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QUALIDADE DE VIDA NO
AMBIENTE ESCOLAR
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
ISBN 978-85-53158-61-4
CDD 613.7
Mauren Lúcia de Araújo Bergmann
APRESENTAÇÃO...........................................................................07
CAPÍTULO 1
Compreendendo a Saúde e sua Influência na
Educação Física Escolar.............................................................09
CAPÍTULO 2
Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea
e a Educação Física Escolar.......................................................55
CAPÍTULO 3
Educação Física Escolar, Cultura e Saúde..............................83
APRESENTAÇÃO
A disciplina tem como objetivo discutir os atravessamentos da saúde no
saber-fazer da Educação Física escolar a partir do debate sobre o papel da
Educação Física na escola.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
1 Contextualização
A intenção deste capítulo é trazer uma perspectiva sobre a formação
em Educação Física no Brasil, com o objetivo de compreender a composição
dessa área de intervenção, abordando entendimentos sobre saúde que foram
sendo admitidos ao longo do tempo, além de reconhecer os movimentos de
mudança e também as resistências que cooperam para a manutenção de certos
entendimentos e concepções sobre saúde na Educação Física.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Você sabia?
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
por parte dos estudantes, pois garantia o controle e a disciplina, tendo em vista a
formação de uma determinada identidade nacional.
Silva Jr. e Sguissardi (2001) comentam que um dos efeitos dessa expansão
do Ensino Superior foi a contratação de professores recém-formados para suprirem
as demandas geradas pelas inúmeras instituições isoladas, cujas turmas eram
cada vez mais numerosas. Os autores entendem que isso pode ter contribuído
para a baixa qualidade da formação no período e que, ainda hoje, esses efeitos
permanecem incorporados no professor multifuncional, que atua em algum
segmento da profissão, frequentemente sem nenhum vínculo com a pesquisa,
reforçando saberes pragmáticos que se alinham com a realidade de mercado.
É da década de 1980 outra influência importante para marcar a Década de 1980 outra
saúde na formação em Educação Física, já que a partir da Reforma influência importante
Sanitária brasileira, muitas transformações puderam ser acompanhadas para marcar a saúde
no campo da saúde. A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi a na formação em
Educação Física,
mais significativa, juntamente com a ampliação do conceito de saúde, já que a partir da
que passou a considerar outras dimensões da vida – além da biológica Reforma Sanitária
– no processo saúde-doença. Com isso, políticas públicas para a brasileira, muitas
transformações
atenção básica em saúde começaram a ser instituídas, como: ações
puderam ser
de promoção da saúde, de prevenção de agravos e de qualidade de acompanhadas no
vida. É nesse cenário que o profissional de Educação Física passa campo da saúde. A
gradativamente a ser inserido no sistema público de saúde, numa criação do Sistema
Único de Saúde (SUS)
perspectiva de atenção integral e na articulação de práticas de cuidado foi a mais significativa
multiprofissional (FRAGA; CARVALHO; GOMES, 2012).
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Querendo ou não, uma formação com base nos saberes biomédicos Uma formação
acaba enfatizando o diagnóstico, a prescrição, o monitoramento e a com base nos
avaliação das atividades físicas como atribuição principal da Educação saberes biomédicos
Física no campo da saúde, entendendo-as como o “remédio” para tratar acaba enfatizando
o diagnóstico,
as diversas patologias da modernidade. Está bem consolidado que as
a prescrição, o
atividades físicas podem contribuir terapeuticamente nas condições de monitoramento e
saúde-doença das pessoas. Entretanto, o que alguns autores estão a avaliação das
propondo é a ampliação da perspectiva sobre a saúde, considerando atividades físicas
sua determinação social (SANTIAGO; PEDROSA; FERRAZ, 2016) e a como atribuição
atuação dos profissionais da Educação Física voltada para a produção principal da Educação
Física no campo da
de cuidado integral à saúde, visando à produção da autonomia, às
saúde, entendendo-
relações de vínculo e à corresponsabilidade (MENDES; CARVALHO, as como o “remédio”
2016). Pois “o simples efeito orgânico da atividade física é insuficiente para tratar as diversas
para promover saúde quando se pensa nas determinações sociais do patologias da
processo saúde-doença” (NEVES et al., 2015, p. 164). modernidade.
Nesse sentido, esta seção encerra com o destaque de Anjos e Nesse sentido,
Duarte (2009, p. 1140), reconhecendo que a Educação Física, deve esta seção encerra
“extrapolar e ir além do que era proposto pelo modelo hegemônico, com o destaque
médico-centrado de até então”. Assim, a formação em Educação Física de Anjos e Duarte
acaba alinhada a pressupostos do consumo das práticas corporais e (2009, p. 1140),
reconhecendo que
reforça um padrão exposto nos meios de comunicação, assumindo
a Educação Física,
disciplinas relacionadas ao campo da saúde e adotando técnicas deve “extrapolar
corporais hegemônicas, já que o corpo é visto de forma neutra. e ir além do que
Desta forma, o egresso adota a concepção aprendida no currículo era proposto pelo
da formação inicial, que está baseado sob o tema saúde, valorizando modelo hegemônico,
algumas manifestações da cultura corporal (ginásticas, esportes, médico-centrado de
até então”.
danças e lutas), que são mediadas pelos discursos dos benefícios dos
estilos de vida fisicamente ativos na qualidade de vida. Estão dadas as condições
para a circulação dos ideais neoliberais em meio à formação, às práticas e os
conhecimentos que são divulgados como próprios da Educação Física.
