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BIBLIOTECONOMIA,

LEGISLAÇÃO E NORMAS

Autoria: Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas Mattos

1ª Edição
Indaial - 2020

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch


Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2020


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

M444b

Mattos, Miriam de Cassia do Carmo Mascarenhas

Biblioteconomia, legislação e norma. / Miriam de Cassia do


Carmo Mascarenhas Mattos. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

162 p.; il.

ISBN 978-65-5646-084-0
ISBN Digital 978-65-5646-085-7
1. Biblioteconomia. – Brasil. 2. Ciência da informação. – Brasil.
3. Eventos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 020
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
O CONTEXTO DA BIBLIOTECONOMIA...........................................7

CAPÍTULO 2
A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL....65

CAPÍTULO 3
ASPECTOS ÉTICOS NA FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO...... 117
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico, tudo bem? Seja bem-vindo à especialização de Gestão
de bibliotecas escolares e salas de leitura. Nesta disciplina, “Biblioteconomia,
Legislação e Normas”, abordaremos diversos assuntos fundamentais da área,
sendo seus conteúdos divididos em três capítulos.

No Capítulo 1, faremos uma incursão ao contexto da Biblioteconomia e


sua grande área de pesquisa, a Ciência da Informação, inserindo alguns pontos
históricos e conceituais principais. Também apresentaremos os tipos de Unidades
de Informação e suas especificidades, ressaltando as atividades que permeiam a
profissão de bibliotecário em cada uma delas.

No Capítulo 2, apresentaremos o contexto histórico da formação do


profissional de Biblioteconomia no Brasil, bem como os aspectos jurídicos do
exercício da profissão no Brasil. Também destacaremos os diferentes serviços
da área. Neste, traremos as especificidades da sociedade contemporânea e a
necessidade de atualização profissional.

No Capítulo 3, falaremos sobre a importância e aspectos éticos na formação


e atuação do profissional de Biblioteconomia, apresentando seu código de ética e
os diversos contextos aos quais a postura ética se destaca.

Esperamos que goste da disciplina e que ela faça diferença em sua formação
profissional e intelectual.

Bons estudos!

Professora Miriam Mattos.


C APÍTULO 1
O Contexto Da Biblioteconomia

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• entender o contexto da Biblioteconomia e sua área de pesquisa;


• diferenciar Biblioteconomia da Ciência da Informação;
• compreender os principais conceitos e aspectos históricos que envolvem a
área;
• saber atuar em diferentes contextos profissionais da área;
• executar atividades gerais da área de Biblioteconomia.
Biblioteconomia, legislação e normas

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste primeiro capítulo, iniciaremos nossos estudos fazendo uma incursão
no contexto da Biblioteconomia e sua principal área de pesquisa, a Ciência da
Informação – CI.

A CI estuda a informação desde a sua gênese até o processo de


transformação de dados em conhecimento. Também pesquisa a aplicação
da informação em organizações, englobando seu uso e as interações entre
pessoas, além da organização e sistemas de informação, logística, planejamento,
modelagem de dados e análise da informação.

Várias áreas do conhecimento utilizam a Ciência da Informação e atuam


em pesquisas nesse contexto, dentre elas: Biblioteconomia, Arquivologia e
Museologia, que, ao debaterem teoria da organização, se relacionam diretamente
com a CI. 

Assim, neste primeiro capítulo, traremos informações históricas da CI,


seus conceitos iniciais e fundamentais da área, contextualizando sua natureza
interdisciplinar, bem como os paradigmas da Biblioteconomia e da Ciência da
Informação.

Aprofundaremos o debate sobre o objeto de pesquisa na área, a informação


que se relaciona com o documento e a recuperação da informação, resgatando a
mudança dos suportes da informação ao longo da história.

Por fim, introduziremos a história da Biblioteconomia e das Bibliotecas,


trazendo as tipologias de bibliotecas existentes, bem como suas especificidades
na atividade do profissional.

A seguir, você pode visualizar nosso caminho de aprendizagem:

FIGURA 1 – PRINCIPAIS TEMAS DA UNIDADE

FONTE: A autora

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Biblioteconomia, legislação e normas

2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Segundo Oliveira (2005), existe uma vasta literatura a respeito da
fundamentação teórica que sustenta a origem da Ciência da Informação, ao
mesmo tempo que reflete as diversas tentativas de contextualizá-la, e de melhor
definir seu objeto de estudo, ou seja, a informação. Também as relações da CI
com outras disciplinas, que caracterizam sua interdisciplinaridade.

A Ciência da Informação, a exemplo de outras áreas, nasce no bojo da


revolução científica e técnica que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Para
alguns autores, como Harmon (1971), Saracevic (1999) e Pinheiro (2002),
a história da Ciência da Informação sofreu influências marcantes de duas
disciplinas, que contribuíram não só para sua gênese, mas também para seu
desenvolvimento, a documentação e a recuperação da informação.

FIGURA 2 – ÁREAS DE INFLUÊNCIA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

FONTE: A autora

A documentação trouxe novas conceituações e, a recuperação da


informação, viabilizou o surgimento de sistemas automatizados de recuperação
de informações.

Detalhes dessa contribuição, veremos no próximo tópico, que fala da história


da ciência da informação.

2.1 HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA


INFORMAÇÃO
É difícil definir um marco inicial para o surgimento de debates acerca da
Ciência da Informação. Muito antes de se falar desta ciência, já havia diversos
estudos com o objetivo de melhor organizar, guardar e disseminar a informação,

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

deixando resquícios do que viria após. Já na Antiguidade, na busca de organizar


a informação, buscavam-se métodos como ordem alfabética, ou ainda, na Idade
Média, os catálogos e inventários. Há autores que vão mais longe, falando da
existência de análise documentária na Mesopotâmia, por volta de 2000 a.C.
(WITTY, 1973).

Mas é no século XIX que encontramos alguns marcos nessa história.


É notoriamente reconhecido que, neste estágio, autores como Charles A.
Cutter, Melvin Dewey, Henry E. Bliss e Ranganathan produziram princípios
para organização do conhecimento que prosseguem válidos e importantes na
atualidade.

QUADRO 1 – AUTORES E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES


MELVIN HENRY E.
CHARLES CUTTER RANGANATHAN
DEWEY BLISS
Autor das 5 Leis da Biblioteco-
Criou o sistema de
Também criou nomia:
Criou a tabela de classificação de
um sistema de “Livros são para uso;
Cutter, utilizada até assuntos que levou
classificação, para cada leitor, seu livro;
os dias atuais para seu nome, conhecida
que é utilizado para cada livro, seu leitor;
elaboração das nota- como CDD. É a mais
principalmente no poupe o tempo do leitor;
ções dos livros. utilizada no mundo
Reino Unido. a biblioteca á uma orga-
ainda nos dias atuais.
nização em crescimento”.
FONTE: A autora
Por meio desses autores, temos um período que Hjorland (2003, p. 262)
define como sendo “de profissionalização de classificações e indexações,
criação da CDD – Classificação Decimal Dewey e fundação de escolas de
biblioteconomia”.

É também nesse período que as comunicações científicas passam a ser


um espaço de larga divulgação de trabalhos na área, com a criação de institutos
internacionais, a publicação da CDU – Classificação Decimal Universal e diversos
estudos, sendo os principais autores Paulo Otlet, Bernal e Bradford.

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Biblioteconomia, legislação e normas

CLÁSSICOS DA BIBLIOTECONOMIA

Paul Otlet é um clássico da área de Biblioteconomia. Com seu


amigo La Fontaine, em 1904, criaram a CDU (Universal Decimal
Classification) com base na CDD (Dewey Decimal Classification).
Otlet escreveu diversos ensaios sobre a forma de organizar o
mundo do conhecimento, resultando em dois livros, o Traité de
documentation (1934) e Monde: Essai d’universalisme (1935).
Seu legado é apresentado no livro As contribuições de Paul
Otlet para a Biblioteconomia, em especial em seu Capítulo 1 – PAUL
OTLET: BIOGRAFIA E LEGADO, que sugerimos como leitura.

Tal livro está disponível em:


https://www.acbsc.org.br/wp-content/uploads/2018/08/EBOOK-
Paul-Otlet-ACB-vers%C3%A3o-final-revisada-22-08-2018.pdf.

Na década de 50 do século passado, surgem os primeiros protótipos de


armazenamento e recuperação da informação em formato digital. Se para a
sociedade em geral, esse período será marcado por um avanço tecnológico, para
a Ciência da Informação será o momento propício para seu nascimento.

As novas tecnologias da informação, como Sistemas de Recuperação da


Informação (SRIs), bases de dados, entre outras, já modificavam o dia a dia das
indústrias, universidades e sociedade em geral. As teorias de comunicação de
Shannon e Wienner, bem como estudos de outros autores, dentre eles Bradford,
que falava do caos documentário e usou pela primeira vez o termo Ciência da
Informação em 1948, já pressagiavam o que viria alguns anos depois.

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Um dos autores que destacamos em nossos estudos foi Vannevar Bush


(1945), que durante a Segunda Guerra Mundial, em julho 1945, escreve o texto
As We May Think – Como Podemos Pensar, que discute um dos problemas
mais difíceis para a comunidade científica em tal período, e para a humanidade
em geral: encontrar uma forma de armazenar e recuperar o conhecimento
que desenvolvemos em nossas pesquisas e investigações. O artigo apresenta
propriedades importantes que as soluções existentes na época poderiam evoluir
para oferecer, e sugere um mecanismo para automatizar as ações de guardar,
indexar e recuperar conhecimento. O autor chama este aparelho de Memex.

É um dispositivo em que o indivíduo armazenará seus livros, seus registros,


suas anotações, suas comunicações. O dispositivo será mecanizado de modo a
poder ser consultado com extrema velocidade e flexibilidade. Digamos que seja
um suplemento íntimo a nossa memória: uma grande expansão da memória
pessoal (BUSH,1945).

FIGURA 3 – MEMEX DE VANNEVAR BUSH

FONTE: <https://king.host/blog/2017/05/do-memex-de-vannevar-
bush-ate-web-de-todos-nos/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

Em 1958 é assinalada com um dos marcos na formalização da Ciência da


Informação, quando foi fundado no Reino Unido o Institute of Information Scientist.
Alguns autores descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas
especializadas (em indústrias e outras organizações, e especialmente pela ênfase
dada por estas, a ideia de documentação). Na indústria moderna, houve uma
crescente demanda de informação para maior desempenho das organizações.
Então, alguns cientistas qualificados se deslocaram para a área de pesquisa e
desenvolvimento ou de produção com o intuito de estabelecer um serviço de
informação ativo para seus colegas, eles se consideravam cientistas. Como a
atividade se expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para

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Biblioteconomia, legislação e normas

aqueles que optavam por essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a
se chamar Ciência da Informação.

Ou seja, o uso do termo “Cientista da Informação” pode ter tido


a intenção de distinguir os cientistas da informação dos cientistas de
laboratório, uma vez que o interesse principal daqueles membros era
a organização da informação científica e tecnológica. Os membros
denominados cientistas da informação eram profissionais de várias
disciplinas que se dedicavam às atividades de organizar e suprir de
informação científica seus colegas pesquisadores.

Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com


que o computador afetou a estrutura dentro da qual a Ciência da Informação
opera. Como outros campos científicos de natureza semelhante, por exemplo, a
ciência da computação, a ciência da informação tem sua origem na esteira da
revolução científica e técnica que se seguiu a Segunda Guerra Mundial. As novas
tecnologias projetaram-se sobre a ciência da informação da mesma maneira que
o fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, há consenso
entre muitos estudiosos da ciência da informação de que está inexoravelmente
conectada à tecnologia da informação. A recuperação da informação teve papel
importante no surgimento da área, guarda em sua evolução as associações da
ciência com a tecnologia da informação.

Já as décadas de 60 e 70 do século passado foram marcadas pelas mudanças


nos contextos históricos, políticos e econômicos, principalmente ocasionados pela
tecnologia e suas implicações na vida social e acadêmica. Sabe-se que, em uma
reunião do Instituto Tecnológico da Geórgia, em 1962, nasceu “oficialmente” a
Ciência da Informação, cuja principal característica era estudar as propriedades
e comportamentos da informação, investigando a sua geração, armazenamento,
processamento, disseminação e uso da informação.

Em relação ao tempo histórico, podemos considerar que a ciência da


informação é um campo científico recente, e, portanto, ainda em construção.
Cada disciplina científica possui conceitos e teorias consistentes, reconhecidas e
partilhadas por sua comunidade. Com cerca de 50 anos de existência, a ciência
da informação não conta ainda com uma construção teórica que integre todos os
seus conceitos e práticas, por isso opera baseando-se em construções teóricas
mais ou menos fragmentadas.

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Desde o seu surgimento, muitos estudiosos da área já conceituaram o que é


ciência da informação. Alguns apresentam uma visão ampla da área, outros têm
dela uma visão mais restrita, dependendo do entendimento do autor sobre o que é
informação e seu universo de atuação.

Para ter ideia dessa problemática, no estudo Mapa de Conhecimento da


Ciência da Informação, realizado por Chain Zins entre 2003 a 2005, o autor
documentou mais de 50 definições de Ciência de Informação, traçando correntes
teóricas mais relevantes à formulação de uma concepção sistemática. Zins (2007,
p. 528) formula seis concepções diferentes do campo e discute suas implicações,
constatando que “o campo de Ciência da Informação está em constante mudança.
Portanto, os cientistas da informação regularmente necessitam revisar – e se for
necessário – necessitam redefinir seus fundamentos epistemológicos”.

Leia o artigo de Zins (2007), que pode ser acessado em:


http://www.success.co.il/is/bjis-2007.pdf. Trata-se de um painel
internacional composto de 57 acadêmicos de 16 países que
representam quase todos os subcampos e os aspectos mais
importantes da área de Ciência da Informação.

Chaim Zins é um cientista da informação israelense,


especializado em mapeamento do conhecimento. Dentre seus
principais projetos de pesquisa estão: metodologia de pesquisa,
10 pilares do conhecimento, mapa da Ciência da Informação, e o
Delphi crítico. Professor na Universidade de Haifa (Israel), do Gordon
College of Education (Israel), e também foi professor visitante no
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP
(Marília, SP), ele possui um site onde é possível acompanhar seus
estudos e pesquisas, principalmente na área de mapeamento do
conhecimento.

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Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA – CHAIM ZINS

FONTE: <https://i1.rgstatic.net/ii/profile.image/279349489094679-1443613516542_
Q512/Chaim_Zins.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020.

Mas, aqui, trabalharemos com a definição de Borko (1968, p. 2), para quem a
Ciência da informação é:

Uma Ciência interdisciplinar que investiga as propriedades e


comportamento da informação, as forças que governam os
fluxos e os usos da informação e as técnicas, tanto manual
quanto mecânica de processamento da informação. Relaciona-
se com o corpo de conhecimento relativo à produção, coleta,
organização, armazenagem, recuperação, interpretação,
transmissão, transformação e utilização da informação.

As ideias de Borko, ao conceituar a nova disciplina, apontam a essência do


problema que orienta o campo da Ciência da Informação: organizar e disponibilizar
para uso as informações sobre o que é produzido socialmente (BORKO, 1968).

Haroldo Borko é considerado um dos autores clássicos em Ciência da


Informação, centrou-se no início dos anos 1960, no estudo da aplicação dos
computadores ao processamento da linguagem e à recuperação da informação,
mantendo, todavia, projetos paralelos como o da classificação automática de
documentos.

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

FIGURA – HAROLDO BORKO

FONTE: https://www.asist.org/about/history-of-information-science/
pioneers-of-information-science/harold-borko-2/

Em 1968, ele escreve um breve, mas denso texto, intitulado


Ciência da informação: O que é isso?. Borko dá uma contribuição
decisiva para os fundamentos científicos da Ciência da Informação
com a formulação de uma definição de Information Science (IS), que
vai muito além das apresentadas em 1961 e 1962 nas conferências
do George Institute of Technolog.

2.1.1 A Natureza Interdisciplinar da


Ciência da Informação
Há unanimidade entre os praticantes e pesquisadores da ciência da
informação sobre o fato de esta ser um campo interdisciplinar. Isso significa que
os problemas da área, tanto de natureza teórica quanto os técnicos, têm sido
equacionados com a participação de outros ramos do conhecimento.

Na opinião de Saracevic (1999), a interdisciplinaridade foi introduzida na


Ciência da informação pela variedade de antecedentes de todas as pessoas
que se ocuparam com seus problemas (já descritos). Entre os pioneiros,
havia engenheiros, bibliotecários, químicos, linguistas, filósofos, psicólogos,
matemáticos, cientistas da computação, homens de negócio e outros, oriundos de
diferentes profissões ou ciências.

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Biblioteconomia, legislação e normas

Nem todas as disciplinas das quais tais pessoas se originaram, tiveram


contribuições relevantes, mas essa multiplicidade de visão nas construções da
área foi responsável pela introdução e pela permanência do objetivo interdisciplinar
na Ciência da informação.

A participação de outros campos do conhecimento na Ciência da informação


permanece em função da complexidade dos problemas a serem equacionados pela
área, o que exige contribuições de diferentes profissionais e/ou pesquisadores.

Dentre as disciplinas com as quais a Ciência da informação tem trabalhado


distinguem-se: Biblioteconomia, Ciência da Computação, Comunidade
Social, Administração, Linguística, Psicólogos, Lógica, Matemática, Filosofia/
Epistemologia.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),


Órgão federal de financiamento e pesquisa no país, adotou uma conceituação
para a área, para assim administrar a demanda de financiamento à pesquisa.
Essa definição foi descrita no documento Avaliação e perspectiva que analisa a
Ciência da informação, a Biblioteconomia e a Arquivologia. Tal documento que
descreve as atividades da área de Ciência da Informação, no Brasil, foi elaborado
por uma comissão composta por consultores de tais disciplinas. A conceituação
da área, elaborada por aquela comissão, apoiou-se nas orientações da UNESCO,
que, então, estimulava a criação de uma infraestrutura de informação com base
de sistemas nacionais de informação. No contexto daquele documento, a área
é assim definida: “Ciência da informação designa o campo mais amplo, de
propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por
objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e
utilização de informações em todos os campos do saber” (CNPQ, 1983, p. 52
apud OLIVEIRA, 2005, p. 143).

O termo interdisciplinaridade, aqui empregado, trata da síntese de duas


ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso, caracterizado
por uma nova linguagem. Já a transdisciplinaridade é o reconhecimento da
interdependência de todos os aspectos da realidade. É consequência normal da
síntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida.

No entendimento daqueles consultores, a Biblioteconomia e a Arquivologia


são disciplinas aplicadas que tratam da coleta, da organização e da difusão de
informações preservadas em diferentes tipos de suporte materiais. Diferenciam-
se, basicamente, pelo fato de:

• Que as bibliotecas e outros órgãos assemelhados lidam com a


necessidade de prover os usuários com informações substantivas sobre

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

o universo dos conhecimentos, ou parte deles.


• Enquanto os arquivos lidam com aqueles documentos que foram
produzidos como resultado das atividades desenvolvidas por uma
pessoa física ou jurídica e que, portanto, documentam essas atividades.

Assim, percebe-se no estudo daquele documento, que a ciência da


informação é vista como uma grande área na qual estão abrigadas subáreas,
como a Biblioteconomia e a Arquivologia, disciplinas mais voltadas à aplicação
técnica, que não quer dizer que no âmbito daquelas disciplinas não se realizem
pesquisas ou se produzam novos conhecimentos com possibilidades de distender-
se para abrigar novas habilidades ligadas às novas atividades de informação.

2.2 PARADIGMAS DA CIÊNCIA


DA INFORMAÇÃO E DA
BIBLIOTECONOMIA
A ciência da informação se desenvolveu no Brasil, mais do que nos países
centrais, imbricada com a biblioteconomia. Ou seja, a ciência da informação é
um conjunto de teorias e, como campo científico, produz intercâmbio com outras
disciplinas. Uma delas é a Biblioteconomia, área com a qual ela tem falado mais
de perto, pelo menos na realidade brasileira. Mas a Ciência da Informação
não é uma evolução da Biblioteconomia, pois cada uma delas se baseia
em orientações paradigmáticas diferenciadas. As teorias da Ciência da
Informação, aliadas às novas tecnologias de informação, vêm contribuindo com
novas práticas e serviços bibliotecários.

Biblioteconomia e a Ciência da Informação trabalham juntas na busca de


solução para o mesmo problema que orienta a área.

Segundo Thomas Kuhn (2003), paradigma é um modelo ou padrão de ciência


que é compartilhado por uma determinada comunidade.

O Paradigma da ciência da informação compõe-se de um grupo de ideias


relativas ao processo que envolve o movimento da informação em um sistema
de comunicação humana. Este paradigma surgiu nos anos 1950, quando as
ideias da engenharia de comunicações e teorias cibernéticas obtiveram êxito na
representação das propriedades do sistema de transmissão de sinais em termos
matemáticos. Tornou-se então, base das tentativas para caracterizar e modelar o
processo de recuperação da informação e/ou do documento.

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Biblioteconomia, legislação e normas

Segundo Oliveira (2005), este paradigma tem influenciado profundamente


o campo da Biblioteconomia, contribuindo não só com a palavra informação
para denominar o novo campo, mas também, suprindo a área com um conjunto
completamente novo de termos com os quais os praticantes caracterizavam
suas atividades. O paradigma evidencia, particularmente, o fluxo de informação
que ocorre em um sistema no qual objetos de representação do conhecimento
(documentos) são buscados e recuperados em resposta à pergunta iniciada pelo
usuário. Isso pressupõe uma grande extensão de assuntos específicos envolvendo
processos também específicos, por exemplo, a criação e o crescimento do volume
de documentos na sociedade, a organização e a recuperação desses documentos
e/ou da sua representação e também uso.

Esse modelo de sistema de informação tem origem em um contexto mais


geral, que é a teoria matemática da comunicação. A teoria consiste em um ponto
de destino (receptor) com possibilidade de codificação e decodificação para fins
de retroalimentação.

FIGURA 4 – MODELO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE SHANNON WEAVER

FONTE: Shannon-Weaver (1949, p. 22)

Essa estrutura tem sido aplicada em bibliotecas como modelo de recuperação


de documentos e para caracterizar agências que se dedicam às atividades tanto
de Biblioteconomia quanto de Ciência da Informação. O modelo permitiu estudo
sobre fluxos de informação em agências públicas e privadas, entre membros de
uma disciplina, profissões especialistas etc.

Para Miksa (1992), a importância desse paradigma se expressa em três


ideias básicas:

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

1. Permitiu a formalização da ideia de que informação é algo que flui dentro


de um sistema. A partir daí, surgiram os conceitos de entropia e incerteza,
redundância, retroalimentação, sinal para taxas de ruídos.
2. A informação passou a ser entendida como algo divisível dentro de
unidades feitas em partes, num sistema.
3. A ideia de movimento da informação tem intensificado a busca de
entendimento da informação em si mesma. A princípio, tal movimento
foi discutido como fenômeno físico – isto é, como a transmissão
de sinais mensuráveis, o que tornou flexível o conceito principal do
paradigma. Depois foram acrescentados outros domínios do movimento
da informação, por exemplo, aqueles relacionados ao fluxo de ideias,
significados, ou mensagens cheias de significados envolvidos com a
semiótica e a semântica.

Após a década de 1990, as tecnologias avançam ainda mais. Debates como


o da arquitetura da informação passam a ser imprescindíveis dentro da Ciência
da Informação, com espaço garantido em eventos nacionais e internacionais da
área, bem como inseridos em disciplinas das graduações de Biblioteconomia.
Neste sentido, Santos e Vidotti (2008, p. 21) afirmam que “O entendimento
deste momento que se constrói historicamente remete à compreensão de que
a potencialização da competência informacional digital muda a cultura, criando
rupturas, rompendo paradigmas e introduzindo novas posturas experimentais a
princípio, mas que solidificam novos hábitos”.

Segundo Barreto (2009, p. 54):

O ciberespaço é visto como uma dimensão da sociedade em


rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais.
É associada à rede mundial de documentos multiculturais. O
indivíduo rompe com alguns princípios tidos como regras do
linguagear permitido, alterando alguns valores e crenças,
como uma determinação de uma nova sociabilidade existente
no mundo.

Sendo notória essa mudança na sociedade, acredita-se que o espaço dos


debates acerca de tecnologias e arquiteturas digitais, que deem um respaldo
às necessidades sociais, tendem a crescer. Corroborando com Braga (1995,
p. 23), “está se tornando cada vez mais difícil estudar algo do qual só estamos
conseguindo perceber o rastro”.

Enfim, Ciência da Informação é considerada uma ciência nova e em


construção, ligada diretamente ao processo de comunicação e aos avanços
tecnológicos. É considerada, também pela maioria dos autores, uma ciência
interdisciplinar ou até mesmo transdisciplinar, pois a informação, seu objeto

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Biblioteconomia, legislação e normas

de pesquisa, perpassa todas as áreas de conhecimento. Entre seus principais


desafios, está a ampliação e qualificação de seu quadro teórico.

O link a seguir apresenta os paradigmas epistemológicos da CI


(físico, cognitivo e social) elaborados por Rafael Capurro. Acesse:
http://www.capurro.de/enancib_p.htm.

3 A INFORMAÇÃO E DOCUMENTO
De acordo com Ortega e Lara (2008), a Ciência da Informação estuda o
conhecimento sob o ponto de vista dos registros que lhe conferem permanência
e possibilitam seu acesso e uso. Tais registros constituem documentos que, para
serem efetivamente informacionais, têm de ser construídos de modo a serem
apropriados. Assim, nesta seção, veremos as diferenças e relações desses dois
conceitos.

3.1 INFORMAÇÃO
Em um primeiro olhar, parece simples um processo de conceituação do
objeto de pesquisa da Ciência da Informação, ou seja, da Informação. Mas, em
uma leitura atenta dos clássicos da CI, podemos observar dificuldades nessa
definição. Em Buckland (1991), por exemplo, em seu texto Informação como
coisa, o autor trabalha a ambiguidade do termo “informação”. Ele a define em três
contextos diferenciados:

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Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

FIGURA 5 – BUCKLAND E A AMBIGUIDADE DA INFORMAÇÃO

FONTE: A autora

Segundo Oliveira (2005), a Ciência da Informação, desde seu surgimento,


padece de dificuldades para isolar e descrever seu objeto de pesquisa, a
informação. Há muitas definições para o termo informação, que conduzem
às diferentes visões dos autores sobre o que é um processo de informação. É
preciso relembrar que esse objeto não é exclusivo da ciência da informação, pois
perpassar todas as áreas de conhecimento, sendo interpretado também de forma
adversa. Mas a autora ressalta que, na ótica da Ciência da Informação, o objeto
informação é uma representação do conhecimento, do real, se tornando uma
representação da representação. Sendo um objeto complexo, flexível, mutável,
de difícil apreensão, sendo que sua importância e relevância estão ligadas ao seu
uso.

Para Le Coadic (1996, p. 41): “A informação é um conhecimento inscrito,


ou seja, gravado, sob a forma escrita, que pode ser impressa ou numérica, ou
ainda oral ou audiovisual. A informação comportaria um elemento de sentido. Um
significado transmitido a um consciente por meio de uma mensagem inscrita em
um suporte”.

Essa inscrição é feita graças a um sistema de signos (a linguagem), signo este


que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado:
signo alfabético, palavra, sinal de pontuação. O objetivo da informação permanece
sendo a apreensão de sentidos ou seres em sua significação, ou seja, continua
sendo o conhecimento; e o meio é a transmissão do suporte, da estrutura (LE
COADIC, 1996).

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Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA 6 – ESQUEMA DE INFORMAÇÃO

FONTE: A autora

Segundo Pinheiro (2002), a informação está imersa em um campo vasto e


complexo de pesquisas que, por tradição, se relacionam a documentos impressos
e a bibliotecas. No entanto, a informação de que trata a ciência da informação não
se restringe a documentos impressos, pode ser percebida em conversas entre
cientistas e outros tipos de comunicação informal. Ela representa também em
uma inovação para o setor produtivo, na forma de patente, fotografia ou objeto,
no registro magnético da base de dados, numa biblioteca virtual ou repositório
na internet. Em seu estudo, Pinheiro (2002) extrai de vários outros autores os
atributos da informação. Vejamos:

FIGURA 7 – ATRIBUTOS DA INFORMAÇÃO

FONTE: Adaptada de Pinheiro (2002)

Em resumo, a informação trata-se de um fenômeno tão amplo que abrange


todos os aspectos da vida em sociedade; pode ser abordado por diversas óticas,
seja a comunicacional, a filosófica, a semiológica, a sociológica, a pragmática,
entre outras. Essa multiplicidade de possibilidades de análise do fenômeno

24
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

conduz a uma reflexão sobre a natureza interdisciplinar, ou transdisciplinar, da


área, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade científica, por outro,
fragmenta-se ao abordar diferentes temáticas relacionadas ao binômio informação
comunicação.

3.2 DOCUMENTO
Documento pode ser definido como o registro de uma informação,
independentemente da natureza do suporte que a contém (PAES, 2004). Outra
designação para documento – o suporte material do saber e da memória da
humanidade.

Os documentos podem ser diferenciados segundo suas características,


vejamos:

• Textuais: livros e e-books, periódicos, fichas, textos de leis etc.


• Não textuais: imagens; mapas; plantas; cartazes; discos; fitas;
quanto à forma de produção; quanto à modalidade de utilização.

Quanto à forma de produção, os documentos podem ser Brutos ou


Manufaturados:

• Bruto: minerais; plantas; ossos; fósseis e meteoritos.


• Manufaturados: artesanal; industrial; intelectual e utilitário.

Existem vários e-books disponíveis para web para consulta.


Conheça a iniciativa do Google books: https://books.google.com/.

Quanto à utilização, os materiais podem também ser utilizados pelos homens,


ou ainda, serem equipamentos especiais e de informática.

Quanto à periodicidade, podem ser produzidos apenas uma vez, ou ainda,


terem uma regularidade de volumes, exemplares, tiragens e tomos. Podem
também ser organizados em coleções.

25
Biblioteconomia, legislação e normas

Você sabe o que é um tomo? O conceito de tomo é geralmente


usado relativamente à segmentação de uma obra escrita. Um escritor
pode tomar a decisão de dividir um livro em várias partes: cada uma
destas partes recebe o nome de tomo.

Quanto à forma, também podem ser publicados ou não. Os materiais não


publicados também são considerados literatura subterrânea, não convencional
ou cinzenta. Por exemplo, aqueles que são produzidos em todos os níveis do
governo, institutos, academias, empresas e indústria em formato impresso e
eletrônico, mas que não são controlados por editoras ou científicas ou comerciais.
Aqui também estão os documentos manuscritos.

Curiosidade – Incunábulos são obras impressas anteriormente


ao ano de 1500, nos primeiros tempos com a invenção da imprensa
com tipos móveis. Essas obras imitavam os manuscritos. Assim,
demorou-se 50 anos para que o livro impresso passasse a ter
suas próprias características, abandonando, paulatinamente, as
características do livro manuscrito. A sua origem vem da expressão
latina in cuna, referindo-se assim ao berço da tipografia.

Quanto ao grau de elaboração, podem ser primários, ou seja, originais.


Secundários, que se referem aos primários, como bibliografias, catálogos, boletins.
Ou ainda, terciários, elaborados a partir de documentos primários e secundários.

