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2020 / 2021
Professor regente:
Susana videira
Contextualização
RESUMOS DE DIREITO ROMANO
“A lei é algo que o povo a si mesmo se dá” - a lei não é imposta por alguém e os
destinatários devem submeter-se a essas ordens normativas; são aprovadas pelo
povo que cumpre as disposições normativas que a si próprio se deu.
Como é que um Direito que começou a ser forjado algures no século VIII A.C.
(753 a.c.) chegou até ao século XXI?
Se não tivesse havido sucessivos momentos de interesse pelo Direito Romano, ele
dificilmente teria chegado aos dias de hoje.
Rex
Patrícios Plebeus
Organização política
Rei Poder supremo
Senado Representa os patrícios
1
Os períodos são algo subjetivo, na medida em que a realidade não está mesmo dividida; os
períodos têm semelhanças entre si.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Fontes de Direito
Mores Maiorum (conjunto de regras não escritas, tradição de uma comprovada
moralidade dos romanos)
Interpetatio dos sacerdotes pontífices
Jurisprudência
Generalidades
Roma era uma pequena cidade da península itálica como qualquer outra da
Antiguidade Clássica, situada à margem da história que então se fazia em torno da
Grécia e dos Povos do Mar. Os celtas invadiram Roma, destruindo-a. Os gregos
registaram essa destruição e a sua reconstrução.
Os romanos cedo foram influenciados pelos gregos e etruscos, desenvolvendo uma
especificidade típica na solução de conflitos resultantes de problemas cada vez mais
complexos dada a sistemática provocação da realidade envolvente. Ora, a criação
jurídica adequada para responder a estes novos conflitos requeria um ambiente
aberto, inconformado e inovador, longe da influência dos vizinhos etruscos.
Os factos saídos desta realidade, que era a romana no século VI a.C., provocaram
uma onda de choque que derruba os velhos princípios e hábitos instalados.
Surge uma crise política que contesta nas formas vigentes de decidir e de criar ius,
mas também uma revolução nas mentalidades e nos processos de julgar e de
obedecer.
Lex Canuleia – Até à Lex Canuleia de 450/455 a.C., os casamentos entre pessoas
dos dois grupos era proibido, tradição que ficou expressa na Lei das XII Tábuas. Isto
resultou na homogeneização da comunidade.
Relação de clientela
2
- Grupo de pessoas ou clã que compartilhavam o mesmo nome de família. -Os diferentes
ramos da mesma gente tinham um sobrenome comum. (Por exemplo, o Cornélia incluía os
Cornélios Cipiões, Cornélios Balbos, Cornélios Lêntulos, etc)
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Organizados em gentes unidas por cultos comuns, os patrícios tinham uma primitiva
organização comunitária da terra, que foram perdendo com a institucionalização da
propriedade privada3
Família
A família, formada por indivíduos unidos por laços sanguíneos (cognatio), é a célula
básica da sociedade.
Em Roma, a família é também a unidade básica da organização social romana.
Contudo, a noção de família tem um significado completamente diferente em Roma
(uma noção mais abrangente da de hoje em dia).
3
Todos os indivíduos tinham direito à propriedade privada
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Pater famílias
o Determina quem pertence ou não à família;
o O seu poder não cessa com a morte, devido ao caráter progressivamente
institucional dos laços familiares;
o Tem poder de vida e de morte sobre os membros da família;
o Representa a família (se existir um litígio entre um filho, um filii famílias, e outro
membro da sociedade romana, é o pai de família quem representa o filho em
tribunal);
o Decidia a admissão de novos membros e a saída dos que estão na família4;
o Cuida dos sacro familiae5
o É absolutamente livre de dispor, quer em vida quer por testamento, dos bens
integrados no património da família (se um membro da família receber um bem,
a titularidade desse bem é do pater).
Infantaria – integrada por plebeus pédites, integrava cerca de 170 cúrias, divididas em
cinco classes, cada uma delas com uma centúria de seniores (homens entre os 45 e
os 60 anos) e outra iuniores (homens dos 18 aos 44 anos).
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
O sistema de inscrição para a cidadania era feito pela propriedade dos bens. Os
proletarii eram capite censi, isto é, recenseados como pessoas, não como
proprietários. Apesar disso, foi necessário organizá-los em cinco centúrias que foram
agregadas às classes existentes: tubicines, cornicines, fabri aerari, fabri tignari,
accensi.
Rei Túlio
Reorganizou a comunidade política romana, assente na cidadania, com base no censo
(na riqueza das famílias).
No primeiro período do Rex e das gentes, o censo era determinado sobretudo pela
propriedade do património imobiliário, já nesta nova organização política
aproveitou as velhas estruturas constitucionais, mantendo as centúrias não só como
unidades territoriais de recrutamento militar, mas também como unidades de voto nos
comícios.
Por outro lado, Roma mantinha a predominância dos mais velhos na vida política,
acreditando que a sua experiência de vida manifestada como Prudentia era
fundamental para o acerto das decisões coletivas. A igualdade orgânico-institucional
entre seniores e iuniores permitia aos velhos, em menor número, uma capacidade de
garantir a unidade de voto (quanto menor for o número de membros de uma centúria,
maior a possibilidade de alguns influenciarem todos).
Antes
Depois
Determinados pela pertença a
Determinados pela riqueza e pela
uma das gentes patrícias de
propriedade fundiária.
origem.