Por fim, a Educação Física deve ter sua formação pedagógica calçada em
bases sólidas, já que, segundo Bracht (2008), tem como função o trato pedagógico
do movimento humano e esse advém de um contexto histórico e cultural, no
qual é produzido e vivenciado. Entender esse panorama e as modificações
que ocorreram no decorrer dos anos será de suma importância, uma vez que
conhecendo a história, é possível conhecer o presente e a nós mesmos.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
aceita apenas uma forma de conhecimento como verdadeiro: a que Desde o surgimento
segue seus preceitos. O autor comenta que, com o intuito de encontrar o da ciência moderna,
conhecimento mais rigoroso da natureza, a ciência moderna empregava o paradigma
como instrumento de análise a matemática. Isso explica porque, no dominante éo
modus operandi da ciência, a quantificação e a redução da complexidade da racionalidade
científica, que aceita
(fragmentação e classificação) assumem a centralidade da análise do
apenas uma forma
objeto de estudo, em detrimento da qualificação dele. Em oposição à de conhecimento
modernidade líquida de Bauman, a ciência moderna pressupõe um como verdadeiro:
mundo sem mudanças, em que prevalece a segurança, a ordem e a a que segue seus
previsibilidade em todos os sentidos da vida. Além disso, o paradigma preceitos.
dominante da “ciência moderna” rejeitava duas formas de conhecimento não
científicos, e, portanto, irracionais: o senso comum e as chamadas humanidades ou
estudos humanísticos, entendidos como potencialmente perturbadores e intrusos,
ameaçando a verdade científica (SANTOS, 2005).
Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Atividade de Estudos:
Poder:
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
que a classe dominante não domina por completo e não força os outros a
se condescenderem com a dominação. Portanto, a noção de poder toma
aqui outra forma. Bourdieu demonstra a existência do poder simbólico,
poder esse em que as classes dominantes são favorecidas por um capital
simbólico, disseminado e reproduzido por meio de instituições e práticas
sociais que lhe possibilitam exercer o poder. Segundo o autor, esses
símbolos são instrumentos da integração social e fazem ser possível
obter o consenso acerca do sentido do mundo social, o qual contribui
necessariamente para a reprodução da ordem social. O poder é invisível
e só é exercido quando os seus sujeitos não querem ou não sabem disso.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Habitus:
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
4 Conceitos de Saúde
Conceituar saúde constitui-se em um desafio com grande complexidade
envolvida, já que é possível “enxergar” a saúde por diferentes “lentes”.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Hegemonia:
“estado de completo Da Antiguidade até meados do século XIX, entendia-se saúde como
bem-estar físico, a ausência de enfermidades, doenças, invalidez ou deficiência. Ter saúde
mental e social, significava estar em harmonia com o ambiente e consigo mesmo. De
e não somente acordo com Scliar (2007), não havia um conceito universalmente aceito
a ausência de sobre o que era saúde. Foi em 7 de abril (atualmente Dia Mundial da
enfermidade ou
Saúde) que a Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo sanitário
invalidez”
internacional que integra a Organização das Nações Unidas, fundado em
1948, definiu saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não somente a ausência de enfermidade ou invalidez” (OMS, 2000, s.p.).
A ampliação do conceito de saúde pela OMS veio numa época em que o foco
da organização era a erradicação de doenças transmissíveis (malária e varíola).
Era uma época em que os países socialistas desempenhavam importantes
funções na Organização e a demanda por desenvolvimento e progresso
Assim, entende-se
que o tema “saúde” social ampliou consideravelmente os seus objetivos, colocando em
não é significado pauta as enormes desigualdades na situação de saúde entre países
da mesma forma desenvolvidos e subdesenvolvidos, a responsabilidade governamental
para todas as na provisão da saúde e a importância da participação de pessoas e
pessoas, estando comunidades no planejamento e implementação dos cuidados à saúde
condicionado ao
(SCLIAR, 2007).
tempo histórico,
local, classe social,
valores individuais, O conceito de saúde tem se transformado com o passar dos
concepções tempos, superando o biologicismo conservador e se ampliando para
científicas, religiosas reconhecer as indissociáveis questões que afetam as condições de
e filosóficas, por saúde, como o ambiente social, político, econômico e cultural dos
exemplo.