Quanto à origem, os documentos podem ter fonte: pública; privada;


anônima; conhecida; individual; coletiva; secreta ou divulgada. Podem ainda ter
autoria: pessoal ou coletiva, se autor entidade; ser de domínio público ou ainda
propriedade literária.

26
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

SAIBA MAIS – Os direitos autorais duram por 70 anos após a


morte do autor, contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao
falecimento. Depois desse prazo, a obra passa a ser domínio público.
Com um acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 18,4
milhões de visitas, o Portal do Governo Federal, “Domínio Público”, é
a maior biblioteca virtual do Brasil.

Lançado em 2004, oferece acesso de graça a obras literárias,


artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e
vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação
autorizada. Acesse http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.jsp.

3.3 OS SUPORTES DA INFORMAÇÃO


O suporte pode ser entendido como toda e qualquer mídia que armazene
informação ao longo dos tempos. Monte e Lopes (2004, p. 22) definem suporte
da informação como “o produto utilizado para o armazenamento das informações,
podendo conter dados, histórias, documentos, imagens, filmes, sons símbolos
entre outros. A partir da popularização da informática, este termo ficou conhecido
como mídias ou dispositivos de armazenamento”.

27
Biblioteconomia, legislação e normas

Um dos primeiros suportes utilizados para registrar a expressão gráfica


humana remonta à Pré-História e utilizava a pedra como mídia. São exemplos
clássicos desse período, os painéis de arte rupestre, executados nas paredes das
cavernas onde o homem primitivo desenhava o seu cotidiano (MONTE; LOPES,
2004). A arte rupestre iconizava normalmente rituais primitivos para boa colheita,
condições ambientais, guerras, cotidiano, entre outros.

FIGURA 8 – GRAVURA RUPESTRE LOCALIZADA NA


PEDRA DO INGÁ, PARAÍBA (BRASIL)

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-rupestre/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

FIGURA 9 – PINTURA RUPESTRE ENCONTRADA NA ARGÉLIA (ÁFRICA)

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-rupestre/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

28
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Você percebeu, assim como vimos antes, que a pedra foi o mais primitivo
suporte utilizado para armazenamento de informações, porém, com o advento
da escrita sistemática, outros materiais foram sendo testados, utilizados e
substituídos, evoluindo em direção à eficiência do registro e da comunicação. As
formas mais importantes de suportes utilizados antes do aparecimento do papel
foram o papiro e o pergaminho.

O papiro era um suporte orgânico de origem vegetal, feito a partir de tiras de


uma planta da família das ciperáceas (cyperus papyrus). Segundo Donato (1951),
atingia até três metros de altura, haste nua, formada por uma série de películas
concêntricas, umas sobre as outras. O papiro foi bastante difundido como suporte
de informações, sendo encontrado há mais de 3500 anos, nas margens do Rio
Nilo, no Egito. Martins (1996) afirma que o papiro foi o mais célebre de todos os
produtos vegetais empregados na escrita na Antiguidade. Embora não se conheça
o momento exato em que se transformou em material de escrita, tudo indica que
se trata de uma época extraordinariamente longínqua.

FIGURA 10 – PAPIRO

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/01/Sesostris%27_
boook_of_the_dead%2C_Papyrusmuseum_Wien.jpg/1200px-Sesostris%27_
boook_of_the_dead%2C_Papyrusmuseum_Wien.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020.

O pergaminho se tornou o principal suporte da escrita na Idade Média.


Segundo Luccas e Seripierri (1995), sua preparação era semelhante ao curtimento
do couro. Depois de lavada, a pele era depilada, estendida num retângulo de
madeira e amaciada com pedra-pomes, até a obtenção de uma superfície lisa
e clara. Segundo Martins (1996, p. 68), o Pergaminho viabilizou o aparecimento
das cores, “nome dado aos manuscritos cujas folhas eram reunidas entre si pelo
dorso, e recobertas de uma capa semelhante à das encadernações modernas”,
o pergaminho foi largamente utilizado até a descoberta e difusão do papel, uma
invenção dos chineses.

29
Biblioteconomia, legislação e normas

Já o papel foi inventado por T’sai-Lun, Diretor das Oficinas Imperiais, na


província de Hunan, ao norte da China, por volta do ano 105 d.C. (LUCCAS;
SERIPIERRI, 1995) e revolucionou o mundo da escrita, rapidamente, tornando-
se o suporte mais utilizado para guarda e armazenamento de informações no
mundo moderno. Mas percebe-se que os recursos que existiam no passado ainda
eram limitados para viabilizar a disseminação da informação e ficava restrito a
poucos. O surgimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC)
provocou uma grande revolução nos registros de informação e do conhecimento.
Com o aparecimento da internet e com os novos processos de gestão, guarda,
preservação e disseminação de informações, novos estoques foram se
desenvolvendo e pressionando a indústria de Tecnologia da Informação (TI) a
produzir suportes mais eficientes para o armazenamento de registros em meio
digital.

FIGURA 11 – EVOLUÇÃO DOS SUPORTES TECNOLÓGICOS

FONTE: <http://cantinhotic.blogspot.com/2013/02/evolucao-dos-
suportes-de-informacao.html>. Acesso em: 5 ago. 2020.

No decorrer de uma década, romperam-se seguidamente diversos limites


de armazenamento, vencendo com facilidade a barreira dos gigabytes de
capacidade, por unidade de memória. Com o advento da informática, da internet
e com a expansão geométrica do volume de usuários e pontos de presença na
web, novos produtos de informação foram gerados e, consequentemente, novos
suportes para o armazenamento dessas informações foram desenvolvidos. O
disquete, fita magnética, disco rígido, CD, DVD, Blue-Ray, HD Externo, Pen Drive,
são exemplos recentes do esforço tecnológico realizado para o armazenamento
da informação digital gerada, até o armazenamento nas nuvens,

30
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

4 BIBLIOTECONOMIA
A Biblioteconomia está relacionada ao significado de suas três palavras:
biblio – teca – nomia. A primeira está associada a livros (ou de forma mais
ampla, materiais bibliográficos), enquanto a segunda é relativa à caixa (algo que
arranja, arruma ou organiza), e a terceira, por fim, quer dizer norma, isto é, norma
estabelecida para um determinado fim (FONSECA, 2007).

Pensar a Biblioteconomia pode perpassar em termos técnicos,


Le Coadic
científicos, profissionais ou acadêmicos. Porém, é pertinente ressaltar (1996), em sua
que a aventura de compreender o que é a Biblioteconomia é uma obra A Ciência
necessidade premente dos mais diversos representantes de sua área, da Informação,
é o que nos entusiasma a tentar conceber uma síntese sobre o assunto afirma que a
(BIBLIOO, 2019). Biblioteconomia não
é nem uma ciência,
nem uma ciência
Podemos conceber que a Biblioteconomia é a união de tecnológica rigorosa,
duas palavras, biblioteca e economia, no sentido de organização, mas uma prática
administração, gestão. Le Coadic (1996), em sua obra A Ciência da de organização: a
Informação, afirma que a Biblioteconomia não é nem uma ciência, nem arte de organizar
uma ciência tecnológica rigorosa, mas uma prática de organização: a bibliotecas.
arte de organizar bibliotecas.

4.1 ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS


DA BIBLIOTECONOMIA E DAS
BIBLIOTECAS
Os conceitos etimológicos que ganharam força, sobretudo durante o século
XIX até o final do século XX, significam dizer que a Biblioteconomia pode ser
considerada, em sua essência epistemológica, uma norma estabelecida (conjunto
de normas) para a organização de acervos de uma biblioteca que está embasada
pelos códigos e materiais de catalogação, classificação, indexação e de outros
instrumentos técnicos de organização, visando promover disseminação e acesso
à informação para a sociedade.

Historicamente, o emprego da palavra biblioteca já se encontra expandido


durante os séculos XVII e XVIII na Europa e século XIX no continente americano,
com o surgimento das grandes bibliotecas nacionais. Todavia, o emprego do
termo biblioteconomia começa a se expandir na primeira metade do século XX,
com o início dos primeiros cursos de Biblioteconomia.

31
Biblioteconomia, legislação e normas

Também podemos afirmar que a história das bibliotecas acompanha a


história da escrita e das formas de registro do conhecimento humano. Que, como
pudemos observar no tópico anterior, perpassa as tábuas de argila, as coleções
de papiros e pergaminhos, papel até o surgimento de novas tecnologias.

Uma das mais famosas bibliotecas da Antiguidade foi Alexandria, no Egito.


Criada no século III a.C., chegou a reunir cerca de 700 mil volumes de manuscritos.
Ela compreendia dez grandes salas e quartos separados para os consulentes.
A Biblioteca de Alexandria foi o grande marco da história das bibliotecas da
Antiguidade e foi destruída por um grande incêndio provocado pelos árabes, em
646 da Era Cristã (OLIVEIRA, 2005).

Na Idade Média, existiam três tipos de bibliotecas: as bibliotecas dos


mosteiros (lembradas por Umberto Eco, em seu livro O Nome da Rosa) e de
ordens religiosas diversas, as bibliotecas das universidades e as bibliotecas
particulares, quase sempre pertencentes aos reis, nobres ou grandes senhores.
Estas últimas constituem a origem das bibliotecas nacionais.

Desde o surgimento das bibliotecas até o período da Renascença, os


guardiões dos livros não tinham uma existência social como os bibliotecários
que conhecemos hoje; eram sempre eruditos (sacerdotes ou figuras da elite) que
viviam reclusos em suas bibliotecas e preocupados em salvaguardar e copiar as
obras dos acervos. As bibliotecas da Antiguidade e da Idade Média não tinham
como objetivo dar acesso ao grande público, pelo contrário, eram símbolos de
poder e acúmulo de conhecimento para os poucos que tinham o privilégio de
consultá-las. Tanto que nas invasões e guerras, as bibliotecas não eram poupadas
da destruição do inimigo, dada a importância simbólica que exibiam. Dizimar os
símbolos do saber acumulado de um povo era, também, dizimá-lo da História.

Quando a tipografia foi criada na Renascença, o livro ganhou uma maior


visibilidade e veiculação, tornando a biblioteca e, consequentemente, o
bibliotecário, mais populares. Mas o bibliotecário, nesse período, ainda era um
erudito ou um escritor que cuidava dos acervos, à procura de paz para idealizar
e escrever sua obra, neste contexto, arquivos e museus eram uma só entidade,
onde eram guardados todos os tipos de documentos.

Com o surgimento do livro impresso, a biblioteca também ganha uma


existência própria. A partir do século XVII, surgiram as primeiras bibliotecas
públicas, patrocinadas por mecenas (pessoas que patrocinavam artistas e
escritores para obter prestígio). A abertura maciça das instituições, até então
restritas ao grande público, como museus e bibliotecas, deu-se a partir da
Revolução Francesa, que também foi o estopim para os ideais de uma educação

32
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

pública laica e gratuita. A figura do bibliotecário começou a ganhar uma visibilidade


social e a biblioteca passou a não ser mais o local do saber e conhecimento
restrito, mas sim o local que deveria ser organizado de modo que todos pudessem
ter acesso aos conteúdos que ela disponibilizasse.

A partir de meados do século XIX, sentiu-se a necessidade de haver um


profissional com formação especializada e técnica, pois se reconheceu que era
uma profissão socialmente indispensável.

Um livro-chave para compreensão da Biblioteconomia, de uma forma


bem brasileira, é Introdução a Biblioteconomia, de Edson Nery da Fonseca.
Nele, Fonseca (2007) aborda os aspectos e objetos presentes na história da
Biblioteconomia, conceituando e apresentando suas formas de organização e
suas funções na sociedade. Também contextualiza a evolução histórica da área.
Para o autor:

• O livro é uma ferramenta importantíssima como veículo de comunicação


e estímulo ao conhecimento.
• A biblioteca é onde são reunidos os livros, bem como os seus leitores e
onde o bibliotecário exerce suas funções.
• O leitor é destacado por Fonseca (2007) como figura central, pois sem
ele, a biblioteca não existiria.
• A leitura vai além do que está escrito, é a criação de ideias, a expansão
do conhecimento.
• O bibliotecário é a chave dessa mediação, entre os livros e o
conhecimento adquirido pelos leitores. Verdadeiro disseminador da
informação, sem ele a biblioteca fica desorganizada e sem sentido.

33
Biblioteconomia, legislação e normas

CLÁSSICOS DA BIBLIOTECONOMIA

FIGURA – EDSON NERY DA FONSECA

FONTE: <https://s2.glbimg.com/dhAfpw3DyB7dwRqScvm954B6AS8=/290x217/
s2.glbimg.com/tICgpAU6QRY5fnuEdSxsBBaftcI=/s.glbimg.com/jo/
g1/f/original/2011/11/12/nery.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2020.

Nascido no Recife, em 6 de dezembro de 1921, a trajetória


do Mestre Edson se entrelaça com a história da biblioteconomia
brasileira. Foi fundador dos cursos de biblioteconomia do Recife
(1948) e da Universidade de Brasília (1962), onde também foi
o primeiro diretor da sua Biblioteca Central. Colaborou, a partir
de 1954, com a implantação da Divisão de Bibliografia do antigo
Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (hoje, Ibict); foi
bibliotecário da Câmara dos Deputados e assessor da Fundação
Joaquim Nabuco (1980-1987).

Atualmente, a biblioteconomia busca alicerçar seus saberes em conceitos


e técnicas elaboradas com o intuito de aprimorar seus processos, questionando
e reelaborando seus métodos, a fim de acompanhar o desenvolvimento
informacional e atender plenamente aos seus usuários. Esses conceitos procuram
cientificar a biblioteconomia, desvinculando o aspecto técnico que está fortemente
vinculado e ela.

Nesse aprimoramento, o repensar de serviços e processos abre possibilidades


diversas para a atuação do profissional bibliotecário, além dos locais clássicos em
que estamos habituados a associar a atividade desse profissional. E entre esses
novos campos de atuação, outros nomes surgem para definir o bibliotecário, de
acordo com o enfoque de trabalho e o local de atuação deste.

34
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Podemos considerar algumas definições para Biblioteca:

• Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres,


organizados para estudo, leitura e consulta.
• Edifício ou recinto onde se instala essa coleção.
• Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam livros.
• Processamento de Dados.
• Coleção ordenada de modelos ou de rotinas ou sub-rotinas por meio da
qual se pode resolver os problemas e suas partes.

O bibliotecário avalia o material a ser adquirido por sua instituição como


peças isoladas. Os documentos são unidos pelo seu conteúdo e caracterizados,
em sua maior parte, como impressos. A biblioteca é órgão colecionador, e o seu
público é formado pelo pesquisador, estudantes e o cidadão comum, possuindo,
portanto, um maior número de usuários, com os mais tipos de Biblioteca.

4.2 TIPOS DE BIBLIOTECA


Segundo Oliveira (2005), as bibliotecas se dividem segundo sua finalidade
em: nacionais; públicas; universitárias; especializadas, infantis, escolares,
comunitárias e digitais. Vejamos alguns detalhes desses tipos de biblioteca a
seguir.

4.2.1 Nacionais
As Bibliotecas Nacionais possuem, em sua gênese, o sinônimo de
preservação documental de um país. A instituição apresenta o princípio de
preservar a memória documental da cultura do país.

FIGURA 12 – BIBLIOTECA NACIONAL BRASIL

FONTE: <https://www.bn.gov.br>. Acesso em: 20 jul. 2020.

35
Biblioteconomia, legislação e normas

A Biblioteca Nacional do Brasil está localizada no Rio de Janeiro. Para se


aprofundar na história da criação e desenvolvimento da Biblioteca Nacional,
recomenda-se a leitura da sessão Histórico, localizada no site da própria
Fundação Biblioteca Nacional (FBN).

A Biblioteca Nacional é o órgão responsável pela execução da política


governamental de captação, guarda, preservação e difusão da produção
intelectual do País. A Biblioteca Nacional é responsável pelo Controle Bibliográfico
Universal, formando um grande catálogo nacional de toda a produção intelectual
da nação.

Sugestão de leitura para os acadêmicos: Bibliotecas Nacionais:


Memória, História, Conceitos.
Acesse: http://www.ufpb.br/evento/index.php/
enancib2015/enancib2015/paper/viewFile/2646/1221.

O Controle Bibliográfico Universal é possível por meio de Depósito Legal,


“definido como a obrigação do envio de exemplares das obras publicadas em um
país para uma instituição depositária, as instruções sobre depósito legal, existem
não só no Brasil, mas em diversos outros países [...]” (GRINGS; PACHECO, 2010,
p. 77). Tanto o Controle Bibliográfico Legal quanto o Depósito Legal formal são os
objetivos da própria existência da Biblioteca Nacional.

Fique sabendo:
As bibliotecas nacionais fazem o que é chamado de “Depósito Legal”

O Depósito Legal é definido pelo envio de um exemplar de todas as


publicações produzidas em território nacional, por qualquer meio ou processo,
segundo as Leis n. 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Tem como
objetivo assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual
brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional.
Nele estão inclusas obras de natureza bibliográfica e musical.

Para assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual


brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional,
foi estabelecido o dispositivo de Depósito Legal, incluindo obras de natureza
bibliográfica e musical.

36
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

O Depósito Legal é definido pelo envio obrigatório de no mínimo um exemplar


de todas as publicações produzidas em território nacional, por qualquer meio ou
processo, para distribuição gratuita ou venda, no prazo máximo de 30 dias após
sua publicação.

O cumprimento de leis de Depósito Legal Estadual não isenta a


obrigatoriedade do Depósito Legal Federal através do envio das publicações
para a Biblioteca Nacional por meio dos Correios ou da entrega direta no edifício
Sede. As remessas deverão ser acompanhadas de carta ou documento similar
contendo lista dos títulos e os dados do depositante (nome, endereço completo,
telefones e e-mails) para emissão de recibo.

Não é necessário efetuar o pagamento de taxas específicas para a


Biblioteca Nacional para fins de depósito legal nem preencher formulários.

Duas leis regem o Depósito Legal, dependendo do tipo de obra:


Lei nº 10.994, de 14/12/2004, para as obras de natureza bibliográfica;
Lei nº12.192, de 14/01/2010, para as obras de natureza musical – partituras,
fonogramas e videogramas musicais.

O depósito deverá ser efetuado pela pessoa física ou jurídica responsável


pela impressão, cabendo ao seu editor e ao autor verificar a efetivação dessa
medida. Já no caso de obras musicais, essa verificação cabe à editora, ao
produtor fonográfico e ao produtor videográfico.

O cumprimento das leis de Depósito Legal Estadual não isenta a


obrigatoriedade do envio das publicações para a Biblioteca Nacional, em
cumprimento da Lei de Depósito Legal Federal.

O que deve ser enviado para o Depósito Legal:


Livros
Periódicos
Partituras
Fonogramas
Videogramas

O que não deve ser enviado para o Depósito Legal:


Publicações com fins publicitários
Cartazes de material de propaganda
Publicações em xerox do original publicado
Reimpressões de obras com o mesmo ISBN

37
Biblioteconomia, legislação e normas

Calendários/ Cadernetas escolares


Agendas
Recortes de jornais
Obras não editadas (no prelo)
Provas de impressão ou ‘bonecas’
Folders/ Convites
Monografias/ Teses universitárias (sua guarda e tratamento são de
competência das respectivas universidades de origem).

FONTE: Biblioteca Nacional. Disponível em: https://www.bn.gov.


br/sobre-bn/deposito-legal. Acesso em: 20 jul. 2020.

4.2.2 Bibliotecas Públicas


A biblioteca pública tem por consenso ser um espaço que proporcione
igualdade de acesso para todos os cidadãos, não fazendo restrição ou
diferenciação de idade, raça, sexo, gênero, crença, status social etc., tendo como
forte característica a disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento
(não se dedicando aos conhecimentos científicos, por exemplo, como nas
bibliotecas universitárias). Diante desse quadro, podemos dizer que a biblioteca
pública é a unidade de informação mais democrática no que tange a sua razão de
existir, ou seja, toda a sociedade.

A biblioteca pública deve ser compreendida como “um ambiente realmente


público, de convivência agradável, onde as pessoas possam se encontrar
para conversar, trocar ideias, discutir problemas, autoinstruir-se e participar
de atividades culturais e de lazer” (BIBLIOTECA PÚBLICA..., 2000, p. 17), ou
pelo menos assim deveria se constituir. O Manifesto da IFLA/UNESCO sobre
Bibliotecas Públicas (1994, p. 1), a define como “o centro local de informação,
tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a
informação de todos os gêneros”. O conceito é amplo e visa agregar sob um
mesmo prisma, todas as unidades de informação de caráter pública (em suas
funções e não necessariamente em relação a sua instituição mantenedora).

38
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Conheça o Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas


Públicas (1994). Acesse https://www.ifla.org/files/assets/public-
libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf.

Andrade e Magalhães, em seu clássico texto de 1979, expõem o que para as


autoras seriam as funções das bibliotecas públicas:

• Função de apoio à educação em suas diferentes origens, formal e não


formal.
• Função informativa, de acesso à informação e ao conhecimento.
• Função cultural, de reconhecimento, fortalecimento e preservação das
identidades e culturas locais.
• Função recreativa, proporcionando lazer à comunidade frequentadora da
biblioteca.

Como exemplo, sugerimos que você navegue no site da Biblioteca


Pública de SC:

FIGURA 13 – BIBLIOTECA PÚBLICA DE SC

FONTE: <http://www.cultura.sc.gov.br/espacos/biblioteca>. Acesso em: 20 jul. 2020.

39
Biblioteconomia, legislação e normas

4.2.3 Bibliotecas Universitárias


Para Cunha (2010, p. 22), as bibliotecas universitárias são “organizações
complexas, com múltiplas funções e uma série de procedimentos, produtos e
serviços que foram desenvolvidos ao longo de décadas”. Sendo assim, a definição
exata de biblioteca universitária é sempre um desafio, pois cada unidade é
diferente uma da outra, sendo moldada conforme as características da instituição
a qual está subordinada.

Em uma definição tradicional, Cunha e Cavalcanti (2008, p. 32) consideram


que as bibliotecas universitárias “são aquelas mantidas por instituições de ensino
superior e se caracterizam por assumir a responsabilidade de oferecer suporte
informacional a toda comunidade acadêmica da instituição, entendida como o
corpo docente, discente e pessoal técnico-administrativo”. Machado (2009, p. 21)
aponta a importância e os significados da biblioteca universitária, a qual pode:

[...] ser entendida como a instância que possibilita à universidade


atender às necessidades de um grupo social ou da sociedade
em geral, através da administração do seu patrimônio
informacional e do exercício de uma função educativa,
ao orientar os usuários na utilização da informação. É um
ambiente de fundamental importância, pois gera conhecimento
e produção científica na comunidade acadêmica em que
está inserida, bem como contribui para o desenvolvimento
intelectual da sociedade à qual ela pertence.

Machado e Blattmann (2011, p. 10-11) consideram que a biblioteca


universitária “serve de apoio ao ensino, pesquisa e extensão, através da
prestação de serviços aos alunos de graduação, pós-graduação, professores e
funcionários da instituição na qual está inserida, bem como promove a cooperação
e o intercâmbio de ideias e conhecimentos científicos com outras bibliotecas e
a sociedade em geral”. Apresenta um acervo selecionado e atualizado sobre
diversas áreas do conhecimento, compatíveis com os programas de ensino,
pesquisa e extensão. As autoras complementam afirmando que é competência
das bibliotecas universitárias “prover o acesso da comunidade acadêmica aos
recursos de informação relevantes, de modo a subsidiá-la no desenvolvimento de
suas atividades de ensino, pesquisa e extensão” (MACHADO; BLATTMANN, 2011,
p. 11). Além da disseminação da informação entre os membros da comunidade
acadêmica e em geral, as autoras apontam que as bibliotecas universitárias
possuem relevante papel no intercâmbio de conhecimento científico com outras
bibliotecas e instituições.

Machado e Blattmann (2011) também apontam alguns produtos e serviços


das bibliotecas universitárias, em virtude de seu acervo e comunidade de usuários

40
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

que é bem específica, docentes e discentes envoltos no fazer ciência. Os produtos


e serviços descritos se assemelham aos de todas as bibliotecas, porém com
características específicas, a saber:

• Consulta local: item básico de qualquer biblioteca,


independentemente de sua tipologia.
• Pesquisas em bases de dados e Internet: as bases de dados
precisam ser específicas nas áreas de interesse da instituição e
atualizadas, contribuindo com as pesquisas desenvolvidas pela
comunidade universitária. Há a necessidade de ter-se acessos
a bases nacionais e internacionais, de grande conhecimento e
qualidade comprovada.
• Empréstimo em domicílio: compreendendo quantitativo de itens
relevantes com a comunidade, ou seja, liberar um item por vez não
basta para estudantes universitários e pós-graduandos, por exemplo.
Serviço de suma importância nas bibliotecas universitárias visando
ao aprofundamento das temáticas estudadas e pesquisadas pelos
usuários.
• Levantamento bibliográfico: produto fundamental, que quando
devidamente divulgado, se torna essencial para estudantes que estão
finalizando seus cursos, bem como para docentes e pesquisadores
que precisam conhecer de forma aprofundada a produção científica
de um determinado campo/área do conhecimento.
• Orientação quanto às normas da ABNT (e outras normas): as
orientações podem ser realizadas em cursos e treinamentos, bem
como no atendimento especializado do serviço de referência.
• Empréstimo entre bibliotecas: serviço de grande relevância para
instituições que possuem diferentes campi, seja em uma mesma
cidade ou em cidades diferentes, contribuindo para atender às
necessidades dos usuários com itens que não constam em uma
determinada biblioteca da rede.
• Treinamentos: quanto ao uso da biblioteca, normas, catálogo,
localização de materiais no acervo etc., bem como para as normas
na ABNT, Vancouver e APA; Educação de usuários; item por vezes
negligenciado pelas bibliotecas, mas que em um futuro economizará
tempo e recursos humanos, tornando os usuários mais autônomos e
independentes para utilizarem a biblioteca e tudo o que ela oferece.
• Divulgação de eventos: não somente os elaborados pela biblioteca,
mas também os eventos da instituição e de suas áreas de interesse
da comunidade.
• Divulgação da própria biblioteca/marketing: muitas vezes, os
usuários não utilizam a biblioteca ou seus produtos e serviços
justamente por não os conhecer, é fundamental mostrar aos usuários,

41
Biblioteconomia, legislação e normas

e isso não somente nas bibliotecas universitárias. Parte significativa


dos usuários trabalham durante o dia e frequentam a instituição
somente à noite para estudarem, e até mesmo por falta de tempo e
oportunidade, acabam não conhecendo a biblioteca e como ela pode
os ajudar durante o curso.

Como exemplo, sugerimos que você conheça o sistema de Bibliotecas da


UFMG:

FIGURA 14 – SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFMG

FONTE: <https://cerrado.bu.ufmg.br/bu/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

4.2.4 Bibliotecas Especializadas


As bibliotecas especializadas surgem no avanço e especialização das
ciências, cujos pesquisadores se aperfeiçoavam de forma aprofundada em
seus estudos em áreas cada vez mais detalhadas e foram realizando novas
descobertas, consequentemente, necessitando consultar obras com conteúdos
específicos de suas respectivas áreas do saber.

Diante desse contexto, as bibliotecas universitárias passaram a não dar


conta dessa nova demanda de conhecimento, pois geralmente atuam com todas
(ou quase todas) as áreas do conhecimento (no caso, as áreas abrangidas pela
instituição a qual pertence), e de certo modo, uma certa generalização diante das
novas necessidades.

42
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Os pesquisadores demandavam acervos focados em suas áreas de estudos


para aperfeiçoarem suas pesquisas, surgindo então, as bibliotecas especializadas,
cujos acervos não costumam ser volumosos como os de outras unidades de
informação, justamente para propiciarem um ambiente de acolhida e simplificação
do trabalho de seus usuários, focando nas temáticas de real interesse de sua
comunidade de usuários.

As bibliotecas especializadas se caracterizam por manterem seus acervos


dedicados a uma área do conhecimento, abrangendo assuntos específicos
de interesse de sua comunidade de usuários. Geralmente, os usuários são
pesquisadores especialistas no assunto e que frequentam a unidade para se
atualizarem e fomentarem seus estudos.

Litton (1974) aponta cinco características das bibliotecas especializadas que


as diferenciam de outras bibliotecas, que são:

• Limitam-se a um só assunto no geral e as suas ramificações.


• Diferenciam-se quanto aos lugares em que são instaladas, como
bancos, hospitais, indústrias, empresas etc.
• Quanto aos usuários que atendem, pois são pessoas com um bom
conhecimento sobre o campo do saber representado no acervo da
biblioteca.
• O seu tamanho também é elemento de diferenciação, geralmente
costumam ser pequenas se comparadas às bibliotecas universitárias
em geral.
• Devem fornecer informações precisas, confiáveis e de forma rápida
aos seus usuários, que justamente pela suas formações acadêmicas
e atividades profissionais, não costumam ter muito tempo e paciência
na espera pela informação certa.

Como exemplo, sugerimos que você conheça o sistema de Bibliotecas da


UFMG:

43
Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA 15 – BIBLIOTECA ESPECIALIZADA EM SAÚDE

FONTE: <http://brasil.bvs.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

4.2.5 Bibliotecas Escolares


A biblioteca escolar é entendida como espaço de aprendizagem e tem por
objetivo fomentar a leitura, possibilitar o acesso, promover situação de contato
com a leitura a todos os educandos, tornando uma alternativa de inclusão social.
De acordo com Andrade (2005), todos os recursos devem ser mobilizados, a fim
de que as crianças e os jovens tenham acesso ao conhecimento, que possibilitará
a inserção social e a realização humana.

Para Andrade (2005), a biblioteca, por ser uma instituição milenar e que
durante séculos garantiu a sobrevivência dos registros do conhecimento humano,
apresenta na atualidade seu potencial reconhecido como espaço de mediação
do processo de formação de leitores e integrante fundamental no processo
educacional. Sabemos que as bibliotecas têm a função que ultrapassa a ação de
arquivamento, pois contribui de modo efetivo na formação leitora de crianças e
jovens, em que a informação e conhecimento assumem destaque central.

Para Pimentel (2007, p. 22), as bibliotecas podem ser classificas como:


escolar, especializada, infantil, pública e nacional. A autora apresenta algumas
características de como deve ser o espaço da biblioteca escolar, o que nem sempre
é concebido na execução do projeto. Por isso, muitas vezes, elas funcionam em
espaços inadequados. Desta forma, necessita-se de soluções criativas para torná-
la um ambiente adequado, ou ao menos razoável, para atender ao público: “O

44
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

ideal é que as instalações da biblioteca fossem abrigadas em um prédio próprio,


projetado para esse fim, em local de pouco barulho e de fácil acesso às pessoas”
(PIMENTEL, 2007, p. 32).

A biblioteca escolar, como laboratório de autoaprendizagem, oferece aos seus


usuários diversos materiais bibliográficos (bem como não bibliográficos) e propicia
aos estudantes conhecer várias informações diversificadas que contribuem para
o processo de aprendizagem, de alfabetização, de ampliação da atividade de
leitura, da formação de leitores autônomos. Assim, promove o desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social dos alunos.

