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DIREITO Romano

Matilde de Alves Barata

2020 / 2021

Professor regente:
Susana videira

Contextualização
RESUMOS DE DIREITO ROMANO

“A lei é algo que o povo a si mesmo se dá” - a lei não é imposta por alguém e os
destinatários devem submeter-se a essas ordens normativas; são aprovadas pelo
povo que cumpre as disposições normativas que a si próprio se deu.

Como é que um Direito que começou a ser forjado algures no século VIII A.C.
(753 a.c.) chegou até ao século XXI?
Se não tivesse havido sucessivos momentos de interesse pelo Direito Romano, ele
dificilmente teria chegado aos dias de hoje.

Vamos estudar o Direito Romano, tendo sempre em conta a sociedade e a


organização política de Roma, focando-nos em quatro períodos de Roma1:
1. Monarquia (período do Rex e das Gentes) que vai de 753 a 509 a.C.
2. Período de transição (período das Magistraturas) - 509-307 a.C.
3. República - 367- 27 a.C.
4. Principado - 27 a.C. - 285 (d.C.)
5. Dominado - 285 - 395 (d.C.)

Primeiro período: roma do rex e das gentes / monarquia (753-509 a.c.)

Como designar este período da História do Direito Romano?


Este período é designado como o período do Rex e das gentes porque são as duas
instituições que marcam a criação jurídica primitiva dos romanos.
No topo da pirâmide hierárquica das estruturas religiosas, políticas e militares
romanas, estava um Rex. A repartição da população em duas classes, os patrícios e
os plebeus, obedecia a um sistema piramidal com 10 cúrias por tribo, 3 tribos e 1 rei
que determinava os outros poderes. As gentes marcavam a organização social,
política e militar de Roma, determinando a forma e o conteúdo nas normas e das
soluções do Direito.

Rex

Patrícios Plebeus

Organização política
Rei Poder supremo
Senado Representa os patrícios

1
Os períodos são algo subjetivo, na medida em que a realidade não está mesmo dividida; os
períodos têm semelhanças entre si.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Comícios Representa o povo

Relevância do elemento social na organização de Roma


Desigualdade no reconhecimento de direitos e deveres entre patrícios e plebeus.

Fontes de Direito
 Mores Maiorum (conjunto de regras não escritas, tradição de uma comprovada
moralidade dos romanos)
 Interpetatio dos sacerdotes pontífices
 Jurisprudência

Generalidades
Roma era uma pequena cidade da península itálica como qualquer outra da
Antiguidade Clássica, situada à margem da história que então se fazia em torno da
Grécia e dos Povos do Mar. Os celtas invadiram Roma, destruindo-a. Os gregos
registaram essa destruição e a sua reconstrução.
Os romanos cedo foram influenciados pelos gregos e etruscos, desenvolvendo uma
especificidade típica na solução de conflitos resultantes de problemas cada vez mais
complexos dada a sistemática provocação da realidade envolvente. Ora, a criação
jurídica adequada para responder a estes novos conflitos requeria um ambiente
aberto, inconformado e inovador, longe da influência dos vizinhos etruscos.
Os factos saídos desta realidade, que era a romana no século VI a.C., provocaram
uma onda de choque que derruba os velhos princípios e hábitos instalados.
Surge uma crise política que contesta nas formas vigentes de decidir e de criar ius,
mas também uma revolução nas mentalidades e nos processos de julgar e de
obedecer.

Rómulo (fundador de roma); Numa Tinham respeito pelas instituições –


Pompílio; Túlio Oistílio; Anco Marzio assembleias populares e Senado

Tarquínio prisco (nobre etrusco; tutor Destrói as instituições políticas e passa


dos filhos de anco marzio; usurpou o a governar como um rei absoluto
poder)

Sérvio túlio (cidadão romano ligado por Introduziu reformas no sentido da


laços de família à dinastia etrusca). reinstitucionalização do poder político

Reintroduz o poder absoluto e anula as


Tarquínio,
Foi Sérvio o soberbo
Túlio que criou os comitia curiata e centuriata.
reformas anteriormente introduzidas
Foi o carácter absoluto, tirano e arbitrário da governação de Tarquínio, o soberbo, que
levou à conspiração palaciana promovida pelos nobres Bruto e Collatino, em 510 a.C.,
logo apoiados pela população romana.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Com esta revolta cai a Monarquia e inicia-se o período de transição para a


República.
É um longo processo de instabilidade política e social, com violência civil e tumultos
que só terminam com a pacificação conseguida através da admissão dos plebeus nas
magistraturas supremas, como o consulado, formalizada nas Leges Licinae Sextiae,
em 367 a.C.

Quais foram os efeitos provocados em Roma pela governação da dinastia


dos Tarquínios, de origem etrusca?
o Afastamento do titular do trono em relação à comunidade.
o A base religiosa e jurídica era fundada no culto etrusco da tríade: Júpiter, Juno
e Minerva bem como o hábito de recorrer às vísceras dos animais sujeitos a
sacrifícios rituais para prever o futuro e ações políticas e militares.
o Os grupos familiares agruparam-se às gentes2 mais fortes em busca de
proteção e estas aumentavam o seu poder com a junção de novos
terrenos e agregação de mais comunidades. A relação de pertença à gens
era exclusiva (só se podia pertencer a uma) e esse vínculo protetivo entre
a pessoa e a comunidade constituía uma espécie de pré cidadania.
o A intermediação etrusca permitiu uma adaptação específica das ideias e
costumes gregos a Roma, fundando uma forma de cultura de síntese,
separada das demais que a influenciaram.

Patrícios (aristocracia romana) Plebeus (plebe romana)

- Correspondem à minoria da população. - Correspondem à maioria da população.

- Classe que se dedica essencialmente à - Viviam separados e em relação de


exploração da terra (grandes latifundiários) – dependência aos patrícios
atividade segura. Integram a infantaria.
- Tem exclusivo acesso aos cargos públicos e
aos órgãos de poder político (nomeadamente,
ao Senado, o órgão de cúpula).
- Integram a cavalaria (base do exército)

Lex Canuleia – Até à Lex Canuleia de 450/455 a.C., os casamentos entre pessoas
dos dois grupos era proibido, tradição que ficou expressa na Lei das XII Tábuas. Isto
resultou na homogeneização da comunidade.

Relação de clientela
2
- Grupo de pessoas ou clã que compartilhavam o mesmo nome de família. -Os diferentes
ramos da mesma gente tinham um sobrenome comum. (Por exemplo, o Cornélia incluía os
Cornélios Cipiões, Cornélios Balbos, Cornélios Lêntulos, etc)
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Propriedades dos patrícios


podem ser:

Cuidadas diretamente através de familiares ou Concessão de iu precarium aos plebeus, que


escravos assim ficavam seus protegidos ou clientes

A relação de clientela é a relação entre o patrono, o patrício que tem a terra, e o


cliente (grupos subordinado à gens; constituído por pessoas expulsas de outros
grupos, pobres desamparados, pequenos proprietários rurais sem o suficiente para
subsistirem, estrangeiros sem esperança de retorno, etc; os clientes eram a fonte
principal do poder externo da gens); o patrono tem o dever de proteger o seu
cliente, que, por sua vez, tem dever de fidelidade e obediência. Se o cliente violar
os seus deveres de fidelidade, terá de pagar com a vida. Se o patrono violar em
termos gravosos o dever de proteção também pode pagar com a vida. O cliente pode
matá-lo sem ser punido por isso.

Formas de adquirir a condição de cliente


o Deditio – Submissão voluntária de um grupo familiar ou político a uma gens.
o Applicatio – Submissão de um estrangeiro à proteção da gens.
o Manumissio – Instituto pelo qual o escravo deixava de o ser.

A aproximação entre clientes e plebeus levou inicialmente a uma confusão e depois a


uma identificação entre ambos os grupos que, finalmente, aparecem como um só, com
a designação de Plebe.

Clientes + Plebeus = Plebe

Organizados em gentes unidas por cultos comuns, os patrícios tinham uma primitiva
organização comunitária da terra, que foram perdendo com a institucionalização da
propriedade privada3

Família
A família, formada por indivíduos unidos por laços sanguíneos (cognatio), é a célula
básica da sociedade.
Em Roma, a família é também a unidade básica da organização social romana.
Contudo, a noção de família tem um significado completamente diferente em Roma
(uma noção mais abrangente da de hoje em dia).

3
Todos os indivíduos tinham direito à propriedade privada
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Para os romanos, o que determina a pertença a uma determinada família não é


apenas a consanguinidade (cognatio), mas também a subordinação ao poder do
pai de família (visão patriarcal de família), o pater famílias (agnatio) e a ligação a
cultos religiosos específicos.
Assim, pertencem à família patriarcal romana não apenas os que têm com o pai de
família laços de consanguinidade, mas também os que estão subordinados ao seu
poder (potestas).
Em Roma, os escravos não são considerados pessoas (do ponto de vista jurídico são
“coisas”). Contudo, integravam a família patriarcal romana, na medida em que estão
sujeitos à autoridade do pater famílias.

Pater famílias
o Determina quem pertence ou não à família;
o O seu poder não cessa com a morte, devido ao caráter progressivamente
institucional dos laços familiares;
o Tem poder de vida e de morte sobre os membros da família;
o Representa a família (se existir um litígio entre um filho, um filii famílias, e outro
membro da sociedade romana, é o pai de família quem representa o filho em
tribunal);
o Decidia a admissão de novos membros e a saída dos que estão na família4;
o Cuida dos sacro familiae5
o É absolutamente livre de dispor, quer em vida quer por testamento, dos bens
integrados no património da família (se um membro da família receber um bem,
a titularidade desse bem é do pater).

Ora, a pressão plebeia foi debilitando as bases religiosas e políticas em que os


Tarquínios acentuavam o seu poder real, até à revolta de Bruto e de Callatino que
derruba a monarquia.
A partir daí a comunidade romana governada por magistrados com a Lei das XII
Tábuas, que regista a parte mais significativa dos mores maiorum6, passa a ter um
designante que lhe dá uma unidade face ao exterior e coesão interna: Populus
Romanus.

As características do ordenamento jurídico


Neste período a principal prioridade das comunidades era a defesa face aos ataques
externos. Daí que a organização política seja determinada por base militar.
Em Roma, a defesa da cidade ficaria garantida por um contingente de homens
treinados para o efeito. Só que a prosperidade económica e a política expansionista
4
Emancipatio – Negócio jurídico que permitia aos filius familiae romper todos os laços com a
família, adquirindo o estatuto de pessoa autónoma. Adrogatio – sucessão entre vivos em que
uma família inteira passava para a potestas de outro pater.
5
cultos religiosos específicos da família, diferente dos demais
6
Mores Maiorum – tradições de uma moralidade comprovada e aceite por todos; regras
costumeiras, usos para a respetiva convivência e organização social e política.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

etrusca levaram a um alargamento dos critérios de concessão da cidadania e à


criação de um exército diferente: maior e mais organizado.
Nessa nova organização militar, de influência grega trazida pelos etruscos, era a
infantaria (combatentes a pé) que detinha o papel principal sobrepondo-se à
cavalaria na decisão da batalha. Ora, esta alteração no militar decisivo, com a
transferência do poder efetivo da cavalaria para a infantaria, refletiu-se no plano
político, numa reivindicação do poder decisório da plebe, rompendo a hegemonia
patrícia. Daqui conclui-se que os patrícios viram a sua posição a denegrir em
detrimento da ascensão na sociedade dos plebeus.
Esta organização militar permitiu a Roma iniciar a sua expansão submetendo as
gentes latinas e introduzindo importantes reformas políticas internas.
A luta dos plebeus pela paridade na ocupação de cargos e pela igualdade no acesso
aos recursos tem agora condições para ser efetivada com fortes possibilidades de
vitória. A luta entre os dois grupos chegou a um impasse com os plebeus no
monte de Capitólio e os patrícios no monte Aventino.
Assim, o acesso e a ascensão política passam a ser também determinados pela
riqueza – censo – das pessoas e pelo prestígio das famílias assente em critérios de
natureza económica.
O exército de Roma continuou a ser denominado por centuriatos, porque manteve a
organização em centúria (grupos formados por 100 homens em caso de guerra), mas
a distribuição dos soldados e dos postos no interior de cada uma passa a ser feita com
base no censo, ou seja, com base na riqueza das famílias.

Cavalaria – onde se encontravam os patrícios, está dividida em 18 cúrias, seis das


quais denominadas sex suffragia.

Infantaria – integrada por plebeus pédites, integrava cerca de 170 cúrias, divididas em
cinco classes, cada uma delas com uma centúria de seniores (homens entre os 45 e
os 60 anos) e outra iuniores (homens dos 18 aos 44 anos).

Os escravos e os estrangeiros não eram considerados cidadãos e, por isso, estavam


privados de direitos.

Proletarii/Proletariado – pessoas cuja característica principal era gerar prole (filhos).


Não integravam o sistema político nem eram reguladas pelo ordenamento jurídico,
pois não tendo bens próprios não estavam recenseadas.
Plebe – compunha-se de pessoas que não descendiam dos pater famílias e que não
faziam parte da atividade política (até ganharem relevância no exército e no comércio).
Geralmente, os membros da plebe eram pequenos proprietários, comerciantes ou
artesãos. A falta de representatividade política dos plebeus desencadeou,
posteriormente, uma série de tensões e crises na sociedade romana.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Patrícios – formavam a elite da sociedade romana e descendiam dos antigos clãs


fundadores da cidade. Eram grandes detentores de terras cultiváveis, de onde tiravam
a sua principal riqueza. A estrutura do governo romano foi durante a maior parte da
sua existência ocupada inteiramente ou maioritariamente pelos patrícios.

O sistema de inscrição para a cidadania era feito pela propriedade dos bens. Os
proletarii eram capite censi, isto é, recenseados como pessoas, não como
proprietários. Apesar disso, foi necessário organizá-los em cinco centúrias que foram
agregadas às classes existentes: tubicines, cornicines, fabri aerari, fabri tignari,
accensi.

Rei Túlio
Reorganizou a comunidade política romana, assente na cidadania, com base no censo
(na riqueza das famílias).
No primeiro período do Rex e das gentes, o censo era determinado sobretudo pela
propriedade do património imobiliário, já nesta nova organização política
aproveitou as velhas estruturas constitucionais, mantendo as centúrias não só como
unidades territoriais de recrutamento militar, mas também como unidades de voto nos
comícios.
Por outro lado, Roma mantinha a predominância dos mais velhos na vida política,
acreditando que a sua experiência de vida manifestada como Prudentia era
fundamental para o acerto das decisões coletivas. A igualdade orgânico-institucional
entre seniores e iuniores permitia aos velhos, em menor número, uma capacidade de
garantir a unidade de voto (quanto menor for o número de membros de uma centúria,
maior a possibilidade de alguns influenciarem todos).

Como é que se refletiu esta opção centuriata no ordenamento jurídico de


Roma?
O rex não abdicou de nenhum dos seus poderes, apesar do valor político crescente
dos comícios centuriais e da influência das suas deliberações junto do rex. Manteve-se
o ordenamento jurídico tradicional. Apenas mudou o elemento de diferenciação social
que passou a assentar no censo, na riqueza de pessoas e famílias.
Até aqui, o privilégio social e o domínio político eram determinados pela pertença a
uma das gentes patrícias de origem. Agora tais elementos de dominação política e
social têm uma base económica, isto é, são determinadas pela riqueza e pela
propriedade fundiária.
Os plebeus podiam ascender socialmente e conquistar maior poder político. O
caminho era enriquecer e esse fazia-se pelo comércio. A atividade mercantil era o
motor de desenvolvimento comunitário e de poder político. Roma crescia no plano
económico e a mobilidade permitida era causa e efeito da necessidade de reordenar a
sociedade, em paz, através de regras jurídicas de organização política.

Critérios de privilégio social e


domínio político
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Antes
Depois
Determinados pela pertença a
Determinados pela riqueza e pela
uma das gentes patrícias de
propriedade fundiária.
origem.

A oligarquia patrícia que assentava o seu poder na propriedade fundiária tem de


partilhar o poder com os plebeus que, prestigiados na carreira das armas e
enriquecidos no comércio, não aceitam lugares subalternos.