O rex
Titular do:
o Imperium militae – para defender militarmente Roma; podia delegar poderes
no magíster populi (para chefiar o exército), no magíster equitum (para
comandar a cavalaria), nos questores parricidii (para perseguirem e
reprimirem os crimes mais graves).
o Imperium domi – para administrar a cidade; permitia ao rei resolver aspetos
da vida coletiva na relação das pessoas com a comunidade e dirimir os litígios
entre as pessoas, nomeadamente através da aplicação das leges regiae que
eram o resultado da formalização das regras consuetudinárias ordenadas pelo
rei - Os comitia Curiata votavam as propostas de lei do rei, que depois de
votadas favoravelmente vigoravam como leges regiae; As regras
consuetudinárias ordenadas pelo Rei necessitavam assim de aprovação da
Comitia Curiata.
o Poder de mediação divina7 - expressa a vontade dos deuses aos governados.
A vontade dos deuses é dada por um auspício.
7
Base do poder político do Rex - O carácter sagrado da realeza e o poder religioso que
detinha o seu titular era tão forte que depois do processo que separou o jurídico e o político do
religioso em Roma, culminando com o fim da monarquia, permaneceu o rex sacrum que não
tinha poderes políticos, militares ou jurisdicionais, mas detinha o poder religioso com grande
prestígio na comunidade.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
O Rei de Roma não era eleito em processo político normal nem designado pelo
predecessor, ou aclamado pelos soldados; mas escolhido pelos deuses que revelam
a sua escolha através de sinais, nomeadamente o voo das aves (auguratio), ao
interrex, que indicava o nome do escolhido e isso era respeitado pelos membros da
comitia curiata no suffragium, como aponta a lex curiata de imperio. O rei era depois
empossado nos seus poderes de imperium com a autorização do Senado.
Quando o rei morria, o seu poder sagrado de ler os auspícios ia para o Senado,
como assembleia de anciãos com poderes de aconselhamento ao rei, que elegia
entre os seus membros um interrex pelo prazo de cinco dias8. Era o interrex que,
lendo os auspícios, indicava o nome do novo rei, entre os senadores, a propor
aos comita curiata. Submetida a votação, nesse órgão, o nome proposto era
aprovado (creatio - Apresentação de um nome indicado pelos deuses) procedendo-
se seguidamente à inauguratia, que era uma cerimónia religiosa de aceitação,
pelos deuses, do novo rex e uma investidura nos poderes sagrados supremos e
no poder político soberano.
Assim, o fundamento do poder político e militar do rex era mágico e religioso, sendo o
cargo vitalício.
O Senado
O Senado era o órgão que representava o patriciado, isto é, a aristocracia romana. Era
uma assembleia aristocrática, visto que os plebeus não podiam fazer parte do senado.
Os plebeus foram admitidos ao senado ainda na monarquia, mas tiveram entrada
definitiva em 312 a.C. pela lex Ovinia.
- Competências do Senado no período da monarquia:
a) Interregnum (forma de garantir a continuidade dos auspicia durante o interregnum
existente entre a morte de um rei e a proclamação do sucessor pela “lex curiata de
império”);
Na Monarquia primitiva, o Senado era apenas uma assembleia constituída por aqueles
que o rei consideravam serem os paters das famílias patrícias mais prestigiadas.
No reinado de Tarquínio Prisco, existiam cerca de 100 membros e depois passarem a
ser 300 membros pois a seleção dos paters passa a caber a um magistrado - o
8
Se os deuses não se pronunciassem nesse prazo, o Senado elegia outro interrex pelo mesmo
prazo de cinco dias e assim por diante.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
censor. Para o censor, o critério para pertencer ao Senado deixa de ser o prestígio,
passando a ser a propriedade latifundiária (o que privilegia os mais ricos).
Este aumento significante de membros do Senado teve como consequência a
diminuição da autoridade e do prestígio do Senado, não só no plano social como
na relação política com o rei (acentuando a sua natureza de órgão meramente
consultivo).
A importância crescente de Roma na península itálica, o incremento do comércio e a
teia de relações sociais gerada com ele implicou um reforço da importância política da
aristocracia romana. O efeito foi acrescentar ao interregnum, competência exercida
pelo Senado, a possibilidade de este órgão ratificar as decisões da plebe tomadas
nos comitia curiata, cobrindo-as, ou não, com a sua auctoritas.
Comitia curiata9
Curia significa reunião entre homens. Comitia Curiata significa assembleia de homens.
Os comitium curiatum eram um órgão que resumia todo o povo de Roma. Os concilia
plebis reuniam apenas a plebe romana.
A cidadania estava dividida, desde Rómulo, em três tribos: os Ramnes; os Tities e
Luceres, chefiadas por um tribuno. Cada tribo integrava 10 cúrias, chefiadas por um
curião e cada cúria estava subdividida em 10 decúrias, cada uma delas chefiada por
um decurião. Cada cúria fornecia ao exército uma centuria peditum (100 soldados de
infantaria) e uma decuria equitum (10 cavaleiros). Só com Sérvio Túlio as três tribos
originárias foram submetidas por nove10, organizadas por critérios geográficos.
Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria eram, via de regra, de ordem
familiar e de linhagem.
Rei
3 tribos
30 cúrias
300 decúrias
NOTA: prof. Vera-Cruz adere à tese que apoia a não-participação dos plebeus, pois só
assim faz sentido a sua luta intensa.
