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de educação física
C. S. de Sá
José Francisco Chicon e Maria das Graças
metodologia do ensino
de educação física
Vitória
2010
Presidente da República Pró-Reitor de Graduação Coordenação do Curso de Educação Física
Luiz Inácio Lula da Silva Sebastião Pimentel Franeo EAD/UFES
Fernanda Simone Lopes de Paiva
Ministro da Educação Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Fernando Haddad Francisco Guilherme Emmerich Revisora de Conteúdo
Silvana Ventorim
Universidade Aberta do Brasil Pró-Reitor de Extensão
Celso Costa Aparecido José Cirillo Revisora de Linguagem
Alina Bonella
Diretora-Administrativa do Ne@ad
Universidade Federal do Espírito Santo e Coordenadora UAB Design Gráfico
Maria José Campos Rodrigues LDI - Laboratório de Design Instrucional
Reitor
Rubens Sergio Rasseli Diretor-Pedagógico Ne@ad
Júlio Francelino Ferreira Filho Av. Fernando Ferrari, n.514 -
Vice-Reitor e Diretor-Presidente do Ne@ad CEP 29075-910, Goiabeiras -
Reinaldo Centoducatte Diretor do Centro de Educação Física Vitória - ES
e Desporto (27) 4009 2208
Valter Bratch
CDU: 796.01
Considerações finais 61
Referências 63
narrando as trajetórias
Prezado/a Universitário/a:
apresentação 5
Em frente às dificuldades em materializar o que havia apreendido ao
longo dessa formação, percebi a necessidade de não só buscar compre-
ender melhor qual era o meu papel como professora de Educação Física,
mas também e, principalmente, me localizar no sentido de qual(is) o(s)
caminho(s) seguir. Assim, optei por retomar a minha formação docente,
de forma que retornei ao cefd/ufes (1994), inscrevendo-me numa seleção
para a turma de Especialização em Educação Física Escolar que se inicia-
va naquele ano.
Após a alegria por ter sido aceita para participar desse grupo, vivi um
grande estranhamento, visto que me deparei com outra/nova configura-
ção de currículo e, consequentemente, de formação que, inicialmente, ia
de encontro ao que havia constituído como um campo de saber docente.
Os motivos para tal entendimento fundamentavam-se no fato de que
esses pressupostos não me apontavam os/as caminhos/respostas que exis-
tiam e eu buscava, cuja perspectiva de Educação/Educação Física concebia
a escola como um espaço político-social que articula criticamente os
conhecimentos construídos historicamente na/pela cultura, com vistas a
fomentar aos envolvidos condições para pensar/agir/sentir/criar de forma
autônoma seus processos de vida.
Assim, a Educação Física constitui-se numa área do conhecimento que
trata pedagogicamente da apropriação crítica da cultura de movimento,
presente em diferentes manifestações temáticas (esporte, ginástica, jogo,
lutas, dança entre outros), a partir de ações mediadoras do/com/pelo
movimentar-se, compreendendo esse momento como um espaço coletiva-
mente privilegiado de compartilhamento, discussão, negociação, produção
e transformação, com foco na formação integral de todos os seus envolvi-
dos (b e t t i , 2002; b r a c h t , 1989, 1999; s o a r e s et al., 1992).
Outra contribuição significativa que pude compartilhar pautava-se no
entendimento de que pensar a prática pedagógica nesta nova dimensão
nos remetia a um agir metodológico que toma como pressuposto a cons-
trução/reconstrução de uma concepção dialógica de educação e de meto-
dologia de ensino, alicerçada na problematização dos conteúdos de ensino
culturalmente constituídos a partir dos sentidos e significados individual/
coletivos inseridos, a fim de contribuir para a formação humana (k u n z ,
apud g o n z a l e z ; f e n s t e r s e i f e r , 2005; m o l i n a neto, 2006).
Logo, será imprescindível repensar, constante e coletivamente, as condi-
ções materiais e subjetivas que atravessam essas práticas, ou seja, tomar a
apresentação 7
quando nos lembra do quanto somos sujeitos aprendentes ao longo de
nossos saberes/fazeres:
apresentação 9
Nesse sentido, é importante ressaltar que a apropriação dos conteúdos
das diferentes abordagens metodológicas para o ensino da Educação Física
foi de extrema importância para a realização de um processo de interven-
ção que respeitasse e acolhesse as diferenças nas aulas de Educação Física,
possibilitando que ocorresse, de fato, a participação de todos os alunos.
Como docente do curso de Educação Física, leciono as disciplinas Educa-
ção Inclusiva (Mestrado); Educação Física, Adaptação e Inclusão, Educação
Física, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano; Oficina: Prática – Jogos
e brincadeiras Infantis (Licenciatura). Coordeno o Laboratório de Educação
Física Adaptada, do Centro de Educação Física e Desportos da u f e s (l a e f a /
c e f d / u f e s ), atuo como membro participante do Laboratório de Estudos
em Educação Física (l e s e f / c e f d / u f e s ) e do Núcleo de Ensino, Pesquisa e
Extensão em Educação Especial ( n e e s p / c e / u f e s ) .
Desenvolvo pesquisas relacionadas com o eixo Educação Física e Edu-
cação Inclusiva. Publiquei, em 1999, o livro “Prática psicopedagógica em
crianças com necessidades educativas especiais: abordagem psicomotora”.
Em 2004, as obras “Educação especial: fundamentos para a prática peda-
gógica” e “Jogo, mediação pedagógica e inclusão: a práxis pedagógica”.
Agora que você já nos conhece um pouco, devemos dizer-lhe que escre-
vemos este fascículo objetivando envolvê-lo/a nos trabalhos propostos, o
que justifica as ênfases e os exemplos que recorrem às suas experiências
de aluno/a e, ao mesmo tempo, de professor/a. Desejamos, sinceramente,
que o nosso encontro seja participativo e produtivo e que, por isso mesmo,
nos dê um imenso prazer.
