor do crédito e para o cálculo das parcelas mensais do consorciado).

No contrato deve haver, ainda, as condições para concorrer à contemplação


por sorteio, bem como as regras da contemplação por lance. O interesse do grupo
de consórcio prevalece sobre o interesse individual do consorciado. Os grupos de
consórcio se caracterizam como sociedades não personificadas com patrimônio
próprio, os quais não devem ser confundidos com o patrimônio dos demais grupos
nem com o da administradora (BACEN, 2021b).

Outro grupo de instituições do subsistema operativo são as cooperativas


de crédito. Equiparam-se às instituições financeiras e são formadas por livre
iniciativa de empresas. Dentro das empresas as cooperativas oferecem a
possibilidade de crédito a seus colaboradores (empregados), e todas as operações
facultadas pelas cooperativas são exclusivas aos cooperados.

Já os bancos comerciais cooperativos são consequência das cooperativas


de crédito que, ao serem autorizadas pelo Banco Central, podem abrir seus
próprios bancos comerciais de modo a atenderem não somente os funcionários de
um conjunto de empresas, mas também a comunidade. Eles oferecem todos os
produtos que qualquer outro banco comercial apresenta, como talão de cheque,
cartão de crédito, empréstimos e aplicações, entre outros (SILVA et al., 2017).

Saiba mais sobre as cooperativas de crédito no link a seguir:


https://www.youtube.com/watch?v=mKvKdSp80z4&t=13s.

28
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Na sequência, vamos nos voltar para as instituições classificadas como


corretoras e distribuidoras na Figura 8. As corretoras de títulos e valores
mobiliários (CTVM) e as distribuidoras de títulos e valores mobiliários (DTVM)
atuam nos mercados financeiro, de capitais e cambial, intermediando a negociação
de títulos e valores mobiliários entre investidores e tomadores de recursos.

Em sua atividade de intermediação oferecem serviços como plataformas


de investimento pela internet (home broker), consultoria financeira, clubes
de investimentos, financiamento para compra de ações (conta margem) e
administração e custódia de títulos e valores mobiliários dos clientes. Na
remuneração pelos serviços, essas instituições podem cobrar comissões e taxas
(BACEN 2021b).

As corretoras e as distribuidoras devem ser constituídas sob a forma de


sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Um aspecto
importante é que estas instituições, embora na Figura 8 estejam como sob
supervisão do Bacen, são supervisionadas tanto pelo Banco Central quanto pela
Comissão de Valores Mobiliários.

Já as Instituições de Pagamento (IP) remetem à pessoa jurídica que


viabiliza serviços de compra e venda e de movimentação de recursos, sem a
possibilidade de conceder empréstimos e financiamentos a seus clientes. Estas
instituições possibilitam ao cidadão realizar pagamentos independentemente de
relacionamentos com bancos e outras instituições financeiras.

Com o recurso financeiro movimentável, por exemplo, por meio de um


cartão pré-pago ou de um telefone celular, o usuário pode portar valores e efetuar
transações sem estar com moeda em espécie. Graças à interoperabilidade, o
usuário pode, ainda, receber e enviar dinheiro para bancos e outras instituições
de pagamento (BACEN, 2022d).

É importante lembrar que serviços de pagamento são prestados também


por instituições, como bancos, financeiras e cooperativas de crédito. Todos os
envolvidos no pagamento devem aderir e aceitar as regras do arranjo (emissores
dos instrumentos de pagamento e credenciadores desses instrumentos).

A participação em um arranjo une todos os integrantes da cadeia de


pagamento, permitindo que, por meio de suas instituições, o pagador e o
recebedor consigam realizar e aceitar pagamentos. É interessante saber
que instituições de pagamento não são instituições financeiras, portanto não
podem realizar atividades privativas destas instituições, como empréstimos e
financiamentos. Ainda assim estão sujeitas à supervisão do Banco Central. Elas
devem se constituir como sociedade empresária limitada ou anônima (BACEN,
2022d).
29
SiSTEmA FiNANCEiro

Conforme aprendemos anteriormente, há várias modalidades de instituições


de pagamento, podendo uma IP atuar em mais de uma modalidade.

QUADRO 2 – TIPOS DE INSTITUIÇÕES DE PAGAMENTO

FONTE: Adaptado de: Bacen (2022d)

Nesse momento vamos nos voltar para a última classificação sob a


supervisão do Bacen: as instituições financeiras não bancárias. Os clientes
e consumidores podem acessar serviços financeiros através de instituições não
bancárias.

Elas são consideradas “não bancárias”, pois não recebem depósitos à


vista, nem podem criar moeda (por meio de operações de crédito). Elas operam
com ativos não monetários, como ações, CDBs, títulos, letras de câmbio e
debêntures. Estas são as Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento;
Agências de Fomento; Associações de Poupança e Empréstimos; Sociedades
de Crédito Imobiliário; Companhias Hipotecárias; Sociedades de Crédito ao
Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte; e as Sociedades de
Arrendamento Mercantil.

As Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, popularmente


conhecidas como “financeiras”, conforme Bacen (2022e), são instituições
privadas que fornecem empréstimo e financiamento para aquisição de bens,
serviços e capital de giro. Muitas das financeiras não ligadas a bancos fazem
parte de conglomerados econômicos e operam como braço financeiro de
grupos comerciais ou industriais. É o caso, por exemplo, de algumas lojas de
departamento e montadoras de veículos que possuem suas próprias financeiras,
concentrando suas operações no financiamento de seus próprios produtos.

30
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

As Agências de Fomento, conforme Machado (2015), são sociedades


anônimas de capital fechado cujo objetivo social é financiar empreendimentos
preestabelecidos em programas de desenvolvimento econômico. Isto é, elas
surgem como uma opção para ocupar a lacuna deixada na extinção dos bancos
de desenvolvimentos. Um aspecto importante é que o controle acionário é
de responsabilidade do Estado ou Distrito Federal e não é permitido a estas
instituições captar recursos públicos ou ter participação em outras entidades
financeiras.

As Associações de Poupança e Empréstimo (APEs) são instituições


financeiras que atuam na área habitacional por meio de financiamentos
imobiliários. Essas associações fazem parte do Sistema Brasileiro de Poupança
e Empréstimo (SBPE) e costumam atuar de forma restrita à determinada região.
São constituídas sob a forma de sociedades civis sem fins lucrativos, sendo de
propriedade comum de seus associados.

A principal alternativa de captação financeira é a caderneta de poupança.


Como as APEs atuam de forma restrita a seus associados, os aplicadores
assumem um vínculo societário com as APEs, adquirindo direito a voto nas
assembleias e participação na distribuição dos lucros. Dessa forma, a caderneta
de poupança remunera os aplicadores com dividendos e correção monetária
(ASSAF NETO, 2015).

A Sociedade de Crédito Imobiliário é um tipo de instituição financeira


especializada no financiamento habitacional, integrante do Sistema Financeiro
da Habitação (SFH), cujo foco consiste no financiamento para construção de
habitações, na abertura de crédito para compra ou construção de casa própria
e no financiamento de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras
e distribuidoras de material de construção. Atualmente, em decorrência da sua
condição de repassadora, as SCIs têm atuado de forma mais limitada, se voltando
para operações específicas, como o programa “Casa verde e amarela” (BACEN,
2022e).

Para enriquecer o seu estudo, assista ao vídeo a seguir e


aprenda as diferenças entre Sistema Financeiro Habitacional
e Sistema Financeiro Imobiliário: https://www.youtube.com/
watch?v=nY-VeLqpoYI.

31
SiSTEmA FiNANCEiro

As Companhias Hipotecárias têm por objetivo a concessão de


financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais, empréstimos garantidos
por hipotecas, alienação fiduciária de imóveis e repasses de recursos relacionados
a programas imobiliários; além da administração de fundos de investimento
imobiliário. Essas instituições não recebem depósitos de poupança, e os seus
recursos provêm de letras hipotecárias, debêntures, empréstimos, financiamentos
no país e no exterior e Letras de Crédito Imobiliário (LCI) (BACEN, 2022e).

As Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de


Pequeno Porte são instituições criadas para ampliar o acesso ao crédito por
parte dos microempreendedores (pessoas físicas) e empresas de pequeno porte
(pessoas jurídicas). Elas são impedidas de captar, sob qualquer forma, recursos
do público, bem como emitir títulos e valores mobiliários destinados à colocação e
ofertas públicas.

Essas instituições devem ser implantadas sob a forma de companhia fechada


ou de sociedade limitada, e somente podem conceder financiamentos e prestação
de garantias às microempresas ou empresas de pequeno porte, bem como a
pessoas físicas no desempenho das atividades relativas ao seu objeto social,
definido em lei. Além disso, podem ceder ou adquirir créditos em conformidade
com seu objeto social e na forma da regulamentação em vigor.

Com o intuito de obter recursos para suas atividades (operações passivas),


podem receber repasses e empréstimos originários de instituições financeiras, de
entidades voltadas para ações de fomento e desenvolvimento, e captar recursos
junto aos bancos por meio de depósito interfinanceiro vinculado a operações de
microfinanças (BACEN, 2022e).

As Sociedades de Arrendamento Mercantil (LEASING) realizam o


arrendamento de bens móveis e imóveis adquiridos por elas, segundo as
especificações do cliente (arrendatário), para fins de uso próprio deste. Assim, o
contratante desse serviço pode usufruir de determinado bem sem ser proprietário
dele. As sociedades de arrendamento mercantil não são consideradas instituições
financeiras, mas entidades equiparadas a instituições financeiras.

As operações de arrendamento mercantil são divididas em duas modalidades:


leasing financeiro e leasing operacional. A diferença básica é que no leasing
financeiro o prazo é usualmente maior e o arrendatário tem a possibilidade
de adquirir o bem por um valor pré-estabelecido. No término do contrato, o
arrendatário tem as opções de efetivar a aquisição do bem arrendado ou devolvê-
lo. Ao final do leasing financeiro, em geral, o cliente já terá quitado a maior parte
do valor do bem, não sendo a devolução, embora possível, financeiramente
vantajosa (BACEN, 2022e).

32
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Ficou curioso sobre o leasing e quer entendê-lo melhor? Assista


ao vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=qCXrgtRY_40.

Conforme Tambosi (2022), as práticas contábeis e divulgações apropriadas


dos arrendamentos mercantis e financeiros foram atualizadas no Pronunciamento
técnico CPC 06(R2) a partir de 2019, revogando a CPC 06 (R1) de 2008. Com
esta nova regra, as arrendatárias deverão reconhecer os direitos de uso dos ativos
arrendados, bem como os pagamentos a serem realizados no passivo, para todos
os contratos de arrendamento mercantil.

As principais mudanças estão nas contabilizações por parte do arrendatário.


Antes era necessário o arrendatário definir se se tratava de leasing financeiro ou
leasing operacional. No caso do leasing financeiro, seria ativado; e no leasing
operacional, seria considerado aluguel; portanto, suas parcelas são consideradas
despesas de aluguel.

Com a atualização da CPC 06 (R2) esta divisão deixou de existir, e o


arrendatário deve ativar todos os arrendamentos, considerando apenas duas
exceções: (1) arrendamentos de curto prazo, até 12 meses, desde que não haja
opção de compra; e arrendamentos de baixo valor. (2) Caso não sejam aplicados
os requisitos de reconhecimento de um arrendamento, o arrendatário deve
reconhecer os pagamentos de arrendamento associados a esses arrendamentos
como despesa em base linear ao longo do prazo do arrendamento ou em outra
base sistemática (TAMBOSI, 2022).

3.2 INSTITUIÇÕES DO SISTEMA


OPERATIVO SUPERVISIONADAS
PELA CVM
Vamos agora nos voltar para a parte das instituições do sistema operativo
que operam sob a supervisão da Comissão de Valores Mobiliários – CVM.
Conforme pode ser visto anteriormente, estas estão representadas como Bolsa
de Valores e Bolsa de Mercadorias e Futuro. Atualmente, estas duas são uma

33
SiSTEmA FiNANCEiro

instituição só, embora mantenham autonomia para atuação em seus respectivos


segmentos. Vamos entender um pouco a respeito.

Conforme Pinho (2012, p. 302 apud SILVA et al., 2017, p. 122), “as bolsas de
valores são instituições de caráter econômico que têm como objeto a negociação
pública mercantil de títulos e valores mobiliários, ou seja, é um local onde
compram e vendem ações”.

A essência da existência de bolsas de valores é proporcionar liquidez aos


títulos negociados, atuando por meio de pregões contínuos. A fixação de seus
preços se dá pelo consenso de mercado mediante mecanismos de oferta e
procura. Obrigam-se as bolsas, ainda, a efetuarem, dentro do menor prazo e
da maior amplitude possível, a divulgação de todas as operações realizadas.
As bolsas de valores atuam com diversos tipos de mercado. No mercado à vista
são realizadas operações com liquidação financeira imediata ou de curto prazo.
Nos mercados a termo, de opções e futuros, as operações têm sua liquidação
processada num prazo maior (ASSAF NETO, 2015).

Na primeira metade da década de 2000 as bolsas do Brasil foram unificadas


na Bovespa e, ainda na mesma década, houve a fusão com a Bolsa de
Mercadorias e Futuro – BM&F. A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) é o local
em que são negociadas as commodities, nome dado às matérias-primas que todo
o país exporta, como petróleo, urânio, soja, milho, carne bovina, arroz etc. Esses
contratos são feitos por derivativos financeiros (derivativos = deriva + ativo). O
derivativo é uma forma do produtor, ao exportar, se garantir contra flutuações
cambiais, estabelecendo um valor previamente fixado para converter, digamos, os
dólares que vai receber por suas exportações para reais.

Na Bolsa de Mercadorias e Futuros — BM&F — (derivativos)


são negociados contratos de mercadorias, principalmente
commodities e derivativos. Essas negociações podem ser à
vista ou para pagamento futuro, operando, principalmente,
com taxa de câmbio, taxa de juros, café, açúcar, soja, gado,
milho, ouro, entre outros. É uma sociedade mercantil criada
por diversas empresas, corretoras de valores e bancos em
geral. Nesse tipo de bolsa não se negocia ativos mercantis
societários, como é o caso das ações (SILVA et al., 2017, p.
80).

Na época, final da década de 2000, essa fusão foi popularmente chamada


de “a nova bolsa”. Posteriormente, em 2017, houve uma nova fusão, agora com
a Cetiq, empresa integrante do mercado financeiro, pois oferecia produtos de
serviço, registro, custódia e liquidação de ativos e títulos. Assim nasceu a Brasil,
Bolsa e Balcão – B3.

34
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O mercado de balcão nada mais é do que todas aquelas negociações de


ativos que não estão listados na bolsa de valores. Exemplos: títulos patrimoniais
de associações diversas, ações de empresas não registradas em bolsas de
valores e outras espécies de títulos. O mercado de balcão não possui um lugar
físico determinado para realizar suas atividades, sendo os negócios geralmente
realizados mediante contatos telefônicos (ASSAF NETO, 2015).

A B3 é uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no


mundo, com atuação em ambiente de bolsa e de balcão. As atividades da empresa
incluem a criação e a administração de sistemas de negociação, compensação,
liquidação, depósito e registro para todas as principais classes de ativos, desde ações
e títulos de renda fixa corporativa até derivativos de moedas, operações estruturadas
e taxas de juro e de commodities. A B3 também opera como contraparte central
garantidora para a maior parte das operações realizadas em seus mercados e oferta
serviços de central depositária e de central de registro (B3, c2022).

Dica: assista ao vídeo a seguir e entenda melhor a evolução


histórica da B3:
https://www.youtube.com/watch?v=2Cz1FXH_VI0.

No Capítulo 2 veremos o funcionamento do mercado de capitais e


exploraremos alguns dos ativos mais comuns negociados, focando em seu
entendimento acadêmico sobre as diferenças entre rendas fixa e variável. Nesse
momento, veremos as instituições do sistema operativo que são supervisionadas
pela Susep.

3.3 INSTITUIÇÕES DO SISTEMA


OPERATIVO SUPERVISIONADAS
PELA SUSEP
As instituições operadoras que compõem o Sistema Financeiro Nacional,
supervisionadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), são
as seguradoras e resseguradoras, as entidades abertas de previdência e as
sociedades de capitalização. Na Figura 10 é possível encontrar o detalhamento
sobre cada tipo de produto.

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SiSTEmA FiNANCEiro

FIGURA 10 – PLANOS E PRODUTOS SUPERVISIONADOS PELA SUSEP

FONTE: Adaptada de: http://novosite.susep.gov.br/. Acesso em: 11 jun. 2022.

As Companhias Seguradoras são instituições que, por meio do recebimento


de prêmios cobrados dos segurados, garantem a cobertura financeira do objeto
selecionado (seguro de vida, do carro, de saúde etc.). As seguradoras constituem
reservas técnicas mediante recursos acumulados e cobrados no valor dos prêmios
pagos por seus segurados.

Essas reservas, junto com outros fundos da sociedade, são aplicadas no


mercado financeiro em títulos de rendas variável e fixa, e têm por finalidade
preservar a segurança, a rentabilidade e a liquidez dos recursos, gerando
condições para honrar as indenizações previstas nos contratos de seguro.
Naturalmente que uma aplicação mais eficiente desses recursos resulta também
em uma interessante fonte adicional de lucros para as Companhias Seguradoras,
indispensável fonte de financiamento para sustentar seu crescimento (ASSAF
NETO, 2015).

As propostas de seguro somente podem ser encaminhadas às


seguradoras por corretores legalmente habilitados a operar no mercado (para
tanto, o profissional deve se submeter a um exame de qualificação realizado pela
Susep), ou diretamente pelos proponentes do seguro. Os profissionais de seguros
recebem uma comissão calculada com base em um percentual sobre o prêmio
recebido pela seguradora, identificada por corretagem de seguros. O corretor
de seguros é um profissional autônomo sem vínculos com a companhia. Na
intermediação da operação, o corretor deve defender os interesses do segurado
perante a seguradora, reclamando seus direitos e cuidando dos procedimentos
necessários em caso de ocorrência de um sinistro. Ele pode atuar com várias
seguradoras e deve estar sempre atento à evolução do mercado segurador e de
seus instrumentos operacionais (ASSAF NETO, 2015).
36
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Você sabe a diferença entre seguro e resseguro? Assista aos


vídeos a seguir e descubra:
https://www.youtube.com/watch?v=3BFi2lXdfuc.
https://www.youtube.com/watch?v=bqeEVMzpOKU.

As Entidades Abertas de Previdência são, de acordo com Assaf Neto


(2015), instituições que oferecem seguro de renda (a previdência complementar
aberta), fornecendo diversos planos de benefícios de aposentadoria, morte
e invalidez. As entidades abertas de previdência privada costumam oferecer
diversos planos de benefícios.

O plano mais conhecido é a arrecadação de parcelas mensais por certo


período de anos, prevendo ao final pagamentos de benefícios ao participante. As
parcelas mensais que devem ser pagas são calculadas com base na expectativa
futura de renda desejada pelo participante e na idade definida para começar a
receber os benefícios.

Os benefícios podem ser contratados para serem pagos por toda a vida do
participante (vitalício), por um período limitado ou de uma só vez. A preocupação
básica de toda sociedade de previdência é a gestão de sua carteira de recursos,
que deverá ser eficiente para cobrir o valor dos benefícios prometidos pelos
planos de previdência.

As Sociedades de Capitalização são entidades, constituídas sob a forma


de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de capitalização) com o
objeto de, através de depósito periódico de prestações pelo contratante depois de
cumprido o prazo contratado, resgatar parte dos valores depositados corrigidos
por uma taxa de juros estabelecida contratualmente. Também há, quando previsto,
o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro (BACEN, 2022c).

37
SiSTEmA FiNANCEiro

3.4 INSTITUIÇÕES DO SISTEMA


OPERATIVO SUPERVISIONADAS
PELA PREVIC
As entidades fechadas de previdência complementar são organizações que
oferecem aos indivíduos que trabalham na organização (por isso previdência
fechada) a possibilidade de complementarem sua aposentadoria obrigatória
(aquela exigida pelo Estado) por meio dos chamados fundo de pensão.

Caso você não esteja lembrando desse tema, anteriormente, quando


estávamos aprendendo sobre os órgãos normativos das previdências privada e
complementar, disponibilizamos um vídeo explicando o que é previdência aberta
e fechada. Volte ao início e reveja-o.

No Quadro 3, a seguir, apresentamos uma relação dos serviços prestados


discutidos nesta subseção das entidades operadoras, bem como o respectivo tipo
de instituição que pode oferecer determinado serviço (pois muitos serviços podem
ser prestados por uma mesma instituição).

QUADRO 3 – RELAÇÃO DE SERVIÇOS FINANCEIROS E


SUAS RESPECTIVAS ENTIDADES OPERATIVAS

FONTE: Mellagi Filho e Ishikawa (2010 apud SILVA et al., 2017, p. 96)

38
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Finalizamos aqui uma importante etapa da compreensão do sistema


financeiro. Reveja os conceitos abordados até o momento e faça a leitura
complementar a seguir. Não deixe de realizar as atividades ao final do capítulo.

1 O Sistema Financeiro Nacional é subdividido em sistema


normativo, supervisor e operador. Uma característica do
sistema operador é haver vários tipos de carteiras de banco.
Sobre o banco que atua em mais de uma carteira, assinale a
alternativa CORRETA:

a) Banco de Investimento.
b) Banco Comercial.
c) Banco de Desenvolvimento.
d) Banco Múltiplo.

2 O sistema operador é subdividido em diversas categorias.


Dentre elas existem aquelas instituições que são
consideradas especiais por serem de grande importância
para os diferentes projetos do Estado. Sobre esses agentes,
assinale a alternativa CORRETA:

a) Santander, Itaú e Banco do Brasil.


b) Caixa Econômica, Itaú e Santander.
c) Banco de Tel Aviv, BNDES e Itaú.
d) Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES.

3 O Sistema Financeiro Nacional apresenta uma estrutura


hierárquica na sua composição. Parte deste sistema de
hierarquia é dada pela relação entre o CMN e o Bacen. Sobre
esses dois órgãos componentes do Sistema Financeiro
Nacional, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- CMN.
II- Bacen.

( ) É a entidade supervisora do sistema financeiro.


( ) É o órgão normativo do sistema financeiro.
( ) O Ministro da Economia é um dos membros desse órgão.
( ) Atua como guardião ou como protetor da moeda nacional.

39
SiSTEmA FiNANCEiro

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) II - I - I - II.
b) I - II - II - I.
c) I - II - I - II.
d) II - I - II - I.

4 O Sistema Financeiro Nacional é dividido entre os subsistemas


normativos, supervisoras e operadoras. Parte do Sistema
Financeiro Nacional envolve a previdência complementar
aberta e fechada. Sobre os órgãos normativos e entidades
supervisoras que compõem a previdência, associe os itens,
utilizando o código a seguir:

I- CNSP.
II- CNPC.
III- Susep.
IV- Previc.

( ) Órgão normativo da previdência complementar aberta.


( ) Entidade supervisora dos fundos de pensão.
( ) Entidade supervisora da previdência aberta para o público em
geral.
( ) Órgão normativo da previdência complementar fechada.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) I - IV - III - II.
b) I - II - III - IV.
c) IV - III - II - I.
d) II - I - IV - III.

5 Uma subdivisão que existe no subsistema operativo é a


classificação entre instituições bancárias e não bancárias.
Entre as instituições operadoras do sistema financeiro se
tem os bancos comerciais, bancos de câmbio, bancos de
investimento, bancos de desenvolvimento e bancos de
investimento. Sobre os bancos comerciais, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

40
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

( ) Carteira considerada necessária para classificar um banco como


instituição bancária.
( ) Carteira que recebe depósitos à vista.
( ) Carteira que recebe depósitos de longo prazo.
( ) Carteira necessária para o banco criar moeda escritural.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) V - V - F - V.
b) F - F - V - F.
c) V - F - V - F.
d) F - V - F - V.

6 O Sistema Financeiro Nacional é composto de uma estrutura


hierárquica que permite o funcionamento da intermediação
financeira entre agentes superavitários e agentes deficitários.
Sobre a instituição no Sistema Financeiro brasileiro, que
tem dentre suas atribuições fixar as diretrizes e normas de
política cambial, assinale a alternativa CORRETA:

a) Banco Central do Brasil (Bacen).


b) Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
c) Conselho Monetário Nacional (CMN).
d) Banco do Brasil (BB).