De acordo com Pimentel, Bernardes e Costa (2007), o espaço da biblioteca


escolar deve ser concebido como um espaço dinâmico e indispensável na
formação do cidadão. Ela abrirá, no ensino básico, os caminhos que despertam
nos alunos a curiosidade, o senso crítico e os tornarão cidadãos plenos. Diante
disso, o espaço da biblioteca escolar não deve se resumir a lugar de realização
de atividades pedagógicas configuradas como aula, servindo de espaço de
punição a tarefas não realizadas ou limitação à realização de pesquisas. Torna-
se importante pensar na biblioteca escolar como “[…] um espaço perfeito para
que todos nela atuam possam utilizá-la como uma fonte de experiência, exercício
da cidadania e formação para toda a vida” (PIMENTEL; BERNARDES; COSTA,
2007, p. 25).

Os autores compreendem que a biblioteca escolar faz a junção entre salas


de aula e o currículo escolar e está intrinsecamente ligada ao processo de ensino-
aprendizagem que, além de promover a leitura e uma gama de informações,
propiciará ações para atender à comunidade, o que permite construir elos propícios
para a formação cidadã. O fato de as bibliotecas estarem localizadas em escolas
e serem organizadas para integrarem-se com as atividades de sala de aula e no
desenvolvimento do currículo escolar, de modo que “[…] funciona como um centro
de recursos educativos, integrado ao processo de ensino-aprendizagem, tendo
como objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação […]”
(PIMENTEL; BERNARDES; COSTA, 2007, p. 23).

Assim, a definição de biblioteca escolar parece atrelada à função que ocupa


no espaço da instituição escolar. De modo que sua função, segundo Pimentel
(2007), é a de contribuir para o desenvolvimento curricular e ampliar a visão de
mundo de seus usuários, tornando os cidadãos responsáveis e contribuindo,
assim, para a formação integral dos sujeitos.

Tendo em vista que nem sempre leitura e biblioteca escolar são valores
definidos como prioritários, o papel das bibliotecas deverá ser revisto pelo sistema
de ensino e pelas escolas, transformando-as em um espaço de convivência,

45
Biblioteconomia, legislação e normas

de debate, de reflexão e de fomento à leitura. A agenda escolar e o projeto


político-pedagógico da escola, tomando a leitura e biblioteca como uma de
suas prioridades, podem contribuir para alterar e definir novos objetivos para a
educação (BERENBLUM; PAIVA, 2006, p. 33).

Neste sentido, a compreensão de biblioteca escolar como “[…] um espaço


de convivência, de debate, de reflexão e de fomento à leitura”, conforme sinaliza
Berenblum e Paiva (2006, p. 33), é fundamental para abrir a discussão sobre a
biblioteca escolar e as atuações em práticas educativas. Daí um passo importante
seria contemplá-la como prioridade no Projeto Político-Pedagógico, a fim de
que todos que integram a instituição escolar, se certifiquem de sua função,
compreendendo o que ela é, de fato, e não minimizada a um depósito de livros.

Entenda melhor o papel da biblioteca escolar acessando o


manifesto da IFLA. Disponível em: https://www.ifla.org/files/assets/
school-libraries-resource-centers/publications/school-library-
manifesto-pt-brazil.pdf.

Conheça também uma importante lei para o fomento das bibliotecas


escolares no Brasil:

LEI Nº 12.244, DE 24 DE MAIO DE 2010


Dispõe sobre a universalização das bibliotecas
nas instituições de ensino do País.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas


de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei.

46
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção


de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer
suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura.

 Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca


de, no mínimo, um título para cada aluno matriculado, cabendo ao
respectivo sistema de ensino determinar a ampliação deste acervo
conforme sua realidade, bem como divulgar orientações de guarda,
preservação, organização e funcionamento das bibliotecas escolares.

Art. 3º Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços


progressivos para que a universalização das bibliotecas escolares, nos
termos previstos nesta Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez
anos, respeitada a profissão de Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nºs
4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de 25 de junho de 1998.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília, 24 de maio de 2010; 189º da Independência e 122º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad
Carlos Lupi

Este texto não substitui o original publicado no Diário


Oficial da União - Seção 1 de 25/05/2010

FONTE: Publicação: Diário Oficial da União - Seção 1 - 25/5/2010, Página 3


(Publicação Original). Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
lei/2010/lei-12244-24-maio-2010-606412-publicacaooriginal-127238-pl.html.
Acesso em: 20 jul. 2020.

4.2.6 Bibliotecas Infantis


As bibliotecas infantis possuem caráter de entretenimento, propiciando o gosto
pela leitura de recreação e não necessariamente caráter educativo formal, que
seria o papel das bibliotecas escolares de um modo geral. As bibliotecas infantis
se caracterizam pelo encantamento propiciado pelo mundo mágico do descobrir
ludicamente o mundo, sem a pressão imposta do aprender para progredir de ano/
turma. Por biblioteca infantil, pode-se compreender uma unidade de informação
específica, ou seja, possuir prédio, acervo e recursos financeiros, humanos e
materiais próprios, ou também, como um setor dentro de uma biblioteca pública,

47
Biblioteconomia, legislação e normas

por exemplo, como se fosse uma biblioteca dentro de uma biblioteca, atendendo
exclusivamente ao público infantil.

Como objetivos das bibliotecas infantis, Litton (1974) menciona:

• Formar uma coleção ampla e variada de livros e outros materiais


apropriados para as crianças, sendo os mesmos acessíveis e de fácil
uso.
• Orientar os pequenos usuários na seleção de materiais de leitura que
possam satisfazer as suas necessidades recreativas e escolares.
• Fomentar, divulgar e compartilhar com os usuários, o incentivo e o gosto
pela leitura.
• Propiciar a aquisição cultural por meio da leitura.
• Estimular o convívio social.

As bibliotecas infantis têm como objetivo central “familiarizar as crianças com


os diversos materiais que poderão enriquecer suas horas de lazer. Visa despertá-
las para os livros e a leitura, desenvolvendo sua capacidade de expressar-se”
diante do mundo, de sua comunidade e de si mesmo (MELO; NEVES, 2005, p. 3).

Vejamos dois exemplos de bibliotecas infantis:

FIGURA 16 – BIBLIOTECA INFANTIL MULTILINGUE

FONTE: <http://bibliotecainfantil.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

FIGURA 17 – BIBLIOTECA VIRTUAL INFANTIL

FONTE: <http://www.ufjf.br/bibliotecavirtualinfantil/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

48
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

4.2.7 Bibliotecas Especiais


As bibliotecas especiais se destinam a públicos específicos e “apresentam
coleções que tratam sobre temas diversos e possuem vida própria, no sentido
de que não se constituem em atividades de extensão da biblioteca pública, as
quais pretendem oferecer material de leitura para grupos especiais de pessoas”
(TARGINO, 1984, p. 45). É o caso de bibliotecas com acervo em libras para
deficientes visuais, cujo acervo é formado por conteúdos diversos, considerando
que os interesses da comunidade de usuários podem e devem ser múltiplos. As
bibliotecas especiais, portanto, se caracterizam pelo público a que se destina (em
maior grau) e pelo acervo que armazenam (em menor grau), cuja finalidade é
proporcionar atendimento educacional e cultural a sua comunidade. Atenta-se
para a diferenciação dos termos biblioteca especial e biblioteca especializada.
Enquanto a primeira se destina a atender a um público com deficiências, as
bibliotecas especializadas se caracterizam por concentrar o seu acervo em uma
área do conhecimento em específico, conforme estudamos na disciplina.

Alguns pontos precisam ser levados em consideração em bibliotecas


especiais, tais como:

• Projeto arquitetônico.
• Mobiliário adaptado, quando for o caso.
• Acervo com características especiais, quando for o caso.
• Equipamentos que possibilitem a leitura dos materiais.
• Entorno da biblioteca, como calçadas, rampas e degraus.
• Sinalização completa e diferenciada, quando for o caso.
• Iluminação do ambiente, dentre outras.

Todas essas questões recaem sobre a acessibilidade da biblioteca, as


quais foram trabalhadas no que diz respeito ao planejamento e organização de
bibliotecas. De acordo com a Lei nº 13.146 de 6 de junho de 2015, que estabelece
o Estatuto da Pessoa com Deficiência, é dever do Estado, das sociedades e da
família assegurar à pessoa com deficiência a efetivação dos seguintes direitos
referentes:

[...] à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade,


à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização,
ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação,
ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao
turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços
científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade,
à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes
da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das
leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal,
social e econômico (BRASIL, 2015, s.p.).
49
Biblioteconomia, legislação e normas

Considera-se muito importante para os bibliotecários que atuam ou forem


atuar em bibliotecas especiais, bem como para aqueles que atuarem em diferentes
unidades de informação, que realizem formação continuada em diferentes níveis
e cursos, tais como Libras e Braille. Atender satisfatoriamente ao seu público
deve ser missão de todos bibliotecários, independentemente do espaço onde
desenvolva suas atividades profissionais. Quando o próprio bibliotecário não
possuir tais conhecimentos, é importante que tenha algum membro da equipe
com formação para atuar com usuários cegos e surdos, por exemplo. O acervo
de bibliotecas especiais, além de possuir materiais específicos, como em Braille
e áudiobooks, deve manter presente tecnologias assistivas (como estudado), as
bibliotecas digitais e virtuais podem compor e enriquecer o acervo de qualquer
biblioteca convencional.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência assegura o “acesso a informações e


disponibilização de recursos de comunicação acessíveis”, ou seja, as tecnologias
assistivas, imprescindíveis às bibliotecas não só especiais, mas a todas, que
poderão atender ou já atendem às pessoas com deficiências. Tem-se por
tecnologias assistivas como sendo os “recursos e serviços que visam facilitar
o desenvolvimento de atividades da vida diária por pessoas com deficiência.
Procuram aumentar capacidades funcionais e assim promover a autonomia e a
independência de quem as utiliza” (MELO; COSTA; SOARES, 2006, p. 62). Os
autores complementam afirmando que:

Existem tecnologias assistivas para auxiliar na locomoção,


no acesso à informação e na comunicação, no controle do
ambiente e em diversas atividades do cotidiano como o estudo,
o trabalho e o lazer. Cadeiras de rodas, bengalas, órteses e
próteses, lupas, aparelhos auditivos e os controles remotos
são apenas alguns exemplos de tecnologias assistivas (MELO;
COSTA; SOARES, 2006, p. 62).

Reafirmando a necessidade da utilização das tecnologias que facilitem a


comunicação e o acesso à informação, o artigo 78 do Estatuto da Pessoa com
Deficiência prevê que devem ser estimulados a pesquisa, o desenvolvimento, a
inovação e a difusão de tecnologias voltadas para ampliar o acesso da pessoa
com deficiência às tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias
sociais (BRASIL, 2015).

Aponta-se que uma biblioteca pode ser especial por conter seu acervo
basicamente de materiais especiais e que atendam à demanda de usuários
especiais, bem como uma biblioteca convencional, como pública ou universitária
pode manter em seu acervo materiais especiais, o que é mais comum de ocorrer
de um modo geral.

50
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Um exemplo de instituição preocupada e atuante na formação educacional e


cultural de pessoas com necessidade especiais é a Fundação Dorina Nowill, que
distribui livros falados gratuitamente, sendo uma importante ação para fomentar
acervos de bibliotecas com poucos recursos financeiros e/ou que encontram
dificuldades de adquirir os materiais. Outra biblioteca exemplar é a Biblioteca
Louis Braille, pertencente ao Centro Cultural São Paulo, a qual foi “Planejada e
equipada para atender os usuários com deficiência visual, reúne 6.159 títulos,
entre livros em braille e audiolivros, além de computadores com programas
específicos para a acessibilidade dos usuários” (CENTRO CULTURAL SÃO
PAULO, 2016, p. 1).

FIGURA 18 – LOGO FUNDAÇÃO DORINA NOWILL

FONTE: <https://www.fundacaodorina.org.br/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

É importante ressaltar que as bibliotecas especiais podem se constituir como


uma unidade de informação independente, contudo, muitas vezes, encontramos
setores com materiais especais dentro de outras bibliotecas, como as públicas
ou universitárias. A atenção que o profissional deve ter com o seu público será a
mesma se atuar em uma biblioteca ou setor especial.

4.2.8 Biblioteca Ambulante


O conceito de biblioteca ambulante ainda é pouco estudado na
Biblioteconomia, em especial no contexto brasileiro. Pouco se tem escrito a
respeito, porém projetos em quantitativo considerável têm sido realizados
principalmente pelo interior do país de diferentes formas e sob abordagens
diferentes do termo ‘ambulante’, além do exposto pelos dicionários, considerando
o termo como o que está andando ou numa posição de andamento; que se move
ou é capaz de ser movido de um lugar a outro; aplica-se ao indivíduo que percorre

51
Biblioteconomia, legislação e normas

os lugares para oferecer as suas mercadorias e fazer negócio. No âmbito da


Biblioteconomia, Targino (1984, p. 43) aponta que:

A biblioteca ambulante consiste na adaptação de uma viatura


em biblioteca. Os veículos mais utilizados, no Brasil, são:
ônibus, caminhão ou camioneta tipo Kombi, que, recebendo
instalações adequadas (prateleiras, fichários, armários,
etc.), acondicionam material bibliográfico e/ou audiovisual,
tornando-o disponível às populações urbanas, suburbanas e
rurais.

Considera-se, primeiramente, que bibliotecas ambulantes são diferentes


de bibliotecas convencionais, justamente por não possuírem espaço físico pré-
determinado para a sua existência, manutenção e atendimento aos usuários, no
caso, automóveis são adaptados para atender a essas demandas. Segundo a
mesma autora, as bibliotecas ambulantes, como os carros-bibliotecas, acabam:

Beneficiando tanto o homem do campo quanto o homem


da cidade, o carro-biblioteca representa uma forma de
popularização do livro e da cultura, levando às comunidades
deficitárias de bibliotecas fixas, fontes de conhecimento,
colaborando na realização dos seus empreendimentos, no seu
aperfeiçoamento profissional e na utilização das suas horas de
lazer (TARGINO, 1984, p. 43).

Existem diversas adaptações de automóveis em bibliotecas ambulantes


no país. O ponto-chave da biblioteca ambulante é a democratização da leitura
para o maior número de usuários possíveis, principalmente àqueles que não
costumam frequentar bibliotecas convencionais regularmente, ou até mesmo as
desconhecem por não estarem acostumados a frequentá-las ou não ter acesso a
elas em sua região, além das dificuldades que podem ser apontadas para a sua
utilização, como financeiras, considerando que bibliotecas públicas costumam se
localizar no centro das cidades e não nas periferias.

Dentre as principais atividades da biblioteca ambulante estão:

a) Encontros de leitura: promover o acesso das populações visitadas


pelo carro-biblioteca aos materiais de leitura informativa e literária
disponibilizando-lhes atenção e orientação na escolha e na utilização
dos livros, jornais, revistas, obras de referências e outros suportes
informacionais disponíveis no carro, em forma impressa ou digital.
b) Boletim bairro a bairro: criar instrumentos de informação e de
comunicação entre as comunidades atendidas pelo carro-biblioteca,
em consonância com as concepções metodológicas que orientam
o Programa Carro-Biblioteca: Frente de Leitura, contemplando a
participação das comunidades atendidas e discutindo a importância da

52
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

leitura, e a função social das bibliotecas enquanto espaço de acesso à


informação para a construção da cidadania.
c) Educação para preservação: uma estratégia para conservação de
material bibliográfico: desenvolver ações na área de educação para
a preservação através de atividades que possibilitem a formação,
o treinamento e a conscientização do público-alvo em termos da
conservação dos acervos bibliográficos.
d) Conto e reconto: despertar nas crianças e adolescentes, através da
contação de histórias, um anseio mais profundo pela leitura e uma
interação com a mesma, persuadindo-os a buscarem suas próprias
leituras e criarem suas histórias.
e) A cidadania da infância em hipermídia: educação para os direitos da
criança: divulgar os direitos da criança e do adolescente de modo claro,
agradável e acessível, junto ao público infanto-juvenil e educadores
em direitos humanos. Fomentar o processo de conscientização sobre
os direitos da criança e do adolescente, junto a instituições sociais,
educacionais e culturais.
f) Inclusão digital: aprofundar e estender a questão da informação, da
comunicação e do conhecimento através das práticas de inclusão.

O conceito de bibliotecas ambulantes pode ser ampliado para toda e


qualquer iniciativa que vise estimular a leitura, seja por meio de carro-biblioteca
ou outros meios, tendo como foco o planejamento para que materiais, como livros
e revistas, atinjam um público não frequentador de bibliotecas convencionais,
cidadãos muitas vezes que nunca entraram em uma biblioteca em suas vidas, por
exemplo, ou ainda, que sejam usuários ativos de bibliotecas convencionais, sob
diferentes razões, como não terem acesso a uma (distância ou localização das
mesmas).

4.2.9 Biblioteca Popular ou


Comunitária
Bibliotecas populares ou comunitárias são instituições criadas e mantidas
pela comunidade. Tem os mesmos objetivos da biblioteca pública, mas não se
vincula ao poder público. É mantida por órgãos, como associações de moradores,
sindicatos e grupos estudantis.

Destacamos alguns pontos importantes sobre as bibliotecas comunitárias:

• São criadas pela comunidade e não para elas, como uma imposição, no
qual um agente público vai até o local e implanta uma biblioteca sem
saber se a comunidade a deseja e como a deseja.
53
Biblioteconomia, legislação e normas

• As bibliotecas comunitárias se constituem também como espaços


de resistência, luta e busca por justiça social e cidadania. Tornam-se
espaços em prol da coletividade e da comunidade a qual pertence.
• A biblioteca é da comunidade e cabe a ela a sua gestão, organização,
preservação e manutenção, mantendo forte vínculo de identidade local,
por isso que cada biblioteca comunitária terá as características atribuídas
e fomentadas pela sua comunidade.
• Localizam-se geralmente em áreas consideradas periféricas, que
carecem de acesso à cultura, lazer e informação, como nos centros das
cidades, museus, teatros, cinemas e também, as bibliotecas públicas.
• Como mencionado, são criadas pelas comunidades normalmente e não
por órgãos públicos, como as bibliotecas públicas.

4.2.10 Bibliotecas Digitais,


Eletrônicas e Virtuais
As chamadas ‘bibliotecas sem paredes’, como são conhecidas as bibliotecas
eletrônicas, digitais e/ou virtuais, surgem com o avanço das tecnologias da
informação e da comunicação, a globalização e, sobretudo, com o advento
e popularização da internet e da sociedade em rede. Quando do surgimento
da expressão supracitada, a mesma indicava que as tecnologias passariam
(assim como ocorreu) a ocupar posição de destaque no armazenamento e
disponibilização de documentos, igualmente as bibliotecas convencionais com
suas estruturas físicas, contudo, com uma capacidade de armazenamento muito
maior, isso sem falar nas questões que envolvem a recuperação da informação.

As tecnologias digitais aliadas às novas demandas dos usuários, o aumento


da população (especialmente no sentido educacional), acesso e reconhecimento
do direito à informação, na considerada explosão informacional, fizeram com
que as bibliotecas convencionais buscassem alternativas para atender a tais
necessidades, não perdendo, assim, espaço e público.

O mundo não é o mais o mesmo de cinquenta e, até mesmo, vinte anos atrás,
as necessidades informacionais dos indivíduos de uma forma geral crescem e se
aprofundam/especializam a todo instante, e as bibliotecas precisam se adequar
para atender a tais demandas.

54
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

4.3 PRINCIPAIS ATIVIDADES DAS


BIBLIOTECAS
A biblioteca ou outra unidade de informação, aqui entendida como uma
unidade que trata de informação, desde a organização até sua difusão, pressupõe
atividades bem características por trabalhar a informação. Isso faz com que esse
tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e produtos particularizados.

A biblioteca é um organismo vivo a serviço da comunidade; nela, obtemos


respostas as nossas mais diversas indagações. O lugar de destaque que ela
ocupa no mundo atual decorre da importância que a informação tem para
cada sociedade. Assim, a biblioteca participa do aprimoramento intelectual,
humanístico, técnico e científico de todos os segmentos sociais. A biblioteca como
uma organização, pressupõe três grandes funções:

FIGURA 19 – TRÊS GRANDES FUNÇÕES DA BIBLIOTECA

FONTE: A autora

Na função gerencial, o foco é a administração e organização. Essa é uma


função exclusiva de um profissional bibliotecário, devidamente registrado em um
Conselho de Classe. Pressupõe gestão e políticas para a biblioteca/unidade de
informação para buscar o seu melhor desempenho. Visto dessa maneira, toda
biblioteca deve ter uma gestão e políticas específicas nos seguintes aspectos:
organização de serviços, pessoal, equipamento, recursos financeiros, serviços
aos usuários, produção, interação com os usuários e com a instituição a que
está subordinada, intercâmbio com outros organismos e outras unidades de
informação.

A função organizadora perpassa a seleção, aquisição, catalogação,


classificação e indexação. Nessas funções, em geral, o bibliotecário conta com
o apoio de outros profissionais da área, como os técnicos de biblioteconomia.
Aglutina atividades muito especializadas do profissional de informação: selecionar
materiais para aquisição, catalogar, classificar e indexar aqueles materiais.
Vejamos com mais detalhes:

• Seleção e aquisição – são atividades intelectuais importantes, que


devem ser realizadas com o responsável pelo tema tratado, com a
participação dos usuários. Tanto a seleção quanto a aquisição fazem

55
Biblioteconomia, legislação e normas

parte de uma política de gestão da unidade e, por isso, estarão


condicionadas a elementos da política organizacional como: natureza
dos serviços prestados, orçamento, objetivos da unidade.
• Catalogação – pode ser entendida como o trabalho de descrever a
estrutura física dos objetos ou documentos que fazem parte de um
acervo ou coleção. Este trabalho pode se desdobrar na elaboração
de catálogos impressos ou on-line e, ainda, na chamada catalogação
na fonte, que consiste na inserção da descrição física do documento,
no próprio documento. Os catálogos, por sua vez, se apresentam sob
a forma de listas em que são registrados e descritos, fisicamente, os
documentos conservados em uma biblioteca ou unidade de informação.
Geralmente, são organizados alfabeticamente e apresentados em uma
ordem específica: por autor, assunto, local ou título.
• Classificação – o ato de classificar pode ser entendido como um
processo mental, por meio do qual se dá a reunião de objetos em classes
ou grupos que apresentam, entre si, certos traços de semelhança ou,
ainda, de diferença. Na Biblioteconomia, a classificação e a tarefa de
descrever o conteúdo de um documento de onde é extraído o assunto
principal e, eventualmente, um ou dois assuntos secundários, os quais
são traduzidos para o termo mais apropriado da linguagem documental
adotada na unidade de informação.
• Indexação – é uma das principais atividades desenvolvidas numa
biblioteca ou unidade de informação. Consiste na descrição dos
conteúdos dos documentos e possui como principal objetivo, a
recuperação da informação desejada pelo usuário.

Todo esse processo de tratamento da informação está ligado ao objetivo de


recuperação da informação e acesso por parte dos usuários.

Na função de divulgação estão as atividades de referência, empréstimo,


orientação, reprografia, serviços de disseminação e extensão. Nessas atividades,
podem ser envolvidos outros atores, como professores, auxiliares, técnicos que,
junto aos bibliotecários, melhor delimitam as atividades. A função divulgação
também é uma atividade fundamental nas unidades de informação e, por isso,
devem ser sua principal preocupação.

Esta consiste em comunicar ao usuário as informações que ele necessita e,


dependendo do procedimento, antecipa-se a pesquisa do usuário, como, também,
propõe-lhe as possibilidades de acesso a estas informações/documentos. Muitas
bibliotecas, para melhor oferecer seus serviços, fazem estudos de usuário.

Estudo de usuário é o canal de comunicação entre os usuários e a biblioteca.


Para isso, pode-se utilizar diversas técnicas, mas em geral, faz-se a coleta de

56
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

dados quantitativos e qualitativos, que apresentam aspectos que interferem


no comportamento de busca e uso da informação, por parte dos usuários. Os
estudos que avaliam qualitativamente as opiniões sobre a satisfação ou não
com os serviços oferecidos pelos sistemas de informação, permitem conhecer
o pensamento dos indivíduos. Os estudos de usuário devem ser planejados e
sistematizados, buscando melhoras no sistema de atendimento e precisam
envolver toda a equipe da biblioteca.

1) Vimos que tanto na Biblioteconomia, quanto na Ciência da


Informação, o seu objeto de pesquisa perpassa os conceitos de
informação e de documento. Escreva a diferença entre esses
dois conceitos.

2) Você pôde perceber a importância da Ciência da Informação para


a Biblioteconomia. Viu que vários autores conceituaram a Ciência
da Informação. Mas você conseguiria, sem olhar o conteúdo
novamente, escrever quais são os elementos centrais dessas
conceituações?

3) Qual a função principal da Biblioteca Nacional?

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, vimos que a Ciência da Informação, a exemplo de outras
áreas, nasce no bojo da revolução científica e técnica que se seguiu à Segunda
Guerra Mundial. No século XIX, encontramos alguns marcos nessa história com
a produção dos princípios para organização do conhecimento que prosseguem
válidos e importantes na atualidade. Na década de 50 do século passado, surgem
os primeiros protótipos de armazenamento e recuperação da informação em
formato digital. Se para a sociedade em geral, esse período será marcado por um
avanço tecnológico, para a Ciência da Informação será o momento propício para
seu nascimento.

As décadas de 60 e 70 do século passado foram marcadas pelas mudanças


nos contextos históricos, políticos e econômicos, principalmente ocasionados pela
tecnologia e suas implicações na vida social e acadêmica. Sabe-se que, em uma
reunião do Instituto Tecnológico da Geórgia, em 1962, nasceu “oficialmente” a

57
Biblioteconomia, legislação e normas

Ciência da Informação, uma Ciência interdisciplinar que investiga as propriedades


e comportamento da informação, as forças que governam os fluxos e os usos
da informação e as técnicas, tanto manual quanto mecânica de processamento
da informação. Relaciona-se com o corpo de conhecimento relativo a produção,
coleta, organização, armazenagem, recuperação, interpretação, transmissão,
transformação e utilização da informação.

Vimos que a ciência da informação é um conjunto de teorias e, como


campo científico, produz intercâmbio com outras disciplinas. Uma delas é
a Biblioteconomia, área com a qual ela tem falado mais de perto, pelo menos
na realidade brasileira. Mas a Ciência da Informação não é uma evolução da
Biblioteconomia, pois cada uma delas se baseia em orientações paradigmáticas
diferenciadas. As teorias da Ciência da Informação, aliadas às novas tecnologias
de informação, vêm contribuindo com novas práticas e serviços bibliotecários.

Biblioteconomia e a Ciência da Informação trabalham juntas na busca de


solução para o mesmo problema que orienta a área. E a informação está imersa
em um campo vasto e complexo de pesquisas que, por tradição, se relacionam
a documentos impressos e a bibliotecas. No entanto, a informação de que trata
a ciência da informação não se restringe a documentos impressos, pode ser
percebida em conversas entre cientistas e outros tipos de comunicação informal.
Ela representa também em uma inovação para o setor produtivo, na forma de
patente, fotografia ou objeto, no registro magnético da base de dados, numa
biblioteca virtual ou repositório na internet.

A informação seria, portanto, um conhecimento inscrito, ou seja, gravado,


sob a forma escrita, que pode ser impressa ou numérica, ou ainda, oral ou
audiovisual. A informação comportaria um elemento de sentido. Um significado
transmitido a um consciente por meio de uma mensagem inscrita em um
suporte. Já o Documento pode ser definido como o registro de uma informação,
independentemente da natureza do suporte que a contém, como suporte material
do saber e da memória da humanidade. Vimos as mudanças de suporte ao longo
da história, desde a pedra, papiro, pergaminho, papel, até a popularização da
informática com a inserção das mídias ou dispositivos de armazenamento.

Em relação aos significados da palavra Biblioteconomia, vimos sua divisão


em três palavras: biblio – teca – nomia. A primeira está associada a livros (ou de
forma mais ampla, materiais bibliográficos), enquanto a segunda é relativa à caixa
(algo que arranja, arruma ou organiza), e a terceira, por fim, quer dizer norma,
isto é, norma estabelecida para um determinado fim. Podemos conceber que a
Biblioteconomia é a união de duas palavras, biblioteca e economia, no sentido de
organização, administração, gestão.

58
Capítulo 1 O Contexto Da Biblioteconomia

Por fim, conhecemos diversos tipos de bibliotecas e suas principais


características, podendo visualizar a importância da área tanto para organização
quanto para a disseminação do conhecimento socialmente produzido.

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Biblioteconomia, legislação e normas

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Biblioteconomia, legislação e normas

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63
Biblioteconomia, legislação e normas

64
C APÍTULO 2
A Formação E Atuação Do
Bibliotecário No Brasil

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• entender o contexto histórico do surgimento dos cursos de Biblioteconomia;


• conhecer as fases do ensino de Biblioteconomia no Brasil;
• apreender as principais informações relativas à atuação do profissional;
• compreender as diferentes funções de outros agentes profissionais principais
da área.
Biblioteconomia, legislação e normas

66
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No Capítulo 1 deste livro, vimos que a história da Biblioteconomia se
confunde com a história da própria produção de registros do conhecimento. E que
essa profissão respalda a necessidade de guarda e recuperação da informação
socialmente produzida ao longo de toda a história. Também foi possível perceber
a evolução das técnicas da área e a necessidade da sua interlocução com a
Ciência, em especial, com a Ciência da Informação.

No Capítulo 2, veremos que ao longo desse processo, cresce a necessidade


de uma formação específica de profissionais para atender às demandas dessa
área, com mais fundamentação técnica, gerando novas e melhores formas de
organizar e disponibilizar o conhecimento.

Para isso, veremos a trajetória e as influências no processo de formação do


profissional de Biblioteconomia no Brasil. Também veremos os marcos regulatórios
da regularização e exercício da profissão, bem como as diferentes entidades de
classe e seus papéis.

Assim, para os estudos deste capítulo, faremos o seguinte trajeto conceitual:

FIGURA 1 – CAMINHO DE NOSSOS ESTUDOS NO CAPÍTULO 2

FONTE: A autora

Vamos lá?!

2 PRIMEIRAS ESCOLAS DE
BIBLIOTECONOMIA
As primeiras escolas de biblioteconomia de nível superior foram fundadas no
século XIX, com destaque para duas: 1) École de Chartes, em Paris, no ano de
1821, e 2) School of Library Economy, na Universidade de Columbia, nos Estados
Unidos, em 1887 (FONSECA, 1992).

67
Biblioteconomia, legislação e normas

A primeira, École de Chartres, tinha uma organização didático-pedagógica


humanística, da qual seus conteúdos formavam bibliotecários eruditas, ligados à
cultura e às artes.

A segunda, School of Library Economy, foi fundada por Melvil Dewey,


tinha uma característica mais tecnicista, voltada à melhoria dos sistemas de
classificação e catalogação.

Essas duas universidades foram as principais influenciadoras no ensino de


biblioteconomia no Brasil. Também destacamos o início de várias experiências
do ensino biblioteconômico em outros países, apesar de poucas bibliografias no
Brasil sobre elas.

Segundo Barros (2009), em 1886, na Alemanha, também havia uma espécie


de exame oferecido à comunidade acadêmica para o exercício em bibliotecas da
Universidade de Gottingen. Essa preparação para o exame era oferecida por Karl
Dziatzko, mas segundo o autor, não se tratava de uma escola de biblioteconomia
propriamente dita.

