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Psicologia Médica: TEMA 4

COMPORTAMENTOS, SAÚDE E DOENÇA I

Stress e Coping. exemplo: Stress e Burnout profissional, em geral e


em Medicina.

Compilação de textos: Prof. Doutor Gonçalves Pereira, Prof. Doutor Jaime Grácio &
Corpo Docente de Psicologia Médica

Estes apontamentos destinam-se a guiar o aluno na leitura da bibliografia recomendada. São


disponibilizados para uso pessoal do estudante, exclusivamente na plataforma Moodle institucional
da FCM/NMS-UNL. Todos os direitos estão reservados.

No que se refere a este TEMA e para atingir os objectivos de aprendizagem, sugere-se que:

1º) Leia, com a ajuda destes tópicos, o capítulo 3 de Ayers & Visser, 2021 (cf. bibliografia essencial); os
conteúdos deste documento são intencionalmente sucintos para privilegiar a leitura directa do capítulo,
havendo pequenas notas sobre o que não está coberto no livro.

2º) Se quiser saber mais, e reflectir para além do que venha a ser o foco da avaliação nesta UC, explore a
bibliografia complementar e consulte (criticamente) artigos indicados neste tema ou nas aulas
correspondentes.

OBJECTIVOS GERAIS DE APRENDIZAGEM:

1. Definir stress, coping e avaliação (appraisal); compreender a sua importância em Psicologia da Saúde
e no contexto da Medicina.

2. Definir burnout profissional e distinguir stress, burnout e depressão, no contexto específico da


profissão Médica e do estudante de Medicina.

3. Saber discutir os pontos principais da gestão do stress, enquanto aplicada ao estudante de Medicina.

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CONTEÚDOS TEÓRICOS:

1. STRESS
 Conceito – o que significa stress? (um termo nem sempre consensual…)
 Factores indutores de stress; acontecimentos de vida (life events) – conceito importante em
epidemiologia, psicologia e sociologia da saúde (cf. Shorter Oxford Textbook of Psychiatry, 2017).
 Respostas psicobiológicas: comportamental, afectiva, cognitiva e fisiológica (componente do
SNA, neuroendócrino e imunitário).
 Os conceitos de ‘síndrome geral de adaptação’ (H. Selye) e ‘luta ou fuga’ (fight or flight) devem
ser contextualizados historicamente. Discutem-se actualmente outras respostas bio-
comportamentais ao stress (ex: tend and befriend). Variabilidade com as circunstâncias, o
indivíduo e o contexto social.
 Curva de Yerkes-Dodson (desempenho versus stress – poderá ser vista como um U invertido? veja
a representação gráfica e sua discussão em Diamond et al 2007 – fig. 2); a propósito, tem-se falado
de “bom stress” (eustress) e “mau stress” (distress); na verdade, o stress faz parte da vida e pode
ser útil (não é uma doença mas pode aumentar o risco de doenças).

2. COPING
 Confrontativo, activo versus de evitamento (Ayers & Visser, 2021).
 A dicotomia clássica - mecanismos ‘focados nos problemas’ versus ‘focados nas emoções’ - não é
inteiramente concordante com a anterior. Porém, tem pontos aproximados. Exemplos de
mecanismos de coping (v.g. Bishop, 1994):
 Focados nos problemas
resolução de problemas (passos concretos para tentar solucionar os problemas ou diminuir
o seu impacto negativo);
planear (pensar em como lidar com as fontes de stress);
suprimir actividades concorrentes (pôr outras questões de lado para se focar);
contenção (esperar pela melhor oportunidade de agir);
buscar suporte social (na vertente de auxílio prático - instrumental);
procurar informação.

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 Focados nas emoções

ventilar emoções (partilhar as emoções com alguém, falar do que está a ser complicado);
reformulação positiva (reinterpretar a situação de forma positiva);
aceitação (aceitar a realidade de uma situação);
buscar suporte social (por razões predominantemente emocionais);
desinvestimento comportamental (reduzir esforços para lidar com um problema, ou
desistir) ou mental (distrair-se do problema com outros focos de atenção);
denegação, evitamento (cf. em baixo).

 Diferenças entre estratégias/mecanismos e estilos de coping (estes últimos consistem na


tendência para usar certas estratégias de forma habitual).
 Diferenças entre coping e mecanismos de defesa do Eu (no sentido psicodinâmico, i.e.
inconscientes, por definição).