Vejam só, colegas, o que a vida nos preparou: nós todos, professores/as
de vários níveis, dialogando a distância — mediados pelas palavras deste
fascículo — sobre questões relacionadas com a Metodologia do Ensino da
Educação Física.
10 m e t o d o l o g i a d o e n s i n o d a e d . f í s
Observem que oportunidade ímpar de, pela nossa interação e partici-
pação, construirmos o texto de uma história que, por ser tão gostosa e
maravilhosa, poderá morar para sempre na memória de todos nós, servin-
do para estimular a produção de outras histórias, principalmente daque-
las que venham a melhorar a qualidade do ensino e do trabalho com as
crianças em muitas escolas do Espírito Santo.
Para isso, organizamos situações a serem lidas, exploradas e vivencia-
das por você, visando a torná-lo/a personagem principal deste fascículo.
Numa reflexão conjunta, esperamos que produza os seus trabalhos e que
os objetivos e conteúdos aqui indicados e desenvolvidos possam contribuir
para enriquecer suas experiências no atendimento educacional de todos/
as os/as alunos/as.
Diante de tudo o que já foi dito, só nos resta dizer a você: BOA SORTE!
Nosso abraço carinhoso.
Chicon e Graça
Sugestões de leitura
apresentação 11
a cons tituiç ão da s m e t od o lo g i as d o
1 ensino d a e du ca çã o fís ic a e sc o la r:
s das abord agens pedagógicas
limites e possiblidades atravessadore
Assim, para redefinirmos o que está posto, devemos nos aproximar e en-
tender a escola que existe e, a partir daí, sim, pensarmos coletivamente em
propostas includentes que almejam a emancipação dos indivíduos. Nesse as-
pecto, concordamos com Linhares (2001, p. 19) ao nos alertar: “[...] não adian-
ta generalizar e dizer que a escola não presta. Até porque não é verdade”.
Entendemos que, nesse processo de aproximação com o contexto escolar
real, devemos atentar para as múltiplas inter-relações que ali se estabe-
lecem, a fim de nos apropriarmos das diversas possibilidades de conexões
com a vida, na tentativa de ressignificar a escola em prol da diversidade
capítulo i 13
humana, numa perspectiva ética de respeito à vida, considerando o ser
humano em suas múltiplas dimensões e em constante transformação.
Para tanto, organizamos nossas considerações neste texto, tomando
como base as contribuições de Paulo Freire (1974), José Carlos Libâneo
(1983), Demerval Saviani (1993) e, em relação à Educação Física, propria-
mente dita, Valter Bracht (1989, 1999), Mauro Betti (1994, 2002) e Paulo
Ghiraldelli Jr. (1989), cujas tentativas caminham no sentido de estabelecer
relações histórico-filosóficas entre a sociedade e os processos educativos.
A opção por tal delimitação visa a chamar a atenção para o fato de que
algumas abordagens pedagógicas no âmbito da Educação/Educação Física
se apoiam nos processos de escolarização com um importante fator para
a reprodução do status quo. Em contrapartida, outras abordagens com-
preendem que a educação pautada na reflexão crítica da/na/com/sobre as
ações pedagógicas pode contribuir para as transformações de ordem so-
cial, política e econômica em busca de minimizar as desigualdades sociais.
Neste texto, apesar dos riscos que essa organização nos impõe, haja vista
alguns desdobramentos nem sempre convergentes acerca dessa organi-
zação, denominaremos as abordagens do primeiro exemplo como teorias
não críticas e as do segundo, como teorias críticas e/ou progressistas da
Educação/Educação Física (g o n z a l e z ; f e n s t e r s e i f e r, 2005).
capítulo i 15
dade de suportar a dor, da coragem e do respeito à hierarquia, no intuito da
“formação do caráter” patriótico conforme se observa na figura abaixo.
capítulo i 17
fins puramente utilitaristas, por exprimir e mesmo reforçar um
medo do prazer (c o u r t i n e , 1995, apud b r a c h t , 1999, p. 75)
Sugestões de vídeo
Sugestão de vídeo: Another Break in The Wall (PINK FLOYD, 1989)
capítulo i 19
Em relação aos planejamentos de ensino, eles devem se encontrar aber-
tos as diversas possibilidades de sentir/pensar/agir/relacionar, num proces-
so coletivo e cooperativo de codecisão, tendo, como critério dessa me-
diação, a realidade histórico-cultural e as experiências dos alunos, como
também a competência político-pedagógica do professor.
A tematização das aulas se constitui como fonte de seleção dos conte-
údos de ensino, num ambiente aberto à reflexão, à criação, à negociação
e ao compromisso com a transformação social. A apropriação do conhe-
cimento torna-se, então, resultado do acúmulo histórico da humanidade,
de caráter provisório e produzido a partir de uma intencionalidade que se
constitui como forma de expressar a dinâmica do mundo concreto (b e t t i ;
zuliani, 2002; b r a c h t et al., 2002; m a r t i n s , 2002).
O processo de avaliação deve ser contínuo, compreendendo as diferen-
tes fases que atravessam as aulas. Cabe ao professor/mediador analisar
não só os processos individuais e coletivos desenvolvidos pelo aluno, mas
também suas aulas e a si próprio, tomando a autoavaliação como uma
ferramenta indispensável à reorientação do processo (b e t t i ; z u l i a n i , 2002).
Gostaríamos de finalizar tais considerações, corroborando o pensamento
de Bracht et al. (2002), ao afirmar que um grande desafio que atravessa
o debate acerca das perspectivas críticas de Educação/Educação Física
caminha no sentido da sua materialização entre aqueles que estão em
atividade nas escolas de ensino básico, visto que sua adesão no campo
“teórico-epistemológico” tem se efetivado. No entanto, quando direciona-
mos nosso zoom para o agir pedagógico que emerge dessas concepções,
vislumbramos um grande desafio a ser superado.