O aumento da relevância da plebe


deve-se a:

Terem ganho relevância no


contexto militar, o que levou Podem ascender
a uma alteração nos critérios socialmente e conquistar
de privilégio social e domínio poder político se
político (determinados pela enriquecerem, o que podem
riqueza e propriedade fazer através do comércio.
fundiária).

Os órgãos do governo quiritário

O rex
Titular do:
o Imperium militae – para defender militarmente Roma; podia delegar poderes
no magíster populi (para chefiar o exército), no magíster equitum (para
comandar a cavalaria), nos questores parricidii (para perseguirem e
reprimirem os crimes mais graves).
o Imperium domi – para administrar a cidade; permitia ao rei resolver aspetos
da vida coletiva na relação das pessoas com a comunidade e dirimir os litígios
entre as pessoas, nomeadamente através da aplicação das leges regiae que
eram o resultado da formalização das regras consuetudinárias ordenadas pelo
rei - Os comitia Curiata votavam as propostas de lei do rei, que depois de
votadas favoravelmente vigoravam como leges regiae; As regras
consuetudinárias ordenadas pelo Rei necessitavam assim de aprovação da
Comitia Curiata.
o Poder de mediação divina7 - expressa a vontade dos deuses aos governados.
A vontade dos deuses é dada por um auspício.
7
Base do poder político do Rex - O carácter sagrado da realeza e o poder religioso que
detinha o seu titular era tão forte que depois do processo que separou o jurídico e o político do
religioso em Roma, culminando com o fim da monarquia, permaneceu o rex sacrum que não
tinha poderes políticos, militares ou jurisdicionais, mas detinha o poder religioso com grande
prestígio na comunidade.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

O Rei de Roma não era eleito em processo político normal nem designado pelo
predecessor, ou aclamado pelos soldados; mas escolhido pelos deuses que revelam
a sua escolha através de sinais, nomeadamente o voo das aves (auguratio), ao
interrex, que indicava o nome do escolhido e isso era respeitado pelos membros da
comitia curiata no suffragium, como aponta a lex curiata de imperio. O rei era depois
empossado nos seus poderes de imperium com a autorização do Senado.
Quando o rei morria, o seu poder sagrado de ler os auspícios ia para o Senado,
como assembleia de anciãos com poderes de aconselhamento ao rei, que elegia
entre os seus membros um interrex pelo prazo de cinco dias8. Era o interrex que,
lendo os auspícios, indicava o nome do novo rei, entre os senadores, a propor
aos comita curiata. Submetida a votação, nesse órgão, o nome proposto era
aprovado (creatio - Apresentação de um nome indicado pelos deuses) procedendo-
se seguidamente à inauguratia, que era uma cerimónia religiosa de aceitação,
pelos deuses, do novo rex e uma investidura nos poderes sagrados supremos e
no poder político soberano.
Assim, o fundamento do poder político e militar do rex era mágico e religioso, sendo o
cargo vitalício.

O Senado
O Senado era o órgão que representava o patriciado, isto é, a aristocracia romana. Era
uma assembleia aristocrática, visto que os plebeus não podiam fazer parte do senado.
Os plebeus foram admitidos ao senado ainda na monarquia, mas tiveram entrada
definitiva em 312 a.C. pela lex Ovinia.
- Competências do Senado no período da monarquia:
a) Interregnum (forma de garantir a continuidade dos auspicia durante o interregnum
existente entre a morte de um rei e a proclamação do sucessor pela “lex curiata de
império”);

b) Auctoritas patrum (consentimento, ratificação das deliberações de outros órgãos,


para que elas fossem válidas);

c) Ius belli et pacis (direito de concluir os tratados internacionais);

d) Conselho e auxílio ao rei – Senatus consultum (o Senado foi criado sobretudo


para aconselhar o rex formando assim uma espécie de junta consultiva do rei; só o rei
podia convocar o Senado).

Na Monarquia primitiva, o Senado era apenas uma assembleia constituída por aqueles
que o rei consideravam serem os paters das famílias patrícias mais prestigiadas.
No reinado de Tarquínio Prisco, existiam cerca de 100 membros e depois passarem a
ser 300 membros pois a seleção dos paters passa a caber a um magistrado - o

8
Se os deuses não se pronunciassem nesse prazo, o Senado elegia outro interrex pelo mesmo
prazo de cinco dias e assim por diante.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

censor. Para o censor, o critério para pertencer ao Senado deixa de ser o prestígio,
passando a ser a propriedade latifundiária (o que privilegia os mais ricos).
Este aumento significante de membros do Senado teve como consequência a
diminuição da autoridade e do prestígio do Senado, não só no plano social como
na relação política com o rei (acentuando a sua natureza de órgão meramente
consultivo).
A importância crescente de Roma na península itálica, o incremento do comércio e a
teia de relações sociais gerada com ele implicou um reforço da importância política da
aristocracia romana. O efeito foi acrescentar ao interregnum, competência exercida
pelo Senado, a possibilidade de este órgão ratificar as decisões da plebe tomadas
nos comitia curiata, cobrindo-as, ou não, com a sua auctoritas.

Comitia curiata9
Curia significa reunião entre homens. Comitia Curiata significa assembleia de homens.
Os comitium curiatum eram um órgão que resumia todo o povo de Roma. Os concilia
plebis reuniam apenas a plebe romana.
A cidadania estava dividida, desde Rómulo, em três tribos: os Ramnes; os Tities e
Luceres, chefiadas por um tribuno. Cada tribo integrava 10 cúrias, chefiadas por um
curião e cada cúria estava subdividida em 10 decúrias, cada uma delas chefiada por
um decurião. Cada cúria fornecia ao exército uma centuria peditum (100 soldados de
infantaria) e uma decuria equitum (10 cavaleiros). Só com Sérvio Túlio as três tribos
originárias foram submetidas por nove10, organizadas por critérios geográficos.
Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria eram, via de regra, de ordem
familiar e de linhagem.

Rei

3 tribos

30 cúrias

300 decúrias

A sua legitimidade assentava em elementos religiosos e, por isso, a presidência da


assembleia cabia a um sacerdote, o curio maximus.
9
Membros dos comitia curiata: (divergências na doutrina) - incluía plebeus?
- Mesmo que houvesse plebeus, a prevalência do poder económico dos patrícios
determinava a sua supremacia.

NOTA: prof. Vera-Cruz adere à tese que apoia a não-participação dos plebeus, pois só
assim faz sentido a sua luta intensa.
10
O cidadão proprietário de um fundo rústico era inscrito na tribo a que pertencia o distrito rural
onde estava situado o fundo.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Competências legislativas dos comitia curiata:

a) Os atos normativos eram propostos pelo rei, aprovados ou não pelo populus
reunido em comício e depois eram sujeitos à auctoritas patrum do Senado. As
leis propostas pelo rei que fossem aprovadas, vigoravam como leges regiae;
b) Aprovação do nome do futuro rei de Roma proposto pelo interrex;
c) Segunda votação para o reconhecimento e dar a posse ao novo rex os poderes
de imperium (lex curiata de imperium). A lex curiata de imperium fixa um
nexo de ligação entre rex e populus, correspondendo a uma estrutura de civitas
que já não bastava a indicação do novo rei pelo Senado para legitimar o rei nos
seus poderes.
d) Os comitia curiata limitam-se apenas a concordar ou não com as soluções dos
magistrados, relevando o poder absoluto do rex na criação de soluções e na
tomada de decisões e uma falta de autonomia decisória dos membros (o
povo não tem poder de iniciativa) [A haver alguma intervenção decisiva dos
comitia curiata nas soluções políticas e jurídicas durante a monarquia, esta
deveria ser expressa não por uma deliberação mas por um ato de adesão ou
rejeição (sim ou não) a uma pergunta feita pelo magistrado. É o magistrado
que determina o conteúdo da solução e assembleia limita-se a aceitá-la
ou não.] - Só com a Lex Valeria de provocatione, em 300 a.C., foi possível a
esta assembleia intervir, a pedido do condenado, para comutar a pena de
morte em pena de auxílio. Instituição: Provocatio ad populum.
e) Os comitia curiata eram também importantes na formulação de regras
concretizadoras dos mores maiorum, no que diz respeito às relações
intersubjectivas e na disciplina normativa dos negócios.

A estrutura gentílica tradicional, assente na família, entrou em crise, pois a pressão


demográfica exercida por aqueles que chegavam a Roma determinava a emergência
de uma força social indiferenciada reunida na plebe, atenuando o peso político do
patriarcado.

Os collegia sacerdotalia
Os collegia sacerdotalia não podem ser considerados um órgão do governo quiritário
do período monárquico de Roma, mas eram uma importante instituição com forte
poder de influência sobre as decisões políticas.

O Colégio dos pontífices


O colégio dos pontífices (assim designado por serem os sacerdotes encarregados de
guardar as pontes sobre o rio Tibre; estas pontes eram vitais para os romanos, pois
nelas assentava a comunicação e comércio de uma cidade que dependia do rio) era
uma instituição que protegia os interesses das famílias patrícias no confronto
com o rex, invocando que eram elas que detinham os poderes político-religiosos que
o rei devia respeitar. Era um modo de limitar os poderes políticos do rei na sua
relação com os patrícios.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Poderes político-religiosos dos pontífices:


o Fazer sacrifícios rituais;
o Execução dos rituais litúrgicos supremos de Roma (fixar a forma para a
validade dos atos e a estrutura das ações judiciárias com o relevo que adquiria
na formulação do ius civile11 e a determinação do calendário);
o Desenvolvimento do ius e fas12, através da competência exclusiva na
interpretação dos mores maiorum e no exercício da jurisdição;
o A supremacia hierárquica e o exercício de jurisdição sobre “magistrado do
culto”.
o Criavam soluções para resolver determinado litígio de forma pacífica e eram
considerados como aqueles que põe em prática os mores maiorum (adaptação
permanente da tradição à realidade).

Os pontífices foram adquirindo um saber técnico crescente na criação de


soluções para resolver memória coletiva inscrita nos mores maiorum que
eles sabiam manter vivo pela adaptação permanente da tradição à realidade.
Neste período não havia uma distinção clara entre religião e o direito, o ius sacrum
e o ius humanum. Daí que coubesse aos pontífices a interpretação das regras de
ius humanum, como resultado da sua atividade de garantir a observância do ius
sacrum.
A validade jurídica dos atos assentava no cumprimento de um conjunto de
formalidades e rituais de natureza sacral que só podiam ser praticados, ou tinham
de ser presenciados pelos sacerdotes.
Os pontífices, isentos de pagar impostos e de cumprir serviço militar, eram
designados por cooptação (sistema pelo qual uma associação de pessoas nomeia
internamente os seus membros) para um cargo vitalício numa cerimónia designada
ignauratio presidida por um áugure.

O colégio dos augures

11
conjunto de regras resultantes da interpretatio feita pelos sacerdotes das regras divinas e dos
mores maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium, do ius naturale e do ius
honorarium como elemento constitutivo.
12
Na antiguidade clássica o Dto confundia-se com a religião. Reis e legisladores recebiam dos
deuses as normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável que apenas um restrito grupo
de pessoas pudesse exercer a intermediação entre os homens e os deuses.
Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as normas jurídicas – ius.
O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos deuses aos seus reis ou
sacerdotes. Este representa uma regra ideal de vida que não é sequer contestada, porque foi
criada pelos deuses.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex humana.
O ius resulta do fas;
O ius corresponde a um conjunto de convenções humanas cuja legitimidade e obrigatoriedade
assentam no fas;
O ius é de construção progressiva e procura nos mores maiorum a inspiração e critério para a
interpretatio do fas que está na sua base criadora.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Os romanos, procuravam legitimar na vontade divina a organização social; as


decisões sobre a guerra e a paz; as soluções para os conflitos
intersubjetivos.
Uma das formas de encontrar a expressão dos deuses era recorrendo aos
auguria, isto é, procurar em todo o tipo de acontecimentos indícios dessa vontade;
outro era a de atender aos auspicia, isto é, presságios transmitidos pelo voo das
aves.
A legitimidade para interpretar o querer dos deuses através da auguria ou de
auspicia estava diferenciada em Roma: a primeira cabia aos autogures; a
segunda, ao rei.
O auspicium era um instrumento fundamental de exercício do poder do rei que
determinava a sua ação e o tempo de a executar. Eram os auspicia favorável ou
desfavorável que diziam ao rei como e quando agir para o êxito da ação. Logo, o
auspicium era mais para regular a oportunidade na efetivação de uma
determinada decisão que na determinação do seu conteúdo.
Já o augurium implicava a possibilidade de uma decisão, que se pretendia
tomar, ser afastada, porque o que se previa era um efeito negativo se ela fosse de
fato efetivada. Logo, prevendo o futuro, o augurium permitia impedir que certas
decisões nefastas fossem tomas e cumpridas.
O augurium era mais completo que o auspicium pois mais que procurar a vontade
divina e traduzi-la numa ação ou numa omissão, o que se pretendia era densificar
as condições para um melhor exercício da ação humana.

Auguria Auspicia

A interpretação da auguria cabia aos autogures. A interpretação da auspicio cabia ao rei.


implicava a possibilidade de uma decisão, que se instrumento fundamental de exercício do poder
pretendia tomar, ser afastada, porque o que se do rei que determinava a sua ação e o tempo de
previa era um efeito negativo se ela fosse de fato a executar
efetivada.

Segundo período: Transição: monarquia/república (509 a.C. a 367


a.C.)

Generalidades sobre a designação deste período

Modo como correu a transição (a doutrina diverge):

1. Perda progressiva dos poderes do rei (razões):

a) Institucionalização política das magistraturas iniciada com as reformas de


Tarquínio e de Sérvio Túlio;

b) Atribuição das competências régias para o plano religioso.


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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

- Emergência da República face à revolução contra os reis etruscos.

2. Nos finais do século VI a.C., Lúcio Bruto e Lúcio Colatino – são eleitos
primeiros cônsules - com o apoio dos romanos expulsaram de Roma e
passaram a ser governados por chefes por ano: cônsules

a) O poder vitalício e monocrático dos reis nunca mais foi admitido pelos romanos

b) A Governação por um ano institui responsabilidade naquele que exercia o


cargo de poder, visto que tinha de prestar justificações por todas as suas ações
no exercício do poder, e no final do cargo tinha de responder pelo que tinha
feito no seu exercício;

c) A dualidade de pessoas estabelecia uma regra que limitava a possibilidade de


abuso de poder no exercício das magistraturas.

Poder dos Plebeus:

Em 504 a.C., a derrota de Arunte, na batalha de Aricia, frente aos gregos de Coma fez
a situação etrusca perder a sua hegemonia, o que desfavorecia a economia romana.
Por isso, a situação dos plebeus é também desfavorecida, visto que, como detentores
do poder do comércio, vêem-se obrigados a regressar ao trabalho agrícola
subordinados aos patrícios.

Contudo, essa perda da proteção etrusca colocaria Roma numa posição de


insegurança em relação aos outros povos. Daí ser necessário o poder militar dos
plebeus face às guerras em que Roma se viu envolvida, limitando o poder dos
patrícios.

A formação da estrutura constitucional da república foi moldada no conflito entre


plebeus e patrícios em 494 a.C.

Motivos da revolta dos plebeus:

 Proibição de casamento entre patrícios e plebeus;

 A não igualdade judiciária;

 A não igualdade no acesso a cargos do Estado;

 Restrições na aquisição de terras;

 Credor com poderes ilimitados sobre o devedor;

 Plebeus limitados de poder, do acesso à magistratura e considerados de raça


inferior.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Motivos principais da revolta dos plebeus romanos contra os patrícios:

 Luta pela aequatio iuris, de forma a adquirirem a participação plena na vida


política da civitas e na vida social de Roma;

 Luta pela igualdade política e pela paridade face ao Direito, visto que os
plebeus tinham liberdade e cidadania na civitas romana, mas eram privados de
poder e eram considerados de condição inferior.

 A plebe precisava de encontrar elementos uniformizadores que unissem o


grupo contra o bem estruturado patriciado romano. Todos estes motivos de
revolta são elementos fundamentais para a coesão unitária de Roma.

Limitação ao arbítrio do julgador : a lei das XVII tábuas 13

Um dos principais objetivos dos plebeus era a limitação às decisões do julgador14:


primeiro do rex, depois dos sacerdotes e por fim dos magistrados da República.