10
O cidadão proprietário de um fundo rústico era inscrito na tribo a que pertencia o distrito rural
onde estava situado o fundo.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
a) Os atos normativos eram propostos pelo rei, aprovados ou não pelo populus
reunido em comício e depois eram sujeitos à auctoritas patrum do Senado. As
leis propostas pelo rei que fossem aprovadas, vigoravam como leges regiae;
b) Aprovação do nome do futuro rei de Roma proposto pelo interrex;
c) Segunda votação para o reconhecimento e dar a posse ao novo rex os poderes
de imperium (lex curiata de imperium). A lex curiata de imperium fixa um
nexo de ligação entre rex e populus, correspondendo a uma estrutura de civitas
que já não bastava a indicação do novo rei pelo Senado para legitimar o rei nos
seus poderes.
d) Os comitia curiata limitam-se apenas a concordar ou não com as soluções dos
magistrados, relevando o poder absoluto do rex na criação de soluções e na
tomada de decisões e uma falta de autonomia decisória dos membros (o
povo não tem poder de iniciativa) [A haver alguma intervenção decisiva dos
comitia curiata nas soluções políticas e jurídicas durante a monarquia, esta
deveria ser expressa não por uma deliberação mas por um ato de adesão ou
rejeição (sim ou não) a uma pergunta feita pelo magistrado. É o magistrado
que determina o conteúdo da solução e assembleia limita-se a aceitá-la
ou não.] - Só com a Lex Valeria de provocatione, em 300 a.C., foi possível a
esta assembleia intervir, a pedido do condenado, para comutar a pena de
morte em pena de auxílio. Instituição: Provocatio ad populum.
e) Os comitia curiata eram também importantes na formulação de regras
concretizadoras dos mores maiorum, no que diz respeito às relações
intersubjectivas e na disciplina normativa dos negócios.
Os collegia sacerdotalia
Os collegia sacerdotalia não podem ser considerados um órgão do governo quiritário
do período monárquico de Roma, mas eram uma importante instituição com forte
poder de influência sobre as decisões políticas.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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conjunto de regras resultantes da interpretatio feita pelos sacerdotes das regras divinas e dos
mores maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium, do ius naturale e do ius
honorarium como elemento constitutivo.
12
Na antiguidade clássica o Dto confundia-se com a religião. Reis e legisladores recebiam dos
deuses as normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável que apenas um restrito grupo
de pessoas pudesse exercer a intermediação entre os homens e os deuses.
Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as normas jurídicas – ius.
O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos deuses aos seus reis ou
sacerdotes. Este representa uma regra ideal de vida que não é sequer contestada, porque foi
criada pelos deuses.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex humana.
O ius resulta do fas;
O ius corresponde a um conjunto de convenções humanas cuja legitimidade e obrigatoriedade
assentam no fas;
O ius é de construção progressiva e procura nos mores maiorum a inspiração e critério para a
interpretatio do fas que está na sua base criadora.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Auguria Auspicia
2. Nos finais do século VI a.C., Lúcio Bruto e Lúcio Colatino – são eleitos
primeiros cônsules - com o apoio dos romanos expulsaram de Roma e
passaram a ser governados por chefes por ano: cônsules
a) O poder vitalício e monocrático dos reis nunca mais foi admitido pelos romanos
Em 504 a.C., a derrota de Arunte, na batalha de Aricia, frente aos gregos de Coma fez
a situação etrusca perder a sua hegemonia, o que desfavorecia a economia romana.
Por isso, a situação dos plebeus é também desfavorecida, visto que, como detentores
do poder do comércio, vêem-se obrigados a regressar ao trabalho agrícola
subordinados aos patrícios.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Luta pela igualdade política e pela paridade face ao Direito, visto que os
plebeus tinham liberdade e cidadania na civitas romana, mas eram privados de
poder e eram considerados de condição inferior.
Surgiu então a Lei da XII Tábuas, que prevalecia sobre as questões do Direito Privado
e resolvia de forma indiscriminada os “conflitos”, tanto entre plebeus como entre
patrícios.
13
Objetivo de positivar os mores maiorum, instituindo um Ius Humanum
14
Queriam sair do Ius Divino (interpretatio) e entrar na criação do próprio Ius (Ius Romano),
feito pelos homens. Deixar de estar tão dependente dos prudentes e da sua interpretação, que
era sempre favorável aos patrícios
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
A publicação da Lei das XII Tábuas, em 450 a.C., permite uma maior segurança das
partes, maior estabilidade normativa e segurança, bem como o conhecimento
geral dos fundamentos que levaram às soluções das sentenças, permitindo
criticá-las.
Mais importante norma de Direito Privado positivada na Lei das XII Tábuas:
desmaterialização da obligatio; deixa de ser vínculo carnal para passar a ser
vínculo ideal entre credor e devedor, estruturado em torno de um sujeito que
está obrigado a dare, prestare ou facere face a outro sujeito.
A lei das XVII Tábuas representa a positivação dos mores maiorum. Até à lei das XVII
Tábuas, o direito romano é assente nos mores maiorum, essencialmente
consuetudinário - deriva do costume; comportamento repetido. Ao comportamento
deve se associar um pensamento subjetivo que é a convicção que se deve agir assim.
Estas leis são de extrema importância porque os plebeus ganharam uma exigência
contra os patrícios, a de carrear certeza e segurança para o Direito. Os princípios que
traduzem os mores maiorum estão positivados e assim acessíveis a todos o que
possibilita que estes sejam questionados. Agora qualquer pessoa pode interpretar o
direito, esse poder passa do sacerdote para o jurista. Isto traz estabilidade e
segurança.
Era necessário ainda que a aplicação das penas máximas não ficasse apenas no
arbítrio exercido pelos patrícios que exerciam as magistraturas, apesar das
características anuais, eletivas e duais das magistraturas. Por isso, foi criada uma
contra magistratura: o tribuno da plebe; e um instituto baseado na deliberação
popular: a provocatio ad populum.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Funciona como último recurso a pedido pelos cidadãos romanos, podendo ser
anulados ou confirmados pelos comitia.
