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UNIVERSADADE DE BELAS

FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

MATERIAL DE APOIO AOS ESTUDANTES

CADEIRA DE

DIREITO TRIBUTARIO E FISCAL

Professor Msc. Celestino António Buca

Luanda / 2021
Material de Apoio Aos Estudantes / Cadeira de Direito Tributário Fiscal

INDICE

CAPITULO I – IMPOSTO, DIREITO FINANCEIRO, DIREITO TRIBUTARIO


E DIREITO FISCAL .................................................................................................. 2

1. Imposto, Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal ............................. 4

1.1. A actividade financeira do Estado na economia de mercado ............................... 4

1.2. Direito financeiro, direito fiscal e direito tributário ........................................... 12

1.2.1. Natureza e enquadramento do direito fiscal ................................................... 14

1.2.1.1. Critério dos Interesses ............................................................................... 14

S assim, este argumento não deixa de ser possível de críticas. ..................................... 14

1.2.1.2. Critério da Posição dos Sujeitos................................................................. 15

1.2.1.3. Critério da Qualidade dos Sujeitos ............................................................. 15

1.2.2. Relação do Direito Fiscal em Outros Ramos do Direito................................. 15

Direito Fiscal e Direito Administrativo ....................................................................... 16

Direito Fiscal e Direito Processual .............................................................................. 16

CAPITULO II – IMPOSTOS E FIGURAS AFINS ................................................. 20

2.1. Noção de Impostos e seus Elementos ................................................................... 20

2.2. O Imposto e a Taxa .............................................................................................. 23

2.3. Imposto e Contribuições para a Segurança Social ................................................. 25

2.4. Imposto Contribuições Especiais .......................................................................... 26

2.4.1. A requisição Administrativa .............................................................................. 26

2.4.2. Empréstimo Publico Forçado ............................................................................. 27

2.5. Classificação dos Impostos ................................................................................... 28

2.5.1. Impostos Directos e Indirectos........................................................................... 28

2.5.2. Impostos Reais e Impostos pessoais ................................................................... 30

2.5.3. Imposto sobre o rendimento, património, consumo e comercio externo ............. 31

2.5.4. Impostos proporcionais, progressivos e regressivos ........................................... 31

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CAPITULO III. TEORIA GERAL DO DIREITO FISCAL .................................. 33

3.1. Fontes do direito fiscal ......................................................................................... 33

3.2. A constituição, fundamentos do estado fiscal e limites da tributação..................... 33

Fontes do direito fiscal ................................................................................................ 33

3.3. Princípios fiscais constitucionais .......................................................................... 35

2.2. A Regra da Uniformidade ................................................................................. 38

3.4. Interpretação, Integração e Aplicação das Normas Fiscai e Tributarias ................. 39

3.4.1. Instruçoes e despachos administrativos interpretativos ....................................... 41

3.4.2. Aplicação das normas fiscais no espaço e no tempo ........................................... 41

3.4.3. As normas fiscais materiais que não admitem retroactividade ............................ 41

3.4.4. As normas fiscais adjectivas ou processuais....................................................... 42

CAPITULO IIII - RELACÇÃO JURIDICO FISCAL E TRIBUTARIA ............... 43

4.1. Natureza da relação jurídica ................................................................................. 43

4.2. Elementos da Relação Jurídico-Fiscal................................................................... 43

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 56

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CAPITULO I – IMPOSTO, DIREITO FINANCEIRO, DIREITO TRIBUTARIO


E DIREITO FISCAL

1. Imposto, Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal

1.1. A actividade financeira do Estado na economia de mercado

Já em finanças públicas estudamos a actividade financeira do Estado. Tal como os


particulares, também os entes públicos e, em particular o Estado, têm que prover a
satisfação de necessidades, e têm que obter receitas para a efectivação de despesas
geradas pelas necessidades. E, portanto a actividade financeira do Estado traduz-se
nestes dois sentidos complementares: obtenção de receitas e realização de despesas,
visando a satisfação de necessidades publicas.

Nos particulares, a receita limita as despesas. Ninguém pode gastar mais do que
ganha e consequentemente aqui, a receita é um factor limitativo do nível de despesas.

No Estado é diferente: o nível de despesas é que vai determinar o nível de receitas.


Efectivamente o Estado define, em primeiro lugar, o que considera despesa publica, em
seguida, que despesas deve realizar, se de forma directa ou indirecta, através dos vários
organismos e instituições que o integram. Diem-se despesas públicas, por serem
despesas do Estado, e visam a satisfação de interesses públicos. Por isso,
obrigatoriamente tais despesas devem estar escritas no O.G.E.

Portanto, o Estado vai primeiro definir quais os níveis de despesas que tem de
satisfazer e, em momento posterior, irá determinar a forma como obter receitas para
satisfazer aquele nível.

Resumindo: Na actividade financeira do Estado, o limite das despesas é que vai


condicionar o limite das receitas. Contrariamente, nos particulares, as receitas que
cada um obtém é que vão determinar o respectivo limite de despesas.

O Estado como forma de organização politica, necessita de dinheiro para


sustentar toda a sua actividade administrativa. Qualquer que seja a forma de
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organização política de uma comunidade, sempre existirão despesas com a simples


organização desta mesma comunidade. Há necessidade de fazer frente as despesas
assumidas pela comunidade. O Estado reúne ou congrega, em redor de si, um conjunto
de serviços.

Por exemplo, administrar a justiça, assegurar a ordem interna e defender a


comunidade de ameaças externas. São três funções exclusivas do Estado enquanto
organização politica. E portanto, são um monopólio do Estado. O Estado, surgiu como
forma de pôr fim as soluções individuais destes problemas. Ou seja, um Estado não
pode admitir que as pessoas façam justiças pelas próprias mãos. O Estado não pode
admitir que cada particular tenha o seu exército. Se assim acontecesse, o Estado não
teria como impor a lei e cedendo aos particulares deixaria de ser Estado. O Estado
caracteriza-se, acima de tudo, pelo poder de impor.
Ao organizar-se uma comunidade, essa organização precisa de ter, através das
instituições do Estado, o exercício da maioria, o exercício das funções vitais da dita
sociedade. E para ter o exercício das funções há que ter funcionários, juízes,
procuradores, policias e exercito. Pergunta-se: quem paga a manutenção de todo este
corpo administrativo? É o Estado. Deste modo, podemos dizer que há aqui um pacto
entre a comunidade e o Estado. Isto é, um acordo entre todos os membros da
comunidade que aceitam que haja uma organização politica e possui uma população e,
evidentemente, um poder político. É isto que, modernamente, constitui o Estado. É
fundamental a existência de um limite territorial, uma população e um poder político.
Só perante a combinação destes três elementos estaremos na presença de um Estado
independente.

Portanto, quem é que está disposto a pagar toda esta máquina administrativa? Se
fosse feita um referendo alguém estaria disposto a faze-lo? Absolutamente ninguém! O
ser humano, tomado individualmente, de forma egoísta, pensando somente em si,
naturalmente diz: “Eu não preciso de exército! Não tenho nada que pagar o exército!
Mas entretanto, colhe benefícios da existência do exército, da polícia e dos tribunais. Se
não existisse exercito, e quem diz exercito, diz polícia, os conflitos seriam muito
maiores, a desordem alcançaria desproporções e, conseguinte a desagradarão daquela
comunidade seria muito mais fácil.

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Então nós temos na vida de cada pessoa e, naturalmente da comunidade, dois


tipos de necessidades; as necessidades de satisfação activa e as necessidades de
satisfação passiva. Cada um de nós, não só como seres individuais, mas como seres
sociais, precisamos de comida, vestuário, saúde e educação. Essencialmente isso!
Actualmente, ninguém pensa na vida em sociedade sem estes factores. Contudo, há
necessidade que eu, para as satisfazer tenho que ter iniciativa. Para me alimentar, vestir,
ter acesso a saúde, tenho que obter um trabalho. Ter um salário e poder comprar nas
lojas onde se vendem tais bens, esses produtos. Ou ir a um hospital para ter tratamento
quando necessário.

Reparando bem, estas necessidades são de satisfação activa. Ou seja são as


necessidades que pressupõe a acção por parte do interessado.

Reparem: são bens que exigem uma interacção. Relações de troca. Isto é, a
sociedade desenvolve-se e eu só posso adquirir estes bens por troca, não por permuta
directa. É evidente que nas sociedades mais remotas, em que a economia estava menos
desenvolvida, exigiu a permuta directa. Nas sociedades actuais, muito mais sofisticadas
e modernizadas, para as trocas existem os comerciantes. Não há uma relação directa
entre o consumidor e o produtor. Há uma relação de troca que é facilitada pelos
comerciantes.

Mas existem necessidades que não exigem esta interacção. Por exemplo: na
ponta da ilha de Luanda, encontra-se um farol que serve de ajuda para a navegação
marítima. Esta é a sua principal função. Bom! Caso perguntássemos a um pescador se
aquele farol é útil, ele certamente, diria que sim. Principalmente de noite. Claro!
Todavia, se lhe perguntássemos se ele quer pagar algo por aquele farol, ele decerto,
diria que não! Diria que não foi ele que mandou colocar lá o farol.

Reparem: estamos na presença de um caso em que o pescador vê satisfeita uma


necessidade sem para tal, ter feito qualquer coisa. Contudo, o farol até lhe é bastante
útil. Mas não resultou de nenhuma iniciativa sua. Foi consequência de uma ideia de
alguma autoridade estatal. Por certo, da Capitania do porto de Luanda. Portanto, temos
aqui um exemplo nítido de uma necessidade de satisfação passiva. Não exigiu uma
acção por parte do beneficiário. Por vezes as pessoas não têm dinheiro para comprar o
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jornal. No autocarro o passageiro do lado vai ler o jornal. Ora, como eu não tenho o
jornal, apanho uma boleia do jornal do utente que vai ao meu lado. Ora, quem lê o
jornal deste modo, está a satisfazer uma curiosidade de qualquer notícia. Mas não pagou
nada.

Há alguém que ao abrir o jornal, lhe despertou a atenção para qualquer notícia de
ocasião. Alguém que lhe permitiu obter esta necessidade de ler as notícias. De estar
informado. Nisto consiste os chamados efeitos da externalidade da economia.Ou seja,
consequência dos factos externos da economia.

Atenção: os exemplos do farol e do jornal são relevantes para a exemplificação destes


efeitos de externalidade da economia. Mas não podemos fazer isso ao nível da
alimentação, vestuário, saúde, e instrução etc…. Como vimos, há necessidades que
podem ser satisfeitas sem eu agir, sem eu ter uma conduta, sem eu tomar a iniciativa em
procurar satisfazer tal carência. Também pode falar da justiça. Tos nós queremos
justiça. Sabemos que, em qualquer sociedade, por mais organizada que esteja, há
sempre formas de injustiças. Os Estados modernos criaram instituições para administrar
a justiça. Quais são? Evidentemente os tribunais. Então, quem vai pagar aos
funcionários judiciais? De forma directa? O Estado de forma indirecta, os particulares.
Deste modo estamos no âmbito das necessidades indivisíveis em termos de pagamento.
Ou seja, como é que eu vou dividir este preço, o preço da justiça, por cada um de nós?

Então, a questão que se coloca é a seguinte: primeiro vimos o que é que são
necessidades de satisfação activa – necessidades que pressupõem a tal relacção de troca
e que implicam que as mesmas tenham um preço. A relação de troca, no fundo é
sinonimo de quanto custa uma e outra. Portanto, quanto é que custa o meu trabalho. A
remuneração do meu trabalho. É o valor do meu trabalho contra o valor do trabalho dos
outros. É o valor do pescador, do agricultor, enfim de toda a gente. Se o meu trabalho,
remunerado, me permite comprar muita alimentação ou muito vestuário, por exemplo, é
porque ele está mais valorizado do que dos outros. Agora, nestas necessidades de
satisfação passiva, geradas pelas funções do Estado implicam despesas públicas. Pagar
as instituições que tornam um Estado e que satisfazem as nossas necessidades, exigem
dispêndio de dinheiro. Nisso se traduz as despesas públicas. Despesas que têm der
suportas por toda comunidade. Ninguém pode comprar justiça. Ela não encontra a venda
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na loja, no estabelecimento comercial. Ninguém vende segurança na ordem interna. Não


são bens individualizáveis ou divisíveis que se possam encontrar na prateleira de uma
qualquer loja comercial. São necessidades de todos. Logo, necessidades colectivas, as
outras, satisfazer carências estritamente individuais. Como tal, podem ser adquiridas nos
locais em que se vendem. São clinica, escolas privadas, casas de moda, restaurantes, etc.
são necessidades especificamente individuais. Contudo, há algumas necessidades
individuais que também são colectivas, ou seja, a medida que as sociedades e os
Estados se foram desenvolvendo, houve algumas necessidades individuais que passaram
também a ser colectivas. Não só, necessidade de cada um de nós, mas também
necessidades da própria sociedade. Por exemplo: a instrução. Qualquer Estado moderno,
hoje em dia, define a educação como uma necessidade de índole colectiva. Pelo menos,
até a um nível mínimo de escolaridade. A instrução obrigatória é uma necessidade
pública e não apenas individual. Como tal, é necessário garantir que toda a gente,
indiscriminadamente, tenha acesso a um estado mínimo de escolaridade. Para tal, são
necessárias receitas e, obviamente, despesas. Se os órgãos de soberania elaboram lei no
intuito de legislar sobre a instrução, afirmando que ela é obrigatória e gratuita, está a
dizer que tem de construir escolas, contratar professores, funcionários e condições para
que possa haver aulas.