sujeitos. Assim, entende-se que o tema “saúde” não é significado da
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Saúde:
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Dessa forma, na busca pela constante satisfação instantânea dos Um estilo de vida é,
desejos, os indivíduos da sociedade líquida também buscam distinguir assim, não apenas
suas práticas sociais dos demais. Assim, segundo Bourdieu (2007a), uma maneira de
se comportar,
as práticas e os julgamentos sobre elas (os gostos) se fecham uns
mas também um
sobre os outros, numa unidade coerente onde uma prática remete a julgamento sobre
um determinado tipo de gosto e um gosto equivale a um determinado o mundo, de se
mundo de práticas. Um estilo de vida é, assim, não apenas uma diferenciar nele,
maneira de se comportar, mas também um julgamento sobre o representando a
mundo, de se diferenciar nele, representando a exclusividade de uma exclusividade de
uma posição social
posição social dominadora, através do contraste com os símbolos da
dominadora, através
mediocridade de uma condição de subordinação. do contraste com
os símbolos da
Portanto, se na sociedade dos produtores, a saúde era entendida mediocridade de
como um padrão a ser atingido, na sociedade dos consumidores o uma condição de
apelo é através da aptidão, do fitness (BAUMAN, 2001). Apesar dos subordinação.
termos “saúde” e “aptidão” fazerem referências a cuidados com o corpo, Bauman
(2001) alerta que eles fazem apelos a preocupações muito diferentes. A saúde é
o estado que pode ser medido, quantificado e demarca os limites entre “norma”
e “anormalidade”, é “seguir normas”; já a “aptidão” é um estado flexível que não
se refere a um padrão particular, mas a um potencial de expansão; é estar pronto
para o novo, é “quebrar as normas e superar padrões”. Dessa forma, Bauman
entende que, ao contrário da saúde, a aptidão é uma experiência subjetiva, pois
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Nesse sentido, outra questão vem à tona: “como a saúde é tratada na escola
e quais os significados deste tema são compartilhados pela produção científica? ”
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
menos capital ou “novatos” no campo. Estes, por sua vez, tendem a subverter a
“ordem vigente”, assumindo posturas de resistência na luta pela estruturação do
campo.
5 A Produção de Conhecimento
Sobre Saúde na Educação Física
Escolar
No Brasil, a Educação Física sofreu grande influência médica e militar e
os conhecimentos que constituem a área estão pautados, principalmente, em
princípios biomédicos e visão de corpo objetificado. Não obstante, a Educação
Física buscou legitimidade social procurando demonstrar “cientificamente” sua
necessidade de vincular-se à saúde. Assim, o discurso científico que constituiu
a Educação Física, criou um campo que, anos mais tarde, passou a questionar a
visão de homem e sociedade que essa vinculação imprimia nos entendimentos de
Educação Física (BRACHT, 2000).
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Atividade de Estudos:
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As análises das informações resultantes desta busca foram organizadas a partir das
variadas leituras e permitiram a definição de questões que nortearam este estudo, que
foram: Como o tema saúde tem sido tratado pela/na Educação Física escolar? Quais as
“dimensões” de saúde circulam nos estudos sobre/na Educação Física escolar?
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
FONTE: A autora
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Ano - 2016 3
Ano - 2015 2
Ano - 2014 2
Ano - 2013 2
Ano - 2012 2
Ano - 2011
Ano - 2010 2
Ano - 2009 1
Total de estudos 14
0 2 4 6 8 10 12 14 16
FONTE: Adaptado do Portal de Periódicos Capes e Base de dados Scielo (2017)
Revisão 2
Qualitativo 2
Quantitativo 10
Total de estudos 14
0 2 4 6 8 10 12 14 16
FONTE: Adaptado do Portal de Periódicos Capes e Base de dados Scielo (2017)
O Gráfico 2 mostra que dois terços dos estudos selecionados foram pesquisas
quantitativas (66,6%) em relação aos estudos de revisão e qualitativos. Isso pode
ser explicado pelo domínio dos estudos que têm como pressuposto teórico a
biodinâmica e, majoritariamente, organizam suas pesquisas sob o viés quantificável
dos fenômenos estudados, buscando a universalidade do conhecimento.
Considerando que o método qualitativo foi uma das principais ferramentas das
Ciências Sociais para observar os processos da sociedade, segundo Denzin e
Lincoln (2006), é compreensível que um termo historicamente ligado às Ciências
Naturais esteja mais presente em pesquisas com métodos quantitativos, como
demonstra o gráfico 2. Este gráfico demonstra que a produção de conhecimento
sobre o tema “saúde” na Educação Física escolar é, majoritariamente, expressa em
números, medições e análises causais entre variáveis.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
Ludica PEdagógica 1
jornal de Pediatria 1
Cinergis 1
Motricidade 4
Total de estudos 14
0 2 4 6 8 10 12 14 16
FONTE: Adaptado do Portal de Periódicos Capes e Base de dados Scielo (2017)
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Atividade de Estudos:
A educação torna-se
um instrumento Nesse sentido, a educação torna-se um instrumento essencial
essencial no processo no processo de transformação da sociedade por ser possível,
de transformação
da sociedade por através dela, politizar os indivíduos, permitindo-lhes apropriação
ser possível, através da realidade, inserção nela, tornando-se sujeitos de suas próprias
dela, politizar os histórias e atuando de forma consciente no mundo. A educação
indivíduos, permitindo-
envolve um processo de desvelamento da realidade que, de acordo
lhes apropriação da
realidade, inserção com Freire (1983), evidencia uma de suas tarefas essenciais, que
nela, tornando-se é a conscientização, ou seja, é o processo educativo que permite
sujeitos de suas um vislumbrar de uma proposta de mudança social através da
próprias histórias e
atuando de forma decodificação do mundo e da inserção nele.
consciente no mundo.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Atividade de Estudos:
1) Mas o que é saúde para estes autores? O que está por trás dos
diferentes discursos que incentivam um “estilo de vida saudável”?