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Fechamos essa primeira e importante etapa sobre o sistema financeiro. A
primeira certeza que você precisa ter consigo é que se você achou o capítulo
teórico (pesado), não se preocupe, pois ele realmente é. A segunda certeza é que
esse material não é apenas um apanhado teórico sem utilidade se não dentro do
meio acadêmico. Esta é uma questão sempre presente para o estudante, uma
vez que você está dedicando tempo e energia para com esta disciplina.

Acreditamos que ter essa consciência faz diferença na qualidade de sua


dedicação e foco, pois você não está somente estudando para uma avaliação,
mas para muitas possíveis certificações ou concursos que poderá se interessar
em adquirir e atuar. Qualquer trabalho relacionado ao mercado financeiro vai
lhe exigir uma certificação, e qualquer certificação vai cobrar os conceitos e
subdivisões aqui explorados.

41
SiSTEmA FiNANCEiro

Lembre-se: você é um acúmulo de conhecimentos e um acúmulo de valor


agregado que pode atuar nas mais diferentes áreas.

Isto posto, o que vimos neste capítulo?

Inicialmente, a primeira “big picture” que você tem de ter em mente são os
mercados em que o sistema financeiro se divide: monetário, cambial, creditício,
de capitais, de seguros, de previdência aberta e de previdência fechada.

Posteriormente, estudamos as subdivisões do sistema em normativo,


supervisor e operador. Os próprios nomes já o ajudam a deduzir a finalidade
de cada um ao se deparar com uma questão. Contudo, quem compõe cada um
destes? Com relação aos órgãos normativos, o Conselho Monetário Nacional –
CVM, para normatizar os mercados monetário, cambial, creditício e de capitais.
O Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP, para normatizar o mercado
de seguros e previdência aberta. Por fim, o Conselho Nacional de Previdência
Complementar – CNPC, para normatizar o mercado de fundos de pensão.

Na questão das entidades supervisoras temos o Banco Central do Brasil –


Bacen fiscalizando o mercado monetário, cambial e creditício; e a Comissão de
Valores Mobiliários – CVM, fiscalizando o mercado de capitais. Já no mercado
de seguros e previdência aberta temos a Superintendência de Seguros Privados
– Previc, como entidade supervisora. E, por fim, a Superintendência Nacional de
Previdência Complementar – Susep, supervisionando o mercado de fundos de
pensão.

O resto do capítulo trata das instituições operadoras que compõem o SFN,


e este compõe uma grande parcela do material exposto. Para começar, visualize
os tipos de carteiras de bancos cambial, comercial, de desenvolvimento, de
investimento e múltiplos. Depois não podemos nos esquecer dos “agentes
especiais” do Estado, que compõem aquele conjunto de bancos que são
estratégicos para a atuação do governo nos diferentes mercados do sistema
financeiro. São estes o Banco do Brasil, as Caixas Econômicas e o BNDES.

Em seguida, há as instituições não bancárias. O aspecto mais importante


a ter em mente é “por que são instituições não bancárias?”. Lembre-se que
instituições não bancárias são todas aquelas instituições que não trabalham com
a carteira de banco comercial.

42
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Dessa forma contemplamos boa parte do subsistema operador sob a


supervisão do Bacen. Abaixo do CMN, falta apenas as entidades operadoras do
mercado de capitais, supervisionadas pela CVM. Nesse sentido, temos de lembrar
que a B3 incorpora os dois segmentos do mercado de capitais, a bolsa de valores
e a Bolsa de Mercadorias e Futuro - BM&F.

Por fim, temos de um lado o mercado de seguros e previdência privada;


e, de outro, de fundos de pensão. Sabendo bem a diferença entre previdência
complementar aberta e previdência complementar fechada, não há grandes
dificuldades com esses dois mercados.

BONS ESTUDOS!

LEITURA COMPLEMENTAR
A CRIAÇÃO DO COAF E O COMBATE DE LAVAGEM DE
DINHEIRO NO ÂMBITO DO SISTEMA FINANCEIRO

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) é um órgão


federal que atua no território nacional na prevenção e combate à lavagem de
dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Isto é, é responsável pela manutenção
da disciplina, examinar e identificar se houve crimes financeiros; comunicar as
autoridades competentes para a instauração de procedimentos necessários; bem
como aplicar as devidas penas (REIS, 2018a).

O encontro de autoridades de diferentes países na cidade de Viena, na


Áustria, ficou conhecido como a “Convenção de Viena de 1988”, e é considerado
a "pedra inaugural" da comoção mundial face à lavagem de dinheiro. Naquele
momento as preocupações estavam restritas à demanda do tráfico ilícito de
entorpecentes e substâncias psicotrópicas (VIVIANI, 2005).

Na convenção de Viena de 1988 foi a primeira vez que se discutiu a nível


mundial sobre a ocultação ou o encobrimento da natureza, origem, localização,
destino, movimentação ou propriedade verdadeira dos bens, sabendo que
procedem de delitos, como: a produção, a fabricação, a extração, a preparação,
a oferta para venda, a distribuição, a venda, a entrega em quaisquer condições,
a corretagem, o envio, o trânsito, o transporte, a importação ou a exportação de
qualquer entorpecente ou substância psicotrópica. Dessa forma, a repressão às
drogas se eleva significativamente com a obrigatoriedade exigida pela convenção
aos países signatários, quanto à criminalização do crime de lavagem de dinheiro
(VIVIANI, 2005).

43
SiSTEmA FiNANCEiro

Esse esforço internacional estimulou a tomada de medidas para prevenção


de lavagem de dinheiro no Brasil. Isso porque a convenção de Viena de 1988
representa um acordo entre países, e não uma lei ou regra para serem aplicadas
em âmbito nacional.

Ainda no âmbito internacional, foi criado, em 1989, um órgão supranacional


chamado Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o
Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF), com o propósito de desenvolver e
promover políticas nacionais e internacionais de combate à lavagem de dinheiro e
ao financiamento do terrorismo (COAF, 2022).

o Gafi é um organismo elaborador de políticas que atua visando


a gerar a vontade política necessária para realizar reformas
legislativas e regulatórias nessas áreas. As 40 Recomendações
do Gafi constituem-se como um guia para que os países adotem
padrões e promovam a efetiva implementação de medidas
legais, regulatórias e operacionais para combater a lavagem de
dinheiro ao financiamento do terrorismo e o financiamento da
proliferação, além de outras ameaças à integridade do sistema
financeiro relacionadas a esses crimes. Hoje, esses padrões
são adotados por mais de 180 países (COAF, 2022, s. p.).

Apenas dez anos depois, em 1998, que foi sancionada a primeira lei que trata
do crime de prevenção à lavagem de dinheiro no Brasil e a criação do Conselho
de Atividades Financeiras (COAF). Esta é a Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998
(BRASIL, 1998).

Posteriormente, em 2012, foram realizadas algumas atualizações pela Lei


nº 12.683 (BRASIL, 2012). Já no âmbito do Sistema Financeiro Nacional, o órgão
regulador Bacen criou a circular 3.978 de 2020 para tratar da temática da lavagem
de dinheiro (BACEN, 2020).

Dessa forma, foi sendo instituído, ao longo de três décadas, uma série de
normativas e leis no Brasil, a fim de garantir um eficiente sistema de controles
internos nas instituições financeiras que permitisse uma melhor fiscalização e o
combate à lavagem de dinheiro.

Conforme Arai (2015), um controle interno eficiente requer que haja


fácil acesso aos dados de todos os setores dos bancos e demais instituições
financeiras, de forma a permitir o entendimento em relação as suas finanças e
operacionalizações. Os dados das operações das instituições financeiras devem
permanecer em sigilo, mas à disposição, de forma clara e detalhada, caso as
autoridades normativas julgarem necessário a quebra do sigilo para alguma
investigação.

44
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

REFERÊNCIAS
ARAI, C. Gestão de risco. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular nº 3.978, de 23 de janeiro de 2020.


Dispõe sobre a política, os procedimentos e os controles internos a serem
adotados pelas instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil
visando à prevenção da utilização do sistema financeiro para a prática dos crimes
de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores [...]. Disponível em: https://
www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/
Normativos/Attachments/50905/Circ_3978_v2_P.pdf. Acesso em: 11 fev. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O Conselho Monetário


Nacional (CMN), 2021a. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/acessoinformacao/cmn. Acesso em: 22 dez. 2021.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O que é Banco (instituição financeira),


2022a. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
bancoscaixaseconomicas. Acesso em: 15 jan. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O que é Corretora de câmbio?


2022b. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
corretorascambio. Acesso em: 20 jan. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O que é e o que faz o Banco Central,


2022c. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
instituicoesnaobancarias. Acesso em: 3 jan. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O que é Instituição de Pagamentos?


2022d. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
instituicaopagamento. Acesso em: 28 jan. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. O que são instituições não bancárias?


2022e. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/
instituicoesnaobancarias. Acesso em: 22 jan. 2022.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Sistema Financeiro


Nacional (SFN), 2021b. Disponível em: https://www.bcb.gov.
br/estabilidadefinanceira/sfn. Acesso em: 20 dez. 2021.

45
SiSTEmA FiNANCEiro

BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos sistemas. Tradução de


General system theory. Petrópolis: Editora Vozes, 1977.

BRASIL, BOLSA E BALCÃO. B3, c2022. Institucional. Disponível em: https://


www.b3.com.br/pt_br/b3/institucional/quem-somos/. Acesso em: 29 jan. 2022.

BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de


"lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização
do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 3 mar. 1998. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm. Acesso em: 11 fev. 2022.

BRASIL. Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei nº 9.613, de


3 de março de 1998, para tornar mais eficiente a persecução penal dos
crimes de lavagem de dinheiro. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 9 jul. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12683.htm#art2. Acesso em: 11 fev. 2022.

CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS. Coaf,


c2022 Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o
Financiamento do Terrorismo (Gafi/FATF). Disponível em: https://www.gov.
br/coaf/pt-br/assuntos/o-sistema-de-prevencao-a-lavagem-de-dinheiro/
sistema-internacional-de-prevencao-e-combate-a-lavagem-de-dinheiro/o-coaf-
a-unidade-de-inteligencia-financeira-brasileira. Acesso em: 11 fev. 2022.

FURLANI, J. R. de A. Como funciona o Sistema Financeiro Nacional.


2013. Apresentação do Power Point. Disponível em: https://docplayer.com.
br/2458091-Como-funciona-o-sistema-financeiro-nacional-jose-reynaldo-
de-almeida-furlani-junho-de-2013.html. Acesso em: 15 jan. 2022.

MACHADO, L. H. M. (org.). Sistema Financeiro Nacional.


São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

REIS, T. Suno, 2018a. COAF: como funciona esse órgão de


combate à lavagem de dinheiro? Disponível em: https://www.suno.
com.br/artigos/o-que-e-coaf/. Acesso em: 10 fev. 2022.

46
Capítulo 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

REIS, T. Suno, 2018b. SUSEP: o que é e como funciona a Superintendência


de Seguros Privados? Disponível em: https://www.suno.com.br/artigos/
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SILVA, R. J. da. et. al. Economia monetária e mercado de capitais.


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.

SUA PREVIDÊNCIA PRIVADA. Previc: o que é, como funciona


e responsabilidades, 2020. Disponível em: https://www.
suaprevidenciaprivada.com.br/blog/previc/#. Acesso em: 13 fev. 2022.

TAMBOSI, B. Afixcode, 2022. CPC 06 R2: resumo de


tudo o que mudou. Disponível em: https://www.afixcode.
com.br/blog/cpc-06-r2/. Acesso em: 13 fev. 2022.

VIVIANI. A. K. Jus, 2005. Combate à lavagem de dinheiro.


Disponível em: https://jus.com.br/artigos/6739/combate-a-
lavagem-de-dinheiro/2. Acesso em: 11 fev. 2022.

47
SiSTEmA FiNANCEiro

48
C APÍTULO 2
A DIVISÃO DO MERCADO
FINANCEIRO

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender o papel da intermediação financeira.

 Aprender os diferentes mercados que compõem o sistema financeiro nacional.

 Assimilar os termos fundamentais do mercado financeiro: renda fixa, variável e


títulos prefixado e pós-fixado.

 Compreender os diferentes riscos existentes no mercado financeiro.

 Acompanhar discussões do mercado financeiro a partir do entendimento da


intermediação financeira e dos termos usuais do mercado financeiro.

 Avaliar e tomar decisões de investimento com maior facilidade, seja de forma


autônoma ou acompanhando o raciocínio de um assessor de investimentos.
SiSTEmA FiNANCEiro

50
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Seja bem-vindo! Vamos dar continuidade ao estudo do sistema financeiro
brasileiro. Esse capítulo está dividido em seis seções, sendo a primeira esta
contextualização.

Na segunda seção se busca entender o papel dos intermediários financeiros,


explorando a relação macroeconômica de que toda poupança da economia
é, através das intermediações financeiras, igual a todo o investimento. Isso
porque poupadores alocam seus recursos em ativos financeiros que, por sua
vez, permitem às instituições financeiras oferecerem os mais diversos tipos de
empréstimos que a economia dispõe.

A terceira seção explora os quatro mercados em que se divide o sistema


financeiro nacional. O mercado monetário descreve o equilíbrio entre a oferta e
a demanda pela moeda nacional disponível na economia. Este mercado dispõe
a liquidez para os demais mercados, e por isso será o mais exaustivamente
trabalhado. Já o mercado de crédito descreve as diferentes formas como os
empréstimos são disponibilizados. Por sua vez, o mercado cambial trata dos
impactos que a oferta e a demanda por moeda estrangeira geram na economia.
Por fim, no mercado de capitais, exploraremos os conceitos de alguns dos
principais ativos existentes no mercado financeiro.

A quarta seção trabalha conceitos básicos relacionados aos diferentes tipos


de ativos ofertados no mercado de capitais. Isto é, conceitua o que é renda fixa e
renda variável, bem como detalha as subdivisões existentes dentro da renda fixa.

A quinta seção, por sua vez, trabalha o conceito de risco e as formas que
este pode assumir, sendo elas: risco sistêmico, risco de mercado, risco de crédito,
risco operacional, risco legal e risco de liquidez.

A sexta seção apresenta algumas considerações dos tópicos aqui abordados.

2 INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA
(POUPANÇA = INVESTIMENTO)
No capítulo anterior, para iniciarmos nosso estudo a respeito do sistema
financeiro nacional, falamos que ele existe para facilitar o encontro entre
poupadores (agentes econômicos superavitários) e aqueles indivíduos e
organizações que demandam empréstimos (agentes econômicos deficitários).

51
SiSTEmA FiNANCEiro

Contudo, por que precisamos de intermediários? Por que simplesmente uma


pessoa não empresta para a outra? Esses são os questionamentos que vamos
responder inicialmente. Aproveitando essa explicação, vamos entender um dos
princípios da economia clássica que afirma que toda poupança é igual a todo
investimento. Esse princípio lhe ajudará a compreender as diferentes políticas
adotadas pelo governo, a fim de estimular (ou desestimular) a economia. Vamos
nos concentrar nos efeitos das políticas monetárias, mas ter o entendimento da
relação poupança e investimento será importante, caso você venha a estudar
outras formas de atuação do estado sobre a economia.

Vamos começar entendendo a relação entre poupadores e tomadores de


empréstimos e a consequente necessidade de um sistema financeiro. Qualquer
região, seja uma província, um estado ou um país conta com muitas pessoas que
todos os meses poupam dinheiro pelos mais diferentes motivos, como: acumular
para garantir uma velhice mais tranquila; uma viagem daqui a dois anos; pagar
a faculdade dos filhos; ou, ainda, para honrar compromissos inesperados que
possam surgir no curto prazo, como questões relacionadas à saúde.

Essas pessoas poderiam muito bem deixar o papel moeda usado naquela
região guardado embaixo da cama. Isso supondo que nessa região não haja um
banco central a serviço do estado, imprimindo dinheiro e gerando inflação (afinal,
inflação é sempre um fenômeno monetário).

Assista a um trecho de uma palestra de Milton Friedman, um


dos principais expoentes da “Escola de Chicago” (a mesma corrente
de Paulo Guedes), sobre inflação:
https://www.youtube.com/watch?v=C4M99qgQTRk&t=31s.

Então, esses poupadores podem ter um cofre atrás de um quadro e


guardar suas economias nele. De outro lado, há uma série de indivíduos, bons
comerciantes, empreendedores, desejosos por ampliar ou modernizar a estrutura
de seus comércios para, através do seu interesse próprio de acumular riqueza
para si e para sua família, oferecer seus produtos e serviços que possuem
qualidade e preço competitivo à sociedade (em uma economia de livre mercado,
a seleção natural do mercado faz com que, em cada nicho da economia, apenas
os produtos e serviços de qualidade e com preços competitivos permaneçam. Do
contrário, caso o empresário não seja protegido por força do estado, outro mais
competente naquele ramo entrará no mercado, atraindo os consumidores).
52
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Um excelente livro, de autoria de Milton Friedman e de


Rose Friedman, sobre a importância da liberdade de
produção para os consumidores obterem a liberdade
de uma variedade de opções para comprar é o Livre
para escolher (capa ao lado).

FONTE: h://images-na.ssl-images-amazon.com/
images/I/61Tr1adQQILttps.SY344_BO1,204,203,200_
QL70_ML2_.jpg. Acesso em: 14 jun. 2022.

Assista, ainda, a um pequeno trecho de uma entrevista de


Milton Friedman na qual ele cita a importância da sociedade de livre
mercado: https://www.youtube.com/watch?v=jfdZ2L78qsw.

Uma opção seria os empreendedores demandarem diretamente para com os


poupadores por sua poupança, prometendo-lhes uma remuneração em troca do
tempo de uso do capital inicialmente emprestado. Perceba que nesse caso muitos
poupadores não estariam dispostos a emprestar suas economias. Como verificar
se estamos diante de um bom pagador? E se a pessoa que pegou o empréstimo
desaparecer? O poupador dificilmente investiria recursos para ir atrás do devedor.
É nesse sentido que as instituições financeiras vêm a atuar: como intermediárias
dessa relação.

As instituições financeiras, pela perspectiva do poupador, implicam em duas


garantias contra o risco de vir a emprestar o dinheiro. De um lado, por não ter que
lidar diretamente com os indivíduos que têm o intento de tomar empréstimos. As
instituições financeiras assumem esse risco e, por isso, investem na infraestrutura,
equipamentos e pessoal qualificado para verificar os antecedentes daquele que
está tomando o empréstimo, bem como para tentar (e se dar ao trabalho de)
rastrear e reaver os valores perdidos. Por outro lado, muitos dos ativos que o
poupador opta por adquirir têm a proteção do Fundo Garantidor de Crédito – FGC
(este está detalhado no subtópico mercado de capitais).

Conforme Mankiw (2017, p. 248):

53
SiSTEmA FiNANCEiro

Os intermediários financeiros são instituições financeiras por


meio das quais os poupadores podem de forma indireta ofertar
fundos aos tomadores de empréstimos. A palavra intermediário
reflete o papel dessas instituições, que se situam entre
poupadores e os tomadores. Os bancos são os intermediários
financeiros com os quais as pessoas estão mais familiarizadas.
Um dos principais negócios dos bancos é receber depósitos
das pessoas que querem poupar e usar esses depósitos
para conceder empréstimos a pessoas que os desejam. Os
bancos pagam aos depositantes um juro sobre seus depósitos
e cobram dos tomadores um juro ligeiramente superior. A
diferença entre essas taxas de juros cobre os custos bancários
e rende um lucro aos proprietários dos bancos.

Vamos entender melhor essa questão da diferença entre as taxas de


juros que os poupadores recebem e aquelas pagas pelos bancos. Primeiro, é
importante entender que pagar um prêmio para os indivíduos que estão poupando
é uma forma das instituições financeiras estimularem os agentes superavitários
da economia a deixarem suas economias com essas instituições. Dessa forma,
as instituições financeiras contam com diversos ativos, a fim de oferecer a seus
potenciais clientes um leque de opções e, assim, abarcar uma maior quantidade
de poupadores. Para citar alguns exemplos temos desde caderneta de poupança
até CDB, LCA (estes no linguajar financeiro são os depósitos a prazo) e muitos
outros. Todos estes envolvendo a combinação de risco e liquidez.

Conforme Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 146):

Um ativo é algo capaz de produzir um fluxo de dinheiro para


seu proprietário. Uma casa, um prédio de apartamentos, uma
caderneta de poupança ou ações da General Motors são ativos.
Uma casa, por exemplo, você pode alugá-la, obtendo assim
um fluxo monetário. Um outro tipo de pagamento explicito é
o dos dividendos do capital acionário: a cada três meses o
proprietário de ações da General Motors recebe o pagamento
de um dividendo trimestral. Em outros casos, o fluxo monetário
decorrente da propriedade de um ativo é implícito; ele toma
a forma de um aumento ou de diminuição no preço ou no
valor do ativo. Por exemplo, à medida que a população de
uma cidade aumenta, o valor de um prédio de apartamentos
pode aumentar. O preço das ações varia a cada dia e, a cada
variação, seus proprietários ganham ou perdem.

O risco, nesse caso, está relacionado ao risco do banco. Um banco maior,


com maior capital, tem uma menor chance de quebrar. Dessa forma, pelo lado do
risco, o CDB de um banco menor tende a ter taxas de retornos maiores, de forma
a compensar seu maior risco. A liquidez remete à velocidade com que um ativo
pode ser transformado no papel moeda local. Isso porque a palavra “liquidez”,
conforme Blanchard (2011), remete à capacidade que um ativo tem de ser
aceito como meio de pagamento. Nesse sentido, o papel moeda possui liquidez

54
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

imediata, por possuir aceitação plena por parte dos indivíduos e estabelecimentos
da economia. Dessa forma, o papel moeda (o dinheiro) se trata do ativo de
maior liquidez. A liquidez dos demais ativos da economia passa, então, a ser a
capacidade que o ativo tem de se transformar em papel moeda.

Títulos como o CDB, que tem em sua propaganda dizendo “liquidez


imediata”, têm na realidade do dia a dia das corretoras o chamado D+2 de liquidez
(o “dia” que você vendeu o ativo mais dois para poder sacar da corretora para
uma conta corrente) e alguns CDBs, que possuem liquidez de três meses ou um
ano (a compensação por adquirir um CDB de baixa liquidez é refletida em um
maior retorno esperado em juros desse ativo). No caso de um imóvel, um custo
implícito por optar por este ativo é sua baixa liquidez que, em um momento de
aperto financeiro, pode obrigar seu proprietário a diminuir consideravelmente o
preço do imóvel na tentativa de transformá-lo em papel moeda de forma mais
rápida.

As questões relacionadas à liquidez serão trabalhadas na seção 3. Já os


depósitos a prazo, como CDBs, serão aprofundados na subseção 3.4, na qual
aprenderemos sobre o mercado de capitais; e, na seção 4, serão apresentados
exemplos. As questões relacionadas às diferentes formas de risco serão discutidas
na seção 5.

Por enquanto, precisamos apenas ter em mente que os juros são a forma
das instituições financeiras atraírem mais agentes superavitários da economia
(poupadores que poderiam guardar o dinheiro embaixo do colchão), de modo que
a instituição financeira terá mais dinheiro disponível para realizar empréstimos.

A Figura 1 mostra essa relação. A diferença entre os juros recebidos pelo


banco, pelos empréstimos realizados pelos agentes deficitários da economia,
e os juros pagos pelo banco para os poupadores (a remuneração por deixar o
dinheiro com os bancos) é chamada de spread bancário. Essa remuneração paga
os custos administrativos e despesas operacionais, e remunera os bancos.

55
SiSTEmA FiNANCEiro

FIGURA 1 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

FONTE: Adaptada de: https://th.bing.com/th/id/R.682acef74acaa7a14452d96cad5


8e1b7?rik=fnEK%2beA6PvC6uA&pid=ImgRaw&r=0. Acesso em: 25 jun. 2022.

Para os poupadores, então, uma vez decidido por poupar e alocar seus
recursos no sistema financeiro, seus questionamentos passam a ser em torno de
quais opções de renda fixa e variável alocar. Perpassa pela cabeça do poupador
questões como: “qual a melhor forma de alocar meus recursos? Quais os riscos
envolvidos? Qual a liquidez de cada ativo?”.

A Figura 5, na seção 4, traz um exemplo do que considerar ao investir em


renda fixa, mais especificamente um CDB. A respeito do exemplo da Figura 5
são discutidas questões sobre a liquidez. Na leitura complementar do capítulo há
uma discussão sobre o cálculo da rentabilidade deste exemplo. Sobre a renda
variável são discutidas as questões de como calcular e se uma ação está barata
ou não frente a alguns indicadores da empresa. Por hora, vamos nos voltar para
os diferentes mercados existentes na economia.