Do mesmo fala-se da saúde. Os cuidados primários de saúde. O Estado deve


participar ou partilhar das despesas de saúde. E já lá teremos que intervir no Orçamento
uma despesa com a saúde pública, com a educação, com exército, etc. mas nota-se que,
quer a saúde quer a educação, podem ser satisfeitas individualmente. Isto é, as pessoas
com poder financeiro poderão prescindir dos serviços públicos da educação e ou da
saúde e recorrem aos privados. E o Estado, neste âmbito, não comparticipa em nada.
Não obstantes, a maior parte dos cidadãos não tem condições para tal. É natural, nos
Estados modernos, que a educação e a saúde, pelo menos a um nível primário, sejam
consideradas despesas públicas. São chamadas necessidades de caracter social.
Primeiro vimos que as necessidades de satisfação passiva geram despesa
públicas. Mas há também certas necessidades de satisfação activa que geram despesas
públicas: são aquelas que os órgãos de decisão política definem. Saber se a saúde
(cuidados primários) e a instrução (até a universidade) são gratuitas, é uma questão de
política social de um Estado de acordo com os interesses das pessoas que integram estes
órgãos de decisão politica. As despesas, em primeiro lugar, derivam das necessidades de
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satisfação passiva, -ou seja, aquelas em que não é possível distribuir e gerar uma relação
de troca para as satisfazer – a justiça, a ordem pública e a segurança; mas há também
necessidades de satisfação activa – alimentação, saúde, instrução que também passam a
ser consideradas necessidades públicas. Por consequência, a actividade financeira do
Estado corresponde ao conjunto das despesase receitas que o mesmo realiza para a
satisfação de necessidades públicas. Aqui fica a ideia, bastante lata, actividade
financeira do Estado. As despesas públicas precisam de ser cobertas por receitas. O
Estado está confrontado com vários tipos de receitas para acudir as despesas.

Receitas: Patrimónios e Empréstimos

Há receitas publicas que são comuns as dos particulares. São as receitas


patrimoniais. Podem ser: imobiliárias e mobiliarias.

As receitas imobiliárias derivam, da exploração dos imoveis estatais. O Estado, tal


como os particulares, é proprietário de prédios que pode arrendar ou alienar. Mas
também pode ter um património mobiliário. Isto é, direitos e obrigações com conteúdo
económico de que o Estado é titular, como pessoa colectiva de direito público. Portanto,
particularmente, são acções, participações sociais que tem em sociedades de natureza
patrimonial. Como os particulares o Estado, numa economia de mercado, também
possuem bens imobiliários mobiliários.

Alem das receitas patrimoniais, o que é que os particulares têm nesse domínio?

Os particulares podem recorrer a empréstimos. Aparentemente, pode parecer que


gera paradoxal dizer que os empréstimos constituem receitas. Mas não! É uma receita
que gera divida. É essa a sua grande particularidade. Ao pedir um empréstimo, um
particular obtém um valor acrescido ao seu património. Contudo, adquire um encargo:
ter de pagar o valor do empréstimo mais os juros respectivos. Deste modo, os
empréstimos são também uma forma de financiamento das despesas. Portanto,
financiam-se despesas, primeiro através de receitas patrimoniais; segundo através de
empréstimos.

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Se a economia de mercado é baseada na livre iniciativa privada, na propriedade


privada, certamente que as receitas patrimoniais não podem ser muitas. Isto é, se a
actividade económica está entregue ao Estado, este não vai ter muita industria nem
muita exploração agrícola, entre muitos outros casos. Esses sectores pertencem aos
particulares. Também na se quer com isso dizer que o Estado não seja detentor de um
património industrial. Mas, basicamente, a satisfação das necessidades de produção são
feitas no sector privado. Se não é economia de mercado, seria uma economia estatizada.
Portanto, neste âmbito, as receitas patrimoniais serão reduzidas, para o Estado.
Ora, os empréstimos têm o problema da reserva pessoal; ou seja, os empréstimos
geram dividas. Portanto, emprestar significa, concomitantemente, criar uma divida a
alguém que passa ser credor do Estado e o Estado, por sua vez, passa a ser devedor. Mas
na economia de mercado existem outras formas de realizar receitas. Uma delas é através
de impostos.

O Imposto
O Estado pode, efectivamente satisfazer necessidades e cobrir as despesas
públicas geradas por essas mesmas necessidades através de uma receita especial.
Receita essa que se convencionou chamar de imposto. Como tal, os impostos são uma
forma de receita que só o Estado pode utilizar. Isto é, eu, como particular, não posso
lançar imposto.

Os impostos são, uma espécie de dever que as pessoas têm face a sociedade.
Como contribuir na medida das suas capacidades económicas, ou seja, o critério
fundamental que nos permite constar que é um imposto, uma contribuição (durante
muitos anos impostos eram chamados contribuição), decorrente da lei. Esta contribuição
deriva de um pacto entre o Estado e a sociedade. Eu, na medida das minhas capacidades
económica, tenho mais capacidade. Logo, devo dar mais. Aquele que por sua vez tem
menos, deve dar menos. Como vimos, também devo contribuir para as despesas
públicas de satisfação passiva. Isto é, a única maneira de eu cobrir as despesas do
exército, tribunal, da saúde é lançando mão dos impostos. É em função das capacidades
económicas de cada um que vai ser definida a forma de contribuir de cada um. Através
do consumo do rendimento e do património. As três fontes de manifestação de
capacidade económica

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Taxas

As taxas constituem uma outra forma de financiar as despesas pública, também


são uma receita exclusiva do Estado. Em Angola somente o Estado pode criar taxas.
Jamais os particulares. Contudo, existem ordenamentos jurídicos em que é permitido
aos privados criarem taxas.

As taxas são uma espécie de pagamento para prestação de alguns benefícios. O


cidadão tem acesso a alguns benefícios que o Estado lhe proporciona. Para ter acesso a
tais benefícios dever-se – á pagar uma contraprestação. Esse valor não é o preço deste
bem, mas constitui uma forma de comparticipar naquela despesa, gerada pela satisfação
daquela necessidade. Ex: as propinas escolares do ensino publico. O que é isso propinas
escolares? É o preço. É o que, a título de exemplo, a universidade Católica e a
universidade Lusíada podem. Aquilo é que o preço que se pede, e que por coincidência,
se denomina preço para frequentar essas universidades privadas. Trata-se de preço
porque traduz a remuneração que serve de base para cobrir o custo de produção daquele
serviço. Não se trata de uma propina da instrução pública. Esta é uma taxa. Aquele é
preço. O preço tem sempre uma relação com a oferta e com a procura. A taxa não. O
preço é o valor para cobrir o custo daquele serviço ou daquela produção.

Nas propinas da instrução pública há um factor em ter em conta: é a gratuitidade.


Isto, é, o beneficiário vai comparticipar na despesa daquele serviço. É esta ideia de que
eu colho o benefício, o acesso ao ensino público e comparticipo dele. Da mesma forma
se passamos coisas nos tribunais. As pessoas têm acesso aos tribunais, mas não se podia
permitir que, por qualquer razão, as pessoas recorressem a esses órgãos judiciais por dá
cá aquela palha. Se assim fosse, naturalmente que os tribunais ficariam entupidos de
processos. Ora, é necessária e conveniente que a justiça tenha algum custo. Mas não um
qualquer custo. Um custo razoável.

Reparem: lá estão as taxas que têm, neste caso, uma função moderadora. Na
justiça, elas têm essa função moderadora. Isto é, suster, restringir, abrandar o acesso aos
tribunais. Deste modo, não haverá a utilização abusiva dos órgãos judiciais. O cidadão,
ao pagar a taxa comparticipará nessa despesa. Outro exemplo: quando vou a uma
conservatória do registo civil para pedir uma certidão, tenho que pagar uma taxa pela
utilização daquele serviço.

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Portanto:

Primeiro – as receitas patrimoniais, nas economias de mercados são reduzidas.


O Estado não é detentor de grandes actividades produtivas ou industriais. Isso pertence
a iniciativa privada.

Segundo – os empréstimos também é desaconselhável para além de um certo


montante. Geram divida que nunca mais se pagam. E a pessoa está permanentemente
endividada. Com o Estado passa-se o mesmo e, estando endividado, criam-se situações
similares aquelas que, presentemente, Angola vive. Os empréstimos públicos
condicionam os créditos. Criam situações desagradáveis: divida interna e divida externa.
Ou perante o cidadão ou perante instituições estrangeiras.

Terceiro – quanto as taxas e se estas são comparticipadas nas despesas, na


geram grandes receitas. Nem cobrem as despesas daqueles serviços. Portanto
insignificante a receita da taxa. Por conseguinte, poderá dizer-se que, numa economia
de mercado, a principal receita para cobrir as despesas públicas são os impostos. Isto
porque os impostos não geram dividas e o Estado não tem que dar em troca do seu
pagamento. Tem alguns deveres perante o cidadão, naturalmente, mas no acto em que
recebe o imposto não há nenhuma contraprestação. Portanto os impostos também são
elásticos. Não pode um governo, um parlamento, como a única maneira de fazer face as
despesas, lançar indiscriminadamente impostos. A população irá reagir. Irá revoltar-se.
E se for uma situação de grande conflitualidade poderá originar tumultos. Nesses casos,
a Revolução Francesa e a Revolução Inglesa.

1.2.Direito financeiro, direito fiscal e direito tributário

A actividade financeira do Estado, como ciência, tem normas jurídicas próprias


que regulam esta actividade. A esse acervo de preceitos normativo, que regulam essa
mesma actividade chama-se Direito Financeiro. Que matérias então cobre o direito
financeiro? Cobre tudo oque diga respeito, por exemplo, ao Orçamento: as leis-quadro
orçamento são umas leis do direito financeiro.

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As normas que regulam as formas de alienação ou de arrendamento de bens


públicos, do património habitacional do Estado, das autarquias locais ou dos institutos
públicos, são normas do direito financeiro.
Vimos, ao âmbito da actividade financeira, que existe uma matéria denominada
receitas. As receitas da actividade financeira do Estado têm várias formas: uma delas
são os impostos. E os impostos são uma parte do Direito Financeiro, mas que que se
autonomizou deste direito. Mas a ideia, básica é os preceitos jurídicos que regem a
criação, modificação e extinção da relação jurídica fiscal. Por consequência, é como o
direito comercial em relação ao direito civil.

Ora, o que há aqui a salientar, é que embora, o direito fiscal seja uma parte
especial do Direito Financeiro, foi aquele que precedeu a este. É a partir dos impostos
que surge o fenómeno financeiro. Consequentemente, o direito fiscal é mais antigo que
Direito Financeiro. E isto tem uma explicação muito simples e sucinta, mas que não
deixa de ter interesse para conhecimentos históricos. Só começou a existir orçamento
por causa dos impostos. Do mesmo modo foram os impostos que deram origem ao
sistema parlamentar. Foi, exactamente, na Inglaterra onde, por volta do seculo XII
surgiu o primeiro parlamentar no mundo. Era frequente, na Europa Medieval, onde não
existiam repúblicas e muito menos Estados unitários, que as autoridades públicas,
nomeadamente, Reis, e Príncipes, exigissem dos seus súbditos contribuições para, por
exemplo, fazer a guerra.

Ora, era dessas contribuições que se obtinham as respectivas receitas para


mente-la. Claro que isto é apenas um exemplo dos muitos de que a Historia está
recheada. Mas isso não aconteceu só na Europa. Historicamente, o berço dos impostos
foi no Médio Oriente. Foram os Árabes, nomeadamente os Egípcios, que criaram, pela
primeira vez os impostos. Antes do Império Romano já existiam os impostos. Estamos,
como se disse, no Século XII, na Inglaterra. É ai nessa altura que nasce um princípio
vector de toda a actividade financeira e que ate hoje se mantém: o princípio da
legalidade tributária – No Permssion Without Representation- Não há imposto se os
contribuintes não os contribuírem. Cabe apenas a Assembleia Nacional a aprovação de
impostos. O governo não pode criar impostos. Mas há também quem considere que os
impostos e as taxas são os dois, qualificados como receitas tributárias. É verdade que há
muitas normas que podem reger estas duas figuras. Por conseguinte o direito fiscal é
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também integrado pelas normas que regulam as formas de lançamento, liquidação e


cobrança dos impostos. É um acervo de preceitos jurídicos, regra geral, de carácter
administrativo. Isto é, o lançamento a liquidação e a cobrança de impostos passam-se
entre a Administração e os contribuintes, através de um processo administrativo. E esse
conjunto de normas é maioritariamente, normas administrativas tributárias ou fiscais.

Mas, para além deste aspecto o direito fiscal regula, do mesmo modo, as formas
de sancionar os incumprimentos dos deveres que decorrem das normas jurídico-
tributaria. Estamos no âmbito da matéria da infracção fiscal. São normas que, do mesmo
modo, regulam a parte processual. Para se aplicar qualquer medida punitiva por
violação de um dever fiscal, é necessário que haja normas de direito processual. Ora,
este conjunto de normas de índole adjectiva também integra o direito fiscal. O direito
fiscal, sob um ponto de vista jurídico, já não é um imposto. É a relação jurídico-
tributaria que encerra. É ela, que, no âmbito estritamente jurídico, traduz o cerne do
direito fiscal. Não é o imposto como acto e sim como relação regulada pelo direito,
portanto, na perspectiva do direito fiscal como disciplina.

1.2.1. Natureza e enquadramento do direito fiscal

É costume dividir o direito em ramos. E, como tal, conhecemos a dicotomia


Direito Publico VS Direito Privado. Com base em tal dicotomia, analisam-se vários
critérios de distinção: critério dos interesses, critério da posição dos sujeitos, e por
ultimo o critério da qualidade dos sujeitos.

1.2.1.1. Critério dos Interesses


Segundo este critério, seriam normas do direito público, as que tivessem a ver
com a prossecução de interesses públicos, normas aplicáveis as relações públicas. Por
seu turno, seriam normas do direito privado as que regulassem relações do direito
privado. Este critério é criticado, uma vez que não existem normas que regulem
exclusivamente relações de interesses privados. E assim, surgiu uma versão melhorada
deste critério, que veio dizer: não se trata de interesses privados mas de interesses
predominantemente privados. Ora, sem dúvidas, ainda assim, este argumento não deixa
de ser possível de críticas.

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1.2.1.2. Critério da Posição dos Sujeitos


De acordo com este critério, seriam normas do direito publico aquelas que
regulassem relações jurídicas em que houvesse uma relação de subordinação ou de
supra-infra-ordenação, (há um sujeito que ordena e outro que se subordina). E,
contrariamente, seriam normas do direito privado aquele que regulassem de paridade,
ou seja, relações entre sujeitos colocados no mesmo patamar. Esta teoria também é
passível de críticas.

