Você está na página 1de 36

CULTURA POPULAR: AS

CONSTRUÇÕES DE UM PETRÔNIO
CONCEITO NA PRODUÇÃO DOMINGUES

HISTORIOGRÁFICA.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN
Teorização do cômico/ burlesco na cultura popular da Idade Média e do Renascimento:

• Sublinha que o riso, o burlesco e o aspecto jocoso das manifestações culturais


populares tinham a capacidade de produzir uma “dualidade do mundo”,
caracterizando uma oposição a cultura oficial.
• mantêm um contato permanente, orgânico e dinâmico com a cultura oficial,
influenciando e sendo influenciada por ela.
Erudito e popular em permanente processos de ajustes, desajustes, reajustes, em
suma, em movimento.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN

Ideias presentes nas noções do riso festivo ambivalente, as grosserias blasfematórias e


mesmo no próprio realismo grotesco podem nos ajudar a compreender de modo mais
profundo alguns princípios que regem as práticas e comportamentos de determinadas
manifestações culturais populares. O clima festivo que se instaura em diversos
folguedos, festejos e rituais – só para citar alguns gêneros – guarda certo caráter
regenerador, pois reconstrói as relações sociais de forma paródica e lúdica.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN

A Batalha entre o Carnaval e Quaresma O óleo


sobre painel de madeira, do pincel renascentista de
Pieter Bruegel.

Nessa obra do século XVI, temos a representação de


uma cena cotidiana dos camponeses flamengos que
estariam “lutando” contra a resignação que marca o
tempo da quaresma.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO MIKHAIL BAKHTIN
RELATO DO VIAJANTE QUE PASSEAVA NA GARGANTA DE PANTAGRUEL
Alcofridas - Eu queria finalmente sair, e através de sua barba, eu caminhei
para baixo de seu corpo e caí no chão diante dele. Quando ele me viu,
disse:
Pantagruel - De onde veio, Alcofridas?
Alcofridas - De vossa garganta senhor - respondi.
Pantagruel - Quanto tempo está lá?
Alcofridas - Desde que marchais contra Almirodes.
Pantagruel - Então há mais de seis meses. E do que você viveu? O que
Bebias?
Alcofridas - Senhor, o mesmo que vós: os melhores bocados que passam
por sua garganta, levando a minha parte.
Pantagruel - Muito bom. E onde cagavas?
Alcofridas - Em sua garganta senhor.
Pantagruel - Ah, ah! como és um companheiro gentil...
(Obra de François Rabelais com as personagens Gargântua e Pantagruel
CULTURA POPULAR SEGUNDO
MICHEL DE CERTEAU
BELEZA DO MORTO: Atitude das elites de só atribuírem valor as manifestações da
cultura popular quando estas não representam mais perigo, ou seja, estão mortas.
A cultura popular , nesta perspectiva significa uma “sombra”, um fantasma e um enigma.
Explica esse fenômeno com relação a distribuição de folhetos (literatura de cordel) e a
censura realizada pelas elites com relação às questões morais desses materiais. Apesar
da censura, os embalsamaram como algo em extinção, daí, o pensamento da beleza do
morto.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
MICHEL DE CERTEAU

“Concordava-se em exaltar inocência e a importância da cultura popular quanto


mais se mobilizava para acelerar sua morte. Os autores falam da “beleza do
morto” para se referirem à atitude das elites de só atribuírem valor às
manifestações da cultura popular quando estas não representam mais perigo, ou
seja, estão mortas”.
(DOMINGUES, P. , p. 5)
CULTURA POPULAR SEGUNDO
MICHEL DE CERTEAU
Colportagem é a distribuição de publicações, livros e panfletos
religiosos por pessoas chamadas "colportores". O termo não se refere
necessariamente a livros religiosos. Na França, colportor tinha
originalmente o sentido de mascate, ou seja, vendedor que
transportava suas mercadorias.
O termo colportor é de origem francesa e é uma combinação da
palavra colo (pescoço) com a palavra “portare”, “carregar",
tendo o sentido resultante de "carregar no pescoço".