3 MERCADOS: MONETÁRIO, DE
CRÉDITO, DE CAPITAIS E DE
CÂMBIO
Nessa seção trataremos dos quatro principais mercados que compõem
o sistema financeiro nacional, isto é, os mercados: monetário, creditício, de
capitais e cambial. Para tanto, estes estão subdivididos nas quatro subseções

56
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

a seguir, na quais discutiremos sobre o que é cada mercado e como as políticas


governamentais podem atuar sobre cada um.

3.1 MERCADO MONETÁRIO


Esta subseção discute o equilíbrio no mercado monetário. Quando estamos
falando no equilíbrio em qualquer mercado, estamos falando da igualdade entre
a oferta e a demanda dentro daquele mercado. No caso do mercado monetário,
o equilíbrio remete à igualdade entre a oferta de moeda circulante na economia e
a demanda dos diferentes agentes da economia para suas transações (MANKIW,
2017).

Entretanto, o que acontece nesse mercado quando ocorre um desequilíbrio


entre a oferta e a demanda por moeda? E quais os mecanismos que podem
desencadear esse desequilíbrio? Para responder a estas questões vamos analisar
a oferta e a demanda no mercado monetário separadamente. Começaremos pelo
lado da oferta.

A oferta de moeda é, conforme Mishkin (2000), a quantidade de moeda que


está em circulação na economia. É a quantidade de moeda que foi disponibilizada
para os bancos comerciais e, através destes, para o restante das instituições e
agentes econômicos da economia.

O Banco Central pode aumentar a oferta de moeda de duas formas. Uma


pela impressão de moeda; e outra pela utilização de três importantes ferramentas
da política monetária: a taxa de redesconto, a taxa de compulsório e atuando na
compra e venda de títulos públicos no mercado aberto.

As ferramentas da política monetária são, na verdade, formas de atuação do


Banco Central para aumentar ou restringir a circulação da quantidade de moeda
ofertada que já foi injetada na economia. Estas três nós analisaremos, com
detalhe, no Capítulo 3, e não são propriamente o aumento da oferta de moeda
em circulação. Essa alteração da quantidade de moeda em circulação se dá pela
simples impressão de moeda.

O problema é que a experiência histórica dos diferentes países já demonstrou


que quando a quantidade de dinheiro (papel colorido impresso pelo Banco Central)
em circulação aumenta, mas a quantidade de produtos e serviços existentes na
economia (a oferta de produtos e serviços) não se altera ou não aumenta em uma
proporção e velocidade igual ao aumento da demanda por produtos e serviços
(com mais dinheiro nas mãos das pessoas esse aumento é rápido, muito diferente

57
SiSTEmA FiNANCEiro

do aumento na produção), a consequência inevitável são os diferentes agentes


econômicos começarem a aumentar seus preços.

Esse aumento generalizado dos preços é o efeito econômico chamado


de inflação. A inflação distorce a capacidade de previsibilidade de longo prazo
dos agentes econômicos, sendo, assim, muito mais prejudicial para a pequena
empresa e para indivíduos de baixa renda.

É comum cada nação, região ou organização internacional utilizar alguns


índices de inflação com base em uma cesta de produtos e serviços de amplo
consumo. No caso do Brasil, os principais índices para medir o aumento de preços
na economia são o IPCA, o INPC e o IGP.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA é o mais comum dos


índices de inflação, pois é considerado o índice do Governo Federal. Já o IPCA
corresponde ao índice Nacional de Preços ao Consumidor. A diferença entre
eles é que o IPCA engloba uma parcela maior da população, visto que aponta
a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de um a 40
salários-mínimos; enquanto o INPC verifica a variação do custo de vida médio
apenas de famílias com renda mensal de um a cinco salários-mínimos. Esses
grupos são mais sensíveis às variações de preços, pois tendem a gastar todo o
seu rendimento em itens básicos, como alimentação, medicamentos, transporte
etc. Os índices, portanto, levam em conta não apenas a variação de preço de
cada item, mas também o peso que ele tem no orçamento das famílias (IBGE,
2022).

A cesta de produtos e serviços que compõe tanto o IPCA quanto o INPC é


definida pela Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, do IBGE, que, entre
outras questões, verifica o que a população consome e quanto do rendimento
familiar é gasto em cada produto: arroz, feijão, passagem de ônibus, material
escolar, médico, cinema, entre outros (IBGE, 2022).

De acordo com a Soma Investimentos (2021), o Índice Geral de Preços – IGP


é calculado pela Fundação Getúlio Vargas – FGV e foi criado para abranger outros
setores da economia que não o do consumidor, mas o do atacado e da construção
civil. Ele é composto por outros três indicadores, sendo 60% composto pelo Índice
de Preços ao Atacado – IPA, 30% pelo Índice de Preços ao Consumidor – IPC e
10% pelo Índice Nacional de Custo da Construção Civil - INCC.

Por sua composição, o IGP engloba diferentes etapas do processo produtivo,


sendo bastante influenciado pelo aumento nos preços do atacado. Esse indicador
é muito utilizado como indexador de contratos – como de aluguel de imóveis, por
exemplo (SOMA INVESTIMENTOS, 2021).

58
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Sobre a inflação, veja uma explicação complementar no vídeo:


https://www.youtube.com/watch?v=1ulzj3dJ4EA&t=154s. Este
vídeo está bem completo e abarca assuntos que trataremos mais
adiante.
Uma dúvida comum entre os estudantes a respeito da inflação é
o motivo de os preços continuarem a aumentar no mercado quando o
jornal anuncia uma redução na taxa de inflação. Com relação a isso,
assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=G8FTa8i5ToQ.

Dessa forma, dado que um dos principais objetivos da política monetária é


(ou deveria ser) o controle da inflação, uma política monetária de impressão de
moeda não é, segundo a maioria dos economistas, recomendada. Sendo assim, a
oferta de moeda tende a ser fixa no curto prazo, no qual o Banco Central procura
apenas repor cédulas e moedas antigas e gastas.

O aumento da oferta de moeda deve ser eventual à medida que outros fatores
de longo prazo da economia mudam, como aumento populacional e aumento da
produção de bens e serviços decorrentes do aumento da produtividade e do nível
de renda da população (maior renda per capita, maior o consumo).

Note que todos os fatores de longo prazo citados significam mudanças em


períodos de cinco a dez anos (longo prazo). Dessa forma, no curto prazo, dado
que a oferta de moeda na economia é fixa, são alterações pelo lado da demanda
por moeda que implicam em desequilíbrios no mercado monetário.

A demanda por moeda é a quantidade de moedas que as pessoas desejam


manter em mãos para suas transações e para precaução (seja por receio de
deixar em instituições financeiras, seja para transações não previstas que podem
ocorrer no médio prazo). Contudo, que fatores afetam a demanda por moeda?
Nós já falamos um pouco a respeito quando tratamos da relação do prêmio que a
taxa de juros significa para os agentes econômicos renunciarem à liquidez, isto é,
o prêmio para renunciarem ao seu desejo de reterem moeda em mãos para suas
transações.

De acordo com Mankiw (2017), a taxa de juros é o custo de oportunidade de


reter moeda. Quando você mantém riqueza na forma de moeda no bolso, no lugar
de um título que rende juros, perde os juros que poderia ganhar. Dessa forma, um
aumento na taxa de juros eleva o custo de se reter moeda e, consequentemente,

59
SiSTEmA FiNANCEiro

reduz a quantidade de moeda demandada. Já uma queda na taxa de juros reduz


o custo de se reter moeda e aumenta a quantidade demandada por moeda.
É o mecanismo de ajuste da taxa de juros que afeta as decisões dos agentes
econômicos por demandarem mais ou menos moeda.

Uma inferência que você deve fazer é que, quando nos referimos às taxas
de juros, estamos falando de todas as taxas de juros dos diferentes títulos.
Todas estas acompanham os movimentos de subida e decida que descrevemos
anteriormente.

A taxa de juros Selic é a taxa básica de todas as taxas de juros oferecidas


pelos títulos, sejam estes títulos públicos ou ativos do sistema bancário, como
CDBs, LCA, LCI etc. O quanto as demais taxas de juros dos demais títulos variam
em relação à Selic depende de fatores como risco da instituição financeira (um
CBD de um banco menor, por exemplo, apresenta maior risco), se o título possui
liquidez imediata ou qual o período em que se deve abrir mão da liquidez para
manter este título etc.

Os papéis que lastreiam as operações do mercado monetário


caracterizam-se pelos reduzidos prazos de resgate e alta
liquidez. É um mercado de curto e curtíssimo prazos,
sendo ainda responsável pela formação das taxas de
juros da economia (taxa Selic e taxa DI). São negociados,
principalmente, os papéis emitidos pelo Tesouro Nacional, com
o objetivo de financiar o orçamento público (ex.: NTN – Notas do
Tesouro Nacional; LTN – Letras do Tesouro Nacional), além de
diversos títulos públicos emitidos pelos Estados e Municípios.
São ainda negociados no mercado monetário os certificados
de depósitos interfinanceiros (CDI), exclusivamente entre
instituições financeiras, e títulos de emissão privada, como o
certificado de depósito bancário (CDB) e debêntures (ASSAF
NETO, 2015, p. 95).

Note que a citação anterior menciona “taxas DI” e “certificados


de depósitos interfinanceiros (CDI)”, que são títulos exclusivamente
negociados entre bancos. Vamos entender o que é isso? Qual a
relação entre a Selic e a taxa DI? Assista aos vídeos a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=XfQpHt9EvSo.
https://www.youtube.com/watch?v=6hDHvr-8Ofo.

OBS: voltaremos a tratar da igualdade ou proximidade das


taxas Selic e DI (ou no popular do dia a dia das corretoras “taxa
CDI”, embora tecnicamente esteja incorreto) novamente quando
estudarmos produtos de renda fixa.

60
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Para entender essas relações entre as taxas de juros da economia temos de


entender o papel da taxa de juros Selic. Vamos explorar esse mecanismo.

Dos diferentes ativos que os agentes econômicos podem adquirir para ganhar
uma remuneração, existem aqueles que são emitidos pelo governo de cada país.
São os chamados “títulos públicos”, que são títulos de dívidas do governo. Por
que dívida? Porque o estado emite um título em um determinado valor (preço) e
oferece uma remuneração (os juros) para aqueles que adquirirem estes títulos. O
estado se compromete a pagar toda aquela remuneração ao término do contrato
(essas questões de período do título e taxa de remuneração têm de estar bem
claras na “emissão” do título).

Com relação ao que é dívida pública e o que são títulos da


dívida pública, assista:
https://www.youtube.com/watch?v=FmSqT_mnZNg.

Alguns países são mais sólidos em termos de seu histórico de bom pagador,
outros nem tanto. Esse aspecto entra no chamado “risco-país”, bem como
outros como a estabilidade jurídica (principalmente no que se refere a direitos
de propriedade) e política (um país que a cada poucas décadas sofre golpes de
estado é menos confiável).

Dica: um exemplo brasileiro de “risco-país” foi o “plano Collor” de


estabilização da inflação. É interessante para você saber a respeito,
pois foi uma ruptura de um direito de propriedade tão fundamental
quanto a livre movimentação dos indivíduos sobre suas economias,
que gerou uma desconfiança por parte dos brasileiros na solidez das
intermediações financeiras que persiste até hoje. Note que para haver
intermediação financeira se deve, primeiro, haver a tranquilidade por
parte dos indivíduos no funcionamento do sistema financeiro, isto é,
no direito de propriedade do indivíduo sobre seus próprios recursos
e o respeito destes direitos por parte das diferentes instituições que
compõem a economia. Sobre o Plano Collor, assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=dIVfCA46gV4.

61
SiSTEmA FiNANCEiro

Quanto mais atrativos os títulos de um país, dado seu histórico de respeito


aos direitos de propriedade e à estabilidade institucional, menor precisa ser a
taxa de juros básica dessa economia para os diferentes agentes econômicos se
sentirem “atraídos” a adquirirem esses títulos.

Nesse momento você pode se perguntar: “tudo bem, entendi a questão de


ser um título de dívida e que há uma remuneração. Contudo, por que a taxa de
juros dos títulos federais é considerada a taxa básica da economia?”.

Isso acontece porque dentro de qualquer país os títulos de menor risco são
os títulos da federação. Isso porque qualquer instituição privada dentro desse país
tem uma capacidade de solvência menor do que o próprio país. Afinal, o país
tributa sua população, tem uma arrecadação garantida, e não vai deixar de existir.
Já um banco pode vir a deixar de existir.

Dessa forma, os próprios bancos privados, sejam estes grandes ou


pequenos, que também emitem seus próprios títulos para atrair os poupadores
para depositarem seus recursos, procuram ter títulos da dívida pública para
mostrar aos outros bancos que são sólidos.

Imagine que um banco pequeno precise honrar compromissos e precise


de um empréstimo, pois acabou seu estoque de papel moeda. Ele pode pedir
emprestado de outro banco, dando como garantia títulos da dívida pública que
adquiriu ao longo do tempo. Dessa forma, a taxa “básica” ou “basilar” de qualquer
país é a taxa de juros dos títulos de dívida pública que os países emitem. Todas
as demais taxas de juros dentro de uma economia passam a ser calculadas a
partir da taxa de juros do título público.

Nesse caso, os fatores tradicionais são considerados para saber quanto


maior será a taxa de juros do título dessa entidade privada em relação à taxa de
juros básica. Por fatores tradicionais entenda o tamanho da instituição e, portanto,
maior segurança da sua capacidade de pagamento (Isto é, menor risco); tempo
em que o poupador ficará com o título e a instituição com o dinheiro do poupador;
ou, ainda, a liquidez do título, entre outros.

Perceba, então, que, uma vez que os juros dos títulos públicos são a “base”
das diferentes taxas de juros de todos os ativos que existem em um país, se esta
taxa de juros for elevada acarretará uma pressão para a elevação de todas as
taxas de juros da economia; bem como se as autoridades monetárias quiserem
induzir uma redução das taxas gerais de juros, basta sinalizarem a redução das
taxas de juros dos títulos federais.

62
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Assista ao vídeo sobre a Selic no link a seguir: https://www.


youtube.com/watch?v=WBNkhIaY7gc.

Isto posto, no curto prazo são as oscilações do lado da demanda por moeda,
isto é, da liquidez da economia, que os Bancos Centrais devem focar as metas
de taxas de juros da Selic. Dessa forma, a atuação do banco central na política
monetária é uma atuação sobre a liquidez da economia.

As principais metas da política monetária é, de um lado, a manutenção


da estabilidade e a manutenção do poder de compra da moeda; e, de outro, o
estímulo do produto e do emprego. Conforme pode ser visto na Figura 2, o efeito
da política monetária desde a decisão realizada pelo Comitê de Política Monetária
– COPOM é de, em média, seis a nove meses.

FIGURA 2 – HORIZONTE DE TRANSMISSÃO DOS


EFEITOS DO JURO BÁSICO NA INFLAÇÃO

FONTE: https://www.bcb.gov.br/content/controleinflacao/Infograficos_controleinflacao/
Info-Controle-politicamonetariaeomeubolso-v2.png. Acesso em: 14 jun. 2022.

63
SiSTEmA FiNANCEiro

Segundo Bacen (2022), os mecanismos de transmissão da política


monetária são os canais por meio dos quais mudanças na taxa Selic afetam
o comportamento de outras variáveis econômicas, principalmente preços e
produto. A política monetária afeta os preços da economia através dos seguintes
mecanismos de transmissão: (i) da decisão entre consumo e investimento das
famílias e empresas; (ii) da taxa de câmbio; (iii) do preço dos ativos; (iv) do crédito;
e (v) das expectativas.

Esses mecanismos de transmissão decorrentes da política monetária podem


ser visualizados na Figura 3, que mostra uma série de cenários exemplificativos.
Observe que todos estes casos partem da análise de uma política monetária
expansionista.

64
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

FIGURA 3 – CANAIS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA

FONTE: https://www.bcb.gov.br/content/controleinflacao/Infograficos_
controleinflacao/VF_ajuste_info_canais_de_transmissao_da_politica_
monetaria_br_0509_2021.png. Acesso em: 14 jun. 2022.
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SiSTEmA FiNANCEiro

A política monetária expansionista é adotada quando a inflação se encontra


sob controle, de forma que há espaço para estimular a economia com expectativas
da manutenção dessa inflação.

De acordo com Froyen (1999), uma política monetária expansionista visa


estimular a liquidez da economia, de forma que os agentes econômicos demandem
mais moeda para transações, estimulando o consumo e o investimento.

Note que a Figura 3 menciona os juros reais no canal de investimento e


consumo. A taxa de juros reais é, conforme Blanchard (2011), a taxa de juros
nominal menos a taxa de inflação do período. São utilizados os juros reais nas
análises porque se supõe que os agentes econômicos são racionais, de forma
que percebem a corrosão de suas economias pela inflação, bem como a corrosão
de investimentos ruins que não cobrem sequer a taxa de inflação do período.

Com relação aos efeitos da redução da taxa de juros no câmbio, tenha em


mente que o capital estrangeiro, ao estar considerando investir em um país, leva
em conta duas coisas: o risco-país e o prêmio (juros) que terá ao investir.

O risco-país é como a compostura de uma pessoa: ela leva tempo para


ser construída. Imagine alguém que vivia nos bares e, então, decide começar a
acordar cedo, tomar seu banho e ir vender livros ou morangos. Seus vizinhos
admirarão sua mudança de rumos, mas com certeza irão querer saber se esta
mudança é estrutural, se tem bases sólidas, e se realmente resistirá ao tempo;
também se ele estará de volta aos bares todos os dias em uma semana. A análise
para com o risco-país é análoga.

Os investidores estrangeiros, ao analisarem o risco-país, analisam a


estabilidade da estrutura legal do país (alguns contratos de investimento
estrangeiro direto no setor produtivo são contratos de 30 anos, em que o
investimento inicial começa a dar retorno entre cinco e dez anos), isto é, a
segurança e estabilidade em termos de direitos de propriedade. Também se
considera o histórico de estabilidade política.

Dessa forma, no curto prazo, em termos de entrada de capital estrangeiro,


o que importa são as variações na taxa de juros, pois o risco é uma análise que
influenciará a entrada ou a saída de capitais a longo prazo.

A política monetária contracionista segue o raciocínio inverso da política


monetária expansionista. Nas suas autoatividades, há uma questão dissertativa
para você responder pedindo a análise no caso de uma política monetária
contracionista. Com o auxílio da Figura 3, tente resolvê-la.

66
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Nessa seção trabalhamos o equilíbrio do mercado monetário e como atua a


política monetária. Na próxima seção exploraremos como funciona o mercado de
crédito.

3.2 MERCADO DE CRÉDITO


De acordo com Assaf Neto (2015), as operações do mercado de crédito são
realizadas por instituições financeiras bancárias (bancos comerciais e múltiplos),
para suprir as necessidades de caixas de curto e médio prazos dos vários agentes
econômicos, seja por meio da concessão de crédito às pessoas físicas, seja por
empréstimos e financiamentos às empresas.

Conforme Machado (2015, p. 23), “Mercado de crédito – segmento que


assiste as necessidades de crédito no curto, médio e longo prazos. Negocia,
principalmente, o financiamento de bens duráveis, investimentos e o capital de
giro das empresas, além do consumo”.

Uma operação de crédito consiste, conforme Ferreira (2014), no suprimento


de recursos aos participantes do mercado de crédito, no qual estes participantes
estão desprovidos de recursos. Esta transação naturalmente apresenta um custo
que é a taxa de juros, isto é, o preço pelo uso imediato do dinheiro que não
pertence a esses participantes, e é pago a quem concede o crédito e, portanto,
posterga o uso dos recursos para consumo, intermediado pelas instituições
financeiras.

Podemos destacar dentre as formas de crédito os empréstimos, os


financiamentos e os descontos. Os empréstimos são operações de crédito nas
quais não há a obrigatoriedade de comprovação da aplicação dos recursos ou
mesmo de qualquer destinação específica. Exemplos destes são os empréstimos
pessoais e das operações de capital de giro que viabilizam a cobertura de déficits
de caixa ou de orçamentos familiares.

Já os financiamentos são operações de crédito que apresentam destinação


específica e exigem a comprovação da aplicação dos recursos. Exemplos destes
são a aquisição de máquinas, equipamentos e financiamentos imobiliários. Os
descontos são operações de antecipação de recursos que ocorrem quando as
instituições financeiras recebem os títulos (cheques pré-datados ou duplicatas)
e fornecem o valor desses títulos descontados a uma determinada taxa de juros
(FERREIRA, 2014).

67
SiSTEmA FiNANCEiro

Sobre os descontos, complementa Assaf Neto (2015, p. 108):

Por exemplo, se o credor de uma duplicata, cujo vencimento


se dará em alguma data futura, necessitar do dinheiro, poderá
negociá-la junto a um banco, isto é, receber à vista o valor de
seu crédito mediante o pagamento de alguma compensação
financeira. O valor liberado ao tomador é inferior ao valor
nominal (valor de resgate) dos títulos, em razão da cobrança
antecipada dos encargos financeiros, caracterizando assim a
operação de desconto bancário.

Dica: assista ao vídeo a seguir sobre o mercado de crédito. Nele


você verá as diferentes categorias de crédito. A definição de muitas
dessas formas de crédito já foi trabalhada no Capítulo 1: https://www.
youtube.com/watch?v=OMgTGLj2Ldg.

Uma vez entendido o conceito de mercado de crédito cabe a nós agora


explorarmos o significado de políticas creditícias. Um aspecto importante a ser
delimitado é a diferença entre política monetária e política de crédito. Isso porque
um questionamento comum que você pode fazer é: “mas se a política monetária
estimula ou desestimula os tomadores de empréstimos e poupadores, esta não
seria por si só uma política creditícia?”.

A resposta é que a delimitação “política creditícia” é mais uma extensão


da política monetária. Isso porque a política monetária tem seus efeitos
“generalizados” para toda economia, enquanto a política creditícia tem um caráter
mais particular, direcionado a um setor ou segmento.

Isto é, uma vez dada a política monetária (o nível de crédito geral da


economia), as autoridades governamentais podem atuar de forma específica,
estimulando que uma fatia do papel moeda em circulação na economia seja
destinada a produtos de empréstimos (crédito) específicos ou faixa de renda
da população específica, por meio das carteiras que os bancos possuem. Por
exemplo, boa parte do crédito habitacional é oferecido pela caixa econômica.

Dessa forma, uma política de crédito habitacional (note o caráter específico)


perpassa pelas caixas econômicas. Já uma política de crédito agrícola perpassa
pelos bancos múltiplos e cooperativas de crédito; antigamente, esta era oferecida
principalmente pelo Banco do Brasil.

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Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Um exemplo de crédito direcionado é o Programa Nacional de


Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. Note que o caráter
de direcionamento do crédito é dado por dois eixos. De um lado por
ser destinado ao crédito rural, e de outro para o pequeno agricultor.
Assista ao vídeo a seguir e entenda o PRONAF:
https://www.youtube.com/watch?v=K1PTLErzDLo.

Com isso fechamos nosso estudo sobre o mercado de crédito. Vamos agora
entender o funcionamento do mercado de câmbio.

3.3 MERCADO DE CÂMBIO


Esse mercado, conforme Selan (2014), se refere à oferta e à demanda de
uma moeda estrangeira em termos de moeda nacional (ou moeda doméstica, no
economês). É importante ter em mente que a moeda de uma economia é um
produto negociável no mercado, de forma que o maior (ou menor) interesse na
aquisição de determinada moeda estrangeira em relação à quantidade de moeda
nacional determina seu preço.

Isto é, o equilíbrio no mercado cambial se dá ao preço em que a oferta


de moeda estrangeira (dentro do Brasil, por exemplo) é igual à demanda dos
diferentes agentes econômicos nacionais por moeda estrangeira. Caso a
demanda por moeda estrangeira seja maior que a oferta, temos uma pressão
para a valorização da moeda estrangeira e, de forma análoga, caso a demanda
por moeda estrangeira seja menor da mesma disponível no país (sua oferta), há
uma desvalorização da moeda estrangeira frente a moeda nacional.