1.2.1.3. Critério da Qualidade dos Sujeitos


Este critério afirma que as normas do direito público aplicam-se às relações em
que um dos sujeitos é do direito publico e que, como tal, está investido do poder de
autoridades. Ex: relações entre dois entes públicos ou entre ente público e outro privado
em que aquele intervém com poderes de autoridades. E seriam de direito privado as
relações entre sujeitos de direito privado ou que este não está investido do seu poder de
soberania.

Conclusão
Podemos concluir que o Direito Fiscal é ´, sem dúvida um ramo do direito
público.
 Em primeiro lugar, o interesse que perseguido pelas normas fiscais é interesse
público, os impostos visa fins públicos.
 Em segundo lugar, as normas que regulam estas matérias estão enquadradas no
direito público (o Estado ao determinar que certa pessoa tem de pagar imposto,
definindo a incidência, a taxa, etc) fá-lo ao abrigo do seu ius imperi.
Deste modo, qualquer um dos critérios utilizados, chega – se a conclusão de que o
Direito Fiscal é um ramo do Direito Publico.

1.2.2. Relação do Direito Fiscal em Outros Ramos do Direito


Erroneamente, há autores que defendem a autonomia do direito fiscal. Pesando,
embora, o facto de que o direito fiscal se destaca do direito financeiro, não basta,
certamente afirmar de todo que o direito fiscal é autónomo.

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Direito Fiscal e Direito Constitucional


O art. 14º da constitucional consagra o princípio da legalidade tributaria. Um
princípio orientador de todo o direito fiscal. O que está no artigo 14º, nº 2 vai, não só
limitar a criação dos impostos, como também implicar certas orientações e limitações na
interpretação das normas a luz do princípio da legalidade. Portanto, há efectivamente,
uma relação entre Direito Fiscal e o Direito Constitucional, porque é no Direito
Constitucional que se encontram os princípios do Direito Fiscal.
A autorização para criação de um imposto também é, desde logo, dada pelo
Direito Constitucional, ou seja, é o legislador constitucional que orienta ou impede ao
legislador ordinário criação de impostos. Por lado, é a lei constitucional que estabelece
as garantias dos contribuintes art. 14º nº 1 L.C. É igualmente a L.C que estabelece os
fins do sistema fiscal angolano.

Direito Fiscal e Direito Administrativo


Há autores que defendem o Direito Fiscal como uma parte do Direito
Administrativo. Ora, se assim é, então é porque existe uma relação estreita entre os dois
ramos de direito. Para executar as suas normas, o Direito Fiscal tem que desencadear
uma serie de actos administrativos por parte da administração fiscal. Esta administração
fiscal está inserida na estrutura da administração pública. É a administração fiscal que
tem competência para executar as normas fiscais. Ao passo que, quando o Estado cria
um imposto através de uma lei está a exercer uma competência queadvém do seu poder
de soberania.
Quando se trata de execução das normas fiscais, já não estamos perante o Estado
Soberano, mas perante o Estado administrativo. É na administração pública que se
insere a administração fiscal. Por isso, vários autores defendem a autonomia do Direito
Fiscal. Logo, há efectivamente uma relação estreita entre os dois ramos do direito.

Direito Fiscal e Direito Processual


O Direito Fiscal é um conjunto de normas que regulam as relações que derivam
da criação e extinção dos impostos. E tal como o Direito Processual, o Direito Fiscal
tem uma serie de normas de carácter processual – normas relativas a execução. O
Direito Fiscal vai beber estes aspectos quer do direito processual penal como do direito
processual civil. O artigo 73º do Código Geral Tributário remete para o código
processual penal, seu nº 2 diz. De qualquer maneira, e ainda que não houvesse tal
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remissão, o processo fiscal implica necessariamente normas de natureza processual pois


regulam uma serie de actos.

Direito Fiscal e Direito Penal


As normas fiscais, tal como todas outras normas, têm a característica da
violabilidade e a violação das normas jurídicas encerra sempre uma sanção contra o
violador. No Direito Fiscal, temos matéria que se referem as infracções, punindo-as. E
as normas que estabelecem as penas são as normas do Direito Penal. O próprio Direito
Fiscal vai buscar normas do Direito Penal. Ex: artigo 71º, 1 penal. Portanto existe uma
relação estreita entre os dois ramos de direito.

Direito Fiscal e Direito Privado


Vamos avaliar a relação com o direito privado numa dupla acepção: Direito
Privado Geral e Direito das Obrigações

a) Direito Fiscal e Direito Privado Geral


Há autores que defendem o direito fiscal como parte do direito civil. É evidente que
o Direito Fiscal comporta determinados conceitos que são próprios do Direito Civil. E
aceita-os como eles existem neste ramo de direito. É o caso do conceito de obrigações
cuja noção legal consta do artigo397º do C.C; obrigação é o vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com a outra á realização de uma
prestação. Ora embora as situações tributárias tenham como base o direito civil, o
Direito Fiscal nem sempre as concebe de forma literal dá-lhes outras nuances. Ex: o
direito comercial diz que a sociedade irregular, não é, efeitos comerciais, uma
verdadeira sociedade. Retira-lhe a capacidade jurídica reconhecendo-lhe apenas a
passiva, com a susceptibilidade de ser demandada em juízo.

b) Direito das Obrigações


Este ramo do direito tem uma relação ainda maior com o Direito Fiscal. E isso,
porque o imposto encerra uma obrigação no sentido técnico – jurídico, definido pelo
artigo 397º. É uma obrigação com todos os seus elementos independentemente de ter
um elemento que o conceito de obrigação do C.C. não possui. Não nos podemos abstrair
da natureza do Direito Fiscal. Existem, neste ramo de direito vários aspectos especiais.
Ex: as garantias nos privilégios. Não podemos negar que o Direito Fiscal está
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intrinsecamente ligado com o Direito das Obrigações. De mais, o imposto está


implícito, sem sombra de dúvida, uma obrigação e, como tal, subjaz uma relação entre
os dois ramos de direito. Ainda assim, o nosso objecto de estudo é o imposto e porque o
imposto é uma obrigação, então indubitavelmente, podemos concluir existe uam relação
entre estes dois ramos de direito ainda maior do que com os ramos supra analisados.

Direito Fiscal e Direito Internacional Publico


É necessário estabelecer uma relação entre esses dois ramos de direito. Os
Estados necessitam de regular situações que possam sujeitar relações com a tributação e
que, quase sempre, podem afectar os Estados ou os seus cidadãos. Esta necessidade que
há entre os Estados de estabelecerem regras, leva a produção de tratados que não são de
um Estado, mas que constituem normas que obedecem aos interesses dos Estados.
Quando por exemplo um Estado define que determinado rendimento é tributável dentro
do seu sistema fiscal, está utilizar critérios de rendimentos. Mas pode não ser um
cidadão nacional, por exemplo e no seu pais tributa-se o mesmo rendimento. Portanto,
um rendimento que vai ser duas vezes tributado – dupla tributação. Porque no seu pai
tributam os rendimentos dos seus cidadãos.

Esta dupla tributação não encerra um valor de justiça porque o cidadão vê o seu
património duplamente atacado. A solução para isto é encontrada através de acordos
que visem uma única tributação sobre aquele rendimento para que não haja dupla
tributação, há acordos entre Estados. E, portanto, são acordos regulados pelo direito
internacional. Doutro modo, pode ocorrer determinado rendimento na seja tributado,
nem no sistema, nem noutro sistema fiscal. Ou seja Angola pode determinar que certo
rendimento seja tributado no pais de origem e este, por seu lado pode entender que seja
o país de destino a tributar. Ora, há aqui o risco de não haver tributação ou pelo
contrario, de haver dupla tributação. A solução implica dois tipos de critérios: o critério
da nacionalidade e o critério da fonte do rendimento, tendo como pano de fundo o
combate a evasão fiscal.

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É sabido de que as normas que regem as relações entre Estados são as normas de
Direito Internacional Publico. Deste modo, o direito internacional fiscal é o conjunto de
normas produzidas por acordos para regerem as questões da dupla tributação e da
evasão fiscal.
Direito Constitucional
Direito Administrativo
Direito Processual
Direito Fiscal
Direito Penal Direito Privado Geral
Direito Privado
Direito das Obrigações
Direito Internacional Publico

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CAPITULO II – IMPOSTOS E FIGURAS AFINS

2.1. Noção de Impostos e seus Elementos


O imposto é uma prestação unilateral e definitiva estabelecida pela lei a favor de
uma pessoa colectiva de direito publico, para a prossecução de fins públicos e não
constitui sanção de um acto ilícito. Desta definição de imposto deduzimos três
principais elementos: elemento objectivo, elemento subjectivo e elemento teológico.

Fazem parte do elemento obectivo, aq1ueles aspectos objectivos da definição a


que chamamos sub – elementos: é uma prestação; definitiva; unilateral; estabelecida
pela lei.
No elemento subjectivo temos que o imposto é cobrado: a favor de uma pessoa
colectiva pública.
E no elemento teológico estabelece-se a finalidade do imposto: para prosseguir
fins públicos

1 - Elemento Objectivo, tem como primeiro su-elemento a prestação. Quer dizer,


que o imposto é uma prestação. Mas que tipo de prestação? Embora muitos autores
defendem que o imposto consiste numa prestação pecuniária, a verdade é que nem
sempre. Há impostos que se traduzem na entrega de uma coisa ou ate, na prestação de
certa actividade. Portanto, vemos que se trata, afinal de prestação de natureza
patrimonial.
Ao pagarmos o imposto sobre rendimento do trabalho é-nos descontado um
montante em dinheiro. Por seu turno, quando uma industria paga o imposto industrial,
acontece a mesma coisa. Mas por exemplo, os impostos sobre o petróleo que não são
pagos mediante a entrega de um quantitativo monetário, são-no através de uma parte do
próprio petróleo, portanto. São os casos de impostos pagos em espécie.

Mas há autores que afirmam que não. Continua a ser uma prestação pecuniária
porque o selo inutilizado foi adquirido previamente, para aquele fim especifico, através
da entrega de uma certa quantia em dinheiro que corresponde ao valor da prestação. O
professor Brás Texeira entende que realmente, quando o imposto do selo é pago através
da inutilização da estampilha fiscal, não é uma prestação pecuniária. Mas uma prestação
de facto. Portanto, nestes dois exemplos de impostos bem conhecemos – imposto sobre
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a produção de petróleo e imposto de selo – temos argumentos contra a afirmação de que


a prestação do imposto se traduz sempre numa prestação pecuniária. É sempre uma
prestação Patrimonial mas não necessariamente uma prestação pecuniária.

2 – Ainda na noção de imposto afirmamos que este é uma prestação definitiva.


Quer-se com isso dizer que a mesma não se repete quando o sujeito passivo da relação
jurídica – fiscal efectua a prestação, não tem qualquer retorno a cargo do sujeito activo
da mesma relação. Só poderá haver uma devolução, quiçá nos casos em que o sujeito
passivo tenha sido tributado (quando pague um valor que ultrapasse aquele que
realmente deveria pagar). Nessa eventualidade, há uma devolução, mas não da prestação
do imposto. Apenas daquela parte do excedente que o devedor tributário pagou. Porque
a prestação do imposto em si é definitiva. Nisto de traduz o carácter definitivo da
prestação do imposto

3 – O terceiro sub – elemento do elemento objectivo caracterizador do imposto –


é a prestação unilateral ou não sinalagmática. A esta unilateralidade tem a ver com o
facto de só a ver com o facto de só haver uma prestação. A prestação efectuada pelo
sujeito passivo não corresponde qualquer contraprestação. Este carácter da
unilateralidade da prestação do imposto serve para distinguir o imposto de outras
figuras afins (casos dos empréstimos públicos forçados e taxas). Os empréstimos
públicos forçados darão sempre direito, ou ao reembolso total, ou a amortização das
importâncias entregues a título de empréstimo ou, ainda pelo menos, ao pagamento de
juros. Quanto as taxas, o utente do serviço publico, ao paga-la, recebe a contrapartida
concreta individualizada. Ao pagar a taxa o utente recebe sempre em troca uma
prestação daquele serviço.

4- Por último, há a considerar que a prestação do imposto é estabelecida por lei.


Há sempre uma lei determinar a prestação do imposto. O imposto da origem a uma
obrigação. Entre nós, o estabelecimento da lei é feito pela soberania estadual, que se
esgota na produção de legislação fiscal – leis e decretos-leis. Só ao Estado compete criar
o imposto através de lei. Há autores quem defendem – e não é aqui o nosso caso, visto
não termos imposto a serem cobrados por entidades que não o Estado ou, talvez, os
institutos públicos - que os impostos são criados com base em fonte consuetudinária ou
por pessoas colectivas publicas que não o Estado. O que é certo é que quando nós nos
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encontramos numa situação de uma determinada pessoa colectiva de direito publico,


poder exigir um imposto é porque este imposto, previamente foi criado por uma lei. De
mais a mais o artigo 102º, nº 2 da Lei Constitucional diz que o imposto só pode ser
criado e extinto por lei e define os seus elementos essenciais. Portanto há uma lei que
define a sua incidência, taxas, benefícios fiscais e garantia dos contribuintes e só a partir
dai, é que quem se encontra na situação prevista por aquela lei é que tem a obrigação
do imposto. A ideia é que entre, nós, não existe qualquer outra forma de criar o imposto.

5 – Por último temos um quinto sub – elemento do elemento objectivo


caracterizador do imposto – o imposto não constitui sanção de um acto ilícito. O que se
pretende é dizer que os fins públicos que os impostos visam satisfazer não são
sancionatórios. Urge, já agora distinguir o imposto de multa. Esta é igualmente uma
prestação unilateral, a favor de uma pessoa colectiva de direito público. Todavia,
constitui sanção de um acto ilícito. Ou seja, só obrigado a pagar uma multa quem violou
uma disposição normativa. Não é, por seu turno, a violação de uma disposição legal que
nos leva a cumprir a prestação do imposto.

Quanto ao elemento objectivo caracterizador o conceito de imposto há a dizer


que o imposto é instituído a favor de uma pessoa colectiva de direito publico. É aqui,
neste aspecto, que reside o elemento subjectivo do conceito. A prestação do imposto é
sempre estabelecida entre nós a favor de uma pessoa colectiva do direito público. E na
relação jurídico-tributaria, o sujeito activo será sempre uma pessoa colectiva do direito
publico. Resta-nos ver o elemento teológico: a prestação é estabelecida a a favor de um
pessoa de direito público para realização de fins públicos. Este é então o elemento
teológico ou finalístico do conceito de imposto. É uma prestação para realização de fins
públicos. Sabe-se que também nem sempre foi assim. É de fim público, sim mas um fim
público bastante específico.