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
6 Algumas Considerações
Iniciamos este capítulo buscando compreender a trajetória histórica que
constitui as tramas da formação em Educação Física no contexto brasileiro.
Entendendo a influência das instituições militares e médicas na concepção
histórica da Educação Física, é possível compreender as perspectivas curriculares
de formação inicial e como elas engendram a atuação dos professores na escola.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Referências
ALMEIDA FILHO, N. O que é saúde? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2011.
______. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2004.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
FARIAS, Edson dos Santos et al. Efeito da atividade física programada sobre
a aptidão física em escolares adolescentes. Rev. bras. cineantropom.
desempenho hum., Florianópolis , v. 12, n. 2, p. 98-105, 2010.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
______. Educação como prática da liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1983.
LUPTON, D. The Imperative of Health: public health and the regulated body.
London: Sage Publications, 1995.
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Capítulo 1 Compreendendo a Saúde e sua Influência na Educação Física Escolar
PALMA, Alexandre. Educação Física, corpo e saúde: uma reflexão sobre outros
modos de olhar. Rev. Bras. Cienc. Esporte, v. 22, n. 2, p. 23-39, jan. 2001.
53
Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
WEBER, J. R. Criança ativa, criança saudável. Zero Hora, Porto Alegre. Caderno
Vida, 2018.
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C APÍTULO 2
Os Estilos de Vida na Sociedade
Contemporânea e a Educação
Física Escolar
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
1 Contextualização
A intenção deste capítulo é fazer que com você, leitor, compreenda os
dispositivos sociais na organização dos estilos de vida, reconhecendo os aspectos
socioculturais no entendimento dos estilos de vida. Perceber o estilo de vida ativo,
não mais responsabilizando o indivíduo por sua condição física ou social, e sim
discutindo as possibilidades de garantias de direitos constitucionais, bem como as
formas de organização da sociedade e o impacto destas na saúde coletiva.
2 Os Estilos de Vida
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004, s.p.) o estilo de vida
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Socialização:
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
Estilo de vida:
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Convido você a olhar para o estilo de vida a partir de uma lente sociológica.
Para isso, retomaremos Pierre Bourdieu, para quem o estilo de vida é determinado
de acordo com as condições de existência (ver Figura 1).
“as diferentes Bourdieu (1983) entende que “as diferentes posições no espaço
posições no social correspondem estilos de vida, sistemas de desvios diferenciais
espaço social que são a retradução simbólica de diferenças objetivamente inscritas
correspondem estilos nas condições de existência” (BOURDIEU, 1983, p. 82).
de vida, sistemas de
desvios diferenciais
Mas o que isso significa?
que são a retradução
simbólica de
diferenças Podemos entender que as condições de existência, como a
objetivamente posição dentro da estrutura econômica (operário, empresário de
inscritas nas destaque, professor) e os grupos com quais o sujeito se relaciona são
condições de como modelos que, de certa forma, definem os estilos de vida (ou seja,
existência”
as práticas sociais e suas características) de uma dada posição social
que é ocupada por um determinado sujeito.
O habitus é aquilo que foi estruturado pela realidade exterior e que estrutura
as práticas “interiormente”.
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
sitema de
esquemas
etc.
sistema de
esquemas
etc.
Mesmo com o reconhecimento dessa rede de relações que Esta “lente” para
constituem os estilos de vida, no campo biomédico é comum que o estilo compreender os
de vida envolva os aspectos relacionados à saúde estando intimamente estilos de vida
associados à dimensão biológica. Esta “lente” para compreender os acaba orientando
muitas produções
estilos de vida acaba orientando muitas produções acadêmicas quando
acadêmicas
se trata da saúde na infância e adolescência, desconsiderando os quando se trata da
aspectos sociais que constituem os estilos de vida. saúde na infância
e adolescência,
No estudo de Ferreira e colaboradoras (2007), que teve como desconsiderando
objetivo conhecer as concepções dos adolescentes sobre saúde e como os aspectos sociais
que constituem os
estas se articulam com as suas práticas de cuidado, na especificidade
estilos de vida.
do processo de adolescer, as autoras perceberam que a percepção
de saúde dos adolescentes emerge de um modo de viver e estar na vida, que
envolve livre arbítrio sobre o que comer, por exemplo, mesmo reconhecendo que
estas escolhas nem sempre são as “recomendadas” por determinados parâmetros
aprendidos na vida sociofamiliar, orientado por padrões de gênero: “você é moça,
precisa se cuidar”, conforme relato de uma das adolescentes que participaram
do estudo. As experiências relatadas no estudo convergem para uma noção de
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
saúde que envolve autonomia. A saúde ganhou sentido retratada nos estilos
de vida e comportamentos legitimados pela maioria dos adolescentes aos seus
modos de viver a vida.
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
Consumo:
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
Você sabia?