Mas, afinal, qual a importância do mercado de câmbio para a economia? De


acordo com Assaf Neto (2015, p. 138):

Esse mercado reúne todos os agentes econômicos que


tenham motivos para realizar transações com o exterior, como
operadores de comércio internacional, instituições financeiras,
investidores e bancos centrais, que tenham necessidades de
realizar exportações e importações, pagamentos de dividendos,
juros e principal de dívidas, royalties e recebimentos de capitais
e outros valores.

69
SiSTEmA FiNANCEiro

Segundo Mankiw (2018), esse preço relativo das moedas correntes entre dois
países é chamado de taxa de câmbio nominal. No Brasil, essa taxa é expressa
em unidade de moeda nacional (Real) por unidade de moeda estrangeira (dólar,
euro etc.). Também existe a taxa de câmbio real, menos utilizada no dia a dia das
pessoas, mas importante na análise dos preços relativos dos bens de dois países.
Isto é, a taxa de câmbio real informa a taxa em que podemos trocar bens de um
país por bens de outro país específico.

Assista aos vídeos a seguir para compreender a taxa de câmbio:


https://www.youtube.com/watch?v=cVdy_tQn1Mw&t=303s.
https://www.youtube.com/watch?v=m81TCeDTLok&t=186s.

Uma vez que a taxa de câmbio expressa a quantidade de moeda nacional


necessária para a aquisição de uma unidade de moeda estrangeira, uma elevação
da taxa de câmbio significa uma desvalorização (ou depreciação) do Real, pois
“se elevou” a quantidade de reais necessária para a aquisição de uma unidade
da moeda estrangeira. De forma análoga, quando a taxa de câmbio diminui
significa uma valorização (ou apreciação) do Real frente às moedas estrangeiras.
Quando a moeda corrente interna se aprecia, ela compra mais da moeda corrente
estrangeira (BLANCHARD, 2011).

O sistema de taxa de câmbio de um país pode ser de três formas: taxa


de câmbio fixa, taxa de câmbio flutuante e taxa de câmbio com flutuação suja.
A taxa de câmbio fixa, conforme Blanchard (2011), ocorre quando o Banco
Central do país fixa o valor da moeda nacional em termos das principais moedas
internacionais. Para manter esta paridade, o Banco Central é obrigado a estar
constantemente injetando moeda estrangeira na economia, à medida que seus
cidadãos demandam moeda estrangeira para suas transações. Com o tempo,
isso pode exaurir as reservas internacionais do país, de forma que a manutenção
de uma taxa de câmbio fixa seja uma política limitada.

A taxa de juro flutuante, discorre Selan (2014), ocorre quando não há


intervenção do Banco Central, de forma que o valor do câmbio é determinado
pelas forças de mercado, se ajustando sobre uma base contínua em resposta às
condições de oferta e demanda dessa moeda. Já a taxa de câmbio flutuante suja
é quando o país adota a taxa de câmbio flutuante, mas eventualmente intervém, a
fim de evitar oscilações bruscas.

70
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

A maioria dos países adota a taxa de câmbio flutuante suja, isso porque
mais importante do que a mudança de valor da moeda doméstica em termos
de moeda estrangeira é a magnitude desta mudança. Em momentos de crises
essas oscilações bruscas podem pegar os agentes que negociam entre países
de surpresa, e tornarem inviável sua atuação ou incorrer em grandes perdas. Isso
sem falar no próprio horizonte de previsibilidade do governo e de suas contas.

Note que, aqui, já estamos descrevendo a política cambial. Qual a política


cambial que será adotada pelo país? Câmbio fixo ou flutuante? O Brasil, por
exemplo, como descrito em Souza (2012), na implantação do Plano Real, em
1994, adotou inicialmente como política cambial o câmbio fixo de 1 Real = 1 dólar,
e depois estabeleceu uma meta de bandas cambiais, na qual o valor do Real
pudesse variar dentro de um “teto” e um “piso”. Essa política cambial de câmbio
fixo dentro de bandas ficou conhecida como “âncora cambial” na implementação
do Plano Real. Posteriormente, em 1999, o Brasil abandonou a política de câmbio
fixa e adotou a flutuação suja.

icou curioso a respeito da Odisseia que foi a


implementação do Plano Real? Tem um filme
completo sobre o assunto disponível no YouTube.
Você pode preparar uma pipoca e pegar seu suco
favorito e assistir ao filme que conta a história da
implementação do Plano Real, chamado “REAL: O
PLANO POR TRÁS DA HISTÓRIA”.

Link: https://www.youtube.com/
watch?v=ZNfT0WXXjpA.

FONTE: https://br.web.img3.acsta.
net/c_310_420/pictures/17/04/18/22/40/571766.
jpg. Acesso em: 14 jun. 2022.

Terminamos aqui nossa discussão a respeito do mercado de câmbio. Vamos


agora nos voltar para o mercado de capitais, na seção a seguir.

71
SiSTEmA FiNANCEiro

3.4 MERCADO DE CAPITAIS


O mercado de capitais, assim como o mercado monetário, de crédito e de
câmbio, tem como função básica aproximar poupadores de recursos financeiros,
que buscam por segurança, rentabilidade, valorização, proteção e liquidez, dos
tomadores de recursos financeiros em suas necessidades de financiamento das
atividades (SILVA et al., 2017).

Dito de outra forma, é onde realmente os poupadores (investidores) e os


empresários (empreendedores) se encontram. Diz respeito à aquisição de títulos
de rendas fixa e variável por parte dos poupadores, sejam estes de entidades
privadas ou entidades públicas. Nas palavras de Silva et al. (2017, p. 119):

O mercado de capitais: é onde está concentrada toda a rede de


bolsa de valores e instituições financeiras que operam com a
compra e venda de ações e títulos de dívida em geral, sempre
no longo prazo. Esse mercado atua no financiamento do capital
de giro e do capital fixo das sociedades anônimas de capital
aberto. O mercado de capitais tem a função de canalizar as
poupanças da sociedade para a indústria, o comércio e outras
atividades econômicas e até mesmo para o governo.

Segundo Assaf Neto (2015), as operações do mercado de capitais são


de médio e longo prazos, bem como de prazo indeterminado, envolvendo
títulos representativos do capital das empresas e de operações de crédito sem
intermediação financeira. Os principais títulos e valores mobiliários no mercado
de capitais são os derivados do capital das empresas (isto é, as ações), e os
representativos de empréstimos realizados através do mercado, como debêntures
e comercial papers.

Em termos de importância, enquanto política econômica, este é mais sutil.


Sua importância está mais na sobriedade ou no bom desenvolvimento das
relações entre poupadores e tomadores de empréstimos. De acordo com Assaf
Neto (2015), o mercado de capitais assume um papel relevante no processo de
desenvolvimento econômico ao prover os recursos permanentes para a economia,
em virtude da ligação que efetua entre os que têm capacidade de poupança, isto
é, os investidores; e aqueles carentes de recursos de logo prazo, ou seja, que
apresentam déficit de investimento.

Observe, então, que a soma total de ativos disponíveis na economia se divide


principalmente entre títulos ofertados pelo Governo Federal, pelas empresas do
setor financeiro e pelas empresas do setor produtivo. Os títulos públicos compõem
os títulos de dívida do Governo Federal que no popular se cunhou de “títulos
do tesouro direto”. Já os títulos oferecidos pelas instituições financeiras são

72
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

conhecidos como CDBs, LCA, LCI etc., bem como as ações da própria instituição.
As empresas do setor produtivo oferecem as ações da empresa e as debêntures.

Na quarta seção deste capítulo aprofundaremos como funciona a


rentabilidade dos ativos, focando nas diferenças existentes dentro da renda fixa.
No momento vamos procurar entender algumas características e o que são cada
um dos títulos mencionados no parágrafo anterior, exceto os títulos públicos, pois
já o conceituamos em seções anteriores.

Uma ação, conforme Mankiw (2017), representa propriedade da empresa


e, portanto, um direito sobre os lucros que a empresa obtém. O intento de uma
empresa ao oferecer ações no mercado aberto é levantar fundos para financiar
seu crescimento, como a construção de novas fábricas ou a aquisição de novos
maquinários e equipamentos.

Mas qual o valor de uma ação? Bom, aqui precisamos ter dois momentos
em mente. O momento em que a empresa lança as ações e o momento logo em
seguida ao lançamento. Para poder emitir ações, uma empresa precisa primeiro
se tornar uma empresa de sociedade anônima de capital aberto, mais conhecida
pela sigla S.A. (uma empresa LTDA, ou seja, de sociedade limitada, não pode
emitir ações). Uma vez realizada estas questões formais sobre a sociedade
empresarial, qual será o valor no momento do lançamento das ações? Este se dá
pelo valor patrimonial da empresa dividido pela quantidade de ações emitidas. Por
exemplo, se o valor patrimonial da empresa for de um milhão de reais e a empresa
emitir 100 mil ações, cada ação valerá R$10,00 no momento de seu lançamento.

Após o lançamento das ações, chamado de Initial public offering (oferta


pública inicial), o preço das ações passou a ser determinado pelas forças de
mercado, ou seja, a relação entre oferta e demanda das ações. A demanda
dependerá das expectativas (estejam estas certas ou erradas) que os agentes
econômicos inferem sobre variáveis, como a projeção de crescimento da empresa
e o nível de endividamento; ou, ainda, no caso de uma empresa já madura, da
expectativa de dividendos que obterá com a ação.

Os dividendos são pagamentos aos acionistas realizados periodicamente


pelas empresas maduras e com um crescimento mais modesto, dado que já estão
consolidadas no mercado e as possibilidades de expansão são mais diminutas.

Isto é, enquanto as empresas com potencial de aquisição de market share


(fatia de mercado ou participação no mercado) são interessantes para os
acionistas, pois aumentar participação significa aumentar seu valor patrimonial e,

73
SiSTEmA FiNANCEiro

por consequência, expectativas de aumento de preços das ações, as empresas já


consolidadas investem menos em sua expansão e mais na distribuição de lucros,
a fim de se manterem atrativas para os acionistas.

As ações podem ser de dois tipos: ordinárias e preferenciais. De acordo com


Assaf Neto (2015, p. 280):

As ações ordinárias são as que comandam a assembleia de


acionistas de uma empresa, conferindo ao seu titular o direito
de voto. Os acionistas ordinários podem eleger e destituir os
membros da diretoria e do Conselho Fiscal da companhia;
decidir sobre o destino dos lucros; reformar o estatuto social;
autorizar emissões de debêntures e aumentos de capital social;
votar contas patrimoniais etc. Cada ação ordinária equivale
a um voto. O poder de decisão concentra-se no investidor
(ou grupo de investidores) que detenha a maior quantidade
de ações. Sociedades que tenham suas ações ordinárias
concentradas nas mãos de um número reduzido de investidores
têm seu controle bastante identificado, dificultando as livres
negociações de mercado e os movimentos dos preços. Uma
maior pulverização das ações, de outro modo, permite que
os investidores (ou grupos) com menor participação acionária
assumam o controle da empresa, incentivando uma maior
participação no capital votante. À medida que o mercado de
capitais se desenvolve, aumenta a quantidade de acionistas
com a maior distribuição das ações entre investidores, exigindo-
se menor concentração no capital votante para se exercer o
controle acionário de uma empresa.

Já as ações preferenciais não atribuem a seu titular o direito de voto, porém


conferem certas “preferências”, como a prioridade no recebimento de dividendos,
geralmente com um percentual mais elevado que o valor das ações ordinárias; e
prioriza também o reembolso do capital na hipótese de dissolução da empresa
para o acionista preferencial. Para este o lucro é mais importante que o controle
da companhia, priorizando a distribuição dos resultados (ASSAF NETO, 2015).

Ficou curioso sobre o IPO? Assista aos vídeos a seguir! O


primeiro é uma explicação a respeito e o segundo demonstra, dentro
da corretora clear, como entrar em um IPO.
https://www.youtube.com/watch?v=m1UxxeQPWzU.
https://www.youtube.com/watch?v=auoF8zSx1ng.

74
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

As debêntures são, de modo genérico, a versão das empresas privadas dos


títulos da dívida pública. De acordo com Assaf Neto (2015), são títulos de dívida
de longo prazo emitidos por empresas que visam capitar recursos destinados
ao financiamento de projetos de investimentos (fixo e giro) ou para alongamento
do perfil de endividamento das empresas. Constitui-se, em essência, num
instrumento no qual o tomador de recursos (emitente do título) promete pagar ao
aplicador (debenturista) o capital investido, acrescido de juros (valor previamente
acertado), em determinada data também previamente acertada.

O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um dos ativos mais conhecidos


do mercado financeiro, oferecido amplamente pelas corretoras de investimentos
e pelos bancos. O objetivo principal desse produto, descreve Selan (2014), é
captar recursos para serem repassados em operações de crédito. Isto é, adquirir
recursos dos poupadores via o prêmio do CDB (seus juros) e emprestar esses
recursos a uma taxa maior para o setor produtivo. Nas aplicações em CDB, há
incidência de imposto de renda sobre o rendimento auferido, dependendo do
prazo da aplicação e/ou resgate, conforme o quadro a seguir:

QUADRO 1 – RELAÇÃO ENTRE TEMPO DE INVESTIMENTO E


IMPOSTO A PAGAR SOBRE SEUS RENDIMENTOS

FONTE: https://blog.toroinvestimentos.com.br/irpf/imposto-de-
renda-cdb-como-declarar. Acesso em: 14 jun. 2022.

Observe que quanto maior o tempo investido em um CDB menor será a


fatia de imposto que você pagará. A contrapartida desse estímulo é o renunciar à
liquidez por mais tempo. Uma confusão comum é achar que incidirá sobre o todo,
ou seja, a soma do capital inicial investido (o valor que você pagou pelo CDB)
mais o rendimento. Isso não acontece, pois as alíquotas incidem somente sobre a
rentabilidade que você obteve no período.

As Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário


(LCI) são títulos de renda fixa que, como o próprio nome diz, são títulos emitidos
por instituições financeiras públicas ou privadas, cuja captação de recursos é
especificamente direcionada para o empréstimo e financiamento de seus setores.
Isto é, crédito específico para o setor do agronegócio e imobiliário.

75
SiSTEmA FiNANCEiro

A remuneração desses títulos pode ser pós-fixada, com base em percentual


do CDI; prefixada; ou, ainda, atrelada à inflação. A maior parte das LCAs e LCIs
emitidas são indexadas ao CDI. Por seu caráter específico de desenvolvimento de
seus respectivos setores são livres de imposto de renda (ASSAF NETO, 2015).

Para complementar nossa discussão sobre CDB, LCA e LCI,


assista aos vídeos a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=9iZ_WrG-sUE.
https://www.youtube.com/watch?v=ysm9ZJ6O67w.

Caro estudante, aqui exploramos alguns dos principais ativos que compõem
o mercado de capitais. Por último, cabe a você saber que, como proteção aos
investimentos nos ativos de instituições privadas, há o Fundo Garantidor de
Créditos – FGC.

O FGS, conforme Silva et al. (2017), é uma associação entre bancos e


outras instituições financeiras, ou seja, é uma instituição privada que entra em
ação quando uma instituição financeira associada fica incapaz de cumprir seus
compromissos financeiros. Dessa forma, ela garante ao investidor que este não
incorrerá em perdas.

Existem algumas regras quanto aos valores garantidos pelo FGC. São estas:
(i) é limitado a R$ 250 mil por CPF/CNPJ e por conglomerado financeiro; (ii) para
contas que possuem mais de um titular (por exemplo, um casal) o limite é dividido
igualmente pelas partes; (iii) há um limite para o socorro do FGC, estipulado no
teto de R$ 1 milhão de recuperação, renovado a cada quatro anos.

Nessa seção trabalhamos os quatro principais mercados que compõem o


sistema financeiro nacional, ou seja, o mercado monetário, creditício, de capitais e
cambial. Na próxima seção vamos nos voltar ao entendimento dos investimentos
em renda fixa e renda variável.

76
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

4 DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS
Esta seção visa diferenciar o que é renda fixa de renda variável e entender
as diferentes formas de renda fixa que existem no mercado financeiro. Vamos
começar entendendo a diferença entre as rendas fixa e variável.

Os títulos de renda fixa são títulos em que a rentabilidade já é conhecida


pelos agentes econômicos quando estes fazem a aquisição de um título. Podem
ser de instituições privadas, como instituições financeiras (ativos como LCA, LCI
e CDB); de empresas do setor produtivo (chamadas de debêntures); ou de ativos
de instituições públicas, como os títulos de dívida pública do Governo Federal,
popularmente conhecidos como “tesouro direto”.

Já a renda variável remete ao ativo que não é possível saber qual será o
desempenho dele. São ativos cuja aquisição não garante uma rentabilidade fixa
e os seus preços possuem alta volatilidade. Exemplos destes são as ações, os
fundos, os derivativos, entre outros.

A renda variável é mais complexa e sua análise detalhada foge do intento


deste livro, que é dar a você o conhecimento do sistema financeiro nacional
de uma forma geral, assim como um introdutório às diferentes opções de
investimentos financeiros.

Sobre a renda variável, cabe convidá-lo ao aprofundamento de seus estudos


a respeito de como saber se uma ação está mais barata ou mais cara para sua
aquisição. Com relação a isso, há duas análises que podem ser feitas: a análise
técnica e a análise fundamentalista.

A análise técnica, de acordo com a Modalmais (2022), se trata da análise


através do gráfico histórico de preços da ação, tentando entender o comportamento
de massa e tendências. Você já deve ter visto vídeos (muito utilizado também em
criptomoedas) em que o youtuber fala em “média móvel de 50 dias e de 100 dias”.

Essa é a análise técnica, a média é móvel porque depende do período


analisado. À medida que um novo dia entra na conta e um antigo sai (pois a média
contém sempre os 50 ou 100 últimos dias) a média se modifica, muda (se move)
com o tempo. Essa análise tem mais a ver com as expectativas de variações no
preço da ação do que com os fundamentos da empresa.

Já a análise fundamentalista se baseia nos “fundamentos” da empresa, e


visa determinar o preço justo das ações, bem como as perspectivas para o futuro.
Nesse sentido, a análise fundamentalista tem o foco para aquelas pessoas

77
SiSTEmA FiNANCEiro

que decidem montar uma carteira de ações no longo prazo. Para tanto, as
ferramentas mais comuns são os indicadores, como: nível de endividamento da
empresa, patrimônio líquido, nível de investimento no crescimento da empresa
(tanto desempenho passado quanto projetado), expectativas do setor etc. Sobre
a análise fundamentalista há uma série de métricas para analisar os fundamentos
da empresa, tais como: ROE, Dividend yield, Valuation etc.

Sobre algumas métricas da análise fundamentalista, assista ao


vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=VF8Z7ZwCFQ0&t=124s.

Em se tratando da renda fixa, esta possui uma subdivisão que confunde os


investidores de primeira viagem. A renda fixa pode ser de três formas: prefixada,
pós-fixada e indexada à inflação.

De acordo com Assaf Neto (2015), a remuneração prefixada define a taxa


de juro prometida pelo título no momento da aplicação, revelando ao investidor
exatamente qual será o seu retorno. A taxa de juros de um título prefixado se
mantém inalterada mesmo diante de variações que venham a ocorrer nos juros
de mercado, se revelando mais atraente em momentos de redução das taxas de
juros de mercado.

Vamos analisar um exemplo: ao entrar em alguma corretora na parte de


títulos de renda fixa você irá se deparar com uma série de opções. A Figura 4
mostra um título (neste caso um CDB do Banco Máxima) de renda fixa cuja taxa
de juros (prêmio) por adquirir e manter o ativo está pré-determinada em 8,75%
a.a., independente do que aconteça com a economia e com a política monetária.
A rentabilidade é um número previamente estabelecido, conhecido.

FIGURA 4 – EXEMPLO DE TÍTULO DE RENDA FIXA PREFIXADO

FONTE: https://www.nuinvest.com.br/investir/colecao/26. Acesso em: 15 jun. 2022.

78
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

As taxas pós-fixadas expressam a remuneração do título como um percentual


da Selic ou do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro). Esta taxa acompanha
o comportamento do mercado, sendo maior em cenários de alta dos juros e menor
em períodos de redução das taxas de mercado (SELAN, 2014).

Podemos ver um exemplo na Figura 5. Estas são propagandas comuns que


aparecem no aplicativo Instagram. Perceba que é um título de renda fixa (fixada
em 300% do CDI) no qual não sabemos quanto renderá estes 300% do CDI, pois
o valor do CDI no período só será conhecido depois que o período tiver findado.
Por isso o termo pós-fixado, pois é fixo em 300% do CDI, mas o quanto terá sido
este CDI no período somente se conhece após seu término.

FIGURA 5 – EXEMPLO DE TÍTULO DE RENDA FIXA PÓS-FIXADO

FONTE: https://www.oliberal.com/image/contentid/policy:1.462878:1637602606/acao-
xp2.jpeg?f=3x2&q=1.0&w=700&$p$f$q$w=9729136; https://ricoinvestimento.com/
cdb-rico-300-do-cdi-pegadinha-2295-a-a-%f0%9f%98%b2/. Acesso em: 25 jun. 2022.

Uma curiosidade interessante é que o mesmo ativo, na Figura 5, estava


sendo ofertado em duas corretoras, e talvez até em outras. Independente de hoje,
as duas corretoras pertencem ao mesmo grupo. Note que a “liquidez diária” é uma
característica presente apenas na corretora da XP.

A liquidez diária é algo muito desejado na aquisição de um ativo que visa


compor sua reserva de emergência. Isso porque, diante de algum sinistro que
ocorra, você pode retirá-lo rapidamente. Dessa forma, no exemplo da Figura 5,
notamos que, a fim de estar sempre atento a boas oportunidades que combinam
maiores retornos com alta liquidez, compensa ter contas em mais de uma
corretora. A maioria das corretoras não cobra qualquer taxa para investimentos
em renda fixa.
79
SiSTEmA FiNANCEiro

Para uma discussão similar à que estamos fazendo nessa


seção, utilizando como exemplos os títulos da dívida pública
brasileira, assista ao vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=FrfbwyTl1so.

Com relação aos títulos de renda fixa, com remuneração indexada à


inflação, segundo Assaf Neto (2015), são na realidade títulos que apresentam um
componente pós-fixado e um componente prefixado. O componente pós-fixados
nesse tipo de ativo é formado por uma taxa de juro real (líquida da inflação)
previamente definida e acrescida da variação da inflação verificada no período da
aplicação. Essa correção da taxa de juro real é calculada geralmente pelo IPCA,
IGPM ou INPC.

A Figura 6 apresenta o exemplo de um título LCI do Banco Bari atrelado à


inflação. Note que o título apresenta o componente pós-fixado, dado IPCA, que só
poderemos saber sua rentabilidade após o término do período; e um componente
prefixado em 2,95%, independente dos rumos da economia. Perceba que, no
caso do título atrelado a um índice inflacionário, a taxa prefixada será os juros
reais obtidos com a aquisição deste título no final do período.

FIGURA 6 – EXEMPLO DE TÍTULO COM COMPONENTES PREFIXADO E PÓS-FIXADO

FONTE: https://www.nuinvest.com.br/investir/colecao/27. Acesso em: 15 jun. 2022.

Caro estudante, nessa seção procuramos distinguir a renda variável da


renda fixa e lhe dar embasamento teórico e empírico a respeito dos diferentes
componentes da renda fixa. Vamos na próxima seção trabalhar as questões
relacionadas aos riscos existentes no mercado financeiro.

80
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

5 RISCOS
Essa seção analisa os riscos a que se submetem os diferentes agentes
econômicos ao adquirirem ativos financeiros. Segundo Silva et al. (2017), na
análise sobre os ativos financeiros, muitos investidores se utilizam das análises
de risco e de retorno para tomarem uma decisão ótima sobre seus investimentos
no mercado financeiro.

A Figura 7 mostra um conceito fundamental para a decisão da alocação de


seus recursos. Ativos com um alto risco deverão ter um retorno compatível com
estes. Isto é, quanto maior for o risco, maior será a exigência para os retornos.
A poupança e os títulos da dívida pública apresentam um nível menor de risco,
porém também apresentam um menor retorno que as ações. Note que estamos
falando de uma relação direta ou positiva (mesma direção) entre retorno e risco.

FIGURA 6 – EXEMPLO DE TÍTULO COM COMPONENTES PREFIXADO E PÓS-FIXADO

FONTE: Silva et al. (2017, p. 165)

Afinal, o que é o risco? De acordo com Assaf Neto (2015), o risco no mercado
financeiro pode ser entendido como a probabilidade de perda em razão de uma
exposição ao mercado. Desde que o risco não possa ser eliminado, é essencial
que sejam adotadas medidas para minimizá-lo de maneira a permitir que os
diferentes agentes econômicos possam, da melhor forma possível, a partir das
informações que dispõem, atingir seus objetivos.