Uma boa argumentação para nos provocar tal afirmação pauta-se em
Caparroz (1997, p. 55), quando nos alerta sobre as armadilhas em que
3
No sentido da caímos ao tentarmos “aplicar” um determinado método global3 de pensar
generalização desse as práticas pedagógicas, desconsiderando as condições locais, construídas
método. histórico e culturalmente na/pela/com a comunidade envolvida:
capítulo i 21
Na vida tudo passa E se restaura,
Não importa o que tu faças Já foi cicatrizada
O que te fazia rir Eleve suas mãos pros céus
Hoje não tem mais graça Que tua alma tá blindada
Pois ninguém vive conto de fadas
Tudo muda
Tudo troca de lugar Prefiro meu degrau
O filme é o mesmo Do que a sua escada
Só o elenco que tem que mudar
Então se ligue
Que alterar pra poder se encaixar E busque felicidade
Se não for pra ser feliz Pra existir história
É melhor largar Tem que existir verdade
Que por sinal
Então se ligue É pra subir e pra descer
E busque felicidade Um degrau de cada vez
Pra existir história É assim que tem que ser
Tem que existir verdade Tá entendendo
O que eu tô falando?
Numa estrela cadente Caiu a ficha
O sonho se faz presente Ou ainda tá boiando?
No compasso do batuque Minhas palavras pairam pelo ar
De um coração doente
E o meu show
A fera tá ferida Tem que continuar
Mas não tá morta Por isso eu continuo
Deus fecha a janela No rap eu destruo
Mas deixa aberta a porta aberta. Como dizia Ali
Dou ferroadas e flutuo
Porque o sol Que nem no ringue
Não se tampa com uma peneira Tem que ter molejo
Pra quem já tá molhado Na minha criação
Um pingo é besteira A força vence o medo
Tomando como base o texto que versa sobre A constituição das metodo-
logias do ensino da educação física escolar, quais são os possíveis desafios,
as dúvidas e as contribuições identificadas nas concepções discutidas no
texto, considerando a sua experiência com as práticas corporais no âmbito
da Educação Física escolar?
Sugestões de leitura
Sugestões de filmes
1 Tempos modernos
2 O sorriso de Monalisa
3 Sociedade dos poetas mortos
4 Escritores da liberdade.
capítulo i 23
as abo rdagens p ed agóg icas
2 da/na educação física :
práticas docentes
algumas proposições para pensar as
capítulo ii 25
[...] se existe uma seqüência normal nos processos de cres-
cimento, de desenvolvimento e de aprendizagem motora,
isto significa que as crianças necessitam ser orientadas, de
acordo com estas características, visto que, só assim, as suas
reais necessidades e expectativas serão alcançadas. A não
observância destas características conduz, frequentemente,
ao estabelecimento de objetivos, métodos e conteúdos de
ensino inapropriados. Em conseqüência, queda de motivação
e perda de interesse pela Educação Física.
1 a 2 anos
Movimentos rudimentares
(ex.: rolar, engatinhar, arrastar etc.)
capítulo ii 27
É importante salientar que os movimentos reflexos e rudimentares fazem
parte da sequência hierárquica do desenvolvimento motor, mas os autores
entendiam à época (1988) que a intervenção da Educação Física na edu-
cação infantil se efetuava em crianças a partir dos quatro anos de idade,
que era a fase pré-escolar.
capítulo ii 29
o aumento da diversificação e complexidade, possibilitar a formação de
estruturas cada vez mais organizadas e complexas.
Seguindo o processo de desenvolvimento motor, a partir dos dez aos doze
anos de idade, quando a maioria dos alunos iniciam as quatro últimas séries
do ensino fundamental, estão aptos para adquirir habilidades específicas.
As habilidades específicas, por exemplo, do esporte e da dança, envol-
vem fundamentalmente a reorganização desses padrões básicos e suas
combinações em estruturas cada vez mais complexas. Como ilustração, a
bandeja do basquetebol implica uma execução coordenada e sequencial
do driblar, saltar, arremessar e aterrissar.
É importante perceber que esses aspectos consistem na base da metodolo-
gia da abordagem desenvolvimentista.
PLANO DE AULA
Conteúdo: Basquetebol — habilidades específicas — arremesso com uma das mãos com salto.
Objetivo:
Orientar os alunos na execução do arremesso com uma das mãos com salto (jump).
Orientar na percepção do feedback intrínseco e extrínseco.
1 Parte inicial (10min): aquecimento osteoarticular com ênfase nos grupamentos musculares
envolvidos na atividade. Coordenação de membros inferiores e superiores.
2 Desenvolvimento (30 min):
Alunos reunidos no centro da quadra. Professor orienta diferentes formas de arremesso – ar-
remesso lavadeira, arremesso com as duas mãos acima da cabeça e o arremesso com uma das
mãos. Após, divide a turma em quatro grupos, que ficarão posicionados próximo à cesta, cada
grupo com uma bola, realizando os arremessos com uma das mãos, na seguinte sequência pe-
dagógica do simples para o complexo: sem deslocamento; saltando e arremessando; andando,
para, salta e arremessa.
O professor passa de grupo em grupo, orientando o gesto técnico do arremesso e o direcio-
namento da bola para o ponto da tabela de maior precisão, solicitando que, a cada arremesso
em que a bola não atinja o objetivo, procurem perceber se a força e a direção empregada estão
adequadas (feedback intrínseco). Passa de tempo em tempo nos grupos chamando a atenção
dos alunos para esse detalhe (feedback extrínseco), corrigindo a habilidade.
Jogo pré-desportivo com ênfase no arremesso
3 Volta à calma (10min): o professor conversa com os alunos sobre o posicionamento, a
correção do gesto técnico para o arremesso (feedback extrínseco).
capítulo ii 31
O papel do aluno é receber informações e executar tarefas.