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Habitus de classe:
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Ao tratar dos Por fim, ao tratar dos conteúdos relacionados aos estilos de vida
conteúdos e aos comportamentos relacionados à saúde, é preciso reconhecer
relacionados aos os elementos que constituem as condições de vida dos indivíduos. A
estilos de vida e aos utilização de práticas ou julgamento “moralistas” devem ser evitadas.
comportamentos Condutas do tipo “não faça isso”, “você vai morrer logo se continuar
relacionados à
sedentário”, “ele é obeso porque é preguiçoso” provêm de discursos
saúde, é preciso
reconhecer os centrados no indivíduo e com fortes traços biologicistas, simplificando
elementos que e reduzindo o processo saúde-doença ao controle de variáveis
constituem as individuais, desconsiderando ou, no mínimo, secundarizando outras
condições de vida influências possíveis nas tomadas de decisões dos indivíduos como,
dos indivíduos. por exemplo, condições socioeconômicas.
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
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Conhecimento científico:
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
Para isso, foram eleitos dois termos importantes que circulam na Educação
Física, frequentemente relacionados à saúde: “atividade física” e “prática corporal”.
Atividade Física:
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Damico e Knuth (2014) comentam em seu ensaio teórico que, por mais que a
definição de atividade física seja aplicável e possível na concepção metodológica
de estudos de campo em termo de diagnóstico (aliada a um sentido estritamente
biológico) e que boa parte da produção de conhecimento o expresse assim, os
professores e profissionais da saúde ficam com o complexo desafio de ampliar
esses sentidos para além do gasto calórico e a redução das doenças crônico-
degenerativas para uma articulação firme com a saúde.
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
Prática corporal:
Uma das primeiras aproximações com esse termo ocorreu nos estudos de
Marcel Mauss e a noção de técnicas corporais, definidas como sendo "as maneiras
como os homens, sociedade por sociedade e de maneira tradicional, sabem
servir-se de seus corpos" (1974, p. 211). Essa perspectiva, segundo Rodrigues
(2000), instigou a observação do uso do corpo como uma educação das técnicas,
construídas como resultado das relações entre homem e a sociedade. Damico e
Knuth (2014) comentam que essa noção, ao mesmo tempo em que admitia uma
ampliação do olhar para além do biológico, foi sendo paulatinamente deixada de
lado, provavelmente em função do termo 'técnica', por representar, ainda que por
simples associação, uma ligação direta com as técnicas esportivas e com certo
grau de disciplinamento decorrente das mesmas.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
4 Algumas Considerações
Os temas deste capítulo foram apresentados a partir dos entendimentos sobre
os conceitos de estilo de vida, numa perspectiva ampliada, ou seja, para além
das questões biológicas, de forma a incentivar o reconhecimento dos aspectos
socioculturais no entendimento das condições de existência na constituição dos
estilos de vida.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
Referências
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Capítulo 2 Os Estilos de Vida na Sociedade Contemporânea e a Educação
Física Escolar
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
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KNUTH, A.; LOCH, M. “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”? Um
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Física Escolar
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15, n. 2/3, p. 107-122, jun/sep. 2006.
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Educação Física e Qualidade de Vida no Ambiente Escolar
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C APÍTULO 3
Educação Física Escolar, Cultura e
Saúde
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
1 Contextualização
A intenção deste capítulo, ao abordar a discussão da saúde na Educação
Física escolar a partir do conceito de cultura, é fomentar a ampliação dos olhares
para a questão do papel da educação física na escola e de como a saúde faz
parte de uma trama social complexa que pressupõe reconhecimento nos debates
e práticas sociais que a envolvem. A cultura, nesta seção, assume a centralidade
do debate porque ela influencia todas as práticas sociais que engendram as
questões dos estilos de vida e comportamentos sociais, incluindo as práticas
corporais. Essa discussão oferece uma contribuição do que é e do que podemos
entender sobre as práticas corporais e a educação física escolar.
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Entendida a partir de uma perspectiva antropológica, a cultura pode ser vista como
o elemento diferenciador, ocupando relevante papel no que tange à explicitação
das diferenças entre as sociedades, sobretudo, no que se refere aos modos de
pensar, sentir e agir destas.
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
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Etnocentrismo:
Atividade de Estudos:
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Para Clifford Geertz (2015), a cultura é uma teia de significados Para Clifford Geertz
tecida pelo homem, na qual ele se encontra amarrado, preso. O autor (2015), a cultura
entende que a cultura é constituída de estruturas de significados é uma teia de
instituídas socialmente. A cultura é entendida como um texto a ser significados tecida
pelo homem, na
lido e interpretado através de um trabalho de campo ou, nas palavras
qual ele se encontra
de Geertz (2015), uma “descrição densa”, apoiada no ponto de vista amarrado, preso. O
daqueles que fazem parte da cultura e do universo simbólico do qual autor entende que a
fazem parte. cultura é constituída
de estruturas
Para Stuart Hall (1997), a cultura é um campo de produção de de significados
instituídas
significados no qual os diferentes grupos sociais, em distintas situações
socialmente.
de poder, lutam pela imposição de seus significados à sociedade mais
ampla. Para ele, as ações sociais não são significativas em si mesmas, elas têm
significados tanto para quem delas participa quanto para quem as observa, nesse
sistema são utilizados vários significados para definir o que as coisas significam
e, a partir destes significados é possível regular e organizar todas as relações
sociais. Nesse ponto de vista, toda ação social é cultural e todas as práticas
sociais expressam ou comunicam um significado.