Os riscos podem ser de seis tipos diferentes: risco de mercado, risco de


crédito, risco de liquidez, risco operacional, risco legal e risco sistêmico.
81
SiSTEmA FiNANCEiro

5.1 RISCO DE MERCADO


O risco de mercado está relacionado com o preço que o mercado estipula
para os ativos e passivos negociados pelas instituições financeiras. Isto é, com
o comportamento do preço dos ativos no dia a dia. Este risco exprime quanto
pode ser ganho ou perdido quando da aplicação em contratos e outros ativos
diante de mudanças em seus preços de negociação. Em outras palavras, o
risco de mercado pode ser entendido como as chances de perdas dos agentes
econômicos decorrentes de comportamentos adversos nos índices de inflação,
taxas de juros, taxa de câmbio, indicadores de bolsas de valores, preços de
commodities, derivativos etc. (ASSAF NETO, 2015).

5.2 RISCO DE CRÉDITO


O risco de crédito se refere à possibilidade do não recebimento de uma
dívida da outra parte no contrato de crédito. Isto é, o risco de crédito acontece
quando uma das partes não honra com seus compromissos financeiros no
curto ou longo prazos. Esse risco é particularmente delicado e deve ser bem
administrado, principalmente para relações contratuais de longo prazo, uma vez
que as incertezas financeiras e econômicas podem aumentar (SILVA et al., 2017).

Ele atinge principalmente as instituições ao avaliarem a quem estão


emprestando crédito, e não aos tomadores de crédito ou compradores de ativos.
Os principais fatores para esse tipo de risco são: (i) as mudanças no valor
monetário das dívidas; (ii) a dependência com poucos credores que negociam;
(iii) a análise financeira e econômica inadequada sobre os tomadores do crédito;
e (iv) a deterioração das garantias. Esses fatores estão diretamente ligados ao
risco de crédito no mercado. Além disso, devemos destacar que mudanças na
taxa de juros podem alterar o valor das dívidas com taxa de juros pós-fixadas.
Desse modo, é preciso considerar esse fator também na análise de risco para
crédito (SILVA et al, 2017).

5.3 RISCO DE LIQUIDEZ


Segundo Selan (2014), o risco de liquidez diz respeito à possibilidade de que
um ativo não possa ser liquidado com facilidade a um preço razoável. A liquidez
é significativamente afetada pelo porte e pela profundidade do mercado no qual o
ativo é costumeiramente negociado.

82
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

Conforme discutimos em outros momentos, a liquidez é uma característica


desejável pelos agentes econômicos, principalmente frente à necessidade de
solucionar sinistros que podem aparecer nos compromissos que os diferentes
agentes econômicos têm de honrar no curto prazo. Caso precise levantar fundos
de forma rápida a honrar compromissos, a pessoa pode se ver obrigada a
renunciar boa parte do valor do ativo, a fim de transformá-lo em papel moeda.

5.4 RISCO OPERACIONAL


A gestão de risco pode ser entendida como um processo de medição e
controle dos riscos presentes nas atividades normais de qualquer organização.
Tal gerenciamento envolve pessoas, sistemas e padrões de controle. O risco
operacional, por sua vez, é o risco de perdas (diretas ou indiretas) determinadas
por erros humanos, falhas nos sistemas de informações e computadores, fraudes,
eventos externos, entre outras. Isto é, é a perda estimada caso a gestão de riscos
não atinja seu objetivo de evitar perdas (ASSAF NETO, 2015).

No contexto de uma empresa, o risco operacional pode se originar de três


segmentos: pessoas, processos e tecnologia. A atuação de pessoas é crítica
na gestão dos bancos, podendo representar, em muitos casos, a variável mais
relevante de risco. Erros e fraudes são oriundos de transações e decisões
envolvendo pessoas, muitas vezes influenciadas por pressões administrativas,
fixação de metas ousadas, manuseio de grande quantidade de dinheiro etc.

Estes erros podem ser minimizados através de um sistema mais rígido de


controles internos. A capacitação das pessoas também pode envolver algum risco
cuja origem pode ser atribuída a falhas no processo de seleção e recrutamento,
e também a deficiências na política de treinamento interno (ASSAF NETO, 2015).

5.5 RISCO LEGAL


O risco legal remete às perdas pela falta de cumprimento das leis, normas
e regulamentos. Conforme Assaf Neto (2015), estas podem ocorrer pela falta de
uma legislação mais atualizada e eficiente com relação ao mercado financeiro
ou devido a um eventual nível de desconhecimento jurídico na realização dos
negócios. Um outro aspecto inerente ao risco legal é a falta de padronização
jurídica e de termos nos contratos financeiros elaborados em diferentes países,
dificultando as transações internacionais. Potenciais perdas decorrentes do risco

83
SiSTEmA FiNANCEiro

legal podem também ser identificadas na incerteza da qualidade da aplicação da


lei, descumprimento de contratos, contratos firmados mal elaborados e confusos,
e assim por diante.

5.6 RISCO SISTÊMICO


O risco sistêmico, como o próprio nome já diz, é aquele que tem capacidade
de afetar um grande número de ativos e possui um amplo efeito no mercado. Isto
é, afeta o sistema como um todo. Este risco geralmente está associado a outras
questões que não o mercado monetário, como problemas advindos da política
monetária, guerras e epidemias em escala global.

Finalizamos aqui mais uma etapa importante nos seus estudos. Revise o
conteúdo e não se esqueça de resolver as atividades do capítulo.

1 A taxa Selic é conhecida como a taxa básica de juros da


economia brasileira. É a taxa de juros que, por apresentar
menor risco entre todos os ativos disponíveis na economia,
acaba por servir para direcionar os rumos das demais taxas
de juros da economia. Sobre quem define a taxa Selic,
assinale a alternativa CORRETA:

a) Banco Central do Brasil – BACEN.


b) Comissão de Valores Mobiliários – CVM.
c) Comitê de Política Monetária – COPOM.
d) Caixa Econômica Federal.

2 O poupador que estiver pensando em investir em um certificado


de depósito bancário – CDB precisa saber na hora de avaliar
qual será a alíquota de imposto que pagará no momento do
resgate. Com relação à alíquota que o investigador pagou
sobre seus rendimentos, supondo que ele tenha mantido o
título ao longo de três anos, assinale a alternativa CORRETA:

a) 27%.
b) 12,5%.
c) 15%.
d) 17,5%.

84
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

3 O risco corresponde à probabilidade de perda em razão de


uma exposição ao mercado. Ele pode ser sistêmico, de
mercado, de crédito, operacional, legal e de liquidez. Sobre
o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) O risco de crédito diz respeito à possibilidade que um ativo tem


de não ser liquidado com facilidade a um preço razoável.
( ) O risco de liquidez acontece quando uma das partes não honra
com seus compromissos financeiros no curto prazo ou longo
prazo.
( ) O risco operacional é o risco de perdas (diretas ou indiretas)
determinadas por erros humanos, falhas nos sistemas de
informações e computadores, fraudes, eventos externos, entre
outras.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) V - V - F.
b) F - F - V.
c) F - V - F.
d) V - F - V.

4 Uma das partes mais relevantes abordadas no Capítulo 2 é a


subseção sobre o mercado monetário. Nela aprendemos que
a política monetária, através das taxas de juros, pode induzir
um aquecimento da economia ou uma desaceleração dela.
A subseção 2 focou no detalhamento dos efeitos da política
monetária expansionista. Com base nessa discussão,
descreva o que são os mecanismos de transmissão da
política monetária e quais são eles.

5 Suponha que as autoridades monetárias percebam que está


havendo uma escalada inflacionária e, diante disso, decidam
realizar uma política monetária contracionista. Disserte
sobre os efeitos da política monetária contracionista sobre
os preços através de seus mecanismos de transmissão.

85
SiSTEmA FiNANCEiro

6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Fechamos mais uma importante etapa do seu entendimento sobre o sistema
financeiro!

Para continuarmos nosso aprofundamento do sistema financeiro nacional,


procuramos compreender o papel da intermediação financeira, explorando a
relação da poupança disponível na economia e dos empréstimos realizados pelas
instituições financeiras, constituindo-se, assim, as instituições financeiras nos
intermediários financeiros da economia.

Aprendemos também o que compõe os mercados monetário, creditício,


cambial e financeiro. Na discussão do mercado monetário exploramos o que é e
a importância da taxa Selic, bem como dos títulos da dívida pública brasileira. No
mercado de crédito aprendemos as diferentes formas como os empréstimos são
disponibilizados. Já no mercado cambial tratamos dos impactos que a oferta e
a demanda por moeda estrangeira geram na economia. Por fim, no mercado de
capitais, exploramos os conceitos de alguns dos principais ativos existentes no
mercado financeiro.

Buscou-se, ainda, assimilar os termos fundamentais do mercado financeiro,


a saber: as rendas fixa e variável, bem como o entendimento, dentro dos títulos
de renda fixa, do que são títulos prefixado e pós-fixado.

Para compreendermos os diferentes riscos existentes no mercado financeiro,


trabalhamos o conceito de risco e as formas que este pode assumir, sendo estas:
risco sistêmico, risco de mercado, risco de crédito, risco operacional, risco legal e
risco de liquidez.

Esperamos que sua a caminhada até aqui tenha sido estimulante.

BONS ESTUDOS!

86
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

LEITURA COMPLEMENTAR
Essa leitura complementar busca fazer você entender na prática como
visualizar o retorno de um título de renda fixa. Foi colocado como leitura
complementar porque todo o raciocínio proposto requer conhecimento de
matemática financeira. No entanto, entender a primeira parte da análise a seguir
é o essencial para você visualizar quando está diante de um ativo de renda fixa. A
necessidade do entendimento da matemática financeira se faz a partir do cálculo
detalhado.

O exemplo trabalhado a seguir se trata da Figura 5, que trouxe o exemplo


de uma propaganda de CDB. As características deste CDB no “folder” da XP são:

• 300% do CDI.
• Vencimento em três meses (logo, IR de 22,5%).
• Liquidez diária.
• Aplicação mínima de R$500,00 e máxima de R$7.000,00.
• DI fut. três meses 8,81% a.a.

Suponha que você está em seu Instagram e se depare com a propaganda


deste CDB. Curioso com os “300% do CDI”, você decide calcular a rentabilidade
que obterá ao investir R$5.000,00.

A primeira coisa que se espera com esse exercício é que você aprenda
a fazer a “leitura rápida” da rentabilidade de um título de renda fixa para, caso
isso se mostre interessante, você se aprofundar nos detalhes do investimento.
Então, o que é importante neste primeiro olhar, no “bater o olho”, na oferta de
investimento?

Primeiro: os 300% do CDI: comece a observar isso, ao ver propagandas


e ofertas de títulos de renda fixa. Você notará que a grande maioria trabalha
com a faixa de 100% a 200% do CDI. Isto é, abaixo de 100% se trata de uma
rentabilidade medíocre; entre 100% e 200% é o “meia boca”, que é a grande
maioria das opções de renda fixa atreladas ao DI. A cereja em termos de renda
fixa é qualquer coisa acima de 200%. Significa um bom retorno.

Segundo: como se lê “300% do CDI”? o que significa? Significa três vezes


o CDI (lembrando que esse popular “rende o CDI” que aparece nas propagandas
dos títulos, na realidade, é o DI). Então, dado que o exemplo fala em 8,81%, é o
DI futuro (aqui você deve fazer o esforço de imaginação de que naquele momento
não se sabe quanto será a taxa DI ao longo dos próximos três meses, mas se faz
uma projeção, de forma que o investidor possa antever a provável rentabilidade
que terá).
87
SiSTEmA FiNANCEiro

Dessa forma, ao bater o olho na propaganda, você de cabeça faz 3 x 8,5


= mais de 25%. Esse é o primeiro olhar, aquele automático, que se espera que
você assimile. Após ver que é interessante, você então calcula em detalhes qual
realmente será seu retorno se optar por fazer este investimento.

• Cálculo detalhado: 3 x 8,81 = 26,43 a.a.

Contudo, o ativo é para três meses. Então, o imposto que incide é de 22,5%
em cima dos 26,43% de premiação, pois o imposto é sempre sobre o rendimento
do capital, nunca sobre o montante total. Então, a pergunta passa a ser: “qual o
retorno líquido? Isto é, após pagar o imposto?”.

Vamos fazer de forma difícil? Por regra de 3?

5.000 --- 100%.


X --- 26,43%.
X = R$1.321,5.

Isto é, sem imposto, a uma taxa de 26,43% ao ano, o investimento de


5.000,00 renderia R$1.321,5. Entretanto, temos que considerar o imposto, então,
lembrando que o imposto é cobrado sobre o “todo” do rendimento:

1.321,5 -----100%.
X ----- 22,5%.
X = R$ 297,34.

Então, dos R$1.321,5 seria pago de imposto R$ 297,34 ao ano. Isto é, R$


1.024,16. Quanto dos 5000, em termos percentuais, equivale os 1.024,16?

5.000,00 --- 100%.


1.024,16 --- x.
X = 20,48%.

Isto é, descontados os impostos, em termos percentuais, o retorno deste


ativo é de 20,48% a.a.

Obs.: jeito simples e rápido de calcular a taxa de retorno menos o pagamento


de imposto:
0,2643 x 0,225 = 5,946% a.a., logo 26,43% - 5,946% = 20,48% a.a.

Todavia, ainda resta um problema. A taxa de retorno está em anual. O título


é de até três meses. Sendo assim, a taxa de retorno precisa ser transformada em
mensal. A fórmula para isso é:

88
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

• Fórmulas:
De mensal para anual ------------------- De anual para mensal.

Usando na HP12c:

1 [enter]
0,2048 [+]
1 [enter]
12 [÷]
[Yx]
1 [-]
100 [x]

Você chegará a i = 1,56% a.m.

Supondo que você tenha investido R$ 5.000,00, seu retorno será:

VF = VP (1 + i)n.
VF = 5.000,00 (1 + 1,56)3.
VF = R$ 5,237,67.

Este será o seu retorno líquido após três meses. Se tiver a curiosidade do
percentual de retorno que teve em relação ao capital inicial investido:

5000 --- 100.


237,67 – x.
x = 4,75% de retorno líquido em cima do capital investido. Em termos de
renda fixa, é um excelente retorno.

Um detalhe importante que merece ser mencionado é que, dada a alta


rentabilidade, este título limitava a opção de poder mantê-lo por apenas três
meses. É algo recorrente em títulos de rentabilidade acima de 200% do CDI. No
entanto, supondo que você trabalhe com duas ou mais corretoras, sempre em
busca destas altas taxas de retorno, não é difícil encontrá-las. Pense em termos
de alto retorno (em termos de renda fixa), para com a parte do seu capital que
mantém a liquidez imediata (importantíssimo para ser sua reserva de emergência).

89
SiSTEmA FiNANCEiro

REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Mecanismos de transmissão da política


monetária, 2022. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/
transmissaopoliticamonetaria. Acesso em: 26 fev. 2022.

BLANCHARD, O. Macroeconomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

FERREIRA, M. A. Sistema Financeiro Nacional: uma abordagem introdutória


dos mecanismos das instituições financeiras. Curitiba: InterSaberes, 2014.

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.


Inflação, c2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/
explica/inflacao.php. Acesso em: 10 de mar. 2022.

MACHADO, L. H. M. (org.). Sistema Financeiro Nacional.


São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.

MANKIW, G. N. Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

MANKIW, G. N. Princípios de macroeconomia.


São Paulo: Cengage Learning, 2017.

MISHKIN, F. S. Moeda, bancos e instituições


financeiras. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

MODALMAIS. Análise gráfica day trade: tudo sobre gráficos


e tendências, 2022. Disponível em: https://www.modalmais.
com.br/blog/analise-tecnica/. Acesso em 23 abr. 2022.

PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia.


São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

SELAN, B. Mercado Financeiro. Rio de Janeiro: SESES, 2014.

SILVA, R. J. da. et. al. Economia monetária e mercado de capitais.


Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.

90
Capítulo 2 A DIVISÃO DO MERCADO FINANCEIRO

SOMA INVESTIMENTOS. Índices de inflação: o que são e quais


os principais índices do Brasil? 2021. Disponível em: https://www.
sommainvestimentos.com.br/indices-de-inflacao-o-que-sao-e-quais-
os-principais-indices-do-brasil/. Acesso em: 11 mar. 2022.

SOUZA, J. M. de (org.). Economia Brasileira. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012.

91
SiSTEmA FiNANCEiro

92
C APÍTULO 3
FLUXO DE RECURSOS DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

 Compreender as principais taxas de rentabilidade


que compõem os ativos financeiros.

 Entender a atuação da política monetária na disposição do crédito


e, por consequência, no preço e nas rentabilidades dos ativos.

 Compreender as diferenças entre o emprego


de recursos próprios e de terceiros.

 Visualizar tendências do mercado a partir da difusão das chamadas


fintechs e da evolução do mercado de criptoativos.

 Identificar as taxas atreladas aos ativos financeiros de forma a visualizar


os retornos esperados para a tomada de decisões de investimentos.

 Acompanhar e identificar as tendências de mercado a partir


da sinalização da política monetária nacional.

 Entender as inovações tecnológicas que estão se difundindo


e antecipar potenciais oportunidades de mercado.
SiSTEmA FiNANCEiro

94
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Estamos na etapa final do nosso estudo do sistema financeiro brasileiro. Este
Capítulo 3 está dividido em seis seções, sendo a primeira esta contextualização. A
segunda seção explora a análise de rentabilidade de um investimento específico
no mercado acionário. Para tanto, a seção discute os diferentes perfis do investidor,
explorando as diferenças entre investidores mais conservadores e aqueles mais
arrojados. Também é discutida a diferença entre risco sistêmico e não sistêmico
e a relação destes com a possibilidade de diversificação do risco. A seção finaliza
com a apresentação do modelo CAPM, que mede a rentabilidade de se correr
o risco de se investir em uma ação específica por meio de uma comparação do
retorno esperado de tal investimento com o retorno esperado de todo o mercado
acionário.

A terceira seção discute a política monetária e seu impacto na disponibilidade


de crédito. Esta seção dará continuidade à discussão sobre a importância da
política monetária na disponibilidade de crédito por parte das diferentes instituições
financeiras junto àqueles que desejam tomar crédito emprestado. Para tanto, são
discutidas as diferenças entre a taxa Selic meta e a taxa Selic over, bem como as
três ferramentas que as autoridades monetárias dispõem para a implementação
da política monetária, seja esta contracionista ou expansionista.

A quarta seção discute a questão do custo de capital de uma empresa. Esta


é composta do custo de capital próprio e do custo de capital de terceiros. Desse
modo, esses três conceitos são trabalhados, bem como a mensuração deles.

A quinta seção busca explorar as tendências do mercado financeiro,


começando por uma inovação no mercado financeiro tradicional, que ficou
cunhada como fintechs, correspondendo a um aumento de instituições financeiras
que buscam nas lacunas de atuação dos chamados “bancões” a fatia de mercado
do sistema financeiro, inclusive para aquela parte da população que se via
“desbancarizada”. Adicionalmente, se discute o que já se tem de consolidado no
mercado de criptoativos, explicando o que é blockchain, criptomoedas, exchanges
e stablecoins. Posteriormente são discutidas as tendências do mercado e as
tecnologias disruptivas que estão surgindo no mercado digital, como: DeFi, NFTs,
exchanges descentralizadas e metaverso.

Por fim, a sexta seção trata das considerações finais do capítulo.

95
SiSTEmA FiNANCEiro

2 FORMAÇÃO DE TAXAS E ANÁLISE


DE RENTABILIDADE
Esta seção está subdividida em três subseções. A primeira subseção
discute o perfil do investidor frente aos riscos inerentes ao mercado financeiro.
A segunda subseção busca o entendimento do conceito de risco diversificável e
risco não diversificável. Por fim, trabalhamos na terceira subseção o Modelo de
Formação de Preço para Ativos de Capital – CAPM, que mede o prêmio do risco
para determinado investimento de capital.

2.1 A GESTÃO DO RISCO E O PERFIL


DO INVESTIDOR
Como já vimos no Capítulo 2, um título ou ativo nada mais é do que um
contrato entre aquele que está adquirindo o título (tal como um poupador
investindo em um CDB ou uma debênture) e a empresa que está o emitindo.
Dessa forma, a empresa ou o banco comercial estão pegando empréstimo junto
à sociedade, viabilizando no caso dos bancos mais empréstimos para outras
pessoas (ganhando no diferencial de juros, o chamado spread bancário); e no
caso das empresas viabilizando seu capital de giro ou investimentos em máquinas
e equipamentos.

Quando o banco ou a empresa se comprometem a pagar um valor a cada


período para os poupadores que adquiriram os títulos, estão, assim, pagando ao
portador do título um fluxo monetário.

A partir de um exemplo de Pindyck e Rubinfeld (2006), suponha o pagamento


de R$100,00 ao ano durante os próximos dez anos mais o pagamento do capital
inicial no valor de R$1.000,00 ao final do período. Qual é o valor que você deveria
pagar por este título? Para realizar este cálculo se deve calcular o valor presente
do fluxo de pagamentos, como demonstrado a seguir:

(1)

Note que o valor presente depende da taxa de juros. Quanto maior a taxa
de juros, menor será o valor presente do título e vice-versa. Caso a taxa de juros
fosse de 5%, esse título teria o valor presente de R$1.386. Já se fosse de 15%,
esse título, trazido para valores de hoje, valeria apenas R$749.

96
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Contudo, qual a importância dessa análise? O valor inicial desembolsado


pelo investidor foi de R$1.000,00. Note que, ao visualizar as taxas de juros atual e
de longo prazo, o poupador pode vir a visualizar um ganho em relação ao valor do
título. Vai depender da leitura que faz a respeito das tendências da economia e,
por consequência, das tendências da taxa de juros. Note então que quanto mais
estável for a tendência de longo prazo da economia, menor o risco-país e mais
previsível é para os agentes econômicos as tendências de taxa de juros futuras.

Um aspecto importante para você ter em mente é a preferência que os


agentes econômicos têm pela aquisição do dinheiro no presente. O valor a ser
investido hoje no título é de R$1.000,00. Se a expectativa do retorno daqui a
dez anos for menor ou igual a 1.000,00, não faz sentido para o poupador fazer a
aquisição deste título.

Entretanto, é possível saber os juros futuros? Não. É possível fazer previsões


de suas tendências, mas ainda envolverá o risco. Isso não significa que você não
possa procurar minimizar estes riscos, através de uma gestão de riscos.

De acordo com Silva et al. (2017), esta gestão do risco envolve identificar os
riscos, mensurar seus impactos e, à medida do possível, controlar seus efeitos.
Dessa forma, a gestão do risco busca inibir ou antecipar os efeitos que os riscos
podem causar sobre os investidores. As possíveis origens dos riscos estão nas
oscilações de preços dos ativos, mudanças nas taxas de juros, inadimplência e
falhas dos recursos humanos.

Os tipos de riscos são os riscos sistêmico, de mercado, de crédito,


operacional, legal e de liquidez. Estes trabalhamos no Capítulo 2. Vamos focar
agora no comportamento do investidor frente ao risco. Há três perfis na literatura,
como pode ser visto na Figura 1. Aqueles que são avessos ao risco, aqueles que
são indiferentes e aqueles que são amantes do risco.

FIGURA 1 – CLASSIFICAÇÕES DOS AGENTES FRENTE AO RISCO

FONTE: Selan (2014, p. 129)

97
SiSTEmA FiNANCEiro

De acordo com Assaf Neto (2015), o investidor propenso ao risco não é tão
focado nos retornos esperados, mas em correr riscos maiores. Por apreciar o
risco, esse investidor é muitas vezes conhecido por “amante do risco”, ou risk
lover. Em algumas ocasiões, esse “amante” do risco exagera nas projeções de
ganhos visando usufruir da satisfação de incorrer em maiores riscos; é capaz de
reduzir parte de seus ganhos para conviver com riscos mais altos.

Já o investidor avesso ao risco é tido como um conservador, pois prefere a


segurança de seus investimentos e apenas aceita correr maiores riscos se obtiver
retornos mais elevados. Isto é, sempre exige um retorno maior quando o risco
aumenta. Já um investidor indiferente ao risco mantém o retorno mesmo diante de
mudanças no risco.