Conteúdos
O movimento é reconhecido como o objeto de estudo e aplicação da
Educação Física.
Os conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilida-
des, das mais simples, que são as habilidades básicas, para as mais comple-
xas, as habilidades específicas. As habilidades básicas (educação infantil ao
quinto ano, 4 a 10 anos) podem ser classificadas em habilidades locomo-
toras (por exemplo: andar, correr, saltar, saltitar etc.), manipulativas (por
exemplo: arremessar, chutar, rebater, receber etc.) e de equilíbrio (por
exemplo: girar, flexionar, realizar posições invertidas, manter-se em um pé,
andar sobre uma linha etc.). As habilidades específicas (a partir do sexto
ano, de 11 anos em diante) são mais influenciadas pela cultura e estão
relacionadas com a prática dos esportes, do jogo e da dança.
Para crianças pré-púberes, a Educação Física deve enfatizar o desenvol-
vimento de habilidades e capacidades perceptivo-motoras. A tarefa deve
estar ajustada à criança e não a criança à tarefa.
Durante a puberdade, deve ser dada especial atenção à criação de hábitos
positivos em frente à atividade motora, já que sua prática regular parece
ser fundamental para a saúde e para o pleno desenvolvimento das fun-
ções fisiológicas do organismo.
Metodologia de ensino
Devem ser explorados diferentes meios (movimentos) para o mesmo fim
(objetivo da tarefa), por exemplo: usar corda, arco, imitações, diferentes
obstáculos para a criança saltar; assim como o mesmo meio para diferen-
tes objetivos, por exemplo: usar a corda para saltar, para andar sobre ela,
para laçar um objeto, para servir de rede em um jogo de vôlei etc.
A graduação das tarefas (ensino de habilidades) deve corresponder a uma
sequência normal de desenvolvimento, isto é, as tarefas devem ser ensina-
das mantendo uma correspondência com essa sequência para que não se
estabeleçam conteúdos nem muito além e nem muito aquém das capaci-
dades reais da criança.
É princípio básico desta metodologia que todo o processo instrucional deve
respeitar as características afetivo-emocionais, níveis de conhecimento,
níveis de habilidade e estágio de desenvolvimento fisiológico dos alunos.
Conceitos básicos
Aprendizagem — pode ser definida como uma mudança interna no indi-
víduo, que é inferida a partir de um melhoramento relativamente perma-
nente na performance que resulta da prática.
Desenvolvimento — em seu sentido mais puro, refere-se às mudanças no
nível de funcionamento dos indivíduos. É o aparecimento e ampliação das
capacidades da criança de funcionar num nível mais alto.
Sugestões de leitura
1 ANI, Go et al. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem
desenvolvimentista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
Leia o texto “O processo de desenvolvimento motor” (p. 63-86) e “Desenvolvi-
mento hierárquico de habilidades e o processo de aprendizagem motora: das
habilidades básicas às específicas” (p. 87-97).
2 MANOEL, Edson de Jesus. A abordagem desenvolvimentista da educação
física escolar: 20 anos: uma visão pessoal. Revista da Educação Física, Maringá,
v. 19, n. 4, p. 473-488, 4. trim. 2008.
3 TANI, Go. Abordagem desenvolvimentista: 20 anos depois. Revista da Educa-
ção Física, Maringá, v. 19, n. 3, p. 313-331, 3. trim. 2008.
capítulo ii 33
2.2 abordagem construtivista-interacionista
capítulo ii 35
o ambiente familiar ou escolar, sempre resta um espaço de
liberdade para pensar, para se mexer, para criticar, e é aí que
as pessoas aprendem [...]. Daí não ser descabido propor para
crianças uma educação de corpo inteiro (p. 12-13).
O professor não organiza as crianças em colunas; elas buscam, por conta própria,
a melhor organização. Essa postura está mais de acordo com a atividade espontâ-
nea das crianças fora da escola e com uma educação voltada para a autonomia.
Não se determina que passe uma criança de cada vez sob a corda. Nem sempre
as atividades precisam ser realizadas em “ordem”, tal qual essa ideia de ordem é
entendida. Cremos que a colocação em ordem deve ser decorrência das necessi-
dades surgidas na própria brincadeira. Na brincadeira aqui proposta, o professor
paciente logo verificará que as crianças não conseguirão brincar se tentarem
passar todas ao mesmo tempo pela corda. Algumas procurarão passar mais vezes
que as outras. Entre essas últimas, haverá as que reclamarão, até que a atividade,
dessa forma desordenada, torne-se inviável. As crianças ficam, então, com duas
opções: ou criam certa organização ou não conseguem brincar. Se for necessário,
o professor intervém para mediar a discussão, formulando perguntas que ajudam
Variações do zerinho
Mais importante que saber propor a brincadeira na forma original é en-
contrar variações, de modo que, uma vez executada com êxito, a criança
possa realizá-la novamente com o acréscimo de algum elemento novo
que a leve a novas aprendizagens. Convém aguardar que todas as crianças
obtenham relativo êxito, antes de propor uma variação na atividade ou
passar para a atividade seguinte. Dizemos relativo porque, em todo grupo,
haverá crianças que realizam as atividades com maior ou menor facilidade.
Assim, aqueles que obtêm êxito antes dos outros não serão prejudicados
esperando os colegas porque, repetindo corretamente as ações, solidificam
o conhecimento adquirido e criam novas tomadas de consciência.
Propor uma variação da atividade, propiciando uma situação nova,
significa provocar um desequilíbrio no conhecimento da criança, que terá
que aprender, criando outros recursos, para novamente voltar a um estado
de equilíbrio. A criança terá, assim, oportunidade de resolver o problema
existente naquela situação, adquirir novos conhecimentos e assimilar o
conteúdo proposto.
capítulo ii 37
A exigência maior dessa variação do zerinho fica por conta da necessida-
de de maior organização do grupo. Se, após passar pela corda, cada criança
não voltar rapidamente para a coluna, possivelmente haverá um momento
em que não terá ninguém para passar pela corda, e todo o grupo se atrasa-
rá. Na presente situação, só será possível passar uma criança de cada vez.