As sentenças estavam fundadas no exercício de um imperium que caracterizava as


magistraturas e na interpretatio dos sacerdotes da vontade divina, ou seja os conflitos
eram resolvidos com base em regras consuetudinárias, oralmente interpretadas pela
aristocracia patrícia e favoreciam tendencialmente os patrícios em detrimento dos
plebeus. O que levava à insatisfação da Plebe. A única forma de resolver esta
situação era vincular o julgador à aplicação de normas escritas igualmente aplicadas
entre patrícios e plebeus, sem beneficiar um face ao outro.

Surgiu então a Lei da XII Tábuas, que prevalecia sobre as questões do Direito Privado
e resolvia de forma indiscriminada os “conflitos”, tanto entre plebeus como entre
patrícios.

Como é que foi o processo de realização da Lei das XII Tábuas?

Em 451 a.C., foram suspensas todas as magistraturas ordinárias e foi investido um


colégio de 10 patrícios, com plenos poderes políticos e militares, para iniciar a
redação das leis como resultado da luta dos plebeus pela aprovação de um corpus
de leis a vigorar para os dois grupos sociais.

 O I Decenvirato não concluiu os trabalhos; foi criado o II Decenvirato, que


concluiu e publicou as leis, juntamente com a publicação das leges Valerie
Horatiae.

13
Objetivo de positivar os mores maiorum, instituindo um Ius Humanum
14
Queriam sair do Ius Divino (interpretatio) e entrar na criação do próprio Ius (Ius Romano),
feito pelos homens. Deixar de estar tão dependente dos prudentes e da sua interpretação, que
era sempre favorável aos patrícios
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Resultado da Lei das XII Tábuas

A publicação da Lei das XII Tábuas, em 450 a.C., permite uma maior segurança das
partes, maior estabilidade normativa e segurança, bem como o conhecimento
geral dos fundamentos que levaram às soluções das sentenças, permitindo
criticá-las.

 Em 449 a.C. é destituído o II Decenvirato e regressam as magistraturas


ordinárias.

 Excluída a possibilidade de integrar as leges regiae na legislação romana, a Lei


das XII Tábuas é o ponto de partida da problemática da lei no ius Romanum.

 Atividade dos iurisprudentes: antes, a sua atividade consistia em interpretar


e revelar os mores maiorum. Agora, adaptam o conteúdo da Lei das XII Tábuas
à realidade, criando, por vezes, Direito.

 Mais importante norma de Direito Privado positivada na Lei das XII Tábuas:
desmaterialização da obligatio; deixa de ser vínculo carnal para passar a ser
vínculo ideal entre credor e devedor, estruturado em torno de um sujeito que
está obrigado a dare, prestare ou facere face a outro sujeito.

Qual é a importância da Lei das XVII Tábuas?

A lei das XVII Tábuas representa a positivação dos mores maiorum. Até à lei das XVII
Tábuas, o direito romano é assente nos mores maiorum, essencialmente
consuetudinário - deriva do costume; comportamento repetido. Ao comportamento
deve se associar um pensamento subjetivo que é a convicção que se deve agir assim.

Estas leis são de extrema importância porque os plebeus ganharam uma exigência
contra os patrícios, a de carrear certeza e segurança para o Direito. Os princípios que
traduzem os mores maiorum estão positivados e assim acessíveis a todos o que
possibilita que estes sejam questionados. Agora qualquer pessoa pode interpretar o
direito, esse poder passa do sacerdote para o jurista. Isto traz estabilidade e
segurança.

Impedir qualquer tentativa de reinstaurar a monarquia: a provocatio ad


populum

Era necessário ainda que a aplicação das penas máximas não ficasse apenas no
arbítrio exercido pelos patrícios que exerciam as magistraturas, apesar das
características anuais, eletivas e duais das magistraturas. Por isso, foi criada uma
contra magistratura: o tribuno da plebe; e um instituto baseado na deliberação
popular: a provocatio ad populum.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Para que servia este instituto?

O provocatio ad populum é o resultado da criação de um mecanismo de proteção


jurídica dos cidadãos: a partir de 509 a.C., com a lex Valeria de provocatione, esta
permitia que um cidadão condenado à morte por um magistrado com imperium
(cônsul) evitasse essa condenação, através de um processo iniciado nos comitia.

Qualquer decisão por parte de um cônsul de condenação à morte de um cidadão


romano pode ser paralisada pelos comitia curiata.

Funciona como último recurso a pedido pelos cidadãos romanos, podendo ser
anulados ou confirmados pelos comitia.

Esta espécie de recurso nas penas mais graves revela que os romanos estabeleceram
as bases da criação jurídica (possibilitando a justiça pelo ius consagrado nas leges).

O magistrado, a partir daqui, tem de demonstrar perante a assembleia as provas que


demonstrem a culpa do julgado. A assembleia, depois disto, pode manter a posição de
o punir ou comutar a decisão à pena de que aquele cidadão tinha sido objeto – forma
de proteger os plebeus.

O tribuno da plebe

Em 509 a.C., Roma está mergulhada nesta instabilidade, e a plebe vai reivindicar um
representante que represente o que a plebe quer, para fazer valer a voz da plebe de
forma uniforme e coerente. Reivindicam a institucionalização de um representante
que, eleito em assembleia exclusivamente formada por plebeus, reivindicasse os seus
interesses. Este intervém junto dos cônsules e junto do senado - é o tribuno da plebe
– magistrado extraordinário que tem a função de salvaguardar os direitos e
interesses da plebe.
Não é eleito nos comitia curiata, nem nos comitia centuriata que integram patrícios e
plebeus, mas sim no concilia plebis, que é a única assembleia exclusivamente
composta por plebeus.
Tem o poder de intercessio – se havia uma medida que causava convulsão social,
esta medida podia sofrer intercessio - os dois cônsules também têm o poder de
intercessio. Pode ser exercido por iniciativa própria ou por sugestão alheia.

Abrir as magistraturas aos plebeus: os tribunos militum consulari


potestate (Tribuno Militium)

 Exercício do imperium ligado à capacidade de auspicium.

 Só com a entrada dos plebeus na vida familiar patrícia e a sua participação nos
sacra, é que é possível a abertura dos auspicia aos plebeus. Ou seja, a
abertura de cargos políticos a plebeus através dos tribuni militum.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 Os tribuni militum eram um colégio de comandantes militares que integrava


também plebeus. Por isso, era uma magistratura com acesso aberto à plebe.

 O senado permite essa situação imposta, visto que podiam precisar dos
plebeus em situações de conflitos militares. A atribuição do imperium
consulare ao chefe militar, que podia ser um militar, tinha a vantagem de unir
os poderes supremos da política e da guerra.

Contudo, os tribuni militum não exerciam os auspicia, não sendo por isso um perigo
para a classe patrícia.

Os tribuni militum não tinham auspicium, isto é:

 Não podiam nomear o ditador;

 Não podiam nomear um colega minor (suffictio) para com ele exercer a
magistratura;

 Não podiam receber a honra do triunfo;

 Não podiam ocupar a posição de um cônsul, que tivesse exercido um ano no


cargo.

Foi a esta magistratura que se aplicou o princípio de colegialidade, ou seja o direito ao


veto nas decisões dos colegas, devido à insegurança direcionada aos plebeus.

O processo comicial tinha duas fases:


 O inquérito: feito pelo magistrado para apurar a real existência de um crime;
 A resposta da assembleia: através de uma deliberação, que se pronunciava
sobre a pena a atribuir.

A paridade jurídico-política entre patrícios e plebeus: as Leges Liciniae


Sextiae15

Foram aprovadas, em 367 a.C., as leges Liciniae Sextiae: São medidas legislativas
que têm um significado quase mítico no culminar do período de transição da
monarquia para a república, pois formalizam as reivindicações históricas dos
plebeus quanto à paridade que consideravam necessária para se sentirem
romanos em Roma.

São quatro principais Leges Liciniae Sextiae que terminam o período de transição da
monarquia para a república:

15
Vêm substituir o Tribuno Militium
P á g i n a 19 | 58
RESUMOS DE DIREITO ROMANO

➔ Lex Licinia de aero alieno: estabelece facilidades no pagamento de


dívidas (prestações, retirarem no valor a pagar os juros já pagos); Ex:
patrício pediu uma taxa de juro de 10% e emprestou 100 e o plebeu não
pagou 10% mas pagou 8%, caso esta lei não existisse o mutuário estaria a
dever 102. Um magistrado pode olhar para a taxa de juro a ser aplicada e
ver se é justa ou injusta. Pode dizer que 1% é a taxa justa e assim, se o
plebeu pagar 8%, 1% é juros e 7% é capital. Assim o plebeu só fica a
dever 93 e vai pagar estes 93 de forma fracionada, em 3 prestações.

➔ Lex Licinia de modum agrorum: limitação quantitativa de terra que cada


pater familias podia ter – máximo de 500 jeiras. Foi limitada juridicamente
os princípios naturais da ordem romana, promovendo uma forma diferente
de redistribuição da terra - quem tem mais de 500 jeiras vai ficar sem essas
terras extras e estas são atribuídas a quem não tem ou tem menos.

➔ Lex Licinia de consule plebeio: possibilidades dos plebeus ascenderem


ao consulado bem como a reserva de um dos lugares de cônsul a um
plebeu (norma cumprida apenas a 320 a.C. Em 172 a.C., há a possibilidade
de serem eleitos dois cônsules plebeus).

➔ Lex Licinia Sextia de decemviris sacris faciundis: Aumenta o número de


responsáveis encarregados dos “livros sibilinos”, exigindo que sejam
metade patrícios e metade plebeus. (Compilação da declaração dos
oráculos. Sibilia é profetiza e tem na sua posse 9 livros que transmitem
todo o conhecimento do universo em virtude da declaração dos oráculos.)

O resultado é a instituição do consulado como magistratura em que é exercido o poder


supremo do Estado e que ela não está reservada, no plano institucional, apenas aos
patrícios mas inclui também plebeus.

A abertura das magistraturas aos plebeus opera uma reforma social e de


mentalidades com efeitos no ordenamento jurídico, nomeadamente no acesso ao
poder e do exercício do mesmo (o consulado já não está reservado
exclusivamente aos patrícios) bem como no processo de criação e aplicação de
regras jurídicas.

Reivindicações plebeias que marcaram esta luta pela paridade e que


demonstram o sucesso da mesma:
 Concilia plebis – assembleia exclusivamente plebeia que tinha a função de
eleger o tribuno da plebe;
 Tribuno da plebe – função de intercessio – pode parar o poder dos
magistrados ordinários, nomeadamente o cônsul; magistrado extraordinário,
não está sempre em função; pode convocar o senado, assembleias;
 Lei das XVII tábuas – positivação dos mores maiorum;
 Instituto provocatio ad populum – permite que a assembleia possa permutar,
alterar a pena de morte que foi aplicada por um magistrado a um cidadão

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

romano (o magistrado inicia um processo de inquérito em que justifica o facto


de ter aplicado esta pena de morte, mas é o povo que escolhe promulgar ou
ratificar esta decisão);
 Lex Licinia de consule plebeio – abertura das magistraturas à plebe.

Terceiro período: O Populus Romanus e a res publica (367 a.C. a 27


a.C.)

A República é o período mais estável da história de Roma, graças à grande


prosperidade e à enorme expansão que ocorreu.

Relação entre estas 3 instituições justifica o equilíbrio desta época:


Maiestas - Conceito forjado pelos romanos, aproxima se do conceito atual de
soberania. Designa o poder que é atribuído à república. A república não é o conjunto
de pessoas que vivem no espaço físico de Roma, mas sim o populus, o povo romano
e a detenção da República que exerce. O povo exerce a sua maiestas em assembleia.
A república é o símbolo do populus romano, da soberania de povo.
Potestas – Poder de representar o povo de Roma.
Imperium - Os magistrados mais poderosos têm imperium, que é a possibilidade de
dar ordens ao populus de roma, o que se traduz num conjunto de faculdades:
comandar os exércitos, convocar as assembleias populares, convocar o senado.
Impõe-se pela razão da força.
Auctoritas (do senado) – poder socialmente reconhecido; conhecimento que é
reconhecido na sociedade. O senado não tem potestas, não representa o povo de
Roma, mas o seu conhecimento socialmente reconhecido fá-lo impor se pela força da
razão.

Características essenciais deste regime:

 O poder político é exercido pelo bem da comunidade e é entregue aos


magistrados detentores de imperium;

 O senado, dotado de auctoritas, é o órgão de conselho e consulta dos


magistrados;

 O Populus, onde assente o maestas, passa a ter reconhecimento institucional


no qual expressa as suas deliberações nas assembleias;

A república torna-se no modelo de Governo mais duradoiro devido à abertura do poder


político bem como os mecanismos de resolução dos problemas e as formas
constitucionais de atenuar os conflitos.

A seguir às leges Liciniae Sextiae foi possível dividir e hierarquizar as magistraturas no


âmbito de uma organização constitucional.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Os cidadãos do Populus

Podia ser cidadão romano aquele que:

 Nascesse em Roma de pais romanos – ius sanguinis

 Fosse filho de pai romano e mãe estrangeira, desde que tivesse adquirido o
direito a casar-se com um cidadão romano.

 Nascesse de uma mãe romana mesmo fora de um casamento válido.

 Tivesse autorização de um magistrado para tal.

 A quem fosse atribuída a cidadania pela comunidade.

 Quem tivesse sido libertado da escravatura (já depois da república).

Desde muito cedo em Roma, a aquisição da cidadania e dos direitos e deveres


inerentes era uma questão jurídica.

Participação do cidadão romano:

 Escolhia os magistrados e votava as propostas de lei apresentadas pelos


mesmos;

 Contribuía com serviço público para a comunidade;

 Servia nas legiões.

 Contribuía com um tributum em caso de dificuldade financeira

As assembleias do Populus

São os elementos centrais de todo o ordenamento constitucional da República


romana. (Vindouros da monarquia)

Principais assembleias da República:

a) Comitia curiata (reuniam todos os civis);

b) Comitia centuriata;

c) Comitia tributa;

d) Concilia plebis (reuniam apenas os plebeus)

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Os comitia curiata

As assembleias mais antigas eram os comitia curiata.

Na monarquia, os comitia curiata tinham a função de aprovar as leis e de investir o


novo rei através da lex curiata de imperium, já na república, os comitia curiata tinham a
sua influência limitada apenas às questões de direito sagrado. Deixando as questões
políticas, nomeadamente as questões relativamente à guerra e à paz, para os comitia
centuriata.
Com a separação entre a política e a religião, os comitia curiata entram em
decadência: ficam reduzidas as suas funções à realização de cerimónias sacrais, de
confirmação no imperium dos magistrados maiores com fundamento na lex curiata de
império.

Decidia da guerra e da paz, da escolha das magistraturas e da feitura das leis.

Os comitia centuriata

Criados por Servio Túlio no período monárquico. Apenas adquirem poder legislativo na
República, mantendo o poder militar.

Os comitia centuriata eram constituídos pela infantaria plebeia, reunida para tratar de
questões políticas.
São resultado de um poder crescente da plebe devido à sua valorização pelas suas
táticas cruciais nas batalhas em detrimento da cavalaria patrícia.
Durante as reformas de Sérvio Túlio, é-lhes atribuído às suas competências militares,
competências políticas de natureza fiscal e financeira.
Os comitia centuriata foram as mais importantes assembleias populares da República:
aprovam as leis, nomeiam os magistrados maiores e detêm o provocatio ad populum.

Competências dos comitia centuriata:


 Poder de eleger cônsules, pretores, ditadores, censores (magistrados maiores);

 Confirmar os censores;

 Aprovar as leis propostas pelos magistrados;

 Aprovar as declarações de guerra e os tratados de paz;

 Decidir sobre a morte e a vida dos acusados (iudicium).

Os comitia tributa

A base de organização dos comitia tributa é territorial, ou seja, os participantes


pertencem à mesma tribo - encontram-se sujeitos à mesma administração por
partilharem o mesmo território.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Competências dos comitia tributa:

 Votação de leis menores;

 Eleição dos magistrados menores e dos tribuni militum;

 Fixação das penas pecuniárias para as infrações detetadas;

 Deliberar sobre asuntos que não justifiquem a convocação de um comitia


centuriata;

 Atribuições religiosas residuais.