Essa parte conceitual é de grande importância, pois é muito comum aparecer


o termo “o investidor avesso ao risco” em discussões sobre investimento, bem
como pode aparecer em uma prova para obter uma certificação.

No entanto, é mais usual aparecer no dia a dia do mercado financeiro termos


como conservador, moderado e agressivo, como pode ser observado na Figura
2. Os bancos e corretoras preferem esta classificação do perfil do investidor.
Note que diferente do que se tratou anteriormente, sobre ser avesso ao risco ou
amante do risco, esta classificação está mais relacionada à aceitação do nível de
risco versus retorno que o investidor está disposto a correr.

FIGURA 2 – PERFIL DO INVESTIDOR

FONTE: https://investidordesucesso.com.br/wp-content/uploads/2016/11/infografico-
aloca%c3%a7%c3%a3o-de-ativos-por-perfil.jpg. Acesso em: 17 jun. 2022.
98
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Conforme pode ser observado na Figura 2, esta classificação está mais


relacionada ao nível de aversão ao risco que cada perfil do investidor tem. Para
o investidor conservador, não incorrer em perdas é mais importante que os
ganhos, de forma que sua carteira tende a ser composta basicamente de títulos
de renda fixa. Já o investidor moderado procura compor sua carteira de ativos
com uma combinação de títulos de renda fixa com títulos de renda variável, tendo
preferência por buscar fundos mútuos de investimentos.

Você sabe o que são fundos mútuos de investimentos? Assista


aos vídeos a seguir e aprenda um pouco sobre esta opção de
investimentos:
https://www.youtube.com/watch?v=Dv_8_4TEFjY.
https://www.youtube.com/watch?v=0FmE8XfhaAw&t=1s.

Por último, ainda segundo a Figura 2, o investidor agressivo ou arrojado


é aquele que já busca maiores rentabilidades e está disposto a correr maiores
riscos, por isso investe majoritariamente na renda variável. Geralmente se trata de
um investidor com um horizonte de longo prazo e que não se sente tão atingido (ou
seu emocional fica pouco abalado) quando seus ativos ficam tempos prolongados
em baixa.

Você notou que em todos os casos estamos falando em um portfólio de


ativos? Isso porque uma estratégia importante em termos de investimento é
“não colocar todos os ovos na mesma cesta”. Vamos trabalhar este conceito no
próximo subtópico.

2.2 DIVERSIFICAÇÃO DO RISCO


Qualquer poupador, ao estar considerando em quais ativos irá alocar
seu dinheiro, considera a relação de risco do ativo (as incertezas quanto ao
investimento) versus a rentabilidade esperada por ele (o retorno que será obtido
pelo investimento).

De acordo com Assaf Neto (2015), entre as mais importantes causas


determinantes do risco econômico estão as de natureza conjuntural (alterações
na economia, tecnologia etc.), de mercado (crescimento da concorrência, por

99
SiSTEmA FiNANCEiro

exemplo) e do próprio planejamento e gestão da empresa (vendas, custos, preços,


investimentos etc.). Já o risco financeiro está mais diretamente relacionado com o
endividamento (passivos) da empresa e sua capacidade de pagamento.

Nesse sentido, Selan (2014) descreve que o risco total de um ativo


compreende uma parte sistêmica ou conjuntural ou não sistêmica associada ao
próprio ativo. O risco sistêmico, como atinge a economia como um todo, significa
que não há o que fazer em termos de tentar diluí-lo ao investir em vários ativos.
Contudo, o risco específico ao ativo pode ser diluído pelo investidor ao diversificar
seus investimentos em uma variedade de ativos.

Por exemplo, é possível criar uma carteira de ativos


diversificada que contenha títulos de renda fixa e de renda
variável que sejam atingidos diferentemente a elevações nas
taxas de juros da economia ou a compra de ações de empresas
cíclicas (montadoras de veículos, construção civil etc.) que
tenham maior risco, com a compra de empresas mais estáveis
ou menos cíclicas como as indústrias de alimentos. Portanto, o
risco total da empresa pode ser dado da seguinte forma: Risco
Total = Risco Sistemático + Risco Não Sistemático (SELAN,
2014, p. 126).

Uma outra forma de descrever o risco total é dizer que:

• Risco total = risco não diversificável + risco diversificável.

Isso porque, segundo Silva et al. (2017), o risco diversificável é também


entendido como o risco não sistemático, ou seja, é aquele inerente ao negócio
da empresa. São aqueles riscos ligados aos processos em que uma organização
está envolvida, tais como problemas operacionais, financeiros, jurídicos etc.
Assim, eles podem ser eliminados por meio da diversificação.

Já o risco não diversificável, também conhecido como risco sistemático,


advém de fatores do mercado e fatores econômicos, envolvendo problemas
políticos, processos inflacionários, decisões monetárias, relações internacionais,
guerras etc. Esses riscos afetam de forma direta ou indireta as organizações em
uma economia (SILVA et al., 2017).

A Figura 3 complementa a discussão dos parágrafos anteriores. O risco total


sendo a soma dos riscos sistêmico ou não diversificável e o risco diversificável.

100
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

FIGURA 3 – REDUÇÃO DO RISCO PELA DIVERSIFICAÇÃO

FONTE: Assaf Neto (2015, p. 369)

À medida que se aumenta a quantidade de ativos, o risco diversificável se


torna mais diluído e próximo de zero. Isso é dado pela curva que mede o risco
diversificável se tornar uma linha horizontal, de forma que o risco total passa a ser
composto basicamente pelo risco sistemático.

Sobre a discussão entre riscos diversificável e não diversificável,


veja o vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=rc1VPjD1GYI.

No tópico a seguir discutiremos o modelo mais usado para medir a


rentabilidade esperada ao investir em determinado ativo.

2.3 MODELO CAPM


O modelo de Formação de Preço para Ativos de Capital (Capital Asset
Princing Model – CAPM), conforme Assaf Neto (2015), busca uma resposta de
como devem ser relacionados e mensurados o risco e o retorno em uma avaliação
de ativos. Pindyck e Rubinfeld (2006) descrevem que o modelo mede o prêmio do
risco para determinado investimento de capital por meio de uma comparação do
retorno esperado de tal investimento com o retorno esperado de todo o mercado
acionário. Já para Silva et al. (2017) a proposta do modelo CAPM é analisar a

101
SiSTEmA FiNANCEiro

taxa de retorno do ativo diante dos riscos não diversificáveis (sistemáticos). Dessa
forma, o modelo busca determinar a taxa de retorno de um ativo considerando o
risco no qual ele está exposto.

De acordo com Assaf Neto (2015), para o desenvolvimento do modelo CAPM


são definidas algumas hipóteses, sendo as mais importantes:

• Assume-se uma grande eficiência informativa do mercado e que todos


os investidores têm igual acesso a estas informações.

• Não há impostos, taxas ou quaisquer outras restrições para os


investimentos no mercado; todos os investidores apresentam a mesma
percepção com relação ao desempenho dos ativos, formando carteiras
eficientes a partir de idênticas expectativas.

• Existe uma taxa de juros de mercado definida como livre de risco.

Para compreender o modelo, suponha que você invista em um fundo


mútuo de investimentos. Nesse caso, seu investimento estaria completamente
diversificado e você não estaria incorrendo em risco diversificável. Entretanto,
estaria operando com um risco não diversificável, pois o mercado acionário tende
a acompanhar a situação econômica como um todo (PINDYCK; RUBINFELD,
2006).

Outro aspecto é que o retorno esperado do mercado acionário é mais elevado


do que o retorno esperado de um investimento sem risco, como investimentos em
tesouro Selic, por exemplo. Dessa forma, se indicarmos por rm o retorno esperado
do mercado acionário, e por rf a taxa sem risco, o prêmio do risco de operar no
mercado acionário pode ser representado por rm - rf. Essa é a taxa de retorno
adicional desejada que se deverá obter ao assumir o risco não diversificável
associado ao mercado acionário (PINDYCK; RUBINFELD, 2006).

Perceba que o que estamos fazendo ao construir o modelo CAPM é buscar


uma forma de medir a rentabilidade de um determinado investimento em renda
variável frente a todo o mercado de renda variável. Nesse sentido, já encontramos
o prêmio de investir de forma diversificada em renda variável frente aos retornos
esperados de ativos sem risco.

Agora, considere o risco não diversificável associado a um ativo, como


as ações de uma empresa. Pode-se medir tal risco, de acordo com Pindyck e
Rubinfeld (2006), verificando em que grau o retorno desse ativo tende a estar
correlacionado (ou seja, se move na mesma direção) com o retorno do mercado
acionário como um todo.

102
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Note que “o mercado como um todo” é o mesmo que dizer “o sistema acionário
como um todo”. Isto é, se refere ao risco sistêmico. Dessa forma, quando o preço
de uma ação se move, independente das variações do mercado como um todo
(no caso do Brasil o índice Bovespa, por exemplo), significa que esta ação tem
pouco ou nenhum risco não diversificável. Claro que, no mundo real, nenhuma
ação tem essa “independência”, mas a partir do conceito e do modelo se pode
explicar uma maior ou menor independência de uma ação brasileira qualquer
frente ao Ibovespa.

Aluno, se você ficou curioso para entender melhor o Ibovespa


assista à explicação do vídeo indicado a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=RAHjGxlP3G8.

De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006), uma vez que o preço da ação
tende a se mover independentemente das variações do mercado, significando
pouca ou nenhuma associação com o risco sistêmico, o retorno esperado
desta ação (os dividendos que paga ou a valorização da ação) deveria ser
aproximadamente o mesmo da rentabilidade de uma taxa sem risco, como um
título da dívida pública, conhecido como “tesouro Selic”.

Assista ao vídeo a seguir e entenda um pouco sobre as


características do “tesouro Selic”:
https://www.youtube.com/watch?v=F2E0ibZtCak.

Por outro lado, uma ação que estivesse altamente correlacionada com o
mercado implicaria até mesmo em suas variações serem mais acentuadas do que
as variações do mercado acionário como um todo, de modo que esta ação teria
um acentuado risco não diversificável, talvez superior ao do mercado acionário
como um todo. Para compensar este risco, em média, o retorno desta ação deverá
ultrapassar o retorno de mercado, dado por rm.

103
SiSTEmA FiNANCEiro

Descreve Benvenho (2016) que o modelo CAPM é dado por:

ri = rf + [βi x (rm- rf)]

que pode ser escrito:

ri - rf = βi x (rm- rf)

Em que:

ri = retorno esperado de um determinado ativo “i”;

rf = taxa de retorno livre de ricos (tesouro Selic, por exemplo);

βi = beta para o ativo i;

rm = retorno do mercado ou retorno de uma carteira de investimento.

Na segunda fórmula, a relação ri – rf dada pela taxa de retorno esperado do


ativo menos a taxa sem risco da economia fornece o prêmio de risco de se investir
na ação da empresa “i”. Já a relação rM – rF é o prêmio pelo risco de mercado,
ou seja, é a taxa de retorno esperado do mercado menos a taxa sem risco da
economia.

O beta do ativo é a constante de proporcionalidade. Ela mede a


suscetibilidade do retorno do ativo às variações do mercado e, portanto, o risco
não diversificável de tal ativo. Se uma elevação de 1% no mercado tende a
ocasionar um aumento de 2% no preço do ativo, seu beta é igual a 2. E se uma
elevação de 2% no mercado não ocasionar nenhuma alteração no preço do ativo
seu beta é igual a zero. Quanto maior for o beta do ativo, maior será o retorno
esperado desse ativo. Isso porque seu risco não diversificável será mais elevado
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006).

Assista ao vídeo a seguir e veja uma explicação sobre o modelo


CAPM e um exemplo de seu cálculo:
https://www.youtube.com/watch?v=tAO5XlcZz8A.

104
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Adicionalmente, vamos fazer um exemplo de Assaf Neto (2015). Digamos


que um ativo tem um coeficiente beta de 1,12. A taxa livre de risco (rf) da economia
é igual a 8,5%, e o retorno da carteira de mercado (rm), identificada no índice de
bolsa é 14%. A rentabilidade mínima exigida pelo investidor para esse ativo é:

ri = rf + β.(rm – rf).

ri = 8,5% + 1,2 (14% – 8,5%) = 14,66%.

Dessa forma, pelo modelo CAPM, esta taxa de retorno remunera


adequadamente o risco do investimento.

Vamos agora nos voltar à política monetária e às ferramentas que as


autoridades monetárias dispõem para aumentar ou diminuir a liquidez na
economia, dependendo dos seus objetivos quanto a metas de inflação e de
estímulo à economia.

3 A POLÍTICA MONETÁRIA E SEU


IMPACTO NA DISPONIBILIDADE DE
CRÉDITO
Parte do assunto deste subtópico já foi tratada nos capítulos 1 e 2. O que
vamos procurar fazer aqui é “fechar” este entendimento da relação entre a política
monetária e o impacto desta na economia e, em específico, como a política
monetária está relacionada à disponibilidade de crédito por parte das diferentes
instituições financeiras junto àqueles que desejam tomar crédito emprestado.
Para realizarmos este “elo” precisamos resgatar alguns dos conceitos trabalhados
nos dois primeiros capítulos.

No Capítulo 1 vimos que o Banco Central é responsável por fiscalizar o


comportamento dos mercados monetário, creditício e cambial. Aprendemos,
ainda, que os bancos comerciais com carteira comercial criam moeda escritural
a partir dos depósitos à vista que os agentes superavitários realizam, pois os
bancos comerciais realizam empréstimos às pessoas deficitárias (criam uma
conta corrente ao realizar o empréstimo). Também estudamos que as instituições
financeiras, através de suas carteiras específicas (múltiplo, investimento,
desenvolvimento etc.), podem direcionar o crédito de forma específica para
determinados setores ou segmentos da economia.

105
SiSTEmA FiNANCEiro

No Capítulo 2 fizemos um link desta política governamental (a política


creditícia) com a política monetária, pois a política monetária (expansionista ou
contracionista) é a forma de um “crédito geral” que o Bacen contrai ou expande
a disponibilidade de crédito na economia conforme a análise conjuntural e
internacional de que dispõe. Também vimos que esta operacionalização do Banco
Central na economia, atuando sobre o crédito geral, se dá pelo vínculo entre a
taxa de juros basilar da economia com as taxas de juros dos demais ativos da
economia.

Nesta seção vamos avançar detalhando como esta relação acontece. Vamos
avançar no entendimento de que ferramentas o Banco Central dispõe para
executar a política monetária contracionista e expansionista.

Para tanto, vamos subdividir esta seção em duas subseções. A primeira


subseção esclarecerá as diferenças conceituais importantes do funcionamento
da taxa de juros de mercado e o elo destas com a meta que as autoridades
monetárias desejam para elas. Isto é, a relação entre a taxa Selic meta e taxa
Selic over.

A segunda seção explorará quais são as três ferramentas que o Banco


Central tem para afetar as taxas de juros na economia: a compra e venda de
títulos públicos no mercado aberto, a taxa de redesconto e a taxa do compulsório.
Também será explorado como estas ferramentas são utilizadas para a política
monetária expansionista e contracionista.

3.1 TAXA SELIC META X TAXA SELIC


OVER
Para entendermos detalhadamente como funciona o mecanismo de
transmissão da política monetária, precisamos entender a diferença entre taxa
Selic meta e taxa Selic over. Quando o Comitê de Política Monetária – COPOM
se reúne para avaliar o cenário nacional, bem como os rumos do contexto
internacional e, a partir destes, tomar as decisões sobre qual deve ser a taxa de
juros básica da economia para o horizonte de seis meses a um ano à frente, o
COPOM está decidindo a “meta” de taxa Selic a ser alcançada por parte do Banco
Central brasileiro.

Note, então, que foi decidido um caminho ou direção a ser percorrido, mas
todas as taxas de juros da economia são decididas livremente entre os agentes
econômicos. Nenhuma taxa de juros foi decidida na “canetada”.

106
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

É essa sutileza que você precisa compreender, aluno. Que a intervenção


do Banco Central na economia, ou seja, na livre interação entre os agentes
econômicos e instituições (poupadores, intermediários financeiros e tomadores de
empréstimos) e, por consequência, quanto serão as taxas de juros da economia,
não se dá de forma tão direta. Essa intervenção é feita através de ferramentas
que direcionam as taxas de juros para cima ou para baixo, uma vez que se tem
uma meta de taxa básica de juros da economia a ser atingida. Meta essa que
o Banco Central sabe que vai nortear as demais decisões de taxa de juros da
economia.

Então, a meta a ser alcançada é decidida na canetada. Significa que,


na prática, será alcançada exatamente a meta? Claro que não. Entretanto,
o importante é chegar em torno da meta. Vamos fazer uma analogia para
compreendermos melhor. Imaginemos que você notou que está com uma
barriguinha, decorrente de se descuidar nas festas de fim de ano até o carnaval.

Chegou abril, você está decidido a ser “fitness” e conquistar uma “barriga
negativa”, e estabelece, então, para combater a barriguinha de cerveja e farinha,
uma “meta” de peso a ser atingida. Digamos que 70kg daqui a seis meses. Note
que não é importante se, ao subir na balança daqui a seis meses, você vier a
estar com 69,09kg, ou 70,02kg, porque qualquer desses pesos que, “na prática”,
você pesa ao subir na balança, está em torno da meta que você queria e definiu
alcançar seis meses atrás.

Com a Selic meta e a Selic over é a mesma coisa. De um lado você tem
a Selic meta e de outro você tem a taxa Selic over, que seria o seu “peso na
balança na prática, ao subir na balança” na analogia sobre perder a barriguinha
que fizemos, ou seja, os 69,09kg ou 70,02kg. Então você pode se perguntar:
“entendi essa diferença, mas como é decidida na prática a Selic over?”.

A taxa Selic over tem esse nome devido a sua rentabilidade “da noite para
o dia” (overnight). Segundo Feitosa (2021), a taxa Selic over é uma média
ponderada de todas as operações, com prazo de um dia, feitas no mercado
interbancário, lastreadas em títulos públicos federais.

Todavia, o que são estas operações interbancárias e por que lastreadas em


títulos públicos? As operações interbancárias são operações de empréstimos
realizados entre bancos, visando suprir a necessidade do sistema bancário de que
todos estes não podem, segundo a Genial Investimentos (2021), terminar o dia
com seu saldo negativo, como regulamentando pelo Banco Central. Esta é uma
medida de segurança para manter o sistema saudável e estável. Dessa forma,

107
SiSTEmA FiNANCEiro

é prática comum os bancos que ficam com caixa negativo poderem recorrer ao
mercado interbancário para fazerem empréstimos com os bancos que têm sobra
de caixa.

Complementa Blog Aplicativo Renda fixa (2022, s. p.):

É praticamente impossível que em um mesmo dia um banco


tenha o volume de saques idêntico ao volume de depósitos.
Dessa forma, para o caixa ficar zerado, o banco que ficou no
vermelho (déficit) solicita um empréstimo de curtíssimo prazo
para o banco que ficou no azul (superávit) naquele dia. Para
o banco superavitário, é a forma encontrada de não deixar a
sobra de capital – que não é pequena – sem rendimento de
um dia para outro. Essa operação é feita através da emissão
do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), que têm
características similares ao CDB, mas não há cobrança de
impostos sobre a rentabilidade [...] sendo um mecanismo de
equilíbrio de caixa e não de socorro financeiro [...] as taxas
negociadas tendem a ficar abaixo, mas muito próximas a taxa
Selic, que é definida pelo Banco Central.

O vídeo a seguir traz um exemplo simples do empréstimo


realizado entre bancos ao final do dia. Não deixe de assistir: https://
www.youtube.com/watch?v=5Q8F-bjNLlQ.

Então, sabemos que os bancos deficitários ao final do dia pegam dinheiro


emprestado com os bancos que terminaram suas operações diárias superavitários.
Também entendemos que a taxa de juros de um dia que o banco deficitário
pagará pelo empréstimo é a DI. Contudo, qual o valor desta DI? Já exploramos no
Capítulo 2 que esta taxa tende a ser muito próxima da taxa Selic. Por quê? Como
isso funciona?

O banco comercial, que está superavitário ao final do dia, para emprestar para
o banco deficitário, exige um lastro mais confiável que o CDI do banco deficitário.
Isto é, é prática comum no mercado interbancário o banco deficitário, para tomar
empréstimos junto aos bancos que terminaram o dia no positivo, darem como
garantia (lastro) títulos públicos da dívida federal até pagarem o valor do principal
mais o DI, e então receberem os títulos públicos de volta.

108
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

É o volume dessas operações que acontecem no sistema interbancário que


vai gerar o valor maior ou menor da Selic over (movê-la para baixo ou para cima).
Lembra-se que a definição da Selic over fala em “média ponderada de todas as
operações com prazo de um dia”.

Conforme Dornbush, Fischer e Startz (2013), quando o Banco Central compra


títulos da dívida pública que está circulando no mercado interbancário, há uma
redução na quantidade de títulos disponíveis no mercado para negociação, o que
aumenta o preço dos títulos e, por consequência, reduz sua taxa de juros (esta
relação foi explorada na explicação da primeira fórmula no início do capítulo).
Ademais, somente a uma taxa de juros menor o público estará disposto a reter
uma fração maior na forma de moeda.

Dessa forma, uma política monetária de compra de títulos da dívida pública


implica em uma redução das taxas de juros e um aumento da liquidez na
economia. Tratando-se, assim, de uma política monetária expansionista.

O exposto até aqui nos dá o “gancho” para entrarmos no assunto do próximo


subtópico, pois ao explorarmos como a taxa Selic over é definida, foi necessário
entender a utilização da principal ferramenta que o Banco Central utiliza para
influenciar os rumos da taxa de juros. Isto é, a compra ou a venda de títulos
públicos no mercado interbancário e a continuidade do raciocínio têm relação
direta com a ferramenta mais utilizada pelo Banco Central para afetar a Selic, a
compra ou a venda de títulos públicos ao sistema interbancário.

3.2 AS FERRAMENTAS DA POLÍTICA


MONETÁRIA
Nesse subtópico vamos entender como as ferramentas que o Bacen dispõe
para a realização da política monetária são utilizadas. Já citamos que essas
ferramentas são: a compra ou a venda de títulos públicos no mercado aberto;
o aumento ou a redução da taxa de redesconto; e o aumento ou a redução do
compulsório.

Como já abordamos no subtópico anterior a compra de títulos públicos na


execução de uma política monetária expansionista, vamos iniciar este subtópico
fazendo o raciocínio inverso. Digamos que a economia se encontre em um período
inflacionário e o Banco Central queira combater a inflação. As pessoas que fazem
parte do Comitê de Política Monetária – COPOM sabem que a inflação tem três
possíveis origens: a inflação de demanda, a inflação de custos e a inflação inercial.

109
SiSTEmA FiNANCEiro

A inflação de demanda é aquela decorrente de um aumento da demanda


(decorrente de mudanças nas preferências dos consumidores), enquanto a oferta,
em um primeiro momento, permaneceu a mesma. Um exemplo é a divulgação
ampla em várias revistas de saúde e beleza, a respeito dos benefícios para a
saúde e para a pele do consumo de óleo de coco, seja para fazer frituras, seja a
ingestão pura, ou mesmo na hidratação do cabelo.

Independente dos exageros ou a veracidade das afirmações sobre o produto


(nessas questões de saúde uma década a gema do ovo faz mal, na outra é super
saudável), o fato é que a divulgação dos supostos amplos benefícios do óleo de
coco fazem a demanda pelo produto disparar. Em um primeiro momento isso
impacta os preços do produto. O aumento dos lucros dos produtores estimula
estes a aumentarem sua produção, bem como outros empresários a entrarem no
setor promissor, o que incorre no aumento da oferta. Isto é, é só em um segundo
momento que a oferta aumenta, compensando o aumento da demanda anterior.
No primeiro momento o que se tem é uma inflação causada pelo aumento da
demanda.

Um detalhe que você deve se atentar é que uma expansão monetária como
causa da inflação (mencionada nos vídeos de Milton Friedman) entra no caso
da inflação de demanda, mas no lugar de ser por uma mudança de gostos ou
preferências como citado nos últimos dois parágrafos, incorre em um incremento
generalizado da demanda por produtos.

No caso de uma inflação de custos, o aumento do nível de preços se dá


por uma restrição ou estrangulamento do lado da oferta. Isso pode se dar por
um evento climático, como uma seca, uma geada, uma guerra ou, ainda, a
interrupção do fornecimento de parte dos bens intermediários necessários ao
processo produtivo (por exemplo, bens intermediários que sejam importados,
dado alguma restrição externa).

