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VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE SALVADOR-BA

Autos: 000.000.000.00
Assunto: Denúncia proferida pelo crime de homicídio culposo,
documentos falsos, partícipes e aborto assistido
Autor: Ministério Público do Estado da Bahia
Réu (s): Pedro ..., Carlos ..., Marcelo ... e Lucas ....

SENTEÇA

I – RELATÓRIO

Como já apresentados nos autos do processo que segue em sede de


competência dessa vara do tribunal do júri, a qual foram denunciados pelo órgão
acusatório o Sr. PEDRO ...; o Sr. CARLOS ..., ambos nos crimes de partícipe de
homicídio culposo; o Sr. MARCELO ... e o Sr. LUCAS ..., ambos nos crimes de
homicídio culposo, falsidade documental e aborto praticado por terceiros,
devidamente previstos pela inteligência do Código Penal Brasileiro nos artigos
29, 121, §3, 126 e 302.
Segue também em anexo nas fls. ... os fatos, depoimentos, fundamentos
e as provas devidamente admitidas pelo legislação ambos alegados tanto pelo
MPBA quanto pela defesa dos acusados.
FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, justifico a demora em proferir sentença nestes autos, em


que atuo em substituição, em virtude da situação complexa em proferir à tão
aguardada DECISÃO, tendo em vista a necessidade do aprofundamento na
análise das alegações finais.

I - DA ABSOLVIÇÃO DE PEDRO
Fora demostrado pela defesa o relacionamento saudável e duradoura
que o acusado mantinha com a vítima, haja vista que nenhum momento da
inquirição do acusado, em audiência de instrução foi esbouçado um interesse na
premeditação da morte de sua companheira, indo totalmente em desencontro as
alegações do MPBA já que o mesmo foi denunciado pelo órgão acusatório como
participe no crime de aborto previsto pelo art. 126 do CP, e de homicídio culposo,
art. 121, §3, do CP. Foi apresentado também pala defesa de Pedro a ausência
de provas do órgão acusatório no que consiste a participação do acusado no
suposto delito, sendo assim inexistindo a real participação do acusado ao crime
a ele denunciado.

Portanto a fundamentação para tal decisão que ABSOLVE o acusado,


PEDRO, é legalmente prevista nos termos do art. 415 do CPP, que diz:

Art. 415. O juiz, fundamentadamente,


absolverá desde logo o acusado, quando:

I – provada a inexistência do fato;

II – provado não ser ele autor ou partícipe do


fato;

III – o fato não constituir infração penal;

IV – demonstrada causa de isenção de pena


ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no
inciso IV do caput deste artigo ao caso de
inimputabilidade prevista no caput do art. 26
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 – Código Penal, salvo quando esta
for a única tese defensiva.

Se dá tal decisão pela real inexistência de nexo de causalidade com


crime supostamente cometido pelo mesmo, partícipe, previsto pelo art. 29 do
CP, que diz:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre


para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor


importância, a pena pode ser diminuída de
um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis


participar de crime menos grave, ser-lhe-á
aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter
sido previsível o resultado mais grave.

Já que o acusado não ofereceu qualquer auxilio, meios ou induziu a vítima


a realizar inicialmente o procedimento estético, como a título de exemplo a
pesquisa para localizar a clínica, oferecimento de quantia para o procedimento,
transporte para locomoção ou induzimento para o convencimento do desejo da
vítima configura-se a nítida ausência de nexo causal que entrelace o suposto
crime ao acusado.
II- DA ABSOLVIÇÃO DE CARLOS
Já o pai da vítima, Sr. Carlos, considerado pelo órgão acusatório
partícipe no crime de aborto nada apresenta para tal alegação infundadas
oferecidas pelo órgão, vez que a concessão da quantia de R$ 4.000,00 (quatro
mil reais) para Belarmina, aos olhos do pai seriam investidos em um curso de
especialização, diferente até mesmo do procedimento estético, o qual o valor
teve destino.

Funda a decisão na ABSOLVIÇÃO do acusado, CARLOS, nos termos do


art. 415, do CPP, acolho conjuntamente os pedidos de absolvição sustentados
tanto pelo MPBA quanto pela defesa em sede de alegações finais na audiência
de judicium accusationis o qual foi sustentado por ambas as partes citadas a
absolvição do acusado do crime, vez que não existiu qualquer ação ou omissão
que qualifica-se o crime denunciado.

III- DA ABSOLVIÇÃO DE LUCAS


No que se refere a autoria do crime de homicídio culposo, previsto pelo
art. 121, §3, CP, como é evidenciado para um fato ser considerado crime há de
ser típico, ilícito, culpável e punível. Sendo assim, no tocante, ao delito imputado
de autoria de homicídio culposo ao acusado, Lucas, é importante frisar que antes
de dar início ao procedimento estético, Belarmina realizou um processo de
triagem.