Os concilia plebis

Tinham competência legislativa própria, refletida na aprovação de normas gerais e


abstratas, chamadas plebiscitos. Inicialmente, os plebiscitos não vinculavam nem os
plebeus, mas, mais tarde, devido à equiparação entre patrícios e plebeus, efetuada
com a lex Hortensia de 287 a.C., estes passaram a vincular todo o populus de Roma.

Competências dos concilia plebis:


 Eleger os magistrados plebeus;

 Votarem os plebiscitos;

 Exercem o iudicium em crimes puníveis com multa.

Evolução do processo de formulação de leis:


1. O magistrado convoca os comitia centuriata e propõe uma lei que o povo vota
e aprova; depois essa lei é submetida ao senado para que este conceda a
auctoritas patrum ou não, neste caso dizendo que aquela lei não está de
acordo com os mores maiorum.
2. Lex publilia philonis - aprovada pelo povo no século 4 a.C.; vem mudar o
momento de intervenção do senado. Assim, este intervém antes do povo. O
magistrado propõe a lei ao senado para este dar a sua auctoritas patrum e só
depois é que a lei é proposta ou não ao povo.

Fases de formação da lex rogata (direito público):


1. Promulgatio: projetos de leges a propor à votação dos comitia, eram feitos
pelos magistrados que tinham a faculdade de convocar os comícios. O projeto
devia ser afixado num lugar público. O projeto não podia ser alterado, teria de
se fazer de novo.
2. Conciones: reuniões tidas na praça pública, sem carácter oficial nem jurídico,
para se discutir o projeto de lex.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

3. Rogatio: pedido de aprovação do projeto de lex, após a leitura pública pelo


arauto.
4. Votação: o voto afirmativo ou negativo tinha de ser dado com palavras
sacramentais. De inicio a votação era oral, a lex Papiria Tabellaria
estabeleceu o sistema de voto escrito e secreto.
5. Aprovação pelo senado: depois de votada favoravelmente pelos comitia, a lei
precisava de ser referendada pela auctoritas patrum (A partir da lex Publia
Philonis, do ano 339 a.C)
6. Afixação: depois de concedida a auctoritas patrum, o projeto transformava-se
em lex e era afixada no fórum.

Partes da lex rogata:


Praescriptio: espécie de prefácio; contém o nome do magistrado, a assembleia que a
votou e a data, o nome do primeiro agrupamento que abriu a votação e o nome do
cidadão que foi o primeiro a votar.
Rogatio: é o conteúdo da proposta, que mesmo depois de votada continua a chamar-
se rogatio.
Sanctio: parte final da lex. Estabelece os termos da sua eficácia e a sua relação com
outras normas; atestado de conformidade com os mores maiorum.

Lex publilia philonis (339 a.C.) – veio alterar a ordem do processo legislativo. A
ordem passa a ser esta: 1. Promolgatio. 2. Conciones. 3. Auctoritas patrum do
senado. 3. Rogatio. - Antes do magistrado convocar a assembleia e pedir a provação
da lei, ele vai ao senado pedir a auctoritas patrum. 4. Votação 5. Afixação
Isto vai enfraquecer o povo. A margem para dizer não vai diminuir.
A lei é um exercício que o povo a si mesmo se dá, mas não dispensa o equilíbrio do
poder de iniciativa do magistrado e de ratificação dos senados e da conformidades
com os costumes maiorum de roma.

As magistraturas do Populus

As magistraturas republicanas incidem sobre todos os poderes, exceto o poder


religioso. Resultam de uma crise da monarquia.

A estabilização constitucional das magistraturas operou-se, sobretudo, quando a sua


continuidade saiu do autismo hermético do principio da cooptação, para um sistema de
eleição pelas assembleias populares.

Para se ser candidato a uma magistratura era necessário ter:

 Ius suffragii;
 Pertencer ao grupo dos plebeus ou patrícios – por exemplo, ao Tribuno
da plebe só acedem plebeus;
 Ser cidadão romano – os estrangeiros eram designados de hostis, só
depois de Roma se expandir é que passaram a designar-se peregrinos;

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 Ser livre e ingénuo – o candidato a magistrado não pode ser escravo


liberto ou filho de escravo liberto, não pode ter sido condenado por crime ou
infâmia;
 Ter, pelo menos, 28 anos – idade mínima para se integrar a carreira das
honras – cursos honorum – isto é, aceder ao cargo de questor, que é a
primeira magistratura.

As magistraturas eram reguladas pelos seguintes pressupostos:


 Subordinação das magistraturas menores em relação às maiores;

 A temporalidade (os magistrados, normalmente, ocupavam o cargo por um


ano);
 A pluralidade de magistraturas (o poder era partilhado por várias
magistraturas: consulado, questura, censura, pretura e edilidade curul);
 A colegialidade (dentro de cada magistratura, no consulado por exemplo,
havia mais que um magistrado; cada um dos colegas estava encarregue de
um determinado sector, tendo poder absoluto, imperium; mas o outro
magistrado de ordem superior podia exercer o direito de veto – intercessio);
 A não regressão – quem chega a pretor não regride a questor, por
exemplo;
 A gratuitidade – os magistrados exercem as funções de forma gratuita; a
carreira das honras não se trata de uma profissão, logo não é remunerada;
está associda a uma plena e total liberdade pois os magistrados não estão
dependentes de um salário;
 A eletividade – as magistraturas maiores são eleitas pelos comitia
centuriata e as menores pelos comitia tributa;
 A não acumulação – quem for pretor não pode ser cônsul ao mesmo
tempo.
 A não repetição – não se pode ser duas vezes pretor, por exemplo;
 A apresentação de um plano de ação, de modo a obterem a confiança do
povo; ficavam-lhe vinculados;
 A prestação de contas dos seus atos – os magistrados têm de prestar
contas dos seus atos, sendo responsabilizados pelos mesmos. São
responsáveis pelas infrações e eventuais condutas criminais cometidas
durante o seu mandato, o que determinava a impossibilidade de
progredirem na carreira das honras, isto é, passarem para a magistratura
hierárquica superior, se efetivamente a prestação de contas lhe fosse
desfavorável.

Estabelecimento de limites e regras que controlavam o exercício do cargo, assumindo


um carácter preventivo;

Poderes dos magistrados

➔ Potestas: o poder de representar o populus romanus;

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

➔ Imperium: o poder de soberania; exclusivo dos cônsules, do pretor e do


ditador; estava circunscrito ao território da cidade de Roma. Continha as
faculdades:

a) Comandar os exércitos;

b) Convocar o senado;

c) Convocar as assembleias populares;

d) Administrar a justiça.

➔ Iurisdictio: o poder específico de administrar a justiça duma forma normal ou


corrente (poder principal dos pretores, apesar de os edis curúis também o
possuírem, mas de forma, mais restrita).

Tipos de magistraturas

Em virtude dos imensos poderes dos magistrados, a preocupação constitucional foi de


limitar a possibilidade de abusos e atos arbitrários, fixando-lhes competências
próprias.

O imperium mais forte era aquele que correspondia ao que o rei exercia no comando
do exército centurial e foi disperso por ditadores, cônsules e pretores.

A potestas corresponde a um poder mais limitado que o magistrado exercia no âmbito


da sua esfera de competências próprias.

As magistraturas maiores tinham imperium e potestas. Eram o consulado e a


pretura. Entre as magistraturas maiores, havia uma de carácter extraordinário: a
ditadura.
As magistraturas menores tinham apenas potestas.

As magistraturas ordinárias podem ser permanentes como não permanentes.


Pertencem a esta categoria: os cônsules, os censores, os pretores, os questores e
os edis curúis. As magistraturas ordinárias estavam integradas numa certa ordem
hierárquica (o “cursus honorum”, carreira das honras ou cargos), segundo um critério
de dignidade e não tanto de poderes.

A ordem hierárquica dos magistrados ordinários:

1.º Questores – eleitos por 1 ano;


2.º Edis curúis – eleitos por 1 ano;
3.º Pretores – eleitos por 1 ano;
4.º Cônsules – eleitos por 1 ano;
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

5.º Censores – eleitos por 5 anos, ainda que a sua função de organização do censo
ocupe apenas 18 meses; há 2 censores.

Magistraturas maiores:

As magistraturas ordinárias maiores eram o consulado e a pretura. O imperium do


pretor estava subordinado ao dos cônsules. O pretor era considerado collega minor do
cônsul, o cônsul era designado de praetor maximus.

Entre as magistraturas maiores, sem imperium, está a censura. Apesar da censura


não ser detentora de imperium, era considerada uma magistratura maior devido à sua
titularidade dos auspicia mais importantes. O titular é eleito nos comícios centúrias
para um mandato de 18 meses.

Consulado – Governa a cidade.

Censura – Não tem imperium; os censores organizam o recenseamento através da


hierarquização do pather famílias em função do seu prestígio.

Pretura – Administra a justiça, resolve os litígios.

 Pretor urbano – dirime os litígios entre cidadãos de roma – ius civile;


 Pretor peregrino - dirime os litígios entre os romanos e os estrangeiros,
ajudando a fortalecer o ius gentium.

Poderes das magistraturas maiores:


 Supremo comando militar, incluindo o poder coercitivo militar;

 Direito de convocar as assembleias e o senado;

 Recurso à força a fim de ser obedecido pelos cidadãos e pelos magistrados


menores (praticar actos coercivos a fim de se fazer obedecer pelos cidadãos e
pelos magistrados menores;);

 Podem assumir os auspícios maiores;

 Direito de emanar e fazer publicar no fórum os seus edicta (ius edicendi).

Magistraturas menores:

Os magistrados menores, sem imperium, mas com potestas eram: o edil plebeu; o
edil curul e os questores.

Poderes inerentes à sua potestas: ius edicendi; ius agendi cum populo e cum plebe;
ius agendi cum patribus.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Os questores possuíam funções administrativas, supervisionavam as receitas fiscais e


a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas definidas pelos
cônsules nas directivas dadas pelo Senado.

Questores – administram as finanças públicas, as despesas e as riquezas; gerem as


receitas e os orçamentos.

Edis curúis – inicialmente, guardavam o tesouro público, depois passam a garantir a


segurança interna, gerindo o policiamento.

Poderes das magistraturas menores, à excessão do edil plebeu:


 Tinham os ius edicendi;

 Tinham os auspícios menores;

 Tinham poderes coercitivos menores como a imposição de multas e de


pequenos pagamentos na penhora de bens.

As magistraturas extraordinárias:

a) São sempre não permanentes

b) Compreendem a ditadura e o tribunado da plebe.

Ditadura

A ditadura era a magistratura maior extraordinária. O senado deliberava sobre a


situação a enfrentar e o perfil adequado do cidadão que deveria exercer o cargo. Pelo
menos até 300 a.C: a coercitio do ditador não estava sujeita nem à intercessio
tribunícia nem à provocatio ad populum; o senado não exercia qualquer tipo de
controlo político à sua atividade; o ditador não tinha responsabilidades políticas
enquanto exercia o seu cargo na ditadura.

Os riscos de uma tirania pessoal do ditador levaram os romanos a procurar outras


formas de conseguir os mesmos efeitos, no plano da eficácia, para defrontar situações
perigosas para a república, como, por exemplo, o senatusconsultum ultimum.

No âmbito da ditadura podia surgir outra magistratura extraordinária maior: a do


magister equitum. Este era um oficial superior ou um magistrado com imperium
próprio, escolhido pelo ditador para comandar o exército e a cavalaria.

 Mandato máximo de 6 meses;

 Criadas em momentos de emergência, suspendendo a normalidade legal e da


aplicação normal da Justiça;

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 Nomeada por um cônsul com base em decisões do senado.

Tribuno da Plebe

Inicialmente, era eleito pelos comitia tributa, depois passou a ser eleito pelos concilia
plebis. Tinha imunidade absoluta e o direito de se opor às decisões de todos os outros
magistrados - intercessio. O tribuno da plebe acabou por constituir uma nova
aristocracia política, com um poder imenso que advinha dos efeitos da sua intercessio
na justiça civil e criminal.

Competências:

 Garantia os interesses da plebe;

 Direito de se opor às decisões de todos os outros magistrados;

 Tinham imunidade absoluta;

 Os tribunos da plebe não tinham imperium, todavia possuíam tribunitia


potestas;

 Gozavam de intercessio sobre todos os magistrados do cursus honorum, ou


seja tinham o direito de vetar, isto é, de anular, sem invocar razões, qualquer
decisão tomada por um magistrado;

 Tinham também o privilégio de inviolabilidade (sacrosanctitas);

 No século III a.C., ao poder da tribunitia potestas é acrescentado o ius


senatus habendi: o direito de convocar e de presidir ao Senado e uma nova
regalia: agere cum plebe: convocando os concilia plebis para analisar as
decisões políticas ou normativas (plebiscita).

Preocupação: Limitar a possibilidade de abusos e de atos extraordinários,


especificando funções para cada uma bem como os meios que dispõem e as suas
formas de controlo.

Cônsules

Consulado: associado à dignitas; o cargo não era renumerado, o que prevalecia era a
honra e o prestígio social. Era acessível apenas aos mais abonados - Patrícios

 Imperium domi- integrava o exercício:

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 Do ius agendi cum populo: atribuía ao cônsul a iniciativa legislativa,


apresentando propostas de lei aos comícios para serem aí votadas
(rogatio);
 Do ius agendi cum patribus: Isto é, o poder de convocar e presidir as
assembleias populares e o senado.

 Exercia todas as competências residuais que não pertenciam expressamente


aos outros magistrados;

 Os questores e os censores (desprovidos de imperium) tinham de recorrer ao


cônsul para dar efetividade às suas ordens (das penas de morte até às
sanções mais insignificantes);

 Poderes administrativos na administração do erário e do património público;

 Imposição da ordem pública.

Pretor/ Pretura

O pretor era um magistrado maior nomeado nos comícios centuriais a que o cônsul
presidia. O pretor encarregava-se de aplicar a justiça civil e de substituir o cônsul
nos seus impedimentos no governo da cidade. Era ele que convocava os comícios
para a eleição dos magistrados menores e apresentava propostas de lei para
aprovação aos comícios.

O senado encarregava o pretor de comandar o exército fora da cidade, função que,


tradicionalmente, era assegurada pelo cônsul.

De início, só havia um pretor – magistratura monocrática; exceção ao princípio da


colegialidade. A partir do ano 242 a.C., a administração da justiça é distribuída por
dois:

 pretor urbano, encarregado de organizar (dentro das normas do “ius civile”) os


processos civis em que só estivessem cidadãos romanos;

 pretor peregrino, incumbido de organizar dentro das normas do “ius gentium”


os processos em que pelo menos uma das partes era um peregrino.

À medida que Roma vai expandido o seu território e a sua população vai aumentando,
também o número de litígios aumenta, pelo que se compreende que o número de
pretores também cresça. Passa a haver 6 pretores, depois 8 e depois organizam-se
em colégio.

“O pretor era o intérprete da lex, mas sobretudo o defensor do ius.”

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

O Ius Praetorium
O pretor é o intérprete da lex, defensor, do ius e da justiça, interpretando o ius civile,
integrando as suas lacunas e corrigindo as suas aplicações injustas.
A maior parte do ius honorarium – direito criado pelos magistrados – é o ius
praetorium – direito criado pelo pretor.

Fases de atividade do pretor:


ius praetorium stricto sensu: ius honorarium criado pelo pretor;
3 fases:
 1ª fase – interpretação do ius civile: administrava a justiça baseada no ius
civile; era a vox viva iuris civilis. A sua atividade era apenas interpretativa, e
mesmo essa interpretação estava vigiada e fiscalizada pelo collegium
pontificum. O ius civile nasce duma pluralidade de fontes de direito - mores
maiorum, constume consuetudo, leis criadas nos comitia, atividade
jurisprudencial – com particular incidência na atividade do jurisprudente, pelo
que, quando chegamos ao detalhe do caso concreto, muitas vezes
encontramos uma desarmonia entre a regra que vamos aplicar e aquela que a
justiça do caso concreto impõe; a regra, por mais adequada que seja em
abstrato, muitas vezes, perante a realidade das circunstâncias do caso em
concreto, revela-se desadequada. Ou seja, o pretor, depois de interpretar o ius
civile, pode chegar à conclusão de que a regra não é aquela que melhor se
aplica à resolução do caso concreto que tem em mãos.
 2ª fase – correção do ius civile: O pretor, baseando-se no seu imperium
(poder de soberania, a que os cidadãos não podiam opor-se), usa expedientes
próprios para criar direito (ius praetorium), mas de uma forma indireta: se uma
situação social merecia proteção jurídica do ius civile e não a tinha, o pretor
colocava-a sob a alçada do ius civile; se, pelo contrário, determinada situação
social estava protegida pelo ius civile e não merecia-a, retirava-a da alçada do
ius civile. O pretor não alterava o ius civile, apenas conforme era justo ou
injusto conseguia que o ius civile se aplicasse ou não.
 3ª fase – integração do ius civile: 130 a.C. - Lex Aebutia de formulis. O
pretor, baseado na sua iurisdictio, mediante expedientes adequados, cria
também direito e agora de uma forma direta, embora por via processual. Em
vários casos não previstos pelo ius civile, o pretor concede uma actio própria,
por isso denominada actio praetoria. Ter actio, em Direito Romano é ter ius, por
isso o pretor, concedendo a actio, cria directamente ius.