Barros (2009) também afirma que a escola de biblioteconomia mais antiga


da Europa foi a Universitat, de Barcelona, fundada em 1915, mesmo ano em
que foi fundada a escola de Leipzig, e dois anos antes da criação da escola de
biblioteconomia na Universidade de Londres, 1917. Na França, somente após
a criação da École nationale supérieure des bibliothecáires, em 1963, é que a
biblioteconomia se tornou um objeto de ensino distinto.

Na China, a primeira escola de biblioteconomia foi criada em 1920 (BARROS,


2009). Já no continente africano, a primeira escola de biblioteconomia formal data
de 1959, em Ibadan, na Nigéria. Mas antes disso, teve algum tipo de educação
bibliotecária em 1944.

No Japão foi criada, em 1951, a Escola de Biblioteca e Ciência da Informação


da Universidade Keio, a primeira em nível universitário no país. Castro (2016)
destaca o surgimento, em 1957, da Escola Nacional de Bibliotecários, no prédio da
Biblioteca Nacional, em Buenos Aires, na Argentina. Já no Chile, a primeira escola
de treinamento para bibliotecários apareceu em 1949, no prédio da Universidade
Del Chile.

68
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

2.1 O ENSINO DE BIBLIOTECONOMIA


NO BRASIL
A primeira biblioteca brasileira surgiu dentro de uma instituição de ensino
dos jesuítas, ainda no Brasil Colônia, um período em que todo acesso ao
conhecimento laico era controlado pela igreja.

Segundo Almeida e Baptista (2013), essa situação acabou favorecendo a


criação da primeira biblioteca do país no Colégio da Bahia (1568).

FIGURA 2 – COLÉGIO DA BAHIA (1568)

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_dos_Jesu%C3%ADtas_
(Salvador)#/media/Ficheiro:Frond,_Benoist_-_Antigo_Col%C3%A9gio_dos_
Jesu%C3%ADtas_em_Salvador,_Bahia.jpg>. Acesso em: 23jul. 2020.

Ao serem criadas as primeiras bibliotecas, passa-se a ter a necessidade dos


primeiros profissionais da área. Só que, nesta época, ainda não havia e nem se
cogitava ter cursos superiores no Brasil. Lembramos que os jesuítas chegaram
ao Brasil em 1549, com o objetivo de cristianizar as populações indígenas do
território colonial.

O primeiro bibliotecário em solo brasileiro foi o jesuíta português Antônio


Gonçalves, em 1604. Fonseca (1979, p. 120) descreve Antônio Gonçalves (1550-
1616) como: “Português e fez-se Jesuíta na Bahia, em 26 de dezembro de 1584.
Antônio Gonçalves, além de cuidar dos livros do colégio da Bahia, ensinava
aritmética aos meninos”. Fonseca (1979) ressalta que outras ordens religiosas
também contribuíram para inserção dos livros e, consequentemente, das
bibliotecas no Brasil Colonial, como os Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos.

As primeiras bibliotecas públicas, no Brasil, surgiram apenas no século XIX,


inicialmente na Bahia (1811), Maranhão (1829), Sergipe (1851), Pernambuco

69
Biblioteconomia, legislação e normas

(1852), Espírito Santo (1855), Paraná (1857), Paraíba (1858), Alagoas (1865),
Ceará (1867), Amazonas e Rio Grande do Sul (1871), Rio de Janeiro (1873) e
Piauí (1883) (ALMEIDA, 2012).

SAIBA MAIS – 1ª Biblioteca pública do país continua ativa


e atualmente conta com mais de 120 mil livros. Também possui
duas salas de cinema, teatro, espaço para exposições entre outros
importantes espaços. Para saber mais sobre a BPEB, visite:
bibliotecapublicafpc.blogspot.com.br.

FIGURA – BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA (BPEB)

FONTE: <https://biblioam.wordpress.com/2013/04/25/primeira-
biblioteca-publica-do-brasil/>. Acesso em: 23 jul. 2020.

Para contar a história do ensino de biblioteconomia no Brasil, Fonseca (1979)


divide a história do ensino profissional em três fases.

A primeira fase comportaria o período entre os anos de 1879 a 1929, em que


a liderança do ensino era da Biblioteca Nacional. Esta tinha uma predominância
da influência francesa, advindo do ensino de biblioteconomia na École Nationale
des Chartes.

Na segunda fase, englobaria o período de 1929 a 1962, período no qual o


ensino de biblioteconomia se desenvolveu sob a influência inovadora do um
novo curso fundado em São Paulo, sob inspiração norte-americana, da Columbia
University.

Na terceira fase, a partir de 1962, Fonseca (1979) caracteriza o ensino de


biblioteconomia pela sua uniformidade, a partir da implantação do currículo mínimo.
70
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

Muller (1985) acrescenta mais duas fases a essa história, justificando que
a partir da década de 1970, teve o fortalecimento e proliferação dos cursos,
surgindo assim um crescente descontentamento em relação ao conteúdo do
currículo mínimo. Isso também se agravou por conta da ampliação de novas
tecnologias e o aparecimento dos cursos de pós-graduação, permeando novos
questionamentos sobre currículo. A outra fase acrescentada por Muller (1985) é
datada a partir de 1982, com a aprovação de um novo currículo mínimo e pela
reformulação dos programas de ensino.

Para dar continuidade a essa análise por fases, podemos acrescentar um


novo período, bem mais recente e ainda pouco estudado na área, que é o ensino
de biblioteconomia na modalidade a distância, iniciado em 2013.

É a partir dessas fases descritas e ilustradas a seguir que apresentamos com


mais detalhes a formação dos bibliotecários no Brasil.

FIGURA 3 – FASES DO ENSINO DE BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL

FONTE: A autora

2.1.1 Primeira Fase: primeiro curso -


RJ
A Biblioteconomia, como área do conhecimento, passou a existir, no Brasil,
a partir de 1911, quando Manuel Cícero Peregrino da Silva, então Diretor
da Biblioteca Nacional, conseguiu oficializar a criação do primeiro Curso de
Biblioteconomia do Brasil, que também foi o primeiro da América do Sul e terceiro
no mundo (ROZADOS, 2007).

71
Biblioteconomia, legislação e normas

Saiba mais – acesse o link e conheça mais sobre Manuel Cícero


Peregrino da Silva: http://bndigital.bn.gov.br/projetos/200anos/
manuelCicero.html.

FIGURA – MANUEL CÍCERO PEREGRINO DA SILVA

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Manuel-
Cicero-Peregrino-da-Silva.jpg>. Acesso em: 23 jul. 2020.

Este primeiro curso começou a funcionar somente em 1915, na própria


Biblioteca Nacional, e continuou durante anos até ser transformado no curso de
Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

O curso teve como padrão pedagógico o modelo da École Nationale des


Chartes, sendo considerado um curso de nível superior. Para ingresso, exigia dos
candidatos, a conclusão do curso de Humanidades e um exame de admissão.

Segundo Fonseca (1979 p. 32), quatro matérias eram ensinadas:


“Bibliografia, Paleografia, Diplomática, Iconografia e Numismática”. As matérias
de Catalogação, Classificação, Organização e Administração de Bibliotecas
faziam parte do programa de Bibliografia, mas o curso não tinha muita ênfase nas
técnicas.

Em Paleografia, os alunos estudavam textos manuscritos antigos e


medievais, como sua origem, forma e a evolução da escrita, além dos tipos de
suportes e composição dos materiais utilizados.

72
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

Na disciplina de Diplomática, os estudantes de Biblioteconomia


conheciam as estruturas formais de documentos solenes, isto é, oriundos
de atividade governamental ou notarial. Também aprendia-se analisar
a autenticidade documental, com base em elementos formais, como o
fundo paleográfico e a estrutura ou fórmula jurídica do documento.

Já na Iconografia, os estudantes de Biblioteconomia conheciam o conjunto


das produções de imagens de qualquer espécie, referente a determinado assunto.
E na Numismática, examinavam o ponto de vista histórico, artístico e econômico
das cédulas, moedas e medalhas. Hoje, o termo “numismática” também é
empregado como sinônimo ao colecionismo desses itens.

Nota-se que as disciplinas desse primeiro curso tinham, por base concreta,
o contexto operacional da Biblioteca Nacional, ou seja, o curso considerava a
estrutura interna da BN, e com base em suas necessidades, as disciplinas eram
organizadas. Isso tanto com relação à estrutura administrativa, quanto ao nível de
conteúdo das coleções, tipos de materiais, cuidados especiais de armazenamento
e preservação. A preparação profissional encontrava-se voltada, objetivamente,
ao funcionamento da instituição.

Observa-se que, segundo documentos oficiais da BN, apresentados no


estudo de Muller (1985), dos 26 estudantes inscritos na primeira turma do curso,
apenas quatro estavam habilitados para as provas finais, o restante não tinha
frequência suficiente para isso. Destes quatro, nenhum se apresentou para as
provas, ou seja, o curso não teve concluintes.

Após a criação do Museu Histórico Nacional, em 1922, pelo Decreto nº


15.596, é criado o primeiro curso de “Technico de Biblioteconomia”. Este tinha
finalidade de formar profissionais para trabalhar em Arquivos, Bibliotecas e
Museus (BRASIL, 1922). Este curso teria a duração de dois anos e foi composto
por oito disciplinas: “1º ano: História Literária, Paleografia e Epigrafia, História
Política e Administrativa do Brasil, Arqueologia e História da Arte. No 2º ano:
Bibliografia, cronologia e diplomática, numismática e Sigilografia, e Iconografia e
Cartografia” (CASTRO, 2000, p. 57-58).

73
Biblioteconomia, legislação e normas

A Sigilografia é um ramo da Arqueologia dedicada aos estudos


científicos dos selos, timbres e sinetes sigilares sob os aspectos
diplomático, jurídico, histórico e artístico, em especial, àqueles
utilizados nas cartas medievais e para autenticar documentos
do mesmo período. Já a Cartografia analisa e produz mapas,
cartogramas, plantas e demais tipos de representações gráficas
do espaço. Ou seja, técnicas científicas e artísticas que visam à
elaboração de documentos que representem de forma reduzida uma
determinada localidade.

2.1.2 Segunda Fase: novos cursos em


SP
Em 1929, foi criado o segundo curso de Biblioteconomia no Brasil, em São
Paulo, patrocinado pelo Instituto Mackenzie, hoje, Universidade. Diferente do
curso do RJ, este tinha influência americana em seu método de ensino, sendo
orientado pela bibliotecária americana Mrs. Dorothy Muriel Gedds Gropp (PINTO,
2015).

Em janeiro de 1930, foi anunciada a organização de outro curso em São


Paulo, sob os auspícios do Instituto Histórico e Geográfico de SP, que tinha como
diretor, Dr. Eurico Doria de Araújo Góes, primeiro diretor da Biblioteca Municipal
de São Paulo (RUSSO, 1966). Em 1936, foi criado o Curso de Biblioteconomia
do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, por Rubens Borba de
Moraes (CASTRO, 2000).

74
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

FIGURA – RUBENS BORBA DE MORAES

FONTE: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/
bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/rubensborbademorais/
index.php?p=5482>. Acesso em: 25 jul. 2020.

Rubens Borba de Moraes foi bibliófilo, bibliógrafo, bibliotecário e


ensaísta. Graduou-se em Letras na Universidade de Genebra, 1919.
De volta ao Brasil, foi um dos organizadores da Semana de Arte
Moderna de 1922 e também colaborou com a criação de algumas
das revistas literárias e publicou livros. Em 1935, assume o cargo
de diretor da atual Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade,
permanecendo no cargo até 1943. Durante sua gestão, coloca em
prática seu plano de estabelecer uma rede de bibliotecas na cidade
de São Paulo. Participa da fundação do Departamento de Cultura
de São Paulo, atual Secretaria Municipal. Atua como professor e
organiza, em 1936, curso de biblioteconomia, que oferece respaldo
para organização e documentação do acervo do Departamento
de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Funda, dois anos depois,
a Associação Paulista de Bibliotecários. Em 1939, ganha bolsa da
Fundação Rockfeller e vai estudar biblioteconomia nos Estados
Unidos, onde também faz estágios na área. Em 1945, é nomeado
diretor da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, cargo que ocupa
até 1947, e exerce uma administração de destaque no que diz
respeito à organização e à metodologia da instituição. Assume
então o cargo de vice-diretor da Biblioteca da Organização das
Nações Unidas - ONU, em Nova York, entre 1948 e 1949, quando
é nomeado diretor do Centro de Informações da ONU, o que o leva
residir em Paris, até o ano de 1954. De volta a Nova York, retorna
também à Biblioteca da ONU, agora como diretor, quando por fim se
aposenta compulsoriamente, em 1959. Entre 1963 e1970, trabalha
como professor na Universidade de Brasília. Morre em São Paulo,

75
Biblioteconomia, legislação e normas

em 1986, deixando seu vasto acervo de livros para a Biblioteca José


Mindlin.

FONTE: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2489/
rubens-borba-de-moraes>. Acesso em: 25 jul. 2020.

Segundo Muller (1985), em 1940, o departamento Administrativo do Serviço


Público determinou a divisão da carreira de bibliotecário em Bibliotecário e
Bibliotecário Auxiliar. No próximo tópico, falaremos um pouco sobre essas divisões
na formação dos bibliotecários. Mas há época, a implantação desse curso instituiu
uma formação intensiva, com a duração de seis meses. Destacamos dois decretos
deste ano:

• Decreto-Lei nº 2.166, de 6 de maio de 1940 (BRASIL, 1940a),


que desdobra as carreiras de Bibliotecário, que especifica, nas de
Bibliotecário e Bibliotecário-Auxiliar, e dá outras providências.
• Decreto-Lei nº 6.416, de 30 de outubro de 1940 (BRASIL, 1940b), que
regulamenta o art. 3º do Decreto-lei nº 2166, de 6 de maio de 1940 e
instituiu o curso.

Neste mesmo ano, 1940, ocorre a ampliação dos novos métodos de


organização de bibliotecas, principalmente no que se refere à organização de
livros por sistema de classificação e catalogação. Castro (2000) cita a ampliação
das oportunidades de acesso ao ensino, que ocorreu a partir da criação do Curso
da Escola Livre de Sociologia Política – ELSP, bem como a reforma do Curso da
Biblioteca Nacional, em 1944, sendo significativas para as mudanças.

Segundo Almeida (2012), neste período existiam seis cursos de


Biblioteconomia no Brasil:

1. Biblioteca Nacional (RJ).


2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS).
3. Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura (PE).
4. Universidade Federal da Bahia (BA).
5. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP).
6. Escola de Sociologia e Política (SP).

Vários autores destacam que nos primeiros anos de criação, as escolas do


Rio de Janeiro e de São Paulo foram guiadas por diferentes visões. A primeira
mantinha suas raízes humanísticas, enquanto a segunda era basicamente
técnica, de tal forma que os bibliotecários formados por uma determinada escola

76
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

passavam a defender a abordagem tecnicista ou humanística de acordo com a


escola de formação.

FIGURA 4 – DIFERENÇAS DOS PRIMEIROS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA

FONTE: A autora

Castro (2000, p. 103) destaque que “a polêmica entre Rio e São Paulo foi
marcante” quanto às questões técnicas da área. No entanto,

[...] com a americanização do país e as exigências do mercado


de trabalho a Biblioteca Nacional em 1944 modificou seu
currículo com o acréscimo de disciplinas técnicas tais como:
Catalogação, Classificação, Bibliografia e Referência. Mas
não deixou de lado sua influência humanística. O ensino de
Biblioteconomia no Rio de Janeiro e São Paulo apresentavam
diferenças desde a influência a controvérsias nas práticas
técnicas e nas disciplinas escolares (CASTRO, 2000, p. 4).

Para melhor visualização, apresentamos o quadro elaborado por Castro


(2000) com um comparativo das disciplinas dos cursos do Rio de Janeiro (BN) e
São Paulo.

77
Biblioteconomia, legislação e normas

QUADRO 1 – COMPARATIVO DAS DISCIPLINAS DOS


CURSOS DO RIO DE JANEIRO (BN) E SÃO PAULO

FONTE: Castro (2000, p. 22)

Também observamos que a década de 1950 foi marcada por duas


características importantes a respeito do ensino de Biblioteconomia no Brasil:

78
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

FIGURA 5 – CARACTERÍSTICAS DÉCADA DE 1950

FONTE: A autora

Em relação à expansão, autores como Souza (2003) e Almeida (2012)


indicam a implantação de cursos em várias cidades do país entre os anos de
1942 e 1945, como: na Bahia; em São Paulo e Campinas (SP). Em 1950, foram
instalados cursos de Biblioteconomia também nas cidades de Minas Gerais,
Paraná, Amazônia e Pernambuco.

No quadro a seguir, listamos os primeiros cursos de Biblioteconomia do


Brasil:

QUADRO 2 – PRIMEIROS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL


ANO CURSO / ESCOLA LOCAL
1915 Curso de Biblioteconomia – Biblioteca Nacional RJ
1929 Curso de Biblioteconomia - Mackenzie SP
1936 Curso de Biblioteconomia – Departamento de Cultura SP
1942 Escola de Biblioteconomia e Documentação UFBA
1945 Faculdade de Biblioteconomia PUCCAMP
1947 Escola de Biblioteconomia e Documentação UFRS
1950 Escola de Biblioteconomia UFMG
FONTE: A autora

Em relação à luta dos bibliotecários para firmarem-se como classe profissional


de nível superior, Muller (1985) destaca que foi um movimento que, aos poucos,
foi ganhando força e forma. Alguns fatores, direta ou indiretamente, ligados aos
cursos tiveram papel muito importante sobre eles. Um exemplo desses fatores
foi a atuação do Instituto Nacional do Livro, que, paralelamente ao estímulo dado
à criação de bibliotecas, promoveu também na década de 1950, diversos cursos
regulares e avulsos de biblioteconomia. Também se destaca a atuação do Instituto
Brasileiro de Bibliografia e Documentação – IBBD, que influenciaria bastante as
decisões de conteúdo dos cursos.

79
Biblioteconomia, legislação e normas

O Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação – IBBD –


foi fundado em 1954, com apoio da UNESCO, e foi transformado, em
1976, no Instituto Brasileiro de informação em Ciência e Tecnologia –
IBICT. Teve como objetivo preencher uma lacuna do Sistema Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico quanto à necessidade
de fornecimento de informações em ciência e tecnologia.

FONTE: <http://www.ibict.br/sala-de-imprensa/noticias/item/245-
ibict-completa-65-anos>. Acesso em: 25 jul. 2020.

Muller (1985) também destaca que, nesse período, três importantes


congressos contribuíram para uma ampliação no debate sobre os
encaminhamentos necessários à profissão. Foram eles:

• 1951: a Conferência sobre o Desenvolvimento dos Serviços de


Bibliotecas Públicas na América Latina, promovida pela UNESCO e pela
Organização dos Estados Americanos em São Paulo.
• 1953: o Primeiro Congresso de Bibliotecas do Distrito Federal promovido
pela Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro.
• 1954: o Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia em Recife.

2.1.3 Terceira fase: Currículo


mínimo
Segundo Muller (1985), desde 1955, o curso oferecido pela Biblioteca
Nacional vinha sendo objeto de estudos visando à nova reforma. Mas foi somente
em 1962 que o novo currículo foi finalmente aprovado, através do Decreto 550, de
fevereiro de 1962. Nesse novo currículo, tinha-se a extensão dos cursos para três
anos, com as seguintes disciplinas:

• 1º ano: Técnica do Serviço de Referência, Bibliografia em


geral, Introdução à Catalogação e Classificação, Organização e
Administração de Bibliotecas, História do Livro e das Bibliotecas.
• 2ª ano: Organização e Técnica de Documentação, Bibliografia
Especializada, Catalogação e Classificação, Literatura e
Bibliografia literária, Introdução à cultura histórica e sociológica.
• 3º ano: Catalogação Especializada, Classificação Especializada,
Reprodução de documentos, Paleografia, Introdução à Cultura
Filosófica e Artística (MULLER, 1985 p. 6).

80
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

Muller (1985) destaca que o currículo incluía uma disciplina optativa, a ser
escolhida dentre as oferecidas nos cursos avulsos, ou por universidades. Essas
disciplinas serviriam de base para a proposta do primeiro currículo mínimo, feita
ao Conselho Federal de Educação.

Esse movimento de debate de um currículo mínimo não era um esforço


isolado, fazendo parte de um movimento maior, que visava à elevação da profissão
em um "nível universitário", ao mesmo tempo em que buscava a regulamentação
da profissão pelo Ministério do Trabalho, movimento que conseguiu alcançar
ambas as metas.

Desde 1958, uma proposta de lei regulamentando a profissão já havia sido


apresentada, e em 1959, o Ministério da Educação havia nomeado uma comissão
para estudar o estabelecimento de um currículo mínimo.

Segundo o CFB (2015, p. 27), em 1962, “veio a coroação de todos esses


esforços, com a promulgação da Lei nº 4.084/62”. Esta regula, até hoje, o
exercício da profissão de bibliotecário no Brasil e estabelece as prerrogativas dos
portadores de diploma em Biblioteconomia no país.

2.1.4 Quarta fase: proliferação dos


cursos
Segundo Muller (1985), o fim da década de 1960 e o início da de 1970, foram
marcados por instabilidade política, bem como pelo crescimento econômico.
Esse crescimento era refletido também na área de Biblioteconomia que crescia e
passava por novas mudanças.

Em 1971, por exemplo, já havia 17 cursos em funcionamento, ampliando o


acesso para cidades do interior:

• Instituto do Ensino Superior de Mococa, São Paulo – 1970.


• Universidade Estadual de Londrina, Paraná – 1972.
• Universidade Federal de Santa Catarina – 1973.
• Universidade Federal do Espírito Santo – 1974.
• Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina – 1974.
• Fundação Universidade do Rio Grande – 1975.
• Faculdade de Biblioteconomia e Documentação Teresa d'Ávila, Lorena,
São Paulo – 1975.
• Faculdades Integradas Teresa d'Ávila, Santo André, São Paulo – 1976.

81
Biblioteconomia, legislação e normas

• Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva, São Paulo –


1977.
• Universidade Estadual de São Paulo Júlio Mesquita Filho, Marília, São
Paulo – 1977.

Foi também na década de 1970, que a Biblioteconomia tomou novo impulso


com a criação de seis Cursos de Mestrado, sendo o primeiro oferecido pelo
então IBBD, com o nome de Mestrado em Ciência de Informação. Assim não se
restringia apenas aos bibliotecários, mas sim aos formados em áreas diversas
com interesse na área de informação. Segundo Muller (1985), o IBBD já vinha
oferecendo outro curso de pós-graduação, lato sensu, desde 1955, e este
contribuiu muito para a formação de professores dos cursos de graduação da
década de 1960.

Segundo Gomes (1974), os conteúdos dos cursos de especialização,


muitas vezes, eram inovadores e passavam a ser introduzidos nos cursos
de biblioteconomia. Para exemplificar, Gomes (1974) destacou as seguintes
disciplinas: normalização na documentação; bibliografia especializada, e
mecanização.

Neste período, entre 1972 e 1973, também se destaca o aparecimento dos


periódicos profissionais da área de biblioteconomia, como por exemplo:

• Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, em Belo Horizonte.


• Revista Ciência da informação, pelo então IBBD, no Rio de Janeiro.
• Revista de Biblioteconomia de Brasília, pela Associação de Bibliotecários
do Distrito Federal e Departamento de Biblioteconomia da Universidade
de Brasília.

Destaca-se que as três revistas são publicadas regularmente até os dias


atuais, junto aos anais dos congressos que começaram a ser publicados a partir
de 1975, contribuindo para elevar o nível e métodos de ensino.

De maneira geral, pode-se dizer que a reformulação do currículo mínimo


e a atualização do pleno foram os assuntos que mais movimentaram os cursos
no período. Alguns autores também destacam expansão de oportunidades de
emprego, principalmente junto aos órgãos federais, bibliotecas especializadas e
universitárias. Os Cursos de Doutorado começaram a surgir durante a década de
1980.

82
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

2.1.5 Quinta fase: reformulação dos


programas de ensino
Entre as décadas de 1970 e 1980, as escolas vinham sentindo uma
crescente pressão para a necessidade de renovação dos seus currículos, esse
tema foi debatido em diversos eventos e registrado em documentos da área. O
debate central apontava para uma nova reformulação do currículo mínimo, com
inclusão de matérias tais como: Metodologia do Trabalho Intelectual, Linguística,
Fundamentos de Matemática, Estatística e Introdução aos Computadores.
Também foi solicitado às Universidades que oferecessem cursos de formação de
professores de biblioteconomia.

Com a padronização dos conteúdos pelo Currículo Mínimo entre os anos


de 1962 a 1982, são citados diversos descontentamentos com a quantidade de
disciplinas e com o caráter ora muito técnico e ora demasiadamente humanístico
dos conteúdos estabelecidos. No entanto, destaca-se que as escolas eram
obrigadas a ministrar aquele mínimo de disciplinas impostas.

Almeida e Baptista (2013) afirmam que foi somente na década de 1990,


quando a educação nacional passava por um momento de mudanças com a
criação da Lei 9.394/1996, que foi estabelecida as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, sendo esta lei que passou assegurar autonomia às universidades
para criarem, organizarem e extinguirem, em sua sede, cursos e programas de
educação superior. Além disso, poderiam fixar os currículos dos seus cursos e
programas, observando as diretrizes gerais pertinentes e também estabelecer
planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e
atividades de extensão entre outras atribuições (BRASIL, 1996).

As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para o ensino de


Biblioteconomia foram estabelecidas em 2001 por meio do Parecer CNE/CES
492/2001 do Conselho Nacional de Educação/Câmara Superior de Educação
(BRASIL, 2001).

Esse documento definiu o perfil dos formandos da área, enumerou as


competências e habilidades necessárias ao egresso, direcionando o conteúdo
curricular. O Parecer também estabeleceu a importância de estágios, atividades
complementares, avaliação institucional e da estrutura do curso.

Nas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Biblioteconomia (BRASIL,


2001, p. 22), em relação à formação do bibliotecário, destaca-se:

83
Biblioteconomia, legislação e normas

[...] o desenvolvimento de determinadas competências


e habilidades e o domínio dos conteúdos da
Biblioteconomia. Além de preparados para enfrentar
com proficiência e criatividade os problemas de sua
prática profissional, produzir e difundir conhecimentos,
refletir criticamente sobre a realidade que os envolve,
buscar aprimoramento contínuo e observar padrões
éticos de conduta [...]. O parecer enumerou e dividiu as
competências e habilidades necessárias à formação do
bibliotecário, com o intuito de direcionar os conteúdos
dos cursos. As competências foram divididas em gerais
e específicas.

QUADRO 3 – COMPETÊNCIAS GERAIS E ESPECÍFICAS


DOS FORMANDOS EM BIBLIOTECONOMIA
COMPETÊNCIAS GERAIS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
• Gerar produtos a partir dos conhecimentos • Interagir e agregar valor nos processos de
adquiridos e divulgá-los; geração, transferência e uso da informação, em
• Formular e executar políticas institucionais; todo e qualquer ambiente;
• Elaborar, coordenar, executar e avaliar • Criticar, investigar, propor, planejar, executar
planos, programas e projetos; e avaliar recursos e produtos de informação;
• Utilizar racionalmente os recursos disponí- • Trabalhar com fontes de informação de
veis; qualquer natureza;
• Desenvolver e utilizar novas tecnologias; • Processar a informação registrada em dife-
• Traduzir as necessidades de indivíduos, rentes tipos de suporte, mediante a aplicação
grupos e comunidades nas respectivas áreas de conhecimentos teóricos e práticos de coleta,
de atuação; processamento, armazenamento e difusão da
• Desenvolver atividades profissionais autô- informação;
nomas, de modo a orientar, dirigir, assessorar, • Realizar pesquisas relativas a produtos, pro-
prestar consultoria, realizar perícias e emitir cessamento, transferência e uso da informação.
laudos técnicos e pareceres;
• Responder a demandas sociais de informa-
ção produzidas pelas transformações tecnológi-
cas que caracterizam o mundo contemporâneo.
FONTE: Brasil (2001, p. 32-33)

2.1.6 Sexta fase: início do ensino a


distância
No campo da Ciência da Informação, veremos que o debate e implantação
da Biblioteconomia EAD iniciou tardiamente, se compararmos a mesma trajetória
dessa modalidade em outros campos do conhecimento, como na Pedagogia, por
exemplo.
84
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

No Brasil, um dos marcos do processo de implantação dos cursos de EAD


em Biblioteconomia foi o lançamento do projeto pedagógico para graduação na
modalidade a distância, uma parceria do Ministério da Educação (MEC) através
da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e do Conselho Federal de Biblioteconomia
(CFB), em 2010.

Este projeto tinha como objetivo subsidiar significativamente a organização


do trabalho pedagógico das Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) que
viessem atuar na oferta desta formação no âmbito da Universidade Aberta do
Brasil (MEC; CFB, 2010).

Observamos que várias movimentações e investimentos foram feitos para


esse projeto se concretizar na esfera pública, mas até o momento ainda não
foram iniciados.

O movimento de oferta de EAD para a formação de bibliotecários foi


impulsionado com a aprovação da Lei 12.244/2010 (BRASIL, 2010), que
determinava que todas as instituições de ensino do país, públicas e privadas,
deveriam ter bibliotecas, sendo respeitada a profissão de Bibliotecário. Tal lei
estabeleceu um prazo de dez anos para seu cumprimento, ou seja, até 2020.

Em 2020, prestes a finalizar o prazo previsto, menos de 25% das


instituições públicas e 31% das privadas cumpriram a determinação
legal. E já tramita na Câmara dos Deputados a ampliação do prazo e
das metas previstas na Lei para 2024. Acesse e leia:
Comissão aprova novo conceito de biblioteca escolar e
amplia prazo para criação de acervo: https://www.camara.leg.br/
noticias/548142-comissao-aprova-novo-conceito-de-biblioteca-
escolar-e-amplia-prazo-para-criacao-de-acervo/.

A mesma lei que motivou o projeto UAB e CFB, na esfera pública, impulsionou
também a criação dos cursos de Biblioteconomia EAD na esfera privada, sendo
implantados, de 2013 a 2020, sete novos cursos.

Caracterizada principalmente pelo distanciamento físico que separa alunos e


professores, e mediada por alguma tecnologia, a EAD atende a um grande número
de alunos. E em pouco tempo, triplicou o número de alunos de biblioteconomia no
Brasil.

85
Biblioteconomia, legislação e normas

Atualmente, existem poucos estudos sobre o ensino de biblioteconomia


na modalidade a distância, mas sabe-se que tal modelo vem modificando
completamente a forma de ensino e aprendizagem dos cursos de biblioteconomia.

2.2 TÉCNICOS DE BIBLIOTECONOMIA


O Técnico em Biblioteconomia é um profissional capacitado e habilitado para
atuar como assistente de biblioteca, podendo auxiliar no atendimento e no auxílio
das chefias, diretores e/ou gestores de bibliotecas, centros e/ou serviços de
informação e documentação e outros, no âmbito das empresas e/ou instituições
públicas e/ou privadas.

Muitos auxiliares de biblioteconomia acabam gostando do espaço de atuação


e procuram a formação em biblioteconomia. As funções dentro dos locais de
trabalho têm bastante variação, mas em geral podem:

• Contribuir com o tratamento, recuperação e disseminação da informação


em ambientes físicos ou virtuais.
• Execução de atividades auxiliares especializadas e administrativas
relacionadas à rotina de bibliotecas ou centros de documentação e
informação, quer no atendimento ao usuário, quer na administração do
acervo ou na manutenção de banco de dados.
• Colaboração no controle e na conservação de documentos e
equipamentos.