 Primeira doutrina: para certos autores, o imposto consistia numa prestação que
propiciava ao Estado a obtenção de receitas. Segundo esses autores, o fim do
imposto é apenas a obtenção de receitas. Dai a divisão entre impostos fiscais e
extras fiscais.
 Segunda doutrina: outros autores defendem que , para lá de o imposto ser a
fonte predominante de obtenção de receitas para o Estado, também é um fim de
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financiamento das despesas dos entes públicos. Ou seja, o imposto serve para
dotar o Estado dos meios suficientes para prossecução dos seus objectivos.
 Terceira doutrina: entende, tal como nós, que os impostos não visam
deliberalmente apenas o fim de obtenção de receitas, mas o de repartir
equitativamente os encargos públicos entre os contribuintes. O artigo 14º, nº 2
da Lei Constitucional é um exemplo paradigmático de tal política. Podemos
também apontar, para além desta repartição justa dos rendimentos aqueles
impostos que visam, já não propriamente a obtenção de receitas, mas a protecção
económica. Por ex: a protecção da industria nacional ou a formação ou
contrariarão da natalidade.
O Estado ao pretender proteger certa indústria nacional, tributa de uma forma mais
generosa os produtos que são importados e produzidos por estes mesmo ramo industrial.
Se nós, por ex: temos aqui uma indústria Cerveira e estamos a importar cerveja
constantemente, o Estado pode fazer valer-se de tal medida, como uma forma de
proteger e incentivar a indústria nacional cervejeira.

2.2. O Imposto e a Taxa


Como sabemos, o imposto é uma prestação unilateral e definitiva, estabelecida
por lei, a favor de uma pessoa colectiva de direito publico para a realização de fins
públicos que não constituam sanção de acto ilícito. Por seu lado, a taxa é também uma
prestação estabelecida por lei a favor de uma pessoa colectiva de direito público, mas
tem uma particularidade: a retribuição de um serviço individualmente prestado de
utilização de bens ou serviços de domínio público ou de remoção de um limite jurídico
a actividade dos particulares.

Traços comuns dos dois conceitos: ambas são prestações estabelecidas por lei a favor de
uma entidade pública.

Diferença: está no elemento teológico do conceito de imposto. O imposto visa a


prossecução de fins públicos, mas não se observa nenhum aspecto individualizador
nestes fins. Ou seja, paga-se o imposto para a realização de fins públicos e o
contribuinte não tem direito a qualquer contraprestação.
Já na taxa, há uma contribuição pelo serviço prestado pela pessoa colectiva de direito
público, ou remoção de um limite jurídico a nossa actividade ou ainda acesso a um bem
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de domínio público. Há aqui um aspecto individualizador, uma vez que alcançamos um


interesse particular quando pagarmos uma taxa.

Portanto, se no imposto não havendo uma contraprestação, há uma


unilateralidade, na taxa havendo contraprestação da entidade pública, há uma
bilateridade. É este o principal elemento que serve para distinguir o imposto da taxa.

Por exemplo: quando vamos pedir uma certidão a uma repartição pública,
estamos directamente a solicitar do Estado que nos preste um serviço. Para tal, pagamos
uma taxa. Dissemos também que a taxa consistia numa remoção de um limite jurídico
de actividade dos particulares. Por ex: é proibido o porte de uso de arma. Mas, mediante
o pagamento de uma taxa, obtém-se uma licença de uso e porte de arma. Portanto na
prestação de taxa há uma retribuição. Também aquando a visita de museus há que se
pagar uma taxa para ter acesso a mesma. Este acesso a um bem de domínio publico é a
tal retribuição da pessoa colectiva publica.

É nisto que se traduz também o pagamento de propinas nas escolas publicas.


Porem, o acesso a escola privada é traduzido pelo preço. Ou seja a propina ai tem a
designação de preço. Há autores que apresentam outros aspectos para a distinção destas
duas figuras jurídico-fiscais, afirma que no pressuposto da taxa há um carácter de
voluntariedade que não existe na figura do imposto; a pessoa que vai pagar a taxa põe-
se voluntariamente, naquela posição. Ex: quando visito um museu e porque o quero
faze-lo. No âmbito do imposto não existe tanto esse carácter de voluntariedade. As
pessoas pagam o imposto porque é uma lei que o determina. Não é nada que advenha da
vontade do próprio sujeito em submeter-se ao pagamento do imposto. Mas isso não é
tão linear como parece. Assim o diz a doutrina. Isto. porque nós temos determinadas
taxas que são obrigatórias, para as quais não existe esse carácter de voluntariedade tão
amplo com dizem estes autores ao ponto de servir para distinguir a taxa do imposto.

Por ex: o imposto de justiça. Quando alguém, em processo judicial, é condenado


a pagar, tem mesmo que pagar. Ora. Neste caso concreto não existe o tal sinal distintivo
da voluntariedade. Pagam o imposto de justiça que, na prática, é uma taxa. A nossa
legislação ainda continua a falar de imposto de justiça, erradamente. Trata-se,
efectivamente, de uma taxa que remunera os serviços de justiça.
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Por conseguinte, não concordamos com estes autores que afirmam que é na
voluntariedade que radica a distinção entre essas duas figuras. Até porque na
generalidade dos impostos, também o contribuinte, tem uma certa margem de
voluntariedade. Ele é tributado com determinado imposto porque se colocou naquela
situação de sujeito passivo. Encontra-se numa situação em que preencheu todos os
pressupostos que estão previstos na lei que criou o imposto. Quer nas taxas quer nos
impostos, há sempre uma margem de voluntariedade.

Portanto, a característica distintiva fundamental da taxa em fase do imposto


encontra-se no carácter bilateral ou sinalagmático da taxa e na índole unilateral do
imposto. Por outro lado uma grande distinção radica no princípio da legalidade
concebido como reserva absoluta de lei formal para a criação e extinção dos impostos.
Já as taxas podem ser criadas por outros decretos sem autorização legislativa.

2.3. Imposto e Contribuições para a Segurança Social


A questão que se coloca aqui é a de saber qual é a natureza jurídica das
contribuições que se fazem para a segurança social. Sabemos que quer a entidade
patronal quer o trabalhador descontam para ela. Pergunte-se: qual é a natureza desta
prestação? É estabelecida por lei, a favor de uma pessoa colectiva de direito público. Há
contudo, varias correntes doutrinárias sobre esta questão. Há quem entenda que tais
contribuições têm a natureza de imposto. Outros autores dizem que têm o carácter de
taxa. Segundo outros, as contribuições da segurança social constituem premio de seguro
público.
Os autores que defendem a natureza de taxa para as contribuições da segurança
social entendem que o trabalhador efectua uma prestação e irá receber uma
contraprestação. Portanto, está aqui o carácter bilateral da taxa. Mas é evidente
que não, se as coisas não se passam precisamente. Tudo isso é muito subjectivo.
Os autores que defendem que estas contribuições têm natureza de imposto,
afirmam: que têm um carácter unilateral, pois a contraprestação não ocorrerá de
forma imediata. Não é por conseguinte, sinalagmática. E quanto ao empregador,
este não recebe absolutamente nada em contrapartida a prestação que efectuou.
E por ultimo, temos a posição – defendida por nós, que defende que: as
contribuições para a Segurança Social possuem diferente, consoante se trate de
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contribuição feita pela entidade patronal ou pela entidade assalarial. Se nos


estivéssemos a referir a contribuição feita pela entidade empregadora as
seguranças são unilaterais e são a favor de uma pessoa colectiva de direito
público para a realização de fins também públicos.

já a prestação feita pelo trabalhador não será um imposto. O trabalhador


desconta para a segurança social, mas embora não tenha, de imediato, uma
contraprestação, tem-na deferida no tempo. Contribui para a segurança social na
expectativa e certeza de que no futuro, irá receber prestações que, de qualquer forma
irão ser proporcionais aquelas que, ao longo do tempo, foi pagando.

Resumindo: de um lado, temos a contribuição do empregador que encerra a natureza de


imposto; e por outro, temos as contribuições feitas pelo trabalhador a segurança social
que terão então a natureza de premio seguro público.

2.4. Imposto Contribuições Especiais


2.4.1. A requisição Administrativa
A requisição administrativa traduz se numa posição unilateral feita por parte de
uma entidade pública, as pessoas a quem é dirigida de prestações de coisas ou de
serviços para concorrer a necessidades públicas urgentes comparado com o imposto
nota-se que este visa a satisfação de necessidades gerais. Contrariamente, a requisição
administrativa visa a satisfação de necessidades urgentes, concretas e determinadas.
A requisição administrativa não será forma tão normal assim de obter meios para
satisfazer as necessidades públicas como no imposto até pelo próprio conceito de
requisição administrativa, que aplica o termo excepcional. A requisição administrativa
só tem lugar em situações muito excepcionais. Aliás nós, temos de convir que não seria
bom nem justo que se tornasse normal a administração estar a requisitar serviços, bens
ou meios da pertença dos particulares. Por último., há um outro aspecto que nos ajudará
a distinguir estas duas figuras. O imposto, vimos é sempre uma prestação de natureza
patrimonial. Mas que, do mesmo modo, pode ser uma prestação de facto ou coisa. Ao
contrário, na requisição administrativa o particular vai prestar um serviço ou uma coisa.
Por tudo isto a requisição administrativa não tem a mesma natureza do imposto.

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2.4.2. Empréstimo Publico Forçado

Tal como os particulares, o Estado é detentor de um património. E a principal


fonte de récitas do Estado são, sem dúvida, os impostos. Contudo, o Estado obtém
receitas também através de préstimos. Empréstimos estes que, pelo facto de uma das
partes ser o Estado, são chamados empréstimos públicos. Ora, como qualquer pessoa
particular, o Estado, nas relações de empréstimos Estabelece constitui-se no dever de
cumprir com as obrigações de crédito.

No empréstimo público forçado há, em princípio lugar ao pagamento de juros e


ao reembolso ou autorização. Como em qualquer outro empréstimo, há a obrigação de
uma das partes, o mutuário - neste caso o Estado devolver aquilo que recebeu. Em regra,
quem empresta não o faz de forma gratuita. É sempre havida uma compensação. O
mutuário deseja que se pague algo por aquilo que, momentaneamente se perdeu. Por
aquele lapso de tempo que ficou sem poder dispor da sua massa monetária. Esta figura
se distingue do imposto. Este é uma prestação unilateral. Já no empréstimo público, se o
prestamista tem direito a juros haverá então duas prestações. Por outro lado a prestação
do imposto tem sempre carácter definitivo, pois, ao pagar-se o imposto, a sua prestação
não vai ser reavida. Agora, quem empresta tem direito a reaver o valor que concedeu
como empréstimo.

Racionando bem, temos aqui uma contraprestação. A prestação daquele que


empresta corresponde uma contraprestação. Portanto, aquiloque se emprestou não fica
definitivamente entregue a pessoa colectiva de direito público, como acontece com a
prestação do imposto. Portanto, a relação do empréstimo encerra duasprestações: uma
de quem empresta e a outra de quem recebe. Há que fazer-se a restituição do que se
recebeu emprestado e, do mesmo modo, fazer-se o pagamento de juros que são
reconhecidos aos prestamistas por força daquele contrato. Há casos em que, no
empréstimo público forçado, as pessoas emprestam coativamente e, posteriormente, o
Estado não devolve os valores que recebeu emprestado dos particulares.

E dizem alguns autores que, nesta situação concreta pode se dizer que o
empréstimo público tem a natureza de imposto. Vejamos: se nós entendermos que as
pessoas são obrigadas a emprestar, então, estão sujeitas ao cumprimento de uma
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prestação tal como acontece no imposto. Se estivermos, portanto perante uma destas
situações em que há um empréstimo público forçado - os particulares são obrigados a
emprestar por força de uma certa pressão do Estado mas este, então, dizer que não
estaremos perante a figura do imposto ou o mínimo perante uma figura semelhante a
esta, uma vez que há incumprimento por parte do Estado. É quando há incumprimento
de obrigação, as pessoas têm forma de fazer cumprir aquela obrigação.

Porém neste caso concreto normalmente existe uma importância dos próprios
particulares para exigir do Estado o que lhes é devido ou seja, o Estado actua desta
forma e mantém-se impune. Contudo, isso não afecta o carácter bilateral e no não
definitivo da prestação que o titular fez no empréstimo publico. O que realmente,
acontece é que há, efectivamente, uma falta de cumprimento por parte do Estado. Um
inadimplemento.

2.5. Classificação dos Impostos

No âmbito do direito como disciplina da ciência jurídica, apenas se deveria ter


em consideração a classificação dos impostos numa vertente estritamente jurídica.
Contudo, o jurista não pode desconhecer outras categorias impositivas nos âmbitos
económicos – financeiro e político. Portanto, encontramo-nos num campo singular de
relacionamento interdisciplinar jurídico – económico – financeiro. É de notar que é
imprescindível enunciar, com precisão, os critérios em que se fundamentam algumas
classificações, evitando-se, deste modo desordenadamente técnicos inaceitáveis.

2.5.1. Impostos Directos e Indirectos


Os impostos como características jurídicos, apresentam-se sob diversas espécies.
Primeiramente existe uma classificação tradicional ou clássica que separa os impostos
em directos e indirectos.

Sendo uma classificação clássica e universal, praticamente, todos os países do


mundo tendem, nas suas legislações orçamentais e fiscais e ate nos próprios códigos
civis, a referir a separação dos impostos para diferenciar: os critérios de índole
económica; critério de índole jurídica.

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a) Critérios de Índole Económica


Um primeiro critério de natureza económica é o chamado critério da
manifestação da capacidade contributiva. O segundo critério económico é o da
natureza do facto gerador da obrigação. De acordo com o raciocínio da manifestação
da capacidade contributiva seja imediata ou mediata.