Atividade de Estudos:
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E a escola, como Esses assuntos podem trazer um debate mais intenso sobre as
espaço que abriga a relações culturais, as relações de poder e a propagação de um modo
diversidade cultural, de ser, agir e pensar. E a escola, como espaço que abriga a diversidade
é porta-voz de uma
cultural, é porta-voz de uma determinada cultura.
determinada cultura.
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Cultura popular:
Você sabia?
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
Para Pierre Bourdieu (1996), a escola tem um papel importante Formamos pessoas
no processo de produzir cultura restrita à classe social dominante, re- e corpos através
produzindo as relações de dominação cultural, pois a escola é o palco e a serviço do
capitalismo
primário dos confrontos culturais, pois abrange boa parte da população e de suas
em suas relações, produzindo efeitos nas subjetividades dos estu- transformações, que
dantes. Como vimos anteriormente, a Educação Física brasileira tem segue nos tornando
fortes influências europeias pois, num primeiro momento, projetava a dependentes de um
sistema alienado e
formação de uma sociedade patriota. Nesse sentido, formamos pessoas consumista.
e corpos através e a serviço do capitalismo e de suas transformações,
que segue nos tornando dependentes de um sistema alienado e consumista. Por
isso, urge a tomada de consciência daqueles e daquelas que, comprometidos com
uma formação e educação crítica, defendem e fomentam práticas educativas que
questionam o modelo reprodutor vigente e buscam formar cidadãos emancipados.
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Educação:
À escola foram atribuídas várias funções sociais no decorrer dos tempos, tendo
sido idealizada como local de aquisição de conhecimentos e valores promovidos
através da socialização num processo de reprodução cultural e social como meio
de conservar determinados conhecimentos e comportamentos valorizados pelos
grupos dominantes na sociedade. Essa seria uma forma da manutenção da ordem
social e, à medida que as classes dominadas reproduzem os valores e objetivos da
classe dominante, sem estar atenta aos interesses de quem os divulga, é que se
constitui a hegemonia de determinadas práticas sociais sobre outras.
A hegemonia na
A hegemonia na escola atua através dos métodos e abordagens
escola atua através
dos métodos e de ensino adotados, dos conteúdos, dos referenciais teóricos e
abordagens de livros didáticos, dos mecanismos de avaliação, dos usos de recursos
ensino adotados, sem a devida reflexão sobre os interesses que neles subjazem. Nas
dos conteúdos, dos aulas de educação física (EF), a hegemonia cultural ganha forma nas
referenciais teóricos práticas pedagógicas descontextualizadas ou com foco no rendimento
e livros didáticos,
motor. Como comentado anteriormente, as manifestações esportivas
dos mecanismos de
avaliação, dos usos (basquetebol, voleibol, handebol e futebol) que, historicamente, fazem
de recursos sem parte das práticas pedagógicas da EF são conteúdos hegemônicos
a devida reflexão desde o final da Segunda Guerra Mundial, em atendimento aos
sobre os interesses interesses dos países dominantes e, mesmo com os recentes debates
que neles subjazem. críticos sobre currículo (que promoveram a inserção de outras
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Isto é, uma escola que possua certa autonomia para produzir a sua cultura,
com seus próprios códigos e critérios e, assim, estabelecer relação com o conjunto
das culturas em conflito numa dada sociedade, como escreve Nóvoa. Da mesma
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forma, uma Educação Física que reconheça outras formas de dançar, jogar, lutar
e compreender a cultura corporal. A diferença fundamental aqui é que se defende
que a escola tem um movimento propositivo de intervenção cultural na sociedade.
Esse outro olhar para a escola é fundamental para a discussão que segue e, por
isso, estará sempre presente.
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
A saúde, enquanto fenômeno social, tem sido legitimada pelos A saúde, enquanto
conhecimentos e saberes científicos. Muitos estudos mostram que é fenômeno
possível reduzir a incidência de doenças ou aumentar a expectativa social, tem sido
de vida, em populações que praticam regularmente exercícios físicos legitimada pelos
(PAFFENBARGER et al., 1986; PATE et al., 1995), entretanto, como já conhecimentos e
saberes científicos.
falamos aqui, o tema saúde está além da dimensão biológica.
Você sabia?
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
Como vimos nos capítulos anteriores, conceituar “saúde” não A saúde não é
é tarefa fácil. O filósofo Hans-Georg Gadamer (1997), por exemplo, algo realizado pelo
longe de tentar defini-la, tenta compreendê-la. E a compreende como médico, mas, antes,
um mistério, comentando que a doença está relacionada à história a condição natural
do ser.
do indivíduo e deste com a sociedade, sendo ela uma perturbação
experimentada pelo indivíduo, uma exceção que o afasta das suas relações vitais
em que ele estava habitualmente vivendo. Para ele, a experiência da doença
relaciona-se ao estado anterior da saúde, que estando “esquecida” ou não
chamando a atenção, impõe o estabelecimento de valores padronizados. Assim,
a doença não pode existir sem a saúde. Porém, o mais interessante é que o autor
lembra que a saúde não é algo realizado pelo médico, mas, antes, a condição
natural do ser.