Capa do colportage: Pierre de Provence Et La Belle Maguelone


CULTURA SEGUNDO CARLO
GINZBURG
“Conjunto de práticas, atitudes, comportamentos próprios das classes subalternas”.

Historiadores e a visão de cultura popular:


• Ideológico: Foi superada a visão de considerar as crenças e ideias originais apenas
aquelas provenientes das classes superiores.
• Metodológico: Classes subalternas serem predominantemente orais e o historiador
tem que se valer de fontes indiretas porém tem que ser cuidadoso na análise dos
documentos
Circularidade: Comunicabilidade entre as culturas das classes dominantes e as
subalternas. Essa comunicação se dava de forma dialógica, com influências reciprocas
que se moviam de baixo para cima e de cima para baixo
CULTURA SEGUNDO CARLO
GINZBURG
Em "O queijo e os vermes" o livro retrata o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. Carlo Ginzburg remete ao século XVI e nos remonta a história de Domenico
Scandella, um moleiro que teve sua voz abafada e suas ideias reprimidas pela Igreja Católica
Romana.

No livro Ginzburg olha para o período da Inquisição, geralmente visto através dos olhos da classe
dominante, a partir dos relatos de um simples moleiro.
Baseando-se principalmente nos escritos promovidos pela Inquisição, o autor nos concede uma
visão privilegiada a respeito dos pensamentos e conceitos próprios estabelecidos pelo moleiro
também conhecido por Menocchio e o posterior processo inquisitório que o condenou.
Dentro desse contexto, o autor nos explana uma história específica de um dos mais de dois mil
processos de julgamento da Santa Inquisição que existiram na região do Friulli, não podendo
estender os pontos de vista defendidos por este singular personagem a um plano geral, tanto que
a sua própria história nos mostra que o mesmo se fazia uma exceção e o porquê dela ter
ganhado um maior destaque até sob o olhar da Igreja Católica Romana.
CULTURA SEGUNDO CARLO
GINZBURG
A acusação era de que Menocchio, introduzindo dogmas estranhos àqueles definidos pela Igreja, cometia o grave
crime de heresia. Ele não só divergia da verdade católica, mas, por meio de seu entendimento das leituras, formulara
um complexo sistema que contestava vários dogmas.
Foi denunciado à Inquisição por um pároco local, Menocchio teve seu primeiro julgamento em 1583.
Exemplos das diversas das visões do moleiro:
Relativizou a blasfêmia, declarando que a mesma só traz malefícios ao blasfemador, descartando seus efeitos a
quem a ouve (há de se lembrar que a blasfêmia era um dos mais graves crimes no processo inquisitório).
Duvidou da virgindade de Maria, dizendo que uma mulher é incapaz de dar à luz e continuar virgem.
Discordou da vinda divina de Jesus Cristo, dizendo que nasceu do homem e que sua morte não foi um sacrifício
salvador da humanidade, qualificando, portanto, a morte de Jesus como sendo um ato de penitência como qualquer
outro.
Desqualificou todos os sacramentos como sendo simples peças de negócios por parte da Igreja, criticou a arrogância
do clero (afirmando que tal como o próprio Diabo, o clero buscava saber mais que Deus e se equiparar a ele), a
riqueza acumulado por seus membros e por fim, a própria estrutura do julgamento inquisitório, pois achava uma
armadilha e uma injustiça com os mais pobres utilizar-se de uma língua incompreensível como o latim, fazendo com
que os réus se confundissem facilmente.
Finalmente, Menocchio demonstrou um ato de tolerância religiosa, declarando que muito embora prefira ser católico,
Deus salvará a todos, mesmo que seja judeu, islão, herege ou turco.
CULTURA SEGUNDO CARLO
GINZBURG
Menocchio - o herege 2018 (O queijo e os vermes)

https://www.youtube.com/watch?v=FQI0-sa_bbY
CULTURA POPULAR
SEGUNDO ROBERT DARNTON
Investiga o universo mental dos não “iluminados”.
Tendências etnográficas – Tenta mostrar o que as pessoas pensavam e como
pensavam.
Diferencia história cultural da história das ideias:
• História cultural: Se preocupa com o pensamento que foi sistematizado e
formalizado.
• História das ideias: Como as pessoas e os segmentos subalternos entendiam o
mundo.