Em 2018, foi regulamentada a profissão de técnico em Biblioteconomia, veja


a seguir, o texto na íntegra:

LEI Nº 13.601, DE 9 DE JANEIRO DE 2018


Regulamenta o exercício da profissão de Técnico em Biblioteconomia.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta


e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O exercício da profissão de Técnico em Biblioteconomia é regulamentado
na forma desta Lei.
Art. 2º Considera-se Técnico em Biblioteconomia o profissional legalmente
habilitado em curso de formação específica.
Art. 3º São requisitos para o exercício da atividade profissional de Técnico em
Biblioteconomia:
I - possuir diploma de formação de nível médio de Técnico em Biblioteconomia,
expedido no Brasil, por escolas oficiais ou reconhecidas na forma da lei;

86
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

II - possuir diploma de formação de nível médio de Técnico em Biblioteconomia,


expedido por escola estrangeira, revalidado no Brasil de acordo com a legislação
em vigor;
III - (VETADO);
IV - exercer suas atividades sob a supervisão de Bibliotecário com registro em
CRB.
Art. 4º Compete aos Técnicos em Biblioteconomia, observando-se os limites de
sua formação e sob a supervisão do Bibliotecário:
I - auxiliar nas atividades e serviços concernentes ao funcionamento de
bibliotecas e outros serviços de documentação e informação;
II - auxiliar no planejamento e desenvolvimento de projetos que ampliem as
atividades de atuação sociocultural das instituições em que atuam.
Art. 5º (VETADO).
Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 9 de janeiro de 2018; 197o da Independência e 130o da República.

MICHEL TEMER 
Gustavo do Vale Rocha

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13601.
htm>. Acesso em> 27 jul. 2020.

O curso de técnicos de biblioteconomia vem sendo oferecido pelo SENAC e


também no Pronatec.

87
Biblioteconomia, legislação e normas

Leia também o texto intitulado A regulamentação do técnico trará


vantagens à Biblioteconomia?”, no site Biblioo cultura informacional.
Acesse: https://biblioo.cartacapital.com.br/regulamentacao-tecnico-
biblioteconomia/.

Em síntese, até aqui vimos que as primeiras escolas de biblioteconomia


de nível superior foram fundadas no século XIX, com destaque para a École de
Chartes, em Paris, no ano de 1821, e a School of Library Economy, na Universidade
de Columbia, nos Estados Unidos, em 1887. Essas duas universidades foram as
principais influenciadoras no ensino de biblioteconomia no Brasil.

Lembramos que a primeira biblioteca brasileira surgiu dentro de uma


instituição de ensino dos jesuítas, a Biblioteca do Colégio Bahia, ainda no Brasil
Colônia, em 1658. Seu primeiro bibliotecário, que também foi o primeiro em
solo brasileiro, foi Antônio Gonçalves. Nesse momento histórico, todo acesso
ao conhecimento laico era controlado pela igreja. As ordens religiosas, como os
Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos, contribuíram para inserção dos livros e,
consequentemente, na criação de outras bibliotecas desse período.

À medida que eram criadas as primeiras bibliotecas, passa-se a ter a


necessidade dos primeiros profissionais da área e, por consequência, passa a
surgir os primeiros cursos.

Para contar a história do ensino de Biblioteconomia no país, a dividimos em


seis fases principais. A primeira fase compreendeu o período entre os anos de
1879 a 1929, onde a liderança do ensino era da Biblioteca Nacional. Esta tinha
uma predominância da influência francesa, advindo do ensino de Biblioteconomia
na École Nationale des Chartes.

A segunda engloba o período de 1929 a 1962, período que o ensino de


biblioteconomia se desenvolveu sob a influência inovadora do um novo curso
fundado em São Paulo, sob inspiração norte-americana, da Columbia University.

A terceira fase, a partir de 1962, foi caracterizada pela uniformidade do


ensino de Biblioteconomia com a implantação do currículo mínimo.

A quarta foi a partir da década de 1970, com o fortalecimento e proliferação


dos cursos, surgindo assim um crescente descontentamento em relação ao

88
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

conteúdo do currículo mínimo. Isso também se agravou por conta da ampliação


de novas tecnologias e o aparecimento dos cursos de pós-graduação.

A quinta fase, a partir de 1982, com a aprovação de um novo currículo mínimo


e pela reformulação dos programas de ensino; e a sexta fase ocorre a partir de
2013, que a partir da Lei 12244/10 impulsiona os novos cursos de biblioteconomia
na modalidade EAD.

Você também conheceu os aspectos de formação e regulamentação dos


técnicos de biblioteconomia.

1) A história do ensino de Biblioteconomia é cheia de especificidades,


e para facilitar, dividimos sua explicação em seis fases. Em
relação às fases do ensino de biblioteconomia, relacione de
forma correta:

(1) 1ª fase
(2) 2ª fase
(3) 3ª fase
(4) 4ª fase
(5) 5ª fase
(6) 6ª fase

( ) É caracterizada pela uniformidade do ensino de Biblioteconomia


com a implantação do currículo mínimo.
( ) Período que o ensino de biblioteconomia se desenvolveu sob a
influência inovadora do um novo curso fundado em São Paulo,
sob inspiração norte-americana, da Columbia University.
( ) A partir da Lei 12244/10 são impulsionados novos cursos de
biblioteconomia, agora na modalidade EAD.
( ) Tem o fortalecimento e proliferação dos cursos, surgindo assim
um crescente descontentamento em relação ao conteúdo
do currículo mínimo. Isso também se agravou por conta da
ampliação de novas tecnologias e o aparecimento dos cursos de
pós-graduação.
( ) A liderança do ensino era da Biblioteca Nacional. Esta tinha uma
predominância da influência francesa, advinda do ensino de
Biblioteconomia na École Nationale des Chartes.
( ) Aprovação de um novo currículo mínimo e pela reformulação dos
programas de ensino.

89
Biblioteconomia, legislação e normas

Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:


a) ( ) 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6.
b) ( ) 2 – 4 – 5 – 3 – 1 – 6.
c) ( ) 3 – 2 – 6 – 4 – 1 – 5.
d) ( ) 4 – 2 – 6 – 1 – 5 – 3.

2) O Técnico em Biblioteconomia é um profissional capacitado e


habilitado para atuar como assistente de biblioteca, podendo
auxiliar no atendimento e no auxílio das chefias, diretores e/ou
gestores de bibliotecas, centros e/ou serviços de informação e
documentação e outros, no âmbito das empresas e/ou instituições
públicas e/ou privadas. Dito isso, na regulamentação do técnico
de Biblioteconomia, quais são os requisitos para o exercício de
suas atividades?

3 O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DE
BIBLIOTECÁRIO
Como vimos no tópico anterior, o reconhecimento legal da profissão se
deu em 1962 com a aprovação da Lei 4.084, dispondo sobre o exercício da
profissão de bibliotecário e que ainda está em plena vigência. Já em 1998, ao
ser promulgada a Lei 9.674 (BRASIL, 1998), esta trouxe complementações à
Lei 4084. Ou seja, as Diretrizes Curriculares do Ministério da Educação passam
atribuir às instituições de ensino a responsabilidade de definir o currículo.

Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962. Dispõe sobre a profissão


de bibliotecário e regula seu exercício. Acesse este importante
documento na íntegra, por meio do link http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/1950-1969/L4084.htm.

90
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

Destaca-se que, de acordo com a Constituição Brasileira, “é livre o exercício


de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer” (BRASIL, 1988, p. 2). Neste contexto, considera-se a
importância da regulamentação profissional tanto para assegurar o exercício
profissional de pessoas qualificadas e habilitadas para tal, quanto para assegurar
e defender os interesses da comunidade e dos cidadãos, que procuram
atendimento especializado (JOB; OLIVEIRA, 2006).

3.1 Conselhos profissionais


Como previsto na lei citada anteriormente, e regulamentada pelo Decreto-
Lei nº 56.725, de 16 de agosto de 1965, em março 1966, o Conselho Federal
de Biblioteconomia foi oficialmente instalado, com a posse dos membros da sua
primeira gestão. Neste mesmo ano, através da Resolução 04/66 foram criados
dez Conselhos Regionais de Biblioteconomia. Posteriormente, foram criados mais
cinco Conselhos, sendo extinto o CRB 12, em 2009, até a atualidade temos 14
Conselhos Regionais no Sistema CFB/CRB.

FIGURA 6 – CONSELHOS REGIONAIS DE BIBLIOTECONOMIA

FONTE: <http://cfb.org.br.urlpreview.net/perguntas-frequentes/>. Acesso em: 27 jul. 2020.

O Conselho Federal de Biblioteconomia é uma autarquia e um órgão


deliberativo federal de fiscalização, também chamada de autarquia corporativa,
que atua no exercício de fiscalização das atividades profissionais relacionadas
à profissão do  bibliotecário. Sua principal atribuição é fiscalizar os  Conselhos
Regionais no cumprimento da legislação vigente de registrar os profissionais em
Biblioteconomia.

Já os Conselhos Regionais têm por objetivo primário fiscalizar o exercício


da profissão de Bibliotecário e suas atribuições e prezar pelo cumprimento da
legislação pertinente no âmbito do estado ao qual estão relacionados, competindo
a eles, segundo o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB, 2020):

91
Biblioteconomia, legislação e normas

• Zelar pelo bom conceito da profissão de bibliotecário.


• Fiscalizar o exercício da profissão, impedindo e punindo as infrações
à legislação vigente, bem como enviar às autoridades competentes,
relatórios documentados sobre fatos que apurar e cuja solução não seja
de sua alçada.
• Defender o livre exercício da profissão de bibliotecário.
• Registrar os profissionais bibliotecários de acordo com a lei vigente, e
expedir a Carteira e Cédula Profissional.
• Funcionar como órgão consultivo das esferas públicas, na região de sua
jurisdição, no que tange ao exercício da profissão e aos interesses do
bibliotecário.
• Cumprir as demais atribuições estabelecidas no Regimento Interno do
Conselho Federal de Biblioteconomia, no artigo 20 da Lei 4.084/64 e no
artigo 35 do Decreto 56.725/65, tais como:

o orientar, disciplinar e fiscalizar em toda a região de sua jurisdição,


o exercício da profissão de bibliotecário e das atividades auxiliares
da Biblioteconomia, impedindo e punindo as infrações à legislação
vigente;
o fiscalizar as empresas, as entidades e outras organizações que, a
qualquer título, prestem serviços na área da Biblioteconomia;
o fiscalizar, em toda a região, a veiculação de anúncios, propagandas,
noticiários, pronunciamentos, entrevistas ou quaisquer outras
manifestações que estejam vinculadas ao profissional Bibliotecário;
o manter sob controle a criação e distribuição de ordens honoríficas,
títulos de benemerência, diplomas de mérito e outras dignidades
vinculadas, direta e indiretamente, à Biblioteconomia na região;
o arrecadar as anuidades, taxas, multas e demais emolumentos, bem
como garantir o repasse da cota-parte ao CFB, de acordo com a
legislação vigente;
o examinar reclamações e representações referentes ao registro das
infrações, conforme legislação vigente e decidir com recurso para o
CFB;
o manter atualizado o cadastro informatizado dos profissionais e
empresas registrados no território de sua jurisdição: em exercício,
transferidos, cancelados, suspensos, cassados, licenciados e
reintegrados;
o divulgar relatórios anuais de seus trabalhos e publicar periodicamente
a relação de profissionais registrados, transferidos, cancelados,
suspensos, cassados, licenciados e reintegrados;
o elaborar e cumprir o Plano de Metas para o exercício seguinte, de
acordo com as orientações do CFB;

92
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

o registrar e homologar nomes de candidatos a Conselheiro do CRB,


satisfeitas às exigências legais;
o eleger um delegado eleitor para a Assembleia Geral de Delegados
Eleitores para eleição dos membros do CFB;
o apresentar sugestões para o CFB;
o manter estreita colaboração com as entidades representativas de
classe;
o cumprir e fazer cumprir seu Regimento Interno.

No atendimento de suas finalidades, os CRBs exercem as seguintes ações:

FIGURA 7 – FINALIDADES DOS CRBS

FONTE: A autora

Com exceção dos CRBs, os demais órgãos associativos são aderidos por
livre escolha do profissional da informação. O profissional, de acordo com o seu
interesse e engajamento político e social, decide participar das associações
ou sindicatos. Essas instituições colaboram para incentivar o profissional a ser
mais atuante na sua área e mais crítico a respeito de suas ações, das questões
políticas e da sua atuação na sociedade.

93
Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA – CARTEIRA PROFISSIONAL DE BIBLIOTECÁRIO

FONTE: <http://crb3.org.br/crb-3-realiza-i-solenidade-oficial-de-
entrega-de-carteiras-profissionais/>. Acesso em: 27 jul. 2020.

O registro no Conselho de Biblioteconomia é obrigatório para profissionais


que passam a atuar na área. Ao se registrar, o profissional receberá a sua Carteira
de identidade profissional de Bibliotecário.

O exercício profissional sem registro, bem como sem o pagamento da


anuidade, implica em caracterização do exercício ilegal da profissão.

Ao efetuar o registro, o profissional de Biblioteconomia está obrigado a


obedecer ao código de ética profissional, assunto de nosso próximo capítulo.

Aprofunde seus conhecimentos lendo o livro digital Bibliotecários


50 anos de regulamentação da profissão no Brasil: 1965-2015. Nele
estão reunidos, em ordem cronológica, os textos legais, desde o início,
e também o relatório do projeto de lei que originou a Lei 4.084/62.

Disponível no link: http://repositorio.cfb.org.br/handle/123456789/586.

94
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

3.2 ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS


As associações de Bibliotecários são organizações de cunho científico,
profissional e organizacional criadas com o intuito de auxiliar os profissionais
e organizações com atividades que agreguem valor à formação intelectual,
como cursos, oficinas, palestras, congressos e jornadas, encontros, simpósios,
aperfeiçoamentos, especializações, entre outras (CARVALHO, 2016).

Para Rasche (2005), é no espaço associativo que as pessoas vão se


encontrar para trocar ideias, resolver conflitos e encontrar soluções para
problemas comuns, também é nesse ambiente que haverá espaço para a
publicação de boletins informativos, revistas, realização de cursos e eventos,
permitindo assim a educação continuada, ao mesmo tempo em que apresentam
seu comprometimento com a realização de um bom trabalho, a excelência de
conhecimentos, competências e técnicas. Para a autora, é a partir de ações
coletivas pautadas na compreensão do conjunto de elementos que compõe o
cenário de uma sociedade profissionalista.

Há várias instituições associativas em níveis diferentes, como as estaduais,


nacional e internacional. Ambas dizem respeito a aspectos educacionais,
profissionais e políticos da profissão. Vejamos algumas delas a seguir.

3.2.1 Federação Brasileira de


Associação de Bibliotecários
A Federação Brasileira de Associação de Bibliotecários, Cientistas da
Informação e Instituições – FEBAB – foi fundada em 1959. Trata-se de uma
sociedade civil, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de São Paulo,
com prazo de duração indeterminado. É constituída por entidades-membro –
associações de bibliotecários e cientistas da informação, instituições filiadas e
pelos órgãos:

FIGURA 8 – ÓRGÃOS DA FEBAB

FONTE: Adaptada de FEBAB (2020)

95
Biblioteconomia, legislação e normas

Desde seu nascimento, a FEBAB (2020) tem como principal missão defender
e incentivar o desenvolvimento da profissão. Vejamos seus objetivos:

• Congregar as entidades para tornarem-se membros e instituições


filiadas.
• Coordenar e desenvolver atividades que promovam as bibliotecas e seus
profissionais.
• Apoiar as atividades de seus filiados e dos profissionais associados.
• Atuar como centro de documentação, memória e informação das
atividades de biblioteconomia, ciência da informação e áreas correlatas
brasileiras.
• Interagir com as instituições internacionais da área de informação.
• Desenvolver e apoiar projetos na área, visando ao aprimoramento das
bibliotecas e dos profissionais.
• Contribuir para a criação e desenvolvimento dos trabalhos das comissões
e grupos de áreas especializadas de biblioteconomia e ciência da
informação.

Ao longo de sua história, muitos documentos foram elaborados


contemplando as atividades desenvolvidas e que se encontram
publicadas nos boletins, jornais e revistas da FEBAB. Conheça mais
sobre eles, acessando: http://www.febab.org.br/.

FIGURA – FEBAB

96
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

3.2.2 Associações de Bibliotecários


Estaduais
As associações de Bibliotecários estaduais, em geral, fazem parte da FEBAB
através de afiliação. Importante ressaltar que as associações são sociedades civis
sem fins lucrativos, que possuem o objetivo de servir como um agente promotor
de capacitação profissional, trabalhando com diretores voluntários. Contribuem
também para a divulgação de vagas para os profissionais.

No quadro a seguir, apresentamos as associações atualmente existentes e


afiliadas à FEBAB:

QUADRO 4 – ASSOCIAÇÕES ATUALMENTE EXISTENTES E AFILIADAS À FEBAB


ALAGOAS
Associação Alagoana dos Profissionais em Biblioteconomia – AAPB
Av. Tomás Espíndola, 326, Centro Comercial Farol, sala 203/204,
Bairro Farol
Maceió – AL –  57051-000.
Contatos: (82) 98844-1636/ 99974-2562
Email: aapb.alagoas@gmail.com / presidencia@aapb.org.br /  www.
facebook.com/aapbalagoas
BAHIA
Associação de Bibliotecários e Documentalistas do Estado da Bahia –
ABDEB
R. Miguel Calmon, 40 Condomínio Edifício Conde dos Arcos – Sala
101 – Comercio, Salvador – BA, CEP: 40015-010 (Provisório)
Contatos: (71) 99273-1609 / 99164-9000
E-mail: abdebgestao1@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/associacaodebibliotecariosdabahia/
  CEARÁ
Associação dos Bibliotecários do Ceará – ABCE
Av. Santos Dumont, 1687 – 2º andar Sala 204 Aldeota
Fortaleza – CE – 60150-160
Contatos: (85) 98734-9074
Email: abcceara@gmail.com
Site: www.abcce.org.br
Facebook: www.facebook.com/abceara

97
Biblioteconomia, legislação e normas

DISTRITO FEDERAL
Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal – ABDF
SCRN 702-703 – Bl G – Ed. Coencisa nº49 Salas 101/102
Brasília – DF –  70710-750
Contatos: ( 61) 3326-3835
Email: abdf@abdf.org.br
Site: www.abdf.org.br

GOIÁS
Associação dos Bibliotecários de Goiás – ABG
Rua Santarém, s/n, Quadra 13 Lote 27 Setor Serrinha
Goiânia – GO – 74970-676
Contatos: (62) 3218-2183
Email: bibliotecariosgo@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/bibliotecariosgoias817.3

MATO GROSSO DO SUL


Associação Profissional de Bibliotecários de Mato Grosso do Sul –
APBMS
Rua Mamanguape, nº 108 – Bairro Santo Eugênio
Campo Grande/ – MS – 9.060-380
Contatos: (67) 99614-3065 / 991871965 / 99184-8967
Email: apbmscg@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/apbms
MINAS GERAIS
Associação dos Bibliotecários de Minas Gerais – ABMG
Rua Guajajaras, 410, sala 608 e 609 – Ed. Rotary
Belo Horizonte – MG – 30180-100 Contatos: (31) 99959-4087
Email: abmg.gestao21@gmail.com
Site:  www.abmg.org.br
Facebook: www.facebook.com/abmgoficial
Instagram: www.instagram.com/abmgoficial
PARÁ
Associação Paraense de Bibliotecários – ASPABI
Rua Treze de Maio, 191 – Edifício Marc Jacob – Sala 1107 – Comér-
cio
Belém – PA – 66.013-080
Contatos (WhatsApp): (091) 99158-2982 / 98425-6908
Email: aspabi.para@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/aspabi.pa

98
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

PARAÍBA
Associação Profissional de Bibliotecários da Paraíba – APBPB
Rua Rodrigues de Aquino, 320, sala 203 – 1 andar – Ed. Pasteur
João Pessoa – PB – 58013-030
Contatos:  (83) 99613-5585
Email: apbparaiba@gmail.com
Facebook: www.facebook.com/apbpb/
Facebook: www.facebook.com/groups/208666449285116/
PERNAMBUCO
Associação Profissional de Bibliotecários de Pernambuco – APBPE
Rua Gervásio Pires, 674 – Boa Vista
Recife – PE – 50060-090
Contatos: (81)3221-2282 (81) 99631-8270 (81) 99620-7751
Email: apbpemail@gmail.com / denifm@hotmail.com
Facebook: www.facebook.com/APBPE-Associa%C3%A7%-
C3%A3o-Profissional-de-Bibliotec%C3%A1rios-de-Pernambu-
co-117072595071535/
PIAUÍ
Associação de Bibliotecários do Estado do Piauí – ABEPI
Sede Provisória: Av. Miguel Rosa, 7315 – Bairro Redenção
Teresina – PI – 64018-550
Contatos:  (86) 2107-2818
Email: assbibpiaui@gmail.com
Site: abepi5.webnode.com
Facebook: www.facebook.com/abepipiaui/
RIO DE JANEIRO
Rede de Bibliotecas e Centros de Informação em Arte no Estado do
Rio de Janeiro (REDARTE/RJ)
Praça Tiradentes, 10 – Sala 905 – Centro
Rio de Janeiro – RJ – 20060-070
Email: redarterj@redarterj.com
Site: www.redarte.org.br
Facebook: www.facebook.com/redarterj
RIO GRANDE DO NORTE
Associação Profissional de Bibliotecários do Rio Grande do Norte
– APBERN
UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede  – Campus Universitário, s/n
Lagoa Nova  – Caixa Postal 1524 59.072-970 – Natal – RN
Contatos: Fone: (84) 3215.3852  (84) 9600-0175 / Fax: (84) 3215-
3856
Email: apbern@hotmail.com.br / manuellaoliveira@hotmail.com.br
Facebook: www.facebook.com/APBERN-362608467149975/

99
Biblioteconomia, legislação e normas

RIO GRANDE DO SUL


Associação Rio-Grandense de Bibliotecários – ARB
Av. Benjamin Constant, 1468 sala 301 – Bairro São João
Porto Alegre – Rio Grande do Sul –  90550-002
Contatos: Presidente Neli Miotto: (51) 99617-7346 | 1ª Tesoureira Ana
Cristina Xavier de França: (51) 98174-9959 | 2ª Secretária Priscila de
Queiroz Macedo: (51) 98579-0069
E-mail: arb@arb.org.br
Site: www.arb.org.br / www.facebook.com/arb.rs
SANTA CATARINA
Associação Catarinense de Bibliotecários – ACB
Av. Josué di Bernardi, 239 – Ed. Jowi – Sala 302 – Bairro Campinas
São José  – SC – 8101-200
Contatos:  (48) 3035-4871
Email: acb@acbsc.org.br
Site: www.acbsc.org.br
Facebook: www.facebook.com/acboficial/
YouTube: goo.gl/rLYdw3
SERGIPE
Associação Profissional dos Bibliotecários e Documentalistas de
Sergipe – APBDSE
Rua Deputado Euclides Paes Mendonça, 784 – Salgado Filho
Aracaju- SE – 49020-460
Contatos : (79) 4234-3999
Email: contato@apbdse.org.br /  presidencia@apbdse.org.br
Site: www.apbdse.org.br
Facebook: www.facebook.com/apbdse.bibliotecarios
FONTE: Adaptado de FEBAB (2020)

Algumas associações estaduais têm ganhado destaque em nível nacional


devido à organização e atividades. Como exemplo, citamos a Associação
Catarinense de Bibliotecários – ACB, que promove todo ano o “Painel de
Biblioteconomia”, que já está em na 37ª edição. Tal evento pensado inicialmente
para ser regional, vem ganhando força com a participação de bibliotecários e
estudantes de todo o Brasil.

100
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

FIGURA 9 – PAINEL DE BIBLIOTECONOMIA 2019

FONTE: <https://painelbibliotecono.wixsite.
com/37painelbiblio2019>. Acesso em: 27 jul. 2020.

A ACB tem também uma Revista Científica, que publica os artigos aprovados
no painel, hoje com conceituação B2 na pontuação da Capes. Acesse, conheça e
envie seu artigo!

FIGURA 10 – REVISTA ACB

FONTE: <https://revistaacb.emnuvens.com.br/racb/index>. Acesso em: 27 jul. 2020.

3.2.3 Associação Brasileira de


Educação em Ciência da Informação
A Associação Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação –
ABEBD/ABECIN, foi criada em 1967 por um grupo de bibliotecários que atuava
na área da docência em Biblioteconomia, com o objetivo de pensar as questões
pedagógicas e de metodologias de ensino dessa área. A atuação da ABEBD foi
importante para fortalecer o currículo escolar e especialização do profissional
bibliotecário que atuava como professor universitário. A partir de 2001, a ABEBD

101
Biblioteconomia, legislação e normas

foi desativada e passou a se chamar ABECIN – Associação Brasileira de Educação


em Ciência da Informação.

O objetivo da ABECIN é pensar as questões de ensino, aperfeiçoamento


de docentes e colaborar para o fortalecimento das instituições com cursos de
Biblioteconomia e Ciência da Informação. Visando à qualidade da formação
do profissional da educação e consolidando o ensino, a pesquisa e a extensão
(ABECIN, 2020).

A ABECIN é, sobretudo, um espaço político no qual a discussão sobre a


perspectiva da construção e experimentação de saberes novos é tão importante
e significativa quanto a ação de praticar esses saberes conquistados. Há quatro
linhas de saberes que são fundamentais no seu trabalho:

1 - Os saberes dos conteúdos do respectivo campo já existentes


e prontos para serem utilizados, transmitidos, adaptados e
transformados;
2 - Os saberes de como realizar a transposição didática desses
conteúdos para a formação das competências, habilidades e
atitudes dos profissionais egressos dos cursos;
3 - Os saberes derivados da transposição didática e seu efeito
na consolidação dos saberes profissionais nos egressos dos
cursos;
4 - Os saberes sobre os melhores métodos e técnicas de
ensino a serem empregados na formação das habilidades e
das atitudes esperadas pelos usuários dos serviços prestados
pelos egressos da escola (ABECIN, 2020, s.p.).

Os membros da ABECIN podem ser indivíduos-pessoas ou organizações


educacionais. Entendem-se como parte do corpo profissional mais amplo das
profissões da informação, e se particularizam por realizarem um tipo especial de
trabalho que não se confunde com o trabalho do técnico que também se inclui no
elenco mais amplo dessas profissões.

Conheça melhor a ABECIN acessando o link: http://www.abecin.


org.br/.

102
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

3.2.4 Associação Brasileira de


Profissionais da Informação
A Associação Brasileira de Profissionais da Informação – ABRAINFO –
foi criada em 2012. Tem a função de promover trabalhos dos profissionais da
informação, realizando eventos e ações com esse fim, apoiando os demais
órgãos e entidades da área. Trata-se de uma associação nacional, ou seja,
qualquer profissional da grande área de ciência da informação, principalmente
Bibliotecários, Arquivistas e Museólogos, de qualquer região do Brasil, pode se
filiar à associação (ABRAINFO, 2020). Uma oportunidade para, principalmente,
estados onde não existam associações regionais.

Vejamos a Missão da ABRAINFO (2020, s.p.):

Missão
Promover o trabalho dos profissionais da informação, realizando
ou apoiando ações que possam garantir o aprimoramento
dessas atividades e contribuir, de modo primordial, para o
aperfeiçoamento das práticas de informação como meios
essenciais para a existência de uma sociedade com liberdade
de expressão e pluralista, sob as condições essenciais de
liberdade de informação e garantia do direito de acesso à
informação em seus vários planos.

A ABRAINFO (2020, s.p.) tem os seguintes objetivos:

• Trabalhar pelo desenvolvimento de todos os profissionais que


atuam no setor de informação tendo em vista o cumprimento
de seus objetivos sociais;
• Expressar perante a sociedade civil e os poderes constituídos
as reivindicações, contribuições e propostas que os profissionais
da informação tenham a fazer em matéria de acesso, oferta e
gestão da informação, em qualquer suporte ou formato;
• Contribuir e colaborar com os poderes constituídos, em âmbito
federal, estadual e municipal, na elaboração e implantação de
políticas públicas que visem à expansão e fortalecimento do
setor de informação, e na defesa permanente dos serviços que
compõem o setor de informação;
• Contribuir para identificar e formular as competências
necessárias à formação e ao exercício profissional em nível
de excelência;
• Contribuir para a adoção de medidas de defesa e preservação
do patrimônio cultural nacional, material e imaterial em qualquer
suporte e em qualquer formato;
• Implantar e defender, em seu âmbito de ação, iniciativas de
apoio e defesa dos direitos civis, em particular as liberdades
de expressão e comunicação e de acesso à informação, com
especial atenção às pessoas com necessidades especiais, e
contra todas as formas de discriminação individual ou social;

103
Biblioteconomia, legislação e normas

• Organizar e editar livros, manuais, diretrizes e normas de


trabalho e procedimentos, bem como publicações periódicas;
• Contribuir para a proteção da propriedade intelectual e dos
direitos de autor;
• Colaborar com diferentes instituições para a realização de
estudos e pesquisas que contribuam para o desenvolvimento
do setor de informação;
• Participar de atividades que contribuam para proporcionar
à sociedade o mais amplo acesso à educação, à cultura e à
informação;
• Realizar atividades de capacitação e educação continuada,
como encontros, conferências, seminários, cursos, congressos
e quaisquer outras atividades de alcance coletivo, presenciais
ou virtuais, que contribuam para o exercício profissional e
o aperfeiçoamento técnico e cultural dos profissionais da
informação;
• Manter relações com instituições e associações correlatas do
país e do exterior;
• Coletar, organizar, gerir e difundir por quaisquer meio
informações relevantes ao desenvolvimento profissional e às
atividades das instituições do setor de informação.

3.2.5 IFLA – Federação Internacional


de Associações e Instituições
Bibliotecárias
A Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias – IFLA
– (International Federation of Library Associations and Institutions) foi fundada
em 1927, em Edimburgo, Escócia. Sua função é a promoção e cooperação
internacional na área de Biblioteconomia. O debate e a investigação em todos os
campos de atuação bibliotecária, além de compartilhar suas descobertas, visa ao
bem de toda a Biblioteconomia. Representa os interesses das bibliotecas e outras
unidades informacionais, bem como seus usuários (IFLA, 2020).

Possui, em 2020, mais de 1.500 membros em mais de 150 países ao redor


do mundo. Entre as vantagens de ser afiliado à IFLA estão:

• Construir redes profissionais internacionais.


• Receber o Relatório Anual da IFLA, o Diário da IFLA e descontos em
várias publicações da IFLA.
• A possibilidade de ajudar a definir a agenda profissional
internacionalmente.
• Juntar-se a seções profissionais.

Outra vantagem desse tipo de associação é que, como bibliotecário ou


especialista em informações, você pode querer estabelecer contatos internacionais
104
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

para aprofundar ou avaliar sua prática diária. Ou ainda, pode ampliar seu horizonte
contribuindo para o trabalho da biblioteca em sua área de trabalho específica em
nível internacional.

Conheça mais sobre a IFLA acessando o link: https://www.ifla.org/.