Papel do professor
O papel do professor é estimular a criança a construir e buscar o conheci-
mento levando em consideração a “bagagem” que ele já possui, e o aluno,
por meio de jogos e brincadeiras, deve participar formalizando o seu co-
nhecimento. Professor e alunos compartilham do processo de construção
do conhecimento.
O papel do professor é saber lidar com o conflito, provocar o desequilí-
brio e não deixar a criança perdida. É preciso aprender a trabalhar com
brinquedos e brincadeiras para garantir um bom desenvolvimento das
Conteúdos
A maior especialidade das crianças é brincar. Esse enorme conhecimento
deve ser aproveitado como conteúdo escolar — jogos e brincadeiras infantis.
É evidente que se deve trabalhar com as noções de tempo, espaço e as ca-
racterísticas físicas dos objetos. Daí, chega-se às noções lógicas de classifi-
cação, seriação e conservação. Essas noções devem ser desenvolvidas num
corpo em movimento.
Em Educação Física, o conteúdo refere-se a espaço, tempo, força, veloci-
dade, resistência, equilíbrio, ritmo e assim por diante, aspectos que estão
presentes em qualquer atividade realizada pelo indivíduo.
Uma educação de corpo inteiro não poderia estar pautada na padronização
do movimento, mas sim na manifestação de esquemas motores, ou seja, de
organizações de movimentos construídos pelos sujeitos. Assim, para Freire
(1989, p. 140), “O movimento é algo que se constrói no momento em que é
necessário agir. Realizado o ato, ele se desmancha, termina, deixa de existir”.
Metodologia de ensino
A metodologia proposta nesta abordagem é a utilização de recursos
inerentes à criança, o brinquedo, o jogo, o faz-de-conta. Dessa maneira, o
professor deve levar em consideração a bagagem de conhecimentos que o
próprio aluno possui.
Um recurso metodológico bastante utilizado, principalmente na primei-
ra infância, são os materiais de sucata, como: latinhas, pneus, caixas de
capítulo ii 39
papelão, bastões de madeira, bolas de meia, garrafas de plástico, entre
outros, que irá propiciar ao aluno a criação do brinquedo, brincadeira, sob
orientação do professor.
São também recursos pedagógicos o jogo simbólico e as demais atividades
motoras próprias da criança. O que importa para um professor é saber
usar esse recurso que é o jogo ou o brinquedo. Para utilizá-lo, ele necessi-
ta de um projeto, de um objetivo, saber o que deve fazer e por quê.
A partir do que o sujeito sabe, o professor deve sugerir variações nas
atividades, criando o conflito entre o que se sabe e o que é preciso ser
aprendido. Do conflito viria a consciência do fazer.
Para promover o desenvolvimento de uma criança, é preciso que o
professor use o lúdico e a deixe criar seus jogos com liberdade, pois,
assim, a criança estará desenvolvendo sua habilidade, sua afetividade e
seu lado social, porque essa fase da vida depende, mais do que qualquer
outra, da ação corporal.
Por isso é preciso trabalhar, inicialmente, com a cultura dos próprios
participantes, de modo a tornar o conhecimento significativo. Trabalhar
com a educação dos sentidos, com a educação da motricidade, com a
educação do símbolo.
Avaliação
Não basta medir para avaliar. É difícil avaliar a aprendizagem do movi-
mento quando sabemos a infinidade de fatores nele envolvidos, como for-
ça muscular, resistência, agilidade, equilíbrio, ritmo, sentimento, cognição,
afetividade etc.
Sugere-se que sejam feitas avaliações sociométricas — como testes,
provas — e também avaliações como observação, entrevista, análises
qualitativas, que são instrumentos utilizados para avaliar parcialmente
aspectos cognitivos, morais, sociais. Também deve ser efetivada a ava-
liação subjetiva realizada pelo professor.
É importante salientar, ainda sobre a abordagem construtivista, o inegável va-
lor nas transformações que temos observado na Educação Física escolar, em-
bora, principalmente no início do seu aparecimento, tenha gerado algumas
dúvidas, especialmente quanto ao papel dessa disciplina na escola – como
apêndice de outras áreas. Como contribuições essenciais, citamos a discussão
sobre o papel da cultura popular, do jogo e do lúdico no contexto da escola.
Sugestões de leitura
capítulo ii 41
sobre como se adquirem esses conhecimentos, valorizando a questão da
contextualização dos fatos e do resgate histórico.
A Educação Física é entendida como uma disciplina que trata de um tipo
de conhecimento denominado de cultura corporal que tem como temas, o
jogo, a ginástica, o esporte, a dança, as lutas, dentre outros.
Esse conhecimento deve ser tratado de forma a favorecer a compreen-
são dos princípios da lógica dialética (totalidade, movimento, mudança
qualitativa e contradição) e organizado de forma a ser compreendido
como provisório, produzido historicamente. De modo espiralado, deve ir
ampliando a referência de pensamento do aluno.
Essa percepção possibilita a compreensão, por parte do aluno, de que a
produção da humanidade expressa uma determinada fase e que houve
mudanças ao longo do tempo. Essa abordagem pedagógica é compreen-
dida como um projeto político-pedagógico. Político porque encaminha
propostas de intervenção em determinada direção e pedagógico no senti-
do de que possibilita uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade,
explicitando suas determinações (d a r i d o , 2001; s o a r e s et al., 1992).
Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de Educação Física, os
autores propõem que se considere a relevância social dos conteúdos, sua
contemporaneidade, sua provisoriedade e sua adequação às características
sociocognitivas dos alunos.