Esta espécie de recurso nas penas mais graves revela que os romanos estabeleceram
as bases da criação jurídica (possibilitando a justiça pelo ius consagrado nas leges).
O tribuno da plebe
Em 509 a.C., Roma está mergulhada nesta instabilidade, e a plebe vai reivindicar um
representante que represente o que a plebe quer, para fazer valer a voz da plebe de
forma uniforme e coerente. Reivindicam a institucionalização de um representante
que, eleito em assembleia exclusivamente formada por plebeus, reivindicasse os seus
interesses. Este intervém junto dos cônsules e junto do senado - é o tribuno da plebe
– magistrado extraordinário que tem a função de salvaguardar os direitos e
interesses da plebe.
Não é eleito nos comitia curiata, nem nos comitia centuriata que integram patrícios e
plebeus, mas sim no concilia plebis, que é a única assembleia exclusivamente
composta por plebeus.
Tem o poder de intercessio – se havia uma medida que causava convulsão social,
esta medida podia sofrer intercessio - os dois cônsules também têm o poder de
intercessio. Pode ser exercido por iniciativa própria ou por sugestão alheia.
Só com a entrada dos plebeus na vida familiar patrícia e a sua participação nos
sacra, é que é possível a abertura dos auspicia aos plebeus. Ou seja, a
abertura de cargos políticos a plebeus através dos tribuni militum.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
O senado permite essa situação imposta, visto que podiam precisar dos
plebeus em situações de conflitos militares. A atribuição do imperium
consulare ao chefe militar, que podia ser um militar, tinha a vantagem de unir
os poderes supremos da política e da guerra.
Contudo, os tribuni militum não exerciam os auspicia, não sendo por isso um perigo
para a classe patrícia.
Não podiam nomear um colega minor (suffictio) para com ele exercer a
magistratura;
Foram aprovadas, em 367 a.C., as leges Liciniae Sextiae: São medidas legislativas
que têm um significado quase mítico no culminar do período de transição da
monarquia para a república, pois formalizam as reivindicações históricas dos
plebeus quanto à paridade que consideravam necessária para se sentirem
romanos em Roma.
São quatro principais Leges Liciniae Sextiae que terminam o período de transição da
monarquia para a república:
15
Vêm substituir o Tribuno Militium
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Os cidadãos do Populus
Fosse filho de pai romano e mãe estrangeira, desde que tivesse adquirido o
direito a casar-se com um cidadão romano.
As assembleias do Populus
b) Comitia centuriata;
c) Comitia tributa;
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Os comitia curiata
Os comitia centuriata
Criados por Servio Túlio no período monárquico. Apenas adquirem poder legislativo na
República, mantendo o poder militar.
Os comitia centuriata eram constituídos pela infantaria plebeia, reunida para tratar de
questões políticas.
São resultado de um poder crescente da plebe devido à sua valorização pelas suas
táticas cruciais nas batalhas em detrimento da cavalaria patrícia.
Durante as reformas de Sérvio Túlio, é-lhes atribuído às suas competências militares,
competências políticas de natureza fiscal e financeira.
Os comitia centuriata foram as mais importantes assembleias populares da República:
aprovam as leis, nomeiam os magistrados maiores e detêm o provocatio ad populum.
Confirmar os censores;
Os comitia tributa
Os concilia plebis
Votarem os plebiscitos;
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Lex publilia philonis (339 a.C.) – veio alterar a ordem do processo legislativo. A
ordem passa a ser esta: 1. Promolgatio. 2. Conciones. 3. Auctoritas patrum do
senado. 3. Rogatio. - Antes do magistrado convocar a assembleia e pedir a provação
da lei, ele vai ao senado pedir a auctoritas patrum. 4. Votação 5. Afixação
Isto vai enfraquecer o povo. A margem para dizer não vai diminuir.
A lei é um exercício que o povo a si mesmo se dá, mas não dispensa o equilíbrio do
poder de iniciativa do magistrado e de ratificação dos senados e da conformidades
com os costumes maiorum de roma.
As magistraturas do Populus
Ius suffragii;
Pertencer ao grupo dos plebeus ou patrícios – por exemplo, ao Tribuno
da plebe só acedem plebeus;
Ser cidadão romano – os estrangeiros eram designados de hostis, só
depois de Roma se expandir é que passaram a designar-se peregrinos;
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
a) Comandar os exércitos;
b) Convocar o senado;
d) Administrar a justiça.
Tipos de magistraturas
O imperium mais forte era aquele que correspondia ao que o rei exercia no comando
do exército centurial e foi disperso por ditadores, cônsules e pretores.
5.º Censores – eleitos por 5 anos, ainda que a sua função de organização do censo
ocupe apenas 18 meses; há 2 censores.
Magistraturas maiores:
Magistraturas menores:
Os magistrados menores, sem imperium, mas com potestas eram: o edil plebeu; o
edil curul e os questores.
Poderes inerentes à sua potestas: ius edicendi; ius agendi cum populo e cum plebe;
ius agendi cum patribus.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
As magistraturas extraordinárias:
Ditadura
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Tribuno da Plebe
Inicialmente, era eleito pelos comitia tributa, depois passou a ser eleito pelos concilia
plebis. Tinha imunidade absoluta e o direito de se opor às decisões de todos os outros
magistrados - intercessio. O tribuno da plebe acabou por constituir uma nova
aristocracia política, com um poder imenso que advinha dos efeitos da sua intercessio
na justiça civil e criminal.