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Knuth e Loch (2014) destacam que a defesa da aptidão física como objetivo
da EFE estava sustentada por alguns argumentos: 1) o entendimento de que os
hábitos de vida são aprendidos desde cedo e, quanto mais cedo iniciar o incentivo
à adesão às atividades físicas, maiores as chances deste comportamento
refletir na vida adulta. Nesse caso, a Educação Física escolar seria o veículo
incentivador destes hábitos; 2) Como os gastos com a saúde da população adulta
são elevados, os programas de Educação Física escolar poderiam ser uma
importante ferramenta de minimização no impacto dos gastos com as doenças
do “futuro” adulto; 3) A Educação Física não deve apenas promover o movimento
pelo movimento, mas oportunizar compreensão das práticas para que os jovens
incorporem esses conhecimentos fora da escola, incentivando assim, autonomia
para organizar suas práticas corporais no desenvolvimento da aptidão física e da
saúde; 4) A noção de que a promoção da saúde e/ou a educação para a saúde
deve ser priorizada com vigor.
É de
responsabilidade
do próprio A perspectiva de que a educação física deva ser a responsável
escolar tornar-se pelo desenvolvimento da aptidão física defende, como primeiro
fisicamente ativo? momento, que as crianças devam ser fisicamente ativas desde cedo e
A ideia de que que as atividades propostas devem estar adequadas à faixa etária em
depende apenas
questão, além de serem agradáveis durante a prática. Além disso, prevê
da determinação
do indivíduo para o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde para que o
melhorar seus indivíduo possa selecionar padrões pessoais que possam conduzi-los
hábitos de vida a hábitos ativos por toda a vida, a autodeterminação, a resolução dos
contribui para a problemas pessoais, para que o adolescente, ao fim da escolarização,
disseminação de se torne fisicamente ativo.
uma ideologia
de auto
responsabilização Alguns pontos devem ser discutidos acerca desta abordagem.
das próprias Primeiramente, cabe refletir aqui: é de responsabilidade do próprio
condições de escolar tornar-se fisicamente ativo? A ideia de que depende apenas da
vida, eximindo o determinação do indivíduo para melhorar seus hábitos de vida contribui
Estado de suas para a disseminação de uma ideologia de auto responsabilização
responsabilidades
das próprias condições de vida, eximindo o Estado de suas
no que concerne
à promoção de responsabilidades no que concerne à promoção de políticas públicas
políticas públicas visando ao engajamento em práticas saudáveis (NEVES, 2005).
visando ao Palma e colaboradores (2006) também comentam que outros fatores,
engajamento em juntamente com os intrínsecos, interferem na adesão a atividades
práticas saudáveis físicas, como fatores sociais, econômicos e de gênero, entre outros.
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Estaríamos reduzindo Defender que o papel da educação física está no aumento dos
ao indivíduo a níveis de atividade física da população jovem, no nosso entender,
questão da saúde, reduz sobremaneira a responsabilidade dela no currículo. Em primeiro
atribuindo a ele a lugar porque, aderir ao discurso do movimento pelo movimento,
responsabilidade
estaríamos reduzindo ao indivíduo a questão da saúde, atribuindo
de modificar seus
comportamentos a ele a responsabilidade de modificar seus comportamentos para
para solucionar o solucionar o problema das suas condições de saúde. Acreditar nisso
problema das suas é acreditar que estamos todos imersos numa cultura homogênea,
condições de saúde. que nos dá as mesmas condições de organização dos estilos de vida.
Certamente, defender Como vimos nos capítulos anteriores, as condições de existência, que
uma proposta
organizam e são organizadas pelo habitus, produzem estilos de vida
curricular para a
Educação Física, de muito diferentes uns dos outros. Portanto, é primordial reconhecer as
caráter individual, desigualdades estruturais com raízes políticas, econômicas e sociais
não corresponde à que dificultam a adoção desses estilos de vida. Certamente, defender
realidade social em uma proposta curricular para a Educação Física, de caráter individual,
que vivemos. não corresponde à realidade social em que vivemos.
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A saúde na escola Dessa forma, entendemos que a saúde “na escola” vem “de fora”,
vem de uma cultura constitui-se de maneira simbólica a partir de códigos e regulações
produzida por outros que temos sinalizado ao longo das seções deste livro, é validada
“sistemas”. pelas instituições médicas, pelas evidências científicas, regulada pela
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A saúde “da escola”, portanto, assume um olhar que enxerga A saúde “da
outras dimensões. A autonomia dos estudantes em relação às práticas escola”, portanto,
corporais não se dá apenas na organização de rotinas delas nas rotinas assume um olhar
de vida, mas na compreensão de questões socioculturais sobre estas. que enxerga outras
dimensões.