Como organização do currículo, os autores ressaltam que é preciso fazer
com que o aluno confronte os conhecimentos do senso comum com o
conhecimento científico, para ampliar o seu acervo. Além disso, sugerem
que os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem
propiciar a leitura da realidade do ponto de vista da classe trabalhadora.
O professor deve, também, evitar o ensino por etapas e adotar a simul-
taneidade na transmissão dos conteúdos, ou seja, os mesmos conteúdos
devem ser trabalhados de maneira mais aprofundada ao longo das séries,
sem a visão de pré-requisitos.
Os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem pro-
piciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, a
sua inserção transformadora na realidade.
Para melhor aclarar nossa compreensão sobre essa abordagem de ensino,
destacaremos a seguir seus principais pressupostos teórico-metodológicos:
Papel do professor
O professor deve adotar uma atitude dialógica, mediadora e problema-
tizadora na relação com os alunos no desenvolvimento das aulas; recriar
situações de aprendizagem diante das necessidades dos alunos; atuar
promovendo a compreensão do coletivo e do respeito necessário para a
boa convivência social; incentivar nos alunos a criatividade, a curiosi-
dade e criticidade, tornando-os cidadãos mais conscientes da realidade
social em que vivem.
Ao embasar-se numa visão de historicidade para tratar a cultura corporal,
deve ter como objetivo fazer os alunos compreenderem que a produção
humana é histórica, inesgotável e provisória. Essa compreensão deve
instigar o aluno a assumir a postura de produtor de outras atividades cor-
porais que, no decorrer da história, poderão ser institucionalizadas. Tendo
também um sentido lúdico, o ensino da Educação Física busca instigar a
criatividade humana à adoção de uma postura produtiva e criadora de
cultura tanto no mundo do trabalho como no do lazer.
Tendo em vista uma nova concepção da realidade social, um novo enten-
dimento que supere o senso comum, o professor orientará, por meio dos
ciclos, uma nova leitura da realidade pelo aluno sempre envolvendo o
constatar, interpretar, compreender e explicar.
Os autores defendem o prevalecer da diretividade pedagógica. Cabe ao
professor explicar, a priori, a intencionalidade de suas ações pedagó-
gicas, pois ela não é neutra. É diagnóstica (parte de uma leitura/inter-
pretação da realidade, de uma determinada forma de estar no mundo),
judicativa (estabelece juízo de valor) e teleológica (é repleta de inten-
ções, metas, fins a alcançar).
capítulo ii 43
Tal ação pedagógica tem, no conhecimento sobre a realidade manifesta
pelo aluno, o seu ponto de partida. Como seu horizonte de trabalho peda-
gógico, tem o de qualificar o conhecimento do aluno sobre aquela mesma
realidade – no sentido de dotá-lo de maior complexidade – de tal forma
que ela, a realidade, é a mesma e é diferente.
Professor e alunos são corresponsáveis pela organização da aula e desen-
volvimento dos conteúdos de ensino.
Conteúdos
A Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola,
do conhecimento de uma área denominada de cultura corporal. Ela será
configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corpo-
rais, como: jogo, dança, luta, ginástica, esporte, malabarismo, contorcionis-
mo e outros, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento
visa a apreender a expressão corporal como linguagem. Os conteúdos
devem emergir da realidade dinâmica e concreta do mundo do aluno.
A seleção e organização de conteúdos requerem coerência com o objetivo de
promover a leitura da realidade. Para que isso ocorra, devemos analisar a ori-
gem do conteúdo e conhecer o que determinou a necessidade de seu ensino.
Os autores da abordagem crítico-superadora privilegiam a organização
curricular em ciclos de escolarização básica, em que os conteúdos de
ensino são tratados simultaneamente, constituindo referências que vão
se ampliando no pensamento do aluno de forma espiralada, desde o mo-
mento da constatação de um ou vários dados da realidade, até interpre-
tá-los, compreendê-los e explicá-los.
Metodologia de ensino
Ação comunicativa/dialógica/mediadora/problematizadora, com vistas à
reflexão crítica acerca dos vários sentidos/significados que os diferentes
temas da cultura corporal (re)produzem a seus envolvidos.
A estratégia de aula pode ser dividida em três fases: na primeira (10 a
15min), resgatam-se com os alunos, em uma conversa inicial, aspectos
relevantes da aula anterior. O professor apresenta e organiza a atividade
a ser realizada. Na segunda (25 a 30min), o tempo é dedicado à apreen-
são do conhecimento e, na terceira (10 a 15min), amarram-se conclusões,
avalia-se o realizado e levantam-se perspectivas para as aulas seguintes.
Turma: 4º ano
Conteúdo/tema: jogos e brincadeiras tradicionais
capítulo ii 45
PLANO DE AULA
B Atividades:
Confeccionar bolas com uso de jornal
Alunos devem criar e vivenciar brincadeiras com uso de bola de jor-
nal de forma espontânea (primeiro momento). Segundo momento, o
professor incrementa acrescentando a ideia de boliche; amarrar bola
com barbante (pedaço de 1,5 metros), experimentar giros, segurar o
barbante com a mão e ficar chutando a bola etc.; acertar a bola den-
tro de um túnel etc. Enriquecer a atividade dos alunos com sugestões
e deixá-los criar e experimentar.
Avaliação
A avaliação não se reduz a partes do início, meio e fim de um planejamen-
to ou períodos determinados; não se reduz a medir, comparar, classificar
e selecionar os alunos e, muito menos, a análises de condutas esportivo-
motoras, de gestos técnicos ou táticos. O sentido da avaliação no processo
ensino-aprendizagem deve servir para indicar o grau de aproximação ou
afastamento do eixo curricular, norteador do projeto pedagógico que
se materializa na aprendizagem dos alunos. Portanto, podem ser usados
como instrumentos de avaliação, por exemplo: prova de conteúdos, traba-
lhos em grupo, pesquisa, dramatização, organização de evento, oficina de
brinquedos, autoavaliação, ficha de observação, dentre outros. Fica a cri-
tério de cada professor/a eleger os instrumentos de avaliação que melhor
lhe servem para indicar o aprendizado do aluno.