3. AVALIAÇÃO (APPRAISAL) – MODELO TRANSACCIONAL DO STRESS (LAZARUS &


FOLKMAN, 1984)
 Avaliação primária, secundária e reavaliação
 O stress como interacção pessoa – ambiente; abordagem biopsicossocial do stress

4. STRESS, SAÚDE E DOENÇA - papel da personalidade, coping, suporte social ou exercício físico
 Conceito de ‘carga alostática’
 Modelos de vulnerabilidade-stress (cf. também Tema 1)
 Recursos pessoais face ao stress
 Factores protectores (internalidade, auto-estima elevada, resiliência, optimismo, sentido de
humor, etc. – cf. também Tema 2)
 Factores de vulnerabilidade (externalidade, auto-conceito de baixa complexidade,
catastrofização, procrastinação, neuroticismo, etc.)
 Papel das relações e do suporte social

5. EXEMPLO: STRESS EM MEDICINA


 Conceito de Burnout profissional: referência à definição clássica de Freudenberger (1974): “estado
de fadiga ou frustração surgido pela devoção por uma causa, forma de vida ou relação que fracassou

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no que respeita à recompensa esperada”. A tradução portuguesa “esgotamento” tem sido usada por
alguns, sem que haja consenso: o termo inglês passou a ser utilizado correntemente.
 Contribuição teórica de Maslach: as dimensões do burnout profissional (exaustão emocional,
despersonalização, menor realização pessoal).
 Inventário de burnout de Maslach (Maslach Burnout Inventory – MBI; Maslach & Jackson, 1981):
trata-se de um questionário usado em investigação para avaliar os níveis de burnout. Existem
versões adaptadas para diferentes contextos profissionais (ex: professores, profissionais de saúde),
com traduções portuguesas validadas.
 Distinção entre stress ocupacional e síndrome depressiva: a síndrome de burnout está na interface
com ambos e, na literatura, as diferenças nem sempre são claras. Em certo sentido, poderia
considerar-se que burnout é uma forma específica de stress ocupacional (sendo este um conceito
mais genérico), decorrendo do agravamento do mesmo. Deve distinguir-se burnout (constructo
originário da Psicologia) do conceito clínico de depressão (como síndrome/doença): burnout pode
aumentar o risco de depressão, mas os dois conceitos não se equivalem. Em todo o caso, os termos
têm evoluído dinamicamente e a sua operacionalização motiva discussão entre os peritos.
 Prevalência e consequências
 Factores de risco para o desenvolvimento de burnout
 Estratégias para prevenir e lidar com o stress ocupacional e o burnout
 Aplicação ao contexto médico e do estudante de Medicina

Leia a bibliografia, guiando-se pelas notas acima para se focar nos pontos principais; deve reflectir sobre
o stress da vida estudantil e da profissão médica, e sobre como lidar com os desafios de forma construtiva.
Reveja, na UC Medicina e Sociedade (3º ano), a aula do Professor Doutor Miguel Xavier sobre o tema.
Quanto a estudos nacionais, pode consultar os seguintes trabalhos, embora anteriores à COVID-19:

 Burnout na classe médica em Portugal: Perspectivas Psicológicas e Psicossociológicas


(patrocinado pela Ordem dos Médicos; autores - Prof. Jorge Vale – coord., Profs. Alexandra
Marques Pinto, Sérgio Moreira, Rui Costa Lopes, Patrícia Januário; edição revista de 2017, que
corresponde ao artigo de 2021)

 Estudo sobre burnout profissional em profissões ligadas à saúde, do Prof. João Marôco e col.,
onde se utiliza o questionário MBI – Acta Médica Portuguesa, 2016; 29(1): 24-30.

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BIBLIOGRAFIA: (disponível na biblioteca da FCM-UNL)

Essencial

 S. Ayers, R. de Visser: Psychology for Medicine & Healthcare. Sage, 2021.

o Cap. 3 Stress and health: pp 57-84. [as páginas 75-82 - stress profissional - correspondem a
conteúdos também relacionados com o TEMA 8, mas tratados aqui por opção pedagógica].

Complementar:

Sobre Stress e Burnout em Medicina:

 Medical Students’ Experience, in Van Teijlingen & Humphris: Psychology and Sociology applied to
Medicine. An Illustrated Colour Text. 4th ed, Elsevier, 2019 (pp 160-161).
 Suchman & Ramamurthy: Chapter 6 – Practitioner Wellbeing, in Feldman et al (2020). Behavioral
Medicine: A Guide for Clinical Practice. 5th ed, McGraw-Hill.

Artigos para discussão (além dos estudos já referidos, de Vala e col, 2017 e Marôco e col, 2016):

 Maio, I: O médico, o seu doente e… Balint. Rev Port Clin Geral 2008; 24:496-50.
http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10528
 Rodrigues et al: Ansiedade em Meio Clínico: Construção de uma Escala para Estudantes de Medicina.
Acta Med Port 2014; 27(6):731-736.
http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/view/5542

Finalmente, para aprofundar tópicos específicos (títulos disponíveis na Biblioteca ou Secretariado):


 Bishop G: Health Psychology. Cap. Dealing with stress – Who gets sick and who doesn’t. 3rd edition,
1994 (pp 153 - 173).
 Ferreira de Macedo A, Pereira AT, Madeira N. Psicologia na Medicina. (secção VII - Psicologia Clínica
e da Saúde - Cap. 24: Stresse, coping e doença). LIDEL, 2018. ISBN: 978-989-752-348-9
 Vaz Serra A: O stress na vida de todos os dias. Coimbra: GC, 1999.

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