Att: capacidade contributiva significa capacidade económica que cada um tem


para contribuir pagando os impostos, também por vezes chamada capacidade fiscal.
Esta capacidade pode manifestar se de forma imediata perceptível perante a
existência de uma condição económica ou de realização – obtenção – de um
determinado rendimento ou património. Por exemplo, se A ganha 100 e B ganha
100, a capacidade do primeiro é dez vezes inferior a do segundo. Deste modo a
capacidade económica acarretando a capacidade contributiva concede ao Estado um
índice de capacidade imediata, o rendimento exprime de forma directa e imediata a
capacidade imediata, i,é., o rendimento exprime de forma directa e imediata a
capacidade contributiva. O mesmo se passa no lucro (também permite conhecer a
capacidade económica de alguém mediante o lucro por este obtido no
desenvolvimento de certa actividade lucrativa). Portanto, o rendimento nas suas
diversas formas – seja o rendimento do trabalho como é o caso do salário, seja o
rendimento do capital, como é o caso dos lucros e dos juros – permite-nos ter uma
percepção imediata da capacidade contributiva. Ora, neste caso, os imposto que
tributam o consumo e a despesa seriam impostos indirectos. ou seja através do
consumo tem-se uma percepção mediata da condição económica ou da capacidade
contributiva daquela pessoa. Então, dir-se-ia, de acordo com este critério – o da
manifestação da capacidade contributiva que os impostos indirectos seriam aqueles
que recairiam sobre o consumo ou sobre a despesa. Por sua vez, os impostos sobre o
rendimento, capital ou património seria considerado imposto directo. Segundo este
juízo o imposto directo e indirecto leva-nos a esta arrumação:
Imopstos directos
 Rendimento
 Património
 Capital

Impostos indirectos
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 Consumo
 Despesa

b) Critério da natureza do facto da obrigação fiscal


Mas ainda no âmbito do acordo dos critérios económicos, existe uma outra condição
necessária e suficiente – a natureza do facto da obr5igaçao fiscal. Veremos no estudo da
relação jurídico-tributaria que, para nasça a obrigação fiscal, tem de haver um facto ou
situação que a lei considera como pressuposto para a constituição dessa relação. Ora
esse facto que é gerador da relação jurídica tributária pode ser ocasional ou pode ser um
facto permanente. A morte é um facto acidental que pode gerar um certo imposto.
Imposto sobre doações e sucessões. Este imposto de acordo com este critério que atende
a natureza do facto gerador, seria indirecto. Assim os factos acidentais dariam origem a
impostos indirectos. É também o caso da sisa imposto que incide sobre a transmissão de
bens imobiliários a título oneroso. A sisa é também um facto ocasional. Alguém decide
comprar um imóvel e sabe que, pela transmissão onerosa daquele bem, será obrigado a
pagar um imposto. É um imposto que é calculado em função do valor matricial do
imóvel. Ou seja, em função do valor económico registado no bairro fiscal.
Posteriormente também é calculado em função do valor da venda. Isto é a que preço ele
foi vendido. É a percentagem do valor do registo matricial e do valor da transacção que
vai permitir, ao Estado, apurar qual o valor da sisa a pagar a repartição fiscal. A
transmissão onerosa de bens imóveis é , como se sabe, um facto gerador fortuito. Não é
algo que se repete no tempo. E de acordo com este critério – facto gerador da obrigação
fiscal – a aquisição do imóvel, neste caso concreto, ou a sua transmissão onerosa, daria
lugar a um imposto indirecto. Porque? Porque o facto gerador do imposto é ocasional.
Não é permanente. Se o facto gerador, pelo contrario tiver tendência temporal de acordo
com este critério

2.5.2. Impostos Reais e Impostos pessoais


O critério que os diferencia é a o facto de os impostos atenderem ou não a
condição económica do contribuinte. Se atenderem são impostos pessoais. E se mão
atenderem a matéria colectável, se tributarem objectivamente a matéria colectável,
independentemente das condições económicas do sujeito passivo, serão impostos reais.
Exemplo: o imposto industrial não leva em conta a condição económica do contribuinte.
É um imposto de taxa proporcional, ou seja taxa única (35%). Não existe aqui uma
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personalização do imposto. Já o imposto de rendimento de trabalho por conta de outrem


com taxas progressivas. Isto é, vai de um mínimo de 4% a um máximo de 15%. Há ali,
portanto uma certa personalização do sujeito passivo. Se ele auferir maiores
rendimentos, paga mais taxas. Se auferir menos, as taxas, obviamente serão mais
reduzidas naturalmente, os impostos pessoais deveriam procurar atender a condição
económica do contribuinte, na sua globalidade e não apenas nos rendimentos de
trabalho. O imposto predial urbano é um imposto real

2.5.3. Imposto sobre o rendimento, património, consumo e comercio externo


A nossa lei orçamental classifica os impostos de acordo com a natureza da matéria
colectável. E o rendimento de trabalho é uma das formas de manifestação da matéria
colectável através do salário. Os juros decorrentes de uma aplicação financeira, são por
sua vez o rendimento de um capital mutuado. Por exemplo: o deposito é, no fundo um
empréstimo ao banco que vence sempre juros. É feito a curto, a médio ou a longo prazo.
Os dividendos assim como os lucros são também outros exemplos de rendimento, neste
caso de capital. Portanto, manifestações de rendimentos são: o salário – rendimento de
salário, juros – rendimento de capital; lucro – rendimento e rendimento de património.
Também o consumo, tal como o rendimento é uma forma de manifestação de
capacidade económica e, como tal pode ser matéria colectável. São necessidades
económicas que estão sempre por trás de consumo. Consumo só é possível através do
rendimento ou do património. O consumo é uma forma de manifestação indirecta da
capacidade económica.

2.5.4. Impostos proporcionais, progressivos e regressivos


a) Impostos proporcionais – são aqueles em que a taxa é fixa e incide
proporcionalmente sobre o rendimento. É o caso do imposto industrial em
Angola que é de uma taxa de 35%. Na vária a medida que a matéria colectável
aumenta, ou seja o rendimento 100, seja 1000, a taxa é fixa (excepto para
rendimentos agrícolas). Esta foi a primeira resposta para a questão da tributação
de maneira uniforme, uma resposta dada nomeadamente pelos ingleses David
Richard, Adam Smith, e outros emergiram no século XVII.

b) Impostos progressivos – são aqueles que aumentam a sua taxa a medida que
aumenta a matéria colectável, com a particularidade de haver um limite máximo
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de progressividade a partir do qual a taxa passa a ser proporcional. De contrário,


os impostos progressivos chegam a uma taxa de 100% e deixaria de ser um
imposto passando a ser um confisco do rendimento pessoal por via do imposto

c) Impostos regressivos – são aqueles cuja taxa, em vez de progredir regride a


medida que aumenta a material colectável dentro de determinados escalões, a
taxa de imposto diminui. Casos da tributação do consumo e do património. Isto é
quanto maior for o montante que importa o consumo daquela matéria tanto
menor é a taxa de impostos sobre o mesmo.

De acordo com a regra da igualdade vertical, os sistemas da uniformidade de


tributação podem ser abordados, fundamentalmente sob dois métodos: o método da taxa
e o método da taxa progressiva, sendo certo que o método progressivo é o mais justo,
uma vez que adaptar-se melhor aos valores de justiça fiscal. Mas, recorde-se que mesmo
os impostos de taxa progressiva , têm um limite a partir do qual passam a ser
proporcionais. Como vimos doutro modo, progredindo ilimitadamente, deixaria de ser
impostos e passariam a confisco.
Outros critérios de classificação têm – atenção – a sua utilidade. Pois, permitem,
de algum modo compartimentar os impostos de acordo com outros critérios mas esse
critério diferencial de matéria colectável, é o mais seguido e o que permite separar os
impostos segundo os vários critérios principais e acessórios e directos e indirectos. Com
isto concluímos com a classificação dos impostos.

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CAPITULO III. TEORIA GERAL DO DIREITO FISCAL


3.1. Fontes do direito fiscal
3.2. A constituição, fundamentos do estado fiscal e limites da tributação

Fontes do direito fiscal


São aquelas que em cada ordenamento jurídico se converteram nos vários modos
de formação das normas jurídicas. Modo de revelação ou formação do Direito. São
tradicionalmente quatro fontes de direito: a lei, a jurisprudência, o costume e a
doutrina. Sabendo nós que existe um principio fundamental que se traduz no principio
da unidade da ordem jurídica ou unidade do ordenamento (o que é considerado para
outros ramos de direito como fontes, também o é para o direit6o fiscal, em sede destes
princípios. Mas há especialidades para cada ramo do direito.

1. Costume
O costume é o nível de direito fiscal é-lhe reconhecida uma natureza provem do
Código Civil. E diz que o costume só é aceite como fonte de direito desde que uma lei o
reconheça como tal. O costume aparece como fonte subalternada do direito, só se uma
norma escrita lhe dá a eficácia de validade de fonte vinculativa de direito
2. Jurisprudência
A Jurisprudência como fonte de direito no geral pode, efectivamente ser fonte de
normas jurídicas fiscais. O art. 2º do Código Civil diz que a Jurisprudência, em
determinadas condições, é fonte do direito nomeadamente, quando traduz as decisões
judiciais que vêm decidir divergência da Jurisprudência através do chamado assento da
Jurisprudência. Trata-se de uma decisão do tribunal supremo que tem carácter de lei ou
de fonte de direito.

3. Doutrina
Sobre a doutrina, não há nada a dizer alem daquilo que já sabemos do direito em
geral. A doutrina não é fonte de direito e, por conseguinte, não é fonte de direito fiscal.
Mas é um elemento importante na interpretação quer das leis quer da jurisprudência.

4. Lei

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A lei do sentido material e a lei do sentido geral também são fontes do direito
fiscal. Pode o regulamento também ser fonte de direito fiscal?
Sim! O regulamento é, efectivamente, um conceito de lei no sentido geral.
Normalmente regulamento é de natureza autónoma de natureza executiva (é, um
regulamento de execução de uma lei).

 Convenções internacionais
As convenções internacionais podem também ser fonte de direito fiscal, uma vez
que alem das normas jurídicas internas também as normas internacionais podem regular
relações tributárias. Há uma fonte internacional de direito fiscal que é muito usada: os
acordos de dupla tributação, através dos quais os Estados procuram regularem os
eventuais conflitos de jurisdição tributária ou conflitos de pretensão tributária face a
lei de cada um dos países perante uma situação que seria susceptível de tributação
para os dois países.

Decretos
Um decreto, em termos gerais e globais, e respeitados cada sistema jurídico, é
uma ordem emanada de uma autoridade superior ou órgão (civil, militar, leigo ou
eclesiástico) que determina o cumprimento de uma resolução.

Direito internacional
Direito Internacional é o conjunto de normas que regula as relações externas dos
atores que compõem a sociedade internacional Estes atores, chamados sujeitos de
direito internacional, são, principalmente, os Estados nacionais, embora a prática e a
doutrina reconheçam também outros atores, como as organizações internacionais.

Alguns autores distinguem entre o direito internacional racional ou objectivo, de


um lado, e o direito internacional positivo, de outro. O primeiro aspecto compreende os
princípios de justiça que governam as relações entre os povos, enquanto o segundo vem
a ser o direito concretamente aplicado, proveniente dos acordos entre os sujeitos de
direito internacional e de fatos jurídicos consagrados por prática reiterada. O direito
internacional racional funcionaria, portanto, como norma inspiradora e fundamento para
o direito internacional positivo. O direito internacional (por vezes também chamado de

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direito internacional público) não deve ser confundido com a disciplina jurídica
do direito internacional privado

3.3. Princípios fiscais constitucionais


1. Princípio da legalidade fiscal
Literalmente, o que este principio quer dizer é que os impostos deverão estar em
conformidade com a lei. Há uma regra prática que traduz claramente isto: a diferença
entre o Estado e os particulares. Por força deste princípio da legalidade administrativa,
para os particulares tudo o que não é proibido é permitido; para o Estado o que não é
permitido é proibido. Se não houver uma lei que diga que o Estado pode fazer isto, ele
não pode. A lei é que define o seu de intervenção. Está subordinado ao princípio da
legalidade administrativa. Se os impostos só pode ser criados por leis e esta lei só pode
ser emanada pelo parlamento, então aqui temos uma condição de reserva de lei em
sentido material.
Mas que lei?
Uma lei que é reservada ao parlamento. Há aqui, assim, um princípio de reserva
de lei em sentido material, ou seja não é qualquer acto normativo de carácter geral e
abstracto. Os impostos só pedem ser criados por leis. Mas por uma lei em sentido
formal proveniente do órgão legislativo com representatividade dos contribuintes. Quer
dizer que temos aqui uma reserva de lei formal na criação do imposto.
Mas qual lei na actividade administrativa?
Lei em sentido material, por exemplo; um decreto executivo do conselho de
ministros, é uma lei que define acção da administração pública. Já nos impostos não é
uma lei qualquer. É uma lei, em sentido formal, que tem de provir do órgão legislativo.
E isso por causa do passado do principio da representatividade. Ora se dizermos que os
impostos só podem ser criados por lei e lei em sentido formal, estamos também a
enunciar o princípio da tipicidade. Portanto, estamos a dizer que os impostos só podem
criados por um tipo legal. Por uma lei. Isto, é, obedece também ao princípio da
tipicidade. Portanto, os impostos tal como as pensa ou os crimes só podem previstos por
leis. e dai lei, em sentido formal. Portanto, temos também aqui um princípio da
tipicidade, pois a lei vai nos dizer, em cada ordenamento jurídico em concreto, quais os
órgãos que têm competência para criar, modificar ou extinguir impostos.

Em que é que se traduz este principio da tipicidade?