A proposta de avaliação do processo ensino-aprendizagem da Educação
Física deve, portanto, levar em conta a observação, análise e conceituação
de elementos que compõem a totalidade da conduta humana e que se
expressam no desenvolvimento de atividades.
A partir do entendimento sobre a proposta pedagógica, cabe salientar
que o Coletivo de Autores assume, ao apresentar a metodologia crítico-
superadora, objetivar a construção de uma sociedade igualitária e dentro
da perspectiva socialista. Esse compromisso sociopolítico está mais claro e
explicitado na proposta citada do que nas demais, contudo, pode-se tam-
bém constatar, com os demais idealizadores, que, mesmo sem esse com-
promisso explícito, suas ideias se voltam à construção de uma sociedade
mais justa, humana e igual. Por fim, para servir de alerta e nos precaver-
mos contra visões fantasiosas e ilusórias, Betti (1991, p. 167) afirma:
capítulo ii 47
Sugestões de leitura
SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino de educação física. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1992. (Coleção Magistério 2º Grau. Série Formação do Professor).
capítulo ii 49
mento apenas como um acontecimento espaço-temporal no
sentido físico, mas sim somente numa análise ‘integral’. O
Movimento é visto, nesta análise, como uma das formas de
entendimento e compreensão do Homem em relação ao seu
contexto de relações, seu Mundo (k u n z , 1991, p.163).
capítulo ii 51
Pressupostos teórico-metodológicos
Papel do professor
Ação comunicativa/dialógica problematizadora, com vistas à reflexão
crítica acerca dos vários sentidos/significados que os jogos esportivos (re)
produzem a seus envolvidos e, não simplesmente negá-los.
Conteúdos
Tematizações abertas sobre o esporte e o “Se-movimentar”, considerando
suas dimensões subjetivas e concretas, com vistas ao desenvolvimento
de competências que promovam a superação da atual condição político-
social do País e do mundo.
Metodologia de ensino
Envolvimento de todos os alunos ao longo das diversas instâncias de deci-
são atravessadoras ao movimentar-se, considerando as situações e condi-
ções dos envolvidos no sentido de se conhecer e apropriar-se de cultura
pela via de três momentos, a saber:
A A competência objetiva
A descoberta, pela própria experiência manipulativa das formas e
meios para uma participação autônoma nas atividades vividas;
B A competência social
Conhecimentos e esclarecimentos adquiridos pelos alunos com vistas
a compreender o que vivenciaram, considerando o próprio contexto
sociocultural;
A A competência objetiva
Inicialmente, o grupo levantará suposições, indagações acerca do
voleibol, tais como:
Quais são as regras dessa modalidade?
Quais são as provas existentes no voleibol?
Os principais destaques mundiais?
Como surgiu essa modalidade esportiva?
Quais são os países/clubes que mais se destacam na atualidade?
Pergunta mediadora: O que é e como funciona a Superliga de Volei-
bol Brasileiro?
B A competência social
Ao longo dessa experimentação, deverão ocorrer alguns esclareci-
mentos por parte do professor, bem como os alunos poderão realizar
diferentes estratégias para coletar informações procurando compre-
ender e contextualizar criticamente essa temática.
Outro fator primordial a se fomentar refere-se à mediação por parte
do professor, para um debate coletivo acerca de como vivenciar tal
capítulo ii 53
prática de forma colaborativa, respeitando as diferenças que emer-
gem relativas a questões de gênero, de habilidades individuais, de
deficiências, entre outras.
C A competência comunicativa
Ao final, o grupo deve ser estimulado a produzir síntese acerca do
vivido. A ideia é que os alunos sejam estimulados a organizar-se
coletivamente, tendo como base a lógica da Superliga de Voleibol
Brasileiro.
Avaliação
Privilegia a autorreflexão crítica do processo ensino-aprendizagem, orien-
tando na concepção dos alunos acerca da sociedade, da escola, do ensino,
do esporte, ente outros.
Sugestões de leitura
capítulo ii 55
A Educação Física constitui-se como um espaço de construção/reconstru-
ção de uma dada realidade social. Para tanto, professores e alunos deverão
estar abertos (por isso a denominação dada a essa abordagem) aos diver-
sos caminhos/possibilidades que irão emergir na tentativa de solucionar as
problematizações presentes às aulas, sem se prender a uma única solução
previamente determinada pelo professor.
O princípio fundamental centra-se na tomada de decisão coletiva, de
forma que permita ao aluno participar das decisões sobre o planejamento
e realização da aula. Segundo Hildebrandt e Laging (1986), essa reorga-
nização didático-pedagógica possibilita aos alunos ocuparem a posição
central no ensino, visto que os conhecimentos/saberes que emergem nesse
contexto são cultivados a partir das experiências do/no/com o grupo e por
isso são “[...] ponto de partida e, ao mesmo tempo, o ponto central das
reflexões didáticas” (p.18).
A possibilidade de codecisão dos alunos deverá ser fomentada ao longo
da construção do planejamento do ensino (objetivos, conteúdos, formas
de transmissão e comunicação, entre outros). As concepções fechadas
presentes às aulas de Educação Física até então não favoreciam a forma-
ção de um sujeito autônomo e crítico, comprometido com a transforma-
ção social (bracht , 1999).
Nesse bojo, é fundamental a compreensão dos professores e dos alunos
acerca dos diferentes sentidos e significados que as aulas representam
para a vida de movimento dos envolvidos, considerando suas respectivas
histórias de vida numa ação colaborativamente instituída na medida do
amadurecimento e da responsabilidade assumida pelos envolvidos.