Competências:
Cônsules
Consulado: associado à dignitas; o cargo não era renumerado, o que prevalecia era a
honra e o prestígio social. Era acessível apenas aos mais abonados - Patrícios
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Pretor/ Pretura
O pretor era um magistrado maior nomeado nos comícios centuriais a que o cônsul
presidia. O pretor encarregava-se de aplicar a justiça civil e de substituir o cônsul
nos seus impedimentos no governo da cidade. Era ele que convocava os comícios
para a eleição dos magistrados menores e apresentava propostas de lei para
aprovação aos comícios.
À medida que Roma vai expandido o seu território e a sua população vai aumentando,
também o número de litígios aumenta, pelo que se compreende que o número de
pretores também cresça. Passa a haver 6 pretores, depois 8 e depois organizam-se
em colégio.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
O Ius Praetorium
O pretor é o intérprete da lex, defensor, do ius e da justiça, interpretando o ius civile,
integrando as suas lacunas e corrigindo as suas aplicações injustas.
A maior parte do ius honorarium – direito criado pelos magistrados – é o ius
praetorium – direito criado pelo pretor.
Passa então a criar direito de uma forma direta, embora por via processual. Nos casos
não previstos no ius civile, o pretor concede uma actio própria (actio praetoria).
O pretor faz os seus decretos através de expedientes. Até 130 a.C., os expedientes
do pretor eram baseados no seu poder de imperium. Depois de 130 a.C., vai poder
resolver casos da vida baseados no seu poder de dizer o direito e, por isso, com
uma liberdade maior.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
O pretor presidia à fase in iure. Este apenas concedia ou não a actio, conforme o que
estava previsto no ius civile. Quanto muito podia interpretar as hipóteses de concessão
e de não concessão.
A fase in iure era determinante e, por isso, o pretor decidia todo o processo, dirigindo
uma ordem ao juiz para este proferir a sentença, num ou noutro sentido.
Na fase apudi iudicem, o iudex não diz o direito, mas sim aplica o direito, decide
conforme a ordem que foi dada pelo pretor.
O juiz julga mas não decide, quem decide é o pretor, pois este é que diz como é que o
caso vai ser resolvido em função da prova que foi produzida.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Para cada reivindicação passa a haver uma fórmula processual – ordem escrita dada
pelo pretor ao juiz para condenar ou absolver conforme se demonstra determinado
facto.
A fórmula esta dividida em várias partes:
A nomeação do juiz, que geralmente é nomeado pelas partes;
Indicação da pretensão do demarcante;
Cláusula que manda absolver ou condenar o reu, consoante a prova que vier a
ser decidida;
Qual é o estado da questão;
Condenação, que é a clausula que manda condenar ou absolver o demandado
consoante a fórmula que é produzida.
Os pretores vivem com a delicadeza e o escrúpulo de não abusar dos seus poderes
(honeste vivere), com a preocupação de não prejudicar ninguém (alterum non laedere)
e com a ânsia de atribuir a cada um o que é seu.
O ius praetorium ou honorarium forma um sistema diferente do ius civile, mas não o
pode alterar. O ius civile só pode ser alterado por uma das várias fontes conhecidas:
ou por uma lex, ou por um senatusconsultum, ou por uma constitutio principis ou
pela iurisprudentia. Completa o ius civile, sobretudo adaptando a estática do ius civile
à dinâmica das condições sociais e económicas, e concretamente o pretor obtém esse
resultado admirável de permanente adaptação, mediante expedientes seus, baseados
no seu imperium e na sua iurisdictio.
Censura
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
A censura era uma magistratura ordinária não permanente. Era ocupada de inicio por
patrícios. A lex Publia Philonis, de 339 a.C., veio obrigar a que um dos censores
fosse plebeu. A importância da censura reforça-se com o plebiscito Ovíneo, de 312
a.C., que institucionalizou como função do censor a nomeação dos senadores.
O Senado
O senado manteve-se na república como um dos mais importantes órgãos. Agora não
como estrutura representativa da classe patrícia, mas como assembleia política da
aristocracia romana, patrícia e plebeia. Faziam parte do Senado os antigos
magistrados, como por exemplo ex cônsules e ex pretores com enorme sabedoria e
influência.
O senado garantia a Roma estabilidade, continuidade institucional e conhecimentos
suficientes para orientar as magistraturas e a vontade popular.
Competências do Senado:
Política externa;
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Estava aberto o caminho para um regime que concentrava todos os poderes nas
mãos de um homem só: o princeps/imperator/augustus.
Augusto usava o título de imperator para significar que era ele o titular do poder
único e os poderes supremos eram só dele.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
23 A.C: Renuncia o consulado e recebe dos comitia plebis, com caráter vitalício, a
tribunícia potestas e recebe dos comitia centuriata o imperium proconsulare maius por
10 anos. Constantes renovações também transformaram este em vitalício.
A inviolabilidade (sacrosanctitas);
O direito de veto sobre as deliberações de todos os magistrados (ius
intercessionis);
O direito de convocar o senado e as assembleias populares;
Realizar intercessio;
O direito de apresentar propostas de lei, tanto num como noutras.
Senado
O Senado é fortalecido, através do estabelecimento de uma idade mínima para se
ascender ao Senado e de um número limite de senadores; também passou a gerir o
cúlio – importante para a expansão de Roma.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Cônsules
Os cônsules continuam a administrar a cidade, mas como o princeps tem poder de
intercessio, estes passam a vincular-se aquilo que o princeps quer, ou seja, perdem a
sua liberdade e autonomia.