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Da mesma maneira que existe o brocardo latino: nulla piena sine lege não há
pena sem lei ou nullum crime sine legem – não tributo sem lei, não imposto sem lei.
Dissemos que para além deste aspecto de que os impostos podem ser criados por
lei em sentido formal, o princípio da legalidade evoluiu para que não só impostos
estivessem sujeitos a lei mas também os seus elementos essenciais. Isto é, a lei não só
deve criar os impostos como deve também definir os elementos essenciais desses
impostos, isto é o que se chama de princípio da determinação. Tudo isso é decorrência
do princípio da legalidade. O princípio da determinação significa que os elementos
essenciais dos impostos, em regra serão: as taxas, as próprias garantiam do
contribuinte e eventualmente as isenções ou benefícios fiscais. Não se deve permitir a
administração fiscal o órgão aplicador da lei fiscal tenha uma intervenção de grande
amplitude ou discricionariedade na determinação destes elementos. É da própria lei que
deve decorrer os elementos fundamentais. É dai que se fala no princípio da
determinação. Isto é, o principio da legalidade trás consigo também o principio da
determinação
Determinação de quê?
Determinação dos elementos essenciais dos impostos.
Dissemos que o princípio da legalidade, primeiro significa que os impostos só
podem ser criados por lei em sentido formal. Princípio da legalidade que arrasta consigo
o princípio da tipicidade, tipicidade de lei forma. Vimos que alem da tipicidade há
também a determinação dos elementos essenciais.
Porque que não de admite que a administração fiscal, o ministro das finanças,
que é a autoridade máxima da administração fiscal, estabeleça a taxa do imposto?
As razoes a esta questão, prendem-se sobretudo, com os valores de certeza e de
segurança jurídica, particularmente, os valores de segurança jurídica. Esses valores de
certeza e segurança jurídica, se colocam a um nível tão elevado, como no direito penal,
isto em direito fiscal, essa segurança jurídica se afigura de grande exigência.

2. Princípio da igualdade fiscal


O Princípio da igualdade fiscal é um princípio de natureza constitucional que vai
influenciar toda a estrutura do direito fiscal. Mas coloca-se a questão de saber se existe
na LC alguma afloração directa ou imediata deste? Não! O que existe é um corolário do
princípio da igualdade jurídica que vem estabelecido no art. 18º, LC, ao afirmar que
todos os cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos
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aos mesmos deveres. Por conseguinte, se os cidadãos estão sujeitos aos mesmos deveres
tributários. São dois os sentidos da igualdade:
 Todos devem pagar impostos – é a chamada regra da generalidade
 Todos devem pagar impostos de modo idêntico – é a regra da uniformidade.

2.1. A regra da Generalidade


Será todos, sem excepção devem pagar impostos? Será que, as pessoas
desprovidas do mínimo para sobreviver têm também de contribuir para os encargos
gerais na nação?
Isto coloca outra questão: como é que se avalia então a capacidade de pagar impostos?
A estas perguntas respondem duas teorias: a teoria do beneficio que deu origem ao
principio do beneficio e a teoria da capacidade contributiva, que deu origem ao
principio da capacidade contributiva.
Att: A teoria do benefício deu origem ao princípio do benefício
A teoria da capacidade contributiva deu origem ao princípio da capacidade contributiva.

a) Teoria do Benefício
O princípio do benefício dizia: se os impostos existem porque há despesas que o
Estado tem de realizar no interesse geral, então, aqueles que beneficiam destas despesas
é que devem pagar impostos, ou seja ubi commoda, ibi incommoda – é um princípio
latim segundo o qual, quem colhe benefícios tem que arcar com as desvantagens.

Critica a Teoria do Beneficio


Essa teoria significa que quem pagaria na maior parte, os impostos seriam as
pessoas desprovidas de capacidade económica, as que ocorrem as instituições publicas
de saúde e educação. Porque os que têm mais dinheiro vão as as clínicas privadas, as
escolas privadas – estamos a falar de uma economia de mercado capitalista. Portanto, o
princípio do benefício significaria, portanto transmitir para os mais desfavoráveis os
principais encargos decorrentes das despesas públicas.

b) Teoria da capacidade contributiva


Defende que a capacidade fiscal tem de traduzir sempre numa capacidade
económica. Tributam-se bens económicos, o imposto visa tributar manifestações de
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capacidade económica. Quando o estado tributa o lucro de uma empresa, está a tributar
uma certa expressão de capacidade económica; o salário é uma certa manifestação de
capacidade económica. Por isso os impostos são uma forma de transferir recursos de
quem tem mais para quem nada tem, uma técnica de retribuição de rendimentos.
Portanto, os que têm mais capacidade económica devem contribuir mais, para que o
Estado, sob forma de prestação de serviços, possa melhorar as condições de vida dos
desfavorecidos. Logo, o critério de avaliar a capacidade fiscal só pode ser o critério da
capacidade contributiva.

Conclusão
Hoje em dia é um dado adquirido de que todos sistemas fiscais assentam sobre a
base da incidência tributária, ou seja da capacidade contributiva. Quer dizer que o
Estado só pode tributar onde houver objectivamente manifestação de capacidade
económica. E qual é a sua forma objectiva? São as tradicionais: o rendimento, o
consumo e o património.
O rendimento
Forma objectiva são tradicionais O consumo
O património

2.2. A Regra da Uniformidade


Com a regra da uniformidade pretende-se afirmar que todos os cidadãos devem
pagar impostos de modo idêntico. A regra da uniformidade na igualdade tributária
conduz-nos a duas situações diferentes: igualdade horizontal e igualdade vertical

a) Igualdade horizontal
Significa que rendimentos iguais devem corresponder a impostos iguais. Se A
ganha 100 e B ganha 100, ambos devem pagar o mesmo volume de impostos.

b) Igualdade vertical
Significa que para rendimentos diferentes há impostos diferentes. Se A ganha
100 e B ganha 1000, A pagará menos que B

O rendimento pode ter duas noções ou duas acepções: Rendimento produto e


rendimento acréscimo
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O rendimento produto: É o conjunto de unidades económicas que derivam da


participação directa ou indirecta na produção. Por exemplo: o salário, o lucro, o juro.
Porque têm directa ou indirectamente a ver com as actividades produtivas. Mas o
rendimento produto não abrange todas formas de rendimento por exemplo: A herda uma
fortuna.
O rendimento acréscimo: Comporta uma noção mais ampla, o seu conceito
implica que são todas as utilidades económicas que conduzem ao aumento do
património do titular do direito.
Normalmente os países subdesenvolvidos estruturam os impostos na base de
rendimento produto, enquanto, as economias desenvolvidas ou industrializadas
estruturam-nos na base do rendimento acréscimo

3.4. Interpretação, Integração e Aplicação das Normas Fiscai e Tributarias


A primeira questao que se coloca é saber se as normas fiscais, no tocante a
interpretaçao e integração de lacunas cedem as norma comuns do direito, ou se
efectivamente haverá alguma regra especifica que se aplique as estas questoes ou ainda
se, pelo contrario, elas devem respeitar as regras interpretativas gerais que se aplicam a
qualquer norma juridica. Onde é que estao essas regras comuns gerais do direito em
materia de interpretaçao das normas juridicas? No Codigo Civil, art. 9º, 10º e 11º. A luz
do principio da unidade da ordem juridica, o art. 2º, 1, CGT diz: Ainterpretaçao das
normas fiscais não deve cingir-se a letra da lei mas reconstituir a partir das dos textos
do pensamentp legislativo segundo a regra e metodos definidos na lei. O legislador no
CGT, veio reafirmar aquilo que era uma verdade evidente por força do principio da
unidade da ordem juridica. É que as normas tributarias devem obedecer as regras e
aos metodos respeitantes as materias de interpretaçao, apesar de excepções:

1º - O nº 2 do art 2º, CC diz-nos que: As normas que defendem as infracçoes fiscais


sancionatorias não admitem interpretação extensiva, as quais estão ligadas, de igual
modo, aos principios gerais do direito penal e, não se admite que as as sanções sejam
criadas pelo aplicador de normas. Estaria gravemente a desrespeitar os valores da
Certeza e da Segurança Juridica se se permitisse que o aplicador da norma juridica
sancionatoria viesse, por interpretação extensiva, criar essa normal fiscal. Há aqui assim
uma restrição na interpretação.

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Já vimos do direito civil que o recurso a analogia admite-se de acordo com


certas regras que constam do codigo civil. Mas, no art. 3º do CGT diz: os casos não
previstos na lei fiscal são regulados segundo a norma aplicavel aos casos analogos.
Att: dentro do proprio direito fiscal. Com base no art. 3º CGT e po aplicaçao de normas
de ramo de direito analogo, o Direito Administrativo, será possivel o recurso ao
Ministro (orgao maximo da administração fiscal e em caso de acto administrativo
definitivo do Ministro das Finanças, há impugnação conteciosa. Ca está o recurso a
analogia para suprir uma lacuna da norma fiscal. Mas será que a regra de integraçao de
lacunas atraves da analogia é aplicavel em toda a norma fiscal? O nº 2 do art 3º, CGT
introduz limitaçoes ao recurso a analogia para dois tipos diferentes de nornmas
tributarias: as lacunas das das normas referidas no nº 2 do art 2, bem como as
lacunas das normas que fixam a incidencia, as isenções e as taxas dos impostos são
insusceptiveis de integraçao por analogia.

A primeira parte do art. 3, nº 2, diz que as normas referidas no nº 2 do art.


Anterior são insusceptiveis de interpretaçao por analogia. Quais são estas normas
referidas no nº 2, do artigo anterior?São as normas fiscais sacionatorias (aquelas que
especialmente previnem e punem com multa – pena fiscal por excelencia derivadas de
condutas violadoras das normas tributarias).
É nas normas sacionatorias (como no direito penal), os valores de certeza e
segurança juridicas não admitem que se possa, a nivel da aplicaçao das normas pela
administraçao fiscal ou pelo juiz criar normas. As pessoas nunca saberiam se
determinada conduta era ou não delitosa caso o aplicador tendesse a recorrer a certa
norma analoga para incrimina-la. Porque, deste modo, violaria o principio nullum
tributum sne legem. Portanto é o mesmo dizer que em materia de normas
sancionatorias não há lacunas no direito fiscal, se houver alguma lacuna é porque foi
intencional, ou seja, o legislador não quis considerar como infracção aquela
determinada conduta.
A segunda parte do do art. 2, nº 3, diz que tambemas normas que fixam a
incidencia, as isençoes, as taxas dos impostos, são insusceptiveis de integraçao
analogica. São materias de reserva relativa da Assembleia Nacional e que integram no
chamado principio da legalidade – só por lei é que podem ser reguladas essas materias.
Por isso está proibido o recurso a analogia . e um corolario do principio da legalidade

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tributaria que tem como fundamentos os valores da certeza e da segurança juridica (art.
3º, 2, CGT – 14º, 2 LC).

3.4.1. Instruçoes e despachos administrativos interpretativos


As chamadas resoluçoes administrativas que são os despachos interpretativos da
administraçao fiscal, maxime do Ministro das Finanças (o chefe maximo da
administraçao fiscal), as circulares os despachos ou instruçoes para tribunais nem para
contribuites: art 4º, CGT, isto porque têm eficacia meramente interna. Só vinculam os
agentes da propria administraçao fiscal que lhe devem obediencia.

3.4.2. Aplicação das normas fiscais no espaço e no tempo


As normas juridicas só se aplicam para o futuro (principio da não retroacidade
das norma juridicas) e isto porque as normas juridicas visam regular comportamentos
sociais . entºao os seus destinatarios devem conhece-las previamente. Mas por vezes as
normas juridicas em geral admitemretroactividade. Nós temos um caso acolhido na
Constituição, de retroatividade em direito penal. O art. 36º, 4, LC diz: aA lei penal só se
aplica retroactivamente quando disso resultarem beneficios para o arguido. Portanto
há aqui assim o chamado fenomeno da sucessao das normas juridicas no tempo.
Primeiro o art. 5º CGT, consagrou o principio da não retroactividade ao dizer
que : As normas fiscais só dispoem para o futuro e nos termos regulados na lei geral.
E diz mais: que essa retroactividade ou não retrocatividade deve ser regulada nos termos
da lei geral, portanto a Lei Civil, nomeadamente o art. 12º. Entao, a primeira conclusao
relativamente as aplicações das noirmas fiscais no tempo, tal como as normas juricas
em geral é aplicavel o principio geral da não retroactividade.

3.4.3. As normas fiscais materiais que não admitem retroactividade


Normas fiscais materiais são aquelas que regula aspectos materiais ou
substantivos de uma relaçao juridico-tributaria e consagram direitos, quer dos sujeitos
quer do objecto, quer do facto quer ainda das garantias. Estas normas não dever admitir
nunca a retroactividade. Em particularaquelas que se referem ao principio da legalidade
tributaria. Porque estao em causa a certeza e a segurança juridica. Não pode um valor
que é protegido pela constituiçao, ser desrespeitado pela administraçao ou pelo
legislador ordinario, mediante uma situaçao de retroactividade.

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3.4.4. As normas fiscais adjectivas ou processuais


O principio que vigora do direito processual civil é o da aplicaçao imediata das
normas processuais mesmo a factos que tenham ocorridos antes da sua entrada em
vigor. Por exemplo: se está a correr num tribunal um determinado processo e houver
alteraçoes as regras processuais – imagine se que reduzam determinadas fases
processuais – o julgador tem de aplicar imediatamente a nova norma. Bom, diz-se que
em direito processual fiscal tambem as novas normas juridicas são de aplicaçao
imediata.
Mas terao algum limite? Se essas normas processuais forem uma garantia dos
contribuites sujeita ao principio da legalidade tributaria, não se admite retroactividade.
Portanto as normas processuais ou adjectivas são de aplicaçao imediata salvo se
respeitarem a direitos ou garantias dos contribuintes.