Passa então a criar direito de uma forma direta, embora por via processual. Nos casos
não previstos no ius civile, o pretor concede uma actio própria (actio praetoria).

Princípios estruturantes da atividade do pretor:


 Não prejudicar ninguém.
 Não abusar dos seus poderes.
 Atribuir a cada um aquilo que é devido.

As magistraturas estão orientadas por uma atividade de controlo, de vigilância


por outras. Os pretores estão sujeitos ao intercessio dos seus pares, quando
passam a estar num modelo de colegialidade, mas também estão sujeitos ao
intercessio dos cônsules, que estão acima deles no curso honorum; estão sujeitos
ao controlo daqueles que detêm intercessio, é o caso do tribuno da plebe, quando se
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

justificava a sua intervenção; as decisões do pretor também poderiam ser alvo de


fiscalização, de controlo, pelas assembleias populares ao abrigo da instituição
provocatio ad populum. Portanto, é uma atividade controlada através desses
institutos, mas também é controlada pela opinião publica e pela critica muito
temível da jurisprudência, daqueles que emitem o direito.

Os edictos dos pretores


O pretor também pode e atua com base nos seus edictos – programa geral de
atividade em que o pretor anuncia ao público, com a devida antecedência, a
concessão de certos expedientes, de certos compromissos acerca da forma
como vai resolver os hipotéticos casos da vida que lhe sejam submetidos para
julgamento – e, portanto, no inicio do seu mandato, afim de merecer a confiança e ser
eleito, o pretor vai apresentar um edicto (programa de ação).
Este edicto pode ser definido como uma comunicação não apenas verbal, mas
também escrita, gravada em letras negras sob tábuas pintadas a branco, que inclui
todas as opções do pretor para resolver os casos da vida que lhe poderiam ser
submetidos. Assim o povo ficaria a saber quais seriam as opções em que o pretor
ofereceria proteção jurídica, com base no ius civile.
Desde o momento da sua eleição, a forma de atuação do pretor é fazer
comunicações ao povo para expressar de forma clara e inequívoca quais seriam as
situações que passavam a merecer proteção perante os casos que seriam submetidos
ao seu juízo. Esta transparência com o povo, fazia com que ele confiasse no pretor.

Edictos perpétuos ou anuais – programas de ação que, durante o seu mandato de 1


ano, o pretor se comprometia a seguir, contendo os vários critérios que designariam o
exercício das suas funções.
Os edictos eram inicialmente publicados no fórum para que pudessem ser lidos por
todos.

O pretor está vinculado aos edictos durante o ano em que governar?


Ao princípio não estava vinculado, por isso poderia afastar-se do princípios a que se
comprometeu, por força de várias razões, como a força das circunstâncias do caso
concreto ou o evoluir das circunstâncias sociais. Mas, estando sujeito à prestação de
contas, se se afastasse por motivos errados, motivos arbitrários, daquilo que era o seu
programa de atividade, naturalmente a confiança que nele havia sido depositada era
totalmente defraudada e seria fortemente sancionada por parte daqueles que o
fiscalizavam, ficando assim completamente comprometida a sua ascensão na carreira
das honras. Deste modo, na prática, ele respeitava sempre as promessas feitas, pois
ele era o mais interessado, de modo a que não fosse julgado desfavoravelmente.

Também é possível a existência de edictos repentinos, que são atos de imperium do


pretor proferidos em qualquer momento do seu mandato para resolver situações
novas, que não estavam previstas nem no ius civile, nem no seu edicto anual, dando
nota de como é que as iria resolver, a fim de justificar transparência. Ao abrigo do ius
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

edicendi – fazer comunicações ao povo – o pretor podia apresentar edictos


repentinos, para que não houvesse surpresas por parte do publico.

Edictos translatícios – significam, no fundo, uma transposição de edictos anteriores;


o pretor copiava de um ano para outro, como que assumindo de pretor para pretor
aquelas que eram as situações que iria corporizar no seu edicto e portanto que se
comprometia a proteger na resolução de casos concretos que era chamado a fazer. O
pretor seguinte aproveitava os comprometimentos feitos por pretores anteriores e
copiava os para o seu edicto.

Edictos novos/originais – disposições que o pretor acrescenta por sua própria


iniciativa no seu edicto nacional, que não resultam da transposição dos compromissos
assumidos pelos seus antecessores.

Séc. II d.C. – época de Adriano: em nome da certeza e da segurança, Adriano


manda codificar todos os edictos para serem editados e organizados num edicto
só – edicto perpétuo ou ordinário – já não significa edicto anual, mas sim definitivo,
que devia ser seguido por todos os pretores; significa um reforço da certeza e da
segurança do direito, mas não deixa de ser uma brecha tremenda na atividade
criativa do pretor, que agora já não constrói o seu edicto de acordo com aquilo que
era a sua interpretação dos casos da vida que mereciam proteção e passa a ser a
vinculação do pretor por ato ou decisão do imperador a um trabalho doutrinário que
estava pré programado.
O pretor pode criar edictos mas também pode decretar. Como tribunal, o pretor
essencialmente decreta. O centro da sua atividade está essencialmente aqui. Ele
preside o tribunal, garante a administração da justiça e, portanto, a forma normal é
decretar, resolver imperativamente os casos da vida, porque a sua função principal é
administrar a justiça das causas civis.

O pretor faz os seus decretos através de expedientes. Até 130 a.C., os expedientes
do pretor eram baseados no seu poder de imperium. Depois de 130 a.C., vai poder
resolver casos da vida baseados no seu poder de dizer o direito e, por isso, com
uma liberdade maior.

EXPEDIENTES DO PRETOR (baseado no imperium) até 130 a.C.


 Stipulationes praetoriae: a stipolatio é um negócio jurídico, oral e verbal
(implica a presença das partes), destinado a criar obrigações – gerava deveres
e direitos recíprocos para as duas partes. Da stipolatio nasce uma obrigação
(obligatio) para o devedor, a de cumprir aquilo a que se tinha vinculado, e o
direito de ação (actio) para o credor, afim de obrigar o devedor a cumprir o
negócio, caso este não o fizesse voluntariamente.
Era imposta pelo pretor a fim de proteger uma situação social não prevista pelo
ius civile e que merecia proteção.
 Restitutio in integrum: expediente do pretor, baseado no seu imperium, a
considerar como inexistente um negócio jurídico injusto mas válido perante o

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

ius civile, fundando-se (o pretor) em circunstâncias de facto para tomar essa


posição.
1. Missiones in possessionem: é uma ordem dada pelo pretor, baseada no seu
imperium, autorizando alguém a apoderar-se, durante certo tempo, de bens de
outrem, com poderes de administração e fruição. Esta ordem pode requerer
sobre um bem certo e determinado ou sobre um património – conjunto de bens.
Pode evitar que alguém seja privado de um direito que ainda não tem, mas virá
a ter (herdança, por exemplo).
 Interdicta: ordem sumária dada pelo pretor, baseada no seu imperium, para
resolver uma situação que mereça proteção, pelo menos porque
aparentemente o direito está garantido por parte daquele que reivindica essa
ordem. Existem interdicta exiritorios – ordem do pretor para que a pessoa a
quem foi emprestado um bem comprove que este ainda está na sua posse;
interdicta proibitórios – o pretor pode proibir algo que possa perturbar o gozo
de alguém; interdicta possessórios – protege a possa dum determinado bem,
pois o ius civile não o protegia suficientemente.

Antes da lex Aebutia de formulis:


O sistema jurídico precedente à lex Aebutia de formulis, denominava-se «sistema da
legis actiones» (ações da lei), o que significa que o pretor e as atuações do pretor /
atuações processuais tinham de se acomodar de forma rigorosa ao que estava
prescrito nas leges. As legis actiones caracterizavam-se por serem orais.

Processo romano estava dividido em duas partes (segundo S. Cruz):


 in iure – ocorre perante o pretor; é feita a análise dos contornos jurídicos
da causa que opõe A a B.
 apudi iudicem – ocorre perante o iudex/juiz; apreciam-se os factos e
sobretudo produzia-se a prova e dava-se a sentença.

O pretor presidia à fase in iure. Este apenas concedia ou não a actio, conforme o que
estava previsto no ius civile. Quanto muito podia interpretar as hipóteses de concessão
e de não concessão.

A fase in iure era determinante e, por isso, o pretor decidia todo o processo, dirigindo
uma ordem ao juiz para este proferir a sentença, num ou noutro sentido.
Na fase apudi iudicem, o iudex não diz o direito, mas sim aplica o direito, decide
conforme a ordem que foi dada pelo pretor.

O juiz julga mas não decide, quem decide é o pretor, pois este é que diz como é que o
caso vai ser resolvido em função da prova que foi produzida.

Depois da lex Aebutia de formulis:


A partir da lex Aebutia de formulis (130 a.C), o processo passou a ser escrito. As
leges actiones desapareceram. O pretor passou a integrar e a corrigir diretamente o
ius civile por via processual. Através de um decretum, concede: Denegatio actiones e
Exceptio.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Para cada reivindicação passa a haver uma fórmula processual – ordem escrita dada
pelo pretor ao juiz para condenar ou absolver conforme se demonstra determinado
facto.
A fórmula esta dividida em várias partes:
 A nomeação do juiz, que geralmente é nomeado pelas partes;
 Indicação da pretensão do demarcante;
 Cláusula que manda absolver ou condenar o reu, consoante a prova que vier a
ser decidida;
 Qual é o estado da questão;
 Condenação, que é a clausula que manda condenar ou absolver o demandado
consoante a fórmula que é produzida.

EXPEDIENTES DO PRETOR (baseado na sua iurisdictio) após 130 a.C.


O pretor pode não apenas utilizar todos os expedientes baseados no seu imperium,
mas sempre que a justiça assim o exige pode não conceder uma actio que está
prevista no ius civile, pode inutilizar a eficácia dessa actio ou pode mesmo criar actios
próprias.
Tipos de actios:
 Denegatio actiones: se o pretor nega a concessão da actio civilis, pois verifica
que essa concessão em determinado caso concreto, seria uma injustiça.
 Exceptio: é uma cláusula concedida diretamente a favor do demandado, que
inutiliza a pretensão do demandante.
 Actiones praetoriae – o pretor, depois da lex Aebutia de formulis cria actiones
próprias. Actiones praetoriae contrapõem-se a actiones civiles.
 Actiones ficticiae: é uma imposição duma irrealidade ou de uma inexatidão.
Supõe uma criação, uma invenção.
 Actiones in factum conceptae: o pretor vendo que determinada situação
social merece proteção jurídica e não a tem do ius civile, concede uma actio
baseada no facto, para que se faça justiça.
 Actiones utiles: se o pretor aplica actiones civiles a casos diferentes, mas
semelhantes aos que os ius civile protege. Existe lógica por semelhança.
 Actiones adiecticiae qualitatis: actiones que responsabilizam o paterfamilias
pelas dividas dos seus filius ou servus.

Os pretores vivem com a delicadeza e o escrúpulo de não abusar dos seus poderes
(honeste vivere), com a preocupação de não prejudicar ninguém (alterum non laedere)
e com a ânsia de atribuir a cada um o que é seu.

O ius praetorium ou honorarium forma um sistema diferente do ius civile, mas não o
pode alterar. O ius civile só pode ser alterado por uma das várias fontes conhecidas:
ou por uma lex, ou por um senatusconsultum, ou por uma constitutio principis ou
pela iurisprudentia. Completa o ius civile, sobretudo adaptando a estática do ius civile
à dinâmica das condições sociais e económicas, e concretamente o pretor obtém esse
resultado admirável de permanente adaptação, mediante expedientes seus, baseados
no seu imperium e na sua iurisdictio.

Censura
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

A censura era uma magistratura ordinária não permanente. Era ocupada de inicio por
patrícios. A lex Publia Philonis, de 339 a.C., veio obrigar a que um dos censores
fosse plebeu. A importância da censura reforça-se com o plebiscito Ovíneo, de 312
a.C., que institucionalizou como função do censor a nomeação dos senadores.

Têm potestas; Não têm iuridictio, nem imperium

 Magistratura ordinária não permanente;

 Investida através de uma lex potestate censoria;

 Segue-se na hierarquia magistratural ao consulado e à pretura;

 Ocupada de início por patrícios;

 Duração de cinco anos para exercer funções efetivas apenas durante 18


meses (período necessário para fazer o recenseamento).

O Senado

O senado manteve-se na república como um dos mais importantes órgãos. Agora não
como estrutura representativa da classe patrícia, mas como assembleia política da
aristocracia romana, patrícia e plebeia. Faziam parte do Senado os antigos
magistrados, como por exemplo ex cônsules e ex pretores com enorme sabedoria e
influência.
O senado garantia a Roma estabilidade, continuidade institucional e conhecimentos
suficientes para orientar as magistraturas e a vontade popular.

Competências do Senado:

 Política externa;

 Recebe as embaixadas dos outros povos;

 Aprova tratados e faz declarações de guerra;

 Aprova as despesas para as operações militares;

 Cria e organiza as províncias (senatoriais);

 Fixa os cultos públicos;

 Auxilia o trabalho dos cônsules.

Para exercer os seus poderes, o Senado dispunha:


➔ Interregnum: o Senado assume as funções em períodos de ausência do
poder, garantindo a continuidade do imperium bem como em situações de
ausência dos magistrados titulares dos auspicia;

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

➔ Auctoritas patrum: é um poder efetivo de controlo e de confirmação das


deliberações das assembleias populares. A partir da lex Publilia Philonis, de
339 a.C., a proposta do magistrado é confirmada ou não antes de se submeter
à votação pelas assembleias populares. Evitando, assim, que uma lei ou
candidato não aprovado pelo senado fosse formalizado pela decisão da
assembleia popular e assim, entrar em vigor, mesmo que o senado não
concedesse a auctoritas. A inversão do auctoritas patrum reforça o papel
político do senado e a sua importância na formação normativa do ius;

➔ O senatusconsultum era a consulta dada pelo senado a um magistrado a


pedido deste. Podia ser interrompido por intercessio. Não cria diretamente o ius
civile, apesar da sua eficácia normativa crescente.

Quarto período: O Princeps como primus inter pares (27


a.C. a 285)

Características gerais sobre o Principado


A atribuição da data do início deste período (27 a.C.) é simbólica, coincidindo ao
momento em que a Octávio é atribuído o nome Augusto, ao que corresponde uma
função sacrossanta:
a) Formalização da sua filiação divina;

b) Atribuição de uma figura providencial;

c) Poder de nomear os sacerdotes.

O inicio do principado, 27 a.C., está associado ao fim da crise da republica


romana, iniciado com a morte de Júlio César.

O principado não passou de uma forma pragmática de governar, assente no


exemplo de Augusto e sujeito às características pessoais do titular do poder
político. Logo, o pendor subjetivo, do titular do poder, sobrepunha-se sempre às
tentativas de objetivar o regime em normas e instituições jurídico-políticas.

Octávio (Augusto) exerceu o poder politico supremo, a partir de 43 a.C., através de


um triunvirato em que ela ele o centro, em clara contradição daquilo que resultava
da “constituição” republicana. Em 22 a.C., esgotado o modelo do triunvirato como
modelo de exercício do poder universal, Augusto declara-se princeps por
consensus universorum.

Em 31 a.C., Augusto renova sem oposição os seus poderes de cônsul único.