3.3 SINDICATOS DE BIBLIOTECÁRIOS


Os sindicatos são associações de trabalhadores que se constituem para
defender os interesses sociais, econômicos e profissionais de uma determinada
categoria. Trata-se de organizações democráticas que se encarregam de negociar
as condições de contratação com as entidades patronais.

Vimos nos tópicos anteriores, que existem diversas associações que debatem
temas importantes e são suporte para classe bibliotecária, mas nenhuma delas
pode interferir no aspecto salarial, sendo esta uma das principais funções do
sindicato. Ou seja, as representações para a defesa dos interesses trabalhistas
dos bibliotecários cabem aos sindicatos.

Para melhor compreender como os sindicatos de bibliotecários


surgiram e se desenvolveram no Brasil, sugerimos a leitura do artigo
Sindicatos de bibliotecários: história e atuação, de Spudeit e Führ
(2011).
• SPUDEIT, D.; FÜHR A. Sindicatos de bibliotecários: história
e atuação. TransInformação, Campinas, 23(3):235-249, set./dez.,
2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/tinf/v23n3/a06v23n3.
pdf. Acesso em: 20 mar. 2020.

105
Biblioteconomia, legislação e normas

Segundo Spudeit e Führ (2011), o debate sobre a necessidade de sindicatos


de Bibliotecários inicia na década de 1970, por Laura Russo, então Presidente da
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e
Instituições. Porém, somente em julho de 1982 foi criada uma comissão, chamada
Assessoria de Valorização e Divulgação Profissional, vinculado à FEBAB para
fazer um estudo de viabilidade sobre a sindicalização da profissão. O resultado de
tal estudo foi apresentado durante o XII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia
e Documentação, e sustentava a necessidade da criação de sindicatos.

Contam as autoras, com base em sua pesquisa bibliográfica, que para a


criação de sindicados era necessário primeiro formar uma associação profissional,
exigência do regime militar. E que, somente após conseguir registro no Ministério
do Trabalho, a Associação poderia ser transformada em Sindicato (SPUDEIT;
FÜHR, 2011).

Os principais sindicatos de Bibliotecários, que ainda hoje estão em


funcionamento, são SIMBIESP de SP, SINDIB do RJ e o SINDIB do PR. Estes
foram criados entre as décadas de 1980 e 1990. Destacam-se outras experiências
que depois de um tempo foram desativadas, como o Sindicato de Bibliotecários da
Bahia e o Sindibiblio de SC. Os principais problemas para o encerramento destes
dois e a ampliação de sindicatos em outros estados brasileiros são a burocracia e
a mobilização dos bibliotecários para participação dos processos sindicais.

Mas, recentemente, o SIMBIESP propôs a criação de um sindicato nacional,


englobando também outros profissionais. Este movimento, por sua vez, ainda não
foi concluído em 2020. Veja a notícia sobre o movimento.

SINDICATO NACIONAL DOS BIBLIOTECÁRIOS

SINDICATO NACIONAL DOS BIBLIOTECÁRIOS, CIENTISTAS DA


INFORMAÇÃO, HISTORIADORES, MUSEÓLOGOS, DOCUMENTALISTAS,
ARQUIVISTAS, AUXILIARES DE BIBLIOTECA E DE CENTROS DE
DOCUMENTAÇÃO.
  
Prezados Colegas e demais profissionais da informação do Brasil,
  
No dia 18 de junho próximo, estaremos realizando nossa assembleia anual,
quando iremos discutir e aprovar a pauta de reivindicações, pleiteadas por nós
- profissionais da informação - junto aos nossos empregadores, sejam estes do
setor público, privado ou de qualquer segmento do mercado de trabalho. É que
a nossa categoria profissional, além de LIBERAL, é DIFERENCIADA, pois está
regulamentada em lei.

106
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

Neste ano entrará em pauta uma proposta já há muito tempo sonhada,


que é a criação de um SINDICATO NACIONAL DOS PROFISSIONAIS DA
INFORMAÇÃO, contemplando todos aqueles que trabalham de forma direta
ou indiretamente com a informação organizada, que são os bibliotecários,
documentalistas, historiadores, museólogos, arquivistas, cientistas da
informação, auxiliares de biblioteca, arquivos, museus e centros de
documentação em qualquer segmento de atividades.

Em todos esses anos que estamos à frente do SINBIESP, procuramos cada


vez mais ampliá-lo, aperfeiçoá-lo e modernizá-lo, dando cobertura e legalizando
as condições do exercício da profissão, que até então estavam à deriva do
mercado de trabalho, sendo que temos uma legislação trabalhista a nosso favor,
mas que para isto necessitava de uma entidade sindical para implementar todas
essas ações. 

A entidade sindical é formada pela união dos profissionais interessados em


criar condições e negociar o valor de seu conhecimento e mão de obra, ou seja,
seu “know how”.

No passado alguns colegas se arriscaram e criaram o sindicato, em plena


ditadura, época em que o Ministério do Trabalho (MT) exigia primeiramente a
formação de uma Associação Profissional da categoria,  então  depois de um
ano era solicitado ao MT o registro do sindicato da categoria, cujo estatuto era
fornecido pelo próprio MT. 

A partir da nova constituição em 1988, tudo isto acabou e as entidades


sindicais são independentes, com seus estatutos próprios e sustentados e
administrados pela própria categoria. Desde aquela época, os bibliotecários
almejam a criação de uma federação nacional de bibliotecários. Para isso e pela
legislação que rege os sindicatos, federações e confederações, a lei exige que
haja 05 (cinco) sindicatos estaduais, o que infelizmente não aconteceu. 

Há sindicato na Bahia (inativo), Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo. 

Para atender e dar o devido respaldo a todos os profissionais da informação


do Brasil, é que estamos propondo a criação de um SINDICATO NACIONAL
DE PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO.  Para dar dignidade e exigir respeito a
esses profissionais.

Somos cônscios de que o mercado, principalmente os governos e


mantenedoras, não valorizam o  conhecimento desses profissionais. Em todos

107
Biblioteconomia, legislação e normas

esses anos de atividades do SINBIESP, recebemos dezenas de solicitações de


profissionais para intervir junto a seus empregadores de fora do estado de SP,
para no mínimo serem remunerados com o nosso piso salarial.

E, por tantos outros motivos, somos procurados por este Brasil afora.

Isso  nos faz caminhar para uma luta conjunta no sentido de formar um
SINDICATO NACIONAL fortalecido que nos represente em todo território
nacional, principalmente nas regiões mais  longínquas  dos grandes centros
urbanos, que tanto necessitam de apoio e incentivo para o desempenho de seus
trabalhos. Dessa forma, unidos em torno de um objetivo comum, certamente
terão mais força as reivindicações dos profissionais da informação.

Contamos com a sua prestigiosa colaboração, no sentido de compactuar


com a ideia e vir participar da nossa assembleia ou, na impossibilidade, de ao
menos nos enviar a procuração anexa, de modo a atendermos o quórum legal.

Pedimos ainda que espalhe a notícia entre seus colegas, angariando mais
procurações. Quanto mais documentos tivermos, mais rapidamente teremos a
oportunidade de formar nosso sindicato nacional, propiciando a negociação de
um piso salarial nacional e uma convenção coletiva de trabalho válida para todo o
Brasil nos Estados que não têm sindicatos que represente a categoria.

Contamos com seu apoio e divulgação dessa assembleia, para realmente


termos uma vida muito mais DIGNA E CIVILIZADA.
 
Forte abraço,
Vera Stefanov
Presidente SINBIESP

FONTE: <http://www.sinbiesp.org.br/index.php/noticias/158-sindicato-nacional-
dos-bibliotecarios>. Acesso em: 27 jul. 2020.

Sobre o movimento sindical é importante os profissionais acompanharem e


se engajarem, para fortalecimento da classe bibliotecária e a garantia de melhores
salários.

3.4 OUTROS ÓRGÃOS DE DESTAQUE


Além das instituições citadas, há outras que são importantes para as atividades
biblioteconômicas e da ciência da informação. Destacamos algumas a seguir.

108
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

3.4.1 Instituto Brasileiro de


Informação em Ciência e Tecnologia
O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT – não
é exatamente uma instituição biblioteconômica, mas é muito importante para
os pesquisadores e para profissionais da informação. É o órgão que coordena
as informações relacionadas à ciência e tecnologia no país. É responsável pela
atribuição do ISSN, o número internacional normalizado para as publicações
seriadas (é um código de todas as publicações seriadas, como revistas e
periódicos científicos precisam ter).

Administra também o programa de comutação bibliográfica – COMUT. Por


meio desse programa, é possível obter cópias de artigos e outros documentos
científicos do acervo das bibliotecas que fazem parte desse programa. O
IBICT disponibiliza uma biblioteca digital com teses e dissertações brasileiras,
fornecendo o texto integral de forma gratuita, além de outros serviços que são
muito importantes para o bibliotecário, principalmente o que atua em instituições
de ensino e pesquisa.

FIGURA 11 – BIBLIOTECA DIGITAL DO IBICT

FONTE: <http://bdtd.ibict.br/vufind/>. Acesso em: 27 jul. 2020.

3.4.2 Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
– é um órgão vinculado ao Ministério da Educação e trabalha no fortalecimento

109
Biblioteconomia, legislação e normas

da pós-graduação (mestrado e doutorado) no país. Dentre os seus serviços


está o portal de periódicos da Capes. Esse portal disponibiliza, mediante alguns
critérios, para as instituições de ensino, sobretudo, bases de dados, periódicos e
artigos da produção científica publicada no mundo inteiro. É uma fonte riquíssima
de pesquisa, com confiabilidade total dos dados e informações que lá estão
publicadas (CAPES, 2020).

FIGURA 12 – PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES

FONTE: <https://www.periodicos.capes.gov.br/>. Acesso em: 27 jul. 2020.

1) O Conselho Federal de Biblioteconomia é uma autarquia e


um órgão deliberativo federal de fiscalização. Já os Conselhos
Regionais têm por objetivo primário fiscalizar o exercício da profissão
de Bibliotecário e suas atribuições e prezar pelo cumprimento da
legislação pertinente no âmbito do estado ao qual estão relacionados.
Também existem diversos tipos de associações de Bibliotecários,
além de confederações e sindicatos. Em qual deles o Bibliotecário,
depois de formado, é obrigado a se registrar para exercer a
profissão? Por quê?

110
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, você pôde perceber a importância da regulamentação
profissional tanto para assegurar o exercício profissional de pessoas qualificadas
e habilitadas para tal, quanto para assegurar e defender os interesses da
comunidade e dos cidadãos, que procuram atendimento especializado na área de
Biblioteconomia.

Você também viu que em 1998, as Diretrizes Curriculares do Ministério da


Educação passaram a atribuir às instituições de ensino a responsabilidade de
definir o currículo na área de Biblioteconomia.

Conheceu o papel do Conselho Federal de Biblioteconomia – CFB, bem


como dos 14 Conselhos Estaduais, CRBs. Viu que os conselhos são autarquias,
órgãos deliberativos de fiscalização que atuam no exercício de fiscalização das
atividades profissionais relacionadas à profissão do  bibliotecário. Tendo como
principal função a fiscalização e o exercício da profissão de Bibliotecário e
suas atribuições. Suas finalidades são: deliberativas, administrativa, consultiva,
disciplinar e contenciosa.

Já as associações de Bibliotecários existem em 16 estados brasileiros. São


organizações de cunho científico, profissional e organizacional, criadas com o
intuito de auxiliar os profissionais e organizações com atividades que agreguem
valor à formação intelectual, como cursos, oficinas, palestras, congressos e
jornadas, encontros, simpósios, aperfeiçoamentos, especializações, entre outras.

Também estudou que existem outras associações, como a Federação


Brasileira de Associação de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições
– FEBAB, que é constituída por entidades-membro – associações de bibliotecários
e cientistas da informação, instituições filiadas. Ou ainda, a Associação Brasileira
de Ensino de Biblioteconomia e Documentação ABECIN. Ambas têm atuação
importante para fortalecer o currículo escolar e especialização do profissional
bibliotecário.

Já a Associação Brasileira de Profissionais da Informação – ABRAINFO, que


também tem a função de promover trabalhos dos profissionais da informação,
trata-se de uma associação nacional, ou seja, qualquer profissional da grande
área de ciência da informação, principalmente Bibliotecários, Arquivistas e
Museólogos, de qualquer região do Brasil, pode se filiar à associação.

Em nível internacional, temos a Federação Internacional de Associações


e Instituições Bibliotecárias – IFLA. Sua função é a promoção e cooperação

111
Biblioteconomia, legislação e normas

internacional na área de Biblioteconomia. O debate e a investigação em todos os


campos de atuação bibliotecária, além de compartilhar suas descobertas, visa ao
bem de toda a Biblioteconomia. Representa os interesses das bibliotecas e outras
unidades informacionais, bem como seus usuários.

Os sindicatos se constituem para defender os interesses sociais, econômicos


e profissionais de uma determinada categoria. Trata-se de organizações
democráticas que se encarregam de negociar as condições de contratação dos
Bibliotecários com as entidades patronais. Ou seja, as representações para a
defesa dos interesses trabalhistas dos bibliotecários cabem aos sindicatos.

REFERÊNCIAS
ABECIN – Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação.
Histórico. 2020. Disponível em: http://www.abecin.org.br/. Acesso em: 20 maio
2020.

ABRAINFO – Associação Brasileira de Profissionais da Informação. Histórico.


2020. Disponível em: http://abrainfo.org.br/novo/. Acesso em: 20 maio 2020.

ACB. Revista ACB. 2020. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/about/


editorialPolicies. Acesso em: 20 mar. 2020.

ALMEIDA, N. B. F. de. Biblioteconomia no Brasil: análise dos fatos históricos


da criação e do desenvolvimento do ensino. 161 f. Dissertação (Mestrado em
Ciência da Informação) – Faculdade de Ciência da Informação, Brasília, 2012.

ALMEIDA, N. B. F. de; BAPTISTA, S. G. Breve histórico da Biblioteconomia


brasileira: formação do profissional. In: Congresso Brasileiro de Biblioteconomia,
Documento e Ciência da Informação, 25. Florianópolis, SC, Anais...Florianópolis,
SC, Brasil, 07 a 10 de julho de 2013.

BARROS, M. História da Biblioteconomia. Bibliotecários sem Fronteiras, 2009.


Disponível em: https://bsf.org.br/2009/02/08/historia-da-biblioteconomia/. Acesso
em: 20 mar. 2020.

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Manuel Cícero Peregrino da Silva: 1866-


1966. Rio de Janeiro: Seção de Exposições, 1966. 22 p. Disponível em: http://
objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon1285806.pdf. Acesso em: 12
maio 2020.

112
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Cinquenta anos de Biblioteconomia: 1915-


1965. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1965. Catálogo de
Exposição. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/
icon1285846.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020.

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Exposição comemorativa: 1810-1960:


sesquicentenário. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1960. 49 p., [5] f. de
estampas, il, 24 cm. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_
obrasgerais/drg693640.pdf. Acesso em: 12 maio 2020.

BRASIL. Lei nº 13.601, de 9 de janeiro de 2018. Regulamenta o exercício da


profissão de Técnico em Biblioteconomia. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13601.htm. Acesso em: 20 maio 2020.

BRASIL. Lei 12.244/2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas


instituições de ensino do País. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm. Acesso em: 25 jun. 2020.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais específicas para o ensino de


Biblioteconomia foram estabelecidas em 2001. Parecer CNE/CES 492/2001
do Conselho Nacional de Educação/Câmara Superior de Educação. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf. Acesso em: 20 abr.
2020.

BRASIL. Lei nº 9.674, de 25 de junho de 1998. Dispõe sobre o exercício da


profissão de Bibliotecário e determina outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9674.htm. Acesso em: 20 abr. 2020.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf. Acesso em: 13 abr. 2020.

BRASIL. Decreto n. 56.725, de 16 de agosto de 1965. Regulamenta a Lei n.


4084, de 30 de junho de 1962, que dispõe sobre o exercício da profissão de
Bibliotecário. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19
ago.1965.

BRASIL. Lei n. 4084, de 30 de junho de 1962. Dispõe sobre a profissão de


bibliotecário e regula seu exercício. Presidência da República. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4084.htm. Acesso em: 20
abr. 2020.

113
Biblioteconomia, legislação e normas

BRASIL. Decreto n. 15.395, de 27 de abril de 1944: Aprova o Regulamento


dos Cursos da Biblioteca Nacional. Diário Oficial da União, 02 maio 1944.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-
15395-27-abril-1944327098-norma-pe.html. Acesso em: 20 abr. 2020.

BRASIL. Decreto n. 5452, de 01de maio de 1943: Aprova a consolidação das


leis do trabalho. Coordenação de Estudos Legislativos, 01 maio 1943. Disponível
em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/381980.pdf. Acesso em: 20 abr.
2020.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.166, de 06 de maio de 1940a. Desdobra as carreiras


de Bibliotecário, que especifica, nas de Bibliotecário e Bibliotecário-Auxiliar, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, 7 jun. 1940. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2166-6-maio-
1940412203-publicacaooriginal-70726-pe.html. Acesso em: 20 abr. 2020.

BRASIL. Decreto-Lei nº 6.416, de 30 de outubro de 1940b. Regulamenta o art.


3º do Decreto-lei n. 2166, de 6 de maio de 1940 e instituiu o curso. Disponível
em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-6416-30-
outubro-1940-327499-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 20 mar. 2020.

BRASIL. Decreto n. 20.673, de 17 de novembro de 1931: Restabelece, na


Biblioteca Nacional, o curso de biblioteconomia e dá outras providências.
Diário Oficial da União, 20 nov. 1931. Disponível em: http://www2.camara.
leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto20673-17-novembro-1931-517368-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 20 abr. 2020.

BRASIL. Decreto nº 15.596, de 02 de outubro de 1922: Crêa o Museu Histórico


Nacional e aprova o seu regulamento. Diário Oficial da União, 16 out. 1922.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-
15596-2-agosto-1922-568204-publicacaooriginal-91597-pe.html. Acesso em: 20
abr. 2020.

BRASIL. Decreto n. 15.670, de 06 de setembro de 1922: Approva o regulamento


para a Bibliotheca Nacional. Diário Oficial da União, 07 out. 1922. Disponível
em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-15670-6-
setembro-1922517434-norma-pe.html. Acesso em: 20 abr. 2020.

BRASIL. Decreto n. 8.835, de 11 de julho de 1911: Aprova o regulamento da


Bibliotheca Nacional. Diário Oficial da União, 16 jul. 1911. Disponível em: http://
www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-8835-11-julho-1911-
502890republicacao-102224-pe.html. Acesso em: 13 abr. 2020.

114
Capítulo 2 A Formação E Atuação Do Bibliotecário No Brasil

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.


Portal de Periódicos da Capes. 2020. Disponível em: https://www.capes.gov.br/.
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CARVALHO, J. Órgãos de classe: constituições no campo da CI,


biblioteconomia, arquivologia e museologia. 2016. Disponível em: http://biblioo.
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CASTRO, C. A. História da Biblioteconomia Brasileira: perspectiva histórica.


Brasília, DF: Thesaurus, 2000.

CASTRO, E. de O. S. O mercado de trabalho do bibliotecário em Sergipe,


São Cristovão/SE. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
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para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.
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CFB – CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Histórico. 2020.


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CFB – Conselho Federal de Biblioteconomia. Bibliotecários 50 anos de


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Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/Livro%2050%20anos%20
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IBICT. Histórico, 2020. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/. Acesso em: 20


maio 2020.

115
Biblioteconomia, legislação e normas

IFLA – Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias.


Sobre a IFLA. Disponível em: https://www.ifla.org/about. Acesso em: 15 mar.
2020.

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projeto pedagógico. 2010. Disponível em: https://www.capes.gov.br/images/
stories/download/editais/GraduacaoBiblioteconomiaEAD_ProjetoPedagogico.pdf.
Acesso em: 25 jun. 2020.

MULLER, S. P. O ensino de biblioteconomia no Brasil. Ci. Inf. Brasília, v. 14, n.


3, 1985.

PINTO, E. M. História do ensino de biblioteconomia no Brasil: da Fundação


na Biblioteca Nacional à criação na Universidade de Brasília. Monografia de
Biblioteconomia. Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de
Brasília. 2015.

RASCHE, F. Questões éticas para bibliotecários. Enc. Bibli: R. Eletr.


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ROZADOS. H. B. F. O bibliotecário brasileiro e a formação continuada: a


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RUSSO, L. G. M. A Biblioteconomia brasileira: Rio de Janeiro: INL, 1966. 357


p.

SOUZA, F. das C. de. Modernização e Biblioteconomia nova no Brasil.


Florianópolis: NUP, 2003.

SPUDEIT, D.; FÜHR A. Sindicatos de bibliotecários: história e atuação.


TransInformação, Campinas, 23(3):235-249, set./dez., 2011. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/tinf/v23n3/a06v23n3.pdf Acesso em: 20 mar. 2020.

116
C APÍTULO 3
Aspectos Éticos Na Formação Do
Bibliotecário

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• entender o contexto histórico sobre Ética e Moral e Deontologia;


• conhecer o histórico sobre código de ética profissional;
• relacionar as questões éticas com o fazer da Biblioteconomia;
• saber respeitar os aspectos éticos na área da Biblioteconomia.
Biblioteconomia, legislação e normas

118
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A ética relacionada às profissões é um tema importante e perpassa todas
as áreas do conhecimento. Ressaltamos que tal tema não é tão simples quanto
possa parecer, principalmente devido a extensão de sua abrangência, bem como
pela diversidade de suas perspectivas teóricas, que apresentam complexidades e
especificidades

Estudar ética não torna ninguém mais ético, mas pode propiciar uma
mudança no olhar do sujeito com o mundo. O sujeito ético pode ser considerado
aquele indivíduo que traz em sua bagagem conceitual, uma educação moral e
social que permite ingressar no mercado de trabalho com comprometimento e
senso de equidade, capaz de torná-lo singular em seu meio.

FIGURA 1 – QUESTÕES ÉTICAS, CERTO OU ERRADO

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-
que-etica.htm>. Acesso em: 3 ago. 2020.

Para Negreiros (2019), a ética precisa ser fortalecida, principalmente em um


mundo onde vimos diversos escândalos de corrupção que assolam as instituições
e a sociedade como um todo, sendo preciso discutir a formação do indivíduo a
partir da ética possibilitando uma formação de cidadãos éticos de forma plena.

Como outras áreas do conhecimento, na Biblioteconomia também debatemos


os aspectos éticos da profissão, e vimos o profissional da informação como uma
peça central e fundamental nesse sistema social em busca da ética.

Veremos que o tema ‘ética na profissão’ ganha corpo na década de 1960, e,


posteriormente, torna-se matéria obrigatória nas grades curriculares dos cursos.

119
Biblioteconomia, legislação e normas

Para conhecer essa trajetória na área de Biblioteconomia, iniciaremos


trazendo aspectos históricos e conceituais sobre ética. Posteriormente, traremos
as etapas desse debate na área e, por fim, apresentaremos o código de ética mais
atual, aprovado em 2018. Esse caminho pode visualizado na ilustração a seguir:

FIGURA 2 – PERCURSO TEÓRICO

FONTE: A autora

2 ÉTICA: CONCEITOS GERAIS


Para iniciarmos nossas reflexões acerca da ética, buscamos alguns conceitos
introdutórios. Primeiramente, destacamos que a ética é um ramo da filosofia e que
a sua raiz etimológica deriva da palavra grega êthos, que quer dizer “caráter”.
Ela era utilizada para representar os modos de agir de uma pessoa, ou seja,
suas ações e comportamentos. Uma variante de êthos era a palavra éthos, que
significa “costume” e pode ser aplicada a uma sociedade. O termo latino que
designa éthos é moris, de onde é retirada a palavra moral (PLÁCIDO, 2000).

A ética, como expressão única do pensamento correto, conduz à ideia da


universalidade moral, ou ainda, à forma ideal universal do comportamento
humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento normal e sadio
(PLÁCIDO, 2000).

ÉTICA: Considerada ciência, avalia a conduta humana perante


o ser e os seus semelhantes, uma vez que confronta o desempenho
humano em relação às normas comportamentais estabelecidas num
dado contexto social.

Ao analisar a ética, recorre-se a dois aspectos importantes sob os quais ela


tem sido aceita. Segundo Sá (2001), a ética, na análise da conduta humana, leva

120
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

em consideração os meios que devem ser empregados para que essa conduta
seja sempre revertida em benefício do homem, cuidando das formas ideais de
ação humana. Ou seja, busca a essência do ser, assim como conexões entre
o material e o espiritual. O outro enfoque é mais objetivo e busca modelos de
conduta convenientes aos seres humanos, de maneira que guiem uma estrutura
normativa.

Para introduzir esse debate, sugerimos o vídeo e a reflexão


de Mario Sergio Cortella, que fala sobre a ética e direitos humanos.
Acesse https://youtu.be/vDzjSoIwKQc e assista!

Abbagnano (1982) apresenta duas perspectivas para esclarecer ética.


Uma delas situa-se sob o ponto de vista de uma ciência do móvel da conduta
humana que procura dirigir ou disciplinar essa conduta. Já a segunda perspectiva
consiste na ética como ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve
ser orientada, inclusive os meios para atingir tal fim. Para Pizarro (2010), essa
duplicidade de enfoques para o entendimento ético é alvo de críticas por parte de
alguns estudiosos, uma vez que estes autores consideram que ambos aspectos
fazem parte de uma coisa só.

Compreender ética significa distingui-la de moral, embora estes sejam


termos relacionados, muitos autores contemporâneos consideram os termos ética
e moral distintos. Basicamente, podemos distinguir da seguinte maneira:

121
Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE CULTURA E MORAL

FONTE: A autora

Alguns elementos da sociedade influenciam a moral, como:

• A religião.
• O modo de vida da sociedade.
• O acesso que essa sociedade tem à informação.
• O uso que as pessoas de determinado recorte social fazem da
informação. Normalmente, é exposta sobre preceitos e, muitas vezes,
expressa como normas de proibição e permissão.

A MORAL é uma espécie de norma de conduta social que indica algo que é
certo ou errado naquela sociedade. Ou seja, devido ao caráter cultural e subjetivo
da moral, algo que é permitido em uma determinada moral, pode ser proibido em
outra.

FIGURA 4 – MORAL

FONTE: <https://www.tecconcursos.com.br/blog/etica-e-
moral-fundamentos/>. Acesso em: 8 ago. 2020.

122
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Por isso, segundo Porfírio (2020), podemos dizer que ética é uma espécie de
“filosofia moral”. Moral é, por sua vez, o costume ou hábito de um povo, de uma
sociedade, ou seja, de determinados povos em tempos determinados.

Destacamos que a moral muda constantemente, pois os hábitos sociais


são renovados periodicamente e de acordo com o local em que são observados.

Veja no quadro a seguir, outras características da ética e da moral:

QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA E DA MORAL

ÉTICA MORAL
É princípio É conduta específica
É permanente É temporal
É universal É cultural
É regra É conduta da regra
É teoria É prática
É reflexão É ação
Trata do bem / mal Trata do certo e errado
Aético = ausência de ética Amoral = ausência de moral
Antiético = contrário à ética Imoral = contrário à moral
FONTE: Adaptado de Oka (2000)

Para Oka (2000), a ética envolve a preocupação sobre as consequências


da ação de um ou mais indivíduos sobre outras pessoas. Em todas as situações,
a ética visa pensar sobre o eu e a relação com o outro. A seguir, confira alguns
exemplos de comportamentos que podem ser considerados éticos, apresentados
por Oka (2000):

• Um psicólogo clínico não comenta sobre os casos de seus pacientes


com terceiros (porque sua conduta profissional é manter uma relação de
confiança com os clientes).
• Uma médica decide cobrar um valor mais baixo pela consulta para
pacientes com baixa renda (porque ela entende que o maior número de
pessoas deve ter acesso à saúde).
• Uma mulher não fura a fila do banco (porque ela não quer ser injusta
com outras pessoas que estão esperando por mais tempo).
• Um pai prepara uma festa de aniversário para seu filho (porque ele havia

123
Biblioteconomia, legislação e normas

prometido ao menino uma comemoração).


• Um dono de uma loja não vende produtos falsificados a seus clientes
(porque preza pela sua qualidade e confiabilidade).
• Uma pessoa heterossexual impede uma agressão homofóbica ou reage
a um xingamento (porque ela é contra a homofobia e defende uma
sociedade igualitária).

E nos casos da área de Biblioteconomia? Que exemplos éticos podemos


destacar? Vejamos:

• Igualdade no atendimento, indiferente de credo, aparência, gênero ou


cor da pele.
• Não esconder livros para que outros não tenham acesso.
• Cuidados com direitos autorais.
• Cuidados com sigilo de documentos institucionais.
• Divulgação de informações somente com fonte segura.

Mas antes de avançarmos, vejamos um pouco mais sobre o contexto


histórico sobre ética.

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉTICA


Historicamente, a ética sempre vem sendo debatida e orientada pelas
religiões e pelo exercício da razão. No século VI a.C., período marcado pela
Filosofia como o da “razão crítica”, os códigos éticos universais adquiriram
contornos mais evidentes. Segundo Gomes (2009), teve-se um esforço de
autorreflexão da sociedade humana, emergindo teses de grandes filósofos como
Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Hegel,
Kant, Nietzsche, Heidegger, Habermas, entre outros, que enriqueceram o debate
acerca da ética.

Veremos agora um pouco sobre esses pensadores.

2.1.1 Ética Socrática


O termo vem do pensador e filósofo Sócrates, que viveu em Atenas, na
Grécia Antiga. Ética Socrática é caracterizada por bom caráter e valores morais. A
posição ética de Sócrates argumenta que o homem não é mau, mas é ignorante.
Esse ponto de vista é chamado de "intelectualismo moral" e afirma que a virtude
pode ser conhecida e, acima de tudo, pode ser ensinada, no princípio do "eu".

124
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Dessa forma, Sócrates dava início ao pensamento “Conhece a ti mesmo”, e


entendia que “o homem sábio é necessariamente bom, e o homem malvado é
necessariamente ignorante, o sábio nunca faz o mal voluntariamente e somente o
homem virtuoso é verdadeiramente feliz” (VAZ, 1996, p. 96). Nessa direção, essa
ética estabelece uma relação da virtude com o saber, priorizando o uso da razão
para a prática da virtude.

FIGURA 5 – A MORTE DE SÓCRATES”, POR JACQUES-LOUIS DAVID (1787)

FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/filosofia/socrates>. Acesso em: 7 ago. 2020.

2.1.2 Ética Platônica


O termo vem do filósofo e matemático Platão, que também viveu na Grécia
Antiga. Deve ter por base a ideia da ordem ou da justa proporção que consiste em
equilibrar elementos diversos que desemboquem no mesmo fim. Por exemplo, a
justa medida entre o prazer e a inteligência, é por meio desse equilíbrio que as
ações humanas atingem o bem. O bem na concepção platônica não são as coisas
materiais, mas tudo aquilo que permita o engrandecimento da alma, por isso ele
ensina que o homem deve desprezar os prazeres, as riquezas e as honras em
vista da prática das virtudes (NEGREIROS, 2019).

125
Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA 6 – PLATÃO

FONTE: <https://www.pensarcontemporaneo.com/3637-2/>. Acesso em: 7 ago. 2020.