O principio da territorialidade
O princípio da territorialidade é um princípio de Direito que permite estabelecer
ou delimitar a área geográfica em que um Estado exercerá a sua soberania. Essa área
geográfica é o território, que constitui a base geográfica do poder.
O território compreende a terra firme, as águas aí compreendidas (exemplos: rios e
lagos), o mar territorial, o subsolo, a plataforma continental, bem como o espaço aéreo
correspondente ao domínio terrestre e ao mar territorial.
Mas o mais frequente é que haja conflitos de normas tributarias que concorram para
tributar um mesmo facto entre vários países independentemente. É o fenómeno da dupla
tributação. Nisto, temos o principio da territorialidade divida da seguinte forma:
territorialidade positva e territorialidade negativa

a) Territorialidade Positva
Consiste no facto de devem ser tributadas todas as situaçoes pessoais ou facto
que tenham conexao com o territorio independentemente da sua nacionalidade.

b) Territorialidade Negativa
Diz-nos que não devem ser tributados os factos que ocorrem fora do território de
um determinado pais

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CAPITULO IIII - RELACÇÃO JURIDICO FISCAL E TRIBUTARIA

4.1. Natureza da relação jurídica


A relação jurídica tributária é como outra qualquer. Por isso traz os elementos
que compõem as outras relações jurídicas: o sujeito, o objecto, o facto e a garantia.
Porem a relações jurídicas tributaria há um quinto elemento: o acto tributário. Na
relação jurídico-tributaria existe uma obrigação principal que se traduz no dever de
satisfazer certa prestação imputável ao contribuinte, com respondente ao directo que
assiste ao sujeito activo de a exigir. Mas para alem desta obrigação principal existem
também oubrigações acessórios. São acessórias porque estão ligadas a concretização da
obrigação principal por exemplo:
É o caso das obrigações de declarativas há certos impostos, como impostos
industriais e o imposto sobre o rendimento do trabalho por conta própria que pela sua
natureza, levam o contribuinte a ter de declarar o respectivo rendimento.

4.2. Elementos da Relação Jurídico-Fiscal


1. Os sujeitos
São as pessoas que fazem parte da relação jurídica tributária, e é, os titulares dos
direitos e dos deveres da relação jurídica. E numa relação jurídica – tributaria, os
poderes e deveres são atribuídos as partes por determinação da lei, tendo em vista um
fim, a arrecadação do imposto. Ou seja, é a lei que atribui tal direito ao titular activo e
tal dever ao titular passivo da relação jurídico – tributária. Para se ser sujeito de uma
relação jurídica é preciso personalidade jurídica. Também na relação jurídica – fiscal, a
personalidade jurídica é um requisito do sujeito. E em direito, tem personalidade
jurídica a pessoa humana ou pessoa colectiva. Por conseguir, personalidade jurídica é a
susceptibilidade de ser titular de direitos e deveres.

Quando falamos de personalidade jurídica, está-se a abordar uma realidade que é


absoluta, e é, ou se tem ou não se tem personalidade. O professor Brás Teixeira diz que
não se deve falar – como falam outros autores - , de personalidade tributaria ou
personalidade jurídica. Porque, segundo afirma, a personalidade jurídica ou se tem ou
não se tem. É igual para todo o direito. Quem tem personalidade jurídica para um
determinado ramo de direito, tem-na necessariamente para todos os outros ramos de
direito. Também estudamos um conceito muito ligado à noção de personalidade
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jurídica: o conceito de capacidade jurídica. Segundo Brás Teixeira, é de negar a ideia de


que pode alguém ter personalidade jurídica civil e não personalidade jurídica tributaria e
que enquanto a personalidade jurídica não se mede, a capacidade jurídica é susceptível
de quantificar, uma vez que é uma medida, ou seja, pode-se ter mais ou menos
capacidade jurídica.

A capacidade jurídica, pode ser vista sob dois pontos de referência:


1. Referida a órgãos de direitos, ou titulares de direito, a chamada capacidade de
gozo ou de direito;
2. Relativa ao exercício de tais direitos, o que implica a capacidade de agir. Tal
como noutras relações jurídicas, em direito fiscal também se exige personalidade
e capacidade jurídicas.

Mais uma vez, a personalidade jurídica, diz Brás Teixeira, ou se tem ou não se
tem. Por seu turno, capacidade jurídica é que contempla maior ou menor amplitude
conforme o ramo de direito. A diferença assenta, portanto, não na personalidade, mas na
capacidade jurídica. Pode haver entes que não tendo capacidade jurídica para alguns
efeitos, tê-la-ão para efeitos de outras áreas do direito. A capacidade na área do direito
fiscal, não coincide, necessariamente, com a capacidade no âmbito do direito civil. Há,
portanto sujeitos a quem não é reconhecida capacidade jurídica civil e têm capacidade
tributária.
Quanto a capacidade de exercício de direito ou de agir há, efectivamente uma
coincidência com a capacidade de exercícios em geral. Na relação jurídica – tributária
pode haver incapazes, Lé, entes que, não tendo capacidade de por si próprio exercitarem
direitos têm de que exercita-los através de terceiras pessoas. P. ex., no direito civil, os
menores não têm capacidade de agir. No direito fiscal, as sociedades revelam também
incapacidade de agir, uma vez que os seus direitos são exercidos através dos seus
órgãos.

a) Sujeito activo da relação jurídico – fiscal


O Estado
O sujeito activo da relação judico-fiscal é, necessariamente, uma colectiva de
direito público, como, alias sugere a noção de imposto: uma prestação unilateral

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definitva atribuída por lei a favor de uma pessoa colectiva de direito público. Portanto,
não poderá, de maneira alguma, ser uma pessoa colectiva de direito privado.
Quem segundo o nosso o sistema jurídico-fiscal, podem ser sujeitos activos de
relações jurídico-fiscais? O primeiro e mais importante sujeito activo é o Estado. Não
só porque é o Estado que arrecada a maior parte dos impostos mas também porque é ele,
em primeira linha, a quem compete a efectivação de despesas para satisfazer
necessidades públicos. Quais os órgãos do Estado que visam a aplicação da lei do
imposto? Já referimos a necessidade de distinguir o Estado soberano do Estado
Administração. Quem cria o imposto é o Estado. Mas não o Estado nas vestes de sujeito
activo da relação de imposto. Que é criado de acordo com o art. 14º da lei
Constitucional, e é criado pelo Estado no exercício da soberania tributaria. Temos, aqui
um Estado com poder soberano. Depois, temos o segundo aspecto que é a titularidade
de direito. A lei reconhece, então, ao Estado a posição de sujeito activo de uma relação.
Temos aqui dois aspectos que não coincidem necessariamente: um é o Estado no
exercício do poder soberano; e, o outro é o Estado Administração Fiscal; ou seja, o
Estado como sujeito activo de uma relação de crédito. Posição esta que lhe é atribuída
por uma lei. O professor Alberto Xavier fala ainda de uma terceira característica
afirmando que na falta de melhor expressão podemos chamar de competência e o
Estado fiscalização, Estado policia. Portanto, a parte relativa a aplicação da lei do
imposto.

De maneira geral, o que importa mesmo é distinguir o Estado – poder do Estado


– sujeito em sentido técnico-jurídico. Ou seja, não encontramos o Estado numa posição
de supra-ordenação em relação ao sujeito passivo mas sim numa relação jurídica como
outra qualquer em que o Estado tem apenas um direito de crédito. É uma relação em que
por força da lei, é reconhecido ao Estado um direito de credito. O Estado, no exercício
do seu poder soberano, cria imposto e ai se esgota a soberania tributária. No momento
em que se preenche os pressupostos previsto na lei, nasce a relação jurídico-tributaria e
ai já não esta o Estado no exercício da soberania tributaria. Já teremos um Estado titular
de um direito de crédito, sujeito passivo de relação jurídico-tributaria.
Dir-se-á portanto, que o mais importante sujeito activo da relação jurídico-
tributaria é o Estado.

Prof. Msc: Celestino António Buca


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Outras Pessoas Colectivas de Direito Público


Para além do Estado, podemos, no nosso próprio sistema encontrar outros entes
públicos que também podem ser sujeitos activos de uma relação jurídica – tributaria.
Caso do instituto Nacional de Segurança Social (INSS), que, por sinal, é um instituto
publico.
Já vimos, a este propósito, e apesar de algum debate doutrinário, que as
prestações feitas pelas entidades empregadoras a favor da segurança social têm a
natureza de imposto. Trata-se de uma prestação definitiva, unilateral, à favor de uma
pessoa colectiva de direitos publico (o instituto publico) para prossecução de fins
públicos.
Outro sujeito activo de uma relaçção jurídico – tributária é as Autarquias Locais.
Estas apenas têm, no nosso sistema, previsão jurídico – constitucional. Portanto, vamos
referenciar situações que se verificam noutras ordens jurídicas, como a portuguesa,
muito aproximada à nossa. Há situações em que o Estado cobra determinado o imposto
e depois atribui-o á Autarquia Local. Estamos perante uma consignação de rendimentos.
Neste caso, não temos aqui, propriamente, uma Autarquia Local na posição de sujeito
activo da relação jurídica porque não lhe é reconhecido o direito de exigir a prestação
do imposto. O que acontece é que a Autarquia Local vai beneficiar dos valores cobrados
a título de imposto, mas quem tem o direito de os exigir é o Estado. As Autarquia
Locais só podem exigir ao Estado aqueles valores a que têm direito, mas não podem
exigir do contribuinte.
Pode, entretanto, a Autarquia Local criar adicionais aos impostos já criados pelo
Estado e cobrá-los. Neste caso teremos a Autarquia Local como sujeito activo.
Voltamos a questão do Estado, temos a Direcção Nacional dos Impostos, um
órgão geral dentro do qual encontramos órgão que tratam dos regimes especiais dos
impostos, caso, p ex. do regime especial para a indústria mineira.
Temos também a Direcção Nacional das Alfandegas que tem competência de
cobrar impostos aduaneiros e outros a eles ligados.
Em suma temos no aparelho de Estado, fundamentalmente, a Direcção Nacional
dos impostos e a Direcção Nacional das Alfândegas.

Sujeito passivo da relação jurídico-fiscal


Como vimos, a relação jurídica só o é, é porque existem duas partes: sujeito
activo aquele que tem o direito de exigir a prestação, e co-respectivo sujeito passivo, a
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parte da relação jurídica que está obrigada a efectuar esta prestação. Ora, primeiro que
tudo, vamos ver qye, por vezes, quando se fala de sujeito passivo de confunde o que é
sujeito passivo, o que é o contribuinte e o que é o devedor do imposto? Vamos ver,
digamos como é que se distingue estes três conceitos.

Contribuinte
O contribuinte do imposto é aquela pessoa em relação a qual se verificam os
pressupostos tributários ou os factos geradores da obrigação fiscal. Como nos diz o
artigo 11º do CGT. A obrigação fiscal se constitui com a verificação dos factos. Esses
factos geradores da obrigação fiscal são os pressupostos tributários. E a constituição da
obrigação fiscal implica um pressuposto objectivo e outro pressuposto subjectivo. O
pressuposto subjectivo é a existência dos sujeitos. Ora, dissemos que o contribuinte será
aquela pessoa relativamente ao qual se verificam os pressuposto ou os factos geradores
da obrigação fiscal. É normalmente essa pessoa que vai sofrer o desfalque patrimonial
derivado do pagamento do imposto que legalmente lhe é exigido.

Por exemplo: o trabalhador assalariado não é ele que directamente intervém na


relação jurídica perante o sujeito activo. É a entidade empregadora que retém o IRT e
que se relaciona com a Administração Fiscal. Mas quem fica sem a parte do rendimento
que é devido a título de imposto é o trabalhador, o contribuinte. Quer dizer que o
trabalhador por conta de outrem, é o contribuinte porque relativamente a ele se
verificam os pressupostos que a lei determina como geradores da obrigação fiscal.

O sujeito passivo
O sujeito passivo é a pessoa sobre quem recai o dever legal de efectuar a
prestação tributária ou seja a entidade empregadora. O empregador tem o dever de
entregar ao banco os impostos que são devidos pelos seus trabalhadores assalariados:
17º Cod. de Imposto.

O devedor
O devedor do imposto é, naturalmente, o sujeito tributário passivo.
Juridicamente, quem a lei incumbe o dever de pagar o imposto é o devedor do imposto.
Mas a lei distingue o devedor originário do devedor não originário.

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 Devedor originário - é o sujeito tributário passivo. Ou seja, aquela pessoa a


quem recai o dever de efectuar a prestação. Neste caso, o trabalhador por conta
de outrem, a entidade empregadora.

 Devedor originário – as vezes a lei impõe que não sendo possível exigir
daquela entidade originariamente devoradora o valor poder-se-á exigir o
pagamento outra entidade, ao contribuinte. Art. 26º, 2, e art. 31º, 1, CIRT.

Vejamos bem o que é que nos diz o art. 26º, 2: As pessoas sujeitas a impostos
são subsidiariamente responsáveis pelo pagamento da diferença entre o que tinha sido
deduzido e o que devesse tê-lo feito. Introduz aqui uma situação de responsabilidade
subsidiária, ou seja basicamente, o trabalhador, neste caso é responsável
subsidiariamente pelo pagamento do imposto, caso haja uma diferença de pagamento.
Cá temos uma situação de devedor não originário.
Por seu lado o art. 31º, 1CIRT, diz que havendo a liquidação adicional a
responsabilidade pelo pagamento do imposto pertence as entidades a que se refere o nº
1, do art. 17º, sem prejuízo do direito de regresso que possa caber-lhe e,
subsidiariamente as pessoas sujeitas a imposto.

Estes dois artigos dizem basicamente que é a entidade empregadora que tem que
pagar o imposto, portanto, devedor originário. Porem ao mesmo tempo dizem que se
houver diferenças, se no calculo do montante da obrigação fiscal, a entidade
empregadora se tiver enganado e alguém que deveria pagar por exemplo, 100.00 AKZ
só pagou 90.00 AKZ, essa diferença de 10.00 AKZ é exigível, em primeiro lugar ao
sujeito tributário passivo, a entidade empregadora; mas ele, o trabalhador é
subsidiariamente responsável pelo pagamento dessa diferença.

A Personalidade Tributaria Passiva


Só pode ser sujeito passivo de uma relação jurídica de imposto quem tem
personalidade tributária passiva. A capacidade tributária passiva é a susceptibilidade de
ser sujeito passivo numa relação jurídica tributária.
A luz do principio da unidade da ordem jurídica em regra têm personalidade
jurídica aquelas pessoas singulares ou colectivas que podem ser sujeitos de direitos e
obrigações: art. 66.º, CC. Ora, a personalidade tributária passiva, então, é o reflexo da
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personalidade jurídica. Portanto, em regra, quem tem personalidade jurídica tem


igualmente personalidade tributária passiva.
Mas será que o contrario é válido? Será que há entes com personalidade
tributária passiva que não tenham personalidade jurídica? Isto não é um facto novo em
direito. Reparem, vocês já estudaram que há outras do direito, nomeadamente, o direito
civil em que pode haver entidades sem personalidade jurídica, p. ex., as sociedade
comerciais irregulares, - também estudarão isso em direito comercial - , que podem ser
judicialmente demandadas.. elas não têm personalidade jurídica, logo, não podem
demandar como pessoa jurídica, mas podem ser demandadas. Têm personalidade
processual passiva.
Ora, também no direito fiscal, a título excepcional, há situações em que entes
não têm personalidade jurídica mas têm personalidade tributária passiva. P. ex., “As
sociedades comerciais que se não achem legalmente constituídas, mas que se facto
procedam como se o estivessem, terão as mesmas obrigações e serão tributas nos
mesmos termos das constituídas regularmente” (art. 15.º,2 CGT).
Também as associações que, p. ex., em Angola, operam nas actividades
mineiras, em participação ou consórcio são igualmente consideradas sujeitos tributários
passivos. Não sendo pessoa jurídicas, são figuras meramente contratuais a quem a lei
impõe o dever de pagar os impostos em representação dos seus associados.