Assim sendo, os autores dessa abordagem nos alertam para o fato de que
a abertura dada aos alunos irá depender do grau e da possibilidade de
codecisão do envolvidos, atrelados à decisão prévia do professor, cujo eixo
delimitador dessa abertura deve considerar os processos individuais e co-
letivos no ensino da Educação Física, sem perder de vista o engajamento e
a responsabilidade necessários para a efetivação e a ampliação das ações
pedagógicas no ensino aberto.
A tarefa fundamental do aluno alicerça-se na busca ativa e dialógica pe-
las diversas possibilidades do movimentar-se humano, concebendo, nessa
no produto no processo
A aula orientada no produto é dirigida para Na aula orientada no processo, o andamento
um melhoramento do movimento técnico, das da aula e as ações desenvolvidas é que estão
capacidades táticas e do nível da capacidade no centro do interesse didático e, portanto,
específico-esportiva também, o modo pelo qual os alunos têm
Por exemplo, uma aula com o tema “pique na relação conjunta e relação com a matéria
barra” procura melhorar a rapidez e a elasti- esporte. Trata-se das diferentes maneiras para
cidade. A aula é interessante para o professor, aprender e fazer esporte, das possibilidades
que só espera alcançar o mais rapidamente diversas para resolver problemas motores e
possível e sem muitas dificuldades o objetivo sociais dos alunos e do professor e, com isso,
do movimento técnico da ação autônoma e social dos alunos
capítulo ii 57
nas metas definidas nos problemas
A aula orientada nas metas definidas é con- A aula orientada nos problemas tem origem
struída para conseguir objetivos de aprendiza- numa situação problemática. Por exemplo,
gem bem determinados, que são formulados criar um jogo com uma situação apresentada
como atitudes motoras que os alunos devem pelos alunos na aula ou com um problema
realizar. Por exemplo, quando o aluno deve resultante da própria aula. O importante é que
acertar a bola de futebol no meio do peito as soluções não são fixadas anteriormente.
de pé direito e, ao mesmo tempo, a perna de Os alunos devem criar, experimentar e avaliar,
apoio deverá estar ao lado da bola. Fixará a conjuntamente e com a ajuda do professor, as
articulação do pé e avançará meio-corpo por várias possibilidades de solução.
sobre a bola. Para alcançar a meta, os camin-
hos da aprendizagem já são especificados e
as formas de organização da aula também.
O professor só deverá realizá-la. No final da
aula, há uma avaliação de aprendizagem.
Papel do professor
Articular pontes que interliguem os conteúdos da Educação Física aos di-
versos significados que o movimentar-se pode produzir, de forma que tais
aulas se constituam espaços para se discutir e ressignificar, coletivamente,
tais experiências, tendo em vista a provisoriedade que as atravessam, de
“[...] maneira que fique claro que é uma realidade social construída pelos
homens” (grupo de trabalho temático , 1991, p. 8).
Conteúdos
O conhecimento sobre o mundo do movimento e suas (inter e intra)rela-
ções na/com as experiências vividas pelos alunos.
Metodologia de ensino
As aulas se organizarão pela via da problematização e, consequentemente,
pela busca coletiva e ativa da resolução dos conteúdos propostos e tam-
bém no estabelecimento de temas geradores desses conteúdos, conforme
o exemplo que se segue:
Ex.: Tema Gerador: não cair
Desenvolvimento
Inicialmente, o grupo (alunos e professores) irá dialogar criticamente sobre
as diversas situações em que precisamos nos organizar cotidianamente
para não cairmos. Na continuidade, o professor proporá ao grupo que
organize e vivencie as diferentes formas e possibilidades de se criar/recriar
situações que promovam o desequilíbrio nas movimentações dos envol-
vidos, considerando os materiais (corda, tábua, pneu etc.), as condições
arquitetônicas (rampas, escadas, muros etc.) e as condições do grupo para
criar e/ou recriar e também experimentar tais movimentos. Como exemplo,
as possibilidades de movimentações das crianças descritas ao lado.
capítulo ii 59
Ao final, o grupo irá avaliar criticamente a experiência, levantando, por
exemplo, dificuldades, descobertas, dúvidas, sínteses e encaminhamentos
futuros.
Avaliação
Privilegia a autoavaliação do processo ensino-aprendizagem, de forma
que a ação pedagógica se centra no processo de ensino e não apenas no
resultado final, num diálogo constante acerca do como trabalhar os con-
teúdos, tornando-os acessíveis e significativos aos participantes.
A finalizar esta abordagem, destacaremos alguns pressupostos defendidos
pelo o Grupo de Trabalho Temático (1991, p. 2), ao defender uma aula de
Educação Física:
Sugestões de leitura
considerações finais 61
Ao finalizar estas considerações, gostaríamos de deixar-lhe alguns trechos da
música Tocando em frente, por compreender o quanto somos capazes de ser
felizes, na medida em que nos tornamos autores de nossa própria história:
(s a t e r ; t e i x e i r a , 2001)
referências
referências 63
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referências 67
José Francisco Chicon
Nasceu no Município de Iconha-e s , em 1965.
Realizou e concluiu seu Curso de Educação
Física na u f e s , em 1988. Especializou-se em
Educação Física para pessoas Portadoras de
Deficiência na u f e s , em 1991. Obteve o Grau
de Mestre em Educação, na linha de pesquisa:
Desenvolvimento Humano e Processos
Educacionais, no p p g e / u f e s , em 1995 e o Grau
de Doutor em Educação, Linha de Pesquisa:
Educação Especial, no p p g e / u s p , em 2005.
Atualmente é docente do Centro de Educação
Física e Desportos da U F E S e coordena junto
com a professora Maria das Graças Carvalho
Silva de Sá, o Laboratório de Educação Física
Adaptada ( l a e f a / c e f d / u f e s ) .
www.neaad.ufes.br
(27) 4009 2208