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Origens da Dialética – Platão

SÓCRATES: - Mas acho que convirás nisto: todo o discurso deve ser constituído
como um ser vivo e ter um organismo próprio; não deve lhe faltar a cabeça nem os
pés, e tanto os órgãos centrais como os externos devem estar dispostos de modo a
se ajustarem uns aos outros, e também ao conjunto. [...]
SÓCRATES: - Queres que examinemos, a esse respeito, a questão de como um
discurso pode passar da condenação ao elogio?
FEDRO: - Que queres dizer?
SÓCRATES: - Parece-me que tudo o que dissemos até aqui foi mero passatempo.
Mas o acaso nos serviu e nos levou a perceber que há duas maneiras de proceder,
que não são sem interesse, desde que se possa compreender a passagem da
condenação ao elogio.
FEDRO: - E quais são tais procedimentos?
SÓCRATES: - O primeiro é este: é abarcar num só golpe de vista todas as ideias
esparsas de um lado e do outro, e fundi-las numa só ideia geral a fim de poder
compreender, graças a uma definição exata, o assunto de que se deseja tratar.
Assim foi que ainda há pouco demos do amor uma definição, que podia ser boa ou
má, mas que ao menos trouxe clareza e ordem ao nosso discurso.
FEDRO: - Mas qual é o outro processo?
SÓCRATES: - É saber separar novamente a ideia geral nos seus elementos, nas suas
articulações naturais, sem todavia mutilar qualquer dos elementos primitivos, como
faz um mau açougueiro. [...]
FEDRO: - Tu falas com acerto!
SÓCRATES: - Ora, caro Fedro, eu também sou muito amigo desta maneira de
compor e decompor as ideias. É a melhor maneira de aprender a falar e a pensar. E
quando me convenço de que alguém é capaz de apreender, ao mesmo tempo o
conjunto e os detalhes de um objeto, sigo esse homem como se caminhasse nas
pegadas de um deus. E aos que têm esse talento sempre chamei de “dialéticos”.
(Diálogo Fedro, 265d - 266b trad. Jorge Paleikat. Coleção Pensadores)

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