A inflação de demanda e de custos são as causas clássicas do processo


inflacionário. Já a inflação inercial se dá pela memória inflacionária. A ideia de
“inercial” remete ao conceito da física em que um corpo tende a permanecer
em movimento se não houver nenhuma força contrária, como o atrito, que a
desacelere e a faça parar.

Dessa forma, a inflação inercial esta diretamente relacionada à tentativa de


manutenção do valor de compra da população, como a indexação de pensões,
salários, aluguéis etc. existentes nos contratos. Isto é, a indexação é o aumento
de salários, pensões e aluguéis que acontecem todo ano, indexados (vinculados)
a algum índice inflacionário.

110
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Essa compensação, embora à primeira vista aja como uma compensação


pelas perdas da inflação passada, jogam a inflação para uma espiral de constante
aumento naquele mesmo percentual, à medida que o restante dos agentes
econômicos que não têm o seu rendimento indexado a algum índice inflacionário
(mas pagam aluguéis, funcionários etc.) tentam acompanhar o reajuste de preços
da parcela dos agentes econômicos que têm suas rentabilidades indexadas.
Dessa forma, se cria uma memória inflacionária.

A questão das causas da inflação é um assunto de intenso


debate. No entanto, cabe ressaltar que é consolidado o raciocínio da
inflação de custos (pelo lado da oferta) e a inflação de demanda como
causas reais e principais a serem combatidas. A inflação inercial é
mais controvérsia, muito mais explorada dentro do campo acadêmico
brasileiro do que no mundo afora, especialmente no chamado
“mundo livre”. Você já assistiu ao filme do plano real, agora veja o
“personagem” principal do filme, Gustavo Franco, falando a respeito
da inflação inercial em um dos encontros do Fórum da Liberdade:
https://www.youtube.com/watch?v=NphJ-SWXXPw.

Voltando nosso raciocínio a respeito das decisões monetárias de combate


à inflação, o COPOM sabe que, do lado monetário, o combate da inflação se dá
pelo controle da liquidez na economia. Esse controle perpassa por uma política
monetária contracionista, ou seja, a redução do crédito para toda a economia, o
que significa que o Bacen precisa pressionar para o aumento da taxa de juros.

Uma das formas do Bacen fazer isso é através da venda de título da dívida
pública no mercado interbancário, de forma que aumenta a quantidade destes
títulos em circulação, ou seja, todos ou a maioria dos bancos agora detêm mais
títulos da dívida pública em mãos (este aumento acarreta a queda nos preços
destes ativos e aumenta a taxa de juros). Com uma taxa de juros maior os agentes
econômicos estarão menos dispostos a reter moeda para transação, preferindo
poupar e ganhar com a alta de juros.

Dessa forma, uma política monetária de venda de títulos da dívida pública


implica em uma redução das taxas de juros e um aumento da liquidez na
economia, se tratando, assim, de uma política monetária contracionista.

111
SiSTEmA FiNANCEiro

De forma a complementar a discussão a respeito do


funcionamento do mercado interbancário e a relação deste com a
Selic over, assista à explicação a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=gXsvAAICsz4&t=274s.

Vamos nos voltar agora para outra ferramenta que as autoridades monetárias
dispõem para aumentar ou contrair a liquidez da economia. Esta ferramenta é
a taxa de compulsório. De acordo com Blanchard (2011), todos os bancos
comerciais são obrigados a manter parte do papel moeda que detêm junto ao
Banco Central, de forma a garantir que dispõem de recursos para uma eventual
emergência ou crise no sistema financeiro nacional.

É através da manipulação desse percentual que o Bacen pode atuar.


Segundo Froyen (1999), quando o Banco Central aumenta a taxa de compulsório
está executando uma política monetária contracionista, pois implica em menos
recursos em posse dos bancos comerciais para emprestarem (injetarem) à
economia. Isso reduz a liquidez e, portanto, aumenta a taxa de juros. Já quando
o Banco Central, ao reduzir a taxa de compulsório, está executando uma política
monetária expansionista, pois neste caso os bancos comerciais podem utilizar
mais papel moeda para empréstimos. Com o intuito de estimular a tomada de
empréstimos por parte dos agentes econômicos, os bancos comerciais precisam
reduzir a taxa de juros de seus ativos e das suas opções de empréstimos.

Por fim, o Banco Central também dispõe da possibilidade de alterar a taxa de


redesconto. A taxa de redesconto é, de acordo com Mankiw (2018), a taxa cobrada
pelo Banco Central caso algum banco comercial precise obter empréstimo junto
a ele. O Banco Central é o emprestador de última instância do sistema financeiro
nacional. Para realizar este empréstimo, o Banco Central cobra uma taxa. Sempre
que o Banco Central aumenta essa taxa, significa que está mais caro para os
bancos comerciais pegarem empréstimos junto ao Banco Central, caso venham a
precisar do auxílio dele.

Isso significa que os bancos comerciais ficarão mais cautelosos em incorrer


na situação de virem a precisar do auxílio do Banco Central. Este “ficar mais
cauteloso” implica em emprestarem menos do total de suas reservas (a soma
das reservas compulsórias mais as reservas privadas) aos agentes econômicos.

112
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Isto é, há uma disponibilidade menor de crédito para a economia. Dessa forma,


o aumento na taxa de redesconto por parte do Banco Central se trata de uma
política monetária contracionista.

Já se o Banco Central quiser realizar uma política monetária expansionista


através da taxa de redesconto, basta reduzir esta taxa. Dessa forma estará mais
barato para os bancos comerciais pegarem empréstimos junto ao Banco Central
em caso de virem a precisar do auxílio da instituição. Como está mais barato
incorrer neste empréstimo, os bancos comerciais se veem estimulados em reduzir
as reservas privadas que possuem e, por consequência, aumentam a oferta de
crédito para os agentes econômicos.

Assista ao vídeo a seguir sobre o conceito de taxa de redesconto:


https://www.youtube.com/watch?v=V4iG2rTY20A.

Recapitulando: o Banco Central atua na economia através da política


monetária expansionista ou contracionista. Para isso, o Banco Central possui três
ferramentas: as operações de mercado aberto, a taxa de compulsório e a taxa de
redesconto.

O Quadro 1 apresenta um resumo do que foi discutido nesta subseção,


de forma que você possa observar como cada uma das ferramentas pode ser
utilizada em cada uma das políticas monetárias.

QUADRO 5 – FERRAMENTAS DO BANCO CENTRAL

FERRAMENTAS DO BC EXPANSIONISTAS CONTRACIONISTAS


Taxa de redesconto. Redução. Aumento.
Taxa de compulsório. Redução. Aumento.
Compra e venda de títulos Compra de títulos. Venda de títulos.
no mercado aberto.
FONTE: O autor.

113
SiSTEmA FiNANCEiro

É importante ter em mente que o Banco Central atua sempre com duas
perspectivas em mente: buscando o combate à inflação ou o estímulo da
economia. Não é possível para o Banco Central atuar nestas duas frentes ao
mesmo tempo, pois o combate à inflação implica em um desaquecimento da
economia, em contraposição ao estímulo dela. É somente com a inflação sob
controle e dentro de expectativas baixas que o Banco Central tende a optar por
atuar em sentido de aquecer a economia.

Um bom filme a respeito de uma crise bancária


é o filme intitulado “The Big Short”, em português: “A
Grande Aposta”. Embora não trate diretamente da
atuação do Banco Central, este foi um exemplo da
atuação do Banco Central americano para resgatar
o sistema bancário americano durante a crise do
subprime de 2008.

FONTE: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/thumb/7/76/The_Big_
Short.jpg/200px-The_Big_Short.jpg. Acesso em: 18 jun. 2022.

Adicionalmente, segue uma dica de leitura sob


a perspectivas daqueles que criticam a atuação dos
Bancos Centrais e defendem sua extinção. O livro é
intitulado “O Fim do FED”, sendo FED a abreviação
de Federal Reserve. Veja alguns comentários de
Fernando Ulrich a respeito desta leitura:
https://www.youtube.com/watch?v=yDeNKDqICr8.

FONTE: https://www.erealizacoes.com.br/upload/produto/274/galeria/
zoom_o-fim-do-fed1000x1282.jpg. Acesso em: 18 jun. 2022.

Com esta subseção esgotamos toda a nossa discussão a respeito do Banco


Central, do mercado monetário e da política monetária. Vamos discutir na próxima
seção os recursos de tesouraria ou custos do capital, que são subdivididos entre
custo de capital próprio e custo de capital de terceiros.

114
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

4 RECURSOS DE TESOURARIA:
PRÓPRIOS E TERCEIROS
Nesse tópico será discutida a diferença em termos de custos que significa a
utilização de recursos próprios ou de terceiros para viabilizar o processo produtivo
de uma empresa. Nesse sentido, é necessário discutir o que é o custo do capital e
como este pode ser mensurado, bem como se pode mensurar o custo do uso do
capital próprio no processo produtivo da empresa e o de terceiros.

Para tanto, este tópico está dividido em duas partes. O primeiro subtópico
explora o conceito de custo do capital, seu vínculo com as questões contábeis
da empresa e sua relação com a rentabilidade do poupador ou emprestador dos
recursos financeiros. No segundo subtópico são explorados os conceitos e as
diferenças entre custo de capital próprio e de terceiros.

4.1 O CUSTO DO CAPITAL


A primeira questão a ser respondida é: “qual é o custo de se utilizar um
determinado volume de capital em um empreendimento?”. Este questionamento
perpassa pela rentabilidade mínima obtida pelo mesmo volume de capital se
alocado em um investimento sem risco; uma rentabilidade geral ou básica que a
economia de um país possui e que serve de parâmetro para todas as outras.

Note que já fizemos esta discussão antes, só estamos dando um outro olhar.
Na seção 2, intitulada “Formação de taxas e análise de rentabilidade”, em particular
na subseção 2.1, sobre a gestão do risco e o perfil do investidor, calculamos o
valor presente de um determinado montante, com base em uma taxa de juros de
rentabilidade mínima, basilar e geral, utilizada na economia. E que serve de base
para todas as outras decisões de investimento, pois, dado que essa rentabilidade
mínima é livre de risco (ou apresenta baixíssimo risco), qualquer outra opção de
investimento que envolva risco deve superar a rentabilidade da aplicação com
retorno livre de risco.

Dessa forma, qual é o custo do capital? Dito de outra forma, qual é o custo
do capital para ser empregado em uma empresa? No mínimo o valor da taxa
de juros de uso generalizado na economia e livre de risco. Detalhe importante:
quando usamos o termo “custo” estamos tendo o olhar de dentro da empresa,
pela perspectiva da empresa, como aquele gestor que está considerando pegar
um empréstimo, seja junto a um banco, seja pela emissão de ações, ou mesmo
debêntures.

115
SiSTEmA FiNANCEiro

Assim sendo, sob a ótica do gestor da empresa, este empréstimo é um custo.


Contudo, pelo olhar da instituição financeira que está realizando o empréstimo,
ou do indivíduo que considera adquirir debêntures a partir das economias que
poupou, a taxa de juros obtida é um retorno.

Sob a ótica de quem está emprestando (ou empregando) o capital em


determinada atividade produtiva ou na aquisição de ações ou debêntures, se trata
da rentabilidade a ser obtida, e da atratividade que a empresa significa. Dessa
forma, a discussão sobre o custo do capital não é desassociada da rentabilidade
do capital, pois são faces de uma mesma relação contratual do sistema financeiro.

Isto posto, vamos explorar as subdivisões do custo do capital, que são


apresentadas pela Figura 4. Contudo, vale se questionar: qual o nosso intuito com
a análise dessa figura? Pelo fato de que o custo do capital é dividido entre capital
de terceiros e capital próprio, pois são as duas únicas fontes que financiam um
empreendimento. Isto posto, vamos explorar mais detalhadamente a Figura 4.

A atividade empreendedora de uma firma, desde sua instalação física, seus


maquinários e equipamentos, bem como seus estoques, constitui o ativo da
empresa. Isto é, o capital está empregado em uma atividade produtiva para gerar
retornos, e este compõe o lado do ativo da empresa.

FIGURA 4 – ESTRUTURA DE DIVISÃO DO CUSTO DO CAPITAL

FONTE: https://livrozilla.com/doc/228714/custo-de-capital--estrutura-
de-capital-e-pol%C3%ADtica-de---cr. Acesso em: 18 jun. 2022.

Do lado do passivo, ainda analisando a Figura 4, temos o passivo circulante,


que consiste nos compromissos a serem honrados no curto prazo. Isto é, conforme
descrito em Knuth (2010), são as contas a serem pagas no período de até um
ano, como fornecedores, encargos sociais e impostos, bem como empréstimos e
financiamentos de curto prazo.

116
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Caro aluno, assista aos vídeos a seguir e entenda um pouco


mais sobre as diferenças contábeis entre ativos e passivos:
https://www.youtube.com/watch?v=2nmLru3Z14c.
https://www.youtube.com/watch?v=KyTodnmgmUQ.

Os compromissos do passivo circulante são geralmente honrados pela


aquisição de capital de terceiros. O capital de terceiros, de acordo com Livrozilla
(2022), remete aos empréstimos adquiridos pela empresa a taxas praticadas no
mercado financeiro. Isto é, com valores previamente definidos de quanto será
pago pelo empréstimo adquirido.

A conta de exigíveis a longo prazo constituem os compromissos a honrar pela


empresa com prazos acima de um ano, como alguns dos empréstimos realizados
junto a bancos. Isto é, este também constitui de um custo de capital adquirido com
terceiros (KNUTH, 2010).

Já o patrimônio líquido, segundo Yenom (2022), corresponde à diferença


entre ativos totais e passivos totais. Isto é, entre aquilo que tem valor monetário
para a empresa e aquilo que gera despesas, como dívidas. O patrimônio líquido
corresponde, assim, à riqueza da empresa, o que ela possui menos as contas que
tem que pagar. Representa a fonte interna de fundos da empresa e o quanto seus
proprietários investem nela.

O patrimônio líquido é contabilizado no passivo não circulante. Para você


isso pode soar estranho, uma vez que o patrimônio líquido representa a riqueza
da empresa. Segundo a Lei 6.404/76, artigo 178, § 2, descreve Yenom (2022), o
patrimônio líquido faz parte do passivo porque representa as obrigações que a
pessoa jurídica assumiu quando recebeu o capital de seus proprietários, tornando,
assim, possível suas atividades.

Em outras palavras, o patrimônio líquido faz parte do passivo porque o


número encontrado no patrimônio líquido demonstra a soma que a entidade deve
aos sócios. É a dívida que a empresa tem para com seus donos, e, desta forma, o
patrimônio líquido se encontra junto ao passivo (YENOM, 2022).

117
SiSTEmA FiNANCEiro

Assista ao vídeo a seguir como uma complementação conceitual


a respeito do patrimônio líquido:
https://www.youtube.com/watch?v=767XdjlE3IU.

Neste ponto do livro, cabe uma explanação. Ao serem abordados


aspectos basilares relacionados à contabilidade, se buscou, por um lado, lhe
dar fundamentação para a compreensão mínima sobre variáveis ou dados que
aparecem, muitas vezes, em indicadores de análise acionária, fundos etc. Por
outro lado, buscamos lhe fazer o convite para aprofundar estes conhecimentos,
para que você adquira o intento desta pesquisa a respeito de compreender melhor
conceitos contábeis sobre o que compõe uma empresa. Toda essa fundamentação
é um conjunto de capacidades e habilidades relacionadas ao sistema financeiro e
à capacidade de avaliar a saúde financeira de uma organização empresarial.

O entendimento contábil sobre a composição dos passivos de curto e longo


prazos, bem como do patrimônio líquido da empresa, nível de endividamento etc.
são fundamentais na tomada de decisões no mercado acionário. A partir deste
entendimento fica mais fácil compreender a lógica de algumas métricas de análise
de uma empresa, bem como intuitivamente inferir as dificuldades que a empresa
analisada tem a curto prazo, ou mesmo as possíveis complicações que terá a
longo prazo.

FONTE: https://cognitiogestao.com.br/wp-content/uploads/2020/06/
Imagem-2.png. Acesso em: 18 jun. 2022.

118
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Isto posto, uma vez discutido os aspectos relacionados aos custos do capital
tangenciando aspectos contábeis basilares, vamos nos voltar agora às diferenças
entre o custo de capital próprio e o de terceiros.

4.2 CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO E


DE TERCEIROS
O capital de terceiros remete ao capital adquirido via empréstimos a
instituições financeiras ou levantado junto à sociedade por meio da emissão de
debêntures que, como aprendemos no Capítulo 2 deste livro, nada mais são
que uma espécie de CDB ou título públicos, mas emitidos pela empresa, se
comprometendo a pagar uma determinada taxa de juros ao logo de determinado
tempo. Em termos da Figura 4, corresponde à soma do passivo de curto prazo, ou
seja, o passivo circulante, mais o passivo não circulante ou passivo a ser honrado
com um período acima de um ano.

Já o capital próprio corresponde ao capital societário da empresa, composto


pelo capital dos sócios mais o capital dos acionistas. Corresponde, ainda, ao
patrimônio líquido da empresa que, como descrevemos no subtópico anterior, é
contabilizado junto ao passivo.

O capital de terceiros, como já mencionado antes, se trata do capital adquirido


pela empresa por parte de instituições financeiras ou debêntures. Isto é, a taxa de
retorno deste capital está pré-estabelecida junto ao mercado financeiro. Dessa
forma, se sabe no início do contrato de empréstimo a rentabilidade ou o retorno
que o emprestador terá; e, de outro lado, os valores a serem pagos pela empresa
captadora de recursos pelo empréstimo adquirido.

Além disso, o capital de terceiros tem a garantia de que, no caso de


inadimplência ou falência, os credores sempre possam executar a dívida de
forma que venham a ser ressarcidos, e, dessa forma, recebam primeiro (eis a
garantia do recebimento) do montante que foi levantado; e só depois é que serão
ressarcidos aqueles que representam o capital próprio da empresa, ou seja,
sócios e acionistas.

Dessa forma, o capital próprio não tem garantia nenhuma de que haverá o
ressarcimento no caso de falência. Por isso, o custo do capital próprio é sempre
maior que o custo do capital de terceiros.

119
SiSTEmA FiNANCEiro

Assista à explicação sobre a diferença entre capital de terceiros


e capital próprio no vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=iTBbmugVQjo.

A empresa pode, então, ser financiada através do capital de terceiros ou


do capital próprio. No capital de terceiros, através do endividamento junto a
empréstimos no sistema financeiro, ou pela emissão de ações no mercado
acionário que, ao se tornarem “sócios” do empreendimento, apostam no
crescimento da empresa, financiando esta.

Você pode estar se perguntando: “por que a empresa optaria por fazer ou
aumentar dívidas junto ao mercado financeiro se pode conseguir se financiar
através da emissão de novas ações e, assim, honrar compromissos e continuar
os projetos de expansão da empresa, sem aumentar seu endividamento?”. A
resposta é: pela questão do custo do capital.

Dado que o custo de capital de terceiros tem um nível de garantia maior


do retorno pelo empréstimo realizado à empresa, as taxas de retorno exigidas
pelas instituições financeiras para a realização destes empréstimos tendem a ser
menores do que o retorno exigido pelo capital acionário que, ao estar participando
da ação empreendedora da firma, não tem garantia nenhuma de qualquer retorno
ou ressarcimento.

Isto é, é mais vantajoso (ou relativamente mais barato) para a empresa pagar
os juros ao realizar empréstimos (contrair dívida) do que arcar com os custos
relacionados à rentabilidade de suas ações (como dividendos), a fim de atrair
investidores.

Então surge a questão: “como calcular estes retornos?” Como calcular o


retorno esperado pelo capital de terceiros e pelo capital próprio?”. Dito de outra
forma, como se calcula o retorno das instituições financeiras para realizarem estes
empréstimos junto às empresas? E como se calcula o retorno dos acionistas, ao
não terem garantia e participarem do empreendimento?

Já deve ter passado em sua mente que a base deste cálculo deve ser a
taxa de rentabilidade dos ativos existentes no sistema financeiro livres de
risco. Qualquer retorno advindo de investimentos de riscos menor ou igual às
possibilidades de investimentos sem riscos existentes no mercado, sendo os

120
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

agentes econômicos racionais, implicarão em não haver disponibilidade de


recursos para serem emprestados junto às empresas ou para serem investidos na
compra de ações das empresas.

Como já salientado no subtópico anterior, o custo de capital é a outra face


da rentabilidade do capital. É por isso que o modelo CAPM, que já utilizamos
neste capítulo para calcular a taxa de retorno esperado pelo investimento em
uma ação específica, é também o modelo utilizado para se calcular o custo do
capital próprio que a gestão de uma empresa deve considerar para calcular a
taxa mínima de atratividade que a ação de sua empresa tem de ter para atrair
investidores dispostos a se tornarem “sócios” (através do mercado acionário) em
seu empreendimento.

Um detalhe importantíssimo: como vimos no cálculo da rentabilidade, o


retorno esperado pelo investimento no ativo é dado pela variável ri. Para o cálculo
do custo de capital próprio, é comum esta variável aparecer como ke. Dessa
forma, a fórmula fica:

ke = rf + [βi x (rm- rf)]

Trata-se da mesma variável, mas como são aspectos diferentes dentro do


sistema financeiro, é comum aparecer com esta nomenclatura diferente. Embora
os estudantes, em geral, prefiram uma uniformização, uma vez que esta não
existe entre as diferentes bibliografias sobre o modelo CAPM, o melhor é conhecer
essas nomenclaturas diferentes.

Assista aos vídeos a seguir a respeito da explicação do modelo


CAPM com esta ótica do custo do capital próprio:
https://www.youtube.com/watch?v=MkXUXvpEtf0&t=68s.
https://www.youtube.com/watch?v=RTzoij_p_co.

Vamos agora nos voltar ao cálculo do capital de terceiros. O cálculo do


capital de terceiros (Ki), de acordo com Cognitio (2020), é dado pelas despesas
financeiras da empresa (ou seja, o quanto a empresa pagou de juros em um
período) que se encontram na Demonstração do Resultado do Exercício – DRE,
multiplicado por (1 – IR), que representa o desconto no imposto de renda, tudo
dividido pelo passivo oneroso.

121
SiSTEmA FiNANCEiro

O passivo oneroso é dado apenas pela parte do total de capital de terceiros


que é “onerada” pelo pagamento de juros. Empréstimos realizados para o curto
prazo, ou seja, até 30 dias, e que não pagam juros, não são contabilizados.

Dessa forma temos, matematicamente: Ki = [J x (1 – IR)]/PO) x 100.

O Custo de Capital de Terceiros mostra os pagamentos periódicos


tirados de caixa do devedor, mostrando os pagamentos de
juros e principal da dívida que são determinados no contrato.
Quando sua empresa capta recursos de terceiros ela deve
honrar com os seus compromissos financeiros assumidos
com a dívida, independente do sucesso do empreendimento.
O Custo de Capital de Terceiro é conhecido como um custo
explícito já que demonstra um desembolso real do caixa de
maneira repentina (COGNITIO, 2020, s. p.).

Assista ao vídeo a seguir para complementar a explicação a


respeito do custo de capital de terceiros:
https://www.youtube.com/watch?v=8qtVSS7cR54.

Obs.: você notará que o custo de capital de terceiros, no vídeo,


é chamado de kd. Esta é mais uma nomenclatura que pode aparecer
de duas formas, dependendo do vídeo ou bibliográfica consultado.
Contudo, seja pela nomenclatura de ki ou kd se trata da mesma
variável, ou seja, o custo do capital de terceiros.

Bom, então vimos como calcular o custo de capital de terceiros e o custo de


capital próprio, mas qual o custo de capital da firma?

Para fazer o cálculo do custo de capital da firma precisamos ponderá-lo


pelos custos de capital próprio e de terceiros. Para realizar este cálculo usamos
o modelo WACC que, de acordo com Machado (c2022), o Weighed Average Cost
of Capital – WACC, em português o Custo Médio Ponderado de Capital ou Preço
Médio Ponderado, representa em termos percentuais o custo médio da capitação
de recursos financeiros para a empresa a partir da soma ponderada dos custos de
capital próprio e de terceiros.

122
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Conforme Stumpf (2020), sua fórmula é dada por:

Em que:

E = Valor do capital próprio.