Ler as práticas sociais como se fossem textos.


CULTURA POPULAR
SEGUNDO ROBERT DARNTON
Investiga o universo mental dos não “iluminados”.
Tendências etnográficas – Tenta mostrar o que as pessoas pensavam e como
pensavam.
Diferencia história cultural da história das ideias:
• História cultural: Se preocupa com o pensamento que foi sistematizado e
formalizado.
• História das ideias: Como as pessoas e os segmentos subalternos entendiam o
mundo.

Ler as práticas sociais como se fossem textos.


CULTURA POPULAR
SEGUNDO ROBERT DARNTON
Origem dessa música nos ajuda a penetrar numa cultura
estranha, como uma piada, um provérbio, uma cerimônia,
Atirei o pau no gato to to
que tem um significado. Decifrar, entender a piada do
Mas o gato to to grande julgamento de gatos, pode possibilitar o
entendimento de um ingrediente fundamental da cultura
Não morreu reu reu nos tempos do antigo regime. Relato feito por um operário
Dona Chica ca ca que fazia um estágio na gráfica, da Rua Saint-Séverin, em
sua autobiografia alguns anos depois.
Admirou se se
Com o berro com o berro que o gato
deu Para Darnton, as pessoas comuns, ou “não iluminados”
criam símbolos, histórias e relatos e a leitura dessas práticas
sociais na obra o Grande Massacre dos Gatos e outros
episódios da história cultural francesa, ele relata um evento
para demonstrar como as pessoas comuns interpretavam o
mundo.
O GRANDE MASSACRE DOS GATOS
Numa gráfica em Paris, lá no final de 1730, nas ruas ao redor das gráficas proliferavam gatos. Os funcionários criaram
uma estratégia para se vingar de seus patrões. Os aprendizes, empregados mais explorados trabalhavam o dia inteiro
ouvindo humilhações sem receber salários. Dormiam em quartos sujos e gelados (onde mal conseguiram dormir
devido aos uivos dos gatos durante toda a noite) e para comer davam a eles restos de carne podre que nem os gatos
queriam. Eram insultado pelos operários e patrões. Nessa gráfica mais de 25 gatos transitavam o dia inteiro com
consentimento do dono do lugar. A mulher do patrão tinha um carinho especial por um desses gatinhos, que eram
alimentados com aves assadas o que indignava ainda mais os operários. Até que um dos aprendizes teve uma ideia:
durante várias noites fingiram ser os gatos fazendo muito barulho no telhado do quarto dos patrões e não deixavam
os patrões dormir, durante várias noites com esse tratamento eles pensaram que estavam sendo enfeitiçados e até
que enfim conseguiram uma ordem para dar fim na bicharada toda, menos na gata que a patroa gostava. Mas não
deu outra, ela foi a primeira que eles mataram, saíram com cabos de vassoura, barras de ferro de impressora e outros
instrumentos do ofício, foram atrás de todos os gatos partindo espinha das costas dos gatinhos. Eles foram
perseguidos também pelos outros empregados, que pegavam todos os gatos pelas ruas e davam cacetadas. Os
animais eram colocados em sacos e os que sobreviveram foram jogados num pátio. Daí os operários encenaram um
julgamento com guardas, um confessor e um executor público em que os bichinhos tinham que confessar seus
pecados. Mesmo assim, seriam condenados por aquele “tribunal”. Os homens fingiram que eram guardas. E também
havia um carrasco, executor, que enforcou de verdade todos os gatos. Esse teatro macabro foi acompanhado de
muitas gargalhadas e estava então completa a revanche. O patrão apareceu inconformado com os empregados fora
de seus postos de trabalho, mas nada continha a euforia de delírio de alegria, desordem e gargalhada dos homens.
Entretanto as gargalhadas por ali. O espetáculo foi encenado com mimicas pelo menos vinte vezes durante os dias
seguintes quando os trabalhadores queriam provocar alguma descontração repentina.
O GRANDE MASSACRE
DOS GATOS
O GRANDE MASSACRE
DOS GATOS
O GRANDE MASSACRE DOS GATOS
Mas... Onde está o humor dessa história?
O massacre dos gatos aparece como um ataque indireto ao patrão e sua mulher. Situa a disparidade entre a
vida dos operários e os burgueses em alguns elementos que são fundamentais na vida como trabalho, comida e
sono.
Nessa época na França, os trabalhadores eram contratados como mercadorias e era comum a mudança no
quadro de funcionários a cada semana. Salários baixos, jornadas que iniciavam às 5 da manhã e se estendiam
até meia-noite.
Os patrões preferiam contratar mão de obra barata e sem experiencia do que uma mais cara e profissional.
Há relatos de brigas entre patrões e funcionários, doenças e embriaguez como motivos recorrentes para
dispensa de funcionários.
De outro lado a burguesia vivia em uma subcultura diferente, com comida de qualidade, tempo ocioso, não
trabalhavam e tinham sono de qualidade. Seus bichos de estimação tinham uma qualidade de vida
infinitamente maior que a dos operários.
Além das relações de trabalho a situação nos levam aos rituais e simbolismos populares. Humanos estão
acostumados com rituais principalmente comemorativos
O GRANDE MASSACRE DOS GATOS
Mas... Onde está o humor dessa história? (II)