Augusto trilhava um caminho bem preparado de concentração de poderes, com a
justificação de não haver outra alternativa para manter as instituições ainda
existentes em Roma.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Estava aberto o caminho para um regime que concentrava todos os poderes nas
mãos de um homem só: o princeps/imperator/augustus.

Augusto usava o título de imperator para significar que era ele o titular do poder
único e os poderes supremos eram só dele.

Com a tribunícia potestas Augusto adquire:


 Qualidade de sacrosantus;
 Poder de intercessio contra todo e qualquer ato de magistrados e do Senado;
 Ius agendi cum plebe;

O Principado é uma tentativa política de concretizar no governo de Roma uma síntese


entre as instituições da República e as da Monarquia. Assente no exemplo de
Augustos sujeito às características pessoais do titular do poder político.

A constituição republicana tornou-se insuficiente perante as novas realidades,


entrando em crises sucessivas. Dispõe frequentemente à ditadura. Estas realidades
são, principalmente:

 O alargamento extraordinário do poder de Roma;


 Uma grave e profunda desmoralização do povo romano;
 O aparecimento de novas classes sociais;
 O antagonismo entre a velha nobreza e a nova aristocracia formada por
armadores de navios, banqueiros e industriais;
 Luta de classes de várias ordens;
 Revolta dos escravos que pretendem liberdade.

O povo romano encontrava-se desiludido com o absolutismo de Sila que mandou


assassinar dezenas de pessoas, incluindo senadores; desapontado com o reinado de
Pompeu e com a monarquia de César, que foi considerada um crime.

Como é que o povo romano confiou em Octávio? Qual foi o caminho


de Octávio para Princeps?

43 A.C: Octávio é protagonista do triunvirato, com um mandato de cinco anos;


38 A.C: renovação do mandato por mais cinco anos;
33 A.C: Octávio declara-se princeps;
31 A.C: Vencedor de Cleópatra na célebre batalha de Áccio. Povo confiante em
Octávio;
27 A.C: Exerce o consulado único;

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

23 A.C: Renuncia o consulado e recebe dos comitia plebis, com caráter vitalício, a
tribunícia potestas e recebe dos comitia centuriata o imperium proconsulare maius por
10 anos. Constantes renovações também transformaram este em vitalício.

Augusto habilmente concentrou todos os poderes em si próprio, com a justificação de


não haver outra alternativa para manter as instituições ainda vigentes em Roma.

Princeps: é o primeiro senador, o primeiro cidadão, o primeiro em deveres de Roma.

Direitos e deveres do prínceps:

 A inviolabilidade (sacrosanctitas);
 O direito de veto sobre as deliberações de todos os magistrados (ius
intercessionis);
 O direito de convocar o senado e as assembleias populares;
 Realizar intercessio;
 O direito de apresentar propostas de lei, tanto num como noutras.

O imperium proconsulare maius atribuía-lhe:


 Poder de comandar os exércitos;
 Fiscalizar pessoalmente a administração de todas as províncias, quer imperiais
(sujeitas directamente ao princeps) quer senatoriais (cuja guarda estava
confiada ao senado).

As antigas magistraturas republicanas, na aparência, mantêm-se, mas o seu poder é


quase irrelevante: estão subordinadas ao princeps e numa situação de colaboração
forçosa. Os magistrados transformam-se em funcionários executivos, nomeadamente
os cônsules e os pretores.

O princeps tinha a possibilidade de decidir sozinho sobre todos os aspetos da vida


romana até aí dispersos pelas magistraturas, numa rigorosa separação assente em
regras e impedimentos marcados pelo cursus honorum, que extingui-o o ius criado
pela auctoritas dos jurisprudentes independente da lex imposta pelo imperium dos
políticos.

Senado
O Senado é fortalecido, através do estabelecimento de uma idade mínima para se
ascender ao Senado e de um número limite de senadores; também passou a gerir o
cúlio – importante para a expansão de Roma.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Senatusconsultum silanianum – A partir do ano 10 d.C., atribui-se força de leis aos


pareceres emitidos pelo Senado. A primeira vez em que isto se verificou foi quanto à
situação dos escravos que matavam os seus senhores – assumiu-se que a decisão
tomada pelo Senado quanto a esta matéria deveria ser obrigatória.
O populus aceitou bem esta nova função do Senado, pois este já tinha um grande
impacto nas fórmulas, elaboradas pelo pretor, para criar a lei.

Oratio prínceps – propostas do Princeps ao Senado.

Quem pode aplicar a justiça contra o prínceps, no caso de este atuar


contra o ius civile?
O senado não pode, já que o prínceps é primeiro senador, logo são aliados.
Os magistrados e o pretor podem opor-se ao prínceps. O tribunal do pretor pode
decidir contra o prínceps, contra o poder político. No entanto, como o prínceps tem
poder de intercessio, os magistrados seguem as indicações e a vontade do prínceps.

Magistrados – representam a pluralidade do poder político. César Augusto mantém


os magistrados, mas declara-se cônsul vitalício (contraria o mandato anual). Os outros
magistrados continuam a exercer as suas funções.

Cônsules
Os cônsules continuam a administrar a cidade, mas como o princeps tem poder de
intercessio, estes passam a vincular-se aquilo que o princeps quer, ou seja, perdem a
sua liberdade e autonomia.

Censores
Foram abolidos, passa a ser o prínceps a propor os nomes dos integrantes ao senado.

Pretores
Os pretores vão resistir mais tempo, pois o seu trabalho é mais técnico.

Tribuno da plebe
Este magistrado extraordinário perde toda a sua importância, pois o prínceps tem
exatamente as mesmas funções que ele tinha.

Assembleias populares

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Começam a perder a função legislativa para o senado; os homens mais válidos estão
a combater na legião romana, pelo que a sua composição está desfasada, o que as
enfraquece.

Jurisprudência

Considerações gerais
A interpretatio do ius civile era considerada, no início de Roma, uma atividade em
monopólio exclusivo dos pontífices e situava-se no âmbito religioso.
Só no séc. III a.C. se iniciou o processo de racionalização progressiva da
iurisprudentia, libertando-se da imposição religiosa que a caracterizava, num processo
designado, normalmente, como laicização/secularização da jurisprudência.

Ius civile -> aplicação pelo pretor, interpretação pelo jurisprudente.

O pretor pode eventualmente consultar o jurisprudente – este tem auctoritas.

O iurisprudente tem papel central da construção jurídica de Roma.


É criadora de direito novo pelo pretor: tem sempre por trás o jurisprudente.

O pretor é magistrado, os magistrados não são juristas, não precisam de conhecer o


direito, podem apenas estar no cargo para chegar a cônsules.
Os jurisprudentes são um conjunto vastíssimo de pessoas (a maior parte anónima),
chegaram até aos dias de hoje os nomes de alguns jurisprudentes; antes deles, ao
longo dos séculos de Roma, encontramos jurisprudentes (os que pensam o direito e
interpretam-no, aplicam a justiça), têm papel central na construção e desenvolvimento
do ius civile e ius gentium.

Não é escrito o pensar do direito por muito tempo, era explicado e pensado na praça
pública, não é reduzido a escrito em livro; vai ser, mas mais tardiamente na época
cristã.

Monarquia – os jurisprudentes são os pontífices (sacerdotes pontífices), tiveram um


papel importante na interpretação dos mores maiorum e no direito de ler os sinais
divinos; tem conhecimento aprimorado destes.
Durante o período da Monarquia, a jurisprudência é patrícia e pontificial.
Com o evoluir da sociedade de Roma, a jurisprudência vai laicizar-se/racionalizar-se: a
jurisprudência perde o cunho pontificial e patricial; o pontífice deixa de ser o patrício, é
possível ascender à função de jurisprudente qualquer cidadão romano – laicização:
perde o que tem de divino e que marca o período da Monarquia, vai permitir que

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

outros cidadãos que não os patrícios possam interpretar o direito e serem


jurisprudentes.

Este processo de laicização teve três etapas:


5. A positividade de preceitos de ius civile na Lei da XII Tábuas
6. O ius flavianum
7. O ensino público do Direito

A lei das XII Tábuas


A promulgação da Lei das XII Tábuas, cerca de 450 a.C., corresponde à aceitação de
que um direito consuetudinário não-escrito permitia aos intérpretes detentores dos
segredos do sagrado, um imenso arbítrio e amplitude na forma de resolver os litígios
invocando o ius, favorecendo patrícios em detrimentos dos plebeus.
O trabalho dos decemviri legibus scribundis visava acabar, pela publicidade da lei,
com o segredo pontifício do Direito. As normas a aplicar passaram a ser, no seu
núcleo essencial, do conhecimento de todos.
O monopólio pontifício permaneceu na interpretação dos preceitos da Lei das XII
Tábuas, das normas consuetudinárias que ficaram de fora e na formalização dos atos.
Mas a primeira brecha no sentido da racionalização do procedimento jurídico em
Roma estava dada.
A Lei das XII Tábuas contém disposições com conteúdos inscritos nos direitos público,
privado e processual e serviu de base para o labor da jurisprudência.

Ius Flavianum
Em 304 a.C., Cneu Flávio, escravo escriba de um sacerdote pontífice chamado Ápio
Cláudio, publicitou uma coleção de fórmulas processuais das legis actiones, revelando
o segredo bem guardado pelos pontífices do processo seguido na tramitação das
actiones.
Esta coleção ou recolha de fórmulas processuais no âmbito do processo per legis
actiones ficou conhecida como ius Flavianum e permitiu a Cneu ocupar os cargos de
tribuno da plebe e de edil curul. Já magistrado, Flávio publicitou no fórum o calendário
religioso, fazendo desabar um dos últimos segredos dos pontífices, fonte do seu poder
incontestado.
Tendo o ius Flavianum revelado fórmulas processuais e o calendário com os dias
fastos e nefastos, para a coleção de ações, considera-se ser esta uma das etapas
mais importantes para o fim do monopólio pontifício e do domínio do sagrado no
âmbito da criação, interpretação e aplicação do Direito em Roma.

O ensino do Direito
O primeiro plebeu que conseguiu aceder ao cargo de pontifex maximus foi Tibério
Coruncâneo, em 253 a.C. Consciente da importância da transmissão dos
conhecimentos por ele obtido na irreversibilidade das reformas que publicitaram as
regras aplicáveis e abriram o Olímpio pontifício aos plebeus, começa a ensinar Direito
em público.
Fá-lo enquanto responde publicamente às questões que lhe são colocadas na
qualidade de pontifex maximus. Assim, os commentarii pontificum deixam de ser de
acesso exclusivo dos pontífices, passando a ser de acesso livre. Todo aquele que
quisesse aprender Direito podia assistir às consultas de Tibério Coruncâneo.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

A partir daqui, os pontífices deixaram de ser os únicos consultados para resolver


litígios. Agora sabia-se que o Direito era uma coisa humana que todos podiam
conhecer e a que podiam aceder.

Laicizada a jurisprudência pontifícia, os sacerdotes pontífices são substituídos pelos


iuris prudentes. A interpretatio das regras de ius passa a ser conhecida apenas como
iurisprudentia.
O jurisprudente não é magistrado – pode ter exercido essa função, mas enquanto
jurisprudente não o é –, não tem imperium, não tem potestas, não tem iurisdictio
(aplicação da justiça, não a administra, não vincula ninguém com a sua opinião).

Três momentos da atividade da jurisprudência, no séc. II a.C.:


 Respondere: atividade que consistia em dar às pessoas que procuravam o
prudente, conselhos sobre a possibilidade de intentarem uma actio, do seu
êxito ou de darem pareceres, em casos que envolvessem a interpretação
de normas do ius civile. Era a atividade mais importante dos jurisprudentes.
 Cavere: atividade de elaboração de esquemas negociais cuidando do
interesse adequado ou de contratos de ius civile, ou seja, era a atividade de
redigir formulários para os negócios jurídicos.
 Agere: atividade desenvolvida na assistência às pessoas que procuravam
o sobre a escolha da via processual mais adequada para prosseguirem
com êxito os seus interesses, que era depois utilizada na defesa do
interessado perante o juiz na fase processual seguinte.

Responsa – Opiniões que o jurisprudente emite acerca de um caso concreto (real ou


ficcionado).

Ars inveniendi: Método de trabalho do jurista romano. Nós estamos condicionados


pelo sistema. No direito romano não há sistema e o pensamento é problemático. Não
é a arte de inventar, é a arte de encontrar argumentos para fortalecer a opinião de
justiça acerca de um caso da vida. Não basta encontrar a solução para o caso da vida,
é preciso fundamentar a sua opinião em rationes / argumentos , de justiça, de
liberdade.
Destas atividades, herdadas da iurisprudentia pontifícia, a mais importante passou a
ser a de respondere. Era através das respostas às questões colocadas que o
jurisprudente actuava ad cavendum et ad agendum.

Enquanto os sacerdotes pontífices respondiam apenas perguntas em relação a casos


concretos, os jurisprudentes, partiam de um caso concreto para depois responder às
hipóteses a aos problemas análogos colocados pelos auditores.

Características fundamentais da atividade jurisprudencial:


 Gratuitidade: pareceres e conselhos não eram renumerados.
 Publicidade: as respostas dadas eram públicas e argumentadas, em
contraponto ao segredo que rodeava a atividade dos pontífices antes da
laicização da iurisprudentia.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

PERIODIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
Época arcaica (754 a.C. – 367 a.C.)
A época arcaica decorre da fundação de Roma, até às leis liciniae Sextiae que deram
permissão aos plebeus para se candidatarem a cônsules.
Neste período é formada a civitas quiritaria, com um direito rudimentar de base
consuetudinária e interpretação religiosa. É nesta fase que se começam a desenhar,
ainda que de forma apenas pré-embrionária, as principais instituições e os institutos do
ius romanum.
Com a Lei da XII Tábuas e a sua implantação na resolução de conflitos surgem os
institutos jurídicos e a base concetualizadora do ius civile.
Com a abertura do colégio pontifício aos plebeus; a divulgação das fórmulas e regras
processuais dos sacerdotes por Tibério Caruncânio, tornando público o modo de
proceder à interpretatio das regras do ius civile, com a positivação das regras
fundamentais na Lei das XII Tábuas; com o ensino público do Direito, a jurisprudência
passa a desenvolver-se com bases racionais como uma atividade das mais nobres
que se podia aspirar.

Época pré-clássica (367 a.C – 27 a.C.)


A época pré-clássica, que se inicia no séc. IV a.C. e vai até ao fim do século I a.C,
encerrando com os primeiros poderes constitucionais conferidos a Augusto como
princeps.
Neste período a república em Roma, devido à expansão territorial mediterrânica,
sobretudo a partir da segunda guerra púnica, surgem ao lado do ius civile, o ius
gentium e o ius honorarium.
O ius gentium era constituído por um conjunto de práticas e de normas criadas pelo
pretor peregrino e destinadas a regular as relações e a dirimir os conflitos entre
romanos e não romanos, com características mais adaptadoras e leves que o ius
civile.
O ius honorarium era o acervo de normas criadas a partir da ação do pretor urbano na
sua atividade de adaptação das regras do ius civile às alterações da vida na Civitas
para efeitos da sua aplicação na resolução de conflitos.
A jurisprudência, começa no fim deste período, a ser organizada e sistematizada. Os
materiais dispersos são reunidos e apresentados de acordo com as normas
expositivas da literatura grega, matriz filosófica.

Época clássica ( 27 a.C. – 285 d.C.)


A época clássica corresponde ao período do regime constitucional do Principado e vai
até à subida ao trono do imperador Diocleciano.
Neste período o prestígio da jurisprudência e o recurso ao Direito teve um
desenvolvimento sem paralelo na história do Direito Romano.
Além do ius civile, do ius gentium e do ius honorarium, a atividade legislativa do
princeps e do senado e a atividade do pretor, tornaram-se intensos de são
potenciados pela universalização que se seguiu ao edicto de Caracala, que estendeu
a cidadania romana a todos os habitantes do império.
É o período em que o poder político tenta controlar a jurisprudência através do ius
publice respondendi ex auctoritate principis levando a uma situação em que a
responsia prudentium passam a ser fonte imediata de direito.
A atividade independente e isolada do jurisprudente está a chegar ao fim. A
oficialidade – mesmo no sentido de funcionalização – dos jurisprudentes – é agora
imparável.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

A atividade dos jurisprudentes vai sendo cada vez mais narrativa, sistematizadora,
investigativa e divulgadora, com sacrifício do livre exercício de respondere.