O mesmo agiu com observância das regras técnicas da profissão,


utilizando todo seu conhecimento teórico e prático. Embora tenha empregado
todo seu conhecimento, a causa da morte, choque anafilático decorrente da
anestesia, é evento imprevisível, mesmo para os melhores médicos.

Nesse sentido acolho devidamente a prova sustentada pela defesa do


mesmo que atesta a complexidade na prevenção do choque anafilático na mesa
cirúrgica, prova essa decorrente de um estudo cientifico do Departamento
Cientifico da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que sustenta a
seguinte tese:
É impossível o médico anestesista possa
prever que durante uma cirurgia o paciente
tenha um choque anafilático.

Ao crime de autoria do crime de aborto praticado por terceiro, previsto


pelo art. 126, CP, que diz:

Art. 126 - Provocar aborto com o


consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo
anterior, se a gestante não é maior de
quatorze anos, ou é alienada ou debil mental,
ou se o consentimento é obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência forma
qualificada.

Não há em que se falar em no crime de aborto, pois o procedimento


realizado, fora estético, ocorreu o choque anafilático, o qual já foi mencionado
que é impossível que o médico anestesista prever esse evento. Ainda, no tocante
ao respectivo delito, salienta-se que os artigos artigos 124, 125 e 126 do CP
não foram recepcionados pela Magna Carta de 1988, portanto sendo assim
inconstitucionais. E sendo inconstitucionais, não há em que se falar em crime,
sendo assim excluído a sua culpabilidade.
No que é referenciado ao crime de falsa perícia, nos termos do art. 342,
caput CP, que prevê:
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou
calar a verdade como testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial,
ou em juízo arbitra.

Para que ocorra o crime de falsa perícia é necessário realizar afirmação


falsa, negar ou calar a verdade como perito em processo judicial, administrativo,
inquérito policial ou em juízo arbitral. Como resta evidente, o acusado não foi
constituído por este juízo, nem por nenhum outro, como perito. Desta forma, não
há possibilidade de ser responsabilizado por este crime uma vez que não está
em juízo como auxiliar da justiça e sim como acusado.

IV- DA DEFESA DE MARCELO


Do acusado Marcelo, o Ministério Público denunciou o acusado pela
prática dos crimes de homicídio culposo (art. 121, §3o, do CP), aborto (art. 126,
caput, do CP) e falsa perícia (art. 342, caput, do CP), todos na modalidade de
autoria.

Durante a instrução e julgamento, o acusado exerceu o seu direito ao silêncio,


ouvida as testemunhas todos demonstraram que o procedimento ocorreu na sua
condição normal, agiu com observância às regras técnicas da profissão,
utilizando todo seu conhecimento teórico e prático. A defesa então sustentou a
inocência do acusado com os mesmos fundamentos utilizados pela defesa do
anestesista Lucas. Desse modo, como se percebe, todos os crimes imputados à
Lucas - anestesista nesta mesma cirurgia - também estão sendo imputados à
Marcelo - médico durante a operação cirúrgica. Dessa forma, para evitar
repetições, poupando este juízo dos mesmos argumentos já fundamentados,
segue a mesma linha de fundamentação e decisão.

DISPOSITIVO

Ante o exposto,
CONCEDO ao réu Pedro: absolvição na participação de homicídio culposo, com
fulcro no art. 414, p.ú do CPP, e sobre o crime de aborto por não haver indícios
suficientes de autoria ou participação no crime, sendo assim, por falta de provas
decido pela impronúncia do acusado com base no artigo, 414, p.ú do CPP.
O RÉU Carlos fica absolvido por desistência do polo ativo da ação.
CONCEDO aos réus Lucas e Marcelo: ante a imprevisibilidade do resultado, a
absolvição, art. 415, IV do CPP, e sobre o crime de aborto por falta de provas,
decido pela impronúncia do acusado com base no artigo, 414, p.ú do CPP.
Absolvidos também do crime de Falsa Perícia por inexistência do fato.
Dê-se ciência ao Ministério Público, à Defesa.

Após, nada mais havendo, dê-se baixa e arquivem-se os autos. Publique-se,


Registre-se, Intimem-se e Cumpra-se.

Salvador – BA, data ___/___/_____

Juiz de Direito.

ALUNOS: ANDERSON ROCHA SANTOS, MATHEUS PASSOS ARAÚJO,


KALLIQUIA LIMA DOS SANTOS, JAN CLAY OLIVEIRA.

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