Não podendo enfrentar, os operários atacaram simbolicamente seus patrões


- atacam sua esposa matando sua gata de estimação mesmo tendo recebido ordens expressas de que ela
deveria ser poupada. Ela foi a primeira vítima e agindo dessa forma, atacavam a própria casa. Quando
questionados, negavam tal ato. Mas sua morte significava declarar os burgueses culpados de darem excesso e
trabalho e alimentação deficiente aos seus aprendizes. Culpados de viverem no luxo enquanto os assalariados
faziam todo trabalho. Culpados de se afastarem da oficina e encherem de trabalhadores baratos em vez de
trabalharem e comerem com os trabalhadores. Além de ser um ataque a casa em particular, podemos ver como
um ataque a todo o sistema de precarização sofrida pelos operários.
Ainda tem um simbolismo sexual, matando a gata da patroa eles a atingiam. A reação da patroa foi como se
tivessem atacado ela mesma. O insulto velado de atacar seu bicho de estimação os operários atacaram
simbolicamente a patroa e ao mesmo tempo insultavam o patrão e ainda assim escaparam ilesos. O
simbolismo disfarçava o insulto suficientemente para não sofrerem as consequências.
Na narrativa a patroa parece ter percebido a intransigência dos operários, mas seu marido se irrita com o
trabalho parado. Ambos saem humilhados deixando os operários em liberdade.
O GRANDE MASSACRE DOS GATOS
Mas... Onde está o humor dessa história? (III)