Sujeitos Tributários Passivos


A personalidade jurídica - A personalidade jurídica é a susceptibilidade de se ser
sujeito de direito e obrigações. A capacidade jurídica é que se desdobra em: capacidade
de gozo e capacidade de exercício.

A capacidade de gozo - Em relação à capacidade de gozo não se coloca nenhuma


questão em especial no direito fiscal. Ela é somente a susceptibilidade em abstracto de
se ser sujeito de direitos e de obrigações.

A capacidade de exercício - Como sabemos, em direito há pessoas que têm


capacidade de gozo mas estão desprovidas de capacidade de exercícios. Há, p. ex., os
inabilitados, os incapacitados e os menores. São pessoas limitadas na sua capacidade de
exercício dos direitos que a lei lhes reconhece.

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O direito prevê como forma de suprimento dessas incapacidades de exercícios o


chamado instituto da representação legal. É a forma através da qual a lei designa quem
deve exercer, em nome do incapacitado, os seus direitos. No caso dos menores são os
pais. No caso dos interditos ou inabilitados são designados curadores ou outros para o
representarem.
A nível do direito fiscal, ou seja, a nível da relações jurídico – tributarias,
naturalmente, que também há pessoas que serão sujeitos tributários passivos
incapacitados. Isto é, os interditos, os incapacitados, os inabilitados, as pessoas com
incapacidade de exercícios de direitos também são sujeitos passivos da relação juridica
tributaria.
E o CGT define no art. 14.º este princípio: “ Aos represetantes legais dos incaoazes
cabe, com a inerente responsabilidade pessoal, o cumprimento dos deveres fiscais dos
representados”. Ora, esta norma vem tributários. E diz que os representantes legais são
pessoalmente responsáveis pelo cumprimento dos deveres tributários. A contrario senso
significa que em caso de incumprimento dos deveres tributários, quem responde pelo
incumprimento é o representante legal.
Pelos princípios gerais de direito vimos que as pessoas dotadas de personalidade
jurídica poderão ser em princípio, sempre sujeitos tributários passivos. Mas vamos ver
em concreto.

Pessoas colectivas de direito público


1 - Pode o Estado ser sujeito passivo de uma relação jurídico – tributaria?
Em princípios sim, pois o principio é que quem tem personalidade jurídica pode
ser sujeito tributário passivo. O Estado pode sê-lo. Em teoria, obviamente. Em sede de
princípios. Agora, naturalmente, vai haver, em concreto, limitações que decorrem da
própria lei. Ou melhor, a própria lei pode excluir o Estado da incidência de determinado
imposto e dizer que o estado, como pessoa colectiva de direito publico, neste ou naquele
imposto não é sujeito tributário passivo, e, é, está fora da incidência.
Por exemplo, pode acontecer que o sujeito activo duma relação jurídica – tributária é
uma autarquia local e que está em causa o imposto de sisa de que tem direito. Suponha-
se que a lei da sisa vai dizer que o Estado não deve pagar sisa por transmissão onerosa
dos imóveis de que é proprietário. Cá estamos perante um caso em que a lei não isenta,
mas excluir o Estado da incidência.

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2 - Serão os institutos públicos


Ou seja, existem organismos públicos cuja personalidade é distinta da do Estado.
Os institutos públicos, como se sabe, têm autonomia patrimonial e financeira bem com
personalidade jurídica. A lei-quadro dos institutos públicos não manda aplicar lhes o
regime fiscal comum. Vale isto dizer que, do ponto de vista tributário, os institutos
públicos estão isentos de impostos sobre o rendimento e sobre o património. Mas não
estão isentos do imposto sobre o consumo. Estão relativamente ao estado, temos aqui
uma situação de excepção que é a isenção do Estado dos impostos sobre o rendimento e
sobre o património.

Mas pergunta-se: será exigível ao Estado o pagamento dos impostos se,


simultaneamente, ele for sujeito passivo? O que se estudou em direito das obrigações é
que quando a qualidade de sujeito activo e passivo recai sobre a mesma pessoa, a
relação jurídica, pelo instituto da confusão, deixa de existir. Extingue-se. É o que está
também previsto no art. 59º, CGT. A confusão na mesma pessoa, das qualidades de
sujeito activo e sujeito passivo de uma obrigação de imposto extingue o respectivo
credito nos termos aplicáveis da lei civil. Portanto, se o Estado for simultaneamente
sujeito passivo e activo, não haverá relação obrigacional, pois ela extingue-se por
aplicação do art. 59º, CGT.

E aqueles casos em que o sujeito activo são uma entidade distinta do sujeito
passivo? É o caso de o sujeito activo ser um instituto público, supomos um instituto
público personalizado: se a lei não o isentar ou não o excluir da incidência, então o
Estado sujeito tributário passivo. O princípio é que quando o sujeito tributário activo é
uma pessoa jurídica distinta do Estado e a este é exigível o pagamento do imposto.
Quando os institutos públicos não forem personalizados identificam-se com o Estado,
não são entes jurídicos distintos. São organismos do Estado e neste caso, o regime
aplicável é aquele que é aplicado no Estado art.8º, 1 alínea a). Então não haverá
diferença entre os institutos públicos personalizados e os não personalizados para
efeitos da aplicação da incidência dos impostos sobre os rendimentos e sobre o
património.
Att: se não se referisse: ainda que personalizados, a questão seria diferente.
Mas o legislador teve o cuidado de acrescentar.

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3 – Temos ainda as autarquias locais


Outra entidade distinta do Estado. Em sede de doutrina de princípios, as
autarquias locais devem ou não também beneficiar de isenção dos impostos sobre o
rendimento e sobre o património? Rui Cruz é de opinião de que a razão que leva o
legislador a isentar o Estado e todos os seus serviços incluindo estabelecimentos
públicos, dos impostos sobre os rendimentos e sobre o património, deve tornar-se
extensivo as autarquias locais. Portanto, haverá, no futuro que reformular o artigo 8º, 1,
a) uma vez que não são serviços do Estado, muito menos organismos do Estado. São
entidades jurídicas distintas do Estado, que têm característica que se estudaram em sede
de direito administrativa. Fora destes casos que a lei tributaria excepciona da aplicação
do regime comum, a essas entidades ser-lhe-ão aplicado o regime comum. É por
exemplo, o que acontece no imposto sobre o consumo. Essas entidades seja o Estado,
sejam institutos públicos devem pagar imposto sobre o consumo

4 – E as pessoas singulares e colectivas de direito privado?


a) As pessoas singulares
Em obediência ao princípio da igualdade tributária devem ser submetidas ao
regime comum tributário, sem excepções. E como vimos, o principio da igualdade
tributaria não deixa de ter no nosso caso, algum substrato constitucional, art. 18º LC.
Este principio como se viu é a afloração a nível do direito fiscal, do princípio da
igualdade jurídica.
Qual será a razão?
Não se estará a violar o princípio da igualdade tributária?
Efectivamente está-se. O que se passa aqui é que o princípio da igualdade
tributária encontra uma derrogação ou uma excepção. Porque prevalece, como se
depreende, a protecção de outros interesses públicos.
Quais são?
A Leis Constitucional diz que se deve dar uma especial protecção a invalidez e a
velhice. Lá está um outro Principio Constitucional a entrar em contradição com o
Principio da Igualdade Tributaria. Portanto, o que prevalece aqui é um outro Principio
Constitucional que se sobrepõe na hierarquia de interesses ao Principio da Igualdade
Tributaria. Isto é uma técnica jurídica, normal perfeitamente aplicável a qualquer ramo
do Direito. Aqui prevaleceu o Principio material das pessoas idosas, dos deficientes em
detrimento do Principio formal da Igualdade Tributaria.
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Portanto, há um princípio de justiça material que se sobrepõe ao Principio da


igualdade Tributaria. A regra é que, em obediência ao Principio da Igualdade Tributaria,
todos devem pagar impostos, na medida em que estejam no âmbito da incidência deste
imposto. Quando há uma isenção, como já atrás vimos, a relação jurídica – tributária
constituísse. Só que o direito de crédito deixa de poder ser exigível porque uma norma
modifica a incidência deste imposto. Mas esse impedimento que surge com essa isenção
pode ser revogado. E se for revogado, como é óbvio, essa pessoa volta a ser-lhe exigível
o imposto.

4.3. Representação legal, mandato e gestão de negócios


a) As sociedades irregulares
No direito comercial, as sociedades comerciais que não se acham legalmente
constituídas, portanto, sociedades irregulares, são tidas como sociedades civis e têm o
regime de sociedade civil. O art. 107º do código comercial que trata das sociedades
irregulares dispõe: ter-se-ão por não existentes as sociedades com fim comercial que se
não constituírem nos termos e segundo os tramites enunciados neste código, ficando
todas quanto em nome delas contratarem, obrigados pelos respectivos actos pessoal e
ilimitada e solidariamente. E quem são os responsabilizados? são aqueles que
contratarem em nome desta sociedade os sócios da sociedade, e aqueles que em nome
dela actuarem.
Quid iuris no direito fiscal?
De acordo com o nº 2, do art. 15, CGT, as sociedades comerciais que não se
acham legalmente constituídas mas que, de facto procedem como tal, têm as mesmas
obrigações e são tributadas nos mesmos termos que as verdadeiras sociedades
comerciais. Este tratamento que não é idêntico ao da que dá o direito comercial. Para o
direito fiscal as sociedades comerciais irregulares podem ser tributadas porem o art. 15º,
2 CGT impõe uma condição. Que estas procedam como se fossem sociedade que teria
se fosse regulamente constituída. Temos portanto aqui uma demonstração em se prova
que diferentes áreas do direito dão tratamento diferente de uma mesma situação.

b) As fundações
O art. 8º, estabelece algumas isenções. Não há uma norma que expressamente se
refira as fundações. Simplesmente, se uma fundação preencher os pressupostos
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previstos numa determinada lei e não existir nenhuma que a isente do pagamento
daquele imposto, então não está isento.

c) As sociedades enquanto pessoas colectivas no âmbito da relação


A capacidade de agir no direito fiscal coincide com a capacidade de agir em
direito civil. Os menores são incapazes, é preciso que apareça um representante legal
para suprir esta incapacidade. Nas sociedades, também aparecem os seus órgãos sociais
a suprirem a sua incapacidade de agir. Além desta representação legal é possível
também haver uma representação voluntaria (o mandato). No entanto, há limite para
esta representação voluntaria, em que não se trata de actos de natureza pessoal. A lei
exige que este mandato preencha as condições legais com base no art. 13º CGT. Assim
pode-se conferir mandato sob forma de procuração onde se estabelece os poderes: art
13º, 1ª parte. Só havendo estes dois requisitos é que é possível a representação
voluntaria no âmbito da obrigação fiscal. Por conseguinte, no caso de uma pessoa
colectiva com personalidade jurídica, por exemplo, uma sociedade comercial criada ao
abrigo da lei, são os seus órgãos comerciais que actuam em nome desta. Sabemos que o
sujeito passivo, o cont6ribuinte, o devedor é a própria sociedade. As pessoas que em
nome dela trabalham serão simples representante: art. 63º, CGT.

Domicílio fiscal
Fala-se em certos conceitos ligados aos sujeitos da relação jurídica dos impostos
que as vezes não coincidem com o direito fiscal: o conceito de domicílio, o conceito de
sede, o conceito de direcção efectiva. Os sujeitos passivos devem fazer a sua prestação
na administração fiscal de acordo com determinados pressupostos. Costuma-se ter em
consideração o domicílio, sede ou direcção efectiva.

Para pessoas singulares


O domicílio de acordo com o código civil, é a residência habitual. Em regra,
assim também no direito fiscal. Mas no imposto sobre o rendimento do trabalho, os
residentes para o direito civil (82º, CC) não são, necessariamente, os residentes para o
direito fiscal. O art6º, a) do código do imposto sobre o rendimento do trabalho (CIRT)
diz que quem deve ser considerados residentes. São residentes no território nacional as
pessoas que no ano a que respeitam os rendimentos, permaneçam nele 183 dias, não
necessariamente dias seguidos. A b) diz: os que tendo permanecido por menos tempo ai
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disponham em 31 de Dezembro desse ano de habitação em condições que deixem supor


interacção de manter ou ocupar como residência habitual.

O art.5º, CIRT diz que o imposto será devido pelas singulares que residam ou
não em território e ai obtenham rendimento.

Determinação de residência
A definição de residente tem relevância para efeitos de determinação da
competência territorial da administração fiscal, por um lado e por outro lado, da
determinação do lugar do pagamento das obrigações tributaria, quer do pagamento do
imposto, quer o local onde o contribuinte deve prestar declarações, isto no plano
interno. e nós temos em regra, o conceito de residência de domicilio mais ou menos
igual ao conceito estabelecido na lei civil. As residências também têm relevância no
plano externo. Quando uma situação jurídica tem contacto com mais de uma ordem
jurídica é preciso definir quem é e quem não é residente num dado pais. Dai o critério
de residência que vem estabelecido no art. 6º do Código de Imposto sobre o
Rendimento de Trabalho..

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BIBLIOGRAFIA
1. Lições de Finanças Publicas – Teixeira Ribeiro
2. E Direito Financeiro
3. Manual de Direito Fiscal – Assalta Nabais
4. Estudos Fiscais – Rui Cruz
5. Angola, Colectânea de Legislação Fiscal – Rui Cruz

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