Época pós-clássica (285 – 395)


Vai até ao fim da unidade geopolítica do Império Romano e caracteriza-se por uma
grave crise institucional acompanhada por uma mudança de paradigma na criação de
ius publicum, agravadas pelo progressivo fim da romanidade e das tradições itálicas
como fonte de recuperação política do Império no seu retorno a Roma.
Mas não é só a mudança no campo de intervenção destinado à jurisprudência do ius
privatum que atestam a profunda crise de identidade e o estado vegetativo em que se
encontra a jurisprudência neste período.
Mais importante é a total falta de liberdade criadora dos jurisprudentes. Num ambiente
político de absolutismo aristocrático; ao serviço do imperador, o ius é só lex e a
expressão jurisprudencial é só escrita e referida ao passado.

Estão criadas as condições para a cristalização do ius em códigos feitos por


jurisprudentes escolhidos pelo imperador e aprovados pela sua auctoritas política que
outra coisa não é que a afirmação constante e sistemática de um poder alcançado e
mantido pela força das armas. O Direito torna-se impositivo e ao sabor da vontade de
quem manda, sem que a jurisprudência diga o ius ou denuncie quem o diz por ela.

Ius publice respondendi e o fim da iurisprudentia


No início do principado a jurisprudência enfrenta uma crise de objetivos: a atividade de
criação de um ius novum, enunciando regras jurídicas por interpretatio das velhas
regras do ius civile e dos mores maiorum, para responder aos novos casos, estava
globalmente cumprida; a atividade de integração do edictum do pretor estava também
relativamente esgotada. Pedia-se agora aos jurisprudentes que aperfeiçoassem,
organizassem e sistematizassem, para compreensão e aplicação, o conjunto de
regras, princípios e modos de concretização processual do Ius Romanum.

Com a mudança de regime político, ao abrigo da função de garantir a ordem interna e


a paz externa o princeps vai assumindo progressivamente um poder cada vez mais
intenso e extenso na forma como intervinha nas instituições republicanas que ainda
sobreviviam, mas de que restava apenas o nome.

Todas as regras jurídicas dependiam na sua execução, da vontade do princeps; e os


mecanismos de equilíbrio e controlo da república tinham sido entregues àquele que
exercia todos os poderes: o princeps.

Augusto fez passar com êxito a ideia de que o sistema republicano não era o mais
adequado para a manutenção do Império e a expansão romana, também garantiu a
aceitação pelos romanos de um controlo indireto da iurisprudentia com a explicação de
que a proliferação de jurisprudentes e a dispersão de soluções dadas no fórum
colocava em risco a segurança e o acerto de sentenças. Deixou entender que só
intervinha, a contragosto, pela necessidade de colocar em ordem a iurisprudentia,
salvando-a assim dos jurisprudentes e no sentido de a revalorizar e melhorar o seu
funcionamento.

Para isso, criou o ius publice respondendi, como uma concessão dada por ele a
certos jurisprudentes que servia como condição de acesso da solução do jurisprudente
à sentença a proferir pelo juiz com utilidade para a parte que o consultava.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Como os jurisprudentes eram muitos e davam soluções diferentes para os mesmos


casos, o que baralhava os juízes e aqueles que recorriam ao tribunal, Augusto
concede a alguns deles o direito de responder em público às questões colocadas
pelas partes como se fossem o próprio princeps.

Uma vez instituído o processo, os jurisprudentes fariam tudo para agradar ao princeps.
Isto é, opiniões dotadas de imperium que só passavam pelo iudex para respeitar uma
praxe constitucional. Iudex que mediatizava na forma, mas não tinha qualquer
intervenção no conteúdo das sentenças assim expressas.

Augusto ordenou que as respostas ou pareceres dos jurisprudentes com ius publice
respondendi fossem enviadas para o iudex em tábuas fechadas e seladas, com o
pretexto de não haver possibilidade de deturpações ou desvirtuamentos
interpretativos. Ora, a integridade e autenticidade das responsa eram valores menores
a salvaguardar que a publicidade e abertura da atividade de respondere. Ao tornar
secreta a atividade jurisprudente que conduz à decisão do iudex, o princeps garante a
possibilidade de manipulação da sentença. Os procedimentos experimentados aqui
nas responsae autorizadas destes jurisprudentes servirão mais tarde de modelo ao iter
formativo dos rescripta do imperador. Não era só o secretismo agora reinstaurado que
correspondia a um retrocesso imenso na iurisprudentia romana. Era também o
regresso do monopólio efetivo da interpretatio jurídica por um conjunto limitado de
membros da aristocracia senatorial. As responsa dos jurisprudentes dotados de ius
publice respondendi não eram fonte imediata de direito, nem tinham características de
generalidade e abstração.

O ius publice respondendi não só atraiu os jurisprudentes para a área política e o


círculo do poder, como tornou a iurisprudentia coisa oficial, isto é, fiscalizada pelo
poder político e subordinada à vontade do princeps. Na política de centralização
estadual do Principado a iurisprudentia era um instrumento essencial para a expressão
das orientações autocráticas do princeps de modo indireto, através dos jurisprudentes.

Ius publice respondendi: direito de emitir opinião em público.


Ex auctoritas princeps: sob o poder do Príncipe.
Dizer o direito em público como se se tratasse do Príncipe.
O instituto vai funcionalizar o jurisprudente: vai fazer com que a jurisprudência
(atividade de opinião livre na República) passe a estar dependente de uma lista oficial
criada pelo Imperador/Príncipe.
Escolhe os jurisprudentes nos quais tem mais confiança, faz uma lista, dos que têm
poder de vincular as partes – passa a ser vinculativa, passa a ser fonte IMEDIATA de
direito.
O parecer dado pelo iurisprudente com este poder vincula as partes e o tribunal – é
doutrina oficial.
Augusto não acaba com a jurisprudência, não inibe ninguém de dar opiniões, não
proíbe a consulta de jurisprudentes; apenas vincula o tribunal do princeps à opinião do
jurisprudente com ius publice respondendi; consulta-se mais frequentemente este, é o
início de criação de doutrina oficial em Roma.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

É um motivo político, para além do motivo jurídico de decidir quem tem razão.

Ius publice respondendi ex auctoritas princeps: direito de responder como se fosse


o próprio prínceps a emitir a resposta - responsas dadas pelos prudentes que têm
tanta força quanto as do princeps; esta opinião vincula se para o caso concreto; deve
ser transmitida em arca fechada, para que a opinião daquele prudente não possa ser
adulterada. Não vale como lei geral e abstrata, por isso não vincula casos análogos.
Valem apenas para o caso concreto em que foram pedida pois tem a potestas do
princeps. Os prudentes que não têm ius publice respondendi, rogaram ao principe
para a ter e os que a têm, para evitar não a perderem, vão tentar agradar o prínceps.
O pretor passa a estar condicionado, vinculado à opinião do prudente porque esta
representa a opinião do prínceps. O CRITÉRIO ERA O DA AUTORITAS.

Causas do fim do principado


 Centralidade de poderes no imperator
 Desromanização do Império
 Fim das grandes campanhas militares, seca a fonte de angariação de escravos
 Incapacidade politica de manter os vínculos institucionais a Roma de todas as
parcelas obrigou a iniciar um processo de autonomia politica progressiva das
províncias.
 Divisões territoriais e étnicas, devido ao recrutamento de pessoal oriundo das
províncias para o exército.

Leges publicae datae


Normas jurídicas dadas pelo governo central a comunidades locais. Exemplos:
estatutos locais e concessões de cidadania.

Leges publicae dictae


Leis proferidas por um magistrado em virtude dos seus próprios poderes. Lex dicta
é a lex rei suae dicta, aplicada ao direito público.

Constituições imperiais
Constitutiones principum vieram substituir as decreta principum.

NO PERIODO DO PRINCIPADO E DO DOMINADO


As constituições imperiais são decisões de caráter jurídico proferidas diretamente
pelo imperador.
O princeps é a nova e grande figura da constituição política de Roma. Não sendo
nem rei nem cônsul nem sequer magistrado, tem um poder quase absoluto. As
antigas magistraturas republicanas, sobretudo os cônsules e os pretores,
transformaram-se em funcionários executivos. Tudo e todos subordinados ao
princeps numa colaboração forçada. O princeps começa a proferir edictos para o
público. Os edictos dos magistrados eram fonte do ius honorarium, mas como o
princeps não é um magistrado, os seus edictos passam a ser fonte do ius civile.

Partes de uma constitutio:

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

1. Inscriptio: contém o nome do imperador, autores da constituição, e o da


pessoa a quem é dirigida.
2. Corpus: onde está a matéria ou conteúdo da constituição.
3. Subscriptio: contém a data e a indicação do local onde foi escrita.

Motivos para os quais as constituições imperiais adquiriram carácter


normativo-jurídico
A partir do séc. II, as constituciones principum têm valor de lei; são como uma lex
rogata. Depois, são uma lex; e finalmente, só elas é que são leges.

As constituições imperiais adquiriram carácter normativo-jurídico, portanto com


valor igual ao das leges e dos senatusconsultos, devido a um equívoco do
populus. Este, quando viu o imperador carregado de prestígio, cheio de auctoritas,
convenceu-se de que tudo o que ele ordenasse tinha valor de lei. O populus acata
sem relutância. Os juízes recusaram-se a aplicar nos tribunais as constituições,
sobretudo quando viam que eram injustas. Luta entre juízes e imperador. O
desprezo dos juízes pelas constituições imperiais, qualificava-se de sacrilegium,
punido até pena de morte.

Tipos de constituições imperiais


3. Edicta: de carácter geral; proferidas pelo imperador no uso do imperium
proconsulare maius.
4. Decreta: eram decisões pronunciadas pelo imperador, naqueles pleitos
submetidos à sua apreciação.
5. Rescripta: respostas do imperador dadas por escrito às perguntas ou aos
pedidos que lhe faziam quer os magistrados, quer os particulares.
6. Mandata: ordens ou instruções dadas pelo imperador aos governadores das
províncias, funcionários, etc.

NO BAIXO IMPÉRIO
A partir do séc. IV, as constituições imperiais são a única fonte de direito. Só o
imperador é que tem o poder de criar leis. O imperador já era considerado dominus
et deus do império. Este ius novum, contrapõe-se ao ius. O ius é superior às leges
em matéria de dto privado; as leges são superiores ao ius em matéria de dto
constitucional e administrativo.

Tipos de constituições imperiais:


1. Edicta: leges generales, de aplicação a todo o império.
2. Rescripta: leges speciales, com igual sentido como no período anterior.
3. Adnotationes: substituem as subscriptiones.
4. Decreta: neste período já resolve muito poucos casos, pois tem (o imperador)
o seu próprio tribunal oficial (cognitio).

Senatusconsultum
Etimologicamente, o conceito de «senatusconsultum», significava, inicialmente,
uma consulta feita ao senado. Visto que, no período da Monarquia, os
magistrados consultavam o senado para a resolução de certo tipo de
problemas, ainda que não estivessem vinculados a aceitar a sua opinião. No
entanto, as opiniões do senado foram ganhando relevância ao longo dos
tempos, e o seu significado sofreu uma alteração para decisão do senado.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

Assim, os senatusconsultos assumiram-se como uma fonte do «ius civile» muito


importante, que percorreu um longo caminho para conseguir obter a categoria de
verdadeiras normas jurídicas.

Até ao séc. I a.C., quando o senado ainda era um mero órgão consultivo, cabia-lhe
apenas conceder ou não a «auctoritas patrum» às leis comiciais e recomendar aos
magistrados que tinham «ius agendi cum populo» algumas medidas, que depois
seriam votadas nos comícios. Após a data referida anteriormente, os senatusconsultos
tornam-se fonte mediata de direito, principalmente através do edicto do pretor, que
tinha «actio» e ter «actio» é ter «ius», logo através do edicto do pretor, os
senatusconsultos passaram a ser fonte do «ius».
Durante este período, o povo não reconhecia o senado, como fonte mediata de direito,
mas sim como fonte imediata (função que cabia ao edicto), ou seja, que podia legislar.
Assim, já nos fins do período da República, o senado aproveita o ambiente de
confiança que o povo lhe deposita, para criar direito novo, sem o intermediário do
pretor ou dos comícios.
O grande período de prosperidade dos senatusconsultos verifica-se desde o início do
Principado, em que estes já eram reconhecidos como fontes imediatas de direito. O
primeiro senatusconsulto, com força de lei, foi criado no ano 4 a.C. e tratava de
matéria processual. No ano de 10 d.C, surge o primeiro senatusconsulto com força
legislativa, sobre o direito substantivo, os « senatusconsultum Silanianum”. Os
«senatusconsultum Silanianum» tinham o fim de reprimir os assassínios de
proprietários, cometidos pelos escravos.
A estrutura formal do «senatusconsultum» era constituída pela «praefatio» e pela
«relatio». O primeiro continha o nome do magistrado convocador e dos senadores que
de alguma forma participaram na redação da proposta; e a data e o local em que se
celebrou a reunião do senado. O «relatio» relata os motivos, proposta apresentada, a
sentença, a resolução e/ou a decisão aprovada.
Em princípios do séc. II d.C, o poder do imperador Adriano retirou o poder do senado
de estabelecer as normas, conferindo agora esse poder exclusivamente ao próprio
imperador. O «princeps» fazia a «oratio» onde propunha ao senado o projeto de um
«senatusconsultum», e o senado aprovava automaticamente tal proposta, sem se
debater contra ela. Os senatusconsultos passam, apenas, a ser a expressão da
vontade do «princeps» («orationes principis in senatu habitae»).
No final do séc. II, é a própria «oratio» do imperador que estabelece as leis, perdendo
o seu carácter de proposta apresentada ao senado, para adquirir o carácter de edicto
do imperador.

«Senatusconsultum velleianum»

O «senatusconsultum velleianum», denomina-se assim por ter sido originário da


proposta ao senado pelo cônsul Velleus, que pensa-se datar do ano 58 d.C. Veio
generalizar, a ideia já defendida por Augusto e Cláudio de que as mulheres
casadas fossem proibidas de praticar o «intercessio» a favor de qualquer homem.
O «intercessio» significava a intervenção favorável em relação a outrem, no direito
privado; e em direito público significa proibição e vetar. No caso da deliberação
correspondente aos «senatusconsultum velleianum», este era um problema do
foro privado.

O verdadeiro objetivo deste «senatusconsultum» era proteger as mulheres contra


o risco em que ficavam sendo intercedentes dos homens. No entanto a proibição

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

da «intercessio» não anulava o negócio, mas tornava o negócio totalmente


ineficaz.

Por outro lado, havia casos em que se verificava a não aplicação do


«senatusconsultum velleianum». Por exemplo, uma mulher tinha a liberdade de
fazer doações para pagar a divida de outrem, pois não se tratava de uma
obrigação, mas sim, de uma ação feita por vontade própria da mulher. Por isso, o
«senatusconsultum velleianum» tinha o interesse de proteger a mulher obrigada e
não a mulher doadora.

«Senatusconsultum neronianum»

O «senatusconsultum neronianum», datado do ano 60 d.C (?), dá por este nome


por ter sido o imperador Nero a apresentar a proposta ao senado. Tinha como
objetivo tratar da conversão de um certo tipo de legados nulos em legados
damnatórios, também designados como legados de obrigação. Neste legado
produzem-se efeitos pessoais, em que o legatário, pode exigir de volta o seu
legado ao seu herdeiro, em caso de incumprimento de administração do que lhe foi
herdado.

«Senatusconsultum macedonianum»

Data do ano de 75 d.C. (?), e tem especial importância no Código Gregoriano, nas
«Pauli Sententiae», no Digesto do «Corpus Iuris Civilis» e no Código Justiniano.
Tem a designação de «macedonianum», devido a um anónimo chamado
Macedónio que teve um comportamento escandaloso. Macedónio, cometera as
maiores imoralidades, incluindo o próprio homicídio do seu «pater», devido ao
dinheiro que dispunha e obtinha através de empréstimos, que o endividaram de tal
forma, que a morte do seu «pater» seria única maneira de herdar os seus bens,
para que pudesse saldar as dívidas.