2.1.3 Ética Aristotélica


O termo vem de Aristóteles, filósofo grego, aluno de Platão e, posteriormente,
professor de Alexandre, o Grande. Consiste no Imperativo Hipotético, onde visa a
um fim, no qual é a felicidade. Segundo Tugendhat (1996), Aristóteles denominava
ética as suas investigações teórico-morais, sendo estas, relativas ao “éthos”, ou
seja, às propriedades do caráter, boas e más, virtudes e vícios. No caso da ética,
o pensamento de Aristóteles é um prolongamento da ética socrático-platônica, no
entanto, convém afirmar que Aristóteles adota uma postura crítica perante esse
ensinamento, repensando-o. A doutrina aristotélica consiste na busca do bem
como um fim em si mesmo, o que geraria no ser racional, o estado de autor-
realização ou autossatisfação designado pelo termo eudaimonia (felicidade). A
ética aristotélica, então, baseia-se no eudemonismo e entende que é “a posse do
bem objetivamente melhor para o agente, capaz de proporcionar-lhe o viver bem
(eu zen) e o agir bem (eu prattein)” (VAZ, 1999, p. 119).

Está gostando de conhecer mais sobre a ética? Nada melhor


que ler diretamente da fonte, um clássico de Aristóteles. Indicamos o
livro Ética a Nicómaco.

FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn%3AANd9GcRQjCL0Oxpu0MIst6XZJLYuLS2mkmxZ72C8EQ&usqp=CAU>.
Acesso em: 7 ago. 2020.

126
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Chalita (2003), baseando-se na Ética a Nicômacos, de Aristóteles, propõe


a observância de preceitos que chama de “Dez mandamentos da ética”, que
ilustramos a seguir.

FIGURA 7 – OS DEZ MANDAMENTOS DA ÉTICA

FONTE: Adaptada de Chalita (2003)

Segundo Chalita (2003), o exercício de tais preceitos leva a uma vida


harmoniosa, a uma vida ética na qual “a vitória conquistada pelo bem é fazer o
bem, e a recompensa por agir eticamente é ser ético” (CHALITA, 2003, p. 199).

2.2 ÉTICA NA IDADE MÉDIA


Em relação à ética na Idade Média, destacamos duas fases:

127
Biblioteconomia, legislação e normas

QUADRO 2 – DUAS FASES EM RELAÇÃO À ÉTICA NA IDADE MÉDIA

FONTE: Adaptado de Vaz (1999)

Também destacamos Espinoza (1632-1677), que segundo Pedro (2013), foi


um filósofo racional, cuja obra fundamental, Ética (1677), constituiu-se na síntese
do seu pensamento ontológico, epistemológico, antropológico e ético. Espinoza
é do período conhecido como Renascimento, que surge com um carácter
profundamente inovador e revolucionário, face a sua época, que apesar de se
assistir ao emergir de uma nova sensibilidade científica e filosófica, ainda era
profundamente marcada por um espírito de religiosidade fortemente acentuado.

Pedro (2013) explica que Espinoza não construiu o seu sistema filosófico em
resposta à religiosidade cristã, tentando provar a existência de Deus, como era
prática entre os filósofos da época. Mas preferiu erigir, antes, um pensamento que
tivesse em consideração a realidade humana.

Para Filho (2010), Espinoza rompeu os preconceitos com a crença de que o


sujeito é senhor das suas determinações e substitui na Ética a postura moralista
pela de cientista natural. Neste contexto, os afetos ganham status, pois não são
de modo algum, neutros. Afinal, o desejo, a alegria, a tristeza, o amor, o ódio e
todos os afetos que colorem nossa existência, possuem causas determinantes e
efeitos necessários dignos de conhecimento.

A Ética ou Ética demonstrada à maneira dos geômetras (em latim: Ethica,


ordine geometrico demonstrata), geralmente referida apenas como Ética
de Espinoza, é considerada a principal obra do filósofo holandês de origem
portuguesa Baruch Espinoza. Foi publicada postumamente, em 1677, ano da
morte do autor.
128
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

FIGURA 8 – ÉTICA

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_(Espinoza)#/
media/Ficheiro:Spinoza_Ethica.jpg>. Acesso em: 8 ago. 2020.

Desde a sua publicação inicial, a Ética de Espinoza tem influenciado o


pensamento e as obras de inúmeros grandes filósofos posteriores até ao presente.

Observa-se que Espinoza sofreu acusações de ser ateu e outros criticismos,


principalmente por suas indagações sobre a natureza de Deus. Entretanto, a
Ética e as ideias de Espinoza, em geral, tiveram um papel importante na filosofia
europeia subsequente, inspirando Hegel, Johann Fichte, Friedrich von Schelling,
os empiristas John Locke e David Hume, e pensadores do século XIX e XX, como
Ernst Mach, William James, Bertrand Russell, entre vários outros.

Para entender melhor a ética de Espinoza, assista ao vídeo de


Mateus Salvadori, no link: https://www.youtube.com/watch?v=tNfmB-
lyLvM.

Com o renascimento, destaca-se a passagem de uma ética cristã medieval


para uma ética moderna ou formal, caracterizada pelo iluminismo e pelo
humanismo. Mediante esse contexto, dá-se o início da modernidade, em que
emerge a concepção de uma nova forma de razão e um novo estilo de prática
racional (PIZARRO, 2010).

129
Biblioteconomia, legislação e normas

2.2.1 Ética na modernidade


Em relação às concepções éticas na modernidade, destaca-se o pensamento
de Jean Jacques Rousseau, para o qual o homem é considerado bom por
natureza e seu espírito pode sofrer aprimoramento quase ilimitado.

Segundo Santana (2020), Rousseau tinha como essência, a crença de que


o Homem é bom naturalmente, embora esteja sempre sob o jugo da vida em
sociedade, a qual o predispõe à depravação. “Para ele, o homem e o cidadão são
condições paradoxais na natureza humana, pois é o reflexo das incoerências que
se instauram na relação do ser humano com o grupo social, que inevitavelmente
o corrompe” (SANTANA, 2020, s.p.). É assim que o Homem, para Rousseau, se
transforma em uma criatura má, a qual só pensa em prejudicar as outras pessoas.

FIGURA 9 – ROUSSEAU: PINTURA DE MAURICE QUENTIN DE LA TOUR

FONTE: <https://www.infoescola.com/filosofia/a-filosofia-
de-rousseau/>. Acesso em: 8 ago. 2020.

Rousseau idealizaria, segundo Santana (2020), o homem em estado


selvagem, pois primitivamente, ele seria generoso, e acreditaria em caminhos
que poderiam reconduzir o indivíduo a sua antiga bondade. Destaca-se aqui sua
obra intitulada Contrato social, em que ele teria a crença de que a igualdade na
personalidade humana é algo que integra sua natureza; já a desigualdade social
deveria ser eliminada, pois priva o Homem do exercício da liberdade, substituindo
esta prática pela devoção aos aspectos exteriores e às normas de etiqueta.

130
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Outro autor que se destaca é Kant, pelo qual a ética é a obrigação de agir
segundo regras universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivada
da razão. Para Kant (2003), o fundamento da moral é dado pela própria razão
humana: a noção de dever. O reconhecimento dos outros homens, como fim em si
e não como meio para alcançar algo, é o principal motivador da conduta individual.

Para aprofundar um pouco mais sobre Ética Kantiana, assista


ao vídeo https://www.youtube.com/watch?v=UQDUXOZcKjk.

Outro autor muito citado, ao se falar de ética na modernidade, é Hegel.


Segundo Goldim (2003), se a preocupação principal de Kant era estabelecer
o princípio supremo do agir, a de Hegel, na moralidade, era de determinar as
condições de responsabilidade subjetiva e, na eticidade, mostrar o desdobramento
objetivo das vontades livres.

FIGURA 10 – DIFERENÇAS SOBRE PENSAMENTO ÉTICO ENTRE KANT E HEGEL

FONTE: A autora

Goldim (2003) afirma que, numa perspectiva hegeliana, a insuficiência


de Kant está no fato de ele ter permanecido no plano da moralidade subjetiva,
quando da fixação do princípio supremo do agir moral. O autor destaca que Kant,
ao enfatizar que o valor moral de uma ação está na intenção ou no respeito à lei,
não está afirmando que os sujeitos agentes devem ignorar os resultados e as
consequências. Está dizendo que elas não podem ser o fundamento determinante
de uma ação que pretende ter valor moral. Não se pode julgar uma ação como
boa ou má, certa ou errada, pensa o autor, pelo fato de nos agradarem ou não as
consequências.

131
Biblioteconomia, legislação e normas

Para Hegel, a ética se divide na concepção subjetiva ou pessoal e objetiva ou


social (SILVA, 2010). Neste, o Estado reuniria dois aspectos em uma "totalidade
ética".

FIGURA 11 – TOTALIDADE ÉTICA

FONTE: A autora

Já Nietzsche critica a moral tradicional, derivada da religião judaico-cristã, pelo


fato de subjugar os instintos e as paixões à razão. Essa é a "moral dos escravos",
que nega os valores vitais e promove a passividade e o conformismo, resultando
no ressentimento. Em oposição a ela, Nietzsche propõe a "transvaloração de todos
os valores", que funda a "moral dos senhores", preconizando a capacidade de
criação, de invenção, de potência. “O ser humano que assim consegue superar-
se é o super-homem, o que transpõe os limites do humano” (BOFF, 2003, p. 56).

Selecionamos também um vídeo sobre a ética Nietzschiana.


Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=BxqzJD4sxhI.

Em resumo, podemos dizer que a ética na modernidade:

• Foi uma nova concepção do homem e do mundo.


• Novas ideias, concepções e valores nas artes, ciências e filosofia.
• Tendência ao antropocentrismo, valorização da obra humana.
• O movimento cultural que marcou essas transformações foi o
renascimento, com a revalorização do homem e da natureza.
• O renascimento criaria a base conceitual de valores que permitiriam a
arrancada da razão e da ciência.

132
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

• Uma nova concepção do homem e do mundo, inspirado no humanismo,


movimento que defendia o retorno dos ideais de exaltação do homem e
de seus atributos como: razão e liberdade,
• O pensador moderno procurava conhecer a realidade e exercer controle
sobre ela.

2.3 ABORDAGENS ÉTICA


CONTEMPORÂNEA
Pizarro (2010) apresenta algumas abordagens sobre a ética contemporânea,
que são posteriores à doutrina do iluminismo (ética formal). Assim ela as classifica:

FIGURA 12 – ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS DA ÉTICA

FONTE: Adaptada de Pizarro (2010)

Apresentamos esses conceitos de forma resumida, trazidos no estudo de


Pizarro (2010).

2.3.1 Ética utilitária


Considerada uma doutrina ética que tem como precursor Jeremy Bentham,
o utilitarismo surgiu na passagem do século XVIII para o século XIX. Segundo
Pizarro (2010), no momento em que o industrialismo se fortalece, considera um
agir voltado sempre a produzir a maior quantidade de bem-estar e felicidade dos
indivíduos que participam de uma dada sociedade.

133
Biblioteconomia, legislação e normas

Ética utilitarista
Jonh Stuart Mill – 1806
O princípio de utilidade: não há nem direitos nem deveres morais
absolutos.

FONTE: <https://image.isu.pub/180308005148-609ea4d5159db92404
0205ab7b9e69be/jpg/page_1.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2020.

Para Mill (1979), as ações na ética utilitarista são moralmente corretas ou


incorretas conforme as consequências: se promovem imparcialmente, o maior
bem-estar possível para maior número possível de pessoas, são boas. Isto quer
dizer que não há ações boas ou más em si mesmas. Só as consequências as
tornam boas ou más. Para a obrigação moral básica, que se sobrepõe a toda e
qualquer outra obrigação ou dever, é a maximização do bem-estar ou da felicidade
geral.

O utilitarismo é considerado uma ética teleológica (telos em grego significa


fim) na medida em que a qualidade moral de um ato ou regra de ação tem
finalidade em função das consequências determinadas pelo mesmo. Segundo
Carvalho (2000), seu objetivo consistiria em afirmar que os indivíduos buscam
alcançar a felicidade através da razão e da lei. Essa ética está pautada no princípio
da utilidade desenvolvido por Bentham (1979). Esse princípio é entendido como
aquele que aprova ou desaprova qualquer ação segundo a tendência de que a
ação tem de aumentar ou diminuir, promover ou comprometer a felicidade dos
indivíduos (PIZARRO, 2010).

Os defensores do utilitarismo consideram essa ética louvável ao promover


o bem-estar e a felicidade dos seres humanos e pregar a diminuição da miséria
e do sofrimento. Eles acreditam que o utilitarismo, conforme afirma Carvalho

134
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

(2000, p. 99), “[...] provê uma via racional e flexível para subsidiar nossa decisão
em situações cobertas por normas em conflito. Consideram positivo o fato do
utilitarismo manter uma certa independência em relação às regras”. Já seus
críticos o condenam e veem nele uma ameaça à dignidade humana, já que esta
filosofia não leva os direitos suficientemente a sério, na qual instrumentaliza as
pessoas e as sacrifica em nome de um bem supostamente coletivo, como no caso
da economia, em que as pessoas estão sujeitas às leis nem sempre justas do
mercado (CARVALHO, 2000).

2.3.2 Ética da alteridade


Segundo Pizarro (2010), as experiências pelas quais a humanidade
passou, no século XX, confirmam o utilitarismo que se instalou e predominou no
Ocidente. Entretanto, novas concepções ou doutrinas vêm sendo constituídas
como resultado de novas visões sobre a presença humana neste mundo. Uma
concepção construída no século XX acentua a noção de alteridade. Pivatto (2000,
p. 80) explica que a ética da alteridade “[...] propõe na base a ideia de luta pela
sobrevivência na satisfação das necessidades básicas, impondo-se ao peso de
existir; de luta para obter um lugar ao sol na esfera da economia e da sociedade”.
Diante deste contexto, Emanuel Lévinas, pensador lituano-francês e formulador
dessa doutrina, revela uma nova maneira de desenvolver conceitos, rejeitando a
visão tradicional de consciência racional.

A ética da alteridade visa ao encontro humano, partindo da ideia de que


o homem toma seu sentido maior na relação com seu próximo (PIVATTO,
2000). Esta ética instaura-se na relação inter-humana como uma chance de
humanização. Para Lévinas (1993 apud PIZARRO, 2010), não é suficiente a ideia
de bem, é preciso movimento, sendo necessário transcender em direção ao bem,
além do bem; em direção do outro.

A relação da alteridade não necessariamente precisa de simultaneidade e


reciprocidade, já que parte do princípio de que o homem é responsável pelo outro
sem esperar nada em troca. É nessa relação que ele se reconhece, se identifica
e se reflete a partir do outro. O homem pode fazer pelo outro o que faria por
ele mesmo, numa atitude mais altruísta e despida da exclusão dos interesses
individuais.

2.3.3 Ética da finitude


Tendo Heidegger como seu precursor, a ética da finitude é uma corrente ética
do século XX que repousa no princípio da razão suficiente, baseada na finitude do
135
Biblioteconomia, legislação e normas

ser e do pensar (LOPARIC, 1995). A finitude possibilita a destruição dos sistemas


morais chamados infinitistas, como o da utilidade, por exemplo.

Vive-se numa época de ingênua confiança na onipotência da razão


instrumental e na perfectibilidade do fazer tecnológico. Heidegger, segundo
Loparic (1995), acentua que na época da técnica, a essência do homem é
concebida como um “ente que vai ser tematizado no horizonte das objetividades”
(LOPARIC, 1995, p. 71). Isto significa que os modos de pensar e de agir do
homem são influenciados por padrões e modelos mentais da racionalidade
instrumental. Loparic (1995, p. 71) complementa “[...] que se é assim faz sentido
dizer a objetivação radical do humano é a mais perigosa do que este ou aquele
crime ou mesmo que a soma de crimes contra a humanidade possibilitados por
ela, uma vez que ela industrializa o ser humano”. Esta ética questiona a própria
ideia de tratarmos, universal e sistematicamente, a nossa dor como se fosse uma
dor.

Sugerimos a leitura da obra Heidegger para iniciantes.


LEMAY, E. PAUS, J. A. Heidegger para principiantes. [s.l. S.n],
1994.

FONTE: <https://cdn.slidesharecdn.com/ss_thumbnails/heideggerprincipiantes-
120508003835-phpapp02-thumbnail-4.jpg?cb=1336437771>. Acesso em: 10 ago. 2020.

136
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

2.3.4 Ética do discurso


A ética do discurso foi fundada por Karl-Otto Apel, na década de 1970, e tem
sofrido grandes alterações a partir das ideias de Jürgen Habermas. De acordo
com Herrero (2000), a ética do discurso se sustenta na noção da cultura ocidental
ser uma cultura da razão, sendo a razão o foco ordenador de todos os discursos.
É justamente no grande desenvolvimento atual das ciências e das técnicas que
se problematiza a responsabilidade da razão. Os desafios tecnológico-ecológico
e social impostos pela globalização abrem margem a questionamentos da cultura
teórica da razão (PIZARRO, 2010).

Assista ao vídeo de Mateus Salvadori, que fala sobre a teoria do


discurso em Habermas. Acesse https://www.youtube.com/watch?v=_
Sq7Z73w8qU.

Podemos ilustrar assim as características da categoria do discurso:

FIGURA 13 – CATEGORIAS DO DISCURSO

FONTE: A autora

Em síntese, até aqui vimos que a Ética, relacionada às profissões, é um tema


importante e perpassa todas as áreas do conhecimento.

Em relação aos conceitos introdutórios sobre ética, destacamos que a


mesma é um ramo da filosofia, e que a sua raiz etimológica deriva da palavra
grega êthos, que quer dizer “caráter”. Ela era utilizada para representar os modos
de agir de uma pessoa, ou seja, suas ações e comportamentos.

137
Biblioteconomia, legislação e normas

A ética e moral não são a mesma coisa, mas seus conceitos estão
interligados, sendo a ética o comportamento individual e refletido de uma pessoa
com base em um código de ética ou de conduta que deve ter aplicabilidade geral;
e a moral, os hábitos e costumes de uma sociedade.

Destacamos que, historicamente, a ética sempre foi debatida e orientada


pelas religiões e pelo exercício da razão. No século VI a.C., período marcado
pela Filosofia como o da “razão crítica”, os códigos éticos universais adquiriram
contornos mais evidentes.

Em relação à origem da ética, destacamos a Ética Socrática, caracterizada


por bom caráter e valores morais chamado de "intelectualismo moral". A Ética
Platônica teve por base a ideia da ordem ou da justa proporção, que consiste em
equilibrar elementos diversos que desemboquem no mesmo fim. Também a Ética
Aristotélica, que consistia no Imperativo Hipotético, onde o fim é a felicidade,
onde o exercício de tais preceitos leva a uma vida harmoniosa, a uma vida ética
na qual a vitória conquistada pelo bem é fazer o bem, e a recompensa por agir
eticamente é ser ético.

Na Idade Média, vimos a importância de Santo Agostinho, que propõe que


a ética cristã se fundamente na ordem do amor a si mesmo e ao próximo, como
formas de amar a Deus. Também as ideias de Tomás de Aquino, para quem a
ética concentrar-se-ia na concepção de algumas categorias fundamentais, entre
elas, o conceito de conscientia. Neste período, também se destacou Espinoza,
um filósofo racional, do renascimento, com reflexões inovadoras e revolucionárias
face a sua época.

Na modernidade, abordamos o pensamento de Rousseau, pelo qual o


homem é considerado bom por natureza e seu espírito pode sofrer aprimoramento
quase ilimitado. De Kant, pelo qual a ética é a obrigação de agir segundo regras
universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivada da razão. De
Hegel, cuja a moralidade era determinar as condições de responsabilidade
subjetiva e, na eticidade, mostrar o desdobramento objetivo das vontades livres.
E, por fim, Nietzsche, o qual criticava a moral tradicional, derivada da religião
judaico-cristã, pelo fato de subjugar os instintos e as paixões à razão.

Ao abordar a ética no contexto da contemporaneidade, seguimos a linha


de Pizarro (2010) e perpassamos os conceitos de: ética utilitária; ética da
alteridade; ética da finitude; ética do discurso e, por fim, a ética profissional, que
aprofundaremos no próximo tópico.

138
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

1) Ao constatarmos a importância do debate sobre Ética e Moral


na história, vimos que existe uma diferença entre esses conceitos.
Assim, descreva as diferenças conceituais entre ética e moral.

3 ÉTICA PROFISSIONAL E
DEONTOLOGIA
A distribuição social do conhecimento dentro da sociedade resulta em
instituições sociais e em papéis específicos exercidos por um determinado grupo
de atores, e dessa configuração social surgem os ofícios e as profissões.

Segundo Pizarro (2010), a profissão, diferentemente das ocupações, define-


se por um monopólio de um conhecimento especializado, pela existência de um
corpo de saberes científicos, o que assegura seu lugar na hierarquia do sistema
profissional, seu status e prestígio. Para a autora, quanto mais conhecimentos de
um campo de atividade são sistematizados, mais o monopólio de seu espaço é
garantido.

Pode-se dizer que o conhecimento científico, as associações e conselhos


ou ordens profissionais são fundamentais para garantir o reconhecimento social.
Nesse sentido, Pizarro (2010) explica que o papel social e hierárquico de uma
profissão no conjunto da sociedade e em relação às outras profissões é regulado
pelas associações profissionais, sindicatos e pelo Estado.

Lembra-se de que tratamos sobre os tipos de entidades de


classe no segundo capítulo?! Não lembra? Retome o Tópico 2 do
Capítulo 2.

Cada conjunto de profissionais tem seu comportamento específico e deve


seguir “[...] uma ordem que permita a evolução harmônica do trabalho de todos,
a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza a
regulação do individualismo perante o coletivo” (SÁ, 2001, p. 110).

139
Biblioteconomia, legislação e normas

A aplicação dos conhecimentos especializados exigidos pelas sociedades


tecnologicamente complexas, conforme argumenta McGarry (1999), faz com que
os especialistas passem a tratar suas respectivas especialidades como bases de
poder.

Portanto, se não houver uma autorregulação ou se não estiverem sob um


controle mais amplo, como o do Estado, por exemplo, será difícil controlar o
poder adquirido por estes profissionais em função da exclusividade e posse dos
conhecimentos e informações especializadas (PIZARRO, 2010).

Mattar (2010) observa que dentro do campo da ética encontram-se a moral


e a deontologia. A deontologia deriva da palavra grega déon e significa “dever” ou
“o que é obrigatório”, sendo aplicada a essas profissões. O autor apresenta um
esquema que ilustra as diferenças e relações entre ética, moral e deontologia.

FIGURA 14 – ÉTICA, MORAL E DEONTOLOGIA

FONTE: Mattar (2010, p. 241)

Nesse sentido, os diferentes tipos de papéis que os atores sociais


desenvolvem em suas vidas influenciam diretamente suas decisões éticas e,
como consequência, essas decisões podem afetar a vida de outros indivíduos
e talvez até mesmo da sociedade. Para McGarry (1999), se tomamos decisões
éticas como profissionais, nós o fazemos sob o mesmo sistema de regras, mas
com variações importantes. Agimos no papel de cliente e profissional. O autor
exemplifica assim: “Se vendo alguma coisa a alguém, há uma relação vendedor-
comprador. Isso não me dá licença de agir desonestamente, mesmo que esteja
vendendo um carro de segunda mão” (MCGARRY, 1999, p. 180).

A relação entre os diversos campos da conduta humana e o ideal moral


traçado é refletida em um instrumento regulador. Nele se estabelecem linhas

140
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

ideais éticas para orientar as partes pertencentes a grupamentos sociais, ou seja,


critérios de condutas de um indivíduo perante seu grupo e o todo social. Esta
regulação se dá através de um código de conduta profissional e na avaliação
periódica do mesmo, a qual se denomina Ética Profissional (SÁ, 2001). Um código
de ética profissional deve compreender a base de conhecimentos e mecanismos
para a organização das aptidões profissionais juntamente à fundamentação lógica
subjacente que permeia o todo.

Segundo McGarry (1999), essa codificação deve levar em conta três


características sobre as profissões:

FIGURA 15 – CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA NAS PROFISSÕES

FONTE: A autora

A substantiva diz respeito ao corpo específico de aptidões que a profissão


alega ter e a sua competência exclusiva. As estruturais conferem a autoridade
necessária para regulamentar seus procedimentos, impor disciplina e proporcionar
o desenvolvimento intelectual de seus membros. Por fim, as características
filosóficas refletem sobre o porquê da existência da profissão, suas relações com
profissões afins e sua orientação para a comunidade (PIZARRO, 2010).

Para Mattos (1977), a ética profissional é a ciência normativa que estuda os


deveres e direitos dos profissionais. Lima (1999) acredita que todo profissional
deva agir positivamente e com um comportamento desejado não só para sua
profissão, mas também perante a sociedade. Dessa forma, um código de ética
profissional pode ser dividido em duas partes:

141
Biblioteconomia, legislação e normas

FIGURA 16 – PARTES DE UM CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

FONTE: A autora

Mota e Rocha (2005, p. 134) definem que a ética profissional existe para
criticar e estipular os melhores modos de uma profissão e seus profissionais
atingirem seus objetivos no cumprimento de suas atribuições sociais. Em outras
palavras, servem para refletir sobre e fixar normas de comportamento que visem
ao bom cumprimento e ao desenvolvimento apropriado de uma área qualquer na
aplicação de seus conhecimentos, técnicas e tecnologias de acordo com seus fins
sociais e objetivos com os cidadãos e a sociedade.

A deontologia foi criada pelo filósofo Jeremy Bentham, em 1834, e está em


contraste com a razão utilitarista. Em seus aspectos substantivos, a deontologia
deriva do iluminismo kantiano e “[...] procura afirmar que há coisas que devem ou
não ser feitas independentemente de seus resultados, porquanto coisas certas ou
erradas em si mesmas” (MOTA; ROCHA, 2005, p. 85).

Segundo Rasche (2005), a deontologia aparece institucionalizada em


códigos de conduta, códigos de princípios e, frequentemente, nos códigos de ética
profissional que são proclamados e votados em assembleias de profissionais,
como associações, por exemplo. Ou ainda, podem ser lavrados por lei, no âmbito
dos conselhos ou colégios. A autora destaca dois exemplos: o Código de Ética do
Bibliotecário Brasileiro e o Código de Ética Profissional do Bibliotecário Chileno.

Para Souza (2002), ambos os códigos se caracterizam com conteúdos


propriamente deontológicos. Alguns problemas podem surgir na ocasião da
elaboração de um código deontológico de determinada profissão, em qualquer
sociedade. Esses problemas são chamados, por Souza (2002), de deontológicos
e envolvem questões sobre consciência, convivência, liberdade, autoridade,
sobrevivência material, igualdade e fraternidade. A importância de compreender
e refletir sobre esses problemas permite orientar a elaboração de um Código
Deontológico na atual sociedade. O mesmo autor reforça que a questão principal
é então encontrar modos de conciliar a ética como valor universalista, que leva
à ideia da defesa da igualdade plena do ser humano, com a ética como conduta
material utilitária das sociedades das profissões que estende o sentido de
igualdade aos limites de atuação de cada grupo profissional (SOUZA, 2002).

142
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

A ética profissional visa garantir a preservação das profissões e a subsistência


dos profissionais. Em uma sociedade profissionalista, a ética promove a igualdade
entre os membros de uma corporação e também evidencia as diferenças entre
o grupo profissional e a sociedade (SOUZA, 2002). Entretanto, alguns autores
questionam o termo “ética profissional”, uma vez que este elege um tipo especial
de ética, nesse caso, a profissional, estabelecendo uma diferença entre membros
de grupos profissionais e os demais membros da sociedade, ferindo assim o valor
universal da ética (RASCHE, 2005).

Rasche (2005) enfatiza o uso do termo ética, no que diz respeito à orientação
das condutas dos membros de profissões e sugere, ainda, o uso de termos que
sejam mais adequados, tais quais: “Código Moral”, “Código Político”, “Estatuto”,
“Código de deveres, direitos e penas (ou sanções)”, “Princípios Filosóficos, sociais
e políticos”, “Declaração de valores”, “Código de Etiqueta” ou “Código disciplinar”.
Ao analisar o Código de Ética do Bibliotecário Brasileiro, Aranalde (2005, p.
358) apresenta a questão da seguinte forma: “[...] trata-se, sem dúvida, de um
código profissional. Também, caracteriza-se essencialmente como um código de
conduta”.

Entretanto, pode colocar-se legitimamente como um código de ética? O


referido autor acredita que é plausível o argumento de que, mesmo sendo um
código elaborado com coerência e boas intenções, ele sempre será um código de
conduta que prescreve como agir, sujeitando os infratores a penalidades previstas
em lei no caso de transgressão às prescrições estabelecidas. “Dessa forma, a
denominação “Código de Ética” não parece adequada, pois a ética pressupõe
elementos que uma codificação não pode comportar” (ARANALDE, 2005, p.
359). Nenhuma teoria ética é capaz de oferecer garantias de boa convivência e
alteridade. Para tal, requer-se atitude e disposição das pessoas em participar de
uma vida melhor e com mais qualidade.

3.1 ÉTICA NO ENSINO DE


BIBLIOTECONOMIA
Segundo Guimarães (2009), é recente, permeando apenas algumas décadas
passadas, a abordagem dos aspectos éticos inerentes à atuação profissional
na área de Biblioteconomia. Passando a ser objeto de preocupação mais
explícita na literatura da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, em
aspectos diretamente relacionados a questões gerenciais ou de disseminação da
informação.

A ética seria um saber normativo, que orienta as condutas humanas,

143
Biblioteconomia, legislação e normas

diferenciando-se da moral, que se refere a ações desenvolvidas em um universo


concreto, geográfica e temporalmente delimitado. Enquanto aquela busca refletir
sobre a vida moral em si e, por conseguinte, sobre as diferentes morais no espaço
e no tempo.

Assim, observa-se que a ética se atém ao estudo do fenômeno da


moralidade em si, centrando-se, como destaca nos objetos morais em todas as
suas formas evoluir respectivamente como comportamento moral, valores morais
e moralidades.

O comportamento ético reivindica a opção pela prática do bem comum, da


paz e da felicidade social. Em termos deontológicos, qualquer profissão deve
ser exercida com a consciência da escolha de ações pautadas em objetivos
irmanados à opção por um estar ético no mundo, que impõe o respeito à cidadania
e a resistência às ações de violência, sejam elas simbólicas ou materiais, como
também de abuso.

Com essa perspectiva, foram desenvolvidos os preceitos deontológicos


das profissões liberais. Todo profissional deve, ao exercer suas atividades
na sociedade, considerar a posição assumida por sua área de atuação no
atendimento às demandas sociais, ponderando os valores éticos vigentes e sua
relação individual e de sua categoria profissional com o meio social.

Em 1976, se tornou obrigatório o ensino de ética em todas as escolas de


Biblioteconomia durante a formação dos futuros profissionais da informação,
através da Resolução do Conselho Federal de Biblioteconomia de n° 153.
Vejamos a íntegra dessa resolução:

RESOLUÇÃO Nº 153, DE 06 DE MARÇO DE 1976

Dispõe sobre o ensino de ética bibliotecária. O Conselho Federal de


Biblioteconomia, no uso das atribuições que lhe conferem a Lei nº 4.084, de
30 de junho de 1962, e o Decreto nº 56.725, de 16 de agosto de 1965.