Censores
Foram abolidos, passa a ser o prínceps a propor os nomes dos integrantes ao senado.
Pretores
Os pretores vão resistir mais tempo, pois o seu trabalho é mais técnico.
Tribuno da plebe
Este magistrado extraordinário perde toda a sua importância, pois o prínceps tem
exatamente as mesmas funções que ele tinha.
Assembleias populares
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Começam a perder a função legislativa para o senado; os homens mais válidos estão
a combater na legião romana, pelo que a sua composição está desfasada, o que as
enfraquece.
Jurisprudência
Considerações gerais
A interpretatio do ius civile era considerada, no início de Roma, uma atividade em
monopólio exclusivo dos pontífices e situava-se no âmbito religioso.
Só no séc. III a.C. se iniciou o processo de racionalização progressiva da
iurisprudentia, libertando-se da imposição religiosa que a caracterizava, num processo
designado, normalmente, como laicização/secularização da jurisprudência.
Não é escrito o pensar do direito por muito tempo, era explicado e pensado na praça
pública, não é reduzido a escrito em livro; vai ser, mas mais tardiamente na época
cristã.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Ius Flavianum
Em 304 a.C., Cneu Flávio, escravo escriba de um sacerdote pontífice chamado Ápio
Cláudio, publicitou uma coleção de fórmulas processuais das legis actiones, revelando
o segredo bem guardado pelos pontífices do processo seguido na tramitação das
actiones.
Esta coleção ou recolha de fórmulas processuais no âmbito do processo per legis
actiones ficou conhecida como ius Flavianum e permitiu a Cneu ocupar os cargos de
tribuno da plebe e de edil curul. Já magistrado, Flávio publicitou no fórum o calendário
religioso, fazendo desabar um dos últimos segredos dos pontífices, fonte do seu poder
incontestado.
Tendo o ius Flavianum revelado fórmulas processuais e o calendário com os dias
fastos e nefastos, para a coleção de ações, considera-se ser esta uma das etapas
mais importantes para o fim do monopólio pontifício e do domínio do sagrado no
âmbito da criação, interpretação e aplicação do Direito em Roma.
O ensino do Direito
O primeiro plebeu que conseguiu aceder ao cargo de pontifex maximus foi Tibério
Coruncâneo, em 253 a.C. Consciente da importância da transmissão dos
conhecimentos por ele obtido na irreversibilidade das reformas que publicitaram as
regras aplicáveis e abriram o Olímpio pontifício aos plebeus, começa a ensinar Direito
em público.
Fá-lo enquanto responde publicamente às questões que lhe são colocadas na
qualidade de pontifex maximus. Assim, os commentarii pontificum deixam de ser de
acesso exclusivo dos pontífices, passando a ser de acesso livre. Todo aquele que
quisesse aprender Direito podia assistir às consultas de Tibério Coruncâneo.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
PERIODIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
Época arcaica (754 a.C. – 367 a.C.)
A época arcaica decorre da fundação de Roma, até às leis liciniae Sextiae que deram
permissão aos plebeus para se candidatarem a cônsules.
Neste período é formada a civitas quiritaria, com um direito rudimentar de base
consuetudinária e interpretação religiosa. É nesta fase que se começam a desenhar,
ainda que de forma apenas pré-embrionária, as principais instituições e os institutos do
ius romanum.
Com a Lei da XII Tábuas e a sua implantação na resolução de conflitos surgem os
institutos jurídicos e a base concetualizadora do ius civile.
Com a abertura do colégio pontifício aos plebeus; a divulgação das fórmulas e regras
processuais dos sacerdotes por Tibério Caruncânio, tornando público o modo de
proceder à interpretatio das regras do ius civile, com a positivação das regras
fundamentais na Lei das XII Tábuas; com o ensino público do Direito, a jurisprudência
passa a desenvolver-se com bases racionais como uma atividade das mais nobres
que se podia aspirar.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
A atividade dos jurisprudentes vai sendo cada vez mais narrativa, sistematizadora,
investigativa e divulgadora, com sacrifício do livre exercício de respondere.
Augusto fez passar com êxito a ideia de que o sistema republicano não era o mais
adequado para a manutenção do Império e a expansão romana, também garantiu a
aceitação pelos romanos de um controlo indireto da iurisprudentia com a explicação de
que a proliferação de jurisprudentes e a dispersão de soluções dadas no fórum
colocava em risco a segurança e o acerto de sentenças. Deixou entender que só
intervinha, a contragosto, pela necessidade de colocar em ordem a iurisprudentia,
salvando-a assim dos jurisprudentes e no sentido de a revalorizar e melhorar o seu
funcionamento.
Para isso, criou o ius publice respondendi, como uma concessão dada por ele a
certos jurisprudentes que servia como condição de acesso da solução do jurisprudente
à sentença a proferir pelo juiz com utilidade para a parte que o consultava.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Uma vez instituído o processo, os jurisprudentes fariam tudo para agradar ao princeps.
Isto é, opiniões dotadas de imperium que só passavam pelo iudex para respeitar uma
praxe constitucional. Iudex que mediatizava na forma, mas não tinha qualquer
intervenção no conteúdo das sentenças assim expressas.