O «senatusconsultum macedonianum» proibia o empréstimo de dinheiro a todo o


«filiusfamilias», mesmo que ocupasse um cargo alto, para assim proteger as
famílias de uma atrocidade igual ou pior àquela que Macedónio cometera. A
limitação de emprestar dinheiro aos «filiusfamilias», apenas se verificava com
empréstimos em dinheiro, mas havia casos excepcionais em que o empréstimo era
autorizado: quando o «filiusfamilias» era já «sui iuris»; se o dinheiro fosse
emprestado ao «pater»; caso o dinheiro fosse emprestado aos herdeiros do
«filiusfamilias»; ou o empréstimo fosse feito, ao garante da dívida em dinheiro
contraída pelo «filiusfamilias».

BINÓMIOS
Ius/fas
Na antiguidade clássica o Direito confundia-se com a religião. Reis e legisladores
recebiam dos deuses, as normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável
que apenas um restrito grupo de pessoas pudesse exercer a intermediação entre
os homens e os deuses.

Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as normas jurídicas – ius.


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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos deuses aos


seus reis ou sacerdotes. Este representa uma regra ideal de vida que não é sequer
contestada, porque foi criada pelos deuses.

A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex humana.

O ius resulta do fas;


O ius corresponde a um conjunto de convenções humanas cuja legitimidade e
obrigatoriedade assentam no fas;
O ius é de construção progressiva e procura nos mores maiorum a inspiração e
critério para a interpretatio do fas que está na sua base criadora.

Ius publicum/ius privatum


A distinção entre o dto público e o dto privado só começou a preocupar os
jurisprudentes na época de Adriano.

O ius publicum, só ganha importância em Roma quando as relações tuteladas pela


família são maioritariamente transferidas para o “Estado”. Passa a ser importante
no tratamento jurisprudencial dos casos.

Para Ulpiano, o que separa umas normas das outras é a utilitas: o dto público é
criado e aplicado para servir a entidade pública; e o dto privado é o que é útil para
os interesses das pessoas singulares.

A iurisprudentia, classifica dto público como o conjunto de normas que os


particulares não podem afastar, por te natureza imperativa, sustentado no seu
interesse geral e social.

Ius civile/ius honorarium


O ius civile era o conjunto de regras resultantes da interpretatio feita pelos
sacerdotes das regras divinas e dos mores maiorum. O ius civile aparece ao lado
do ius gentium, do ius naturale e do ius honorarium como elemento constitutivo.
Quanto às fontes de criação, dentro da civitas, o ius civile contrapõe-se ao ius
honorarium (dto criado pelos magistrados).

Diversidade de fontes:
 No ius civile: os atos legislativos e a interpretatio dos jurisprudentes. No
ius honorarium (ius praetorium): os atos do pretor no exercício da sua
iurisdictio e do seu imperium.
 ius praetorium, é um conjunto “normativo” mais completo, sistematizado,
integrado e eficaz que o ius civile.
 ius honorarium é todo o ius Romanum não-civile. É o dto criado pelo
edictos de: pretores urbanos; pretores peregrinos, edis curuís e
governadores de província.

O ius honorarium é um dto criado por magistrados e o ius civile é um dto derivado no
populus na interpretação dos jurisprudentes.
Numa concepção ampla de ius civile, cabe, no entanto, o ius honorarium que o toma
como referência e é fonte da sua renovação e complementos.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

A ação do pretor permite integrar, corrigir, adaptar e preencher o ius civile, em dois
momentos:
 No exercício do ius edicendi quando define no ius perpetuum as normas
que seguirá na sua actuação usando o imperium;
 No momento da sua aplicação, no âmbito da iurisdictio, com recurso à
aequitas.

A formalidade asfixiante do ius civile é aligeirada com as intervenções pragmática,


visando a eficácia do pretor, no âmbito do ius honorarium. O pretor podia
“trabalhar”, para efeitos de aplicação do ius civile, mas não podia recriá-lo ou
afastá-lo.

Só o tempo e uma crescente intervenção criadora do pretor no plano da aplicação


do ius civile, recebendo a actualizando as suas instituições e conceitos, derrubam
a resistência dos jurisprudentes que acabam por aceitar a actividade do pretor
como criadora de ius.

Com o tempo as contradições normativas e de solução entre o ius civile e o ius


honorarium (praetorium) vão sendo desfeitas. O ius civile mantém, no entanto,
como corpo normativo separado, a sua vivacidade e prestígio, como fiel repositório
de romanidade e de identidade jurídica assente numa tradição constantemente
adaptada, até ao fim do império no Oriente.

Ius naturale/ius gentium


Ulpiano define ius naturale como um direito comum a todos os animais, incluindo
os homens, no sentido de que não era um direito exclusivo dos homens.

A iurisprudentia romana resistiu à criação de um conceito e de uma instituição que,


igualizava, no plano jurídico, homens e animais. Já em plena época clássica os
jurisprudentes aproximavam os preceitos do ius naturale das regras do ius
gentium, criado pelo praetor peregrinus.
Mas, a evolução dos vários ordenamentos jurídicos vigentes em Roma aproxima,
para contrapor, o ius naturale e o ius gentium. A definição formal de ius gentium
não pode deixar de retratar o intuito prático, a expressão positiva e a natureza
complexa dos preceitos materiais do ius gentium.

O trabalho do pretor peregrino revelou a necessidade de adaptar o ius civile às


novas realidades sociais e ao comércio frequente que colocava romanos e
estrangeiros em confronto e em discordância nas relações privadas.

Ius singulare/ius commune


Para Paulo o ius singulare seria integrado por normas cujo conteúdo jurídico
corresponderia à antítese de princípios jurídicos gerais do ius. O ius singulare
contraria a ratio ínsita nos princípios de dto, isto é, no ius commune.
A diferenciação entre ius singulare e ius commune assenta nas oposições entre a
utilitas e a ratio; e entre a excepção e a regra.

Ius scriptum/ius non scriptum


A interpretatio dos mores maiorum é sempre designada nas fontes como ius non-
scriptum. De inicio o dto não estava escrito, mas vigorava através de regras a
observar na vida em sociedade, que passavam de geração para geração. A escrita
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

permite a publicidade e a generalidade das leis tanto como a possibilidade de


tratamento igual para todos.

Nas suas institutas, Gaio separa o direito escrito do direito não escrito. Nas
institutas de Justiniano, o direito escrito é todo o que pode ser consultado em
textos escritos fixados pelos órgãos competentes, com carácter permanente. O
direito não escrito integra os costumes e as decisões dos magistrados para casos
concretos.

A lex corresponde ao ius scriptum, e o ius non scriptum refere-se à expressão


designativa aceite pelo ius, correspondendo ao direito consuetudinário.

Ius vetus/ius novum


Quando as constituições imperiais passam a ser a única fonte de Direito, os
autores consideram que tal situação nada tem a ver com a anterior, tanto no que
respeita à legitimidade, como ao conteúdo e finalidade das normas jurídicas assim
criadas e designam as constituições imperiais como ius novum. Quando nada há
aqui de ius.

Todo o acervo normativo integrado pelas leges, os senatosconsultos e as


constituições imperiais, até aos finais do séc. III, além dos edictos do pretor e do
direito dos jurisprudentes era considerado, pela literatura jurídica tardia que
adoptou esta terminologia, como ius vetus. Este era criado por uma pluralidade de
fontes.

Iustitia/aequitas
Em Roma, quando uma norma de dto positivo era considerada injusta, a
jusrisprudência invocava uma regra de ius que dissesse in casi, concretizando a
justiça. Essa regra estabelece a justiça como finalidade do ius para criticar
fundamentadadmente a opção normativa do legislador, que dela se afasta.. tal
regra do ius revela a sua utilidade e eficácia quando a norma de direito positivo é
afstada, porque injusta.

Ulpiano ensina que o Direito deriva da justiça, os dois conceitos estão


conceptualmente integrados no discurso dos jurisprudentes romanos na
necessidade de conformar a resolução justa do caso com disposto no ius.

A diferenciação entre ius e iustitia, aoproximando esta da aequitas, é mais


marcante à medida que o tempo decorre, o processo se complexifica, a resolução
dos casos se intitucionaliza e se burocratiza e a jusriprudência se aproxima do
poder político.

O jurisprudentes não podem prescindir da iustitia. São eles que mantêm presente
a justiça através a aequitas.

A resolução dos casos com soluções justas pela aplicação do ius não era uma
actividade empírica feita por homens virtuosos, nem uma necessidade social, mas
uma construção jurisprudencial racionalizada e conceptualmente dirigida ao fim
visado.

A equidade no Dto Romano é muito mais do que a adequação da regra ao caso


concreto. É sobretudo na adequação da regra geral e abstracta do ius ao
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

sentimento de justiça que a equidade se expressa. A aequitas é o motor da força


criadora que permite aos jurisprudentes e aos pretores adaptar as regras do ius à
realidade dos conflitos a solucionar em cada momento. A aequitas vive na
interpretação do ius feitas por jurisprudentes e depois por pretores na procura justa
do caso.

Podemos, assim, concluir que a aequitas prende o ius à iustitia na prática e no


pensamento da jurisprudência.

Beneficium/privilegium
O privilegium afasta a equidade do caso concreto, para permitir uma aplicação
discricionária da norma a pessoa certa ou a pessoas determinadas, a favor ou
contra elas.

Desde a Lei da XII Tábuas até Cícero, o privilégio é repudiado pelos romanos.

Mas aristocracia senatorial e depois os imperadores acabaram por conceder


excepções injustificadas a regras jurídicas, com o fim de beneficiar algumas
pessoas; criando injustiças e desigualdades.

Augusto procurou limitar os privilégios de cariz subjectivo. Mas as características


do Principado e do Dominado aumentaram a discricionariedade do exercício do
poder político e, assim, surgiram as constituições pessoais, definidas por Ulpiano.

Os privilegia que correspondem sempre a um favor ou a um prejuízo, feitos pelo


titular do poder a certas pessoas, acabaram por impor-se na prática legislativa do
poder.
É nesta aceção de favor ilegítimo que o privilegium se aproxima do beneficium:
mais com o objectivo de atenuar os rigores das regras gerais e abstractas do que,
para permitir a justiça do caso concreto por aplicação de critérios da equidade.

Auctoritas/imperium
O ius é uma força que necessita de auctoritas, para poder ser válido e eficaz. A
auctoritas é necessária tanto na criação como na aplicação. O imperium está em
Roma mais ligado ao momento de aplicação. O ius é criado pela auctoritas dos
jurisprudentes e aplicado com o imperium dos magistrados (pretor).

Com a derrocada da jurisprudência e do ius praetorium: a auctoritas criadora do


ius passa para a consultoria das entidades políticas que têm o imperium para fazer
a lex (princeps); e o momento de aplicação para o iudex público que dá a sentença
imposta pelo imperium do “Estado”.

Os jurisprudentes tinham auctoritas, isto é, um saber socialmente reconhecido


fundado na experiência que era a base da aceitação pelas partes e pela
comunidade das soluções propostas nos responsa prudentium.

O imperium é um poder de soberania e um poder absoluto, a que os cidadãos não


podem opor-se porque é exercido em nome e para o bem da comunidade. O
imperium detido pelo rei é depois, na república, destruído pelos magistrados.

O imperium continha:
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 poder militar de comandar os exércitos;


 poder de convocar as assembleias populares e o Senado;
 o poder de declarar o direito para efeitos de aplicação.

Iurisdictio/lex
A iurisdictio passou a ser o poder supremo de declarar a existência de um direito
que podia ser exercido perante um juiz; ou negar a sua existência tal como era
invocado pelo interessado.

Era essa a actividade principal do pretor.

Também os questores podia exercer iurisdictio nos processos criminais . A lex era
toda a norma jurídica escrita que podia ser lida (uma declaração solene com valor
normativo emitida por um órgão “constitucional” com competência e legitimidade
para a fazer. A primitiva lex privata cria ius privatum e a lex rogata cria ius com
base num acorde entre o magistrado, que propõe, e o povo que aprova.

A lex pode ser considerada uma sponcio communis, que vincula o magistrado e o
Populus.

Fontes do Ius Romanum


 Costume (Mores maiorum)
O Costume é a primeira fonte manifestandi. O Ius Romanum principiou por ser
consuetudinário.
Não se deve confundir Costume com o ius non-scriptum, pois este último, deriva
da interpretatio e não da “tradição de uma comprovada moralidade”.

Fases do Costume:
1ª fase: 1ª etapa da época arcaica (753-242 a.C).
- antes da Lei das XII tábuas, os mores maiorum eram a única fonte do ius
romanum.
- depois da Lei das XII Tábuas, os mores maiorum ainda continuam como fonte
importante do ius romanum, sobretudo em matérias de Dto Público. Quanto ao Dto
privado, agora a lei fundamental é a Lei das XII Tábuas.

2ª fase: 2ª etapa da época arcaica até à época clássica (242 a.C – 230 d.C)
- nesta fase, o costume, como fonte do ius romanum, em matéria de Dto privado
resume-se a um mínimo; no Público, prossegue, especialmente em matéria de
Direito Constitucional e Dto administrativo).

3ª fase: na época clássica (130 a.C-230 d.C)


- nesta última fase, os mores maiorum quase desaparecem por completo como
fonte autónoma, para se assumirem nas outras fontes do ius romanum.

 Época post-clássica – consuetudo Vs constituições imperiais


O Dto romano sempre defendeu que a lei é uma das várias fontes de Dto, mas não
a única e nem sequer a mais importante. A lex precisa sempre de um correctivo.
Até à época post-clássica esse correctivo foi desempenhado pelo ius praetorium e
sobretudo pela iurisprudentia. Na época post-clássica, a lex surge como única
fonte de Dto (constituições imperiais). Mas surge em contraposição, como
correctivo, o consuetudo.
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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

 Lei das XII Tábuas


A lei é a segunda fonte manifestandi. A fonte exsistendi da lei, sensu stricto, são os
comícios; da lei sensu lato, são o senado, o imperador e certos magistrados.

A lei da XII Tábuas é o documento de maior relevo do Dto antigo. Teve origem
nas reivindicações jurídicas dos plebeus. Estes exigiam uma lei escrita, que não
provocasse injustiça e desigualdades, o que acontecia com a interpretatio feita
pelos sacerdotes-pontífices, dos mores maiorum.

É enviada à Grécia, em 452 a.C., uma comissão de três homens com a finalidade
de estudar as leis de Solón. Em 451 a.C., o povo reunido nos comícios das cúrias
nomeia uma magistratura extraordinária, composta por dez cidadãos patrícios.
Estes, durante um ano, gozariam de plenos poderes, mas teriam de fazer o tão
desejoso código, e assim aconteceu. Redigiram 10 Tábuas que foram aprovadas
pelos comícios das centúrias.

Como essas 10 Tábuas não era suficientes, foi constituído para o ano seguinte um
novo decenvirato – formado por patrícios e plebeus – para que terminasse o
código. Este decenvirato, elaborou as últimas 2 Tábuas, mas governaram com
profundo desagrado do povo. Terminado o prazo do seu mandato, não queriam
abandonar o poder. Tiveram de ser expulsos por uma revolta popular.
Para o ano de 449 a.C. foram eleitos pelo povo, já duma forma normal, os dois
cônsules, Valério e Horácio. Estes, sem atenderem ao descontentamento que
tinha havido por parte do Populus, mandaram fixar no Forum as XII Tábuas.

DATAS MAIS IMPORTANTES:


1. MONARQUIA – 753 a.C. a 509 a.C.
2. LEX OVINIA - 312 a.C.
3. REPÚBLICA - 509 a.C. a 27 a.C.
4. MAGISTRATURA DOS PRETORES (LEGES LICINIAE
SEXTIAE) – 367 a.C.
5. LEX PUBLILIA PHILONIS – 339 a.C.
6. LEX VALERIA HORACIA – 449 a.C.
7. LEX HORTENSIA – 287 a.C.
8. PRINCIPADO – 27 a.C. – 285
9. DOMINADO – 284 a 395
10. TEMPO DE JUSTINIANO – 527 a 565
11. LEI DAS XII TÁBUAS – 450 a.C.
12. LEX AEBUTIA DE FORMULIS – 130 a.C.
13. LEX CORNELIA DE EDICTIS PRAETORUM – 67 a.C.

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RESUMOS DE DIREITO ROMANO

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