D = Valor do capital de terceiros.

ke = Taxa de custo do capital próprio.

ki = Taxa de custo do capital de terceiros.

De acordo com Dicionário Financeiro (c2022), o valor encontrado pelo WACC


resulta em uma porcentagem que indica o retorno mínimo que o negócio deve
ter ao converter o seu capital em ativos e cumprir com as suas obrigações. Em
termos práticos, uma empresa com WACC muito elevado é menos atrativa para
quem deseja investir.

Assista ao vídeo a seguir para uma explicação adicional às


relações estudadas nesta seção:
https://www.youtube.com/watch?v=GpO9tr5Ur7A.
Adicionalmente, assista a um exemplo do cálculo do WACC:
https://www.youtube.com/watch?v=9KHH1--NftI.

Perceba que, uma vez que o custo de capital próprio incorre em maior risco
para os investidores, quanto maior for a participação do custo de capital próprio,
maior será o WACC, ou seja, maior será o custo de capital da empresa. Já quanto
maior for maior for a participação do custo de capital de terceiros, menor será o
custo de capital da empresa, ou seja, menor o WACC.

Finalizamos a seção três! Vamos, agora, trabalhar na próxima subseção as


tendências mais recentes do mercado financeiro, começando por aquelas que já
se apresentam consolidadas como as fintechs e as criptomoedas, e avançando
para as tecnologias disruptivas do setor, que são os chamados NFTs e o
metaverso.
123
SiSTEmA FiNANCEiro

5 VISÃO DAS TENDÊNCIAS DO


MERCADO FINANCEIRO
Este subtópico visa trabalhar os conhecimentos relacionados às tecnologias
mais recentes, ou seja, dos últimos 10 ou 15 anos, que surgiram e vêm se
desenvolvendo. Neste sentido, explora-se primeiro o que são as fintechs e as
criptomoedas, tecnologias que já mostram consolidação frente ao mercado
financeiro. Posteriormente, trabalharemos os conceitos de Defi, NFT e metaverso,
que são tecnologias ainda disruptivas.

De acordo com Blog Nubank (2021), o termo fintech advém do inglês financial
technology, em português tecnologia financeira. É utilizada para se referir a
startups ou empresas que desenvolvem produtos financeiros totalmente digitais.
Este é o principal diferencial em relação às empresas tradicionais do setor que
popularmente chamamos de “bancões”.

Segundo Celero (2022) a principal diferença entre as fintechs e as startups é o


segmento de atuação. Isto porque uma startup pode atuar em qualquer segmento
de mercado, como alimentação, tecnologia, vestuário, seguros e outros; enquanto
uma fintech trabalha exclusivamente com soluções voltadas para o mercado
financeiro.

Conforme Alecrim (2021), através da tecnologia e inovação, estas novas


empresas do sistema financeiro criaram metodologias, processos e ferramentas
que facilitam o acesso a serviços financeiros. O resultado aparece para os clientes
na forma de praticidade, burocracia reduzida, custos baixos e maior controle sobre
sua vida financeira.

Os serviços oferecidos não são muito diferentes daquilo que encontramos em


bancos e afins, tais como contas digitais, cartão de crédito (inclusive pré-pago),
sistema de pagamentos, financiamentos, seguros e muitos outros. Contudo, tais
empresas inovaram ao oferecer outros serviços, como a possibilidade de o cliente
gerenciar as suas finanças com maior clareza (ALECRIM, 2021).

Uma dúvida que pode surgir é “mas as fintechs são seguras?”. De acordo
com Celero (2022, s. p.):

124
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Da mesma forma que os bancos tradicionais, as fintechs


são fiscalizadas pelo Banco Central que, em 2018, aprovou
as resoluções 4646, 4657 e 4658. Em virtude de verificar e
garantir mais segurança jurídica às operações financeiras
realizadas em plataformas digitais. Entre as medidas previstas
nas resoluções está a exigência de que as empresas desse
segmento contem com medidas de proteção eficazes, com
o propósito de evitar ataques cibernéticos. Foi a partir dessa
regulamentação do Bacen que passou a ser possível que
fintechs e empresas do mesmo setor pudessem conceder
crédito sem a necessidade da intermediação de um banco, por
exemplo. Isso significa que essas empresas estão sujeitas à
paralisação de atividades em caso de irregularidades junto ao
Banco Central.

Aluno, para complementar seus estudos sobre as fintechs


assista aos vídeos disponibilizados a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=hZrv2kUfa8w.
https://www.youtube.com/watch?v=iChrkVD89Uc.

Vamos nos voltar agora às criptomoedas. Você com certeza já ouviu falar
sobre elas, talvez até tenha comprado algumas bitcoins uma década atrás e
hoje é um novo milionário. Caso você não conheça a respeito, talvez a primeira
pergunta que venha a sua cabeça é: “o que é uma criptomoeda?”.

Segundo Riconnect (2021), as criptomoedas são moedas digitais


descentralizadas, ou seja, que não são controladas por algum órgão estatal
em específico. Elas são criadas em uma rede blockchain que é responsável
por armazenar com segurança os mais diversos tipos de informações, como
transações financeiras, registros e dados de pessoas que participam dessas
transações. Essas criptomoedas geradas na blockchain possuem um valor que
pode ser convertido para outras moedas, como o dólar ou o real, e, por isso, elas
podem ser utilizadas como moeda de troca para compra de produtos e consumo
de serviços.

De acordo com Blog Nubank (2022), blockchain é basicamente um sistema


que permite o envio e o recebimento de alguns tipos de informação pela internet.
São pedaços de código gerados on-line que carregam informações conectadas,
como blocos de dados que formam uma corrente – por isso o nome “corrente de
blocos”.

125
SiSTEmA FiNANCEiro

Assista aos vídeos a seguir para complementar seu


entendimento do que é uma criptomoeda e o que é blockchain. Em
particular, os vídeos se concentram na criptomoeda basilar de todo o
sistema de criptomoedas, o bitcoin:
https://www.youtube.com/watch?v=1SwQtvUAQ1E&t=611s.
https://www.youtube.com/watch?v=luupqbHgZX8.
https://www.youtube.com/watch?v=7ERflI_6f9M.
https://www.youtube.com/watch?v=U0IN7JZwcBI.

Duas inovações do mercado de criptomoedas que permitiram o


desenvolvimento do mercado cripto foram o surgimento das exchanges e das
stablecoins.

Segundo Infomoney (c2022), as exchanges (também chamadas de


corretoras de criptomoedas) têm a função de intermediar as negociações entre
vendedores e compradores de ativos digitais. As exchanges cobram taxas para
estas transações, de onde advém sua receita. Na prática, são bem parecidas
com as corretoras de bolsa de valores, nas quais basta o usuário se cadastrar,
confirmar sua identidade, cadastrar uma conta corrente de um banco para enviar
e sacar recursos e, assim, negociar os ativos.

Já as stablecoins, conforme Velleda (2022), são criptomoedas que não


apresentam a volatilidade elevada típica das demais criptomoedas, como o
bitcoin (BTC) ou o ethereum (ETH). As stablecoins são lastreadas ou em dólar
americano, euro, ouro e outros ativos, o que garante a sua estabilidade. O dólar
é o lastro mais comum das stablecoins, entre as mais usadas cabe destacar o
tether (USDT) e o USD coin (USDC), em que para cada US$ 1 emitido na forma
de stablecoin deve existir US$ 1 depositado em uma reserva de garantia.

Outra vantagem das stablecoins é que elas internacionalizam


o patrimônio do investidor. A exposição ao dólar e ao euro, por
exemplo, permite fugir da inflação e da volatilidade do real, e
preserva o poder de compra (VELLEDA, 2022, s. p.).

126
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Para complementar seus estudos, assista ao primeiro vídeo que


fala sobre o surgimento das exchanges, e o segundo vídeo que fala
sobre as stablecoins:
https://www.youtube.com/watch?v=N8bURQUlHMU.
https://www.youtube.com/watch?v=m20-Xc5_4Ws&t=183s.

Você pode estar se perguntando: “onde e como guardo minhas criptomoedas


de forma segura?”. Neste sentido, há diversas opções, mas aquela considerada
a mais segura pela maioria dos agentes econômicos que possuem parte de seus
ativos no mercado de criptomoedas são as chamadas “Hardwallets”. Estas nada
mais são que uma espécie de “pendrive” para guardar criptomoedas.

Esta opção é preferida por três motivos. O primeiro é a desconexão com


a internet. Quando suas criptomoedas estão em uma exchange ou em uma
carteira digital sempre há a possibilidade de uma invasão por parte de um hacker.
O segundo motivo é a durabilidade, pois o “hard” tende a ser mais durável que
outras opções; e, o terceiro motivo, que complementa o segundo, é o fato de que
em caso de perda ou dano da hardwalllet há uma série de palavras-chave que
permitem você comprar uma nova hardwallet e, ao usar essas palavras-chaves,
acessar toda sua carteira, mesmo estando em outra hardwallet. Por isso essas
palavras-chave são tão importantes.

Para complementar seus estudos sobre carteiras de


criptomoedas, veja o vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=9EFv3s0Sbs8.

Até aqui discutimos aquilo que já está consolidado dentro do mercado de


criptomoedas no ano de 2022. Vamos agora abarcar assuntos mais disruptivos,
ou seja, direções em que o mercado está se desenvolvendo. Para isso, vamos
falar de uma inovação que está em desenvolvimento, que são as Defi; e,
posteriormente, de uma inovação disruptiva, ainda em seus primórdios, mas que
já desponta como tendência, que é o metaverso.

127
SiSTEmA FiNANCEiro

DeFi, de acordo com Capital Aberto (2021), é a abreviatura de “decentralized


finance”, ou em português “finanças descentralizadas. Esse ecossistema surgiu
em 2015 com o mesmo princípio do bitcoin, só que enquanto o bitcoin é uma
moeda descentralizada, DeFi é todo um ecossistema de serviços financeiros.
Dessa forma, por meio destas plataformas, é possível simplificar a contratação de
empréstimos e seguros e facilitar a negociação de ativos, removendo a figura dos
intermediários, como bancos, corretoras e demais instituições financeiras.

Dessa forma, as plataformas DeFi permitem que investidores,


financiadores, tomadores de empréstimo, vendedores e
compradores negociem e interajam entre si diretamente.
Trata-se de um sistema interconectado e com código-fonte
aberto — também conhecido como open source —, cujas
aplicações ficam armazenadas dentro da blockchain. O DeFi
funciona por meio dos chamados smart contracts, contratos
inteligentes digitais programáveis que permitem executar de
forma automática um código previamente definido (CAPITAL
ABERTO, s. p.).

Cabe a esta altura da leitura fazer uma importante distinção que se consolidou
com a disseminação dos contratos DeFi. Até então só existiam as exchanges
tradicionais, como a Binance e a Novadax. Estas foram se tornando cada vez
mais burocratizadas, e seu servidor tem redes físicas e servidores centralizados, o
que facilita ataques de hackers. Dessa forma elas são chamadas hoje de CEX, ou
exchanges centralizadas. Isso porque a partir do desenvolvimento da tecnologia
DeFi surgiram as DEX, que são exchanges descentralizadas. Foi uma mudança
de nomenclatura decorrente então da evolução do sistema financeiro cripto. As
plataformas antes chamadas apenas de exchanges até 2020 passaram a ser
conhecidas como exchanges centralizadas – CEX.

Segundo Mello (2020), as CEX são as tradicionais exchanges de


criptomoedas e onde está o maior volume de negociações. Nas CEX o usuário
abdica da custódia de seus fundos e os deixa depositados na plataforma,
operando em um sistema mais dinâmico, porém com pouca segurança.

Ainda conforme Mello Brasil (2020), as exchanges centralizadas permitem


que seus usuários comprem criptomoedas com moeda fiat (de fiat Money, que
significa moeda fiduciária, ou seja, as moedas oficiais de cada país impressas por
seus bancos centrais) por cartão de débito/crédito ou transferência. A conveniência
no uso das exchanges centralizadas dá ao investidor de criptomoedas, muitas
vezes, a impressão de segurança e desloca a responsabilidade de se preocupar
com seus fundos para a exchange, terceirizando o risco da custódia.

128
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Como as exchanges centralizadas não preservam o anonimato tão desejado


por aqueles que inventaram a tecnologia em torno das criptomoedas, bem como
pelos indivíduos que buscaram entender e atuar no mercado cripto, na busca
por fugir do crescente controle estatal sobre o indivíduo que está ocorrendo no
ocidente, argumenta Fialho (2022), as chamadas exchanges descentralizadas
(DEX) funcionam como uma alternativa menos invasiva para quem deseja
discrição e privacidade. Nelas não há a verificação de identidade ou outros dados,
de forma que para negociar basta conectar sua carteira e pronto.

De acordo com Fialho (2022), as exchanges descentralizadas são plataformas


de negociação de criptoativos em que os usuários trocam criptomoedas sem
intermediários, nas chamadas operações "peer-to-peer" (de indivíduo para
indivíduo). Diferente das exchanges centralizadas, a DEX é “autogovernada”,
ou seja, não tem uma terceira parte para gerenciar os ativos dos usuários, livro
de ofertas ou custódia. Assim sendo, são os próprios usuários que fornecem a
liquidez para que as transações ocorram.

Para maior entendimento sobre a diferença entre CEX e DEX,


assista ao primeiro vídeo. O segundo e o terceiro complementam a
discussão sobre DeFi:
https://www.youtube.com/watch?v=JIWMHC9tdEY.
https://www.youtube.com/watch?v=phijeVP2HxM.
https://www.youtube.com/watch?v=bfy1122V0LQ.

Vamos agora nos voltar para o que está se difundindo como “metaverso”.
Segundo a Binance Academy (2022), o metaverso é um conceito de universo on-
line 3D que combina diversos ambientes virtuais. Este tende a ser a interação
futura da Internet. O metaverso permitirá que os usuários trabalhem, se encontrem,
joguem e socializem em ambientes 3D. Já existem plataformas que possuem
elementos semelhantes, como os jogos de videogames. Os desenvolvedores
expandiram os limites de jogos por meio de eventos e com a criação de complexas
economias virtuais.

Nesse sentido as criptomoedas são uma ótima opção para metaversos. Elas
permitem a criação de uma economia digital com diferentes tipos de tokens de
utilidade (utility tokens) e colecionáveis virtuais (NFTs). O metaverso também se
beneficia do uso de carteiras de criptomoedas, como a Trust Wallet e a MetaMask

129
SiSTEmA FiNANCEiro

(estas carteiras estão relacionadas ao desenvolvimento da tecnologia DeFi). Já


existem aplicativos blockchain semelhantes aos do metaverso, que oferecem
uma boa fonte de renda às pessoas. O Axie Infinity é um jogo do tipo play-to-
earn (no qual você joga para ganhar dinheiro). Muitos usuários usam o jogo como
fonte de renda primária. SecondLive e Decentraland são outros exemplos bem-
sucedidos da combinação do mundo blockchain com aplicativos de realidade
virtual (BINANCE ACADEMY, 2022).

Os Non Fungible Tokens – NFTs, ou Tokens não fungíveis são, de acordo


com Freire (2021), um tipo de token baseado em blockchain e usado para provar
a propriedade de itens digitais. Isto é, esses tokens certificam a exclusividade e
a originalidade dos objetos virtuais. Para fazer um paralelo ao mundo real você
pode fazer muitas cópias do quadro da Mona Lisa, mas há somente uma pintada
por Leonardo Da Vinci. Até o momento (2022) os NFTs são mais conhecidos pelo
seu emprego na compra de arte virtual, mas isso não significa que a tecnologia se
restringe a essa finalidade, pois a tecnologia é recente e está em desenvolvimento.

Sobre as incertezas e perspectivas do que será o multiverso


ou w3 assista aos dois primeiros vídeos. O terceiro trata do que são
NFTs:
https://www.youtube.com/watch?v=uHINs4w77W0.
https://www.youtube.com/watch?v=lOI-F-KYAfM&t=1634s.
https://www.youtube.com/watch?v=2i1nOMPxF2g.

Caro aluno, com o assunto sobre todo o mercado de criptomoedas


encerramos esta seção e, por consequência, este capítulo. Sobre esse mercado
há muito mais a abarcar, faça sua própria pesquisa, comece a acompanhar as
tendências do mercado, aprenda sobre o funcionamento das CEX, DEX, carteiras
digitais etc. Toda nova tecnologia é acompanhada de inúmeras possibilidades. Que
atitude tomou quando surgiu o bitcoin em 2008? Que atitude tomou quando surgiu
o ethereum em 2015? O que irá fazer diante da eminência do metaverso, também
sendo chamada de WEB3? Deixamos com você essa pequena provocação.

Tenha em mente que é da natureza do indivíduo a busca por liberdade. Não


há maior liberdade do que o desenvolvimento de todo um mercado financeiro
que não foi imposto por um estado, mas desenvolvido pela soma dos interesses
individuais.

130
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

1 A gestão do risco envolve o conhecimento a respeito dos


riscos envolvidos, bem como a mensuração de seus
possíveis impactos. As possíveis origens dos riscos estão
nas oscilações de preços dos ativos, mudanças nas taxas
de juros, inadimplência e falhas dos recursos humanos.
Sobre os três perfis do investidor frente ao risco, assinale a
alternativa CORRETA:

a) Operador de risco, gestor de risco e amante do risco.


b) Avesso ao risco, indiferente ao risco e propenso ao risco.
c) Avesso ao risco, operador de risco e propenso ao risco.
d) Gestor do risco, indiferente ao risco e amante do risco.

2 O sistema financeiro é composto de uma variedade de opções


de investimentos, estes envolvendo diferentes combinações
de rentabilidade, risco e liquidez. O investidor deve avaliar
a combinação destes que maior se encaixa em seu perfil.
Sobre os tipos de investimentos característicos de quem tem
o perfil conservador, assinale a alternativa CORRETA:

a) Frequentemente em criptomoedas e jogos de azar.


b) Investe uma boa parte em bolsa de valores, futuro e derivativos.
c) Majoritariamente em produtos de renda fixa, como LCA, LCI e
tesouro nacional.
d) Procura investir meio a meio, sendo parte em rendimentos de
baixo risco, e outra em títulos de maior risco e mais retorno, como
fundos de investimento e bolsa de valores.

3 Entre as mais importantes causas determinantes do risco


econômico estão as de natureza conjuntural, como
mudanças econômicas ou tecnológicas; de mercado, como
o crescimento da concorrência; e do próprio planejamento
e gestão da empresa, tais como vendas, custos, preços,
investimentos etc. Já o risco financeiro está mais diretamente
relacionado com o endividamento (passivos) da empresa e
sua capacidade de pagamento. Estes riscos formam o risco
total, dividido entre risco sistêmico e não sistêmico. Sobre
o exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

131
SiSTEmA FiNANCEiro

( ) O risco não sistêmico, como atinge a economia como um todo,


significa que não há o que fazer em termos de tentar diluí-lo ao
investir em vários ativos.
( ) O risco sistêmico pode ser diluído pelo investidor ao diversificar
seus investimentos em uma variedade de ativos.
( ) O risco sistêmico é também chamado de risco não diversificável.
( ) O risco não sistêmico é também chamado de risco diversificável.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) F - F - V - V.
b) V - V - F - F.
c) F - V - F - V.
d) V - F - V - F.

4 A política monetária pode ser contracionista ou expansionista.


A política monetária contracionista visa contrair a liquidez na
economia e, portanto, a pressão inflacionária de demanda. Já
uma política monetária expansionista visa expandir a liquidez
na economia, estimulando o desenvolvimento econômico.
Para realizar tanto a política monetária contracionista quanto
a expansionista o Banco Central tem três ferramentas. Sobre
essas ferramentas, assinale a alternativa CORRETA:

a) Aumento ou redução dos gastos do governo, aumento ou redução


na taxa de redesconto e compra ou venda de títulos públicos no
mercado aberto.
b) Aumento ou redução dos impostos, aumento ou redução na taxa
de compulsório e aumento ou redução na taxa de redesconto.
c) Compra ou venda de títulos públicos no mercado aberto, aumento
ou redução na taxa de compulsório e aumento ou redução na
taxa de redesconto.
d) Aumento ou redução dos gastos do governo, aumento ou redução
dos impostos e compra ou venda de títulos públicos no mercado
aberto.

5 O empréstimo realizado por uma instituição financeira a um


terceiro é realizado com uma taxa de juros atrelado a este
empréstimo. Para a instituição financeira estes juros são a
remuneração a receber pelo valor inicialmente emprestado
ao longo do tempo pelo qual durará o empréstimo. Pelo lado
do tomador de empréstimos representa o valor adicional

132
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

a ser desembolsado por ter tomado aquele empréstimo.


Sobre o custo de capital, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) O custo de capital é dado pela soma do custo de capital de


terceiros e do custo de capital de produção.
( ) O custo de capital de terceiros remete somente aos empréstimos
adquiridos pela empresa junto às instituições financeiras, não
incluindo a emissão de debêntures por parte da empresa.
( ) O custo de capital é dado pela soma ponderada do custo de
terceiros e do custo de capital próprio.
( ) O custo de capital próprio é dado pela participação do capital
dos sócios e acionistas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) V - V - F - F.
b) V - F - V - F.
c) F - V - F - V.
d) F - F - V - V.

6 Duas inovações relativamente novas são as startups e as


fintechs. Ambas representaram uma mudança em termos
do emprego da tecnologia. As startups são mais antigas,
surgindo primeiramente no Vale do Silício, nos Estados
Unidos, na década de 1990. Sobre a diferença básica entre
uma fintech e uma startup, assinale a alternativa CORRETA:

a) As fintechs atuam nos ramos financeiros e de aluguéis de carro.


b) As startups atuam com prestação de serviços financeiros.
c) Tanto as fintechs como as startups atuam como prestadoras de
serviços financeiros.
d) As startups atuam em diversos segmentos, enquanto as fintechs
atuam exclusivamente na prestação de serviços financeiros.

133
SiSTEmA FiNANCEiro

6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Com o término deste capítulo encerramos seus estudos sobre o sistema
financeiro nacional. Esperamos ter trazido a você as bases fundamentais sobre
toda a gama de conhecimentos e habilidades que cercam as muitas possibilidades
de atuação dentro do mercado financeiro, bem como o conhecimento básico para
você aplicar a seu próprio portifólio de investimentos pessoais.

Na seção 2 deste capítulo se trabalhou a análise de rentabilidade de um


investimento específico no mercado acionário, discutindo os diferentes perfis
do investidor, e explorando as diferenças entre investidores conservadores,
moderados e arrojados. Discutiu-se ainda a diferença entre risco sistêmico e não
sistêmico e a relação destes com a possibilidade de diversificação do risco. A
seção finalizou com a apresentação do modelo CAPM, que mede a rentabilidade
de se correr o risco de se investir em uma ação específica por meio de uma
comparação do retorno esperado de tal investimento com o retorno esperado de
todo o mercado acionário.

A seção 3 se voltou à política monetária e seu impacto na disponibilidade


de crédito, complementando os estudos relacionados ao mercado monetário
trabalhado nos capítulos 1 e 2 deste livro. Em particular, se trabalhou como a
política monetária atua através de suas três ferramentas, que são a compra ou
venda de títulos públicos no mercado aberto, a redução ou o aumento da taxa
de redesconto e a redução ou o aumento da taxa do compulsório, para afetar a
disponibilidade de crédito por parte das diferentes instituições financeiras junto
àqueles que desejam tomar crédito emprestado.

A seção 4 discutiu a questão do custo de capital de uma empresa. Vimos


que esta é composta pelo custo de capital próprio, envolvendo o capital dos
sócios e acionistas, e do custo de capital de terceiros, que nada mais são do que
empréstimos realizados junto ao mercado financeiro. Por fim, procuramos medir o
custo de capital através do modelo WACC.

A quinta seção explorou as tendências do mercado financeiro tradicional com


a entrada da fintechs, ao trazer menor burocracia e custos para os consumidores
de produtos financeiros, antes tão dependentes dos grandes bancos tradicionais.
Adicionalmente, se discutiu o que já se tem de consolidado no mercado de
criptoativos, da origem do bitcoin ao desenvolvimento das exchanges, e das
stablecoins. Posteriormente se abordou as tendências do mercado de criptoativos
com tecnologias disruptivas que estão surgindo no mercado digital, como DeFi,
NFTs, exchanges descentralizadas e metaverso.

BONS ESTUDOS!
134
Capítulo 3 FLUXO DE RECURSOS DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

REFERÊNCIAS
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