Augusto ordenou que as respostas ou pareceres dos jurisprudentes com ius publice
respondendi fossem enviadas para o iudex em tábuas fechadas e seladas, com o
pretexto de não haver possibilidade de deturpações ou desvirtuamentos
interpretativos. Ora, a integridade e autenticidade das responsa eram valores menores
a salvaguardar que a publicidade e abertura da atividade de respondere. Ao tornar
secreta a atividade jurisprudente que conduz à decisão do iudex, o princeps garante a
possibilidade de manipulação da sentença. Os procedimentos experimentados aqui
nas responsae autorizadas destes jurisprudentes servirão mais tarde de modelo ao iter
formativo dos rescripta do imperador. Não era só o secretismo agora reinstaurado que
correspondia a um retrocesso imenso na iurisprudentia romana. Era também o
regresso do monopólio efetivo da interpretatio jurídica por um conjunto limitado de
membros da aristocracia senatorial. As responsa dos jurisprudentes dotados de ius
publice respondendi não eram fonte imediata de direito, nem tinham características de
generalidade e abstração.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
É um motivo político, para além do motivo jurídico de decidir quem tem razão.
Constituições imperiais
Constitutiones principum vieram substituir as decreta principum.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
NO BAIXO IMPÉRIO
A partir do séc. IV, as constituições imperiais são a única fonte de direito. Só o
imperador é que tem o poder de criar leis. O imperador já era considerado dominus
et deus do império. Este ius novum, contrapõe-se ao ius. O ius é superior às leges
em matéria de dto privado; as leges são superiores ao ius em matéria de dto
constitucional e administrativo.
Senatusconsultum
Etimologicamente, o conceito de «senatusconsultum», significava, inicialmente,
uma consulta feita ao senado. Visto que, no período da Monarquia, os
magistrados consultavam o senado para a resolução de certo tipo de
problemas, ainda que não estivessem vinculados a aceitar a sua opinião. No
entanto, as opiniões do senado foram ganhando relevância ao longo dos
tempos, e o seu significado sofreu uma alteração para decisão do senado.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Até ao séc. I a.C., quando o senado ainda era um mero órgão consultivo, cabia-lhe
apenas conceder ou não a «auctoritas patrum» às leis comiciais e recomendar aos
magistrados que tinham «ius agendi cum populo» algumas medidas, que depois
seriam votadas nos comícios. Após a data referida anteriormente, os senatusconsultos
tornam-se fonte mediata de direito, principalmente através do edicto do pretor, que
tinha «actio» e ter «actio» é ter «ius», logo através do edicto do pretor, os
senatusconsultos passaram a ser fonte do «ius».
Durante este período, o povo não reconhecia o senado, como fonte mediata de direito,
mas sim como fonte imediata (função que cabia ao edicto), ou seja, que podia legislar.
Assim, já nos fins do período da República, o senado aproveita o ambiente de
confiança que o povo lhe deposita, para criar direito novo, sem o intermediário do
pretor ou dos comícios.
O grande período de prosperidade dos senatusconsultos verifica-se desde o início do
Principado, em que estes já eram reconhecidos como fontes imediatas de direito. O
primeiro senatusconsulto, com força de lei, foi criado no ano 4 a.C. e tratava de
matéria processual. No ano de 10 d.C, surge o primeiro senatusconsulto com força
legislativa, sobre o direito substantivo, os « senatusconsultum Silanianum”. Os
«senatusconsultum Silanianum» tinham o fim de reprimir os assassínios de
proprietários, cometidos pelos escravos.
A estrutura formal do «senatusconsultum» era constituída pela «praefatio» e pela
«relatio». O primeiro continha o nome do magistrado convocador e dos senadores que
de alguma forma participaram na redação da proposta; e a data e o local em que se
celebrou a reunião do senado. O «relatio» relata os motivos, proposta apresentada, a
sentença, a resolução e/ou a decisão aprovada.
Em princípios do séc. II d.C, o poder do imperador Adriano retirou o poder do senado
de estabelecer as normas, conferindo agora esse poder exclusivamente ao próprio
imperador. O «princeps» fazia a «oratio» onde propunha ao senado o projeto de um
«senatusconsultum», e o senado aprovava automaticamente tal proposta, sem se
debater contra ela. Os senatusconsultos passam, apenas, a ser a expressão da
vontade do «princeps» («orationes principis in senatu habitae»).
No final do séc. II, é a própria «oratio» do imperador que estabelece as leis, perdendo
o seu carácter de proposta apresentada ao senado, para adquirir o carácter de edicto
do imperador.
«Senatusconsultum velleianum»
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
«Senatusconsultum neronianum»
«Senatusconsultum macedonianum»
Data do ano de 75 d.C. (?), e tem especial importância no Código Gregoriano, nas
«Pauli Sententiae», no Digesto do «Corpus Iuris Civilis» e no Código Justiniano.
Tem a designação de «macedonianum», devido a um anónimo chamado
Macedónio que teve um comportamento escandaloso. Macedónio, cometera as
maiores imoralidades, incluindo o próprio homicídio do seu «pater», devido ao
dinheiro que dispunha e obtinha através de empréstimos, que o endividaram de tal
forma, que a morte do seu «pater» seria única maneira de herdar os seus bens,
para que pudesse saldar as dívidas.
BINÓMIOS
Ius/fas
Na antiguidade clássica o Direito confundia-se com a religião. Reis e legisladores
recebiam dos deuses, as normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável
que apenas um restrito grupo de pessoas pudesse exercer a intermediação entre
os homens e os deuses.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex humana.
Para Ulpiano, o que separa umas normas das outras é a utilitas: o dto público é
criado e aplicado para servir a entidade pública; e o dto privado é o que é útil para
os interesses das pessoas singulares.