Tudo isso é assunto para grandes risadas durante muito tempo. Parece que os operários acharam todo o
julgamento e abate engraçado, porque ele proporcionou uma maneira de virar o jogo contra os patrões.
Imitando os grupos dos gatos, provocaram para que houvesse na verdade um massacre, depois usaram esse
evento para colocá-los simbolicamente em julgamento, por administração injusta na oficina. Também usaram o
julgamento como caça as bruxas, o que forneceu uma desculpa para abater o bicho de estimação da patroa e
insinuar que ela própria era uma feiticeira. Por fim, insultaram ela sexualmente ao mesmo tempo que
zombavam dele, como um corno. O patrão acabou sendo vítima de um procedimento que ele mesmo ordenou,
mas não compreendeu o insulto a si muito menos a sua esposa. A piada só funcionou bem porque os operários
jogaram de forma habilidosa com um repertório de cerimonias e símbolos. os gatos serviram bem aos seus
objetivos. Atacando os gatos, se vingavam do lugar privilegiado que eles assumiam e atacando a gata da patroa
atacavam intimamente a patroa e o patrão. Por muito tempo, sempre que se cansavam trabalhar relembravam
desse evento e todos caiam em gargalhadas. Tudo isso mostrou que os operários podem manipular os símbolos
com sua própria linguagem, com a mesma qualidade de um poeta em suas escritas. O que houve ali foi uma
rebelião velada contra os patrões em um contexto de pouca organização de classe.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO ROGER CHARTIER
O fundamental na pesquisa seria entender as relações entre o texto e as práticas as
quais ele se refere. O texto seria uma mediação e não uma prática em si.
2 modelos de abordagem e interpretação:
• 1º modelo: Concebe a cultura popular como um sistema simbólico coerente e
autônomo, que funciona segundo uma lógica absolutamente alheia e irredutível à da
cultura letrada.(isolada em si mesma)
• 2º modelo: Percebe a cultura popular em suas dependências e carências em
relação à cultura dos dominantes. (definida pela distância da legitimidade cultural).
Para ele o importante é identificar como se opera o relacionamento entre as
formas impostas e aculturantes, de um lado, e as táticas utilizadas pelos
segmentos subalternos de outro.
APROPRIAÇÃO (PARA
CHARTIER)
Setores não hegemônicos operam a produção dos sentidos
Recepção como matreira e rebelde
Ora autônomo, ora independente.
ROGER CHARTIER

São nos modos de usar como práticas sociais que se deve encontrar o popular.
Defende a ideia de que a obra só adquire sentido através da diversidade de interpretações
que constroem suas significações.

Leitura do texto X ler, olhar, escutar.


A decodificação pelas camadas populares dos produtos intelectuais (livros e imagens,
discursos, canções, emissões radiofônicas, televisivas e eletrônicas) (cultura erudita) é a
chave para permitir como a cultura popular pode em qualquer época construir um lugar,
reinterpretar ou instaurar um sentido próprio nos modelos que lhes são impostos pela
classe dominante (cultura erudita). (consumo)
ROGER CHARTIER