Não basta apenas saber correr, reconhecer a importância da aptidão
cardiorrespiratória na saúde vascular, é preciso compreender a falta de tempo da
classe trabalhadora, a restrição de espaços públicos e de segurança para a prática
da corrida. Como tratar dos conhecimentos sobre estilo de vida e comportamento
sem considerar a dimensão sociocultural?
Como compreender esses aspectos se não nos remetermos a Essa seria a grande
aspectos sociais, políticos e culturais? Sem realizar essas associações, tarefa da educação
os sujeitos não possuiriam a autonomia para praticar e compreender as física escolar:
práticas corporais e sua relação com a saúde. Essa seria a grande tarefa compreender
da educação física escolar: compreender as diferentes manifestações as diferentes
manifestações da
da cultura corporal, pelo olhar dos determinantes biológicos, políticos e
cultura corporal,
socioculturais. Dessa forma, ela estaria contribuindo para a ampliação pelo olhar dos
do entendimento de saúde, para a consciência sobre os diferentes determinantes
estilos de vida ativa e para uma sociedade mais justa e igualitária. biológicos, políticos
e socioculturais.
Entendendo o papel da educação física na escola, reconhecemos a
centralidade do professor no processo educativo. Partimos do entendimento
de que a docência é uma profissão interativa, é “para” o outro, “sobre” o outro
e “com” o outro; nesse sentido, é fundamental valorizar o saber que emana do
outro, fruto de elaborações advindas das suas experiências concretas de vida.
Esta é condição sine qua non para uma prática educativa que se proponha
construtiva, libertadora, dialógica e promotora da autonomia dos sujeitos. Do
contrário, a prática será instrutiva, unidirecional, no que pese o estabelecimento
de normas e condutas quase sempre não seguidas, por serem, na maioria das
vezes, arbitrárias e de difícil ancoragem.
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É preciso perceber É preciso perceber que a realidade não é linear, mas dialética.
que a realidade Assim, o foco de atenção deve ser desviado do indivíduo para o
não é linear, mas coletivo. Não são os fatores de risco individuais que são as potentes
dialética. Assim, causas de doenças, mas o impacto de inúmeras variáveis, tais como
o foco de atenção salários, educação, moradia, ocupação etc., que, combinadas entre si,
deve ser desviado
com os fatores de risco biológicos e com as condições que geram estes
do indivíduo para
o coletivo. Não são mesmos fatores de risco, engendram as condições de vida (NAVARRO,
os fatores de risco 1998). E a compreensão da sociedade representa um grande
individuais que instrumento para entender o processo saúde doença, pois ao analisar
são as potentes como se dão as relações de exploração, dominação e reprodução,
causas de doenças, talvez seja possível compreender melhor a saúde dos indivíduos. Da
mas o impacto de
mesma forma, na escola.
inúmeras variáveis,
tais como salários,
educação, moradia, Numa sociedade estruturada em moldes capitalistas de produção
ocupação etc., que, como a nossa, a saúde não escapou de um processo de mercantilização
combinadas entre que esse formato de sociedade implica, pois incorpora os valores
si, com os fatores estimulados por este modelo como a classificação, a seleção, a
de risco biológicos
comparação e a performance, por exemplo. Isso caracteriza e explica
e com as condições
que geram estes as diversas associações à saúde na nossa sociedade: alimentos
mesmos fatores de associados à saúde, roupas, calçados, acessórios, celebridades
risco, engendram as que incentivam modos de viver etc., afinal, tudo o que é associado à
condições de vida saúde é mais fácil de ser vendido; é o mercado aproveitando-se da
ideia de que a saúde é um bem acima de qualquer suspeita. É nesse
A escola não ponto que a escola não pode inculcar os entendimentos privados
pode inculcar os
de saúde, reproduzindo na escola uma saúde que vem de fora. Ao
entendimentos
privados de saúde, longo deste texto foram reconhecidas as estruturas sociais para que
reproduzindo na determinadas “verdades” ganhem força sobre outras, especialmente
escola uma saúde dentro da Educação Física, que carrega toda uma bagagem histórica
que vem de fora. de subordinação às ideologias hegemônicas. Neste sentido, a escola
e a educação física, incluída num contexto amplo de educação, são espaços
para análise e crítica da visão hegemônica de saúde como bem de consumo,
contribuindo para o processo de transformação social.
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4 Algumas Considerações
Olhar para as práticas sociais a partir da cultura pode contribuir de forma
significativa para o conhecimento dos processos que envolvem a sociedade
contemporânea, as práticas e manifestações culturais, bem como as
representações sociais contidas nesse universo multifacetado.
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Referências
ANDAKI, A. C. R. et al. Nível de atividade física como preditor de fatores de risco
cardiovasculares em crianças. Motriz: n. 19, v. 3, p. 8-15, 2013.
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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
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KNUTH, Alan Goulart; LOCH, Mathias Roberto. “Saúde é o que interessa, o resto
não tem pressa”? Um ensaio sobre educação física e saúde na escola. Revista
Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 19, n. 4, p. 429-440, 2014.
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Capítulo 3 Educação Física Escolar, Cultura e Saúde
PATE, R. et al. Physical activity and public health: a recommendation from the
centers for disease control and prevention and the American College of Sports
Medicine. JAMA, v. 273, n. 5, p. 402-407, 1995.
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