Considerando que a educação do bibliotecário deve ter como uma de suas


finalidades o colocar-se a serviço da sociedade;
Considerando que a educação do bibliotecário deve estar intimamente
relacionada com uma prestação cada vez melhor de assistência documental e
informacional;
Considerando que é responsabilidade das Escolas de Biblioteconomia
a formação de profissionais conscientes de responsabilidades para com a
comunidade;

144
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Considerando que a ética bibliotecária deve ser ensinada aos estudantes de


Biblioteconomia ao longo de todo o seu curso;
Considerando, ainda, que só assim os estudantes de Biblioteconomia
poderão interpretar e ter consciência dos princípios éticos inerentes à profissão a
que se dedicarão;
Resolve: Art. 1º – Recomendar aos Conselhos Regionais de Biblioteconomia
que promovam os meios necessários junto às Escolas de Biblioteconomia para
que, dentro de uma das disciplinas que compõem o currículo da Escola, sejam
ministradas aulas de Ética Profissional do Bibliotecário.
Art. 2º – Os Conselhos Regionais de Biblioteconomia deverão notificar
o Conselho Federal sobre as providências tomadas para implantação desta
Resolução.
Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 06 de março de 1976.


Murilo Bastos da Cunha Presidente do CFB CRB-1/180 Publicada no D.O.U.
– Seção I – Parte II – em 02/04/76 – p.1407

FONTE: <http://www.pergamum.pucpr.br/leis/Resolucao_153.76.pdf>. Acesso em:


10 ago. 2020.

3.2 CÓDIGOS DE ÉTICA DE


BIBLIOTECONOMIA
Segundo Cuartas, Pessoa e Costa (2003), o primeiro trabalho publicado
referente à ética profissional foi um anteprojeto elaborado por Laura Russo,
apresentado no III Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, em
1961.

De acordo com Castro (2000), após aprovado este trabalho, foi enviado à
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários FEBAB, bem como a todas
as associações de classe e escolas/cursos de Biblioteconomia, além de alguns
bibliotecários líderes, a fim de receber críticas e sugestões necessárias.

Após esse primeiro processo de amadurecimento sobre o assunto, tais


contribuições foram apresentadas novamente no CBBD, que já era a 4ª edição do
evento, realizado em Fortaleza, em 1963. Neste, foi aprovado o primeiro Código
de Ética Profissional dos Bibliotecários Brasileiros, com poucas alterações do
texto apresentado por Laura Russo (CASTRO, 2000).

145
Biblioteconomia, legislação e normas

Em 1963, no CBBD,
foi aprovado o 1º Em 1963, no CBBD, foi aprovado o 1º Código de Ética Profissional
Código de Ética dos Bibliotecários Brasileiros, elaborado pela FEBAB.
Profissional dos
Bibliotecários No estudo de Cuartas, Pessoa e Costa (2003), intitulado Código
Brasileiros,
de ética profissional do bibliotecário: 15 anos depois, eles afirmam que,
elaborado pela
FEBAB. sobre este primeiro documento:

Examinando a documentação existente nos arquivos do


Conselho Federal de Biblioteconomia, confirmamos que
o primeiro Código de Ética Profissional do Bibliotecário foi
elaborado pela FEBAB. Poucas informações restaram, pois
não foi possível recuperar o documento original, restando
apenas a possibilidade de reconstituí-lo a partir de sua primeira
alteração, ocorrida em 13/07/1966, já no CFB. Era presidente,
na época, Laura Garcia Moreno Russo. Esse fato ocorreu
na primeira reunião Plenária, da primeira gestão do CFB. Na
realidade, as alterações propostas pela diretoria e aprovadas
por unanimidade pelo plenário naquela ocasião, nada mais
eram do que uma adaptação às terminologias específicas
dos órgãos: CFB e CRB. A inclusão no texto da expressão
“caráter profissional”, no nosso entendimento, foi o fato de
maior expoente. Observou-se, também, que havia uma grande
ligação, nos trâmites do processo ético, entre a FEBAB e o
CFB e as Associações e os CRB. O código com as respectivas
alterações foi publicado através da Resolução CFB-05/66
(CUARTAS; PESSOA; COSTA, 2003, p. 3).

Já o segundo código de ética profissional dos bibliotecários, fruto de


alterações, ocorreu em 1974, em Plenária do Conselho Federal de Biblioteconomia,
na gestão de Murilo Bastos da Cunha.
Em 1974 –
Alterações no Em 1974 – Alterações no código de ética Profissional dos
código de ética Bibliotecários Brasileiros, em Plenária do Conselho Federal de
Profissional dos Biblioteconomia. Necessidade de redação atualizada.
Bibliotecários
Brasileiros, em Segundo Cuartas, Pessoa e Costa (2003), essa segunda edição foi
Plenária do
elaborada por Cecília Andreotti Atienza, cujo trabalho rendeu-lhe voto de
Conselho Federal
de Biblioteconomia. louvor registrado em ata. A justificativa para a alteração era a necessidade
Necessidade de de uma redação atualizada, que permitisse soluções adequadas para
redação atualizada. problemas éticos, pois tratava-se de um instrumento dos CRB e CFB.

Percebeu-se também que os CRB deveriam funcionar como tribunais regionais


de ética, pois detinham as condições naturais e indispensáveis ao exame dos
problemas de ética com pertinência aos profissionais que lhes eram diretamente
jurisdicionados. Outrossim, os CRB possuíam autoridade para assegurar a
observância das normas do Código de Ética, mediante adoção de sanções desde
que não excedessem o campo das infrações meramente disciplinares.
146
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Observa-se que as mudanças foram mais de complementação e


abrangência, e não de conteúdo, sendo aproveitados quase todos os artigos que
foram incorporados ao novo código, em forma de artigos ou alíneas, dentro das
várias seções, antes inexistentes (CUARTAS; PESSOA; COSTA, 2003).

Entre 1985 e 1986, a Comissão de Ética Profissional do CFB, com o apoio


de alguns conselhos regionais, fizeram nova reformulação do Código de Ética,
sendo apresentado um novo anteprojeto, que deveria ser analisado pelos
Conselheiros Federais. Em 1986, a comissão encarregada fez exposição dos
trabalhos, apresentando uma minuta de resolução. Naquela ocasião, o plenário
solicitou alterações e a redação final foi aprovada. Segundo Cuartas, Pessoa e
Costa (2003), ao analisar essa terceira versão do código, é possível perceber uma
tentativa de enxugar o código anterior, suprimindo os artigos que padronizavam
aspectos de conduta pessoal, e que poderiam gerar interpretação subjetiva.
Além disso, ficavam mais claras as possibilidades de aplicação das penalidades
prescritas dentro dos princípios de justiça.

Em 1986 – terceira alteração no Código de Ética Profissional dos


Bibliotecários Brasileiros, Conselho Federal de Biblioteconomia. Código mais
enxuto e evitando análises subjetivas.
Em 1986 – terceira
alteração no Código
A quarta alteração do código foi aprovada por unanimidade em de Ética Profissional
2001. O anteprojeto esteve pautado, mais uma vez, nas reivindicações dos Bibliotecários
dos CRB que apontavam a necessidade de modernização dos preceitos Brasileiros,
do código. Segundo Cuartas, Pessoa e Costa (2003, p. 5), “era urgente Conselho Federal
criar-se mecanismos para atender os avanços do mercado frente aos de Biblioteconomia.
Código mais enxuto
avanços tecnológicos e à política econômica do país”. Essa demanda
e evitando análises
de mudanças do código foi apresentada pelos Conselhos Regionais subjetivas.
através de vários documentos, oriundos dos Encontros de Conselhos
Regionais de Biblioteconomia, ocorridos naquela época.

Nesta edição, segundo Gomes (2009), pode-se perceber durante a leitura


do código de ética, uma dada ênfase especial à questão do sigilo profissional e à
execução das atividades com zelo e honestidade, valores essenciais para o bom
desempenho de suas funções.

Além disso, ao atribuir uma identidade profissional, promove-se uma


diferenciação deste em relação aos demais agrupamentos profissionais e ainda
de toda a humanidade. E, finalmente, isso acarreta um poder de interferência do
grupo profissional na sociedade e uma certa exclusão dos demais homens ao
focalizar o princípio da igualdade apenas no âmbito interno de um determinado
agrupamento. Nesse contexto, considera-se infração qualquer tipo de transgressão

147
Biblioteconomia, legislação e normas

ao Código de Ética, exatamente no que diz respeito ao não (GOMES, 2009).

Cumprimento dos deveres e obrigações do profissional em relação aos seus


usuários e clientes, aos seus colegas, em relação a sua categoria profissional e
à negociação de seus honorários profissionais. Enfim, o Código de Ética pauta
os direitos, mas também as ações proibitivas que buscam disciplinar as práticas
bibliotecárias, bem como ações punitivas da má conduta e indutoras do bom
exercício profissional.

Nosso Código aponta, como deveres do bibliotecário, o bom exercício


profissional, com a realização de práticas que dignifiquem moral, ética e,
profissionalmente, o bibliotecário e sua categoria. Para tanto, o bibliotecário deve
observar os ditames da ciência e da técnica, respeitando as leis e as normas
vigentes para o exercício das profissões, tratando respeitosamente as atividades
dos colegas e de outros profissionais com os quais esteja interagindo em sua
atuação profissional. Também é seu dever contribuir para o desenvolvimento da
sociedade e dos princípios legais do País.

Em 2001 – Quarta alteração no Código de Ética Profissional dos Bibliotecários


Brasileiros, Conselho Federal de Biblioteconomia. Atende aos novos aspectos
tecnológicos.

Em 2018, foi publicada mais uma versão do código de ética dos bibliotecários,
sendo a mais atual até o momento. Segundo CRB6 (2017), a necessidade de
mudança foi detectada durante os seminários regionais de Bibliotecas Escolares
e Públicas e de Ética Profissional, realizados nas cinco regiões do país, entre
maio de 2014 e maio de 2015. Desde então, o documento passa a ser revisto e
discutido pelo CFB até que a atual redação do texto fosse formatada.

Buscando uma maior participação da classe bibliotecária, o CFB abriu uma


consulta pública on-line em 2017. Assim, todos os profissionais do país poderiam
analisar e discutir a proposta de texto do novo “Código de Ética e Deontologia do
Bibliotecário”.

DEONTOLOGIA – conjunto de princípios e regras de conduta


ou deveres de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional
deve ter a sua deontologia própria para regular o exercício da
profissão e de acordo com o Código de Ética de sua categoria.

148
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

Nesta última versão, o destaque é a inserção da seção V, que trata das


infrações éticas e disciplinares. Antes contempladas por resoluções separadas,
agora encontram-se em um mesmo documento, discriminando melhor as
infrações, níveis e circunstâncias atenuantes.

“Essa atualização é reivindicação de muitos bibliotecários. Vivemos um


tempo de mudanças e grande parte delas está relacionada à informação. É
importante refletirmos sobre a forma de agirmos, visando alcançar cada vez mais
o reconhecimento da profissão pelo mercado e pela sociedade” (CRB6, 2017,
s.p.).

FIGURA 17 – ANOS E EDIÇÕES DOS CÓDIGOS DE ÉTICA DE BIBLIOTECONOMIA

FONTE: A autora

Conheça a seguir, a Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro, que fixa


as normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades profissionais.

Resolução CFB n° 207/2018

Aprova o Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro, que fixa as


normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades profissionais.

O Presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), no uso das


atribuições que lhe são conferidas pela Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962,
e pelo Decreto nº 56.725, de 16 de agosto de 1965, faz saber que foi aprovado
pelo Plenário do CFB o Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário, na forma
disposta a seguir:

149
Biblioteconomia, legislação e normas

TÍTULO I
DA ÉTICA DO BIBLIOTECÁRIO
CAPÍTULO I
DOS OBJETIVOS DO CÓDIGO

Art. 1º – O Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro tem por ob-


jetivo fixar as normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades
profissionais.

CAPÍTULO II
DA NATUREZA, FUNDAMENTO E OBJETO DO TRABALHO DO BIBLIO-
TECÁRIO

Art. 2º – A profissão de Bibliotecário tem natureza sociocultural e suas principais


características são a prestação de serviços de informação à sociedade e a garan-
tia de acesso indiscriminado aos mesmos, livre de quaisquer embargos.
Parágrafo único – O bibliotecário repudia todas as formas de censura e ingerên-
cia política, apoia a oferta de serviços público e gratuitos, promove e incentiva
o uso de coleções, produtos e serviços de bibliotecas e de outras unidades de
informação, segundo o conceito de acesso aberto e universal.
Art. 3º – A atuação do bibliotecário fundamenta-se no conhecimento da missão,
objetivos, áreas de atuação e perfil sociocultural do público-alvo da instituição
onde está instalada a unidade de informação em que atua, bem como das ne-
cessidades e demandas dos usuários, tendo em vista o desenvolvimento dos
indivíduos e da sociedade.
Art. 4º – O objeto de trabalho do bibliotecário é a informação, artefato cultural aqui
conceituado como conhecimento estruturado sob as formas escrita, oral, gestual,
audiovisual e digital, por meio da articulação de linguagens natural e/ou artificial.

CAPÍTULO III
DOS DEVERES DO BIBLIOTECÁRIO

Art. 5º – São deveres do bibliotecário:


a) preservar o cunho liberal e humanista de sua profissão, fundamentado na
liberdade da investigação científica e na dignidade da pessoa humana;
b) exercer a profissão aplicando todo zelo, capacidade e honestidade em seu
exercício;
c) observar os ditames da ciência e da técnica;
d) contribuir para o desenvolvimento da sociedade e respeitar os princípios le-
gais que regem o país;
e) cooperar para o progresso da profissão, por meio do intercâmbio de infor-
mações com órgãos de representação profissional da categoria, instituições de
ensino e órgãos de divulgação técnica e científica;

150
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

f) colaborar com os cursos de formação profissional do bibliotecário;


g) guardar sigilo no desempenho de suas atividades, quando o assunto assim
exigir;
h) realizar de maneira digna a publicidade de sua instituição ou atividade profis-
sional, evitando toda e qualquer manifestação que possa comprometer o con-
ceito da profissão ou dos colegas;
i) conhecer a legislação que rege o exercício da profissão de Bibliotecário em
vigor, para cumpri-la corretamente e colaborar para o seu aperfeiçoamento;
j) combater o exercício ilegal da profissão, conforme a legislação em vigor;
k) manter seu cadastro atualizado no Conselho Regional de Biblioteconomia
(CRB) de sua jurisdição;
l) informar sempre ao CRB no qual está registrado quando assumir e deixar car-
go ou função;
m) citar seu número de registro do respectivo CRB, após sua assinatura em
documentos referentes ao exercício profissional;
Art. 6º – O bibliotecário deve, em relação aos colegas, à categoria e aos usuári-
os, orientar-se pelos princípios de justiça e respeito e observar as seguintes
normas de conduta:
§ 1º – Em relação aos colegas:
a) ser leal e solidário, tratar com respeito e civilidade, sem conivência com erros
que venham a infringir a ética e as disposições legais que regem o exercício da
profissão;
b) evitar críticas e/ou denúncias contra outro profissional sem dispor dos ele-
mentos comprobatórios;
c) respeitar a propriedade intelectual alheia;
d) respeitar as atividades de seus colegas e de outros profissionais.
§ 2º – Em relação à categoria:
a) dignificar moral, ética e profissionalmente a categoria, por meio de seus atos,
no desempenho de cargo, função ou emprego;
b) prestigiar as entidades da categoria, contribuindo, sempre que solicitado,
para o sucesso de suas iniciativas em proveito da coletividade, admitindo-se a
justa recusa;
c) apoiar as iniciativas e os movimentos em defesa dos interesses da sua cat-
egoria profissional, participando efetivamente dos órgãos que a representam,
quando solicitado ou eleito;
d) zelar pelo prestígio e dignidade profissional, bem como pelo aperfeiçoamento
das instituições nas quais atue;
e) facilitar o desempenho dos representantes do órgão fiscalizador, quando no
exercício de suas funções;
f) auxiliar a fiscalização do exercício profissional e zelar pelo cumprimento deste
Código de Ética, comunicando, com discrição, aos órgãos competentes, as in-
frações de que tiver ciência;

151
Biblioteconomia, legislação e normas

g) representar, quando indicado, as entidades da categoria;


§ 3º – Em relação aos usuários:
a) aplicar todo zelo e recursos ao seu alcance no atendimento ao público, não
se recusando a prestar assistência profissional, salvo por relevante motivo;
b) tratar os usuários com respeito e civilidade;
c) estimular a utilização de técnicas atuais objetivando a excelência da
prestação de serviços ao usuário;
d) assumir responsabilidades pelas informações fornecidas, de acordo com
os preceitos do Código Civil, do Código de Defesa do Consumidor e da Lei de
Acesso à informação vigentes.

CAPÍTULO IV
DAS PROIBIÇÕES AO BIBLIOTECÁRIO

Art. 7º – Não é permitido ao bibliotecário, no desempenho de suas funções:


a) praticar, direta ou indiretamente, atos que comprometam a dignidade e o re-
nome da profissão;
b) nomear ou contribuir para que se nomeiem pessoas sem habilitação profis-
sional para cargos privativos de bibliotecário, ou indicar nomes de pessoas sem
registro nos CRBs;
c) expedir, subscrever ou conceder certificados, diplomas ou atestados de ca-
pacitação profissional a pessoas que não preencham os requisitos da legislação
vigente;
d) assinar documentos que comprometam a dignidade e o renome da sua
profissão;
e) violar o sigilo profissional, quando portador de informações confidenciais;
f) utilizar a influência política em benefício próprio;
g) fazer comentários desabonadores sobre a profissão de bibliotecário e às enti-
dades representativas da sua profissão;
h) permitir a utilização de seu nome e de seu registro à instituição pública ou
privada na qual não exerça, efetivamente, função inerente à profissão;
i) assinar trabalhos ou quaisquer documentos executados por terceiros, ou elab-
orados por leigos, alheios a sua orientação, supervisão e fiscalização;
j) exercer a profissão quando impedido por decisão administrativa transitada em
julgado;
k) recusar-se a prestar contas de bens e valores que lhes sejam confiados em
razão de cargo, emprego ou função que exerça;
l) deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos Conselhos Fed-
eral e Regionais de Biblioteconomia, bem como deixar de atender às suas req-
uisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo determinado;
m) utilizar-se da posição hierárquica para obter vantagens pessoais ou cometer
atos discriminatórios e abuso de poder;

152
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

n) agir de forma prejudicial ao tratamento igualitário e aceitar atitudes preconcei-


tuosa ou discriminatória de qualquer natureza.

TÍTULO II
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

CAPÍTULO I
DA DEFINIÇÃO DAS INFRAÇÕES ÉTICO-DISCIPLINARES

Art. 8º – A caracterização das infrações ético-disciplinares e a aplicação das


respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções
previstas em outros dispositivos legais.
Art. 9º – São infrações ético-disciplinares passíveis de penalidades:
I – violar o sigilo profissional de fatos que tenha tomado conhecimento no exer-
cício da profissão, com exceção daqueles presentes em lei que exigem comuni-
cação, denúncia ou relato a quem de direito;
II – deixar de prestar serviços profissionais ao estabelecimento com o qual man-
tém vínculo profissional;
III – permitir a utilização de seu nome por qualquer estabelecimento ou institu-
ição onde não exerça pessoal e efetivamente sua função;
IV – praticar atos ilícitos em relação à profissão;
V – obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do CRB, quando no exercício de
suas funções;
VI – delegar a pessoas leigas atos ou atribuições do bibliotecário;
VII – declarar possuir títulos que não possa comprovar;
VIII – ser conivente ou cúmplice com os indivíduos que exercem ilegalmente a
profissão de bibliotecário ou com os profissionais ou instituições que pratiquem
atos ilícitos;
IX – exercer a profissão quando estiver sob sanção disciplinar;
X – inobservar, desacatar, desrespeitar e descumprir Acórdãos, Resoluções,
Portarias, Atos Administrativos e Normatizações do Sistema CFB/CRBs e outra
legislação inerente ao exercício da profissão;
XI – deixar de informar, por escrito, ao CRB os vínculos profissionais, com da-
dos completos da empresa, e de manter atualizados o endereço residencial e
profissional, telefones e e-mail;
XII – deixar de pagar as anuidades devidas ao Sistema CFB/CRBs;
XIII – oferecer denúncia sem dispor dos elementos comprobatórios;
XIV – faltar com civilidade aos representantes do CFB e CRBs e usuários,
quando no exercício de suas funções;
XV – não propiciar com fidelidade informações a respeito do exercício profis-
sional, da legislação de Biblioteconomia e sobre as atividades e a atuação do
Sistema CFB/CRBs;

153
Biblioteconomia, legislação e normas

XVI – não atender convocação feita pelo CFB e CRBs, a não ser por impedi-
mentos justificados e comprovados.
Parágrafo único – As infrações descritas acima são enumerativas, não restring-
indo ao órgão de fiscalização ética a apuração, processamento e aplicação de
penalidades não discriminadas, devendo, para tanto, observar a legislação vi-
gente.
Art. 10 – Para a imposição de penalidade e a sua gradação, levar-se-á em con-
ta as circunstâncias atenuantes e agravantes.
Parágrafo único – Havendo concurso de circunstâncias atenuantes e agravant-
es, a aplicação da pena será considerada em razão das que sejam preponder-
antes.

CAPÍTULO II
DAS CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES

Art. 11 – São circunstâncias atenuantes:


I – ação do infrator não ter sido fundamental para a ocorrência da infração;
II – o infrator, por espontânea vontade, procurar reparar ou minorar as conse-
quências do ato que lhe foi imputado;
III – ter o infrator sofrido coação para a prática do ato, em defesa de prerrogati-
va profissional;
IV – ser o infrator primário.
Art. 12 – São circunstâncias agravantes:
I – ter o infrator agido com dolo ou má-fé e praticado fraudes;
II – ter o infrator cometido a infração para obter vantagem pecuniária decorrente
de ação ou omissão contrária ao disposto na legislação em vigor;
III – tendo conhecimento do ato ou fato irregular, o infrator deixar de tomar as
providências de sua alçada, tendentes a evitá-lo ou saná-lo;
IV – o infrator coagir outrem para a execução material da infração;
V – ter agido com premeditação;
VI – acumular infrações, sempre que duas ou mais sejam cometidas no mesmo
momento;
VII – haver antecedentes do infrator em relação às normas profissionais de reg-
ulação da Biblioteconomia;
VIII – haver o conluio ou concussão com outras pessoas;
IX – ter a infração consequências para pessoa humana e saúde coletiva;
X – ocorrer reincidência.
Parágrafo único – Ficará caracterizada a reincidência quando o infrator, após
decisão definitiva na esfera administrativa do processo que lhe houver imposto
penalidade, cometer nova infração ou permanecer em infração continuada.

154
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

CAPÍTULO III
DAS PENALIDADES

Art. 13 – As infrações ético-disciplinares serão punidas, de forma alternada, sem


prejuízo das sanções de natureza civil e/ou penal cabíveis, com penas de:
I – advertência reservada;
II – censura pública;
III – multa de 1 a 50 vezes o valor atualizado da anuidade;
IV – suspensão do exercício profissional pelo prazo de até 3 (três) anos;
V – cassação do registro profissional com apreensão da carteira profissional.
§ 1º – A multa consistirá do pagamento de valores pecuniários ao CRB instau-
rador do Processo, calculada em moeda corrente, com base na anuidade de
pessoa física da época da conclusão do mesmo, atualizada monetariamente,
devendo ser combinada com qualquer das penalidades enumeradas nos incisos
acima e aplicada em dobro no caso de reincidência.
§ 2º – A advertência será aplicada, de forma escrita, por ofício do Presidente
do CRB, cumulada com multa de 1 (uma) anuidade de pessoa física vigente à
época.
§ 3º – A censura pública será aplicada de forma escrita, com o emprego da
palavra “censura” por ofício do Presidente do CRB, cumulada com multa de 2
(duas) a 4 (quatro) anuidades de pessoa física vigentes à época.
§ 4º – A falta de pagamento da multa no prazo estipulado, determinará a sus-
pensão do exercício profissional, sem prejuízo da cobrança por via executiva.
§ 5º – A suspensão por falta de pagamento de anuidade, taxas e multas so-
mente cessará com o recolhimento da dívida, podendo estender-se por até 3
(três) anos, ao final do qual o profissional terá, automaticamente, cancelado o
seu registro, desde que não resgate o débito, sem prejuízo da cobrança execu-
tiva.
§ 6º – Ao infrator suspenso por débito será admitida a reabilitação profissional,
mediante novo registro, desde que sejam pagas as anuidades em débito, as
multas e demais emolumentos e taxas cabíveis.
§ 7º – A suspensão do exercício profissional pelo prazo de até 03 (três) anos
implicará na proibição do exercício de qualquer atividade profissional ao biblio-
tecário, aplicável pelo CRB com a devida publicidade, cumulada com multa de 5
(cinco) a 7 (sete) anuidades de pessoa física vigentes à época.
§ 8º – A cassação do registro profissional acarretará ao infrator a perda do
direito de exercer a profissão em todo território nacional, com a consequente
apreensão da carteira de identidade profissional, cumulada com multa de 8
(oito) a 10 (dez) anuidades de pessoa física vigentes à época.
§ 9º – As penalidades acima descritas serão anotadas na carteira profissional e
no cadastro do CRB, sendo comunicadas ao CFB, aos demais Conselhos Re-
gionais e ao empregador.

155
Biblioteconomia, legislação e normas

§ 10 – Após o encerramento dos Processos em que o CFB atuar como instância


originária, os autos serão encaminhados ao CRB onde o profissional infrator
possuir registro principal, para notificação da decisão e aplicação e cumprimen-
to das penalidades.
Art. 14 – O infrator tomará ciência das decisões proferidas:
I – pessoalmente, ou por procurador formalmente constituído e com poderes
específicos para receber intimações e delas tomar ciência;
II – mediante notificação, em caso de censura pública, que poderá ser feita por
carta registrada, processo eletrônico ou por meio da Imprensa Oficial, consid-
erando-a efetivada 5 (cinco) dias após a publicação.
Parágrafo único – Em caso de recurso, o mesmo deverá ser interposto dentro
do prazo 30 (trinta) dias, a contar da data do recebimento da notificação da de-
cisão de primeira instância, conforme legislação vigente.
Art. 15 – As infrações éticas e disciplinares prescrevem em 5 (cinco) anos.

CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 16 – Qualquer modificação deste Código somente poderá ser efetuada pelo
CFB, nos termos das disposições legais, ouvidos os CRBs.
Art. 17 – Este Código entra em vigor em todo o Território Nacional na data
de sua publicação, revogando a Resolução 042/2002, publicada no DOU de
14/01/2002, Seção 1, pág. 64.

Brasília, de 07 de novembro 2018.


Raimundo Martins de Lima
Presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia
CRB-11/039
Publicado no Diário Oficial da União de 09/11/2018, Seção 1, p. 155 e 156.

FONTE: <http://crb13.org.br/wp-content/uploads/2018/12/Res-
olu%C3%A7%C3%A3o-207-C%C3%B3digo-de-%C3%89tica-e-Deontolo-
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Quando se convida ao conhecimento, à aplicação, ao debate e ao


aprimoramento do Código de Ética do Profissional Bibliotecário, se está
invitando ao exercício profissional orientado por uma deontologia cada vez mais
fundamentada no ethos de uma ética promissora.

A indiferença se constitui o procedimento mais inadequado ao sucesso


pessoal e coletivo de um grupo social, de uma categoria profissional e de uma
sociedade de um modo geral. A identidade de qualquer homem se constrói a partir

156
Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

das relações que pôde e pode vir a estabelecer com seu meio, com seus pares
e semelhantes humanos. Não há felicidade possível sem a presença do outro.
Quando sofremos a ilusão da independência, da prepotência e do individualismo,
as forças das relações sociais se impõem com energia demonstrando nossas
fragilidades, dependências e necessidades de ponderar o coletivo, como também
de compreender que a própria vida singular é gerada no coletivo e que, portanto,
somos ao mesmo tempo singular e plural, temos nossa individualidade pessoal e
profissional, mas estas são edificadas no coletivo. Ao coletivo devemos respeito e
apreço por que dele nascem os planos, nele os concretizamos e somente com ele
poderemos alcançar a felicidade.

Assim, torna-se urgente a incorporação consciente de tais princípios ao fazer


bibliotecário, para que por meio dele cada membro desse agrupamento profissional
construa e fortaleça sua identidade, amando, cuidando, se responsabilizando, se
solidarizando e se compadecendo do outro que compartilha desse mesmo fazer
e, em especial, do outro que se beneficia ou deveria ser beneficiado socialmente
com a realização desse fazer profissional.

1) Quanto ao agir ético do bibliotecário nas questões relacionadas ao


desenvolvimento de coleções, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) O novo código de ética e deontologia do bibliotecário brasileiro,


em sua última atualização, aprova todas as formas de censura e
ingerência política, apoia a oferta de serviços públicos e gratuitos.
b) ( ) A conduta do bibliotecário deve estar alinhada ao código de
ética e deontologia do bibliotecário brasileiro.
c) ( ) O agir ético do bibliotecário resulta na promoção de valores
como igualdade e respeito.
d) ( ) É importante que, cada vez mais, o profissional da informação
busque conhecer mais sobre a sociedade e ter uma postura
crítica e atenta.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Vimos que a distribuição social do conhecimento, dentro da sociedade, resulta
em instituições sociais e em papéis específicos exercidos por um determinado
grupo de atores e dessa configuração social surgem os ofícios e as profissões.

157
Biblioteconomia, legislação e normas

O conhecimento científico, as associações e conselhos ou ordens


profissionais são fundamentais para garantir o reconhecimento social, ou seja, o
papel social e hierárquico de uma profissão no conjunto da sociedade e em relação
às outras profissões é regulado pelas associações profissionais, sindicatos e pelo
Estado. Essa regulação se dá através de um código de conduta profissional e da
avaliação periódica deste, a qual se denomina Ética Profissional.

Vimos que a deontologia foi criada pelo filósofo Jeremy Bentham, em 1834,
sendo parte da definição das atividades, habilidades e modos de execução do
trabalho que devem ser empregados pelos profissionais nos diversos momentos
de suas atuações. A deontologia se deriva da palavra grega déon  e significa
“dever” ou “o que é obrigatório”, sendo aplicada a essas profissões.

Ao falar de ética no ensino de Biblioteconomia, vimos que faz apenas algumas


décadas que este tema passou a ser objeto de preocupação mais explícita na
literatura da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação.

Em 1976, tornou-se obrigatório o ensino de ética em todas as escolas de


Biblioteconomia durante a formação dos futuros profissionais da informação,
através da Resolução do Conselho Federal de Biblioteconomia de n° 153.

Ao estudar a evolução dos códigos de ética da Biblioteconomia, este passou


por mudanças por cinco vezes. Em 1963, foi aprovado 1º Código de Ética
Profissional dos Bibliotecários Brasileiros, elaborado pela FEBAB. Este passou
por revisões sendo aprovado o segundo texto em 1974. Em 1986, ocorreu a
terceira alteração no código de Ética Profissional dos Bibliotecários Brasileiros,
Conselho Federal de Biblioteconomia, sendo optado por um Código mais enxuto
e evitando análises subjetivas. A quarta alteração do código foi aprovada por
unanimidade em 2001, sendo criados mecanismos para atender aos avanços
do mercado frente aos avanços tecnológicos e à política econômica do país. Em
2018, foi publicada a última versão do código de ética dos bibliotecários, sendo a
mais atual até o momento.

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Capítulo 3 Aspectos Éticos Na Formação Do Bibliotecário

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