Diversidade de fontes:
No ius civile: os atos legislativos e a interpretatio dos jurisprudentes. No
ius honorarium (ius praetorium): os atos do pretor no exercício da sua
iurisdictio e do seu imperium.
ius praetorium, é um conjunto “normativo” mais completo, sistematizado,
integrado e eficaz que o ius civile.
ius honorarium é todo o ius Romanum não-civile. É o dto criado pelo
edictos de: pretores urbanos; pretores peregrinos, edis curuís e
governadores de província.
O ius honorarium é um dto criado por magistrados e o ius civile é um dto derivado no
populus na interpretação dos jurisprudentes.
Numa concepção ampla de ius civile, cabe, no entanto, o ius honorarium que o toma
como referência e é fonte da sua renovação e complementos.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
A ação do pretor permite integrar, corrigir, adaptar e preencher o ius civile, em dois
momentos:
No exercício do ius edicendi quando define no ius perpetuum as normas
que seguirá na sua actuação usando o imperium;
No momento da sua aplicação, no âmbito da iurisdictio, com recurso à
aequitas.
Nas suas institutas, Gaio separa o direito escrito do direito não escrito. Nas
institutas de Justiniano, o direito escrito é todo o que pode ser consultado em
textos escritos fixados pelos órgãos competentes, com carácter permanente. O
direito não escrito integra os costumes e as decisões dos magistrados para casos
concretos.
Iustitia/aequitas
Em Roma, quando uma norma de dto positivo era considerada injusta, a
jusrisprudência invocava uma regra de ius que dissesse in casi, concretizando a
justiça. Essa regra estabelece a justiça como finalidade do ius para criticar
fundamentadadmente a opção normativa do legislador, que dela se afasta.. tal
regra do ius revela a sua utilidade e eficácia quando a norma de direito positivo é
afstada, porque injusta.
O jurisprudentes não podem prescindir da iustitia. São eles que mantêm presente
a justiça através a aequitas.
A resolução dos casos com soluções justas pela aplicação do ius não era uma
actividade empírica feita por homens virtuosos, nem uma necessidade social, mas
uma construção jurisprudencial racionalizada e conceptualmente dirigida ao fim
visado.
Beneficium/privilegium
O privilegium afasta a equidade do caso concreto, para permitir uma aplicação
discricionária da norma a pessoa certa ou a pessoas determinadas, a favor ou
contra elas.
Desde a Lei da XII Tábuas até Cícero, o privilégio é repudiado pelos romanos.
Auctoritas/imperium
O ius é uma força que necessita de auctoritas, para poder ser válido e eficaz. A
auctoritas é necessária tanto na criação como na aplicação. O imperium está em
Roma mais ligado ao momento de aplicação. O ius é criado pela auctoritas dos
jurisprudentes e aplicado com o imperium dos magistrados (pretor).
O imperium continha:
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
Iurisdictio/lex
A iurisdictio passou a ser o poder supremo de declarar a existência de um direito
que podia ser exercido perante um juiz; ou negar a sua existência tal como era
invocado pelo interessado.
Também os questores podia exercer iurisdictio nos processos criminais . A lex era
toda a norma jurídica escrita que podia ser lida (uma declaração solene com valor
normativo emitida por um órgão “constitucional” com competência e legitimidade
para a fazer. A primitiva lex privata cria ius privatum e a lex rogata cria ius com
base num acorde entre o magistrado, que propõe, e o povo que aprova.
A lex pode ser considerada uma sponcio communis, que vincula o magistrado e o
Populus.
Fases do Costume:
1ª fase: 1ª etapa da época arcaica (753-242 a.C).
- antes da Lei das XII tábuas, os mores maiorum eram a única fonte do ius
romanum.
- depois da Lei das XII Tábuas, os mores maiorum ainda continuam como fonte
importante do ius romanum, sobretudo em matérias de Dto Público. Quanto ao Dto
privado, agora a lei fundamental é a Lei das XII Tábuas.
2ª fase: 2ª etapa da época arcaica até à época clássica (242 a.C – 230 d.C)
- nesta fase, o costume, como fonte do ius romanum, em matéria de Dto privado
resume-se a um mínimo; no Público, prossegue, especialmente em matéria de
Direito Constitucional e Dto administrativo).
A lei da XII Tábuas é o documento de maior relevo do Dto antigo. Teve origem
nas reivindicações jurídicas dos plebeus. Estes exigiam uma lei escrita, que não
provocasse injustiça e desigualdades, o que acontecia com a interpretatio feita
pelos sacerdotes-pontífices, dos mores maiorum.
É enviada à Grécia, em 452 a.C., uma comissão de três homens com a finalidade
de estudar as leis de Solón. Em 451 a.C., o povo reunido nos comícios das cúrias
nomeia uma magistratura extraordinária, composta por dez cidadãos patrícios.
Estes, durante um ano, gozariam de plenos poderes, mas teriam de fazer o tão
desejoso código, e assim aconteceu. Redigiram 10 Tábuas que foram aprovadas
pelos comícios das centúrias.
Como essas 10 Tábuas não era suficientes, foi constituído para o ano seguinte um
novo decenvirato – formado por patrícios e plebeus – para que terminasse o
código. Este decenvirato, elaborou as últimas 2 Tábuas, mas governaram com
profundo desagrado do povo. Terminado o prazo do seu mandato, não queriam
abandonar o poder. Tiveram de ser expulsos por uma revolta popular.
Para o ano de 449 a.C. foram eleitos pelo povo, já duma forma normal, os dois
cônsules, Valério e Horácio. Estes, sem atenderem ao descontentamento que
tinha havido por parte do Populus, mandaram fixar no Forum as XII Tábuas.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO
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