Para Chartier a cultura popular deve ser pensada não com uma fórmula
pronta, um conjunto de características que se aplica simplesmente e
resulta no "popular", mas pelas práticas que informam essa cultura.
A cultura popular não é senão um tipo de relação social que sugere
modalidades de experiência coletiva, modos de apropriação e
transgressão de bens simbólicos envoltos em lutas sociais
historicamente concretas e efetivas. Em suma: a cultura popular é uma
prática e uma estratégia social.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO PETER BURKE
Sugere que seria mais proveitoso estudar as interações entre a cultura popular e a de
elite em vez de tentar definir o que as separa.
Afirma que a fronteira entre as várias culturas do povo e as culturas da elite é vaga.
Bicultural: Termo que descreve a situação em que membros da elite se enfronham nas
práticas culturais populares e que, ao mesmo tempo, participam de uma cultura alta
ensinada em escolas, universidades, cortes, etc.
Difícil delimitar fronteiras
A cultura do povo é uma colcha de retalho que reúne formas e elementos culturais de
origens diversas.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO PETER BURKE
Em seus estudos aponta para a necessidade de se entender “alta” e
“baixa” cultura como esferas que estão em constante diálogo, e que
estudá-las como coisas isoladas compromete o resultado do estudo.
Há, no autor, uma constante busca pelos diálogos interdisciplinares. Está
o tempo todo dialogando com outras áreas de conhecimento e ciência. A
linguística, ciências da comunicação, psicologia social, entre outras
dimensões auxiliam o historiador cultural a trilhar os caminhos
Burke coloca trocas entre alta cultura, mais elitista, e baixa cultura, que
seria a popular. Fala do diálogo constante que não é estanque mas usa
essa imagem que repete essa ideia de hierarquia.
CULTURA POPULAR
SEGUNDO PETER BURKE
É interessante, portanto, tudo chamar cultura. Cultura do cancelamento,
cultura do feminismo, cultura do aborto. Não há uma posição de superior ou
inferior, mas de igualdade e diversidade.
Está tudo sempre em movimento e isso que o Burke coloca com muita
clareza. A ideia de que as coisas estão o tempo todos vivas e se realinhando.
Não se pode falar de história cultural descolada da sociedade. Tem que poder
sonhar, criar, simbolizar. A ideia de cultura carrega cada vez mais a discussão
do simbólico, do sentido. E a palavra cultura é muito de atualização na
sociedade. Em cada uma é reatualizada. A sociedade não está descolada da
cultura e vice-versa. Não dá pra pensar que a noção de cultura está se dando
em pequenos grupos, mas um reflexo da sociedade. Essa operacionalização
da palavra cultura é entender o poder do simbólico.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON
Explora o tema do costume e como se manifestou a cultura dos trabalhadores no
século XVIII
Defende a dissociação da cultura plebeia e patrícia
Cultura popular: transmitida pela tradição oral, expressa pelo simbolismo e rituais.
Elementos de criação como canções folclóricas, clubes de ofício e bonecas de sabugo.
Cultura: É um conjunto de diferentes recursos, em que sempre uma permuta entre o
escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole.
Um campo de disputas, confrontos e contradições.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON

A cultura plebeia não se autodefine, não é isenta de influências externas.


Assume sua forma numa condição defensiva numa rota de colisão com os
limites e controles da classe dominante.
A cultura dos governantes não é hegemônica e só pode ser mantida devido
a mescla de repressão e constantes negociações e concessões.
O povo faz e refaz sua própria cultura através da insubordinação, ora da
acomodação das classes sociais subalternas frente aos poderes
hegemônicos.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON

De acordo com EP Thompson, autor de Costumes em Comum: estudos


sobre a cultura popular tradicional,a música bruta envolvia uma grande
variedade de rituais populares em que uma punição embaraçosa (podemos
chamá-la de "nomear e envergonhar") era aplicada em público a um
indivíduo ou grupo de pessoas que ofenderam a comunidade. As
apresentações britânicas de música bruta eram, às vezes, bastante
elaboradas.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON
Rough music : um antigo costume usado
por uma comunidade para expressar
descontentamento com transgressões
como espancamento da esposa.
Thompson observa que o ritual "pode
incluir a montaria da vítima (ou um
procurador) em uma vara ou burro;
mascaramento e dança; recitativos
elaborados; mímica grosseira ou drama de
rua em uma carroça ou plataforma; a
mímica de uma caça ritual; ou o desfile e
queima de efígies; ou, de fato, várias
combinações de tudo isso." Mas, "por baixo
de todas as elaborações do ritual", escreve
Thompson, "certas propriedades básicas
podem ser encontradas: ruído estridente e
ensurdecedor, riso impiedoso e imitação de
obscenidades
Representação de 1814
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON

O marido é desfilado pela aldeia montado em um poste como punição. Ele estava
bebendo enquanto cuidava do bebê, então sua esposa bateu na cabeça dele com um
sapato e os vizinhos fazem justiça com as próprias mãos, humilhando-o publicamente. Ele
se comportou como um tolo e está simbolicamente tocando flauta e tabor.
O painel de gesso Stang Ride no Grande Salão , Montacute House, Somerset
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON
A VENDA DE ESPOSAS ERA UMA MANEIRA DE ACABAR COM UM CASAMENTO INSATISFATÓRIO,
NORMALMENTE DE MANEIRA CONSENSUAL. ESSE COSTUME PROVAVELMENTE SE ORIGINOU
NO FINAL DO SÉCULO XVII, ÉPOCA EM QUE O DIVÓRCIO ERA UMA IMPOSSIBILIDADE PRÁTICA
PARA TODOS, EXCETO OS MAIS RICOS. NA VISÃO DE UM CASAL QUE DESEJAVA SEPARAR-SE
DE MANEIRA MORALMENTE ACEITÁVEL, A VENDA APRESENTAVA-SE COMO UM PROCESSO
VEXATÓRIO MAS QUE PERMITIA TORNAR LEGÍTIMO, E PORTANTO SOCIALMENTE
SATISFATÓRIO, O REARRANJO DA SUA RELAÇÃO CONJUGAL..
EM SUA FORMA TÍPICA ESSE COSTUME ASSUMIU UMA FORMA RITUALIZADA, QUE BUSCAVA
ASSEGURAR A PRETENSA LEGALIDADE DAS TRANSAÇÕES. A VENDA ERA ANUNCIADA
PUBLICAMENTE, E EM SEGUIDA O MARIDO LEVAVA SUA ESPOSA POR UM CABRESTO ATÉ O
LOCAL ONDE ELA OCORRERIA, NORMALMENTE UM MERCADO . ALI, A ESPOSA ERA
LEILOADA DIANTE DE ESPECTADORES, E, COMO SINAL DE REALIZAÇÃO DO NEGÓCIO,
DINHEIRO ERA TROCADO E A ESPOSA ERA ENTREGUE PELO CABRESTO AO COMPRADOR. AS
VENDAS TAMBÉM PODIAM INCLUIR OS FILHOS, E POR VEZES OS VALORES EM DINHEIRO ERAM
COMPLETADOS COM OUTROS BENS, NOTADAMENTE BEBIDAS ALCOÓLICAS E ANIMAIS. O
VALOR DA VENDA NÃO PARECE TER SIDO A PRINCIPAL CONSIDERAÇÃO DURANTE AS VENDAS,
MAS EXISTEM REGISTROS DE MARIDOS E OUTROS INTERESSADOS COMPRANDO E
REVENDENDO ESPOSAS EM BUSCA DE LUCRO.
CULTURA POPULAR SEGUNDO
EDWARD PALMER THOMPSON

VENDENDO UMA ESPOSA (1812-1814),


DE THOMAS ROWLANDSON . ESTA
ILUSTRAÇÃO DÁ AO ESPECTADOR A
IMPRESSÃO DE QUE A VENDA ERA
UMA PRÁTICA DIVERTIDA, MAS NA
REALIDADE ELA ERA
INERENTEMENTE HUMILHANTE PARA
OS ENVOLVIDOS .
ATIVIDADE ASSÍNCRONA A SER REALIZADA
PELOS GRUPOS EM 3 ETAPAS

Parte I até 12 DE outubro cada grupo deve Parte II - 12/10 a 15/12 Parte III - 15/10 a 19/12
fazer o mapa conceitual do autor abaixo
Realizar um questionamento sobre o autor/ Responder ao
teoria analisado por outro grupo. questionamento
1) Mikhail Bakhtin - GRUPO 1 realizado pelo outro
1) Mikhail Bakhtin - GRUPO 7 grupo.
2) Michel de Certeau - GRUPO 2
3) Carlo Ginzburg - GRUPO 3 2) Michel de Certeau - GRUPO 6

4) Robert Darnton GRUPO 4 3) Carlo Ginzburg - GRUPO 5


5) Roger Chartier GRUPO 5 4) Robert Darnton GRUPO 3
6) Peter Burke GRUPO 6 5) Roger Chartier GRUPO 4
7) Palmer Thompson GRUPO 7 6) Peter Burke GRUPO 2
7) Palmer Thompson GRUPO 1

Uma pessoa do grupo posta a atividade no Padlet assinando somente como grupo X
No Moodle, um representante indica quais membros do grupo efetivamente participaram da atividade

Você também pode gostar